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PROJETO DE PESQUISA
AVALIAÇÃO DO PERFIL DOS EGRESSOS DO CURSO DE HISTÓRIA DA
FACIP-UFU: FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DOS PROFESSORES
2) OBJETIVOS
3. JUSTIFICATIVA
Uma questão que sempre nos instigou, ao longo da nossa experiência como
professores e pesquisadores, foi a discrepância entre a história que se ensina na
graduação e a história estudada nas escolas da educação básica. O que percebemos e
o que as pesquisas nos mostram, é que ao contrário das universidades, em geral, nas
escolas prevalece uma leitura historiográfica fragmentada e simplificada. Isso nos
remete a compreender como se processa a relação teoria e prática na formação
inicial dos professores de História, pois entendemos esse percurso formativo como
um espaço e um tempo de conhecimento, reflexão, crítica e aperfeiçoamento
profissional. Corroboramos Silva e Fonseca (2007), ao defenderem a necessidade da
articulação teoria e prática nos cursos superiores de graduação e de compreenderem
a formação docente como espaço e objeto de investigação e de produção de saberes.
Um olhar retrospectivo na formação de professores nos remete ao paradigma da
racionalidade técnica, segundo Silva e Fonseca (2007), o mais difundido entre nós.
O modelo da racionalidade técnica, empregado na formação de professores,
fundamenta-se numa concepção herdada do positivismo, que prevaleceu ao longo de
todo o século XX. Segundo este modelo, a atividade do profissional é, sobretudo,
instrumental, dirigida para a solução dos problemas concretos que encontra na
prática, aplicando princípios gerais e conhecimentos científicos derivados da
investigação. Considera o professor como um técnico, cujo saber-fazer é fundado
sobre uma ciência rigorosa, objetiva e matematizada. De acordo com Pérez Gómez
(1992), A atividade do profissional é, sobretudo, instrumental, dirigida para a
solução de problemas mediante a aplicação rigorosa de teorias e técnicas
científicas (PÉREZ GÓMEZ, 1992, p. 96).
Nesse paradigma formativo, de natureza transmissiva e cumulativa, as relações
entre formadores e professores são marcadas pela assimetria de saber e de poder, e a
cada um são atribuídos papéis com contornos claros e definidos. Espera-se que o
conhecimento técnico-científico, repassado pelos formadores oriente o professor e o
seu fazer cotidiano em sala de aula, numa transposição linear, mecânica, dirigida no
sentido da teoria para a prática. O primado é, portanto, da teoria, trazendo as
inovações e as descobertas. A prática fica reduzida à aplicação da teoria.
Ainda em relação aos programas de formação orientados por esse modelo, é
importante destacar que procuram fornecer aos professores os recursos
instrumentais, de forma a capacitá-los para o exercício competente da profissão. Isso
porque, nesse modelo, ser competente é ser objetivo, possuir o domínio das técnicas
de ensino, ter desenvolvido a capacidade cognitiva de predizer os resultados da
intervenção pedagógica, mediante o controle rígido e sistemático das ações-meio,
cuidadosamente estudadas e deliberadas pelos professores. Nesse processo, se
algum resultado escapa ao controle, reinicia-se todo um replanejamento das ações de
intervenção, conferindo um poder absoluto aos meios para se conseguir o fim
desejado.
Existe uma divisão hierarquizada entre os que pensam e os que executam, entre
os produtores e os consumidores de saberes, entre os pesquisadores e os professores,
entre a teoria e a prática, que se relaciona com a perspectiva positivista de conceber
o mundo. A lógica inerente a essa concepção está assentada na cisão, na
fragmentação, na dicotomização, na visão parcial do objeto, revelando grande
dificuldade em reconstruí-lo em sua totalidade.
Segundo Pérez Gómez (1992), o modelo tecnicista, dificilmente, poderá resolver
os problemas que se detectam numa situação concreta, uma vez que os seus
esquemas de análise e as suas técnicas de intervenção asfixiam as manifestações
mais peculiares e genuínas da complexa situação social que se enfrenta. Afirma que
não podemos considerar a atividade prática do professor como atividade exclusiva e
prioritariamente técnica. É mais correto encará-la como uma atividade reflexiva e
artística, na qual cabem algumas aplicações concretas de caráter técnico.
A crítica generalizada à racionalidade técnica, modelo pelo qual a formação de
professores não foi capaz de prepará-los para lidar com situações novas, ambíguas e
confusas, fez emergir várias concepções alternativas sobre o papel do professor
como profissional: Professor Pesquisador, Professor Reflexivo, Intelectual
Transformador, Professor Autônomo1. Apesar das diferenças, elas têm em comum o
desejo de superar a relação linear e mecânica entre o conhecimento científico-
técnico e a prática na sala de aula. O sucesso do professor depende da sua
capacidade de trabalhar em um espaço contingente e complexo, resolvendo
problemas práticos, por meio da integração inteligente e criativa do conhecimento e
da técnica.
1
Para maiores informações, ver: PAIM, Elison Antonio. Memória e experiências do fazer-se professor.
Tese (doutorado) Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Campinas, SP, 2005.
do curso de História da FACIP-UFU? O que dizem da sua formação inicial? Quais as
contribuições da formação inicial na sua prática docente? O que fazem no espaço
complexo da sala de aula? Como fazem?
Compartilhamos a ideia defendida por Costa (2002: 107): “pesquisar é uma
atividade que corresponde a um desejo de produzir saber, conhecimento. Conhecer não
é descobrir algo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do
real. Conhecer é descrever, nomear, relatar, desde uma posição que é temporal, espacial
e hierárquica. O que chamamos de realidade é resultado desse processo”. Nesse sentido,
o desenvolvimento desta investigação tem como meta o registro das vozes dos egressos
do Curso de História da FACIP-UFU sobre a relação teoria e prática proporcionada,
pela formação inicial e como desenvolvem a atividade docente no espaço complexo da
sala de aula. Esperamos que esta pesquisa proporcione reflexões dos sujeitos
(professores de História egressos do Curso de graduação em História da FACIP-UFU),
sobre sua formação e atuação docente, como também auxilie em (re)pensar o Projeto
Político Pedagógico do referido Curso.
4. METODOLOGIA
5. REFERÊNCIAS
BENJAMIN, Walter. O narrador. In: Magia e Técnica, Arte e Política. 7 ed. São Paulo:
Brasiliense, p. 197-221. (obras escolhidas vol. 1), 1994.
BOM MEIHY, José Carlos Sebe. Manual de história oral. São Paulo: Loyola, 2002.
BORDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1982.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das Culturas. Editora Zahar, Rio de Janeiro, 1978.
GINZBURG, Carlo. Sinais: Raízes de um paradigma indicário. In: GINZBURG, Carlo.
Mitos, Emblemas, Sinais. São Paulo, Companhia das Letras, 2007.
PAIS, José Machado. Ganchos, tachos e biscates: jovens, trabalho e futuro. Porto:
Ambar, 2001.