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Texto: Encruzilhadas da Liberdade- Walter Fraga

Tema central: Verificar as modificações nas relações entre ex escravos e antigos senhores
a partir do pós abolição, tendo em vista os diversos significados atribuídos ao conceito de
liberdade por ambas as partes, o que leva a mudança nos padrões de relações sociais.
Objetivo: Desvendar os sentidos das trajetórias dos libertos que continuaram ligados à
lavoura canavieira, residindo nas propriedades em que nasceram ou serviram como
escravos.
Problema: Verificar de que forma a permanência nas antigas propriedades representou
escolhas estratégicas para sobreviver no pós abolição.
Fontes: Inventários, certidão de óbitos, certidões de casamento, registro de batismo.
Walter Fraga em seu livro coloca o negro como agente histórico, dando nomes a cada um
dos personagens por ele trazido através de relatos, humanizando-os a partir disso. Por
meio do capítulo, ao qual o autor não busca compreender o processo de transição entre o
trabalho escravo e o liberto, enxergamos as estratégias utilizadas por ex escravos a partir
de suas próprias interpretações do conceito de liberdade, visando assim, melhoras. A
escravidão teria forjado novos significado e sentidos para a liberdade, no qual, após o fim
desse sistema há uma ressignificação da palavra que irá transformar as antigas relações
patriarcais que vigoravam no período anterior e mantinha as estruturas dentro dos
engenhos. Ao contrário do que a historiografia costuma relatar em relação a falta de
especialização dos negros em relação aos imigrantes, Walter fraga demonstra que muitos
libertos possuíam sim diferentes tipos de conhecimento a respeito dos diferentes trabalhos
que haviam no interior do recôncavo e, por ter conhecimento disto, muitos irão utilizar a
sua própria força de trabalho como estratégia para buscar melhores condições de trabalho.
A permanência dos escravos nos engenhos mesmo após serem libertos, se dá pelo fato de
muitos não terem a opção de outros lugares para ir, pela conjuntura econômica, pela
repressão policial e ao preconceito que predomina na República, principalmente no meio
urbano, associando automaticamente estes libertos como “classes perigosas”, e ao fato
que alguns já possuíam bens materiais que conseguiram ao longo da vida cativa.
Os vínculos criados durante a escravidão é o que teria colaborado para a permanência nas
localidades que residiam, os escravos que haviam adquirido algum “direito” durante o
período anterior, quando liberto viu uma oportunidade de fortalecer esses direitos. O autor
destaca que “ a permanência nas propriedades não deve ser desligada do processo de
redefinição das estratégias de luta pela ampliação de espaços próprios e das expectativas
em relação à nova condição de liberdade”. Se manter nos mesmo lugares aonde foram
cativos colocou questões importantes para os ex escravos, entre os quais controlar as
condições de trabalho e resistir à imposição de disciplina ligada ao passado, eram as
principais. A grande luta era contra a continuidade de padrões de domínios praticados
durante o cativeiro.
“ A afirmação de liberdade implicou desconstruir a autoridade senhorial ou, pelo menos,
fazer com que ela se exercesse em bases diferentes”. Assim, os libertos passaram a
formularem suas próprias condições de trabalho usando sua força de trabalho como
ameaça caso os senhores se negasse, a ideia de liberdade é redefinida pelos negros ao
recusarem a velha disciplina de trabalho, ao reafirmarem a ideia de poder procurar outro
trabalho com melhor remuneração e , principalmente, a ausência dos castigos físicos. O
requisito básico para o ex escavo se torna não ser submetido a castigos e determinar o
próprio ritmo de trabalho.
Walter Fraga nos mostra como o 13 de maio afetou fortemente os grande senhores de
engenhos que se viam completamente dependentes da mão de obra escrava, levando
muitos a se suicidarem e a baixa produtividade, que se dava muito pela diminuição na
dedicação do serviço pelos libertos, que agora passam a se dedicar mais as atividades
autônomas ou a realizarem trabalhos extras em outras propriedades visto a melhor
remuneração. Os antigos donos passaram a remunerar seus trabalhadores e o número de
mulheres trabalhando em canaviais diminui após 1888. É interessante também que, o
trabalho do autor mostra como a alta especialização dos ex escravos levavam a altas
remunerações. A existência de e escravos que teriam sido a terceira ou segunda geração
já residente em determinado engenho, fazia com que as relações de parentesco se
tornassem mais sólidas e algo importante na vivência destes ex-escravos. Muitos negros
adotavam o nome dos seus senhores de forma estratégica, pois, “carregar o nome de uma
família poderosa poderia fazer alguma diferença”, além de, compartilhar o mesmo
sobrenome com diferentes famílias, fortalecia o vínculo e as identidades numa rede de
parentesco que tinha por base “o passado comum de escravidão”.
Escolher ficar não significava fidelidade ao senhor, mas uma possibilidade de manter
alguns bens e direitos que haviam adquirido durante a escravidão.

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