Professional Documents
Culture Documents
O ENSINO DE ARTES
EDUCATIONAL REFORMS AND
THE TEACHING OF ARTS
RESUMO ABSTRACT
Neste trabalho, procura-se estudar Artes nos In this work, one searches to study Arts in the school
currículos escolares abordando seu ensino com syllabuses approaching its teaching based on the
base nas tendências pedagógicas aplicadas a essa pedagogical trends applied to this knowledge
área do conhecimento e às reformas educacionais area and to the educational reforms from Leis
a partir das Leis de Diretrizes e Bases (LDB), de Diretrizes e Bases (LDB), which guided its
que nortearam o seu ensino na Educação Básica teaching in the Brazilian Basic Education. This
brasileira. Tal estudo objetiva refletir sobre as study aims at thinking about the questions related
questões pertinentes às Reformas Educacionais to the Brazilian Educational Reforms and to the
brasileiras e ao ensino de Artes por meio da teaching of Arts by means of the interpretation and
interpretação e compreensão de tais documentos understanding of such documents which signal
que sinalizam para esse ensino. O referencial me- to this teaching. The methodological referential
todológico evidenciado parte da análise de conte- works on the principle of content analysis, having
údos, tendo como corpus de análise as tendências as its corpus the pedagogical trends, LDB and the
pedagógicas, as LDB e os debates sobre os con- debates on the concepts and methodologies for
ceitos e metodologias para o ensino de Artes. the teaching of Arts.
66
Revista Cocar Belém, vol 5, n. 10, p.65 – 71 jul – dez 2011
dagogia Tecnicista”, o aluno e o professor ocupam 1961, instituiu o ensino de Artes nos níveis de 1º
uma posição secundária, porque o elemento prin- e 2º graus da Educação Básica. Tal ensino aparece
cipal é o sistema técnico de organização da aula e timidamente na redação dessa LDB sob a forma
do curso” (FUSARI; FERRAZ, 1999, p. 32). Em de atividade complementar de iniciação científica.
Artes, há uma ênfase no saber construir reduzido Mesmo sendo marcado por essa timidez, o
ao seu aspecto técnico e ao uso de materiais ensino de Arte deveria ser ensinado nos espaços
diversificados, aliado a um saber espontaneístico escolares nas séries do 1º e 2º graus. No Primeiro
com valoração das atividades de livros didáticos, Grau, a Arte seria priorizada nos últimos dois anos
caracterizando-se com um não compromisso às como iniciação em artes aplicadas, adequadas à
linguagens da Arte. idade e ao sexo dos alunos. No Segundo Grau,
Ao lado das tendências pedagógicas citadas, composto de disciplinas obrigatórias e optativas
surgiu na década de 1960 a Pedagogia Libertadora, estabelecidas por Conselhos Federal e Estaduais
idealizada e desenvolvida pelo educador Paulo de Educação, o ensino de Artes era ministrado
Freire. Essa pedagogia visava ser realista e crítica, de forma optativa, obedecendo às normas para
buscando explicar e superar o pensamento liberal o ensino de 2º grau como prática educativa
através de projetos pedagógicos progressistas. artística ou útil. Tal ensino é mencionado na LDB
Nos anos de 1980, começou a se desenhar nº 4.024/61 como iniciação artística no Art. 38,
um redirecionamento pedagógico que incorporou inciso IV do Capítulo I, Título VII.
qualidades das citadas tendências pedagógicas Título VII – Da Educação de Grau Médio.
e se pretende mais crítico e realista. Nessa nova Art. 38 – Na organização do ensino do grau
concepção, o professor é mediador da relação médio serão observados as seguintes normas:
IV – Atividades complementares de iniciação
pedagógica, o educando exerce sua cidadania artística (LDB – Lei nº 4.024/61)
de forma mais consciente, crítica e participante.
Tal pedagogia ficou conhecida como Histórico- Mesmo sendo pouco priorizada nos espaços
-crítica e tem por objetivo “[...] propiciar a todos escolares, a Arte demarcou seu espaço nessa Lei
os estudantes o acesso e contato com os conheci- de Diretrizes e Bases e abriu caminho para sua
mentos culturais básicos e necessários para uma discussão na Lei subsequente.
prática social viva e transformadora” (FUSARI; A Lei de Diretrizes e Bases nº 5.692/71 foi
FERRAZ, 1999, p. 34). constituída em um período de muita censura e
Percebendo a relevância de tais pedagogias repressão na sociedade brasileira. Nesse período,
para o ensino-aprendizagem de Arte, foram cria- foram promulgados atos institucionais que dita-
das, promulgadas e sancionadas as Leis de Di- ram leis e legitimaram os interesses dos militares
retrizes e Bases da educação brasileira e nelas o no país. É nesse período que o Brasil passa por
ensino de Artes se fez presente. Tal presença nas fortes influências da cultura americana, o ensino
LDBs se deu a partir da participação de movi- de Artes acompanha essas influências e é promul-
mentos de arte-educadores que preocupados com gada a então Lei nº 5.692/71 que dá continuidade
o ensino de Artes na educação básica fomentaram a anterior, porém com um caráter meramente tec-
uma discussão paradigmática no ensino de Artes nicista.
e nas reformas educacionais vigentes em seus de- Nessa Lei de Diretrizes e Bases nº 5.692/71,
terminados períodos. o ensino de Arte, cunhado sob a nomenclatura
de Educação Artística, passa a fazer parte dos
O ensino de Artes e as legislações
currículos escolares como atividade educativa.
de 1961, 1971 e 1996 Ressalta-se um ensino tecnicista, uma atividade
O ensino de Arte tem marcado presença nas que deveria fazer parte dos currículos escolares,
legislações da Educação Básica brasileira desde no entanto, sem perdas para o aluno. O educando
a Lei de Diretrizes e Bases de 1961. Marcada por não reprovava em tal componente curricular mes-
uma concepção da cultura humanística e cientifica, mo ele fazendo parte da Educação Básica, pois a
a LDB nº 4.024/61, promulgada em dezembro de Educação Artística, segundo o Parecer nº 540/77
67
As reformas educacionais e o ensino de artes
“[...] não é matéria, mas uma área bastante gene- sem terem um reconhecimento institucional. No
rosa e sem contornos fixos, flutuando ao sabor das Brasil, a Educação através da Arte foi difundida a
tendências e dos interesses” (FUSARI; FERRAZ, partir das ideias do filósofo inglês Herbert Read.
1993, p. 38). Tal ensino propunha a arte como conhecimento
Nota-se uma fragilidade no ensino de Artes, e via a arte não apenas como uma das metas da
mesmo tal ensino sendo obrigatório nos antigos educação, mas sim como o seu próprio processo,
ensinos de 1º e 2º graus. Essa fragilidade pode que é considerado também criador (FUSARI;
ser denunciada no modo de fazer, ver e aprender FERRAZ, 1993).
Arte nos espaços escolares regidos por tal Lei. A Educação Artística, incluída no currículo
Fragilidades configuradas no despreparo dos escolar pela Lei nº 5.692/71, propunha a valori-
professores para ensinar Arte, na maneira de zação da tecnicidade e profissionalização, preo-
avaliar e nas fragilidades metodológicas, tais cupando-se somente com a expressividade indi-
como as formas de explicitar os planejamentos, os vidual sem se aprofundar nos temas emergentes
objetivos, os conteúdos e os métodos utilizados, da Arte. A Arte-Educação apresentou-se como
que, muitas vezes, não eram claros nem tampouco um movimento em busca de novas metodologias
organizados. de ensino e aprendizagem de Arte na escola; tal
Ante à realidade de os professores estarem movimento propunha uma ação educativa ativa,
pouco preparados para exercerem suas funções criadora e centrada no aluno.
polivalentes em um ensino que se pretendia mudar Por essa perspectiva, pode-se notar que o
com a então LDB, foram criados pelo Governo ensino de Artes regido pela Lei nº 5.692/71 bus-
Federal cursos superiores de curta duração em cou inovar nas metodologias aplicadas ao ensino,
Educação Artística e Licenciatura Plena em valorizar a formação profissional e conscientizar
Educação Artística para sanar as dificuldades educandos e educadores de Arte do papel capital
encontradas pelos professores de Artes no ensino- que tal componente curricular tem dentro e fora
aprendizagem da disciplina nos espaços escolares. da escola.
Tais licenciaturas institucionalizadas em Passados vinte e cinco anos, foi promulgada
1973 compreendiam, a saber, a Licenciatura a LDB nº 9.394/96 que, em seu Art.26,§ 2º, torna
Curta com duração de dois anos, para aqueles obrigatório o ensino de Artes na Educação Bási-
professores que desejassem ensinar no 1º grau e, ca. Dessa forma, “[...] o ensino da arte constituirá
para aqueles que almejavam o ensino de 2º grau, componente curricular obrigatório, nos diversos
a Licenciatura Plena em Educação Artística com níveis da educação básica, de forma a promover
duração de quatro anos. o desenvolvimento cultural dos alunos” (LDB,
Mesmo os professores tendo procurado 1996, p. 16).
tais licenciaturas para a sua formação, havia A obrigatoriedade do ensino de Artes deve
ainda um grande descompasso no processo oportunizar um ensino e formação integral ao
de ensino-aprendizagem e a reprodução de educando, construindo, dessa forma, saberes e co-
modelos estereotipados na adequação de tal nhecimentos pertinentes às linguagens artísticas.
ensino. Na tentativa de sanar tais problemas É importante salientar que Arte, enquanto área de
no ensino de Artes, foram criadas Associações conhecimento, tem vários campos de expressão e
de arte-educadores que, por meio de encontros, é preciso que o investimento seja feito no campo
congressos, discussões, passaram a discutir na com o qual o (a) aluno (a) mais se identifica.
década de 1980 questões referentes ao ensino de Sendo obrigatório na Educação Básica, como
Arte do ensino infantil à universidade. prenunciava a LDB nº 9.394/96, o ensino de Ar-
É também nesse período que há uma discussão tes deveria ofertar pelos menos quatro linguagens
e sistematização da nomenclatura do ensino de artísticas, a saber: teatro, música, artes visuais e
Arte no país. Os termos educação através da dança, no entanto, o que se observa é que as esco-
arte, arte-educação, educação artística vão-se las, na sua grande maioria, não dão condições de
incorporando ao vocabulário nacional mesmo tais ofertas em seus espaços escolares.
68
Revista Cocar Belém, vol 5, n. 10, p.65 – 71 jul – dez 2011
69
As reformas educacionais e o ensino de artes
70
Revista Cocar Belém, vol 5, n. 10, p.65 – 71 jul – dez 2011
objeto específico de estudo para cada como o papel da disciplina e do professor de Arte
uma das quatro linguagens artísticas; na escola pública;
Encaminhamentos metodológicos que Carência de profissional habilitado em Arte,
orientem a prática em sala de aula, bem como o polivalência e diversidade de entendimento
enfoque da história da arte sem se prender à sua quanto à função da Arte na escola;
linearidade; Necessidade de desmistificação da Arte em
Articulação crítica entre os conteúdos e as relação dos pressupostos com as propostas de
diferentes linguagens artísticas; planejamento.
Definições de princípios comuns que Considera-se essa agenda de pesquisa como
orientem o planejamento curricular de Arte, bem indicm Arte.
Referências
BARBOSA, Ana Mae. Tópicos utópicos. Belo hori- VIEIRA, Marcilio de Souza. Um olhar sobre os pa-
zonte: Companhia das Artes, 1998. râmetros curriculares nacionais de arte: visões, ex-
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Tradução pectativas e diálogos. Revista Educação em Questão.
de Luis Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa, Por- Natal, v. 26, n. 12, p. 185-197, maio/ago, 2006.
tugal: Edições 70, 2004.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte.
Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/ Sobre o autor:
SEF, 1998.
Marcilio de Souza Vieira
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino
Doutor em Educação, graduado em Artes Cênicas e
Médio. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília:
Educação Física, professor da Rede Pública de Ensino
MEC/SEF, 2000.
de Natal, RN, Coordenador e professor do Curso de
BRASIL. Lei de diretrizes e bases. Lei nº 5.692/71, de Educação Física da UNI-RN. E-mail: marciliov26@
11 de agosto de 1971. Brasília, v.35, p.1114 – 1125, hotmail.com
jul/set, 1971.
BRASIL. Lei de diretrizes e bases. Lei nº 9.394/96.
Recebido em: 24/05/2011
Brasília,1996.
Aceito para publicação em: 17/06/2011
FUSARI, M. F. de Rezende e; FERRAZ, M. H. C. Tole-
do. A arte na educação escolar. São Paulo: Cortez, 1993.
71