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2 (FEUP, 1995)
CAPÍTULO 10
FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS
1 - CAPACIDADE DE CARGA
1.1 - Introdução
Qult
q ult (10.1)
B. L
Fig. 10.1 - Capacidade de carga de sapatas: a) esquema tipo; b) diagrama genérico carga-assentamento.
10.1
obtidas no âmbito da Teoria da Plasticidade, correspondentes a hipóteses de partida para a
resolução do problema não totalmente coincidentes. As soluções citadas conduzem a
expressões formalmente idênticas, embora com certa variação na grandeza dos parâmetros
nelas intervenientes. Deve ser sublinhado, contudo, que ensaios em modelo reduzido e em
verdadeira grandeza indicam que os valores fornecidos pelas soluções mais divulgadas têm
aproximação bastante aceitável.
Considere-se então uma sapata (Figura 10.2a)) de largura B, cuja base se encontra a
uma profundidade D, sobre um maciço homogéneo de superfície horizontal e peso
específico , carregada verticalmente. Admita-se que:
iv) é nula a resistência ao corte do solo acima da base da sapata, isto é, o solo actua
sobre a superfície ao nível da base da sapata como uma sobrecarga uniformemente
distribuída (Figura 10.2d));
v) são nulos o atrito e a adesão entre a sapata e o solo acima da base desta e entre
este solo e o solo de fundação propriamente dito.
A rotura por corte do solo implica a formação de três zonas plastificadas sob a sapata,
como mostra a Figura 10.2d). A zona I, que na rotura desce solidária com a sapata e se
encontra no estado limite activo de Rankine, obriga a zona II, em “corte radial”, a deslocar-se
lateralmente, a qual, por sua vez, induz um deslocamento lateral e ascendente da zona III, em
estado passivo de Rankine.
A linha ACDE, que limita a massa do solo que desliza, é formada por dois troços
rectos, AC e DE, e por um troço curvo. Os troços rectos formam ângulos com a horizontal de,
respectivamente, /4 + /2 e /4 - /2; o troço curvilíneo é um arco de círculo para solos com
ângulo de atrito nulo e assemelha-se a uma espiral logarítmica nos casos restantes.
10.2
a)
b)
c)
d)
Fig. 10.2 - Capacidade de carga de uma sapata: a) esquema tipo; b) reologia admitida para o solo; c) critério de
rotura adoptado; d) zonas de corte e forças que se opõem à rotura.
10.3
Dada a solidariedade mecânica e geométrica da cunha ABC com a sapata, um método
para estudar o equilíbrio da sapata poderá ser o estudo do equilíbrio da cunha referida. Ela
está sujeita às forças incluídas na Figura 10.2d), além do seu peso próprio, W.
e
B2
W tg (10.4)
4
donde
B 2
Qult 2Pp cos B c tg tg (10.5)
4
Assim:
B 2
Qult 2 Ppc Ppq Pp cos B c tg
4
tg (10.6)
* Para acompanhar a dedução completa veja-se, por exemplo, “Theoretical Soil Mechanics”, K. Terzaghi, John
Wiley and Sons, 1943.
10.4
1
q ult c N c q N q B N (10.8)
2
em que
q D (10.9)
N q e tg tg 2 / 4 / 2 (10.10)
N c N q 1cotg (10.11)
e
N 2N q 1tg (10.12)
sendo a última uma aproximação em relação aos valores teóricos. No Quadro 10.I
encontram-se tabelados os valores dos factores de capacidade de carga para os valores de
com interesse prático.
Uma avaliação da profundidade e da largura atingidas pela zona em equilíbrio sob a sapata foi
efectuada por Meyerhof para solos sem coesão. A Figura 10.3 mostra os resultados desse
estudo (ver o significado de d e f na Figura 10.2d)). Pode constatar-se, por exemplo, que para
uma areia de ângulo de atrito igual a 30º, a superfície de rotura se estende para cada lado
cerca de três vezes a largura da sapata, atingindo uma profundidade máxima da ordem dessa
largura.
Fig. 10.3 - Dimensões da zona plastificada sob a sapata em solos não coesivos, segundo Meyerhof.
10.5
Quadro 10.I
Nc Nq N
0 5,14 1,00 0,00
A equação 10.8 é uma equação geral, podendo ser aplicada em análises em tensões
efectivas e em tensões totais.
10.6
ii) N c , N q e N são obtidos a partir de ' , ângulo de atrito em termos de tensões
efectivas;
sendo cu a resistência não drenada do solo e q a tensão total vertical ao nível da base da
fundação. É de referir que o valor de N c para = 0, + 2, corresponde a uma solução exacta
do problema, conhecida como solução de Prandtl.
Como é sabido, as análises em tensões totais são aplicadas essencialmente nos casos
de carregamentos sob condições não drenadas de solos argilosos saturados. Como também foi
já sublinhado (ver Capítulo 8, ponto 8.1), a capacidade resistente do maciço é mínima nessas
condições, já que com o tempo os excessos de pressão neutra (positivos) se dissipam,
ocasionando aumentos das tensões efectivas, logo da resistência ao corte do solo. Sendo
assim, salvo em situações especiais em que mediante análises mais elaboradas o período do
carregamento e o processo de consolidação possam ser devidamente controlados, estimados e
comparados, o dimensionamento de fundações sobre maciços argilosos saturados deve ser
efectuado admitindo condições não drenadas, portanto, mediante análises em tensões totais.
Por outro lado, duas das parcelas da mesma expressão são proporcionais ao peso
específico do solo. Assim, numa análise em tensões efectivas a posição do nível freático
10.7
assume uma grande importância, já que a sua subida para a cota da base da fundação e desta
para a superfície do terreno reduz, respectivamente, as terceira e segunda parcelas para cerca
(ou menos) de metade.
1.5.1 - Introdução
Para a solução destes é corrente a aplicação a cada uma das parcelas da expressão 10.8
de coeficientes correctivos. A simbologia usada para estes consta de uma letra minúscula, em
geral a primeira letra da palavra inglesa cujo efeito tais coeficientes pretendem traduzir, e de
um índice, indicativo da parcela correspondente. Por exemplo, o coeficiente correctivo sq
refere-se à correcção da segunda parcela da equação citada de modo a ter em conta a forma
(“shape”, em Inglês) da fundação.
10.8
1.5.2 - Sapatas com desenvolvimento não infinito
1
qult c N c sc q N q sq B N s (10.15)
2
em que sc , sq e s são os coeficientes correctivos para ter em conta a forma da fundação. Para
eles, as expressões incluídas no Eurocódigo 7 (1994) são:
1
qult c N c ic q N q iq B N i (10.21)
2
10.9
H
ic 0,51 1
(10.22)
B.L.cu
iq 1 (10.23)
3
0,7 H
iq 1
'
(10.28)
V B L c cotg
'
Importa referir que quando existe uma componente H da carga aplicada à fundação,
terá que ser verificada a segurança em relação ao escorregamento pela base. Tal verificação
processa-se de modo análogo ao que foi discutido para os muros de suporte. No caso das
fundações de estruturas hiperestáticas de betão armado ou de aço, a contribuição do impulso
passivo para a segurança ao escorregamento deve ser desprezada, já que a sua mobilização, ao
contrário da resistência da interface entre a base da sapata e o maciço de fundação, exige
deslocamentos que na maior parte dos casos serão incomportáveis pelas próprias estruturas.
10.10
sistema de forças generalizadas (V, M x , M y ) actuando no baricentro da fundação é
estaticamente equivalente à força V aplicada no ponto P (Figura 10.4b)) de coordenadas, ex e
ey , tal que:
M
ex y (10.29)
V
M
ey x (10.30)
V
Para efeitos práticos, como se indica na Figura 10.4b), a capacidade de carga pode ser
calculada considerando uma sapata fictícia centrada no ponto P, o que equivale a tomar como
dimensões efectivas da sapata
B' B 2 ex (10.31)
L' L 2 ey (10.32)
Se for qult a capacidade de carga calculada tomando, para todos os efeitos, como
dimensões da sapata as acima referidas, a carga de rotura da sapata, Qult , vale:
10.11
a) b)
Fig. 10.4 - Sapata rectangular solicitada por carga vertical e momentos: a) sistema de forças no baricentro da
fundação; b) área efectiva da sapata.
10.12
a) b)
Fig. 10.5 - Sapata circular solicitada por carga vertical e momentos: a) sistema de forças no baricentro da
fundação; b) área efectiva da sapata.
10.13
Quando a capacidade de carga passa a depender de mais de uma camada a sua
estimativa torna-se naturalmente mais complexa, sugerindo-se ao leitor a consulta da
bibliografia da especialidade. De qualquer forma, adiantam-se em seguida algumas
considerações que poderão ser úteis em alguns casos práticos.
* Sugere-se, a propósito, a consulta de "Foundation Engineering Handbook", Ed. H.F. Winterkorn & H.-Y.
Fang, Pub. Van Nostrand Reinhold Comp., 1975.
10.14
Valores de f c
B/H
0a1 1 2 3 4 5 6 8 10
1
0º 1 1,02 1,11 1,21 1,30 1,40 1,59 1,78
(B/H < 1,41)
1
20º 1,01 1,39 2,12 3,29 5,17 8,29 22,00 61,50
(B/H < 0,86)
1
30º 1,13 2,50 6,36 17,4 50,20 (*) (*) (*)
(B/H < 0,63)
1
36º 1,37 5,25 23,40 (*) (*) (*) (*) (*)
(B/H < 0,50)
1
40º 1,73 11,10 82,20 (*) (*) (*) (*) (*)
(B/H < 0,42)
Valores de f q
B/H
0a1 1 2 3 4 5 6 8 10
0º 1 1 1 1 1 1 1 1 1
1
20º 1,01 1,33 1,95 2,93 4,52 7,14 18,70 51,90
(B/H < 0,86)
1
30º 1,12 2,42 6,07 16,50 47,50 (*) (*) (*)
(B/H < 0,63)
1
36º 1,36 5,14 22,80 (*) (*) (*) (*) (*)
(B/H < 0,50)
1
40º 1,72 10,90 80,90 (*) (*) (*) (*) (*)
(B/H < 0,42)
Valores de f
B/H
0a1 1 2 3 4 5 6 8 10
0º -- -- -- -- -- -- -- -- --
1
20º 1 1 1,07 1,28 1,63 2,20 4,41 9,82
(B/H < 2,14)
1
30º 1 1,20 2,07 4,23 9,90 24,80 (*) (*)
(B/H < 1,30)
1
36º 1,00 1,87 5,60 21,00 90,00 (*) (*) (*)
(B/H < 0,98)
1
40º 1,05 3,27 16,60 (*) (*) (*) (*) (*)
(B/H < 0,81)
* - valores superiores a 100.
Fig. 10.6 - Factores correctivos f c da capacidade de carga para ter em conta a presença do firme a
profundidade H abaixo da base da fundação.
10.15
2 - VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA EM RELAÇÃO AO ESTADO LIMITE
ÚLTIMO DE RESISTÊNCIA DO MACIÇO DE FUNDAÇÃO
Quadro 10.II
Coeficientes de segurança globais para a capacidade de carga de fundações superficiais
Caracterização do solo
10.16
O Quadro 10.II inclui valores mínimos do coeficiente de segurança global
recomendados por Vesic'.
Já atrás foi discutido nos seus aspectos essenciais o método dos coeficientes de
segurança parciais e os aspectos mais relevantes do novo Eurocódigo 7 a tal respeito.
No que se refere a fundações superficiais, segundo aquele documento terá que ser
verificada a seguinte inequação para todas as combinações de acções (utilizando a própria
simbologia do Eurocódigo):
Vd Rd (10.36)
em que Vd é o valor de cálculo, para efeitos de verificação aos estados limites últimos, da
carga normal à base da fundação, incluindo o peso da fundação e de eventual aterro sobre ela
existente, e Rd é o valor de cálculo da capacidade de carga da fundação.
Quadro 10.III
Coeficientes de segurança parciais para a verificação da segurança de fundações superficiais em relação à
capacidade de carga (Eurocódigo 7, 1994).
Permanentes, (G)
Variáveis tg ' c' cu
(Q)
Desfavoráveis Favoráveis
10.17
Por seu turno, Vd deve ser obtido a partir da expressão seguinte, que exprime de modo
geral as diversas combinações de acções a considerar:
em que:
3.1 - Introdução
s si sc sd (10.38)
10.18
As duas últimas parcelas foram já abordadas no Capítulo 4, com particular ênfase para
o caso do carregamento de estratos confinados de argila. Adiante procurará tratar-se da sua
estimativa com mais generalidade. Quanto ao assentamento imediato, ele constitui a
componente do assentamento total que ocorre concomitantemente com a aplicação de carga.
Como se verá, a sua estimativa pode ser efectuada com base na Teoria da Elasticidade.
10.19
Quadro 10.IV
3.2.1 - Introdução
ii) as tensões transmitidas ao solo têm que ser modestas em relação à tensão de
rotura do próprio solo, isto é, ao valor da capacidade de carga.
10.20
3.2.2 - Expressão geral
10.21
3.2.3 - Maciço homogéneo semi-indefinido
si
0
1
E
z v x y dz (10.40)
z z p, x, y, z , B, L (10.41)
x x p, x, y, z , B, L,v (10.42)
y y p, x, y, z , B, L,v (10.43)
em que I s é um número real função da geometria da área carregada e do ponto sob o qual se
pretende obter o assentamento.
10.22
As fundações reais têm em geral uma muito grande rigidez à flexão, pelo que os
assentamentos serão iguais em todos os seus pontos, desde que, evidentemente, a carga sobre
a sapata seja centrada.
Para tais casos os assentamentos podem estimar-se aplicando ainda a equação 10.44,
adoptando para o efeito os valores de I s incluídos na última coluna do Quadro 10.V. Como se
pode verificar, os valores de I s propostos para sapatas rígidas são bastante próximos dos
valores médios para o caso de sapatas infinitamente flexíveis (sobrecargas).
Quadro 10.V
centro vértice meio do lado menor meio do lado maior média sapata rígida
10.23
No Quadro 10.VI incluem-se para o caso agora em análise os valores de I s para o
assentamento no centro de sapatas flexíveis (sobrecargas), valores que naturalmente são
função da razão da espessura do meio deformável pela largura da fundação. Como não podia
deixar de ser, quando esta razão é infinita os valores de I s coincidem com os valores
correspondentes do Quadro 10.V.
Quadro 10.VI
Valores de I s para o centro de sapatas flexíveis sobre um meio elástico com fronteira rígida à profundidade H.
Caso a fundação, como se ilustra na Figura 10.9, esteja submetida a momentos, além
dos assentamentos calculados anteriormente a sapata experimenta igualmente rotações. A
composição dos assentamentos associados à carga vertical com aquelas rotações vai fazer
com que os deslocamentos verticais passem a ser variáveis de ponto para ponto da base da
sapata, mesmo que esta seja rígida.
As rotações das sapatas associadas aos dois momentos M x e M y podem ser estimadas
pelas equações:
10.24
M x 1 2
tg x Ix (10.45)
BL2 E
M y 1 2
tg y 2 Iy (10.46)
B L E
em que Ix e Iy são parâmetros adimensionais que para sapatas rígidas podem ser calculados
pelas seguintes expressões aproximadas:
Fig. 10.9 - Rotações de uma sapata assente num meio elástico sob a acção de momentos.
10.25
casos reais sugere que a espessura do solo que condiciona os assentamentos é sensivelmente
menor do que a que seria de esperar por via da Teoria da Elasticidade. Por essa razão os
assentamentos não são de facto proporcionais à largura da fundação, ao contrário do que a
equação 10.44 expressa, nem crescem com o aumento do comprimento da sapata (isto é, com
a razão L/B) de forma tão acentuada como a que o Quadro 10.V ilustra (por exemplo, segundo
este, o assentamento de uma sapata rígida cresce cerca de 2,5 vezes quando L/B passa de 1
para 10).
Vale a pena citar, a propósito, um valioso trabalho recente em que Burland e Burbidge
(1985) analisaram estatisticamente mais de 200 casos bem documentados de fundações de
edifícios, depósitos e aterros sobre maciços granulares (areias e cascalhos) no qual puderam
concluir entre outras coisas o seguinte:
ii) em média, o crescimento dos assentamentos imediatos com a razão L/B pode ser
expressa pela relação
si L / B 1 1,25 L / B
2
si L / B 1 L / B 0,25
(10.49)
cujo segundo membro tende para 1,56 quando L/B tende para infinito.
10.26
comportamento dos solos tem sido teorizada por diversos autores que se referem a um “limiar
de tensões”, próximo do estado de tensão de repouso, limiar esse que não sendo excedido pelo
incremento associado à solicitação da obra permite que o solo exiba uma deformabilidade
muito reduzida, muito menor do que a que exibiria caso o incremento de tensão fosse maior.
Sendo assim, para as maiores profundidades sob a sapata, às quais os incrementos de tensão
são já modestos em relação às tensões efectivas de repouso, as deformações associadas
tenderão a ser desprezáveis.
i) passa a haver assentamento imediato, cujo cálculo pode ser efectuado de acordo
com o que acaba de ser discutido em 3.2;
ii) em cada ponto o incremento da tensão total vertical passa a repartir-se, no instante
do carregamento, num incremento de tensão efectiva vertical e num excesso de
pressão neutra;
10.27
iii) os incrementos de tensões totais verticais passam a ser variáveis em profundidade,
tendendo para zero, e a cada profundidade são também variáveis com a distância à
vertical sob o centro da área carregada.
Fig. 10.10 - Carregamento por uma sapata de um estrato não confinado de argila.
u e 3 A 1 3 (10.51)
10.28
Sendo assim, a tensão efectiva vertical no mesmo ponto imediatamente após o
carregamento da sapata vale:
3
u e 1 A 1 A (10.54)
1
e então:
3
1 A dz
h0
s c mv 1 A (10.55)
0
1
Uma comparação entre as expressões 10.50 e 10.55 evidencia uma óbvia analogia
entre o assentamento “confinado” e o assentamento por consolidação para o caso geral de
uma sapata sobre um estrato não confinado de argila. Este último assentamento pode, com
efeito, ser expresso pela equação:
sc soed (10.56)
em que
3
1 A dz
h0
0
mv 1 A
1
(10.57)
h0
0
mv 1 dh
10.29
ou ainda, admitindo mv e A constantes ao longo da espessura do estrato:
A 1 A (10.58)
em que
h0 (10.59)
0
3 dz
h0
0
1 dz
Quadro 10.VII
Valores de
Forma da sapata
h/B
Circular Corrida
0 1,00 1,00
0,25 0,67 0,74
0,5 0,50 0,53
1,0 0,38 0,37
2,0 0,30 0,26
4,0 0,28 0,20
10,0 0,26 0,14
0,25 0,00
10.30
Considere-se a Figura 10.11 onde existe um estrato de argila e em que o nível freático
vai passar da profundidade zw1 para a profundidade zw2 no estrato permeável superior. Seja
v1 a tensão total média vertical num ponto genérico do estrato de argila à profundidade z
antes do rebaixamento. A tensão efectiva correspondente vale:
v1 v1 w z z w1 (10.60)
Admitindo que a zona do maciço entre as profundidades zw1 e zw2 se mantém saturada
por capilaridade após o rebaixamento, a tensão total vertical no ponto genérico do estrato de
argila não se altera com o rebaixamento, isto é v 2 v1 . Sendo assim, a tensão efectiva
vertical no mesmo ponto após o rebaixamento, v2 , vale:
v 2 v1 w z z w 2 (10.61)
Caso a zona que passou a estar emersa após o rebaixamento, entre as profundidades
zw1 e zw2 , deixe de estar saturada, o respectivo peso específico experimentará naturalmente
uma certa redução, passando v 2 a ser sensivelmente inferior a v1 , o que atenua, também
sensivelmente, o incremento da tensão efectiva vertical dado pela equação 10.62.
10.31
3.4 - Nota sobre assentamentos por consolidação secundária ou por fluência
O exame das referidas observações mostra muito claramente que tais assentamentos
são particularmente significativos no caso das fundações sujeitas a cargas variáveis, como
chaminés muito altas, pontes, silos, etc..
t
s t si 1 R3 Rt log (10.63)
3
4.1 - Introdução
10.32
no que respeita a diversos aspectos dos problemas que pretendem modelar, a fiabilidade dos
seus resultados depende além disso, como se compreenderá, da qualidade das estimativas dos
parâmetros mecânicos do maciço que forem adoptadas.
Sendo aqueles ensaios relativamente onerosos, eles são realizados apenas em situações
menos correntes. Na maior parte das obras de fundações os ensaios realizados são os ensaios
de penetração, nomeadamente o SPT e o CPT, ensaios esses cuja interpretação teórica não se
afigura, pelo menos para já, susceptível de conduzir a estimativas da deformabilidade do
terreno.
10.33
Figura 10.12 mostra um ábaco, que colhe larga aceitação entre os especialistas, que permite
correlacionar N com qc .
Fig. 10.12 - Correlações entre qc e N em função da granulometria do solo (os valores de N não se encontram
corrigidos).
Quanto às correlações de qc com E elas são habitualmente expressas por uma relação
de proporcionalidade do tipo:
E qc (10.64)
10.34
Fig. 10.13 - Correlações entre a resistência de ponta do CPT, qc , e o módulo de deformabilidade de solos
granulares (Folque, 1976).
10.35
Estimando o módulo de distorção, o módulo de deformabilidade poderá ser obtido a
partir da bem conhecida relação
E 21 G (10.65)
a)
b)
Fig. 10.14 - Relação G / Gmáx com a distorção (Seed et al., 1984); a) areias; b) cascalhos.
10.36
parâmetro particularmente sensível às perturbações das amostras, muito mais sensível,
nomeadamente, do que os parâmetros de resistência.
Atendendo ao exposto, o recurso a ensaios “in situ” aparece para as argilas, muito
frequentemente, como plenamente justificado.
Eu M cu (10.66)
10.37
Fig. 10.15 - Factor de proporcionalidade entre Eu e cu (Duncan e Buchignani, 1976).
Fig. 10.16 - Relação G / Gmáx com a distorção para solos argilosos (Sun et al., 1988).
10.38
5 - VERIFICAÇÃO AOS ESTADOS LIMITES ÚLTIMOS E DE UTILIZAÇÃO DE
ESTRUTURAS DEVIDOS A MOVIMENTOS DAS FUNDAÇÕES
em que:
10.39
- 2 coeficiente para o valor quase-permanente da acção variável (ver Eurocódigo 1,
1994).
Conclui-se pois que para a verificação aos estados limites de utilização o valor de
cálculo da carga vertical actuante é obtida considerando-se unitários todos os coeficientes de
segurança relativos às acções.
a) b)
Por sua vez, distorção angular será a razão entre o assentamento diferencial de dois
pontos de apoio contíguos e a respectiva distância:
s
(10.69)
l
10.40
Os métodos já conhecidos para a determinação dos assentamentos conduzem,
obviamente, ao assentamento total de uma dada fundação. Ao discutir se a grandeza do
assentamento total de uma dada fundação é ou não admissível há que distinguir
essencialmente a parcela desse assentamento que vai ser comum aos outros pontos de apoio
da estrutura da parcela restante, que vai pois conduzir a assentamentos diferenciais.
Convém, todavia, chamar a atenção que numa estrutura hiperestática a distribuição das
cargas nas fundações depende dos deslocamentos das mesmas fundações. Se, por hipótese, o
assentamento numa fundação tender a ser relativamente elevado, as deformações estruturais a
ele associadas mobilizarão uma redistribuição de cargas, com alívio da carga nessa fundação
e acréscimo(s) noutra(s) fundação(ões) vizinha(s).
Atendendo a este aspecto, o cálculo dos assentamentos com base numa distribuição de
cargas obtida de uma análise estrutural prévia efectuada admitindo apoios rígidos, conduzirá
necessariamente a assentamentos diferenciais sobreestimados. Sendo assim, após uma
primeira abordagem ao problema da forma indicada, e que é a tradicionalmente empregue, é
aconselhável proceder a uma análise estrutural que contemple a interacção solo-estrutura,
muito em especial nas situações em que a análise preliminar conduziu a valores dos
assentamentos diferenciais com alguma relevância.
10.41
assentamentos totais de uma dada fundação a um dado valor relativamente pequeno, visa
essencialmente controlar os assentamentos diferenciais, que então serão, naturalmente,
inferiores àquele valor.
Admita-se, contudo, que seria possível eliminar todos os aspectos que contribuem para
os assentamentos diferenciais. A Figura 10.18 ilustra dois exemplos: um edifício assente
sobre uma fundação rígida de betão armado (ensoleiramento geral) e um depósito metálico
assente sobre uma laje também rígida de betão armado, ambos fundados num maciço
perfeitamente homogéneo. Nestes casos os assentamentos totais (uniformes) admissíveis
poderão ser da ordem da dezena de centímetros no primeiro caso e da ordem de algumas
dezenas de centímetros no segundo. No caso do edifício, aquele limite tem essencialmente a
ver com a necessidade de não danificar as canalizações (de água, saneamento, etc.) que se
ligam ao edifício e também para não afectar o acesso do (ou para o) exterior. Contudo,
inúmeros casos existem em que tal limite foi largamente ultrapassado sem que a utilização
dos edifícios tenha sido drasticamente afectada.
Fig. 10.18 - Assentamentos uniformes de estruturas com fundação rígida num maciço homogéneo: a) edifício de
betão armado sobre ensoleiramento geal; b) depósito metálico sobre laje de betão.
10.42
Salvo casos excepcionais (por exemplo, o que acaba de ser referido acerca de
maquinarias muito sensíveis), os assentamentos diferenciais admissíveis devem ser fixados
através de uma interacção entre o projectista da estrutura e o das fundações. Não é, por
exemplo, razoável que se proceda ao projecto da estrutura admitindo que os assentamentos
diferenciais serão nulos e depois se imponha tal condição ao projectista das fundações. Para
cumpri-la, este, em alguns casos, será obrigado a adoptar fundações que conduzem a uma
solução global altamente antieconómica.
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000
Fig. 10.19 - Ordens de grandeza das distorções angulares admissíveis para diversas situações, segundo
Bjerrum (1963).
10.43
A passagem do assentamento diferencial máximo para o assentamento máximo a
impôr no projecto das fundações exige uma relação entre aqueles dois tipos de assentamentos.
A Figura 10.20 mostra alguns resultados coligidos por Bjerrum de observações de obras reais.
Fig. 10.20 - Relação entre os assentamentos máximo e diferencial máximo em edifícios fundados em areias,
segundo Bjerrum (1963).
10.44
Atendendo ao exposto, e para efeitos práticos, sugere-se as relações:
Antes de mais, pode notar-se que este valor parece em princípio aceitável para
edifícios correntes, se fôr tida em conta a relação entre os assentamentos totais e diferenciais
atrás comentada, em conjugação com os valores admissíveis da distorção angular incluídos na
Figura 10.19.
10.45
Fig. 10.21 - Correlação entre os resultados do ensaio SPT e a tensão admissível de sapatas sobre solos arenosos
(os valores de N não se encontram corrigidos).
10.46