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Blumenau: fone (0473) 22-1474 - Campinas: fone (0192) 42-5083.
______________________________...______________________________________
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• Responsável pela interface COPPE/ Governo, Empresas e
Indústria
• Equipes multidisciplinares formadas por docentes,
pesquisadores e técnicos da COPPE/ UFRJ •
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.~f-
- COPPE/ UFRJ
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Endereço :
- ~ Cid ade Universit ária - Ilha do Fundao
Centro de Tecnologia - bloco h - sala h -203
I
Caixa Postal 68513 - ZC- 00
-. CEP 2191 O
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Os terminais TS, de padrão Micropro~veis para qualquer A Linha TS possui design moderno e
internadonal, foram totaln1ente sistema instalado no país, os fundonal, minimizando consumo de
projetados, desenvolvtdos e lerminais da Linha TS garantem alta energia e espaço ~nnidndo fácil
fabricados por técnicos brasileiros. confiabiüdade e desempenho. integraç~o em qualquer ambiente.
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• I J
t J
EMPRESA BRASILEIRA
DE COMPUTADORES
E SISTEMAS S.A.
Rua Fonseca Teles, 37
CEP 20940- Tet. 284·5697- Rio
TELEX (021) 32697 EBCP·BR
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existenCes pelos próximos dez suas propriedades fhico-quími-
PRODUÇÃO anos, no mínimo. A principal cas, transformou-se em material A TARTARUGA:
NACIONAL DE matéria-prima para a fabricação e.stratêgico de\·ido às ~mas carac- FONTE, DE
FIBRAS ÓPTICAS de fibra típt i c as de alta quali-
dade tecnoló~ica e o CfU&rtzo, não
terb1icas criogênícas e de alta re-
sistência aos ácidos fortes. Esta
PROTEINAS
Um sistema de lelecomunka· em sua forma naturltl. mas em propriedade se presta à fabric~ A reprodução em cativeiro da
çõtts óptica~ será teS'tado h r 'e- pó. fundido ou na forma de tetra- ção de ligas. com o nióbio en- tartaruga- animal que parti·
mente com a inaugunu..'fiu de um cloreto de silfcin. trando numa proporção sufi- cipa em grande escala da dieta
protótipojó in .-talado em J~rare J.:ssa~ tre~ transformações das ciente J)ara enri<JUt•cê-Jas com alimentar da~ populações amazô-
paguá, no Rio. Ele permitirá a lascas de quartlo rt'querem in- seus cfcitns benéficos sem inter- nicas e cuja carne tem o dobro de
tran~missáo de ~MO ligações si- fra-estrutura te<·nológica de al- ferir nas propriedades mecânicas proteínas de seu similar bovino
• •
multâneas entre duns l'enh·ais guma romplexidnde. mas accssí- c de conformação. - com() pnmcaro pa~o para e~-
telefônicas e lerá ac; vnnla~cns de ,·el a grupos de pesquisa que tra- Soh e.c;te enfoque. o Programa tabeleccr sua criação em fazen-
po sibilitar ligaçõl's a distânciac; balhem no cam()o. Em um futuro de Engenharia Metalúrgica e de das na região e. num futuro mais
maiorc~ c a preços mais hnb:os. próximo. a importância das jazi· Materiais da COPPE (Coordena- disumte, no Nordeste, é o princi-
Ca o nct:e~sário , o istema po- das de quartzo para a produção ção dos Programa de Pós-(_;ra- pal objetivo de projeto em desen-
derá chegar, futuramente, a de fibras ópfkas erá equhaleote duaçfto em Engenharia). da volvimento pelo Oepartarneoto
transmitir duas mil ligaçtk~ si- às das mina"' de cobre para o fa- FRJ. concluiu recentemente de Pan1ues . acionais e Resen·as
multane~mente. brico de fios convencionais de uma pesqui~a encomendada pela Equh alentes, do Instituto Bra·
O programa- que t.>omprc- telecomunicações hoje usados. Companhia Jo~erro e Aço de Vi- sileiro de Desen\ oh•imento Flo-
ende o desen\'nlvhncn•o de tec- tória - Cofa\'i - e financiada restal. (1801<').
nologia para a utili1.a\'âo de fi- pela Finep. A família de li2as tes- Em outubro do ano passado foi
bras ópticas., laser c detrtures ÓJ)· O NIÓBIO, tada - de ferro, ni6bio, manga-
nês e cromo, com um teor má-
instalado, com() parte desta pes-
ticos no ·etor de cumunil·nçtít..-s- quisa que t·omeçou em 1978, o
está sendo financiado pela 1'cle- METAL , ximo de nicíbio de 2%- apresen- primeiro criadouro experimental
brâs rlesde 1973. Executado no ESTRATEGICO tou resistência satisfatória à cor-
rosão em ambientes marinhos c
de tartarugas, com 20 fêmeas e
Instituto de Física da nicamp c cinco machos, localizado na re-
no Centro de Pesqui a c De en- em meios alcoólico .... sen·a biolôgka de Trombetas, no
' 'oh imentu (CPD) da Tclcbrns. o A produção de nióbio ~uper Algumas da. li~as apresen- Pará. Trata-se de um pequeno la-
prnjeto atingiu. em meados do puro por elet rulisc e a construção taram resistência à corrosão em go, no centro do qual foi construí-
de uma bobina supen·ondutora m(•ius alcoólicos equivalente aos
ano passado, um estágio 'fUt.' per-
mite a trunsferênda ;, imh'•"triA são os próximos projetos do Gru- 8t'fl"i infwirtn~·pi~ A i"'nl\rt&nl'io
.. -- ---r -- . . --.·-- . -
da uma praia artificial para que
. . .
\i.i CiJ.uuuu~ Ut:~UH:Ut, C COm lrUtCI·
nacional da tecnologia de fabri- po de Baixas Temperaturas do dC.."ilC resultado deve ser ressal- ras nativas em suas margens,
cação de um tipo de fibra óptica Instituto de t:·rsic;.t da Unicamp tada já que. no estágio atual do
•
para sua nlimentação.
chamada ..íncUcé ~raduul". que, desde 1970. deseovoh e pes- Programa Nacional do Alcool, Os estudos aproveitam. no rio
Do ponto de vista de sua capa- quisas . obn· o.1 metalurgia física e toneladas e toneladas de chapas e Trombetas, uma área de cinco
cidade tccnológka. a indústria a supcrconduth•idade do metal. tubos de a\·o inoxidá\·el são hectares e se interessam- aJém
nacional poderia produzir todo o sua liJ!a e ·cus ,l :ompostos. anualment~ substituídas ao final
da biologia, ecologia e manejo
sistema dentro de um ou dois O Projeto Nióhio mantém con- de cada safra. dos animais- por seu comporta-
ano. • mas a ' 'elocidadc de absor- Yênios com \'Úrius uni Vt.'rsidades Como subprodutos desta linha .- .
mento na regaao. seu regtme ma-
.
ção da tecnologia mi depender da brasileiras. além de centros de de pesquisa, são ~randes as possi- gratório. a incubação e a eclosão
capacidade do mer<:ado. l ~ n pesquisa da Alemanha e do Ja- bilidade..'> da utilização de ligas de dos ovos.
q u a n to i s t o n ã o o c o ra· c r , o pão. e \'em sendo dc..-.cn' oh·ido na ferro, ohíhio c manganês como
cidade paulista d~ Lorena, onde A reprodução da tartaruga em
CPD/Telebrãs agirá corno cen- aço -ferramentas para a confec-
um forno de feixe eletrônico de cativeiro tem ohjetivos econômi-
tro-piloto~ produzindo o d(:mais ção dt.· matri1.cs par.t a moldagem
300k\\' e capacidade de 40 tone- cos, uma vez. <1ue a carne do ani-
componentes do sistema em pe- de plástico ou para a fundição sob
ladas/ano produz atualmente lin- mal atinge. nos mercados de
fjucna escala. pressão de ligas de baixo ponto de
gotes de niôbiu metálico de 200 fusão. Belém e Manaus. o preço de mil
A filosofia do programa
abrange dois aspectos: a existên- quilos. Essas possibilidades e outros cruzeiros o quilo. O projeto pre-
cia de um projeto a longo prazo Coordenador das pesquisas. o as~untos de importância técnica e
tende, portanto. aumentar a pro-
obrauweração entre a unh ersi- físico O l'~lr Jo"'erreira de Lima t.>-con{)mica no âmbito da produ- dução de ta carne~ além de
dade, a m proj\s e a indústria na- lembra que o Brasil possui cerca garantir a presen•ação de uma
ção nacional de aço serão discuti-
cional, e a idet.a 'lltrc oi! OrO\ eitar de 80% dns rescn•as mundiais do espécie ameaçada de extinção. •
dos no I lmcontro de Tecnologia e
um momento de trnfr~rtr:ia ..do metal. 1 um futuro próximo. o Utilização dos Aços acionais. Comparada a oufras c-.trnes de
mercado para implantar utar oióbio deH~ra ser utilizado em marcado para o período de 13 a largo consumo, a de tartaruga
tecnologia nacional competitiva. maior escala nas indústrias aero- JS de uutubro na UFRJ. Do en- possui, em cada quiJo. 86~35% de
Os pesquisadores ucrcdilarn espacial. química t.> de reatores contro, patrocinado pela COPPE proteínas. contra 35,62% de um
que a fibra Ól)tica, já em produ- atômicos. como metal de estru- e pela Associação Brasileira de no\ilho de 450 quilos. 43A5% de
ção em escala industrial, de'\erá tura c componente de ligas. Metai • participarão dirigentes, um frango de um quilo e 800 gra-
atender à necessidades do iste- Há pouco tempo. o niôbio. que empresarios. engenheiros e pes- mas c 24!24% de um porco de 135
mas de comunicaçiies óptica era conhcddo por algumas de quisadnre • quilos.
próprios cientistas. O esforço nesse sentido não será mum, educada para o fim especifico de encontrar na
pequeno: os cientistas ainda não estão habituados a natureza e na sociedade as respostas para suas indaga-
escrever para leigos, e cada vez mais abreviam suas ções. O cientista de hoje é un1 cidadão participante,
formas de expressão, pelo uso quase obrigatório de comprometido con1 o ambiente en1 que vive.
uma linguagem carregada de jargão e de fórmulas. Ciência Hoje tem compromisso corn a democrati-
dirigida ao público restrito dos especialistas de sua zação da cultura e, em particular, da ciência. Só com a
área de pesquisa. O processo utilizado por Ciência divulgação do conhecimento, na fonna de dados e in-
Hoje é o do trabalho conjunto entre o cient L ta e o jor- fonnações confiáveL~. colocados à disposição do públi-
nalista. Assim, a elabordção deste primeiro número co através de todos os meios de comunicação, será pos-
reflete também o início da procura de uma linguagem sível aumentar seu poder de análise crítica indepen-
devidamente acessível, sen1 prejuízo da qualidade dente e tomar efetivo seu potencial de influência no pro-
científica do conteúdo. Da mesma fonna se explica a cesso que determina os caminhos para a sociedade
ênfase atrihuírl;) ?4 1Jn~tr~r.iin
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1'1"\Tn n ,, "" tnrl n
Ciência Hoje deverá, portanto, servir para que o Con1 esta publicação, a SBPC se dispõe a preen-
cientista brasileiro possa se desincumbir de responsa- cher um espaço vazio em nosso ambiente cultural.
bilidades que lhe cabem, como a de fornecer à socie- demonstra sua intenção de. n1ais uma vez. estimular
dade uma descrição inteligível de sua atividade cria- os cientistas brasileiros a assumiren1 uma posição so-
dora e a de colaborar no esclarecitncnto de questões cial n1ais generosa, e cumpre seu objetivo de incenti-
técnicas e científicas de interesse geraJ. Não preten- var o interesse do público em relação à ciência e à cul-
demos ter encontrado a fonna, ou a fónnula, de un1 tura.
veículo de divulgação científica, multidLciplinar. Os Editores.
O que é o SBPC
A SBPC tem por objetivo cootribuU' para mais de 17.000 a!)sociac.fos. c em l>UllS A.\ publkn~&l da SBPC Como at~oc:itJr·Se À SBPC
o destnvolvimento cientifico e tecnoló- reuniões anua• são a~ntados 1...-etea de A SBPCcditadesdc 1949 n re\lStrt Ciên- Podem associar-se à SBPC cienti:stas e
gJCOnaclOOa.l,~a~ãoen- 2.500 trabalhos c:aentífico, e realiwdos cia e Cultura. mensal desde 1972.. Suple- niio-<:tcntistas que manifestam interesse
trepesquasadore~defendera liberdadcdé 250 me.sa<>·redoncfa . CUJ'St.)S e ronfetên- mentos de ta revista :são publkttdo~ pela ciência. Para isso. basta ser apresen·
. . .- .
pe.squasa e opmtao; congregar pessoas e CJ.a.S. durante as reuniões anuai-., contendo os tac..lo por um .sócio ou secretário regional e
tn.stituiç&s interessadas no progresso e Atravé~ de suas Secretaria!; Regionais . resumo~ do~ trnbalho~ cientffic.o npre- preench~ um forrnuláno apropriado. A
na difusão da ci!ncia; incentivar e e~ti- pomove simpósio.;, encontros c iniciati· ntados Além destB revista e de Ciência fiJiaç.ão Súrtk."'lte é efetivada ap6~ a apro--
mularo interesse do público em relação~ va-: dê difusão ,.entffica ao longo de todo HoJe. a Sociedade rem public-ddo boletins vação da diretoria e dá direito a rec.ebcr a
\.~ta e à cultura. o ano. regionais e \'O lumes ~pcciais dcdkndos a revi ta Ciência e Culrura e obter um pre-
Fundada em 8 de junho de J948 por um sunposi JS c reuniões que organiza perio- ço especial para ll assütatura de C1êncio
pequeno grupo de cientistas, hoje reune dJcamc.nte. Hoje.
SEÇOES
lí<:)~E: C::IÊ~C::IA ...••.....................................•......•..........................................•................................ 2
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RESENHAS DE LEITLJRA .. ........ ... .............. ... ... .............. .......... .. ........ ..............•................................ 75
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Publicada bimestralmente sob a Coaselbo Editorial: saldo Carlini, Fabio Wanderley Gomez e Jenny Raschle (ilustra-
responsabilidade da Sociedade Alberto Passos Guimarães Filho, Reis. Fernando Gallembeck , ção); Henrique Lisboa e Valmir
Brasileira para o Progresso da Darcy Fontoura de Almeida, Ennio Francisco Weffort. Gilberto Ve- Pinto Ferreira (arte-final): Clube da
Ci~ncia . Redação e Secretaria: Candotti, Roberto L..ent (Editores);
lho. Herbcrt Schubart. José An- Criação e Caio Domingues e Asso-
Avenida Wenceslau Braz 71. fun- Alzira Alves Abreu. Angelo Bar- cônio F . Pacheco. José Antônio ciados Publicidade (apoio cultu-
dos. Casa 27. CEP 22.290 - bosa Machado. Antonio Cesar Seixas Lourenço. José Goldem- ral).
Telefone: 295-9443, Rio de Janei- Olinto, Henrique Lins de Barros. berg. José Ribeiro do Valle, Leo- Assinaturas
ro, RJ. José Monserrat Filho. José Reis. poldo Nachbin, Luiz Martins. Luiz Brasil: um ano . .. . . Cr$ 1.800,00
• Rodolpho R. G . Travassos, Mauri-
Maria lsaura Pereira de Queiroz. Exterior: Consultar a Secreta ria
Oswaldo Frota Pessoa, Otavio Ve- cio Mattos Peixoto, Mauricio Ro-
lho, Pedro Malan. Reinaldo F. N .cha e Silva, Miguel R . Covian, Produção Industrial a cargo da
•
Jornalista Responsável: Guimarães, Rui Cerqueira. Moisés Nussenzweig, Newton Lastri S .A . Indústria de Artes
Argemiro F.erreira Freire Maia. Oscar Sala. Oswaldo Gráficas. Rua da lndependen-
Editor de Texto: Couelbo Cientffko: Porchar Pereira7 0ctávio Elísio Al- cia 382 - São Paulo- S .P.
Sergio Aaksman Antonio Barros de Ulhoa Cintra, ves de Brito, Telmo Silva Araújo. Para a publicação desta revista con-
Editor de Arte: Antônio Cindido de Melo e Souza. tribuíram o Conselho Nacional de
George B . J. Duque Estrada Carlos Chagas Fi lho. Carolina Colaboraram oeste núnaero: Desenvolvimento Cientffico e Tec-
Secretária: Bori. Crodowaldo Pavan. Dal- Bernardo Kucinski, Lucio Aávio nológico (CNPq) e a Financiadora
Zelia Freire Caldeira mo Dallari, Darcy Ribeiro. Eli- Pinto e Régis Farr (texto); Vilma de Estudos e Projetos (RNEP).
uceor
As condiçfles de vida na Terra depois de um conflito nuclear tt•rimn nmdiçlks de ser lwspiwli:ado., : t" é prr•ci.m lembrar rmnbém
seriam tão precárias que a única esperança que resta à humanidade é que ninguém esmrm em condiçlíe\ de preswr n"sistência médica se-
evitar qualquer tipo de guerra atômica. Esta foi a conclusão a 4uc che- quer a uma parcela mínima das vítimas de queimaduraJ graw:~. dera--
garam cientistas c especialista' de várias partes do mundo reunido em tliuçao ou de qut·da~ com esmagamento.
outubro de 1981 sQb a presidência do cientista br..tsilciro Carlos Cha- A incapaciclnde de assi.wénda médit·a toma-se el·ideiiU' quando
gas, da Academia Pontifícia de Ciências. 'e pensa em wdo o que seria neceM.·círio ao trmamento da~ \'ftimas tk
No "edc da Academia. em Roma. o grupo examinou as conse- le., õe r.:raves. Basta-nos citar o ca.w de umjm·em de 20 ano.-. vfzima de
qüências do emprego de annas nucleares para a saúde e a sobre\ ivênda queimaduras em conseqiiêllt ia Ja explo.'laO do umque de (!a.wfina do
da humanidade. Além do presid~nte. era integrado pelas scguint~s carm que dirisdtl. Enquamo ele e.,Jeve hmpttalizado tta unidade de
personalidades: E. A maldi. da Itália: N. Bochkov. da URSS i L. Caldas. tflleimaduras grm·e.'\ de um Jzowirul de Bosron. recebeu NO litros de
do Brasil: H. Híatt, dos EUA; R. Lalarjct. da França; A. Lcaf, dc>' plmma e I 4 7 de gl6bulos vermelho.'l recém-collge.!aáos, 180mLde pla-
EUA; J. Lcjcune, da França; L. Leprince-Ringuet, da rrança; G . B. qw•W.\ e 180 de albumina. Foi sulmlt'tido a .Hús operações parafechar
Marini- Bettolo,da Itália: C. Pavan. do Bn1sil (presidente da SBPC):A. jerimemos que abrangiam 85% da \Uperjide do corpo. com o implante
Rich, dos EUA: A. Serra. da Itália. c V. Wcisskopf. dos EUA. th• diferentes tipo.) de enrerto.,. indu,çi\·e c/(• pelr artificial. Enquanto
Transcrevemos abaixo a declaração. publicada no O Correw da (:."\tl'l't.' no hospital. esse jovem teve de ,,er muntido com respiração
UNESCO de mttio de 1982. que contém a série de pontos há,icn ... deba- artificial; e apesar desses e dt! outro.\' recurMJ\ etcepcionais. que exis-
tidos e aprovados por unanimídaue na reunião dos ciemistas: tiam em umo das instituiçôes ho.,pitalare,, tmlÍ' famosas do mundo 1 o
paciente morreu no }3." dia de hospirali:uçao. O médico responsável
As recemes declarações .legmulo as quais se pode gwúwr uma pelu caso comparou as lesÕt'.l elo pacientt ch que foram descritas por
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guerra nuclear e até sobre\·iver a Pia denotam uma t1prt•riaçiio de,/t•i· muitas )'Ítimas de. H iroxima. Se 40 pcwieflfe.\ com lesões semelhantes se
tuosa da realidade médica. Toda guerra nuclear propagaria ÍtiC\'Íill - apreuntassem ao mesmo tempo em todm m lw., pilais de Boston. a ca-
''elmenre a morre. a doença e o wjrimenro em proporção e e.n:ala gi- pacidade médica da cidade niin M•rit~ mfic:ielllr para atendê-los_ lma-
gante.rcar e sem nenhuma possibilidade de intervenção médica ejicm . ).:Ínemos emão o que acontece' ia Jt', ao Jaclo dar; milhares de pes.soa.\
Isso nos leva à mesma condusão a que chegarmn O.\· mhlit·o\·a n.·speiro feridas, a maioria das in.\lala~·tii•.\ médica,. di> urgência esri\•essern des-
das epidemias letais que a hummrid{l(/e já expe1imnl/ou: .wí u preven- truídas.
ção permite mcmter o controle du siluaçâo. Um médico japotLês. o prof. j'rl. IC'himam. testemunlw vi.wal JoJ
Ao C'ontrário do que geralmeme se pensa. hoje temos um conheci· efeito' da bomba de Nt~gu.wki, publicou um relmo do que viu: ·'Tentei
memo razoável da e.:aetHâo da cattisrrofe que acomponharia o empn•· ir para múzha esc olu de medic irw de Urakami, a 500 metros do hipo-
go de armaJ nucleare\; e conh~cemos também m limites exlllm da a.\ · ct•llfro. Cru::ei com muitaJ peM;oa.l que rnlwwmt de Urak.ami. Tinham
sistêncitl médica. Se eue conhecimemo f o~· se divulgado em rodo u a., l'e,\ fe.ot emfrtmgallw.\', e do,, corpos pendiam tirm de pele. Pareciam
mundo, aos povos e uos governos. isso poderia contribuir para ojim da fama.\nUJ.'l de olhar vazio. No dia st.•guinle cull."it'glú entrar em Urakami
corrtdo armamemi,tu c, conseqÜt'llft7nente. para evirnr o que bem po- a pJ. e tudo o que eu conhecia lá havia dl•.,afutrt•âdo, ...ó restando as
deria ficar sendo a última epidemia de tws.w p/anew. t•\trttwrm de ferro e cimemo dos edifício.\. Hcl\'Úl cadá\·ere' por rodt.l
As devastaçõe' raumdas pela~ bombas em lliroxima e Nflgwaki parte. Em cada eJqtúna havia unw rina com água para apagar incélz·
nos fornecem elementos para avaliarmos as conseqüência., de umo dim causados pelos bombardeios aéreos. Numa tJe,·:mç tina.\, em que
guerra nudear_ Mas temos também o apoio de estimam·as teâri&u.'i. Jlil mal cabia uma pessoa, vi o coqm de um lrume.m que proc11rnra deses-
dois anos um organismo oficia/sério publicou os remltadw de um e-J - pe.rndamellfe mer~ulluzr em água fria. E/r. enm·a morto, e de sua boca
tudo sobre os efeiw\· tle um awque nuclear em ddatle da faixa de dois mia espuma. Nâo po.'lso esquecer o choro tias mulheres nos campos
milhões de habitantes. Se no centro de uma des.ms cidade.l e plodisre demsllldos. Quando che~uei pet'to da escola. li corpos ne~ros carbo-
uma arma nuclear tle um milhão tie toneladas (a bomba de /lir(n:ima nizatioJ, com poflla... 1Jran('a,, de ouo.,· uparenmdo nos braços e per- -
rinlw uma potência aproximada de 15.000 toneludm de e.).p/osivos). v na~. Algwrs ainda ewm·am vh·m. m(ll não conseguiam Je mexer_ Os
resultado seria adelasração em umo. :ona de 180 knr, 250.000 mortos mmsfortes estal'am tão e.\goratlo~ que "e deüavamjicar largados no
e 500.000 feridos grm·es. Entre esses últimm tle'!-'t?tn ser inclufdo., os chiio. Falei com eles. eles adwmm que ;wnjicar bons. mas duas se-
que sofreriam ferimentos causados por deslocamt"nlO de ar, como fra- mancH' depois rinham todos morridQ. Nao posso esqm.-cer a maneira
turas e lesóeJ gmves do tt•cido epitelial. queimaduras da pele e da f'e- como me ofharam. e ainda escuro a' WJ:e~· c/('fes ... ••
tina, lesões do aparelho respiraJório. danos causados pela radiaçrw, Não devemos esquecer que alwmha wltada em Na~a.mki tinlta n
com sfntlromes agudas e efeitos retardado.\·. potência de cerca de 20.000 toneladas de TNT. pouco mais do que a
.Mesmo nas mc.lhore,\ condições, os cuidados médicos neces.,árior das chamadas "bombas tátic(l\ •• de.wilwdas a campos de bmalha.
ao tratamento dessesferidos exigiriam um esforço inimaginávt•!. O es- J\-las nem e.\·seJ quadros medonhos bastam para dar uma idéia do
tudo calcui<J que ..~e numa dessas cidndes atingidas ou em uw (lrre- desastre que seria paro a populaçtio o ataqrw a um país por uma arma
dores houvesse 18.000 leitos ele ho:.pital. apenas 5 .000 ficariam em do arsenal nuclear moderno, com ~eus milhare.\ de bomhas de wn mi-
comJiçoes de ser miliuulo.,·. Arsim. apenas cerca de 1% dos ferido.-; lhão de wnelada.\ ou mais . OJ sofrimemos da população .mbre\'il·enJe
C--------
Bernardo Kudnski* )
A suspeita de que em Cubatão entanto considerar-se a interação cies animais foram testadas, verifi- Biblioteca Nacional de Med!cina.
estejam ocorrendo casos de maJ- entre o genético c o ambiental. di- cando-se então que uma linhagem em Hcthcsda. E. U. A. , mantém um
formação congênita com fre- zendo-se então que possul·m uma de coelho c macacos pode aprcscn~ serviço de informação ao público c
•
qüência maior que a esperada é causa multifatorial (como é o caso tar os mesmos tipos de defeitos que aos pe~qui sadores chamado TO-
de importância tão grande que
tran~cende a própria Cubatão.
do diabetes do adulto). Contudo,
60 a 70% dos defeitos congênitos
no homem: 4) os ststema~ de infor-
mação em .saúde publica existentes
-
XILI NE. onde são ~uardadas na
memória de um compuUidor as in·
Poderemos estar diante de um ~inda não po~suem urna causa bem na época não estavam adcquttdos formações básicac; sobre todos os
novo agente quimico de ação dcfimda, Se! genética e/ou am- para detectarem o episódio artigo' publicado.s no mundo nessa
teratogênlca. cuja identificação biental. precocemente: e por último: 5) a área tão relevante para a 'aúde pú·
certamente beneficiará não só os Os fatore:-; ambientais podem ser talidomida não produziu ano- blicu.
habitantes de Cubatão como de divididos ern trcs grandes grupos: malias congênitas até então desco- Além das malformações congê-
todo o mundo. Daí a grande im- os agentes físicolli Craios x, Ira uma nhcctdas. mas sim aumentou a fre- nita!'>, uma série grande de compos-
portância do Projeto Cubatão, tismos). os agentes químicos qüência de determinada anomulia roc; qufmicos tem sido vinculados
uma proposta de participação (certos mcdicamenlos, certos (a focomelia-membros de foca com a gênese ou o descncadea-
ampla e sempre aberta da comu- poluentes), e os agentes biológicos passou a ser 20 vezes mais rrc mento dt.! tumores malignos no ho-
•
nidade científica nas investiga· (certos vfru~ e certas bactérias). To- qúcnte em recém- nascidos. c o mem e em animais. E sabído. por
ções do que se passa em Cu balão. dos esse!"'. agentes atuam através do risco de mães que tomaram talido- exemplo, que a incidência de al-
organismo matemo c são Wnlo mais mida durante o início da gestação gun~ tipos de câncer é mais fre-
deletério~ ao embrião quanto mais aprl!sentarem filhos com dert!itos qü~rHe em distritos industriais que
.
s anomalias congênitas precocemente as gestantes forem a foi calculado em cerca de 100 a I 75 em zona~ rurats. •
•
representam um conJUnto eles expostos. Considera-se que os vcLés maior que entre gestante:-; que Alguns trabalhos recentes têm '
grande de defeitos que primeiros três ou quatro meses de niio haviam tomado talidomida). mostmdo que existe uma relação
•
podem ocorrer durante o processo gestação são os ma i<; críticos, pois é V árias medidas foram então to- entre as malformações congênitas e
lltl
de diferenciação e desenvolvi- durante este período que o embrião rnadas. entre elas a criação de regis- certos tumores. Por exemplo, a fre-
mento embrionário por que passam passa pelas fases mab delicada~ da tro:. de malformações congênitas. qüência de anomalra" congênitas é
os seres vivos. São chamadas de formação de seus órgãos. Quase no mesmo período. ocor- muior em cri:.mças que dcsenvoi-
congenitas, pots este~ dctcuos e!\- A imponancta dos agentes am- reu outro ep1!)ódio e os poluentes V\.'m ccnos tipt'' de tumores.
tão presente.!! no momento do nasci- bientais na determinação de ano- químicos industriais começaram Trabalhos ingleses mostraram
mento. malias congênitas passou a ser mais também a chamar atenção da comu- que a freqüênciu de carcinoma de
Não existe uma freqüência tida considerada após o trágico episódio nidade cient i fica. Entre 1953 c vagina é maior em mulheres que •
como normal ou p~drão para a da talidomida. no tnício da década 1965. as águas da baia de Min;t- foram exposta~ na vida intra-útero
ocorrência de anomalias congênitas de 60. mata. no Japão. foram contamina- ao hormônio dietHbestrol. Este é
do homem . As cifras são muito Este episódio. que afetou milha- das por compostos de mercúrio pro- um bom exemplo para mostrar qu\:
variáveis de estudo para ~tudo. de res de pe!>sO•tb c famílias, mostrou vcrucntes de indústrias químicas lo- certos agente~ químicos ingeridos
raça para raça. de população para fatos 1mportantcs à.~ autoridades do cais. Os peixes e molu:,cos da baía, pclus gestantes podem afetar o em·
população. No entanto, se tomar- setor de saúde c, aos pesquisadores que eram a base de alimentação da briâo e provocar sérias conseqücn-
mos somente as anomalias exter- em geraJ: I) um compmao qu(mico população da área, ingeriram o cias muito depois do na~timento. c
nas, detectáveis em recém-nasci- de estrutura relativamente simples mercúrio. Tanto pessoa~ adultas até mesmo na vida adulta.
dos vivos c observadas logo após o pode produzir profundas c graves como crianças apresentaram sinto- Tendo em vista as considerações
nascimento. esta variabilidade de alterações no desenvol\•imcnto em- mas neurológicos graves c lrre\'cr- acima. a suspeita de que em Cuba-
cifras fica menor. ~cndo de 3 a 5%. brionário humand; 2) 3'> alterações sívei.:;, tendo sido também verifi- tão co.;tejam ocorrendo ca~os de mal-
Isto é, 3 a 5 crianças na~cidas vivas produzida~ pela taUdomida foram cado que a ação tóxica podia afetar fonnas-õe~ congênitas com uma fre-
dentre 100 possuem pelo menos pouco relacionadas com a quanti- também as gestantes e seus futuros qüência maior que a e~pcrada é de
uma anomalia congênita externa. dade ingerida peJas gestante:s, puis fithos.As crianças nasdam com sin- importância tão grande que cena-
Os e~tudos epidemiológico!) so- aquelas que romaram grandes toma~ de parai isia cerebral e pos- mente transcende aoll interesses lo-
bre as anomalia:~ congênitas são re- quantidades e aquelas que ingeri- terionnente desenvolviam um qua- cais de re!'>olução do problema. tor-
alizado!\ com grandes a mostras: ram poucos comprimidos tiveram dro de retardamento mental grave nando·~t: um assunto de relevância
mais de 5.000 c uté quase um mi- igualmente filhos afetados: 3) a associado à paralisia dos membros para a comunidade científica e para
lhão de recém-nascidos devem ser talidomida havia sido testada em superiores e inferiores os profissionais do setor de saúde
•
examinados. certos animais de laboratórit,, roti- E cnom1e o número de produtos dé modo geraL
De maneira geral. co~tuma-sc di- neiramente utilizados para reste!' de qufmicos que são reJamdos nas re-
zer que os defeitos congéniws pos- toxtddade aos ~mbriões, e não ha- vistas espccializada!:i como se ndo
suem dois grupos de causas vta produ1ido os defeitos verifica- mutagênicos, tóxicos c teratogl!ni-
conhecidas: as de ordem gcn~tica e dos nos cmbriõlS humanos. So- co~ em animais de laboratório. A li- •Roque Monll'll-one Ndo pertence t
as de ordem ambiental. De~ e-sc no mente após o episódio nova~ espé- tcrarura existente é túo vasta que a ~Faculdade PHUli...-ta de Medicina.
I
•
'Pg 14
....
tão. que é provável haver uma relaçao que a má nutrição tenha qualquer pa- dades negam que a desnutnçflo [enha
causal com a polu1ção e Improvável pel Importante. pors as marores auton- I mfluêncta dectsrva na tndução de mal-
•
em a~:.erto à comuni~a~~e científica
que representa cerca de 300 defi- c os estudos comcçaJ.un há apenas cn e em =-CU~ cfluentc líquidos. bres. ~cja pelo custeio de benefícios
•
CICntCS . poucas décadas . Só para 4uc c te- sólidos c ga..;oso .. o ruudnmcm.al. sociai concedidos para os incaptt·
Até o presente, foram cxa.rnína- nha uma idéia. podctnl.)s citur que o porém. é que estes e~tudo!li :,ejam citaúo~ c debilitados por doenças
dos aproximadamente um terço dos número exato de cromossomo (e- feitos de maneira c.:oordt:nada cntJc respiratória • alérgica~. etc.
casos ~elccionado~. e já foram lementos que c tão nu interior do os diferentes grupos de pc~qua a. Em nosso ponto de vi ta. se tal
diagnosticadas doenças genética!> núcleo de todas a:-. c~ lulas que com- ~em jamais deixar de ouvir e aceitar partidpaçn11 nfto se efetivar o e4ua-
• elá~sica~. como u mnngoJi,mo. pocm .
- o no,,o orgamsmo c que car- 11 participação da população local. cionamento do problema ...cru "ca·
anomalias congênita~ com causa regam o materi~1l genético) ficou o~ cmpre ário. devem entender olho .. e parcial. para não dazcr tn-
definida. ~cqücla:- de dncnças in- conhcddo h6 menos de trinta ano~. que. a long<l prazo. ele~ próprios justo e in~ttcicntc .
fcccios~IS contraídas no:-. primcims e ~c passaram mais de dez ano~ para serão afetados, se é que j.t não estfto
anos de vida. como paralisia cere- que~t doença de Minamat.a fosse re- endo. scj~1 pelo pouco renditncnto
bral por meningite e p:mtlisia de conhecida como sendo cuusada do trabalho em condiçói.' ins,tlu- • da Escola Paulista de Mt.'t.lkina.
m~mbr~>s pw poliomielite, além de pelo mcrcurio lançado na~ água
d<!ficiência_-, de desenvolvimento fí- por umn indústri 1 química no
•
:.ico e/ou mental em cau:sn aparen -
te .
Japão .
Um inquérito sobre fertilidatlc Subprogromo Mortalidade
Para nós. e~te último grupo c o em dift!rcntes hairms de Cuhatão
Ru\• Luurenti
mab importante. São doenças que tamtx'm cumcçnu a er realiz.ado. c 1\J. Helena de l\1elln JorJ!c
não po~suc::m urna cau!:\a dciinida c depcntlendo de ~eus rc!-tultados po- Suhina I •. Da\ id..,on <~tlh.•h
que. através de uma inve:-.tigação dcr<i c"lcndcr-;,e par.1 outros locais
mah aprofundadn c dirigida, tahcz da Baixada Santbta. cu propó . . ito o~ re . . uhados preliminares mo - a pena Shcrbrooke. no Canad:i.
possam oferecer pistas da rclaçfto i!. entre ou t ro ... o d~ revelar
•
as tram lJllc. para o tl'iC;nio I97'6/ 1~XO . aptescnwu valor mais ul1o. sendo
cxi!\tentc entre an1 'mali~~ conl!êni-
._ característica" dos ·produto da-.
õ de cada mil na ·cido.., vihl!' em Cu- que toda' as demais tiveram \alore~
ta' c um determinado poluente. jü ge~tações" das mulheres em id<tdc batão fi6.1 morrem antes de com- pr<)ximos ou menores que a ml..'tadl..'
que foi as~im que se dcscohriu a •
fértil (abortos. natinH,rlos. filhos do risco verificado em Cubacão.
maior pane das a~~ociações cntn: :1 vivos, etc.). Sahcmos que 11m elei- . .
pletar um ano de vida 1pam os de-
., .
mats muntc1p1os que comp,>l!m a
- Nos dcm~tis município-. da Bai-
c.xposição agentes '-luímicos duran· to muito importante de <tlgumas Sub-~egião Administrativa de San- xada. o fi..,c,l foi de 2g para I 00.000
te a gc ... taçiio c certas anomalias substftnd:.as qt1ímica~ (que pudem tos. c~sc \'alor fui lle 57.()). Qu.mto nasctdos vivos, mostrando que Cu-
ou nfin ser poluentes) é sua rcla~·ão
A •
.:nngcn ttus. às causas de mort~. a principal f<> i batiio aprc ...cmnu risco igual a 2.J
No entanto. p~ra as famílias (que com abortos c perdas gestach.')nai:s rcprc::.cntada pelo grupo dns pcrina- \'e7.e" o verificado no re:-.tantc du
,fio o foco principal da atenção no precoces c a inl.'apacidade reprodu- wis, englobando 32.4t}( das mortes Baixada s~uui<;ta .
ambulatório), a finalidade dc.sta in· tiva , entn.: nutJo,_ (para o resto da 13aixada Santista. Quanto nos produto.. de concep-
vestigução gcnético-clínicu é a de O peso ao na~ccr de todas as cri- 34. 7%), As molésti~ts infecciosas ção que nfto apn..: . . cnt:narn ~inal de
~ .
olcrccc.;r uma oncntaçuo - cgura anças na ..cidiJs em Cuhatão durante constituíram o segundo grupo de vida no nascer. o. resultado mos-
tJlUlnto à vida rcprudutiva. rcspon· o a nu de I981. bem como outras c~tUsas de monl!: 27.5% (e 28.2% .. traram que o grupo das anomalias
ucndu a rx;rgunta~ importantes pam ~arucrerhticas. estão ~cndo anali- paro os dcmai' município ). E im· congênitas foi causa de morte fetal
c. tcs casais como: podemo te1 ou- sados. portantc res~aha1 quc.cm Cub<ttão. em 4.3% do:s ca ( h de Cubatão c
tros li lhos com a mesma anomalia'! Elll futuro próximo. prt>tcnde- da'> crian~as 4uc mon·em com mc- I . <)'~ da4ucks residentes nos ou -
QuaJ é :t chance de termos filhos mo~ iniciar um estudo ...obre ,) nú- no.., de um ano de idade. 239t upre- tros municípios da Baixada. E-.sc!oo.
normais'! Quab ns m~:didas pre\lcn- mero de nascimento ... l'm Cubatão "\!ntarn dl.!snutrição como fator con- dados podem sl'l compar.rdo:-. com
ti V3'> ) desde I 950. parn que pos~arnos ter tributóricJ para o !'~CU óhitu (no res- o~ tle São Paulo fl(l período 196Rt
ludo isto atlíg~..~ um cas~tl quando um~t adéia de cnmo c-.~e traço de- tante da sub-região, IX%). 1970 (Perdas l~tni" do distrito de
do nascimenm de um filho portador mográfico se tem comportado E:>pc ·ificamentc 4uan1o às ano- Siio P.wlo) que revelaram, para :t
de um defeito qualquer. c as rcspos· durante este tempo, principalmente malias ~nngênita:-., no período con- mesma causa. () valor de I .h ~. As
tas fazem pane do que (.:osttllll<tmos no que diz respeito :, .. ua vuriucjão ~idcraúo. de cada mil ~rianças que anomalia~ do ...istema nervoso rc·
cham:tr de ••acon. clhamemo gené· confonne a ... diferentes estaçôc do na ceram vivas 3,3 tiveram como presenraram cerca de 50% do total
•
tu.: o. • • ano c o impacto do processo de in- causa direta da morte urna malfor- de anomu Ii as em Cuhatão (J I , 6'.~
A tabela tkt p~ígina 16 mo~tra al· dustrialização. mação (para o resro ,da Baixada pam a Baixada Santista como um
guns produtos químkt>s c as ano· Santista. o valor foi 2,8). Chamou n todo). sendo <ls anencdalta~ re!'l ·
malia~ nmgênitH~ que provocam. O l' uturo utenção a grande proporção de ano- pons:'h·eb por 1,6'1 e O.5% da:-. per-
seu período de maior ~cnsibilidadc malia~ do :-htcma nervoso (52~). uas de Cubatão c da Baixadn, rcs-
•
durante a gcsl~tção e o ri co em caso Estamo ainda no comc~o. c cnntrariamente ao verificado em pecuvamcrue.
d~.: cxpo:-.ição. Como se pode notar. muito precisu ser feito paut que outras áreas. que nprcsentam prc-
dos milhtm;s de substfmcias quími· poi\samo..; compreender o 4uc c~tá pondcriinci:t de anomalias do Os nu core' JX'rt,~n(.·em ao lkparta-
cus qu~ são anualmente colocada\ ocorrendo em Cubatüo no que e re- aparelho circulatório. mento de l:./Jidcmiologia d:1 F.1cu/-
• n\) mercado c a que estamos C:\pos- fere à ~aúde e à poluição. Quanh> ao nsco de morrl'r por di1cle de Saúde Ptíblieu J.l USP .
tos no cotidiano. pouco mais de É necessário que outros grupo..; nnenccfalia. Cubatão apresentou
• uma llezcna produzem anomalia:. de pcs<.Jui~adOJC:o. talllbém . c unam valor alto: 65 óbilos pura cada
• • Pu(fer . R R & Serrnno. C V.
conecnuas.
~
e apn!~ emcm mais proposta:-; de ~ 100.000 na"cidos vivos. Com-
Carurtcnstklt" de l:t morculidad
Tal fato. ao contrário de ser tran- tudo. E~tudos sobre a fauna c a flo- parando cs~c duelo com os resulta- en la uinu. OPS 0:\.1S. Wa~lung·
qüilizador. deve ~cr encatado com ra. a ecologia dos mangues c does- do"' da Jnv~tigução lntcramericana ron. 1973.
muita preocupação. pois a grande tuário. e principalmente um estudo de Mortalidade na Infância, Coll(i- Sthemt, M H. - 1•t'rd11~ fctn1s do
distrito dt• Sao Puulo. F.tcullladt•
maioria destes compo~to-. só vêm sistemático dos diferentes poluc.!n- do ... nu obra Ct11 ucterf.,tica., de /:1 de Snmle Púbhca USI'. 1 1~74 (mo-
sendo introdu7.ido" no ambie.ntc tcs realmente encontrado . não só morralidad en la nHicz, verifica-se
rcccntcmcnre na história <.In homem, na auno~fera mas dentro das fábri- que, das quin;~;c :íreas estudadas. -
no~ rafin de mesuõldo)
•
.,__atores . __. ete --- inontes J--1+.. nomo os 1
•
FATOR EFEITO PERIODO DE RISCO
MAIOR
SENSIBIUDAOE
DROGAS INGERIOAS PELA GRÁVIDA
l)ojntt,.c- ,......,~ ..--,._......,..
-- - · - - · · - •• .-Voili-· ......... ,
...-11..-
-·'-'···-)
..I~ .. •~~
.......... ~,
....ti.-,.,.
~~·~,
·r, · -~·--.
• ··~··1\.A,)·
""-•
~"+
-- ..
O =»V OIOS
...
moas . --
ae'IV7-·
o
' a
apos
fertilização
Aminopterino Hídrcxefolio, defeitos de formação do cr6nto, defe1iOS de redução dos ?• ?
•
membros, deficiência memal.
•
Progesíógenos contaminados com Nosculimz~ão do feto feminmo. 3 : trimestre ?.
testosterono
Te5te hormonol do grovfdez Anomol10s vertebrais, do dnus. coração, troqueio, ródio, rim. 3.•/8 .• semana ?
•
Defe1tos na uretra.
•
ao eneno
Emissão
POLUENTES Atmosférica ALGUNS DE SEUS EFEITOS
efetiva total
(estimativo
em kg/mês)
Ac1do Clorídncc.> 7 390
Ácido Sulrúnco 4.253 Irritante e corrosiVO, necrose do comeo, dermat1te
Cõdmto (MP) 151 Pcx:/e causar desrru1çoo dos lesttculos, suspallo de se1 terotogémco
Calcóno (MP) 152.270
Corvóo Coque (MP) 423.737 Bronqu1te, COnJuntwlfe, enf1semo pulmonar
C-7 Ciclopomfmas 31.680 Norcóllcos, podem cousor o morte por paral1sia resptroto1 ia.
C-8 C•doporafmas 7 920 No1COiicos, podem cousor o morte por poro/,s,a resp~rorórro
Dodecc.mo 4 172
Dolomno (MP) 31.005
Fenontreno 3,4
Fertilizantes (misturo) {MP) I 179.527
Fluoretos (HF, Sif4 , ~Sif6) 41.736 Pcxiem tntbJr o coiCI!Jcoçoo osseo
Fluorontreno 5,5
Formoldetdo 55.904 Queunoduros, se mgendo, vormtos, lesão renal. CDnfUnltVItes, perda
de olfato, dezenas de outros moles
Gós Sulf idnco 41.781 Interfere no metobo!tsmo celular, pode mofar por osflx1a, é poroltsonte,
provoca lllflamoçáo no nonz o lannge. pneumoma e quetmadvros no pele
Gesso, Escóno e Ctmento (MP) 46199
tv'ercúrio 58 Pcxfe acarretar graves lesões cerebra1s, e seus compostos orgômcos são terologénlcos
tv\on6x1do de Carbono 8.007.091 fJeb,hcJadc gellet(Jflzado e confus6o mental, 11Õm1tos, dores, convulsoes e mo11e
Negro-de-Fumo 36.650
Oxido de Cólc•o (f\AP) 51.087 Ulcerações, conJuniiVUe, 1mtaçóo pulmonar
• Rocha Fosfótica
• (Co~_,)JF)- (MP) 7 523.600
•
Sevrn (MP) 35
Sinter (MP) 817 071
Terroclore·o de Carbono 9.720
Trióx1do de Enxofre 41 367 Resulto em óctdo su/fl)nco (ver acima)
7.965
1 ~-=· o(_: e
{!aulo César Naoum~
Um terço da~ fa mílias de uma
amostragem em Vila Parisi esta-
vam com seu sangue in toxicado.
extremamente mais aguda que a do cemente. A intensidade de ação Em julho de 1981, uma equipe
A poluição que contamina o ar, a monóxido de carbono, pois cs~as desses compostos químico é muito de pesquisadores ob minha res-
água e os alimentos. causada pelas sub tâncias são bloqueadorcs irre- mais evidente em recém-nascido • ponsabilidade realizou no Departa-
inúmeras indústrias do complexo versfveis. As alleraçõe motivadas cujos glóbulos vermelhos contêm mento de Biologia do Instituto de
petroquímico de Cubatão, tem sido por esses tipos de poluentes estão uma quantidade diminuta tias enzi- Biociências, Letras e Ciências Exa-
absorvida gradativamente por seus também na dependência de sua mas de reconversão. O esquema tas da UNESP, em São Jo. é do Rio
moradores mediante a inspiração concentra~ões e do tempo de expo- ahaixo resume a fisiologia da trans- Preto. uma pesquisa envolvendo
do ar. a ingestão da água e alimen- sição no ambiente. Esses tóxicos formação de oxihemoglobina em análises de sangue de 386 pessoas
tos, c através da pele. Dos poluen- atuam. inicialmente, sobre a mem- hemoglobinas bloqueadas, c a con- residentes em Vila Paris i, bairro de
tes emitidos, 80.4% são constituí- brana do glóbulo vennelho c sobre seqüente manifestação patológica Cubatão. comparando-as com 98
dos por monóxido de carbono. óxi- as enzimas sintetizadas pelos gló- nos glóbulos vermelhos. de São José do Rio Preto. cidade
•
dos de nitrogênio c óxidos de en- bulos vem1elhos para prntcger a in-
xôfre. tegridade das moléculas que trans- enzímos de reconversõo
As conseqüências produl.idas
pelas intoxicações uo monóxido de
ponnm o oxigênio. Essas enzimas,
conhecidas como ''de reconvcr-
oxihemoglobina meta hemoglobina ---+• sulfahcmoglobino
Destruição Corrosão do
carbono são conhecida por todos, são", equilibram a transformação Desnaturação
dos • • - - membrana ••-- Precipitação 4-4-
do hemoglobina
c as altcraçôes fisio lógicas estão na normal de uma pequena quantidade glóbulos dos glóbulos
dependência do tempo de exposi- (I a 8%) de hemoglobina oxige-
ção e da concentração desse com- nada. ou oxihemoglobina, em he- sem poluição industrial. Os resulta- tido~ por nós foram verificados re-
posto químico no ambiente. O mo- moglobina bloqueada, ou mctahc- dos obtidos foram surpreendentes: centemente pelo doutor Etelvino
nóxido de carbono é um bloqueador moglobina. Caso haja um desequi- 135 dos residentes analisado~ de Bechara e pela química Marisa
r eversfvel do transporte de oxigê- líbrio. prm·ocado pelo aumento de Vila Parisi. ou 35%, eram porta- H .G. Medeiros, do Instituto de
nio. o qual é executado pelas hemo- óxidos de nitrogênio ou dt' enxofre. dores de concentrações au mcntadas Química da USP, que analisaram
globinas- proteínas que se locali- a o.ühemoglohina se transformará de mctahemoglobim1 c sulfohemo- diretamente o comportamento das
zam no interior üos glóbulos ver- rapidamente em metalzemoglo- globina, e 54 pessoas cstudadac; da- enzima. de reconvcrsão .
mel hos. A retirada de uma pessoa bina. a qual não e.\ecuta o trans- quele bairro. ou 14%, apresen-
exposta a essas condiçõc!-1, ou orá- porte de oxigênio. taram precipitações de material re- Todos esses resultados foram
pido suprimento de oxigênio, faz A fase seguinte se resume na sidual (po1ipeptídcos), conhecidos apresentados a um grupo de cientis-
com que o monóxido de carbono transformação da rnetahemoglo- cientificamente por corpos de tas que. reunidos durante o XV
seja removido da hemoglobina, e bina em sulfohemoglobina, que fa- Hcinz. indicando a iminente des- Congresso Brasileiro de Hematolo-
que o oxigênio se ligue a essa pro- cilmente ~e dcsnatura e precipita truição dos glóbulo vermelhos . O gia. realizado em setembro de I982
teína, possibilitanuo sua distribui- corno um material residual junto à grupo de São José do Rio Preto não em Fonale1..a, manifestaram a gra-
ção para todas as células do orga- membrana dos glóbulos verme- apresentou alteração aJguma no vidade da situação ambiental de
. ~
msmo. lhos. Finalmente, esse material comportamento fisinlógico da he- Cubatão e suas múltip las conse-
A toxicidade provocada por óxi- corrói gradativamente a membrana moglobina. qüências na saúde de seus mora-
dos de nitrogênio e seus derivados é dessas células, matando-as preco- Resultados similares a esses oh- dores.
• do ()qlartammto de Biologia da UNESP, ma
Sjo J~ do RJo Prdo.
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Processo de transformação de oxihemoglobina em meta- e sulfohemoglobina. A esquerda, vê-se um gló-
•
bulo vermelho oxigenado e, em seguida, as moléculas de oxihemoglobina no interior do glóbulo vermelho .
Na parede do glóbulo, vê-se o oxigênio que nele penetra. O terceiro glóbulo já apresenta a penetração de
nitrogênio e enxofre, representados por material escuro na parede do glóbulo. A oxihemoglobina é trans-
formada em metahemoglobina (moléculas cinzentas) . No glóbulo à direita, vê-se a última etapa do
processo: a metahemoglobia é transformada em suHohemoglobina (moléculas pretas) e, em conseqüên-
cia, a parede do glóbulo se transforma, antes de sua destruição precoce.
•
~
núcleo inicial da ci-
~ dade era um pequeno
..
,§
porto canoeiro de
:> fundo de estuáno, que no pas-
~ sado facilitava a hgação entre
,g ,., CAI"/V..-.1 Santos e São Paulo de Pirati-
1 ~==~==========================~~======~======~
1 ninga. através de um braço de
circulação por águas. Assim.
vencia-se a travessia da baixada
Mapa de Cubatão em 1852, baseado no livro Romagem pela terra dos Andradas, ocupada por uma complexa e
de Costa e Silva Sobrinho. labiríntica planície de maré, ex-
tensivamente coberta por man- urbano-industrial de Cubatão e encostas da Serra. onde uma áerea de Cubatão para as encan-
gues e por raros enclaves de ma- a falta de movimento do ar a ní- tendência ascencional da massa tas e os altos de Paranapiacaba.
tas baixas (com figueira~ e paJ- vel da superfície criam um boi- de ar quente. frente à barreira os efeitos da poluição para a
máceas). Por mais de três sé~ são de ar quente na base da topográfica da Serra. cria um saúde pública do homem-habi-
culos, o delta intralagunar. en- coluna atmosférica. sujeito a efeito de chuva~ ditas orográfi- tante de Cubatão seriam muito
tremeado por mangues e gam- movimentos locais de convec- cas. partrcu larmente importante mais danosos e irreversíveis. a
• boas. impedia a circulação ter- çao e a inversões térmicas sufo- em serranias tropicais. como é o nosso ver. A capacidade da ve-
restre e se comportava como es- cantes por ocasião das varia- caso de nossa Serra do Mar. getação para reststir à poluição
paço ecológico limitante a ativi- ções diurnas e estacionais das A conseqüência dtsso tudo é é geralmente mais forte que a
dade econômicas produtivas. temperaturas . Nesse perigoso que o forte volume de partacula- dos homens e animais. Em
As condições climáticas des- esquema de movimentos locais dos e de gases. elevados pelo ar Paranapiacaba. tanto no setor
se fundão da Baixada Santista. do ar, torna-se constante a re- quente e posteriormente despe- atlântico como no setor dos· 'al-
criado pela conformação da distribuição da polutção de ga- Jados peJas chuvas orográficas. tos· ' da Serra. nem mesmo a ve-
Serra do mar e de seus esporões ses e particulados em uma área afeta profundamente a cober- getação tropical. densa e exu-
e situado de 15 a 20 quilômetros muito maior do que a dos focos tura vegetal das encon...,tas e al- berante. conseguiu resistir aos
de distância dos morros e praias emissores de poluição aérea tos da Serra de Paranapiucaba. efeitos das substâncias quími-
da faixa litorânea de Santos-São propriamente ditos. Os fracos tendo sado responsável, em cer- cas e dos particuJados lançados
Vicente e Guarujá, configuram vento\ provenientes do mar. tas fases de máximo envenena- ao espaço aéreo regional pelas
um c lima urbano particular- que sopram de leste, do su- mento do ar. pelo generalizado indústrias de Cubatão. O que
mente agressivo para o habi- doeste c sobretudo do sul na fenec1mento da vegetação ar- teria acontecido. c em que di-
tante e o trabalhador industrial. direção de Cubatão-Piaçague- bórea existente desde a base ao -
mensoes, '
se os ga~e~ e parta-
Em essência, o clima é tropical, ra. têm um papel constante no topo e até um pouco além da ci- cuias emitidos pelas indústrias
quente, chuvoso e úmido, in- desvio parcial do ar estagnado e meira da Serra de Paranapia- tivessem sido jogados direta-
cluindo um aumento ponderá- envenenado que recobre Cuba- caba. somando parcialmente a mente sobre a população resi-
vel de calor nos setores urbani- tão para o lado da Serra de Para- poluição da baixada com a pro- dente de Cubatão, é um fato que
zados e nos núcleos mdustriais napi acaba. Não podendo atra- vocada pelos próprios focos escapa à nossa capacidade de
dotados de grandes áreas cons- vessar a Serra do Mar. ao atin- planálticos de poluição. avaliação .
truídas. ou focos de calor dire- gir esse fundão da baixada os Não existisse essa tendêncaa
to, como é o ca~o da refinaria da ventos atlânticos empurram o ar generalizada para desvtar par-
Petrobrás. O tamponamento quente e contaminado para as cialmente o bolo da poluição
parcial das planícies aluviais e
dos pântanos salinos outrora vi-
sitados diariamente pelas lâmi-
nas de águas das marés ocasio- J
nou a formação de uma célula
de calor à altura da parte da ci-
dade mais hermetizada pelas
construções urbanas, e células
de desigual intensidade, abran-
gendo o conjunto das grandes I
indústrias do interespaço situa- ,.,-- /
do entre Cubatão e Piaçaguera e REFlNARIA PR~SIDENTE BERNARDES
seus arredores.
No verão. o calor existente
c
no núcleo central de Cubatão.
pelo excesso de construtivismo,
e na área industrial de Cubatão-
Piaçaguera por forte liberação
de energia, ausência de vegeta-
ção intramuros e entre pátios m- CUBATÃO
dustriais, ocasiona um descon-
forto térmico similar ao de algu-
•
• mas das áreas mais quentes do
sertão do Nordeste. Razão pela
•
qual. de passagem. pode-se ex-
plicar a adaptação relativa do
-
homem proveniente do Nor-
deste às duras condições do cli-
ma de Cubatão.
A existência de células de Localização das indústrias na bacia do rio Cubatão, segundo levantamento da
calor extremado acima do sítio CETESB.
Com raiz:es nas Sociedades Melhoramentos de Ciência, chefiada pelo seu presidente, professor
VIla Parisi e Vila Socó, foi criada em 1 •• de março
Croclowaldo Pavan.
deste ano na paróquia Nossa Senhora da Lapa, a As seqüências de fotos fazem parte dos estu-
Associação das vítimas das más condições de vida dos iniciais para a reaHzação de quat"'o documen-
em Cubatão. tários para a divulgação da problemática de Cuba-
tão em todo o país, no âmbito do Proieto Cubatão.
Ao primeiro congresso da associação compare· Os filmes estão sendo preparados por Zoroastro
ceram centenas de pesso<~s,lnclusive uma delega- Sant'anna, cineasta, e Randau de Azevedo Mar-
ção da Sociedade Brasileira para o Progresso da ques, jornalista.
Pg22
•
tão é fulminante. e visrvel. Ocorre que. emprego mas pelo aluguel barato. (Em guel. Não são sequer pnsioneiros de
nas condições úmidas da região, o dió- Vila Pans1. entre 273 famí11as pesquisa- uma propriedade- e sim da condição
xido de enxofre dos gases poluentes das 47°/o vinham em busca de empre- de destitufdos. Uma em cada três cri-
transforma-se em trióxido de enxofre, go e 13o/o em busca de moradia anças em 1dade escolar de V1la Parisi
e depois em vapores de ácido sulfúri- barata.) Os que prosperam fogem para não vat à escola. enquanto a média
co, que caem sob a forma da "chuva as praias de Santos. distante apenas para Cubatão como um todo é de uma
que queima", corroendo instalações 16 quilômetros, ou para a metrópole. em cada dez crianças. Quem mora em
industriais. tendo efeitos nocivos so- São Paulo. 57 quilômetros adtante. no Vila Parisi, em resumo, segundo pes-
bre todas as formas de vida. inclusive a planalto. O avesso de uma Cidade-dor- quisa da própria Prefeatura Municipal
humana. mitório, metade dos que trabalham em de Cubatão. abrangendo ma1s de 80%
Cubatão. inclusive virtualmente todos de seus habatantes. são os agricultores
contaminação das águas os profissionais liberais, técnicos e en- expulsos do campo. peões da constru-
em Cubatão e em todo o genheiros. moram em Santos. São Vi- ção civil. depois biscateiros e subam-
estuário de Santos já atin· cente ou Guarujll . A el1te local não pregados. os construtores anõn1mos
giu índices alarmantes. mora em Cubatão. Nem o ju1z. nem o do ..m1lagre" Que por ele não foram be-
que a CETESB alega se terem reduzido delegado de polícia, nem a ma1oria dos neítciados.
nos últimos dois anos As medidas fei- professores . ''Em Cubatão mora
tas em 1980 sugerem ··substancial re- quem tem que bater cartão.·· Por isso pesar da enorme gama e
dução", diz o último relatório da CE- mesmo. o atual prefeito. José Passare- do volume de poluentes
TESB. No entanto, essa afirmação é li, mora em Cubatão. mas não conse- descarregados em Cuba-
baseada em um número muito peque- gue que seu exemplo seja seguido tão. é relativamente fácil
no de medidas. com desvios muito pela maioria de seus auxiliares ime- estancar substancialmente esse pro-
grandes em relação à média. E esses diatos. cesso de degradação amb1ental. E o
desvios demonstram a presença fre- O municipio tem uma das maiores motivo é simples: o número de empre-
qüente de metais. em concentrações rendas per capita de todo o país. A sas envolvidas é pequeno, assim
superiores aos padrões de controle prosperidade dos cofres municipais é como o número de processos respon-
ambiental. visível na modernidade dos edifícios sáveis pela maior parte da poluição. A
Estudos de L. R. Tommasi. do Insti- públicos. mas a isso se contrapõe a po- mera substituição do petróleo com alto
tuto Oceanográfico. revelam a pre- breza da vida comunitária. especial- teor de enxofre por petróleo BTE (Bai-
sença de até 4,6 partes por milhão mente nos fJns do semana. quando a xo Teor de Enxofre) faria cair substan-
(ppm) de mercúrio em vísceras de cor- cidade se esvazia. E é exatamente cialmente os índtces de polutção at-
vina. dez vezes mais que o máximo nesses fins de semana. ou durante a mosfénca. O governo relutou por mui-
permitido (0.5 ppm). e quase metade noite, que ocorrem os grandes surtos to 'tempo em autorizar essa substitui-
do teor fatal encontrado nos peixes da de poluição atmosférica, quando as fá- ção. proferindo a exportação do petró-
baía de Minamata. O mesmo se deu bricas aproveitam a ausência das au- leo BTE que a Petrobrás produz na
como o teor de cobre nas vfsceras de toridades para descarregar poluentes. Bahia, gerando um lucro estimado em
tatnhas (57,5 ppm). Tommasi detectou 1,4 milhão de Ooláres por dra.Esse é,
também altas concentrações de zinco portanto. um dos preços que a popula-
s piores efeitos da degra-
em ostras e de cádmio, um dos polu- ção de Cubatão, e a de toda a baixada.
dação ambiental recaem.
entes, mais perigosos no siri azul. paga em saúde. Finalmente, quando o
como sempre. sobre os
Se os ensinamentos do caso de Mi- Conselho Nac1onal de Petróleo. pres-
mais pobres, em alguns
namata são válidos para o que se pas- sionado pelos fatos. autorizou a mu-
bairros colados a grandes empresas.
sa em Cubatão, o potencial de perigo nos quais ao ar envenenado so- dança. as empresas reststiram , pois
existente hoje em todo o estuário é teriam que gastar mais cerca de 418
mam-se o alagado contaminado e a au-
muito maior do que sugerem essas pri- milhões de cruzeiros mensais. se-
sência de saneamento básrco. A mais
meiras e precárias medidas. Em Mina- gundo estimativas da CETESB.
notável dessas vilas. pela pobreza de
mata, 20 anos depois da primeira des- A segunda grande fonte isolada de
suas pessoas e casas. é Vila Paris i, urn
coberta de que havia uma relação cau- poluição em Cubatão é a rocha fosfa-
antigo loteamento quadriculado. cer-
sal entre poluiç~o por mercúrio e a tada usada pelas fábricas de fertilizan-
cado por três das indústrias mais polu-
ocorrência de distúrbios no sistema tes. O simples descarregamento des-
entes da região. Nela vivem 17.000
nervoso central, ainda se tenta. com sa rocha levanta formidáveis nuvens
pessoas. que o governo agora quer re-
grande dificuldade. limpar o lodo da poluidoras, que poderiam ser evitadas
mover. Vila Paris• é tão hostil ao ho-
bala. E ainda se descobrem manifesta- com seu umedecimento prévio. Mas
mem. e láo absurda em sua localiza-
ções tardias do mal de Minamata, desde 1975. quando Cubatão foi decla-
ção. que mesmo pessoas que não tem
como altos índices de debilidade men- rada área crítica, novas fábricas de fe-
compromissos com os Interesses eco-
tal e deficiências no sistema nervoso tilizantes foram erguidas e o material
nômicos das indústrias concordam
• em crianças nascidas muito depois do importado. mais úm1do. foi subslituído
que a melhor solução para seus habi-
mal já ter sido aparentemente debela· por fosfato de Minas. sem que o go-
tantes é tirá-los de lá.
do, filhas de pais que não foram atingi- verno tornasse obrigatório seu umede-
Quem mora em lugares corno Vila
dos pelo mal. cimento. e tudo apenas mudou para
• Paris i? Em sua maioria. rnigrantes das •
pror.
zonas rurais de M inas Gerais e Per-
•
ugar eternamente provi- nambuco. Ganham entre um e dois
sório. quente e úmido. Cu- salários mrnimos. enquanto no centro xistem ainda dezenas de
batão tem apenas 84.460 de Cubatão como um todo o salário processos industriais que
habitantes. e metade dessa fica na faixa entre dois e três mfnimos. teriam que ser modificados
população é marginalizada. A maioria Em sua maior parte. são trabalhadores com a instalação de f1ltros.
chegou lá procurando trabalho em das empreite~ras que prestam serviços Mas nada disso constituí mistério,
1978 e depois ftcou. já não tanto pelo à COSIPA. Quase todos pagam alu- ex1stem as técnicas, os equipamentos
-
.......
•
•
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--~ .. -
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Aspecto de Vila Parisi. Não há vida que possa resistir a tamanha concentração de poluentes.
e até o dinheiro a juros subsidiados, de multas contra as empresas. mas benefício. mesmo a um custo maior. é
através de financiamento do Banco essas multas sequer são pagas. pois o que propõem setores menos com-
Mundial. Mas poucas empresas consi- são contestadas nos tribunais O pro- prometidos com o imed1atísmo do lu-
deram essa tarefa prioritária. A CO- jeto ·'Vale da Vida" é a grande resposta cro. E o que vai ser dectd1do na grande
SI PA, uma das empresas que mais empresarial ao problema, pois ao afas- batalha ecológica de Cubatão é exata-
poluí o ambiente. já tem prazo para au- tar as populações mais afetadas abre mente onde passará a linha divisória.
tomattzar sua produção, mas não tem caminho a uma diminuição nas exigên- Não só ern Cubatão. mas em todo o
prazos tão rígidos para ehminar a ema- cias de padrões ambientats. ~ tudo •
pa1s.
nação de poluentes. As prioridades urna questão de custo versus bene-
continuam sendo econômicas. e não fíCIO .
t1umanas. Reduzir o custo do benefício, é a •Bcroardll Kucinski , j ornalista, é colabora·
A CETESB vem aplicando dezenas preocupação empresandl. Aumentar o dor de Ciência H oje.
..
cágado surge nos pnmer- em buracos e não eram ma1s v1stas deste bras1lotro para atingir a costa
ros capítulos de Vmhas da O paparroxo se transformava no ra oeste da Áfnca . (Ftg. 1).
tra, e Joh
. n S tet n beck o borrutvo durante o inverno porque, Um outro exemplo de onentação
utiliza como elemento de como era observado. durante o verão anrmal. bastante difundido e conhe-
continuidade de sua narra- somente os primeiros eram v1stos. cido, é o do vôo de retorno à casa rea-
tiva. Em diversas partes do tnícro da Outras transformações deveriam lizado pelos pombos. Quando estas
obra, Ste1nbeck descreve o caminho ocorrer. para se expl1ca r o desapare- aves são soltas longe de seus pom-
atribulado do cágado. Tom Joad. o cimento de todos os indivíduos de bais. iniciam um vôo que tem como
personagem central do romance, uma espécie em certas estações do objettvo voltar aos pombats de ori-
mantém o animal preso ern seu ca- ano . gem Várias corridas de pombos são
saco. enquanto anda para o local Observações recentes mostram realtzadas anualmente. e a prectsão
onde sua família morava . Ao encon- que tartarugas-verdes nadam cerca com que eles voltam ao lar é Impres-
trar a casa deserta, Joad solta o ani- de 2.000km. deixando a costa bra· sionante e despertou o mteresse de
mal, que esteve preso. sem v1são, stletra para desovarem em uma pe- muitos pesqutsadores. Para esta VIa-
durante longo tempo. Quando. final- quena praia da ilha de Ascensão. no gem de volta, o pombo emprega to
mente, está liberto, o cagado retoma mero do oceano Atlântico. Os ovos das as suas energras. podendo voar
o sou caminho anttgo, andando na são enterrados nas areias da praia e. distânc1as de algumas centenas de
direção do sudoeste. assim que os filhotes nascem. cor- quilômetros a uma veloc1dade média
Outros animais apresentam a rem em direção ao mar fugindo das de 70km/h. Pombos treinados rara-
mesma capacidade de se orientar, gaivotas que os procuram como ali- mente se perdem, mesmo quando ja-
mesmo em condições adversas. As mento. Esses filhotes já nascem com mats executa ram a t ravessia . Não
grandes rotas migratónas de várias um senso de orientação fundamental prec1sam conhecer a geografia do
aves são um exemplo. Durante cer- para a preservação da espécte. terreno para encontrarem sua rota .
• tas épocas do ano, inúmeras espé- A andorinha-do mar voa semestral- Estudos realtzados em pombos por
cies de antmais iniciam uma viagem mente cerca de 90.000km, saindo de dtversos ctenttstas mostraram que
que as levam a regiões distantes. regiões próximas ao Polo Norte. atra- essas aves utilizam vános mecams
•
Este fato intrigante já preocupava vessando toda a rcg1ão tropical, e, fi- mos de onentaçáo. Em dias claros,
• Aristóteles. que em seu tratado bioló- nalmente. chegando as regiões frias usam a posição do Sol de alguma
gico História dos ammais abordou o da Antártida. Quando o verão termina forma. são capazes de saber qual é a
assunto em varies pontos e propôs no hemtsferio Sul. elas iniciam stJa• hora do dia e a época do ano a fim de
algumas explicações. Depois de ob- jornada de volta. Durante este percur- identificar, através da obseNação do
servar que as andorinhas desapare- so. são capazes de voar longas dis- Sol, o local em que se encontram e
ciam durante a estação fria, Anstó- tâncias sobre o mar. atravessando o qual direção devem tomar para retor-
teles concluiu que elas se refugiavam Oceano Atlântico na altura do Nor- nar ao pombal. Estudos realtzados
•••
••••
-·•"
•••• -
TARTARUGAS-VERDES
Figura 1. Algumas rotas migratórias das andori- setembro. Durante o verão do hemisfério Sul,
nhas-do-mar e das tartarugas-verdes. As andori- elas migram para regiões antárticas. As tartaru-
nhas-do-mar são provavelmente as aves que fa- gas-verdes empreendem uma viagem de cerca
zem o maior vôo de migração do planeta., Elas de- de 2.000km para desovarem na ilha de Ascensão,
sovam na costa nordeste da Europa, na Asia e na no meio do oceano Atlântico.
América do Norte durante o período de junho a
Pg 28
· ~=------
ganismos deste reino há mais de 3,5 regiões. feita por Blakemore e R.B . mos microscópicos de cerca de 1Of-1.
bilhões de anos . Frankel. do Instituto de Tecnologia de (1 O milionésimos de metro) de d â
Apesar de aparentemente s im- Massélchusetts (MIT). mostra que metro, e possuem dois flagelos. São
ples . as bactérias são organtsmos elas são cnstais de magnetita com di- organismos clorofilados, e por isso
complexos, capazes de um compor- mensões que vanam entre 400 e considerados vegetais. Contudo. são
tamento bastante elaborado . Entre 1 .000 Ângstróms, . ou seja, quatro a flagelados e poss uem movimento.
as bactérias. existe um grupo. prova- dez milionésimos de centímetro. O São quim1otácticos Como as mar ipo-
velmente o mats recente na escala número de cristaiS por célula varia en- sas que. ao perceberem a luz. voam
evolutiva capaz de se movimentar no tre 6 e 1O para os cocos e entre 15 e para peno da fonte. estas algas na-
meio; são as bactérias flageladas, 20 para os espirilos Por sua dimen- dam para regtõe s ma is clara s. Ou
que utiltzam os filamentos longos e são. esses cristais btomineralizados seja. são também forotácticas . En-
delgados (flagelos) que possuem pre- situam-se na estreita região dos mo contram-se geralmente crn águas do-
sos ao corpo para nadar. Esses orga- nodom fnios magnéticos (ver figura ces . constitumdo um gênero com
• •
ntsmos procuram os nutrtentes e 5} . rnais de 500 espéctes.
possuem alguns sensores capazes Células coletadas numa determi- Há cerca de um ano começamos.
de. por exemplo. informar se a quan- nada região apresentam cadetas cris- com J . Danon e P. H. A _ Awgáo. do
ttdade de oxtgênio no meto está au- talinas praticamente idênticas. com o Centro Brasiletro de Pesquisas Físt-
mentada ou nao . Esses sensores. si- mesmo número e dimensão de cris- cas. a estudar o fenômeno da magnP-
tuados na membrana da céluta. for- tats . Normalrr1ente. a microscopia totaxia em mrcroorgan ismos na re
necem dados para que ela reaja a es- eletrôntca mostra duas pequenas re- gião do Ato de Janeiro. Este trabalho
tímulos externos; deste modo, uma giões escuras situadas no fim da ca - nos levou a fazer um estudo sistcmá-
bacténa pode evttar regtões em que a dcta, uma indicação de que os cnstats ltco. que mostrou a exts tência de or-
•
concentraçao de um determinado estão sendo formados no in lerior da gan1smos que apresenlarn resposta
composto químtco é alta. Este tipo de célula . Em geral estes cristais for- .
ao campo geomagnettco nas aguas '
deslocamento é chamado de tac mam uma cadeia linear. mas podem da lagoa Rodrtgo de Frettas Um des-
•
t1smo. e constttut uma resposta a um ocorrer outras distribuições (em L, tes organismos for tdentificado. por
estimulo externo. Quando um orga- ern X). conforme se pode ver na fi- L.P.H. Oliveira. do lnstttuto Oswaldo
nismo responde à luz, chama-se de gura 4 . Cruz como sendo uma alga verde do
fototactismo Quando responde a gênero Ch/amydornonas. Essa ob-
. - .
vanaçoes qutmtcas. como no exem- servaçao constitui a prirne1ra evtdên-
a escala evoluttva, o passo
plo acima. de quimtotactlsmo. cta de um organtsmos untcclulat
mats Importante para o de
eucanoto magnetotac ttco (figuras 7
senvolvimento do ser vtvo
e 8).
ara o estudo da percepção ocorreu há cerca de 1.3 br
magnéttca em se res vtvos, lhão de anos. quando apare-
teve grande importânc·a a ceram as pnmeiras células que conti- as o que é ser sensível ao
descoberta, feita em 19/4 nham material genético envolto pór campo geomagnético? O
por R.P Blakemore. da Unt uma membrana no interior do Gtto- que é ter uma rcspoc;ta ao
versidade de New Hampshtrc. de plasma, o núcleo. Estes organismos. campo rnagnéttco '? O que
bactérias que apresentam um tipo de ainda untcelulares. têm uma organi- é magnetotaxia?
tactismo ate então desconhecido, zação bastante mais complexa do Como foi dito anteriormente, a mi-
que recebeu
•
o nome de magnetotac- que as bactérias e algas cianoficeas croscopia eletrônica de bacténas
tlsmo ou magnetoraxia Essas bac- e, provavelmente , possibilitaram magnetotácttcas apresenta uma ca-
ténas. encontradas em regtões logo toda a evolução posterior dos seres dela de cnstats de magnetita. Estaca-
actma do 'fundo lodoso do lago de vtvos. As bactérias e algas dano f 1- deia functona como uma microscó-
Woods Hole. em Massachusetts. ceas são organ ismos chamados pro- pica agulha magnettzada. situada no
são influenciadas pelo campo geo- cariotos (de pro-antes, e karyon-nú- Interior da célula. O organismo está
magnético. como descreveremos cleo), ou seja. desprovidos de núcleo em suspensão na água. e dessa
adtante. celular. enquanto todos os outros forma functona como se tosse uma
Pesqutsas postenores mostraram seres vivos conhecrdos apresentam bússola . O campo magnétiCO alinha a
que bactérras magnetotácticas são células com núcleos. e são chama- cadeia cristalina, e os flagelos produ-
• bastante comuns. sendo encontra- dos eucari otos (eu-verdadeiro) . A zem o movrmento. Asstm, bactérias
das nas famas esférica (cocos). cilín- descoberta do n1agnetotactismo em e algas nadam na direção determi-
dnca (bastonetes) ou esptralada (es- bactérias constitui um importante nada por esse campo . Mesmo
plrílos). O exame destas células ao avanço no estudo do biomagne- quando mortas. as bactértas e algas
•
microscopto eletrôntco mostra a exts- ttsmo. Mas o estudo de organismos se orientam, mas não se movimen -
tência de regiões escuras. cada uma eucariotos un:celulares pode forne- tarP, o que mostra que o movtmento
delas de forma geométnca bem defi- cer dados novos para a compreensão é produzido somente pelo flagelo.
ntda (em alguns casos cubos e, em da influência do campo magnético Tudo indica que a cadeia cristalina
outros. prismas de base hexagonal). sobre o comportamento de seres é paralela à direção do movimento .
envoltas por uma membrana e situa- mais complexos na escala evolutiva . Existem dois tipos de microorganis-
das no interior da célula (figuras 3 e Algas verdes unicelulares do gê- mos sob o ponto de v1sta da orienta-
4). A unálise espectroscóptca dessas nero Chlamydomonas são organis- ção magnética : os que nadam na
..,
C)
Pg 30 Julho/Agosto de 1982 .• 1 A no 1
conduta e age. levando em conta to-
dos os estímulos que está perce-
bendo O pombo. as abelhas e várias
outras espécies animais apresentam
uma sensibilidade mu1to grande à al-
teração do campo magnético. sendo
afetados por alterações locais ou por
tempestades magnéticas solares
que produzem uma variação de al-
guns centésimos no valor do campo
da Terra .
Os trabalhos nesta área mostram
que o fenômeno de b10m1neralizaçáo
de magnetita é mutto comum em
• Figura 7. Algas magnetotácticas aglomeradas na extremidade de seres vivos O estudo da res;"'OSta ao
uma gota d'água por ação do campo magnético. campo magnét1co em antmais ainda
se encontram em sua fase inicial.
mas trabalhos realtzados por R. R. Ba-
ker. da Untvers1dade de Manchester.
indicam que o homem possui um
sent1do de onentação magnét1ca que
normalmente não é cons1derado. Es-
tes trabalhos, entretanto. são ques-
tionados por alguns pesquisadores. e
será necessário intenSifiCar a pesqui-
sa nessa área para que se possam co-
nhecer novos aspectos das potencia-
lidades do homem .
Figura 8. Detalhe ampliado de algas magnetotácticas da lagoa Rodri-
go de Freitas. ssim como as bacténas e
algas magnetotáctrcas, as-
Já no caso da magnetotaxia. esse a quantidade de magnetita encontra Sim como os pombos que
procedimento é bastante simpl ifi- da nas bactérias estudadas e sufi- retornam ao lar nos d1as e
cado e a eficiência do deslocamento Ciente para fornecer uma energta de no1tes nublados, as andon-
é várias vezes ma1or Como o campo interaçao com o campo geomagne- nhas. as tartarugas. as abelhas, o cá-
geomagnético interage com o orga- tJco cerca de doze vezes maior que a gado de Vinhas da ira e talvez o ho-
ntsmo e reduz as poss1b1l1dades de energ1a térmrca . Cálculos fe1tos atra- mem utlltzam o campo geomagné-
movimento, a bactéria está restnta a vés da dinâmrca do movtmento mos- tico como importante elemento para
andar somente acompanhando as li- tram que as algas magnetócticas de- sua orientação Esta percepçao do
nhas de força do campo, e ass im vem possuir uma quantidade de mag- campo magnét1co terrestre mostra.
deve. decidir se nada numa d1reção ou netJta dez vezes maior que a das bac- . . .
mats uma vez, que os organ1smos VI-
na outra. Trata-se de um mecan1smo térias . Durante a divisão celular. vos estão mtimamente l1gados ao pla-
•
ma1s efiCiente, porque poss1bl11ta que quando a célula se divide em duas neta. formando um todo rntegrado,
a célula nade distâncias maiores em para dar ongem a dois novos organis- conhecendo o seu meio através de
tempo menor. mos, é provavel que a cadeta de cris- uma expenêncta herdada de seus an-
Neste mundo microscópícot neste tais também se d1v1da aproxtmada- cestrais O ser v1vo é a memória v1va
mundo em que os organ ismos são mente ao me1o , perm itindo , dessa da Terra. memória desta aventura
somente 50.000 vezes maiores que forma que as células-filhas ainda que se iniciou há uns 3.5 bilhões de
as molécutas de água, qualquer varia- possuam uma orientação eficaz . anos. quando surgiram as primerras
ção do meio produz alteração no mo- células.
vimento. Efe1tos de temperatura são magnetotaxía ó um dos
importantes. po1s são responsáveiS mecanismos de resposta • Doutores em Oslca , p~squhadore s-assc1clados do
Centro BrasHtlro de Pt!>qul as Fislcas I CNPq , Rio de
pelo movimento desordenado de agi- ao campo geomagnétrco Janeiro.
tação das part1culas descoberto por em alguns seres v1vos. As /
•
• R. Brown no século XIX {movrmento bactérias e algas magneto- SUGESTOF~ PARA LEITURA:
brown1ano). Bacténas e algas apre- tácticas apresentam esta resposta Chauvin. Rémy . .4 NoiOJ:ia: e5ludoblol6jdco
do comportamento animal. Zahar. tm.
sentam este movimento desorde- passtva ao campo, que não depende Blak~more, R.P., e Fnmkel, R.B. "Magnc·
nado que compete com todos os mo- de nenhuma função vital. li c Navlgatlon in Bacteriat". Scientific
vimentos onentados . No caso de or- Há md1cações de respostas muito American, dezembro de 1981, vol. 245 n .• 6.
Gould, J .L. •'The Case for Mugnetic Sensili·
ganismos magnetotácticos, a ener- ma1s elaboradas em outros seres vi- 'Yity in Blrds and Bees (such as 1t i~ )".
gia de Interação magnética deve ser vos . Os pombos apresentam uma American Scientist, 1980, vol. 68.
Lowenstam, H.A . ••Mineral~ Formed b)
maior que a energia térmica para que resposta mdireta em que, diante do Organisms". cience, 1981 , 'oi. 211.
haja uma orientação efet1va . De fato, campo magnético, o animal elabora a
Pg 34
variações regionais, ele tem priville- ainda hoje uliliza. com alguma fre-
giado muito mais a primeira alterna- qüência. esta oposição como etxo
tiva, dando primazia à habilidade indi- para a hierarquização de indivíduos e
vidual sobre o jogo de conjunto. Isto. grupos.
como já foi dito. faz com que a com-
petição apareça. no nosso futebol. de as o talento tarnbém pro-
forma extremamente individualizada. porciona a jogadores vtn-
o que acentua o paralelismo que VI- dos muitas vezes de fa-
nha estabecendo com a doutrina li- mílias pobres a oportuni-
beral. Com efeito. o mdividualisn1o, dade de uma rápida e con-
elemento básico desta doutrina. en- siderável ascensão social. pois asso-
contra no futebol um dos contextos mas envolvidas nos contratos assina- L
em que sua aplicação. em nossa so- dos nos clubes da pnmeira dtvtsão
ciedade. é mais legítima e difundida. podem ser bastante sígnificntivas .
Mas esse paralelismo pode ser le- Essa chance de mobilidade, ofere-
vado ainda mais adiante. Para tanto. cida pelo futebol. não só reafirma seu
basta obsFrvamos que. ao op•ar por caráter individualista e democrati-
um jogo fundado na técnica no Indivi- zante como também parece ser uma
dualismo dos atletas. o futebol bra- das principais responsáveis pela atra-
sileiro acaba por dar uma importância ção que ele consegue despertar.
especial ao talento de cada jogador, e Na verdade, a posstbilidade de se
esta categoria possui algumas carac- ganhar muito dinheiro em po•JCO
tPrístlcas que aprofundam. Significa- tempo. particularmente quando as- O futebol dá aos jogadores a possibili-
tivamente. o sentido igualitano e li- soctada à 1magem do futebol como dade de ganhar muito dinheiro em
beral do futebol. uma atividade na qual o trabalho vem pouco tempo. Os contratos e os ga-
nhos dos atletas mais destacados são
A prime1ra delas liga-se ao fato de conjugado com o prazer. suscita. fatores que suscitam o interesse de
•
que o talento é um "dom" natural. aparentemente. o tnteresse e a Ima- amplos segmentos de nossa socie-
congênito e intransferível. Ele pode. ginação de vários segmentos da nos- dade.
portanto. "atingir" impessoalmente sa sociedade. Prova disso é a preocu- tal ao mundo do futebol quanto as pri-
indivíduos situados em qualquer fai- paçdo que. muitas vezes. cerca a re- meiras. Trata-se do fato de ser um es-
xa da.soc1edade. desconhecendo in- novação dos contratos dos grandes porte de massa, capaz de congregar
teiramente dtferenças de nasci- jogadores. o debate público em torno multidões em torno de si. Assim. é
mento e de riqueza. O talento. então. da justiça ou in just1ça das suas pre- natural que estudemos as caracter is-
consegue reaf1rmar a dimensão de tenc:;ões e das propostas dos clubes. ticas que irão definir a torcida dentro
mocrát1ca do futebol, po1s abre a pos- Vale notar. além disso. que esse do mundo do futebol.
Sibilidade de que pessoas situadas "d:nhe ro fácil'' que o futebol parece E: Importante notar, desde logo,
em diferentes postções sociais. propo rcionar tem sido. nos últimos que a análise da torcida parece, tam-
mesmo nas ma1s humildes. tenham anos, relativamente estendido à tor- bém. acentuar ainda ma1s a caracteri-
acesso a uma carreira que pode ser cida. através da criação da loteria es- zação do futebol como um contexto
extremamente gratificante e, em ter- portiva. A loteria. de grande sucesso democratizante De fato. a própria ca-
mos financeiros, altamente compen- no país, quebrando freqüentemente. tegoria massa nos remete a uma
sadora. segundo a imprensa. recordes inter- idéia de igualdade e indiferenciação.
Gratificante porque. em primeiro nactonats de arrecadação. dá a im- Ela implica uma preocupação muito
lugar. o futebol é uma profissão que pressão de operar a partir de princí- maior com o número do que com a
mistura o trabalho com o prazer, pois pios muito semelhantes aos que são qualidade diferenciada dos
os atletas, em geral parecem gostar encontrados no 1 m unrlo do futebol. espectadores; ou melhor. ela parece
do que fazem. e JOgam bola. como se Ela joga com a sorte e com o conheci- partir do princípio de que todos. num
sabe, até mesmo durante suas férias. r.nento que os torcedores têm do fu- estádio, são. antes de mais nada. tor-
Além disso. não devemos esquecer tebol categorias tão democráticas e cedores. d~ixando de importar. no
que o talento, embora exija. para se impessoais quanto o talento. Afinal, momento do jogo, se são doutores.
expressar uma condição ffsica sin- qualquer um pode ter sorte, e. se- funcionánocs. operários ou profes
• gularmente apurada. implica em qua- gundo a convenção, todos. no Brasil. sores A ênfase. portanto. abandona
lidades bastcamente "espirituais" . A parecem entender de futebol. a d1ferenc1ação e a qualidade para
técnica é "jeito". e não "força", e concentrar-se. fundamenta lmente.
' pode realizar-se em qualquer jogador, - - ssa referência à torcida me con- na quantidade
'
mesmo nos mais franzinos. o que faz duz diretament e a um terceiro A torcida. ass1m. possuí a proprie-
com que o talento consiga superar, ..,..___ ponto que gostana de discutir. dade de reunrr. · na mesma massa",
' de certa forma. a velha oposição en- ......__ Com ela, deixamos a análise das pessoas situadas em posições so-
tre trabalho intelectual e manual. E • •
categon1s 1nternas ao 1ogo. ciais extremamente diversas. homo-
esta é uma característica nada des- como a competição. o talento e o indi- geneizando. em torno dos clubes, as
prezível numa sociedade como a bra- v1dualisn1o. para 0ntrar no debate de suas diferenças. Nesse processo.
•
sileira. de tradição escravocrata, que uma outra dimensão. tão fundamen- um mecanismo extremamente 1m-
•
C_ _ _ _ _ Anthnny SeeJ!er * )
____,
cas sao dos espíntos A mús1ca é to plícita da música preenche o vazio cri- Sicais são mome ntos focais para a
ca da para colocar a a ldeia dos ho- ado pelos efeitos do alucmogeno. c clara definição de relações econômi-
mens numa relação apropnada com possibilita uma nova percepção da cas. d.~ parentesco e de rntercâmbto
~
os espíntos e. assim, garantir a conti- vida. Um cantador Kampa no alto no entre i:Adivíduos e grupos
nuidade da sociedade. AqUI. a estru- Juruá, no Acre, disse · "Não cons1go Um suyà me expl1cou uma vez.
tura peculiar da mus1ca, sensivel- cantar essas canções a nao ser "Em nossas festas nós cantamos
mente diferente da da fala. faz dela quando tomo ahuasca. " E enquanto mutto e comemos muito. " Essa co-
uma expressao de um t1po de ser d1 ele e os membros da sua comuni- mida é geral me n te recebida das
ferente A mus1ca. neste caso. é o dade tomaram a infusão. as suas can- mães e irmãos dos hom ens. e não
veículo através do qual o invisível se ções ganharam em força e estrutura. das suas esposas ou parentas porca-
comunica com o visível e vice-versa e através delas ele dtnglu as expen samento. como ocorre no cotidiano
ênc1as dele própno e dos outros. No Da mesma mane1ra. os homens es-
xamanismo. a música é f reqüente- tão cantando "para as suas rrmãs" .
mente o caminhho que leva o pajé ao Num certo rnomento. numa festa
as sociedades indígenas do outro mundo . A música. ass1m, fa Suyá, todos os homens devem rece-
alto rio Negro. na fronteira vorece o contato com as "verdadei- ber no pátto urn pouco de comtda de
com a Colômbia, assim ras" forças do cosmos. e a interpreta- todas as suas" rmds" A categona de
como nas comunidades ção e a onentação das alterações de mu l he r es chamadas ''irmã"
das regiões fronternças en- percepção que acompanham o uso (kandikworyl) inclu, não somente o
tre o Brasil. a VenezueléJ c o Peru, o de drogas. que chamamos de irmãs, mas tam-
uso de alucinógenos como parte das bém um grupo de pnrnas de primeiro
cenmõnias é mu1to comum e antigo. a quarto grau (chamadas primas para-
A droga encontrada com ma1s f re- esses três casos. escolh1dos lelas em antropologia) . Mas os ho-
qüência é a ahuasca, ou Banisteriop- pela sua diversidade e simpli- mens não devem receber com1da de
sis caapi, cuja infusão é m isturada ficados para enfatizar so- qualquer mulher com a qual tiveram
com outras plantas para propici::Jr VI- mente um aspecto da mú- relações sexua1s. Como ele pode ter
sões especialmente coloridas O con- sica em cada caso, é possí- mantido relaçoes sexua1s com algu-
sumo de ahuasca e de outras drogas vel ver três mane1ras em que. nas mas dessas pnmas desde a última
é quase sempre feito em conjunção ocasiões em que a música aparece festa. há considerável interesse por
com cantos recitativos, ou música de nas sociedades indígenas. ela faz parte de todos os Suyá em ver de
flautas ou chocalhos . Para os Jívaro parte da estruturação e da reordena - quem um homem va1 detxar de rece-
do Equador, a v1da cotrdiana é uma ção de relações de diversos tipos. Em ber comi da desta vez . Nesse mo-
"mentira''. ou ilusão : as forças verda - todas essas sociedades. os eventos mento da festa. há úma reestrutura-
deiras que regulam os eventos são musicais também fa7.ern parte da re- ção pública das relações entre um ho-
drção e a soc1edade Suyá é o quanto pos1ção e a forma que tem"} " Essas
usamos a fa la e a escrita o nde os questões ai nda não têm respostas. /
SUG I<:S TÜES PARA LEITU RA:
Suyà usam mús1ca . Nossas relações Somente uma análise com parativa
socra1s sao governadas por contra- das sociedades e dos seus dtversos
A YT A I. D . 1~7ó . O M ,,,tf,
.\mwro \m·unu•.
Ti..:).C de Livrc-Dc>cêm:ta, Pontifícia Un iver,í-
tos. nossas comunicações com Deus modos de comuntcação pode nos le- tlaue Catúlu:a de Cunlplm''·
são g~•ralmente faladas e nossas dú- var a entender melhor não somente
BASTOS. R 197X A musH·o/úgic·u Kamavu-
vidas individuais são freqüentemente por que os índios ca ntam. mas por ra Hra-.ili:l. Fundac;ito Nanonal tlu lnúiu .
atend1das pela ps1canálrse. que é alta- que o fazemos de forma diferente .
CA MÊU. H 1977 . lntrodurtio ao t•.\ tudo da
mente verbal. Há tipos de m úsica na 11/tl\ic o indtgc>na /Jrawlt·11·a Rto de J aneiro .
soctedade oc1dental que não encon- Cun,clhn Fcdcr;tl ~k Cuhur;t c Departamento
t ramos nas soc1edades indígenas: ara concluir. devo o bservar de t\!>..,untm. Culturai' .
músicas de protesto e de crftica so- que embora este arttgo trate DOHK IN m- RIOS. 'v1 . c I KA r; . lt>75.
cial. Usamos muito a música para cn da mús1ca indigena, ele tam- . ~omc Rcla iiUthhtp' fktv. ccn Mu'it: and
bém aborda o método ctentí- H~tlluurwgcnic Rttual. f hc · J unglc Gy m' in
ticar a sociedade, ou oferecer uma al-
c,,n ...l:iuu .. nc,,·· 111 J:. f"/10\ vulumc J. nu-
ternativa à mesma, mas pouco para fico e m antropolog1a . A 1n lllCIU I . pp 64-7ft .
constrUir a própna sociedade. A Im- vestigação começa com a pesquisa
bibliográfica. mas a própria formula- HARNER. M 1974 . "Tbc Soundo/RtHhtllf.:
portância da mustca nas soc1edades ~\ ou r·· 1 n P L Y''" ( org l A'atn t' ~t~utlt
mdigenas resulta dela ocupar um lu- ção das questões para investigação Attl('rictm\ Bo~10n. Líull.:. Bmwn. & Co .
gar diferente do que na nossa . Ela faz f reqüentemente se faz em contato pp 276-2X2
parte da construção e da reconstru- com uma dada realtdade soctal, atra- S f· f~Gf.R . A 1977. ··Pnrt.tuc os tntltU'\ Suya
canlum p<H<I a~ sua., trmfts',. ·. tn (i . Ve lhu
ção constante dessas comunidades. vés da "obse rvação pa rticipante ". (url.!. 1. Artt' r .w < wdade: Nl.\mo.\ dt• wciolo
~
Em antropologia, descobrimos que Das conclusões sobre uma socie- '(ia doam Río de Janeiro, J:ahar. pp. J9-ó3 .
as d 1versas sociedades no m undo se dade se parte pa ra uma análise das di-
SI--EGER. A . 19XO Q., lmlim e Vm Rio de
organizam de mane1ras diferentes , ferenças e semelhanças entre socie- Janeiro. Euitnra Campus.
com 1nst1tuições e valores próprios . dades ma1s próx1mas (por exemplo,
os grupos md ígenas no Brastl) e para S l· EGER. A c a COML:NI DADE S L:Y Á
O fato de haver estruturas de som e I 982 . \f1hic a ;ndf~ena a a rte \or al dw
tempo que chamamos "mus1ca" em uma auto-reflexao em relação às tra ~ Suvâ ( Dt-.co com encartcl Suo Jnãn dcl Rei
duas sociedades não quer drze r que a dtções octdenta1s Neste momento, Etltçl.lCS Tacapc 007. C.ompra~t pelu rccmhol-
<.u J}\)Stal : 1 acapc. ( aJxa Pmlôll I 12 São Joân
sua importâncra e papel sejam os tenho formu ladas uma séne de htpó- dei Rei. Mi nas G.:nu-. . CEP 36.300
mesmos . teses, que esperam crítica ou apoio
...
- l ~-
•
I
-
I
Com suas 352 amostras, algumas das quais apare- Busca-se desenvolver a investigação antropoló-
cem nestas páginas, a seção de arqueologia tem gica, segundo dois critérios: 1. estudos e pesquisas
por objeto promover e intensificar as pesquisas para o melhor conhecimento do homem na Ama-
nesse campo para a obtenção de uma visão global zônia, incluindo populações indígenas em seu pro-
da Pré-História e do desenvolvimento cultural na cesso de aculturação e mudanças; 2. formação e re-
área da Amazônia legal brasileira (estados do Acre, novação de quadros técnicos, atraindo estagiários
Pará, Rondônia, territórios do Amapá e Roraima, de vários cursos.
além de áreas de Mato Grosso, Goiás e Maranhão).
f
I
C Roberto Lent*
~---------------
)
o exato momento em que mem, o céreoro adqu iriu um signifi- organtzações soc1ais.
você lê este artigo. bilhões cado a1nda maior. com o aparecimento As Sinfonias, o futebol, as armas atõ-
de untdades biológicas em das capactdades Intelectuais que o di- mtcas. quadros e poemas são resulta-
seu cérebro .dtsparam im- ferenciam dos outros antmais. A exis- dos da Interação do cérebro do homem
pulsos elétricos em todas tência do anim al-hom em desligou-se
as direções. através de circuitos capa- com a sociedade. Entender o cérebro e
do imediato. do biológico. Suas ativida-
zes de conduztr e processar a informa- des já não se destinavam mais apenas suas realizações é portanto um desaf1o
ção codtficada por esses tmpulsos Seu à sobrevivência individual e à reprodu- e uma n ecessidade para o conheci-
cérebro está em pJena ação. ção, mas atingiram níve1s inusitados mento do próprio homem.
Há muito se sabe que é no 1ntenor com a linguagem, o pensamento abs- Você verá neste art1go um pouco do
do cérebro que ocorrem os mecanis- trato, o habilidoso uso das mãos e, ao que se sabe sobre o cérebro Uma
mos que comandam praticamente to- mesmo tempo, com o aparecimento parte modesta desse conhecimento
das as atividades dos ammais. No ho- do trabalho. da cultura e de complexas foi gerada em laboratónos de universi-
gombó
pombo
cobro
•
,•
CORPO CELULAR
l
j \
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PROLONGAMENTOS
ESTÍMULO
-
w
o
o - RESPOSTA ATIVIDADE ATIVIDADE
~ ESPONTÂ NEA
..... ESPONTÂNEA
~
· ;:) I
z
I I
ESTiMULO LIGADO ESTÍMULO DESLIGADO ESTiMULO LIGADO ESTIMULO DESLIGADO
Figura 5. Acima, um desenho esquemático da ex- lha inserida em seu cérebro, captamos os impul-
periência na qual se detecta a atividade elétrica sos elétricos dos neurônios que respondem ao
dos circuitos neuronais. O animal, anestesiado, estímulo. Nos gráficos de baixo, vê-se que houve
olha para uma tela na qual se projeta um retân - resposta de um neurônio quando o retângu lo lu-
gulo de luz dentro de uma região específica minoso foi projetado dentro da região pontilha-
(pontilhada). Enquanto isso, através de uma agu- da, mas não quando incidiu fora dela.
tratada como uma película fotog ráfica hamster. captada pelas extremrdades dos axô-
comum. O resultado aparece como na Em uma segunda séne de experiên- nios s ituados na reg 1ão de injeção. e
figura 4. cias, meu rnteresse era verificar se os transportada em sentido retrógrado
A figura mostra em vermelho escuro circu1tos neurona1s se modificam após através das fibras em direção ao corpo
os pálidos contornos da região do cére- o nascimento nos casos em que o ani- celular, onde se acumula. Os cortes fi-
bro que Interessava estudar. E as ex- mal sofre lesões cerebraiS antes . nos do cérebro do antmal foram agora
durante ou logo após o parto . Em tratados com uma séne de reagentes.
tremidades dos axônios provenientes
hamsters adultos que haviam sofrido que revelam a presença da proteína
do córtex visual {que continham as pro-
lesões pennata1s. realizei uma micro- por meio de um produto colorido. Um
te i nas radioativas) aparecem como
ctrurgta como descrevi ac1ma, mas em exemplo do que se vê ao mtcroscópio
grãos brilhantes que em alguns pontos está ilustrado na figura 4 .
vez de depositar um amtnoáctdo radio-
são tão numerosos que se fundem, attvo no córtex cerebral. utilizei peque- Os grãos roxos em fundo azul são os
gerando uma enorme mancha branca. nas quantidades de uma proteína en- milhares de neurônios da região do
O estudo, complementado em outros contrada em plantas da família do raba- cérebro que aparece no campo do mi-
animats, perm1tiu conclu1r que a reg1ão nete. a enztma conhecida tecnica- croscópio. As quatro células em forma
do cérebro mostrada na figura é parte mente como peroxidase . A peroxi de' triângulo, coradas em rosa ou ver-
do circuito originado no córtex v1sual do dase. ao contrário do amtnoácido. é melho. são aquelas que participam de
(alguns milésimos de milímetro) no in- cuitos vindos das outras regiões. Sl J<a:STÜES PARA LEITURA
•
terior do tecido cerebral na reg1ão apro· VeJamos como funciona esse con- The Brain. Euiçáu Cl>pecial da rcvJ!.Ia Scu'n -
priada. Essa agulha foi conectada a um junto de circuitos no indivíduo íntegro. tific Amaica11, de ">etembro de 1979
sistema eletrôn1co capaz de amplif1car Voce Já reparou o que ·acontece
c apresentar em uma tela de televisão quando um ind1vrduo esta drstratdo e, Neurojl'.~iologia Corg<tnizado pnr R r .
SchmiJl) . Tradução de J . F . Ahcnfeider
os impulsos elétricos dos neurônios s1 digamos. um grilo pousa a seu lado. a SLiva. Edilora da lJ nivc~idade de São Paulo,
tuados nas proxim•dades da ponta da alguma drstância? De medtato o tndiVÍ- 1979.
agulha. O arranJo experimental está duo é incapa7 de Identificar a "coisa"
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maiona de nós já viu fotogra- Quadro 1 - Propriedades do Vento Solar na Vizinhança da Terra
fias de eclipses solares. como
a mostrada na figura 1 Nessas Velocidade de Expansão 300 km/s
fotos, f1ca claramente eviden- Densidade 9 6tomaslcm 3
ciada a existência de uma
extensa atmosfera solar. denomina- Temperotura dos Elétrans 150. ()()()'>K
da coroa. -------------------------------------------------
Temperatura dos Prota ns 40.()()()-K
A coroa solar é constituída de um
gás extremamente quente. com tem-
peraturas da ordem de um milhão de fluxo de partículas e rnedtram as propn- que as duas não se encontram em
graus. Dev1do a essa elevada tempera- edadPs fíctcas do vento solar Alguns equ l'bno; portanto. a coroa não é
tura. a atração grav1tac1onal do Sol não dos parámetros medrdos nas proximi- aquecida pela radiação solar, devendo-
consegue mantê la confinada em sua dades da -:-erra frguram no quadro 1 se sua temperatura a outros fatores Já
VIZinhança. e a coroa se expande atra- Podemos ven f rcar que. em relação a conhectdos.
vés do espaço rnterplanetáno. dando temperatura da coroa próxrma do Sol Logo abaixo da fotosfera. ex1ste uma
ongem a um f luxo de gás poetica- (um milhão de graus). nas proximida- regrão percornda por fluxos ascenden-
mente chamado de vento solar. des da Terra os elétrons resfriaram-se tes e descendentes de maténa gasosa
A existência do vento solar foi inferi- menos do que os prótons. Isto se deve chamada de zona convectiva. Esses
da ·nicralmente em 1951 por um astro- ao fato de que. distanctando se do Sol. movimentos de matéria geram ondas
ffsico alemao. Biermann. através do a densidade do fluxo d0 partfculas dimi- acústicas que se propagam acima da
estudo das caudas iônrcas dos come- nui. ocastonando uma drmrnUtção na superfrc1e solar. podendo atravessar
tas. Esses astros podem possu1r dois f reqüência das colisões entre os elé- regiões com campos magnéticos, fa-
tipos de caudas. A prrmeira e constituí- t rons e os prótons. Assim. como são zendo-os osc1lar também: gera-se as-
da de graos de poetra ("gelo sujo") essencialmente os elétrons as partí- sim o que chamamos de uma onda
com dimensões de centenas a milha- culas quo transportam êl energia ter- magnetoacustica A dtss1paçào dessas
res de Ángstroms. que dispersam a luz mica e a redistribuem através das coli- ondas é o mecanismo que. segundo
solar; sua drreção é determinada pela sões. os prótons recebem menos hoJe se acredita, produz o aquecimento
orientação do cometa em relação ao energia e se resfriam . do gás da coroa à temperatura da or-
Sol e pela direção de seu próprio movi- dem de um milhão de graus.
mento orbital O outro tipo de cauda, a
chamada cauda 10n1ca. é constituída de ma pergunta que surge na- om a emissão de partí-
átomos e moléculas ionizados e se turalmente é a seguinte: por culas que constttuem o
apresenta sempre na direção cometa- que o Sol, uma estrela que seu vento, o Sol sofre uma
Sol, o que se deve à ação do vento tem uma temperatura de perda de massa, que no
solar. responsável pelo transporte des- 5 800 graus Kelvrn (ó.800 K). seu caso e n t reta n to é
sas partrculas apresenta uma coroa externa com ínfima: apenas 2 x 1O • massas solares
Com o advento das viagens espa- temperatura mutto mais elevada? A di- por ano (ver a explicação desta unrdade
cíals, naves Interplanetárias do tipo PJO- ferença de temperatura entre a coroa c na página 54) Assim, se esse processo
neer confrrmaram a existência desse a superfície do Sol (a fotosfera) indica se mant1ver durante toda a vida esti-
......-·- ·
Massas so·ares -- -- ..................
/- -
.,.,. ..... --- ----
Em astrofísica. utíli7a "c comn ..... /
09 ..... /
umdadc de meu ida de ma.''~"' a ma!)'" '/\ /
//
do Sol (2 x 10 ' ...gramas. ou
2. 000 .000 .000.000. 000. 000 t ri-
-....... \
\ I
/
08 \ I
lhôes de toneladas) Assam. para \C \ I
converter a taxa de perd.t de ma,.,,,., \ I
<iolarcs para ~ramas por 'cgundo. \ I
0 7 \ I
basta mullipllcar o número que 1\!-
\ I
mos pela mru-sa do Sol c di\ idtr o nú- \ I
mero assim ohttdo pelo mimem de 06 ' oW /
segundo~ (!01 um ano <3 :<. 10'1). No
v km /s
caso da perda de mas~a Jo Sol de-
vida ao vento '-O lar. de 2 x IO •~ ma-. - 1 l l l I I I l I
sas solares. chegaremos a I .3 x Io•: -700 -600 -500 -400 -300 -200 - 100 00 100 200 300 400 500 6(X) 700
gTanlól'\ sx>r -.cgun<.lo. ou 1.3 bilhão
de toneladas por <.,cgundo. Fig. 2 Perfil P-Cygniformado pela estrela supergigante HD 152667. Ob-
serva-se o perfil de absorção na direção do azul (à esquerda) e de emis-
são na direção do vermelho (à direita).
GA S VISTO EM EMISSA O
EM lSS AO
PAAA O 0 8 5U VADOA
••••••••••••••••••••••••
•••••••••
•••••••••••••••••
• • • • • • • • I
••••••••• ••• • •
A&SORÇAO
DESLOCADA
G A S VISTO EM A8SORÇA O f>AltA O AZ Ul
recente publicação das ta Evidentemente, essa é uma condr- quê da inevitabilidade desse cresci-
bulações avançadas do ção essenctal para se atingir a Situa- mento, mesmo que se atinja imedia-
Censo de 1980 confirmou ção que os demógrafos chamam de tamente um nfvel de fecundidade de
um fato demográftco de "estacronariedade". ou seja, uma po- mera "reposição" de gerações.
que já se tinha fortes indf- pulação com crescimento zero. limite
cios durante a última década: uma de longo prazo necessário para toda e termo explosão demo-
(f
queda vertiginosa no nrvel da fecun- qualquer população geograficamente gráfica", cujo uso se di-
didade da populaçao brasileira. O nú- limitada. fundiu tão amplamente
mero médio de filhos por mulher ao O que não é tão evidente é que, nas últrmas décadas,
ftm de seu período reprodutrvo decli- mesmo que a fecundidade da mulher descreve um aspecto im-
nou em cerca de 30°/o nos últimos brasiletra atinja o "nível de reposi- portantíss imo de nossa época e a
vrnte anos. caindo de um total de ção" imediatamente, a nossa popula- caracteriza como um perfodo sem
cerca de 6,3 filhos por mulher, em ção ainda con t inuará a crescer por precedentes na historia. De fato.
torno de 1960, para uma média apro- pelos menos mais 70 anos. só atin- nunca a humanidade passou por uma
ximadamente 4,2 filhos em 1980. gindo a condição de estacionariedade fase de igual crescimento populacio-
Asstm, a tamflia brasileira se encami- pouco depois do ano 2050 Nessa nal. quer consideremos o mundo
nha aceleradamente para o padrão de data, ela terá atingido um total de no como um todo. quer consideremos
dois filhos por casal. ou seja, para um mínimo 185 milhões de habitantes, isoladamente suas diversas regiões.
nfvel em que cada geração de pais dá ou seja, cerca de 66 milhões de pes- Descrever esse novo fenômen o
origem a uma geração de filhos exa- soas mais do que em 1980. Asstm, como "explosivo" não constitui ne- •
tamente do mesmo tamanho. A esse um pais como o Brasil, mesmo nas nhum exagêro. Segundo estimativas
nível de fecundidade. que podería- condições demográficas mais propí- de J. Durand, do ano 1 da era cristã
mos denominar de " fecundidade de cias. ainda deve esperar um cresci- até 1750 a população do mundo cres-
reposição". cada mulher gera em mento populacional tão substancial ceu de cerca de 500 milhões para um
média uma e apenas uma ftlha. que quanto mevttável nas próximas dé- total de aproximadamente 800 mi-
no tempo devido a substituirá em seu cadas. lhões de pessoas. O meio do século
papel na reprodução da população. Exammemos em detalhes o por- XVIII marca uma extraordinária mu-
-
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'-;~ ;;
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:>
40
20
dança no crescimento populacional. por mil para a primeira metade do sé- Para o ano 2000, as projeções mais
verificando-se uma acentuada acele- culo XX. As estatfsticas para o perío- plausrveis indicam uma população
ração na taxa de crescimento que. de do mais recente são ainda ma1s dra- brasileira entre 160 e 180 milhões de
resto, acompanha de perto a cha- máticas. No terceiro quartel do nosso pessoas. Voltaremos a esse assunto
mada "revolução industrial''. centra- século. a taxa de crescimento mais mais tarde. cabendo por ora apenas
da particularmente na Europa ociden- que duplicou, atingindo a marca anual observar a velocidade vertiginosa
tal e nos Estados Unidos da América. de 17,1 por mil. da qual resultou a po- com que nossa população tem cres-
A taxa anual de crescimento popula- pulação atual, estimada em cerca de cido nas últimas décadas e o cresci-
cional. que foi de cerca de 0,56 por 4 bilhões de pessoas. mento muito substancial que ainda
m il habitantes por ano durante o perí- O Brasil também foi atingido por temos garantido para o futuro pró--
odo 1 d.c.-1750 d.c .. se elevou a 4.4 esse fenômeno explosivo. Com uma ximo. Fica. no entanto, a questão :
por mil entre 1750 e 1800. resultando população estimada em cerca de 4 quais as causas desse crescimento
desse crescimento uma população milhões no inrcio do século XIX. teve explosivo da população mundial de
mundial de cerca de 1 bilhão de pes- no decorrer daquele século sua po- modo geral, e da população brasileira
soas. pulação mais que quadruplicada. atin- em particular?
Por volta de 1850, a população do gindo 18 milhões de habitantes em
mundo era de aproximadamente 1.3 1900 (para uma avaliação visual des- o ponto de vista histórico.
bilhão de pessoas. e em 1900 atingiu se crescimento, ver a figura 1). Nos nossa época se caracteriza
cerca de 1.7 bilhão, o que representa cinqüenta anos que se seguiram, a por ter a mortalidade decli-
taxas de 5,2 e 5.4 por m il ao ano para população brasileira quase que nova- nado a nlveis nunca antes
cada metade do século XIX, respecti- mente quadruplica. atingindo perto exper i mentados . particular-
vamente . Segundo estimativas da de 52 milhões de habitantes em mente nos pa lses desenvolvidos .
ONU , a poulação mundial em torno 1950. Desde então. nossa população Declfnios espetaculares também
de 1950 compreendia cerca de 2,5 bi- mais que dobrou, com um total avali- ocorreram mais recentemente em al-
lhões de pessoas. o que. se for com- ado em mais de 119 milhões em guns países subdesenvolvidos,
parado com os 1, 7 bilhão para 1900, 1980, passando pelos 92.7 milhões como por exemplo os pafses da
implica uma taxa média anual de 7.9 encontrados pelo Censo de 1970. América Latina. e declínios seme-
50
40
TAXA I.UTA DI NAT AUDADI (N)
=
% 30
§
-2
•
. .--~ ~~ •
--- ~·
-## '
---········ # CUSCIII\INTO TOTAL (N - M + I)
lj •
a ______ , •• .----
20
~
l
rj •
•
10 •
TAXA UUTA DI MO.TALIDAOI (M) õ
li
i
~
MIGilA~O LÍQUIDA (I)
j
1840 1850 1860 1870 1880 1890 1900 1910 1920 1930 1940 19.50 1960 \970 ! 980 ANO f
~~----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------~ ~
mo nstração pitoresca desse fato, Porto Rico . . . . . ~ ... ~ ...•....... .. . ~ ................. ~ . 20 2.720 -:s
Coale mostrou Que o efeito de se ob- ti?
r'E6
Tnnrdod e Tooogo ........................... . 29 2 .910 J} ...:.
ter a completa imortalidade para to- AMERICA DO SUL TROPICAL .................. . 98 1.430 ~ l
dos os americanos sobre a taxa de
Boi fv to ....... . ............................... . .. . 168 510 J~
cresc1mento da população dos Esta- i;;:
Brasil ... . ....................... 109 1.570 ~~
dos Unidos seria inferior ao efeito o ••••••••••••••••••••••
... ~
Colômb1a . 77 870 ;g ~
produztdo por um acréscimo de ape- o •••••••••••••• o •••• • o . ...... o •• o •• o ••
,.. ':1
--------------------------------------------------------------------------------------------------- ~J •
São Pou to .. o ............... . ..................................... ~ ............. ~ ••••• ~ . . . . . . . . . ,. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54,7 56,1 58,7 63,9 '!I ~ •
..,.-o
- ,_ s
Pora nó . • ••. . . ....... . . o ......... . ......... o o . ....... . . . . . . . . . . o .... o ••• o o ••••• o . . . . . . . . . . . . . . . o ...... . ................... .. 54,8 56,5 59,3 63,7 :::• -o~
- =ª ~
Su I ( SMta C.tlttn-3 1: Rto Gra.nc.k do St•t ) .......................... o ...... . . ,. . . . . . . . . , . . . . . . . . . . ,. . . . . . . . . . . ,. • • • • • 4 ............... . ... 4 60,5 61 ,2 63,4 66,9 ~~
Centro-Oeste ( GolAs. Milw Gro~.w c Di~1n1o Federal) . . ....... • • . . . • • • • • • . .. . . • • • • . • . • • • • • • • • • • . . . • . • • • • • . . • • . • • • • 56,5 57,1 58,2 63,3 ~
--------------------------------------------------------------------------------- ~
Pg62 Julho/Agosto de 1982 N.• 1 Ano 1
ponente mais forte no que diz respei- TABELA 4 ESTIMATIVAS DA TAXA BRUTA DE NATALIDADE- 1978
to ao crescimento populacional é a -
PRINCIPAIS REGIOES DO MUNDO E BRASIL
manutenção em nfve1s ainda eleva-
T. 8 N
dos da fecund idade das mulheres.
MUNOO .................................................................................. . 28
Como vimos, a mortalidade declinou
espetacularmente no Brasil nos últi- Po í ses Desenvolvidos .............................................................. . 16
mos cem anos. Entretanto. a natali- Países em ()esenvolvimento •..••........•..........•.........•.•................... 32
dade (ou seja. o número de nasci- •
AFRICA ............. .. ...... ,. .................................................................. . 46
mentos anua1s em relação ao total da •
população) se manteve bastante es- ASIA ...................................................................................... . 28
tável ao longo do mesmo perfodo : a Sudoeste Asiático ............................ . ... . ......................... . ........ . 40
taxa bruta de natalidade, que oscilou Sul Asiótico ................... o ........ o o .......... o ............... o ••• o •••••••••••• o. o ........... o. 37
em torno de 46,5 por mil durante todo
Sudeste Asiótico o o ........... , . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 ••• , ........................ . 36
o século XIX. começou a decl inar
desde o mfc1o do presente século, Leste Asió·t ico ................................................. ,. ....................... . 18
•
mas a um ritmo tão suave que a mé- N.AERICA 00 NORTE .................................................................... . 16
~
dia para a década 1960-70 ainda era •
AMERICA LATINA ............. o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . o. 6 ••••••••• o •• 34 -
o-
•
Corioo ................................................................................. . 28 ~
de cem anos. Aliada ao declínio verti-
~
g inoso da mortalidade, essa manu- América do Su I Tro pica I .......................................•................... 36 .!5
I
tórico na década de 50, quando su - Norte Europeu ........................................................................ . 13 -
:o •
perou 29 por mil em média por ano Europa Ocidental ................................ o ................. o ••••• o ... . ... o • • • • • • • • • • • • • 12 g
IQ
Essa taxa implicaria uma duplicação
Europa Oriental ......... ~ .................•. . . ~ .............................. , .... ~ .. . 18 ~
do total da população aproximada-
mente a cada 25 anos. Europa Merid ional . . •...................................................... o •••••••• 15 ..
Ji
a:
-..
- # 8
No entanto. extstem fortes indícios UN IAO SOVI ETICA ........................................................................ . 18 '::I
~
acelerado. Os censos de 1970 e 1980
indicaram que a taxa de fecundidade giões do mundo (tabela 4). podemos são as regiões do mundo em que a
tnt~l C .
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1 H.HU II VCJU Ç
de filhos que cada mulher teria ao fim natalidade em nosso pa ís. De fato, a
de seu perrodo reprodutivo, caso em taxa bruta da natalidade ainda é signi- o Sudoeste Asiático (ou seja, o Ori-
sua trajetória de vida segu1sse as ta- ficativamente superior à média ob- ente Méd io . com 40 por m i l). No
xas específicas de fecundidade por servada no mundo, sendo mais de resto do mundo, as taxas são mferio-
idade observadas no momento da duas vezes ma1or que a taxa esti- res ou no máximo equivalentes à bra-
pesqu1sa) tem declinado rápida e cons- mada para os pafses desenvolvidos, sileira, tendo a Europa uma taxa esti-
tantemente ano a ano. Assim , para o e superior mesmo à média dos paí- mada em apenas cerca de 1/3 da pre-
Brasil como um todo, a taxa de fecun- ses em desenvolvimento. Poucas vista para o Brasil.
didade total (TFT) declinou de 5, 7 em
1970 para cerca de 4.2 em 1980. uma TABELA 5 - TAXA DE FECUNDIDADE TOTAL 1970-1976
redução sem dúvida muito substan- BRASIL E REGIOES -
cial, atingindo cerca de menos 1 .5 fi- TAXA DE FECUNDIDADE TOTAl
lho em média ao longo de uma dé- REGlÃO Total Urbono Rural - •
cada. A queda da fecund idade femi- 1970 1976 1970 1976 1970 1976 ·--
~
nina é observável para todos os t ipos BRASIL ..................................... . 5,65 4,26 4,55 3 ,44 7,65 6,20 j
de áreas e para t odos os grupos so-
• •
Cla iS. Região I : RJ . . .• .• . •. . . •• .. •. ... ..• . .•. . . . 3 ,80 2,72 3,52 2,55 6,94 5 ,01
É impo rtante que se f ixe, entre-
--------------------------------------------------------------
Região 11 : SP . . .. . .. . . . . . . . .. .. . . . . .. . . . . . 3 ,94 3,02
~
3,56 2,80 6,06 4,65 ~ ~
tanto, que apesar da aceleração re- ------------------------------------------------------------ ª~
•
cente no declínio da fecundidade, o
nível da reprodução no Brasil é ainda
--------------------------------------------- - ª
Sul . .. . . . .. . . . . . . . . . . .. . . • . . . . . . 5,42 4 ,03 4,05 3,31
Região 111 :
A r -
80 I
75.79
IDADE
55-59
30-34
25-29
•
l~- 1 9 •
•
•
.S-9
•
""'
C)
I 2 4 .5 7- • 8 9 ~o
MILHOES DE PESSOAS HOMENS MULHERES M.LHOES DE PESSOAS b ...
Pg64 Julho/Agosto de 1982 N. 1 Ano 1
0
vens sobrevive até a idade reprodu- de mortalidade e principalmente de 2. quanto mais forte for a taxa de de-
tiva, o que por sua vez faz aumentar a fecundidade prevalecentes em sua clfnio da fecundidade. menor será o
natalidade (reforçando assim o efeito experiência passada . Sociedades tempo levado para atingir a estabiliza-
rejuvenescedor da queda da que no passado foram caracterizadas ção. e menor será a população final.
mortalidade). Desse modo. o efeito por níveis constantemente baixos
Tendo essas idéias em mente, po-
da queda histórica da mortalidade de fecundidade apresentaram uma
demos então tentar avaliar o quão
nos parses em desenvolvimento, en- estrutura etária "velha", ou seja, com
substancial e o quão inevitável é o
tre os quais obviatnente incluímos o uma proporção relativamente grande
crescimento futuro da população b ra-
Brasil. atua contrariamente ao que se de pessoas nas faixas de idade ma1s
sileira. Seguindo em linhas gerais a
poderia esperar no sentido de au- avançadas. Contrariamente, uma so-
metodologia proposta por T. Frejka,
mentar a quantidade relativa de jo- ciedade com um passado de alta fe-
•
vens na população. E importante que cundidade tem uma população que parte do princípio de que toda e
se enfatize. no entanto. que esse " jovem". com uma estrutura etária qualquer população sujeita a limit es
efeito é relativamente pequeno de tipo piramidal. Essa estrutura territoriais fixos• tem necessa ria-
quando comparado com o efeito da etána jovem impl1ca que, a cada mo- mente que parar de crescer a longo
fecundidade. conforme já ass inala- mento. um número cada vez maior prazo e; portanto, atingir um nível de
mos anteriormente. de pessoas entra no perrodo reprodu - fecundidade de mera·reposição (TLR
O pequeno efeito da queda da mor- tivo (normaln1ente de 15 a 49 anos = 1 ). podemos estabelecer datas nas
talidade, somado ao grande efe1to da para as mulheres}, de tal 'forma que. quais esse limite para a fecundidade
manutenção de taxas elevadas de fe- mesmo que a fecundidade das mu- será atingido. Dada uma data para se
cundidade. resultou numa população lheres diminua. o número de nasci- atingir o nível de fecundidade de re-
brasileira muito "jovem''. onde a pro- mentos naquele momento pode ser posição. um tamanho inicial para a
porção de pessoas idosas (isto é, ainda maior que os constatados no população brasileira (no caso. a po-
com 65 anos ou mais) não ultrapassa período anterior. E simplesmente pulação encontrada pelo Censo de
3°/o. A estrutura etária da população porque existirá um número maior de 1980} e uma suposição a respeito do
brasileira é bastante similar à de ou- casa1s gerando filhos naquele mo- comport.amento da mortalidade. po-
tros palses em desenvolvimento, e mento. Asstm. a estrutura etária da demos então est imar quanto tempo a
contrasta com os pafses de fecundi- população tem uma inércia contra a população brasileira levaria para atin-
dade já estabilizada em níveis baixos. diminuiçFio da natalidade. seme- gir o crescimento zero e qual seria o
como por exemplo os países da Euro- lhante a urn carro que, andando numa seu tamanho final ao atingir essa con-
pa ocidental. Nestes, a proporção de certa velocidade, fosse freado . A dição, caso a hipótese de se chegar a
pessoas com mais de 64 anos é qua- massa do carro garant1rá que. após o uma fecundidade de reposição na
se quatro vezes superior à obseNada momento en1 que os fre1os foram data fixada fosse confirmada .
no Brasil. estando situada em torno ac1onados. o carro ainda levará algum
tempo, percorrendo alguma distân- Como estamos primordialmen te
de 11 o/o do total da população. Evi- interessados em mostrar a re lação
dentemente l=l tPnrlPn~i~ ~ -r~rl11~~n cia. até atinÇlir a imobilidade comole-
--- - - - ':1"-""'
ta . Sim i larmente, uma população entre a queda da fecundidade e o po-
da fecundidade no Brasil deverá levar tencial de crescimento da população
num futuro ainda muito distante a com um passado de alta fecundidade
que passe por um processo de redu- brasileira. faremos em todas as hipó-
uma população com um perfil etáno teses de fecundidade aventadas a su-
semelhante aos presentemente ob- ção dessa fecundidade até os níveis
m in irnos viáveis levará ainda um posição extremamente pessi m ista
seNados nos países desenvolvidos. de que a mortalidade se manterá para
embora os ganhos previsíveis na certo tempo para parar de crescer.
dependendo naturalmente do nfvel sempre congelada ao nível ob se r-
mortalidade infantil tendam. numa vado na década de 70. ou seja, com
certa medida, a atenuar esse "enve- de fecundidade de onde partir e de
quão ráptdo é o declfnio do mesmo. uma expectativa de vida ao nascer
lhecimento" da população brasileira. masculina em torno de 59 anos e
Dessa forma. se uma populaçao re-
duz sua fecundidade ao nível de mera uma expectativa de vida ao nascer fe-
stamos agora em condições reposição, ou seja. em que cada mu- minina em torno de 62 anos. Eviden-
de desenvolver melhor a afir- lher adulta seja substituída no tempo temente, uma redução na morta li-
mativa inicial de que, mesmo devido por uma e apenas uma filha dade implica uma acentuação do
se a população brasileira atin- em média (correspondendo ao que crescimento da população brasileira
gisse imediatamente o nível os dernógrafos denominam de Taxa no futuro. Cabe ainda obseNar que.
de fecund idade de "reposição' ' . L i qu ida de Reprodução igual à dada essa hipótese sobre a mortali-
ainda cresceria por pelo menos mais unidade: TLR = 1 ). essa população dade, o nivel de ·f ecundidade de repo-
setenta anos . Para isso se faz neces- tenderá à condição de ··estacionarie- sição (TLR = 1) implica em uma taxa
sária a compreeensão de um fato de- dade' ', mas até lá continuará cres- de fecundidade total nesse nfvel de
mográfico elementar, a que os demó- cendo e : aproximadamente 2,4 filhos.
grafos chamam de mon1entum de 1. quanto maior for o nível da fecundi- Podemos então efetuar quatro pro-
crescimento populacional. dade antes de iniciado o decUnio, jeções correspondentes às seguin-
Como vimos anteriormente. a es- maior será o tempo levado para atin- tes hipóteses sobre o ponto (data)
trutura por idade de uma população gir a estabtlização e maior será a po- em que a fecundidade atingiria o nfvel
depende basicamente dos regimes pulação f inal ; de reposição:
em 1980; 5
....
Projeção 2 = declínio vertiginoso ~
da fecundidade, com •-oo
nível de reposição já z
!)
..,
v
...
a partir de 1990; .... o
ó,J
62
Projeção 3 = declínio rápido da fe- o
c
)(
cundidade, com ní- c
,....
vel de reposição a
partir do ano 2000;
Projeção 4 = declínio de fecundi-
dade moderado.
com nível de reposi-
ção a partir do ano
2010.
A figura 4 ilustra graficamente es-
sas hipóteses. cotejando-as com os
dados sobre a evolução recente da 3 •I
taxa de fecundidade total no Brasil.
Na figura 5. temos ilustradas as diver-
••
H,
•
sas trajetórias alternativas correspon-
dentes a cada uma das hipóteses 2
~ H,
~
mada de '' razão de dependência".
está intimamente ligada às necessi- --"'o
•C
v
dades de investimento futuro numa s
:::)
sociedade. particularmente nas âreas Q.
•
Fig. 6 - MUDANÇAS NA ESTRUTURA ETARIA BRASILEIRA
80+
75-79
7~74
65-69
55-.59
50-54
40-44
35-39
30-34
25-29 .
1.5-19
10-14
5-9
0-4
•
o 2 4 6 8 10 12 4 6 8 10 o 2 6 a
• % %
-
C- - --
Regis Farr-• )
--- ""
--=:. . . '- ~..~
O ensino público gratuito e a concessão de mais verbas para a educação foram as reivindicações que deram
a tônica das m anifestações públicas que acompanharam as greves dos professores.
validade. para diferentes universi- preocupa o soctólogo são as eleições lista sêxtupla deveria ser substituída
dades. diretas para os cargos administrati- pela ant1ga tríplice. por possibilitar a
Ainda do ponto de vista didático, vos da universidade como os de escolha de nomes mais capazes.
ele defende a crração de cursos de reitor, diretores de centros, escolas e - A universidade - ressalta -
formação geral, no estilo do col/ege institutos. Ele defende o preenchi- tem que assumir uma responsabili-
norte--americano, sem diploma pro- mento desses cargos de acordo com dade social, que não pode ser trans-
fisstonal. com o ensino voltado para a critérios que levem em conta o méri- ferida a alunos, professores e funcio-
cultura geral. Depots dele. o estu- to e a competência dos professores, nários, e nem pode f tear com a buro ·
dante partiria para uma especializa- e fnsa que uma eleição deve ser feita cracia. Esse meto-termo é diffcrl mas
ção. que poderia ser feita a nível de entre iguais, não se podendo supor é a solução, pois caso contrário. na hi-
pós-graduação O estabelecimento uma igualdade onde ela não exista . pótese de se passar o poder aos di-
de cursos não necessariamente liga- No caso, refere-se ao fato de profes- ferentes segmentos da universidade
dos às profissões regulamentadas, sores, estudantes e alunos desem- ou de deixá-lo exclusivamente com a
para Simon Schwartzman. é uma penharem papéis diferentes dentro burocracia. sem constderar-se os cri-
questão de liberdade, de autonomia da universidade, tendo interesses di- térios de competência profissional, a
didática da universidade e, se bem versos . universidade tenderá apenas a deteri-
que possa ser um pouco cedo para Dessa forma, acredita que na esco- orar mais e mais a qualidade de seu
sua implantação, é uma idéia sem dú- lha de um reitor da qual participas- ensino e sua pesquisa.
vida a ser levantada desde já pelos sem alunos, professores e funcio-
envolvidos com o sistema educa- nários não seria mantido o n lvel de
cional. excelência: o processo deveria caber
Um aspecto da reforma que não aos atuais órgãos colegiados. mas a
mudam as Ideologias ao lon~to da Broca, famoso neurologista fran- do e5forço de um psicólogo francês,
W.W. Norton Co., New York.
llistória, mas sua innu~ncia está cês, e seus disdpulos. Em vez de Alfred Blnet. em desenvoh·er técni-
1981 , 352 pp. cas que permitissem identificar as
sempre presente nas teorias científi- medir o volume craniano, Broca de-
cas mais herméticas e especializa- dicou-se a medir diretamente o ta- crianças t"Ujas dificuldades escola-
Você acha que os criminosos e
das. Enfronhando-se nos textos ori- manho do cirebro. Para tanto, nio res sugerissem a necessidade de
marginais do indivíduos genetica-
ginais do seculo X VIII nos Estados hesitou em lançar uma campanha a educação especial. Binet criou um
mente "marcados" para o crime?
Unidos, Gould conseguiu desenca- fim de que os Rrandes homens da conjunto de testes aplicáveis a cri-
Ou que os judeus sãQ "sovinas mas
,.ar espantosas declarações racistas época doassem seu.'i cérebros à cien- anças em idade escolar sem a inten-
lntdigentes"? Ou que as mulberes ção de identificar as cau'ias das dJ-
ou sexistas de muitos de nossos mi- cia. O resultado, como diz Gould,
são Rres delkados. emotivos. com ferenças de desem~nho, mas para
tos ocidentais: Thomas Jefferson e foi algo embaraçoso, pois C ouviu e
grande jeito para as artes e a cozi- melhor atender 1\s necessidades
Abraham Lincotn. fundadores da o romancista ru.tiSO Turguenlev con-
nha mas sem talento para a mate- educacionais de cada criança. O
democracia americana. Benjamin firmaram as previsões (tinham
rútica ou a dltC'Çáo de empresas? salto conceitual indevido foi dado
•· ranklln. cientista e polftico, cérebros enormes), mas o grande
Então faça um esforço para ler George Cuvier, pai da geologia, da matem,tlco Gauss e o próprio Bro- nos Estados Unidos por H. H. God-
Tlt~Mismeasun ofMan, o último li- paleontolo~tia e da anatomia com· ca (embora ele não o soubesse) dard e seus segu1dores. F..ssa cor-
vro de Stephen Jay Gould, do Mu- parada~ Louis Agasslz, o grande seriam absolutamente medfocres a rente de psicólogos americanos pas-
seu de 7..oologla Comparada da Uni- naturali!ita !;urço radicado em Har- julgar pelas dimensões de seu."t cére- sou a considerar os testes e escores
versidade de Harvant, nos Estados vard e - pasmem - até mesmo bros, enquanto Anatole France e o de Binet como medidas da inteligên-
Unidos. O Uvro ainda não está tra- Charles Darwin! poeta Walt Whitmanjamais teriam da inata dos indivíduos. Os testes
duzJdo, mas mertc!e o seu esforço no podJdo articular sequer um pen.c;a· foram ampliados, ,modificados e
A primeira tentatJva i'científica''
ln&lfs. Vori veri no que deram as mento (cérebros ridiculamente pe- aplicados a milhões de crianças. jo-
de medir a Inteligência humana já
tentativas "clentffica..<t'' de medir a quenos). vens e adultos com o lntuito de das-
partiu de um preconceito: o de que
''lnteligênda' .. a "sociabitidade"~ .sirJCá-los st'lUDdO sua inleliaénda.
ha\ia diferenças entre a' raça.., hu· No século XIX, emergiu uma fa-
e a "a1restdvidade'' do homem, at."i- Provavelmente transmitiriam essa
mana..11 quanto às suas capacidades mosa tese de Antropologia Crtmi-
slm como outras qualidades que caracterf.stica a seus descendentes,
intelec'tnAi41. Hsn:fa fK ntu• sarrHiitsa.
• - -· i---- -- -L---- , '
UDI \ ~UIJIV :!C: .. IIDIII•<Ia IID 'l:fi'AAit
e a oooseqilenda seria a invasio dos
1em que ser Rmpre postas entre a.-...
vam que as r:aças eram produto da que expressava a coneepção de que
pas, J' que ninguém na verdade degeneração do Homem Original
"débfts menl.ais'' e a deterioração
a crimlnàlidade reftetia a rdenção
sabe como defini-las exatamente. da 50Ciedade. Enquanto o sonho de
(Adão - a Mulher era origin,ria na vida adulta de características
Com grande agudeza de espírito e • Binet era modificar o sistema edu-
da costela de Adio, e por isso nem agressivas dos macacos que de-
rigor lnvestigativo, Gould nos llJO.'i· cacional para ajudar as crianças
entrava no raciocínio). e que algu- veriam desapare.:er ao longo do de-
tra que essas tentativas na realidade com dificuldades, a falácia dos
mas raças tinham dl"J'Cncrado mais senvolvimento da criança. Cesare
encobriam preconceitos e privilé- ameritanos foi inverter o raciocínio
do que outras. Outros arJtument.a- Lombroso, um médico italiano, foi
gios que nada tinham a ver com os e considerar que aquelas crianças
,·am que as raças eram espécies blo- o principal nome dessa escola de
IMtodos e o rl1or cientfftcos. - e também os adultos eom Ql bal-
ló~icas diferentes, tendo se origi- pensamento que -mostra-nos
•o- eram geneticamente burras,
Tudo começou no século XV 111. nado de diferentes Adios. De qual- Gould - levou à busca de carac-
sem nenhuma chance de mudança
antes mesmo de Darwln formular quer modo. os bran~os teutônicos terísticas simieKas no comporta-
através de modificações educacio-
sua grande teoria da evolução das eram tidos como superiores, segui- mento e no corpo das pes.'iOas, para
nais ou terapêuticas. Pior que isso,
espécies. Como o Brasil da época, dos dos povos mediterrâneos e se- determinar se elas seriam crimino-
era preciso livrar a sociedade dos
os Estados Unidos eram um país es- mitas, dos índios e orientais e rmal- sos potenciais. Pobres de nós, .se "i-
"fracos de espf.rito" e seus descen-
cravagista, com uma forte l'rente de mente dos pretos. Em cada raça, t l"êssemos naquela época, pois não
dentes. quem sabe esterilizando-:os
expansão de suas fronteiras econô- claro, os homens eram considera- nos seria permitido viver em paz se
ou mantendo-os confinados aos
micas para o oeste e o sul. Os prelos dos superiores ãs mulheres. Se o tivéssemos uma grande mandíbula.
asilos e instituições, como se propôs
africanos e os lndios, J' se pode ima· "órgão da inteligência•' era o cére- ou fa« larga, testa curta, braços
e se fn mais tarde, durante a Se-
ginar, sofriam a pior das discrimi- bro, o cérebro alojava-se no crânio longos, rugas precoces. grandes
gunda Grande Guerra.
nações. o que muitas vezes redun- e crânios e inteligências "arlavam orelhas. ausência ele calvície ou ~le
dau em verdadeiras carnificinas. conforme as raças, o problema ' ' ci· escura; ou ainda se falãssemos mal, A controvérsia do Ql se estende
Cientistas e demais intelectuai<t não entifico' • era imples: pessoas com se nos tatuássemos ou R fôssemos até os dias de hoje. Contrário l tese
estavam imunes a esse ambiente. maiores crânio!i teriam maiores incapazes de enrubescer! Gould é de que um simples número pos~a
Eram. na verdade, tão racistas cérebros, e portanto maior inteli· bem claro em salientar que por ~r coisifkado, substituindo ou re-
quanto qualquer outro. Punham gência. O primeiro cranlometri,;ta mais que essa.c; teses hoje n05 pare- presentando algo tão complexo e
em seu trabalho ciendfico grande foi o americano Samuel Morton, çam ridículas, ~ua essência perma- mútiplo como a inteligência hu-
carga de ideologia, upressa nos um médico da :F iladélfia, que não nece atual entre nós. rut con«pção mana, Gould não se furta entre-
preconceito~ raciais que domina- \'acilou em fazer aproximações de que os criminosos são indJvfdumo tanto a ~r que o índke tem
-wam a sociedade da época. E não malandras em suas tabelas para biologicamente degenerados. e não sua utilidade em alguns casos. O Ql
Roberto Lcnt pout:o m~nos de 500 drogas St:riam lnduimn-no.'i entre O\ que acham fÜiir numa sociedade comprometida
lrutJtuto de Biofísica, UFRJ suficientes para u tratamento efical que tfla incorpnrnçãn no r vem 'ifndo com o acúmulo de C'apitol, a luta por
•
de toda n doença comun<o. âo tmpo'ila por quem encontra ar~u- um o;i~tema mldico nacionalizado,
OS MALES ainda analisadas ao; política~ de pro- mento\· e meios dl' introduzir toda desprovido de lucro, pode conJribuir
Promovendo a Doença, de Jayme confiança de médico~ e leigos na ex- realidade••• Cnlncamo-nn.o; entre os
Antonio Augusto .F. Quadra
Landman, Rio de Janeiro. Achi.t· celêncln de comprfmidu ou que reconhecem a exi~tincio d1 um
Faculdade de Medidua, UERJ
mé, 1982, 187 pp. xarope:~. grande conlingtmte de equipamentos
'~ divulgação para mim envolve dois dos maiores prazeres desta
vida: aprender e repartir"
(entrevista concedida a Alzira Alves de Abreu, pesquisadora do CPDOC/FGV e professora~adjunta da UFf\J, em 6 de maio de 1982)
-Professor José Reis, o senhor poderia nos explicar como chegou Ainda para facilitar a comunicação do Instituto com sua clientela. pre-
•
à atividade de dh•ulgador da ciência? E neces..4iário um pendor espe- parei numerosos folhetos, em linguagem simples. sobr~ os diversos
cial para exercer esta atividade? problemas que afetavam a criação de galinhal>.
- Durante a minha infância, tive sempre interesse em transmitir tudo
aquilo que aprendia. Assim. logo que aprendi a ler tratei de alfabetizar - Desse modo, o senhor trocou sua carreira de cientista pela de
as empregadas da casa, que também aprenderam comigo o catecismo. divulgador.
Após a missa dominical, em casa repetia o sermão do padre para as - Não foi bem isso. continuei dedicando-me à pesquisa. Nunca fui
empregadas. Na escola, não tive dificuldades em aprender as matérias cientista brilhante, dotado de criatividade que produz trabalhos origi-
ensinadas, c tinha uma grande curios-idade intelectual- o que me le- nais que mexem com as bases da própria ciência. Fui antes um pcsqui-
vava a procurar estudar além do que o professor apresentava em aula. !)ador si::;temático. interessado em identificar doenças e micróbios. al-
Dcsl\C c~forço resultavam cadernos que circulavum entre os colega:-;, !!Uns conhecidos. outros ignorados. O impulso que sentia paro divulgar
nos quais à!\ vezes manifestava pomos de vista di~cordantes dos ensina- os achados da ciência talvez seja, no fundo. uma forma de criatividade
dos c tentava metodologia c enfoques originais, além de incluir matéria didática.
não ensinada c por mim .. descoberta" em leituras paralelas. Vem daí - Os cientistas que se preocupam em divulgar os resultado de
talvez o encantamento que me provocou a fra~"C de dom Duanc Nunes suas pesquisas para um público mais amplo são malvistos por seus
de Leão: ''Tentei
•
ensinar aos outros o que de outrem não pude colegas?
~nrf"ntf,-..r'' ur-•.anl'f,... n nr•,.,.o.,.. Â.o toP\t••r "'''''"''''u",..,...~-,t--- ,.... .•
-r·-··---
J.:
· - e·-··-- - ,..,.----· -- -.. . . ..,..... "'"•''t'' """'''"''"'' v 'i'"'""-,_ ~:ç:
-..C. .:l ...
\.&...1,,._, . '"" - (juando eu comeceJ, na década de 40, havia uma certa reserva
depois transformá-lo em algo menos hermético. para gozo dos outros. quanto ao cientista que freqüentava as colu nas de jornais c revistas po-
Movido por essas earaeterhticas psicológicas c pela necessidade de ga- pulares. Hoje essa atitude mudou, os cientista~ já pcrc~bcm que é im-
nhar a vida, era natural que cu buscasse o magistério particular, ensi- portante dar ao público uma satisfação sobre o trabalho que realizam.
nando a alunos de séries mais atrasadas o que ia absorvendo à medida Eles compreenderam que não podem se fechar. isolar-se em seus la-
que avançava No início. lecionava tudo. e a\')S poucos fui-me concen· boratóriO$. Mas a tradição isolacionista do pesquisador gerou muitos
trando oo história natural. ressenti'mencos entre o cientista e os jornalistas. De um lado os cientis-
- O seu interesse pela história natural fez com que o senhor esco- tas, muito ciosos da precisão da infum1ação até mesmo em minúcias de
lhesse a Faculdade de Medicina? nenhum interesse púbJico, c de outro os jornalistas, mais estimulados
- Sim. mas reconheço hoje que nunca me contentou a prática pura c pelo essencialmente novo c capaz de atrair os leitores.
simplc~ <k uma e,spccialidade. Sempre procurei completá-la com a sua Pode-se dizer que em alguns centros se cavou um profundo fosso en-
hbtôri~l c, se não a filosofia. pelo menos o filosofar sobre a essência do tre ciência e jornalismo. como se a notícia científica se apcquenassc ou
trabalho realizado. sua significação. sua posição no contexto geral do prostituísse quando veiculada na imprensa. Se os jornalistas. algumas
saber. Surgiu daí a preocupação. que se foi acentuando, com a história, vezes por despreparo, outras pela ânsia de sensacionalismo. contribuí-
a filosofia da ciênc1a e a política da ciência. ram para aquela situação. os cientistas não ficam absolvidos, pois mui-
tos deles se negaram sistematicamente a dialogar com os rcpórterc. ou
-Mas ao terminar a Faculdade de Medicina o senhor foi traba-
atender aos pedidos de colaboração em termos simples. Felizmente as
lhar como bacteriologista no Instituto Biológico de São Paulo ...
coisas mudaram dos dois lados. Melhor preparo e scnsv tJCOfissional do
-Pois foi aí que eu .comecei de fato minha carreira de divulgador da
jornalista e mais aguda consciência social do cientista criaram a situa-
ciência. Eu trabalhava ao lado do grande cientista Hermann von lhe-
ção presente de bom entendimento.
ring. que um dia entrou na minha sala com o~ seguinte problema: um
• modesto sitiante procurava o Instituto para esclarecer qual era o ploble- - A dll•ulgação cientlfica através do jornal Folha de São Paulo foi
ma que atacava suas galinhas que cntm dizimadas por uma ·'peste'·. O sua primeira experiência na imprensa·~
dr. Von lhering m~ perguntou: .. Que peste é essa? Aí e~tá uma coisa - Na verdade. comecei na então Folha da Manhã , escrevendo sobre
que você pode descobrir para ajudar esse pessoal." Aceitei o desafio e. problemas gerais de administração a convite do diretor editorial Jo:-.é
resolvido esse. outros foram~sc apresentando. Mas para dcsincumbir- Nahantino Ramos. Logo o dr. Nabantino Ramos me propôs nova c gra-
me bem dessa missão de aconselhar, informar os sitiantes. tornava-se ta tarefa, o desenvolvimento de uma seção permanente de ciência. As·
importante estabelecer contato com eles c aprender a falar-lhes e escre- sim começou "No Mundo da Ciência". na última página do jornal. a
ver-lhes com a maior simplicidade. Ao fim de pouco tempo. eu estava t.o de fevereiro de 1948 . Era uma página dominical. que constava de
escrevendo artigos em revistas agrícolas, como Chácarar e Quintais. um artigo principal. algumas notas esparsas e uma seção de resenha
-
Ano I N. o l Julho/Agosto de 1982 Pg 77
bibliográfica para a qual Mário Donato. então redator-chefe, sugeriu o muito tempo. a divulgaçao se limitou a contar no público os encanto.; e
titulo de "Se não lcu.loia ... Acrescentou-se depois a coluna ''Ponto de os; aspectos intcrc sante~ e revoluciOnários d:t ciência. Aos poucos ,
vista". que reproduzia escritos de cientistas ou pcnsudores de renome passou ll refletir ramhém a intensidade dos problemas sociais implícitos
sobre o papel da ciência. crn panicular a neces idade de amparar a mui- nessa atividade. Para muito~ divulgadorc . a popularização da ciência
to incompreendida ·'ciência puro·· . Outra . eção. •·Em foco··. tratava perdeu sentido como relato do progressos cientrfico • porque o cida-
de problemas da ciência e sua polftica e organi1.ação no Brasil. Os ani- dão se acha hoje cercado desse tipo de infonnaçáo. Embora concorde
gos de divulgação abrangiam prndcamente todas as áreas do conhec~ em parte com éssa posição. considero que a divulgação através da im-
mento. e não r&ro versavam obre as-.untos que e tomaram palpitantes. pren a é muito importante. principalmente em países como o Brasil .
Sempre e tiveram presentes questões de história, filosofia. polftica e onde as dificuldades e a~ precariedades das escolas fa:.r.cm com que es-
organização da ciência. tudunle c prole sore~ obtenham informaçõc obre os progressos da
Pa sei a colaborar mmbém na Folha da Noite, onde lancei a idéia de ciêncin atrávé de artigos de jornais.
um concur:,o desLinado a revelar novos cicntisUt:. c clube~ de ciéncia. Para mim, dcpoL de um longo caminho percorrido como divulga-
Ambas as sugestões encontraram apoio nu Univer-.idadl.! de São Paulo. dor. é com a mai_or alegria que encontro por toda parte professores c
Na rcvistaAnhembi, de Paulo Duarte, colaborei de 1955 a 1962. escre- pesquisadorc~ que dizem haver encontrado em meus escritos o desper-
vendo ··ciência de 30 dias'". tar de sua vocação. as~im como pessoas de variado nfvcl cultural que
Ao ser criada a Sociedade Bra:sileira pant l) Progresso da Ciência, em em artigos meus dcscohriram pistas para resolver at~ problemas pcs-
•
1948. que cu ajudei a Cundar, decidiu-se que ela editaria uma revista . . orus.
Ciêncra e Cultura surgiu em abril de I 949 com o objetivo de divulg~u
- Como assim'?
lrabalho~ inéditos de cienli~tas brasileiro. de todo. O ' campos do co-
- Rccehi muitas can~~ de leitores com perguntas sobre a origem, cau-
nh-.:cimento. Snu (.;eu diretor at~ hoje.
!'as c t,..dtamento de anmnatias que atingiam membros da família . Em
- O jornal, o livro, folhetos para criadores, foram os únicos ,·ei- aJgun~ caso mantive longa correspondência com lcitore~. e sem me
culos que o senhor utilizou para popularizar a ciência? imiscuir nos aspectos profissionais que o caso conip011ava ugcria a
- Nfio. bu!)q!lci romanl:car a ciência para a infiincia pré-e:,colar. escre- procura de centrO!! e:')pecializados. capazc~ de c clarecer as düvidn~ c
vendo A cigarra e a formiga, que adapta a conhecida fábula. introdu- •
onent.ar o tratamento .
zindo duas formigas. uma ··ruim ... a quenquém. e a outra ''boa''. a O leitor que se habitua a ler O!) e.scrito de um divulgador científico
asteca, que vive em associac;ão com pulgóc:-; no oco das imbaúbas. Parn muitas vezes acaba fazC'ndo dele uma c'pécie de con. clhciro. l~ c~ta.
a infftndu alfabetizada escrevi A' galinha.\ do .Iuca. com noções de avi- pelo menos. minha experiência: creio que o leitor identifica nesses es-
cu hum c doenças e O menino dourado. com noções de microbiologia. critos a única virtude que ele realmeníe têrn. ;:1 sjnccridade.
Para a juventude escrevi A ~·enturm IW mundo da cibh ia, novela que s~
desenrola num in~tituto cicntílico c constitui um pas~cio pela história
- A l'Urreira de divulgador parece ter-lhe dado muita alegria e
natural. Outru experiência foi o rádio-teatro. e durante um ano elaborei
significado urna grande reali7.açáo profi ional.
scripts para a Rádio Excelsior de São Paulo. Uma vez por semana ia ao - Uma das maiores rccompcn as do meu rmbalho tem ~ido aprender,
ar·· A marcha da ciência··. onde aprc!:ientava fatos atuais e históricos dn tentando ensinar. E uma das maiores alegrias é quandu escrevo por -u-
pesquisa científica. gcstfio do leitor. o que não é. raro. me mo quando a pergunta está longe
de minha imediata cogitação: isto me obriga n enveredar por um cami-
- , que é. afinal. dh ulga-;ão cicntificu'!
O nho novo, fazer meu aprendizado c transformá-lo depois em ensina-
- E ~i vl.!iculaçáo crn h..·rrnos simples da ciência como processo. dos mento. A divulgação envolve para mim dois dos maiores prazeres de!'ta
princípios nelê:l estabelecidos. das rnetodologias que emprega. Durante vida: Clprcndcr c rcpanir.
em curso atendidos pela rede de os gastos da Previdência aumen- igual a zero, contradizendo a
OABORTONO hospitais contratados pelo tariam ou não com a legallt.ação crença de que num estado mais
BRASIL INAMPS, que correspondem a do aborto. atrasado a taxa de mortalidade
90% das internações da Previ- Segundo estimath"a'> da Orga- seria mais aJta, em conseqüência
Em 1980, o INAMPS gastou dência, sem distinguir. o que nização Mundial de Saúde são da prática do aborto por pessoas
420 milhões de cruzeiros em tra-
seria impraticável, os abortos provocados tres milhões de abor- despreparadas. A pesquisa con-
tamentos de seqüelas de abortos provocados dos espontâneos. tos por ano no Brasil. llilcleh· duiu ainda que Minas Gerais,
provocados ou espontâneos. o O índice de internações para Pereira de Melo, no entanto, tido como um estado mais conser-
que corresponde a 2% das despe- tratamento de seqüelas de abor- acredita que a incidência seja vador do que o Rio de Janeiro,
sas totais do Instituto com a assis- tos - de 2% - é alto porque re- bem menor. ficando entre um mi- tem um número superior de ,c ure-
tência hospitalar e cirúrgica. Das presenta, dentro da clínica de lhão e dois milhões. Sua estima- tagens pós-aborto, e que Santa
mulheres atendidas (200.000), 20 obstetrícia. o terceiro item dos tiva foi estabelecida a partir da Catarina apresenta a maior inci-
em cada 100.000 morreram em gastos, precedido apena~ pelos relação entre seqüelas de aborto e dfncia de curetagens em adoles-
partos naturais e pelas cesaria- o número de partos, que roi, nos centes do pah. Para uma inter-
1979 e, no ano seguinte, a me-
na.'i. Para os partos, as mulheres dois anos dos le"·antamento. de pretação destes dados. ~eria ne-
tade. Estes números correspon-
ficam internadas. em média. dois 13 para cada 100 parto~. cessária uma nova abordagem do
dem ao índice de mortalidade
dias; para as cesarianas, quatro, Um dado curioso IC\'antado assunto.
pós-aborto encontrado nos Esta-
dos Unidos antes de sua descrimi- e, para as seqüelas de aborto, um pela pesquisa e que no estado do Para Hildete Pereira de leio,
dia. Rio, considerado como o. deten- qualquer política demográfica a
nalização. ha dez anos.
Com a descriminalização do tor de uma das melhores redes ser traçada para o país tem que
Os dados foram levantados por levar em conta os resultados obti-
aborto, a rede hospitalar do hospitalares do país, u mortali-
Hildete Pereira de Melo, do De- dos pela pesquisa. além de exami-
INAMPS faria um atendimento dade pós-aborto é superior à mé-
partamento de Economia da Uni- de melhor qualidade, uma vez nar mais a fundo suas determi·
dia do pais. o que pode le\'ar à hi-
versidade J.'ederal •·auminense, que nas áreas mais pobres e atra- nantes. Um fato que não pode ser
pótese de que só chegam aos hos-
na pesquisa ''Seqüelas do aborto: sadas ele é geralmente feito por esquecido é <rue. nos Estados Uni-
pitais os casos muito complica-
custos e implicações sociais", pa- curiosos, tra7.endo risco de ' 'ida dos, depois da descriminaJi7.açáo
dos, que os próprios re..,pons~h'eis
trocinada pela Fundação Carlos para as muJheres. A média de in- do aborto. o numero de mortes
pelos abortos não conseguem re-
Chagas e peJo próprio INAMPS. ternação seria de quatro horas. solver. pós-aborto caiu de 19 para cada
Ela relacionou, no trabalho, to- Não se pode pre\·cr, no entanto, Outro fato inesperado é que no 100.000 para 0.8 para cada
dos os prcx~ de abortamento como observa a llCSquisadora. se Amazonas a mortalidade foi 100.000.
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