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ANHANGUERA EDUCACIONAL

Faculdade Anhanguera de Campinas – Unidade III


Curso de Psicologia

POSSIBILIDADES PSICOTERÁPICAS DE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO


DA SAÚDE E SENTIDO DE VIDA PARA IDOSOS
INSTITUCIONALIZADOS

RENATO SOUZA SILVA 184976111648

CAMPINAS
2019
RESUMO

Muito se tem falado, nos dias atuais, naquilo que se designou como envelhecimento da
população. Com efeito, observa-se que, mais do que antes, as pessoas com idade avançada
formam, na atualidade, o maior contingente populacional, ao passo que diminui o percentual
de pessoas mais jovens. Diante disso, este trabalho busca de forma geral, possibilidades
psicoterápicas de prevenção, promoção da saúde e sentido de vida para idosos
institucionalizados. Não há uma resposta objetiva para questões complexas, e assim sendo, de
forma específica, o trabalho enfatizará o idoso cognitivamente lúcido, e o impacto do
processo de institucionalização no sentido da vida dos idosos institucionalizados.

INTRODUÇÃO
As consequências político-demográficas e médico-sociais decorrentes do deslocamento
verificado na estratificação etária da população idosa brasileira apresenta grande
complexidade de ordem social. Dentre as muitas consequências, está a inserção da mulher no
mercado de trabalho – que tradicionalmente, era tida como a principal cuidadora –, a evolução
das ciências e da tecnologia e um olhar mais humanizado – ainda que não totalmente ideal –
dos agentes de saúde e sociais voltados para as políticas públicas, o que tem favorecido a
longevidade da população.
Ante a este contexto de maior contingente populacional do público idoso, tem
aumentado significativamente o número de Instituições de Longa Permanência para Idosos
(ILPI) e o impacto desse ambiente no sentido da vida do idoso cognitivamente lúcido, em sua
maioria, limitado apenas pela dimensão física, como por exemplo, amputação dos membros
inferiores causados por complicações decorrentes do diabetes.
O idoso nesse contexto, diferente dos que estão limitados por patologias psicológicas,
como por exemplo, o Mal de Alzheimer, mantém acordado em seu íntimo o mínimo de
sentimento do que foi enquanto ser produtivo, de suas idas e vindas e de sua existência
humana digna e independente, em detrimento de um mero estar-com-vida e conservar-se-
vivo.
É diante desse mero definhar existencial, que a psicologia pode ser e possibilitar
sentido existencial a estes idosos institucionalizados em ILPIs; abrangendo sua visão de
mundo, de si própria e o quanto, mesmo sob tais limitações a vida pode ser plena de sentido.
O idoso institucionalizado limitado apenas fisicamente, portanto, com suas faculdades
mentais intactas, comumente vive fadado pela falta de ocupação, que por si, é identificável
como doença. Tal falta de realização se vinga também através de outras consequências,
afetando de forma significativa a dimensão psíquica, o que cedo ou tarde, com bastante
regularidade, tais pessoas entram também em declínio psíquico, adoecem e morrem
relativamente cedo, ou se não, vivem em profunda tristeza e com o sentimento de inutilidade
ou de vazio existencial.
Diante desse pressuposto, como a psicologia pode possibilitar um objetivo de vida e de
conteúdo existencial para o idoso institucionalizado e cognitivamente lúcido?

O QUE SÃO AS ILPIs?


Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs), conforme proposto pela
Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2005), são instituições governamentais
ou não-governamentais, de caráter residencial, destinadas a domicílio coletivo de pessoas com
idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem suporte familiar, em condição de liberdade,
dignidade e cidadania.
O termo ILPI foi proposto pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, em
substituição ao termo asilo, que outrora, conforme salienta Camarrano e Kanso (2010),
voltava-se a população mais carente que não tinham moradia, auxiliados pela igreja cristã
diante da ausência de políticas públicas.
Conforme relembra Pinto e Simson (2012), em 1ª de outubro de 2003, foi
promulgado o Estatuto do Idoso (Lei n: 10.741/2003), que fortalece princípios já garantidos
na Constituição Federal de 1988 como, por exemplo, a responsabilidade da família, da
sociedade e do Estado na garantia dos direitos fundamentais e necessidades dos idosos. Neste
Estatuto estão inclusos 118 artigos que faz referencia as ILPIs no Título IV – Da Política de
Atendimento ao Idoso – Capítulos II a VI – onde são apresentados requisitos, princípios
norteadores, regras de fiscalização e penalidades; os capítulos sobre Assistência Social e
Habitação, artigos 35 e 37 também citam as ILPIs.
Buscando ainda atender cada vez mais esta demanda e de forma mais constitucional
possível, o atendimento em ILPIs passa a enquadrar-se sob normas posteriores ao Estatuto do
Idoso de 2003, como por exemplo, a Política Nacional de Assistência Social de 2004, que
passa a ser coordenada pela Secretaria Nacional de Assistência Social (SEAS), que por sua
vez institui o Sistema Único da Assistência Social (SUAS); a Norma de Operacional Básica
(NOB), de 14 de julho 2005, que normatiza o SUAS, uma rede de serviços, ações e benefícios
sociais de diferentes complexidades que se dividem em Proteção Social Básica e Proteção
Social Especial; tendo como foco principal a atenção às famílias, seus membros e indivíduos.
(PINTO E SIMSON, 2012).
Diante desse exposto, as ILPIs passam então a fazer parte de um Serviço de
Proteção Social Especial de Alta Complexidade, devendo então, como já salientado, serem
executado em parceria com estados, municípios e a sociedade; atendendo a critérios mínimos
para seu funcionamento e para a prestação de serviço aos residentes.
O Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP), em 2015 fez um
levantamento sobre o número de entidades de atendimento de idosos em todo o Estado. O
mapeamento apontou que só no Estado de São Paulo, em 2015, existiam 1423 entidades de
acolhimento; dessas, 90% eram instituições de longa permanência para idosos do setor
privado; somando no total, 781 unidades (55%). Outras 472 (33%) eram filantrópicas e
apenas 31 (2%) eram do setor público. Este quadro estatístico engloba todos os estados
brasileiros.
Também especificamente, o trabalho irá referir-se não tanto a quantidade de
instituições concernentes aos setores privados, filantrópicos e/ou públicos; bem como aos
fatores físicos-estruturais e organizacionais (embora vale enfatizar que tais aspectos tem poder
extremamente significativo no processo de institucionalização), mas, ao processo de
institucionalização em si e a relevância desse ambiente no sentido existencial do idoso.

O SENTIR-SE ATIVO OU ÚTIL COMO SAÚDE PSICOLÓGICA E DE SENTIDO


EXISTENCIAL
Segundo o psiquiatra, neurologista e filósofo Viktor E. Frankl (1905-1997), mais
precisamente em sua obra “Psicoterapia Para Todos: uma psicoterapia coletiva para
contrapor-se a neurose coletiva” de 1990, é a consciência de se ter uma tarefa a cumprir, uma
tarefa bem concreta e altamente pessoal que; não somente mantém a pessoa idosa psíquica e
espiritualmente hígida, mas também a preserva das doenças, e mesmo da morte (p. 50).
A esse respeito, Frankl, na mesma obra, expõe uma história literária, uma história
natural e por fim um fato concreto, prático e útil. No que concerne a história literária, o
psiquiatra relata o caso de Goethe. Já tendo atingido provecta idade, pusera-se a trabalhar
intensamente na ultimação da segunda parte da tragédia Fausto. Ao cabo de sete anos de
trabalho, finalmente amarrou o manuscrito e sobre ele colocou seu selo. Isto acontecia em
janeiro de 1832. Em março desse mesmo ano Goethe estava morto. Não seria equivoco, por
certo, admitir que essa morte já era iminente no início do referido trabalho. Obviamente, a
mortalidade corporal não poderia ser evitada. Mas essa morte podia ser adiada. E o foi até que
a obra, a qual ultimamente devotara a sua vida, estivesse pronta. Até então, atravessando sete
anos de árduo trabalho, poderia Goethe ter vivido para além de suas condições biológicas.
Fazendo incursão na história natural, o médico enfatiza, por exemplo, de que
animais atuantes em circo e para tal fim amestrados e levados a desempenhar determinadas
funções, teriam, em média, vida mais longa do que os seus congêneres conservados em
parques zoológicos, que permanecem inativos.
Volvendo-se por fim, aos homens, é sublinhado algo que o Professor Stransky
conferia particular realce, ao encarecer a urgência de, com vistas a higiene psíquica, propiciar-
se aos idosos obrigados a abandonar a vida profissional a chance de se conservarem ativos de
qualquer forma, em vez de “enferrujarem” na inércia. Stransky demonstrou, outrossim, quanto
a permanência dessas pessoas em atividade seria comunitariamente benéfica. Entretanto,
atributo particular valor a circunstancia de que o ser útil é da maior significação psicológica.
Efetivamente se promove, na visão do médico e psicólogo, o valor interno com esse estar de
algum modo ativo, avivando-se no idoso o sentimento de, não obstante a sua idade, estar em
função de um sentido.

O LIVRO COMO MEIO TERAPEUTICO


O filósofo Olavo de Carvalho (2013) salienta que “o instrumento básico do debate
político nos EUA é o livro, não o artigo de jornal, o comentário televisivo ou a entrevista de
rádio”. Sendo assim, não há uma só ideia ou proposta política que, antes de chegar aos meios
de comunicação de massas, não tenha se formalizado em livro, demarcando as fronteiras de
debate que, nessas condições, é sempre pertinente e claro. Também não há um só desses
livros que, em prazo breve, não seja respondido por outros livros, condensando e ao mesmo
tempo aprofundando a discussão em vez de limitá-la as reações superficiais do primeiro
momento. Conclui afirmando que, esses livros praticamente nunca são traduzidos ou lidos no
Brasil; e o resultado é diagnósticos, decisões estratégicas desastrosas e um povo inteiro
ludibriado por narrativas.
Compartilhando desse exposto, torno a enfatizar a obra supracitada do criador da
abordagem psicológica denominada Logoterapia, a saber, Viktor Frankl. Na obra outrora
citada, “Psicoterapia Para Todos” (1990, p. 151), Frankl elenca o livro como possibilidade
terapêutica – enfatizando, contudo, que o mesmo não deve substituir o médico e a
psicoterapia –, ao postular que o livro certo na hora certa tem preservado não poucas pessoas
do suicídio.
Para Frankl, a biblioterapia há decênios vem mantendo sua legitimidade no
tratamento das neuroses. Ao paciente é recomendada a leitura de determinados livros e de
modo algum apenas livros técnicos. O emprego do livro obviamente é programado e sempre
amoldado ao respectivo caso. O livro presta, nesse sentido, autentica ajuda para a vida – e
para a morte.
Os livros, contudo, não devem ser aqueles lançados pela moda atual, em cujos
títulos figuram estereótipos; livros técnicos que por si só não resultam efeitos terapêuticos,
mas sim livros que – seguido de debate sobre o respectivo conteúdo – possibilitem refúgio,
como na palavra de um poeta.
Obviamente não faz parte da missão da literatura enfeitar a realidade, ou apresenta-
la como inócua. Certamente, no entanto, não lhe será alheia a tarefa de, além da realidade,
fazer refulgir uma possibilidade, a possibilidade de mudar-se tal realidade, a possibilidade de
uma transformação dessa realidade. O mundo vai de mal a pior, está doente, mas é curável.
E uma literatura que se omite em ser, nesse sentido, um instrumento de cura e de
participar da luta contra a doença do espírito da época, da circunstancia como uma
institucionalização, tal literatura não é uma terapia, mas um sintoma, o sintoma de uma
neurose coletiva; e que mesmo sob aspectos físicos-estruturais e organizacionais favoráveis
ou adequados, a imunização – de uma pessoa cognitivamente lúcida e limitada apenas
fisicamente como alguns idosos institucionalizados – seria efêmera contra o desespero, a
desesperança e o sentimento de que a vida perdeu o sabor, a cor ou o sentido.
Por fim, Frankl em sua obra, sintetiza que o manuseio do livro tem como
pressuposto uma decisão. É preciso que seja lido e a sua leitura demanda intervalos de
reflexão. O tempo livre empregado na leitura lhe é útil, não para a fuga de si mesmo, de seu
próprio vazio, mas permite-lhe “voltar a si”. Em suma, o livro alivia-nos da pressão do
desempenho, da vita activa (uma vida de caridade ativa, para os outros) e nos reconvoca a vita
contemplativa, a existência contemplativa, quando menos, de vez em quando.

CONSIDERAÇOES FINAIS
Como descrito ao longo do trabalho, os aspectos físicos-estruturais e
organizacionais, assim como tudo que concerne a políticas públicas como a inserção do
profissional da psicologia na rede como o SUAS deve ordinariamente ser debatido,
aprimorado e posto em prática. Com tudo, aos idosos institucionalizados e cognitivamente
lúcidos, cabe a pergunta se o seu tempo e o seu-ser-consciente se encontra cabalmente
preenchido e satisfeito, por seja lá o que for. O que importa não é questionar se a atividade
capaz de conferir à existência humana um sentido e um conteúdo se vincule, ou não, a razões
de ordem econômico-financeira. Essencial e decisivo, sob o aspecto psicológico, é única e
exclusivamente que tal atividade desperte no homem, por mais avançada que seja a sua idade,
o sentimento de existir para algo – para algo ou para alguém.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMARANO, Ana Amélia; KANSO, Solange. As instituições de longa permanência para idosos no
Brasil. Rev. bras. estud. popul., São Paulo , v. 27, n. 1, p. 232-235, June 2010 . Available from
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on 10 June 2019. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-30982010000100014.
CARVALHO, Olavo de. O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. Rio de Janeiro:
RECORD, 2016.

FRANKL, Viktor Emil. Psicoterapia para todos. Uma psicoterapia coletiva para contrapor-se à
neurose coletiva. 2ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1990. 158 p.

Ministério da Saúde (BR). Resolução da Diretoria Colegiada - RDC/ ANVISA Nº 283, de 26 de


setembro de 2005. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2005.

Ministério Público do Estado de São Paulo. MP-SP mapeia entidades de atendimento de idosos em
todo o estado, 2015.
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/noticias/noticia?id_noticia=14031641&id_grupo=118.
Acesso em: 20. Maio. 2019

PINTO, Silvia Patricia Lima de Castro; SIMSON, Olga Rodrigues de Moraes Von. Instituições de
longa permanência para idosos no Brasil: sumário da legislação. Rev. bras. geriatr. gerontol. , Rio
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