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Obrigação, nas palavras de Venosa (2004, p. 25), é “uma relação jurídica transitória de
cunho pecuniário, unindo duas (ou mais) pessoas, devendo uma (devedor) realizar uma
prestação à outra (credor)”. Para melhor entendimento vamos destrinchar:
Relação jurídica transitória: é um vínculo entre pessoas, duas ou mais, que tem relevância para
o mundo jurídico, sendo que tal vínculo tem fim;
Cunho pecuniário: significa que tem vantagens econômicas envolvidas. Tais vantagens são,
inclusive, o que ligam as pessoas para a relação jurídica;
Dessa forma, entende-se que obrigação é um vínculo jurídico que decorre da vontade de
dois ou mais sujeitos em que um se obriga a dar, fazer ou não fazer algo a outro, e este se
obriga (ou não, como na doação) a dar uma contraprestação ao primeiro.
Sendo assim, vê-se que a obrigação nasce com a finalidade de ser extinta, sendo que tal
extinção acarreta em proveito a ambas as partes.
Nesse sentido, o Código Civil prevê formas direta e indireta de extinção das obrigações. A
forma direta é aquela em que o devedor realiza o cumprimento/pagamento nos exatos termos
dispostos no contrato, ou melhor, no tempo, no lugar e na forma em que as partes
combinaram. Dessa maneira, a obrigação extingue-se pelo pagamento. Por sua vez, as formas
indiretas são aquelas em que o devedor cumpre a obrigação, porém não da forma
preestabelecida, ou seja, pode ter atrasado, ido ao local errado ou não pagado da forma que
deveria, podendo ser extinta com o pagamento com os devidos juros e multa moratória, ou de
formas diversas, ocasião em que se constituem as formas especiais de extinção das obrigações,
como exemplo o pagamento em consignação, a dação em pagamento e a novação.
Neste artigo irei me limitar à forma direta de extinção das obrigações, ressaltando
aspectos gerais como tempo, modo e lugar do pagamento. Mas, se gostarem da didática
apresentada, poderei escrever também sobre as formas indiretas e especiais de pagamento
em outro momento.
1. DO PAGAMENTO
Como dito a priori, a obrigação extingue-se – em regra – por meio do pagamento. Mas o
que é pagamento? Pagamento, lato sensu, “é toda forma de cumprimento da obrigação”
(VENOSA, 2005. p. 178) e como Maria Helena Diniz (2013. p. 278) aduz, stricto sensu: “é a
execução voluntária e exata, por parte do devedor, da prestação devida ao credor, no tempo,
na forma, e lugar previsto no título constitutivo”. Nesse sentido, pagamento não é somente
uma quantia em dinheiro, abrangendo, portanto, a prestação de um serviço, dar, fazer ou não
fazer algo, uma vez que se trata de toda forma com vistas à extinção de uma obrigação.
É sabido que quem tem o dever de pagar é o devedor, ou seja, aquele quem selou tal
obrigação por meio de um contrato. Porém, nada impede que um terceiro possa fazer esse
pagamento em favor do devedor. O Código Civil deixa isso bem claro em seu artigo 304,
quando diz que “qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor
se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor”. Como se vê, ainda que o credor
se recuse a receber o pagamento feito por terceiro, pode este se utilizar das formas especiais
para fazer válido o seu pagamento, ou seja, se o credor se recusa a receber ou dar quitação a
um terceiro pode este se valer do pagamento em consignação, por exemplo, fazendo depósito
judicial ou em estabelecimento bancário a quantia devida, sendo que igual direito cabe ao
devedor.
Os interessados são aqueles que, embora não façam parte do contrato, podem sofrer a
consequência do não pagamento do devedor da obrigação, são exemplos os fiadores, que se
obrigam a pagar se o devedor não o fizer, e os subinquilinos, que correm o risco de serem
despejados caso não ocorra o pagamento por parte do devedor. Esses se sub-rogam no direito
do credor, ou seja, passam a ter as mesmas prerrogativas que tinha o antigo devedor, como
exemplo uma hipoteca garantindo a dívida.
Por sua vez, os não interessados são aqueles que não fazem parte da relação obrigacional
e nem podem ser afetados caso ela não seja extinta, mas pagam em razão de um dever moral -
caso dos pais que pagam para os filhos - ou por solidariedade, caso de amigos que pagam o
credor em favor do devedor.
Terceiro não interessado que paga em nome e à conta do devedor: tem igual direito do
terceiro interessado de usar dos meios especiais de pagamento para quitar a dívida do
devedor, como a consignação, porém, não lhe cabe o direito de ser reembolsado se o fizer sem
o conhecimento ou se o fizer com a oposição do devedor, se este tinha meios de rebater a
ação demonstrando que poderia quitar a dívida.
Terceiro não interessado que paga em seu próprio nome: esse tem direito ao reembolso do
que pagou, mas não terá direito às prerrogativas que tinha o credor, a exemplo de uma
hipoteca garantindo a dívida.
Por fim, a cerca da eficácia do pagamento no que diz respeito à transmissão da propriedade
mediante pagamento, o Código Civil dita que só terá eficácia o pagamento que importar tal
transmissão quando feito por quem possa alienar o objeto em que o pagamento constituiu. Tal
prescrição vem do princípio de que não se pode alienar o que não é seu, sendo assim, o
pagamento feito a quem não tem a propriedade não tem eficácia jurídica.
Ainda nesse sentido, se o pagamento for feito dando-se uma coisa fungível – que se pode
substituir por outra igual –, não se poderá reclamar se caso o credor de boa-fé que a recebeu a
consumir, ainda que o devedor não tivesse o direito de aliená-la, ou seja, se ele não pudesse
dar a outrem, em razão de não ser proprietário por exemplo. Nessa situação o dono real da
coisa deve reclamar a quem alienou injustamente a sua coisa e não a quem de boa-fé a teve
em razão de uma alienação mediante pagamento.
Por ser a parte da relação a que é devida o pagamento, deve-se pagar ao credor, e como
dito anteriormente, se este se recusar ou não der a quitação, o devedor tem à sua disposição
os meios especiais de pagamento, como a consignação, a fim de efetuar seu pagamento.
Entretanto, além do credor, a legislação civil traz a possibilidade de se pagar ao representante
do credor e a um terceiro.
3.1 DA REPRESENTAÇÃO
Nessa toada, os representantes são partes legítimas para receber o pagamento e dar a
quitação da obrigação. Porém, vale dizer que o representante convencional deve ter poderes
expressos para tal, portanto, para que este possa receber o pagamento e dar a quitação é
necessário que esses poderes estejam expressos no contrato de mandato.
Agora você deve estar imaginando inúmeras situações em que você fez algo parecido e
notando que é comum isso acontecer.
O mesmo ocorre com o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, a não
ser que se prove que em benefício dele efetivamente reverteu. É o caso de se pagar a pensão
alimentícia ao menor incapaz. Tal pagamento é inválido se não se provar que o pagamento
reverteu-se em proveito do menor, ou seja, demonstrando que o menor comprou comida,
roupas e brinquedos para si com o dinheiro, por exemplo.
Pode acontecer, ainda, que o pagamento seja feito a uma pessoa que se parece credor, no
caso de se ter uma falsa noção da realidade a respeito de quem seja o credor. Esse que se
porta como credor, mas não o é, é o que chamamos de credor putativo.
Putativo é aquilo a que se atribui, por suposição, uma veracidade em razão de sua
aparência. O credor putativo é, então, nos dizeres de Caio Mário da Silva Pereira (2001. p. 112),
“a pessoa que, estando na posse do título obrigacional, passa aos olhos de todos como sendo a
verdadeira titular do crédito”. Em outras palavras, a pessoa vem até você com o termo de
quitação se apresentando como credor, te induzindo a uma falsa noção da realidade, ou até
mesmo por engano do devedor, que pode achar estar diante do credor, quando não o é.
Muito justamente nossa legislação considera válido o pagamento feito ao credor putativo,
mesmo que seja provado depois que não era o credor real. Porém, é imprescindível que o
devedor esteja de boa-fé e que o seu erro seja escusável, podendo ter sido cometido por
qualquer outro que estivesse em seu lugar.
Finalmente, pode ocorrer de o devedor pagar ao credor, apesar de ter sido intimado a
respeito da penhora daquele crédito ou da impugnação a ele oposta por terceiros, caso em
que poderá ser compelido a pagar de novo. Tal caso ocorre em virtude de uma ação judicial ao
qual o credor seja condenado a um pagamento, mas que, por não pagar, acaba tendo seus
bens e seus créditos penhorados. O crédito que o devedor deve a esse credor pode ser
penhorado, ou seja, pode ser bloqueado judicialmente para garantir o pagamento ao qual o
credor foi condenado. Dessa forma, o devedor é intimado, sendo, portanto, avisado a respeito
de tal penhora. Sendo assim, se, mesmo intimado, o devedor pagar ao credor ele poderá ser
compelido a pagar novamente, mas lhe será assegurado o direito de entrar com uma ação –
que chamamos de ação regressiva – contra o credor para ser-lhe devolvido o que pagou a mais
do que originalmente deveria pagar.
Pelo princípio da pacta sunt servanda – pactos devem ser cumpridos da forma em que
foram estabelecidos –, as partes de uma obrigação estão limitadas ao que foi acordado entre
elas por meio de um contrato – seja ele verbal ou escrito –, haja vista que ele faz lei entre as
partes. Dessa forma, o credor não é obrigado a receber prestação diferente da que foi
combinada, ainda que seja mais valiosa, por força do artigo 313 do Código Civil, sendo que o
devedor deve pagar as dívidas no vencimento – data estabelecida – em moeda nacional. Ainda,
é lícito o aumento progressivo do valor do pagamento que esteja submetido ao parcelamento,
se assim dispuser o contrato.
Vale ressaltar que o mesmo código diz serem nulas as convenções de pagamento em ouro
ou moeda estrangeira, bem como para compensar a diferença entre o valor desta e o da
moeda nacional – excetuados casos previstos em legislação especial.
Além disso, pela inteligência do artigo 314, ainda que o pagamento seja de coisa divisível,
o credor não é obrigado a receber por partes e nem pode exigir que o devedor o pague assim,
se não foi ajustado dessa forma.
4.1 DA QUITAÇÃO
Assim sendo, o devedor que paga da forma estabelecida tem direito à quitação regular. A
quitação é uma espécie de recibo em que se tem a declaração de satisfação do crédito. Tal
recibo pode ser dado por instrumento particular, portanto, pode ser até escrito a mão em uma
folha de papel comum, e nele deve conter o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do
devedor ou de quem pagou por ele, o tempo e o lugar do pagamento, e a assinatura do credor
ou de seu representante, ou, ainda, de quem tenha recebido o pagamento por ele. Esses
elementos da quitação são requisitos de validade. Portanto, só será válida a quitação que
contiver tais requisitos, porém, será válida a quitação sem eles se se provar por meio dos
termos e das circunstâncias que o pagamento foi efetuado.
Vale ressaltar que se a quitação não for dada ou se o credor se recusar a entregar ao
devedor, pode este reter o pagamento consigo até que lhe seja dado, pois a quitação, como
dito anteriormente, constitui direito de quem paga, além de ser o meio de prova do
pagamento.
O devedor também poderá reter o pagamento dos débitos em que a quitação consista na
devolução do título, e ele tenha perdido este, caso em que pode exigir uma declaração –
preferencialmente escrita para se ter a prova material da declaração – do credor constando
que ele inutilizará o título que tenha desaparecido. Assim sendo, a entrega do título ao
devedor firma a presunção de foi efetuado o pagamento, mas pode o credor, em sessenta dias,
provar a falta do pagamento, caso em que a quitação ficará sem efeito. Porém, se não o fizer
no prazo, decai do direito e a quitação produzirá seus devidos efeitos.
Ademais, o diploma civil diz que quando o pagamento for em quotas periódicas, ou seja,
em prestações periódicas em que em cada uma se dá uma parte do total do pagamento, a
quitação da última estabelece a presunção de estarem solvidas as demais, até que se prove o
contrário. Nessa toada, o pagamento da última parcela de um pagamento parcelado gera a
presunção de que as demais já tenham sido cumpridas de igual forma. Não obstante, uma vez
que não seja verdadeira a presunção de que o devedor quitou as demais parcelas, o credor
pode provar – por meio da falta de termos de quitação do devedor, por exemplo – que,
embora a última parcela tenha sido paga, as demais não foram e exigir – até por meio de ação
de execução – o pagamento das faltantes.
Quanto às despesas para se fazer o pagamento, essas ficam a cargo do devedor bem como
as despesas oriundas da quitação. Ocorrendo, entretanto, fato que gere aumento nessa
despesa por culpa do credor, este ficará obrigado a arcar com os acréscimos.
O diploma civil ainda faz referência ao pagamento que houver de ser feito por medida ou
peso, ocasião em que, se as partes não ajustarem nada, serão aceitos as medidas e os pesos
utilizados no lugar da execução. A título de curiosidade vale trazer, como exemplo, as
variações do alqueire que se tem no Brasil: em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Goiás o alqueire
equivale a 4,84 hectares; em São Paulo equivale a 2,42 hectares; na Bahia equivale a 9,68
hectares; e no norte geralmente se equivale a 2,72 hectares. Sendo assim, as partes que
tenham um contrato cujo objeto deva ser pesado ou medido, se silentes, aceitarão,
tacitamente, os pesos e medidas do local onde estiverem.
Por fim, cumpre salientar a respeito da famosa revisional dos contratos, medida judicial
em que o juiz corrige o valor da prestação para se assegurar, o quanto possível, o valor real
dela. Vejamos o que o Código Civil diz a respeito:
Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor
da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da
parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação. (Sem grifos no
original.)
Para Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery (2003. p. 298), tal artigo trata
“de hipótese exemplificativa, pois o sistema admite a revisão em outros casos, como, por
exemplo, quando houver: a) quebra de base de negócio; b) desequilíbrio contratual; c)
desproporção da prestação; d) quebra da função social do contrato; e) ofensa à boa-fé objetiva
etc.”
Ainda nesse sentido, pode se ter direito a essa correção pelo juiz quando se tem uma
onerosidade excessiva nos moldes do Código Civil:
Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes
se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de
acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do
contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação. (Sem grifos no
original.)
Portanto, uma vez que a onerosidade excessiva torna desproporcional a prestação, desde
que por motivos imprevisíveis, ela também faz com que o devedor tenha direito a tal correção
judicial.
Tal medida é extremamente justa e importante, pois visa garantir a função social do
contrato – que busca sempre o proveito de ambas as partes sem causar prejuízos a elas, muito
menos a terceiros –, previsto no artigo 421 do Código Civil, além de assegurar a boa-fé objetiva
prevista no artigo 422 do mesmo código, sempre reafirmando o proveito comum nas
obrigações sem causar prejuízo às partes.
5. LUGAR DO PAGAMENTO
Como dito anteriormente, o contrato faz lei entre as partes, estando estas restritas ao que
se obrigaram. Destarte, o lugar do pagamento será o lugar ao qual as partes acordaram
quando contraíram a obrigação – podendo ser dois ou mais, sendo que cabe ao credor a
escolha. Porém, na omissão do contrato, fica-se estabelecido por meio do artigo 327 da
legislação civil que será a casa do devedor. O pagamento pode ser feito em local diverso, ainda,
em virtude de lei – determinação de que o pagamento de determinado tributo seja em um
determinado banco –, ou em razão da natureza da obrigação – no contrato de empreitada em
que a prestação tem lugar específico –, ou pelas circunstâncias, sendo, portanto, o local do
pagamento o local apropriado a depender do tipo de pagamento, como exemplo o pagamento
que consiste na tradição de imóvel, ou de prestações relativas a ele, que deve ser feito onde se
situa o bem.
O diploma civil ainda elenca outras duas situações em que o pagamento será efetuado em
local diverso da regra geral – domicílio do devedor –, quais sejam, quando ocorrer motivo
grave para que se não efetue o pagamento no lugar determinado, podendo, então, o devedor
pagar em outro lugar sem prejuízo para o credor, e quando o pagamento for feito repetidas
vezes em outro local que não o ajustado entre as partes, fazendo presumir a renúncia do
credor quanto ao local acordado.
Como assevera o professor Álvaro Villaça (2000. p. 121), “tudo indica que a palavra
quesível encontra origem no verbo latino ‘quaero, is, sivi, situ, ere’, da terceira conjugação,
que significa buscar, inquirir, procura”. Dessa forma, a dívida quesível é aquela em que o
credor tem de buscar o seu pagamento no domicílio do devedor. Diversamente, a portável é
aquela em que o devedor busca pagar o credor, se assim for ajustado.
6. TEMPO DO PAGAMENTO
Primeiramente, artigo 331 do Código Civil dispõe que com a ausência de prazo
determinado – e se as partes não convencionarem de maneira diversa –, pode o credor exigir o
pagamento imediatamente. Sendo assim, uma vez que não se tem o prazo determinado e nem
disposição contrária a essa imposição normativa, o credor pode exigi-lo desde já.
Como dito anteriormente, a falta de informações claras a respeito das obrigações, dos
direitos e dos prazos das partes, pode trazer uma insegurança jurídica. Nesse caso em
específico, a insegurança é a incerteza do credor a cerca de quando se deve pagar, estando
sujeito ao tempo em que o credor exigir, sendo, quiçá, surpreendido pela exigência dele em
um momento em que não se tem condições para se pagar.
Vale ressaltar, que essa disposição do artigo 331 do Código Civil abre brecha para o credor,
de má-fé, escolher um prazo em que nota que o devedor não tem à sua disposição a quantia
devida a ele, ainda que tenha feito o contrato se obrigando a pagá-lo, ficando assim
prejudicado, sujeito a juros e multa, por exemplo. Nessa situação, entretanto, deve haver uma
preponderância do princípio da boa-fé dos contratos, uma vez que esse é um dos três pilares
dos contratos e das obrigações em si – sendo eles a autonomia das partes, a boa-fé, e a função
social do contrato. Portanto, não pode o credor (e nem o devedor, igualmente) agir de má-fé
para prejudicar quem consigo contraiu direitos e obrigações para levar vantagem indevida,
devendo sempre se olhar o as situações advindas dos contratos sob as lentes da boa-fé.
Por sua vez, as obrigações condicionais – aquelas que têm que se sujeitar a uma condição
para se iniciarem ou se encerarem – “cumprem-se na data do implemento da condição” (artigo
332, Código Civil), ou seja, a partir do momento em que a condição necessária foi cumprida
deve-se então ser feito o pagamento.
Por fim, como exceção à regra, o Código civil dá ao credor o direito de cobrar a dívida
antes mesmo do prazo estipulado entre as partes na ocorrência das seguintes situações:
No caso de falência do devedor, ou de concurso de credores: o credor tem esse direito nessa
ocasião para que seja assegurado o que lhe é devido no juízo falimentar, uma vez que o
devedor esteja com o passivo maior que o ativo e já não tem mais condições de arcar suas
dívidas, caracterizando a insolvência;
Ainda nesses casos, “se houver, no débito, solidariedade passiva – quando há mais de um
devedor na obrigação e todos os devedores dela responde por todo o pagamento –, não se
reputará vencido quanto aos outros devedores solventes” (parágrafo único do artigo 333 do
Código Civil). Dessa forma, a antecipação do vencimento não prejudica aqueles devedores da
obrigação que ainda tenham condições para se pagar a dívida, não se enquadrando, portanto,
nas hipóteses que traz esse artigo.
Art. 939. O credor que demandar o devedor antes de vencida a dívida, fora dos casos em que a
lei o permita, ficará obrigado a esperar o tempo que faltava para o vencimento, a descontar os
juros correspondentes, embora estipulados, e a pagar as custas em dobro.
Art. 940. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as
quantias recebidas ou pedir mais do que for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no
primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele exigir,
salvo se houver prescrição. (Código Civil. 2002.) (Sem grifos no original.)
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não obstante, acredito ter apresentado um norte a cerca do pagamento, seus elementos
e suas disposições legislativas, te fazendo entender que sempre valerá o que foi pactuado
entre as partes pela cognição do princípio da pacta sunt servanda – desde que não seja
contrário a lei –, prevalecendo, porém, os princípios da boa-fé objetiva e da função social do
contrato nos casos em que haja conflito de dispositivos de lei ou até de conflito de interesses
das partes, lembrando sempre que um bom acordo é aquele que é bom para ambas as partes,
sendo justo e efetivo na medida em que a lei e a moral dispõem.
Espero críticas construtivas bem como sugestões de mais temas a serem abordados
posteriormente. Agradeço a atenção.
8. REFERÊNCIAS
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria Geral das Obrigações. 28 ed. São
Paulo: Saraiva, 2013.
GAGLIANO, Pablo Stolze & Rodolfo Pomplona Filho. Novo Curso de Direito Civil: Obrigações. 15
ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
NERY JR., Nelson & NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil Anotado e Legislação
Extravagante. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais: 2003.
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. 19 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001.
v. 2.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral dos Contratos.
14 ed. São Paulo: Atlas, 2014.