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LInn fala: “Eu chamo esse álbum de ‘Pajubá’ porque pra mim ele é construção de linguagem. É
invenção. É ato de nomear. De dar nome aos boys. É mais uma vez resistência“. De fato, do
momento em que tem início, em Talento, até alcançar a derradeira A Lenda, Linn pinta um
retrato honesto, cru, ainda que bem-humorado, de temas muita vezes ignorados/sufocados
pela “moral e os bons costumes da família brasileira”. Um espaço onde sexo, criminalidade,
contestação e identidade se encontram a todo instante, fazendo do disco um exercício criativo
de profunda relevância.
Com a chegada de Gloria Groove, parceira na poesia afiada de Necomancia, Linn abre
passagem para o lado mais acessível, pop e divertido da obra. Uma seleção de faixas marcadas
pela forte sexualidade, lembrando em alguns aspectos o trabalho de Nicki Minaj, postura
explícita em músicas como Pirigozae, principalmente, no misto de trap e funk da cômica Dedo
Nocué, divertido encontro musical com Mulher Pepita (“Dedo no cu é tão bom / Dedo no cu é
tão gostoso / Eu vou bater uma curirica / E vou lamber meu próprio gozo“). Versos e batidas
descompromissadas, conceito rompido apenas na duas últimas músicas do disco, a mediana A
Lenda e Serei A, MPB óbvia que marca a parceria com Liniker e os Caramelows.
Produzido por Nelson D, Carlos NuneZ, Vincenzo e Diego Sants, além de contar com a direção
musical da paulistana Rafaela Andrade, a BadSista, Pajubá dialoga de maneira explícita, ainda
que de forma particular, com a crescente articulação do Queer Rap, lembrando em alguns
aspectos a obra artistas como Mykki Blanco, Le1f e demais representantes da cena norte-
americana. Composições divididas entre as pistas (Transudo, Dedo Nocué) e a rima crua
(Bomba Pra Caralho, Talento), resultando em uma obra expositiva, forte e necessária, como
uma resposta direta da artsita à crescente onda de conservadorismo e preconceito declarado
que avança pelo Brasil e pelo latinoamérica.