O texto discute a trajetória da literatura de autoria feminina sob a perspectiva da crítica feminista no ocidente e no Brasil. Aponta como a crítica feminista evidenciou obras escritas por mulheres que eram ignoradas antes e como revelou a interseccionalidade das opressões no cânone literário. Também destaca como a produção literária feminina cresceu com a emergência de vozes como Clarice Lispector no Brasil.
Original Description:
Literatura de autoria feminina e crítica feminista
O texto discute a trajetória da literatura de autoria feminina sob a perspectiva da crítica feminista no ocidente e no Brasil. Aponta como a crítica feminista evidenciou obras escritas por mulheres que eram ignoradas antes e como revelou a interseccionalidade das opressões no cânone literário. Também destaca como a produção literária feminina cresceu com a emergência de vozes como Clarice Lispector no Brasil.
O texto discute a trajetória da literatura de autoria feminina sob a perspectiva da crítica feminista no ocidente e no Brasil. Aponta como a crítica feminista evidenciou obras escritas por mulheres que eram ignoradas antes e como revelou a interseccionalidade das opressões no cânone literário. Também destaca como a produção literária feminina cresceu com a emergência de vozes como Clarice Lispector no Brasil.
Zolin explora, no texto estudado, a trajetória da literatura de autoria feminina sob o olhar da crítica feminista no âmbito ocidental europeu e, por fim, transpõe a análise para o cenário brasileiro. A crítica feminista foi responsável por evidenciar a escrita feminina como parte do percurso literário, escrita esta até então ignorada pela crítica tradicional, de ideologia patriarcal. A estudiosa inicia seu raciocínio ao contextualizar a relevância e crescimento da produção literária feminina e a crítica que a considera como implicações do movimento feminista, no esteio da revolução cultural da década de 1960. Zolin também destaca a interseccionalidade das opressões, ao definir o cânone tradicional não só como masculino, mas também branco, ocidental, de classe média e alta. A professora aponta para a exclusão da mulher, das etnias não brancas, das minorias sexuais e de classes sociais pouco favorecidas. A crítica feminista objetiva expor e explorar uma tradição feminina de escrita. Desinteressada dos paradigmas masculinos, anuncia a alteridade da mulher ao resgatar a literatura por ela engendrada ao longo da história. No Brasil, Zolin destaca que essa tentativa resultou na descoberta de diversas obras dos séculos XIX e XX escritas por mulheres. Diante da revelação de obras de autoria feminina omitidas pelo cânone ainda que de considerável valor estético, a crítica feminista descreve os critérios de qualidade da crítica tradicional como alicerçados aos valores da cultura patriarcal. Desta feita, a crítica feminista abala a noção de neutralidade do saber e do meio canônico, engatada a um aporte teórico pós-estruturalista. A concepção histórica para ela é, portanto, seletiva, a partir de um olhar vigente e dominante, e mutável, em função de acontecimentos sociopolíticos e transições geracionais e de mentalidade. Nesse cenário de libertação e reconhecimento das obras de mulheres, houve um aumento notável de publicações por literatas. As narrativas passam a incorporar personagens centrais femininas, conscientes de seu estado de repressão. No Brasil, fortalece-se o fenômeno de produção feminina com a ascensão de Clarice Lispector, como precedente da ruptura com a incorporação de valores patriarcais na escrita de mulheres. Com a emergência de Lispector, surgem escritoras significativas no cenário da literatura brasileira, como Lígia Fagundes Telles, Nélida Piñon, Lya Luft, Adélia Prado, Hilda Hilst, etc. A produção literária feminina, conforme a autora, é marcada por mentalidades e limitações históricas, diferenciando-se de geração para geração. Contudo, baseando-se na ensaísta Elaine Showalter, estabelece a recorrência de padrões e temas na escrita de mulheres, que se agrupam, na terminologia de Showalter, em uma “female literary tradition” (“tradição literária feminina”). Para a ensaísta, todas as subculturas literárias (como a negra) percorrem as fases de: imitação e internalização dos padrões vigentes; fase de protesto contra esses padrões; e de autodescoberta, em que se busca a própria identidade. Assim sucede também na literatura de autoria feminina, em que as fases são adaptadas para respectivas fase feminina (internalização de padrões e valores patriarcais), fase feminista (protesto e ruptura em relação aos padrões patriarcais) e fase fêmea (autodescoberta e busca do próprio caminho). Quanto a literatura inglesa, Zolin propõe a divisão temporal de Showalter: a fase feminina data do período entre 1840 e 1880, com a obra representativa de Charlotte Brontë, Jane Eyre (1847); a fase feminista, dura entre 1880 e 1920, marcada pelos romances de Virgínia Woolf, como Ms. Dalloway (1925); a fêmea, dura da década de 1920 à atualidade, tendo como exemplar The Bloody Chamber (1979/ “A Câmara Sangrenta”), de Angela Carter. Por sua vez, na literatura francesa, Zolin relega os romances de Madame de Lafayette e de George Sand como exemplares da fase feminina; o romance L’invitée (1943/ “A convidada”) de Simone de Beauvoir como representante da fase feminista; e a fase fêmea incorporada pela romancista Annie Ernaux.