You are on page 1of 7

CANNABIS NO GERENCIAMENTO DE PATOLOGIAS- REVISÃO

DE LITERATURA
CANNABIS IN THE MANAGEMENT OF PATHOLOGIES- LITERATURE
REVIEW
Rafael Maciel de Paulo1 Breno Silva de Abreu2
Como citar:
Paulo RM, Abreu BS. Cannabis no gerenciamento de patologias. REVISA. 2015; 4(2): 136-45.

RESUMO
O declínio medicinal da Cannabis veio com o aparecimento de
outras substâncias e a dificuldade de isolar seu princípio ativo. O
professor israelense, Raphael Mechoulan, conseguiu identificar e isolar
os principais componentes desta planta, permitindo um maior
conhecimento sobre uma Cannabis. A Cannabis possui cerca de
quatrocentas substâncias. Entre essas substâncias, as que mais
despertaram o interesse foi o delta-9-tetraidrocanabinol e o canabidiol,
um responsável pelos efeitos psicoativos e o outro por não ter efeitos
psicoativo, respectivamente. Em estudos, foi possível perceber que
existem diferentes espécies de maconha, sendo que a Cannabis sativa
é caracterizada por possuir um grande teor de THC, a Cannabis indica
por ter um baixo teor de THC e a Cannabis ruderalis que não possui
nenhuma substancia psicoativa. Outra descoberta que chamou muito
atenção foi a dos receptores canabinoides. Sendo o CB1, que possui
grande concentração no cérebro e são responsáveis pela maioria dos
efeitos psicoativos, o CB2, que são encontrados no sistema imunológico,
e por fim, o CB3 que é a maneira que chamam os outros receptores
canabinoides não CB1/CB2. Com o avanço da medicina e todas essas
descobertas foi possível realizar estudos com a Cannabis e comprovar
que ela possui efeitos farmacológicos. Hoje, está planta é utilizada no
tratamento de esclerose múltipla, doença de Parkinson, Alzheimer,
epilepsia, AIDS, glaucoma, esquizofrenia, ansiedade, redução de peso e
insônia.
Descritores: Cannabis; Canabinóides; Canabidiol; Maconha.

REVISÃO
ABSTRACT
The medicinal decline of Cannabis came with the appearance of other
substances and the difficulty of isolating its active principle. The Israeli
professor, Raphael Mechoulan, was able to identify and isolate the main
components of this plant, allowing a greater knowledge about a
Cannabis. It has about four hundred substances. Among these
substances, delta-9-tetrahydrocannabinol and cannabidiol, one
responsible for psychoactive effects and the other for not being
psychoactive, were the most interesting ones. In studies, it was possible
to perceive that there are different species of Cannabis, and Cannabis
sativa is characterized by a high THC content, Cannabis indica having
a low THC content and Cannabis ruderalis that has no psychoactive
substance. Another finding that drew much attention was that of
cannabinoid receptors. Being CB1, which has great concentration in the
brain and are responsible for most of the psychoactive effects, CB2,
which are found in the immune system, and finally CB3 which is the
way they call the other non-CB1 / CB2 cannabinoid receptors. With the
advancement of medicine and all these discoveries it was possible to
carry out studies with Cannabis and to prove that it has
pharmacological effects. Today, this plant is used in the treatment of
multiple sclerosis, Parkinson's disease, Alzheimer's, epilepsy, AIDS,
glaucoma, schizophrenia, anxiety, weight reduction and insomnia.
Descriptors: Cannabis, cannabinoids, cannabidiol, marijuana.

Revista de Divulgação Científica Sena Aires 2015 Jul-Dez; 4(2): 136-42.


Paulo RM, Abreu BS.

INTRODUÇÃO

O uso da Cannabis, popularmente conhecida como maconha no Brasil,


possui registros de seu uso medicinal na China há 2.700 anos antes de Cristo
no tratamento de dores, constipação intestinal e doenças como epilepsia,
malária e tuberculose.¹
Já na Índia, apontam seu uso há, aproximadamente, 1.000 anos antes
de Cristo no controle de ansiedade, histeria e até mesmo depressão.²
Com o surgimento de novas substâncias, a limitação do conhecimento e
não isolamento de seu princípio ativo resultou no declínio de seu uso medicinal.
Porém, em 1960, o professor israelense Raphael Mechoulan e seu grupo de
pesquisadores conseguiram identificar as estruturas químicas dos principais
componentes da Cannabis sativa e isolar os mesmos.1,2
As substâncias que mais chamam atenção é o delta-9-tetraidrocanabinol,
também conhecido como delta-9-THC ou Δ9-THC, que é a responsável pelos
efeitos psicoativos e o canabidiol que é o principal composto não psicotrópico
da planta e constitui cerca de 40% dos extratos da Cannabis.¹
Atualmente podemos observar que algumas substâncias extraídas desta
planta auxiliam no tratamento de inúmeras doenças como, por exemplo, no
tratamento de epilepsia, câncer, AIDS, esquizofrenia, glaucoma, esclerose
múltipla, entre outras.
Assim, esta revisão bibliográfica traz como objetivo mostrar a influência
que a Cannabis tem sobre o gerenciamento de determinadas patologias.

MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica onde os artigos escolhidos para


esta revisão foram identificados por meio de buscas eletrônicas em banco de
dados como Scielo e Lilacs, combinando os termos de busca “Cannabis”,
“Cannabis e doenças”, “tratamento com Cannabis”, “maconha uso medicinal”,
“Cannabis fármacobotânica” e “maconha patologias”. Utilizamos 12 artigos,
entre eles, artigos publicados, trabalhos de conclusão de curso que abordam
temas relacionados ao dessa revisão e também uma reportagem da revista
VEJA. Buscamos excluir os estudos que avaliam Cannabis fumada devido ao
fato de não ser possível ter uma dosagem estabelecida, uma composição exata
e a proporção dos diferentes componentes encontrado na planta.

REFERÊNCIAL TEÓRICO

Cannabis: A Planta
Quando falamos da Cannabis muitas vezes ligamos diretamente a droga
conhecida como “maconha”, que também é o nome popular desta planta em
alguns países, como por exemplo, no Brasil. Mas é necessário entender que a
Cannabis é uma planta conhecida a 2.700 anos antes de Cristo e que tinha seu
uso medicinal em diversas doenças na China. A planta passou a ser considerada
uma droga devido aos seus efeitos psicoativos e a dependência que causa em
seus usuários. ¹
A Cannabis é uma erva popular que recebe nomes como cânhamo,
diamba, maconha, manga-rosa, haxixe, entre vários outros. Existem três
espécies de maconha: a Cannabis sativa que contém uma grande concentração
de THC (substância psicoativa da planta) e que é cultivada em quase todo o
mundo, a Cannabis índica que possui baixo teor de THC, e a Cannabis ruderalis
que não apresenta nenhum ingredientes psicoativos. ³

Revista de Divulgação Científica Sena Aires 2015 Jul-Dez; 4(2): 136-42. 137
Paulo RM, Abreu BS.

A maconha mais conhecida é a Cannabis sativa que tem origem asiática


e possui uma adaptação mais exigente quando se refere a aspectos como o solo,
clima e altitude. Há fatores ambientais e genéticos que podem influenciar
diretamente na concentração de psicoativos da planta, assim como, o tempo de
maturação da planta e o tratamento da amostra que também pode influenciar.3,4
A Cannabis é uma planta anual, ou seja, ela tem como característica
germinar, florescer e morrer em um período aproximado de 12 meses. Também
é considerada uma planta ereta e dioica pois a planta possui apenas um
conjunto de órgãos sexuais por indivíduos (feminino ou masculino).5 A maconha
é uma planta germinada de uma pequena semente, que com o auxílio de luz e
água pode se tornar uma planta de até 4 metros de altura. Pertence a ordem
botânica Urticales e a família distinta chamada Cannabaceae, embora a
classificação mais comum seja a de que pertença à família Moraceae.6
As folhas da Cannabis são estipuladas, pecioladas com o limbo
longamente partido e possuem de 3 a 11 folíolos (sempre números impares). A
diferença entre as flores da maconha é que as masculinas produzem pólen e as
femininas produzem sementes. As flores femininas apresentam um maior
número de folhas no topo do caule, onde produzem grandes quantidades de
resinas, com alto teor de THC.5,6
Uma das características que diferenciam a C. sativa da C. indica é que a
primeira possui folhas mais finas e, a segunda, limbo mais largo.6

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Substâncias e efeitos da maconha em nosso organismo

A Cannabis é uma planta que possui cerca de 400 (quatrocentos)


substâncias, onde 60 (sessenta) dessas substâncias fazem parte de um grupo
classificado como canabinóides.1,7
Os canabinóides são divididos em 2 (dois) grupos: os psicoativos e os
não psicoativos.7 A primeira substância a ser isolada, foi o delta-nove-
tetraidrocanabinol, também conhecido apenas por Δ9–THC. Desde então, várias
outras substâncias foram isoladas e sintetizadas para dá início a novas
pesquisas. Em 1940, o isolamento do canabidiol e do canabinol permitiu
descobrir a estrutura geral do princípio ativo da planta.1,4 Os principais
canabinóides são o delta-nove-tetraidrocanabinol (Δ9–THC): que é considerado
o principal componente com característica psicoativa da planta, Canabidiol
(CBD): que não possui efeito psicoativo mas tem efeito terapêutico, Canabinol
(CBN): tem efeito psicoativo e anti-inflamatório e outras substâncias, como o
Canabicromeno (CBC), Canabiciclol (CBL) e seus ácidos que ainda não
apresentam estudos conclusivos sobre seus efeitos.7
As substâncias que apresentam maior quantidade nas plantas da
maconha são o canabidiol (CBD) e o delta nove-tetraidrocanabinol (THC), sendo
assim, os mais estudados.7 O delta-nove-tetraidrocanabinol é responsável por
causar efeitos psicoativos que estão diretamente ligados com o aumento dos
níveis de dopamina no córtex pré-frontal medial. Ele é sugerido por alguns
autores para ser usado como estimulador de apetite e manter o peso em
pacientes que possui o vírus HIV ou câncer, além de agir no tratamento de
náuseas e vômitos em pacientes que necessitam de quimioterapia. Também
apresenta efeito contra dores nesses pacientes¹
O uso do ∆9-THC em terapias pode promover alguns efeitos adversos no
organismo, como a destruição de células imunitárias e dos tecidos do corpo,
que auxilia na proteção contra doenças. E também, pode gerar alucinações,
disforia e sonolência nos pacientes que fazem seu uso terapêutico.¹

Revista de Divulgação Científica Sena Aires 2015 Jul-Dez; 4(2): 136-42. 138
Paulo RM, Abreu BS.

Os efeitos causados pelo THC em nosso organismo dependem da


quantidade de maconha (droga) consumida. Quando há um baixo teor de THC
em nosso organismo tem como efeito a diminuição das funções do nosso sistema
nervoso central, atuando principalmente no equilíbrio e na memória. Já níveis
mais altos de THC no organismo podem levar o indivíduo a efeitos de euforia,
alterações perspectivas (visão e audição), alteração de humor e inteligência, e
também perca da noção de tempo e espaço ao diminuir o controle das atividades
motoras do usuário.6
O delta-nove-tetraidrocanabinol e o canabidiol são substâncias
antagonistas, pois uma causa estado de euforia e o outro inibe e bloqueia o
senso de humor, respectivamente. O canabidiol é considerado uma das
principais substancias da planta por não apresentar efeitos psicoativos e por
representar cerca de 40% dos extratos da C. sativa.¹
O canabidiol foi isolado desde o ano de 1940, pelo professor Raphael
Mechoulam, mas foi nos últimos 20 anos que houve um aumento dos estudos
relacionados a este componente, ao observar sua capacidade de promover ações
farmacológicas. Hoje, pode-se observar, através de estudos, que o canabidiol
tem efeitos analgésicos e imunossupressores e a capacidade de auxiliar no
tratamento de isquemias, náuseas, câncer, diabetes. Além de apresentar efeitos
no tratamento dos sintomas apresentados pela epilepsia, esquizofrenia, doenças
de Parkinson e Alzheimer.¹
Um dos efeitos causados pelo canabidiol é a redução da ansiedade e
bloqueio dos efeitos causados pela psicose (doença mental), sendo assim,
considerado um ansiolítico e um antipsicótico.¹

Receptores canabinoides

Desde o isolamento do delta-nove-tetraidrocanabinol e do canabidiol foi


possível notar um maior interesse no conhecimento dessas substâncias para
uso medicinal. Outro fator que aumentou esse interesse foi a descoberta dos
receptores canabinóides específicos e dos ligantes endógenos, denominados de
endocanabinóides.11,12
Os estudos afirmam que existem três tipos de receptores canabinóides,
sendo eles o CB1, CB2 e CB3. Eles integram à família dos receptores acoplados à
proteína G e são juntamente com os receptores ionotrópicos glutamatérgicos os
receptores acoplados à proteína G mais existentes no sistema nervoso central.11
Os receptores CB1 aparecem em grande quantidade no cérebro e são
responsáveis por grande parte dos efeitos psicotrópicos dos canabinóides. São
encontrados em áreas ligadas ao controle motor, aprendizagem, memoria,
respostas emocionais, entre outras. Esses receptores são encontrados no
sistema nervoso central (SNC) na maioria das vezes de forma pré-sináptica, mas
também de forma pós-sináptica e na glia.11
Apesar dos receptores CB1 serem abundantes no sistema nervoso
central, podem ser encontrados em baixas densidades nos tecidos periféricos.
A nível celular, são encontrados de maneira pré-sináptica e inibindo a liberação
de transmissores.11,12
Na pré-sináptica, ao serem ativados, os receptores CB1 inibem a
adenilato ciclase resultando na hiperpolarização neural e na redução da
liberação de neurotransmissores. Já na pós-sináptica, os receptores CB1 agem
na regulação dos níveis de excitação e plasticidade sináptica através variação
da frequência dos canais de K+ e inibição da adenilato ciclase.11
Os receptores CB2 apresentam aproximadamente 44% de semelhança
estrutural aos aminoácidos do CB1. São encontrados no sistema imunológico,
localizado no tecido linfoide e em algumas áreas do SNC, principalmente na
micróglia e em locais pós-sinápticos. Na dor crônica é possível notar um
aumento da expressão de CB2.11,12

Revista de Divulgação Científica Sena Aires 2015 Jul-Dez; 4(2): 136-42. 139
Paulo RM, Abreu BS.

Quando o CB2 é ativado ocorre a inibição da adenilato ciclase e ativação


da cascata da MAPK.11
Há uma suposta existência de outros receptores canabinóides,
chamados de receptores não CB1/CB2. Alguns desses receptores canabinóides
ativam os receptores vanilóides (receptores ionotrópicos) que geram estímulos
nas terminações nervosas noceptivas, que são conhecidos como receptores CB3.

Relação entre a Cannabis e as patologias

A Cannabis faz parte do gerenciamento de muitas doenças, vários estudos comprovam


que seus extratos exercem efeitos farmacológicos, assim, sendo capaz de auxiliar no tratamento
de patologias ou nos sintomas de uma patologia, como no caso da epilepsia, por exemplo. Apesar
de ser algo novo para o Brasil, em muitos países a maconha já vem sendo usada como terapia a
alguns anos.
A Cannabis tem como um de seus principais efeitos a analgesia que é muito bem
valorizada por portadores do vírus HIV (AIDS) e por pessoas com câncer que necessitam de um
tratamento pós-quimioterápico. O consumo da erva produz em nosso corpo uma sensação de
anestesia capaz de amenizar dor e até mesmo os efeitos colaterais do AZT. O THC apresenta outro
efeito apreciado no tratamento de AIDS ou câncer, que é a estimulação do apetite, ao consumir a
erva ela provoca um aumento na vontade de comer e beber, este último, devido a boca ficar seca.
A planta oferece um efeito antiemético em pessoas que necessitam de pós-quimioterapia, pois
uma grande parte das substâncias quimioterápicas causam náuseas e vômitos nos pacientes
oncológicos. Estudos comprovam que o THC proporciona um efeito maior ou superior se for
comparado com outros antieméticos disponíveis no mercado farmacêuticos. O dronabinol e a
Nabilona, que são cápsulas sintéticas de THC, são exemplos de fármacos utilizados como
estimulador de apetite e antieméticos para pacientes oncológicos ou portadores do vírus HIV
(SIDA). Além disso, a maconha produz também um óleo comestível que contém ácidos graxos
essenciais que é capaz de proteger o sistema imunológico.6,10
Por falar em THC sintético, a revista VEJA publicou em seu site, no dia 19 de dezembro
de 2016, uma notícia sobre uma maconha sintética que causava efeito zumbi em seus usuários.
Segundo a reportagem, a maconha sintética conhecida como Spice ou K2 estava preocupando
as autoridades americanas justamente por causar desse “efeito zumbi” que é caracterizado por
uma força sobre-humana e resistência à dor em seus usuários. No dia 12 de julho de 2016, foram
encontradas dezenas de pessoas em colapso numa calçada de Brooklyn, em Nova Iorque,
Estados Unidos. Logo após o ocorrido, uma análise na Universidade da Califórnia confirmou o
uso desse entorpecente nas pessoas encontradas na calçada e um estudo comprovou que está
droga é 85 vezes mais potente do que a maconha comum. Na análise, identificaram um
canabinóide sintético conhecido como AMB-FUBINACA, um análogo da AB-FUMINACA,
desenvolvido em 2009 pela Pfizer como um potencial analgésico. Porém, passou a ser designada
como uma substancia controlada logo após autoridades japonesas considerar a AB-FUMINACA
uma droga ilícita. Poucos meses depois, surgiu uma substância análoga a ABM-FUMINACA nas
ruas americanas, uma substância com ingrediente psicoativo conhecida como “Train Wreck 2”.
Grande parte dessas drogas são misturas de ervas ou associados a produtos químicos
semelhantes ao THC. Mas para impedir a regulamentação, essas drogas vivem em constantes
mudanças por seus fabricantes, assim, tornando as consequências de seu uso imprevisível.13
Ao observar que em pacientes com SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) o uso
da Cannabis aumenta o apetite e o sono e diminui a ansiedade e a as dores, perceberam que o
dronabinol também reduz a perda de peso e até mesmo induz o ganho de peso. Baseado nessa
afirmação, um estudo analisou que ao inibir os receptores canabinóides (CB1), através do
rimonabanto (antagonista canabinóide), há um bloqueio na ação dos endocanabinóides e
consequentemente inibe a ação estimulante ao apetite. O rimonabanto também atua na perda
de peso ao estimular a lipólise. Deste modo, o medicamento Acomplia (Rimonabanto) é utilizado
em alguns países para a redução do apetite e no tratamento de obesidade.10
A C. sativa é utilizada também em pacientes com glaucoma que apresentam pressão
intraocular. No glaucoma, canais se fecham e impedem a passagem de um fluido, conhecido
como humor aquoso, que fica acumulado no interior do olho gerando uma pressão ocular que

Revista de Divulgação Científica Sena Aires 2015 Jul-Dez; 4(2): 136-42. 140
Paulo RM, Abreu BS.

pode causar até mesmo a cegueira progressiva. O tratamento para glaucoma é cirúrgico, químico
ou com o consumo da Cannabis. A erva tem a capacidade de secar os olhos gerando a redução
do humor aquoso acumulado, assim não havendo a necessidade de desobstruir os canais.6
Outra ação que essa planta oferece é no tratamento de epilepsia. A epilepsia é uma
disfunção cerebral que tem como característica convulsões e isso pode causar várias
consequências para o paciente, como problemas psicológicos, exclusão, estigmas e isolamento.
Na atualidade só existem medicamentos que tratam as crises convulsivas da epilepsia, não há
nenhum medicamento capaz de provocar a cura desta doença. O canabidiol, substância retirada
da maconha, é o primeiro canabinóide usado no tratamento de epilepsia, está substância
apresenta ação anticonvulsivante.¹
Há estudos que demonstram que o canabidiol apresenta um perfil antipsicótico, onde
esse componente é capaz de atuar no tratamento de doenças como a esquizofrenia e outros
distúrbios psíquicos. E comparada com outras substâncias, este canabinóide não apresenta
efeitos colaterais e tóxicos se administrado em doses corretas (de 10 mg a 400 mg por dia) e não
apresentou alterações nos perfis neurológico e psiquiátricos dos pacientes.8
O canabidiol apresenta eficácia também no tratamento contra ansiedade, em especial,
nos pacientes com síndrome do pânico, transtorno pós-traumático, transtorno obsessivo-
compulsivo e de ansiedade social. Sem efeitos psicoativos, essa substância apresenta resultados
positivos e com segurança ao paciente.9
Já o Δ9-THC é apontado em alguns estudos como uma substancia que aumenta o sono
profundo e pode ser utilizada no tratamento de insônia se for administrado em doses orais de 10-
30 mg/kg. Porém, não apresentou nenhuma vantagem sobre os ansiolíticos e antidepressivos já
existentes.10
Na esclerose múltipla, doença crônica e degenerativa do SNC que causa fraqueza e
inflamação nos músculos e perda da coordenação motora, a Cannabis sativa é utilizada para
tratar um dos sintomas da doença, que é a espasticidade muscular. Notou-se que pacientes que
utilizaram doses superiores a 15 mg de THC apresentaram melhoras na ataxia e no tremor
muscular. Já em doses diárias entre 100-600 mg de canabidiol durante 6 semanas, perceberam
que houve uma melhora na distonia (movimentos involuntários lentos e contorcidos de qualquer
parte do corpo, podendo ser local ou generalizada). Foi considerada leve a hipotensão arterial,
sedação, boca seca e tontura sentida pelos pacientes.10
Baseado nesses estudos, o medicamento Sativex, que é uma mistura de 1:1 de delta-9-
THC e canabidiol extraído da Cannabis sativa clonada, foi aprovado em vários países para o
tratamento de esclerose múltipla associada à espasticidade. O Sativex em spray é considerado
uma opção segura e eficaz no combate a espasticidade, tanto na forma moderada como na
grave.10 Além da esclerose múltipla, os canabinoides também demonstraram uma atividade
muito importante em patologias neurodegenerativas como na doença de Alzheimer e na doença
de Parkinson. Em estudos com animais, os canabinoides apresentaram efeitos neuroprotetores,
inibindo o excesso da síntese de glutamato, assim, diminuindo a excitotoxicidade e lesão
neuronal.10
Na doença de Alzheimer, os canabinóides sintéticos podem vir a ser uma opção para
melhorar as atividades cognitivas desta doença, como a perda da memória progressiva.10
A grande tendência da Cannabis no Brasil é deixar de ser uma droga ilegal, administrada
através do fumo, e passar a ser considerada uma planta composta por substâncias medicinais
utilizadas por outras de vias administrativas.

CONCLUSÃO

É possível perceber que a maconha vem deixando de ser apenas uma droga psicoativa e
vem ganhando cada vez mais espaço nas pesquisas e estudos que tem como objetivo explorar a
capacidade dessa planta no ramo medicinal.
Com o isolamento das substâncias extraídas da Cannabis, como o canabidiol (CBD) e o
delta-9-tetraidrocanabinol (THC), tornou-se possível realizar estudos científicos e concluir que
essa planta apresenta propriedade terapêuticas. Muitos desses estudos comprovam que a

Revista de Divulgação Científica Sena Aires 2015 Jul-Dez; 4(2): 136-42. 141
Paulo RM, Abreu BS.

maconha tem apresentado resultados positivos e eficazes no gerenciamento de patologias como


doença de Parkinson, Alzheimer, esquizofrenia, AIDS, câncer, glaucoma, epilepsia, esclerose
múltipla e também na ansiedade, insônia, perda de peso, entre outros.
Seu uso medicinal ainda é um assunto polêmico pois envolve questões sociais, culturais,
religiosas e questões políticas como sua legalização, já que em muitos países a maconha é
considerada uma droga ilegal. Mas o que não se pode negar é que a Cannabis sativa e a Cannabis
indica apresentam um grande potencial no gerenciamento dessas patologias e que a grande
tendência é que deixe de ser uma droga ilegal fumada e passe a ser considerada uma planta
medicinal que possui substâncias com grande potencial farmacológico e com outras vias de
administração.

REFERÊNCIA

1. Matos RLA, Spinola LA, Barboza LL, Garcia DR, França TC, Affonso RSO. Uso do Canabidiol
no Tratamento da Epilepsia. Revista Virtual de Química. 2017; Volume 9(2): 2-13.
2. Crippa JAS, Zuardi AW, Hallak JEC. Uso terapêutico dos canabinoides em psiquiatria. Revista
Brasileira de Psiquiatria. 2010; Volume 32: 1-3.
3. Coutinho MPL, Araújo LF, Gonties B. Uso da maconha e suas representações sociais: estudo
comparativo entre universitários. Psicologia em Estudo. 2004; Volume 9(3): 2-3.
4. Honório KM, Arroio A, Silva ABF. Aspectos terapêuticos de compostos da planta Cannabis
sativa. Química Nova. 2006; Volume 29(2): 318-319.
5. Iglésias FA. Sobre o vício da diamba.
6. Barreto LAAS. A maconha (Cannabis sativa) e seu valor terapêutico. Monografia [Trabalho de
conclusão de curso de Ciências Biológicas]. Brasília : Centro Universitário de Brasília - UNICEUB;
2002.
7. Oliveira KLB, Lima TPS. Cannabis sativa: potencial terapêutico. Monografia [Trabalho de
conclusão de curso de Biomedicina]. Porto Velho : Faculdade São Lucas; 2016.
8. Pedrazzi JFC, Pereira ACC, Gomes FV, Del Bel E. Perfil antipsicótico do canabidiol. Revista da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. 2014; Volume 47(2): 115-7.
9. Schier ARM, Ribeiro NPO, Silva ACO, Hallak JEC, Crippa JAS, Nardi AE et al. Canabidiol, um
componente da Cannabis sativa, como um ansiolítico. Revista Brasileira de Psiquiatria. 2012;
Volume 34: 4-5.
10.Ribeiro JAC. A Cannabis e suas aplicações terapêuticas. Dissertação [Mestrado em Ciências
Farmacêuticas]. Porto: Universidade Fernando Pessoa; 2014.
11. Costa JLGP, Maia LO, Orlandi-Mattos P, Villares JC, Esteves MAF. Neurobiologia da
Cannabis: do sistema endocanabinoide aos transtornos por uso da Cannabis. Jornal Brasileiro
de Psiquiatia. 2011; Volume 60(2): 113-114.
12. Rang HP, Ritter JM, Flower RJ, Henderson G. Rang & Dale Farmacologia. 8° edição. São
Paulo: Elsevier; 2016.
13. Maconha sintética causa “zumbi” nos usuários. Revista VEJA, São Paulo, 19 de Dezembro
de 2016.

Revista de Divulgação Científica Sena Aires 2015 Jul-Dez; 4(2): 136-42. 142

You might also like