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“(ALGUMAS NOTAS SOBRE A QUESTAD DO NARCISISMO €& DD INCONSCIENTE) x INTRODUGAD Gostaria de esclarecer que este trabalho é frute de uma sucesso de encontras de grupo feites nos itimas dois anos, onde discutimos a emaranhada teoria Kleiniana e tentévamos alcangar ‘uma vereda que nos levasse a algum lugar seguro. Tivemos surpresas inumeraveis @ a nitida percepgao que a obra mais vaste e coerente do que pensavamas. Nas, lugar seguro, nenhum. t Surpresos com todas as palavras que surgiam, novas, de nossas leituras vimos nelas como Freud estava presente © come'M. Klein 34 pedia faz@-lo kleiniano. No meio dessas surpresas achei que valeria a pena falar um pouco sObre quest#es que nos pareceram estar entreligadas ec trabalha que Surgiu foi este. Tentei precisar melhor questtes como as de narcisisme @ inconsciente em M.K. @ acabei deparanda-me com outras questtes came instinto de marte, violéncia © subietividade por um lado ©, por outro lado, exterioridade (estranheza), abjeto superficialidade. Foi curios reparar a indiferenga com que Melanie Klein trata o canceito de narcisismo @, mais curioso ainda, foi nossa necessidade em aborddé-lo. © que vem exposta.a seguir ¢ feito como intuita de indicar que a nogte de "EU" na teoria kleiniana é central, @as nao no sentida de uma psicologia do ega, pele contraério, verificamas que esse "eu" habita o “id™ @ nao tem, am momento algum, um instanté—de neutralidade cognitiva. Esse "eu" acaba sendo a encarnagao hipertréfica de um carpa sexualizade pela morte, cama @ 0 corpo do hipmcondriaca. Do corpo cadavérice ao corpo gravidico que gesta o pénis castrado; bebi pais combinades em caita sadica: haveré um vazio que permit: Bus exibig%o na parandia, na melancolia @ na «i 9 abjeta canfundem-se ou sobrepien-se. fees @ ao "EL" rf nia, lugares onde o eu © Sendo assim fascinio @ horror estarfa lado a lade, impondo ao mujeite que ele se reconhega nos espelhos que o refleten sem jamais saber onde esta. Pego desculpas pelas imperfeigtes da texto tanto no que se refere a forma quanta aa contetide. Desejo apenas destacar que o trabalho foi dura e talvez ouvi-lo seja cansativa mas, enfim, espero que tenhamos paciéncia para pader pensd-lo. Pensar com Melanie Klein? Ao pensarmas a psicandlise deparamo-nos, inescapavelmente, com um tipo de pesquisa que visa revelar que as aparéncia enganam. Pesquisamos e@ procuramos uma "verdade" que naa se encontra disponivel aos alhos comuns @ necessitamos de subterfugios (técnica, alguns diriam!) que nos revelem, por um caminho mais sinucso, esse objeto que buscamos. Nem mesic o proprio individuo que nos procura na clinica sabe sébre essa “verdade" que lhe escapa, ele a ignora e & exatamente isto que o faz adoecer. Freud nos alertou com muita clareza e@ habilidade para essa forma de ignorancia (7) humana, dizendo em seu estilo que “o cliente sabe, mas nie sabe que sabe...". Este paradoxo arrastou tada a psicandlise ¢ psicanalistas para o desenvolvimento de uma atitude de “dascanfianga” de tudo aquile que era dito sob a vigéncia de uma ordem discursiva racional. Propunha~se que uma irracianalidade jazia ativa sab todo @ qualquer discurso proferido pelo cliente, Essa irracionalidade recebeu de Freud uma ateng&o particular @ permitiuylhe achar o caminho para pratica da psicandlise que a distinguiu @& psicolagia, situando- psicandlise, nesse campo invisivel da realidade psiquica. Verdadeira ou n¥o, racional ou irracional, visivel ou invisivel, o fata é que para fazermos quaisquer afirmativas temos, necessariamente, que fixar uma circunstancia miniaa que seja simbélica e compartilhavely que permits formagao de uma linguagem @ de usa possivel comunicagac. Para tanto, Freud se apegou ac discur do paciente e, como que espontaneamente, desenvolveu uma teoria psicopatolégica dessa discurso. Apontou como o homem ago era dono de suas palavras e como elas podiam dizer o que nfo se estava pronto para ouvir, nem tampouco para dizer. Comm. Klein mao foi muito diferente. Ela também teve que se apegar a alguma coisa, teve que ser capaz de produzir uma evidéncia que fosse compartilhavel ‘@, por que no dizer, teve que encontrar uma Linguagem, mesmo que nao fosse a do discurso, mas estivesse nele, mesmo que nso fosse falada, mas estivesse na fala. Alicergou~se no trivial, no brincar,;na infancia a, mais que isso, no infantil, absolutamente amnésico mas prenhe de linguagem. De uma linguagem que seré esquecida pare sempre. D brincar, para Klein, transformou-se em discurso da aga, encenasio dramatica na qual @ fala contava apenas (!) coma um elemento amais, posta que a realidade discursiva era antecedida por uma complexa mecanica das sublimagdes que, antes de organizar a fala, era a condigio muscular e@ ftdstica dessa mesma fala, Pura ag¥o muscular, sugeria que ali onde havia silencio do verbo, havia ruido da musculatura @ das fungfies egdicas; ruido simbdlico, discursive, mitico, come as marcagées feitas no ch8o do palco do teatro, com uma Unica dif e marcas eram pontos nodais, cicatrizes, que organizavam o campo psiquice do carpe do individuo. Este era e ¢ 0 nervo da questao. Elea Del Valle, no primeiro volume de sua investigasao em M. Klein, nos dizt +sschama a atengo a @nfase com que a autora destaca continuamente © papel das tendéncias egdicas. Este acento marcado sobre as fungtes do ego se acompanha de uma ampliag3o notavel do conceito de sublimagae. Varias vezes insist: ublimagao @ © processa de eatekizagso com libido des interesses do ego. Todas as atividades e interesses agdicos, desde os mais primitivas como o prazer do movimento ea fala, s¥o para cla sublimagtes. Assim o s8e o jogo, o esparte, a atividade fisica, @ todo © pracesso de indagag3o, aprendizagem @ criag#o, tanto artistica como intelectual, N&o hd definitivamente Renhuma canquista, nenhuma atividede ou interesse que, na medida em que se realize exitosamente © com prazer, Xo seja uma sublimagao." (1) Agora cito um trecho da prérpia M. Kleins Embora aceitande coma valida a diferenciag¥o entre instintes do ego @ instintes sexuais, sabemos, por outro lade, (de acorda com os ensinamentos de Freud) que certa parte des instintes sexuais fic associada durante toda a vida com os instintes do ego, aos quais fornece camponentes libidinais. Aquilo que designei previamente come senda a cathexis sexual~simbélica de uma tendéncia ou atividade pertencente ans instintes do ego, corresponde a este camponente libidinal. A este processa de cathexis coma libide damos nome de ‘sublimagiio’ @ explicamas a sua génese, dizendo que dé & libido superflua, para a qual no hd satisfagic adequada, a possiblidade de descarga, @ que @ represamento da libide @ assim diminuide ou extinte. Esta concepg¥e concerda também com asserg’a @e Freud, de que o processo da sublimasdo abre um caminho para a descarga das excitagtes excessivas proveniente de diversas fontes que comptem a sexualidade, possibilitando sua aplicag’a a outros objetivos. Assim, diz Freud, quando o sujeito tem uma disposigao constitucional anormal, a excitagao supérflua pode encontrar uma safda, mio somente na perversao ou neurose, mas também na sublimagao." (a) na Se Freud péde apontar com seu trabalho como @ homem nao era done de suas palavras, M. Klein So hesitou em dizer que ele nao era dono de seu corpo; nc hesitcu também em considerar que o que dava vida a esse corpa era uma subestrutura (9) sexual e simbélica que ao ser aplicada ao corpa contava, antecipadamente, sua histéria, histéria tecida ne tragédia edipica. Se esta disting%a @ pracedente, conserva também a qualidade de ser relativamente simples, porém porta em si mesma a esséncia da discordia 24 marca de uma diferenga técnica que no parece ser digerivel @nquanto se prestar A filiagSes, escolas @ bandeiras., Mas nosso problema naa se limita ao instituicional, @ @ que nos parece mais interessante sublinhar @ que esta audanga de @nfase proposta por M. Klein incide diretamente sbre a prdtica e a concepg%e da incansciente na psicendlise A disting’o que se manifestars na prética diz respeite ao conceito de transferéncia - © cantratransferéncia - © também Aquila que paderiamos chamar de atitude psicanaliti tgada 2 construgda da interpretagdo. A postura interpretativa kleiniana falard com um foleqa invejavel dessas milhares de particulas que sustentam a discurss deixando, assim, ac proprio discurso, um papal falacioss. Sop ele encontra~se uma realidade fantd4stica que @ capaz de preparar a musculatura humana para receber a Lingua materna, Encontramos,assim, um deslocamento de @nfase na mod@la de trabalher teremos duas Clinicas que buscam no mesmo suposto objeto, realidades imaginarias totalmente diferentes. Se um mod@lo, o freudiano, necessitou privilegiar 0 que escutava, sugerinda ao cliente que, além de falar, falesse deitada; o outro, o kleiniana - mesmo mantende @ enguadramente quante 4 clinica ~ radicalizou o discurso, UD el Valley E, — La fra de Helanie Klein, vol. i, pge 26. Lugar Editorial, 1984, Itradugdo Livre! (a) Kleing A. - A sSLise Infantil (1923), in ConteibuigBes & Psicanélise, Cap. 3, pgs. 121/22, Nestre Jou,

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