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RESUMO
A industrialização baiana, conforme argumenta Guerra e Teixeira (2000), é marcada por uma dinâmica impulsionada
por blocos de investimentos exógenos – não tem iniciativa local – e por espasmos, acontecendo, dessa forma, a
aplicação de tempo em tempos. A indústria instalada na Bahia é, sobretudo, resultante de políticas governamentais
voltadas para a “desconcentração regional”. Tais políticas geraram surtos espasmódicos de investimentos, para após
retornar ao ritmo de letargia. Foram projetos que, na sua grande maioria, dependeram de capitais exógenos e com
forte componente estatal. Assim, a hipótese a se testar é pela manutenção desta dinâmica espasmódica e exógena
da industrialização baiana, mesmo após a introdução do complexo automotivo da Ford em Camaçari. O resultado
do exercício empírico é de aceitação da hipótese de manutenção.
Palavras-chave: Industrialização Baiana. Dinâmica Espasmódica e Exógena. Teorias do Investimento.
ABSTRACT
Bahian industrialization, as argued by Guerra and Teixeira (2000), is marked by a dynamic driven by exogenous investment
blocks – it has no local initiative – and by spasms, the application of which thus happening sporadically. The industry installed
in Bahia is, above all, resulting from government policies aimed at “regional decentralization.” Such policies have generated
spasmodic outbreaks of investments, to, then, later return to the lethargic rhythm. These projects, primarily, depended
on outside capital and strong state support. As such, the hypothesis to test is for the maintenance of this spasmodic and
exogenous dynamic of Bahian industrialization, just after the introduction of Ford’s automotive complex in Camaçari. The
result of the empirical exercise is the acceptance of the hypothesis of maintaining that dynamic.
Keywords: Bahian Industrialization. Spasmodic and Exogenous Dynamics. Theories of Investment.
* Doutorando e mestre em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). giliad.souza@ufrgs.com
APRESENTAÇÃO
A rigor, desde os anos 1950 até os dias atuais, conforme argumenta Guerra e Teixeira
(2000), podem-se identificar momentos marcantes na trajetória de industrialização da Bahia –
após a realização de blocos de investimentos concentrados no tempo – que modificam a
tendência dessa trajetória, gerando ondas de otimismo. Esgotados os efeitos multiplicadores
desses investimentos, e na ausência de uma dinâmica econômica endógena, o processo de
industrialização fica aguardando um novo choque exógeno que derrube a apatia e letargia e
desperte outro período de otimismo. O principal objetivo deste trabalho é, exatamente,
reconstituir essa trajetória do ponto de vista teórico, tecendo considerações sobre a teoria do
investimento e testar a hipótese de dinâmica espasmódica e exógena da industrialização
baiana, no caso específico do Projeto Amazon da Ford, na cidade de Camaçari. Indo de
encontro às vozes eufóricas da época, a conclusão que este trabalho chega é de que o
complexo automotivo não alterou a tendência espasmódica e exógena do perfil da indústria
baiana.
Para isso, este estudo se organiza em três seções, para além desta breve introdução e
das considerações finais: as duas primeiras no intuito de rever a literatura e a última fazendo o
exercício empírico. A primeira seção revisita a literatura que discute o processo de
industrialização baiana, desde seus primórdios até o marco mais significativo, a saber, a Ford.
A segunda seção revê a literatura que discute as teorias do investimento, tendo em vista que
estas são de enorme importância para entender a industrialização, servindo também, em
última instância como referencial teórico para a formulação dos modelos econométricos. Na
terceira seção faz-se o exercício econométrico strito sensu.
Na passagem do século XIX para o século XX a Bahia, em que pese a enorme força
dos ciclos de descenso e subida de sua economia comercial e agroexportadora, apresentava-se
como um espaço de grande potencial industrial. Do ponto de vista da estrutura produtiva, a
indústria assumia decididamente um lugar destacado na geração da renda interna e do
emprego, ao nível de aparecer, a agroindústria do açúcar e as fábricas de tecidos, como os
segmentos de maior vigor da economia urbano-industrial, juntamente com o comércio e com
os exportáveis agrícolas. Como aborda Spinola (2001, p.34)
(...) a indústria contava com cerca de 140 fábricas em atividade, em 1892, com predominância
das grandes unidades de tecidos localizadas em Salvador e no Recôncavo, em número de doze;
três de chapéus; duas de calçados (uma das quais empregava 800 operários na Companhia
Progresso Industrial); cinco alambiques; doze fábricas de charutos e quatro de cigarros; cinco
fundições de ferro, bronze e outros metais; nove grandes engenhos centrais de açúcar; sete
fábricas de móveis e serrarias; duas de chocolate; duas de cerveja; dez de sabões e sabonetes;
seis de velas; cinqüenta de massas alimentícias; além de outras de camisas, rapé, gelo, óleos
vegetais, biscoitos, pregos, luvas finas, fósforos, etc.
Para Silva e Drumond (2008), este parco crescimento industrial, que eles chamam de
protoindustrialização, ou seja, um processo industrial germinal e não continuado, tem fortes
entraves internos e endógenos. Segundo eles,
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Rômulo Almeida, um importante intérprete e político baiano, num texto de 1952 apontam razões históricas,
econômicas e políticas para àquela situação (ALMEIDA, 1952). Para aprofundamento no assunto ver: Araújo
(2000); Guimarães (1982); Mendes (2005); Oliveira (1981) e Rangel (2000).
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Aguiar (1977) buscava explicar as reduzidas taxas de crescimento econômico estaduais, argumentando que, se
fosse possível eliminar todas as causas de contenção provenientes do passado, dentre as quais destacava a
subcapitalização e o atraso técnico, restaria ainda vencer:
. o caráter reflexo de uma economia primária dependente, endogenamente, da sazonalidade das safras e,
exogenamente, das flutuações dos mercados externos;
. o desgaste do intercâmbio comercial interno decorrente da política cambial em vigor, que agravava a tendência
à deterioração dos termos de troca das mercadorias enviadas e recebidas de outros estados;
• ao não participar do dinamismo do café, a Bahia não gerava grandes excedentes passíveis de
serem canalizados para a indústria;
• a Bahia, nesse sentido, vivia um processo de baixa acumulação de capital, o que impedia o
desenvolvimento de economias urbanas geradoras de mercados para o desenvolvimento
industrial;
• as elites e a população baiana, por fim, decorrente da colonização escravocrata lusitana, não
detinham capacidades empresariais e tecnológicas para a aventura industrial. O lucro, salvo
raras exceções, era sempre perseguido dentro de uma perspectiva mercantil.
. a escassa capacidade de poupança e o reduzido estímulo aos investimentos, provenientes das limitações
anteriores.
Spinola (2001) pontua que, além desses elementos de cunho econômico, sobretudo a
instabilidade da base econômica do Estado, preponderantemente agrícola e dependente das
variações das safras e dos preços internacionais das matérias-primas, há outros fatores que
explicam o enigma baiano, tais como: o ritmo fraco de capitalização do Estado, o
conservadorismo da representação política estadual no governo republicano instalado no Rio
de Janeiro, as dificuldades de transportes, a carência de energia e a inexistência do aporte de
capital humano qualificado visto que a emigração europeia e asiática, deflagrada no final do
século XIX e início do século XX, concentrou-se exclusivamente na região Sudeste,
preferencialmente em São Paulo, pois os grandes latifundiários nordestinos, temendo
repercussões negativas para suas atividades agroexportadoras, bloquearam o fluxo de
imigrantes em direção à região.
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Convidado pelo Governador da Bahia, Antônio Balbino (1955-1959), para a Secretaria da Fazenda,
acumulando funções de planejamento.
Uma dos atos do SEP, o incentivo à pecuária, entendendo-a como uma forma de
aplicação dos excedentes da economia cacaueira, contrariando a tendência de migração dos
excedentes do cacau (sul do país e consumo suntuoso). Outro ato toca à industrialização,
sobretudo no incentivo uma indústria voltada para o mercado regional e nacional que
aproveite os recursos naturais da região e a abundância de mão de obra desqualificada e, ao
mesmo tempo, incentive a imigração dos fatores escassos – capital, técnica e experiência
empresarial. Outras medidas, que visam solucionar o desgaste dos termos de intercâmbio,
dirigem-se, conforme explicitamente afirma a CPE (apud GUIMARÃES, 1982, p.64), para
um programa de organização comercial das exportações, principalmente do cacau, tendo em
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O CPE tinha como escopo: 1) estudar e propor medidas convenientes à estabilidade e desenvolvimento
equilibrado do Estado e de área econômicas vizinhas, cujos interesses sejam solidários aos da economia baiana,
podendo adotar um programa ou plano integrado de desenvolvimento, reunindo medidas de diversas esferas
administrativas e de esfera particular; 2) estudar e propor, a quem competir, empreendimentos específicos que
reputem interesse fundamental pelo seu caráter demonstrativo, pioneiro ou pela sua influência sobre outras
atividades para o desenvolvimento geral; 3) promover a colaboração mais estreita entre a administração estadual
e a administração federal, as entidades autônomas e as forças da economia privada, tendo em vista acelerar o
processo de desenvolvimento; 4) promover, diretamente ou através de ação articulada de órgãos ou entidades
colaboradoras, a divulgação adequada dos recursos, possibilidades e condições para empreendimentos na Bahia,
bem como dos seus trabalhos (CARVALHO NETO, 2002, p.10).
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O CONDEB tinha como escopo: 1) estabelecer um programa de estudos e pesquisa para a elaboração do
programa ou plano de ação do Governo estadual, bem como medidas coordenadas a propor a outras esferas e
entidades governamentais e ao setor privado; 2) adotar o programa ou plano a que se refere a letra anterior, para
efeito das medidas executivas, legislativas ou de coordenação que fizerem mister; 3) coordenar
permanentemente a ação das diversas Secretarias e entidades sob controle de seus membros;4) rever
regularmente os resultados das medidas tomadas e efetuar as correções indicadas pela experiência ou pela
superveniência de novos fatores (CARVALHO NETO, 2002, p.9).
vista, não só credenciar melhor nossos produtos pela qualidade, como reduzir os fatores de
instabilidade no mercado mundial, a ser executado com a interferência do governo federal.
b) Da RLAM à Ford
No entanto, conforme argumenta Guerra e Teixeira (2000), em que pese que, no final
da década de 50, o estado havia, ainda que timidamente, destravado o seu processo de
industrialização, este se deu sobretudo mediante um impulso exógeno, ou seja, os
investimento da Petrobrás em extração e refino de petróleo. As mudanças sociais também
começam a se fazer sentir. Expandem-se a classe operária e a classe média urbana, esta
última ocupada nas próprias fábricas e nas atividades de apoio do setor terciário. (GUERRA
& TEIXEIRA, 2000, p.89)
Ao final da década de 60, com todo desdobramento das ações que lhe antecederam, a
industrialização baiana demonstrava-se inadiável. Desde a infraestrutura, que passava por um
processo de modernização e expansão, até ao operariado industrial e a classe média que
cresciam com as novas atividades instaladas, os reflexos eram perceptíveis. Esse processo se
dinamiza ainda mais a partir da década de 70, no veio da interpretação de Guerra e Teixeira
(2000) de “industrialização marcada por uma dinâmica exógena e espasmódica”, mediante
intervenções estatais planejadas e da vinda de capitais estrangeiros.
A partir da década de 1970, segundo Alcoforado (2003, p.231) e Spinola (2001, p.36),
mediante uma utilização intensa de apoios institucionais como financiamentos a juros
subsidiados, isenção de impostos e incentivos fiscais com o aporte de consideráveis recursos
públicos a fundo perdido oriundos dos organismos de fomento ao desenvolvimento do país,
inseriram-se, tanto no interior quanto na RMS, distritos industriais, montando com isso o
parque produtor de bens intermediários concentrados nos segmentos da
química/petroquímica e dos minerais não-metálicos. Isto consolidou o processo de
industrialização iniciado nos anos 50, fazendo com que a estrutura produtiva da economia
baiana começasse a perder sua feição agroexportadora, fortemente apoiada na atividade
cacaueira. A Bahia se inseriu na matriz industrial brasileira, de modo similar ao sucedido em
outras unidades federativas fora do eixo Centro-Sul, através da chamada “especialização
regional”. Com isso, conforme Guerra e Teixeira (2000, p.90), o estado se transformou num
supridor de produtos intermediários para os setores de bens finais instalados no eixo
Sul/Sudeste do país.
Dessa forma, segundo atesta Guerra e Teixeira (2000), a indústria instalada na Bahia é,
sobretudo, resultante de políticas governamentais voltadas para a “desconcentração regional”.
Tais políticas engendraram surtos espasmódicos de investimentos, conforme visto pela
instalação da Refinaria Landulpho Alves-Mataripe, do Centro Industrial de Aratu, do
Complexo Petroquímico de Camaçari e, mais recentemente, do Complexo Automotivo.
Foram projetos que, na sua grande maioria, dependeram de capitais exógenos e com forte
componente estatal. Assim, a hipótese a se testar é pela manutenção da dinâmica espasmódica
e exógena da industrialização baiana, mesmo após a introdução do complexo automotivo da
Ford em Camaçari.
a) O Modelo Keynesiano
d) Teoria q
Para James Tobin (1969), o investimento deve ser uma função crescente da razão entre
o valor da firma e o custo de compra dos equipamentos e estruturas nos seus respectivos
mercados. Essa razão, conhecida como q de Tobin, concebe assim a relação entre o aumento
no valor da firma resultante da instalação de uma unidade adicional de capital e seu custo de
reposição. Quando o incremento no valor de mercado da firma exceder (ou for menor que) o
custo de reposição, as firmas desejarão aumentar (ou diminuir) seu estoque de capital. Esta
razão é denominada pela literatura como “q marginal”. Assim sendo, conforme com a teoria
do q de Tobin, as firmas baseiam suas decisões de investimento na razão entre o valor de
mercado do capital instalado (avaliado pelo mercado de ações) e o custo de reposição do
capital instalado (preço do capital como se fosse comprado hoje). Os empresários, assim,
poderiam aumentar o valor de mercado de suas empresas comprando mais capital, ou seja,
realizando investimento (ALVES&LUPORINI, 2007, p.4,5)
e) Restrições Financeiras
Para que possa ser efetivada a realização do investimento em bens de capital, as firmas
precisam de fontes de financiamento, que permitam a concretização do investimento. A
dinâmica de crescimento de uma dada economia depende da disponibilidade de recursos para
investimento e do custo desses recursos. Sumariamente, existem, basicamente, quatro formas
de financiamento das firmas: o financiamento bancário, o mercado de capitais, financiamento
externo e o financiamento por meio de recursos internos (lucros reinvestidos).
Estímulo por parte da demanda. Nas economias em desenvolvimento, esta também seria
uma variável importante. Assim, é interessante estudar crescimento do PIB e crescimento das
exportações.
ESTUDO EMPÍRICO
As variáveis que são apresentadas como importantes na literatura supracitada, mas não
se encontram no modelo, é em virtude de que não há série específica por Estado, estão em
outra periodicidade (trimestral ou anual) – variáveis de gastos governamentais, por exemplo –
ou mostraram-se estatisticamente insignificante – o coeficiente da variável de demanda
(vendas industriais) teve o p-value de 0.7106 e erro padrão de 0.42242. Em função disto, essas
variáveis que são significantes na literatura não foram utilizadas no modelo em questão.
Os dados obtidos compreendem uma série histórica, com a qual foram realizadas
simulações, para a escolha da melhor especificação que ajusta os dados empíricos. Como tem-
se a hipótese de manutenção da dinâmica espasmódica e exógena da industrialização, ou seja,
não há alteração significativa na regressão, portanto necessário o emprego da variável binária
dummy, com a finalidade de melhor captar os efeitos dessas mudanças sobre as variáveis
dependentes, de acordo com a literatura aqui exposta. Caso a hipótese se confirme, a variável
dummy será estatisticamente pouco significativa.
obtenção dos resultados para os investimentos. Na segunda etapa, inclui-se a variável dummy
com efeito apenas intercepto e avalia-se sua capacidade explicativa. No terceiro momento, a
variável dummy assume efeito apenas na declividade, fazendo a avaliação similar da segunda
etapa. A quarta etapa a dummy assume efeito tanto no intercepto quanto na declividade.
Conforme consta na literatura aqui apresentada, a industrialização, que tem por proxy
“volume de investimentos” (INV), é função do Sistema Financeiro, que tem por proxy
“disponibilidade de crédito” (CRED), dos preços dos fatores de produção, no caso dos
insumos (INSU) e pelo grau de instabilidade econômica, que tem por proxy a dívida pública
como proporção do PIB (DIV). Na sua especificação genérica, pode-se apresentar como:
INV =
É válido lembrar que as séries já estão devidamente logaritmizadas, logo sua forma
funcional é Log-Linear.
b) ESTIMATIVA
Cabe ressaltar que a variável INSU foi rodada na primeira diferença em virtude da
justificativa apontada na subseção “Descrição das Variáveis Estudadas”. Do ponto de vista da
teoria, quanto maior a disponibilidade de crédito maior será o volume de investimento, assim
como a instabilidade econômica (dívida como proporção do PIB) e os preços dos insumos são
inversamente proporcionais. Inicialmente, o modelo estimado está de acordo com a teoria.
c) TESTES
O conjunto de testes até aqui realizados demonstram a não estacionariedade das séries
em nível. Esta só ocorre a partir da primeira diferença em todas, configurando o fato de que as
séries são integradas de primeira ordem, I(1). Tal evidência é também sugerida pelo confronto
entre as tabelas 1 e 2. Portanto, as séries, no período analisado, são estacionárias em
diferença, isto é, evoluem conforme passeios aleatórios.
Portanto, com base nos testes aqui implementados, conclui-se que as séries de
investimento (INV), disponibilidade de crédito (CRED), dívida como proporção do PIB
(DIV) e custos dos insumos (INSU) são co-integradas. Ou seja, embora individualmente cada
uma exiba um caminho aleatório; conjuntamente, as séries não se afastarão uma da outra no
longo prazo. Ademais, os resíduos são normalmente distribuídos.
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Cumpre ressaltar que na hipótese de as séries de receita e despesa do governo serem co-integradas, os resíduos
serão necessariamente estacionários, refletindo a relação de longo prazo entre as variáveis.
Outra suposição do modelo é que o termo erro referente a uma observação qualquer
não seja influenciado pelo termo erro referente de qualquer outra observação. Ou seja, não
existe autocorrelação nos resíduos. Quando se testa contra a hipótese de não-autocorrelação,
rejeita-se a hipótese nula, logo, há também esta violação.
Logo, a inclusão do termo auto-regressivo de primeira ordem foi suficiente pra corrigir
o problema de autocorrelação serial dos resíduos. Testando agora tanto a estabilidade da
regressão quanto a hipótese de homocedasticidade, tem-se:
Com a inclusão do termo AR(1) nota-se que a forma funcional é adequada (Tabela 7),
assim como a correção do problema de heterocedasticidade (Tabela 8). Logo, as novas
estimativas do modelo, devidamente corrigida a violação da não autocorrelação, são:
A partir da tabela 11, pode-se afirmar que a possibilidade de quebra estrutural no ano
de implementação da Ford na Bahia, mediante aplicação de variáveis binárias dummy, que o
complexo automotivo não alterou a dinâmica espasmódica e exógena, já que em todos os
casos, as probabilidades de significância (p-value de C(5)) não foram significativas
estatisticamente. Desse modo, nos marcos teórico-metodológicos aqui apresentados é possível
afirmar que a tendência de “crescimento vegetativo” (GUERRA & TEIXEIRA, 2000, p.95)
da indústria se perdura, mesmo após executado o Projeto Amazon com a instalação de um
complexo automotivo. Possivelmente, o mesmo entrava no encadeamento se mantem e se
reverbera, tornado ainda bastante fraco o encadeamento inter-setorial e implicando na baixa
capacidade de endogeneização dos investimentos privados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os primeiros anos do século XXI demonstra que a Bahia superou o enigma da sua
involução industrial, fenômeno presente em boa parte do século atual. A indústria se
consolidou como o principal e mais dinâmico setor de atividade. A Região Metropolitana de
Salvador concentra um robusto parque produtivo, capaz de aglutinar serviços das mais
diversas naturezas. Apesar do crescente e persistente problema do baixo Índice de
Desenvolvimento Humano, foram constituídas uma classe operária moderna e uma classe
média relativamente forte. Em suma, as mudanças instauradas desde 1950 levaram a
economia agroexportadora dependente, atrasada e estagnada a se transformar
significativamente, tanto do ponto de vista econômico como social.
Com todos esses elementos é possível afirmar que a indústria instalada no estado é, em
grande medida, resultado de políticas governamentais voltadas para a “desconcentração
regional”. Tais políticas engendraram surtos espasmódicos de investimentos, exemplificados
pela instalação da Refinaria de Mataripe, do Centro Industrial de Aratu, do Pólo Petroquímico
de Camaçari e, agora, do Complexo Automotivo. Foram projetos que, na sua grande maioria,
dependeram de capitais exógenos e com forte componente estatal. Conforme argumenta os
autores, a industrialização baiana não foi capaz de gerar uma capacidade empresarial local,
capaz de aproveitar as oportunidades que as grandes empresas abriam ao se implantarem na
região (GUERRA & TEIXEIRA, 2000, p.96).
Por esta razão, apoiado no exercício econométrico que testou a hipótese da dinâmica
exógena e espasmódica, é possível afirmar que, mesmo com todo o entusiasmo dos políticos e
de alguns intelectuais na Bahia7, a Ford não rompeu com a tendência estrutural de
“crescimento vegetativo”. Dessa forma, pode-se concluir que o espasmo chamado Projeto
Amazon da Ford com o legado histórico de baixa endogeneização dos investimentos estatais-
privados estrangeiros, que se reverbera desde a primeira ação pró-industrialização de fato, que
foi a RLAM.
7
Oswaldo Guerra e Francisco Teixeira eram alguns destes entusiastas. Eles afirmavam que haveria, com a vinda
da Ford, uma integração da indústria local em direção aos bens de consumo duráveis de alto valor agregado. E
que [t]al integração pode lançar essa indústria em uma nova fase de crescimento, voltado não só para
mercados externos (GUERRA & TEIXEIRA, 2000, p.95-6).
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