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Afora da Moda :: CCSP

Moda em $P

“Não havia riqueza fácil de aventureiros do ouro e da garimpagem; em meados do século


XVIII, permanecia válido o testemunho da pobreza, que sempre predominara no meio
paulista, tal como a descrevera Frei Vicente do Salvador, em 1598:

“”...os homens e as mulheres se vestiam de pano de algodão tinto e, se havia alguma capa
de baeta e manto de sarge, se emprestava aos noivos para irem à porta da igreja…”
(ODILA, 1984)

Era o que ouvia, em 1767, o Morgado de Matheus de um membro da Igreja:

“”... que indo a quaresma passada desobrigar ao bairro de São Roque, que é da freguesia
de Cotia, se vieram confessar com ele 30 ou 40 homens, ou ainda mais, número muito
avultado, só com huma única véstia, que hião vestindo sucessivamente uns depois de
outros…”” (ODILA, 1984)

“Panos de linho e seda, veludos e rendas eram apanágios de senhoras ausentes, que
raramente se deixavam ver.
Com os frutos do comércio de abastecimento para as áreas de mineração é que os
paulistas começaram a importar da Inglaterra baetas vermelhas, azuis, meias de seda
coloridas; desde então as aniagens cruas e mesmo panos de linho, riscados e fardas
rústicas importadas começaram árdua concorrência com os panos de fabricação caseira.
A ascensão social dos paulistas - enriquecidos com o comércio de tropas e ávidos por
reconhecimento social, títulos, milícias, grandezas - se traduzia mais na vontade de imitar
os grandes do que na tentação de escandalizar.” (ODILA, 1984)

“”...O luxo dos vestidos é desigual a possibilidade desta gente: se as fazendas fossem do
Reino tudo ficava em casa; porém sendo estrangeiras não há ouro que as pague…””
(ODILA, 1984)

“O Morgado de Matheus comparava os hábitos de ostentação dos paulistas enriquecidos


com os da Corte, em Lisboa, comprazendo-se em ridicularizar a pretensão de mulheres de
pequenos funcionários e comerciates novos-ricos:

“”...Nessa Corte, dizem as senhoras, que não podem com o gasto dos sapatos. têm 60$000
de alfinetes e custam-lhe 1$600 e andam sobre alcatifas; na terra, as mulheres não ganham
uma pataca, custam os sapatos 4$800 e para cima, trazem-nos todas da melhor seda e
pela rua. Neste Reino vestem de pano muitos fidalgos, nas províncias boa gente trazem
linhos; aqui os brancos vestem o melhor veludo e ninguém traz senão olanda, tudo isto
compra-se fiado, ao depois estuda-se como pagar…”” (ODILA, 1984)
“Na cidade, ainda pobre e restrita, os rituais de ostentação de status pareciam
exarcebar-se: a presença de escravos de “outros” era incômoda, os costumes eram pouco
condizentes com a desigualdade, violência e sujeira do espaço urbano.” (ODILA, 1984)

“ O jornalista português naturalizado brasileiro Emílio Zaluar (1826 - 1888) chama em sua
obra atenção para a movimentação comercial dos estabelecimentos comerciais:

“”...nas suas, pela maior parte, elegantes lojas encontra-se hoje com profusão tudo quanto
se pode desejar, tanto para satisfação das exigências da vida como para os desejos mais
requintados de luxo e moda, quase pelo mesmo preço porque se compra na corte. Com as
relações que S. Paulo tem com tantos pontos do interior, e sobretudo o interesse que lhe
deixa a permanência da academia, o seu comércio não poderia deixar de ser próspero e de
grande movimento.” (FREHSE, 2011)

“Com efeito, a vestimenta exercia um papel todo especial na diferenciação social nas
cidades brasileiras do século XIX, em que as classes sociais não se encontravam ainda
definidas. A vestimenta permitia encontrar um lugar para indivíduos que, em princípio, não
tinham lugar no sistema de classificação da sociedade - e esse lugar era elevado, no caso
de forasteiros como Saint-Hilarie (botânico francês que visitou SP no começo do séc XIX).”
(FREHSE, 2011)

“Mawe - comerciante inglês do início do XIX - detalha a “vestimenta das senhoras [ladies]
fora de casa, especialmente na igreja”, como constituída do seguinte item:

“...um capoeta de baeta preta, com um longo véu do mesmo material, ornado com um
grande laço; na estação mais fria, de casimira ou feltro preto. Elas quase sempre aparecem
com o mesmo véu nas ruas, apesar de este ter sido parcialmente coberto por uma longa
capa de algodão cru, cuja barra é de veludo, de laço dourado, fustão ou plush, dependendo
da posição social da usuária. Essa capa é utilizada como uma espécie geral de robe em
casa, nas caminhadas noturnas e durante viagens, e as senhoras, onde quer que estejam,
utilizam-na junto com chapéus arredondados.” (FREHSE, 2011)

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