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Perspectivas para o

agronegócio brasileiro
2019
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Este estudo Perspectiva para o Agronegócio Brasileiro é uma publicação anual produzida pelo departamento de
Pesquisa e Análise Setorial para clientes e parceiros do Rabobank Brasil

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Analistas Rabobank: Adolfo Fontes, Andrés Padilla, Andy Duff, Beatriz Fabrini, Fernando Gomes, Guilherme Morya, Matheus
Almeida, Maurício Oreng e Victor Ikeda.
Perspectivas para o
agronegócio brasileiro
2019
Sumário
2019

4
Sumário

Macroeconomia | Suco de
Soja | p.26
p.06 Laranja | p.44

Insumos | p.10 Milho | p.30 Leite | p.48

Açúcar, Etanol Bovinos | p.34 Celulose | p.52


e Cana | p.14

Café | p.18 Frango | p.38

Algodão | p.22 Suíno | p.41

5
Macroeconomia
Riscos e oportunidades (impactos nos preços p Alta n Neutro q Queda)

p A manutenção da política econômica ortodoxa e aprovação de reformas estruturais podem gerar


melhor ambiente de negócios e promover o reequilíbrio fiscal, abrindo espaço para recuperação
mais rápida da economia, além da manutenção dos juros baixos (1-dígito) de forma perene.

q Por outro lado, um novo adiamento (ou ampla diluição) da reforma da previdência – estritamente
necessária para a estabilização da dívida pública – colocaria em risco a retomada da confiança
dos investimentos, pesando sobre a atividade econômica, e elevando as taxas de juros e o
câmbio.

q Cenário global desafiador, com menor leniência em relação a países dependentes de capital com
fundamentos fracos. A retirada de estímulo monetário nos EUA reduz a liquidez global e
impulsiona o dólar. Tensões comerciais entre EUA e China alimentam riscos para PIB mundial.
Recuperação condicional às reformas
O ano de 2018 foi marcado por fatores que geraram volatilidade na economia e nos ativos
brasileiros, refletindo incertezas políticas locais e instabilidades financeiras internacionais.
No plano global, a continuidade da normalização (leia-se alta) dos juros norte-americanos e o aumento
das tensões comerciais entre EUA e China (duas maiores economias do mundo) gerou um ambiente de
menor liquidez e apetite dos investidores com relação a ativos de países emergentes. Em decorrência
deste quadro, o dólar se fortaleceu e os custos de financiamento se elevaram em nível mundial.
Por um lado, o impacto deste choque global na economia brasileira foi atenuado por uma política
econômica consistente, uma posição externa sólida e por expectativas de inflação bem ancoradas. Estes
fatores ajudaram o país a se diferenciar, de certo modo, de alguns pares emergentes que recentemente
observaram intensa deterioração macroeconômica. Ao contrário destes mercados, onde banco centrais
tiveram que subir os juros, a taxa básica Selic permaneceu estável no nível mínimo histórico de 6,50% - e
deve continuar neste patamar no fim de 2018.
A atividade econômica segue em processo de recuperação, ainda que em ritmo bastante gradual, após
uma das recessões mais intensas da história republicana. A greve dos caminhoneiros no final de maio
teve forte impacto no crescimento do 2T18, mas seus efeitos foram compensados por uma aceleração
no 3T18. Projetamos crescimento do PIB de 1,3% em 2018, consistente com uma paulatina
recuperação do emprego e, consequentemente, do consumo interno.
Por outro lado, persistem as dificuldades no lado fiscal, em meio a um rápido aumento da dívida pública
e forte crescimento das despesas obrigatórias. A grave situação das contas públicas segue pesando
sobre as expectativas, de maneira que as reformas, especialmente no caso da previdência, são urgentes.
Além de políticas econômicas ortodoxas, a aprovação de profundas reformas é também condição
necessária para uma recuperação duradoura do orçamento público e do crescimento sustentável.
Após um processo eleitoral de alta complexidade e baixa previsibilidade, Jair Bolsonaro (PSL) foi eleito
o novo presidente do Brasil para o mandato de 2019 a 2022. As eleições gerais foram marcadas por

Macro uma elevada taxa de renovação do Congresso e de governos estaduais. A nova configuração
parlamentar aponta para uma crescente fragmentação política, refletida (por exemplo) em um número
histórico de partidos compondo as duas casas. A eleição de Jair Bolsonaro (e um bom número de aliados
para a Câmara, Senado e governos estaduais), além dos sinais emitidos pelo presidente eleito e por
integrantes da nova equipe econômica, parecem ter levado o mercado a antecipar uma política
econômica ortodoxa e uma boa chance de aprovação de reformas pelo próximo governo. A taxa
cambial e outros ativos nacionais observaram a grande recuperação de perdas anteriores.
1 – PIB Anual 2 – Inflação Anual
10% 12
7,5% 10,7
8%
6,1% 10
6% 5,1%
Crescimento do PIB (%)

4,0%

% inflação anual
8
4% 3,0% 6,5 6,4
2,2% 5,9 5,9 5,9 6,3
1,9% 5,8
1,3% 6
2% 0,5% 1,0%
4,3
0% 4,0
4 3,7
2,9
-0,1%
-2%
2
-4%
-3,5% -3,5%
0
-6%

IPCA Meta

3 – Taxa Selic 4 – Projeção do dólar (R$/USD)


15 4,5

13
4,0
Taxa nominal (% a.a.)

R$ por US$
11
3,5
9

3,0
7

5 2,5

Taxa básica Selic

Fonte: Bloomberg, Rabobank (2018).


De fato, analisando a nova legislatura sob uma perspectiva ideológico-partidária, a impressão é de que a
aprovação das principais reformas estruturais é (ao menos teoricamente) viável. No entanto, o novo governo
precisará dialogar amplamente com outros partidos de centro para obter apoio, especialmente para
medidas constitucionais. Este apoio parlamentar às iniciativas mais controversas (como a reforma da
previdência – que julgamos fundamental) é o principal risco econômico a se monitorar adiante.
Em caso de frustrações com as reformas, o otimismo atual do mercado tende a se reverter, levando a piores
condições de mercado e expectativas econômicas. E os impactos econômicos e financeiros da ausência de
reformas poderiam se sentir a qualquer momento, dependendo do grau de paciência dos investidores e das
condições financeiras globais.
Em suma, antecipamos resultados potencialmente binários para a economia brasileira e para os ativos
nacionais (como a taxa cambial) a médio prazo, condicional ao sucesso na aprovação de uma reforma da
previdência eficaz (do ponto de vista da redução de custos para o Tesouro a médio e longo prazo).
Supondo volatilidade moderada nas condições financeiras nos próximos meses, projetamos
crescimento do PIB de 2,2% para 2019, o que daria continuidade ao quadro atual de recuperação
gradual da atividade econômica, do emprego e do consumo.
Quanto à taxa de câmbio, em meio a desafios locais (leia-se riscos de execução de reformas) e um
contexto global desfavorável (e.g. juro maior, menor liquidez, tensões comerciais), projetamos uma
taxa cambial de 3,80 por dólar ao final deste ano e 3,90 por dólar ao final de 2019.
Para a taxa básica de juros (Selic), projetamos estabilidade no patamar de 6,50% até o final do
próximo ano. Acreditamos que a inflação se elevará de 3,7% este ano para 4,0% no próximo ano,
permanecendo ainda abaixo da meta central do BC (4,50% em 2018 e 4,25% em 2019). Este cenário
pressupõe expectativas favoráveis quanto à aprovação de mudanças importantes na previdência.

Ponto de atenção
Vemos riscos em ambas as direções para a taxa de câmbio: como risco altista, a possibilidade de
aumentos adicionais de juros por parte dos bancos centrais de países avançados, além de eventual
Macro agravamento nas tensões comerciais sino-americanas ou um enfraquecimento das perspectivas de
aprovação de reformas fiscais no Brasil. Como potencial risco baixista, avanços em relação à
aprovação da reforma da previdência eliminaria cenários extremos na política fiscal, reforçando o
otimismo dos investidores com relação à economia brasileira. Uma guinada “dovish” (i.e. de viés
menos altista para os juros) ou eventual interrupção prematura do ajuste do Fed pesaria sobre o dólar
em escala global.
Insumos
Riscos e oportunidades para o setor (impactos nos preços p Alta n Neutro q Queda)

p Política ambiental chinesa deve continuar limitando oferta de insumos agrícolas.

q Permanência dos preços dos fertilizantes e de parte dos defensivos em níveis elevados
deve incentivar redução da capacidade ociosa e expansão da produção no mundo

q Fortalecimento do dólar pode reduzir o crescimento da demanda de fertilizantes da Índia e


do Sudeste Asiático.
Custo maior, em dólar,veio pra ficar
Os preços dos fertilizantes e de alguns defensivos agrícolas valorizaram consideravelmente
no mercado internacional ao longo de 2018 e, por hora, não há sinais de que estes voltarão
aos patamares de 2017.

Com relação aos fertilizantes nitrogenados e fosfatados: a pressão da demanda no segundo semestre do
ano, a redução do aumento das expectativas de produção e a limitada participação da China nas
exportações, sustentaram as altas de preços a partir do 2º trim. O embargo levantado pelos EUA ao Irã
em agosto de 2018, também causou forte pressão nos preços da ureia no início do 4º trim.

Já para o potássio, conforme antecipado nas perspectivas 2018, o aumento da capacidade nominal de
produção tem sido parcialmente anulado pelo fechamento de algumas plantas para reformas
temporárias. Assim, a forte demanda de países como Brasil, China e Índia motivou sucessivos aumentos
de preços. Em meados de novembro, em dólar, a ureia e o potássio estavam 23% mais caros que no
início de 2018, enquanto o MAP havia valorizado 13%.

Para 2019, algumas questões ainda têm que ser respondidas, tanto do lado da oferta quanto o da
demanda. Do lado da demanda, a primeira delas é: qual é o volume de ureia os EUA precisam buscar no
mercado internacional no 1º trim. de 2019, para atender a migração de área de soja para milho, trigo e
algodão? Outra questão importante é quando a valorização do dólar (e dos fertilizantes) vai, finalmente,
impactar a demanda da Índia e do Sudeste Asiático.

Do lado da oferta, o nível mais alto dos preços dos fertilizantes deve motivar as empresas a acelerar o
aumento da produção nas plantas que já entraram em operação, além de motivar novos investimentos.
Porém, a oferta dos nitrogenados deve continuar sendo limitada pelas as sanções impostas ao Irã e pelas

Insumos questões ambientais na China – esta última também deve impactar a oferta global de fosfatados –,
principalmente no segundo semestre do ano.

Somando esses fatores podemos esperar para 2019 um cenário de preços similar ao visto esse
ano. Ainda no final de 2018, até março de 2019, a demanda do hemisfério norte deve trazer sustentação
aos preços. Posteriormente, a redução sazonal da demanda abrirá espaço para queda dos preços
dos nitrogenados e fosfatados, podendo chegar no 2º trim. à níveis próximos aos vistos em
meados deste ano – USD 270/t para a ureia e USD 420/t para o MAP nos portos do Brasil.
1. Custo operacional em Rondonópolis – MT 2. Preços de fertilizantes no porto do Brasil

3.000 500

2.500
400

USD/ tonelada
2.000
R$/ha

1.500 300

1.000
200
500
100
0
2016/17 2017/18 2018/19 (e) 2016/17 2017/18 2018/19 (e)
Soja Safrinha

Ureia Granulada - CFR Brasil MAP - CFR Brasil KCL - CFR Brasil
Fertilizantes Sementes Defensívos Operações Outros

3. Balanço do mercado de fertilizantes no Brasil 4. Índice trimestral de preços dos insumos agrícolas no Brasil (2014=100)

0.8 0.4 0.8 0.5 150


0.8 0.5
Milhões de toneladas

Índice de preços dos insumos agrícolas


135
26,3 26,4 28,0
34,4 35,4 36,2
120
8,2 8,1 8,3
5,1 5,5 5,0 5,6 105
Estoque

Estoque

Estoque

Estoque
Produção

Produção

Produção
M+A+A *

M+A+A *

M+A+A *
Exportações
Demanda

Exportações
Demanda

Exportações
Demanda
Importação

Importação

Importação

90

2017 2018e 2019

*Micronutrientes, aditivos e ajustes Herbicida Fungicida Inseticida

Fonte: CRU, IMEA, Bloomberg, Rabobank (2018). 12


No Brasil, as expectativas de aumento de área da soja, do algodão e do milho impulsionaram a demanda
de insumos, apesar dos aumentos dos seus preços. O Rabobank estima que as entregas de
fertilizantes de 2018 deve ficar próxima de 35,5 milhões de toneladas – ainda a depender da
antecipação das entregas para a segunda safra – o que representa um crescimento de pouco mais de
3% frente a demanda de 2017.

A demanda de fertilizantes em 2019 deve ser estimulada, no início do ano, principalmente pelo
aumento de área da segunda safra (milho e algodão). A partir daí, existe a expectativa que o bom
momento para a soja brasileira (vide seção soja) e o retorno da bi anualidade positiva para o café na safra
2020/21, sustentem o crescimento da demanda em 2019. O Rabobank estima um aumento da
demanda acima de 2% para o próximo ano, ultrapassando as 36,2 milhões de toneladas.

No setor de defensivos, a redução de produção na China devido à política ambiental, continua


sendo o principal fator a impactar os preços no mercado internacional. No terceiro trimestre de
2018, o volume total de agroquímicos produzido no país foi cerca de 45% menor que em igual período
do ano passado, e o aumento de preços em 12 meses por lá passa de 20%.

Por aqui, o custo mais alto da matéria prima somado ao estoque mais enxuto tem dado suporte aos
preços dos defensivos. Segundo a Conab, no 3º trim. desse ano em Mato Grosso, os defensivos estavam
em média 9,5% mais caros (em reais) em relação ao 3º trim. de 2017.

Além do aumento de preços, o bom momento das culturas citadas acima e o reposicionamento dos
estoques, estão estimulando as vendas da indústria. O volume importado de defensivos cresceu 22% até
outubro (ano contra ano), indicando a recuperação do setor em 2018. Na estimativa do Rabobank as
vendas de defensivos nesse ano deve crescer mais de 8%, superando os USD 9,6 bi.

Ponto de Atenção
Insumos • O Rabobank estima que as importações de 2019 devem superar 28 milhões de toneladas,
6,3% maior que 2018. Esse volume maior pode aumentar as filas nos portos e aumentar o
risco de atraso nas entregas para os que deixarem compras para última hora.

• Custos elevados seguem estimulando o produtor rural a aumentar a participação de


produtos pós-patente em sua cesta de defensivos.
Cana, Açúcar e Etanol
Riscos e oportunidades para o setor (impacto nos preços: p alta n neutro q queda)

n As chuvas atípicas deste inverno no centro-sul já têm assegurado um bom começo ao novo
ciclo de crescimento do canavial. Com a premissa de um clima normal no verão, a
disponibilidade de cana em 2019/20 não deve ser muito diferente da moagem de 2018/19.

p O Rabobank projeta um excedente de apenas 1,3 milhão de tonelada para o ano-safra


internacional de 2018/19 (out/set), com viés para diminuir ainda mais. Cresce o sentimento
de que o ciclo mundial vire para déficit em 2020.

p A variável chave para 2019/20 é, de novo, o mix. Se as exportações indianas ao longo de


2019 não forem suficientes para equilibrar o mercado, o preço mundial terá que subir
suficientemente para incentivar as usinas brasileiras a produzir mais açúcar e menos
etanol.
Otimismo cauteloso para 2019
Depois de cair até 10 US c/lp em outubro 2018, o preço internacional de açúcar subiu em
decorrência da valorização relâmpago do real frente ao dólar logo após o primeiro turno da eleição
brasileira. Em seguida, uma série de notícias sobre o desempenho esperado das safras na Índia, na União
Europeia e na Tailândia deu suporte ao preço mundial. Isso provocou a maioria dos agentes do mercado
a baixar de maneira relevante suas projeções do excedente global para 2019. O Rabobank projeta um
excedente de apenas 1,3 milhão de tonelada para o ano-safra internacional de 2018/19 (out/set), com
viés para diminuir ainda mais. Além disso, olhando mais para frente, cresce o sentimento de que o
ciclo mundial vire, de novo, para um déficit em 2020.

A respeito do mercado de etanol, a perspectiva para a entressafra e a nova safra brasileira de 2019/20
(abr – mar) continua positiva, contando com a premissa de que o preço de petróleo Brent fique em
uma faixa em torno de USD 60/barril em 2019. A soma deste fator com a trajetória do câmbio,
traçada no capítulo de macroeconomia deste estudo, aponta para preços ainda firmes da gasolina no
mercado brasileiro.

No campo, as perspectivas para a produção e a qualidade da cana na safra 2019/20 do centro-sul


dependerão muito do clima no final de 2018 e no primeiro trimestre de 2019. Partimos das premissas
que, de novo, a taxa de renovação vai repetir as taxas de 12% - 14% vistas nos anos recentes.
Qualquer ganho de área colhida que possa surgir desses fatores deve ser compensado pela
substituição de cana por outros cultivos.

Com mais um ano de replantio baixo, a idade média da cana tende a aumentar em 2019/20. Porém, as
chuvas atípicas deste inverno no centro-sul já têm assegurado um bom começo ao novo ciclo de

Cana, açúcar
crescimento do canavial. Assim, com a premissa de um verão de clima normal, a expectativa
preliminar para a disponibilidade de cana em 2019/20 não deve ser muito diferente da moagem de
2018/19. Por outro lado, o ATR por tonelada de cana em 2018/19 foi elevado em função da seca intensa
durante o primeiro semestre de 2018, e, com premissa de clima normal, seria razoável esperar que o

e etanol nível de ATR na cana seja levemente menor em 2019/20.

Como foi o caso em 2018/19, a variável chave para 2019/20 é, de novo, o mix. Até a subida do preço
mundial de açúcar em outubro, era dado que 2019/20 deveria ser mais uma safra de maximização da
produção de etanol. A melhora da perspectiva para o açúcar, entretanto, mudou esta visão.
1. Oferta/demanda global de açúcar 2. Preço internacional de açúcar
200 12

Excedente/déficit (milhões de ton)


Produção/Consumo (milhões de ton) 700
10 28
180 8 600
6

USD por Libra-peso


23

USD por tonelada


500
160 4
2 400
140 0 18
300
-2
120 -4 200
13
-6 100
100 -8
0 8

Excedente/déficit Produção Consumo Açúcar Refinado (Londres) Açúcar Bruto (NY)

3. Preços domésticos de açúcar e etanol 4. Cenários para a safra 2018/19 no Centro-Sul


110 2,2
34

Milhões de toneladas de açúcar


Etanol, R$/litro, PVU sem impostos
90 1,8
@ 136 kg ATR
Açúcar, R$ por saca

32

70 1,4 30

50 1,0 28

26 Estimativa 2018/19: 27,0 milhões de toneladas


30 0,6

24
36% 38% 40% 42% 44%
Açúcar Mercado Interno Etanol anidro Etanol hidratado Mix: % cana moída para açúcar

Fonte: Bloomberg, CEPEA, Rabobank (2018). 16


A incerteza atual sobre o mix pode ser resumida assim: o preço de Nova Iorque em torno de 13 US c/lp
é visto como suficiente para incentivar exportações indianas em 2019, porém, existem dúvidas se
Índia conseguirá exportar todas as 4 ou 5 milhões de toneladas de açúcar anunciadas para
2018/19, mesmo contando com subsídios relevantes. Além disso, agora que as perspectivas
apontam para um balanço global de açúcar mais apertado, também existe a possibilidade de que as
exportações indianas não sejam suficientes para equilibrar o mercado. Nestes dois casos, a pergunta é
de onde virá o volume adicional caso o mercado, de repente, precise de mais açúcar do que a Índia
consegue fornecer?

Do Brasil, é a resposta. Com um mix de açúcar que ficou bem abaixo de 40% em 2018/19, seria
perfeitamente possível, mesmo contando com zero aumento de moagem e/ou de ATR, para o centro-
sul produzir milhões de toneladas de açúcar a mais em 2019/20 do que produziu em 2018/19. Mas o
preço de açúcar teria que estar suficientemente alto, em comparação ao preço de etanol, para
catalisar esta resposta. Calculamos que, com a premissa de um preço de petróleo Brent em USD
60/barril e o câmbio em torno de R$ 3,80/USD, seria necessário um preço do açúcar bruto (base Nova
Iorque) de 14 - 15 US c/lp para convencer as usinas do centro sul a aumentar o mix de açúcar.

Mesmo com estes sinais, de que o pior do ciclo de baixa já passou, a tendência de polarização do
setor continua. Para empresas com uma alta robustez financeira, não há falta de oferta de crédito a
taxas competitivas e, assim, estas conseguem aproveitar oportunidades, como por exemplo, as geradas
pela sazonalidade do preço do etanol. Empresas com perfil mais fraco permanecem com risco de cair
em um ciclo vicioso de margens apertadas e investimentos insuficientes. Fornecedores de cana
também continuam com margens sob pressão, especialmente aqueles que arrendam a terra – o valor
(Consecana SP) do ATR acumulado até setembro foi R$ 0,56/kg e a chance deste valor, na safra 2018/19,
superar por muito os R$ 0,59/kg da safra anterior é baixa. A perspectiva para 2019/20 parece melhor.

Pontos de Atenção
Cana, açúcar • A idade média do canavial continua aumentando. Assim, cresce a vulnerabilidade do
desempenho da safra 2019/20 a um clima ruim.

e etanol • A queda significativa do preço internacional de petróleo no final de 2018 serve como
lembrança de que quanto menor o preço de petróleo em 2019, menor o preço mundial de
açúcar necessário para engatilhar um aumento do mix para açúcar no Brasil.
Café
Riscos e oportunidades para o setor (impactos nos preços p Alta n Neutro q Queda)
p O Rabobank estima um crescimento no consumo de 2,3% para a safra 2018/19 em relação
ao ano anterior, com boa contribuição dos países produtores.

p Se confirmado, o “El Niño” pode impactar negativamente o regime de chuvas


principalmente na Ásia (principal região produtor do café robusta), podendo mudar a
expectativa dos preços.

q Apesar do ciclo negativo, a expectativa é que sejam produzidas entre 55 e 56 milhões de


sacas de café na safra 2018/19 no Brasil. Devido ao bom regime de chuvas, são esperadas
boas produtividades, em especial nas regiões produtoras do tipo robusta.

q O Rabobank estima um superávit global na safra 2018/19 de 5,5 milhões de sacas. Para o
atual ciclo, a previsão é que o preço do café arábica permaneça entre USc 1,14-1,24/lp.
Superávit Global em 2018/19
O ano de 2018 foi positivo para produção brasileira de café. O Rabobank estimou a colheita da
safra 2018/19 em 56,8 milhões de sacas. Uma safra recorde e de boa qualidade, uma vez que o
clima mais seco entre Março e Agosto colaboraram nos processos de pós-colheita.

As exportações (figura 1) vêm apresentando um bom resultado apesar do fraco 1º semestre, que foi
impactado pela greve dos caminhoneiros e por uma pressão vendedora menor – devido aos baixos
preços em 2018 (figura 2) . Com um segundo semestre aquecido, é esperado que sejam exportados
aproximadamente 34 milhões de sacas em 2018.

Os estoques dos principais importadores de café (figura 3) continuam em patamares confortáveis. De


acordo com os dados de Setembro/2018, os estoques somados de EUA, Japão e Europa
aumentaram 4,8% em relação a Dezembro/2017. A tendência é de manutenção ou aumento
dos estoques, uma vez que a oferta global para o atual ciclo seguirá sem maiores problemas. O
superávit estimado para a safra 2018/19 (figura 4) é de 5,5 milhões de sacas, das quais 4,4
milhões de sacas são do tipo arábica e 1,1 milhões de sacas do tipo robusta.

No mercado do café arábica, devido a problemas climáticos e ciclo menor, a Colômbia apresentou
uma redução na produção de 5,3% na safra 2017/18, em relação ao ano anterior, colhendo 13,8
milhões de sacas. Porém, para a temporada 2018/19, é esperado uma recuperação, com
produção estimada em 14,2 milhões de sacas. Guatemala, México, Nicarágua e Peru, devem
produzir um total de 14,9 milhões de sacas na safra 2018/19, volume 1,7% maior em relação ao
último ciclo. Já em Honduras, a produção esperada é de 7,6 milhões de sacas no ciclo 2018/19,
aumento de 1,8% em relação ao ano anterior.

Café O mercado do café robusta também segue com boas perspectivas de produção. Devido ao bom
regime de chuvas e ótimas práticas agrícolas, o Vietnã deverá colher sua safra recorde na
temporada 2018/19, estimada em 31,1 milhões de sacas. A Indonésia também segue com um
bom panorama. Nesse país, é esperada uma produção de 11,8 milhões de sacas na safra
2018/19, um aumento de 1,7% em relação ao último ciclo.
1. Exportações Brasileiras de café verde 2. Preço internacional de café
4.000 180 2.500
3.500 170
160 2.000

Robusta (USD/ton)
3.000

Arábica (USd /lb)


150
Mil sacas (60 kg)

2.500 140
1.500
2.000 130
120
1.500 1.000
110
1.000 100
500 90 500

-
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
ARABICA - ICE NY ROBUSTA - ICE LONDON
2016 2017 2018

3. Estoques dos principais países importadores 4. Balanço global de café

25.000 8,0 45%


6,0 40%

Milhões de sacas (60 kg)


20.000 35%
4,0
30%
Mil sacas (60 kg)

15.000 2,0 25%


0,0 20%
10.000 15%
-2,0
10%
-4,0 5%
5.000
-6,0 0%
- 12/13 13/14 14/15 15/16 16/17 17/18 18/19e 19/20p

Arábica Excedente/Déficit Robusta Excedente/Déficit

EUA Europa Japão Estoque/Uso

20
Fonte: MDIC, Bloomberg, GCA, AJCA, ECF, Rabobank (2018).
Devido ao ciclo negativo do café, é esperado uma queda na produção para o Brasil na safra
2019/20. A previsão é que sejam produzidas entre 55 e 56 milhões de sacas de café, das
quais aproximadamente 18 milhões do tipo robusta. As regiões do Cerrado Mineiro e Alta
Mogiana Paulista devem sofrer mais com a questão da bi anualidade negativa, porém as regiões do
Sul de Minas e Matas de Minas possuem bom potencial produtivo. Apesar da florada inesperada no
mês de Agosto (o que pode impactar negativamente na qualidade, devido a uma maturação
desuniforme do grão), o ótimo regime de chuvas até o momento colaborou para desenvolvimento
das plantas. Os cafezais nos estados de Rondônia e Espirito Santo, principais regiões produtoras de
conilon, apresentam ótimo potencial produtivo.

O consumo global permanece crescendo substancialmente, em média 3,2 milhões de sacas ao ano. O
Rabobank prevê um crescimento de 2,3% na temporada 2018/19 em relação ao ciclo anterior.

Durante o ano de 2018 o setor cafeeiro enfrentou preços baixos, pressionados pela expectativa do
excesso de oferta, pela instabilidade no câmbio e pelas posições recordes dos fundos não-comerciais.
Para 2019, o cenário segue desafiador. O superávit global para o ciclo 2018/19, liderado pelas
safras recordes de Brasil e Vietnã, limitam uma melhora acentuada nos preços. O câmbio é
mais uma variável relevante na equação, e recentemente vem impactando os preços. Uma possível
valorização do real frente ao dólar pode colaborar positivamente nos preços de café. Um fator que
pode mudar a trajetória dos preços é o El Niño, que segundo a NOOA (Serviço Americano de
Meteorologia) tem grandes chances de ocorrer. O impacto negativo inicial seria na Indonésia na
safra 2018/19, porém dependendo da intensidade também pode causar danos na safra 2019/20
dos demais países da Ásia e talvez América Central. No Brasil, esse fenômeno causa excesso de
chuvas na região Sul e seca na região Nordeste. Na região sudeste, no entanto, sua correlação com
eventos extremos é menor, porém será importante monitorar sua extensão e intensidade.

Ponto dewatch
What to atenção
• Uganda pode ter uma boa safra 2018/19, devido expansão de área.
• Recentes enchentes na Índia devem reduzir sua produção.

Café •


El Niño pode reduzir a produção da safra 2018/19 na Ásia (menos Vietnã), e dependendo da
intensidade, a safra 2019/2020 asiática e da América Central.
Fundos não-comerciais tendem a influenciar cada vez mais o mercado de café.
• Trade-war (EUA vs. China), elevação de juros nos países desenvolvidos e reformas políticas no
Brasil, podem impactar o câmbio e os preços do café.
Algodão
Riscos e oportunidades para o setor (impactos nos preços p Alta n Neutro q Queda)

p Após 3 anos de consumo dos estoques locais, a China deve elevar em 450 mil toneladas
de pluma as importações de algodão na próxima safra.

p Em nível global, puxada pelo crescimento econômico, a demanda pelo algodão deve
aumentar 2% em 2019, dando sustentação aos preços internacionais da pluma.

p Câmbio favorável e cotações internacionais têm sustentado preços do algodão no Brasil,


que deve exportar volume recorde na safra 2018/19, superando 1 milhão de toneladas de
pluma embarcadas para outros países.

q Principal exportador mundial de algodão, EUA devem ter incremento de cerca de 200 mil
hectares (500 mil acres) na área destinada à cotonicultura em 2019, em especial
substituindo áreas de soja.
Retomada de área consolidada
Após um período de três anos com margens pressionadas, a conclusão da safra 2017/18 trouxe um
cenário extremamente positivo aos cotonicultores brasileiros. No campo, o clima impulsionou as
produtividades e contribuiu para que o Brasil colhesse a maior safra de sua história com 2 milhões
de toneladas de pluma produzidas. A conjuntura se mostrou ainda mais favorável, pois os preços
nominais da fibra, puxados por altas no mercado internacional e desvalorização do Real, atingiram os
patamares mais elevados desde 2011. Nesse cenário, o Rabobank estima que a margem
operacional (desconsiderando custos de beneficiamento) do cotonicultor em Mato Grosso tenha
sido de 42% na safra 2017/18 – ante a média de 28% nas últimas 3 safras.

Em meio à esse resultado positivo e a atratividade de margens no comparativo com outras culturas, a
expectativa é de expansão significativa na área destinada à cotonicultura na próxima temporada. O
Rabobank estima que o Brasil deverá semear 1,4 milhão de hectares de algodão na safra
2018/19, 20% de crescimento frente ao observado no ciclo anterior. Assumindo a linha de tendência da
produtividade, a produção pode atingir 2,2 milhões de toneladas de pluma, um novo recorde.

O crescimento da área de algodão na safra 2018/19 deve ser direcionada por três perfis de
produtores. Primeiramente, os tradicionais grupos cotonicultores, que devem expandir suas áreas.
Além disso, existem produtores que haviam deixado de semear o algodão nos últimos anos e
devem retomar o plantio da fibrosa nesse ciclo.

Um terceiro perfil de produtor é formado por aqueles que tradicionalmente cultivam soja e
milho e que devem destinar parte de suas áreas, ainda em fase experimental, para o algodão na
safra 2018/19. Nesse caso, observa-se que estão sendo desenvolvidos modelos de parceria junto aos
Pontos de Atenção
grupos cotonicultores tradicionais que devem auxiliar tanto em aspectos técnicos, quanto
operacionais através de prestação de serviços de colheita e beneficiamento (algodoeira).

Algodão Assim como a produção, o consumo interno de algodão também deve aumentar nesse ciclo como
resposta à melhora gradual da economia do país. O Rabobank estima a demanda da indústria em
780 mil toneladas de pluma na safra 2018/19, 5% superior àquela observada na temporada 2017/18.
Nota-se, porém, que ainda deve seguir abaixo dos patamares observados no início dessa década (2010 a
2013), quando o consumo doméstico brasileiro foi, em média, de 900 mil toneladas de pluma.
1. Oferta/demanda global de algodão 2. Área e produção (pluma) de algodão no Brasil
30 6

Excedente/déficit (milhões de ton)


3,0 1,5
Produção/Consumo (milhões de ton)

Produção (milhões de toneladas)


25

Área (milhões de hectares)


4
1,2
20
2 2,0
0,9
15
0 0,6
10 1,0
5 -2 0,3

0 -4 0,0 0,0

Excedente/ Déficit Produção Consumo Produção (Algodão em pluma) Área

3. Ritmo de comercialização do algodão em pluma no Brasil 4. Perspectiva de preços do algodão em Nova York (ICE)
1.200 90
Comercialização de pluma (mil toneladas)

1.000 85

ICE-NY (USc/lp)
800 80

600 75

400 70

65
200
60
0
Jan Mar Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Set Nov

Intervalo (últimas 5 safras) Média (últimas 5 safras)


Algodão (ICE-NY) Perspectiva Rabobank
2018/19

Fonte: Bloomberg, BBM, USDA, CONAB, Rabobank (2018). 24


Por outro lado, em um cenário de demanda chinesa aquecida e estoques locais em queda, a
perspectiva é de significativo crescimento das exportações brasileiras de algodão. O Rabobank
estima que o Brasil deve embarcar 1,1 milhão de toneladas de pluma ao mercado externo na safra
2018/19, crescimento de 22% em relação ao ciclo anterior. O que deve levar o país a superar a Índia,
tornando-se o segundo maior exportador mundial da pluma.

Segundo a BBM (Bolsa Brasileira de Mercadorias), até o final de novembro/18, os cotonicultores


brasileiros já haviam negociado 704 mil toneladas de algodão em pluma para a safra 2018/19,
dos quais 55% em contratos de exportação, 26% negociados para o mercado interno e 19% em
contratos flex (exportação com opção de mercado interno). Nesse mesmo período do ano passado,
haviam sido comercializadas, no total, 571 mil toneladas de pluma.

Esse ritmo intenso de vendas antecipadas deve contribuir para que as margens dos cotonicultores se
mantenham em níveis interessantes na safra 2018/19. A partir dos dados de custo de produção e
comercialização do Imea (Instituto de Mato-grossense de Economia Agrícola), o Rabobank estima que
os produtores mato-grossenses tenham travado parte significativa de sua produção em preços
próximos à R$ 96,00/@ de pluma. Dessa forma, a perspectiva é de margem operacional entre
35% e 40%, dependendo dos níveis de produtividade.

No mercado externo, o Rabobank acredita em sustentação nos preços internacionais do algodão


próximos de USD 0,80/lp em 2019. Além da forte demanda da China, que deve elevar as importações
em cerca de 450 mil toneladas de pluma no próximo ciclo, também há perspectiva de crescimento
global de consumo de algodão, em 2% na próxima safra. No entanto, altas mais acentuadas nas
cotações da pluma devem ser limitadas devido ao aumento da área semeada no mundo,
principalmente nos EUA.

Pontos de Atenção
• Perspectiva de manutenção do preço do petróleo em USD 60/barril em 2019, deve

Algodão •
manter a competitividade do algodão frente a fibras sintéticas.
De olho no planejamento da safra 2019/20 e nos patamares de preços interessantes,
cotonicultores brasileiros já estão negociando, de forma antecipada, a produção que
estará disponível apenas no final de 2020. Segundo a BBM, 163 mil toneladas de
pluma do ciclo 2019/20 já haviam sido comercializadas até o final de novembro/18.
Soja
Riscos e oportunidades para o setor (impactos nos preços p Alta n Neutro q Queda)

p Manutenção do quadro de disputa comercial entre chineses e americanos tende a resultar


em redução de aproximadamente 3 milhões de hectares na área de soja dos EUA no ciclo
2019/20, ajustando estoques locais e dando suporte aos preços em Chicago (CBOT).

p Expectativa que o Brasil tenha mais uma safra recorde – com área estimada em 36,6
milhões de hectares e produção em 123 milhões de toneladas no ciclo 2018/19. Porém,
demanda externa, aquecida pela guerra comercial, limitaria avanços dos estoques locais.

q Eventual acordo comercial entre chineses e americanos, embora deva dar suporte às
cotações em Chicago (CBOT), impactaria negativamente os prêmios de exportação no
Brasil, pressionando os preços no mercado interno, fato que poderia ser agravado pelo
impasse da tabela de fretes mínimos.
Guerra comercial no foco
Com as condições climáticas favoráveis ao andamento da semeadura na maioria das regiões
produtoras, o Rabobank estima que a área brasileira de soja atinja 36,6 milhões de hectares na
safra 2018/19, crescimento de 4,3% em relação àquela verificada no ciclo anterior. Dessa forma, além
de alcançar um novo recorde nacional, essa expansão resultaria na maior área destinada à cultura da
soja por um país em todos os tempos – o antigo recorde era dos EUA na safra 2017/18, como 36,2
milhões de hectares.

Os preços da soja, principalmente no período anterior à semeadura da safra 2018/19, são a principal
justificativa para a expansão da área brasileira nessa temporada. A disputa comercial entre China e
EUA, apesar de pressionar as cotações em Chicago (CBOT), impulsionou os prêmios de exportação
da soja no Brasil, tanto para o produto disponível, como também para a nova safra. Além disso, vale
destacar a forte desvalorização cambial ao longo do ano como outro fator de sustentação aos
preços da oleaginosa no Brasil.

Considerando o período de abril a setembro de 2018, estima-se um preço médio de R$ 86,80/saca


(60 kg) para os preços da soja FOB Paranaguá para a safra 2018/19 com base nos contratos
futuros para março/19. Fazendo essa análise no ano passado, o valor observado era de R$ 74,20/saca
nesse mesmo período para a safra 2017/18.

O reflexo desses preços mais elevados no período pré-plantio justificam o ritmo de comercialização
antecipada mais intenso que no ano passado nos dois principais estados produtores do Brasil. Segundo
o Imea (Instituto de Mato-grossense de Economia Agrícola), 36% da produção estimada da safra
2018/19
Pontoshavia sido negociada até novembro/18 em Mato Grosso, 3pp acima do observado nesse
de Atenção
mesmo período do ano passado. No Paraná, o percentual comercializado alcançou 19% em
novembro/18 ante 11% nesse período do ciclo anterior, de acordo com a Seab/Deral (Secretaria da

Soja Agricultura e do Abastecimento do Paraná).

Assumindo a linha de tendência de produtividade e a estimativa de área, o Rabobank espera que a


produção brasileira deva alcançar 123 milhões de toneladas na safra 2018/19, crescimento de
2,5% frente ao observado no ciclo 2017/18.
1. Oferta/demanda global de soja 2. Área e produção de soja no Brasil
400 30 45 140
Produção/Consumo (milhões de ton)

Produção (milhões de toneladas)


40 120
20

Excedente/déficit (milhões de ton)

Área (milhões de hectares)


300 35
10 100
30
25 80
200 0
20 60
-10 15
100 40
-20 10
5 20
0 -30
0 0

Excedente/ Déficit Produção Consumo Área Produção

3. Margens estimadas de esmagamento (média 6 regiões) 4. Perspectiva de preços da soja em Chicago (CBOT)

30% 1100

1050
Margem estimada (%)

CBOT (USc/bushel)
20% 1000

950

10% 900

850

800
0%

Média Trimestral Soja (CBOT) Perspectiva Rabobank

Fonte: USDA, Bloomberg, Celeres Consultoria, Rabobank (2018). 28


No mercado internacional, as discussões acerca da guerra comercial entre chineses e americanos
devem seguir influenciando os movimentos de preços da soja em Chicago (CBOT). Apesar da trégua
por 90 dias nos avanços das tarifas protecionistas, anunciada no início de dezembro durante a
reunião do G-20 na Argentina, um eventual fim da disputa comercial ainda segue incerto.

Em um cenário de manutenção da disputa comercial, o Rabobank estima que a área destinada à soja
nos EUA ceda, ao menos, em 2,8 milhões de hectares em 2019 em detrimento de outras culturas
em que as margens têm se mostrado mais atrativas, como milho, trigo e algodão. Nesse caso, a
expectativa é de produção menor e ajuste para baixo nos estoques americanos na safra 2019/20. Assim,
invariavelmente, as cotações de soja em Chicago (CBOT) poderiam se consolidar novamente em
patamares acima de USD 9/bushel ao longo de 2019.

No Brasil, se mantida a disputa comercial entre China e EUA, a perspectiva é que os prêmios de
exportação sigam fortalecidos ajudando a dar suporte às cotações da soja no mercado interno.
Se por um lado isso tende a ter um efeito positivo no preço recebido pelo produtor, o mesmo não
deve ser válido para a indústria local, que deve observar a matéria-prima mais valorizada em
comparação aos produtos gerados, farelo e óleo de soja. Dessa forma, espera-se margens de
esmagamentos pressionadas no Brasil ao longo de 2019. O Rabobank estima que o consumo
doméstico de soja pela indústria no país deve retrair de 43,6 milhões de toneladas na safra
2017/18 para 42,5 milhões de toneladas no ciclo 2018/19.

Por outro lado, as exportações brasileiras de soja devem seguir aquecidas ao longo de 2019. Se
confirmada a estimativa de produção e no caso de manutenção da disputa comercial entre EUA e
China, o volume exportado pelo Brasil seguirá fortalecido e deverá seguir próximo de 80 milhões
de toneladas em 2019.

Pontos de Atenção
• Um eventual fim da guerra comercial entre chineses e americanos tende intensificar as

Soja exportações de soja dos EUA. Nesse caso, haveria um alívio dos estoques locais e as
cotações em Chicago poderiam ser impulsionadas para patamares acima de USD 10/bu.
Nesse cenário, porém, os prêmios de exportação no Brasil recuariam substancialmente.
• Essa eventual queda dos prêmios de exportação afetaria os preços internos no Brasil e
agravaria impactos referentes aos impasses decorrentes da tabela de fretes mínimos.
Milho
Riscos e oportunidades para o setor (impactos nos preços p Alta n Neutro q Queda)

q Ritmo acelerado da semeadura da soja na safra 2018/19 no Brasil deve resultar em grande
disponibilidade de áreas para o plantio da segunda safra de milho dentro da janela ideal de
cultivo. Perspectiva de produção total do cereal superar 92 milhões de toneladas.

q Apesar de queda de produção, a perspectiva é de estoques de passagem elevados na


safra 2017/18 no Brasil, pois o consumo interno e exportações foram abaixo das
expectativas.

p Manutenção do quadro de desvalorização cambial tende a limitar quedas acentuadas do


milho no Brasil.

p Estoques globais pressionados por três safras seguidas tendem a sustentar os preços
internacionais do cereal.
Recuperação da oferta em 2019
Após uma série de desafios ao longo do ano, o Brasil produziu 81 milhões de toneladas de milho
na safra 2017/18, retração de 17% no comparativo com o ciclo anterior, quando a produção do
país havia atingido o recorde de 98 milhões de toneladas. Na safra de verão, os preços pressionados
do cereal em 2017 já haviam levado o Brasil a semear sua menor área da série histórica da
Conab (iniciada em 1976) com 5 milhões de hectares, resultando em produção de 27 milhões de
toneladas, o segundo menor volume desse século para esse período de cultivo.

Além disso, o atraso no início do ciclo da soja na safra 2017/18 empurrou parte significativa da
semeadura do milho segunda safra para próximo do final da janela ideal de cultivo com
redução de investimentos ajustados pela escolha dos híbridos e adubação. Posteriormente, com as
chuvas seguindo o padrão histórico e cessando em boa parte das regiões em maio, as lavouras ainda
em desenvolvimento acabaram sentindo impactos produtivos. O resultado foi uma produção de
54 milhões de toneladas na safrinha 2018, 20% menor que o volume produzido no ciclo anterior.

Se por um lado a produção brasileira de milho teve queda significativa, por outro, a demanda pelo
cereal também ficou abaixo das expectativas em 2018. As dificuldades observadas no setor de
produção animal (ver seção de proteína animal) ao longo do ano acabaram resultando em um
consumo doméstico estimado em 56,7 milhões de toneladas em 2018, ante 57,3 milhões de
toneladas em 2017. No caso das exportações, a disputa comercial entre EUA e China acabou
estendendo a janela de exportação de soja em detrimento do milho no Brasil, principalmente ao
longo do terceiro e início do quarto trimestre de 2018.

Esse ritmo mais lento das exportações de milho e a queda da taxa de câmbio, pressionaram as cotações
Pontos de Atenção
do cereal no último trimestre de 2018 em função do excedente de oferta (estoques pontuais). Mesmo
assim, é válido ressaltar que os preços do indicador do milho Esalq/BM&F devem fechar com

Milho média de R$ 39,70/saca (60kg) na safra 2017/18, 22% superior em relação ao ciclo anterior.

Os preços elevados ao longo do ano, porém, não foram suficientes para impulsionar um significativo
incremento de área de milho verão na safra 2018/19. A maior liquidez da soja ainda tem justificado a
preferência pela oleaginosa por parte dos produtores na primeira safra. Assim, o Rabobank estima que
a área de milho verão no Brasil deva ficar próxima de 5,5 milhões de hectares na temporada
2018/19.
1. Produção de milho no Brasil 2. Consumo interno e exportações brasileiras de milho
Produção (milhões de toneladas) 120 100

Consumo./Export. (milhões de toneladas)


100
75
80

60 50

40
25
20

0 0

Produção Milho Verão Produção Milho Safrinha Consumo Interno Exportação

3. Preços médios do milho por safra – Indicador BM&F 4. Perspectiva de preços do milho em Chicago (CBOT)
45 420
Preço do milhoBM&F (R$/sc 60kg)

400
40

CBOT (USc/bushel)
380
35 360

30 340

320
25
300

20
2012/13 2013/14 2014/15 2015/16 2016/17 2017/18e 2018/19e
Intervalo esperado Milho (CBOT) Perspectiva Rabobank

Fonte: Bloomberg, CEPEA, CONAB, Rabobank (2018). 32


Por outro lado, o rápido avanço da semeadura da safra 2018/19 de soja deve resultar em crescimento da
área de milho segunda safra. O Rabobank estima que a área destinada à safrinha deve voltar a
superar 12 milhões de hectares em 2019, assim como ocorreu em 2017.

Importante ressaltar que essa retomada da área de segunda safra de milho pode ser embasada pelo
ritmo de comercialização antecipada em Mato Grosso, principal estado produtor do cereal. Segundo o
Imea (Instituto de Mato-grossense de Economia Agrícola), 33% da produção estimada em 2019 já
estava negociada pelos produtores até novembro/18 – ante um percentual de 22% observado
para esse mesmo período nos últimos 5 anos. Os níveis elevados de preços ao longo de 2018
resultaram em oportunidades interessantes para os produtores em relação ao grão que será colhido na
próxima safrinha.

Dessa forma, assumindo a linha de tendência de produtividade tanto para a safra verão, quanto
segunda safra, a expectativa do Rabobank é que o Brasil produza 92,4 milhões de toneladas de
milho no ciclo 2018/19.

A perspectiva de recuperação do setor de proteína animal deve dar suporte para o crescimento
da demanda interna brasileira. Nesse cenário, a expectativa é que o consumo doméstico de milho se
recupere ao longo de 2019 e atinja 58 milhões de toneladas. Além disso, o cenário de crescimento da
produção também deve abrir espaço para retomada das exportações do cereal, com possibilidade de
voltarem a superar 30 milhões de toneladas, como observado no ciclo 2016/17.

Com base nas premissas de oferta e demanda citadas acima, e baseada na estimativa de câmbio (ver
seção de macroeconomia) , a perspectiva é que os preços internos do cereal avaliados pelo indicador
do milho Esalq/BM&F tenham média entre R$ 35,60 a R$ 37,50/saca (60 kg) na safra 2018/19.

Pontos de Atenção
• O Rabobank espera que os estoques mundiais de milho sigam pressionados nos ciclos

Milho 2018/19 e 2019/20. Dessa forma, a perspectiva é de queda na relação estoque/consumo, o


que daria suporte às cotações internacionais do cereal, mas, ao mesmo tempo, tende a gerar
maior volatilidade em função de choques de produção ou demanda inesperada.
• Nos EUA, perspectiva é de incremento de 1,2 milhão de hectares de milho na safra 2019/20.
Porém, demanda aquecida pela indústria de etanol tende a limitar crescimento do estoque.
Proteína Animal
Riscos e oportunidades para o setor (impactos nos preços p Alta n Neutro q Queda)

p Um crescimento econômico mais vigoroso poderia impactar positivamente o consumo


interno, resultando em preços mais firmes para as carnes no mercado doméstico.

q Novos desdobramentos de investigações policiais envolvendo o setor ou a ocorrência de


novos casos de Peste Suína Clássica no Brasil poderiam impactar negativamente as
exportações de carnes em 2019.

p A queda na produção chinesa de carne suína como resultado da Peste Suína Africana
deve estimular as exportações brasileiras de todas as carnes.

n Em um cenário de maior previsibilidade, movimentações de fusões e aquisições podem


voltar à agenda do setor de proteína animal em 2019.
Cenário de preços mais firmes
As exportações foram novamente o destaque do setor de carne bovina no Brasil em 2018.
Apesar dos desafios presentes, a pecuária de corte brasileira demostrou força ao aumentar de
maneira relevante as exportações em 2018 (cerca de 10%, entre janeiro e outubro), confirmando
a sua posição de liderança mundial. Entre os destinos que apresentaram crescimento, destaca-se
a China, que aumentou as suas importações de carne bovina do Brasil em mais de 55% no
período analisado.
Por outro lado, a Rússia manteve o mercado fechado para as carnes bovina e suína do Brasil
durante boa parte do ano, reabrindo as importações apenas em novembro. Apesar do reduzido
número de plantas habilitadas após a reabertura, o mercado russo deve ser uma importante
opção para as exportações brasileiras de carne bovina em 2019.
O consumo doméstico, em recuperação, apresentou leve crescimento ao longo do ano. No
entanto, o consumo per capita ainda ficou abaixo do período pré-crise. Para 2019, há a
perspectiva de crescimento mais significativo, a depender da velocidade de crescimento da
economia.
Assim como a demanda, a oferta também foi superior em 2018, quando comparada ao ano de
2017. O aumento da produção de carne bovina se deu, principalmente, como resultado do
aumento do número de animais terminados, que foi impulsionado pelo aumento da
participação de fêmeas nos abates. De acordo com o Rabobank, a produção de carne
bovina deverá crescer cerca de 2% em 2019. O crescimento mais lento se deve,
principalmente, ao aumento significativo do abate de vacas durante 2018.
As exportações devem crescer cerca de 4% em 2019, o que deve manter a disponibilidade
local de carne bovina em equilíbrio – em um cenário em que a demanda local avance em linha

Boi com o crescimento da oferta. No entanto, se a demanda doméstica acelerar mais rapidamente,
os preços da arroba podem iniciar uma trajetória de alta já em 2019.
É importante destacar novamente a elevada relação positiva que existe entre a renda disponível
e o consumo de carne bovina no Brasil. Como visto em períodos de crise com a queda do
consumo, também podemos esperar um crescimento mais rápido caso realmente se confirme
um ano de crescimento econômico mais significativo em 2019.
1. Indicador do boi gordo 2. Relação de troca boi gordo x bezerro
2,3
175
2,2
160
Boi Gordo R$/15kg

Relação de troca
2,1
145
2,0

130
1,9

115 1,8

100 1,7

Boi Gordo Relação de troca Média - 5 anos

3. Produção brasileira de carne bovina 4. Exportações brasileiras de carne bovina


10.150
9.951 2.138
2.058
9.675 9.723 1.849 1.909 1.856
9.550 1.801
9.425 1.705 1.698
9.307 9.284 1.596 1.558
9.024 8.935 9.115 9.030 1.524
1.340
Mil Toneladas

Mil Toneladas

Fonte: CEPEA, Bloomberg, USDA, Rabobank (2018). 36


A comercialização de animais tem encontrado novas alternativas. As exportações de gado em
pé, por exemplo, têm representado uma importante opção de venda para produtores de gado
no Brasil, dependendo da região de atuação. Acesso a novos mercados, como o Irã – anunciado
ainda em 2018 – deve impulsionar ainda mais esse tipo de atividade.
Em relação à gestão de risco, mantemos a recomendação para o produtor de gado de corte no
Brasil de aumentar esforços no entendimento de seus custos para a melhor utilização de
ferramentas financeiras no mercado futuro, com o objetivo de garantir margens satisfatórias e
de acordo com suas estratégias. A exposição ao mercado e, portanto, à volatilidade deve ser
calibrada com base em uma politica estruturada de negócios.
Quanto aos custos de produção para sistemas intensivos e semi-intensivos, a relação de troca
entre o boi gordo e o bezerro (ou boi magro) deve confirmar a inversão da tendência em 2019 e
passar a valorizar mais os animais jovens – beneficiando o produtor de cria. Tendência que deve
se acentuar em 2020. Em relação ao milho, a oferta do produto deve crescer em relação ao ano
de 2018, aumentando a disponibilidade para a produção de ração animal.
O ano de 2019 deve ser de resultados mais positivos para todos os elos da cadeia de
carne bovina no Brasil. Destacam-se como principais pontos a serem observados no ano: a
continuação do crescimento das exportações, a provável aceleração do consumo interno e o
crescimento da oferta em ritmo mais lento. É importante ressaltar também que, apesar da maior
disponibilidade prevista para o milho no mercado local, a compra de animais de reposição
devem ficar mais caras, já a partir de 2019.

Ponto de atenção
• A habilitação de um número maior de plantas brasileiras para exportar carnes para o

Boi •
mercado chinês deve ocorrer durante o ano de 2019, representando capacidade adicional
para as exportações.
A reabertura do mercado russo, apesar do número reduzido de plantas habilitadas,
contribui com o cenário de aumento das exportações em 2019.
De olho nas exportações
O Brasil, maior exportador de carne de frango do mundo, sofreu severas restrições no mercado
internacional em 2018. A União Europeia, por exemplo, embargou 20 plantas frigorificas de aves
do Brasil (em torno de 30% da capacidade de exportação do Brasil para a UE), alegando falha no
controle brasileiro relacionado à detecção e controle de tipos específicos de salmonela.
Já a Arábia Saudita, principal destino das exportações brasileiras de frango, solicitou ajustes na
operacionalização do abate halal, o que diminuiu de maneira relevante a capacidade pontual
das exportações para o país – queda de mais de 20%, em volume, de janeiro a outubro de 2018,
comparado ao mesmo período de 2017. Além disso, a China, adotou tarifas antidumping contra
o frango brasileiro. Vale destacar que, mesmo com as restrições, as exportações para China
cresceram cerca de 9% entre janeiro e outubro.
Como resultado dos desafios enfrentados em destinos importantes, as exportações brasileiras de
frango recuaram cerca de 8% em volume entre janeiro e outubro de 2018. Apesar de alguma
recuperação ser esperada para os últimos meses do ano, o saldo ainda deve ser negativo
quando comparado ao ano anterior.
Em 2019, no entanto, a expectativa é de que as exportações brasileiras de frango se
recuperem, compensando a queda registrada em 2018. Mesmo após os desafios registrados, a
Arábia Saudita e a China, provavelmente, continuarão como os principais destinos do produto
brasileiro. Vale destacar que as exportações brasileiras devem ser menos impactadas pelos
novos padrões solicitados pela Arábia Saudita no abate halal, já que os ajustes estão sendo
realizados. Com isso, em 2019, as exportações devem novamente se aproximar dos níveis de
2017.
Em relação aos custos, assim como para o setor de suínos, a maior disponibilidade de grãos

Frango prevista para 2019 deve aliviar as pressões nos preços da alimentação animal para o
setor de aves. A incerteza, porém, fica em relação ao comportamento do câmbio e das
cotações internacionais, que passaram a influenciar de maneira mais evidente as cotações do
milho no mercado local (ver seção milho).
1. Preço da carne de frango – atacado de SP 2. Preço do frango vivo e do milho
5,0 3,4 38

4,5
3,0 32

R$ / saca (60kg)
4,0
R$/kg

R$ / kg
2,6 26
3,5

2,2 20
3,0

2,5 1,8 14

Frango Frango vivo - Interior de SP Milho - Oeste PR

3. Produção brasileira de carne de frango 4. Exportações brasileiras de carne de frango

13.146 13.150 13.274 3.841 3.889 3.847 3.863


12.863 12.910 12.887 3.578
12.645 12.692 3.443 3.508 3.482 3.558
12.312 12.308 3.242 3.222 3.272

11.033
11.023
Mil Toneladas

Mil Toneladas

Fonte: CEPEA, Bloomberg, Rabobank (2018). 39


Após a queda registrada no consumo de carnes no Brasil como consequência da recessão
econômica, o mercado doméstico vem registrando sinais de recuperação. Dada a melhora
prevista para a economia em 2019, o Rabobank espera que a recuperação gradual do
consumo de proteína animal no mercado doméstico, já vista modestamente em 2017 e
2018, se mantenha em 2019. Vale ressaltar que em um cenário de crescimento econômico
mais acelerado, o consumo também deve responder mais fortemente.
Em relação à oferta, de acordo com dados do IBGE, a produção de carne de frango no Brasil
cresceu cerca de 1% no primeiro semestre de 2018, em relação ao mesmo período do ano
anterior. Porém, dado o impacto da greve dos caminhoneiros na produção e o ajuste realizado
pela indústria para adequar a oferta à realidade da demanda, estimamos queda de 2% na
produção de 2018 em relação ao ano de 2017. Já para 2019, o Rabobank projeta
crescimento da produção de frango, ao redor de 3%.
Em um cenário ainda incerto quanto à volatilidade em 2019, o produtor independente de aves,
assim como produtores de suínos ou bovinos em sistemas intensivos de produção, deve ficar
atento às oportunidades de compra de milho – que devem ser amplificadas pela maior
disponibilidade do cereal em 2019 (ver seção de milho).
Em relação à indústria de frango, a recuperação continuada do consumo interno – em um
cenário de oferta ajustada – somada à maior disponibilidade prevista de grãos para a produção
de ração animal, deve trazer um ambiente mais favorável para as margens do setor. De toda
forma, o desempenho das exportações continuará determinante para a disponibilidade e a
precificação do frango no mercado local.

Ponto de atenção
• As restrições na União Europeia e as tarifas antidumping da China podem ser revistas em

Frango •
2019, contribuindo para a recuperação do setor.
É importante acompanhar as exportações brasileiras de frango para a Arábia Saudita e,
assim, confirmar que os ajustes na operacionalização do abate halal estão realmente
sendo realizados de acordo.
Importação chinesa em alta
A queda das exportações brasileiras de carne suína de 9% YTD (de janeiro a outubro) impactou
severamente o setor em 2018, já que o volume redirecionado ao mercado interno derrubou as
cotações da carne suína. Isso ocorreu ainda em um período de custos altos. Contudo, o impacto
poderia ter sido ainda maior, já que a Rússia - destino de cerca de 40% do total das exportações
em 2017 - permaneceu fechada para a carne suína brasileira até o mês de outubro. A China, no
entanto, aumentou as suas importações em 247% e Hong Kong em 8% no período analisado.
Assim, China e Hong Kong juntas representaram mais da metade das exportações brasileiras de
carne suína em 2018 (janeiro a outubro), compensando parte da ausência da Rússia.
Tentando reduzir o risco de exposição a poucos destinos, o Brasil tem aumentado esforços para
acessar novos mercados. Em 2018, o Brasil recebeu autorização para iniciar as exportações para a
Coréia do Sul pelo estado de Santa Catarina e também anunciou acesso ao mercado indiano. O
México é outro importante mercado com negociações em andamento. Além disso, as
autoridades brasileiras anunciaram a reabertura da Rússia a partir de novembro. Apesar de
contar com um número reduzido de plantas habilitadas, o mercado russo deve ser uma
importante opção para a carne suína brasileira em 2019.
Com a premissa de que o Brasil continuará livre de PSA (Peste Suína Africana) e a zona livre (17
estados) continuará isolada da PSC (Peste Suína Clássica), as exportações devem se recuperar
e podem até registrar níveis recordes em 2019. É importante destacar que a situação da
China em relação à PSA tem se agravado e, provavelmente, o país aumentará de maneira
relevante as suas importações de carnes em 2019. Dado também o impasse comercial entre
China e EUA, o Brasil deve registar forte aumento de exportações de carne suína para China.
Assim, após os desafios encontrados no mercado internacional, o Rabobank projeta
crescimento acima de 15% para as exportações de carne suína brasileira em 2019.

Suínos Em relação aos custos de produção, após um ano desafiador com altos preços de ração animal,
estimativas preliminares mostraram que os produtores brasileiros de grãos pretendem aumentar
a área de produção durante 2019, o que deve aumentar a disponibilidade de milho. Assim, para
2019, os custos com nutrição animal devem apresentar redução em relação aos valores
médios de 2018, movimento já iniciado no 4º trimestre de 2018.
1. Preço da carne suína – atacado SP 2. Preço do suíno vivo e do milho
8 5,0 45

4,5 40
7
4,0 35

R$ / saca (60 kg)


R$/Kg

R$ / kg
3,5 30
6
3,0 25

5 2,5 20

2,0 15
4 1,5 10

Suíno Suíno Vivo - PR Milho - Oeste do Paraná

3. Produção brasileira de carne suína 4. Exportações brasileiras de carne suína


832 843
3.874 786
3.700 3.725 3.725
3.519 707 723
3.330 3.335 3.400 661
3.195 3.227
3.015 3.130 625 619 627
584 585
556
Mil Toneladas

Mil Toneladas

Fonte: Bloomberg, CEPEA, Rabobank (2018). 42


Em relação à oferta, de acordo com dados do IBGE, a produção de carne suína cresceu quase 5%
no primeiro semestre de 2018 em relação ao mesmo período do ano anterior. No entanto,
projetamos desaceleração no segundo semestre, o que deve manter a oferta total do ano de
2018 próxima aos níveis registrados em 2017. Em relação ao ano de 2019, o Rabobank projeta
crescimento da produção ao redor de 4%, puxado pela melhora da demanda, tanto no
mercado interno, quanto no mercado externo, e também pela queda projetada dos custos de
produção – como resultado da maior disponibilidade de grãos no mercado doméstico.
O consumo local de proteína animal deve continuar a se recuperar durante 2019, após apenas
leves aumentos registrados em 2017 e 2018. Vale ressaltar que a recessão econômica (2015-
2016) impactou severamente o poder de compra dos consumidores no Brasil, reduzindo a
demanda por carnes. Assim, o consumo per capita de carnes ainda está se recuperando em
direção aos níveis pré-crise e deve ficar atrelado à velocidade do crescimento econômico em
2019.
O produtor independente deve continuar atento às oportunidades de compra de milho em
períodos de preços mais baixos. A expectativa de maior disponibilidade do cereal deve
aumentar as oportunidades, se comparado ao ano de 2018. Como alternativa, as ferramentas de
trava podem ser utilizadas.
Em relação à indústria processadora, o cenário provável de aumento das exportações deve trazer
resultados mais positivos para a suinocultura brasileira, após meses bastante desafiadores em
que o setor registrou margens negativas. Além disso, destaca-se a esperada recuperação do
consumo interno.

Ponto de atenção
• O atual momento no mercado internacional exige que o Brasil redobre suas atenções em

Suínos •
relação aos desafios sanitários presentes em todo o mundo.
A reabertura do mercado russo diminui a atual alta dependência das exportações
brasileiras de carne suína para China e Hong Kong. Porém, novos destinos devem ser
buscados.
Suco de Laranja
Riscos e oportunidades para o setor (impactos nos preços p Alta n Neutro q Queda)

p Os primeiros sinais apontam para uma recuperação da produção de laranja em São Paulo
em 2019/20. Com uma boa florada e chuvas no segundo semestre de 2018, as arvores
estão em boas condições para voltar a produzir acima de 300 milhões de caixas.

p Devido as condições climáticas melhores, é esperado uma recuperação moderada na


Flórida em 2018/19 após a menor safra desde 1945. Porém a recuperação dificilmente
continuará em 2019/20 dado o impacto do greening e baixo investimento nos pomares.

q A demanda internacional por concentrado continua recuando, com menor demanda nos
EUA e na Europa.

p Forte demanda por NFC deve ajudar a sustentar os preços da laranja em bons patamares
para a safra 2018/19.
Mercado mais equilibrado em 2019
Após uma safra de quase 400 milhões de caixas em 2017/18, que permitiu repor estoques e aumentar a
produção de FCOJ e NFC, a cadeia citrícola brasileira obteve bons resultados ao longo de 2018 com
exportações em alta e preços em patamares elevados. Porém, o custo da fruta também foi elevado e
limitou a rentabilidade para alguns processadores, já os produtores, conseguiram bons retornos. A
confirmação de uma safra de apenas 275 milhões de caixas em São Paulo no ciclo 2018/19,
ajudou a manter as cotações do FCOJ e NFC em níveis elevados ao longo de 2018, apesar de
recuperação moderada na Flórida e demanda em queda para o suco concentrado nos principais
mercados.

As expectativas iniciais para a safra 2019/20 em São Paulo são positivas. Após uma boa florada e
chuvas entre os meses de setembro a novembro, a produção deve se recuperar em comparação
com 2018/19. Apesar de muito cedo para se ter uma estimativa de safra confiável para 2019/20, parece
razoável esperar uma produção acima de 300 milhões de caixas. As árvores estão em boas condições e a
florada indica que a produtividade por árvore pode ser melhor em relação ao último ciclo.

A produção na Flórida melhorou em 2018/19 com produção estimada de 70 a 75 milhões de caixas,


após a menor produção desde 1945 na safra passada. Porém, parece pouco provável que a produção
possa seguir em recuperação em 2019/20, considerando que praticamente 100% dos pomares tem
incidência elevada de greening e que o investimento nos pomares tem sido baixo nos últimos anos. A
recuperação de 2018/19 se deve a uma boa condição climática e a baixa a produção na safra anterior,
amplamente afetada pelo furacão Irma em setembro de 2017. A produção de laranja em 2019/20 na
Flórida provavelmente ficará em torno de 70 milhões de caixas se o clima for favorável, mas
evidentemente ainda é cedo para ter uma estimativa confiável.

Suco de As projeções para a produção de suco em São Paulo na safra 2018/19 apontam para um volume total
de 900 mil de toneladas (FCOJ equivalente), considerando uma safra de 275 milhões de caixas, um
consumo no mercado de mesa de 40 milhões de caixas e um rendimento aproximado de 265 caixas

Laranja por tonelada de FCOJ. Para 2019/20, Rabobank estima uma produção de suco de laranja em São
Paulo de 1,0 milhão de toneladas de suco (FCOJ equivalente) em 2019/20. Dadas as primeiras
projeções para uma safra relativamente maior no próximo ano. Assim, a oferta global de suco de
laranja deve totalizar 1,5 milhão de toneladas em 2018/19 e aumentar para 1,6 milhão de
toneladas em 2019/20 (ver Figura 1).
1. Oferta global de suco (FCOJ equivalente) 2. Demanda global de suco (FCOJ equivalente)
2,5 2,5

Milhões de toneladas (FCOJ equivalente)


Milhões de toneladas (FCOJ equivalente)
2,0 2,0
2,0 1,9
2,0 2,0 1,8 1,7
1,7 1,6 1,6
1,6
1,5 1,5
1,5 1,5

1,0 1,0

0,5 0,5

0,0 0,0
2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19e 2019/20p 2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19e 2019/20p

Brasil EUA Outros UE EUA Outros

3. Balanço global oferta e demanda de suco 4. Relação estoque/consumo e preço do suco


2.500 500 3.000 45%
Milhões de toneladas (FCOJ equivalente)

Milhões de toneladas (FCOJ equivalente)


40%

USD/tonelada (CFR Rotterdam)


2.500
2.000 300 35%

Estoque/Consumo
2.000 30%
1.500 100 25%
1.500
39% 20%
1.000 -100 36%
1.000 15%
22% 20% 10%
500 -300 500 18%
14% 5%
7%
- -500 - 0%

Balanço Oferta Demanda Estoque/Cosnumo Preço Médio (Rotterdam)

Fonte: Bloomberg, Foodnews, Secex, Rabobank (2018). 46


O cenário continua desafiador para a demanda por suco de laranja industrializado. Dados de vendas em
supermercados publicados pela consultoria IRI no mercado americano, apontam para queda de 4% nos
volumes de suco de laranja refrigerado em 2018. Apesar da queda no consumo nas gôndolas, as
importações de suco de laranja brasileiro têm avançado fortemente nos EUA como resultado da
queda na oferta local. Dados dos Secex, apontam para alta de 35% nas exportações do Brasil para os
EUA nos primeiros dez meses de 2018 (FCOJ equivalente).

A queda no consumo europeu é mais moderada nos supermercados, devendo fechar o ano de 2018
em torno de 3,5% abaixo em relação a 2017. Na Europa, as exportações brasileiras apresentam
estabilidade nos dez primeiros meses de 2018 (FCOJ equivalente). Rabobank projeta uma queda na
demanda global de suco de laranja de 4% na temporada 2018/19 (ver Figura 2).

O balanço oferta-demanda no mercado global de suco de laranja deve voltar para um superávit
em 2019/20, após uma queda no ano anterior. Com a recuperação da produção em São Paulo e
na Flórida, o mercado estará mais equilibrado (ver Figura 3). No final de 2018/19, os estoques
globais de suco de laranja devem representar aproximadamente 14% do consumo anual, enquanto que
no final de 2019/20, após o superávit esperado, o Rabobank projeta que a relação estoque-consumo
deve aumentar para 18% (ver Figura 4).

Com relação ao preço da laranja concentrado, uma safra reduzida em 2018/19 seguida de uma
safra maior em 2019/20 deve trazer um cenário bastante equilibrado entre oferta e demanda.
As cotações da fruta devem ter espaço limitado para aumentar e podem apresentar algumas
quedas na safra 2019/20 em comparação com os preços observados em 2018/19.

Pontos de Atenção
Suco de • A demanda global por NFC brasileiro continua aquecida. A indústria continua investindo
em aumento de capacidade e a categoria deve representar 26% das exportações do setor
em 2018/19.

Laranja • O aumento das chuvas em São Paulo a partir de setembro de 2018, trouxeram uma piora no
rendimento da laranja após um início de safra excelente.
Leite
Riscos e oportunidades para o setor (impactos nos preços p Alta n Neutro q Queda)

p A recuperação gradativa da economia brasileira deve continuar em 2019, mas o consumo


de leite e derivados deve reagir apenas moderadamente com desemprego ainda elevado.

q Preços levemente menores no mercado internacional podem trazer uma recuperação nos
volumes das importações em 2019.

p Custo menor do milho no mercado doméstico deve ajudar os produtores, porém o farelo de
soja pode apresentar aumentos. Boas estratégias de hedge e proteção serão essenciais
para garantir as margens do produtor.

p Probabilidade moderada de El Niño no primeiro trimestre de 2019 deve colaborar na


qualidade das pastagens no centro-oeste e sudeste no primeiro semestre. Excesso de
chuvas pode comprometer a produção na região Sul no início do ano.
Oferta em recuperação
O ano de 2018 foi desafiador para a produção de leite no país, com a oferta (em volume)
encerrando o ano com uma leve queda de 1% em comparação com 2017. Preços baixos no fim de
2017 e começo de 2018, custos elevados da ração, somados a greve dos caminhoneiros em maio e
demanda morna, geraram um ambiente difícil para a produção no campo no primeiro semestre do ano.
Os preços aumentaram a partir de maio e permitiram uma recuperação relevante para as margens do
produtor, o que levou a uma recuperação da oferta no segundo semestre.

Com relação a demanda no Brasil, o consumo de leite e derivados em 2018 ficou abaixo das
expectativas. O ano de 2018 iniciou com perspectivas positivas para o crescimento econômico e
consequente recuperação da demanda do consumidor final. Porém, eventos como a greve dos
caminhoneiros e as incertezas eleitorais, atrasaram a retomada da atividade econômica em 2018, o que
prejudicou a demanda das famílias por alimentos e em especial produtos de maior valor agregado
dentro da cadeia láctea.

O mercado internacional apresentou tendência de preços menores no quarto trimestre de 2018, com
uma produção forte na Nova Zelândia, estoques internacionais elevados, e demanda menor na China e
nos países emergentes (ver Figura 1). A guerra comercial entre a China e os EUA parece estar longe
do fim e a possibilidade de uma desaceleração da economia chinesa como consequência da
ausência de um acordo comercial começa a gerar preocupações. Com a economia chinesa
crescendo menos, a demanda de importações pode apresentar uma redução em 2019. A queda
recente dos preços do petróleo no quarto trimestre de 2018, também pode impactar negativamente a
demanda dos países emergentes exportadores de petróleo no oriente médio e na África no início de
2019.

Em 2019 o mercado internacional deve apresentar preços ligeiramente menores aos observados

Leite em 2018. Demanda mais fraca por conta das tensões comerciais pode influenciar o apetite dos
compradores de economias emergentes, que crescem em um ritmo menor. Por outro lado, a oferta
deve crescer, com Nova Zelândia e EUA aumentando suas produções no primeiro semestre do ano. Se o
dólar continuar a tendência de fortalecimento, os preços das commodities, em geral, continuarão sendo
pressionados, o que pode desvalorizar as cotações do lácteos.
1. Preços internacionais (GDT) 2. Preço ao produtor e preço leite longa vida
7.000 170

Índice de preços (Nov 16 =100)


6.000 150
USD/tonelada

5.000 130
4.000
110
3.000
90
2.000
70
1.000

Índice Preço ao produtor, base CEPEA (Nov 2016=100)


Manteiga Leite em pó desnatado
Leite em pó integral Cheddar Índice Preco Leite longa vida (nov 2016=100)

3. Receita-custo de ração (por vaca diário) 4. Balança comercial brasileira de lácteos


30 15.000
10.000
5.000

Mil toneladas
25 0
-5.000
-10.000
R$ (BRL)

20 -15.000
-20.000
-25.000
15 -30.000
-35.000

fev-16
abr-16

fev-17
abr-17

fev-18
abr-18
out-15

ago-16
out-16

out-17

out-18
ago-17

ago-18
dez-15

dez-16

dez-17
jun-16

jun-17

jun-18
10

Exportações Importações Balança comercial

Fonte: GDT, IEA, CEPEA, Secex, Rabobank (2018). 50


Preços internacionais menores devem levar a uma recuperação das importações brasileiras ao
longo de 2019. O ano de 2018 encerra com uma balança comercial mais equilibrada no Brasil
(ver Figura 4), mas com a provável queda moderada das cotações internacionais, melhora da
demanda local e o nosso cenário base para USD/BRL atingindo 4 no final do ano (ver capítulo
sobre Macroeconomia) parece difícil esperar uma nova queda no déficit comercial lácteo em
2019.

No Brasil, o cenário de recuperação gradativa da economia deve se consolidar, caso a reforma


da previdência for aprovada, levando a melhora da demanda por leite e derivados. Porém, a não
aprovação das reformas necessárias para reequilibrar as contas fiscais no longo prazo, podem levar a
uma piora do ambiente econômico em 2019 e consequentemente a estagnação ou até perda de
consumo para a cadeia láctea.

Para 2019, espera-se uma recuperação moderada na oferta no Brasil. O ano de 2019 deve
começar melhor para o produtor brasileiro em relação a 2018. Preços ao produtor 20% mais
elevados e custo de ração levemente menor (principalmente por conta do milho) devem ajudar a
produção brasileira de leite a manter uma inercia positiva no começo de 2019.

O índice de receita menos o custo de ração, mostra recuperação expressiva no final de 2018 e permite
projetar um maior investimento dos produtores em aumento da capacidade de produção no início de
2019 (ver figura 2). Rabobank espera que o custo de produção se mantenha um pouco menor ao longo
de 2019 comparado com 2018 devido ao preço do milho. Vale a pena ressaltar, porém, que o preço do
farelo de soja pode ser maior dependendo do mercado interacional. Assim, será essencial para o
produtor se proteger das oscilações de preço com boas ferramentas de hedge em 2019.

Pontos
Pontosde
deAtenção
atenção
• • Paradas significativas
A recuperação em 2018 com
da economia podem ajudar a manter
a demanda osapreços
voltando elevados
crescer, em 2018 como
deve apresentar

Leite aconteceu
O setor
dascom
em 2017.
oportunidades
• • Várias empresas
para a indústria crescer em 2019, após dois anos desafiadores.
brasileiras
dos queijos
suasaumento
capacidades
deve tem sinalizado
continuar com interesse em considerar
a performance acima daprojetos demercado
média de expansão
de BHKP. Novos projetos de investimento podem ser anunciados já
do consumo.
em 2018.
Celulose
Riscos e oportunidades para o setor (impactos nos preços p Alta n Neutro q Queda)

p A demanda de celulose deve continuar avançando em 2019, liderada pelos mercados


emergentes. Espera-se um aumento de 1,3 milhão de toneladas no consumo global de
BHK.

q A economia chinesa apresenta sinais de desaceleração no final de 2018. O impacto da


guerra comercial com os EUA pode trazer desaceleração na demanda por papel nos
próximos trimestres, impactando negativamente os preços da celulose no curto prazo.

p Sem novas linhas de produção entrando no mercado, a oferta global de celulose crescerá
pouco em 2019-2020, o que ajudará a sustentar os preços internacionais.

p Restrições na China para importação de aparas de papel reciclado de baixa qualidade


devem continuar em 2019, ajudando a manter a demanda firme por fibras virgens.
Capacidade estagnada
A demanda global por celulose de fibra curta (BHKP) teve forte crescimento em 2018. Rabobank
estima que o consumo total de BHKP atingiu 67 milhões de toneladas em 2018 com crescimento
de 1,9 milhão de toneladas no ano. Para 2019 espera-se um crescimento menor, de 1,3 milhão
de toneladas (ver Figura 1). Preços elevados para a celulose de fibra longa levaram a um aumento
maior do que era esperado no consumo de fibra curta em 2019, na medida em que os compradores
trocaram fibra longa por curta. Assim houve uma diminuição no diferencial de preços entre os dois tipos
principais de celulose durante 2018. O crescimento no consumo continua sendo impulsionado pela
demanda dos países emergentes liderados pela China e por outros mercados da Ásia. O aumento
expressivo na capacidade de produção de papel e tissue na China têm levado a maiores compras de
celulose de fibra curta, apesar dos preços elevados.

A desaceleração da economia chinesa, impactada em parte pela guerra comercial com os EUA, deve
limitar moderadamente o crescimento da demanda por celulose de fibra curta na China em 2019. O
consumo de alguns tipos de papel, parecem mais vulneráveis a um crescimento econômico menor, e o
aumento dos estoques locais podem levar a uma desaceleração das importações no primeiro trimestre
do ano. Porém, a perspectiva de demanda continua positiva na China, em especial dado o
continuo aumento no consumo de tissue, que deve crescer novamente a taxas próximas de 8%
ao ano em 2019.

A demanda nos países desenvolvidos por fibra curta tem sido estável ao longo de 2018. O consumo de
tissue e fluff têm sido positivo em quanto que a procura por papeis para imprimir e escrever continua
caindo. Com a expectativa de crescimento econômico em 2019, tanto nos EUA como na Europa, o
consumo de celulose deve apresentar mais um ano de estabilidade ou leve crescimento nos mercados
desenvolvidos, dadas as dinâmicas favoráveis para os papeis de embalagens e tissue.

Celulose Com relação a oferta de BHK, espera-se um crescimento em 2019 de aproximadamente dois milhões de
toneladas em relação ao volume de 2018. Após vários choques de oferta em 2018 causados por paradas
não programadas e outros eventos (como a greve dos caminhoneiros no Brasil em maio), um aumento
de utilização na capacidade instalada deve ajudar a aumentar a produção de BHK no próximo
ano. A figura 2 apresenta as projeções para a oferta global em 2019.
1. Demanda global de BHKP (celulose de fibra curta) 2. Oferta global de BHKP (celulose de fibra curta)
75 75
70 69
70 68 70

Milhões de toneladas
66 67
Milhões de toneladas

64 64 64 65
65 63 64 63
65
61 61
59 59 60
60 59 58
57 60

55 55

50 50

45 45

40 40
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018e 2019p 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018e 2019p

3. Balanço global oferta e demanda de BHKP 4. Preços internacionais BHKP

1,0 70 1.400
milhões de toneladas (balanço)

milhões de toneladas (oferta)


68
0,5 1.200
66

USD/ tonelada
64 1.000
0,0
62
800
-0,5 60
58 600
-1,0
56
400
54
-1,5
52 200

out-14

out-15

out-16

out-17

out-18
abr-15

abr-16

abr-17

abr-18
jan-15

jan-16

jan-17

jan-18
jul-15

jul-16

jul-17

jul-18
-2,0 50
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018e 2019p

Balanço Oferta Demanda Europa EUA China

Fonte: Bloomberg, Risi, Rabobank (2018). 54


Apesar do aumento expressivo projetado para a oferta global de BHKP em 2019, de 2 milhões de
toneladas, o balanço entre oferta e demanda deve apresentar déficit por terceiro ano consecutivo.
Porém, o déficit para 2019 no balanço deve ser consideravelmente menor, totalizando 700mil toneladas.
Para efeito de comparação, em 2018 o déficit estimado foi de 1,7 milhão de toneladas. Um aumento na
utilização da capacidade instalada e expectativas de menores paradas não programadas, podem ajudar
a diminuir o déficit no ano.

Com um mercado mais equilibrado entre oferta e demanda em 2019, deve limitar o potencial
para aumento de preços nos mercado. Em especial, se o dólar se mantém valorizado frente a outras
moedas como o RMB, a capacidade dos compradores para absorver aumentos nos preços sem ter
quedas na demanda é limitada. O menor crescimento na economia chinesa e estoques elevados de
papel, podem levar a uma correção temporária dos preços internacionais no primeiro trimestre do ano.
No entanto, esse movimento de queda não teria sustentação para continuar nos meses seguintes, dado
o cenário de oferta para os próximos anos.

O próximo projeto de aumento de capacidade esperado pelo mercado de celulose de fibra curta, será o
MAPA da Arauco no Chile em 2021. Até lá a capacidade instalada deve se manter constante nos
próximos anos, o que vai limitar as possibilidades de aumento de oferta. Portanto, a expectativa para
os preços de celulose de fibra curta, é que se mantenham em patamares elevados nos próximos
dois anos. Salvo alguma piora muito expressiva da demanda na China, será difícil haver uma
correção nos preços por um longo período.

Pontos de Atenção
• Novos projetos de expansão de capacidade devem ser anunciados ao longo de 2019. UPM

Celulose •
(Uruguai), Klabin (Brasil) e Suzano (Brasil) são alguns dos nomes que podem sinalizar
novos projetos para 2021-2024.
O mercado doméstico de papelão ondulado deve continuar em recuperação em 2019 após
um crescimento de aproximadamente 2% em volume ao longo de 2018.
Araçatuba (SP) Querência (MT)
(18) 3609-8461 (66) 3529-2485

Balsas (MA) Ribeirão Preto (SP)


(99) 3541-5707 (16) 3911-5092

Barreiras (BA) Rio Verde (GO)


(77) 3612-0110 (64) 3613-5595

Brasília (DF) Rondonópolis (MT)


(61) 3321-3193 (66) 3423-4580

Chapadão do Sul (MS) São Paulo (SP)


(67) 3562-7137 (11) 5503-7000

Cuiabá (MT) Tangará da Serra (MT)

(65) 3642-3366 (65) 3329-1522

Lucas do Rio Verde (MT) Uberlândia (MG)

(65) 3549-6093 (34) 3215-8206

Palmas (TO) Varginha (MG)

(63) 3213-2278 (35) 3222-6727

Patos de Minas (MG)


(34) 3823-9444

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