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ANÁLISE DAS TEORIAS DOS ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO

HUMANO E OBSERVAÇÃO DA CRIANÇA

2015
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ANÁLISE DAS TEORIAS DOS ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO


HUMANO E OBSERVAÇÃO DA CRIANÇA

Análise apresentada à disciplina de


Dimensões Psicossociais da Constituição do
Sujeito do Curso de Graduação em
Psicologia.

2015
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1 INTRODUÇÃO

Dentre as várias teorias do desenvolvimento criadas a partir do século XIX, as que


mais se destacaram são a de autores como Jean William Fritz Piaget e Lev Semenovitch
Vygotsky, na qual visaram entender como funcionara a aprendizagem humana.
Este trabalho visa compreender e analisar suas teorias tanto como também aplicá-
las na observação de uma criança em seu aspecto evolutivo de acordo com os estudos dos
teóricos apresentados, buscando considerar seu desenvolvimento físico, emocional,
intelectual e social. Até hoje escolas e institutos de ensino utilizam suas teorias e métodos
para aperfeiçoar o condicionamento de seus alunos para um melhor rendimento da
aprendizagem.
Tendo como base no desenvolvimento da aprendizagem, a interação do indivíduo
com meio externo – Interacionismo - foi de suma importância para a construção de suas
teorias e, visando observar diante dos estudos destes teóricos, é que este trabalho se
desenvolve.
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2 QUATRO ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO

Segundo Bock et al, na psicologia do desenvolvimento, podemos observar quatro


aspectos que influenciam o crescimento da criança, sendo que todos estes se ligam entre
si.
O primeiro aspecto, físico-motor, consiste em observar a maturação biológica, seu
crescimento, o amadurecimento do seu corpo e como a criança maneja os objetos, ou seja,
o movimento que a criança faz ao pegar a chupeta para colocar na boca ou o ato de
engatinhar se enquadram neste conceito.
O segundo é o intelectual, onde seu desenvolvimento consiste na capacidade que
a criança tem de pensar ou raciocinar, começando a ter noção de si e das coisas ao seu
redor, um exemplo seria o ato de utilizar uma vara para alcançar um objeto que está muito
alto.
O social consiste na capacidade da criança de se relacionar com o meio em que
vive, suas experiências sociais, ou seja, seus relacionamentos afetivos, a forma como
conversa com seus pais, colegas ou amigos.
Por último, temos o afetivo-emocional, que são as emoções de modo individual
do indivíduo diante de suas experiências, neste aspecto estão a sensação de tristeza caso
um brinquedo quebre, ou a alegria ou raiva de ver seus pais, entre outras.1

3 TEORIA PIAGETIANA

Piaget propõe uma percepção de homem que é um sujeito em atividade e


construtor de sua identidade a partir de sua interação com o meio, diferente dos empiristas
e inatistas. No mundo ocidental, Piaget foi um dos primeiros autores a explicar o
conhecimento como “uma construção efetiva e contínua, resultante de trocas dialéticas,
efetuadas entre o indivíduo e o meio do conhecimento”, segundo Matos.
O cerne do estudo de Piaget é a inteligência, a qual é analisada sob três aspectos:
conteúdo, função e estrutura. O conteúdo refere-se a dados derivados do comportamento
que não são interpretados, ou seja, brutos, como por exemplo quando um sujeito afirma
que a massa de um objeto muda conforme altera-se sua forma. A função define a essência
do progresso cognitivo e é caracterizada por invariabilidade durante esse processo. Piaget
tentou isolar as propriedades da inteligência enquanto esta age, as denominando
invariantes funcionais representadas pela adaptação (subdividida em acomodação e
assimilação) e organização. Já a estrutura trata de características mutáveis ao decorrer do
processo evolutivo, especificamente as arquiteturas e aptidões mentais da criança – “elas
resultam de seu funcionamento, são inferidas a partir de seu conteúdo e são responsáveis
pela organização da inteligência” e seu conhecimento permite prever o que esperar de
uma criança em determinado momento, conforme explica Matos.
Conceito que necessita de elucidação é o de equilibração, proposto por Piaget e
explicado por Matos como um processo que ocorre da seguinte forma: “Através da
constante permuta do indivíduo com o meio, o homem enquanto uma totalidade, esforça-
se para a manutenção de seu todo. Assim, diante de uma
situação nova, o organismo é lançado em desequilíbrio, e mecanismos reguladores são
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acionados, a fim de levar o sujeito a superar essa situação de estranhamento e/ou


contradição”, ou seja, um equilíbrio homeostático dinâmico entre a psique do sujeito e o
meio.
Dois processos participam da equilibração, a assimilação e a acomodação. A
assimilação dá-se cognitivamente pelo sujeito, na qual o mesmo integra às estruturas do
conhecimento constituídas elementos do mundo exterior, ou seja, uma ação do sujeito
sobre os objetos que o rodeiam, mediante a aplicação de esquemas (estrutura cognitiva
que engloba sequências de pensamentos e comportamentos fortemente interligados de
forte tendência a repetição) pré-existentes sob a adaptação do objeto às estruturas então
presentes. Porém, nem todos esquemas existentes tem aplicação à situação, ocorre então
o processo de acomodação, que acontece da ação do objeto sobre o sujeito, gerando-lhe
alterações, dada a insuficiência dos esquemas disponíveis para manutenção da
homeostase psicológica. “Portanto, a mudança no processo de assimilação (modo como
o indivíduo é capaz de agir numa situação com os esquemas presentes) se dá pela ação
dos objetos sobre o sujeito, exigindo-lhe a superação de esquemas já constituídos
(acomodação)”, resume Matos.
A organização é característica subjacente de qualquer ação adaptativa – não há
adaptação vinda de fontes desorganizadas. É necessária uma organização inicial
(esquema) o qual serve como ponto de partida para a compreensão da realidade feita pelo
sujeito2.
Piaget dividiu o desenvolvimento humano em quatro períodos, em ordem
cronológica, de 0 a 2 anos, sensório-motor; de 2 a 7 anos, pré-operatório; de 7 a 12 anos,
operações concretas; de 12 anos em diante, operações formais.
O período sensório-motor é caracterizado pelo domínio da percepção e dos
movimentos perante o universo que rodeia a criança. É o período em que a criança, por
exemplo, aprende como utilizar um instrumento para alcançar um objeto. O
desenvolvimento muscular, ósseo, neurológico dá surgimento a comportamentos como
andar, sentar, que geram um domínio maior da criança sobre o ambiente.
O período pré-operatório é dominado pelo aparecimento da linguagem, a criança
aprende a exteriorizar sua vida interior, o pensamento melhora – é esta a fase dos porquês.
Surge nesta fase também uma noção mais elaborada de regras. Há melhora também da
coordenação motora fina.
O período das operações concretas é dado pelo surgimento de uma nova
capacidade mental, as operações, isto é, a criança realiza uma atividade física ou mental
com um intuito e consegue revertê-la para seu início, por exemplo, num quebra-cabeças,
desmanchar uma parte errada para corrigi-la e recomeçar de onde estava.
O período das operações formais é quando o adolescente é capaz de lidar com
conceitos como liberdade ou justiça, é dominada aí a capacidade de abstração,
generalização, teorização sobre o mundo, tendo como marca deste período a contestação1.
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3 TEORIA VYGOTSKYANA

Diferente de Piaget, Vygotsky propõe que o meio social é fator determinante do


desenvolvimento do ser humano, tal processo ocorre pelo aprendizado da linguagem dado
pela imitação – o homem como fruto de relações histórico-sociais. O signo, para
Vygotsky, como produto social, tem função de gerar e organizar os processos psíquicos.
Segundo Freitas apud Neves e Damiani, “o autor [Vygotsky] considera que a consciência
é engendrada no social, a partir das relações que os homens estabelecem entre si, por meio
de uma atividade sígnica, portanto, pela mediação da linguagem”, ou seja, os signos agem
internamente no homem tornando-o ser sócio-histórico, antes ser biológico.
Na teoria de Vygotsky, o desenvolvimento humano não é compreendido como
uma sequência de fatores que o amadurecem, nem por fatores ambientais que agem sobre
seu organismo o controlando – mas sim por trocas recíprocas entre o meio o indivíduo
que ocorrem durante sua vida, cada lado da troca influindo sobre o outro.
Ele rejeita modelos baseados em pressupostos inatistas, que se baseiam em
comportamentos de acordo a faixa etária do sujeito, por entender que o ser humano é um
ser datado atrelado às suas estruturas biológico-históricas. Discorda também da visão
ambientalista, pois diz que o ser humano não é um receptáculo vazio que absorve
passivamente as influências culturais que lhe são apresentadas, defende, opostamente,
que o sujeito é capaz de renovar-se culturalmente, gerando uma cultura própria gerida por
mecanismos próprios.
Segundo Rego apud Neves e Damiani, “o sujeito produtor de conhecimento não é
um mero receptáculo que absorve e contempla o real nem o portador de verdades oriundas
de um plano ideal; pelo contrário, é um sujeito ativo que em sua relação com o mundo,
com seu objeto de estudo, reconstrói (no seu pensamento) este mundo. O conhecimento
envolve sempre um fazer, um atuar do homem”3.

4 CONCLUSÃO

A gama do desenvolvimento infantil é e foi estudada por inúmeros especialistas.


A construção da pessoa da criança é multifatorial como é descrita pelos teóricos, porém,
dada a existência de múltiplas teorias, abre-se o espaço para discussão inter-teorética. Ao
observar a criança como objeto de estudo aplicam-se as teorias e percebe-se pontos como:
a criança mantém algumas características dos períodos que já passou, enquanto passa por
um período pode ter características do subsequente.
Pode-se observar a ocorrência de assimilação e acomodação quando a criança
enfrenta desafios cotidianos, como ao desvendar um novo jogo ou brincadeira. A criança
absorve o mundo que lhe é apresentado, não de maneira passiva, ela transforma o estímulo
em conteúdo e culturas próprias.
O presente trabalho tentou correlacionar aspectos do desenvolvimento infantil
com a observação de uma criança, maiores estudos sobre o assunto fazem-se necessários
para evolução teórico-científica da compreensão dos aspectos pueris.
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REFERÊNCIAS

1. Mercês Bahia Bock A, Furtado O, de Lourdes Trassi Teixeira M. Psicologias:


Uma introdução ao estudo de psicologia. 13a ed. 2003.
2. de Matos A. Fundamentos da Teoria Piagetiana: Esboço de Um Modelo. Revista
de Ciências Humanas. 2007;1(1).
3. de Araujo Neves R, Floriana Damiani M. Vygotsky e as teorias de aprendizagem.
UNIrevista. 2006;1(2).
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ANEXO 1
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE UMA CRIANÇA

J.M.C., feminino, 6 anos, foi observada em dois momentos, primeiramente no dia


13 de junho de 2015, das 14h às 14h30 e no dia 17 de junho de 2015, das 16h30 às 17h15,
na casa de sua mãe e na de sua avó, à observação havia a presença de sua prima, avó, mãe
e pai.

Tabela 1. Observação do dia 13/06/2015.

FISICO MOTOR INTELECTUAL


Pintou na mesa de centro Manuseou o celular para assistir seu vídeo
Digitou os números corretamente para
Limpou a sujeira ligação
Bebeu água Montou quebra-cabeças no celular
Voltou para sala Tocou bateria com ritmo
Guardou material de pintura
Sentou-se no sofá
Cantou junto com o vídeo
Ligou para seu pai
Jogou no celular
Cruzou os braços
Foi até seu quarto
Tocou bateria
Diminuiu a força ao tocar bateria

AFETIVO EMOCIONAL SOCIAL


Riu quando derrubou a tinta Pediu para mãe juntar-se a ela na pintura
Reclamou ao limpar sujeira Se recusou a limpar a sujeira
Riu do vídeo Pediu água para mãe
Disse que ama o pai e que estava com
saudade Agradeceu pelo copo d'água
Fez cara feia ao devolver o celular Pediu celular da mãe para assistir vídeo
Falou com o pai ao celular
Recusou entregar celular para mãe
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Tabela 2. Observação do dia 17/06/2015.

FISICO MOTOR INTELECTUAL


Assistiu TV pulando na bola Manuseou o aplicativo no celular
Cantou com a música do programa
Pegou o celular
Deitou na cama
Tomou achocolatado
Foi até a cozinha
Colocou o copo na mesa
Foi até o quarto
Deitou-se na cama
Pulou na cama
Sentou na cama
Levantou da cama
Pegou seus brinquedos
Foi para sua casa

AFETIVO EMOCIONAL SOCIAL


Ficou brava com sua prima Se recusou a subir na cama
Riu enquanto pulava na cama Conversou com seu pai
Pediu para prima preparar achocolatado
Discutiu com sua prima
Desconsiderou o repreendimento de sua avó
Conversou com a mãe
Se recusou a ir para sua casa
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ANEXO 2
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ACORDO COM A TEORIA DE
PIAGET

J.M.C. tem 6 anos, logo vive o período pré-operatório. Seu maior domínio da
linguagem permite modificações em suas experiências sociais, afetivas, intelectuais e
físico-motoras. A criança em questão tem melhor uso da coordenação motora fina, o que
lhe permite o uso facilitado de tecnologias como smartphones para seu entretenimento.
Suas capacidades linguísticas, especialmente a fala, fazem com que ela expresse suas
emoções mais claramente. Ela também desenvolve um senso de obediência à autoridade
dos pais, ao agradecer e, mesmo relutante, ao organizar o que lhe foi pedido.
Ao montar o quebra-cabeça no celular demonstrou habilidade de operações, mais
compatível com o período de operações concretas. Ao enfrentar sua prima também
demonstra atribuições do mesmo período.
Mantém também algumas características do período sensório-motor,
especificamente mais tardio, como a relação ativa e participativa com o ambiente e a
demonstração de preferência por objetos, brinquedos e pessoas específicos.

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