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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS


INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
BACHARELADO EM CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE BENS CULTURAIS
MÓVEIS

POLÍTICAS PÚBLICAS PATRIMONIAIS:


ESTUDO DOS INSTRUMENTOS LEGAIS E ESTRATÉGIAS DE PRESERVAÇÃO
NA CIDADE DE PELOTAS - RS

CLAUDIA DA SILVA NOGUEIRA

PELOTAS
2014
1

CLAUDIA DA SILVA NOGUEIRA

POLÍTICAS PÚBLICAS PATRIMONIAIS:


ESTUDO DOS INSTRUMENTOS LEGAIS E ESTRATÉGIAS DE PRESERVAÇÃO
NA CIDADE DE PELOTAS - RS

Monografia apresentada ao Curso de


Conservação e Restauro de Bens Culturais
Móveis do Instituto de Ciências Humanas da
Universidade Federal de Pelotas, como
requisito parcial para a obtenção do grau de
Bacharel.

Prof. Roberto Heiden – Orientador

PELOTAS
2014
2

POLÍTICAS PÚBLICAS PATRIMONIAIS:


ESTUDO DOS INSTRUMENTOS LEGAIS E ESTRATÉGIAS DE PRESERVAÇÃO
NA CIDADE DE PELOTAS - RS

Por

CLAUDIA DA SILVA NOGUEIRA

Monografia aprovada pela Banca examinadora formada por:

_________________________________________________
Presidente: Prof. Roberto Heiden - Orientador, UFPel

_________________________________________________
Membro: Maria Leticia Mazzucchi Ferreira

Pelotas, ........... de...............................de 2014


3

AGRADECIMENTOS

Hoje mais uma etapa chega ao fim, e se consegui chegar até aqui, foi porque muitas
pessoas me ajudaram direta e indiretamente nessa caminhada. Por esse motivo deixo aqui
meus sinceros agradecimentos:
Ao professor e orientador Roberto Heiden, pelo conhecimento passado durante esses três
anos e meio. E por ter se dedicado não somente como orientador, mas acima de tudo como
amigo nesse e em muitos outros momentos.
A Prof. Maria Leticia Mazzucchi Ferreira por ter se dedicado na criação do Bacharelado em
Conservação e Restauro, me dando a oportunidade de conhecer esse curso e me apaixonar
por ele. Além de claro, por ter gentilmente aceitado avaliar este trabalho e fazer parte desta
banca.
A Prof. Francisca Michelon, demais Integrantes e os que já passaram pelo grupo PET,
obrigada pela oportunidade de trabalhar em grupo e pelas inúmeras discussões que
acabaram me fazendo entender melhor as pessoas e as necessidades de cada um, me
fazendo assim uma pessoa mais compreensiva.
Aos demais professores e técnicos do Curso de Conservação e Restauro, por fazerem parte
da minha caminhada e não hesitarem em doar o melhor de si, mesmo o curso enfrentando
problemas de instalação, Prof. Luiza Neitzke; Prof. Silvana Bojanoski; Prof. Andrea
Bachettini; Prof. Daniele Fonseca; Prof. Pedro Sanches; Prof. Mariana Wertheimer; Prof.
Ângela Macalossi; Tec.Jeferson e Tec. Keli Scolari.
Aos meus colegas que chegaram até aqui comigo e aos que por algum motivo não
conseguiram nos acompanhar até o final, mas que marcaram nossa caminhada, obrigada
por tornarem esses três anos algo muito especial pra mim. Em especial as colegas Joana
Brakling e Juliana Cascais, por terem sido mais que colegas, mas grandes amigas dentro e
fora da faculdade. Obrigado gurias pelo incentivo e por não me deixarem desistir nem nos
momentos mais difíceis da minha vida. Sentirei saudades dos dias ao lado de vocês.
Aos meus pais Rejane Nogueira e Paulo Nogueira, por terem sido parte importante na
minha formação como pessoa e por terem me dado toda a base sólida, para que eu
batalhasse e conquistasse todos os meus maiores sonhos até aqui. Amo vocês. Agradeço
também aos meus irmão Ana Paula e Paulo Cézar.
As pessoas que Deus colocou no meu caminho, meus amigos, em especial as minhas
melhores amigas Maiara, Érika, Claudia e Natasha, por terem me acompanhado em grande
parte dos momentos da minha vida, por rirem e chorarem comigo, em fim por não me
abandonarem nem mesmo nos momentos mais difíceis da minha vida. Se eu cheguei até
aqui em meio a tantas barreiras que eu enfrentei, foi porque sem dúvida Deus colocou no
meu caminho as pessoas certas.
4

Ao meu amigo e namorado Vinícius Lacerda, por ter sido parte importante até esse
momento. Por ter sido paciente e não ter desistido de mim nem nas minhas maiores crises
(e foram muitas). Valeu Boy do olho azul, saiba que nada é por acaso, e se tu estás na
minha vida nesse momento e não em outros é porque Deus programou tudo na hora certa.
Que tu faças parte deste e de muitos outros momentos que virão pela frente ao meu lado.
E por fim, mas não menos importante, ao meu avó Fausto Silva, in memória. Apesar de eu
ter tido pouco tempo ao lado dele se tornou um exemplo de pessoa pra mim. Sei que estas
ai de cima olhando por mim a todo momento, por isso obrigada pelo colo, pelo lindo sorriso
e pelo carinho que me destes até nosso último momento juntos. Até um dia. (Chatinha)
5

Nas favelas, no senado, Sujeira pra todo lado,


Ninguém respeita a constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Que país é esse?

Legião Urbana – Que País é esse?


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RESUMO
NOGUEIRA, CLAUDIA DA SILVA. POLÍTICAS PÚBLICAS PATRIMONIAIS:
ESTUDO DOS INSTRUMENTOS LEGAIS E ESTRATÉGIAS DE PRESERVAÇÃO
NA CIDADE DE PELOTAS-RS. 2014. XX FL. MONOGRAFIA (GRADUAÇÃO).
CURSO DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE BENS CULTURAIS MÓVEIS,
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS.

Entre as políticas públicas que protegem os bens culturais e os projetos de


recuperação do patrimônio, encontram-se os instrumentos e os profissionais, que são os
meios pelos quais as políticas e os projetos são viabilizados. Nesta perspectiva, o presente
trabalho busca compreender os instrumentos de preservação patrimonial: que tipos, quem
os faz, como são feitos? O presente trabalho aprofunda sua discussão tendo como exemplo
os recentes editais publicados de projetos de restauração do patrimônio edificado da cidade
de Pelotas, Rio Grande do Sul, buscando compreender a importância do momento de
formulação dos mesmos e até que ponto é possível as variáveis envolvidas serem
moldáveis, de modo a contribuir com a qualificação desses processos. Nesse sentido,
analisam-se mais detalhadamente quatro editais, sendo dois de prédios tombados em nível
Federal: (IPHAN) Casarão 6 e Teatro Sete de Abril, dois de prédios tombados em nível
Estadual (IPHAE): Casa do Senador Augusto de Assumpção e Escola de Agronomia Eliseu
Maciel e ainda dois de prédios tombados em nível Municipal (Prefeitura Municipal de
Pelotas): Mercado Público e Grande Hotel, a fim de verificar a adequação dos resultados
obtidos após a sua finalização, considerando aspectos teóricos e legais, e confrontando
esses resultados com os objetivos apresentados para essa restauração, quando de sua
proposição. Com a análise do resultado obtido, espera-se contribuir com a compreensão
sobre essa temática, e também com novos projetos futuros.

Palavras-chave: Políticas Públicas; Legislação Patrimonial; Editais; Restauração.


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RESUMEN

Entre las políticas públicas que protejan los bienes culturales y los proyectos de
recuperación del patrimonio, se encuentra las herramientas y los profesionales, que son los
medios por los cuales las políticas y proyectos se ponen em practica. En esta perspectiva, el
presente articulo busca comprender los instrumentos de preservación del patrimonio: ¿ qué
tipos, que los hace, cómo se hacen? Este trabajo profundiza su análisis tomando como
ejemplo las convocatorias en los últimos proyectos de restauración del patrimonio
arquitectónico de la ciudad de Pelotas, Rio Grande do Sul, buscando entender la
importancia del acto de formulación y en qué medida pueden las variables intervienir con el
fin de contribuir a la caracterización de los procesos. Así, se analizan en detalle cuatro
convocatorias, dos en edificios protegidos a nivel federal : ( IPHAN ) Casarao 6 y Theatro
Sete de Abril, de dos edificios protegidos en el nivel estatal ( IPHAE ) : Casa del senador
Augusto de Asunción y Escolade Agronomía Eliseu Maciel, y dos edificios protegidos a
nivel municipal ( Municipalidad de Pelotas) : Mercado Público de Pelotas y Grande Hotel,
con el fin de verificar la adecuación de los resultados obtenidos después de su finalización ,
teniendo en cuenta los aspectos teóricos y legales, y la comparación de estos resultados
con los objetivos presentados en esta restauración, cuando su proposición. Con el resultado
del análisis, se espera contribuir a la comprensión de este problema, así como los futuros
nuevos proyectos.

LISTA DE FIGURAS
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FIGURA 1 – Casarão Barão de São Luiz “Casarão N* 6” 38


FIGURA 2 - Theatro Sete de Abril 39
FIGURA 3 – Grande Hotel 41
FIGURA 4 – Casa do Senador Augusto de Assumpção 42

FIGURA 5 – Mercado público de Pelotas 43


FIGURA 6 – Escola de Agronomia Eliseu Maciel 44

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Edital Casarão Barão de São Luiz “Casarão N* 6” 46


TABELA 2 - Edital do Mercado Público Central e Largo Edmar Fetter 47
9

TABELA 3 – Edital do Theatro Sete de Abril 48


TABELA 4 – Edital do Grande Hotel 49

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 11
CAPITULO 1: PATRIMÔNIO, PERSPECTIVA HISTÓRICA E POLÍTICAS PARA
10

ASUA PRESERVAÇÃO 15
1.1 Evolução do conceito de patrimônio ao longo da História 15
1.2 Legislação patrimonial 17
1.3 Políticas públicas voltadas para o patrimônio 20
1.3.1 Instrumentos para a preservação 24
1.3.2 Editais 25
CAPITULO 2: ESTUDO DE CASO 32
2.1 Estratégias de preservação na cidade de Pelotas – RS 32
2.1.1 Editais de restauro na cidade de pelotas – RS 36
2.2 Estudo e análise dos editais e processos de restauro 45
CONSIDERAÇÕES FINAIS 54
REFERÊNCIAS / BIBLIOGRÁFIA 58
ANEXOS 61

INTRODUÇÃO

Quando falamos em preservação do patrimônio cultural brasileiro, nos deparamos


com uma série de políticas públicas voltadas para este campo. No entanto, nas décadas
passadas, existiam escassas iniciativas de políticas públicas voltadas especificamente para
a área da cultura. Durante o governo de Getúlio Vargas (1930-1945) foram implementadas o
que se pode chamar de primeiras políticas públicas de cultura no Brasil. Nesse período,
foram tomadas uma série de medidas objetivando fornecer uma maior institucionalidade
para o setor cultural.
Exemplo mais clássico dessa ação está na área de preservação do patrimônio
material quando, em 1937, foi criado o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(SPHAN). Mais tarde, tornou-se necessária a reestruturação do órgão e então na década de
1970, em um período de grande valorização do patrimônio, ele passou a ser chamado de
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e foi vinculado ao Ministério da
11

Cultura, com o objetivo de ser responsável por ações de preservação, divulgação e


fiscalização dos bens culturais brasileiros.
Contudo, para a preservação efetiva dos bens culturais, ainda era necessário um
meio legal, onde os órgãos responsáveis pela fiscalização pudessem se amparar. Foi então
que através da Constituição Federal Brasileira, de 1988, obteve-se um avanço considerável
ao elevar à categoria de direitos fundamentais da pessoa humana os direitos culturais,
expresso nos artigos nº 215 e nº 216. Desde então, conferiu-se ao patrimônio cultural a
certificação e proteção legal abrangente de bens de natureza material e imaterial,
portadores de referência à identidade, à ação, e à memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira. Ainda na constituição do mesmo ano, estabelece-se
que é de competência da União, estados-membros, Distrito Federal e municípios, legislarem
e se responsabilizarem por seu patrimônio cultural, punindo eventuais danos já causados a
esse patrimônio e impondo diretrizes para a preservação dos mesmos.
Consideramos ainda outro aspecto importante trazido pelo texto constitucional, onde
se amplia o conceito de patrimônio cultural, contido na Constituição Federal Brasileira (1988,
Art. 216):

Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e


imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência
à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da
sociedade nos quais se incluem:

I – as formas de expressão;
I I– os modos de criar, fazer e viver;
III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços
destinados às manifestações artístico-culturais;
V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

A carta magna de 1988 democratiza, portanto, a definição de patrimônio, tanto no


que diz respeito à hierarquização do processo de tombamento, podendo partir de iniciativa
dos municípios e não apenas centralizado da União, quanto às características sócio-
históricas dos bens patrimoniais em questão, valorizando, também, a cultura imaterial e
bens de outros segmentos sociais e minorias étnico-culturais, ou seja, o rol de bens culturais
brasileiros preservados aumentou, tendo em conta não somente aqueles relevantes para a
memória nacional, mas também os que representam testemunhos históricos de
particularidades culturais regionais.
O poder legislativo, portanto, se encarrega em aliar como as normas legais referem à
preservação do patrimônio cultural, partindo desde o primeiro ato normativo que criou o
12

tombamento (Decreto-Lei nº 25, de 1937), passando pela criação do registro como


instrumento tutelar do patrimônio imaterial (Decreto nº 3.351, de2000), até as convenções
mundiais estabelecidas pela UNESCO, das quais o Brasil é signatário, que foram
incorporadas à legislação Brasileira, através de decretos legislativos.
Com isso, por meio do que diz a Constituição Federal, cada estado ou município,
passa a se utilizar de instrumentos jurídicos, aparentemente inflexíveis, para garantir a
melhor preservação do bem patrimonial, seja ela material ou imaterial, através de uma
restauração, requalificação, restabelecimento e/ou reutilização deste patrimônio, por
exemplo. Como instrumentos garantidores destes fins, temos o tombamento, os inventários,
as leis, e os processos licitatórios, conforme elucida o parágrafo abaixo retirado da
Constituição Federal de 1988: “O Poder Público, com a colaboração da comunidade,
promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros,
vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e
preservação”.
Com o início de uma preocupação decorrente da preservação de bens culturais,
surgiram várias medidas tomadas ao longo dos anos pela União, estados e municípios, para
a criação de meios de certa forma eficazes no controle dessa preservação. Nesse sentido, é
preciso compreender um pouco sobre os instrumentos e estratégias legais responsáveis
pela primeira etapa de preservação do patrimônio cultural brasileiro ao longo dos anos:

O tombamento, por exemplo, foi o primeiro ato normativo que surgiu em meio a
essas políticas de preservação. Nada mais é do que um ato de reconhecimento do valor
cultural dos bens que tiveram sua importância histórica, artística ou cultural reconhecida por
algum órgão que tem essa atribuição. Ao sofrer o tombamento o bem passa a integrar-se ao
patrimônio cultural de uma localidade, nação, estado ou município. Contudo, o tombamento
não abrange todos os bens culturais, somente salvaguarda os bens consideravelmente
notáveis.
Surge então o inventário, um instrumento de proteção do patrimônio cultural previsto
no art. 216 da Constituição Federal de 1988. Assim como o tombamento, porém, com um
alcance mais amplo, já que podem fazer parte desta lista de bens culturais inventariados,
exemplos mais singelos de uma época, comunidade ou lugar.
Ainda contamos com o registro, instituído em 4 de agosto de 2000, no Decreto nº
3.551, voltado especialmente para os Bens Culturais de Natureza Imaterial. “... uma forma
de reconhecimento e busca a valorização, sendo visto mesmo como um instrumento legal.
Registram-se saberes e celebrações, rituais e formas de expressão e os espaços onde
essas práticas se desenvolvem”
13

Após o bem cultural estar sob tutela da União, estado, ou município, os mesmos
promovem acordos e parcerias com instituições privadas ou públicas, com o fim de angariar
recursos para a realização de processos de restauro ou da sua preservação de um modo
geral. Parte importante para que esse trabalho ocorra de maneira idônea são os processos
licitatórios, “procedimento administrativo formal em que a administração pública convoca,
por meio de condições estabelecidas em ato próprio (edital ou convite), empresas
interessadas na apresentação de propostas para o oferecimento de bens e serviços” (TCU,
2010, p.19). Sabe-se, ainda, que existem normas gerais para União, Estado, Distrito Federal
e Município, quanto a licitações e contratos administrativos, regulamentadas através da Lei
nº 8.666/1993, artigo 37 da Constituição Federal.
Portanto, para a realização de um processo licitatório por um órgão licitador, é
preciso que seja redigido um documento conhecido como edital: “lei interna da licitação.
Documento que enumera todas as condições que devem ser cumpridas pela Administração
e pelos licitantes num processo licitatório” (TCU, 2010, p.889), ou seja, aquilo que vem a ser
um documento essencial para que se contrate a empresa que reúne as condições
necessárias para satisfação do interesse público, atendendo especialmente aspectos como
a capacidade técnica e econômico-financeira, a qualidade do produto e o valor do objeto,
além de contribuir, posteriormente, como um documento de fiscalização do cumprimento dos
objetivos e resultado final da obra realizada.
Ao obter conhecimento dessas informações mencionadas acima, este trabalho tem
como problematização discutir a importância que as políticas de preservação do patrimônio
histórico e seus editais têm para a realização de um processo de restauro, pois a formulação
inadequada deste documento pode gerar um certo descompasso durante o processo,
possibilitando que o julgador utilize-se de fatores subjetivos ou de critérios confusos no
instrumento de convocação; por exemplo, para benefício da própria administração, para
beneficiar um licitante inapropriado, ou ainda para possibilitar a entrega do bem patrimonial
restaurado em condições insuficientes ao seu projeto idealizado. Na busca desta resposta,
outras perguntas ainda se colocam como fundamentais para a resolução da primeira, como:
Quem faz as estratégias e as políticas voltadas à preservação patrimonial; quais os tipos
mais eficazes; e como são feitas?
Em posse dessas informações, e objetivando elucidar estes questionamentos, no
primeiro capítulo faremos uma retrospectiva conceitual do tema patrimônio ao longo da
história e o panorama histórico das políticas voltadas à sua preservação, desde as primeiras
legislações patrimoniais até as políticas públicas contemporâneas voltadas para o tema,
bem como seus respectivos instrumentos de aplicação, como é o caso dos editais. No
segundo capítulo traremos o estudo de caso das políticas públicas preservacionistas, suas
14

estratégias e instrumentos utilizados na cidade de Pelotas, fazendo uma análise dos objetos
de restauros delimitados e seus respectivos editais.
Como objetivo geral esta pesquisa busca analisar as políticas públicas patrimoniais e
seus respectivos instrumentos legais e estratégias de preservação no município de Pelotas.
Como objetivos específicos consideraremos: A análise dos processos licitatórios de
restaurações arquitetônicas de bens tombados e beneficiados por políticas públicas de
fomento cultural. Levantamento das políticas públicas voltadas à preservação do patrimônio,
tanto em nível federal, estadual e municipal. E, ainda, o apuramento das estratégias
voltadas à preservação patrimonial aplicadas na cidade de Pelotas. Procurar-se-á traçar um
comparativo entre os distintos processos, observando divergências e semelhanças entre
eles e a relevância disso para o futuro do processo de restauração de uma edificação
histórica.
A metodologia empregada foi inicialmente uma revisão bibliográfica sobre o tema,
pesquisando sobre aspectos referentes à legislação brasileira, instrumentos de preservação
de bens culturais, processos licitatórios e editais, tendo sido possível obter uma melhor
compreensão sobre o surgimento das primeiras políticas culturais criadas no Brasil e o
desenvolvimento e a aplicação dessas políticas públicas patrimoniais na cidade de
Pelotas/RS. Após obter o entendimento necessário sobre o tema, procedeu-se, como início,
a uma análise geral das políticas públicas municipais voltadas ao patrimônio e suas
estratégias de preservação, e o exame de seis recentes editais publicados de projetos de
restauração do patrimônio edificado da cidade de Pelotas e Rio Grande do Sul, buscando
compreender a importância do momento de formulação desse documento, e até que ponto é
possível os mesmos serem alterados, de modo a contribuir com a compreensão e até
mesmo a qualificação desses processos.
CAPÍTULO 1

PATRIMÔNIO CULTURAL, PERSPECTIVA HISTÓRICA E POLÍTICAS PARA A


SUA PRESERVAÇÃO

Neste capítulo é feita uma contextualização sobre o conceito de patrimônio cultural


no Brasil e ainda uma apresentação sobre o surgimento das primeiras políticas públicas
voltadas para a área da cultura e do patrimônio no Brasil. Através de uma perspectiva
histórica, apresentamos a evolução que o conceito de patrimônio cultural teve ao longo dos
tempos, concomitantemente com a evolução das políticas públicas culturais.
Posteriormente, é discutida então a legislação patrimonial brasileira e os instrumentos
criados para a aplicação e a fiscalização dessas políticas públicas em prol da preservação
do patrimônio cultural no Brasil.
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1.1 Evolução do conceito de patrimônio cultural ao longo da História

É comum ao longo do tempo os conceitos sofrerem transformações acompanhando


as mudanças que ocorrem com as sociedades, portanto, não é diferente quando se fala no
conceito de Patrimônio.
Ainda que o conceito surgisse bem mais tarde, já em relação à Antiguidade Clássica,
Choay (2001) cita a procura fervorosa dos atálidas por esculturas e objetos de arte
decorativa produzidos na Grécia Antiga, objetos que pouco tempo depois começam também
a provocar o interesse dos romanos, que os levaram como espólios de guerra durante as
conquistas em territórios gregos. Ou seja, já era possível enxergar os primeiros vestígios
sobre o interesse da sociedade pelo patrimônio de um povo.
Porém, as primeiras definições sobre patrimônio surgiram a partir da formação dos
Estados Nacionais Modernos (séc. XVI), como forma de construir e consolidar uma
identidade Nacional. Como bem destaca Maria Cecília Londres Fonseca (1997):

Uma prática característica de Estados modernos, que, por meio de


determinados agentes, recrutados entre intelectuais, e com base em
instrumentos jurídicos específicos, delimitam um conjunto de bens no
espaço público. Pelo valor que lhes é atribuído, enquanto manifestações
culturais e enquanto símbolos da nação, esses bens passam a ser
merecedores de proteção, visando a sua transmissão para futuras
gerações. (In: FONSECA, pág. 11, 1997).

Contudo, as práticas de preservação do patrimônio passam a ser mais concretas


após o ocorrido durante a Revolução Francesa, quando igrejas foram incendiadas, estátuas
derrubadas, ou seja, houve uma grande destruição do patrimônio francês. A partir de então,
em 1837, surge na França uma “Comissão dos Monumentos Históricos” validada em
princípios jurídicos e técnicos. (SANTIAGO, R. P. 2007).
A inovação trazida pela política de preservação do patrimônio nacional francês ecoou
ao longo do século XIX, ultrapassando as fronteiras do país, e refletindo em muitas outras
regiões da Europa e até mesmo do mundo. É junto a esse período que também surgem
duas escolas muito importantes para conduzir as práticas realizadas sobre os bens a serem
considerados parte de um patrimônio nacional. O arquiteto Viollet-le-Duc, na França, e o
poeta e crítico social de arte John Ruskin, na Inglaterra, protagonizaram as primeiras
discussões sobre a restauração de monumentos históricos no século XIX.
Já no início do século XX, passou a existir uma preocupação com a conservação e
reparação dos monumentos, de modo a preservar os valores históricos e artísticos do
mesmo, tendo como base os princípios do arquiteto italiano Camillo Boito, que une o
16

pensamento dessas duas escolas, retirando o que julgava melhor de cada uma delas e
adaptando a uma sociedade da sua época. Com relação ao patrimônio arquitetônico Boito:

[...] discordava de Ruskin, quando este dizia que o edifício tinha que ser
deixado à mercê do tempo e cair em ruínas, desconsiderando suas
sugestões de conservações periódicas para garantia de sobrevivência da
obra. Já em relação à Viollet-le-Duc, alertava sobre o perigo de se alcançar
o estado completo, que pode nunca ter existido, assumindo o restaurador a
posição do arquiteto original. Ressaltava, ainda, os riscos de falsificação
deste tipo de intervenção (BOITO, 2003, Apud OLIVEIRA, 2009, p.82).

A partir de então começou a surgir uma nova visão sobre a preservação patrimonial
em diversos países, tendo em vista o estabelecimento de regras e aceites internacionais,
como é o caso das Cartas Patrimoniais, “que são documentos, muito dos quais, firmados
internacionalmente, que representam tentativas que vão além do estabelecimento de
normas e procedimentos, criando e circunscrevendo conceitos às vezes globais, outras
vezes locais"(IPHAN apud CORRÊA,2013). Através dessas cartas, o conceito de patrimônio
muda, pois elas passam a valorizar bens esquecidos pela história e, portanto, esse conceito
sofre uma ampliação.
Porém, Fonseca (1997) ressalta que foi após a II Guerra que a proteção e
preservação de bens históricos tomou proporções maiores, surgindo em 1945 a
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), que
teve sua atuação focada prioritariamente por meio de projetos governamentais, mas
também ocorriam parcerias com outros setores da sociedade civil, desde que se responda
ao propósito da instituição, que era o de elaborar e promover a aplicação de instrumentos
normativos no âmbito cultural, além de desenvolver atividades para a salvaguarda do
patrimônio cultural, a proteção e o estímulo à diversidade cultural.1

Em 1970 a UNESCO proporcionou discussões sobre o patrimônio, levando o


conceito a um patamar mundial, como fala Choay (1992), quando menciona a Conferência
Geral de Genebra, de 1972, na qual se criou a categoria de 'patrimônio cultural da
humanidade’ para classificar os monumentos históricos de excepcional valor universal, quer
do ponto de vista Histórico quer da Arte ou da Ciência.
Desde então o termo “Patrimônio cultural” serve para classificar o conjunto de bens
culturais, sejam eles históricos, artísticos, arquitetônicos, ou ainda o que a sociedade
considera como própria cultura, que ampara a identidade e o diferencia de outros grupos.
Isso significa que não abrange apenas monumentos históricos e bens físicos, mas também
o saber fazer, os conhecimentos e as tradições. Ou seja, o conceito de patrimônio, nos dias
de hoje, contempla não somente os bens materiais, como também os imateriais.
1
Disponível em: http://www.onu.org.br/onu-no-brasil/unesco/visualizado em: 10/12/2013
17

1.2 LEGISLAÇÃO PATRIMONIAL

Legislação é o termo usado para definir o conjunto de normas que regem uma
sociedade. Leis, decretos, regimentos e estatutos são exemplos de legislações. Na medida
em que a valorização e a definição do termo patrimônio adquiriu espaço ao longo do tempo,
surgiram leis e decretos que visavam a sua salvaguarda.
Pode-se dizer que os primeiros vestígios de uma normatização sobre o patrimônio
cultural são as cartas patrimoniais. Segundo NIGRO (2001 apud COSTA 2012), a Carta de
Atenas, de 1931, seguindo preceitos urbanísticos modernos, constitui o primeiro documento
significativo que destaca a necessidade de salvar monumentos de sua destruição. Foi
elaborada durante o 4º Congresso Internacional de Arquitetura Moderna, realizado na cidade
de Atenas no ano de 1931, cidade que deu origem ao nome da Carta.
A partir da elaboração da Carta de Atenas, a obra produzida por um dado povo teria que
ser compreendida não mais como pertencente apenas àquelas determinadas pessoas, e
sim como pertencente à Nação. Através desta percepção, a proteção dos bens culturais
passou a ser um direito e um dever de todas as sociedades. Segundo Everaldo Batista
Costa (2012):

A Carta de Atenas evidencia, na década de 1930, um período amplo da


construção do que hoje nos é apresentado como patrimônio cultural, que se
inicia com a formulação das primeiras diretrizes legislativas de preservação
de monumentos, na França dos séculos XVIII e XIX, logo disseminadas
para outros países, sobretudo da Europa e das Américas. (COSTA, 2012,
p14).

Como podemos ver, nesse trecho o autor enfatiza o impacto que a Carta de Atenas
teve no patrimônio mundial, ao nortear as primeiras diretrizes de preservação desses bens
culturais.
Vinte e cinco anos mais tarde, a UNESCO organizou uma Conferência Geral, onde
lançou um importante documento com reflexões gerais a respeito da perspectiva do Estado
em garantir a proteção e o uso dos bens históricos, adjuntos à necessidade de comunicação
e acesso à comunidade internacional.
Outro momento importante para o patrimônio foi durante a década de 60, mais
precisamente no ano de 1964, durante o II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos
de Monumentos Históricos. Fruto desse Congresso é a formulação da Carta de Veneza, que
estabelece novas diretrizes para o Patrimônio Mundial. A Carta de Veneza apresenta uma
profunda mudança, representando o início do processo de transformação e valoração do
patrimônio em nível mundial. Ainda sobre esse processo podemos observar que esta Carta
inova ao esclarecer que os conjuntos urbanos históricos podem ser adaptados às
18

necessidades modernas, onde a revitalização do monumento propicia seu uso a despeito de


sua função original, ou seja, permite a sua refuncionalização (UNESCO, 1965 apud COSTA,
2012). Portanto, como bem coloca o autor, pontua-se a importância em manter as funções
existentes engendradas nas relações cotidianas.
A partir dos desdobramentos da Carta de Veneza atribuiu-se como papel do Estado a
elaboração de políticas públicas voltadas à proteção e “requalificação” do patrimônio
cultural, por meio de projetos de planejamento nacional, regional e local. Como traz Costa
(2012) foi a partir da Convenção do Patrimônio Mundial que os princípios de preservação do
patrimônio foram aplicados e ganharam maior destaque:

Em resumo, se a Carta de Atenas e a Carta de Veneza foram precursoras


dos princípios internacionais que presidiram a conservação, a restauração e
a preservação dos bens culturais e, por assim dizer, a monumentalização e
a patrimonialização. Foi na Convenção do Patrimônio Mundial que tais
princípios ganharam visibilidade mais notória e foram aplicados, a partir daí,
ao tratado patrimônio cultural da humanidade, agora, consagrado, no cerne
de uma patrimonialização global. (COSTA, 2012)

Em âmbito nacional, na década de 70 ocorreu o Compromisso de Brasília, um


encontro de Governadores, prefeitos e autoridades da área de cultura, de todos os níveis.
Esse encontro reforçou o papel do Estado na proteção dos bens culturais e atribuiu às
universidades a pesquisa histórica e a elaboração de inventário dos bens regionais. No ano
seguinte, realiza-se o Compromisso de Salvador (1971), que recomenda a criação de leis
para ampliar as ações e usos dos bens tombados, reformulando o conceito de ambiência,
pela proteção eficaz paisagística, arquitetônica e cultural.

Ainda na década de 70, Everaldo Batista Costa (2012) explica que a:

Convenção Relativa à Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural


(1972), consolida e formaliza a noção de Patrimônio Mundial. Afere-se que
as novas orientações, produzidas em âmbito internacional, são
determinantes para reconsiderar a prática de patrimônio que vinha sendo
implementada, inclusive no Brasil. Isso indica que os debates críticos sobre
as políticas de patrimônio restritivas e elitistas impostas há décadas,
sobretudo nos países europeus e americanos, contribuíram para a
ampliação da noção de patrimônio e da sua preservação, (COSTA, 2012).

Enquanto as Cartas Internacionais consolidam e ampliam os conceitos de valor


cultural, tendo como intenção o reconhecimento da pluralidade do espaço urbano e seu
valor intrínseco aos bens imóveis nele inseridos (entorno e ambiência), o patrimônio cultural
é atrelado aos direitos urbanos, à qualidade de vida dos cidadãos que compreende o direito
à memória, à história e à cidade.
Contudo, no Brasil para a preservação efetiva dos bens culturais, ainda era
necessário um meio legal, onde os órgãos responsáveis pela fiscalização pudessem se
19

amparar. Foi então que através da constituição Federal Brasileira, de 1988, obteve-se um
avanço considerável ao elevar à categoria de direitos fundamentais da pessoa humana os
direitos culturais, expresso nos artigos 215 e 216. Desde então, conferiu-se ao patrimônio
cultural a certificação e proteção legal abrangente de bens de natureza material e imaterial,
portadores de referência à identidade, à ação, e à memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira.
Ainda na constituição do mesmo ano, estabelece-se que é de competência da União,
estados-membros, Distrito Federal e municípios legislarem e se responsabilizarem por seu
patrimônio cultural, punindo eventuais danos já causados a esse patrimônio e impondo
diretrizes para a preservação dos mesmos.
A Carta Magna de 1988 democratiza, portanto, a definição de patrimônio, tanto no
que diz respeito à hierarquização do processo de tombamento, podendo partir de iniciativa
dos municípios e não apenas centralizado da União, quanto às características sócio-
históricas dos bens patrimoniais em questão, valorizando também a cultura imaterial e bens
de outros segmentos sociais e minorias étnico-culturais, ou seja, o rol de bens culturais
brasileiros preservados aumentou, tendo em conta não somente aqueles relevantes para
memória nacional, mas também os que representam testemunhos históricos de
particularidades culturais regionais.
O poder legislativo, portanto, se encarregou em aliar como as normas legais referem
à preservação do patrimônio cultural, partindo desde o primeiro ato normativo que criou o
tombamento (Decreto-Lei nº 25, de 1937), passando pela criação do registro como
instrumento tutelar do patrimônio imaterial (Decreto nº 3.351, de 2000), até as convenções
mundiais estabelecidas pela UNESCO, das quais o Brasil é signatário, que foram
incorporadas à legislação Brasileira, através de decretos legislativos.
Com isso, por meio do que diz a constituição Federal, cada estado ou município,
passa a se utilizar de instrumentos jurídicos, aparentemente inflexíveis, para garantir a
melhor preservação do bem patrimonial, seja ela material ou imaterial, através de uma
restauração, requalificação, restabelecimento e/ou reutilização deste patrimônio. Como
instrumentos garantidores destes fins, temos o tombamento, os inventários, as leis, e os
processos licitatórios, como bem elucida o parágrafo abaixo retirado da constituição Federal
de 1988: “O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o
patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento,
desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.”2
O início de uma preocupação por conta da preservação de bens culturais ocasionou
o aparecimento de uma série de medidas tomadas ao longo dos anos pela União, estados e

2
Disponível em: http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=102408 visualizado em:
10/12/2013
20

municípios, para a criação de meios, de certa forma, eficazes no controle dessa


preservação.

1.3 Políticas públicas voltadas para o patrimônio

Segundo Teixeira (2002), políticas públicas são diretrizes e princípios norteadores de


ação do poder público. Pode-se ainda chamar de regras e procedimentos a fim de
proporcionarem afinidades entre poder público e a sociedade. Quando formuladas, são
explicitadas em documentos, como é o caso das leis, decretos e dos programas e linhas de
financiamentos, com o propósito de orientar as ações, principalmente as que envolvem
aplicações de recursos públicos.
O autor ainda complementa que através das políticas públicas, seja no seu processo
de elaboração, implantação e/ou em seus resultados, é possível distribuir e redistribuir o
poder, o papel do conflito social nos processos de decisão, a repartição de custos e
benefícios sociais. Ou seja, é através delas que se delimita como traz o trecho a seguir o
futuro da sociedade e dos direitos e deveres de um todo.

Elaborar uma política pública significa definir quem decide o quê, quando,
com que consequências e para quem. São definições relacionadas com a
natureza do regime político em que se vive, com o grau de organização da
sociedade civil e com a cultura política vigente. Nesse sentido, cabe
distinguir “Políticas Públicas” de “Políticas Governamentais”. Nem sempre
“políticas governamentais” são públicas, embora sejam estatais. Para serem
“públicas”, é preciso considerar a quem se destinam os resultados ou
benefícios, e se o seu processo de elaboração é submetido ao debate
público (TEIXEIRA, 2002, p.2).

Quando falamos em preservação do patrimônio cultural Brasileiro, nos deparamos


com uma série de políticas públicas voltadas para o campo, no entanto, nas décadas
passadas, existiram escassas iniciativas de políticas públicas voltadas especificamente para
a área da cultura. Como destaca Lia Calabre (2009) “as intervenções e os investimentos do
Estado na esfera da produção, circulação e preservação de bens culturais e históricos que
se estabelecem sob a ótica das políticas públicas são específicas da contemporaneidade”
(CALABRE, 2009, p.9).
Durante o governo de Getúlio Vargas (1930-1945) foram implementadas o que se
pode chamar de primeiras políticas públicas de cultura no Brasil. Nesse período, foram
tomadas uma série de medidas, objetivando fornecer uma maior institucionalidade para o
setor cultural. Com isso, surgem no Brasil, nas primeiras décadas do século XX, algumas
propostas de proteção aos bens culturais. O intuito é que a preservação seja fundamental
para a criação de uma identidade nacional. Então, em 1937, estruturado por intelectuais e
21

artistas, entre eles o escritor modernista Mário de Andrade, é criado o Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (SPHAN).
Mais tarde no ano de 1960, num período pré-ditadura, o governo federal tentou
planejar algumas ações para o a área da cultura, mas com o golpe de 64, houve mudanças
nas políticas para a área. Como destaca BISPO (2011):

As políticas culturais estabelecidas durante o regime ditatorial podem ser


divididas em linhas gerais, em três diretrizes distintas. Inicialmente houve
uma forte centralização no Conselho Federal de Cultura; depois a criação e
reformulação de uma estrutura pública a qual contribuiu para que houvesse
uma maior institucionalização na área. E por fim, ocorreu uma efetiva
presença em “escala nacional” das instituições que surgiram nos períodos
anteriores (BISPO, 2011, p.100)

Pode se estabelecer como período de atualização das políticas de preservação do


patrimônio, os anos 70. Durante esse período o conceito de patrimônio sofreu uma
ampliação, quando passa a ser percebido também no patrimônio cultural novas funções,
usos culturais e sociais, aspectos esses que devem ser considerados para gerir o patrimônio
histórico e cultural. O termo preservar não significaria, portanto, congelar o passado. Foi
durante essa década também que houve uma estadualização das políticas de preservação,
com o objetivo de que com a criação de um órgão Estadual, o SPHAN passaria a ter um
auxilio dos estados para a preservação de bens culturais de importância para o mesmo.
Mais tarde, tornou-se necessária a reestruturação do órgão e então na década de
1970, num período de grande valorização do patrimônio, ele passou a ser chamado de
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e foi vinculado ao Ministério da
Cultura com o objetivo de ser responsável por ações de preservação, divulgação e
fiscalização dos bens culturais brasileiros.

Hoje o IPHAN é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura,


responsável por preservar a diversidade cultural. Segundo o próprio Instituto, sua
responsabilidade implica em preservar, divulgar e fiscalizar os bens culturais brasileiros,
bem como assegurar a permanência e usufruto desses bens para a atual e as futuras
gerações.3

Fonseca (1997) comenta que "as políticas de preservação, segundo as instituições


que as promovem, se propõem a atuar, basicamente, no nível simbólico, tendo como
objetivo reforçar uma identidade coletiva, a educação e a formação de cidadãos" (1997,
p.11). Nesse contexto, para o IPHAN, o patrimônio cultural não se limita apenas a imóveis
notórios isolados, como é o caso de igrejas ou palácios, mas já no seu entendimento
3
Site do IPHAN – Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?
id=10&sigla=Institucional&retorno=paginaIphan visitado em: 20/12/2013
22

contemporâneo se estende também a imóveis particulares, trechos urbanos e até ambientes


naturais de importância paisagística, passando por imagens, mobiliário, utensílios e outros
bens móveis. E ainda dentro desta visão contemporânea do patrimônio cultural, percebe-se
um acréscimo de categoria dos bens. Além do patrimônio material, agora se tem também o
imaterial.

Em um tratado internacional, denominado Convenção sobre a proteção do


patrimônio mundial cultural e natural, aprovada pela UNESCO em 1972, foram instituídos
dispositivos que versam sobre a identificação, proteção e a preservação do patrimônio
material, ou tangível de todo o mundo. Essa categoria de patrimônio é composta, segundo o
IPHAN:

Por um conjunto de bens culturais classificados segundo sua natureza nos


quatro Livros do Tombo: arqueológico, paisagístico e etnográfico; histórico;
belas artes; e das artes aplicadas. Eles estão divididos em bens imóveis
como os núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens
individuais; e móveis como coleções arqueológicas, acervos museológicos,
documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e
cinematográficos.4

Quanto aos instrumentos que tratam da identificação, proteção e preservação do


patrimônio imaterial, ou intangível, estes são mais recentes. Oriundos da Convenção para a
salvaguarda do patrimônio cultural imaterial, que foi aprovada pela UNESCO em 2003, e
que veio para complementar a Convenção do patrimônio mundial, de 1972. Conforme a
convenção do patrimônio imaterial, essa nova categoria consiste em:

Práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas e também


os instrumentos, objetos, artefatos e lugares que lhes são associados e as
comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos que se
reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. Ele é
transmitido de geração em geração e constantemente recriado pelas
comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a
natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e
continuidade, contribuindo assim para promover o respeito à diversidade
cultural e à criatividade humana (UNESCO, 2003, p.03).

Além dessas iniciativas a nível nacional, foi em meados dos anos 80, sobretudo no
final da década, que podemos observar um processo de municipalização dos programas de
preservação, que anunciam a descentralização político-administrativa, bem como se
observou a admissão do capítulo inédito sobre Política Urbana na Constituição Federal de

4
Site do Iphan – Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?
id=12297&retorno=paginaIphan visitado em: 20/12/2013
23

1988. O mesmo veio alterar em seu artigo 182, que a política de desenvolvimento urbano
tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o
bem estar de seus habitantes. E traz ainda no seu parágrafo 1ª que o Plano Diretor é o
instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana (CFB, 1988,
Art.182, §1ª).

Como vimos no trecho anterior, após a Reforma Constitucional de 1988, rompe-se a


hierarquia tradicional das políticas públicas, e entrega-se poder e autonomia aos municípios,
com isso, as políticas centralizadas por especificidades territoriais deixam de existir. Dessa
forma, ampliou-se a participação das comunidades na elaboração, discussão, fiscalização e
decisão sobre a implementação das políticas.
O município passa a ser hoje ator executivo do processo de preservação, com a
ajuda de parceiros públicos e privados, com o propósito de diferentes setores institucionais
participarem da elaboração, discussão e decisão no que se refere às políticas a serem
executadas. Essa modificação proporcionou uma mudança de papel muito importante, onde
instituições federais e estaduais, que antes eram órgãos decisórios e executores, devem
mediar, colaborar e incentivar os programas municipais.
Na década de 90 ocorreu uma diminuição da atuação do Estado na formulação de
políticas públicas, e também no financiamento da área cultural. Reflexo das políticas
neoliberais que foram adotadas pelos governos brasileiros a partir dos anos 90 (Cândido
apud Calabre 2009, p.12). Ou seja, o Estado foi saindo de cena das questões decisórias e
cresceram as leis de incentivo, implantadas pelos Municípios.
Portanto, as políticas públicas encontram-se hoje em um importante momento de
mudança, no qual é necessária a compatibilização dos interesses, a comunicação e a
negociação entre as distintas esferas públicas, para que haja uma viabilização da gestão
urbana.

1.3.1 Instrumentos para a preservação

É preciso compreender um pouco sobre os instrumentos e estratégias legais


responsáveis pela primeira etapa de preservação do patrimônio cultural Brasileiro ao longo
dos anos. A carta magna de 1988 trata de proteger o patrimônio cultural brasileiro em seu
art. 216, § 1° trazendo a figura normativa dos instrumentos de preservação e proteção, o
inventário e o tombamento, juntamente com outras formas de acautelamento e preservação.
Contudo, vale lembrar que ambos já vinham sendo utilizados como instrumentos para a
preservação, antes desse período de oficialização.
As primeiras utilizações do inventariado no Brasil, segundo Miranda (2008), foi o
levantamento inventarial feito pelo escrivão da Fazenda Real, Francisco Mesquita, após a
24

expulsão holandesa de Recife no período colonial, contabilizando 290 imóveis e


descrevendo suas características arquitetônicas.
O inventário tem como função ser um instrumento que se propõe a identificar e
registrar os bens adotando critérios técnicos de natureza histórica, artística, arquitetônica e
outras, possibilitando fornecer informações e suporte às ações de proteção destinadas a
competência do poder público. Como bem destaca MIRANDA (2008):

Os resultados dos trabalhos de pesquisa para fins de inventário são


registrados normalmente em fichas onde há a descrição sucinta do bem
cultural, constando informações básicas quanto à sua importância, histórico,
características físicas, delimitação, estado de conservação, proprietário etc.
Assim, o inventário tem natureza de ato administrativo declaratório restritivo
porquanto importa no reconhecimento, por parte do poder público, da
importância cultural de determinado bem, daí passando a derivar outros
efeitos jurídicos objetivando a sua preservação. (MIRANDA, 2008, p. 2-3)

O tombamento, por exemplo, embora reafirmado, na constituição de 1988, como


figura normativa de preservação patrimonial, ele surgiu efetivamente em meio às políticas de
preservação do ano de 1937, através do Decreto Nº. 25, de 30 de Novembro, definindo que
o ato de tombo pode ocorrer em nível federal, feito pelo IPHAN, ou ainda na esfera estadual
ou municipal.5 Nada mais é do que um ato de reconhecimento do valor cultural dos bens que
tiveram sua importância histórica, artística ou cultural reconhecida por algum órgão que tem
essa atribuição. Ao sofrer o tombamento o bem passa a integrar-se ao patrimônio cultural de
uma localidade, nação, estado ou município. Contudo, o tombamento não abrange todos os
bens culturais, somente salvaguarda os bens consideravelmente notáveis.

Ainda contamos com o registro, instituído em 4 de agosto de 2000, no Decreto nº


3.551, voltado especialmente para os Bens Culturais de Natureza Imaterial. “... uma forma
de reconhecimento e busca a valorização, sendo visto mesmo como um instrumento legal.
Registram-se saberes e celebrações, rituais e formas de expressão e os espaços onde
essas práticas se desenvolvem”6
Além dos tombamentos e inventários para bens materiais e o registro para bens
imateriais, existem ainda outros mecanismos que podem interferir e garantir a preservação
patrimonial de uma cidade, como é o caso do Plano Diretor, que segundo a Associação
Brasileira de Normas, NBR 12267, “é o instrumento básico de um processo de planejamento

5
IPHAN - Decreto Nº. 25, de 30 de Novembro de 1937,Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=284 Visualizado em: 16/12/2013
6
Site do IPHAN - Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?
id=12308&sigla=Institucional&retorno=detalheInstitucionalpaginaIphan visitado em: 20/12/2013
25

municipal para a implantação da política de desenvolvimento urbano, norteando a ação dos


agentes públicos e privados” (ABNT Apud LEÃO 2011, p.4).
Ou seja, um plano diretor estabelece diretrizes e formas que garantem, também, a
preservação do patrimônio em nível municipal. Cabe ainda às Leis Orgânicas municipais a
possibilidade de prover ao município instrumentos de preservação do Patrimônio criando leis
específicas que estabeleçam incentivos à preservação como a redução de impostos
municipais aos proprietários de bens declarados de interesse cultural ou tombados. Como
elucida a Lei do Município de Pelotas 2708/82, Capitulo V, Art. 25:

O proprietário do prédio tombado pelo Município que, solicitação do


COMPHIC, realizar obras de conservação, reparação ou
restauração, ficará isento do imposto sobre a propriedade predial e
territorial urbana incidentes sobre o prédio tombado, por dois, cinco
ou dez anos, respectivamente.

1.3.2 EDITAIS

Após o bem cultural estar sob tutela da União, estado, ou município, os mesmos
promovem acordos e parcerias com instituições privadas ou públicas, com o fim de angariar
recursos para a realização de processos de preservação, ou propriamente de restauro. Um
aspecto importante para que esse processo ocorra de maneira idônea, se dá com a
realização dos processos licitatórios, “procedimento administrativo formal em que a
Administração Pública convoca, por meio de condições estabelecidas em ato próprio (edital
ou convite), empresas interessadas na apresentação de propostas para o oferecimento de
bens e serviços” (TCU, 2010, p.19). Sabe-se ainda que existem normas gerais para União,
Estado, Distrito federal e Município, quanto a licitações e contratos administrativos,
regulamentadas através da Lei nº 8.666/1993, artigo 37, da Constituição Federal.
Na modalidade convite, o documento do Tribunal de Contas da União diz que a
Administração escolhe entre os possíveis interessados quem quer convidar, cadastrados ou
não. E ainda complementa que a divulgação deve ser feita mediante afixação de cópia do
convite em quadro de avisos do órgão ou entidade, localizado em lugar de ampla
divulgação, conforme a Lei de Licitações. A modalidade convite ainda permite a participação
de possíveis licitantes que não tenham sido formalmente convidados, mas que sejam do
ramo do objeto licitado, desde que cadastrados no órgão ou entidade que licita ou no
Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores (Sicaf). O TCU frisa que na
modalidade em questão para que a contratação seja possível, são necessárias pelo menos
três propostas válidas, isto é, que atendam a todas as exigências do ato convocatório.
Segundo o Tribunal de Contas da União a modalidade edital pode ser desdobrada
em duas formas: Concorrência, modalidade realizada entre interessados do ramo de que
26

trata o objeto da licitação que na fase de habilitação preliminar comprovem possuir os


requisitos mínimos de qualificação exigidos no edital. Ou então tomada de Preço, que seria
a modalidade realizada entre interessados do ramo de que trata o objeto da licitação,
devidamente cadastrados ou que atenderem a todas as condições exigidas para
cadastramento até o terceiro dia anterior à data do recebimento das propostas, que
comprovem possuir os requisitos mínimos de qualificação exigidos no edital. (TCU, 2010,
p.39)
E ainda é possível realizar um processo licitatório através de pregão, modalidade
realizada entre interessados do ramo de que trata o objeto da licitação que comprovem
possuir os requisitos mínimos de qualificação exigidos no edital, em que a disputa pelo
fornecimento de bens ou serviços comuns é feita em sessão pública. Um pregão pode ser
presencial ou eletrônico sendo que ele destina-se exclusivamente à contratação de bens e
serviços comuns, independentemente do valor estimado da contratação. Nessa modalidade,
os licitantes apresentam propostas de preço por escrito e por lances, que podem ser verbais
ou na forma eletrônica. Porém, segundo o Tribunal de Contas da União, não se aplica a
modalidade pregão à contratação de obras de engenharia, locações imobiliárias e
alienações. Esse é o comando legal. (TCU, 2010, p. 46)
Segundo ainda recomendações do TCU, a escolha das modalidades concorrência,
tomada de preços e convite é definida por limite de valores, como pode ser observado
abaixo:

Concorrência: obras e serviços de engenharia acima de R$ 1.500.000,00;


compras e outros serviços acima de R$ 650.000,00.
Tomada de Preços: obras e serviços de engenharia acima de R$ 150.000,00
até R$ 1.500.000,00; compras e outros serviços acima de R$ 80.000,00 até
R$ 650.000,00.
Convite: obras e serviços de engenharia acima de R$ 15.000,00 até R$
150.000,00; compras e outros serviços acima de R$ 8.000,00 até R$
80.000,00.
Pregão: não está limitado a valores

Sendo vedada a criação de outras modalidades de licitação ou a


combinação delas entre si (TCU, 2002, p.101)

A licitação deve, após a determinação do objeto de licitação, passar por duas fases,
a fase interna ou preparatória, onde são verificados os procedimentos prévios à contratação,
como a identificação de necessidade do objeto, elaboração do projeto básico (ou termo de
referência), estimativa da contratação, e o estabelecimento de todas as condições do ato
convocatório, logo em seguida, realiza-se a segunda fase, que seria a fase externa ou
executória, que se inicia com a publicação do edital ou com a entrega do convite, e termina
27

com a contratação do fornecimento do bem, da execução da obra ou da prestação do


serviço.
Se tratando de termo de referência ou projeto básico, segundo o Tribunal de
Contas da União, toda a licitação de obra ou serviço realizada nas modalidades
concorrência, tomada de preços e convite, necessitam desse documento. Pois ele seria
peça indispensável para que à Administração tenha conhecimento pleno do objeto que quer
licitar, de forma detalhada, clara e precisa, além de permitir ao licitante informações e
elementos necessários para uma boa elaboração da proposta, mediante regras
estabelecidas neste documento. Tanto no que se refere ao projeto básico, quanto ao termo
de referência, estes devem ser descritos detalhadamente, pois se qualquer um dos dois for
falho ou incompleto, os objetivos da Administração poderão não ser alcançados e a obra ou
serviço será comprometido.
Como designa o Tribunal de Contas da União, Projeto básico e Termo de referência é
o “documento prévio ao procedimento licitatório, que serve de base para elaboração do ato
convocatório. Deve ser elaborado pelo setor requisitante do objeto da licitação e confirmado
pela autoridade que aprovou a realização do certame.” (TCU, 2002, p.78 e 167).
O processo licitatório ainda passa por uma lei interna da licitação, chamada de Ato
Convocatório - edital ou convite, que fixa as condições para a participação dos licitantes, ao
desenvolvimento da licitação e à futura contratação, além de estabelecer determinado elo
entre a Administração e os licitantes. Este processo deve ser claro, preciso e fácil de ser
consultado.
Em observância ao instrumento convocatório, as exigências dos editais
devem ser cumpridas integralmente, ressalvadas aquelas consideradas ilegais. Não é
demais afirmar que o sucesso da licitação depende de ato convocatório e dos anexos que
devem ser bem elaborados. Sabe-se ainda que há normas gerais para União, Estado,
Distrito federal e Município, quanto a licitações e contratos administrativos, regulamentadas
através da Lei nº 8.666/1993, da Constituição Federal. E que, independentemente da
modalidade escolhida para o processo licitatório, é fundamental que se tenha responsáveis
pela licitação, podendo ser agentes públicos designados pela autoridade competente, por
ato administrativo próprio (portaria, por exemplo), que irá integrar comissão de licitação, ser
pregoeiro ou realizar licitação na modalidade convite. Como elucida o documento de
orientação realizado pelo TCU (2002), a Comissão de licitação é criada pela Administração,
com a função de receber, examinar e julgar todos os documentos e procedimentos relativos
a licitações públicas nas modalidades concorrência, tomada de preços e convite.

O documento orienta ainda que:


28

Nas pequenas unidades administrativas e na falta de pessoal disponível, em


caráter excepcional e só em convite, a comissão pode ser substituída por
servidor designado para esse fim. Pode ser permanente ou especial. Será
permanente quando a designação abranger a realização de licitações por
período determinado e especial quando for o caso de licitações específicas.
É constituída por, no mínimo, três membros, sendo pelo menos dois deles
servidores qualificados pertencentes aos quadros permanentes dos órgãos
da administração responsáveis pela licitação. (TCU, 2002, p. 33)

A licitação deve ocorrer sempre em casos de Administração Pública, seja


Administração Direta, as Autarquias, as Fundações Públicas, ou Empresas Públicas, por se
tratar de recursos públicos. Desta forma, assegura que se contrate o profissional que reúna
as condições necessárias, como à capacidade técnica e econômico-financeira da empresa
licitante, à qualidade do produto e ao valor do objeto, procurando garantir o melhor
resultado, juntamente da melhor proposta.
Segundo o Tribunal de Contas da União, existem princípios fundamentais que
orientam os processos licitatórios, dentre eles estão:

Princípio da Legalidade: Nos procedimentos de licitação, esse princípio


vincula os licitantes e a Administração Pública às regras estabelecidas nas
normas e princípios em vigor.
Princípio da Isonomia: Significa dar tratamento igual a todos os
interessados. É condição essencial para garantir competição em todos os
procedimentos licitatórios.
Princípio da Impessoalidade: Esse princípio obriga a Administração a
observar nas decisões critérios objetivos previamente estabelecidos,
afastando a discricionariedade e o subjetivismo na condução dos
procedimentos de licitação.
Princípio da Moralidade e da Probidade Administrativa: A conduta dos
licitantes e dos agentes públicos tem de ser, além de lícita, compatível com
a moral, a ética, os bons costumes e as regras da boa administração.
Princípio da Publicidade: Qualquer interessado pode ter acesso às licitações
públicas e ao respectivo controle, mediante divulgação dos atos praticados
pelos administradores em todo procedimento de licitação.
Princípio da Vinculação ao Instrumento Convocatório: Obriga a
Administração e o licitante a observarem as normas e condições
estabelecidas no ato convocatório. Nada poderá ser criado ou feito sem que
haja previsão no instrumento de convocação.
Princípio do Julgamento Objetivo: Esse princípio significa que o
administrador deve observar critérios objetivos definidos no ato convocatório
para julgamento da documentação e das propostas. Afasta a possibilidade
de o julgador utilizar-se de fatores subjetivos ou de critérios não previstos no
instrumento de convocação, ainda que em benefício da própria
Administração.
Princípio da Celeridade: O princípio da celeridade, consagrado como uma
das diretrizes a ser observada em licitações na modalidade pregão, busca
simplificar procedimentos de rigorismos excessivos e de formalidades
desnecessárias. As decisões, sempre que possível, devem ser tomadas no
momento da sessão.
Princípio da Competição: Nos certames de licitação, esse princípio conduz o
gestor a buscar sempre o maior número de competidores interessados no
objeto licitado. Nesse sentido, a Lei de Licitações veda estabelecer, nos atos
convocatórios, exigências que possam, de alguma forma, admitir, prever ou
29

tolerar, condições que comprometam, restrinjam ou frustrem o caráter


competitivo da licitação.

Além desses princípios, a Administração Pública deve obediência ainda,


dentre outros, aos princípios da finalidade, motivação, razoabilidade,
proporcionalidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse
público e eficiência. (TCU, 2002, P. 28-29)

A participação em licitação pública deve obedecer algumas indicações como, por


exemplo, a comprovação pelo licitante do ramo de atuação do mesmo, sendo ele compatível
com o objeto da licitação, além de possuir os requisitos mínimos de habilitação. É vedada a
participação da licitação, pelo autor do projeto básico ou executivo, pessoa física ou jurídica.
Sobre as competências do licitante com relação à habilitação do mesmo, a
Administração deve, ao organizar processos licitatórios, exigir documentos que comprovem
a habilitação do licitante, de acordo com o objeto licitado e suas especificidades,
especialmente aqueles que comprovem a qualificação técnica, quando a mesma é
necessária, como no caso de uma obra de restauro.
Como bem elucida o TCU, para habilitação em licitações públicas será exigida dos
licitantes exclusivamente a documentação relativa: habilitação jurídica; regularidade fiscal;
qualificação técnica; qualificação econômico-financeira. (TCU, 2010, p.333). Dentro da
qualificação técnica, pode-se encontrar dois tipos: Capacitação técnico-operacional, onde o
licitante comprova que já efetuou, de modo satisfatório, outra atividade compatível em
características, e prazos ao objeto do processo licitatório. Ou ainda, a Capacitação técnico-
profissional, onde a pessoa física ou jurídica que está concorrendo à licitação comprova que
possui profissional de nível superior, ou devidamente reconhecido pela entidade
competente, para execução técnica da obra ou dos serviços com características
semelhantes às do objeto licitado.
O TCU ainda complementa a complexidade e importância da habilitação profissional,
ao destacar que “quando o objeto da licitação incluir mais de um item (etapa ou parcela),
devem ser aceitos atestados de capacitação técnica relativos a cada um dos itens ofertados,
deforma a ampliar a competição.” (TCU, 2010, p. 408)
Como determina o Tribunal de Contas da União, o julgamento das propostas está
restrito a critérios e fatores já fundados no ato convocatório. Por isso, é necessário que no
mesmo seja especificado com riqueza de detalhes os procedimentos que devem ser
realizados, além de estabelecer uma média de valores capazes de tornarem viáveis a
realização das atividades. As distorções de preços ocorrem principalmente em obras e
serviços de engenharia, e elas têm origem principalmente quando o projeto básico é falho e
insuficiente, como bem destaca o TCU:
30

Especialmente em licitações de obras e serviços de engenharia, esse tipo


de artifício tem permitido, sob o manto do interesse público, que proposta
com valor global baixo torne-se vencedora da competição. Deve o gestor,
portanto, cuidar para que contratação dessa natureza não se concretize.
Uma vez realizada, poderá mostrar-se desvantajosa e prejudicial aos cofres
públicos ao longo da vigência contratual, em razão de aditamentos ao
contrato que certamente serão celebrados. (TCU, 2010, p. 484)

Importante salientar que o recebimento do objeto licitado não exclui a


responsabilidade civil do contratado pela solidez e segurança de obras ou de serviços nem a
ético-profissional pela perfeita execução do objeto contratual, dentro dos limites
estabelecidos pela lei ou pelo contrato (TCU, 2010, p. 731), ainda que seja dever do
responsável pela licitação, conferir se o objeto licitado, como, por exemplo, uma obra, foi
entregue, conforme o contrato e o edital. É de responsabilidade também da administração
exigir garantia nas contratações de obras e serviços, com o intuito de assegurar plena
execução do contrato, impedindo que aconteçam possíveis prejuízos ao patrimônio público.
“Garantia contratual poderá ser exigida se prevista no ato convocatório e no contrato. Será
devolvida somente após execução e entrega do objeto contratado” (TCU, 2010, p. 738)
Portanto, para a realização do processo licitatório pelo órgão licitador, é preciso
redigir um documento conhecido como edital: “Documento que enumera todas as condições
que devem ser cumpridas pela Administração e pelos licitantes num processo licitatório”
(TCU, 2010, p.889), ou seja, documento essencial para que se contrate a empresa que
reúne as condições necessárias para satisfação do interesse público, atendendo
especialmente aspectos como à capacidade técnica e econômico-financeira, à qualidade do
produto e o valor do objeto.
Diversas obras foram elaboradas sobre o assunto. Entretanto, a interpretação das
normativas causa sempre dúvidas e indagações, principalmente quando a teoria é
transportada para a prática. Por isso, tanto no ato convocatório, quanto no edital e no
contrato, deve-se estabelecer com clareza, objeto, regime de execução, preço, condições de
pagamento, habilitação coerente com o objeto licitado, e cronograma de atividades.
Por fim, ao concluirmos este capítulo, observa-se que á medida que o conceito de
patrimônio foi evoluindo, suas discussões tornaram-se mais complexas e ganharam maior
notoriedade, tendo como reflexo a criação de diversas políticas públicas para a área da
cultura, tanto por organizações Internacionais como a UNESCO, quanto nacionais com o
surgimento do IPHAN.

Vale destacar no Brasil o papel que as políticas culturais tiveram desde o governo
Getúlio Vargas na consolidação de uma identidade nacional, reafirmado durante o período
da ditadura, e mais tarde com a nova constituição de 1988, onde o bem patrimonial foi
valorizado como direito fundamental do cidadão brasileiro. Nesta mesma constituição, as
31

políticas culturais ainda elevaram a um novo patamar, quando passaram a se tornar de


responsabilidade também dos Municípios. Deixando de ser criadas somente a nível Federal,
para transformar os Estados e também os Municípios como parte importante da criação de
políticas públicas culturais que salvaguardem o seu patrimônio.
Ainda, cabe destacar após a valorização do patrimônio o importante papel que os
instrumentos legais em especial os editais tem ao garantir a preservação do bem patrimonial
da melhor forma possível, especificando as condições legais para concorrência do processo
licitatório, devendo assim assegurar a qualificação do processo de restauro.

CAPITULO 2
ESTUDO DE CASO

No presente capítulo é feita uma abordagem histórica sobre as estratégias


preservacionistas desenvolvidas na cidade de Pelotas/RS ao longo dos anos. Além disso,
esse capítulo apresenta um estudo de caso dos editais realizados em favorecimento dos
processos de restauração ocorridos na cidade.
A escolha dos editais deu-se através da delimitação de dois prédios tombados em
nível Federal (IPHAN), de dois imóveis tombados a nível Estadual (IPHAE) e de dois
imóveis tombados a nível Municipal (Prefeitura Municipal de Pelotas). Desses imóveis
analisados, quatro pertencem ao Município e dois pertencem a Universidade Federal de
Pelotas. Com o objetivo de traçar um comparativo entre os distintos processos licitatórios,
verificando se há divergências entre eles, e se a resposta for afirmativa, quais seriam essas
divergências e qual é a relevância disso para o futuro do processo de restauração de uma
edificação histórica. Outro fator que influenciou a escolha dos editais que veremos a seguir
32

foi o significante valor histórico que estes prédios tombados têm para a história da
sociedade Pelotense.
Como instrumento para delinear um comparativo entre esses processos licitatórios,
emprega-se o uso de uma ficha de observação, com critérios estabelecidos que servirão de
base para uma posterior analise reflexiva sobre a construção desse instrumento legal, e a
importância do mesmo para a restauração e preservação de um bem patrimonial edificado.
Os elementos analisados e sistematizados nessa tabela foram elencados a partir das
deliberações observadas na legislação analisada ao longo deste estudo, assim como dos
elementos constantes nos próprios editais analisados. Por meio de um balizamento dos
aspectos observados, foi construída a tabela que dá suporte ao estudo comparativo.

2.1 Estratégias de preservação na cidade de Pelotas - RS

Assim como outras cidades do Brasil, Pelotas também buscou se valer de


estratégias de preservação, para manter vivo o seu patrimônio histórico edificado. Como
vimos no capítulo anterior, com o passar dos anos os municípios passaram a ter mais poder
e autonomia, fazendo com que surgissem estratégias de preservação descentralizadas e
mais abrangentes, de acordo com as especificidades de cada município.
Dentro das estratégias desenvolvidas, encontra-se um importante instrumento,
objetivando normatizar as ações do município com relação ao desenvolvimento urbano,
denominado Plano Diretor. A Associação Brasileira de Normas Técnicas, através da NBR
12267, descreve-o como:

Instrumento básico de um processo de planejamento municipal para a


implantação da política de desenvolvimento urbano, norteando a ação dos
agentes públicos e privados, tendo em vista o pleno desenvolvimento da
função social da cidade, ou seja, as plenas condições para a produção,
comércio, serviços e realização dos direitos dos cidadãos, como o direito à
saúde, saneamento básico, educação, trabalho, moradia, transporte
coletivo, segurança, informação, lazer, qualidade ambiental e participação
no planejamento (NBR 12267 p.1).

Em Pelotas, mais precisamente na década de 80, através da LEI Nº 2565/80, institui-


se o II Plano Diretor da cidade e com ele surgem os primeiros conceitos de preservação em
nível municipal. Porém, o instrumento gerou alguns conflitos entre teoria e prática de
preservação, tendo provocado possíveis problemas ao patrimônio histórico da cidade, como
destaca (Liciane Machado Almeida (2006):

O novo instrumento de planejamento urbano, apesar de apresentar uma


base teórica com objetivos preservacionistas, confronta-se com essa
premissa de conservação do patrimônio ao implantar um regime urbanístico
incentivador da ocupação e renovação do uso do solo para a área central,
33

região de maior concentração de bens com valor histórico-cultural. O índice


de aproveitamento mais elevado e altura livre estabelecidos para essa área,
definida como ZCC – zona de comércio central, na verdade geram um
acelerado processo de destruição do acervo histórico-cultural registrado
através da arquitetura, provocando a substituição de construções
residenciais de um ou dois pavimentos por edifícios em altura. (ALMEIDA,
2006, p. 100)

Na sequência em 1982, foi aprovada a lei nº 2708/82, que estabeleceu o Conselho


Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural (COMPHIC). Conselho este responsável por
normatizar os mecanismos de proteção, como se observa em seu Capítulo II, Art. 4º:

Art. 4º - O Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural é o órgão


colegiado de assessoramento, vinculado ao Prefeito por linha de
coordenação, ao qual compete:
a) cadastrar os bens cujas características ensejam tombamento;
b) apreciar, e ofício ou o requerimento, a conveniência de tombamento,
emitindo parecer fundamentado;
c) proceder ao tombamento provisório;
d) encaminhar ao Prefeito, para homologação, requerimento ou proposta de
tombamento definitivo;
e) manter os livros de tombo;
f) articular-se com os demais órgãos de administração municipal, para o
atendimento de suas finalidades e, especialmente, para fiscalização do
cumprimento desta lei.

Entre o tempo de atividade da instituição do Conselho Municipal do Patrimônio


Histórico e Cultural na cidade de Pelotas, até o período de mudança, através da lei 3128/88
no ano de 1988, foram averiguados 10.000 prédios, dos quais 1189 foram cadastrados no
inventário e 236 tombados provisoriamente, prédios esses que durante a nova lei de 88, se
transformaram em apenas 16 tombados e protegidos definitivamente. O motivo desta
mudança deu-se, pois, o ato de tombamento municipal, deixa de ser um evento meramente
administrativo, passando a exigir a aprovação individual de cada bem tombado na câmara
de vereadores e posteriormente revisado por um conselho formado por representantes do
mercado imobiliário. (ALMEIDA, 2006, p.101)
A lei 2708/82 ainda prevê deliberações para uma outra estratégia de preservação
patrimonial, que consiste em promover estímulos fiscais a proprietários de bens Tombados.
Disposto em seu Capitulo V, Art. 25, onde versa que “O proprietário do prédio tombado pelo
Município que, por solicitação do COMPHIC, realizar obras de conservação, reparação ou
restauração, ficará isento do imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana
incidentes sobre o prédio tombado, por dois, cinco ou dez anos, respectivamente” (Lei
2708/82, Capítulo V, Art. 25).
Anos depois da criação da lei 3128/88, houve uma nova tentativa de preservação
patrimonial com a criação da lei 4096/96, instituindo o Conselho Municipal de Cultura
(CONCULT). O que, segundo Almeida (2006),” apesar de demonstrar intenção
34

preservacionista, colocou em risco a preservação dos bens edificados, devido a dificuldade


de interpretação da legislação, que acabou por favorecer grupos contrários aos objetivos”.
Mais tarde parte da sociedade pelotense passou a reconhecer o patrimônio edificado
como sua herança coletiva e sua história. Logo, a administração pública e a Universidade
uniram esforços a fim de garantir a preservação do patrimônio, esforços que tiveram como
fruto o Sistema Municipal de Preservação Cultural (SIMPAC), responsável por discorrer
sobre diversas questões relacionadas ao tema. Segundo ainda Almeida (2006) depois de
muita discussão envolvendo os vários setores da sociedade, esse sistema bastante amplo
foi aprovado, com restrições significativas comparando à integridade do projeto original,
resultando na Lei 4568/2000, que é o atual instrumento legal utilizado pelo Poder Público.
A lei 4568/2000, que foi sancionada duas décadas depois do primeiro plano diretor,
reforça o sentido de bem e responsabilidade coletiva sob a preservação do patrimônio
pelotense que vinha sendo promovido até então pelo SIMPAC, e legaliza efetivamente a
política de preservação. Como produto desta regulamentação, a lei determina as ZPPCs
(zonas de Preservação do Patrimônio Cultural). Expressa abaixo:

LEI Nº 4568: DECLARA ÁREA DA CIDADE COMO ZONAS DE


PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL DE PELOTAS -
ZPPCS - LISTA SEUS BENS INTEGRANTES E DÁ OUTRAS
PROVIDÊNCIAS.

O prefeito municipal de pelotas, estado do rio grande do sul, faço saber


que a câmara municipal aprovou e eu sanciono e promulgo a seguinte
lei:

Art.1º - a preservação do patrimônio cultural de pelotas é um direito


inalienável do cidadão, sendo sua realização responsabilidade de
todos, especialmente do poder público, das instituições, das pessoas
jurídicas e das pessoas físicas que, de qualquer modo e a qualquer
tempo, fruem ou acessam esse patrimônio.
Art.2º- ficam instituídas as seguintes zonas de preservação do
patrimônio cultural zppcs.

As Zonas de Preservação do Patrimônio Cultural obedeciam à formação e a


expansão da cidade. Começando pelo Sítio do 1º loteamento, nas imediações da Catedral
São Francisco de Paula, passando pelo Sítio do 2º loteamento, que se refere às imediações
da Praça Coronel Pedro Osório, seguindo em direção ao Sítio do Porto e por fim o Sitio
Caieira. (Ver anexo 1)
Até o ano de 2006, segundo Almeida, Os imóveis que pertenciam ao inventário do
patrimônio cultural da cidade de Pelotas, já passavam dos 1700, e compreendiam na maior
parte deles, as ZPPCs. Os proprietários desses imóveis inventariados devem ter um maior
35

cuidado ao agir no bem, e devem informar ao município sobre possíveis alterações que
queiram realizar sob o imóvel, como destaca o Art. 4º da mesma Lei:

Art.4º - As intervenções em Zonas de Preservação do Patrimônio Cultural -


ZPPCs deverão ser antecedidas de registro dos antecessores culturais no
Inventário do Patrimônio Histórico e Cultural de Pelotas, realizado por
responsável técnico legalmente habilitado, por conta do legítimo
interessado.

Ainda no ano de 2003, a Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU) propôs um


conjunto de adequações ao II Plano Diretor cujo objetivo era atualizar o mesmo com relação
aos problemas e desafios urbanos contemporâneos. Porém, em virtude dos acontecimentos
daquele momento, optou-se pela criação de um novo Plano Diretor, que em 2006 já contava
com a sua base praticamente pronta, e posteriormente em 2008, entraria em vigor através
da LEI Nº 5.502, de 11 de setembro de 2008, lei esta que instituía o III Plano Diretor.
Uma importante contribuição que consta no III Plano Diretor é a categorização dos
bens patrimoniais em níveis de preservação, como previsto em seu Art.67,§ III. Essa
categorização é responsável por avaliar os bens patrimoniais e proteger o patrimônio que
possuísse total ou parcial fidelidade com sua forma original. Como descreve Liciane
Machado Almeida (2006):

A elaboração desse método partiu da definição de três categorias de


análise, em que se avalia sua relação intralote, a leitura da paisagem onde o
bem está inserido e o grau de descaracterização que apresenta,
considerando, para cada uma, a seguinte definição: Relação intralote:
analisa as características arquitetônicas e tipológicas do bem,
avaliando seus elementos compositivos e sua identificação com alguma
tipologia arquitetônica representativa;
Leitura da paisagem: analisa o contexto urbano de localização do bem,
avaliando questões como continuidade dos elementos horizontais, ritmo dos
elementos verticais, equilíbrio, hierarquia e homogeneidade da paisagem;
Descaracterizações: analisa as intervenções ocorridas no bem, avaliando
seu impacto e a possibilidade ou não de reversibilidade das mesmas.
(ALMEIDA, 2006, p.105-106)

Segundo ainda os níveis de preservação, o III Plano Diretor os institui e delibera as


ações que podem ou não ser impostas sobre cada um deles. Sendo que os bens
pertencentes ao nível 1 deverão manter suas características em totalidade, e não poderão
em hipótese nenhuma, serem destruídos. Quanto ao nível 2, os imóveis pertencentes a esse
enquadramento, deverão manter a sua fachada e volumetria, possibilitando a leitura
tipológica do prédio. Já os bens componentes ao nível 3, podem sofrer intervenções internas
e externas, desde que não descaracterize sua volumetria e composição da paisagem
urbana. E por fim o nível 4, que já se encontram em descaracterização, portanto, podem
36

sofrer alterações internas e externas e até mesmo passarem por processo de demolição
total ou parcial.
Como vimos até aqui, as estratégias de preservação coletiva na cidade de pelotas
tem avançado muito, desde o II plano diretor que traz conceitualmente a questão da
preservação patrimonial até os dias de hoje. Contudo, levaram-se quase 30 anos até que
fosse efetivamente empregada uma estratégia que garantisse e conciliasse o ordenamento
do desenvolvimento urbano e o movimento preservacionista. O grande mérito desta
estratégia é que ao longo do processo, grande parte da comunidade passou a reconhecer
esse patrimônio como parte de sua história e identidade, atuando conjuntamente nos
esforços para preservar o que ainda resta do patrimônio histórico de Pelotas.

2.1.1 Editais de restauro na cidade de Pelotas- RS

Diferente de outras estratégias ou ferramentas de preservação, os editais são


instrumentos legais responsáveis pela efetiva recuperação do bem patrimonial, ao deliberar
condições de contratação de serviço ou de empresa qualificada para o processo de restauro
da edificação. Na cidade de Pelotas os editais de restauro passaram a surgir após a
chegada do Programa do Governo Federal Monumenta. Este programa tinha como objetivo
resgatar o patrimônio cultural do Brasil. Chegou à cidade de Pelotas no ano de 2002 e
passou a promover inúmeras ações de caráter preservacionista, como bem destaca a
arquiteta Liciane Machado Almeida (2006): “... A inclusão de Pelotas no Programa
Monumenta, do governo federal, foi e está sendo fundamental na concretização dos anseios
preservacionistas da cidade, atraindo o olhar da comunidade e despertando a curiosidade
sobre a história de Pelotas”. (ALMEIDA, 2006, p.108)
Com a chegada do programa previu-se a recuperação de vários bens da cidade
situados na praça Coronel Pedro Osório e no seu entorno, como, por exemplo, o Largo do
Mercado Público, o edifício do Grande Hotel, o Casarão do Barão de Butuí, popularmente
conhecido como Casarão nº 2 e o prédio do Teatro Sete de Abril. Porém, parte importante
nas ações preservacionistas da cidade se deu também com ajuda de alguns órgãos
privados e públicos, como ainda destaca a arquiteta Liciane Machado Almeida no trecho a
seguir: “A conquista da preservação em Pelotas somente começou a frutificar quando as
ações passaram a envolver diversos segmentos da sociedade, somando esforços do poder
público, iniciativa privadas e população em geral.” (ALMEIDA, 2006, p.108-109)
Um destes parceiros foi a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) que juntamente
com a Fundação Simon Bolívar (FSB), uma organização não governamental, promoveu
projetos que levaram a assinatura da FSB . Como a própria fundação destaca, a mesma
dedica especial atenção ao patrimônio arquitetônico da cidade de Pelotas, complementando
37

com exemplos de obras executadas ou projetadas pela Fundação, no centro histórico de


Pelotas7. Este é o caso do Solar Assumpção, também conhecido como antiga Residência do
Senador Augusto de Assumpção, ou ainda a antiga Escola de Agronomia Eliseu Maciel.
Dentre os inúmeros processos de restauro e requalificações que os prédios
históricos da cidade de Pelotas sofreram, foram escolhidos para o estudo deste trabalho
alguns pertencentes à União, Estado e Município, que exigiram um processo licitatório,
devido ao uso de recursos públicos, como determina o Tribunal de Contas da União (2010):

Estão sujeitos à regra de licitar, além dos órgãos integrantes da


Administração Direta, as Autarquias, as Fundações Públicas, as Empresas
Públicas, as Sociedades de Economia Mista, os fundos especiais e demais
entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito
Federal e Municípios. (TCU, 2010, p.26)

Os objetos de estudo aqui utilizados, são representados por dois imóveis tombados
em nível Federal (IPHAN) Casarão do Barão de São Luiz, popularmente conhecido como,
Casarão 6 e Theatro Sete de Abril, dois a nível Estadual (IPHAE) Casa do Senador Augusto
de Assumpção e Escola de Agronomia Eliseu Maciel e ainda dois a nível Municipal
(Prefeitura Municipal de Pelotas) Mercado Publico e Grande Hotel.
O casarão 6, também conhecido como Casarão do Barão de São Luiz, edificação
tombada em nível Federal, foi construído no ano de 1879 por José Izella Merotte. A casa
pertencente ao advogado, estancieiro, abolicionista e político Leopoldo Antunes Maciel, o
Barão de São Luiz, possui um estilo eclético de construção, peculiar de sua época, e
compõe a paisagem urbana ao lado de outros dois casarões, pertencentes do mesmo estilo,
os casarões 2 e 8, ou respectivamente “Casarão do Barão de Butuí” e “Casarão do Barão de
Cacequi”.
Figura 1:

7
Disponível em: http://www.fundacaosimonbolivar.org.br/projetos.php Acessado em: 10/01/2014
38

Legenda: Casarão Barão de São Luiz “Casarão N* 6”


Fonte: http://www.pelotas.rs.gov.br/

Segundo matéria do jornal Diário Popular o Prédio foi adquirido pelo Município em
2007 e foi contemplado pelo Programa Monumenta. Com isso, tudo indica que o casarão
número 6 abrigará ao fim de seu processo de restauro e requalificação o Museu da Cidade,
abrigando a história do sal e dos doces de Pelotas, devido ao prédio ter recebido
tombamento em nível Federal pelo IPHAN e, também, pelo fato do mesmo ter pertencido a
uma das famílias que contribuíram para o desenvolvimento do município em sua época.8
Quanto ao processo de restauro do casarão 6, indica a matéria do jornal Correio do
Povo, que o início do restauro deu-se por volta de agosto de 2009 e que o mesmo recebeu
investimentos de R$ 1,4 milhão de reais, dinheiro financiado pelo Programa do Governo
Federal Monumenta. Segundo ainda a mesma fonte, a entrega do casarão foi prevista para
o mês de outubro de 2010.9
O segundo exemplo deste estudo trata-se do primeiro teatro construído no Rio
Grande do Sul e um dos mais antigos em exercício no Brasil. O teatro Sete de Abril teve seu
período de construção entre os anos 1831 a 1834. Em 1972, por possuir importante
contexto histórico e cultural para o país, o prédio recebeu um processo de tombamento a
nível Federal pelo IPHAN, e mais tarde, em 1979, passou ao Município. O nome Sete de
Abril, segundo informações do próprio site do teatro, deve-se a uma homenagem a data em

8
Disponível em: http://srv-net.diariopopular.com.br/20_01_08/estilopag0801e0901.html Acessado em:
13/12/2013
9
Disponível em: http://www.correiodopovo.com.br/Impresso/?
Ano=115&Numero=334&Caderno=9&Noticia=189575 Acessado em: 13/12/2013
39

que o imperador Dom Pedro I abdicou do trono brasileiro em favor de seu filho Pedro II, fato
histórico considerado como segunda independência do Brasil.10
Figura 2:

Legenda: Vista frontal do Theatro Sete de Abril


Fonte: http://viajamos.com.br/photo/teatro-sete-de-abril-pelotas?context=user

Segundo informações retiradas do site da Prefeitura de Pelotas, o teatro teria


recebido sua última reforma entre os anos de 2000 e 2001, através de recursos
provenientes da Lei de Incentivo à Cultura (LIC). A reforma contemplava a recuperação do
telhado, do reboco e dos camarins. Porém, somente em 2004, o projeto de restauração
interna do prédio foi efetivamente elaborado e aprovado pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o mesmo pretendia entrar em conjunto as ações do
Programa Monumenta. Contudo, por motivo de desacordo judicial entre os licitantes da obra,
as ações não foram realizadas.11

De acordo com informações retiradas do ofício 0438/2012, encaminhado ao


presidente da câmara de Pelotas pela Secretária de Cultura, no ano de 2010 foram
realizados laudos, afim de que se tivesse um parecer sobre as condições estruturais da

10
Disponível em: http://www.teatrosetedeabril.com.br/historico/historico.htm Acessado em: 13/12/2013
11
Disponível em: http://www.pelotas.com.br/noticia/noticia.htm?codnoticia=20844 Acessado em: 13/12/13
40

cobertura do teatro. Com isso, após a realização do levantamento, e devido ao estado que a
estrutura encontrava-se, o prédio foi interditado através da nota oficial de 15 de março de
2010. No mesmo período foi solicitada a secretaria Municipal de Administração e Finanças,
por meio dos ofícios 38 e 39\2010\UEP Pelotas – RS\MONUMENTA\MINC, a contratação
em regime de urgência de profissionais devidamente habilitados para a execução dos
projetos de recuperação da estrutura da cobertura, iluminação, sistema elétrico e caixa
cênica.12
Ainda de acordo com o mesmo documento, em setembro de 2011, o projeto foi
finalizado e encaminhado ao IPHAN. Em outubro de 2011, o governo federal liberou R$ 1,5
milhão para o início das obras de restauração, valor esse destinado a primeira etapa do
projeto, responsável pela cobertura do prédio. Porém, quase um ano e meio depois, em
maio de 2013, a prefeitura assinou o contrato com a construtora Marques Imóveis,
responsável pela primeira etapa de restabelecimento estrutural da cobertura. No entanto,
ainda neste mesmo ano, a presidente Dilma Rousseff anunciou a liberação de o R$ 5,38
milhões pelo PAC Cidades Históricas, destinados a restauração total do teatro, com
conclusão prevista para o final de 2014.
Outro objeto de estudo, é o Prédio do antigo Grande Hotel, tombado em nível
Municipal, construído entre os anos de 1925 a 1928, em um terreno doado pelo Dr.
Fernando Luis Osório. O Hotel teve sua construção concluída e, no mesmo ano, devido a
uma crise financeira, o edifício foi municipalizado. O Prédio Tombado pelo Município, por sua
importância para a história da sociedade Pelotense, foi responsável por receber durante seu
tempo de funcionamento muitos personagens ilustres que passaram pela cidade de Pelotas.
O mesmo possui quatro andares, com subsolo habitável, andar térreo mais elevado em
relação ao passeio, andar nobre evidenciado na fachada. Possui 76 quartos, 6
apartamentos tipo suíte, salão de chá, um grande vestíbulo coberto por clarabóia de vidros
coloridos (importada da França) e restaurante, com marcantes traços do estilo Art-
Nouveau.13

Figura 3:

12
Disponivel em: http://sapl.camarapel.rs.gov.br/sapl_documentos/materia/146 Acessado em: 13/12/2013
13
Disponível em: http://www.pelotas.rs.gov.br/cidade_atracoes/pelotas_atracoes_ghotel.htm Acessado em:
13\12\2013
41

Legenda: Fachada do Grande Hotel


Fonte: http://hoteliernews.com.br/2013/08/universidade-de-pelotas-promove-seminario-de-
hotelaria-sustentavel/

O edifício teve sua primeira fase do restauro no ano de 2004, fase essa que
contemplava restauração da fachada e da cobertura. Segundo matéria realizada pelo jornal
Diário Popular do dia 25 de maio de 2009, essa primeira fase, teria sido orçada em cerca de
650 mil reais. No que se refere à segunda etapa do restauro, a mesma foi realizada no ano
de 2009 ainda, e se tratava da readequação do prédio para Hotel-Escola. Nessa etapa que
estava orçada em cerca de 1,5 milhões de reais, estava o processo de restauro interno da
edificação. Ambas as etapas receberam verba do IPHAN, pelo programa Monumenta. (Ver
anexo 2)
Como futuro uso está definido a utilização do espaço como parte integrante dos
cursos de hotelaria e da Escola Superior de Gastronomia da UFPel. O imóvel foi cedido pela
prefeitura para a UFPel em agosto de 2012, tendo a universidade que entrar com uma
contrapartida de R$ 10 milhões, destinadas a sua implementação e operacionalização. A
edificação receberá o nome de Escola de Hotelaria do MERCOSUL e contribuirá com a
formação da qualificação da mão de obra hoteleira na região.14
Outro objeto de estudo trazido a este trabalho é a Casa do Senador Augusto de
Assumpção, Tombado em nível Estadual pelo IPHAE. A história da edificação começou por
volta de 1884 se estendendo até 1889, quando o futuro senador da república brasileira,
Joaquim Augusto de Assumpção e sua esposa Maria Francisca de Mendonça, passaram a
viver na recém construída casa assobradada.
14
Disponível em: http://www.ecult.com.br/noticias/grande-hotel-podera-se-tornar-hotel-escola-da-ufpel Acessado
em: 13/12/2013
42

Figura 4:

Legenda: Casa do Senador Augusto Assumpção


Fonte:http://arteculturaeliteratura.blogspot.com.br/2012/08/mais-quatro-predios-serao-
tombados-em_13.html

A casa que pertenceu ao senador é uma referência direta do processo de formação


urbana da cidade de Pelotas. Seu valor está diretamente ligado ao seu proprietário,
participante ativo da vida política e econômica do período de implantação da República no
Brasil. Além de ter as marcas da época que a cidade viveu o apogeu econômico do Estado,
a importação de um padrão europeu de vida e a estreita relação desta com o centro do país
e o exterior.
No ano de 2005 o Banco Santander resolveu comprar o prédio e doá-lo a UFPel para
a instalação do curso de Turismo. Após esta edificação estar sob as mãos da UFPEL, a
instituição, segundo matéria do site Jus Brasil, publicado pela Prefeitura Municipal de
Pelotas, dá conta que a UFPel restaurou e requalificou o mesmo, com recursos da própria
Instituição.15
O prédio do Mercado Público Municipal, também serve como objeto de estudo para
este trabalho. A edificação foi tombada em nível Municipal. Foi logo após o fim da Revolução
Farroupilha, em 1846, que a câmara municipal de Pelotas adquiriu o terreno para a
construção do Mercado Público. Contudo, devido à escassez de recursos, suas obras só
iniciaram no ano de 1849. O projeto do prédio foi idealizado por Roberto Offer e a edificação
foi construída com formação de fortaleza, sem as quatro torres, mas com portões nas
15
Disponível em: http://pref-pelotas.jusbrasil.com.br/política/6769150/investimentos-no-patrimonio-historico-
ultrapassam-r-10-milhoes Acessado em: 13/12/2013
43

esquinas, em estilo colonial português. Posteriormente, no período de 1911 a 1914, tanto


sua estrutura como sua planta, foram reformuladas nos traços dos estilos eclético, art
noveau e art decô, e uma certa predominância do Neoclássico. Uma das mudanças
implementadas foi a instalação da torre de ferro com o relógio, que foi importada de
Hamburgo na Alemanha. O desenho da estrutura imita a famosa Torre Eiffel, que fica em
Paris, na França.16
Figura 5:

Legenda: Mercado público de Pelotas


Fonte:http://pelotasdeportasabertas.blogspot.com.br/2013/05/pelotas-mercado-publico-abrira-
suas.html; http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1452404&page=2

No ano de 1969 o prédio do Mercado Público foi parcialmente destruído por um


incêndio, devido a um problema na estrutura elétrica. No mesmo ano, o espaço foi
reconstruído e sofreu muitas alterações. Já em 2008, foi autorizada a licitação para
execução da obra de restauro, cujo objetivo foi recuperar o imóvel e deixá-lo com suas
características originais de antes do incêndio. A obra estava orçada em mais de R$ 2
milhões de reais. Inicialmente, uma das metas do projeto, era destacar a estrutura metálica
original do edifício do Mercado Público, com ações de intervenção na cobertura do vão
central, a substituição das telhas e a recolocação do antigo lanternim de ventilação.
Contudo, durante a obra, foram recuperadas as torres com a revitalização dos quartos
próximos aos terraços. Forros e roda forros também foram substituídos e a estrutura de
sustentação da cobertura do bloco das peixarias foi recuperada com a troca por telhas
cerâmicas. Ainda, bancas e pátios foram requalificados, com os pisos de passeios públicos
e de acesso a mercado, pátios internos, peixarias e terraços trocados por pisos em ladrilhos
hidráulicos. Na circulação dos pátios internos, a instalação de uma nova cobertura
translúcida foi proposta e as fachadas internas e externas foram recuperadas. Tendo sido
reinaugurado dia 20 de dezembro de 2012.17

16
Disponível em: http://www.vivaocharque.com.br/interativo/artigo20 Acessado em: 13/12/2013
17
Disponível em: http://www.pelotasconvention.com.br/noticia/restauracao-do-mercado-publico-devera-comecar-
em-60-dias-27bbdad3-6fd6-4071-a404-3dbef854c4ed Acessado em: 13/12/2013
44

Nosso último objeto de estudo, trata-se do restauro da Escola de Agronomia Eliseu


Maciel. Prédio tombado a nível Estadual pelo IPHAE, trata-se de uma edificação que foi
construída pela família Antunes Maciel e doada para a câmara de vereadores de Pelotas no
ano de 1883, em função da criação por decreto do Imperador D. Pedro II, em 08 de
dezembro do mesmo ano, da Imperial Escola de Medicina Veterinária e de Agricultura
Practica. Inicialmente foi dirigida pelo Dr. Claude Marie Rebourgeon, oriundo da famosa
Escola de Alfort (França) e discípulo de Pasteur. O prédio abrigou a escola e em seu anexo
deveria funcionar o Instituto Vacinológico do Império, cujo objetivo era o de fabricar a vacina
antivariólica para todo o país. Mais tarde, passou a se chamar “Lyceu de Agronomia, Artes e
Ofícios”, e após “Lyceu Rio-Grandense de Agronomia e Veterinária” tendo como função
abrigar o curso de agronomia até os anos de 1960. Depois, continuou sendo usado pela
UFPel em diversas funções e, na década de 1990, abrigou o Instituto de Ciências Humanas
(ICH). 18
Figura 6:

Legenda: Escola de Agronomia Eliseu Maciel


Fonte: http://www.fundacaosimonbolivar.org.br/projetos.php

Posteriormente a este fato, começa-se a falar na reforma e restauração da


edificação, como cita o jornal Diário Popular (2003), representantes da universidade tinham
como projeto transformá-lo em local de abrigo para o Museu de Artes Leopoldo Gotuzzo
(MALG), tendo como custo estimado para o restauro de R$ 4,5 milhões. A fonte de captação
para a verba de restauro seria a Lei de Incentivo a Cultura (LIC) e a Lei Rouanet.19

18
Disponível em: http://www.pelotasturismo.com.br/atracoes-turisticas/pelotas-cultural/#!prettyPhoto[iframes]/16/
Acessado em: 13/12/2013
19
Disponível em: http://srv-net.diariopopular.com.br/29_03_03/in170301.html Acessado em: 13/12/2013
45

2.2 Estudo e análise dos editais e processos de restauro

Abaixo, observaremos as quatro tabelas referentes à análise dos editais e seus


respectivos anexos. O motivo pelo qual teremos quatro tabelas ao invés de seis, é devido à
impossibilidade de análise dos editais e anexos referentes ao processo licitatório da Casa do
Senador Augusto de Assunção e da Escola de Agronomia Eliseu Maciel, ambos realizados
pela UFPel, através de uma de suas Fundações de apoio. A Impossibilidade de averiguação
deve-se ao fato de os editais e seus anexos estarem indisponíveis em meio digital, sendo
necessário para a obtenção de uma cópia o encaminhamento de um ofício. Ação que foi
realizada insistentemente, porém não se obteve êxito.
Com relação às tabelas analisadas, estas foram construídas com base em
informações chaves contidas nos editais e seus anexos, como: número de edital; ano em
que ocorreu o processo licitatório; publicado (se o mesmo se encontra publicado no meio
digital e disponível); modalidade (forma em que se conduz o procedimento licitatório,
podendo ser por concorrência; tomada de preços; convite ou pregão); tipo de licitação
(critério de julgamento utilizado pela Administração para seleção da proposta mais
vantajosa); tipo de serviço (qual serviço está sendo solicitado pelo licitador); órgão licitador
(entidade requerente da licitação); projeto (se indica que existe projeto para o processo, e
ainda se o mesmo está disponível para consulta); Garantia Contratual (se há e qual o valor
estabelecido para garantir e assegurar plena execução do contrato, tendo como objetivo
evitar prejuízos ao patrimônio público); definição de uso (se estava estabelecido nos editais
e seus anexos de maneira clara o futuro uso que o objeto de restauro receberia) e ainda
Habilitação profissional (se especifica qual profissional pode concorrer ao processo licitatório
e qual seria a habilitação exigida).
Abaixo, observamos a tabela referente ao Casarão nº 6, o qual teve seu edital
lançado no ano de 2008, tendo como critério de escolha a modalidade concorrência do tipo
menor preço global, tendo suas obras sido concluídas no final de 2010.

Tabela 1:
Nome do objeto: Casarão nº 6 (Barão de Butuí)
Número do edital: Nº 03/2008
Ano: 2008 Publicado: SIM(x) NÃO ( )
Modalidade: Concorrência
Tipo de licitação: Menor preço Global
46

Tipo de serviço: contratação de empresa especializada para a execução das obras de


restauração da casa 6
Órgão Licitador: Prefeitura Municipal de Pelotas
Projeto :SIM (X) NÃO ( )
Projeto disponível: SIM ( ) NÃO( X )
Garantia contratual: Sim 5%
Definições de uso:Não consta
Habilitação Profissional exigida:

Registro da Licitante ou inscrição em qualquer uma das regiões do conselho Regional de


Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA). Comprovação de que a Licitante possui, em
seu quadro permanente, profissional de nível superior detentor de atestado ou anotação de
responsabilidade técnica por execução de obra ou serviço. Ou seja, o nome do profissional,
acompanhado de um ou mais atestados fornecidos por pessoas jurídicas de direito público
ou privado, em nome do profissional, devidamente acompanhados da respectiva Certidão de
Acervo Técnico (CAT) emitido por qualquer uma das regiões do CREA, comprovando a
execução, pelo profissional indicado, de serviços de características semelhantes e de
complexidade tecnológica e operacional equivalentes ou superiores às parcelas de maior
relevância técnica e valor significativo. Sendo esta execução de obra em imóveis tombados
ou inventariados pelo Patrimônio Histórico da União, Estados ou Municípios, com a
comprovação de execução.
As parcelas de maior relevância técnica e valor significativo definidas no presente
instrumento convocatório são: execução de obra em imóveis tombados ou inventariados
pelo Patrimônio Histórico da União, Estados ou Municípios, com a comprovação de
execução dos seguintes serviços:

- Restauração de cobertura com estrutura de madeira e telha cerâmica;


- Restauração de forro de estuque;
- Restauração de forro de madeira;
- Restauração de revestimento em escaiola;
- Restauração de esquadrias de madeira;
- Execução de forro de madeira;
- Execução de piso de madeira e piso com ladrilho hidraúlico;
- Execução de pintura em alvenaria a base de cal;
- Execução de instalação hidráulica;
- Execução de instalação elétrica.

Na sequência temos a tabela referente ao projeto de restauração do Mercado


Público Municipal, com edital lançado no ano de 2008, tendo como critérios decisórios do
órgão licitador a modalidade concorrência do tipo menor preço global. Suas obras foram
concluídas no ano de 2012, porém com seu uso efetivado em meados de 2013.

Tabela 2
Nome do objeto: Restauração do Mercado Público Central e Largo Edmar Fetter
Número do edital: 06 / 2008 Ano: 2008 Publicado: SIM (x) NÃO ( )
Modalidade: Concorrência
Tipo de licitação: menor preço global
Tipo de serviço: Restauração do Mercado Público Central
Órgão Licitador: Prefeitura Municipal de Pelotas
Projeto: SIM (X) NÃO ( )
Projeto disponível: SIM ( ) NÃO (X)
47

Garantia contratual: sim 5%


Definições de uso: Nada consta
Habilitação Profissional exigida:
comprovação de que a Licitante possui, em seu quadro permanente, profissional de nível
superior detentor de atestado ou anotação de responsabilidade técnica por execução de
obra.devidamente acompanhados da respectiva Certidão de Acervo Técnico (CAT) emitido
por qualquer uma das regiões do CREA, comprovando a execução, pelo profissional
indicado, de serviços de características semelhantes e de complexidade tecnológica e
operacional equivalentes ou superiores às parcelas de maior relevância técnica e valor
significativo.
As parcelas de maior relevância técnica e valor significativo definidas no presente
instrumento convocatório são:
- Execução de estrutura em concreto armado;
- Execução de pavimentação com piso em ladrilho hidráulico;
- Execução de cobertura com telha cerâmica em imóveis tombados ou inventariados pelo
Patrimônio Histórico da União, Estados ou Municípios;
- Execução de restauração de estrutura metálica em imóveis tombados ou inventariados
pelo Patrimônio Histórico da União, Estados ou Municípios.

A tabela a seguir, refere-se ao processo de restauração da estrutura do telhado do


Theatro Sete de Abril, tendo sido lançado o edital e a empresa escolhida no ano de 2013,
através da modalidade de concorrência e tendo como tipologia o menor preço global, a obra
ainda encontra-se em fase de finalização.

Tabela 3:
Nome do objeto: Teatro Sete de Abril
Número do edital: 02/2013 Ano: 2013 Publicado: SIM (x) NÃO ( )
Modalidade: Concorrência
Tipo de licitação: Menor preço e regime de execução empreitada por Preço global
Tipo de serviço: Execução dos serviços de restauro da cobertura do Theatro Sete de Abril
Órgão Licitador: SECULT – Prefeitura Municipal de Pelotas
Projeto: SIM (X) NÃO ( )
Projeto disponível: SIM ( ) NÃO (X)
Garantia contratual: Sim 5%
Definições de uso: nada consta
Habilitação Profissional exigida:
Prova de registro da empresa no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA)
e/ou Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) da região da sede da empresa, assim
48

como de todos os profissionais integrantes de seu quadro técnico. Para as empresas não
registradas no Estado, a Certidão de Registro deverá estar vistada pelo CREA ou CAU/RS,
antes da assinatura do contrato, sendo, o referido visto, condição de sua assinatura.
Indicação de responsável técnico, devendo ser profissional Arquiteto, para execução dos
serviços, devidamente habilitado junto ao CAU, e comprovação de que o responsável
técnico indicado tem vínculo com a empresa licitante, na data prevista para entrega da
proposta. Atestado de capacidade técnica em nome da empresa, registrado no CREA ou
CAU, acompanhado da Certidão de Acervo Técnico (CAT), comprovando a realização de
trabalhos da mesma natureza.

Por fim, o edital referente à reciclagem interna do Grande Hotel, que teve seu edital
lançado no ano de 2008, onde os critérios de escolha foram a modalidade de concorrência
do tipo menor preço global, suas obras foram iniciadas no ano de 2009.

Tabela 4:
Nome do objeto: Grande Hotel
Número do edital: 04 / 2008 Ano: 2008 Publicado: SIM (x) NÃO ( )
Modalidade: Concorrência
Tipo de licitação: Menor preço global
Tipo de serviço: Reciclagem do interior do grande Hotel
Órgão Licitador: Prefeitura Municipal de Pelotas
Projeto: SIM (X) NÃO ( )
Projeto disponível: SIM ( ) NÃO(X)
Garantia contratual: Sim 5%
Definições de uso: Nada consta
Habilitação Profissional exigida:
Profissional de nível superior detentor de atestado ou anotação de responsabilidade
técnica por execução de obra ou serviço. A declaração da Licitante deverá indicar o nome do
profissional e preencher os seguintes requisitos: estar acompanhada de um ou mais
atestados fornecidos por pessoas jurídicas de direito público ou privado, em nome do
profissional, devidamente acompanhados da respectiva Certidão de Acervo Técnico (CAT)
emitido por qualquer uma das regiões do CREA, comprovando a execução, pelo profissional
49

indicado, de serviços de características semelhantes e de complexidade tecnológica e


operacional.

Para o comparativo entre as tabelas, o primeiro item analisado, refere-se ao ano do


processo licitatório. Verificamos que assim como outras fontes já indicavam, o ano de 2008
foi o que apresentou mais processos de restauro na cidade de Pelotas. Dos quatro objetos
analisados, três deles ocorreram neste mesmo ano. Esse fato deve-se a um fator muito
importante, do qual já foi levantado durante o trabalho, que foi a chegada do Programa do
Governo Federal Monumenta na cidade de Pelotas, no ano de 2002.
Através das fontes digitais apresentadas durante a contextualização dos objetos
analisados, verificou-se que o programa foi o grande incentivador financeiro dos processos
de restauração, não sendo apenas do Teatro Sete de abril, ainda que o mesmo estivesse
também previsto nos planos de apoio do programa, porém, por motivo de desacordo judicial
entre os licitantes da obra, as ações com relação ao teatro não foram realizadas. Com isso,
o Teatro, dentre os exemplos analisados, foi o único que levou um pouco mais de tempo
para receber o seu processo licitatório, ocorrendo apenas no ano de 2013 através de uma
verba disponibilizada pelo Governo Federal, após o encaminhamento do projeto de restauro
ao IPHAN em 2011.
Com relação à disponibilização e publicação dos processos licitatórios, verificou-se
que ambos os processos respeitaram as regras do TCU. Os quatro objetos tiveram como
órgão licitador a Prefeitura Municipal de Pelotas, e a mesma, além de tornar público o edital
de convocação, ainda através da atual gestão, utiliza uma ferramenta denominada Portal da
Transparência, onde é possível verificar onde são empregados os gastos públicos, através
de documentos, disponíveis para a comunidade de modo online. No entanto através da
visualização dos editais pelo portal da transparência, constatou-se que alguns de seus
anexos não se encontravam de maneira completa, o que impossibilita uma total reflexão
sobre os valores e condições estabelecidas no ato convocatório.
No quesito modalidade e tipo de licitação, todos obedeceram ao mesmo padrão.
Entre os tipos de modalidade existentes: concorrência, tomada de preço, convite e pregão,
os quatro editais trouxeram concorrência como modalidade empregada, o que significa que
os editais deveriam prever que os interessados na licitação comprovassem que eram do
mesmo ramo do que o objeto, através de uma fase de habilitação preliminar. Contudo, ainda
que se verificasse no edital exigências de habilitação profissional, o mesmo não aponta de
maneira objetiva e clara que a empresa seja especializada no ramo referente ao objeto
licitado, neste caso, a restauração de um bem patrimonial histórico. Isso abre precedente
para que um licitante que seja responsável por totalidade e fiscalização do processo de
restauro não esteja habilitado ao serviço, podendo o mesmo apresentar documentos de
50

pessoa terceirizada com habilitação exigida, sem que o próprio licitante tenha
conhecimentos sobre o trabalho que será realizado.
Quanto ao tipo de licitação, todos os editais analisados apresentaram o menor preço
global como critério de decisão para o licitante vencedor da licitação. O que significa que a
administração ou órgão licitador escolherá a empresa ou licitante que apresentar a proposta
de menor valor e que seja a mais vantajosa. Este tipo pode ser o mais econômico, porém,
nem sempre é o mais adequado a todo tipo de trabalho, cabendo a nosso ver o tipo Melhor
técnica, onde, em alguns casos, principalmente quando o trabalho é complexo, o órgão
público pode basear-se nos parâmetros técnicos para determinar o vencedor, ou ainda, o
tipo Menor preço e melhor técnica, onde os dois parâmetros são importantes na decisão do
vencedor nesse caso. Assim, no próprio edital de licitação deve estar claro o peso que cada
um dos parâmetros (preço e qualidade técnica) deve ter para que se possa fazer uma média
ponderada.
O próximo item refere-se ao tipo de serviço, ou seja, qual o serviço que a empresa
licitante vencedora do edital deverá realizar. Inicialmente observou-se que o tipo de serviço
tende a delimitar o que será realizado no objeto, no caso do casarão número 6, e do
Mercado Público, por exemplo, ambos os casos apresentam uma denominação de serviço
demasiadamente ampla. O que exige que o termo de referência, ou mesmo, ao longo do
edital, se especifique as etapas e produtos que deverão ser realizados dentro desta
restauração.
Quanto ao Teatro Sete de Abril, a denominação de serviço é mais especifica, pois
como vimos anteriormente neste trabalho o processo de licitação do restauro realizou-se em
etapas, diferentemente dos dois anteriormente apresentados, onde o processo licitatório é
único e abrangente ao restabelecimento total da edificação. O Grande Hotel usou o termo
“reciclagem” para conduzir o tipo de serviço a ser realizado. Quando o termo reciclar,
significa reaproveitar um material para um novo produto, com isso, o termo utilizado
acarretou numa possível interferência demasiada quanto ao restabelecimento da estrutura
interna original da edificação por parte da empresa licitante.
No quesito projeto, observou-se dentre os quatro analisados, onde todos tinham
como órgão licitador a Prefeitura Municipal de Pelotas, que segundo constatado no edital, o
projeto existia, porém, não foi possível ter acesso aos mesmos para análise, pois eles não
se encontravam disponíveis no portal da transparência junto aos demais documentos dos
processos licitatórios em questão. Quanto aos projetos que representam os processos de
restauro que tinham como órgão licitador a Universidade Federal de Pelotas, foi detectado
que os mesmos não se encontravam disponíveis e possivelmente sequer existiam.
Quanto ao próximo item trazido pela tabela, referente à garantia contratual, que
segundo o Tribunal de Contas da União, seria responsável por assegurar plena execução do
51

contrato e evitar prejuízos ao patrimônio público. Com isso, a garantia só seria devolvida ao
fim da execução da obra e entrega do objeto.
Ainda com relação à garantia contratual, o valor da mesma não pode exceder a 5%
do total do contrato, exceto quanto à compra de bens, execução de obras ou prestação de
serviços de grande vulto. No entanto, verificou-se que os processos licitatórios acima
trouxeram em seu edital uma garantia contratual de 5% do valor, o que num âmbito de uma
edificação histórica considera-se um valor irrisório e pouco aplicável, em vista de que, no
caso de não ocorrer a entrega da obra como prevista em edital e termo de referência, ou
ainda em caso de entrega do objeto da licitação em condições inferiores a que até então se
encontrava, este valor de 5% não seria suficiente para recuperar os danos causados não só
a edificação e seu restabelecimento, como também não seria suficiente para em caso de
perda do bem patrimonial, recuperar a memória da sociedade a qual ele pertence.
Ao abordar a finalidade do bem patrimonial após passar por processo de restauro,
identifica-se que todos os editais analisados e seus anexos, não traziam qualquer referência
ao uso que a edificação viria a receber após ser restaurada, ainda que dois desses objetos
sejam de usos subjetivos, como é o caso do Mercado Público e do Teatro Sete de Abril.
Acreditamos que seus usos devem ter aparecido nos projetos, porém, não foi possível
averiguar a informação, devido à falta do projeto para análise. No entanto, o fato desta
informação não aparecer nem mesmo no projeto, colabora para que a empresa licitante
entregue a obra restaurada, porém não adaptada ao seu novo uso, o que leva esse bem a
não ter condições de receber o uso para o qual foi pensado, ou ainda, pode gerar um novo
gasto para os cofres públicos ao sofrer um novo processo de licitação, agora em função de
uma provável necessária adaptação para o novo uso. Ambas as situações contribuem para
que esse bem patrimonial não volte ao restabelecimento de forma imediata, comprometendo
a sua efetiva preservação.
Quanto à habilitação profissional apresentada nos editais, nota-se que as exigências
ainda deixam a desejar, principalmente quando nos referimos a um bem patrimonial.
Verificou-se que todos os editais possuíam certa semelhança entre si, talvez em razão dos
mesmos serem elaborados pelo mesmo órgão licitador e compreenderem a um mesmo tipo
de serviço.
No entanto, foi possível notar que eles também apresentam pequenas diferenças,
como por exemplo, no edital para a restauração do Casarão 6, onde se identifica como uma
exigência que a empresa licitante tenha registro no CREA (conselho regional de Engenharia,
Arquitetura e Agronomia), e comprove que tenha um profissional de nível superior em seu
quadro e que obtenha responsabilidade técnica. No caso do Mercado Público é exigido
apenas comprovação de que a Licitante possui, em seu quadro permanente, profissional de
nível superior detentor de atestado ou anotação de responsabilidade técnica por execução
52

de obra, não exigindo que a empresa licitante comprove um registro em algum conselho. No
edital do Teatro Sete de Abril, a exigência de comprovação no CREA não é só da empresa
licitante, como também de todos os profissionais que estão no quadro da empresa, e o edital
ainda especifica que para empresas de fora do RS, as mesmas devem ter seu atestado
vistado pelo CREA do Rio Grande do Sul. Quanto ao edital do Grande Hotel o mesmo fala
em Profissional de nível superior detentor de atestado ou anotação de responsabilidade
técnica por execução de obra ou serviço, e não especifica qual o tipo de profissional pode
concorrer à licitação, ainda que fale que a empresa deve indicar um profissional com
atestado pelo CREA.
Neste capítulo analisamos mais a fundo as estratégias de preservação e ainda os
instrumentos usados para preservação dos bens no município de Pelotas. Observamos o
papel de grande importância das políticas municipais como a elaboração dos planos
diretores, e seus instrumentos como as zonas de preservação, a criação do inventario e a
elaboração da lei de incentivo fiscal a proprietários de bens pertencentes ao inventário.
Ainda destacamos o imprescindível papel que os programas governamentais
desenvolvidos em prol do patrimônio, como foi o caso do Programa Monumenta e mais
recentemente o PAC Cidades Históricas (Programa de Aceleração do Crescimento), tem
para a preservação dos bens, promovendo recursos para a sua recuperação. Neste caso o
edital tem a função de nortear o processo de restauro junto ao uso da verba destinada ao
mesmo.
Através das informações até aqui levantadas foi possível fazer uma analise
qualitativa referente a esses processos, bem como levantar um panorama das políticas
patrimoniais do município. E então ao traçar as respostas obtidas foi possível entender o
rumo em que as políticas preservacionistas vêm tomando na cidade.
53

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho abordamos o estudo das políticas públicas patrimoniais e dos seus
respectivos instrumentos legais e estratégias de preservação na cidade de Pelotas-RS.
Como foi posto, aprofundamos o estudo sobre a visão conceitual e o panorama histórico do
termo Patrimônio Cultural, desde os primeiros vestígios do interesse das sociedades pelo
patrimônio, no caso dos atálidas e sua busca fervorosa pela arte grega, bem como o
interesse dos romanos pelos espólios de guerra trazidos da Grécia; passando pelas
primeiras definições de Patrimônio na formação dos Estados nacionais modernos (Sec. XVI)
como forma de construir e garantir uma identidade nacional consolidada, até a inovação
trazida pela política francesa no século XIX e as diferentes escolas do pensamento
preservacionista, de Viollet-le-Duc, John Ruskin e mais tarde Camillo Boito.
Sobre a questão da legislação patrimonial e seu panorama histórico, levamos em
conta a Carta de Atenas (1931), seguindo os preceitos urbanísticos da modernidade, e sua
importância como marco em destacar a necessidade em salvaguardar os monumentos de
sua destruição e a necessidade da construção do que hoje entendemos como patrimônio
cultural. Do mesmo modo que mais tarde a Carta de Veneza (1964) traz profundas
mudanças referentes principalmente a mercantilização do patrimônio e sua adaptação as
necessidades modernas, onde a revitalização do monumento propicia seu uso a despeito de
sua função original.
O panorama da política pública voltada ao patrimônio no Brasil remonta ao governo
de Getúlio Vargas (1930-1945) com a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (SPHAN), cuja preocupação era a consolidação de uma identidade nacional coesa.
Mais tarde, durante a década de 1970, aconteceu o Compromisso de Brasília (1970) e o
compromisso de Salvador (1971) reforçando o papel do Estado na proteção e preservação
dos bens culturais nacionais bem como atribuindo as universidades a função de pesquisar e
elaborar o inventariado dos bens regionais, nesta mesma década o SPHAN passa a
54

chamar-se IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e acontece também


uma estadualização das funções de preservação do patrimônio, como forma dos estados-
membros auxiliarem o IPHAN na preservação, surgindo no Rio Grande do Sul o Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE-RS).
Na carta magna de 1988 nos artigos 215 e 216 conferiu-se ao patrimônio cultural o
caráter de direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros cabendo a União, estados e
municípios legislarem e criarem formas de mantenimento do respectivo patrimônio. Outro
ponto fundamental apontado na reforma constitucional de 1988 é a figura do plano diretor
como norteador da política de desenvolvimento urbano e seus objetivos de ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem estar de seus habitantes,
incluindo neste a questão do patrimônio cultural. Na década de 90, devido à política
neoliberal adotada, ocorreu uma diminuição da atuação do Estado na formulação de
políticas públicas e financiamentos voltados área cultural, exceto a criação de leis de
incentivo para empresas investirem no setor cultural. Panorama este que muda em meados
dos anos 2000 com a volta de incentivo e destinação de verbas a diversos programas de
financiamento voltados para a área como o Monumenta e mais recentemente o PAC
Cidades Históricas.
Em âmbito municipal os primeiros preceitos surgem na elaboração do II Plano Diretor
da cidade no início da década de 1980, posteriormente em 1982 é estabelecido o Conselho
Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural (COMPHIC), responsável por normatizar os
mecanismos de proteção. Neste período 236 imóveis haviam sido tombados, contudo,
através de mudanças nas leis municipais no ano de 1988, passaram para apenas 16
tombados em definitivo. No ano de 1996 o antigo conselho é substituído pelo CONCULT
(Conselho Municipal de Cultura), e mais tarde pelo SIMPAC (Sistema Municipal de
Preservação Cultural). Outro marco importante foi a lei 4568/2000 que implementou a
ZPPCs (Zonas de Preservação do Patrimônio Cultural), incluídas mais tarde no III Plano
Diretor. Neste período (década 2000) o patrimônio histórico de Pelotas teve seu auge de
valorização, com o restauro de diversos bens por parte da iniciativa privada, e dos órgão
públicos com o auxílio de verbas do programa Monumenta, da Lei Rouanet e de recursos
privados.
Como já salientamos, quanto aos processos de restaurações que são feitos com
verbas oriundas da união é imprescindível a realização de uma licitação, sendo os editais
não uma estratégia de preservação, mas sim instrumentos legais responsáveis por garantir
a efetiva recuperação do bem patrimonial, com a melhor qualidade possível, mão de obra
especializada e que não ocorram excessos ou falhas na aplicação do dinheiro empregado.
Nos seis editais propostos para análise, visando observar os temas anteriormente
apresentados (Casarão 6, Theatro Sete de Abril, ambos tombados a nível federal (IPHAN);
55

Casa do Senador Augusto de Assumpção e Escola de Agronomia Eliseu Maciel, tombados a


nível estadual (IPHAE); e ainda dois a nível Municipal, o Mercado Público e o Grande Hotel
;fizemos as seguintes considerações: A Escola de Agronomia Eliseu Maciel e a Casa do
Senador Augusto de Assunção não apresentavam documentação disponível para consulta,
mesmo após solicitado por ofício, exceto documentação do TCU (ver anexo 3) referindo-se a
problemas no controle de despesas na obra, as verbas para o restauro foram oriundas da
Lei de Incentivo à Cultura e da UFPel, hoje os dois imóveis encontram-se restaurados e
ambos servem a funções administrativas da universidade, pela falta de documentação a
respeito não foi possível traçar maiores panoramas.

Quanto aos demais prédios analisados neste estudo, foi possível averiguar que
sobre a formulação dos editais, a administração define qual será o objeto de restauro e qual
serviço deseja contratar, logo após esta etapa, a mesma realiza uma estimativa de valor
total da obra mediante prática de pesquisa de mercado, por fim escolhe a modalidade de
licitação adequada.
Observamos, portanto, que o modelo de licitação empregado foi o de concorrência
em todos os editais, e que os mesmos tinham como critério definidor da proposta vencedora
o menor preço global, o que a nosso ver pode acarretar em uso de materiais de qualidade
inferior e, em muitos casos, acaba vencendo a empresa com o melhor preço mas não
necessariamente com a melhor mão-de-obra, o que compromete muitas vezes o resultado
final da obra ou até mesmo a inviabilidade final da mesma, sendo o melhor modelo de
concorrência o que tem como definidor do vencedor o tipo menor preço aliado a melhor
técnica.
Com relação ao tipo de Serviço que consta nos editais avaliados, observa-se que a
tentativa do órgão licitador em delimitar o que será realizado no objeto, acaba por deixar por
vezes muito amplo, como no caso do casarão número 6, e do Mercado Público, o que
ocasiona num produto final incerto. O que no caso do Teatro Sete de Abril não foi um
problema a denominação do serviço, afinal o edital analisado, respondia por apenas uma
etapa do processo, o que fez com que o serviço aparece de forma bastante especifica.
Quanto ao Grande Hotel o termo “reciclagem”, que significa reaproveitar um material para
um novo produto, não fica adequado, ainda mais quando o objeto se trata de uma edificação
histórica, pois o mesmo deu espaço a uma interferência demasiada quanto ao
restabelecimento da estrutura interna original da edificação por parte da empresa licitante.
Portanto, acreditamos que para um melhor resultado e melhor controle, é necessário
expressar de maneira precisa o tipo de serviço que se deseja contratar, evitando
denominações muito amplas, ou termos ambíguos
56

No que se refere à redação dos editais, observa-se que todos os editais os quais
tivemos acesso, foram produzidos pela Prefeitura Municipal de Pelotas através de sua
secretaria de administração e finanças entre os anos de 2008 e 2013. Ainda compreende-se
que assim como determina o Tribunal de Contas da União, existe uma comissão
permanente de licitação dentro da própria secretária, porém nos casos de prédios históricos
verifica-se uma necessidade que atualmente não é suprida, de ter juntamente a essa
comissão um profissional com experiência na área de patrimônio com o objetivo de qualificar
a formulação dos editais, tendo em vista um olhar mais especifico sobre esses processos.
No que diz respeito aos projetos, os editais deliberam a existência dos mesmos,
porém, eles não se encontravam disponíveis, o que nos impossibilitou de aprofundar neste
quesito e averiguar se os usos aos quais as edificações viriam a receber futuramente após o
seu processo de restauro, já estavam previstas no projeto. Pois o futuro uso do bem não foi
encontrado no edital e nem mesmo em seus anexos, o que aponta o problema atual das
edificações estudadas, onde somente o Mercado Público se encontra em pleno
funcionamento e com possibilidade de ser usufruído pela comunidade.
Um ponto preocupante verificado durante o estudo dos editais refere-se à garantia
contratual. Todos os casos analisados exigem como garantia contratual o valor de 5% total
da obra licitada. O que se tratando de uma edificação histórica e de importante valor
significativo para a comunidade, se mostra um valor irrisório em caso de ter de recuperar os
danos causados não só a edificação e seu restabelecimento, como também em caso de
perda total do bem patrimonial, a fim de recuperar a memória da sociedade a qual ele
pertencia.
Referente à habilitação profissional, observa-se que as especificações que os editas
verificados trazem, carecem de uma maior objetividade e clareza. Em todos os casos
consultados, os mesmos apresentaram informações confusas, quanto a quem poderia
concorrer a licitação, e ainda se o licitante deveria ser habilitado em restauração de bens
tombados, se o mesmo precisaria apenas indicar um profissional técnico habilitado no
quadro da empresa licitante, ou nem mesmo é especificado que tipo de profissional seria
esse.
Ainda, um problema que observamos tangenciar as políticas públicas e suas
estratégias de preservação na cidade de Pelotas é a difícil inserção do profissional
conservador-restaurador nos projetos executados. Em todos os editais analisados e nas
políticas voltadas à preservação, o processo de restauro é visto como uma prática do
profissional arquiteto ou engenheiro, não sendo incluído em nenhum dos editais ou ao
menos citado o profissional com maior qualificação para este processo, o bacharel em
conservação e restauração de bens culturais, cabendo aos futuros profissionais a árdua
tarefa de conquistar o espaço que é seu por mérito.
57

Por fim, foi possível entender que os processos licitatórios são fundamentados
através de documentos legais que norteiam de maneira geral União, Estado e Município.
Com isso verificou-se que é na formulação dos editais que se encontram as nuances mais
complexas que supúnhamos, isso se deve a flexibilidade que eles possuem, até mesmo em
beneficio da diversidade de bens culturais de uma sociedade heterogênea como a
encontrada em nosso pais. Com tudo é preciso que este documento seja realizado por um
profissional capacitado para a sua formulação, pois este momento é decisivo para o futuro
de um projeto de restauro e consequentemente, para a efetiva preservação de um bem
patrimonial.

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zonas de preservação do Patrimônio Cultural de Pelotas – ZPPCs – lista seus bens e dá
outras providências.

PELOTAS. Lei Municipal nº 5146, de 25 de julho de 2005. Reduz alíquotas do IPTU e dá


outras providências.
59

PELOTAS. Lei Municipal nº 2565, de 01 de setembro de 1980. Institui o II Plano Diretor de


Pelotas.

PELOTAS. Lei Municipal nº 2708, de 10 de maio de 1982. Dispõe sob a proteção do


Patrimônio Histórico e Cultural do município de Pelotas e dá outras providências.

PELOTAS. Lei Municipal nº 3128, de 23 de julho de 1988. Altera a Lei municipal 2708/82.

PELOTAS. Lei Municipal nº5.502, de 11 de setembro de 2008. Lei esta que instituí o III
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UNESCO. Convenção para a salvaguarda do patrimônio cultural imaterial.2003.


Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/baixaFcdAnexo.do?id=3794
60

ANEXOS

Anexo 1 – Mapa das ZPPCS

http://www.pelotas.com.br/politica_urbana_ambiental/planejamento_urbano/III_plano_
diretor/lei_iii_plano_diretor/arquivos/U10_ZPPC_IIIPD.pdf

Anexo 2 – Matéria de jornal sobre o Grande Hotel


61

Anexo 3 – Documento TCU


GRUPO I – CLASSE V – Plenário

TC-021.858/2006-5 (com 4 volumes)


Natureza: Auditoria de Conformidade
Entidade: Fundação Universidade Federal de Pelotas/UFPEL
62

Responsáveis: André Luiz Haak (Reitor Pro-Tempore); Antônio César Gonçalves Borges
(Reitor); Paulo Roberto Soares de Pinho (Ordenador de Despesa e Pró-Reitor
Administrativo); Francisco Carlos Gomes Luzzardi (Ordenador de Despesa e Pró-Reitor
Administrativo)
Advogado constituído nos autos: não há

Sumário: AUDITORIA DE CONFORMIDADE. VERIFICAÇÃO DO RELACIONAMENTO DA


UNIVERSIDADE COM AS FUNDAÇÕES DE APOIO. DIVERSAS IRREGULARES E
FALHAS APURADAS. DESVIRTUAMENTO NA APLICAÇÃO DA LEI N.º 8.958/94.
NECESSIDADE DE MEDIDAS CORRETIVAS. DETERMINAÇÕES. MONITORAMENTO.
É irregular a destinação de recursos públicos a fundações de apoio para a execução de
despesas que não se enquadrem como projetos de apoio a pesquisa, ensino, extensão ou
desenvolvimento institucional, científico e tecnológico de interesse da respectiva Instituição
Federal de Ensino contratante.

Trata-se de Auditoria de Conformidade realizada na Fundação Universidade Federal de


Pelotas – UFPEL com vistas a examinar a regularidade do relacionamento da Universidade
com suas Fundações de Apoio, em cumprimento ao Despacho exarado nos autos do
processo TC 006.265/2006-2 pelo Ministro Walton Alencar Rodrigues, então responsável
pela LUJ a que se acha vinculada a referida entidade.
A equipe de fiscalização da Secretaria de Controle Externo no Rio Grande do Sul –
Secex/RS, constituída pelos Srs. Analistas Luciano Aires Teixeira e Guilherme Yadoya de
Souza, após suas considerações introdutórias acerca da trabalho realizado, lista seus
achados de auditoria, apresentando, na seqüência, as conclusões principais e propondo, no
mérito, as medidas e encaminhamentos julgados cabíveis, conforme se verifica da peça de
fls. 984/1022 do vol. 4, a qual passo a reproduzir:

“ACHADOS DE AUDITORIA
Formalização Inadequada para os Ajustes
Situação Encontrada:
28. Utilização indiscriminada de termo de contrato, com fundamento no inciso XIII do art. 24
da Lei 8.666/93 c/c o art. 1º da Lei 8.958/94, para formalização das avenças entre a UFPEL
e suas Fundações de Apoio.
Critério:
29. IN STN 01/97; Lei 8.958/94; Decreto 5.205/2004; Lei 8.666/93; Lei 4.320/64; Decreto
93.872/86; Decisão 321/2000-Plenário; Revista do TCU 82 (out/dez 1999) ‘Contratação de
63

Fundações com Dispensa de Licitação na Área Federal’, de Fernando Moutinho Ramalho


Bittencourt.
Evidências:
30. Contratos 46/2005 (f. 520/652), 01/2006 (f. 475/519), 02/2006 (f. 443/474), 06/2006 (f.
419/442) e 31/2006 (f. 414/418), todos firmados com a Fundação Simon Bolívar. Contratos
35 e 36/2004 (f. 374/413), firmados com a FDMS.
Causas:
31. Desconhecimento da melhor adequação e da possibilidade de utilização do convênio
como forma de ajuste.
Efeitos Reais e Potenciais:
32. Contratos celebrados sem a observância do disposto no art. 26 da Lei 8.666/93,
realização de pagamentos antecipados, inexigibilidade de prestações de contas, mitigação
da obrigatoriedade de utilização de conta específica nos ajustes caracterizados como
convênios, ausência de registro de convênios no SIAFI em razão da denominação indevida
de contrato a ajuste que se caracteriza como convênio (R).
Esclarecimentos dos responsáveis:
33. Embora não tenham sido solicitados esclarecimentos por escrito, nas diversas reuniões
com os gestores da Universidade e responsáveis por suas unidades, restou clara a
incerteza de qual denominação deve ser dada aos ajustes firmados, preferindo-se, ante o
estabelecido no art. 1º da Lei 8.958/94, a formalização de contrato por dispensa de licitação
nos termos do inciso XIII do art. 24 da Lei 8.666.
Conclusão da Equipe de Auditoria:
34. Para os ajustes custeados com recursos orçamentários ou com repasses de recursos de
convênios firmados entre a UFPEL e órgãos financiadores concedentes considerou-se,
inicialmente que a ocorrência fosse caracterizada como pagamento antecipado de despesa,
visto que mediante esses ‘contratos’ há repasse prévio de recursos, ocorrendo, inclusive,
emissão de notas fiscais genéricas pela Fundação de Apoio.
35. Entretanto, verificou-se que mesmo sendo ajuste denominado contrato, há nos termos
dos ajustes previsão de posterior prestação de contas da aplicação dos recursos, ainda que
de forma precária, como tratado nos itens 29/41 deste relatório. Além disso, a fundação
contratada abre conta-bancária para gestão desses recursos. A nota fiscal emitida pela
Fundação de Apoio assemelha-se a um recibo da transferência do numerário. Diante disso,
os procedimentos realizados aproximam os ajustes muito mais às características de
convênio que de contrato.
36. Como já reportado no TC 009.983/2006-2, que tratou de fiscalização, de mesma
natureza da dos presentes autos, realizada em outra IFE, os contratos previstos na Lei
8.958/94 não devem ser entendidos em sentido estrito. Na Decisão 321/2000-Plenário o
64

ministro-relator, Valmir Campelo, entendeu não haver óbice à celebração de convênio. Em


seu Relatório afirmou que quando se trata de ajuste que envolve duas entidades sem fins
lucrativos, no presente caso a UFPEL e uma de suas Fundações de Apoio, seria até mais
apropriado o instrumento de convênio, cuja natureza jurídica pressupõe interesses comuns
dos partícipes. Abaixo são relacionados elementos que reforçam a tese de que os ajustes
entre a UFPEL e suas Fundações de Apoio têm, em sua maioria, mais características de
convênio que de contrato:
- interesse comum – da IFE e da FA – no desenvolvimento dos projetos de ensino, pesquisa,
extensão ou desenvolvimento institucional;
- instituições partícipes sem fins lucrativos;
- a celebração de um contrato pressupõe a fixação de um preço, e o mero repasse dos
recursos recebidos não se constitui em preço;
- a comprovação normal da execução de um contrato se dá por documentos fiscais, no
entanto, como os recursos envolvidos são públicos, entende-se necessária a prestação de
contas;
- previamente à celebração de um contrato seria necessária a realização de uma pesquisa
de preço que comprovasse que o preço fixado pela Fundação está compatível com o
mercado;
- por fim, a prática do repasse antecipado dos recursos é admissível nos convênios, quando
a tramitação normal dos contratos prevê o pagamento do preço apenas na liquidação do
contratado.
37. Dessa forma, quando houver necessidade de repasse prévio de recursos para a
execução de objeto de interesse comum deverá ser adotada a denominação ‘convênio’,
observando-se a aplicação da legislação federal que institui normas para licitações e
contratos da administração pública, referente à contratação de obras, compras e serviços.
Especificamente no caso de os recursos advirem do Orçamentos da União também deverão
ser observadas as normas que disciplinam a celebração de convênios, no caso a IN STN
01/97, ora em vigor.
38. A formalização de ajuste com as Fundações de Apoio para a execução administrativa e
financeira de projetos da UFPEL pode, excepcionalmente, ser considerada adequada, desde
que os projetos se destinem a ensino, pesquisa, extensão ou desenvolvimento institucional,
científico e tecnológico. Para os recursos originários do Orçamento, esse entendimento é
resultado do fato conhecido de que as universidades para assegurar a utilidade do crédito
que lhes foi destinado ao apagar das luzes do exercício financeiro se valem das Fundações
de Apoio. No entanto a ocorrência desta prática não se justifica quando os recursos
orçamentários são recebidos antes do final do exercício, em que haja tempo hábil para a
65

realização de licitações ou outras medidas necessárias para a devida liquidação da


despesa.
39. Ressalte-se que a formalização de avenças mediante contrato de Fundação de Apoio
com fundamento no inciso XIII do art. 24 da Lei 8.666/93 c/c o art. 1º da Lei 8.958/94 não é
descartada. No entanto, deve-se considerar que os contratos somente podem ser firmados
no caso de os objetos contratados para dar apoio à Universidade serem relacionados às
finalidades e à área de atuação das fundações, isto é, sejam exercidos em caráter
personalíssimo por essas.
(...)
Fiscalização Deficiente
Situação Encontrada:
41. A universidade não dispõe de mecanismos que assegurem o devido controle e
fiscalização da atuação de suas Fundações de Apoio. Essa situação, agravada pela
inexistência de normativos internos – ao menos até a edição da Portaria UFPEL 1.387, de
29/09/2006 – e de sistema informatizado que centralize o gerenciamento desses projetos, é
constatada pela quase que total descentralização às fundações das informações sobre os
projetos executados. Por exemplo, grande parte das informações sobre os projetos em
andamento, solicitadas pela equipe de auditoria à UFPEL, foram prestadas não pela
Universidade mas pelas Fundações de Apoio.
42. A situação é ainda mais grave nos casos de projetos financiados com recursos
não-orçamentários (autofinanciados). Para esses ajustes nem mesmo as informações sobre
projetos obtidas pelas fundações (em resposta ao Ofício de Requisição 01-715) espelhavam
os dados obtidos diretamente junto às unidades da Universidade, em atendimento ao Ofício
de Requisição 03-715-circular.
43. São relacionadas a seguir algumas ocorrências que ilustram tal situação:
a) Faculdade de Meteorologia – Projeto ‘I Encontro Sul Brasileiro’ firmado com a FSB: a
resposta ao Ofício de Requisição 01-715, inicialmente fornecida pela UFPEL, não
contemplou este projeto;
b) Projeto ‘Gestação Saudável-Pesquisa’ (Faculdade de Medicina X FAU) – relacionado na
resposta ao Ofício de Requisição 01-715 e não constante da lista encaminhada pela
unidade responsável;
c) Divergência de nomes dos coordenadores, a exemplo do Projeto Matemática à Distância,
firmado entre o Instituto de Física e Matemática e a FSB.

44. Ainda sobre as formas de controle exercido sobre os projetos, é relevante reproduzir a
resposta de algumas unidades acadêmicas:
Instituto de Física e Matemática
66

as formas de controle para acompanhamento são estipuladas de forma variada, em função


do tipo de projeto e das fontes de recursos; os projetos autofinanciados são, normalmente,
controlados pelo seu coordenador e pela própria fundação, não havendo mecanismos
específicos, além da prestação de contas relacionada com os relatórios finais de projetos de
extensão, os quais são aprovados nos Departamentos, no Conselho Departamental e no
COCEPE; os projetos cujas fontes de recursos são agentes financiadores externos são
acompanhados também através dos controles estabelecidos pelos correspondentes
agentes, envolvendo relatórios parciais e finais, incluindo prestação de contas detalhadas,
que, em alguns casos, passam por auditorias;

Agência de Desenvolvimento da Bacia da Lagoa Mirim-ALM


i. a respeito do ‘Projeto de Operacionalização da Agência da Lagoa Mirim’ - FAU
Todas as atividades resumidamente relacionadas fazem parte do Projeto (...), cujo controle e
execução é autorizado pela FAU, a quem cabe a administração econômico-financeira, e pelo
Coordenador do Projeto (...)
ii. a respeito do ‘Projeto de Controle de Níveis e Vazões do Perímetro Irrigado do
Chasqueiro’- FSB
O controle e execução do projeto são realizados pela Diretora da Fundação Simon Bolívar, a
quem compete a administração econômico-financeira, e pelo Coordenador do Projeto.

Instituto de Química e Geociências


controle financeiro é feito através de extrato mensal enviado pelas fundações ao IQG –
Instituto de Química e Geociências o que possibilita a conciliação com documentos fiscais
Pró-Reitoria de Extensão e Cultura
As informações sobre fluxo para contratação de projeto com a fundação, os controles
existentes para o acompanhamento da execução e aprovação de contas, bem como a
destinação dada aos bens adquiridos com os recursos dos projetos, solicitadas através do
ofício circular do TCU, somente poderão ser obtidas junto às fundações, já que não
possuímos estes dados.

45. Em que pese cada ajuste celebrado com as Fundações de Apoio possuir coordenador
nomeado para sua fiscalização, esta não é efetivamente realizada, visto que, na maioria das
oportunidades, tal indicação tem caráter apenas formal, não sendo preparados
adequadamente os servidores para desempenharem tal função no sentido de atendimento
efetivo das disposições legais e análise da execução financeira dos projetos.
Critério:
46. Lei 8.958/94; Decreto 5.205/2004.
67

Evidências:
47. Comparação das informações constantes das relações de projetos firmados com as
Fundações de Apoio em resposta ao Ofício 01-715 (f. 139/172) com os expedientes
encaminhados pelas unidades em resposta ao Ofício 03-715-circular (dados distribuídos nos
demais achados). Entrevistas. Desinformação por parte da Universidade, prestações de
contas de recursos de projetos elaboradas especialmente para a equipe de auditoria.
Respostas ao Ofício de Requisição 06-715/2006 (f. 300/319).
Causas:
48. Ausência de Auditoria Interna. Falta de rotina específica a ser seguida pelos gestores de
contratos para fiscalização da execução financeira dos projetos. Concentração de poder na
figura dos coordenadores dos projetos. Ausência de unidade para análise de prestações de
contas. Ausência de sistema informatizado para controle dos projetos. Entendimento de que
a aprovação do Relatório de Atividades da Fundação de Apoio em reunião anual do
Conselho Diretor-CONDIR é suficiente para avaliar a gestão dos projetos empreendidos.
Impropriedade na denominação ‘contrato’ para a quase totalidade dos ajustes firmados.
Efeitos Reais e Potenciais:
49. Descumprimento da legislação que rege a matéria, concentração de poder na figura dos
coordenadores dos projetos, não-segregação de funções, com conseqüente fragilidade dos
controles, uma vez que o coordenador do projeto executa e controla os pagamentos e o
gestor do ajuste apenas efetiva os pagamentos solicitados pelo coordenador (R).
Possibilidade de ocorrerem desvios e irregularidades por falta de avaliação da conformidade
pelo coordenador, mais capacitado para a avaliação técnica e dos resultados (P).
Esclarecimentos dos responsáveis:
50. Por meio de entrevistas, os responsáveis assumiram que há dificuldades de controle dos
projetos, principalmente aqueles custeados com recursos extra-orçamentários, ou
autofinanciados. Também afirmam que a universidade está empreendendo esforços para
implementar sistema informatizado para auxiliar o controle dos projetos (resposta ao Ofício
de Requisição 01-715/2006).
51. Também foram observadas algumas medidas adotadas pela UFPEL no sentido de
aprimorar seus controles. Conforme resposta ao Ofício de Requisição 01-715/2006 (f. 34),
embora a Universidade ainda não disponha de sistema informatizado para o
acompanhamento dos projetos desenvolvidos com as Fundações de Apoio, está em fase de
implantação o Sistema de Informações para o Ensino-SIE, adquirido da Universidade
Federal de Santa Maria, o qual, de acordo com a UFPEL, é um sistema integrado de
gerenciamento que visa facilitar o acesso às informações e agilizar os processos de
controle. Outra medida refere-se à aprovação de norma da UFPEL – Portaria 1.387, de
68

29/09/2006 – aplicável aos projetos desenvolvidos com a participação das Fundações de


Apoio (f. 190/197).
52. Em resposta ao Ofício de Requisição 06-715/2006, os responsáveis adotaram, conforme
expediente de f. 300/321, procedimentos para aprimorar a fiscalização dos ajustes.
Posteriormente, em complementação à resposta desse Ofício, a Pró-Reitoria Administrativa
da UFPEL informou a respeito do encaminhamento de ofícios às três Fundações de Apoio (f.
661/668) pelos quais as cientifica da necessidade de apresentarem ‘todos os contratos ou
convênios com programas ou projetos de ensino, pesquisa e extensão e, de
desenvolvimento institucional, científico e tecnológico mantidos com a UFPEL e com
entidades outras que esta Fundação esteja apoiando’, bem como de que deverão submeter
o balanço e o relatório, final ou parcial, individualizado, de gestão e atividades desenvolvidas
em cada contrato ou convênio, à aprovação do Conselho Universitário.
Conclusão da Equipe de Auditoria:
53. A UFPEL ainda não dispõe de estrutura adequada para o devido controle e fiscalização
da atuação de suas Fundações de Apoio, tampouco para o exame das prestações de
contas. Embora os ajustes, em sua maioria, disponham de previsão de entrega de
prestações de contas, é necessário acompanhamento institucional sistemático das
prestações entregues.
(...)
Ausência de Prestação de Contas
Situação Encontrada:
55. Tanto nos ajustes empreendidos com recursos federais, oriundos de dotações
consignadas nos Orçamentos da União, quanto naqueles cujos recursos sejam não-
orçamentários – ditos autofinanciados – não há a efetiva prestação de contas. O controle
ocorre, na grande maioria dos casos, mediante a apresentação pela Fundação de Apoio ao
coordenador do projeto de Demonstrativos mensais de Receita e Despesa. Os documentos
fiscais, que comprovam as despesas realizadas, bem como eventuais procedimentos
licitatórios realizados ficam sob guarda tão-somente das próprias fundações executoras.
Mesmo ao final do projeto não há apresentação pelas Fundações de Apoio nem cobrança
por parte da Universidade da prestação de contas.
56. Os ajustes firmados com as fundações, denominados indevidamente como ‘contratos’
enquanto deveriam ser tratados como ‘convênios’, conforme o itens 28/40, embora prevejam
como obrigação da contratada a apresentação de relatório mensal da aplicação dos
recursos recebidos por força do contrato e a apresentação da prestação de contas final após
seu término, não esclarecem que documentos nem a forma de apresentação desta
prestação de contas. Tampouco há normativos internos que indiquem a responsabilidade
pelo exame da conformidade dos recursos aplicados.
69

57. Em alguns casos, como nos de repasses do FINEP, há certas particularidades. Nos
termos do ‘Manual de preenchimento do formulário para apresentação de propostas
FAP/FNDCT’, a IFE, ‘executora’ do convênio, pode optar por Fundação de Apoio para
exercer a função de proponente (convenente) à qual compete a execução técnica e
financeira. Com essas características foram firmados os Convênios 01.03.0048.00 (CT-
INFRA III), 01.05.0483.00 (PRÓ-INFRA) e 01.06.0599.00 (INFRAPEL), todos entre o FINEP
e a Fundação Delfim Mendes da Silveira. Para esses ajustes constata-se que o controle por
parte da UFPEL é mais efetivo em face, sobretudo, das exigências do órgão concedente.
58. Os projetos custeados por recursos não-orçamentários são concentrados nos ajustes
firmados diretamente pelas unidades acadêmicas. Para esses ajustes, que muitas vezes
nem são de conhecimento da administração central da universidade, a prestação de contas
também restringe-se à apresentação de demonstrativos de receita e despesa elaborados
pela Fundação de Apoio, havendo situações em que as prestações de contas de recursos
de projetos foram elaboradas especialmente para a equipe de auditoria.
Critério:
59. Lei 8.958/1994; Decisão 321/2000-Plenário.
Evidências:
60. Entrevistas realizadas e documentação encaminhada pelo Departamento de Finanças e
Contabilidade/UFPEL (distribuída nas evidências dos demais achados). Expedientes
encaminhados pelas unidades em resposta ao Ofício 03-715-circular, a exemplo do Projeto
‘I Encontro Sul Brasileiro’ firmado entre a Faculdade de Meteorologia e a FSB (f. 669/671).
Causas:
61. Não-exigência de prestações de contas, dispersão da responsabilidade pelo controle
entre os coordenadores dos projetos, entendimento de que a aprovação do Relatório de
Atividades da Fundação de Apoio em reunião anual do Conselho Diretor-CONDIR constitui
prestação de contas e impropriedade na denominação ‘contrato’ para os ajustes firmados.
Efeitos Reais e Potenciais:
62. Impossibilidade de se aferir a correta utilização dos recursos e sua aplicação efetiva nos
projetos (R). Desvio dos recursos para finalidades diversas àquelas que motivaram seu
repasse (P).
Esclarecimentos dos responsáveis:
63. Ainda que não tenham sido solicitados esclarecimentos por escrito, a ausência de
delimitação entre o que é Universidade e o que é Fundação de Apoio bem como a falta de
normativos internos aplicáveis contribuem ao descontrole quanto ao exame da regularidade
da aplicação dos recursos repassados.
Conclusão da Equipe de Auditoria:
70

64. Embora as solicitações da equipe de auditoria com relação a documentos, notas fiscais
e licitações realizadas tenham sido prontamente atendidas pela Universidade, constatou-se
que esta sempre foi obrigada a recorrer às Fundações de Apoio para obter as informações.
65. As prestações de contas dos recursos geridos pela Fundação de Apoio devem conter,
pelo menos: Plano de Aplicação dos Recursos, Relatório de Execução Físico-financeira,
Demonstrativo de Receitas e Despesas, Relação de Pagamentos, Relação de Bens
Adquiridos, Produzidos ou Construídos, cópia do Termo de Aceitação Definitiva da Obra, se
for o caso, Extrato da Conta Bancária com a respectiva Conciliação e atas das licitações
realizadas, se houver.
66. Para os projetos financiados com recursos orçamentários, as prestações de contas
devem se submeter às regras previstas na IN STN 01/97.
(...)

Projeto sem Aprovação Formal Prévia da Instituição Apoiada


Situação Encontrada:
68. Verificou-se que alguns projetos, particularmente aqueles custeados com recursos
não-orçamentários, não foram submetidos em sua totalidade a prévia aprovação pelo
Conselho responsável no âmbito da UFPEL, conforme determinação nesse sentido contida
no art. 4º do Decreto 5.205/2004.
69. Alguns projetos são aprovados apenas no âmbito das Faculdades, ou até mesmo no
âmbito dos próprios Departamentos, sem que a direção da Universidade tome conhecimento
acerca dos mesmos. Nesses casos, o coordenador do projeto realiza as tratativas
diretamente com a Fundação de Apoio escolhida sem que a direção da Universidade tenha
conhecimento. Via de regra, essas situações ocorreram naqueles projetos em que a
participação da Fundação de Apoio presta-se basicamente ao gerenciamento financeiro dos
recursos arrecadados. Além disso, tais projetos, como se verá no achado seguinte, carecem
de formalização adequada no que tange à forma como se dará o relacionamento com a
Fundação de Apoio escolhida para apoiar o projeto.
70. Em contraponto à situação descrita, a maioria dos projetos de extensão possuem um
fluxograma de tramitação definido, sendo apenas firmados após aprovação pela Pró-Reitoria
de Extensão e Cultura - PREC, submetendo-se ao seguinte fluxo: 1) o Coordenador do
projeto – existindo formulário padronizado para os projetos de extensão – o submete à
aprovação de seu Departamento; 2) aprovado, o projeto submetido ao Conselho
departamental; 3) é encaminhado à PREC que solicita a abertura de processo; 4) o projeto é
examinado pelo COCEPE; 5) por fim, é encaminhado novamente à PREC.
71. Por fim, importa ressaltar que foram recentemente emitidas, por intermédio da Portaria
1.387 de 29 de setembro de 2006, as Normas Reguladoras de Prestação de Serviços na
71

UFPEL (f. 192/197), normas estas aplicáveis aos projetos desenvolvidos com a participação
das Fundações de Apoio, e que previram que os serviços prestados – classificação que
engloba neste caso também ao projetos – deverão ser autorizados pelo respectivo
Departamento e homologados no Conselho Coordenador do Ensino, Pesquisa e Extensão -
COCEPE.
Critério:
72. Lei 8.958/94 e art. 4º do Decreto 5.205/2004.
Evidências:
73. Entrevistas realizadas em Unidades selecionadas a respeito da relação de projetos
encaminhada em resposta aos Ofícios de Requisição 03 e 04-715/2006.
Causas:
74. Descontrole administrativo. Ausência de normatização específica à época.
Efeitos Reais e Potenciais:
75. Fragilização dos controles (R), descumprimento da legislação que rege a matéria (R).
Conclusão da Equipe de Auditoria:
76. A recente edição das Normas Reguladoras de Prestação de Serviços provavelmente
contribuirá para a diminuição de casos em que os projetos sejam desenvolvidos sem que
exista a prévia aprovação pelo órgão/conselho competente, no entanto entendemos, diante
da relevância da necessidade de que a administração superior da Universidade possua
conhecimento sobre os projetos desenvolvidos no âmbito de suas diversas Unidades,
especialmente com vistas a assegurar a sujeição aos normativos legais que sejam adotadas
medidas visando garantir o atendimento da recém editada norma.
(...)
Ausência de Formalização para as Avenças
Situação Encontrada:
78. Alguns projetos envolvendo a participação da Universidade não foram devidamente
formalizados. Cita-se como a exemplo o Projeto Psilídeo, que conta com recursos
originários de empresa privada. No âmbito deste projeto, embora haja a participação efetiva
da UFPEL por meio do Departamento de Fitossanidade/Faculdade de Agronomia, houve
ajuste somente entre a Fundação Delfim Mendes Silveira e a empresa partícipe.
Critério:
79. Lei 8958/94; Decreto 5.205/2004; Decisão 655/2002-Plenário.
Evidências:
80. Projetos com participação da FDMS: ‘Psilídeo’, firmado com empresa privada (f.
672/698); ‘Avaliação da Adequação e Cobertura da Pastoral da Criança e do Programa
Bolsa-Família do Governo Federal’, Pastoral da Criança (f. 699/706).
Causas:
72

81. Falta de normas institucionais.


Efeitos Reais e Potenciais:
82. Fragilização dos controles (R).
Esclarecimentos dos responsáveis:
83. Não foram solicitados esclarecimentos para a ocorrência.
Conclusão da Equipe de Auditoria:
84. Ainda que os ajustes tenham como partícipe somente a FDMS, os projetos são
executados sob coordenação de professores da UFPEL e/ou com recursos humanos e
materiais de unidades da Universidade. Há necessidade de ajuste específico entre a
Universidade e a Fundação de Apoio contratada no qual estejam expressos os direitos e
obrigações das partes, a forma e periodicidade das prestações de contas e objeto
claramente definido. O procedimento adotado para os projetos de recursos extra-
orçamentários carece de formalidades necessárias ao fiel controle da execução do objeto.
(...)
Pagamento de Taxa de Administração sem Embasamento em Critérios Objetivos
Situação Encontrada:
86. Constatou-se, no exame dos projetos desenvolvidos com as Fundações de Apoio, que
essas são remuneradas pelos serviços prestados com base em taxas de administração
fixadas com base em percentuais variáveis de 3 a 7% do total dos recursos geridos, ou seja,
de forma diversa do que entende esta Corte seja o adequado: pagamento de taxa de
administração fixada com base em critérios claramente definidos e nos custos operacionais
incorridos.
87. A cobrança de taxa de administração vinha sendo efetuada sem qualquer base
normativa interna da Universidade. O percentual incidente varia de acordo com o valor total
gerido no projeto, e também sofre alterações em decorrência da negociação direta entre o
coordenador do projeto e as fundações, sendo que, conforme informações obtidas em
entrevistas realizadas nas Unidades, o resultado desta negociação acarreta, muitas vezes, a
preferência de determinada fundação em detrimento de outra.
88. O início do regramento aplicável à cobrança das taxas de administração deu-se com a
recente edição das Normas Reguladoras de Prestação de Serviços (f. 192/197) que previu
que as fundações podem incluir nos projetos uma taxa de no máximo 7% incidente sobre o
orçamento total do projeto sendo que tal cobrança é vedada nos casos em que o projeto for
financiado com recursos orçamentários.
Critério:
89. Decisão 321/2000-Plenário; Acórdão 3067/2005-1ª Câmara.
Evidências:
73

90. Resposta encaminhada em atendimento ao Ofício de Requisição 05-715/2006 (f. 287,


288 e 299).
Causas:
91. Entendimento de que os percentuais cobrados são razoáveis para a cobertura dos
custos operacionais das Fundações de Apoio, sendo desnecessária a comprovação dos
mesmos.
Efeitos Reais e Potenciais:
92. Descumprimento da jurisprudência do TCU (R). Contratação com sobrepreço (P).
Conclusão da Equipe de Auditoria:
93. Entende-se que, quando a UFPEL firmar convênios com suas Fundações de Apoio para
o desenvolvimento dos projetos, é cabível o ressarcimento com base nos custos
operacionais incorridos pelas fundações. No entanto, entende-se que a simples estipulação
de percentuais para a efetivação dos referidos ressarcimentos não coaduna com o
entendimento desta Corte acerca da matéria, razão pela qual deve ser dirigida determinação
à UFPEL com vistas à adequação das cobranças.
(...)
Gestão de Recursos Financeiros em Instituição Bancária Vedada pela IN STN 01/97 para
Projetos Custeados pelos Orçamentos da União
Situação Encontrada:
95. No âmbito de alguns projetos, constatou-se a utilização de instituição bancária para
depósito e gestão de recursos financeiros oriundos dos Orçamentos da União em
divergência daquelas permitidas pelo art. 18, inciso III, da IN STN 01/97.
Critério
96. Art. 1º c/c o art. 18, inciso III, da IN STN 01/97.
Evidências:
97. Contratos 18/2005-Fonte 112000000 (f. 707/713), 46/2005-Fonte 112000000 (f.
520/652), 06/2006-Fonte 100000000 (f. 419/442) e 31/2006-Fonte 100000000 (f. 414/418),
entre outros, todos firmados com a Fundação Simon Bolívar.
Causas:
98. Preferência da Fundação Simon Bolívar por determinada instituição bancária, omissão
da UFPEL com relação ao cumprimento no art. 18, inciso III, da IN STN 01/97 nos termos
dos ajustes, impropriedade na denominação do ajuste (contrato, quando se reveste das
características de convênio, conforme tratado nos itens 2/14).
Efeitos Reais e Potenciais:
99. Fragilização dos controles (R). Possibilidade de escolha de instituição financeira para
atender interesses privados (P).
Esclarecimentos dos responsáveis:
74

100. Segundo a Fundação Simon Bolívar, a escolha do Banco Santander ocorreu em face
de essa instituição bancária já ser sua parceira em outros projetos.
Conclusão da Equipe de Auditoria:
101. Para os projetos que envolvem recursos financeiros originários dos orçamentos da
União – em que devem ser abarcados aí os oriundos de convênios da UFPEL com outros
órgãos da Administração Pública – devem ser seguidas as disposições da IN STN 01/97.
Esta norma prevê, em seu art. 18, inciso III, o seguinte:

‘Art. 18. A liberação de recursos financeiros, em decorrência de convênio, obedecerá as


seguintes disposições:
(...)
III - sendo o convenente órgão ou entidade da Administração Pública Federal, não integrante
da conta única, ou instituição de direito privado os recursos ficarão depositados e geridos no
Banco do Brasil S/A, na Caixa Econômica Federal ou em outra instituição bancária cujo
controle acionário a União detenha;’

(...)
Não-Aplicação dos Rendimentos Financeiros no Objeto dos Projetos
Situação Encontrada:
103. Em análise dos extratos de contas bancárias relativos a determinados projetos,
constatou-se a ocorrência de lançamentos sem a correspondente comprovação das
despesas nos respectivos demonstrativos de receita e despesa. A tabela a seguir
exemplifica alguns dos lançamentos verificados.

ProjetoDescrição conforme extrato Débito (D) / Crédito (C) Data Valor


UNIPAMPA – Obras
c/c 13.000441-0

(Contrato 46/2005) transf. entre c/c D 06/04/2006 R$ 22.216,76


transf. valores p/c/c mesmo titular D 02/05/2006 R$ 39.642,59
débito contabilidade D 02/06/2006 R$ 50.260,00
débito contabilidade D 05/07/2006 R$ 69.822,73
débito contabilidade D 23/08/2006 R$ 51.437,62
transf. valores p/c/c mesmo titular D 18/10/2006 R$ 42.000,00
UNIPAMPA – Material de consumo
c/c 13.000435-5
75

(Contrato 46/2005) transf. valores p/c/c mesmo titular D 03/05/2006 R$ 7.905,52


débito contabilidade D 02/06/2006 R$ 10.050,00
débito contabilidade D 05/07/2006 R$ 13.966,57
débito contabilidade D 08/08/2006 R$ 10.287,52
Recuperação da Área Física do Celeiro Educacional
c/c 6708-3 Transferência Sem CPMF D 22/06/2006 R$ 2.035,00
Transferência Sem CPMF D 04/08/2006 R$ 3.399,20
Transferência Sem CPMF D 05/09/2006 R$ 3.699,51
Transferência online C 18/10/2006 R$ 9.133,71
Transferência online D 19/10/2006 R$ 50.000,00
Projeto Apoio Financeiro P/ Mudança Sede UFPEL
c/c 437-9 (Contrato 06/2006)débito contabilidade D 05/07/2006 R$ 3.414,22
débito contabilidade D 08/08/2006 R$ 7.098,39

Critério:
104. Decreto 93.872/86 e IN STN 01/97.
Evidências:
105. Extratos bancários e Demonstrativos de Receita e Despesa relativos aos Contratos
46/2005 (f. 520/652), 01/2006 (f. 475/519), 02/2006 (f. 443/474), 06/2006 (f. 419/442).
Resposta da FSB ao Ofício de Requisição 07-715 (f. 714).
Causas:
106. Utilização indiscriminada de termo de contrato, com fundamento no inciso XIII do art.
24 da Lei 8.666/93 c/c o art. 1º da Lei 8.958/94, para formalização das avenças entre a
UFPEL e suas Fundações de Apoio.
Efeitos Reais e Potenciais:
107. Prejuízo à execução do objeto dos convênios, desvio de finalidade (P).
Esclarecimentos dos responsáveis:
108. Em atenção ao Ofício de Requisição 07-715, a FSB esclarece que os lançamentos em
conta-corrente relacionados são oriundos dos rendimentos de aplicações, valores estes
transferidos posteriormente às suas contas de origem.
Conclusão da Equipe de Auditoria:
109. Conforme tratado nos itens 28/40, a respeito da formalização inadequada para os
ajustes, principalmente quando há repasse antecipado de recursos, esta irregularidade
decorre da utilização indiscriminada do termo de contrato. Erroneamente, a Fundação de
Apoio toma os valores a ela transferidos como se fossem de sua propriedade. No entanto,
em virtude de esses ajustes terem características de ‘convênios’, os recursos transferidos,
76

bem como o rendimento das aplicações a eles relativos, devem ser aplicados no objeto
conveniado ou seus saldos restituídos em caso de não terem sido utilizados.
110. Em que pese a informação de que os valores relativos aos lançamentos questionados
serão restituídos às contas de origem, cabe determinação à UFPEL que acompanhe este
procedimento.
(...)
Projetos que não se Enquadram como Apoio a Pesquisa, Ensino, Extensão ou
Desenvolvimento Institucional, Científico e Tecnológico
Situação Encontrada:
112. O Tribunal tem se posicionado no sentido de que na contratação com base no art. 1º da
Lei 8.958/94 os serviços contratados devem estar relacionados a atividades de ensino,
pesquisa ou desenvolvimento institucional, os quais não se confundem com atividades de
manutenção. Além disso, o contrato deve estar diretamente vinculado a projeto com prazo
de conclusão e produto bem determinados, sendo vedada a contratação de atividades
continuadas e de objeto genérico.
113. Não obstante, foram verificados contratos firmados pela UFPEL com suas Fundações
de Apoio sem qualquer vinculação a projetos de pesquisa, ensino, extensão, tampouco
desenvolvimento institucional, científico e tecnológico.
114. Citam-se os seguintes contratos:
Contrato 01/2006 (FSB)
115. O objetivo foi a execução do projeto ‘Apoio financeiro para complementação de
despesas de capital’. Foram transferidos R$ 395.000,00 os quais, segundo Plano de
Trabalho, devem ser utilizados para aquisição de 85 microcomputadores e de um ônibus
para transporte de passageiros. Até o final da auditoria apenas o ônibus havia sido
adquirido.
Contrato 02/2006 (FSB)
116. O objetivo foi a aplicação do valor de R$ 317.848,49 para a execução do projeto
‘Recuperação da área física do celeiro educacional’. Pelo Plano de Trabalho, verifica-se que
o objeto é a reforma da Escola de Agronomia da UFPEL. Foi realizada, pela FSB, licitação
na modalidade Tomada de Preços (n.º 002/2006), já havendo ato de proclamação da
empresa vencedora.
Contrato 06/2006 (firmado com a FSB)
117. Objetivou-se a execução do projeto ‘Apoio financeiro destinado à mudança de sede da
UFPEL’. Por meio deste instrumento foram transferidos à Fundação R$ 700.000,00, em
20/01/2006, com a finalidade, de acordo com o Plano de Trabalho, de aquisição de imóvel
localizado no centro histórico de Pelotas para sediar a Reitoria da UFPEL. Até o fim dos
trabalhos o prédio ainda não havia sido comprado.
77

118. Observa-se, assim, que os objetos dos mencionados contratos restringem-se a


aquisições de imóvel, equipamentos de informática, veículo e a reforma de prédio. Embora
tenham sido intitulados ‘projetos’ verifica-se que não há qualquer relação a atividades de
apoio autorizadas pela legislação aplicável às Fundações de Apoio.
119. Destaca-se, ainda, que há estrutura adequada na Universidade para a realização de
licitações.
Critério:
120. Lei 8958/94; Decreto 5.205/2004; Decisão 321/2000-Plenário, item 8.1.1.d; Acórdão
1.459/2006-Plenário.
Evidências:
121. Termos de Contratos celebrados entre a UFPEL e a FSB (01-f. 475/519, 02-f. 443/474 e
06/2006-f. 419/442) e Planos de Trabalho associados aos projetos.
Causas:
122. Liberação de créditos orçamentários pelo Ministério no final do exercício e
impossibilidade de efetuar reprogramação orçamentária, vedada pela LDO, acarretando a
necessidade de garantir os recursos mediante o empenho à Fundação de Apoio por força da
contratação por dispensa de licitação.
Efeitos Reais e Potenciais:
123. Descumprimento da legislação que rege a matéria, impossibilidade de exigir garantias
contratuais próprias dos contratos administrativos, já que contratos são firmados entre os
fornecedores e Fundação de Apoio e não com a entidade pública (R). Dificuldade de garantir
o atendimento aos princípios vinculados ao processo de compras e contratação de obras
(isonomia, publicidade, moralidade), considerando que as licitações são realizadas pela
Fundação de Apoio, riscos de prejuízos por inadimplemento sem viabilidade de imputar
sanções e efetuar a cobrança da dívida com os meios coercitivos de que dispõe a
Administração Pública (P).
Esclarecimentos dos responsáveis:
124. Embora a equipe não tenha solicitado justificativa por escrito, os responsáveis
entrevistados na Universidade esclareceram que as contratações em exame são efetuadas
como único meio disponível para garantir o aproveitamento dos recursos orçamentários,
liberados ao final do exercício, já que não há tempo hábil para a realização dos
procedimentos licitatórios.
Conclusão da Equipe de Auditoria:
125. A forma de contratação, ora examinada, para execução de serviços de obras e para
aquisição de equipamentos e imóveis, sem o consistente amparo nos normativos que
regulam a relação das IFES com Fundações de Apoio, origina-se claramente na
necessidade de garantir os recursos orçamentários que são costumeiramente liberados pelo
78

órgão ministerial próximos do encerramento do exercício, constrangendo a Administração da


UFPEL a adotar deliberadamente a contratação de alguma Fundação de Apoio, que permita
o empenho dos recursos e sua conseqüente inscrição nos Restos a Pagar, para pagamento
no exercício seguinte, eis que não há tempo hábil para proceder aos processos de licitação
para a execução das ações previstas pela própria Universidade.
126. Verifica-se que não têm sido efetivas as determinações desta Corte de Contas para
que os gestores das IFES se abstenham de contratar as Fundações de Apoio na situação
ora descrita, pois os administradores optam pelos princípios da continuidade administrativa
e da eficiência, em detrimento da legalidade, enquanto persiste a iniqüidade no sistema
orçamentário de não permitir, para as fundações, a reprogramação dos saldos
orçamentários liberados no final do ano. Outrossim, entende-se que, nas situações não
relacionadas aos recursos liberados em final de exercício, há que se coibir a contratação de
fundações para serviços de obras e para aquisição de equipamentos e de bens móveis e
imóveis.
127. Em vista dos inúmeros julgados deste Tribunal no sentido de que serviços de natureza
administrativa, tais como os ora verificados, não podem ser objeto de contratação com base
no art. 1º da Lei 8.958/94, exceto se relacionados a atividades de ensino, pesquisa ou
desenvolvimento institucional, o qual não se confunde com atividades de manutenção, são
cabíveis as determinações abaixo propostas para evitar que as Fundações de Apoio
venham, ilegalmente, a assumir as atribuições administrativas das universidades.
(...)
Contratação de Pessoal para o Desenvolvimento de Atividades de Caráter Permanente
Situação Encontrada:
129. Acerca da contratação de pessoal para o desenvolvimento de atividades de caráter
permanente no âmbito da UFPEL, é necessário, antes de mais nada, caracterizar duas
situações distintas: contratação de pessoal para o suprir deficiência no quadro de pessoal e
contratação de pessoal para a realização de serviços passíveis de terceirização.
130. A primeira situação diz respeito àqueles funcionários contratados pelas fundações para
suprir carências no quadro de servidores da Universidade, tais como os contratados para as
funções de auxiliar de registros acadêmicos e técnicos de informática.
131. A segunda situação refere-se aos projetos que prevêem contratação de pessoal para o
desenvolvimento de atividades que poderiam ser terceirizadas por empresas prestadoras de
serviço, tais como limpeza, conservação, guarda predial, dentre outros. Alguns dos projetos
desenvolvidos nesses moldes já foram no passado prestados por empresas terceirizadas,
porém, a insatisfação dos dirigentes da UFPEL com os serviços prestados pelas empresas
vencedoras das respectivas licitações, dentre outras razões, aliada a facilidade de contratar
79

tais serviços por intermédio das Fundações de Apoio acabou por gerar uma gama de
projetos com esse fim.
132. Desenvolvido pela Fundação Simon Bolívar, o Projeto Interdisciplinar de Serviços
Técnicos e de Apoio - PISTA contrata 354 funcionários para o desempenho das mais
diversas atribuições (vide tabela f. 968/974), algumas delas podendo enquadrar-se na
primeira situação relatada (função de auxiliar de registros acadêmicos, 108 contratados)
enquanto outras possam ser enquadradas na segunda situação (função de serviços gerais e
agentes de portaria, 125 e 76 contratados, respectivamente).
133. Com a participação da Fundação de Apoio Universitário, seis projetos abrangem a
contratação de pessoal: Projeto Modernização (78 funcionários contratados), Projeto de
Operacionalização do Centro Agrotécnico Visconde da Graça (39 funcionários contratados),
Projeto de Operacionalização da Agência Lagoa Mirim (26 contratados) e Projeto Curso
Sementes (1 contratado), Projeto Toque de Vida (5 contratados), Projeto Restaurante Escola
- PIRES (35 contratados). A esses contratados são delegadas as mais diversas funções (f.
289/298), e a semelhança do caracterizado no projeto descrito no parágrafo anterior,
algumas contratações decorrem da carência de pessoal próprio da Universidade e algumas
derivam da facilidade de se contratar as Fundações em detrimento da realização do
procedimento licitatório para a terceirização dos serviços.
Critério:
134. Lei 8.958/94; Decreto 5.205/2004; Acórdão 216/2005-Plenário; Lei 8.666/93.
Evidências:
135. Relação dos empregados entregue em resposta ao Ofício de Requisição 05-715/2006
(f. 289/298). Documentos encaminhados em resposta ao Ofício de Requisição 04-715/2006.
Causas:
136. Não-provimento dos cargos vagos por meio de concurso público por falta de
autorização do Ministério da Educação, formulação de projetos de sistematização de rotinas
e melhoria de processos de trabalho como sendo de desenvolvimento institucional,
interpretação das disposições constantes no artigo 3º do Decreto 5.205/2004. Preferência
pela contratação das fundações em detrimento da realização de procedimentos licitatórios
para a terceirização de alguns serviços.
Efeitos Reais e Potenciais:
137. Exercício das atribuições de cargos públicos por parte de empregados das Fundações,
fuga de procedimento licitatório (R). Descumprimento dos princípios da moralidade e
impessoalidade (P).
Esclarecimentos dos responsáveis:
138. Relativamente ao Projeto PISTA, em resposta ao questionamento dirigido por meio do
Ofício de Requisição 07-715/2006, o Pró-Reitor Administrativo informou que (f. 373):
80

No entanto, quanto ao Projeto PISTA, a Administração já determinou o lançamento de


processo licitatório, assim como já notificou a Fundação Simon Bolívar de que o contrato
continuará vigente apenas pelo tempo estritamente necessário para a realização do certame
e a contratação do prestador de serviços, conforme cópias anexas do processo n.º
23110.008421/2006-31 e da Notificação n.º 007/2006-PRA/UFPEL.
139. Relativamente ao Projeto Modernização, por intermédio de documentação obtida junto
à Procuradoria da República em Pelotas, contatou-se que o mesmo foi desmembrado em
projetos mais específicos e que alguns contratados foram dispensados.
Conclusão da Equipe de Auditoria:
140. O Decreto 5.205/2004 aventa a possibilidade de contratação de pessoal para
desenvolvimento dos projetos, mas não há essa previsão na Lei 9.858/1994, que prevê, em
seu art. 4ª, § 1º, tão-somente a concessão de bolsas. Além disso, não é admissível que tal
faculdade seja utilizada para contornar a não-realização de concursos públicos para
provimento das vagas e encobrir as deficiências de pessoal das Universidades com
contratações que se perpetuam no tempo e cuja destinação do trabalho é o exercício de
atividades permanentes e rotineiras da instituição.
141. Ainda que a Universidade tenha apresentado projetos a título de desenvolvimento
institucional para justificar as contratações de pessoal, constata-se que alguns não podem
ser assim entendidos, pois direcionam-se a atividades de aperfeiçoamento e sistematização
de rotinas e processos de trabalho, contando com empregados nas funções de: serviços
gerais, auxiliar de registros acadêmicos, agente de portaria, técnico em informática, auxiliar
de jardinagem, auxiliar de laboratório, dentre outros
142. Sobre os projetos de desenvolvimento institucional, assim se pronunciou o Ministro
Guilherme Palmeira no Acórdão 328/2005 – Plenário:
‘Se assim não fosse, a simples automatização de procedimentos, a aquisição de
equipamentos mais eficientes, a reforma das instalações de uma unidade, a ampliação das
opções de atendimento aos clientes, o treinamento de servidores, a reestruturação
organizacional, a simples contratação de serviços de gerenciamento de restaurante
universitário com a contratação de cozinheiros, chapistas, operadores de caldeira, como o
caso em tela, e um sem-número de outras ações que, de alguma forma, fossem
rotineiramente desenvolvidas pela universidade ou que pudessem significar algum
incremento da sua atuação, poderiam ser entendidas como pesquisa, ensino e
desenvolvimento institucional.’
143. Ademais, tendo em vista que não há a previsão de contratação de pessoal na Lei
9.858/1994, entende-se necessário o pronunciamento dessa Corte de Contas a respeito da
legalidade do art. 3º do Decreto 5.205/2004.
81

144. Entende-se adequado determinar a UFPEL que substitua os empregados das


Fundações de Apoio tão logo sejam providos os cargos por meio de concurso público. Tal
determinação está amparada pelo recente Acórdão 1.520/2006-Plenário, que, em seu item
9.1.4. prorrogou, até 31/12/2010, os prazos fixados por deliberações anteriores que tenham
determinado a órgãos e entidades da Administração Direta, autárquica e fundacional a
substituição de terceirizados por servidores concursados.
145. Ademais, deve-se determinar a UFPEL que desenvolva estudos com vistas a substituir,
onde cabível, a contratação direta das fundações para a prestação de serviços cabíveis de
terceirização pela realização do devido procedimento licitatório.
(...)
Não-Transferência dos Saldos dos Projetos Encerrados para a Conta Única
Situação Encontrada:
147. Em grande parte dos projetos firmados, a atuação da Fundação de Apoio se inicia por
meio de abertura de conta-corrente bancária para movimentação financeira dos recursos.
Constatou-se que ao término de alguns projetos, os saldos, que constituem verba pública,
não são depositados na conta única do Tesouro Nacional.
148. Esse é o caso do Projeto ‘5º Poder Escolar’, da Faculdade de Educação, em que foi
aberta conta-bancária pela FDMS para depósito de inscrições dos participantes e
contribuição de apoiadores. Verificou-se, no entanto, que a conta-corrente foi utilizada não
apenas para evento ‘5º Poder Escolar’, referente a 2005, mas também para o 6º, de 2006, e,
muito provavelmente, será utilizada para os eventos anuais subseqüentes. Como informado
na documentação relativa à prestação de contas do ano de 2005, o saldo do exercício é
mantido em conta para o evento do ano seguinte. Outro exemplo é o do Projeto
‘Especialização em Educação’, cujo saldo em conta-corrente de um exercício é mantido em
conta para utilização na seleção de candidatos do exercício seguinte. Assim, o saldo do
projeto nunca é depositado na conta única do Tesouro Nacional, sendo gerenciado pela
Fundação de Apoio até ser zerado.
149. Em outra constatação detectou-se a transferência de saldo, ainda que de valor irrisório,
para a Fundação contratada.
Critério:
150. Artigos 56 da Lei 4.320/64 e 1º do Decreto 93.872/86; Decisão 655/2002 – Plenário.
Evidências:
151. Respostas oferecidas pelas Faculdade de Meteorologia e Faculdade de Educação ao
Ofício de Requisição 03-715-circular (f. 669/671), expedientes relativos ao Projeto “5º Poder
Escolar” (f. 715/727).
Causas:
152. Facilidade de utilização do recursos quando esse é mantido fora do orçamento.
82

Efeitos Reais e Potenciais:


153. Descumprimento do princípio de unidade de tesouraria (R). Desvio de recursos (P).
Esclarecimentos dos responsáveis:
154. Embora não tenham sido solicitados esclarecimentos formais sobre a ocorrência,
constata-se que tal procedimento é adotado para agilizar a utilização dos recursos.
Conclusão da Equipe de Auditoria:
155. A Lei 8.958/94 é clara ao definir que um projeto é composto por um conjunto de
operações que, entre outros atributos, são limitadas no tempo. Assim, por serem por prazo
determinado, entende-se que o procedimento correto é que, ao término dos projetos, os
saldos sejam recolhidos à conta única do Tesouro Nacional.
(...)
OUTRAS SITUAÇÕES ENCONTRADAS
Indícios de Irregularidade Relativos aos Projetos PISTA e UNIPAMPA – Objeto de Análise
em Processo Específico (TC 024.268/2006-2)
Breve Histórico
157. A ‘Proposta Pedagógica do Projeto Interdisciplinar de Serviços Técnicos e de Apoio’ –
PISTA, aprovada por resolução do Conselho Coordenador de Ensino, Pesquisa e Extensão
– COCEPE, em reunião de 10/08/2005, objeto da Ata 13/2005, resultou na assinatura do
Contrato 18, de 16/08/2005, com a Fundação Simon Bolívar.
158. O ajuste, firmado mediante dispensa de licitação com fundamento no art. 24, XIII, da
Lei 8.666/93, teve por objeto ‘a aplicação, pela contratada, dos recursos destinados a
atividades de Produção, ensino, Pesquisa e Extensão a serem desenvolvidas pelo Projeto
Interdisciplinar de Serviços Técnicos e de Apoio (PISTA), no valor de R$ 6.100.392,00’. O
projeto, apresentado pela Pro-Reitoria Administrativa, alocou inicialmente em seu
cronograma de execução o montante de R$ 6.058.440,00 a título de ‘contratação de
pessoal’ – foram previstas 149 vagas, sendo oitenta para a função de ‘serviços gerais’, e 55
para a função de ‘agente de portaria’, entre outras – , isto é, mais de 99% do valor total
contratado foi destinado a contratação de pessoal, distribuindo-se o pouco restante entre
‘instalação de software’ e ‘materiais de segurança’.
159. Já no âmbito do projeto UNIPAMPA, foi firmado o Contrato 46, de 30/12/2005, que teve
por objeto a execução de ações visando à implantação dos campi da Universidade Federal
do Pampa. A rigor, o termo de contrato previu apenas ‘a aplicação, pela contratada, dos
recursos no valor de R$ 14.494.500,00, relativos a execução do projeto ‘expansão dos
campi da UFPEL’’. Os recursos financeiros provêm do Convênio 245/2005 (SIAFI 539362),
firmado entre o Ministério da Educação, por intermédio da Secretaria de Educação Superior,
e a UFPEL.
83

160. Esta Unidade Técnica do TCU, ao buscar subsídios para a execução da presente
auditoria, solicitou ao Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul-MPE/RS
informações a respeito dos resultados de sua ação fiscalizadora junto às diversas fundações
localizadas no Estado, em vista de sua competência para velar pelo funcionamento das
fundações privadas. Como resultado, obteve-se, entre outras informações, documento
elaborado pelo MPE/RS em que foram apontados indícios de graves irregularidades
cometidas na execução de contratos celebrados entre a UFPEL e a Fundação Simon
Bolívar.
161. Com base nesses elementos, foi autuado processo no Tribunal (TC 024.268/2006-2)
cuja análise concentra-se nos contratos relativos aos Projetos PISTA (Contrato 18/2005) e
UNIPAMPA (Contrato 46/2005). Os indícios de irregularidade detectados foram os seguintes:
- contratação direta de fundação de direito privado sem estrutura adequada para a
prestação dos serviços;
- contratação de fundação para atividades não relacionadas a projetos de ensino, pesquisa,
extensão ou desenvolvimento institucional;
- pagamento de taxa de administração na execução de contrato;
- objeto vago e indefinido;
- apropriação indevida dos rendimentos de aplicações financeiras – desvio de finalidade;
- pagamento antecipado.
162. Ante esses indícios de irregularidades foi, por fim, elaborada proposta de realização de
Inspeção na UFPEL com o objetivo de apurar os indícios de irregularidades, para fins de
exame da regularidade dos projetos PISTA e UNIPAMPA – Contratos 18 e 46/2005,
respectivamente, – e suspensão cautelar do Contrato 46/2005, entre outras propostas.
163. A proposta foi submetida ao exame do ministro-relator, Walton Alencar Rodrigues, que,
em Despacho de f. 95-A/97 do referido processo, conheceu da Representação e manifestou
acolhimento à proposta da Unidade Técnica.
164. Assim, em vista de os Contratos 18 e 46/2005, firmados entre a UFPEL e a FSB, serem
objeto de processo próprio, entende-se mais adequado o tratamento de eventuais
irregularidades de caráter específico atinentes a esses ajustes ser realizado no âmbito do
TC 024.268/2006-2. Convém, ainda que sucintamente, apresentar as informações
constatadas pela equipe de auditoria relativas a esses dois contratos, destacando que os
documentos a eles pertinentes serão juntados por cópia aos demais expedientes do
mencionado processo.
Constatações da equipe de auditoria – Projeto PISTA
165. Até o final do período de execução da auditoria o contrato já havia sido aditado nove
vezes e seu valor aumentado para R$ 15.206.352,11. O número de pessoas contratadas,
que inicialmente era de 149, passou, conforme informado em atendimento a solicitação da
84

equipe de auditoria, para 354, distribuídas nas mais diversas funções, conforme tabela a
seguir:

Relação atual de contratados no âmbito do Projeto PISTA


Função Contratados
Administrador de prédio 2
Agente de portaria 76
Aux. jardinagem 3
Aux. laboratório 3
Aux. necropsia 2
Aux. registros acadêmicos 108
Auxiliar de bioterismo 8
Capataz 2
Carpinteiro 1
Encarregado recursos humanos 1
Fiscal de obras 1
Fiscal produção 1
Gerente 1
Instalador elétrico 1
Instalador hidráulico 1
Operadores de máquina 3
Pedreiro 2
Pintor 2
Serralheiro 1
Serviços gerais 125
Técnico manejo acomp. reab. fauna 1
Técnico de laboratório 1
Técnico em informática 7
Técnico em química 1
TOTAL354

166. A respeito do ajuste, já houve manifestação do Ministério Público Federal na cidade de


Pelotas. Foi elaborada a Recomendação PRM/PEL 09, de 31/08/2006, relativa ao
procedimento administrativo 1.29.005.000026/2006-38, que visa investigar as contratações
realizadas pelas Fundações de Apoio da UFPEL para o desempenho de atividades
permanentes no âmbito da Universidade (f. 728/739).
85

167. Segundo depoimentos coletados pela Procuradoria junto aos gestores da UFPEL, o
projeto envolve serviços de portaria, limpeza, manutenção predial, pessoal de laboratório,
jardinagem, bioterismo e registros acadêmicos. Em abril de 2006, além de pessoal
contratado (280), participam cinqüenta professores e 150 estagiários sem remuneração. A
seleção e contratação seriam feitas pelo Comitê Gestor do Projeto, e não pela Fundação.
Os recursos para o custeio do projeto seriam os mesmos anteriormente atribuídos para a
realização de contratações terceirizadas.
168. A Procuradoria, em vista de a contratação de pessoal para o desempenho de
atividades permanentes no âmbito das universidades pelas Fundações de Apoio ser vedada
pela Lei 8.958/94, verificou que as atividades desempenhadas dentro do projeto PISTA se
enquadram no conceito de necessidades de caráter permanente da instituição, infringindo
jurisprudência do TCU (citou o Acórdão 1.516/2005-Plenário). Também opinou pela
ilegalidade do contrato firmado entre a Fundação de Apoio e a Universidade com
fundamento na dispensa de licitação prevista no art. 24, XIII da Lei 8.666/93. A natureza do
objeto do contrato, que não resulta em produto bem definido, também foi questionada.
169. Por fim, o MPF recomendou à UFPEL e à FSB que promovam o cancelamento do
projeto PISTA, com a rescisão do Contrato 18/2005, e a realização de licitação para a
contratação de empresas que realizem os serviços de limpeza, segurança e manutenção
predial no âmbito da instituição.
170. A diretora-presidente da Fundação apresentou, em 21/09/2006, proposta visando a
elaboração de Termo de Ajuste de Conduta-TAC (f. 740/741). Relativamente às funções
existentes no plano de carreira das IFEs (Lei 11.091/2005) e que necessitem de
disponibilidade orçamentária pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e da
oferta de vaga pelo Ministério de Educação, solicitou a redução gradual à medida que sejam
ofertadas vagas. No que concerne às funções a serem terceirizadas – agente de portaria e
serviços gerais – afirmou que ocorrerá terceirização, devendo a UFPEL elaborar o edital
quinze dias após a assinatura do TAC com sua publicação, devendo a empresa vencedora
atuar no máximo até 01/02/2007. Sugeriu, ainda, que algumas funções devam ser mantidas
em Programas e Projetos Especiais devido a suas peculiaridades – auxiliar de bioterismo,
técnico de manejo de fauna silvestre (nível médio), técnico de manejo e reabilitação de
fauna silvestre (nível superior) e auxiliar de jardinagem. Essas funções seriam mantidas pela
UFPEL dentro dos programas específicos existentes junto às Fundações.
171. Até o final dos trabalhos da presente equipe, o MPF ainda não havia se manifestado
sobre a proposta.
172. A última informação disponível sobre a questão dá conta de que a Pré-Reitoria
Administrativa da UFPEL (final do expediente de f. 366/373), em relação ao Projeto PISTA,
já foi determinado o lançamento de processo licitatório, assim como já foi notificada a
86

Fundação Simon Bolívar de que o contrato continuará vigente apenas pelo tempo
estritamente necessário para a realização do certame e a contratação do prestador de
serviços.
Constatações da equipe de auditoria – Projeto UNIPAMPA
173. O objeto engloba obras, serviços, mobiliários, equipamentos e material de consumo,
cabendo à Fundação de Apoio a realização de licitações – cujos procedimentos foram
amostralmente verificados pela equipe – e pagamentos.
174. Um primeiro ponto que chamou a atenção foi a realização de pagamento antecipado
das despesas, sem observância do processo legal de liquidação. Esse fato ocorre, na
realidade, por uma falta de critério da Universidade para denominar, de forma geral, os
ajustes com suas Fundações de Apoio. Conforme tratado no item 28/40, relativo à
inadequação na formalização dos ajustes, a denominação e o tratamento mais apropriados
para as avenças firmadas com a participação das Fundações de Apoio – ao menos para sua
grande maioria – é “convênio”, cuja natureza jurídica pressupõe interesses comuns dos
partícipes.
175. Outra possível irregularidade é o fato de o objeto executado ser exatamente aquele do
Convênio 245/2005 (SIAFI 539362), firmado entre a Secretaria de Educação Superior do
Ministério da Educação e a UFPEL, pelo qual caberia à UFPEL responsabilizar-se pela
execução direta do convênio, não por meio de terceiros.
176. A não-apropriação dos rendimentos da aplicação financeira no objeto dos projetos
também foi objeto de tópico específico, conforme itens 103/111.
CONCLUSÃO
177. A principal constatação da auditoria é a deficiência nos controles institucionais da
UFPEL com relação aos projetos firmados com suas Fundações de Apoio (itens 41/54). A
carência na fiscalização pôde ser verificada pelo desconhecimento, por parte da
Universidade, do universo das atividades desenvolvidas em conjunto com as fundações e
pela falta de estrutura adequada para o devido controle e fiscalização. Para os projetos
custeados por recursos originários dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social, cuja
fiscalização é realizada pelas instâncias superiores da Universidade, o controle é um pouco
mais efetivo, especialmente, nos casos de recursos oriundos de convênios, pelas exigências
do órgão concedente.
178. Já para os projetos custeados com recursos não-orçamentários, ou autofinanciados,
empreendidos pelas unidades acadêmicas e por elas fiscalizados a situação é mais grave.
Esses projetos, que muitas vezes nem são de conhecimento da administração central da
Universidade, apesar de possuírem fiscal nomeado, também não são efetivamente
fiscalizados, visto que, na maioria das oportunidades, tal indicação tem caráter apenas
formal, não sendo preparados adequadamente os servidores para desempenharem tal
87

função no sentido de atendimento efetivo das disposições legais e análise da execução


financeira dos projetos. A falta de normativos específicos que disponham sobre o
relacionamento com suas Fundações de Apoio é um dos fatores principais para tal quadro.
179. Ressalte-se que no curso dos trabalhos foram constatados esforços da Universidade
para melhorar seus controles tais como a implementação sistema informatizado para auxiliar
o controle dos projetos, a aprovação da Portaria UFPEL 1.387, de 29/09/2006 que dispõe
sobre Normas Reguladoras de Prestação de Serviços na UFPEL, entre outras iniciativas
para aprimorar a fiscalização dos ajustes. Espera-se que com essas medidas, somadas às
determinações propostas, inclusive para a sistematização das prestações de contas (itens
55/67), sejam aprimorados os controles e a fiscalização.
180. Outra constatação relevante concerne à impropriedade na denominação e tratamento
aos ajustes firmados entre a UFPEL e suas Fundações de Apoio. Os ajustes, salvo algumas
exceções, são intitulados como contrato ao passo que possuem todas as características da
modalidade convênio (itens 28/40). O melhor disciplinamento da forma dessas avenças, se
contrato ou convênio, é necessário para o atendimento dos requisitos para cada tipo de
ajuste, principalmente, para a adequação do tratamento e da fiscalização a serem realizados
pela UFPEL e também pelos órgãos de controle. Deve-se ressaltar que nos casos em que
seja aplicável a modalidade convênio deve-se observar a aplicação da legislação federal
que institui normas para licitações e contratos da administração pública, referente à
contratação de obras, compras e serviços e, ainda, especialmente no caso de os recursos a
serem aplicados advirem do Orçamento da União, também devem ser observadas as
normas que disciplinam a celebração de convênios, no caso a IN STN 01/97, ora em vigor.
181. A formalização de avenças mediante contrato de Fundação de Apoio com fundamento
no inciso XIII do art. 24 da Lei 8.666/92 c/c o art. 1º da Lei 8.958/94 não é descartada. No
entanto, deve-se considerar, entre outras exigências, que esses ajustes somente podem ser
firmados no caso de os objetos contratados para dar apoio à Universidade serem
relacionados às finalidades e à área de atuação das fundações, isto é, sejam exercidos em
caráter personalíssimo por essas, devendo-se observar, ainda, outras disposições da Lei
8.666/93.
182. Uma impropriedade associada à formalização inadequada para os ajustes diz respeito
à não-aplicação dos rendimentos da aplicação financeira no objeto dos projetos (itens
103/111). Em alguns casos observou-se a transferência de valores relativos a rendimentos
de aplicações financeiras para outras contas. No entanto, em virtude de os ajustes terem
características de ‘convênios’, os recursos transferidos, bem como o rendimento das
aplicações a eles relativos, devem ser aplicados no objeto conveniado ou seus saldos
restituídos em caso de não terem sido utilizados. Por este motivo a Universidade deverá
buscar o respectivo ressarcimento junto às Fundações de Apoio.
88

183. No que diz respeito a cobrança de taxa de administração pelas Fundações de Apoio,
constatou-se que a atual metodologia de cálculo carece de melhor análise para que prove
estar de acordo com os entendimentos exarados por esta Corte - ressarcimento dos custos
operacionais efetivamente incorridos. A determinação proposta objetiva a verificação da
adequabilidade da atual metodologia de cobrança.
184. Também foram constatados projetos firmados que não se enquadram como apoio a
pesquisa, ensino, extensão ou desenvolvimento institucional, científico e tecnológico (itens
112/128). Entre esses, uma situação a ser destacada é a da contratação para execução de
serviços de obras e para aquisição de equipamentos e imóveis, sem amparo nos normativos
que regulam a relação das IFES com Fundações de Apoio. Tal situação advém claramente
da necessidade de garantir a utilização dos recursos orçamentários que são
costumeiramente liberados pelo órgão ministerial próximos do encerramento do exercício,
constrangendo a Administração a adotar deliberadamente a contratação de alguma
Fundação de Apoio, que permita o empenho dos recursos, eis que não há tempo hábil para
proceder aos processos de licitação para a execução das ações previstas pela própria
Universidade. Esse fato, recorrente no âmbito de várias IFEs e já objeto de inúmeras
determinações desta Corte de Contas, ainda que sem os resultados pretendidos, ocorre em
vista de os administradores optarem pelos princípios da continuidade administrativa e da
eficiência, em detrimento da legalidade, enquanto persistir a iniqüidade no sistema
orçamentário de não permitir a reprogramação dos saldos orçamentários liberados no final
do ano. Outrossim, entende-se que, nas situações não relacionadas aos recursos liberados
em final de exercício, há que se coibir a contratação de fundações para serviços de obras e
para aquisição de equipamentos e de bens móveis e imóveis.
185. Com relação aos procedimentos relativos à incorporação de bens ao patrimônio da
Universidade, verificou-se, por meio de entrevistas e das respostas ao Ofício de Requisição
03-715-circular, inexistir padronização quanto ao momento em que os bens adquiridos no
âmbito dos projetos deveriam ser incorporados ao patrimônio da UFPEL. Em algumas
situações o tombamento é procedido assim que o bem é adquirido, mesmo que o projeto
ainda esteja em curso, enquanto em outras, o bem só é incorporado ao patrimônio da
Universidade ao término do projeto. Há ainda casos em que os órgãos financiadores
estabelecem o momento da doação definitiva do bem. A edição da Portaria/UFPEL 1.387, de
29/09/2006, veio a suprir a falta de normativo interno aplicável aos bens obtidos no âmbito
de projetos com as Fundações de Apoio, estabelecendo que os bens adquiridos com
recursos oriundos de projetos executados devem ser transferidos ao patrimônio da
Universidade imediatamente após seu término.
186. No tocante à contratação de pessoal para o desenvolvimento de atividades de caráter
permanente na Universidade, constataram-se duas situações distintas: aquelas originadas
89

pela carência de servidores no quadro efetivo e aquelas originadas pela comodidade de


contratar diretamente às fundações em detrimento da realização de licitação para a
prestação dos serviços que poderiam ser terceirizados. As determinações propostas visam
corrigir esses desvios (itens 103/120).
187. No que tange ao credenciamento das fundações junto aos ministério da Educação e da
Ciência e Tecnologia, apenas uma delas (FSB) possui credenciamento vigente, enquanto as
outras duas (FAU e FDMS) estão em trâmites para a renovação aguardando providências
por parte dos ministérios.
188. Por fim, entre os benefícios dessa auditoria objetiva-se, principalmente, o aumento dos
controles na Universidade sobre os projetos e recursos gerenciados pelas Fundações de
Apoio, assegurando uma melhor aplicação dos recursos e evitando a ocorrência de desvios.
Também espera-se o aperfeiçoamento dos normativos internos e aprimoramento do
planejamento por meio do atendimento às regras orçamentárias e financeiras no tocante às
receitas arrecadadas.
(...)
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
Ante o exposto, sugere-se a remessa deste processo ao Ministro-Relator Walton Alencar
Rodrigues, nos termos do art. 43, inciso I, da Lei 8.443/92 c/c o art. 250, inciso II, do
Regimento Interno do TCU, com a proposta de que seja juntado às contas da Fundação
Universidade Federal de Pelotas, exercício de 2007, sem prejuízo das determinações e
providências abaixo:
189. Determinar à UFPEL que:
189.1. nos casos de execução de objeto de interesse comum, com repasse antecipado de
recursos, opte pela celebração de convênio com suas Fundações de Apoio, atentando para
o disposto na IN STN 01/97 especialmente nos casos em que os recursos advirem de
dotações consignadas nos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social;
189.2. adote providências para rescindir os contratos em andamento que se enquadrem na
hipótese do item anterior, substituindo-os por termos de convênios, de forma a evitar o
pagamento antecipado de despesas com base em notas fiscais das Fundações de Apoio
com descrição genérica e sem contraprestação efetiva de serviços, bem como adequar;
189.3 somente formalize contrato com suas Fundações de Apoio, com fundamento no inciso
XIII do art. 24 da Lei 8.666/93 c/c o art. 1º da Lei 8.958/94, quando o objeto a ser contratado,
em apoio à Universidade, seja executado em caráter personalíssimo pela fundação e
compatível com a sua área de atuação, abstendo-se, nesses casos, de efetuar repasse
antecipado dos recursos em consonância com os artigos 62 e 63 da Lei 4.320/64, realizando
prévia pesquisa de preço de mercado para os serviços a serem pagos, os quais devem
estar devidamente detalhados no contrato, que deve conter os elementos necessários
90

exigidos pelo art. 55 da Lei 8.666/93 e observando, ainda, o disposto no art. 26 da mesma
lei;
189.4 implemente mecanismos efetivos de fiscalização dos projetos desenvolvidos com a
participação de Fundação de Apoio, independentemente da fonte dos recursos, de modo a
permitir o pleno conhecimento da totalidade dos projetos, a comprovação da fiel execução
dos objetos dos convênios, contratos ou ajustes e sua correta execução financeira,
viabilizando o acompanhamento e o exercício da fiscalização, também por parte dos
controles interno e externo;
189.5 estabeleça rotina a ser seguida pelos gestores dos contratos firmados com Fundação
de Apoio, indicando detalhadamente os pontos a serem por eles conferidos nas prestações
de contas parciais e finais dos projetos respectivos;
189.6. naqueles convênios firmados com recursos não provenientes dos Orçamentos Fiscal
e da Seguridade Social, exija de suas Fundações de Apoio a apresentação de prestação de
contas final e periódica (esta se couber) contendo no mínimo:
- Plano de Aplicação dos Recursos;
- Relatório de Execução Físico-financeira;
- Demonstrativo de Receitas e Despesas;
- Relação de Pagamentos;
- Relação de Bens Adquiridos, Produzidos ou Construídos;
- Cópia do Termo de Aceitação Definitiva da Obra, se for o caso;
- Extrato da conta bancária específica do período do recebimento da 1ª parcela até o último
pagamento e conciliação bancária, quando for o caso; e
- Atas das licitações realizadas, se houver;
189.7. naqueles convênios firmados com recursos provenientes dos Orçamentos Fiscal e da
Seguridade Social, exija de suas Fundações de Apoio a apresentação de prestação de
contas final e periódica em estrita observância ao disposto na IN STN 01/97;
189.8. implemente rotina para exame das prestações de contas referentes a contratos ou
convênios executados por Fundação de Apoio, vinculados a projetos de ensino, pesquisa,
extensão ou desenvolvimento institucional, a ser executado por unidade autônoma (ou seja,
não-vinculada a nenhum projeto), fazendo constar do processo de prestação de contas final
manifestação expressa acerca da regularidade da aplicação dos recursos transferidos;
189.9. promova a adequação dos ajustes em andamento à determinação contida no subitem
189.2, a fim de tornar uniformes as prestações de contas e, por conseqüência, mais eficaz o
controle da execução financeira dos projetos;
189.10. adote medidas com vistas a garantir que todo e qualquer projeto que envolva a
participação das Fundações de Apoio seja prévia e obrigatoriamente homologado pelo
Conselho Coordenador do Ensino, Pesquisa e Extensão – COCEPE, conforme art. 10 das
91

Normas Reguladoras de Prestação de Serviços emitidas por intermédio da Portaria UFPEL


1.387/2006;
189.11. adote mecanismos que garantam a celebração de termo formal e específico de
convênio ou contrato com suas Fundações de Apoio para execução de todo e qualquer
projeto apoiado por essas, quer seja ou não custeado com recursos oriundos dos
Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social, em conformidade com o disposto na Lei
8.958/1994 e no Decreto 5.205/2004;
189.12. desenvolva estudos com vistas a avaliar, com base em critérios objetivos, se as
atuais taxas de administração cobradas pelas Fundações de Apoio nos projetos não
custeados por recursos oriundos de dotações consignadas nos Orçamentos Fiscal e da
Seguridade Social são aquelas estritamente necessárias ao ressarcimento das despesas
operacionais incorridas, promovendo, caso pertinente, os devidos ajustes, informando a este
Tribunal, no prazo de 180 dias, acerca do cumprimento desta determinação;
189.13. ao celebrar convênios com suas Fundações de Apoio cujos recursos financeiros
sejam originários dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social obrigue a Fundação
contratada a depositar e gerir os recursos repassados no Banco do Brasil S/A, na Caixa
Econômica Federal ou em outra instituição bancária cujo controle acionário a União
detenha, em consonância com o disposto no art. 18, inciso III, da IN STN 01/97;
189.14. após serem providenciadas as rescisões contratuais determinadas no subitem
189.2, providencie a alteração das instituições bancárias dos projetos em andamento, cujos
recursos financeiros sejam originários dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social, a
exemplo dos Contratos 18/2005, 46/2005, 06/2006 e 31/2006, entre outros, todos firmados
com a Fundação Simon Bolívar;
189.15. adote procedimentos com vistas a assegurar que os valores indevidamente
debitados das contas bancárias dos projetos sem existência de qualquer contrapartida nos
respectivos Demonstrativos de Receita e Despesa, – a exemplo do ocorrido nos Contratos
46/2005, 01/2006, 02/2006, 06/2006 em que constam lançamentos intitulados ‘débito
contabilidade’, ‘transf. valores p/c/c mesmo titular’, ‘transferência sem CPMF’, ‘transferência
online’, ou similares – sejam efetivamente ressarcidos às contas de origem de forma a
serem alocados nos objetos pactuados ou, caso não sejam necessários para a consecução
dos objetos, sejam transferidos a conta única do Tesouro Nacional, em obediência à IN STN
01/97, informando a este Tribunal, no prazo de 180 dias, acerca do cumprimento desta
determinação;
189.16. se abstenha de celebrar qualquer tipo de ajuste com suas Fundações de Apoio, cujo
objeto seja a prática de atos de competência exclusiva da universidade, salvo quando
vinculados a projetos específicos, dentro da finalidade de dar apoio a projetos de pesquisa,
ensino e extensão e de desenvolvimento institucional, científico e tecnológico de interesse
92

da instituição federal contratante, nos termos do art. 1º da Lei 8.958/1994, c/c o art. 1º do
Decreto 5.205/2004;
189.17. quando da celebração de ajustes com suas Fundações de Apoio em função da
necessidade de garantir a utilização dos recursos orçamentários liberados pelo órgão
ministerial próximos do encerramento do exercício, demonstre clara e formalmente que a
imperiosidade de proceder à contratação da Fundação de Apoio resultou da liberação de
recursos orçamentários ao final do exercício, comprovando por documentos hábeis as datas
de repasses orçamentários e a impossibilidade de reprogramação para o ano seguinte, e
adotando, nesse caso, mecanismos rigorosos de controle que permitam avaliar a
conformidade das licitações realizadas pelas fundações, sem deixar de observar, contudo,
os requisitos objetivos previstos na alínea anterior;
189.18. mantenha os empregados das Fundações de Apoio que atuam na Universidade em
atividades rotineiras da instituição somente até o provimento, por concurso público, dos
cargos cujas atividades estão sendo por eles desenvolvidas;
189.19. realize o devido procedimento licitatório para aqueles serviços contratados
diretamente junto às Fundações de Apoio e que são passíveis de adequado atendimento por
empresas prestadoras de serviços terceirizados;
189.20. adote medidas visando a garantir que as sobras de recursos dos projetos
executados com o apoio de suas Fundações de Apoio sejam efetivamente transferidas à
conta única do Tesouro Nacional, no momento da conclusão dos projetos, depois de
liquidadas todas as despesas relativas a sua execução, à luz da regra da unidade de
tesouraria evidenciada nos artigos 56 da Lei 4.320/64 e 1º do Decreto 93.872/86;
190. encaminhar cópia à UFPEL do integral teor desse Relatório, acompanhado do Acórdão
que vier a ser proferido, bem como do Relatório e Voto;
191. encaminhar cópia ao Ministério Público Federal na cidade de Pelotas do Acórdão que
vier a ser proferido, bem como do Relatório e Voto;
192. autorizar, desde já, o monitoramento do Acórdão que vier a ser proferido.”

Os Dirigentes da unidade técnica manifestaram aquiescência à instrução precedente.

É o Relatório.
VOTO

Aprecia-se Relatório de Auditoria de Conformidade, elaborado por equipe da Secex/RS, com


vistas a avaliar a regularidade do relacionamento mantido entre a Fundação Universidade
Federal de Pelotas – UFPEL e suas respectivas fundações de apoio.
93

Entre os achados da equipe de auditoria estão: a formalização inadequada para os ajustes;


a fiscalização deficiente; a ausência de prestação de contas; a ausência de formalização
das avenças; o pagamento de taxa de administração sem critérios objetivos; a realização de
projetos que não se enquadram como apoio a pesquisa, ensino, extensão ou
desenvolvimento institucional, científico e tecnológica.
A principal conclusão dos Analistas da Secex/RS é que as diversas irregularidades e falhas
listadas no Relatório precedente decorrem, principalmente, da deficiência nos controles
institucionais da UFPEL e do indevido tratamento dado aos ajustes firmados com as
fundações de apoio.
Deveras, em última análise, as constatações da unidade técnica revelam um desvirtuamento
por parte da UFPEL na aplicação da Lei n.º 8.958, de 1994, que disciplina as relações entre
as Instituições Federais de Ensino Superior - IFES e as referidas entidades.
Corroboram esse entendimento, por exemplo, a verificação de destinação de recursos a
projetos que não se enquadram como a apoio a pesquisa, ensino, extensão ou
desenvolvimento, bem assim a contratação de pessoal para a realização de atividades de
caráter permanente, em flagrante discordância com a norma de regência.
Tal situação não é nova, nem muito menos restrita à Universidade em questão, mas sim
recorrente em diversas IFES, o que levou este Tribunal a se manifestar em outras ocasiões
sobre o assunto, a exemplo dos processos n.ºs. TC 012.706/2005-6 e TC 004.470/2005-6,
ambos de minha relatoria, recentemente submetidos à apreciação desse Colegiado.
Conquanto a manifesta irregularidade, entendo que em caráter excepcional, e no caso
concreto, possa este Tribunal reconhecer a precariedade dos contratos firmados pela
UFPEL, tendo em vista a relevância da consecução dos objetos para comunidade
universitária, bem assim o provável estágio avançado de execução, como é o caso dos
Contratos ns. 01, 02 e 06, todos firmados em 2006 com a Fundação Símon Bolívar.
De outra parte, entendo conveniente que se determine à Universidade que se abstenha de
renovar ou aditar contratos firmados com fundações de apoio, cujo objeto não se amolde às
prescrições da Lei n.º 8.958, de 1994.
Em conseqüência, deixo de acolher o item 189.2 da proposta de encaminhamento da
unidade técnica, no sentido de transformar os atuais contratos em convênios, pois não me
restou plenamente caracterizado que se tratam de ajustes que tenham por objeto “interesse
comum” dos partícipes, constituindo-se, na verdade, forma indireta de contratação de obras
e aquisição de bens e serviços, os quais necessariamente devem se submeter ao
competente procedimento licitatório.
Igualmente, quanto à prática, comumente adotada pelas IFES, de se firmar ajustes ao final
do exercício com o intuito de garantir a utilização de recursos orçamentários liberados
94

próximo ao seu encerramento, considero que não seja pertinente o item 189.17 da proposta
da unidade técnica, por entender que tal proposição legitimaria uma situação irregular.
Nesse sentido, a adoção de boas práticas da Administração Pública, como o adequado e
tempestivo planejamento de suas contratações, inclusive com a realização de licitação
quando haja a previsão de liberação de crédito orçamentário, solucionaria irregularidades
dessa natureza.
Com essas considerações, julgo que as ocorrências verificadas estão a ensejar a adoção de
providências corretivas por parte da entidade, justificando-se, desta forma, as
determinações alvitradas pela unidade técnica, com os ajustes de forma pertinentes.
A propósito, verifico que ainda no curso da fiscalização foram constatados esforços da
UFPEL no sentido de melhorar seus controles institucionais, a exemplo da implementação
de sistema informatizado para auxiliar o controle de projetos, bem assim a aprovação de
norma específica (Portaria UFPEL n.º 1.387, de 29/9/2006) que, entre objetivos, visa o
aprimoramento da fiscalização dos ajustes firmados com as fundações de apoio.
Por fim, relativamente às irregularidades verificadas pela unidade técnica nos Projetos
PISTA e UNIPAMPA, faço a ressalva que deixo de apreciá-las neste momento em razão de
estarem sendo tratadas no âmbito do processo TC n.º 024.268/2006-2, ainda em exame no
meu Gabinete.
Assim, tendo em vista não restar caracterizada nestes autos a má-fé por parte dos gestores,
acolho o encaminhamento de mérito formulada pela Secex/RS, com as ressalvas acima
expostas.
Ante o exposto, VOTO no sentido de que o Tribunal adote o Acórdão que ora submeto a
este Plenário.

Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 09 de abril de 2008.

GUILHERME PALMEIRA
Ministro-Relator

ACÓRDÃO Nº 599/2008 - TCU - PLENÁRIO

1. Processo: TC-021.858/2006-5 (com 4 volumes)


2. Grupo I – Classe de Assunto V – Auditoria de Conformidade
3. Entidade: Fundação Universidade Federal de Pelotas - UFPEL
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4. Responsáveis: André Luiz Haak (Reitor Pro-Tempore); Antônio César Gonçalves Borges
(Reitor); Paulo Roberto Soares de Pinho (Ordenador de Despesa e Pró-Reitor
Administrativo); Francisco Carlos Gomes Luzzardi (Ordenador de Despesa e Pró-Reitor
Administrativo)
5. Relator: Ministro Guilherme Palmeira
6. Representante do Ministério Público: não atuou
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado do Rio Grande do Sul –
Secex/RS
8. Advogado constituído nos autos: não há

9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos que tratam de Auditoria de Conformidade
realizada na Fundação Universidade Federal de Pelotas – UFPEL com vistas a examinar a
regularidade do relacionamento da Universidade com suas fundações de apoio.
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário,
ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. determinar à Fundação Universidade Federal de Pelotas – UFPEL que:
9.1.1. nos casos de execução de objeto de interesse comum, com o repasse antecipado de
recursos, celebre convênio com a respectiva fundação de apoio, atentando, ainda, para as
disposições da Instrução Normativa n.º 01, de 1997, da Secretaria do Tesouro Nacional,
especialmente nos casos em que os recursos advirem de dotações consignadas nos
Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social;
9.1.2. somente formalize contrato com as fundações de apoio, com fundamento no inciso
XIII do art. 24 da Lei n.º 8.666, de 1993, c/c art. 1º da Lei n.º 8.958, de 1994, quando o
objeto a ser contratado seja executado em caráter personalíssimo pela fundação, bem
assim compatível com a sua área de atuação, sem prejuízo da realização da prévia
pesquisa preço de mercado e do detalhamento dos serviços ou produtos a serem
contratados, abstendo-se, ainda, de efetuar o repasse antecipado de recursos;
9.1.3. implemente mecanismos efetivos de fiscalização dos projetos desenvolvidos com a
participação das fundações de apoio, independentemente da fonte dos recursos, de modo a
permitir o pleno conhecimento dos projetos realizados, a comprovação da fiel execução dos
objetos pactuados e a correta execução financeira dos ajustes firmados;
9.1.4. estabeleça rotina a ser seguida pelos gestores dos contratos firmados com as
fundações de apoio, indicando detalhadamente os pontos a serem verificados quando da
apreciação das respectivas prestações de contas parciais e finais dos projetos;
9.1.5. naqueles convênios firmados com recursos não provenientes dos Orçamentos Fiscal
e da Seguridade Social, exija das fundações de apoio a apresentação de prestação de
96

contas final e periódica, quando esta couber, as quais deverão conter, no mínimo, os
seguintes elementos: I) plano de aplicação dos recursos; II) relatório de execução físico-
financeira; III) demonstrativo de receitas e despesas; IV) relação de pagamentos; V) relação
de bens adquiridos, produzidos ou construídos; VI) cópia do termo de aceitação definitiva da
obra, se for o caso; VII) extrato da conta bancária específica, acompanhada da respectiva
conciliação bancária, quando for o caso; VIII) atas das licitações porventura realizadas;
9.1.6. naqueles convênios firmados com recursos provenientes dos Orçamentos Fiscal e da
Seguridade Social, exija das fundações de apoio a apresentação de prestação de contas
final e periódica em estrita observância às disposições da Instrução Normativa n.º 01, de
1997, da Secretaria do Tesouro Nacional;
9.1.7. implemente rotina para o exame das prestações de contas referentes a contratos ou
convênios executados por fundações de apoio, vinculados a projetos de ensino, pesquisa,
extensão ou desenvolvimento institucional, a ser executado por unidade autônoma (não-
vinculada a nenhum projeto), fazendo constar da respectiva prestação de contas final
manifestação expressa acerca da regularidade da aplicação dos recursos transferidos;
9.1.8. adote medidas com vistas a garantir que todo e qualquer projeto que envolva a
participação das fundações de apoio seja prévia e obrigatoriamente homologado pelo
Conselho Coordenador do Ensino, Pesquisa e Extensão – COCEPE da Universidade,
conforme o art. 10 das Normas Reguladoras de Prestação de Serviços emitidas por
intermédio da Portaria UFPEL n.º 1.387, de 2006;
9.1.9. adote mecanismos que garantam a celebração de termo formal e específico de
convênio ou contrato com as fundações de apoio para execução de todo e qualquer projeto
que envolva, ainda que indiretamente, a Universidade, quer seja ou não custeado com
recursos oriundos dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social, em conformidade com o
disposto na Lei n.º 8.958, de 1994, e no Decreto n.º 5.205, de 2004;
9.1.10. desenvolva estudos com vistas a avaliar, com base em critérios objetivos, se as
atuais taxas de administração cobradas pelas fundações de apoio, nos projetos não-
custeados por recursos oriundos de dotações consignadas nos Orçamentos Fiscal e da
Seguridade Social, são aquelas estritamente necessárias ao ressarcimento das despesas
operacionais incorridas, promovendo, caso pertinente, os devidos ajustes, informando a este
Tribunal, no prazo de 180 dias, acerca do cumprimento desta determinação;
9.1.11. ao celebrar convênios com as fundações de apoio, cujos recursos financeiros sejam
originários dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social, obrigue a entidade contratada a
depositar e gerir os recursos repassados em conta específica do Banco do Brasil S/A, da
Caixa Econômica Federal ou de outra instituição bancária da qual a União detenha o
controle acionário, em consonância com o disposto no art. 18, inciso III, da Instrução
Normativa n.º 01, de 1997, da Secretaria do Tesouro Nacional;
97

9.1.12. providencie a alteração das instituições bancárias dos projetos em andamento, caso
efetivadas as rescisões a que se referem o subitem 9.1.2, cujos recursos financeiros sejam
originários dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social, a exemplo dos Contratos
18/2005, 46/2005, 06/2006 e 31/2006, todos firmados com a Fundação Simon Bolívar;
9.1.13. adote procedimentos com vistas a assegurar que os valores indevidamente
debitados das contas bancárias dos projetos, sem existência de qualquer contrapartida nos
respectivos demonstrativos de receita e despesa, a exemplo do ocorrido nos Contratos
46/2005, 01/2006, 02/2006, 06/2006, sejam efetivamente ressarcidos às contas de origem,
de forma a serem alocados nos objetos pactuados ou, caso não sejam necessários para a
consecução dos seus objetos, sejam transferidos à conta única do Tesouro Nacional, em
obediência à Instrução Normativa n.º 01, de 1997, da Secretaria do Tesouro Nacional – STN,
informando a este Tribunal, no prazo de 180 dias, acerca do cumprimento desta
determinação;
9.1.14. abstenha-se de celebrar qualquer tipo de ajuste com as fundações de apoio, cujo
objeto seja a prática de atos de competência exclusiva da Universidade, salvo quando
vinculados a projetos específicos e desde que relativos à finalidade de apoiar projetos de
pesquisa, ensino e extensão e desenvolvimento institucional, científico e tecnológico de
interesse da instituição federal contratante, nos termos do art. 1º da Lei n.º 8.958, de 1994,
c/c o art. 1º do Decreto n.º 5.205, de 2004;
9.1.15. abstenha-se de renovar ou aditar os atuais contratos firmados com fundações de
apoio que não se amoldem às prescrições da Lei n.º 8.958, de 1994, especialmente quando
configurada a contratação indireta de obras e a aquisição de bens e serviços;
9.1.16. adote medidas com vistas ao adequado e tempestivo planejamento de suas
contratações, inclusive com a realização de licitação quando haja a previsão de liberação de
crédito orçamentário, de modo a evitar a transferência indevida, às fundações de apoio, de
recursos liberados próximo ao encerramento do exercício financeiro;
9.1.17. mantenha os empregados das fundações de apoio, que executam atividades
rotineiras na Universidade, tão-somente até o provimento, por concurso público, dos cargos
cujas atividades estão sendo por eles desenvolvidas;
9.1.18. abstenha-se de promover a contratação direta de serviços junto às fundações de
apoio que sejam passíveis de execução por empresas prestadores de serviços
terceirizados;
9.1.19. adote medidas visando a garantir que os saldos de recursos dos projetos executados
com o apoio das fundações de apoio sejam efetivamente transferidos à conta única do
Tesouro Nacional no momento de suas conclusões;
9.2. dar ciência do presente Acórdão, bem assim do Relatório e Voto que o fundamentam,
ao Ministério Público Federal na cidade de Pelotas/RS;
98

9.3. determinar à Secex/RS que monitore o cumprimento das determinações ora expedidas.

10. Ata nº 11/2008 – Plenário


11. Data da Sessão: 9/4/2008 – Ordinária
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-0599-11/08-P
13. Especificação do quórum:
13.1. Ministros presentes: Walton Alencar Rodrigues (Presidente), Marcos Vinicios Vilaça,
Valmir Campelo, Guilherme Palmeira (Relator), Ubiratan Aguiar, Benjamin Zymler, Aroldo
Cedraz e Raimundo Carreiro.
13.2. Auditor convocado: Augusto Sherman Cavalcanti.
13.3. Auditores presentes: Marcos Bemquerer Costa e André Luís de Carvalho.

WALTON ALENCAR RODRIGUES GUILHERME PALMEIRA


Presidente Relator

Fui presente:

PAULO SOARES BUGARIN


Procurador-Geral, em exercício

Anexo 4 – Edital Nº 03/2008


http://www.pelotas.rs.gov.br/interesse_licitacoes/arq_objeto/2008-06-
05_17:28:40_objeto_editalconcorrenciacasavi.pdf

Anexo 5 – Edital Nº 06 / 2008


http://www.pelotas.rs.gov.br/interesse_licitacoes/arq_objeto/2008-11-
25_11:08:42_objeto_editalconcorrencia.pdf

Anexo 6 – Edital 02/2013


99

http://www.pelotas.rs.gov.br/interesse_licitacoes/arq_objeto/2013-02-
18_14:00:25_objeto_EDITALeAnexo01.pdf

Anexo 7 – Edital Nº 04 / 2008

http://www.pelotas.rs.gov.br/interesse_licitacoes/arq_objeto/2008-06-
17_15:25:51_objeto_editalconcorrenciaiv.pdf

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