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SITUAÇÃO FLORESTAL NO ESTADO DE SÃO PAULO E POTENCIAL DE

INFRA-ESTRUTURA DE PRODUÇÃO DE CASAS DE MADEIRA NO INSTITUTO


FLORESTAL

Eloá de Castro Cruzeiro e Akemi Ino

RESUMO: Nos últimos dois séculos, o mundo presenciou a aceleração das modificações e da
destruição impostas aos ambientes naturais. O Estado de São Paulo, no seu processo histórico,
vem sendo submetido a uma intensa ocupação do seu território, que teve como resultante uma
substancial redução de suas áreas com vegetação natural. Este trabalho contextualiza a
situação florestal no Estado de São Paulo, de modo a propiciar um levantamento da
disponibilidade de madeira de reflorestamento para edificações. Retrata como foi a evolução
histórica de exploração predatória das florestas nativas, a evolução histórica dos
reflorestamento e a situação florestal atual no Estado de São Paulo. Insere o Instituto
Florestal, órgão da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, neste contexto,
descrevendo a importância das florestas naturais ou nativas (Unidades de Conservação) e das
florestas artificiais (Unidades de Produção), bem como potencial de infra-estrutura para a
produção de casas de madeira. Este panorama é também um importante instrumento, para
entender as questões de pesquisa na área de madeira. Pretende-se através desta abordagem,
contemplar ainda uma exploração das florestas nos moldes de uma política internacional, mais
consciente e compatível com o discurso ambientalista dos países de primeiro mundo.
Oferecendo maiores subsídios, para melhor compreensão da situação florestal no estado e
criando melhores condições para uma aplicação adequada na área de utilização de madeira,
compatibilizando os dois universos, a preservação ambiental e a necessidade de utilização da
madeira.
Palavras-chave: vegetação natural, reflorestamento, casas de madeira

THE FLORESTAL SITUATION IN THE STATE OF SÃO PAULO AND THE


INFRASTRUCTURE POTENTIAL OF WOODEN HOUSES PRODUCTION IN THE
FOREST INSTITUTE

ABSTRACT: Throughout the past two centuries, the world witnessed an acceleration of the
imposed modifications, and destruction of the natural environment. The state of São Paulo
became intensely occupied during this historical process and as a result, experienced a great
reduction in natural vegetation within its area. This work shows the forest situation in the state
of São Paulo, in order to provide a survey of the wooden availability of reforestation to
constructions. It portrays the historical evolution of predatory scanning of the active forests,
the historical evolution of the reforestations and the current situation in the state of São Paulo.
It inserts the Forest Institute, agency of the Secretariat of environment of the state of São
Paulo, in this context, describing the importance of the natural or native forests (Units of
Conservation) and of the artificial forests (Units of Production), as well as infrastructure
potential for the wooden production of houses. This panorama is also an important instrument
in understanding the questions of wooden research. It is intended through this boarding, to
still contemplate a scanning of the forests in the molds of one international, more
conscientious and compatible politics with the environment saving speech of the countries of
first world.
Keywords: natural vegetation, reforestation, wooden houses

Dissertação de Mestrado
1 CONTEXTO HISTÓRICO DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL E DA COBERTURA
VEGETAL NATURAL NO ESTADO DE SÃO PAULO

As relações do homem com a natureza são tão antigas quanto a própria existência da
humanidade. As características dessas relações, entretanto, se alteram significativamente com
o correr do tempo, condicionadas pelo processo de desenvolvimento, a que o homem sempre
esteve sujeito. O homem sempre mexeu com a natureza, desde que soube fazer fogo, desde
que percebeu que podia cortar uma árvore.

Causas principais da degradação: - A floresta dá lugar a plantações e pastagens por


produção de alimentos; O extrativismo vegetal e mineral; - A urbanização das cidades
(expansão demográfica); - Industrialização (implantação de indústrias).
Principais degradações ambientais: - Remoção da vegetação natural; - Poluição dos
recursos hídricos; - Poluição do ar; - Baixa fertilidade e erosão dos solos; - Aterros sanitários.

Segundo VICTOR (1975), em seu trabalho A devastação Florestal, o desaparecimento das


formações vegetais naturais, que revestiam o Estado de São Paulo no século passado (antes da
ocupação antrópica em larga escala) está associado a cinco fatores: à legislação ambiental
(sua insipiência e seu não cumprimento); à expansão da cultura do café; à construção de
ferrovias (com locomotivas movidas a carvão vegetal); ao desenvolvimento dos centros
urbanos e à industria siderúrgica.

2 SITUAÇÃO ATUAL DA COBERTURA VEGETAL NATURAL NO ESTADO DE


SÃO PAULO

A cobertura vegetal natural no Estado de São Paulo apresenta-se em diferentes tipos de


vegetação, dentre eles encontram-se no litoral, os mangues e a vegetação de restinga. A Mata
Atlântica recobre a Serra do Mar e uma parte do planalto. Seguindo mais para o interior,
encontramos, ainda, as matas de áreas mais secas e, acompanhando os cursos d’água, a
vegetação de várzea. O Estado de São Paulo possui poucas áreas ainda recobertas por
vegetação natural, segundo KRONKA et al. (1993), através do último Inventário Florestal do
Estado de São Paulo, a cobertura vegetal natural é de um total de 3.330.744 ha, o que
representa 13,4% da área total do Estado, dados estes obtidos no período de 1990-1992.

Para o efetivo dimensionamento da situação da cobertura natural e a conseqüente constatação


das significativas alterações ocorridas, este Inventário também apresenta dados sobre
levantamentos (Inventários) realizados em 1962 e entre 1971 e 1973. Quando comparados,
verifica-se que o desmatamento entre: -1962 e 1971-1973 (período de 10 anos) foi da ordem
de 39,45% ( 2.863.420 ha); - entre 1971-1973 e 1990-1992 (período de 20 anos) foi da ordem
de 29,20 % (1.283.031 ha). Embora tenha ocorrido a diminuição do índice de desmatamento,
isto se explica em função de que as áreas naturais remanescentes encontram-se em locais de
topografia acidentada. O desmatamento da área de vegetação natural do período de 1962 a
1990-1992 foi da ordem de 57,13% (4.146.151 ha), e ocorrem em regiões onde a vegetação já
apresentava índices baixos.

As regiões administrativas de maior concentração de vegetação natural são ao sul do Litoral,


ao oeste de Sorocaba e ao norte do Vale do Paraíba, nas demais regiões a cobertura vegetal
natural, caracteriza-se pela ocorrência de distribuição descontínua. Daquelas formações
originais restam ainda, porções consideráveis apenas da Floresta Atlântica, poupada muito
mais pelas limitações naturais do relevo e do clima do que por intenções conservacionistas.
Os atuais 13,4% de florestas Naturais ainda estão sujeitos a várias agressões:
1) A extração ilegal de madeiras, palmitos, plantas ornamentais, bens minerais, etc.
2) A caça clandestina e predatória de espécies da fauna brasileira.
3) A especulação imobiliária (loteamentos, obras sem critérios técnicos, disposição
inadequada de efluentes e resíduos sólidos, etc.)

A partir da década de 70 a concepção de meio ambiente, antes restrita a aspectos físicos e


biológicos ampliou-se abrangendo o meio social, econômico e cultural, considerando a
interação entre todos esses fatores. Diversas organizações Internacionais no Brasil envolvem
investimentos para a preservação das Florestas Naturais. No Estado de São Paulo podemos
citar a cooperação financeira bilateral Brasil/Alemanha através do Projeto de Preservação da
Mata Atlântica - PPMA sendo o agente financiador o banco alemão KfW.

3 EVOLUÇÃO, ESTÁGIO ATUAL E PERSPECTIVAS DO REFLORESTAMENTO


NO ESTADO DE SÃO PAULO

O reflorestamento é uma atividade de plantio ou de formação de florestas com normas


técnicas e objetivos preestabelecidos, como por exemplo: a espécie da árvore a ser plantada,
espaçamento entre as árvores, melhoria das condições químicas do solo, área a ser plantada,
etc. Estes plantios devem ser explorados de uma forma auto-sustentada, ou seja, sem perigo
de devastação florestal e prejuízos ecológicos. Plantações florestais de manejo intensivo estão
assumindo cada vez mais a importante missão de suprimento de madeira para fins industriais
e para geração de energia, existindo um grande potencial de aplicação de componentes para a
construção de edificações, comparativamente às florestas naturais já escassas e em geral
ocupando áreas onde sua presença é muito mais importante para fins de conservação
ambiental. A alternativa mais viável para conciliar a preservação das matas nativas com a
necessidade de uso é ampliar o reflorestamento.

A introdução da madeira de reflorestamento para utilização na arquitetura viria substituir


madeiras nativas de uso consagrado e oferta restrita. E também poderia incorporar utilizações
ainda não convencionais como a construção de edificações e equipamentos (bancos, mesas,
lixeiras, quiosques, brinquedos para play-ground, etc.) em escala pré-fabricada. Os detentores
das áreas de reflorestamento são:
Empresas I: Empresas produtoras de celulose, papel, chapas e aglomerados;
b)Empresas II: Empresas que detém reflorestamentos para fins específicos (ex. energia),
estando a matéria-prima já vinculada. É o caso daquelas que produzem cimento, cal e carvão
vegetal para siderurgia;
c)Reflorestadoras: produtoras de matéria-prima para diferentes finalidades (processamento
mecânico, material energético, celulose, papel e chapas);
d)Entidades Governamentais: Nesta categoria estão incluídos o Instituto Florestal, a CODASP
(Companhia de Desenvolvimento agrícola de São Paulo), a FEPASA (Ferrovia Paulista S.A)
e IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis);
e)Outros: Pequenos reflorestadores que produzem matéria-prima para diferentes finalidades
(construções rurais, postes, moirões, etc.).

3.1 EVOLUÇÃO DA EUCALIPTOCULTURA

Segundo VICTOR, KRONKA e NEGREIROS (1972), no Estado de São Paulo o plantio


dessa essência exótica de rápido crescimento nasceu, a princípio, da necessidade das ferrovias
em obterem material lenhoso a baixo preço e próximo aos centros de consumo, já que as
fontes de abastecimento de mata natural cada vez mais se distanciavam com o avolumar das
derrubadas. Somente após vários anos de cultivo experimental de espécie nativas é que a
Companhia Paulista de Estradas de Ferro introduziu espécies de Eucalyptus nos seus Hortos
de Jundiaí, Rio Claro, e outros, originárias da Austrália e das Ilhas da Oceania.

Percebe-se claramente que não houve uma preocupação voltada à produção de madeira
maciça para a construção civil. Segundo LIMA (1993), isto ocorre porque a madeira
proveniente de plantações de eucalipto é freqüentemente utilizada a uma idade tenra, em geral
com menos de 10 anos, para fins de produção de celulose, carvão e para lenha. Apenas uma
proporção ínfima das plantações de eucalipto é normalmente manejada para a produção de
madeira para serraria, a qual requer idades dos plantios geralmente ao redor de 25 anos.

3.1.1 Estágio Atual do Reflorestamento com Eucalyptus, no Estado de São Paulo

KRONKA et al (1993), através do último Inventário Florestal do Estado de São Paulo, nos
fornece a situação do reflorestamento com Eucalyptus, envolvendo as áreas de plantio. O
total da área reflorestada com Eucalyptus no Estado de São Paulo é de 610.544,02 ha . A
análise dos dados apresentados mostra o seguinte:

a) Que as espécies de Eucalyptus mais plantadas são:


1)E. spp (264.296,35 ha);
2)E. grandis (154.633,52 ha);
3)E. saligna (143.472,26 ha);
4)E. urophylla (25.044,61 ha);
5)E. citriodora (11.988,30 ha);
6)Outras (11.108,98 ha)

Foram consideradas como E. spp as áreas em que não houve identificação da espécie e como
outras espécies, aquelas devidamente identificadas, porém não significativas (E. maculata, E.
robusta, E. tereticorns e E. pilularis).

b) As maiores áreas com plantio de Eucalyptus encontram-se nas Regiões Administrativas:

1) Sorocaba com E. saligna (94.516,86 ha) e E. grandis (54.137,59 ha);


2) Campinas com E. grandis (20.615,77 ha) e E. citriodora (2.342,20 ha);
3) Bauru com E. grandis (19.924,19 ha) e E. urophylla (5.805,43 ha );
4) Ribeirão Preto com E. urophylla (13.506,13 ha) e E. citriodora (6.864,59 ha);
5) Vale do Paraíba com E. grandis (11.357,512 ha) e Litoral com E.urophylla (2.054,27 ha).

3.2 EVOLUÇÃO DA PINOCULTURA

Após a década de 1930, São Paulo atinge um desenvolvimento industrial vertiginoso com
explosivo aumento populacional. Crescem as necessidades de produtos lenhosos para atender
padrões de consumo cada vez mais diversificados. A situação é crítica principalmente com o
esgotamento das reservas de araucárias do sul do país, tradicional abastecedor do mercado
interno e externo. Era vital encontrar uma espécie alternativa para o Pinheiro do Paraná
(araucária), que já demonstrava ser muito exigente, tornando seu reflorestamento
problemático e oneroso. Essa necessidade obriga o Estado a se iniciar na era da pinocultura.

Assim, em 1957 e 1958, o governo paulista lançou gigantesca operação com objetivo de
consolidar definitivamente a pinocultura no Estado. O governo assumiu o papel de um
empresário florestal. Em sua rede de hortos e florestas, o Serviço Florestal (atual Instituto
Florestal - IF) plantou alguns milhões de pés de Pinus, que foram, pouco a pouco,
constituindo as primeiras florestas dessa essência. Data dessa época a introdução do Pinus
elliotti no Estado de São Paulo, mais de 100 milhões de mudas foram plantadas. O plantio
extensivo passou a ser executado pelo Governo. Porém foi através do advento dos incentivos
fiscais para reflorestamento, que a liderança destes plantios foi assumida pela iniciativa
privada, enquanto o Governo, através de seus órgãos especializados, continuou a dar respaldo
e sustentação técnico-científica ao setor. Desta forma o Governo, através do Instituto
Florestal, detém o domínio dos povoamentos mais antigos e expressivos do Estado de São
Paulo.

3.2.1 Estágio Atual do Reflorestamento com Pinus no Estado de São Paulo

Segundo dados do Inventário Florestal do Estado de São Paulo, realizado por KRONKA et al.
(1993) o total da área reflorestada com Pinus no Estado de São Paulo é de 194.054,23 ha.
A análise dos dados apresentados mostra o seguinte:

a) As espécies de Pinus mais plantadas são:


1) P. elliottii. (91.959,38 ha);
2) P. oocarpa (13.736,12 ha);
3) P. taeda (11.269,88 ha );
4) P. caribaea variação hondurensis (7.850,01 ha);
5) P. caribaea variação caribaea (5.431,50 ha);
6) P. caribaea variação bahamensis ( 1.943,61 ha).

Foram consideradas como P. spp (60.251,69 ha) as áreas em que não houve identificação da
espécie. Como outras espécies (1.612,14 ha) aquelas devidamente identificadas, porém com
área de plantio reduzidas.

b) As maiores áreas com plantio de Pinus encontram-se nas Regiões Administrativas:


1) Sorocaba (119.656,50 ha, 61,5%);
2) Bauru (20.972,75 ha, 10,8%);
3) Campinas (12.277,45 ha, 6,3%).

Ainda segundo KRONKA et al. (1993), aproximadamente 59,9% da área total plantada com
Pinus apresenta idade superior a 20 anos, sendo pois florestas adultas. Especificamente em
relação ao Pinus elliottii, espécie mais plantada, verifica-se que 19,5% de sua área de plantio
não foi submetida a nenhum desbaste e 40,7% sofreram unicamente o 1º e 2º desbastes.

Disto nos é possível concluir que existe também grande perspectiva para utilização do Pinus,
além do eucalipto, pois há possibilidade de se efetuar desbastes visando a produção de
madeira para serraria, consequentemente para construção de edificações. Porém cabe-se aqui
observar que novos plantios devem ser executados:

“Embora, no momento atual haja disponibilidade de material lenhoso de excelente


qualidade, a médio prazo as projeções são preocupantes considerando-se os baixos níveis
atuais de plantio” (KRONKA et al, 1993, p.31).
“O pinus no Estado de São Paulo foi plantado por causa dos incentivos fiscais, no entanto o
pinus está acabando...as iniciativas de plantios são cada vez menores. O consumo da
madeira de reflorestamento é através do eucalipto, de fibra curta para celulose, que é
matéria-prima para isso” KRONKA (1997)

4 COMPARAÇÃO DOS DADOS OBTIDOS PARA VEGETAÇÃO NATURAL E


REFLORESTAMENTOS DE EUCALYPTUS E PINUS NO ESTADO DE SÃO PAULO

Cobertura Vegetal no Estado de São Paulo ha %


FLORESTAS NATURAIS período de 1990-1992 3.330.744,00 ha 13,40 %
EUCALYPTUS 610.544,02 ha 2,45 %
PINUS 194.054,23 ha 0,82 %

A partir dos dados sobre a evolução, quantificação e distribuição da cobertura vegetal no


Estado de São Paulo, deve-se destacar que os resultados apresentados são preocupantes como
parâmetro para avaliação da disponibilidade de madeira, pois:
- a vegetação natural remanescente no Estado de São Paulo deve ser preservada como
patrimônio para as futuras gerações, pois apresenta índices inexpressivos na sua distribuição,
devendo ser intocada para fins de uso da madeira.
- os reflorestamentos existentes são insuficientes, devendo ser incrementados e descobertos
como potencial de suprimento de matéria-prima para a construção civil. Para isso se faz
necessário aumentar os plantios de espécies de Eucalyptus e Pinus, ou seja, da reposição
florestal como instrumento de renovação dos recursos naturais como madeira.

4 O PAPEL DO INSTITUTO FLORESTAL NA PESQUISA E PRODUÇÃO DE


MADEIRA

As áreas de Florestas Naturais (Mata Nativa Remanescentes) e de Florestas Artificiais


(Reflorestamentos) do Estado de São Paulo legalmente protegidas estão sob os cuidados da
Secretaria do Meio Ambiente (SMA) do Estado de São Paulo. No âmbito desta Secretaria é o
Instituto Florestal (IF), o responsável pela proteção e gestão da maior parte das áreas
protegidas, sendo seu objetivo garantir às futuras gerações tal patrimônio. Como atividades
principais, o IF desenvolve pesquisa e experimentação no setor florestal, compreendendo as
áreas de silvicultura, melhoramento florestal, parasitologia florestal, implantação, formação e
utilização de florestas, inventário florestal, produtos e qualidade de madeira, planejamento e
manejo de parques e áreas silvestres. Cabe-nos ainda enfatizar algumas atividades realizadas
por alguns setores do IF, que proporcionam suporte as pesquisas sobre madeira, tais como:
Seção de Madeiras e Produtos Florestais, Laboratório de Sementes e Museu Florestal “Otávio
Vecchi”.

5 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

“As Unidades de Conservação são áreas que pertencem ao patrimônio comum, voltadas à
proteção dos espaços naturais representativos de ecossistemas importantes, ou com
características especiais do ponto de vista ambiental" XAVIER et al.(1996).

No Brasil, as Unidades de Conservação começaram a ser estabelecidas, por iniciativa do


governo federal, a partir de 1937. Hoje o País tem seu território pontilhado por essas
unidades, muitas das quais foram criadas também por iniciativa de governos estaduais. No
Estado de São Paulo são compostas em diferentes categorias de manejo, podendo ser mais ou
menos restritivas quanto ao uso dos recursos naturais, são reunidas em três grupos: Parques
Estaduais, Estações Ecológicas e Reservas Estaduais (BRITO 1995).
Somente na região litorânea encontram-se ainda extensas áreas de florestas naturais,
chamadas de Unidades de Conservação, principalmente devido à grande dificuldade de
ocupação humana frente às condições físico-climáticas adversas (grande declividade; solos
ácidos ou pobres, com baixo potencial para atividades agrícolas; regime hídrico e clima
úmido). Nessa região concentram-se 83,6% das florestas ainda existentes no Estado e que
representam hoje o maior contínuo da Mata Atlântica remanescente no Brasil.

O gerenciamento destas unidades configura um serviço estadual através do Instituto Florestal,


que atende à visitação pública, a sítios de beleza excepcional, promovendo lazer e educação
ambiental, realizando e apoiando pesquisas científicas, protegendo a vida silvestre,
fiscalizando as florestas tropicais atlânticas e outros ecossistemas ameaçados, e
proporcionando estudos sobre desenvolvimento sustentável.

6 UNIDADES DE PRODUÇÃO

As Unidades de Produção são áreas com grandes reflorestamentos de Pinus e Eucalipto


(espécies exóticas) coexistindo com significativas amostras da antiga cobertura florestal
(espécies nativas). Muitos autores também consideram as Unidades de Produção como
Unidades de Conservação, não fazendo a divisão entre floresta natural e artificial ou plantada,
pois hoje essas áreas são consideradas um importante instrumento de política ambiental para
recuperação dos ambientes degradados. Os objetivos prioritários destas áreas são tanto a
experimentação e a pesquisa como a produção e comercialização de produtos florestais.
Segundo ANDRADE et al. (1992) as Unidades de Produção no Estado de São Paulo são
compostas em três categorias: Estações Experimentais, Florestas Estaduais e Viveiros
Florestais. Nas Unidades de Produção são comercializados os seguintes produtos florestais: a
resina, sementes, mudas e a madeira.

Com o objetivo de contribuir para a conservação, manejo e ampliação das florestas de


produção (Unidades de Produção) e de preservação permanente (Unidades de Conservação)
do Estado de São Paulo, foi criada em 1986 a Fundação para Conservação e Produção
Florestal do Estado de São Paulo, chamada de Fundação Florestal, que atua também no
controle da produção e na comercialização dos povoamentos florestais. Este órgão é
vinculado à Secretaria Estadual de Meio Ambiente.

A maioria dos plantios de florestas das Unidades de Produção tem mais de 33 anos e já
sofreram 5 desbastes, apresentando em média uma densidade de 250 árvores/ ha. Em função
disto e da proximidade entre a Floresta e a sede das Unidades de Produção, instalaram-se
Serrarias com equipamentos de corte, carga e transporte, bem como usinas para o tratamento
da madeira. As Unidades mais equipadas são a Estação Experimental de Itapetininga, a
Estação Experimental de Luiz Antônio e a Floresta Estadual de Manduri, onde é realizado o
processamento e tratamento da madeira. São produzidos componentes utilizados na
construção de estruturas de madeira que se destinam às mais diversas finalidades, atendendo
às necessidades de todo o Instituto Florestal, no que se refere à obras de paisagismo (cercas,
bancos, brinquedos de “play-ground” etc.), construção de componentes para edificação
(guaritas de vigilância, escritórios, casas de funcionários, etc.) e móveis.

O atendimento a toda essa diversidade de aplicações é possível pela grande flexibilidade dos
equipamentos e pela alta especialização dos funcionários envolvidos nessa atividade, porém a
produção é feita pelas mesmas pessoas que cortam, repicam, transportam, serram, beneficiam
e executam a confecção dos componentes de madeira.
Atualmente existe, porém, um grave problema: os funcionários estão se aposentando e não
estão repassando a tecnologia no uso da madeira; também acontece a falta de peças de
reposição dos equipamentos. Este fato leva a concluir que as Unidades Produção deveriam ser
implementadas a nível de recursos humanos e materiais.

7 USO DA MADEIRA PARA PROJETOS DE EDIFICAÇÃO, COMO MATERIAL


DE CONSTRUÇÃO ECOLOGICAMENTE CORRETO

É natural que a madeira seja considerada, pela maioria dos profissionais mais esclarecidos,
como sendo o material de reserva renovável e sustentável que possui um papel importante
para garantir um futuro mais equilibrado ecologicamente. Para tanto, o desenvolvimento da
tecnologia correta no uso das florestas, acompanhado de projetos mais coerentes de emprego
da madeira, conciliando com a recuperação da cobertura vegetal da terra, deve ser uma das
principais preocupações.

Comparação entre o metal, o concreto e a madeira, quanto ao seu processo de produção e o


reaproveitamento da matéria-prima

METAL CONCRETO MADEIRA


FONTE DE ENERGIA Grandes siderúrgicas Altos Fornos Luz Solar
MATÉRIA PRIMA Minério não renovável Não renovável Renovável
Reciclável com perdas de Não reciclável Reciclável
propriedades

Não se pretende aqui, dizer que se deve abandonar o uso do aço e do concreto mas, utilizá-los
em conjunto com a madeira. Cada material deve ser aplicado onde seu desempenho é maior e
mais aproveitado. Atualmente, pode-se detectar facilmente o número de pessoas que
produzem o metal e o cimento no Brasil, são grandes monopólios e a madeira é excluída deste
sistema.

Ao lado da falta de tradição, há o preconceito de se entender a madeira como material


secundário destinado a soluções provisórias, o que alimenta um círculo vicioso. Não há
tradição e por isso se constrói pouco e mal.

“No Brasil, precisamos acabar com a idéia que a madeira se pega pronta. Tal qual os
alimentos, ela precisa ser replantada continuamente. A diferença é que os alimentos podem
ser consumidos dentro de alguns meses, a madeira só após dez anos. Mas em um plano
nacional, dez anos é muito pouco” (CARUANA, 1987, p.1).

Apesar de abrigar uma das maiores reservas florestais do mundo e um dos maiores potenciais
de desenvolvimento de florestas plantadas, o Brasil e em especial o Estado de São Paulo ainda
não inclui de maneira efetiva soluções construtivas em madeira no elenco das técnicas
empregadas em edificações.

A utilização reduzida da madeira como elemento de arquitetura pode ser explicada pela
ausência de tradição construtiva. Este fato remonta à própria colonização brasileira, com
predominância de povos mediterrâneos, cuja habilidade se orientava para outros materiais,
como a pedra ou técnicas como o adobe e taipa.

8 O USO DA MADEIRA EM OBRAS DO INSTITUTO FLORESTAL


Projetos de arquitetura para áreas naturais, sejam elas Unidades de Conservação ou Produção,
devem-se basear em uma arquitetura sensível às questões ambientais, edificar sem destruir a
natureza, em harmonia, com a menor intervenção possível no entorno. Deve-se usar materiais
construtivos locais, como a pedra e principalmente a madeira.

8.1 Necessidades de Edificações e Obras de Infra-estrutura

A grande demanda da população em busca de lazer e turismo(ecoturismo), em áreas florestais


vem propiciando o desenvolvimento de programas de uso público para receber o público
visitante. Para tanto se faz necessário instalações de infra-estrutura e edificações para atender
estes programas, tais como: Administração; Segurança, fiscalização (guaritas); Ambulatório;
Oficinas e Depósitos para manutenção; Alojamentos; Sanitários; Vestiários; Cozinhas/
Lanchonetes/ Bebedouros; Centros de Interpretação/ Centro de Visitantes/ Centro de
Educação Ambiental; Laboratórios de pesquisa; Museus; Centros de Artesanato; Instalações
para Triagem e Pesquisa de Animais Silvestres; Instalações de atracadouros e garagem de
barcos, etc.

8.2 Considerações específicas sobre as dificuldades para a construção de Edificações e


Obras de Infra-estrutura nas Unidades do Instituto Florestal

O acesso para inúmeras Unidades se faz com dificuldade por estradas de terra, travessias de
barco em alto mar ou rios (exemplo Parque Estadual da Ilha Anchieta, Ilha do Cardoso,
Estação Ecológica de Juréia Itatins, Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira entre outros) e
muitas destas áreas não possuem energia elétrica, sendo captadas posteriormente através de
geradores ou energia solar.

Segue abaixo, a relação de várias dificuldades encontradas para a construção de edificações


convencionais:
- Dificuldade na disponibilidade de recursos orçamentários;
- O grande déficit de edificações nas Unidades de Conservação;
- A grande maioria das construtoras licitadas desconhecem a realidade dos locais de execução
destas obras, o que levou muitas delas a desistirem, causando a paralisação por longos
períodos;
- Obras pequenas e distribuídas por todo o Estado inviabilizam a administração direta, o
fornecimento de materiais básicos, recrutamento de mão-de-obra, etc.
- Transporte de materiais volumosos e com grande freqüência durante o período de execução.

Deduz-se de tais considerações, que construções convencionais de alvenaria mediante a


contratação de serviços ou execução sob administração direta, geraria sempre um impasse
insuperável com tendência de agravamento acelerado da situação nas áreas florestais,
principalmente com relação à dotação de casas para vigias, premissa básica para
implementação da infra-estrutura.

8.3 Solução Encontrada pelo Instituto Florestal para viabilizar a construção de


edificações

Ciente da importância de dotar as áreas florestais (Unidades de Conservação e Produção) com


uma infra-estrutura adequada, o IF, após estudar diversas opções para o problema do déficit
de edificações, concluiu preliminarmente que o mais viável do ponto de vista operacional,
seria implementar estas áreas com tipos de construções, formas de execução e custo final mais
coerente.

Tendo em vista essa problemática, o IF como detentor de reflorestamentos de Pinus, inicia-se


na pesquisa, para aproveitar esse material para construção de casas para vigias e funcionários.
Nessa alternativa a Instituição passaria a contar, de início, com uma óbvia vantagem: à
disponibilidade de material predominante nesse tipo de construção, a madeira, produto este
existente nas Unidades de Produção.

As peças seriam previamente confeccionadas pela própria Instituição. No local, proceder-se-ia


somente os serviços de montagem e acabamento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, W. J. et al. Guia das Unidades de Conservação e Produção Florestal no


Estado de São Paulo. Anais (volume 3)- 2º Congresso Nacional sobre Essências Nativas.
Instituto Florestal. São Paulo, 1992. página 880.
BRITO, M. C. W. de. Unidades de Conservação: Intenções e Resultados. São Paulo, 1995.
302p. Dissertação (Mestrado) - PROCAM - Programa de Pós Graduação em Ciência
Ambiental - Universidade de São Paulo.
CARUANA, R. A substância das Fibras. Entrevista. Revista: A Construção São Paulo,
n°2049. São Paulo, 18 de maio de 1987.
CRUZEIRO, E. C. Produção e Construção de Casas em Madeira de Reflorestamento-
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