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LITERATURA DE AUTORIA FEMININA, Lúcia Osana Zolin

Anna Clara Figueiredo Lima (201813022)


Zolin explora, no texto estudado, a trajetória da literatura de autoria feminina sob o
olhar da crítica feminista no âmbito ocidental europeu e, por fim, transpõe a análise para o
cenário brasileiro. A crítica feminista foi responsável por evidenciar a escrita feminina
como parte do percurso literário, escrita esta até então ignorada pela crítica tradicional, de
ideologia patriarcal. A estudiosa inicia seu raciocínio ao contextualizar a relevância e
crescimento da produção literária feminina e a crítica que a considera como implicações
do movimento feminista, no esteio da revolução cultural da década de 1960. Zolin também
destaca a interseccionalidade das opressões, ao definir o cânone tradicional não só como
masculino, mas também branco, ocidental, de classe média e alta. A professora aponta
para a exclusão da mulher, das etnias não brancas, das minorias sexuais e de classes
sociais pouco favorecidas.
A crítica feminista objetiva expor e explorar uma tradição feminina de escrita.
Desinteressada dos paradigmas masculinos, anuncia a alteridade da mulher ao resgatar a
literatura por ela engendrada ao longo da história. No Brasil, Zolin destaca que essa
tentativa resultou na descoberta de diversas obras dos séculos XIX e XX escritas por
mulheres. Diante da revelação de obras de autoria feminina omitidas pelo cânone ainda
que de considerável valor estético, a crítica feminista descreve os critérios de qualidade
da crítica tradicional como alicerçados aos valores da cultura patriarcal. Desta feita, a
crítica feminista abala a noção de neutralidade do saber e do meio canônico, engatada a
um aporte teórico pós-estruturalista. A concepção histórica para ela é, portanto, seletiva, a
partir de um olhar vigente e dominante, e mutável, em função de acontecimentos
sociopolíticos e transições geracionais e de mentalidade.
Nesse cenário de libertação e reconhecimento das obras de mulheres, houve um
aumento notável de publicações por literatas. As narrativas passam a incorporar
personagens centrais femininas, conscientes de seu estado de repressão. No Brasil,
fortalece-se o fenômeno de produção feminina com a ascensão de Clarice Lispector,
como precedente da ruptura com a incorporação de valores patriarcais na escrita de
mulheres. Com a emergência de Lispector, surgem escritoras significativas no cenário da
literatura brasileira, como Lígia Fagundes Telles, Nélida Piñon, Lya Luft, Adélia Prado,
Hilda Hilst, etc.
A produção literária feminina, conforme a autora, é marcada por mentalidades e
limitações históricas, diferenciando-se de geração para geração. Contudo, baseando-se
na ensaísta Elaine Showalter, estabelece a recorrência de padrões e temas na escrita de
mulheres, que se agrupam, na terminologia de Showalter, em uma “female literary
tradition” (“tradição literária feminina”). Para a ensaísta, todas as subculturas literárias
(como a negra) percorrem as fases de: imitação e internalização dos padrões vigentes;
fase de protesto contra esses padrões; e de autodescoberta, em que se busca a própria
identidade. Assim sucede também na literatura de autoria feminina, em que as fases são
adaptadas para respectivas fase feminina (internalização de padrões e valores
patriarcais), fase feminista (protesto e ruptura em relação aos padrões patriarcais) e fase
fêmea (autodescoberta e busca do próprio caminho).
Quanto a literatura inglesa, Zolin propõe a divisão temporal de Showalter: a fase
feminina data do período entre 1840 e 1880, com a obra representativa de Charlotte
Brontë, Jane Eyre (1847); a fase feminista, dura entre 1880 e 1920, marcada pelos
romances de Virgínia Woolf, como Ms. Dalloway (1925); a fêmea, dura da década de
1920 à atualidade, tendo como exemplar The Bloody Chamber (1979/ “A Câmara
Sangrenta”), de Angela Carter. Por sua vez, na literatura francesa, Zolin relega os
romances de Madame de Lafayette e de George Sand como exemplares da fase
feminina; o romance L’invitée (1943/ “A convidada”) de Simone de Beauvoir como
representante da fase feminista; e a fase fêmea incorporada pela romancista Annie
Ernaux.

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