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Senhor Presidente da Assembleia Nacional

Senhora Ministra

Senhoras Deputadas e Senhores Deputados

A Declaração Política que o Grupo Parlamentar do MpD apresenta nesta sessão


plenária inscreve-se no quadro da competência da Assembleia Nacional para
apreciar e fiscalizar os actos do Governo e da Administração Pública.

O Direito à Educação está consagrado na Constituição, no artigo 77º que fixa na


alínea a) do n.º 3 que “Para garantir o direito à educação, incumbe ao Estado:

a) Garantir o direito à igualdade de oportunidades de acesso e de êxito


escolar…”

A Constituição garante também a “Liberdade de aprender, de educar e de ensinar” e


o n.º 1 do artigo 49º estabelece que “Todos têm o direito de aprender, de educar e de
ensinar”, fixando o n.º 2 que esta liberdade compreende “O direito de frequentar
estabelecimentos de ensino e de educação...”

Os Direitos das crianças e dos jovens merecem destaque na Constituição, artigos 73º e
74º, estabelecendo o n.º 1, do artigo 74º que “os jovens têm direito a estímulo, apoio e
protecção especiais da família, da sociedade e dos poderes públicos”.

Em 2001, o Governo do PAICV a pretexto de prevenir a gravidez precoce deu às


escolas do ensino secundário e às delegações do Ministério da Educação, orientações
(citamos) “ de ordem geral, visando a prevenção e uma melhor gestão do fenómeno
da gravidez a nível das escolas”.

Nessas orientações o Ministério da Educação comunicava às escolas a medida de


(citamos)“suspensão temporária das alunas grávidas nos estabelecimentos de
ensino” e ligava tal medida com “a necessidade de conciliar os princípios
constitucionais de protecção da maternidade e da infância com o da garantia, nas
condições possíveis do direito de aceso ao ensino e à formação”.

O Governo retomava com a suspensão das alunas grávidas, uma prática do Governo
do PAICV durante a 1ª República, período em que muitas alunas grávidas foram
suspensas da frequência dos estabelecimentos de ensino.

A partir de 2001 muitas alunas foram obrigadas a anular a matrícula por motivo de
gravidez, sem que houvesse alguma medida legal a regular esta decisão. As jovens
anulavam a matrícula depois de aconselhadas, ou melhor obrigadas, pela Direcção
das Escolas que cumpriam orientações do Governo.

Na altura do anúncio da medida de “suspensão temporária” das alunas grávidas,


muitas foram as reacções, de Partidos Políticos, Ordens Profissionais, Associações e
Organizações da Sociedade Civil e individualidades, posicionando-se contra ou a
favor da referida medida.

O MpD considerou a medida inconstitucional, por violar o Direito das Mulheres à


Educação.

O Governo manteve a sua posição. As jovens suspensas da frequência das aulas e os


pais não tiveram condições para denunciar e exigir o cumprimento da Constituição.

Com o tempo, as pessoas acomodaram-se, a suspensão das alunas grávidas deixou


de ser notícia e o assunto passou a ter referência esporádica na Comunicação Social.
Passámos a conviver e a aceitar passivamente, a violação do Direito das Mulheres à
Educação.

A gravidez continua a ser uma das causas de abandono escolar. Algumas alunas
foram obrigadas a anular a matrícula, mas outras puderam frequentar as aulas
durante o período de gravidez, porque a direcção da escola e os professores, ou não
deram conta, ou fingiram não ver.

Que avaliação fez o Governo da implementação da medida? Não se conhecem


estudos sobre a gravidez nas escolas e não há dados que comprovem a redução do
n.º de alunas grávidas, nos estabelecimentos do ensino secundário. A redução da
gravidez nos estabelecimentos de ensino não justifica a medida.

Em muitas situações, passou-se a actuar com “dois pesos, duas medidas” e as alunas
quando queriam e tinham condições para estudar, não sabiam com o que contar,
porque nem sempre sabiam, caso fossem descobertas qual seria a reacção da
Direcção da Escola.

O Plano Nacional de Acção para os Direitos Humanos e a Cidadania aprovado pelo


Governo em 2003 não identificou a suspensão das alunas grávidas como uma
situação de violação ou de constrangimento à realização dos direitos humanos.

Nas Acções apresentadas no Plano para a Promoção e Protecção dos Direitos


Humanos, não se incluem acções em defesa do Direito à Educação e a Comissão
Nacional nunca se posicionou sobre a violação do direito, das alunas grávidas, à
educação.

É inadmissível a posição adoptada pela Comissão Nacional dos Direitos Humanos


nos vários casos de violação do Direito das Mulheres à Educação, registados desde
2001. O silêncio nestas situações significa consentimento.

Orientações Gerais do Governo estão a sobrepor-se ao Direito à Educação, garantido


na Constituição. O Governo está a violar o n.º 4, do artigo 17º da Constituição,
segundo o qual “Só nos casos expressamente previstos na Constituição poderá a lei
restringir os direitos, liberdades e garantias”.
A permanência no ensino secundário é condicionada pela Lei, à idade e a
reprovações no mesmo ciclo ou ao longo do ensino secundário. A Lei não se refere à
exclusão da frequência por motivo de gravidez ou parto.

Segundo o artigo 9º, do Decreto-Lei que define as condições de acesso e permanência


dos alunos que frequentam os estabelecimentos de ensino secundário público, em
casos excepcionais devidamente justificados, o Conselho Directivo pode autorizar a
suspensão da matrícula no ensino secundário pelo período máximo de um ano
lectivo, não contando esse período na determinação da idade ou número de
reprovações para efeitos de permanência no ensino secundário.

Embora, não explicite, este artigo está a responder à situação das alunas obrigadas a
suspender a matrícula.

A gravidez precoce, no meio estudantil ou fora desse meio é um problema. Estamos


de acordo com o combate à gravidez precoce, adoptando-se medidas preventivas e
com o envolvimento dos Serviços de Saúde Reprodutiva, dos pais e encarregados de
educação, professores e outros agentes educativos, associações e organizações da
sociedade civil.

A suspensão temporária das alunas grávidas é uma medida punitiva que não
contribui para a redução da gravidez precoce.

O Grupo Parlamentar do MpD considera, inaceitável que se continue a suspender


alunas por motivo de gravidez, ou por motivo de parto, como aconteceu há poucos
dias numa das escolas secundárias, em que uma aluna, foi suspensa da frequência
das aulas, por motivo de parto, a poucos dias do término das aulas.

Felizmente, neste caso, porque a aluna, teve coragem de ir à luta e pôde contar com
algumas pessoas que a encorajaram e apoiaram, circulou na Internet uma petição
assinada por vários cabo-verdianos, residentes no país e na diáspora, a aluna foi
autorizada pelo Ministério da Educação, a regressar à escola. Ficou a penalização da
exposição pública e a perda de alguns dias de aulas.

As arbitrariedades registadas, de 2001 a 2008, clamam pela intervenção do


Parlamento, em defesa do Direito das Mulheres à Educação.

O artigo 10º da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação


Contra as Mulheres, ratificada por Cabo Verde, estabelece que “Os Estados Partes
devem tomar todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra as
mulheres com o fim de lhes assegurar direitos iguais aos dos homens no domínio da
educação e, em particular, para assegurar, com base na igualdade dos homens e das
mulheres:

“as mesmas condições de carreira e orientação profissional, de acesso aos


estudos” (alínea a);

“a redução das taxas de abandono escolar dos estudantes de sexo feminino...”.


(alínea f);

“o acesso a informação educacional específica para ajudar a assegurar a saúde


e o bem-estar das famílias, incluindo a informação e o aconselhamento
familiar.” (alínea h).

O Governo foi confrontado com as implicações da medida, pelo Comité sobre a


Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres que lhe
recomendou a avaliação da medida de “suspensão temporária de alunas grávidas
das escolas”.

Desenvolver uma educação e uma formação não discriminatórias é um dos


objectivos estratégicos da Plataforma de Acção de Pequim, aprovado na IV
Conferência Mundial das Nações Unidas sobre as Mulheres em 1995. Entre as
medidas a adoptar consta a “eliminação de todos os obstáculos ao acesso das
adolescentes grávidas e mães jovens à educação formal….”
Senhor Presidente da Assembleia Nacional

Senhora Ministra

Senhoras Deputadas, Senhores Deputados

O comodismo e a passividade não podem orientar as nossas intervenções.

As Associações de Promoção da Mulher, a Comissão Nacional dos Direitos


Humanos, o Instituto Cabo-Verdiano para a Igualdade e Equidade de Género, e
particularmente, nós, deputados e deputadas da Nação, não podemos aceitar que de
forma arbitrária, jovens estudantes sejam impedidas de prosseguir os estudos, ainda
que se fale em suspensão “temporária”.

As Orientações do Governo não podem estar acima da Constituição.

Já é tempo, de em defesa da Constituição, o Parlamento exigir que o Governo


cumpra a Constituição, anulando as “Orientações Gerais para uma melhor gestão da
questão da gravidez nas escolas”.

Grupo Parlamentar do MpD


24 de Junho de 2008

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