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Universidade Estácio de Sá

Curso de Psicologia
Professora: Hillevi Soares
Disciplina: Técnicas de Exame Psicológico II

INTRODUÇÃO À TÉCNICA PROJETIVA H.T.P.

As possibilidades psicológicas do desenho são diversas:


*como forma de comunicação - atividade tão essencial para as crianças quanto o jogo ou o
brinquedo;
* como expressão do desenvolvimento geral - focalizando a maturação gráfica da criança;
* como expressão da psicopatologia - principalmente no aspecto artístico das produções;
* no diagnóstico psicoterápico - como meio de contato, investigação e tratamento;
* no diagnóstico psicológico - como instrumento de avaliação do desenvolvimento mental, de
aptidões específicas, da personalidade e para diagnósticos especiais.

As produções colhidas durante uma investigação ou avaliação psicológica, ao qual se aplicam os


princípios de análise e interpretação, isto é, procedimento próprio de exploração da personalidade, é
denominado técnico projetivas gráfico.

1) FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA TÉCNICA:

A validade dessas técnicas foi obtida a partir de correlações com várias fontes, utilizando-se o
método de consistência interna: informações acerca do examinando, associações livres, traduções
de símbolos mediante análise, comparação de um desenho com outro de uma série, dados obtidos
mediante o Psicodiagnóstico de Rorschach e/ou T.A.T.

O postulado teórico que fundamenta a interpretação das técnicas projetivas é mecanismo de


projeção. Há uma tendência no homem para ver o mundo de modo antropomórfico, isto é, à sua
imagem. Cada um percebe o mundo à sua maneira, desta forma a percepção do mundo nem sempre
é exata, podendo promover distorções e essas distorções são produzidas nos desenhos projetivos e
registradas no papel. Baseado nestes dados, pode afirmar que o desenho se constitui em um ótimo
estímulo para a atuação do mecanismo de projeção, possibilitando a manifestação de aspectos que
o sujeito não tem conhecimento, não quer ou não pode revelar, de aspectos mais profundos e
inconscientes da personalidade

A interpretação dos desenhos baseia-se no uso dos significados simbólicos derivados da psicanálise
e do folclore; na experiência clínica; nas associações livres dos clientes; nas simbolizações dos
psicóticos; na correlação entre os desenhos projetivos produzidos em vários momentos da terapia e
em vários estudos experimentais.

2) CARACTERÍSTICAS DA TÉCNICA:

A técnica projetiva H.T.P. (house, tree, person) constitui-se de desenhos temáticos sem modelos,
isto é, de realização gráfica a partir de um tema proposto. Investiga a visão subjetiva que o sujeito
tem de si mesmo e de seu ambiente, das coisas que considera importante, das que enfatiza e das que
ignora.
Criada por Buck em 1946 e publicada em 1948, a técnica se constitui em três itens específicos:
casa, árvore e pessoa. A escolha destes itens por Buck foi devido ao fato de que são itens familiares
a todos, facilmente aceitos para serem desenhados por todas as idades, estimulam verbalizações
mais espontâneas e são simbolicamente férteis em significados inconsciente.
A apresentação dos itens ao examinando, segue uma ordem que permite uma introdução gradual
da tarefa gráfica, os itens psicologicamente mais difíceis de serem desenhados, por provocarem
associações mais conscientes, são deixadas por último.
Na técnica gráfica H.T.P. o sujeito recebe estímulos que, apesar de lhe ser familiar, são
completamente inespecíficos, possibilitando o mecanismo de projeção.

Na análise das produções gráficas três aspectos devem ser levados em consideração:
 o aspecto adaptativo - adequação à tarefa solicitada, assim como a correspondência com o
grupo de idade, sexo e/ou eventualmente à patologia;
 o aspecto expressivo - o estilo particular de resposta do sujeito, revelado através da qualidade
gráfica;
 o aspecto projetivo - a atribuição de qualidades às situações e objetos

3) MATERIAL UTILIZADO:

Folhas de papel branco ofício ou A4, lápis grafite número dois (para o HTP acromático) e borracha
macia.

Visando a padronização da técnica o material utilizado segue o mesmo padrão, em termos de


tamanho, qualidade, textura, etc.

4) TÉCNICA DE APLICAÇÃO:

Solicita-se ao sujeito que desenhe na primeira folha, o melhor que puder, uma casa; na segunda
folha uma árvore; na terceira folha uma outra árvore; na quarta folha uma figura humana de corpo
inteiro e na quinta folha uma figura humana de corpo inteiro e de sexo oposto ao que foi desenhado
anteriormente.
A instrução dada ao sujeito é ambígua, pois o examinador não dá nenhuma indicação sobre a
representação das figuras, portanto a ênfase dada a cada uma delas e a inclusão ou exclusão dos
detalhes são decisões exclusivas do sujeito.
Após a produção dos desenhos pede-se que o sujeito fale (ou escreva no caso da aplicação coletiva)
sobre cada desenho, sendo às vezes necessário realizar um questionário posteriormente para a
complementar os dados.

5) SIMBOLISMO INERENTE ÀS FIGURAS:

A figura da CASA provoca associações referentes à vida familiar e relações interfamiliares, à


percepção que o sujeito tem da dinâmica familiar. Em adultos casados referem-se à família de
origem ou à família atual.

Na figura da ÁRVORE são projetados os sentimentos mais profundos e inconscientes que o sujeito
tem a respeito de si mesmo. Abrange os sentimentos mais básicos e duradouros, e menos suscetíveis
de serem alterados, sendo mais fácil atribuir traços e atitudes mais conflitivos ou emocionalmente
perturbadores nesta figura. Segundo Buck, dos três desenhos, a figura da árvore é mais provável de
transmitir a imagem que uma pessoa tem de si mesma no contexto de sua relação com seu ambiente.

Assim como na árvore, a figura da PESSOA investiga a imagem corporal e o autoconceito, porém
esta figura reflete a visão de si mesmo mais próxima da consciência e sua relação com o ambiente,
os mecanismos para lidar com os outros e os sentimentos em relação a eles.

Segundo Hammer, esta figura tende a provocar três tipos de temas: um auto-retrato (representando
o que o sujeito sente ser), um self ideal (um ideal de ego) e uma representação de outras pessoas
significativas (do passado ou do presente, por causa de sua valência positiva ou negativa para o
sujeito).

6) INTERPRETAÇÃO DOS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA CASA:

TELHADO:

Representa a área da fantasia, reflete o grau em que o indivíduo dedica seu tempo à fantasia
ou se volta para esta área para busca satisfação.

PAREDES:

A força e a adequação da representação das paredes estão ligadas ao grau da força do ego e da
personalidade.

PORTA:

Indica o contato como meio, o relacionamento do sujeito com a realidade exterior.

JANELAS:

Representam uma forma secundária de interação com o meio.

CHAMINÉ:

Em sujeitos bem ajustados representa apenas um detalhe necessário a casa, porém Pode ser
considerada como um símbolo fálico, porém em sujeitos com conflitos psicossexuais.

FUMAÇA:

Pode indicar tensão interna no sujeito ou conflito e turbulências emocional na situação familiar ou
em ambos, se for densa e exagerada.

PERSPECTIVA:

Revelam a percepção e os seus sentimentos a cerca da situação familiar e os valores pertinentes a


ela.
LINHA DE SOLO:

Reflete o grau de contato que o sujeito mantém com a realidade prática.

7) INTERPRETAÇÃO DOS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA ÁRVORE:

TRONCO:

Representa o sentimento de poder básico e força básica da personalidade, isto é, a força do ego.

ESTRUTURA DOS GALHOS:

Demonstram o sentimento de habilidade para obter satisfação a partir de seu ambiente, recursos
que utiliza para chegar aos outros e de buscar realização.

COPA:

As extremidades formam a zona de contato com o ambiente, a zona de relação e de troca.

ORGANIZAÇÃO DO DESENHO TOTAL:

Reflete o sentimento de equilíbrio intrapessoal do sujeito.

IDADE ATRIBUÍDA ARVORE:

Relacionada com o nível percebido de maturidade psico-social-sexual do sujeito.

8) INTERPRETAÇÃO DOS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA PESSOA:

CABEÇA:

São retratados os elementos concernentes ao intelecto, grau de preocupação com a fantasia, controle
racional, preocupações com as relações interpessoais e conceitos do self.

CABELOS:

Assim como a barba, geralmente vista como símbolo de virilidade, força e masculinidade.

FACE:

Um dos mais confiáveis indicadores do estado de ânimo.

OLHOS:

Revelam os sentimentos internos e são órgãos destinados ao contato externo.

NARIZ:

Pode ser considerado um símbolo fálico ou de força.


QUEIXO:

Considerado um estereótipo de força e determinação, geral mente associado com conceitos de


dominação e submissão.

PESCOÇO:

Considerado como o elo entre o controle intelectual e os impulsos do id.

OMBROS:

Representam força e poder. Juntamente com os braços, as mãos e pernas, formam um complexo
que indica a força de empenho do sujeito.

BRAÇOS E MÃOS:

São órgãos de contato e manipulação do corpo, meio de estabelecer relação e de apreender os


objetos do meio externo.

TRONCO:

Origem dos impulsos físicos, instintivos.

SEIOS:

Associado com dependência, representando mais o receber do que o dar, também associado à
sexualidade e a feminilidade.

PERNAS:

Tem como função suportar, permitir a locomoção e a aproximação social.

PÉS:

São instrumentos de autolocomoção, símbolos da autonomia.

CINTO / CINTURA:

Separam a parte inferior ou sexual da parte superior ou intelectual, podendo ser tomados como
símbolos de controle.

VESTIMENTA:

A maioria desenha figuras vestidas, a diminuição no número de peças do vestuário pode estar
associada ao narcisismo, ao exibicionismo.

MOVIMENTO:

Tende a identificar pessoas com disposição para resolver seus próprios problemas.
TAMANHO DAS FIGURAS:

Relação dinâmica entre o indivíduo e o seu ambiente ou entre o indivíduo e as figuras parentais.

TRATAMENTO DAS FIGURAS MASCULINA E FEMININA:

Indicador de fricção referentes ao papel sexual, hostilidades, dependência, força dos impulsos e
níveis de maturidade sexual.

9) ANÁLISE DOS ASPECTOS EXPRESSIVOS:

SEQUÊNCIA:

A análise seqüencial do conjunto de desenhos oferece indícios sobre os aspectos estruturais do


conflito e da defesa, sobre a quantidade de energia e o controle do sujeito em relação a esta.

TAMANHO:

O papel representa, de modo geral, o mundo exterior do sujeito e o desenho a forma pela qual o
sujeito se expressa nesse mundo. Oferece indícios a respeito da auto-estima do sujeito, sua
auto-expansividade característica ou sua fantasia de auto-inflação.

PRESSÃO:

Indicação do nível energético do sujeito.

TRAÇOS:

Considera-se o traço predominante dentre as linhas usadas.

 Longos- comportamento controlado.

 Curtos- comportamento impulsivo.

 Reto- auto - afirmação ou humor agressivo.

 Redondos ou circulares- feminilidade, dependência ou sociabilidade.

 Quebradas, indecisas ou reforçadas freqüentemente- índice de insegurança e ansiedade.

 Firmes, finas e estiradas em tamanho- sentimento de tensão emocional.

 Esboçadas (quando enfatizadas em excesso) - ansiedade, timidez, falta de autoconfiança e


hesitação ao se defrontar com situações novas.

 Fragmentada- indícios de estresse ou então de falta de objetivo.

 Decisivas, bem controladas e livres- bom ajustamento.

 Dentadas- hostilidade.
 Tremidas- ansiedade, insegurança

INCLINAÇÃO DO TRAÇO:

 Para direita- desejo de comunicação interpessoal, labilidade afetiva, precipitação inquietude.

 Para esquerda -> auto - controle, introspecção, retraimento, vacilação.

 Vertical- racionalidade, baixo nível de sensibilidade afetiva.

DIREÇÃO DAS LINHAS:

 Ascendente- ambição, expansividade, animação, inquietude.

 Descendentes- tendência à melancolia, depressão eventual.

USO DA BORRACHA:

Quando excessivo indica incerteza e falta de decisão ou insatisfação pessoais.

DETALHES:

 Ausência- sentimentos de vazio e energia reduzida, típicas de sujeitos que empregam defesas de
retraimento, e às vezes depressão.

 Excesso- compulsividade, ou distúrbios emocionais.

 Minuciosos- pedantismo e coartação.

 Excessivamente perfeito- hipervigilância indicando ego relativamente fraco.

 Rigidez nos desenhos- atitude basicamente defensiva, rigidamente controlada, incapacidade de


relaxar.

SIMETRIA:

 Falta de simetria- sentimentos de segurança inadequados.

 Ênfase- repressão e hiperintelectualidade, depressão.

LOCALIZAÇÃO:

 Centro -> auto-suficiência, comportamento emocional adaptado, segurança

 Para direita- comportamento estável, controlado, preferência pela satisfação intelectual à


emocional, adiação da satisfação da necessidade, introversão.
 Para esquerda- satisfação imediata, franca e emocional de suas necessidades, comportamento
impulsivo, extroversão.

 Acima do ponto médio- satisfação na fantasia, tendência a se manter distante e relativamente


inacessível, objetivos possivelmente inatingíveis, padrões de realização elevados, insegurança
em relação a si mesmo.

 Abaixo do ponto médio- insegurança e inadequação, depressão do humor, ligado à realidade ou


orientado para o concreto, atitude de derrota.

 Base no papel -> necessidade de apoio, medo da ação independente e falta de autoconfiança.

MOVIMENTO:

Indicação de bom nível de inteligência.

Este texto apresenta conteúdos extraídos de:

HAMMER, E. F. - APLICAÇÕES CLÍNICAS DOS DESENHOS PROJETIVOS. Rio de Janeiro:


Interamericana, 1981.

Organizada por: Hillevi Soares

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