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DIREITO
Maria Tereza Ferrabule Ribeiro
Raquel Helena Hernandez Fernandes
FUNDAMENTOS DE
DIREITO
Reitor Prof. Celso Niskier
Pro-Reitor Acadêmico Maximiliano Pinto Damas
Pro-Reitor Administrativo e de Operações Antonio Alberto Bittencourt
Coordenação do Núcleo de Educação a Distância Viviana Gondim de Carvalho
Redação Dtcom
Análise educacional Dtcom
Autoria da Disciplina Maria Tereza Ferrabule Ribeiro, Raquel Helena Hernandez Fernandes
Validação da Disciplina Luiz Antônio Alves Gomes
Designer instrucional Milena Rettondini Noboa
R484f
153 p.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-93685-41-5
© Copyright 2018 da Dtcom. É permitida a reprodução total ou parcial, desde que sejam respeitados os
direitos do Autor, conforme determinam a Lei n.º 9.610/98 (Lei do Direito Autoral) e a Constituição Federal,
art. 5º, inc. XXVII e XXVIII, “a” e “b”.
Sumário
01 Conceito de direito. Evolução do direito. Constituições do Brasil. Direito constitucional:
fundamentos e princípios fundamentais. Direitos e deveres individuais e coletivos.
Cidadania e habeas corpus, habeas data, mandados de segurança e injunção..................7
Introdução
A partir de agora você estudará a evolução do Direito, além das Constituições Federais, que
fizeram parte da história brasileira. Também conhecerá informações importantes sobre os Direitos
Individuais e Coletivos, a cidadania e os remédios jurídicos que podem ser aplicados em diferentes
situações para assegurar os direitos fundamentais.
Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
FIQUE ATENTO!
A Lei de Talião podia ser menos indulgente, de acordo com a posição hierárquica da
pessoa acusada do delito, podendo ser concedida ainda uma pena compensatória,
como no caso dos médicos (ALTAVILA, 2001).
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
Figura 1 – As leis
Fonte: BrunoWeltmann/Shutterstock.com
De acordo com os estudos de Altavila (2001), além do Código de Hamurabi, outros ordena-
mentos influenciaram o Direito, como “A Magna Carta da Inglaterra”, de 1215; o livro “Dos Delitos e
das Penas”, de Cesare Beccaria, de 1764; e a “Lei de Declaração Universal dos Direitos do Homem”,
de 1948.
SAIBA MAIS!
Agora chegou o momento de fazermos um breve resumo histórico das constituições brasileiras.
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
FIQUE ATENTO!
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
3 Os princípios fundamentais na
Constituição Federal Brasileira
Como você já sabe, as Constituições Federais brasileiras foram instituídas em diferentes épo-
cas, de acordo com o momento político do país. A atual Constituição, promulgada em 1988, esta-
belece os direitos sociais do povo brasileiro, que fundamenta a sua base democrática e cidadã.
Esses princípios estão dispostos no Título I da Constituição Federal (PONTUAL, 2013).
Vale destacar ainda que a Constituição Federal, em seus artigos 1° ao 4°, estabelece prin-
cípios norteadores para a aplicação do Direito. É importante salientar que estes princípios não
possuem força normativa, ou seja, não têm características de norma positiva, sendo vistos como
valores que limitam a atuação do jurista no momento da interpretação. Podemos dizer, portanto,
que tanto os direitos fundamentais quanto a organização do Estado são valorados e protegidos
por estes princípios.
Fonte: Lazyllama/Shutterstock.com
O artigo 1º da Constituição Federal de 1988 remete aos princípios fundamentais. Dentre eles,
podemos destacar, inicialmente, a “Soberania”, pois concede poder absoluto à República Fede-
rativa do Brasil, e a “Cidadania”, pois está ligada diretamente ao Estado democrático, descrito no
preâmbulo do artigo. Salientamos ainda a “Dignidade Humana”, pois retrata a pessoa como ponto
central, a proteção do ser humano (BRASIL, 1988).
EXEMPLO
Proibir o uso de banheiro durante o expediente é um exemplo de violação à dignida-
de humana, assim como é um caso de violação aos Direitos e Deveres Individuais
e Coletivos o anúncio discriminatório que informa: “Oportunidade de emprego para
homem de 20 anos, boa aparência, estatura alta etc.”.
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos bra-
sileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) (BRASIL, 1988).
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
FIQUE ATENTO!
Tenha em mente que os direitos e garantias fundamentais contidos no artigo 5° da
Constituição Federal apresentam-se em 78 incisos e quatro parágrafos. Porém, é
importante destacar que estas garantias são exemplos, e não se esgotam neste rol.
A Constituição Federal de 1988 trouxe, em seu artigo 5º, importantes remédios com a inten-
ção de proteger os direitos fundamentais dos cidadãos, tais como (BRASIL, 1988):
•• Habeas Corpus: instrumento para impedir o constrangimento ilegal. Por exemplo, um
juiz que condena o acusado sem o devido amparo legal.
•• Habeas Data: possibilita informações de pessoas nos bancos de dados governamen-
tais. Exemplo: acesso ao Detran para verificação de multas.
•• Mandado de Segurança Individual: para proteção individual, que não são amparados
por Habeas Corpus e Habeas Data.
EXEMPLO
Após ter sido reprovado em um concurso público devido à característica física não
exigida no edital, como a altura, o concorrente utiliza um Mandado de Segurança
Individual para continuar na disputa pela vaga pretendida.
SAIBA MAIS!
Amplie seus conhecimentos sobre os remédios constitucionais lendo o artigo “As
garantias dos direitos fundamentais, inclusive as judiciais, nos países do Mercosul”
(SCHAFER, 1999). Acesse em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/
id/486/r142-17.PDF?sequence=4>.
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
Referências
ALTAVILA, Jayme. Origem dos Direitos dos Povos. 9. ed. São Paulo: Editora Ícone, 2001.
BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. Ridendo Castigat Mores (ed eletrônica). EbooksBrasil.
com. Disponível em: <http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/delitosB.pdf>. Acesso em: 18 jul 2017.
_______. Câmara dos Deputados. Portal da Constituição Cidadã. Constituição Federal: Apresenta-
ção. 1988. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/Constitui-
coes_Brasileiras/constituicao-cidada>. Acesso em: 10 ago. 2017.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Resolução nº 217 A III, de 10 de dezembro de 1948. Decla-
ração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: <https://www.unicef.org/brazil/pt/resour-
ces_10133.htm>. Acesso em: 04 ago. 2017.
PONTUAL, Helena Daltro. Uma breve história das Constituições do Brasil. 25 anos de Constituição
Cidadã. Senado Federal, Brasília (DF), 2013. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/noticias/
especiais/constituicao25anos/historia-das-constituicoes.htm>. Acesso em: 10 ago 2017.
SCHAFER, Jairo Roberto. As garantias dos direitos fundamentais, inclusive as judiciais, nos países
do Mercosul. Revista de Informações Legislativa, Brasília, a. 36, n. 142, abr./jun. 1999. Disponí-
vel em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/486/r142-17.PDF?sequence=4>.
Acesso em: 4 ago 2017.
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TEMA 2
Fontes do Direito e ramos do Direito. Fontes primárias,
fontes secundárias. Ramos do Direito Público e ramos
do Direito Privado
Maria Tereza Ferrabule Ribeiro
Introdução
Nesta aula estudaremos as fontes do Direito e suas origens, apresentando os ordenamentos
jurídicos e o comportamento das leis, de acordo com sua eficácia e temporalidade. Aprenderemos
ainda sobre as fontes primárias e secundárias, que também são chamadas de mediatas e imedia-
tas. E, finalmente, abordaremos a divisão do Direito em ramos, o Direito Público e o Direito Privado.
Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
Por “fonte do direito” designamos os processos ou meios em virtude dos quais as regras
jurídicas se positivam com legítima força obrigatória, isto é, com vigência e eficácia no
contexto de uma estrutura normativa. (REALE, 2002, p. 140)
•• Fontes materiais
Estão diretamente ligadas ao conteúdo das normas, à integração do fato ao ordena-
mento jurídico, e são construídas ao logo do tempo.
•• Fontes formais
Constituem o conjunto de normas de determinado território. É o mecanismo pelo qual
o Direito se manifesta.
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
Contudo, vale ainda destacar que as fontes podem ser estudadas sob outra perspectiva,
sendo divididas entre fontes primárias e fontes secundárias.
Figura 1 – Fonte
2 Fontes primárias
As leis são consideradas fontes primárias do Direito. São fontes diretas, principais e possuem
aplicabilidade imediata. As leis são classificadas ainda como formais, pois regulam e “dizem o
direito” a um determinado povo.
Figura 2 – Igualdade
Fonte: Shutterstock.com.
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
FIQUE ATENTO!
As leis são de caráter genérico e obrigatório, impostas pelo Estado, e devem ser
obedecidas por todos sem qualquer tipo de distinção.
O artigo 5° da Constituição Federal em seu caput dispõe que as leis são obrigatórias, desta
forma os cidadãos não poderão alegar ignorância ou falta de conhecimento, caso venham a pra-
ticar ato que prejudique qualquer ordenamento jurídico (BRASIL, 1988). Assim, tenha sempre em
mente que na organização administrativa brasileira, a Constituição Federal ocupa o primeiro grau
na hierarquia das leis, seja no âmbito estadual ou municipal (NADER, 2014).
FIQUE ATENTO!
Saiba ainda que as leis serão gerais, quando aplicadas para alcançar todos os cidadãos,
como, por exemplo, a Constituição Federal; e especiais, quando este alcance se refere a situações
particulares, como no caso da Consolidação das Leis do Trabalho (NADER, 2014).
Figura 3 – As leis
Os ordenamentos jurídicos, como as leis, possuem atributos para validarmos sua existência.
A seguir, vamos destacar esses atributos (NADER, 2014). Acompanhe!
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
•• Vigência
As leis podem ser permanentes (quando não houver prazo para a sua vigência) e tempo-
rárias (quando há prazo de vigência). Para que uma lei seja vigorada, ela sofre uma tem-
poralidade, conforme determina o artigo 1° da Lei de Introdução ao Código Civil. “Salvo
disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país 45 (quarenta e cinco) dias
depois de oficialmente publicada”. Esta vacância da lei é denominada de vacatio legis.
•• Efetividade
Deve ser obedecida tanto por quem se destina a lei, quanto por aqueles que a escrevem.
•• Eficácia
É determinada pela capacidade de produção de efeitos da norma jurídica. Estuda-se a
função social da norma e se esta foi cumprida com sua vigência.
•• Legitimidade
Neste caso, a norma somente será legítima quando criada em conformidade com as
exigências legais.
Por fim, é preciso entender também que os usos e costumes são considerados fonte primária e
classificados como consuetudinários (costume jurídico), ou seja, quando o Direito está intimamente
ligado à cultura da sociedade, sem passar pelo processo formal de criação de leis (DINIZ, 2017).
3 Fontes secundárias
As fontes secundárias são encontradas na forma de doutrina, analogia, jurisprudência e equi-
dade, ou seja, são mecanismos norteadores dos aplicadores do Direito, como as leis serão profe-
ridas em palavras, para facilitar o conhecimento e aplicação pelo órgão competente (DINIZ, 2017).
A seguir, você conhecerá cada uma destas fontes de forma detalhada.
EXEMPLO
O advogado, ao elaborar sua peça processual, poderá utilizar uma obra de autor
consagrado para fortalecer sua tese acerca do que se pretende provar.
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
•• Analogia: é aplicada em casos que possuem certa semelhança. É uma forma de auxi-
liar os juízes na aplicabilidade de determinada sanção, analisando situações análogas
(semelhantes) (GAGLIANO; PAMPLONA, 2012).
EXEMPLO
Sabe-se que a Lei Maria da Penha foi criada para proteger as mulheres, mas o juiz
poderá utilizar medidas protetivas desta lei também para homens, ou seja, utilizan-
do a legislação de forma análoga.
SAIBA MAIS!
Para buscar mais conhecimento sobre jurisprudências, acesse o link de consultas
do Tribunal Regional Federal da 2ª Região: <http://www10.trf2.jus.br/consultas/
jurisprudencia/infojur/>.
•• Equidade: tem suas origens no filósofo Aristóteles, em sua obra “Ética a Nicômaco”. Como
diz o próprio nome, remete à igualdade na aplicação de justiça, procurando auxiliar o Judi-
ciário a se adequar à norma, de forma justa ao caso concreto (ENCARNAÇÃO, 2010).
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
FIQUE ATENTO!
A divisão entre os dois ramos do Direito não é taxativa, uma vez que existe divergên-
cia entre os doutrinadores.
De acordo com o professor Paulo Nader (2014, p. 140), “as investigações que a doutrina
moderna desenvolve sobre o Estado caminham em três direções”. São elas: no campo da Sociologia,
evidenciando o Estado como um ente social; no político, com o Estado promovendo o bem-estar dos
cidadãos, e finalmente no campo jurídico, verificando a estrutura “normativa” do Estado.
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
SAIBA MAIS!
Leia o texto “Dicotomia Direito Privado x Direito Público” (LEMKE, 2011) para saber
mais sobre os ramos do Direito. Está disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/
portal/sites/default/files/anexos/22384-22386-1-PB.pdf>.
Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
Referências
BITTI, Eduardo Silva. A sociedade em comum no Código Civil Brasileiro. f. 92, Dissertação (Mes-
trado), Direito Empresarial. Nova Lima: Faculdade de Direito Milton Campos, FDMC, 2008. Dispo-
nível em: <http://www.mcamos.br/u/201503/eduardosilvabittisociedadecomumcodigocivilbrasi-
leiro.pdf>. Acesso em: 16 ago 2017.
BRASIL. Presidência da República, Casa Civil. Decreto-Lei n° 4.657, de 04/09/1942. Lei de introdução
às normas do Direito Brasileiro. Redação dada pela Lei n° 12.376 de 2010. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657compilado.htm>. Acesso em: 6 ago 2017.
DINIZ, Maria Helena. Fontes do Direito. Tomo Teoria Geral e Filosofia do Direito, 1. ed. Enciclo-
pédia Jurídica da PUCSP, junho, 2017. Disponível em: <https://enciclopediajuridica.pucsp.br/ver-
bete/157/edicao-1/fontes-do-direito>. Acesso em: 11 ago 2017.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2014.
ENCARNAÇÃO, João Bosco da. Que é isto, o Direito? Introdução à Filosofia Hermenêutica do
Direito. 5. ed. Revisada, maio de 2010. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/down-
load/texto/ea000736.pdf>. Acesso em: 13 ago 2017.
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA, Rodolfo Filho. Novo Curso de Direito Civil. Parte Geral 1. 14 ed.
São Paulo: Saraiva, 2012. Disponível em: <http://www.fkb.br/biblioteca/Arquivos/Direito/Novo%20
Curso%20de%20Direito%20Civil%20-%20Pablo%20Stolze%20Gagliano.pdf>. Acesso em: 22 jul 2017.
LEMKE, Nardim Darcy. Dicotomia Direito Privado x Direito Público. Revista de E-gov, Florianópolis,
p.1-31, 4 mar. 2011. Portal E-gov da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Disponível em:
<http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/22384-22386-1-PB.pdf>. Acesso em:
06 ago. 2017.
NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 36. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014.
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27.ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
SARAIVA, Carmen Ferreira. Considerações sobre o Estudo do Direito. Parte integrante da edição
166. Boletim Jurídico, 2006. Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.
asp?id=1079>. Acesso em: 22 jul. 2017.
SILVA, De Plácido E. Vocabulário Jurídico. v. 2, 11. ed. Rio de Janeiro, Forense, 1989.
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TEMA 3
Hierarquia das normas jurídicas: emendas
constitucionais, leis. Instrumentos de integração
do Direito: analogia e princípios gerais do Direito
Maria Tereza Ferrabule Ribeiro
Introdução
No Direito as normas jurídicas estão organizadas de forma hierárquica, de modo que possam
interagir sem conflitos entre elas. Para entender essa lógica, vamos conhecer nesta aula a ordem
existente entre as normas, os integradores do Direito e os princípios gerais embasados pela Cons-
tituição Federal de 1988.
Objetivos de Aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
FIQUE ATENTO!
Tenha sempre em mente a hierarquia das leis: “A norma que determina a criação de
outra norma é a norma superior, e a norma criada segundo esta regulamentação é
a inferior.” (KELSEN, 1988, p. 181).
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
Podemos utilizar o formato da pirâmide de Kelsen para apresentar o sistema jurídico brasi-
leiro, de acordo com o artigo 59 da Constituição Federal (BRASIL, 1988).
Constituiç
ão Federa
l
Emendas
à Constitu
ição
Leis comp
lementare
s
Leis Deleg
adas
Medidas P
rovisórias
Decretos
legislativo
s
Resoluçõ
es
Então, a Constituição Federal é a lei magna do país. Assim estamos diante da ordem organi-
zacional do Brasil: leis federais, estaduais e municipais.
Agora, vamos estudar como a Constituição Federal pode sofrer emendas.
SAIBA MAIS!
Você pode conhecer mais detalhes das emendas constitucionais aprovadas entre
1992 e 2017 acessando o link: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
emendas/emc/quadro_emc.htm>.
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
Assim, entenda que é possível fazer propostas para emendas à Constituição, desde que obser-
vados os requisitos estabelecidos nos incisos do artigo 60. Este artigo estabelece como podem
ser propostas as emendas constitucionais:
•• pelo Presidente da República - encaminha ao Congresso Nacional;
•• por 1/3 dos deputados federais – encaminha para a Comissão de Constituição, Justiça
e Cidadania (CCJ);
•• por 1/3 dos senadores federais – encaminha para a CCJ;
•• por mais da metade das assembleias legislativas das unidades da Federação – enca-
minha para a CCJ.
A proposta para emenda constitucional será debatida e votada em dois turnos, em cada casa
do Congresso, e será aprovada se obtiver, na Câmara dos Deputados Federais e no Senado Fede-
ral, três quintos dos votos dos deputados (308 votos) e dos senadores (49), também chamado de
quórum qualificado (BRASIL, 2017). Assim, o presidente da República pode apresentar a proposta
de emenda, porém são os deputados e senadores que têm o poder de aprovação.
EXEMPLO
A Emenda Constitucional nº 98/ 2017 “acrescenta § 7º ao artigo 225 da Constitui-
ção Federal, para determinar que práticas desportivas que utilizem animais não são
consideradas cruéis, nas condições que especifica” (BRASIL, 2017).
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
FIQUE ATENTO!
É importante destacar que o parágrafo 4° do artigo 60 deixa claro que há situações em que
a Constituição não pode ser alterada, pois tratam-se de cláusulas pétreas, denominadas assim
porque não podem ser removidas para garantir a permanência de direitos e garantias individuais.
3 As leis brasileiras
Após o artigo 60, a Constituição Federal aborda na subseção III, do artigo 61 até o artigo 69,
as Leis Complementares e Ordinárias. Vamos conhecê-las.
Figura 3 – Legislação
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
FIQUE ATENTO!
Os cidadãos poderão manifestar-se, de acordo com o estabelecido no caput do ar-
tigo 61, na forma de iniciativa popular, apresentando projeto de lei na Câmara dos
Deputados.
•• Leis Delegadas
As Leis Delegadas estão previstas no artigo 68 da Constituição Federal, que estabelece:
“As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar
delegação ao Congresso Nacional” (BRASIL, 1988). Conforme os estudos de Michel
Temer (2008, p. 152), “delegar atribuições para o constituinte, significa retirar parcela de
atribuições de um poder para entregá-lo a outro poder”.
•• Medidas Provisórias
As Medidas Provisórias estão estabelecidas no artigo 62 da Constituição Federal, da
seguinte forma: “Em caso de relevância e urgência, o presidente da República poderá
adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Con-
gresso Nacional” (BRASIL, 1988). Assim, as Medidas Provisórias somente poderão ser
realizadas como o caput explicita, nos casos de relevância ou urgência. Compreenda
que medida provisória não é lei, mas tem “força de lei” (TEMER, 2008, p. 153).
•• Decretos Legislativos
Os Decretos Legislativos são atos normativos de competência exclusiva do Congresso
Nacional, sendo que esses atos e competências se encontram relacionados no artigo 49 e
em incisos, como, por exemplo, “mudança temporária da sede do Governo” (BRASIL, 1988).
•• Resoluções
As Resoluções são tratadas no artigo 68 da Constituição Federal, no parágrafo 2°, e deno-
minadas de “resolução delegativa”, na qual o presidente da República propõe lei delegada,
que vai requerer autorização prévia do Congresso Nacional, por meio de resolução. Assim
que for concedida, terá que especificar o conteúdo da delegação e os seus termos, bem
como a fixação de prazo que irá perdurar o conteúdo da delegação. Exemplo: Lei Delegada
n° 13 de 08/1992. “O Presidente da República, faço saber que, no uso da delegação cons-
tante da Resolução n° 1, de 1992-CN, decreto a seguinte lei [...].” (CHAMONE, 2010, p. 15).
Agora que já compreendemos a organização das leis no Brasil, vamos estudar os instrumen-
tos integradores, que auxiliam os magistrados a suprir as lacunas que surgem no momento de
julgar determinadas situações, oriundas das relações individuais, coletivas e jurídicas.
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
EXEMPLO
O artigo 4° da Lei de Introdução ao Código Civil afirma que “quando a lei for omissa,
o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais
do direito.” (BRASIL, 2002).
Figura 4 – Justiça
Fonte: Stockshoppe/Shutterstock.com.
SAIBA MAIS!
Leia o artigo “Princípios Gerais de Direito e Princípios Constitucionais” para saber
mais sobre os integradores do Direito. Acesse em: <http://www.emerj.tjrj.jus.br/serie-
aperfeicoamentodemagistrados/paginas/series/11/normatividadejuridica_51.pdf>.
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
•• perceber a importância na hierarquia das leis para que não haja conflitos entre os orde-
namentos jurídicos;
•• conhecer a pirâmide de Kelsen e a pirâmide do Brasil na hierarquia das leis.
Referências
BRAGA, Wladimir Flávio Luiz. Princípios Gerais do Direito. Disponível em: <http://fdc.br/Arquivos/
Artigos/14/PrincipiosGeraisDireito.pdf>. Acesso em: 07 ago. 2017.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado
Federal: Centro Gráfico, 1988, 292 p. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/consti-
tuicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 08 ago. 2017.
_______. Lei nº 10406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil: Institui o Código Civil. Presidência
da República, Casa Civil, Brasília-DF, 10 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 17 ago. 2017.
_______. Senado Federal. Glossário Legislativo. Emenda Constitucional. 2017. Disponível em: <http://
www12.senado.leg.br/noticias/glossario-legislativo/emenda-constitucional>. Acesso em: 21 ago. 2017.
CHAMONE, Marcelo Azevedo. Lei Delegada. Revista Estudos Legislativos. Assembleia Legislativa,
Rio Grande do Sul. 2010. Disponível em: <http://submissoes.al.rs.gov.br/index.php/estudos_legis-
lativos/article/view/49>. Acesso em: 15 ago. 2017.
KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado. BORGES, Luís Carlos (trad.), 3. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1998.
MASCARENHAS, Paulo. Manual de Direito Constitucional. Salvador, 2008. Disponível em: http://
www.paulomascarenhas.com.br/manual_de_direito_constitucional.pdf>. Acesso em: 17 ago. 2017.
TEMER, Michel. Elementos de Direito Constitucional. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 2008.
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TEMA 4
Administração Pública – princípios da
Administração Pública (LIMPE). Artigo 37 da
Constituição Federal.
Maria Tereza Ferrabule Ribeiro
Introdução
Nesta aula, vamos estudar as classificações dos entes públicos para compreender a quem
são direcionados os princípios que norteiam a Administração Pública, seja de forma direta ou
indireta. Tais princípios estão no artigo 37 da Constituição Federal e devem ser seguidos pelos
servidores públicos na execução das atividades públicas. Os cinco princípios que estudaremos a
seguir representam o alicerce da Administração Pública, mas não esgotam a relação de princípios
necessários nas atividades públicas.
Objetivos de Aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
– 30 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Fonte: Lotus_Studio/Shutterstock.com.
•• Autarquias – São criadas por lei, com autonomia e gestão administrativa e financeira
descentralizada, adquirem personalidade jurídica própria, bem como receita e patrimô-
nio, objetivando executar atividades inerentes à Administração Pública. Um exemplo de
Autarquia Federal é o Banco Central.
•• Empresas públicas – São criadas por lei, cuja personalidade jurídica será do direito
privado, com o objetivo de exploração de atividade econômica. O governo estabelece
este tipo de entidade por força de contingência ou por conveniência administrativa. Um
exemplo de Empresa Pública é a Caixa Econômica Federal.
•• Sociedade de economia mista – São sociedades anônimas criadas por lei com per-
sonalidade jurídica do direito privado, com o objetivo de explorar atividade econômica,
sendo que a maioria das ações com direito a voto será pertencente à União ou à enti-
dade da Administração indireta. Um exemplo é a Petrobras.
FIQUE ATENTO!
– 31 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
A seguir, vamos apresentar os princípios da Administração Pública, que podem ser lembra-
dos a partir da palavra “LIMPE”, formada pelas letras iniciais de cada um deles: Legalidade, Impes-
soalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência. Todos estão presentes no artigo 37 da Constitui-
ção Federal e incisos.
2 Princípio da Legalidade
O princípio da legalidade estabelece que a Administração Pública deve ter respaldo em lei,
sendo considerado ilícitos os atos práticos sem expressa permissão legal. Logo, a Administração
Pública é subordinada às leis, devendo seus agentes assumirem a posição de dóceis cumpridores
das disposições fixadas pelo legislador. Esse mecanismo de organização, limita o poder do Estado
e passa certa segurança jurídica ao indivíduo. Fundamentado no artigo 37, caput e artigo 5, inciso
II, da Constituição Federal.
Figura 2 – Legalidade
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
SAIBA MAIS!
Leia o artigo de Marcelo Thompson, intitulado “Marco civil ou demarcação de direi-
tos?”, que questiona a adequação do Marco Civil à jurisprudência recente do Supre-
mo Tribunal Federal sobre liberdade de expressão. Acesse em: <http://bibliotecadi-
gital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/view/8856/7678>.
Já conhecemos um pouco sobre o princípio da Legalidade, então vamos saber mais sobre o
princípio de Impessoalidade, conforme estudaremos a seguir.
3 Princípio da Impessoalidade
Vejamos o princípio da Impessoalidade, a letra I, de “LIMPE”. Neste princípio, cabe ao admi-
nistrador público agir com neutralidade em todos os atos governamentais. Assim, ao atuar em
nome do interesse público, como preposto legitimado pelo Estado, o agente segue fielmente os
princípios da Legalidade e da Igualdade, dispostos nos Princípios Fundamentais e nos Direitos e
Garantias Fundamentais.
EXEMPLO
A impessoalidade possibilita que não haja privilégios aos servidores públicos, que
não poderão se autopromover, nem promover outra pessoa. Para a ocupação de
cargos na administração pública o concurso público é obrigatório, possibilitando
que qualquer cidadão participe, desde que atenda as exigências do edital.
Depois dessa breve explicação sobre o princípio de Impessoalidade, vamos saber mais sobre
o princípio da Moralidade.
4 Princípio da Moralidade
O terceiro princípio é o da Moralidade, a letra M, de “LIMPE”. É o princípio de praticar os atos
sob a sua responsabilidade com ética e moral e em consonância com a lei (MORAES, 2007).
FIQUE ATENTO!
O princípio da Moralidade pode estar implícito no princípio da Publicidade, pois os
atos da gestão pública deverão ser públicos para que o particular tenha conheci-
mento de que forma estão sendo utilizados os erários (recursos) públicos.
– 33 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
EXEMPLO
Do agente público são exigidas lisura, transparência e publicidade de seus atos, ao
invés da utilização do cargo para tirar ou criar vantagens, sob pena da prática de
tráfico de influência ou ato de improbidade administrativa.
Assim, saiba que o princípio da Moralidade pode trazer grande contribuição para o serviço
público. Se, após uma investigação, o agente público for condenado pela prática de crime no exer-
cício de suas funções, poderá ser responsabilizado para a devolução dos valores subtraídos, como
diz o artigo 37 da Constituição Federal no parágrafo 4°: “Os atos de improbidade administrativa
importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos
bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação prevista em lei, sem prejuízo da ação penal
cabível” (BRASIL, 1988).
Figura 3 – Transparência
Fonte: Nonnakrit/Shutterstock.com.
Portanto, fica claro que o agente público, além da perda de privilégios decorrentes do cargo,
e também financeiros, terá que responder perante a lei penal.
5 Princípio da Publicidade
O P, de “LIMPE”, diz respeito ao princípio da Publicidade, sendo que “A publicidade, como prin-
cípio da administração pública, abrange toda atuação estatal, não só sob o aspecto de divulgação
oficial de seus atos como, também, de propiciação de conhecimento da conduta interna de seus
agentes” (MEIRELLES, 2000, p.89). Um exemplo são as publicações realizadas via Diário Oficial.
– 34 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
SAIBA MAIS!
Confira mais sobre o princípio da Publicidade lendo “Princípio da publicidade, pre-
sunção de inocência e intimidade nos processos eletrônicos”, que relata a nova
relação com os meios eletrônicos. Acesse em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/
index.php/rda/article/view/8440/7188>.
6 Princípio da Eficiência
A eficiência do servidor público tem como atributos fundamentais, no desempenho de suas
atividades, trabalhar com imparcialidade, neutralidade, transparência, eficácia, desburocratização
e atendendo ao cidadão com qualidade, ética e educação (MORAES, 2007).
FIQUE ATENTO!
É exigido que a Administração Pública seja realizada com presteza, atingindo os
fins sociais, visando a satisfação das necessidades da comunidade e de seus
membros como um todo.
Este princípio, conforme Moraes (2016), explica, legitima ao Ministério Público que proceda
com a tutela necessária aos particulares em detrimento ao poder Estatal, conforme o artigo 129,
inciso II, da Constituição Federal: “Zelar pelo efetivo respeito dos poderes públicos e dos servi-
– 35 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
ços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas
necessárias a sua garantia.” (BRASIL, 1988).
Assim, foi possível conhecer os cinco princípios que norteiam a administração pública, e que
são extremamente importantes na gestão pública, trazendo ações positivas para a sociedade.
Fechamento
Nesta aula você teve a oportunidade de:
•• compreender a organização da Administração Pública;
•• identificar a forma como os princípios constitucionais atuam em prol da sociedade;
•• conhecer os cinco princípios que devem ser obedecidos pelos servidores públicos na
execução de suas atividades.
Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado
Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p.
______. Decreto-lei nº. 200, de 25 de fevereiro de 1967. Dispõe sobre a organização da Admi-
nistração Federal, estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá outras providências.
Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 27 de fevereiro de 1967. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del0200.htm>. Acesso em: 08 ago. 2007.
______. Emenda Constitucional n° 19, de 04 de junho de 1998. Modifica o regime e dispõe sobre
princípios e normas da Administração Pública, servidores e agentes políticos, controle de despe-
sas e finanças públicas e custeio de atividades a cargo do Distrito Federal, e dá outras providên-
cias. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 04 de junho de 1998. Disponível
em: <http://www.camara.gov.br/sileg/integras/688521.pdf>. Acesso em: 08 ago. 2017.
JÚNIOR, Walter Nunes da Silva. Princípio da publicidade, presunção de inocência e intimidade nos
processos eletrônicos. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v. 255, p. 289-326, set.
2010. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/view/8440/7188>.
Acesso em: 03 ago. 2017
MORAES, Antonio Carlos Flores de. Legalidade, Eficiência e controle da Administração Pública.
Belo Horizonte. Fórum, 2007.
– 36 –
TEMA 5
Contratos Administrativos. Licitação
Maria Tereza Ferrabule Ribeiro
Introdução
Os contratos administrativos e as modalidades da licitação são importantes ferramentas da
Administração Pública para estabelecer a forma de compra de bens e serviços, bem como realizar
obras. Vamos estudá-los e conhecer os princípios estabelecidos para a execução de uma licitação.
Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
•• compreender o conceito jurídico de contratos administrativos e licitação;
•• conceituar as modalidades de licitação;
•• entender as normativas legais administrativas para a contratação de compras públicas.
Fonte: dreamtime/Shutterstock.com.
– 37 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Veja que a Lei 8.666/1993 foi criada por tratar de um tema complexo, e a legislação detalha,
então, como deverão ser realizadas essas contratações, sendo que as regras valem para todos os
órgãos da Administração Púbica, sejam da Administração direta ou indireta (BRASIL,1993).
Os contratos da Administração Pública que devem obedecer à Lei 8.666 abrangem os que
forem estabelecidos entre entes públicos, bem como os de âmbito do Direito Privado.
FIQUE ATENTO!
A Lei 8.666/93 estabelece no artigo 2°, § único, que contrato é o ajuste estabelecido
entre órgãos ou entidades da Administração Pública e particulares.
•• Direito Privado: irá regular os contratos de compra e venda, bem como aqueles que são
a título gratuito, como a doação e o comodato, regidos pelo Código Civil.
FIQUE ATENTO!
A eficiência é a forma de cumprir a atividade da maneira certa, enquanto que eficá-
cia vai além de somente cumprir a atividade, mas de certificar-se de que o objetivo
foi atingido e resolveu a situação.
– 38 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Fonte: dockstockmedia/Shutterstock.com.
•• Pregão – usado na compra de bens dos serviços realizados pela União, Distrito Federal,
Estados e municípios. Os interessados devem atender requisitos mínimos de qualifica-
ção exigidos no edital, e é feito em sessão pública, presencial ou eletrônica.
– 39 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
EXEMPLO
Quando os donos de carros apreendidos pelo departamento de fiscalização de
trânsito não demonstram interesse em recuperá-los, os veículos são leiloados e os
recursos, revertidos ao erário público. Para isso, o órgão precisa fazer uma licitação,
na modalidade leilão.
SAIBA MAIS!
Para mais detalhes sobre as modalidades de licitação e suas aplicações, leia o
artigo de Lucas Rocha Furtado intitulado “Contratos Administrativos e Contratos de
Direito Privado celebrados pela Administração Pública”. Acesse em: <http://revista.
tcu.gov.br/ojs/index.php/RTCU/article/viewFile/934/998>
Figura 3 – SRP
– 40 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Além do SRP, as licitações precisam obedecer alguns requisitos para que possam ser oficia-
lizadas. A seguir, vamos conhecer alguns desses aspectos.
Figura 4 – Licitação
Fonte: Shutterstock.com.
FIQUE ATENTO!
Lembre-se de que licitação tem como significado “lançar em leilão, dar preço, ofere-
cer lanço” (DE PLÁCIDO, 1989, p. 88).
Já a etapa externa está baseada no artigo 3°, parágrafo 3°, que estabelece a publicidade da lici-
tação para que o público tenha acesso ao seu conteúdo no momento da abertura (ADRIANO, 2013).
5 Dispensa de licitação
Por outro lado, saiba que a licitação pode ser dispensada diante de situações elencadas na
Lei 8.666/1993, como os casos de interesse público, estabelecidos no artigo 17, como a aliena-
ção de bens, ou seja, a transferência voluntária de um bem, seja móvel ou imóvel. O artigo 24° da
mesma lei dispõe de outros casos em que pode haver dispensa de licitação (BRASIL,1993).
– 41 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
EXEMPLO
O inciso III do artigo 24º prevê a dispensa de licitação na ocorrência de guerra ou
grave perturbação da ordem. Outra situação de dispensa é em relação a valores,
quando este for inferior aos limites estabelecidos (BRASIL,1993).
Portanto, são diversas as situações em que o ente público pode deixar de utilizar as modalida-
des licitatórias. Porém, é preciso ressaltar que, caso o faça sem amparo legal, pode ser punido com
detenção e multa, conforme determina o artigo 89 da legislação específica.
SAIBA MAIS!
Leia o artigo do doutor em Direito Ivan Xavier Filho, que trata sobre a responsabilidade
penal do particular diante da dispensa de licitação. Acesse em: <http://www.
editoraforum.com.br/ef/wp-content/uploads/2017/04/artigo-dispensa-licitacao.pdf>.
Portanto, agora já sabemos como a Administração Pública realiza os contratos públicos para
garantir prestação de serviços com qualidade e eficiência para a sociedade.
Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
Referências
ADRIANO, Paulo Roberto Ienzura. Processos Licitatórios: Legislação e Formalização. 2013. 152
f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pós-Graduação em Planejamento e Governança Pública,
Universidade Federal Tecnológica do Paraná, Curitiba, 2013. Disponível em: <http://repositorio.
utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/588/1/CT_PPGPGP_M_Adriano, Paulo Roberto Ienzura_2013.pdf>.
Acesso em: 09 ago. 2017.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
– 42 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
________. Lei n° 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da constituição
Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras provi-
dências. 1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8666cons.htm>. Acesso
em: 05 ago. 2017.
________. Lei n° 10.520 de 17 de julho de 2002. Institui, no âmbito da União, Estados, Distrito Federal
e Municípios, nos termos do art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, modalidade de licitação
denominada pregão, para aquisição de bens e serviços comuns, e dá outras providências. 2002. Dis-
ponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10520.htm>. Acesso em: 05 ago. 2017.
FURTADO, Lucas Rocha. Contratos Administrativos e Contratos de Direito Privado Celebrados pela
Administração Pública. R. TCU, Brasília, v. 31, n. 86, out/dez 2000. Disponível em: <http://revista.
tcu.gov.br/ojs/index.php/RTCU/article/viewFile/934/998>. Acesso em: 30 ago. 2017.
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. v. 4. 11. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1989.
WAHLBRINCK, Marco Luciano. Modalidades licitatórias. Univates, 2006. Disponível em: <https://www.
univates.br/media/graduacao/direito/MODALIDADES_LICITATORIAS.pdf>. Acesso em: 05 ago. 2017.
– 43 –
TEMA 6
Sujeitos do Direito: nascimento e fim
Raquel Helena Hernandez Fernandes
Introdução
A existência humana contempla dois grandes e significativos eventos: vida e morte. Esses
dois eventos são caracterizados por peculiaridades importantes para a vida em sociedade e, con-
sequentemente, para o meio jurídico. Eles trazem aspectos essenciais ao estabelecimento de direi-
tos e deveres de uma pessoa.
Objetivos de Aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
– 44 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Figura 1 – Nascimento
Para os natalistas, a personalidade tem início a partir do nascimento com vida. Já os concep-
cionistas entendem que a personalidade tem início a partir da concepção. O Código Civil não deixa
claro o seu posicionamento, pois, embora afirme que a personalidade civil começa a partir do nas-
cimento da vida, diz que o nascituro tem os direitos resguardados, de encontro à teoria concepcio-
nista. Percebe-se, portanto, que não há consenso sobre o assunto, embora o posicionamento majo-
ritário dos tribunais e de doutrinadores tem sido voltado à teoria concepcionista (TARTUCE, 2016).
A teoria da personalidade condicional afirma que a personalidade civil surge com o nasci-
mento de uma pessoa com vida. Porém, menciona que somente alguns direitos são protegidos,
como, por exemplo, o direito à vida (TARTUCE, 2016). Já outros direitos só serão garantidos após
o nascimento com vida, como, por exemplo, direitos patrimoniais.
– 45 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
SAIBA MAIS!
Sobre a prevalência da teoria concepcionista em nossos sistema e ordenamento
jurídicos, sugerimos a leitura do Informativo n. 547 do Superior Tribunal de Justiça,
nas páginas 9 e 10. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/SearchBRS?b=INF-
J&tipo=informativo&livre=@COD=%270547%27>.
SAIBA MAIS!
O Projeto de Lei 699/2011 pretende alterar o artigo 11 do Código Civil, explicitando
direitos da personalidade e suas classificações. Para conhecer mais, acesse em: <http://
www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=494551>.
As classificações dos direitos da personalidade causam divergências entre juristas. Para fins
didáticos, “os direitos da personalidade são intransmissíveis, irrenunciáveis, extrapatrimoniais e
vitalícios” (TARTUCCE, 2016, p. 162). Nesse sentido, atente à seguinte classificação (BRASIL, 2011):
Figura 2 – Liberdade
Fonte: studioarz/Shutterstock.com.
– 46 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Quanto a serem ilimitados e absolutos, existem algumas polêmicas, pois os direitos da per-
sonalidade, em alguns casos, podem sofrer limitação voluntária e não podem ser exercidos com
abuso de direito pela pessoa titular (BRASIL, 2012).
EXEMPLO
O caso de uma pessoa que, por meio de registro em cartório, dispõe de seu corpo
gratuitamente após a morte para alguma universidade, para fins científicos, é um
exemplo de disponibilidade relativa dos direitos da personalidade (BRASIL, 2002).
•• Direito irrenunciáveis:
Não é possível renunciar aos direitos de personalidade, ou seja, não é possível abando-
nar o seu direito.
•• Direitos imprescritíveis:
Não têm prazo para existirem, assim como não se extinguem pela inércia referente ao uso.
•• Morte real: o fim da personalidade da pessoa natural ocorre pela morte. Nesse sentido,
morte real é a morte cerebral (BRASIL, 2002). Será confirmada por médico, por meio de
laudo, documento essencial à elaboração do atestado de óbito.
– 47 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Figura 3 – Morte
FIQUE ATENTO!
A morte cerebral é a morte real, ou seja, somente quando o cérebro da pessoa para
de funcionar é declarada a sua morte real.
EXEMPLO
– 48 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
FIQUE ATENTO!
A presunção das mortes presumidas com e sem declaração de ausência são relati-
vas, podendo ser afastada se a pessoa tida como morta aparecer com vida.
Aqui, então, foi possível conhecermos que a personalidade jurídica se extingue com a morte
do sujeito de Direito.
A consequência prática da comoriência se dá nos efeitos da sucessão dos bens dos como-
rientes (falecidos). Assim, se os comorientes forem herdeiros uns dos outros, não haverá transfe-
rência de bens e direitos entre eles; um não sucederá o outro. (TARTUCE, 2016)
FIQUE ATENTO!
– 49 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
Referências
BRASIL. Jornadas de direito civil I, III, IV e V: enunciados aprovados/coordenador científico Ministro
Ruy Rosado de Aguiar Júnior. Brasília: Conselho da Justiça Federal, Centro de Estudos Judiciários,
2012. Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/cjf/CEJ-Coedi/jornadas-cej/enunciados-aprovados-
-da-i-iii-iv-e-v-jornada-de-direito-civil/compilacaoenunciadosaprovados1-3-4jornadadircivilnum.
pdf/view>. Acesso em: 04 set 2017.
_________. Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Institui o Código Civil. Presidência
da República, Casa Civil. Brasília-DF, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 18 ago. 2017.
_________. Projeto de Lei nº 699, de 15 de março de 2011. Altera o Código Civil, instituído pela Lei nº
10.406, de 10 de janeiro de 2002. Pl 699/2011: Altera o Código Civil, instituído pela Lei nº 10.406,
de 10 de janeiro de 2002. Portal da Câmara de Deputados, DF, 2011. Disponível em: <http://www.
camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=494551>. Acesso em: 21 ago.
2017.
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito Civil: Teoria Geral. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2011.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v. 1: Lei de introdução e parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
– 50 –
TEMA 7
Capacidade relativa e absoluta
Raquel Helena Hernandez Fernandes
Introdução
Você já deve saber que a vida em sociedade exige que as pessoas tomem decisões sobre
as mais variadas situações, realizem negócios, dentre outras atividades. Agora, para o Direito, em
determinadas situações, não basta a personalidade jurídica, pois é necessário que se comprove
que a pessoa tenha noção sobre as suas atitudes e suas consequências.
Vamos abordar conceitos e contextos sobre capacidade de Direito, tais como as capacidades
relativa e absoluta e a emancipação.
Objetivos de Aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
Capacidade civil
– 51 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Portanto, toda pessoa tem capacidade de direito, mas nem toda pessoa tem a capacidade de
fato. Isso acontece porque algumas pessoas não possuem consciência, seja por transtornos men-
tais, deficiências intelectuais ou condições de saúde que comprometam a lucidez, temporárias ou
permanentes, como doenças neurológicas.
Nesse sentido, vale destacar que a capacidade de direito não pode ser negada às pessoas
(TARTUCE, 2016). Assim, quando uma pessoa tem as capacidades de fato e de direito, ela tem a
capacidade civil plena.
EXEMPLO
No caso de venda de imóvel, se o vendedor for casado, será necessária a autoriza-
ção do cônjuge para a venda, ou seja, a legitimação. Já a legitimidade é relaciona-
da ao processo judicial. Assim, uma pessoa precisa estar ligada ao processo, seja
como autora ou ré. Para isso, ela precisa ter interesse de agir, ou seja, a situação
que deu origem ao processo deve estar ligada à pessoa. Não havendo essa legiti-
midade, a ação deverá ser julgada extinta sem resolução de mérito, conforme art.
485, VI, do CPC.
Fonte: ASDF_MediaShutterstock.com.
– 52 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
2 Capacidade relativa
Então, vamos tratar a respeito de uma das capacidades limitadas, a incapacidade relativa.
Essa incapacidade é referente às pessoas que, desde que assistidas, podem praticar atos da vida
civil. Assim, necessitam de alguém para exercer a representação. (TARTUCE, 2016).
Se não houver assistência para a pessoa relativamente incapaz em um negócio jurídico, este
poderá ser anulável, o que dependerá da iniciativa da pessoa com quem o negócio foi celebrado,
conforme os artigos 171, inc. I, e 178, ambos do Código Civil (BRASIL, 2002).
Figura 3 – Assistência
O artigo 4º do Código Civil traz uma lista específica (rol taxativo) sobre quem é considerado
relativamente incapaz, sendo: os maiores de 16 e menores de 18 anos (inc. I); os alcoólatras e os
dependentes de drogas ilícitas (inc. II); pessoas que não puderem manifestar sua vontade, seja
por causa temporária ou permanente, em decorrência de alguma doença, doença neurológica ou
transtorno mental (inc. III) e os pródigos (inc. IV), como são chamadas as pessoas que gastam
todo o patrimônio, sem qualquer moderação.
Assim, os maiores de 16 anos e menores de 18 anos são denominados menores púberes
e só podem praticar certos atos da vida civil desde que estejam assistidos, como abrir conta em
banco e comprar e vender imóvel. Entretanto, alguns atos só podem ser praticados mediante auto-
rização familiar ou judicial, a depender do caso concreto, como o ato de se casar, elaborar testa-
mento, servir como testemunha de atos e negócios jurídicos, ser empresário e mandatário por
mandato extrajudicial.
– 53 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Figura 4 – Jovem
FIQUE ATENTO!
É importante saber que caso o comprometimento seja definitivo, ainda assim a
pessoa será considerada relativamente incapaz, ou seja, a sua capacidade de fato
será limitada.
No caso dos pródigos, eles podem ser interditados, com nomeação de um curador, e ficam
privados de atos que comprometam seu patrimônio. É importante lembrar que, em todos esses
casos, há necessidade de que haja um processo de interdição ou um processo próprio de curatela,
para que, então, o juiz analise a situação e veja se há necessidade de nomeação de um represen-
tante da pessoa (TARTUCE, 2016).
SAIBA MAIS!
Nos casos de pessoas com deficiência ainda não há consenso sobre a ação judicial
cabível, se interdição ou processo próprio de curatela. O Projeto de Lei 757, em trâmi-
te no Senado Federal, pretende esclarecer essas situações. Para conhecer o projeto,
acesse: <https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/124251>.
Agora que aprendemos sobre a relatividade da capacidade civil, vejamos o que trata o con-
ceito de capacidade absoluta.
– 54 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
3 Capacidade absoluta
Podemos entender que o indivíduo que possui capacidade absoluta é aquele que não possui
nenhuma das condições dos relativamente incapazes e não é menor de 16 anos. Já a incapaci-
dade absoluta é referente somente aos menores de 16 anos, conforme o artigo 3º do Código Civil
(BRASIL, 2002). Assim, os absolutamente incapazes devem ser representados, embora possuam
direitos (capacidade de direito). Entretanto, não possuem capacidade de fato.
SAIBA MAIS!
O Código Civil de 2002, no artigo 3º, continha os incisos II e III, que traziam a ideia de que
absolutamente incapazes não eram só os menores de 16 anos, mas, também, pesso-
as com doença ou deficiência mental, que não tivessem discernimento da realidade e
não pudessem manifestar vontade (inc. II), mesmo que essa situação fosse temporária
(inc. III). Entretanto, a Lei 13.146/2015, conhecida como Estatuto da Pessoa com De-
ficiência, revogou esses dois incisos. Sugerimos a leitura da referida lei. Acesse em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>.
É importante se atentar ao fato de que o atual Código Civil demonstra que não existem mais
condições de incapacidade absoluta para maiores de idade e, conforme vimos anteriormente,
mesmo as pessoas com severos transtornos ou doenças mentais, que comprometem o discerni-
mento, são consideradas relativamente incapazes (BRASIL, 2002).
FIQUE ATENTO!
Esse novo olhar do Direito Civil em relação aos maiores de 16 anos e aos que têm
a capacidade de fato comprometida de forma temporária ou definidamente, sendo
deficientes ou pessoas com transtornos mentais, traz a inclusão social e passa a
valorizar a liberdade.
4 Emancipação
Entenda que emancipação é o ato jurídico que antecipa os efeitos da maioridade ao menor
antes de ele atingir 18 anos e, consequentemente, proporciona capacidade civil (TARTUCE, 2016).
Assim, a emancipação faz com que o menor deixe de ser incapaz para os limites do Direito Pri-
vado. Entretanto, ele não deixa de ser menor na esfera criminal, não podendo responder por atos
dessa natureza pois a emancipação envolve apenas fins civis ou privados.
– 55 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
EXEMPLO
O menor emancipado não pode entrar em locais proibidos para menores de idade,
não pode tirar carteira de motorista e não pode consumir bebidas alcoólicas. Essas
restrições existem por conta da área penal.
O artigo 5º, parágrafo único do Código Civil estabelece as situações em que a emancipação
poderá ocorrer, sendo elas (BRASIL, 2002):
•• emancipação judicial: ocorre por sentença judicial quando um dos pais concorda com
a emancipação e o outro não, por exemplo.
•• emancipação legal matrimonial: ocorre por meio do casamento do menor. A idade núbil
para homens e mulheres é 16 anos, sendo necessária a autorização dos pais. Condi-
ções como viuvez, divórcio e anulação do casamento não remetem à incapacidade.
Figura 5 – Casamento
•• Emancipação legal, por exercício de emprego público efetivo: ocorre quando o menor
é nomeado de forma definitiva para cargos ou empregos públicos, não valendo cargos
comissionados.
– 56 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
FIQUE ATENTO!
Existem seis tipos de emancipação e cada uma delas tem causas diferentes. É
importante reparar que algumas possuem a palavra “legal” no nome. Isso ocorre
porque elas têm previsão legal no Código Civil.
Portanto, conhecemos as capacidades e suas peculiaridades, pois, conforme você deve ter
percebido, em nosso dia a dia, lidamos com elas o tempo inteiro e na área jurídica também.
Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
– 57 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Referências
BRASIL. Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Institui o Código Civil. Presidência da
República, Casa Civil, Subchefia de Assuntos Jurídicos. Brasília-DF, 2002. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 28 ago. 2017.
________. Senado Federal. Projeto de Lei Complementar PLC 757/2015. Altera a Lei nº 10.406, de 10
de janeiro de 2002 (Código Civil), Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 (Estatuto da Pessoa com Defi-
ciência), e a Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), para dispor sobre
a igualdade civil e o apoio às pessoas sem pleno discernimento ou que não puderem exprimir sua
vontade, os limites da curatela, os efeitos e o procedimento da tomada de decisão apoiada. Dispo-
nível em: <https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/124251>. Acesso em:
13 set. 2017.
________. Presidência da República. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de
Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>. Acesso em: 13 set. 2017.
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito Civil: Teoria Geral. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2011.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v. 1: Lei de introdução e parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
– 58 –
TEMA 8
Atos Jurídicos. Ato ilícito.
Negócio Jurídico
Raquel Helena Hernandez Fernandes
Introdução
Vamos agora conhecer os fatos, atos e negócios jurídicos, ou seja, situações que o Direito
considera relevantes, já que elas estabelecem relações sociais e jurídicas com ações e efeitos. Os
conceitos que aqui serão apresentados são de interesse para o Direito em geral.
Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
Fatos jurídicos
– 59 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
EXEMPLO
Um exemplo de caso fortuito seria a invasão de dragões na cidade do Rio de Ja-
neiro. Já força maior seria um forte terremoto na cidade de Tóquio, pois, embora
previsível, destruiria boa parte da cidade.
– 60 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
EXEMPLO
Um exemplo de ato-fato jurídico é o de uma pessoa que encontra um tesouro. Em-
bora ela não tenha tido intenção de encontrá-lo, receberá uma parte dele, de acordo
com o artigo 1.264 do Código Civil.
Naturais Extraordinários
Atos Ilícitos
No próximo tópico, vamos conhecer uma das subdivisões do ato jurídico em sentido amplo.
– 61 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
FIQUE ATENTO!
É importante que você não confunda fato jurídico em sentido estrito e ato jurídico
em sentido estrito. O primeiro é fato natural, que independe da atuação humana. O
segundo é proveniente do ato jurídico em sentido amplo, sendo este constituidor
dos fatos jurídicos humanos.
SAIBA MAIS!
Para entender mais sobre as controvérsias acerca do ato ilícito ser considerado ou
não ato jurídico, recomendamos a leitura do subcapítulo 6.1 (“Fatos, Atos e Negó-
cios Jurídicos. Conceitos Iniciais”) do capítulo 6 (“Teoria do Negócio Jurídico”) do
livro “Direito Civil”, Lei de introdução e parte geral, de Flávio Tartuce.
Agora, vamos aprender a respeito dos negócios jurídicos e todas as suas complexidades.
Acompanhe!
– 62 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Quanto às condições • Impessoais: não dependem de qualquer condição especial dos envolvidos.
pessoais especiais dos
negociantes • Personalíssimos: dependem de uma condição especial dos envolvidos.
– 63 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
SAIBA MAIS!
A herança é um negócio jurídico mortis causa< porque só tem efeitos após a mor-
te da pessoa que a deixou (art. 426 do Código Civil), não existindo herança de pes-
soa viva. Nesse sentido, recomendamos a leitura do Acórdão do Agravo Interno
no Recurso Especial nº 1341825/SC, do STJ. Pode ser acessado em: <http://www.
stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=heranca+de+pessoa+viva&b=A-
COR&p=true&l=10&i=1>
Vimos que elementos essenciais são os que fazem parte do plano da existência. As caracte-
rísticas desses elementos formam o plano da validade, sendo, portanto, a capacidade do agente;
objeto lícito, possível, determinado e determinável; vontade ou consentimento livre; forma prescrita
ou não defesa em lei (TARTUCE, 2016).
FIQUE ATENTO!
– 64 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Como o próprio nome diz, os elementos naturais do negócio jurídico são aqueles que o iden-
tificam e são originários dos efeitos comuns dele. Temos como exemplo de elemento identificador
o aluguel em um contrato de locação (TARTUCE, 2016).
Os elementos acidentais são a condição, o termo, o encargo (ou modo), contidos dos artigos
121 ao 137 do Código Civil. São adicionados aos negócios jurídicos pelas partes e tem o objetivo
de alterar as consequências naturais. Além disso, estão diretamente ligados ao plano da eficácia.
Importante ressaltar que o negócio pode existir mesmo que não contenha elementos acidentais.
FIQUE ATENTO!
É importante que você lembre que as peculiaridades dos negócios jurídicos são
aplicadas aos contratos.
Até aqui, você pôde perceber como os negócios jurídicos são repletos de detalhes e requisitos.
Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
•• compreender que os atos jurídicos naturais independem da ação humana, podendo ser
ordinários e extraordinários;
•• verificar que os fatos jurídicos humanos acontecem da ação humana e podem ser atos
ilícitos e ato jurídico sem sentido amplo.
•• constatar que o ato jurídico sem sentido amplo ainda se divide em três espécies.
– 65 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Referências
BRASIL. Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/2002/L10406.htm>. Acesso em 14 ago. 2017.
_______. Superior Tribunal De Justiça. Agravo Interno no Recuso Especial nº 1341825/SC, publicado
em 10/02/2017, Rel. Min. Raul Araújo, Quarta Turma. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/
jurisprudencia/doc.jsp?livre=heranca+de+pessoa+viva&b=ACOR&p=true&l=10&i=1>. Acesso em:
28 de set. 2017.
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito privado. 4. ed. São Paulo: RT,
1974. t. II.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v.1: Lei de introdução e parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
– 66 –
TEMA 9
Defeito do Negócio Jurídico
Raquel Helena Hernandez Fernandes
Introdução
Muitas relações sociais pautam-se em negócios jurídicos. Nesse sentido, há classificações e
requisitos para que existam e sejam válidos. Entretanto, há defeitos do negócio jurídico que podem
torná-lo nulo ou anulável e ter repercussões jurídicas. Aqui, iremos abordar esses defeitos.
Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
•• entender o conceito de defeito no negócio jurídico;
•• evidenciar as diferenças entre inviabilidade, nulidade e anulabilidade do negócio jurídico.
2 Invalidade do negócio
A invalidade do negócio jurídico se dá quando ele não produz os efeitos desejados pelas par-
tes envolvidas, sendo, desta forma, ineficaz. É o Código Civil que traz as situações de invalidade
do negócio jurídico, e você pode buscar pelo assunto entre os artigos 166 e 184 (TARTUCE, 2016).
É importante mencionar que a expressão “invalidade do negócio jurídico” abarca três situações:
inexistência de negócio jurídico; nulidade do negócio jurídico (absoluta) e anulabilidade do negócio jurí-
dico (nulidade relativa), e todas essas situações tornam o negócio jurídico inválido (TARTUCE, 2016).
FIQUE ATENTO!
Invalidade do negócio jurídico se refere a três situações: inexistência do negócio
jurídico; nulidade do negócio jurídico (absoluta) e anulabilidade do negócio jurídico
(relativa).
– 67 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
3 Nulidade do negócio
Vamos tratar da nulidade absoluta do negócio jurídico, a qual é a consequência da ofensa às
normas de ordem pública (ofensa às leis) e, assim, torna o negócio absolutamente inválido. Neste
sentido, o art. 166 do Código Civil apresenta as hipóteses de nulidade absoluta. Sendo assim, é
nulo o negócio jurídico quando:
Fonte: Poznyakov/Shutterstock.com.
– 68 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
•• O motivo determinante do negócio, para ambas as partes, for ilícito (inciso III): neste
caso, a intenção das partes é ilícita. O motivo está na intenção. Não se confunde, por-
tanto, com a causa negocial;
EXEMPLO
Como exemplo de ilicitude do motivo determinante do negócio, podemos pensar no
caso de uma pessoa alugar a sua casa a outra pessoa que busca abrigar menores
para escravizá-los, sendo que a primeira pessoa sabia da intenção da segunda.
•• O negócio não se revestir na forma prescrita em lei ou quando não for seguida alguma
solenidade considerada essencial para a sua validade (incisos IV e V): a solenidade é
uma espécie de forma. Neste caso, se a lei prevê uma forma em que o negócio jurídico
deve ser celebrado, ele deve seguir essa forma;
•• O negócio tiver como objetivo fraudar a lei imperativa (inciso VI): este caso não se con-
funde com a ilicitude do objeto, pois há violação indireta da norma proibitiva;
– 69 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
EXEMPLO
A proibição da doação universal de todos os bens do doador sem reserva mínima
à sua sobrevivência é um exemplo de nulidade textual. Já um exemplo de nulidade
virtual seria: a herança de pessoa viva não pode ser objeto de negócio jurídico. Nes-
te caso, há apenas a vedação do ato, mas não há previsão de sanção.
Além dessas situações, o negócio jurídico simulado também é nulo e, nesse caso, subsiste
apenas o que se dissimulou. Assim, simulação é um desacordo entre a vontade declarada ou
manifestada e a vontade interna (TARTUCE, 2016). A simulação pode ser alegada por terceiros que
não estão envolvidos no negócio e pelas partes envolvidas.
Outro caso de nulidade absoluta é o de coação física, considerada vício de vontade. De acordo
com Tartuce (2016), caracteriza-se pela pressão física exercida sobre o negociante, para obrigá-lo
a assumir uma obrigação que ele não quer.
FIQUE ATENTO!
– 70 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
É importante que você saiba que as nulidades absolutas podem ser alegadas por qualquer
pessoa ou pelo Ministério Público e também devem ser declaradas de ofício pelo juiz, embora
não possam ser remediadas por ele, já que envolvem ordem pública (TARTUCE, 2016). Por fim,
é importante saber que a conversão do negócio nulo em outro negócio é possível. Para que isso
aconteça, a lei exige que os contratantes queiram outro negócio. Assim, é necessário que as partes
manifestem suas vontades no sentido de celebrar novo negócio jurídico e este deve ter requisitos
mínimos do outro negócio.
4 Anulabilidade do negócio
Agora vamos estudar a anulabilidade (ou nulidade relativa), que envolve regras de interesse
das partes e, por isso, é de ordem privada, diferindo da nulidade absoluta (TARTUCE, 2016).
FIQUE ATENTO!
As situações de anulabilidade estão contidas no artigo 171 do Código Civil, sendo elas:
•• quando o negócio for celebrado por relativamente incapaz, sem assistência;
•• diante da existência de vício que pode macular o negócio jurídico, como dolo, erro, coa-
ção moral ou psicológica, lesão, estado de perigo ou fraude contra credores;
•• nos casos especificados de anulabilidade.
•• Nos casos de incapacidade relativa, devemos lembrar do artigo 4º do Código Civil. Nos
casos especificados de anulabilidade, não há uma lista específica.
SAIBA MAIS!
Sobre casos em que o negócio jurídico for celebrado por relativamente incapaz,
sugerimos a leitura do acórdão nº 2017.0000574234, do Tribunal de Justiça do Es-
tado de São Paulo, publicado no DJE dia 08/08/2017, disponível em: <https://esaj.
tjsp.jus.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=10670983&cdForo=0>
•• Dolo: é a atitude ardilosa utilizada para enganar alguém, visando ao benefício próprio.
Se o dolo for a causa do negócio jurídico, ele é anulável.
– 71 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
•• Coação moral: é uma forte pressão psicológica que causa medo de dano que se aproxima
e considerável ao negociante, à sua família, à pessoa de contato próximo ou aos seus bens.
Fonte: Shutterstock.com.
•• Lesão: configura situação em que uma pessoa, por necessidade ou inexperiência, obri-
ga-se à situação de cúmulo de onerosidade.
SAIBA MAIS!
Sobre casos em que o negócio jurídico for anulável por estado de necessidade, suge-
rimos a leitura do acórdão nº 812872, do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,
publicado no DJE dia 22/08/2014, disponível em: < https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/getAr-
quivo.do?cdAcordao=4931640&cdForo=0>.
– 72 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Por fim, é importante saber que a boa-fé objetiva prevalece: mesmo o negócio sendo anulável,
se confirmado pelas partes, será mantido. Nesse caso, a confirmação das partes deve conter a
substância do negócio celebrado e a vontade expressa de mantê-lo. Caso o negócio já tenha sido
cumprido, a confirmação não será necessária (é tácita). Nesses casos, extingue-se a possibilidade
de requerimento posterior de anulabilidade do negócio.
Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
Referências
BRASIL. Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 14 ago. 2017.
SÃO PAULO. Acórdão nº 812872. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, 28 ago. 2014. Dis-
ponível em: <https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=4931640&cdForo=0>. Acesso
em: 23 set. 2017.
SÃO PAULO. Acórdão nº 2017.0000574234. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, 8 ago. 2017.
Disponível em: <https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=10670983&cdForo=0>. Acesso
em: 23 set. 2017.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v. 1: Lei de introdução e parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
– 73 –
TEMA 10
Contratos: conceito e validade.
A compra e venda de imóveis e a locação
de imóveis. Doação e dação em pagamento.
Novação. Empréstimo: mútuo e comodato
Raquel Helena Hernandez Fernandes
Introdução
As manifestações de vontades em negócios jurídicos podem ser formalizadas por meio de
contratos. Assim, vamos conhecer as peculiaridades dos contratos e conhecer alguns contratos
em específico, como o contrato de compra e venda de imóveis, contrato de locação de imóveis,
a diferença entre doação, dação em pagamento e novação, bem como contrato de empréstimo.
Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
– 74 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Nesse sentido, temos alguns princípios que norteiam os contratos, sendo que um deles é o
princípio da autonomia. Esse princípio traz a ideia de que as pessoas são livres para contratar o
que quiserem e com as partes que quiserem, desde que não haja violação do ordenamento jurídico
(GONÇALVES, 2016). Importante ressaltar que esse princípio é limitado pelo Princípio da Função
Social dos Contratos, o qual estabelece que deve ser promovido sempre o bem-estar social.
SAIBA MAIS!
O princípio da boa-fé exige que as partes se comportem com bom senso e de
maneira correta nas tratativas, na formação e no cumprimento do contrato
(GONLAÇVES, 2016, p. 54). Assim, conforme preceitua o art. 422 do Código Civil:
“Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como
em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”.
Nessa mesma esteira, o princípio pacta sunt servanda ou da força obrigatória dos contratos é
um dos mais conhecidos e característicos dos contratos. E qual é a orientação de tal princípio? Ele
leva em consideração a autonomia das partes e, por isso, traz a ideia de que o contrato deve ser
cumprido, de forma que as partes arquem com suas obrigações (GONÇALVES, 2016).
Fonte: Gajus’s/Shutterstock.com.
– 75 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Dessa forma, sempre que você realizar um negócio jurídico e, consequentemente, um con-
trato, os requisitos da Escada Ponteana devem ser observados, de forma a não tornar o negócio
inexistente, nulo ou anulável.
Continue a leitura, vamos agora aprender sobre contratos de compra e venda de imóveis.
É importante que você saiba que existem algumas situações de restrições na compra e venda de
imóvel, sendo elas: quando o ascendente vende imóvel ao descendente e não há consentimento dos
demais descendentes e do cônjuge (art. 496 do CC); quando os cônjuges vendem entre si bens que
fazem parte da comunhão (art. 499 do CC); venda de bens que estão sob administração de tutores,
curadores, testamenteiros, administradores, servidores públicos, juízes, serventuários, leiloeiros e seus
prepostos, dentre outros (art. 497 do CC) e venda de bens ou de coisa comum em condomínio, ou seja,
venda de bens do condomínio a pessoas estranhas ao condomínio (art. 504 do CC) (BRASIL, 2002).
FIQUE ATENTO!
– 76 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Existem, ainda, cláusulas especiais da compra e venda. Saiba que essas cláusulas condicio-
nam os contratos a acontecerem em evento futuro e incerto. Nesse sentido, são estas as cláusu-
las: de retrovenda (arts. 505 a 508 do CC); de venda a contento e de venda sujeita à prova (arts. 509
a 512 do CC); de preempção ou preferência (arts. 513 a 520 do CC); de venda com reserva de domí-
nio (arts. 521 a 528 do CC) e de venda sobre documentos (arts. 529 a 532 do CC) (BRASIL, 2002).
Vamos continuar, temos muito a aprender!
É importante que você saiba que a Lei 8.245/91, conhecida como Lei de Locação, é essencial
para regular os negócios jurídicos referentes à locação de imóveis.
SAIBA MAIS!
Recomenda-se a leitura integral da Lei de Locação, Lei 8.245/91, por meio dela,
você ficará por dentro das leis que regulam a locação de imóveis! Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8245.htm>.
Locador é quem fornece o imóvel, e locatário é quem aluga o imóvel. Nesse sentido, os arts.
22 e 23 da Lei de Locação trazem direitos e deveres para locador e locatário. Para ilustrar, trouxe-
mos dois deveres do locador: responder por defeitos que existiam antes da locação do imóvel e
– 77 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
FIQUE ATENTO!
Ainda sobre os contratos de locação, fato interessante é que o art. 27 da Lei de Locação traz
o direito de preferência do locatário caso o locador queira vender o imóvel.
A seguir, vamos aprender sobre os contratos de doação e dação em pagamento.
EXEMPLO
Mário é devedor do Banco A por conta de um empréstimo. A dívida já está no valor
de R$ 500.000,00. Mário não consegue quitar o empréstimo e, então, oferece um
imóvel como quitação do empréstimo/dívida. O Banco A aceita e, assim, extingue-se
a obrigação.
– 78 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
4.2 Novação
A novação é uma forma de cumprir uma obrigação, substituindo-a por uma nova obrigação
(VENOSA, 2016, p. 306).
EXEMPLO
Um vendedor de frutas deveria entregar 1.000 maçãs ao comprador. Entretanto,
faltaram as maçãs. Assim, as partes convencionaram a entrega de 50 sacas de
arroz. Extinguiu-se a obrigação das maçãs, mas foi originada a nova obrigação, a
das sacas de arroz.
Figura 4 – Doação
Fonte: ProStockStudio’s/Shutterstock.com.
A doação pode ser revogada, ou seja, cancelada. Nesse sentido, o art. 555 do CC indica que
a revogação pode acontecer por dois motivos: ingratidão do donatário (art. 557 do CC) ou pela
inexecução do encargo ou modo.
– 79 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
FIQUE ATENTO!
Bens infungíveis são aqueles que não podem ser substituídos, pois possuem ca-
racterísticas que os tornam únicos. Bens fungíveis são móveis e podem ser substi-
tuídos por outros, desde que os substitutos sejam da mesma espécie, qualidade e
quantidade (art. 85 do CC).
O comodato é caracterizado por ser empréstimo de bem que não pode ser substituído nem
consumido. Assim, o bem emprestado deverá ser devolvido quando o contrato terminar. O Código
Civil prevê o comodato entre seus arts. 579 e 585 (TARTUCE, 2017, p. 525).
Já o mútuo é caracterizado por ser empréstimo de bem que pode ser substituído e consu-
mido. Assim, o bem emprestado desaparece e outro de mesma espécie e quantidade deve ser
devolvido, havendo substituição (TARTUCE, 2017, p. 525). O Código Civil prevê o mútuo entre seus
arts. 586 e 592. Nesse sentido, um exemplo clássico de contrato de mútuo é o empréstimo de
dinheiro, que é um bem fungível.
Esses contratos acontecem com a entrega da coisa e possuem prazo determinado.
Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
– 80 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Referências
BRASIL. Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Diário Oficial da União. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 14 ago. 2017.
______. Lei 8.245 de 18 de outubro de 1991. Lei de Locação. Diário Oficial da União. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8245.htm>. Acesso em: 1 set. 2017.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. v.3, 13. ed. São
Paulo: Saraiva, 2016.
TARTUCE, Flávio. Direito civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. v.3, 12. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2017.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: Obrigações e Responsabilidade Civil. v.2, 17. ed. São Paulo:
Atlas, 2016.
– 81 –
TEMA 11
Empresário. Regime de bens e abertura
de empresa pelo casal. Empresa Individual
e Empresa Individual de Responsabilidade
Limitada – EIRELI. Sociedade Limitada
e Sociedade Anônima
Maria Tereza Ferrabule Ribeiro
Introdução
Nesta aula, estudaremos sobre empresas, seus representantes legais e a constituição dos
diversos tipos de sociedade individual e empresarial.
Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
•• definir e estabelecer a distinção entre as diferentes relações empresariais;
•• conhecer os regimes de bens e as suas consequências na abertura de empresa;
Figura 1 – Empresária
Fonte: Shestakoff/Shutterstock.com
– 82 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Podemos dizer que as empresas ou organizações econômicas são formadas com o objetivo
de satisfazer as necessidades mais básicas da sociedade (alimentação, saúde, educação e segu-
rança), além daquelas relacionadas a conforto e lazer. Para isso, mantêm a produção e a circulação
desses bens e serviços produzidos de forma estruturada. Essa circulação significa reunir recursos
financeiros (capital), humano (mão de obra), materiais (insumo) e tecnológicos, que viabilizem
oferecê-los ao mercado consumidor a preços e “qualidade competitivos”. (COELHO, 2011, p. 22)
E qualquer pessoa pode exercer a atividade empresarial? Sim, pode ser exercida por qualquer
pessoa em pleno gozo da capacidade civil e que não seja legalmente impedida, conforme o artigo
972 do Código Civil (BRASIL, 2002). Mas, atenção: para que possam adquirir personalidade jurídica,
as empresas individuais e as sociedades empresariais deverão estar inscritas na Junta Comercial.
Já as Sociedades Simples terão que arquivar seus atos e constituição no Cartório de Registro Civil
de Pessoas, pois não são consideradas atividades econômicas organizadas. As Sociedades Coo-
perativistas, por sua vez, são classificadas como sociedades simples, e, por serem regidas por lei
especial, deverão ser inscritas na Junta Comercial (BRASIL, 2002).
FIQUE ATENTO!
– 83 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Figura 2 – Casamento
Fonte: paultarasenko/Shutterstock.com
EXEMPLO
Em sociedades estabelecidas por casais, se um dos cônjuges possui uma empresa
antes de casar, no caso de uma separação, no futuro, o que não tinha parte nessa
empresa terá direito na partilha.
O regime de separação obrigatória de bens vem disciplinado no artigo 1.641 do Código Civil, e
tem como objetivo proteger aqueles com mais de 70 anos, e os que querem casar, mas dependem
de suprimento judicial, ou seja, dependem de outros para sobreviverem (BRASIL, 2002).
EXEMPLO
O suprimento judicial ocorre em caso dos relativamente incapazes, como aqueles
que têm entre 16 a 18 anos de idade. Caso os pais não autorizem o casamento, eles
terão a obrigatoriedade de sustentar os filhos até alcançarem a maioridade legal.
Outro tipo de regime de casamento é o de participação final nos aquestos, composto tanto
pela separação total, como parcial dos bens, sendo que os bens somente vão se comunicar ao
final do casamento.
Vamos conhecer, agora, as características da empresa individual.
– 84 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
3 Empresário Individual
Uma empresa individual pode ser de quatro tipos diferentes. Vamos conhecê-los.
•• Empresário Individual (EI): pessoa física, sem personalidade jurídica e que objetiva a
exploração econômica, não sendo necessário capital social. A Lei Complementar n° 123,
de 14 de dezembro de 2006, estabelece as empresas individuais ou sociedades empre-
sariais, orientando que as abreviaturas ME ou EPP devem ser acrescentadas ao nome da
respectiva empresa, para que possam se enquadrar no Simples Nacional (BRASIL, 2006).
SAIBA MAIS!
•• Microempresa (ME): a receita bruta deve ser igual ou inferior a R$ 360 mil em cada
ano-calendário. (BRASIL, 2006).
•• Empresa de Pequeno Porte (EPP): no caso da empresa de pequeno porte, aufira, em cada
ano-calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e
igual ou inferior a R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais) (BRASIL, 2006).
Figura 3 – Microempresário
Fonte: sheff/Shutterstock.com
– 85 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
FIQUE ATENTO!
A Lei Complementar 123/2006, no parágrafo 4° do artigo 3°, relaciona os casos
em que o empresário não poderá se beneficiar de tratamento jurídico diferenciado
(BRASIL, 2006).
FIQUE ATENTO!
Tenha em mente que a Empresa Individual de Responsabilidade Ltda (Eireli) tam-
bém é uma empresa individual, porém de responsabilidade limitada (exigindo capi-
tal social).
– 86 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
SAIBA MAIS!
O Manual de Registro Sociedade Limitada oferece mais informações sobre as
sociedades do tipo Limitadas e Anônimas. Você pode acessá-lo em: <http://www.
institucional.jucesp.sp.gov.br/downloads/anexo2_ltda.pdf>.
Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
Referências
BRASIL. Decreto n. 8.538, de 06 de outubro de 2015. Decreto N° 8.538 de 06 de outubro de 2015:
Regulamenta o tratamento favorecido, diferenciado e simplificado para as microempresas, empre-
sas de pequeno porte, agricultores familiares, produtores rurais, pessoa física, microempreende-
dores individuais e sociedades cooperativas de consumo nas contratações públicas de bens, ser-
viços e obras no âmbito da administração pública federal. Brasília, DF, 06 out. 2015. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Decreto/D8538.htm>. Acesso em: 15
ago. 2017.
______. Lei n. 10406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil: Lei de Introdução às normas do Direito
Brasileiro. Brasília, DF, 10 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/
L10406compilada.htm>. Acesso em: 15 ago. 2017.
______. Lei n. 12.441 de 11 de julho de 2011. Lei Nº 12.441 de 11 de julho de 2011: Altera a Lei nº
10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), para permitir a constituição de empresa individual
de responsabilidade limitada. Brasília, DF, 10 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12441.htm>. Acesso em: 15 ago. 2017.
– 87 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. Direito de Empresa. 23. ed. São Paulo: Saraiva,
2011.
– 88 –
TEMA 12
Responsabilidade dos sócios
Maria Tereza Ferrabule Ribeiro
Introdução
Nesta aula, estudaremos os direitos, deveres e a responsabilidade dos sócios nas sociedades
empresariais.
Objetivos de Aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
Figura 1 – Sócios
– 89 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Para entender melhor, observe no quadro a seguir quais são os direitos e os deveres que os
sócios irão contrair, a partir da assinatura do contrato social e até o seu término, caso não seja
fixada outra data. Haverá, então, a extinção da sociedade, cessando as responsabilidades sociais
adquiridas durante o período do contrato (BRASIL, 2002).
DEVERES DIREITOS
Cooperação recíproca entre os sócios. Receber os lucros a que tiver direito durante a vigência
da relação contratual.
FIQUE ATENTO!
O Código Civil passou a tratar a respeito das empresas no Livro II, “Direito das em-
presas”, que antes de 2002 estava previsto no Código Comercial.
– 90 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
FIQUE ATENTO!
Saiba que mesmo após a saída de um sócio da empresa, ele ainda responderá pe-
las obrigações que tinha frente à sociedade e a terceiros pelo período de dois anos.
•• O sócio que, a título de quota social, transmitir domínio, posse ou uso, responde pela
evicção (direito de outrem pedir indenização) e pela solvência do devedor, aquele que
transferir o crédito.
•• Participação nos lucros e perdas, conforme o percentual de suas quotas, e o que con-
tribui com serviços participará dos lucros, de acordo com a proporção média no valor
das quotas. Em consenso, situações diferenciadas podem constar no contrato social.
Fonte: Sttokete/Shutterstock.com.
•• Não terá validade, mesmo que esteja estipulada no contrato social, a exclusão da parti-
cipação do sócio nos lucros e nas perdas.
– 91 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
•• Se for verificado que houve distribuição de lucros por ações ilegais ou falsas, os admi-
nistradores responderão de forma solidária, e também os sócios que vierem a receber
benefícios decorrentes destes atos.
EXEMPLO
Agora vamos saber quais são as obrigações dos sócios na sociedade anônima.
FIQUE ATENTO!
É importante destacar que as sociedades anônimas serão regidas pelo estatuto social e
pelas respectivas leis que definirão o objeto e irão regular as obrigações entre os acionistas. Essas
empresas podem ser de capital aberto ou de capital fechado.
SAIBA MAIS!
Não deixe de ler a pesquisa realizada por Patricia Maria Bortolon e Annor da Silva
Junior sobre governança corporativa e o fechamento do capital de companhias
abertas. O trabalho está disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rcf/2015nahead/
pt_1519-7077-rcf-201500910.pdf>.
– 92 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Nesse tipo de sociedade o capital social poderá ser modificado, observando-se a Lei
n° 6.404/1976 (BRASIL, 1976) e o estatuto social, que poderá ser alterado em assembleia devi-
damente convocada e com a presença mínima dos titulares.
EXEMPLO
A rede de lojas Magazine Luiza S.A. é uma sociedade anônima, pois trata-se de uma
Companhia Aberta de Capital Autorizado.
A Lei 6.404/76 (BRASIL, 1976) estabelece os deveres do acionista controlador, bem como
dos demais administradores e acionistas.
Saiba que o acionista controlador pode ser uma única pessoa ou um grupo de pessoas, vin-
culadas por acordo de voto ou sob controle comum. Este sócio controlador será titular de direitos
assegurando, de forma permanente, a maioria dos votos nas deliberações da assembleia-geral,
bem como terá o poder de escolher a maioria dos administradores da companhia, e ainda usar
este poder para dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento dos órgãos da companhia.
O acionista controlador responde pelos danos causados por atos praticados com abuso de
poder e que venham a prejudicar os acionistas, sendo eles (BRASIL, 1976):
•• orientação que não seja objeto do estatuto social;
•• ato lesivo ao interesse nacional;
•• favorecimento indevido de outras sociedades, seja brasileira ou estrangeira;
•• liquidação de companhia próspera ou transformá-la com incorporação, fusão ou cisão
de companhia com interesses próprios, a fim de obter vantagens;
•• promover alterações no estatuto social sem que haja interesse da companhia;
•• eleger administrador ou fiscal que sabe que não tem condições morais e técnicas para
o cargo.
•• induzir ou tentar induzir o administrador ou fiscal na prática de ato ilegal.
•• contratações para fins particulares.
•• aprovação ou fazer aprovar contas irregulares.
A lei 6.404/1976 (BRASIL, 1976), em seu artigo 109, § 3o, concede a essas sociedades de
ações o uso da arbitragem em caso de divergências entre os acionistas e a companhia ou entre os
acionistas controladores e os minoritários.
– 93 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Figura 3 – Empresa
Fonte: Rawpixel.com/Shutterstock.com.
Esse tipo de empresa terá as mesmas regras previstas para as sociedades limitadas, con-
forme estabelece o parágrafo 6° da Lei 12.441/2011 (BRASIL, 2011). E o empresário da Eireli res-
ponderá por deveres e responsabilidades conforme a lei das sociedades limitadas.
SAIBA MAIS!
Leia o artigo “Os direitos e as Obrigações do Titular do Capital Social da Empresa
Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI)” para saber mais sobre esse tipo
de sociedade. Acesse em: <http://www.scielo.br/pdf/seq/n66/13.pdf>.
Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
– 94 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Referências
ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais. Direito de Empresa. 20. ed. São
Paulo: Saraiva, 2012.
BRASIL. Lei n° 6.404 de 15 de dezembro de 1976. Dispões sobre as Sociedades por Ações. Pre-
sidência da República, Casa Civil, Brasília-DF, 1976 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/leis/L6404consol.htm>. Acesso em: 11 ago. 2017.
_________. Lei n° 9.457 de 05 de maio de 1997. Altera dispositivos da Lei nº 6.404, de 15 de dezem-
bro de 1976, que dispõe sobre as sociedades por ações e da Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de
1976, que dispõe sobre o mercado de valores mobiliários e cria a Comissão de Valores Mobiliários.
Presidência da República, Casa Civil, Brasília-DF, 1997. Disponível em: <https://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/Leis/L9457.htm>. Acesso em: 12 ago. 2017.
_________. Lei nº 10406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil: Institui o Código Civil. Presidência
da República, Casa Civil, Brasília- DF, 10 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 17 ago. 2017.
___________. Lei n° 12.441 de 11 de julho de 2011. Altera a Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002
(Código Civil), para permitir a constituição de empresa individual de responsabilidade limitada.
Presidência da República, Casa Civil, Brasília-DF, 2011. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12441.htm>. Acesso em 17 ago. 2017.
COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. Direito de Empresa. 23. ed. São Paulo: Saraiva,
2011.
BORTOLON, Patrícia; SILVA, Anoor Junior. Fatores Determinantes para o Fechamento do Capi-
tal de Companhias Listadas na BM&FBOVESPA. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rcf/
2015nahead/pt_1519-7077-rcf-201500910.pdf>. Acesso em: 25 set. 2017.
– 95 –
TEMA 13
A lei de falência e recuperação
Maria Tereza Ferrabule Ribeiro
Introdução
Nesta aula, vamos estudar os princípios e fundamentos da Lei de Falência, bem como a alter-
nativa de recuperação judicial, a fim de preservar a empresa, impedindo a falência.
Objetivos de Aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
Figura 1 – Falência
Fonte: Mmaxer/Shutterstock.com.
– 96 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
A falência gera várias consequências negativas à sociedade e àqueles que trabalham para a
empresa. Assim, a Lei 11.101/2005 (BRASIL, 2005), além de tratar sobre a falência, traz como um
dos princípios fundamentais a possibilidade da preservação da empresa por meio de sua recu-
peração por meios judiciais. O artigo 47 da referida lei dispõe que a recuperação judicial tem por
objetivo superar situações de crise econômica do devedor com a intenção de preservar a função
social da empresa, o emprego e os interesses dos credores, e dar estímulo à atividade econômica.
Assim, evita-se a falência.
FIQUE ATENTO!
A palavra falência deriva-se do latim fallere, que tem como significado “falha, defei-
to, carência, engano ou omissão”. (DE PLACIDO, 1989, p. 264).
A Constituição Federal (1988), no artigo 5°, inciso XXIII, estabelece como garantia fundamen-
tal que “a propriedade atenderá a sua função social”, entendendo que a propriedade se encontra
consubstanciada também na propriedade empresarial (BRASIL, 1988).
Saiba que há outras leis específicas que tratam a respeito das empresas. Elas também regu-
lam questões relacionadas dos que se tornam credores, e a forma de recuperação dos respectivos
créditos no âmbito judicial ou extrajudicial.
SAIBA MAIS!
Para compreender melhor, leia “Lei de Falências e de Recuperação de Empresas”,
publicado pelo Centro de Documentação e Informação, Edições Câmara, de Brasília.
O texto pode ser acessado em: http://bd.camara.gov.br/bd/handle/bdcamara/2443.
É necessário salientar que a Lei 11.101/2005 (BRASIL, 2005) exclui as empresas públicas
e as sociedades de economia mista e instituições com atuação no segmento financeiro, sejam
públicas ou privadas. Para essas há uma lei específica.
EXEMPLO
É importante destacar, conforme o artigo 2° incisos I e II, a relação das empresas
que estão excluídas da aplicação da referida Lei: nas empresas públicas e nas so-
ciedades de economia mista, bem como em instituição financeiras, sendo elas pú-
blicas ou privas, consórcios, entidade de previdência complementar, sociedade de
plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, de capitalização e outras que
estejam legalmente equiparadas a estas relacionadas.
– 97 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
2 Da recuperação judicial
Como vimos, a recuperação judicial é uma ação que tem como objetivo reorganizar a empresa
para superar os momentos de crises, podendo, assim, cumprir com a sua função social, estimu-
lando à atividade econômica.
Desta forma o bom devedor que preencher as exigências requeridas pela Lei, poderá propor e
negociar com os credores um plano de recuperação extrajudicial e requerer a homologação judicial.
SAIBA MAIS!
Leia o “Guia Prático Recuperação Judicial de Empresas”, publicado pelo Ministério
da Justiça, Brasília, em 2011. Está disponível em: <http://www.cfa.org.br/servicos/
publicacoes/cartilha/arte_final_cartilha_16_WEB.pdf>. Acesso em 26 set. 2017.
– 98 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
FIQUE ATENTO!
A recuperação judicial tem por objetivo dar publicidade a quem tem interesse de
contratar o devedor.
Agora, saiba que a recuperação judicial poderá ser transformada em falência, conforme vere-
mos a seguir.
Figura 3 – Mudança
O artigo 74 desta mesma lei informa que na mudança do estado de recuperação judicial para
o de falência, os atos de administração, endividamento, oneração ou alienação, praticados na recu-
peração judicial, são considerados válidos desde que realizados na forma da lei (BRASIL, 2005).
– 99 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Agora, vamos entender o significado de falência e outras situações que podem ocorrer para
a extinção de uma empresa.
4 Da falência
A intenção com a falência é afastar o devedor das atividades, preservar a otimização dos
bens ativos e os recursos produtivos, inclusive os intangíveis (que não podem ser trocados), como
a marca da empresa, por exemplo. A situação de falência está prevista na seção I das disposições
gerais da Lei 11.105/2005 (BRASIL, 2005), do artigo 75 ao 82.
FIQUE ATENTO!
Em sentido amplo, falência é sinônimo de insolvência comercial, também conheci-
da como “quebra” ou “bancarrota”, no qual o Ministério Público possui amplo poder
de atuação, devido ao relevante interesse social.
Figura 4 – Declínio
Fonte: alphaspirit/Shutterstock.com.
E uma empresa pode deixar de existir? O Código Civil prevê, no capítulo X, de que forma isso
pode ocorrer. Uma empresa pode ser extinta por transformação, incorporação, fusão, cisão, dis-
solução ou liquidação, segundo o capítulo X do Código Civil (BRASIL, 2002). Vamos conhecer em
mais detalhes.
•• A transformação não impõe que a empresa seja dissolvida ou liquidada, porém neces-
sita do consenso dos sócios, seguindo atos regulatórios (contrato social ou estatuto
social) e os objetivos pelos quais foi criada.
– 100 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
EXEMPLO
Quando uma empresa que é sociedade limitada se torna sociedade anônima, te-
mos um exemplo de transformação (ALMEIDA, 2012).
O parágrafo único do artigo 1.115 do Código Civil destaca que, em caso de falência de
empresa transformada, os efeitos somente alcançarão os sócios que estavam sujeitos
a esta condição na empresa original se os credores anteriores à transformação assim
o pedirem, conforme (BRASIL, 2002).
•• A incorporação ocorrerá quando uma ou várias sociedades são absorvidas por outra.
Assim, a incorporadora se tornará a titular dos direitos e obrigações das empresas
incorporadas.
•• A fusão tem como característica extinguir as sociedades que serão unidas, e formando
uma nova, sendo que esta nova sociedade será a responsável por todos os direitos e
obrigações das que foram extintas.
•• A cisão encontra-se amparada na Lei das Sociedades Anônimas, a Lei 6.404/76 (BRA-
SIL, 1976), artigo 229. “A cisão ocorre quando uma companhia transfere parcelas do
seu patrimônio para uma ou mais sociedades, que foram criadas para esse fim ou
já existentes. E, assim como ocorre na fusão, a companhia cindida será extinta, caso
ocorra a transferência de todo o patrimônio, ou haverá ainda a possibilidade de ser par-
cial na divisão do patrimônio” (ALMEIDA, 2012, p. 47).
O artigo 1.122 do Código Civil (BRASIL, 2002), no parágrafo 3°, estabelece que se ocor-
rer a falência da incorporadora no prazo de 90 dias após a publicação dos atos que tor-
nou possível a incorporação, fusão ou cisão, qualquer credor anterior a esta alteração
pode requerer a separação dos patrimônios, para possibilitar que os créditos sejam
pagos pelos bens das respectivas massas.
•• A dissolução ocorre de acordo com as causas contidas no artigo 1.033 do Código Civil
e no caso da declaração da falência. Assim, a sociedade poderá ser dissolvida nas
seguintes ocorrências (BRASIL, 2002): vencimento do prazo de duração; por consenso
unânime dos sócios; deliberação dos sócios, neste caso por maioria absoluta, cuja
sociedade não tinha prazo de duração; falta de pluralidade dos sócios e extinção de
acordo com a lei.
A sociedade também poderá ser dissolvida por ato judicial, a pedido de qualquer sócio,
nas seguintes ocorrências: por anulação da sua constituição; e quando extingue-se o
fim social que a objetivou, e quando verificada a sua “impossibilidade material ou legal”,
que venha a impedir a sua execução processual ou a prática de ato jurídico, por exem-
plo, bens que não poderão ser penhorados (DE PLACIDO, p. 464).
– 101 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
•• A liquidação da empresa, conforme o artigo 1.102 do Código Civil, poderá ser de forma
“amigável ou judicial”. Liquidar significa “transformar o ativo em dinheiro”, os devidos
pagamentos de passivos e a partilha do saldo remanescente. Após a conclusão dos
pagamentos, serão realizados a dissolução da empresa, a averbação e o arquivamento
na respectiva Junta Comercial, conforme os artigos 1.108 e 1.109 do Código Civil
(ALMEIDA, 2012) (BRASIL, 2002).
Assim, você pôde entender as outras formas possíveis de extinção de uma empresa.
Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
Referências
ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais. Direito de Empresa. 20. ed. São
Paulo: Saraiva, 2012.
BRANCHIER, Alex Sander; TESOLIN, Juliana Daher Delfino. Direito e Legislação Aplicada. 3. ed.
Curitiba: Ibpex, 2006.
BRASIL. Lei n° 6.404 de 15 de dezembro de 1976. Dispões sobre as Sociedades por Ações. Presi-
dência da República, Casa Civil, Subchefia de Assuntos Jurídicos. Brasília-DF, 1976. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6404consol.htm>. Acesso em: 22 ago. 2017.
_______. Lei n° 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Institui o Código Civil. Presidência da
República. Casa Civil. Subchefia de Assuntos Jurídicos. Brasília-DF. 2002. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 22 ago. 2017.
_______. Lei de falências e de recuperação de empresas. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições
Câmara, 2009.
– 102 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
MARINHO, Sarah Morganna de Matos, A segurança jurídica nas relações de crédito e a recu-
peração judicial de empresas. Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=-
2201611d7a08ffda Acesso em: 22 ago. 2017.
SILVA, De Plácido. Vocabulário jurídico. v. II, 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1989.
– 103 –
TEMA 14
Noções Gerais da Recuperação
Judicial e Extrajudicial
Maria Tereza Ferrabule Ribeiro
Introdução
Nesta aula, iremos estudar a respeito da recuperação judicial, tanto no âmbito judicial quanto
no extrajudicial. Ela é um dispositivo legal importante para os empresários devedores que querem
evitar que seja de imediato decretada a falência da empresa.
Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
•• entender a classificação dos créditos na falência.
– 104 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
E caso o empresário devedor venha a falecer, poderá ser requerida a recuperação judicial?
Sim, pelo cônjuge, herdeiros, inventariante ou sócio remanescente.
O art. 49 dessa lei orienta que todos os créditos existentes a partir do processo de recupera-
ção judicial e ainda não vencidos estarão sujeitos à recuperação judicial.
Os credores titulares terão direitos e privilégios contra os coobrigados, avalistas, fiadores e
obrigados de regresso.
EXEMPLO
SAIBA MAIS!
De acordo com artigo 6°, §4°, da Lei 11.101/2005, da data que o juiz deferir o processo de
recuperação judicial, ficarão suspensas as execuções contra o devedor pelo prazo de 180 (cento
e oitenta dias), exceto as execuções fiscais. Após esse prazo, os credores poderão dar início ou
continuar com as ações de execução.
Agora, vamos conhecer recuperação extrajudicial.
2 Da recuperação extrajudicial
Neste tópico, você estudará sobre a recuperação extrajudicial, que tratará do acordo entre o
devedor e seus credores fora dos trâmites judiciais e seguirá os ditames dos arts. 161 ao 167 da
Lei 11.101/2005.
Assim como no âmbito judicial, o devedor deverá estar há dois anos no exercício empresarial para
que possa negociar diretamente com os credores e propor o plano de recuperação (BRASIL, 2011).
O devedor poderá homologar perante a Comarca competente o plano de recuperação – que,
nesse caso, será extrajudicial – com as assinaturas dos credores que aderirem ao plano, e será
necessário três quintos de todos os créditos de cada espécie para obrigar a todos os credores a
fazerem parte do plano de recuperação (BRASIL, 2011).
– 105 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
EXEMPLO
Imagine que um devedor de uma empresa procura espontaneamente os credores,
os quais concordam previamente com um acordo, assim, o devedor abre a ação
judicial no foro competente requerendo a homologação do acordo.
FIQUE ATENTO!
Para homologar o plano de recuperação extrajudicial, será declarado como com-
petente o juiz do local do principal estabelecimento empresarial do devedor e, até
mesmo, de filial que se encontre fora do Brasil (BRASIL, 2005).
Figura 2 – Créditos
Fonte: ElenaR/Shutterstock.com.
– 106 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
FIQUE ATENTO!
Saiba que, na doação, “o doador transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para
o donatário, sem a presença de qualquer remuneração” (TARTUCE, 2014 p. 257).
Ressalta-se que, de acordo com o art. 7°, §1°, deverão os credores se habilitarem em seus
créditos no prazo de 15 dias da publicação do edital, não observado o prazo, esses serão recebi-
dos como retardatários, exceto os créditos trabalhistas, e tem-se como consequência a perda do
direito a voto nas deliberações da assembleia geral de credores (BRASIL, 2005).
No próximo item, vamos conhecer os créditos trabalhistas que são considerados preferenciais.
SAIBA MAIS!
Sobre créditos trabalhistas, leia o artigo “Efeitos da recuperação judicial e da Falên-
cia sobre o processamento dos feitos na Justiça do Trabalho”, de Júlio Bernardo
do Carmo. Disponível em: <https://www.trt3.jus.br/download/artigos/pdf/255_efei-
tos_recuperacao_falencia.pdf>.
Fonte: Shutterstock.com.
– 107 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
A Lei 11.101/2005 ainda determina que o empresário devedor deverá constar no plano de
recuperação judicial o pagamento dos créditos que sejam de natureza salarial e que estejam venci-
dos há três meses antes do pedido de recuperação judicial, estando limitados a até cinco salários
mínimos no prazo de 30 dias, e os demais créditos oriundos da legislação trabalhista deverão ser
quitados no prazo de 12 meses.
Agora, vamos entender como será o plano de recuperação desses créditos.
– 108 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
A lei 11.101/2005 (BRASIL, 2005) exige que o plano de recuperação contemple a sua viabi-
lidade econômica e a relação dos bens do devedor, sendo que estas informações terão que ser
produzidas por um profissional habilitado. Enquanto os credores, conforme estabelece o artigo 7°,
§ 2°, após a homologação do plano pelo respectivo juiz, deverão indicar um administrador judicial,
a partir de 15 (quinze) dias da data da publicação, que por sua vez terá o prazo de 30 dias para
manifestar-se ao juiz caso haja contradições no plano de recuperação apresentado pelo devedor
(SALOMÃO; SANTOS, 2012).
Evidenciado contradições o juiz notificará os credores para fins de assembleia, não podendo
esta reunião ultrapassar o prazo de 150 dias contados do deferimento do processamento da recu-
peração judicial, onde serão verificadas todas as contradições e créditos desde os mais simples
até os privilegiados, como os relacionados à parte trabalhista. (SALOMÃO; SANTOS, 2012).
FIQUE ATENTO!
O credor quirografário é aquele que não terá garantia para receber seus créditos, ou
seja, não tem preferência ou privilégios (PLÁCIDO, 1989, p. 15).
– 109 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
Referências
BRASIL. Lei n° 10.406 de 10/01/2002. Aprova o Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 11 ago. 2017.
______. Recuperação Judicial de Empresas: Guia Prático. Ministério da Justiça, Brasília: 2011. Dis-
ponível em: <http://www.cfa.org.br/servicos/< publicacoes/cartilha/arte_final_cartilha_16_WEB.
pdf>. Acesso em: 04 out. 2017.
CARMO, Júlio Bernardo do. Efeitos da recuperação judicial e da falência sobre o processamento
dos feitos na justiça do trabalho. Tribunal Regional do Trabalho. Disponível em: <https://www.trt3.
jus.br/download/artigos/pdf/255_efeitos_recuperacao_falencia.pdf>. Acesso em: 1 out. 2017.
SALOMÃO, Luis Felipe; SANTOS, Paulo Penalva. Recuperação judicial, extrajudicial e falência.
Teoria e prática. Rio de Janeiro: Forense, 2012.
SILVA, De Plácido. Vocabulário Jurídico. 4v. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1989.
SILVA, Renaldo Limiro da. A recuperação judicial comentada artigo por artigo (Lei 11.101/2005).
Belo Horizonte: Del Rey Editora, 2015.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil 3. Teoria Geral dos Contratos e Contratos em espécie. 9. ed. São
Paulo: Editora Método, 2014.
– 110 –
TEMA 15
Crimes Falimentares
Maria Tereza Ferrabule Ribeiro
Introdução
Nesta aula, iremos estudar a respeito dos crimes que são cometidos pelos empresários deve-
dores e demais agentes envolvidos no trâmite dos processos de falências e as suas respectivas
consequências nas esferas cíveis e criminais.
Objetivos de Aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
Figura 1 – Roma
– 111 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
FIQUE ATENTO!
Saiba que a escravidão imposta como pena devido às dívidas contraídas pelo cam-
ponês encontra-se na Lei das Doze Tábuas (JOLY, 2017).
Fonte: Ollyy’s/Shutterstock.com.
SAIBA MAIS!
Para aprofundar seu conhecimento sobre recuperação judicial, leia o artigo “A nova
lei de falências brasileira: primeiros impactos”. Disponível em: <http://www.scielo.
br/pdf/rep/v29n3/a11v29n3.pdf >.
– 112 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Os crimes falimentares, para serem caracterizados, se faz necessário que ocorram de forma
concreta, para fins da declaração de falência, por meio de sentença declaratória da falência, con-
forme estabelece o art. 180, da Lei 11.101/2005. A partir dessa decretação, serão verificadas as
consequências da respectiva condenação para o empresário conforme o art. 181 da mesma lei e
seus incisos, sendo a mais rigorosa o impedimento para gerir novos empreendimentos empresa-
riais durante o prazo de 5 (cinco) anos após decorrida a extinção da punição recebida, ou por meio
de reabilitação penal, conforme § único da referida lei e artigo.
A seguir, estudaremos os sujeitos ativos e passivos nas esferas jurídicas.
EXEMPLO
O devedor tem uma determinada dívida e, para não a saldar com a sua moto, que é
o seu único bem, transfere esta de forma gratuita para o seu primo. O credor poderá
solicitar a anulação do ato, pois este se configura como fraude contra o credor.
– 113 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
FIQUE ATENTO!
FIQUE ATENTO!
No âmbito civil, o foco é restituir o prejuízo gerado pela ação fraudulenta e, no âm-
bito criminal, foca-se a punição restritiva de liberdade ou multas em conformidade
com o ato praticado.
Figura 4 – Fraude
– 114 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
A Lei 10.101/2005, do art. 168 até o 172, dispõe os diversos delitos que cometidos ensejarão
penas e multas. Vamos conhecê-las?
A prática de crimes de fraude contra credores terá como punição a pena de reclusão de três
a seis anos e multa. Sendo que a pena poderá ser aumentada de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço),
se o fraudador praticar as seguintes condutas (BRASIL, 2005):
•• apresentar escrituração contábil ou balanço com dados inexatos;
•• deixar de informar dados que deveriam constar na escrituração contábil ou no balanço;
•• corromper ou destruir dados contábeis informatizados;
•• simular capital social;
•• destruir, ocultar ou inutilizar, de forma parcial ou total, documentos de escrituração
contábil.
A pena do devedor ainda poderá ser aumentada em 1/3 (um terço) até 1/5 (um quinto), se
verificado que manteve ou movimentou recursos e valores em paralelo sem a devida contabiliza-
ção legal, conforme a Lei 11.101/2005.
São exemplos de crimes falimentares previstos na LFR:
•• Fraude a credores (art. 168);
•• Violação de sigilo profissional (art. 169);
•• Divulgação de informações falsas (art. 170);
•• Indução a erro (art. 171);
•• Favorecimento de credores (art. 172);
•• Desvio, ocultação ou apropriação de bens (art. 173);
•• Aquisição, recebimento ou uso ilegal de bens (art. 174);
•• Habilitação ilegal de crédito (art. 175);
•• Exercício ilegal de atividade (art. 176);
•• Violação de impedimento (art. 177).
EXEMPLO
A mesma lei ainda estabelece que a pena será aplicada para aqueles que foram coniventes
com o ato delituoso como contadores, técnicos contábeis, auditores e outros profissionais, que de
alguma forma concorreram para as condutas apresentadas. Sendo a conduta ilícita praticada por
mais de uma pessoa, o ato será denominado de concurso de pessoas (BRASIL, 2005).
Haverá redução da pena de reclusão de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terço) ou, até mesmo,
substituição, se falência ocorrer na microempresa ou em empresa de pequeno porte, quando as
condutas criminosas não forem habituais por parte do falido (BRASIL, 2005).
A lei em análise também apresenta uma série de outros delitos praticados pelo credor e por
terceiros interessados que possam agravar a situação econômica financeira do devedor ou obter
vantagem ilícita. Esse agente cumprirá determinadas penas ou multas, que seguem descritas no
– 115 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
quadro a seguir, sendo que a pena de reclusão pode ser cumprida em regime fechado, semiaberto
ou aberto, e a detenção, em regime semiaberto ou aberto.
CONDUTA PENA
Exercício ilegal de atividade para a qual foi incapacitado por Reclusão, de um a quatro anos, e multa.
decisão judicial.
SAIBA MAIS!
Para aprofundar seus conhecimentos sobre os procedimentos que serão realiza-
dos nos crimes falimentares, leia o texto, de Rogério Tadeu Romano, “Procedimento
criminal nos crimes falimentares”. Disponível em: <https://www.jfrn.jus.br/institu-
cional/biblioteca-old/doutrina/doutrina250_ProcedimentoCriminalNosCrimesFali-
mentares.pdf>.
Foi possível verificar que os agentes delituosos além de responderem com o patrimônio tam-
bém responderão na esfera criminal.
– 116 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
Referências
ARAUJO, Aloisio. FUNCHAL, Bruno. A nova lei de falências brasileira: primeiros impactos. Brazilian
Journal of political Economy, v. 29, n. 3 (115), 2009. pp. 191-212.
______. Lei n° 10.406 de 10/01/2002. Aprova o Código Civil. Diário Oficial da União. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 11 ago. 2017.
COSTA, Álvaro Mayrink. Crime Falimentar. Revista da EMERJ, v.3, n.12, 2000. Disponível em:
<http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista12/revista12_143.pdf>. Acesso
em: 28 ago. 2017.
JOLY, Fábio Duarte. A Escravidão na Roma Antiga. 2. ed. São Paulo: Alameda, 2017.
OLIVEIRA, Gleik Meira. Falência: Conhecendo a história para se construir um futuro pautado na
certeza. Revista Dat@venia V.2 9 jul/dez Paraíba, 2010. Disponível em: <http://revista.uepb.edu.br/
index.php/datavenia/article/view/49-56>. Acesso em: 28 ago. 2017.
OMANO, Rogério Tadeu. Procedimento criminal nos crimes falimentares. Portal da Justiça Federal
do Rio Grande do Norte. Disponível em: <https://www.jfrn.jus.br/institucional/biblioteca-old/dou-
trina/doutrina250_ProcedimentoCriminalNosCrimesFalimentares.pdf>. Acesso em: 7 out. 2017.
SOUSA, Cláudio Calo. A Atribuição e competência criminais na nova Lei de Falência – Lei n°
11.101/2005 – breves reflexões. Disponível em: <http://www.femperj.org.br/pesquisas/artigos.
php>. Acesso em: 28 ago. 2017.
– 117 –
TEMA 16
As partes na relação de consumo:
consumidor e fornecedor
Raquel Helena Hernandez Fernandes
Introdução
Temos visto que a vida do ser humano é baseada em relações sociais. Nesse sentido, uma
das relações sociais que permeiam o nosso dia a dia é a relação de consumo. Assim, vamos abor-
dar conceitos iniciais e essenciais para o entendimento das relações de consumo.
Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
– 118 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Assim, é possível entendermos que cidadania constitui direitos das pessoas para representa-
ção perante o Estado e, assim, fazerem valer seus direitos.
E foi no contexto de luta pela cidadania e pelo seu reconhecimento que, em 1988, a Constitui-
ção Federal foi promulgada, tendo ela trazido a ideia de direitos do consumidor em seu artigo 5º,
inciso XXXII, onde dispõe: “O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor” (BRASIL,
1988). Assim, nasceu o CDC, instituído pela Lei 8.078/90, de forma a trazer normas para a defesa
dos direitos do consumidor, sendo este considerado vulnerável negocial (TARTUCE; NEVES, 2017).
SAIBA MAIS!
É importante que você conheça o Código de Defesa do Consumidor. Assim,
sugerimos a leitura integral da Lei 8078/90, que originou o CDC. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>.
É possível, então, entendermos que os direitos do consumidor são uma forma de exercer
a cidadania, fazendo com que o consumidor seja respeitado e não fique desprotegido em suas
relações consumeristas.
EXEMPLO
A Lei 12.291/2010 afirma que todo estabelecimento comercial é obrigado a exibir
um exemplar do CDC, sob pena de multa de R$ 1.064,10. Esse fato é exemplo de
norma pública e de interesse social (BRASIL,2012).
Além disso, esse princípio traz três consequências que jamais podem ser esquecidas,
sendo elas: as regras da Lei 8.078/90 (CDC) não podem ser afastadas da relação con-
sumerista mesmo que as partes assim desejem; o Ministério Público sempre pode
intervir em questões que envolvam problemas nas relações de consumo; o juiz deve
conhecer de ofício toda a proteção que o CDC traz, podendo declarar nula eventual
cláusula abusiva.
– 119 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
•• Princípio da Boa-Fé Objetiva: esse princípio está presente no inciso III, do art. 4º, do
CDC, e traz a ideia de que nas relações consumeristas deve haver justo equilíbrio, ou
seja, deve haver uma harmonia entre as partes, as quais devem estar bem-intenciona-
das na relação de consumo.
A boa-fé objetiva saiu do plano psicológico e intencional, que seria a boa-fé subjetiva, e
passa para o plano da ação humana (TARTUCE; NEVES, 2017, p. 39).
FIQUE ATENTO!
Saiba que a boa-fé objetiva é ligada à ação humana; enquanto que a boa-fé subjeti-
va é ligada às intenções e aos pensamentos humanos.
– 120 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
•• Princípio da Função Social do Contrato: esse princípio tem por característica o objetivo de
afirmar que o contrato deve ser realizado e interpretado de acordo com o contexto social,
de modo que não haja abusos para com o consumidor (TARTUCE; NEVES, 2017, p. 51).
Fonte: baranq/Shutterstock.com.
FIQUE ATENTO!
Lembre-se de que todo consumidor deve ser tratado de maneira igual, não impor-
tando condições econômicas, origem social, etnia, entre outros fatores.
– 121 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
EXEMPLO
Considere uma pessoa que vende sapatos para outra pessoa. O sujeito ativo é a
pessoa que compra os sapatos, e o sujeito passivo é a pessoa que vende os sa-
patos. O sujeito ativo tem o poder sobre os sapatos, no sentido de exigir o que foi
convencionado entre as partes na hora da compra e o que está estabelecido no
CDC. E esse fato de compra e venda de sapatos gera consequências para o mundo
jurídico, no sentido de obrigações e tutela de direitos.
3 O consumidor
Conforme dispõe o artigo 2º do CDC, “Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire
ou utiliza produto ou serviço como destinatário final” (BRASIL, 1990). Outro aspecto importante é
que alguns doutrinadores entendem que a vulnerabilidade de pessoa jurídica pode ser relativa, ou
seja, os casos devem ser analisados para se averiguar se a pessoa jurídica realmente estava em
posição de vulnerabilidade (TARTUCE; NEVES, 2017, p. 85).
SAIBA MAIS!
Sobre a discussão acerca da vulnerabilidade ou não da pessoa jurídica, sugerimos
a leitura do julgado RMS 27.512/B, da terceira turma do STJ, de 23.09.2009, que
está disponível em: < https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/media-
do/?componente=ITA&sequencial=905277&num_registro=200801579190&da-
ta=20090923&formato=PDF>.
– 122 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
O consumidor ainda pode ser ente despersonalizado, como condomínios edilícios (condomí-
nios de prédios e casas, por exemplo).
FIQUE ATENTO!
Há forte discussão doutrinária sobre o que significa “destinatário final”. Nesse sentido, são
três as teorias que existem: teoria finalista, que entende que o consumidor é aquele não utiliza o
produto para lucro e que ninguém mais depois dele irá adquirir o produto; teoria maximalista, que
entende que o consumidor é sempre associado ao consumo, independentemente de que finali-
dade ele atribuíra ao produto/serviços adquirido; e a teoria finalista mitigada, muito aplicada pelo
STJ, que não observa apenas a destinação do produto ou serviço, mas também a vulnerabilidade
do adquirente em relação ao fornecedor (TARTUCE; NEVES, 2017).
4 O fornecedor
Como podemos definir fornecedor? Para Tartuce e Neves (2017), fornecedor é entendido
como aquele que fornece produtos e prestador de serviços.
Já o caput do art. 3º do CDC, dispõe que:
Figura 4 – Fornecedor
– 123 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Um elemento essencial para caracterizar o fornecedor, além dos contidos no caput do art. 3º
do CDC, é a habitualidade. Assim, não se pode enquadrar como fornecedor ou prestador pessoas
quem vendem/fornecem pela primeira vez ou esporadicamente coisas/serviços.
Outro fator de importante consideração é que a atividade desenvolvida pelo prestador/fornece-
dor deve ser profissional e com objetivo de lucro ou vantagens indiretas (TARTUCE; NEVES, 2017).
Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
•• conhecer e entender a forte influência da cidadania na origem dos Direitos do
Consumidor;
•• conhecer as relações jurídicas de consumo, com seus elementos objetivos e subjetivos.
Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial da União. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 14
ago. 2017.
______. Lei 8078 de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Diário Oficial da União.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 7 set. 2017.
______. Lei nº 12.291, de 20 de julho de 2010. Torna obrigatória a manutenção de exemplar do Código
de Defesa do Consumidor nos estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços. Diário
Oficial da União. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/
L12291.htm>. Acesso em: 4 nov. 2017.
DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos Humanos e Cidadania. São Paulo: Moderna, 1998. p. 14.
TARTUCE, Flávio; NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual do Direito do Consumidor: Direito
Material e Processual. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.
– 124 –
TEMA 17
Direitos básicos do consumidor
Raquel Helena Hernandez Fernandes
Introdução
As relações de consumo envolvem consumidor, fornecedor e o produto ou serviço, e pos-
suem características peculiares. Nesta aula, você verá alguns entendimentos sobre o consumo e
proteções do Direito do Consumidor.
Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
•• entender as necessidades da prática de consumo equilibrado;
•• compreender a natureza jurídica de proteções do Código de Defesa do Consumidor (CDC).
1 O consumo equilibrado
A humanidade tem vivido um excesso de consumo (VIEIRA; COSTA, 2015). Você saberia dizer o
porquê? Por conta do desenvolvimento econômico e das facilidades para consumir, mais pessoas pas-
saram a ter acesso a bens e serviços, o que traz melhoria de vida e sentimento de satisfação. Assim,
a felicidade foi associada à posse de bens materiais, o que estimula o consumismo (OLIVEIRA, 2012).
Com isso, você deve ter percebido que o consumo está relacionado ao bem-estar. Por outro
lado, o consumo desenfreado compromete os recursos naturais e o equilíbrio ecológico, pois, para
produzir bens, o ser humano precisa intervir no meio ambiente (VIEIRA; COSTA, 2015).
Fonte: J. Bredlove/Shutterstock.com
– 125 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
SAIBA MAIS!
Para conhecer mais sobre consumo equilibrado e desenvolvimento sustentável, leia
o artigo “Consumo Sustentável”, publicado em 2012 na Revista Veredas do Direito
por João Carlos Cabrelon Oliveira, disponível em: <http://domhelder.edu.br/revista/
index.php/veredas/article/view/255>.
O artigo 6º do CDC, em seu inciso II, afirma que é direito do consumidor “[...] a educação e a
divulgação sobre consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de esco-
lha e a igualdade nas contratações” (BRASIL, 1990, s.p.). Nesse sentido, existe uma preocupação
em primar pelo consumo equilibrado, o qual objetiva transformar o comportamento da sociedade
em relação ao consumo exacerbado, pressupondo que o consumidor esteja consciente sobre os
impactos que suas escolhas de consumo trazem para o meio ambiente (VIEIRA; COSTA, 2015).
Fonte: natrot/Shutterstock.com
– 126 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
FIQUE ATENTO!
Perceba que também é nossa obrigação, enquanto consumidores, fazer melhores escolhas
ao comprarmos um produto ou serviço, procurando saber se o fornecedor tem compromisso com
a preservação do meio ambiente, e repensar a necessidade de adquirir tantos bens. É assim que
contribuímos com o desenvolvimento sustentável.
EXEMPLO
Podemos pensar em produtos de limpeza que fazem mal à saúde por serem corro-
sivos à pele e terem fortes odores. Embora prejudiciais, tais características já são
esperadas.
Quando um fornecedor sabe que certo produto ou serviço tem alto grau de nocividade ou
periculosidade à saúde ou segurança do consumidor, não deve colocá-lo no mercado, como dis-
põe o artigo 10. E se o produto já estiver circulando e seus riscos só forem descobertos posterior-
mente? Nesse caso, o fornecedor deve informar tais perigos às autoridades competentes e aos
consumidores, por meio de anúncios publicitários (BRASIL, 1990).
Perceba, então, a presença do Princípio da Boa-Fé Objetiva, ou seja, espera-se que os for-
necedores tenham condutas leais e honestas em relação aos produtos e serviços que oferecem
(TARTUCE; NEVES, 2017).
FIQUE ATENTO!
– 127 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Desse modo, os produtos e serviços devem sempre estar acompanhados de todas as infor-
mações sobre as suas características, inclusive os impostos, geralmente descritos no cupom/
nota fiscal.
FIQUE ATENTO!
Também é importante informar o consumidor sobre a nocividade dos produtos. Como vimos,
o produto ou serviço colocado no mercado não pode apresentar riscos à saúde e à segurança do
consumidor, com exceção dos riscos esperados e considerados normais. Nesses casos, quando,
por sua natureza, o produto ou serviço é nocivo ou perigoso à saúde e à segurança do consumidor (a
soda cáustica, por exemplo), o artigo 9º do CDC dispõe que o fornecedor deve informar, de maneira
evidente e adequada, as informações sobre sua nocividade e periculosidade (BRASIL, 1990).
Concluímos, então, que o Princípio da Transparência deve estar presente nas relações de
consumo.
– 128 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
4 Indenizações
Indenizações estão relacionadas com a reparação de danos, o que envolve o Princípio da
Reparação Integral dos Danos, previsto no inciso VI do artigo 6º do CDC, segundo o qual o consu-
midor tem direito à “[...] efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos e difusos” (BRASIL, 1990, s.p.).
Fonte: arka38/Shutterstock.com
A prevenção dos danos ocorre por meio das informações que devem ser prestadas ao consu-
midor. Já sua reparação é obrigação perante a Responsabilidade Civil, ou seja, o fornecedor deve
arcar com os danos que tenha causado ao consumidor por meio de produto ou serviço que tornou
disponível no mercado (TARTUCE; NEVES, 2017).
Se o consumidor tiver danos materiais (prejuízo material), deve ser indenizado de forma inte-
gral. Já os danos morais (ou extrapatrimoniais), isto é, quando o produto ou serviço viola os direi-
tos da personalidade do consumidor, podem ocorrer de três modos: individual, coletivo e difuso.
O dano individual ocorre somente com um caso em particular, e o consumidor deve ser inde-
nizado integralmente. Lembre-se de que ele pode ser indenizado por danos materiais e morais em
uma mesma situação, desde que estes se originem do mesmo fato (TARTUCE; NEVES, 2017).
SAIBA MAIS!
Sobre a cumulação de indenização de danos, a Súmula 37 do Superior Tribunal
de Justiça (STJ) dispõe que: “São cumuláveis as indenizações por dano material e
dano moral oriundos do mesmo fato” (BRASIL, 1992, p. 3.172).
– 129 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
O dano coletivo é aquele que atinge, ao mesmo tempo, direitos da personalidade de várias
pessoas ligadas a um mesmo fato, sendo determinadas ou determináveis. Nesse caso, os consu-
midores também podem ser indenizados integralmente. Já o dano difuso tem a característica de
atingir pessoas indeterminadas que estão ligadas a uma mesma circunstância de fato que causa
lesão à sociedade. Nesse caso, o causador do dano pode ser multado e/ou ter que arcar com
valores de indenizações, destinados ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, que é vinculado ao
Ministério da Justiça (BRASIL, [20--]).
EXEMPLO
Pense em mulheres que adquiriram pílulas anticoncepcionais falsas de um mes-
mo laboratório. As pessoas lesadas são essas mulheres, que são determináveis,
portanto, trata-se de um dano coletivo. Já no caso de uma indústria que polui o ar,
não é possível determinar exatamente o público atingindo, embora se saiba que a
sociedade em geral é afetada. Logo, tem-se um dano difuso.
Todos esses danos são passíveis de indenizações, que ocorrem, na maioria das vezes, por
meio financeiro (TARTUCE; NEVES, 2017).
Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
Referências
BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário
Oficial da União, Brasília, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/consti-
tuicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 14 ago. 2017.
______. Presidência da República. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Diário Oficial da União,
Brasília, 12 set. 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>.
Acesso em: 7 set. 2017.
_______. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n. 37. São cumuláveis as indenizações por dano
material e dano moral oriundos do mesmo fato. Diário da Justiça, Brasília, 17 mar. 1992.
– 130 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
______. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Direitos Difusos. Ministério da Justiça, Brasí-
lia, [20--]. Disponível em: <http://www.justica.gov.br/seus-direitos/consumidor/direitos-difusos>.
Acesso em: 20 out. 2017.
OLIVEIRA, João Carlos Cabrelon. Consumo Sustentável. Veredas do Direito. Belo Horizonte, v.9,
n.17, p.79-108. 2012.
TARTUCE, Flávio; NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual do Direito do Consumidor: Direito
Material e Processual. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017.
VIEIRA, Gabriella Castro; COSTA, Beatriz Souza. A prática do consumo consciente para a efeti-
vação do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Direito Ambiental e sociedade,
Caxias do Sul, v. 5, n. 2, p. 261-282, 2015.
– 131 –
TEMA 18
Responsabilidade por vício
do produto e do serviço
Raquel Helena Hernandez Fernandes
Introdução
Você já adquiriu um produto ou contratou um serviço que não era exatamente como o espe-
rado ou apresentou algum problema? Saiba que as relações de consumo podem ser abaladas por
defeitos e vícios que os produtos ou serviços podem apresentar. Por isso, o consumidor precisa
de proteção, proporcionada pelo Estado, e a Responsabilidade Civil vigora nos casos de reparação
de danos.
Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
Fonte: Jirsak/Shutterstock.com
– 132 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Na prática, isso significa que o Estado é responsável por proteger o consumidor, intervindo no
Poder Legislativo, na formulação de normas jurídicas relacionadas ao consumo; no Poder Execu-
tivo, de forma a implementá-las; e no Poder Judiciário, no intuito de solucionar os conflitos oriun-
dos de relações de consumo (SIMÃO, 2003).
A quem recorrer, então, quando alguém se sente lesado? A possibilidade mais próxima do
consumidor é o Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon), um órgão público, repre-
sentativo do Estado, pertencente ao Poder Executivo municipal, estadual ou do Distrito Federal,
cujo objetivo é proteger e defender os direitos e interesses do consumidor (RIO DE JANEIRO, [20--]).
SAIBA MAIS!
O Portal do Consumidor traz informações sobre direitos do consumidor e as atitudes
que ele deve ter quando tiver seus direitos violados nas relações consumeristas.
Visite o site: <http://www.portaldoconsumidor.gov.br/>.
FIQUE ATENTO!
O defeito pode ser de produto ou de prestação de serviços e acarreta outros problemas além dele
mesmo. Em outras palavras, o defeito ocorre se o problema extrapola os limites do produto ou serviço.
EXEMPLO
Um consumidor compra um ferro de passar roupas, que explode e o machuca duran-
te o uso. Como o dano extrapolou qualquer problema restrito ao mau funcionamento,
uma vez que feriu a pessoa que o estava utilizando, dizemos que existe um defeito.
– 133 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
O defeito pode originar danos morais (violação dos direitos da personalidade), materiais (pre-
juízo material) e estéticos (decorrem de ofensa à integridade física de uma pessoa. (TARTUCE;
NEVES, 2017). Caso exista nexo causal, isto é, se for comprovado que o defeito do produto ou
serviço tiver causado tais danos ao consumidor, deve ser reparado por meio de indenizações.
EXEMPLO
Um encanador não consegue sanar um problema no encanamento de um cliente.
Essa situação não traz outros danos para a pessoa que contratou os serviços do en-
canador e nem para a casa. Assim, não extrapola os limites do problema. Nessa situ-
ação, dizemos que há um vício do serviço, pois o dano ficou restrito ao encanamento.
E como reparar os consumidores nesse caso? Diferentemente do defeito, que é reparado por
meio de indenização, o vício demanda substituição.
– 134 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Produtos de consumo duráveis ou não duráveis podem ter vícios de qualidade ou quantidade
que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo ou lhes diminuam o valor, ou por conterem
informações contraditórias e errôneas em seu recipiente, embalagem, rotulagem ou mensagem
publicitária. Nesses casos, conforme o artigo 18 do CDC, o consumidor pode requerer que as par-
tes viciadas sejam substituídas (BRASIL, 1990).
Conforme o parágrafo 1º desse artigo, se o vício não for sanado no máximo em 30 dias, o
consumidor pode escolher apenas uma das opções disponíveis, por exemplo, a troca do produto
por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso. Esse prazo, entretanto, é flexível.
Segundo o parágrafo 2º, as partes podem transigir sobre sua redução ou ampliação, desde que o
combinado não seja inferior a sete e nem superior a 180 dias (BRASIL, 1990).
FIQUE ATENTO!
O prazo de 30 dias pode ser modificado pela vontade das partes, desde que haja acor-
do entre elas e o novo limite não seja menor do que 7 e nem maior do que 180 dias.
– 135 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
a reexecução dos serviços por meio de terceiros capacitados, deixando os gastos e riscos sob
responsabilidade do fornecedor que primeiro executou os serviços (BRASIL, 1990).
SAIBA MAIS!
O parágrafo 6º do artigo 18 do CDC traz um rol dos produtos impróprios ao uso e
ao consumo, e o parágrafo 2º do artigo 20 dispõe que são impróprios os serviços
que sejam inadequados para os fins a que se destinam e os que não seguem as
normas necessárias.
Figura 4 – Consumidores
Fonte: Pressmaster/Shutterstock.com
– 136 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
FIQUE ATENTO!
O CDC traz quatro formas de Responsabilidade Civil Objetiva, cada uma com seu respectivo
tipo de solidariedade:
•• responsabilidade pelo vício do produto: solidariedade entre fabricante e comerciante;
•• responsabilidade pelo vício do serviço: solidariedade entre todos os envolvidos na pres-
tação do serviço;
•• responsabilidade pelo defeito do produto: responsabilidade direta do fabricante e res-
ponsabilidade subsidiária do comerciante;
•• responsabilidade pelo defeito do serviço: solidariedade entre todos os envolvidos na
sua prestação (BRASIL, 1990).
Fechamento
Agora, você já sabe o que fazer ao adquirir um produto ou serviço com problemas. Nesta aula,
você teve a oportunidade de:
– 137 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Referências
BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário
Oficial da União, Brasília, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/consti-
tuicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 14 ago. 2017.
______. Presidência da República. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Diário Oficial da União,
Brasília, 12 set. 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>.
Acesso em: 7 set. 2017.
SÃO PAULO. Quem somos. Defensoria Pública do Estado de São Paulo, São Paulo, [20--]. Dispo-
nível em: <https://www.defensoria.sp.def.br/dpesp/Default.aspx?idPagina=2868>. Acesso em: 30
ago. 2017.
SIMÃO, José Fernando. Vícios do produto no novo Código Civil e no Código de Defesa do Consu-
midor. São Paulo: Atlas, 2003.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. 12. ed. rev., atual. e
ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2017. Volume 2.
______; NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual do Direito do Consumidor: Direito Material e
Processual. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.
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TEMA 19
Práticas comerciais abusivas
Raquel Helena Hernandez Fernandes
Introdução
As relações de consumo envolvem práticas comerciais que possuem algumas peculiarida-
des, as quais conheceremos ao longo desta aula.
Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
2 Da oferta
É importante que você não confunda promoção com oferta. A promoção é um desconto de
preço, produto ou serviço que o fornecedor concede ao consumidor.
FIQUE ATENTO!
– 139 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Já a oferta é a forma de comunicação que o fornecedor tem para seduzir ou atrair o consu-
midor para que este adquira bens ou serviços, o que inclui informações sobre o produto e preço.
Entre essas estratégias para atrair o consumidor, está a oferta de descontos.
Fonte: creo77/Shutterstock.com
O CDC traz os regramentos da oferta nos artigos 30 a 35 e dispõe que: “Toda informação
ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação
com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer
veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado” (BRASIL, 1990, s.p.). Lendo
e refletindo sobre esse artigo, percebemos a presença dos princípios da boa-fé objetiva, o da trans-
parência e o da vinculação. Este último traz a ideia de que há vínculo entre os produtos e serviços
e a informação e publicidade sobre eles.
EXEMPLO
Como funciona, na prática, o princípio da vinculação? Suponha que uma oferta in-
forma que certo brinquedo acompanha mais três peças. Se algum consumidor ad-
quirir o brinquedo, ele também deve receber essas três peças.
E como deve ser o conteúdo da oferta? O CDC responde a essa pergunta no artigo 31:
Assim, o consumidor deve ser informado completamente sobre o produto ou serviço que
está adquirindo, de modo que não tenha dúvidas. Portanto, o conteúdo da oferta deve ser de fácil
compreensão (TARTUCE; NEVES, 2017).
– 140 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
3 Da publicidade
A publicidade é qualquer forma encontrada para transmitir informações com o objetivo de
provocar a aquisição de produtos ou serviços no mercado de consumo (TARTUCE; NEVES, 2017).
Mas você já percebeu que publicidade, muitas vezes, é usada como sinônimo de propaganda? Isso
está incorreto, pois são dois conceitos diferentes.
FIQUE ATENTO!
A publicidade tem por objetivo promover a circulação de produtos e serviços, com intuito de
lucro. Já a propaganda visa circular ideias políticas, ideológicas ou sociais, sem intenção de lucrar.
EXEMPLO
Um fabricante de sabonetes promove a circulação de seu produto por meio de pu-
blicidade transmitida por televisão. É diferente da propaganda política, por exemplo,
que não divulga produtos e não tem objetivo de lucrar.
Segundo Tartuce e Neves (2017), a publicidade é regida por três princípios fundamentais:
•• Princípio da Identificação: veda a publicidade mascarada (simulada ou dissimulada) ou
clandestina;
•• Princípio da Veracidade: veda a publicidade enganosa;
•• Princípio da Vinculação: os produtos e serviços anunciados estão vinculados à oferta,
portanto, devem ser obtidos integralmente pelo consumidor que adquiri-los.
Na prática, o que isso significa? Para o Direito, a publicidade mascarada (também conhecida
como simulada, dissimulada ou clandestina) não quer demonstrar a sua real intenção de ser publi-
cidade. Como exemplo, podemos pensar no merchandising quase imperceptível que acontece em
programas de TV (TARTUCE; NEVES, 2017). Esse tipo de publicidade é vedado pelo artigo 36 do CDC.
– 141 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Figura 2 – Publicidade
– 142 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Fonte: elwynn/Shutterstock.com
SAIBA MAIS!
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
SAIBA MAIS!
Para conhecer melhor os bancos de dados de consumidores, visite o site da Serasa
Experian, disponível em: <https://www.serasaexperian.com.br/>, que mantém ban-
cos de dados de inadimplentes.
FIQUE ATENTO!
Vimos que consumidores que têm dívidas podem ser incluídos em bancos de dados e cadas-
tros. Mas como cobrá-los? Isso só pode ser feito se as dívidas realmente existirem.
Figura 4 – Dívidas
– 144 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
Fechamento
Conhecemos um pouco sobre as normas que regem as práticas comerciais no Brasil. Nesta
aula, você teve a oportunidade de:
Referências
BRASIL. Presidência da República. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Diário Oficial da União,
Brasília, 12 set. 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>.
Acesso em: 7 set. 2017.
______. Presidência da República. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União,
Brasília, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.
htm>. Acesso em: 5 out. 2017.
EFING, Antônio Carlos. Fundamentos do Direito das relações de consumo. 2. ed. Curitiba: Juruá,
2004.
TARTUCE, Flávio; NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual do Direito do Consumidor: Direito
Material e Processual. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.
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TEMA 20
Vício oculto. Vício redibitório
(rescisão do contrato por vício redibitório)
Raquel Helena Hernandez Fernandes
Introdução
Algumas vezes, os produtos e serviços vêm acompanhados de vícios, que são problemas intrín-
secos a eles, que não extrapolam seus limites, não causando outros danos ao consumidor. Mas você
sabia que existem dois tipos de vícios? São o oculto e o redibitório, que estudaremos a seguir.
Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
Fonte: g-stockstudio/Shutterstock.com
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
O vício redibitório é considerado um vício oculto, mas das relações contratuais e atinge o
objetivo do negócio. Assim, ele também tona o bem impróprio para uso ou diminui o seu valor, mas
é considerado grave e contemporâneo, isto é, existente já no momento da celebração do contrato
(TARTUCE; NEVES, 2017; CAVALIERI FILHO, 2014).
FIQUE ATENTO!
Perceba, então, que o vício oculto está ligado às relações de consumo, prevalecendo o Código
de Defesa do Consumidor (CDC), enquanto o vício redibitório está ligado à esfera contratual e ao
CC, podendo ser oculto ou aparente.
EXEMPLO
Imagine uma pessoa que comprou um liquidificador. Após um certo tempo de uso, o
motor do liquidificador falha devido a uma peça que foi mal encaixada na fabricação,
o que ilustra um vício oculto. Perceba que existe uma relação consumerista. Como
exemplo de vício redibitório, podemos pensar em um indivíduo que recebeu um carro
como pagamento de uma dívida. Um dia, em uma subida, ele descobre que o motor
aquece nas subidas, inviabilizando o uso do veículo. Esse aquecimento sempre exis-
tiu, mesmo antes da celebração do negócio jurídico. Perceba que, nesse caso, existe
uma relação contratual, e não consumerista. Além disso, o vício já existia na época da
celebração do negócio jurídico (recebimento do carro como pagamento).
Para que você compreenda melhor cada tipo de vício, veja a seguir quais são os requisitos
para caracterizá-los, iniciando pelo vício oculto.
– 147 –
FUNDAMENTOS DE DIREITO
FIQUE ATENTO!
O vício oculto não pode ser confundido com o desgaste natural do produto.
Fonte: sukiyaki/Shutterstock.com
FIQUE ATENTO!
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
SAIBA MAIS!
Contratos comutativos são aqueles que formalizam negócios jurídicos que não
apresentam riscos em relação às prestações, pois essas são certas e determina-
das. Um contrato de compra e venda, por exemplo, é um contrato comutativo, uma
vez que o vendedor já sabe qual valor será pago, e o comprador, qual coisa será
entregue (TARTUCE, 2017).
Além disso, o vício redibitório é grave, de forma que inviabilizaria o contrato se fosse conhe-
cido antes da sua celebração. Outra característica fundamental é que ele deve ser contemporâneo
ao momento da celebração do contrato, ou seja, já existir anteriormente (CAVALIERI FILHO, 2014).
Fonte: eans/Shutterstock.com
Agora, você pode estar se perguntando: o que fazer ao descobrir um vício em um produto? É
o que veremos a seguir.
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
Você se lembra, entretanto, que o vício oculto só é descoberto um tempo após a aquisição do
produto, correto? Então, quando começa a contagem desse prazo? A resposta está no parágrafo
3º do artigo 26 do CDC: “Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em
que ficar evidenciado o defeito” (BRASIL, 1990, s.p).
Os mesmos prazos para reclamar de vícios aparentes, contidos nos incisos I e II do artigo
26, também valem para os vícios ocultos, desde que comecem a contar a partir do momento em
que ele foi constatado: 30 dias para produtos e serviços não duráveis e 90 para duráveis. Como
exemplo, podemos pensar no caso de uma pessoa que adquire um aparelho de TV (bem durável)
e após um certo tempo de uso constata que o aparelho desliga sozinho e por vício de fabricação.
Logo, o consumidor tem prazo de 90 dias para reclamar esse vício.
Esses prazos do artigo 26 do CDC são conhecidos como garantias legais, ou seja, prazos
estipulados em lei para que o consumidor reclame dos vícios (SÃO PAULO, 2017).
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
SAIBA MAIS!
Para entender melhor o vício oculto e garantias, leia o texto “Você sabe o que é vício
oculto?”, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), disponível em: <ht-
tps://www.idec.org.br/consultas/dicas-e-direitos/voce-sabe-o-que-e-vicio-oculto>.
E quanto ao vício redibitório? O artigo 442 do CC afirma: “Em vez de rejeitar a coisa, redibindo
o contrato (art. 441), pode o adquirente reclamar abatimento no preço” (BRASIL, 2002, s.p.). Ou
seja, quem obteve o produto tem a opção de pedir o abatimento do preço, ao invés de rescindir
(redibir) o contrato.
O artigo 443 do CC prossegue: “Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá
o que recebeu com perdas e danos; se o não conhecia, tão-somente restituirá o valor recebido,
mais as despesas do contrato” (BRASIL, 2002, s.p.). Assim, se o alienante sabia da existência do
vício, deverá restituir o que recebeu e ainda incluir valores referentes a perdas e danos. Em caso
de desconhecimento, precisará somente devolver o valor que recebeu e incluir despesas oriundas
do contrato.
E quando reclamar nesses casos? Segundo o artigo 445 do CC, o adquirente tem até 30 dias
para requerer seu direito de obter a redibição (rescisão contratual) por via judicial ou o abatimento do
preço se a coisa for móvel. No caso de ser imóvel, o prazo é de um ano. Em ambas as situações, os
prazos contam a partir da entrega efetiva do produto ou serviço. Caso a coisa já esteja na posse do
adquirente, o prazo começa a contar a partir da alienação, sendo reduzido à metade (BRASIL, 2002).
EXEMPLO
Duas pessoas celebram contrato de compra e venda de uma máquina que produz
adesivos, mas, logo após a aquisição, o comprador percebe que ela está borrando
os adesivos, devido a um vício de uma peça da máquina. Esse vício já existia no
momento da celebração do contrato, logo, o prazo para o comprador rescindir o
contrato ou requerer abatimento no preço da máquina é de 30 dias a partir do mo-
mento que ele descobriu o problema.
E se, por sua natureza, o vício só for descoberto mais tarde? Nesse caso, o parágrafo 1º do
artigo 445 do CC estabelece que o prazo começa a ser contado do momento que o adquirente sou-
ber do problema e é de, no máximo, 180 dias para bens móveis e um ano para imóveis. Nesse caso,
podemos pensar em situações nas quais o vício não é identificável pelo simples uso. Como exem-
plo, podemos pensar em uma casa repleta de goteiras, que só aparecerão em época de chuva.
Lembre-se de um detalhe importante: a garantia. O alienante pode fornecer ao adquirente
prazo de garantia. Assim, determina-se um certo período em que o alienante se responsabiliza pelo
aparecimento de qualquer vício no bem móvel ou imóvel. Nesse sentido, todos os prazos mencio-
nados não correrão durante a validade dessa garantia, mas o adquirente deve informar o defeito
ao alienante nos 30 dias seguintes ao seu descobrimento, mesmo estando no prazo de garantia,
de acordo com o art. 446 do CC (BRASIL, 2002).
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FUNDAMENTOS DE DIREITO
Por fim, perceba que o CDC traz mais proteção ao consumidor em casos de vícios ocultos
do que o CC traz ao adquirente em casos de vícios redibitórios (CAVALIERI FILHO, 2014). Isso se
constata por meio dos prazos e alternativas que o consumidor e o adquirente possuem.
Fechamento
Vimos os tipos de vícios e por quais regimentos legais cada um está regulamentado.
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
Referências
BRASIL. Presidência da República. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Diário Oficial da União,
Brasília, 12 set. 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso
em: 7 set. 2017.
______. Presidência da República. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União,
Brasília, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.
htm>. Acesso em: 5 out. 2017.
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Direito do Consumidor. 4. ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2014.
INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. Você sabe o que é vício oculto? Instituto
Brasileiro de Defesa do Consumidor, 19 maio 2014. Disponível em: <https://www.idec.org.br/con-
sultas/dicas-e-direitos/voce-sabe-o-que-e-vicio-oculto>. Acesso em: 16 out. 2017.
SÃO PAULO. O que é garantia legal? Orientações de consumo: perguntas frequentes: prazo. Funda-
ção Procon-SP, São Paulo, [20--]. Disponível em: <http://www.procon.sp.gov.br/texto.asp?id=2860>.
Acesso em: 18 out. 2017.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 12. ed. rev., atual.
e ampl.. Rio de Janeiro: Forense, 2017. Volume 3.
TARTUCE, Flávio; NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual do Direito do Consumidor: Direito
Material e Processual. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.
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