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RACIONALIDADE

ARGUMENTATIVA DA
FILOSOFIA E A DIMENSÃO
DISCURSIVA DO TRABALHO
FILOSÓFICO

Exercícios I.
Documento elaborado no âmbito da definição das Aprendizagens Essenciais

Aires Almeida,
3 Luizete Dias e Sérgio Lagoa
SPF e APF
Ficha técnica

Autor: Aires Almeida, Luizete Dias e Sérgio Lagoa | 2017

Atualização em setembro de 2018

Documento elaborado no âmbito da definição das Aprendizagens Essenciais da


disciplina de Filosofia.

Uma colaboração da Sociedade Portuguesa de Filosofia e da Associação de


Professores de Filosofia

Utilização sob licença Creative Commons Atribuição – Uso Não-Comercial – Proibição de


Realização de Obras Derivadas (by-nc-nd)

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Sumário
TESE, ARGUMENTO, VALIDADE, VERDADE E SOLIDEZ 6

O QUADRADO DA OPOSIÇÃO 11

FORMAS DE INFERÊNCIA VÁLIDA E PRINCIPAIS FALÁCIAS FORMAIS 13

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TESE, ARGUMENTO, VALIDADE, VERDADE E SOLIDEZ

1. Identifica a tese presente em cada um dos textos.

Texto A
A preocupação fundamental da filosofia consiste em questionarmos e compreendermos ideias muito
comuns que usamos todos os dias sem pensarmos nelas. Um historiador pode perguntar o que
aconteceu em determinado momento do passado, mas um filósofo perguntará: “O que é o tempo?”
Um matemático pode investigar as relações entre os números, mas um filósofo perguntará: “O que é
um número?” Um físico perguntará de que são constituídos os átomos ou o que explica a gravidade,
mas um filósofo irá perguntar como podemos saber que existe qualquer coisa fora das nossas
mentes. Um psicólogo pode investigar como é que as crianças aprendem uma linguagem, mas um
filósofo perguntará: “Que faz uma palavra significar qualquer coisa?” Qualquer pessoa pode
perguntar se entrar num cinema sem pagar está errado, mas um filósofo perguntará: “O que torna
uma ação certa ou errada?”
NAGEL, Thomas, Que Quer Dizer Tudo Isto? Uma Iniciação à Filosofia,
Lisboa, Gradiva, Filosofia Aberta, 1.ª edição (2.ª tiragem), 1997, pp. 8-9

Texto B
A filosofia é diferente da ciência e da matemática. Ao contrário da ciência, não assenta em
experimentações nem na observação, mas apenas no pensamento. E, ao contrário da matemática,
não tem métodos formais de prova.
T. Nagel (1995), Que Quer Dizer Tudo Isto? Uma Iniciação à Filosofia, Lisboa, Gradiva, pp. 8-9

Texto C
“Uma vez que o universo existe e não pode ter sido criado a partir do nada, teve de ser criado por
uma força inteligente.”
Texto D
Temos que apoiar e acolher os refugiados, porque a situação deles é uma consequência de uma
ação injusta, ainda que existam guerras justas.

SOLUÇÕES

Tese do texto A – A preocupação fundamental da filosofia consiste em questionarmos e


compreendermos ideias muito comuns que usamos todos os dias sem pensarmos nelas.

Tese do texto B – A filosofia é diferente da ciência e da matemática.

Tese do texto C – O Universo foi criado por uma força inteligente.

Tese do texto D – Temos que apoiar e acolher os refugiados.

2. Identifica as premissas e a conclusão dos seguintes argumentos.

2.1. Há uma causa de todas as coisas, porque todas as coisas têm um criador.
2.2. Os filósofos querem ser justos, pois são pessoas bondosas, e todas as pessoas
bondosas querem ser justas.
2.3. Não há diferença entre a astronomia e a astrologia, já que qualquer uma delas pretende
conhecer os astros.
2.4. Dado que o conhecimento é uma crença verdadeira justificada, a fé na existência de
Deus é incompatível com o conhecimento da sua existência.
2.5. Se tudo está determinado, então não há livre-arbítrio. Mas há livre arbítrio. Por
conseguinte nem tudo está determinado.

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SOLUÇÕES

2.1. Premissa – Todas as coisas têm um criador.

Conclusão - Há uma causa de todas as coisas.

2.2. Premissa – Todas as pessoas bondosas querem ser justas.

Premissa – Os filósofos são pessoas bondosas.

Conclusão – Os filósofos querem ser justos.

2.3. Premissa – A astronomia e astrologia pretendem conhecer os astros.

Conclusão – Não há diferença entre a astronomia e a astrologia.

2.4. Premissa – O conhecimento é uma crença verdadeira justificada.

Conclusão – A fé na existência de Deus é incompatível com o conhecimento da sua


existência.

2.5. Premissa – Se tudo está determinado, então não há livre-arbítrio.

Premissa – Há livre-arbítrio.

Conclusão - Nem tudo está determinado.

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3. Seleciona a alternativa correta para cada um dos itens seguintes.

3.1. Um argumento poder ser…


A. Verdadeiro ou falso, mas não válido ou inválido.
B. Verdadeiro ou válido, mas não inválido ou falso.
C. Válido ou inválido, mas não verdadeiro ou falso.
D. Verdadeiro ou falso, bem como válido ou inválido.

3.2. A verdade é uma propriedade:


A. da proposição.
B. da frase.
C. do argumento.
D. do conceito.

3.3. Os argumentos sólidos são:


A. Argumentos válidos que têm conclusão falsa.
B. Argumentos inválidos que têm premissas verdadeiras.
C. Argumentos válidos que têm premissas verdadeiras.
D. Argumentos válidos que têm uma premissa verdadeira.

3.4. A validade é uma propriedade:


A. da proposição.
B. da inferência.
C. da conclusão.
D. do conceito.

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3.5. Para que um raciocínio seja sólido…
A. Basta ter conclusão verdadeira.
B. Basta ter premissas verdadeiras.
C. Não tem de ser válido.
D. Não basta ser válido.

SOLUÇÕES

1. C.
2. A.
3. C.
4. B.
5. D.

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O QUADRADO DA OPOSIÇÃO

1. Identifique a quantidade e a qualidade das proposições expressas pelas seguintes frases:

1.1. Nenhum mamífero é ovíparo.


1.2. Todos os quadrados têm quatro lados.
1.3. Alguns atos livres são determinados.
1.4. Qualquer pessoa gosta de ter amigos.
1.5. Nem todos os acontecimentos são determinados.
1.6. Há acontecimentos que não são determinados.
1.7. Não há atos livres determinados.
1.8. Cada português tem familiares emigrantes.
1.9. Certos dias de chuva são bonitos.
1.10. Muitos filósofos são cientistas.

SOLUÇÕES

1.1. Proposição universal negativa (Tipo E).


1.2. Proposição universal afirmativa (Tipo A).
1.3. Proposição particular afirmativa (Tipo I).
1.4. Proposição universal afirmativa (Tipo A).
1.5. Proposição particular afirmativa (Tipo I).
1.6. Proposição particular negative (Tipo O).
1.7. Proposição universal negativa. (Tipo E).
1.8. Proposição universal afirmativa (Tipo A).
1.9. Proposição particular afirmativa (Tipo I).
1.10. Proposição particular afirmativa (Tipo I).

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2. Apresenta a negação das proposições expressas pelas seguintes frases:

2.1. Alguns atos livres são determinados.


2.2. Nem todos os acontecimentos são determinados.
2.3. Certos acontecimentos não são determinados.
2.4. Os atos livres nunca são determinados.
2.5. Algumas guerras não são justas.
2.6. Todas as aves têm asas.
2.7. Qualquer proposição tem valor de verdade.
2.8. Muitos argumentos são válidos.
2.9. Não há argumentos falsos.
2.10. Alguns argumentos sustentam teses.

SOLUÇÕES

2.1. Nenhum ato livre é determinado.


2.2. Todos os acontecimentos são determinados.
2.3. Todos os acontecimentos são determinados.
2.4. Alguns atos livres são determinados.
2.5. Todas as guerras são justas.
2.6. Algumas aves não têm asas.
2.7. Alguma proposição não tem valor de verdade.
2.8. Nenhum argumento é válido.
2.9. Alguns argumentos são falsos.
2.10. Nenhum argumento sustenta teses.

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FORMAS DE INFERÊNCIA VÁLIDA E PRINCIPAIS FALÁCIAS FORMAIS

1. Formalize as proposições expressas pelas frases seguintes, começando por estabelecer


o respetivo dicionário:
1.1. Platão era filósofo mas Euclides não.
1.2. Sócrates é filósofo se e só se for grego e tiver sido condenado à morte.
1.3. Se a vida não for eterna, viver não faz sentido.
1.4. A matemática é estimulante, apesar de ser difícil.
1.5. Correr faz bem à saúde e não custa dinheiro.
1.6. A Bíblia foi escrita em grego ou em hebraico, mas foi traduzida para latim.
1.7. Não é verdade que a vida é curta e a morte é longa.
1.8. É fácil tirar boas notas a filosofia, se formos pessoas curiosas e tivermos espírito crítico.

SOLUÇÕES

1.1. Dicionário:
P – Platão é filósofo.
Q – Euclides é filósofo.

P ꓥ¬Q

1.2. Dicionário:
P – Sócrates é filósofo.
Q – Sócrates é grego.
R – Sócrates foi condenado à morte.

P ↔ (Q ꓥ R)

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1.3. Dicionário:
P – A vida é eterna.
Q – Viver faz sentido.

¬P → ¬ Q

1.4. Dicionário:
P – A matemática é estimulante.
Q – A matemática é difícil.

PꓥQ

1.5. Dicionário:
P – Correr faz bem à saúde.
Q – Correr custa dinheiro.

P ꓥ¬ Q

1.6. Dicionário:
P – A Bíblia foi escrita em grego.
Q – A Bíblia foi escrita em hebraico.
R - A Bíblia foi traduzida para latim.

(P V Q) ꓥ R

1.7. Dicionário:
P – A vida é curta.
Q – A morte é longa.

¬ (P ꓥ Q)

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1.8. Dicionário:
P – É fácil tirar boas notas a filosofia.
Q – Somos pessoas curiosas.
R - Temos espírito crítico.

(Q ꓥ R) → P

2. Traduza as seguintes fórmulas para linguagem natural, tendo em conta os respetivos


dicionários:

2.1. (P∨ Q) → ¬ R
P: A baleia é um cetáceo.
Q: A baleia é um cefalópode.
R: A baleia é um peixe.

2.2. ¬ P∧ Q
P: Sócrates escreveu livros.
Q: Sócrates é citado.

2.3. Q → ¬ P
P: A água é um recurso limitado.
Q: É correto esbanjar água.

2.4. ¬ P∧¬ Q
P: O polvo é peixe.
Q: O polvo é carne.

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2.5. P ∧ (Q ∨ R)
P: A temperatura desce.
Q: O vento muda de direção.
R: A corrente marítima é fria.

SOLUÇÕES

2.1. Se a baleia é um cetáceo ou um cefalópode, então a baleia não é um peixe.


2.2. Sócrates não escreveu livros, mas é citado.
2.3. Se é correto esbanjar água, então a água não é um recurso limitado.
2.4. O polvo não é peixe e nem é carne.
2.5. A temperatura desce, e o vento muda de direção ou a corrente marítima é fria.

3. Construa tabelas de verdade para cada uma das fórmulas anteriores.

SOLUÇÕES
3.1.

P Q R (P ∨ Q) → ¬ R
V V V V F F
V V F V V V
V F V V F F
V F F V V V
F V V V F F
F V F V V V
F F V F V F
F F F F V V

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3.2.
P Q ¬P ∧ Q
V V F F
V F F F
F V V V
F F V F

3.3.
P Q Q → ¬P
V V F F
V F V F
F V V V
F F V V

3.4.
P Q ¬P ∧ ¬Q
V V F F F
V F F F V
F V V F F
F F V V V

3.5.

P Q R P ꓥ (Q ∨ R)
V V V V V
V V F V V
V F V V V
V F F F F
F V V F V
F V F F V
F F V F V
F F F F F
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4. Será que podemos determinar o valor de verdade da proposição expressa em 1.1,
sabendo apenas que Platão era filósofo?

Não. A proposição é uma conjunção e só é verdadeira quando as proposições conjuntas são


verdadeiras. Como não sabemos o valor da proposição ¬Q, ela tanto pode ser verdadeira como
pode ser falsa.

5. Supondo que é verdadeiro que a matemática é estimulante, mas que é falso que é difícil,
qual o valor de verdade da proposição expressa em 1.4?

A proposição é falsa, porque uma conjunção só é verdadeira quando ambas as conjuntas são
verdadeiras, o que não é o caso.

6. Formalize os seguintes argumentos, começando por apresentar os respetivos


dicionários:
6.1. Aristóteles era filósofo ou armador. Portanto era filósofo, dado que não era armador.
6.2. Se a arte tem valor, é ensinada às crianças. Logo, se é ensinada às crianças, tem
valor.
6.3. Se está calor e não chove, a praia está cheia. Mas a praia não está cheia. Por
conseguinte, não está calor ou não chove.

SOLUÇÕES
6.1. Dicionário:
P – Aristóteles era filósofo.
Q – Aristóteles era armador.

P V Q , ¬Q ∴ P

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6.2. Dicionário:
P – A arte tem valor.
Q – A arte é ensinada às crianças.

P→Q ∴Q→P

6.4. Dicionário:
P – Está calor
Q – Chove
R – A praia está cheia

(P ∧¬ Q) → R , ¬R ∴ ¬P V ¬ Q

7. Recorrendo a tabelas de verdade, mostre quais dos anteriores argumentos são válidos e
quais são inválidos. Justifique cada um dos casos.

SOLUÇÕES:
P Q P⋁Q ¬Q P
V V V F V
V F V V V
F V V F F
F F F V F

O argumento 6.1. é válido, porque a conclusão é verdadeira sempre que as premissas são
verdadeiras, tal como se verifica na 2.ª circunstância.. Trata-se do silogismo disjuntivo.

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P Q P→Q Q→P
V V V V
V F F V
F V V F
F F V V

O argumento 6.2. é inválido, porque, como se verifica na 3.ª circunstância, é possível ter premissas
verdadeiras e a conclusão falsa, o que nunca sucede num argumento válido.

P Q R (P ∧ ¬ Q) → R ¬R (¬ P V ¬ Q)

V V V F F V F F F F

V V F F F V V F F F

V F V V V V F F V V
V F F V V F V F V V
F V V F F V F V V F
F V F F F V V V V F
F F V F V V F V V V
F F F F V V V V V V

O argumento 6.3. é inválido, porque na 2.ª circunstância verifica-se que as premissas são
verdadeiras e a conclusão falsa, o que não pode ocorrer num argumento dedutivamente válido.

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8. O que se segue da afirmação «Se a prata está barata, então não se justifica vendê-la»,
aplicando a regra da contraposição?

Se se justifica vender a prata, então a prata não está barata.

9. O que se segue da afirmação «Não é verdade que ler livros é inútil e aborrecido»,
aplicando uma das leis de De Morgan?

Não ler livros é inútil ou não é aborrecido.

10. Construa um argumento com a forma modus tollens, cuja conclusão seja «A Rita não foi
enganada».

CENÁRIO DE RESPOSTA
Se a Rita for enganada, então fica aborrecida.
A Rita não ficou aborrecida.
Logo, a Rita não foi enganada.

11. Construa um argumento com a forma do silogismo disjuntivo, em que uma das premissas
seja «A Rita não foi enganada».

CENÁRIO DE RESPOSTA:
A Rita foi enganada ou foi elogida.
A Rita não foi enganada.
Logo, a Rita foi elogiada.

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12. O que se conclui, aplicando a regra do silogismo hipotético, das afirmações «Se
conduzires embriagado, vais ter azar» e «Se tiveres azar, não vais acabar bem o dia»?

«Se conduzires embriagado, não vais acabar bem o dia.»

13. Construa um argumento com a forma modus ponens, em que uma das premissas seja «O
Porto é uma cidade bonita».

CENÁRIO DE RESPOSTA:
Se o Porto é uma cidade bonita, então tem monumentos históricos.
O Porto é uma cidade bonita.
Logo, o Porto tem monumentos históricos.

14. Identifique a falácia formal em que se incorre no seguinte argumento, justificando a sua
resposta: «Se Lisboa é uma cidade pequena, é uma cidade bonita. Ora, Lisboa não é uma
cidade pequena. Portanto não é uma cidade bonita.»

Falácia da negação da antecedente, na medida em que da negação da antecedente nada se


segue, pelo que não se pode inferir que não é bonita por não ser pequena (pode não ser pequena e
ainda assim ser bonita).

15. Identifique a falácia formal em que se incorre no seguinte argumento, justificando a sua
resposta: «Se Lisboa é uma cidade grande, não é uma cidade bonita. Ora, Lisboa não é
uma cidade bonita. Portanto é uma cidade grande.»

Falácia da afirmação do consequente, na medida em que da negação da antecedente nada se


segue, pelo que não se pode inferir que não é grande por não ser bonita (pode não ser grande e
também não ser bonita).
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BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

Branquinho, J & Murcho, D. (orgs.) (2001). Enciclopédia de termos lógico-filosóficos. Lisboa:


Gradiva.

Kneale, W & Kneale, M. (1980). O desenvolvimento da lógica. Lisboa, Fundação Calouste


Gulbenkian.

Murcho, Desidério (2003). O Lugar da lógica na filosofia. Lisboa: Plátano Editora.

Newton-Smith, W. H. (1998). Lógica. Um curso introdutório. Lisboa: Gradiva.

Santos, Ricardo (2014). “Lógica”, in Galvão, Pedro (ed). A Filosofia por disciplinas. Lisboa, Edições
70.

Warburton, Nigel (2012). Pensar de A a Z. Lisboa: Bizâncio.

Weston, Anthony (1996). A arte de argumentar. Lisboa: Gradiva.

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