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DOI: http://dx.doi.org/10.7784/rbtur.v12i1.1344
Resumo: Propósito justificado do tema: O estudo das redes sociais empreendedoras tem sido reconhecido
como determinante no processo empreendedor, como no sucesso dos empreendimentos. Desde a década de
90, houve um especial interesse em pesquisar redes sociais com o recorte do gênero e, considerando a sua
relevância, essa temática continua sendo muito atual. Objetivo: O objetivo geral deste estudo é analisar como
as redes sociais são utilizadas pelas empreendedoras no processo de criação de novos negócios. Especificamente
pretende identificar os tipos de laços que são utilizados pelas empreendedoras nas suas redes sociais nas fases
de concepção, start-up e consolidação de negócios e verificar como essas redes sociais influenciam na obtenção
de recursos. Metodologia/Design: A estratégia de pesquisa utilizada foi o estudo de casos múltiplos e as evidên-
cias foram coletadas por meio de entrevistas pessoais semiestruturadas com sete empreendedoras de agências
de viagens de micro e pequeno porte. Os casos foram descritos individualmente e após essa descrição foi reali-
zada a análise comparativa dos casos para examinar suas semelhanças e diferenças. Resultados e Originalidade
do Documento: Entre os resultados encontrados vale destacar que os laços fortes foram os mais utilizados pelas
empreendedoras principalmente na fase de concepção do negócio. Além disso, constatou-se que a experiência
prévia foi determinante na identificação da oportunidade e na capacidade de se construir redes diversificadas.
Abstract: Justification of the topic: The study of entrepreneurial social networks has been recognized as crucial
in the entrepreneurial process, as well as in the success of the businesses. Since the 90s, there has been a special
interest in researching social networks focused on gender, and taking into account its relevance, this topic is still
1
Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR, Brasil. Definição de objetivos; elaboração do referencial
teórico; definição dos procedimentos metodológicos, interpretação de dados e redação do artigo.
2
Fundação Getúlio Vargas (FGV_EAESP), São Paulo, SP, Brasil. Redação e revisão crítica do artigo.
3
Universidade Federal de Sergipe (UFS), Aracaju, SE, Brasil. Coleta e análise de dados.
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very current. Objectives: The aim of this study is to analyse how social networks are used by female entrepre-
neurs in the of new business creation process. Specifically aims to identify the types of bonds that are used by
female entrepreneurs in their social networks in the stages of conception, start-up and business consolidation
and verify how these social networks influence in obtaining resources. Methodology/Design: The research strat-
egy adopted is the multiple case study and evidences were collected through semi-structured personal inter-
views with seven entrepreneurs of micro and small travel agencies. The cases were described individually and
followed by a comparative analysis to examine their similarities and differences. Results and Originality of the
Document: The study shows that the strong bonds were the most used by entrepreneurs mainly in the concep-
tion stage. Furthermore, it also shows that that previous experience was very important in the identification of
the opportunity and ability to build diverse networks.
Resumen: Propósito justificado del tema: El estudio de las redes sociales emprendedoras ha sido reconocido
como determinante en el proceso emprendedor, como en el éxito de los emprendimientos. Desde la década de
1990, hubo un especial interés en investigar redes sociales con el recorte del género y, considerando su relevan-
cia, esta temática sigue siendo muy actual. Objetivo: El objetivo general de este estudio es analizar cómo las
redes sociales son utilizadas por las emprendedoras en el proceso de creación de nuevos negocios. Específica-
mente pretende identificar los tipos de lazos que son utilizados por las emprendedoras en sus redes sociales en
las fases de concepción, start-up y consolidación de negocios y verificar cómo esas redes sociales influencian en
la obtención de recursos. Metodología/Design: La estrategia de investigación utilizada fue el estudio de casos
múltiples y las evidencias fueron recogidas por medio de entrevistas personales semiestructuradas con siete
emprendedoras de agencias de viajes de micro y pequeño porte. Los casos fueron descritos individualmente y
después de esa descripción se realizó el análisis comparativo de los casos para examinar sus similitudes y dife-
rencias. Resultados y originalidad del documento: Entre los resultados encontrados cabe destacar que los “lazos
fuertes” fueron los más utilizados por las emprendedoras principalmente en la fase de concepción del negocio.
Además, se constató que la experiencia previa fue determinante en la identificación de la oportunidad y en la
capacidad de construir redes diversificadas.
Palabras clave: Emprendedorismo. Redes sociales emprendedoras. Emprendedor femenino. Proceso empren-
dedor.
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dificuldade para conciliar demandas da famí- e Zimmer, 1986). No começo de um novo em-
lia e do empreendimento (GEM, 2016). preendimento, a rede social é um ativo cru-
A participação crescente das mulhe- cial para os empreendedores que mobilizam
res na economia brasileira é também demos- sua rede de relações pessoais para obter re-
trada em pesquisa realizada pelo SEBRAE- cursos físicos, informação, suporte emocio-
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Peque- nal, capital, contatos de negócios e transfor-
nas Empresas, publicada em 2014. Esse es- mar visões e planos de negócio em realidade
tudo demostra que, embora tenha represen- (Birley, 1985; Johannisson, 1998, 2000). A
tado menos da metade da ocupação na eco- preocupação com o tema das redes sociais e
nomia, durante a década 2002-2012, as mu- sua relação com os empreendedores têm
lheres aumentaram sua participação, au- sido reconhecidas como determinante do
mento este provocado pelo maior dina- processo empreendedor, como também do
mismo de crescimento da sua ocupação, cuja sucesso dos empreendimentos (Aldrich et al.,
taxa observada foi de 2,1% a.a., chegando a 1987; Greve e Salaff, 2003). No que se refere
40,7 milhões de mulheres ocupadas em a redes sociais com o recorte de gênero, ape-
2012. Também é expressiva a inserção femi- sar do interesse por essa abordagem ter re-
nina no mercado de trabalho formal, onde cebido especial atenção na década de 90, a
elas representavam cerca de 40,0% dos tra- temática ainda é atual e carece de estudos
balhadores com carteira assinada, em micro que possam contribuir para o aprofunda-
e pequenas empresas (SEBRAE, 2014). mento das questões existentes ou com o sur-
Estudos têm demonstrado que as mu- gimento de novas (Neergaard et al., 2005).
lheres abrem empresas por diferentes moti- Este estudo é voltado ao setor de tu-
vos: desejo de realização e independência, rismo, que é o de maior crescimento no
percepção de oportunidade de mercado, di- mundo. Em 2012, o setor representou para
ficuldades em ascender na carreira profissio- o PIB mundial um crescimento de 3%, o qual
nal em outras empresas (fenômenos este co- ultrapassou o crescimento da economia glo-
nhecido como “teto de vidro”), necessidade bal (2,3%). Prevê-se que, no longo prazo, vi-
de sobrevivência e como uma maneira de agens e turismo serão responsáveis por 10%
conciliar trabalho e família (Machado et al., do PIB mundial, gerando milhões de postos
2003), além do fato de muitas pertencerem a de trabalho em uma proporção de um em
famílias de empreendedores (Buttner e Mo- cada dez. No Brasil, o PIB do setor de turismo
ore, 1997), o que as direciona automatica- teve uma participação de 9,1%, em 2012,
mente ao empreendedorismo como se fosse com previsão de crescimento para a próxima
uma predisposição genética. década em uma média de 5,2% ao ano. No
As redes sociais são conhecidas por que se refere ao emprego, a contribuição re-
ajudarem os empreendedores no começo de presentou 8,3% do total e neste ano é espe-
um novo negócio, provendo acesso à infor- rado um aumento de 3,8%, nos postos de tra-
mação, conselhos e apoio financeiro (Aldrich balho (WTTC, 2013).
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Em função desse contexto, foi defi- Williams e Tse ,1995). A partir do ano 2000
nido que o objetivo geral deste estudo que é observa-se que as pesquisas de empreende-
analisar como as redes sociais são utilizadas dorismo em turismo se diversificam e abor-
pelas empreendedoras de agências de via- dam temas diversos, a exemplo do empreen-
gens na criação dos seus negócios. Especifi- dedorismo étnico (Butler; Carter e Brunn,
camente pretende-se identificar os tipos de 2002); intraempreendedorismo (Altinay,
laços que são utilizadas pelas empreendedo- 2005; Jogaratnam e Tse, 2006) ou empreen-
ras nas suas redes sociais nas fases de con- dedorismo sustentável em turismo (Kokkra-
cepção, start-up e consolidação de negócios nikal e Morrison, 2002). O processo empre-
e verificar como essas redes sociais influen- endedor em turismo foi analisado no estudo
ciam na obtenção de recursos. A seguir, é de Haber e Reichel (2007), que foi realizado
apresentada revisão teórica sobre empreen- em Israel e baseado na teoria da RBV (Visão
dedorismo em turismo, empreendedorismo Baseada em Recursos), e utilizou um modelo
e processo empreendedor e redes sociais integrado combinando o processo empreen-
empreendedoras e gênero. dedor com a acumulação de recursos.
Li (2008) fez revisão das pesquisas em
2 EMPREENDEDORISMO EM TURISMO hospitalidade e turismo e identificou os arti-
gos sobre empreendedorismo em turismo
Estudos sobre empreendedorismo publicados nos sete periódicos mais relevan-
em turismo são recentes e foram iniciados tes da área no período de 1986 a 2006. Con-
nos anos 90. Os pioneiros turismo tinham cluiu que, apesar da importância dos peque-
como foco principal identificar as motivações nos negócios e do espírito empresarial na in-
dos empreendedores para criar negócios dústria de hospitalidade e turismo, os resul-
(Getz e Carlsen, 2000) e as características dos tados revelam que apenas 2% do número de
empreendedores do setor (Glancey e Petti- artigos publicados no período analisado são
grew, 1997; Lynch, 1998; Shivas 2001; Lerner relacionados a empreendedorismo. Para Jaa-
e Haber, 2000). Muitos pesquisadores identi- far et al. (2011) a falta de importância relativa
ficaram a existência de motivações relaciona- da educação e conhecimento relacionado a
das ao estilo de vida (life styles motives) entre indústria do turismo influencia no apoio à ca-
empreendedores do setor. Entre eles merece pacidade de sobrevivência de empreendedo-
destaque o estudo de Morrison, Rimmington res de pequenos e médios negócios no setor
e Williams (1999) que verificou que os negó- de turismo.
cios no setor turístico são frequentemente Mais recentemente Andriga, Poulson
iniciados por aqueles que buscam um estilo e Pernecky (2016) analisam fatores motivaci-
de vida no qual as necessidades da família, a onais que explicam a transição de empreen-
renda e o modo de vida estejam equilibrados. dedores de sucesso de volta ao mercado de
Além das motiva-ções, as tipologias de em- trabalho. Concluiu que, embora os estilos de
preendedores no setor turístico foram apre- vida fossem auto-impostos, eles foram
sentadas em alguns estudos (Michaud, 1991; exacerbados pelas necessidades da família,
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rístico de Florianópolis (SC). Os resultados revela- Ray (2003); Shane (2003) e Sarasvathy
ram a existência de diferenças significativas entre (2006), argumentam que muitos desses mo-
as médias obtidas por esse segmento e as demais delos clamam por universalidade, mas que
entrevistadas, nos fatores traços de personali- isso de fato não ocorre, pois muitos deles
dade, postura estratégica e propensão ao risco.
tem reduzidas possibilidades de generaliza-
ção.
2.1 Empreendedorismo e o processo de cri-
Borges et al. (2005), assim como Gar-
ação de negócios
tner (1985), acreditam que também o empre-
endedor, o processo de criação, o novo negó-
Shane e Venkataraman (2000) en-
cio e o ambiente, devem ser levados em
tendem o empreendedorismo como um pro-
conta em qualquer estudo sobre criação de
cesso que envolve as fases de descoberta,
negócios. Em pesquisa realizada por estes
avaliação e exploração de oportunidades pe-
autores no Canadá sobre o processo de cria-
los indivíduos envolvidos. Autores clássicos
ção de negócios foram observados detalha-
como Reynolds e Miller (1992) argumentam
damente os estágios e as atividades do pro-
que, apesar do crescimento de estudos sobre
cesso de criação. Esses autores apresentam
o campo do empreendedorismo, ainda exis-
um modelo do processo de empreender em
tem poucos que exploram o processo de cri-
quatro fases: iniciação, preparação, lança-
ação de negócios; isso quer dizer, do período
mento e consolidação. A primeira delas co-
da concepção ao nascimento de uma nova
meça com a identificação da oportunidade,
empresa. De acordo com Gartner (1985) a
desenvolvimento da ideia e a decisão de criar
criação de novos empreendimentos possui
o empreendimento. Na fase seguinte, a pre-
quatro dimensões que são: a) indivíduo (s) -
paração, ocorre a formatação do plano de
as características da (s) pessoa (s) que inicia
negócio, os estudos de mercado, a mobiliza-
(m) o negócio; b) organização – o tipo de em-
ção dos recursos financeiros e a criação de
presa que é criada; c) ambiente – a situação
uma equipe empreendedora, para então,
que envolve o novo empreendimento; d)
com a fase de lançamento, o empreendi-
processo – as ações tomadas pelo empreen-
mento iniciar efetivamente as suas ativida-
dedor para iniciar o novo negócio.
des. Por último, inicia-se a fase de consolida-
Moroz e Hindle (2012) destacam que
ção e as atividades associadas são a promo-
existe consenso sobre a carência de estudos
ção e comercialização dos produtos ou servi-
rigorosos sobre o processo no campo do em-
ços e a administração do empreendimento.
preendedorismo, não apenas com relação a
Alguns estudos foram realizados no Brasil so-
como o processo interage com outras dimen-
bre o processo de criação de empreendimen-
sões, mas até mesmo como objeto singular
tos no setor de turismo e são destacados a
de estudo. Ao examinarem trinta e dois mo-
seguir.
delos de processo empreendedor, a exemplo
Teixeira (2012) adotou o modelo de
dos modelos clássicos de Gartner (1985),
Borges et al. (2005) na análise do processo de
Bruyat e Julien (2000), Archivilli, Cardoso e
criação em empresas do setor de turismo,
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recursos e as oportunidades que são criados capital social elevado e outro de baixo capital
via rede social do empreendedor. Empreen- social. Foi identificado que as variáveis que
dedores constroem negócios bem sucedidos afetaram a probabilidade de determinar os
pela maximização de oportunidade e as suas tipos de capital são os tipos de participação
redes sociais são cruciais (Birley et al., 1990). em negócios de turismo rural e as principais
Além disso, afirmam Ducci e Teixeira cultivos. A venda de produtos agrícolas, a
(2011), essas redes podem contribuir para a preparação de refeições, aloja-mento e os
formação do capital social dos empreende- programas experienciais de turismo rural
dores. Para Park et al (2012) o capital social foram positivos. Esta desco-berta indica que
seria tudo o que facilita ação individual ou as pessoas que participam dessas atividades
coletiva, gerada por redes de relações, têm maior probabilidade de pertencer a um
reciprocidade, confiança e normas sociais. grupo de capital social elevado. Esse
Dois estudos internacionais com foco resultado também implica que,
na utilização do capital social no setor de tu- independentemente da categoria de negó-
rismo podem ser destacados. O primeiro foi cios de turismo, os benefícios financeiros do
realizado por Zhao, Ritchie e Echtner (2011) desenvolvimento do turismo são cruciais
aplicou o conceito de capital social para o de- para a construção mais confiança social e
senvolvimento do turismo. Foi realizado na cooperação nas comunidades.
China no ambiente rural e teve como obje- No Brasil, alguns estudos abordaram
tivo verificar a criação de novos empreendi- as redes sociais empreendedoras com foco
mentos e sua relação com o capital social. O no turismo. O pioneiro foi realizado por de
estudo indicou que o capital social estrutural Ducci e Teixeira (2010), em agência de via-
estava positivamente relacionado com a gem no interior do Paraná, teve como obje-
capacidade de empre-endimento e a tivo compreender como as redes sociais são
probabilidade do indivíduo de estabelecer utilizadas pelos empreendedores na forma-
um negócio de turismo, enquanto que o ção do seu capital social, nas fases de criação
capital social cognitivo era e de desenvolvimento de um negócio. Como
marginal. resultados mais relevantes observou o es-
O estudo de Park et al (2012) foi rea- tudo que os relacionamentos estabelecidos
lizado na Coréia do Norte com residentes de se aprofundaram à medida que se aumen-
vilarejos envolvidos em projetos governa- tava a confiança, o acesso às redes formais
mentais de turismo rural. Teve como objetivo viabilizou o acesso a recursos e informações
investigar o tipo de capital social que os resi- além de ter sido canal para o aprendizado, se
dentes locais possuíam e de que forma esse constatando assim, que de fato os recursos
capital era afetado por elementos como sta- acessados contribuíram para a formação do
tus socioeconômico, variáveis demográ-ficas seu capital social.
e interação da comunidade. Como resultado Entre os estudos mais recentes que
da análise de cluster, os residentes foram abordam essa temática no turismo vale des-
separados em dois grupos: um grupo de tacar os de Gimenez e Gimenez (2015) e de
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empresa tem uma estrutura pequena, sem A seguir são apresentados os Quadros
departamentos e todos os colaboradores aju- 21, 22 e 23 com resumo dos principais tipos
dam em todas as atividades. de laços e recursos que são encontrados nas
fases de concepção, start-up e consolidação
Tipos de laços e recursos nas fases do do negócio da empreendedora, extraídos a
negócio partir da descrição do caso da Agência 7.
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5.1 Laços e recursos acessados nas fases de sos físicos para a Agência 4 e de recursos fi-
concepção nanceiros para as Agências 3 e 5. Esses resul-
tados são compatíveis com os encontrados
A fase de concepção se refere ao mo- por outros estudos no setor de turismo.
mento da identificação da oportunidade do Ducci e Teixeira (2010) demostraram que os
negócio e no desenvolvimento da ideia. Com amigos e a família são os laços mais impor-
relação à ideia inicial do negócio, entre as tantes na fase inicial do negócio. Já Bomfim e
Agências de Viagem foi registrado apenas na Teixeira (2015) destacam que as dificuldades
Agência 2, o acesso aos laços fortes por meio enfrentadas pelas empreendedoras deste es-
de uma amiga para se obter a ideia do negó- tudo são diversas e que, para superar essas di-
cio. Verificou-se que a influência do ambi- ficuldades, contam sempre com o apoio das
ente foi determinante para o surgimento da suas redes de relacionamentos, especialmente
ideia do negócio e para a percepção da opor- dos familiares e amigos.
tunidade. No caso da Agência 1, toda experi- No que se refere ao acesso às redes
ência no setor de turismo foi adquirida no ne- constituídas por laços fracos, vale destacar
gócio da família; a ideia do negócio para as que empreendedoras das Agências 1 e 4 não
Agências 3, 4, 5 e 7 surgiu no ambiente de acessaram tais redes na fase de concepção
trabalho em que se encontravam; já no caso para obter recursos. No caso da empreende-
da Agência 6 a participação em curso supe- dora da Agência 1, verificou-se que os conta-
rior foi determinante para que surgissem as tos com vários familiares empresários du-
ideias. Vale destacar a importância das expe- rante toda a vida, aliado à experiência profis-
riências prévias das empreendedoras que sional na agência da família foram utilizados
também foram enaltecidas no estudo de Cor- da fase de concepção do negócio. No caso da
rêa e Vale (2014) onde se observou que as ex- Empreendedora 4, verificou-se que apesar de
periências anteriores possibilitaram criação uma experiência de mais de 20 anos no setor
de laços e relacionamentos focais e dotaram de turismo, a desconfiança com relação à
os empreendedores de habilidades técnicas postura ética de outros empresários, susci-
e referências, ainda que mínimas, facilitando tou na empreendedora, receio em estreitar
com isso a atividade empreendedora. relacionamentos. Acessaram os laços fracos
Nessa fase, todas as empreendedoras para obtenção de recursos sociais as empre-
acessaram os laços fortes. As empreendedo- endedoras das Agências 2, 3, 5, 6 e 7. No caso
ras das Agências 2, 3 e 4 contaram, além dos das Agências 2 e 5, foi recorrente a busca por
familiares, com os amigos que foram primor- como informações capazes de dirimir dúvi-
dialmente fonte de ideias. Eles forneceram a das relacionadas a aspectos legais e operaci-
ideia do negócio em si, ajudaram com ideias onais do negócio. A Agência 2 recorreu ao SE-
para propaganda, com o nome da empresa e BRAE para se informar sobre procedimentos
com a decoração. As empreendedoras das de abertura do negócio e a Agência 5 procu-
Agências 1, 5, 6 e 7 não acessaram os amigos rou outras operadoras para se informar so-
nesta fase e se apoiaram apenas em seus fa- bre o mercado. A Agência 3 ampliou suas ex-
miliares. Verificou-se nestes casos que a fa- periências através do compartilhamento de
mília também ajudou com ideias para o ne- conhecimentos e experiências de outras em-
gócio, mas parentes foram primordialmente presárias e de conselhos de fornecedores. O
o suporte emocional e moral das empreen- destaque em comum para as Agências 5 e 6
dedoras, pois atuam como conselheiros na fi- está nas orientações diversas oriundas de
gura do pai e da mãe e provedores de recur- operadoras e principalmente fornecedores.
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ços que lhe são mais próximos para obter in- 5.3 Laços e recursos acessados da fase de
formações e suporte. No caso deste estudo, start-up
o suporte oferecido pela família foi funda-
mental para o funcionamento do negócio.
No estágio de consolidação foi
Da rede de laços fortes, vale destacar
verificado como as redes sociais foram
ainda que os amigos foram também impor-
utilizadas pelas empreendedoras para as
tantes para a contratação do primeiro em-
atividades de marketing/vendas, para atingir
pregado. No caso da Agência 3, a amiga da
o ponto de equilíbrio, para facilitar o
empreendedora se tornou também sua fun-
planejamento e a administração do negócio.
cionária. As empreendedoras das Agências 3,
No geral, as empreendedoras acessaram
4, 5 e 7 buscaram recursos financeiros nesta
seus laços fortes para mobilizar recursos
etapa do negócio e os encontraram na pró-
sociais. A exceção entre as agências foi a
pria família. A empreendedora da Agência 3
empreendedora da Agência 5, que perdeu a
recebeu do pai a ajuda para arcar com os cus-
principal conexão com esta rede em razão do
tos fixos nos seis primeiros meses; a da Agên-
falecimento da pessoa que constituía seu
cia 4 recorreu ao seu irmão para obter di-
maior apoio – a mãe. Observou-se também
nheiro; a da Agência 5 obteve da mãe parte
que entre as Agências, das seis
do dinheiro para formar o capital de giro ne-
empreendedoras que acessaram os laços
cessário e a da Agência 7 precisou de di-
fortes apenas as Agências 3 e 7 recorreram
nheiro e recorreu também à própria família.
aos amigos obtendo alguns recursos sociais
Observou-se que os recursos sociais
distintos. Por parte dos amigos a
acessados por meio das redes constituídas
empreendedora da Agência 3 recebeu
por laços fracos foram muito importantes
conselhos e ajuda para identificar ameaças
para a legalização e desenvolvimento do ne-
da concorrência. Com relação à área de
gócio. No caso das Agências 1, 5 e 7, as em-
marketing e vendas, as empreendedoras,
preendedoras acessaram contadores para
além dos amigos, contaram também com
obterem ajuda com os procedimentos legais
familiares que por sua vez se destacaram
de abertura do negócio. Destaca-se ainda
como fornecedores desse tipo de recurso.
que esse recurso fora o mais utilizado na fase
A família se destacou como conse-
de Start-up. No tocante à contratação dos
lheira e fonte de apoio moral no caso das
primeiros empregados, duas agências obtive-
Agências 3, 6 e 7. Observou-se ainda que a
ram indicações de profissionais. A Agência 5
manutenção de alguns relacionamentos fa-
acessou esse recurso por meio do “amigo do
voreceu às empreendedoras com elevação
amigo” e a Agência 6 contratou por intermé-
do prestígio dentro da própria família no caso
dio de outra agência de turismo. Para o de-
da Agência 2; e no ambiente externo, com
senvolvimento do primeiro serviço, obser-
status social como ocorreu com a empreen-
vou-se o papel dos fornecedores. Eles ajuda-
dedora da Agência 1. No tocante à gestão fi-
ram as empreendedoras ensinando e orien-
nanceira, apenas a empreendedora da Agên-
tando acerca das melhores práticas de ven-
cia 2 buscou ajuda do marido, atribuindo a
das e medidas preventivas de segurança no
este a responsabilidade de tal função.
uso de cartões de crédito. Quanto aos recur-
Os recursos sociais advindos dos laços
sos financeiros destacou-se, mais uma vez, a
fracos também foram diversos. No entanto,
ajuda de fornecedores que liberaram crédito
a troca de informações sobre o setor turís-
para a empreendedora da Agência 4 viabili-
tico, no caso das Agências, foi o recurso mais
zar os primeiros serviços e treinamento.
Rev. Bras. Pesq. Tur. São Paulo, 12(1), pp. 102-132, jan./mar. 2018.
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Teixeira, R. M.; Andreassi, T.; Bomfim, L. C.S.
Uso das redes sociais empreendedoras por mulheres no processo de criação de agências de viagens
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Teixeira, R. M.; Andreassi, T. ; Bomfim, L. C.S.
Uso das redes sociais empreendedoras por mulheres no processo de criação de agências de viagens
Ducci e Teixeira (2010) sugerem que Woman on the verge of breakthrough: network-
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podem acessar diferentes recursos e infor- ment, 1 (4), pp.339-355.
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se torna menos complexa quando o empre- Group. The Service Industries Journal, 25 (3), pp.
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cial oriundo de sua convivência em diferen-
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O que foi constatado nos casos estu- Frontiers of Entrepreneurship Research. Welles-
dados é que diante da inexperiência no ramo ley, MA: Babson College.
turístico, a família e amigos foram as únicas
alternativas para essas empreendedoras. Na Andringa, S.; Poulston, J.; Pernecky, T. (2016).
fase de start-up, os familiares foram funda- Hospitality entrepreneurship: A journey, not a
mentais na operacionalização do negócio destination. International Journal of Contempo-
atuando principalmente como fonte de re- rary Hospitality Management, 28(4), pp.717-736
cursos financeiros, enquanto que os amigos
foram importantes na captação dos primei- Barnir A.; Smith, K. A (2002). Interfirm alliances in
ros clientes e dos primeiros empregados. the small business: The role of social networks.
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Também foi possível perceber que as experi-
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ências negativas das empreendedoras com
bancos, na fase de concepção, fizeram com Birley, S. (1985).The role of networks in the en
que elas procurassem apenas a família para trepreneurial process. Journal of Business Ventur
obter este tipo de recurso. Ainda sobre este ing, 1(1), pp. 107-117.
aspecto, o presente estudo revelou que uma
maior necessidade por recursos financeiros Birley, S.; Cromie S.; Myers. A. (1990). Entrepre-
ocorreu nesta fase. Na fase de consolidação neurial Networks: their Emergence in Ireland and
do negócio, os familiares contribuíram pri- Overseas. International Small Business Journal, 9
mordialmente com as atividades relaciona- (4), pp. 56-74.
das ao marketing e os amigos recebem des-
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