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Revista de divulgação científica da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência


Ano 1 n? 1- julho/ agosto de 1982-Crl 300,00

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Blumenau: fone (0473) 22-1474 - Campinas: fone (0192) 42-5083.

______________________________...______________________________________
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PESQU ISAS, PROJETOS E ESTUDOS TECNOLÓGICOS

-
• Responsável pela interface COPPE/ Governo, Empresas e
Indústria
• Equipes multidisciplinares formadas por docentes,
pesquisadores e técnicos da COPPE/ UFRJ •

• 300 Profissionais de nivel superior ., ...


• Atuação em todas as áreas da engenharia
• Utilização dos ~laboratórios e equipamentos do Centro
de Tecnologia

• Colaboração estreita com os grupos de pesquisa dos l
demais órgãos da Universidade
• Responsável pelo NIT - Núcleo de Inovação Tecnológica t
no Estado do Rio de Janeiro
• Atividades conjuntas com os principais institutos de
pesquisa tecnológica do país
• Desenvolvimento de tecnologia nacional
e Atuação na absorção e transferência de tecnologia ao

setor produtivo brasileiro
.. • Substituição de consultoria estrangeira -
e Acesso aos principa·is órgãos de financiamento do Governo
• Mais de 1000 projetos realizados
• 1 O anos de experiência em projetos com indústria e governo
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- COPPE/ UFRJ
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Endereço :
- ~ Cid ade Universit ária - Ilha do Fundao
Centro de Tecnologia - bloco h - sala h -203
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Caixa Postal 68513 - ZC- 00
-. CEP 2191 O
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Rio de Janeiro, RJ - Brasil


t e legram as COPPEUB - RIO
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NOVO GRUPO da paciente. Os estudos feitos no sangüíneac; brancas, os macrõfa- dade parece ser determinada ge-
Rio de Janeiro foram confirma- gos e os linfócitos. neticamente ~ e 3) existem linha-
SANGÜÍNEO dos no Centro de Pesquisas sobre Nessa interação, o macrófago gens de bactérias que são patogê-
DESCOBERTO NO o Sangue de No,•a York, em tra- "apresentava'' o antígeno para nicas e outras que não são.
balho de Palatnik com pesquisa- que o linfócito o reconhecesse. A hipótese de trabalho prevê
HOSPITAL dores especializados nos grupos Em outras palavras. o macrófago que, caso a forma de reconheci-
UNIVERSITÁRIO DO sangúíneos Duffy. O grupo Fs expunha o antígeno em sua su- mt-nto imunitário seja reh~\ant~
RIO está presente em brancos e ne-
gros brasileiros, americanos e eu-
perfície. de maneira que o linfó- nos mecanismos pato~ênicos. os
cito fosse capaz de reagir a ele. A macrófagos dos indivíduos afeta-
O homem possui um grande ropeus. e ainda em outras raças, seguir, o dr. Rosenthal. em cola- dos por esse tipo de infecção sele-
número de grupos sangüíneos. como nos indivíduos de uma tribo boração com E. Sbevach. de- cionariam as porções das macro~

além dos clássicos ARO e Rh. de pigmeus Babinga. da Africa monstrou que a interação entre moléculas da bactéria qu<..• seriam
bem conhecidos devido à sua im- Ct·ntral. essas duas populações celulares apresentadas a seus linfócitos. No
portância nas transfusões de san- Abre-se assim uma perspectiva só ocorria quando as células par- caso de ser a bactéria patogênica,
gue e na doença bemolítica do re- de grande interesse teórico e prá- ticipantes eram geneticamente e sendo o indh·íduo infectado ~e-
cém-nascido por incompatibili- tico.já que :-,e sa~ que as pessoas idênticas. neticamentc "ensivel à doença, os
dade materno-fetal. Em 1950. na Fy(a b ) são resi~tentes à malá- Barcinski e Rosenthal. utili- antígenos selecionados pelos ma-
Inglaterra. foi descoberto no soro ria. O novo grupo sangüíneo po- zando a molécula de insulina crófagos deveriam ser semelhan-
de um paciente, o sen bor Duffy. o derá ter alguma importância como antígeno, demonstraram tes a alguma molécula presente
anticorpo antiDufTy (a). sendo o para o estudo dos mecanismos de detalhes da interação entre as no coraçãu du paciente. Desse
antígeno correspondente cha- estabelecimento dessa infecção. células do sangue. A forma de ex- modo. seus linfócitos, ao reco-
mado de Fy-. No ano seguinte foi posição do antígeno a ser reco- nhecerem e reagirem ao antigeno
encontrado o grupo antiDuffy (b) nhecido dcp~nde do genoma da apresentado. farão o mesmo com

(Fy'). célula apresentadora (o conjunto seu próprio coração. ~crando-se
"
Os indh·íduos de origem euro- PREMIO LAFI DE de seu material genético). Como c:ntão os fenômenos de au-
péia pertencem a três tipos na molécula da insulina há duas to-agressão taractcrísticos da
diferentes: os que só possuem CIÊNCIAS
, JJon;ões que podem ser re.conbe- doença. l'or nutro ladu, se o indi-
Fy-, os que só possuem Fy", e os MEDICAS 1981 ddas, a escolha daquela que será ' 'íduo inft•ctado for n·sistcnte à
que possuem tanto Fy• quanto apresentada ao linfúdto depende doença. st•us macrúfagus selecio-
Fy'. Mas os indivíduos de ra~a Os mecanismos patogênicos das características gt·néticas dn nariam antígenos sem essa dupla
negra, mt sua imensa maioria~ que determinam o ataque do or- macrót'ago apresentador. rcatividadc. O individuo produ-
não possuem nem Fy• nem Fyh ,e ganismo doente por células pro- Diante desses dados, Darcinski ziria entüo uma rc ·posta pura-
são por isso chamados de duzidas por ele próprio consti- c seus colaboradores formulantm mente antibactcriana. sem ata-
Fy(a b ). Acredita-se que eles tuem o tema do trabalho quere- a hipótese de que a maneira como car seu próprio coração. Além
carregam uma dose dupla de um cebeu o l'rêmio Lati de Ciências os macrófagos de um dado indh·í- disso, só seriam patogênicas as
gene que não é capaz de produzir Médicas de 1981 . Seus autores duo apresentam um antrgeno bactérias que possuíssem antige-
qualquer espéde de antí~eno do são Marcello A. Barcinski, seria função do patrimônio Aené- nos semelhantes aos presentes em
grupo Duffy. Maria lgnez Gaspar c George tico deste indh·íduo, e decidiram estruturas cardíacas dos indh·í-
Recentemente. internou-se no Alexandre dos Reis, do Instituto então verificar se a forma de re- duos stL~cetfveis à doença.

Hospital Universitário da UFRJ de Biofisica da UFRJ. O prêmio9 conhecimento teria importância O trabalho demonstrou que a
uma paciente em cujo soro foi en- instituído pela Fundação Lati. é em certos mecanismo patogêni- doença é transferida por linfóci·
contrado um anticorpo que rea~e outor~ado por um júri nacional cos que envolvem o ataqut• do si~­ tos imunes c por macrófagos que
preferencialmente à~ hemácias de ciências médica~. tema imunitário a substâncias só apresentam antígenos de bac-
que não ~ssuem antigenos f)uf- O trabalho premiado é a com- originadas no próprio organismo. térias patogênkas. Além disso, as
fy, as Fy(a b ), apresentando provação experimental de uma O modelo escolhido foi o da in- experiências revelaram que os
portanto um comportamento di-- hipótese cujas bast's tl'Órica~ sur- fecção reumática do coração~ que macrófagos que transferem a
ferente de todos os grupos Duffy giram da colaboração entre Bar- ocorre após a infecção de camun- doença provocam o apareci-
conhecidos até então. cinski e o dr. Alan Rosenthal. dos dongos com n·rtas bactérias. A mento de linfócitos capa:tes de re-
Os professores Marcos Palat- Institutos Nacionais de Saúde dos doença. que também ocorre no conhecer as estruturas cardíacas
nik, Pedro Clóvis Junqueira e EUA. Rosenthal havia demons- homem. tem as seguintes t:aracte- do camundongo. Resta agora de-
colaboradores, do Serviço de He- trado que o desenvohimento da rísticas: 1) o sistema imunitário monstrar que uma linhagem de
mo terapia do H.U., concluíram resposta celular a substâncias es- dos indh·íduos doente · ataca .seu camundongos resistentes à infec-
que se tratava de um novo grupo tranhas ao organismo presentes J)róprio organismo; Z) há indh•f- ção bacteriana tem macrófagos
sangüíneo. que denominaram de no sangue dependia de uma in- duos sensíveis e indh·íduos resis- incapazes de apresentar os antí-
Fs, sendo s a inicial do sobrenome teração entre dois tipos de células tentes à doença , e essa proprie- genos da bactéria patogênica.

Pg 2 Julho/Agosto de 1982 N.• 1 Ano 1


Os terminais TS, de padrão Micropro~veis para qualquer A Linha TS possui design moderno e
internadonal, foram totaln1ente sistema instalado no país, os fundonal, minimizando consumo de
projetados, desenvolvtdos e lerminais da Linha TS garantem alta energia e espaço ~nnidndo fácil
fabricados por técnicos brasileiros. confiabiüdade e desempenho. integraç~o em qualquer ambiente.

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existenCes pelos próximos dez suas propriedades fhico-quími-
PRODUÇÃO anos, no mínimo. A principal cas, transformou-se em material A TARTARUGA:
NACIONAL DE matéria-prima para a fabricação e.stratêgico de\·ido às ~mas carac- FONTE, DE
FIBRAS ÓPTICAS de fibra típt i c as de alta quali-
dade tecnoló~ica e o CfU&rtzo, não
terb1icas criogênícas e de alta re-
sistência aos ácidos fortes. Esta
PROTEINAS
Um sistema de lelecomunka· em sua forma naturltl. mas em propriedade se presta à fabric~­ A reprodução em cativeiro da
çõtts óptica~ será teS'tado h r 'e- pó. fundido ou na forma de tetra- ção de ligas. com o nióbio en- tartaruga- animal que parti·
mente com a inaugunu..'fiu de um cloreto de silfcin. trando numa proporção sufi- cipa em grande escala da dieta
protótipojó in .-talado em J~rare­ J.:ssa~ tre~ transformações das ciente J)ara enri<JUt•cê-Jas com alimentar da~ populações amazô-
paguá, no Rio. Ele permitirá a lascas de quartlo rt'querem in- seus cfcitns benéficos sem inter- nicas e cuja carne tem o dobro de
tran~missáo de ~MO ligações si- fra-estrutura te<·nológica de al- ferir nas propriedades mecânicas proteínas de seu similar bovino
• •
multâneas entre duns l'enh·ais guma romplexidnde. mas accssí- c de conformação. - com() pnmcaro pa~o para e~-

telefônicas e lerá ac; vnnla~cns de ,·el a grupos de pesquisa que tra- Soh e.c;te enfoque. o Programa tabeleccr sua criação em fazen-
po sibilitar ligaçõl's a distânciac; balhem no cam()o. Em um futuro de Engenharia Metalúrgica e de das na região e. num futuro mais
maiorc~ c a preços mais hnb:os. próximo. a importância das jazi· Materiais da COPPE (Coordena- disumte, no Nordeste, é o princi-
Ca o nct:e~sário , o istema po- das de quartzo para a produção ção dos Programa de Pós-(_;ra- pal objetivo de projeto em desen-
derá chegar, futuramente, a de fibras ópfkas erá equhaleote duaçfto em Engenharia). da volvimento pelo Oepartarneoto
transmitir duas mil ligaçtk~ si- às das mina"' de cobre para o fa- FRJ. concluiu recentemente de Pan1ues . acionais e Resen·as
multane~mente. brico de fios convencionais de uma pesqui~a encomendada pela Equh alentes, do Instituto Bra·
O programa- que t.>omprc- telecomunicações hoje usados. Companhia Jo~erro e Aço de Vi- sileiro de Desen\ oh•imento Flo-
ende o desen\'nlvhncn•o de tec- tória - Cofa\'i - e financiada restal. (1801<').
nologia para a utili1.a\'âo de fi- pela Finep. A família de li2as tes- Em outubro do ano passado foi
bras ópticas., laser c detrtures ÓJ)· O NIÓBIO, tada - de ferro, ni6bio, manga-
nês e cromo, com um teor má-
instalado, com() parte desta pes-
ticos no ·etor de cumunil·nçtít..-s- quisa que t·omeçou em 1978, o
está sendo financiado pela 1'cle- METAL , ximo de nicíbio de 2%- apresen- primeiro criadouro experimental
brâs rlesde 1973. Executado no ESTRATEGICO tou resistência satisfatória à cor-
rosão em ambientes marinhos c
de tartarugas, com 20 fêmeas e
Instituto de Física da nicamp c cinco machos, localizado na re-
no Centro de Pesqui a c De en- em meios alcoólico .... sen·a biolôgka de Trombetas, no
' 'oh imentu (CPD) da Tclcbrns. o A produção de nióbio ~uper­ Algumas da. li~as apresen- Pará. Trata-se de um pequeno la-
prnjeto atingiu. em meados do puro por elet rulisc e a construção taram resistência à corrosão em go, no centro do qual foi construí-
de uma bobina supen·ondutora m(•ius alcoólicos equivalente aos
ano passado, um estágio 'fUt.' per-
mite a trunsferênda ;, imh'•"triA são os próximos projetos do Gru- 8t'fl"i infwirtn~·pi~ A i"'nl\rt&nl'io
.. -- ---r -- . . --.·-- . -
da uma praia artificial para que
. . .
\i.i CiJ.uuuu~ Ut:~UH:Ut, C COm lrUtCI·
nacional da tecnologia de fabri- po de Baixas Temperaturas do dC.."ilC resultado deve ser ressal- ras nativas em suas margens,
cação de um tipo de fibra óptica Instituto de t:·rsic;.t da Unicamp tada já que. no estágio atual do

para sua nlimentação.
chamada ..íncUcé ~raduul". que, desde 1970. deseovoh e pes- Programa Nacional do Alcool, Os estudos aproveitam. no rio
Do ponto de vista de sua capa- quisas . obn· o.1 metalurgia física e toneladas e toneladas de chapas e Trombetas, uma área de cinco
cidade tccnológka. a indústria a supcrconduth•idade do metal. tubos de a\·o inoxidá\·el são hectares e se interessam- aJém
nacional poderia produzir todo o sua liJ!a e ·cus ,l :ompostos. anualment~ substituídas ao final
da biologia, ecologia e manejo
sistema dentro de um ou dois O Projeto Nióhio mantém con- de cada safra. dos animais- por seu comporta-
ano. • mas a ' 'elocidadc de absor- Yênios com \'Úrius uni Vt.'rsidades Como subprodutos desta linha .- .
mento na regaao. seu regtme ma-
.
ção da tecnologia mi depender da brasileiras. além de centros de de pesquisa, são ~randes as possi- gratório. a incubação e a eclosão
capacidade do mer<:ado. l ~ n­ pesquisa da Alemanha e do Ja- bilidade..'> da utilização de ligas de dos ovos.
q u a n to i s t o n ã o o c o ra· c r , o pão. e \'em sendo dc..-.cn' oh·ido na ferro, ohíhio c manganês como
cidade paulista d~ Lorena, onde A reprodução da tartaruga em
CPD/Telebrãs agirá corno cen- aço -ferramentas para a confec-
um forno de feixe eletrônico de cativeiro tem ohjetivos econômi-
tro-piloto~ produzindo o d(:mais ção dt.· matri1.cs par.t a moldagem
300k\\' e capacidade de 40 tone- cos, uma vez. <1ue a carne do ani-
componentes do sistema em pe- de plástico ou para a fundição sob
ladas/ano produz atualmente lin- mal atinge. nos mercados de
fjucna escala. pressão de ligas de baixo ponto de
gotes de niôbiu metálico de 200 fusão. Belém e Manaus. o preço de mil
A filosofia do programa
abrange dois aspectos: a existên- quilos. Essas possibilidades e outros cruzeiros o quilo. O projeto pre-
cia de um projeto a longo prazo Coordenador das pesquisas. o as~untos de importância técnica e
tende, portanto. aumentar a pro-
obrauweração entre a unh ersi- físico O l'~lr Jo"'erreira de Lima t.>-con{)mica no âmbito da produ- dução de ta carne~ além de
dade, a m proj\s e a indústria na- lembra que o Brasil possui cerca garantir a presen•ação de uma
ção nacional de aço serão discuti-
cional, e a idet.a 'lltrc oi! OrO\ eitar de 80% dns rescn•as mundiais do espécie ameaçada de extinção. •
dos no I lmcontro de Tecnologia e
um momento de trnfr~rtr:ia ..do metal. 1 um futuro próximo. o Utilização dos Aços acionais. Comparada a oufras c-.trnes de
mercado para implantar utar oióbio deH~ra ser utilizado em marcado para o período de 13 a largo consumo, a de tartaruga
tecnologia nacional competitiva. maior escala nas indústrias aero- JS de uutubro na UFRJ. Do en- possui, em cada quiJo. 86~35% de
Os pesquisadores ucrcdilarn espacial. química t.> de reatores contro, patrocinado pela COPPE proteínas. contra 35,62% de um
que a fibra Ól)tica, já em produ- atômicos. como metal de estru- e pela Associação Brasileira de no\ilho de 450 quilos. 43A5% de
ção em escala industrial, de'\erá tura c componente de ligas. Metai • participarão dirigentes, um frango de um quilo e 800 gra-
atender à necessidades do iste- Há pouco tempo. o niôbio. que empresarios. engenheiros e pes- mas c 24!24% de um porco de 135
mas de comunicaçiies óptica era conhcddo por algumas de quisadnre • quilos.

Pg 4 ·1IE Julho/Agosto de 1982 .• 1 Ano 1


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PRODUÇAODE urna \'CZ <JUe a droga sú ngc de l'tmfiada a um grupo de trabalho mercado certo assim que quanti-
uma l'élula para outra da m ma que c confunde com o comitê na· dade maiorc do ó leo e tor-
INTERFERON NO espl-ci<~. cional brasileiro do PlRB. narem di~ponh eis.
BRASIL O IJrojeto da UFR.l preocu- ma cuidadosa triagem re..;;ul- Experimento · com a jojoba ja
pa-se com o mecanismo de repli- tou na seleç-ão de 19 espécies de \'êm sendo realizados no nordeste
A tran ferência de t('cnologia cação dos \'irus. dcscnvoh·cndo plantas nativas ou introduzidas brusilch-u pela Sudenc. nu Uni-
(ácil c barata ()ara a produção de um istema de culth·o de células corutideradas promissoras pa~a o ' 'ersidade Federal elo Ceará e no
interferon humano - dcscnvol- que, depois de infeccionadas, são eventual cultivo. Algumas delas Centro de Jlt~ squisa AgrHJ)ccuá-
,
''ída por pesquisa do Departa- submetidas a teste~ de verifica- já 'êm cndo plantadas em pe- rht do Trópko Semi-Arido da
mento de Mkrobiologia da Uni- ção de alterações metabólicas. No quena escala no Jlais; outras cure- Embrupa. em Petrolina (JlJ.:).

• •
,·ersidade Federal de linas momento. o grupo esta cxamt· cem ainda de conhecimentos Ctui-enltém - I~ o nome indigcn;1
Gerais- permitirá o aumento nando O\ (cus farituba.dcsco- agronômicos. Citamos, entre as da já famosa Ste,,ia, nath•a do
da produção da droga. ainda em bcrto na região amazônica. mais interes~antes: J»m·aguai e Mato Grosso do Sul.

escala lahorator.i al, e, conse- Guar- Leguminosa nath a da
~
E fonte do e lt>\ ios ídio, uma
qüentemente • .seu emprego em f ndia <.'ujas scmentl'S produL.t.•m suhstânda de forte poder ado-
~tudos e tratamentos clínicos. PROJETO CULTIVOS uma goma de.· mtíltipln..; aplka~ çantc já em uso no .Japão. Plan-
De 1973, quando foi iniciado o PIONEIROS çõcs, entre elas a indústria de ali- titls iniciaisjã cxish.•m nos c..o;;ladus
projeto sob a coordenação do mentos. a fabricação de a>aJ>CI, o de São Paulo, Paraná e Matu
professo c Romain Golghcr. até Há 40 anos~ a soja, a menta c a acabamento de produtos têxteis. Grosso do Sul. A Fincp c tá fi.
hoje. sua produção foi triplicada. pimenta-do-reino eram plantas a refinação de metais e lubrifica- nnnciando um grande pn~ieto de
As pescauisas com o inlerfcron quase desconhecidas no Brasil. ção e condicionamento dn solo em pc~qui a agronômica e lccuoló-
humano deri\'ado da placenta De todas das~ o país tornou-se, perfur.açól'.s com sondas petrolí- gica. com participação do ln•;tl-
tem como objetivo, além de de- em uma época ou outra. o maior feras. Além da goma. as sementes tuto Agronômico de Campinas,
senvolver tecnologia, o estudo de produtor mundial. Estamos pro- encerram pro temas de alto \'alo r, do ITAL. du lnstifuto de Hotà-
un1 tipo de drnga ainda não ex- tor.a ndo novas sojas. novas men- utilizâ\•eis em rac;oes para ani- nka de São Paulo e da Unh·er.si-
plorado em países mais adian- tas, novas pimentas-do-reino. lllai'Õ. - dade de l\laringá.
tados. Esta é a filosofia em que se funda- O guar já está sendo culth·ado Pupunlw - Palmeira amazônica
Há alguns anos, pesquisa-se o mentou a 4:riação do pro,jclo Cul- em <.'erta cst·ala na regiáo nnrte produtora de fruto em grnndl's
interferon derivado de glóbulos tivos Pianl!iros, numa estrl'ita do c.stadu de Minas Gerais, por cachos. Planta dt• cultura inda-
branco~- na Argentina, já (o colaboração entre a SBPC e o iniciath·a da EPA.MIG. O in- gena. de grande 'ariabifidade,
produzido em escalu industrial CNI'q. teresse por parte de empresa · pode oferecer óleo comesth el, ex-
- . de células da l)elc c. mais re- A idéia se insere na de um J•ro- prh ada \'em :,cndo intcn o. celente palmito e, por cozimento
centemente~ de bactérias, atravéo;; jeto Internacional. o Prograllfa Jojoba ·Muito se tem falado. ulti- dos frutos, alimento sahoroso c
de técnicas de engenharia gené- lntt'rci;ncia de Re.c unos Biológi- mamente nestn planta CJUOsc nutrilh•o. Seu culth·o é objeto de
tica. em países como os Estados cos (PIRB). criado há alguns milagrc•sa. Suas semenlt'S enccr·- importante C!'fudo no Instituto
Unidos, a Inglaterra e o Japão. anos pela Sociedade Interciênda, ram l'm ele,·adu percentagem um 'acionai de Pcsqui a da Ama-
O aumento da produção do in- uma federação de Sociedades •'óleo'' de <.·aractcristicas únicas 7.Ônia.
tcrf~ron humano será possh·el para o Pro~resso da Ciência de (uté hoje) no reino vcgehtl. Trata- l'iretr() - Planta rornecedora de
graças ao con ''ênio da UFl\IG países do continente americano à ~c. na realidade. de uma cera h· piretrinn~, in cti<.'idu~ de grande
com a Finep c o Fundo de lnccn- qual se ad•a filiada também a quida em tudusemelhnntc Ho óleo consumo mundial. Jai hum·e em
th·o à Pesquisa do Banco do Brn· SBPC. do cachalote. IEsrc óleo po sui outra éJloca a cultura do piretro
síl c permitirá, segundo o profes- O PIRD tem por objetivo iden· qualidudc~ (-spedais de estabili- no Rio Grande do Sul, athidade
sor Roma in Golgh~r. a realiza- tificar recursos biológicos ainda dade. mesmo em condiçõc.sc..xtre- que hoje está totalmente abando-
ção de testes clínicos, a melhoria pouco conhecidos ou subutiliza- mas de tcmperuf •
ura {" a altus nada. Apesar da existência de
de qualidade do produto, a con- dos, com potcndalidnde de se pressões. E componente valiosfs- análogos sintético . o mercado
sen~iio do interleroo e o deseo- tornarem objetos economica- simo de óleos lubrificantes e flui- ainda é gr-:andc paro o produto de
• voh•imcnto de trabalhos visando mente interessantes para deter- dos hidráulkos. origem natural.
sua purificação. Ele acredita minadas regiões ou países. A jojoba é planta de regiões Estt.as são alguns exemplos. O
que. num futuro distante. será A sede do PlRU é a Colômbia1 áridas originária dos deserto~ do ,p rojeto pretende lc~'ur seu C.."itudo
possível inYcstigar melhor o efei- estando a Asodadón Colombia- México e do sul do~ Es1ados Di- até as ultima s conseqüências.
to do ínterferon humano no tra- na para e) A vanre de la Ciencia dos. Seu culth·o estâ sendo inicia- nesta forma. seus objetints in-
tamento do câncer. empenhada no sucesso do em()re- do naquele~ pltf!!ics. além do cluem: a identificaçao e e\entuul
Uma outra linha de pesquisa endirnento. A par da elaboração Egito, Japão e lsruel. A produ- dcscm·oJvimento de \'oriedade~:
... , ,'"
• com o interferon \'em sendo de- do estudo de ,·iabiUdade, foram çao. por ora. t> mmtma. mas o pesquisa econômica dos usos po·
• senvoh•ida pelo Instituto de Biofi- criados comitês a nfvel .n adonaJ produto já encontra aplicação em tenciais; análises nutricionais,

sica da UFR.J. sob a coordenação com a tarefa de estudarem as pos- artigos de co mética e como adi- quando "e truta de espécies ali-
do professor f\.loacyr Rebello. há sibilidades do projeto em cada tivo para lubrificantes c.spcdais. mentícias; estudo do dcsemjJenho
seis anos. O grupo desenvoh·eu um dos países partidpantcs. Suas potencialidades. porém, báo agnmômico e otimi1..ação cultural
uma térnica para preparar o in- Com este objeth·o em mente. cri- enormes. Com o quase extermí- e, finalmente, o fomento junto
terferon em células de camun- ou-se no Brasil o projeto Cui/Íl'OS nio e o t~onseqücnte proteçãu das aos plantadores t n necessária
dongo para estudos neste animal. Pioneiros, cuja organbaçáo foi baleias no munrfo inteiro, haverá ath idade .l lromoc.ionul.

Ano 1 N.o 1 Julho/Agosto de 1982 Pg 5


Ciência Hoje é a revista de divulgação científica com a participação de cientistas de todo o país. Mas
da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. pretendemos fazer utn esforço de procura nessa
Tem a intenção de manter aberto um canal de comu- direção.
nicação direta entre a comunidade científica e o pú- Ciência
, Hoje pretende atender à nossa curiosi-
blico leitor, intenção que reflete e acompanha acres- dade. E da curiosidade que nascen1 as perguntas que
cente preocupação das associações científicas em irnpelean os hon1ens para novos campos, novas des-
particular a SBPC e da própria ciência brasileira cobertas. novo~ progre sos. e é privilégio do cientista
com seu
, papel em nossa .,ociedade. desfrutar plenarnente desse impulso básico. O pro-
E pouco corrente entre nós a divulgação cientí- cesso pelo qual se faz a ciência, no dia a dia dos la-
fica. Não se encontra ainda um veículo de circulação boratórios. na busca de resposta para as permanentes
ampla que se preocupe especificamente com a difu- perguntas, é também assunto de Ciência Hoje. Neste
são da produção científica brasileira. Ciência Hoje particular, Ciência Hoje te1n un1 papel desmistifica-
pretende publicar basicamente artigos escritos pelos dor. Em Ciência Hoje o cientista é uma pessoa co-
t

próprios cientistas. O esforço nesse sentido não será mum, educada para o fim especifico de encontrar na
pequeno: os cientistas ainda não estão habituados a natureza e na sociedade as respostas para suas indaga-
escrever para leigos, e cada vez mais abreviam suas ções. O cientista de hoje é un1 cidadão participante,
formas de expressão, pelo uso quase obrigatório de comprometido con1 o ambiente en1 que vive.
uma linguagem carregada de jargão e de fórmulas. Ciência Hoje tem compromisso corn a democrati-
dirigida ao público restrito dos especialistas de sua zação da cultura e, em particular, da ciência. Só com a
área de pesquisa. O processo utilizado por Ciência divulgação do conhecimento, na fonna de dados e in-
Hoje é o do trabalho conjunto entre o cient L ta e o jor- fonnações confiáveL~. colocados à disposição do públi-
nalista. Assim, a elabordção deste primeiro número co através de todos os meios de comunicação, será pos-
reflete também o início da procura de uma linguagem sível aumentar seu poder de análise crítica indepen-
devidamente acessível, sen1 prejuízo da qualidade dente e tomar efetivo seu potencial de influência no pro-
científica do conteúdo. Da mesma fonna se explica a cesso que determina os caminhos para a sociedade
ênfase atrihuírl;) ?4 1Jn~tr~r.iin
. - ..,-- - ..
.., '""' ...."" ... .. """,..."' .
1'1"\Tn n ,, "" tnrl n

Ciência Hoje deverá, portanto, servir para que o Con1 esta publicação, a SBPC se dispõe a preen-
cientista brasileiro possa se desincumbir de responsa- cher um espaço vazio em nosso ambiente cultural.
bilidades que lhe cabem, como a de fornecer à socie- demonstra sua intenção de. n1ais uma vez. estimular
dade uma descrição inteligível de sua atividade cria- os cientistas brasileiros a assumiren1 uma posição so-
dora e a de colaborar no esclarecitncnto de questões cial n1ais generosa, e cumpre seu objetivo de incenti-
técnicas e científicas de interesse geraJ. Não preten- var o interesse do público em relação à ciência e à cul-
demos ter encontrado a fonna, ou a fónnula, de un1 tura.
veículo de divulgação científica, multidLciplinar. Os Editores.

O que é o SBPC
A SBPC tem por objetivo cootribuU' para mais de 17.000 a!)sociac.fos. c em l>UllS A.\ publkn~&l da SBPC Como at~oc:itJr·Se À SBPC
o destnvolvimento cientifico e tecnoló- reuniões anua• são a~ntados 1...-etea de A SBPCcditadesdc 1949 n re\lStrt Ciên- Podem associar-se à SBPC cienti:stas e
gJCOnaclOOa.l,~a~ãoen- 2.500 trabalhos c:aentífico, e realiwdos cia e Cultura. mensal desde 1972.. Suple- niio-<:tcntistas que manifestam interesse
trepesquasadore~defendera liberdadcdé 250 me.sa<>·redoncfa . CUJ'St.)S e ronfetên- mentos de ta revista :são publkttdo~ pela ciência. Para isso. basta ser apresen·
. . .- .
pe.squasa e opmtao; congregar pessoas e CJ.a.S. durante as reuniões anuai-., contendo os tac..lo por um .sócio ou secretário regional e
tn.stituiç&s interessadas no progresso e Atravé~ de suas Secretaria!; Regionais . resumo~ do~ trnbalho~ cientffic.o npre- preench~ um forrnuláno apropriado. A
na difusão da ci!ncia; incentivar e e~ti- pomove simpósio.;, encontros c iniciati· ntados Além destB revista e de Ciência fiJiaç.ão Súrtk."'lte é efetivada ap6~ a apro--
mularo interesse do público em relação~ va-: dê difusão ,.entffica ao longo de todo HoJe. a Sociedade rem public-ddo boletins vação da diretoria e dá direito a rec.ebcr a
\.~ta e à cultura. o ano. regionais e \'O lumes ~pcciais dcdkndos a revi ta Ciência e Culrura e obter um pre-
Fundada em 8 de junho de J948 por um sunposi JS c reuniões que organiza perio- ço especial para ll assütatura de C1êncio
pequeno grupo de cientistas, hoje reune dJcamc.nte. Hoje.

Pg 6 Julho/Agosto de 1982 N!' 1 Ano 1


APRESENTAÇÃO Pig.
CUBATÃO: UMA TRAGÉDIA ECOLóGICA
Reportagem sobre problemas ambientais que afetam Cubatão, com um dossiê de estudos ckntlfkos relacionados ao tema 10
ORIENTAÇÃO MAGNÉTICA
Descriçio de pesquisas com bactérias e algas que se orientam pelo campo magnético terrestre . .. .. . .. .. . .. . .. . .. .. . .. . .. .. .. lS
FORÇA ESTRANHA
O papel do futebol na sociedade: os valores a ele associados, a torcida, a seleção brasileira ................................... 32
POR QUE OS INDIOS CANTAM?
A múska nas sociedades lndfgenas brasileinJS como fator de organização social e em cerimônias dt cunho religioso •••• 38
MUSEU GOELDI
Perfil do Museu Paraense EmOio Goeldl, Importante Instituição brasileira de estudos sobre. a Amaz6nla ••••••••• ..•...•.• 42
CEM BILHOES DE NEURONIOS
As células que compõem o sistema nervoso e seu desempenho na transmissio de impulsos ao cérebro .. ... .. ... .. .. .. .. .... 47
VENTO SOLAR E VENTOS ESTELARES
Os ftuxos de partfculas que percorrem o espaço interplanetário e lnterestelar .................................................... 54
POTENCIAL DE CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA
Com baR no Censo de 1980, projeções do poafvel crescimento da população do pais .. . ... .. . . .. ... .......... .................. 58
A REFORMA UNIVERSITÁRIA EM QUESTÃO
As opiniões do presidente da Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior e do sociólogo Simon Scbwartzman
IC»bre a reforma da Universidade Brasileira •• . • •. . . • •. . . • •. . . . •. •. . .. . • . • . •••. . . . . •. •. . •. . . . . . •. . . •. . . . •• •••••. . ••• . •••• • •••. . ••••••. ••• ••. 70

SEÇOES
lí<:)~E: C::IÊ~C::IA ...••.....................................•......•..........................................•................................ 2
..............................................................................•.................................•.•............ .a
líE:<::~<:)L<:)(:;J~
[)~LJ~E:Nll<:) ............•.............................................................................•.........•.......................... a
~LJ~<:)~ .............•...•..................................................................•...............•.........................•......••.. 5~
RESENHAS DE LEITLJRA .. ........ ... .............. ... ... .............. .......... .. ........ ..............•................................ 75

E: (3<:)~ ~JO\~E:~ .............•.................................................................................................................

Publicada bimestralmente sob a Coaselbo Editorial: saldo Carlini, Fabio Wanderley Gomez e Jenny Raschle (ilustra-
responsabilidade da Sociedade Alberto Passos Guimarães Filho, Reis. Fernando Gallembeck , ção); Henrique Lisboa e Valmir
Brasileira para o Progresso da Darcy Fontoura de Almeida, Ennio Francisco Weffort. Gilberto Ve- Pinto Ferreira (arte-final): Clube da
Ci~ncia . Redação e Secretaria: Candotti, Roberto L..ent (Editores);
lho. Herbcrt Schubart. José An- Criação e Caio Domingues e Asso-
Avenida Wenceslau Braz 71. fun- Alzira Alves Abreu. Angelo Bar- cônio F . Pacheco. José Antônio ciados Publicidade (apoio cultu-
dos. Casa 27. CEP 22.290 - bosa Machado. Antonio Cesar Seixas Lourenço. José Goldem- ral).
Telefone: 295-9443, Rio de Janei- Olinto, Henrique Lins de Barros. berg. José Ribeiro do Valle, Leo- Assinaturas
ro, RJ. José Monserrat Filho. José Reis. poldo Nachbin, Luiz Martins. Luiz Brasil: um ano . .. . . Cr$ 1.800,00
• Rodolpho R. G . Travassos, Mauri-
Maria lsaura Pereira de Queiroz. Exterior: Consultar a Secreta ria
Oswaldo Frota Pessoa, Otavio Ve- cio Mattos Peixoto, Mauricio Ro-
lho, Pedro Malan. Reinaldo F. N .cha e Silva, Miguel R . Covian, Produção Industrial a cargo da

Jornalista Responsável: Guimarães, Rui Cerqueira. Moisés Nussenzweig, Newton Lastri S .A . Indústria de Artes
Argemiro F.erreira Freire Maia. Oscar Sala. Oswaldo Gráficas. Rua da lndependen-
Editor de Texto: Couelbo Cientffko: Porchar Pereira7 0ctávio Elísio Al- cia 382 - São Paulo- S .P.
Sergio Aaksman Antonio Barros de Ulhoa Cintra, ves de Brito, Telmo Silva Araújo. Para a publicação desta revista con-
Editor de Arte: Antônio Cindido de Melo e Souza. tribuíram o Conselho Nacional de
George B . J. Duque Estrada Carlos Chagas Fi lho. Carolina Colaboraram oeste núnaero: Desenvolvimento Cientffico e Tec-
Secretária: Bori. Crodowaldo Pavan. Dal- Bernardo Kucinski, Lucio Aávio nológico (CNPq) e a Financiadora
Zelia Freire Caldeira mo Dallari, Darcy Ribeiro. Eli- Pinto e Régis Farr (texto); Vilma de Estudos e Projetos (RNEP).

Ano 1 N.• I Julho/Agosto de 1982 7


I
'
1en 1s os-o ve e-- oro o •

uceor
As condiçfles de vida na Terra depois de um conflito nuclear tt•rimn nmdiçlks de ser lwspiwli:ado., : t" é prr•ci.m lembrar rmnbém
seriam tão precárias que a única esperança que resta à humanidade é que ninguém esmrm em condiçlíe\ de preswr n"sistência médica se-
evitar qualquer tipo de guerra atômica. Esta foi a conclusão a 4uc che- quer a uma parcela mínima das vítimas de queimaduraJ graw:~. dera--
garam cientistas c especialista' de várias partes do mundo reunido em tliuçao ou de qut·da~ com esmagamento.
outubro de 1981 sQb a presidência do cientista br..tsilciro Carlos Cha- A incapaciclnde de assi.wénda médit·a toma-se el·ideiiU' quando
gas, da Academia Pontifícia de Ciências. 'e pensa em wdo o que seria neceM.·círio ao trmamento da~ \'ftimas tk
No "edc da Academia. em Roma. o grupo examinou as conse- le., õe r.:raves. Basta-nos citar o ca.w de umjm·em de 20 ano.-. vfzima de
qüências do emprego de annas nucleares para a saúde e a sobre\ ivênda queimaduras em conseqiiêllt ia Ja explo.'laO do umque de (!a.wfina do
da humanidade. Além do presid~nte. era integrado pelas scguint~s carm que dirisdtl. Enquamo ele e.,Jeve hmpttalizado tta unidade de
personalidades: E. A maldi. da Itália: N. Bochkov. da URSS i L. Caldas. tflleimaduras grm·e.'\ de um Jzowirul de Bosron. recebeu NO litros de
do Brasil: H. Híatt, dos EUA; R. Lalarjct. da França; A. Lcaf, dc>' plmma e I 4 7 de gl6bulos vermelho.'l recém-collge.!aáos, 180mLde pla-
EUA; J. Lcjcune, da França; L. Leprince-Ringuet, da rrança; G . B. qw•W.\ e 180 de albumina. Foi sulmlt'tido a .Hús operações parafechar
Marini- Bettolo,da Itália: C. Pavan. do Bn1sil (presidente da SBPC):A. jerimemos que abrangiam 85% da \Uperjide do corpo. com o implante
Rich, dos EUA: A. Serra. da Itália. c V. Wcisskopf. dos EUA. th• diferentes tipo.) de enrerto.,. indu,çi\·e c/(• pelr artificial. Enquanto
Transcrevemos abaixo a declaração. publicada no O Correw da (:."\tl'l't.' no hospital. esse jovem teve de ,,er muntido com respiração

UNESCO de mttio de 1982. que contém a série de pontos há,icn ... deba- artificial; e apesar desses e dt! outro.\' recurMJ\ etcepcionais. que exis-
tidos e aprovados por unanimídaue na reunião dos ciemistas: tiam em umo das instituiçôes ho.,pitalare,, tmlÍ' famosas do mundo 1 o
paciente morreu no }3." dia de hospirali:uçao. O médico responsável
As recemes declarações .legmulo as quais se pode gwúwr uma pelu caso comparou as lesÕt'.l elo pacientt ch que foram descritas por
7

guerra nuclear e até sobre\·iver a Pia denotam uma t1prt•riaçiio de,/t•i· muitas )'Ítimas de. H iroxima. Se 40 pcwieflfe.\ com lesões semelhantes se
tuosa da realidade médica. Toda guerra nuclear propagaria ÍtiC\'Íill - apreuntassem ao mesmo tempo em todm m lw., pilais de Boston. a ca-
''elmenre a morre. a doença e o wjrimenro em proporção e e.n:ala gi- pacidade médica da cidade niin M•rit~ mfic:ielllr para atendê-los_ lma-
gante.rcar e sem nenhuma possibilidade de intervenção médica ejicm . ).:Ínemos emão o que acontece' ia Jt', ao Jaclo dar; milhares de pes.soa.\
Isso nos leva à mesma condusão a que chegarmn O.\· mhlit·o\·a n.·speiro feridas, a maioria das in.\lala~·tii•.\ médica,. di> urgência esri\•essern des-
das epidemias letais que a hummrid{l(/e já expe1imnl/ou: .wí u preven- truídas.
ção permite mcmter o controle du siluaçâo. Um médico japotLês. o prof. j'rl. IC'himam. testemunlw vi.wal JoJ
Ao C'ontrário do que geralmeme se pensa. hoje temos um conheci· efeito' da bomba de Nt~gu.wki, publicou um relmo do que viu: ·'Tentei
memo razoável da e.:aetHâo da cattisrrofe que acomponharia o empn•· ir para múzha esc olu de medic irw de Urakami, a 500 metros do hipo-
go de armaJ nucleare\; e conh~cemos também m limites exlllm da a.\ · ct•llfro. Cru::ei com muitaJ peM;oa.l que rnlwwmt de Urak.ami. Tinham
sistêncitl médica. Se eue conhecimemo f o~· se divulgado em rodo u a., l'e,\ fe.ot emfrtmgallw.\', e do,, corpos pendiam tirm de pele. Pareciam
mundo, aos povos e uos governos. isso poderia contribuir para ojim da fama.\nUJ.'l de olhar vazio. No dia st.•guinle cull."it'glú entrar em Urakami
corrtdo armamemi,tu c, conseqÜt'llft7nente. para evirnr o que bem po- a pJ. e tudo o que eu conhecia lá havia dl•.,afutrt•âdo, ...ó restando as
deria ficar sendo a última epidemia de tws.w p/anew. t•\trttwrm de ferro e cimemo dos edifício.\. Hcl\'Úl cadá\·ere' por rodt.l
As devastaçõe' raumdas pela~ bombas em lliroxima e Nflgwaki parte. Em cada eJqtúna havia unw rina com água para apagar incélz·
nos fornecem elementos para avaliarmos as conseqüência., de umo dim causados pelos bombardeios aéreos. Numa tJe,·:mç tina.\, em que
guerra nudear_ Mas temos também o apoio de estimam·as teâri&u.'i. Jlil mal cabia uma pessoa, vi o coqm de um lrume.m que proc11rnra deses-
dois anos um organismo oficia/sério publicou os remltadw de um e-J - pe.rndamellfe mer~ulluzr em água fria. E/r. enm·a morto, e de sua boca
tudo sobre os efeiw\· tle um awque nuclear em ddatle da faixa de dois mia espuma. Nâo po.'lso esquecer o choro tias mulheres nos campos
milhões de habitantes. Se no centro de uma des.ms cidade.l e plodisre demsllldos. Quando che~uei pet'to da escola. li corpos ne~ros carbo-
uma arma nuclear tle um milhão tie toneladas (a bomba de /lir(n:ima nizatioJ, com poflla... 1Jran('a,, de ouo.,· uparenmdo nos braços e per- -
rinlw uma potência aproximada de 15.000 toneludm de e.).p/osivos). v na~. Algwrs ainda ewm·am vh·m. m(ll não conseguiam Je mexer_ Os
resultado seria adelasração em umo. :ona de 180 knr, 250.000 mortos mmsfortes estal'am tão e.\goratlo~ que "e deüavamjicar largados no
e 500.000 feridos grm·es. Entre esses últimm tle'!-'t?tn ser inclufdo., os chiio. Falei com eles. eles adwmm que ;wnjicar bons. mas duas se-
que sofreriam ferimentos causados por deslocamt"nlO de ar, como fra- mancH' depois rinham todos morridQ. Nao posso esqm.-cer a maneira
turas e lesóeJ gmves do tt•cido epitelial. queimaduras da pele e da f'e- como me ofharam. e ainda escuro a' WJ:e~· c/('fes ... ••
tina, lesões do aparelho respiraJório. danos causados pela radiaçrw, Não devemos esquecer que alwmha wltada em Na~a.mki tinlta n
com sfntlromes agudas e efeitos retardado.\·. potência de cerca de 20.000 toneladas de TNT. pouco mais do que a
.Mesmo nas mc.lhore,\ condições, os cuidados médicos neces.,árior das chamadas "bombas tátic(l\ •• de.wilwdas a campos de bmalha.
ao tratamento dessesferidos exigiriam um esforço inimaginávt•!. O es- J\-las nem e.\·seJ quadros medonhos bastam para dar uma idéia do
tudo calcui<J que ..~e numa dessas cidndes atingidas ou em uw (lrre- desastre que seria paro a populaçtio o ataqrw a um país por uma arma
dores houvesse 18.000 leitos ele ho:.pital. apenas 5 .000 ficariam em do arsenal nuclear moderno, com ~eus milhare.\ de bomhas de wn mi-
comJiçoes de ser miliuulo.,·. Arsim. apenas cerca de 1% dos ferido.-; lhão de wnelada.\ ou mais . OJ sofrimemos da população .mbre\'il·enJe

Pg 8 ..v.;A:O Julho/Agosto de- 1982 ... 1 Ano I


não teriam paralelo. As comtmicaçlJe\, a abasJecimento de t•f\•eres c de fatoriamelflt• os .wbrevivente,,. Um ~ame objeri•·o da situaçiiu médica
água ficariam rmalmeme imerrompido.\. Nos prímetros dw ". os sobrl!- .mbseqiieme a uma guerra tmdear sô conduz a uma crmclusao: tJ .únit o
"t~·emes que se 0\1etlluras\Nnfora de suas casas para presrar tljuda tis recur,roo é a p~ew•nção.
\'Ítimas C(Jrredam grm•es riscos de receber radiações moníferas. O Maças conseqüências de uma guerra mtdl•ar 11ão são ape11as O'i
transtorno MJCial resulrame de um ral awque seria immagmlh·el. de narUI'it!'Za médica: porém só essas nos forçam li pt•mar nn lição inso-
• A r...,posição a altas doses de radit~çâo baixarin a imu11idade tio jisnl(h·el tia m~tlicina contemporânea: ctuamlo o rraramf!nto tlc• uma
organismo a bactériw fJ l'i'ru~· e abriria caminho a toda .wrtt• de infet·- doença é ineficaz. Otl quando (JS cu.~IO.l do traramenro são muito altos. é
ções. A radiação cau.saría lesões cerebrais irre,·erst,.·cis e thjiciéncia melhor c1pelar para a pr:et:ençáo. Ambas essas condiçõe\ ~e aplicam
• mem(l/ em muiro.' 1w.w:ituros. A incidênciã de r/ilu c r 1'U)J wbre\'Íl-'ellles aos efeitOs de uma gut~rra nlldear. O traramemn seria pmticameme
munemaria grandemrnre. A.l le.w)es genhica.\ que ocorre.\Wl'/11 st•riam impo:;sl\,el, e o~ custos .!)l'riam insuporuívl'i.L llm·rrú argumewo mah
tran \mitidas a gemçôes futura.\. for1e em pro( de uma esrmtégia prel•t•miva?
.. Por suave:. ~r(mdes e:aensõcs dt•terras e florestasjicarwm con- A pre..,·enção de qw1/quer doenço requer t1m plano ejka:. E 1/eSSt.'
taminada..;. o qm• aconteceria também com o gado. redu:: im/o a.,·sim o., caso o pltmlJ deve mio ~\Ó Cl'Íiár runu guerra ttudear mas tambtm Jlre-
recursos alimt•mares- para 11üofalur 11a pro\'0\'t•l ocorrência de muiro.\ sen·ar rt \egurr.mça. Nosws co,ltedtm•mos e c retleuciai.,· de ciemism'
o~r()J _efeitos biolór,:icos e até E'§Jfisic~s tlanos~s, cuja nuwre::a pre- e de médicos não nos autori=am a opinar doutame/lle 30bre as questr1es
ct.m nao podemos prever por j(l1Íll de mf(}rmaçao adequada. de segurança: mas se amoridadesp(J/ftica.\ e militou., basearam seu~
r..ft.•.mw um awque mtcft•ar collcemrudo ape11as em insrctlarôes plano.\" estrlllt~gko.} em premis,,as errado.,· quamu aos aspecto.\ médico.\
militure,\ ,\eria dermtador para rodo o pais, i.uo porque as in.\Wiações de Wlw gw~rnz nudear..w•ntimm. que remos resprmsahilitlade no as-
miliiiJre~ náojicam reunida.\ em algum ponto. ma..1 espalhadas por roda ~umo. Precism11os alertar e.uas amoridades t-. o pm·o em gn·al para o
parte.ltfuiJas armas nucleares seriam explodüla~. a ~adiaçúo seria/e- quadro clínico rt.'lll que se jormari(l após um awque mtclt.'ar e para a
mtla lou.':e pelos \'enws naturais e pelas permrbaçties arm(l.\féncw, impos.,ihilidade d,· soluçâo médica pom f)\' problemas dc•correnu!,\. Se
mataria grande nrímero dê pessoas c comaminaria ''asws e.xtenwie.,. ficarmos caltldoJ, corremos o ri,w·o dt• Jrair a mh mesmos e a 110\Stl
Nenhuma nação reria recur,,o,· médh·o., ,\ll(iciellle\ paru alc.'JWt!r Mlli.r- d~rilização.

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Agora você conta com um oomoravam horas ou dias, Estã declarada ass1m a
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Ano l N.o 1 Jolho/ Agosto de 1982 Pg 9


A primeira grand e batalha ecológica nacional já est á sendo tr ava da e dela poderá
I depender o rumo da questão a mbiental n o Brasil p or m uitos an os. Seu cenário é o
município de Cubatão, baixada litorânea com 148 quilômetr os quad rados, entre o porto de
Santos e a Serra do M a r , r egião d e mangues e alagados ocupada, na sua parte firme, por 23
indústrias gigantescas, que sozinhas contribuem com 2,6% de todo o Produto Interno
Bruto brasileiro (26,44 tr ilhões de cruzeiros em 198 1).

C--------
Bernardo Kudnski* )

as mdúst nas de Cuba tão


saem o aço, os fert1hzantes
e muitos dos produtos qui·
rnicos de base que alimen-
tam o poderoso complexo
agroindustrial de São Paulo. E ~aem.
também. jogados nn atmosrera, urn
milhão de quilos de poluentes por dia.
entre os quais alguns dos rna1s noci-
vos ao homem e o meio arnb1ente.
Dezenas de poluentes são despejél-
dos nas águas do estuáno. e 20.000
toneladas de resrduos sólidos acu-
mulam-se a cada ano nos "lixões" a
céu aberto, segundo documentos cJa
Companhm de Tecnologia de Sanea-
mento Ambiental (CETESB).
Nesse cenário de agressão Inco-
mum contra o meio ambtente. come-
çaram a aparecer há alguns ,a nos pm-
núncios de um desastre ecológico se-
melhantes aos p rimeiros sinais de
alarma da tragédra ecológ1ca já clás-
sica de Minamata. no Japão. onde
cen t enas de pessoas morreram ou
sofreram profundos d1stúrbtos trsicos
e mentais devido ao envenenamento
por mercúno . Em 1975. pesquisa-
dores do Instituto Oceanográfico d&
Universidade de São Paulo detec-
taram nas águas e sedtmentos do es- ....,
tuario de Santos a presença de até 2.5
microgramas de mercúrio por litro
(J.lgll). concentração inferior à que pro-
vocou o "mal de Minamata" (20 a 200
microgramas por litro}. mas já vinte e xaram de dar frutos nessa época. No ctdênc1a de doenças da pele. Susper-
cinco vezes maior que o padrão de ano seguinte. o vereador do MDB Fio- tava de anemia aplást1ca - moléStlét
contaminação máxima recomendável rivaldo Cajé denunciou a ocorrência que ocorre quando a rnedula clerxa de
(0,1 J.lg/1). A média das medidas em 30 de pelo menos uma morte e de mui- produzir glóbulos vermelhos - e de
pontos diferentes do estuáno to i de tos casos de lesões graves na pele en- intoxicação por benzeno. presente na
0.8 JJ.gfl. quase dez vezes o máximo tre os trabalhadores de uma fábrica de ·f umaça despejada na atmosfera pela
permi tido. Esse mercúrio era despe- pentacloreto de fenol da Rhodia. In- Companhia Siderúrgica Paulista (CO-
jado principalmente pelo Carbocloro dústrias Ourmicas e Texteis. SIPA). Alberto Pessoa estava lmpres-
S.A Indústria Química, que o utiliza stonado também com a alta rnc1dênc1a
em células de mercúrio em seu pro- - - m maio de 1979, o médico Al- de câncer do pulmão e doenças men-
cesso de fabricaçiio e fornecia. na berto Pessoa de Souza. vereador taiS em Cubatão . Uma das conse-
época, metade de todo o cloro e de t - - - pelo PDS e coordenador de saú- qüências do "mal de M1namata" é a
toda a soda cáust1ca consumidos no ....__ de da Prefeitura, começou a estu- perturbação mental. provocada pelos
pafs. dar H inc1dênqa de malformações dAnos ao srstema nervoso central.
A partir de fins de 1977. a patsagem congênrtas em Cubatão. Antrgo mé- A partn de rnícíos de 1980, os fatos
das serras que circundam a baixada dico da Companh1a Santista de Papel. se precipitaram. Surgem rumores de
passou a demonstrar a ocorrência de a pnme1ra indústria de transformação uma doença estranha em Cubatão.
danos irreversfveis à flora. Das matas a se instalar no municrpio, Alberto que produz natimortos sem cérebro.
tropicais trpicas da Serra do Mar res- Pessoa havta notado a elevada fre- com "cara de sapo". O vereador Ro-
taram apenéi::> troncos secos, e os ba- qüência de acidentes de trabalho na- meu Magalhães (do PDS} é av1sado
nanais da zona rural do municfpio del- quela empresa. assim como a alta m- dos casos por um amigo do seNiço tu-

Ano I N." I Julho/ Agosto de I 982 Pg 11


nerário muniCipal, pois tanto as ta- referências à anencefalia, nome des- não é tudo. Os pediatras Roberto Cé-
mflias quanto as autoridades evitam sa malformação congêni1a. Mas isso I sar Nogueira e José Rubens comuni-

t--m u:)otõo, uma novo c ave


-oro o enten~'imento :=e onomo ias
( Ruque Montf'Jeooe Neto• )

A suspeita de que em Cubatão entanto considerar-se a interação cies animais foram testadas, verifi- Biblioteca Nacional de Med!cina.
estejam ocorrendo casos de maJ- entre o genético c o ambiental. di- cando-se então que uma linhagem em Hcthcsda. E. U. A. , mantém um
formação congênita com fre- zendo-se então que possul·m uma de coelho c macacos pode aprcscn~ serviço de informação ao público c

qüência maior que a esperada é causa multifatorial (como é o caso tar os mesmos tipos de defeitos que aos pe~qui sadores chamado TO-
de importância tão grande que
tran~cende a própria Cubatão.
do diabetes do adulto). Contudo,
60 a 70% dos defeitos congênitos
no homem: 4) os ststema~ de infor-
mação em .saúde publica existentes
-
XILI NE. onde são ~uardadas na
memória de um compuUidor as in·
Poderemos estar diante de um ~inda não po~suem urna causa bem na época não estavam adcquttdos formações básicac; sobre todos os
novo agente quimico de ação dcfimda, Se! genética e/ou am- para detectarem o episódio artigo' publicado.s no mundo nessa
teratogênlca. cuja identificação biental. precocemente: e por último: 5) a área tão relevante para a 'aúde pú·
certamente beneficiará não só os Os fatore:-; ambientais podem ser talidomida não produziu ano- blicu.
habitantes de Cubatão como de divididos ern trcs grandes grupos: malias congênitas até então desco- Além das malformações congê-
todo o mundo. Daí a grande im- os agentes físicolli Craios x, Ira uma nhcctdas. mas sim aumentou a fre- nita!'>, uma série grande de compos-
portância do Projeto Cubatão, tismos). os agentes químicos qüência de determinada anomulia roc; qufmicos tem sido vinculados
uma proposta de participação (certos mcdicamenlos, certos (a focomelia-membros de foca com a gênese ou o descncadea-
ampla e sempre aberta da comu- poluentes), e os agentes biológicos passou a ser 20 vezes mais rrc mento dt.! tumores malignos no ho-

nidade científica nas investiga· (certos vfru~ e certas bactérias). To- qúcnte em recém- nascidos. c o mem e em animais. E sabído. por
ções do que se passa em Cu balão. dos esse!"'. agentes atuam através do risco de mães que tomaram talido- exemplo, que a incidência de al-
organismo matemo c são Wnlo mais mida durante o início da gestação gun~ tipos de câncer é mais fre-
deletério~ ao embrião quanto mais aprl!sentarem filhos com dert!itos qü~rHe em distritos industriais que
.
s anomalias congênitas precocemente as gestantes forem a foi calculado em cerca de 100 a I 75 em zona~ rurats. •

representam um conJUnto eles expostos. Considera-se que os vcLés maior que entre gestante:-; que Alguns trabalhos recentes têm '
grande de defeitos que primeiros três ou quatro meses de niio haviam tomado talidomida). mostmdo que existe uma relação

podem ocorrer durante o processo gestação são os ma i<; críticos, pois é V árias medidas foram então to- entre as malformações congênitas e
lltl
de diferenciação e desenvolvi- durante este período que o embrião rnadas. entre elas a criação de regis- certos tumores. Por exemplo, a fre-
mento embrionário por que passam passa pelas fases mab delicada~ da tro:. de malformações congênitas. qüência de anomalra" congênitas é
os seres vivos. São chamadas de formação de seus órgãos. Quase no mesmo período. ocor- muior em cri:.mças que dcsenvoi-
congenitas, pots este~ dctcuos e!\- A imponancta dos agentes am- reu outro ep1!)ódio e os poluentes V\.'m ccnos tipt'' de tumores.
tão presente.!! no momento do nasci- bientais na determinação de ano- químicos industriais começaram Trabalhos ingleses mostraram
mento. malias congênitas passou a ser mais também a chamar atenção da comu- que a freqüênciu de carcinoma de
Não existe uma freqüência tida considerada após o trágico episódio nidade cient i fica. Entre 1953 c vagina é maior em mulheres que •
como normal ou p~drão para a da talidomida. no tnício da década 1965. as águas da baia de Min;t- foram exposta~ na vida intra-útero
ocorrência de anomalias congênitas de 60. mata. no Japão. foram contamina- ao hormônio dietHbestrol. Este é
do homem . As cifras são muito Este episódio. que afetou milha- das por compostos de mercúrio pro- um bom exemplo para mostrar qu\:
variáveis de estudo para ~tudo. de res de pe!>sO•tb c famílias, mostrou vcrucntes de indústrias químicas lo- certos agente~ químicos ingeridos
raça para raça. de população para fatos 1mportantcs à.~ autoridades do cais. Os peixes e molu:,cos da baía, pclus gestantes podem afetar o em·
população. No entanto, se tomar- setor de saúde c, aos pesquisadores que eram a base de alimentação da briâo e provocar sérias conseqücn-
mos somente as anomalias exter- em geraJ: I) um compmao qu(mico população da área, ingeriram o cias muito depois do na~timento. c
nas, detectáveis em recém-nasci- de estrutura relativamente simples mercúrio. Tanto pessoa~ adultas até mesmo na vida adulta.
dos vivos c observadas logo após o pode produzir profundas c graves como crianças apresentaram sinto- Tendo em vista as considerações
nascimento. esta variabilidade de alterações no desenvol\•imcnto em- mas neurológicos graves c lrre\'cr- acima. a suspeita de que em Cuba-
cifras fica menor. ~cndo de 3 a 5%. brionário humand; 2) 3'> alterações sívei.:;, tendo sido também verifi- tão co.;tejam ocorrendo ca~os de mal-
Isto é, 3 a 5 crianças na~cidas vivas produzida~ pela taUdomida foram cado que a ação tóxica podia afetar fonnas-õe~ congênitas com uma fre-
dentre 100 possuem pelo menos pouco relacionadas com a quanti- também as gestantes e seus futuros qüência maior que a e~pcrada é de
uma anomalia congênita externa. dade ingerida peJas gestante:s, puis fithos.As crianças nasdam com sin- importância tão grande que cena-
Os e~tudos epidemiológico!) so- aquelas que romaram grandes toma~ de parai isia cerebral e pos- mente transcende aoll interesses lo-
bre as anomalia:~ congênitas são re- quantidades e aquelas que ingeri- terionnente desenvolviam um qua- cais de re!'>olução do problema. tor-
alizado!\ com grandes a mostras: ram poucos comprimidos tiveram dro de retardamento mental grave nando·~t: um assunto de relevância
mais de 5.000 c uté quase um mi- igualmente filhos afetados: 3) a associado à paralisia dos membros para a comunidade científica e para
lhão de recém-nascidos devem ser talidomida havia sido testada em superiores e inferiores os profissionais do setor de saúde

examinados. certos animais de laboratórit,, roti- E cnom1e o número de produtos dé modo geraL
De maneira geral. co~tuma-sc di- neiramente utilizados para reste!' de qufmicos que são reJamdos nas re-
zer que os defeitos congéniws pos- toxtddade aos ~mbriões, e não ha- vistas espccializada!:i como se ndo
suem dois grupos de causas vta produ1ido os defeitos verifica- mutagênicos, tóxicos c teratogl!ni-
conhecidas: as de ordem gcn~tica e dos nos cmbriõlS humanos. So- co~ em animais de laboratório. A li- •Roque Monll'll-one Ndo pertence t
as de ordem ambiental. De~ e-sc no mente após o episódio nova~ espé- tcrarura existente é túo vasta que a ~Faculdade PHUli...-ta de Medicina.

Pg 12 Julho/Agosto de 1982 N. 0 1 Ano I


cam à Prefeitura dois casos de nasci- Azoubel tenta implantar um reg1stro Centro das Indústrias do Estado de
mentos de crianças sem braços e per- de nascimentos. enviando fichas a to- São Paulo (CIESP). representante dos
nas, malformação semelhante à foco- dos os hospitais. como pnmeiro pas- poderosos mteresses econômicos
me lia. provocada em alta escala nos so a fim de recolher dados para um es- dos industriais. propõe. através de
anos sessenta pela ingestão da talido- tudo científico da questão. sua delegacia regional de Cubatão. o
mtda. Um documentário produztdo Esse trabalho seria retomado de- projeto Vale da Vida. Aparentemente.
pela TV Globo, mesmo evitando a te- pots em bases mais sólidas por uma trata·se de uma proposta desinteres-
- mática ainda delicada da freqüência
aparentemente excessiva de casos
equipe coordenada pelos professores
Roque Monteleone e Décco Brunam.
sada e generosa das mdústrias, pre-
vendo a restauração amb1ental global
de anomalias congênitas em Cuba· da Escola Paulista de Medtcina. atra· em Cubatão. O projeto constste num
tão. divulga para todo o pais os proble- vés do Projeto Cubatão. a primeira conjunto de planos concretos e objeti-
mas ambientais da ''cidade que está proposta de trabalho aprovada pelo vos. e estabelece um prazo rig1do para
morrendo" . O governo dá sinais de novo Comitê de Ecologia Humana do acabar com a poluição ambiental em
preocupação em todos os nfveis: mu- Conselho Nacional de Desenvolvi- Cubatão (31 de dezembro de 1983).
nicipal. estadual e ·f ederal. mento Científico e TecnológiCO Mas, em compensação, basma-se na
(CNPq). O Projeto Cuba tão (ver página remóção da população dos batrros

Alguns meses depois. entra em 14) propiciou um encontro das ciên- mais atingidos pelas emanações de
cena um novo personagem. Reínaldo ctas biológtcas com uma vocação de forma a liberar áreas ainda mais exten-
Azoubel. embriologista da Faculdade pesquisa diretamente ligada às ne- sas. já agora supervalorizadas. para a
de Medicina de Ribeirão Preto e an- cessidades vitais e prementes da po- expansão das mdústnas. A CIESP pas-
tigo colega de bancos escolares do pulação. nos moldes das grandes sa a propagar. entre outras. a tese de
médico Alberto Pessoa. recém-che- campanhas de saneamento das pn- que na base das anomalias congêni-
gado da Inglaterra. onde estudara meiras décadas do século. tas poderiam estar a desnutrição e a
teratogênese (produção de monstros) Incidência elevada de doenças ve-
e em especial a anencefalia. que tem Outros personagens e entidades néreas entre os peões de obra. espe-
incidência muito elevada naquele vão também tomando posição para o cialmente o grande número de traba-
país. Com apoio total da Prefeitura. mevitável confronto. Em outubro. o lhadores temporários (cerca de

I

Ano I N. • 1 Julho/Agosto de 1982 Pg 13


20.000) atraídos a Cubatão a partir de SIPA. Já deslocado do centro do ce- afirmar que é incomum a mcidêncta
1979 pelas obras de ampliação da CO- nário. o professor Azoubel tnsiste em de anomalias congênitas em Cuba-

>roJeto . ~u::otõo· uma :~ror~)osto


I

Apesar da amostragem ainda Roque Monteleone Neto !espinha aberta). Evidentemente.


muito pequena. somos obrigados Décio Brunoni foram encontrauus neste período
a admitir que algo de anormal Ruy Laurenti• crianças com outro" tipos de defei-
pode estar ocorrendo na rc~iüo tos. comn pé torto , luxação congê -
da Baixada Santista cípios da t.iaixuda Santisw durante ano. deve haver uma çohcrtura nita do quadril . hidroccfalia, ele.
três anos ~.:unsccutt>vo~ 11978. 1979 cornplera de todo~ os rccém- No entanto. desde o início da'
pó os primeiros ~ontato e 1980l. na.,.cidos para que distorções ~cjam pesqUisas a ~u ... peita maior crd de
com 3 Prcfcitur.t Munici- E:-,tá ~cm.lo proposta ainda a rea- evitadas e haja um número razoável um aumenlo da freqüência de anen-
pal de Cubatão. realiza- lização de uma !'lérie de documen- para. que cifra.., possam ~cr obtidas ccfnlia c de defeito~ correlato:, (e ·-
dos no final de I980. fie nu claro tários filmadns sobre Cubatão. ~ua no menor tempo possível. pinha aberta em qualquer nível).
que dua~ perguntas necessitavam história pas:-.ada e pre:-.ente (ver o Devido às considcruçõc!'l acima Em nosso meio. u mdhor fonte
ser respondidas : qual o número box .. ()uanllo o povo entra em cc- expm;tas. foram gastos cerca de três dt! esta tísticas dê freqüência.., de
exato de crianças que nascem com na··. na página 22) .
.-
meses em rcun10es entre os pcsqUJ-
.
anomalias congênitas em recém-
anomalias congénitu~. c qu<tis os Foi enfatizttdo um '·ponto de .sador<.!' c o pessoal médico local. nascidc.J'\ é u obtida pelo Estudo
fatore que ~stão relacionados com honra .. pelos pesquisadorc!'. no Nc!)sa~ rcunjôes. as discus~õcs en- Colaborarivo de Malformaçõe~
o nascimento dc~sas crianças? :-.entido de que o projcro apresen- focaram problemas de ordem prá- Congênitas íECLA MC). O Hospi- -
thta~ perguntas são aparente- tado não se propunha a ser complc- tica. como identificaçãn ue pcs!)oal tal dos Scrvidorc~ Públicos do Es-
mente ~implcs. mas na prc1tica en- lO no que :-.c rcfae ao equaciona- interessado em panjcipar do pro- tado llc São Paulo participa do
vuln:m problemas operacionais mento do prnhh~nu s<iúdc \'er:ms jeto. rotina de cada berçário. tipo ECLAMC. e no período de julho de
complexo~. poluição. nem mesmo de ano- de atendimento aos recém -nasci- 1973 a <lezcmbro de 1979 (que cor-
Dianh! disso. foi decididn uprc- malias congênitas \'P.r,ws poluição. do~, infra-estrutura de pessoal responde a 78 meses de nh~crvação
scntar-sc um plann de trabalho com apresentundu-sc de~sa forma como paramédico disponível. c ulmi- contín ua) foram examinados
o maior número possível de pesqui- uma proposta em aberto à comuni- nando com a criação de uma ficha- 17.407 recém- nasc 1do.., vivos. e
sadores. realizando vt\rias ativida· dade cicntíllca. padrão de observação genético- destes 11 aprc ...entaram defeitos de
dcs simultflncas independentes. clínica dos recém-nascidos. fechamento do tubo neural. .seme-
mas corrclacionadas em torno Ull O que é um Registro de Só então o registro começou a lhantes ao!'~ ocorridos em Cubarão.
tema hásico: anomalias congênita!). Anomalias Con2enitas'! funcionar. Todas criançus que Isto correspondc a um C<tso para
Não havendo infra-e~trutura de O conhecimento da freqüência a[Ualmente na!>cem em Cubatão são cada 1.582 criança" na~cidas vivas.
pc~quisa no local. deu-se priori- de anomalias congênitas ao nasd- exnminadas de maneira uniforme. No município de Cubatão. na.'-
dade à utilização máxima dos re- mento envolve a implantação de em qualquer dos ho~pitais da área, ccm cerca de 2.500 a 3.000 crian-
cursos exi-.tenlcs no campo da saú- um sistema de ddecção e infunna- e uma ficha cspec1al é prceenchida ças por ano. e portanto poderíamos
de em Cubatão (médicol', t.~nrcr­ ção dc~sr.ts unotmdias em recém- no ca:-.o de detecção de uma ano- esperar nn múximo dois casos em
mciras. espaço físico. etc.). nascLdos. malia coneênita. Ness&i licha são um ann "I' :1 frf'rlii~nri~ fo~se ~
Elaborado o plano <.h.! trabalho c A"' ncCl'ssidrtdcs básicas de tal
-
anotadas. entre outr..ts coisas. a de~- mc!>ma que a verificada no Hospital
obtida sua aprovação pelo Con~c­ sistema são: o exame si~tcrnático de crição das anomalias encl.mtradas. do' Servidores Públicos de São
lho Nacionul de De,envolvimcnto todos os rccém ~ nascidos por profis- car..sctcristicas do parto. c nutras in- Paulo. Observaram-se no entanto
• •
Científico c Tecnológico (CN Pq). &I sional e:-.pcciuhncntc treinado, con- formações referentes ao rc- cmco ca,os em apenas seJs mcsc:-..
16 de Setembro de 1981 foi assi- tinuidade no tempo. e um proces~a· cé m-na!\cido. Em ~cguida. é feira dentre l .K3l rccém-mbcido!> exa ·
nado um protocolo de intençôes en- mento rápidü das infom1açôcs obti- uma entrevista com a rniil! da cri- minados.
tre a Prefeitura de Cubatão c o gru- das para !->C poderem acionar medi- ança-com a finalidallc llc obter-se Em que pesem a~ diferenças dl.!
po de pesquisadores. A municipali- das de ahtrrn<• quando necessário. informw;õcs sobre algunws carac- tamanho das amo~tras. as prová-
dade colocou à nossa disposição Portanto. operacionalmente. um terCsticas da gestação. como inge!\- veis diferenças sôcio-cconômica.c;,
um local físico de tmbalho c radli- registro deve funcionar com profis - tão <lc drogas. doenças, outros ca- gené ti cas e de menção pré-natal
dadcsdc transporte. dam.ln-se então sionais que já lraba1ham nu~ ber- sos de anc.,malía.s na família. loca) exbtentcs entre Cuba tão c São Pau-
início oficial :m projeto. çários llos hospitab. garantindo o de moradia, tempo de residência no lo. somo:) forçudo~ a admitir qu~
• • •
As atividades propostas foram: exame de todas as criança~ e ao nlUOI1.:1plO. etc. algo de anormal deve estar ocor ~
implantação e manutenção de um
rc.gistro de anomalia.;, congénitus.
mesmo tempo conferindo-lhe con-
tinuidade no tempo. -
Todo este intetroeatório ..: tam-
bém feito. de forma idêntica. para a
rendo nu rceião da B~ixada San-
tis ta. "'
tomando-se como base os na~ci ­ Como as anomalias congênitas mãe de uma criança do mc~mo sexo
mcntos hospitalares de Cutmtftn; ocorrem ~:ntrc 3 n 5% dos recém- que tenha nascido imcdjatamcnte
instalação de um ambulatôrin de nascidos. clns ~áo raras na expcri· Um AtnbuJatório de Anomalias
após a afctuda. no mesmn hospi taL
Con~ênitas
anomalias congênitas. lJUC uo ência de um dCtl~mlinado profissio- c não portadora de nenhum ddcito
mesmo tempo oferecesse apoio mé- naL e por não fn1crem pane. de ua congênito. servindo p<lrtanto como Iniciamos a inve ... tigação de ano-
dico à~ família~ de crianças que vão rotina de trabalho. quando apare- controle pareado pam futuras análi- malias congênitas na população
' .
sendo detectada pelo registro. bem cem !'fiO incon. . i,tc:ntem.cntc diag- .;;es csUt!lsticas. utilizando os dados de um censo e~·
como ao~ caso já CXI'>tcntcs na po- nosticadas ou pouco valorizada-.. No período de 1.• de outubro de colar realizado pela Prefeitura de
pulação, um levantamento sobr~· E~te fato gera :t n\!ccssidadc de trci- 1981 H 30 de abril de 1982. nas- Cubatão em fins c..lc 1979. Dentre os
,
mortalidade por anomalia~ congê- namenm dos médicos bcrçnrbtas ccr.un I .868 crianças ,em Cubatão. quase 70.000 habitantes , foram re -
nitas. que estabeleça a importftnci't no ~cntido de uma ~emiologia clí- Destas. 37 nasceram mortus. com gistrados cerca de mil deficientes
relativa desse gn1po de enfcrmid3- nica (técnica de exame c de descri- peso .superior a 500 gramas. Dentre físicos e/ou mentais.
dc~ comocau~adc morte nu primei- ção das alterações encontrad<L') ori- as 1.831 que nascemm vivas. três Após uma primeira seleção dos
ro ano de vida, além de fornecer entada parn a detecção de defeitos apre, cntarnm anenccfalia c vieram casos. levando-!\C em conta o tipo
uma visão geral da extensão do pro- • •
congemtos. a morrer logo após n parto. c duas de deficiência c a idade dos indiví-
blema. pois ~crãn analisadus as Como o número de nascimentos outras apresentavam ou tros défei- duos. começamo:-. a entrar em con·
mortes ocorridas em todth o~ muni- em Cubatáo nãu chega a 4 .000 por to' de fechamento do who neural tato com cerca de cem famílias. o

'Pg 14
....

tão. que é provável haver uma relaçao que a má nutrição tenha qualquer pa- dades negam que a desnutnçflo [enha
causal com a polu1ção e Improvável pel Importante. pors as marores auton- I mfluêncta dectsrva na tndução de mal-


em a~:.erto à comuni~a~~e científica
que representa cerca de 300 defi- c os estudos comcçaJ.un há apenas cn e em =-CU~ cfluentc líquidos. bres. ~cja pelo custeio de benefícios

CICntCS . poucas décadas . Só para 4uc c te- sólidos c ga..;oso .. o ruudnmcm.al. sociai concedidos para os incaptt·
Até o presente, foram cxa.rnína- nha uma idéia. podctnl.)s citur que o porém. é que estes e~tudo!li :,ejam citaúo~ c debilitados por doenças
dos aproximadamente um terço dos número exato de cromossomo (e- feitos de maneira c.:oordt:nada cntJc respiratória • alérgica~. etc.
casos ~elccionado~. e já foram lementos que c tão nu interior do os diferentes grupos de pc~qua a. Em nosso ponto de vi ta. se tal
diagnosticadas doenças genética!> núcleo de todas a:-. c~ lulas que com- ~em jamais deixar de ouvir e aceitar partidpaçn11 nfto se efetivar o e4ua-
• elá~sica~. como u mnngoJi,mo. pocm .
- o no,,o orgamsmo c que car- 11 participação da população local. cionamento do problema ...cru "ca·
anomalias congênita~ com causa regam o materi~1l genético) ficou o~ cmpre ário. devem entender olho .. e parcial. para não dazcr tn-
definida. ~cqücla:- de dncnças in- conhcddo h6 menos de trinta ano~. que. a long<l prazo. ele~ próprios justo e in~ttcicntc .
fcccios~IS contraídas no:-. primcims e ~c passaram mais de dez ano~ para serão afetados, se é que j.t não estfto
anos de vida. como paralisia cere- que~t doença de Minamat.a fosse re- endo. scj~1 pelo pouco renditncnto
bral por meningite e p:mtlisia de conhecida como sendo cuusada do trabalho em condiçói.' ins,tlu- • da Escola Paulista de Mt.'t.lkina.
m~mbr~>s pw poliomielite, além de pelo mcrcurio lançado na~ água
d<!ficiência_-, de desenvolvimento fí- por umn indústri 1 química no


:.ico e/ou mental em cau:sn aparen -
te .
Japão .
Um inquérito sobre fertilidatlc Subprogromo Mortalidade
Para nós. e~te último grupo c o em dift!rcntes hairms de Cuhatão
Ru\• Luurenti
mab importante. São doenças que tamtx'm cumcçnu a er realiz.ado. c 1\J. Helena de l\1elln JorJ!c
não po~suc::m urna cau!:\a dciinida c depcntlendo de ~eus rc!-tultados po- Suhina I •. Da\ id..,on <~tlh.•h
que. através de uma inve:-.tigação dcr<i c"lcndcr-;,e par.1 outros locais
mah aprofundadn c dirigida, tahcz da Baixada Santbta. cu propó . . ito o~ re . . uhados preliminares mo - a pena Shcrbrooke. no Canad:i.
possam oferecer pistas da rclaçfto i!. entre ou t ro ... o d~ revelar

as tram lJllc. para o tl'iC;nio I97'6/ 1~XO . aptescnwu valor mais ul1o. sendo
cxi!\tentc entre an1 'mali~~ conl!êni-
._ característica" dos ·produto da-.
õ de cada mil na ·cido.., vihl!' em Cu- que toda' as demais tiveram \alore~
ta' c um determinado poluente. jü ge~tações" das mulheres em id<tdc batão fi6.1 morrem antes de com- pr<)ximos ou menores que a ml..'tadl..'
que foi as~im que se dcscohriu a •
fértil (abortos. natinH,rlos. filhos do risco verificado em Cubacão.
maior pane das a~~ociações cntn: :1 vivos, etc.). Sahcmos que 11m elei- . .
pletar um ano de vida 1pam os de-
., .
mats muntc1p1os que comp,>l!m a
- Nos dcm~tis município-. da Bai-
c.xposição agentes '-luímicos duran· to muito importante de <tlgumas Sub-~egião Administrativa de San- xada. o fi..,c,l foi de 2g para I 00.000
te a gc ... taçiio c certas anomalias substftnd:.as qt1ímica~ (que pudem tos. c~sc \'alor fui lle 57.()). Qu.mto nasctdos vivos, mostrando que Cu-
ou nfin ser poluentes) é sua rcla~·ão
A •
.:nngcn ttus. às causas de mort~. a principal f<> i batiio aprc ...cmnu risco igual a 2.J
No entanto. p~ra as famílias (que com abortos c perdas gestach.')nai:s rcprc::.cntada pelo grupo dns pcrina- \'e7.e" o verificado no re:-.tantc du
,fio o foco principal da atenção no precoces c a inl.'apacidade reprodu- wis, englobando 32.4t}( das mortes Baixada s~uui<;ta .
ambulatório), a finalidade dc.sta in· tiva , entn.: nutJo,_ (para o resto da 13aixada Santista. Quanto nos produto.. de concep-
vestigução gcnético-clínicu é a de O peso ao na~ccr de todas as cri- 34. 7%), As molésti~ts infecciosas ção que nfto apn..: . . cnt:narn ~inal de
~ .
olcrccc.;r uma oncntaçuo - cgura anças na ..cidiJs em Cuhatão durante constituíram o segundo grupo de vida no nascer. o. resultado mos-
tJlUlnto à vida rcprudutiva. rcspon· o a nu de I981. bem como outras c~tUsas de monl!: 27.5% (e 28.2% .. traram que o grupo das anomalias
ucndu a rx;rgunta~ importantes pam ~arucrerhticas. estão ~cndo anali- paro os dcmai' município ). E im· congênitas foi causa de morte fetal
c. tcs casais como: podemo te1 ou- sados. portantc res~aha1 quc.cm Cub<ttão. em 4.3% do:s ca ( h de Cubatão c
tros li lhos com a mesma anomalia'! Elll futuro próximo. prt>tcnde- da'> crian~as 4uc mon·em com mc- I . <)'~ da4ucks residentes nos ou -
QuaJ é :t chance de termos filhos mo~ iniciar um estudo ...obre ,) nú- no.., de um ano de idade. 239t upre- tros municípios da Baixada. E-.sc!oo.
normais'! Quab ns m~:didas pre\lcn- mero de nascimento ... l'm Cubatão "\!ntarn dl.!snutrição como fator con- dados podem sl'l compar.rdo:-. com
ti V3'> ) desde I 950. parn que pos~arnos ter tributóricJ para o !'~CU óhitu (no res- o~ tle São Paulo fl(l período 196Rt
ludo isto atlíg~..~ um cas~tl quando um~t adéia de cnmo c-.~e traço de- tante da sub-região, IX%). 1970 (Perdas l~tni" do distrito de
do nascimenm de um filho portador mográfico se tem comportado E:>pc ·ificamentc 4uan1o às ano- Siio P.wlo) que revelaram, para :t
de um defeito qualquer. c as rcspos· durante este tempo, principalmente malias ~nngênita:-., no período con- mesma causa. () valor de I .h ~. As
tas fazem pane do que (.:osttllll<tmos no que diz respeito :, .. ua vuriucjão ~idcraúo. de cada mil ~rianças que anomalia~ do ...istema nervoso rc·
cham:tr de ••acon. clhamemo gené· confonne a ... diferentes estaçôc do na ceram vivas 3,3 tiveram como presenraram cerca de 50% do total

tu.: o. • • ano c o impacto do processo de in- causa direta da morte urna malfor- de anomu Ii as em Cuhatão (J I , 6'.~
A tabela tkt p~ígina 16 mo~tra al· dustrialização. mação (para o resro ,da Baixada pam a Baixada Santista como um
guns produtos químkt>s c as ano· Santista. o valor foi 2,8). Chamou n todo). sendo <ls anencdalta~ re!'l ·
malia~ nmgênitH~ que provocam. O l' uturo utenção a grande proporção de ano- pons:'h·eb por 1,6'1 e O.5% da:-. per-
seu período de maior ~cnsibilidadc malia~ do :-htcma nervoso (52~). uas de Cubatão c da Baixadn, rcs-

durante a gcsl~tção e o ri co em caso Estamo ainda no comc~o. c cnntrariamente ao verificado em pecuvamcrue.
d~.: cxpo:-.ição. Como se pode notar. muito precisu ser feito paut que outras áreas. que nprcsentam prc-
dos milhtm;s de substfmcias quími· poi\samo..; compreender o 4uc c~tá pondcriinci:t de anomalias do Os nu core' JX'rt,~n(.·em ao lkparta-
cus qu~ são anualmente colocada\ ocorrendo em Cubatüo no que e re- aparelho circulatório. mento de l:./Jidcmiologia d:1 F.1cu/-
• n\) mercado c a que estamos C:\pos- fere à ~aúde e à poluição. Quanh> ao nsco de morrl'r por di1cle de Saúde Ptíblieu J.l USP .
tos no cotidiano. pouco mais de É necessário que outros grupo..; nnenccfalia. Cubatão apresentou
• uma llezcna produzem anomalia:. de pcs<.Jui~adOJC:o. talllbém . c unam valor alto: 65 óbilos pura cada
• • Pu(fer . R R & Serrnno. C V.
conecnuas.
~
e apn!~ emcm mais proposta:-; de ~­ 100.000 na"cidos vivos. Com-
Carurtcnstklt" de l:t morculidad
Tal fato. ao contrário de ser tran- tudo. E~tudos sobre a fauna c a flo- parando cs~c duelo com os resulta- en la uinu. OPS 0:\.1S. Wa~lung·
qüilizador. deve ~cr encatado com ra. a ecologia dos mangues c does- do"' da Jnv~tigução lntcramericana ron. 1973.
muita preocupação. pois a grande tuário. e principalmente um estudo de Mortalidade na Infância, Coll(i- Sthemt, M H. - 1•t'rd11~ fctn1s do
distrito dt• Sao Puulo. F.tcullladt•
maioria destes compo~to-. só vêm sistemático dos diferentes poluc.!n- do ... nu obra Ct11 ucterf.,tica., de /:1 de Snmle Púbhca USI'. 1 1~74 (mo-
sendo introdu7.ido" no ambie.ntc tcs realmente encontrado . não só morralidad en la nHicz, verifica-se
rcccntcmcnre na história <.In homem, na auno~fera mas dentro das fábri- que, das quin;~;c :íreas estudadas. -
no~ rafin de mesuõldo)

Ano J N.o 1 .Julho/Agosto de 1982 ~fliD.~ Pg 15


formações congêmtas. pria CETESB, que no entanto vinha ubatão não existe por
evitando a divu ~lgação desses es- acaso. Sempre teve voca-
m meados de 1981 . chegam a tudos. ção natural para ponto de
Cubatão dois novos padres da transbordo, de passagem
Igreja Católica, José Portfrio e Ni- No d1a 3 de março. o governo fe- de um tipo de transporte
valdo Vicente, que êlO contrário deral intervém diretamente na ques- adequado às planícies para outro ne-
de seus antecessores perten- tão de Cubatão. criando uma comis- cessário à sub1da da serra por cami-
cem â ala não-tradicionalista do clero. são mterministerial com a tarefa de nhos rngremes. Ah. onde já hav1a uma
Engajados nas causas populares. dão propor soluções urgentes. Uma se- fábrica de papel, começou a operar
o empurrão que fa'l tava para o surgi- mana depois. talvez numa tentativa em 1926 o primeiro gerador da grande
mento de uma Associação das VIti- de criar 'f atos consumados antes que usina hidrelétrica da Light, alimentada
mas das Más Condições de V1da· em a comissão interministerial tenha a pela reversão das cabeceiras do rio
Cuba tão. que em março de 1982 reali- oportunidade de propor essas solu- Tietê. Com energia e água em abun-
• •
za seu pnme1ro congresso. com a par- ções. o governo estadual baixa um de- dância. completavam-se as condi-
ticipação de mais de 500 pessoas, in- creto de zoneamento de Cubatão. de- ções para o surgimento do primeiro
cluindo uma representação do mais finindo a maior parte do mun1cípio pólo industrial do pars. destinado prin-

alto nfvel da Sociedade Brasileira para como área estritamente industrial ou cipalmente a processar matérias-pri-
o Progresso da Ciência. preferencialmente destinada ao uso mas importadas antes de seu trans-
Essa entrada em cena de uma orga- industrial. É o zoneamento inspirado porte serra acima (ver página 20).
nização popular confere enorme Im- diretamente na proposta Vale da Vida A primeira dessas matérias-pnmas -
pulso à lu ia contra a poluição em Cu- da CIESP, que implica necessaria· foi o petróleo. com a instalação. em
batiío. A grande imprensa de São Pau- mente na remoção dos moradores 1954. da Refinaria Presidente Bemar-
lo. graças a proximidade geográfica. dos bairros mais afetados- e. como des. até hoje a maior do país. capaci-
desempenha papel também decisivo, sempre. os mais pobres - entre os tada a processar 169.000 barris por
ao divulgar relatórios alarmames so- quais Vila Parisi. já então famosa no dia (módulo reproduzido posterior-
bre os nrveis do contaminação am- pafs e no mundo como "o lugar mais mente na Refinaria Duque de Caxias).
biental em Cubatào. feitos pela pró- poluído do planeta". Ao seu redor. surqiram as primeiras


.,__atores . __. ete --- inontes J--1+.. nomo os 1


FATOR EFEITO PERIODO DE RISCO
MAIOR
SENSIBIUDAOE
DROGAS INGERIOAS PELA GRÁVIDA
l)ojntt,.c- ,......,~ ..--,._......,..
-- - · - - · · - •• .-Voili-· ......... ,
...-11..-
-·'-'···-)
..I~ .. •~~
.......... ~,
....ti.-,.,.
~~·~,
·r, · -~·--.
• ··~··1\.A,)·
""-•
~"+
-- ..
O =»V OIOS
...
moas . --
ae'IV7-·
o
' a
apos
fertilização
Aminopterino Hídrcxefolio, defeitos de formação do cr6nto, defe1iOS de redução dos ?• ?

membros, deficiência memal.

Propilllouroci I Bócio. Hipotireoidismo fetal. ? ?


Worfnn Hipoplas1a do nariz, doença óssea ? ?
Diet1lestílbestrol Carcinoma de vagina no feto femímno. Anomalias g§nito-vnnarias no ? ?
feto masculino.

Tetroc•clinos Displasio do esmalte do dente, 2 ."/3 .• trimestre ?•


Progesíógenos contaminados com Nosculimz~ão do feto feminmo. 3 : trimestre ?.
testosterono

Te5te hormonol do grovfdez Anomol10s vertebrais, do dnus. coração, troqueio, ródio, rim. 3.•/8 .• semana ?

Defe1tos na uretra.

CONDIÇÃO MATERNA E/OU DROGA


Drobefes e insuhno Defeitos congênrlo$ voâados. ? ?•
I

Alcoolismo crôniCo Def1aêncio de crescimento. M,crocefollo. Cord1opat1o congémro ? 30-500/o



Deficiência men10/. -
Epilepsia e anftconvulsivantes F1ssurc1/obtopolotma. alterações esqueléticas, unhas pouco• desenvolvidas. ?
Tabag•smo Peso feto1 diminuído. 2 .•/3 .• trimestre ?
POLUIÇÃO AMBIENTAL

Mercúrio Doença de Minomoro (doença neurolc>gH."'


. grave). ? 1

Pg 16 Julho/Agosto de 1'982 N." I Ano i


fábricas brasilerras de asfalto. de co- 'pacotes" econômicos. o reg1me curiosamente. o própno Estado pa-
que verde. de mtrogenados e de deze- abnu a petroqufmtca ao capttal pri- gará os investtmentos mars pesados
nas de rnsumos bás1cos sem os qua1s vado. Dois anos depors, às vésperas ou de maturação mars longa neces-
mexisto uma ~ndústna moderna. do "milagre econõmtco". a Petrobrás sános ao processo de acumulação do
Em 1967, no bojo dos prrmerros cnou a Petroqu1sa, através da qual. capital privado. Com cap1tais da Petro-

ao eneno
Emissão
POLUENTES Atmosférica ALGUNS DE SEUS EFEITOS
efetiva total
(estimativo
em kg/mês)
Ac1do Clorídncc.> 7 390
Ácido Sulrúnco 4.253 Irritante e corrosiVO, necrose do comeo, dermat1te

Alcotróo I 1,5 Conccngeno

Amônao 387 487 Extl'amamente IOXICO e 1rr'1tonru em oltas concentroçoes


Areia e Cunento (MP) 11.684
Benzeno 219 937 Depressor do s1stemo nervoso centro/, des1ró1 relu/os do medula osseo.
podendo cousc1r cónccr e leucemia
Bureno 23.068 Depressor do s1s:emo nervoso central, concengeno

Cõdmto (MP) 151 Pcx:/e causar desrru1çoo dos lesttculos, suspallo de se1 terotogémco
Calcóno (MP) 152.270
Corvóo Coque (MP) 423.737 Bronqu1te, COnJuntwlfe, enf1semo pulmonar
C-7 Ciclopomfmas 31.680 Norcóllcos, podem cousor o morte por paral1sia resptroto1 ia.

C-8 C•doporafmas 7 920 No1COiicos, podem cousor o morte por poro/,s,a resp~rorórro

Cloro 28.813 Quetmoduros na cómeo, 1mtoçoo dos olhos. dare:> de cabeça


Dtóx1do de Enxofre 4 090.744 Destrutçõo do mucosa nosc1/ c fonngrJ, afeto todo o SIStema resplfatorto,
jXX/endo provocar perda do o/foto.
D•oxido de Narrogên10 2.313 908 Ulcemçó=>.s e Fmroções do pele, edemas pulmonot es

Dodecc.mo 4 172
Dolomno (MP) 31.005
Fenontreno 3,4
Fertilizantes (misturo) {MP) I 179.527
Fluoretos (HF, Sif4 , ~Sif6) 41.736 Pcxiem tntbJr o coiCI!Jcoçoo osseo
Fluorontreno 5,5
Formoldetdo 55.904 Queunoduros, se mgendo, vormtos, lesão renal. CDnfUnltVItes, perda
de olfato, dezenas de outros moles
Gós Sulf idnco 41.781 Interfere no metobo!tsmo celular, pode mofar por osflx1a, é poroltsonte,
provoca lllflamoçáo no nonz o lannge. pneumoma e quetmadvros no pele
Gesso, Escóno e Ctmento (MP) 46199
tv'ercúrio 58 Pcxfe acarretar graves lesões cerebra1s, e seus compostos orgômcos são terologénlcos

tv\on6x1do de Carbono 8.007.091 fJeb,hcJadc gellet(Jflzado e confus6o mental, 11Õm1tos, dores, convulsoes e mo11e
Negro-de-Fumo 36.650
Oxido de Cólc•o (f\AP) 51.087 Ulcerações, conJuniiVUe, 1mtaçóo pulmonar

• Rocha Fosfótica
• (Co~_,)JF)- (MP) 7 523.600

Sevrn (MP) 35
Sinter (MP) 817 071
Terroclore·o de Carbono 9.720
Trióx1do de Enxofre 41 367 Resulto em óctdo su/fl)nco (ver acima)
7.965

Ano I N.o I Julho/Agosto de 1982


quisa e dos grupos Walter Moreira
Salles. Peri Ygel. Monteiro Aranha e
I nternational Finance Corporat1on.
instala-se no alto da serra. para pro-
fo•u CfiESI
cessar os insumos provenientes de
Cubatão pelo sistema de fluxo direto
(downstream). a Petroqurmica União.
na época a maior de toda a América
Latina.
No ano seguinte. Cubatão é decla-
rado município de segurança nacio-
nal. em que não há eleições para pre-
feito. Seu primeiro prefeito nomeado
será da estirpe Castello Branco. e o
segundo, substiturdo recentemente.
às vespéras do grande confronto
ecológico. foi Carlos Frederico Soares
de Campos. da família do economista
Roberto Campos. Na baixada. ao lado
da Refinaria Presidente Bernardes.
instalam-se a Companhia Brasileira de
Estireno. a Union Carbide do Brasil
Ltda. e a Carbocloro, todas elas com
papel decisivo no tornec1mento de in-
sumos v1tais para a indústria.

A COSIPA começa a operar em Cu-


batão em 1963, tomando-se num dos
maiores produtores nacionais de aços
planos. Usando a escória ua COSIPA
como matéria-prima. instala-se a fábri-
ca de cimento Santa Rita. No final dos
anos 70. quando se precipita a deterio-
ração das condições ecológicas em
Cubatão, ali já estão instaladas 23 in-
dústrias de grande porte. incluindo
sete novas fábricas de fertilizantes.

uase todas as indús1rias


de Cubatão lançam ao ar
dióxido e trióxido de en-
xofre. os poluentes emi-
tidos em maior volume na baixada -
cerca de 7.000 toneladas por dia. São
produzidos pela queima do petróleo de
alto teor de enxofre, impróprio para o
uso em regiões urbanas. Seguem-se.
na ordem de importância por volume
emitido, os fluoretos. descarregados
Em qua.e todos os cdsos, uma única empresa é responsável par mais da metade do emiuão de um poluente principalmente pela indústria de fertili-
zantes. gás sulfrdrico. amônia, formal-

INDUSTRIAS POlUENTES defdo, ácido sulfúrico. cloro e monó-
xido de carbono (ver tabela na página
Petrobrás (RPBC) DipKido de enxafr~, frióxK:Jo de tmxofre, amónio e carvão. ao lado}. São 75 tipos de poluentes
principais. segundo levantamento da
Ultrofértil (S. Marcos) Trioxido ele en}(ofre, Hvar~tos ( HF, SI F4 ~ H~ SI F6 ) e 6ciclo .sulfúrico.
CETESB. incluindo alguns especial-
COSIPA Mond}(ido de carbono, benzeno, díoícido ele nitroglnio e corvõo.
mente perigosos. como o benzeno
(220 toneladas por dia). e metais pesa-
Gás .wlfídrico, fluoretos (HF Si F,. e H~ SI F6 ), 6c1do sulfúrico e monóxido
COPEBRÁS
de carbono .
dos. como o mercúrio e o cádmio.

Ultrafértil (FAFER) Amônia No ar de Cubatão. há entre 70 e 103
microgramas de material particulado
Albo Adrio Formoldeído
por metro cúbíco, segundo as medidas
IAP

Acido sulfúrico da CETESB. O limite acima do qual
considera-se Que aumenta a probabili-
Unian Carbide TrióNclo de enxolre dade de ocorrência de mortes por
doenças do aparelho respiratório ou
Cio. Bros. de Estireno Dió~tido de enxofre e trióKido de enxofre
outras é exatamente de 70 microgra-

Pg 18 ~U Julho/Agosto de 1982 N.o 1 Ano 1



part1culado e sua granulação. da qual
mas por metro cúbico. Mas as medi-
das da CETESB são ainda grosseiras.
'
Em prime1ro lugar. porque não discri-
minam qual seja a natureza qufm1ca do I depende a capacidade de penetração

1 ~-=· o(_: e
{!aulo César Naoum~
Um terço da~ fa mílias de uma
amostragem em Vila Parisi esta-
vam com seu sangue in toxicado.
extremamente mais aguda que a do cemente. A intensidade de ação Em julho de 1981, uma equipe
A poluição que contamina o ar, a monóxido de carbono, pois cs~as desses compostos químico é muito de pesquisadores ob minha res-
água e os alimentos. causada pelas sub tâncias são bloqueadorcs irre- mais evidente em recém-nascido • ponsabilidade realizou no Departa-
inúmeras indústrias do complexo versfveis. As alleraçõe motivadas cujos glóbulos vermelhos contêm mento de Biologia do Instituto de
petroquímico de Cubatão, tem sido por esses tipos de poluentes estão uma quantidade diminuta tias enzi- Biociências, Letras e Ciências Exa-
absorvida gradativamente por seus também na dependência de sua mas de reconversão. O esquema tas da UNESP, em São Jo. é do Rio
moradores mediante a inspiração concentra~ões e do tempo de expo- ahaixo resume a fisiologia da trans- Preto. uma pesquisa envolvendo
do ar. a ingestão da água e alimen- sição no ambiente. Esses tóxicos formação de oxihemoglobina em análises de sangue de 386 pessoas
tos, c através da pele. Dos poluen- atuam. inicialmente, sobre a mem- hemoglobinas bloqueadas, c a con- residentes em Vila Paris i, bairro de
tes emitidos, 80.4% são constituí- brana do glóbulo vennelho c sobre seqüente manifestação patológica Cubatão. comparando-as com 98
dos por monóxido de carbono. óxi- as enzimas sintetizadas pelos gló- nos glóbulos vermelhos. de São José do Rio Preto. cidade

dos de nitrogênio c óxidos de en- bulos vem1elhos para prntcger a in-
xôfre. tegridade das moléculas que trans- enzímos de reconversõo
As conseqüências produl.idas
pelas intoxicações uo monóxido de
ponnm o oxigênio. Essas enzimas,
conhecidas como ''de reconvcr-
oxihemoglobina meta hemoglobina ---+• sulfahcmoglobino
Destruição Corrosão do
carbono são conhecida por todos, são", equilibram a transformação Desnaturação
dos • • - - membrana ••-- Precipitação 4-4-
do hemoglobina
c as altcraçôes fisio lógicas estão na normal de uma pequena quantidade glóbulos dos glóbulos
dependência do tempo de exposi- (I a 8%) de hemoglobina oxige-
ção e da concentração desse com- nada. ou oxihemoglobina, em he- sem poluição industrial. Os resulta- tido~ por nós foram verificados re-
posto químico no ambiente. O mo- moglobina bloqueada, ou mctahc- dos obtidos foram surpreendentes: centemente pelo doutor Etelvino
nóxido de carbono é um bloqueador moglobina. Caso haja um desequi- 135 dos residentes analisado~ de Bechara e pela química Marisa
r eversfvel do transporte de oxigê- líbrio. prm·ocado pelo aumento de Vila Parisi. ou 35%, eram porta- H .G. Medeiros, do Instituto de
nio. o qual é executado pelas hemo- óxidos de nitrogênio ou dt' enxofre. dores de concentrações au mcntadas Química da USP, que analisaram
globinas- proteínas que se locali- a o.ühemoglohina se transformará de mctahemoglobim1 c sulfohemo- diretamente o comportamento das
zam no interior üos glóbulos ver- rapidamente em metalzemoglo- globina, e 54 pessoas cstudadac; da- enzima. de reconvcrsão .
mel hos. A retirada de uma pessoa bina. a qual não e.\ecuta o trans- quele bairro. ou 14%, apresen-
exposta a essas condiçõc!-1, ou orá- porte de oxigênio. taram precipitações de material re- Todos esses resultados foram
pido suprimento de oxigênio, faz A fase seguinte se resume na sidual (po1ipeptídcos), conhecidos apresentados a um grupo de cientis-
com que o monóxido de carbono transformação da rnetahemoglo- cientificamente por corpos de tas que. reunidos durante o XV
seja removido da hemoglobina, e bina em sulfohemoglobina, que fa- Hcinz. indicando a iminente des- Congresso Brasileiro de Hematolo-
que o oxigênio se ligue a essa pro- cilmente ~e dcsnatura e precipita truição dos glóbulo vermelhos . O gia. realizado em setembro de I982
teína, possibilitanuo sua distribui- corno um material residual junto à grupo de São José do Rio Preto não em Fonale1..a, manifestaram a gra-
ção para todas as células do orga- membrana dos glóbulos verme- apresentou alteração aJguma no vidade da situação ambiental de
. ~

msmo. lhos. Finalmente, esse material comportamento fisinlógico da he- Cubatão e suas múltip las conse-
A toxicidade provocada por óxi- corrói gradativamente a membrana moglobina. qüências na saúde de seus mora-
dos de nitrogênio e seus derivados é dessas células, matando-as preco- Resultados similares a esses oh- dores.
• do ()qlartammto de Biologia da UNESP, ma
Sjo J~ do RJo Prdo.

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Processo de transformação de oxihemoglobina em meta- e sulfohemoglobina. A esquerda, vê-se um gló-

bulo vermelho oxigenado e, em seguida, as moléculas de oxihemoglobina no interior do glóbulo vermelho .
Na parede do glóbulo, vê-se o oxigênio que nele penetra. O terceiro glóbulo já apresenta a penetração de
nitrogênio e enxofre, representados por material escuro na parede do glóbulo. A oxihemoglobina é trans-
formada em metahemoglobina (moléculas cinzentas) . No glóbulo à direita, vê-se a última etapa do
processo: a metahemoglobia é transformada em suHohemoglobina (moléculas pretas) e, em conseqüên-
cia, a parede do glóbulo se transforma, antes de sua destruição precoce.

Ano I N.o I .Julho/Agosto de 1982 ClbarilllJIE Pg 19


e retenção nos pulmões. Em segundo sinergJsticos. ou seja, a combinação ano é ultrapassado o hmite máximo re-
1 lugar. não são constderados os efeitos I de poluentes. nem quantas vezes por I comendado. I
- I

-......mexem~~ o a nao ser se __ u i~ :o


Cubatão constitui-se numa das mão-de-obra braçal viria um
formas mais defeituosas de orga- pouco de toda a parte, para dis-
nização humana do espa(o em C~----
Aziz Ab'Saber• )
putar empregos nas diversas
todo o terceiro mundo. unidades industnais da região.
graves para a saúde pública. minada por mangues. Até certo ponto, não houve
caso de Cubatão po- Situa-se entre o porto princi- Certamente, houve um cres- muita diferença entre o afluxo
derá se constituir em pal dos paulistas (Santos) e a cimento industrial muito rápido de populações carentes para
um lamentável exem- metrópole mais importante do em Cubatão . Entretanto, Cuba tão e os esquemas tão criti-

plo de formas defeituosas de or- país (São Paulo). Beneficia-se durante a fase principal de im- cados de formação de núcleos
ganização humana do espaço no de velhas e modernas infra- plantação de suas indústrias - ansilares de mão-de-obra do
Terceiro Mundo. Trata-se de estruturas regionais acumula- realizada em apenas duas déca- tipo dos beiradões e beiradinhas
um distrito industrial de cresci- das, de ligação entre o litoral e das- não houve qualquer pre- do longínquo Jari . A diferença
mento espontâneo, satélite es- os planaltos interiores de São visão dos impactos soctais rela- básica a considerar reside no
pecializado da região industrial Paulo. Inclui o aproveitamento cionados direta ou indireta- fato de que aqui estamos às por-
de São Paulo. dotado de ex- de um estuário residual trans- mente com a industrialização. tas de uma região social e eco-
celente posição geográfica e formável em porto privativo das Partiu-se. aparentemente. do nômica considerada · · desen-
péssimas condições de sítio ur- indústrias locais. Entrementes, velho pressuposto de que onde volvida .. e potencialmente au-
bano. A excelência da macrolo- possui poucos espaços disponí- haja mercado de trabalho indus- to-organizadora. enquanto que
calização não foi capaz de corri- veis nos sopés de uma elevada e trial, em países subdesenvolvi- no baixo Jan estávamos numa
gir os fatores negativos quepe- maciça escarpa tropical flores- dos, para lá se deslocam apre- das muitas .. margens de huma-
sam sobre a microlocalização. tada (Serra do Mar) . Indústrias, ciáveis parcelas de populações nidade'' do pafs . Lá a
A despeito de se ter transfor- núcleo urbano de apoio admi- carentes à procura de empre- mão-de-obra residual se fixou
mado, em poucos anos, em um nistrativo e comercial. e bairros gos. Mais uma vez, cuidou-se nas beiradas nuviais . Aqui, à
dos mais importantes núcleos residenciais operários acomo- da viabilidade técnicu e econô- míngua de terrenos firmes e
industriais brasileiros, Cubatão dam-se em estreitas nesgas de mica das empresas de um modo saudáveis. apelou-se para os
evidenciou sérios distúrbios de terras planas e pro-parte sub- frio, calculista e incompleto, pântanos sal i nos. sujeitos às
crescimento populacional, a par mersíveis, entre a base da ele- nada se fazendo para receber e flutuações das marés, à polui-
da degradação ambiental. en- vada escarpa e uma extensa e la- alojar o operariado industnal . ção hídrica e à autopoluição
volvendo conseqüências muito biríntica planície de maré, do- Havia a certeza prévia de que a ocasionada pela própria pobre-
za. Era de se esperar que, pelo
menos, a capacidade de plane-
jar e de organizar dos paulistas
ttvesse sido chamada a um tra-
balho sério para evitar que a or-
ganização do espaço chegasse a
. um nível tão caótico e perigoso
para o homem-habitante como
o atingido em Cubatão.
I
Enquanto se espera que téc-

I
nicos e administradores mais
I
I
lll l ENCOURT
AO ALf'ERf5 ""'~ 80NIUU [AO
esclarecidos adquiram mais
• MAMJEl DIAS DE lOUDO
sensibilidade para os graves
problemas das relações entre o
Espaço e a Sociedade. tratemos
de compreender as condicto-
nantes físicas e ecológicas de
ltSAWIIA Dt MANUB. COMiõf um sítio urbano tão vulnerável a
- . .AÇAS 1110 A8A.!XO
uma agressiva poluição indus-
trial.

~
núcleo inicial da ci-
~ dade era um pequeno
..

porto canoeiro de
:> fundo de estuáno, que no pas-
~ sado facilitava a hgação entre
,g ,., CAI"/V..-.1 Santos e São Paulo de Pirati-
1 ~==~==========================~~======~======~
1 ninga. através de um braço de
circulação por águas. Assim.
vencia-se a travessia da baixada
Mapa de Cubatão em 1852, baseado no livro Romagem pela terra dos Andradas, ocupada por uma complexa e
de Costa e Silva Sobrinho. labiríntica planície de maré, ex-

Pg20 Julho/Agosto de 1982 N. • 1 Ano 1


I Respostas mais precisas sobre os
possíveis efe tos da poluição atmos - I fé rica por material particulado em
Cubatão serão dadas pelos estudos da I equipe do Instituto de Frsica da Universi -
dade de São Paulo coordenada pelo
I

tensivamente coberta por man- urbano-industrial de Cubatão e encostas da Serra. onde uma áerea de Cubatão para as encan-
gues e por raros enclaves de ma- a falta de movimento do ar a ní- tendência ascencional da massa tas e os altos de Paranapiacaba.
tas baixas (com figueira~ e paJ- vel da superfície criam um boi- de ar quente. frente à barreira os efeitos da poluição para a
máceas). Por mais de três sé~ são de ar quente na base da topográfica da Serra. cria um saúde pública do homem-habi-
culos, o delta intralagunar. en- coluna atmosférica. sujeito a efeito de chuva~ ditas orográfi- tante de Cubatão seriam muito
tremeado por mangues e gam- movimentos locais de convec- cas. partrcu larmente importante mais danosos e irreversíveis. a
• boas. impedia a circulação ter- çao e a inversões térmicas sufo- em serranias tropicais. como é o nosso ver. A capacidade da ve-
restre e se comportava como es- cantes por ocasião das varia- caso de nossa Serra do Mar. getação para reststir à poluição
paço ecológico limitante a ativi- ções diurnas e estacionais das A conseqüência dtsso tudo é é geralmente mais forte que a
dade econômicas produtivas. temperaturas . Nesse perigoso que o forte volume de partacula- dos homens e animais. Em
As condições climáticas des- esquema de movimentos locais dos e de gases. elevados pelo ar Paranapiacaba. tanto no setor
se fundão da Baixada Santista. do ar, torna-se constante a re- quente e posteriormente despe- atlântico como no setor dos· 'al-
criado pela conformação da distribuição da polutção de ga- Jados peJas chuvas orográficas. tos· ' da Serra. nem mesmo a ve-
Serra do mar e de seus esporões ses e particulados em uma área afeta profundamente a cober- getação tropical. densa e exu-
e situado de 15 a 20 quilômetros muito maior do que a dos focos tura vegetal das encon...,tas e al- berante. conseguiu resistir aos
de distância dos morros e praias emissores de poluição aérea tos da Serra de Paranapiucaba. efeitos das substâncias quími-
da faixa litorânea de Santos-São propriamente ditos. Os fracos tendo sado responsável, em cer- cas e dos particuJados lançados
Vicente e Guarujá, configuram vento\ provenientes do mar. tas fases de máximo envenena- ao espaço aéreo regional pelas
um c lima urbano particular- que sopram de leste, do su- mento do ar. pelo generalizado indústrias de Cubatão. O que
mente agressivo para o habi- doeste c sobretudo do sul na fenec1mento da vegetação ar- teria acontecido. c em que di-
tante e o trabalhador industrial. direção de Cubatão-Piaçague- bórea existente desde a base ao -
mensoes, '
se os ga~e~ e parta-
Em essência, o clima é tropical, ra. têm um papel constante no topo e até um pouco além da ci- cuias emitidos pelas indústrias
quente, chuvoso e úmido, in- desvio parcial do ar estagnado e meira da Serra de Paranapia- tivessem sido jogados direta-
cluindo um aumento ponderá- envenenado que recobre Cuba- caba. somando parcialmente a mente sobre a população resi-
vel de calor nos setores urbani- tão para o lado da Serra de Para- poluição da baixada com a pro- dente de Cubatão, é um fato que
zados e nos núcleos mdustriais napi acaba. Não podendo atra- vocada pelos próprios focos escapa à nossa capacidade de
dotados de grandes áreas cons- vessar a Serra do Mar. ao atin- planálticos de poluição. avaliação .
truídas. ou focos de calor dire- gir esse fundão da baixada os Não existisse essa tendêncaa
to, como é o ca~o da refinaria da ventos atlânticos empurram o ar generalizada para desvtar par-
Petrobrás. O tamponamento quente e contaminado para as cialmente o bolo da poluição
parcial das planícies aluviais e
dos pântanos salinos outrora vi-
sitados diariamente pelas lâmi-
nas de águas das marés ocasio- J
nou a formação de uma célula
de calor à altura da parte da ci-
dade mais hermetizada pelas
construções urbanas, e células
de desigual intensidade, abran-
gendo o conjunto das grandes I
indústrias do interespaço situa- ,.,-- /
do entre Cubatão e Piaçaguera e REFlNARIA PR~SIDENTE BERNARDES
seus arredores.
No verão. o calor existente
c
no núcleo central de Cubatão.
pelo excesso de construtivismo,
e na área industrial de Cubatão-
Piaçaguera por forte liberação
de energia, ausência de vegeta-
ção intramuros e entre pátios m- CUBATÃO
dustriais, ocasiona um descon-
forto térmico similar ao de algu-

• mas das áreas mais quentes do
sertão do Nordeste. Razão pela

qual. de passagem. pode-se ex-
plicar a adaptação relativa do
-
homem proveniente do Nor-
deste às duras condições do cli-
ma de Cubatão.
A existência de células de Localização das indústrias na bacia do rio Cubatão, segundo levantamento da
calor extremado acima do sítio CETESB.

Ano 1 N.• 1 Julho/Agosto de 1982 Pg21


professor Celso Orsini. que está deter Grande São Paulo. mostrou que 46o/o as medidas diretas da CETESB de pre-
minando a concentração de partículas do material particulado eram constitui- sença do enxofre no ar- outro rndice
com diâmetro menor que 2.5 mícrons. dos desses perigosos elementos. E clássico de poluição- indicam apenas
as mais danosas porque ficam rettdas que mais de 80o/o do zinco. bromo. 60 a 90 microgramas por metro cú-
nos pulmões. E está determinando chumbo e enxofre existentes no ar bico, abaixo portanto do limite de 100
também a presença especifica de cer- também se apresentavam em partí- microgramas por metro cúbico, em
tos elementos. como o bromo, o culas diminutas. altamente danosas. que aumenta a probabilidade de ocor-
chumbo. e o zinco. Determinação se- Apesar do grande volume estimado rência de mortes. No entanto, o efeito
melhante. feita anteriormente na de emissões de enxofre em Cubatão. da presença de enxofre no ar de Cuba-

~uan~~o o ovo ~--ntro em

Com raiz:es nas Sociedades Melhoramentos de Ciência, chefiada pelo seu presidente, professor
VIla Parisi e Vila Socó, foi criada em 1 •• de março
Croclowaldo Pavan.
deste ano na paróquia Nossa Senhora da Lapa, a As seqüências de fotos fazem parte dos estu-
Associação das vítimas das más condições de vida dos iniciais para a reaHzação de quat"'o documen-
em Cubatão. tários para a divulgação da problemática de Cuba-
tão em todo o país, no âmbito do Proieto Cubatão.
Ao primeiro congresso da associação compare· Os filmes estão sendo preparados por Zoroastro
ceram centenas de pesso<~s,lnclusive uma delega- Sant'anna, cineasta, e Randau de Azevedo Mar-
ção da Sociedade Brasileira para o Progresso da ques, jornalista.

Pg22

tão é fulminante. e visrvel. Ocorre que. emprego mas pelo aluguel barato. (Em guel. Não são sequer pnsioneiros de
nas condições úmidas da região, o dió- Vila Pans1. entre 273 famí11as pesquisa- uma propriedade- e sim da condição
xido de enxofre dos gases poluentes das 47°/o vinham em busca de empre- de destitufdos. Uma em cada três cri-
transforma-se em trióxido de enxofre, go e 13o/o em busca de moradia anças em 1dade escolar de V1la Parisi
e depois em vapores de ácido sulfúri- barata.) Os que prosperam fogem para não vat à escola. enquanto a média
co, que caem sob a forma da "chuva as praias de Santos. distante apenas para Cubatão como um todo é de uma
que queima", corroendo instalações 16 quilômetros, ou para a metrópole. em cada dez crianças. Quem mora em
industriais. tendo efeitos nocivos so- São Paulo. 57 quilômetros adtante. no Vila Parisi, em resumo, segundo pes-
bre todas as formas de vida. inclusive a planalto. O avesso de uma Cidade-dor- quisa da própria Prefeatura Municipal
humana. mitório, metade dos que trabalham em de Cubatão. abrangendo ma1s de 80%
Cubatão. inclusive virtualmente todos de seus habatantes. são os agricultores
contaminação das águas os profissionais liberais, técnicos e en- expulsos do campo. peões da constru-
em Cubatão e em todo o genheiros. moram em Santos. São Vi- ção civil. depois biscateiros e subam-
estuário de Santos já atin· cente ou Guarujll . A el1te local não pregados. os construtores anõn1mos
giu índices alarmantes. mora em Cubatão. Nem o ju1z. nem o do ..m1lagre" Que por ele não foram be-
que a CETESB alega se terem reduzido delegado de polícia, nem a ma1oria dos neítciados.
nos últimos dois anos As medidas fei- professores . ''Em Cubatão mora
tas em 1980 sugerem ··substancial re- quem tem que bater cartão.·· Por isso pesar da enorme gama e
dução", diz o último relatório da CE- mesmo. o atual prefeito. José Passare- do volume de poluentes
TESB. No entanto, essa afirmação é li, mora em Cubatão. mas não conse- descarregados em Cuba-
baseada em um número muito peque- gue que seu exemplo seja seguido tão. é relativamente fácil
no de medidas. com desvios muito pela maioria de seus auxiliares ime- estancar substancialmente esse pro-
grandes em relação à média. E esses diatos. cesso de degradação amb1ental. E o
desvios demonstram a presença fre- O municipio tem uma das maiores motivo é simples: o número de empre-
qüente de metais. em concentrações rendas per capita de todo o país. A sas envolvidas é pequeno, assim
superiores aos padrões de controle prosperidade dos cofres municipais é como o número de processos respon-
ambiental. visível na modernidade dos edifícios sáveis pela maior parte da poluição. A
Estudos de L. R. Tommasi. do Insti- públicos. mas a isso se contrapõe a po- mera substituição do petróleo com alto
tuto Oceanográfico. revelam a pre- breza da vida comunitária. especial- teor de enxofre por petróleo BTE (Bai-
sença de até 4,6 partes por milhão mente nos fJns do semana. quando a xo Teor de Enxofre) faria cair substan-
(ppm) de mercúrio em vísceras de cor- cidade se esvazia. E é exatamente cialmente os índtces de polutção at-
vina. dez vezes mais que o máximo nesses fins de semana. ou durante a mosfénca. O governo relutou por mui-
permitido (0.5 ppm). e quase metade noite, que ocorrem os grandes surtos to 'tempo em autorizar essa substitui-
do teor fatal encontrado nos peixes da de poluição atmosférica, quando as fá- ção. proferindo a exportação do petró-
baía de Minamata. O mesmo se deu bricas aproveitam a ausência das au- leo BTE que a Petrobrás produz na
como o teor de cobre nas vfsceras de toridades para descarregar poluentes. Bahia, gerando um lucro estimado em
tatnhas (57,5 ppm). Tommasi detectou 1,4 milhão de Ooláres por dra.Esse é,
também altas concentrações de zinco portanto. um dos preços que a popula-
s piores efeitos da degra-
em ostras e de cádmio, um dos polu- ção de Cubatão, e a de toda a baixada.
dação ambiental recaem.
entes, mais perigosos no siri azul. paga em saúde. Finalmente, quando o
como sempre. sobre os
Se os ensinamentos do caso de Mi- Conselho Nac1onal de Petróleo. pres-
mais pobres, em alguns
namata são válidos para o que se pas- sionado pelos fatos. autorizou a mu-
bairros colados a grandes empresas.
sa em Cubatão, o potencial de perigo nos quais ao ar envenenado so- dança. as empresas reststiram , pois
existente hoje em todo o estuário é teriam que gastar mais cerca de 418
mam-se o alagado contaminado e a au-
muito maior do que sugerem essas pri- milhões de cruzeiros mensais. se-
sência de saneamento básrco. A mais
meiras e precárias medidas. Em Mina- gundo estimativas da CETESB.
notável dessas vilas. pela pobreza de
mata, 20 anos depois da primeira des- A segunda grande fonte isolada de
suas pessoas e casas. é Vila Paris i, urn
coberta de que havia uma relação cau- poluição em Cubatão é a rocha fosfa-
antigo loteamento quadriculado. cer-
sal entre poluiç~o por mercúrio e a tada usada pelas fábricas de fertilizan-
cado por três das indústrias mais polu-
ocorrência de distúrbios no sistema tes. O simples descarregamento des-
entes da região. Nela vivem 17.000
nervoso central, ainda se tenta. com sa rocha levanta formidáveis nuvens
pessoas. que o governo agora quer re-
grande dificuldade. limpar o lodo da poluidoras, que poderiam ser evitadas
mover. Vila Paris• é tão hostil ao ho-
bala. E ainda se descobrem manifesta- com seu umedecimento prévio. Mas
mem. e láo absurda em sua localiza-
ções tardias do mal de Minamata, desde 1975. quando Cubatão foi decla-
ção. que mesmo pessoas que não tem
como altos índices de debilidade men- rada área crítica, novas fábricas de fe-
compromissos com os Interesses eco-
tal e deficiências no sistema nervoso tilizantes foram erguidas e o material
nômicos das indústrias concordam
• em crianças nascidas muito depois do importado. mais úm1do. foi subslituído
que a melhor solução para seus habi-
mal já ter sido aparentemente debela· por fosfato de Minas. sem que o go-
tantes é tirá-los de lá.
do, filhas de pais que não foram atingi- verno tornasse obrigatório seu umede-
Quem mora em lugares corno Vila
dos pelo mal. cimento. e tudo apenas mudou para
• Paris i? Em sua maioria. rnigrantes das •
pror.
zonas rurais de M inas Gerais e Per-

ugar eternamente provi- nambuco. Ganham entre um e dois
sório. quente e úmido. Cu- salários mrnimos. enquanto no centro xistem ainda dezenas de
batão tem apenas 84.460 de Cubatão como um todo o salário processos industriais que
habitantes. e metade dessa fica na faixa entre dois e três mfnimos. teriam que ser modificados
população é marginalizada. A maioria Em sua maior parte. são trabalhadores com a instalação de f1ltros.
chegou lá procurando trabalho em das empreite~ras que prestam serviços Mas nada disso constituí mistério,
1978 e depois ftcou. já não tanto pelo à COSIPA. Quase todos pagam alu- ex1stem as técnicas, os equipamentos

Ano l N... I Julho/Agosto de 1982


-
.......


\

--~ .. -
- ....... •
~

- t
Aspecto de Vila Parisi. Não há vida que possa resistir a tamanha concentração de poluentes.

e até o dinheiro a juros subsidiados, de multas contra as empresas. mas benefício. mesmo a um custo maior. é
através de financiamento do Banco essas multas sequer são pagas. pois o que propõem setores menos com-
Mundial. Mas poucas empresas consi- são contestadas nos tribunais O pro- prometidos com o imed1atísmo do lu-
deram essa tarefa prioritária. A CO- jeto ·'Vale da Vida" é a grande resposta cro. E o que vai ser dectd1do na grande
SI PA, uma das empresas que mais empresarial ao problema, pois ao afas- batalha ecológica de Cubatão é exata-
poluí o ambiente. já tem prazo para au- tar as populações mais afetadas abre mente onde passará a linha divisória.
tomattzar sua produção, mas não tem caminho a uma diminuição nas exigên- Não só ern Cubatão. mas em todo o
prazos tão rígidos para ehminar a ema- cias de padrões ambientats. ~ tudo •
pa1s.
nação de poluentes. As prioridades urna questão de custo versus bene-
continuam sendo econômicas. e não fíCIO .
t1umanas. Reduzir o custo do benefício, é a •Bcroardll Kucinski , j ornalista, é colabora·
A CETESB vem aplicando dezenas preocupação empresandl. Aumentar o dor de Ciência H oje.

A poluição atmosférica de Cubatão atinge números espantosos: as indústrias da região lançam no ar 75


poluentes, num volume total de cerca de 7.000 toneladas por dia.

Pg 24 Julho/Agosto de 1982 N." I Ano 1


Assim como já foi constatado
em diversos microorganismos, é possível que muitos animais, e até mesmo o homem,
u sem o campo magnético d a Terra para se orient arem .

..

Henriq u<> G. P . Lin~ d e Barro'>


l>arc:i Motta S. Esqu ivei•

Depois surgiu um caminhão ligéro . e. ao apro.\itnur-.H~.


, o mowri.\la, \nulo o câgadn, de.n•iou-\e, no
intUito de o atropelar. A roda ela frente upanlwu a orla ela carapaça. ottrau o animo/ ao w · com a rapide:
de um re/(lmpago eu fe: rodopiar, l'omo .H' [o5M uma mof•da. para fora da e\·trada ( .. ) {)pitado dt·
costa.'i, o cáRado manteve-.\(! mutto tempo dentro da cttrapaça. Mas. por fim. as pernas oscilaram no ar.
à procura de uma cm.w onde pudt·.ue firmar-.H.' ( . ) Joad remeteu no ca.mco e urou o llÍHJUe. O cágado
lfto\'l! U uma perna , ma.s ele envolveu- o com mw.\ cuulado . ( ... ) De.\ellt o/em o animal e empurrou-o para
demro dt> c a.w. \.fo.'i num momellto , v animal e.Hâ la fora, com a cabt'ra \'iwdtJ para sudoeste. como
esril·era de.fde o princípio .

cágado surge nos pnmer- em buracos e não eram ma1s v1stas deste bras1lotro para atingir a costa
ros capítulos de Vmhas da O paparroxo se transformava no ra oeste da Áfnca . (Ftg. 1).
tra, e Joh
. n S tet n beck o borrutvo durante o inverno porque, Um outro exemplo de onentação
utiliza como elemento de como era observado. durante o verão anrmal. bastante difundido e conhe-
continuidade de sua narra- somente os primeiros eram v1stos. cido, é o do vôo de retorno à casa rea-
tiva. Em diversas partes do tnícro da Outras transformações deveriam lizado pelos pombos. Quando estas
obra, Ste1nbeck descreve o caminho ocorrer. para se expl1ca r o desapare- aves são soltas longe de seus pom-
atribulado do cágado. Tom Joad. o cimento de todos os indivíduos de bais. iniciam um vôo que tem como
personagem central do romance, uma espécie em certas estações do objettvo voltar aos pombats de ori-
mantém o animal preso ern seu ca- ano . gem Várias corridas de pombos são
saco. enquanto anda para o local Observações recentes mostram realtzadas anualmente. e a prectsão
onde sua família morava . Ao encon- que tartarugas-verdes nadam cerca com que eles voltam ao lar é Impres-
trar a casa deserta, Joad solta o ani- de 2.000km. deixando a costa bra· sionante e despertou o mteresse de
mal, que esteve preso. sem v1são, stletra para desovarem em uma pe- muitos pesqutsadores. Para esta VIa-
durante longo tempo. Quando. final- quena praia da ilha de Ascensão. no gem de volta, o pombo emprega to
mente, está liberto, o cagado retoma mero do oceano Atlântico. Os ovos das as suas energras. podendo voar
o sou caminho anttgo, andando na são enterrados nas areias da praia e. distânc1as de algumas centenas de
direção do sudoeste. assim que os filhotes nascem. cor- quilômetros a uma veloc1dade média
Outros animais apresentam a rem em direção ao mar fugindo das de 70km/h. Pombos treinados rara-
mesma capacidade de se orientar, gaivotas que os procuram como ali- mente se perdem, mesmo quando ja-
mesmo em condições adversas. As mento. Esses filhotes já nascem com mats executa ram a t ravessia . Não
grandes rotas migratónas de várias um senso de orientação fundamental prec1sam conhecer a geografia do
aves são um exemplo. Durante cer- para a preservação da espécte. terreno para encontrarem sua rota .
• tas épocas do ano, inúmeras espé- A andorinha-do mar voa semestral- Estudos realtzados em pombos por
cies de antmais iniciam uma viagem mente cerca de 90.000km, saindo de dtversos ctenttstas mostraram que
que as levam a regiões distantes. regiões próximas ao Polo Norte. atra- essas aves utilizam vános mecams

Este fato intrigante já preocupava vessando toda a rcg1ão tropical, e, fi- mos de onentaçáo. Em dias claros,
• Aristóteles. que em seu tratado bioló- nalmente. chegando as regiões frias usam a posição do Sol de alguma
gico História dos ammais abordou o da Antártida. Quando o verão termina forma. são capazes de saber qual é a
assunto em varies pontos e propôs no hemtsferio Sul. elas iniciam stJa• hora do dia e a época do ano a fim de
algumas explicações. Depois de ob- jornada de volta. Durante este percur- identificar, através da obseNação do
servar que as andorinhas desapare- so. são capazes de voar longas dis- Sol, o local em que se encontram e
ciam durante a estação fria, Anstó- tâncias sobre o mar. atravessando o qual direção devem tomar para retor-
teles concluiu que elas se refugiavam Oceano Atlântico na altura do Nor- nar ao pombal. Estudos realtzados

Ano I N." I julho/Ago to de 1982


em planetários most raram que. como referência Pesquisas desen- entações solar e este lar. Tanto no
durante as nortes claras, os pombos. volvrdas com outras espécres de anr- caso da mrgração quanto do vôo de
utilizam a posição de certas estrelas mars mostram serem comuns as ori retorno ao la r, po rém, os mecanis

•••
••••
-·•"
•••• -
TARTARUGAS-VERDES

Figura 1. Algumas rotas migratórias das andori- setembro. Durante o verão do hemisfério Sul,
nhas-do-mar e das tartarugas-verdes. As andori- elas migram para regiões antárticas. As tartaru-
nhas-do-mar são provavelmente as aves que fa- gas-verdes empreendem uma viagem de cerca
zem o maior vôo de migração do planeta., Elas de- de 2.000km para desovarem na ilha de Ascensão,
sovam na costa nordeste da Europa, na Asia e na no meio do oceano Atlântico.
América do Norte durante o período de junho a

Pg 26 ~ Julho/Agosto de 1982 N.• I Ano l


POLO NORTE

mos de orientação utilizados por es- II ~


lI ~
ses anima1s em cond ções de tempo
I
adversas amda estão sendo estu-
dados. ~
~..., o
c
c:
ma hipótese levantada há ""~"'
mais de vinte anos é a de que o
campo magnéti co da Terra
pode fornecer informações im -
portantes para a onentaçao e
navegação de animats, e tem sido sis-
tematicamente considerado no caso
dos pombos. Os resultados destas
pesqu1sas, rea lizadas IniCialmente
por C. Walcott e R P. Green da Uni-
versidade de Cornell. em Nova York.
mostraram que em certas condtções
o pombo é afetado pelo campo mag-
nético. indicando a poss1btlldade de
que o campo geomagnéttco seja
usado como base de referência . Co-
locaram-se fmãs na regtão da cabeça
de pombos em dtas de pouca vislbtlt-
dade, e eles tiveram seu senso de o ri-
entação perturbado.
Falar que o campo magnétiCO da
Terra pode ser usado como referên-
cia para orientação remete-nos logo à wt: T

1dé1a da bussola, o instrumento "má-


gico" que possibilitou a realização
das grandes travessias madtimas a PÓLO SUL
partir do século XV Apesar de utili- Figura 2. Linhas do campo magnético da Terra no modelo descrito
zada como instrumento de navega- no texto. Neste modelo, o campo nos pólos é perpendicular à super-
ção, a bússola não tinha seu funciona- fície da Terra e o equador magnético coincide com o equador geo-
mento compreendidO na época . O gráfico. O campo real apresenta várias distorções que não são im·
princípio básico da bússola só f1cou portantes para a análise qualitativa do fenômeno da orientação
conhecido após os trabalhos sobre • •
magnet1ca.
magnetismo terrestre publicados em
1600 pelo médtco e ftsico rnglês W . (próxima ao equador geográfico); cabeça do pombo. o que parece indi-
Gllbert, o pnmerro pesqursador a pro- fora desta reg1ão, ela f1ca com a extre- car a existência de sensores magnéti-
por que a Terra era magnetizada . midade norte inclinada para cima no cos nesta ave.
Podemos visualizar esse campo de hemisfério Sul e para barxo no hemts-
forma elementar se imaginarmos féno Norte. rabalhos realizados por diversos
que temos, no rntenor da Terra. uma A bussola é simplesmente o instru- grupos do mundo 1nteiro se têm
enorme agulha magnetizada, com o mento que possibilita esta onenta- voltado para a procura e a com-
pólo sul magnéttco apontando para o çào. e é composta pela agulha e pelo preensão destes sensores
norte geográftco e o norte magnético sistema de suspensão da agulha . A magnéticos. sem que no en-
para o sul geográfico A representa bússola não orrenta o navio, mas for- tanto se tenha a1nda chegado a resul-
ção gráfica deste campo pode ser fei- nece os dados para serem usados tados conclus1vos A procura de ma-
ta através de suas linhas de força, e é durante a escolha da rota Assim . tenal magnétiCO em an ima1s , reali-
apresentada na figura 2. Se suspen- como a bússola é um mstrumento zada nos últ1mos anos, tem trazrdo

dermos uma agulha 1mantada na su- que fornece tnformações e deve ser surpresas aos pesqUisadores que se
perfície da Terra. ela apontará a extre- "l ido" , supõe-se que o mecanrsmo dedicam ao estudo da biomineraliza-
mtdade sul para o lado norte magnéti- que atua sobre o pombo não é o ção. Embora se conheça relativa-
co. e vice-versa . Dizemos então que a mesmo de.uma bússola. sendo cons- mente bem os procesos de m inerali-
agulha imantada sofre uma rotação titufdo por matenal magnético que in- zação de carbonatos. fostatos etc.
devida à presença do campo terres terage como o campo gpomagnético em seres v1vo s. até poucos anos
tre. alinhando-se a este campo sem, mas transmite as mformações direta- atrás não se conhec1a nenhum exem-
porém, ser atraída por ele Observa- mente para o srstema nervoso da plo de organtsmo v1vo que produz1sse
mos também que a agulha da bússola ave . De fato, em frns de 1980, foi en a magnetita através desses preces
só fica horizontal numa região que centrada f'Y'Iagnet•ta. um óx1do mag- sos. Só a parur dos estudos em um
chamamos de equador magnótico nético do ferro (Fe304). na região da molusco do gênero Chiton realizados

Ano I N." I Julho/Agosto de 1982 Pg 27


há 20 anos por H.A . Lowenstam. do
Instituto de Tecnologia da Califórnia
(CALTECH). é que se teve a pnme1ra
evidência da biom i neralização da
magnetita em animais. O processo
por que o ferro passa até ser cristali-
zado na forma de magnetita atnda
não é compreendido. e constitui um
dos campos atuais do trabalho de
vários biólogos, bioquím1cos e biofísl-
cos . Após os trabalhos de Lowens
tam. encontrou se magnetita biomi-
neralizada em vários outros seres vi-
vos. mostrando que esse processo é
bastante comum.
A magnetita é extremamente den-
sa e possui magnetização perma-
nente, o que pode ser uma 1ndicação
da existência de sensores magnéti-
cos. é jã foi encontrada em tartaru-
gas. morcegos. pombos. atuns. abe-
lhas. algas, bactérias etc. A influência
do campo magnético da Terra sobre o
comportamento de seres vivos fo1
apontada nos pombos: nas abelhas.
Figu ra 3. Foto, tirada ao microscópio eletrônico, de uma bactéria que o utilizam como elementos de
magnetotáctica (coco) coletada na lagoa Rodrigo de Freitas. A ca- orientação do vôo e como referência
deia linear de cristais de magnetita é claramente visível. A interação durante a dança que realizam quando
magnética entre os cristais da cadeia e o campo geomagnético é res- a procura do néctar , em algas verdes.
ponsável pela orientação do organismo. No canto inferior direito, e em bactérias . É apenas nestes dots
pode-se ver a terminação do flagelo, aproximadamente alinhado à últimos organismos. porém. que o
cadeia, responsável pelo movimento. O cristal da extremidade su- mecanismo de atuação do campo
per\or da cadeia está em formação. (Microscopia eletrônica de Mar- parece estar estabelecido
cus Farina, do Instituto de Biofísica da UFRJ). Bactérias são pequenos organis-
mos vivos. constituídos por uma
única célula, e constituem. junta-
mente com as algas cianofíceas. o
reino Monera. São organtsmos que
apresentam pequena organização
celular, e é provável que a vida sobre
a Terra se tenha iniciado a part1r de or

Figura 4a. Foto, tirada ao microscópio eletrônico, de uma bactéria


magnetotáctica (coco) coletada na lagoa Rodrigo de Freitas, em que
os cristais de magnetita estão dispostos numa cadeia em L. A razão
da cadeia em t não é compreendida mas, provavelmente, a magne-
tização resultante é paralela à direção do movimento. O flagelo não Figura 4b. Detalhe ampliado de
aparece na fotografia. uma cadeia em L.

Pg 28
· ~=------

ganismos deste reino há mais de 3,5 regiões. feita por Blakemore e R.B . mos microscópicos de cerca de 1Of-1.
bilhões de anos . Frankel. do Instituto de Tecnologia de (1 O milionésimos de metro) de d â
Apesar de aparentemente s im- Massélchusetts (MIT). mostra que metro, e possuem dois flagelos. São
ples . as bactérias são organtsmos elas são cnstais de magnetita com di- organismos clorofilados, e por isso
complexos, capazes de um compor- mensões que vanam entre 400 e considerados vegetais. Contudo. são
tamento bastante elaborado . Entre 1 .000 Ângstróms, . ou seja, quatro a flagelados e poss uem movimento.
as bactérias. existe um grupo. prova- dez milionésimos de centímetro. O São quim1otácticos Como as mar ipo-
velmente o mats recente na escala número de cristaiS por célula varia en- sas que. ao perceberem a luz. voam
evolutiva capaz de se movimentar no tre 6 e 1O para os cocos e entre 15 e para peno da fonte. estas algas na-
meio; são as bactérias flageladas, 20 para os espirilos Por sua dimen- dam para regtõe s ma is clara s. Ou
que utiltzam os filamentos longos e são. esses cristais btomineralizados seja. são também forotácticas . En-
delgados (flagelos) que possuem pre- situam-se na estreita região dos mo contram-se geralmente crn águas do-
sos ao corpo para nadar. Esses orga- nodom fnios magnéticos (ver figura ces . constitumdo um gênero com
• •
ntsmos procuram os nutrtentes e 5} . rnais de 500 espéctes.
possuem alguns sensores capazes Células coletadas numa determi- Há cerca de um ano começamos.
de. por exemplo. informar se a quan- nada região apresentam cadetas cris- com J . Danon e P. H. A _ Awgáo. do
ttdade de oxtgênio no meto está au- talinas praticamente idênticas. com o Centro Brasiletro de Pesquisas Físt-
mentada ou nao . Esses sensores. si- mesmo número e dimensão de cris- cas. a estudar o fenômeno da magnP-
tuados na membrana da céluta. for- tats . Normalrr1ente. a microscopia totaxia em mrcroorgan ismos na re
necem dados para que ela reaja a es- eletrôntca mostra duas pequenas re- gião do Ato de Janeiro. Este trabalho
tímulos externos; deste modo, uma giões escuras situadas no fim da ca - nos levou a fazer um estudo sistcmá-
bacténa pode evttar regtões em que a dcta, uma indicação de que os cnstats ltco. que mostrou a exts tência de or-

concentraçao de um determinado estão sendo formados no in lerior da gan1smos que apresenlarn resposta
composto químtco é alta. Este tipo de célula . Em geral estes cristais for- .
ao campo geomagnettco nas aguas '

deslocamento é chamado de tac mam uma cadeia linear. mas podem da lagoa Rodrtgo de Frettas Um des-

t1smo. e constttut uma resposta a um ocorrer outras distribuições (em L, tes organismos for tdentificado. por
estimulo externo. Quando um orga- ern X). conforme se pode ver na fi- L.P.H. Oliveira. do lnstttuto Oswaldo
nismo responde à luz, chama-se de gura 4 . Cruz como sendo uma alga verde do
fototactismo Quando responde a gênero Ch/amydornonas. Essa ob-
. - .
vanaçoes qutmtcas. como no exem- servaçao constitui a prirne1ra evtdên-
a escala evoluttva, o passo
plo acima. de quimtotactlsmo. cta de um organtsmos untcclulat
mats Importante para o de
eucanoto magnetotac ttco (figuras 7
senvolvimento do ser vtvo
e 8).
ara o estudo da percepção ocorreu há cerca de 1.3 br
magnéttca em se res vtvos, lhão de anos. quando apare-
teve grande importânc·a a ceram as pnmeiras células que conti- as o que é ser sensível ao
descoberta, feita em 19/4 nham material genético envolto pór campo geomagnético? O
por R.P Blakemore. da Unt uma membrana no interior do Gtto- que é ter uma rcspoc;ta ao
versidade de New Hampshtrc. de plasma, o núcleo. Estes organismos. campo rnagnéttco '? O que
bactérias que apresentam um tipo de ainda untcelulares. têm uma organi- é magnetotaxia?
tactismo ate então desconhecido, zação bastante mais complexa do Como foi dito anteriormente, a mi-
que recebeu

o nome de magnetotac- que as bactérias e algas cianoficeas croscopia eletrônica de bacténas
tlsmo ou magnetoraxia Essas bac- e, provavelmente , possibilitaram magnetotácttcas apresenta uma ca-
ténas. encontradas em regtões logo toda a evolução posterior dos seres dela de cnstats de magnetita. Estaca-
actma do 'fundo lodoso do lago de vtvos. As bactérias e algas dano f 1- deia functona como uma microscó-
Woods Hole. em Massachusetts. ceas são organ ismos chamados pro- pica agulha magnettzada. situada no
são influenciadas pelo campo geo- cariotos (de pro-antes, e karyon-nú- Interior da célula. O organismo está
magnético. como descreveremos cleo), ou seja. desprovidos de núcleo em suspensão na água. e dessa
adtante. celular. enquanto todos os outros forma functona como se tosse uma
Pesqutsas postenores mostraram seres vivos conhecrdos apresentam bússola . O campo magnétiCO alinha a
que bactérras magnetotácticas são células com núcleos. e são chama- cadeia cristalina, e os flagelos produ-
• bastante comuns. sendo encontra- dos eucari otos (eu-verdadeiro) . A zem o movrmento. Asstm, bactérias
das nas famas esférica (cocos). cilín- descoberta do n1agnetotactismo em e algas nadam na direção determi-
dnca (bastonetes) ou esptralada (es- bactérias constitui um importante nada por esse campo . Mesmo
plrílos). O exame destas células ao avanço no estudo do biomagne- quando mortas. as bactértas e algas

microscopto eletrôntco mostra a exts- ttsmo. Mas o estudo de organismos se orientam, mas não se movimen -
tência de regiões escuras. cada uma eucariotos un:celulares pode forne- tarP, o que mostra que o movtmento
delas de forma geométnca bem defi- cer dados novos para a compreensão é produzido somente pelo flagelo.
ntda (em alguns casos cubos e, em da influência do campo magnético Tudo indica que a cadeia cristalina
outros. prismas de base hexagonal). sobre o comportamento de seres é paralela à direção do movimento .
envoltas por uma membrana e situa- mais complexos na escala evolutiva . Existem dois tipos de microorganis-
das no interior da célula (figuras 3 e Algas verdes unicelulares do gê- mos sob o ponto de v1sta da orienta-
4). A unálise espectroscóptca dessas nero Chlamydomonas são organis- ção magnética : os que nadam na

Ano I N." 1 Julho/ A~osto de 1982 Pg 29


direção norte e os que nadam na dire- ,
ção sul. Isto se deve ao fato de que.
a .l . MULTIDOMÍNIOS a .2 . MULTIDOMINIOS -o
~
t:

..,
C)

embora a cadeia cristalina se alinhe .§


com o campo magnético. os flagelos ·-
:::..
o ~
se localizam em extremidades di- zex o
.c:
c:
ferentes nos dois tipos de organis- ....
w "
mos. Como o campo geomagnético é >< 5
w
inclinado (ou seja, não é horizontal) o
fora da região do equador magnético. -u....
·W
os microorganismos magnetotácti- z<!)
cos nadam para cima ou para baixo .
Amostras de águas do Rio de Janeiro ~
apresentam um número muito oa.
grande de m icroorganismos t1po sul.
~o

b.l . MONODOMÍNIOS b.2 . MONODOMINIOS
ou seja. que nadam •
para o fundo no
hemisfério Sul. Aguas coletadas no
hem isfério Norte apresentam um
• o
oo
maior número de bactérias do t1po
oposto. Na região do equador magné-
ou
.-z... -
w
tico. foracn encontrados números
aproximadamente iguais de bactérias
"'
dos dois tipos (figura 6). • •
SEM CAMPO MAGNETICO COM CAMPO MAGNETICO
É possível que algumas bacténas
magnetotácticas sejam anearób.as
Figura 5. O material magnético possui uma est~utura cristali_na e é
ou m icroaeróbias, i sto é, vivendo
constituído por várias regiões com forte magnetasmo, denomanadas
tanto em me1os onde o oxigênio é
domínios magnéticos (a.1 ). Na ausência de um campo magnético
inexistente como em meios onde
externo, esses domínios se apresentam desalinhados. Na presença
este só se encontra em pequenas
de um campo magnético externo, estes domínios se alinham, tendo
quantidades Blakemore consegu1u
um campo resultante (a.2).
isolar e obter. até o momento, a ún1ca
Quando a dimensão do cristal é muito pequena, menor do que a de
cultura de bactérias magnetotácti-
um domínio, o cristal possui uma única região magnetizada e é cha-
cas : um espirilo aquático (Acquas-
pirillum) de dimensões de alguns ml-
mado de monodomínio (b.1 ). Na presença de um campo magnético
crômetros . Estas bactérias são mi- .
externo, o monodomínio se alinha ao campo (b.2). Como o monodC\-
croaeróbias e a mag netotaxia pode
mínio não apresenta várias regiões que podem anular os efeitos
ser um mecanismo eficiente para ela
umas das outras, ele é sempre magnetizado.
alcançar as reg;ões fundas onde a ~
E
o
pressão do oxigênio é baixa . b C)
•E
Esta interpretação explica. parcial- -
:i
mente. as observações feitas em ~
o
águas dos hemisférios Norte e Sul, .c:
c:
G>
mas se depara com alguns proble- ~
mas . Em pnme1ro lugar, sao encon-
tradas bacténas tipo norte nó hemiS-
fério Sul. Embora em pequeno nú-
mero, estas bactérias podem ser en- • •
contradas nas amostras em que pre- Figura 6 . Microorganismos magnetotactacos :
dominam as do tipo sul. Em segundo a. Tipo sul - a magnetização é b. Tipo norte - a magnetizaçãC?
lugar. os trabalhos realizados na re- paralela ao campo e antiparale- é paralela ao campo e paralela a
gião de Fortaleza. próxima ao equa- ta à direção do movimento. direção do movimento.
dor magnético, com F. Torres, da Uni- meno da magnetotaxia pode ser pen- do meio anterior. Se estas caracterís-
versidade Federal do Ceará. e com R. sada. Os mecanismos de tactismo ticas apresentarem uma alteração
Frankel. mostraram que existe apro- são maneiras que o ser vivo desen- desvantajosa para ela, a bactéria exe-
ximadamente o mesmo número de volveu. ao longo de todo o processo cuta um mov1mento brusco com o
bactérias norte e sul na mesma gota da evolução. para conseguir se orien- seu flagelo e i nicia uma caminhada
de água. De acordo com a explicação tar c achar regiões mais ricas em nu- em nova direção. A d ireçao da traJe-
anterior, deveríamos esperar que o trientes etc. No caso da quim iotax1a. tória não é e scolhida e ocorre ao
campo geomagnético separasse os por exemplo, a bactéria inicia um mo- acaso . Para que a bacténa sa1a de
dois tipos de organismos e estes se vimento em uma direção qualquer e, uma região em que as cond1ções não
distribuíssem em regiões opostas no após nadar algum tempo, o orga- são propícias para ela e atinja uma re-
ambiente natural. nismo compara as características fí- gião melhor. é necessário que ela
Uma outra explicação para o fenô- sico-qu fmicas no meio novo com as tente vários caminhos.

Pg 30 Julho/Agosto de 1982 .• 1 A no 1
conduta e age. levando em conta to-
dos os estímulos que está perce-
bendo O pombo. as abelhas e várias
outras espécies animais apresentam
uma sensibilidade mu1to grande à al-
teração do campo magnético. sendo
afetados por alterações locais ou por
tempestades magnéticas solares
que produzem uma variação de al-
guns centésimos no valor do campo
da Terra .
Os trabalhos nesta área mostram
que o fenômeno de b10m1neralizaçáo
de magnetita é mutto comum em
• Figura 7. Algas magnetotácticas aglomeradas na extremidade de seres vivos O estudo da res;"'OSta ao
uma gota d'água por ação do campo magnético. campo magnét1co em antmais ainda
se encontram em sua fase inicial.
mas trabalhos realtzados por R. R. Ba-
ker. da Untvers1dade de Manchester.
indicam que o homem possui um
sent1do de onentação magnét1ca que
normalmente não é cons1derado. Es-
tes trabalhos, entretanto. são ques-
tionados por alguns pesquisadores. e
será necessário intenSifiCar a pesqui-
sa nessa área para que se possam co-
nhecer novos aspectos das potencia-
lidades do homem .
Figura 8. Detalhe ampliado de algas magnetotácticas da lagoa Rodri-
go de Freitas. ssim como as bacténas e
algas magnetotáctrcas, as-
Já no caso da magnetotaxia. esse a quantidade de magnetita encontra Sim como os pombos que
procedimento é bastante simpl ifi- da nas bactérias estudadas e sufi- retornam ao lar nos d1as e
cado e a eficiência do deslocamento Ciente para fornecer uma energta de no1tes nublados, as andon-
é várias vezes ma1or Como o campo interaçao com o campo geomagne- nhas. as tartarugas. as abelhas, o cá-
geomagnético interage com o orga- tJco cerca de doze vezes maior que a gado de Vinhas da ira e talvez o ho-
ntsmo e reduz as poss1b1l1dades de energ1a térmrca . Cálculos fe1tos atra- mem utlltzam o campo geomagné-
movimento, a bactéria está restnta a vés da dinâmrca do movtmento mos- tico como importante elemento para
andar somente acompanhando as li- tram que as algas magnetócticas de- sua orientação Esta percepçao do
nhas de força do campo, e ass im vem possuir uma quantidade de mag- campo magnét1co terrestre mostra.
deve. decidir se nada numa d1reção ou netJta dez vezes maior que a das bac- . . .
mats uma vez, que os organ1smos VI-
na outra. Trata-se de um mecan1smo térias . Durante a divisão celular. vos estão mtimamente l1gados ao pla-

ma1s efiCiente, porque poss1bl11ta que quando a célula se divide em duas neta. formando um todo rntegrado,
a célula nade distâncias maiores em para dar ongem a dois novos organis- conhecendo o seu meio através de
tempo menor. mos, é provavel que a cadeta de cris- uma expenêncta herdada de seus an-
Neste mundo microscópícot neste tais também se d1v1da aproxtmada- cestrais O ser v1vo é a memória v1va
mundo em que os organ ismos são mente ao me1o , perm itindo , dessa da Terra. memória desta aventura
somente 50.000 vezes maiores que forma que as células-filhas ainda que se iniciou há uns 3.5 bilhões de
as molécutas de água, qualquer varia- possuam uma orientação eficaz . anos. quando surgiram as primerras
ção do meio produz alteração no mo- células.
vimento. Efe1tos de temperatura são magnetotaxía ó um dos
importantes. po1s são responsáveiS mecanismos de resposta • Doutores em Oslca , p~squhadore s-assc1clados do
Centro BrasHtlro de Pt!>qul as Fislcas I CNPq , Rio de
pelo movimento desordenado de agi- ao campo geomagnétrco Janeiro.
tação das part1culas descoberto por em alguns seres v1vos. As /

• R. Brown no século XIX {movrmento bactérias e algas magneto- SUGESTOF~ PARA LEITURA:
brown1ano). Bacténas e algas apre- tácticas apresentam esta resposta Chauvin. Rémy . .4 NoiOJ:ia: e5ludoblol6jdco
do comportamento animal. Zahar. tm.
sentam este movimento desorde- passtva ao campo, que não depende Blak~more, R.P., e Fnmkel, R.B. "Magnc·
nado que compete com todos os mo- de nenhuma função vital. li c Navlgatlon in Bacteriat". Scientific
vimentos onentados . No caso de or- Há md1cações de respostas muito American, dezembro de 1981, vol. 245 n .• 6.
Gould, J .L. •'The Case for Mugnetic Sensili·
ganismos magnetotácticos, a ener- ma1s elaboradas em outros seres vi- 'Yity in Blrds and Bees (such as 1t i~ )".
gia de Interação magnética deve ser vos . Os pombos apresentam uma American Scientist, 1980, vol. 68.
Lowenstam, H.A . ••Mineral~ Formed b)
maior que a energia térmica para que resposta mdireta em que, diante do Organisms". cience, 1981 , 'oi. 211.
haja uma orientação efet1va . De fato, campo magnético, o animal elabora a

Ano 1 N. o 1 Julho/ Agosto de 1982 Pg 31


O poder de mobilização do futebol, levado ao extremo durante a "resolvendo" o problema através de
disputa da Copa do Mundo, desperta questões sobre alguma fórmula. sena um procedi-
mento totalmente descabido, e qua-
valores e hábitos de nossa sociedade que interessa discutir
se ridfculo.
de forma mais aprofundada.
reio. entretanto. que é pos-
sfvel tentar levantar algu-
mas hipóteses que, soma-
das às análises já existen-
tes . possam ajudar-nos a
entender melhor a enorme força e
popularidade do futebol entre nós .
Essas hipóteses. que tentarei desen-
volver a seguir. implicam em definir o
mundo do futebol como um contexto
no qual predom inam valores demo-
cráticos, marcados por ideais de liber-
C...___
Ricardo 8en7..aq~n de Araujo. ) dade e 1gualdade .
estes dras e' n Q'Jc escrevo. as areas ern que trá iludir a população, I s to n ã o q u e r d 1z e. r, e v i d, e n. te-
algumas somélnas c.tntes de Impondo seus projetos à sociedade mente, que esses seJam os un1cos
ma1s uma Copa do Mundo. como se escrevesse numa folha de princípios presentes no futebol. Salt-
papel em branco ? ento apenas que, ao contráno de uma
fica bastante evidente a im-
Na verdade, acredito que as pro- série de outras áreas da sociedade
portância do futebol na nos-
postas que v1sam à uttllzação tdeoló- brasiletra. onde imperam normas e
sa vtda social. Asstm. o espaço a ele
destmado nos me1os de comunica - gica do futebol, como. por exemplo.
ção é aumentado. e sao desencadea- ocorreu na Copa do Mundo de 1970.
das uma séne de campanhas e pro- são elaboradas exatamente porque a
moções comercrars tendo corno mo- pop ulandade deste tndepende. no
tivação a copa; há. enfim. uma espé- fundamental. de todo apoio ou patro-
cie de "contam,nação" de outras cfnto estatal. Este argumen to. que
áreas do nosso cottdiano pelo fu - contrana i ntei rament e a explicação
tebol que vínhamos debatendo. faz com
Qual a razão disto tudo? Uma res- que as tentattvas de mantpulação do
posta bastante comum a esta tndaga- fu te boi. feitas pelo Estado ou qual-
ção afirma que, "na realídade", toda quer ou tm enttdade polfttca, apare-
essa movtmentação não passarra de çam como consequêncta da sua pre
um enorm e esforço de mistificação VIa tmp0rtância, e não como fonte de
planejado pelo governo. que estana seu prestigto.
interessado em supervalorrzar o fute- Se isto é verdade, se o sucesso po-
bol para fazer com que. em um ano pular do futebol não é produzido por
de eleições. a crise econômtca e os ninguém , mas depende de uma ló-
problemas pollt1cos fossem relega- gica e de um poder de mob11tzação m-
dos a um segu ndo plano pela po- trlnsecos, somos. então, colocados
pulação dtante de uma questão extrema-
Sem descartar inteiramente esta mente complexa. que é a de tentar
posstbilidade, ereto que a resposta a compreender as razões que criam o
essa pergunta extge que dtscutamos verdadeiro "fascínio" provocado
problemas bem mais difíceis do que pelo futebol em nossa sociedade.
os que se resumiriam numa simples Uma resposta cabal a esta per-
"conspiração "governamental. De gunta. contudo, parece ser mutto
fato. mesmo que aceitássemos ple- pouco provavel Além da dificuldade •
namente esta htpótese. amda tería- do tema, e das naturais limitações de
mos de explicar por que essa tenta- espaço deste arttgo. é predso tam-
ttva de mantpulação tem como alvo bém levar em conta o fato de que

precisamente o futebol. e não outro existem pouquíssimos trabalhos que
esporte ou outra atividade qualquer. tentem pensar sociologicamente o •
Ou será que o nosso Estado é tão po- mundo do futebol. Dessa maneira,
deroso que pode escolher livremente procurar esgotar o assunto,

O uniforme de clube "despe" o torcedor de sua identidade civil, deixando-o com


os mesmos direitos de qualquer outro. No sentido horário, torcidas do Bangu
(Rio), Internacional (Porto Alegre), Corinthians (São Paulo) e Flamengo (Rio) .

Pg32 Julho/Agosto de 1982 N.o I Ano l


Ano l N." 1 Julho/Agosto de 1982 Pg 33
sários. Estes. por sua vez, devem ter
sua privacidade absolutamente res-
peitada. pois a vitória só é válida se
for obtida numa arena pública. se-
gundo regras imparciais e conheci-
das por todos. Como se pode consta-
.. • # • • •

tar, temos a1 pnnc1p1os mutto pareci-


dos com os que foram criados pela
ideologia liberal.
Se o esporte. portanto. aproxima-
se das idéias liberats pela ênfase que
dá à competição. temos. então. que
discutir a maneira especí f ica pela
qual o futebo l irá v1venc1ar esta cate-
goria . Para tanto, devemos nos lem-

A utilização ideológica do futebol , como ocorreu na Copa do Mundo de 1970, re- brar que o futebol. embora seja um
sultou da popularidade do esporte que. no fundamental , independe do apoio ou jogo coletivo. abre grandes possibili-
do patrocínio do Estado. dades para o "bnlho''. para a realiza-
valores denvados da nossa longa Lra- flito. a competição. não como algo ção individual.
dição ':autoritária", baseados no destrutivo. que deva ser eliminado.
"paternalismo" . na "conciliação ... e mas como o próprio fundamento da o contrário. por exemplo,
nas relações pessoais, o futebol vai atividade humana . Conseqüente- do basquete. que limita se-
privilegiar idéias diferentes. liberais e mente. se tomarmos o esporte como veramente em trinta se-
democráticas. conseguindo inverter. exemplo, veremos que se pensa que gundos o tempo que cada
assim. esta mesma tradição Ê preci- as diferenças entre atletas. times e equipe tem para atacar.
samente a partir dar. na mmha opi- clubes são absolutamente irredutí- além de controlar a mobilidade dos
nião. que devemos tentar encontrar veis . Elas devem ser exasperadas até atletas - cada jogador só pode con-
as razões de seu prestigio e de sua in- a vitória de um dos oponentes e duzir a bola caso es t eja
cdvcl difustlo nunca diminuídas, o que faz com que movimentando se, se parar, é obri-
a preocupação com o confl1to atra- gado a passá-la . no fu te boi não
Não se deve estranhar que uma vesse. de ponta a ponta. o mundo do existem •
essas restnções. Ass1m • o
atividade esportiva veicule po- esporte. futebol abre espaço para uma extre-
pularmente. em nossa socie- Este mundo. inclusive. só é possí- ma individualização da competição.
dade, padrões de comportamento li- vel se. como na economia de mer- pois o jogo. com muita freqüência,
berais . O esporte. em geral, presta- cado. regida por valores Individualis- termina por se resumir a confrontos
se muito bem à propagação desses tas e liberais. todos concordarem. le- entre dois jogadores. verdadeiros
valores. pois está baseado em alguns gitimamente. em discordar . Desta "duelos". nos quais as armas mais
princípios, como a competição e o forma. cada agremiação deve preo- decisivas são o drible e o controle de
"desempenho", que também ocu- cupõr se basicamente consigo pró- bola, qualidades que dependem. emi-
pam um lugar da maior importância pria. com o seu fortalecimento in- nentemente. da técnica individual de
dentro da doutrina liberal terno, com a ampliação das suas cada um.
Todos dois, assim. encaram o con- chances de derrotar seus adver Note-se que as reg ras do futebol
nao obrigam. formalmen te, que ele
seja JOgado dessa maneira. a partir da
hablltdade de cada JOgador. A g rande
ma1oria dos países europeus. por
exemplo, pratica um futebol que se
aproxima muito do "estilo" do bas-
quete, diminuindo a importâncta dós
dribles e aumentando a dos lança-
mentos em profundidade, fazendo
enfim com que os movimentos
"táticos" do conjunto prevaleçam so-
bre as exib1ções de técnica individual.

iutebol. então. considera -


do abstratamente. tanto
pode ser jogado de forma
mais individual quanto
mais coletiva . O que me
Caso extremo da individualização do confronto no futebol foram os lendários importa assinalar é que. no Brasil.
duelos de Garrincha com seus marcadores. os "Joões". rcssarvando-se todas as exceções e

Pg 34
variações regionais, ele tem priville- ainda hoje uliliza. com alguma fre-
giado muito mais a primeira alterna- qüência. esta oposição como etxo
tiva, dando primazia à habilidade indi- para a hierarquização de indivíduos e
vidual sobre o jogo de conjunto. Isto. grupos.
como já foi dito. faz com que a com-
petição apareça. no nosso futebol. de as o talento tarnbém pro-
forma extremamente individualizada. porciona a jogadores vtn-
o que acentua o paralelismo que VI- dos muitas vezes de fa-
nha estabecendo com a doutrina li- mílias pobres a oportuni-
beral. Com efeito. o mdividualisn1o, dade de uma rápida e con-
elemento básico desta doutrina. en- siderável ascensão social. pois asso-
contra no futebol um dos contextos mas envolvidas nos contratos assina- L
em que sua aplicação. em nossa so- dos nos clubes da pnmeira dtvtsão
ciedade. é mais legítima e difundida. podem ser bastante sígnificntivas .
Mas esse paralelismo pode ser le- Essa chance de mobilidade, ofere-
vado ainda mais adiante. Para tanto. cida pelo futebol. não só reafirma seu
basta obsFrvamos que. ao op•ar por caráter individualista e democrati-
um jogo fundado na técnica no Indivi- zante como também parece ser uma
dualismo dos atletas. o futebol bra- das principais responsáveis pela atra-
sileiro acaba por dar uma importância ção que ele consegue despertar.
especial ao talento de cada jogador, e Na verdade, a posstbilidade de se
esta categoria possui algumas carac- ganhar muito dinheiro em po•JCO
tPrístlcas que aprofundam. Significa- tempo. particularmente quando as- O futebol dá aos jogadores a possibili-
tivamente. o sentido igualitano e li- soctada à 1magem do futebol como dade de ganhar muito dinheiro em
beral do futebol. uma atividade na qual o trabalho vem pouco tempo. Os contratos e os ga-
nhos dos atletas mais destacados são
A prime1ra delas liga-se ao fato de conjugado com o prazer. suscita. fatores que suscitam o interesse de

que o talento é um "dom" natural. aparentemente. o tnteresse e a Ima- amplos segmentos de nossa socie-
congênito e intransferível. Ele pode. ginação de vários segmentos da nos- dade.
portanto. "atingir" impessoalmente sa sociedade. Prova disso é a preocu- tal ao mundo do futebol quanto as pri-
indivíduos situados em qualquer fai- paçdo que. muitas vezes. cerca a re- meiras. Trata-se do fato de ser um es-
xa da.soc1edade. desconhecendo in- novação dos contratos dos grandes porte de massa, capaz de congregar
teiramente dtferenças de nasci- jogadores. o debate público em torno multidões em torno de si. Assim. é
mento e de riqueza. O talento. então. da justiça ou in just1ça das suas pre- natural que estudemos as caracter is-
consegue reaf1rmar a dimensão de tenc:;ões e das propostas dos clubes. ticas que irão definir a torcida dentro
mocrát1ca do futebol, po1s abre a pos- Vale notar. além disso. que esse do mundo do futebol.
Sibilidade de que pessoas situadas "d:nhe ro fácil'' que o futebol parece E: Importante notar, desde logo,
em diferentes postções sociais. propo rcionar tem sido. nos últimos que a análise da torcida parece, tam-
mesmo nas ma1s humildes. tenham anos, relativamente estendido à tor- bém. acentuar ainda ma1s a caracteri-
acesso a uma carreira que pode ser cida. através da criação da loteria es- zação do futebol como um contexto
extremamente gratificante e, em ter- portiva. A loteria. de grande sucesso democratizante De fato. a própria ca-
mos financeiros, altamente compen- no país, quebrando freqüentemente. tegoria massa nos remete a uma
sadora. segundo a imprensa. recordes inter- idéia de igualdade e indiferenciação.
Gratificante porque. em primeiro nactonats de arrecadação. dá a im- Ela implica uma preocupação muito
lugar. o futebol é uma profissão que pressão de operar a partir de princí- maior com o número do que com a
mistura o trabalho com o prazer, pois pios muito semelhantes aos que são qualidade diferenciada dos
os atletas, em geral parecem gostar encontrados no 1 m unrlo do futebol. espectadores; ou melhor. ela parece
do que fazem. e JOgam bola. como se Ela joga com a sorte e com o conheci- partir do princípio de que todos. num
sabe, até mesmo durante suas férias. r.nento que os torcedores têm do fu- estádio, são. antes de mais nada. tor-
Além disso. não devemos esquecer tebol categorias tão democráticas e cedores. d~ixando de importar. no
que o talento, embora exija. para se impessoais quanto o talento. Afinal, momento do jogo, se são doutores.
expressar uma condição ffsica sin- qualquer um pode ter sorte, e. se- funcionánocs. operários ou profes
• gularmente apurada. implica em qua- gundo a convenção, todos. no Brasil. sores A ênfase. portanto. abandona
lidades bastcamente "espirituais" . A parecem entender de futebol. a d1ferenc1ação e a qualidade para
técnica é "jeito". e não "força", e concentrar-se. fundamenta lmente.
' pode realizar-se em qualquer jogador, - - ssa referência à torcida me con- na quantidade
'
mesmo nos mais franzinos. o que faz duz diretament e a um terceiro A torcida. ass1m. possuí a proprie-
com que o talento consiga superar, ..,..___ ponto que gostana de discutir. dade de reunrr. · na mesma massa",
' de certa forma. a velha oposição en- ......__ Com ela, deixamos a análise das pessoas situadas em posições so-
tre trabalho intelectual e manual. E • •
categon1s 1nternas ao 1ogo. ciais extremamente diversas. homo-
esta é uma característica nada des- como a competição. o talento e o indi- geneizando. em torno dos clubes, as
prezível numa sociedade como a bra- v1dualisn1o. para 0ntrar no debate de suas diferenças. Nesse processo.

sileira. de tradição escravocrata, que uma outra dimensão. tão fundamen- um mecanismo extremamente 1m-

Ano 1 N.o 1 Julho/Agosto de 1982 -~ Pg 35


tremamente s1gnificat1va. •
Dessa forma, o fato de o futebol
constituir-se num contexto de mas-
sa, onde reina a Igualdade, dá chan-
che para que também essa face
"part1c1patória" da liberdade possa
se concretizar. De fato, se todos pos-
suem o mesmo direito, todos devem.
então. ter um espaço para que seus
julgamentos e opiniões possam. legi-
timamente. transformar-se em ação,
o que faz com que cada assistente
seja, tambóm, um animado protago-
nista do espetáculo.
Ora, a junção da igualdade comes-
tas duas d1mensões da liberdade.
além de evidenciar o caráter demo-
A interferência da torcida no jogo de futebol pode ser levada à entrada no próprio
campo de jogo : o torcedor torna-se então um verdadeiro protagonista do espetá- crático do futebol. levanta também
culo. uma última questão. que prec1sa ser
acrescenlada a esta discussao.
portante é o uniforme de cada clube: - - xiste portanto, no futebol, uma
ao mesmo tempo que separa e distin- ....,._área de decisão privada, na qual
gue cada uma das torcidas. ele cada torcedor tem liberdade para la se refere ao fato de que o fute-
"despe" cada torcedor da sua identi- ....__ julgar e escolher segundo suas 1 - - boi. precisamente por conseguir
dade crv1l, e o integra em um novo próprias inclinações, sem ter que realizar esta singular fusão da 11-
contexto. profundamente indiferen- sofrer qualquer interferência. Lem- ..__ berdade com a igualdade. parece
ciado. bremo-nos que a própria opção por se poder ser caracterizado como
Nesse contexto de massa que é a torcer por determinado clube. de se uma área onde a cidadanw pode ser
torcida, inexrstem desigualdades. trocá-lo por outro. ou mesmo de se plenamente exercida em nosso país.
pelo manos em princípio. Todos es- desinteressar do futebol, são resolu- Dessa forma. a torcida parece const1·
tão ali un1dos pela paixão. para torcer ções de "foro fntimo". que não in- tutr-se numa categoria soc1al dotada
por um dos clubes e, portanto. cada teressam a ninguém, e que devem. de extrema independência, capaz de
torcedor tem, neste momento. os assim, ser tomadas com toda a rode- pensar e agir, livremente, dentro do
mesmos dirertos que qualquer outro. pendência . mundo do futebol.
Este últ1mo ponto é de grande im- Mas o torcedor não é l1vre apenas Iguais entre si. extremamente mo-
portância. pois nos leva. de cena no sentido de ver respeitada uma bilizados e. às vezes, mUlto bem or-
forma, da igualdade à liberdade. Com área em que suas oprniões podem ganizados. os torcedores dão a im-
efeito, se todos os torcedores são ser formuladas sem qualquer tutela. pressão de viver nos fins de semana.
considerados moralmente igua1s, ou ingerência, externa. /\lém deste quando é realizada a maioria das parti-
abre-se, então, a possibilidade para sentido, que o inglês lsaiah Berlin das de futebol, uma realidade que
que cada um deles possa. com toda a chama de dimensão negativa da liber- contrasta nrttdamente com sua ex-
legitimidade. ter uma visão inteira- dade. ele é ltvre também na acepção periência cotidiana da cidadania.
mente pessoal do andamento da par- positiva do termo. ou seja é livre para Efetivamente, no "meio da
tida, da escalaçáo dos times, enfim, part1cipar amplamente do jogo, com- semana", o que encontramos é uma
de qualquer aspecto relacionado ao portando-se não só como espectador vivência essencialmente limitada da
mundo do futebol. mas também como alguém que toma cidadania. inclusive formalmente. No
Qualquer torcedor pode, inclusive, parte ativa no espetáculo. Brasil. desde a década de tnnta, qual-
discordar das "autoridades" em fute- A torcida, conseqüentemente. não quer ind1víduo só passa a ser consi-
bol, os técnicos, dirigentes ou co- está somente livre de interferência, derado cidadão se consegu1r provar.
mentaristas. sem que sua interpela- ela é também livre para interferir. de através da apresentação da carteira
ção seja considerada insolente ou várias mane1ras. até mesmo no resul- de trabalho ou de outro documento
descabida . Este é um cóntexto em tado das partidas . Basta recordar similar, que está "locarizado" em al-
que, de alguma forma, todo mundo aqui, o fato de que a torcida é a guma prof1ssão previamente definrda
tem opinião, e todos têm o direito de "camisa 12", uma entidade que as- e reconhecida pelo Estado . Se tsso
exprimi-la, ou seja, são livres para ex- siste, mas que também deve fazer não for possrvel. se ele estiver de-
plicitá-la sem sofrer qualquer cons- "pressão", participando. assim, do sempregado ou se sua ocupação não
trangimento. É exatamente por isso jogo . E existem várras maneiras for legalmente reconhecida, ele pas-
que as discussões sobre o futebol desta pressão ser explicitada: além sa a correr o nsco de ser classificado
são consrderadas "intermináveis" . dos gritos, dos palavrões. dos rojões como um cidadão de segunda cate-
Na verdade, esta impressão é cau- e das invasões de campo (ou da sua goria, ou como um "vagabundo". in-
sada pela própria dificuldade de se ameaça). o simples não compareci- dividuo "sem ocupação definida" e.
chegar a algum consenso num am- mento do torcedor ao estádio. o boi- conseqüentemente. sem drreitos ci-
biente tão pluralista e democrático. cote, pode também ser uma ação ex- vis ou sociais. Como exernplo, basta

Pg36 .~... Julho/Agosto de 1982 .• I Ano 1


tebol. e a relação entre ela e os cida-
dãos, em vez de ser d1reta e Ul')lver-
sal. passa a ser med1ada por uma cor-
po ração, o Exército, que consegue
deftni r. de cima para ba1xo. o formato
e o estilo da cerimônja. Temos. en-
tão, uma comemoração que separa.
ng1damente. os desfilantes, as auton
dades e o povo. e que reserva. para
este último. unicamente o papel de
espectador. precisamente o co ntrá-
rio do que ocorre durante a copa.

Copa do Mundo, na ver-


Nos momentos de Copa do Mundo, o país vive uma espécie de " Dia da Pátria" às dade, parece fornecer a
avessas, e a nação parece ser construída de baixo para cima a partir da atuação de oportunidade 1deal para que
uma " massa" de cidadãos. uma série de ca tegorias ín-
recordarmos as recentes " bat1das" usualmente. aparece art1culada a ou- trrnsecas ao mundo do fu-
quo a Polícia Militar tem realizado no tros sí mbolos e va lores. cristal1za-se tebol. tanto dentro de ca mpo quanto
Rio de Janeiro. quando a inexistência inteiramente num time de futebol. a nas arquibancadas. sejam desenvol-
da ca rteira de trabalho transforma o seleção. Confundmdo-se com a sele- VIdas até o seu limite máx1mo. A com-
mdivíduo em "suspeito". e au tonza ção. a naciOnalidade passa a ser petição. agora entre nações, o 1nd1vi-
sua pnsão para "averiguações" . "m terpretada" e v1venc1a da a part1r dual1smo contra o jogo de conjunto
Esta prática " brasileira" de uma ci- dos p rincípiOS IndiVI dualistas e 11 (sul-americanos versus europeus), o
dadania " reg_ulada", altamente excl u- berats que pa recem dom1nar o fute- ltvre arbítno e a parttc1pação da tor-
dente e controlada de c1ma pa ra ba 1xo bol. ganhando. com isso, um signi fi · Ci da, todos e stes temas, normal-
pelo aparelho estatal. vai ser f unda- ca da completamente novo. e demo- mente dispersos no cot1diano do fu -
mentalmente 1nvert1da no m undo do c rático Ass1m. nos mo mentos de tebol. são concentrados. enfatizados.
futebol. Dentro deste mundo. que se Copa do Mundo. temos a rara oportu - e adquirem. durante a Copa. um alto
real1za, Significativamente. num inter- nidade de ver desaparecerem os CI- grau de visibilidade. Como todos es-
valo de tempo diferente e oposto ao dadãos de pnme1ra. segunda ou tor ses temas parecem possuir um e vi-
do trabalho. à noite o u nos fi ns de se- ceira classe que pa recem povoar a dente sentido democráttco. não é de
ma na, ninguém p recisa p rovar que nossa v1da s oc 1al No luga r dele s. se estranhar. en tão que a Copa do
está empregado para te r ga rant1da Mundo seja uma das ocasiões e m
saem às rua s o s torc edores. exer
s ua op1n1ão ou part1c1paçao Estes cendo . em rela ç ao à sejeção . o que há ma1or igualdade e ma1s amplo
direitos são, aqui, universalmente as- mesmo d1re1to de crít1ca e a mesma exercício do d1re1to ci dadania na so
segu rados aos torcedores, o que faz vontade de mobll1zação e de partiCI - ctedade brasileira .
com que o futebol 1mpllque numa CI - pação costumei ramente expenmen- fJl"IIIIÍ,ador dn CC"ntro de J>e.,qu i'u e J>oe unum -
dadania "automática'. diferenciando- tados com os clubes . É, de fa to. um tuçau de H i!\ turia { o n temporüntu du Uru,i l
l C't>d()t 1 da Fundação Gl'túliu \ arJo:<"~'>
se. sensivelmente. da regulação e do momento de especial significação.
Sugestões para Leitura
controle que estão usualmente asso- pois o pleno pertcncimento à comu- Baeta Neves. Luiz Fef1pe " Sobre alqu
ciados a esta categona em nossa so- ntdade nacional é. neste contexto. mas mensagens ideológrcas do futebol'·.
Ciedade. f ranqueado e-xce pcional men te a rn O paradoxo do coringa. Ato de Janet-
ro. Achr amé. 1979. Soares. Luis Eduardo
todos. Fu tebol e teatro . notas para uma análts e
É na ve rdade uma Situação tão ex- de estratégras stmbóltcas" Boletim do
cepcional que me pa rece ser possível Museú Nacional, n 33
é precisamente a part1r daí. des- Gue des. S1mom. O futebol brasileiro :
~- sa poss1bll1dade de l1vre arbítno e pensar os momen tos de Copa do lns ttlurçao Zero Museu Nacronal. U FRJ.
de part1c1pação "univer s al" Mundo, no Brasil. como se fossem 1977
Polan y1, Karl A grande transformação.
..____ oferec1da pelo futebol, que deve- uma espéc1e de " Dia da Pátna" de- R1o de Jane tro. Campus. 1980
mos. a meu ver. tentar entender moc rátiCO, um d1a em que a nação Benzaquen de 1\ra UJO. R1cardo Os gê·
parece ser construída e defend1da de nios da pelota : um es tud o do fu tebol
a e norme mobilização p o pula r que como pro ftssão Museu Nacronal • UFRJ •
parece acompanha r. no país . a reali- baixo pa ra c1ma. a partir da atuação de 1980
zação das copas do mu ndo Neste uma "massa" 1nd1ferenc1ada e alta- Bellm lso1ah Two Conc epts of Lrbcrty, 111
mente part1c1pante de Cidadãos. Four Essays on Liberty London. Oxford
momento. a competição é transferi- Unrversr ty Press. 1975
da para fo ra das fronte1ras nac1ona1s. Santos . W anderley Gutlherm(t dos Cída-
e, aqUI dentro, vão ocorrer duas trans- es s e sent1do. a Copa do dania e justiça. Aro de Janerro. Campus
1979
f o rmações importantes e c omple- Mundo sena exatamente o M a rta. Roberto da Carnavais, malan-
m entares. mverso do nosso "D1a da dros, e heróis. R o de Jane ro. Zahar.
1979
De um lado. o s torcedo res dos Pátria" of1c1al. o Sete de Se- M a tta. Roberto da Esporte na socredade
m ms diferentes c lubes unificam-se tembro. Neste. a nacionali- brastlet ra um ensa10 sobre o futebol bra-
no apo 10 à seleção brasileira ; de ou- dade pa rece concretizar-se na f1gura srle,ro. rn Universo do futebol. Ato de Ja
ne1ro. ed Pt nakotheke. 1982 (no prelo)
tro. a propria ide1a de nação . que, de Caxtas. e não na de um t ime de tu-

Ano l N." I Jul ho/Agosto de 1982 Pg 37


música indígena no Brasil é pouco documentada, menos estudada e menos ainda
A
compreendida. Mas ela tem uma importância muito grande na vida das comunidades indígenas.
Na maior parte desses grupos, todo mundo canta, a aprendizagem musical é parte
importante da socialização. Toca-se ou canta-se durante horas por dia,
semanas ou meses a fio.

C_ _ _ _ _ Anthnny SeeJ!er * )
____,

Suyá. Queria dormir. Mas o Suyá ao


meu lado, olhando o últímo grupo de
homens prestes a te rm inar o seu
canto, numa voz tão rouca quanto a
mtnha, disse "Tetã. Hen ua ngere da
kíd1!" A tradução certa serra "Que
pena! Nossa mús1ca e festa
acabaram!" Que pena? pensei. Na o
e ram as q uinze horas s uficientes ?
Por que tanto grítar. pular e dançar?
Por que é tão bom canta r ? Mesmo
em meio ao cansaço de quem Ja pas-
sou algun s meses em pesquisa do
ttpo "observação partiCipante" (uma
técnica de mvestigação 1mportante
em an tropologia) e acabou de cantar
uma noite toda, surgiu naquela hora,
com muita força. a pergunta 'por que
eles cantam ?".
A música te m uma importância
muito grande na vida das comunida-
des 1ndfgenas do Brasil. Na ma1or
parte desses grupos. todo m undo
canta, a aprendizagem m us1cal é
parte importante da socialização. e
toca-se ou canta-se durante horas por
dia. durante semanas ou meses a fio.
Em munos casos, como no xama-
nisrno. a música desempenha um pa-
pel central na eftcác1a do tratamento
da doença . Os índios dernonstram
Junto com os Suyá, o autor Anthony Seeger marchou, pulou e
um grande interesse em músicas de
dançou a noite toda, desde a tarde anterior, num total de quinze
outras soctedades rndígenas. e tam-
horas.
bém na mús1ca dos brancos . Não é in-
' s se1s horas. numa madru- minhas costas; os desenhos em uru- comum que de um viajante. médico
gada fna e com forte ne- cum e carvão que cobriam meu corpo ou antropólogo seja exigido um con-
voeiro, eu estava cantando estavam manchados e sem defm i- certo de canções na primeira notte de
no pátio formado pelo cir- ção. Como todos os homens e meni- sua visi ta, ou que os índios lembrem
culo de casas da aldeia dos nos da aldeia. tinha marchado. pulado de canções de soc1edades já extin-
índios Suyá, no norte de Mato Gros e dançado a noite toda - desde as tas. A mústca também desempenha
so. Eu estava rouco de tan to cantar. a três horas da tarde anterior - gri- um papel trnportante nos esforços
palha da minha máscara coçava as tando minha própria canção na língua que os grupos indígenas o~senvol-

Pg 38 Julho/Agosto de 1982 N ." l Ano l


vem para sobrev1ver d1ante das pres
sões da soc1edade envolvente . A s
ocastões em que se faz mustca nes-
sas comun1dades são o foco de Im-
portantes va lores. Intenções e rela-
ções socia1s. o que lhes confere
grande Importância.
A música indígena no Brasil é pou-
co documentada, menos estudada e
menos ainda compreend1da. apesar
de sua reconhecida 1mportânc1a O
estudo da mus1ca nessas comurHda-
des é d 1f1cultado pela necessidade de
anal1sar não somente os própnos
sons. em si. mas também os mot1vos
soc1a1s para a prát1ca mus1cal Tentati-
vas de genemi1Lação sobre a mu<:iica
1ndígena como um todo são a1nd:::1
ma1s compli cadas. d1ant e da vane-
dade de formas e valores mus1ca1s
encont rados nas ma1s de 140 socie-
dades indígenas existentes no país .
Na antropologia. temos sempre que
part1r de fato s particulares em socie-
dades espec1f1cas para chega r a uma
gencraiiLélÇaO Mas o grande numero
de sociedades e a pouca Informação
sobre esse üSsunlo faz deste art1go a
enumeração de hipóteses para pos-
tenor verif1caçt1o. ao 1nvés de af1rma
çõe s baseadas numa 1nvest1gação
exaustiva das 140 comunidades.

mús1c<.:t é uma estrutura de


sons. alturas e tempo, que
é SU f ICIC ntementc pad rOni-
zada para ser reconhecida
como mus1ca e nao barulho
pelos membros de uma soc1edade.

Os sons e suas est ruturas vanam Robndo, um índio Suyá, elaborada mente ornamentado, canta no
mu1to, não somente de grupo para pátio da aldeia, avisando os pais dos jovens que devem preparar tudo
grupo mas de gênero para gênero de
para uma festa.
mustca dentro do grupo . Em certas
Situações. os sons são 1nseparáve1s adequar as relações entre os homens a soctedade Suyá. há dois ti-
dos movimentos corporais que os e os esptntos. e (3) para tnterpretar a pos princ1pa1s de canto · um
acompanham. como é o caso da mú- próprta experienc1a mterna de pes- canto un1ssono em que um
SICa e da dança nas soc1edades mdí- soas em momentos de desonenta- grupo entoa uma canção ten-
genas Um evento mus1cal tnclut o ção ou transformação . Embora todo s tando ev1tar soar tndlvldual-
conjunto de sons. mov1mentos e ati- três estejam presentes em muita s mente. e um canto 1ndiv1dual. em que
VIdades que sao onentados por nor ocas1ões. um dado evento mus1cal cada homem tenta ser ouv1do pelas
mas e valores que criam o momento pode enfattzar apenas um . dois. ou mulheres que estão nas casas. na
e controlam os l1m1tes do que se todos estes aspectos . As caracterí s- perifena da alde1a Os aspectos rnusi -
pode fazer na ocas1ão ticas peculiares a mústca como estru - cals e as intenções são bastante di-
A alta estruturação da musica. e tura sonora fazem com que as socie- ferentes nesses do1s casos No p ri-
sua freqüente repet1ção. fazem dela dades indígenas atribuam a ela a ca - meiro . pelo un íssono se estabele-
um veículo especialmente adequado pactdade de transcender o espaço fí- cem importantes grupos cenmon1a1s.
para certos tipos de comunicação . sico. psicológtco. soc1al e, até certo que agem. pintam e dnnçam juntos,

Nas sociedades md igenas . posso se- ponto. temporal e d1mens1onal (pots asstm como soam como uma so voz.
parar. para fms de anál1se. três aspec- estabelece comuntcação com o invt- Ja o gr1to 1nd1v1dual expressa para "as
tos da mús1ca : ela é usada (1) para or- sível) . Posso dar três exemplos que irmãs " de um homem o rea linha-
denar as relações sociais. (2) para ilustram estes pontos. mento de rélações soc1ais. e e can-

Ano 1 N." l julho/Agosto de 1982 Pg 39


tado dife rentemente, conforme a
idade do cantador e, até certo ponto,
suas Intenções 1ndiv1dua1s
Nessa sociedade onde não há
idétas elaboradas sobre esp1ntos e
não se encontra o uso de aluctnóge-
nos. a comun1cação enfatizada pelo
canto é soe ai ~ o estabelecimento de
grupos e tipos de relações soc1a1s no
espaço e no tempo. A música Suyá
pode ser ouv1da no disco Músrca lndí
gena, A Arte Vocal dos Suyá (Seeger
e Comunidade Suyá, 1982}.

mús1ca das flautas. na re-


gião das cabeceiras rio
Xingu, em M ato Grosso,
embora envolvendo rela- As flautas uxuá têm o seu papel durante o ciclo do Quarup. Músicos
ções sociais, é mUJto rela - -dançarinos são acompanhados por adolescentes que se preparam
cionada à comunicação com os es- para sair da reclusão pubertária.
píritos, ou mama'e. Ex1ste um grupo
de flautas sagradas. pro1bidas às mu- sobrenaturais e perceptíveis apenas de de relações sociais e da vida eco-
lheres, que são guardadas numa casa por me1o do uso de alucmógenos. nômica . As festas nas soc1edades In-
espec1al no centro do pát1o da aldeia. No uso de drogas, ass1m como nos dígenas ocorrem em momentos de-
Quando os homens tocam essas casos de transe e xamanismo. a mú- terminados, e 1ncluem a diStrtbUJçao
f lautas, eles são no mesmo mo sica auxilia a estrutu ração de cxpen- de alim ent os e a troca de bens e ser-
menta espíntos e homens. e as musi- ência. Nesses casos. a estrutura Im- VIÇOS Nesse sentido. os eventos mu-

cas sao dos espíntos A mús1ca é to plícita da música preenche o vazio cri- Sicais são mome ntos focais para a
ca da para colocar a a ldeia dos ho- ado pelos efeitos do alucmogeno. c clara definição de relações econômi-
mens numa relação apropnada com possibilita uma nova percepção da cas. d.~ parentesco e de rntercâmbto
~

os espíntos e. assim, garantir a conti- vida. Um cantador Kampa no alto no entre i:Adivíduos e grupos
nuidade da sociedade. AqUI. a estru- Juruá, no Acre, disse · "Não cons1go Um suyà me expl1cou uma vez.
tura peculiar da mus1ca, sensivel- cantar essas canções a nao ser "Em nossas festas nós cantamos
mente diferente da da fala. faz dela quando tomo ahuasca. " E enquanto mutto e comemos muito. " Essa co-
uma expressao de um t1po de ser d1 ele e os membros da sua comuni- mida é geral me n te recebida das
ferente A mus1ca. neste caso. é o dade tomaram a infusão. as suas can- mães e irmãos dos hom ens. e não
veículo através do qual o invisível se ções ganharam em força e estrutura. das suas esposas ou parentas porca-
comunica com o visível e vice-versa e através delas ele dtnglu as expen samento. como ocorre no cotidiano
ênc1as dele própno e dos outros. No Da mesma mane1ra. os homens es-
xamanismo. a música é f reqüente- tão cantando "para as suas rrmãs" .
mente o caminhho que leva o pajé ao Num certo rnomento. numa festa
as sociedades indígenas do outro mundo . A música. ass1m, fa Suyá, todos os homens devem rece-
alto rio Negro. na fronteira vorece o contato com as "verdadei- ber no pátto urn pouco de comtda de
com a Colômbia, assim ras" forças do cosmos. e a interpreta- todas as suas" rmds" A categona de
como nas comunidades ção e a onentação das alterações de mu l he r es chamadas ''irmã"
das regiões fronternças en- percepção que acompanham o uso (kandikworyl) inclu, não somente o
tre o Brasil. a VenezueléJ c o Peru, o de drogas. que chamamos de irmãs, mas tam-
uso de alucinógenos como parte das bém um grupo de pnrnas de primeiro
cenmõnias é mu1to comum e antigo. a quarto grau (chamadas primas para-
A droga encontrada com ma1s f re- esses três casos. escolh1dos lelas em antropologia) . Mas os ho-
qüência é a ahuasca, ou Banisteriop- pela sua diversidade e simpli- mens não devem receber com1da de
sis caapi, cuja infusão é m isturada ficados para enfatizar so- qualquer mulher com a qual tiveram
com outras plantas para propici::Jr VI- mente um aspecto da mú- relações sexua1s. Como ele pode ter
sões especialmente coloridas O con- sica em cada caso, é possí- mantido relaçoes sexua1s com algu-
sumo de ahuasca e de outras drogas vel ver três mane1ras em que. nas mas dessas pnmas desde a última
é quase sempre feito em conjunção ocasiões em que a música aparece festa. há considerável interesse por
com cantos recitativos, ou música de nas sociedades indígenas. ela faz parte de todos os Suyá em ver de
flautas ou chocalhos . Para os Jívaro parte da estruturação e da reordena - quem um homem va1 detxar de rece-
do Equador, a v1da cotrdiana é uma ção de relações de diversos tipos. Em ber comi da desta vez . Nesse mo-
"mentira''. ou ilusão : as forças verda - todas essas sociedades. os eventos mento da festa. há úma reestrutura-
deiras que regulam os eventos são musicais também fa7.ern parte da re- ção pública das relações entre um ho-

Pg40 Julho/Agosto de 1982 N.u 1 Ano 1


mem e as suas parentas na frei! te de
toda a soc1edade . Pela com1 da e pela
mús1ca. há uma nova estruturação de
relações soc1a1s . Melhor, o que há é
uma reestruturação de acordo com
os pn ncíp1os f1xos de uma realidade
sempre em f luxo. Esse mesmo me-
camsmo de ajuste do fluxo soc1al de
acordo com pnncípios mais gerais é
caracteríStiCO de eventos musica1s
nos grupos indígenas do Bras1l.

go ra estamos numa posi-


ção de t ratar da questão
com a ql:lal começa mos :
Por que os ín dios cantam? No pátio da aldeia, o especialista ritual dos Suyá dedicando se ao seu
Eles cantam, e fazem ou- canto. Mas os índios também demonstram interesses pela música de
tros tipos de música, porque os even- outras sociedades.
tos mus1ca1s são centrats à sua socie-
dade. O evento m us1cal é um dos me- A antropologia contribui co 01 os fei dos ·diversos pesqUisadores que es-
canismos através dos qua1s se mani- tos pela ftlosofta e a sociolog1a pa ra tão começando a t rabalhar com a m ú
festam e se ajustam as relações mais entender nossa própna sociedade. s1ca tndígena . Este trabalho é, assim,
importantes da vida soc1al. religiosa e permitindo uma auto- reflexão um exemplo do procedimento com-
ps1cológrca . Dife rente de nós, quere- usando novos parâmetros. ac rescen parativo em antropologta. o esforço
legamos a música•
à esfera de opção, tando à nossa óptica o ponto de vista de entender as fo rmas de o rganiza-
"talento" individual e "lazer". nessas de o utras sociedades. Se adotarmos ção e processos de transformação
sociedades quase todo mundo parti- a refe rêncta dos Suyá. poderíamos das soc1edades humanas em geral
cipa da vrda m usrcal, e através da sua nos perguntar : "Por que can tamos por meio do estudo de casos especí-
parttcrpaçao se coloca em determrna- tão pouco? Por que atnbuimos tanto ficos.
das relações com os outros e com o peso à palavra f alada o u escnta?
m undo. Quais as ocastões em que fa zemos •Proressor-odjunto du l>epartamento de Antrupulo -
Um contraste forte entre nossa tra- música, e porque nossa música tem a Ri~ do Mul\~u Nacional. l 1FRI .

drção e a soc1edade Suyá é o quanto pos1ção e a forma que tem"} " Essas
usamos a fa la e a escrita o nde os questões ai nda não têm respostas. /
SUG I<:S TÜES PARA LEITU RA:
Suyà usam mús1ca . Nossas relações Somente uma análise com parativa
socra1s sao governadas por contra- das sociedades e dos seus dtversos
A YT A I. D . 1~7ó . O M ,,,tf,
.\mwro \m·unu•.
Ti..:).C de Livrc-Dc>cêm:ta, Pontifícia Un iver,í-
tos. nossas comunicações com Deus modos de comuntcação pode nos le- tlaue Catúlu:a de Cunlplm''·
são g~•ralmente faladas e nossas dú- var a entender melhor não somente
BASTOS. R 197X A musH·o/úgic·u Kamavu-
vidas individuais são freqüentemente por que os índios ca ntam. mas por ra Hra-.ili:l. Fundac;ito Nanonal tlu lnúiu .
atend1das pela ps1canálrse. que é alta- que o fazemos de forma diferente .
CA MÊU. H 1977 . lntrodurtio ao t•.\ tudo da
mente verbal. Há tipos de m úsica na 11/tl\ic o indtgc>na /Jrawlt·11·a Rto de J aneiro .
soctedade oc1dental que não encon- Cun,clhn Fcdcr;tl ~k Cuhur;t c Departamento
t ramos nas soc1edades indígenas: ara concluir. devo o bservar de t\!>..,untm. Culturai' .
músicas de protesto e de crftica so- que embora este arttgo trate DOHK IN m- RIOS. 'v1 . c I KA r; . lt>75.
cial. Usamos muito a música para cn da mús1ca indigena, ele tam- . ~omc Rcla iiUthhtp' fktv. ccn Mu'it: and
bém aborda o método ctentí- H~tlluurwgcnic Rttual. f hc · J unglc Gy m' in
ticar a sociedade, ou oferecer uma al-
c,,n ...l:iuu .. nc,,·· 111 J:. f"/10\ vulumc J. nu-
ternativa à mesma, mas pouco para fico e m antropolog1a . A 1n lllCIU I . pp 64-7ft .
constrUir a própna sociedade. A Im- vestigação começa com a pesquisa
bibliográfica. mas a própria formula- HARNER. M 1974 . "Tbc Soundo/RtHhtllf.:
portância da mustca nas soc1edades ~\ ou r·· 1 n P L Y''" ( org l A'atn t' ~t~utlt
mdigenas resulta dela ocupar um lu- ção das questões para investigação Attl('rictm\ Bo~10n. Líull.:. Bmwn. & Co .
gar diferente do que na nossa . Ela faz f reqüentemente se faz em contato pp 276-2X2
parte da construção e da reconstru- com uma dada realtdade soctal, atra- S f· f~Gf.R . A 1977. ··Pnrt.tuc os tntltU'\ Suya
canlum p<H<I a~ sua., trmfts',. ·. tn (i . Ve lhu
ção constante dessas comunidades. vés da "obse rvação pa rticipante ". (url.!. 1. Artt' r .w < wdade: Nl.\mo.\ dt• wciolo
~

Em antropologia, descobrimos que Das conclusões sobre uma socie- '(ia doam Río de Janeiro, J:ahar. pp. J9-ó3 .
as d 1versas sociedades no m undo se dade se parte pa ra uma análise das di-
SI--EGER. A . 19XO Q., lmlim e Vm Rio de
organizam de mane1ras diferentes , ferenças e semelhanças entre socie- Janeiro. Euitnra Campus.
com 1nst1tuições e valores próprios . dades ma1s próx1mas (por exemplo,
os grupos md ígenas no Brastl) e para S l· EGER. A c a COML:NI DADE S L:Y Á
O fato de haver estruturas de som e I 982 . \f1hic a ;ndf~ena a a rte \or al dw
tempo que chamamos "mus1ca" em uma auto-reflexao em relação às tra ~ Suvâ ( Dt-.co com encartcl Suo Jnãn dcl Rei
duas sociedades não quer drze r que a dtções octdenta1s Neste momento, Etltçl.lCS Tacapc 007. C.ompra~t pelu rccmhol-
<.u J}\)Stal : 1 acapc. ( aJxa Pmlôll I 12 São Joân
sua importâncra e papel sejam os tenho formu ladas uma séne de htpó- dei Rei. Mi nas G.:nu-. . CEP 36.300
mesmos . teses, que esperam crítica ou apoio

Ano 1 N . 1 Julho/Agosto de 1982


0
Pg 41
O mais importante centro de estudos da natureza e do homem amazônicos
mantém ainda hoje as grandes linhas estruturais que lhe conferiu
Goeldi há pouco menos de um século. Em 1981, desenvolveu 64 projetos nas
áreas de antropologia, arqueologia, botânica, aves e mamíferos,
répteis e documentação.

estudo dos efeitos da importante centro de estudos sobre a


barragem da hidrelétrica natureza e o homem da Amazônia .
de Tucurur sobre os fn Origtnáno da Sociedade Filomá-
d1os Parakanan, do Para; tica. fundada em Belém em 1866
a análise do quadro geopolítico ama- pelo natura lista Domingos Soares
I
zônico para o estabelecimento de um Ferreira Pena, o Museu Goeld1 ocupa

processo de ocupação da regtão ; o hoje uma área de 55 000m 1 , onde se
exame das mudanças surgidas do incluem um horto botânico com 800
contato dos índios Mara e Baniwa espécies de plantas. desde arbustos
com a cultura do homem branco: es até árvores de grande porte. um par-
tes são alguns dos projetos que estão que zoológ1co onde os antmais vivem
sendo desenvolvidos hoje pelo Mu- em ambientes ecológicos adequados
seu Paraense Emllio Goeldi, o mats às suas espécies, um aquáno com 34

Pg42 Julho/Agosto de 1982 N.o 1 Ano 1


...
- l ~-

I
-
I

Com suas 352 amostras, algumas das quais apare- Busca-se desenvolver a investigação antropoló-
cem nestas páginas, a seção de arqueologia tem gica, segundo dois critérios: 1. estudos e pesquisas
por objeto promover e intensificar as pesquisas para o melhor conhecimento do homem na Ama-
nesse campo para a obtenção de uma visão global zônia, incluindo populações indígenas em seu pro-
da Pré-História e do desenvolvimento cultural na cesso de aculturação e mudanças; 2. formação e re-
área da Amazônia legal brasileira (estados do Acre, novação de quadros técnicos, atraindo estagiários
Pará, Rondônia, territórios do Amapá e Roraima, de vários cursos.
além de áreas de Mato Grosso, Goiás e Maranhão).

Ano I N.o 1 Julho/Agosto de 1982 ~":IME Pg 43


A ecologia da região
amazônica, com a rique-
za da sua flora e da sua
fauna, constitui um dos
fundamentos do mu -
seu. Ali a ciência e a arte
não são, como em geral
se supõe, domínios irre-
conciliáveis, mas, ao
contrário, compatibili-
zam-se em inúmeros de
seus processos. A pre-
sença da natureza ama-
zônica, com sua extraor-
dinária variedade de
cores, testemunha
igualmente a importân-
cia que se procura atri-
buir aos seus diversos
campos de estudo e

pesqu1sa.
I

f
I

es pécies de peixes, laboratórios. de história natural e antropologia e re-


salões de expostção e biblioteca. tomando-se a atividade de pesqutsa
Embora desenvolva hoje toda esta na área amazõntca
gama de attvtdades p róprias de um A partir daí. as atividades foram-se
museu dentro de seu conceito mais intensificundo. dentro de suas possi-
moderno, é bom lembrar que o Mu- bil idades financeiras . Em 1981. a
seu Goeldt viveu uma longa fase de verba destinado ao Museu foi de 235
inattvtdade, entre o intcto do século milhões de cruzeiros. o que permitiu.
- quando o declinto do mercado da por exemplo. o desenvolvimento de
borracha teve como conseqüência a 64 projetos nas áreas de antropolo-
escassez de verbas para seu functo gia. arqueologia, botântca. avec; e ma-
namento - e 1954 . Neste ano. de- míferos, répteis e documentação.
vido a um convênio com o Conselho Mais da metade destes estudos foi
Nactonal de Desenvolvimento Ctentí- publicada. quase todos nos boletins
fico e Tecnológico (CNPq). foi organi- do próprio museu .
zado um novo quadro de técn1cos e A linha de orientação do Museu
cientistas. reiniciando-se a publtca- Goeldi para as pesqutsas antropológi-
ção de boletins, ámpliando-se a biblio - cas volta-se para as arec1s menos co-
teca. remodelando-se a exposição nhecicias da Amazônia : em arqueolo -

Pg44 J ulbo/Agosto de 1982 . " 1 Ano 1


Como amostragem viva da fauna amazônica, vivem no parque do museu nu-
merosos animais, substituindo-se gaiolas e cercados de contenção por ambien-
tes ·ecológicos favoráveis e adequados às espécies que abriga. O horto botânico
contém centenas de espécies de plantas, desde arbustos até árvores de grande
porte. E cada vez mais o museu assume funções dinâmicas.

gia. a diretriz é determinar o processo


que separa o homem pré-colombiano
de suas ongens. estabelecendo cro-
nologia, migrações. desenvolvi-
mento cultural e possíve1s relações
com áreas contíguas sul-amencanas.
Em botânica - cujo departamento
dispõe de um herbário com 85.000
amosuas de plantas. uma xiloteca e
uma carpoteca- os estudos se diri-
gem para o tipo de vegetação. Inven-
tário, estudos floríst1cos e observa-
ções ecológicas.
Devido à sua área de atuação -
concenlrada na parte oriental da
Amazônia- o Museu Goeldi é obri-
gado a assumir cada vez mais fun-
ções dinâmicas. uma vez que as
transformações causadas pelas fren-

Ano I N.o I Julho/Agosto de 1982 Pg 45


A rocinha hoje repre-
senta o último testemu-
nho em Belém da paisa-
gem urbana da segunda
metade do século XIX,
quando se popularizou
a construção de chalés
em centro de terreno.
Ali está, como que ria
Goeldi, um "instituto
para a história natural
do Amazonas, um esta-
Al guma., dus fn rogrnfh-.1' tjUC ilustram Cl>l , t
belecimento que se pro- rcpurtn~cm pertencem nu Catíílngo do M u-
põe observar, colecio- ~c u Paruc n ~c Enui Hl Godúi- Culct;ào
nar, determinar e tornar .. Mu seu s Bru.,ilcir·u, •• • f·UNA RTE. RJ
J())o(J
conhecidos os objetos
da natureza indígena".
tes pioneiras de ocupação da região jetiva testar a hipótese segundo a campus nos suburbios de Belém e à
exigem um acompanhamento cien t i- qual o batxo Tocantins. no Pará. foi conseqüente ampliação de seu qua-
um centro receptor e/ou de passa- ,
fico atento. dro de pesqUisadores e técnrcos .
Assim é que. atualmente. duas gem de antigos grupos pré-históricos Com estas medidas . o Museu
eq uipes da instituição estudam os do sudeste. centro e oeste do país. Emílio Goeld1 poderia cnar o seu pró-
e feitos da hidrelétrica de Tucuruí so- A expansão destas ativrdades e a prio curso de pós-graduação e tuba- '
bre as populações indígenas que consolidação do próprio museu só lh<H o material que tem acumulado
serão atingidas e sobre a vegetação serão possíveis. segundo seu diretor. durante a sua existência, peças ar- •
do reservatório. Outro grupo tentare- José Seixas Lourenço. com algumas queológ icas ainda tnéditas que po-
c upe rar sí t ios arqueológicos q ue transformações. relativas à aut ono- derão ser a base de trabalhos sobre a
serão destru 'dos por projetos de mi- mia da tnstitUJção. ao maior aparo das história da Amazônta pré-colombiana.
neração na serra dos Carajás e no rio agências de financiamento naciona1s
Trombetas. Um terceiro trabalho ob- e estrangeiws. à 1nstalação de um

r:ill IIE Julho/A~osto de 1982 ." I Ano I


Novas pesquisas que se vêm realizando sobre as células muito especiais que compõem
o sistema nervoso e o cérebro. Responsáveis pelo transporte e pelo processamento dos
estímulos que atingem os sentidos da percepção, são cem bilhões de neurônios que,
em cada corpo humano, se desincumbem do comando sobre o funcionamento do
corpo e de todos os processos de pensamento .
..

C Roberto Lent*
~---------------
)

o exato momento em que mem, o céreoro adqu iriu um signifi- organtzações soc1ais.
você lê este artigo. bilhões cado a1nda maior. com o aparecimento As Sinfonias, o futebol, as armas atõ-
de untdades biológicas em das capactdades Intelectuais que o di- mtcas. quadros e poemas são resulta-
seu cérebro .dtsparam im- ferenciam dos outros antmais. A exis- dos da Interação do cérebro do homem
pulsos elétricos em todas tência do anim al-hom em desligou-se
as direções. através de circuitos capa- com a sociedade. Entender o cérebro e
do imediato. do biológico. Suas ativida-
zes de conduztr e processar a informa- des já não se destinavam mais apenas suas realizações é portanto um desaf1o
ção codtficada por esses tmpulsos Seu à sobrevivência individual e à reprodu- e uma n ecessidade para o conheci-
cérebro está em pJena ação. ção, mas atingiram níve1s inusitados mento do próprio homem.
Há muito se sabe que é no 1ntenor com a linguagem, o pensamento abs- Você verá neste art1go um pouco do
do cérebro que ocorrem os mecanis- trato, o habilidoso uso das mãos e, ao que se sabe sobre o cérebro Uma
mos que comandam praticamente to- mesmo tempo, com o aparecimento parte modesta desse conhecimento
das as atividades dos ammais. No ho- do trabalho. da cultura e de complexas foi gerada em laboratónos de universi-

gombó

pombo
cobro

,•

rnococo rhes~.n hornem

Figura 1. Diferenças de tamanho e complexidade morfológica dos cérebros de alguns vertebrados.


Fica evidente

um crescimento progressivo do volume cerebral, assim como o dobramento da
superfície do córtex cerebral, que atinge o máximo no cérebro humano.

Ano 1 N.• 1 Julho/Agosto de 1982


dades brasileiras, e os dados aqui apre- O cérebro está em continUidade dica que as funções mais complexas.
sentados constituem exemplos desse com a medula espinhal através de um capazes de gerar todo o repertório
trabalho. oriftcto na base do crânio, e a medula comportamental, cognitivo e afetivo
estende-se ao longo do tronco no In- dos animais são propriedade das po-
orno todos sabemo s . o tenor da coluna vertebral. Do cérebro e pulações de neurônios.
cérebro .é uma massa es- da medula emergem os chamados
branquiçada que se encon- nervos cranianos e periféricos. que os
tra no interior do crânio dos ligam com os músculos. as glândulas e
animais. Todos os vertebra- -os órgãos dos sentidos. O conjunto é ão é difícil imaginar que,
dos têm cérebros. O cérebro dos verte- conhec1do como sistema nervoso. para caberem bilhões de
brados ma1s antigos, como os peixes. De que é feito o sistema nervoso "J c~Julas num crânio humano
os anfíbios e os répteis. são pequenos Oua1s são seus constituintes básicos? CUJO volume é de cerca de
quando comparados com o dos maca- Como a grande maioria das partes do um litro e meio. é inevrtável
cos e do homem. como se pode ver na corpo, o sistema nervoso é constituído que tais células sejam extremamente
figura 1. Mas a superfície do cérebro de células. Algumas são especializadas pequenas. E é tsso mesmo. O corpo do
dos mamíferos supenores cresceu em lidar com informações que vem do neurônto mede apenas alguns milési-
mais ao longo da evolyção do que os ambrente externo ou do próprio interior mos de milímetro, o que signrftca que
crân1os que o contêm. E por tsso que o do corpo. Essas são chamadas neurô- ele em geral só pode ser VIsto ao mi-
cérebro do gato. dos macacos e do ho- mos Outras são elementos de suporte croscópro. Mas como ver ao microscó-
mem apresenta a configuração enru e nutriçao. principalmente. conhec1das pio um pedaço tão d1m1nuto de cére-
gada e dobrada que se vê na figura. Se pelo nome de células gliais. O cérebro bro I Como prepará-lo? O problema foi
fossem lisos. não caberiam na caixa humano tem cerca de cem btlhões de resolv1do há muitos anos. e as técnicas
craniana, e esta deveria ter um tama- neurôntos e um número equivalente para o estudo microscóptco dos neurô-
nho muitas vezes maior para poder de células gliais Neste art1go. derxare· nios têm sido constantemente aperfei-
contê-los , mos de lado as ult1mas. pors tudo in- çoadas.

CORPO CELULAR

l
j \

/ '
PROLONGAMENTOS

Figura 2. Fotografia de um neurônio retiniano, tal como se vê ao microscópio óptico. Vêem-se o


corpo celular e os prolongamentos menores do neurônio. Aumento aproximado de 500 vezes.
(Cortesia de J. Nora Hokoç).

Pg 48 Julho/Agosto de 1982 . 1 Ano 1


0
prolongamentos que se espalham
pelas redondezas. O que não se pode
ver na figura é que um desses prolon-
gamentos é mais compndo que todos
os outros. estendendo se por longas
distâncias até quase tocar outro neurô-
nro. Sua função. mu ito im portante.
será mencronada postenormente.
É claro que a forma dos neurônros
varia enormemente, de acordo com a
região do sistema nervoso. com a es-
pécie estudada, com a 1dade do animal
e outras Circunstâncias O corpo celular
pode ser arredondado. piramidal. em
forma de fuso ou de outros formatos:
da mesma maneira. os prolongamen-
tos podem ser rad1ais como a f1gura es-
tiltzada de um sol. ou ramtficados de
um tronco comum como uma palmei-
ra, e assim por diante.
Mas a tócn1ca que deserevt ac1ma só
permrte estudar a "silhueta" do neurô-
nio, isto é. sua forma externa O 1nterior
da célula permanece invrsível. A experi-
ência que descrevo a segu1r, realizada
por Leny Cavalcante e Marlene Benchi-
I mol. tambem do Instituto de Biofísrca,
permite ,e studar a morfologia Interna
do neurônio Elas extraíram
- o cérebro
de um an1mal sacrificado sob aneste-
sia. tratando-o com substâncras preser-
NÚCLEO vativas Tendo escolhrdo uma parte do
cortex cerebral para seu estudo. cor-
taram fatias ultrafrnas do tecido cere-
NUCLÉOLO bral. trataram-nas com óxrdo de ósmro
e observaram uma delas ao microsco-
pia eletrônrco. O resultado aparece na
f1gura 3. O ósmio deposrtou-se .seletr~
MEMBRANA NUCLEAR vamente sobre certos constr turntes do
RANA CELULAR
interior da célula. tornando-os opacos
ao feixe de elétrons e portanto visiveis
na tela do microscópio. O que se vê e o

corpo celular de um neurônio. Como
ele f o cortado e a espessura do corte é
extremamente fina (da ordem de mrho-
néstmos de milímetro), nao se podem
ver os seus prolongamentos como na
Figura 3. Fotografia tirada ao microscópio eletrônico, mostrando a preparação de Nora Hokoc. Mas. por
ultra-estrutura de um neurônio do córtex visual de um rato . Apare- outro lado. é possível ver a membrana
cem os "órgãos" do interior da célula, tais como o núcleo e seu nu- que envolve a célula. seu núcleo. o sis·
tema de vesículas de síntese e arma-
cléolo, as mitocôndrias e outros não assinalados. Vê-se também a zenamento de substâncias situado no
membrana que envolve a célula e a que envolve o núcleo. Aumento citoplasma e as · usinas" energetrcas
aproximado de 5.000 vezes. (Cortesia de Leny Cavalcante e Marlene da célula (as mitocôndrias).
Benchimol).

/
O exemplo segurnte descreve uma de vidro e submergiu-a durante dias comum. entre os estudiosos
experiência feita por Nora Hokoç. do em diferentes soluções salinas, entre das neurocrêncras. comparar
Instituto de Bioftsrct:~ da Uf-RJ, com a fr- elas uma de nitrato de prata. A prata es- o córebro a um computador
• nalidade de estudar a morfologra dos palhou-se por todo o rnterior de alguns de grande complexidade. A
neurônios da retma. uma parte do cére- dos neurônios da retina. formando um comparação não é perfeita,
bro que durante o desenvolvimento precipitado escuro que delineou sua pois o computador precisa seguir uma
embrionário vai se situar fora do crânio, forma completa. Um desses neurônios seqüência senada de comandos (o
no interior do olho. Nora anestesiou está ilustrado na figura 2, tal como se programa), enquanto o cérebro traba-
profundamente um marsupral muito vê ao mrcroscópio óptico. lha com um número gigantesco de pro·
• ••
comum em nosso país, o gambá, drs- Pode-se observar claramente que o gramas ao mesmo tempo. 1sto e. em
secou cuidadosamente a retina de um neurônio possui um corpo celular. do paralelo''. De qualquer modo, ressalva-
dos olhos. colocou-a sobre uma lâmina qual par te um conjunto complicado de das as diferenças. cérebros o compu la-

Ano 1 N ." I Julho/AJ?,osto de 1981 Pg 49


dores utilizam, de m odo similar, circu i-
tos que transmitem e modificam a in-
formação de várias maneiras para che-
gar ao resultado "programado" . En-
quanto os circuitos do computador são
constitu idos de conexões entre ele-
mentos elétncos e eletrônicos. os do
sistema nervoso são formados
, por se-
qüências de neurônios. E neste ponto
que entra em cena o prolongamento
ma1or da célula nervosa, mencionado
acrma. Diferentemente dos prolonga-
mentos menores, que se ramificam e
terminam nas imediações do corpo
celu lar. o prolongamento maior (um
únrco por neurônro) pode se estender
por distâncias consrderávers •

Um bom exemplo é o dos neurônios


que comandam a musculatura do pé
O corpo celular s1tua-se na medula es-
pinhal. na altura da cmtura. mede al-
guns miléstmos de milímetro e tem
prolongamentos. menores trpo "sol",
que se distribuem por um rato que não
ultrapassa um milimetro. O prolonga
menta ma•or desses neurônios. entre-
tanto. sai da medu la através dos ner-
vos e vat terminar nos músculos do pé.
percorrendo a distância aproximada de
um metro! Dada a importância e a stn-
gulandade do prolongamento ma ror do
neurônio. vamos chamá-lo pelo seu
nome técn1co . ax.ônio ou f1bra nervosa Figura 4. Acima, à esquerda, vê-se a fotografia de um hamster anes-
Os circu1tos neuronais. assim, con tesiado, em cujo cérebro foi inserido UO) finíssimo cilindro de vidro
s1stem de cade1as de células nervosas contendo um aminoácido radioativo. A direita, vê-se um detalhe
conectadas pelos axônios das células de uma fatia de cérebro coberta com uma emulsão fotográfica. A
precedentes. O axôn1o de um neurô-
porção branca representa a radioatividade emitida pelo isótopo de
nio prolonga-se -nté a próx1ma célula e
"toca" seu corpo ou seus prolonga- hidrogênio contido no aminoácido injetado no córtex visual e
mentos menores. O axônio desse se- transportado até a região vista na foto. Aumento de cerca de 25
gundo neurônio, por sua vez. contacta vezes. Abaixo, detalhe de uma fatia do córtex de um hamster, mos-
uma terce1ra célula, e assim por d1ante. trando quatro neurônios contendo peroxidase no seu interior. Au-
Os circuitos neuronais são muito varia mento aproximado de 200 vezes.
dos. conectando neurôn1os próx1mos
ou distantes uns dos outros. situados muito semelhantes em espécies di- Depois de alguns d1as, foi novamente
dentro ou fora do cérebro. Para se Ima- ferentes , anestesiado e seu cérebro utl11zado
ginar a complexidade do cérebro hu- Para descrever uma forma de es- para o estudo morfológico. O que acon-
mano. basta pensar que cada um dos tudo dos circu1tos neuronais, vou utili- teceu durante esses dtas é a chave da
cem bilhões de neurônios estabelece zar como exemplos duas experiências técnica que utilizei. O am inoácido ra-
contato com 1.000 a 1 O 000 outros que f1z usando o cérebro do hamster. dioativo foi captado pelos corpos celu-
neurônros. Além d1sso. os circuitos um Simpático animal aparentado ao ra- lares situados na região injetada e In-
neurona1s não sao arrumados em ftlas to comum. No p1ime1ro caso, eu estava corporado a suas proteínas ; agora tam-
de cartões numerados, como nos com- interessado em descobrir quais re- bém rad ioativas, essas proteínas
putadores, mas misturados e enovela- giões do cérebro do hamster receb1am foram transportadas do corpo celular
dos num Incrível e microscópico fibras provenientes dos neurônios do através das fibras de cada célula até
emaranhado de fibras nervosas córtex visual, isto é, da parte do cére- sua extremidade. ponto de contato
Com o estudar um sistema organi- bro que processa a Informação cont1da com o neurômo seguinte do Ci rcuito. O
zado de maneira tão anárqu1ca? nos estímulos lum1nosos do ambiente. transporte de proteínas por essa v1a
Na verdade, o estudo dos ctrcuitos O hamster, convenientemente aneste- ocorre em todos os neurônios. mas só •
neuronais. que começou em meados siado, foi submet1do a uma neurocirur- os do córtex visual indicavam a pre
deste século e se desenvolveu vertigi- gia por meio da qual uma pequena sença de radioat1v1dade. A segu1r. o
nosamente nas duas últimas décadas. quantidade de uma substância 'fraca- cérebro do animal foi cortado em fatias
logo ev1denciou que a anarquia era ape- mente radioativa (um am1noácido mar- muito finas, colocadas em lâminas de
nas aparente. A "desordem" da ftação cado com trít1o. que é um. isótopo do vidro e cobertas com uma emulsão fo-
neuronal escondia uma espantosa re- hidrogênio} fo1 depositada numa área tográfica especial capaz de revelar a ra-
gularidade Não só os circuitos neuro- restrita do córtex visual Após a cirur- diação emitida pelas proteínas radioati-
nars parecem ser os mesmos entre In- gia, o animal fo1 retirado da anestesta e vas situadas naquele circuito neuronal.
divíduos da mesma espéc1e. como são submetido a cu1dados pós-operatónos. Alguns dias depots, a preparação era

Pg50 Julho/Agosto de 1982 N.o 1 Ano I


PROJETOR

ESTÍMULO

-
w
o
o - RESPOSTA ATIVIDADE ATIVIDADE
~ ESPONTÂ NEA
..... ESPONTÂNEA
~
· ;:) I
z
I I
ESTiMULO LIGADO ESTÍMULO DESLIGADO ESTiMULO LIGADO ESTIMULO DESLIGADO

Figura 5. Acima, um desenho esquemático da ex- lha inserida em seu cérebro, captamos os impul-
periência na qual se detecta a atividade elétrica sos elétricos dos neurônios que respondem ao
dos circuitos neuronais. O animal, anestesiado, estímulo. Nos gráficos de baixo, vê-se que houve
olha para uma tela na qual se projeta um retân - resposta de um neurônio quando o retângu lo lu-
gulo de luz dentro de uma região específica minoso foi projetado dentro da região pontilha-
(pontilhada). Enquanto isso, através de uma agu- da, mas não quando incidiu fora dela.
tratada como uma película fotog ráfica hamster. captada pelas extremrdades dos axô-
comum. O resultado aparece como na Em uma segunda séne de experiên- nios s ituados na reg 1ão de injeção. e
figura 4. cias, meu rnteresse era verificar se os transportada em sentido retrógrado
A figura mostra em vermelho escuro circu1tos neurona1s se modificam após através das fibras em direção ao corpo
os pálidos contornos da região do cére- o nascimento nos casos em que o ani- celular, onde se acumula. Os cortes fi-
bro que Interessava estudar. E as ex- mal sofre lesões cerebraiS antes . nos do cérebro do antmal foram agora
durante ou logo após o parto . Em tratados com uma séne de reagentes.
tremidades dos axônios provenientes
hamsters adultos que haviam sofrido que revelam a presença da proteína
do córtex visual {que continham as pro-
lesões pennata1s. realizei uma micro- por meio de um produto colorido. Um
te i nas radioativas) aparecem como
ctrurgta como descrevi ac1ma, mas em exemplo do que se vê ao mtcroscópio
grãos brilhantes que em alguns pontos está ilustrado na figura 4 .
vez de depositar um amtnoáctdo radio-
são tão numerosos que se fundem, attvo no córtex cerebral. utilizei peque- Os grãos roxos em fundo azul são os
gerando uma enorme mancha branca. nas quantidades de uma proteína en- milhares de neurônios da região do
O estudo, complementado em outros contrada em plantas da família do raba- cérebro que aparece no campo do mi-
animats, perm1tiu conclu1r que a reg1ão nete. a enztma conhecida tecnica- croscópio. As quatro células em forma
do cérebro mostrada na figura é parte mente como peroxidase . A peroxi de' triângulo, coradas em rosa ou ver-
do circuito originado no córtex v1sual do dase. ao contrário do amtnoácido. é melho. são aquelas que participam de

Ano 1 N." I J olho/ Agosto de 1982 P g SI


urn circu1to anômalo presente no cére- ilustrado na figura 5. que apareceu a seu lado. Mas ele rapi-
bro com lesões perinatéliS. evidencia- Como já havia sido descrito por ou- damente move sua cabeça e seus
das pela presença de peroxtdasc em tros pesquisadores. verificamos que os olhos para fitá-la. Só então é capaz de
seu interior. neurônios do córtex visual produziam identificá-la como um grilo. Inúmeros
Nos dois exemplos. a utilização de impulsos elétricos esp~rsos mesmo processos complexos ocorrem coo-
marcadores espec1a1s (os aminoácidos sem qualquer estímulo E o que se cha- perativamente erP seu cérebro para
rad1oat1vos e a peroxidase) permitiu es ma atividade espontanea. Entretanto, possibilitar ação tão Simples Quando o
tudar o trajeto e o destino das f1bras quando pr9jetavamos 1magens de for- grilo pousou a seu lado. os neurônios
neNosas. assim como suas células de mas geométricas simples sobre um da periferia das retinas do obseNador
ongem. esclarecendo os constituintes determinado local da tela, alguns neu- foram ativados. Os impulsos aí gera-
dos circuitos neuronars . A etapa se- rônios disparavam um número muito dos foram enviados a uma certa região
guinte consistia em saber como funcio- maior de impulsos O aumento do nú- do cérebro, rndicando · "apareceu algo
nam esses circuitos. que tipo de Infor- mero de impulsos que ocorre sempre em meu campo visual". Os neurõn1os
mação eles manipulam . Em outras que estimulamos o animal pode ser desta região, por sua vez. usaram um
palavras. estudar os circuitos neuro- considerado a resposta da célula à esti- círcuito que os põe em comunicação
nais em ação. mulação. O reg1stro gráfico da atiVI- com uma terceira região. cuja função é
dade espontânea e de resposta pode comandar os músculos do pescoço e
ser v1sto na figura 5. dos olhos. Uma ordem de ação atrnge
esses musculos : "movimentem a ca-
onsidercmos um exemplo Logo começamos a perceber que
beça e os olhos em d1reção à cotsa que
para ilustrar a dinâmica de cada neurônio era especializado para
apareceu em meu campo visual".
funcionamento de urr cir um certo tipo de estímulo. Uns poucos
cuito neuronal. Trata-se de "preferiam" círculos de luz, mas a mat- Uma vez que 1sso ocorre. a imagem
um estudo rearzado no lns aria não respondia bem aos círculos e da "coisa" agora se forma sobre o cen-
ti luto de B1oflsrca por nosso grupo, sob sim a retâ ngulos luminosos. desde que tro da retina, que e especializado para a
a direção de Carlos Eduardo Rocha estes esttvessem rncl1nados em um análise de imagens. Outro c1rcutto neu-
Mrranda Pretendíamos esclarecer as certo ângulo em relaçao à honzontal. ronal é ativado. de modo a descrever
Dentre esse grupo. alguns rcspond1am em código as características da
funçoes do circuito que conecta a re-
ao ligar e desligar do estimulo na regrão "corsa" : "a coisa e verde. possur seis
tina com o córtex visual. ambos já men-
cionados anteriormente apropriada, mas outros "prefenam " patas olhos compostos c antenas" .
que o estimulo se deslocasse sobre a Agora o cérebro do 1nd1v1duo recebeu
Como se sabe. os neurônios sao Informações detalhadas, e estas po-
células capazes de gerar impulsos elé tela Vanando as condições de esti-
mulação. portanto. era possível classifi- dem ser enviadas através de outro cir-
tricos que são conduz1dos através dos cuito às regiões do cérebro cuJa função
axônios e transmitidos ao neurônio se- car os neurónros cortica1s de acordo
com suas "preferências" O estudo es- é guardar a memóna de f1guras pareci-
guinte do circuito Esses impulsos das à "coisa", que recebem o nome de
constituem unidades de vàrios tipos de tatíStico dessds "preferências" da po
pulação de neurônios da regrão cort1cal "grilos" . Nesse momento. e só entao,
cód1gos que traduzem a Informação o 1nd1víduo percebeu e Identificou real-
vinda do ambiente. como fazem os estudada nos poss1bthtava rnfenr qua1s
aspectos do amb1ente visual eram mente o gnlo. Tudo 1sso. no entanto,
bips do código Morse por exemplo. ocorre em m1lés1mos de segundo, pela
Para entender como os crrcuitos neuro- analisados por aquela região. Estava-
mos estudando o circuito ret inocortical ação dos neurônios cerebra1s e seus
nais man1pulam essa rnformação. é Circuitos
prec1so tentar decifrar os códrgos que em açao.
O cé rebro já não é tão m1stenoso
oles utilizam. L. para tanto, a pnme1ra Através desse tipo de técnica. é pos- quanto no passado Conhecemos seus
prov1dênc1a é captar e registrar os im- sível estudar várias regiões diferentes elementos. os neurônios. mUitos dos
pulsos elétricos que os neuron1os pro- do cérebro: umas relac1onadas à vtsão. crrcwtos que eles formam e alguma
duzem sob condiçoes ambientais con- outras à audiçao ou ao tato. outras coisa de seu funcionamento . No fu-
troladas. ainda responsave1s pelo comando das turo, talvez possamos estudar não só
Na séne de expenênc1as que Carlos Jt1v1dades motoras, ou mesmo rcgrões pequenos grupos de neurônios, mas
Eduardo e seus colaboradores real1 responsavers por funções complexas populações rnte1ras em ação. Aí estare
zaram, o animal foi anestesiado e colo- l1gadas à aprendizagem. à memória mos sa1ndo da dimensão celular para
cado em uma mesa espec1al diante de etc. Em cada uma dessas reg1ões. há entrar em um domínio mais próximo
uma tela. de olhos abertos. de modo circuitos neuronais que as ligam a ou- do nosso objetivo maior: compreender
que pudesse ver o que nela fosse pro tras de modo altamente especifico . as bases neurológicas do comporta-
jetado. A Intenção era produzir esti · Cada regrão do cérebro é espec1allzada mento. do pensamento. da linguagem
mulas lum1nosos vanados que o dnlmal em Ufll aspecto de um SIStema funCIO- e das emoções humanas.
pudesse ver. e tentar decifrar o código nal. E como se cada uma realizasse
que seu córtex visual utilizava pélra rc uma tarefa em cooperação com as ou- • Pror~..ur-adj unto do J>eJliU'bmt'nto de Ncum- •
presentá-los. Logo, era preciso reg is- tras Mas os neurônios de urna reg1ao bioJogjll du ln,lltutu de Blon ..k~ da ll nh·e~idade
trar os Impulsos elétricos gerados por precrsam de vários tipos de rnformação federuJ do Rio <k Janeiro.
neurônios corticais Isso foi feito colo para realizar a sua parte do trabalho. e
cando uma agulha de ponta muito fina recebem essa informação através dos •

(alguns milésimos de milímetro) no in- cuitos vindos das outras regiões. Sl J<a:STÜES PARA LEITURA

terior do tecido cerebral na reg1ão apro· VeJamos como funciona esse con- The Brain. Euiçáu Cl>pecial da rcvJ!.Ia Scu'n -
priada. Essa agulha foi conectada a um junto de circuitos no indivíduo íntegro. tific Amaica11, de ">etembro de 1979
sistema eletrôn1co capaz de amplif1car Voce Já reparou o que ·acontece
c apresentar em uma tela de televisão quando um ind1vrduo esta drstratdo e, Neurojl'.~iologia Corg<tnizado pnr R r .
SchmiJl) . Tradução de J . F . Ahcnfeider
os impulsos elétricos dos neurônios s1 digamos. um grilo pousa a seu lado. a SLiva. Edilora da lJ nivc~idade de São Paulo,
tuados nas proxim•dades da ponta da alguma drstância? De medtato o tndiVÍ- 1979.
agulha. O arranJo experimental está duo é incapa7 de Identificar a "coisa"

p~ 52 J olho/ Agosto de 1982 N." 1 Ano 1


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Ano 1 ." 1 Julho/A~osto de 1982 Pg 53


Imagina-se que o espaço interplanetário e o espaço interestelar são um imenso vazio,
ocasionalmente riscado por meteoritos e cometas. No entanto, sabe-se hoje que
muitas estrelas, inclusive o Sol, emitem um fluxo constante de partículas que varre essas
extensões, transmitindo matéria e energia.

( J .A. de Freitas Pachero• )

maiona de nós já viu fotogra- Quadro 1 - Propriedades do Vento Solar na Vizinhança da Terra
fias de eclipses solares. como
a mostrada na figura 1 Nessas Velocidade de Expansão 300 km/s
fotos, f1ca claramente eviden- Densidade 9 6tomaslcm 3
ciada a existência de uma
extensa atmosfera solar. denomina- Temperotura dos Elétrans 150. ()()()'>K
da coroa. -------------------------------------------------
Temperatura dos Prota ns 40.()()()-K
A coroa solar é constituída de um
gás extremamente quente. com tem-
peraturas da ordem de um milhão de fluxo de partículas e rnedtram as propn- que as duas não se encontram em
graus. Dev1do a essa elevada tempera- edadPs fíctcas do vento solar Alguns equ l'bno; portanto. a coroa não é
tura. a atração grav1tac1onal do Sol não dos parámetros medrdos nas proximi- aquecida pela radiação solar, devendo-
consegue mantê la confinada em sua dades da -:-erra frguram no quadro 1 se sua temperatura a outros fatores Já
VIZinhança. e a coroa se expande atra- Podemos ven f rcar que. em relação a conhectdos.
vés do espaço rnterplanetáno. dando temperatura da coroa próxrma do Sol Logo abaixo da fotosfera. ex1ste uma
ongem a um f luxo de gás poetica- (um milhão de graus). nas proximida- regrão percornda por fluxos ascenden-
mente chamado de vento solar. des da Terra os elétrons resfriaram-se tes e descendentes de maténa gasosa
A existência do vento solar foi inferi- menos do que os prótons. Isto se deve chamada de zona convectiva. Esses
da ·nicralmente em 1951 por um astro- ao fato de que. distanctando se do Sol. movimentos de matéria geram ondas
ffsico alemao. Biermann. através do a densidade do fluxo d0 partfculas dimi- acústicas que se propagam acima da
estudo das caudas iônrcas dos come- nui. ocastonando uma drmrnUtção na superfrc1e solar. podendo atravessar
tas. Esses astros podem possu1r dois f reqüência das colisões entre os elé- regiões com campos magnéticos, fa-
tipos de caudas. A prrmeira e constituí- t rons e os prótons. Assim. como são zendo-os osc1lar também: gera-se as-
da de graos de poetra ("gelo sujo") essencialmente os elétrons as partí- sim o que chamamos de uma onda
com dimensões de centenas a milha- culas quo transportam êl energia ter- magnetoacustica A dtss1paçào dessas
res de Ángstroms. que dispersam a luz mica e a redistribuem através das coli- ondas é o mecanismo que. segundo
solar; sua drreção é determinada pela sões. os prótons recebem menos hoJe se acredita, produz o aquecimento
orientação do cometa em relação ao energia e se resfriam . do gás da coroa à temperatura da or-
Sol e pela direção de seu próprio movi- dem de um milhão de graus.
mento orbital O outro tipo de cauda, a
chamada cauda 10n1ca. é constituída de ma pergunta que surge na- om a emissão de partí-
átomos e moléculas ionizados e se turalmente é a seguinte: por culas que constttuem o
apresenta sempre na direção cometa- que o Sol, uma estrela que seu vento, o Sol sofre uma
Sol, o que se deve à ação do vento tem uma temperatura de perda de massa, que no
solar. responsável pelo transporte des- 5 800 graus Kelvrn (ó.800 K). seu caso e n t reta n to é
sas partrculas apresenta uma coroa externa com ínfima: apenas 2 x 1O • massas solares
Com o advento das viagens espa- temperatura mutto mais elevada? A di- por ano (ver a explicação desta unrdade
cíals, naves Interplanetárias do tipo PJO- ferença de temperatura entre a coroa c na página 54) Assim, se esse processo
neer confrrmaram a existência desse a superfície do Sol (a fotosfera) indica se mant1ver durante toda a vida esti-

Pg54 Julho/ A~osto de 1982 . . o I. Ano I


mada do Sol (cerca de 1O bilhões de
anos), ele perderá apenas cerca de dois
déc1mos de milésimo de sua massa
total .
E as outras estrelas? PosSUirão elas
também um análogo do vento solar.
que represente uma perda de massa
importante durante suas v1das?
Para responder a estas perguntas.
precisamos saber como reconhecer a
ex1stênc1a de um vento estelar emitido
por um corpo celeste situado a deze-
nas ou centenas de anos-luz da Terra. É
claro que, no momento, não podere-
mos nos servir de naves cósmicas para
medir suas propriedades. ass1m como
está completamente exclulda a possi-
bilidade de detectar cometas em siste-
mas tão longínquos com os me1os de
que dispomos atualmente.

m seus estudos dos objetos


celestes. os astrofís1cos l1dam
essenc·almente com os es-
pectros como fonte de infor-
mação. A luz das estrelas é
captada através de um telescópiO e em
seguida dirigida de modo a atravessar
um prisma ou uma rede de d1spersão.
produz1ndo um espectro que é registra-
do numa ptaca fotográfica. Um espec-
tro pode ser cont1nuo. como é o caso
do arco íris que conhecemos. ou dis-
creto, apresentando linhas em absor-
çao ou em emissao. Um espectro em
absorção é geralmente produzido Fig. 1. Em fotos de eclipses, fica evidenciada a existência da coroa solar,
quando um gás se encontra na .r rente atmosfera constituída de um gás com temperatura da ordem de um
de uma fonte de radiação a uma tem- milhão de graus. Da expansão da coroa se origina o vento solar.
peratura mais elevada . Um gás com
uma temperatura suficientemente ele-
vada para que os níveis de energia de 1 2 HO 152667 ,_ _ 8/Sel/ 77
seus átomos sejam excitados produz ___ 9/Setl 77
_ _ 10/Sel/ 7 7
um espectro de cm1ssão.
I I

......-·- ·
Massas so·ares -- -- ..................
/- -
.,.,. ..... --- ----
Em astrofísica. utíli7a "c comn ..... /
09 ..... /
umdadc de meu ida de ma.''~"' a ma!)'" '/\ /
//
do Sol (2 x 10 ' ...gramas. ou
2. 000 .000 .000.000. 000. 000 t ri-
-....... \
\ I
/
08 \ I
lhôes de toneladas) Assam. para \C \ I
converter a taxa de perd.t de ma,.,,,., \ I
<iolarcs para ~ramas por 'cgundo. \ I
0 7 \ I
basta mullipllcar o número que 1\!-
\ I
mos pela mru-sa do Sol c di\ idtr o nú- \ I
mero assim ohttdo pelo mimem de 06 ' oW /
segundo~ (!01 um ano <3 :<. 10'1). No
v km /s
caso da perda de mas~a Jo Sol de-
vida ao vento '-O lar. de 2 x IO •~ ma-. - 1 l l l I I I l I
sas solares. chegaremos a I .3 x Io•: -700 -600 -500 -400 -300 -200 - 100 00 100 200 300 400 500 6(X) 700
gTanlól'\ sx>r -.cgun<.lo. ou 1.3 bilhão
de toneladas por <.,cgundo. Fig. 2 Perfil P-Cygniformado pela estrela supergigante HD 152667. Ob-
serva-se o perfil de absorção na direção do azul (à esquerda) e de emis-
são na direção do vermelho (à direita).

Ano 1 N.o 1 Julho/Agosto de 1982 CfJDA!}:ID:I~E Pg 55


-
FORMAÇAO DE UM PERFIL P-CYGN/

O PERFil OBSERVADO E DE AB.SOi\ÇAO

ESlP.EL.A SEM AlMOSFERA

ESTRELA CO ' - ' F=n EM Xf"POUSO O PEP.K OBSERVADO E DE EMtSSAO

Fig. 3. Estação receptora da ESA,


agência espacial européia, situa- ENVELOPE
.,/"'"
da em Villafranca, perto de Ma-
dri. A estação capta os sinais
emitidos pelo satélite IUE, usa-
dos para o estudo dos ventos es-
talares.
HIDAOGENIO IONI ZADO

Ph.NSAO VE:NTO E:SH:LN' PH'F P-C Y(;NI

GA S VISTO EM EMISSA O

EM lSS AO
PAAA O 0 8 5U VADOA

••••••••••••••••••••••••
•••••••••
•••••••••••••••••
• • • • • • • • I

••••••••• ••• • •
A&SORÇAO
DESLOCADA
G A S VISTO EM A8SORÇA O f>AltA O AZ Ul

Fig. 4. Imagem, na tela de TV, do


campo onde foram feitas as ob-
servações sobre a existência de Os perfis P-Cygni denotam a existência de um envelope gasoso, visto
ventos estelares. em emissão, e de um fluxo de partículas que se deslocam na direção do
observador (visto em absorção). A combinação destes dois elementos
indica a existência de uma atmosfera estelar em expansão, ou seja, um
vento estelar.

externa. Recombinando~se, um próton melho (freqüência menor) Esse ttpo


e um elétron produzem um espectro de perfil de linha espectral 0 chamado
de emissão que pode ser detectado de perfil P-Cygni, porque fo1 observado
pelos telescop1os terrestres Ja se a at- na estrela supergigante P dd constela·
mosfera da ec;trela se encontro r err ex ção do Cisne.
pansão. as linhas espectr ais não serão
stmetncas. uma v6z que o gãs que se a tigura 2. pode~se ver um •
encontra diante da estrela (em relação perfil P-Cygni obtido pelo
ao observador) sera visto em absorçdo. autor. da linha H Beta do ht·
e devido ao efeito Doppler a freqüência drogênio (compnmento de
Fig. 5. O mesmo campo, ao teles- das ondas emitidas aumentará. uma onda de 4 .861 Angstrõms)

• o

copa o. vez que o movimento de expnnsão se formada na estrela supergigante HD


dá na dtreção do observador 152667. que tem uma lemperatura su-
Nas estrelas ditas quentes (com Dessa forma. devemos esperar que perficial

de 25.000"K
uma temperatura superficial superior a o espectro de estrelas desse ttpo apre- E através do estudo dos perfis P-
20 000 K). a radiação ultravioleta da fo· sente um perfil assimétrico. com ab- Cygni no espectro das estrelas que se
tosfera é suficientemente intensa para sorção em direção ao azul (freqüência pode diagnosticar a existência de ven
ionizar o hidrogênio de sua atmosfera mator) e em1ssão em direção ao ver- tos estelares. No entanto. o número de

.J ulbo/Agosto de 1982 N." 1 Ano l


estrelas que apresentam característi- - - - - - - - - - - --
cas P-Cygni no espectro visível (Situa-
do entre 3 .600 e 6 .700 Ângstroms). Propriedad es d os Ventos Estelores
acessível aos telescópios terrestres. é
relativamente pequeno. Somente corn Tipo de estrela luminosidade Perda de tnasso Velocidade de
essas Informações. seríamos levados em relo,são ao Sol (massas sok.eslano) eKpOi1São
à conclusão de que os ventos este lares Of e Supeayigantes 08 3 X lOS 10 • 10 • 3.000 lcmls
são propriedades únicas de objetos ex-
tremamente tum1nosos.
B,Be 1()4 1O • 1O • 1.500 - 2.000 lcnJs
Núcleos de Planetárias 1Cf 1O .. 2.000 lcmls
Com o advento da e ra espacial.
porém, nossa visão desse problema
mudou de forma quase rad1cal.
A experiência mais bem-sucedida Os ventos estelares das "estre las
nesse sentido é a do satélite Explora· quentes" são "ventos f rios", pois a
á no ·final da década de 60. com dor Ultravioleta Internacional (lU E - In· temperatura do gás é próxima da tem-
um pequeno InStrumento a ternational UltréJVIolet Explorer). lan· peratura da estrela, sugerindo uma si-
bordo de foguetes, o astrofí- çado em janeiro de 1978 por um con· tuação de equilíbrio radloattvo, o que
sico norte-americano Morton sórcio entre a agência espacial norte- também não acontece no caso do Sol.
mostrou que as estrelas super- americana NASA e a agência espacial A situação das condições físicas nos
gigantes localizadas na constelação de européia ESA. O IUE leva a bordo um ven tos estalares ainda não está bem

Onon apresentavam ventos estalares. telescópio de 45cm de diâmetro e dois estabelecida. Inúmeras estrelas apre-
pois põde observar perfis P-Cygn1 nas espectrógrafos do tipo Echelle, para sentam l inhas espectrats de íons como
linhas espectrais dos átomos de siHc1o espectroscopia no ultravioleta na re- o oxigênio cinco vezes ionizado ou o ni-
ionizado três vezes (isto é, átomos que gião situada entre 1.100 e 3.200 Ângs· trogênio qua tro vezes ionizado . O
perderam três elétrons de sua camada trõms. Um sistema de TV env1a as ima- campo de radiação da estrela não é ca-
externa) e de carbono ionizado três gens do telescópio. de manetra que o paz de produzir tais fons com potencial
vezes. astrônomo pode efetuar suas observa- de ionização e levado. Neste caso, é
ções como se estivesse num observa- possivel que os ventos não seja m
As propriedades desses ventos tório terrestre (com a vantagem de o "f rios" , mas sim " téptdos'' o u
eram fantásticas. quando comparadas mau tempo jamais poder prejudicar as "mornos", isto é, com temperaturas
às do vento solar. As velocidades de observações). da ordem de 100 000 K, necessárias
expansão chegavam a 3 .000km/ s para produzir os íons observados atra-
A figu ra 3 mostra a estação recep·
(cerca de um centésimo da velocidade tora da ESA situada em Villaf ranca vés de colisões com elétrons. Isto im-
da luz e dez vezes a velocidade do (perto de Madri). A figura 4 mostra ima· plicaria que. tal como no Sol. deve ha-
vento solar). e a quantidade de matéria gens pelo sistema de TV do campo es- ver um mecanismo através do qual
difundida chegava a 1O 6 massas sola- te lar onde as observações foram energia mecânica subfotosferica é de-
res por ano. Essa taxa de perda de feitas. positada no vento . Trata-se de um
massa redunda em uma perda subs- As inúmeras observações realizadas ponto fundamental na pesquisa atual
tancial de massa por parte da estrela no da física dos ventos estelares.
pelo lU E até agora nos permitem afir-
decorrer de su~ evolução, tornando-se
mar que os ventos cstelares, longe de As questões que no momen to se
em alguns casos um acontecimento
serem uma exceção, constituem-se colocam, após toda a fantástica quanti-
verdadeiramente dramático: a essa ra-
em regra quase que geral. O fenômeno dade de dados trazida pelo lU E, podem
zão, nos 1O milhões de anos que repre-
se encontra presente em mé3tor ou me- ser resumidas no seguinte:
sentam a vida média de estrelas desse
nor intensidade. conforme a lwninosi- 1) Que mecanismos produzem íons
tipo, a perda total de massa seria equi-
dade (taxa de energia emitida pela es· com elevado potencial de ionização no
valente a dez vezes a massa do Sol. As-
trela, isto é. sua potência irradiada) da envelope?
sim, a descoberta dos ventos estalares
estrela em questão. 2} Como se processa a aceleração
veio alterar uma das premissas do es-
tudo das estrelas: a de que sua massa As propnedades até hoje observa- dos envelopes?
permanecia constante ao longo de sua das dos ventos estalares apontam para 3) Que mecanismos depositam
evolução. a existência de uma forte relação entre energia nos ventos?
a taxa de perda de massa e a luminosi- 4) Como a evolução das estrelas se

o entanto, os foguetes têm dade do objeto, o que sugere que a altera devido à perda de massa?
um curto tempo de vôo, e força de radiação representa o meca- Estas questões. embora não exaus-
ass1m as observações fei- nismo responsável pela aceleração do tivas. certamente irão ocupar os astro-
.. tas por meio de instrumen· vento. Isto pode ainda ser verificado ao físicos durante os próximos anos. an-
tos por eles transportados constatarmos que cerca de 2 a 50°/o da tes que respostas satisfatórias possum
ninda se limitavam às estrelas brilhan- quantidade de movimento dos fótons ser encontradas.
tes. Foi somente com o lançamento de são transmitidos ao gás. ao contrário
satélites especializados. na década de do caso do Sol. onde não existe nenhu-
70. que os objetos de luminosidade ma torça impelindo o vento, que se
mais fraca puderam ser devidamente desloca unicamente devido à sua alta
*O b'>en ·at<)rio ~acionai - CNPq . Rio de Janeiro.
estudados. temperatura.

Ano 1 N.• 1 Julho/Agosto de 1982 Pg 57


A famflia brasileira se encamülha aceleradamente para um padrão de dois filhos por
casal ou seja, para um nível em que cada geração de pais dá origem a uma geração de filhos
exatamente do mesmo tamanho. Essa é uma das conclusões sugeridas pelas tabulações
avançadas do Censo de 1980. Outras mudanças significativas também foram percebidas.

( Nelson do Valle SiJu• )

recente publicação das ta Evidentemente, essa é uma condr- quê da inevitabilidade desse cresci-
bulações avançadas do ção essenctal para se atingir a Situa- mento, mesmo que se atinja imedia-
Censo de 1980 confirmou ção que os demógrafos chamam de tamente um nfvel de fecundidade de
um fato demográftco de "estacronariedade". ou seja, uma po- mera "reposição" de gerações.
que já se tinha fortes indf- pulação com crescimento zero. limite
cios durante a última década: uma de longo prazo necessário para toda e termo explosão demo-
(f

queda vertiginosa no nrvel da fecun- qualquer população geograficamente gráfica", cujo uso se di-
didade da populaçao brasileira. O nú- limitada. fundiu tão amplamente
mero médio de filhos por mulher ao O que não é tão evidente é que, nas últrmas décadas,
ftm de seu período reprodutrvo decli- mesmo que a fecundidade da mulher descreve um aspecto im-
nou em cerca de 30°/o nos últimos brasiletra atinja o "nível de reposi- portantíss imo de nossa época e a
vrnte anos. caindo de um total de ção" imediatamente, a nossa popula- caracteriza como um perfodo sem
cerca de 6,3 filhos por mulher, em ção ainda con t inuará a crescer por precedentes na historia. De fato.
torno de 1960, para uma média apro- pelos menos mais 70 anos. só atin- nunca a humanidade passou por uma
ximadamente 4,2 filhos em 1980. gindo a condição de estacionariedade fase de igual crescimento populacio-
Asstm, a tamflia brasileira se encami- pouco depois do ano 2050 Nessa nal. quer consideremos o mundo
nha aceleradamente para o padrão de data, ela terá atingido um total de no como um todo. quer consideremos
dois filhos por casal. ou seja, para um mínimo 185 milhões de habitantes, isoladamente suas diversas regiões.
nfvel em que cada geração de pais dá ou seja, cerca de 66 milhões de pes- Descrever esse novo fenômen o
origem a uma geração de filhos exa- soas mais do que em 1980. Asstm, como "explosivo" não constitui ne- •

tamente do mesmo tamanho. A esse um pais como o Brasil, mesmo nas nhum exagêro. Segundo estimativas
nível de fecundidade. que podería- condições demográficas mais propí- de J. Durand, do ano 1 da era cristã
mos denominar de " fecundidade de cias. ainda deve esperar um cresci- até 1750 a população do mundo cres-
reposição". cada mulher gera em mento populacional tão substancial ceu de cerca de 500 milhões para um
média uma e apenas uma ftlha. que quanto mevttável nas próximas dé- total de aproximadamente 800 mi-
no tempo devido a substituirá em seu cadas. lhões de pessoas. O meio do século
papel na reprodução da população. Exammemos em detalhes o por- XVIII marca uma extraordinária mu-

Pg58 Julho/Agosto de 1982 N.• 1 Ano 1


Fig. 1 - A POPULAÇÃO BRASILEIRA

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40

20

1950 1960 1970

dança no crescimento populacional. por mil para a primeira metade do sé- Para o ano 2000, as projeções mais
verificando-se uma acentuada acele- culo XX. As estatfsticas para o perío- plausrveis indicam uma população
ração na taxa de crescimento que. de do mais recente são ainda ma1s dra- brasileira entre 160 e 180 milhões de
resto, acompanha de perto a cha- máticas. No terceiro quartel do nosso pessoas. Voltaremos a esse assunto
mada "revolução industrial''. centra- século. a taxa de crescimento mais mais tarde. cabendo por ora apenas
da particularmente na Europa ociden- que duplicou, atingindo a marca anual observar a velocidade vertiginosa
tal e nos Estados Unidos da América. de 17,1 por mil. da qual resultou a po- com que nossa população tem cres-
A taxa anual de crescimento popula- pulação atual, estimada em cerca de cido nas últimas décadas e o cresci-
cional. que foi de cerca de 0,56 por 4 bilhões de pessoas. mento muito substancial que ainda
m il habitantes por ano durante o perí- O Brasil também foi atingido por temos garantido para o futuro pró--
odo 1 d.c.-1750 d.c .. se elevou a 4.4 esse fenômeno explosivo. Com uma ximo. Fica. no entanto, a questão :
por mil entre 1750 e 1800. resultando população estimada em cerca de 4 quais as causas desse crescimento
desse crescimento uma população milhões no inrcio do século XIX. teve explosivo da população mundial de
mundial de cerca de 1 bilhão de pes- no decorrer daquele século sua po- modo geral, e da população brasileira
soas. pulação mais que quadruplicada. atin- em particular?
Por volta de 1850, a população do gindo 18 milhões de habitantes em
mundo era de aproximadamente 1.3 1900 (para uma avaliação visual des- o ponto de vista histórico.
bilhão de pessoas. e em 1900 atingiu se crescimento, ver a figura 1). Nos nossa época se caracteriza
cerca de 1.7 bilhão, o que representa cinqüenta anos que se seguiram, a por ter a mortalidade decli-
taxas de 5,2 e 5.4 por m il ao ano para população brasileira quase que nova- nado a nlveis nunca antes
cada metade do século XIX, respecti- mente quadruplica. atingindo perto exper i mentados . particular-
vamente . Segundo estimativas da de 52 milhões de habitantes em mente nos pa lses desenvolvidos .
ONU , a poulação mundial em torno 1950. Desde então. nossa população Declfnios espetaculares também
de 1950 compreendia cerca de 2,5 bi- mais que dobrou, com um total avali- ocorreram mais recentemente em al-
lhões de pessoas. o que. se for com- ado em mais de 119 milhões em guns países subdesenvolvidos,
parado com os 1, 7 bilhão para 1900, 1980, passando pelos 92.7 milhões como por exemplo os pafses da
implica uma taxa média anual de 7.9 encontrados pelo Censo de 1970. América Latina. e declínios seme-

Ano 1 N. • l Julho/Agosto de 1982 Pg 59


lhantes parecem estar em vias de re- TABELA 1 - COMPONENTES DO CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO MUNDIAL EM
alização nos demais pa íses subde- 1973
senvolvidos.

notadamente na Ásia e
na Africa. De fato. o extraordinário PopuloçOo Taxo Brvto de ToKo Bruto de Taxo .a.nuol de
(m,lhões) Notoltdode tv1ortol!dode Crescimenro (%)
crescimento da população mundial
pode ser atribuído ao declínio da mor- MUNDO .......................... ... ~ 3 .860 33 13 20
talidade e não. como se poderia pen-
Porses Desenvolvidos . • . . . . . . 1. 120 17 9 8
sar. ao aumento da fecundidade. Em-
bora tal aumento possa ser obser- Países Subdesenvolvidos . . . . 2 .740 39 14 25
vado em algumas regiões (particular- •
AFRICA .. . . . . . .. .. . . . . .. . . . . .. . . . 375 46 19 27
mente em alguns países da África
tropical). não desempenha nenhum ÁSIA (exceto Japão) ... . .. .. . . . 2 . 100 38 14 24
papel significativo em relação ao au- AMÉRICA LATINA (troprcol) . . . 265 38 8 30
mento populacional. A chamada
Brasil ......................... 101 36 9 27
"explosão demográfica" é basica- •

mente uma resu ltante da espetacular· Es1odos Unidos . .. . . . . . . . . . .. 21 O 15 9 6


queda da mortalidade aliada à relativa Japão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • 108 19 7 12
manutenção dos tradicionais (e
EUROPA ......................... 472 16 11 5
elevados) n rveis da fecundidade nas
sociedades pré-industriais. União Soviético . . . .. . . . .. . .. . 250 18 8 10
Mu1to tem -se debatido em torno
das causas do declín1o da mortali- Outros: Conodó, Austrólio ,
Novo Zelândia,
dade na Europa, alguns apontando
América Latino
para os avanços médicos alcançados 14
(temperado) . . . . . . . . . . 80 22 8
no século XVII I, como por exemplo a
inoculação e posterion nente a vact- FONTE; NIIÇllc$ Unidas, Demop-apbk Vca.r boolc
NOTA: Valores Mfd1ot Anu&Js por I 000 h~bua.ntes.
nação antivanólica. outros susten-
tando como causa provável as mu-
danças em saneamento e higiene pú-
blica que teriam um significativo im- nos. é que provavelmente as duas cial das populações. Os avanços na
pacto sobre certas causas de morte, causas estão presentes na redução medicina social. com todo um arsenal
como o tifo e a cólera. Entretan to, o da mortalidade. O que também essa farmacêutico e de conhecimentos de
que nos ensina a experiência dos paí- experiência recente deixa claro é que higiene elementar, resultam em su-
ses em que a queda da mortalidade ganhos tmportantes na mortalidade cessos extraordiná rios a custos mut-
se deu mais recentemente. como por podem ser obtidos sem nenhuma to reduz1dos. Da mesma forma. me-
exemplo os países latino-america- modificação de monta na situação so- lhoramentos relat ivamente menores

Flg. 2 - COMPONENTES DO CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA ( 1840-1980)

50

40
TAXA I.UTA DI NAT AUDADI (N)

=
% 30
§
-2

. .--~ ~~ •

--- ~·
-## '
---········ # CUSCIII\INTO TOTAL (N - M + I)
lj •

a ______ , •• .----
20
~
l
rj •


10 •
TAXA UUTA DI MO.TALIDAOI (M) õ
li

i
~
MIGilA~O LÍQUIDA (I)
j
1840 1850 1860 1870 1880 1890 1900 1910 1920 1930 1940 19.50 1960 \970 ! 980 ANO f
~~----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------~ ~

Pg60 Julho/Agosto de 1982 N.• I Ano I


no saneamento. particularr nente em xas de idade onde a mortalidade é vida adicional é de 73,5 anos, ou seja,
áreas urbanas. resultam geralmente maior. O Brastl, como veremos pos- deverá sobreviver em média até 78,5
em ganhos substanciais na saúde teriormente. possui tJma população anos, o que mostra de modo claro
das populações. Ass tm. a htstória re- bastante "jovem", o que o favorece que virtualmente nenhuma criança
cente registra casos de países sub- 'quando comparamos sua taxa de sueca morre antes dos cinco anos de
desenvolvidos com batxíssima renda mortalidade com as dos pafses de- idade.
per capita que apresentam reduções senvolvidos, soctedades que. tipica- É importante que se acentue que a
ma rcantes em seus nfveis de mortali- mente. têm populações "velhas" . De situação da morta lidade mfantrl no
dade, de tal forma que as diferenças fato, tivesse o Brasil uma estrutura Brasil não expressa unicamente as vi-
entre parses pobres e pa íses ricos etária similar à predominante na Eu- cissitudes do subdesenvolvimento.
nessa questão é muito menor do que ropa, sua taxa bruta de mortalidade Na realidade {veja a tabela 2). apenas
o era há algumas décadas. sena bem mais elevada, provavel- três países na América Latina mos-
mente em torno dos 14 por mil habi- tram um fnd1ce de mortalidade Infan-
É claro (como se pode observar na
tantes ao ano. Nesse sentido, é mais til superior aos 109 por m il anuais ob-
tabela 1) que desníveis importantes

indicada. para comparações interna- servados no Brasil : a Nicarágua. com
ainda persistem quanto à mortali-
cionais, a utilização da expectativa de 122, o Haiti. com 130, e a Bolív1a.
dade entre pafses desenvo lvidos e
vida ao nascer (ou vida média), me- com 168. Essa srtuação fica ainda
subdesenvolvidos . Enquanto a taxa
dieta que tndepende da estrutura mais clara quando consideramos que
de mortalidade dos países subdesen-
etária da população. o Brasil possui uma renda per cap1ta
volvidos está atualmente em torno
Além disso. a situação da mortali- significativamente supenor à da mai-
de 14 por mil por ano, é de cerca de 9
dade infantil em nosso país é bas- oria dos pa rses do continente, o que
por mil nos pafses desenvolvidos. di-
tante grave. Embora se tenha obser- nos faria esperar uma taxa de morta li-
ferença bastante significativa. Os ní-
vado um aumento da expectativa de dade bem inferior à encontrada .
veis de mortalidade mais elevados
são encontrados na África e na Ásia, vtda ao nascer. quase que dobrando Também deve ser enfatizado que
sendo o mais reduzido observado no nos últimos 70 anos (a expectativa de ainda persistem no Brasil diferenças
Japão. vida ao nascer para homens era de tnternas mutto grandes nas chances
33,4 anos em 191 O e estimada em de sobrevivência , quer considere-
O nrvel de mortalidade atual no
torno de 59 anos em 1980; para mu- mos as diversas áreas geográficas do .
Brasil é relativamente baixo, sendo
lheres os valores correspondentes país, quer consideremos as diversas
estimado entre 9 e 1 O por mil anuais.
são 34,6 e 62,2, respectivamente), a camadas soctats . Assim, estudos fei-
o que o torna comparável à média dos
países desenvo lvidos. H isto rica- mortalidade das crianças menores de tos com base nos dados do Censo de
mente, também experimentamos o 5 anos é ainda bastante elevada, 1970 indicaram que a região com
mesmo processo de espetacular de- constituindo o obstáculo maior para mator nível de mortalidade é o Nor-
cHnio da mortalidade (conforme pode futuros ganhos na expectativa de deste. com uma expectativa de vida
ser observado na figura 2) : de uma vida ao nascer. Para se ter uma idéia ao nascer ligeiramente infenor a 50
da extensão do problema, recorra- anos. enquanto o Sudeste é a região
taxa bruta superior a 30 por mil ao ano
mos novamente a algumas compara- de menor mortalidade, com uma ex-
durante a maior parte do século XIX.
ções internacionaiS, agora cotejando- pectativa de vida ao nascer próxima
atingimos em nossos dias uma taxa
se a expectativa de vida restante aos dos 62 anos . Há, portanto, uma di-
correspondente a um terço da regis-
cinco anos de idade com aquela que ferença de mais de 12 anos de vida,
trada há cem anos .
se tem ao nascer. Ao nascer, uma cri- em média, entre pessoas moradoras
Essa taxa relativamente reduztda ança do sexo masculino tem, no Bra- nas duas áreas. Da mesma · forma,
para a população brasileira não pode, sil, uma expectativa de vida de aproxi- quando examinamos a mortalidade
no entanto, ser considerada com exa- madamente 59 anos. O valor corres- por níveis de renda (tabela 3). consta-
gerado otimismo. Deve-se observar pondente para crianças do sexo femr- tamos também diferenças marcan-
que comparações internacionais utili- nino é de cerca de 62 anos de vida . Já tes . freqüentemente superiores a 7
zando-se a taxa bruta de mortalidade as crianças afortunadas o bastante anos de vtda em média. Os diferen-
devem ser fertas com extremo cui- para sobreviverem até os cinco anos ciais de mortalidade parecem ser
dado, uma vez que esse tipo de taxa de idade podem esperar viver em maiores no Nordeste. onde as di-
reflete parcialmente a estrutura por média mais 63 anos no caso dos ho- ferenças nas chances de vida entre ri-
idade de uma população . Assim , mens (ou seja, até os 68 anos de cos e pobres ultrapassam em média
dada uma mesma situação geral de tdade) e mais 65 anos no caso de mu- 1 O anos . Co m isso. o efeito combi-
mortalrdade, uma sociedade que te- lheres (ou seJa . até os 70 anos de nado de regtão de moradta com o n f-
nha uma população mais "velha" (ou idade) . Isso evidencia os tremendos vel de renda sobre a mortal idade re-
seja, com uma maior freqüêncta rela- nscos enfrentados pelas cnanças sulta que. entre um brasileiro pobre
t iva de pessoas nos grupos de idade brasileiras nos prrmeiros anos de do Nordeste-e um brasileiro rrco do
mais avançados) apresentará uma vida . A situação em palses desenvol- Sul, haja uma diferença na expecta-
taxa bruta de mortalidade maior que vidos é bastante diversa. Na Suécta, t iva de vida ao nascer superior a 23
aquela obtida para uma soctedade por exemplo, uma criança do sexo fe- anos, o que ilustra de modo dramá-
com uma estrutura etária mais minino tem ao nascer uma expecta- tico a relação entre desigualdades so-
" jovem", uma vez que terá um matar t iva devtda de 77.7 anos. Ao comple- c ia ts e a morte na soc ie,dade bra-
número relativo de pessoas nas fai- tar cinco anos. sua expectativa de sileira.

Ano 1 N.• 1 Julho/Agosto de 1982


pesar da mortal idade ser •
TABELA 2 - MORTALIDADE INFANTIL E RENDA PER CAPITA EM DOLARES PARA
ainda de grande importân- OS PAfSES LATINO-AMERICANOS
cia demográfica, ta lvez a -
fnd~cc d e Renda Per Copr:o em
grande característ1ca da fkno1rdode lníontrl .. Dólares
época que estamos vi- AMERICA LATINA .•........•••.•............•.... 85 1.380
vendo é que, pela primeira vez, a fe- AME RICA CENTRAL ...•.......••...•........•.... 72 1 .180
cundidade está-se tornando o ele- Costa Rica ............................... ~ ........ . 28 1.540
mento responsável pela dinâmica po- El So1vodor .................... , ......... ~ .......• 51 600
pulacional. Nos palses desenvolvi- Guatemala ..........•............••...........• 76 910
dos, o nível de mortalidade atingiu n r- Honduras . .. .................. "J . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 480
vais tão baixos Que seu efeito sobre a 1\1\éxico ...... ................... . ................ . 70 1.290
dinâmica demográfica é muito redu- Nicorógua ........................... , ........... . 122 840
zido Como quase toda a população 47 1.290
Panamá ............................................ .
femmina nesses parses sobrevive
Caribe: .......................................... . 72 1.160
até o fim do período reprodutivo,
Bahamas ............................................ ~ .. 25 2.620
tendo portanto todos os filhos que
deseja ter. o efeito da mortalidade so- Bo roodos ......... ,. ............................ . 27 1.940
bre o tamanho (ou seja, o número de Cubo ··~··· · · · ······ · ·················· · ········ 25 810
pessoas) da população é mfnimo, se República Dominicano ....................... . 96 910
comparado ao efeito das mudanças Haiti ........... ~ .. ~ ... . .............................. . 130 260
.
nas taxas de fecundidade. Numa de- Jomoico ..•. 15 1.11 o .2
~ '(
o . ....... . . . . .. ..................... .

mo nstração pitoresca desse fato, Porto Rico . . . . . ~ ... ~ ...•....... .. . ~ ................. ~ . 20 2.720 -:s
Coale mostrou Que o efeito de se ob- ti?
r'E6
Tnnrdod e Tooogo ........................... . 29 2 .910 J} ...:.
ter a completa imortalidade para to- AMERICA DO SUL TROPICAL .................. . 98 1.430 ~ l
dos os americanos sobre a taxa de
Boi fv to ....... . ............................... . .. . 168 510 J~
cresc1mento da população dos Esta- i;;:
Brasil ... . ....................... 109 1.570 ~~
dos Unidos seria inferior ao efeito o ••••••••••••••••••••••

... ~
Colômb1a . 77 870 ;g ~
produztdo por um acréscimo de ape- o •••••••••••••• o •••• • o . ...... o •• o •• o ••
,.. ':1

Equador ..... 70 910 ,~ z.•


nas 15o/o na taxa de fecund1dade das o ......................................... .
e .

mulheres americanas. Guiana .................................... -.......... . 50 550 -,_.


~ ~

Nos pa1ses em desenvolvimento. Paraguai , ....... . ............ . ................. . 64 850 B~


:1
CC c
c
o crescimento populaciona l ainda de- Peru ........................... . ....................... . 92 740
~i
pende em larga margem de futuros Venezuelo .. . ....... o •• o .. o • • ••••• • •••••••••••••• 45 2.910 - ..
\1 '"'

d eclí n ios da morta lidade. M as no


caso do Brasil, embora ainda haja ga-
AME RICA DO SUL TEMPERADA . .............. .
Argentina ... . .................................. .
44
45
1.750
1.910
il
-:& C~~:

nhos muito importantes a serem fei-


Chile .. . ............. ....... . ....... . ....... . .... ~. 40 1.410
!, o~
tos em relação à mortaltdade (em par- ~ ..
<
ticular à mortalidade infantil), o com- -
Uruguai .................. . .. o o ••••• • ••• • • o ......... o. 46 1.610
~~

TABELA 3 - EXPECTATIVA DE VIDA AO NASCER SEGUNDO GRUPOS DE


I -
RENDIMENTO MEDIO MENSAL FAMILIAR PARA DEZ REGIOES DO BRASIL-1970
Expectettvo de Vtdo oo Nascer Es!m'!Odo
(Anos) por Grupos de Rend1menro Méd1o
.Mensal Fa milia r (Cruzeiros) :•
REGIÃO
--------------------------------i
l ,OOo 151.00o 301 ,00o ocrrnode cc
150. 00 300.00 500,00 .500.00 8

Amazônia ( Acn:. Part.. Ronúnta e Rof'ldl\nlt) i


.. . ... ' ................... .... ................... " . . ............................ .
-------------------------------------------------------------------------------------------------
53,4 53,9 54,8 58,2
-
"'- ~
~
Nordeste Setentrional ~ Maranh6oe Püsul) .•..•• • .•..••.•.•....••.•••••. ,. • • • • • • • . • • • • . • . • . • • . . . .. . . • . • • • . • • . • 50,0 50,8 52,7 55,7 .:J ~
-------------------------------------------------------------------------------------------------
Nordeste Central ( 43 8 46 1 50 3 54 4
~~
e.--.
Ccart, Rio Gmml<" dv Norte, Paraiba. Pc:mwnhuco, Alagua~ e Fml'ln<lo de Noronha) . . • • • •• • . . . . . . . . . . .
' __ à~
-------------------------------------------------------------------' ------'-------'------·- ..
_N_o_r_d_es_re__~
__r_id_io_n_o_l_(s_.~_·_e_s_e~-~
__)_._·_ · ·_··_·_··_··_·_··_··_·_··_·_··_··_·_··_··_·_· __4
· ·_··_·_··_··_·_··_·_··_··_·_··_··_·_··_·_··_.._·_··_··_·_··_·_ __8_,9____s_o_,_3_____s_1_,9_____s_4_,_9__ i~
~ .i
• Minas Gerois(MmasGcn~Je ~pfnto SnQUI) .. ............. •••.••••••••• .••••.•••••• ••• .•• .•• • • .•••• •••••.. ••.•••• 53,8 55,4 58,6 62,3 : V:
-------------------------------------------------------------------------------------------------i]
Rio de Janeiro ( na ,~ dO Cc:n$0 70 RKl de Janeiro e Gu1411hànr) • • • .. .. • • • • • • • • • .. • • • .. • • • • • • .. • • • • • • • • • • • • • • . • • .. •
54,1 54,8 57,6 62, 1 - ~

--------------------------------------------------------------------------------------------------- ~J •
São Pou to .. o ............... . ..................................... ~ ............. ~ ••••• ~ . . . . . . . . . ,. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54,7 56,1 58,7 63,9 '!I ~ •
..,.-o
- ,_ s
Pora nó . • ••. . . ....... . . o ......... . ......... o o . ....... . . . . . . . . . . o .... o ••• o o ••••• o . . . . . . . . . . . . . . . o ...... . ................... .. 54,8 56,5 59,3 63,7 :::• -o~
- =ª ~
Su I ( SMta C.tlttn-3 1: Rto Gra.nc.k do St•t ) .......................... o ...... . . ,. . . . . . . . . , . . . . . . . . . . ,. . . . . . . . . . . ,. • • • • • 4 ............... . ... 4 60,5 61 ,2 63,4 66,9 ~~
Centro-Oeste ( GolAs. Milw Gro~.w c Di~1n1o Federal) . . ....... • • . . . • • • • • • . .. . . • • • • . • . • • • • • • • • • • . . . • . • • • • • . . • • . • • • • 56,5 57,1 58,2 63,3 ~
--------------------------------------------------------------------------------- ~
Pg62 Julho/Agosto de 1982 N.• 1 Ano 1
ponente mais forte no que diz respei- TABELA 4 ESTIMATIVAS DA TAXA BRUTA DE NATALIDADE- 1978
to ao crescimento populacional é a -
PRINCIPAIS REGIOES DO MUNDO E BRASIL
manutenção em nfve1s ainda eleva-
T. 8 N
dos da fecund idade das mulheres.
MUNOO .................................................................................. . 28
Como vimos, a mortalidade declinou
espetacularmente no Brasil nos últi- Po í ses Desenvolvidos .............................................................. . 16
mos cem anos. Entretanto. a natali- Países em ()esenvolvimento •..••........•..........•.........•.•................... 32
dade (ou seja. o número de nasci- •
AFRICA ............. .. ...... ,. .................................................................. . 46
mentos anua1s em relação ao total da •
população) se manteve bastante es- ASIA ...................................................................................... . 28
tável ao longo do mesmo perfodo : a Sudoeste Asiático ............................ . ... . ......................... . ........ . 40
taxa bruta de natalidade, que oscilou Sul Asiótico ................... o ........ o o .......... o ............... o ••• o •••••••••••• o. o ........... o. 37
em torno de 46,5 por mil durante todo
Sudeste Asiótico o o ........... , . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 ••• , ........................ . 36
o século XIX. começou a decl inar
desde o mfc1o do presente século, Leste Asió·t ico ................................................. ,. ....................... . 18

mas a um ritmo tão suave que a mé- N.AERICA 00 NORTE .................................................................... . 16
~
dia para a década 1960-70 ainda era •
AMERICA LATINA ............. o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . o. 6 ••••••••• o •• 34 -
o-

de 40 por mil. ou seja, houve apenas j


uma redução de 6.5 por m il em mais
América Central ......•........ o ...................... , ••••• o •••••••••••••••••••• o . . . . .. 38 .,
'J)

Corioo ................................................................................. . 28 ~
de cem anos. Aliada ao declínio verti-
~
g inoso da mortalidade, essa manu- América do Su I Tro pica I .......................................•................... 36 .!5

tenção da alta natalidade resultou em América do Sul Tem~roda ........ 24 l


t
10 .............................................. .

ritmos crescentes do crescimento


EUROPA .......................... 14 ~
natural. o qual atingiu um máximo his- o .......................................................... .

I
tórico na década de 50, quando su - Norte Europeu ........................................................................ . 13 -
:o •

perou 29 por mil em média por ano Europa Ocidental ................................ o ................. o ••••• o ... . ... o • • • • • • • • • • • • • 12 g
IQ
Essa taxa implicaria uma duplicação
Europa Oriental ......... ~ .................•. . . ~ .............................. , .... ~ .. . 18 ~
do total da população aproximada-
mente a cada 25 anos. Europa Merid ional . . •...................................................... o •••••••• 15 ..
Ji
a:

-..
- # 8
No entanto. extstem fortes indícios UN IAO SOVI ETICA ........................................................................ . 18 '::I

de que. desde meados da década de OCEANIA ...... ,. ................... o .......................................................... . 20 l


60. a fecundidade feminina no Brasil ~
BRASIL ................. 35
se tem reduz ido em ritmo mu ito
o ........................................................ .. . . . . . . . . . . . . .

~
acelerado. Os censos de 1970 e 1980
indicaram que a taxa de fecundidade giões do mundo (tabela 4). podemos são as regiões do mundo em que a
tnt~l C .
nt 1 ~pj~
-,-.-n n l'trnc:lrn -
. .. -· .,
-·-..·-·- tnt~l rnó~
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brasileira : a África (com 46 por mil) e


ç,:,.. v- •lO
- I- O
-I- --· - - - --·- ..
I I C: I Jlt:: ;::, UJ..IC:I lU I Cl

de filhos que cada mulher teria ao fim natalidade em nosso pa ís. De fato, a
de seu perrodo reprodutivo, caso em taxa bruta da natalidade ainda é signi- o Sudoeste Asiático (ou seja, o Ori-
sua trajetória de vida segu1sse as ta- ficativamente superior à média ob- ente Méd io . com 40 por m i l). No
xas específicas de fecundidade por servada no mundo, sendo mais de resto do mundo, as taxas são mferio-
idade observadas no momento da duas vezes ma1or que a taxa esti- res ou no máximo equivalentes à bra-
pesqu1sa) tem declinado rápida e cons- mada para os pafses desenvolvidos, sileira, tendo a Europa uma taxa esti-
tantemente ano a ano. Assim , para o e superior mesmo à média dos paí- mada em apenas cerca de 1/3 da pre-
Brasil como um todo, a taxa de fecun- ses em desenvolvimento. Poucas vista para o Brasil.
didade total (TFT) declinou de 5, 7 em
1970 para cerca de 4.2 em 1980. uma TABELA 5 - TAXA DE FECUNDIDADE TOTAL 1970-1976
redução sem dúvida muito substan- BRASIL E REGIOES -
cial, atingindo cerca de menos 1 .5 fi- TAXA DE FECUNDIDADE TOTAl
lho em média ao longo de uma dé- REGlÃO Total Urbono Rural - •

cada. A queda da fecund idade femi- 1970 1976 1970 1976 1970 1976 ·--
~

nina é observável para todos os t ipos BRASIL ..................................... . 5,65 4,26 4,55 3 ,44 7,65 6,20 j
de áreas e para t odos os grupos so-
• •
Cla iS. Região I : RJ . . .• .• . •. . . •• .. •. ... ..• . .•. . . . 3 ,80 2,72 3,52 2,55 6,94 5 ,01
É impo rtante que se f ixe, entre-
--------------------------------------------------------------
Região 11 : SP . . .. . .. . . . . . . . .. .. . . . . .. . . . . . 3 ,94 3,02
~
3,56 2,80 6,06 4,65 ~ ~
tanto, que apesar da aceleração re- ------------------------------------------------------------ ª~


cente no declínio da fecundidade, o
nível da reprodução no Brasil é ainda
--------------------------------------------- - ª
Sul . .. . . . .. . . . . . . . . . . .. . . • . . . . . . 5,42 4 ,03 4,05 3,31
Região 111 :

Região IV : MG, ES ..... ........ .......... 6,22 4,31


6,86 5,01 'E]
4,99 3 ,57 7,79 5,79 ~~
ii

mu ito elevado . Podemos estimar


para o Brasil em 1978 uma taxa bruta
- R-eg--iã_o_V__: -N-o-rd ..-.-..-..-. -. .-..-. -. .-..-. .-.-.•---
_ e_s-te-- 7-,5- 4---6- ,-1-2---6-,4- 3--- 4- ,-8-4- -8-,4- 7
---
7,-4-6- ] J
de natalidade de cerca de 35 por m il.
-------------------------------------------------------------
Região VI: Brasília .. . . . ..... .. . .. . . . ... . . 5 ,59 3,89 5,45 3 ,63
~~
8,77 5,07 e e:
Comparando-se esse valor com ou-
tros est1mados para as diversas re-
Região VIl: No rte e Centro-Oeste •. • .. . . - 4,94 4,26 - - ~
----------------------------------------------------------- 2

Ano 1 N." 1 Julho/Agosto de 1982 Pg 63


Além disso. subsistem interna- esse passado de alta fe- menor for a fecundidade, refletindo a
mente g(andes diferenças na fecun- cundidade e de mortali- incapac1dade das gerações de pais de
didade feminina entre áreas e grupos dade declinante resulta se reproduzirem na geração dos fi-
sociais. Assim, enquanto observa- uma importante carac- lhos.
mos, na Pesquisa Nacional por terística da população bra- O efeito da mortalidade sobre a es-
Amostrag ,e m Domiciliar levada a sileira, ou seja. a amplíssima predo- trutura etãria é menos óbvio. O senso
cabo pelo IBGE em 1976 (tabela 5). minância de jovens. o que pode ser comum poderia sugerir que uma re-
uma taxa de fecundidade total para observado na figura 3. O efeito da fe- dução na mortalidade. com o corres-
áreas urbanas no Brasil em geral esti- cundidade sobre a estrutura por pondente aumento no tempo médio,
mada em 3.4 filhos. o valor corres- idade de uma população é bastante de vida. levaria a uma população mais
pondente para áreas rurais foi esti- ,óbvio. Se a iecundidade é elevada velha. Embora esse seja realmente o
mado em 6, 2 filhos. o que representa numa população. cada geração de caso nos atuais países desenvo~v i­
portanto uma diferença ae quase 3 fi- pais dará origem a uma geração de fi- dos, em que a mortalidade já se en-
lhos em méd1a. As dtferenças entre lhos mais numerosa do que ela As- contra num nfvel bastante reduzido.
regiões é também marcante, de tal sim, a estrutura etária de uma popula- não reHete a redução da mortalidade
forma que se por um lado observa- ção com um passado de fecundidade que vem ocorrendo nos países em
mos uma TFT estimada em 2.6 filhos consistentemente alto terá uma desGnvolvimento. A razão está no
para os habitantes das áreas urbanas forma tipicamente piramidal. com os fato de que a redução da mortalidade
do Rio de Janeiro. observamos por patamares inferiores sendo maiores quando se parte de níveis elevados
outro lado uma taxa de 7,5 filhos para que os patamares Imediatamente su- está basicamente centrada em gran-
as áreas rurats do Nordeste. Isso sig- periores . Quanto maior a fecundi- des ganhos na mortalidade infantil e
nifica que entre um brasileiro rico e dade da população. maior é a relação juvenil Otsto resulta que um número
um brasileiro pobre existe uma di- entre o tamanho dos patamares . relativamente maior de crianças. e
ferença bastante grande, de quase 5 Contrariamente. uma população com não de adultos. sobrevive. o que para-
filhos em méd1a. A fecundidade atnda ba1xa fecundidade tenderá a ter uma doxalmente gera uma população
tem portanto um longo declive a per- estrutura etária cilíndrica. com um mais "jovem", e não mais "velha" .
correr no Brasil. maior estreitamento na base quanto Além disso, um número maior de jo-

A r -

Fig. 3 . - PIRAMIDE ETARIA DA POPULAÇAO BRASILEIRA (1980)

80 I

75.79

IDADE

55-59

30-34

25-29


l~- 1 9 •


.S-9


""'
C)
I 2 4 .5 7- • 8 9 ~o
MILHOES DE PESSOAS HOMENS MULHERES M.LHOES DE PESSOAS b ...
Pg64 Julho/Agosto de 1982 N. 1 Ano 1
0
vens sobrevive até a idade reprodu- de mortalidade e principalmente de 2. quanto mais forte for a taxa de de-
tiva, o que por sua vez faz aumentar a fecundidade prevalecentes em sua clfnio da fecundidade. menor será o
natalidade (reforçando assim o efeito experiência passada . Sociedades tempo levado para atingir a estabiliza-
rejuvenescedor da queda da que no passado foram caracterizadas ção. e menor será a população final.
mortalidade). Desse modo. o efeito por níveis constantemente baixos
Tendo essas idéias em mente, po-
da queda histórica da mortalidade de fecundidade apresentaram uma
demos então tentar avaliar o quão
nos parses em desenvolvimento, en- estrutura etária "velha", ou seja, com
substancial e o quão inevitável é o
tre os quais obviatnente incluímos o uma proporção relativamente grande
crescimento futuro da população b ra-
Brasil. atua contrariamente ao que se de pessoas nas faixas de idade ma1s
sileira. Seguindo em linhas gerais a
poderia esperar no sentido de au- avançadas. Contrariamente, uma so-
metodologia proposta por T. Frejka,
mentar a quantidade relativa de jo- ciedade com um passado de alta fe-

vens na população. E importante que cundidade tem uma população que parte do princípio de que toda e
se enfatize. no entanto. que esse " jovem". com uma estrutura etária qualquer população sujeita a limit es
efeito é relativamente pequeno de tipo piramidal. Essa estrutura territoriais fixos• tem necessa ria-
quando comparado com o efeito da etána jovem impl1ca que, a cada mo- mente que parar de crescer a longo
fecundidade. conforme já ass inala- mento. um número cada vez maior prazo e; portanto, atingir um nível de
mos anteriormente. de pessoas entra no perrodo reprodu - fecundidade de mera·reposição (TLR
O pequeno efeito da queda da mor- tivo (normaln1ente de 15 a 49 anos = 1 ). podemos estabelecer datas nas
talidade, somado ao grande efe1to da para as mulheres}, de tal 'forma que. quais esse limite para a fecundidade
manutenção de taxas elevadas de fe- mesmo que a fecundidade das mu- será atingido. Dada uma data para se
cundidade. resultou numa população lheres diminua. o número de nasci- atingir o nível de fecundidade de re-
brasileira muito "jovem''. onde a pro- mentos naquele momento pode ser posição. um tamanho inicial para a
porção de pessoas idosas (isto é, ainda maior que os constatados no população brasileira (no caso. a po-
com 65 anos ou mais) não ultrapassa período anterior. E simplesmente pulação encontrada pelo Censo de
3°/o. A estrutura etária da população porque existirá um número maior de 1980} e uma suposição a respeito do
brasileira é bastante similar à de ou- casa1s gerando filhos naquele mo- comport.amento da mortalidade. po-
tros palses em desenvolvimento, e mento. Asstm. a estrutura etária da demos então est imar quanto tempo a
contrasta com os pafses de fecundi- população tem uma inércia contra a população brasileira levaria para atin-
dade já estabilizada em níveis baixos. diminuiçFio da natalidade. seme- gir o crescimento zero e qual seria o
como por exemplo os países da Euro- lhante a urn carro que, andando numa seu tamanho final ao atingir essa con-
pa ocidental. Nestes, a proporção de certa velocidade, fosse freado . A dição, caso a hipótese de se chegar a
pessoas com mais de 64 anos é qua- massa do carro garant1rá que. após o uma fecundidade de reposição na
se quatro vezes superior à obseNada momento en1 que os fre1os foram data fixada fosse confirmada .
no Brasil. estando situada em torno ac1onados. o carro ainda levará algum
tempo, percorrendo alguma distân- Como estamos primordialmen te
de 11 o/o do total da população. Evi- interessados em mostrar a re lação
dentemente l=l tPnrlPn~i~ ~ -r~rl11~~n cia. até atinÇlir a imobilidade comole-
--- - - - ':1"-""'
ta . Sim i larmente, uma população entre a queda da fecundidade e o po-
da fecundidade no Brasil deverá levar tencial de crescimento da população
num futuro ainda muito distante a com um passado de alta fecundidade
que passe por um processo de redu- brasileira. faremos em todas as hipó-
uma população com um perfil etáno teses de fecundidade aventadas a su-
semelhante aos presentemente ob- ção dessa fecundidade até os níveis
m in irnos viáveis levará ainda um posição extremamente pessi m ista
seNados nos países desenvolvidos. de que a mortalidade se manterá para
embora os ganhos previsíveis na certo tempo para parar de crescer.
dependendo naturalmente do nfvel sempre congelada ao nível ob se r-
mortalidade infantil tendam. numa vado na década de 70. ou seja, com
certa medida, a atenuar esse "enve- de fecundidade de onde partir e de
quão ráptdo é o declfnio do mesmo. uma expectativa de vida ao nascer
lhecimento" da população brasileira. masculina em torno de 59 anos e
Dessa forma. se uma populaçao re-
duz sua fecundidade ao nível de mera uma expectativa de vida ao nascer fe-
stamos agora em condições reposição, ou seja. em que cada mu- minina em torno de 62 anos. Eviden-
de desenvolver melhor a afir- lher adulta seja substituída no tempo temente, uma redução na morta li-
mativa inicial de que, mesmo devido por uma e apenas uma filha dade implica uma acentuação do
se a população brasileira atin- em média (correspondendo ao que crescimento da população brasileira
gisse imediatamente o nível os dernógrafos denominam de Taxa no futuro. Cabe ainda obseNar que.
de fecund idade de "reposição' ' . L i qu ida de Reprodução igual à dada essa hipótese sobre a mortali-
ainda cresceria por pelo menos mais unidade: TLR = 1 ). essa população dade, o nivel de ·f ecundidade de repo-
setenta anos . Para isso se faz neces- tenderá à condição de ··estacionarie- sição (TLR = 1) implica em uma taxa
sária a compreeensão de um fato de- dade' ', mas até lá continuará cres- de fecundidade total nesse nfvel de
mográfico elementar, a que os demó- cendo e : aproximadamente 2,4 filhos.
grafos chamam de mon1entum de 1. quanto maior for o nível da fecundi- Podemos então efetuar quatro pro-
crescimento populacional. dade antes de iniciado o decUnio, jeções correspondentes às seguin-
Como vimos anteriormente. a es- maior será o tempo levado para atin- tes hipóteses sobre o ponto (data)
trutura por idade de uma população gir a estabtlização e maior será a po- em que a fecundidade atingiria o nfvel
depende basicamente dos regimes pulação f inal ; de reposição:

Ano I .• I Julho/Agosto de 1982 Pg 65


Projeção 1 = declfnio instantâneo Fig. 4 - BRASIL: EVOLUÇÃO RECENTE DA TAXA DE FECUNDIDADE TOTAL
da fecundidade. ou (E HIPÓTESES DE PONTOS DE REPOSIÇÃO)
seja, fecundidade do
nivel de reposição já ~

em 1980; 5
....
Projeção 2 = declínio vertiginoso ~
da fecundidade, com •-oo
nível de reposição já z
!)
..,
v
...
a partir de 1990; .... o
ó,J
62
Projeção 3 = declínio rápido da fe- o
c
)(
cundidade, com ní- c
,....

vel de reposição a
partir do ano 2000;
Projeção 4 = declínio de fecundi-
dade moderado.
com nível de reposi-
ção a partir do ano
2010.
A figura 4 ilustra graficamente es-
sas hipóteses. cotejando-as com os
dados sobre a evolução recente da 3 •I
taxa de fecundidade total no Brasil.
Na figura 5. temos ilustradas as diver-
••
H,

sas trajetórias alternativas correspon-
dentes a cada uma das hipóteses 2

ac1ma. com seus respectivos pontos


de estabilização. o
1950 1960 1
970 1980 1990 2011)
A hrpótese correspondente à proje- ANO
ção 1 é obviamente absurda. uma vez As duas últimas hipóteses repre- atingindo um nível próximo da "repo-
que é por definição 1mpossfvel No sentam alternativas menos drásticas sição" em torno do ano 2000. a po-
entanto, ela é importante no sent1do quanto ao comportamento da fecun- pulação brasileira só se estabilizará
de se estabelecerem as condições didade, correspondendo às traje- na segunda metade do próximo sé-
de se contornar o problema do cresci- tórias "rápida" c "moderada" para o culo. chegando a um to.tal de no mí-
mento demográfico o de mostrar a declfnio da fecundidade. A composi- nimo 227 milhões de habitantes.
importância do momentum de cresci- ção dessas projeções mostra que as Adiando-se em mais 1O anos o ponto
mento sobre a dinâmica populacio- diferenças entre os valores estima- de referência para o declínio da fe-
nal. A projeção 1 nos permite concluir dos para o total da população em cundidade, não só se adia a estabiliza-
que. no caso da fecundidade ter cai- 1990 (o mesmo para o ano 2000) são ção por pelo menos mais dez anos,
do ao nível de reposição já em 1980 bastante reduzidas. com 146.6 mi- como se termina com mais do dobro
(ou seja, uma queda mstantânea), é! lhões na h1pótese de declínio rápido daquela atingida cem anos antes Ob-
população total do Bras1l ainda cres- da fecundtdade e 148,2 milhões na viamente. maiores atrasos na queda
ceria cerca de 26°/o até o ano 2000. só estimativa "moderada'' de declínio. da fecundidade resultarão em conse-
se estabilizando em torno de 2050 Essas estimativas demonstram a im- qüências ainda mais dramáticas
com um tamanho aproximadamente portância do momentum de cresci- quanto ao total e o tempo que a
55o/o maior do que o valor inicial cor- mento. uma vez que as diferentes hi- população levará até ating1r a condi-
responde nte ao ano de 1980, ou seja. pót eses plausíveis quanto ao com- ção de estacionariedade.
um total de aproximadamente 185 portamento da fecundidade não fa-
milhões de habitantes. zem nenhuma diferença marcante no
A projeção 2 é ma1s realista que a total da população a curto prazo. ssim. fica a observação de
primeira, embora não pareça ser mui- Podemos portanto dizer que a po- que. a menos que ocorra
to provável. SegUindo a hipótese des- pulação brasileira contará no ano uma grande catástrofe. a
sa projeção. a população brasileira 2000 com no mínimo 159 milhões de estrutura etária da popula-
teria no ano 2000 um tamanho de pessoas. sendo um limite supenor ção brasileira é tal que. seja
mais de 158 milhões, ou seja. mais provável para aquele ano. a menos qual for o comportamento futuro da
de um terço maior que a população que ocorram ganhos muito grandes fecundidade, essa população tem •
atual. e se estabilizaria no final da dé- na mortalidade. um máximo de 175 garantido um crescimento nH.nto
cada de 2050 com uma população fi- milhões. Podemos dizer também que substancial por muitos anos no fu-
nal em torno de 205 milhões de pes- o comportamento da fecundidade turo. No entanto. os diversos cami-
soas. Assim, nessa hipótese, a po- nos próximos anos terá enormes im- nhos alternativos em direção d esta-
pu lação brasilei ra ainda cresceriia plicações para a dmâmica demográ- bilidade demográ ftca tem conse-
cerca de 72o/o em relação a seu tama- fica do nosso país no século XXI. Se a qüências claras para a estrutura da
nho presente. fecundidade declinar rapidamente. própria população.

Pg66 Julho/Agosto de 1982 N. I Ano I 11


Conforme pode ser observado na
Fig. 5 - HIPÓTESES DE ESTABILIZAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA
figura 6, a passagem de uma estru-
tura etária "jovem" como a da po-
- pulação brasileira em 1980 para uma
estrutura etária mais "velha·' ou
"adulta" é tanto mais rápida quanto
mais rápida for a queda da fecundi-
dade. Por exemplo, no caso da hipó- 250
H..
tese de decllnio moderado da fecun-
didade, a estrutura etária da popula-
ção brasileira em torno do ano 2000
será relativamente "jovem", ao pas-
so que no caso da h1pótese 2 essa
mesma estrutu ra etàna teria uma
forma sensivelmente mais cilíndrica.
As implicações econômicas des-
sas tendências na estrutura etaria
são diversas. Um indicador consi-
derado importante no planejamento 200

econômico é a relação entre jovens e


velhos numa população. por um lado.
.-....,
rQ
e indivíduos adultos, por outro. A ra- :r
zão entre esses dois termos. cha- -
..J

~ H,
~
mada de '' razão de dependência".
está intimamente ligada às necessi- --"'o
•C
v
dades de investimento futuro numa s
:::)
sociedade. particularmente nas âreas Q.

de educação e previdência social. 2


Trata-se. em última análise, da rela-
ção entre pessoas dependentes e 150
pessoas economicamente ativas. Es-
sa razão de dependência cai tão rapi-
damente quanto a queda da fecundi-
dade, voltando a crescer somente
num prazo relativamente longo.
1\ IArV"~J ,.,:,..,.,........., -" ----,..-- - •-- -1- - -
'""'1'-'1 I I UI..>.:>U, V.:> \.>VliiiJUI I t i l lt:::> Ud I d-

zão de dependência têm comporta-


mentos distintos e importantes Em
números absolutos. o número de jo-
vens (a população entre O e 14 anos 100
de idade) cai na proporção direta da
velocidade da queda na fecundidade.
Assim, essa faixa etária. que tem
44.5 milhões de habitantes em 1980. 1980 1990 2000 20 IO 2020 2030 20110 20.SO 2060 2070 2080
cairia para um total de 41,9 milhões
no ano 2000 na hipótese 2. e aumen-
taria para 56,5 milhões na hipótese 4. HIPÓTESE: TLR = 1 EM PONTO DE ESTABILIZAÇÃO POPULAÇÃO FINAL (EM MILHÕES)
de declínio moderado da fecundi- H 1 : 1980 2051 1 85, 0
dade. Os valores estacionários para
essa faixa etária seriam de 44.2 mi- H 2 : 1990 2057 204, 6
lhões e de 54.7 milhões numa e noutra H3: 2000 2063 227, 0
hipótese, respectivamente. Ou seja,
H.~ 20 10 2073 252, 0
se por um lado um declínio muito rá-
pido da fecundidade praticamente
estabilizava a população jovem num tem implicações claras no que tange, dade num prazo curto ou médio pelo
nível basicamente igual ao nível atual por exemplo. aos investimentos no simples fato de que a maioria de seus
(depois de um período em que esse sistema educacional. membros no futuro Já haverem nas-
grupo etário tena mesmo diminuído Por outro lado. a população velha cido em 1980 ou antes. Assim. essa
de tamanho). a alternativa de declínio (acima de 64 anos de idade) não se faixa etária somente será afetada de-
moderado ainda somaria à população modificaria tão cedo, uma vez que ela pois de passados 65 anos, ou seja,
brasileira finGJI mais 1O milhões de JO só depende da mortalidade. Essa fai- após 2045. Passada essa data. ela
vens do que temos atualmente. lssc. xa etária não é afetada pela fecundi- tenderia a crescer tanto em termos

Ano 1 N.(t J Julho/Agosto de 1982


relativos quanto absolutos. estabili- adultos. o que vale dizer que as ne- dependendo apenas do compor -
zando-se quando a população atingir cessidades econômicas relacionadas tamento futuro da mortalidade.
a condição geral de estacionariedade. com essa razão também tendem a di-
minuir relativamente (ou seja, perca- "O ~M>Cit>l'«" Nel<um dtt \alie ~i I•• E pequi'>!ldi,r do Lallf>rutoriu
dr Clm•&t•Jiaçlffl Cltnunca -I.C<:.t:~l'q, Riu de Janelru.
Em resumo, quanto mais rápida for pital. A população dependente velha
a queda da fecundidade. mais rápida é estável em termos absolutos nos
será a queda na razão entre jovens e próximos 65-70 anos. seu tamanho


Fig. 6 - MUDANÇAS NA ESTRUTURA ETARIA BRASILEIRA

IDADE 2000 2040

80+

75-79

7~74

65-69

55-.59

50-54

40-44

35-39

30-34

25-29 .

1.5-19

10-14

5-9

0-4

o 2 4 6 8 10 12 4 6 8 10 o 2 6 a
• % %

H.c: TLR = l EM 201 O '


I

Pg 68 Julho/Agosto de 1982 N. o 1 Ano 1


li

0 I Encontro do Hemisfério Sul sobre Tecnologia


Mineral e o IX Encontro Nacional de Tratamento de
Minérios e Hidrometalurgia apresentarão os progressos
recentes e as técnicas modernas nas áreas.
COMISSÃO
ORGANIZADORA
PARTICIPE E ATUALIZE-SE Humanos
poro o Desen-
1. 3 - Tratamento e Areo Mineral no volvtmento
Presidente Recuperação de Hemisfério Sul: Mineral e
tvbnoel Almeida Couto Eflventes, Rejeitas e 2. 1. l . - Obtenção de Polthca
de Castro Ecolog1o. Recursos Científica e
Coordenador P.E.M.M. 1.4 - Amostragem e f1nonce•ros e Tecnolog ico.
COPPE/UFRJ Com1nuiçõo. Porticipoçõo 2. 2. 2. - Utalizoção dos
Secretário 1.5 - Clossif1caçõo. Empresarial. Recursos
Joel Regue1ro Teodosio l .6 - Concentroçoo. 2. l . 2. - Tecnologio Mtnerots dos
Chefe do Opto. de 1. 7 - Deságüe. Adequado Países em De-
tv\eto Iurg io/U FRJ 1.8 - Hidrometolurg1o . (Processos e senvolvimer1t0
Tesoureiro 1. 9 - Pirometolurg1o. Equipomen1os). 2 . 2.3. - Cooperoçao
Encksson Rocha e l. 1O - Otimizoçoo, 2. 1.3. - Infra-Estruturo Tecnico

Almendro Automatização e de Apoio e lnternocaonol.

Chefe do Areo de Simuloçõo. Transportes. 2 2.4. - Tecnologto
Extrot1va/UFRJ 1• I l - Matérios-Pnmos 2. 1.4. - lmpodo no Apropriado
ResJX>nsôvel pelo Comissão Radioativos. .V.Cio-Amb1ente. poro os
Técnico 1. 12 - Utilizaçoo de Mtnérios 2. 1.5 . - lmpodo Social Condições
Roberto Villos-Bôos de Bo1xo Teor 2. 1.6. - Colocação dos Regionots
Superintendente do l . 13 - Formoçoo de Recursos Produtos. 2 2.5. - Grau de
CETEMJtvt.Af. Humanos poro 2. 1. 7. - Outros SofiS11COÇOO do
T I • ,. . '
' I
IV I
...:l i IUIIJ:> I ~IIOIOQIO MinerO I Aspectos Mão-de-Obro

Carlos Eugênio Gomes 1. 14 - Energta, poro poro Pro1eto,
Farias Mi neroçClo. 2. 2. - Opçoes ao Implantação e
Desenvolv1mento
Supenntendente da Operações dos
2. Mesas-Redondas e Tecnológtco Muierol do
CPRM Complexos
Comissões de Trabo lho Hem1sfeno Sul:
Gilda Sá Cavalcanti de Industriais.
2. 1 - Grandes Projetos na 2.2. 1. - Recursos
Albuquerque 2 .3 - lv\ercodo Internacional
D1retor do Fosfért1l • de Minenos, Produtos
Antenor Firmino Silvo
Jr.
ICO- Mmerots e tv\etots:
2 .3 1. - Sttuoçoo
D1retor do Paulo Sero reohzoda, paralelamente aos Encontros, o Fetro lnternoctonol Mundial dos
de Equtpamentos, Produtos e Servtços JX>ro o Setor Mineral, com o Pnnc1po1s
Ab1b-Andeey S/A
presença JÓ assegurado dos mo1s 1mportantes Empresas e Enlldodes Minenos,
Geraldo França Ribeiro
do Bros1l e do Exterior Produtos
D1retor do CPRM
-Os contatos poro o exposiçao deverão ser reol1zados com o Mtneroas e
Rui Carnide Hosse Metots.
secreto no
Ferretro 2 3 . 2. - Complementon-
- Os orttgos o serem apresentados nas Comissoes de Trabo lho
Internacional de dade dos
deverão ser enviados o secretario ate 30 de 1ulho
Engenhono S/A Recursos
Virgdto Vttono Xavier
de tv\orats
Fosfertal Rua Almtrante Cochrane,
SECRETARIA
202 - 20550 -
CEP Rto de Jonetro, RJ -
Mtnerais entre
Países do
Hemasfeno Sul.
Bros1l- Telefones: (021) 284-6087/264-0285- Telex. (021) 30226 2 .3.3 . -O Papel dos
TEMÁRIO BACL BR Empresas de
1 . Sessões Técnicas Mmeroçõo e
1. 1 - Desenvolvimentos Metolurg•o no
Recentes no Indústria Aprove•tomento
Mineral. dos Recursos
l .2 - Tecnologio de Partículas Minerais do
Finas. Hen1rsféno Sul.
modelo da universidade
bras i I eira está desgas-
tado e é preciso reestru-
turá-la de pronto para que
ela não sucumba de vez·
esta é uma constatação com a qual
concordam professores. administra-
dores universitários e o próprio go-
verno. A reforma torna-se cada dia
mais premente e, sob a égide da au-
tonomia. é possfvel que ocorra ainda
este ano.
O desejo da comunidade universi-
tária é que o novo modelo seja o re
sultado de debates e de trocas de in-
formações entre seus componentes,
de acordo com o espírito de abertura
democrática pela qual passa o pa ís, e
não a imposição de um projeto ela-
borado por uns poucos. como tem
acontecido no Brasil, tnclusive na
área da educação.
Uma esperança de que a reforma
não seJa autoritána é que, no ano pas-
sado. durante a greve dos 35 000 do-
centes das universidades federais. o
Ministério da Educação decidiu acei-
tar as sugestoes dos re1tores- con-
substanciadas em um p rojeto de lei
apresentado pelo Conselho dos Rei-
tores das Universidades Brasileiras
(CRUS) e dos professores. apre-
sentadas em documento da Assocta
ção Nacional de Docentes do Ens1no
Supenor (ANDES). elaborado depois
d~ discussões internas em cada uni-
versidade e. no âmbito nac1onal, en-
tre as diversas assoc1ações de do- Os docentes federais deram uma demonstração de organização e uni-
centes. dade durante a mobilização e as greves de 1980 e 1981, conseguindo a
O governo, por seu lado. não divul-
gou nenhum projeto seu. mas algu- do próprio MEC. Isso significa . em o processo de democratização den-
mas idéias Circularam como onundas outras palavras. dar com uma das tro das universidades, frisando não
de órgãos do próprio MEC. propondo. mãos e tirar com a outra. ser ela "um fim em si mesma. isto é,
entre outras opções, a transformação Em um dos artigos de sua proposta uma vez conqu istada não sign ifica
das unLversidades autárquicas em de reforma universitária, o docu- que se definiu a instituição em seus
institUições civis Como os documen- mento do Conselho diz textualmente princfpios e fins' . No entender do
tos dos outros segmentos, o governo que "o orçamento da Untão deve as- grupo - e ai pode estar a explrcação
defende a autonomia, se bem que segurar a cada 1nstituiçao dotações fi- da defesa de uma autonomia subordi-
entendida de outra forma. A implan- nanceiras globais necessárias e sufi- nada aos Interesses e desígnios do
tação do enstno pago nas umversida- cientes à execução de ativrdades nor- MEC a democracia na universi-
des federais já está por ele decidida e ma is e pleno funcionamento" . A dade "deve estar a serviço da preser-
a idéia já está sendo veiculada até mesma posição é também defendida vação de seus verdadeiros valores,
mesmo pelo presidente da República pelos professores, e pode ser inter- propiciando condições para sua avali-
em programas de televtsão. pretada como a defesa do ensino su- ação e aprimoramento".
O CRUS, por exemplo. prega uma perior gratuito nas instituições fe- Ao detectar nas esferas universi-
ampla autonom1a para a universidade derais e a reafirmação de que cabe ao tárias uma consciência nítida e uma
. nas esferas cjidát1ca, científica. dis- governo manter o ensino e a pesqui- firme determinação de se adequar a
cipl inar, administrativa e t.inanceira. sa em suas instituições. instituição à realidade brasileira , o
mas comete o engano de subordiná- Ao explicar os mecanismos que o CRUB propõe que cada uma trace
las, à exceção da última. à aprovação levaram à proposta final. o CRUS en- seu modelo. de acordo com as carac-
do Conselho Federal de Educação ou fatiza a necessidade de se aprimorar terísticas regionais . Para tal, reconhe-

Pg 70 Julho/ Agosto de 1982 N . ., I Ano I

-
C- - --
Regis Farr-• )

dos docentes na mudança estrutural


da instituição - implica a realização
de eleições diretas para o preenchi-
mento dos cargos administrativos e a
reestruturação dos atua1s órgãos
colegtados, podendo até mesmo
chegar à extmção dos corpos deli-
berativos dos departamentos, que
devertam ser substitu fdos por as-
sembléias plenárias onde todos os
docentes teriam o mesmo direito a
voz e voto.
Basta ver-se como está estrutura-
do um destes órgãos colegiados para
se perceber a necessidade de sua
mudança. dentro do esplrito da auto-
nomia, de abertura e democratização
mterna da universidade O conselho
universitário da UFRJ, por exemplo,
tem 20 membros natos, três indica-
dos pelo reitor e 29 escolhidos por
eletção md1reta De todos os •
outros
conselhos - de ensmo de gradua-
ção. de ensmo para graduados e de
curadores - só o último possui um
de seus seis membros escolhidos
por v1a dtreta.
I Estendendo sua concepção de de-
mocracia interna aos cargos adminls-
trattvos, os docentes propugnam
eleições diretas para todos eles. além
da participação do corpo discente e
dos funcionános nos próprios órgãos
colegtados. A escolha do reitor, por
exemplo. em discordância com a po-
stção do CRUS- que atnbut a pala-
vra ftnal ao MEC - , seria feita de
regulamentação da carreira do magistério e o reajuste de seus salá- forma direta e seria restnta à própria
rios. Flagrante de assembléia de professores naUFRJ,dez. de 1981. comunidade.
• Maiores ou menores. as polêmtcas
cem os reitores a necess1dade de se pelos interesses comerciais das causadas pelo documento do CRUS
assegurar a participação da comuni mantenedoras e dos seus propne- entre os professores e a própria colo-
dade universitária neste processo de tários, escondidos por trás do falso cação de sua posição dtante da re-
definição do(s) modelo{s). dando-lhe, rótulo de fins não-lucrativos" . forma universitána são benéficas a
por conseguinte, uma parcela de res- O seu ponto de vista é de que a co- todos e terão produzido um resultado
ponsabilidade nesta transformação. brança dos cursos nas universidades positivo se a reforma a ser implan-
federais não só não resolverá ou tada na universidade federal brasilei-
amenizará a sua crise financeira ra surg1r como conseqüência destas
ma das principais coloca- como ainda tornará o ensino de ter- discussões e polêmicas. Incor-
ções dos docentes em ceiro grau ainda mais elitista do que já porando suas dec1sões finais.
• decisões tomadas e confir- é hoje. Ele frisa que o custo real de
madas em assembléias nos uma boa universidade, com labora-
últimos anos é a defesa tórios func1onando, professores em o momento em que se
do ensino universitário gratuito nas tempo integral, pesquisadores. bibli- configura a mudança es-

universidades federais. sendo a ten- otecas e toda uma infra-estrutura trutural da universidade
tativa de torná-lo pago, no entender para o desenvolvimento da qualidade brasileira, as principais rei-
do presidente da ANDES, Luiz Pin- do ensmo e da pesquisa. está muito v i n d i c a ç õ e s d o m o v i-
guellt Rosa. conseqüência de uma além do que alunos da classe média menta dos docentes são a autonomia
política educacional "de privatização poderiam pagar. universitária em todos os nfveis-
do ensmo superior, às custas de sua A democratização da universidade desde a formulação e reformulação
qualtdade acadêmica, sacrificada - outro ponto vital na reivindicação dos currículos até a contratação dos

Ano 1 N.o 1 Julho/Agosto de 1982 Pg 71


professores, desde a escolha dos rei-
tores à tomada de decisões de onde
e como aplicar os recursos da institui-
ção-, a liberdade de pesquisa. o en-
sino gratuito em todos os nfveis e
mais fundos públicos para a edu-
cação.
O atual presidente da ANDES lem-
bra que o movimento dos profes-
sores. apesar de relativamente novo.
já conseguiu a1gumas vitórias e. entre
elas, cita o prazo de seis meses- es-
gotado no final de junho - para a
apresentação. depois de debates e
discussões dentro das escolas, do
que entendem por reforma universi-
tária e que modificações esperam
que ocorram nas instituições de en-
sino superior federais.
Uma garantia que eles querem é a
de que o ensino público continue gra-
tuito em todos os níveis, um princípio
do qual não abrem mão e que deverá
levar a categoria. nas previsões de
Pinguelli Rosa. a uma luta ainda mais
firme do que por ocasião das campa-
nhas salariais de 1980 e 1981.
"Recuar do ensino superior gratutito
nas universidades públicas". ressalta
ele, "seria um retrocesso que não po-
demos permitir."
A primeira grande campanha do
movimento dos docentes deu-se em
dezembro de 1980, quando os
35.000 professores das universida-
des federais do pais conseguiram a
regulamentação da carreira do magis-
tério. bem próximo daquilo que dese- Estudantes, como este grupo da Faculdade de Medicina da UFMG, em
javam, depois de 20 dias da maior Belo Horizonte, apoiaram a greve dos professores em 1981 e levan-
greve de funcionários públicos ocorri- taram novas questões, que deverão ser respondidas por uma reforma
da desde 1964. Uma greve que foi a
primeira, em 16 anos, a levar o go- da universidade.
verno, se não a dialogar. pelo menos
nteriormente. as universi- As entidades representativas dos
a receber e ouvir representantes da dades já haviam paralisado professores começaram a surgir no
categoria; uma greve que contou suas atividades acadêmi- final dos anos 70. à mesma época do
com a adesão daqueles que, à primei- •
cas por cinco vezes. todas nascimento das associações de bair-
ra vista. poderiam ser classificados ro, do movimento feminista, da vitali-
por tempo determinado,
de prejudicados. os alunos; uma gre- zação das entidades de cunho cientr-
na tentativa de sensibilizar as autori-
ve que levou à troca de ministros, do
dades para a situação de seu profes- fico- como a SBPC e a SBF. Foi tam·
professor Eduardo Portella ao ge-
sorado. Depois de conseguirem um bém por esta época- mais precisa-
neral Rubem Ludwig.

projeto de carreira do magistério que mente em 1979 - que a União Na-
E evidente que o movimento não se aproximava de suas pretensões cional dos Estudantes. a ainda margi-
surgiu de um dia para outro; na ver- em 1980, os professores universi- nalizada e ilegal UNE. foi ressuscitada
dade, essa greve estava sendo ges- tários realizaram outra greve de cará- pelos universitários. com um con-
tada há um ano e meio. e era tida ter nacional. no final do ano passado, gresso em Salvador.
como a última cartada do movi- quando lhes foi garantido um prazo Atrás da pioneira Associação de
mento, guardada para março de para a discussão da reforma universi- Docentes da USP vieram as outras.
1981. No entanto, o cansaço gerado tária. surgidas a partir de problemas ime·
pelas conversações infrutíferas com Como lembra Pinguelli Rosa- que diatos e diferentes. mas convergindo
o ME C. o próprio apoio velado das rei- foi presidente da Associação de Do- para a questão salarial. A preparação •
torias às reivindicações e a constata- centes da UFRJ de 1978 a 1980 e se- de três pacotes do MEC. à época sob
ção de que os problemas salariais ha- cretário da ANDES de 1980 a 1982 a direção do ministro Portella, levou
viam mobilizado por completo a cate- - . o movimento dos professores os professores a mobilizações maio·
goria levaram as universidades fe- surgiu no bojo do processo de luta da res. por discordarem deles: um cria-
derais do pais a aderirem à greve ini- sociedade civil para abrir um espaço va uma carreira de dirigentes univer-
ciada isoladamente pela Universi- democrático dentro do sistema au- sitários; outro regulamentava o re-
dade Federal de Goiás. toritário que ainda sobrevive no pais. gime de autarquia especial, à seme-

Pg 72 lli.''J'.!!Jllo Julho/Agosto de 1982 N.o 1 Ano 1


lhança do reg1me dé fundaçã_o, e o cumentação de História Contem- qualidade, po1s o volume arrecadado
terceiro estabelecia uma carreira do porânea do Brasil (CPDOC), tem, so- com as anuidades equivaleria a uma
cente. bre a reforma unrversitária, alguns parcela relativamente pequena-
Os dois primeiros foram deixados pontos de vista coincidentes com as uns 10°/o ou 20°/o- dos recursos ne-
de lado e o último sofreu modifica- posições dos reitores e dos profes- cessários a manutenção dos padrões
ções mas, depois disso, o governo sores e outros- como a gratuidade de qualidade do ensmo e da pesqui-
não encaminhou, como prometido, o ou não do ensino - com os do go- sa. De qualquer forma, ele acredita
projeto ao Congresso. o que detonou verno. .que o montante das anu1dades de al-
a greve de novembro-dezembro de Para ele. os recursos da universi- guns dos alunos da universidade fe-
1980. Essa greve teve como resl;Jita- .dade devem vir. basicamente, de fon- deral poderia ser revertido em benefí-
dos positivos a contratação de pro- tes públicas. mas a instituição precisa cio da própria instituição, no reforço a
fessores em Situação precária e a es- de autonomia para geri-los de acordo prog ramas de pesqUisa ou no rea-
truturação de uma carreira que permi- com suas necessidades. pecullanda- parelhamento de. laboratónos, por
• •
• • •
t1u. para a ma1ona. um reajuste ac1ma des e prioridades, fixando os salários exemplo.
dos 82°/o concedidos aos demais fun- de professores e funcionários. mon- Este aspecto da reforma universi-
cionários puolicos. tando e ampliando laboratórios de es- tária ensino pago ou gratuito- é
Outras questões- como reajuste tudo e pesquisa. determrnando os pa- secundáno para o professor, e a seu
semestral, reposição salarial e a des- c;irões de carre1ra de seu corpo do- ver os debates devem ser centrados
tinaç~o de 12°/o d~ orçamento federal c,ente, contratando e dispensando os na questão de autonomia e suas con-
para a educação - geraram a nova professores; estabelecendo, enfim. seqüênciaS. Uma delas é que a uni-
greve de caráter nac1onal, em novem- a destinação total de sua verba. versidade passará a tomar decisões
bro do ano passado. De infeto, como A autonomia universitária esta- que atualmente lhe vêm prontas. de
recorda o presidente da ANDES, os beleceria a compet1t1v1dade entre as instãnc1a supenor. Durante este pro-
professores sofreram ameaças e o diversas universidades. traria a possi- cesso, é inevitável a ocorrência de
movimento chegou a ser identificado bilidade de ajuste às situações locais uma série de conflitos entre os in-
como subversão da ordem mas. ao fi- e ofereceria ao professor a oportuni- teresses dos diferentes grupos que
nal, a categoria recebeu um reajuste dade de perder o estigma e as des- compõem a universidade. como pro-
30°/o superíor ao concedido aos de- vantagens do reg 1me do funcio- fessores. pesquisadores. estudantes
maiS funcionários públicos. nalismo público. e funcionários. Esses atntos. no en-
Foi com esta greve que os profes- tanto. teriam caráter salutar. institu-
A autonomia financeira, no seu en-
sores conseguiram também um pra- CIOnalizando o debate.
tender, é crucial e não pode ser con-
zo para se manifestar sobre a reforma
fundida com a responsabilidade da
universitária. Segundo Pinguelli Ro-
universidade em manter-se. mas m dos principais obstáculos
sa, o governo já tinha preparado. à
deve. isto sim, ser entendida como à autonomia un1vers1tária
época. para detonar a qualquer hora
sua capac1dade de decid1r sobre a seria. segundo Schwartz-
caso não tivesse irrompido o movi-
apl1cação das verbas. Sob a forma man. o medo histónco de se
mento grevista, a reestruturação da
jurfdica de fundação ou não, o que Im- transfenr à un1vers1dade al-
universidade brasileira. Ela adotaria
um modelo o mais próximo possível porta é que os recursos venham de gumas responsabilidades. como a
-
do reaime de funrinr.Ao. . r.om ::t r.on~P-
qüente introdução do ensino pago.
-
fontes públicas e, ao contrário do que
precomzam alguns, ele entende que
.
contratacão de seu aunrlrn rlP. nP~-
soai e a decisão de que cursos dar e
.
--
a transformação das universidades de que forma. Este temor é o respo n-
sob a alegação de justiça soc1al. É
autárquicas em fundações não signi- sável por uma série de mecanismos
contra esta e outras pretensões que
ficaria necessariamente a instituição de controle a priori, cnados na vã su-
o movimento vem se pos1c1onando e
do ensino superior pago e um exem- posição de que garantiriam a quali-
lutando .
hoje
plo disto é a Universidade de Brasília, dade do ensino e da pesquisa. Ele
E necessário lutar agora- frisa ao mesmo tempo fundação e gra- propõe um controle a posteriori, a
ele - por objetivos concretos que tUita. exemplo do que ocorre com a CAPES
podem ser conquistados e que con- No entanto, este ensino gratuito de na determrnação dos programas de
tribuirão para viabilizar as transforma- forma indiscriminada é, para o profes- pesquisa a serem beneficiados por fi-
ções da unrversidade. Devemos en- sor. uma injustiça, uma forma a mais nanciamentos da entidade. Essa fis-
tender que o movimento dos docen- de se subsidiar os estudos dos alu- calização poderia também ser exer-
tes está transformando a universi- nos provenientes das classes média cida pelo mercado de trabalho. que
dade. juntamente com o movimento e alta. Diz ele: "Não podemos acres- discriminaria os profissionais de
estudantil e o inic1o da organização centar pnvilég1o sobre privilégio em acordo com sua procedência.
dos funcionários, com as greves. as
benefício de um setor elitista que in- Além desses aspectos. a reforma
assembléias, as discussões em clas- gressa na universidade pública em universitária impl1ca também inova-
se, as reuniões e a luta do dia a d1a. O detrimento de uma classe pobre que ções didáticas Assim é que déveria
nosso objetiVO imediato quanto à re- continua discriminada, indo para uma caber a cada universrdade estabele-
estruturação da universidade é barrar
escola superior paga e com ensino de cer os currículos de seus cursos, op-
o pacote que o governo está pre- qualidade mais baixa." tar pelo sistema de créditos ou sena-
parando.
Apesar desta sua posição favorável do e decidir pela existência ou não de·

a uma universidade gratuita para os um ciclo básico. Mecanismos de.con-
sociólogo Simon pobres e paga para os que possam ar- trole ministerial como a necessi-
Schwartzman, professor car com as mensalidades, Simon . dade de credenciamento e a existên-
do Instituto Universitário Schwartzman deixa claro que a sim- cia de um currículo mínimo- de-
de Pesqu1sas do Estado ples instituição do ensino superior veriam, no entender do professor,
do Rio (IUPERJ) e pes- pago não resolveria os problemas fi- ser suspensos. pois não se podem
quisador do Centro de Pesquisa e Do- nanceiros de uma universidade de estabelecer regras gerais, de igual

Ano 1 N.o 1 Julho/Agosto de 1982 Pg 73


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O ensino público gratuito e a concessão de mais verbas para a educação foram as reivindicações que deram
a tônica das m anifestações públicas que acompanharam as greves dos professores.

validade. para diferentes universi- preocupa o soctólogo são as eleições lista sêxtupla deveria ser substituída
dades. diretas para os cargos administrati- pela ant1ga tríplice. por possibilitar a
Ainda do ponto de vista didático, vos da universidade como os de escolha de nomes mais capazes.
ele defende a crração de cursos de reitor, diretores de centros, escolas e - A universidade - ressalta -
formação geral, no estilo do col/ege institutos. Ele defende o preenchi- tem que assumir uma responsabili-
norte--americano, sem diploma pro- mento desses cargos de acordo com dade social, que não pode ser trans-
fisstonal. com o ensino voltado para a critérios que levem em conta o méri- ferida a alunos, professores e funcio-
cultura geral. Depots dele. o estu- to e a competência dos professores, nários, e nem pode f tear com a buro ·
dante partiria para uma especializa- e fnsa que uma eleição deve ser feita cracia. Esse meto-termo é diffcrl mas
ção. que poderia ser feita a nível de entre iguais, não se podendo supor é a solução, pois caso contrário. na hi-
pós-graduação O estabelecimento uma igualdade onde ela não exista . pótese de se passar o poder aos di-
de cursos não necessariamente liga- No caso, refere-se ao fato de profes- ferentes segmentos da universidade
dos às profissões regulamentadas, sores, estudantes e alunos desem- ou de deixá-lo exclusivamente com a
para Simon Schwartzman. é uma penharem papéis diferentes dentro burocracia. sem constderar-se os cri-
questão de liberdade, de autonomia da universidade, tendo interesses di- térios de competência profissional, a
didática da universidade e, se bem versos . universidade tenderá apenas a deteri-
que possa ser um pouco cedo para Dessa forma, acredita que na esco- orar mais e mais a qualidade de seu
sua implantação, é uma idéia sem dú- lha de um reitor da qual participas- ensino e sua pesquisa.
vida a ser levantada desde já pelos sem alunos, professores e funcio-
envolvidos com o sistema educa- nários não seria mantido o n lvel de
cional. excelência: o processo deveria caber
Um aspecto da reforma que não aos atuais órgãos colegiados. mas a

Pg74 Julho/Agosto de 198·2 N.• 1 Ano I


pensem que isso era coisa do pas- provar que os teutõnicos (como ele produtos de uma realidade social
É POSSiVEL sado. GouJd expõe os preconceitos próprio) tinham crAnios maiores que lhes dá a oportunidade de levar
MEDIR A dos dentista.<~ mais honestos e con- que todas as demais raças. Gould uma uistêncla confortável, sadia e
ceituados, desde 0$ prlmórd1os até a reviu os dados originai~ de Murton, sem maiores problemas.
INTELIGÊNCIA atualidade. Poucos escapam à sua refez suas estatísticas e demonstrou Tudo isso resultou na grande
HUMANA? Investigação, e a condusão inevitá- pela milésima vez que as dimensões falácia da Psicologia moderna, a
Resenha de Tbe Mismeasure of vel é que não existe neutralidade em cranianas não variam com as raças. teoria hereditária do QJ. O QJ -
ciência. Mudam os preconceitos, Mais sofisticados foram Paul quociente intelectual- orlgJneu-se
Man, de Stephcn Jay Gould , J

mudam as Ideologias ao lon~to da Broca, famoso neurologista fran- do e5forço de um psicólogo francês,
W.W. Norton Co., New York.
llistória, mas sua innu~ncia está cês, e seus disdpulos. Em vez de Alfred Blnet. em desenvoh·er técni-
1981 , 352 pp. cas que permitissem identificar as
sempre presente nas teorias científi- medir o volume craniano, Broca de-
cas mais herméticas e especializa- dicou-se a medir diretamente o ta- crianças t"Ujas dificuldades escola-
Você acha que os criminosos e
das. Enfronhando-se nos textos ori- manho do cirebro. Para tanto, nio res sugerissem a necessidade de
marginais do indivíduos genetica-
ginais do seculo X VIII nos Estados hesitou em lançar uma campanha a educação especial. Binet criou um
mente "marcados" para o crime?
Unidos, Gould conseguiu desenca- fim de que os Rrandes homens da conjunto de testes aplicáveis a cri-
Ou que os judeus sãQ "sovinas mas
,.ar espantosas declarações racistas época doassem seu.'i cérebros à cien- anças em idade escolar sem a inten-
lntdigentes"? Ou que as mulberes ção de identificar as cau'ias das dJ-
ou sexistas de muitos de nossos mi- cia. O resultado, como diz Gould,
são Rres delkados. emotivos. com ferenças de desem~nho, mas para
tos ocidentais: Thomas Jefferson e foi algo embaraçoso, pois C ouviu e
grande jeito para as artes e a cozi- melhor atender 1\s necessidades
Abraham Lincotn. fundadores da o romancista ru.tiSO Turguenlev con-
nha mas sem talento para a mate- educacionais de cada criança. O
democracia americana. Benjamin firmaram as previsões (tinham
rútica ou a dltC'Çáo de empresas? salto conceitual indevido foi dado
•· ranklln. cientista e polftico, cérebros enormes), mas o grande
Então faça um esforço para ler George Cuvier, pai da geologia, da matem,tlco Gauss e o próprio Bro- nos Estados Unidos por H. H. God-
Tlt~Mismeasun ofMan, o último li- paleontolo~tia e da anatomia com· ca (embora ele não o soubesse) dard e seus segu1dores. F..ssa cor-
vro de Stephen Jay Gould, do Mu- parada~ Louis Agasslz, o grande seriam absolutamente medfocres a rente de psicólogos americanos pas-
seu de 7..oologla Comparada da Uni- naturali!ita !;urço radicado em Har- julgar pelas dimensões de seu."t cére- sou a considerar os testes e escores
versidade de Harvant, nos Estados vard e - pasmem - até mesmo bros, enquanto Anatole France e o de Binet como medidas da inteligên-
Unidos. O Uvro ainda não está tra- Charles Darwin! poeta Walt Whitmanjamais teriam da inata dos indivíduos. Os testes
duzJdo, mas mertc!e o seu esforço no podJdo articular sequer um pen.c;a· foram ampliados, ,modificados e
A primeira tentatJva i'científica''
ln&lfs. Vori veri no que deram as mento (cérebros ridiculamente pe- aplicados a milhões de crianças. jo-
de medir a Inteligência humana já
tentativas "clentffica..<t'' de medir a quenos). vens e adultos com o lntuito de das-
partiu de um preconceito: o de que
''lnteligênda' .. a "sociabitidade"~ .sirJCá-los st'lUDdO sua inleliaénda.
ha\ia diferenças entre a' raça.., hu· No século XIX, emergiu uma fa-
e a "a1restdvidade'' do homem, at."i- Provavelmente transmitiriam essa
mana..11 quanto às suas capacidades mosa tese de Antropologia Crtmi-
slm como outras qualidades que caracterf.stica a seus descendentes,
intelec'tnAi41. Hsn:fa fK ntu• sarrHiitsa.
• - -· i---- -- -L---- , '
UDI \ ~UIJIV :!C: .. IIDIII•<Ia IID 'l:fi'AAit
e a oooseqilenda seria a invasio dos
1em que ser Rmpre postas entre a.-...
vam que as r:aças eram produto da que expressava a coneepção de que
pas, J' que ninguém na verdade degeneração do Homem Original
"débfts menl.ais'' e a deterioração
a crimlnàlidade reftetia a rdenção
sabe como defini-las exatamente. da 50Ciedade. Enquanto o sonho de
(Adão - a Mulher era origin,ria na vida adulta de características
Com grande agudeza de espírito e • Binet era modificar o sistema edu-
da costela de Adio, e por isso nem agressivas dos macacos que de-
rigor lnvestigativo, Gould nos llJO.'i· cacional para ajudar as crianças
entrava no raciocínio). e que algu- veriam desapare.:er ao longo do de-
tra que essas tentativas na realidade com dificuldades, a falácia dos
mas raças tinham dl"J'Cncrado mais senvolvimento da criança. Cesare
encobriam preconceitos e privilé- ameritanos foi inverter o raciocínio
do que outras. Outros arJtument.a- Lombroso, um médico italiano, foi
gios que nada tinham a ver com os e considerar que aquelas crianças
,·am que as raças eram espécies blo- o principal nome dessa escola de
IMtodos e o rl1or cientfftcos. - e também os adultos eom Ql bal-
ló~icas diferentes, tendo se origi- pensamento que -mostra-nos
•o- eram geneticamente burras,
Tudo começou no século XV 111. nado de diferentes Adios. De qual- Gould - levou à busca de carac-
sem nenhuma chance de mudança
antes mesmo de Darwln formular quer modo. os bran~os teutônicos terísticas simieKas no comporta-
através de modificações educacio-
sua grande teoria da evolução das eram tidos como superiores, segui- mento e no corpo das pes.'iOas, para
nais ou terapêuticas. Pior que isso,
espécies. Como o Brasil da época, dos dos povos mediterrâneos e se- determinar se elas seriam crimino-
era preciso livrar a sociedade dos
os Estados Unidos eram um país es- mitas, dos índios e orientais e rmal- sos potenciais. Pobres de nós, .se "i-
"fracos de espf.rito" e seus descen-
cravagista, com uma forte l'rente de mente dos pretos. Em cada raça, t l"êssemos naquela época, pois não
dentes. quem sabe esterilizando-:os
expansão de suas fronteiras econô- claro, os homens eram considera- nos seria permitido viver em paz se
ou mantendo-os confinados aos
micas para o oeste e o sul. Os prelos dos superiores ãs mulheres. Se o tivéssemos uma grande mandíbula.
asilos e instituições, como se propôs
africanos e os lndios, J' se pode ima· "órgão da inteligência•' era o cére- ou fa« larga, testa curta, braços
e se fn mais tarde, durante a Se-
ginar, sofriam a pior das discrimi- bro, o cérebro alojava-se no crânio longos, rugas precoces. grandes
gunda Grande Guerra.
nações. o que muitas vezes redun- e crânios e inteligências "arlavam orelhas. ausência ele calvície ou ~le
dau em verdadeiras carnificinas. conforme as raças, o problema ' ' ci· escura; ou ainda se falãssemos mal, A controvérsia do Ql se estende
Cientistas e demais intelectuai<t não entifico' • era imples: pessoas com se nos tatuássemos ou R fôssemos até os dias de hoje. Contrário l tese
estavam imunes a esse ambiente. maiores crânio!i teriam maiores incapazes de enrubescer! Gould é de que um simples número pos~a
Eram. na verdade, tão racistas cérebros, e portanto maior inteli· bem claro em salientar que por ~r coisifkado, substituindo ou re-
quanto qualquer outro. Punham gência. O primeiro cranlometri,;ta mais que essa.c; teses hoje n05 pare- presentando algo tão complexo e
em seu trabalho ciendfico grande foi o americano Samuel Morton, çam ridículas, ~ua essência perma- mútiplo como a inteligência hu-
carga de ideologia, upressa nos um médico da :F iladélfia, que não nece atual entre nós. rut con«pção mana, Gould não se furta entre-
preconceito~ raciais que domina- \'acilou em fazer aproximações de que os criminosos são indJvfdumo tanto a ~r que o índke tem
-wam a sociedade da época. E não malandras em suas tabelas para biologicamente degenerados. e não sua utilidade em alguns casos. O Ql

Ano 1 N. a l Julho/Agosto de 1982 Pg 75


nao é a intcligénda1 peo.ac um in- nominado médico-indu3lrial. pl'\e,ençao de agnn:amento do da- s uhutili::.odos, ociosos e ali mesmo
dicador de desempenho. E o desem· exerce papel dominante na determi- nos; não ob tante. gr:aça à estrnté· nunca utilr:r.ado . ''
penho do indh·íduus, em testes nação concreta da ordenação do~is­ 5:in mercantil e ao interesse, em Qu"nto ao chamado complexo
como na própria vida,' nria.,.com n tema de saude ' 'igente, tendo por geral pouco ético, de seus aliados. médico-industrial direto, ou seja,
circunstâncias sodols, culturais, objctivo C(.>ntrc~l n geração de lu<To. natural • transronnam-se em ne- as caus de ~udc, as empresa mé-
e.modonals, hl'itóricns etc. l~andma n. com base em e tensu cessidades de primt:ira ordem. dica.-.. os empresário.s individuais e
O grande ensinamento do tiHo e atualil.ada bibliografia especiali- A argumentaçoo utilí:rada por mesmo as pessoas fisic~ credencia-
o ao é conhecer os detalhes rid1culos zada, mas em linguagem acess:n el e Jayme Landman é bastante eme· dB.'Ji ou con\·enladas, .seus de cami-

ou anedóticos da hi<tMria da~ tenta· clara. exibe cabalmente a penersa lbante a do ex-Secretário de Saúde nho~ estão diariamente nos jornaU.:
th·as de medir a inteligência hu· conju~ação de intere ses que, por de São Paulo. dr. Adib Jatene, ao paciente fanta mas, cobrança de
mana, mas H~rificar o quanto esses eumplo, na mesma corporação ln- declarar, em 1980, perante u ple- ato) fictícios, cobrança como ade-
detalhe!. estão vivo~ na atualidade, du!ltrial. l'Ombina dh·blK!~ para a nário da 7.• Conferência Nacional quados de atos precariamente reali·
nas ideologias como nas ciincias, fabricação de ci~arro e de produ· de Saúde: •'Quem orienta a Mtdi· zados, duplo faturamento. Mras oU-
:sempre que~ truta de classificar os tos farm:tc.·êutico~. Ainda no capt· cina í a indúsJria. Porque a indúf- \ ro não se encerra c um mais uma
seres humanos para- diretB ou in- tuJo atinentt.• a drogas, é ressaltada tria, atuando como tal, com as suas denúncia. J.:le termina por um con·
diretamente- dividi-lns em melho· a pletora de marc& .:umcrciuis (no- técnicaj de marketlng, com a <>ua vite, uma tomada de posição. uma
res e piores, ou ••mui iguais" c mes fantuo;fa) à Yenda no país, cerca agreHi••idade, com o inter~slôe em (.'Onclamação: "Meu mesmo aqu.tles
"menos lguai ". de al}!umas dezena de milhares. J'tndu, suKtstiona, acons~lha, de- que duvidam que a tlS.\"ÍSiência ru-
contraposta à unrmath·a de que mon<;tra, of~rue financiomtntos ..• du~a igiUllihiria e ejiâMte pona coe·

Roberto Lcnt pout:o m~nos de 500 drogas St:riam lnduimn-no.'i entre O\ que acham fÜiir numa sociedade comprometida
lrutJtuto de Biofísica, UFRJ suficientes para u tratamento efical que tfla incorpnrnçãn no r vem 'ifndo com o acúmulo de C'apitol, a luta por

de toda n doença comun<o. âo tmpo'ila por quem encontra ar~u- um o;i~tema mldico nacionalizado,
OS MALES ainda analisadas ao; política~ de pro- mento\· e meios dl' introduzir toda desprovido de lucro, pode conJribuir

DE NOSSO SISTEMA dução e comercialização de drogaç,


a internacionali/.ação das compll·
uma complexa gama dt produtos im-
pt,rUzdt>S q11e, tutamente, não tlm o
para a lula maior por uma ociedade
mai~ jusUJ e mc1is igualitária, mb o
DE SAÚDE nhia.s farmaciuticas, a furrrut mui- rendimento e a produtividllde ade~


ponto de •·isto tconómico, politico,
Resenha de E' itando a Saúde c tas \e;c.es pouco sutil de conquistar a quado.f, porque tftáo fnra dL no.ua OU fOCi.al' '.

Promovendo a Doença, de Jayme confiança de médico~ e leigos na ex- realidade••• Cnlncamo-nn.o; entre os
Antonio Augusto .F. Quadra
Landman, Rio de Janeiro. Achi.t· celêncln de comprfmidu ou que reconhecem a exi~tincio d1 um
Faculdade de Medidua, UERJ
mé, 1982, 187 pp. xarope:~. grande conlingtmte de equipamentos

O lh'ro de autoria de Jayme


Landma n, profe<; or da Facul-
• No setor dos manufaturados. há As sedes da SBPC
a demonstração de como o equipa-
dade de CWndas Médicas da UERJ mento hospitalar ocupa lu~ar de.-.- Em Stio Paulo enC<lntra-sc na Rua Pcdro- Bcmardes): Macho · CCB, UFAL (José
t renomudo clinico no Rio de Jancl· tacado, englobando deo;de ~ringas so de Morois. 15 I 2, Pinhctro~ ·Telefone. Geraldo Wanderley Mai-que~): Manaus -
ro. inauJ:ura a cofeçã(t ..Saúde e re· e vestes até complexa máquinas 212-0740: nn Rio dt'Janeim - Av. ~cn­ lnst. N c. de Pesq. da Amazônia - INPA -
ceslnu Br:11, 71 fundo , ca'a 27 - Tel.: (Mana l.úc1a Ab y),Nat,lf- Depto, de Fi-
alidade nacional", rulocandu em que oferecem a ilusão da vida artifi- l>IOiugia do C.B . du UFRN (Lúcio Flávio
295·9443 )Secretário Reg1onal: Eduardo
debate a organização da a. ~isténcia cial. Com imprcs.,lonnnte r'ãpldez, de A1..CI\.'<lo Costa), Araca;u - Coordena- de Souza ~1orciru): Pdotas • Run Major
médica ncl pai;;. Denuncia a pouca os aceleradores lineare.'), as vélvulas ção de P\~s-Ciraduaçáo da ll·SL (Gi7.elda Cícero de Góe:s Monteiro, 66 (Judith
aderêncin exi~tentc entre a rormu cardfaca artificiais, o monitores Santana Morais): Araraquara Dcpto. Vicglt s): P iraclcaba - Dcpto. de Genética
Qufmtca da F. C. L. da UNESP (Joaqutm da ESALQ (Gerhnrd Bandel), PrmoAlt!-
de pn IDÇÓO de seniços a popula· com cin:uilos integrados e as radio- Theodoro de Souza Campos) ; l~dém - gre • lnst. de Fí<;ica da UFRGS
çüo e a~ 'erdadeiras necessidades J:rafiw; controladas por computa- Dcpto. de P..iculogia da UFPA (0Jnvo de (Edc111undo da Rocha Vieira); Reci)e • Pl·
de saude, ainda resultantes funda· dor passaram a constituir-se er.n Farias Galvão): B~lo Hnri:onte - FUN- MES. UFPE (Silke Weber): Rtbeirão
mentalmente da incOcária da~ me- exigencias quase pueris para a qua- DEP, Re1toria da UfMG (Otávio Eltsio' Prrw - Depto . de Medicina Soc1al da
Ahe' de Brito): Botucaru - IBRMA, Fac. Med . • USP RP (Jo é da Rocha
didas de contrOle do meio amhitmte, lificaçao de um senlço ho pitalar. UNESP, Campus de Botucaru (Luiz An· Ca'·nlheiru): Rio Claro - lnsl de Biocien ·
da car~nda alimentar, do~ baixo~ Tal rümu da industriu, que parece ton1o Tolcdo); Drtuflia - Instituto de cias du UNESP (!'.taria Ncysa Silva
níveis de alário e de escolaridade e infen~o r.~ crise econômicas, tem Ciêncta!l Biológk"a.'>, UND (Fdizardo Pe- Stort); SalwJtlor - Depto. de Hioqu fmica.
da precariedade das medidas de nafva üa S1lva); C"Lunpina.o. - IJbtituto de ICC. UFBa ( Luiz Erlon Arauj o
prosperado continuamente, cri·
Física da UNICAMP (Mareio D'Oine Rodrigues): Santvs · Fac. F. C . L. de San·
pre,enç o. ando, me5mo em setore.o; critkus, a Campos): Cuiabá - Depto de Biologia. to~ {Alfredo Cordclla); Sãn Carlos -
Ao lado, de:,envoh cu-se uma po- confiança na eXl~lência e na eflcá· CCDS UI'MGr (Gcmtano Guarim N.:-tol; Depto. de C1êncías Riológicac;, UJ·SC
derosa l"slrutura que ru cunver~fr cia da tecnulogia médicu. Neste par· Ctmtiha - Depto . de Zoologia, Ccruro (Josué Marques P. Pacheco); Seio José
us interesses do capital internacio- Pola~~ico, UFPR (Walmir &per): Fio· dos CdtttpOS • Insututo Naci,mal de Pes-
ticular, os eumplo são copioso~,
nanllpolis - Centro TecnoMgico da quisa.\ E.~paciai , INPE (Aydano Barreto
nal, representado pelos conglo- abrangendo a tomografia computa- UFSC (Wnlltr Cel5o<, üe Uma): For:tale:za Cadeia!); São Josl do Rio Pr~o ~ De pro.
merados produtore de drogas e dorizada, a cineangiocar~nafia, - Dcpto. de C1éncta. Sociais, UFCE de Btologia. IBLCEx . <Grtgor
equipamentos, os empresários du as unidades de teraplu intensiva e (Eduardo D1aLay Bt:/C1Ta de Mcnele.!>}; Vartanian) ; Suo !_topo/do • Mu cu de
setor de aúde e rua ,·aru~ rede dl• cuidado ooronariano, os rin artifi- Goiánia • UFGO (Darcy Costa); ltabuna Zoologia, Unlv. VaJe do Rio dos Sinos
- Centn) de Pesqu1sns do c.tcau (Pauto de (Marün Sander), São Luís - Rua dos Jeni-
hospitais financiados pelo INAMP!>i ciais e os Implantes de pon~ de ·a· Tarso Alv•m); Jabortcal - Depto. de Pa- papo , Q. 18. C-7, S o Francise<> (Maria
e empresa medico ' incluindo Ct>na. Muitos destes procedimentos tologia Veterinâna, F. C . Ag . Vct .• Céha Pue. C~ta); Tu~sma · Rua Arêa
ainda signlficath'a parct-la do pró· e seu instntmental ainda não logra- UNESP (Aiv1mar Jose da Costa}; Jolio Leão, 260, Sul (Jo~é Wilson Campos
prios mfdicos que e vinculam or- ram a confiança cientificamente de- Pes.wa • f..:1b. Têc. ~annacêutica. UFPB Batista); Viçbsa - Dcpto. de Qufmica,
(Lauro Xn.,. ier Filho); Jutz de Fora - UFV (Frantisca Valverde Garotti): Vi-
ganicamente a isternas de remu- monstrado de que contribuam de Depro. de B1ologia do JCBG da UFJF t6na · Centro Biomédico. UFES (Marcu.
neração por atos preo;tadnll (unida- foto para o aumento da sobrevida, (Dager Murc1ra da Rocha): Londrina - Ltra Urandão) .
des de en iço). E.s e conjunto, de- melhorlu da qualidade de vida e Fundação IAPAR (Laura Regina

Pg 76 mhDAEil 1!11 JulhofAgosto de 1982 N." 1 Ano I


'~ divulgação para mim envolve dois dos maiores prazeres desta
vida: aprender e repartir"
(entrevista concedida a Alzira Alves de Abreu, pesquisadora do CPDOC/FGV e professora~adjunta da UFf\J, em 6 de maio de 1982)

-Professor José Reis, o senhor poderia nos explicar como chegou Ainda para facilitar a comunicação do Instituto com sua clientela. pre-

à atividade de dh•ulgador da ciência? E neces..4iário um pendor espe- parei numerosos folhetos, em linguagem simples. sobr~ os diversos
cial para exercer esta atividade? problemas que afetavam a criação de galinhal>.
- Durante a minha infância, tive sempre interesse em transmitir tudo
aquilo que aprendia. Assim. logo que aprendi a ler tratei de alfabetizar - Desse modo, o senhor trocou sua carreira de cientista pela de
as empregadas da casa, que também aprenderam comigo o catecismo. divulgador.
Após a missa dominical, em casa repetia o sermão do padre para as - Não foi bem isso. continuei dedicando-me à pesquisa. Nunca fui
empregadas. Na escola, não tive dificuldades em aprender as matérias cientista brilhante, dotado de criatividade que produz trabalhos origi-
ensinadas, c tinha uma grande curios-idade intelectual- o que me le- nais que mexem com as bases da própria ciência. Fui antes um pcsqui-
vava a procurar estudar além do que o professor apresentava em aula. !)ador si::;temático. interessado em identificar doenças e micróbios. al-
Dcsl\C c~forço resultavam cadernos que circulavum entre os colega:-;, !!Uns conhecidos. outros ignorados. O impulso que sentia paro divulgar
nos quais à!\ vezes manifestava pomos de vista di~cordantes dos ensina- os achados da ciência talvez seja, no fundo. uma forma de criatividade
dos c tentava metodologia c enfoques originais, além de incluir matéria didática.
não ensinada c por mim .. descoberta" em leituras paralelas. Vem daí - Os cientistas que se preocupam em divulgar os resultado de
talvez o encantamento que me provocou a fra~"C de dom Duanc Nunes suas pesquisas para um público mais amplo são malvistos por seus
de Leão: ''Tentei

ensinar aos outros o que de outrem não pude colegas?
~nrf"ntf,-..r'' ur-•.anl'f,... n nr•,.,.o.,.. Â.o toP\t••r "'''''"''''u",..,...~-,t--- ,.... .•
-r·-··---
J.:
· - e·-··-- - ,..,.----· -- -.. . . ..,..... "'"•''t'' """'''"''"'' v 'i'"'""-,_ ~:ç:
-..C. .:l ...
\.&...1,,._, . '"" - (juando eu comeceJ, na década de 40, havia uma certa reserva
depois transformá-lo em algo menos hermético. para gozo dos outros. quanto ao cientista que freqüentava as colu nas de jornais c revistas po-
Movido por essas earaeterhticas psicológicas c pela necessidade de ga- pulares. Hoje essa atitude mudou, os cientista~ já pcrc~bcm que é im-
nhar a vida, era natural que cu buscasse o magistério particular, ensi- portante dar ao público uma satisfação sobre o trabalho que realizam.
nando a alunos de séries mais atrasadas o que ia absorvendo à medida Eles compreenderam que não podem se fechar. isolar-se em seus la-
que avançava No início. lecionava tudo. e a\')S poucos fui-me concen· boratóriO$. Mas a tradição isolacionista do pesquisador gerou muitos
trando oo história natural. ressenti'mencos entre o cientista e os jornalistas. De um lado os cientis-
- O seu interesse pela história natural fez com que o senhor esco- tas, muito ciosos da precisão da infum1ação até mesmo em minúcias de
lhesse a Faculdade de Medicina? nenhum interesse púbJico, c de outro os jornalistas, mais estimulados
- Sim. mas reconheço hoje que nunca me contentou a prática pura c pelo essencialmente novo c capaz de atrair os leitores.
simplc~ <k uma e,spccialidade. Sempre procurei completá-la com a sua Pode-se dizer que em alguns centros se cavou um profundo fosso en-
hbtôri~l c, se não a filosofia. pelo menos o filosofar sobre a essência do tre ciência e jornalismo. como se a notícia científica se apcquenassc ou
trabalho realizado. sua significação. sua posição no contexto geral do prostituísse quando veiculada na imprensa. Se os jornalistas. algumas
saber. Surgiu daí a preocupação. que se foi acentuando, com a história, vezes por despreparo, outras pela ânsia de sensacionalismo. contribuí-
a filosofia da ciênc1a e a política da ciência. ram para aquela situação. os cientistas não ficam absolvidos, pois mui-
tos deles se negaram sistematicamente a dialogar com os rcpórterc. ou
-Mas ao terminar a Faculdade de Medicina o senhor foi traba-
atender aos pedidos de colaboração em termos simples. Felizmente as
lhar como bacteriologista no Instituto Biológico de São Paulo ...
coisas mudaram dos dois lados. Melhor preparo e scnsv tJCOfissional do
-Pois foi aí que eu .comecei de fato minha carreira de divulgador da
jornalista e mais aguda consciência social do cientista criaram a situa-
ciência. Eu trabalhava ao lado do grande cientista Hermann von lhe-
ção presente de bom entendimento.
ring. que um dia entrou na minha sala com o~ seguinte problema: um
• modesto sitiante procurava o Instituto para esclarecer qual era o ploble- - A dll•ulgação cientlfica através do jornal Folha de São Paulo foi
ma que atacava suas galinhas que cntm dizimadas por uma ·'peste'·. O sua primeira experiência na imprensa·~
dr. Von lhering m~ perguntou: .. Que peste é essa? Aí e~tá uma coisa - Na verdade. comecei na então Folha da Manhã , escrevendo sobre
que você pode descobrir para ajudar esse pessoal." Aceitei o desafio e. problemas gerais de administração a convite do diretor editorial Jo:-.é
resolvido esse. outros foram~sc apresentando. Mas para dcsincumbir- Nahantino Ramos. Logo o dr. Nabantino Ramos me propôs nova c gra-
me bem dessa missão de aconselhar, informar os sitiantes. tornava-se ta tarefa, o desenvolvimento de uma seção permanente de ciência. As·
importante estabelecer contato com eles c aprender a falar-lhes e escre- sim começou "No Mundo da Ciência". na última página do jornal. a
ver-lhes com a maior simplicidade. Ao fim de pouco tempo. eu estava t.o de fevereiro de 1948 . Era uma página dominical. que constava de
escrevendo artigos em revistas agrícolas, como Chácarar e Quintais. um artigo principal. algumas notas esparsas e uma seção de resenha
-
Ano I N. o l Julho/Agosto de 1982 Pg 77
bibliográfica para a qual Mário Donato. então redator-chefe, sugeriu o muito tempo. a divulgaçao se limitou a contar no público os encanto.; e
titulo de "Se não lcu.loia ... Acrescentou-se depois a coluna ''Ponto de os; aspectos intcrc sante~ e revoluciOnários d:t ciência. Aos poucos ,
vista". que reproduzia escritos de cientistas ou pcnsudores de renome passou ll refletir ramhém a intensidade dos problemas sociais implícitos
sobre o papel da ciência. crn panicular a neces idade de amparar a mui- nessa atividade. Para muito~ divulgadorc . a popularização da ciência
to incompreendida ·'ciência puro·· . Outra . eção. •·Em foco··. tratava perdeu sentido como relato do progressos cientrfico • porque o cida-
de problemas da ciência e sua polftica e organi1.ação no Brasil. Os ani- dão se acha hoje cercado desse tipo de infonnaçáo. Embora concorde
gos de divulgação abrangiam prndcamente todas as áreas do conhec~­ em parte com éssa posição. considero que a divulgação através da im-
mento. e não r&ro versavam obre as-.untos que e tomaram palpitantes. pren a é muito importante. principalmente em países como o Brasil .
Sempre e tiveram presentes questões de história, filosofia. polftica e onde as dificuldades e a~ precariedades das escolas fa:.r.cm com que es-
organização da ciência. tudunle c prole sore~ obtenham informaçõc obre os progressos da
Pa sei a colaborar mmbém na Folha da Noite, onde lancei a idéia de ciêncin atrávé de artigos de jornais.
um concur:,o desLinado a revelar novos cicntisUt:. c clube~ de ciéncia. Para mim, dcpoL de um longo caminho percorrido como divulga-
Ambas as sugestões encontraram apoio nu Univer-.idadl.! de São Paulo. dor. é com a mai_or alegria que encontro por toda parte professores c
Na rcvistaAnhembi, de Paulo Duarte, colaborei de 1955 a 1962. escre- pesquisadorc~ que dizem haver encontrado em meus escritos o desper-
vendo ··ciência de 30 dias'". tar de sua vocação. as~im como pessoas de variado nfvcl cultural que
Ao ser criada a Sociedade Bra:sileira pant l) Progresso da Ciência, em em artigos meus dcscohriram pistas para resolver at~ problemas pcs-

1948. que cu ajudei a Cundar, decidiu-se que ela editaria uma revista . . orus.
Ciêncra e Cultura surgiu em abril de I 949 com o objetivo de divulg~u
- Como assim'?
lrabalho~ inéditos de cienli~tas brasileiro. de todo. O ' campos do co-
- Rccehi muitas can~~ de leitores com perguntas sobre a origem, cau-
nh-.:cimento. Snu (.;eu diretor at~ hoje.
!'as c t,..dtamento de anmnatias que atingiam membros da família . Em
- O jornal, o livro, folhetos para criadores, foram os únicos ,·ei- aJgun~ caso mantive longa correspondência com lcitore~. e sem me
culos que o senhor utilizou para popularizar a ciência? imiscuir nos aspectos profissionais que o caso conip011ava ugcria a
- Nfio. bu!)q!lci romanl:car a ciência para a infiincia pré-e:,colar. escre- procura de centrO!! e:')pecializados. capazc~ de c clarecer as düvidn~ c
vendo A cigarra e a formiga, que adapta a conhecida fábula. introdu- •
onent.ar o tratamento .
zindo duas formigas. uma ··ruim ... a quenquém. e a outra ''boa''. a O leitor que se habitua a ler O!) e.scrito de um divulgador científico
asteca, que vive em associac;ão com pulgóc:-; no oco das imbaúbas. Parn muitas vezes acaba fazC'ndo dele uma c'pécie de con. clhciro. l~ c~ta.
a infftndu alfabetizada escrevi A' galinha.\ do .Iuca. com noções de avi- pelo menos. minha experiência: creio que o leitor identifica nesses es-
cu hum c doenças e O menino dourado. com noções de microbiologia. critos a única virtude que ele realmeníe têrn. ;:1 sjnccridade.
Para a juventude escrevi A ~·enturm IW mundo da cibh ia, novela que s~
desenrola num in~tituto cicntílico c constitui um pas~cio pela história
- A l'Urreira de divulgador parece ter-lhe dado muita alegria e
natural. Outru experiência foi o rádio-teatro. e durante um ano elaborei
significado urna grande reali7.açáo profi ional.
scripts para a Rádio Excelsior de São Paulo. Uma vez por semana ia ao - Uma das maiores rccompcn as do meu rmbalho tem ~ido aprender,
ar·· A marcha da ciência··. onde aprc!:ientava fatos atuais e históricos dn tentando ensinar. E uma das maiores alegrias é quandu escrevo por -u-
pesquisa científica. gcstfio do leitor. o que não é. raro. me mo quando a pergunta está longe
de minha imediata cogitação: isto me obriga n enveredar por um cami-
- , que é. afinal. dh ulga-;ão cicntificu'!
O nho novo, fazer meu aprendizado c transformá-lo depois em ensina-
- E ~i vl.!iculaçáo crn h..·rrnos simples da ciência como processo. dos mento. A divulgação envolve para mim dois dos maiores prazeres de!'ta
princípios nelê:l estabelecidos. das rnetodologias que emprega. Durante vida: Clprcndcr c rcpanir.

O professor José Reis é cat:ioca, nascido em 12 de junho de 1907,


;:n~l;tl1J fez seus estudos secundários no Colégio Pedro 11 e en1 seguida
cursou a Faculdade Nacional de Medicina, onde se formou em
7930. Nesse ano, mudou-se para São Paulo, contratado pelo
Instituto Biológico. Lá se encontravam cientistas importantes
que deram impulso à ciência no Brasil, como Hermann von
lhering, Otto Bier, Rocha Lima, Genésio Pacheco e outros.
O trabalho de microbiologia que então desenvolveu
levou-o a perceber a importância de ampliar seu campo
de estudo e a olhar para o que faziam os cientistas de
outras áreas. Esse interesse permitiu-lhe enveredar por
outras atividades, vindo a ocupar o cargo de diretor-geral do
Departamento do Serviço Público de São Paulo de 1942 a
79451 tomando~se professor de Administração da Universidade
de São Paulo e da Universidade Mackenzie {194ô-47), professor
de Economia, ~edator ctentífico do jornal Folha de São Paulo,
diretor da revista Ciência e Cultura, autor de livros infanto-juvenis,
I novelas de rádio livros e artigos científicos.

Pg 78 abOAU~ Julho/Agosto de 1982 ! .• I Ano 1


'

em curso atendidos pela rede de os gastos da Previdência aumen- igual a zero, contradizendo a
OABORTONO hospitais contratados pelo tariam ou não com a legallt.ação crença de que num estado mais
BRASIL INAMPS, que correspondem a do aborto. atrasado a taxa de mortalidade
90% das internações da Previ- Segundo estimath"a'> da Orga- seria mais aJta, em conseqüência
Em 1980, o INAMPS gastou dência, sem distinguir. o que nização Mundial de Saúde são da prática do aborto por pessoas
420 milhões de cruzeiros em tra-
seria impraticável, os abortos provocados tres milhões de abor- despreparadas. A pesquisa con-
tamentos de seqüelas de abortos provocados dos espontâneos. tos por ano no Brasil. llilcleh· duiu ainda que Minas Gerais,
provocados ou espontâneos. o O índice de internações para Pereira de Melo, no entanto, tido como um estado mais conser-
que corresponde a 2% das despe- tratamento de seqüelas de abor- acredita que a incidência seja vador do que o Rio de Janeiro,
sas totais do Instituto com a assis- tos - de 2% - é alto porque re- bem menor. ficando entre um mi- tem um número superior de ,c ure-
tência hospitalar e cirúrgica. Das presenta, dentro da clínica de lhão e dois milhões. Sua estima- tagens pós-aborto, e que Santa
mulheres atendidas (200.000), 20 obstetrícia. o terceiro item dos tiva foi estabelecida a partir da Catarina apresenta a maior inci-
em cada 100.000 morreram em gastos, precedido apena~ pelos relação entre seqüelas de aborto e dfncia de curetagens em adoles-
partos naturais e pelas cesaria- o número de partos, que roi, nos centes do pah. Para uma inter-
1979 e, no ano seguinte, a me-
na.'i. Para os partos, as mulheres dois anos dos le"·antamento. de pretação destes dados. ~eria ne-
tade. Estes números correspon-
ficam internadas. em média. dois 13 para cada 100 parto~. cessária uma nova abordagem do
dem ao índice de mortalidade
dias; para as cesarianas, quatro, Um dado curioso IC\'antado assunto.
pós-aborto encontrado nos Esta-
dos Unidos antes de sua descrimi- e, para as seqüelas de aborto, um pela pesquisa e que no estado do Para Hildete Pereira de leio,
dia. Rio, considerado como o. deten- qualquer política demográfica a
nalização. ha dez anos.
Com a descriminalização do tor de uma das melhores redes ser traçada para o país tem que
Os dados foram levantados por levar em conta os resultados obti-
aborto, a rede hospitalar do hospitalares do país, u mortali-
Hildete Pereira de Melo, do De- dos pela pesquisa. além de exami-
INAMPS faria um atendimento dade pós-aborto é superior à mé-
partamento de Economia da Uni- de melhor qualidade, uma vez nar mais a fundo suas determi·
dia do pais. o que pode le\'ar à hi-
versidade J.'ederal •·auminense, que nas áreas mais pobres e atra- nantes. Um fato que não pode ser
pótese de que só chegam aos hos-
na pesquisa ''Seqüelas do aborto: sadas ele é geralmente feito por esquecido é <rue. nos Estados Uni-
pitais os casos muito complica-
custos e implicações sociais", pa- curiosos, tra7.endo risco de ' 'ida dos, depois da descriminaJi7.açáo
dos, que os próprios re..,pons~h'eis
trocinada pela Fundação Carlos para as muJheres. A média de in- do aborto. o numero de mortes
pelos abortos não conseguem re-
Chagas e peJo próprio INAMPS. ternação seria de quatro horas. solver. pós-aborto caiu de 19 para cada
Ela relacionou, no trabalho, to- Não se pode pre\·cr, no entanto, Outro fato inesperado é que no 100.000 para 0.8 para cada
dos os prcx~ de abortamento como observa a llCSquisadora. se Amazonas a mortalidade foi 100.000.

, -
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A pesquisa gerando as nossas soluções de problemas


científicos e tecnológicos

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AÓo 1 N.o 1 Julho/Agosto de 1982 Pg 79


DEFEITO DE saída de vapor


:p ara a turbina
PROJETO EM ANGRA separador
de umidade "a"

Em out uh ro de 19M 1. uma - apcna um mês de operação


usina nuclear da Suécia, comerdal. Este fato levou a em-
Ringhals-3. do tipo P\\' R. acu ou presa fabricante a excluir da co·
problemas em um de seus~ gera- gltações iniciais os problemas de
dores d(• Yapor c foi imediata- tipo "fadiga nuclear•• e a concen-
ffi(•nte fechada. trar suas atenções no problema
Uma inspeção feita a cguir re- hidrodinámico.
'\ielou que se trata\ a de um \ '&la- A solução a ser dada ao proble-
mento de água do circ.·uito pri- ma compreende, ioicialmcntt.•.
mário para o sistema de alimen- estudos de engenharia,já realiza-
tação da turhina. A causa do \ ' a- dos, c, posteriormente. o desen-
Mparadorde
zamentu foi logo identificada ao , ·oh·imento de instrumentos e fer- compar1imento
umidade "b" •
ramentas necessários à implanta· sufMrtor
serem descobertas fissuras em
l'ârios tubos do gerador de \ ' a- ção das modificações. Um fator
por. na altura da entrada da .á gua que complica a solução do pro-
na seção do pré-acJuccedor do blema é a necessidade quase im-
gerador de vapor. Análl~s pos- perioslt de realizar toda~ as
teriores mostraram que a água operac;Õl•s de conserto sem remo-
que penetra no ~er-.1dor de \'apor ' er os geradores de \'apor do scü
desloca-se a uma vt•loddade de local de instalação no interior do
o~dem tal que pro\ oca \'ibrações prêdio do reator, de,·ido às suas feixe de tubos
na parte infl•rior dos milhare~ de enormes dimensões e a seu peso.
tubos por onde circula a água da ordt>rn de 330 toneladas. Re-
quente. pressurizada e radioa- soh·ido o problema de projeto e
tiva, proveniente do vaso do re- implantada a solução nos equiJJa-
ator. mentos defeituosos, r~ta acom-
panhar o desempenho dessas uni-
Constatada a importância do dades para '\'erificar e\·entuais
defeito e face à existência de efeitos a lcm~o prazo da "fadiga
vários outros geradores de vapor nuclear'' nos tubos do gerador de
de pr<>jcto igual .a o de Ringhals-~'· vapor.
a agência licenciadora sueca noti- No ca o cs~dfico de Angra-·1. compartimento
ficou formalmente as organiza- Inferior
a C ' 1<:1 decidiu autorizar s eu
ções nucleares dos países que pos- funcionamento até o nh·cl de
suem , em construção ou em 30% de ua potência nominal.
operação, geradores de \·apor mt.•dianlc a admissão da água do
idênticos aos de Ringhals-3, in- sistema de alimentação na parte
clusive a Comis ão Nacional de superior do gerador de '\'apor e
Energia Nuclear (C EN), no ft.•chando o orifído normalloc~tli­
Brasil. Estão também sob im·esti- zado na parte inferior. l ima \'cz entrada de água
gação semelhante algumas usinas aprovadas as medidas corrcti\·a.~ de alimentação
nucleares que possuem geradores propo"t:as pela \Vcst.inghou c~ e
de vapor do mesmo tipo adotado depois de testada upcraciona-
pela Westinghouse em Ringhals- pré-aquecedor
mentc sua eficácia na usina nnr-
3. como em Almaraz-1 oa Espa- •c·arnericana da Oukc Po\\er
nha e em McGuire· I, nos EUA. Compan) ~ Angra-) de,·crá rcce·
As fissuras detectadas nos tu- bl•r da CNEN autorização 1)ara
bos dos geradores de vapor, re- placa de
introduzir as modificações. de
sustentação
sultantes de vibrações iniciadas modo a finaJmt.·ntc operar no ní- dos tubos----~~--
por ações hidrodinâmicas? se ma- HI de sua potênda nominal. •:ssa
entrada do fluido
nifestaram, no caso de Ringhals- etapa só deverá c~tar conclurda
de refrigeração
3, no inf<·io de sua vida operativa em março de J9H3.
divisória----~
Corte de um gerador de vopor do tipo usado em usinas nucleares
como o de Angra dos Reis. possível sede de defeitos de funciona-
mento. saicla do fluido da refrigeração

Pg80 Julho/Agosto de 198.2 N. o l Ano 1


by David Rowland.
A cade1ra 40/4 é um dos móveis
mais elogiados e premiados do mun-
do. Além de fazer parte dos acervos de
importantes museus internacionais,
ela ostenta uma impressionante lrsta
de prem1ações que incl u1 entre outros,
o "Grande Prêmio da Trienal de
Milão"e a medal ha de Ou ro na 3~
"Exposição Internacional de Móveis
de Vrena".
Ao lado de uma alta qualificação
estética, a cade1ra 40/4 apresenta uma
perfeita adequação às mais variadas
funções comerciais e institucionais.
Ela tanto pode ser vista em escritónos
como em res1dênc1as. hotéis. restau-
rantes, aeroportos, etc.
Colocadas lado a lado, e acopla-
das através de dispositivos próprros de
justaposição. a cade1ra 40/4 se presta
magn1f1camente para utilização em sa-
las de espera e auditórros.
Sua estocagem é facílima, de-
mandrlndo pouco volume.

De fato, a 40/4 é conhec1da como


a caderra ma1s emprlhável do mundo.
Sobrepostas, 40 cadeiras formam
uma prlha de apenas 1,20 m (4 pés) de
altura.
Agora é sua vez de conhecê-la
pessoalmente.
Em exposição nos segu1ntes loca1s:
Museum of Modern Art. New York -
Musée de Louvre, Pans- Victona and
A lbert Museum,London-Art lnstituteof

Chicago - Nelson Gallery, Kansas City -
Die Neue Sammlung, Munich - Núcleo
de Desenho Industrial. Fiesp, São Pau-
lo - Centro Cultural de São Paulo
Show-Rooms Securit de São Paulo
(Av. Bngadeiro Faria Lrma. 1364 e AI.
Gabrrel Monteiro da Silva, 1505) -
Show-Rooms Secunt do Rio de Jane1ro
(Rua Franc1sco Serrador, 2 e Av. N S.
Copacabana, 71-A) - Representantes
Secunt de todo o Brasil.

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