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CENTRO EDUCACIONAL DE ENSINO SUPERIOR DE PATOS

FACULDADES INTEGRADAS DE PATOS

CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

ADEILZA SOARES DE OLIVEIRA

A INTERFERÊNCIA DA MÍDIA NO TRIBUNAL DO JÚRI BRASILEIRO

PATOS
2018
ADEILZA SOARES DE OLIVEIRA

A INTERFERÊNCIA DA MÍDIA NO TRIBUNAL DO JÚRI BRASILEIRO

Monografia apresentada ao Curso de


Bacharelado em Direito das Faculdades
Integradas de Patos, como requisito para
a obtenção do título de Bacharela em
Direito.

Orientador: Prof°. Esp. Delmiro Gomes da


Silva Neto

PATOS
2018
FICHA CATALOGRÁFICA
Dados de Acordo com AACR2, CDU e CUTTER
Biblioteca Central - FIP
• Gr
Oliveira, Adeilza Soares de.
O258i A interferência da mídia no tribunal do júri brasileiro/
Adeilza Soares de Oliveira.–Patos –PB:FIP, 2018
51 fls.

Orientador (a): Prof. Esp. Delmiro Gomes da S. Neto


Monografia Graduação Bacharelado em Direito

1. Interferência. 2. Mídia.
3. Tribunal do júri.
I. Título II. Faculdades Integradas de Patos – FIP

FIP/BC CDU: 340


Francisco C. Leite – Bibliotecário. CRB 15/0076
Dedico essa vitória a minha filha que
durante essa jornada, cheia de
obstáculos, foi meu guia e minha luz.
Dedico ainda, a minha família, aos meus
professores e amigos por todo o incentivo
e paciência.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus em primeiro lugar, por sempre me manter de pé, e me


mostrar uma saída e por toda força divina que tive para continuar, e nunca desistir.
Agradeço a minha filha Maria Louise, por ser meu anjo, pelo seu amor tão
puro, por ser luz em meio a trevas. Obrigada, por ter sido meu maior estímulo para
levantar todos os dias e seguir enfrentando os obstáculos que apareceram na
jornada em nome dela. A flor mais linda do jardim do céu.
O meu agradecimento mais que especial a minha mãe Maria Fabiana, que me
acompanhou desde o começo desta caminhada acadêmica, permanecendo até
agora dando-me total apoio em todos os momentos, sempre com muito amor. Sem
ela eu não estaria realizando esse sonho.
Aos meus avós, Maria Francinete e José Soares, por serem minha base, e
terem tido tanto cuidado e amor comigo, sem poupar esforços para que eu chegasse
até aqui, por todo apoio em meio as dificuldades e por nunca me abandonarem em
momento algum da minha vida.
Aos meus irmãos, Anna Julya e Augusto Bruno por todo carinho e amor que
temos uns pelos outros, mesmo estando distante, por me fazerem feliz apenas pelo
fato de existirem e serem crianças tão iluminadas.
Ao meu amor, Henrique Pontes, que surgiu na minha vida no momento certo
e me trouxe muita felicidade. Além disso, tem sido meu grande apoiador, ajudando-
me em tudo sempre com muito amor e paciência.
Aos meus amigos de verdade, que estiveram ao meu lado e me deram
conforto e apoio, ajudando-me de alguma forma para que os meus sonhos fossem
concretizados, em especial a Esther Alves e Marília Gabriela que em momentos
difíceis mostraram amizade e lealdade
Agradeço aos professores incríveis que tive nessa jornada acadêmica, em
especial, Christiane Neri, Edigardo Ferreira, Claúdio Lameirão, Thiago Hanney,
André Gomes, Eulidivânia Camboim, Halém Souza e ao meu orientador Delmiro
Gomes, por todo apoio, dedicação e sabedoria transferidos durante esses anos.
A todos os demais integrantes da FIP que de uma maneira ou de outra
participaram e contribuíram para a minha vida acadêmica.
RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo analisar a interferência da mídia, seja


televisiva, impressa ou digital, nas decisões proferidas pelo Tribunal do Júri,
realizando uma análise em casos concretos nos quais ficou visível a sua influência
nos acontecimentos. Diante do poder que esses meios de comunicação exercem na
atualidade e da velocidade da informação, fenômeno típico da Era Digital, as
decisões proferidas por jurados sem um conhecimento mais apurado no campo
técnico-jurídico, traz, a esses, uma vulnerabilidade diante à variedade de leitura
feita pela mídia sobre um mesmo aspecto ou acontecimento, seja cotidiano, seja
coletivo, levando à sociedade a questionar a veracidade daquilo que é veiculado
diariamente pela imprensa brasileira, que, por diversas vezes, é demasiada
sensacionalista, a fim de afirmar-se hegemônica, garantindo sua obtenção de lucros.
Essa pesquisa retrata um tema relevante, visto a importância dos meios de
comunicação e o reconhecimento do poder formativo social que esses detêm na
sociedade. Nesse estudo, defende-se que o julgamento no Tribunal do Júri seja
justo e imparcial e que as decisões sejam tomadas apenas com base no que foi
exposto no julgamento, esquivando-se das informações externas e, sobretudo, do
apelo midiático.

Palavras-chaves: Interferência; Mídia; Tribunal do Júri; Casos.


ABSTRACT

The purpose of this study is to analyze the interference of the media, whether
television, print or digital, in the judgments given by the Jury, conducting an analysis
in concrete cases in which their influence on events was visible. Faced with the
power of these media today and the speed of information, a phenomenon typical of
the Digital Age, decisions handed down by jurors without a more accurate knowledge
in the technical-juridical field bring to them a vulnerability to the variety of a reading
made by the media about the same aspect or event, whether daily or collective,
leading society to question the truth of what is published daily by the Brazilian press,
which, on several occasions, is too sensational in order to assert itself hegemonic ,
guaranteeing their profits.
This research portrays a relevant theme, considering the importance of the media
and the recognition of the social formative power they hold in society. In this study, it
is defended that the trial in the Court of the Jury is fair and impartial and that
decisions are made only on the basis of what was exposed at the trial, avoiding
external information and, above all, the mediatic appeal.

Keywords: Interference; Media; Jury court; Cases


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 8
2 O TRIBUNAL DO JÚRI .......................................................................... 10
2.1 CONTEXTO HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DO INSTITUTO .................... 10
2.2 CONCEITO GERAL ............................................................................... 13
2.3 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS ......................................................... 15
2.3.1 Plenitude de defesa .............................................................................. 17
2.3.2 Sigilo de votações ................................................................................ 18
2.3.3 Soberania dos veredictos .................................................................... 19
2.3.4 Competência ......................................................................................... 20
3 A MÍDIA E O PROCESSO PENAL ....................................................... 22
3.1 LIBERDADE DE IMPRENSA E SUAS RESPONSABILIDADES ............ 22
3.2 A MÍDIA E A CRIAÇÃO DE NORMAS ................................................... 26
3.3 A PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA .......................................................... 28
3.4 A INFLUÊNCIA NO JULGAMENTO ....................................................... 29
4 CASOS CONCRETOS COM INTERFERÊNCIA MIDIÁTICA ................ 34
4.1 ISABELLA NARDONI ............................................................................. 35
4.2 ELOÁ PIMENTEL ................................................................................... 37
4.3 ELIZA SAMUDIO .................................................................................... 41
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................... 46
REFERÊNCIAS .................................................................................... 48
8

1 INTRODUÇÃO

O Tribunal do Júri brasileiro é uma instituição jurídica assegurada


constitucionalmente que delega a função de julgar crimes dolosos contra a vida a
membros da sociedade civil, através da escolha de jurados inseridos nesse seio,
mas sem conhecimento técnico das Leis. Este último fato vem causando uma
divergência no sistema jurídico, visto que esses jurados, sem conhecimento pericial,
baseiam-se, sobretudo, nas informações midiáticas.
Com a massificação dos meios de comunicação, nos quais são difundidos,
dentre outros acontecimentos, através de noticiários ou programas televisivos, os
crimes dolosos contra a vida, bem como a parcialidade midiática na apresentação de
um pré-julgamento sensacionalista, a sociedade civil, peça-chave nos julgamentos
do Tribunal Popular, são influenciadas a uma decisão levada por uma emoção
construída antes mesmo de se consolidarem jurados, acarretando em uma
resolução que fere princípios constitucionais como a Presunção da Inocência do réu.
No Brasil, a Liberdade de Expressão tem respaldo na Constituição Federal,
visto que assegura o direito democrático do indivíduo, mas a mídia tem se utilizado
desse direito para “construir” informações sobre fatos verdadeiramente ocorridos,
atribuindo-lhes versões e leituras sensacionalistas, gerando, dessa maneira, uma
comoção popular a quaisquer fatos que se designe a retratar. Essas especulações
levam os jurados à parcialidade e corrompem o devido processo legal que deve ser
seguido pelo Tribunal do Júri. A grave consequência causada por essa parcialidade
midiática à sociedade é a sede por uma suposta justiça, baseada em sanções mais
severas como a Pena de Morte, Redução da Maioridade Penal, amputação de
membros, negando assim, ao réu, o direito a uma reclusão que lhe proporcione
meios de ressociá-lo para que volte ao convívio social sem que represente uma
ameaça à sociedade.
Com o objetivo de discutir a temática, foi produzido o presente trabalho, que
confere a metodologia qualitativa, o método dedutivo e as técnicas de pesquisa
bibliográfica e documental, através de pesquisa bibliográfica com autores de
relevância a essa questão jurídica, bem como o acesso ao conteúdo jornalístico e
midiático e jurisprudências acerca do tema.
9

A pesquisa confere ampla importância no âmbito jurídico, pois é necessário


que se garanta a lisura do processo penal, defendendo o réu de ser condenado
antes de se iniciar o julgamento, para que dessa forma os crimes sejam julgados de
acordo tão somente com o que é apresentado durante a audiência.
A pesquisa foi dividida em três capítulos, o primeiro retrata o surgimento e a
evolução do instituto, assim como determina seu conceito geral e os princípios
constitucionais a ele atrelados, que tem o papel fundamental de garantir a
conservação do Tribunal do Júri
O segundo capítulo relata de que forma a mídia exerce seu poder de
influência sobre a massa, assim como discorre sobre a responsabilidade dos meios
de comunicação na informação transmitida, versa ainda sobre a criação de normas
através do apelo popular.
Finalizando, o terceiro capítulo trata sobre casos concretos, que ocorreram no
Brasil e foram alvo de grande comoção nacional, os mesmos tiveram interferência
midiática em seus julgamentos através da transmissão de informação veiculada pela
mídia.
Tendo em vista o exposto, é necessário analisar medidas que possam ser
impostas para diminuir os conflitos entre a imprensa e o judiciário sem que se
atinjam princípios fundamentais de ambos. Necessário que se destitua o poder da
mídia de julgar alguém, sendo desrespeitados vastos direitos fundamentais dados
pelo texto da Constituição Federal, e que tratam-se de clausulas pétreas .
10

2 O TRIBUNAL DO JÚRI

O Tribunal do Júri constitui uma das mais antigas e discutidas instituições do


processo judicial, embora venha sendo muito estudado com o passar dos anos, não
se sabe muito de sua origem, sendo ela desconhecida. Não se sabe nem ao menos
o período de seu surgimento, porém o mesmo foi instituído no Brasil no ano de
1822, previsto na Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988, em seu
Art. 5, XXXVIII, "d", que dispõe da competência para o julgamento dos crimes
dolosos contra a vida.

2.1 CONTEXTOS HISTÓRICOS E EVOLUÇÃO DO INSTITUTO

Sabe-se apenas que o Tribunal do Júri foi criado há muitos anos, e já era
prática utilizada pelos povos primitivos, tendo justamente essa idéia de julgamento
de seus pares. Devido essa omissão quanto à origem surgiram várias correntes que
tiveram como objetivo saber de fato a origem do Tribunal Popular.
Segundo Rui Barbosa (1976, p 148) que foi um dos maiores defensores do
Tribunal do Júri, afirmou que foi na Idade Média inglesa o seu surgimento , onde a
instituição se revestiu da imagem adotada pela Era Moderna.
Contudo, para José Frederico Marques o Júri teria nascido na Inglaterra, junto
com a Revolução Francesa (1997, p.120)
Firmino Whitaker tem uma idéia mais distante, que a descreve em sua obra
Jury (1930, p.8):

O Júri em sua simplicidade primitiva remonta as primeiras épocas da


humanidade. Qualquer que fosse a dúvida levantada nas tribos
errantes, sem leis positivas e autoridades permanentes. A decisão
era proferida pelos pares dos contendores.

Dentre tais teorias a teoria mosaica que encontrava base nos Dez
Mandamentos se destacou. Os ensinamentos encontrados em livros bíblicos como
êxodo e deteuronômio, indicava que haviam três institutos O Tribunal dos Três, O
Conselho do Ancião, E o Sinédrio, sendo estes respectivamente, Tribunal ordinário,
de vinte e três e Tribunal Superior ou Maior
11

Segundo Guilherme de Souza Nucci (2011, p.38) O Tribunal dos Três que era
um Tribunal Ordinário era composto por três, sendo dois escolhidos, um de cada
lado e o outro escolhido pelos dois recém membros, completando assim os três. O
Tribunal dos Vinte e Três ou também conhecido como Conselho dos Anciões era
uma espécie de segunda instância para resolver as controvérsias
O Sindério era uma espécie de Tribunal Superior, para resolver conflitos sem
solução pelo Conselho dos Anciões e ainda fazer o julgamento de algumas
autoridades, como profetas, Durvalina de Araújo (2011, p. 2)
Guilherme de Souza Nucci (2011, p. 60), assegura em sua obra que o
primeiro contato dos povos com o Júri Popular foi devido à origem do Conselho dos
Anciões e do Sindério

As leis de Moises, apesar de subordinar o magistrado ao sacerdote,


foram na antiguidade oriental, as primeiras que levaram os cidadãos
ao julgamento dos tribunais. Na velha legislação hebraica se
encontra o fundamento e a origem na instituição do Júri, o seu
princípio básico. Na tradição oral, como nas leis escritas do povo
hebreu, se encontram o princípio fundamental da instituição, o seus
característicos e a sua processualística.

Conclui-se que apesar da origem da instituição do Tribunal Popular seja


desconhecido, tal nascimento é um desdobramento do nascimento da humanidade,
tendo em vista que, o julgamento dos outros é característica inerente a sociedade
desde sempre.
Para que o Júri chegasse aos padrões que se encontram na atualidade, no
Brasil, foi através do modelo imposto na Inglaterra no ano de 1215, este modelo se
destacava pelo dispositivo que preceituava “ninguém poderá ser detido, preso ou
despojado dos seus bens, costumes e liberdades, senão em virtude do julgamento
de seus pares, segundo as leis do país” Todavia, os nobres não eram julgados
dessa forma, surgindo então o devido processo legal,
A respeito disso o doutrinador Guilherme de Souza Nucci (2011, p.39), afirma
que “espalhou-se pelo resto da Europa, um ideal de liberdade e democracia a ser
perseguido, como se somente o povo soubesse preferir julgamentos justos”
No Brasil o Júri foi instituído em 18 de junho de 1822 através de um decreto
do príncipe regente, para julgamento dos crimes de opinião ou imprensa, fez isso
12

com intenção de editar leis que fossem contra a coroa e diferentes as leis editadas
em Portugal (NUCCI, 2011 p.39)
Segundo afirma Almeida Júnior (1954, p. 150), na época o Júri era composto
por vinte e quatro cidadãos, escolhidos entre os homens bons, honrados,
inteligentes e patriotas, que funcionariam como juízes de fato, cabendo apelação
ao príncipe.
Após tal decreto a instituição do Júri foi fortalecida na constituição de 1824,
em seu art. 151 e 152 da Carta do Império.

Art. 151 O poder judicial é independente e será composto de juízes e


jurados, os quais terão lugar assim no cível como no crime, nos
casos e pelo modo que os Códigos determinarem.
Art. 152 Os jurados pronunciam sobre o fato e os juízes aplicam a lei.

Conforme Ary Azevedo (1956, p. 11) a instituição do Júri ganhou parâmetros


mais delimitados a partir da edição do Código Criminal do Império, em 1830 e do
Código de Processo criminal em 1932.
De acordo com Jader Marques, (2009, p. 23) Após o período imperial e logo
após a proclamação da republica, O tribunal do Júri foi mantido pela Constituição
de 1891 em seu art. 72
Atualmente, o Tribunal do Júri está inserido no Capítulo dos Direitos e
Garantias Individuais, onde são, 25 cidadãos que devem comparecer ao
julgamento. Destes, apenas sete são sorteados para compor o conselho de
sentença que irá definir a responsabilidade do acusado pelo crime, conforme afirma
o Conselho Nacional de Justiça.
A lei 11.689 indica como são escolhidos os jurados em seu Art. 425 e 426:

Art. 425. Anualmente, serão alistados pelo presidente do Tribunal do


Júri de 800 (oitocentos) a 1.500 (um mil e quinhentos) jurados nas
comarcas de mais de 1.000.000 (um milhão) de habitantes, de 300
(trezentos) a 700 (setecentos) nas comarcas de mais de 100.000
(cem mil) habitantes e de 80 (oitenta) a 400 (quatrocentos) nas
comarcas de menor população.
Art. 426. A lista geral dos jurados, com indicação das respectivas
profissões, será publicada pela imprensa até o dia 10 de outubro de
cada ano e divulgada em editais afixados à porta do Tribunal do Júri.

A primeira vez que surgiu na Constituição a respeito do Júri Popular foi em


1824, tiveram dois artigos em que impôs no Brasil um Júri Popular com a
13

competência de julgar causas cíveis e criminais, tal roll foi modificado diversas
vezes.

Art. 151. O Poder Judicial é independente, e será composto de juízes


e jurados, os quais terão lugar assim no cível como no crime, nos
casos, e pelo modo, que os códigos determinarem.
Art. 152. Os jurados pronunciam sobre o fato, e os juízes aplicam a
lei.

Em 1991 o Tribunal do Júri foi colocado como direito e garantia individual,


sendo então considerada uma entidade autônoma, de acordo Guilherme de Souza
Nucci (2011, p. 37) Chegando até a atual conjuntura.

2.2 CONCEITO GERAL

Segundo Antônio Alberto Machado (2010, p.237) O Júri é talvez o órgão


judicial que desperta as maiores polemicas, por serem numerosos os seus
defensores e críticos, ambos os lados com argumentos respeitáveis, porém,
nenhum deles com a perspectiva de triunfo sobre o outro.
Conforme José Frederico Marques monografista que é adversário a instituição
nos diz em sua obra (2006, p. 06) que a instituição perdeu o seu sentido político
depois que o Judiciário adquiriu independência em face do Executivo, e
assemelhar-se a um tribunal de exceção como se fosse o outro pólo da “justiça da
lei”; de julgar delitos cruéis e revoltantes com muita complacência; e de não ter
nenhum conhecimento especializado para bem exercer a função de julgar.
Todavia, contrário a sustentação do José Frederico Marques exposta acima, o
autor renomado Magalhães Noronha (2007, p.317) sustenta que o processo do Júri
é moroso, que os jurados não contam com as mesmas garantias dos juízes
togados e são suscetíveis a influencias e pressões dos poderosos de plantão e,
ainda, que os juízes leigos não tem nenhuma especialização para desempenhar a
função de julgar e aplicar o direito.
A Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988, em seu Art. 5,
XXXVIII, "d", dispõe da competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a
vida.
14

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXXVIII - e reconhecida a instituição do júri, com a organização que
lhe der a lei, assegurados:
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a
vida;

Já se pode extrair pelo menos duas conclusões acerca da atual configuração


do Tribunal do Júri, na Constituição vigente trata-se de uma garantia fundamental
do indivíduo e que trata-se de instituição que continua prestigiada pelo
ordenamento jurídico brasileiro” (MACHADO, 2010, p.243)
Desde a sua implementação, houve várias alterações em sua estrutura até a
atual onde é composto por um juiz togado, seu presidente, e vinte e cinco jurados
sorteados entre os alistados, sendo sete designados a formar o Conselho de
Sentença, com fulcro no art. 447 do CPP.

Art. 447. O Tribunal do Júri é composto por 1 (um) juiz togado, seu
presidente e por 25 (vinte e cinco) jurados que serão sorteados
dentre os alistados, 7 (sete) dos quais constituirão o Conselho de
Sentença em cada sessão de julgamento.

Segundo Antonio Alberto Machado sobre o princípio da plenitude de defesa


Tribunal do Júri (2010, p.243).

No Tribunal do Júri admite-se a chamada autodefesa, exercida


diretamente pelo réu enquanto direito de presença e direito de
audiência, bem como a indefectível defesa técnica , exercitada por
meio de advogado

No entendimento do processualista José Frederico Marques no que se refere


à soberania dos veredictos (2006, p.40) que significa a impossibilidade de outro
órgão judiciário de uma causa por ele proferida.
A revisão criminal deve ser admitia em todos os casos de condenação no júri,
mas na hipótese de decisão contrária a lei ou a evidência dos autos, parece a
melhor solução mandar o réu para novo julgamento pelo Júri Popular, o juiz, natural
da causa. Machado (2010)
O Tribunal do Júri está inserido na Constituição Federal de 1988, onde a
própria Lei Maior delega a função do julgamento a sociedade onde dentre ela serão
15

escolhidos os jurados, o que é clausula pétrea, segundo Walfredo Cunha Campos


(2015, p. 7)

O Júri, por estar inserido no capítulo dos Direitos e Garantias


Individuais e Coletivos da Constituição Federal, não pode ser
abolido, porque esse núcleo da Carta Maior é considerado, por ela
própria, no art. 60, § 4o, IV, como intangível, não modificável em seu
conteúdo, impossibilitando o Poder Constituinte Derivado de sequer
propor emendas constitucionais tendentes a abolir o Tribunal do
Povo..

Além de cláusula pétrea o Tribunal também se trata de uma garantia que tem
por objetivo assegurar a liberdade, mantendo o Júri Popular como originariamente o
julgador dos crimes dolosos contra a vida
O Júri deve ser visto como um direito do cidadão de participar de forma direta
da administração da justiça do país, assim como dispõe Guilherme de Souza Nucci
(2011, p. 55)

Se é uma garantia, há um direito que tem por fim assegurar. Esse
direito é, indiretamente, o da liberdade. Da mesma forma que
somente se pode prender alguém em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada de autoridade judiciária e que somente se
pode impor uma pena privativa de liberdade respeitando-se o devido
processo legal, o Estado só pode restringir a liberdade do indivíduo
que cometa um crime doloso contra a vida, aplicando-lhe uma
sanção restritiva de liberdade, se houver um julgamento pelo Tribunal
do Júri. O Júri é o devido processo legal do agente de delito doloso
contra a vida, não havendo outro modo de formar sua culpa. E sem
formação de culpa, ninguém será privado de sua liberdade (art. 5o,
LIV). Logicamente, é também um direito. Em segundo plano, mas
não menos importante, o Júri pode ser visto como um direito do
cidadão de participação na administração de justiça do país.

Dessa forma é notória a divergência doutrinária a respeito dessa tão antiga


instituição, resguardada pela Constituição da Republica Federativa do Brasil de
1988, e assegurada como garantia do cidadão e compondo clausula pétrea.
Essa divergência é bem embasada nos dois sentidos, não existindo
superação uma da outra, todavia, ainda é o procedimento penal adotado para
resolver os crimes dolosos contra a vida.

2.3 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS


16

O significado de princípio segundo Guilherme de Souza Nucci (2011 p.41)


trata-se de “como um momento em que algo tem origem; é a causa primária, ou o
elemento predominante da constituição de um todo orgânico” em outras palavras
quer dizer que são a base das leis infraconstitucionais.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes
XXXVIII - e reconhecida a instituição do júri, com a organização que
lhe der a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a
vida;

O princípio deve ser considerado como uma espécie de norma jurídica,


composto de ética e política, entendida como um valor do ordenamento. Nas
palavras de Willis Santiago Guerra Filho (2002, p. 17):

Os princípios devem ser entendidos como indicadores de uma


opção pelo favorecimento de determinado valor, a ser levada em
conta na apreciação jurídica de uma infinidade de fatos e situações
possíveis. Os princípios jurídicos fundamentais, dotados também de
dimensão ética e política, apontam a direção que se deve seguir
para tratar de qualquer ocorrência de acordo com o direito em vigor

Nas palavras de Plácido e Silva (1993, p. 447):

No sentido jurídico, notadamente no plural, quer significar as normas


elementares ou os requisitos primordiais instituídos como base,
como alicerce de alguma coisa. E, assim, princípios revelam o
conjunto de regras ou preceitos, que se fixaram para servir de
norma a toda espécie de ação jurídica, traçando, assim, a conduta a
ser tida em qualquer operação jurídica. (...) Princípios jurídicos, sem
dúvida, significam os pontos básicos, que servem de ponto de
partida ou de elementos vitais do próprio direito.

Por estarem elencados na Constituição Federal os princípios do Tribunal


Popular tratam-se de princípios constitucionais, segundo preceitua Rizzatto Nunes
(2002, p. 37):
17

Da mesma maneira que os princípios ético-jurídicos mais gerais, os


princípios constitucionais são o ponto mais importante do sistema
normativo. Eles são verdadeiras vigas mestras, alicerces sobre os
quais se constrói o sistema jurídico. Os princípios constitucionais
dão estrutura e coesão ao edifício jurídico. Assim, devem ser
obedecidos, sob pena de todo o ordenamento jurídico se
corromper.

Os princípios constitucionais dão embasamento e possuem importância


demasiada para o ordenamento jurídico, Luís Roberto Barroso (1999, p. 147 a 149):

Os princípios constitucionais são as normas eleitas pelo constituinte


como fundamentos ou qualificações essenciais da ordem jurídica
que institui. A atividade de interpretação da constituição deve
começar pela identificação do princípio maior que rege o tema a ser
apreciado, descendo do mais genérico ao mais específico, até
chegar à formulação da regra concreta que vai reger a espécie [...]
Em toda ordem jurídica existem valores superiores e diretrizes
fundamentais que ‘costuram’ suas diferentes partes. Os princípios
constitucionais consubstanciam as premissas básicas de uma dada
ordem jurídica, irradiando-se por todo o sistema. Eles indicam o
ponto de partida e os caminhos a serem percorridos.

Os princípios possuem a função relevante de oferecer embasamento e


premissas fundamentais ao ordenamento jurídico, tendo um papel efetivo no direito
e nos julgamentos do Tribunal Popular, onde deve ser fielmente seguido.

2.3.1 Plenitude de defesa

O Tribunal do Júri diferente do processo penal que existe a ampla defesa, o


princípio utilizado nesse instituto é o da plenitude de defesa, a ampla defesa trata de
uma garantia geral, e a plenitude de defesa é peculiar do instituto do Júri. Renato
Brasileiro de Lima (2011, p.622) diferencia a ampla defesa da plenitude de defesa
(p.1.319)

O advogado de defesa não precisa se restringir a uma atuação


exclusivamente técnica, ou seja, é perfeitamente possível que o
defensor também utilize argumentação extrajurídica, valendo-se de
razões de ordem social, emocional, de política criminal etc.

De acordo com Guilherme de Souza Nucci (2011, p.25) no tocante da


plenitude de defesa:
18

O que se busca aos acusados em geral é a mais aberta possibilidade


de defesa, valendo-se de instrumentos e recursos previstos em lei e
evitando-se qualquer forma de cerceamento. Aos réus no Tribunal do
Júri, quer-se a defesa perfeita dentro obviamente das limitações
naturais dos seres humano

Diante do exposto, é visível a preocupação em uma boa defesa, tendo em


vista que os julgadores no Tribunal do Júri decidem sem nenhuma fundamentação
jurídica, sem conhecimento técnico – cientifico.
Portanto a ampla defesa e a plenitude de defesa não tem o mesmo
significado, partindo dessas premissas. A plenitude de defesa é algo a mais, que
acrescenta na ampla defesa, sendo esse princípio peculiar do Tribunal do Júri.
Importante ressaltar que caso haja deficiência na defesa dos advogados,
deverá ser nomeado outro defensor pelo juiz Presidente que seja responsável por
exercer o controle de defesa em plenário, segundo a regra do Art.497, V do Código
de Processo penal.

Art. 497. São atribuições do juiz presidente do Tribunal do Júri, além


de outras expressamente referidas neste Código
V - nomear defensor ao acusado, quando considerá-lo indefeso,
podendo, neste caso, dissolver o Conselho e designar novo dia para
o julgamento, com a nomeação ou a constituição de novo defensor

Ademais, o que é importante é assegurar que o réu tenha o direito a uma


defesa efetiva, não havendo restrições quanto ao modo, afinal os jurados não
possuem conhecimentos técnicos, desse modo para que a defesa surta efeito,
podem os advogados se utilizarem de uma linguagem que atinja a todos

2.3.2 Sigilo das votações

Trata-se de outro princípio importante que rege o Tribunal do Júri, o sigilo das
votações com o objetivo de evitar que a publicidade venha a atrapalhar a
independência dos jurados nas suas decisões a respeito do julgamento.
O artigo 485 do Código de Processo Penal deixa claro tal sigilo que rege o
Tribunal Popular
19

Art. 485 Não havendo dúvida a ser esclarecida, o juiz presidente, os


jurados, o Ministério Público, o assistente, o querelante, o defensor
do acusado, o escrivão e o oficial de justiça dirigir-se-ão à sala
especial a fim de ser procedida a votação.
§ 1o Na falta de sala especial, o juiz presidente determinará que o
público se retire, permanecendo somente as pessoas mencionadas
no caput deste artigo.

O doutrinador Walfredo Cunha Campos (2015, p.07) define bem a importância


desse princípio:

Por fim, a existência da sala secreta é a maneira concreta de se


assegurar o princípio constitucional do sigilo das votações, ao
estabelecer um cômodo específico para que os membros do
Conselho de Sentença possam deliberar com tranquilidade.

Logo, se observa que o principio constitucional do sigilo de votações


constantes no Tribunal do Júri afasta por meio de exceção a garantia de publicidade
que também consta na Constituição Federal em seu art. 5, LX

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais
quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;
.
Diante do exposto, se constata o quanto é importante manter a distância entre
os jurados e terceiros, e principalmente distante da imprensa como também de
pessoas que estejam de algum modo atuando no processo.

2.3.3 Soberania dos veredictos

Além do princípio da plenitude de defesa e do sigilo das votações ainda é


previsto constitucionalmente o princípio da soberania dos veredictos, tal principio
impede a modificação das decisões proferidas no Tribunal do Júri por outro Tribunal.
Segundo o especialista Walfredo Cunha Campos (2015, p. 10)

A decisão coletiva dos jurados, chamada de veredicto, não pode ser


mudada em seu mérito por um tribunal formado por juízes técnicos
(nem pelo órgão de cúpula do Poder Judiciário, o Supremo Tribunal
Federal), mas apenas por outro Conselho de Sentença, quando o
primeiro julgamento for manifestamente contrário às provas dos
autos. E assim deve ser. Júri de verdade é aquele soberano, com
20

poder de decidir sobre o destino do réu, sem censuras técnicas dos


doutos do tribunal.

O princípio tem o real objetivo de manter as decisões proferidas no Tribunal


Popular assegurando assim a decisão do povo, todavia o princípio da soberania dos
veredictos também não tem um só entendimento, a doutrina tem severas criticas a
respeito dessa soberania. Diante disso indica Guilherme de Souza Nucci (2011,
p.38)

Muitos Tribunais togados não se tem vergado, facilmente a decisão


tomada pelos Conselhos de Sentença. Alguns magistrados procuram
aplicar a jurisprudência da Corte onde exercem suas funções,
olvidando que os jurados são leigos e não conhecem – nem devem,
nem precisam – conhecer a jurisprudência predominante em Tribunal
algum.

Partindo desse ponto de vista ocorre uma quebra no sentido do objetivo do


Tribunal do Júri que é o julgamento através de fatos e provas de acordo com o
entendimento popular.
Ocorre uma ineficácia no Tribunal Popular se houver revisões de outros
Tribunais em cima da decisão proferida pelo povo, acaba por tornar nulo e inválido o
que os jurados escolhidos decidirem.
No caso de ocorrer alguma espécie de erro na decisão, deverá os jurados se
reunirem mais uma vez e fazer uma nova análise dos fatos e provas do caso, não
ocorrendo nenhuma espécie de intromissão. Segundo previsão constitucional, em
seu art. 5, XXXVIII, c

2.3.4 Competência

De acordo com o art. 5, XXXVIII, d , a competência do júri para os crimes


dolosos contra a vida. Há correntes que defendem que isso é uma competência fixa
que não pode ser ampliado, embora o entendimento majoritário da doutrina é que
essa majoração pode sim ocorrer, porque a constituição assegura ao Júri a
competência dos crimes dolosos contra a vida mas, não só a eles.
O que houve de fato foi uma competência mínima fixada, delegando a Lei
Ordinária a instituição de outros na prática, Assim como ocorreu em outros países a
21

exemplo de Portugal. O especialista em direito penal Vicente Greco Filho (2015,


p.84) fala sobre a competência

Quanto a competência a Constituição assegurou ao júri, julgamento


dos crimes dolosos contra a vida, entendendo-se como tais os
capítulos do próprio Código Penal, quais sejam o homicídio, o
infanticídio, o auxilio ou instigação ao suicídio, e o aborto. Outras
infrações ainda que contenham a morte a título doloso, como o
latrocínio, ou a extorsão mediante seqüestro seguido de morte, não
são crimes dolosos contra a vida para os fins da competência do
Tribunal do Júri. A constituição não referiu a figura tentada nem o
julgamento de crimes conexos. A tentativa não necessitava, mesmo,
ser citada, porque o crime tentado é o próprio crime em fase de
execução. Já quanto aos conexos, a menção seria conveniente mas
a extensão a eles é a tradição do direito brasileiro, e não se
questionou a sua exclusão nem mesmo na época em que a
competencia do júri era privativa para os crimes dolosos contra a
vida

Caso houvesse majoração na competência mínima assegurada pela


Constituição Federal não seria violação as clausulas pétreas. Guilherme de Souza
Nucci (2011, p.681) fala sobre o tema:

Vale salientar ainda qual é a amplitude da expressão delitos doloso


contra a vida. Houve na época em que se rebateu o alcance da
competência do Tribunal do Júri, visando-se a incluir na sua pauta
todos os crimes que envolvessem a vida humana, como por
exemplo, o latrocínio, onde há roubo (doloso) seguido de morte (que
pode igualmente ser fruto do dolo). Não vingou tal entendimento, pois
o conceito adotado pelo texto constitucional foi técnico, isto é, são os
crimes previstos no Capítulo I, ( Crimes contra a vida), do Título II, (
dos crimes contra a pessoa) previstos na parte especial.

Deste modo, são de competência do Tribunal Popular os delitos de


homicídios simples, privilegiado e qualificado; induzimento, instigação ou auxílio ao
suicídio; infanticídio, aborto, e por fim se acrescenta o genocídio
Porém a competência do crime de latrocínio é de juiz singular e não se
estende a competência para o Tribunal do Júri. Sendo apenas as citadas que estão
presentes no Código Penal, em seus títulos I e II, como também em sua parte
especial.
22

3 A MÍDIA E O PROCESSO PENAL

No dia a dia é visível a preferência da mídia em informar em seus programas


jornalísticos casos que se refiram a crimes dolosos contra a vida, onde o Tribunal do
Júri é responsável pelo seu julgamento, isso ocorre porque a sociedade se interessa
pelo assunto, o que por conseqüência aumenta a audiência das emissoras, ou até
mesmo o alcance do responsável pela difusão.
Todavia, essas divulgações realizadas pela imprensa do desenvolver até as
decisões proferidas a partir do Tribunal do Júri atrapalham o processo penal, e surge
desse modo o conflito entre princípios constitucionais. De um lado, o direito a
proteção da intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas, e em outra
vertente o direito a liberdade de imprensa, princípios esses assegurados pela
Constituição Federal de 1988

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e a propriedade, nos termos seguintes
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e
de comunicação, independentemente de censura ou licença.
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material
ou moral decorrente de sua violação

E é em nome da liberdade de imprensa que as emissoras encontram respaldo


legal para seus excessos, agindo assim de forma desenfreada e violando a lisura do
processo penal com a finalidade de obter audiência.
O julgamento no Tribunal Popular deve haver sem interferências externas,
sendo papel da mídia apenas informar o cidadão, com parcialidade e de acordo com
a ética jornalista, contudo, o que em ocorre em demasia é a espetacularização do
cárcere.

3.1 LIBERDADE DE IMPRENSA E SUAS RESPONSABILIDADES

Mídia é a difusão de informação seja por rádio, televisão, imprensa,


publicação na internet, videograma, satélite de comunicação, o que é um conjunto
de meios de comunicação (AURÉLIO, dicionário)
23

A verdadeira missão da mídia é servir a comunidade com informações


importantes, verídicas e imparciais, assim como descreve Miranda (apud Costa,
2008, p.04)

A verdadeira missão da imprensa, mais do que a de informar e a de


divulgar fatos, é a de difundir conhecimentos, disseminar a cultura,
iluminar as consciências, canalizar as aspirações e os anseios
populares, enfim, orientar a opinião pública no sentido do bem e da
verdade

Essa transmissão de informação feita pela mídia na atualidade é bem rápida,


tendo em vista as redes sociais aceleram o procedimento de massificação, sendo o
recebimento da mensagem pelo telespectador feito de forma célere, muitas vezes
inclusive sem fontes seguras.
Essas informações quando veiculadas de forma sensacionalista ou até
mesmo inverídica tem um efeito negativo no processo penal, que deve prezar pela
imparcialidade e a busca da verdade real.
O principio da liberdade de imprensa é trazido na Constituição Federal nos
capítulos do art. 220 ao 224:

Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a


informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão
qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.

Nos capítulos reservados a comunicação social, além de conceitos de


liberdade de imprensa é importante notar os conceitos inclusos como liberdade de
pensamento de informação. Conforme Vieira (2002, p. 24) afirma que a liberdade de
expressão deve ser entendida como a possibilidade de expor seus pensamentos,
idéias e opiniões por qualquer meio.
Luiz Gustavo Grandinetti Castanho (2002, p.05) discorda dessa posição :

Quem veicula uma informação, ou seja, quem divulga a exisencia, a


ocorrência , o acontecimento de um fato, de uma qualidade ou de um
dado deve ficar responsável pela demonstração de sua existência
objetiva.

Ainda sobre a liberdade de imprensa conforme indica Priscila Coelho de


Barros Almeida (2010)
24

O nosso país é um grande exemplo de como a liberdade de


imprensa é essencial na formação de uma nação, sobretudo através
da valorização de seu povo. É inquestionável a atuação da imprensa
como verdadeiro fiscal do poder público, e garantidor dos direitos
fundamentais, assegurados constitucionalmente. O exercício da
atividade de imprensa é imprescindível no Estado Democrático de
Direito, como corolário da liberdade de informação em seu múltiplo
aspecto. Não se concebe uma sociedade democrática onde não haja
uma imprensa livre, capaz de criar formadores de opinião
conscientes de seu papel na estrutura social. Numa sociedade
democrática, no entanto, os direitos dos entes sociais devem
conviver da maneira mais harmônica possível, daí a necessidade de
se impor limites, pois a falta desses limites ensejaria na aniquilação
de um direito sobre o outro, e na desordem total do mundo social.
Portanto, toda a liberdade deve ter limites.

Diante do exposto, temos que a liberdade de imprensa deve ser entendida


como o direito que a mídia tem de divulgar fatos, veicular informações a sociedade
agindo como um fiscal do poder público e desse modo garantindo a democracia.
Entretanto, toda liberdade tem restrição, e deve respeitar limites, e do mesmo
modo o direito a liberdade de imprensa não pode violar outros direitos garantidos.
A imprensa apresenta um poder tão solido e capaz de atingir a população e
com a intensificação do poder, também deve ser proporcional a responsabilidade de
tal. O poder da mídia é tão demasiado que por esse motivo tem sido intitulada como
o quarto poder, junto com o executivo, legislativo e judiciário, segundo Oacyr Silva
Mascarenhas (2010)

A imprensa chama para si o papel de vigilância dos Poderes


Executivo, Legislativo e Judiciário, tudo em função do banalizl´m ado
interesse público. Ocorre que a Mídia não está se preocupando com
interesse público e sim com o interesse do público. O que se
pretende é maximizar lucros para as grandes corporações que
comandam uma dezena de veículos de comunicação. O problema é
que, apesar da falta de legitimidade, a Mídia vem, de fato, exercendo
poderes que exorbitam da ótica constitucional. A forma como se
manipula os indivíduos, a maneira seletiva de transmitir informações,
as investigações e condenações sumárias e o seu poderio
econômico e ideológico ensejam um comportamento midiático supra
constitucional.

Além da opinião do Gennaro Portugal Ciotola:

No estado novo a auto promoção das ações de governo, através da


radiodifusão tornou-se uma atividade institucional. Apesar da figura
austera, Vargas soube explorar com maestria o potencial de
25

intimidade, característico do rádio para se aproximar do povo. Ao


valorizar o sentimento patriótico em seus discursos radiofônicos e
trabalhar pela unidade nacional, ele fortaleceu, também, sua imagem
como estadista e líder, obtendo apoio popular. Aliás, o carnaval e
outras manifestações culturais até então regionalizadas, mas
possuidoras de ressonância popular, são transformadas em símbolos
nacionais pelas ondas da emissora, como parte do processo de
legitimação da identidade nacional que se construía. Assim, unindo
norte e sul do País, o regime estimula a criação de valores comuns
como “o brasileiro gosta mesmo é de mulher, samba e futebol”. Era a
produção de bens simbólicos a serviço da legitimação política

O conceito de imprensa hoje é relacionado a qualquer meio tecnológico de


comunicação em massa. A liberdade de imprensa por ser um direito constitucional
conquistado traz consigo também uma responsabilidade. É importante ressaltar que
ao exercer seu direito o individuo deve assumir também as suas responsabilidades.
Porém, não está acontecendo isso nos meios de comunicação, os indivíduos
baseados no principio da liberdade de imprensa utiliza-se de forma desenfreada,
irresponsável, sensacionalista, e por diversas vezes fatos fictícios , que estão
preocupados com a audiência e não com a veracidade da mensagem.
A noticia tornou-se uma mercadoria explorada por grandes empresários que
apenas se preocupam com a quantidade de telespectadores e de um grandioso
lucro, enquanto isso as mensagens e informações são repassadas a sociedade sem
qualquer qualidade.
O conceito de sensacionalismo é amplo, segundo Amaral, (2006, p.31)

O sensacionalismo está ligado ao exagero, a intensificação,


valorização da emoção, a exploração do extraordinário, a valoralização
de conteúdos descontextualizados a troca do essencial pelo supérfluo
ou pitoresco e inversão do conteúdo pela forma.

Os programas televisivos tem mostrado bastante vulgaridade e a figura de um


jornalista que não atua com imparcialidade para noticiar, pelo contrario sempre
indicam suas opiniões, julgamentos e preconceitos.
Tais programas, a exemplo do “Cidade Alerta”, e “Brasil Urgente”, tem grande
audiência e tem a especialidade em espetacularizar o cárcere, tais programas tem
bastante defensores por incitar o ódio a crimes e acusados, deixando a sociedade
sedenta por uma vingança e não por justiça.
26

Acontece que o jornalismo, responsável, objetivo, imparcial, verdadeiro, está


sendo trocado por apresentadores que trazem a notícia por meio de um espetáculo
televisivo.
Desse modo, os meios de comunicação utilizando-se dessa pratica para
obtenção de lucros, estão colidindo diretamente com os princípios e ideais do
Judiciário, e em especial do Processo Penal.
Por isso, o uso do direito a liberdade de imprensa de forma desenfreada,
principalmente de atos do poder judiciário, colidem com princípios constitucionais de
garantia a pessoa, como direito a intimidade, a honra, e presunção de inocência.
Quando a mídia divulga dessa forma desenfreada, ela expõe a vida de réu e
vítima, trazem depoimentos e provas chocantes, e muitas vezes diante do
espetáculo feito pelos apresentadores chocam a sociedade a ponto deles se
envolverem e desejarem participar da decisão.

3.2 A MÍDIA E A CRIAÇÃO DAS NORMAS

Além de tudo a mídia detém o poder de pressionar os legisladores, afinal


existe todo um fator político dessas pessoas em satisfazer os desejos dos
populares. O impulso feito pela mídia ao ponto de manipular o legislativo a criar
novas leis, nos põe a analisar o quanto é perigoso e excessivo o poder midiático,
como afirma Oacir Silva Mascarenhas (2010 p. 05)

Não se pode deixar de falar da Lei 10.792 de 2003. Esta lei foi
produto do interminável passeio do preso midiático
Fernandinho Beira-Mar, diante da dificuldade do Estado em
manter o criminoso isolado. Ocorre que os avanços benéficos
trazidos por esta lei, especialmente no que toca as regras do
interrogatório, chocam-se com os seus retrocessos. A criação
do Regime Disciplinar Diferenciado, inovação da Lei n
10.792/03, foi mais uma aberração jurídica , sobejamente
casuística e violadora de direitos do preso.

É notório que a fim de responder aos desejos da sociedade respondendo


acima de tudo ao apelo popular através da mídia o legislador acaba por se precipitar
e na pressa de oferecer uma resposta instantânea aos seus, elabora leis ineficazes,
que não surtem o efeito esperado.
27

Um exemplo claro de um caso midiático que resultou na criação de uma lei,


foi o caso da Daniela Perez , atriz, que foi assassinada no ano de 1992 e após a
mídia divulgar e fazer todo o apelo, ocorreu a inclusão de alguns tipos penais no rol
de crimes hediondos, segundo Mascarenha (2010, p.07 )

O fato de ser evidenciado, neste caso, é que a escritora Gloria


Perez capitaneou um movimento colhendo milhares de
assinaturas na tentativa de encaminhar ao Congresso Nacional
um projeto de lei de iniciativa popular, no qual se acrescentaria
a Lei 8.930/90 o homicídio qualificado. Esta movimentação
resultou na Lei 8.930 de 06 de setembro de 1994
É de assaz relevância salientar que essa lei não foi resultado
da iniciativa popular como corriqueiramente se propala. A Lei n
8.072/90 foi resultado de um projeto de lei de um deputado
que se aproveitou da comoção implantada pelos meios de
comunicação.

Outro nítido exemplo ocorreu após a morte de um casal de adolescentes que


foram assassinados, e entre os assassinos havia um menor, desde então a
sociedade através da mídia começaram campanha para a redução da maioridade
penal, Mascarenhas (2010, p.07) disserta sobre o tema

Recentemente também, o assassinato dos jovens, Liana


Friendenbach e seu namorado Felipe Caffé, perpretado por
uma quadrilha liderada por um adolescente, mais um caso
criminal célebre, deu ensejo a uma precipitada discussão sobre
a redução da maioridade penal. O pai do jovem, o advogado Ari
Friendbach lidera um movimento nesse sentido e detém o
cabal apoio dos meios televisivo. É corriqueiro encontrar o Dr,
Friendbach em programas televisivos de todos os gêneros e
destinado a diversos públicos, quando se está a discutir a
questão da redução da maioridade penal. Existe até uma
proposta de emenda constitucional apresentada pelo Senador
Magno Malta, denominada de “PEC Liana Friendbach”. A
propota estabelece que qualquer menor que cometa crime
envolvendo morte, latrocínio, ou estupro perderá
imediatamente a menoridade penal para ser colocado a
disposição da justiça côo se fosse maior de idade.

Até o presente momento a maioridade penal segue com 18 anos, muito


provavelmente porque há debates e opiniões divergentes entre os populares. O
legislador empenhado em mostrar que ta fazendo algo, não é responsável em seu
trabalho, passando a colocar a lei a serviço dos caprichos de uma sociedade
28

manipulada pelos meios de comunicação, agindo, inclusive, com tamanho


retrocesso
Outro fenômeno corriqueiro é o da mutação constitucional, apesar da nossa
constituição ser do tipo rígida, ocorre esse fenômeno que consiste em transformar a
interpretação da norma sem mudar a essência do seu texto, segundo Bullos (2010,
p. 118)

O fenômeno das mutações constitucionais, portanto, é uma


constante na vida dos Estados. As constituições, como organismos
vivos que são, acompanham o evoluir das circunstâncias sociais,
políticas, econômicas, que, se não alteram o texto na letra e na
forma, modificam-no na substancia, no significado, no alcance e nos
seus dispositivos.

Um exemplo de mutação constitucional, que ocorreu após vários apelos


populares e midiáticos é a inclusão do casal homoafetivo como conceito de família
ou união estável.

Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre


o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e
duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.

Hoje já entende-se tal artigo de forma mais ampla e apesar de ser algo
benéfico e em respeito a liberdade mas, abre precedentes para outra mudanças que
podem ser maléficas e um retrocesso para o ordenamento.
O problema, na verdade não é o que a mídia traz como benefícios, é o que
traz de malefícios, onde a sua influência permanece tomando uma proporção
gigante e agindo indiretamente como legislador e como julgador.

3.3. A PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

O principio da presunção de inocência é trazido na Constituição Federal e é


um direito do réu, onde só será considerado culpado após sentença transitada e
julgado, como versa o art. 5, LVII da CF.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
29

LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de


sentença penal condenatória;

Todavia, não é sempre que isso ocorre, quando a mídia consegue agir e
manipular o caso a presunção de inocência é extinta e o réu é considerado culpado
antecipadamente e muitas vezes preso, mesmo sem preencher os requisitos da
prisão cautelar.
O principio da presunção de inocência deveria também ser respeitado pela
mídia, em muitos países os códigos de ética de jornalistas impõe que os mesmos
usem a palavra suspeito ao invés de criminoso, desse modo se coloca a
culpabilidade do réu como incerta, porém o que ocorre na imprensa brasileira é o
extremo oposto, onde jornalistas xingam suspeitos e o imputam crimes.
É importante lembrar que essa prática atual é perigosa, pois fere a imagem e
a honra do indivíduo, esses danos são quase que irreparáveis, pois a noticia depois
de veiculada se espalha rapidamente e dificilmente pode haver reparação e tudo
isso em troca de altos lucros para os veículos de comunicação.
Além disso, alguns magistrados para satisfazerem a opinião pública estão
seguindo os mesmos passos da mídia sensacionalista e violando princípios
fundamentais assegurado a todos constitucionalmente.
Os meios de comunicação têm o dever de passar informações a sociedade
sem que ultrapasse disso, caso contrario haverá um grande prejuízo a imagem do
réu que não ficará intacta nem se considerado inocente no julgamento.

3.4 A INFLUÊNCIA NO JULGAMENTO

O interesse da população em se manter informado e acompanhar o


andamento dos casos, faz com que a própria mídia busque através de seus próprios
recursos, provas para desse modo, persuadir o público, sempre interessado no
aumento da audiência.
Porém, tais provas são um tanto duvidosas, e por esse modo devem ser
investigadas quanto a sua legalidade, e a veracidade.
Acontece que a imprensa por possuir uma maior aproximação com a
população quando essas provas, mesmo que duvidosas, são divulgadas, elas por si
30

só possuem muita credibilidade, inclusive em diversos casos chegam a interferir na


decisão.
É importante lembrar, que segundo o Art 5 ,LVI da Constituição Federal as
provas ilícitas ou que tenham sido buscadas por meios ilícitos são inadmissíveis

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
ilícitos;

Segundo, Lusi Gustavo Grandinetti a respeito da ilicitude dos meios de prova


apresentados pela mídia (2017 P. 292)

A conclusão final que hora se submete a ponderada critica de todos é


que não se trata de sustentar que o Poder Judiciário autorize a
divulgação de interceptações telefônicas feitas à revelia da lei, mas de
reconhecer uma esfera de competência da imprensa em valorar a
conveniência e a oportunidade em divulgá-la , diante da
preponderância do direito de informação de da sociedade sobre o
direito de intimidade de certas pessoas detentoras ou pretendentes de
cargos públicos que desempenhem ou pretendam desempenhar a
gerencia financeira do patrimônio publico , assumindo a imprensa, por
seu ato, todas as conseqüências legais que possam advir, se provada
a invasão ilegítima na intimidade das pessoas, Em síntese , o que se
sustenta é a legitimidade da imprensa valorar a conveniência da
divulgação.

Sabe-se o Júri é formado por juízes leigos sem conhecimento jurídico, o que
intensifica o problema que as divulgações da mídia trazem.
Com a tamanha responsabilidade de absolver ou condenar o réu, os jurados
acabam se deixando levar por todas as informações expostas pela mídia e o apelo
popular, o que ocorre principalmente nos casos de grande repercussão. Segundo a
opinião de Guilherme Souza Nucci (2004, p. 131)

Eis porque é maléfica a atuação da imprensa na divulgação de casos


sub judice, especialmente na esfera criminal e, pior ainda, quando
relacionados ao Tribunal do Júri. Afinal, quando o jurado dirige-se ao
fórum, convocado a participar do julgamento de alguém, tomando
ciência de se tratar de “Fulano de Tal” , conhecido artista que matou a
esposa e que já foi “condenado” pela imprensa e, conseqüentemente,
pela ‘opinião pública’, qual isenção terá para apreciar as provas e dar
o seu voto com liberdade e fidelidade ás provas?
31

Desse modo, é mostrado porque há tanta dificuldade em oferecer ao réu um


julgamento justo e imparcial, pois o convencimento dos jurados está atrelado ao
apelo midiático. Estando em frente ao sensacionalismo extremo feito pela imprensa,
os jurados estão sempre ligados a opinião pública, a decisão se torna uma
manifestação de ódio e vingança perpetuados nos meios de comunicação.
A presença das câmeras e jornalistas no Tribunal, sempre buscando
espetacularizar, por si só já tem efeitos negativos, pois os jurados sentem-se
intimidados a ter uma opinião semelhante a que a mídia induz como certa, o que
acabam por interferir na decisão.
Além disso, os advogados por estarem diante das câmeras, acabam
encenando, usando um vocabulário técnico e prolixo, uma oratória exagerada, com
a finalidade de despertar a admiração dos telespectadores.
Toda pessoa tem direito a um julgamento justo e imparcial, é um direito
assegurado pelo princípio do juíz natural, o que dá validade a relação processual.
Contudo, tem sido cada vez mais difícil assegurar essa prerrogativa, tendo em vista
que o julgamento é realizado por juízes leigos, que podem facilmente serem
influenciados por circunstâncias externas às apresentadas no processo.
Os jurados devem decidir com base em seus princípios morais e sua
convicção, não necessitando fundamentar sua decisão, o que não consegue deixar
obscuro o motivo pelo qual os jurados decidiram por tal veredicto, ainda conforme
Fernando Capez (2009, p. 630)

A finalidade do Tribunal do Júri é a de ampliar o direito de defesa dos


réus, funcionando-se como uma garantia individual dos acusados pela
prática de crimes dolosos contra a vida e permitir que, em lugar do
juízo togado, preso a regras jurídicas, sejam julgados pelos seus
pares.

Os princípios do Tribunal do Júri não estão sendo mais suficientes para


assegurar os direitos do réu, pois muitas vezes a decisão do Júri já está tomada
antes mesmo de se iniciar o julgamento.
Pensando nisso, os legisladores para tentar garantir a lisura do julgamento
criaram o chamado desaforamento que se encontra no art. 427 o Código Penal.

Art. 427. Se o interesse da ordem pública o reclamar ou houver dúvida


sobre a imparcialidade do júri ou a segurança pessoal do acusado, o
Tribunal, a requerimento do Ministério Público, do assistente, do
32

querelante ou do acusado ou mediante representação do juiz


competente, poderá determinar o desaforamento do julgamento para
outra comarca da mesma região, onde não existam aqueles motivos,
preferindo-se as mais próximas.

Acontece que, como isso só pode ser garantido nos casos de repercussão
local, tornou-se inútil, uma vez que a mídia ultrapassa os limites territoriais, e tornam
nacionais os casos de maior repercussão.
Em casos assim, é possível também a suspensão do processo até que se
acalmem os ânimos exaltados e se reduzam as notícia sobre o caso, para Geraldo
Luiz Mascarenhas Prado.( 2007, p.223)

A parte que se sinta prejudicada por excessiva exposição publica dos


fatos do processo , a ponto de razoavelmente supor que os membros
da comunidade, estão sujeitos a influência externa, pode reclamar a
suspensão do curso do procedimento, durante determinado período

Diante do exposto, é notório que essas medidas são resolvem o problema,


são apenas paliativas, até porque ao se aproximar o julgamento, a mídia reacende a
discussão para a sociedade, o que torna a suspensão inútil.
O poder de persuasão da mídia nos seus meios de comunicação pode
transformar radicalmente uma decisão, mudar a cabeça dos jurados, a mídia tem um
papel relevante e tem se aproveitado disso sem responsabilidade.
Em alguns casos a repercussão é tão vasta que tomam proporções inclusive
internacionais. As informações extraoficiais são passadas como oficiais e movem a
opinião pública.
Com o avanço da tecnologia o problema aumentou, tudo “viraliza”, vira
notícia, as “fake news” frequentes, canais de comunicação que repassam
informações sem respeito e seriedade e se propagam na sociedade, fazendo um pré
julgamento do réu.
O sensacionalismo prende a atenção dos telespectadores, causa revolta,
especulações, depoimentos falsos, omissões e injustiças é um veículo poderoso.
Segundo Válber da Silva Melo (2010)

O fato é que se a interferência da mídia percorresse apenas no campo


da opinião pública, não haveria maiores problemas, até por que no
Brasil todos são livres para expressar suas opiniões. O problema é
que essa interferência vem adentrando aos nossos tribunais que
esquecendo-se de adotar o processo penal constitucional, que melhor
33

protege os diretos dos cidadãos, passam às vezes a julgar de acordo


com o tipo midiático, processo este bem mais célere, entretanto,
destruidor das garantias fundamentais

O espetáculo midiático ainda vai além, procurando familiares da vítima,


mostrando a sua dor, mexendo com o emocional da sociedade, causando assim
uma repudia social, é o que explora Luiz Flávio Gomes (2009)

Não existe "produto" midiático mais rentável que a dramatização da


dor humana gerada por uma perda perversa e devidamente explorada,
de forma a catalizar a aflição das pessoas e suas iras. Isso ganha uma
rápida solidariedade popular, todos passando a fazer um discurso
único: mais leis, mais prisões, mais castigos para os sádicos que
destroem a vida de inocentes e indefesos. As vítimas (ou seus
familiares), a população e a mídia, hoje, constituem o motor que mais
impulsiona o legislador (e, muitas vezes, também os juízes). É, talvez,
a corrente punitivista mais eficiente em termos de mudanças
legislativas, que tendem a aceitar o clamor público por penas mais
longas, cárceres mais aviltantes, eliminação das progressões de
regime, cumprimento integral da pena, nada de reinserção nem
permissões penitenciárias, saídas de ressocialização etc

É importante lembrar que a mídia é uma formadora de opinião e os jurados


que terão o poder de decidir o futuro de um julgamento, assistem jornais, noticiários,
revistas, posts, entre outros meios de comunicações.
O jurado é uma pessoa sem conhecimento técnico, diferente de um juíz
togado que deve deixar suas ideologias fora do tribunal, os jurados ao julgamento
seus preconceitos, sua vulnerabilidade, seus medos, a emoção toma de conta da
razão e assim muitos réus são condenados antes mesmo de serem julgados.
A mídia deve sim informar a população de fatos relevantes, todavia, isso
deve acontecer com responsabilidade e imparcialidade.
34

4 CASOS CONCRETOS COM INTERFERÊNCIA MIDIÁTICA

A mídia detém um grande interesse em casos chocantes, crimes que causam


repulsa da sociedade, tratando o ocorrido como seriado que a cada dia transmite um
novo suspeito, uma nova testemunha, mantendo sempre o interesse da população
de acompanhar o desfecho dessa história, e dessa forma sempre elevando os níveis
de audiência, e por conseqüência os lucros, sobre isso aponta Luiz Flavio Gomes
(2009 p.3)

Não existe "produto" midiático mais rentável que a dramatização da


dor humana gerada por uma perda perversa e devidamente
explorada, de forma a catalizar a aflição das pessoas e suas iras.
Isso ganha uma rápida solidariedade popular, todos passando a fazer
um discurso único: mais leis, mais prisões, mais castigos para os
sádicos que destroem a vida de inocentes e indefesos. As vítimas
(ou seus familiares), a população e a mídia, hoje, constitem o motor
que mais impulsiona o legislador (e, muitas vezes, também os
juízes). É, talvez, a corrente punitivista mais eficiente em termos de
mudanças legislativas, que tendem a aceitar o clamor público por
penas mais longas, cárceres mais aviltantes, eliminação das
progressões de regime, cumprimento integral da pena, nada de
reinserção nem permissões penitenciárias, saídas de ressocialização
etc.

Apesar de ser o trabalho a mídia apresentar informações a sociedade de fatos


relevantes, isso não oferece o direito fazer seus juízo de valor, determinar quem é
culpado e quem não é, tudo isso contribui na condenação antecipada do réu.
Além disso, a mídia já tem seu perfil preferido de exposição, sempre
escolhendo casos chocantes que envolvem principalmente como vítimas mulheres e
crianças, com o objetivo de mexer ainda mais com a comoção da população e deixa-
la clamando justiça, isso com certeza contamina o julgamento, ainda nas palavras
de Luiz Flávio Gomes.

Quais são os fatores mais recorrentes na formação da opinião


pública? A cor, o status, o nível de escolaridade e a feiúra (ou
beleza) do réu; de outro lado, a fragilidade, a cor da pelé e dos olhos
da vítima. Quanto mais frágil a vítima (criança indefesa, por
exemplo), mais empatia ela conquista da opinião pública. Outro fator
fundamental na atualidade, como enfatizamos: a existência de um
familiar da vítima que tenha boa presença midiática (que fale em
justiça, segurança, que critique os juízes, a morosidade do judiciário,
que peça penas duras, endurecimento do sistema penal etc.).
35

Em razão disso, tudo deve ser ponderado a respeito de noticias veiculadas,


pois há muitas farsas e exageros no que é exposto, a decisão do jurado deve ser
sempre imparcial e decidir apenas de acordo com as provas apresentadas no
julgamento.

4.1 ISABELLA NARDONI

O caso do casal Nardoni ficou conhecido no Brasil inteiro, caso que chocou a
população e causou grande comoção, a autoria do crime não conseguiu ser
determinada de acordo com as provas apresentadas, todavia, o casal Alexandre
Nardoni pai da vítima e Ana Carolina Jatobá, madrasta da vítima, foram condenados
pelo assassinato de Isabela Nardoni.
Geralmente crimes que envolvem criança são dotados de comoção, porém a
morte de Isabela Nardoni foi além, mobilizando o Brasil e o exterior, na época os
programas televisivos da manhã passavam toda a programação destrinchando o
caso, assim como jornais e noticiários, de acordo com a fundamentação do acórdão
nos mostra

Trata-se de acontecimento que alcançou altíssima repercussão, até


mesmo no âmbito internacional, não apenas da hediondez absurda
do delito, como pelo fato de envolver membros de uma mesma
família de boa condição social, que teriam dado trágico fim à vida de
uma doce menina de cinco anos. Em razão de tudo isso, revoltou-se
a população de toda uma cidade, que em manifestação coletiva [de]
quase histerismo determinante até de interdições de ruas ou
quarteirões, apenas não alcançou atingir fisicamente os pacientes
porque oportunamente impedida pela eficiente atuação policial. A
justiça penal, por isso, não pode ficar indiferente na prestação que
lhe cobra o reclamo de toda uma nação.

No dia do julgamento do casal, juntou-se uma multidão enfrente ao fórum,


clamando por justiça. A sentença condenatória foi comemorada com fogos de
artifício, as viaturas que encaminhavam os condenados ao presídio foram
perseguidas por pessoas que xingavam o casal recém condenado , segundo a
especialista, advogada Heloísa Estelita

Acho muito difícil dizer que este julgamento foi justo, por conta da
divulgação e da conotação dada pela mídia. Não é um julgamento
36

totalmente sereno, é um julgamento de cartas marcadas. Houve um


prejuízo à defesa, porque a divulgação feita foi em favor da
condenação.

Nesse caso houve um pré julgamento do pai e da madrasta, a decisão não foi
tomada no plenário, mas em casa junto com familiares e amigos que debatem casos
como esse de acordo com as informações repassadas pelos meios de comunicação,
conforme Fábio Martins de Andrade (2009, p.09)

Em pesquisa simples na qual se digitou o nome “Nardoni” no sítio de


pesquisa do Google, obteve-se em 06.12.2008 nada menos que,
622.000 resultados, dentre os quais- registre-se- constam vídeos
familiares, policiais, postagens em blogs opiniões de especialistas, de
leigos , e, principalmente, notícias.

As decisões do caso deixaram a desejar, demonstrando sempre que as


coisas estavam acontecendo de forma pressionada, da decisão que prolatou o
desembargador Cangaçu nos diz

Os presentes autos retratam uma grande tragédia. Uma tragédia que,


talvez, não seja maior do que aquelas outras com que, a cada dia, nos
defrontamos, no exercício dessa fascinante tarefa de julgar a que nos
propusemos há já tantos anos, mas que prossegue, até aqui, sem
esmorecimento e com muito amor. Mas uma tragédia que, como
poucas, nos questiona e inquieta a propósito da verdade de tudo
aquilo que efetivamente se passou naquela trágica noite dos fatos.
Será que o desamor exagerado desses estranhos tempos que correm
terá chegado a um extremo tal que pudesse levar um pai, ou sua
companheira, a tão cruelmente eliminar uma graciosa filha de apenas
cinco anos e que, certamente, muito os terá amado? Ou será que o
estrepitoso evento terá levado às agruras da suspeita e da
investigação alguém que as coincidências, algumas vezes
imprevisíveis e inevitáveis, do destino, fizeram, em algum momento
parecer autor de crime que, quiçá, não deva ser levado à sua conta?

Na época o desembargador Cangaçu foi duramente massacrado pela opinião


pública, por não ter cedido à pressão feita pelos veículos de comunicação, que
decidiu por soltar os suspeitos por entender que os mesmos não preenchiam os
requisitos legais e fundamentais da prisão temporária.
O juíz Maurício Fossen decretou a prisão preventiva dos réus nos seguintes
termos
37

Queiramos ou não, o crime imputado aos acusados acabou chamando


a atenção e prendendo o interesse da opinião pública – em certa
medida, deve-se reconhecer, pela excessiva exposição do caso pela
mídia que, em certas ocasiões, chegou a extrapolar seu legítimo
direito de informar a população – o que, no entanto, não pode ser
ignorado pelo poder judiciário e fazer-se de conta que esta realidade
social simplesmente não existe, a qual dele espera uma resposta,
ainda mais se levarmos em consideração que o inquérito policial que
serviu de fundamento à presente denúncia encontra-se embasado em
provas periciais que empregaram tecnologia de última geração,
raramente vistas – o que é uma pena – na grande maioria das
investigações policiais, cujos resultados foram acompanhados de perto
pela população, o que lhe permitiu formar suas próprias conclusões –
ainda que desprovidas, muitas vezes, de bases técnico-jurídicas, mas,
mesmo assim, são conclusões – que, por conta disso, afasta a
hipótese de que tal clamor público seja completamente destituído de
legitimidade.
Assim, frente a todas essas considerações, entendendo este Juízo
estarem preenchidos os requisitos previstos nos arts. 311 e 312,
ambos do Código de Processo Penal, DEFIRO o requerimento
formulado pela D. Autoridade Policial, que contou com a manifestação
favorável por parte do nobre representante do Ministério Público, a fim
de decretar a PRISÃO PREVENTIVA dos réus ALEXANDRE ALVES
NARDONI e ANNA CAROLINA TROTTA PEIXOTO JATOBÁ, por
considerar que além de existir prova da materialidade do crime e
indícios concretos de autoria em relação a ambos, tal providência
também se mostra justificável não apenas como medida necessária à
conveniência da instrução criminal, mas também para garantir a ordem
pública, com o objetivo de tentar restabelecer o abalo gerado ao
equilíbrio social por conta da gravidade e brutalidade com que o crime
descrito na denúncia foi praticado e, com isso, acautelar os pilares da
credibilidade e do prestígio sobre os quais se assenta a Justiça que,
do contrário, poderiam ficar sensivelmente abalados.

Resta claro que, essas decisões não agiram em total acordo com a lei e nem
cumprindo seus requisitos legais, mas atendendo a necessidade do que a mídia
impôs a população.

4.2 ELOÁ PIMENTEL

O caso teve grande cobertura midiática, onde o ex namorado Lindemberg


Alves, 22 anos, matou a ex namorada Eloá Pimentel com dois tiros, logo após
sequestra-la. O sequestro durou quase 4 dias e teve uma influência excessiva dos
meios de comunicação, em especial programas televisivos que atuaram diretamente
e irresponsavelmente no caso.
38

O programa comandado pela apresentadora Sônia Abraão, programa esse


dotado de grande apelo popular e grande audiência por se tratar de um programa ao
vivo, a tarde e em uma emissora aberta. Nesse caso em especial, a interferência da
mídia ultrapassou todos os limites, foi mostrado passo a passo do sequestro, assim
como entrevistas a policiais, a mãe da vítima, a advogados, e como se não fosse o
bastante a apresentadora passou a agir como uma negociadora do sequestro, sem
medir as consequências dessa ação tão irresponsável.
A apresentadora passou de uma jornalista responsável a apenas transmitir
informações a uma agente policial negociadora, lembrando que a mesma não tem
conhecimento técnico e nem sabia o que estava fazendo, sendo impulsionada
apenas com o objetivo de alavancar os números da audiência do programa que
comandava e em razão disso, os lucros da emissora em cima de uma tragédia, um
caso tão delicado que deveria ter sido tratado com grande seriedade.
Em entrevista com o advogado do jovem Lindemberg Ademar Gomes, o
mesmo diz esperar que a situação acabe em pizza, com um futuro casamento do
casal apaixonado, tendo um final feliz, nitidamente o programa estava manipulando
a opinião pública e levando o caso como um espetáculo, uma novela. Não foi
medida a responsabilidade e a delicadeza que o momento pedia, assim como havia
autoridades prontas para fazer a negociação em nome do Estado, junto com toda
estrutura técnica e conhecimento que os agentes possuem, buscando a preservação
da integridade física e da vida dos envolvidos, até mesmo do executor. De acordo
com Farias

No Brasil, é comum observar-se o lamentável espetáculo de pessoas


apontadas como autoras de infrações à lei procurando
desesperadamente fugir das câmeras de televisão ou detentos
coagidos para serem filmados nas celas das delegacias de polícia.
Verifica-se semelhante procedimento vexatório na imprensa escrita ,
principalmente em jornais que estampam em suas páginas policiais
fotografias de "criminosos" as vezes seminus. Porém, fotografar ou
filmar pessoas detidas ou suspeitas de perpetrarem infrações à lei,
sem o consentimento das mesmas, além de constituir violação ao
direito de imagem daquelas pessoas, expõe ainda a execração pública
cidadãos que geralmente não foram julgados e condenados por
sentença transitada em julgada, sendo, pois, presumidamente
inocentes (CF, art 5°, LVII)
39

Desse modo, a jornalista Sônia Abrão não tinha autoridade nem capacidade
de negociar os termos do caso, apenas o ato de se comunicar com o sequestrador,
poderia de alguma forma irritar ele, ou desequilibra-lo ao ponto de se precipitar e
causar algum dano a vítima, como acabou acontecendo de fato.
A emissora, a produção e a jornalista só estavam preocupadas com os níveis
de audiência, e desse modo se desdobraram até conseguir o número de telefone do
cativeiro da vítima, para assim se comunicar com o sequestrador, ao vivo. Uma
conduta extremamente irresponsável e sem limites por parte da mídia, que causou
mais um obstáculos para os agentes policiais que estavam tentando resolver o caso,
pois o telefone estava quase sempre ocupado, impedindo assim que as autoridades
negociassem de verdade.
A cobertura do caso durava a tarde inteira no referido programa tudo porque o
caso tava dando a audiência desejada a emissora. Sobre isso discorre o ex
comandante do Batalhão de Operações Policiais e Especiais (BOPE) Rodrigo
Pimentel

A Sônia Abrão da RedeTv, a Record e a Globo foram irresponsáveis e


criminosas. O que eles fizeram foi de uma irresponsabilidade tão
grande que eles poderiam, através dessa conduta, deixar o tomador
das reféns mais nervoso, como deixaram; poderiam atrapalhar a
negociação, como atrapalharam. O telefone do Lindenberg estava
sempre ocupado, e o capitão Adriano Giovanini (negociador da polícia
militar) não conseguia falar porque a Sônia Abrão queria entrevista-lo.
Ele ficou visivelmente nervoso quando a Sônia Abrão ligou, e ela
colocou isso no ar. Impressionante! O Lindenberg falou "quem são
vocês, quem colocou isso no ar, como conseguiram meu telefone?"

Além da jornalista Sônia Abrão também houve influência de um repórter do


programa televisivo "A Tarde é Sua", que ligou para o sequestrador e o entrevistou
durante a conduta criminosa, a mando de sua produção, diante disso Pimentel nos
diz

O que ele fez foi sem a menos avaliação. Tanto que num primeiro
momento, ele (o repórter Luiz Guerra) tentou enganar o Lindenberg
dizendo-se amigo da família. E depois ele tentou ser negociador,
convencer ele a se entregar sem conhecer os argumentos técnicos
usados para isso

Diante do acontecimento é quase impossível saber onde terminou a notícia e


onde começou o sensacionalismo, difícil saber se a intenção da apresentadora foi a
40

de resolver o problema ou apenas de subir os níveis de audiência, e fica a questão


em pauta, até onde a mídia deve ser responsabilizada por suas condutas em
excesso? Alberto Dines indica que

A imprensa deve ter acesso a qualquer evento público, está é uma


cláusula pétrea em qualquer democracia, mas a cobertura jornalística
não pode interferir no desenrolar de um acontecimento, sobretudo
quando se trata de uma cobertura ao vivo, em tempo real, de um
acontecimento onde a vida de inocentes está ameaçada. "A liberdade
de informar tem condicionamentos de ordem moral e social que não
devem ser violados para que não se justifiquem as limitações ao
acesso de informações. Não se trata de uma questão teórica, é com
concreta, faz parte do dia a dia de qualquer redação

Diversas vezes podemos constatar assim como no caso da jovem Eloá, a


mídia abusar de seus direitos de liberdade de expressão e informação, e desse
modo violarem os direitos e imagem dos envolvidos sendo excessivos em sua
cobertura.
A partir da conduta da jornalista Sônia Abrão em tomar o papel de polícia e se
mostrar como negociadora do caso, atrapalhando assim a negociação de fato, além
de ter se utilizado da imagem da menor Eloá Pimentel, foi ajuizada uma Ação Civil
Pública por danos morais em face da RedeTv , onde a indenização seria revertida
para o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos.
Diante da ação que foi ajuizada pelo Ministério Público Federal de São Paulo,
é trazido pelo "o Estadão"

A ação civil pública é por danos morais coletivos de 1,5 milhão,


equivalente a 1% do faturamento bruto anual da emissira, ao Fundo de
Defesa dos Direitos Difusos. Durante o sequestro, a emissora
entrevistou a refém e o sequestrador. Em entrevista ao Estadão, a
procuradora Adriana Fernandes, autora do pedido , afirmou que a
liberdade de expressão não é absoluta e que, neste caso, deveria ter
sido respeitado o fato de uma menos estar envolvida. "Na entrevista a
reporter se colocou como intermediadora, colocando em risco a vida a
menor e outras pessoas envolvidas na ação", disse. O programa A
Tarde é Sua, com apresentação de Sônia Abrão, exibiu duas
entrevistas, uma ao vivo e outra gravada, com Eloá e Lindemberg,
interferindo na atividade policial em curso e colocando a vida da
adolescente e dos envolvidos na operação em risco, segundo o MPF.

A mídia deve se preservar, seus profissionais seja repórteres, jornalistas,


apresentadores devem agir com responsabilidade em nome da ética e
profissionalismo. Conforme Araujo e Serrano
41

Não é possível afirmar a existência de direitos ilimitados, visto que,


desde o mais fundamental, como a vida ou a liberdade, comportam
todos eles certas restrições decorrentes do interesse público ou da
necessidade social em função da vida em sociedade.

Em razão da participação da mídia em casos de grande repercussão, com seu


comportamento irresponsável, extrapolando os limites e direitos da imprensa, deve
se buscar uma forma de diminuir essa prática através da responsabilização dos
envolvidos que de alguma forma excede em seu papel.

4.3 ELISA SAMÚDIO

Outro caso de grande repercussão foi o caso envolvendo o goleiro do time do


Flamengo, Bruno Samudio. Esse caso teve duas fases de forte veiculação midiática,
primeiramente ainda na fase do inquérito. E logo depois, na fase do julgamento,
quando a sociedade já esperava pela condenação do goleiro que já havia sido
definida pelos meios de comunicação.
Os noticiários passaram meses mostrando a vida privada do Bruno, formando
um juízo de valor perante a sociedade. A vida do Bruno foi toda investigada pela
mídia, buscaram por antigos relacionamentos, amigos de infância, familiares, e
buscaram por fazer uma linha do tempo desde sua infância até o seu estrelato no
Flamengo.
Diante de tanta investigação, acabaram esboçando uma pessoa fria,
calculista, egoísta, que só pensava em fama e em dinheiro, envolvido em orgias
sexuais e relacionamentos abusivos onde menosprezava as mulheres. Tudo que a
mídia tanto queria, para desse modo prender a atenção do telespectador para o
caso e em razão disso, trazer altos lucros.
Diante as notícias, foi traçada a personalidade do famoso goleiro e passaram
a mostrar como ele teria ficado assim, e o que justificaria o crime praticado contra a
mãe do seu filho, Elisa Samudio. A mídia se utilizou bem do fanatismo da população
por futebol e por tragédias.
42

O processo judicial do goleiro Bruno agora era um espetáculo formado como


um seriado, que mostrava a vida oculta por trás de um grande herói do esporte,
conforme Luiz Flávio Gomes

A justiça telemidiatizada é composta de palavras e discurso


(moralista, duros, messiânicos) que a produção adora ouvir. A
Justiça está deixando de ser apenas um lugar onde as pessoas
são julgadas (de acordo com suas culpabilidade a) para se
transformar num privilegiado palco que lembra os rituais
religiosos bíblicos de expiação, onde são sacrificados 'bodes
expiatórios' para a necessária purificação da alma de todos os
pecadores.

No dia do julgamento a população estava cega em busca de algo que


acreditava ser a justiça, foram para frente do fórum durante todos os dias de
julgamento dos envolvidos no crime.
No dia do julgamento principal, do goleiro Bruno foi uma verdadeira platéia,
com cartazes, pintados, com simbolos, representantes de sindicais e partidos
políticos também se fizeram presente para aproveitar os cinco minutos de fama do
caso para autopromoção.
Bruno foi condenado, como se era de esperar, e a sua condenação que tanto
consolava as pessoas foi aplaudida pelas pessoas que lá estavam. A juíza
responsável pela sessão do julgamento mostrou notoriamente que houve sim a
interferência midiática no julgamento, da sua condenação traz

Culpabilidade. A culpabilidade dos crimes é intensa e altamente


reprovável. O crime contra a vida praticado nestes autos tomou grande
repercussão não só pelo fato de ter entre seus réus um jogador de
futebol famoso, mas também por toda a trama que o cerca e pela
incógnita deixada pelos executores sobre onde estariam escondidos
os restos mortais da vítima. Embora para esta indagação não se tenha
uma resposta, certamente pela eficiência dos envolvidos, a sociedade
de Contagem, que em outro julgamento já tinha reconhecido o
assassinato da vítima, hoje reconheceu o envolvimento do mandante
na trama diabólica. (...)
Indiscutível se torna registrar, que os crimes descritos nestes autos,
causam extremo temor no seio da sociedade, não podendo o Poder
Judiciário fechar os olhos a esta realidade, de modo que a paz social
deve ser preservada, ainda que, para tal, seja sacrificada algumas
garantias asseguradas constitucionalmente, dentre elas, a liberdade
individual.
43

O julgamento com posterior condenação foi visto como uma conquista social,
de alguém que tinha a confiança e era idolatrado por todos e acabou por perder tudo
e tinha de ser severamente punido por isso.
Eliza Samudio desapareceu dia 26 de junho de 2010 quando estaria indo se
encontrar com Bruno para resolver problemas relacionados a pensão alimentícia do
menor que Bruno é pai. O corpo de Elisa não foi encontrado, mas apesar disso o
julgamento houve dois anos e oito meses após o desaparecimento, sendo ele
acusado de ser o mandante do assassinato da ex companheira e mãe do seu filho.
Os jurados foram expostos a todo o apelo midiático, a todas as histórias
montadas, verídicas e inverídicas. A imagem que todos tinham de Bruno após
noticiários falando da vida privada dele é que ele tinha uma personalidade maléfica e
ambiciosa.
O processo por inteiro teve um grande apelo midiático, foi construído pela
mídia, e é importante salientar que a mídia não está preocupada em buscar justiça a
caso algum, trata-se de uma questão meramente financeira, onde a veiculação
dessas informações traz elevada audiência e assim altíssimos lucros
Além da condenação a mídia também influenciou a quantidade de pena
aplicada a cada um dos réus, sendo violados princípios de proporcionalidade e
individualização das penas.
Luiz Henrique Romão, mais conhecido como macarrão, foi condenado a 15
anos de prisão em regime inicial fechado por homicídio com três qualificadoras,
porém foi absolvido do crime de ocultação de cadáver, mesmo sendo o responsável
por tal.
Com tal diagnóstico, na 1ª. fase, em relação ao crime do art. 121, 2°, I,
III e IV, do CPB com preponderância das circunstâncias desfavoráveis
e reconhecidas as qualificadoras do motivo torpe, emprego de asfixia e
recurso que dificultou a defesa da vítima, fixo a pena base em 20
(vinte) anos de reclusão. Na 2ª fase, há a atenuante da confissão. No
caso em apreço, embora a confissão do réu seja parcial, ela encontra
especial valor. Após análise de todo o contexto probatório coletado na
fase do inquérito policial e em juízo, com alicerce na prova
testemunhal, documental e pericial, por ocasião da sentença de
pronúncia, externei o meu convencimento de que a materialidade do
crime estava comprovada pela prova indireta e que Elisa Samúdio, de
fato, havia sido brutalmente assassinada. No entanto, alguns dos
Advogados dos corréus, no seu regular exercício da defesa,
semearam de forma exitosa a dúvida na mente de milhares de
pessoas que, por longos dois anos e cinco meses, questionavam e se
perguntavam se Elisa Samúdio estava realmente morta. Portanto,
44

tenho que a admissão pelo réu Luiz Henrique de que realmente levou
Elisa Samúdio para o encontro com a morte foi de extrema relevância
para tirar o Conselho de Sentença qualquer dúvida sobre a
materialidade do crime de homicídio porventura ainda existente.
Dessarte, não obstante a grande reprovabilidade da conduta do réu,
prestigio a sua confissão em Plenário para reduzir a pena base
aplicada para o mínimo legal, ficando, pois, fixada em 12 (doze) anos
de reclusão, concretizando-se neste patamar eis que inexistem
circunstâncias agravantes ou causas especiais de oscilação. No
tocante ao crime do art. 148, § 1º, IV, do CP, já analisadas as
circunstâncias judiciais desfavoráveis, na sua maioria, preponderam,
na 1ª. fase, fixo a pena base em 3 (três) anos de reclusão. Na 2ª fase,
registro que não há atenuantes ou agravantes e na 3ª fase, não há
causas especiais de oscilação, motivo pelo qual, fica a reprimenda,
neste patamar concretizada. A pena será cumprida em regime aberto.
Ficam, pois, as penas totalizadas em 15 (quinze) anos de reclusão,
nos termos do art. 69 do CPB.

Luiz Henrique Romão encaminhou Eliza Samudio para a morte, porém a ele
foi aplicada a pena mínima cominada ao crime de homicídio qualificado, conforme a
Magistrada, isso ocorreu pelo fato do mesmo ter confessado a autoria e acabado
com o mistério confirmando assim a materialidade do fato. Luiz Henrique foi
condenado por um homicídio triplamente qualificado e recebeu a pena de 12 anos
de reclusão , uma pena que seria aplicada a um homicídio com apenas uma
qualificadora , isso ocorre porque o famoso e perseguido pela mídia não era o Luiz
Henrique.
Já o Bruno foi julgado severamente, teve pena de vinte e dois anos e três
meses de reclusão pelo crime de homicídio qualificado, sequestro, cárcere privado,
e ocultação de cadáver como se segue:

Dessarte, dou à confissão do réu Bruno Fernandes hoje no Plenário


valoração que permite a redução pela atenuante em 03 (três) anos,
ficando, pois, fixada em 17 (dezessete) anos de reclusão. Reconheço
a agravante do art. 62, I, CPB, eis que sustentado no Plenário pela
acusação que o réu agiu na qualidade de mandante da execução da
vítima, fato este comprovado nos autos pela prova oral, mormente pela
delação do corréu Luiz Henrique às f. 15898/15.909, de modo que
majoro a pena de 06 (seis meses). A pena final, portanto, perfaz 17
(dezessete) anos e 06 (seis) meses de reclusão. Na 3º fase, registro
que não há causas especiais de oscilação. A pena será cumprida em
regime inicialmente fechado. No tocante ao crime do art. 148, § 1º, IV,
do CP, já analisadas as circunstâncias judiciais, na sua maioria
desfavoráveis, na 1ª. fase, fixo a pena base em 3 (três) anos de
reclusão. Na 2ª fase, registro que não há atenuantes, havendo a
agravante do art. 61, II, “e”, do CPB, eis que o crime foi praticado
contra descendente, motivo pelo qual, majoro a pena de 03(três)
45

meses. Na 3ª fase, não há causas especiais de oscilação, motivo pelo


qual, fica a reprimenda, concretizada em 3 (três) anos e 3 (três) meses
de reclusão. A pena será cumprida em regime aberto. No tocante ao
crime do art. 211 do CP, já analisadas as circunstâncias judiciais, na
sua maioria desfavoráveis, na 1ª. fase, fixo a pena base em 1 (um)
ano e 06 meses de reclusão. Na 2ª fase, registro que não há
atenuantes ou agravantes. Na 3ª fase, não há causas especiais de
oscilação, motivo pelo qual, fica a reprimenda, concretizada em 1 (um)
ano e 6 (seis) meses de reclusão. A pena será cumprida em regime
aberto. Ficam, pois, as penas totalizadas em 22 (vinte e dois) anos e
03 (três) meses de reclusão, nos termos do art. 69 do CPB.

É importante ressaltar que Bruno também confessou, porém sua confissão foi
dada como não satisfatória como a de Luiz Henrique, então sua pena foi maior,
lembrando que quem sofreu a perseguição da mídia foi o goleiro Bruno.
A mídia teve grande responsabilidade no desfecho do caso. Os jornalistas
durante todo o caso se mostraram buscando um furo de reportagem, um fato
intrigante na vida pessoal do goleiro para noticiar, violando direitos e abusando do
poder.
46

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Verificou-se pelo presente trabalho monográfico que são necessárias


reformas no procedimento do Tribunal do Júri, impondo limites mais eficazes aos
meios de comunicação, que violarem direitos e garantias, previstos pela Constituição
Federal.
A instituição do Tribunal Popular além de antiga é democrática, onde os
acusados de crimes dolosos contra a vida são julgados pelos seus pares, pessoas
da sociedade que são escolhidas para serem jurados, e de acordo com o que for
mostrado em julgamento tomar sua decisão, porém não é bem isso que vem
acontecendo, os jurados estão chegando no julgamento corrompidos por inúmeras
notícias veiculadas pelo meios de comunicação.
Os jurados recebem a importante função de julgar os acusados apenas de
acordo com o que é exposto no julgamento e as provas nele trazidas. Desse modo,
é necessário que os jurados sejam imparciais e não sejam influenciados pela mídia,
por familiares, por terceiros, devendo agir com a razão e de acordo com o que é
trazido no julgamento, cumprindo assim, seu dever com a sociedade e a democracia
do instituto do Tribunal Popular
A mídia tem o dever de trazer informações para a sociedade, não devendo
ultrapassar esse limite, nem atuar como formador de opinião. Dificilmente um jurado
irá tomar sua decisão apenas com as informações obtidas no julgamento, se ao
assistir programas televisivos é influenciado por teorias, por suposições, provas,
depoimentos, que nem sempre são verídicos.
Assim, verificamos que muitas vezes os acusados já entram na sala de
julgamento condenado, por um pré julgamento arquitetado pelos meios de
comunicação, que detém um grande poder de influência sobre a sociedade.
Essa interferência midiática tem além de violado princípios do Tribunal
Popular, tem violado princípios constitucionais, como a presunção de inocência que
apesar de ser assegurada ao réu, é desrespeitada, pois a partir do momento em que
um jurado entra na sala de julgamento com uma opinião formada, através de
noticias irresponsáveis e tendenciosas á respeito do caso, não dará ao réu o
benefício da duvida.
47

Os direitos da mídia de liberdade de expressão não devem ser respaldo legal


para ferir outros direitos assegurados ao réu, e nem a os princípios constitucionais
do Tribunal do Júri.
Diante disso, foram mostrados alguns casos de crimes dolosos contra a vida,
de competência de julgamento do Tribunal do Júri, onde se verificou um grande
apelo popular, e o modo em que a mídia se infiltrou nas decisões proferidas nestes
casos.
Ademais, as decisões imparciais precisam ser respeitadas, assim como, os
princípios e garantias assegurados, que atualmente vem sido deixados de lado para
se manter uma boa imagem com a sociedade alienada pela imprensa.
O instituto do Tribunal do Júri deve prosseguir sendo justo e sem influencias
externas, para que deste modo o devido processo legal seja respeitado, assim
como, a lisura do julgamento seja garantida a réu,
48

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