UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

EESC – SEL – LASEE

PÓS-GRADUAÇÃO EM SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA

RENAN A. S. CARREIRA

Distribuição de Energia Elétrica

Análise de perdas em um sistema de distribuição

São Carlos – SP, 24 de junho de 2019

Estimação e análise de perdas comerciais
Dado um conjunto de amostras de dados de medidores de energia elétrica em um sistema de distribuição,
efetua-se um processo de análise quantitativo e qualitativo dos mesmos visando identificar as seguintes
informações:
1- Existência ou não de perdas comerciais de energia elétrica
2- Período correspondente a ocorrência das perdas comerciais
3- Estimativa do montante de energia elétrica “desviada”
4- Provável instalação consumidora onde há conexão clandestina

Diagrama unifilar básico do sistema

O diagrama a seguir mostra a topologia aproximada adotada para o sistema, destacando os elementos
envolvidos e suas respectivas impedâncias. Apresentam-se também as grandezas medidas ao longo do
período de amostragem (24h) em cada ponto de medição.

, ( ): ê ( ã )
, ( ): ã â
, ( ): ê , ℤ = [1,5]
, ( ): ã â
Solução proposta

1- Verificação da existência de perdas comerciais

Analisa-se primeiramente o comportamento das perdas totais do sistema.
As perdas totais podem ser facilmente calculadas, para cada amostra de medidas, como a diferença entre a
potência ativa total medida no PCC e a soma das potências consumidas pelas unidades, conforme a
expressão:

( )= − 1( ) + 2( ) + 3( ) + 4( ) + 5( ) + ( )

O gráfico seguinte mostra as perdas totais juntamente com a potência aparente agregada pelas 5
unidades. Em condições normais (sem presença de perdas comerciais) é esperada relação de dependência
linear entre as grandezas. Um comportamento discrepante pode indicar de forma conclusiva a presença de
perdas comerciais.
Observa-se um comportamento bastante discrepante em relação ao esperado para as perdas totais do
sistema. Há um “salto” bem definido no valor das perdas curiosamente da mesma ordem de grandeza da
potência aparente agregada máxima observada. Um comportamento próximo ao esperado na ausência de
perdas comerciais pode ser observado no intervalo fora do “salto”, onde as perdas totais são bastante
inferiores a potência total de carga, imperceptíveis no gráfico.
A análise dos dados até aqui proporciona duas conclusões importantes:
1- Existem perdas comerciais no sistema
2- O intervalo onde ocorrem as perdas é precisamente: entre 15:11 e 1:10h

2- Estimação do montante de energia elétrica desviada

Apresentam-se algumas estimativas visando uma análise de ordem de grandeza dos valores de perdas
totais e técnicas:
Considerando uma relação linear entre potência de carga e perdas técnicas, tomam-se os seguintes valores
como referência:
Máximo valor das perdas ativas no período SEM perdas comerciais:
max = 25,43
Máxima potência de carga agregada:
max = 4143,49
Relação entre perdas e carga:

≈ 0,006136

Máxima potência de carga agregada (período COM perdas comerciais):

max ′ = 30437,23
Estimativa grosseira para as perdas técnicas no ponto:

max = max ′ = 186,76

Perdas totais:
′ = 15989,70
Isto indica que as perdas técnicas representam algo em torno de 1,0% das perdas totais no período com
perdas comerciais.
Considera-se razoável desprezar as perdas técnicas na estimativa do montante desviado.
Assim, a estimativa do montante é realizada avaliando a seguinte expressão:

= ( ) ∆

:
: á
: í (1 )
∆ : (1 )
Apresenta-se o resultado obtido para a estimativa:
= 153,84 ℎ

3- Investigação do ponto de conexão ilegal

Propõe-se apontar qual unidade está atrelada ao comportamento anômalo observado das perdas. Para
tanto, é feita uma analise das tensões medidas. Pela topologia do sistema, pode-se afirmar que a unidade
consumidora onde há conexão de carga a montante do medidor apresentará queda de tensão não
condizente com o respectivo consumo medido. Toda a carga real, incluindo a desviada, contribuirá para a
queda de tensão sobre o respectivo ramal de ligação. No caso dos consumidores “sãos”, apenas a carga
medida contribui para queda de tensão sobre seus ramais.
Obtêm-se as diferenças de tensão nas unidades consumidoras em relação à tensão de referência de BT, de
120V. As diferenças são obtidas pela seguinte expressão:
∆ = 120 −
∆ : ç ã
: ã
Os gráficos a seguir mostram as diferenças de tensão obtidas para as fases A e B nas 5 unidades
consumidoras ao longo do dia de amostragem, respectivamente:
 Como esperado, o comportamento das quedas de tensão acompanha o das perdas, com “salto”
bem definido no período com perdas comerciais
 Observa-se que todas as tensões são afetadas pelo desvio. No entanto, há um destaque gritante
para a casa 2. Conclui-se que a conexão ilegal se encontra nesta unidade.
 Analisando a topologia do sistema com base no diagrama apresentado, esta análise é coerente.
Todas as tensões são afetadas devido à queda de tensão sobre o transformador e impedâncias a
montante (MT). Porém, a contribuição sobre a queda de tensão do ramal de ligação da casa 2 é
maior, visto que a energia desviada trafega por ali.