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PROFECIA HOJE?
UMA ANÁLISE DE 1 CORÍNTIOS 14.1
Introdução
*
O autor é ministro presbiteriano, membro da Igreja Presbiteriana do Brasil, e pastor-efetivo da
Igreja Presbiteriana Filadélfia, em Marabá-PA. É Bacharel em Teologia pelo Seminário
Teológico do Nordeste, em Teresina-PI (2005), Bacharel em Teologia pela Escola Superior de
Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo (2010), e atualmente cursa o
mestrado em Sacrae Theologiae Magister (S.T.M.), concentração em estudos históricos e
teológicos e linha de pesquisa em Teologia Sistemática, no Centro Presbiteriano de Pós-
Graduação Andrew Jumper, em São Paulo.
por aqueles que asseveram que a CFW não é um documento
confessional cessacionista, pois, de acordo com estudiosos como David
Hill3, David Aune4 e Wayne Grudem5, muitos dos divines eram
continuacionistas. Grudem, por exemplo, lista algumas “profecias”
feitas por homens como John Knox, os puritanos Samuel Rutherford,
George Gillespie, William Bridge, Richard Baxter e o batista Charles
Spurgeon.6 Todavia, as afirmações de Grudem têm encontrado pouca
recepção no meio teológico, principalmente depois que Garnet Howard
Milne provou que, apesar de existirem alguns poucos continuacionistas
dentre os divines de Westminster, a ampla maioria era constituída de
cessacionistas.7 No que tange à afirmação confessional, Milne afirma
que: “Em anos recentes tem existido considerável discussão sobre essa
cláusula. „Continuistas‟ têm disputado se, de fato, é uma clara, exata
afirmação „cessacionista‟ relegar à antiguidade toda a revelação
sobrenatural, incluindo a profecia do Novo testamento e os dons
revelacionais miraculosos relatados”.8
Além disso, o que Paulo quer dizer, exatamente, quando diz aos
coríntios que não deseja que eles sejam ignorantes a respeito dos dons?
O vocábulo avgnoei/n, traduzido como “ignorantes” não tem o sentido de
“ignorância prática”, como se os coríntios soubessem da existência dos
dons e, mesmo assim, não os “buscassem”. Ao utilizar o vocábulo
avgnoei/n o apóstolo Paulo “deseja que os coríntios entendam a origem, a
natureza, e o propósito das manifestações extraordinárias do poder
divino, e que possam distingui-los”.23 No que diz respeito à prática, o
termo “se refere não apenas ao fato de „não saber‟, como também pode
se empregar num sentido geral para a „ignorância‟ ou „falta de
educação‟”.24 Nesse sentido, o comentário de Simon Kistemaker é
interessante: “Paulo não quer que os coríntios desconheçam o uso
apropriado dos dons espirituais. Em vez de usá-los em benefício de
irmãos da igreja, alguns coríntios exibiam esses dons como distintivos
de superioridade”.25 “Paulo emprega o negativo duplo implícito para
ressaltar que deseja pôr fim à falta de conhecimento dos seus leitores,
fazendo com que participassem do conhecimento dele”.26 O sentido é o
de alguém que não está informado a respeito de algo. Trata-se de um
sofisma afirmar que muitas pessoas pecam por saberem da existência
dos dons miraculosos e revelacionais e, ainda assim, não os buscarem.
É arbitrário e desonesto dizer que Paulo aqui condena a “ignorância
prática”.
Atenção especial deve ser dada ao verbo traduzido como “procurai, com
zelo” (zhlou/te). Nesse caso, Paulo estaria ordenando aos coríntios que
buscassem os dons espirituais imbuídos de zelo e toda consideração
para com os mesmos. Outras versões seguem o mesmo sentido:
Conclusão
1
A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER. I.1. São Paulo: Cultura Cristã, 2003. p. 15.
2
A. A. Hodge. Confissão de Westminster Comentada por A. A. Hodge. São Paulo: Os
Puritanos, 1999. p. 53.
3
David Hill. New Testament Prophecy. London: Marshall, Morgan and Scott, 1979.
4
David Aune. Prophecy in Early Christianity and the Ancient Mediterranean World. Grand
Rapids, MI: Eerdmans, 1983.
5
Wayne Grudem. O Dom de Profecia do Novo Testamento aos Dias Atuais. São Paulo: Vida,
2004.
6
Ibid. p. 445-461.
7
Garnet Howard Milne. The Westminster Confession of Faith and the Cessation of Special
Revelation: The Majority Puritan Viewpoint on Whether Extra-Biblical Prophecy is Still Possible.
Eugene, OR: Wipf and Stock Publishers, 2007.
8
Ibid. p. 7.
9
Robert L. Thomas. “The Hermeneutics of Noncessationism”, In: The Master’s Seminary
Journal. Vol. XIV, Nº 2, 2003. p. 288.
10
Ibid.
11
Ibid. p. 289.
12
Ibid.
13
Ibid.
14
Ibid.
15
Ibid. p. 306-307.
16
Ibid. p. 307.
17
Cf. Vincent Cheung. Cessacionismo e Rebelião. Brasília: Monergismo, 2009. p. 2.
18
Wayne Grudem. O Dom de Profecia do Novo Testamento aos Dias Atuais. p. 281.
19
Ibid. p. 229.
20
Conferir as páginas: 160, 229, 230, 251, 295, 417, 432 e 455.
21
Wayne Grudem. O Dom de Profecia do Novo Testamento aos Dias Atuais. p. 160. Ênfase
acrescentada.
22
Simon Kistemaker. Comentário do Novo Testamento: 1 Coríntios. São Paulo: Cultura Cristã,
2004. p. 570.
23
Moisés C. Bezerril. A Natureza Apostólica dos Dons Espirituais de 1 Coríntios 12: Uma
Abordagem Exegética aos Dons da Era Apostólica. Teresina: Berith Publicações, 2005. p. 3.
24
E. Schütz. “avgnoe,w”, In: Lothar Coenen e Colin Brown. Dicionário Internacional de Teologia
do Novo Testamento. Vol. 1. São Paulo: Vida Nova, 2007. p. 406.
25
Simon Kistemaker. Comentário do Novo Testamento: 1 Coríntios. p. 572.
26
E. Schütz. “avgnoe,w”, In: Lothar Coenen e Colin Brown. Dicionário Internacional de Teologia
do Novo Testamento. Vol. 1. p. 406.
27
C. M Robeck Jr. “Profecia, Profetizar”, In: Gerald F. Hawthorne, Ralph P. Martin e Daniel G.
Reid (Orgs.). Dicionário de Paulo e suas Cartas. São Paulo: Vida Nova/Paulus/Edições Loyola,
2008. p. 1009.
28
William Douglas Chamberlain. Gramática Exegética do Grego Neotestamentário. São Paulo:
Casa Editora Presbiteriana, 1989. p. 96.
29
Ibid. p. 97.
30
William D. Mounce. Fundamentos do Grego Bíblico. São Paulo: Vida, 2009. p. 371.
31
Ibid.
32
Há uma leitura variante em Apocalipse 3.19. Alguns poucos manuscritos trazem o verbo
zhlo,w no imperativo aoristo ativo (zh,lwson). Todavia, considerando o contexto e a necessidade
perene de zelo, a leitura correta é a que traz o verbo zhleu,w no imperativo presente ativo
(zh,leue).
33
Como por exemplo: Thayer’s Greek Lexicon, Gingrich Lexicon, LEH Lexicon, Liddell-Scott
Lexicon, UBS Lexicon e Friberg Lexicon, todos disponíveis no BIBLEWORKS 7.0. Cf. também:
Harold K. Moulton. Léxico Grego Analítico. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. p. 193; F. Wilbur
Gingrich e Frederick W. Danker. Léxico do NT Grego/Português. São Paulo: Vida Nova, 2004.
p. 92.
34
Louw-Nida Greek Lexicon in BIBLEWORKS 7.0. Minha tradução.
35
O texto, como se encontra na Vulgata, diz o seguinte: “sectamini caritatem aemulamini
spiritalia magis autem ut prophetetis”.
36
D. A. Carson. Showing the Spirit: A Theological Exposition of 1 Corinthians 12-14. Grand
Rapids, MI: Baker Academic, 1996. p. 101.
37
Anthony C. Thiselton. New International Greek Testament Commentary: The First Epistle to
the Corinthians. Grand Rapids, MI: W. B. Eerdmans Publishing Company, 2000. sem
numeração de páginas.
38
Ibid.
39
Para uma análise interessante da natureza da profecia neotestamentária, as seguintes obras
cessacionistas são de grande importância: Moisés Cavalcanti Bezerril. Os Profetas do Novo
Testamento: Um Estudo sobre a Natureza da Profecia no Novo Testamento e uma Avaliação
da Moderna Teoria dos Dois Níveis de Profecia. Recife: Berith Publicações, 1999, 91p; Richard
B. Gaffin Jr. Perspectivas sobre o Pentecostes. São Paulo: Os Puritanos, 2010, 130p; Walter J.
Chantry. Sinais dos Apóstolos: Observações sobre o Pentecostalismo Antigo e Moderno. São
Paulo: PES, 1996, 136p; Sinclair B. Ferguson. O Espírito Santo. São Paulo: Os Puritanos,
2000, 360p; O. Palmer Robertson. A Palavra Final: Resposta Bíblica à Questão das Línguas e
Profecias Hoje. São Paulo: Os Puritanos, 1999, 168p; George W. Knight III. A Profecia no Novo
Testamento. São Paulo: Os Puritanos, 1998, 36p; Victor Budgen. The Charismatics and the
Word of God. Faverdale North, Darlington: Evangelical Press, 2001, 320p.
40
Ver a exposição feita pelo CATECISMO MAIOR DE WESTMINSTER, na pergunta 145.