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Na manhã desta sexta-feira, Jair Bolsonaro postou em sua conta no Twitter a seguinte
informação: “o Ministro da Educação Abraham Weintraub estuda descentralizar investimento
em faculdades de filosofia e sociologia (humanas). Alunos já matriculados não serão
afetados. O objetivo é focar em áreas que gerem retorno imediato ao contribuinte, como:
veterinária, engenharia e medicina.”
Segundo dados do Censo da Educação Superior, o governo brasileiro fornece mais vagas em
cursos de graduação em filosofia e sociologia do que a iniciativa privada. No caso de cursos
como veterinária, medicina e engenharia existem mais vagas nas instituições particulares
(confira os detalhes no quadro). O público atingido é muito diferente: no Brasil, atualmente,
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nas instituições públicas e privadas, estão matriculados em filosofia e sociologia 9.976
alunos, contra 93.964 matrículas em veterinária, 149.655 em medicina 1.225.243 nas
engenharias.
A reforma perdeu força após o então ministro da Educação, Hakubun Shimomura, renunciar
ao cargo no final de 2015. Ainda assim, em 2017, pelo menos 17 universidades aboliram os
processos seletivos de alunos para os cursos de ciências humanas e sociais.
Pensamento sistêmico
“É legítimo um governo eleger prioridades quando se concedem bolsas ou empréstimos
subsidiados para diferentes áreas”, diz Claudia Costin, professora convidada da Faculdade de
Educação da Universidade de Harvard e diretora do Centro de Excelência e Inovação em
Políticas Educacionais (CEIPE) da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ). Mas
essa escolha, diz ela, pode ter consequências graves para a formação dos profissionais que
o mercado de trabalho vai exigir no futuro.
“Estamos vivendo a quarta revolução industrial. O que vai acontecer a médio prazo é que a
inteligência artificial vai substituir também trabalho intelectual” diz ela. “O que diferencia
nós, humanos, é justamente nossa capacidade de pensar, de ter pensamento abstrato mais
profundo, pensamento sistêmico. A filosofia nunca foi tão urgente quanto nos tempos de
hoje”.
Já a sociologia, diz a professora, é importante para entender a nova sociedade que está
emergindo. “Gostaria de lembrar que, nos tempos de Josef Stalin, era proibido estudar
sociologia na União Soviética”, afirma. “Filosofia e sociologia são duas disciplinas que vão
fornecer a capacidade de pensamento sistêmico, tão importante no século 21.
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Por sua vez, Amilcar Baiardi, professor aposentado da Universidade Federal da Bahia (UFBA)
e da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), lembra que a crítica do presidente
se manifesta num contexto mais amplo, o de questionamento da falta de eficiência das
instituições públicas de ensino superior. “O sistema formado pelas instituições federais de
ensino superior está superdimensionado. Existe uma grande evasão de alunos e muita
ociosidade de professores”, diz ele, que é engenheiro agrônomo com pós-doutorado em
história das ciências.
“Esses dois cursos foram citados como exemplos, mas na realidade há uma preocupação
muito mais ampla, na linha de buscar mais eficiência do sistema. E a busca por eficiência
passa pela redução do impacto de cursos que não preparam as pessoas para a vida”. Para o
professor, os cursos de ciências humanas perderam a relevância na medida em que não
tratam da criação de um cenário de desenvolvimento e de competitividade.
“As ciências humanas são responsáveis pela competitividade sistêmica, aquela que decorre
de uma mentalidade geral, um inconsciente coletivo nacional que ajuda o país a ser
competitivo”, ele afirma. “Mas, ao contrário, as ciências humanas no Brasil estão afastadas
das questões de inovação e focadas demais em pesquisas de gênero, de luta de classe e de
etnia, sem apresentar soluções para tais problemas”.
"Quanto ao assédio moral (de estudantes e de professores), não preciso dizer nada: há
centenas de depoimentos e gravações. Ademais, muitos dos centros de Humanas nas
federais estão em estado precaríssimo! Como todo administrador público é responsável pela
proteção e conservação do patrimônio, os reitores deveriam ser chamados a cumprir a Lei.
Por isso, afirmo sem pestanejar: a decisão governamental de, nesse momento, diminuir o
apoio financeiro às Humanas é certíssima", acrescentou.
Já para Renato Janine Ribeiro, que foi ministro da educação do governo do PT entre 2015 e
2017, o MEC deveria começar por fechar cursos ruins. "Agora, há uma legislação que torna
muito difícil fechar um curso de graduação de má qualidade", aponta, por outro lado. De
qualquer forma, para ele é um equívoco reduzir recursos dos cursos de humanas.
“O presidente se equivoca porque o retorno para a sociedade não é dado apenas por cursos
de uma determinada linha em detrimento de outra. O retorno está em bons cursos, em
veterinária, engenharia e medicina, mas também em filosofia e sociologia", diz Janine. "Além
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disso, o retorno para a sociedade não é imediato. Ele vem quando você estabelece um
conhecimento da sociedade. Para cuidar de uma pessoa doente, tem que ser médico. E para
governar uma sociedade, existe uma ciência, a sociologia."
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