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mediaXXI [Sumário]

28 38 50
ADMINISTRADOR EXECUTIVO
PAULO FERREIRA

DIRECTOR
PAULO FAUSTINO

EDITOR
MÁRIO GUERREIRO | @ editor@mediaxxi.com

REDACÇÃO
VERA LANÇA | @ redaccao@mediaxxi.com
GUILHERME PIRES
MARGARIDA PONTE

COLABORADORES
CÁTIA CANDEIAS
DULCE MOURATO
HERLANDER ELIAS
JOANA SIMÕES PIEDADE
TELEMÓVEIS MUSEU DA LÍNGUA PORTUGAL MEDIA
PAULA DOS SANTOS CORDEIRO O mercado da A interactividade em Portalegre em
RUI MARTINHO
terceira geração São Paulo análise
OPINIÃO
CARLA MARTINS 4 EDITORIAL 59 CENTROS DE CONHECIMENTO
FRANCISCO RUI CÁDIMA ISCSP
FRANCISCO A. VAN ZELLER 6 CANAL DA MANCHA
REGINALDO RODRIGUES DE ALMEIDA O audiovisual europeu chegou ao Paraíso 60 INSTITUIÇÕES DO CONHECIMENTO
ICAM
DESIGN
TÂNIA BORGES | @ design@mediaxxi.com
8 SOCIEDADE BIT
TIC, prego a fundo! 61 LEITURAS
CONSULTORA DE IMAGEM E COMUNICAÇÃO
JOANA GUITA PINTO 10 DOSSIER 63 A INDÚSTRIA DE HOLLYWOOD
Tecnologias de Informação e Comunicação
MARKETING E PUBLICIDADE
MARIANA GREGÓRIO | @ PUBLICIDADE@MEDIAXXI.COM 66 ENTREVISTA SECTORIAL
18 ENTREVISTA Pedro Pina, McCann Worldgroup Portugal
ASSINATURAS Juvenália Carvalho
@ publicidade@mediaxxi.com 69 A TV NO FUTURO
IMPRESSÃO
21 ACTUALIDADE SI
HESKA PORTUGUESA – INDÚSTRIAS TIPOGRÁFICAS, S.A. – CAMPO RASO 71 EMPRESAS XXI
2720-139 SINTRA – TEL.: 21 923 89 00 22 ACTUALIDADE IMPRENSA Overtouch
DISTRIBUIÇÃO
VASP/ CTT – CORREIOS DE PORTUGAL
24 ACTUALIDADE PUBLICIDADE E MARKETING 72 CIBERCULTURA
O imaginário pós-fotográfico
SOCIEDADE GESTORA DA REVISTA 25 ACTUALIDADE RÁDIO
FORMALPRESS – PUBLICAÇÕES E MARKETING, LDA. 74 EDUCOMUNICAÇÃO
26 ACTUALIDADE TV Literatura digital à europeia
*
ESCRITÓRIOS

2
 RUA PROFESSOR VÍTOR FONTES, Nº 8D, 1600-671 LISBOA
 21 757 34 59 |  21 757 63 16 | @ geral@mediaxxi.com
*
27 ACTUALIDADE TECNOLOGIA 77 IBERMEDIA
2
 PRAÇA MARQUÊS DE POMBAL, Nº 70, 4000-390 PORTO
 |  22 502 91 37 32 DINÃMICAS DA COMUNICAÇÃO 78 UNIT 4 AGRESSO
REVISTA FUNDADA POR NUNO ROCHA, EM 1996
Empresa internacional chega a Portugal
DEPÓSITO LEGAL Nº 995 16/96; REGISTO Nº 120427 34 REPORTAGEM COMUNICAÇÃO
TIRAGEM: 7000 EXEMPLARES Pistas para o futuro do jornalismo 79 ALDEIA GLOBAL
37 O PAPEL DE CADA UM 80 A IPTV DA ALCATEL
Francisco A.Van Zeller
82 EURO LEX
42 ENTREVISTA CENTRAL O direito ao bom nome e à imprensa
Alberto João Jardim
84 RESPONSABILIDADE SOCAL NOS MEDIA
47 INTEL DEVELOPER FORUM 2006
85 AGENDA
48 7º ECA
86 ÚLTIMO OLHAR
58 AULA ABERTA
A crise da imprensa
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[Editorial]

A IMPRENSA TEM FUTURO


os últimos meses têm sido publicados vários editoras americanas de semanários estão

N artigos perspectivando, com alguma levian-


dade, um futuro “negro” para a imprensa. É
claro que os jornais diários já tiveram melhores
a crescer e em boas condições económi-
cas e financeiras.
O futuro da imprensa não será marcado
dias, contudo, vaticinar o fim da imprensa é um pela “morte” do suporte de papel mas
exercício completamente especulativo. A recente sim pela periocidade da informação.
dinâmica observada nos semanários, induzida pelo Estamos a assistir a um reposicionamento
lançamento do Sol, parece demonstrar que existe do produto como tem ocorrido noutros PAULO FAUSTINO
vida para além do audiovisual. Será um sucesso se momentos. A história é composta por DIRECTOR
o Expresso situar a sua circulação média na ordem “crises” sucessivas e que acabam por in-
dos 100 mil a 120 mil exemplares por edição e o troduzir novas dinâmicas na sociedade. “Vaticinar o fim
Sol conseguir uma circulação média na ordem dos As decepções podem dar lugar à desco- da imprensa é
70 mil a 90 mil exemplares. Até agora os indicado- berta de novas possibilidades. Hoje em um exercício
res superam largamente esses números. Mas é ex- dia fala-se em “crise” por tudo e por na- completamente
pectável que esta performance venha a baixar. da. O que está a acontecer agora nos jor- especulativo”
No entanto, falta saber se o crescimento observado nais foi o que aconteceu ao longo da his-
nos semanários está a ser alicerçado com base na du- tória com outros produtos - houve necessidade de
plicação ou conquista de novos leitores. Se for através reinvenção das actividades. Muitos produtos estão
da duplicação existe o perigo de, a prazo, estes terem a tentar reencontrar um novo posicionamento.
de fazer uma opção, assim como os anunciantes. Caso Um exemplo clássico é a indústria automóvel. Por
haja conquista de novos leitores – fantástico! Penso exemplo, a Ford, nas suas origens, descobriu que a
que terá acontecido um misto das duas situações, da- forma mais rentável – através da produção em
da a relativa inelasticidade do nosso mercado. massa permitia gerar economias de escala – seria
Portugal tem uma grande tradição na leitura de sema- criar um só modelo com uma só cor para toda a
nários. Os nosso índices de leitura só se podem consi- gente. Com o evoluir dos tempos a Ford teve que
derar baixos ao nível dos diários de informação geral. se adaptar e gerar economias de gama. Teve que
Estamos melhor posicionados nos semanários e revis- diversificar os seus modelos para satisfazer neces-
tas. Esta tradição pode ser inclusivamente observada sidades diferenciadas dos clientes. É isso que está a
nos jornais regionais, onde não existem diários, ex- acontecer com os media, em particular com a im-
cepto na Madeira, com uma circulação média supe- prensa; observa-se, em simultâneo com a comuni-
rior a cinco mil exemplares por edição. E nos semaná- cação de massas, uma comunicação para segmen-
rios existem vários jornais com uma circulação média tos da sociedade que não querem perder tempo
por edição superior a 12 mil exemplares (Região de em consumir informação que não lhes interressa.
Leiria, Jornal de Leiria, Reconquista, Jornal do A propósito de sociedade, na entrevista central,
Fundão, O Mirante, entre outros). Alberto João Jardim, sem “papas na língua”, traça
O impacto da internet será mais acentuado nos uma análise crítica sobre alguns sectores da socie-
diários pela sua facilidade de actualização, o que dade e defende a Madeira com exemplo de plura-
poderá deixar espaço para as publicações semanais lismo da informação. Realçe para um artigo que
fazerem outra abordagem que a pressão diária não analisa, por dentro, a organização e funcionamento
facilita. A imprensa tem um futuro risonho, sobre- de Hollywood. Destaque ainda para o dossier so-
tudo os semanários. Recentemente, um estudo da bre as TIC, cada vez mais importantes e transver-
Newspaper Association of America concluiu que as sais nas empresas e sociedade em geral.

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[Canal da Mancha]

O AUDIOVISUAL EUROPEU CHEGOU AO


PARAÍSO
sétimo relatório da Comissão antena, excluindo o tempo consagrado aos

O Europeia sobre a aplicação dos artigos


4.º e 5.º da Directiva “Televisão sem
Fronteiras”, de 14.8.2006, concluiu que a
noticiários, a manifestações desportivas,
concursos, publicidade, serviços de tele-
texto ou televenda. Percentagem que deve
quota de obras europeias na programação ter em conta as responsabilidades dos ope-
televisiva estabilizou na UE a um nível su- radores em matéria de informação, educa-
perior a 60 % do tempo total de transmis- ção, cultura e diversão. O problema é que
são em 2004. Perante estes números, a de um modo geral, entende-se no docu-
Comissária Europeia do Audiovisual, mento por “obras europeias” as obras origi-
Viviane Reding, afirmou que “a grande nárias dos Estados-membros… Dir-se-ia FRANCISCO RUI CÁDIMA
DOCENTE UNIVERSITÁRIO
qualidade dos conteúdos audiovisuais euro- que, nesta matéria, tudo o que vem à rede
peus, assim como a vitalidade do sector au- é peixe. Daí ser vital introduzir novas mo-
diovisual ilustra a riqueza da diversidade dalidades de monitorização assente em
cultural na Europa”. princípios qualitativos na análise do sistema
Quanto a Portugal, o documento refere em de quotas. “O sistema de
particular o caso da TVI, que registou uma O sistema de quotas, tal como está defini- quotas, tal como
boa performance em 2004. Os canais da do, é um contra-senso dado que se anula a está definido, é
RTP atingiram os 75% e só a SIC generalis- si próprio a partir do momento que se es- um contra-senso
ta ficou aquém do que a Directiva exige, trutura sobre um princípio meramente dado que se anula
com 46,3% de produção europeia. quantitativo. Isto é, ao postular que deter- a si próprio”
Curiosamente, não podendo ser contabili- minados programas e produções – todos,
zados noticiários, é um canal de informa- dentro de determinados géneros -, são
ção, a SIC Notícias, que atinge os 76,1%, considerados para a contagem percentual
tendo a NTV chegado mesmo aos 100 por final, assume-se que não há uma escolha
cento… pela qualidade intrínseca dos conteúdos,
A crer nas palavras da Viviane Reding, até nem tão pouco por uma orientação estraté-
pode parecer que o Audiovisual europeu e as gica que privilegie, por exemplo, o «stock»
suas produções alcançaram o Paraíso. Mas face ao «fluxo» e muito menos por produ-
olhando para as nossas queridas televisões – ções que integrem – e ‘inscrevam’ (no sen-
e, porque não – para o horário nobre dos tido da ‘inscrição’ de José Gil) – uma ideia
nosso canais generalistas, que vemos nós de e uma identidade europeias, quer no plano
produções europeias? O que é que nos che- cultural, quer mesmo no ‘sacrossanto’ pla-
ga da Europa ao prime-time da televisão no do ‘grande mercado’ europeu, paradig-
portuguesa? Muito pouca coisa, com excep- ma referencial da própria Comissão
ção, naturalmente, da produção local. Europeia. A própria noção de quota de
Diz a Directiva europeia que devem os ‘obras europeias’, neste contexto, compor-
Estados-membros velar por que os canais ta algum ridículo, dada a inexistência do
de TV reservem a obras comunitárias uma conceito, de consenso, e de exigência em
percentagem maioritária do seu tempo de torno desta matéria.

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[Sociedade Bit]

TIC, PREGO A FUNDO!

m 1974 a descoberta de Lucy fez no mundo uma das mais fabulosas mentiras

E grande furor no meio paleontológico


internacional. Recentemente, uma no-
va descoberta com mais de três milhões de
científicas.
Aparentemente tão distantes, o que têm
estes temas em comum?
anos, revelou os restos dum corpo, apa- A presença efectiva do uso das tecnologias
rentemente duma criança com três anos de de informação e comunicação, por vezes na
idade: a forma do calcanhar, um osso aqui e sua pior vertente, como é o caso do carjac-
outro além permitiram inovar sobre as king que já foi encarado como o resultado
formas de locomoção, o tipo de vegetação do estímulo de jogos de vídeo, outras vezes, REGINALDO RODRIGUES DE
existente e, consequentemente, a dieta ali- com a aparência de filmes feitos em casa ALMEIDA
mentar da época quando, por exemplo, comparamos as ima- PROFESSOR UNIVERSITÁRIO
Também na história do tempo presente, gens de Espaço 1999 com diferentes apon- SOCIEDADEBIT@SOCIEDADEBIT.COM
Plutão foi destituído da categoria de plane- tamentos da ficção de científica. Porém, na
ta e passou a ser um Pluton, de acordo com altura, os Águias, as imagens da base lunar,
a nova constelação criada pelos especialis- as roupas, os equipamentos de comunicação
“Na Sic Radical
tas, na qual estão também Charon e e de imagem, tudo era pós-moderno.
continuam a
UB313, ao mesmo tempo que os registos Hoje no CSI, somos confrontados com uma
passar episódios
de violência urbana aumentam com novas equipa dotada dum instinto crucial, apoia-
duma das sagas
práticas: agora é o carjacking, que se carac- da nos avanços da vertente tecnológica.
mais vistas há
teriza pelo assalto rápido a viaturas com os Em resumo, Lucy e Plutão estão nas mãos
cerca de 20 anos
passageiros lá dentro. de cientistas de especialidades opostas mas
na televisão”
Na Sic Radical continuam a passar episó- providos do mesmo dom tecnológico e as-
dios duma das sagas mais vistas há cerca de sim nos darão respostas seguramente bem
20 anos na televisão: Espaço 1999, onde se mais abrangentes do que as tradicionais e
relatam as aventuras da estação espacial politicamente correctas.
Alfa, situada na Lua, depois do nosso satéli- O próprio Dan Brown, que entrou em for-
te ter saído da órbita terrestre, vagueando ça pelo caminho da religião, não deixou a
pelo universo. ‘nova religião’ em mãos alheias: em A
Uma das séries televisivas mais vistas ac- Conspiração, como em Fortaleza Digital, é
tualmente dá pelo nome de CSI e tem mais a tecnologia que permite a falácia, é a tec-
do que um espaço de acção, com equipas nologia que permite corrigir a fraude.
diferentes como são os exemplos de Las O estatuto transversal das TIC é um facto,
Vegas ou Nova Iorque. sejam aplicadas na Ciência, na Sétima Arte
Dan Brown, para lá do Código da Vinci es- ou nos nossos momentos de lazer. Não é
creveu entre outros, A Conspiração, teia um clube a que se queira ou não aderir, é
que leva a NASA até ao Árctico, colocando uma exigência social.

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[Dossier/ Tecnologias de Informação e Comunicação]

AS TIC NA EDUCAÇÃO
Tecnologias são cada vez mais importantes no ensino

As práticas educacionais com recurso às TIC têm-se multiplicado, com


resultados positivos para alunos e professores
POR MÁRIO GUERREIRO

om a democratização do preço dos computa- cundário, este projecto teve a sua primeira confe-

C dores pessoais surgiram as suas utilizações no


campo do ensino, cada vez mais promovidas
pelos Estados e professores como formal de ade-
rência em Maio, que serviu para juntar alguns dos
professores que a ele recorrem, e fomentar a troca
de experiências e opiniões “in loco”. Outro suces-
quar as populações às linguagens tecnológicas do so estrondoso. “Tivemos de fechar as inscrições
futuro. para a conferência, porque já tínhamos 900 inscri-
Lançado em Maio de 2005, o projecto Professores ções”, um número significativamente superior ao
Inovadores da Microsoft (http://www.professore- esperado, revela Adelaide Franco. A próxima con-
sinovadores.com.pt), tem hoje mais de 7000 pro- ferência já está agendada para Maio de 2007.
fessores inscritos. Através de um portal que fun- Outro dos principais objectivos do portal passa
ciona como rede de partilha de conteúdos e boas por permitir a formação contínua dos profissionais
práticas educativas entre professores, este projecto da educação, disponibilizando para tal recursos
tem granjeado cada vez mais adeptos entre os pro-
fissionais da educação. “Nos primeiros 15 dias de
lançamento do portal já tínhamos 500 inscritos”, OS GANHOS PARA A EDUCAÇÃO
recorda a responsável pelo segmento da educação
da Microsoft Portugal. Em Março 2005, a conferência “e-Educação: O que
Inserido no projecto “Parceiros da Educação”, lan- tem o sector da educação a ganhar com o desen-
volvimento da Sociedade da Informação”, organizada
çado há dois anos com a assinatura de um protoco- pela Associação para a Promoção e
lo com o Ministério da Educação (ME), o portal Desenvolvimento da Sociedade de Informação, abor-
Professores Inovadores tem uma área livre onde dou algumas das vantagens que poderão advir para
podem ser consultados conteúdos de apoio às au- o sector de um maior uso das TIC. Entre as con-
las, mas são as áreas privadas que têm ditado o su- clusões a que chegaram oradores como o ex-mi-
nistro da Educação, Roberto Carneiro, Carlos
cesso do projecto. Aí é possível a participação em Zorrinho, Adelaide Franco, Diogo Vasconcelos e José
DOSSIER

fóruns e inquéritos sobre os mais variados temas, Dias Coelho, as principais apontaram para uma
das comuns disciplinas a assuntos na ordem do dia maior dificuldade de “intrusão das TIC na prática e-
como as próprias TIC ou a delinquência juvenil. ducativa”, do que propriamente o equipamento das
Relembrando a vitalidade de edição da Wikipedia, escolas com PCs. A conferência da APDSI fez notar
também que o valor transformador das TIC é clara-
aos professores é permitido partilharem os mais mente superior ao de outras tecnologias anteriores,
variados recursos (em formato texto, multimédia como a rádio e a televisão, e que com o recurso a es-
ou em forma de apresentações) e ainda editar o tas novas tecnologias o conceito de turma tende a
trabalho dos restantes colegas de profissão e desta transformar-se em comunidade de aprendizagem,
comunidade. processo onde se incluem os professores.
Essencialmente virado para o ensino básico e se-

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[Dossier/ Tecnologias de Informação e Comunicação]

CASA DA IMAGEM
formativos direccionados a uma apren- Compreender as TIC nas esco-
dizagem constante dos professores. las
O portal faz uso da tecnologia O programa Educação e
SharePoint, o que no futuro Tecnologias, da Unidade de
pode ditar a possibilidade de Investigação, Educação e
ligação entre os seus pro- Desenvolvimento
jectos congéneres dinami- (UIED), da Faculdade de
zados pela Microsoft Ciências e Tecnologia da
noutros países, como o Universidade Nova de
Brasil, Japão ou Norue- Lisboa (FCT/UNL)
ga. O projecto portu- surgiu na década de 90
guês foi o primeiro do com o objectivo de
género lançado pela “conhecer e compreen-
Microsoft. der o que se passa nas
Adelaide Franco refere escolas e noutras institui-
que o “feedback” recebido ções de educação e for-
da parte dos professores mação no que diz respeito
“tem sido muito positivo.Tem à utilização de computado-
havido imensos pedidos de re- res e redes educacionais”, re-
cursos e nota-se que os professo- fere o professor responsável,
res inscritos estão entusiasmados”. As Vítor Teodoro. Outro dos objectivos
próximas novidades neste portal, que pre- do programa é também a intervenção nas
tende ajudar os professores na adopção de mode- escolas, através do desenvolvimento de “novas mo-
los tecnológicos inovadores na escola, passam pela dalidades de utilização de tecnologias, em particu-
criação de “mais áreas de conteúdos e promoção lar no que diz respeito à utilização de ambientes
de mais concursos de produção dos mesmos”. de computação científica”.
Segundo Adelaide Franco, esta medida destina-se a O programa da FCT desenvolveu o software
fomentar uma maior partilha de recursos, dado Modellus, existente em oito línguas e “utilizado e
que os professores ainda “optam mais por usar reconhecido como uma ferramenta importante
apenas os conteúdos e não os partilhar”. para a introdução de computação científica em di-
versos países”. No Reino Unido este software inte-
gra o currículo de Física do Institute of Physics,
para o ensino secundário. O programa é financia-
do através do apoio que é fornecido à UIED pelo
Ministério da Ciência e Tecnologia e por progra-
mas de investigação nacionais e europeus.
Para Vítor Teodoro, o ME tem um programa “com
um projecto claro e razoavelmente estruturado e
financiado”, e admite que a criação de “condições
DOSSIER
organizacionais nas escolas seja algo muito difícil”.
Para o professor, a melhoria “da autonomia e ava-
liação das escolas” poderá melhorar e aumentar o
uso adequado nas mesmas, desde que acompanha-
do por uma actualização de equipamentos e soft-
ware.

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[Dossier/ Tecnologias de Informação e Comunicação]

SITIC COM NOVO CONCEITO


Salão quer dinamizar mercado das TIC

Mais do que uma feira de TIC, o SITIC 2006 pretende ser um espaço de
inovação e conhecimento
POR DULCE MOURATO

Salão Internacional de Tecnologias da máticos de inovação e conhecimento de inspiração de

O Informação e Comunicação (SITIC), que se


irá realizar de 2 a 5 de Novembro de 2006,
vai fazer ressurgir um evento de TIC, por iniciativa
novos negócios; um local onde as TIC sejam o pre-
texto para a apresentação de marcas, de produtos,
serviços e de conferências sobre novas tendências e
da FIL, que pretende demonstrar “o optimismo realidades; o reflexo da promoção internacional do
crescente na Economia e uma renovação do con- evento através do ICEP para angariar expositores e
ceito deste tipo de iniciativas que alia tecnologias, compradores de países como a Espanha, o Brasil e os
investigação, a redução substancial dos custos para PALOP; espera-se que seja uma montra ou um car-
os expositores e uma mais-valia para as empresas tão-de-visita para as empresas portuguesas tendo em
que assim podem investir mais na divulgação de conta a sua internacionalização e, por isso, aproveitar
produtos e serviços e, consequentemente, atrair a ocasião para destacar as empresas, personalidades e
mais visitantes”. produtos de excelência, mediante prémios de exce-
Esta primeira apresentação do SITIC decorreu nu- lência – os TIC Awards.
ma conferência de imprensa que pretendeu dar uma Com pouco mais de 1200 euros é possível adquirir
perspectiva geral de um certame diferente de ou- um pacote especial de participação no SITIC e es-
tros. O que distingue o SITIC (face a outras feiras tar presente numa iniciativa relevante tanto para
que a precederam) são sete factores: um palco mis- empresas em crescimento como para grupos in-
to composto por uma área para o grande público e ternacionais. Luís Ribeiro, administrador da PT
outra exclusiva para os profissionais (em ambas, Investimentos Internacionais, como presidente da
com horários diferenciados, poderão encontrar-se comissão organizadora do SITIC, reforçou esta
espaços temáticos e apresentação de novidades); ideia referindo que as condições para os exposito-
uma comissão organizadora constituída por perso- res são bastantes favoráveis e que se continuam a
nalidades relevantes do sector que irão contribuir efectuar as diligências necessárias para que as prin-
com o seu know how para que o SITIC seja real- cipais empresas do sector a operar em Portugal es-
mente estruturado para e pelo mercado; a aposta na tejam também presentes.
e-health, security e e-gov como os três vectores te- Vanda Jesus, por sua vez, esclareceu que “o SITIC de-
DOSSIER

ve reafirmar-se como uma feira de referência do sec-


MÁRIO GUERREIRO

tor e que os objectivos desta primeira edição passam


pela presença de mais de 250 empresas ou instituiçõ-
es e por atingir o número de 30 mil visitantes”. E pa-
ra que isto aconteça foi idealizada uma área mista es-
pecialmente vocacionada para o público em geral e,
particularmente para as escolas, com uma área de
Memórias TIC (uma espécie de museu vivo desde o
primeiro PC até hoje), uma casa do futuro, o Future
Park, uma área de Modding e uma Lan Party.
VANDA JESUS - DIRECTORA DE FEIRA

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[Entrevista/ Juvenália Carvalho]

DE ANGOLA PARA O MUNDO


Programa Pérolas do Oceano mostra as potencialidades dos PALOP
Com emissão na RTP África, o programa “Pérolas do Oceano” apresenta a
actualidade do continente negro, onde se esconde um mundo de
oportunidades
POR PAULO FAUSTINO

ngola parece estar a “ferver”. É o país cujo PIB de Jornalistas (CEFOJOR) em Luanda, onde tirei

A mais cresce no mundo e aquele que mais in-


vestimento estrangeiro atrai. A estabilidade
política e a paz social parecem ser um dado adquiri-
o primeiro curso. Com este organismo e com as
novas universidades privadas que abundam desde a
mesma altura em Luanda, tudo se torna mais fácil.
do. O país pode ser também uma oportunidade pa-
ra Portugal. O interesse nos investimentos e a coo- Como jornalista foi muito afectada pelo
peração entre Portugal e Angola são recíprocos. clima de guerra que viveu enquanto
Prova disso têm sido as constantes missões políticas estudante?
e empresarias promovidas por estes dois países. R: A guerra destrói tudo e afecta toda a economia.
A reflexão sobre as potencialidades de cooperação Prejudica toda a gente. Não morre só quem apan-
e desenvolvimento económico e social entre ha com uma
Portugal e os PALOP constitui a temática central bala nem é “A guerra acabou e neste
do programa Pérolas do Oceano, em exibição para só destruído momento está tudo a nascer”
o mundo lusófono na RTP África e para todo o o sítio onde
mundo na RTP Internacional. Juvenália Carvalho, cai a bomba. Mas o que é importante é que a guer-
apresentadora e responsável do projecto promovi- ra acabou, e todo o angolano sabe que acabou para
do pela produtora Oásis Media, revela alguns se- sempre. O fim da guerra é a oportunidade de fa-
gredos do sucesso deste programa. zer nascer tudo.

Como nasceu a sua paixão pelo jornalismo? Na sua opinião o que poderia ser feito para
R: Foi algo que sempre esteve em mim. A curiosi- incentivar a formação de mais jornalistas
dade, a investigação, a vontade de comunicar exis- angolanos?
tem em mim desde sempre. Quer quando fre- R: Penso que seria importante a troca de experiên-
quentei o ensino médio quer o superior. Estive cias entre as escolas de jornalismo estrangeiras, em
sempre ligada a projectos de jornalismo. particular as portuguesas, e as escolas angolanas. O
CEFOJOR é um bom exemplo de uma instituição
Foi fácil para uma estudante que viveu onde se pode e deve apostar. Mas outras escolas po-
sempre em Luanda e cresceu com o derão ser criadas em mais cidades angolanas.
espectro da guerra ter acesso a uma for-
mação em jornalismo? Neste momento está a apresentar o
R: Não. Normalmente é muito difícil para um jo- Pérolas do Oceano, um programa que está
vem estudante angolano ser o quer que seja num a ter sucesso um pouco por todo o mundo
país que esteve 40 anos adiado na guerra. A guerra Lusófono. Como nasceu este projecto?
acabou e neste momento está tudo a nascer. Há R: Nasceu de uma forma muito simples: pedi a al-
três ou quatro anos nasceu o Centro de Formação gumas empresas o patrocínio para a elaboração de

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[Entrevista/ Juvenália Carvalho]

D.R.
um formato que mostrasse ao mundo lusófono a
reconstrução e o crescimento da economia angola-
na. A ideia foi bem recebida junto dessas empresas
e no início deste ano comunicaram-me que podia
contar com os valores. Criei com os meus sócios a
produtora Oásis Media e fizemos parcerias com
outras produtoras e organismos, não tendo qual-
quer dificuldade em criar o programa, do nada.

O objectivo da produtora Oásis Media


resume-se à produção deste programa?
R: Não. Optámos por criar a produtora para fazer
algo diferente: estimular parcerias com outras Angola. O segundo é unir os PALOP e Portugal
produtoras, escolas, canais de televisão e outros numa aliança económica de forma que juntos en-
intervenientes do jornalismo e criar formatos mo- contrem novos mercados e prosperem. Estes paí-
dernos que estimulem o crescimento e desenvolvi- ses são as “Pérolas” e o “Oceano” é a Lusofonia. Por
mento dos países africanos e que de certo modo exemplo, Angola é um mercado novo que abriu,
influenciem a qualidade de vida das populações. cheio de recursos mas com falta de quadros técni-
No fundo foi “fazer acontecer” um sonho que sem- cos. Além disso tem uma geração pós-guerra fan-
pre me acompanhou desde o tempo de estudante. tástica que procura um parceiro para criar um ne-
Queremos que a Oásis seja um centro de compe- gócio. Portugal tem quadros óptimos; muitos
tência do jornalismo em África. deles desempregados e empresas a precisar de
crescer fora de portas. A juventude portuguesa
Que tipo de produções estão preparados podia fazer parceria com a juventude angolana, de
para fazer? igual para igual, sem paternalismos nem comple-
R: Estamos preparados para produzir conteúdos xos. Porque não dar as mãos para abordar em con-
em formato TV, rádio, e ainda escritos para outros junto o mercado global através de parcerias? Não
parceiros (produtoras, canais TV, etc.). A nossa serão estas boas soluções para ambos os países? O
vantagem é que conhecemos muito bem África e programa é um fórum de apresentação de casos de
conseguimos sucesso, oportunidades e de discussão sobre este
“Queremos que a Oásis seja dar aos tra- tema. Há ainda os outros PALOP que são impor-
um centro de competência do balhos uma tantes nesta aliança e que incluiremos no progra-
jornalismo em África” visão realis- ma logo que tenhamos oportunidade.
ta. O nosso
equipamento é topo de gama. Em termos de capa- O que pode levar um empresário ou um
cidade técnica temos a suficiente para produzir um quadro técnico a ir investir ou residir numa
programa como o Pérolas do Oceano e a nossa es- zona remota de Angola?
tratégia passa por estabelecer parcerias e co-pro- R: Sobretudo a vontade de vencer, o lucro e o es-
duções, sempre que possível. pírito de aventura. Angola é um mundo de opor-
tunidades. Tudo está por fazer. As paisagens são
Pérolas do Oceano é um nome abrangente. lindas, o clima é bom, as pessoas são fantásticas. A
Qual é exactamente o objectivo do segurança já é uma realidade. Ao contrário de
programa? Portugal, tudo faz falta e há dinheiro para comprar
R: O programa tem dois objectivos: o primeiro é tudo. Ser personagem activa do nascimento de
mostrar o que está actualmente a acontecer em uma nova economia pujante, ser parte activa do

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[Entrevista/ Juvenália Carvalho]

Como perspectiva o desenvolvimento do


D.R.

sector da comunicação social em Angola a


curto e médio prazo?
R: Imagino que Angola se torne no centro de ne-
gócios da região, e Luanda na Capital da informa-
ção regional. Agências noticiosas, produtoras, etc.,
todas quererão ter uma “antena” em Luanda.

Quais as principais dificuldades que o sector


enfrenta?
R: Penso que o principal problema é a colocação
de notícias para o exterior: não há canais interna-
cionais de rádio ou TV e os canais estrangeiros,
com referi, não facilitam a colocação de conteúdos
angolanos, mesmo que de qualidade.
nascimento de um novo país, é algo que não pode
deixar ninguém indiferente... Em Angola o “Angola é um mundo de
segmento dos oportunidades”
Quais as principais dificuldades associadas media mais
à produção de um programa como o popular é a rádio. Tendo em conta o baixo
“Pérolas do Oceano”? índice de escolarização, considera ser
R: A dificuldade que qualquer produção africana difícil a imprensa escrita desenvolver-se
tem de se afirmar e de ser colocada em antena em em Angola?
canais ou estações vistas por empresários. O pro- R: Penso que como 50% da população tem uma
grama é visto em Portugal apenas na RTP África, idade inferior a 15 anos a imprensa tem grande fu-
que é um canal visto essencialmente pela comuni- turo e até poderá ser uma alavanca importante pa-
dade africana. No entanto, alguns empresários ra a alfabetização. Um jornal oferecido com arti-
portugueses que já conhecem o programa, não gos pequenos, poderia ser um passo interessante...
perdem os seus episódios e usam-nos como ferra-
mentas de trabalho para obterem informações so- Ao nível do sector da comunicação social
bre os mercados dos PALOP e dicas sobre poten- também se tem observado algumas
ciais parcerias. De resto, financeiramente o intenções de investimento, quer por parte
programa está patrocinado. de empresários locais quer de
empresários estrangeiros?
Considera que existe um défice de progra- R: Sim, de ambos. Os primeiros mais na imprensa
mas na televisão portuguesa onde seja escrita e os segundos mais na produção de conteú-
retratada a actualidade dos países dos para TV.
africanos, em particular dos PALOP?
R: Sim, sobretudo que acompanhe as actuais mu- Que conselhos daria a quem quiser inves-
danças nestes países. Pouca gente sabe que Angola tir no sector dos media em Angola?
é o país que mais cresce economicamente e as R: Que não venham com paternalismos nem com
oportunidades que actualmente apresenta. Cabo a ideia que Angola é uma extensão do seu país, isto
Verde neste momento é uma das maiores praças fi- sobretudo se forem portugueses (risos). Estudem
nanceiras de África e o país africano democratica- o mercado e a cultura local, procedendo como se
mente mais estável. estivessem a abordar outro país não PALOP.

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[Actualidade SI]

“GOOGLE IN A BOX” CHEGA A PORTUGAL


Impresa é primeira empresa nacional a utilizar a tecnologia

O novo motor de pesquisa da empresa norte-americana visa simplificar


as pesquisas nos servidores internos e sites das empresas
POR GUILHERME PIRES

grupo Impresa é a primeira empresa portugue- ples, com menos caixas e opções para as pesquisas.

O sa a aderir ao novo motor de pesquisa intranet


da Google. Com uma dimensão similar a um
computador de secretária, o Google In a Box, tam-
Em breve será aplicado a todos os sectores do gru-
po, como o Expresso ou a SIC. Geert Van Hassel, di-
rector de classificados da Impresa, revelou que no
bém conhecido por Google Search Appliance, per- futuro a tecnologia será também utilizada para a pes-
mite organizar a informação interna das empresas e quisa de informação interna.Van Hassel garante que
simplificar a procura de ficheiros nos servidores e os resultados são melhores porque o motor “possui
terminais informáticos. O objectivo é tornar a pes- uma filtragem muito leve e elevada simplicidade que
quisa de informação dentro das organizações tão tornam a pesquisa mais rápida e eficiente”.
simples como as buscas realizadas pelos utilizadores
comuns no conhecido portal online da Google. Google preferida dos portugueses
“Os funcionários das empresas perdem 25 por Carlos Gracia, gestor de vendas da Google para a
cento do tempo de trabalho em pesquisas, pelo Península Ibérica, defendeu que a elevada penetra-
que para as empresas é importante simplificar este ção do motor de pesquisa online em Portugal abre
processo”, defende Roberto Solimene, director boas perspectivas para o sucesso destas aplicações
europeu da Google para as aplicações empresa- empresariais. “O Google é a página mais visitada
riais. Apresentada a 12 de Setembro num seminá- em Portugal, com uma penetração de 91 por cen-
rio organizado pela Holos, parceira da empresa to (sete milhões de pessoas)”, indicou Gracia.
norte-americana para o mercado português, a O elevado índice de utilização torna a tecnologia fa-
aplicação simplifica as pesquisas através de uma in- miliar à maioria das pessoas, pelo que o uso do mo-
dexação maciça, envolvendo e-mails, sites visita- tor nos servidores das empresas não deverá levantar
dos, aplicações e documentos de 220 formatos. problemas aos utilizadores. É esta a convicção de
Para já a Impresa disponibiliza o motor apenas nos Pedro Sousa, CEO da Holos, parceira da Google
seus sites de classificados de emprego e mobiliá- em Portugal para os pacotes empresariais. “Nem va-
rio, que apresentam agora um design mais sim- le a pena darmos formação aos funcionários no que
respeita às aplicações Google”, afirmou.
HOLOS

Para além da Impresa, a aplicação será em breve


utilizada pelo atelier VM-SA Arquitectos, com se-
de em Évora. A par do motor de pesquisa chegará
em breve a Portugal a versão profissional do
Google Earth, que integra novas funções e assis-
tência das equipas da Google. A Google Search
Aplliance é já utilizada por diversas empresas eu-
ropeias, como a BMW ou a ST Microelectris, ou
DA ESQUERDA PARA A DIREITA: REGINALDO ALMEIDA, GEERT VAN HASSEL, até por cidades, como o caso do site institucional
SOFIA ALEIXO, ANAND CHITALE, ROBERTO SOLIMENE E PEDRO SOUSA de Brighton.

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[Actualidade Imprensa]

CIDADÃO PAPARAZZO
Bild transforma leitores em colaboradores

O jornal alemão incentiva os seus leitores a serem repórteres fotográfi-


cos e têm mesmo direito a um cartão de identificação de colaboradores
POR VERA LANÇA

uem sempre quis ser foto-jornalista tem ago-

Q ra a vida facilitada, pelo menos na Alemanha.


O Bild, propriedade do mega-grupo Axel
Springer e o jornal mais lido naquele país, fez um
convite peculiar aos seus leitores – serem repórte-
res fotográficos ao serviço do tablóide. O desafio
foi lançado em Julho passado e, desde então, a re-
dacção recebeu milhares de fotografias tiradas por
leitores comuns. Não há almoços grátis e, por isso,
o jornal paga por cada imagem que for publicada
entre 100 a 500 euros, consoante a fotografia surja
na edição regional ou nacional do tablóide.
Munidos com uma máquina fotográfica ou com
um simples telemóvel com equipamento de foto-
grafia, os leitores transformam-se em autênticos
paparazzi, mas o jornal não deixou nada ao acaso e
quer os seus colaboradores identificados. O Bild
distribuiu numa das suas edições cerca de dois mi- jornal. No entanto, esta situação está a ser vista
lhões de cartões com a designação “Presseausweis: com maus olhos pelos profissionais de comunica-
Leser-Repor ter”, o que se traduz por ção social alemães, principalmente pelos repórte-
“Identificação de Imprensa: Repórter-Leitor”. res fotográficos profissionais. A própria Federação
A ocasião faz o paparazzo e o tablóide não se faz de Alemã de Jornalistas afirma que esta prática ameaça
esquisito nem impõe temáticas ou situações prefe- o emprego dos fotógrafos profissionais, para além
renciais a fotografar. Neste caso vale tudo – desde de vir desvalorizar o trabalho feito nas redacções.
acidentes de trânsito e situações insólitas a imagens Os responsáveis do Bild defendem-se dando o
de figuras públicas. Aliás, uma das críticas que se exemplo de um caso que antecedeu os alemães,
ouve na Alemanha é que agora todos podem vigiar nomeadamente o de outro diário também muito
todos e que a vida privada das celebridades pode ser popular, neste caso na Noruega, o VG que recorre
exposta quando menos esperam, pois estas são as a esta prática há já alguns anos.
vítimas preferenciais dos paparazzi amadores. A polémica, apesar de ter começado em Julho pas-
sado aquando do apelo do tablóide, é ainda muito
Leitores gostaram, profissionais criticam debatida na Alemanha entre os meios de comuni-
A ideia de serem repórteres fotográficos foi muito cação. O jornal alemão online Jetzt.de afirmou em
bem recebida entre os leitores germânicos que Setembro que “em África caçam-se gnus, nos EUA
aderiram em massa ao desafio que lhes foi lançado, caçam-se tornados e nós [na Alemanha] caçamos as
e todos os dias chegam centenas de fotografias ao grandes imagens”.

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[Actualidade Publicidade e Marketing]

CHEGOU A ERA DIGITAL


Que perspectivas para o mercado publicitário

Adivinham-se novos impulsos para a publicidade em que as marcas


poderão beneficiar de uma conjuntura potenciada pelas novas
tecnologias
POR VERA LANÇA

MÁRIO GUERREIRO
panorama actual indica que o investimento

O publicitário mundial poderá aumentar 5.7 %


até ao final do ano. A estimativa é traçada pe-
la Carat, que aponta vários factores como o desen-
volvimento positivo de muitas economias inter-
nas, mas sobretudo, a afirmação da era digital.
Para Robert Lerwill, da CEO da Aegis, uma hol-
ding da Carat, os suportes digitais lideram o cres-
cimento na maioria dos mercados, o que leva a
uma transformação do panorama de marketing,
pois o investimento nos media digitais já é uma
necessidade para os investidores. Por exemplo,
prevê-se que, dentro de dois anos, o investimento AS NOVAS TECNOLOGIAS PERMITEM UM MAIOR ENVOLVIMENTO COM O
publicitário na internet nos Estados Unidos ultra- CONSUMIDOR
passe as quantias gastas na imprensa. potencialidades das mesmas, o que passa pela
adaptação das mensagens publicitárias ao pequeno
Novos suportes, novas ideias ecrã, sendo essencial ter em conta que o que fun-
A TV móvel é uma das facetas da era digital possi- ciona no ecrã de televisão convencional, pode não
bilitada pela adopção do Internet Protocol ter os mesmos resultados no ecrã de telemóvel. O
Television (IPTV) e com as novas plataformas sur- próximo desafio dos anunciantes consiste em en-
gem também vários canais que emitem através das contrar novos conceitos que envolvam as audiên-
redes móveis 3G. A emissora estatal lançou recente- cias móveis. Um estudo realizado pela empresa in-
mente o primeiro serviço deste género em glesa Informa Telecoms & Media indica que, até
Portugal. O RTP Mobile está acessível 24 horas por 2011, a TV móvel irá abranger um universo de
dia e disponibiliza uma grelha de conteúdos dos di- 210 milhões de pessoas em todo o mundo. Estes
versos canais da RTP.Também a SIC Portátil já está novos conceitos de utilização dos media implicam
a desenvolver a emissão de conteúdos televisivos um envolvimento cada vez maior com o consumi-
móveis. Em Inglaterra, por exemplo, está a ser tes- dor, muito à custa do modelo dos media tradicio-
tado um novo serviço IPTV com séries populares nais. Enquanto uns anunciantes preferem o bran-
que indicam para a disponibilidade dos consumido- ded content ou o marketing experimental, outros
res em pagar este serviço, para além da assinatura. lançam-se nas novas vias de comunicação. O digi-
Com o aparecimento destas novas plataformas de tal veio assim potenciar o envolvimento do produ-
conteúdos, os anunciantes não podem ignorar as to publicitado no dia-a-dia das audiências.

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[Actualidade Rádio]

UMA CERTA QUÍMICA NO AR...


Laboratório de FM

Em Cascais, um apaixonado projecto assume o prazer de comunicar, a


independência e o experimentalismo, numa espécie de laboratório
radiofónico
POR PAULA DOS SANTOS CORDEIRO

etembro viu nascer um novo projecto de rá-

S dio com emissão na região de Lisboa. Sediada


em Cascais, na frequência da antiga CSB
Rádio, a Química FM (105.4 FM) anuncia-se co-
mo financeira e esteticamente independente e, aci-
ma de tudo, diferente.
De acordo com a informação disponibilizada pelo
director de programas, Carlos Simões, a Química
FM é uma estação que foge à regra de formatação cionou chamar de alternativo”.
que predomina no panorama nacional da rádio. A A programação consagra espaço à informação,
Química não tem playlist e assume uma vocação com uma “importante componente de informação
musical que decorre da experiência e conhecimen- cultural”. O pop, a electrónica, a música do mun-
to de um amplo conjunto de profissionais há mui- do, o jazz, reggae e a produção portuguesa estão
to ligados ao meio, que se juntaram para “devolver em destaque, a par com o espaço para “experiên-
à área da Grande Lisboa o amor pela rádio”, com cias sónicas”.
um alinhamento de programas de carácter genera- Um dos programas de autor, “Triângulo Escaleno”,
lista e “uma considerável dose de programas de au- já tem um blogue e os podcasts estão igualmente
tor”. É um projecto financeiramente independen- disponíveis em sítio próprio. Da responsabilidade
te, vocacionado para a divulgação do que é de João Gonçalves e Vítor Junqueira, o programa
“produzido dentro de um universo que se conven- vai para o ar aos Domingos à noite, numa espécie
de reunião de amigos em que um deles, o convida-
do da semana, fala de si e da música que o rodeia.
ORIGINALIDADE DOS AUTORES Outro programa, nas tardes de Domingo, revela
uma tendência há muito abandonada pela rádio, a
Composta essencialmente por programas de autor, a da produção externa. A “Terra Pura”, um progra-
grelha da Química inclui programas como: “Eclética” ma dedicado às músicas do mundo, ocupa também
com Lucinda Sebastião (XFM, Marginal), “77”, um es-
as emissões da Rádio Zero, projecto online do
paço para entrevistas, numa sessão dedicada às
raízes e novidades do movimento punk, acompa- Instituto Superior Técnico, da Rádio Universitária
nhado pelo blogue de Billy, o autor, “h2 Jazz” com o do Minho e da Antena Miróbriga (Santiago do
músico Pedro Madeleno, “Pastor de Abelhas” de Cacém). Há ainda um programa semanal da res-
Mário Borges, “Ballet Mecânico” com os Dj’s Yari e ponsabilidade da netlabel portuguesa Test Tube que
Nuno, ou “Cobertor Eléctrico” de João Paulo Almeida
integra a grande variedade de programas de autor
e Pedro Vieira.
da grelha da Química FM.

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[Actualidade TV]

TELEVISÕES ACORDAM CLASSIFICAÇÕES


Entendimento entre canais privados e público
RTP, SIC e TVI passam a classificar de forma uniforme os seus progra-
mas, de acordo com quatro níveis de visionamento por idades
POR MÁRIO GUERREIRO

acordo estabelecido entre RTP, SIC e TVI vai

MÁRIO GUERREIRO
criar uma sinalização comum, que estabelece
quatro níveis de visionamento de programas.
A assinatura deste acordo de auto-regulação entre
os directores de programas dos vários canais suce-
deu no dia 13 de Setembro. As conversações co-
meçaram em Junho e chegaram a bom porto no
passado mês de Setembro.
A assinatura do acordo no Salão Nobre do Centro
Cultural de Belém afigura-se como um marco his-
tórico nas relações entre os três canais, dado que
se constitui como a abertura de um diálogo sobre
os conteúdos das televisões, e também a primeira
vez que Nuno Santos, director de programas da
RTP, Francisco Penim, director de programas da
SIC José Eduardo Moniz, director-geral da TVI
surgiram juntos num evento público,
O acordo irá contemplar os programas em si, mas
com extensão aos próprios horários de emissão, e classificações de programas de televisão de uma
promoções dos mesmos. A classificação a dar a cada forma “clara e homogénea”. Os níveis de classifica-
programa irá ser decidida por comissões multidisci- ção irão ser o resultado da aplicação de uma série
plinares internas e corresponde a quatro níveis. O de oito critérios a partir de duas variáveis signifi-
primeiro engloba os programas direccionados a to- cativas: comportamento social e temas de conflito.
dos os espectadores e será identificado por um T no Os critérios são a linguagem, a nudez, o sexo, a
canto superior de cada programa. O segundo nível, agressividade/violência, os comportamentos imi-
identificado pela sigla 10 AP define os conteúdos táveis, o medo e as drogas/álcool/tabaco.
que deverão ser vistos por indivíduos com mais de As classificações das comissões multidisciplinares
dez anos. O nível 3 (12AP) irá ser aplicado a pro- internas irão ser atribuídas aos programas que não
gramas mais apropriados para quem tem mais de 12 são classificados por outros organismos, como a
anos e finalmente o quarto e último nível (16) irá Comissão de Classificação de Espectáculos. Nesse
referir-se aos programas destinados a idades supe- lote incluem-se os programas de entretenimento,
riores aos 16 anos. e os conteúdos produzidos pelas próprias estações.
Este acordo de auto-regulação inédito entre os ca- Antes da sua exibição, cada programa irá passar a
nais privados e público destina-se a facilitar o tra- ser analisado por estas comissões à luz dos crité-
balho dos educadores e insere-se nas recomenda- rios predefinidos, a fim de receberem a classifica-
ções da União Europeia relativamente às ção de um dos quatro níveis de visionamento.

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[Actualidade Tecnologia]

BANDA LARGA EM QUALQUER LUGAR


Zapp quer revolucionar o mercado

Com o seu Telemodem Zapp Z020, a Radiomóvel pretende ter uma


entrada de rompante no mercado, em especial junto das pequenas e
médias empresas
POR DULCE MOURATO

Radiomóvel pretende revolucionar o merca- ção efectiva do consumo de energia. O

A do com a banda larga do mais recente


Telemodem Zapp Z020, que entra em força
no mercado português acompanhado de uma nova
Telemodem Zapp Z020 (sem custos de aquisição
até final de Setembro) segue a máxima da infor-
mática (What You See Is What You Get –
campanha publicitária vocacionada para o público WYSIWYG) pois assim que é ligado a computado-
em geral e para profissionais e PME’s que necessi- res fixos ou portáteis surgem no ecrã menus de fá-
tem de mobilidade. cil instalação.
O Telemodem Zapp Z020 (como o nome indica é A Radiomóvel disponibiliza serviços de voz e da-
um modem USB sem fios) é compatível com pro- dos em banda larga desde 1993 e tem
cessadores Pentium, Dual Core ou equivalente larga experiência no mercado
e sistemas operativos Windows XP ou 2000, das redes Trunking
e Linux. Possui um novo design que englo- Analógico e TE-
ba duas antenas internas cujos objectivos TRA. A partir de
principais são a captação maximizada 2003 esta em-
do sinal e a optimização da velocida- presa tem vindo
de da ligação - até 2.4 Mbps nas a investir numa
zonas EVDO (Evolução de nova rede móvel
Dados Optimizados) cobertas EVDO, a nível
pela tecnologia CDMA nacional, com tec-
(Code Division Multiple nologia CDMA
Access ou Acesso abrangendo actual-
Múltiplo por Divisão mente várias localidades
de Código) a 450 de Norte a Sul do país.
MHz. De destacar O recente investimento de
a possibilidade cinco milhões de euros nesta
de aceder à campanha publicitária “Zapp
Banda Larga trabalha melhor em equipa” (re-
móvel Zapp em alizada em Portugal pela agência
qualquer lugar Lowe & Partners e que utiliza um
do país, excep- mix de meios que abrange televisão,
to nos arquipé- imprensa, mupis, internet e merchan-
lagos da Madeira e dising) vem aumentar as expectativas
dos Açores, e a bateria Power quanto aos resultados da Radiomóvel a
Booster com mais autonomia e diminui- D.R.
curto e a médio prazo.

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[Telemóveis – O mercado 3G]

OPERADORAS SALTAM PARA O 3.5G


Redes de telecomunicações apostam no futuro

As principais operadoras vão incrementar a sua aposta na rede 3.5G nos


próximos dois anos. As estimativas mais optimistas prevêm que em 2008
os serviços móveis HSDPA atinjam velocidades semelhantes ao fixo
POR GUILHERME PIRES

Vodafone, TMN e Optimus estão a reforçar a

A aposta na tecnologia de comunicações móveis


de terceira geração e meia. Para já o principal
investimento é o desenvolvimento de novos termi-
nais e ser viços 3.5G através de High Speed
Downlink Packet Access (HSPDA). O objectivo
comum passa por aumentar a base de clientes da
nova geração, que devido aos múltiplos serviços
multimédia permite ganhos na facturação anual.
Uma aposta seguida de perto também por algumas
das principais empresas do sector, como a Nokia,
Motorola ou LG.
O serviço 3.5G da TMN foi lançado em Julho
através do Samsung Z 560. Segundo a operadora “a
terceira geração e meia já está lançada e a evolução dos já existentes”. A aposta incide por isso na rede
natural será para maiores velocidades, mas a partir 3.5G, em particular no que respeita ao acesso ao
de determinado limite o importante é levar os e-mail e à internet de banda larga, à Mobile TV e à
clientes a tirarem proveito dos serviços e conteú- diversificação de conteúdos.
Com 750 mil clientes registados no início de
Setembro, os planos da TMN passam por alcançar
NOKIA E MOTOROLA EM PARCERIA NA MOBILE TV a meta do milhão de utilizadores 3G até ao final
do ano, auspiciando cobrir mais 140 cidades com a
A Nokia e Motorola estão a cooperar na investigação tecnologia HSDPA. Também a Vodafone pretende
da interoperabilidade dos serviços de televisão para alargar a cobertura da rede 3.5G a 150 cidades,
os telemóveis através da norma Digital Vídeo até ao final de 2006. Com um investimento pre-
Broadcasting - Handheld (DVB-H). O acordo estabele-
visto de 10 a 15 milhões de euros nos próximos
cido no início de Setembro visa unificar e fomentar o
desenvolvimento desta tecnologia, de forma a melho- dois anos para o HSDPA, a Vodafone prepara-se
rar a qualidade de difusão e tornar o serviço mais para lançar um interface inovador que permite re-
apelativo para os utilizadores. O novo protocolo é em alizar zapping no telemóvel e está a avaliar a possi-
tudo semelhante ao estabelecido em Fevereiro entre bilidade de criar pacotes temáticos de canais para
a Nokia e a Eriksson, que visa também a estandar-
dização da emissão digital terrestre da televisão
o Mobile TV. De acordo com a operadora o ob-
móvel. Em Portugal, a Vodafone encontra-se a re- jectivo passa por garantir, nos próximos três anos,
alizar testes da DVB-H em parceria com a Media 1,5 milhões de clientes 3.5G, para um aumento de
Capital e a Nokia (através dos Nokia N92). facturação anual de 40 a 50 milhões de euros. Os
serviços de terceira geração e meia da Vodafone

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[Telemóveis – O mercado 3G]

cobrem hoje 81 cidades do norte a sul do País, pansão na Europa, à qual os consumidores estão a
chegando também à Madeira. aderir muito bem e na qual estamos a apostar”. O
Para a Vodafone as comunicações móveis “entra- Mini Map é compatível com web feeds (RSS), faci-
ram agora na fase de expansão e irão ter uma fatia litando o acesso aos conteúdos escolhidos pelos
de mercado muito relevante nos próximos dois utilizadores.
anos, suportada no 3.5G e mais tarde no 4G”. A Motorola Portugal está também a preparar o
Com o lançamento de novos modems USB, a rede lançamento de uma nova gama de terminais, que
de banda larga das três operadoras atinge agora os estarão disponíveis em breve no mercado. Entre
3,6 Mbps, velocidade de transmissão já 7,5 vezes eles deverá estar o RAZR em versão Unlicensed
superior à 3G. De acordo com a TMN, nos próxi- Mobile Access (UMA). A LG avança apenas que a
mos dois anos a evolução tecnológica para 3,5G colocação de novos equipamentos em Portugal
vai permitir atingir os 14,4 Mbps, “reduzindo em “seguirá de perto a disponibilização dos diversos
muito os tempos de espera a que as redes 2G e 3G produtos no mercado europeu”.
nos tinham habituado”. A aposta nos novos terminais é um reflexo dos re-
sultados positivos da tecnlogia 3G em Portugal.
HSPDA em destaque nas empresas Pedro Reis, director de marketing da
produtoras Motorola Portugal, indica que a
As principais empresas produtoras de terminais tecnolgia 3G suscitou
móveis presentes no mercado português estão “uma grande cu-
também a incrementar a aposta no riosidade jun-
desenvolvimento da tecnolo- to do mercado
gia de terceira geração português, em
e meia. A Nokia alguns segmen-
acaba de tos acima da mé-
apresen- dia europeia”.
tar em Para o responsá-
vel, a área dos
conteúdos
poderá in-
fluen-
ciar a
for-
Portugal ma como a tec-
o N73 e o nologia conti-
N93, ambos nuará a crescer
com tecnologia nos próximos
3.5G, através dos quais tempos. Quanto
pretende aumentar a interac- mais atractiva,
ção com elementos multimedia co- mais interesse
mo a fotografia e o video. Estes terminais in- irá captar junto
cluem um browser para a internet que utiliza uma das pessoas. An-
nova tecnologia – o Mini Map – para tentar ultra- tónio Aleixo, di-
passar as dificuldades de navegação. José Horta e rector de vendas
Costa, director Multimedia Iberia da Nokia frisa da divisão de mo-
que “o browsing é uma das áreas em grande ex- bile communica- D.R.

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[Telemóveis – O mercado 3G]

tions da LG, indica que existem ainda constrangi-

D.R.
mentos a uma maior aceitação, como os custos dos
equipamentos e serviços. De acordo com a LG, o
design dos terminais, a largura de banda e os servi-
ços agregados serão no futuro próximo factores im-
portantes para o sucesso dos novos produtos.

O Futuro: um bilião de clientes de 3G em 2010


Nos próximos quatro anos a mudança definitiva da
tecnologia 2G para 3G será repentina e não terá a
habitual fase de transição. A conclusão é da
Strategy Analytics, firma norte-americana de estu-
dos de modelos de negócio que, numa análise do
mercado internacional, indica que as tecnologias Apesar destes indicadores a rede 4G começa a ser a
3G estão a entrar num período de crescimento aposta de alguns dos principais fabricantes. O mer-
sustentado. Num relatório apresentado no início cado global das comunicações móveis atravessa uma
de Setembro a empresa prevê que os utilizadores fase de constante desenvolvimento, em que a inves-
de tecnologias de telefones móveis de terceira ge- tigação vai já para além da terceira geração e meia.
ração deverão chegar aos 167 milhões já no final Tecnologias de quarta geração como a WiMax estão
de 2006. Em 2010 o mercado global deverá ascen- já em testes nos EUA e Coreia do Sul e poderão re-
der a um bilião de utilizadores. volucionar os modelos de negócio. A União
O aumento da procura nos Estados Unidos da Internacional das Telecomunicações indica que a no-
América e o lançamento dos serviços 3G na China va tecnologia vai permitir a transmissão de dados a
e Índia em 2007 são a principal razão para o cresci- partir de telemóveis ao nível dos 100 megas por se-
mento exponencial do mercado. Segundo a Strategy gundo, o que poderá despoletar a utilização com-
Analytics, centros de grande densidade populacio- pulsiva de conteúdos multimédia. A esta velocidade
nal como o Brasil, Paquistão e Rússia deverão rece- os terminais móveis poderão comportar serviços de
ber estas tecnologias até 2009. A partir do final da televisão de alta definição e comunicações bi-direc-
década “o mercado 3G irá por isso receber mais de cionais (acesso à internet e vídeochamadas num
250 milhões de novos clientes todos os anos”. único sinal). O objectivo é ultrapassar as dificulda-
des sentidas por muitas das operadoras em tornar
lucrativos os serviços 3G.
TELEMÓVEIS COM SÉRIES DE ANIMAÇÃO A sul-coreana Samsung, uma das empresas que es-
tá na linha da frente para o 4G, indicou no início
A BenQ Mobile está a desenvolver conteúdos televi- de Setembro que o lançamento da quarta geração
sivos únicos para os seus terminais 3G. Concebida
para um ecrã de pequenas dimensões, a série de telemóveis deverá ocorrer em 2010. Em con-
“Dog&bone” é uma das primeiras a ser filmada e pro- sórcio com a Sprint Nextel, Morotola e Intel, a
duzida em exclusivo para telemóveis. As limitações Samsung prevê investir 2,4 mil milhões de euros
tecnológicas implicam que a série não possua se- até 2008 no desenvolvimento de redes 4G que re-
quências rápidas, planos panorâmicos ou diálogos
corram à tecnologia WiMax. De acordo com
longos. O primeiro episódio já está disponível para
download e será pré-instalado no modelo BenQ- Pedro Reis, a investigação nas áreas de comunica-
Siemens M81. A conhecida série “Os Simpsons” será ção por internet protocol (WiFi) e no 4G é tam-
também adaptada ao mais pequeno ecrã através do bém uma das apostas da Motorola, que para já se
3,5G. concentra “na efectivação e desenvolvimento da
tecnologia 3.5G”.

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ed.89 06/09/29 12:32 Page 32

Lusomundo Media pondera gratuito


[Dinâmicas] O grupo Lusomundo Media,
pertencente à
Sociedade Optimizada pelos Media apresentada Controlinveste, não coloca
de parte a hipótese de vir a
O último livro de Herlander lançar um jornal gratuito
Elias, “A Sociedade Optimizada generalista e está mesmo a
pelos Media” foi apresentado no considerar essa
dia 13 de Setembro, na FNAC do possibilidade. A ser lançado,
Chiado. Á audiência, o também o novo título virá concorrer
autor de “Ciberpunk - ficção e directamente com os outros
contemporaneidade”, referiu dois generalistas gratuitos
algumas das visões sobre o mundo que já se encontram no
que permeiam esta obra bilingue; mercado, o Destak (da
desde a massiva simbolização Cofina) e o Metro (da Media
mediática do 11 de Setembro à Capital) e, inicialmente, terá
importância que os mass media têm no consumo e nas escolhas das pessoas. distribuição em Lisboa.

Hill & Knowlton EMEA é a melhor para Programas nacionais lideram


trabalhar
A Hill & Knowlton Europe, Middle East and Africa (EMEA) foi
nomeada como a melhor agência de consultoria de comunicação e
relações públicas para se trabalhar na Europa pelo estudo anual feito
pela Holmes
Report. Esta
consultora ficou
à frente das res- Durante os primeiros sete meses do ano, os
tantes programas produzidos em Portugal
multinacionais representaram 55% do total de programas
em critérios de emitidos nos quatro canais que emitem em
estudo como o sinal aberto. Os dados da Marktest revelam,
compromisso ainda, que os programas oriundos dos
para com a Estados Unidos constituem uma percentagem
entidade de apenas 23% da emissão da RTP1, 2:, SIC e
empregadora TVI, enquanto que os programas produzidos
em termos de dentro da União Europeia representam
construção de apenas 7.5% da programação emitida no
uma carreira, o empenhamento em contratar trabalhadores espaço temporal em questão. Já a emissão de
qualificados, o equilíbrio conseguido entre as exigências profissionais programas de produção brasileira ficou-se pe-
e pessoais ou a confiança na capacidade de gestão. los 5% do total de programas emitidos em si-
nal aberto.

Prémio de Design 2006 já tem júri


A 9ª edição do Prémio de Design, do jornal Briefing da Media Capital, já selec-
cionou os membros do júri que irão votar os melhores trabalhos nesta âmbito,
destinado a designers gráficos e ilustradores profissionalmente activos em
Portugal. Entre os membros do júri estão Ricardo Sena Lopes (Ogilvy),
António Bezerra (McCann Erikson), Pedro Janela (By), entre outros. A edição
de 2006 tem os patrocínios da Heska Portuguesa e da Hewlett Packard.

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ed.89 06/09/29 12:34 Page 33

[Dinâmicas]

A Linden Lab, empresa proprietária do jogo online Second Life, Jornais perdem terreno para
Falha de segurança no Second Life

detectou uma falha no seu sistema de segurança que poderá edições online
comprometer os dados pessoais dos quase 680 mil utilizadores
inscritos no mundo virtual em que o jogo se desenrola.Todos os uti- Segundo dados avançados pela Marktest, os
lizadores deste jogo recebe- jornais de tiragem nacional perderam cerca
ram um aviso da Linden de 173 mil leitores para versões da imprensa
Lab, onde eram informados online apenas no primeiro trimestre de
sobre a falha de segurança e 2006. No total, já são cerca de 1,6 milhões
lhes era pedido para que al- os portugueses que lêem edições
terassem as suas passwords. electrónicas de publicações, em detrimento
A base de dados da empresa das versões impressas. Segundo este estudo,
sobre os membros desta co- a percentagem da população que tem este
munidade online inclui tipo de hábito de leitura é de 16%.
nomes reais, moradas, pass-
words e alguma informação
sobre os cartões de crédito
dos utilizadores. Sony preocupada com imagem
no mercado
Amazon disponibiliza downloads Depois de se ter sido obrigada a retirar do
mercado milhões de baterias de
A Unbox, novo serviço da computadores da Dell e da Apple, devido ao
Amazon, vai permitir o risco de sobreaquecimento e incêndio, e de
download de filmes e séries atrasar o lançamento europeu da PlayStation
televisivas, variando o custo 3 para Março de 2007, a Sony começa a
entre um a 15 dólares cada. sentir dúvidas sobre a sua reputação no
Esta plataforma de mercado. O departamento que tem
distribuição de conteúdos levantado mais problemas à empresa tem
multimédia disponibilizada
pela maior loja online irá
concorrer directamente
com o iTunes. A Unbox
disponibilizará milhares de
títulos dos seis maiores
estúdios de Hollywood, entre os quais a 20th Century Fox e a
Warner, e cadeias de televisão, como a CBS e a FOX. A Amazon
garante que a qualidade dos produtos disponibilizados é semelhante
à de um DVD.

A Marktest está em fase de estudo de uma nova sido a secção de jogos, uma vez que com o
Marktest analisa novo

metodologia de medição de audiências para sites da atraso de quatro meses da chegada da nova
internet. Ainda na etapa de testes, o novo método consola à Europa, a Sony não poderá
método de estudo

poderá arrancar já em 2007 e virá substituir a metodo- competir com os produtos concorrentes da
logia Netpanel, actualmente utilizado pela Marktest Microsoft (Xbox 360) e da Nintendo (Wii)
para medir o volume de acessos aos sites de na época de compras natalícias, quando estas
publicações online. No entanto, o Netpanel apenas empresas apostam em grandes campanhas de
contabiliza as visitas efectuadas a partir de ligações marketing.
domésticas, excluindo os acessos efectuados a partir de
outros locais exteriores ao computador de casa.
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[Reportagem de comunicação – Excelência no jornalismo]

O FUTURO ESTÁ ONLINE


Os novos caminhos do jornalismo passam pelo mundo digital

Nos principais mercados internacionais os meios de comunicação online


começam a ganhar terreno aos jornais impressos, mas em Portugal o
sector ainda está nos primeiros passos
POR GUILHERME PIRES E VERA LANÇA

s meios de comunicação tradicionais estão a Project for Excellence in Journalism, que apresen-

O ter cada vez mais dificuldade em resistir à


concorrência económica dos novos media. A
perda das audiências mais jovens para os conteú-
ta o panorama jornalístico no relatório “The state
of the news media 2006”. De acordo com o docu-
mento, o modelo tradicional do jornalismo está a
dos online, o declínio da circulação de jornais e dar espaço a outros modelos mais rápidos, rentá-
revistas nos EUA e a redução de pessoal nas redac- veis e baratos. Os novos media trouxeram, directa
ções de órgãos como o New York Times ou Los ou indirectamente, novas realidades, novos com-
Angeles Times são sinais do tempo que apontam portamentos e paradoxos.
para uma transformação profunda na indústria. “Existe hoje um número cada vez maior de meios
As conclusões são da organização norte-americana de comunicação a cobrir um número cada vez me-
nor de assuntos”, sublinham os autores. A limita-
ção de tempo de acção que a internet impõe aos
“old media” está na origem deste cenário, a par da
redução do tamanho das redacções. A dúvida mais
relevante para os media tradicionais é perceber
quanto tempo irá demorar até que as plataformas
online se transformem no motor económico do
sector.
Em paralelo, a partilha do investimento publicitá-
rio começa a ser desfavorável à imprensa - e o im-
pacto será ainda maior quando os principais anun-
ciantes migrarem em definitivo para o online. Para
Luís Sobral, director do jornal online
Maisfutebol.iol.pt, este cenário produz ainda um
situação paradoxal. “Agora que os meios impressos
precisam de redacções maiores, que sejam capazes
de fazer produtos com maior profundidade e qua-
lidade, sucede precisamente o contrário”, frisa.
Mas existe ainda espaço para que o mercado ultra-
passe esta crise.

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[Reportagem de comunicação – Excelência no jornalismo]

Jornalismo online ainda nos primeiros qual conseguem medir o impacto da campanha no
passos target diferenciado”, sublinha Pedro Soares. O
Apesar de haver muito espaço para o mercado on- crescente investimento publicitário não é, todavia,
line português crescer, os órgãos têm ainda que comparável aos valores registados na televisão ou
melhorar a oferta de conteúdos e a exigência in- na imprensa escrita.
formativa. Para Miguel Martins, editor multimé- A inexistência de uma entidade supra-marca que
dia do Expresso, o sector está ainda muito agarra- audite o mercado e registe audiências aceites por
do às breaking news. A maioria dos conteúdos da todas as empresas desmotiva os anunciantes. Até
versão online dos principais jornais portugueses ao final do ano ou no início de 2007 deverá nascer
são uma réplica do material das agências, opinião uma plataforma de entendimento entre os princi-
partilhada pelo director da Sic Online, Pedro pais órgãos do mercado para a criação de uma en-
Soares. “Temos de criar sites completos, que des- tidade responsável pelo registo das audiências.
pertem no cidadão a vontade de navegar, partilhar O mercado online português tem no entanto ou-
experiências e envolver-se emocionalmente com o tros problemas estruturais. “Temos um mercado
texto e o jornalista”, defende. pequeno, com poucas empresas, que gera receitas
O ano passado foi “muito bom” para o projecto li- modestas e no qual o Sapo.pt tem ainda um peso
derado por Pedro Soares. Se em 2004 os anun- muito grande”, explica Pedro Soares. Mesmo as-
ciantes revelaram pouca disposição para apostar no sim, para o director da SIC Online o panorama
online, em 2005 o investimento foi substancial. português é animador. “Temos meios com redac-
“Este é o momento certo para arriscar, porque o ções vocacionadas só para este tipo de jornalismo
mercado tende a aumentar o investimento publici- e existe cada vez mais público a aderir aos sítios”,
tário nas plataformas digitais”, frisa. sublinha.
Em 2005 o share de publicidade da SIC Online O Maisfutebol.iol.pt, o primeiro jornal desporti-
chegou aos 1,2 por cento, o que representa um in- vo online português, teve também resultados posi-
vestimento de 7,5 milhões de euros. Este ano o tivos em 2005. A subida da audiência para cerca de
valor deverá duplicar. “Os anunciantes reconhe- nove milhões de visitas de página em Dezembro é
cem as vantagens da publicidade online, através da um marco assinalável, mas 2006 está a ser ainda
melhor. “Tivemos três enviados-especiais no
Mundial 2006, criámos um site específico para co-
brir o evento e lançámos mais quatro livros sobre
futebol, sempre com a Primebooks”, sublinha Luís
Sobral, director do Maisfutebol.
O sucesso do jornal online foi garantido através de
controlo de custos e diversificação das receitas,
com o recurso a publicidade, venda de conteúdos
e edição de livros. Para além da colaboração com o
jornal Metro e vários órgãos de comunicação do
grupo Media Capital, o Maisfutebol teve já uma
rádio de desporto online, suspendida por “ainda
não haver mercado”.
Para o director do Maisfutebol, a escassez de
meios e as curtas receitas publicitárias dificultam a
existência de uma agenda própria para os media
online, mas os problemas estão a ser ultrapassados.
“A penetração da internet está a crescer e isso tra-

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ed.89 06/09/29 18:14 Page 36

[Reportagem de comunicação – Excelência no jornalismo]

rá novos utilizadores e capacidade para melhorar o


trabalho. Estou seguro que até 2010 teremos no-
vos projectos muito interessantes”, sublinha Luís
Sobral.

Expresso aposta na convergência de


plataformas
De acordo com o relatório do Project for
Excellence in Journalism, para se adaptarem aos
novos modelos de imprensa, os media tradicionais
“têm de realizar um trabalho mais transparente e
alargar as suas áreas de incidência”. O novo pro-
jecto multimédia do Expresso vai nesse sentido. O
objectivo é fomentar a cidadania participativa e in-
tegrar o trabalho de todos os jornalistas da redac-
ção nas matérias disponibilizadas no site.
Ao contrário dos exemplos referidos, a versão on-
line do Expresso teve um ano menos positivo em podem esperar até Sábado”, frisa Miguel Martins.
2005, resultado de alguma estagnação, pouca O projecto implicou a integração da secção multi-
abertura à comunidade web portuguesa e relação média na redacção do Expresso.
distante com a redacção. Miguel Martins iniciou as O semanário tem hoje seis jornalistas dedicados
suas funções de editor multimédia do semanário em exclusivo ao online, que são “embaixadores”
em Maio passado, para reestruturar a secção e nas diversas secções para garantir que o site está a
consolidar o novo conceito. O primeiro passo foi par das opções editorais da versão em papel. Para
acabar com o “Expresso Online” e integrar os dois o editor multimédia do Expresso, a internet está a
projectos numa única marca. revitalizar a imprensa escrita e não a reduzir a sua
Com uma nova homepage desde o dia 1 de Julho, esperança de vida. “Os jornais impressos termi-
o Expresso.pt apresenta hoje um conceito similar nam mais depressa por falta de recursos naturais,
ao de alguns dos media online de maior prestígio e por escassez de papel, do que por pressão dos me-
inovação, como o Guardian.co.uk ou o dia online. No futuro poderão tornar-se produtos
Nytimes.com. Para além de disponibilizar conteú- mais selectivos, muito próximos do que são hoje
dos multimédia que complementam os artigos pu- as revistas, e as cachas serão deixadas para os si-
blicados na versão impressa, como vídeos, entre- tes”, conclui.
vistas em audio ou galerias de fotografias, o site Enquanto que nos principais mercados – Reino
assume agora o papel de fazer a primeira aborda- Unido, EUA, França – os cidadãos já estão familia-
gem às cachas que surgem durante a semana. “As rizados com a partilha de informação e pressão
melhores estórias têm de sair de imediato, não junto dos media, em Portugal dão-se ainda os pri-
aguentam mais do que 24 ou 48 horas”, afirma meiros passos. “Temos de ter mais recursos, mais
Miguel Martins. jornalistas a trabalhar apenas na integração e análi-
Trata-se de um projecto que implica a mudança de se do trabalho dos cidadãos, a perceber o feedback
mentalidades dentro do próprio semanário, um das notícias”, explica Pedro Soares. A crescente
processo lento por natureza. A meta é o segundo aposta dos media nas plataformas online, o desen-
semestre de 2007. “Espero que nessa altura toda a volvimento da blogosfera portuguesa e da sua in-
redacção venha da rua e aposte de imediato em fluência junto dos principais órgãos de comunica-
nós, como plataforma para os conteúdos que não ção é apenas o início de uma revolução inevitável.

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[Opinião/ Francisco A. van Zeller]

O PAPEL DE CADA UM
s trinta anos de liberdade de expres- As principais razões deste fenómeno “inter-

O são de que Portugal goza, associados


ao seu desenvolvimento económico,
instituíram um panorama de oferta de vá-
activo”, que se vai tornando mais e mais
complexo à medida que as plataformas se
multiplicam, são a massificação da tecnolo-
rios suportes mediáticos que não tem pre- gia, que está a alterar a forma como nos re-
cedentes na nossa história. Não vale a pena lacionamos e por isso também a forma co-
aprofundar o tema do impacto e do poder mo nos relacionamos com os media, e a
dos media, as análises continuam a ser fei- noção geral – da sociedade, dos governos e
tas por especialistas com regularidade. dos próprios meios – de que uma demo-
Vale a pena, isso sim, constatar que, de há cracia civilizada não pode passar sem o en-
anos para cá, têm vindo a ser disponibiliza- volvimento dos seus cidadãos nos conteú- FRANCISCO A. VAN ZELLER
dos um maior conjunto de instrumentos dos veiculados (há também outra razão um SECRETÁRIO-GERAL DA
para que deixemos de ser meros consumi- pouco menos generosa: críticas, comentá- CONFEDERAÇÃO PORTUGUESA DOS
dores passivos de media, passando a ter um rios e debates oriundos dos cidadãos co- MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
papel mais activo – pelo menos reactivo – muns significam por vezes conteúdos gra-
na definição dos seus conteúdos e das suas tuitos para os meios).
fronteiras. Sem ser exaustivo, destaco a Como consequência, está a alterar-se o
possibilidade de qualquer um poder enviar (des)equilíbrio da relação entre o emissor e o “Podemos agora
um e-mail directamente ao autor de uma consumidor. O canal que existe entre ambos com maior
notícia e ou de uma coluna de opinião para torna-se bidireccional, ao invés da difusão facilidade e
debater ou criticar; de escrever para um unilateral e omnipotente de conteúdos. influência intervir
provedor de leitores ou espectadores – co- Podemos agora com maior facilidade e in- em eventuais
mo é o caso do Público, e mais recente- fluência intervir em eventuais atentados ao atentados ao
mente da RDP e RTP, nesta última com di- nosso bom-nome e à nossa privacidade, cor- nosso bom-nome
reito a programa semanal de televisão; de rigindo injustiças graves. Podemos condicio- e à nossa
participar activamente no universo dos blo- nar a emissão de programas de rádio ou tele- privacidade,
gues, alguns deles oriundos dos próprios visão. Podemos, no limite, cancelar corrigindo
meios de comunicação, outros criados por publicidade associada a um qualquer conteú- injustiças graves”
especialistas em media; de intervir através do de entretenimento, já que também os
das associações do sector, como é o caso da anunciantes – financiadores de todos os me-
ACMedia (Associação dos Consumidores dia – estão cada vez mais preocupados com a
de Media) que funciona como uma espécie opinião dos cidadãos, afinal os seus clientes.
de DECO para a comunicação social; des- As capacidades estão ao nosso dispor. No
taco ainda a oportunidade de qualquer ci- entanto, nem a tecnologia, nem as associa-
dadão português poder reclamar junto da ções ou entidades reguladoras, nem os
nova entidade reguladora, a ERC, que ainda meios, adivinham o que nos vai na alma so-
por cima tem – supostamente – mais bre o que diariamente consumimos nos
meios para poder responder com maior media. É, por isso, o papel de cada um de
eficácia às muitas solicitações de uma socie- nós, sempre que se justificar, envolvermo-
dade mediática. nos e manifestarmos a nossa posição.

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[Museu Brasileiro da Língua Portuguesa]

PORTUGUÊS INTERACTIVO
Museu mostra de forma original a história da língua portuguesa
É um ponto de encontro com a língua portuguesa e sua história, em São
Paulo. A interactividade é a principal aposta para mostrar a amplitude da
língua de Camões
POR RUI MARTINHO

Desde a data da sua inauguração, a 21 de te, como forma de “mostrar ao utilizador que é ele

“ Março, 170 000 pessoas já visitaram o Museu


da Língua, em São Paulo”, revela o director
executivo da instituição António Carlos de Moraes
o dono da língua portuguesa, que uma língua só se
mantém viva porque as pessoas a utilizam diaria-
mente”, revela o director.
Sartini. O museu ocupa três andares da Estação da Ivo Castro, professor de Linguística na Faculdade
Luz, uma das principais estações de metropolitano de Letras de Lisboa e especialista em História da
de São Paulo, cruzada diariamente por 300 mil pes- Língua Portuguesa, considera que o museu corres-
soas. A Estação da Luz foi ponto de chega- ponde a uma “leitura brasileira da lín-
da dos 2,3 milhões de imigrantes que, gua”, facto que não o incomoda, pois
entre 1882 e 1934, se crê terem da- “cada nação tem o direito e a necessi-
do entrada em São Paulo, para ali- dade de fazer a sua própria leitura”.
mentar o boom da exploração de Anteriormente existia mesmo “uma
café, pelo que a sua escolha para visão excessivamente portuguesa da
sede do Museu se reveste de um língua”. O linguista forneceu mate-
particular simbolismo. riais para o Museu da Língua sobre a
Os grandes objectivos do Museu distribuição da língua portuguesa em
da Língua, segundo Moraes África e na Ásia (incluindo crioulos) e
Sartini, passam por “celebrar a lín- as comunidades de emigrantes que fa-
gua portuguesa, mostrar ao públi- lam português. Subscrevendo as decla-
co a sua incrível diversidade e rações da ministra portuguesa da cultu-
valorizar o tratamento ra Isabel Pires de Lima, ao
estético e artístico considerar “nacionalista” a
de que é alvo, não só visão da língua pre-
por parte dos gran- sente no museu de
des autores e poetas, São Paulo, considera
mas também pelo ci- no entanto que “esta
dadão comum no visão, apesar de na-
seu quotidiano”. A cionalista do ponto
instituição, um equi- de vista brasileiro,
pamento cultural da me parece relativa-
Secretaria de Cultu- mente aberta, mul-
ra do Governo do ticultural e cosmo-
Estado de São Paulo, polita”, facto que
aposta na interactivi- considera “muito
dade com o visitan- positivo”.
CASA DA IMAGEM

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[Museu Brasileiro da Língua Portuguesa]

O director executivo do Museu da Língua, António


Carlos Moraes Sartini assume sem problemas a A DEFESA DO ERRO LINGUÍSTICO
perspectiva adoptada pela sua instituição face à lín-
gua. “A nossa língua é a mesma (só existe uma “A vida não me chegava pelos jornais nem pelos
livros/ Vinha da boca do povo na língua errada do
Língua Portuguesa), no entanto, no Brasil, esta lín- povo/ Língua certa do povo/ Porque ele é que fala
gua sofreu influências diversas: línguas indígenas, gostoso o português do Brasil/ Ao passo que nós/ O
línguas africanas e línguas dos imigrantes (italianos, que fazemos/ É macaquear a sintaxe lusíada”,
arabes, japoneses, espanhóis e tantos outros). Estas escreve o poeta brasileiro Manuel Bandeira, em
influências, presentes na língua, estão presentes em 1930. A defesa das particularidades da variante
brasileira do português, discutivelmente sentida
nossa cultura como um todo”. como infracção da norma portuguesa, é um dos
pontos chaves do Modernismo brasileiro. Em 1922,
As diferenças do Português do Brasil Oswald de Andrade, a partir de São Paulo, tinha
Ivo Castro, cuja História da Língua Portuguesa foi proclamado no “Manifesto da Poesia Pau-Brasil”: “A
recentemente editada em Itália pela Bulzoni Língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e
neológica. A contribuição milionária de todos os
Editore, considera as diferenças entre português erros. Como falamos. Como somos”. Na verdade,
europeu e português brasileiro “um facto natural e actualmente, a Linguística não contempla o conceito
incontornável”. Na sua opinião “a descontinuidade de “erro”, preferindo falar de “variação linguística”,
territorial entre Portugal e o Brasil não podia dei- uma característica universal de todas as línguas.
xar de provocar comportamentos linguísticos dife-
rentes nas duas comunidades”. Três motivos prin- mílias que tinham uma aquisição do português
cipais explicam este fenómeno. Em primeiro fragmentada, parcelar, e com pesada interferência
lugar, “a base demográfica diferente da população das suas línguas primeiras. Isto significa que os
do Brasil”. A explosão da emigração para o Brasil a descendentes dos imigrantes europeus falam um
partir do século XIX introduz pela primeira vez, português do Brasil com algumas dificuldades a ní-
em terras de Vera Cruz, outras nacionalidades eu- vel da aquisição, o que explica algumas diferenças
ropeias para além da portuguesa, sobretudo espa- pesadas em relação ao português europeu”.
nhóis, italianos e alemães, para quem a língua de Mais determinante ainda afigura-se a influência do
Camões é uma língua estrangeira. “Esses imigran- elemento negro, muito importante na composição
tes do século XIX e do século XX aprenderam o étnica da população brasileira. “Durante o século
português em adultos como língua segunda. A se- XVI, XVII, XVIII e uma boa parte do XIX, o prin-
gunda geração aprendeu o português cipal elemento populacional novo no Brasil veio
como língua primeira, mas dos escravos africanos, que entravam no país falan-
dentro de fa- do um crioulo de base portuguesa, que a pouco e
pouco perdiam devido ao contacto com a pequena
classe dominante de proprietários portugueses. O
passado crioulo do português falado pelos africa-
nos é outro poderoso motivo que afecta uma larga
secção da população brasileira”. Através da misci-
genação todas estas influências se cruzam, no país
essencialmente mestiço que é o Brasil.
O “fraco investimento cultural de Portugal nas
suas colónias” é outro dos motivos que influenciam
a constituição do português do Brasil, embora, na
opinião de Ivo Castro, de menor peso que os dois
primeiros factores apontados. Portugal não criou
MÁRIO GUERREIRO

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[Museu Brasileiro da Língua Portuguesa]

RUI MARTINHO
qualquer universidade no Brasil. A inexistência de
Tribunais da Inquisição acarretou a impossibilida-
de prática de produzir e imprimir livros na coló-
nia, agravada pela ausência de tipografias anterio-
res à instalação da corte no Rio de Janeiro. “Se
fizermos a comparação com a colonização espa-
nhola, no México, no Peru e nas Filipinas, em me-
ados do século XVI, já há universidades e tipogra-
fias a imprimir livros e tribunais a tratar das
autorizações necessárias, bem como colégios para
as crianças terem uma educação espanhola. É claro
que esta deslocalização para a colónia dos investi-
mentos principais da cultura era possível – não va-
mos ser ingénuos – não porque os espanhóis fos- IVO CASTRO NO GABINETE LEITE VASCONCELLOS DA FACULDADE DE LETRAS
sem democráticos, mas porque possuíam uma
máquina militar tão poderosa no local, que se po- grafias. A comissão de linguistas encarregue pela
diam dar ao luxo de deixar a cultura germinar, por- República de fazer uma ortografia, produziu um
que o exército estaria a tomar conta. Além disso, documento tecnicamente muito bom. Mas nin-
depararam no México e no Peru com civilizações guém pensou que era preciso perguntar aos brasi-
sofisticadas, que requeriam abordagens adequadas. leiros se aceitavam aquela ortografia! Os brasilei-
Em relação ao Brasil, houve um investimento míni- ros ficaram muito ofendidos e fizeram uma
mo na transposição dos mecanismos culturais, o anti-ortografia, ou seja, escolheram soluções pro-
que teve como consequência um grande desequilí- positadamente diferentes. Desde essa altura, tem
brio entre as capacidades culturais da metrópole e havido sempre tentativas de conciliação e aproxi-
as da colónia e, consequentemente, no século XIX, mação que, por um motivo ou outro, nunca batem
com a independência do Brasil, uma irritação brasi- certo. Em 1986, as autoridades dos dois países es-
leira em relação à metrópole muito superior à que tiveram de acordo em fazer uma ortografia única.
as antigas colónias espanholas costumam ter em re- Mas, desta vez, ao contrário do que aconteceu em
lação a Espanha. E, portanto, um diálogo futuro 1911, foram os linguistas que não estiveram à altu-
comprometido entre Portugal e o Brasil, quando ra da tarefa e produziram um documento tecnica-
entre Espanha e as suas antigas colónias esse diálogo mente muito fraco. Depois houve mais duas ver-
não está nada comprometido.” sões, muito diferentes uma da outra, a última de
1990, assinada no Brasil e em Portugal, mas a dis-
Diferendo ortográfico é fruto de “gaffe” cussão em torno da unidade ortográfica já tinha
portuguesa tantos anos e já tinha sido tão intensa que, na reali-
“A questão ortográfica entre Portugal e o Brasil é dade, nenhum governo se sentiu com coragem pa-
um bom exemplo da irritação brasileira face à me- ra dar o passo seguinte e pôr a ortografia a funcio-
trópole e da forma como Portugal não geriu bem nar. O que acontece é que já passaram dezasseis
o ascendente que tinha em relação ao Brasil”, afir- anos, a ortografia de 1990 continua na gaveta e
ma Ivo Castro. “O diferendo nasce de uma ‘gaffe’ ninguém de facto dá pela sua falta. O que é prova
diplomática portuguesa. Em 1911, Portugal codi- suficiente de que a coabitação de duas ortografias,
fica pela primeira vez a sua ortografia. Até então a uma própria do Brasil e a outra própria de
ortografia era de tipo etimologizante, bastante Portugal e restantes países lusófonos, deve ser en-
afastada da realidade fonética e não estava codifica- carada como situação irreversível, que temos de
da, pelo que permitia uma grande variedade de assumir e levar para a frente”.

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[Entrevista Central/ Alberto João Jardim]

“O JORNALISMO É UMA ARTE”


Alberto João Jardim critica situação actual dos media

A actual situação dos media nacionais, a actuação do Governo Socialista e


o balanço do trabalho de Cavaco Silva, temas que Jardim aborda a sua
maneira característica e frontal
POR PAULO FAUSTINO E GUILHERME PIRES

presidente do Governo Regional da Madeira, possuem simultaneamente uma actividade

O Alberto João Jardim, continua a ser uma das


figuras mais polémicas da política nacional.
Em entrevista, não deixa de criticar o que conside-
política, incluindo governativa?
R: O problema não está nestes. Está na gritante
falta de pluralismo em matéria de sistema político.
ra ser um jornalismo subserviente ao Estado, e às
críticas de quem diz não existir uma verdadeira li- Que diferenças observa entre o jornalismo
berdade de imprensa na Madeira, responde com a actual e o passado?
afirmação de que é maior o pluralismo de opinião R: Evoluiu para pior. O jornalismo de “causas” dos
no arquipélago que no continente. primeiros dez anos pós-25 de Abril, foi substituído
pelo jornalismo de “interesses” económicos ou
Como analisa o panorama actual do jornal- partidários.
ismo português?
R: Como em tudo, há o bom e o mau, há jornalis- Numa entrevista afirmou que se não fosse
tas competentes e isentos, como há militantes po- político gostaria de ser jornalista. O que é
líticos com carteira profissional. A concentração que o atrai nessa profissão?
capitalista no sector traduz-se em jogos de interes- R: A liberdade, as causas, a objectividade e a since-
ses dos proprietários e no pagamento destes de ridade que deviam existir sempre.
um “imposto revolucionário” à pseudo-“esquerda”
marxista, permitindo a esta a utilização dos meios, No continente tem havido um aceso debate
desde que não os incomode e que publique o que sobre a relação do jornalismo com a políti-
aos respectivos proprietários interessa empresa- ca. Os casos de Manuel Maria Carrilho e
rialmente. Rui Rio são exemplos paradigmáticos que
Em Portugal, dado como se processa a formação revelam um profundo desagrado destes
do grande capital, os grandes capitalistas proprie- responsáveis políticos sobre a forma como
tários destes meios de “informação” estão com os jornalistas têm coberto determinados
qualquer Governo, desde que lhes interesse, e aju- assuntos. Qual é a sua opinião estes
dam-no a derrubar quando já os não satisfaz. casos?
Por isso, o único semanário de âmbito nacional que R: Tal como na Justiça, criou-se o preconceito an-
é de oposição, é O Diabo. De resto, ao contrário ti-democrático de que os jornalistas são “intocá-
das democracias europeias, não há comunicação so- veis” e que cabe aos políticos “ouvir e calar”.
cial de oposição, de âmbito nacional. Quando se ensina em “escolas” de jornalismo, pa-
téticas e politicamente sectárias, que só o negativo
Qual a sua opinião sobre os comentadores é notícia e o positivo não é para ser narrado, está a
políticos, nomeadamente na televisão, que formar-se uma sociedade doente, que não tem

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[Entrevista Central/ Alberto João Jardim]

condições para ir a parte alguma. Assim como as

D.R.
Escolas de Belas Artes ou de Música forçosamente
não fazem grandes pintores, escultores ou músi-
cos, também as escolas de Jornalismo, só por si,
não fazem jornalistas. O Jornalismo é uma Arte.
Ou se tem capacidade, incluso ética, ou não se
tem.

Encontra os mesmos problemas ou


questões nos meios de comunicação da
Madeira?
R: Na Madeira, há muito mais pluralismo na
Comunicação Social. Como na Europa democrática,
as tendências de cada meio estão suficiente e trans-
parentemente caracterizadas pela opinião pública.

Pensa que o sector está mal regulado?


R: O problema está na própria regulação, a qual
acaba sempre tutelada por gente directa ou indi-
rectamente indicada pelos Partidos. Em Portugal posto acerca do sistema político e à mercê do
temos os Tribunais, o que dispensa tais “órgãos re- grande capital colaboracionista, percebe-se o ódio
guladores”. à empresa Jornal da Madeira.
Pensa que a intervenção das instâncias Na Madeira existem cinco rádios que estão
políticas no sector da comunicação é integradas num grupo empresarial. Quais
importante para a sua correcta regulação? os impactos positivos e negativos que esta
R: Esta intervenção resulta cúmplice do péssimo situação pode gerar para os cidadãos da
estado da comunicação social em Portugal. Madeira?
R: Na Madeira não se pode falar de concentração,
Na sua opinião o que poderia ser feito para essas cinco rádios são locais e entre muitas outras.
melhorar o jornalismo português? O Governo Regional investe na sobrevivência do
R: Uma lei que dê primado aos Direitos, pluralismo de opinião.
Liberdades e Garantias de cada cidadão sobre o ar-
bítrio dos meios de comunicação social, e a re- Alguns estudiosos dos media realçam que
missão para os Tribunais de toda a matéria confli- a comunicação social está muito politizada.
tuosa. Concorda com esta perspectiva?
R: Não está politizada, está quase toda monopoli-
A Rádio Jornal da Madeira, propriedade do zada sob um “pensamento único”, situacionista,
Governo Regional, foi processada pelo ICS defensor de um regime político mescla de jacobi-
por emitir em cadeia com estações pri- nismo, marxismo, corporativismo e capitalismo
vadas que não cumprem as obrigações selvagem.
definidas pela Lei da Rádio. Esta situação
mantém-se? Os meios de comunicação social devem,
R: Francamente, desconheço o assunto. Mas, num na sua opinião, marcar uma posição edito-
país de “pensamento único” ideologicamente im- rial sobre um ou outro partido, ou, pelo

mediaXXI | 43
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[Entrevista Central/ Alberto João Jardim]

D.R.

contrário, devem ser totalmente isentos? Ensino Superior na Região, padeça de todos os
R: Acho que o Estado tem de garantir a existência males, de que padece a nível nacional.
de um pluralismo editorial que represente as prin-
cipais correntes de opinião. Gosta mais da informação em suporte
audiovisual ou impressa?
Considera suficiente a oferta jornalística R: Prefiro a impressa. Tem mais qualidade do que
existente no Arquipélago da Madeira? a falta de profundidade, mediocridade, e superfi-
R: É excessiva e não sobreviveria, também, sem os cialidade, por vezes meras “propagandas”, dos su-
apoios do Estado e da Região Autónoma, apesar de portes audiovisuais.
empenhos capitalistas no sector.
Como ocupa os seus tempos livres?
Considera haver espaço para mais meios R: Leio, escrevo, vou aos concertos, nado, jogo té-
de comunicação social? Existe algum nis (com 63 anos, já não sou tão veloz), exposi-
plano para estimular o desenvolvimento ções infelizmente raras vezes, e gosto muito de me
dos media na Madeira? divertir, embora a patetice do regime não o ache
R: É uma experiência de sucesso, em desenvolvi- politicamente correcto.
mento, e que o País deveria adoptar. É um “cho-
que tecnológico”, não no papel e sim no terreno, Quais são hoje os principais desafios para
de há mais de uma década. a Região Autónoma da Madeira?
R: Sobreviver à vergonhosa e sectária perversidade
Considera haver uma oferta satisfatória ao socialista para com a Madeira; continuar o
nível do ensino superior na região? Desenvolvimento Integral (a região cresce, em
R: O Ensino Superior continua da responsabilida- média, cinco pontos anuais); preparar a revisão
de da República, pois o Governo socialista violou constitucional de 2009 contra os resquícios colo-
os compromissos do Estado, também neste ponto, nialistas; fazer da Madeira a Singapura do
com pretexto em programa partidário. Daí que o Atlântico, sempre mantendo a Unidade Nacional e

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[Entrevista Central/ Alberto João Jardim]

sem o regime da dita Singapura.

D.R.
Após 36 anos no poder, receia que se se
distanciar da actividade política activa da
região se possa abrir caminho para um
Governo socialista na Madeira?
R: Olhe, ao ritmo de progressão que os socialistas
“sobem” na Madeira – e às vezes tornam a descer
– nem daqui a vinte anos formam Governo. A di-
recção nacional dos socialistas, em vez de procurar
destruir uma parcela de Portugal que funciona,
devia tentar perceber as razões pelas quais os “ca-
maradas” locais passam pelo vexame de já terem
perdido trinta e nove eleições.

O que falta hoje ao espaço político em


Portugal?
R: Qualidade e um novo sistema político-constitu-
cional, democrático e eficiente. Governo socialista até ao momento?
R: É matéria para análise partidária interna.
Que tipo de intervenção poderá ter um
Presidente da República na área da comu- Quais considera serem os principais atri-
nicação social? butos para ser bom líder político? A auto-
R: Não tem que intervir fora das suas competên- -estima pela região ou país é importante?
cias constitucionais. Tem é de fazer pedagogia de- R: Não mentir, dizendo “não” quando é preciso di-
mocrática. zê-lo; fazer obra que gere Desenvolvimento
Integral; defender intransigentemente o mandato
Por falar em Presidente da República, a que o Povo soberano confiou.
um ano e meio de distância da decisão de
dissolução do XV Governo Constitucional, No seu discurso político observa-se uma
como analisa essa decisão de Jorge frontalidade pouco habitual na abordagem
Sampaio? dos temas por parte da classe política. O
R: Foi um golpe de Estado constitucional, um fre- que é para si um discurso politicamente
te sem paralelo na União Europeia e que manchou correcto?
os dois mandatos. R: É a trampa que anda por aí...
Apoiou Cavaco Silva para a Presidência da É um dos políticos com mais anos no acti-
República, como vê estes primeiros meses vo. É, por isso, um observador privilegiado
de mandato? da sociedade portuguesa. Quais as princi-
R: Positivos. pais transformações económicas e sociais
que ocorreram em Portugal nos últimos 30
Muitas têm sido as críticas à maneira anos? Estamos melhor ou pior?
como o PSD se tem posicionado na R: Portugal está melhor do que nas ditaduras sala-
oposição. Considera que o seu partido tem zarista e comuno-gonçalvista. Mas porque fez da
feito um bom trabalho como oposição ao actual Constituição, “religião oficial do Estado”,

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[Entrevista Central/ Alberto João Jardim]

tecnicamente bem apetrechados, agora é com


D.R.

quem tiver iniciativa. Temos a maior percentagem


“per capita” de museus em todo o Pais, devida-
mente articulados com as actividades escolares.
Temos uma excelente Orquestra Clássica com à
volta de cinquenta elementos, quando na União
Europeia há uma Orquestra destas por cada mi-
lhão de habitantes. Temos um Teatro Experimental
que é apoiado.Temos iniciativas editoriais apoiadas
pelo Governo Regional. Nos trinta anos de
Autonomia, as praças e ruas encheram-se de peças
escultóricas, etc., desculpe, não estou em campa-
nha eleitoral.
O problema é remarmos num sentido de mudança
de mentalidades, e a comunicação social actuar em
medíocre sentido contrário, cultivando o gosto
pelo reles.

A cultura deve ser paga, totalmente sub-


sidiada ou um mix das duas situações?
R: A região deve apoiar a criatividade cultural –
não a cópia estrangeirada – que tenha qualidade e
que suscite o interesse do Povo ( a nossa
Orquestra Clássica toca nas mais diversas povoa-
ções rurais, com grande entusiasmo e adesão po-
pular). A Região não se deve deixar “chular” por
perdeu oportunidades irrecuperáveis e piorou as “intelectuais da bica”, que nunca algo criaram e
mentalidades através da mediocridade massificada. que debitam lérias lidas algures, ou que querem
enfiar o que ninguém está para aturar.
Em termos culturais, o que mudou em
Portugal? O que falta fazer neste domínio? Gostava de ser presidente da República ou
R: A censura do fascismo e dos comunistas, foi primeiro-ministro? Já alguma vez foi con-
substituída pelo sectarismo político. O pouco di- vidado, nos últimos 15 anos, para algum
nheiro disponível foi gasto com porcarias estran- cargo político no Continente?
geiradas e que não têm a adesão do Povo. R: De tais tentações estou livre, nunca fui convidado
Secundarizou-se a Cultura e o pensamento criados e mesmo que fosse assim, não o dizia – o sector poli-
em Portugal. O Estado, em vez de investir na qua- ticamente correcto do PSD que acaba sempre por
lidade e nos Valores nacionais, é chulado por uma enterrar o Partido, não gosta de mim – quero termi-
casta medíocre. nar os meus dias na Madeira, onde tenho sido feliz.

Que políticas está a desenvolver na Qual a figura nacional que mais admira,
Madeira na área da cultura? em qualquer campo da sociedade? Quem
R: Hoje, semanalmente, há mais eventos culturais são os seus mentores políticos?
na Madeira do que no Porto. Todos os Concelhos R: Admiração, Francisco Sá Carneiro. Mentores, a
foram infraestruturados com centros culturais Sabedoria do Povo Madeirense.

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[Intel Developer Forum]

INTEL PROJECTA FUTURO


Processador “quad-core” em Novembro

Em São Francisco, o gigante da informática discutiu o seu futuro e deixou


algumas pistas sobre a estratégia a curto prazo
POR MÁRIO GUERREIRO

a 10ª edição Intel Developer Fórum (IDF),

D.R.
que decorreu em São Francisco, nos EUA, a
empresa revelou o seu empenho em conti-
nuar a liderar no mercado das soluções informáti-
cas em silício. Um dos primeiros passos irá ser o
lançamento em Novembro do primeiro processa-
dor de quatro núcleos (“quad-core”) para PCs e
servidores de alta performance.
O presidente e CEO da Intel, Paul Otellini apre-
sentou o plano da empresa para uma posição de li-
derança no mercado tecnológico, referindo a cada
vez maior importância do silício no sector. “A in-
dústria está a sofrer a mudança mais profunda das
últimas décadas, estando a entrar numa era em de milhares de engenheiros e técnicos foi também
que o desempenho e a eficiência energética são o palco para o repto original da Intel para que os
factores críticos em todos os segmentos de merca- designers e fabricantes de PCs desenhem modelos
do e em todos os aspectos relacionados com com- sexy e com estilo, para a próxima geração de com-
putação”, disse. putadores especialmente pensados para o entrete-
Abordando as mais recentes tendências no uso de nimento multimédia. Eric Kim, vice-presidente e
computadores pessoais, Otellini referiu a necessi- director-geral do Digital Home Group da Intel
dade premente de processadores mais eficientes. apresentou o Intel Core Processor Challenge, um
“Um único ‘stream’ do You Tube seria o suficiente concurso aberto a todo o mundo e que irá ofere-
para bloquear o PC existente há alguns anos cer mais de um milhão de dólares aos autores do
atrás”, lembrou Otellini. Os novos sistemas opera- PC doméstico mais pequeno e com mais estilo
tivos, a maior exigência gráfica dos jogos, o vídeo apresentado à Intel, e que faça uso da tecnologia
online e de alta-definição tendem a aumentar a da empresa. Os sistemas apresentados irão ser ava-
exigência relativamente aos processadores: “À me- liados pelo júri de acordo com o seu estilo, acústi-
dida que o vídeo de alta-definição começa a ex- ca, funcionalidades e características. “A nossa in-
pandir-se, as pessoas vão necessitar de um desem- tenção é fazer a indústria pensar de forma
penho oito vezes superior, apenas para fazer a inovadora, pensar os PCs como algo ‘sexy’, peque-
encriptação.” Para Otellini, a “tecnologia do silício no, de forma simples, optimizando-os para entre-
está no centro da solução” para a satisfação das ac- tenimento multimédia”, referiu Eric Kim.
tuais exigências dos utilizadores. “Estamos a investir na mão que nos alimenta”, re-
conheceu o executivo da Intel, que deve ainda a
PCs “cool” e “sexy” maior fatia do seu volume de negócios aos utiliza-
A edição de 2006 do IDF, com a habitual presença dores domésticos.

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[7ª Encontro de Comunicação Autárquica]

CRISE NA IMPRENSA
O local fica para depois
Os media regionais e os gabinetes de comunicação autárquica têm cada
vez mais dificuldades em aceder ao campo mediático. A solução passa por
uma nova estratégia de comunicação e o investimento nos media locais
POR GUILHERME PIRES

s notícias sobre a realidade das autarquias O MAIS CONCORRIDO DE SEMPRE

A portuguesas estão a perder espaço nos media


nacionais. Para além da dificuldade em ace-
der aos noticiários televisivos, os acontecimentos
A sétima edição do Encontro de Comunicação
Autárquica foi a mais participada de sempre, com a
presença de 148 profissionais de diversas áreas (jor-
regionais e locais são cada vez menos reflectidos nalismo, assessoria de imprensa, comunicação ins-
nos principais jornais diários e semanários portu- titucional e docência) e a inscrição de 52 municípios,
gueses. Quando o são, em regra referem-se apenas na sua maioria do sul do País. O evento foi transmiti-
do na íntegra para a comunidade portuguesa online
a casos de escândalo no poder local. Este cenário
pela TvNet. Em 2007 o ECA muda-se para Portimão,
prejudica a já complicada tarefa dos técnicos de enquanto que a nona edição será organizada pela
comunicação das autarquias em mediatizar a infor- Câmara Municipal de Évora.
mação que produzem.
A disputa jornalística iniciada a 16 de Setembro pe- sáveis pela comunicação das autarquias têm de apro-
los dois principais semanários portugueses parece veitar os espaços dedicados às “estórias” pela impren-
para já não influenciar a cobertura dos acontecimen- sa, que constituem o nicho de mercado para a co-
tos locais. Enquanto que no Sol não existe qualquer municação regional nos espaços nobres do
secção dedicada em exclusivo a factos das regiões ou jornalismo português. A ideia foi defendida no ECA
localidades portuguesas, no renovado por Judite de Sousa, moderadora do painel de dia 20
Expresso a secção País Real cabe ape- de Setembro, que acrescentou que a solução pode
nas numa página, com uma a três passar por “tornar a informação local mais sexy”. Na
notícias e um conjunto de breves. opinião da jornalista da RTP, os comunicados de im-
Esta é uma realidade que se reflecte prensa e as notícias regionais devem envolver nos
em grande parte da imprensa nacio- acontecimentos personalidades que por si só são no-
nal portuguesa “porque quem traba- tícia e colocar as “estórias” em sintonia com os temas
lha desses meios concentra-se IRP
mais mobilizadores, como a saúde ou a
em particular nos pro- CÉM/S
S A NTIAG
O CA educação. É fundamental que a informa-
blemas do país e não CM ção seja despolitizada, caso contrá-
das regiões”, referiu rio perde credibilidade. “Se
João Céu e Silva, jorna- os comunicados de imprensa
lista do Diário de Notí- assimilarem estas tendências
cias, durante o sétimo talvez consigam fazer vingar
Encontro de Comu- os seus objectivos”, concluiu.
nicação Autárquica Cabe então aos assessores
(ECA). personalizar a relação com os jornalis-
Conscientes deste tas, de forma a tornar mais exequível a
cenário, os respon- colaboração com as redacções e facili-

MARCELO REBELO DE SOUSA

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[7ª Encontro de Comunicação Autárquica]

CM SANTIAGO CACÉM/SIRP
DA ESQUERDA PARA A DIREITA: JOÃO CÉU E SILVA, JUDITE DE SOUSA E RICARDO PINTO
tar a elaboração das notícias de acordo com o tão a ser transformadas em bodes expiatórios, por-
meio a que se destinam: TV, rádio ou imprensa. que “sob a aparente defesa da descentralização o país
Este trabalho tem, no entanto, de ser acompanha- está com um discurso centralista”.
do pelo desenvolvimento dos media regionais. O Os cortes no financiamento às autarquias são uma
jornalista Ricardo Jorge Pinto, presente no ECA, das consequências desta conjuntura. “Os sucessivos
defende que “o problema reside na falta de órgãos governos, de direita ou esquerda, têm contribuído
de comunicação regionais que supram as necessi- para uma imagem de descrédito do poder local, para
dades de informação dessas zonas”. A comunicação disfarçarem a dificuldade em conter a despesa na ad-
autárquica pode ser notícia, mas “tem de o ser pa- ministração central”, referiu o mediático professor
ra as populações que vivem nas regiões em causa”, de Direito. A solução passa pela elaboração de uma
frisa o jornalista do Expresso. nova estratégia de comunicação das autarquias, que
vise “a convocação de todos os sectores da sociedade
Nova estratégia para inverter crise para a excelência do poder local”.
Na opinião de Marcelo Rebelo de Sousa, o cenário Realizado a 20 e 21 de Setembro em Santiago do
traçado por João Céu e Silva é uma realidade indes- Cacém, o ECA 2006 reuniu membros de serviços
mentível que se deve, também, à “crise profunda” de comunicação de 52 municípios, jornalistas e pro-
dos media regionais e à emergência de uma cultura fessores universitários.A ausência de formação espe-
contrária ao poder local. O orador convidado para o cífica para a comunicação autárquica na maioria dos
primeiro dia do ECA considera que as autarquias es- cursos de jornalismo e ciências da comunicação por-
tugueses é um dos problemas identificados pelos
O SECTOR EM DEBATE profissionais do sector. “A comunicação nas autar-
quias é fundamental e o investimento que é realiza-
A crise dos media regionais foi apenas um dos do está de acordo com a realidade dos munícipios”,
vários tópicos focados no 7º ECA. Ao longo do evento sublinhou Susana Resende, oradora no segundo dia
foram ainda debatidas a aplicação das novas tec-
nologias aos gabinetes de comunicação, as expecta-
do ECA. “Contudo, não conseguimos encontrar
tivas dos profissionais do sector e a medição do grau uma definição do que deve ser e como deve actuar
de satisfação dos munícipes. Os cinco painéis de de- um técnico a trabalhar numa câmara municipal, pelo
bate contaram com a presença de oradores como os que temos de saber que formação precisamos e que
jornalistas Judite de Sousa, Ricardo Pinto ou João será mais apropriada ao nosso público”, concluiu.
Céu e Silva, os docentes Marcelo Rebelo de Sousa,
Eduardo Camilo ou José Vidal de Oliveira, e diversos
responsáveis de gabinetes de comunicação.

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[Portugal Media / Portalegre]

QUANDO PORTALEGRE É NOTÍCIA


O distrito conta com uma imprensa escrita variada

Dar visibilidade ao que é da terra é a missão de muitas publicações do


Alto Alentejo “porque se não, nada nos diferencia dos outros”
POR MARGARIDA PONTE

m terras do Alto Alentejo, a população está, res e criado em Ponte de Sôr há 51 anos, tem pro-

E com um bissemanário, dois semanários e qua-


tro quinzenários, bem servida de notícias.
Todas as quartas e sábados sai em Portalegre, o
curado nos últimos cinco profissionalizar-se. “Hoje
tem uma estrutura própria, fixa, um corpo redac-
torial e uma área comercial”, descreve o director,
jornal líder de audiências no distrito, o Fonte acrescentando que o jornal privilegia a região com
Nova. Na região, a concorrência ao jornal que uma página por cada concelho vizinho. Estratégia
conta com 21 anos é, para Isabel Mendes, respon- que “tem dado frutos” pois “ficamos a 2 ou 3 pon-
sável pela publicidade, “quase nula”. tos do jornal Fonte Nova, ultrapassando o Linhas
Também da cidade capital de distrito, o semanário de Elvas”, diz Fernando Albuquerque.
o Distrito de Portalegre, criado em 1884, é uma O futuro do jornal passa agora por chegar a sema-
publicação centenária que procura “aprofundar os nário. Mas isso envolve “mais gente e mais papel”,
assuntos” e não se resumir a ser um jornal que in- explica. Apesar dos entraves, refere que com uma
clui anúncios e falecimentos, descreve a funcioná- estrutura leve, conseguem ser um projecto viável
ria Paula Marmelo. Depois de uma mudança de di- e muito graças “ao trabalho de equipa, à polivalên-
recção há dois anos, o jornal tem vindo a sofrer cia e à imaginação das pessoas, aspectos importan-
alterações, uma delas é a publicação a cores da ca- tes numa estrutura pequena e débil financeira-
pa e páginas centrais.

Informar nos outros concelhos


Criado em 1950, o Linhas de Elvas é, segundo o jor-
nalista Nuno Barraco, o semanário com maior au-
diência no distrito, que define como um jornal de re-
ferência. Pertencendo à Rede Expresso, é um
jornal que “procura ter mais rigor na informa-
ção”, conclui.
Também de Elvas, o Despertador é um jornal
mais recente, com 13 anos, e que funciona
apenas com uma jornalista, Susana Barraco.
As 16 páginas deste quinzenário desdobram-
se entre noticiário local, opinião e desporto.
Ecos do Sôr é um quinzenário descrito pelo
seu director comercial, Fernando
Albuquerque como um “oásis na região”. A
funcionar com dois jornalistas e colaborado-

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[Portugal Media / Portalegre]

Imprensa*

TÍTULO ORIGEM JORNALISTAS **TIRAGEM DISTRIBUIÇÃO SITE


A Mensagem Crato - 1600 Concelho, assinaturas e região -
(Mensal) limítrofe, País e Mundo
Boletim Paroquial Comenda 0 700 Paróquia, assinaturas -
(3/ ano)
Ecos do Sor Ponte de Sor 2 3150 Concelho, assinaturas www.ecosdosor.net
(quinzenal) e região limítrofe.
Fonte Nova Portalegre 2 3000 Venda directa no www.jornalfontenova.com
(bissemanal) distrito e assinaturas
Despertador Elvas 1 1500 Concelho e assinaturas -
(quinzenal) todo País e Mundo

Linhas de Elvas Elvas 3 7500 Venda directa no concelho e www.linhasdeelvas.


(semanal) noutros pontos e assinaturas net

Jornal de Nisa Portalegre 0 1500 Concelhos Nisa e -


(quinzenal) Portalegre e assinaturas

Mensageiro de Alter do Chão 0 1700 Concelho, assinaturas e região -


Alter (mensal) limítrofe, País e Mundo

Notícias de Arronches Arronches 1 4000 Concelhos de Arronches, www.noticiasdear-


(mensal) Monforte, Campo Maior, ronches.com
Portalegre e algumas zonas
de Espanha

O Distrito de Portalegre 1 1750 Cidade, assinantes País e -


Portalegre (semanal) Mundo

Região em Notícias Campo Maior 3 1500 Venda directas nos concelhos -


de Campo Maior de Campo Maior e Elvas e
(quinzenal) assinaturas

*FONTE: EMPRESAS, FICHAS TÉCNICAS E SÍTIOS INSTITUCIONAIS; **Nº MÉDIO POR EDIÇÃO.

mente”. O Ecos do Sôr distingue-se por ser o úni- tém a rádio local, RCM, e, desde há quatro meses,
co jornal com um suplemento cultural mensal, o o quinzenário Região em Notícias de Campo
O2 que inclui temas como poesia, literatura, mú- Maior, aproveitando assim as sinergias entre estes
sica, internet, ambiente e restauro. dois órgãos que partilham a mesma redacção de
Já em Campo Maior, é a Santa Casa da três jornalistas. Com uma tiragem de 1500 exem-
Misericórdia desta localidade alentejana que de- plares, o jornal tem tido algum sucesso, explica o

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[Portugal Media / Portalegre]

director institucional, João Carrilho, acrescentado blicidade que “tem melhorado, mas tem de ser
que agora o objectivo é ampliar a publicação para com alguma insistência”, diz Paula Marmelo.
fora do concelho. No Jornal de Nisa são os colaboradores perma-
O Jornal de Nisa, quinzenário criado em 1998, nentes e o director que seguram este quinzenário,
tem como uma das suas preocupações “fazer a diz o responsável Mário Mendes. “É possível anga-
ponte com as gentes do concelho” de Nisa que riar [publicidade] mas com muitas dificuldades
emigraram para França onde o jornal tem muitos porque o comércio local é frágil”, descreve o res-
assinantes, explica o director, Mário Mendes. ponsável.
Procura “reflectir a realidade do concelho”, abor- O director do único jornal de Nisa refere ainda que
dando problemas sociais como os relacionados o apoio do Estado é o porte-pago, uma ajuda valiosa
com os idosos. Um caso de sucesso no jornal é já que, refere, “sem isso seria muito difícil, teríamos
uma página dedicada ao Património local “que é de encarecer a assinatura o que é injusto para quem
muito lida”, diz Mário Mendes. “Há que dar visibi- compra o jornal”, explica.
lidade aquilo que é nosso, se não, não vale a pena e De Ponte de Sôr chegam-nos ecos de um caso de
nada nos diferencia dos outros”, conclui. sucesso. “A publicidade tem sido a base do desen-
Ainda de referir a existência, em Arronches, do volvimento e tem corrido muito bem”, diz
único jornal gratuito do distrito, o Notícias de Fernando Albuquerque.“A comunidade tem enten-
Arronches criado há quatro anos por Fernando dido o projecto do jornal”, explica. Além da publi-
Marques. cidade institucional e dos anúncios “porque os clien-
tes precisam”, o Ecos do Sôr tem clientes que
Jornais a contas com a publicidade anunciam para ajudar o jornal da terra. Conclusão?
Exemplo de um caso de sucesso, o Linhas de Elvas “Há 5 anos que não paramos de subir”, diz.
conta com três jornalistas na sua redacção e tem Isabel Mendes diz que ao Fonte Nova o que vale é
uma tiragem de 7500 exemplares. A sobrevivência a sua marca já que “é muito difícil angariar publici-
deste jornal e a angariação de anunciantes “não são dade. As pessoas não compreendem que anunciar é
difíceis”, diz Nuno Barraco. não esquecer. Isto não é caridade, é um serviço”,
Por seu lado, o Distrito de Portalegre vive de pu- conclui.

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[Portugal Media / Portalegre]

NO AR COM O ALTO ALENTEJO


São cinco as rádios que informam e animam o distrito

Ponte de Sôr, Elvas, Campo Maior e Portalegre são os concelhos com


emissoras locais que têm enfrentado as adversidades comuns às
rádios do Interior
POR MARGARIDA PONTE

os 15 concelhos pertencentes a Portalegre, da estação, os

D apenas quatro têm rádio local. Na sede de


distrito, é a Rádio Portalegre, propriedade
de uma cooperativa, que há 17 anos informa gran-
segredos para
o sucesso.
Há duas rádios
de parte do Alentejo, focando-se sobretudo na in- sedeadas em
formação regional e na animação. “O facto de ir- Elvas, a Rádio Elvas e uma emissora regional da
mos ao encontro da região e dos seus problemas e Renascença, a Voz Elvas que funciona com três jor-
darmos o que as pessoas gostam de ouvir” são, pa- nalistas e emite para todo o concelho e arredores.
ra César Azeitona, responsável pela área comercial Além da emissão regular da empresa-mãe, a esta-

MÁRIO GUERREIRO

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[Portugal Media / Portalegre]

ção tem produção Anunciar nas rádios de


noticiosa genera- Portalegre
lista de cariz “A nível económico está
local e entre- complicado”, lamenta-se o
tenimento director da RTL que conta
que engloba apenas com um jornalista.
música por- “Temos pouca gente a tra-
tuguesa, dis- balhar por causa disso”,
cos pedidos e acrescenta.
passatempos. Sandra Almeida, a responsável pela área da publici-
De Ponte de Sôr, dade da Voz Elvas, diz que “ser parte do Grupo
a RTL é uma esta- Renascença não ajuda” na angariação de anuncian-
ção que tem como ob- tes para a rádio. “Não há qualquer diferença, as
jectivo “levar às pessoas a informação local, regio- empresas compram pela programação e pelo tra-
nal e mesmo nacional”, descreve o seu director, balho”, acrescenta a responsável.
Marçal Correia. Mas há casos de sucesso. “Sendo líder, é meio ca-
Mais recente, a Rádio Campo Maior, criada há minho andado”, diz César Azeitona da Rádio
quatro anos, tem já, nas palavras do seu director Portalegre. Por seu lado, a RCM tem anunciantes
institucional, João Carrilho, “uma receptividade da terra e mesmo de Espanha “onde fazemos mui-
muito boa”. Para o responsável, a estação “deve tas compras”, explica o director da estação. “A pu-
contribuir para o desenvolvimento da região, blicidade tem chegado para pagar as despesas”,
aproximar as pessoas e fazer chegar ao cidadão to- conclui. Por seu lado, a Rádio Elvas atravessa, se-
da a informação útil”. gundo as palavras de Dinis Carvalho, uma fase difí-
Na região pode ainda ser sintonizada a Rádio S. cil. “Nunca demos prioridade à publicidade do pa-
Mamede que emite actualmente a RDS, Rádio ís vizinho, mas pensamos que essa talvez seja a
Difusão do Seixal. única solução”, conclui.

Rádio*

TÍTULO ORIGEM JORNALISTAS NOTICIÁRIOS/DIA DISTRIBUIÇÃO SITE


RCM (95.9) Campo Maior 3 7 Concelho www.radiocampomaior.com

RE Rádio Elvas Elvas 5 7 Concelho, raio de 60 km www.radioelvas.com


(91.5)
RTL Rádio Ponte de Ponte de Sôr 1 3 Concelho, zonas limítrofes -
Sôr (96.0)
Rádio Portalegre Portalegre 4 9 Distrito e distritos www.radioportalegre.pt
(100.5) limítrofes

Rádio Renascença Elvas 3 4 Concelho e zonas limítrofes www.rr-elvas.com


– Voz Elvas (99.8)

*FONTE: EMPRESAS E SÍTIOS INSTITUCIONAIS.

mediaXXI | 55
ed.89 06/09/29 15:23 Page 56

[Portugal Media / Portalegre]

COMUNICAR NO ALTO ALENTEJO


Portalegre conta apenas com uma escola de ensino superior do Jornalismo

Criado há 12 anos, o curso de Jornalismo e Comunicação é o único em


todo o Alto Alentejo a formar profissionais numa região onde são
necessários
POR MARGARIDA PONTE

Instituto Politécnico de Portalegre (IPP)

O conta na sua Escola Superior de Educação


com a única licenciatura na área da
Comunicação em Portalegre. Com uma média de
entrada a rondar os 13 valores, 13,1 em 2005, o
curso tem 40 vagas para as quais só se pode candi-
datar quem tiver realizado o exame de Filosofia,
Português ou Sociologia.
Criado no ano lectivo 1994/95 como bacharelato, o
curso sofreu alterações curriculares em 1997/98,
passando a partir desse ano a ser licenciatura.
O curso em Jornalismo e Comunicação é uma licen-
ciatura bietápica que se desenvolve ao longo de três
anos mais um e divide-se entre os ramos de
Jornalismo e de Relações Públicas e Publicidade, va-
riantes que são escolhidas no 3º ano de formação.
Descrito no site oficial do instituto como um “curso
que pretende abordar os aspectos teóricos, deonto- área jornalística. “Desde a imagem da pivot do tele-
lógicos e, sobretudo, práticos das profissões ligadas à jornal do dia anterior até ao lançamento de um li-
informação e à comunicação”, tem visto as suas va- vro, passando por uma notícia de jornal que suscitou
gas sempre ocupadas nos últimos três anos. No que alguma polémica ou uma experiência vivida no cam-
respeita ao plano curricular, o curso do IPP dá um po jornalístico, tudo pode ser incluído neste blog”,
amplo espaço à vertente prática com disciplinas co- isto e mais pode ser lido em www.esep.pt/blogs/.
mo Oficina de Comunicação, Projecto de Outro projecto da escola é o ESEP Jornal Digital,
Comunicação e Técnicas de Marketing. O que tam- jornal online elaborado pelos alunos do curso de
bém é comprovado pelos dois momentos de estágio Jornalismo e Comunicação e coordenado por pro-
ao longo da licenciatura, um no final do 3º ano que fessores da ESEP. Segundo a definição oficial, “o
envolve o trabalho em diversas instituições, sobretu- ESEP Jornal tem como principal objectivo propor-
do órgãos de comunicação social, durante 480 horas cionar aos alunos de jornalismo daquela instituição,
e outro no final do 4º ano por 240 horas. um espaço no qual possam colocar em prática os
conceitos teóricos apreendidos” no curso. A área de
Actividades extra-curriculares interesse do site, que pode ser consultado em
O blog de Jornalismo da ESEP é um dos locais onli- www.esep.pt/jornal, em termos geográficos é o
ne onde alunos e professores trabalham em conjunto distrito de Portalegre e “todos os assuntos que com a
o debate e a crítica das questões relacionados com a região se relacionem”.

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[Aula Aberta]

A CRISE DA IMPRENSA

uito se tem escrito ultimamente so- O impacto das novas tecnologias digitais – e

M bre a crise da imprensa. O desapare-


cimento do Independente – cerca de
um ano depois de o mesmo destino se ter
a crescente satisfação da procura de infor-
mação nestes meios – é um dos mais rele-
vantes factores que se traduzem no desinte-
abatido sobre A Capital e O Comércio do resse pelos títulos em papel. O surto dos
Porto – vieram reavivar este debate, bem diários gratuitos ter-se-á também reflectido
CARLA MARTINS como o nascimento do Sol e animada guer- numa quebra de circulação – os diários
*JORNALISTA E DOCENTE ra de tiragens ao fim de semana. Destak e Metro registaram, em 2005, uma
UNIVERSITÁRIA Até ao 25 de Abril de 1974, os principais tí- circulação média superior a 120 mil exem-
tulos concentravam-se nas mãos de grupos plares cada, com uma distribuição limitada
financeiros e industriais. Hoje, os principais a Lisboa, Setúbal e Porto.
títulos estão integrados em grupos de me- Comparando os indicadores de circulação
dia. Mas o panorama do sector, da perspec- dos principais jornais portugueses entre
“Hoje, os tiva da oferta, mudou substancialmente. 2000 e 2005, verifica-se um declínio em
principais títulos Desde finais dos anos 70 surgiram novos tí- praticamente todos os segmentos. Nem os
estão integrados tulos como o Correio da Manhã, o jornais desportivos escaparam a esta ten-
em grupos de Tal&Qual, o Independente, o Público, o 24 dência. Exceptuam-se, entre os generalis-
media” Horas. As newsmagazines Visão, Focus e tas, o Correio da Manhã e o 24 Horas (este
Sábado foram criadas depois de 1990. último dobrou a circulação em cinco anos).
Muitas outras publicações deixaram de exis- Estes números revelam um padrão de pre-
tir – algumas nem chegaram a ter tempo de ferência. O que é significativo. O conteúdo
respirar e fazer história. Um aspecto mante- e forma mais apelativos podem ter conduzi-
ve-se aparentemente inalterado – os fracos do muitas pessoas a ler jornais – e estas
hábitos de leitura de imprensa dos portugue- provavelmente nunca chegarão a identificar-
ses. Apesar de este ser um dado adquirido -se com outro tipo de publicações. A quebra
que mereceria um mais rigoroso estudo, são do número de leitores de outros jornais –
evidentes as atitudes culturais e educacionais nomeadamente, os de “referência” – poderá
endémicas que contribuem para este estado explicar-se pela razão oposta – a não identi-
de coisas. Portugal, por outro lado, é um pa- ficação com as sucessivas reformas gráficas
ís pequeno – embora este argumento seja fa- e editoriais.
lível considerando que países com menor po- Há novos leitores; outros deixaram de o ser.
pulação adulta, como Suécia, Áustria, A responsabilidade do ganho e da perda de
Dinamarca ou Finlândia, registam índices de leitores cabe, em primeiro lugar, aos pró-
circulação de jornais muito mais elevados. prios jornais.

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[Centros de Conhecimento]

COMUNICAÇÃO NO ISCSP
Licenciatura combina Jornalismo e Comunicação Estratégica

No ISCSP, da Universidade Técnica de Lisboa, os alunos de Ciências da


Comunicação licenciam-se levando consigo uma abrangência sociológica
multidisciplinar
POR VERA LANÇA

BRUNO AMARAL
riada em 1980, como Licenciatura em

C Comunicação Social, o actual curso de Ciências


da Comunicação (CC) no Instituto Superior de
Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) estrutura-se se-
gundo o modelo 3+2. Os alunos podem fazer a sua
licenciatura, que tem uma forte matriz sociológica e
faculta uma formação multidisciplinar e aberta, voca-
cionada para Jornalismo e Comunicação Estratégica,
seguida do Mestrado em Comunicação Social nestas
duas vertentes de especialização. “É uma estrutura
que me parece muito interessante e com um vasto
leque de cadeiras de opção”, diz João Bettencourt da
O ISCSP INAUGUROU AS INSTALAÇÕES DA AJUDA EM 2001
Câmara, coordenador da licenciatura e professor no
ISCSP. Estas cadeiras de opção são orientadas para as Em termos de pós-graduações, os alunos podem op-
áreas de jornalismo de actualidade internacional, po- tar entre os cursos de Marketing, Comunicação e
lítico e online, e marketing, publicidade e relações Marketing Político ou Produção de Televisão. Com a
públicas. adopção do Processo de Bolonha, o ISCSP decidiu
No ISCSP, os alunos de CC beneficiam, ainda, de criar o Doutoramento em CC, processo que já
um protocolo celebrado com o CENJOR onde arrancou internamente, o que permite aos alunos fa-
podem fazer três ateliers, nomeadamente de im- zer uma formação segundo o modelo 3+2+3.
prensa, rádio e televisão, adaptados aos conteúdos
programáticos da licenciatura. João Bettencourt Envolver os alunos
da Câmara realça que “os alunos da licenciatura fo- Uma das grandes apostas do ISCSP passa pela or-
ram classificados pela última Comissão de ganização de eventos, em que os alunos são cha-
Avaliação Externa 2004/2005 com a nota A e, dos mados a intervir. Para além das pontuais conferên-
que saíram para o mercado de trabalho entre 1999 cias e seminários, realizam-se todos os anos as
e 2003, mais de um terço tem encontrado empre- Jornadas de Comunicação, cuja organização está a
go na sua área de formação no espaço de um mês”. cargo do núcleo de estudantes de CC que, aliás,
Segundo o coordenador é importante que a licen- tem por objectivo representar a licenciatura e or-
ciatura proporcione um elevado grau de satisfação ganizar projectos e eventos ligados ao âmbito do
profissional e facilite a flexibilidade e agilidade dos curso. Além disso, os alunos podem também inte-
licenciados no processo de adaptação às exigências grar as equipas do ISCO, o jornal do ISCSP, e da
do mercado de trabalho. Rádio Burnay, a rádio dos ISCSPianos que tem o
Para além da licenciatura e mestrado, o ISCSP dispõe nome do Palácio Burnay, onde o instituto come-
de outros graus de formação académica nesta área. çou a funcionar em 1906.

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[Instituições do Conhecimento]

ICAM É SINÓNIMO DE CINEMA


Instituto é o principal pilar financeiro do cinema português

O ICAM tem como objectivo o fomento e desenvolvimento das actividades


cinematográfica, audiovisual e multimédia, enquanto indústrias culturais
TEXTO E FOTO POR VERA LANÇA

ob a tutela do Ministério da Cultura, o

S Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimédia


(ICAM) tem a sua missão definida na garantia
da diversidade e da qualidade das produções de cine-
ma, audiovisual e multimédia portuguesas, três ver-
tentes que, hoje em dia, se conjugam. O ICAM é,
por excelência, o promotor nacional da diversidade
e identidade cultural nestes domínios, sempre com
um olho na inovação e na criação artística. Desta
forma não é apenas a indústria de conteúdos que be-
neficia das políticas do ICAM, mas também a cultura
e língua portuguesas, uma vez que este organismo
promove igualmente cooperações europeias e inter-
nacionais nos domínios em que actua. A nova Lei do JOSÉ PEDRO RIBEIRO, PRESIDENTE DO ICAM
Cinema e do Audiovisual, cujo decreto-lei foi apro-
vado a 16 de Agosto passado, prevê que as atribuiçõ- cedidos apenas a uma área específica – desde a
es do ICAM sejam reforçadas, entre outros, com um produção (que inclui a escrita de argumentos) à
fundo de apoio. “Trata-se de um fundo de apoio à promoção, passando pela distribuição e exibição
produção destinado a apoiar obras com maior po- das obras, o ICAM concede apoios em todas as fa-
tencial de rentabilidade comercial, embora saibamos ses e as políticas de atribuição de apoios aplicam-
que o mercado português seja manifestamente insu- se às longas, médias e curtas metragens, às obras
ficiente para que as empresas de produção de cine- de animação, às séries e aos documentários de
ma possam ter lucros avultados. A ideia é que este criação. Além disso, para fazer chegar o cinema
fundo possa criar uma base sustentável de empresas português a mais pessoas, o instituto tem desen-
de produção” afirma José Pedro Ribeiro, presidente volvido mais recentemente alguns programas, no-
do ICAM. meadamente a rede de exibição alternativa, o pro-
grama de itinerância cinematográfica e apoios aos
Das curtas às longas cineclubes. Apesar do pouco público que as obras
Em 2005, o instituto apoiou financeiramente 45 portuguesas têm, o ICAM não vê isso como uma
filmes e outros tantos projectos num total de 7.3 prioridade. “A análise ao cinema português não
milhões de euros. “Se não existisse o ICAM, tam- pode ser apenas numérica, porque as obras que o
bém não existiria cinema português porque quase ICAM apoia são analisadas numa perspectiva mais
todas as obras realizadas em Portugal têm o nosso cultural e artística e não numa lógica de rentabili-
apoio financeiro”, diz o presidente do instituto. dade”, afirma José Pedro Ribeiro, que vê com
Mas os apoios do ICAM não se destinam apenas a bons olhos o facto de em Portugal não se copiar o
um tipo de produção em particular, nem são con- cinema norte-americano.

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[Leituras]
Organizações, Cidadãos e Qualidade
Ivo Domingues
RésXXI/Formalpress
Ivo Domingues é doutorado em Sociologia das Organizações pela Universidade
do Minho e investigador e consultor nas áreas da Gestão da Qualidade e da
Gestão de Recursos Humanos e autor deste livro, editado pela Rés
XXI/Formalpress, que resulta da complicação de vários textos publicados no
Caderno Management do Semanário Económico.Trata-se de uma observação
atenta de um cidadão a várias organizações que fazem parte do seu dia-a-dia. Ao
longo de seis capítulos o autor aborda temas como as orientações e práticas de
gestão de qualidade, a qualidade em serviços privados e públicos, bem como a
qualidade em comércio e em educação.
POR VERA LANÇA

A Fonte Não Quis Revelar – Um estudo sobre a produção das notícias


Rogério Santos
Campo das Letras
Ao longo de seis capítulos, Rogério Santos, doutorado em Ciências da
Comunicação, analisa o jornalismo e as notícias – a actividade e o produto – e as
relações necessárias entre jornalistas e as suas fontes de informação. O autor dá res-
postas sobre o funcionamento das organizações noticiosas, e o que as distingue en-
tre si, e sobre as relações profissionais que aí se estabelecem. Este livro, da
Colecção Campo dos Media e editado pela Campo das Letras, segue todo o proces-
so de construção noticiosa e esclarece a imperatividade que os promotores têm de
produzir novos eventos que agucem o interesse destas organizações.
POR VERA LANÇA

A Televisão ‘Light’ Rumo ao Digital


Francisco Rui Cádima
Rés XXI/Formalpress
A televisão ‘light’ e o ‘telelixo’ são dois dos temas que Francisco Rui Cádima,
Doutorado em Comunicação Social, aborda nesta sua reflexão sobre a temática
da qualidade dos conteúdos televisivos, sob o prisma da sua importância para a
Cidadania. Um tema que se afigura como uma consequência inevitável da
tentativa de examinar o peso socio-cultural que a televisão assume no
momento em que a migração da televisão analógica para o digital está na
ordem do dia. Ao longo deste livro, da Colecção Media XXI, editado pela Rés
XXI/Formalpress, o autor faz ainda um périplo por outros temas, como é o ca-
so da regulação sectorial e da qualidade do serviço público de televisão.
Francisco Rui Cádima frisa, ainda, a actual tendência para o esquecimento da
televisão como o mais poderoso dos meios de comunicação – embora esteja
subaproveitado – para a construção de uma ordem social e cultural.
POR VERA LANÇA

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[Leituras] Guia de Acesso às Fontes de


Informação do Parlamento Europeu
Mediatizados – Como os media moldam o Ana Sofia Morais
nosso mundo e o modo como o vivemos Colecção Media XXI
Thomas de Zengotita
Ana Sofia Morais dá neste livro dicas preciosas
Bizâncio para quem necessita ou quer aceder a toda a
Thomas de Zengotita é editor da Harper’s, informação disponibilizada pelo Parlamento
revista norte-americana de literatura, Europeu. Actualmente, esta instituição
política, cultura e arte, e autor deste livro europeia fornece informação em vários forma-
da Colecção Sínsteses, editado pela tos (texto, imagem e multimédia) para os cida-
Bizâncio em Portugal. Em sete capítulos, o dãos europeus e jornalistas dos 25. Através
autor faz uma reflexão sobre a cultura pós- deste guia, são identificadas as melhores
-moderna e sobre os media. A sua análise práticas para aceder
engloba vários aspectos de forma à informação que se
transversal e faz uma autêntica visita guiada pretende, sem se
aos vários sectores da sociedade actual, for- ficar perdido nos
temente mediatizada.Thomas de Zengotita meandros do site
analisa o dia-a-dia comandado pelos media do Parlamento
em que milhões de pessoas estão limitadas Europeu, e ajuda-se
a uma realidade restritiva, consequência di- a compreender as
recta desta tendência global que é a mediatização de todos diferenças entre os
os acontecimentos. Desde o funeral da princesa Diana ao vários tipos de
visionamento do terrorismo à escala mundial, o autor foca comunicação desta
os mais variados aspectos de forma sofisticada e satírica. instituição.
POR VERA LANÇA POR MÁRIO GUERREIRO

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[A indústria de Hollywood]

HOLLYWOOD POR DENTRO


A indústria cinematográfica norte-americana passo a passo

Antes de chegarem às salas, as produções de Hollywood passam por


vários processos para minimizar o risco de insucessos e rentabilizar
ainda mais um negócio de milhões
TEXTO POR VERA LANÇA
FOTOS POR PAULO FAUSTINO

or detrás das produções de Hollywood existe

P toda uma poderosa máquina. Não é apenas a es-


colha certa do elenco ou uma grande estrela co-
mo personagem principal que garantem a qualidade
do filme. O sucesso de qualquer produção não co-
meça a partir do momento em que é projectado na
tela, mas há todo um planeamento onde se inserem
a estratégia criativa e estudos de mercado; um inves-
timento de que as produtoras não abdicam.

Ser criativo na estratégia


Antes de qualquer filme chegar ao grande público,
a máquina de Hollywood já está a funcionar há
muito tempo. Das várias etapas, a estratégia criati-
va de divulgação é uma das mais importantes no Robert Marich desmantela o processo por que os
trabalho de produção cinematográfica. O poder da filmes passam, antes de chegarem ao mercado, e
publicidade é uma das armas mais poderosas para afirma: “Num mundo ideal, a publicidade dos filmes
garantir que os filmes não fracassem nas bilheteiras. deveria ser uma simples extensão dos próprios fil-
No livro “Marketing to Moviegoers”, o jornalista mes. Mas, frequentemente, não é o caso”.
Muitas vezes, é o trabalho de publicidade em si
que dita a qualidade que o filme vai ter para o pú-
blico. Uma produção que poderia estar condenada
OS GRANDES ESTÚDIOS
à partida, por várias razões, como um guião desin-
São sete os gigantes de Hollywood, imbatíveis desde teressante, pode tornar-se num grande sucesso.
os anos 20 do século XX – a Warner/New Line, Walt Há factores que garantem uma certa predisposi-
Disney Miramax, Universal, Sony/Columbia, Twentieth
ção do público, como filmes baseados em livros
Century Fox, Paramount e Metro-Goldwyn-Mayer pro-
duzem cada um entre doze a 25 filmes por ano. de sucesso ou actores de renome. No entanto, se-
Juntos, estes estúdios recordistas mundiais da in- gundo Marich, estes são apenas “ganchos de mar-
dústria geram anualmente lucros de mais de 41 bi- keting” porque cada filme é uma marca em si que
liões de dólares e garantem 97% das receitas de bi- tem de ser posicionada e promovida no mercado,
lheteira nos EUA. O seu poder deve-se, em parte, à
um processo caro e difícil. O slogan certo é outro
venda directa dos seus filmes às empresas de pro-
jecção cinematográfica de todo o mundo, capacidade gancho que pode colocar o filme numa posição
que as maiores empresas cinematográficas eu- única no mercado. A publicidade tem como fun-
ropeias não têm sequer nos países vizinhos. ção dar uma cara ao filme e torná-lo apelativo, e

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ed.89 06/09/28 12:46 Page 64

[A indústria de Hollywood]

nos primeiros dias após a estreia, a criatividade cada vez mais os grandes estúdios estão a contratar
contida na mensagem do slogan pode ditar o seu criativos que possam tratar dos trailers e dos anún-
sucesso. Mas os produtos de publicidade mais im- cios para reduzir os custos que implicam.
portantes são os anúncios televisivos e os trailers
que vão ser exibidos nas salas de cinema. São as Estudar as características do mercado
peças que, realmente, levam o público às salas de A estratégia criativa de um filme é desenvolvida a
cinema e não podem ser simples despertadores de pensar nas características do principal alvo da pro-
emoções, têm que transmitir o sentido da história, dução, que é determinado antes da filmagem, no
o núcleo duro do filme. entanto, a abordagem de marketing pode ser alte-
A campanha de lançamento de uma grande produ- rada à medida que o filme vai tomando a sua for-
ção implica um investimento entre 15 a 35 milhõ- ma final. Marich afirma que a identificação da
es de dólares em publicidade nos meios de comu- principal audiência é essencial porque esta é a mais
nicação. Nesta fase, os estúdios apostam muito nas fácil de motivar para o filme, daí que o conceito
ideias de empresas criativas exteriores ao estúdio, de marketing tenha que ser desenvolvido a pensar
sendo contactadas várias empresas que apresentam nela. É na fase dos estudos de mercado, feitos com
os seus projectos e apenas é escolhido o que mais base numa amostra de pessoas (representante da
lhes agradar. Aliás, em Hollywood existem cerca população geral) que, segundo Marich, é obtida
de 7 mil empresas ligadas ao sector do cinema, informação representativa do universo populacio-
90% das quais têm menos de dez funcionários e nal. Em Hollywood, esta é uma ferramenta muito
trabalham para as grandes produtoras. No entanto, utilizada pelos grandes estúdios desde finais dos anos

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ed.89 06/09/29 14:32 Page 65

[A indústria de Hollywood]

dessas empresas, e são os pequenos departamentos


BOLLYWOOD E… NOLLYWOOD de investigação dos grandes estúdios que fazem a
A produção da pesquisa preliminar sobre os objectivos de marke-
indústria cine- ting a explorar. Inversamente, e na perspectiva de
matográfica in- Marich, estes estudos são muitas vezes utilizados co-
diana, muitas
vezes referida
mo defesa em caso de fracasso de um filme, poden-
como a indústria do as produtoras afirmar que a investigação conduzi-
de Bollywood, da apontava para o cenário favorável. Geralmente, os
gera lucros na ordem dos oito biliões de dólares por estudos de mercado, que numa grande custam entre
ano. Enquanto nos EUA são produzidos cerca de 600 US$500.000 a US$1.500.000, são tidos como algo
filmes por ano, a produção indiana é de cerca de 1000,
e atrai cerca de 3.600 milhões de cinéfilos às salas de
tranquilizante neste meio que nem sempre oferece
cinema, mais mil milhões de pessoas que os filmes segurança profissional. Um dos elementos mais im-
norte-americanos. Na Índia, mais de dois milhões de portantes destas investigações são as projecções-tes-
pessoas trabalham na indústria cinematográfica, te, em que algumas pessoas seleccionadas vêem o
onde a esmagadora maioria dos filmes são musicais, filme antes deste sair para o mercado. A reacção
que tem como valor máximo reforçar a cultura indi-
ana, promovendo o respeito pelos mais velhos e va-
destas pessoas ao produto é muito importante e po-
lores tradicionais. de determinar factores como por exemplo a filma-
Durante muito tempo, a Índia foi o maior produtor gem de outro final ou a eliminação de personagens.
cinematográfico do Nem sempre o filme testado é o mesmo que chega
mundo, mas recente- ao público.
mente foi ultrapassa-
da pela Nigéria, que
nos últimos quinze Promover e proteger a indústria
anos desenvolveu É indiscutível que os filmes de Hollywood domi-
uma indústria alta- nam o mercado cinematográfico global mas os
mente produtiva com grandes estúdios não deixam que esse sucesso ven-
cerca de 1200 filmes
por ano, geradora de
ha apenas da força das suas produções, afirma
uma receita de 200 Janet Wasko, professora da Universidade de
milhões de dólares anuais, a terceira maior no mun- Oregon, EUA, no livro “How Hollywood Works”.
do cinematográfico, depois de Hollywood e A garantia do sucesso fica a cargo das verbas exor-
Bollywood. No entanto, a qualidade dos filmes nigeri- bitantes que são investidas na promoção, onde até
anos fica muito aquém dos padrões americanos ou
indianos. Sem qualquer subsidio estatal, em duas se-
a cobertura mediática, que envolve todo o meio,
manas, com apenas uma média de cerca de 15.000 desde as críticas à vida pessoal dos actores, deixa
dólares por filme e recorrendo a uma pequena câ- claro que há uma forte relação de interdependên-
mara digital, uma produção de Nollywood fica pronta. cia entre as duas partes, pois uma não vende sem a
A maior parte destes filmes, cuja temática preferida é outra.Wasko defende que em Hollywood são apli-
o sobrenatural, são escoados em DVD a três dólares
cada, uma vez que o país quase não tem salas de ci-
cadas várias estratégias para proteger os interesses
nema e se estima que cerca de um terço dos 140 mi- da indústria não apenas nos EUA, mas também no
lhões de habitantes do país tenha leitor de DVD em resto do mundo, como os festivais e prémios cine-
casa. matográficos. Se ainda nos anos 70 começaram as
preocupações com a publicidade, o século XXI
70 para definir o público-alvo do filme e avaliar que trouxe consigo a importância da promoção na in-
anúncios e trailers poderão criar maior impacto. ternet, o novo medium por excelência onde a pro-
Também os estudos de mercado costumam ser con- moção tem a vantagem de poder ser personalizada
tratados a empresas exteriores, mas os grandes estú- ao mais pequeno pormenor para cada um dos in-
dios têm executivos que coordenam a investigação ternautas.

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[Entrevista Sectorial / Pedro Pina]

O FUTURO É A COMUNICAÇÃO DIGITAL


Pedro Pina, CEO da McCann Worldgroup em Portugal

O director da McCann revela-se crítico das medidas propostas pelo


Governo para o sector da publicidade
POR MÁRIO GUERREIRO | FOTOS POR VERA LANÇA

pós dez anos como director-geral do Clix, três a cinco anos vamos estar a facturar mais na in-

A Pedro Pina abraça agora o desafio de dirigir a


McCann Worldgroup em Portugal. Como
CEO da empresa, que é um sinónimo de publici-
ternet do que com a televisão. E temos de ganhar
competências para operarmos nesse mercado.

dade e marketing a nível global, o objectivo prin- Em empresas como a McCann será que essa
cipal é tomar de assalto o território da comunica- bagagem de décadas pode retardar a adap-
ção digital, e no final fazer da McCann uma tação a novas linguagens e tecnologias?
“referência” para a indústria e uma “escola de pro- R: Sim, sem dúvida. Creio que as grandes empre-
fissionais” que se querem os melhores do mercado. sas de publicidade como a McCann não se actuali-
zaram. São das mais conservadoras, das que arris-
Como surgiu este desafio de liderar uma cam menos e as que estão menos à vontade na área
empresa histórica como a McCann? digital.Têm as suas âncoras nos anos 90, e âncoras
R: Foi por convite da Vera Nobre da Costa. nessa década não têm as telecomunicações e as no-
Quinze anos da minha vida foram como cliente e vas tecnologias como “driver” fundamental na área
sempre estive como director de marketing ou da comunicação. Mas isso vai ter que mudar. Essa
marketeer em empresas que dependiam muito de dificuldade de movimentação foi reforçada pelos
comunicação. O Clix, que foi a minha última posi- próprios directores de marketing e comunicação,
ção, pertencia a um “player” importante do ponto que também não se actualizavam. Hoje em dia há
de vista da comunicação, e é uma indústria onde mais gente que consome a internet do que progra-
me sinto muito à vontade, mas do lado do cliente. mas de televisão, rádio, ou até “outdoors” e no en-
Por isso o salto foi uma novidade. É uma indústria tanto o investimento nestes continua a ser maior
que sempre segui, e que gostava muito de experi- do que na internet. Há uma mudança geracional e
mentar, e achei que era uma oportunidade. nós tencionamos contribuir para isso.

Como é tomar as decisões numa empresa O que poderá o Pedro Pina trazer para a
que é sinónimo de marketing e publicidade McCann?
por todo o mundo? R: A grande contribuição
R: É uma responsabilidade enorme. A McCann é que a minha experiência no “A McCann é por
por vezes chamada de ministério da publicidade e Clix traz a este nível é sensi- vezes chamada
o seu ADN confunde-se com a formação da indús- bilizar o meu “management” de ministério da
tria. O grande desafio é utilizar essa herança histó- e a minha equipa que temos publicidade e o
rica como uma plataforma positiva para se actuali- de ser um “player” importan- seu ADN
zar e para estar a par e passo com os valores te na comunicação digital. A confunde-se
contemporâneos. E nesse sentido estamos a dar minha experiência no lado com a formação
passos significativos no desenvolvimento da nossa do Clix já me dava a ver que da indústria”
actividade digital. Projecto que entre os próximos a indústria da publicidade es-

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[Entrevista Sectorial / Pedro Pina]

tava muito incipiente a esse nível e por outro lado Com desafios como a regulação do sector…
também me apercebia que os próprios anunciantes R: Foi um desafio que levava muito a sério. Acho
também estavam muito incipientes em termos do que esta questão está a ter um desfecho interessan-
digital. Sabia porque o próprio Clix era uma plata- tíssimo, com a Sonae a chegar à conclusão que não
forma de publicidade e convencer anunciantes a po- há condições para haver concorrência e que a úni-
rem publicidade era um inferno. Essa experiência ca maneira de resolver o problema é fazendo uma
permite-me agora ser um factor de conversão e um OPA sobre a PT.
motor de transformação deste lado.
E há algum projecto que recorde com
Quais os momentos que recorda como os especial carinho durante os anos no Clix?
mais frutuosos ou os mais difíceis durante R: A criação da marca, sem dúvida. Trago também
os anos em que esteve no Clix? com carinho o momento do vale das sombras por
R: Os anos que passei no Clix foram dos mais ex- que passámos numa determinada altura quando ti-
traordinários que eu tive na minha carreira, por vemos que converter a empresa da internet grátis
vários motivos.Tinha uma equipa maravilhosa com para uma empresa séria e comprometida com a
quem me dava um gozo tremendo trabalhar. Foi banda larga. Esse “turnaround” foi dos momentos
graças a eles que foi possível conquistar o que con- em que realmente não via a luz ao fundo do túnel.
quistámos. E depois estávamos inseridos no uni- Não tínhamos nenhuma ajuda das entidades regula-
verso Sonae, que é um grupo extraordinário, cuja doras e houve ali uns meses em que julguei mesmo
gasolina é a meritocracia. É de uma gestão feita que a situação era terrível e que era preciso fazer
com rigor e disciplina como eu vi em poucas em- um “requiem” de uma marca maravilhosa como o
presas internacionalmente. Clix. Há que louvar o trabalho do grupo de profis-
sionais brilhantes que ainda hoje estão no Clix. E ti-
vemos a sorte de ter um accionista como a Sonae
que é de uma resiliência como não existe em
Portugal. Lembro-me da Cofina, por exemplo, nu-
ma determinada altura… o Paulo Fernandes disse
algo do género “a internet é uma ilusão” e desistiu.
E a Sonae é uma empresa admirável porque até dei-
tar a toalha ao chão tenta tudo o que é possível.

Tendo em conta a sua experiência de


vários anos fora do país, que diferenças
encontra entre a organização das empre-
sas nacionais e as próprias características
do mercado?
R: Em Portugal há um problema de escala grave.
Somos muito pequeninos, e isso parece ser um
problema mais para Portugal do que para outros
países. Depois há também esse problema de escala
vincado na cabeça. Basta ver a Finlândia, a
Dinamarca ou a Irlanda que são países parecidos
connosco e que não se atemorizaram por ser pe-
quenos, porque o que perdem em tamanho gan-
ham em agilidade. Isso depois revela-se em tudo e

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[Entrevista Sectorial / Pedro Pina]

dade de se criar uma entidade reguladora, num


mercado que não precisava de nenhuma interven-
ção deste tipo. O Estado tem mais com que se pre-
ocupar do que andar a criar entidades reguladoras
ou legislação numa daquelas poucas áreas onde as
coisas até funcionavam bastante bem. Esta é das
poucas indústrias e sector de actividade que não pe-
de ajuda nenhuma ao Governo. Honestamente, vive
sozinha com uma auto-regulação que funciona bem
em média. É das poucas que não vai para os media
pedir ajuda ao Governo. Esta é a chamada ajuda não
inevitavelmente na qualidade da gestão das empre- pedida e que não é bem vinda. Basta ver o que têm
sas que às vezes não é extraordinária. Arriscam dito os “players” da indústria, ninguém está conten-
pouco e há pouca gente capaz de ter rasgos. Mas o te com esta possibilidade.
mercado depois cuida isso, porque premeia sem- “Qualquer dia os
pre quem arrisca e tem coragem. Se não forem as Quais serão as princi- nossos
empresas portuguesas cá, serão com certeza as pais consequências anunciantes vão
empresas internacionais. para a indústria das começar a
medidas propostas pelo recorrer a
Como vê actualmente o mercado publi- Estado? agências em
citário em Portugal? R: Vai ser mais uma carga Espanha”
R: Completamente estagnado e não o vejo a sair tributiva para o Estado, que
deste estado. Na cadeia de valores o mercado da pu- nem vai ter mais receitas líquidas. Essas receitas
blicidade é o último a sentir sinais de melhorias vão ser devoradas na criação de uma estrutura que
económicas. Se a economia arrancar, esse sinal há- ainda não se percebe quais serão as competências.
-de chegar ao mercado da publicidade. E já sabemos que o Estado é incapaz de criar es-
Frequentemente os jornalistas perguntam-me o que truturas leves e funcionais. Existe o perigo de es-
é necessário ao mercado da publicidade para sair tarmos a criar um monstro que irá devorar o di-
deste estado eu digo sempre “vá perguntar por favor nheiro de uma indústria débil e estagnada. Assim
ao engenheiro José Sócrates ou ao doutor Teixeira corremos o risco de nos irmos tornando cada vez
dos Santos” (risos). E a culpa não é só do Governo. menos competitivos até que qualquer dia os anun-
Há este hábito irritante de pedir ao Governo para ciantes e investidores vão começar a recorrer a
fazer tudo, mas isto tem a ver com o Governo, que agências de compra de espaço de meios ou de pu-
é um “enabler” neste caso, mas também com os em- blicidade em Espanha para não pagarem os impos-
presários. A luz ao fundo do túnel depende do cres- tos em Portugal, como já acontece com a gasolina.
cimento da economia. Não cabe nem aos anuncian-
tes nem à indústria publicitária fazer mais nada para Que futuro pretende para a McCann?
activar este mercado. É um mercado que há-de ser R: Quero que seja uma referência para a publicida-
sempre um espelho da saúde da economia, que nes- de e uma escola de profissionais. Um “player” im-
te momento não está bem. portante e estrutural para a indústria e uma escola
onde as pessoas possam podem vir aprender os câ-
Na ordem do dia está também o projecto nones da comunicação. Quero que os meus concor-
de um novo Código do Consumidor... rentes vejam buscar aqui os melhores profissionais,
R: Isso é uma coisa que vejo com enorme cepticis- como acontecia com a McCann há algum tempo
mo e que não compreendo. Não vejo qual a necessi- atrás. Esse é o nosso lugar natural.

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[TV no Futuro]

DIGITAL – A SEGUNDA VIDA DA TELEVISÃO


Caixa mágica em transformação devido às novas tecnologias
Os novos serviços de televisão digital estão a inverter a lógica da
experiência televisiva, conferindo ao espectador um poder que nunca teve.
A fragmentação das audiências irá alterar toda a estrutura do negócio
POR GUILHERME PIRES

magine uma televisão que lhe apresenta apenas

MÁRIO GUERREIRO
os programas que deseja ver, à hora que mais
lhe convém e segundo o formato que prefere.
Seja pela internet, serviço terrestre ou satélite,
com conteúdos nacionais, europeus ou do outro
lado do Atlântico. E que facilmente os descarrega
para um leitor portátil de vídeo, computador ou
telemóvel. Parece difícil… mas em breve deixará
de parecer. Os dispositivos que estão a chegar irão
alterar a forma como a indústria aproveita os con-
teúdos e retirar espaço à publicidade.
Com o desenvolvimento da Televisão Digital Terreste
(TDT) e Televisão por Internet (IP-TV) a relação en-
tre a indústria e os consumidores está a sofrer uma al-
teração sem paralelo. Ao disponibilizar serviços inter- ra, bem como solicitar informação adicional (dados
activos e maior variedade de programas, estas sobre actores ou participantes em concursos, bem co-
plataformas permitem ao espectador escolher certos mo estatísticas em eventos desportivos).
conteúdos (filmes, documentários, séries) e progra- Parte da revolução digital prende-se ainda com a
má-los de acordo com a sua vontade. A par com os vastíssima oferta online de conteúdos televisivos,
programas televisivos podem ainda ser facultados jo- em motores de busca como o Google Video ou o
gos de vídeo. Os espectadores têm também a possibi- You Tube, redes de televisão peer-to-peer ou pla-
lidade de alterar a banda sonora e os ângulos da câma- taformas como o podcast e vlogging. O fácil aces-
so a todo o tipo de programas e disponibilização
em telemóveis, consolas e leitores de video portá-
O QUE É A TELEVISÃO DIGITAL? teis ajuda a fragmentar ainda mais as audiências.
Fragmentação que nasceu com a massificação dos
Ao contrário da rede analógica, em que o sinal tem a canais temáticos da rede por cabo.
forma de uma onda contínua, a televisão digital é
transmitida através de bits, em séries de zeros e uns.
A tecnologia apresenta uma elevada compressão de Audiências fragmentadas: o fim do negócio
imagem e recorre a técnicas de modulação, tendo por tradicional
isso melhor qualidade e um maior realismo. A TDT Os modelos de negócio para as redes de televisão
requere apenas a utilização de um terço do espectro estão assim cada vez mais complexos e tendem a
frequencial. A sua total integração deixará espaço
livre a ser aproveitado para radiodifusão digital ou
complicar-se ainda mais no futuro próximo. A
telecomunicações móveis. fragmentação dos espectadores através do serviço
de programação on demand significa o fim da difu-

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[TV no Futuro]

são televisiva em massa. De acordo com o relató-

JOANA VALADARES
rio “The end of television as we know it”, do
Institute for Business Value da IBM, a tendência a
longo prazo “é a formação de nichos de audiência
que podem resultar no impensável – uma audiên-
cia de uma pessoa apenas”.
Com os serviços interactivos de televisão digital os
espectadores podem também recusar ou saltar os
anúncios publicitários. Uma das preocupações cen-
trais dos anunciantes é perceber se as mudanças nos
hábitos dos consumidores irão alterar a rentabilida-
de da publicidade na televisão. Segundo o relatório
da IBM, até 2012 as receitas dos anunciantes deve-
rão decrescer entre os 2,4 por cento previstos na
Alemanha e os seis por cento no Reino Unido. O
futuro pode passar pela “criação de mensagens pu-
blicitárias interactivas, adaptação às várias platafor-
mas móveis de difusão e identificação de segmentos
e sub-segmentos específicos”.
A fragmentação do mercado sente-se em particular
nos países mais desenvolvidos, onde os consumido-
res têm uma grande capacidade financeira. De acor-
do com o estudo “Television networks in the 21st
century”, da Deloitte, a liderança mundial das redes
digitais cabe aos EUA. No início de 2006 quase 50 UE quer sistema digital completo em 2012
por cento dos lares norte-americanos tinham um No velho continente o serviço digital está disponí-
receptor digital, existindo cerca de três milhões de vel através de todas as principais plataformas – ter-
assinantes de TDT. No caso dos serviços por satélite restre, por satélite, cabo e via internet – embora
ou cabo os números são ainda mais expressivos, nem todos os países disponham das quatro tecno-
com 53 milhões de subscrições. Os norte-america- logias. A União Europeia pretende que até 2012 os
nos lideram ainda noutras tecnologias, como a tele- Estados-Membros substituam por completo o sis-
visão de alta definição (HDTV), gravadores digitais tema analógico de televisão pelo digital. Segundo
de video (DVR) e o video on demand (Vod). dados da UE a presença da nova rede difere bas-
tante entre cada Estado-Membro, ficando a média
pelos 25 por cento de penetração. A liderança per-
PORTUGAL NO FUNDO DO PELOTÃO
tence ao Reino Unido, com a presença de televi-
são digital em 64 por cento dos lares.
Dos Estados-Membros que ainda não implemen- De acordo com a Digitab, na Europa Ocidental ape-
taram a rede de TDT, Portugal é o mais atrasado. A nas Portugal, Noruega e Irlanda não têm televisão
Irlanda está a desenvolver um teste maciço ao mer-
cado e na Noruega a rede foi já atribuída à operadora digital terrestre (ver caixa). O último Estado-
NTV, que deverá iniciar as operações em 2007. Caso -Membro a aderir à TDT foi a França, arrancando
seja lançado até ao final do ano, o concurso por- com 17 emissões em Março. Em Espanha o sistema
tuguês para a TDT poderá abrir o caminho para o começou no final de 2005 com 20 canais, cinco de-
lançamento, em 2007, das primeiras emissões expe- les da televisão estatal. Entre os 25 Estados-
rimentais. Para já decorrem ensaios técnicos no pólo
de Aveiro do Instituto de Telecomunicações. -Membros existem 47 milhões de receptores digi-
tais, dos quais 26 mil têm capacidade interactiva.

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[Empresas XXI]

PRODUTOS COM VALOR ACRESCENTADO


Overtouch desafia o mercado com novas soluções de marketing

Apostada em formas inovadoras de comunicar com clientes e


consumidores, a Overtouch alia o marketing relacional ao marketing
interactivo com recurso aos novos media
POR VERA LANÇA

otenciar a comunicação com os consumido- tencial. “Em termos de concorrência, esta existe

P res através de soluções de marketing alterna-


tivas e inovadoras que minimizam o risco de
falhar o target pretendido é o objectivo da
apenas no estrangeiro, como nos Estados Unidos
ou em alguns países europeus, o que nos dá uma
vantagem competitiva nacional que queremos apro-
Overtouch. Esta empresa sedeada em Lisboa pri- veitar para nos catapultar também para o exterior
ma pela diferença que oferece aos seus clientes – do país”, afirma.
soluções implementadas em touchscreens.
Fernando Moura, responsável de projecto da Contacto directo com o público
Overtouch, define este conceito como “algo in- Ao aliar sistemas fiáveis de interacção a um con-
ovador que ainda não foi tentado em Portugal e ceito apelativo e de fácil compreensão, a
que pode trazer grande valor acrescentado aos Overtouch pretende tirar partido do instinto na-
nossos clientes”. Na opinião de Fernando Moura, tural que as pessoas têm para tocar nas coisas, nes-
no mercado nacional têm surgido algumas empre- te caso, no touchscreen. É desta forma que a em-
sas de “new media,” principalmente associadas e li- presa está a acrescentar valor às soluções de
mitadas aos plasmas e ao seu know how. “Os nos- marketing que eram até agora oferecidas no mer-
sos touchscreens podem fazer exactamente o cado, valor esse que se traduz no contacto directo e
mesmo que os plasmas, ou seja, transmitir um si- na interacção com o consumidor que, ao tocar no
nal de vídeo, mas associam-lhe várias funcionalida- ecrã, assimila os conteúdos que lhe são transmiti-
des extra, o que valoriza o produto”, acrescenta. A dos. Isto permite criar dados estatísticos de grande
Overtouch pretende destacar-se no mercado dos utilidade para o cliente, que fica a conhecer as pre-
new media com a ofer ta de Demopoints, ferências e interesses do consumidor pelos conteú-
Infopoints e Sellpoints em dos disponibilizados. Deste modo, o cliente
touchscreens personali- pode melhorar o seu processo de decisão
záveis e totalmente relativo ao produto que oferece ao pú-
adaptados ao cliente. blico em função das características es-
Estas soluções são au- pecíficas do seu target recolhidas in
tênticos pontos inter- loco. Para satisfazer as necessidades
activos que podem ser dos seus clientes, a Overtouch, idea-
instalados em eventos lizada em 2005 e pioneira neste “sal-
pontuais ou de forma to tecnológico” em Portugal, aposta
permanente em locais num forte departamento de programa-
determinados pelo clien- ção aliado a um departa-
te. Segundo Fernando Moura, mento de design inovador
Portugal é um mercado com po- e jovem.

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[Cibercultura]

O IMAGINÁRIO PÓS-FOTOGRÁFICO
Regresso à fotografia digital

Na era da computação e dos novos media, a base da fotografia é alvo de


renovações gráficas de luxo, em busca de um poder das imagens
POR HERLANDER ELIAS
JORNALISTA E INVESTIGADOR EM CIBERCULTURA

om a fotografia herda-se um tipo de memó- fotografia, animação, 3D, cinema e vídeo caseiro

C ria técnica fabulosa, mas é no cinema que o


“realismo” fotográfico atinge o seu apogeu
com a introdução do movimento. Mais de um sé-
mudou radicalmente. O mais engraçado é que optar
pelo estilo de imagem a preto e branco veio reinsta-
lar de novo a imagem de aspecto clássico, vintage, e
culo depois, na era da computação, dos novos me- isto numa época de sofisticação exagerada e de arti-
dia e dos videojogos, as imagens de síntese presen- ficialismo popular inexorável. É neste ponto precisa-
teiam-nos com grafismos de luxo estruturados mente que se instalam novas obras, novos produtos
sobre a base da fotografia. O segredo desta mu- de media que procuram exibir a época clássica da
dança no grande arquivo visual da cultura é que a imagem na fase hipertecnológica em que nos encon-
fotografia é invocada como a técnica que permite tramos, como se de um resgate se tratasse. O caso
obter imagens que servem de matéria-prima à tec- de Renaissance, de Christian Volckman (2006), é es-
nologia 3D. É fácil compreender que a imagem de se, pois dispõe de animação no estado da arte, a um
computador tridimensional toma o realismo de nível deslumbrante, e que junta mais vídeo e 3D
emprestado da fotografia. com aspecto de fotonovela animada. Por outro lado
Estamos sim numa época em que todo um imaginá- representa algo inovador até no argumento, mos-
rio pós-fotgráfico se estrutura, pois as imagens com trando no ano 2054 uma labiríntica cidade de Paris
que lidamos, os grafismos televisivos, as páginas de governada por forças policiais, onde a presença de
publicidade e os efeitos especiais de cinema, geram gigantes consórcios de cosmética, estética e farma-
um universo que é fotográfico e que ao mesmo tem- cêutica lutam pelo poder de manipular os consumi-
po não é. Veja-se por exemplo que depois de Sin dores. Tudo se baseia em controlar a juventude e a
City, de Robert Rodriguez (2005), a diferença entre beleza acessível. Na Paris de Renaissance a cidade é
somente um campo de registo, onde tudo é gravado
e monitorizado, como acontece em A Scanner
Darkly, de Richard Linklater (2006).
Outro exemplo fantástico de como o imaginário
pós-fotográfico se nota cada vez mais explícito em
filmes/animações, é o caso de Code Hunters1,
uma animação realizada por Bem Hibon (2006) na
Blink Ink para a MTV Ásia através da Áxis
Animation2. Neste trabalho, Hibon consegue gerar
em computador, ora com inspiração de cinema,
ora com inspiração de videojogo, correndo os cli-
chés da fotografia do cinema clássico, uma curta
metragem de sete minutos, de ficção científica,
em anime, completamente inspirada no género de
filmes de cowboys. Ao que parece este projecto é
RENAISSANCE

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[Cibercultura]

o prólogo para algo maior e promissor. Na verda-

BEAT VIDEO GRAPHIC DESIGN H. ELIAS


de a apresentação na MTV Asia Awards foi apenas
um aperitivo.
No universo da imagem portátil, desta feita uma
banda desenhada gratuita de imagens fixas, concebi-
da para a PSP da Sony e para PC, de seu nome NYC
2123 – Dayender (2006)3, há igualmente um retor-
no ao género fotográfico. Reza a história que depois
de um devastador Tsunami Manhattan, em Nova
Iorque, transforma-se numa ilha fortificada, entre
outras tantas à sua volta, devido à subida do nível
médio da água do mar. Neste cenário as persona-
gens ciberpunk surgem como vultos, fotogramas a
preto e branco que ocupam poses notáveis e preen-
chem cenografias de ficção científica raramente filme já estar editado, as restantes cenas foram
pontuadas com cor. Neste projecto os desenhos a simplesmente alteradas com filtros de imagem.
preto e branco de Paco Allen são feitos a partir de Mas a referência é sempre fotográfica.
referências fotográficas, o que lhes confere um as- Relativamente a American Splendor, o filme foca a
pecto muito real. O abuso dos contrastes transfor- vida de um autor de BD, estando o próprio filme
ma a linguagem gráfica da banda desenhada em algo também em BD, com balões, imagem fixa, vinhe-
realista e ao mesmo tempo parece que se contem- tas, pranchas, etc. No caso de Max Payne, Need
pla uma fotonovela baseada num filme, dada a abor- For Speed Underground 2 e Gangs of London, o
dagem cinematográfica, cativante e inovadora. que acontece é que os criadores destes videojogos
Não podemos também esquecer que este retorno à contrataram autores de BD para fazer imagens em
fotografia é uma espécie de tendência retro, que teve Photoshop com base em fotografias de modelos e
início em The Matrix, dos irmãos Wachowsky (1999), actores profissionais especialmente contratados
com o então novo processo digital de Bullet Time, para o efeito. O resultado é um conjunto de ima-
que permitiu filmar uma cena de acção em 360º à gens híbridas, que são reais e ao mesmo tempo fal-
volta de Keanu Reeves. Com o emprego desta técnica sas, ora banda desenhada, ora fotografia, ora ani-
foi possível fazer em vídeo, graças a uma série de má- mação. O que é notável é como é que as
quinas fotográficas estrategicamente colocadas em tecnologias digitais de imagem, as tecnologias grá-
torno do actor, uma filmagem impossível com câmara ficas, vieram permitir que se regressasse à fotogra-
de filmar, quer no espaço, quer no tempo. A fotogra- fia, de uma forma muito mais sofisticada do que
fia foi a base do virtual. O mesmo acontece com to- pelo vídeo, a televisão ou o cinema clássico.
dos os projectos de filmes em que se lhes confere um
aspecto cartoon, tal como A Scanner Darkly ou 1Ver site online: http://xplsv.tv/movie.php?id=638.
American Splendor, de Shari Springer Berman, 2 Consulte o site: www.axisanimation.com.
Robert Pulcini (2003); e igualmente nos jogos de ví- 3 O comic NYC 2123 divide-se em várias vinhetas
deo que buscam inspiração na banda desenhada; de que compõem páginas de grafismos que o utilizador
que servem exemplo Max Payne, da Remedy visualiza, uma a uma, na consola portátil da Sony ou
Entertainment Ltd (2001), Need For Speed num computador normal. Basta ir ao site e fazer
Underground2 da EA Games (2004) ou mais recen- download dos ficheiros zip que agregam as várias
temente Gangs of London da Team Soho (2006). imagens de cada capítulo. E capítulo a capítulo ob-
Em A Scanner Darkly a maior parte das cenas fo- tém-se a história completa. Esta banda desenha está
ram pintadas por cima em computador depois do disponível online em: http://nyc2123.com.

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[Educomunicação]

LITERACIA DIGITAL À EUROPEIA


Aprender a navegar na internet

Recentemente lançado pelo Conselho da Europa, o novo Manual de


Literacia da Internet ensina pais e professores a navegarem na internet
POR CÁTIA CANDEIAS *
MESTRANDA EM CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO

Como se instala a internet?”, ou “Como posso “Pela primeira vez na história da Humanidade, as

“ bloquear o acesso a determinados sites?”, são


algumas das perguntas a que o novo manual,
dirigido a pais e professores, dá resposta. De acor-
crianças são uma autoridade na grande revolução
que está a afectar todas as instituições da socieda-
de”, afirma Don Tappscott (2000). “Estas são as
do com o Conselho da Europa, um dos objectivos primeiras crianças a crescerem rodeadas por tec-
desta iniciativa é que o conjunto das dicas “ofere- nologia digital que para eles não significa nada de
çam aos professores e pais o conhecimento sufi- especial. A tão chamada Geração Net significa: e-
ciente que lhes permita partilhar a descoberta -mail, chat, jogar, aprender, comprar, trabalhar e
através das tecnologias da comunicação”. O guia inventar o seu próprio mundo virtual”, acrescenta.
assinala também assuntos do foro ético e apresenta
ideias de actividades que podem ser praticadas na Ultrapassar o fosso de gerações
sala de aula ou em casa. Apesar de os discursos públicos sobre a internet em
No fundo, trata-se de contribuir para o esclareci- Portugal se centrarem na retórica do progresso e na
mento de dúvidas e aproximar os mais velhos da ge- lógica liberal, são vários os indicadores que revelam
ração net com que convivem diariamente, facilitan- como temos ainda uma grande percentagem da po-
do a comunicação entre as duas partes. Uma pulação activa e adulta que não se relaciona com as
medida especialmente positiva para a Portugal, on- novas tecnologias, nem acede à internet.
de se regista um fosso geracional acentuado entre De acordo com o Instituto Nacional de Estatística,
pais e filhos no que respeita às novas tecnologias. no primeiro trimestre de 2005, o número de agre-
gados domésticos com computador não atingia
metade da população, ficando-se pelos 43%; sendo
que apenas um terço da população acedia à inter-
net a partir de casa, ou seja, 32%. Estes dados
mostram como estamos ainda longe da massifica-
ção da banda larga, apesar de todos os discursos
políticos e governamentais indicarem o contrário.
O desinteresse pela tecnologia (58%), o preço
(53,2%) e a falta de habilitações (52%) foram
apontados pela maioria da população inquirida co-
mo as principais razões para não acederem à inter-
net. As crianças e jovens, ao contrário dos adultos,
estão cada vez mais familiarizados com as novas
tecnologias, um processo que ocorre cada vez
mais cedo. Os novos ambientes mediáticos em que

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[Educomunicação]

VERA LANÇA

Prevenir os riscos
online
A falta de instrução e o
desinteresse pelas novas
tecnologias por parte de
uma grande franja dos
pais portugueses contri-
bui para a fraca cons-
ciência dos riscos que a
internet pode assumir
para os seus filhos inter-
nautas. Esse facto tem
contribuído para uma
postura liberal dos pais
quer em relação aos
conteúdos a que os fi-
lhos têm acesso, quer
aos mecanismos restriti-
vos que aplicam, nor-
malmente mais relacio-
se movem, as condições de acesso e o nível de ins- nados com o tempo dispendido online do que
trução contribuem bastante para que sejam hoje os propriamente com regras de utilização.
filhos que ensinam aos pais como mexer no com- É nesse contexto que o Programa Information
putador. Society, apoiado pela Comissão Europeia desen-
Como revelaram os resultados do Inquérito à volveu, em parceria com a London School of
Utilização de Tecnologias de Informação e da Economics o projecto EU Kids Online: European
Comunicação nas Famílias, do INE, o uso do com- Research on Cultural, Contextual and Risk Issues
putador e o acesso à internet corresponderam às in Children’s Safe Use of the Internet and New
actividades mais praticadas pelos jovens entre os Media. O EU Kids Online, que culminará em
16 e os 24 anos (78,1% dos indivíduos). 2009, presta uma especial atenção à forma como
Verificamos assim como todos estes dados revelam as crianças e os jovens dos 18 países envolvidos
a existência de um fosso geracional acentuado no utilizam a internet. Participam no projecto lidera-
nosso país. Uma discrepância que pode ser expli- do por Sonia Livingstone os seguintes países: Áus-
cada por vários factores, entre eles os baixos níveis tria, Bélgica, Bulgária, República Checa,
de escolaridade da população portuguesa. Apesar Dinamarca, Estónia, França, Alemanha, Grécia,
de o nível de investimento que o Estado Português Islândia, Noruega, Polónia, Portugal, Eslovénia,
faz na educação ser próximo da média europeia, os Espanha, Suécia, Holanda e Reino Unido.
índices de abandono e de insucesso escolar conti- Com este projecto, já disponível em www.eukidsonli-
nuam a ser superiores aos dos congéneres euro- ne.net, pretende analisar-se a pesquisa realizada em
peus. Assim, ainda que se verifiquem alguns pro- cada país e os seus diferentes contextos (de pesquisa
gressos entre as gerações mais novas, Portugal é académica, políticos, económicos, sociais e culturais).
ainda o país da Europa com a menor percentagem Numa fase posterior, o objectivo é reunir um conjun-
de indivíduos com ensino superior. Registe-se tam- to de recomendações a nível europeu, no sentido da
bém que, em 2001, a taxa de analfabetismo estava segurança da criança, da literacia mediática e do co-
ainda próxima de um décimo da população (9%). nhecimento dos riscos que a internet apresenta.

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A página online [Ibermedia]


da
Universidade SEPI e RTVE criam nova corporação
de Granada dis-
A Sociedade Estatal de Participaciones Industriales (SEPI)
ponibiliza
e a Direcção
desde o passado
Geral da
mês de
RTVE
Setembro a
assinaram a
biblioteca
escritura de
Biblioteca de Saramago online

particular de
constituição
José Saramago
da nova
em Lanzarote.
Corporação
A biblioteca do escritor é composta por mais de 20 mil
RTVE. A
exemplares e inúmeros manuscritos pessoais e pode
administrado-
ser consultada na internet graças ao acordo assinado
ra da
entre o Nobel da Literatura e aquela universidade
Corporação
espanhola. O objectivo do acordo é prestar assessoria
será Cármen
técnica na planificação, organização e funcionamento
Caffarel,
da biblioteca pessoal de Saramago, estando uma equipa
actual
de documentalistas a efectuar o processo de
directora
catalogação e digitalização das obras. Inicialmente,
geral da RTVE, até que seja eleito o corpo administrativo
cerca de 1.800 exemplares digitalizados poderão ser
pelo Parlamento espanhol. Espera-se que esta eleição
consultados online.
ocorra dentro dos próximos meses, uma vez que a nova
entidade deverá estar operacional já no início de 2007.

A Organização de Consumidores e Usuários (OCU) pediu


Vigilância dos dados de comunicações em Espanha

ao Governo espanhol que vigie a futura utilização dos dados


de comunicações móveis por parte das operadoras Senado rejeita moção sobre regulação
telefónicas. O pedido prende-se com a elaboração de um an- da radiodifusão
teprojecto de lei que prevê que as operadoras de serviços
móveis sejam O senado
obrigadas a identi- espanhol rejeitou
ficar os usuários uma moção
dos cartões de apresentada pelo
telemóveis e que Partido Popular
os dados das em que
comunicações que propunha que o
efectuam sejam governo daquele
mantidos por um país fomentasse
período de um o pluralismo do
ano. A OCU está audiovisual,
preocupada com o principalmente
facto da compra em relação à
dos cartões de telemóvel deixar de ser um acto anónimo radiodifusão. A
que passará a ser uma recolha de dados sobre o cliente, e cu- votação declinou a moção com 124 votos contra,
jo uso pelas operadoras deve ser controlado. Para esta 113 a favor e uma abstenção. O PP apresentou
organização é necessário que a normativa especifique que esta moção dentro do Plano Técnico Nacional de
tipo de utilização pode ser dada às informações recolhidas e Frequência Modulada, que incluía a planificação
que controlo se pode efectuar, de modo a evitar abuso do de 886 novas emissoras comerciais e 235 rádios
uso da informação. públicas autónomas em FM.

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[Evento]

UNIT 4 AGRESSO EM PORTUGUÊS


Empresa internacional chega a Portugal
Estabelecida há mais de 20 anos, a Unit 4 Agresso acaba de abrir uma
filial Portuguesa, liderada por João Capitolino, que oferece soluções de
gestão empresarial destinadas aos mercados verticais
TEXTO E FOTO POR VERA LANÇA

Unit 4 Agresso, empresa líder na Europa em so- zão de aproximação à Agresso foi a desconfiança do

A luções de gestão para empresas e organismos


públicos centrados em pessoas e projectos, tem
como áreas de actividade a gestão de tesouraria, ges-
mercado face a uma pequena empresa como nós
éramos e quando competíamos com determinado
software, o cliente não encontrava garantias. Agora
tão do imobilizado, contabilidade e controlo de ges- temos uma nova postura junto dos clientes porque
tão, reconciliação contabilística e gestão de salários. fazemos parte de uma empresa internacional com
Esta empresa internacional, que conta com mais de uma estratégia global”, diz João Capitolino.
2500 pessoas nos seus quadros e mais de um milhão
de utilizadores dos seus produtos, está actualmente Produtos adaptáveis
presente em doze países, após ter aberto a sua filial Segundo Ton Tobbe, o ponto forte da Unit 4 Agresso
em Portugal. A apresentação da filial portuguesa é o facto das soluções que oferece terem agilidade e
contou com a presença Ab van Marion, director da flexibilidade. “Temos concorrentes como a
divisão de negócios de software, Ton Dobbe, direc- Microsoft, a SAP ou a Oracle, mas o mercado de so-
tor internacional de produto, Antonio Ribano, di- luções ERP está adormecido porque as empresas in-
rector de vendas, Jose Sanchez, director geral da vestem em soluções que ficam obsoletas em poucos
Unita 4 Agresso em Espanha, e João Capitolino, di- anos. A nossa diferença consiste na agilidade dos
rector geral da empresa em Portugal. A aposta desta nossos produtos que podem ser readaptados às em-
empresa no mercado nacional iniciou-se com a com- presas, pois estas desenvolvem-se e crescem”, afirma
pra da Intelligent Business em Abril passado, investi- Ton Tobbe. “Nós desenvolvemos o BLINC – Business
mento que rondou os 300 mil euros. “A principal ra- Living in Change, com a nossa agilidade pós-integra-
ção. Os nossos produtos não têm prazo de expira-
ção”. Um dos cuidados que a empresa teve foi a
adaptação à realidade portuguesa, tendo em conta os
aspectos fiscais, contabilístico e bancário. Segundo
João Capitolino, para quem a integração na Unit 4
Agresso traz a grande vantagem de haver mais pro-
ximidade da filial com o editor do software, o volu-
me de negócios esperados para os primeiros doze
meses de actividade é de 500 mil euros e espera-se
que o “break-even” seja atingido no espaço de dois
anos. Ab van Marion mostrou-se confiante com este
investimento da empresa, que no geral espera vir a
ter um crescimento entre 15 a 20%. “Estamos segu-
ros de que teremos sucesso no mercado português a
DA ESQUERDA PARA A DIREITA: JOSE SANCHEZ, AB VAN MARION, TON TOBBE,
curto prazo”, afirmou.
JOÃO CAPITOLINO E ANTONIO RIBANO

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[Aldeia Global]

O grupo RTL terminou a sua participação no mercado Telecom Italia prepara venda da
RTL finaliza serviço de rádio nos Países Baixos

radiofónico holandês. A última estação de rádio do grupo


nos Países Baixos, a RTL FM, deixou de emitir naquele país
TIM
no início de A Telecom Italia, uma das maiores empresas
Outubro. O italianas, prepara-se para uma grande
canal viragem empresarial. O conselho
radiofónico administrativo do grupo deu luz verde para a
perdeu a tota-
lidade das
suas
frequências
terrestres em
Julho passado,
emitindo
apenas por ca-
bo, satélite e venda da TIM, o braço lucrativo de
internet nos comunicações móveis da Telecom Italia e
últimos meses de actividade. O grupo justificou esta decisão líder no país. O futuro da Telecom Italia
com o facto de não poder suportar mais perdas no mercado deverá passar por uma aliança com a
radiofónico, e afirmou também que aquele núcleo se tinha NewsCorp, do magnata Rupert Murdoch, e
tornado desajustado da estratégia global da RTL devido à sua pela aposta na distribuição de conteúdos
pequena dimensão actual. audiovisuais através da rede telefónica. A ven-
da da TIM poderá estar directamente
relacionada com o saneamento das dívidas do
grupo, que ascendem a mais de 41 milhões
de euros.

Os mais recentes dados da Internet Alibaba.com aspira à internacionalização


EUA com maior percentagem de penetração

World Stats, para o primeiro


semestre de 2006, revelam que, em O principal site de co-
termos de penetração populacional, mércio electrónico
os EUA lideram no ranking chinês, Alibaba.com,
mundial de utilizadores de internet estabeleceu o prazo de
(67%), seguidos pela Oceânia e cinco anos para se
Austrália (53%). A Europa surge internacionalizar. O
apenas em terceiro lugar em número de clientes do
termos uso da rede pela população, site registou um
com 36%. Os asiáticos ficam-se aumento positivo no
com uma percentagem de último ano, o que
penetração de utilização da internet levou a empresa a
de apenas 10%, atrás da América considerar a expansão
Latina e das Caraíbas (15%), mas à até à Índia, ao sudeste
frente do continente africano (3%). asiático e, também, até
na internet

No entanto, o facto de mais de me- à Europa, fez saber


tade da população mundial viver na Porter Erisman, vice-
Ásia faz deste continente líder presidente do departamento de marketing da Alibaba.com. A
mundial, uma vez que representa empresa, de que a Yahoo! detém 40% das acções, conta com 13 mi-
37% dos utilizadores globais, à lhões de membros nacionais e a versão inglesa do site trouxe outros
frente dos outros continentes. 2.3 milhões de clientes espalhados por 200 países.

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[IPTV da Alcatel]

IPTV SEGUNDO A ALCATEL


Empresa quer continuar no caminho da inovação
A Alcatel é actualmente líder de mercado na oferta de serviços triple play
e aposta na IPTV como a televisão do futuro
POR MÁRIO GUERREIRO

ário Martins, responsável de vendas-aplica-

M ções/CAT do grupo de comunicações fixas


da Alcatel Portugal, acredita que as vanta-
gens da televisão de alta definição irão tornar esta
tecnologia mais comum entre os utilizadores, a
breve trecho.

Em que consiste o serviço de transmissão


de video streaming (IPTV) sobre redes IP,
disponibilizado pela Alcatel?
R: Na definição de IPTV, é importante salientar
que não se trata de TV através da internet. O ser- que do serviço; embora para um Service Provider,
viço IPTV é transmitido através de uma rede IP parte substancial deste investimento já tenha sido
privada e não da internet pública. Essas redes pri- realizada caso seja utilizado um serviço de acesso
vadas utilizam a tecnologia IP, mas de uma maneira internet baseado em ADSL e uma rede IP de su-
diferente. Numa rede IP privada especialmente porte ao referido serviço.
concebida para a IPTV, os operadores de teleco- Os investimentos adicionais estão relacionados
municações podem garantir a qualidade da expe- com o Headend de vídeo, a plataforma IPTV e o
riência do cliente, para além de assegurar um ser- eventual investimento na rede de acesso do opera-
viço ininterrupto.O serviço de IPTV posiciona-se dor de forma a aumentar a largura de banda dispo-
claramente como um serviço concorrencial ao nível ao consumidor.
serviço de televisão por Cabo, sendo que a plata-
forma IPTV que a Alcatel integra nos seus projec- A IPTV poderá ser o futuro da televisão? Que
tos é baseada na componente aplicativa da plata- vantagens acrescenta à televisão actual?
forma IPTV da Microsoft. R: O interesse dos consumidores passa pelo lança-
mento de serviços novos e cativantes, aplicações
Em termos do mercado nacional, quais são inovadoras e uma melhor experiência global e não
os principais entraves à utilização de tec- propriamente pela tecnologia de rede. Para com-
nologias como a IPTV? preender melhor o interesse dos utilizadores, a
R: Os principais entraves à entrada e massificação Alcatel procedeu a um estudo com o objectivo de
de serviços de IPTV advêm de dois factores: obter uma maior percepção das suas necessidades.
Débitos disponíveis nas casas de consumidores que Chegámos à conclusão que os consumidores de-
permitam o transporte de mais de uma “stream” sejam uma experiência mais enriquecedora e per-
de vídeo em simultâneo (ex.: visionamento de sonalizada, que possa integrar-se de forma trans-
mais de um canal de televisão em simultâneo). E parente nas suas necessidades de comunicação,
ainda custo inicial do investimento para o arran- informação e entretenimento. Neste último domí-

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[IPTV da Alcatel]

D.R.
nio, são unânimes em afirmar que desejam contro-
lar as suas escolhas de visualização, por exemplo,
mudar de uma programação que é emitida por um
mecanismo de transmissão em que as estações de
televisão determinam o conteúdo e o horário da
programação para um modelo de recepção em que
são os consumidores que decidem o horário, o lo-
cal e o conteúdo que vêem.
Este estudo também evidenciou algumas frustra-
ções dos utilizadores, nomeadamente, a lentidão
da mudança de canal associada às emissões por ca-
bo digital ou satélite, o desafio de encontrar os pro-
gramas preferidos num guia de programação elec-
trónico (EPG), a dificuldade de navegação nos
menus e a incapacidade de programar a gravação de
um programa favorito. Foram precisamente estes os
fundamentos de base da solução IPTV da Alcatel.
MÁRIO MARTINS, RESPONSÁVEL DE VENDAS - APLICAÇÕES / CAT -
Quais os principais benefícios para o uti- GRUPO DE COMUNICAÇÕES FIXAS DA ALCATEL PORTUGAL
lizador em nome individual que recorre
aos serviços de operador equipado com a Triple Play (baseados em arquitecturas de rede
plataforma IPTV da Alcatel? xDSL tradicionais) implementados e de inegável
R: Com base nos comentários recebidos durante o sucesso. No entanto, para garantir todo o poten-
nosso estudo, o desenvolvimento da solução de cial dos novos serviços que a tecnologia actual po-
IPTV foi orientado de modo a incluir os seguintes de proporcionar (VoD personalizado, broadcast
benefícios para o consumidor. Como é o caso da em alta definição e Community TV) será necessá-
programação com temporização personalizada: o ria uma transformação gradual das redes actuais de
utilizador assume o controlo do seu horário de modo a garantir maiores débitos ao consumidor.
programação, movendo programas do “horário Esta transformação implica uma reorganização da
nobre” para o “horário pessoal”; e da mudança ins- arquitectura de rede existente que cubra os novos
tantânea de canal: zapping mais rápido entre ca- requisitos do Triple Play em áreas como home net-
nais; navegação mais simples (através do EPG): é working, acesso, agregação, EDGE, transporte e
mais fácil encontrar, ver e gravar os seus progra- plataformas de serviços. Destas áreas, a reconver-
mas preferidos, função de vídeo pessoal gravado são da rede de acesso é a que exige um plano de
(fazer pausa ou voltar atrás na emissão televisiva execução mais elaborado e maior investimento.
em directo) e capacidade de vídeo a pedido ou vi- Assim, e apesar de ser já possível o lançamento de
deo-on-demand (seleccionar e encomendar um serviços base Triple Play, entendemos que os níveis
filme sem ter de sair de casa). de cobertura em termos geográficos e qualitativos
que permitirão a entrega de serviços multimédia
Os custos da modernização das redes de valor acrescentado (voz, internet de alta veloci-
instaladas podem ser um obstáculo a um dade e televisão e vídeo de alta definição) exigem
maior recurso às tecnologias IPTV? É pos- a reconversão da rede de acesso. Em relação aos
sível assistir a TV por IP em televisores televisores, será possível utilizar qualquer tipo de
convencionais? televisor para serviços de IPTV recorrendo a uma
R: A nível internacional, existem já serviços de set-top box para aceder ao serviço.

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[Euro Lex]

O DIREITO AO BOM NOME E A IMPRENSA


Tribunal Europeu dos Direitos do Homem

O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem tem vindo a decidir várias


batalhas entre liberdade de imprensa e direito à informação versus
direito à honra. Direitos que não se querem irreconciliáveis
POR JOANA SIMÕES PIEDADE

uando chamado a pronunciar-se sobre ques- mafioso” e omissões deliberadas por parte do di-

Q tões que envolvem a liberdade de expressão,


de imprensa e o direito à informação por um
lado, e o direito à honra, ao bom nome e reputa-
rector adjunto de um jornal concorrente foi con-
denado por difamação e ao pagamento de uma in-
demnização. Posteriormente, e depois de
ção, à imagem, à intimidade e princípio da presun- esgotadas os meios de recurso a nível nacional (ver
ção de inocência, por outro, o Tribunal Europeu caixa), recorreu ao Tribunal Europeu dos Direitos
dos Direitos do Homem tem vindo a revelar a ten- do Homem que lhe veio a dar razão. De acordo
dência para fazer prevalecer os primeiros. Entre os com o acórdão proferido pelos juízes de
direitos e liberdades fundamentais consagrados Estrasburgo o caso em apreço tinha por base uma
tanto na Constituição Portuguesa, como em textos polémica entre dois jornalistas sobre uma questão
internacionais a começar pela Convenção “claramente do interesse geral” e, continua o acór-
Europeia dos Direitos do Homem, não existe dão, a fundamentação apresentada nos tribunais
qualquer hierarquia, o que significa que todos eles portugueses não seria suficiente para alicerçar
têm igual valor, quando abstractamente considera-
dos. Assim sendo, o primado do direito de infor-
mar sobre algum dos outros direitos com igual O ARTIGO 10º DA CONVENÇÃO EUROPEIA DOS DIREITOS DO
dignidade que ele afronte, terá de resultar duma HOMEM
avaliação das circunstâncias no caso concreto.
Portugal tem somado sucessivas condenações em “1- Qualquer pessoa tem direito a liberdade de ex-
Estrasburgo por violação do ar tigo 10º da pressão. Este direito compreende a liberdade de
opinião e a liberdade de receber ou de transmitir in-
Convenção Europeia dos Direitos do Homem, ou formações ou ideais sem que possa haver ingerência
seja, por violação da liberdade de expressão, de de quaisquer autoridades públicas e sem conside-
onde assoma a liberdade de imprensa. rações de fronteiras. (…)
Num caso resolvido no final de 2005 o Estado 2- O exercício destas liberdades, (…) pode ser sub-
Português foi condenado por violação da liberda- metido a certas formalidades, condições, restrições
ou sanções, previstas pela lei, que constituam
de de expressão no processo de um jornalista que providências necessárias, numa sociedade
tinha sido condenado por difamação nas instâncias democrática, para a segurança nacional, (…) a pre-
portuguesas. Nesse processo, o queixoso era di- venção do crime, a protecção de honra ou dos direitos
rector do jornal regional de Bragança “A Voz do de outrém, para impedir a divulgação de informações
Nordeste” que por ter publicado um artigo no confidenciais, ou para garantir a autoridade e a im-
parcialidade do Poder Judicial.”
qual mencionava a existência de “métodos de tipo

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[Euro Lex]

uma condenação por difamação. Já em 2000,


Portugal tinha sido condenado pelo Tribunal
Europeu de Direitos do Homem por causa da vio-
lação da liberdade de imprensa por tribunais na-
cionais. Na época jornalista do Público, Vicente
Jorge Silva, intentou uma acção contra o Estado
Português em Estrasburgo da qual saiu vencedor.
Os juízes violadora da liberdade de imprensa a
condenação penal do jornalista por alegado, mas
inexistente, crime de difamação. Num outro acór-
dão é referido que “a liberdade jornalística com-
preende também o possível recurso a uma certa
dose de exagero, ou até mesmo de provocação”.
O Tribunal tem consubstanciado as suas decisões zão ao queixoso e absolve a Suécia, justificando
no facto de “a liberdade de imprensa ser essencial que “o interesse público na publicação da informa-
à prática da democracia”. Os direitos de informar ção sobrepunha-se ao direito do queixoso da pro-
e ser informado, ambos integrantes do direito à tecção da sua reputação”.
informação representam assim direitos fundamen- Esta decisão parece vir aquecer o debate sobre a
tais do cidadão e “cumprem uma função social”, de valoração que tem vindo a ser feita destes direitos.
esclarecimento dos cidadãos. Até porque as limitações à liberdade de imprensa,
No sentido de proteger a sobreposição da infor- em ordem a “salvaguardar o rigor e a objectividade
mação relativamente à reputação, veja-se um ou- da informação, a garantir os direitos ao bom no-
tro caso solucionado pelo Tribunal Europeu este me, à reserva da intimidade da vida privada, à ima-
mês. Os factos remontam a 1996, quando dois jor- gem e à palavra dos cidadãos” estão acolhidas, tam-
nais suecos relacionaram um cidadão britânico bém na Convenção, nas diversas leis internas,
com o assassinato do primeiro-ministro sueco incluindo em Portugal, o próprio Estatuto do
Olof Palm (1986). Uma vez que nada disso foi Jornalista e o seu Código Deontológico.
provado, o indivíduo processou os jornais exigin-
do uma indemnização por ofensa ao bom nome e Apresentar uma queixa
reputação. Não alcançando os seus intentos nos Em primeiro lugar, convém saber que o TEDH só
tribunais suecos recorreu ao Tribunal Europeu dos pode apreciar queixas por violação dos direitos e
Direitos do Homem, em 2002. Este mês, quatro liberdades garantidos pela Convenção ou
anos volvidos, o acórdão de Estrasburgo não dá ra- Protocolos adicionais, desde que o queixoso tenha
esgotado, no seu país, todos os meios de recurso
ou quaisquer vias judiciais ou administrativas que a
O QUE É O TEDH? lei lhe faculta para tentar reparar a violação. Para
além disto, os actos violadores dos direitos de
Portugal ao ratificar, em 1978, a Convenção Europeia
dos Direitos do Homem, ficou a fazer parte do sis-
quem pretende apresentar queixa têm de ser pra-
tema internacional considerado mais avançado na ticados ou da responsabilidade do Estado. Ficam,
protecção dos direitos e liberdades fundamentais. A em princípio, fora do âmbito da Convenção, os ac-
Convenção consagra um conjunto de direitos de di- tos violadores dos Direitos do Homem praticados
versa natureza (civis, políticos, económicos e cultur- por particulares, em que o Estado não possa, di-
ais), e instituiu um mecanismo de garantia da apli-
cação desses mesmos direitos, o Tribunal Europeu
recta ou indirectamente, ser por eles responsabili-
dos Direitos do Homem. zado. Mais informações através do site do Tribunal
em www.echr.coe.int.

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ed.89 06/09/28 16:30 Page 84

[Estudo / Responsabilidade Social nas Empresas de Media]

FRACA TRADIÇÃO EM PORTUGAL


Empresas não têm cultura de responsabilidade social

Fenómeno relativamente recente apenas em algumas empresas de


media nacionais, a Responsabilidade Social Empresarial tem de ser
estendida a todo o sector
TEXTO E FOTOS POR VERA LANÇA

s lacunas são muitas, mas a principal será o

A reduzido número de empresas de media que


se preocupa com a cultura da Responsabili-
dade Social Empresarial (RSE). Ainda há muito
por fazer na comunicação social, que tem respon-
sabilidades muito específicas junto da sociedade,
inerentes à sua actividade. São estas as conclusões
a que chegou Helena Costa, docente na
Universidade Moderna, no trabalho “Práticas de
Responsabilidade Social Empresarial: Uma abor-
dagem às empresas de media”.

Governação corporativa com pouca RSE


Em 2003, Por tugal surgia em 21º lugar no compromissos de RSE tem várias motivações, mas
“National Corporate Responsibility Index”, publi- a maioria das empresas tem fins lucrativos que não
cado pela AccountAbility, atrás de todos os mem- permitem que haja distanciamento das expectati-
bros da EU, à excepção da Grécia, e, desde então, vas colocadas nos resultados. Uma boa forma de
pouco mudou. Na sua maioria, são as empresas garantir isso seria, segundo a docente, o combate à
cotadas em bolsa que têm adoptado práticas de go- perda de audiências através da garantia da sua cre-
vernação corporativa, que implicam o cumpri- dibilidade perante a própria sociedade.
mento dos princípios de RSE. Em Portugal, três Todos estes aspectos apontam para a necessidade
grandes grupos de media têm cotação em bolsa – de adoptar mais e novas práticas de RSE, o que
a Impresa, a Cofina e a Media Capital – e as práti- implica uma incorporação dos impactos directos e
cas de governação corporativa são aqui aplicadas. indirectos da actividade da empresa na sua política
No entanto, estes grupos não fazem Relatórios de de gestão, a criação de compromissos para com os
RSE e não têm Códigos de Ética ou regulamentos stakeholders, para além da definição de instru-
de RSE. A tendência que se verifica em Portugal é mentos de avaliação da implementação das RSE.
que a governação corporativa se centra na gestão Identificar os problemas sociais mais urgentes e
corrente da empresa, pois apenas são elaborados encontrar a solução para os mesmos é uma das
Relatórios sobre o Governo das Sociedades, o que metas que as empresas de media devem traçar, e
leva Helena Costa a afirmar que os media não isso implica o envolvimento do topo da empresa
adoptam compromissos explícitos nem com o pú- em todo o processo de definição e acção da RSE.
blico nem com as questões ambientais, sociais e Helena Costa afirma que, a médio e longo prazo,
culturais, ou seja, os stakeholders. A necessidade os media terão necessariamente que assumir com-
de levar os meios de comunicação social a assumir promissos claros de RSE.

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[Agenda XXI]

Novembro, 2006 Curso de Mediatraning


Formador: Paulo Faustino, Pedro Luiz de
SITIC – Salão Internacional de Tecnologias Castro, Pedro Pinto
da Informação e Comunicação Lisboa: 9 e 10 de Novembro
Data: 02 e 05 Novembro 2006 Leria: 21 e 21 de Novembro
Local: FIL - Lisboa Porto: 23 e 24 de Novembro
Organizador: Associação Industrial Organizador: Ntime
Portuguesa/Feira Internacional de Lisboa Inscrições em: curso.mediatraning@gmail.com
Inscrições on-line em: http://www.sitic.fil.pt
Fórum Mundial de Marketing e Vendas 2006
Data: de 20 a 21 de Novembro de 2006
II Seminário Internacional Media, Jornalismo e
Local: Centro de Congressos de Lisboa
Democracia:
Organizador: HSM
Jornalismo e Actos de Democracia
Mais informações em: info.lisboa@hsm-es.com
Data: 13 e 14 Novembro 2006
Local: Escola Superior de Comunicação Social
Conferência Performance: Estudos
do IPL - Lisboa
Data: 2, 8, 15, 22 e 29 de Novembro; 13 de
Organizador: Centro de Investigação Media &
Dezembro (18h30)
Jornalismo
Local: Pequeno Auditório Culturgest
Mais informações em:
Entrada gratuita (levantamento de senha de
http://www.sopcom.pt/index.html
acesso 30 minutos antes de cada sessão, no
limite dos lugares disponíveis)
BPM & Business Intelligence
Coprodução: AEAPDFBAUL / Culturgest
Impacting Business and Processes
Performance by Applying BI to Operational
V ENEJC - Encontro Nacional de Estudantes de
Decisions
Jornalismo e Comunicação
Data: 14 de Novembro de 2006
Data: de 3, 4 e 5 de Novembro de 2006
Local: Hotel Le Meridien, Lisboa
Local: Leiria
Organizador: IDC Portugal
Organizador: alunos do curso de Comunicação
Mais informações em:
Social do Instituto Politécnico de Leiria.
http://www.idc.pt/site/cgi-
Mais informações em:
bin/idc_evento_01.asp?eventoid=46
http://www.5enejc.blogspot.com/
Curso de Marketing e Comunicação para
Instituições Católicas
Formador: Francisco Pérez-Latre
Data: 15 (Lisboa) e 16 (Porto) de Novembro
Duração: 1 dia
Organização: Ntime/UAL Dezembro, 2006
Inscrições em:
curso.instituicoescatolicas@gmail.com Ciclo Falar de Imagens - Direito de Imagens:
Direito à Imagem
III Congresso Ibérico de Comunicação Data: 16 de Novembro, 19:00 horas
Comunicação e Desenvolvimento Cultural na Local: Almedina Atrium Saldanha
Península Ibérica. Desafios da Sociedade da Organização: José Carlos Abrantes e Almedina
Informação
Data: 14 Novembro 2006 Nippon Koma - Festival de Cinema Japonês
Local: Sevilha, Espanha Data: de 4 a 9 de Dezembro (seg-sáb)das 18h30
Organizador: Universidade de Sevilha – e 21h30
Faculdade de Comunicação Local: Pequeno Auditório Culturgest · 2 Euros
Inscrições em www.us.es/cibercom/ (Preço único)
Mais informações em: Comissariado: ACT
http://www.sopcom.pt/index.html

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ed.89 06/09/29 18:34 Page 86

[Último Olhar] O site sul


coreano
Óculos radicais com câmara Ohmynews, o
portal
A Rip Curl emblemático de

Jornalismo de cidadão a nível global


acaba de jornalismo feito
lançar no pelo cidadão co-
mercado o mum, que
Third Eye chegou em
Goggle- Setembro ao
Camera, Japão, aspira
uns óculos- agora entrar
máscara noutros mercados. As prioridades de Oh Yeeon Ho,
equipados fundador e director do site são a China, Itália e América
com uma câmara de filmar de alta resolução. Esta Latina. Actualmente, o Ohmynews é publicado em
criação foi completamente pensada para os coreano, inglês e japonês e conta com a colaboração
praticantes dos desportos radicais, pelo que é 43.000 jornalistas-cidadãos no seu país de origem e perto
resistente ao choque, impermeável e disponibiliza de 2000 no Japão. As notícias enviadas para o site são ape-
quatro modalidades de foco. A câmara, cuja dimensão nas publicadas após serem confirmadas por uma equipa
é de 8x2 cm, pesa apenas 60 gramas e possibilita a do Ohmynews e os seus autores recebem uma pequena
recolha de imagens com qualidade durante a prática quantia como gratificação.
de desporto. A preocupação da Rip Curl foi que o
Third Eye aliasse a qualidade às linhas desportivas
modernas.

Samsung com chip com 32 gigas


iTV da Apple em 2007

A Apple anunciou o
lançamento do novo
serviço pago de
downloads de
filmes, da
Disney, Pixar e
Touchstone, já
para o início de
A Samsung apresentou o primeiro chip 2007. O novo
de memória flash NAND com uma aparelho, o iTV,
capacidade de 32 GB. Fabricado com poderá ser
recurso a tecnologia de 40 adquirido pelo preço
nanómetros, este dispositivo pode de 236 euros, mas
guardar informação sem necessitar de inicialmente apenas nos
ligação a uma fonte de energia. Esta Estados Unidos. Este serviço, entrará em concorrência
versão representa um grande salto em com a Amazon, que disponibiliza conteúdos
relação ao modelo apresentado pela semelhantes. O iTV foi apresentado juntamente com o
mesma empresa há um ano – um chip novo modelo do iPod da Apple, muito mais pequeno e
de 16 GB fabricado com tecnologia de melhorado face à versão anterior.
50 nanómetros. A utilização deste tipo
de chips de memória está muito
difundida junto dos utilizadores de
dispositivos móveis.

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