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2010
RESUMO
O desenvolvimento deste trabalho diz respeito à problemática da efetivação do Direito
Humano à Alimentação Adequada, enfatizando os desafios, os limites e as possibilidades para
sua realização. Têm-se como objetivos: identificar conceitos e dimensões que demonstram a
importância de uma visão transdisciplinar para garantir a concretização deste direito; mostrar
a importância do tema para a realidade vivenciada pela população mundial e brasileira; e
verificar a integração dos esforços entre governo e sociedade civil para a realização desse
direito. Como resultado foi verificado a necessidade de: identificar a importância da inclusão
desta discussão em programas educacionais relacionando os temas e a participação política;
identificar instrumentos que potencializem o papel das políticas públicas orientadas conforme
as realidades locais existentes; e intensificar a preocupação com a proteção e efetivação dos
direitos declarados.
ABSTRACT
The development of this work concerns the problem of the effectuation of the Human Right to
Adequate Food, emphasizing the challenges, the limits and possibilities for its realization. The
objectives are: identify concepts and dimensions that demonstrate the importance of a
transdisciplinary vision to ensure the realization of this right, show the importance of the
theme to the reality experienced by the population in Brazil and to verify the integration of
efforts between government and civil society for the realization of this right. As a result it was
verified the need to: identify the importance of including this discussion in educational
programs relating themes and political participation; identify tools that enhance the role of
public policies according existing local realities, and increase preoccupation for the protection
and realization of the declared rights.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo traz em seu conteúdo uma discussão atual e relevante no que se refere a um
direito básico inerente a todo ser humano, o direito à alimentação, requisito para efetivação do
direito à vida.
O objetivo geral deste trabalho é realizar uma discussão acerca do tema alimentação
adequada como direito fundamental e os desafios para sua efetivação. Além disso, têm-se
como objetivos específicos: identificar conceitos e dimensões que demonstram a importância
de uma visão transdisciplinar para garantir a concretização deste direito; mostrar a
importância do tema para a realidade vivenciada pela população mundial e brasileira; e
*
Aluna da Graduação em Direito da Universidade de Fortaleza (UNIFOR).
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verificar a integração dos esforços entre governo e sociedade civil para a realização do direito
à alimentação adequada.
Foram utilizadas as seguintes etapas fundamentais para o desenvolvimento da
pesquisa: escolha do tema; levantamento bibliográfico preliminar; elaboração do plano
provisório do assunto; busca das fontes; leitura do material; organização lógica do assunto; e
redação do texto.
No dia 05 de fevereiro de 2010 foi publicada no Diário Oficial da União a
promulgação da Emenda Constitucional n° 64, que inclui a alimentação entre os direitos
sociais, fixados no artigo 6º da Constituição Federal. Esta inclusão ocorreu após longa
campanha da sociedade civil, que luta para que programas de alimentação adequada se tornem
políticas do Estado e não estratégias de governo.
Dentre as ações da campanha intitulada Alimentação: direito de todos foi lançado em
2009 o documentário chamado Garapa, do diretor José Padilha, que trata sobre a questão da
fome no Brasil, sob o ponto de vista de três famílias cearenses que convivem com este
problema.
É possível destacar com a realização deste trabalho que a efetivação do direito à
alimentação, recentemente positivado na Constituição Federal de 1988 como Direito
Fundamental, exige, em todos os níveis, um olhar transdisciplinar, pois perpassa a adoção de
políticas e estratégias sustentáveis de produção, distribuição, acesso e consumo de alimentos
seguros e de qualidade, com promoção da saúde e da alimentação saudável. A importância da
discussão a respeito deste tema é pela permanência histórica da problemática. Nesse sentido, o
espectro da pobreza tem sido uma presença constante na história da humanidade. Um quarto
da população mundial (1,3 bilhão de pessoas) vive em pobreza extrema e cerca de 800
milhões não têm alimento suficiente, além de 500 milhões sofrerem de desnutrição crônica1.
Josué de Castro, ex-presidente do Conselho da Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e Agricultura (FAO), afirmou que “no Brasil ninguém dorme por causa da fome.
Metade porque está com fome e a outra metade porque tem medo de quem tem fome”2.
O Brasil é um dos maiores exportadores de alimentos, e é também a décima maior
economia do mundo. Apesar disso, milhões de brasileiros ainda sofrem de fome e
desnutrição3.
1
CIMADAMORE, Alberto, DEAN, Hartley, SIQUEIRA, Jorge (orgs). A pobreza do Estado: reconsiderando o
papel do Estado na luta contra a pobreza global. Buenos Aires: Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales:
CLACSO, 2006.
2
CASTRO, Josué. Geografia da fome: o dilema brasileiro: pão ou aço. 3 ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2003.
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Estes dados nos remetem a uma reflexão feita pelo poeta e dramaturgo abaixo citado.
Seu poema traz argumentos que inquietam e questionam o posicionamento social a respeito
da temática.
Quem se defende porque lhe tiram o ar
Ao lhe apertar a garganta, para este há um parágrafo
Que diz: ele agiu em legítima defesa. Mas
O mesmo parágrafo silencia quando você se defende porque lhes tiram o pão.
E, no entanto, morre quem não come, e quem não come
o suficiente
Morre lentamente. Durante os anos todos em que morre
Não lhe é permitido se defender.
Bertolt Brecht (1898-1956)
Os Direitos Humanos são aqueles que os seres humanos possuem pelo fato de serem
parte da espécie humana e são inerentes à própria existência. São direitos inalienáveis e
independem de legislação nacional, estadual ou municipal específica. Asseguram às pessoas o
direito de levar uma vida digna, objetivando a harmonia e o bem estar. A definição de
Direitos Humanos está em constante construção, pois esses direitos foram conquistados a
partir de lutas históricas e, por essa razão, correspondem a valores que mudam com o tempo.
Eles avançam à medida que avança a humanidade, de acordo com os conhecimentos
construídos e com a organização da sociedade e do Estado.
Pode-se fazer uma distinção entre Direitos Humanos e direitos fundamentais4. Os
direitos fundamentais são os Direitos Humanos reconhecidos como tal pelas autoridades, às
quais se atribui o poder político de editar normas; são os Direitos Humanos positivados nas
Constituições, nas leis, nos tratados internacionais. Ele exerce também uma função
pedagógica, no sentido de fazer prevalecer os grandes valores éticos, os quais, sem esse
reconhecimento oficial, tardariam a se impor na vida coletiva. O reconhecimento oficial dos
Direitos Humanos pelo ordenamento jurídico dá mais segurança às relações sociais.
Uma característica essencial dos Direitos Humanos consiste no fato de valerem contra
o Estado. Para além da organização estatal, os Direitos Humanos se fundamentam em última
instância na consciência ética coletiva, a convicção largamente estabelecida na comunidade
3
VALENTE, Flávio Luiz Schieck. Direito humano à alimentação: desafios e conquistas. São Paulo: Cortez,
2002.
4
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos Direitos Humanos. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2001.
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de que a dignidade da condição humana exige o respeito a certos bens ou valores em qualquer
circunstância, mesmo que ainda não reconhecidos no ordenamento estatal.5
É nesse entendimento que Bobbio afirma que os direitos positivos universais
representam "os direitos do cidadão daquela cidade que não tem fronteiras, porque
compreende toda a humanidade, ou em outras palavras, (...) os direitos do homem enquanto
cidadão do mundo"6. É também nesse sentido que alguns autores consideram o sistema
internacional de Direitos Humanos como uma espécie de Direito Constitucional Internacional.
Todos os Estados têm a responsabilidade primordial de criar condições nacionais e
internacionais favoráveis à realização do direito ao desenvolvimento 7. Devendo os Estados,
no plano nacional, tomar as medidas necessárias à realização desse direito, assegurando,
notadamente, a igualdade de oportunidades, para todos, no acesso aos recursos básicos, à
educação, aos serviços de saúde, à alimentação, ao emprego e a uma justa distribuição de
renda.
No Brasil, para que os tratados, acordos e convenções internacionais que versem sobre
Direitos Humanos sejam incorporados ao ordenamento interno, é necessária prévia aprovação
do Poder Legislativo, de acordo com o artigo 5°, §3° da Constituição Federal vigente. A partir
da publicação, passa o tratado a integrar o acervo normativo nacional, habilitando-se ao
cumprimento por particulares e governantes, e à garantia de vigência pelo Poder Judiciário.
Percebe-se então que a proteção dos Direitos Humanos não deve se limitar ao domínio
reservado do Estado, isto é, não deve se restringir à competência nacional exclusiva ou à
jurisdição doméstica exclusiva, porque revela tema de legítimo interesse internacional. Assim,
cristaliza-se a idéia de que o indivíduo deve ter direitos protegidos na esfera internacional, na
condição de sujeito de direito.
5
Id. Ibid., 2001.
6
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro, Campus, 1992, p. 30.
7
COMPARATO, Fábio Konder. op. cit., 2001.
8
Id. Ibid., 2001.
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Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social: IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente
unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família
com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e
previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo,
sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
VII - atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à
saúde.
Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita
resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na
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BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988. Diário Oficial da União
[da República Federativa do Brasil], Brasília.
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CONSEA, Princípios e Diretrizes de uma Política de Segurança Alimentar e Nutricional. Textos de
Referência da II Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Brasília: CONSEA, 2004.
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Artigo XI - Toda pessoa tem direito a que sua saúde seja resguardada por medidas
sanitárias e sociais relativas à alimentação, vestuário, habitação e cuidados médicos
correspondentes ao nível permitido pelos recursos públicos e da coletividade.
Artigo XXV
1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua
família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados
médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de
desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios
de subsistência fora de seu controle.
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas
as crianças nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção
social.
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Existe ainda a Declaração do Cairo sobre Direitos Humanos no Islã (1990), que no
artigo 3º determina o direito dos prisioneiros de serem alimentados, no artigo 7º o direito da
criança ao aleitamento materno adequado, e no artigo 17 o direito do indivíduo a um meio de
vida decente (...) inclusive alimentação. O Protocolo à Carta Africana sobre Direitos
Humanos e dos Povos no que se refere aos Direitos da Mulher na África (2003), no artigo 15
refere-se ao direito à segurança alimentar, aos direitos da mulher à água potável, a fontes de
combustível doméstico, à terra e aos meios para produzir e armazenar alimentos para garantir
a segurança alimentar. Dessa forma, cabe aos Estados obedecerem à legislação sobre Direitos
Humanos, garantindo o respeito, a proteção, a promoção e o provimento dos mesmos. Os
Estados devem assegurar que todas as pessoas possam exercer livremente o seu Direito
Humano à Alimentação Adequada.
5 LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL
5.1 Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (Lei n° 11.346/06)
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segurança nacional que abrangia todos os países e apontava para a exigência de formação de
estoques estratégicos de alimentos, fortalecendo a visão que estabelecia a necessidade de
busca de auto-suficiência por cada país11.
No final dos anos 80 e início dos anos 90, o conceito de segurança alimentar passou a
incorporar a noção de acesso a alimentos seguros não contaminados biológica ou
quimicamente; de qualidade nutricional, biológica, sanitária e tecnológica, produzidos de
forma sustentável, equilibrada e culturalmente aceitável e, também, incorporando a idéia de
acesso à informação12. Essa visão foi consolidada nas declarações da Conferência
Internacional de Nutrição, realizada em Roma, em 1992, pela Organização das Nações Unidas
para Agricultura e Alimentação (FAO) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Agrega-se definitivamente o aspecto nutricional e sanitário ao conceito, que passa por isso a
ser denominado Segurança Alimentar e Nutricional.
A Cúpula Mundial da Alimentação, de Roma (1996), organizada pela FAO, associou
definitivamente o papel fundamental do Direito Humano à Alimentação Adequada à garantia
da Segurança Alimentar e Nutricional. Ocorre em nível internacional e nacional a evolução
conceitual do termo e caracteriza-se como um processo contínuo que acompanha as diferentes
necessidades de cada povo e de cada época. No Brasil, o conceito vem sendo debatido há pelo
menos 20 anos e da mesma forma sofre alterações.
Foi proposto em 1986, na I Conferência Nacional de Alimentação e Nutrição e
consolidado na I Conferência Nacional de Segurança Alimentar, em 1994, o entendimento de
segurança alimentar como sendo:
11
SILVA, Valquiria da, AMARAL, Ana Maria Pereira. Segurança alimentar, comércio internacional e
segurança sanitária. Revista Informações Econômicas. v. 34, n. 6, São Paulo: junho, 2004.
12
VALENTE, Flávio Luiz Schieck. op. cit.,, 2002.
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13
PROGRAMA Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) /Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República. ed. rev. Brasília: SEDH/PR, 2010.
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Humanos – Pesquisa e Pós Graduação (ANDHEP). De um modo geral o PNDH-3 tem sido
visto pelas organizações de Direitos Humanos da sociedade civil como uma oportunidade
histórica para o aprofundamento do trabalho em torno das questões de Direitos Humanos que
afetam a sociedade brasileira. Entende-se que o Plano é importante como uma diretriz
democrática que pode servir de guia para o país, levando em consideração premissas
normativas extraídas da ordem internacional. Assim, o PNDH-3 deve orientar um conjunto de
mudanças jurídicas e sociais, que possam multiplicar as condições de avanço da cultura dos
Direitos Humanos no Brasil.
O acesso à alimentação adequada por meio de políticas estruturantes está afirmado no
PNDH-3 como objetivo estratégico II, constante no eixo orientador III que é intitulado:
universalizar direitos em um contexto de desigualdades. As ações programáticas que visam
atingir esse objetivo são: a) ampliar o acesso aos alimentos por meio de programas e ações de
geração e transferência de renda, com ênfase na participação das mulheres como potenciais
beneficiárias; b) vincular programas de transferência de renda à garantia da segurança
alimentar da criança, por meio do acompanhamento da saúde e nutrição e do estímulo de
hábitos alimentares saudáveis, com o objetivo de erradicar a desnutrição infantil; c) fortalecer
a agricultura familiar e camponesa no desenvolvimento de ações específicas que promovam a
geração de renda no campo e o aumento da produção de alimentos agroecológicos para o
autoconsumo e para o mercado local; d) ampliar o abastecimento alimentar, com maior
autonomia e fortalecimento da economia local, associado a programas de informação, de
educação alimentar, de capacitação, de geração de ocupações produtivas, de agricultura
familiar camponesa e de agricultura urbana; e) promover a implantação de equipamentos
públicos de segurança alimentar e nutricional, com vistas a ampliar o acesso à alimentação
saudável de baixo custo, valorizar as culturas alimentares regionais, estimular o
aproveitamento integral dos alimentos, evitar o desperdício e contribuir com a recuperação
social e de saúde da sociedade; f) garantir que os hábitos e contextos regionais sejam
incorporados nos modelos de segurança alimentar como fatores da produção sustentável de
alimentos; e g) realizar pesquisas científicas que promovam ganhos de produtividade na
agricultura familiar e assegurar estoques reguladores.
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Alimentar, que trouxe dados de 2004, e foi publicada em 2006, revelou que cerca de 72
milhões de brasileiros - aproximadamente 40% da população – vive com algum grau de
insegurança alimentar. Isso quer dizer que dois em cada cinco brasileiros não têm garantido o
acesso à alimentação em qualidade, quantidade e regularidade necessárias. Destes, 14
milhões, ou seja, 7,7% da população, vive em estado de insegurança alimentar grave,
mostrando que famílias inteiras passam fome ou convivem, de forma rotineira, com o medo
da fome. Ainda de acordo com a pesquisa, crianças, negros e moradores da região Norte e
Nordeste são os que mais sofrem com restrições na alimentação 14.
A região Nordeste é a que apresenta o perfil mais preocupante de insegurança
alimentar. Aproximadamente 60% da população nordestina não tem garantia de acesso à
alimentação em quantidade e regularidade suficiente. Mais da metade dos 14 milhões de
brasileiros considerados em situação de insegurança alimentar grave vive nessa região 15.
No Brasil, os problemas de saúde decorrentes da realização de uma dieta
qualitativamente inadequada são muito graves e podem ser comparados com os problemas
decorrentes da falta absoluta de acesso aos alimentos. A questão da qualidade dos alimentos e
da dieta alimentar é especialmente importante, implicando que todos os cidadãos consumam
alimentos seguros que satisfaçam suas necessidades nutricionais, seus hábitos e práticas
alimentares culturalmente construídas, promovendo sua saúde.
A ONU explica o termo alimentação adequada, afirmando que:
14
Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicilios (PNAD/IBGE) 2006. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br > Acesso em: 20 Dez. 2009.
15
WEISSHEIMER, Marco Aurélio. Bolsa Família: avanços, limites e possibilidades do programa que está
transformando a vida de milhões de famílias no Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2006.
110
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16
CHONCHOL, Jacques. A soberania alimentar. Estud. av. , São Paulo, v. 9, n. 55, 2005. Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010340142005000300003&lng=en&nrm=iso>. Acesso
em: 29 Dez 2007.
17
SANTOS, Leonor Maria Pacheco, et all. Avaliação de políticas públicas de segurança alimentar e combate à
fome no período 1995-2002. Caderno de Saúde Pública. v. 23. n. 5. Rio de Janeiro: Nov, 2007.
111
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18
ABRANDH, Ação Brasileira pela Nutrição e Direitos Humanos. Curso formação em direito humano à
alimentação adequada: no contexto da segurança alimentar e nutricional. s.n.t. 2007.
19 COMPARATO, Fábio Konder. op. cit., 2001.
112
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20
BABETTE, Mendoza, et all. Módulo III: Direito à vida, direito à saúde e direito à alimentação adequada.
Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, 2008.
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8 CONCLUSÃO
O título deste tópico seria mais coerente se fosse apenas chamado de considerações,
pois não se pretende aqui realizar afirmações que ponham termo à temática estudada, trabalho
este que seria pretensioso e irreal, visto a complexidade e capilaridades das abordagens que
podem ser realizadas. A idéia, então, é traçar algumas considerações que complementem e
sintetizem o tema trabalhado.
Ao fazer este levantamento fica claro que a alimentação torna-se direito não de uma
hora para outra, mas a partir de uma construção histórica e social que possibilita o olhar da
sociedade para uma crise há tempos vislumbrada, que é a fome, em seu mais completo
conceito. A luta contra a fome é passo decisivo para a efetivação da alimentação como direito
fundamental.
A exclusão social de grande parte da população, e o controle dos meios de
comunicação e produção por uma minoria, gera não apenas concentração de bens materiais,
mas também concentração de bens intangíveis, tais como a informação. Dessa forma, muitas
pessoas desconhecem que têm direitos, ou desconhecem os mecanismos e instâncias
existentes para exigi-los.
21
MALUF, Renato S.; MENEZES, Francisco e VALENTE, Flávio Luiz. Contribuição ao tema da segurança
alimentar no Brasil. Revista Cadernos de debate. UNICAMP, v. 4. 1996, p. 66-88.
114
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9. REFERÊNCIAS
116
Revista dos Estudantes da Faculdade de Direito da UFC (on-line). a. 4, n. 9, jan./jul. 2010
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humano à alimentação adequada: no contexto da segurança alimentar e nutricional. s.n.t.
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117