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Amor de perdição

Análise da obra

É comum, na obra de Camilo Castelo Branco, o tratamento do amor desenfreado e profundo entre jovens que lutam
por suas paixões muito além dos limites de suas próprias forças. Resistentes a toda sorte de obstáculos, procuram a
felicidade mas geralmente são desviados para a desgraça e, não raro, para a morte.

Em Amor de Perdição encontramos o traço principal da novelística passional de Camilo: a concepção do amor como
uma espécie de destino, de fatalidade, que domina e orienta e define a vida (e a morte) das personagens principais.
Marcado pela transcendência, esse amor trará consigo sempre um equivalente de sofrimento e de infelicidade: ou
porque a paixão se choca frontalmente com as necessidades do mundo social, ou porque significa, em última análise
um desejo luciferino de recuperar o paraíso na terra. Para as suas personagens, basta essa percepção do caráter
transcendente da paixão amorosa para que ela acarrete logo um cortejo de sofrimentos: o remorso, a vertigem do
abismo, a percepção de que o amor mais sublime é aquele que se apresenta e se revela, em última análise, como
impossibilidade. Por isso, nas suas novelas sentimentais desfilam tantos “mártires do amor”, tantos sofredores que, no
sofrimento, encontram a razão de ser e o sentido mais profundo da sua vida. É um marco do Ultra-Romantismo
português. Muito bem recebido pelo público em seu lançamento, acabou se tornando uma espécie de Romeu e Julieta
lusitano. Tem o traço shakespeareano onde as nobres famílias Botelho e Albuquerque vêem o ódio mútuo ameaçado
pelo amor entre Simão Botelho e Teresa Albuquerque. Simão - o herói romântico, cujos erros passados são redimidos
pelo amor -, Teresa - a heroína firme e resoluta em seu sentimento de devoção ao amado - e Mariana -, a mais
romântica das personagens, tendo em vista a abnegação, representam a dimensão amorosa, o sentimento da paixão,
ao qual se opõe o mundo exterior, a sociedade com sua hipocrisia.

A apresentação de Simão Botelho pelo narrador é essencialmente romântica: é feita de um modo a parecer real,
verdadeira, e não ficcional. Os escritores românticos utilizavam-se de recursos como este presente em Amor de
Perdição para que suas obras tivessem maior credibilidade, conquistassem a confiança do leitor.

Amor de Perdição foi um romance escrito na Cadeia da Relação do Porto, em 1861. Sub-intitulado de Memórias de
Uma Família, é baseado em episódios da vida do tio Simão Botelho. Este é o romance mais popular, já traduzido em
diversas línguas e adaptado ao teatro e ao cinema. Dele chegou a ser extraída uma ópera e, em 1986, fez-se uma
edição da obra destinada aos emigrantes portugueses espalhados pelo mundo. É considerado uma obra-prima da
ficção de língua portuguesa.

A obra não pode ser lembrada apenas como o mais bem acabado exemplo de novela passional, em que predomina o
descabelamento amoroso e as paixões desenfreadas. Deve-se também destacar o mérito de possuir uma narrativa
enxuta, concisa e extremamente criativa na invenção de obstáculos e peripécias, tornando o texto dinâmico, ágil. Na
introdução do romance, o narrador-autor reproduz o registro de prisão de Simão Botelho nas cadeias da Relação do
Porto e antecipa o degredo do moço, aos 18 anos, em circunstância ligada a uma paixão juvenil, bem como o
desenlace trágico da história. Falando diretamente ao leitor, imagina a reação que tal história pode provocar:
compaixão, choro, raiva, revolta frente à falsa virtude alegada pelos homens em atos injustos e bárbaros.

Foco narrativo

Do ponto de vista do foco narrativo, ou da postura do narrador perante a história, os elementos realistas de Amor de
Perdição estão na critica às instituições religiosas, os conventos, e no comportamento não-passional de alguns
personagens secundários, como João da Cruz, É possível perceber estes elementos nas passagens da obra em que o
narrador denuncia a corrupção do convento de Viveu e enfatiza a lealdade, o senso prático, a sensatez de João da Cruz,
relativizando assim a passionalidade predominante no romance.

Escrita em terceira pessoa, esta obra caracteriza-se por um narrador onisciente, isto é, um narrador que desvenda o
universo interior dos personagens, sabendo mais do que eles próprios, o que lhes passa pela mente e pelo coração. O
tipo de onisciência deste narrador pode ser classificado como onisciência intrusa, na medida em que ele não só revela
mas também comenta os sentimentos e comportamentos dos personagens, deixando claro o seu ponto de vista a
favor dos que amam e contra os que impedem a realização do amor
O episódio mais representativo do romance, no sentido de provocar lágrimas nos leitores românticos e risos nos
leitores realistas, ocorre no seu desfecho, quando o tema da ‘morte por amor” atinge o clímax: Teresa morre no
convento, ao sentir irreversível a perda de Simão, o qual, por sua vez, é tomado de uma febre fatal, no navio que o
levaria pura longe da amada, quando fica sabendo de sua morte. Já Mariana, apaixonada por Simão, atira-se ao mar
agarrada ao seu corpo.

Personagens

Simão Botelho - Inicialmente é apresentado como um jovem de temperamento sanguinário e violento. Perturbador da
ordem para defender a plebe com quem convive e agitador na faculdade, onde luta de forma brutal pelas idéias
jacobinistas, o seu caráter se transforma, e repentinamente, a partir do capítulo 2. É que conhecera e amara, durante
os três meses em que esteve em Viseu, a vizinha Teresa. Ele com 17 anos, ela com 15, passam a viver desde então o
amor romântico: um amor que redime os erros, que modifica as personalidades, que tem na pureza de intenções e na
honestidade de princípios as suas principais virtudes. Aliás, são as virtudes que caracterizam os sentimentos de Simão,
desde que experimenta este amor. Torna-se recatado, estudioso e até religioso, o que não o impede de sentir uma
sede incontrolável de vingança, que resulta no assassinato do rival Baltasar Coutinho. Esse ato exemplifica a
proximidade entre “o sentimento moral do crime” ou “o sentimento religioso do pecado” e a tentativa de consumação
do amor. O modo como assume este crime, recusando-se a aceitar todas as tentativas de escamoteá-lo, feitas pelos
amigos de seu pai, acaba de configurar o caráter passional do comportamento de Simão. Nem a possibilidade da forca
e do degredo, nem as misérias sofridas no cárcere conseguem abater a firmeza, a dignidade, a obstinação que
transformam Simão Botelho em símbolo heróico da resistência do individuo perante as vilezas da sociedade. Trata-se
de um típico herói ultra-romântico, em outras palavras.

Teresa de Albuquerque - Protagonista, menina de 15 anos que se apaixona por Simão, também sai adquirindo
densidade heróica ao longo da obra: firme e resoluta em seu amor, ela mantém-se inflexível perante os pedidos, as
ameaças -e finalmente as atrocidades e violências cometidas pelo pai severa e autoritário, seja pata casá-la com o
primo, seja para transformá-la em freira. Neste sentido, a obstinação que a caracteriza é a mesma presente em Simão,
com a diferença de que nela o heroismo consiste não em agir, mas em reagir. Isto por pertencer ao sexo feminino,
símbolo da fragilidade e da passividade perante o caráter viril, másculo, quase selvagem do homem romântico. Na
medida em que não faz o jogo do pai, dando a vida pelo sentimento que a possui, Teresa constitui uma heroína
romântica típica, um exemplo da imagem da mulheranjo que vigorou no Bomantismo.

Mariana - Moça pobre e do campo, de olhos tristes e belos, tem sido considerada, algumas vezes, como a personagem
mais romântica da história, porque o sentir a satisfaz, sem necessidade ao menos de esperança de concretizar-se a seu
amar par Simão. Independente do amor entre Simão e Teresa, Mariana o ama e todo faz por ele: cuida de suas feridas,
arruma-lhe dinheiro, é cúmplice da paixão proibida, abandona o pai para fazer-lhe companhia e prestar-lhe serviços na
prisão e, finalmente, suicida-se após a morte de Simão. Estas atitudes - abnegadas, resignadas e totalmente
desvinculadas de reciprocidade, fazem de Mariana uma personificação do espírito de sacrifício, o que torta a sua
dimensão humana abstrata, pouco palpável.

Domingos Botelho - O pai de Simão e Tadeu de Albuquerque, o pai de Teresa, são tão passionais, tão radicais em seu
comportamento, quanto Simão e Teresa. Entretanto, ambos podem ser considerados simetricamente o oposto dos
heróis, na medida em que representam a hipocrisia social, o apego egoísta e tirano à honra do sobrenome, aos
brasões cuja fidalguia eé ironicamente ridicularizada, desmoralizada pelo narrador.

Baltasar Coutinho - O primo de Teresa assassinado por Simão, acrescenta à vilania do tio, de quem se faz cúmplice, a
dissimulação, o moralismo hipócrita e oportunista de um libertino de 30 anos, que covardemente encomenda a
criados a morte de Simão. Em suma, nele se concentram toda perversidade, toda a prepotência dos fidalgos. Tal
personagem constitui. sem nenhuma duvida, o vilão da historia.

João da Cruz - O pai de Mariana, destaca-se como personagem mais sensato, mais equilibrado, o único personagem
que possui traços realistas, de Amor de Perdição. Ferreiro e transformado em assassino numa briga, João da Cruz
consegue de Domingos Botelho, pai de Simão, a liberdade. Em nome dessa divida de gratidão, torna-se protetor do
herói com palavras sempre oportunas, lúcidas, estratégicas, e com atos corajosos e violentos, quando necessário. A
sua linguagem cheia de provérbios e ditados populares, a simplicidade de sua vida, somadas ao amor que dedica á
filha, por quem vive, desfazem aos olhos do leitor os crimes que comete e os substituem por uma honradez, uma
bondade inata. forte e viril, que nos parecem representativas da visão do autor a respeito das coroadas rurais em
Portugal.

Enredo

Na introdução do romance, o narrador-autor reproduz o registro de prisão de Simão Botelho nas cadeias da Relação do
Porto e antecipa o degredo do moço, aos 18 anos, em circunstância ligada a uma paixão juvenil, bem como o
desenlace trágico da história. Falando diretamente ao leitor, imagina a reação que tal história pode provocar:
compaixão, choro, raiva, revolta frente a falsa virtude alegada pelos homens em atos injustos e bárbaros.

Passa então a contar a história da família de Simão Botelho. Principia acompanhando a trajetória de seu pai, Domingos
Botelho, que, formado em Direito, inicia sua carreira em Lisboa, onde cai nas graças dos reis. Na Corte, se apaixona
por uma dama de D. Maria I, D. Rita Castelo.

Após dez anos de tentativas de aproximação e conquista, casam-se por fim em 1779. Em 1801, estão fixados em Viseu,
em companhia de suas três filhas. Seus dois filhos estudam em Coimbra. Manuel, o mais velho, muito reclama de seu
irmão Simão, ao que o pai não dá muitos ouvidos. Antes até se orgulha de sua valentia e dos resultados acadêmicos de
Simão. Mas quando Simão, em férias em casa, se mete numa briga, em defesa de um criado que fora espancado, seu
pai enfurecido o quer ver preso. Sua mãe o ajuda na fuga para Coimbra, onde aconselha que o filho aguarde aplacar a
fúria do pai.

Simão, no entanto, mais seguro de si e de sua coragem do que nunca, começa a defender publicamente a Revolução
Francesa e, por isso, acaba retido em cárcere acadêmico por seis meses. Perdido o ano escolar, retorna à casa dos seus
pais. Domingos Botelho se mantém frio e distante, não dirigindo a palavra ao filho.

Grande e misteriosa transformação vai se operando em Simão, que muda completamente seu comportamento: sai
pouco, fica longamente no próprio quarto, mantendo-se pensativo. Tal transformação faz com que, findos cinco meses,
o pai consinta que o filho lhe dirija à palavra. Desconhece a esse momento Domingos Botelho a real razão da mudança
de seu filho: o rapaz nos seus 17 anos está apaixonado pela filha do vizinho, um inimigo de seu pai. A inimizade tinha
se concretizado quando Domingos Botelho dera sentenças contrárias aos interesses de Tadeu de Albuquerque e
azedado mais um vez quando Simão machuca empregados de Tadeu em recente briga.

Por três meses, Simão e Teresa encontram-se e falam às escondidas, sem levantar nenhuma suspeita. Sonham casar-se
e fazem planos para concretizar seus desejos de vida em comum.

Na véspera do retorno de Simão à Coimbra, os enamorados falam-se pela janela, quando subitamente Teresa é
arrancada da frente de Simão. É seu pai, reagindo fortemente ao flagrante. Simão se desespera, tem febre, mas assim
mesmo parte para Coimbra, com o plano de retornar secretamente para se comunicar com Teresa. Momentos antes
de sair em viagem recebe da mão de uma mendiga um bilhete, em que Teresa lhe revela as ameaças de seu pai de
encerrá-la num convento. Pede, no entanto, que Simão siga para Coimbra, garantindo que se manterá em contato.
Rita, a irmã caçula de Simão, e Teresa começam a travar uma amizade secreta, com conversas sussurradas através das
janelas. Numa destas conversações são flagradas e Rita, ao ser pressionada pelo pai, conta tudo o que sabe.

Tadeu de Albuquerque percebe também o incidente, mas se mantém tranqüilo. Não que tenha passado a ver com
melhores olhos o namoro: tem para consigo mesmo a convicção de que o melhor remédio para curar aquela paixão é
o silêncio e a distância. Planeja secretamente casar a filha com um primo, Baltasar Coutinho. Chama logo o rapaz a
Viseu, conta seus planos e lhe incentiva a cortejar a filha. Teresa, no entanto, se nega a Baltasar, que insiste em
conhecer suas razões: quer ouvir a confissão da prima sobre seu rival. Jura se pôr contra àquela relação, substituindo o
tio neste função se necessário.

Tadeu reage fortemente à atitude de sua filha, sentindo-se ofendido no seu direito de pai e decide mandá-la para o
convento. Mas nada faz de imediato. Teresa manda semanalmente cartas a Simão, mas lhe esconde as principais
ameaças, sobretudo o que escutou de seu primo Baltasar, para evitar um confronto entre os dois. Seu pai, no entanto,
trama em segredo sua cerimônia de casamento com Baltasar. Novamente, Teresa se nega. Desta vez, tudo relata a
Simão. O rapaz inicialmente tem ímpetos de se vingar, mas, para preservar a possibilidade de felicidade dos dois, acaba
por conter-se.
No meio tempo, aluga um cavalo e, quando o arreeiro vem trazer-lhe a montaria, pede-lhe indicação de um refúgio em
Viseu. Fica acertada uma hospedagem na casa do primo do arreeiro, o ferrador João da Cruz. O arreeiro encaminha
correspondência para Teresa. Ao longe, Simão percebe que na casa de sua amada está acontecendo um festa.

É uma nova investida de Tadeu. Planeja agora propiciar convívio social a Teresa, na esperança que assim ela deixe de
teimar em amar o único rapaz que conhece. O primo Baltasar se encontra entre os convidados e observa todos os
passos de Teresa. Percebe assim quando Teresa sai da sala e se dirige ao fundo do quintal. A menina volta logo, mas o
primo continua a observá-la e, numa segunda escapada, a segue até o jardim. Teresa percebe seu vulto e se assusta,
retornado a casa. Ao pai, Teresa alega que está sentindo dores. Mas como o primo Baltasar não é encontrado na sala,
Teresa se oferece para ir procurá-lo lá fora. Aproveita a oportunidade para ir ao encontro de Simão que a esperava
junto ao muro e dizer que retorne no dia seguinte. Baltasar, ainda escondido, denuncia sua presença a Simão e o
ameaça, sem contudo revelar sua identidade.

Trocam os enamorados correspondência. Simão passa o dia na casa do ferrador, que lhe revela se sentir a ele unido
por dever de gratidão: o ferrador escapou há três anos da forca por intermédio do pai de Simão. Coincidentemente, há
mais tempo ainda, foi empregado de Baltasar Coutinho, que lhe emprestou dinheiro para se estabelecer e, há coisa de
poucos meses, lhe chamou pedindo que matasse um homem: o próprio Simão. O ferrador fora na ocasião contar tudo
a Domingos Botelho, que, reagindo muito, pôs-lhe a par de toda a situação. O ferrador aconselha-o a tentar resolver a
história por alguma outra via, mas Simão insiste em ir ver Teresa à noite. O ferrador então se prepara para acompanhá-
lo.

Seguem a Viseu Simão, o ferrador e o arreeiro. Baltasar Coutinho e dois homens estão preparando uma tocaia. Ambos
os grupos discutem suas estratégias. Simão mal se avista com Teresa e o clima fica tão tenso e perigoso, que o grupo
planeja a retirada. No caminho, encontram mesmo os homens de Baltasar; matam um e ferem o outro. Simão tenta
dissuadir João da Cruz a consumar o segundo assassinato, mas o ferreiro não o escuta. Os crimes permanecem um
mistério, sem testemunhas e sem ninguém em condições de denunciá-los, já que todos os envolvidos têm sua parcela
de culpa e participação.

No embate, Simão fora ferido e passa por temporada de recuperação na casa do ferreiro. É cuidado por Mariana, de
quem aos pouco descobre o amor.

Enquanto isso, Teresa é levada provisoriamente ao convento de Viseu, enquanto não se completam os preparativos
para sua transferência para o convento de Monchique, no Porto. É introduzida de imediato nas intrigas e vícios das
freiras, seus namoros e vida sexual, o consumo de bebida, as disputas pelo poder. Mas ainda assim encontra o favor de
uma das freiras, que se compromete a restabelecer sua correspondência com Simão. À noite, quase no escuro, Teresa
escreve carta para Simão.

O rapaz, ao receber a carta com notícias do convento, escreve resposta e pede que o ferrador se encarregue de
encaminhá-la. O ferrador percebe que o rapaz está quase sem dinheiro e com a filha inventa uma forma de resolver
também este problema de Simão: dizem que a mãe lhe enviou dinheiro.

Prepara-se a mudança de Teresa para Monchique e cresce a desesperança dos amantes. Sonham com a fuga. Simão,
ao saber que é eminente a ida de Teresa para o Porto, fica transtornado e se prepara para tentar raptá-la. Envia por
Mariana uma carta, entregue em mãos a Teresa no convento. Em resposta a Simão, Teresa manda dizer que de nada
adiantam os planos de fuga porque uma grande escolta a acompanha na viagem, incluindo o primo Baltasar... Simão se
aflige em especial com este detalhe da notícia. Resolve assim mesmo ir ver Teresa à saída do convento e João da Cruz
se prontifica a acompanhá-lo, com um grupo, para que possam proceder a um rapto. Simão não aprova o plano, mas
mantém em segredo a decisão de ir ver Teresa.

Noite alta, Simão aguarda nas proximidades do convento. Às quatro e meia, começa a movimentação da comitiva,
formada por Tadeu de Albuquerque, criados, Baltasar e suas irmãs. Tão logo saem todos, Simão os intercepta.
Agredido verbalmente por Baltasar, reage e, quando o rival avança, responde com um tiro de pistola. Neste momento,
surge o ferrador que incita Simão fugir. Simão, no entanto, se recusa.

O meirinho-geral, vizinho do convento, chega rapidamente e lhe sugere novamente a fuga, que novamente é recusada.
O crime rapidamente chega ao conhecimento da família Botelho. As irmãs choram, a mãe espera que o pai interceda
favoravelmente ao filho, mas Domingos Botelho é duro: espera que a lei se cumpra com rigor. A situação de Simão é
péssima: confessa tudo, sem nem alegar legítima defesa. O pai se nega inclusive a lhe financiar o conforto e as
primeiras necessidades na cadeia e decide mudar com a família de Viseu, para que ninguém se sinta coagido a facilitar
a situação de Simão.

Já na cadeia, Simão recebe almoço mandado por sua mãe e acompanhado de uma carta. Pelos dizeres da mãe, acaba
por concluir que a ajuda que recebera anteriormente não viera dela e passa a recusar qualquer auxílio materno. Em
seguida, recebe cuidados de Mariana, que providencia mobília para a cela e o alimenta durante o período de espera
do julgamento. Simão é condenado à forca. Mariana, tão logo sai a sentença, sofre de um ataque de loucura.

Amigos, conhecidos, familiares e sobretudo sua mãe, Rita, pressionam seu pai a interceder em seu favor, mas
Domingos Botelho, residindo afastado da família, resiste a fazê-lo. Até que um tio o põe contra a parede. Domingos
Botelho age, movido também pelo prazer em se mostrar mais influente que Tadeu de Albuquerque. Consegue assim a
comutação da pena do filho para um degredo de dez anos na Índia.

Enquanto isso, Teresa se encontra no convento de Monchique, no Porto. Acompanhada de uma criada, Constança, e
bem tratada pela sua tia, prelada do convento. Consegue brecha para mandar carta a Simão, onde manifesta que
também se sente à espera da morte. Cai doente e só apresenta alguma melhora ao receber notícia de que Simão será
transferido para o Porto. Temendo estarem os dois enamorados na mesma cidade, Tadeu planeja mudar Teresa
novamente para Viseu. A tia prelada, usando para tanto das normas do convento, o impede de levar a filha.

Na cadeia da relação no Porto, Simão recebe a visita de João da Cruz, que vem acompanhado da filha, já recuperada.
Mariana quer novamente servir a Simão. Também restabelece-se a possibilidade de correspondência com Teresa.

João da Cruz retorna a Viseu, deixando Mariana com Simão. Pouco depois é morto em vingança de um antigo crime.
Mariana então retorna a Viseu e vende tudo o que seu pai lhe deixou, com a intenção de estar livre para acompanhar
Simão no seu degredo.

Uma última decisão judicial ainda permitiria que Simão cumprisse sua pena na prisão de Vila Real, mas este se recusa
a aceitar tal mudança. Prefere a liberdade de poder ver o céu e sentir o vento em país estrangeiro do se manter em
uma cela. Teresa ainda tenta mudar-lhe a decisão, mas não consegue. Passam-se ainda alguns meses até que em 17 de
março de 1807 Simão da Botelho embarca para a Índia. Mariana, sem maiores dificuldades, consegue um lugar à
bordo.

Simultaneamente, no convento, Teresa relê uma a uma as cartas de Simão, as enlaça e entrega para Constança com o
pedido de que sejam entregues a Simão. Às nove da manhã sobe para o mirante, de onde é possível assistir à partida
dos navios. Simão pede a Mariana que lhe mostre o convento e vê Teresa acenando. Lá mesmo no mirante, Teresa
morre. O capitão do navio conta a Simão detalhes da morte de Teresa e promete a esse que, caso algo lhe aconteça,
reconduzira Mariana a Portugal.

Nesta noite, Simão lê a derradeira carta de Teresa, que lhe chegou junto ao maço de correspondência. Na manhã de 28
de março, morre em alto-mar Simão Botelho, depois de sofrer durante nove dias febres e delírio. No mesmo instante
que os marujos arremessam o corpo de Simão ao mar, Mariana se atira.
Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco, filho ilegítimo de Joaquim Botelho e de Jacinta Maria, nasce em Lisboa, a 16
de março de 1825.

A biografia de Camilo é uma novela camiliana. A sua vida é uma sucessão de acontecimentos trágicos: com um ano e
meio de idade perde a mãe e, aos dez, o pai. De início, vive o estigma da ilegitimidade e orfandade – temas
recorrentes em toda a sua obra.

É enviado, então, com a irmã mais velha, para morar em Vila Real (Trás-os-Montes) com a tia paterna, Rita Emília, que
lhe conta histórias de seu tio Simão Botelho, que será o herói de Amor de Perdição. Depois passa a viver com a irmã
mais velha em Vilarinho da Samardã (freguesia do concelho de Vila Real) e estuda latim e textos religiosos com o
cunhado da irmã, o padre António de Azevedo.

Aos 16 anos casa-se com uma aldeã de quinze anos, Joaquina Pereira de França, e passa morar com ela e com o sogro
em Friúme (lugar conhecido também por Ribeira da Pena). Continua os estudos com os padres das aldeias por onde
passou. Aprende francês, lê os clássicos gregos e latinos, os portugueses, além de muita literatura católica. É um
grande observador da vida e dos hábitos do povo das serras, das gentes simples de Trás-os-Montes, o que se pode
observar nos seus romances e novelas. Participou episodicamente em restos de guerrilhas miguelistas.

Abandonou a esposa e filha (Rosa), indo para o Porto, onde se matriculou no curso de Medicina. Contudo, deixa a
faculdade dois anos depois; em seguida matricula-se em Direito, curso que também acaba por abandonar.

Mas foi no Porto que começou sua aventureira e tormentosa vida amorosa; o seu drama pessoal. Aos 21 anos, foge de
Vila Real para o Porto com uma outra jovem Patrícia Emília, órfã e prima. Camilo é acusado de bigamia, é condenado e
passa algum tempo preso.

Em 1847 morre sua esposa, Joaquina Pereira; no ano seguinte, morre sua filha Rosa; nesse mesmo ano, Patrícia Emília
tem uma filha.

A partir de 1848, fixa residência no Porto e passa a fazer parte das tertúlias literárias. É um rapaz impulsivo, escreve
para os jornais e envolve-se constantemente em campos de duelo (ferido) por amores e por rixas literárias. Por esse
tempo passa a fazer parte de círculos literários como autor de peças teatrais e surgem aí as suas primeiras novelas, sob
a forma de folhetins, nos jornais O Nacional e O Eco Popular.

Nessa ocasião, envolve-se com uma freira, a jovem Isabel Cândido Moura, que lhe educará a filha Bernardina Amélia,
nascida em 1847, da sua relação com Patrícia Emília; depois passa a viver com uma humilde costureira; tem
envolvimento com a poetiza – Maria de Felicidade do Couto Browne – e outros casos com mulheres da sociedade.

Finalmente, o seu grande envolvimento amoroso é com Ana Plácido, mas, por imposição paterna, esta casa-se com um
rico comerciante “brasileiro” que regressa de viagem (Manuel Pinheiro Alves), o que origina em Camilo uma profunda
depressão e aversão a figuras de portugueses enriquecidos no Brasil que regressavam sem cultura nem princípios
morais, como ele os caricatura em muitas das suas novelas, apresentando-os como figuras grotescas.

Tal crise desencadeia nele, da mesma forma que o faria no coração de seus heróis, uma “vocação” religiosa. Passa dois
anos (1850 – 1852) num seminário do Porto, à imitação do infeliz Eurico, o Presbítero de Alexandre Herculano,
pretendendo ser padre. Nesse tempo, escreve artigos para jornais absolutistas e clericais.

Seis anos depois, já é novelista reconhecido pelo público e pela crítica. Ana Plácido deixa o marido para viver com o
amante, o que era nesse tempo um escândalo passível de ação judiciária. O escândalo traz notoriedade a Camilo. O
casal, perseguido pela justiça, passa algum tempo fugitivo, escondendo-se em vários lugares, até que os dois amantes
se veem forçados a entregar-se à prisão (Ana em maio e Camilo em outubro). Acusados de adultério, ambos, são
remetidos para a Cadeia de Relação do Porto.

O cárcere durou um ano e dezasseis dias, período em que recebe a visita do rei D. Pedro V. Aí, Camilo ocupou o tempo
a escrever, entre outros escritos, num momento psicológico de alta tensão trágica, em 15 dias, o Amor de Perdição
(1862).

Julgados em tribunal, foram absolvidos do processo porque o marido de Ana Plácido morre e, portanto, termina o
crime de adultério. Passam a viver juntos, finalmente.
O resto é suplício de um homem que se torna forçado a produzir por encomendas. É o escritor mais lido de Portugal.

Em 1864, transfere-se para São Miguel de Seide, para uma quinta da propriedade do filho de Ana Plácido, mulher com
quem viveu até seus últimos dias. O isolamento é quebrado somente por curtas ausências, sendo as mais longas no
Porto.

Esta vida em comum não é pacífica e muitos dramas a tornam lúgubre: nesse tempo já apresentava sinais de doença.
O seu estado de saúde agravou-se em 1867, o que não o impediu de produzir dezenas de obras. Os factos trágicos
pareciam não lhe dar descanso: a morte de Manuel Plácido, com 19 anos (que nascera em 1858 e que se pensa ser
filho de Camilo, apesar de nessa altura Ana Plácido viver ainda com o marido); a loucura do filho Jorge (possivelmente
seria esquizofrénico); a vida boémia do filho Nuno.

Numa atitude tipicamente romântica, pondo em prática, por exemplo, um plano disparatado para raptar uma jovem
herdeira rica, que casará com Nuno, à maneira dos heróis das suas novelas (1881). A jovem acaba por morrer três anos
mais tarde, de tuberculose, assim como a filha que entretanto nascera, continuando Nuno a sua vida de leviandade.
Este é expulso de casa, depois de uma briga.

As dificuldades financeiras obrigam Camilo a vender, em leilão, a sua preciosa biblioteca – 5.000 volumes
minuciosamente escolhidos, reunidos ao longo de quarenta anos. Camilo tenta obter o título de visconde (assim como
Garrett e Castilho) e faz o possível para que Nuno também possa usufruir desse título, na esperança que isso o ajude a
mudar de vida. Essa luta pelo título nobiliárquico desenrola-se de 1870 a 1885, sendo-lhe finalmente concedido o
ambicionado título (e ao filho dois anos depois).

Enfim, o casamento do escritor com Ana Plácido ocorre em 9 de março de 1888. Como se todo aquele sofrimento não
bastasse, Camilo já estava quase cego, em consequência de uma sífilis crónica, mas o escritor nutria esperanças, ainda,
de voltar a ver. Depois de ser consultado, em casa, o médico comunica que a cegueira é irreversível, e enquanto Ana
Plácido acompanha o doutor até a porta, Camilo suicida-se com um tiro no ouvido direito, assim, acabava o mais
importante e prestigiado escritor do ultrarromantismo em Portugal, exatamente, às 15h15 do dia 1º de junho de 1890.

Figura 1 – Camilo castelo Branco

A obra…

Como é dispensável a citação das centenas de obras do autor para o que se propõe o presente trabalho, transcrevi
apenas algumas de suas produções mais relevantes:

Poesia

. Os Pundonores Desagravados (1845, obra de estreia)


. Inspirações

. Um Livro

. Nostalgias (1888)

. Nas Trevas (1890)

Novelas

. A Última vitória de um conquistador (1848, 1ª novela, em oito folhetins, no Eco Popular)

. Onde está a Felicidade?

. Amor de Perdição (1862)

. Amor de Salvação (1864)

. A doida do Candal

. Novelas do Minho

. Carlota Ângela

. O Romance de um homem rico

Novelas de terror, mistério e aventura

. O Livro negro do padre Dinis

. Coisas espantosas

. Os Mistérios de Lisboa

. O Esqueleto

. O Demônio do Ouro

. Novelas histórias

. Luta de gigantes

. O Santo da Montanha

. O Judeu (Antônio José da Silva)

. O Olho de Vidro

. O Regicida

. A Filha do Regicida

. A Caveira do Mártir

Novelas e Romances Satíricos (nesta última fase da sua carreira, Camilo foi influenciado pelo romance naturalista, que
caricaturou nas obras A Corja e Eusébio Macário):

. Anátema (1851, 1º romance)

. Coração, Cabeça e Estômago

. O que fazem as mulheres

. Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado


. A Queda dum Anjo

. O Eusébio Macário

. A Corja

. A Brasileira de Prazins (o tratamento sério dado à obra mostra a assimilação, embora parcial, do Realismo-
Naturalismo).

. Vulcões de Laura

Teatro

. O Marquês de Torres Novas

. Agostinho de Ceuta

. O Condenado (obra de circunstância, baseada no assassinato de Claudina Adelaide Vieira de Castro por seu marido, o
escritor e famoso parlamentar José Cardoso Vieira de Castro, amigo de Camilo).

Amor de Perdição

A estética de Camilo é a estética de ambiguidade, não só por esta adesão/repúdio do romantismo que se manifesta de
forma mais ou menos explícita mas por uma série de outros processos formais, estilísticos, discursivos. A sua visão do
mundo, sempre dualista, revela-se nos títulos dos seus livros (Amor de Salvação/Amor de Perdição; Estrelas
Propícias/Estrelas Funestas; O Bem e o Mal) e até na organização e títulos dos capítulos.

Dividido em vinte capítulos, mais a introdução e a conclusão, o livro segue uma sucessão temporal rigidamente
cronológica. Amor de Perdição tem como subtítulo Memórias de uma família. De facto, o autor narra episódios da
família Correia Botelho, ou seja, muitas das situações vividas pelo escritor e de sua própria família. Seus fundamentos
são históricos, embora não se possa determinar com exatidão até onde vai a verdade histórica, onde começa a
fantasia. Simão Botelho existiu na realidade. Por trás dele, tio de Camilo, o próprio escritor apaixonado e
desequilibrado.

Ficha de leitura

. Enredo

Nesta obra, há uma coincidência com a vida do autor: é certo que a obra de Camilo e a sua vida foram lidas uma em
função da outra, como reforço mútuo. E essa conjunção produzia um determinado sentido, tinha uma consequência
estética. A maneira como Camilo, que era um homem que vivia da pena, fez render esse ponto, com a legenda que
criava em torno de si mesmo.

O detalhe notável é a constante referência de Camilo ao fato de escrever para viver, e de ter, assim, de dar ao público o
que ele quer comprar. A novela passional é originada pelo clima emocional da época que foi absorvido pelo mundo
novelístico de Camilo e nessa atmosfera satura de paixão e lágrimas, de grandezas e misérias, as personagens movem-
se, tal como acontece com o seu criador, não só pelos impulsos próprios, mas também pela estimulação do meio
mórbido em vivem. E, ainda, que a família de Camilo era da mesma espécie de “brigões” e “cobiçosos” que havia a
rodo em Portugal no correr do século XIX, na crise que se seguiu à independência do Brasil.

Quanto à família da qual proveio Camilo, eis o apanhado mais geral: um avô magistrado reconhecidamente corrupto;
um tio assassino – o tema de Amor de Perdição – que, depois de mil tropelias pouco românticas, acabou degredado
para a Índia; uma tia de má fama, concubina de um ricaço, cuja fortuna esbanjou depois de espoliar a herança da filha
de seu primeiro casamento e também a dos seus sobrinhos (Camilo, entre eles); o pai, que viveu amancebado
sucessivamente com três criadas.
Esta obra-prima da ficção de língua portuguesa parece ter encontrado na tragédia Romeu e Julieta, de Shakespeare,
uma referência marcante da novela passional de Camilo, que segundo o filósofo e escritor espanhol Miguel de
Unamuno é a maior novela de amor da península Ibérica.

O romance reúne, em síntese, elementos típicos de uma mundividência que tem raízes na cultura portuguesa,
particularmente na sua expressão literária, desde épocas remotas.

Dois quartos da novela constam de uma lenta narração sobre o namoro entre Simão Botelho e Teresa de Albuquerque,
a separação do casal por rixas familiares, a obstinação de Teresa mantendo-se fiel a Simão, não cedendo à insistência
do pai, Tadeu de Albuquerque, em casá-la com o fidalgo Baltasar Coutinho.

Por outro lado, Simão, estudante em Coimbra, regressa a Viseu, resolvido a resgatar a amada, mantida num convento,
à guisa de castigo por sua teimosia. Simão, que não conta com o apoio de sua própria família, mantém-se escondido
na casa de João da Cruz, um ferrador. Contando com a cumplicidade do ferrador e da filha Mariana, o jovem está a
salvo. Mariana apaixona-se pelo hóspede e auxilia-o de todas as formas, no sentido de que comunique com a amada
Teresa.

O capítulo 10 pode ser considerado o clímax da narrativa: é quando se dá a morte de Baltasar Coutinho. Simão Botelho
tenta encontrar-se com Teresa, aquando da mudança do convento de Viseu para Monchique. Baltasar provoca-o e
Simão atira matando-o. Assim os acontecimentos precipitam-se.

Os outros dois quartos da novela, ou seja, do capítulo 11 em diante, preparam o desenlace trágico. Simão é preso na
cadeia da Relação, no Porto. Teresa é mantida enclausurada no convento de Monchique, também no Porto. Julgado e
condenado à morte na forca, Simão passa os dias em desespero, tendo ao lado a fiel companhia de Mariana.
Domingos Botelho, pai de Simão e corregedor, nega-se a auxiliar o filho e só o faz tardiamente, quando então
consegue comutação da pena e um degredo para as Índias.

O final trágico dá-se quando da partida de Simão para o exílio. Teresa assiste do mirante do convento à passagem do
navio que leva a seu amado e vem a falecer. Simão, não resistindo à dor de perder a amada, também morre, no navio.
Mariana suicida-se, abraçada ao cadáver do jovem, já lançado ao mar.

Aplicação das categorias da narrativa:

Acção:

A acção é fechada, pois o público é informado sobre o destino final das personagens centrais (Simão, Teresa e
Mariana). A ação é formada a partir de uma sucessão de sequências narrativas, ligadas por casualidade. Contudo os
acontecimentos posteriores são sempre uma consequência dos anteriores - encadeamento.

· Sequências narrativas ligadas à intriga central:

- nascimento de Simão Botelho;

- visão mútua de Simão e de Teresa e nascimento do seu amor;

- relação secreta entre Simão e Teresa;

- simão hospeda-se em casa de João da Cruz;

- encontro entre Simão e Baltazar;

- Teresa é mandada para o convento de Monchique e, posteriormente, para um convento no Porto;

- Simão mata Baltazar e recusa fugir à polícia;

- Simão é condenado à morte, por enforcamento;

- morre João da Cruz;

- partida de Simão para o degredo;

- morte de Teresa;
- morte de Simão;

- suicídio de Mariana.

Pode ser considerada uma obra de ação aberta: Camilo convida o leitor a fazer uma reflexão acerca dos preconceitos
existentes e caducos, em Portugal, sobre o amor.

· Interação das personagens centrais:

- afastamento crescente dos amantes, partindo de uma rua até à despedida de Teresa que parte para o convento de
Monchique;

- adiamento do encontro dos amantes no Céu: representação metafísica e romântica do amor.

- Mariana cada vez se aproxima mais de Simão, apesar de classes sociais diferentes, desde o primeiro encontro até ao
suicídio de Mariana;

- movimento ultrarromântico, há a ligação em vida e após a morte.

Narrador

Não participante – heterodiegético – é apenas narrador, não é personagem, recorrendo à terceira pessoa gramatical; é
omnisciente, pois tem um conhecimento total e absoluto sobre a história e as personagens dessa história: sabe o que
é exteriormente observável, mas também o que faz parte do interior das personagens; o narrador é judicativo/ parcial,
pois expressa opiniões e emoções.

Espaço

O espaço físico, em Amor de Perdição, conhece um afunilamento progressivo à medida que a acção trágica se
encaminha para o seu clímax e, posteriormente, para o desenlace final. Assim, de um espaço amplo exterior onde as
personagens evoluem livremente, passa-se para um espaço fechado e reduzido onde as personagens são
encarceradas. Este espaço reduzido simboliza a prisão da própria vida, visto que estão enclausuradas na dimensão da
própria tragédia.

Verifica-se, ainda, que, quanto maior é a privação de liberdade, menor é o espaço onde evoluem as personagens.

Alguns elementos relacionados com os espaços que adquirem uma simbologia importante nesta obra:

· as grades: além das grades materiais que impressionam Simão, simbolizam os obstáculos sociais que motivam o seu
encarceramento.

· a janela: é a ligação entre o interior e o exterior; é conotada, simbolicamente, com a interioridade de Simão e de
Teresa e com a sociedade. Funciona, ainda, como a cisão entre as personagens e ao espaço social onde estão
inseridos. Associada aos olhos, que são o “espelho da alma”, refletem o interior psíquico das personagens que se situa
a outros níveis presentes na obra, através dos sentimentos dos protagonistas: aqui (hostil) que se opõe ao além
(esperança e ilusão fecundante).

· os fios: simbolizam a ligação eterna dos amantes (cartas) que não se desfaz após a morte, é uma união total do par
amoroso. Os próprios amantes acreditam nessa união eterna (as cartas são testemunhas dessa teoria). O fio é também
o símbolo do destino (mito das 3 moiras). O tempo liga-se directamente ao destino que terá de ser cumprido. Com a
morte esse fio quebra-se, Mariana antes de suicidar lança as cartas e o seu avental ao mar reatando de novo os
amantes.

· o mar: é fonte de vida, o corpo de Simão, metaforicamente, sítio de renascimento. O mar espelha o céu, espaça onde
os amantes poderiam consumar o seu amor puro, pois na terra eram condenados pelos homens.

· o avental: assume um valor polissémico, ligado à condição social de Mariana e o seu sofrimento; ela limpa as suas
lágrimas quando chora por Simão. Referências ao seu estado de loucura, quando Simão está na prisão, num caixote
encontram-se as cartas de Teresa e o avental de Mariana. A sua simbologia reúne o trabalho e o martírio, significando
o percurso de Mariana na terra que é uma forma de purificação.

Desta forma, continua presente, simbolicamente, a tragédia do triângulo amoroso, vitimado por um destino que os
conduz à morte, única solução para a realização de uma vida cujos anseios mais profundos das personagens eram
irrealizáveis.

Tempo:

· tempo diegético (tempo vivido pelas personagens) – acção decorre entre os finais do século XVIII e início do século
XIX.

O tempo diegético (tempo da história) caracteriza-se por:

· a cronologia;

· a linearidade.

Na introdução, abarcam-se 40 anos, são os antepassados de Simão.

A acção decorre em 6 anos (1801 - 1807):

· 1801, Domingos Botelho corregedor em Viseu, Simão tem 15 anos.

· 1803, Teresa escreve uma carta a Simão, revelando as intenções de seu pai de a enviar para um convento.

· 1804, Simão é preso.

· Prisão de Simão de 1805 a 1807. Antes de embarcar para o degredo, fica 20 meses na prisão.

· 17/3/1807, Simão parte para a Índia.

· 28/3/1807, ao romper da manhã, Simão morre.

· tempo do discurso (forma como o narrador elabore o seu relato).

Visto que o discurso é linear, o narrador segue a ordem cronológica dos acontecimentos (podemos referir, no entanto,
a analepse em que João da Cruz conta a forma como matou o almocreve; há resumo na introdução).

Conotações simbólicas do estado do tempo:

Simão morre “ao amanhecer, depois de um formoso dia de Primavera” (o dia 28 de Março), que se seguiu a vários dias
de tempestade. A primavera e a manhã estão conotadas com a luz, com a pureza de um tempo, ainda libertos de
corrupção. Trata-se de um momento de promessa e de felicidade. Assim, da escuridão e da morte, relacionadas com o
caos, nasce o amor verdadeiramente purificada por um tempo transcendente ao dos humanos – é o período da
realização e da plenitude.

É ainda importante notar que, ao sétimo dia de viagem, acalmou a tempestade – o número 7 corresponde ao dia da
Ordem, aquele em que, após a criação do mundo, Deus descansou. O 7 remete para a luz e para a plenitude temporal.
E, ao nono dia, Simão delira pela última vez e são as cartas e as promessas de felicidade que ecoam na sua memória. O
9 é o número da gestação, o do final de um ciclo para iniciar outro.

Personagens:

· Simão

- nasceu em 1784.

- tinha 15 anos, à data de inicio da ação, em 1801; estuda humanidades em Coimbra.

- apresenta características hereditárias psíquicas e fisionómicas (anúncio do realismo): “génio sanguinário”, rebeldia e
coragem, inconformismo político – herança de seu tio paterno, Luís Botelho (que matara um homem, em defesa de
seu irmão Marcos) e de seu avô paterno, Fernão Botelho (que fora encarcerado por suspeita de uma tentativa de
regicídio, em 1758 (cf. Cap. I) e ainda de seu bisavô Paulo Botelho Correia (que era considerado “o mais valente fidalgo
que dera Trás-os-Montes” (cf. Cap. I). É belo como a sua mãe, ainda que viril.

- após a visão de Teresa, Simão transforma-se: distancia-se da ralé de Viseu; torna-se caseiro; cumpre os seus deveres
de estudante; passeia pelo campo, procurando o espaço natural, em detrimento do espaço social.

- quando Teresa é obrigada a sair da janela, local onde via Simão e, posteriormente, quando lhe comunica o desejo do
seu pai de que ela se case com o seu primo Baltasar, Simão revela-se de novo rebelde. A par desta faceta, irá porém
surgir uma outra: a sua nobreza de alma, que se manifesta no momento em que deseja poupar um dos criados de
Baltasar, que tentara matar Simão, pelo facto de o homem se encontrar ferido.

- surge, entretanto, mais outra faceta de Simão: a de poeta, que se manifesta nas cartas que escreve a Teresa (cf. Cap.
X).

- o seu sentimento exacerbado de honra é também notável – ele manifesta-se pelo facto de Simão enfrentar sempre
aqueles que se lhes opõem, pelo facto de se ter negado a fugir, depois de ter morto Baltasar, em legítima defesa, e
ainda por recusar qualquer ajuda da família, aceitando a sua condenação à forca e, depois, ao degredo. O seu código
de honra conduzi-lo-á, em última análise, à sua tragédia. Este sentimento valer-lhe-á a admiração de personagens
como João da Cruz e ainda daquelas que se situam numa esfera social marcada por valores conservadores, como é o
caso do desembargador Mourão Mosqueira.

- o sentimento de dignidade é, por outro lado, inseparável da possibilidade de realização do seu amor – é assim que
Simão não acede ao pedido de Teresa, para que cumpra os dez anos de pena, em Portugal, na cadeia, afirmando:
“Quero ver o céu no meu último olhar, não me peças que aceite dez anos de prisão. Tu não sabes o que é a liberdade
cativa dez anos! Não compreendes a tortura dos meus vinte meses.” Com efeito, para Simão o amor associa-se à
liberdade e à sua integridade pessoal. Simão representa o herói romântico antissocial, por excelência. Ele significa a
oposição a uma sociedade podre e aos seus valores anti-humanos. Na sua última carta a Teresa, incluída no Cap. XIX,
escreve: “Vou. Abomina a pátria, abomina a minha família; todo este solo está nos meus olhos coberto de forcas, e
quantos homens falam a minha língua, creio que os ouço vociferar as imprecações do carrasco. Em Portugal, nem a
liberdade tem opulência; nem já agora a realização das esperanças que me dava o teu amor, Teresa!”.

§ morre a 28 de março de 1807, no beliche do navio que o transportava para o degredo e o seu corpo é lançado ao
mar.

· Teresa

- tem 15 anos.

- destaca-se pela sua beleza.

- é o paradigma da mulher-anjo, pela sua delicadeza e pela grandiosidade dos seus sentimentos.

- revela autonomia, para a época, sobretudo, quando se recusa a casar com Baltasar.

- é astuta, determinada e orgulhosa.

- manifesta uma força de vontade e uma desenvoltura viris.

- esta personagem não tem uma evolução psicológica, pelo que é considerada uma personagem plana.

· Mariana

. tem 24 anos.

- o narrador salienta a sua beleza física.

- caracteriza-se pela sua intuição, pelo poder de predição, enfim, pelo misticismo popular.
- apresenta complexidade humana, ao nível das emoções que experimenta e da esperança que acalenta de poder ser
amada por Simão e ficar junto dele.

- esta personagem apresenta a evolução psicológica, pois o seu amor motiva as suas esperanças e os seus desalentos,
oscilando entre emoções que fazem vibrar a sua dimensão humana.

· João da Cruz

- é uma personagem que se aproxima bastante do protótipo do homem popular português.

- pela antítese das emoções que experimenta e pelas atitudes que apresenta, é considerado o tipo do “bom bandido”.

- ele é, simultaneamente, bondoso, grato, corajoso e violento.

- caracterizam-no, ainda, a sua linguagem de cariz popular, pelo realismo da expressão.

· Baltasar

- é a personagem que, pelos seus defeitos, se opõe a Simão, fazendo sobressair as qualidades exemplares do herói.

- é cobarde, mesquinho e vingativo.

- a sua vaidade torna-o incapaz de esquecer o seu orgulho ferido e de compreender o amor que Simão e Teresa
sentem um pelo outro.

- representa os valores sociais instituídos e fossilizados, contribuindo para a tragédia final.

· Tadeu de Albuquerque e Domingos Botelho

- representam o antagonismo motivado pelo preconceito de honra social.

- são inflexíveis nas suas decisões e baseiam-se no seu próprio orgulho e nas suas conveniências sociais.

- preferem perder os filhos, reduzindo-os à dimensão de objetos, a perder a dignidade social.

· D. Rita Preciosa

- representa a convencionalidade do sentimento materno – age mais por obrigação familiar do que por motivos
afetivos; ajuda Simão porque esse é o seu papel e não porque o amor de mãe a leve a perdoar e a compreender as
atitudes do filho.

· Ritinha

- distingue-se das outras irmãs de Simão pela sua capacidade afetiva.

- representa, para Simão, o único laço familiar genuíno. Porque é conduzida por aquilo que sente e não pelas
convenções que lhe são impostas.

- a sua ligação a Simão leva-a a ser ela a relatora da sua história ao autor da obra, quando este era criança.
Figura 2 – Capa de Amor de Perdição

– Para mim, que vos prezo, é suficiente. Vinde! – Simão estendeu-lhe o braço e Mariana, ainda que a medo, aceitou-o.
Um gesto tão pequeno, que viria a alterar-lhes o futuro.

Abordagem criativa

v Acróstico

Cercada de invisibilidade,

Abelha, que na acácia procuras amarelas flores,

Mata o desespero.

Inspira da flora os olores

Livres da sociedade.

Ora e crê que é efémero.

Calma! Que na

Alma de quem ama

Surge a fé.

Talvez não ate, mas segura a vida.

Espera! Não voes já!

Lá, onde o vinho dá vida,

Onde Deus não perdoa a tua dívida,

Beberás a saudade do néctar da flor.

Ri. Ri de loucura e os

“Ai’s!” que bramires


Não serão gritos de amor.

Certo que será mais fácil…

Oscilarás? Terminarás com a dor?

Um final diferente…

– «Perdoai-me, Simão, que vos amo mas não posso fazer com que sofrais nesta vida. Meu pobre esposo, Minh ‘alma,
olhar-vos-ei nos olhos no Paraíso. Aí, seremos um só; um só coração; um só espírito.»

Simão, o jovem de coração revoltado, na eminência de uma explosão de raiva e loucura, rasgou o bilhete de Teresa e
chorou.

Chorou durante toda a noite e gritou a Deus, no quarto escuro e húmido e pequeno que o encerrava do exterior como
um cárcere do seu próprio coração Arrancou a roupa à cama, calcou as flores amarelas que estavam na jarra de barro,
rasgou cartas, documentos, a própria roupa; sentiu o sabor a sangue na boca e pensou em dezenas de maneiras de
terminar com a autoridade do pai de Teresa.

Mariana e João da Cruz que o haviam ouvido soluçar e esmurrar as paredes logo entenderam que a carta que a velha
mendiga tinha trazido a troco dumas sopas na tarde anterior era portadora de más notícias.

Partilhavam olhares cúmplices de surpresa e incompreensão e Mariana estremecia de cada vez que um novo gemido
se ouvia do quarto de Simão. Agarrando a medalha que trazia ao pescoço, orava silenciosas preces a Nossa Senhora,
para que, na sua condição de amiga incondicional, conseguisse ajudar Simão.

Desviando o olhar para uma frecha da portada da janela de madeira, já comida pelo caruncho, Mariana tentou
absorver nos seus olhos negros alguma luz da alvorada que se adivinhava vizinha, como se a luz conseguisse trazer-lhe
paz e iluminação.

– Vou ver do fidalgo, moça! O raio do rapaz esteve a pregar ao diabo a noite toda. Vai na volta, deu-se alguma desgraça
com a fidalguinha! Deus queira que não.

– Mas, meu pai, que ides dizer a Simão? Quando o coração padece, não há palavra que o chame à razão!

– Olha que tu agora… saíste-me cá uma entendida! Prepara o comer, que o fidalgo há-de ter fome e eu também, que
estou com uma gana.

– Sim, senhor, meu pai.

Mariana sabia-o. Não adiantariam as palavras do pai. Ela mesma conhecia aquela dor. Os soluços de Simão, tão iguais
aos seus, que a própria havia reprimido. E os pensamentos que a assolaram, sobre a dor constantemente no seu peito,
rapidamente se foram embora assim que as lágrimas foram limpas e o pão cortado.

– Menino Simão! Ora, ora!

Simão, estendido no chão com o ferimento da bala aberto, chorava baixinho. O quarto estava desarrumado. Entornou
a tinta, rasgou papéis e tinha o lábio cortado. A mancha de sangue que aumentava no seu ombro mostrava o quanto o
pobre rapaz, que pouco conhecia do amor a não ser das quiméricas cartas que a menina lhe mandava, desejava sair do
corpo. Morrer ali, esvaindo-se, sentindo a vida escorrer-lhe, seria a saída perfeita do mundo que o derrotara.

– Ela vai – profere, com a voz rouca e presa pelo choro, por fim.

– Ó menino! Há-de haver uma maneira de impedir o pai dela a...

– Mestre João, Teresa desistiu! Desistiu de nós. Ela vai. Diz que não lhe espera muito mais tempo de vida, que está
morrendo e que o Paraíso esperará por nós.
Mestre João da Cruz, espantado por tais palavras de uma menina que da vida só entendia de bordado e luxo, encolheu
os ombros em sinal de resignação.

Mariana arrumou o fruto da revolta de Simão enquanto arrumava os seus pensamentos, também. Enquanto o fazia,
reparou no casaco que este havia deixado na cadeira.

A medo, como se estivesse a fazer algo errado, pegou no casaco, deixou-se sentir o aroma que exalava. Algo quente e
fresco ao mesmo tempo; era doce e masculino. Mariana chorou assim que a imagem de um futuro irreal ao lado de
Simão lhe surgiu.

Mariana! Ó pobre e coitada rapariga! Tu amas! E muito! Farias tudo de novo para ajudar Simão. Não alterarias nada!

Simão entrou no quarto e rapidamente se acercou de Mariana.

– Desculpai-me, Mariana! É tudo culpa minha! Se nunca tivesse trazido para cima de vós as minhas desventuras,
jamais sofrerias tanto.

– Não, Senhor Simão! Não digais isso! Amo-vos como a um irmão ou a um esposo. Vós sabeis!

– Mariana, Teresa não voltará. Foi o último adeus.

– O meu pai disse-me. Mas talvez tenha sido melhor assim… – sorriu timidamente, sem sequer se aperceber disso.

– Achais?

– Senhor Simão, a minha opinião não conta.

Camilo Castelo Branco: (Resumo e Análise: Amor de Perdição)


Esse estudo foi apresentado na edição do livro vendida pelo jornal O Estado de São Paulo a seus assinantes.

Marco do Ultra-Romantismo português, Amor de Perdição, publicado em 1862, foi muito bem-recebido pelo público
em seu lançamento.

A obra é considerada uma espécie de Romeu e Julieta lusitano. Camilo Castelo Branco pertence à Segunda fase do
Romantismo português, chamada Ultra-Romantismo – corrente literária da segunda metade do século XIX que leva ao
exagero os ideais românticos. Escreveu vários gêneros de novelas: satíricas, históricas e de suspense. Mas foram suas
novelas passionais – como Amor de Perdição – que lhe deram maior projeção dentro da literatura portuguesa. Nesta
novela passional, de temática romântica exemplar, o escritor levou às últimas conseqüências a idéias de que o
sentimento deve sobrepor-se à vida e à razão.
O livro trata do amor impossível e discute a oposição entre a emoção e os limites impostos pela sociedade à realização
da paixão. Sem conseguir o objeto da paixão, o herói romântico confirma seu destino trágico. Nele, o mesmo amor que
redime resulta em morte, conforme antecipa o narrador-autor na introdução do livro, ao comentar o destino do seu
herói: “Amou, perdeu-se e morreu amando”.

1. UMA NOVELA ULTRA-ROMÂNTICA.


Amor de Perdição é uma obra-prima do Ultra-Romantismo português. Tem um narrador em primeira pessoa, que não
participa dos acontecimentos, mas conhece os fatos passados por “ouvir falar” e “por pesquisar em documentos”.
Conta a história do amor impossível dos jovens Simão e Teresa, separados por rivalidades entre suas famílias – os
Albuquerques e os Botelhos, moradores da cidade de Viseu, em Portugal, e inimigos por questões financeiras.
1a. A APOTEOSE DO SENTIMENTO.
O corregedor Domingos Botelho e sua mulher Rita Preciosa têm cinco filhos, entre eles Simão, que desde pequeno
demonstra um temperamento explosivo e indolente, e Manuel, calmo e ponderado. O primeiro vai estudar em
Coimbra depois de uma confusão doméstica, em que toma a defesa de um criado da família. Lá, adota os ideais
igualitários da Revolução Francesa e acaba preso durante seis meses por badernas e arruaças. Quando sai da cadeia,
volta a Viseu, onde conhece e se apaixona por Teresa, sua vizinha que tem 15 anos e é filha de uma família inimiga da
sua. Com o objetivo de separar Simão e Teresa, o pai da moça ameaça mandá-la para o convento, enquanto Domingos
Botelho envia Simão de volta a Coimbra. Uma velha mendiga faz o papel de pombo-correio do casal, levando as cartas
trocadas entre os dois jovens apaixonados.
1b. A MUDANÇA DE SIMÃO.

Movido pelo amor a Teresa, Simão decide se regenerar e estudar muito. Nesse meio tempo, o irmão Manuel, que
chegara a Coimbra, foge para a Espanha com uma açoriana casada. A irmã caçula de Simão – Ritinha – faz amizade
com Teresa. O pai da heroína quer casá-la com o primo Baltasar Coutinho – ordem que a moça se nega a cumprir. As
intenções do pai de sua amada fazem Simão retornar clandestinamente para Viseu, hospedando-se na casa do ferreiro
João da Cruz, antigo conhecido da família Botelho. Simão combina encontrar-se às escondidas com Teresa no dia do
aniversário da moça, mas o encontro é transferido porque Teresa é seguida.
1c. AMOR E MORTE.

Na data combinada, Simão vai ao encontro marcado levando consigo o ferreiro João da Cruz e outros amigos. Depara-
se com Baltasar que, na companhia de alguns criados, fora até o local para matar Simão. Na briga, dois dos criados de
Baltasar são mortos. Ferido, Simão convalesce na casa de João da Cruz. Teresa vai para um convento. Mariana, filha do
ferreiro apaixonada por Simão, empresta a ele suas economias para que vá atrás de Teresa, dizendo que o dinheiro
pertence à mãe do próprio Simão.
No dia previsto para que Teresa mude de convento, Simão decide raptá-la. Dá-se um novo confronto com Baltasar
Coutinho, que leva um tiro na testa e morre.
Simão entrega-se à polícia e dispensa a ajuda da família para sair da cadeia.

Levado a julgamento, é condenado à forca. Enquanto isso, Mariana enlouquece de amor e a saúde de Teresa definha
no convento. Na cadeia, Simão passa os dias lendo e escrevendo cartas. João da Cruz é assassinado pelo filho do criado
de Baltasar Coutinho. Mariana, que estava na cidade do Porto, volta a Viseu para tomar posse da herança, confiada a
Simão. Tardiamente, o pai de Simão pede que sua pena seja comutada em dez anos de prisão, mas o filho rejeita a
ajuda paterna. Prefere o desterro para as Índias. Na data em que a nau dos condenados parte, Teresa morre no
convento. Ao saber da morte de sua amada, Simão adoece, vindo a falecer no décimo dia de viagem. Quando seu
corpo é jogado ao mar, Mariana que o havia acompanhado, lança-se da proa, suicidando-se abraçada à mortalha do
amado.

O narrador-autor de Amor de Perdição conta fatos reais, romanceados a partir dos relatos de uma tia que o criou.
Preocupa-se em transcrever documentos para dar autenticidade às aventuras que vai narrar. Essa preocupação do
autor é um recurso romântico para mobilizar e envolver o leitor com a intenção de comovê-lo.

1d. CENÁRIO EM MOVIMENTO.


A novela passa em Portugal, no século XIX, fase final do absolutismo, quando a Corte portuguesa experimentava as
conseqüências das invasões francesas determinadas por Napoleão. Em Amor de Perdição, o deslocamento das
personagens para as cidades de Viseu, Coimbra e do Porto apenas reflete a complexidade das situações que as
envolvem, não determinando os acontecimentos. Ainda assim, as referências às cidades permitem uma visão mais
ampla da moral vigente e do provincianismo da sociedade portuguesa da época, na qual a tradição de familiar e a
preocupação com a reputação prevalecem sobre o individualismo.
2. UM NARRADOR E VÁRIAS VOZES.
Camilo Castelo Branco narra sua história de maneira densa e ágil, intercalando, com maestria, a narração e os diálogos.
Sem deixar de afirmar o caráter verídico dos fatos que descreve, o narrador-autor assume que se vale mais da
memória do que da realidade dos fatos. Utiliza-se também, ao mesmo tempo, de inúmeros documentos para afastar
dúvidas quanto à credibilidade do que descreve, posicionando-se como contador de fatos já ocorridos. “Já lá se vão
cinqüenta e sete anos (…)”, diz a carta de tia Rita.
Ao relatar a forma como conseguiu os documentos para reconstituir “a triste história de meu tio paterno Simão
Botelho”, o narrador está com o foco centrado na primeira pessoa. Assim que começa a descrever os fatos ocorridos a
cada um dos personagens, torna-se um narrador em terceira pessoa.

2a. AMOR POR CORRESPONDÊNCIA.

As cartas trocadas entre os dois jovens protagonistas apaixonados, incluídas no livro, são um importante recurso
retórico usado pelo escritor e que intensifica o teor passional e dramático da história.
Trazendo emoções e confissões de Simão e Teresa, os textos das cartas os transformam também em narradores. Amor
de Perdição é, portanto, uma obra que possui múltiplas vozes narrativas.

Também se destaca na obra o personalismo do narrador-autor, que volta e meia interfere para julgar ou ponderar –
mostrando comoção ou indignação, porém sem se alongar demais nas suas digressões a ponto de prejudicar a ação.

3. AÇÃO EM ORDEM CRONOLÓGICA.

Em Amor de Perdição, os acontecimentos se desenrolam de uma maneira bastante linear e em ordem cronológica,
privilegiando a ação em vez da descrição. Exemplar no gênero novela passional, a obra tem uma única trama central –
a infeliz história de amor entre Teresa e Simão, repleta de desavenças, infortúnios, crimes, mortes, fugas e tentativas
de rapto -, em torno da qual se movimentam as demais personagens.
3a. UMA LINGUAGEM POPULAR. O próprio Castelo Branco justifica o sucesso de seu romance: “Rapidez das peripécias,
a derivação concisa do diálogo para pontos essenciais do enredo, a ausência de divagações filosóficas, a lhaneza de
linguagem e o desartifício das locuções”. Essa explicação está incluída no prefácio da segunda edição da novela,
desdenhada pelo autor, no início, por tê-la produzido em apenas 15 dias, no período em que ficou preso.

Embora tenha escrito febrilmente para sustentar a família e produzido, certa vez, quatro livros ao mesmo tempo,
Camilo Castelo Branco manteve sempre o cuidado estilístico e a preocupação com a pureza da linguagem. Se, às
personagens mais populares, emprestava uma fala viva e espontânea, aos protagonistas burgueses reservava uma
retórica mais sentimental e trágica.

4. PERSONAGENS SEM CONTRADIÇÕES.


O mundo romântico é idealizado, povoado de personagens virtuosas e sem contradições. Nesse contexto, podem-se
contrapor às regras sociais, mas são sempre guiadas por seus sentimentos. Amor de Perdição tem três personagens
principais: Simão, Teresa e Mariana. Embora pertençam a classes sociais diferentes – Simão e Teresa são burgueses,
enquanto Mariana é filha do camponês João da Cruz -, a distinção se perde porque o que vale, na novela e no romance
romântico, é a nobreza das emoções, permitindo que sua firmeza de caráter sobressaia.
4a. SIMÃO ANTÔNIO BOTELHO: O HERÓI ROMÂNTICO.

Se muito do que é relatado em Amor de Perdição tem seu fundo de verdade – todos os Botelhos citados na narrativa
são realmente parentes do autor por parte de pai -, o herói romântico é, confessadamente, enriquecido pela
imaginação do autor. O Simão real, segundo um biógrafo, era pouco e um bagunceiro em Coimbra, até ser degredado
para a Índia em 1807, sem que se tivessem mais notícias dele depois. Já o Simão de Camilo Castelo Branco ainda
jovem tem ideais revolucionários, mostrados claramente quando ele se rebela contra a mentalidade escravocrata de
sua família, cena descrita no primeiro capítulo.
Essencialmente romântico, e muito inspirado na vida do próprio autor, o herói tenta seguir a ordem estabelecida para
ter o amor de Teresa, desejo que se mostra impossível. Sem obter resultado, Simão parte para uma espécie de
extremismos emocionais, como a tentativa de rapto que culmina em mortes. Defensor das idéias liberais, tem nobreza
de caráter. Tanto que se entrega à polícia depois de dar vazão ao seu lado colérico, quando mata Baltasar Coutinho.

4b. TERESA DE ALBUQUERQUE: A HEROÍNA ROMÂNTICA.


A frágil Teresa opõe-se firmemente ao destino que a família quer lhe impor Mas se vê obrigada a cumprir as ordens do
pai, o dominador Tadeu de Albuquerque. Obstinada e apaixonada, luta para não se casar com o primo Baltasar
Coutinho e troca cartas com Simão, na tentativa de acalmar a chama da paixão. Marginalizada e enclausurada num
convento, reflete a fé na justiça divina e as injustiças cometidas em função dos preconceitos da época, que se
interpunham entre ela e a felicidade não realizada.
4c. MARIANA: A AMANTE SILENCIOSA.

Mulher mais velha, de 24 anos, criada no campo, Mariana pertence a uma classe social mais popular. Dela o narrador
diz ter “formas bonitas” e um rosto “belo e triste”, para realçar a grandeza de seu amor-renúncia. O desprendimento
que mostra – mando Simão em silêncio e, por isso, ajudando-o a se aproximar da felicidade pela figura representada
pela figura de Teresa – faz parte do ideário romântico. Abnegada e fiel, Mariana jamais diz uma palavra e controla
obstinadamente seu ciúme. Na história de Camilo Castelo Branco, é a personagem que mais sofre no romance. Pode-
se dizer que a obra existe uma tríade romântica – Simão, Mariana e Teresa. Os três nunca se realizam
sentimentalmente e têm um final trágico.
4d. JOÃO DA CRUZ: O CAMPONÊS RÚSTICO.

Personagem popular, é um camponês que se transforma no protetor do jovem Simão quando este volta à cidade de
Viseu, atrás de Teresa. A princípio, cuida do jovem em retribuição ao pai de Simão, que outrora o livrara de uma
complicação judicial. Mas depois acaba gostando tanto de Simão a ponto de matar para defender o rapaz.
4e. BALTASAR COUTINHO: O BURGUÊS INTERESSEIRO.

É o primo de Teresa, rapaz sem moral e sem brios, que não ama a moça, mas está disposto a recorrer a quaisquer
expedientes para vencer a disputa com Simão. Faz o contraponto com o herói, na medida em que ambos vêm de
famílias abastadas. Mas enquanto Simão se move pelos mais nobres sentimento, Baltasar é norteado por intenções
medíocres.
4f. TADEU DE ALBUQUERQUE: O AUTORITÁRIO.

É o pai de Teresa, que a todo momento toma o destino da moça nas mãos, sem respeitar seus sentimentos. Por uma
rivalidade particular com a família de Simão, decide impedir a felicidade da filha, criando vários empecilhos para
afastá-la de seu amor.
4g. MANUEL BOTELHO, O IRMÃO DESMIOLADO.

O jovem irmão de Simão – que inicialmente critica o protagonista por sua vida desordenada – envolve-se com uma
mulher casada na época em que vai morar com Simão na cidade de Coimbra. Arrependido, confirma sua dependência
familiar quando pede ajuda aos pais para devolver aos Açores a mulher casada com quem havia fugido.
As personagens do Romantismo vivem em conflito com a sociedade, que impõe limites à realização de seus desejos. No
caso de Amor de Perdição, o obstáculo a ser superado é a família, tanto da de Teresa quanto a de Simão. As
personagens do Realismo vivem em contradição consigo mesmas e coma sua visão do mundo.

5. AS NOVELAS CAMILIANAS.
Embora Camilo Castelo Branco classificasse suas obras como romances, os críticos literários referem-se a elas como
novelas. A diferença essencial está no tratamento linear da narrativa, nas cenas sucessivas e na conclusão fechada. Os
romances abordam um mundo multifacetado, com personagens mais complexas e contraditórias.
Nas novelas passionais do autor, o tema central é amor, exacerbação do sentimento que leva à ruptura com os padrões
de comportamento e as regras sociais: a transgressão norteada pelos mais nobre dos sentimentos: a paixão que
justifica toda a sorte de condutas, como o enlouquecimento – no caso de Mariana, a apaixonada que ama Simão em
silêncio; a clausura – de Teresa, enviada para um convento pelo pai para afastá-la de seu amor; e a transformação de
um homem de bem em criminoso – como o assassinato cometido por Simão. São histórias curtas que relatam, quase
sempre, a luta entre o bem e o mal.

Em suas novelas passionais, Camilo Castelo Branco explora a contradição entre o eu – que quer guiar-se pelos
sentimentos – e os limites sociais que tentam impedir a concretização desses sentimentos. Tudo isso passa num mundo
cheio de personagens que são moldadas de forma maniqueísta, voltadas para o bem ou para o mal, sem se desviar de
seus propósitos.

6. UM APAIXONADO DO CETICISMO.
Inscrito na segunda fase do Romantismo português – a corrente literária classificada de Ultra-Romantismo -, Camilo
Castelo Branco opta pela abordagem dos sentimentos em vez de voltar-se para a questão do nacionalismo, uma
característica que marcou vários autores na primeira fase do Romantismo em vários países europeus, inclusive
Portugal. A grande interrogação de Camilo Castelo Branco é; até que ponto o homem pode se valer dos sentimentos
para guiar sua existência?
O Romantismo surgiu na primeira metade do século XIX, condicionado pelo fenômeno de ascensão da burguesia,
provocado pela Revolução Francesa e consolidado com as Revoluções Liberais de 1830 e 1848. É uma reação ao
universalismo neoclássico, propondo uma literatura subjetiva e individualista.
O exagero desse individualismo, o tédio e o ceticismo diante da existência criam a sensação indefinida de insatisfação,
a que os românticos davam o nome de “Mal do Século”. A dificuldade em distinguir o sonho da realidade; o
nacionalismo e a valorização do passado; o desejo de reforma e o engajamento político caracterizam a literatura
romântica. O romance romântico aborda a temática do amor nas suas formas mais exaltadas, acima do controle da
razão e inevitavelmente ligada à morte, como se vê nesta obra de Camilo Castelo Branco.

7. OPOSIÇÃO AO REALISMO
Amor de Perdição, publicado em 1862, é anterior ao início do Realismo em Portugal, que só começa em 1865, com as
polêmicas Conferências do Cassino Lisbonense e as discussões que redundaram na chamada Questão Coimbrã. Camilo
opunha-se ao romance realista, julgando-o imoral. Criticava-o por retratar pessoas fúteis ou que premeditam crimes,
que desorganizam famílias: padres que rompem o celibato e alterações sexuais. O escritor rejeitava esses temas em
favor da apologia do sentimento. Sobre o Realismo, afirmou: “(…) Quero escrever romances para as pessoas lerem na
sala, não nos quartos de banho. Quero escrever romances para que todas as pessoas da família possam ler: as moças
mais jovens, as senhoras (…)”.
8. O ROMANTISMO EM PORTUGAL.
O Romantismo chega a Portugal no momento em que o país vivia uma das suas mais graves crises sociais e políticas.
Dividido entre o absolutismo de Dom Miguel e o liberalismo de Dom Pedro IV – Dom Pedro I no Brasil -, a nação
portuguesa se viu envolvida numa violenta guerra civil entre os anos de 1832 e 1834. Os liberais – defensores de uma
monarquia constitucional – representavam os interesses da burguesa capitalista emergente contra as detentoras dos
bens feudais, representado por Dom Miguel. A revolução romântica alimenta-se, em Portugal, dessa revolução social e
política. Os primeiros escritores românticos portugueses – Almeida Garrett (1799-1854) e Alexandre Herculano (1810-
1877) – participam ativamente da revolução liberal e, após sua vitória, em 1834, retornam do exílio para implantar em
Portugal a nova literatura romântica.
8a. AS GERAÇÕES ROMÂNTICAS.

Costuma-se dividir o Romantismo português em três gerações. A primeira – entre 1825 e 1840 – caracteriza-se pela
luta pelo liberalismo e pela libertação das amarras neoclássicas. Tem em Almeida Garrett e Alexandre Herculano seus
principais representantes. Na Segunda geração – entre 1840 e 1860 -, prevalece o passionalismo e sobressai a figura
ultra-romântica de Camilo Castelo Branco. Na terceira – de 1860 -, representada por Júlio Dinis (1869-1871), é marcada
a fase de transição para o Realismo da década de 70.
VIDA E OBRA: O MAIS ROMÂNTICO DOS ROMÂNTICOS

A vida de Camilo Castelo Branco (1825-1890) parece Ter sido copiada de uma de suas novelas passionais. Aos dois
anos fica órfão de mãe. Aos dez perde o pai. Criado por uma tia e pela irmã, recebe educação religiosa. Aos 16 anos,
casa-se com Joaquina Pereira, de apenas 15. Desse primeiro casamento – logo esquecido – tem uma filha, que morre
aos cinco anos. Entre os anos de 1843 e 1846, tenta, sem sucesso, formar-se em Medicina na cidade do Porto e de
Coimbra.

Entretanto, parece mais inclinado à boêmia e ao escândalo. Em 1846, é preso por raptar a jovem Patrícia Emília, com
quem tem outra filha. Em 1847, fica viúvo de Joaquina Pereira. Trava um duelo com um dos filhos de Maria Felicidade
Brown, e passa a ter um caso com ela.
1. UMA SUCESSÃO DE TRAGÉDIAS.

Em 1850, conhece Ana Plácido, por quem se apaixona. Quando ela se casa com o brasileiro Pinheiro Alves, o autor
entra para o Seminário do Porto, buscando refúgio na religião. Mantém, então, um escandaloso caso amoroso com a
freira Isabel Cândida. Em 1859, Ana Plácido abandona o marido e vai viver com o escritor. Perseguidos pela justiça, os
dois passam um ano da Cadeia da Relação, na cidade do Porto. Data desse período de encarceramento a redação de
sua maior novela passional – Amor de Perdição -, inspirada na suas próprias desventuras e na peça Romeu e Julieta, do
escritor inglês William Shakespeare. Com a publicação da novela, em 1862, o escritor alcança grande popularidade.
O casal muda-se para São Miguel de Seide. Camilo Castelo Branco, então, passa a escrever para sobreviver. O irônico
Coração, Cabeça e Estômago (1862) e Amor de Salvação (1864) estão entre as melhores obras escritas nesse período.
Vários episódios trágicos continuam a perseguir o escritor. Um deles é a loucura de seu filho Jorge. O outro, a cegueira
que começa a se manifestar no autor em 1867, conseqüência de uma sífilis contraída na juventude e mal curada. Em
1890, Camilo Castelo Branco coloca um ponto-final em sua maior novela passional. Mata-se com um tiro de pistola.

Principais obras
Carlota Ângela (1858), Amor de Perdição (1862), Coração, Cabeça e Estômago (1862), Amor de Salvação (1864), A
Queda dum Anjo (1866), A Doida do Candal (1867), Novelas do Minho (1875-77), Eusébio Macário (1879), A Corja
(1880), A Brasileira de Prazins (1882)

Camilo Castelo Branco conquistou fama com a novela passional Amor de Perdição. Bem ao gosto romântico, a
característica principal da novela passional é o seu tom trágico. As personagens estão sempre em luta contra terríveis
obstáculos para alcançar a felicidade no amor. Normalmente, essa busca é frustrante. Mesmo quando os amantes
ficam juntos, isso é conse-guido a custa de muito sofrimento. Os direitos do coração, freqüentemente, vão de encontro
aos valores sociais e morais. Segundo o autor, Amor de Perdição foi escrito em 15 dias em 1861, quando ele estava
preso na cadeia da Relação, na cidade do Porto, por ter-se envolvido em questões de adultério.

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