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42 - A queda de um sistema septuagenário é, históricamente , um acontecimento grandioso, o que não


implica, como corolário, que os seus autores sejam dotados de grandiosidade. A desprorpoção entre a
magnitude dos efeitos de uma ação e a baixa consistência dos propósitos dos seus agentes, além de
introduzir na trama da história a perspectiva da aventura, aproxima-se daquilo que Hannah Arendt chamou
de "banalidade do mal" (Banality of Evil).

P.43 - Seria extremamente idiossincrático enquadrar a queda do império como a materialização de evil
deeds, o que não elimina a utilidade analítica da ideia de shallowness. O par banalitly/shallowness retira
dos eventos políticos a paternidade das leis da história e da inevitabilidade, transformando as ações em
escolhas cujos efeitos escapam à percepção e ao controle dos agentes. A aplicação ao golpe republicano
no Brasil me parece evidente: o que dizer de uma coalizão liderada por militares do velho regime, cuja
sofisticação intelectual limitava-se a vociferar contras os "casacas", senão que ela possuía estreito
parentesco com a superficialidade?

P.43 - Discutir se os republicanos sabiam ou não o que queriam", ou se sob o manto da superficilidade
taticamente existiam "projetos", é tarefa diante da qual a prudência cética recomenda a suspensão do juízo.
Mais apropriada parece ser a consideração de que diante da erosão endógena da monarquia, formou-se
erraticamente uma típica coalizão de veto, capaz de incluir o delírio separatista domesticado pelo realismo
federalista, o ressentimento militar, a ética absoluta da dissidência positivista e o enfado de outros com o
regime monárquico (...) Seguem-se os paradoxos: uma aventura política, protagonizada pela ousadia e
superficialidade analítica, altera de modo drástico o leque de alternativas políticas dispostas ao futuro; uma
coalizão de veto cuja eficácia destrutiva não lhe garante recursos suficientes para, atores, enfim, que não
não estava a altura dos efeitos que engendrou. Confrontando o legado do Império com a aventura
republicana de 1889, é dificil evitar a asensação de que o que foi vetado foi mais relevante do que os
desígnios de quem vetou Os primeiros anos republicanos se caracterizaram mais pela ausência de
mecanismos institucionais próprios do Império do que pela invenção de novas formas de organização
política. O veto imposto ao regime monárquico não implicou a invenção positiva de uma nova ordem. O que
se seguiu, confome será visto, foi uma completa desrotinização da política, o mergulho no caos.

P.44 - O Brasil amanheceu no dia 16/11/1889 sem Poder Moderador. O sistema político brasileiro abriu-se
para uma experiência, nos 10 anos que seguiram à proclamação, na qual ficou desprovido da "chave" de
sua organização insittucional. Segundo a tradição do Império, as atribuições do Poder Moderador eram
fundamentais para estabelecer os limites e a dinâmica do corpo político. Constitucional definido como
irresponsável e como prerrogativo exclusiva do Imperador, foi apresentado pelos intelectuais da Monarquia
como garantia para conter o espírito de facção, como guardião da neutralidade e da conservação e como
"expressão de necessidades fundamentais", "direitos aduiridos, interesses criados, tradições e glórias.

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