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Endereços para citação dos demandados: União : Rua Guilherme Rocha, Nº 1342 - - Centro - Fortaleza - CE -
Cep. 60030-141; IBAMA: Av. Visconde do Rio Branco, Nº 3900 Bairro de Fátima 60055-172 Fortaleza – CE;
SEMACE: R. Jaime Benévolo, 1400 - Fátima Fortaleza - CE, 60050-081 e PGM: Avenida Santos Dumont, 5335,
11 s 1117. Papicu. Fortaleza/CE. CEP 60175-047.
Rua João Brígido, 1260 - Joaquim Távora - CEP: 60135-080 - Fortaleza/CE – Tel.: 3 266.73.00 - www.prce.mpf.gov.br
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2. De posse das informações técnicas que atestam tais situações, o Parquet efetivou
diversas Recomendações ao IBAMA, a fim de que este órgão efetivasse embargos
administrativos, com supedâneo no princípio da precaução de danos ambientais, em várias
interferências na área e em algumas áreas contíguas.
3. Entende o MPF que a referida área urbana, uma das mais nobres de Fortaleza e que, em
face desta peculiaridade, sofre enormes pressões por parte da especulação imobiliária,
precisa de uma urgente e firme intervenção estatal, da União, do Município de Fortaleza e
dos órgãos ambientais, no sentido de preservar seus atributos ambientais e de implementar
uma adequada gestão, a partir da exata definição de sua titularidade patrimonial.
4. Em face desse cenário, a presente demanda tem por objetivo a obtenção de provimentos
jurisdicionais que imponha à administração pública, nas suas respectivas esferas de
competência, a obrigação de implementar, com fundamento no princípio da precaução,
instrumentos de concretização do direito fundamental à proteção ambiental e à preservação
do patrimônio público, presente na titularização de bens sob domínio da União, medidas
que consigam conter a apropriação indevida destes espaços, de interesse ou de titularidade
pública, por particulares, o que vem resultando, na verdade, numa acelerada degradação
ambiental de uma área que, em futuro próximo - se persistirem estes comportamentos
violadores, que tendem a se agravar pela ganância especulativa -, não terá mais nenhuma
utilidade para a sociedade de Fortaleza.
DO “PARQUE DO COCÓ”
5.A imprensa local, em uma série de reportagens, tem chamado a atenção da sociedade
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nobres de Fortaleza. Concluem os jornais da cidade que é cada vez mais urgente uma
mobilização efetiva da sociedade para salvar este espaço, evitando-se assim sua “morte
anunciada”.
6.O teor das reportagens pode fazer a sociedade pensar que as situações ali estabelecidas -
construções de grandes complexos residenciais - contam com a conivência, ou no mínimo
com a omissão do poder público, sobretudo do Ministério Público. Todavia, esta conclusão
é apenas parcialmente correta. Com efeito, a grande verdade é outra e se revela até
chocante, pois, o que hoje notoriamente é conhecido como Parque do Cocó, juridicamente
não existe.
8.Não existe, em verdade, nenhum ato formal de criação do Parque do Cocó enquanto
unidade de conservação. O que existe são apenas decretos do executivo estadual
estabelecendo a provável área de futuras desapropriações para sua implantação efetiva. A
própria SEMACE, em seu sitio oficial na internet, diz que esta área ainda “está em processo
de adequação” à legislação federal acima citada.
9.Portanto, há uma omissão dos poderes executivo e legislativo, estadual e municipal, que
não criam, definitiva e juridicamente, o tão famoso Parque. Se já o tivessem feito, toda a
sociedade e o poder público - principalmente o Ministério Público e os órgãos ambientais -
poderiam atuar, exigindo o cumprimento da legislação vigente e impedindo a atuação
devastadora da iniciativa privada.
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10.Não se pense, no entanto, que o fato do Parque não ter sido formalmente criado
possibilita a apropriação de toda sua extensão, uma vez que ali se pode localizar diversas
áreas de preservação permanente (tipo de vegetação, dunas fixas, margens do rio,
manguezais, etc.), ou públicas, (principalmente terrenos de marinha) que tornam aquele
espaço suscetível de reduzido aproveitamento econômico privado, o que facilita
demasiadamente a realização das desapropriações necessárias, sem o pagamento de
significativas indenizações.
11.Uma medida administrativa concreta e eficaz seria a demarcação física da área que um
dia se transformará em Parque, o que, até hoje, não aconteceu. A par disso, torna-se
necessária a identificação de todas as Áreas de Preservação Permanente existentes naquele
perímetro e em seu entorno, a definição de sua zona de amortecimento e respectivas formas
de utilização, bem como a especificação de toda a titularidade pública (terrenos de marinha,
por exemplo) existente na região.
13. A omissão do poder público criou uma situação inusitada. O Governo do Estado do
Ceará, muito embora tenha expedido dois Decretos em 1989, para as devidas
desapropriações na área destinada à implantação do Parque, até a presente não concretizou
nenhuma destas desapropriações, em que pese defender, através de sua atuação ambiental, a
área em referência, restringindo sua utilização. Em face desta singular situação, vários
particulares que alegam possuir a titularidade do domínio (pleno ou somente útil) de parte
dessa área, ingressaram com ações contra o Estado do Ceará alegando que foram
indiretamente desapropriados, exigindo no Judiciário indenizações estimadas em valores
absurdos, considerando-se que as possibilidades de utilização desses imóveis, em face das
restrições ambientais ali existentes, são mínimas.
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1.APRESENTAÇÃO
O Rio Cocó faz parte da bacia dos rios do litoral leste cearense, tendo sua
bacia hidrográfica uma área de aproximadamente 485 km² , com um
comprimento total do rio principal de cerca de 50 km. A preservação do
ambiente natural da área de influência do Rio Cocó, sempre foi o objetivo de
grupos da sociedade civil e de governos estaduais e municipais,
principalmente seu trecho inserido no Município de Fortaleza. Dessa forma,
o governo estadual através do DECRETO Nº 20.253, de 05 de Setembro de
1989 declarou de interesse social para fins de desapropriação as áreas de
terra que indica compreendidas no contorno do Projeto do Parque Ecológico
do Cocó e do DECRETO N° 22.587, 08 de Junho de 1993, declarou de
interesse social, para fins de desapropriação, as áreas destinadas a ampliação
do Parque Ecológico do Cocó.
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17. Desta forma, pelo que restou exposto, o Parque do Cocó ainda não existe,
juridicamente, como unidade de conservação. Para que isto efetivamente ocorra, algum
legitimado para efetivar sua criação deverá formalizar o ato criador (Lei ou Decreto),
primeiramente delimitando a área respectiva e, após esta delimitação, regulando as formas
de utilização da nova unidade de conservação criada.
18.Quando isto for, de fato, realizado, o parque estará legalmente criado e passará a ser
qualificado, sob uma perspectiva estritamente jurídica, como unidade de conservação, um
espaço especialmente protegido, visando manter a integridade dos atributos ambientais que
justifiquem sua proteção.
19. Com o objetivo de definir, de uma vez por todas, a área ideal para delimitação do futuro
Parque do Cocó, bem como o tipo de unidade de conservação mais adequado para a
proteção efetiva dos ecossistemas compreendidos na sua definição territorial, o Governador
do Estado do Ceará resolveu solicitar ao Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente
– CONPAM – a realização de profundo estudo técnico capaz de subsidiar a criação
definitiva do multicitado Parque do Cocó. Este estudo foi efetivamente realizado e, uma vez
concluído, encaminhado ao Governador que, até a presente data não tomou nenhuma
providência administrativa para sua utilização. Analisaremos, em seguida, as atividades
desenvolvidas pelo GT do Rio Cocó do CONPAM.
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21. Nesta primeira reunião, consta da ATA a seguinte manifestação da Dra. Lúcia Teixeira,
Procuradora do Estado e na ocasião superintendente da SEMACE: “foi lavantado pela
Dra. Lúcia que aproximadamente 90% dos terrenos do parque sofrem a influência
das marés e portanto são considerados terrenos de marinha - “são bens imóveis de
propriedade da União...”como consta do documento “Proposta de Proteção.
Conservação e Recuperação do Rio Cocó”realizado no ano de 2003 pela SEMACE – o
que determina a impossibilidade de direito à indenização.” Em seguida, deliberou-se
que o CONPAM deveria oficiar solicitando a PGE (Procuradoria Geral do Estado) que
fosse encaminhado junto a GRPU o levantamento dos terrenos quanto a dominialidade.
22. Percebe-se, assim, que, desde a primeira sessão do GT do Rio Cocó, surgiu a
preocupação com a definição da dominialidade dos imóveis compreendidos na área
destinada à futura implantação do Parque do Cocó, isto porque o Governo do Estado
sempre argumentou que para a efetiva implantação do Parque deveriam ser
empregados vultosos recursos públicos para o pagamento das indenizações. Contudo,
em se tratando de bens da União, caberia ao Estado apenas indenizar, se fosse o caso,
as benfeitorias decorrentes do exercício do domínio direto de tais bens, o que tornaria
muito menos dispendiosa a implantação da futura unidade de conservação.
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de Preservação Permanente (APP) do Rio Cocó, estender os estudos do GT até a foz do Rio
Cocó e realizar um levantamento dos empreendimentos licenciados na área do parque e os
que estão georreferenciados. Por fim, decidiu o GT que para definir o parque, sob o ponto
de vista jurídico, haveria necessidade de rever o acervo existente sobre o rio Cocó, sendo
sugerido que fosse solicitado da GRPU a LPM (linha de preamar média) para se verificar se
existiam áreas privadas, sendo ainda essencial definir se o parque deveria ser delimitado
pelas APP`s do rio e onde houvesse vegetação de mangue.
24. Evidencia-se, assim, que o GT, desde o início, concluiu ser indispensável para a efetiva
criação do Parque do Cocó a definição de dois elementos essenciais: 1) a definição de todas
as Áreas de Preservação Permanente (APPs); e, 2) dos terrenos de marinha. Definidas as
APP`s e os terrenos de marinha, o que restasse seria propriedade privada passível de
indenização decorrente de desapropriações necessárias para a criação de uma unidade de
conservação de proteção integral. Desta forma, definindo bem a dominialidade pública, as
APPs e a dominialidade privada se teria uma ideia do custo necessário a ser assumido pelo
ente criador do Parque, a título de pagamento das desapropriações devidas.
25. Ainda na quarta reunião, em 15 de junho de 2007, o GT começou a discutir qual o tipo
de unidade de conservação que melhor se adequaria às condições da área proposta para
proteção, em razão dos aspectos locacionais, legais e culturais. Nesta mesma ocasião, de
acordo com as memórias extraídas das atas de reunião, já concluía o GT pela necessidade
de criação de “mosaicos” entre as distintas unidades de conservação e de “corredores
ecológicos” para facilitar o convívio entre ecossistemas que poderiam ser seccionados.
26. Na quinta reunião do GT, realizada em 22 de junho de 2007, surge a primeira minuta de
Decreto de criação da nova unidade de conservação, a ser qualificada como Parque do
Cocó.
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28. Após ampla discussões em mais quatro reuniões, resolveu o GT apresentar a sua
proposta final de delimitação da nova poligonal do Parque do Cocó a ser criado por ato do
Governo do Estado. A primeira conclusão do GT foi sobre o tipo de unidade de
conservação a ser criada. Neste particular, decidiu-se pela criação de uma unidade de
conservação de proteção integral, de tipologia Parque, que deveria ter, inclusive, uma zona
de amortecimento. A partir desta decisão se construiu a nova poligonal.
29. Portanto, todos os estudos técnicos necessários para definir o tipo de unidade de
conservação e para delimitar a área que deve abrigá-la foram efetivamente concluídos,
tendo o CONPAM encaminhado estes estudos ao Governo do Estado, por duas razões: 1º)
foi o próprio Governador do Estado que determinou a realização destes estudos; e, 2º)
detém o Governador competência para criar a unidade de conservação, através de decreto.
30. Desse modo, tendo sido produzida pelo Governo do Estado do Ceará, através do
CONPAM, a fundamentação técnica necessária para a criação efetiva do Parque do Cocó, o
ato de criação envolve juízos de conveniência e oportunidade que estão compreendidos na
competência do Governador. Isto significa que o Governador do Estado deve fazer um juízo
de ponderação sobre o momento adequado da criação do Parque, podendo até mesmo
dcidir, no livre exercício de sua competência exclusiva, por não criá-lo. No entanto, se
decidir criar o parque deverá oferecer, no ato de criação, uma fundamentação técnica
razoável que justifique o tipo de unidade de conservação a ser criada e seus limites
territoriais.
31. Nesta perspectiva, caso o Governador do Estado decida não criar o Parque, outros atores
poderão fazê-lo. O Prefeito de Fortaleza poderá fazê-lo por Decreto, ao passo que a
Assembléia Legislativa do Ceará e a Câmara Municipal de Fortaleza poderão fazê-lo por
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32. Embora a etapa técnica de elaboração de estudos tenha sido concluída em 2008, até o
presente nada foi feito, em termos de decisão política, para criar definitivamente o Parque
do Cocó.
35. A imagem a seguir demonstra a delimitação feita pelos decretos de 1989 e 1993, para a
futura implantação do Parque do Cocó, compreendendo 1.046,22 hectares.
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36. A figura abaixo mostra a nova proposta de poligonal feita pelo CONPAM,
compreendendo 1.312,30 hectares. Valendo salientar que esta nova definição realizada pelo
CONPAM foi amplamente exposta à sociedade antes de ser encaminhada, como definitiva,
ao Governo do Estado. Assim, abriu-se a oportunidade de contestação sobre a poligonal
nova, contudo, não houve qualquer consideração em contrário. Em geral, como era de se
esperar, a sociedade aceitou como adequada esta nova proposta, mesmo porque decorrente
de profundo estudo sobre a região, com a utilização de modernos equipamentos e
compilação de diversos estudos já produzidos sobre a situação passada, presente e futura de
toda a extensão do Rio Cocó.
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37. Comparando as duas imagens, percebe-se, nitidamente, que os estudos realizados pelo
CONPAM levaram em consideração, para o desenho da nova poligonal, a realidade atual de
ocupações em toda a área e entorno da delimitação feita pelos Decretos de 1989 e 1993.
Desta feita, pode-se ver que a nova poligonal é, às vezes e em alguns trechos, coincidente
com a poligonal antiga, em outros trechos, a nova é mais protetiva, portanto maior que a
antiga e, em outros trechos, a nova poligonal é menor que a anterior, neste último caso tal
situação acontece porque, como dito, ocupações hoje existentes e já consolidadas não
permitem o alcance da nova poligonal.
38. A próxima figura demonstra o confronto das duas poligonais, evidenciando seus pontos
comuns e divergentes, deixando claro ao observador que, mesmo tendo ocorrido acréscimo
total de área na nova poligonal sugerida pelo CONPAM, em alguns trechos esta divergência
ocorre para menos, com o objetivo de preservar a situação atual já consolidada.
39. Resta claro, portanto, que o exaustivo trabalho técnico de delimitação da nova poligonal
realizado pelo CONPAM oferece um conforto técnico ao Governador para a criação do
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Parque, tendo em vista que tal estudo é, ao mesmo tempo: 1) dotado de total cientificidade,
vez que elaborado por técnicos especialistas na matéria, vinculados a diversos órgãos e
entidades do setor público, nas esferas federal, estadual e municipal; 2) atual, ou seja,
realizado sobre uma situação dos dias de hoje, com respeito às edificações já existentes em
uma área extremamente adensada da cidade e com equipamentos urbanos, públicos e
privados, já consolidados; e, 3) dotado de uma preocupação principal que salta aos olhos:
preservar os ecossistemas que ainda cumprem funções ambientais importantes dentro da
área estudada, em face de seu valor natural ou paisagístico, sem a pretensão de criar uma
proteção exagerada, vale dizer, sem a correspondente visualização de um benefício coletivo
imediato.
40. Sem dúvida, a proposta formulada pelo CONPAM de nova poligonal para a
implantação do Parque do Cocó é, ao mesmo tempo, técnica, atual e viável, tanto sob a
perspectiva ambiental como urbanística. Consolida diversos estudos sobre a área destinada
a implantação futura do Parque do Cocó e é apta a ser utilizada por qualquer legitimado a
criar o Parque ( executivo ou legislativo, estadual ou municipal) como fundamentação
técnica da iniciativa política de criação. Pode-se afirmar, com segurança, que a proposta do
CONPAM encaminhada ao Governador desenha completamente aquilo que deverá ser, um
dia, o tão almejado “Parque do Cocó”.
41. Para chegar a este resultado, o CONPAM fez questão de destacar os principais
problemas hoje vivenciados na área proposta para definição da nova poligonal do Parque,
que são os seguintes:
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42. Vê-se, pois, que há urgência na criação do Parque do Cocó como unidade de
conservação de proteção integral. Como sustenta o GT do CONPAM que estudou
profundamente a área proposta para a nova poligonal, os expedientes de degradação
avançam e se consolidam com extrema rapidez, fazendo com que ecossistemas relevantes
sofram danos ambientais muitas vezes irreversíveis, como ocorre com a supressão de
vegetação de dunas, mangues e matas ciliares. Essa gradativa e perene perda da qualidade
ambiental dos ecossistemas da área proposta para receber o Parque é muito interessante
para a iniciativa privada, pois lhe confere o discurso do fato consumado, pela
impossibilidade, em muitos casos, de regeneração natural destes ecossistemas degradados.
A lógica perversa posta em prática parece óbvia: degradar para depois ocupar, podendo
assim auferir os enormes lucros da especulação imobiliária.
43. Tudo isso já foi detectado pelo CONPAM, tendo o GT, inclusive, desmembrado a área
da nova poligonal em sete zonas de intervenção, estudado os probemas específicos de cada
região e proposto as medidas que devem ser executadas com a criação do Parque, para
recuperar e preservar seus ecossistemas relevantes.
44. Sem embargo, mesmo com todos os estudos técnicos já produzidos, bem assim com a
constatação inequívoca de que a área proposta carece de ser preservada, que isto correponde
ao anseio de toda a sociedade cearense, mormente a de Fortaleza, os poderes executivo e
legislativo, estadual e municipal permanecem inertes, como se nada fosse possível fazer,
sem coibir os expedientes de degradação acima descritos e, mais grave, propondo
intervenções para a área que deve ser protegida, como vimos recentemente com a aprovação
do projeto de construção da nova ponte estaiada sobre a respectiva área proposta para
receber o Parque.
45. Todo este quadro de inércia estatal incentiva a iniciativa privada que, usando de
artimanhas, consegue avançar sobre as áreas protegidas. Inicialmente degradando-as
(colocação de lixo, realização de aterros, disposição de entulhos, desmatamentos,
queimadas, despejos de esgotos não tratados, etc) para depois ocupá-las. Muitas vezes
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contam até com a conivência do poder público, como ocorreu recentemente quando a
Procuradoria Geral do Município de Fortaleza firmou um termo de ajustamento de conduta
com uma associação de empresários que, mediante pagamento de cerca de 600 mil reais,
ganhou, da Prefeitura de Fortaleza, no final do mandato da gestão anterior (dezembro de
2012) o reconhecimento de que poderiam ser realizadas intervenções (construção de
condomínio) na área de dunas vegetadas, consoante amplamente noticiado na imprensa
local.
46. Também recentemente a imprensa local noticiou que uma área foi degradada dentro das
duas propostas de poliginal (a antiga e a nova) por uma pessoa que integra o primeiro
escalão da administração estadual e que já teriam sido propostas, pelo Ministério Público
Estadual, ações cíveis e criminais pelo dano ambiental verificado, consistente em
desmatamento e aterramento de áreas de preservação permanente, principalmente de
nascentes d'água. Neste caso, a área continua degradada e sendo constantemente aterrada de
forma ilegal, enquanto o Governo do Estado insiste em afirmar, em coro com o
empresário/secretário de governo, que tais intervenções estão fora das poligonais, quando,
na verdade, estão, sim, incluídas em ambas, na antiga e na nova proposta de delimitação do
Parque, como demonstram as figuras acostadas nesta peça processual.
47. Por tudo isso é que a sociedade não acredita mais na boa vontade política para a criação
do Parque do Cocó. Embora o Governo do Estado venha repetindo, sistematicamente, que
vai criá-lo, desde 2008 o estudo do CONPAM dorme nas gavetas do gabinete do
Governador. Nada foi efetivamente realizado no sentido de conferir concretude a esta nova
proposta de delimitação da área, desta feita embasada em relevantes estudos técnicos mais
aprofundados e atuais. Nada além de promessas, palavras que não se confirmam, gerando
uma situação que permite a cada dia novos expedientes de ataque aos ecossistemas ainda
íntegros da região do cocó.
48. Sem dúvidas estamos na iminência de constatarmos, com espanto, que os estudos
realizados pelo CONPAM não passaram, para o próprio governo que os encomendou, de
um mero espediente para ganhar tempo e adiar indefinidamente a tão almejada criação do
Parque. Em face dessa realidade inconteste, a única opção é buscar a intervenção judicial
adequada, capaz de preservar a integridade dos ecossistemas ainda existentes na região
mencionada, até que haja vontade política de concretizar a nova poligonal proposta.
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49. Todavia, para que não mais subsistam motivos absurdos para, através de uma atuação
política, se justificar a inércia na criação definitiva do Parque e a proteção imediata de seus
ecossistemas, necessário que sejam adotadas, de imediato, três providências cruciais: 1) a
imediata paralisação de novos licenciamento ambientais, prévios e de instalação, para
empreendimentos públicos e privados na área definida pelo CONPAM para a criação do
Parque; 2) a delimitação de toda a dominialidade da União, principalmente de terrenos de
marinha e seus acrescidos, para a definição exata da dominialidade pública na região
definida pelo CONPAM; e, 3) a delimitação inequívoca de todas as áreas de preservação
permanente (dunas, mangues, margens de rio, nascentes, olhos d'água, etc), para a exata
dimensão dos ecossitemas que não podem sofrer qualquer tipo de intervenção pela
iniciativa privada. Uma vez tomadas estas providências, se saberá, inclusive, qual a
dominialidade privada presente na região delimitada, se houver, que deve ser indenizada
(porque não seria APP) com a criação do Parque. Sem estas providências - todas de
natureza administrativa - que os poderes executivos estadual, municipal e federal não irão
realizar por vontade própria, mesmo porque até a presente data não fizeram, nada poderá
ser feito em termos de implantação definitiva do Parque do Cocó.
50. Segundo o discurso oficial, uma das maiores dificuldades para a implantação definitiva
do parque do Cocó é o grande valor a ser pago a titulo de indenização pela titularidade
imobiliária existente na região. Alega o Governo Estadual que os imóveis presentes na
região são extremamente valorizados, uma vez que localizados em uma área nobre da
cidade, muito procurada para a instalação de emprendimentos residenciais e comerciais.
Assim, caso implantado o parque, como esta tipologia de unidade de conservação não
convive com a propriedade privada, toda a titularidade imobiliária inserida na área de sua
delimitação deverá ser desapropriada, o que acarretará a aplicação de vultosa soma de
dinheiro público. A alta onerosidade destas desapropriações, alega o Estado, impediria a
criação do Parque.
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51. Esse discurso, no entanto, é apenas parcialmente verdadeiro. Não se desconhece que a
área proposta para a criação do Parque do Cocó é demasiadamente valorizada, por conta de
sua localização privilegiada, uma vez que seu entorno abriga caros imóveis residenciais,
diversos e importantes segmentos comerciais (inclusive o maior shopping center da cidade,
hoje em processo de expansão) e considerável infraestrutura, com equipamentos públicos e
privados – de saúde e lazer - diversificados e relevantes. Por seu turno, também é verdade
que, uma vez criada uma unidade de conservação de proteção integral, toda a propriedade
privada localizada dentro de seus limites deve ser desapropriada, com o pagamento da justa
indenização, prévia e em dinheiro. São afirmações incontestáveis!
52. Todavia, cumpre destacar que a grande verdade não é revelada. Ou seja, em
nenhum momento, nem o Governo do Estado nem a União, através da SPU no Ceará,
realizaram qualquer levantamento para identificar todos os bens da União situados no
perímetro delimitado pela proposta do CONPAM. Assim, mesmo que esta
preocupação tenha estado presente já desde a primeira reunião do GT do CONPAM
responsável por apresentar a proposta da nova poligonal, o GT não teve condições de
realizar tal levantamento, não se podendo precisar, atualmente, a dominiliadade da
União, portanto, a existência de bem público, existente na área compreendida na
poligonal proposta.
53. Importante destacar que o Rio Cocó nasce na vertente oriental da Serra da Aratanha, na
cidade de Pacatuba, e nos seus 50 km de percurso passa por Maracanaú, Itaitinga e
Fortaleza, desaguando no Oceano Atlântico, nos limites das praias do Caça e Pesca e da
Sabiaguaba. Em grande parte de seu percurso o rio sofre influência das marés e, por conta
disso, há necessidade de determinação dos terrenos de marinha que nascem desta especial
condição. Segundo o Decreto-Lei 9.760, de 05 de setembro de 1946, incluem-se entre os
bens imóveis da União “os terrenos de marinha e seus acrescidos”, defindo-os da seguinte
forma :
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54. A identificação dos terrenos de marinha deve ser realizada pela Secretaria do
Patrimônio da União, através de metodologia devidamente regulamentada e que confira o
direito de ampla defesa a todos os interessados de afirmarem sua titularidade perante à
União. Demarcado o terreno de marinha, passa este a ser submetido a um regime jurídico
especial, de direito administrativo, através do qual o domínio direto pode ser exercido pelo
particular ocupante, cabendo à União a titularidade do domínio indireto. Esta peculiar
relação jurídica atribui ao titular do domínio direto as prerrogativas próprias da condição de
proprietário, podendo usar, gozar e dispor do bem, inclusive mediante alienação do domínio
útil.
55. Nada obstante, na área destinada à implantação do futuro parque do cocó, muitos
particulares se julgam detentores legítimos da titularidade direta de terrenos de marinha, por
terem regularmente estabelecido uma relação jurídica válida com a União, de acordo com a
legislação em vigor, tratando-se, portanto, de um ato jurídico perfeito. Alguns destes
pretensos titulares do domínio útil de terrenos de marinha, quando editados os decretos de
1989 e 1993 que delimitavam a área para futuras desapropriações destinadas à implantação
do parque, sentiram-se prejudicados porque, no entender deles, não puderam mais
desempenhar suas atividades. Concluiram que teria havido uma desapropriação indireta e
ingressaram com ações judiciais pleiteando o reconhecimento do direito à percepção de
vultosas indenizações. Ditas demandas tramitam há mais de 20 (vinte) anos nas instâncias
judiciais estaduais, sem que sobre elas se tenha uma decisão final, no sentido de solucionar
a pendência.
56. Analisando o processo histórico de ocupação da área hoje proposta para a implantação
do parque do cocó, chega-se à inarredável conclusão de que a União permitiu a exploração
dos terrenos de marinha daquela região, para o desenvolvimento de uma atividade
econômica específica, no caso, a atividade salineira (produção de sal a partir do processo
natural de evaporação de água salgada), que ali foi realmente desenvolvida durante muito
tempo. Com o declínio econômico da atividade de extração de sal, as áreas de exploração
foram abandonadas, tendo ressurgido, em grande extensão, a vegeteção típica de mangues.
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57. No entanto, este suposto direito à indenização deve ser analisado com as limitações
próprias do regime especial que rege a relação jurídica entre a União e os detentores das
inscrições já realizadas para exploração dos terrenos de marinha presentes na região.
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60. A mesma legislação acima citada fixa, ademais, regras sobre o poder de fiscalização da
União, no que diz respeito a correta utilização de seus bens dominiais. Neste particular,
determina, que:
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61. Resta claro, pelas disposições legais acima transcritas, que: 1) na região proposta para a
implantação futura do Parque do Cocó existem áreas compreendidas no domínio da União,
vez que o Rio Cocó sofre influência das marés e, portanto, devem ser demarcados, nestas
localidades, os terrenos de marinha; 2) cabe à União proceder as inscrições devidas para
utilização de terrenos de marinha; 3) cada inscrição é vinculada ao tipo de utilização
determinada no momento da sua constituição e tal finalidade deve ser mantida enquanto
perdurar a inscrição; 4) muitas inscrições realizadas pela União na área são muito antigas,
destinadas a conceder a utilização dos terrenos de marinha - portanto, bens da União -, para
a exploração de uma atividade econômica determinada, consistente na exploração de
salinas; 5) estas inscrições somente mantém a validade se vinculadas à utilização constante
do ato de inscrição, o que hoje inexiste, pois não há, atualmente, exploração desta atividade
na região, o que torna tais inscrições inválidas; 6) mesmo admitindo a validade destas
inscrições antigas desvinculadas da manutenção da utilização que fundamentou sua origem,
muitas delas incidem em áreas de preservação permanente (dunas, mangues, nascentes e
olhos d'água, matas ciliares, etc) e, assim, concorerram ou estão concorrendo para a
diminuição da integridade destes bens ambientais; 7) cabe à União, no exercício regular de
seu poder de fiscalização, detectar todas as ocupações ilegais, notadamente aquelas que
estejam a incidir sobre bens ambientais protegidos (APP`s) e, confirmada essa assertiva,
cancelar as respectivas inscrições e imitir-se imediatamente na posse destes imóveis; e, 8) é
dever do Poder Público perservar todas as áras ambientalmente protegidas por Lei.
62. Portanto, para que se torne possível o exercício regular deste poder de polícia, de cunho
patrimonial e ambiental, por parte da União, no que diz respeito aos terrenos de marinha
existentes na área proposta pelo CONPAM para abrigar futuramente o parque do cocó, cabe
à União: 1) demarcar a sua dominialidade em toda a área em comento, definindo com
absoluta clareza os terrenos de marinha existentes, através do procedimento legal utilizado
para fins desta especial forma de declaração da dominialidade pública; 2) definidos os
terrenos de marinha, analisar a legalidade de todas as inscrições ainda existentes para
verificar se estão mantendo a utilização prevista no ato de inscrição e se incidem ou não em
áreas de preservação permanente, ou, se limitam a utilização de bens de uso comum; 3)
anular todas as inscrições que não estejam mais cumprindo a utilização fixada no momento
da inscrição e/ou que estejam incidindo em áreas de preservação permanente, ou, ainda, que
estejam limitando a utilização de bens de uso comum.
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63. Realizado este trabalho de identificação e demarcação dos terrenos de marinha, com a
respectiva análise da legalidade das inscrições existentes, sobrarão apenas como válidas as
inscrições que mantêm a utilização fixada no momento da inscrição e que não recaiam em
áreas de preservação permanente, ou que limitem os bens de uso comum. Em tais situações,
as inscrições deverão ser consideradas válidas.
64. Com relação as inscrições que ainda restarem válidas, uma vez editado o decreto
criando o Parque do Cocó, deverá o ente criador, União, Estado ou Município, avaliar o
aproveitamento econômico de cada um destes bens. Tratando-se, por seu turno, de terrenos
de marinha, não poderá ser desapropriada a dominiliadade da União, mas apenas o domínio
direto destes bens, a partir da definição de seu aproveitamento econômico, sendo certo
estabelecer a possibilidade, nestes casos, de indenização das benfeitorias existentes, após a
devida avaliação.
65. Percebe-se, assim, que muitas inscrições hoje ainda existentes em terrenos de marinha
irão perecer, quer por não manterem a utilização definida no ato de inscrição, quer porque
estão localizadas em áreas de preservação permanente ou impedem a livre utilização de
bens de uso comum do povo. Em tais casos, canceladas as inscrições, estes bens retornam,
em sua integralidade – domínio pleno -, ao domínio da União, que poderá então efetivar a
sua cessão, sem ônus, ao ente criador do Parque. Reduzem-se, dessarte, de forma
significativa, os valores a serem despendidos na regularização fundiária do Parque do Cocó,
viabilizando-se, economicamente, sua criação. Mas, isto somente será possível se a União,
através da SPU no Ceará, realizar todas as providências administrativas acima relacionadas,
o que não acontecerá sem uma determinação judicial obrigando-a a assim agir. Enquanto
todas estas providências não são realizadas, detentores de inscrições junto à União
entendem que podem se utilizar das prerrogativas inerentes à titulariade do domínio útil de
tais bens da União para edificar na área do cocó, alterando a utilização permitida no
momento da inscrição, degradando áreas de preservação permanente e impedindo o livre
acesso de todos a bens de uso comum do povo.
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66. Além de ser necessária a demarcação de toda a dominialidade da União na área proposta
para a criação definitiva do Parque do Cocó, é imprescindível, por seu turno, que se
identifiquem todas as áreas de preservação permanente existentes na região.
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70. A Lei Nº 12.651/2012, conhecida como o novo código florestal, define como Área de
Preservação Permanente – APP a “área protegida, coberta ou não por vegetação
nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a
estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora,
proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”. Demais disso, ao
estabelecer que áreas devem ser consideradas como APPs, pelo só efeito da Lei (APPs
Legais), a mesma legislação se refere a diversos ecossistemas e bens ambientais que, sem
dúvida, estão presentes na área proposta pelo GT do CONPAM para a criação do Parque do
Cocó, como, por exemplo: as faixas marginais de cursos d'água perenes ou
intermitentes; as áreas no entorno das nescentes e de olhos d'água perenes; os
manguezais, em toda a sua extensão; as restingas como fixadoras de dunas ou
estabilizadoras de mangues, as dunas, etc.
71. Portanto, a criação do Parque do cocó não pode prescindir de um levantamento técnico-
científico capaz de identificar todas as áreas de preservação existentes. Esse estudo deve ser
feito para demonstrar que existem diversas APPs na área definida pela nova poligonal do
CONPAM, algumas localizadas em bens públicos e outras em áreas sob o domínio pleno do
particular. No primeiro caso – APP em área pública – a questão é facilmente resolvida com
o retorno do bem ao domínio público e, no caso de terrenos de marinha, com o
cancelamento das inscrições porventura existentes. No segundo caso – APPs em áreas
privadas -, como estas áreas não podem ser utilizadas pelo particular, nada resta a indenizar
quando da criação do Parque, conforme entende, pacificamente, tanto a doutrina como a
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.
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72. Desta forma, cabe aos órgãos ambientais (SEMACE, SEUMA e IBAMA) definirem,
com absoluta precisão, em trabalho técnico conjunto, todas as áreas de preservação
permanente existentes na área delimitada pela nova proposta de poligonal feita pelo GT do
CONPAM. Com esta definição, aliada à demarcação dos terrenos de marinha, tarefa esta a
cargo da União através da SUP no Ceará, se terá um panorama definitivo sobre o que, de
fato e de direito, existe na área definida pelos estudos do CONPAM. Portanto, restará
evidenciado: 1) quais os terrenos de marinha da União, as inscrições realizadas, os titulares
do domínio útil, a situação atual, em termos patrimoniais, destes imóveis, se mantém, ou
não, a finalidade que foi estabelecida no ato de inscrição, se foram construídas benfeitorias,
etc; 2) todas as APPs existentes, compreendidas em bens sob o domínio público ou privado.
Com esse retrato, será possível ter uma idéia clara e objetiva da real situação da área
proposta pelo próprio Governo do Estado do Ceará, através do CONPAM, para implantação
futura do Parque do Cocó.
73. Porém, como já afirmado no decorrer desta exposição, a criação definitiva do Parque do
Cocó depende de um ato de natureza política, melhor dizendo, de um decreto assinado pelo
Governador do Estado ou pelo Prefeito de Fortaleza, ou de uma Lei, elaborada pela
Assembléia Legislativa, ou pela Câmara Municipal de Fortaleza. Tais atos, por
comportarem conveniência e oportunidade, não podem ser impostos por determinação
judicial. Contudo, a inércia política, no que diz respeito à criação do Parque não impede que
as providências administrativas acima listadas sejam imediatamente realizadas com a
finalidade de, somando-se aos estudos técnicos realizados pelo CONPAM, subsidiar a
adoção da decisão política criadora da unidade de conservação anciosamente aguardada por
toda a população de Fortaleza e do Estado do Ceará.
74. É certo que todo o processo de criação do Parque do Cocó consome tempo considerável
para a sua finalização. Enquanto a Administração atua com observância da legalidade e
atendendo a uma burocracia própria do setor público, a iniciativa privada é muito mais
veloz na busca do atingimento de suas metas e atua, sistematicamente, na concretização de
expedientes predatórios que visam a criação de situações de fato consumado de ocupação
das áreas ambientalmente nobres que virão a constituir, futuramente, o Parque do Cocó.
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77. O Ministério Público Federal ajuizou, em 15 de junho de 2007, Ação Civil Pública
contra o Estado do Ceará, Município de Fortaleza, IBAMA, SEMACE e UNIÃO (processo
200781000105262) objetivando a paralisação de qualquer atividade econômica em uma
extensão correspondente a um raio de 500 metros, a partir das poligonais traçadas pelos
decretos de 1989 e 1993. A dimensão total em que se requeria a paralisação correspondia a
uma área de um quilômetro de largura por 11 quilômetros de extensão.
78. Ao ajuizar esta ação, partiu o MPF do pressuposto de que a área destinada a criação do
Parque do Cocó corresponderia a que fora delimitada pelos decretos de 1989 e 1993. No
entando, argumentava-se na ação, como os parques devem possuir uma zona de
amortecimento, esta deveria corresponder a um raio de 500 metros, traçado a partir das
poligonais definidas nos decretos acima citados, onde, até a efetiva criação do Parque,
deveria ser impedido o início de novas atividades imobiliárias bem como paralisadas em
andamento.
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79. O objetivo da ação em referência era evitar que toda a área do entorno das poligonais
definidas nos decretos de 1989 e 1993 fosse ocupada, inviabilizando a criação de uma zona
de amortecimento para o futuro Parque. Até aquele momento, não possuia o MPF qualquer
dado técnico-científico sobre a delimitação da área do Parque e de sua zona de
amortecimento, razão pela qual se utilizou, por razoabilidade e proporcionalidade, o
parâmetro de 500 metros.
80. A demanda referida foi distribuída à 7ª Vara Federal que, ao apreciar o pedido de
liminar formulado pelo MPF, resolveu deferí-lo, em decisão proferida pelo então Juiz
Titular, Dr. Francisco da Chagas Fernandes, que compreendeu a importância da
manutenção da integridade dos ecossistemas da área destinada à futura implantação do
Parque e de todo o seu entorno. A decisão liminar paralisou o exercício de novas atividades
econômicas em todo o entorno, em uma raio de 500 metros, a partir da área definida pelas
poligonais constantes dos decretos de 1989 e 1993.
81. Esta decisão liminar, submetida à apreciação do Tribunal Regional Federal da 5a.
Região, em face de agravo de instrumento interposto pelo Estado do Ceará, foi alterada em
parte, mantendo o TRF a paralisação de novas atividades no raio de 500 metros a partir da
área definida nos decretos citados, somente quando esta área podia ser configurada como
área urbana não-consolidada.
82. O Processo tramitava regularmente até ser determinado pela 7ª Vara Federal no Ceará, a
citação de todas as pessoas, físicas e jurídicas, que possuiam ou eram proprietárias de
imóveis no raio de 500 metros a partir da área definida nos decretos de 1989 e 1993. Tal
providência processual, por óbvio, inviabilizaria a demanda, pois este perímetro fixado por
decisão judicial é consideravelmente adensado e isto resultaria no chamamento ao processo
de milhares de réus. Argumentou-se acerca da desnecessidade da citação dessas pessoas e,
caso fosse a decisão de citação mantida que esta se fizesse por edital. O pleito do MPF não
foi atendido e como não foi realizada a citação pessoal de todas estas pessoas, que a Juíza
do processo entendeu serem litisconsortes passivos necessários, foi proferida uma decisão
de extinção do processo sem julgamento de mérito.
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83. O MPF ingressou com recurso de apelação junto ao TRF-5ªR, todavia, a decisão de
primeira instância foi mantida, confirmando a extinção do processo, decisão esta que,
inclusive, transitou em julgado.
85. Na ação Civil Pública ajuizada em 2007 o MPF não possuia estes dados técnicos.
Apenas sabia das áreas delimitadas pelos decretos de 1989 e 1993 – delimitação esta feita
sob o ponto de vista preponderamente político e sem uma sustentação técnica mais
consistente – e adotou, como critério razóvel para a definição da zona de amortecimento um
raio de 500 metros ao redor destas poligonais. Atualmente a situação é diferente, pois o
MPF possui um estudo técnico-científico, elaborado sob a coordenação de um órgão
componente do próprio poder executivo estadual, o CONPAM, que demonstra duas coisas:
1) que o tipo de unidade de conservação a ser criado é de Parque, ou seja, uma unidade de
conservação de proteção integral; e, 2) foram traçadas, cientificamente, as novas poligonais
desta unidade de conservação. Faltam ainda duas coisas a serem feitas na área delimitada
por este estudo do CONPAM: 1) definir todos os bens compreendidos no domínio da
União; e, 2) definir e caracterizar todas as áreas de preservação permanente.
86. Desse modo, a ação que ora se propõe não repete a demanda ajuizada em 2007. O
MPF comparece a juízo com mais fundamentos técnicos para requerer uma proteção mais
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efetiva para os ecossistemas localizados na área definida para receber o futuro Parque do
Cocó. Com efeito, de posse de um substancial estudo técnico-científico, o MPF apresenta a
esse Juízo a definição do tipo de unidade de conservação a ser ali criada e seus limites,
vindo buscar, mediante um provimento judicial, a concretização de providências
administrativas adicionais e imprescindíveis à criação do Parque – definição de terrenos de
marinha e APPs – e a manutenção dos ecosssitemas como hoje se encontram, até a criação
definitiva do Parque do Cocó.
87. Por tudo o que foi exposto, podemos resumir os fatos e argumentos que sustentam
a presente Ação Civil Pública da seguinte forma:
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data não geraram qualquer consequência, uma vez que o Governador não adotou nenhuma
iniciativa para a criação do parque.
5) Muita embora os estudos técnicos realizados pelo GT coordenado pelo CONPAM
tragam informações suficientes para a criação do Parque, não foi realizado nenhum estudo
sobre a definição dos terrenos de marinha e das áreas de preservação permanente em toda a
extensão da área total definida pela nova proposta de poligonais encaminhada pelo
CONPAM ao Governador do Estado do Ceará;
6) A definição dos terrenos de marinha é imprescindível para delimitar os bens
compreendidos no domínio da União na área, já que o Rio Cocó sofre influências das marés
na região proposta como adequada para receber o Parque no futuro;
7) Definidos os terrenos de marinha se poderá estabelecer, com absoluta segurança,
quem são os titulares da inscrição desses bens, quais deles ainda mantém sua utilização
originária definida no ato de inscrição e quais estão localizados em áreas de preservação
permanente;
8) Para os bens da União, inscritos em nome de particulares, que estiverem em área de
preservação permanente ou, mesmo fora destas áreas, não estiverem regular com a União,
seja porque não mantém sua utilização originária, seja porque estão em débito, devem ser
reincorporados ao domínio público sem qualquer ônus;
9) A definição de todas as áreas de preservação permanente também é outra
providência essencial, na medida em que, uma vez definidos esses espaços ambientalmente
protegidos, qualquer titularidade pública (apenas direta) ou privada que sobre eles incidam
não deverá ser indenizada para fins de criação do Parque;
10) O Governo do Estado continua a fazer promessas vazias sobre a criação efetiva do
Parque. Recentemente o presidente do CONPAM afirmou na imprensa que o Parque será
criado até o final de 2014. Tomando esta afirmação como verdadeira, demonstra-se que há
um consenso no governo estadual de que o Parque deve mesmo ser efetivamente criado,
mas também demonstra a necessidade de proteção dos ecossistemas contidos na nova
delimitação do CONPAM, até que isto realmente ocorra, de fato e de direito;
11) A criação de uma unidade de conservação, no Brasil, é um ato de natureza política,
que demanda um decreto por parte do chefe do poder executivo (Governador ou Prefeito de
Fortaleza) ou uma Lei, estadual ou municipal. Não cabe ao Judiciário obrigar a criação do
Parque, mas diante de elementos que demonstram, razoavelmente, que se caminha neste
sentido, cumpre ao Judiciário obrigar a realização das providências administrativas para a
identificação dos terrenos de marinha e de áreas de preservação permanente, mantendo a
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88. A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, sediada
no Rio de Janeiro em 1992, definiu claramente, os contornos do princípio da precaução.
Senão vejamos:
89. Segundo Paulo Affonso Leme Machado, a precaução “age no presente para não se ter
que chorar e lastimar no futuro. A precaução não só deve estar presente para impedir o
prejuízo ambiental, mesmo incerto, que possa resultar das ações ou omissões humanas,
como deve atuar para a prevenção oportuna desse prejuízo. Evita-se o dano ambiental,
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91. Por sua vez a Constituição Federal Brasileira, em seu art. 225, obriga ao poder público
proteger de forma especial, mediante a criação de Unidades de Conservação, espaços
determinados que, por sua relevância ambiental e paisagística, devem ser retirados da
possibilidade de intervenção mais contundente das atividades humanas, informadas pela
satisfação de interesses privados e até públicos. Eis o mandamento constitucional:
2
Direito Ambiental Brasileiro, ed. Saraiva, p. 57.
3
Direito Ambiental: Princípio da Precaução e sua Aplicação Judicial, in Revista de Direito Ambiental, editora
RT, ano 6, no. 21, pág. 99.
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93. Quando a Constituição se refere ao Poder Público, logicamente que está impondo a
adoção de políticas públicas positivas, essencialmente preventivas e, ainda, de atuações
negativas no sentido de não violação dos parâmetros de proteção estabelecidos.
94. Com efeito, a imposição constitucional alcança todas as possíveis atuações estatais, seja
ela legislativa – obrigando a formulação de regras de conduta em consonância com a
efetivação deste direito fundamental de proteção ao meio ambiente -, executiva –
principalmente mediante o exercício efetivo do poder de polícia ambiental, essencialmente
voltado à prevenção do dano – ou jurisdicional –, como instância corretiva das omissões
indevidas do legislativo e Executivo, bem como repressora da atuação danosa dos
particulares, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
95. Com relação à coletividade, este dever de proteção ambiental se traduz, antes de tudo,
em direito de participação – que pressupõe, logicamente, efetivo direito de informação -,
consistente na elaboração e na execução de políticas públicas ambientais – mormente no
processo legislativo, por meio do exercício da iniciativa popular – e no controle efetivo das
condutas lesivas ao meio ambiente, mediante uma atuação judicial consistente no manejo
dos instrumentos processuais adequados, onde se destaca a ação popular. Torna-se a
sociedade, assim, có-responsável pela preservação e defesa do meio ambiente.
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´patrimônio´ ambiental às gerações que nos sucederem e nas melhores condições do ponto
de vista do equilíbrio ecológico”4.
A reserva dos bens ambientais, com a sua não utilização atual, passaria
a ser equitativa se fosse demonstrado que ela estaria sendo feita para
evitar o esgotamento dos recursos, com a guarda desses bens para as
gerações futuras. A equidade no acesso aos recursos ambientais deve ser
enfocada não só com relação à localização espacial dos usuários atuais,
como em relação aos usuários potenciais das gerações vindouras.
100. Após enunciar a Norma-Princípio de proteção ambiental no caput do seu art. 225, a
Constituição Federal estabelece, em seu parágrafo primeiro, que para assegurar a
4
Milaré, Édis. Ob.cit. p.214.
5
Machado, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2002, 10ª edição, p.49.
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102. Infere-se pois, cumprir ao Poder Público realizar suas tarefas constitucionais,
explicitadas nos incisos deste parágrafo, tanto no âmbito do Executivo, do Legislativo e do
Judiciário. Toda a atividade estatal é direcionada, pela Constituição, à concretização destes
deveres específicos, o que não significa dizer, por sua vez, que não existam outros deveres,
inclusive de natureza negativa, que decorram explícita ou implicitamente da própria
enunciação genérica do caput do art. 225 da CF/88.
105. Assinala Flávia Piovesan6, sobre estes deveres especificos do Poder Público:
6
Piovesan, Flávia. O Direito ao Meio Ambiente e a Constituição de 1988; Diagnósticos e Perspectivas. In,
Revista dos Tribunais – Cadernos de Direito Constitucional e Ciência Política. (?)
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106. Conforme já restou afirmado, além destes deveres específicos, tem o Poder Público
que adotar todas as providências cabíveis, mesmo não enumeradas especificamente pela
Constituição, para evitar a consumação de danos ambientais, o que equivale a afirmar que
estas imposições particularizadas , muito embora bastante abrangentes, têm natureza
meramente exemplificativas, não encerrando, por sua vez, todas as possibilidades de
atuação estatal concretizadora, por ação ou omissão, do direito fundamental à proteção
ambiental.
107. Conclui-se, facilmente, que, o dever estatal geral de proteção do meio ambiente é
fragmentado pela própria ordem constitucional em deveres específicos, cumprindo ao Poder
Público – Executivo, Legislativo e Judiciário - deles se desincumbir satisfatoriamente, sob
pena de sua atuação ou omissão indevidas serem caracterizadas como inconstitucionais.
Correto, assim, se falar na existência de um princípio jurídico ambiental, decorrente da
Norma-Princípio de proteção impositivo de uma atuação estatal concretizadora.
108. Considerando que este princípio deve nortear toda a atuação estatal, facilmente chega-
se a triste constatação de que, no Brasil, a atuação normativa – constitucional e
infraconstitucional – tem se desincumbido satisfatoriamente desta obrigação, elaborando,
na maioria das vezes, normas que impõem parâmetros de proteção adequados à
concretização da tutela do meio ambiente. Porém, em que pese possuir nosso país, nesta
seara, textos legislativos modernos e ousados, padece nosso ordenamento de um problema
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109. Este enorme fosso existente entre o plano normativo e o mundo dos fatos, o plano real,
acompanha, é verdade, todos os direitos fundamentais enunciados na Constituição.
Contudo, especificamente no que se refere à proteção ambiental, esta ineficiência
concretizadora acarreta sérias consequências para a própria qualidade de vida de todos, na
medida em que expedientes de degradação, cada dia mais gravosos, se multiplicam ante a
conivência e a quase absoluta incapacidade da administração, sob o beneplácito do
Judiciário, ainda não inteiramente comprometido com a concretude destes direitos.
Conforme acentua Luiz Fernando Coelho8:
110. No caso em comento, a Constituição Federal obriga o poder público a criar, por Lei ou
por Decreto, em todas as unidades da federação, espaços especialmente protegidos cuja
supressão será permitida somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção.
111. De conformidade com o que afirmado anteriormente, o ato de criação de uma unidade
de conservação decorre do exercício de uma prerrogativa política do Executivo ou do
Legislativo, não cabendo ao Judiciário, a pretexto de efetivar direitos fundamentais, criar o
7
Vera Lúcia R. S. Jucovski, em artigo intitulado “O Papel do Juiz na Defesa do Meio Ambiente” ( Revista
de Direito Ambiental nº 19, julho/setembro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p.43), enfatiza a
submissão do Judiciário a este dever de concretização constitucional da proteção ambiental, nos seguintes
termos: “Uma vez que o texto constitucional preceitua que todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, tendo sido ordenado ao Poder Público e à coletividade o dever de sua
defesa e preservação para a taual e futuras gerações (art.225, CF), essa norma fundamental é também
dirigida ao Juiz, a fim de que cumpra as obrigações impostas no art. 225,§1º e incisos, da Carta,
mormente o de promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública
da preservação ambiental (art. 225, § 1º, VI da CF).”
8
Coelho, Luiz Fernando. In Dúbio pro Natura – Interpretação da Lei Ambiental. Boletim Informativo do
Instituto de Pesquisas Jurídicas Bonijuris, n. 207, ano 6: Curitiba, 1994. p. 2.330.
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112. Assim, como persiste a omissão do poder público, estadual e municipal, que não
criam, por Lei ou decreto, o Parque do Cocó, deve o Judicário intervir para impedir que esta
omissão resulte em danos ambientais significativos para os ecossistemas ainda íntegros que
podem ser preservados pela criação da unidade de conservação em referência, em um futuro
que esperamos seja próximo, como vem prometendo o Governo do Estado do Ceará desde
que o atual governador assumiu o primeiro mandato.
113. Portanto, com fundamento no princípio da precaução, tendo em vista que o poder
público não se desincumbe de seu dever constitucional de criar a unidade de conservação
em comento, a despeito da existência de robustos estudos técnicos-científicos já elaborados,
cumpre ao Judiciário evitar o perecimento destes bens ambientais existentes na região
admitida pelo próprio governo estadual como ideal para a implantação do Parque. Destarte,
a forma mais eficaz de atuação judicial seria deteminar a imediata demarcação dos terrenos
de marinha e das áreas de preservação permanente em toda a área definida pelo CONPAM
como adeuada para receber definitivamente o Parque do Cocó. Ao assim proceder, o
Judiciário estaria atuando no sentido de concretizar a proteção ambiental, uma vez que
estaria preservando, para a presente e futuras gerações de cidadãos de Fortaleza, a área
indicada para implantação definitiva do Parque.
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115. Por sua vez, não havendo paralisação deste crescente processo de degradação
verificado nesta região, em um futuro próximo o Parque a ser implantado não mais contará
com a inegridade de ecossistemas relevantes e, assim, de nada mais adiantará criar esta
unidade de conservação, se a situação de todo o seu entorno estiver completamente
comprometida pelas construções que continuam sendo realizadas, gerando graves pressões
ambientais na região com danos significativos às áreas de preservação permanente
circunvizinhas, bem como degradando a paisagem notável localizada em toda a região que
contorna o Parque do Cocó.
116. Em que pese a gravidade da violenta pressão ambiental acarretada pelas construções
no entorno da área definida pelo CONPAM e que, no futuro, ao ser criada a Unidade de
Conservação será utilizada como sua área de amortecimento, o que mais vem preocupando
o Ministério Público Federal e a sociedade de Fortaleza são intervenções agora realizadas
não mais no entorno, mas, dentro da própria área proposta pelo CONPAM para a criação do
Parque. Dois casos concretos de intervenção privada demonstram bem essa realidade.
117. O primeiro diz respeito a uma intervenção realizada dentro da área proposta pelo
CONPAM a ser protegida com a criação do parque, consistente na licença concedida pela
SEMACE para a instalação, por um particular, de uma cerca cortando a área compreendida
no limite da Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) das dunas do Cocó e daquela
que será destinada, segundo o CONPAM, para instalação definitiva do Parque. A partir da
colocação indevida desta cerca, a Câmara Municipal de Fortaleza aprovou uma Lei
Municipal determinando a instalação de uma via paisagística cortando estes ecossistemas,
lei esta que resultou vetada pelo Prefeito de Fortaleza, mas, cuja apreciação do veto ainda
pende de decisão final do legislativo municipal.
118. Outra intervenção bastante conhecida e objeto também de investigação pelo MPF, diz
respeito a uma tentativa de construção de um instituto denominado Ultradata, em área
sugerida para ser preservada mediante a criação do Parque, tanto nas antigas (decreto de
1989 3 1993) como na nova poligonal (GT CONPAM). Nesta hipótese, a intervenção em
comento já resultou, conforme demonstram os documentos ora anexados, em
desmatamentos e aterramentos em áreas de preservação permante, com perda significativa
da qualidade ambiental dos ecossistemas ali existentes.
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119. Os dois casos referidos apenas demonstram que a iniciativa privada, contando algumas
vezes com a colaboração decisiva, por ação ou omissão, do poder público, não mais se
contenta em ocupar o entorno da área proposta para receber o Parque do Cocó. Agora, de
forma mais ousada, avança ferozmente sobre os ecossistemas que devem ser utilizados no
futuro para a implantação do Parque, degradando-os de forma definitiva, impedindo sua
recomposição natural e legando às futuras gerações uma área totalmente degradada.
120. Resta evidente que, somente com a adoção urgente de medidas de ordem preventiva,
fundadas na efetivação do Princípio da Precaução será possível ainda conseguir manter a
integridade de bens ambientais relevantes localizados na área definida pelo GT do
CONPAM como adequada para a instalação futura da Unidade de Conservação de proteção
integral do Parque do Cocó.
121. Com efeito, no caso em apreço, estão presentes os requisitos que ensejam o
deferimento de medidas cautelares, quais sejam, a plausibilidade do direito e o perigo da
demora, mormente este último, na medida em que, como restou demonstrado
exaustivamente, novas intervenções estão surgindo todos os dias, com a rapidez
característica da especulação imobiliária, na tentativa de, através da consolidação de
situações fáticas, inviabilizar por completo o desfazimento destas construções, com sérios
prejuízos à preservação da área proposta pelo CONPAM para a criação definitiva do Parque
do Cocó. Atente-se para o que restou apurado pelo MPF em seus procedimentos
administrativos – cópias em anexo -, onde restaram evidenciadas diversas obras já em
construção ou já autorizadas pelo Poder Público municipal e estadual, que demonstram,
cabalmente, a intensidade da apropriação de todo o entorno e da própria área destinada à
futura implantação do Parque do Cocó.
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bem como a definição dos terrenos de marinha e das APPs se torna cada vez mais dificil, se
não paralisadas quaisquer intervenções dentro daquela área. Demais disso, em nome do
princípio da precaução e da solidariedade intergeracional, esta área definida pelo GT do
CONPAM deve ficar livre de qualquer intervenção até a criação definitiva do Parque, pois,
somente assim, as novas gerações terão garantido o direito constitucionalmente assegurado
de, um dia, virem a usufruir de uma unidade de conservação que preserve estes relevantes
ecossistemas.
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fundado - da ocorrência de uma degradação, ainda que não haja certeza cientí-
fica absoluta, impõe a adoção de medidas para impedi-Ia ou obstá-la, inclusive
pela via judicial.
Esse outro aspecto é igualmente importante, porque, como se sabe, em uma ação
judicial a constatação de uma degradação ambiental exige análises científicas e
provas técnicas variadas, abrangendo, muitas vezes, diversos campos do
conhecimento. E a prática tem evidenciado que são muitas ainda as incertezas
científicas nas questões relacionadas à proteção do meio ambiente, sobretudo no
tocante ao funcionamento dos sistemas naturais, motivo pelo qual nem sempre os
técnicos e os peritos têm condições de trazer aos processos, de maneira plena-
mente satisfatória, em termos de certeza absoluta, as informações e conclusões
solicitadas pelos operadores do direito, abrindo amplo espaço para dúvidas e
controvérsias nas demandas.
A partir daí, o que se verifica é que os profissionais envolvidos com a utilização
da legislação ambiental passam a ter de lidar com probabilidades na aplicação do
direito ambiental e os juízes, principalmente, passam a ter de tomar decisões nos
processos com base nessas mesmas probabilidades, o que contraria a formação
tradicional dos juristas de uma forma geral e dos juízes em especial, como sabido
bastante apegada à idéia de segurança e certeza jurídicas.
Nesse sentido, o princípio da precaução define, de uma vez por todas, a validade
do critério da probabilidade para a tomada de decisões em favor da preservação
da qualidade ambiental, inclusive no âmbito da aplicação judicial do direito
ambiental.
Como decorrência da substituição do critério da certeza pelo critério da pro-
babilidade, consagrado com o advento do princípio da precaução, pode-se dizer
que, nas ações ambientais, para o autor da demanda basta a demonstração de
elementos concretos e com base científica que levem à conclusão quanto à proba-
bilidade da caracterização da degradação, cabendo, então, ao réu a comprovação
de que a sua conduta ou atividade, com absoluta segurança, não provoca ou não
provocará a alegada ou temida lesão ao meio ambiente.
Assim, o princípio da precaução tem também essa outra relevantíssíma
consequência na esfera judicial: acarretar a inversão do ônus da prova, impondo
ao degradador o encargo de provar, sem sombra de dúvida, que a sua atividade
questionada não é efetiva ou potencialmente degradadora da qualidade
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124. No mesmo sentido, com muita propriedade, afirma Vera Lúcia R.S. Jocovsky:
125. No caso concreto, em face de todas as circunstâncias fáticas e jurídicas levantadas pelo
MPF, em nome da efetividade do princípio da precaução, mostra-se recomendável a
9
Artigo anteriormente citado, págs.99/101.
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Meios de Defesa do Meio Ambiente. Ação Popular e Participação Pública, in Revista de Direito Ambiental,
editora RT, ano 5, nº 17, pág.71.
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imediata paralisação do início de novas obras, dentro da área definida pela proposta do GT
do CONPAM para receber o futuro Parque do Cocó, até que todas estas questões estejam
efetivamente resolvidas, o que somente acontecerá quando o Parque for realmente criado e
for definida sua respectiva zona de amortecimento e os usos permitidos, conforme definição
de seu respectivo Plano de Manejo a ser elaborado sob a coordenação da SEMACE.
127. Ademais disso, cumpre salientar que as providências cautelares buscadas não têm
efeito satisfativo, tendo em vista que, criado o Parque do Cocó e estabelecida a sua Zona de
Amortecimento, pelo órgão ambiental competente, caberá a este a realização de seu Plano
de Manejo, onde serão estabelecidos os critérios necessários para as formas de utilização
futura destas áreas. Trata-se, pois, de preservar hoje para ordenar no futuro, e não para
inviabilizar, definitiva e totalmente, o direito de propriedade de qualquer pessoa que possua
titularidade imobiliária na área que se visa, neste momento, preservar. É neste sentido que
se posiciona a jurisprudência, quando entende ser legítima a atuação administrativa
destinada a impedir a realização de obras em áreas destinadas a futura criação de Unidade
de Conservação, bem como a delimitar esta área e as áreas de preservação permanente
existentes no entorno:
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DOS PEDIDOS:
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deferimento desta liminar, qualquer intervenção que esteja sendo realizada nos
limites territoriais traçados pela nova poligonal definida pelo estudo do GT do
CONPAM, até que seja criado efetivamente o Parque do Cocó e sua respectiva
Zona de Amortecimento, com o seus disciplinamento estabelecido pelo seu
respectivo Plano de Manejo.
2) No mérito:
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3) Demais pedidos:
a) a citação de todos os demandados para que, querendo, possam contestar a
presente demanda;
b) o deferimento da produção de provas por todos os meios em direito admitidos,
notadamente a realização de perícias e a juntada posterior de documentos;
Termos em que,
Pede e espera deferimento.
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