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), 2007 87
SUMÁRIO
Refira-se que o consumo de energia no sector dos edifícios na Europa, entre 1997 e 2004,
cresceu a um ritmo de 7% ao ano, representando um potencial de poupança de mais de 30%.
Por outro lado, a Europa assumiu o protocolo de Quioto e reconheceu que a segurança no
abastecimento de combustíveis fosseis pode constituir uma fragilidade, tendo em atenção que
se nada fosse feito até 2020 a Europa importaria 80 % da energia que consome.
A Directiva 2002/91/CE (EPBD), impõe aos Estados Membros da União Europeia a emissão
de Certificados Energéticos nos seguintes casos:
O RCCTE é um dos três Decretos-Lei que, no seu conjunto, fazem a transposição da Directiva
em Portugal, enquadrando o SCE (Figura 1).
No passado recente era possível construir uma parede dupla, com forte isolamento térmico na
caixa-de-ar, na qual se inseria um pilar de betão com a largura da parede. Esta configuração
conduzirá inevitavelmente ao aparecimento de condensações superficiais, o que é inaceitável.
Com o objectivo de quantificar as heterogeneidades, o RCCTE apresenta o conceito de “pontes
térmicas planas” definidas como uma heterogeneidade inserida em zona corrente da envolvente
(como é o caso de talões de vigas, pilares e caixas de estores). A Figura 4 e a Figura 5 ilustram
três pontes térmicas planas correntes nos edifícios em Portugal.
Implicações construtivas do novo RCCTE na concepção de paredes de alvenaria 92
O requisito mínimo que o RCCTE impõe, no que diz respeito às “pontes térmicas planas”, é
que nenhuma ponte térmica plana possa ter um valor de U (coeficiente de transmissão térmica
superficial), calculado de forma unidimensional na direcção normal à envolvente, superior ao
dobro do dos elementos adjacentes (U1 ou U2) [4]. Por outro lado, o valor de U tem de ser
sempre inferior ao valor máximo admissível, isto é:
V.P. Freitas 93
- Regra 1
U 3 ≤ 2 x U1
U 3 ≤ 2 x U2
- Regra 2
U3 ≤ Umáx (ver Quadro IX.1 – RCCTE)
Figura 7 : Comparação dos valores de ψ da ligação fachada com o pavimento térreo na situação
de isolamento pelo exterior e isolamento repartido [4]
Custo inicial
Custo de exploração
Custo global
Custo [€]
0
U
0
Coeficiente de transmissão térmica - U [W/(m²·º C)]
0,30 €
0, 26
27 8
0, 61
5 €
Consumidor doméstico médio, BT (fonte: DGGE)
0, 55
€
2
0,
2
0, 43
€
Estimativa
24 €
0, 37
€
9
2
0,
€
2
0, 25
0,25 €
23 €
0, 20
€
1
2
0, 15
€
2
0, 09
2
0,
€
2
0, 99
€
20 €
0, 94
€
1
4
0, 0
€
1
0, 85
19 €
0, 80
1
€
0,20 €
0, 6
1
0, 72
€
17 €
0, 68
1
0, 63
€
0, 60
1
€
0, 56
1
0, 2
1
€
0, 48
1
€
0, 45
15 €
€
0,
1 €
€
1
€
0,15 €
0,10 €
0,05 €
0,00 €
1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015 2020 2025 2030
(1)
Valores fornecidos pelo fabricante (2006), que incluem o IVA à taxa de 21%.
Implicações construtivas do novo RCCTE na concepção de paredes de alvenaria 98
7.4. Optimização da espessura do isolante térmico de uma parede de alvenaria dupla com
isolamento térmico na caixa-de-ar
Seleccionou-se uma parede de alvenaria dupla (15+11) rebocada, tendo-se considerado que o
coeficiente de transmissão térmica (U) da parede sem qualquer isolamento térmico é de 1,1
W/m².ºC. No Quadro 3 definem-se os valores de U, para diferentes níveis de isolamento em
função da zona climática.
Nas Figuras 10 a 12 apresentam-se os gráficos dos custos globais estimados para um período
de 25 anos, correspondentes aos níveis de qualidade térmica definidos no Quadro 3 (N0 a N4),
e para três concelhos de Portugal Continental (Lisboa – I1, Porto – I2 e Bragança – I3).
As principais alterações introduzidas pela entrada em vigor do novo RCCTE, no que se refere à
transmissão de calor através da envolvente vertical opaca, são as seguintes:
− Diminuição dos valores dos coeficientes de transmissão térmica – U em zona
corrente;
− Limitação dos valores de U nas zonas de “ponte térmica plana”, relativamente ao
valor de U da zona corrente adjacente;
− Os valores de U nas “pontes térmicas planas” têm de ser menores do que os valores
máximos admissíveis;
− Obrigatoriedade de quantificação das perdas pela ligação entre elementos
construtivos, através do coeficiente de transmissão térmica linear “Ψ”, expressa em
W/m.ºC;
V.P. Freitas 101
Muito embora o RCCTE não seja prescritivo, o que significa que o leque de soluções que o
permitem satisfazer é elevado, certamente que as paredes de fachada irão evoluir no seguinte
sentido:
− Aumento da espessura de isolamento térmico;
− Garantia da continuidade do isolamento térmico;
− Aumento da espessura das paredes duplas;
− Aplicação crescente de isolamento térmico pelo exterior;
− Desenvolvimento de novos dispositivos com isolamento térmico melhorado (cunhais,
contorno dos vãos, etc.);
− Exclusão de soluções de tratamento de pontes térmicas que não assegurem a
estabilidade da alvenaria.
9. CONCLUSÃO
Como conclusão pode afirmar-se que o objectivo último do novo RCCTE é a certificação
energética, que irá permitir distinguir e qualificar os edifícios e as fracções com maior ou
menor consumo de energia. Pretende-se construir com maior eficiência energética, maior
conforto, de forma mais sustentável e com durabilidade. Uma das vias dessa estratégia é
projectar e construir paredes com menores valores de coeficientes de transmissão térmica – U,
estáveis e com isolamento térmico contínuo.
10. AGRADECIMENTO
11. BIBLIOGRAFIA