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Abreviaturas…………………………………………………………………………………………...I
Introdução........................................................................................................................2
Objectivos........................................................................................................................3
Determinação do Sexo em Répteis..................................................................................3
1.1 Influência dos Factores Ambientais (Temperatura).................................................3
1.2 Influência dos Factores genéticos na Determinação...............................................9
1.2.1 Genes Envolvidos na Determinação do sexo Gonadal nos Mamíferos..................14
Segundo Randall, Burggren e French, (2002) a reprodução tem como, em última analise,
garantir a sobrevivência do ADN na “germ-line”, pois a informação nela contida determina a espécie
e uma falha, pela espécie, de reproduzir esta informação leva à imediata extinção.
A existência de dois sexos (macho e fêmea) favorece a reprodução sexuada e por isso a
determinação do destino sexual é uma parte integrante de reprodução, usado como um dos meios
para enriquecer o genoma (Manolakou, Lavranos e Angelopoulou, 2006), sendo um processo
biológico fundamental de uma profunda importância para o desenvolvimento de indivíduos e
formação “ratio” sexual na população (Sarre, Georges e Quinn 2004).
Segundo Sarre, et al., (2004) a diferenciação sexual compreende todos processos da formação
de testículos ou ovários a partir de uma gónada indiferenciada (gónada bipotencial) e não deve ser
confundida com a determinação sexual, que é o principal assunto deste trabalho, o qual é o processo
que decide a diferenciação sexual a levar uma rota ou outra.
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Objectivos
Estudar os factores que influenciam na determinação do sexo nos répteis;
Alterações ambientais decorrentes do aumento das temperaturas sobre animais terrestres são
mediados por interações complexas entre as variáveis climáticas, relevo e vegetação, bem como
morfologia, comportamento e fisiologia animal. As espécies ovíparas são mais vulneráveis às
alterações climáticas principalmente na fase embrionária, uma vez que os ovos são tipicamente
abandonados em locais fixos durante todo o seu desenvolvimento (Conceição, Almeida, Brasileiro,
Barros, Wiltshire e Sarment,o 2009)
Quando o sexo é primariamente determinado pelo ambiente, o factor mais importante e
extensivamente estudado em muitas espécies de vertebrados é a temperatura (Pieau, Dorizzi e
Richard-Mercier, 1999)
3
Muitas espécies de répteis mostram o mecanismo de determinação de sexo dependente da
temperatura (TSD, do inglês temperature-dependent sex determination) onde o sexo é determinado
depois da fertilização pelas condições ambientais que prevalecem durante incubação embrionária, e
largamente independente das influências directas dos factores genéticos (Sarre, et al., 2004).
Espécies com padrão TSD não possuem nenhum cromossoma sexual discernível e o sexo não
é determinado pela presença ou ausência de genes específicos. Nestes organismos, é a temperatura
do ambiente em um período específico de incubação que pode determinar se o animal em questão
torna-se em um macho ou uma fêmea (Manolakou, et al., 2006).
Figura 1. Aromatase. Aromatase é uma enzima de cytP450 que permite a conversão de andrógeno
em estrogénio (Manolakou, et al., 2006).
Em répteis, enquanto a esteroidogénese começa muito cedo, até antes mesmo do TSP, a
actividade de aromatase permanece universalmente baixa. Com o início do TSP, porém, a actividade
de aromatase parece aumentar dentro certos intervalos de temperaturas que variam para cada espécie
(Pieau, et al., 1999). Por exemplo, em tartarugas marinhas e de água doce, temperaturas mais altas
causam um aumento exponencial de actividade de aromatase, por outro lado, em temperaturas mais
baixas a actividade da aromatase permanece baixa. Os diferentes níveis de actividade de aromatase
dão origem a diferenciação da gónada indiferenciada em um ovário ou testículos. Uma vez o TSP
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tenha terminado e o destino da gónada estabelecido, mudanças adicionais em temperatura parece não
ter nenhum efeito (Figura 2) (Manolakou, et al., 2006).
Há consensos gerais de que a temperatura mostra sua influência em espécies com TSD
agindo nos mecanismos genéticos que governam enzimas esteroidogénicas ou receptores de
hormonas esteróides, assim alterando o ambiente hormonal do embrião sexualmente indiferenciado e
dirigindo o desenvolvimento em macho ou fêmea (Sarre, et al., 2004).
Foi sugerido recentemente que aromatase também pode ser regulado através de parâmetros
secundários, diferente de temperatura. Isto foi descrito por exemplo, no caso da Prostaglandina E2
que parece estar associado com o aumento da acção de aromatase (Manolakou, et al., 2006).
Segundo (Sarre, et al., 2004), casos de TSD estabelecidos para tartarugas, apenas um sexo é
gerado a altas temperaturas (fêmea) e o outro sexo a baixas temperaturas (macho). Num intervalo
muito estreito de temperaturas (intervalo pivotal), ambos sexos são produzidos e este intervalo
pivotal separa os intervalos de produção de machos das fêmeas. Conceição et al., (2009) e Pieau, et
al., (1999), sustentam que, nos répteis com TSD, durante o intervalo pivotal, inter-sexos
(hermafroditas) podem ser também formados. A extensão do intervalo pivotal varia grandemente
entre as espécies e muitas espécies possuem um extremo superior e inferior do intervalo pivotal em
que as fêmeas são produzidas nos dois extremos de temperatura e os machos nas temperaturas
intermediárias (Pieau, et al., 1999 e Sarre, et al., 2004).
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Segundo Conceição et al. (2009), em quelónios, com algumas excepções, a incubação dos
ovos sob baixa temperatura induz a formação de machos enquanto a incubação dos ovos sob
temperatura mais alta induz a formação de fêmeas.
A diferenciação gonadal como função da temperatura tem sido descrita em muitas espécies
de répteis. A figura 3 esquematiza alguns aspectos histológicos do processo de diferenciação gonadal
a partir da formação do primórdio gonadal até às estruturas das gónadas na eclosão. As principais
mudanças morfológicas que ocorrem durante este processo são similares em todas espécies de
tartarugas e alligators (Pieau, et al., 1999).
Figure 3. Diferenciação Gonadal em répteis com padrão TSD: a, albuginea; BcMc, cápsula
de Bowman de corpúsculo de Malpighi; bv, vaso sanguíneo; c, córtex; ca, córtex “anlage”; ce,
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epitélio coelómico; dm, mesentério dorsal; gc, células germinais; ge, epitélio germinal; l, “lacunae”;
Lc, células de Leydig; m, medula; mc, cordas medullares; mm, mesenquima mesonéfririco; mt, tubo
mesonéfrico; oo, oocito; pf, folículo primordial; rc, cordão “rete”; rca, cordão “rete” de “anlage”;
sca, cordão seminífero de “anlage” (Pieau, et al., 1999).
Uma das hipóteses, sustentada por Sarre, et al., (2004), para a determinação do sexo nos
grupos especificados de répteis é a de que a temperatura poderia afectar directamente os genes que
controlam os harmónios específicos para a diferenciação das gónadas, e consequentemente, na
determinação do sexo dos indivíduos. A outra hipótese é a de que a temperatura poderia influenciar
na taxa de transcrição e tradução desses genes responsáveis pelos hormônios na determinação do
sexo.
Pieau, et al., (1999), relata estudos laboratoriais com feitos com Emys orbicularis, Alligator
mississippiensis, Trachemys scripta e Malaclemys terrapin sobre os genes que codificam os
receptores de aromatase e astrogenos, onde notou-se que a diferenciação na actividade de aromatase
como uma função da temperatura de incubação dos embriões resulta da diferença na regulação do
gene da aromatase ao nível de transcrição e os genes receptores são expressos no início do TSP.
Como seria de esperar, o mecanismo TSD parece ser um fenómeno largamente distribuído
entre os vertebrados de sangue frio (ectotérmicos), provavelmente é o método de escolha para obter
espécies férteis com sexo reverso (Wallace, Badawy e Wallace, 1999).
Grech, et al., (2000), fazendo um estudo demográfico em Malta, entre 1890 a 1995, e na
Europa ocidental, entre 1990 a 1995, verificaram que em Malta não houve tendência de declínio
durante o século 20; porém, para todos anos (1890-1899 e 1916-1995) a razão entre machos e fêmeas
foi de 0.519 (Figura 4), consistentemente maior que o esperado (0.515). Por outro lado, os países do
sul da Europa tiveram um maior número de nascimentos de machos que os países da Europa do norte
(Figura 5).
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Figura 4. Relação de nascimentos masculinos e o total de nascimentos em Malta para
diferentes períodos (Grech, et al., 2000).
Mas os resultados não puderam explicar a incidência mais alta de nascimentos masculinos
dentro o sul de Europa, especulando-se que temperaturas ambientais não só podem afectar a
fertilidade, mas também o “ratio” do sexo no nascimento.
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Deste modo, as observações levaram à sugestão de que o potencial factor óbvio é
temperatura, e estudo relativo a relação de sexo ao nascimento, e não só para fertilidade, pode ajudar
elucidar os resultados do estudo.
Segundo Sarre, et al., (2004), os répteis tem um padrão complexo de GSD envolvendo tanto
o sistema XX/XY como ZZ/ZW. É improvável que um único mecanismo de GSD ou gene do sexo
seja conservado entre répteis. Nós podemos esperar genes determinantes do sexo equivalentes para
SRY e DMRT1 em répteis com sistemas XY e ZW, mas dado que GSD evoluiu muitas vezes,
provavelmente, podem ser esperadas numerosas formas de tais genes determinantes do sexo.
A maioria da compreensão de GSD em répteis passa por analogia a aves e mamíferos porque
houve uma investigação limitada do mecanismo GSD em répteis (Sarre, et al., 2004).
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Todas aves apresentam GSD como padrão de determinação do sexo com sistema ZZ/ZW.
Põem, as fêmeas são heterogaméticas (dois tipos de gâmetas) carregando uma cópia de cada
cromossoma sexual (ZW), sendo os machos homogaméticos (todos gâmetas de com um tipo) ZZ. Os
cromossomas Z e W não têm nenhuma relação com os cromossomas X e Y dos mamíferos, e na
realidade, parecem terem evoluído de diferentes pares de autossomas (Manolakou, et al., 2006).
Mas qual dos cromossomas carrega o gene que despoleta a determinação do sexo? Hoje em
dia, existem duas maiores teorias sob investigação descritas por Manolakou, et al., (2006) (Tabela 2
e Figura 6):
2. Por outro lado, sexo pode ser determinado pela presença do cromossoma feminizante
W, seguindo o exemplo do Y em mamíferos de euterianos. Existem dois diferentes mecanismos
que estão a ser estudados. (1) Um dos mecanismos incluem o gene FET1, isolado no
cromossoma W e não tem homologo no cromossoma Z e é expressado quase exclusivamente
no sistema urogenital fêmea; (2) o outro inclui o gene ASW, também conhecido como WPKCI,
e seu homólogo ZPKCI no cromossoma Z. Foi proposto que os produtos destes dois genes são
capazes de formar dímeros, com homodímeros ZPKCI agindo como um factor testicular e
heterodímero WPKCI/ZPKCI impedindo este efeito.
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Figura 6. O papel de ZPKCI e ASW (WPKCI) no sistema ZW para a determinação do sexo
em aves. De acordo com uma das teorias, as proteínas de ZPKCI formam homodímeros em machos
ZZ que estimulam um factor necessário para a diferenciação dos testículos. Considerando que em
fêmeas ZW, o ASW (também conhecido como WPKCI) as proteínas formam heterodímeros com
ZPKCI que pode prevenir a activação daquele factor ou pode estimular directamente a diferenciação
de ovários (Manolakou, et al., 2006).
Ainda não foi demonstrado que os mamíferos Monotrematas possuem o gene sexo-específico
SRY, sugerindo que o SRY evoluiu a sua função de activar a rota de desenvolvimento sexual
masculino antes da divergência dos Monotrematas e mamíferos euterianos a cerca de 170 milhões de
anos atrás (Figura 7) (Pask e Graves 1999).
Na maioria dos mamíferos euterianos, o sexo é determinado pela presença do gene SRY no
cromossoma Y. O SRY está presente no cromossoma Y dos Marsupianos mas não controla todas as
facetas de determinação de sexo neste grupo (Tabela 3). Parece estar ausente em todos os
vertebrados não mamíferos, e provavelmente evoluiu de um gene SOX. Estas observações sugerem
que o gene SRY evoluiu recentemente (Sarre, et al., 2004).
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Figura 7. Filogenia da classe Mamállia, indicando a divergência dos Marsupianos,
Monotrematas, répteis e aves. Os números indicam tempos estimados da divergência em milhões de
anos atrás (Pask e Graves 1999).
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indiferenciada que forma testículos (XY/2A) ou ovários (XX/2A). Se forem formados testículos, eles
segregam a hormona tetosterona, que circula através do embrião e induz às células somáticas para
seguirem a rota do desenvolvimento do macho. Alternativamente, se ovários forem formados, a
ausência da tetosterona permite às células somáticas a seguirem a rota do desenvolvimento da fêmea
(Figura 7.) (Ayala, e Kiger Jr. 1984).
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1.2.1 Genes Envolvidos na Determinação do sexo Gonadal nos Mamíferos
Segundo Domenice, Costa, Corrêa e Mendonça (2002), em humanos, os genes envolvidos na
determinação do sexo gonadal estão divididos em duas categorias: genes localizados nos
heterossomas e genes localizados nos autossomas.
1. Gene SRY (Gene da região determinante do sexo do cromossoma Y) - OMIM 480000. O gene
SRY humano está localizado próximo à região pseudoautossomal do braço curto do cromossoma
(Yp 11.3).
2. Locus DSS (Dosage Sensitive Sex reversal). Gene DAX1 (gene 1 da região crítica DSS –
Hipoplasia adrenal congénita do cromossoma X)/NR0B1 – OMIM 300200. O locus DSS está
localizado na região Xp21 adjacente ao locus da hipoplasia adrenal congénita (HAC);
3. Gene ATR-X (α-talassemia e retardo mental ligada ao X) – OMIM 300032. O gene ATRX (ou
gene da helicase 2 ligado ao X - H2X) está localizado no braço longo do cromossoma X (Xq13).
1. Gene SF-1 (Gene do Factor Esteroidogénico 1) /NR5A1 - OMIM 184757. O gene SF-1 humano
está localizado no braço longo do cromossoma 9 (9q34);
2. Gene WT1 (Gene supressor do tumor de Wilm’s) - OMIM 194070. O gene WT1 em humanos
está localizado no braço curto do cromossoma 11 (11p13);
3. Gene SOX9 (SRY-related HMG-box gene 9) - OMIM 114290. O gene SOX9 é um factor
transcriçional, membro da família dos genes SOX que contém um núcleo HMG box semelhante
ao do gene SRY. Em humanos o gene SOX9 está localizado no braço longo do cromossom 17
(17q24);
4. Gene WNT4 (Wingless-type mouse mammary tumor virus integration site member 4) - OMIM
603490. O gene WNT4 é membro da grande família de WNT, genes que codificam
glicoproteínas sinalizadoras extracelulares. O gene WNT4 humano está localizado no braço curto
do cromossoma 1 (1p31-p35);
5. Genes DMRT1 e DMRT2 (Doublesex and Mab-3 Related Transcription Factor 1 and 2) –OMIM
602424. Os genes DMRT1 e DMRT2 mapeados na região do braço curto do cromossoma 9
(9p24.3).
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Segundo Pask e Graves (1999) a pobre conservação de sucessão de SRY entre espécies, tanto
dentro como nos flancos (lados) de HMG box sugere que SRY possa codificar um repressor em lugar
de um activador transcripçional. Por outro lado, a acção de SRY é dependente duma sequência
reguladora e também pode ser afectada através de interacções com SIP1 e Calmodulina. A co-
expressão de SOX3 e SRY no cume gonadal sugere que os dois genes competem para o mesmo local
de ligação. Foi sugerido que os ligantes de SRY bloqueiam SOX3 de iniciar desenvolvimento
feminino, e poderá conduzir possivelmente à activação de SOX9, essencial para a organização dos
testículos. SF1 é responsável pela activação da expressão de AMH pelas células pré-Sertoli,
conduzindo à regressão do ducto Mulleriano e à masculinização das gonadas. Em fêmeas a história é
mais vaga, com DAX1 que é o único gene identificado com um papel na determinação de ovário.
SOX3, como indicado acima, também pode ter um papel no desenvolvimento feminino. A que nível
acontece cada uma das interacções descritas acima ainda é indeterminado (Figuras 8 e 9).
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Figura 9. Interacção proposta entre os genes determinantes do sexo. A natureza exacta de
cada interacção ainda não é conhecida. As setas azuis indicam a rota do desenvolvimento do macho.
As setas rosas indicam a rota do desenvolvimento da fêmea (Pask e Graves 1999).
Como foi referido abaixo, existem espécies em que os mecanismos genéticos e ambientais
co-existem e interagem em menor ou maior escala para criar fenótipos sexuais. Este facto, nota-se
pelo conservantismo no ambiente hormonal no qual a gonada desenvolve é refletido na presença e
expressão de genes relacionados com o sexo (Sarre, et al., 2004).
Por exemplo, na tartaruga marinha Lepidochelys olivácea, diversos genes relacionados com a
determinação do sexo em mamíferos são expressos, incluindo o DAX1 e SOX9. DAX1 em particular
é conhecido como um regulador do desenvolvimento gonadal em ratos e outros mamíferos,
considerado como sendo gene “anti-testiculo”. Em repteis, o gene não é diferencialmente expresso
com a variação da temperatura durante o TSP, porem, seu papel na determinação do sexo em repteis
não é claro. O gene é também expressado em crocodialianos, como em Alligator mississipiensis. Não
se sabe ainda se este gene realmente pode ser alvo de acções relacionadas com androgenos ou
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estrogenos seguindo o TSP. Porem, sabe-se que este gene é expresso exclusivamente nas gónadas
dos machos (Manolakou, et al., 2006).
Segundo Sarre, et al., (2004) em dois répteis com TSD, a tartaruga de orelhas vermelhas e o
alligator amaricano, DMRT1 é superregulado na gónada indiferenciada durante o TSP quando
incubado a temperaturas que produzem machos mas e menos regulada a temperaturas de produção de
fêmeas. Estes estudos e outros em humano sugerem que DMRT1 tem uma função central no
desenvolvimento do testículos. Em pássaros e répteis, a conversão de esteróides androgénicos para
esteróides estrogénios é regulada pelo gene de aromatase, transcrição da qual pode ser ativada pelo
gene SF1 ou pode ser reprimido pelo gene AMH. Este processo age para trocar do equilíbrio
endócrino entre a diferenciação em macho ou fêmea durante o desenvolvimento do embrião. Esta
diferença sugere que, ao nível molecular, entre répteis com diferentes mecanismos de determinação
do sexo pode ser pequena, envolvendo potencialmente poucos ou talvez só um gene.
Um esquema proposto por Pieau, et al., (1999), apresenta o possível mecanismo da acção da
temperatura resultando na activação ou repressão da transcrição do gene aromatase, incluindo genes
recentemente identificados nos répteis TSD; possíveis interacções com o gene aromatase e o
complexo de receptores de estrogénio. A transcrição da aromatase está sob controlo de factores
activadores e repressores (Figura 10).
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Figure 10. Possíveis interacções de factores determinantes sexuais homólogos dos mamíferos
com o gene de aromatase em répteis de TSD. (+) Activação de transcrição; (-) repressão de
transcrição; A, androstenedione; E1, estrona; E2, estradiol-17β; ER, receptor de estrogénio; T,
testosterona; DHT, dihidrotestosterona; hsp, proteína de choque termossensíveis (Pieau, et al., 1999).
O trabalho de Uller e Olsson (2003) mostra que os efeitos do ambiente pré-natal (maternal),
jogam um papel importante durante o desenvolvimento em formar uma variedade de características
na descendência. Estes autores trabalharam com o lagarto comum (Lacerda vivipara), um réptil
vivíparo; para demonstrar este fenómeno nesta classe de vertebrados.
O dimorfismo sexual foi baseado no comprimento relativo da cabeça porque esta alometria é
constantemente influenciada nos machos, tendo cabeças grandes na Sauria (incluindo Lacerda
vivipara).
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As fêmeas que desenvolveram em “clutches” influenciados para o sexo masculino tiveram
uma alometria mais masculina (cabeça relativamente larga) durante o parto que fêmeas que
desenvolveram em “clutches” influenciados para o sexo feminino. Os machos foram
correspondentemente feminizados quando desenvolvidos entre fetos fêmeas. Este efeito pode ser por
causa da difusão dos esteróides produzidos pelos fetos ou por uma tendência geral para as fêmeas de
alocarem esteróides de acordo com a razão do sexo no seu útero.
As medidas do tamanho da cabeça foram feitas logo após ao parto e depois de 15 dias de
desenvolvimento.
Figura
11. Desenvolvimento relativo do comprimento da cabeça de ambos sexos e as razoes sexuais e
diferentes razoes de sexos pré-natais. As diferenças entre ”clutches” influenciados para o sexo oposto
e para o mesmo sexo são estatisticamente diferentes na nascença, com a diferença que permanece
significante depois de 15 dias de crescimento em machos. F=fêmeas; M=machos; Diff=”clutches”
influenciados para o sexo oposto e Same=”clutches” influenciado para o mesmo sexo (Uller e Olsson
2003).
Segundo Uller e Olsson (2003), não são nutrientes, mas também hormonas podem ser
transferidas da mãe para os embriões, a interacção entre as crias durante a gestação pode influenciar
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o fenótipo, se a fêmea tiver mais fetos machos pode alocar mais tetosterona para todos embriões e
estrogénio se tiver mais fetos fêmeas em gestação.
Os lagartos fêmeas com cabeças mais grandes tem maior acesso às presas, o que resulta numa
alta fecundidade, por outro lado, machos com cabeças mais grandes serão mais sexualmente
selectivos. De um modo geral, lagartos com cabeças grandes têm maior sucesso reprodutivo (Uller e
Olsson 2003).
A árvore filogenética de determinação do sexo (Figura 12) mostra que espécies de peixes,
quelónios e lagartos têm o sexo determinado tanto de forma genética (GSD) quanto dependente da
temperatura (TSD), podendo ser pelos sistemas XY ou ZW, enquanto os anfíbios possuem o sexo
determinado apenas geneticamente e também apresentam ambos os sistemas. Os crocodilos têm
padrão TSD, enquanto serpentes e aves (sistema ZW) e mamíferos (sistema XY) têm o sexo definido
geneticamente (Modi e Crews 2005).
Entre as espécies que usam a genética como determinante do sexo, os machos podem ser
heterogaméticos (XY) ou homogaméticos (ZZ), enquanto as fêmeas podem ser homogaméticas (XX)
e heterogaméticas (XY) (Griffiths et al., 1998).
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determinantes do sexo masculino e feminino, respectivamente, são altamente heterocromáticos e,
consequentemente, menores que os X e Z, respectivamente (Vieira et al., 2009).
Figura 12. A
filogenia dos vertebrados que ilustra as formas da determinação de sexo. “Fêmea” e “macho” têm a
determinação genética do sexo (GSD) com fêmeas e machos heterogaméticos, respectivamente. O
ESD/STD representa a determinação de sexo dependente da temperatura (Modi e Crews 2005).
Segundo estes autores, as mudanças necessárias para levar uma transição de um sistema para
o outro não são bem conhecidas. Por ouro lado, nem o sistema GSD ou TSD pode ser reconhecido
como o estado derivado num grupo de organismos com os dois sistemas. Existe uma distribuição
quase aleatória do sistema TSD ao longo da filogenia dos répteis com taxas irmãs a exibirem modos
alternados de determinação do sexo em todos os níveis.
Será que a transição entre os dois modos foi afectada pela evolução independente de um
único mecanismo genético ou algum mecanismo mais subtil conservado e possivelmente com
modificações reversíveis?
A Figura 13 mostra um exemplo hipotético da transição do estado GSD para TSD. Pode se
notar a determinação do sexo pode ser “capturada” pelas influências dos factores ambientais tais
como a temperatura em diversos pontos das rotas que levam à formação do macho ou fêmea.
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Figura 13. Rota hipotética para diferenciação sexual num réptil GSD, mostrando que existem
muitos pontos onde a sensibilidade à temperatura pode ser afectado para formar TSD. A acção de
alguns genes (WNT4, DAX1) foi demonstrado em mamíferos, não em répteis, foram incluídos para
uma simples ilustração. Genes identificados pelas setas, são largamente distribuídos nos vertebrados
e causam reversão do sexo em mamíferos (WNT1) ou em repteis (aromatase) ou quando os genes ou
seus produtos são manipulados
Suponhamos que o estado ancestral seja um GSD com sistema XY com os genes
determinantes do sexo ou um complexo de genes localizados somente no cromossoma Y. A
expressão deste gene ou genes em indivíduos XY leva, através de uma rota ou rede de influência de
genes sexuais para uma hiporegulação do gene da aromatase, reduzindo a actividade da aromatase, e
consequentemente a produção de machos. A ausência de genes determinantes sexuais em indivíduos
XX leva ultimamente à alta actividade da aromatase e produção de fêmeas.
Neste exemplo hipotético, a determinação sexual pode ser capturada pelas mutações
genéticas resultando num efeito de influência ambiental em numerosos pontos da cascata da
diferenciação sexual.
O gene determinante do sexo pode se tornar por si só, sensível à temperatura na sua
expressão. Essa sensibilidade pode ser expressada apenas em indivíduos XY e não XX. Há registos
de que em alguns lagartos e crocodilos, as fêmeas podem ser produzidas em todas faixas de
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temperaturas, o que não se observa em espécies TSD. Sob este cenário, fêmeas XY podem ser
produzidas em algumas temperaturas levando à possibilidade de produzir-se indivíduos YY em
gerações subsequentes.
Em cada um dos cenários, a determinação do sexo pode ser capturada pelas mutações genicas
na cascata abaixo.
Muitos outros pontos na diferenciação sexual tem sido identificados como possíveis
potenciais candidatos em que os genes podem ou os seus produtos podem tornar-se sensíveis à
temperatura com efeitos diferentes devido à presença ou ausência do gene ligado ao cromossoma Y.
Um caminho reverso pode ocorrer de uma maneira relativamente simples, envolvendo perdas
ou diminuição da sensibilidade através de mutações dos genes sensíveis à temperatura.
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Conclusão
A temperatura e o genoma são os principais factores que influenciam na determinação do
sexo em répteis; os dois factores podem agir independentemente ou Co-existirem.
O ambiente materno tem influência nas características dos descendentes e estas no acesso à
presa, fecundidade, selecção sexual e sucesso reprodutivo.
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