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Estela Kohlrausch
estudar durante minha formação. Desde o primeiro semestre fui monitora de viola no curso
de extensão e meu primeiro aluno (atualmente grande amigo) foi o senhor Francisco Fajardo.
Ninguém queria dar aula para ele porque era “muito velho”, mas eu não vi na idade um
problema para aprender algo que se gosta. Na época eu não tinha nem 20 anos e ele já estava
aposentado, sua postura e gestos de amor e carinho pela educação e pelas pessoas foram meu
arrimo. Nas orquestras de alunos da extensão que havia no período, participei tocando viola e
na coordenação das atividades. Os violistas eram as pessoas com mais idade e, a cada
conquista do grupo, eu ficava mais motivada a continuar potencializando estes sonhos. O
desafio que encontrava em trabalhar com este grupo era o de lidar com o universo trazido à
aula, os desafios pelos quais passaram, suas histórias de vida e seus sonhos.
[1]
Durante a licenciatura pesquisei sobre educação musical e o capítulo com base no
Nela analisamos os comentários dos participantes sobre cinco diferentes versões de um trecho
musical, os comentários foram categorizados e comparados entre os grupos de participantes e
os resultados indicaram que o uso de critérios preestabelecidos de avaliação interferem de
maneira desproporcional em relação aos critérios que naturalmente seriam utilizados para a
apreciação de uma mesma obra musical.
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grupo conta com 18 integrantes, entre 13 e 85 anos, de instrumentos variados. Além das
idades e instrumentos serem diferentes, há músicos que trabalharam a vida inteira nesta área e
há quem tenha recém inicado. O repertório é variado e selecionado coletivamente, ensaiamos
uma vez por semana na casa de um dos integrantes. O trabalho é independente e voluntário:
tocamos em asilos, festas de comunidade, atividades culturais e promovemos um concerto
beneficente por ano. A maneira que o grupo funciona e seus objetivos é fruto de uma
construção coletiva e a condição para participar é comprometimento.
Esse grupo trouxe de volta dois aspectos fundamentais para mim: o prazer de fazer
música e o desejo de estudar para aprimorar minha prática. Refletindo sobre o significado
deste grupo para mim, percebo que gerou uma nova visão sobre o fazer musical, pedagógico
e sobre a relação intergeracional: da importância de uma partitura com escrita maior que o
padrão a falar mais alto para que consigam me ouvir, todos os momentos em que estamos
juntos sinto que estou aprendendo. Realizar este trabalho me motiva a buscar o meio mais
adequado de desenvolver um trabalho significativo para todos.
Também nesta época fui convidada a dar aulas de instrumento na Escola Waldorf
Querência (EWQ). Quando aceitei, não poderia fazer ideia do quanto essa escolha iria
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significar para mim, porque a EWQ é uma escola onde o ser humano é visto no todo e a
música faz parte da transformação e conexão entre sentimentos e pensamentos. Encontrei ali
um ambiente onde as coisas que acreditava tinham espaço e onde o que fazia era acolhido,
isso gerou uma enorme votade de estudar mais, de conhecer mais profundamente as pessoas e
a educação. A equipe de professores de música é engajada e colaborativa, isso me impulsiona
a desenvolver um trabalho cada vez melhor.
Devido a essa necessidade pessoal, percebi que precisava realmente estudar a área da
educação. Iniciei o curso de Pedagogia (UFRGS) buscando o aprofundamento nas leituras e
estudos da área de educação, pois “é pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que
se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica,
tem de ser de tal modo concreto que quase se confunda com a prática” (FREIRE,1996, p.
43-44).
Estou nesta seleção devido a esta necessidade de aprofundar e transformar meus
conhecimentos práticos e teóricos do ato educativo e de qualificar minha formação em
relação a área de educação. Acredito que os estudos durante o mestrado mostrarão diversas
maneiras disso acontecer e estou aberta a sugestões e redirecionamentos. Viso fundamentar
minhas experiências de trabalho em educação e buscar alternativas pedagógicas para a
construção social e cultural de idosos.
O envelhecimento é um processo da vida ligado à passagem do tempo e está
fortemente ligado ao caráter biológico e à idade, porém o aspecto social e cultural agem neste
processo e geram multiplicidade e heterogeneidade de velhices. Para que eu possa estudar
este grupo, uma das bases será nas três teorias gerontológicas clássicas apresentadas por
Fontoura, Doll e Oliveira (2015): Teoria do Desengajamento, Teoria da Atividade e Teoria da
Continuidade. A primeira se refere ao desligamento do trabalho, a mudanças nas relações
entre indivíduo e sociedade e defende que o idoso pode ter um ritmo diferenciado; a segunda
tem como hipóteses que pessoas mais ativas são mais satisfeitas e que os idosos podem criar
para si novos papeis e lugares sociais; a terceira teoria é sobre o idoso se esforçar por manter
estruturas externas (sociais) e internas (biografia). Com a saída do mercado de trabalho surge
a possibilidade de ir para novos campos de atuação, realizar desejos e buscar atividades
prazerosas e significativas.
Esta busca pode levar os idosos a uma alternativa de lazer. Este pode ser caracterizado
como uma atividade não associada a sobrevivência (comer, dormir), que não é trabalho (sem
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instrumento musical para alunos idosos. A seleção dos professores de música terá como
critério serem egressos dos cursos de música da UFRGS e desenvolverem trabalho com aulas
particulares a idosos. Para entender como os professores atuam nas aulas de instrumento
individual serão feitas entrevistas semi-estruturadas investigando o que estes profissionais
identificam de estratégias e metodologias diferenciadas na sua atuação com idosos e também
sobre a formação específica para atuar com estes alunos.
Na Lei 13.632/2018 a educação ao longo de toda a vida passa a ser um dos princípios
do ensino brasileiro, mas é um desafio para os docentes. Os aspectos de uma formação
docente específica para o trabalho no âmbito das universidades abertas para terceira idade foi
pesquisado por Cachioni et al. (2015) e aponta que existem poucos dados sobre os docentes
desses programas. Para os autores, os programas precisam ser elaborados a partir das
necessidades do idoso, de maneira mais participativa, valorizando as experiências e o
tornando agente da sua própria aprendizagem. As metodologias utilizadas determinam o
sucesso ou fracasso de uma atividade, bem como o desempenho intelectual do idoso. A
educação para idosos é uma resposta às mudanças sociais, o convívio e troca de saberes
intergeracional é importante para o desenvolvimento pessoal e profissional. Destaco a
importância da reflexão sobre a formação dos profissionais que atuam com este público, pois
“na maioria dos casos, essa formação acontece de modo complementar por intermédio de
cursos de especialização, seminários ou formação continuada” (DOLL, 2008, p. 21).
Referências
OLIVEIRA, S. N.; DOLL, J. Serious Leisure. Movimento, Porto Alegre, v. 18, n. 01, p.
325-338, 2012.
OLIVEIRA, S. N.; DOLL, J. 'This is The End, My Beautiful Friend!': lazer sério e o fim da
carreira. Educação & Realidade. Porto Alegre, RS. Vol. 42, n. 1, 2017, p. 215-236.
[1]
KOHLRAUSCH, E. Questões sobre a reflexão do estudo de instrumento e a formação em educação musical.
In: LOURO, A. L. M.; TEIXEIRA, Z. L.O.; RAPÔSO, M. M. Aulas de música: narrativas de professores numa
perspectiva (auto) biográfica. CURITIBA: CRV, 2014. p.107-116.
[2]
KOHLRAUSCH, E.; DANTAS, F. A.M. F. Y. G. Em busca de validade ecológica nos critérios de
apreciação de uma mesma obra musical: Um estudo de caso com múltiplas gravações da introdução do Concerto
para viola, de Bela Bartok.In: Simpósio de Estética e Filosofia da Música: SEFiM-UFRGS, 2013, Porto
Alegre. I Simpósio de Estética e Filosofia da Música. Anais do SEFiM. Porto Alegre: UFRGS, 2013. p.
798-799.
[3]
Para conhecer acesse a fanpage: https://www.facebook.com/grupoinstrumentalferrabraz Acesso em: 14 maio
2019