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Organizadores:
Elenir Morgenstern
Victor Aguiar
Joinville, 2016
Universidade da Região de Joinville
Reitora
Sandra Aparecida Furlan
Vice-Reitor
Alexandre Cidral
Pró-Reitora de Ensino
Sirlei de Souza
Pró-Reitor de Administração
José Kempner
Organizadores:
Elenir Morgenstern
Victor Aguiar
Produção editorial Conselho Editorial
Editora Univille
Profa. Dra. Denise Abatti Kasper Silva
Coordenação geral
Andrea de Lima Schneider Profa. Ma. Ágada Hilda Steffen
Secretaria Prof. Dr. Alexandre Cidral
Adriane Cristiana Kasprowicz
Profa. Dra. Berenice Rocha Zabbot Garcia
Revisão
Profa. Dra. Denise Monique D. S. Mouga
Viviane Rodrigues
Cristina de Alcântara Prof. Me. Fabricio Scaini
Capa Profa. Dra. Liandra Pereira
Haro Schulenburg
Profa. Ma. Marlene Feuser Westrupp
Produção gráfica
Profa. Dra. Taiza Mara Rauen Moraes
Rafael Sell da Silva
Diagramação
Marisa Kanzler Aguayo
Impressão
Gráfica Impressul Ltda.
Tiragem ISBN
978-85-8209-055-8 (edição impressa)
500 exemplares
978-85-8209-054-1 (edição online)
Agradecimentos
Boa leitura!
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Capítulo 1
Design, Cultura e
Identidade
Novos cenários, novas formas de morar
New scenarios, new ways of living
BERNARDI, Daniela1
SOBRAL, João Eduardo Chagas2
1
Mestranda no Programa de Mestrado Profissional em Design pela Universidade da Região de
Joinville (Univille), especializada em Design de Interiores e graduada em Design de Produto pela
Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc). Atualmente é professora titular da Unoesc e
também atua como designer de interiores, com projetos residenciais, comerciais e promocionais.
E-mail: daniela.bernardi@unoesc.edu.br.
2
Doutor em Design e Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC-Rio), mestre em Educação pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (Furb),
graduado em Comunicação Visual pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Foi chefe
do Departamento de Design da Univille no período de 2002 a 2012. Atualmente representa o
estado de Santa Catarina como membro do Colegiado de Design do Conselho Nacional de
Políticas Culturais (CNPC), do Ministério da Cultura. É consultor ad hoc da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Estadual de Educação
de Santa Catarina (CEE/SC), além de coordenador do Programa de Mestrado Profissional em
Design e professor titular da Univille. E-mail: sobral141@gmail.com.
Novos cenários, novas formas de morar
n Introdução
Este artigo pretende demonstrar e analisar as transformações sociais
dos modos de morar ocorridas nos últimos anos, mudanças que, entre outros
fatores, determinaram a configuração de novos formatos familiares e espaços
residenciais. Para tal, foi realizada pesquisa bibliográfica buscando compreender
as transformações ocorridas ao longo da história. A análise feita com base
em pesquisa bibliográfica buscou categorizar os diferentes formatos familiares
e suas principais características, como também distinguir novos formatos de
espaços residenciais internos, identificando a transformação do modo de morar
e o usuário.
Os reflexos são inevitáveis no modo de vida da população, o que acarreta
mudanças no comportamento e no cotidiano das pessoas. Por meio desse
cenário, procurou-se averiguar se essas transformações causaram também
mudanças no modo de morar e, consequentemente, na configuração dos
espaços residenciais, análise feita na perspectiva do design de interiores. Para
Kumar (1997, p. 9), “ao longo do último quarto de século, temos ouvido
persistentes afirmações de que as sociedades do mundo ocidental ingressaram
em uma nova era de sua história”. Esse autor finaliza: “Vivemos, de fato, em
um mundo saturado de informações e comunicações. A natureza do trabalho
e a organização industrial estão de fato mudando com uma rapidez alucinante”
(KUMAR, 1997, p. 210). Portanto essas afirmações também devem incluir a
compreensão de como os diversos grupos sociais se comportam na interação
com os espaços. No caso dos grupos domésticos, além da tradicional família
nuclear (pai, mãe e filhos), observa-se que novos grupos estão surgindo.
A importância desta pesquisa está relacionada ao fato de que por meio
do espaço interno se entende o significado das ações nele praticadas, das mais
cotidianas e íntimas às públicas ou formais. Assim, identificar que tipos de espaço
residencial melhor caracterizam os modos de vida atuais é relevante, como
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BERNARDI, Daniela | SOBRAL, João Eduardo Chagas
moradia, pois esta, além de ser funcional, confortável e segura, também deve
dar lucro, sendo a casa vista como uma acumulação de capital. Como explica
Wolff (1982), tudo que é produzido está localizado em estruturas sociais e, por
conseguinte, é afetado por elas. Assim, passa-se a usar bens materiais como
atributos e associações próprias à personalidade íntima, construindo-se uma
liberdade individual por meio da aquisição de bens de consumo. O fato de o lar
ser uma fábrica de ilusões privadas e um catálogo de gostos, valores e ideais
prontos torna o design doméstico revelador das condições da vida moderna.
Harvey (2011) reforça o pensamento de Sennet (1998) quando afirma
que nunca os objetos domésticos, junto com a indústria de vestuário, estiveram
tão conectados à identidade do homem e à construção do modo de vida.
Considerando a mudança de local, de tempo e de cultura, as transformações
do homem hoje têm se moldado nesses padrões nas sociedades organizadas
e globalizadas. As pessoas procuram um “eu” nos artefatos residenciais: elas
buscam ser individuais, mas querem ao mesmo tempo se adequar aos padrões,
surgindo daí os ideais de beleza e moral.
Para Forty (2007), as ideias sobre o lar variam entre as culturas e entre
períodos, assim como as noções do que é apropriado e belo, dando forma à
arquitetura e ao design de artigos para uso em espaços internos. O design desses
artigos diz às pessoas o que elas devem pensar sobre a casa e como devem
comportar-se dentro dela. A ideia de que a decoração expressava o caráter
pessoal foi se difundindo a partir do século XIX até os dias de hoje, aumentando
a vontade das pessoas em apresentar uma imagem satisfatória.
Nota-se que em diversos grupos que habitam os espaços residenciais a
revolução dos costumes também produziu ou estimulou a consolidação de novos
modos de morar e de novas atividades exercidas no espaço interno, permitindo
a execução de várias funções em um mesmo local e tempo, como a unificação
do espaço social e alimentação. A casa modifica-se, mesmo que em passos
lentos, em forma, tempo e conteúdo, trazendo no campo cultural a interação
entre design e cultura, essencial para que os objetos produzidos estejam em
sintonia com as necessidades das pessoas que os utilizarão.
O lar é então ambiente significativo na formação da história de vida das
pessoas, revelador de padrões de gostos e de hábitos que demonstram muito
sobre como o design e a arquitetura devem se comportar e se adaptar no
cotidiano e se voltar para as diversas identidades, que incluem, além da classe
social, fatores como gênero e faixa etária. Fica claro que relacionar moradias
a esses aspectos pode revelar diferentes vertentes de entendimento quanto aos
modos de morar.
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BERNARDI, Daniela | SOBRAL, João Eduardo Chagas
Aqui “companheirismo” tem o sentido de vínculo estabelecido entre duas pessoas,
relacionamento, união.
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n Considerações finais
Este artigo se propôs a fazer um levantamento bibliográfico das
transformações por que passaram os modos de vida do homem, para entender
como elas podem ter influenciado a configuração dos espaços residenciais e
assim ter um esboço do cenário atual em que se enquadram o modo de morar
e a configuração familiar.
Identificam-se as transformações mais essenciais para a evolução
dos modos de morar, sua relação com a estrutura familiar e com o espaço
residencial.
No século XX, o Brasil passou por várias transformações; os modos de
viver e de morar evoluíram também em meio a crises políticas e econômicas, sob
efeito das inovações tecnológicas e das transformações dos comportamentos
e das famílias. Novos grupos domésticos, inexistentes ou quase inexistentes,
surgiram, formando uma grande parcela da sociedade contemporânea.
Ainda de acordo com a pesquisa, a família brasileira passou por mudanças
importantes na sua estrutura, e há uma diversificação dos tipos de grupos
domésticos, com maior presença de arranjos diferentes da família nuclear
tradicional. Antes a família nuclear era a maioria nos censos realizados. Agora,
no século XXI, a família nuclear não é mais maioria absoluta. Isso é muito
significativo, pois outros grupos, como casais sem filhos e pessoas morando
sós, têm necessidades de espaços e arranjos internos diferentes dos da família
tradicional, antes predominante.
Com o início do século XXI o mundo passou por transformações dadas
pela comunicação e pela tecnologia, de modo que até a percepção do tempo
e do espaço foi modificada. As maneiras de viver e de morar neste século não
parecem se distinguir muito das do anterior, mas descobre-se que há diferenças
muito profundas. Uma nova e constante transformação no cenário cultural e
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BERNARDI, Daniela | SOBRAL, João Eduardo Chagas
social faz com que essas diferenças estejam continuamente em transição. Uma
das maiores influências hoje são os meios de comunicação digitais instantâneos,
representados pelos telefones celulares e mais ainda pela internet. Os modos de
morar são influenciados por essas mudanças, que às vezes ocorrem de forma
imprevista e independente da vontade dos moradores.
Por meio da análise dos cenários que envolvem o contexto pesquisado,
chega-se a uma reflexão de que a residência passou a ser um local de refúgio,
como também de lazer e intimidade. As mudanças que caracterizam o espaço
interno hoje mostram sua relevância cultural e já estão instaladas nos hábitos
da sociedade.
Portanto os resultados alcançados por meio deste artigo configuram uma
aprendizagem maior acerca do tema e dos cenários cultural e social em que está
inserido, bem como favorecem uma visualização das tendências de moradias e
da configuração de seus espaços internos residenciais.
n Referências
BERQUÓ, Elza. A família no século XXI: um enfoque demográfico. Revista
Brasileira de Estudos de População, jul.-dez. 1989.
GRUBER, Valdirene1
SANTOS, Adriane Shibata2
1
Mestranda no Programa de Mestrado Profissional em Design pela Universidade da Região de
Joinville (Univille), especialista em Gestão de Moda pela Estácio de Sá, graduada em Moda pela
Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). Atua como docente do departamento de
Design da Univille. E-mail: valdirene.gruber@univille.br.
2
Doutora em Design pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/Rio). Atua
como professora do departamento de Design e do Mestrado Profissional em Design da Univille.
E-mail: adriane.shibata@univille.br.
GRUBER, Valdirene | SANTOS, Adriane Shibata
n Introdução
O material têxtil é uma das mais antigas manufaturas do homem que
evoluiu com a industrialização, o design e a tecnologia. Como material têxtil3
se denominam as fibras, os fios e os tecidos, que por meio de seus processos
criativos e produtivos são expressões de tendência, simbolismo e cultura.
A cultura está ligada à formação das sociedades, que compreende suas
crenças, artes, costumes e expressa seu comportamento e identidade. Por
cultura material se entende o conjunto de artefatos produzidos e utilizados em
determinada sociedade, com significados particulares que refletem seus valores
e referências culturais (ONO, 2006).
Este artigo objetiva identificar o produto têxtil como cultura material no
contexto sociocultural. Traz uma reflexão teórica interdisciplinar que aborda
história, sociologia, filosofia, museologia, cultura material e design, fundamentada
em Pezzolo (2007) e Udale (2009), que estudam o material têxtil nos seus
aspectos históricos e culturais; Forty (2007), que apresenta os tecidos como
meio de possível identificação de classes sociais; Bourdieu (2008), que expõe a
prática do design como cultura e fator de distinção social; Cipiniuk (2014), que
trata o design como produção social; Sant’Anna (2007), que estuda a teoria
da moda e relaciona a inspiração dos tecidos com as características culturais;
Ono (2006), que estuda a sintonia entre design e cultura material; e Andrade
e Monteiro (2010), que abordam a cultura material das roupas.
Este trabalho também analisa o cenário da Döhler, indústria têxtil
situada em Joinville (SC), uma das maiores empresas nacionais do setor têxtil
no segmento de cama, mesa, banho e decoração. A empresa de tecelagem
desenvolve materiais têxteis desde fibra, fio e tecido até alguns produtos têxteis4
confeccionados. Ela tem mais de cem anos de história, referida pela experiência
vivenciada dos profissionais ao longo dos anos. Além de sua história, a empresa
3
Agrupam-se sob essa designação três espécies de produtos: as fibras, que podem
ser naturais, artificiais e sintéticas; os fios, que por diferentes processos mecânicos
ou químicos são construídos da junção dessas fibras; e os tecidos, que são obtidos do
entrelaçamento de fios (RIBEIRO, 1984).
4
Referem-se a produtos que, em seu estado bruto, beneficiado, manufaturado ou confeccionado,
são compostos de pelo menos 80% de fibras ou filamentos têxteis (IPEM-AP, 2015).
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O material têxtil: cultura material que tece uma história
Filamento têxtil – é toda matéria natural de origem vegetal, animal ou mineral, assim como todo
material químico artificial ou sintético, que, pela sua alta relação entre comprimento e diâmetro,
e ainda por suas características de flexibilidade, suavidade, alongamento e finura, se torna apta a
aplicações têxteis (IPEM-AP, 2015).
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O material têxtil: cultura material que tece uma história
n O produto têxtil e a cultura material
O produto têxtil por si só, ou no contexto da moda, comunica os
momentos históricos, os valores, a identidade e a cultura material de uma
sociedade.
Cultura material é definida como “o conjunto de artefatos produzidos
e utilizados pelas culturas humanas ao longo do tempo, sendo que, para cada
sociedade, os objetos assumem significados particulares, refletindo seus valores
e referências culturais” (ONO, 2006, p. 104).
O termo cultura compreende várias definições da antropologia e da
sociologia, entre outras ciências. Segundo a abordagem de Geertz (1989 apud
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O material têxtil: cultura material que tece uma história
ONO, 2006, p. 1), “entende-se cultura como a teia de significados tecida pelas
pessoas na sociedade, na qual desenvolvem seus pensamentos, valores e ações,
e a partir da qual interpretam o significado de sua própria existência”.
Os materiais têxteis apresentam usos e significados específicos de cada
sociedade; a sua cultura pode ser percebida nas estampas dos tecidos, as
quais simbolizam a arte, o movimento ou o comportamento social. Um tecido
que exprime a cultura brasileira é a chita, que se destaca dos tecidos florais
considerados populares.
Foi a partir dos anos 1980, com o avanço nos estudos da cultura material,
que a “roupa”, constituída de material têxtil, foi vista não apenas como ilustração
de pesquisa, mas como o próprio documento a ser pesquisado (ANDRADE;
MONTEIRO, 2010).
O estudo da cultura material é multi e interdisciplinar. Segundo o antropólogo
Daniel Miller (1998 apud ANDRADE; MONTEIRO, 2010), os métodos para
sua análise com abordagens da história, arqueologia, geografia, design e literatura
são contribuições aceitáveis, e seus trabalhos estão essencialmente focados nos
estudos da cultura material do consumo e do valor. Já os estudiosos das áreas de
sociologia ou estudos culturais analisam a “roupa” em relação com a sociedade,
com as identidades culturais ou com aspectos econômicos e políticos concernentes
ao consumo e ao poder. Os conservadores têxteis consideram os aspectos dos
materiais têxteis em suas pesquisas, nas práticas de preservação, a fim de evitar
a degradação de tecidos ocasionada pelo tempo.
No estudo da cultura e materialidade de roupas e tecidos, Andrade (2006)
afirma que os artefatos apresentam uma vida social, cultural e política; eles
explicitam as relações dos objetos com as pessoas e devem ser preservados como
fonte de pesquisa histórica. O museu, no sentido de preservar, conservar, torna
acessíveis os acervos têxteis e de vestuário, como documento para pesquisa
acadêmica.
No campo da museologia, alguns acervos abrigam materiais têxteis,
mesmo não sendo o espaço apropriado. Um exemplo citado por Sant’Anna
(2008) é o Museu Histórico Nacional, que possui produtos de vestuário
pertencente à Família Real, mesmo não sendo o seu foco preservar o acervo
de suporte têxtil.
No momento em que um vestuário-moda faz parte do acervo de uma
instituição cultural, ele é compreendido como um objeto têxtil tridimensional,
fonte primária para o conhecimento histórico, artístico e cultural. A moda é
Chita: termo hindu para o tecido pintado com cores vibrantes. Trata-se de um tecido que se
originou na Índia, cujo nome em inglês é chintz (UDALE, 2009).
Patrícia Sant’Anna (2008) pesquisa a moda no museu, e Mara Rúbia Sant’Anna (2007) estuda
a teoria da moda.
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GRUBER, Valdirene | SANTOS, Adriane Shibata
Desenvolvimento de produtos
Ela declara ainda que são desenvolvidas duas coleções por ano: uma
lançada em fevereiro e outra em agosto. A Coleção Sentimentos 2015 foi
dividida por subtemas e painel semântico com referências ao comportamento do
consumidor, que corresponde a 45% românticos, 25% ecléticos, 15% clássicos
e 15% vanguardistas (figura 3).
Para cada nova coleção lançada é feita uma explanação dos subtemas
aos representantes e vendedores. Alguns produtos apresentam segmentos
por “família”, formada por peças conjugadas, sendo tendência de mercado.
O lançamento da Coleção 2016 em agosto teve como inspiração o tema
“Mixologia: uma mistura do passado e futuro”.
Os produtos são divulgados na revista Estilo D e no site institucional,
além de serem espalhados em todas as capitais do país no projeto Momento
Döhler.
n Considerações finais
O material têxtil, nos aspectos históricos e socioculturais, foi uma
das primeiras manufaturas descobertas há milhares de anos e atualmente
é considerado a principal matéria-prima produzida nas indústrias têxteis
catarinenses.
A cultura material compreende o conjunto de artefatos produzidos e
utilizados pela sociedade. A cultura está ligada à formação das sociedades e
expressa seu comportamento, costumes, arte e design. O produto têxtil pode
constituir um documento da cultura material que simboliza o desenvolvimento
industrial e comunica a cultura de determinada região.
Considerando que o produto têxtil se destaca no desenvolvimento
industrial catarinense, e diante da análise da Döhler, observou-se que o material
têxtil dessa empresa é “feito por mãos brasileiras”, o qual comunica a história da
região e o comportamento da sociedade e expressa a cultura, podendo assim
ser tratado como cultura material.
Tendo em vista que, por meio das fibras, dos fios e dos tecidos é possível
estudar a história, o desenvolvimento industrial, o avanço tecnológico e o design
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GRUBER, Valdirene | SANTOS, Adriane Shibata
n Agradecimentos
• PQD/Univille: Programa de Qualificação Docente;
• Empresa Döhler: gerente de pesquisa e desenvolvimento – Elizabeth
Döhler.
n Referências
ANDRADE, Rita. Por debaixo dos panos: cultura e materialidade de nossas
roupas e tecidos. In: PAULA, Teresa Cristina Toledo de (Org.). Tecidos e
sua conservação no Brasil: museus e coleções. São Paulo: Museu Paulista
– USP, Universidade de São Paulo, 2006.
_____. Do que é feita uma vida completa? Döhler completa sua vida.
Catálogo. Joinville, jul. 2015b.
PEZZOLO, Dinah Bueno. Tecidos: história, tramas, tipos e usos. São Paulo:
Senac, 2007.
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Design contemporâneo e diaconia: uma
reflexão acerca dos cenários de atuação
onde o bem-estar humano
permeia o contexto
Contemporary design and diaconia: a reflection
about the scene where practice the well-being human
composes the context
1
Mestranda no Programa de Mestrado Profissional em Design pela Universidade da Região de
Joinville (Univille). E-mail: m.stahn@univille.br.
2
Doutora em Design e Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-
Rio), professora do departamento de Design da Univille. E-mail: marli.teresinha@univille.br.
STAHN, Maria Odete | EVERLING, Marli T.
Abstract: This research seeks to reflect the design in light of the social and
cultural context as well as the approaches that can be glimpsed from the
design's relationship with the diaconate, a term used to describe the social
work done by the Lutheran Church in partnership with other churches and
institutions seeking to develop activities that provide improved quality of
life of the human being in society. The study was based on a sociological
approach, through the contemporary manifestations of design as well,
contextualizes the diaconate and its dimensions, through a case study of
cooperation between design and diakonia.
Keywords: contemporary design; diaconia; social context.
n Introdução
A reflexão exposta neste artigo é parte introdutória de uma dissertação
do programa de Mestrado Profissional em Design da Universidade da Região de
Joinville (Univille). Tal pesquisa busca conhecer as abordagens contemporâneas
do design no contexto social e cultural e as ações que podem ser compartilhadas
e trabalhadas em parceria com a diaconia, termo utilizado para definir o exercício
da fé transformado em ações concretas aplicadas na comunidade. A diaconia
faz parte da tríade que forma a estrutura da Igreja Luterana. Apesar de abordar
tema religioso, a pesquisa procura centrar sua análise no campo social e não
defender ideologia religiosa.
Para falar sobre religião, buscou-se amparo na concepção de campo
religioso segundo a teoria do sociólogo Pierre Bourdieu (1930-2002), bem como
as divisões do trabalho religioso. Esta reflexão tem como finalidade localizar
a estrutura religiosa no tempo e no espaço por meio da relação das trocas
simbólicas com o meio material no contexto social. Para conseguir visualizar o
espaço de atuação do design e a diaconia na sociedade, um passeio pela história
colaborou para a compreensão dos eventos que tornaram a sociologia a ciência
que tem a sociedade como laboratório de estudos. Nesse cenário, observou-se
a ordem de organização social que compreendia inicialmente a família, a Igreja
e os grupos como instituições mantenedoras dos valores éticos e morais da
sociedade. Os movimentos apresentam de forma contínua os sentimentos que
estão latentes, gerando mudanças e reflexões nos cenários sociais, culturais,
políticos, religiosos, econômicos e ambientais.
O design contemporâneo revela-se campo de estudo em que o conceito
“forma e função” do design começa a ceder espaço para abordagens mais
subjetivas que conseguem agregar sensibilidade ao processo no que tange a
atender às aspirações dos usuários de forma holística sem perder de vista a
forma e a função, assim como os anseios que os movimentos sociais apontam.
A diaconia é estudada para compreender o contexto onde atua, os pontos de
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Design contemporâneo e diaconia: uma reflexão acerca dos cenários de atuação onde o
bem-estar humano permeia o contexto
n Contextualização
Este estudo busca inicialmente compreender e contextualizar as
abordagens do design na contemporaneidade e onde ele possa promover troca
de conhecimentos, de modo a agregar valor a práticas artesanais sem perder
de vista o artífice, levando em conta seus anseios como meio para fomentar o
protagonismo e o empoderamento do indivíduo no contexto social.
Permeando os cenários sociais com amparo nas contribuições e desafios
propostos pela disciplina Cenários Culturais e Sociais, ofertada pelo programa
de mestrado, vários contextos foram explorados, possibilitando um delineamento
em que arte e cultura se encontram e promovem um diálogo, tendo o contexto
social como pano de fundo nos dias atuais. Para trilhar o caminho do cenário
social, é importante entender como a sociologia tipifica ou caracteriza os cenários:
estes são entendidos como movimentos sociais, possuem subdivisões nas quais se
identificam grupos sociais e seus campos de atuação. A contextualização inicial foi
referenciada com os estudos do sociólogo Pierre Bourdieu (1974), em seu capítulo
2 (“Gênese e estrutura do campo religioso”), como meio de compreender o
cenário social e cultural no campo religioso. O periódico eletrônico Protestantismo
em Revista colaborou com a leitura de artigo que complementou a compreensão
da teoria defendida por Bourdieu no cenário religioso (REBLIN, 2007). A obra
de Martins (2013) contribuiu para entender o campo de atuação da sociologia
e seus referenciais. Em relação à elucidação dos termos, a consulta foi feita no
Dicionário de filosofia (ABBAGNANO, 2014).
Pensando em movimentos sociais, efetuou-se uma análise da relação entre
design e diaconia; ambos estão inseridos no contexto social e cultural, cada um
com suas filosofias e métodos de trabalho, porém com um objetivo em comum:
promover ações que estimulem o empoderamento do ser humano para uma
atividade plena na sociedade. O estudo originou-se de experiências vivenciadas
pela pesquisadora durante trabalho voluntário com o grupo Pontos de Amor
(composto por mulheres voluntárias), que faz parte do setor de Diaconia da
Comunidade Evangélica de Joinville – Paróquia São Mateus. Cabe ressaltar
que o viés que a pesquisa pretende seguir não está pautado por nenhuma
ideologia religiosa, e sim tenciona explorar novos cenários em que o design
possa atuar como agente agregador de saberes tácitos, transformando-os em
valores objetivos e subjetivos e promovendo interação entre a teoria e a prática.
Pensou-se nesse cenário como campo de atuação em que o design e uma
instituição religiosa com característica ecumênica são associados para promover
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STAHN, Maria Odete | EVERLING, Marli T.
Bens materiais no campo religioso: cobrança de dízimos e de outros serviços, como celebração de
casamentos, batizados, entre outros, praticados por algumas igrejas para manter suas estruturas
físicas e salários dos funcionários e pastores.
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Design contemporâneo e diaconia: uma reflexão acerca dos cenários de atuação onde o
bem-estar humano permeia o contexto
n Movimentos sociais
Como meio de reconhecimento de espaço, buscou-se compreender o
significado da palavra movimento, no contexto filosófico e sociológico, haja vista
ela ser empregada no cenário tanto cultural quanto social. A investigação iniciou-
se pela significação da palavra “mudança” em um dicionário de filosofia, pois,
ao tentar relacionar o design a um segmento que atua em um cenário religioso,
parecia inicialmente o termo mais apropriado, considerando o pressuposto de
que, com base nessa análise, o resultado seria propor uma mudança na forma de
cooperação em relação à atuação tanto do design quanto da diaconia. Ao fazer
a busca pela palavra mudança, deparou-se com a seguinte definição: “o mesmo
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STAHN, Maria Odete | EVERLING, Marli T.
n Design contemporâneo
Lembrando que a reflexão vislumbra o cenário atual, utilizou-se a
abordagem de “contemporâneo” de Agamben (2009). Observa-se que o
conceito está relacionado ao momento e não a épocas específicas; não
importa o século ou a década em que ocorreu, mas sim materializa-se na
ruptura de um conceito, constituindo o surgimento de um novo, ou seja, o
contemporâneo ocorre no instante em que se percebe a mudança na forma de
pensar. Segundo o posicionamento do autor, a humanidade não está vivendo
a era contemporânea, pois o conceito de contemporâneo está relacionado à
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STAHN, Maria Odete | EVERLING, Marli T.
n Diaconia
Para fundamentar a pesquisa sobre diaconia, utilizou-se como fonte o
caderno Diaconia em contexto: transformação, reconciliação, empoderamento
(FLD, 2004), material desenvolvido pela Federação Luterana Mundial (FLM)
e pela Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Tal pesquisa
foi feita no portal da Fundação Luterana de Diaconia (FLD – 2015) e no Portal
Luteranos, onde é possível encontrar materiais publicados pela Editora Sinodal,
entre outros documentos de produção da fundação.
A diaconia é uma das dimensões centrais do Plano de Ação Missionária da
IECLB (Pami). Ela faz parte da tríade que compõe as dimensões teológicas da
Igreja Luterana, estando relacionada com os princípios norteadores das práticas
litúrgicas utilizadas pela Igreja. O luteranismo iniciou-se no século XVI, com o
movimento reformatório, instaurado pelo monge Martim Lutero. O propósito da
Reforma era reconduzir a igreja evangélica conforme entendimento de Lutero
do que estava descrito na Bíblia. Em 1558 chegaram os primeiros luteranos ao
Brasil, na cidade de São Vicente, em São Paulo, e o primeiro culto evangélico
foi celebrado no estado do Rio de Janeiro. O Império colocava limites para
a realização dos cultos, por reconhecer apenas a Igreja Católica Apostólica
Romana como igreja em solo brasileiro, conforme descrito na constituição.
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Design contemporâneo e diaconia: uma reflexão acerca dos cenários de atuação onde o
bem-estar humano permeia o contexto
n Considerações
Diante das observações feitas durante a pesquisa sobre o contexto do
design e suas abordagens contemporâneas, a diaconia e seu trabalho no campo
religioso, percebe-se uma convergência em cujo centro está o ser humano.
Ambas as abordagens buscam desenvolver ações cujos benefícios possam ser
sentidos e percebidos pelo indivíduo. Amparados pelo conhecimento e seus
métodos de pesquisa (o design por meio de suas abordagens ou estudos de caso
e a diaconia por intermédio da realidade percebida e com base na fé), ambos
buscam resolver um problema, seja ele material ou imaterial. Acredita-se que
design e diaconia podem ser associados, de modo a promover um encontro
entre o mundo acadêmico, que atua com foco no conhecimento e na reflexão
sobre a prática, e o da diaconia, que por sua vez opera no campo simbólico
em que o subjetivismo é o método que norteia as ações, porém os resultados
são percebidos em ações que se materializam na sociedade.
Este texto constitui o início de uma reflexão que será aprofundada no
decorrer do trabalho dissertativo do Mestrado Profissional em Design, que
pretende analisar e apresentar abordagens nas quais design e diaconia possam
atuar juntos, promovendo movimentos de cooperação pautados pela pesquisa
exploratória com base nos apontamentos de Bourdieu, que defende a pesquisa
de campo como uma das formas de analisar os eventos da sociedade, por
meio da observação. A pesquisa não pretende discutir o cenário religioso mas
sim explorar o campo de atuação da diaconia e a possibilidade de trocas de
conhecimentos e saberes com o design no campo social.
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Design contemporâneo e diaconia: uma reflexão acerca dos cenários de atuação onde o
bem-estar humano permeia o contexto
n Referências
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes,
2014.
REBLIN, Iuri Andréas. Poder & intrigas, uma novela teológica: considerações
acerca das disputas de poder no campo religioso à luz do pensamento de Pierre
Bourdieu e de Rubem Alves. Protestantismo em Revista, São Leopoldo,
v. 14, p. 44-66, set.-dez. 2007. ISSN 1678-6408. Disponível em: <http://www3.
est.edu.br/nepp/revista/014/ano06n3.pdf>. Acesso em: 14 jun. 2015.
Design de Moda e
Sociedade
Tendências de moda em um
contexto social
Fashion trends in a social context
1
Mestre em Design Profissional pela Universidade da Região de Joinville (Univille), graduada em
Moda e especialista em Marketing e Comportamento do Consumidor pela Fundação Universidade
Regional de Blumenau (Furb). Pesquisadora na área de tendência de moda e comportamento
de consumo no caderno Inova Moda. Consultora em pesquisa de moda e desenvolvimento de
produto, sendo responsável pelo projeto Santa Catarina Moda e Cultura no Senai/Blumenau, e
consultora no Instituto Senai de Tecnologia Têxtil, Vestuário e Design – SC. Professora da Pós-
Graduação em Moda e Gestão da Faculdade Senai/Blumenau. E-mail: rosezanchett@hotmail.
com.
2
Doutor em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-
SP), mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
especialista em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e graduado
em Administração de Empresas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Professor do quadro permanente da graduação e do Mestrado Profissional em Design da Univille.
E-mail: contato@ograndevendedor.com.
Tendências de moda em um contexto social
n Introdução
Trabalhar na área de moda e design, seja qual for a atividade que envolve
criação e desenvolvimento de produto, exige dos profissionais bons instrumentos
para realizar as pesquisas das tendências no âmbito global de moda, design,
contexto social, arte e comportamento.
n Tendências e macrotendências
Paralelamente às tendências, há as macrotendências, que têm como
objetivo identificar os cenários globais e os movimentos sociais nos dias
atuais. “Ao analisar as macrotendências é fundamental que os designers de
moda compreendam e transformem estas informações em conhecimentos
adequados às demandas do mercado” (BES; KOTLER, 2011, p. 70). Portanto,
o correto entendimento de ferramentas que retratem os movimentos políticos,
econômicos, sociais, culturais e os sistemas ambientais é fundamental para o
bom desempenho das atividades em um setor de criação.
Interpretar e analisar as pesquisas das macrotendências requer uma
metodologia clara e abrangente, que englobe uma análise de mercado adequada
para uma sociedade complexa, a qual reflete comportamentos de consumo
múltiplos. Segundo Bes e Kotler (2011, p. 70), as “macrotendências duram
de cinco, no mínimo, a dez anos, e já as tendências duram de um ano, no
mínimo, até cinco anos, no máximo”. Sendo assim, é fundamental uma análise
significativa das pesquisas e das informações observadas nos cenários da moda
para que os designers de moda tenham um bom entendimento das informações
e estas sejam adaptadas às necessidades de consumo.
expressão cultural. Para Kotler (2000, p. 185), além dos “fatores culturais, o
comportamento do consumidor é influenciado por fatores sociais, como grupos
de referência, família, papéis sociais e status”. De acordo com esses conceitos,
captar e interpretar as tendências e as macrotendências requer uma análise
aprofundada para transformar dados em informações, e estas, em conhecimento
adequado ao mercado de consumo.
a empresa nem sempre pode gerir. Essa inovação pode ser entendida como o
desenvolvimento de uma nova cultura na empresa, a qual requer o envolvimento
de pessoas criativas e comprometidas e principalmente focadas nas estratégias e
responsabilidades de cada profissional em sua área de atuação, com clareza de
suas atividades e definição de seus procedimentos. Bes e Kotler (2011) observam
que a inovação parte de um modelo de negócio que impõe uma mudança
profunda, gerando novos valores, novas formas de pensamento, e por isso requer
uma organização e reestruturação da empresa, bem como a objetivação do
mercado, visando atender às necessidades e novas situações de compra.
Segundo Faccioni (2011), o desenvolvimento da tecnologia industrial está
chegando a níveis jamais pensados, e novos produtos com alto valor tecnológico
estão modificando para sempre as exigências dos consumidores. Quem trabalha
com pesquisa de moda, design, comportamento ou tendências precisa estar
atento a todas as variáveis possíveis, ou seja, precisam ser profissionais com
habilidades e qualificações adequadas para acompanhar, identificar e codificar,
de acordo com a realidade da empresa, todos os movimentos relacionados à
inovação e ao mercado que possam fazer a diferença.
Nesse sentido, Mozota (2011) considera que a função do designer não está
relacionada somente à forma ou à estética do produto, como também a uma
ferramenta de gestão em desenvolvimento e criação, por meio de processos e
da compreensão dos anseios e desejos do consumidor. Tal ferramenta, por sua
vez, tem de estar alinhada às ações conjuntas da empresa com a tecnologia no
desenvolvimento de novos produtos, diferenciados e com valores intrínsecos,
que possuem uma adição de benefícios correspondendo a um mercado mais
exigente e informado.
n Considerações finais
Entender as tendências e macrotendências da moda é fundamental para
o desenvolvimento científico e os avanços tecnológicos, por meio dos quais as
empresas tomam novos rumos nunca antes pensados. O designer de moda,
por sua multidisciplinaridade, deve trabalhar as novas tecnologias para facilitar
a rapidez e a importância dessas informações na pesquisa em todos os setores
do conhecimento.
As empresas e os designers de moda precisam estar cada vez mais
conectados, por meio de suas pesquisas, com o mundo e com tudo o que
acontece ao seu redor, observando o comportamento do consumidor e os
movimentos sociais. Ou seja, é fundamental o acompanhamento da atualidade
no mundo, sobretudo dos cenários apresentados nos grandes centros lançadores
de tendências tecnológicas, que estão relacionados às questões fundamentais de
74
ZANCHETT, Rosenei Terezinha | AGUIAR, Victor
n Referências
BASILE, Aissa Heu; LEITE, Ellen Massucci. Como pesquisar moda na
Europa e nos EUA. São Paulo: Senac, 1996.
MOZOTA, Brigitte Borja de. Gestão de design: usando o design para construir
valor de marca e inovação corporativa. Porto Alegre: Bookman, 2011.
PIRES, Dorotéia Baduy (Org.). Design de moda: olhares diversos. São Paulo:
Estação das Letras e Cores, 2008.
HERMES, Leticia1
MORGENSTERN, Elenir Carmen2
Resumo: Este artigo apresenta uma reflexão acerca das relações entre
moda e produção sociocultural. Analisa as relações de reciprocidade entre
sociedade e moda, levando em conta o contexto histórico-sociocultural.
Para isso, considera características de três projetos sociais que utilizam
a moda como viés de capacitação pessoal e profissional, com foco em
geração de renda e valorização da cultura artesanal local. O escopo
1
Mestranda no Programa de Mestrado Profissional em Design e graduada em Design com ênfase
em Moda pela Universidade da Região de Joinville (Univille). Possui experiência em webdesign e
desenvolvimento de produto de moda e interiores. E-mail: lethermes@gmail.com.
2
Doutora em Design pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), mestre
em Educação nas Ciências pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande
do Sul (Unijuí). Professora titular no curso de Design e no Mestrado Profissional em Design da
Univille. É autora dos livros Arte, experiência e intersubjetividade (Editora Unijuí, 2004), Grito
preso na garganta (Editora Unijuí, 1999) e Ressurgir (Editora Unijuí, 1992), além de coautora dos
livros Ambientes virtuais de aprendizagem (Editora da UFSC, 2008), Linguagem, escrita e mundo
(Editora Unijuí, 2000), Educação, saberes distintos, entendimento compartilhado (Editora Unijuí,
2000), Todo dia é dia especial (Editora Unijuí, 1998) e Porções de bem querer (Editora Unijuí, 1997).
E-mail: elenir.m@gmail.com.
A moda em contexto sociocultural: um estudo de projetos sociais relacionados à moda
n Introdução
Este artigo, configurando-se em início de investigação de Mestrado em
Design, desenvolvido na Universidade da Região de Joinville (Univille), objetiva
refletir acerca da moda enquanto produto de determinada sociedade e como
influência sociocultural. Para isso, ancorou-se a pesquisa em um aporte teórico
baseado, principalmente, nas concepções de Bourdieu (2002), Lipovetsky (2013)
e Fletcher (2011). O estudo é desenvolvido por meio da análise de três projetos
sociais que utilizam a moda como viés de suas oficinas e de geração de renda.
Projeto social é um plano ou um esforço solidário que tem como objetivo melhorar um ou
mais aspectos de uma sociedade. Normalmente tem como propósito ajudar um grupo mais
desfavorecido ou discriminado (sem abrigo, dependentes químicos etc.). Muitos projetos sociais são
criados por organizações não governamentais (ONGs), a fim de mudar uma realidade existente.
Essas iniciativas potencializam a cidadania e a consciência social dos indivíduos, envolvendo-os
na construção de um futuro melhor (SIGNIFICADOS, 2015).
82
HERMES, Leticia | MORGENSTERN, Elenir Carmen
Universidade de Caxias do Sul e dos artesãos da região. De Carli (2012) cita que
muitas carências para o artesanato da serra gaúcha podem ser supridas com o
envolvimento de projetos que permeiem conhecimentos de design de moda.
Nesse mesmo aspecto, Fletcher (2011) ainda explica que o designer pode
unir diferentes estilos culturais, tendo como resultado produtos que expressem
a característica do artesanato e por outro lado se ajustem às necessidades do
mercado-alvo. Entretanto, de acordo com o autor, devem ser levadas em conta
as tradições da atividade do artesão e as limitações e exigências do mercado.
O resultado positivo atingido pelo ProModa adveio da iniciativa de parte
das integrantes em formar uma associação intitulada Damas & Tramas. Por
meio do Projeto ProModa, as integrantes perceberam a similaridade de suas
vivências e expectativas profissionais, o que culminou no empoderamento
delas. O surgimento da associação objetivou promover e disseminar, por meio
do próprio trabalho, o artesanato da região, baseado em rendas, tramas e
bordados, conhecimentos herdados dos imigrantes. Além disso, as integrantes
da associação participaram de um curso de extensão chamado “Aprendendo a
ensinar: artesanato como preservação e fonte de renda”, cujo objetivo é preparar
as artesãs para serem professoras, disseminando o conhecimento adquirido (DE
CARLI; PERETTI, 2013).
Em Santa Catarina, na cidade de Joinville, outro projeto, vinculado à
Univille, possui objetivo muito similar ao ProModa: instruir artesãs para além do
artesanato, com saberes do design. Intitulado SempreViva, o projeto de extensão
da Univille, em parceria com a Secretaria de Assistência Social de Joinville,
84
HERMES, Leticia | MORGENSTERN, Elenir Carmen
Para obter mais informações sobre a Incubadora de Economia Solidária, acesse o site <http://
www.feevale.br/institucional/institutos-academicos/instituto-deciencias-sociais-aplicadas-icsa/
projetos-e-laboratorios/incubadora-de-economia-solidaria>.
87
A moda em contexto sociocultural: um estudo de projetos sociais relacionados à moda
n Considerações finais
O artigo apresentou um fragmento de pesquisa de Mestrado em Design.
Abordou a moda em contextos socioculturais e verificou sua relação direta com
a sociedade, indagando sobre a influência nela exercida e dela recebida. Analisou,
brevemente, três projetos sociais que instituem a moda como espinha dorsal
de seu desenvolvimento, considerando seu impacto direto nas integrantes dos
projetos e o impacto indireto absorvido por todos os agentes envolvidos.
O objetivo desta reflexão foi analisar resultados dos projetos sociais
expostos, considerando questões extraestéticas e tendo como escopo teórico
as abordagens sociais.
Concluiu-se que a moda, enquanto produto social, afeta a estrutura
em que interagem os agentes integrantes desse campo. O sistema da moda,
produtor de signos, influencia a cultura e a sociedade e é influenciado por elas.
O vestuário, entendido como expressão cultural, fruto de habitus instituídos,
configura-se em modo de comunicação entre agentes e sociedade.
Os resultados dos projetos, descritos por meio das capacitações, evidenciam
que com o conhecimento prévio (artesanato) e com o conhecimento adquirido
(saberes do design e da moda) boa parte dos integrantes conquista autonomia
e posição de agente social. Tais agentes desenvolvem seus conhecimentos
valorizando as características locais, os saberes herdados e os saberes adquiridos
na capacitação, reconhecendo o potencial cultural e social desse aspecto. A
88
HERMES, Leticia | MORGENSTERN, Elenir Carmen
n Agradecimentos
Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes) e à Univille.
n Referências
BALDINI, Massimo. A invenção da moda: as teorias, os estilistas, a história.
Lisboa: Edições 70, 2006.
CEZAR, Marina Seibert. Projeto de extensão com foco na moda social. In:
COLÓQUIO DE MODA, 6. Anais... São Paulo, 2010. Disponível em: <http://
www.coloquiomoda.com.br/anais/anais/6-Coloquio-de-Moda_2010/71697_
Projeto_de_Extensao_com_foco_na_moda_social.pdf>.
1
Mestranda no Programa de Mestrado Profissional em Design pela Universidade da Região de
Joinville (Univille). E-mail: jessicaalmenau@gmail.com.
2
Doutora em Design pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), mestre
em Educação nas Ciências pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande
do Sul (Unijuí). Professora titular no curso de Design e no Mestrado Profissional em Design da
Univille. É autora dos livros Arte, experiência e intersubjetividade (Editora Unijuí, 2004), Grito
preso na garganta (Editora Unijuí, 1999) e Ressurgir (Editora Unijuí, 1992), além de coautora dos
livros Ambientes virtuais de aprendizagem (Editora da UFSC, 2008), Linguagem, escrita e mundo
(Editora Unijuí, 2000), Educação, saberes distintos, entendimento compartilhado (Editora Unijuí,
2000), Todo dia é dia especial (Editora Unijuí, 1998) e Porções de bem querer (Editora Unijuí, 1997).
E-mail: elenir.m@gmail.com.
Agentes produtivos e organizações no campo da moda: possíveis práticas cooperativas
n Introdução
Este artigo apresenta parte da investigação de Mestrado Profissional
em Design intitulada “Indústria de moda e projetos sociais: possíveis práticas
de cooperação”. A pesquisa objetiva desenvolver um processo de cooperação
entre a indústria de moda Dente d’Leão e o projeto social AmaViva/Extensão
Univille que considere questões econômicas, sociais, culturais e ambientais.
É importante evidenciar que a pesquisa, ancorada na abordagem social
do conhecimento, aplicará o método de Pierre Bourdieu como base do estudo.
Assim, propõe-se uma análise das práticas cooperativas, no ramo da moda,
com base em dois conceitos-chave do método de Bourdieu: o campo e o
habitus. A investigação avaliará e definirá possíveis práticas cooperativas entre
indústria de moda e projeto social, as quais visam à geração de trabalho e renda,
focalizando em estratégias de design e saberes artesanais, ambos orientados
para a sustentabilidade e a valorização cultural e social.
O objetivo central deste artigo é identificar e compreender experiências,
ou seja, processos, ferramentas e diretrizes já aplicados com resultados positivos.
Para tanto, será realizada uma análise de práticas de cooperação entre agentes
Segundo Setton (2008, p. 120), Pierre Bourdieu é considerado um dos maiores sociólogos de
língua francesa das últimas décadas e um dos mais importantes pensadores do século XX. Sua
produção intelectual, desde a década de 1960, vem se destacando no cenário acadêmico, pois se
estende por uma grande variedade de objetos e temas de pesquisa – educação, cultura, moda,
artes, gênero, entre outros.
92
SILVA, Jéssica de Almenau | MORGENSTERN, Elenir Carmen
n Teoria na prática
Partindo do ponto de vista de que a prática é a comprovação de todo
o estudo científico, seria insustentável deixá-la de lado ao projetar um estudo
com base social aplicada. Assim, o método de Bourdieu torna-se o pilar de toda
a construção de conhecimento aqui expresso, por tratar-se de processo que
consiste não apenas na reunião de escopos e pensamentos preexistentes, mas
na análise e aplicação da teoria, para que, a partir desse ponto, se construa de
fato algum conhecimento.
Para Bourdieu (2013), muitas vezes a prática é considerada negativa se
confrontada à lógica do pensamento do discurso (razão). Em contrapartida, para
que o desenvolvimento de uma razão tenha valor científico é preciso valer-se
de argumentos, demonstrações e refutações, ou seja, não há como estudar
o campo de produção cultural deixando de lado a ação. Se a prática não for
considerada em uma investigação científica, o estudo ainda é prisioneiro de
uma ilusão escolástica que acredita que apenas a lógica faz o discurso valer
cientificamente (BOURDIEU, 2011).
Segundo Setton (2008), Bourdieu defende a ciência social reflexiva e
propõe colocar questões sobre diversos olhares científicos, visando à quebra de
doutrinas e paradigmas, para que se consiga esmiuçar e desvendar o objeto em
estudo. Denominada “estruturalismo genético” ou “construtivista”, a aplicação
desse conceito origina a necessidade de utilizar autores com olhares distintos e
de diferentes campos de estudo, para que se desdobre uma visão panorâmica
do assunto. Particularmente, para esta pesquisa, serão destacados autores dos
ramos de economia, sociologia, filosofia, entre outros.
Bourdieu propõe também a abordagem dos sistemas simbólicos (linguagens
e representações), os quais sugerem uma análise das práticas de grupos sociais
com base em conceitos-chave como campo e habitus. Ambos os conceitos
podem ser avaliados isoladamente, mas influenciam-se mutuamente. Segundo
Cherques (2006, p. 32), para seguir os passos do processo investigatório de
Bourdieu é essencial compreendê-los tanto separadamente quanto na forma
como se articulam.
93
Agentes produtivos e organizações no campo da moda: possíveis práticas cooperativas
Campo
O campo da moda
Sustentabilidade na moda
O artesanato
Habitus
Cultura e sociedade
A cultura só existe por conta dos sistemas simbólicos que são construídos
por linguagens/significantes e representações/significados. Ela tem relação com
todo tipo de comportamento, prática ou rotina de um indivíduo ou grupo,
quer dizer, o modo de ser e fazer dos agrupamentos humanos – alimentação,
vestuário, mobiliário, lazer, hobby, entre outros (BOURDIEU, 2013).
Com base na teoria de Bourdieu, Cherques (2006) define o capital
cultural como os conhecimentos, as habilidades e as informações transmitidos
pelo campo em que o agente ou grupo está inserido. Em outras palavras, é o
10
0
SILVA, Jéssica de Almenau | MORGENSTERN, Elenir Carmen
Coopa-Roca
uma fada com os valores que todas as fadas têm: justiça, bondade,
bom senso e uma varinha chamada “DDD” – desejo, determinação
e disciplina. Foram esses princípios, associados a sua sólida formação,
que fizeram com que a nossa Tetê fosse reconhecida no mundo
como uma ativista que se antecipou às questões da sustentabilidade
antes mesmo do conceito ser edificado.
Esta figura retrata a fachada da Cooperativa Coopa-Roca. A imagem foi coletada no Facebook
da marca, e sua utilização neste artigo acadêmico tem o intuito de ilustrar as atividades exercidas
pela cooperativa.
10
2
SILVA, Jéssica de Almenau | MORGENSTERN, Elenir Carmen
Fotografia veiculada na revista Elle em 1994, coletada no Facebook da Coopa-Roca. A utilização
de tal imagem neste artigo acadêmico visa ilustrar as atividades exercidas pela cooperativa.
Fotografia do desfile da Osklen em parceria com a Coopa-Roca, coletada no Facebook da
Coopa-Roca. O uso de tal imagem neste artigo acadêmico visa ilustrar as atividades exercidas pela
cooperativa.
3
10
Agentes produtivos e organizações no campo da moda: possíveis práticas cooperativas
Fotografia de peças produzidas pela Lacoste em parceria com a Coopa-Roca, coletada no
Facebook da Coopa-Roca. A utilização de tal imagem neste artigo acadêmico visa ilustrar as
atividades exercidas pela cooperativa.
Técnica de unir retalhos, em que se emprega reciclagem de tecidos lisos, estampados, de
diferentes cores e texturas, para construir outro tecido (LODY, 2013, p. 289).
Técnica de impressão sobre tecido com uso de cera e pigmento. As técnicas que utilizam
vários pigmentos também costumam ser chamadas de reserva, porque tingem algumas partes e
reservam outras que vão ficar na cor do tecido original e que depois podem ser preenchidas com
outra cor (LODY, 2013, p. 90).
10
Técnica de tingimento inspirada nas estampas indianas e nos ideogramas japoneses. Caracteriza-
se por fazer manchas no tecido para formar estampas por meio de superposição de cores (LODY,
2013, p. 345).
10
4
SILVA, Jéssica de Almenau | MORGENSTERN, Elenir Carmen
Dessa forma, sua visão não se faz distante de ser atingida, pois trabalhos
desenvolvidos com a Osklen e parceiros como o estilista Carlos Miele abriram
portas para que hoje a cooperativa atuasse juntamente com marcas como
Lacoste e nomes como Paul Smith, Ann Taylor, Lacroix e outros, além de
possuir atualmente sua própria marca. “No último ano (2011) a cooperativa
participou de três importantes eventos internacionais, sendo um na Itália e dois
nos Estados Unidos” (BERLIM, 2012, p. 107).
Segundo a mesma autora, em março de 2012 a Coopa-Roca inaugurou
sua primeira loja, localizada no Rio de Janeiro, no Shopping São Conrado
Fashion Mall, a qual visa ampliar a visibilidade da marca no país e gerar aumento
do consumo local de seus produtos (BERLIM, 2012). A seguir estão fotos dos
produtos e da loja da Coopa-Roca.
11
Fotografia da loja da Coopa-Roca no Shopping São Conrado Fashion Mall, coletada no
Facebook da marca. O uso de tal imagem neste artigo acadêmico tem a intenção de ilustrar as
atividades exercidas pela cooperativa.
5
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Agentes produtivos e organizações no campo da moda: possíveis práticas cooperativas
Figura 8 – Acessórios
12
As figuras 7, 8 e 9 mostram peças comercializadas na loja da Coopa-Roca no Shopping São
Conrado Fashion Mall. Elas foram coletadas no Facebook da marca, e sua utilização neste artigo
acadêmico busca ilustrar as atividades exercidas pela cooperativa.
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6
SILVA, Jéssica de Almenau | MORGENSTERN, Elenir Carmen
Figura 9 – Almofadas
Ronaldo Fraga
13
Fotografia de peças da marca Ronaldo Fraga apresentadas no desfile da edição verão 2016
do São Paulo Fashion Week (SPFW), com a temática “Sereias”. A imagem foi coletada no site
Fashion Forward no ano de 2015 e sua utilização neste artigo acadêmico tem o intuito de ilustrar
as peças produzidas pela marca.
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SILVA, Jéssica de Almenau | MORGENSTERN, Elenir Carmen
grupos de artesãs, pois não conseguiu contatá-las, ou mesmo por conta do custo
elevado para enviar a encomenda. Para tentar suprir esses problemas, todas as
peças produzidas atualmente têm uma etiqueta com o nome da bordadeira ou do
artesão, em que comunidade foi feita a peça e/ou seu contato, a fim de facilitar
sua rastreabilidade para outras indústrias interessadas (MOREIRA, 2011).
Percebe-se que Ronaldo Fraga consegue embutir o conceito de
sustentabilidade em seus produtos, valorizando questões culturais por meio do
resgate de técnicas artesanais e transmissão da identidade brasileira em seus
produtos, assim como a valorização social e econômica, por conseguir gerar
renda a esses grupos de artesãos e sua inserção no mercado industrial.
n Considerações finais
Este artigo objetivou tratar de práticas de cooperação existentes entre
agentes produtivos e organizações no campo da moda. Esta análise, apoiada
nos conceitos-chave de Bourdieu (habitus e campo), foi realizada com base em
duas experiências brasileiras: Coopa-Roca e Ronaldo Fraga.
Em primeira instância se analisaram os campos em que tais marcas estão
inseridas: o da moda e o do artesanato. Evidenciou-se que ambos os campos
estão saturados, pela massificação de gostos e estilos, fruto do habitus instituído
socialmente, e carecem de investimentos em possibilidades sustentáveis para
desenvolver artefatos que identifiquem a cultura do grupo produtor.
Marcas como Coopa-Roca e Ronaldo Fraga, avaliadas neste artigo,
representam exemplos a serem analisados e, em parte, replicados, visto que
atribuem valor sustentável ao produto que comercializam e evidenciam a
identidade cultural dos agentes produtores. Esses dois exemplos destacam que
a responsabilidade sociocultural e ambiental, além de necessária, se configura
em tendência em expansão.
Por fim, destaca-se a relevância de práticas cooperativas entre o campo
da moda e o do artesanato, pois podem congregar, em suas produções, a
valorização cultural, ambiental e social e evidenciar que sem conscientização
e sem mudança de hábitos, não somente no setor têxtil, mas em diferentes
áreas, o futuro se torna insustentável.
n Referências
ARAÚJO, Flávia Monteiro de; ALVES, Elaine Moreira; CRUZ, Monalize Pinto
da. Algumas reflexões em torno dos conceitos de campo e de habitus na obra
de Pierre Bourdieu. Revista Perspectivas da Ciência e Tecnologia, v. 1,
n. 1, 2009.
9
10
Agentes produtivos e organizações no campo da moda: possíveis práticas cooperativas
FACCIONI, Jorge Luiz. The black book of fashion: como ganhar dinheiro
com moda. São Leopoldo: UseFashion, 2011.
LODY, Raul. Barro & balaio: dicionário do artesanato popular brasileiro. São
Paulo: Companhia Nacional, 2013.
1
Mestrando no Programa de Mestrado Profissional em Design pela Universidade da Região de
Joinville (Univille). E-mail: edson.korner@pr.senai.br.
KORNER, Edson
n Introdução
Moda, design e ensino: compreende-se aqui um tripé para o
desenvolvimento da indústria do vestuário. Segundo Dulci (2013), a moda, como
uma manifestação cultural cujo início no Ocidente ocorreu no século XIV, é
um fenômeno social que expressa valores políticos, morais, culturais – por
meio de usos, hábitos e costumes – e encontra no vestuário um conjunto de
elementos que a compõem. Transformou-se em um sistema mais complexo no
século XIX, e sua representação pode ser vista na arquitetura, no mobiliário, nos
adereços decorativos, na música, na dança, nas artes plásticas, na linguagem,
no cinema, na fotografia, nas religiões, nas ideologias, na literatura, no esporte,
no turismo, nas técnicas etc. Tornou-se, então, um dos principais campos de
estudo para a compreensão de mecanismos modernos de expressão, no plano
simbólico. Envolve um conjunto de categorias e práticas que a definem, como
também aos sujeitos que da moda fazem uso.
A moda liga-se ao design, que tem na origem imediata da palavra inglesa
o substantivo que se refere tanto à ideia de plano, desígnio, intenção, quanto
a configuração, arranjo, estrutura. A origem mais remota da palavra está no
latim designare, verbo que abrange ambos os sentidos, o de designar e o de
desenhar (DENIS, 2000, p. 16). Trata-se também de uma atividade projetual
que envolve etapas, processos e ferramentas para o seu saber fazer, resultando
em uma produção industrial. Parte de uma ideia, um projeto ou um plano para
a solução de um problema determinado. Dessa forma, o design consistiria então
na corporificação de uma ideia para, com a ajuda dos meios correspondentes,
permitir a sua transmissão aos outros (LÖBACH, 2001, p. 6).
Entender que “o design industrial contribui para melhorar a nossa
cultura material, em termos funcionais e estéticos” (BONSIEPE, 2012,
p. 84), permite fazer uso da tecnologia ou sistema de conhecimento, processos
e materiais de forma racional e econômica, satisfazendo as necessidades
materiais e psicológicas dos usuários. Bonsiepe (1984) diz que as características
estruturais, estético-formais e funcionais fazem parte de um conjunto de
informações que devem ser estudadas, gerando constante reflexão e adaptação
dessas características ao contexto social, econômico e político em que o designer
atua.
Ao levar em consideração moda e design, soma-se a esses o ensino, como
uma oportunidade de conciliar teoria e prática no processo de formação do
designer. O ato de ensinar é tão importante para as questões abordadas quanto
a moda e o design. Segundo o Dicionário Aurélio (FERREIRA, 2010), define-se
ensino como “transmissão de conhecimentos, informações ou esclarecimentos
úteis ou indispensáveis à educação ou a um fim determinado, instrução”.
3
11
Perspectivas acadêmicas para o ensino do design de moda
primário, quando acontece a produção das fibras que são transformadas em fios,
até se tornarem tecidos; 2) o mercado secundário, que transforma os têxteis
em itens de vestuário, têxteis lar e têxteis técnicos; 3) o mercado terciário, que
tem o objetivo de comprar os produtos para comercializá-los diretamente ao
consumidor final. É um sistema de comunicação que dissipa atributos e valores
dos produtos aos consumidores finais (NEVES; BRANCO, 2000, p. 40).
O design também está associado a métodos adequados que devem se
encaixar nos sistemas, por meio dos quais a indústria do vestuário se estabelece
para conseguir uma distribuição mais focada de seus produtos para o mercado-
alvo.
Atualmente a moda perpassa, de forma simultânea, por duas correntes:
1) a fast fashion, que visa atingir um público insaciável, informado, carente
por novidade. Tem como base o mercado de luxo e o mercado de massa e
oferece produtos com curto ciclo de vida. Faz uso de diversas qualidades de
matérias-primas e de processos produtivos e atrai uma gama muito grande de
consumidores; 2) a slow fashion, que tem um foco maior no design, na qualidade,
na durabilidade dos produtos, no ambiente e em um consumidor responsivo que
prima por peças atemporais e duráveis (REFOSCO; OENNING; NEVES,
2011), está mais atento a valores como sustentabilidade, simplicidade e por vezes
segue outros movimentos slow.
São essas correntes que sistematizam o mercado e o produto a ser
concebido para cada contexto, tendo em vista suas funções práticas, estéticas
e simbólicas, alinhadas às diferentes nuanças da cadeia produtiva da moda, que
complementam o saber e a prática do designer em formação. O ensino deve
estar alinhado com a velocidade dessas transformações.
Tais questões são mais profundas, uma vez que passam não somente
pela moda, pelo design e pela educação, como também adentram no que
se espera desse profissional que vai para uma instituição de ensino superior.
Diante dos aspectos mencionados, que dizem respeito à observação constante
e readequação do saber fazer às exigências do mercado, é fundamental que se
atue no aprendizado de forma multidisciplinar e integrada ao perfil do egresso,
“fortalecido por grande curiosidade em relação aos diferentes aspectos culturais
da sociedade e que será estimulado durante o curso como forma de ampliar a
visão de moda” (SENAI, 2014, p. 7).
Para Mussak (apud OLIVEIRA et al., 2006, p. 16), algumas características
são relevantes para o perfil do profissional, as quais também são recomendadas
pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(Unesco). Elas estão listadas no quadro a seguir.
Continuação do quadro 4
n Conclusão
Tanto para a moda e o design como para o designer em formação no
ambiente acadêmico, confrontar o que se aprende para readequar novos
aprendizados é o ponto de partida para gerar reflexões. Estas são vistas neste
artigo como perspectivas para a formação acadêmica do designer, o que impacta
a médio prazo a adoção de novas metodologias, na constante verificação de
pontos positivos e negativos, pois são os resultados que melhor validam a ação
7
12
Perspectivas acadêmicas para o ensino do design de moda
de professores e alunos em sala, assim como surgirão após sua formação, nas
relações entre designer, objeto e consumidor, outros resultados que por sua vez
também serão monitorados.
Considerando o que foi abordado neste artigo, extraíram-se fatores que
merecem futuramente, cada um na sua individualidade, um estudo aprofundado,
para que seus dados, análises e conclusões efetivem a necessidade de adequação
do design e da moda e para que esta se faça por intermédio de pesquisa de
campo, trazendo resultados. No quadro 5, dividem-se tais fatores em: contexto
social e econômico, moda, design e ensino.
Quando moda, design e ensino são tratados como um tripé, sua ação
conjunta desenvolve a indústria do vestuário, e a profissionalização do designer
de moda nos cursos superiores é o ponto inicial para atender às demandas da
atualidade. Sabe-se que são vários os aspectos que envolvem tal formação; este
artigo parte de um levantamento inicial sintetizado no quadro 5, o qual apresenta
fatores para melhorar a prática do design de moda. Cabe a agentes do setor
educativo e de profissionalização preparar o designer como articulador desses
fatores, e a metodologia por competências constitui um meio para promover
tais conhecimentos.
O design e seus aspectos norteadores são fundamentais para o
desenvolvimento de um pensar e produzir na indústria da moda que se afinem
com os desejos da sociedade. Ao solucionar um problema por meio do design,
é fundamental justificar a adoção e a adequação de métodos e ações que
caracterizam cada etapa proveniente dessa escolha.
Os fatores gerados constroem perspectivas que permitem ainda maior
aprofundamento. Cada fator citado favorece a readequação de metodologias
do design para o design de moda, já que sociedade, ensino e consumo não são
estáticos e cada vez mais se tornam multidisciplinares. As perspectivas recaem
sobre a metodologia de ensino das disciplinas que têm como princípio ensinar
métodos para a criação do vestuário, e nesse sentido a disciplina Projeto de
Moda é a que oportuniza uma vivência maior ao estudante, por abraçar desde
a ideia até o produto final.
n Referências
ANASTASIOU, Léa das Graças C. Ensinar, aprender, apreender e processos
de ensinagem. In: ______; ALVES, Leonir Pessate. Processos de ensinagem
na universidade. Joinville: Editora Univille, 2003.
BONSIEPE, Gui. Design: com prática de projeto. São Paulo: Blucher, 2012.
Design Gráfico,
Comunicação e
Sociedade
A importância do design na
evolução da internet
The importance of design in the evolution of internet
1
Mestrando no Programa de Mestrado Profissional em Design pela Universidade da Região de
Joinville (Univille), especialista em Administração da Comunicação pela Sustentare Escola de
Negócios/Faculdades SPEI, bacharel em Design com habilitação em Programação Visual pela
Univille. E-mail: atendimento@holistic.com.br.
2
Doutor em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-
SP), mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
especialista em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e graduado
em Administração de Empresas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Professor do quadro permanente da graduação e do Mestrado Profissional em Design da Univille.
E-mail: contato@ograndevendedor.com.
A importância do design na evolução da internet
from network design to the present time, in addition to the reasons and
technologies by which capitalism spread it, especially using design as a
driving tool.
Keywords: internet; websites; web designer.
n Análise de cenário
A evolução e a mudança fazem parte da vida, seja para uma pessoa
isoladamente ou para a sociedade como um todo. Corroborando a ideia de
Ferreira (2015), toda evolução sempre é fomentada por conflitos. Quando há
conflitos de ideias, há possibilidade de elas evoluírem, tanto para o bem quanto
para o mal, e cabe ao ser humano saber discernir. No campo da tecnologia não
é diferente. As evoluções tecnológicas também são fomentadas por conflitos.
Partindo desse princípio, pode-se fazer uma análise econômica e social da
internet, a grande rede que cerca os objetos e as pessoas. De acordo com Arruda
(2011), a internet surgiu nos Estados Unidos em meio à Guerra Fria, durante
a década de 1960, na qual americanos e soviéticos (atualmente os russos)
disputavam entre si o poder econômico, político e armamentista do planeta.
A União Soviética buscava expandir e implantar o socialismo em outros países,
enquanto os Estados Unidos defendiam a expansão do sistema capitalista. Essa
guerra não teve confrontos diretos, mas havia certas iminências de ataques.
E, para evitar que as informações mais valiosas contidas em computadores
fossem destruídas com possíveis ataques ou bombardeios, o Departamento de
Defesa americano criou uma rede de comunicação entre esses computadores,
colocando-os em pontos estratégicos, como por exemplo centros de pesquisa.
O intuito era descentralizar as informações, de forma que não fossem destruídas
se estivessem localizadas em um único servidor ou computador.
Mendes (2015) comenta que, nesse contexto, uma das subdivisões do
Departamento de Defesa, a Advanced Research Projects Agency (Arpa), criou
uma rede chamada Arpanet, ligada por um backbone (uma “espinha dorsal”,
ou seja, uma estrutura de rede capaz de manipular grandes volumes de
informações), que passava embaixo da terra, o que dificultava a sua destruição
em caso de ataques. Durante o período da Guerra Fria, o acesso à Arpanet
era restrito a militares, pois estes temiam o mau uso de tal tecnologia por civis
ou países socialistas.
Quando a tensão da Guerra Fria diminuiu e não havia mais ameaça de
ataque, o governo dos Estados Unidos investiu no desenvolvimento da Arpanet
e permitiu que pesquisadores acadêmicos na área de defesa também tivessem
acesso a ela. O aumento do fluxo de acessos gerou dificuldades para administrar
13
6
LANDMANN, Daniel Rodrigo | AGUIAR, Victor
(dados que o usuário recebe) e um para upload (dados que o usuário envia) –,
o usuário não paga mais por tempo de acesso, e sim por uma assinatura para
usar a internet pelo tempo que desejar, sem ocupar a linha telefônica.
No início dos anos 2000 começaram a aparecer novas maneiras de criar e
desenvolver um website. A principal ferramenta para desenvolvimento de websites
era o programa Macromedia Flash, que anos depois (2005) foi comprado pela
empresa Adobe. O Flash é um programa de animação focada para web, com
possibilidade de inserção de botões e links. Pacievitch (2015) destaca que o Flash
originou-se de outro software de ilustração chamado Smartsketch, fabricado pela
empresa Futurewave, à qual os usuários do programa solicitavam a capacidade
de ele fazer animações nas próximas versões. Com o surgimento da internet, a
Futurewave viu um mercado promissor e desenvolveu a ideia de um programa
para realizar animações complexas, mas ao mesmo tempo leves, em virtude
do formato vetorial na sua linguagem (baseado em vetores matemáticos). Na
figura 3 observa-se um comparativo entre imagens vetoriais e bitmaps.
vendido pela internet. Esse foi, sem dúvida, um dos maiores erros para o fracasso
das empresas “ponto com” daquele período, pois, baseadas nesse conceito,
não sabiam ainda como atingir seu público-alvo e potenciais clientes. Surgiu a
oportunidade de criar o marketing digital para as empresas “ponto com” do novo
período. A figura 4 exemplifica um modelo de empresa “ponto com”.
n O marketing digital
Com o marketing digital dominando a internet, a beleza gráfica e as
animações produzidas pelos web designers em linguagem Flash começaram a
perder sua relevância quando surgiu uma nova metodologia na web: o conteúdo
participativo, ou seja, a era da interação. Nesse contexto, nasceu o inbound
marketing, o qual Peçanha (2015) conceitua como “qualquer forma de marketing
que visa ganhar o interesse das pessoas”. Nesse sentido, o usuário recebe as
informações de forma natural, participativa. As pessoas interagem por e-mail
com as lojas ou em fóruns de discussão. Elas querem se comunicar com as
empresas e instituições, e a internet é um excelente facilitador de contato.
14
2
LANDMANN, Daniel Rodrigo | AGUIAR, Victor
Ainda de acordo com Levy (2012), quase cem por cento da receita do
Google vem de seus programas próprios de publicidade e afiliados. Um deles
é conhecido como Google AdWords, que permite aos anunciantes exibir seus
anúncios dentro da busca, sendo cobrado um valor por clique ou por visitação.
Outra maneira de fazer publicidade é pelo programa Google AdSense, que
possibilita a proprietários de websites expor esses mesmos anúncios em suas
páginas, recebendo um valor também por clique ou por visitação.
Com a popularização da internet, outro tipo de serviço de comunicação
e entretenimento ganhou força: as redes sociais, uma grande guinada para o
marketing digital. As redes sociais são estruturas compostas por pessoas ou
organizações, conectadas por um ou vários tipos de relações (suas ligações)
e que compartilham valores e objetivos em comum (fluxo de informação).
Elas criaram uma nova forma de relacionamento entre as empresas e os seus
clientes, pois são mais pessoais e interativas do que qualquer outra mídia, em
que o usuário recebe apenas informações de seu interesse, pode comentar
online e indicar produtos e serviços para outros usuários. Há vários segmentos
de redes sociais, como área profissional (Linkedin), entretenimento (Facebook)
e compartilhamento de vídeos (YouTube), como se observa na figura 7.
n Tendências futuras
Com a demanda da internet móvel e o acesso às tecnologias de comunicação
sem fio (wireless), a proliferação e a venda dos smartphones no mercado aumentaram
em níveis astronômicos. Projetados desde 1992 pela Apple, a tecnologia atingiu
as massas em 2007 com o iPhone, exemplificado na figura 8. De acordo com
Parizotto (2015), muito mais do que um simples celular, os aparelhos reúnem
exatamente aquilo que é exigido do profissional moderno: mobilidade, rapidez e
funcionalidade, desempenhando a função de um computador com avançados
recursos multimídias, desde transações bancárias, e-mails, redes sociais, games,
além de uma infinidade de aplicativos para o dia a dia.
Figura 8 – iPhone
n Considerações finais
Resumidamente, em toda a história da internet, a mola propulsora para o
seu desenvolvimento e evolução foi o capitalismo ou a oportunidade de novos
negócios, mesmo porque seu surgimento foi inicializado em um determinado
período em que esse sistema econômico estava em conflito árduo com o sistema
econômico oposto, conhecido como socialismo. De certa forma, a busca por
riquezas e a competitividade são fatores que tornam o capitalismo um sistema
econômico capaz de proporcionar o avanço tecnológico.
A partir do momento em que a internet se tornou comercial, o grande
protagonista do seu desenvolvimento foi o designer, ou mais especificamente
o web designer, que remodelou e continua a remodelar as formas de fazer
comunicação online. A capacidade de se conectar com outros indivíduos via
todos os tipos de dispositivos é o que gera as grandes ideias e também as
tendências.
A conectividade mobile liberou um processo de desenvolvimento e
interação imenso em nossa sociedade, e o compartilhamento de conteúdo entre
os diversos públicos atrai cada vez mais o marketing digital, proporcionando
possibilidades infinitas e fazendo a informação chegar de maneira natural, e
não forçada. As oportunidades estão flutuando na rede.
n Agradecimentos
Agradecemos à empresa Holistic Propaganda e Internet, por gentilmente
ceder os conhecimentos e principalmente horas de serviço na busca de
informações.
n Referências
ALTERMANN, Dennis. Midiatismo 6 e o design responsivo. Midiatismo. 12
ago. 2012. Disponível em: <http://www.midiatismo.com.br/midiatismo-6-e-o-
design-responsivo>. Acesso em: 2015.
SUCESSO CERTO. 3 dicas para otimizar suas ações nas redes sociais.
Disponível em: <http://tenhasucessocerto.com/tag/redes-sociais/>. Acesso em:
2015.
CREUZ, Morgana1
EVERLING, Marli T.2
1
Graduada em Design com habilitação em Programação Visual, especialista em Comunicação
Integrada de Marketing e mestranda no Programa de Mestrado Profissional em Design pela
Universidade da Região de Joinville (Univille). Atua como docente nas disciplinas de Ilustração
Gráfica e Linguagem Visual no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). E-mail:
morganacreuz.mc@gmail.com.
2
Doutora em Design e Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-
Rio). Professora do departamento de Design da Univille. E-mail: marli.teresinha@univille.br.
3
Desenvolvida no projeto de pesquisa Urbe, vinculado ao Laboratório de Estudos em Design-
Cidade/LECid, do Mestrado Profissional em Design.
CREUZ, Morgana | EVERLING, Marli T.
n Introdução
A cidade como superfície de intervenções urbanas transcende os limites
apáticos encontrados nos centros urbanos. A escala de cinza antes comum nesse
cenário vem dando lugar à experimentação da cidade em um formato de arte
livre e distante da tradicionalidade. Com motivações distintas, as intervenções,
a arte e o design permitem aos cidadãos o protagonismo do espaço público,
assumindo o papel de agente5 transformador, lançando um novo olhar para os
centros urbanos.
Diretamente ligadas à nova cultura de cuidado com a cidade, as
intervenções urbanas vêm ganhando proporção e espaço ao transmitir um
paralelo reflexivo entre os valores materiais e imateriais, culminando no repasse
de conceitos da dimensão humana aos espaços públicos. Segundo Melendi (apud
MAZETTI, 2006), nos dias atuais “as intervenções são uma reação contra a
degradação do espaço público”.
Sabe-se que a sociedade atual demanda por estratégias de sobrevivência,
visto o caos generalizado em que se vive. Nesse contexto, verifica-se a inserção
de novos valores de consumo, em que a necessidade de diferenciação e a
identidade regional, aliadas às referências globais, culminam no resgate das
raízes e dos métodos do passado na representação de um novo estilo de vida
(STARLING; COSTA; PINNOW, 2015). A sociedade atual está levantando
4
Developed on Urbe Research Project, linked to the Laboratory of Study in Design-City/LECid, the
Professional Masters in Design.
5
Utilizou-se o verbete agente, visto que esse é um termo empregado por Bourdieu (2001) ao
destacar um indivíduo que é protagonista de um campo.
3
15
Intervenções urbanas: o cidadão como agente da cidade
uma nova bandeira e tomando o seu lugar como protagonista das cidades.
Novas abordagens como a coletividade, o compartilhamento e o consumo
consciente fazem parte desse discurso a favor da vida nas cidades. Nesse
sentido, considera-se que as intervenções urbanas atuam como vozes de uma
nova cultura que se apresenta.
Este artigo está estruturado em duas partes. Na primeira, apresenta-se
um contexto histórico, motivacional e de expressão das intervenções urbanas,
buscando um olhar extraestético do movimento. Já na segunda parte, analisam-
se dois casos reais para reflexão da influência dessas intervenções no contexto
social e no cotidiano das cidades. Inicia-se o estudo buscando a compreensão
sociológica do cenário cultural e social e das abordagens que fazem referência ao
movimento. Para tal, serão aprofundados os estudos com base em Wolff (1982),
Cipiniuk (2014), Bourdieu (2007; 2008), Becker (2009) e Forty (2007).
o motivo por que inúmeras pessoas ignoram tal tipo de trabalho, muitas vezes
criticando-o. O fato é que “[...] o espectador desprovido do código específico
sente-se submerso, ‘afogado’, diante do que lhe parece ser um caos de sons e
ritmos, de cores e linhas, sem tom nem som” (BOURDIEU, 2008, p. 10).
Além da detenção dos códigos, Bourdieu (2008) categoriza o gosto como
fator de classificação daquilo que é considerado belo. O autor discorre sobre
inúmeros pontos que caracterizam o gosto dos indivíduos, sendo alguns deles a
educação, as origens sociais, os fatores culturais, entre outros. Esses aspectos
não estão diretamente ligados a questões estéticas, visto que a ciência do gosto
e do consumo cultural possui relações distintas de escolhas incontáveis.
Bourdieu (2007) trata também da noção dos campos. Ele afirma que
a sociedade é dividida em campos sociais, os quais são definidos por leis
fundamentadas socialmente e se diferem de outros campos, de acordo com
as leis que os orientam. Nos campos referentes à arte e ao design, observa-se
uma constante inquietação acerca da significação dos termos e da classificação
dos projetos. Autores como Wolff (1982) e Bourdieu (2008) abordam a distinção
desses campos evidenciando as teorias artísticas, enquanto Forty (2007) e
Cipiniuk (2014) discorrem do ponto de vista do design. Bourdieu (2007) afirma
que o limite de um campo é a fronteira em que seus efeitos deixam de ecoar.
Sabe-se que cada campo possui suas características e que é influenciado por
outros campos, contudo observa-se uma congruência entre eles, a começar
pelo fato de que as teorias contemporâneas que regem os estudos das áreas do
design se baseiam em teóricos das artes visuais, principalmente os que valorizam
aspectos das imagens (MORGENSTERN, 2011, p. 6). Belchior e Ribeiro (2014,
p. 8), em comum acordo com Morgenstern (2011), afirmam que “os dois campos
se misturam e se confundem, sendo, por vezes, impossível estabelecer uma
separação clara”. Compreendem-se as intervenções urbanas como reflexo desse
hibridismo de campos, visto que elas são elaboradas de acordo com conceitos
teóricos e características da arte, contando com metodologias e ferramentas
do design para sua execução. Na contemporaneidade campos híbridos estão
cada vez mais frequentes. Ressalta-se que essa macrotendência deriva das
abordagens coletivas e de colaboração que estão sendo discutidas e vivenciadas
pela sociedade.
As intervenções urbanas são expressões de uma sociedade, sejam elas
críticas, culturais, experienciais, inspiracionais... Nesse contexto, Becker (2009)
relata que toda e qualquer forma de representar a sociedade é pertinente,
seja por meio de um filme, de uma fotografia, de um mapa ou até mesmo de
um modelo matemático. Verifica-se que as intervenções urbanas são reflexos
consonantes aos estudos de Becker (2009). O autor afiança ainda que “somos
todos curiosos em relação à sociedade em que vivemos. Precisamos saber, na
5
15
Intervenções urbanas: o cidadão como agente da cidade
base mais rotineira e maneira mais comum, como nossa sociedade funciona”
(BECKER, 2009, p. 17). Os produtos gerados pela sociedade são nomeados
pelo autor como relatos de uma sociedade ou ainda como representações dela.
Ele reforça também que tais representações são desenvolvidas em diversos
meios e, por conseguinte, por diversas tribos. Dessa forma, a discussão coletiva
entre os envolvidos nas mais diversas formas de representações pode gerar
entendimentos diferenciados de um mesmo assunto. Esse compartilhamento
faz com que todos os grupos cresçam e principalmente fortaleçam o produto
da sociedade.
Compreender o contexto social, histórico e cultural em que as intervenções
urbanas estão inseridas se faz necessário, visto que estas são o foco do artigo.
O próximo tópico aborda características e o cenário nas diferentes esferas das
intervenções nas cidades.
Beguoci (2005) discorre sobre quatro pontos que a seu ver são
fundamentais para a caracterização das intervenções. O primeiro abrange a
localização delas, ou seja, a superfície dessas ações, que é a rua; logo, trata-se de
uma arte livre e destinada à contemplação de todos. O segundo ponto refere-se
à motivação para o trabalho, seja ela de um grupo ou de um indivíduo. Destaca-
se a contribuição dos coletivos de arte nesse cenário, em que a colaboração entre
os participantes e o compartilhamento de ideais é característica unânime. Já o
terceiro aspecto envolve o objeto-alvo do protesto, seja este o poder público,
impactos provocados na cidade, instituições privadas, entre outros. E, por fim,
o quarto quesito está diretamente relacionado à linguagem utilizada, repleta de
bom humor, ironia e atrevimento.
Nesse contexto, é válido fazer uma abordagem das intervenções urbanas
ocorridas em períodos paralelos no mundo; tais práticas influenciaram as ações
no Brasil, culminando no estado da arte que se observa atualmente. Em um
primeiro momento se destaca a culture jamming, que em tradução livre significa
bagunça ou confusão da cultura, segundo Dery (apud MAZETTI, 2006). Esse
movimento surgiu nos Estados Unidos, nos anos 1980, e refletia práticas de
ativismo midiático. Meikle (apud MAZETTI, 2006) afirma que “ jammers usam
a mídia para chamar atenção para assuntos e problemas com aquela mesma
mídia”. Algumas das intervenções realizadas pelos adeptos ao movimento
eram baseadas na alteração de anúncios publicitários, disseminação de falsas
notícias e subversão das mensagens em mídia exterior e rádio. Já na França, por
volta dos anos 1950 e 60, destacou-se o grupo artístico-político Internacional
Situacionista, com um movimento em que as intervenções eram ilícitas e se
caracterizavam por atos de desobediência civil (MAZETTI, 2006). Debord
(1997) nomeou essa organização de Sociedade do Espetáculo, visto que nesse
momento “a lógica da mercadorização teria colonizado todos os âmbitos da
vida, reduzindo o homem ao papel de espectador, por meio da alienação, em
relação à produção, e da abstração generalizada” (MAZETTI, 2006, p. 6).
Essas ações tiveram grande impacto na época e, conforme observado, estão
diretamente ligadas a duelos com a mídia e a sociedade capitalista. Nos dias
atuais essas motivações perduram, entretanto, conforme já pontuado, o foco
dirige-se ao desgaste dos espaços urbanos.
Nota-se atualmente uma reconfiguração da cultura e dos valores, em
que as intervenções urbanas atuam como ferramenta de reflexão simbólica. De
acordo com Prado e Lamim-Guedes (2015), “o impacto de uma intervenção
artística no meio urbano pode ser eficiente para retirar o indivíduo de um
estado distraído e passivo, para um outro estado consciente e ativo”. Ainda
segundo os autores, esse fato faz com que o pensamento individual dos cidadãos
se converta em uma visão mais abrangente e coletiva. Ferraz, Scarpelini e
7
15
Intervenções urbanas: o cidadão como agente da cidade
Abreu (2009) representam tal cenário por meio de uma analogia com os rios.
Estes mudam seus cursos e se reconfiguram, transformando a situação atual
em outra não projetada. Os autores encaram as intervenções urbanas como
formas alternativas de ocupação e recriação dos espaços urbanos por parte de
seus moradores, visto que o ato de habitar a cidade não está apenas ligado ao
morar, mas sim viver em sociedade nessa “grande obra de arte dinâmica que
é a cidade” (FERRAZ; SCARPELINI; ABREU, 2009).
Discutir a cidade como superfície das intervenções urbanas (a fim de
compreender o paradoxo em que estas estão inseridas, objetivando a interpretação
do cenário e de suas características) pode contribuir para a sensibilização e a
percepção de suas potencialidades, bem como para a apropriação do espaço
urbano. Dessa forma, o próximo tópico debaterá esse enredo.
suas atividades, são tão importantes quanto as partes físicas estacionárias. Não
somos meros observadores desse espetáculo, mas parte dele; compartilhamos
o mesmo palco com os outros participantes”.
A cidade como cenário permite aos seus agentes transformadores o
desenvolvimento projetual sem limites. A larga escala de grafitagens ou um
pequeno recorte que se aproveita de uma rachadura no muro mescla-se com
os improváveis parklets, bem como com as interferências em espaços públicos.
Destacam-se ainda os produtos culturais associados às artes gráficas, como
os “homens-sanduíche”, os stickers, cartazes de rua, entre outros (HOLLIS,
2000). Vê-se uma proposta aberta em que “a arte invade a vida”, não sendo mais
destinada a poucos frequentadores de museus e admiradores de obras de arte.
As intervenções urbanas integram o design participativo ao convidar os cidadãos
a viver as cidades de forma única, em que todos podem ser artistas, designers ou
meros participantes de uma nova forma de expressão. “Entendemos que o design
não se constitui como uma forma de cultura, mas como expressão cultural que
vem se mesclando aos nossos comportamentos e modos de ver o mundo. Hoje,
é difícil separar o design de nossas ações” (BELCHIOR; RIBEIRO, 2014, p. 16).
Verifica-se que o cidadão está tomando o seu papel de agente transformador
das cidades ao vislumbrar que “se, em linhas gerais, [a cidade] pode ser estável
por algum tempo, por outro lado está sempre se modificando nos detalhes”
(LYNCH, 2011, p. 2).
Benjamin (1989; 1993 apud OLIVEIRA, 2007, p. 65) diz que “a
modernidade trouxe uma cultura imagética impulsionada pela reprodutibilidade
técnica das imagens que alterou a paisagem urbana, o cotidiano e a sensibilidade
dos homens metropolitanos”. Conforme Oliveira (2007), as intervenções urbanas
transformam as ruas das cidades em labirintos de imagens, proporcionando aos
espaços públicos ambientes de leitura e interpretação imagética. A autora afirma
ainda que esse movimento conferiu às cidades uma característica peculiar, que
faz com que elas sejam lidas e compreendidas. De acordo com a influência das
tribos, novas formas e cenários são construídos, oportunizando a construção
de um “vocabulário de imagens” que, como as escrituras das cavernas, permite
a representação e a construção da história da sociedade.
A observação do espaço em que as intervenções urbanas estão inseridas
permite a interpretação e a análise do contexto das mensagens. Dessa forma,
o próximo tópico dedica-se a explorar os diferentes tipos de intervenção e sua
significação no espaço e no tempo.
Conceito originado em 2010 na cidade de São Francisco (EUA). Trata-se de pequenas praças
implementadas no espaço de uma ou duas vagas de carros nas cidades (SOTO, 2014).
De acordo com Oliveira (2007, p. 67), são adesivos de papel ou vinil, de produção caseira e
individual, que são espalhados pelas ruas como forma de manifestação artística anônima e sutil.
9
15
Intervenções urbanas: o cidadão como agente da cidade
n Análise de casos
Os casos analisados neste artigo foram escolhidos com base no impacto
provocado na sociedade de que fazem parte. São intervenções urbanas realizadas
no Brasil que expõem problemas característicos das regiões nas quais foram
inseridas. Serão analisadas as intervenções “Que ônibus passa aqui? ”, do grupo
Shoot the Shit, de Porto Alegre (RS), e “A arte da espera”, idealizado pelo site
Reclame Aqui, em parceria com o grafiteiro Vermelho, em São Paulo (SP).
Dividiu-se a análise dos casos em dois atos. No primeiro, realiza-se uma
abordagem extraestética fundamentada no contexto e na forma de interação.
Dessa maneira, investiga-se a forma com que a mensagem é percebida,
construída, influenciada e transmitida. Em um segundo momento, aborda-se a
1
16
Intervenções urbanas: o cidadão como agente da cidade
Ressalta-se que a utilização das imagens tem fins de estudo. Elas foram retiradas da internet,
divulgadas pelo coletivo de arte que desenvolveu a ação em seu site próprio e em uma matéria
publicada.
16
4
CREUZ, Morgana | EVERLING, Marli T.
Ressalta-se que a utilização das imagens tem fins de estudo. Elas foram retiradas da internet,
divulgadas pela empresa criadora da ação.
16
6
CREUZ, Morgana | EVERLING, Marli T.
n Considerações finais
Conforme explicitado pelos autores e pelas ações de intervenção urbana
analisadas, nota-se uma nova posição dos cidadãos no contexto das cidades: o
de agente transformador. A influência do contexto social nos campos híbridos da
arte e do design, como discutem Bourdieu (2008), Wolff (1982), Cipiniuk (2014) e
Becker (2009), é perceptível ao vislumbrar nas ações as temáticas debatidas, os
métodos adotados, os processos de desenvolvimento e os resultados obtidos.
A experimentação da cidade, como destacam Ferraz, Scarpelini e
Abreu (2009) e Prado e Lamim-Guedes (2015), remonta a uma tendência
que insere nos centros urbanos um indivíduo consciente e ativo, oportunizando
a experimentação da cidade por meio de sua vivência e conhecimentos e
transformando-a em um lugar melhor para viver. O cidadão deixa de ser um
mero passante para ser o meio condutor da mudança. Percebem-se diversas
contribuições nesse sentido que apontam para um cenário mais coletivo, ligado
à participação e à experiência dos envolvidos.
Os resultados das intervenções urbanas analisadas confirmam as teses
dos teóricos apresentados. No contexto atual da sociedade, a voz da cidade está
horizontalizada, ou seja, os cidadãos não satisfeitos criam artifícios para serem
ouvidos. Logo, todos os indivíduos podem ser os condutores da mudança. No
viés das instituições públicas, verifica-se a repercussão desse movimento, visto
que cada vez mais estas passam a colaborar com os cidadãos.
A metodologia escolhida permitiu o apontamento das convergências entre
teoria e prática, visto que por meio da abordagem teórica foram percebidos os
esforços de efetivação de tais trabalhos. Já com o estudo de caso, constataram-
se o reflexo das abordagens teóricas e as contribuições delas para a prática
de uma nova cultura. Conclui-se que a cidade, como superfície, permite uma
arte livre, sem rótulos, em que todos os cidadãos podem ser protagonistas da
intervenção e da própria cidade.
7
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Intervenções urbanas: o cidadão como agente da cidade
n Agradecimentos
Agradecemos ao Programa Institucional de Bolsas de Pós-graduação stricto
sensu (PIBPG) do Fundo de Apoio à Pesquisa (FAP) da Univille a oportunidade
concedida.
n Referências
AMBROSE, Gavin; HARRIS, Paul. Fundamentos de design criativo. Porto
Alegre: Bookman, 2009.
FERRAZ, Caio Silva; SCARPELINI, Joana; ABREU, Luana de. Entre rios.
Vimeo, dez. 2009. Disponível em: <https://vimeo.com/14770270>. Acesso em:
22 maio 2015.
FORTY, Adrian. Objeto de desejo: design e sociedade desde 1750. São Paulo:
Cosac Naify, 2007.
FRASER, Tom; BANKS, Adam. O guia completo da cor. 2. ed. São Paulo:
Senac-SP, 2007.
GEHL, Jan. Cidades para pessoas. Tradução de Anita di Marco. São Paulo:
Perspectiva, 2013.
HOLLIS, Richard. Design gráfico: uma história concisa. São Paulo: Martins
Fontes, 2000. (Mundo da Arte).
SHOOT THE SHIT. Que ônibus passa aqui. Disponível em: <http://www.
shoottheshit.cc/qopa>. Acesso em: 21 maio 2015.
1
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O contexto social e econômico do
desenvolvimento das embalagens
de marcas próprias
The social and economic context of the packagings
own-brand products
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Graduada em Desenho Industrial com habilitação em Programação Visual pela Pontifícia
Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), pós-graduada em Gestão do Design pela
Universidade Tuiuti do Paraná, mestranda no Programa de Mestrado Profissional em Design
pela Universidade da Região de Joinville (Univille). Atua como docente na UniBrasil nos cursos
de Design, Publicidade e Propaganda, Relações Públicas. Tem experiência como consultora para
gestão de equipes criativas em escritórios de design, agências de publicidade e equipes de marketing.
Desenvolve estudos sobre produção gráfica, metodologia e desenvolvimento de embalagens.
E-mail: vanessamezzadri@gmail.com.
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Graduado em Design de Produto pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), pós-graduado
com MBA em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) e mestre
em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Tem
experiência nas áreas de marketing, tecnologia, desenvolvimento de produto e desenho industrial.
Já residiu na Itália e nos Estados Unidos. Com 25 anos de atuação em produtos de linha branca,
foi responsável pelo desenvolvimento de design dos produtos das marcas Brastemp e Consul
no Brasil e da marca Whirlpool na América Central e do Sul (até 2016). Em todos esses anos,
desenvolveu sólida habilidade na gestão de grupos criativos, desde o processo de geração de ideias
até o lançamento no mercado, com grande foco em inovação, estratégia de negócios e criação de
valor de marca. Desde 2014 tem se dedicado também ao ensino, como professor nos cursos de
graduação e mestrado da Univille. E-mail: fernando_pruner@whirlpool.com.
BRUDZINSKI, Vanessa M. | PRUNER, Fernando P.
n Introdução
Este artigo tem o objetivo de apresentar o contexto sócio-histórico em
que são desenvolvidas as embalagens de marcas próprias (MPs) das redes
supermercadistas, em específico a rede Condor. Os estudos e dados comerciais
descritos no texto foram desenvolvidos sob a base teórica de Adrian Forty
(2007), que aponta a necessidade de analisar o design levando em conta aspectos
extraestéticos, estimulando a observação do contexto cultural, histórico e
econômico, além de considerar cenários relacionados às megatendências para
o desenvolvimento das embalagens.
n Contextualização
Na gôndola do supermercado, em meio à diversidade de produtos,
o consumidor será seduzido por uma embalagem. Na primeira percepção,
embalagem e produto não se dissociam: ela “é o produto”. Como uma eficiente
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O contexto social e econômico do desenvolvimento das embalagens de marcas próprias
Marca própria caracteriza-se por ser um produto vendido exclusivamente pela organização
varejista que detém o controle da marca. Ela pode levar o nome da empresa ou utilizar uma outra
marca não associada ao nome da organização (OLIVEIRA, 2009).
Entende-se por bandeira a marca apresentada para o consumidor final – estampa o letreiro do
supermercado, diferentemente da marca do grupo econômico, por exemplo.
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BRUDZINSKI, Vanessa M. | PRUNER, Fernando P.
n A função da embalagem
Observando a natureza, percebemos a necessidade de haver embalagens
e as inspirações humanas para seu desenvolvimento: a vagem para proteger o
feijão, a palha para envolver a espiga de milho e a casca para abrigar a noz.
Se os ovos ainda fossem recolhidos dos ninhos direto para o consumo,
ou então os grãos plantados no quintal de casa, talvez as embalagens não
tivessem a importância que têm atualmente no desenvolvimento comercial dos
produtos. Nas sociedades em que prevalecem as trocas de mercadorias (e não
sua comercialização), as embalagens exercem apenas funções básicas essenciais,
como conter, proteger e viabilizar o transporte dos produtos. No século XIX
as embalagens eram artefatos preciosos, dada a sua escassez, mas já presentes
no cotidiano das pessoas. Muitos escravos vendedores de leite transportavam
latões, alguns deles fechados com cadeados para que o leite não fosse misturado
com água durante a viagem (CAVALCANTI; CHAGAS, 2006).
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O contexto social e econômico do desenvolvimento das embalagens de marcas próprias
ANTES
Poucos produtos
em linha, e
desenvolvimento
visual executado
pelos fabricantes
DEPOIS
Crescimento
da linha de
produtos com
base no novo
planejamento
visual
Fonte: Primária
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BRUDZINSKI, Vanessa M. | PRUNER, Fernando P.
Fonte: Primária
Fonte: Primária
n Conclusão
É inegável a presença das embalagens na sociedade comercial em que
vivemos. As funções básicas de conter, proteger e transportar há muito tempo
foram suplantadas pela sedução da venda. A apresentação da embalagem
impulsiona a relação preço-qualidade, os valores intangíveis são representados
pelo design como diferenciadores das marcas.
Ao longo deste artigo, discorreu-se sobre fatores extraestéticos no
desenvolvimento das embalagens de marcas próprias das redes supermercadistas.
Analisaram-se as peculiaridades na aplicação do design sob os aspectos sociais,
históricos e culturais em que esses produtos estão inseridos, características
fundamentadas por Forty (2007).
Nota-se que as características sociais, culturais e econômicas próprias
dos países influenciaram o desenvolvimento das embalagens de MP no decorrer
da sua história. Para o supermercadista a MP não é apenas um produto a mais
para expor na prateleira, ela pode concretizar todo o conhecimento sobre o
consumidor e seus hábitos – bagagem que o varejista tem de sobra.
A rede Condor de supermercados, caso de estudo retratado no artigo,
percebeu o ganho no oferecimento de produtos de MPs ao seu público
A revista SuperHiper é o órgão oficial de divulgação da Abras.
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O contexto social e econômico do desenvolvimento das embalagens de marcas próprias
n Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MARCAS PRÓPRIAS E
TERCEIRIZAÇÃO – ABMAPRO. Marca própria. Disponível em: <http://
abmapro.org.br/sobre/marca-propria/>. Acesso em: 22 out. 2015.
FORTY, Adrian. Objeto de desejo: design e sociedade desde 1750. São Paulo:
Cosac Naify, 2007.
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Tipologia utilizada: Cantoria MT Std e DIN