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Dispõe o Código Civil, nos artigos 1277 a 1284, sobre o uso anormal da

propriedade que, nas lições de Pablo Stolze, é o uso que viola o princípio da
função social da propriedade.

Situado no capítulo que trata dos direitos de vizinhança, o uso anormal da


propriedade é aquele que perturba a saúde, a segurança e o sossego daqueles
que possuem propriedade vizinha.

Veja-se, assim, o que dispõe o artigo 1277, ‘ ‘:

 
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Combate-se o uso anormal da propriedade com a ação de dano infecto (dano


iminente), prevista no artigo 1280, CC, que dispõe:

 
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DOS DIREITOS DE VIZINHANÇA ¢   


  

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O Código Civil Brasileiro reserva o Capítulo V do Título III que cuida ³Da
Propriedade em Geral´ para trabalhar os limites dos direitos e obrigações que
dizem respeito a utilização de um imóvel pelo seu titular.

Diz o artigo 1.277 que ³O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito


de fazer cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à
saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha´.

E o parágrafo único do aludido dispositivo legal, completa a linha de raciocínio,


definindo que ³Proíbem -se as interferências considerando -se a natureza da
utilização, a localização do prédio, atendidas as normas que distribuem as
edificações em zonas, e os limites ordinários da tolerância dos moradores da
vizinhança´.

A interpretação de tal norma permite a extração de interessantes elementos


que a formatam, identificando -se aqui e ali uma significativa pitada de bom
senso (quando se prospecta a expressão ³tolerância´), aliada à manutenção da
ordem pela interferência estat al (quando da definição das posturas e zonas
municipais) para propiciar o alinhavar de uma convivência que possibilite a
conjugação do vértice familiar -residencial com as mais variadas expressões
comerciais, culturais e sociais que dão vida a uma comunidad e.

Nessa acepção, se denota que o legislador buscou equilibrar os pratos da


balança ao dotar o vizinho incomodado de argumentos capazes de preservar o
seu sossego, a sua tranqüilidade e segurança ou mesmo sua saúde, desde
que tais ameaças e ocorrências realmente estejam extrapolando o que é
legalmente permitido, ou seja, a faculdade que o proprietário tem de usar,
gozar e dispor da coisa.

Mas o uso nocivo da propriedade não só se restringe à esta reduzida visão de


vizindário, vez que, o parágrafo único do a rt. 1.228 do Código Civil dá a real
dimensão da responsabilidade que é reservada a todo aquele que, inserido
num contexto urbano ou rural, utiliza uma propriedade:

³O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas


finalidades econômica s ou sociais e de modo que sejam preservados, de
conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas
naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como,
evitada a poluição do ar e das águas.´

Essa justa e ampliada preocupação, é ainda de modo muito mais contundente


evidenciada na leitura do § 2º do mesmo artigo redigido de forma a advertir que
³São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou
utilidade, e sejam animados pela in tenção de prejudicar alguém´

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(   O homem é um ser gregário, ou no clássico adágio, um animal


social. Vive das inter-relações que firma com seus semelhantes, e se organiza
em sociedade para enfrentar as vicissitudes de sua frágil existência. Um
homem, sozinho, na natureza, é presa - em um grupo, é predador.

O homem transforma sua natureza quando vive em sociedade, e dos vínculos


que trava com seu semelhante, surgem a cultura, o desenvolvimento, a
civilização.

Mas a vida em sociedade criou uma figura singular, digna de veneração para
alguns, e ilimitada fonte de sofrimentos para outros: o vizinho.

Vizinho é aquele que lhe empresta o açúcar, mas, também, é aquele que
coloca lixo na frente de casa; é aquele que cuida do seu cachorro quando você
viaja, mas é aquele que dá festas barulhentas no meio da semana até de
madrugada.

Mas o homem, diante de problemas corriqueiros como o da lida com o próximo,


do alto de sua razão, criou o Direito para regular a vida do grupo social, e
limitou seu próprio campo de atuação para garantir a paz da vida em comum. O
preço a ser pago, em razão da vida social, afinal, é o Direito.

O vizinho que constrói aquele muro tapando nossa visão da paisagem, que
ouve música até alta madrugada, que passeia nu no quintal (logo abaixo da
nossa janela), que pega as frutas da árvore que plantamos próximo à cerca, foi
considerado, pelo Direito, um preço alto demais a ser pago pela vida em
sociedade, de tal sorte que a experiência humana criou um sistema de direitos
e obrigações para disciplinar o relacionamento entre as pessoas que vivem
próximas entre si: o Direito de Vizinhança.

No Brasil, o Direito da Vizinhança herdou forte influência do Direito Roman o,


com todo o seu pragmatismo e funcionalidade. O conceito de função social da
propriedade, incluído em nosso ordenamento jurídico no fim do século
passado, também influenciou a maneira como disciplinamos nossas relações
com nossos vizinhos.

Para se conhecer um pouco sobre o Direito que rege as relações entre


vizinhos, conforme estabelecido no ordenamento jurídico nacional, deve -se ter
em mente, em primeiro lugar, que existem limitações ao uso da propriedade.

Ninguém pode causar prejuízo a outrem, se abri gando em um pretenso direito


de fazer o que quiser com a propriedade que é sua. O proprietário, ou
possuidor, vizinho também tem direitos a serem respeitados.

Por princípio fundamental do direito de vizinhança estabelecido na lei brasileira,


o proprietário ou possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar as
interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o
habitam provocadas pela utilização da propriedade vizinha.

Analisando essa disposição, vê-se que o legislador nacional esc olheu a


segurança, o sossego, e a saúde como bens da vida que merecem proteção
especial nas relações entre vizinhos. Em suma, as atividades do vizinho que se
refiram à própria propriedade estão limitadas àquelas que não interfiram com
esses valores legalmente protegidos.

Tais interferências devem, em contrapartida, ser toleradas quando forem


justificadas pelo interesse público, mas, ainda assim, mesmo nesse caso, o
causador dessas interferências deve pagar ao vizinho atingido uma
indenização que a lei defi ne como "cabal".

Tais disposições legais limitam o uso anormal da propriedade, que abarca


múltiplas situações. Uma das mais freqüentes é a do prédio que ameace ruína.
Nesse caso, o proprietário ou possuidor tem o direito de exigir do dono do
prédio vizinho que esteja nessas condições sua demolição ou sua reparação,
bem como, pode exigir que lhe seja prestada caução pelo risco iminente.

Também anormal está o uso do terreno baldio que se infesta de ratos, e


oferece risco à saúde dos vizinhos, de forma que a fronta tanto o Direito de
Vizinhança quanto as normas pertinentes à Vigilância Sanitária.

Esses casos, assim como muitos outros semelhantes, podem ensejar medidas
judiciais protetivas ao vizinho atingido, ou mesmo ações indenizatórias. Porém,
ações dessa natureza não são tão comuns quanto o largo número de cidadãos
brasileiros poderia fazer supor que existissem. Esse fato tem raízes não só na
característica pacífica do brasileiro médio, mas também, e principalmente, no
desconhecimento que ele tem da lei e do seu direito.

O Código Civil Brasileiro reserva o Capítulo V do Título III que cuida ³Da
Propriedade em Geral´ para trabalhar os limites dos direitos e obrigações que
dizem respeito à utilização de um imóvel pelo seu titular, um desses limites que
a Lei Civil traça são os Direitos de Vizinhança. Estes Direitos procuram atingir
situações como o uso anormal da propriedade, entre outras, que visa ao
equilíbrio jurídico para convivência pacífica entre vizinhos. São, na verdade,
situações de conflitos, detectadas séculos atrás pelos romanos e que até
nossos dias geram controvérsias entre vizinhos.

Por uso anormal da propriedade entende -se aquele exercício nocivo e anormal
que põe em risco a saúde, a segurança e o sossego dos vizinhos. Exemplos
são festas noturnas, barulhos exagerados, exalação de fumaça, fuligem ou
gases tóxicos, esgoto, criação de animais que exalem mau cheiro e concentre
enxames de moscas, árvore velha ameaçando a cair etc. Em algumas
situações, o uso nocivo precisa ser tolerado pelo interesse público, exemplos:
hospital que emite fumaça, escola que faz muito barulho. Os vizinhos v ão ter
que agüentar os inconvenientes, mas terão direito a uma indenização do
hospital ou da escola, conforme artigo 1.278 do Código Civil. E importante
ressaltar do que se abstrai do artigo 1.279 do mesmo diploma, que mesmo por
decisão judicial tiverem que ser toleradas as interferências do uso irregular da
propriedade, poderá o vizinho exigir a sua redução, ou eliminação, quando
estas se tornarem possíveis.
O vizinho que perturba a saúde, o sossego ou a segurança dos outros deverá
ser condenado a uma inde nização por danos morais e materiais, bem como a
fazer cessar o inconveniente, sob pena de multa diária. Outra sanção que
poderá ser imposta é a prestação de caução que visa garantir a indenização do
vizinho caso o dano iminente ocorra.

É possível concluir que os Direitos de Vizinhança, especificamente o uso


anormal da propriedade, o legislador buscou equilibrar os pratos da balança ao
dotar o vizinho incomodado de argumentos capazes de preservar o seu
sossego, a sua tranqüilidade e segurança ou mesmo sua saúde, desde que tais
ameaças e ocorrências realmente estejam extrapolando o que é legalmente
permitido, ou seja, a faculdade que o proprietário tem de usar, gozar e dispor
da coisa.
 
     

HELITA BARREIRA CUSTÓDIO
Doutora em Direito e Livre -Docente de Direito Civil pela USP
Aperfeiçoamento em Ciências da Administração Pública, com
Especialização em Direito Urbanístico pela Universidade de Roma
Especialização em Direito Municipal pela Fundação Getúlio Vargas -SP
Experiência como Procuradora do Município de São Paulo
Ex-Advogada da CETESB
Ex-Assessora Judiciária do STF (Brasília -DF)
Membro Atuante da CPPU/SEHAB/Prefeitura-SP
Membro do Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário da USP
Vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Direito do Meio Ambiente -
Sobradima
Membro Consultora da Comissão do Meio Ambiente da OAB -SP
Membro do Conselho Consultivo do Instituto "O Direito por um Planeta Verde".
Revista de Direito Civil, Imobiliário, Agrário e Empresarial nº 75, janeiro -
março/1996, página 69.
1. Considerações preliminares sobre o dano por poluição ao meio ambiente e a
conseqüente responsabilidade civil por dano ambiental - 2. A responsabilidade
civil por dano ambiental no Direito Positivo brasileiro: 2.1. Aspectos evolutivos
ajustáveis; 2.2. Normas jurídicas aplicáveis: a) Normas excepcionais, especiais
e gerais integrantes do Código Civil; b) Normas integrantes de leis especiais; c)
Normas integrantes do Direito Ambiental; d) Normas constitucionais
reafirmadoras e consolidadoras das normas jurídicas especiais e gerais sobre a
responsabilidade civil por danos ambientais - 3. Considerações finais: 3.1.
Relevância do tema da responsabilidad e civil por dano ambiental; 3.2. Desafios
da época contemporânea no sentido de: a) Rejeitar as condutas retrocessivas
da insciência, da conivência, da indiferença ou da negligência perante os
graves fatos da degradação ambiental do momento; b) Reagir, cump rindo os
deveres constitucionais, de forma diligente, progressiva e permanente, sempre
com a observância dos princípios científico-técnicos e jurídico-democráticos,
preventivamente adequáveis à conciliação do desenvolvimento
socioeconômico com a preservação ambiental, no justo equilíbrio em prol do
bem-estar da coletividade presente e futura.
1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES SOBRE O DANO POR POLUIÇÃO AO
MEIO AMBIENTE E A CONSEQÜENTE RESPONSABILIDADE CIVIL POR
DANO AMBIENTAL
Em oportunas considerações introdu tórias, é sempre útil relembrar que os
problemas dos danos por poluição ao meio ambiente e, conseqüentemente, os
da responsabilidade de forma especial e os da responsabilidade civil, já
previstos em normas dos diferentes sistemas jurídicos, vêm alcançando, nos
últimos anos, importância cada vez mais crescente em todos os setores da vida
em sociedade.
A questão do dano ambiental e da respectiva reparação ao lesado constitui,
evidentemente, um dos mais inquietantes problemas da realidade tanto
socioconômico-política como técnico-jurídica do momento, problema este
agravado pelos permanentes e progressivos fenômenos da generalizada
degradação do patrimônio ambiental (natural, cultural, do local do trabalho),
com repercussões danosas tanto ao meio ambiente local , distrital, estadual ou
nacional, com reflexos internacionais, como às pessoas e ao seu patrimônio.
Entre nós, causa-nos crescente preocupação saber que o Brasil é reconhecido,
pelas científicas investigações alienígenas e nacionais, como o maior exemplo
de destruição
de recursos naturais, notadamente de áreas verdes da América Latina(1).
Neste sentido, é sempre oportuno relembrar que a destruição progressiva e
irracional dos recursos naturais, caracterizada pelo uso nocivo da propriedade
imobiliária e dos respectivos recursos naturais e culturais (águas, ar, solo e
subsolo, flora e fauna hídricas e terrestres, além dos bens integrantes do
patrimônio cultural), vem preocupando e alarmando notadamente as
comunidades científicas dos diversos campos, em face dos iminentes riscos
que envolvem a própria sobrevivência humana.
Tais fatos, já notórios, vêm sendo, inequívoca e alarmantemente, agravados,
em face da ampliação dos fenômenos típicos do caótico desenvolvimento, com
persistente e progressiva degradação ambiental, o que coloca, mais do que
nunca nos dias de hoje, em iminente perigo os valores ambientais, culturais ou
existenciais, com reflexos gradualmente danosos contra os valores humanos,
tanto nacionais como internacionais.
No âmbito nacional, diante do agravamento dos problemas ambientais
brasileiros, com todos os tipos de poluição (das águas, do ar, sonora, dos solos
urbanos, periféricos e rurais, dos alimentos e das bebidas em geral, por
agrotóxicos, por lixos, por destruição de áreas verdes, por de gradação das
paisagens e dos valores culturais em geral, por atos contrários à moral e aos
bons costumes), com o alarmante desperdício de alimentos, de recursos
naturais e culturais em geral, além do progressivo aumento da força da
migração interna, da pob reza absoluta, da miséria, da fome crônica, da
marginalização, do analfabetismo, das desigualdades, das habitações
desumanas (favelas, mocambos, malocas, cortiços, "cavernas urbanas"), além
do alarmante e crescente número de mendigos e de pessoas "sem -teto", da
falta de saneamento básico, das enfermidades e de demais tipos de
degradantes situações incompatíveis com a dignidade da pessoa humana,
torna-se patente a flagrante delinqüência contra o patrimônio ambiental (natural
e cultural), com efeitos iminente mente danosos contra os valores do patrimônio
humano e a saúde pública. Evidentemente, manifesta é a progressiva
execução de uma política antiambiental, visando apenas ao desenvolvimento
econômico, sob a orientação de notórios grupos de pressão de entidade s
nacionais e multinacionais, com a criminosa conivência de certos políticos,
administradores, profissionais, técnicos ou funcionários inescrupulosos, o que
vem contribuindo para a galopante degradação da qualidade de vida nas
cidades, nos Estados membros, em regiões inteiras e em todo o país(2).
No âmbito internacional, já incalculáveis são os danos ao meio ambiente e aos
seres humanos, com preocupantes advertências e denúncias notadamente da
Organização das Nações Unidas e da comunidade científica mundia l sobre os
elevados níveis perigosos de poluição no ar, nas águas, na terra, nos seres
vivos em geral; sobre a destruição e o esgotamento de recursos insubstituíveis.
Os problemas ambientais globais, pondo em risco a sobrevivência no Planeta
Terra, constituem inegáveis desafios às inteligências mundiais: a poluição
transfronteira do ar (com danosos efeitos de alterações climáticas, de
destruição da camada de ozônio, de efeito estufa, de chuvas ácidas, de riscos
contra a biodiversidade); a poluição transfron teira das águas (em iminentes
riscos contra a vida marinha e a vida em geral); a poluição transfronteira dos
solos por todos os tipos de poluição ambiental global do ar, das águas, por
atividades perigosas (incluídas as temíveis atividades nucleares), por resíduos,
por desmatamentos, cultivos excessivos dos solos; a degradação vertiginosa
das cidades, notadamente dos países em desenvolvimento (pela explosão
demográfica, pelo êxodo rural para os centros urbanos, pela falta de
planejamento e de saneamento bás ico, pela urbanização desordenada e
irracional, pelas excessivas concentrações populacionais, com o aumento de
todos os tipos lesivos de poluição e de atos contrários à moral e aos bons
costumes), tudo em iminente perigo contra a vida e a saúde de todas as
pessoas integrantes da Sociedade Universal(3).
Diante dos gravíssimos fatos caracterizadores da realidade ambiental
contemporânea, tanto nacional como internacional, profunda é a nossa
convicção sobre a oportunidade, a relevância e a crescente atualidade do
presente tema sobre responsabilidade civil por dano ambiental. Pela
abrangência das matérias interdisciplinares e multidisciplinares integrantes
tanto do Direito Privado como do Direito Público, o referido tema compreende,
além da clássica responsabilidade por danos decorrentes de atos ilícitos ou
fatos ou ações, ou omissões, dolosos ou culposos (responsabilidade civil
subjetiva ou por culpa), notadamente a responsabilidade por danos decorrentes
de quaisquer atividades ou condutas legítimas, mas arrisca das ou perigosas
(responsabilidade civil objetiva ou por risco), sem prejuízo de outras
alternativas legais, extrajudiciais e judiciais, destinadas à reparação, à
recuperação ou à prevenção do dano ambiental.
2. A RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL NO DIREITO
POSITIVO BRASILEIRO
A responsabilidade civil, tanto a subjetiva (por atos ilícitos ou por culpa) como
notadamente a objetiva (por atos lícitos ou por risco), como técnica jurídica de
crescente aplicação, vem ocupando lugar de destaque no campo do Direito, em
decorrência da notória multiplicação dos danos ambientais, dando ensejo à
aplicação de conceitos e limites existentes, bem como à criação de novos
conceitos e limites impostos pelas novas exigências decorrentes das profundas
e rápidas mudanças contemporâneas.
2.1 Aspectos Evolutivos Ajustáveis.
Em conseqüência do progresso científico, industrial, tecnológico e econômico,
além da explosão demográfica, notórias e crescentes são as transformações
relacionadas com novos problemas e novas exigências sociais, notadamente
em decorrência da degradação ambiental. A questão relacionada com a
poluição do meio ambiente, diante de suas repercussões diretas ou indiretas,
imediatas ou mediatas contra a vida, a saúde, a segurança, o trabalho, o
sossego, a cultura e o bem-estar da coletividade(4), constitui, nos d ias de hoje,
um dos mais graves e importantes problemas, cuja solução impõe séria
reflexão, aliada à imediata e efetiva ação, especialmente por parte de técnicos,
de juristas, de cientistas em geral, junto aos poderes públicos e privados,
sempre com a participação da coletividade.
Com reflexos diretos à contaminação do ar, das águas, do solo, dos alimentos
e das bebidas em geral, da flora e fauna terrestres e hídricas, em suma, à
degradação do meio ambiente, a destruição progressiva dos recursos naturais
e culturais, caracterizada pelo seu uso nocivo, indiscriminado e irracional, vem
preocupando e alarmando cientistas de diversos campos, em face dos
iminentes perigos que envolvem a própria sobrevivência humana.
No caso específico da responsabilidade civil por danos ao meio ambiente,
trata-se de tema de abrangentes repercussões, assumindo, cada vez mais,
notória relevância e palpitante atualidade, diante da explosão dos danos
ambientais, definidos como danos públicos ou danos ao erário de prejudiciais
conseqüências contra o interesse coletivo ou interesse comum e o interesse
público, quer no Direito Comparado ou no Direito Internacional, quer no Direito
Positivo brasileiro. O fascinante tema da responsabilidade civil por danos ao
meio ambiente, diante dos ala rmantes danos ambientais (naturais, culturais, do
local de trabalho), externos e internos, economicamente avaliáveis e
ressarcíveis, nos âmbitos alienígenas e nacionais, vem impondo a atenção
notadamente de juristas em geral para inadiáveis reflexões, pesq uisas,
estudos, debates em seminários, encontros, convênios, congressos ou
conferências, elaborações de trabalhos ou sustentação de teses (com diversos
títulos correlatos), recomendações, projetos normativos, normas jurídicas,
ajustáveis à oportuna reparação de tais danos ambientais, como temíveis
lesões ou ameaças aos direitos ou interesses, de forma especial,
coletivos, comuns (ou difusos) e públicos prejudicados, bem como à obrigatória
recuperação ou restauração tanto dos respectivos bens ambientais (na turais,
culturais, do local de trabalho) como da saúde pública, das medidas sanitárias
ou dos bens patrimoniais lesados, degradados ou descaracterizados(5).
2.2 Normas Jurídicas Aplicáveis.
Nesta ordem de considerações, diante da progressiva evolução de numerosas
atividades, notadamente econômico -perigosas, asseguradas em crescentes
normas jurídicas constitucionais e legais, suscetíveis de regular concessão,
licenciamento, autorização ou permissão, torna -se patente a relevância atual
dos atos lícitos, mas causadores de danos ressarcíveis e suscetíveis de
responsabilidade objetiva ou por risco. Trata -se de atos lícitos praticados ou
realizados no exercício regular ou normal de um direito reconhecido. Assim,
sem prejuízo das normas gerais sobre a responsabilidade subjetiva ou por
culpa, em decorrência de danos causados por atos ilícitos (ações ou omissões
dolosas ou culposas por negligência, imprudência ou imperícia), previstas no
art. 159 do Código Civil, evidenciam -se em ordem cronológica, dentre outras
normas jurídicas integrantes de nosso Direito Positivo sobre a responsabilidade
objetiva ou por risco, em decorrência de danos causados por atos lícitos
(condutas ou atividades admitidas em Direito, mas causadoras de prejuízos
ressarcíveis), direta e indireta mente relacionadas com a Responsabilidade civil
por dano ambiental, as seguintes:
a) Normas excepcionais especiais e gerais integrantes do Código Civil. Como
normas excepcionais, destacam-se as do art. 160, notadamente inciso I, 2ª
parte, c/c os arts. 1519, 1520, no tocante aos atos lícitos praticados no
exercício regular de um direito reconhecido, que assumem particular
importância nos dias de hoje. Por força de nosso Direito Positivo, não se
admite qualquer direito de prejudicar, de lesar, de poluir, ou de degradar, ou de
ameaçar, causando dano a outrem ou ao meio ambiente, no exercício de
qualquer atividade, ainda que legalmente concedida, licenciada, autorizada ou
permitida. O Direito assegura a atividade perigosa ou arriscada, que deve ser
praticada diligentemente, no exercício normal ou regular de sua norma, mas
não admite o dano dela decorrente. Tal dano, não lícito (não há dano lícito) por
ser contrário ao direito, deve ser ressarcido pelo agente da atividade lícita
prejudicial ao lesado. Como normas especiais, observam-se as dos Direitos de
Vizinhança, como, dentre outras: arts. 554, 555 (uso nocivo da propriedade),
560 (passagem forçada), 564, 567 e parágrafo único (águas), 586, 587 (direito
de construir) 588, § 4º (direito de tapagem). Como normas gerais, evidenciam-
se as do art. 15, caput sobre a responsabilidade objetiva das pessoas jurídicas
de direito público por atos de seus representantes (órgãos, agentes públicos
em geral) que, nessa qualidade, causem danos a terceiros.
b) Normas integrantes de leis especiais. Dentre os textos da legislação
sucessiva ao Código Civil, direta ou indiretamente relacionados com as
questões ambientais, destacam-se: Normas sobre atividades insalubres ou
perigosas (CLT - Decreto-Lei nº 5.452, de 01.05.43, com as alt erações da Lei
6.514, de 22.12.77, arts. 189 a 197); sobre o seguro obrigatório referente à
responsabilidade civil de proprietário de veículos automotores de vias terrestre,
fluvial, lacustre e marítima, de aeronaves e de transportadores em geral, de
construtor de imóveis em zonas urbanas (Decreto -Lei nº 73, de 21.11.66, art.
20); sobre transportes de mercadorias por via d'água (Decreto -Lei nº 116, de
25.01.67); sobre a responsabilidade civil do fabricante, produtor, construtor ou
do importador pelos danos aos consumidores (Lei nº 8.078, de 11.09.90, arts.
12, 13, 14, 18, c/c arts. 82, 100); sobre a responsabilidade civil por danos
decorrentes de infrações de ordem econômica (Lei nº 8.884, de 11.06.94, arts.
29, 62, § 2º); sobre a responsabilidade civil por danos decorrentes do registro,
da padronização, da
classificação, da inspeção e da fiscalização da produção e do comércio de
bebidas (Lei nº 8.918, de 14.07.94, art. 9º).
c) Normas integrantes do direito ambiental. Dentre os textos notáveis
integrantes do Direito Ambiental, contendo normas especiais e gerais
particularmente sobre responsabilidade civil por dano ambiental,
independentemente da existência de culpa, observam -se as seguintes: As
normas especiais sobre a responsabilidade civil por danos nuclea res (Lei nº
6.453, de 17.10.77, arts. 4º, 5º); as normas gerais sobre a responsabilidade
civil por danos ao meio ambiente e a terceiros decorrentes de todas as
condutas ou atividades lesivas, por parte de pessoas físicas ou jurídicas, de
direito público e de direito privado, causadoras de degradação prejudicial aos
recursos naturais e aos bens culturais (Lei nº 6.938, de 31.08.81, art. 14, § 1º);
sobre a responsabilidade por danos decorrentes de transporte rodoviário de
produtos perigosos (Lei nº 7.092, de 19.04.83, com alterações do Decreto -Lei
2.063, de 06.10.83); sobre a responsabilidade pelos danos à segurança da
navegação, a terceiros e ao meio ambiente, decorrentes de atividades
referentes a coisas ou bens afundados, submersos, encalhados, perdidos em
águas sob jurisdição nacional, em terrenos de marinha e seus acrescidos, em
terrenos marginais (Lei nº 7.542, de 26.09.86, art. 13); sobre a
responsabilidade por danos aos recursos naturais e culturais da zona costeira
(Lei nº 7.661, de 16.05.88, art. 7º); por danos à fauna aquática (Lei nº 7.679, de
23.11.88, art. 9º); por danos à saúde das pessoas e ao meio ambiente
decorrentes de atividades relacionadas com agrotóxicos, seus componentes e
afins (Lei nº 7.802, de 11.07.89, art. 14); por danos ao meio ambi ente
decorrentes de atividades mineradoras (Lei nº 7.805, de 18.07.89, art. 19); por
danos ao meio ambiente decorrentes de atividades agrícolas (Lei nº 8.171, de
17.01.91, art. 23), dentre outras regras especiais e gerais aplicáveis. Como
texto de Direito Processual de evidente relevância, merece destaque a Lei nº
7.347, de 24.07.85, que disciplina a Ação Civil Pública de Responsabilidade por
Danos Causados ao Meio Ambiente, ao Consumidor, a Bens e Direitos de
Valor Artístico, Estético, Histórico, Turístico e Paisagístico, com as
complementações posteriores, particularmente as referentes à Lei nº 9.008, de
21.03.95, sobre a criação, no âmbito da estrutura organizacional do Ministério
da Justiça, do Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa de Direitos
Difusos - CFDD de que trata o art. 13 da Lei nº 7.347, de 24.07.85. Tal Fundo
de Defesa de Direitos Difusos tem por finalidade a reconstituição dos bens
lesados.
d) Normas constitucionais reafirmadoras e consolidadoras das normas jurídicas
especiais e gerais sobre a responsabilidade civil por danos ambientais. A nova
Constituição Federal, além de condicionar as atividades econômicas à
observância dos princípios constitucionais, dentre outros, da função social da
propriedade (pública e privada), da defesa do con sumidor, da defesa do meio
ambiente (C, art. 170, III, V, VI), reafirma, amplia e consolida as normas
especiais e gerais da legislação vigente, direta ou indiretamente relacionada
com a responsabilidade civil por dano ambiental, quer no tocante às normas
integrantes de leis vigentes anteriormente à sua promulgação (05.10.88), quer
no tocante às normas integrantes de leis supervenientes para alterações de leis
existentes de forma compatível com o conteúdo das normas constitucionais
correlatas. Assim, como expressas normas constitucionais, direta ou
indiretamente relacionadas com a responsabilidade civil por dano ambiental,
independentemente da existência de culpa, salientam -se: As normas especiais
do art. 21, XXIII, "c", sobre a responsabilidade civil por dan os nucleares
(responsabilidade objetiva ou por risco), por parte de pessoas exploradoras de
serviços e instalações nucleares de qualquer natureza, de pessoas que
exercem o monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e
reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus
derivados ou de pessoas com autorização para utilização de radioisótopos para
pesquisa e usos medicinais, agrícolas, industriais e atividades análogas. As
normas do § 6º do art. 37, integrando as d isposições gerais sobre o dever da
Administração Pública (direta, indireta ou fundacional), de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios no
sentido de obedecer aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade, dentre outros, reafirmam a responsabilidade objetiva das pessoas
jurídicas de direito público e acrescentam, de forma ampliadora, a mesma
responsabilidade objetiva às pessoas jurídicas de direito privado, todas
prestadoras de serviços públicos, pelos danos que seus agentes, nessa
qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa. As normas do art. 225, § 3º, c/c arts.
200, VIII, 216, § 4º, assegurando o meio ambiente saudável como direito de
todos, como bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida
inerente aos direitos e garantias fundamentais, consolidam as normas gerais
sobre a responsabilidade objetiva ou pelo risco, diretamente relacionadas com
a responsabilidade civil por dano ambiental, aplicável a todas as pessoas
físicas ou jurídicas, de direito público ou de direito privado, por condutas ou
atividades lesivas ao meio ambiente externo e interno (natural, cultural, do local
do trabalho) em geral(6).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em breves considerações finais, evidenciam-se, dentre os importantes
aspectos aplicáveis ao desafiante tema, algumas observações sobre a
relevância da responsabilidade civil por dano ambiental e os grandes desafios
da época contemporânea, diante da explosão de danos ambientais,
iminentemente prejudiciais à saúde pública e ao bem -estar da coletividade.
3.1 Relevância do Tema da Responsabilidade Civil por Dano Ambiental.
Não obstante a importância das demais categorias de responsabilidades , torna-
se patente a notável relevância da responsabilidade civil, particularmente por
danos ao meio ambiente, como tema jurídico progressivamente atual e sempre
oportuno, já de ampla orientação doutrinária e jurisprudencial ensejadora de
gradual aperfeiçoamento das normas legais correlatas, uma vez que objetiva,
de forma substancial, a reparação de danos ambientais decorrentes de
crescentes condutas ou atividades lesivas ou ameaçadoras (funções, cargos,
empregos, profissões, serviços em geral) de pessoas f ísicas ou jurídicas, de
direito público ou de direito privado, ilícitas ou lícitas, de abrangentes
repercussões contra a saúde pública e o bem -estar da coletividade em geral.
Evidentemente, trata-se de tema não só fundamentado, implícita e
expressamente, nas normas legais vigentes mas também reafirmado e
consolidado pela Magna Carta de 1988 que, inovatoriamente, consagra o
princípio constitucional da reparabilidade do dano ambiental,
independentemente da existência de culpa (C, art. 225, § 3º, c/c art. 22, XXIII,
"c").
3.2 Desafios da Época Contemporânea.
A vastidão e a complexidade do fascinante tema, responsabilidade civil por
dano ambiental, envolvendo questões e soluções diversas, impõem novas
técnicas tanto reparatórias dos danos já causados como prev entivas para
aqueles potenciais ou iminentes. A experiência vem demonstrando,
reiteradamente, que as prejudiciais conseqüências da poluição ao meio
ambiente constituem, geralmente, danos irremediáveis e, quando remediáveis,
a recuperação, a correção, a reposição ou a restauração dos recursos
ambientais e culturais degradados somente será possível a longo prazo,
mesmo assim mediante o emprego de técnicas caríssimas, ou de mecanismos
ou processos complexos de elevadíssimos custos, notadamente sócio -
ambientais. Indubitavelmente, para se evitarem inconvenientes desta natureza,
a solução
segura, menos onerosa e ao alcance de todos, encontra -se mediante a efetiva
adoção de permanente e gradual política informativa, educacional e de
conscientização de todos, em ha rmonia com a política conciliatória dos
interesses privados, sociais e públicos e com a participação dos idôneos
representantes da sociedade, em seus diversos níveis, diante de qualquer
iniciativa de repercussões danosas ao meio ambiente. Inequivocamente,
grandes são os desafios da época atual, no sentido de:
a) rejeitar as condutas retrocessivas da insciência, da conivência, da
indiferença ou da negligência perante os graves fatos da degradação ambiental
do momento. É oportuno salientar que retroceder é r ecuar, desistir ou voltar
para trás, permanecendo como simples espectadores de condutas ou ações
agressivas e comprometedoras dos recursos naturais, dos valores ambientais e
culturais, dos bens inerentes à própria vida. Somente os empiristas (partidários
do empirismo), os racionalistas (partidários do racionalismo) ou os
reacionaristas (partidários do reacionarismo), baseados, respectivamente, em
experiências isoladas a posteriori, em abstrações a priori ou em teorias
retrógradas, sem considerar os graves fatos atuais, permanecem alheios à
realidade, desconhecendo ou não tomando conhecimento das notórias
mudanças, particularmente sócio-econômico-urbanístico-ambientais do mundo
contemporâneo. Recuando, desistindo ou marchando em oposição à realidade
e ao progresso, indiferentes às mudanças degradadoras da natureza, dos bens
culturais e dos bens morais pela própria pessoa humana, alegam
irrefletidamente, a transitoriedade ou a irrelevância dos fatos atuais como
impactos passageiros e inofensivos, não obstante s eus notórios e iminentes
danos. Evidentemente, toda conclusão, fundada, apenas, em critério subjetivo,
em experiências isoladas ou casuísticas, em mero sentimentalismo, ou
baseada em idéias ou teorias sem a confrontação com os fatos reais, cai no
campo retrocessivo. Conseqüentemente, os argumentos de tal raciocínio
divorciado da realidade, em vez de contribuírem para a solução dos crescentes
problemas atuais, transformam-se em verdadeiros obstáculos, concorrendo, de
forma iminente, para o agravamento da sit uação, em face de suas patentes e
prejudiciais contradições.
Incluem-se, ainda, neste opcional campo retrocessivo, os profissionais que,
não obstante a boa intenção ou o interesse sobre o assunto, procuram
colaborar, objetivando contribuir à solução dos p roblemas correlatos. Todavia,
diante de conclusões vagas, obscuras ou equívocas por evidente
inadvertência, negligência, imprudência ou imperícia, sua colaboração
apresenta pouca ou nenhuma utilidade teórico -prática, pois, ora confunde a
regra com a exceção ou a exceção com a regra, procurando forçar
generalização de normas aplicáveis tão -somente a hipótese excepcional ou
vice-versa; ora aplica a analogia a casos incompatíveis; ora transplanta normas
do direito comparado sem as cautelas devidas, com traduçõ es incompletas,
deturpadas ou divergentes com o texto de origem, além de aplicá -las, o que é
mais grave, a setores incompatíveis com o nosso sistema jurídico e com a
realidade brasileira.
b) Reagir, cumprindo os deveres constitucionais. Trata -se de reação inadiável,
no sentido de cumprir os deveres constitucionais, de forma diligente,
progressiva e permanente, sempre com a observância dos princípios científico -
técnicos e jurídico-democráticos, preventivamente adequáveis à conciliação do
desenvolvimento sócio-econômico com a preservação ambiental, direta e
indiretamente relacionada com: 1) A política informativa, educacional e de
concientização de todos; 2) A política conciliatória de interesses privados,
sociais e públicos; 3) A política de participação par a contribuições à
compatibilização do desenvolvimento com a adequada elaboração legislativa e
regulamentar em prol da preservação do patrimônio público, do bem -estar de
todos e do progresso equilibrado da Nação. Evidentemente, além da
participação e da contribuição dos cientistas competentes com as forças
políticas, administrativas,
econômicas, associativas idôneas, como dever constitucional de todos, em
qualquer caso de iniciativa relacionada com a elaboração de leis ou de atos
normativos federais, estaduais, distritais, municipais, tornam-se obrigatórias as
efetivas participação e contribuição de autênticos profissionais da Ciência do
Direito, na pessoa dos juristas em geral, constitucional e legalmente
indispensáveis à administração da Justiça (C, art. 1 33) perante todos os
Poderes, tanto Públicos como Privados, para o justo e imprescindível equilíbrio
ambiental em prol do bem-estar da coletividade presente e futura.
São Paulo, 30 de outubro de 1995.
(*) Exposição (em 01.11.95) perante o Congresso Internacional de
Responsabilidade Civil - Consumidor, Meio Ambiente e Danosidade Coletiva:
Fazendo Justiça no Terceiro Milênio, no Painel I do Congresso Brasileiro de
Direito Ambiental integrante, promovido p ela ABM - Associação dos
Magistrados Brasileiros, organizado pelo Instituto Ibero -Americano de Direito
do Consumidor, pela Associação "O Direito por Um Planeta Verde", pelo
Brasilcon - Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor, com o apoio
especial da AJUFE, ANPR, Comissão de Defesa do Consumidor, Meio
Ambiente e Minorias da Câmara dos Deputados, CONAMP, Escola Nacional da
Magistratura, IBAMA, OAB-Conselho Federal, PROCON, Secretaria do Meio
Ambiente do Estado de São Paulo, Ministério da Just iça, Senado Federal,
AJURIS, Governo do Estado de Santa Catarina, Prefeitura de Blumenau,
dentre outros órgãos nacionais e internacionais, realizado em Blumenau -SC,
de 29.10 a 01.11.95.
NOTAS
(1) Jean Dorst, Prima che la natura muoia (reportando -se às pesquisas
científicas de Aubréville, Etude écologique des principales formations végétales
du Brésil, Nogent-sur-Marne, 1961), trad. do original francês: Avant que nature
meure, Edizioni Labor-Milano, 1969, pp. 178 -180. Reporta-se à bibliografia
citada em nossa tese de Livre-Docente "Responsabilidade Civil por Danos ao
Meio Ambiente", elaborada em 1983 e unanimemente aprovada em 29.06.84,
perante a Faculdade de Direito da USP, no momento em revisão final, para fins
de publicação.
(2) Reporta-se às novas advertências e denúncias da comunidade técnico -
científica, dos intelectuais, da imprensa diária em geral, selecionadas em
trabalho de nossa autoria: Avaliação de impacto ambiental no Direito Brasileiro,
in Revista de Direito Civil, Imobiliário, Agrário e Empre sarial, v. 45/69, RT-SP,
1988; Meio Ambiente e normas jurídicas protecionais, in Rivista Trimestrale di
Diritto Pubblico, Estratto, v. 2/481, Giuffrè, Milano, 1989; Fundamentos
constitucionais do Direito Ambiental, in BDA, v. 8/445, Ed. NDJ -SP, 1990; A
legislação brasileira do estudo de impacto ambiental, in Análise Ambiental:
Uma visão multidisciplinar (coordenação de Sâmia Maria Tauk e outros), Ed.
UNESP-SP, 1991, p. 46 e ss.
(3) Governo do Brasil-CIMA, O Desafio do Desenvolvimento Sustentável -
Relatório do Brasil para a Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, Imprensa Nacional, Brasília, 1991, p. 129 e ss.
Relatório: Nossa Própria Agenda da Comissão de Desenvolvimento e Meio
Ambiente da América Latina e do Caribe, com o obje tivo de promover uma
visão regional sobre a problemática do meio ambiente, por parte do Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), perante a Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento-Rio/92, pp. 13 ss; Relatório:
Nosso Futuro Comum (Relatório Brundtland) da Comissão Mundial sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, trad. do orig. em inglês Our common future, 2ª
ed., Fundação Getúlio Vargas, RJ, 1991, pp. 36, 194, 195, 2 01 ss; David A.
Munro (Diretor do Projeto) e outros, Cuidando do Planeta Terra - Uma
estratégia para o Futuro da Vida, publicação conjunta de IUCN - União
Internacional para a Conservação da Natureza,
PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambient e e WWF - Fundo
Mundial para a Natureza, trad. do orig. em inglês "Carring for the Earth. A
Strategy for Sustainable Living" (ISBN 2.8317 -0074-4), São Paulo, 1991, pp.
18, 28 ss; Lester R. Brown, Qualidade de Vida 1992 - Salve o Planeta,
Relatório do World watch Institute sobre o Progresso em Direção a uma
Sociedade Sustentável, trad. do orig. inglês por Newton R. Eichemberg e
Marco A. F. Bueno, Ed. Globo, SP, 1992, p. inicial; Relatório: A Situação da
População Mundial, 1992, do Fundo das Nações Unidas para a População -
FNUAP, Nova Iorque, 1992, p. 32; Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento - CNUMAD (Rio/92), a Cúpula da Terra, com
relevantes documentos aprovados, como, dentre outros: 1 - A Declaração do
Rio/92; 2 - A Convenção sobre Mudanças Climáticas; 3 - A Convenção sobre a
Biodiversidade; 4 - A Declaração de Princípios sobre as Florestas; 5 - A
Agenda 21, documentos estes com importantes princípios sobre direitos,
deveres e responsabilidades nacionais e internacionais em pro l do patrimônio
ambiental global, no interesse de todos.
(4) Sob o aspecto ambiental, é oportuno salientar o novo conceito de saúde,
aprovado pela Organização Mundial da Saúde, de conteúdo amplo,
compreendendo todos os procedimentos que possam ocasionar d ano não
somente ao estado físico ou psíquico da pessoa humana, mas também à
segurança, ao trabalho, à tranqüilidade, à cultura e ao bem -estar do cidadão,
individual ou socialmente considerado, diante dos abrangentes fenômenos da
poluição ambiental. Assim, ultrapassando o conceito tradicional e condicionado
a enfermidade, considera -se saúde, para os fins ambientais, "um estado de
completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença
ou enfermidade" (Alan Gilpin, Dicionário de Termos do Ambiente, trad. do
inglês "Dictionary of Environmental Terms" por Álvaro de Figueiredo, Pub. Dom
Quixote, Lisboa, 1980, p. 20 - verbete: "Ambiente, Declaração de Impacto
sobre o".
(5) No âmbito do direito comparado: Patrick Girod, La réparation du dommag e
écologique, LGDJ, Paris, 1974, p. 13 e s.; Emmanuel du Pontavice, Rapport
General in La protection du voisinage et de l'environnement, Travaux des
Journées Françaises de l'Association Henri Capitant, Paris -Bordeaux, 1976, p.
21 e s.; Gilles Martin, Le droit à l'environnement - De la responsabilité civile
pour faits de pollution au droit à l'environnement, Publications Periodiques
Specialisées, Lyon-Trevoux, 1978, p. 1 e s.; Paolo Maddalena, Danno
ambientale, danno pubblico e responsabilità amministrativa, in Riv. Impresa,
Ambiente e Pubblica Amministrazione, v. 1 -3, ISGEA, Giuffrè, Milano, 1982, p.
20 e s.; do mesmo Autor: Responabilità amministrativa, danno pubblico e tutela
dell'ambiente, com um Capítulo especial sobre: "Il danno pubblico come lesione
di interessi pubblici e collettivi e come distruzione o alterazione di beni in
appartenenza o fruizione della collettività. La risarcibilità del danno publico", Ed.
Maggioli, Rimini, 1986, p. 89 e s.; Anais do Convênio sobre "Il Risarcimento del
Danno All'Ambiente" (em Perugia, 06.02.87), diversos autores, in Rivista Critica
del Diritto Privato, Anno V, nº 3 - Il Danno All'Ambiente - Ed. Jovene, Napoli,
1987, p. 429 e 707; Franco Giampietro, La Responsabilità per danno
all'ambiente - Profili Amministrative, Civili e Penali, Giuffrè, Milano, 1988, p. 255
e s.; Domenico Ammirati (a cura di) Danno All'Ambiente e Responsabilità (Atti
del Convegno di S. Miniato, Pisa, 10.11.12 maggio 1991), CEDAM, Padova,
1992, p. 1 e s.; Guido Alpa, I principi generali, dentre out ros, aqueles
relacionados com o dano ao meio ambiente (portanto ao erário), hoje,
considerado ressarcível. Giuffrè, Milano, 1993, p. 230, 352, 395 e s.; Anais dos
"Atti del Convegno Rhône-Mediterranée" sobre "La Parabola del Danno
Ambientale" (29.06.93), Giuffrè, Milano, 1994; Eduardo A. Pigretti e outros, La
responsabilidad por daño ambiental, Centro de Publicaciones Jurídicas y
Sociales, Buenos Aires, sem data, p. 21 e s.; Pietro Trimarchi, Per una riforma
della responsabilità civile per danno
ambientale, in "Per una riforma della responsabilità civile per danno
all'ambiente" (a cura di Pietro Trimarchi), Giuffrè, Milano, 1994, p. 237 e s.,
compreendendo um conjunto de reflexões de autorizados juristas italianos
seriamente preocupados com as crescentes qu estões dos danos ambientais e
da respectiva responsabilidade, como, dentre outros: Barbara Pozzo, Il criterio
de imputazione della responsabilitá per danno all'ambiente nelle recenti leggi
ecologiche, p. 3 e s.; Antonio Gambaro, Danno ambientale e tutela d egli
interessi diffusi, p. 43 e s.; Gianroberto Villa, Nesso di causalità e responsabilità
civile per danni all'ambiente, p. 93 e s.; Giuseppe Bognetti e outros, La
valutazione economica del danno ambientale: Profili teorici ed aspetti empirici,
p. 151 e s. No âmbito do Direito Internacional, dentre outros autores: Pierre
Marie Dupuy, La reponsabilité Internationale des Etats pour les dommages
d'origine technologique et industrielle, Pedone, Paris, 1976, p. 1 e s.;
Convenção sobre a Responsabilidade Civil e m Matéria de Energia Nuclear
(Paris, 29.07.60, além da Convenção Complementar de 31.01.63 e do
Protocolo Adicional de 28.01.64); Convenção sobre a Responsabilidade dos
Dirigentes de Navios Nucleares (Bruxelas, 25.05.62); Convenção sobre a
Responsabilidade Civil em Matéria de Dano Nuclear (Viena, 21.05.63);
Convenção Internacional sobre Responsabilidade Civil por Danos Causados
por Poluição por Óleo (Bruxelas, 29.11.69); Convenção Internacional relativa à
Criação de um Fundo Internacional para as Indenizaçõe s dos Danos por
Poluição por Hidrocarbonetos (Bruxelas, 18.12.71, com Protocolo, em Londres,
em 19.11.76); Convenção relativa à Responsabilidade Civil em Matéria de
Transporte Marítimo de Substâncias Nucleares (Bruxelas, 17.12.71);
Convenção sobre a Responsabilidade Civil por Danos Decorrentes de Poluição
por Hidrocarbonetos derivados da Pesquisa e da Cultura dos Recursos
Minerais no Subsolo Marinho (Londres, 01.05.77); Convenção 148 da OIT
sobre a Proteção dos Trabalhadores contra os Riscos Profissionais d evidos à
Contaminação do Ar, aos Ruídos e às Vibrações no Local de Trabalho
(Genebra, 20.06.77); Convenção 155 da OIT sobre a Segurança e Saúde dos
Trabalhadores e o Meio Ambiente de Trabalho (Genebra, 1981); Conceil de
l'Europe, Premier Projet de Conventi on sur la responsabilité civile des
dommages resultant de l'exercice d'activités dangereuses pour l'environnement,
Contribution à la Conferénce des Nations Unies sur l'Environnement et le
Développement (CNUED), Rio de Janeiro, 1 -12 juin 1992, Princ. 33,
Strasbourg, avril 1992; Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, Declaração do Rio/92, princípio 16 (sobre a promoção e
internacionalização dos custos ambientais, a consideração segundo a qual o
poluidor deve arcar com o custo da poluição, com a devida consideração ao
interesse público, reafirmando a Declaração de Estocolmo/72, princípio 22);
Foundation for an International Court of the Environment, Proposta de Projeto
de uma Corte Internacional para o Meio Ambiente, no sentido de, dentre outros
objetivos, dar justiça às "vítimas de danos ambientais derivados por atividades
originadas em outros estados", IV International Conference, Venezia, 2 -5
giugno 1994. No âmbito nacional, dentre outros juristas preocupados com o
assunto: Antonio Chaves, Poluição e responsabilidade no Direito Brasileiro, in
RT 534/11, RT-SP, 1980; Sergio Ferraz, Responsabilidade Civil pelo dano
ecológico, in RCGERS, Porto Alegre, 1978; Carlos Alberto Bittar,
Responsabilidade civil nas atividades nucleares, tese ao concurso de Livre-
Docente para a Faculdade de Direito da USP, São Paulo, 1982; Antônio
Augusto M. de Camargo Ferraz, Édis Milaré e Nelson Nery Júnior, A Ação Civil
Pública e a Tutela Jurisdicional dos Interesses Difusos, Saraiva -SP, 1984, p. 15
e s.; Paulo Affonso Leme Machado, Ação Civil Pública (ambiente, consumidor,
patrimônio cultural) e Tombamento, Ed. RT, 1986, p. 9 e s.; Anais do V
Simpósio Nacional de Direito Ambiental sobre Responsabilidade Civil,
Administrativa e Penal por Danos ao Meio Ambient e - A Ação
Civil Pública e a Tutela dos Interesses Difusos (em Curitiba, de 02 a 05.12.86),
diversos autores, in RDAgr e MA nº 2, ITCF, Curitiba, 1987, p. 371 e s.; Édis
Milaré, Curadoria do Meio -Ambiente, Edições APMP, São Paulo, 1988, p. 32 e
s.; do mesmo autor: A Ação Civil Pública na Nova Ordem Constitucional, Ed.
Saraiva-SP, 1990, p. 41 e s. Elizeu de Moraes Corrêa, Responsabilidade Civil
por Danos ao Meio Ambiente, tese à obtenção do grau de Mestrado perante a
Faculdade de Direito da Universidade Fed eral do Paraná, Curitiba, 1989; Ada
Pellegrini Grinover (coordenação), A Tutela dos Interesses Difusos (diversos
autores), Max Limonad, SP, 1984; Toshio Mukai, Direito Ambiental
Sistematizado, 2ª ed., FU-RJ, 1994, p. 57 e s.; Antonio Herman V. Benjamin, O
Princípio Poluidor-Pagador e a Reparação do Dano Ambiental, in "Dano
Ambiental Prevenção, Reparação e Repressão (Coordenador Antonio Herman
V. Benjamin), RT-SP, 1993, p. 226 e s., compreendendo importantes trabalhos
jurídicos, como, dentre outros diretamen te relacionados com a
responsabilidade civil por dano ambiental: Jorge Alex Nunes Athias,
Responsabilidade Civil e Meio Ambiente, p. 237 e s.; Nelson Nery Júnior e
Rosa Maria B. B. de Andrade Nery, Responsabilidade Civil, Meio Ambiente e
Ação Coletiva Ambiental, p. 278 e s.; Adalberto Pasqualotto, Responsabilidade
Civil por Dano Ambiental: Considerações de Ordem Material e Processual, p.
444 e s. Paulo Affonso Leme Machado, Estudos de Direito Ambiental
(Reparação do Dano Ambiental), Ed. Malheiros -SP, 1994, p. 41 e s.; deste
mesmo autor, Direito Ambiental Brasileiro, 5ª ed., Ed. Malheiros -SP, 1995, p.
225 e s. (Capítulo sobre "Responsabilidade Civil e Reparação do Dano
Ecológico"); Fábio Dutra Lucarelli, Responsabilidade Civil por Dano Ecológico,
RT 700/7, RT-SP, 1994; Walter Antonio Polido, Uma introdução ao seguro de
responsabilidade civil Poluição Ambiental, Ed. Manuais Técnicos de Seguros,
SP, 1995. Reporta-se, ainda, à nossa tese perante o Concurso de Livre -
Docente, USP, Responsabilidade Civil por Danos a o Meio Ambiente, São
Paulo, 1983, unanimemente aprovada em 29.06.84, no momento em revisão
final, para fins de publicação.
(6) Observam-se, pela relevância do assunto, diversas tentativas de elaboração
de Anteprojeto de Lei de Código de Direito Ambiental, demonstrando-se, dentre
outras: O Projeto de Lei nº 1.969, de 1991, que institui o Código Brasileiro do
Meio Ambiente, de autoria do Deputado Avenir Rosa; O Anteprojeto de Lei da
Consolidação das Leis Federais do Meio Ambiente, de autoria do Executivo
Federal (Portaria SEMAM-PR/18, de 14.02.92 - DOU de 17.02.92, Sup. 33);
Minuta de Projeto de Lei, de 1992, que dispõe sobre a proteção ambiental e dá
outras providências, de autoria da Subcomissão do Meio Ambiente (atual
Comissão do Meio Ambiente) da OAB-SP; Esboço do Anteprojeto do Código
Ambiental Brasileiro, elaborado pela Comissão de Juristas, instituída pelo Dec.
est. nº 36.860, de 05.06.93, tendo como Presidente Dr. Édis Milaré, como
Secretário Executivo Dr. Antonio Herman V. Benjamin e como Secretários
Adjuntos Dr. Ronald Victor Romero Magri e Dr. Francisco Thomaz Van Acker
(DOE-SP, de 28.12.94, p. 59 a 65), objeto de exposições e debates no Painel II
do Congresso Brasileiro de Direito Ambiental (em 01.11.95), integrante do
Congresso Internacional de Responsabilidade Civil - Consumidor, Meio
Ambiente e Danosidade Coletiva: Fazendo Justiça ao Terceiro Milênio.

         
  

  

POSTADO POR MONICA EM  , 13/03/2010 ÀS 16:5 8
A propriedade privada é garantida pela Constituição Federal, mas não de forma
ilimitada como pensam muitos, pois ela está atrelada a uma função social.
As limitações ao direito da propriedade são de ordem pública ou privada, pois a
proximidade entre prédios, especialmente nas áreas urbanas, pode gerar riscos
e danos à saúde, ao sossego e à segurança dos vizinhos e da coletividade.
O Direito de Vizinhança é uma das vertentes da função social da propriedade,
pois esta não pode ser usada em detrimento do direito de terceiros e seu abuso
pode ser coibido nas esferas judiciais, inclusive com a condenação ao
pagamento de indenizações pelos danos materiais e morais causados.
O Código Civil de 2002 , em vigor, contém um capítulo refer ente ao Direito de
Vizinhança, conferindo ao proprietário ou inquilino de um imóvel o direito de
impedir o mau uso da propriedade vizinha que cause ou possa causar
prejuízos à saúde, ao sossego e à segurança.
Vale ressaltar que o termo ³vizinho´ em direito é mais abrangente do que
comumente se costuma utilizar, não se referindo apenas aos imóveis
contíguos, mas a qualquer prédio próximo ou distante atingido pelo mau uso da
propriedade.
É comum nos Tribunais pátrios decisões que obrigam os donos de imóveis o u
estabelecimentos empresariais e comerciais a cessar os inconvenientes
causados aos seus vizinhos, sejam eles referentes à poluição gasosa ou
sonora, à má conservação do imóvel que possa implicar em riscos de
desabamento, a construções ou escavações que a fetem a estrutura do prédio
vizinho, ao escoamento de água ou esgoto, dentre tantos outros problemas
vivenciados nas relações entre moradores próximos.
O ordenamento civil brasileiro proíbe literalmente encostar, à parede divisória
entre prédios, chaminés, fogões, fornos ou quaisquer aparelhos ou depósitos
suscetíveis de produzir infiltrações ou interferências prejudiciais ao vizinho.
Segundo o mencionado Código, em seu artigo 1.299, ³o proprietário pode
levantar em seu terreno as construções que lhe apr ouver, salvo o direito dos
vizinhos e os regulamentos administrativos.´
Os regulamentos administrativos são aqueles que especificam as regras de
execução dos projetos de engenharia e arquitetura, delimitando altura entre
muros, recuos, distância entre prédios, dentre outras regras a serem
obedecidas. No município de João Pessoa, as construções devem observar a
Lei Municipal de n.° 2.102, de 31 de dezembro de 1975, que instituiu seu
Código de Urbanismo.
A violação das regras de edificação pode culminar com a obrigação de cessar
a construção em andamento ou na demolição das já feitas, respondendo,
ainda, os infratores por eventuais perdas e danos causados aos seus vizinhos,
além de indenização por danos morais.
Como se vê, a legislação e a jurisprudência bra sileira munem os vizinhos
prejudicados pelo uso nocivo da propriedade de um vasto aparato legal para
fazer parar os inconvenientes suportados por quem desrespeita as regras de
boa conduta e de razoabilidade nestas relações tão melindrosas.

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