You are on page 1of 23

Energia e Sustentabilidade

Mestrado (MSc) em Engenharía e Gestão Industrial


2009-2010

ENERGIAS NUCLEARES: SUSTENTABILIDADE NO


PANORAMA ACTUAL E PREVIÕES DE EVOLUÇÃO FUTURA
Tiago Bidarra*, Tiago Ferreira†
*
Mestrando de EGI,M2962
UBI
e-mail: tftbidarra@gmail.com

Mestrando de EGI, M2961
UBI
e-mail: tiagoferreira19713@gmail.com

Palavras-chave: Sustentabilidade, Urânio, Reactor, Performance, Segurança, MOX

Resumo. Este documento permite compreender o carácter de sustentabilidade


associado às energias nucleares nos dias de hoje. Avaliando vários aspectos nos
domínios económico, ambiental, social e político, abordando questões em torno de
custos, emissões de CO2, eficiências energéticas e segurança. Além disso, apresentam-
se várias tipologias dos reactores nucleares existentes, aborda-se o ciclo de vida do
combustível e o tratamento dos resíduos radioactivos. Acima de tudo, este documento
engloba os factores chave, inerentes à energia nuclear contemporânea e aborda
cenários futuros e suas vantagens e/ou desvantagens.
Tiago Bidarra, Tiago Ferreira

1 INTRODUÇÃO
A energia nuclear, já tem utilização há largas décadas e pertencendo a todo um
conjunto de alternativas energéticas disponíveis e/ou existentes, a sua implementação é
sempre envolta em factores de relativa complexidade. Dizer apenas e só, que a energia
nuclear aparece como uma fonte alternativa, viável e aceitável, devido às elevadas
quantidades de energia que consegue gerar parece ser um pouco prematuro. Argumentar
que se trata de uma fonte que pouco contribui para o efeito estufa, aparece como factor
favorável, mas por si só também não chega. Há que pensar em custos também e neste
ponto a energia nuclear envolve números bastante elevados. Efectivamente, dizer sim
ou não à energia nuclear é uma discussão bastante extensa, mas acima de tudo terá que
ser ponderada quanto à sua sustentabilidade, no verdadeiro sentido do que isto implica.
Assim pensando em termos sustentáveis, a energia nuclear tem que ser analisada no
plano económico, no plano ambiental e no plano social. Deste cruzamento dos três
vectores componentes da sustentabilidade, ainda se pode levantar a questão política.

2
Tiago Bidarra, Tiago Ferreira

2 O QUE É A ENERGIA NUCLEAR?


As linhas mestras do que é efectivamente a energia nuclear, podem ser definidas
citando o Prof. Doutor João Carlos Oliveira Matias, em "Fontes de Energia primarias",
(2006), pp32: "A energia nuclear pode ser definida como a energia encontrada num
núcleo atómico ou como a energia da sua ligação. A sua fonte baseia-se na célebre
equação de Einstein (1905) (...). Assim, uma pequena quantidade de massa pode ser
transformada numa grande quantidade de energia."
Os processos de obtenção de energia nuclear são separados em duas categorias. A
cisão (ou fissão) e a fusão nucleares.

2.1 Fissão ou cisão:


Segundo Matias (2006), a cisão, considerada o processo mais fácil e exequível
comercialmente. Desencadeia-se através do urânio U-235 (instável) que ao ser
bombardeado com neutrões, divide-se e liberta uma quantidade elevada de energia, bem
como outros elementos químicos e neutrões livres enquanto produtos da reacção. Estes
neutrões livres colidem com outras partículas de urânio U-235 e gera-se uma reacção
em cadeia.
Na natureza o urânio existente é constituído por fracções de três isótopos: U-238
(99,28%), U-235 (0,71%) e U-234 (0,006%). Ora sendo a percentagem necessária de
urânio U-235, para utilização em reactores nucleares, de 3%, tem que se proceder ao
enriquecimento do urânio, aumentando a sua percentagem em U-235.
O U-235 é chamado de cindível, por facilmente se dividir pela colisão com um
neutrão. O U-238 é considerado fértil pois através dele também se consegue gerar um
outro material cindível como produto de reacção: - o Plutónio Pu-239.
Assim, existem os reactores nucleares denominados de “breeder reactor”
(reactor reprodutor) nos quais, através do urânio, se gera plutónio Pu-239 e este pode ser
utilizado como combustível nuclear também.
Encontrando este facto como uma vantagem, Matias assume ainda aspectos
controversos. É que o plutónio tem elevadíssima perigosidade para a saúde geral,
podendo também ser utilizado para produzir armas nucleares.
Note-se o facto de que tanto o plutónio como o urânio são materiais bastante
radioactivos, portanto com elevado grau de perigo.

2.2 Fusão:
A fusão nuclear é um processo contrário ao que acontece na cisão. Aqui não há
divisão de núcleos mas sim a sua junção. Da colisão de dois núcleos e consequente
fusão gera-se energia. Citando (Matias, pp. 33-34): “ O principio baseia-se na fusão de
dois núcleos tais como o Deutério, um isótopo do hidrogénio, de numero de massa
igual a dois. As condições necessárias para a fusão são a alta concentração de
elementos de fusão, altas temperaturas e altas densidades. Note-se que entre as
diversas reacções de fusão nuclear a temperatura mínima de ignição anda à volta de
1,2x108 K A esta temperatura é criado um plasma onde todos os componentes estão no
estado iónico... “ . Com efeito, verifica-se que as reacções de fusão nuclear ainda só se
conseguem executar em regime de laboratório, em termos experimentais. A
investigação neste campo, continua a procurar formas de efectuar fusão controlada e na
perspectiva disso se verificar, a sua utilização como fonte de energia, de forma eficiente,
traria, “quantidades de energia virtualmente ilimitadas à disposição da
humanidade”.(Matias, pp.34).

3
Tiago Bidarra, Tiago Ferreira

3 A SUSTENTABILIDADE DA ENERGIA NUCLEAR

3.1 O panorama económico da energia nuclear:


É um facto que a produção de energia a partir da fissão nuclear consegue-se de forma
extremamente barata, mas no que toca aos custos da construção das centrais este cenário
altera-se. Abu-Khader em "Recent Advances in Nuclear Power: A review"(2009) diz
que as centrais nucleares são extremamente caras, o que causa um olhar de incerteza
sobre a viabilidade económica das mesmas. Em parte esta visão incerta deve se ao facto
de outras fontes de energia eléctrica, como as fosseis, ainda não serem obrigadas a pagar
pelos danos causados no meio ambiente nomeadamente com a libertação de gases com
efeito estufa.
Por outro lado, segundo Ingersoll em "Deliberately small reactors and the second
nuclear era",(2009),o custo total, a economia de escala bem como o risco do
investimento são factores que proporcionam um cenário menos atractivo, relativamente
às centrais de pequenas dimensões. Contudo o alto desempenho das centrais bem como
a alta disponibilidade e o custo dos combustíveis para as centrais, em relação a outras
fontes de energia, é motivo para esta ser a fonte de eleição de muitos países.
Um dos indicadores económicos de comparação entre as diversas fontes de energia é
o custo de construção normalizada e o custo de energia gerada (exemplo dólares por
kilowatt ou euro por kilowatt), contudo este factor em muitos casos não pode ser o
único a considerar. Isto verifica-se nas maiores centrais, que são projectadas com custos
na ordem dos 4000 a 6000 milhões de dólares, claro está que estes valores podem ser
impeditivos para muitos dos possíveis investidores, como países pequenos. Aqui o custo
da energia gerada, não será o principal factor económico a considerar, será inclusive
irrelevante. Existem as SMR (Small Modular Nuclear) que são centrais com reactores
de pequenas a médias dimensões. Isto representa uma redução significativa nos custos
da construção de uma central, que pode possibilitar o investimento a países ou empresas
que de outra forma não o conseguiriam.
O relatório apresentado pelo World Nuclear Association "The New Economics of
Nuclear Power",(2010), mostra-nos uma perspectiva um pouco diferente por parte dos
governos em relação à indústria nuclear, tendo estes agora também como objectivo a
estabilidade dos preços, bem como da segurança energética juntamente à necessidade
urgente de se reduzirem as emissões de CO2. Segundo este relatório, no séc. XXI, é a
competitividade na indústria nuclear que tem levado à redução dos custos na
implantação, no financiamento, gestão e desmantelamento das centrais, bem como uma
redução de custos acentuada a nível do tratamento dos resíduos. Embora haja esta
redução no que toca aos gastos com uma central, desde a implantação até ao seu fim de
vida e respectivo desmantelamento, continuamos a falar de valor extremamente altos
que nem todos podem pagar. Mesmo assim, devido à standardização dos projectos para
centrais nucleares, com consequentes tempos de construção menores, aliados a
tecnologias mais eficientes, os custos de construção por um lado encontram-se em
sentido descendente.
Como se tem referido, as questões económicas são um factor de elevada importância
no que toca ao investimento de uma central nuclear, devido a economia d escala bem
como ao risco do investimento. Tendencialmente este risco de investimento está a
baixar, muito por causa da evolução tecnológica associada às centrais nucleares, dado
estarem cada vez mais seguras e mais eficientes, o que tende ainda a ser mais
significativo nos próximos anos.

4
Tiago Bidarra, Tiago Ferreira

Mais ainda, promove-se a simplificação dos processos de licenciamento, o que reduz


o custo de certificações e prazos relativos a licenças de construção, reflectindo uma
redução dos custos associados ao projecto.
O custo de da produção de energia eléctrica tem vindo a descer de forma acentuada,
devido ao aumento da rentabilidade das centrais nucleares, através da maximização do
seu tempo de operação. A vantagem é que os custos assim ficam mais baixos e há um
aumento na capacidade das centrais nucleares, em mais de 10%, desde 1990. Nos EU
esta melhoria consegue ser ainda mais significativa passando dos 66% para os 90%,
tendo se ainda conseguido melhor em algumas centrais tanto na Europa como na Ásia.
Estas melhorias têm ajudado a que a cota de produção de energia a partir de nucleares,
se mantenha entre os 16% e os 17% desde a década de 1980.
É um facto que o preço do urânio tem aumentado nos últimos anos, embora esta
subida não represente um aumento significativo na despesa, pois representa apenas 5%
do preço por kWh. Por outro lado os custos de Operação e Manutenção têm vindo a
baixar, dependendo em parte, de país para de país e de central para central.

1981 1985 1990 1995 2000 2003


O&M 1.41 1.93 2.07 1.73 1.37 1.28
Combustível 1.06 1.28 1.01 0.69 0.52 0.44
Total 2.47 3.21 3.08 2.42 1.80 1.72
figura 1: tabela relativa aos custos de produção entre 1981 e 2003, retirada do relatório do WMA, The
New Economics of Nuclear Power"(2010).

Tanto na Finlândia como na Suécia consegue-se preços de 1 cêntimo por kWh,


embora na França e na Alemanha ande à volta dos 1,4 cêntimos por kWh. Esta
diferença pode dever-se à idade das centrais, visto que a Operação e Manutenção tem
tendência para aumentar à medida que as centrais envelhecem.
Ainda existe a possibilidade de fazer um Up-Rate, que se trata de uma melhora nas
condições dos reactores nucleares. Esta melhoria que passa pela remodelação da estação
geradora pode significar aumentos de produção na ordem dos 15-20%. A Suécia e
países da Europa de leste são um exemplos que adoptaram esta melhoria. É de referir
também que a Suécia irá implementar esta melhoria em todos os seus reactores.
A tecnologia já permite que se prolongue a vida útil de uma central nuclear, adiando
o seu desmantelamento e prolongamento a sua vida útil. e por conseguinte a sua taxa de
produtibilidade. Isto acontece nos casos em que as licenças das centrais estão a ficar
limitadas no tempo e visto haver viabilidade em continuar com a actividade da mesma,
há a possibilidade de, com algum investimento, estenderem a sua vida útil por mais 20
anos. Este processo de reintrodução tem saído mais barato do que o previsto
inicialmente, o que tem sido uma boa alternativa ao sector privado proprietário de
centrais, adiando os encargos com o desmantelamento e prolongando a rentabilidade das
mesmas.
De acordo com WMA, "The Economics of Nuclear Power, (Abril 2010), ao contrário
de outras tecnologias, as centrais nucleares incluem gastos com energia, tratamento de
resíduos bem como o seu desmantelamento nos seus custos iniciais. Estes custos são em
norma tratados como externos noutras áreas, sendo que com a energia nuclear, os
mesmos são incluídos no preço pago pelo consumidor. Com isto conseguem-se pagar
custo de desmantelamento à priori, que são 9 a 15% do custo de capital de uma central,
mas estes mesmo valor vai sendo descontado no valor pago pelo consumidor. Nos E.U
representam 0,1-0,2 cêntimo/kWh, o que não chega a ser 5% do custo da electricidade
produzida.

5
Tiago Bidarra, Tiago Ferreira

Já em relação ao tratamento dos combustíveis usados, armazenamento, eliminação,


etc, representa 10% do custo global por kWh, esta percentagem por vezes é inferior caso
os resíduos sejam eliminados directamente em vez de reprocessados.
Nos E.U 0,1centimo/kWh pago pelo consumidor é suficiente para financiar o seu
programa de combustíveis de 26.000 milhões de dólares. Como já foi referido
anteriormente, o custo da energia nuclear gerada tem vindo a baixar nos últimos anos.
O facto de, na construção de uma central, se usarem materiais específicos, incorporar
recursos sofisticados de segurança, bem como equipamentos, também faz com que esta
tenha um custo significativamente superior ao de uma central termo eléctrica a carvão
ou gás. Mas tudo isto é contabilizado no custo da energia produzida e depois da central
estar construída esta variável no preço vai-se tornando gradualmente menor.
Os tempos de construção, sendo longos, representam elevados custo de
financiamento. Mas também já foi referido que o tempo de construção tende a baixar e
exemplo disso é o reactor Japonês, de 1300MWe de nova geração, que foi construído
em pouco mais de quatro anos, sendo de 48 a 54 meses o tempo necessário para se
construir uma central normal nos dias de hoje.
O seguinte gráfico, apresenta o custo da produção de electricidade em cêntimos (de
dólar)/kWh comparando as diversas fontes.

figura 2: gráfico retirado de WMA, "The Economics of Nuclear Power", (Abril 2010)

Se por um lado o investimento numa central nuclear é elevado em relação as de


carvão ou gás, por outro o custo do combustivel é muito mais baixo. Desta forma, assim
que a central seja construida a previsão do custo de produção é mais visivel. No caso de
serem contablizados os custos das emições de carbono, o preço tanto do petróleo, do gás
como do carvão será ainda mais inflaccionado.

6
Tiago Bidarra, Tiago Ferreira

Podemos observar no gráfico seguinte, o quanto o preço dos combustíveis influencia


o custo da produção de electricidade.

figura 3: gráfico retirado de WMA, "The Economics of Nuclear Power", (Abril 2010)

Em suma as centrais nucleares estão a produzir de modo mais eficiente com custos
operacionais e de manutenção baixos em relação as tecnologias alternativas. A par disso
o preço do urânio contínua estável e assim deverá continuar. A energia nuclear tem um
grande potencial para o futuro, isto para além da vantagem económica. Nas próximas
décadas haverá uma exigência energética maior. Os combustíveis fósseis continuam na
ordem do dia mas este cenário representa uma boa oportunidade para a energia nuclear.
Economicamente falando, além do custo baixo da energia nuclear, as sanções que se
começam a aplicar em relação a queima de combustíveis fósseis (devido ao CO2
emitido), aparecem como um factor, também favorável às nucleares e a potenciar um
maior interesse por parte dos investidores.

3.2 O panorama ambiental da energia nuclear:


Analisando Lee, et al. em "Strategic environments for nuclear energy innovation in
the next half century",(2007), o limite dos recursos naturais da terra, em especial os
fosseis leva a que haja uma visão pessimista do futuro da civilização. Perante uma
perspectiva de destruição ambiental crescente e esgotamento dos recursos, a energia
nuclear com a sua densidade energética elevada, surge como alternativa de elevada
relevância.
Veja-se que o petróleo, um recurso esgotável, enquanto matéria-prima serve para
fabricar lubrificantes, plásticos e outros materiais. Assim grande parte desta fonte é
destinada a outros fins que não a produção de energia. O urânio por sua vez, é utilizado
apenas para a produção energética e graças a esse facto, a energia nuclear é uma
alternativa para a redução do consumo de combustíveis fosseis para fins energéticos,
sustentando assim a sua utilização para fins não energéticos.

7
Tiago Bidarra, Tiago Ferreira

Sendo o urânio um material natural, também ele tem limites. Torna-se então
indispensável compreender o que se passa em torno do seu ciclo de vida, enquanto
combustível nuclear.

3.3 Ciclo de vida do combustível nuclear e a sustentabilidade do urânio:


De acordo com WMA, "Nuclear Fuel Cycle",(2010), o ciclo de combustível nuclear
é a série de processos industriais que envolvem a produção de electricidade a partir do
urânio nos respectivos reactores, desde a extracção até ao término da sua utilidade, com
a sua eliminação na forma de resíduo. Dado que o urânio é o ponto fulcral de toda esta
realidade, a questão inerente à sua sustentabilidade, enquanto combustível levanta-se
impertinentemente.

figura 4: retirada do WMA, "Nuclear Fuel Cycle",(2010), apresenta em esquema o fluxo associado ao
ciclo de vida do combustível, bem como as relações entre cada uma das etapas.

O urânio é um elemento natural, radioactivo e relativamente comum, que pode ser


encontrado na maioria do globo. Ele é cerca de 500 vezes mais abundante que o ouro e
que o estanho. É extraído dos locais onde é encontrado com concentrações
suficientemente altas, para o seu uso, em reactores nucleares como combustível, e é
geralmente referido como "minério".
Na questão da sua sustentabilidade, é preciso analisar a disponibilidade deste recurso,
bem como o seu uso eficiente. Assim com base em WMA "Suplly of Uranium" (2009),
observa-se nos dias actuais, a actividade nuclear global, para a produção energética,
necessita de 65000 toneladas por ano de minério de urânio. Dado que as reservas

8
Tiago Bidarra, Tiago Ferreira

conhecidas mundiais, perfazem uma disponibilidade de 5,5 Mt no total, então este


recurso terá uma duração estimada de cerca de 80 anos.
Lee, et al (2007), demonstra que existem técnicas de aumentar a eficiência do uso do
urânio em cerca de 30 %. Essa técnica consiste em reprocessar o urânio recorrendo aos
“breeder reactors”, nos quais se transforma urânio em plutónio e utilizar este como
material cindível. Com este método, acaba por se rentabilizar em muito a utilização do
urânio e consegue-se produzir cerca de 60 a 70 vezes mais energia, com a mesma
quantidade de urânio, do que se fosse directamente obtida directamente através dele.
Desta forma, as reservas existentes de urânio natural aparecem com uma duração
prolongada e estima-se que cheguem a durar cerca de 3000 anos.
Pode constatar-se portanto, também de acordo WMA "Suplly of Uranium" (2009),
que os recursos da terra são obviamente finitos. Mas é preciso sempre ter em conta as
tecnologias desenvolvidas, não só para viabilizar a descoberta de novos focos de
exploração, mas também para reutilizar e reciclar materiais já existentes. De facto, é o
que se passa em torno das energias nucleares, o urânio compreende um ciclo de vida
que lhe permite a reutilização e transformação.
Ainda dentro da sustentabilidade do urânio, uma outra questão além da sua
disponibilidade será o impacto ambiental da sua exploração mineira. WMA,
"Environmental Aspects of Uranium Mining", (2009), diz-que qualquer projecto de
exploração de urânio implica aprovações ambientais e de segurança, com auditorias
feitas por entidades externas, que são cada vez mais regulamentadas por normas
internacionais. Ambientalmente, a perturbação dos lençóis aquáticos subterrâneos
levanta um serio grau de importância. São usados processos de lixiviação na industria
mineira do urânio, através da circulação das águas subterrâneas, por meio de poços de
injecção e de recuperação. Uma vez que o urânio seja extraído, a entrada de oxigénio
para as águas subterrâneas e a sua circulação são interrompidas, deixando assim essas
águas com as propriedades iniciais. Existem também medidas de tratamento de águas
residuais, provenientes da actividade mineira, em bacias de retenção onde se evapora a
água e recuperam metais pesados e outros contaminantes, posteriormente armazenados
de forma segura.

3.4 Performance da energia nuclear:


Efectivamente, o cenário não é pessimista em termos ambientais para o urânio. Este
é esgotável à semelhança de outros combustíveis, porém, a energia nuclear não é
necessariamente uma fonte não renovável. Em Matias(2006), vemos esta fonte colocada
no grupo das energias renováveis. Até porque as nucleares requerem porções de urânio
bastante reduzidas para gerar quantidades elevadas de energia. Além disso, ainda se
consegue rentabilizar o urânio disponível, por meio de tecnologias de reutilização e
transformação, como no caso dos "breeder reactors" e citando, "A principal vantagem
deste tipo de reactores é gerar mais combustível nuclear do que consomem, tornando o
combustível nuclear inesgotável". (Matias pp.33) Acima de tudo, é impossível ignorar a
performance elevada da energia nuclear e já foi referido que ela apresenta uma elevada
densidade energética, o que se revela como um factor favorável. De facto, a relação
entre a quantidade de matéria- prima utilizada e a energia gerada é bastante significativa
para a energia nuclear, senão veja-se a seguinte tabela:

9
Tiago Bidarra, Tiago Ferreira

Fonte Potencia produzida (kWh/ kg) Numa central de 1000MWe consome-


Energética se por ano:

Carvão 3 2.600 000 toneladas = 2000 vagões =


1300 toneladas/vagão

Petróleo 4 2.000 000 toneladas = 10 petoleiros

Energia 50000 (reprocessando o urânio 30 toneladas de urânio para um reactor


Nuclear chega-se a 3.500 000 ) de 10 m3
figura 5: Tabela, retirada de Lee, et al (2007), que relaciona a potencia produzida por kg de combustível e
demonstra a quantidade de combustível requerida por cada fonte . Os valores permitem compreender a
eficiência da energia nuclear comparada com as outras.

3.5 Emissões de CO2:


Aos factores ambientais, acrescente-se também, a questão relativa às emissões de
gases efeito estufa que a energia nuclear implica. De facto a energia nuclear está
associada a emissões muitíssimo reduzidas de gases nocivos. Uma central que use
carvão, para substituir a performance de uma central nuclear de 1GWe, produziria
1,75x106 toneladas de dióxido de carbono. Uma central a petróleo, produziria 1,2 x 106
toneladas, enquanto uma central a gás natural atinge o valor de 0,7x106 toneladas.
Com isto, pode-se inferir que as centrais nucleares operacionais em todo o mundo, ao
serem substituídas por centrais produtoras de energia a gás natural, iriam ser
aumentadas as emissões de dióxido de carbono, relacionadas com a produção
energética, em 3,0x108 toneladas todos os anos, correspondendo a 5% de aumento face
ao actual. No caso de a energia nuclear existente ser substituída por petróleo e carvão,
então o aumento de emissões de CO2 iria ascender aos 8%.
É então evidente que a energia nuclear ocupa uma posição bastante favorável, entre
as energias que produzem baixos níveis de dióxido de carbono. De acordo com WMA,
"Comparative Carbon Dioxide Emissions from Power Genertation", há que salientar
que as reduzidas essas baixas emissões se devem não apenas ao processo de geração de
energia em si, mas englobam todos o processo tendo em conta todas as variáveis e
ramificações que este processo implica. Obviamente que para produzir energia, também
é necessário gastar energia, portanto, ao analisar o impacto no efeito estufa das energias
nucleares, é tido em conta todo o ciclo de vida associado ao processo e à construção da
central: construção, extracção da matéria prima, produção energética, transportes,
tratamento de resíduos e desmantelamento da central.
Em 2002, efectuou-se uma análise do ciclo de vida relativa à central nuclear de 3090
MWe, em Forsmark na Suécia. Segundo os seus dados, a energia consumida ("input")
em todo o ciclo de vida da central corresponde, a 1.35% daquilo que ela produzirá
("output") ao longo de 40 anos. Associado a isto vem o facto das respectivas emissões
de CO2 se deverem essencialmente aos "inputs" , o que neste caso corresponde a 3.10g
de CO2 por cada KWh gerado como "output". Em 2005, um estudo similar foi
efectuado para a central nuclear British Energy's Tomess, de 1250 MWe no Reino
Unido e determinou-se que as emissões associadas aos seus "inputs" estariam na ordem
nos 5.05 g/KWh.
Centrais diferentes em contextos diferentes, mas que essencialmente mostram a
fracção baixíssima correspondente às emissões de CO2 associadas às nucleares. Mas
ainda se assume, em estimativa generalizada, que as nucleares consomem em média
1.74% do seu "output" energético e em termos de emissões de CO2 , no caso extremo de
considerar os seus "inputs" todos vindos da queima de carvão , andará sempre abaixo

10
Tiago Bidarra, Tiago Ferreira

dos 20g/KWh. Veja-se a seguinte tabela que resume os valores de energia consumidos
em cada etapa do ciclo de vida de uma central nuclear, retirada de WMA, "Comparative
Carbon Dioxide Emissions from Power Genertation".

figura 6: Valores de consumo energético nas várias etapas do ciclo de vida de combustível nuclear

A análise está estimada para 40 anos. Sabendo que o seu "output" energético será de
7 TWh por ano, perfazem-se 280 TWh ao longo desse tempo, ou seja 3024 PJ. Portanto,
o "input" energético consumido é de 1,74 %. No gráfico seguinte, apresenta-se o
cenário relativo às emissões de CO2 de várias fontes energéticas e evidencia-se a
vantagem clara das nucleares.

figura 7: Valores de CO2 emitidos directa e indirectamente por cada fonte energética. Gráfico retirado de
WMA, "Comparative Carbon Dioxide Emissions from Power Genertation".

Todavia o Japão já publicou dados em 2006 que apontam para emissões de


13g/KWh, para a energia nuclear, com perspectivas futuras de reduzir isso para metade.
No mesmo ano no Reino Unido, um relatório da UK Sustainable Development
Commission refere valores de 16g/KWh, comparados com os 891 g/KWh do carvão e
os 356 g/KWh do gás natural.
Tudo isto são dados que mais uma vez fundamentam a posição bastante favorável de
que as energias nucleares desfrutam, no que toca ao seu ciclo de vida completo e ao
respectivo impacto no efeito estufa.

3.6 Os factores contra a nuclear.


O futuro da energia nuclear dependerá sempre dos programas associados á
segurança, ao tratamento de resíduos e da própria expansão desta fonte. O investimento
associado a um programa nuclear é claramente elevado, no entanto este não é o

11
Tiago Bidarra, Tiago Ferreira

principal elemento inibidor. A viabilidade ou inviabilidade económica de um projecto


nuclear é ultrapassada por questões polémicas do foro social e politico, que
contrabalançam com as vantagens em termos de densidade e eficiência energéticas, bem
como das emissões virtualmente nulas de carbono.
Percebe-se em Lee, et al (2007), que por um lado os acidentes ocorridos na história
das energias nucleares, veja-se Chernobyl e Three Mies Island, ao mesmo tempo que
lançam a preocupação da opinião publica também proporcionaram evoluções no campo
da segurança. A questão dos resíduos e do respectivo tratamento e armazenamento,
levanta também muitos problemas devido á sua radioactividade, o que pode ser um
factor desfavorável dentro do campo ambiental e ao mesmo tempo social.

3.7 Proliferação nuclear, factor socio-político:


Kang, "Analisys of Nuclear Proliferation Resistance" (2005), atesta que desde os
inícios do desenvolvimento de sistemas nucleares na década de 1950, a sua proliferação
e expansão têm sido questões colocada em cima da mesa devido às tecnologias e
materiais associados, poderem ser utilizados para a construção de armamento. Esta
realidade desloca-se portanto, para um panorama social e político. De facto em Lee, et
al (2007), refere-se que o processo de enriquecimento do urânio em 3% e 5% de U-235
para fins energéticos, requer, teoricamente, a mesma tecnologia para enriquecer este
material em 90% de U-235, ou seja, para a construção de armas nucleares. Como o
processo de enriquecimento de urânio é tecnologicamente complexo e bastante
dispendioso, as instalações que o efectuam para fins energéticos (comerciais) podem ser
adaptadas e utilizadas para fins militares. Mas este cenário ameaçador não fica apenas
por aqui, pois ainda há que referir a situação do plutónio. No caso de se pretender
utilizar plutónio para construir armas, em vez do urânio enriquecido a 90%, existe o
problema relacionado com o grau da sua pureza. De facto, numa central nuclear como
produto de reacção da queima de urânio obtém-se plutónio. Este pode ser utilizado
novamente como combustível para produzir energia, mas também pode ser "desviado"
para a produção de armamento, bastando à central energética regular a velocidade de
queima do urânio para assim poder aumentar a pureza do plutónio produzido. Salienta-
se que num reactor LWR de 1000MWe que produza entre 200 e 250 quilos de plutónio,
pode possibilitar a construção de 30 a 40 armas nucleares com esse material.

3.8 Segurança nuclear, factor ambiental e social:


Em Abu-Khader (2009), refere-se que a energia nuclear sozinha não resolve todos os
nossos problemas energéticos, porém também não conseguiremos obter um futuro de
carácter sustentável sem ela. Apesar da sua reputação controversa, a energia nuclear é
fiável, economicamente viável e abastece cerca de 20% das necessidades energéticas do
mundo, no contexto actual. Reforce-se também a ideia da sua densidade energética
elevada relativamente aos combustíveis fosseis, bem como a emissão baixíssima de
CO2. A segurança é um factor crucial tanto no presente como quando se trata de avaliar
perspectivas futuras. Acima de tudo os objectivos são proteger os indivíduos, a
sociedade e o ambiente aplicando medidas eficazes contra os riscos da radiação. Com
efeito é dito em WMA, "Safety of Nuclear Power Reactors", (2010), que actualmente no
total dos 12000 reactores operacionais, para fins comerciais em 32 países, houve apenas
dois acidentes graves: - os conhecidos casos de Three Mile Island e de Chernobyl, em
que ocorreu o sobreaquecimento de reactores e note-se, em termos operacionais o
sobreaquecimento é a principal causa que pode levar à ocorrência de um acidente.
Sabendo dos riscos inerentes a um desastre nuclear, de acordo com os
acontecimentos passados e os estudos nos campos da física, química e biologia, a

12
Tiago Bidarra, Tiago Ferreira

preocupação em evitar situações destas é bastante elevada. As medidas são também


elas bastante rigorosas.
Hoje não há razão para temer uma catástrofe nuclear de danos potenciais para a
saúde pública e a utilização e energia nuclear para gerar electricidade pode ser
considerada extremamente segura.
Dentro das centrais, a segurança operacional é extremamente importante. A
exposição à radiação é controlada limitando o período da presença dos trabalhadores em
zonas de radiação significativa; recorre-se a equipamentos de manipulação remota para
evitar a presença em zonas nocivas; existe monitorização, acompanhamento continuo e
individual das doses de radiação a que os trabalhadores são expostos. Além disso, um
indicador de segurança obrigatório actualmente é, o cálculo da frequência da
probabilidade de um reactor nuclear se degradar ou derreter, desencadeando um
acidente. Segundo o Nuclear Regulatory Commission (NRC), requer-se que um
projecto de uma central nuclear deva assegurar uma frequência de ocorrência de
acidentes de 1 em cada 10 mil anos. Porém as centrais contemporâneas excedem esse
requisito e atingem a frequência de 1 acidente em cada 100mil anos, ou mesmo um
milhão!
Não se descure que alem dos referidos acidentes em centrais com fins comerciais,
pelo menos já ocorreram dez acidentes em reactores experimentais e com fins militares.
Nenhum deles resultou em perigo para a saúde pública, pois o sobreaquecimento e
derretimento do núcleo da reacção, não ultrapassou os limites da estrutura envolvente.
Todavia, as exigências regulamentares implicam que, num eventual acidente, os
respectivos efeitos não ultrapassem essa estrutura envolvente. As estruturas têm que
isolar e garantir que os efeitos não se libertam descontroladamente para fora do local,
contaminando e expondo o meio envolvente à radiação, portanto, não sendo necessário
evacuar pessoas nas proximidades.

Actualmente as centrais em desenvolvimento contêm varias melhorias de segurança,


entre as quais os sistemas passivos que não requerem nenhum tipo de intervenção do
operador no caso de uma avaria.
A segurança de uma central pode também ser comprometida por variáveis externas.
Saliente-se que as centrais concebidas actualmente, estão munidas com sistemas
sensores de terramotos, que desactivam automaticamente todos os processos
operacionais, o que se torna vital em muitos pontos do globo.
O cenário de uma ameaça terrorista também é equacionado na segurança das centrais
nucleares nos dias de hoje. Nos EUA, o Electric Power Research Institure, efectuou
estudos que asseguram a robustez da estrutura dos reactores nucleares Norte
Americanos, cuja concepção é diferente da dos edifícios comuns, contra impactos de
aviões. (O estudo simulou o impacto de um Boeing 767-4000 totalmente abastecido
com mais de 200 T e a uma velocidade de 560 km/h.
A opinião pública manifesta bastantes reservas em relação à energia nuclear. É que
por um lado conhece-se a baixíssima probabilidade de um acidente nuclear ocorrer,
porém a não aceitação das nucleares ainda se prende em muito com as consequências de
um eventual acidente, cujos efeitos fujam do controlo das medidas de segurança, por
menos que isso possa acontecer.

13
Tiago Bidarra, Tiago Ferreira

3.9 Segurança e manutenção no aumento da vida útil de uma central nuclear:


As centrais nucleares operacionais mais antigas, têm uma vida útil entre 30 a 40
anos, pelo que depois se procede ao seu desmantelamento. Ao longo dos anos de
actividade, há componentes que sofrem desgastes e/ou cuja performance e eficiência
estão comprometidas, afectando o plano económico e também de segurança.
Há também a questão da obsolescência de equipamentos, veja-se por exemplo os
reactores mais antigos possuem dispositivos analógicos, podendo ser substituídos por
digitais. Além disso, surge o facto das propriedades dos materiais se alterarem com a
idade, especialmente com o calor e com a radiação. Aqui pode surgir a fragilização de
equipamentos/estruturas e portanto comprometer a segurança. A substituição de
componentes, equipamentos e/ou estruturas, permite melhorar as condições, modernizar
as centrais e prolongar o seu tempo de vida útil. Com efeito, a maioria das centrais
operacionais nos EUA esperam estender a sua licença de actividade para 40 a 60 anos.
Todos estes aspectos implicam revisões periódicas de acordo com a convenção de
segurança da IAEA (International Atomic Energy Agency).

3.10 Os tipos de reactores nucleares actuais:


Um reactor nuclear, segundo WMA, "Nuclear Power Reactors", (2009), produz e
controla a libertação de energia da separação dos átomos de certos elementos. A energia
libertada, pelo processo de fissão nuclear, é aproveitada sob a forma de calor que
promove a produção de vapor, tanto por meio de água como de um gás. O vapor gera
movimento de turbinas que produzem a electricidade.
O combustível utilizado, o urânio, é aplicado em "pastilhas" sob a forma de óxido de
urânio (UO2), empilhadas em tubos para formar as barras de combustível. As barras são
então montadas e organizadas em conjuntos dentro do núcleo do reactor para
desencadear a reacção. Além do combustível, o funcionamento base de um reactor
conta ainda com:

Moderador: O material que diminui a velocidade dos neutrões libertados no


processo de fissão. Pode ser água, água pesada ou grafite.
Barras de controlo: Feitas com materiais absorventes de neutrões como o cádmio,
o háfnio, ou o boro e são inseridos ou retirados do núcleo do reactor, para controlar a
velocidade da reacção.
Material de arrefecimento (Refrigerador) : Pode ser um liquido ou um gás que
circule através do núcleo de modo a extrair o seu calor. Nos reactores de água normal,
(água leve), a água usada como moderador também funciona como material de
arrefecimento, à excepção dos reactores BWR, que têm um material de arrefecimento
secundário onde o vapor é feito.
Recipiente de pressão: Recipientes, normalmente em aço sólido, que contêm o
núcleo do reactor, o material de arrefecimento e o moderador.
Gerador de vapor: É uma parte do sistema de arrefecimento onde o material de
arrefecimento se converte em vapor para movimentar as turbinas.
Estrutura de contenção ("containment"): É a estrutura que envolve todo o
reactor, projectada para o proteger de eventuais intrusões, bem como proteger as
pessoas e o meio circundante dos efeitos da radiação, em casos anómalos. Possui uma
espessura de um metro de betão e uma estrutura metálica robusta.

14
Tiago Bidarra, Tiago Ferreira

De acordo com Abu-Khader (2009) e WMA, "Nuclear Power Reactors", (2009) os


reactores nucleares existentes actualmente, são classificados como se segue:
A - (PWR) Pressurized Water Reactor: O mais comum actualmente, usa água
normal (H2O) como moderador e refrigerador. É capaz de aplicar entre 80 a 100
toneladas de urânio, no núcleo do seu reactor. A água circundante no núcleo do reactor,
atinge temperaturas na ordem dos 325⁰C, pelo que é necessário exercer uma elevada
pressão (150 vezes a pressão atmosférica) para evitar a ebulição.
B - (BWR) Boiling Water Reactor; O funcionamento é similar ao do PWR, porém
a pressão utilizada é menor, cerca de 75 vezes a pressão atmosférica, pelo que a água
consegue atingir a vaporização. Nestes reactores a água atinge temperaturas de 285⁰C e
o seu efeito de moderação é menor, pelo que a reacção produz uma eficiência maior.
Veja-se que um reactor incorpora no seu núcleo cerca de 140 toneladas de urânio.
C - (PHWR) Pressurized Heavy Water Reactor; Desenvolvido desde 1950 no
Canadá e mais recentemente na Índia, também denominado de CANDU, utiliza urânio
natural sob a forma de óxido como combustível com uma taxa de enriquecimento de
0,7% de U-235. Precisa de água pesada como moderador(D2O), a alta pressão, atingindo
temperaturas de 290⁰C.
D - (RBMK) High-Power Channel Reactor; Utiliza urânio com baixo
enriquecimento e água como refrigerador. A água consegue chegar á vaporização em
circunstancias similares ao que acontece no BWR. O agente moderador é a grafite.
E - (GCR) Gas-Cooled Reactor; Também denominados como AGR, estão na sua
segunda geração e utilizam a grafite como moderador e o CO2 como material
refrigerante. O combustível está enriquecido entre 2,5% a 3,5% de U-235, sendo as
"pastilhas" de combustível montadas em tubos de aço inox.
F - (LMFBR) Liquid Metal Fast Breeder Reactor; segundo WMA "Fast Neutron
Reactors"(2010), estes reactores, pertencem à categoria dos FNR (fast neutron reactors)
e recorrem a um metal líquido enquanto refrigerador. Não possuem agente moderador e
dependem apenas da actividade dos neutrões rápidos para desencadear a reacção.
Utilizam o urânio e neste caso, o isótopo U-238, abundante no combustível, tem uma
intervenção importante. Os neutrões rápidos são pouco eficientes a reagir com o U-235,
que gera a reacção nuclear com neutrões lentos, porém são bastante úteis para reagir
com o U-238 conseguindo que ele se transforme em Plutónio. Existe uma estrutura
específica em volta do núcleo reactor onde a maior parte do plutónio é gerado através
do U-238. É uma espécie de repositório, onde a actividade dos neutrões é muito baixa e
assim o plutónio mantém-se quase puro. Estes reactores iniciam-se com o urânio, que
por sua vez gera plutónio e este depois é usado como combustível básico que
desencadeia a nova reacção nuclear.

3.11 Os resíduos nucleares:


É importante compreender as diferentes classificações de resíduos nucleares
radioactivos, referenciados por Abu-Khader (2009):
1 - Resíduos de nível muito baixo de radiação (Very-Low Level Waste),
provenientes da extracção mineira do urânio bruto.
2 - Resíduos de nível baixo (LLW), gerados em hospitais, e na industria nuclear no
geral, ao longo de todo o ciclo de vida do combustível. Podem ser roupas, filtros,
ferramentas, etc, que contêm pequenas quantidades de radioactividade e com pouco
tempo de decaimento. Segundo WMA, "Radioactive Waste Management"(2009), são
compactados ou incinerados antes de serem acondicionados.

15
Tiago Bidarra, Tiago Ferreira

3- Resíduos de nível intermédio (ILW), que possuem maior quantidade de


radioactividade e em alguns casos requerem blindagem. Provêm de lamas químicas bem
como de metais que revestem o reactor.
4 - Resíduos de alto nível (HLW), contêm produtos da reacção de fissão gerados
no núcleo do reactor;
5 - Resíduos Transuranicos (TRUW) , contaminados com radiações alfa e
nuclídeos radioactivos com vida-média superior a 20 anos.

A gestão dos resíduos desempenha um papel fundamental na indústria da energia


nuclear. Primeiro existem tratamentos efectuados no curto prazo, para tratar de imediato
os resíduos e depois existem estratégias para o seu armazenamento e eliminação no
longo prazo. Os tratamentos, no curto prazo, aplicados aos resíduos são os seguintes:

A - Compactação - tecnologia utilizada para resíduos LLW, reduzindo o seu


tamanho em prensas. O volume pode ser reduzido entre 3 a 10 vezes e esta tecnologia
também é usada pela Alemanha, Reino Unido e EUA para tratar alguns resíduos
Transuranicos. WMA, "Treatment and Conditioning of Nuclear Wastes".
B - Cimentação (cemetation) - Aplica-se para resíduos LLW e ILW. O material é
colocado em contentores e depois isolado dentro destes com cimento, o que permite a
imobilização da radioactividade. Uma vez criados estes blocos monolíticos pode-se
proceder ao armazenamento e eliminação. WMA, "Treatment and Conditioning of
Nuclear Wastes".
C - Vitrificação - tratamento para resíduos HLW através do seu isolamento dentro
de um material sólido e insolúvel, onde permanecerá durante milhares de anos de forma
estável. O material adequado é o vidro de boro-silicato. Este processo também se pode
aplicar a resíduos de niível inferior, desde que haja viabilidade económica para tal, ou o
tipo de resíduo justifique o processo. Os resíduos tratados estão agora em condições de
serem armazenados. WMA, "Treatment and Conditioning of Nuclear Wastes".
D - Troca de iões (ion exchange) - usada para concentrar a radioactividade dos
resíduos num pequeno volume. Abu-Khader (2009).
E - Processo Synroc, que utiliza um tipo de rocha sintética Australiana, e trata
resíduos HLW. Abu-Khader (2009).

Falando da gestão de resíduos do longo prazo, Abu-Khader (2009).também evidencia


várias alternativas, como a seguir se indica:

1 - Armazenamento: Destinado aos resíduos HLW que são colocados


temporariamente, dentro de vasilhames em tanques apropriados aos resíduos. Isto
permite que os isótopos de vida-curta decaiam antes de se efectuar um tratamento
posterior.
2 - Eliminação geológica: É um processo em que se seleccionam áreas com
profundidade adequada para servirem como repositórios finais dos resíduos. Há a opção
de preencher as minas de urânio vazias com resíduos.
3- Transmutação: Existem reactores nucleares capazes de consumir os resíduos e
transformá-los noutra forma de resíduos menos nocivos.
5- Eliminação para o espaço: Os resíduos são permanentemente eliminados do
meio ambiente, mas esta trata-se de uma medida inviável em termos económicos
actuais. Em WMA, "Radioactive Wastes - Myths and Realities" (2009), referencia-se
que esta opção tem sido estudada desde a década de 1970, porém além dos custos
inviáveis há bastantes entraves em termos de riscos de falhas.

16
Tiago Bidarra, Tiago Ferreira

3.12 A desactivação das centrais:


Após o período operacional, as centrais têm que ser desactivadas e os materiais serão
tratados devidamente, consoante o seu grau de radioactividade.
WMA "Decommissioning", refere que o processo pretende colocar um ponto final na
actividade nuclear, da central em fim de vida, e incorpora actividades de manipulação
segura dos resíduos radioactivos e outros, a descontaminação das instalações, a sua
demolição e recuperação do local.
Existem várias medidas a ser tomadas, em fases progressivas e distintas, de acordo
com as várias zonas da instalação nuclear, mas também de acordo com as estratégias de
desactivação adoptadas.
Nos reactores nucleares - cerca de 99% da radioactividade é devida ao combustível
nuclear, pelo que este é retirado e armazenado. Depois disso, os equipamentos e
estruturas são desmanteladas e o reactor é selado e monitorizado. O local envolvente
pode ser agora utilizado com outros propósitos. Simultaneamente, nas instalações
adjacentes, procede-se à descontaminação com reagentes específicos, de superfícies e
equipamentos. Eventuais objectos com risco potencial são imediatamente
desmantelados. Após isso, a radiação é reduzida para níveis bastante inferiores, o que
pode proporcionar às instalações terem um uso alternativo.
A fase final consiste na demolição da estrutura do reactor nuclear, que obviamente
deixa de requerer monitorização. As restantes instalações, podem ser também demolidas
mas isso vai depender dos objectivos delineados. Com efeito, na prática a demolição
dos restantes edifícios, depende das estratégias de desactivação que por vezes visam a
adaptação daqueles a outros fins não-nucleares.
Assim que seja provado que o local possui níveis de radiação abaixo da média
(depende da legislação em vigor), o local está apto.

3.13 Transporte de resíduos nucleares

Segundo WMA,"Transport of Radioactive Materials", o transporte é efectuado tanto


em linhas ferroviárias como por via marítima, em recipientes robustos e específicos,
testados em várias condições de pressão, temperatura, humidade, impacto, etc., com
protecções adequadas para evitar a libertação de radiação ao longo das rotas. O
transporte marítimo recorre a navios construídos exclusivamente para esta finalidade.
Em todo o histórico das energias nucleares, nunca houve ocorrência de um acidente no
transporte, devido a vazamento ou violação de recipientes com material de alta
radioactividade.

4 PERSPECTIVAS FUTURAS

4.1 O estado actual e a respectiva evolução:


Sumariamente, o "estado da arte" actual no que respeita as centrais nucleares, já
reporta bastantes avanços e índices de sustentabilidade, com elevadas performances,
eficiências optimizadas para os combustíveis e resíduos, a segurança apresenta níveis de
confiança bastante elevados, enfim, cenários de carácter promissor. De todo o modo,
não se pode estagnar a investigação e a procura de soluções melhores.
WMA, "Advanced Nuclear Power Reactors" (2010), assume-se que as centrais
nucleares evoluíram desde a sua primeira geração entre os anos 1950-60, a geração II

17
Tiago Bidarra, Tiago Ferreira

cujos reactores foram construídos depois dessa data e ainda existem em actividade em
varias partes do globo (sem descurar as operações de manutenção e actualização, já
referidas na segurança), e actualmente está-se na geração III cujo arranque teve início
no Japão em 1996. Antes de referir qualquer perspectiva futura, convém salientar ainda
os atributos-base das centrais da actual geração III:

- Concepção standardizada, que permite reduzir custos e tempos de construção;


- Concepção simplificada e mais robusta, optimizando as actividades operacionais e
aumentando a segurança;
- Aumento do tempo de vida útil da central, estendida até 60 anos;
- Probabilidade de sobreaquecimento e fusão do núcleo reactor bastante reduzida;
- Robustez contra danos graves externos, por exemplo impacto de aviões, com
consequente libertação radiológica;
- Eficiência do uso do combustível optimizada, reduzindo as suas quantidades e
também de resíduos gerados

4.2 As centrais nucleares de nova geração:


O facto é que desde então já existem conceitos para a Geração IV que ainda
continuam em desenvolvimento, para colocar em prática a partir de 2020.
WMA, "Generation IV"(2010), demonstra que existem estudos de seis tecnologias
aplicáveis em reactores nucleares, para serem implantadas entre 2020 e 2030. Três delas
são reactores de neutrões rápidos, (FNR) e todas trabalham em temperaturas mais
elevadas do que as dos reactores actuais . Todos os respectivos sistemas apresentam
avanços sustentáveis, tanto em termos de economia, segurança, fiabilidade, bem como a
nível da proliferação. Os sistemas apresentam ciclos de combustível fechados, para
maximizar os recursos utilizados e minimizar os resíduos.
Além de todas as vantagens que possam advir destas novas tecnologias, a questão
relacionada com a proliferação nuclear pode suscitar um interesse acrescido. No
panorama actual, os (FNR) reactores de neutrões rápidos "breeder reactors", são
vantajosos quando se trata da eficiência do combustível e de contribuir para a sua
sustentabilidade, porém o plutónio que eles usam, é o tal elemento temido e por isso
aqueles reactores estão de mãos dadas com a proliferação nuclear e surgem como
elemento de discórdia politica e social.
É significativo contudo, que os reactores de neutrões rápidos da geração IV em
estudo, não são como os FNR convencionais. Nestes novos, não existe nenhuma
estrutura específica onde o plutónio Pu-239 seja produzido, em vez disso, o Pu-239
gera-se dentro do núcleo da reacção onde o uso de combustível nuclear é optimizado e
elevado, garantindo assim também elevadas quantidades de Pu-239 lá dentro. O aspecto
mais vantajoso é que desta forma não é necessário separar o plutónio do combustível
inicial, para depois ser reutilizado.
Com efeito, refere-se que o GIF (Generation IV International Forum) tem particular
interesse na tecnologia SFR (Sodium-cooled Fast Reactors), uma das tais aplicadas em
reactores de neutrões rápidos.

A SFR utiliza sódio líquido como refrigerador e permite altas densidades energéticas.
É uma das tecnologias que passa a incorporar toda a actividade dentro do núcleo do
reactor e recorre ao urânio empobrecido (com baixo teor de U-235) como combustível
inicial, em temperaturas de refrigeração de 500 a 550⁰C. A geração de electricidade
ocorre através de um circuito secundário onde se encontra o sódio líquido.

18
Tiago Bidarra, Tiago Ferreira

Existem propostas alternativas:


De 50-150 MWe em que o combustível será feito por actinídeos incorporados numa
mistura metálica de U-Pu, que requer um tratamento electrometalúrgico chamado
(pyroprocessing).
A versão de 300-1500 MWe é idêntica à anterior, porém com um sistema pool-type
em que o núcleo reactor é imerso numa "piscina" de água.
A versão de 600-1500 MWe que recorre ao combustível MOX convencional e
respectivo reprocessamento avançado em instalações alheias.
De acordo com WMA "Used Fuel Management", O MOX (mixed oxide) é obtido no
reprocessamento do urânio, no qual é misturado com plutónio, proveniente dos
"breeder reactors". WMA "Mixed OXIDE(MOX)fuel" (2009), relata que a sua
produção, para fins comerciais, começou na década de 1980 e a principal vantagem em
relação ao urânio, é que facilmente se aumenta a sua percentagem em material cindível,
adicionando mais plutónio, ao passo que fica mais caro enriquecer o urânio com U-235.
Também fica mais em conta usar o MOX do que ficar dependente do aumento dos
preços do urânio, bem como, estando a recorrer a um combustível já reprocessado, se
consegue reduzir o volume de resíduos no processo nuclear. Na perspectiva das centrais
de Geração IV, onde o plutónio não é extraído mas processado internamente, o MOX
começa a delinear um papel "pacifista" , ele pode recorrer ao plutónio existente em
armas nucleares já construídas, promovendo assim programas de desarmamento.
Mediante o conjunto de perspectivas futuras exequíveis nos próximos tempos, o
futuro das energias nucleares passará também por avanços em áreas mais remotas. É
impossível dizer isto sem falar da fusão nuclear.

4.3 A fusão nuclear como alternativa futura:


O principio de funcionamento da fusão já foi introduzido, pelo que convém aqui
falar dos aspectos que apresentam avanços e também dos principais entraves a esta
tecnologia.
Segundo WMA, "Nuclear Fusion Power" (2010), existe ainda o problema
relacionado com a energia de "ignição". É que para gerar a fusão e mantê-la
autosustentável, é necessário um valor inicial de energia muito elevado, portanto,
condições de temperaturas brutalmente altas. A dificuldade está então em desenvolver
dispositivos capazes de ascender a tais temperaturas e capazes de conter o combustível
para que a reacção decorra. Actualmente existem as abordagens para acomodar o
combustível, através de campos magnéticos e por inércia.
O primeiro, recorre a campos magnéticos fortíssimos para conter o plasma. O
segundo utiliza lasers fortes ou feixes de partículas para comprimir o combustível.
Existem instalações de campos magnéticos já construídas para efeitos de
investigação, como os sistemas Tokamak e RFP.
A fusão poderá reduzir substancialmente os impactos ambientais, satisfazer as
necessidades energéticas crescentes mundiais e acidentes com eventuais fugas do
combustível são impossíveis. Porém, embora a fusão não gere produtos radioactivos, há
um problema relacionado com os materiais que constituiriam as centrais de fusão.
Alguns desses materiais tornar-se-iam radioactivos durante o funcionamento dos
reactores, devido a estarem expostos ao bombardeamento com neutrões, pelo que
acabariam por se tornar radioactivos. Ainda assim, com valores bem menores do que os
provenientes da fissão.
Também existe a preocupação de eventuais libertações de trítio, (um dos isótopos do
hidrogénio utilizados), para o ambiente. Ele é radioactivo e muito difícil de conter,
podendo atravessar o betão, a borracha e alguns tipos de aço. Como é um isótopo do

19
Tiago Bidarra, Tiago Ferreira

hidrogénio, poderia incorporar-se na água contaminando-a. Devido a este problema em


torno do trítio, as investigações mais pertinentes na fusão, ocorrem utilizando o
deutério.
Matias (2006), falou da grande vantagem das quantidades de energia enormes que
proviriam da fusão nuclear, porém, WMA, "Nuclear Fusion Power" (2010), refere que,
mediante todos os avanços que ainda estão para vir neste campo, também se levantam
problemas que terão que ser considerados e colmatados, para que esta se torne
efectivamente, uma fonte de energia viável no futuro.

5 CONCLUSÕES:
Depois da análise ao panorama da realidade da energia nuclear, tanto nos dias de
hoje como nas perspectivas estimadas para o futuro, os indicadores de sustentabilidade
são cada vez maiores em todos os campos:
 Economicamente, acompanhando o crescimento das necessidades energéticas
mundiais, a nuclear consegue produzir em quantidades elevadas a preço reduzido;
 Com a evolução da tecnologia, a construção de centrais torna-se mais barata, dando
maiores possibilidades aos eventuais investidores;
 Ambientalmente, as emissões de CO2 claramente baixas, surgem em destaque
dando mais fundamento à posição das nucleares na defesa e preservação do
planeta;
 As densidades energéticas altíssimas da energia produzida, com quantidades de
combustível relativamente baixas, garante à nuclear a sua aplicação efectiva no
sector industrial;
 A mesma densidade energética, também permite à energia nuclear, dentro daquelas
que geram resíduos, ser das que menores quantidades produz em relação à energia
gerada. Em termos macro, a energia dispendida em transportes, na alimentação da
central e em todo o ciclo de vida do combustível, é apenas uma ínfima parte
daquilo que esta fonte produz;
 A energia nuclear reutiliza combustíveis e prolonga a disponibilidade de recursos,
reafirmando a sua atitude sustentável e alcançando o carácter de energia renovável;
 A segurança associada a ameaças externas, aos resíduos, à operação da central e ao
seu fim de vida, são situações controladas. Não se descura que um acidente pode
trazer danos graves, mas a sua probabilidade de ocorrência é baixíssima. Portanto,
isto não manifesta entraves significativos à afirmação das nucleares. Aqui, é o
factor social que interfere e a opinião pública pode manifestar um carácter mais
pessimista, se for fundamentada com os acidentes ocorridos na história. Porém, a
fiabilidade das nucleares é elevada e a confiança do público advirá com a
confirmação desse facto.
A fraqueza mais significativa das energias nucleares, tem que ver com a questão da
proliferação que, primeiro, dá mais força ao pessimismo no seio social, mas além disso
levanta uma problemática de cariz político. Em destaque, ficam as centrais que utilizam
plutónio que se debatem entre o problema sociopolítico e as vantagens ambientais e
económicas. O impasse aqui gerado, pode ser o principal obstáculo para um maior
crescimento desta fonte energética. Porém, os avanços referidos para as centrais de

20
Tiago Bidarra, Tiago Ferreira

Geração IV, podem manifestar além de todas as vantagens que as centrais actuais ja
têm, economicas e ambientais, um contributo positivo para a não proliferação.

 O uso de plutónio nas centrais SFR de geração IV evita que seja utilizado para fins
militares, (pois não é isolado como na centrais anteriores).
 O uso possível de MOX, cujo plutónio pode provir de armas, ajudando no
desarmamento nuclear.

Em termos gerais, estas vantagens da Geração IV podem ajudar a energia nuclear a


conquistar uma posição mais favorável em temos sociais, bem como desbloquear alguns
dos entraves políticos. No fim, as nucleares reuniriam um conjunto mais rico de factores
vantajosos, para que se afirmasse a sua sustentabilidade de forma mais efectiva.
Não se ignora a fusão nuclear como alternativa, porém a sua projecção está no longo
prazo e a investigação percorre um longo caminho até á sua viabilidade.
Enquanto isso não acontece, a cisão garante abastecimentos energéticos elevados e
uma duração muito prolongada.
Pode portanto dizer-se que as energias nucleares são sustentáveis. No presente, esse
carácter já é visível porém não é suficiente. Assim sendo, conta-se com a evolução nos
próximos tempos para garantir que esta será uma das alternativas vigentes, para lidar
com os problemas energéticos, ambientais e económicos no mundo, nos tempos que
virão.

21
Tiago Bidarra, Tiago Ferreira

REFERÊNCIAS
Abu-Khader, Mazen M. (2009). "Recent advances in nuclear power: A review."
Progress in Nuclear Energy 51(2): 225-235.
Ingersoll, D. T. (2009). "Deliberately small reactors and the second nuclear era."
Progress in Nuclear Energy 51(4-5): 589-603.
Kang, J. (2005). "Analisys of Nuclear Proliferation Resistance." Progress in Nuclear
Energy 47: 672-684.
Lee, T. J., K. H. Lee, et al. (2007). "Strategic environments for nuclear energy
innovation in the next half century." Progress in Nuclear Energy 49(5): 397-408.
Matias, Prof.Doutor. João Carlos Oliveira (2006). As Fontes de Energia Primária,
DEM,UBI.
WNA. "Comparative Carbon Dioxide Emissions from Power Generation." de
http://www.world-nuclear.org/education/comparativeco2.html
WNA. "Treatment and Conditioning of Nuclear Wastes." de http://www.world-
nuclear.org/info/inf04ap1.html
WNA. "Decommissioning." de http://www.world-
nuclear.org/how/decommissioning.html
WNA. "Transport of Radioactive Materials." de http://www.world-
nuclear.org/how/transport.html
WNA. "Used Fuel Management." de http://www.world-
nuclear.org/how/usedfuelmanag.html
WNA (2009). "Supply of Uranium." de http://www.world-nuclear.org/info/inf75.html
WNA (2009). "Environmental Aspects of Uranium Mining." de http://www.world-
nuclear.org/info/inf25.html
WNA (2009). "Energy Balances and CO2 Implications." de http://www.world-
nuclear.org/info/inf100.html
WNA (2009). "Nuclear Power Reactors." de http://www.world-
nuclear.org/info/inf32.html
WNA (2009). "Radioactive Waste Management." de http://www.world-
nuclear.org/info/inf04.html
WNA (2009). "Radioactive Wastes - Myths and Realities." de http://www.world-
nuclear.org/info/inf103.html
WNA (2009). "Mixed Oxide (MOX) fuel." de http://www.world-
nuclear.org/info/inf29.html
WNA (2010). The New Economics of Nuclear Power, World Nuclear Association. de
http://www.world-nuclear.org/reference/pdf/economics.pdf
WNA(2010). "The Economics of Nuclear Power." de http://www.world-
nuclear.org/info/inf02.html
WNA (2010). "The Nuclear Fuel Cycle." de http://www.world-
nuclear.org/info/inf03.html

22
Tiago Bidarra, Tiago Ferreira

WNA (2010). "Safety of Nuclear Power Reactors." de http://www.world-


nuclear.org/info/inf06.html
WNA (2010). "Advanced Nuclear Power Reactors." de http://www.world-
nuclear.org/info/inf08.html
WNA(2010). "Fast Neutron Reactors." de http://www.world-nuclear.org/info/inf98.html
WNA (2010). "Generation IV Nuclear Reactors." de http://www.world-
nuclear.org/info/inf77.html
WNA (2010). "Nuclear Fusion Power." de http://www.world-
nuclear.org/info/inf66.html.
WNA (2010). "Fast Neutron Reactors." de http://www.world-
nuclear.org/info/inf98.html.

23

You might also like