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Sentando em silêncio — Patrick Kearney — 31 de outubro de 2010 —

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Serena e clara: uma introdução à


meditação budista
Patrick Kearney

Semana um: Sentando em silêncio

Por que a meditação?


Por que a meditação é fundamental no budismo? O ensinamento de
Buda relaciona-se com a natureza da condição humana, com quem
somos e como vivemos nossas vidas. No centro da condição humana
está nossa capacidade para a autoconsciência, ou para a consciência
reflexiva. Você já teve a experiência de estar comendo,
acompanhado, quando o alimento é particularmente bom, e você está
devorando-o, alheio a tudo? De repente você congela, percebendo
que qualquer pessoa pode ver você. Você fica momentaneamente
paralisado pela “autoconsciência”. O que acontece durante esta
experiência? Primeiramente estamos comendo, conscientes de nós
mesmos, de nosso alimento, e de como ele é bom. Perdidos no ato de
comer perdemos a consciência do nosso ambiente e esquecemos de
tudo, exceto do alimento. Então, repentinamente tornamo-nos
conscientes de que há outros no lugar, e que podem nos ver. Mais do
que isso, tornamo-nos conscientes de como aparecemos a estes
outros — tornamo-nos autoconscientes. Este é um exemplo de
consciência reflexiva. Como humanos, não somente sabemos,
sabemos que sabemos. Não apenas sabemos que estamos comendo,
mas sabemos que sabemos que estamos comendo. Já viu um
cachorro comer? Um cachorro conhece seu alimento, e sabe que está
comendo, mas parece que não tem consciência de como ele come;
parece que ele não sabe que sabe que está comendo. Ele não tem
autoconsciência. Parece que lhe falta aquela habilidade reflexiva de
girar sua consciência 180° ao seu redor, ao redor de suas ações e de
seu estado mental. Normalmente quando conversamos sobre
autoconsciência estamos nos referindo à consciência de si mesmo ou
à consciência reflexiva acompanhada de alguns graus de paranóia.
“Todos podem me ver! O que eles pensam?” Mas a consciência
reflexiva por si mesma é autoconsciência sem paranóia. E nossa
capacidade para meditar depende desta habilidade de girar a
consciência 180° ao redor de forma que não apenas sabemos alguma
coisa, mas sabemos que sabemos. Como seres humanos estamos
conscientes, e estamos conscientes de nossa consciência.
Experimentamos, e experimentamos o nosso experimentar.

Tradução de Limerci Freitas – Psicólogo – Fone: 019-33011493 --


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Na meditação voltamos nossa atenção para a condição humana.


Prestamos atenção ao que experienciamos e como experienciamos.
Então a meditação assume uma perspectiva da primeira pessoa na
natureza da experiência humana. Fomos educados a pensar objetiva
e cientificamente, e aprendemos a ver as coisas da perspectiva de
uma terceira pessoa. Vemos as coisas como “lá fora”, existindo
independentemente de nós. O mundo é alguma coisa “lá fora”, e está
lá independentemente se nós estamos “aqui” para vê-lo ou não. Mas
o budismo assume uma perspectiva da primeira pessoa. O
ensinamento de Buda é sobre como as coisas são da perspectiva da
nossa experiência delas; como as coisas se nos apresentam. Para o
Buda, o mundo é a nossa-experiência-do-mundo. Na Sabba Sutta
(Discurso sobre todas as coisas) o Buda diz:

Eu lhes ensinarei todas as coisas (sabbam)...

E o que são todas as coisas? O olho e as formas; o ouvido e os sons; o


nariz e os aromas; a língua e os gostos; o corpo e as coisas tangíveis;
a mente e os fenômenos.

Qualquer pessoa que disser: “Rejeitando todas estas coisas, eu ensino


outras tantas coisas”, a base para isto seria meras palavras, e se
questionada ela não poderia sustentar isto. Mais ainda, ela se tornaria
angustiada.

Por quê? Porque isso está além da experiência. (S 4.15)

O que é “todas as coisas” ou “o tudo” (sabbam)? “Todas as coisas”


consistem da totalidade da nossa experiência do sentido. Temos seis
sentidos: os cinco sentidos físicos referentes ao olho, ouvido, nariz,
língua e corpo e o sentido não-físico da mente. Para o Buda, a mente
é um órgão do sentido. Quando sonhamos, por exemplo, “vemos”
eventos revelarem-se, mas este “ver” não se faz com os olhos, mas
com a mente. Mesmo quando vemos com os olhos, tudo o que os
olhos realmente vêem são padrões de cor e luz. Interpretando estes
padrões para “ver” que agora mesmo estou sentado num salão com
outras pessoas é o trabalho da mente. Para cada órgão do sentido há
um objeto do sentido específico: formas, sons, aromas, gostos,
sensações tangíveis (de toque), e os fenômenos sentidos pela mente.
O agregado de um órgão do sentido, seu objeto do sentido
correspondente, e o conhecimento daquele objeto pelo órgão do
sentido, constituem um campo do sentido, um campo de experiência.

Podemos afirmar a existência de alguma coisa ou de alguém além da


totalidade de nossa experiência sensorial? Podemos afirmar a
existência de um Deus ou da alma imortal ou do princípio metafísico
ou da realidade ontológica que existe além ou aquém da nossa
experiência sensorial? Podemos, é claro, mas para o Buda a base
para uma afirmação desse tipo seria “simples palavras”, e é claro a
partir deste discurso que “simples palavras” não constituem uma

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base confiável para a crença. O que constitui uma base confiável para
a crença? Experiência — e toda a experiência está contida nos seis
campos do sentido.

Esse entendimento da centralidade da experiência envolve tanto a


aceitação radical dos limites da condição humana, como uma
determinação para compreender tudo o que está dentro desses
limites. O Buda está preocupado com “todas as coisas”, e por esta
razão se recusa a se envolver com debates sobre qualquer coisa que
esteja além do alcance da experiência. Mas ele está preocupado com
o que quer que seja experienciado, não importa o quanto seja trivial,
profundo ou sutil. Nada dentro do reino da experiência pode ser
ignorado.

Se a experiência é tudo o que existe, seria uma boa idéia investigar a


nossa experiência, a fim compreender a sua verdadeira natureza. Se
a nos-sa experiência é dolorosa e insatisfatória, por exemplo, então
precisamos conhecer e compreender como esta situação
insatisfatória surgiu, de tal forma que podemos mudar isso em algo
mais satisfatório. Meditação tem a finalidade de revelar a natureza
verdadeira de nossa experiência, e criar um espaço dentro com o
qual podemos nos relacionar mais habilmente. É, por exemplo,
inerente à experiência humana que estamos sempre no meio de
alguma dada situação — esta situação aqui e agora.

A naturalidade desta situação é inescapável. Quer queiramos ou não,


estamos aqui e agora, e não temos outra escolha que não esta de
estar aqui e agora. No entanto, enquanto nós nos encontramos
inevitavelmente nesta situação aqui e agora, estamos livres para
responder a esta situação de inúmeras maneiras. Esta situação aqui e
agora é viável. A meditação é uma das formas em que trabalhamos
com nossa situação. Ela é destinada a esclarecer a natureza da nossa
condição e, em seguida, criar o espaço em que podemos responder a
ela de uma forma que promova o bem estar e a felicidade para nós
mesmos e para os outros. Mas primeiro é preciso esclarecer a nossa
situação, temos de conhecê-la, completamente. Para fazer isso,
devemos prestar-lhe atenção, de maneira sistemática e metódica.

O que é meditação?
A meditação é o treinamento sistemático da atenção. A atenção é a
colocação deliberada da consciência sobre seu objeto. E a consciência
é o conhecimento do objeto.

Por exemplo, consideremos o ato de ver: Diante de você, eu estou


ciente da parede na parte de trás desta sala. Você está ciente da
parede na frente desta sala. Essa consciência é um conhecimento
fundamental. Aquilo que vemos é o objeto do conhecimento. Temos
diferentes objetos de conhecimento visual, as diferentes coisas que

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conhecemos. Mas porque eu sou míope, sem meus óculos o fundo da


sala é um borrão; para você, a frente da sala pode ser clara. Portanto,
não são apenas os objetos de conhecimento diferentes para você e
para mim, mas também a qualidade do saber é diferente. Podemos
estar olhando para a mesma coisa — de tal forma que o objeto do
nosso conhecimento é o mesmo — mas cada um de nós pode ter
uma qualidade diferente de saber. Há um amplo leque de qualidades
de saber, desde completo não-saber — fechando os olhos, você não
reconhece a frente da sala de modo algum — para fraco saber —
você está vagamente ciente dela — até um forte saber — você a
conhece como “a palma de sua mão”. O processo de treinamento
sistemático da atenção é o de se cultivar períodos cada vez maiores
de consciência mais clara, ou mais forte.

A atenção é a colocação deliberada da consciência sobre o seu


objeto. A consciência normal, de todos os dias, é algo que nos
acontece; consciência meditativa é algo que fazemos. Por exemplo,
podemos observar uma pintura na parede, e até admirá-lo
brevemente. Mas se nós soubéssemos que depois de 30 minutos,
teríamos de responder a perguntas sobre ela, a fim de concorrermos
a um prêmio de um milhão de dólares, então suspeito que
colocaríamos muita energia para olhar cuidadosamente aquela
pintura e distinguir o que está exatamente nela, a sua verdadeira
natureza. É aquela qualidade de esforço ou de energia que distingue
a consciência normal da consciência meditativa. A consciêcia normal,
cotidiana é algo que nos acontece; consciência meditativa é algo que
deliberadamente fazemos. Esforço implica sempre a escolha ou a
intenção. Escolhemos colocar a nossa consciência em um objeto
específico — a pintura — e não outro — nossos sonhos, ou o vista da
janela, ou verificar as outras pessoas na sala. Atenção escolhe um
objeto específico para conhecer, e depois escolhe se concentrar
nele. E assim, a atenção é a deliberada colocação da consciência
sobre seu objeto.

As Duas Asas do Pássaro


A meditação é o treinamento sistemático da atenção e o processo de
desenvolvimento da atenção pode ser comparado a uma jornada em
que viajamos da confusão para a clareza, do grosseiro para o
sutil. Esta jornada é como o vôo de um pássaro, e para voar o pássaro
precisa de duas asas. Apenas uma asa, não importa o quanto seja
forte, não é suficiente. Estas duas asas são serenidade (samatha) e
discernimento (vipassana).

Samatha significa “serenidade” ou “calma”, e meditação samatha é a


meditação com o objetivo de cultivar a serenidade ou
calma. Vipassana significa “discernimento” ou “clareza”, e meditação
vipassana é a meditação com o propósito de cultivar o discernimento
ou a clareza. Todos os métodos de meditação budista podem ser

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classificados em uma dessas duas categorias. Destes dois, vipassana


é considerado pela tradição como o mais importante, porque por si só
conduz ao despertar (Bodhi) e ao nirvana. No entanto, embora sejam
muitas vezes apresentados como “técnicas” separadas e
independentes, samatha e vipassana são as duas extremidades de
um continuum.

Toda a meditação da serenidade tem um aspecto de discernimento;


toda meditação de discernimento tem um aspecto de
serenidade. Assim a serenidade também pode significar o aspecto de
acalmar de qualquer técnica de meditação; e o discernimento pode
significar o aspecto esclarecedor de qualquer técnica de
meditação. Muitas vezes as palestras tradicionais sobre a meditação
em termos de atividade isolada de samatha-vipasana (serenidade-
discernimento), porque ambos os aspectos devem ser cultivados de
forma equilibrada. Como elas são cultivadas e equilibradas é que
determina se podemos classificar um determinado método ou como
meditação da serenidade ou meditação do discernimento.

Postura
Meditação é tanto uma atividade física como mental. Meditamos com
nossos corpos, e precisamos treinar nossos corpos para sustentar
uma prática de meditação. O Buda falou de quatro posturas do corpo:
andando, em pé, sentado e deitado. A meditação pode ser praticada
em qualquer uma destas. Geralmente quando pensamos em
meditação, associamo-la com a postura sentada. A postura sentada
permite-nos combinar a quietude com a vigilância, e assim aprender
a sentar-se é uma aspecto essencial do treinamento da meditação.

“Aqui, um meditador se senta, cruza as pernas e endireita as costas”.


Este é o único registro que temos de ensino do Buda sobre a postura
sentada. O grande comentarista Buddhaghosa, que escreveu no
século V d. C., explica isso da seguinte maneira:

[O Buda] disse: senta-se, indicando uma postura que é pacífica e não


tende à preguiça nem à inquietação. Então ele disse cruza as pernas,
para mostrar firmeza na postura sentada, fácil para inspirar e expirar,
e os meios para discernir o objeto. Aqui, cruza as pernas é a posição
sentada com as coxas totalmente travadas. Endireita as costas:
colocando a parte superior do corpo ereta com as dezoito vértebras
descansando de ponta a ponta. Pois quando ele se senta assim, a
pele, a carne e os tendões não ficam torcidos, e assim as sensações
dolorosas que surgiriam a cada momento se estivessem torcidos não
surgem. Assim sendo, sua mente se torna unificada, e o objeto da
meditação, em vez de desmoronar, alcança o crescimento e
aumenta. [Visuddhimagga VIII: 159-60]

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A postura, em outras palavras, está relacionada com tornar o corpo


estável e confortável, equilibrando a nossa energia de modo que não
haja nem muita (levando a inquietação), nem muito pouca (levando à
estagnação). Com o corpo imóvel, mas desperto, a mente unifica e o
objeto da meditação esclarece.

Isto não é fácil, pois, como descobrimos quando começamos uma


prática de meditação, o corpo fica desassossegado e doloroso. Uma
coisa que qualquer um descobrirá quando tentar manter o corpo
imóvel por qualquer período de tempo é o estado doloroso inerente
ao corpo. É por esta razão que a postura é tão difícil — é realmente
difícil manter o corpo firme e confortável. Normalmente, a dor
inerente ao corpo é ocultada por um movimento habitual — assim
como a dor inerente da mente é ocultada pelo pensamento habitual.
Assim, tendemos a mudar para cá e para lá, ajustando um membro
aqui, arranhando e coçando lá. A dificuldade de manter uma postura
firme e confortável pode ser demonstrada por esta simples
experiência. Adote a postura mais confortável que você possa pensar;
a postura em que você se sinta mais confortável e mais à
vontade. Agora veja quanto tempo você poderá manter essa postura
sem se mover. Assim que você achar que deve mover-se, pergunte a
si mesmo
“Por quê?” Por que eu quero mover? A resposta será que eu não me
sinto confortável, e eu quero mover-me para ficar confortável. E se eu
quiser movimentar, a fim de ficar confortável, isto significa que estou
com certo grau de dor.

Se quisermos que a mente se torne serena, unificada e concentrada,


o corpo deve ficar imóvel e confortável. Esta é a arte de
postura. Assim, no início de qualquer sessão, preste atenção à forma
como o corpo se posiciona. Como você está fazendo contato com a
almofada, com o banco ou com a cadeira? Tendo acomodado as
pernas, role a pelve para frente, com a barriga estendida e as
nádegas para trás. Sinta as costas e, levantando-se da pelve, dê
espaço entre cada vértebra. Levante o peito para cima e para fora, e
role os ombros para trás. Arrume o queixo para dentro, para que haja
um alongamento leve na parte de trás do pescoço. Imagine um fio de
prumo caindo da ponta do nariz até o umbigo. Acomode os braços e
as mãos para que não haja tensão nos ombros. Imagine-se,
empurrando o teto para cima com o topo de sua cabeça. E depois
descanse o foco de sua atenção no abdome, a partir do qual você
pode expandir a sua consciência para o corpo todo. À medida que a
sessão progride, continue a acompanhar o equilíbrio de sua postura,
ajustando-o de vez em quando. Quando notar que afunda, endireite-
se e eleve-se; quando notar que se desenvolve alguma tensão,
relaxe. O corpo todo está ereto, vigilante e imóvel.

Sentado em silêncio

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Dentro dessa quietude do corpo, podemos desenvolver a quietude da


mente. Quietude e concentração estão intimamente ligadas. A
concen-tração é tradicionalmente definida como “a unificação da
mente”. Todos os aspectos da mente são reunidos, de maneira
uniforme e harmônica, e focados em um único objeto. Quando isso
acontece, a mente fica quieta e serena. Este serenidade é útil em si
mesma, já que nos permite liberar um grande sofrimento e nos tornar
mais embasados e conectados tanto com nós mesmos como com
nosso ambiente. Para o Buda, no entanto, a principal vantagem da
serenidade é que ela estabelece uma base a partir da qual podemos
ver a verdadeira natureza de nós mesmos e do nosso ambiente. É
essa visão clara, ou discernimento, que tem o potencial de libertar-
nos do nosso sofrimento autoinfligido.

Nesta semana, examinaremos a natureza da serenidade, usando a


respiração como o nosso objeto de meditação. A respiração liga o
corpo e a mente. A postura é o trabalho de trazer o corpo para o
silêncio, para o equilíbrio e a harmonia. Finalmente, queremos trazer
a mente para a quietude, o equilíbrio e a harmonia. Usamos a
respiração para passar do corpo para a mente. Acalmando e
purificando a respiração, acalmamos e purificamos o corpo e a mente.

Comece acomodando o corpo, de forma que ele fique ereto,


equilibrado e imóvel. Sentindo o corpo inteiro, concentrar sua atenção
no abdome. O que você sente lá? Sente algum movimento dentro da
imobilidade? Esse movimento é a respiração. Concentre sua atenção
na respiração. A qualquer momento em que sua atenção vagueia
para o pensamento, traga-a de volta para a respiração. Não fique
preso no autojulgamento, em qualquer sentimento de fracasso
porque a mente não está se comportando como você acha que
deveria. Basta voltar para a respiração, e ao sentido de todo o corpo
sentado ali naquela postura. Quando você sentir que sua postura
afundou em qualquer grau, ajuste o corpo e retorne-o à verticalidade
original, e em seguida, novamente, ao foco na respiração. Onde você
sente que a respiração é a mais clara? Concentre-se nesse
ponto. Pode ser no abdómen ou no peito, ou no nariz; ou pode se
vairar de lugar. Mas focalize a parte do corpo onde a respiração fica
mais clara para você.

Logo que começamos a praticar, descobrimos que nossa mente está


fora de controle. O processo da meditação é um processo de começar
sempre outra vez. Neste momento, retorne ao corpo e à
respiração. Solte a passado, apenas volte para a respiração, agora.

Quando você se sentir estabelecido em sua postura e conectado com


a respiração, comece a contar sua respiração no final da
expiração. Conte suas exalações de um a dez, e depois retorne ao
um. Se você perder a contagem antes dos dez, basta voltar ao um. Se
você se encontra contando mais de dez, basta voltar ao um. Assim,

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sua atenção está focalizada na respiração no ponto onde ela seja


mais clara para você, e na contagem. Buddhaghosa explica que
ligando a respiração com a contagem de ajuda a unificar a mente,
“tal como um barco em uma correnteza é estabilizado com a ajuda de
um leme”.

Se a mente se torna pacífica até certo ponto, e a corrente de


pensamento não está mais submergindo o seu objeto de meditação,
então solte a contagem e se concentre apenas no fluxo da respiração.
E, neste ponto, traga a atenção para as narinas e o lábio superior,
para o ponto onde você sente o toque da respiração que entra e que
sai do corpo. Descanse sua atenção nesse ponto. Mantenha a atenção
focalizada naquele único local, bem definido, e as sensações de toque
da respiração quando ela entra e sai do corpo. Examine essas
sensações de perto. Onde você as sente? Você sente as sensações
associadas com a inalação no mesmo ponto com aqueles associados
com a expiração? Ou em algum outro lugar? Está a temperatura das
sensações associada com a inalação da mesma forma que a
temperatura das sensações relacionadas com a expiração? É a
inalação da mesma amplitrude que a expiração? É a inalação mais
clara do que a expiração? Ou é a exalação mais clara para você que
inalação? Ou são iguais? Não se contente com uma vaga sensação da
respiração. Seja preciso. O que é exatamente a experiência desta
inalação? O que é exatamente a experiência desta expiração?

Não espere que o desconforto físico e o pensamento desapareçam


imediatamente. A distração é inerente ao processo de
meditação. Quando você for distraído pela dor, verifique a postura do
corpo e ajuste-a se necessário. Depois, volte para a
respiração. Quando você estiver distraído pelo pensamento, apenas
solte-o e retorne à respiração. Não leve a distração a sério, e acima
de tudo, não tome a distração como pes-soal. Você está lidando com
o processo mente-corpo, e movimento inquieto é inerente a ele. Não
é nada pessoal.

Distração
O que é preciso para estar continuamente consciente da
respiração? Esta é uma questão fundamental. Rapidamente
descobrimos como é difícil manter a atenção em algo tão simples
como o respiração. Por quê? O que torna difícil a atenção
contínua? Encontrar a resposta a esta questão é um aspecto
fundamental para desenvolver uma prática de meditação.

Começamos a praticar, e corremos em linha reta para a distração. A


mente não vai ficar quieta. Não fará o que lhe dizemos para
fazer. Então, já que não temos escolha, a não ser trabalhar com a
distração, é importante que consigamos saber como a distração

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funciona. Na experiência da distração, podemos ver duas partes


claras: no momento em que perdemos o objeto de meditação e nos
tornamos perdidos na distração; e o momento que percebemos que
estamos distraídos.

A atenção é a colocação deliberada da consciência sobre seu objeto


— neste caso, a respiração. Este ato de colocar a consciência em seu
objeto leva apenas um momento; e ela dura apenas um
momento. Nós só podemos estar cientes do que está acontecendo
agora, por isso devemos dar atenção à respiração agora. Neste
momento, estamos conscientes da respiração; no momento seguinte
estamos perdidos em pensamentos. Assim, o colocação deliberada da
consciência sobre a respiração deve ser feita agora; e novamente
agora, e novamente agora, e novamente agora, e assim por diante.
Esta é a inexorabilidade da prática. Ela nunca está terminada. Nunca
chegamos ao ponto em que podemos simplesmente sentar e
relaxar. Neste momento, estamos deliberadamente colocando a
consciência na respiração, ou estamos perdidos na distração. Há uma
qualidade de imediatismo na prática. Se não a estamos fazendo
agora, nós não a estamos fazendo.

Da mesma forma, no momento em que percebemos “Estou


distraído!”, este exato momento é um momento de
consciência. Neste momento, a distração já está no passado, e o que
temos é uma consciência da própria distração. Como a prática só
pode ser feito agora, o passado é irrelevante. No momento em que
nos tornamos conscientes de distração em si, a distração já está no
passado. Mas, percebendo “Eu sou distraído!”, temos uma tendência
para conseguir ser apanhado em juízo próprio, condenando-nos por
nossa incapacidade de concentrar. Mas esse autojulgamento é
simplesmente outra distração, somada à última. Temos de aprender a
liberar todos os julgamentos sobre nós mesmos e sobre nossa prática
e simplesmente retornar, agora, à respiração. Quando percebemos
que estamos julgando nós mesmos, voltemos agora para a
respiração. E este ato de retornar, agora, à respiração é a totalidade
da prática. Nada mais é necessário.

Retornando, agora, à respiração, a mente naturalmente unifica e se


acomo-da. Ao praticar meditação, estamos lidando com processo
natu-ral. Processos naturais não podem ser apressados. Pode ser
desacelerado, se lidarmos com ele desajeitadamente, mas não pode
ser apressado. Retardamos a unificação da mente quando
extraviamos do processo natural. Evitamos esse atrazo quando
mantemos o contato com a imediatez da prática. Agora mesmo,
retorne a esta respiração. Deixe tudo mais, apenas volte a esta
respiração. Praticando desta forma, desenvolve-se a serenidade
natural da mente.

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