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MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA

INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS

INPE-9547-PRP/237

CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E TRANSFERÊNCIAS DE


ESPÉCIES QUÍMICAS NAS INTERFACES DE ECOSSISTEMAS
TERRESTRES DE MATA ATLÂNTICA:
ESTUDO DE DUAS ÁRES CONTRASTANTES

Maria Cristina Forti

Relatório científico final referente ao Projeto FAPESP nº 99/05204-4

INPE
São José dos Campos
2003
RESUMO

O objetivo desta proposta foi estudar as transferências nas interfaces


atmosfera-solo-água, de espécies químicas em solução e relacioná-los com o
“status” da vegetação local. Para atingir esse objetivo foi estabelecido um
programa de monitoramento integrado em duas pequenas bacias hidrográficas
localizadas na Mata Atlântica, sendo uma em área urbana (poluída – São
Paulo/PEFI) e outra em área natural (não poluída – Núcleo Cunha
Indaiá/CUNHA). Em ambas, o monitoramento ambiental foi efetuado através do
estudo físico-químico, da precipitação, da transprecipitação, da água do solo,
solo e curso d’água. Nessas soluções, foram monitorados: cátions e ânions
maiores (sódio, potássio, magnésio, cálcio, amônio, nitrato, sulfato, cloreto);
metais (alumínio, manganês, ferro, cobre, zinco, níquel, cobalto e cádmio). As
amostras foram coletadas durante 27 meses na área urbana e 17 meses na
área natural. A partir dos resultados aqui apresentados concluí-se que na bacia
natural os ciclos naturais das espécies ainda estão preservados. As
transferências entre as interfaces são distintas entre as duas áreas: na área
urbana elas são, em geral, maiores do que na área natural com domínio de
SO42- e NO3-. As diferenças nos padrões de transferência indicam que a
vegetação da área urbana está com o estado nutricional alterado. A solução do
solo, nas duas áreas, é pobre em espécies químicas indicando a baixa
transferência destes através do sistema solo. Essa retenção pelas interfaces
superiores é conseqüência da reciclagem estreita de nutrientes pela vegetação.
O nitrato é exceção, seu ciclo é complexo e seus processos pouco conhecidos
em regiões tropicais. No riacho da bacia urbana as águas apresentam sinais de
acidificação indicando que os solos podem estar perto ou já ter atingido a
capacidade máxima de adsorção do sulfato. Não são observadas diferenças
significativas das diferentes espécies químicas para os cursos d’água o que é o
padrão normal para florestas tropicais devido à reciclagem interna.

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COMENTÁRIOS INICIAIS

Neste relatório apresenta-se um estudo que tem como base um conjunto


de dados obtidos utilizando-se a metodologia de estudos integrados em
microbacias hidrográficas. Este conjunto de dados vem contribuir para os
poucos que existem em nosso território utilizando essa abordagem. Apesar do
encerramento do projeto, os trabalhos de coletas na bacia natural (CUNHA)
não foram interrompidos, pois acreditamos que este é o início de um programa
mais amplo de pesquisa em microbacias hidrográficas. Apesar do valor dos
resultados aqui apresentados, durante o tempo deste estudo houve alguns
incidentes que impediram ou prejudicaram a execução de todas as atividades
inicialmente pretendidas. Os trabalhos que seriam realizados no lago do IAG
(Parque Estadual das Fontes do Ipiranga – PEFI) não puderam ser realizados,
pois ele foi drenado no início do projeto, para realização de obras civis,
permanecendo seco por cerca de dois anos. Ainda no PEFI, os poços para
monitoramento da água subterrânea também não puderam ser perfurados por
dificuldades logísticas e, conseqüentemente, não fez sentido instalá-los na
bacia natural em CUNHA.
Alguns membros da equipe deixaram o projeto o que impediu a
conclusão de alguns estudos em tempo de incluí-los adequadamente neste
relatório. São eles a caracterização físico-química dos sedimentos em
suspensão e a modelagem hidrológica. Entretanto, tanto as amostras de
sedimentos como os dados hidrológicos foram coletados e os estudos estão
sendo viabilizados para conclusão em futuro próximo. Os resultados sobre os
aerossóis foram apresentados no projeto FAPESP 1998/10356-5, e não serão
incorporados aqui. Os estudos sobre a composição química da serapilheira
estão sendo executados através do projeto FAPESP 2000/11951-6 e serão
integrados aos obtidos neste projeto em publicações futuras.
Os dados sobre a composição das águas de chuva coletados para o
PEFI foram cedidos para o projeto FAPESP 98/16297-0 para utilização na
dissertação de mestrado de W. Nakaema orientado pelo Prof. Dr. F. L. T.
Gonçalves do Dept. de Ciências Atmosféricas do IAG/USP esses mesmos
dados estão sendo utilizados no âmbito do projeto temático FAPESP 96/1403-4
Coordenado pelo Prof. Dr. Pedro L.da Silva Dias. Os dados sobre
interceptação pelo dossel foram cedidos ao Prof.Dr. A. J. Pereira Filho para a
dissertação de mestrado de L. L. Castilhano também do Dept. de Ciências
Atmosféricas do IAG/USP. Os solos de CUNHA foram objeto de um trabalho de
graduação “Estudos da organização bidimensional de uma topossequência de
solos na Bacia B do Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo CUNHA”,
Junho de 2002. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.
Departamento de Geografia. O trabalho sobre precipitação oculta, incluído
neste projeto, é objeto de dissertação de mestrado da Srta. Noemi M. R. Anido,
a ser apresentada no Instituto de Pesquisas Florestais/ESALQ-USP que, além
disso, candidatou-se ao programa de doutorado oferecido pelo CENA/USP
para elaborar uma tese para estudar os metais pesados e micronutrientes
utilizando os dados gerados por este projeto. Esses dados também deverão ser

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objeto de um trabalho de pós-doutoramento sobre modelagem do ciclo do N do
Dr. M. Ranzini a ser submetido à FAPESP.
A modelagem utilizando-se o modelo MAGIC o qual é uma ferramenta
adicional para estudar os processos de acidificação não pode ser
implementado porque alguns dados sobre os solos do PEFI não puderam ser
completados ainda. Entretanto, em dois meses estaremos com a nova versão
do modelo a qual além de ser mais versátil é compatível com os programas
atuais, a versão que dispomos ainda utiliza o sistema DOS dificultando o
processamento dos dados tanto de entrada como de saída.
Parte dos dados gerados por este projeto foram utilizados para
preparação de um capítulo de um livro sobre o PEFI intitulado “Parque
Estadual das Fontes do Ipiranga – Unidade de Conservação que resiste à
urbanização de São Paulo” cuja cópia da capa, referência e sumário estão no
Anexo A. O artigo intitulado “Rainfall and throughfall chemistry in the Atlantic
Forest: a comparison between urban and natural áreas” foi aceito e será
apresentado no BIOGEOMON 2002 4th Symposium on Ecosystem Behaviour
na forma de painel, viajem esta financiada pela FAPESP processo No.
02/04668-1. O artigo será submetido ao volume especial sobre a conferência
da revista Water, Air and Soil Pollution, resumo está apresentado no Anexo B.
O laboratório de hidroquímica do NUPEGEL/USP, utilizado para realizar
as análises de todas as amostras líquidas coletadas neste projeto, foi
transferido para a nova sede na ESALQ em Piracicaba. Essa transferência
causou um grande atraso nas análises químicas, pois além de não contarmos
com pessoal suficiente para auxiliar em todo processo da mudança e
reinstalação não contamos com auxílio de técnicos para realização dos
trabalhos analíticos assim, 90% das análises químicas foi realizada
pessoalmente pela responsável pelo projeto.
Gostaríamos de agradecer, particularmente aos técnicos de campo
Veralucia A. C. de Lima do IAG/USP e João B. A. dos Santos do Instituto
Florestal por terem sido tão valiosos para a realização dos trabalhos de campo,
sem eles este trabalho não teria sido possível, e a Srta. Noemi Anido e ao Dr.
E. Gamero por terem, ao final do projeto, nos auxiliado no processamento dos
dados hidrológicos. Agradecemos também à Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo (FAPESP) através do Processo FAPESP 99/05204-4
por terem financiado nossos trabalhos.
Acreditamos, que os objetivos iniciais foram atendidos e esperamos
estar dando uma contribuição significativa para o conhecimento do
funcionamento desse importante bioma que é a Mata Atlântica.

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1. INTRODUÇÃO

O crescimento populacional, o aumento da expectativa de vida, a


insuficiência de recursos naturais, a redução das espécies vegetais e animais
bem como a degradação dos solos, tornaram-se fatos importantes na era pós-
moderna por causarem sérias ameaças ao homem. A compreensão dos
processos que levam à manutenção dos processos biogeoquímicos bem como
aqueles ligados à biodiversidade e às mudanças de uso do solo são
importantes pré-requisitos para nossa habilidade de produzir alimentos,
forragem, fibras e preservar saudável o estado do ambiente tanto em escala
local como regional e global. O conhecimento desses processos é também
importante para estabelecer políticas públicas e estratégias para o
desenvolvimento sustentado de ecossistemas frágeis como são os tropicais. A
Mata Atlântica, que representou no passado cerca de 12% do território
nacional, estendendo-se desde 25oS (Santa Catarina) até 5oS (Rio Grande do
Norte) insere-se na categoria anteriormente descrita. Essa floresta foi
explorada desde o início da colonização do Brasil e sua maior parte substituída,
hoje, por agricultura e centros urbanos. É nessa região que se encontram hoje
os maiores aglomerados urbanos do país, como a grande São Paulo que,
segundo a ONU, é o 4o maior centro urbano do planeta com cerca de 17
milhões de habitantes. Atualmente, só cerca de 8% da Mata Atlântica original
do Estado de São Paulo encontra-se preservada. A Serra do Mar foi
integralmente tombada, assim como todos os remanescentes de Mata Atlântica
do Estado (UNESCO, 1998). Embora, legalmente preservadas, essas áreas
continuam sob pressão antrópica, quer por estarem inseridas ou próximas aos
centros urbanos, quer por estarem sujeitas à deposição de poluentes
transportados através de longas distâncias. Sendo assim, mesmo áreas
preservadas podem estar sofrendo processo de degradação devido à influência
advinda de regiões urbanas-industriais vizinhas. A área do Parque Estadual
das Fontes do Ipiranga-PEFI tem essa característica. É uma reserva biológica
que inclui área de preservação de manancial e que se encontra encravada na
região metropolitana de São Paulo. Por outro lado, o Núcleo CUNHA,/INDAIÁ
inserido no Parque Estadual da Serra do Mar, encontra-se eqüidistante dos
dois maiores centros urbanos do país, as cidades de São Paulo e Rio de
Janeiro. Estudos realizados até o momento não indicam sinais de poluição
atmosférica ou das águas dessa área (Arcova et alii, 1993), o que autoriza,
portanto, considerá-la área de referência para estudos sobre alterações
oriundas de ações antrópicas decorrentes da urbanização.
A localização peculiar dessas duas áreas bem como algumas facilidades
de infra-estruturas já estabelecidas, além de estudos prévios nessas regiões,
tornaram-nas propícias para a realização de estudos de longo tempo. Esses
estudos são importantes para a busca do conhecimento do funcionamento
desses sistemas.
Esse conhecimento é importante para o estabelecimento de planos de
gerenciamento de áreas verdes, manejo sustentado de parques e
desenvolvimento de modelos de funcionamento biogeoquímico.

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Este trabalho buscou estudar, principalmente, a questão dos efeitos da
poluição atmosférica sobre florestas, sob a ótica de estudos das transferências
de poluentes da atmosfera para os reservatórios abióticos (solo e soluções
aquosas) dos quais depende a saúde e a sobrevivência da biota. Assim, os
estados “presente" e "futuro" do PEFI são funções, também, dessas
transferências de poluentes carreados pelas soluções aquosas que percolam
as interfaces solo-planta-atmosfera. A abordagem adotada foi o estudo de duas
microbacias hidrográficas adotando-se a metodologia do monitoramento
integrado.
Muitas questões ambientais e problemas econômicos ligados a recursos
naturais podem ser estudados utilizando-se pequenas bacias. Por exemplo,
estudos hidrológicos, ciclagem de diferentes elementos como o S, N, C, etc.
especiação de metais traço e sua ciclagem, intemperismo químico, influências
climáticas e antropogênicas, etc.
Além disso, com dados de longo tempo, é possível estabelecer modelos
conceituais e matemáticos sobre o funcionamento dessas unidades da
paisagem. Esse conhecimento, pode então ser utilizado para estudos
comparativos, na mesma escala, uma vez que, em geral, os resultados são
detalhados e de excelente qualidade. A descrição precisa, exata e completa de
ecossistemas em escala de microbacia pode servir como “referência” para uma
avaliação por sensoriamento remoto através de uma extensão da escala.
Entretanto, estudos que consideram a extensão da escala para modelagem do
funcionamento ainda são insipientes.
A importância de tais estudos já foi confirmada, por exemplo, através de
monitoramentos integrados efetuados em pequenas bacias, sobre a deposição
atmosférica de substâncias ácidas e acidificantes, que geraram o
conhecimento atual sobre esses processos. A acidificação de solos e águas
superficiais bem como seus efeitos, tais como, a lixiviação de nutrientes, o
aumento do intemperismo das rochas e/ou a mobilização do alumínio são
processos adversos decorrentes da deposição de substâncias ácidas e que
foram elucidados através desses estudos.
A estabilidade ecológica da paisagem está ligada aos diferentes tipos de
uso do solo uma vez que têm efeitos profundos no metabolismo biogeoquímico,
nesse contexto, estudos dos parâmetros de escoamento é essencial. Sob esse
aspecto, as pesquisas em escala de pequena bacia auxiliam na determinação
das condições de sustentabilidade da agricultura tendo como base a
sustentabilidade dos ciclos biogeoquímicos, a retenção de água, de nutrientes
e de substâncias dissolvidas bem como a minimização da erosão.
Amplos programas de estudos integrados em pequenas bacias
hidrográficas foram implementados nos USA e Europa já na década de 50. As
diferentes redes de monitoramento são uma ferramenta importante e
indispensável para detectar e quantificar mudanças ambientais de longo tempo.
As análises de séries temporais desses dados têm demonstrado que, com o
conhecimento do funcionamento dos processos biogeoquímicos, é possível
compreender os mecanismos das mudanças observadas e distinguir entre
causas naturais e antropogênicas (Moldan&Cerny, 1992).
Pequenas bacias hidrográficas também podem ser utilizadas como
ferramenta educacional para disciplinas como, hidrologia, química atmosférica,
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botânica, geologia, pedologia, hidrogeoquímica. etc. Os estudantes podem
aprender de forma mais eficiente uma vez que esse tipo de abordagem permite
um alto grau de interatividade além de treina-los para trabalhar em equipe.
Essas unidades podem também ser excelentes espaços para disseminar
educação ambiental ao público em geral desde que a visitação não provoque
perturbações significativas na área.
Ao estabelecer um programa de estudos integrados em microbacias
hidrográficas é necessário realizar medidas básicas em longo período de
tempo. As principais medidas básicas são as seguintes:
♦ Dados sobre a área
! Vegetação – tipos principais das espécies florestais; sua distribuição
espacial; biomassa aérea desses tipos; química das folhas em intervalos
de três anos (C, N, P, Na, Mg e Ca).
! Solos – descrição e distribuição dos tipos principais. Para esses e seus
principais horizontes: capacidade de troca dos cátions, saturação das
bases, cátions trocáveis, conteúdo de matéria orgânica, C e N total
adsorsão de SO42-, textura. Mineralogia e material original.
! Geologia – tipos principais e distribuição de rochas
! Dados meteorológicos – temperatura média mensal, precipitação
semanal (o número de pluviógrafos deve ser determinado em função
da altitude e aspectos da bacia).
! Poluição do ar e deposição seca – medidas das concentrações
de NH3, NO2 e SO2 utilizando técnicas simples de absorção.
Intervalo de amostragem depende do grau de poluição do
ambiente.
♦ Entradas
! Precipitação “bulk” – amostragens semanais, compostas, para análises
mensais.
! Transprecipitação – amostragens semanais para análises mensais para
cada tipo de floresta da bacia. Diferentes parcelas poderão ser
necessárias em função da idade, altitude, etc.
♦ Saídas
! Vazão média diária. Amostras semanais analisadas da mesma forma
que as águas de chuva
Para todas as amostras deverão ser medidos o pH, condutividade, Ca,
Mg, Na, K, NH4+, NO3-, Cl-, SO42-, Al (filtrado), alcalinidade (TC).
Ocasionalmente deverão ser dosados o SiO2, DOC (carbono orgânico
dissolvido), P-total, Mn, N-orgânico, Fe, especiação de Al e metais traço.
Desta forma, a caracterização clássica do material poluente
(composição, fluxo, distribuição espacial), bem como a relação entre as
diferentes espécies químicas, nos diferentes compartimentos, a qual fornece
informações sobre a deposição de poluentes atmosféricos sobre a região
considerada, em conjunto com a caracterização das transferências
intercompartimentais, aplicados ao problema da qualidade da água que percola
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o sistema solo e alimentam cursos d’água e reservatórios, fornecem subsídios
aos estudos dos efeitos desses poluentes sobre diferentes ecossistemas.
Assim, considerando-se a problemática dos impactos ambientais devido à
poluição atmosférica sobre remanescente de Mata Atlântica, que estejam
situados em área urbana, essa caracterização é fundamental e indispensável
para o conhecimento dos efeitos da poluição sobre árvores e florestas e, assim,
permitir sua manutenção

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OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho é caracterizar as transferências nas interfaces


atmosfera-solo-água, de espécies químicas (nitrato, sulfato, amônio, cátions
básicos e metais pesados) presentes nas soluções aquosas, quantificando
essas espécies na água de chuva, na transprecipitação, na solução do solo e
no curso d’água, para relacioná-los com o “status” da vegetação local e, assim,
com efeitos de poluição atmosférica.
Para atingir esse objetivo estabeleceu-se um programa de
monitoramento integrado em duas bacias hidrográficas pequenas (< 50ha)
localizadas na Mata Atlântica, sendo uma em área urbana (poluída) e outra em
área natural (não poluída). Em ambas, o monitoramento ambiental foi efetuado
estudando a físico-química da precipitação, da transprecipitação, da água do
solo e do solo.
Devido à variedade de materiais e métodos utilizados neste trabalho,
optou-se por apresentar os resultados separadamente, integrando-os no final.
No capítulo 2 descreve-se de forma sucinta as duas áreas de estudo. Nos
capítulos 3 e 4 são apresentados, respectivamente, os balanços hídricos
disponíveis para ambas as áreas e as metodologias de coletas, preparação e
análises químicas das diferentes soluções aquosas. Nos capítulos 5 e 6 são
apresentados os resultados sobre as concentrações das diferentes espécies
químicas nas diferentes soluções (águas de chuva, transprecipitação, solução
do solo e rios) e os estudos sobre dos solos, das duas áreas. No capítulo 7
apresenta-se uma integração dos resultados através do acompanhamento das
transferências das diferentes espécies químicas em solução presentes na água
de chuva, transprecipitação, solução do solos e rio. No capítulo final apresenta-
se as principais conclusões e as perspectivas deste de estudo.

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2 - ÁREAS DE ESTUDO

As áreas escolhidas para a implantação do sistema de monitoramento


integrado encontram-se, respectivamente, no Parque Estadual das Fontes do
Ipiranga-PEFI e no Parque Estadual da Serra do Mar/Núcleo Cunha. A primeira
sofre influência antrópica e a segunda não, o que permite considerar esta
última natural. Em cada uma dessas regiões foi selecionada uma microbacia
hidrográfica, na área urbana com 21 ha e na natural com 36,7 ha. Na figura 2.1
apresenta-se um mapa indicando a posição relativa entre as duas áreas.

Figura 2.1 - Posição relativa entre as duas áreas de estudo.

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Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI): Bacia A.

A área da Reserva Biológica do Parque das Fontes do Ipiranga (PEFI),


localizado na borda sudeste da bacia sedimentar de São Paulo, na altura das
coordenadas 23o39’S e 46o37’W, apresenta altitude média de 798 m e área
total de 549,31 ha, distando cerca de 50 km do mar. Situa-se sobre rochas
cristalinas contendo basicamente gnáisses e secundariamente micaxistos e/ou
metarenitos de médio grau metamórfico. Sobre essas rochas cristalinas
ocorrem, predominando no PEFI, argilas, areias e cascalhos, pertencentes à
Formação São Paulo (Oda, 1997).
O relevo apresenta forma ondulada, altitudes entre 770m e 825m e
topografia pouco movimentada, fazendo parte das colinas dos rebordos do
espigão central da cidade de São Paulo (Ab’Sáber, 1957; Ab’Saber, 1956;
Almeida, 1974). Os solos são do tipo latossolo vermelho-amarelo fase rasa e
provêm de filitos, xistos e rochas granito-gnáissicas (Comissão de Solos,
1960). As primeiras análises químicas de amostras de solo coletadas em duas
áreas florestadas demonstraram tratar de solos pobres em nutrientes,
fortemente ácidos, com níveis tóxicos de alumínio e características potenciais
para fixação de fósforo. A capacidade de troca catiônica, que reflete parte da
fertilidade do solo, está na dependência, em maior grau, da matéria orgânica
produzida pela biomassa florestal ali estabelecida (Struffaldi-De-Vuono, 1985).
O clima sofre influência tanto de sistemas extratropicais (por exemplo:
sistemas frontais) quanto tropicais (por exemplo: linhas de instabilidades e
zonas de convergência). A precipitação considerada normal na área é da
ordem de 1.318mm (Santos & Funari, 1976), com o período de seca situado,
predominantemente, entre julho e setembro. A temperatura média do mês mais
frio é inferior a 18oC e a do mais quente, inferior a 22oC (Struffaldi-De-Vuono,
1985).
Estudos fitossociológicos realizados por Struffaldi-De-Vuono (1985)
demonstraram que a floresta se encontra em estádio de sucessão da formação
florestal climáxica da encosta atlântica, em que não há predomínio de qualquer
família e onde cada espécie tem importância reduzida e, dessa maneira, alto
índice de diversidade. Estes estudos indicaram, ainda, que a vegetação se
encontra em estádio de subclímax retrógrado, onde a redução da vitalidade dos
indivíduos arbóreos vem permitindo proliferação de plantas mais agressivas e
menos exigentes, como cipós e bambus, muito provavelmente, pela constante
emissão de poluentes atmosféricos oriundos das atividades urbana e industrial
circundantes (Figura 2.2).

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Figura 2.2 – Foto panorâmica apresentado aspectos da vegetação do PEFI.

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A área do PEFI engloba quatro sub-bacias do riacho Ipiranga, que
deságua no rio Tamanduateí que, por sua vez, é afluente do rio Tietê. Fazem
parte, portanto, da grande sub-bacia do alto rio Tietê. As nascentes alimentam
nove reservatórios antes de formar o curso principal, sob a rodovia dos
Imigrantes, o qual percorre cerca de 7km sob duas avenidas, até aflorar na
altura da parte frontal do Museu do Ipiranga.

Reserva Estadual da Serra do Mar, Núcleo Cunha - Bacia B.

A área do Núcleo de Cunha encontra-se a nordeste do Estado de São


Paulo, na Serra do Mar a 2000 m de altitude, localizando-se na região das
cabeceiras do rio Paraibuna e na margem direita do rio Paraíba, entre os
paralelos 23o13’28” e 23o16’10” S e os meridianos 45o02’53”e 45o05’15” W
estando a cerca de 15 km da costa.
A formação geológica encontrada nessa região pertence ao complexo
cristalino brasileiro de idade Pré-Cambriana contendo granitos, gnaisses, xistos
cristalinos e diabásico da era mesozóica. Na região do vale do rio Paraíba
(bacia de Taubaté), encontra-se a formação Taubaté composta por sedimentos
arenosos de lagos e rios. Na planície de inundação, ao longo do rio, são
encontrados sedimentos aluvionares.
A topografia da região alta compreende montanhas baixas com
inclinação acentuada e picos arredondados; na parte intermediária e ao nível
dos sopés as inclinações têm gradiente baixo, da ordem de 10 a 20 graus; a
densidade de drenagem é baixa e a aparência da paisagem é ondulada.
A bacia B tem 36,7 ha de área de drenagem, com declividade média de
6,6% no canal e 25,8% na bacia. O comprimento do rio principal é 920 m e
altitude varia entre 1050 e 1170 m em relação ao nível do mar. Essa bacia foi
descrita e estudada por Arcova et al. (1993).
A temperatura média máxima é de 26oC e a mínima é de 16oC
temperatura média mínima. A precipitação média anual é de 1500 mm com um
período de chuvas intensas entre os meses de setembro a abril e o seco de
maio a agosto. Essa região pode ser classificada como de clima tropical úmido.
A vegetação é composta por floresta natural secundária, resultados de
exploração madeireira ocorrida há aproximadamente 50 anos. Na região, em
geral nos topos das montanhas, são encontradas florestas de araucária
(regiões altas, acima de 1200m), a média altitude encontra-se capoeiras
(vegetação secundária) e algumas áreas com reflorestamento. Entretanto,
nessa bacia, ainda não existe um levantamento florístico que permita
caracterizar a cobertura vegetal (Figura 2.3).

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Figura 2.3 – Foto panorâmica da sede do Parque estadual Cunha/Indaiá.

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3 – HIDROLOGIA

Neste capítulo são apresentadas as estimativas de balanço hídrico para


as duas bacias estudadas.

3.1 – Balanço hidrológico para a bacia B - CUNHA

Na figura 3.1 apresenta-se um mapa esquemático com as curvas de


nível para a bacia B, e a localização da instrumentação e pontos de coletas. O
balanço para essa bacia foi realizado para o ano hídrico 2000-2001.

44
X 11

5 1163
112

1150

1148
X
18
11 1172

1136 11
50

1129 X

1143

1199 X TR X 1169
R

5 0
11 1150
11

11
00
25

107
5

N
1050

Medidas de fluxo: Linígrafo


Pluviógrafo
e Coletores de Chuva:
Wet-only e Bulk

Curso d'água
Estrada de terra
Rio Paraibuna Trilha

TR Parcela da transprecipitação

R Local amostragem do riacho B


CUNHA BACIA B Divisor de águas
ÁREA 36,68 ha
Topossequência

rel1fig2

Figura 3.1 -– Mapa da bacia B

A precipitação obtida na bacia entre outubro de 2000 até setembro de


2001 foi de 1503 mm anuais. No período úmido, de setembro a março, se
produziram o 82% das precipitações ocorridas durante o ano. Entre os meses
de janeiro a março concentram-se as maiores precipitações com uma máxima

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de 246 mm para o mês de dezembro e uma precipitação mínima de 23 mm
para o mês de abril. (Figura 3.2)

300

250

200
mm
150

100

50

0
ez b r o

t e to
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M o

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Ja r o

Ag o
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S e os
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b

re
ar
ne

Ju
em

m
em
u

ve
ut
O
N
D

Figura 3.2 - Distribuição da precipitação no ano hídrico 2000-2001.

Foram calculados os deflúvios mensais e anual, o deflúvio mensal


máximo correspondeu ao mês de dezembro com um valor de 246 mm,
enquanto que o deflúvio mensal mínimo produziu-se no mês de agosto com 37
mm. O deflúvio anual foi de 927 mm. Fazendo o cálculo do déficit de
escoamento obteve-se uma perda de 576 mm que corresponderiam às perdas
ocasionadas pelo processo de evapotranspiração sendo 38% da precipitação.
Na Figura 3.3 pode-se observar o regime médio das chuvas e do deflúvio no
ano ressaltando-se os períodos de déficit e excessos do escoamento.

PP(mm) Defluvio(mm)

300

250

200
mm

150

100

50

0
Outubro Janeiro Abril Julho

Figura 3.3 – Regime médio das chuvas e deficiência hídrica ao longo do ano
hidrológico 2000-2001.

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3.1.2 – Estudo da precipitação oculta

Dada a importância que o processo de captação de neblinas,


denominado de precipitação oculta, pode ter em áreas semelhantes à área de
estudo, é importante considera-lo dentro do balanço hidrológico. Neste trabalho
foi feito um experimento para verificar se a quantidade de neblina amostrada
era significativa. Entretanto, por se tratar de uma tentativa não foi possível
coletar amostras para a dosagem de espécies químicas. Na região estudada a
evapotranspiração é relativamente baixa, ao redor do 30 % para a Bacia D e B,
o que corresponderia a uma evapotranspiração média de cerca de 600 mm
(Cicco et al,1989; Cicco & Fujieda,1992; Fujieda et al. 1997).

Como estes valores da evapotranspiração são comparativamente


mais baixos do que a maioria dos dados do balanço hídrico de outras regiões,
e levando em conta que a umidade relativa da área é muito alta, (segundo os
dados da estação meteorológica entre janeiro de 1998 até janeiro de 2000 a
umidade relativa média mensal varia entre 86,79% até 96,21%), considerou-se
importante então, determinar a possibilidade de estar havendo de uma forma
efetiva o processo de captação de neblina pela cobertura florestal, referida
como precipitação oculta, a semelhança do que já foi observado em outras
regiões de condições climáticas similares.

3.1.2.1. Materiais e Métodos

Tentando conseguir determinar o acréscimo na entrada de água


produzida pela captação de neblinas pelo dossel florestal, durante o período de
14 de novembro de 2000 até 17 de abril 2001 foram coletadas amostras
semanais capturada com coletores circulares colocados ao lado de
pluviômetros (que permitem comparar as coletas realizadas em um e outro
aparelho). Foram utilizados dois coletores instalados, respectivamente, próximo
ao vertedor da bacia A e na estação meteorológica do Núcleo Cunha. Estes
coletores têm forma cilíndrica e foram construídos com tecido de polipropileno,
“ráfia”, com peso especifico de 126 g.m-2, com um percentual de cobertura de
52 a 60%,e resistência a radiação UV. As dimensões dos coletores são: 39.8
cm de altura e 19.5 cm de diâmetro, e encontram-se montados sobre a base de
um pluviômetro (Figura 3.4).

Inicialmente pretendia-se transformar a medida de água coletada em


“mm” de precipitação com base na área de captação da tela de nylon,
descontando-se os valores de precipitação convencional medida na área.
Todavia, encontraram-se dificuldades nesta avaliação, devido a ocorrência de
perdas nos procedimentos de coletas semanais, que não puderam ser
quantificadas, tornando os resultados obtidos não consistentes.

A partir de 18 de abril de 2001 decidiu-se fazer coletas diárias no


posto meteorológico que se prolongaram pelo período de um ano, para
conseguir separar melhor os eventos de neblinas dos de chuvas, ao comparar
os resultados do coletor com os do pluviômetro e do pluviógrafo. Foram

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analisados os dados de 18 de abril de 2001 até 19 de março de 2002.

Figura 3.4 - Coletor de neblinas localizado na estação meteorológica do Núcleo


Cunha.

Para os cálculos foi considerado em primeiro lugar o período seco do


ano, de abril até final de agosto, eliminando-se os dias com precipitação
superior a 5 mm (considerando que sob esta poderia corresponder a chuvas
finas misturadas com neblinas, fenômeno que pode ser observado na região)
da analise dos dados correspondentes a 76 dias do período.

Além destes dados, foram também considerados todos os eventos de


condensação de neblinas (considerando evento aqueles dias onde a
precipitação no pluviógrafo foi desprezível, enquanto que se coletou volumes
de água significativos no coletor de neblinas), ocorridos no período todo.
Finalmente, foi feito um balanço com a totalidade dos dados coletados,
incorporando também as coletas efetuadas nos dias com chuvas.

Para os cálculos, foram consideradas as diferenças dos volumes de


água do coletor de neblinas e do pluviômetro. Calculou-se então, a
equivalência em milímetros de precipitação desse volume, referendo-o à

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superfície de captura do coletor (considerada de 50% da superfície total do
cilindro) segundo a fórmula:

Superfície de coleta = 2Π . r . h . 0,5

Onde,

r= radio do cilindro do coletor (cm)

h= altura do cilindro (cm)

Estes resultados foram comparados com os milímetros de


precipitação coletados no pluviômetro e calculados os percentuais de
incremento correspondentes.

3.1.2.2. Resultados e discussão

Foi feita uma análise dos dados da Estação Meteorológica para tentar
verificar a influência das neblinas e da alta umidade relativa na precipitação
total da área, em termos de acréscimos à precipitação convencional devido ao
processo de captação física pelo dossel.

Considerando o período seco do ano, desde abril até final de agosto,


da analise dos dados correspondentes a 76 dias do período, obtém-se 1,4 dm3
de água recebidos no coletor de neblinas, sendo que a medida no pluviômetro
foi de 0,8 dm3. Esta diferença (0,6 dm3) corresponderia a uma diferença
percentual de 72,6% a mais de água coletada no coletor em relação ao
pluviômetro, que equivaleria a 4,9 mm de chuva. Este valor, por uma vez,
representaria um 19,2 % a mais de chuva nesses eventos.

A precipitação medida no pluviógrafo da estação meteorológica nos


mesmos dias atinge os 17,5 mm. Ao relacionar a precipitação no pluviógrafo da
estação meteorológica com os milímetros a mais, medidos com o coletor de
neblinas, ou seja, a precipitação oculta, representaria 28,3 % a mais da
precipitação da área no período seco. Esta diferença (entre as comparações
com o pluviômetro e o pluviógrafo) poderia indicar que estaria existindo uma
captura de neblinas também no pluviômetro (provavelmente produzida pela
modificação do recipiente de recepção da água, já que este não permite perdas
por evaporação).

Tendo em conta somente os eventos de neblinas e condensação de


umidade, no período total analisado, correspondentes a 74 eventos, o volume
total coletado no período foi de 2,74 dm3 enquanto que no pluviômetro foram
coletados 1,61 dm3, com uma diferença líquida de 1,12 dm3 a mais no coletor
de neblinas, correspondendo a 69,4 % a mais em termos volumétricos do
coletor em relação ao pluviômetro. Essa diferença, transformada em mm de
precipitação, corresponderia a 9,5 mm, que comparados com a precipitação
total determinada no pluviômetro (51,4 mm) obtém-se um incremento de 18,4
% na precipitação indicada no pluviômetro. Nos mesmos eventos foram
registrados 15 mm de precipitação no pluviógrafo da estação meteorológica, e

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 18


relacionando estes com o ganho de água do coletor de neblinas obtém-se
neste último um ganho efetivo de 62,9 % a mais. Esta diferença entre
pluviômetro e pluviógrafo reforçaria a hipóteses de que existiria captura de
neblinas no pluviômetro utilizado.

O volume total tanto de precipitação convencional quanto de neblinas


no período total (abril 2001-março 2002) foi de 63,9 dm3, enquanto que no
pluviômetro foram coletados 48,6 dm3 com uma diferença líquida de 15,3 dm3 a
mais no coletor de neblinas, equivalentes a 128 mm de precipitação (32%
superior em termos volumétricos do coletor em relação ao pluviômetro).
Relacionando os mm de precipitação no coletor de neblinas com a precipitação
total determinada no pluviômetro no período (1565 mm) corresponderia a um
incremento na precipitação total de 8,22 % (Figura 3.5)

Captação de neblinas pelo dossel

Coletor Pluviômetro pluviógrafo

800
700
600
500
cm3

400
300
200
100
0
27/04/01
01/06/01
07/06/01
19/06/01
04/07/01
12/07/01

18/07/01
31/07/01
05/08/01
16/08/01
21/08/01

06/10/01
29/10/01
20/11/01

03/12/01

Figura 3.5 - Volume (em cm3) de água coletada pelo coletor de neblinas, pelo
pluviômetro e pelo pluviógrafo colocados na estão meteorológica do Núcleo
Cunha – Parque Estadual da Serra do Mar – SP.

Em resumo, poderia concluir-se que, o processo de captação de


neblinas pelo dossel florestal na região, estaria acrescentando a chuva medida
por métodos convencionais entre, 8% no ano, até cerca de 30% nos períodos
secos, chegando a máximos próximos a 60% em algumas situações. Isto
condiz com o mencionado por Bruinjnzeel & Hamilton (2000) para outras
regiões de florestas de neblinas em regiões tropicais que sugere um 15 a um
20 % de acréscimo nas precipitações ordinárias em regiões com precipitações
entre 2000 a 3000 mm por ano e até um 60% baixo condições extremas.

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3.2 – Balanço Hídrico Bacia A – PEFI

O balanço hídrico na bacia experimental do PEFI foi realizado para


dois anos hídricos no período 1999-2001, na Figura 3.6 é apresentada a área
de estudo.

Figura 3.6 – Mapa da bacia A no PEFI

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As Figuras 3.7 e 3.8 apresentam os valores mensais de precipitação
(PP), evapotranspiração potencial (ETP), evapotranspiração real (ETR), déficit
de armazenamento (DEF) e excesso de água (EXC) para o período analisado.

400

PP (m m ) ETP (m m ) ETR (m m )
350

300

250
(mm)

200

150

100

50

0
SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO

Figura 3.7. Valores mensais de precipitação, evapotranspiração potencial e


evapotranspiração real para o período 1999-2001.

Comparando-se os dois anos hídricos, observa-se que no primeiro


ano os valores anuais de PP 1272 mm, ETP 842 mm e ETR 740 mm, foram
mais baixos que os valores do segundo ano hídrico PP 1479 mm, ETP 906 mm
e ETR 883 mm, respectivamente. O comportamento da precipitação ao longo
do ano foi semelhante, mostrando uma maior variabilidade temporal no
segundo ano hídrico. Os valores de ETP e ETR também tiveram um
comportamento muito parecido, sendo que a relação ETP/P para os dois anos
foram de 66% para o período 1999-2000 e 61% para o período 2000-2001.
Estes valores estão de acordo com os obtidos em outros tipos de cobertura
florestal apresentados por LEOPOLDO et al. (1995) e LIMA (1998) que
estimaram em 67% para a floresta amazônica e 82% para uma vegetação
característica do tipo “cerradão”, respectivamente.

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300
D EF (m m ) EXC (m m )

250

200

150
(mm)

100

50

0
SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO

-50

Figura 3.8. Valores mensais do déficit de armazenamento e excesso de água


para o período 1999-2001.

Analisando-se a Figura 3.8, pode-se observar que para o primeiro ano


hídrico a bacia apresentou um valor de déficit de armazenamento de 111,4
mm, que foi muito maior que o valor do ano seguinte 23,7 mm, demonstrado
pelo valor da relação ETP/P que foi de 66%, ou seja, 66% da precipitação foi
evapotranspirada pela cobertura florestal. Esse déficit indica que a ETR desse
ano hídrico foi maior que a precipitação que ocorreu no período setembro-
novembro e abril-junho. O excesso de água ocorreu nos períodos dezembro-
março para o primeiro ano hídrico onde a precipitação foi maior que a ETP e a
ETR, e no período setembro-março no segundo ano hídrico.

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4 – METODOLOGIA PARA AS SOLUÇÕES AQUOSAS

Neste capítulo são apresentadas as metodologias de coletas para as


diferentes soluções aquosas, os protocolo empregados para estabilização das
espécies químicas dosadas em cada uma bem como a técnica analítica
empregada. Todas as amostras foram coletadas entre julho de 1999 e
setembro de 2001 para o PEFI e entre maio de 2000 e setembro de 2001 para
CUNHA.

4.1 - Coletas.

Águas de chuva e transprecipitação.


As amostras de água de chuva e transprecipitação foram coletadas a
cada 7 dias (quando houve precipitação suficiente) constituindo-se de amostras
acumuladas durante esse período de tempo. Para períodos de seca superior a
15 dias, todos os recipientes coletores foram substituídos por novos recipientes
limpos para minimizar acumulação de deposição seca.
A transprecipitação foi amostrada em parcelas constituídas por uma
matriz 6X6 (36 pontos) com uma separação de 5 m entre cada ponto. Em cada
ponto da malha foi instalada uma estaca de madeira (com aproximadamente
1,5 m de altura) para receber em sua extremidade superior um coletor de
chuva tipo bulk, sendo cada um numerado de 1 a 36. Para maximizar a
probabilidade de amostrar a transprecipitação sob toda a área da parcela, a
cada período de coleta foram sorteadas 10 posições diferentes através da
geração de 10 números aleatórios de 1 a 36 onde eram então, instalados os
coletores (Figura 4.1).

Figura 4.1 – Foto da parcela de transprecipitação instalada em CUNHA

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A água de chuva e a de transprecipitação (chuva que atravessa o
dossel) foram coletadas com um coletor do tipo bulk. Esse coletor é composto
por uma garrafa de polietileno com capacidade de 5 L em cuja boca é adaptado
um funil com 167,45 cm2 de diâmetro, protegido com uma tela de nylon
(aberturas médias de cerca de 5 mm) para evitar a entrada de insetos, galhos e
folhas na garrafa de coleta (Figura 4.2).

Figura 4.2 – Foto do coletor tipo “bulk” instalado jundo ao vertedor da bacia B
em CUNHA.
Para a água de chuva utilizou-se também um coletor de chuva tipo wet-
only, da marca MTX (Itália). Esse coletor possui uma tampa que fica sobre o
recipiente coletor enquanto o tempo está seco, no momento em que se inicia
uma chuva ou o ambiente fica muito úmido (e.g. neblina) um circuito se fecha e
a tampa desloca deixando o recipiente coletor exposto (Figura 4.3).

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Figura 4.3 – Foto dos coletores wet-only sobre a caixa d’água no PEFI

Optou-se pela utilização simultânea dos dois tipos de coletores para


verificar se, em ambientes muito poluídos existe ou não, diferenças
estatisticamente significativas entre a composição das águas de chuva
amostradas. Isso por que, em trabalhos anteriores, no nordeste da Amazônia
(Forti et al. 2000), verificou-se que não existem diferenças estatisticamente
significativas entre valores médios da composição química da água de chuva
coletada com esses coletores.
No PEFI, inicialmente, devido à proximidade do laboratório e
disponibilidade de recursos, a instalação da parcela para medida de
transprecipitação e dos coletores de chuva ocorreu em julho de 1999
totalizando 27 meses de coletas. Em CUNHA as coletas foram iniciadas em
maio de 2000 totalizando 17 meses de coletas, utilizado-se os dados obtidos
até setembro de 2001. Foram obtidas um total de 62 amostras de chuva e 62
de transprecipitação para o PEFI e 52 de chuva e 52 de transprecipitação para
CUNHA.

Solução do solo.
Segundo Smethurst (2000) existe uma distinção entre solução do solo e
água do solo. A primeira é aquela que está em quase-equilíbrio com a fase
sólida e para ser amostrada necessita de lisímetro de tensão com alto poder de
sucção. A água do solo inclui a solução do solo e a água que percola através
do solo. Entretanto, como o objetivo deste estudo é determinar as
transferências, isto é, as perdas ou ganhos de solutos através dos diferentes
horizontes do solo, empregou-se lisímetros de tensão zero que fornece a

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 25


composição da água do solo que percola através do perfil do solo (Magid &
Christensen, 1993; Ranger et al., 2001).
Os lisímetros de tensão zero foram instalados em diferentes horizontes
dos solos em trincheiras cavadas ao logo da vertente da cada uma das bacias.
Os locais para instalação foram determinados a partir dos estudos das
topossequências realizados em cada uma das bacias. Após a conclusão dos
trabalhos de campo para os estudos dos solos, foram instalados, nos locais
previamente indicados, uma bandeja com 600 cm2 de área, ligada por uma
mangueira a um recipientes coletor. Após a instalação, o sistema foi deixado
equilibrar por um período de três meses desprezando-se a primeira coleta. As
amostras foram coletadas mensalmente entre outubro de 2000 e setembro de
2001. Foram coletadas 10 séries em cada bacia totalizando 78 amostras em
CUNHA e 62 no PEFI.

(a)

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(b)
Figura 4.4 – Fotos (a) da trincheira 4 (TR4 meia encosta) no PEFI e (b) da
trincheira 5 (TR5 topo da encosta) em CUNHA.

Na figura 4.4 são mostradas fotos da trincheira 4 na meia encosta da


vertente da bacia A no PEFI em da trincheira 5 no topo da encosta da vertente
da bacia B em CUNHA. As badejas foram enterradas na parede da trincheira
de tal forma a deixar um espaço mínimo entre a borda da bandeja e a parede
da trincheira, minimizando a entrada de água que escoa sobre a superfície da
encosta. No PEFI foram instalados lisímetros nas trincheiras TR2 (topo da
encosta), TR4 (meia encosta) e TR6 (base da encosta). Em TR2 foram
instaladas bandejas a 10, 50 e 130 cm de profundidade, em TR4 as
profundidades foram 20, 70 e 150 cm e em TR6 foram 10, 30 e 150 cm. Em
CUNHA as bandejas foram instaladas nas trincheiras TR5 (topo da encosta),
TR4 (meia encosta) e TR2 (base da encosta). Em TR5 as profundidades foram
70, 150 e 180 cm, em TR4 90, 150 e 250 cm e TR2 em 80 cm.

Águas dos rios e sedimentos em suspensão.


As amostras dos rios foram coletadas a cada 7 dias mergulhando-se a
garrafa no meio do riacho para coletar um volume completo para enxágüe da
garrafa e, em seguida, enchendo-se completamente a garrafa para a obtenção

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 27


da amostra. Montou-se uma estrutura segundo o esquema da figura 4.5
mostrado na foto da Figura 4.6, nas duas bacias, para amostragem das águas
do riacho durante um evento chuvoso isto é, na subida da hidrógrafa. No PEFI
as garrafas de espera foram sistematicamente roubadas. Em ambas as bacias
não obtivemos amostras suficientes para estudar algumas hidrógrafas; as
amostras mais freqüentes eram do primeiro nível. Foram obtidas 10 amostras
para o PEFI sendo 8 para o primeiro nível e 8 para CUNHA sendo 7 no
primeiro nível, todas foram analisadas porém os resultados obtidos não serão
incluídos por não serem representativos.
O sedimento em suspensão foi obtido através da filtragem da amostra
do rio.

C U N H A Ba c ia B
50 cm

2 ,0 0 m 20 cm

g a rra fa s d e e sp e ra N íve ld e b a se

Figura 4.5 – Esquema da montagem das garrafas de espera para coleta de


amostras da subida da hidrógrafa.

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Figura 4.6 – Foto da estrutura das garrafas de espera montada sobre o
vertedor da Bacia B em CUNHA.

4.2 – Preparação das amostras.

Para todas as amostras de chuva, e a cada coleta, foram medidos os


volumes amostrados. Para a transprecipitação, após a determinação do volume
de cada coletor, as amostras foram proporcionalmente misturadas formando
uma única amostra onde foram dosadas as diferentes espécies químicas. Para
as amostras de água do solo os volumes também foram determinados.
Todas as amostras foram filtradas a vácuo utilizando-se filtros de
membrana pré-lavados, com 0,22µm de poro para obter a fração em solução,
além disso, essa filtragem elimina, também microorganismos, pois, em geral,
eles são maiores do que 0,22µm. Do filtrado foram separadas três alíquotas,
uma sem preservante armazenada em frascos de polietileno de alta densidade
onde foram dosados os ânions, uma alíquota acidifica com ácido nítrico
suprapuro 1% em volume onde foram dosados os metais de transição e outra
alíquota acidificada com HCl 0,1% em volume para a dosagem dos cátions.
Todas as amostras, após a preservação apropriada (Apello & Postma, 1996)
foram estocadas em geladeira a 4o C até o momento das análises.
Para as águas dos rios foram medidos os volumes filtrados e utilizados
filtros pré pesados para determinação, por gravimetria, da massa de sedimento
retida no filtro.

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4.3 – Análise química

Imediatamente após as coletas e na amostra bruta foram medidos o pH


e a alcalinidade. Esta última medida através da titulação de Gran. Nas águas
dos rios forma medidas também a temperatura no campo.
A dosagem das espécies química foi efetuada utilizando-se a técnica de
cromatografia a líquido de íons, utilizado-se um equipamento Dionex DX-500.
Para os cátions básicos e amônio foi utilizada uma coluna separadora CS12 e
ácido sulfúrico como eluente; para os ânions foi utilizada uma coluna
separadora AS4A e carbonato/bicarbonato de sódio como eluente, com um
detetor eletroquímico. Para os metais de transição (Fe3+, Cu2+, N2+I, Zn2+, Co2+,
Cd2+ e Mn2+) foi utilizado um detetor UV/Vis, coluna separadora CS5A, reação
pós-coluna com 4-(2-piridilazo) resorcinol, eluente PDCA (piridina ácido.
dicarboxílico) e comprimento de onda de 530 nm no visível; para o Al 3+ a
coluna separadora é a mesma, o eluente é ácido sulfúrico/sulfato de amônio e
reação pós coluna em violeta de pirocatecol em 530 nm no visível. Para as
análises dos metais com deteção UV/Vis foi necessário modificar o protocolo
analítico usual pois as reações não ocorriam em temperatura ambiente. Assim,
foi desenvolvido um forno para aquecimento das colunas. Para os metais de
transição foi necessário aquecer a coluna separadora a 60oC e para o Al3+ foi
necessário aquecer o tubo de reação pós coluna a 40oC.
A precisão dessas análises depende da configuração do sistema, da
faixa de concentração das amostras e do elemento analisado. Para essas
amostras a precisão e a exatidão obtidas são apresentadas na Tabela 4.1. O
valores da exatidão foram obtidos utilizando-se amostras de referência TM28 e
TM26.2 para os metais, chuva 409 para os cátions maiores e ânions do
“Environmental Canada e padrões primários fornecidos pelo “Centre for
Ecology and Hydrology” do “Natural Environmental Research Council” - Reino
Unido.

Tabela 4.1 – Precisão e exatidão, em %, das dosagens das diferentes espécies químicas nas
amostras utilizadas neste trabalho, analisadas por cromatografia a líquido de íons (PR –
Precisão; EX – Exatidão).

Na+ K+ Mg2+ Ca2+ NH4+ Cl- NO3- SO42- Fe3+ Cu2+ Ni2+ Zn2+ Co2+ Cd2+ Mn2+ A3+
PR 3 3 8 8 10 3 3.5 8 11 11 4 7 4 15 4 5
EX 7 9 11 9 11 8 10 8 15 8 12 11 6 15 7 7

Embora todos esses íons tenham sido pesquisados nas amostras o Ni,
Co e Cd não foram encontrados e o Cu foi determinado em algumas poucas
amostras do PEFI. É preciso ressaltar, entretanto, que a técnica analítica
empregada detecta a forma iônica desses metais. Pode-se considerar então,
que os valores encontrados podem estar subestimados. Como as amostras,
acidificadas, têm estabilidade para a dosagem dos metais elas estão
armazenadas para serem analisadas utilizando-se Espectrofotometria de
Absorção Atômica com forno de grafite. Essa técnica não foi empregada por
estar em fase de instalação no laboratório do NUPEGEL/USP.

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5 – AS CONCENTRAÇÕES DAS ESPÉCIES QUÍMICAS NAS DIFERENTES
SOLUÇÕES E SUA VARIAÇÃO TEMPORAL.

Neste capítulo serão mostrados os resultados relativos às


concentrações das diferentes espécies químicas em solução nas diferentes
amostras. Serão mostradas também, a evolução temporal dessas
concentrações.

5.1 Precipitação

A série de dados obtidas para o PEFI (maio-99 até setembro-01)


engloba 3 períodos chuvosos e dois secos. Em CUNHA os dados foram
obtidos durante 17 meses cobrindo 2 períodos secos e um chuvoso.
A comparação entre os coletores tipo Bulk e tipo wet-only para os dois
locais, realizada através da aplicação de um teste de hipótese nula com 95%
de confiança, o que permite verificar se existe diferença estatisticamente
significativa entre a composição das águas de chuva coletadas com um ou
outro coletor. O teste mostrou que para a área de CUNHA não há diferenças
estatisticamente significativas entre os dois conjuntos amostrais para todas as
espécies químicas, confirmando o achado em trabalho anterior (Forti et al.,
2000). desta forma, pode-se utilizar os resultados de um dos coletores sem
prejuízo das conclusões, uma vez que os dois conjuntos são equivalentes.
Entretanto, para o PEFI observou-se que, para o Na+, K+ e Cl-, as diferenças
entre os dois tipos de coletores são significativas, sendo os valores médios das
concentrações dessas espécies para as amostras coletas no coletor tipo bulk
maiores do que com o coletor tipo wet-only. Isto ocorre porque para essas
espécies, a deposição seca sobre os coletores bulk é significativa no intervalo
de 15 dias (período máximo de exposição). Por serem solúveis eles são
facilmente lavados pela precipitação. Como neste trabalho o interesse é a
quantidade de solutos depositada sobre cada ecossistema, serão utilizados os
valores das concentrações, obtidas a partir das amostras coletadas com o
coletor bulk.
Da comparação entre os dois coletores, pode-se concluir que estudos
que envolvam amostras acumuladas de chuva, em regiões naturais ou com
baixa influência antrópica na atmosfera, o coletor tipo bulk pode ser utilizado
sem que isso signifique que os valores de concentração estejam
superestimados é preciso ressaltar que os coletores não ficaram expostos por
períodos superiores a 15 dias.

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5.1.1. Espécies solúveis na precipitação

As variações mensais das concentrações de cada espécie química ao


longo do período total de amostragem são mostrados nas Figuras 5.1 (a, b, c)
para o PEFI e Figura 5.2 (a, b, c) para CUNHA. Nota-se que, quando houve
precipitação nos meses mais secos (maio a setembro) as concentrações foram
mais elevadas, nos dois locais. No PEFI as concentrações são
significativamente altas durante esse período principalmente nos meses de
julho, agosto e setembro de 2001. Para CUNHA observa-se um aumento
significativo do Na e Cl no período seco. Observa-se também, uma ligeira
queda nas concentrações nos meses mais chuvosos (dezembro até março).
Essa variabilidade é oriunda principalmente do efeito de acumulação/remoção
de espécies químicas em suspensão na atmosfera, promovidas pela freqüência
e intensidade da precipitação. Isso mostra o quanto a precipitação pode ser
eficiente em remover poluentes da atmosfera, transferindo-os para outros
compartimentos do ambiente.
PEFI ÁGUA DE CHUVA
VARIAÇÃO MENSAL DA CONCENTRAÇÃO

120 400
CÁTIONS
100
300

H+ (uEq.L-1); PREC. (mm)


80
Na K (uEq. L-1)

60 200

40
100
20

0 0
S99 O99 N99 D99 J00 F00 M00 A00 M00 J00 J00 A00 S00 O00 N00 D00 J01 F01 M01 A01 M01 J01 J01 A01 S01

PRE H+ Na K

300 400
CÁTIONS
250
NH4 (uEq.L-1); PREC. (mm)

300
200
Mg Ca (uEq. L-1)

150 200

100
100
50

0 0
S99 O99 N99 D99 J00 F00 M00 A00 M00 J00 J00 A00 S00 O00 N00 D00 J01 F01 M01 A01 M01 J01 J01 A01 S01

PREC Mg Ca NH4
(a)

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 32


500 400
ÂNIO NS

CO NCENTRAÇÃO (uEq. L-1)


400

PRECIP ITAÇÃO (mm)


300

300
200
200

100 100

0 0
S99 O99 N99 D99 J00 F00 M00 A00 M00 J00 J00 A00 S00 O00 N00 D00 J01 F01 M01 A01 M01 J01 J01 A01 S01

PREC Cl NO3 SO4

(b)

35 400

30 METAIS
CONCENT RAÇÃO (uEq.L-1)

300
25

PRECIP ITAÇÃO (m m)
20
200
15

10
100
5

0 0
S99 O99 N99 D99 J00 F00 M00 A00 M00 J00 J00 A00 S00 O00 N00 D00 J01F01 M01 A01 M01 J01 J01 A01 S01

PREC Al Fe Zn Mn

(c)

Figura 5.1 – Variação mensal da concentração média dos diferentes íons


dosados na precipitação coletada no PEFI: a) cátions maiores, b) ânions
maiores, c) metais traço.

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 33


CUNHA ÁGUA DE CHUVA

CONCENTRAÇÃO uEq.L-1
VARIA ÇÃ O MENSAL DA CONCENTRAÇÃO
80 300
CÁ TIONS
250
60

P RECIP ITAÇÃO (mm )


200

40 150

100
20
50

0 0
A 00 M 00 J00 J00 A 00 S 00 O00 N 00 D 00 J01 F 01 M 01 A 01 M 01 J01 J01 A 01 S 01

PREC H+ Na K
CONCENTRAÇÃO uEq.L-1

80 300

CÁ TIONS
250
60

P RECIP ITAÇÃO (mm )


200

40 150

100
20
50

0 0
A 00 M 00 J00 J00 A 00 S 00 O00 N 00 D 00 J01 F 01 M 01 A 01 M 01 J01 J01 A 01 S 01

PREC Mg Ca NH4

(a)

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 34


100 300
ÂNIONS

CONCENTRAÇ ÃO uEq.L-1
250
80

P RE CIPITAÇÃO (m m)
200
60

150

40
100

20
50

0 0
A0 0 M0 0 J0 0 J0 0 A0 0 S0 0 O0 0 N0 0 D0 0 J0 1 F0 1 M0 1 A0 1 M0 1 J0 1 J0 1 A0 1 S0 1

PREC Cl NO3 SO4

(b)

3,5 300
CONCE NT RA ÇÃO uE q.L-1

M ETAIS
3,0
250

2,5

PRECIPITA ÇÃO (mm)


200

2,0
150
1,5

100
1,0

0,5 50

0 0
A0 0 M0 0 J0 0 J0 0 A0 0 S0 0 O0 0 N0 0 D0 0 J0 1 F0 1 M0 1 A0 1 M0 1 J0 1 J0 1 A0 1 S0 1

P RE C Al Fe Zn Mn

(c)

Figura 5.2 – Variação mensal da concentração média dos diferentes íons


dosados na precipitação coletada em CUNHA: a) cátions maiores, b) ânions
maiores, c) metais traço.

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 35


Para minimizar o efeito de diluição os valores médios são calculados
utilizando-se os volumes amostrados, ou a precipitação acumulada durante o
período de amostragem, como peso estatístico (médias ponderadas). Esses
valores, mostrados na Tabela 5.1, foram calculados para o período total de
amostragem, para os períodos secos integrados e para os períodos chuvosos
integrados.
Observa-se que os intervalos de variação são amplos, essa amplitude
grande é normal para as concentrações das espécies químicas na precipitação,
pois os processos que levam à incorporação das mesmas são complexos e
dependentes de muitas variáveis às quais, nem sempre atuam
simultaneamente.
No PEFI as águas de chuva são ácidas com valores médios de pH=4,3
apresentando variação significativa entre o período seco (4,0) e chuvoso (4,5)
além disso o valor mínimo chegou a 3,4. Em CUNHA o pH é em torno de 5,6
ao longo de todo o período coberto por este estudo não apresentando
diferença sazonal significativa. O valor de pH=5.6 é o valor esperado para o pH
da água de chuva quando é considerado o equilíbrio entre a água pura e o CO2
atmosférico.
Os metais traço foram detectados em níveis próximos aos limites de
detecção dos métodos, para a região de CUNHA, exceto para o Zn 2+ e Mn 2+.
Para a área do PEFI os valores obtidos estão dentro do intervalo de confiança
das análises químicas.

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 36


Tabela 5.1 – Estatísticas para as concentrações das diferentes espécies químicas
dosadas nas águas de chuva coletadas no PEFI e em CUNHA. Concentrações em
µEq.L , precipitação em mm P: precipitação durante o período, N: número de
-1

amostras, MAX: valor máximo, MIN.: valor mínimo e MP: média ponderada
PEFI CUNHA
TOTAL SECO CHUVOSO TOTAL SECO CHUVOSO
P (mm) 2713 797 1916 2312 799 1513
H+ N 58 24 34 53 29 24
MAX 427 427 166 20,4 20,4 7,59
MIN µEq.L-1 0,01 0,01 0,03 0,05 0,06 0,05
MP 54,0 101 33,8 2,65 2,69 2,62
Na+ N 60 25 35 50 27 22
MAX 231 231 126 80,5 80,5 25,2
MIN µEq.L-1 0,00 0,00 0,00 0,00 0,72 0,00
MP 15,5 24,6 11,6 8,06 13,6 3,34
K+ N 60 25 35 50 27 22
MAX 155 155 134 65,2 36,7 65,2
MIN µEq.L-1 0,59 0,74 0,59 0,00 0,00 0,00
MP 12,1 10,9 12,6 5,30 7,78 3,18
Mg2+ N 60 25 35 50 27 22
MAX 180 180 73,8 19,4 14,6 19,4
MIN µEq.L-1 1,06 1,06 1,10 0,00 0,00 0,00
MP 8,93 14,1 6,68 2,81 3,92 1,88
Ca2+ N 60 25 35 50 27 22
MAX 464 464 235 18,3 18,3 8,78
MIN µEq.L-1 0,58 4,70 0,58 0,00 0,00 0,00
MP 30,0 49,7 21,4 1,82 2,77 1,00
NH4+ N 60 25 35 50 27 22
MAX 490 422 490 955 120 956
MIN µEq.L-1 4,90 6,61 4,90 0,00 0,00 0,00
MP 70,0 92,5 60,3 27,9 11,8 41,7
Cl_ N 60 25 35 50 27 22
MAX 341 341 250 204 204 30,6
MIN µEq.L-1 0,00 0,00 0,45 1,91 2,83 1,91
MP 27,0 43,9 19,8 17,0 28,4 6,15
NO3- N 60 25 35 50 27 22
MAX 424 424 208 106 106 10,3
MIN µEq.L-1 0,00 0,00 3,83 0,00 0,00 0,00
MP 70,0 118 42,0 4,78 8,38 1,35
SO42- N 60 25 35 50 27 22
MAX 388 388 249 77,3 77,3 32,4
MIN µEq.L-1 0,34 14,80 0,34 0,00 1,50 0,00
MP 46,0 60,4 39,8 6,99 8,20 5,85
Al3+ N 43 16 27 20 13 7
MAX 5,58 4,74 5,58 ND ND ND
MIN µEq.L-1 0,00 0,00 0,00
MP 0,37 0,36 0,37
Fe 3+ N 43 16 27 20 13 7
MAX 3,06 2,61 3,06 0,51 0,21 0,51
MIN µEq.L-1
0,00 0,21 0,00 0,00 0,00 0,00
MP 0,81 1,01 0,74 0,13 0,10 0,15
2+
Cu N 43 16 27 20 13 7
MAX 0,88 0,70 0,88 ND ND ND
MIN µEq.L-1 0,00 0,08 0,00
MP 0,15 0,25 0,10
Zn 2+ N 43 16 27 20 13 7
MAX 32,0 32,0 8,54 5,88 5,88 2,40
MIN µEq.L-1 0,00 0,50 0,00 0,00 0,22 0,00
MP 2,92 4,69 2,16 0,73 0,85 0,73
Mn 2+ N 43 16 27 20 13 7
MAX 3,38 3,38 1,78 0,78 0,78 0,24
MIN µEq.L-1 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
MP 0,25 0,47 0,16 0,15 0,19 0,12
ND: não detectado

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 37


5.1.2. Espécies solúveis na transprecipitação

As variações mensais das concentrações médias de cada espécie


química, ao longo do período coberto por este estudo, são mostradas na Figura
5.3 para o PEFI e na Figura 5.4 para CUNHA.

PEFI TRANSPRECIPITAÇÃO
VARIAÇÃO MENSA L DA CO NCENTRAÇÃO

150 600

K (uEq. L-1); TRANS (mm )


CÁTI ONS
500
H+ Na (uEq.L-1)

100 400

300

50 200

100

0 0
S99 O 99 N99 D99 J 00 F00 M00 A00 M00 J 00 J 00 A00 S00 O 00 N00 D00 J 01F01 M01 A01 M01 J 01 J 01 A01 S01

T RANS H+ Na K

400
CONCENTRAÇÃO (uEq.L-1)

1000
CÁTI ONS

800 300

TRANS (mm )
600
200
400

100
200

0 0
S99 O 99 N99 D99 J 00 F00 M00 A00 M00 J 00 J 00A00 S00 O 00 N00 D00 J 01 F01 M01 A01 M01 J 01 J 01 A01 S01

T RANS Mg Ca NH4

(a)

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 38


400
ÂNIONS
600

CONCENTRAÇÃO (uEq.L-1) 300

TRANS (mm)
400
200

200
100

0 0
S99 O99 N99 D99 J00 F00 M00 A00 M00 J00 J00 A00 S00 O00 N00 D00 J01 F01 M01 A01 M01 J01 J01 A01 S01

TRANS Cl NO3 SO4

(b)

15 400
MET AIS
CO NCENTR AÇÃO (uEq.L-1)

300

TRANS (mm)
10

200

5
100

0 0
S99 O99 N99 D99 J00 F00 M00 A00 M00 J00 J00 A00 S00 O00 N00 D00 J01 F01 M01 A01 M01 J01 J01 A01 S01

TRANS Al Fe Zn Mn

(c)
Figura 5.3 – Variação mensal da concentração média dos diferentes íons
dosados na transprecipitação coletada no PEFI: a) cátions maiores, b) ânions
maiores, c) metais traço; TRANS: volume transprecipitado.

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 39


CUNHA TRANSPRECIPITAÇÃO
VARIA ÇÃ O MENSAL DA CONCENTRA ÇÃO
CONCENTRAÇÃO (uEq.L-1) PT RANS (mm)
900 1.5

800 CÁTIONS

H+ (uEq.L-1)
700

600 1

500

400

300 0.5

200

100

0 0
A 00 M 00 J 00 J 00 A 00 S0 0 O0 0 N00 D00 J 01 F 01 M0 1 A0 1 M 01 JN0 1 J 01 A 01 S 01

TRANS H+ Na K

120 400
110 CÁTIONS
CO NCENTRAÇÃO (uEq.L-1)

NH4 (uEq.L-1); T RANS (mm)


100
90 300
80
70
60 200
50
40
30 100
20
10
0 0
A 00 M 00 J 00 J 00 A 00 S0 0 O0 0 N00 D00 J 01 F 01 M0 1 A0 1 M 01 JN0 1 J 01 A 01 S 01

TRANS Mg Ca NH4

(a)

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 40


500 300
CONCENTRAÇÃO (uEq.L-1) ÂNI ONS
250
400

PTRANS (mm)
200
300
150
200
100

100
50

0 0
A00 M00 J00 J00 A00 S00 O00 N00 D00 J01 F 01 M 01 A01 M 01 JN01 J01 A01 S01

T RANS Cl NO3 SO4

(b)

12 300

METAIS
CONCENTRAÇÃO (uEq.L-1)

10 250

PTRANS (mm)
8 200

6 150

4 100

2 50

0 0
A00 M00 J00 J00 A00 S00 O00 N00 D00 J01 F01 M01 A01 M01 JN01 J01 A01 S01

T RANS Al Fe Zn Mn

(c)
Figura 5.4 – Variação mensal da concentração média dos diferentes íons
dosados na transprecipitação coletada em CUNHA: a) cátions maiores, b)
ânions maiores, c) metais traço; PTRANS: volume transprecipitado.

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 41


Para todas as espécies, as concentrações são significativamente mais
altas durante o período seco, nos dois locais. Isso ocorre por que a vegetação
é um filtro eficiente para as partículas em suspensão na atmosfera as quais são
armadilhadas sobre suas estruturas. Além disso, as superfícies foliares são
ativas em relação a vários componentes atmosféricos, trocando espécies
presentes em diferentes estados (sólido, líquido e gasoso). Desta forma,
quando ocorre um episódio chuvoso a água de chuva interage com o dossel
formando uma solução denominada transprecipitado. Essa solução é
resultados da modificação da composição da água de chuva pela interação
com a vegetação. Nessa interação vários processos são ativos tais como a
lavagem de espécies solúveis como o Na+ e o Cl- depositados sobre a mesma,
lixiviação de espécies químicas solúveis presentes no tecido foliar como o K+
ou nas estruturas vegetais em decomposição como a Ca2+ , a absorção de
outras espécies que estão disponíveis como o NH4+ e o NO3- ou precipitadas
como o Al 3+ devido a mudança do pH. Mesmo os metais traço, embora pouco
estudados nessas soluções e que são elementos essenciais, podem ser
lixiviados.
Entretanto, em regiões como o PEFI, cujo componente antrópico para as
diferentes espécies químicas é muito forte, os processos naturais de interação
são alterados pelo excesso dessas espécies presentes tanto na precipitação
como depositados sobre o dossel.
Na Tabela 5.2 são apresentadas as estatísticas para as concentrações
das diferentes espécies químicas analisadas nas duas regiões ao longo do
período total bem como dos períodos chuvoso e seco.

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 42


Tabela 5.2 - Estatísticas para as concentrações das diferentes espécies químicas dosadas nas
águas de transprecipitação coletadas no PEFI e em CUNHA. Concentrações em µEq.L-1,
precipitação em mm e interceptação em %. PTR: transprecipitação durante o período, INTERC.
Interceptação da precipitação; N: número e amostras significativas, MAX: valor máximo, MIN.:
valor mínimo e MP: média ponderada.

PEFI CUNHA
TOTAL SECO CHUVOSO TOTAL SECO CHUVOSO
PTR (mm) 2330 621,0 1709 1804 643,0 1161
INTERC. % 14 11 22 20 20 23
H+ N 60 27 33 53 29 24
MAX µEq.L-1 100 100 30,9 234 0,68 2,34
MIN 0,04 0,08 0,04 0,02 0,02 0,04
MP 6,03 10,2 4,10 0,41 0,20 0,58
Na+ N 62 26 36 50 23 27
MAX µEq.L-1 170 170 146 147 147 116
MIN 1,21 15,5 1,21 18,5 19,4 18,5
MP 36,5 55,4 28,2 39,2 51,7 28,6
K+ N 62 26 36 50 23 27
MAX µEq.L-1 741 625 741 882 811 882
MIN 3,15 19,2 3,15 72,6 124 72,6
MP 143 203 116 216 310 137
Mg2+ N 62 26 36 50 23 27
MAX µEq.L-1 231 228 231 180 102 180
MIN 6,30 13,5 6,30 10,4 15,4 10,4
MP 44,0 66,0 34,4 28,6 36,2 22,2
Ca2+ N 62 26 36 50 23 27
MAX µEq.L-1 515 515 347 291 104 291
MIN 12,0 15,5 12,0 7,16 7,16 12,4
MP 80,6 134 57,1 31,9 38,3 26,5
NH4+ N 62 26 36 50 23 27
MAX µEq.L-1 1821 254 1821 1374 117 1374
MIN 0,33 0,33 11,9 0,00 0,00 0,00
MP 77,9 70,0 80,8 16,3 11,5 20,4
Cl_ N 62 26 36 50 23 27
MAX µEq.L-1 400 400 338 534 534 514
MIN 5,33 33,3 5,33 37,3 57,3 37,3
MP 79,9 147 52,2 131 195 76,8
NO3_ N 62 26 36 50 23 27
MAX µEq.L-1 293 293 205 51,7 51,7 22,3
MIN 0,00 15,1 0,00 0,00 0,00 0,00
MP 63,0 116 39,8 5,17 8,76 2,14
SO42_ N 62 26 36 50 23 27
MAX µEq.L-1 590 590 357 332 332 180
MIN 0,00 37,2 0,00 11,8 16,5 11,8
MP 115 180 87,2 47,4 71,2 27,4
Al III N 43 16 27 20 13 7
MAX µEq.L-1 5,91 5,91 4,47 5,52 5,52 3,30
MIN 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
MP 0,73 0,24 0,57 1,15 0,78 1,44
Fe III N 43 16 27 20 13 7
MAX µEq.L-1 1,65 1,65 1,11 1,44 1,44 0,78
MIN 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
MP 0,48 0,60 0,31 0,32 0,35 0,29
Cu II N 43 16 27 20 13 7
MAX µEq.L-1 0,70 0,70 0,62 0,78 0,78 0,40
MIN 0,00 0,00 0,08 0,00 0,00 0,00
MP 0,22 0,30 0,15 0,07 0,06 0,08
Zn II N 43 16 27 20 13 7
MAX µEq.L-1 8,38 8,38 3,10 3,20 1,60 3,20
MIN 0,00 0,00 0,76 0,00 0,00 0,00
MP 1,92 2,18 1,46 0,80 0,80 0,79
Mn II N 43 16 27 20 13 7
MAX µEq.L-1 13,6 13,6 7,70 10,0 2,58 10,0
MIN 0,00 0,00 0,44 0,00 0,00 0,00
MP 2,46 3,84 1,38 0,73 0,40 0,98

O pH da transprecipitação é mais elevado em CUNHA (pH em torno de


6) do que no PEFI (pH em torno de 5) não existindo efeito significativo de
sazonalidade em nenhuma das áreas. A transprecipitação no PEFI está

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 43


ligeiramente ácida indicando que as bases, normalmente lixiviadas da
vegetação ou solubilizadas da deposição seca, não são suficientes para
neutralizar a acidez introduzida pela precipitação.
Considerando-se as concentrações das espécies, as diferenças entre as
duas áreas de floresta podem ou não ser significativas em função da
precipitação (intensidade, freqüência e composição química) e da
precipitação/deposição de material seco (partículas e gases) sobre as
superfícies da vegetação. Esses efeitos serão englobados quando forem
calculadas as transferências.

5.3 – Águas do Solo.

A composição química das águas do solo que percolam através dos


diferentes horizontes é resultados da interação da mesma com os seres vivos e
o solo nessas camadas. Ao percolar, na zona de raízes os processos de
absorção radicular extraem da solução o máximo de macronutrientes e.g. N e K
e micronutrientes e.g. Mn. Essa solução interage com as plantas que, além de
absorverem nutrientes que possam estar presentes em excesso, também
podem absorver substâncias tóxicas eventualmente presentes na solução.
Além disso, parte da água retorna à atmosfera via (evapo)transpiração,
aumentando a concentração de solutos nessas águas. A composição da água
do solo é resultado da incorporação de cátions básicos, prótons livres,
nitrogênio, enxofre, além de uma série de íons, moléculas orgânicas e dióxido
de carbono oriundo da respiração microbiana. Na camada eluvial (onde
predomina o movimento descendente – base das trincheiras), a qual é a
camada mais mineral do solo, são incorporados, principalmente, o alumínio, o
ferro e o manganês. O resultado dessas interações é a água do solo cuja
composição média é mostrada na tabela 5.3 para a vertente da bacia B em
cunha e na tabela 5.4 para a vertente da bacia A no PEFI.

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 44


Tabela 5.3 [A-G] – Estatísticas para as concentrações das diferentes espécies
químicas dosadas nas águas dos solos coletadas em CUNHA. Concentrações em
µEq.L , N: número de amostras; MAr.: Média aritmética; MAX: valor máximo, MIN.:
-1

valor mínimo e MP: média ponderada. A: trincheira TR2 (base da encosta) 80 cm de


profundidade; B: trincheira TR4 (meia encosta) 90 cm de profundidade; C: trincheira
TR4 (meia encosta) 150 cm de profundidade; D: trincheira TR4 (meia encosta) 250 cm
de profundidade; E: trincheira TR5 (topo da encosta) 70 cm de profundidade; F:
trincheira TR5 (topo da encosta) 150 cm de profundidade; G: trincheira TR5 (topo da
encosta) 180 cm de profundidade.

N MAr. Min Max MP


A C2-80
µEq.L-1
H+ 10 2,84 0,16 14,8 3,76
Na+ 9 17,4 6,43 26,4 17,5
K+ 9 23,6 4,41 137 14,8
Mg2+ 9 98,0 3,38 344 83,9
Ca2+ 9 7,80 2,24 29,7 6,73
NH4+ 9 4,03 0,78 14,3 3,38
Cl- 9 38,4 14,5 77,8 36,0
NO3- 9 24,8 9,39 48,0 25,1
SO42- 9 13,8 0,56 34,5 10,8
Al3+ 9 2,64 0,00 5,97 2,67
Fe3+ 9 0,61 0,30 0,96 0,62
Zn2+ 9 0,60 0,34 2,02 0,67
Mn2+ 9 0,06 0,00 0,24 0,06

N MAr, Min Max MP N MAr. Min Max MP N MAr. Min Max MP


B C4-90 C C4-150 D C4-250
µEq.L-1 µEq.L-1 µEq.L-1
H+ 9 37,3 0,87 97,7 45,7 10 14,6 0,13 46,8 20,0 8 21,3 0,14 52,5 25,8
Na+ 6 59,0 41,7 66,5 59,0 8 51,8 11,6 85,8 48,1 7 62,3 50,2 115 62,8
K+ 6 37,1 6,93 137 37,4 8 47,3 12,1 124 37,2 7 34,6 10,5 123 30,5
Mg2+ 6 94,0 27,2 268 79,2 8 144 5,00 314 127 7 112 64,0 173 110
Ca2+ 6 37,9 25,6 83,4 34,0 8 58,6 10,8 145 57,7 7 48,7 18,3 87,7 50,6
NH4+ 6 18,8 10,7 45,8 16,5 8 2,18 2,74 50,2 31,5 7 22,3 7,12 35,2 23,7
Cl- 6 131 114 157 128 8 127 46,2 336 119 8 90,1 24,1 177 100
NO3- 6 263 125 622 232 8 136 43,8 406 144 8 194 20,2 477 226
SO42- 6 3,84 2,28 7,30 3,85 8 24,3 3,84 88,8 20,9 8 8,21 3,16 18,9 7,02
Al3+ 6 163 72,7 428 140 8 32,6 12,6 81,7 33,9 8 48,3 0,00 156 63,8
Fe3+ 6 0,38 0,15 0,63 0,36 8 0,48 0,00 1,14 0,40 7 0,66 0,12 2,16 0,56
Zn2+ 6 1,05 0,82 1,46 1,05 8 1,25 0,54 3,98 1,19 7 0,94 0,00 1,62 0,85
Mn2+ 6 1,18 0,66 2,98 1,03 8 1,77 0,26 8,26 1,70 7 1,50 0,50 3,20 1,59

N MAr, Min Max MP N MAr. Min Max MP N MAr. Min Max MP


E C5-70 F C5-150 G C5-180
µEq.L-1 µEq.L-1 µEq.L-1
H+ 6 3,23 1,58 4,07 3,43 10 2,49 0,14 4,90 2,96 9 1,88 0,17 5,25 2,62
Na+ 2 55,3 42,9 67,7 58,0 9 73,0 36,8 165 68,8 7 64,8 17,6 84,9 60,0
K+ 2 26,1 13,5 38,7 28,9 9 69,1 5,22 463 60,0 7 21,0 2,99 45,1 18,2
Mg2+ 2 69,1 45,5 92,7 74,3 9 128 38,1 617 116 7 91,4 20,3 143 83,6
Ca2+ 2 11,9 8,50 15,3 12,6 9 28,3 6,72 186 25,1 7 8,38 3,74 12,8 7,96
NH4+ 2 3,81 2,33 5,29 4,13 9 15,5 2,18 115 13,4 7 3,25 0,90 5,05 3,01
Cl- 2 36,2 31,4 40,9 37,2 9 40,2 17,7 64,7 37,7 7 35,4 15,8 54,7 37,4
NO3- 2 119 58,8 179 106 9 44,7 11,4 104 44,5 7 66,0 12,1 192 85,7
SO42- 2 14,8 11,3 18,3 15,6 9 48,0 12,9 185 40,9 7 13,6 2,32 23,5 12,9
Al3+ 2 12,3 4,86 19,7 13,9 9 9,93 2,61 25,6 8,87 7 12,8 5,58 19,7 11,1
Fe3+ 2 0,39 0,18 0,60 0,44 9 2,10 0,21 12,1 2,32 7 0,92 0,51 1,53 0,81
Zn2+ 2 0,64 0,28 1,00 0,72 9 0,43 0,20 0,60 0,42 7 0,67 0,20 1,70 0,75
Mn2+ 2 0,43 0,32 0,54 0,45 9 0,11 0,00 0,26 0,10 7 0,07 0,00 0,36 0,09

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 45


Tabela 5.4 [A-I] – Estatísticas para as concentrações das diferentes espécies
químicas dosadas nas águas dos solos coletadas no PEFI. Concentrações em µEq.L
-
1
, N: número de amostras; MAr.: Média aritmética; MAX: valor máximo, MIN.: valor
mínimo e MP: média ponderada. A: trincheira TR6 (base da encosta) 10 cm de
profundidade; B: trincheira TR6 (base da encosta) 30 cm de profundidade trincheira;
C: trincheira TR6 (base da encosta) 150 cm de profundidade; D: TR4 (meia encosta)
20 cm de profundidade; E: trincheira TR4 (meia encosta) 70 cm de profundidade; F:
trincheira TR4 (meia encosta) 150 cm de profundidade; G: trincheira TR2 (topo da
encosta) 10 cm de profundidade; H: trincheira TR2 (topo da encosta) 50 cm de
profundidade; I: trincheira TR2 (topo da encosta) 130 cm de profundidade.

N MAr Min. Max MP N MAr Min. Max MP N MAr Min. Max MP


A BL6-10 B BL6-30 C BL6-150
µEq.L-1 µEq.L-1 µEq.L-1
+
H 10 23,8 1,62 70,8 23,2 8 22,2 8,51 50,1 16,2 3 29,4 18,6 37,2 21,7
Na+ 11 42,8 18,1 103 43,0 9 21,8 7,47 40,3 19,2 2 28,5 27,2 29,7 28,0
K+ 11 53,3 12,4 122 53,9 9 66,4 25,4 146 71,0 2 14,8 7,86 21,8 11,9
Mg2+ 11 308 74,5 863 310 9 132 62,7 273 120 2 197 193 201 195
Ca2+ 11 118 46,4 226 118 9 46,2 25,0 87,9 41,2 2 151 141 161 147
NH4+ 11 153 35,5 266 152 9 48,9 25,9 92,5 42,6 2 172 146 197 161
Cl- 10 124 16,5 347 125 9 37,8 13,0 66,6 34,4 2 36,0 25,9 46,1 31,7
NO3- 10 322 12,3 747 320 9 136 18,1 258 103 2 316 35,5 597 197
SO42- 10 246 37,4 582 245 9 148 106 232 146 2 155 122 187 141
Al3+ 11 50,7 1,05 110 51,0 9 19,7 2,70 58,5 13,2 2 37,6 24,4 50,8 32,0
Fe3+ 11 3,42 0,00 14,6 3,48 9 1,31 0,00 5,07 1,67 2 128 1,14 255 182
Cu2+ 11 0,20 0,00 0,36 0,20 9 0,14 0,00 0,22 0,13 2 0,06 0,00 0,12 0,03
Zn2+ 11 3,78 1,46 6,44 3,81 9 2,16 1,28 4,12 1,80 2 7,14 5,28 9,00 7,93
Mn2+ 11 14,7 5,08 30,5 14,8 9 6,16 2,74 8,74 6,30 2 13,9 12,8 14,9 13,4

N MAr Min. Max MP N MAr Min. Max MP N MAr Min. Max MP


D BL4-20 E BL4-70 F BL4-150
µEq.L-1 µEq.L-1 µEq.L-1
+
H 9 33,3 1,15 95,5 27,2 3 52,5 13,5 89,1 51,4 7 32,1 0,03 115 24,9
Na+ 10 44,9 4,71 128 41,6 3 58,4 24,4 120 37,3 8 46,5 17,0 95,4 37,5
K+ 10 85,3 7,75 344 88,6 3 118 14,7 255 70,1 8 894 36,6 3032 658
Mg2+ 10 318 15,7 1066 291 3 461 135 1031 265 8 396 165 631 336
Ca2+ 10 80,8 3,72 300 70,4 3 104 36,8 219 63,9 8 55,2 10,5 111 43,6
NH4+ 10 105 8,18 303 93,1 3 113 53,2 224 74,6 8 58,7 10,5 109 46,7
Cl- 10 135 19,5 497 122 3 156 47,1 346 90,4 8 123 26,0 200 101
NO3- 10 333 15,2 1138 267 3 342 59,6 834 172 8 1150 34,7 352 716
SO42- 10 198 132 580 184 3 440 54,8 633 376 8 244 25,3 436 187
Al3+ 10 133 4,14 505 107 3 200 22,7 304 174 8 38,8 0,00 153 30,6
Fe3+ 10 27,6 0,42 121 30,2 3 0,73 0,30 1,11 0,60 8 1,36 0,00 4,59 1,57
Cu2+ 10 0,13 0,00 0,28 0,12 3 0,12 0,10 0,14 0,12 8 0,14 0,10 0,22 0,13
Zn2+ 10 2,51 0,48 5,40 2,23 3 2,88 1,84 3,84 2,55 8 2,02 0,58 3,38 1,91
Mn2+ 10 10,8 1,60 23,5 9,88 3 8,03 3,96 15,6 5,41 8 4,19 0,66 8,02 3,87

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 46


N MAr Min. Max MP N MAr Min. Max MP N MAr Min. Max MP
G BL2-10 H BL2-50 I BL2-130
µEq.L-1 µEq.L-1 µEq.L-1
+
H 10 21,3 2,19 60,3 21,5 7 51,5 12,9 95,5 51,9 7 17,0 5,50 36,3 17,4
Na+ 11 165 33,6 571 164 8 81,0 42,6 114 79,9 8 55,8 17,4 115 55,9
K+ 11 96,0 11,9 254 95,4 8 55,9 20,7 96,9 56,2 8 50,6 20,7 80,5 49,8
Mg2+ 11 336 96,3 962 336 8 236 128 308 234 8 161 37,0 282 160
Ca2+ 11 110 25,0 452 109 8 62,6 28,3 183 63,1 8 35,0 11,8 62,0 34,9
NH4+ 11 85,9 21,3 334 85,4 8 36,8 10,2 53,8 36,7 8 29,6 5,51 50,9 29,6
Cl- 11 250 70,7 849 248 9 144 29,9 497 101 8 75,3 46,2 122 75,3
NO3- 11 184 47,2 664 185 9 261 49,2 1138 155 8 67,0 22,3 119 66,8
SO42- 11 365 134 1094 362 9 340 55,3 580 317 8 162 105 270 163
Al3+ 11 46,8 0,00 201 47,5 8 120 5,01 378 121 8 12,8 2,43 41,3 13,2
Fe3+ 11 8,93 0,00 32,4 8,91 8 2,66 0,00 7,47 2,73 8 3,13 0,00 20,0 3,21
Cu2+ 11 0,05 0,00 0,16 0,05 8 0,17 0,00 0,40 0,18 8 0,16 0,00 0,32 0,16
Zn2+ 11 2,85 0,34 7,14 2,87 8 2,70 0,46 5,64 2,75 8 1,66 1,00 2,54 1,69
Mn2+ 11 3,76 0,48 8,98 3,79 8 2,62 0,14 4,94 2,68 8 1,82 0,54 4,04 1,85

A quantidade de água transferida em mm ou L.m-2, é baixa em relação


à precipitação e, raramente ultrapassou 8 mm em cada horizonte, para as duas
áreas. Os volumes são compatíveis com a precipitação em cada bacia.
As concentrações das espécies em solução são mais baixas em CUNHA
do que no PEFI, embora a transprecipitação em CUNHA apresente valores de
concentração relativamente superiores aos observados no PEFI. Verifica-se
que os valores de concentração nas águas do solo do PEFI têm valores até 10
vezes maiores do que os encontrados na vertente de CUNHA principalmente
das espécies acidificantes como o NO3-, o SO42- e o Al3+.
Nas figuras 5.5 e 5.6 são apresentadas as variações das concentrações
na água do solo ao longo do ano de amostragem, para as diferentes espécies,
nos diferentes horizontes do solo, na base da vertente, na meia encosta e no
topo para CUNHA e o PEFI, respectivamente. Por apresentarem
concentrações relativamente mais altas, para a discussão sobre as
transferências (cap. 7) utilizou-se os valores de concentração na meia encosta
para as duas bacias.

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 47


CUNHA ÁGUA DO SOLO
VARIAÇÃO MENSAL DA CONCENTRAÇÃO
700 11
CÁTIONS
C2- 80 C4-1 50 C4-2 50 C5-1 50
600 C4- 90
9
CO NCENTRAÇÃO (uEq.L-1)

ÁGUA PERCOLADA (mm)


C5-1 80

500
7
400

C5- 70 5
300

200 3

100
1
0 0
OT0 0 - JL 01 OT0 0 - JL 01 OT0 0 - JL 01 OT0 0 - JL 01 OT0 0 - JL 01 OT0 0 - JL 01 OT0 0 - JL 01

VOL Na K Mg Ca NH4

110 11
H+ LIVRE
C2- 80 C4-2 50
C4- 90 C4-1 50 C5-1 50
90 C5-1 80 9
CONCENTRAÇÃO (uEq.L-1)

ÁGUA PERCOLADA (mm)


70 C5- 70
7

50 5

30 3

10 1
0 0
OT0 0 - JL 01 OT0 0 - JL 01 OT0 0 - JL 01 OT0 0 - JL 01 OT0 0 - JL 01 OT0 0 - JL 01 OT0 0 - JL 01

VOL H+

(a)

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 48


700 11
ÂNIONS
C2-80 C4-25 0
C4-9 0 C4-15 0 C5-15 0
600
C5-18 0 9
CONCENT RAÇÃO (uEq.L-1)

ÁGUA PERCOLADA (m m)
500
C5-7 0 7
400

5
300

200 3

100
1
0 0
OT00 - JL0 1 OT00 - JL0 1 OT00 - JL01 OT00 - JL0 1 OT00 - JL0 1 OT00 - JL01 OT00 - JL0 1

VOL Cl NO3 SO4

(b)

15 500
M ETAIS
CONCENT RAÇÃO (uEq.L-1)

400
ÁGUA PERCOLADA (mm)

10 C2-80 C4-90 C4 -150 C5 -150


C4 -250
C5-180
300

A (luEq.L-1)
C5-70
200
5

100

0 0
OT00 - JL01 OT00 - JL01 OT00 - JL01 OT00 - JL01 OT00 - JL01 OT00 - JL01 OT00 - JL01

VOL Al Fe Zn Mn

(c)
Figura 5.5 – Variação mensal da concentração média dos diferentes íons
dosados nas águas do solo nas diferentes trincheiras (TR) e diferentes
profundidades (TR2: C2-80; TR4: C4-90,C4-150 e C4-250; TR5: C5-70, C5-150
e C5-180) coletada em CUNHA: a) cátions maiores, b) ânions maiores, c)
metais traço. Volume percolado em mm, em cada horizonte.

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 49


PEFI ÁGUA DO SOLO

VARIAÇÃO MENSAL DA Q UANT IDADE DE ÁGUA PERCO LADA


10
BL 4-20 BL 4-70 BL 2-10 BL 2-50 BL2 -150
BL 6-10 BL 6-30
ÁGUA PERCOLA DA (m m) BL6 -150 BL4 -150

0
NO 00 - AG01 NO 00 - AG01 NO 00 - AG01 NO 00 - AG01 NO 00 - AG01 NO 00 - AG01 NO 00 - AG01 NO 00 - AG01 NO 00 - AG01

VOL
(a)

PEFI ÁGUA DO SOLO

VARI AÇÃO MENSAL DAS CO NCENTRAÇÕES

600 BL 2-10
3500
B L4 -150
CÁT IONS
H+, Na, Ca, NH4(uEq.L-1))

500 3000

K, Mg (uE q.L-1)
2500
400
BL 6-10
2000
300 BL 4-20
BL 4-70
B L6 -150 BL 2-50 1500
200 B L2 -150
1000
BL 6-30
100 500

0 0
NO 00 -AG 01 NO 00 -AG 01 NO 00 -AG 01 NO 00 -AG 01 NO 00 -AG 01 NO 00 -AG 01 NO 00 -AG 01 NO 00 -AG 01 NO 00 -AG 01

H+ Na K Mg Ca NH4

(b)

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 50


1200 4000
BL4 -150 ÂNIONS
BL2-10

1000
3000
800
BL 4-70

NO3 (uEq.L-1)
Cl SO4 (uEq.L-1)

BL6-10 BL 2-50
600 2000

400 BL 4-20 BL2 -150


BL6 -150 1000
BL 6-30
200

0 0
NO 00 - AG01 NO 00 - AG01 NO 00 - AG01 NO 00 - AG01 NO 00 - AG01 NO 00 - AG01 NO 00 - AG01 NO 00 - AG01 NO 00 - AG01

Cl NO3 SO4

(c)

35 600
B L6- 10
METAIS
30 500

25 B L2- 50
B L4- 20 400
Zn, Mn (uEq.L-1)

Al, Fe (uEq.L-1)
B L4- 70
20
BL6- 150
300
15 B L2- 10
BL4- 150
B L6- 30 200
10
BL2- 150
5 100

0 0
NO00 -AG 01 NO00 -AG 01 NO00 -AG 01 NO00 -AG 01 NO00 -AG 01 NO00 -AG 01 NO00 -AG 01 NO00 -AG 01 NO00 -AG 01

Al Fe Zn Mn

(d)

Figura 5.6 – Variação mensal da quantidade de água percolada através dos


diferentes horizonte (a) e variação da concentração média dos diferentes íons
dosados nas águas do solo nas diferentes trincheiras (TR) e diferentes
profundidades (TR2: BL2-10, BL2-50 e BL2-150; TR4: BL4-20, BL4-70 e BL4-
150; TR6: BL6-10, BL6-30 e BL6-150) coletada no PEFI: b) cátions maiores, c)
ânions maiores, d) metais traço.

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 51


5.4. Água dos rios.

Toda a água infiltrada deve, em algum ponto, ressurgir na superfície e


as áreas de descarga são, normalmente, muitas menores do que as de
recarga. As áreas ao longo do leito do rio são zonas naturais de descarga de
água subterrânea, bem como o são as fontes de água e as regiões de
infiltração. Nas zonas de descarga, devem ocorrer reações de troca iônica
dentro da zona de raízes, pois, deve ser mantido o equilíbrio iônico com a água
subterrânea, relativamente salina. A água que está sendo descarregada pode
também solubilizar substâncias orgânicas. Os gases presentes nessa solução
aquosa fluem para a atmosfera alterando o pH e as mudanças nas condições
redox podem levar à oxidação de alguns metais. Assim, as águas dos rios são
o resultados dos processos pelo qual passou a água desde sua entrada como
chuva até sua saída no leito do rio.
Na tabela 5.5 apresenta-se as estatísticas para as águas dos riachos da
bacia A no PEFI e da bacia B em CUNHA e nas figuras 5.6 e 5.7 apresenta-se
a evolução temporal das concentrações dos riachos nas duas bacias.

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 52


Tabela 5.5 - Estatísticas para as concentrações das diferentes espécies químicas dosadas nas
águas dos rios coletadas na bacia A no PEFI e na bacia B em CUNHA. Concentrações em
µEq.L-1, Def.: Deflúvio em mm durante o período, N: número de amostras, MAX: valor
máximo, MIN.: valor mínimo e MP: média ponderada.

PEFI CUNHA
TOTAL CHUVOSO SECO TOTAL CHUVOSO SECO
Def. mm 327,95 205 123,2 1331 646,3 672,9
N 97 42 55 65 27 37
H+ µEq.L-1 Min. 1,10 1,12 1,10 0,03 0,10 0,03
Max. 81,3 44,7 81,3 0,72 0,72 0,53
MPd. 14,4 16,3 11,4 0,23 0,3 0,16
N 97 43 54 65 27 37
Na+ µEq.L-1 Min. 4,49 15,1 4,49 38 51,9 38
Max. 1823 83,2 183 202 85,4 202
MPd. 67,5 63,3 74,5 70,0 62,3 71,6
N 97 43 54 65 27 37
K+ µEq.L-1 Min. 3,08 3,08 3,10 0,11 0,11 0,11
Max. 112 59,4 113 111 102 111
MPd. 16,2 13,8 20,3 15,7 13,5 17,9
N 97 43 54 65 27 37
Mg2+ µEq.L-1 Min. 2,06 5,08 2,06 6,12 14,3 6,12
Max. 213 63,9 213 62,1 62,1 61,9
MPd. 39,4 37,0 43,4 28,4 28,7 28,2
N 97 43 54 65 27 37
Ca2+ µEq.L-1 Min. 0,00 4,72 0,00 0 19,4 0
Max. 78,3 78,3 53,3 36,0 33,5 36,0
MPd. 25,4 28,3 20,6 19,9 22,8 17,1
N 97 43 54 65 27 37
NH4+ µEq.L-1 Min. 0,00 0,00 0,00 0,00 11,1 0,00
Max. 72,8 25,4 72,8 27,9 27,9 22,8
MPd. 7,32 7,14 7,62 10,9 14,4 7,45
N 98 43 55 65 27 37
Cl- µEq.L-1 Min. 19,9 19,9 31,8 2,72 24,4 2,72
Max. 318 104 318 129 57 129
MPd. 72,1 71,9 72,3 32,5 30,1 35,0
N 98 43 55 61 24 36
NO3- µEq.L-1 Min. 0,14 0,26 0,14 0,22 0,22 0,98
Max. 363 165 363 76,8 56,2 76,8
MPd. 31,3 33,0 28,5 11,2 8,63 13,5
N 98 43 55 65 27 37
SO42- µEq.L-1 Min. 5,94 5,94 9,92 1,16 5,14 1,16
Max. 68,7 68,7 60,3 95,9 9,76 95,9
MPd. 35,7 38,8 30,6 8,77 6,59 10,9
N 62 30 32 36 6 29
Al3+ µEq.L-1 Min. 0,00 0,54 0,00 0,00 0,00 0,00
Max. 16,0 9,54 16,0 16,2 16,2 12,9
MPd. 4,70 5,59 2,64 3,22 6,4 2,43
N 65 31 34 16 6 9
Fe3+ µEq.L-1 Min. 0,00 0,00 0,45 0,30E-3 0,66 0,42
Max. 3,27 3,18 3,27 3,24 3,24 2,67
MPd. 1,84 1,87 1,76 1,75 1,91 1,75
N 65 31 34 nd nd nd
Min. 0,00 0,00 0,00
Cu 2+
µEq.L -1
Max. 0,62 0,62 0,38
MPd. 7,00E-03 3,00E-03 1,60E-02 nd nd nd
N 67 33 34 16 6 9
Zn2+
µEq.L
-1
Min. 0,00 0,00 0,04 2,00E-04 2,00E-04 0,02
Max. 1,12 1,12 1,10 0,88 0,88 0,40
MPd. 0,53 0,83 0,53 0,26 0,28 0,26
N 67 33 34 16 6 9
Mn2+ µEq.L-1 Min. 0,00 0,00 0,26 0,00 0,00 2,00E-04
Max. 2,48 2,48 2,24 0,42 0,42 2,00E-04
MPd. 1,32 1,53 0,90 0,02 0,05 2,00E-04

Para as duas bacias não são observadas diferenças significativas entre


o semestre mais seco e o mais chuvoso. Para CUNHA o deflúvio foi
equivalente nos dois semestres enquanto para o PEFI houve uma diferença de
quase o dobro. As águas do riacho A do PEFI já estão levemente acidificadas
enquanto que em CUNHA o pH das águas é neutro. As concentrações de NH4+
e NO3- são um pouco mais elevadas em CUNHA e o SO42- é muito inferior
quando comparadas às do PEFI. Os outros valores de concentrações
observados não diferem significativamente.

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 53


PEFI RIACHO BACIA A
VARIAÇÃO MENSAL DA CONCENTRAÇÃO

150
CO NCENTRAÇÃO (uEq.L-1)

CÁTIO NS 60

100
40

DEF (mm)
50 20

0
0 A99 S99 O99 N99 D99 J00 F00 M00 A00 M00 J00 J00 A00 S00 O00 N00 D00 J01 F01 M01 A01 M01 J01 J01 A01 S01

DEF H+ Na K

40
CÁTIO NS
60
CO NCENTR AÇÃO (uEq.L-1)

30

40

DEF (mm)
20

20
10

0 0
A99 S99 O99 N99 D99 J00 F00 M00 A00 M00 J00 J00 A00 S00 O00 N00 D00 J01 F01 M01 A01 M01 J01 J01 A01 S01

DEF Mg Ca NH4

(a)

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CONCENTRAÇÃO uEq.L-1; DEF mm
70 250
ÂNIONS
60
200

NO3 uEq.L-1
50
150
40

30
100

20
50
10

0 0
M00 J00 J00 A00 S00 O00 N00 D00 J01 F01 M01 A01 M01 J01 J01 A01 S01

DEF Cl NO3 SO4

(b)

10
CONCENTRAÇÃO (uEq.L-1)

METAIS 60
8

6 40

DEF (mm )
4
20
2

0 0
A99 S99 O 99 N99 D99 J00 F00 M00 A00 M00 J00 J00 A00 S00 O 00N00 D00 J01 F01 M01A01 M01 J01 J01 A01 S01

DEF Al Fe Zn Mn

(c)
Figura 5.6 – Variação mensal da concentração média dos diferentes íons
dosados nas águas do rio bacia A PEFI: a) cátions maiores, b) ânions maiores,
c) metais traço.; DEF: deflúvio em mm.

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 55


CUNHA ÁGUA DO RIACHO BACIA B
VARIAÇÃO MENSAL DA CONCENTRAÇÃO

120 0. 6
CONCENT RAÇÃO uEq. L-1; DEF mm

CÁTI ONS
100 0. 5

80 0. 4

H+ uEq.L-1;
60 0. 3

40 0. 2

20 0. 1

0 0
M00 J00 J00 A00 S00 O00 N00 D00 J01 F01 M01 A01 M01 J01 J01 A01 S01

DEF H+ Na K

30 40
CONCENT RAÇÃO uEq. L-1; DEF mm

CÁT IONS
35
25
30
20

DEF mm
25
15 20
15
10
10
5
5
0 0
M00 J00 J00 A00 S00 O00 N00 D00 J01 F01 M01 A01 M01 J01 J01 A01 S01

DEF Mg Ca NH4

(a)

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50 70

ÂNIONS
CONCENTRAÇÃO uEq.L-1
60
40

50
30

DEF (mm)
40
20
30

10
20

0 10
M00 J00 J00 A00 S00 O00 N00 D00 J01 F01 M01 A01 M01 J01 J01 A01 S01

DEF Cl NO3 SO4

(b)
40 1
METAIS
Al e Fe uEq.L-1; DEF m m

0.8
30

Zn e Mn uEq. L-1
0.6
20
0.4

10
0.2

0 0
M 00 J 00 J 00 A00 S00 O00 N00 D00 J 01 F 01 M 01 A01 M 01 J 01 J 01 A01 S01

DEF Al Fe Zn Mn

(c)
Figura 5.7 – Variação mensal da concentração média dos diferentes íons
dosados nas águas do rio bacia B CUNHAI: a) cátions maiores, b) ânions
maiores, c) metais traço.

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 57


6 - OS SOLOS

Neste capítulo são descritos os estudos dos solos realizados em duas


topossequências respectivamente, na bacia B de CUNHA e na Bacia A do
PEFI. Através desses estudos determinou-se os horizontes para a instalação
dos lisímetros de tensão zero para as coletas de água do solo. Nas amostras
retiradas de cada topossequência foram também determinadas as
características físico químicas. A metodologia empregada foi a mesma para as
duas vertentes.
O problema a entender refere-se à distribuição das diferentes
organizações pedológicas na toposseqüência. A partir do entendimento dessa
distribuição dar-se-á indicações quanto à possível relação entre as
organizações pedológicas e as espécies químicas que podem ser liberadas a
partir dos materiais pedológicos.

6.1. Materiais e métodos

Inicialmente foi realizado um levantamento através da análise de mapas


topográficos para seleção de uma vertente que apresentasse o maior declive e
onde, portanto, pudesse ser observada uma variabilidade dos solos da área de
estudo.

6.1.1. Análise estrutural da toposseqüência

Para o detalhamento da vertente foi realizado um estudo bidimensional


da configuração lateral dos diferentes horizontes dos solos seguindo
metodologia proposta por Boulet et al. (1982) e Boulet (1988), e a separação
dos diferentes segmentos observados. Comparou-se a morfologia dos
horizontes dentro da transeção e a partir destas observações, desenhou-se
toda a seqüência vertical e lateral dos horizontes, permitindo a visualização
desta em corte longitudinal desde o topo até o sopé da vertente.

6.1.2. Estabelecimento dos locais de amostragem e amostragem dos solos

Conhecidos os segmentos da vertente e visando a caracterização dos


solos, em CUNHA foram abertas 4 trincheiras: no topo, na porção íngreme da
vertente, na média vertente e no sopé da vertente. Nestes segmentos um
número variável de tradagens profundas (até 7m) foi realizado para o estudo da
uniformidade do material seguindo a metodologia da análise estrutural proposta
por Boulet et al. (1982).
No PEFI, para organizar a descrição dividiu-se a toposseqüência em 3
setores: montante (da trincheira 4 à trincheira 1), jusante (da trincheira 4 à
trincheira 7) e várzea. Fazem parte da montante 2 sub-setores, topo/alta
vertente (da trincheira 1 à tradagem 8) e alta vertente/média vertente. Na
jusante treis sub-setores foram delimitados: terço superior da baixa vertente (da
trincheira 4 à trincheira 5); terço médio/inferior da baixa vertente (da trincheira 5

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 58


à trincheira 6) e terço inferior da baixa vertente (da trincheira 6 à trincheira 7).
As descrições serão feitas por setores e a partir da base em direção do topo da
cobertura pedológica.

Nas trincheiras, através de descrições detalhadas do perfil do solo, as


organizações estruturais foram avaliadas macroscopicamente, com
identificações dos horizontes e descrição morfológica (Boulet et al., 1982) e,
em seguida, foram coletadas amostras deformadas e indeformadas de cada
um dos horizontes para caracterização física (granulometria e densidade do
solo) e química (análises químicas de rotina, Embrapa, 1997), mineralógica
(difração de Raios-X) e micromorfológica.

6.1.3. Análises físicas das amostras de solo

6.1.3.1. Granulometria

As análises granulométricas das amostras coletadas nos diferentes


horizontes das trincheiras foram realizadas nos laboratórios do Departamento
de Solos e Nutrição de Plantas da ESALQ/USP.
Após agitação horizontal por 16 horas, foi feita a separação das frações
granulométricas da TFSA (terra fina seca ao ar) pelo método do densímetro,
utilizando-se como dispersante uma solução contendo hidróxido de sódio e
hexametafosfato de sódio (Camargo et al., 1986).

6.1.3.2. Densidade do Solo

Foram coletadas 3 amostras indeformadas por horizonte em cada


trincheira em cilindros de 100cm3. As amostras foram secas em estufa a
105oC por 48h e em seguida determinou-se suas massas. Sabendo –se que a
densidade do solo é a razão entre a massa de partículas sólidas e o volume
total da amostra, calculou-se este parâmetro para cada amostra. Cada valor de
densidade apresentado representa a média de 3 determinações por horizonte.

6.1.4. Análises químicas de rotina

Essas determinações seguiram as metodologias recomendadas por Raij


et al. (1987). Para a determinação da reação do solo foram medidos pH em
H2O, em KCl 1M e CaCl2 0,01M. A matéria orgânica foi determinada após
oxidação com dicromato de potássio e titulação com sulfato ferroso amoniacal.
Para a determinação do alumínio trocável, utilizou-se KCl 1M como solução
extratora. A acidez potencial (H + Al) foi obtida após extração com acetato de
cálcio 1M a pH 7,0. Cálcio, magnésio, potássio trocáveis e fósforo foram
determinados pelo método da resina de troca iônica. A capacidade de troca
catiônica (CTC) do solo foi calculada pela soma da acidez potencial (H+Al) e a
soma de bases (SB). A CTC da argila foi determinada utilizando-se a seguinte
equação: CTC arg = (CTC solo x 100)/% de argila

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 59


6.1.5. Análises Mineralógicas

As análises mineralógicas das amostras coletadas nas trincheiras e


tradagens foram realizadas no laboratório do Núcleo de Pesquisa em Geofísica
e Geoquímica da Litosfera NUPEGEL/USP.
Para as análises mineralógicas foi utilizada a técnica de difratometria de
raios-X (DRX) em amostras em pó e amostras em solução depositadas sobre
lâminas de vidro.
As curvas de difração de raios-X, utilizadas na identificação das fases
minerais obtidas a partir de amostras em pó, foram realizadas sobre as
amostras totais (solo seco pulverizado sem tratamento prévio). A partir da
avaliação destes resultados a fração argila do solo foi separada e preparada
(eliminação da matéria orgânica, deferrificação, saturação com K e Mg) para
identificação de minerais 2:1.
O difratômetro Philips PW 1877 foi operado nas seguintes condições:
40kV-40mA; fonte de Cu (radiação Kα, λ=1,54186Å); uso de monocromador
para eliminação da radiação Kβ; varredura em passo de 0,02° (2θ), com um
tempo de acumulação de 1s por passo; faixa de varredura: 3°-90°(2θ)
(amostras em pó) e 3°-65°(2θ) (fração argila). A partir dos valores de d
(espaçamento interplanar dos minerais) obtidos dos difratogramas, foi
determinada a composição mineralógica dos solos.

6.2. Resultados e Discussão para a Bacia B em CUNHA

6.2.1. Organização dos solos ao longo da toposseqüência

6.2.1.1 Síntese das organizações verticais


Partindo-se da superfície, a toposseqüência de solos estudada
apresenta uma sucessão vertical composta de 8 horizontes principais. São
eles:
1. Horizonte húmico bruno escuro com estrutura grumosa.
2. Horizonte bruno avermelhado com estrutura poliédrica e subestrutura
microagregada.
3. Horizonte bruno argiloso com estrutura poliédrica e subestrutura
microagregada.
4. Horizonte de alteração violácea areno-argiloso, com estrutura da
rocha conservada.
5. Horizonte de alteração cinza arenoso, com estrutura da rocha
conservada.
6. Horizonte argiloso bruno com estrutura prismática.
7. Horizonte argiloso vermelho amarelado com estrutura prismática.

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 60


8. Horizonte de alteração bruno oliva claro, areno-argiloso com estrutura
maciça.

6.2.1.2. Organizações verticais

A encosta foi dividida em quatro segmentos morfológicos: topo da


vertente (Tr5/Td5), porção íngreme da vertente (Td11 e Tr6), média vertente
(Tr4 e Td10) e sopé da vertente (Td1 e Tr2).
a) No topo da vertente, (Tr5/Td5) observa-se a presença de horizonte
superficial húmico com cerca de 20 cm de espessura, rico em raízes, de
coloração bruno escura (cor da tabela de Munsell 7,5YR 3,5/3), textura
argilosa, estrutura grumosa formado por agregados inferiores a 1 cm. Abaixo
deste, aparece um horizonte bruno vivo (5YR 5/6) com espessura aproximada
de 80 cm, argiloso, estrutura poliédrica centimétrica com subestrutura
microagregada bem desenvolvida, coesão muito fraca e porosidade muito forte.
Sob este, ocorre um horizonte bruno avermelhado (2,5YR 5/6) com espessura
por volta de 230 cm, textura argilosa, estrutura poliédrica centimétrica (2 a 3
cm) e subestrutura microagregada bem desenvolvida, presença de porosidade
tubular bem desenvolvida entre os microagregados e ocorrência de
litorelíquias. Observou-se, abaixo deste, um horizonte de material de alteração
vermelho escuro (10R 3/6), provavelmente alteração gibbsítica, com textura
areno-argilosa, estrutura maciça e perfeitamente conservada. Constatou-se,
ainda, na base, a presença de um horizonte de alteração rico em micas, de
textura arenosa e estrutura da rocha conservada.
b) Na porção mais íngreme da vertente (Td11 e Tr6), caracterizada pela
ocorrência de um perfil de solos raso, no ponto de sondagem Td11, observou-
se a ocorrência de horizonte húmico extremamente rico em raízes, com cerca
de 5 cm de espessura, de cor bruno muito escura (7,5YR 2,5/3), de textura
argilosa, porosidade muito forte e fraca coesão. Abaixo deste ocorre um
horizonte bruno vivo (7,5YR 4/6), com cerca de 150 cm de espessura, argiloso,
com estrutura poliédrica centimétrica com subestrutura microagregada,
porosidade tubular forte entre microagregados, coesão muito fraca e ocorrência
de numerosos blocos centimétricos de migmatitos alterados de cor branca.
Subjacente a este, encontrou-se um horizonte de alteração rico em minerais
alteráveis, com estrutura conservada e textura arenosa.
c) Na média vertente, na superfície da trincheira e tradagem (Tr4/Td4)
ocorre um horizonte húmico rico em raízes, com cerca de 20 cm de espessura,
bruno amarelo escuro (10YR 3/4), argiloso, com estrutura grumosa formada por
agregados inferiores a 1 cm e porosidade muito forte. Abaixo deste ocorre um
horizonte, com aproximadamente 230 cm de espessura, bruno vivo (7,5YR
4/4), argiloso, estrutura poliédrica centimétrica e subestrutura microagregada
bem desenvolvida, porosidade fina e abundante em raízes. Sob este, ocorre
um horizonte, com cerca de 75 cm de espessura, bruno vivo (7,5YR 5/8),
argiloso, com estrutura prismática, nitidamente mais compacto e menos seco
do que o horizonte sobrejacente. Subjacente a este, encontramos um horizonte
com espessura aproximada de 75 cm, vermelho amarelado (5YR 5/6), argiloso,
com estrutura prismática, também compacto e com a mesma umidade
encontrada no horizonte sobrejacente. Abaixo deste ocorre um horizonte, com

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 61


aproximadamente 150 cm de espessura, bruno vivo (7,5YR 4/4), argiloso,
estrutura poliédrica centimétrica com subestrutura microagregada bem
desenvolvida e porosidade fina. Na base encontramos um horizonte de
alteração com cerca de 300 cm de espessura, rico em minerais alteráveis, com
textura arenosa e com estrutura da rocha conservada.
Ainda na média vertente, na tradagem Td10, verificamos a ocorrência de
um horizonte húmico, com 10 cm de espessura, rico em raízes, bruno escuro
(7,5YR 3/4), argiloso, com estrutura grumosa formada por agregados inferiores
a 1 cm e porosidade muito forte. Subjacente a este se encontra um horizonte
com aproximadamente 150 cm de espessura, bruno vivo (7,5YR4/4), com
estrutura microagregada e textura argilosa. Sob este se observa um horizonte
com cerca de 75 cm de espessura, também bruno vivo (matiz 7,5YR), argiloso,
com estrutura microagregada menos nítida, porém mais compacto e mais seco
do que o horizonte sobrejacente. Abaixo deste volta a ocorrer o horizonte com
espessura aproximada de 75 cm, bruno vivo, argiloso e com estrutura
microagregada. Na base encontramos o horizonte de alteração com cerca de
300 cm de espessura, rico em minerais alteráveis, com estrutura da rocha
conservada e textura arenosa.
d) No sopé da vertente, na trincheira Tr2 encontramos um horizonte
superficial húmico, bruno escuro (7,5YR 3/4), com cerca de 10 cm de
espessura, rico em raízes, com estrutura grumosa e textura argilosa. Sob este
ocorre um horizonte bruno amarelado (10YR 5/6), rico em muscovita, textura
argilosa, estrutura poliédrica centimétrica e subestrutura microagregada,
coesão muito fraca, porosidade tubular e presença de algumas raízes. Abaixo
deste, ocorre um horizonte de alteração bruno oliva claro (2,5YR 5/4),
hidromórfico, rico em minerais alteráveis (muscovita), textura areno-argilosa e
estrutura maciça. Na base, encontramos o horizonte de alteração com estrutura
da rocha conservada, rico em minerais alteráveis e textura arenosa.
No sopé da vertente, no ponto de tradagem Td1, a 10 metros do rio,
observou-se na superfície do perfil, presença de horizonte húmico com cerca
de 10 cm de espessura, bruno escuro (7,5YR 4/6), textura argilosa, estrutura
poliédrica formada por agregados inferiores a 1 cm, porosidade entre os
agregados forte e porosidade dos agregados fina. Abaixo deste ocorre um
horizonte bruno amarelado (10YR 5/8), com aproximadamente 40 cm de
espessura, argiloso, rico em muscovita fina e com alguns quartzos
centimétricos. Na base observamos o horizonte de alteração, com cerca de 40
cm de espessura, estrutura da rocha conservada com presença de volumes
mais alterados entre volumes mais resistentes.

6.2.1.3. Organizações laterais

De montante a jusante da vertente estes horizontes organizam-se


lateralmente da seguinte forma (Figura 6.1).

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Figura 6.1 – Organização lateral dos horizontes do solo na vertente

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1. Horizonte húmico bruno escuro com estrutura grumosa.
Na trincheira Tr5, este horizonte superficial de cor bruno escura, argiloso
e estrutura grumosa se prolonga lateralmente com as mesmas características
até a tradagem Td12, situado a 7 metros de Tr5, onde adquire coloração ainda
mais escura (bruno muito escuro). Estas características mantêm-se constantes
até o início da porção mais íngreme da encosta (Td11 a 65 metros de Tr5),
onde então se torna menos espesso (4 cm). Na meia encosta, a partir de Tr6,
torna-se ainda mais escuro devido ao aumento de matéria orgânica (presença
de restos vegetais) e também mais espesso (10 cm) com aumento acentuado
de raízes. Características como textura, estrutura e porosidade permanecem
constantes. Em Td10, o prolongamento desse horizonte apresenta as mesmas
características, porém presencia-se serrapilheira (5 cm) e novamente a
espessura diminui. Progressivamente a jusante, este horizonte torna-se bruno
amarelado e posteriormente, ainda mais a jusante (Tr2) volta à cor bruno
escura. Os demais atributos mantêm-se constantes. A 10 metros do rio, este
horizonte apresenta as mesmas características, exceto pela estrutura que se
torna poliédrica (inferior a 1 cm).
2. Horizonte bruno argiloso com estrutura poliédrica e subestrutura
microagregada.
No ponto Tr5, este horizonte possui porosidade bem desenvolvida e
raízes. Lateralmente, na Td12 (15 m a partir de Tr5), a cor deste horizonte
torna-se bruno avermelhada. Progressivamente, em direção a porção mais
íngreme da vertente (Td11), o horizonte volta a ter cor bruno viva e surgem
litorelíquias centimétricas de cor branca. No prolongamento deste horizonte, na
tradagem Td7, a textura, a estrutura e a porosidade permanecem constantes,
porém a cor torna-se bruno amarelada e a espessura aumenta.
Progressivamente, mais a jusante, até o sopé da vertente, este horizonte
apresenta características morfológicas semelhantes àquelas encontradas na
trincheira Tr5, exceto a espessura que aumente ainda mais em Td9. em Td3, a
espessura volta a diminuir e, a partir de Td2 até o rio, diminui ainda mais.
3. Horizonte bruno avermelhado argiloso com estrutura poliédrica e
subestrutura microagregada.
A montante, em Tr5, este horizonte apresenta litorelíquias (quartzo).
Este horizonte prolonga-se até Td12, onde termina em forma de cunha à
aproximadamente 20 metros em direção a jusante.
4. Horizonte de alteração violácea areno-argiloso, com estrutura da
rocha conservada.
Este horizonte ocorre somente no topo e, também, desaparece em
forma de cunha a cerca de 20 metros a jusante. Observou-se a presença de
micas.
5. Horizonte de alteração cinza arenoso, com estrutura da rocha
conservada.
Este horizonte prolonga-se de forma constante de montante a jusante da
vertente. Apresenta minerais primários como quartzo e feldspatos.
6. Horizonte argiloso bruno com estrutura prismática.

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 64


O ponto de aparecimento desse horizonte está, provavelmente, em
algum ponto entre Td4 e Td6. Este horizonte desenvolve-se lateralmente até
Td9, onde desaparece.
7. Horizonte argiloso vermelho amarelado com estrutura prismática.
O ponto de aparecimento desse horizonte, também, está em algum
ponto entre Td4 e Td6. Este horizonte, pouco extenso, desaparece entre Tr4 e
Td8.
8. Horizonte de alteração bruno oliva claro, areno-argiloso com estrutura
maciça.
Este horizonte rico em micas, surge entre Td3 e Td9,
concomitantemente ao afloramento do lençol freático. Este horizonte bastante
delgado prolonga-se até o ponto localizado entre Td2 e Td1, onde desaparece.

6.2.2. Caracterização dos horizontes do solos

6.2.2.1. Distribuição granulométrica dos horizontes

6.2.2.1.1. Organizações verticais

No perfil da montante (Tr5), como mostra a Tabela 6.1, o


horizonte 1 apresenta 35% de argila e teor de areia variando entre 56% e 59%.
Abaixo deste, no horizonte 2, constata-se um aumento no teor de argila que
varia entre 37% e 41%, nos primeiros 60 cm deste horizonte, e uma
considerável diminuição para 26%, na base. Neste horizonte os valores de
areia aumentam progressivamente, a partir de 65 cm, de 51%, 56% e 58%.
Entre 27 e 35 centímetros, este horizonte apresenta 57% de areia. Subjacente
a este, no horizonte bruno avermelhado, os valores de argila diminuem
progressivamente, do topo para a base, de 28%, 22% e 12%.
Concomitantemente a isso, os valores de areia aumentam progressivamente
de 52%, 68% e 72%.
Tabela 6.1. Granulometria do solo do topo da vertente – Trincheira 5, Tr5. Horiz. –
horizontes representados na Figura 6.2.
Horiz Prof. Areia Silte Argila Floculação Classe
. (cm) (%) (%) (%) (%) Textural
MG G M F MF Total Total Água
0-10 2 15 24 14 1 56 9 35 12 66 argilosa
1 15-23 6 13 23 16 1 59 6 35 8 77 argilosa
27-35 7 12 23 14 1 57 6 37 14 62 argilosa
65-73 5 11 19 14 2 51 8 41 8 80 argilosa
83-91 12 12 17 13 2 56 10 34 8 76 média-
3 argilosa
108-116 5 13 20 15 5 58 16 26 2 92 média-
argilosa
136-144 14 12 13 10 3 52 20 28 2 93 média-
argilosa
175-183 32 17 10 7 2 68 10 22 2 91 média-
2 arenosa
220-228 2 12 28 23 7 72 16 12 2 83 arenosa

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Figura 6.2 – Granulometria do solo da trincheira 5.

A Tabela 6.2 apresenta os dados granulométricos da porção mais


íngreme da vertente. O horizonte húmico possui 32% de argila e 53% de
areia. Abaixo deste, no horizonte bruno vivo, a fração argila apresenta, do
topo para a base, os seguintes valores: 38% e 33%. Os valores da fração
areia aumentam progressivamente de 52%, 55% e 58%.

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Tabela 6.2. Granulometria do solo da porção íngreme da vertente – Trincheira 6, Tr6. Horiz.
– horizontes representados na Figura 6.3.
Horiz Prof. Areia Silte Argila Floculação Classe
. (cm) (%) (%) (%) (%) Textural
MG G M F MF Total Total Água
1 0-10 2 12 23 14 2 53 15 32 4 88 média-
argilosa
28-36 2 13 20 14 3 52 10 38 6 84 argilosa
49-57 3 11 24 14 3 55 12 33 8 76 média-
3 argilosa
90-98 4 15 23 14 2 58 9 33 2 94 média-
argilosa

Figura 6.3 – Granulometria do solo da trincheira 6.

Na média vertente, o horizonte húmico possui nas frações argila e areia,


os seguintes valores: 33% e 58%. Subjacente a este, no horizonte bruno vivo,
constata-se, do topo para a base, um aumento progressivo nos valores da
fração argila de 37%, 42% e 45%. Neste horizonte, a fração areia apresenta
uma diminuição progressiva de 52%, 53%, 49% e 47%. Abaixo deste, ocorre o
horizonte bruno vivo mais compacto e menos seco, com 43% e 44% na fração
argila e 43% e 49% na fração areia, do topo para a base.

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Tabela6. 3. Granulometria do solo da média vertente. Trincheira 4, Tr4. Horiz. – horizontes
representados na Figura 6.4.
Horiz Prof. Areia Silte Argila Floculação Classe
. (cm) (%) (%) (%) (%) Textural
MG G M F MF Total Total Água
1 0-10 5 12 21 17 3 58 9 33 12 64 média-
argilosa
24-32 5 10 19 15 3 52 11 37 15 59 argilosa
38-46 7 11 18 14 3 53 10 37 2 95 argilosa
3 76-84 5 10 17 15 2 49 9 42 34 19 argilosa
2 150-158 3 8 17 16 3 47 8 45 39 13 argilosa
245-253 4 8 14 14 3 43 14 43 35 19 argilosa
6 300-308 4 10 17 16 2 49 7 44 36 18 argilosa

Figura 6. 4 – Granulometria do solo da trincheira 4.

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Tabela 6.4. Granulometria do solo e do material de alteração do sopé da vertente –
Trincheira 2. Tr2. Horiz. – horizontes representados na Figura 6.5.
Horiz Prof. Areia Silte Argila Floculação Classe
. (cm) (%) (%) (%) (%) Textural
MG G M F MF Total Total Água
1 0-10 5 20 20 12 2 59 10 31 2 94 média-
argilosa
14-22 5 17 20 11 2 55 10 35 6 83 argilosa
45-53 5 18 20 12 2 57 8 35 2 94 argilosa
2 90-98 5 13 21 15 3 57 8 35 10 71 argilosa
2 115-123 2 10 22 17 3 54 16 30 2 93 média-
argilosa
8 165-173 6 21 28 15 2 72 14 14 2 86 arenosa

Figura 6.5 – Granulometria do solo e do material de alteração da trincheira 2.

6.2.2.1.2. Organizações laterais

Os valores das frações granulométricas variam lateralmente, da


montante para a jusante, da seguinte maneira (Figura 6.1).
Horizonte 1
Ao longo da vertente apresenta valores das frações argila e areia pouco
variáveis. A montante, em Tr5, apresenta 35% na fração argila. Na porção mais
íngreme da vertente, em Tr6, a argila diminui para 32%; 33% na média vertente
(Tr4) e 31% no sopé da vertente (Tr2). A fração areia a montante possui
valores de 56% e 59%, na parte mais íngreme da vertente diminui para 53%;
aumenta para 58% na média vertente e para 59% no sopé da encosta.
Horizonte 2
O horizonte apresenta a montante, do topo para a base, 37% e 41% na
fração argila; na parte mais íngreme da vertente, ocorre uma diminuição, 38% e
33%; na média vertente, ocorre um aumento progressivo, 37%, 42% e 45% e
na jusante ocorre uma diminuição progressiva de 35% para 30%. Este
horizonte apresenta os seguintes valores, do topo para a base, na fração areia:
a montante 51%, 56% e 58%; na porção mais íngreme da vertente 52%, 55% e

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58%; 52%, 53%, 49% e 47% na média vertente e 55%, 57% e 54% no sopé da
vertente.
Horizonte 3
A montante da vertente, este horizonte apresenta valores de argila, que
sofrem uma diminuição progressiva do topo para a base (28%, 22% e 12%),
concomitantemente a isso os valores de areia sofrem um aumento progressivo
(52%, 68% e 72%).
Horizonte 8
No sopé da vertente, ocorre este horizonte, onde as frações argila e
areia apresentam os valores 14% e 72%, respectivamente.

6.2.2.3. Densidade do solo

Os dados de densidade do solo (Tabela 6.5 e Figura 6.6) mostram


valores altos (em torno de 1,4, 1,5g cm-3) nos horizontes mais profundos
(>60cm) e uma tendência de aumento nos segmentos mais a jusante da
toposseqüência. Em superfície não se observam modificações significativas
nos valores de densidade, sendo estes baixos (em torno de 1,0g.cm-3) em toda
a vertente. Estes valores baixos de densidade do solo nos horizontes
superficiais podem ser explicados pelos altos teores de matéria orgânica que
propiciam maior desenvolvimento da estrutura e porosidade como observado
na caracterização morfológica da toposseqüência. Os valores altos de
densidade em sub-superfície não apresentam uma correlação direta com a
granulometria podendo ser interpretados como conseqüência da diminuição
dos teores de matéria orgânica em profundidade e a mudanças na estrutura do
solo. É importante destacar o alto gradiente de densidade entre os horizontes
superficiais e sub-superficiais em toda a vertente. Este gradiente pode
influenciar a dinâmica de água e solutos no solo, favorecendo o aparecimento
de lençóis freáticos temporários (suspensos) acima dos horizontes mais
densos nas épocas mais chuvosas.

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Tabela 6.5. Densidade do solo e do material de alteração das trincheiras ao longo da vertente.

Horizonte Prof. Densidade


(cm) (gcm-3)
Trincheira 5
0-10 0,86
1 15-23 0,99
27-35 1,00
3 65-73 1,29
83-91 1,31
108-116 1,33
136-144 1,45
2 175-183 1,57
220-228 1,39
Trincheira 6
1 0-10 0,89
28-36 0,98
3 49-57 1,10
90-98 0,98
Trincheira 4
1 0-10 0,94
24-32 1,19
3 38-46 1,26
76-84 1,26
150-158 1,41
6 245-253 1,36
300-308 1,32
Trincheira 2
1 0-10 0,86
14-22 0,93
3 45-53 1,08
90-98 1,21
115-123 1,35
8 165-173 1,39

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Figura 6.6 – Densidade do solo e do material de alteração das trincheiras

6.2.2.3. Análises químicas de rotina

Os solos da toposseqüência estudada são pobres em termos de


fertilidade química (Tabela 6.6). Todos os horizontes apresentam elevada
saturação por alumínio sendo classificados como álicos (m%>50%) (Figura 6.7)
e baixíssimos valores de saturação por bases (SB<15%).Os valores de pH em
água variam entre 3,9 e 5,5, sendo mais baixos nos horizontes superficiais
devido à influência dos teores elevados de matéria orgânica. A capacidade de
troca catiônica apresenta valores altos em superfície e baixos em sub-
superfície (a partir de 50cm) também devido à influência da matéria orgânica
nos horizontes superficiais (Figura 6.8). Apesar dos solos serem pobres em
termos de fertilidade, os teores de matéria orgânica até a profundidade de
30cm são altos (Figura 6.9). Estes valores altos de matéria orgânica
compensam a baixa fertilidade natural do sol, influenciando principalmente a
vegetação que se desenvolve sobre estes solos que depende quase que
exclusivamente da ciclagem de nutrientes contidos dentro da matéria orgânica
do solo. O fósforo apresenta valores elevados nos horizontes superficiais e

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valores bastante baixos em sub-superfície em todos os segmentos da
toposseqüência. Este fato mostra que os altos valores de fósforo em superfície
dependem exclusivamente da sua liberação durante o ciclo de mineralização
da matéria orgânica no solo já que o fornecimento deste elemento pelo material
de origem e baixíssimo.
Os valores da CTC da argila mostram que os solos da toposseqüência
apresentam dominância de argilas de atividade baixa. Em alguns horizontes
sub-superficiais que apresentam maior quantidade de material intemperizável
observa-se valores de CTC da argila superiores a 270mmolc.kg-1
caracterizando as argilas como de atividade alta.

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Tabela 6.5. Análise química do solo e do material de alteração das trincheiras ao longo da vertente.

Amostra Prof. pH M.O P Na K Ca Mg Al H+Al SB CTC CTC arg V m


trincheiras cm H2O KCl CaC g.kg-1 mg.kg-1 mmol.ckg-1 mmol.ckg-1 %
l2

TB 2 0-10 4,5 3,8 3,9 59 18 0,4 2,4 1 5 20 137 8,8 145,8 470,3 6 69
TB 2 14-22 4,8 4,2 4,3 41 4 0,3 0,9 1 1 9 89 3,2 92,2 263,4 3 74
TB 2 45-53 5,1 4,3 4,5 15 2 0,2 0,2 1 1 4 58 2,4 60,4 172,6 4 63
TB 2 90-98 5,4 4,3 4,4 10 1 0,2 0,5 3 1 4 44 4,7 48,7 139,1 10 46
TB 2 115-123 5,3 4,1 4,4 5 1 0,2 0,6 3 1 4 38 4,8 42,8 142,7 11 45
TB 2 165-173 5,5 3,8 4,4 5 6 0,2 0,6 1 1 9 36 2,8 38,8 277,1 7 76
TB 4 0-10 3,9 3,4 3,3 59 20 0,2 2,3 1 5 26 133 8,5 141,5 428,8 6 75
TB 4 24-32 4,3 3,8 3,8 38 4 0,3 1,6 1 1 23 120 3,9 123,9 334,9 3 86
TB 4 38-46 4,6 3,9 4,1 20 1 0,2 0,2 1 1 12 78 2,4 80,4 217,3 3 83
TB 4 76-84 4,9 4,1 4,1 13 1 0,2 0,2 1 1 8 54 2,4 56,4 134,3 4 77
TB 4 150-158 5,1 4,1 4,2 8 2 0,2 0,2 1 1 6 39 2,4 41,4 92 6 71
TB 4 220-228 5,7 6,1 5,6 5 1 0,2 0,2 1 1 0 10 2,4 12,4 - 19 0
TB 4 245-253 5,2 4,2 4,2 5 3 0,2 0,2 1 1 5 38 2,4 40,4 94,0 6 68
TB 4 300-308 5,3 4,3 4,2 8 1 0,2 0,2 1 1 4 33 2,4 35,4 80,5 7 63
TB 5 0-10 4 3,6 3,6 X 16 1 1,7 1 2 27 163 5,7 168,7 482,0 3 83
TB 5 15-23 4,2 3,8 3,9 59 10 0,7 1,4 4 2 20 115 8,1 123,1 351,7 7 71
TB 5 27-35 4,8 4,4 4,3 43 4 0,3 0,5 1 1 7 89 2,8 91,8 248,1 3 71
TB 5 65-73 5,2 4,5 4,5 15 2 0,2 0,2 1 1 3 48 2,4 50,4 122,9 5 56
TB 5 83-91 5,2 4,5 4,4 13 1 0,2 0,2 1 1 2 40 2,4 42,4 124,7 6 45
TB 5 108-116 5,2 4,7 4,5 5 2 0,2 0,2 1 1 1 20 2,4 22,4 86,2 11 29
TB 5 136-144 5,2 4,4 4,3 5 1 0,2 0,2 1 1 3 24 2,4 26,4 94,3 9 56
TB 5 175-183 5,5 5,5 4,9 5 3 0,2 0,2 1 1 0 18 2,4 20,4 92,7 12 0
TB 6 0-10 4 3,6 3,7 X 11 0,8 1,1 1 5 29 159 7,9 166,9 521,6 5 79
TB 6 28-36 4,7 4,1 4,1 46 4 0,8 0,5 1 2 20 122 4,3 126,3 332,4 3 82
TB 6 49-57 4,7 4,1 4,2 33 3 0,4 0,4 1 1 10 92 2,8 94,8 287,3 3 78
TB 6 90-98 5,2 4,3 4,5 18 4 0,3 0,2 1 1 6 61 2,5 63,5 192,4 4 71
X – erro na determinação

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Trincheira 5

m (%)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
0
Profundidade (cm) 40
80
120
160
200

Trincheira 6

m (%)
70 72 74 76 78 80 82 84
Profundidade (cm)

0
20
40
60
80
100
120

Trincheira 4

m (%)
0 20 40 60 80 100
0
Profundidade (cm)

50
100
150
200
250
300
350

Trincheira 2

m (%)
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Profundidade (cm)

0
40
80
120
160
200

Figura 6.7 – Saturação por alumínio (m) do solo e do material de alteração das
trincheiras

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Figura 6.8 – Capacidade de troca catiônica (CTC) do solo das trincheiras

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Figura 6.9 – Conteúdo de matéria orgânica (M.O.) do solo das trincheiras

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 77


6.2.2.4. Análises Mineralógicas

As análises mineralógicas efetuadas a partir de DRX permitiram a


identificação (amostra total) de quartzo, gibbsita, caolinita, vermiculita, mica/ilita
e goethita e hematita,como os minerais constituintes dos solos ao longo da
vertente. Em função da observação de minerais 2:1 nos difratogramas de
amostra total, realizou-se a separação da fração argila e tratamentos
específicos para identificação dessas fases. Os resultados encontram-se
resumidos abaixo.

6.2.2.4.1. Mineralogia da fração argila

A constituição mineralógica da fração argila deferrificada dos solos da


encosta é representada por a caolinita, gibbsita, vermiculita e ilita.
No topo da vertente (Tabela 6.7), nos primeiros 180 cm de espessura,
estão presentes a caolinita, gibbsita e a vermiculita. Abaixo destes,
encontramos caolinita, gibbsita e ilita.

Tabela 6.7. Composição mineralógica da fração argila deferrificada dos solos da trincheira Tr5,
identificada por difratometria de raios-X

Horizonte Prof.(cm) Caolinita Gibbsita Vermiculita Ilita


15-23 * * *
1
27-35 * * *
65-73 * * *
3
83-91 * * *
136-146 * * *
2 175-183 * * *
200-228 * * *

Os solos da porção mais íngreme da vertente (Tabela 6.8) têm


constituição mineralógica semelhante aos encontrados no topo, a única
diferença é a ausência de ilita.

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 78


Tabela 6.8. Composição mineralógica da fração argila deferrificada dos solos da trincheira Tr6,
identificada por difratometria de raios-X

Horizonte Prof. (cm) Caolinita Gibbsita Vermiculita Ilita


1 28-36 * * *
49-57 * * *
3
90-98 * * *

Na meia encosta (Tabela 6.9), os solos apresentam a mesma


constituição mineralógica dos solos da porção íngreme da vertente.

Tabela 6.9. Composição mineralógica da fração argila deferrificada dos solos da trincheira Tr4,
identificada por difratometria de raios-X.

Horizonte Prof. (cm) Caolinita Gibbsita Vermiculita Ilita


1 24-32 * * *
38-46 * * *
3 76-84 * * *
150-158 * * *
245-253 * * *
6
300-308 * * *

Os solos localizados no sopé da encosta (Tabela 6.10) apresentam


constituição mineralógica semelhante aos encontrados no topo da seqüência,
apresentando caolinita, gibbsita, vermiculita e ilita.

Tabela 6.10. Composição mineralógica da fração argila deferrificada dos solos da trincheira
Tr2, identificada por difratometria de raios-X.

Horizonte Prof. (cm) Caolinita Gibbsita Vermiculita Illita


1 14-22 * * *
45-53 * * *
3 90-98 * * *
115-123 * * *
8 165-173 * * *

O estudo bidimensional foi realizado na bacia B de CUNHA, para a


caracterização dos solos da vertente. As trincheiras foram abertas ao longo da
vertente em função da organização espacial dos solos, procurando representar
todos os horizontes observados na toposseqüência.
A análise conjunta dos resultados morfológicos, físicos, químicos e
mineralógicos dos diferentes horizontes dos solos, permitiu estabelecer os
locais mais adequados, nas trincheiras, para a instalação dos lisímetros de
carga zero, uma vez que a dinâmica da água está relacionada a esses
atributos (Tr 5 – 70, 150, 180cm, Tr4 – 90, 150, 250cm, Tr2 – 80cm).

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6.3. Resultados e Discussão para a Bacia A do PEFI

Neste item são efetuadas as descrições e interpretações tendo como


base a análise da morfologia de campo da cobertura pedológica de uma
toposseqüência no Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI).
O problema a entender refere-se à distribuição das diferentes
organizações pedológicas na toposseqüência. A partir do entendimento dessa
distribuição dar-se-á indicações quanto à possível relação entre as
organizações pedológicas e as espécies químicas que podem ser liberadas a
partir dos materiais pedológicos.

6.3.1. Organizações Pedológicas Observadas em Campo

A toposseqüência estudada (Fig. 6.10) tem 321 m de comprimento.


Parte de um topo plano que é limitado por uma leve ruptura de declive. A partir
dessa ruptura a encosta apresenta um segmento convexo, extenso, seguido
por um segmento côncavo que corresponde ao início da várzea. Todo o sítio
estudado está coberto por vegetação de floresta (Remanescente da Mata
Atlântica)
Como mencionado anteriormente a toposseqüência foi dividida em 3
setores: montante (da trincheira 4 à trincheira 1), jusante (da trincheira 4 à
trincheira 7) e várzea. Fazem parte da montante 2 sub-setores, topo/alta
vertente (da trincheira 1 à tradagem 8) e alta vertente/média vertente. Na
jusante treis sub-setores foram delimitados: terço superior da baixa vertente (da
trincheira 4 à trincheira 5); terço médio/inferior da baixa vertente (da trincheira 5
à trincheira 6) e terço inferior da baixa vertente (da trincheira 6 à trincheira 7).
As descrições serão feitas por setores e a partir da base em direção do topo da
cobertura pedológica.

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 80


T9 T6
TR 1 /T1
TR 2
m 42 O rg a n iza ç õ e s M o rfo ló g ic a s T7T8
T5
40 T4
38
36
d a To p o sse q ü ê n c ia
TR 8
34 T3
32
30
28 T1 3 T1 0
26 T2 5 T1 1
TR 5 T2 4 TR 4T1 2
24
T2 1 T2 T1 4
22 T1 7T2 7 T2 2 T2 3
20 T2 6
18 T2 0T2 8
T1 9
16
14
T3 0 T1 8 ? ? - Lim ite im p re c iso
TR 7 /T3 6
12 T3 3 T1 6
10 T3 4T3 1 - fra g m e n to s d e q u a rtzo
TR 6
8 T3 5 T3 2
6 T2 9
4 T1 5
- n ó d u lo s fe rru g in o so s
2 ?
0 ? ?
? ? ?
-2 ?
0 11 21 31 41 51 61 71 81 91 101 111 121 131 141 151 161 171 181 191 201 211 221 231 241 251 261 271 281 291 301 311

Figura 6.10 – Esquema da topossequência estudada na vertente da bacia A localizada no PEFI

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6.3.1.1- Montante:
6.3.1.1.1- Setor de topo/alta vertente
347 cm: Tradagem em fundo de trincheira aponta um material
organizado em raias vermelho-amarela, vermelha e rosa que parece tratar-se
da alteração da rocha que conserva, parcialmente, a estrutura petrográfica.
347 – 317 cm: Tradagem revelou um material heterogêneo de cores
amarela (10YR7/8), vermelho-amarela (5YR5/8) e branca em pequenos
domínios; argiloso. A fase amarela é dominante sobre as demais. Na direção
do topo a fase vermelho-amarela torna-se dominante.
317 – 257 cm: Tradagem. Trata-se de um material heterogêneo
semelhante ao subjacente mas que diferencia daquele pelo aparecimento de
pequenos nódulos (5 a 10 mm), acinzentados, e pela nítida diminuição dos
domínios brancos argilosos.
257 – 185 cm: Trincheira. Dois domínios foram observados. O primeiro
tem uma matriz vermelho-amarela (5YR4/8), argilosa, maciça, e é discordante
sobre o segundo. O segundo, dominante, trata-se de um material heterogêneo,
endurecido e de forma poliédrica (20 cm de eixo maior). As partes mais duras
são nódulos litoreliquiais formados por um material de cor acinzentada. Os
nódulos estão em discordância com uma fase bruno-amarelada (10YR6/8),
dominante, menos endurecida, e que compõe o poliedro. Uma fase branca,
argilosa corta tanto os nódulos como a fase bruno-amarelada (10YR6/8).
185 – 145 cm: Continuam os dois domínios. Apenas os poliedros
diminuem de tamanho (4 a 5 cm de eixo maior) e pequenas pontuações
esbranquiçadas são observadas no interior da matriz vermelho-amarela que
passa a ser dominante.
145 – 107 cm: Uma matriz vermelha (2,5YR4/8), argilosa, maciça,
compacta, é discordante sobre pequenos volumes vermelhos-amarelo
(5YR4/8). Os poliedros dão lugar a nódulos ferruginosos de diâmetro de 2 a 3
cm: têm núcleo endurecido com justaposição cinza, bruno e bruno-amarelado.
São duros ou friáveis a depender da predominância das fases cinza e bruna ou
bruno-amarelada. São cortados pela matriz vermelha.
107 - 83 cm: Assemelha-se ao anterior, apenas os nódulos são
abundantes e dominantes sobre a matriz.
Transição nítida por leve amarelecimento da cor da matriz e diminuição
do diâmetro dos nódulos.
83 – 34 cm: Dois domínios estão presentes: 1) matriz friável, bruna
(7,5YR5/8), argilosa, granular; 2) nódulos ferruginosos de diâmetros menores
que 2 cm com justaposição do vermelho escuro (10R3/4) ao bruno escuro
(7,5YR4/4) ou, apenas, vermelho escuro (10R3/4) e fragmentos de couraça
ferruginosa. Os fragmentos tem de 10 a 15 cm, são compostos por uma matriz
muito dura com justaposição de fases ferruginosas e engloba fragmentos de
quartzo e nódulos semelhantes aos já descritos.
Transição gradual quanto a cor, e abrupta quanto à tendência ao
desaparecimento dos nódulos.

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 82


34 – 18 cm: Horizonte heterogêneo com fases mais claras amarelo-
brunada (10YR5/6) a bruno-amarelada (10YR5/8), argilosas, granulares,
porosas e com nódulos no diâmetro de psólitos.
18 – 9 cm: Horizonte bruno-amarelado-empretecido (10YR3/4), argiloso,
granular, muito poroso.
9 – 5 cm: Bruno-empretecido escuro (10YR3/1), argilo-siltoso devido à
matéria orgânica, granular com areia branca em torno dos grânulos, grânulos
argilo-orgânicos (atividade biológica), muito poroso.
5 – 0 cm: Horizonte empretecido (10YR2/2), argilo-siltoso, com grânulos
bem desenvolvidos, muito poroso e com muitos restos vegetais.

6.3.1.1.2- Setor da alta vertente/média vertente


207+ – 182 cm: Horizonte de alteração heterogêneo com justaposição
de fases com cores vinho, rosa, vermelho-amarelada (5YR4/6) ao branco;
argilo-siltoso; maciço.
Transição gradual pela diminuição das fases rosadas e progressão das
vermelho-amareladas.
182 – 155 cm: Horizonte heterogêneo com justaposição de fases com
cores vinho, rosa, vermelho-amarelada (5YR5/6) na base do horizonte, e com
fases vermelho-amarelada dominante (5YR5/6), amarela (10YR7/9) no topo do
horizonte; argiloso; maciço. Raros volumes (poliedros) bruno-amarelos
(10YR6/8) são observados em direção do topo do horizonte.
Transição gradual, mas, sublinhada por uma linha de nódulos
ferruginosos brunos, duros, de 0,5 a 1 cm de diâmetro.
155 –110 cm: Horizonte bruno escuro (7,5YR4/6), argiloso, maciço com
pontuações amarelas (10YR7/6) e brancas (raras). Nódulos bruno-amarelados
encontram-se esparsos no meio da matriz. Porosidade tubular encontra-se
preenchida por material granular.
Transição gradual por amarelecimento da cor.
110 – 81 cm: Horizonte bruno escuro (7,5YR5/6 / 10YR5/6), argiloso,
maciço que se desfaz em granular, poroso. Observou-se poucos nódulos
ferruginosos e poucos fragmentos de quartzo, ferruginizados.
Transição gradual pelo amarelecimento da cor.
81 – 42 cm: Horizonte bruno-amarelado (10YR5/8), argiloso, granular e
em poliedros, poroso.
Transição gradual por empretecimento da cor.
42 – 23 cm: Horizonte bruno-amarelado-empretecido (10YR4/6 a 4/4),
argiloso, granular, muito poroso.
Transição gradual por empretecimento da cor.
23 – 7 cm: Horizonte de cor heterogênea bruno-amarelado-empretecido
(10YR4/4) e bruno empretecido (10YR4/3), argiloso, granular com grânulos de

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 83


até 1cm e com grânulos argilo-orgânicos (atividade biológica), muito poroso.
Presença de raros nódulos ferruginosos.
7 – 3 cm: Horizonte bruno-empretecido, argilo-siltoso devido à matéria
orgânica, granular e com grânulos argilo-orgânicos (atividade biológica), muito
poroso.
3 – 0 cm: Horizonte bruno muito empretecido (10YR2/2), argilo-siltoso
devido à matéria orgânica, granular, muito poroso.

6.3.1.1.3- Síntese
No setor de topo/alta vertente passa-se, da base em direção do topo da
cobertura pedológica, de uma alteração de uma rocha, provavelmente
bandada, para um conjunto de horizontes vermelho-amarelados, argilosos,
maciços que por sua vez são seguidos por horizontes de um solo latossólico
(Fig. 1).
O horizonte de alteração, na maior parte de aspecto maciço argiloso,
não apresenta traços de endurecimento ou relíquias da rocha fresca.
Entretanto, em direção do topo alguns nódulos foram encontrados; de aspecto
cinza, e duros, esses nódulos são litoreliquiais. A presença desses nódulos
apenas no topo do material alterado sugere uma descontinuidade dentro da
alteração da rocha.
No conjunto de horizontes vermelho-amarelados, argilosos, maciços
esses nódulos estão sempre presentes dentro de uma matriz bruno-amarelada
(10YR6/8) (poliedros), levemente endurecida que é discordante sobre os
nódulos, cortando-os. No horizonte superior do conjunto os nódulos, além de
reliquiais, são predominantemente brunos com diferentes fases justapostas. Da
mesma maneira, como para os nódulos litoreliquiais, a matriz bruno-amarelada
(10YR6/8) (poliedros) é discordante sobre os brunos. Dessa maneira pode-se
inferir que a matriz bruno-amarelada (10YR6/8) é posterior aos nódulos brunos
e os transformam. Por outro lado, como essa matriz não apresenta traços de
ferruginização, não se pode dizer que os nódulos brunos vêm da
individualização do ferro a partir dessa matriz o que colabora com a idéia de
que essa matriz é posterior aos nódulos. Entretanto, a presença dos nódulos
litoreliquiais e dos brunos, com diferentes fases justapostas, sugere duas
hipóteses: 1) que os nódulos evoluem “pari passu” com o desenvolvimento da
cobertura pedológica ou 2) que eles representam uma descontinuidade dentro
da cobertura e representam as relíquias de uma couraça ferruginosa laterítica.
No conjunto de horizontes vermelho-amarelados, argilosos, maciços, da
base indo em direção do topo, a matriz bruno-amarelada (10YR6/8) (poliedros)
tende a desaparecer. Essa matriz é cortada por fases avermelhadas, argilosas,
maciças compactas responsáveis pela transformação e desaparecimento do
material bruno-amarelado (10YR6/8) (poliedros). Por sua vez as fases
avermelhadas vão constituir um conjunto de horizontes avermelhados,
argilosos e maciços, compactos no interior dos quais permanecem os nódulos
ferruginosos que já apresentam uma nítida diminuição de diâmetro.
Esse conjunto de horizontes avermelhados diferencia gradativamente
em um material bruno amarelado, com estrutura granular, e vai dar origem aos

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 84


horizontes latossólicos de superfície aonde ainda persistem, em abundância,
nódulos e fragmentos de couraça ferruginosa.
Os fragmentos de couraça ferruginosa, os quais englobam nódulos de
mesma natureza daqueles encontrados nos horizontes subjacentes, refutam a
hipótese de que a nodulação se processou “pari passu” com o desenvolvimento
do perfil latossólico e reafirmam a hipótese de que os nódulos são uma
descontinuidade e representam as relíquias de uma antiga pedogênese,
lateritizante que deu origem a uma couraça ferruginosa.
No setor da alta vertente/média vertente passa-se, por diferenciação
sobre a alteração da rocha, para um horizonte heterogêneo com fases
vermelho-amareladas, argiloso, maciço que é seguido por um conjunto de
horizontes latossólicos (Fig. 6.10).
Diferentemente do setor do topo/alta vertente, nesse segmento a matriz
bruno-amarelada (poliedros), levemente endurecida, praticamente
desapareceu; predomina a fase vermelho-amarelada (5YR5/6) que corta esta
matriz e a transforma. Os nódulos, antes ligados com a matriz dos poliedros
estão liberados, sublinhando o contato com o horizonte sobrejacente. Isso
significa que essa diferenciação se processa verticalmente, no perfil, como
lateralmente, na toposseqüência indicando um desenvolvimento da cobertura a
partir de um material ïn situ”.
A fase vermelho-amarelada (5YR5/6) transiciona gradualmente para um
horizonte bruno escuro (7,5YR4/6), argiloso, maciço e compacto, apenas
diferente na cor daqueles (horizontes avermelhados, argilosos, maciços,
compactos) encontrados no setor de topo/alta vertente, indicando uma
diferenciação lateral. A transição gradual desse material bruno para os
horizontes sobrejacentes indica uma diferenciação deste por amarelecimento
da cor e mudança da estrutura maciça para granular, dando formação, sobre
um material “in situ”, ao conjunto de horizontes latossólicos de superfície.
Diferentemente do setor de topo/alta vertente, nesse setor não mais se
observam os nódulos ferruginosos e os fragmentos de couraça, em
abundância. Como o desenvolvimento da cobertura se deu sobre um material
“in situ” pode-se levantar duas hipóteses: 1) que a couraça aí nunca existiu ou
foi completamente digerida quimicamente ou 2) se ela existiu, foi truncada por
erosão mecânica, restando apenas os horizontes subsuperficiais. Isso permite
uma terceira hipótese: que a pedogênese latossolizante se processou após
uma fase erosiva da vertente.

6.3.1.2. Jusante:
6.3.1.2.1. Terço superior da baixa vertente
200+ - 182 cm: Horizonte de alteração com fases justapostas
avermelhadas escura dominantes (10R4/6), arroxeadas e esbranquiçadas,
silto-argiloso, maciço. Associado à fase branca tem alguns nódulos brunos
friáveis. Foi observado muito material grosseiro quartzoso minerais micáceo.
182 –150 cm: Horizonte de alteração heterogêneo com fases justapostas
avermelhadas clara (5YR5/8), amarelo-avermelhado (5YR7/6) e branca, silto-

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argiloso, maciço. Tem nódulos brunos friáveis e muito material grosseiro
quartzoso e, ainda, mineral micáceo.
150 – 90 cm: Horizonte bruno-escuro (7,5YR5/8), argiloso, maciço e com
nódulos esparsos de cor bruna e fragmentos de quartzo ferruginizado.
90 – 70 cm: Horizonte bruno escuro (7,5YR5/6) a amarelo brunado
(10YR6/8), argiloso, granular, com pequenos domínios bruno-amarelado
(10YR5/6), nódulos ferruginosos e pedregosidade (fragmentos de quartzo) fina
esparsa na direção do topo do horizonte.
70 – 25 cm: Nível de pedregulho composto por fragmentos de quartzo
(diâmetro variado entre 3 cm a 2 mm) e raros nódulos ferruginosos. Os
diâmetros aumentam no sentido do topo do nível pedregoso. Uma matriz
bruno-escura a bruno-amarelada-empretecida (10YR5/8 a 10YR3/4), argilosa,
granular, envolve o material grosseiro.
25 – 5 cm: Horizonte bruno-acinzentado-empretecido (10YR3/2), silto-
argiloso, granular, muito poroso, tem pequenos nódulos (1 a 2 mm)
ferruginosos.
5 – 0 cm: Horizonte bruno-muito-empretecido (10YR2/2), silto-argiloso,
com grânulos de até 3 mm, muito poroso.
4.1.2.2. Terço médio/inferior da baixa vertente
230+ - 210 cm: Horizonte de alteração da rocha, heterogêneo, com
fases vermelhas (2,5YR5/6 e 2,5YR5/8) e com domínios esbranquiçados;
argiloso; maciço e com fragmentos grosseiros de quartzo e minerais micáceos.
210 – 140 cm: Horizonte vermelho-amarelado (5YR5/8), argiloso,
maciço, com nódulos de cor bruna.
140 – 95 cm: Horizonte vermelho (2,5YR5/8 a 4/8), argiloso mas com
uma fração arenosa grosseira, maciço, compacto, com nódulos ferruginosos
brunos.
95 – 40 cm: Horizonte bruno-escuro (7,5YR4/6 e 7,5YR5/8), argiloso
mas com uma fração de areia grossa, granular, com nódulos ferruginosos
esparsos.
40 – 20 cm: Horizonte bruno-amarelado (10YR5/4) a bruno-amarelado-
empretecido (10YR4/4), argiloso, granular, muito poroso.
20 – 5 cm: Horizonte bruno-empretecido (10YR3/3), silto-argiloso,
granular com grânulos grandes (0,5 cm), muito poroso.
5 – 0 cm: Horizonte bruno-muito-empretecido (10YR2/2), argilo-siltoso
devido a presença de matéria orgânica, granular com grânulos grandes ( 0,5
cm), muito poroso.

6.3.1.2.3. Terço inferior da baixa vertente


268+ cm: Horizonte de alteração heterogêneo amarelo a vermelho
(2,5YR4/6) e rosado, siltoso, de aspecto maciço e grosseiro devido a presença
de areia grossa.

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268 –218 cm: Horizonte heterogêneo de cor rosada (7,5YR7/4)
dominante, argiloso, compacto.
218 –171 cm: Horizonte bruno-muito-pálido (10YR7/3 a 7/2) com
domínios vermelhos-amarelado (5YR5/8); argiloso, com domínios de até 2 cm
muito argilosos, na base do horizonte; maciço apesar do aspecto grosseiro
dado pela presença de areia grossa. Registrou-se alguns pequenos fragmentos
de couraça.
Limite mamelonar com o horizonte superior.
171 - 115 cm: Horizonte bruno-amarelado (10YR5/8) com domínios
bruno-amarelado (10YR5/6), grandes difusos, argiloso, granular, muito poroso,
atividade biológica em canais.
Transição gradual por amarelecimento da cor.
115 – 80 cm: Horizonte de cor heterogênea bruno-amarelado-
empretecido (10YR4/6 e 10YR3/4), argiloso, granular, muito poroso, atividade
biológica intensa em canais.
80 – 34 cm: Horizonte bruno-empretecido (10YR3/3) a bruno-amarelado-
empretecido (10YR3/4), argiloso, granular, muito poroso, muita atividade
biológica por ação de minhocas.
34 – 8 cm: Horizonte bruno-amarelado-empretecido (10YR3/4) a bruno-
empretecido (10YR3/2), argiloso, granular com grânulos de até 0,5 cm na parte
superior do horizonte, muito poroso, atividade biológica abundante.
8 – 0 cm: Horizonte bruno-muito empretecido, argiloso, granular (0,5
cm), cujos grânulos, no topo do horizonte, apresentam pontuações de areia
lavada, muito poroso e muita atividade biológica.

6.3.1.2. Síntese
No terço superior da baixa vertente (Fig. 1), do horizonte de alteração
passa-se para um horizonte bruno-escuro (7,5YR5/8), com nódulos,
semelhante ao encontrado no setor da alta vertente/média vertente.
Sobrejacente a esse bruno-escuro, um nível de pedregulho, é seguido, em
direção do topo, por horizontes latossólicos. Nesse setor não mais existem os
horizontes argilosos com restos de couraça e os horizontes do conjunto
latossólico assentam diretamente sobre a rocha alterada que nesse setor está
em ressalto em relação à alta e à baixa vertente.
No terço superior da baixa vertente o material alterado apresenta
algumas diferenças em relação ao do setor de montante. Esse, apesar de
maciço como o de montante, tem muito material grosseiro quartzoso e muito
material micáceo que o diferencia daquele. A presença de fragmentos mais
grosseiros quartzosos na alteração indica tratar-se de um domínio mais
quartzoso da rocha. Daí o ressalto. Por sua vez as micas podem estar
indicando uma alteração diferencial entre a parte de montante e a de jusante.
O horizonte bruno-escuro dá continuidade àquele do setor montante.
Entretanto observa-se que há uma nítida diminuição da quantidade de nódulos
ferruginosos e há o aparecimento de fragmentos de quartzo ferruginizado.
Apesar de não haver, subjacente a esse bruno-escuro, os horizontes argilosos

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 87


com restos de couraça, já na alteração da rocha existem nódulos ferruginosos.
Entretanto, apesar dessa continuidade do material de alteração com o material
do bruno-escuro, isso não demonstra uma diferenciação lateral entre esse de
jusante e aquele de montante. Pode significar, apenas, uma mesma
pedogênese sobre materiais diferentes.
De fato, sobrejacente a esse horizonte bruno-escuro assenta-se um
nível pedregoso que tem como matriz um material bruno-amarelado-
empretecido, granular, semelhante aqueles dos latossolos já descritos na
montante. Entretanto, esse nível pedregoso, abundante em quartzo e com
poucos nódulos, tem ocorrência limitada e existe apenas no setor médio da
encosta, permitindo levantar as hipóteses: 1) de uma provável descontinuidade
erosiva na vertente ou 2) da presença de uma fase mais quartzosa da rocha,
como visto na alteração. A segunda hipótese não exclui a primeira. A ausência
da fase nodular, abundante, no setor alta vertente/média vertente, na montante,
dentro dos horizontes latossólicos embasa a primeira hipótese e sugere que a
couraça poderia ter sido mais espessa e atingia até o terço superior da baixa
vertente. Isso vem corroborar com a hipótese, já levantada anteriormente, que
a antiga couraça foi truncada por erosão mecânica, ficando apenas os seus
horizontes basais.
Em continuidade, sobre o nível pedregoso, os horizontes latossólicos,
semelhantes àqueles da montante, refletem, portanto, a ação de uma
pedogênese sobre materiais aloctones, mas, parecidos aos que deram origem
aos latossolos de montante.
No terço médio/inferior da baixa vertente não existe mais o nível
pedregoso e a seqüência de horizontes, excetuando a alteração da rocha, é
similar àquela do setor da alta vertente/média vertente (montante) (Fig. 1) Do
horizonte de alteração da rocha passa-se a dois horizontes argilosos, maciços
(vermelho-amarelado, 5YR5/8, e vermelho, 2,5YR5/8 a 4/8). Sobrejacente a
esse último encontra-se a seqüência de horizontes granulares, latossólicos
(Fig. 6.10).
O horizonte de alteração da rocha é similar ao do terço superior da baixa
vertente: estão presentes os fragmentos de quartzo e minerais micáceos.
O horizonte vermelho-amarelado (5YR5/8) diferencia daquele da
montante por não apresentar a fase poliédrica bruno-amarelada (10YR6/8)
enquanto o vermelho (2,5YR5/8 a 4/8), compacto, difere daquele de montante
devido à presença de uma fração arenosa, quartzosa, grosseira. Sobrejacente
a esse horizonte, estão os horizontes granulares da seqüência latossólica.
A presença de material grosseiro, quartzoso que é encontrado da base
até o topo da cobertura e as transições graduais entre os horizontes parece
apontar para uma formação da seqüência dos horizontes a partir da
diferenciação do material de alteração subjacente. Entretanto, foram
encontrados nódulos ferruginosos da couraça, esparsos, nos horizontes
sobrejacentes à alteração sem que nenhuma evidência indicasse que a
couraça tenha existido aí. A posição que essa cobertura ocupa na encosta, em
relação ao terço superior da baixa vertente e ao setor de topo/alta vertente
(aonde ainda existem os remanescentes da couraça), e a presença e a
distribuição dos nódulos nesse trecho da cobertura colocam em dúvida a idéia
de que a seqüência de horizontes se formou a partir da diferenciação da

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 88


alteração da rocha e enforma a hipótese de que, também, nesse trecho, pelo
menos a partir do horizonte vermelho-amarelado (5YR5/8) a cobertura
desenvolveu-se sobre um material aloctone.
No terço inferior da baixa vertente o horizonte de alteração da rocha
passa a um horizonte bruno-muito-pálido (10YR7/3 a 7/2) que é seguido pelos
horizontes da seqüência latossólica (Fig. 6.10).
Os horizontes da base, de alteração e bruno-muito-pálido,
diferentemente daqueles do terço médio/inferior da vertente, apresentam traços
de hidromorfia. O bruno-muito-pálido (10YR7/3 a 7/2) contém fragmentos de
couraça o que sugere tratar-se de um material alóctone.

6.3.1.3. Várzea:
1.3.1- Trincheira na transição entre o terço inferior da baixa vertente e os
depósitos aluviais da várzea
200+ - 168 cm: Horizonte homogêneo, bruno-avermelhado-empretecido
(5YR3/2), argiloso, maciço, pouco poroso.
168 – 106 cm: Horizonte homogêneo de cor rosa (7,5YR3/4), argiloso,
maciço que se desfaz em granular, túbulos de atividade biológica.
106 – 0 cm: Reencontram-se os horizontes latossólicos granulares,
semelhantes aqueles do terço inferior da baixa vertente.

6.3.1.3.2- Síntese
Na transição entre a várzea e o terço inferior da baixa encosta passa-se
de um horizonte bruno-avermelhado-empretecido (5YR3/2) para um rosa
(7,5YR3/4) que é seguido pela seqüência de horizontes latossólicos (Fig. 6.10).
O horizonte bruno-avermelhado-empretecido (5YR3/2) dada a sua cor
representa um horizonte que sofreu influência da presença de matéria
orgânica. De fato esse horizonte mergulha sob os sedimentos aluviais e
provavelmente teve sua origem relacionada com eventos deposicionais de
várzea. Por outro lado, esse mesmo horizonte encontra-se subjacente aos
horizontes rosa e bruno-muito-pálido.que por sua vez são seguidos pelos
horizontes da seqüência latossólica o que indica que a várzea era mais extensa
que atualmente. Essa evidência demonstra que pelo menos a partir do terço
inferior da baixa vertente a diferenciação dos horizontes, se deu a partir de um
certo nível, sobre materiais alóctones provavelmente vindos da erosão
mecânica dos materiais da própria encosta.

6.3.2- Considerações sobre a topossequência do PEFI

Apenas à luz dos dados morfológicos de campo é possível indicar uma


cronologia para os eventos que deram origem à distribuição atual das
organizações morfológicas da toposseqüência: 1) inicialmente uma couraça
ferruginosa laterítica parece ter ocupado maior extensão da encosta e ter sido

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 89


mais espessa do que é sugerido pelas evidências encontradas no setor de
topo/alta vertente; 2) uma fase erosiva mecânica parece ter sido a responsável
pelo desmonte da couraça, já bem evoluída, como demonstram os seus
fragmentos 3) uma fase latossolizante que transforma os remanescentes da
antiga couraça e que ao mesmo tempo pedogeniza os materiais depositados
ao longo da encosta. Dessa maneira as diferenças entre os materiais na
toposseqüência são encontradas a partir dos horizontes maciços e de
alteração. Assim, verifica-se que no setor montante esses materiais da base
tem características peculiares e ligadas às transformações e diferenciações a
partir de um material “in situ” já profundamente alterado. No setor jusante, ao
contrário, os materiais da alteração e aqueles que vem da sua diferenciação,
também muito alterados, ainda guardam minerais do tipo micáceo.
A partir dessa distribuição pode-se levantar como hipótese que pode
haver uma diferença de quantidade e/ou de tipo das espécies químicas que
podem ser liberadas a partir dos materiais pedológicos encontrados nos
diferentes setores da vertente.

6.3.2. Caracterização físico-química dos horizontes

6.3.2.1. Densidade

Os dados de densidade do solo (Tabela 6.11 e Figura 6.12) mostram


valores altos (entre 1,5 e 1,7 g cm-3) nos horizontes mais profundos (>60cm) e
uma tendência de aumento na região da meia encosta. Em superfície não se
observam modificações significativas nos valores de densidade, variando entre
1,2 e1,4 g.cm-3. Os valores de densidade mais baixos, nos horizontes
superficiais podem ser explicados pelos altos teores de matéria orgânica.
Observa-se um gradiente para valores maiores de densidade em sub-
superfície. Este gradiente pode influenciar na dinâmica de água e solutos no
solo, favorecendo o aparecimento de lençóis freáticos temporários (suspensos)
acima dos horizontes mais densos nas épocas mais chuvosas.

Tabela 6.11. Densidade do solo nas trincheiras ao longo da vertente.

TRINCHEIRA prof. densidade


cm g.cm-3
TR2 0-10 1.19
TOPO DA ENCOSTA 24-62 1.26
62-115 1.35
115+ 1.45
TR4 0-10 1.40
MEIA ENCOSTA 23-67 1.59
67-130 1.64
130+ 1.74
TR6 0-10 1.25
BASE DA ENCOSTA 20-76 1.54

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 90


PEFI SOLO
DENSIDADE ( g.cm-3)

TRINCHEIRA 2 T OPO DA E NCOSTA


Densida de (g .cm- 3)
0 0.5 1.0 1.5 2.0
0- 10

Pr ofu ndidad e (cm )


24- 62

62- 115

11 5+

TRINCHEIRA 4 M E IA ENCOSTA
Densida de (g .cm- 3)
0 0.5 1.0 1.5 2.0
0- 10
Pr ofu ndidad e (cm )

23- 67

67-1 30

13 0+

TRINCHEIRA 6 BAS E DA ENCOSTA


Densida de (g .cm- 3)
0 0.5 1.0 1.5 2.0
0- 10
Pr ofu ndidad e (cm )

20- 76

Figura 6.11. Variação vertical da densidade do solo.

6.3.2.2. Análises químicas de rotina - PEFI

Os solos desta toposseqüência são pobres em termos de fertilidade


química (Tabela 6.12). Todos os horizontes apresentam elevada saturação por
alumínio sendo classificados como álicos (m%>80%) (Figura 6.12) e
baixíssimos valores de saturação por bases (Figura 6.13) (SB<10%).Os valores
de pH em água variam entre 3,8 e 4,5, sendo caracteristicamente mais baixos
nos horizontes superficiais devido à influência dos teores mais elevados de
matéria orgânica. A capacidade de troca catiônica apresenta valores altos em
superfície e baixos em sub-superfície (a partir de 50cm) também devido à
influência da matéria orgânica nos horizontes superficiais (Figura 6.14). Os

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 91


solos são pobres em termos de fertilidade entretanto, os teores de matéria
orgânica até a profundidade de cerca de 30cm são altos em comparação com
os horizontes inferiores (Figura 6.14 ). Estes valores mais altos de matéria
orgânica podem compensar a baixa fertilidade natural do solo, influenciando
principalmente a vegetação que se desenvolve sobre estes os mesmos a qual
depende quase que exclusivamente da ciclagem de nutrientes contidos dentro
da matéria orgânica do solo. O fósforo apresenta valores baixos em todos os
horizontes em todos os segmentos da toposseqüência. Este fato mostra que o
P é um fator limitante para essa vegetação já que o fornecimento deste
elemento pelo material de origem e baixíssimo.
Os valores da CTC da argila mostram que os solos da toposseqüência
apresentam dominância de argilas de atividade baixa. Não havendo indicação
da presença de atividade alta.

MCFORTI FAPESP 99/05204-4 92


Tabela 6.12. Análise química do solo e do material de alteração das trincheiras ao longo da vertente do PEFI.

AMOSTRA PROF. pH M.O. P Na K Ca Mg Al H+Al SB T V m


-1 -1 -1
cm H2O KCl CaCl2 g.kg mg.kg mmolc.kg % %
TR1 9-18 3,9 3,8 3,7 43 2 0,5 0,7 1 1 34 100 3,2 103,2 3 91
TR1 34-62 4,0 3,9 3,9 20 1 0,4 0,3 1 1 25 69 2,7 71,7 4 90
TR1 62-83 4,0 4,0 3,9 13 1 0,3 0,3 1 1 19 54 2,6 56,6 5 88
TR4 17-32 3,8 3,5 3,5 33 4 0,9 1,1 1 1 38 108 4,0 112,0 4 90
TR4 53-91 4,1 3,9 3,9 10 1 0,4 1,0 1 1 20 43 3,4 46,4 7 85
TR4 91-150 4,1 3,9 3,9 8,0 1 0,3 0,4 1 1 17 30 2,7 32,7 8 86
TR5 22-48 4,0 3,7 3,6 49 3 0,8 1,0 1 1 40 124 3,8 127,8 3 91
TR5 63-75 3,9 3,9 3,8 18 2 0,6 0,6 1 1 21 60 3,2 63,2 5 87
TR5 75-82 4,0 3,9 3,9 10 2 0,5 0,4 1 1 22 49 2,9 51,9 6 88
TR6 0-16 4,0 3,7 3,6 43 8 0,6 1,3 3 2 29 98 6,9 104,9 7 81
TR6 34-80 4,2 3,9 3,9 18 1 0,2 0,4 2 1 20 54 3,6 57,6 6 85

MCFORTI-FAPESP 99/05204-4 93
Nas figuras 6.12, 6.13 e 6.14 são apresentadas as variações dos diferentes
parâmetros químicos para os solos do PEFI.

PEFI SOLO
PROPRIEDADES QUÍMICAS
SATURAÇÃO POR ALUMÍNIO m
TRINCHEIRA 5 M EIA ENCOSTA
TRINCHEIRA 1 T OPO DA ENCOSTA m (% )
m (% ) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 1 00
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 1 00
22- 48
9- 18
Pr ofun didad e (cm )

Pr ofun didad e (cm )


34- 62 63- 75

62- 83 75- 82

TRINCHEIRA 4 M EIA ENCOSTA


TRINCHEIRA 6 BASE DA ENCOSTA
m (% ) m %
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 1 00 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 1 00
17- 32 0- 16
PROFUNDIDADE (cm )
Pr ofun didad e (cm )

53- 91 34- 80

91-1 50 80- 115

Figura 6.12 – Saturação por Alumínio (m%) do solo das trincheiras


PEFI SOLO
PROPRIEDADES QUÍMICAS
CTC mmolc.kg-1
TRINCHEIRA 1 T OPO DA ENCOSTA TRINCHEIRA 5 M EIA ENCOSTA
CTC ( mm olc.kg- 1) CTC ( mm olc.kg- 1)
0 20 40 60 80 1 00 1 20 0 50 1 00 1 50
9- 18 22- 48
Pr ofun didad e (cm )
Pr ofun didad e (cm )

34- 62 63- 75

62- 83 75- 82

TRINCHEIRA 4 M EIA ENCOSTA TRINCHEIRA 6 BASE DA ENCOSTA


CTC ( mm olc.kg- 1) CTC ( mm olc.kg- 1)
0 20 40 60 80 1 00 1 20 0 20 40 60 80 1 00 1 20
17- 32 0- 16
Pr ofun didad e (cm )
Pr ofun didad e (cm )

53- 91 34- 80

91-1 50 80- 115

Figura 6.13 – Capacidade de troca catiônica (CTC) do solo da trincheira

MCFORTI-FAPESP 99/05204-4 94
PEFI SOLO
PROPRIEDADES Q UÍ MI CAS
MATÉRIA ORGÂNICA M.O .
TRINCHEIRA 1 TOPO DA ENCOSTA TRINCHEIRA 5 MEIA ENCOSTA
M .O. (g .kg-1 ) M .O. (g .kg-1 )
0 10 20 30 40 50 0 10 20 30 40 50 60
9-1 8 22-4 8

Pro fund idade (cm )


Pro fund idade (cm )

34-6 2 63-7 5

62-8 3 75-8 2

TRINCHEIRA 4 MEIA ENCOSTA TRINCHEIRA 6 BASE DA ENCOSTA


M .O. (g .kg-1 ) M .O. (g .kg-1 )
0 5 10 15 20 25 30 35 0 10 20 30 40 50
17-3 2 0-1 6

Pro fund idade (cm )


Pro fund idade (cm )

53-9 1 34-8 0

9 1-15 0 80-11 5

Figura 6.14 – Contudo de matéria orgânica (M.O.) do solo da trincheira.

MCFORTI-FAPESP 99/05204-4 95
7 – AS TRANSFERÊNCIAS DAS ESPÉÇIES QUÍMICAS EM SOLUÇÃO QUE
PERCOLAM ATRAVÉS DAS INTERFACES.

A água, por ser um meio móvel, permanece em contato com muitas


partes da bacia hidrográfica que, de outro modo, não podem interagir
diretamente entre si. Exemplos são o húmus e a adubação ou a atmosfera e a
rocha sob o solo. Deste modo, o ciclo da água é um dos mecanismos
fundamentais para os processos geoquímicos e hidrológicos em uma bacia. A
precipitação que cai, por exemplo, como chuva, neblina ou neve, é
parcialmente evaporada ou evapotranspirada, armazenada em organismos
vivos e nos solos, recarregada como água subterrânea e transferida para
águas superficiais através do escoamento superficial ou sub-superficial.
Macroscopicamente, na escala da bacia, os aspectos físicos ou
hidrológicos da dinâmica da água são relativamente bem conhecidos.
Entretanto, o mesmo não pode ser dito com relação à geoquímica. Por
exemplo, pode-se tornar muito complicado predizer a química das águas de
drenagem ao longo do tempo se a heterogeneidade do solo da bacia for
considerada. É evidente que o ciclo da água não é o único que controla a
natureza, a taxa e a extensão dos processos geoquímicos que ocorrem em
uma bacia hidrográfica. A influência dos ciclos de energia (estações do ano),
variações e/ou mudanças do clima e, em escalas de tempo longas, os ciclos
geológicos, também têm sua importância.
Entretanto, como a escala de tempo de interesse em estudos
geoquímicos em bacias hidrográficas varia de um ano a décadas, é possível
acompanhar, mesmo que simplificadamente, como a composição química de
um volume elementar de água varia desde o momento de sua queda como
água de chuva até sua saída no leito do riacho. Para tal serão examinados os
fluxos anuais de cada uma das espécies nas interfaces acima descritas. As
interfaces onde esses fluxos foram calculados são apresentadas na figura 7.1

MCFORTI-FAPESP 99/05204-4 96
Figura 7.1 Esquema indicando as interfaces onde as transferências
foram determinadas.
Como este estudo cobriu períodos com intervalos distintos em cada área
sendo mais longo para o PEFI, estimou-se os fluxos anuais e semestrais, para
os períodos seco e chuvoso, das diferentes espécies para os dois locais. Para
a transprecipitação foram calculados os fluxos líquidos. Os valores desses
fluxos são apresentados na Tabela 7.1 para a água de chuva e na Tabela 7.2
para a transprecipitação.

MCFORTI-FAPESP 99/05204-4 97
Tabela 6 – Fluxo anual, semestral (chuvoso e seco) através da água de chuva (CH) e da
-1 -1
transprecipitação (TR) em kg.ha .ano , para as áreas do PEFI e de CUNHA.

PEFI CUNHA
TOTAL SECO CHUVOSO TOTAL SECO CHUVOSO
CH TR CH TR CH TR CH TR CH TR CH TR
kg.ha-1.ano-1 kg.ha-1.semestre-1 kg.ha-1.ano-1 kg.ha-1.semestre-1
+
Na 4.30 8.69 1.93 2.97 2.36 6.05 3.03 11.48 1.50 4.17 1.00 7.64
K+ 5.70 57.90 1.46 18.48 4.36 42.28 3.38 107.55 1.46 42.51 1.61 62.19
Mg2+ 1.31 5.54 0.59 1.87 0.72 3.90 0.56 4.42 0.23 1.54 0.30 3.13
Ca2+ 7.25 16.73 3.40 6.26 3.79 10.67 0.60 8.14 0.27 2.69 0.26 6.17
NH4+ 15.2 14.52 5.69 2.93 9.60 13.56 8.20 3.74 1.02 0.73 9.73 4.26
Cl- 11.6 29.37 5.32 12.15 6.22 17.27 9.85 59.22 4.83 24.28 2.83 31.65
NO3- 52.3 40.45 25.0 16.75 23.0 23.00 4.84 4.08 2.49 1.90 1.09 1.54
SO42- 26.7 57.22 9.91 20.14 16.9 39.06 5.48 29.00 1.89 12.00 3.65 15.29
Al III 0.04 0.07 0.01 0.01 0.03 0.05 0.00 0.13 0.00 0.02 0.00 0.15
Fe III 0.18 0.09 0.06 0.03 0.12 0.05 0.04 0.08 0.01 0.02 0.04 0.06
Cu II 0.06 0.07 0.03 0.02 0.03 0.04 0.00 0.03 0.00 0.01 0.00 0.03
Zn II 1.15 0.65 0.52 0.17 0.62 0.45 0.42 0.33 0.13 0.09 1.02 0.30
Mn II 0.08 0.70 0.04 0.25 0.04 0.35 0.07 0.26 0.03 0.04 0.04 0.31

Os fluxos anuais decorrentes das águas pluviais são, em geral, inferiores


na área de CUNHA, isto por que nessa área não se espera que exista
influência antrópica marcante. Desta forma, as espécies com fontes antrópicas
marcantes como de Ca2+, NH4+, NO3- e SO42- além dos metais traço,
apresentam fluxos significativamente maiores no PEFI. O NH4+ apresenta
fluxos equivalentes nos dois locais durante o período chuvoso, porém, fluxos
equivalentes não significam fontes equivalentes. Com relação aos metais traço
os fluxos aqui calculados representam uma fração do fluxo total, pois, como
mencionado anteriormente, foram dosados seus íons livres.
Os fluxos líquidos através da solução transprecipitada isto é, aqueles
originados da interação da água de chuva com o dossel, apresentam
características bastante distintas em cada região. Essas características podem
refletir não somente a influência de uma atmosfera poluída (PEFI) ou
relativamente limpa (CUNHA), mas também diferenças da população vegetal e
do estado nutricional dessa vegetação.

MCFORTI-FAPESP 99/05204-4 98
-1 -1
Tabela 7.2 - Fluxo líquido anual em kg.ha .ano através da água de
transprecipitação e fluxo líquido semestral para os períodos seco e
-1 -1
chuvoso em kg.ha .semestre , para as áreas do PEFI e de CUNHA.

PEFI CUNHA
TOTAL SECO CHUVOSO TOTAL SECO CHUVOSO
kg.ha-1.ano-1 kg.ha-1.semestre-1 kg.ha-1.ano-1 kg.ha-1.semestre-1
Na+ 4.39 1.46 2.76 8.47 3.09 5.55
K+ 52.2 19.6 31.4 105 45.3 51.7
Mg2+ 4.23 1.54 2.58 3.86 1.47 2.38
Ca2+ 9.45 3.75 5.24 7.54 2.69 5.03
NH4+ -0.70 -2.34 1.90 -4.46 -0.22 -6.08
Cl- 17.8 8.58 8.38 49.4 21.9 24.3
NO3- -11.8 -5.90 -3.50 -0.76 -0.39 0.23
SO42- 30.5 13.1 16.2 23.5 11.3 9.45
Al III 0.03 0.00 0.01 0.13 0.03 0.13
Fe III -0.09 -0.03 -0.07 0.04 0.02 0.01
Cu II 0.01 0.00 0.01 0.03 0.01 0.03
Zn II -0.50 -0.33 -0.24 -0.09 -0.03 -0.76
Mn II 0.62 0.24 0.26 0.19 0.01 0.66

Os fluxos apresentados na Tabela 7.2, calculados pela diferença entre


os valores obtidos para a transprecipitação (TR) e os obtidos para a chuva
(CH), mostrados na Tabela 7.1, referem-se à contribuição da massa vegetal
aérea para a solução que a atravessa. Essa contribuição é composta de várias
frações oriundas principalmente da incorporação de espécies exudadas da
vegetação, de espécies lixiviadas dos tecidos vegetais, da lavagem de material
depositado sobre o dossel e da absorção/adsorção de espécies presentes na
água de chuva. Esses processos que são, em geral de enriquecimento, são
uma fonte importante de nutrientes para o chão da floresta, fazendo parte da
reciclagem de nutrientes, cuja descrição, é fartamente encontrada na literatura
(e.g. Berner & Berner, 1987).
Para os elementos ativos nos ciclos biogeoquímicos como o K, Mn e N
sua remoção da vegetação refletem processos de lixiviação ou consumo pelas
superfícies do dossel. Os fluxos de K+ em CUNHA são o dobro daqueles no
PEFI. O K+ é facilmente lixiviável da vegetação essa diferença pode ser
atribuída a uma deficiência desse nutriente na vegetação do PEFI; deficiência
essa que pode estar relacionada tanto à falta de K no solo limitando sua
absorção pela vegetação, como eventualmente a uma massa vegetal com
menor disponibilidade desse nutriente. Quanto ao Mn2+, no PEFI o fluxo é
maior refletindo uma maior disponibilidade desse cátion nessa vegetação. A
lixiviação de grandes quantidades de Mn da vegetação é relatada na literatura
associando-a à baixas concentrações na solução do solo e nas águas de
drenagem fazendo com que ele seja rapidamente reciclado pela vegetação
(Nihlgärd et al, 1994). Assim, observa-se que o K e o Mn são lixiviados da
vegetação.
O Mg2+ é um nutriente importante sendo normalmente lixiviado da
vegetação juntamente com o K+. Neste caso, os fluxos de Mg2+ são
equivalentes nas duas áreas indicando que, se existe Mg de origem antrópica
no PEFI, então a vegetação pode estar deficiente nesse nutriente. Pode ser

MCFORTI-FAPESP 99/05204-4 99
também que os fluxos menores de K+ e Mg2+ no PEFI sejam conseqüência das
altas taxas de deposição de ânions que levam consigo os cátions básicos.
Para CUNHA as taxas de deposição são baixas e observa-se uma
absorção de NH4+ principalmente durante o período chuvoso. O NO3- é
transferido, num percentual baixo, para o transprecipitado durante o período
chuvoso.
No PEFI as taxas de deposição são elevadas não apresentando
transferências substanciais desses íons para a transprecipitação. O NH4+ é
absorvido durante o período seco e transferido em taxas baixas durante o
período chuvoso; o NO3- é absorvido ao longo de todo ano com taxas
elevadas.
Segundo Nihlgärd et al. (1994) o NH4+ é absorvido pela vegetação se as
taxas de deposição de NH4+ são baixas (< 5kg.ha-1.ano-1) enquanto que o NO3-
atravessa o dossel; altas taxas de deposição NH4+ (> 20kg.ha-1.ano-1) pode
causar uma transferência substancial de ambos para a transprecipitação.
Essas diferenças de absorção e deposição desses íons podem indicar a
existência de uma massa maior de espécies vegetais fixadoras de N no PEFI
do que em CUNHA. Essa diferença pode ser natural ou conseqüência de uma
possível substituição de espécies em face à adversidade das deposições
atmosféricas.
O Ca2+ está presente principalmente nas partes estruturais da vegetação
estando mais vulnerável à lixiviação durante os períodos de senescência, não
identificados pelos resultados aqui apresentados uma vez que são integrados
ao longo do tempo. No PEFI certamente uma fração do Ca2+ tem origem
antropogênica: construções e resíduos de resuspensão pelo tráfego de
veículos.
Para os elementos menos ativos como o Na, Cl e o S, para os quais a
lixiviação e consumo são desprezíveis, a contribuição para a transprecipitação
é originada da deposição direta sobre a vegetação. Eles têm como fonte
natural os aerossóis marinhos e os núcleos de condensação de nuvens. Desta
forma, são depositados sobre a vegetação e posteriormente lavados pela água
de chuva que atravessa o dossel. O SO42- tem uma fonte marinha importante
em CUNHA, porém no PEFI a contribuição antrópica é mais importante se
sobrepondo às naturais.
Com relação aos metais traço, pode-se considerar que os fluxos são
baixos e o são no PEFI, certamente por estarem subestimados. Os fluxos mais
significativos são o do Zn2+ e o do Mn2+ ambos metais, essenciais
(micronutrientes) para a vegetação. No caso do Zn2+ os resultados indicam que
ocorre uma retenção desse metal pela vegetação indicando que ele pode estar
sendo fixado. O Mn2+ está sendo removido da vegetação, porém as taxas de
remoção no PEFI são mais elevadas representando 90% do fluxo. Em CUNHA
70% do fluxo do Mn2+ é oriundo da vegetação, mas, no período chuvoso, esse
percentual se eleva para 85%.
Na Tabela 7.3 apresenta-se o fluxo das diferentes espécies
químicas na região da meia encosta da vertente para as duas bacias, e para os
diferentes horizontes dos solos.

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-1 -1
Tabela 7.3 - Fluxo anual em kg.ha .ano da água que percola através do
solo, na meia encosta da vertente para ambas as bacias.

CUNHA – FLUXO ÁGUA DO SOLO PEFI - FLUXO ÁGUA DO SOLO


C4-90 C4-150 C4-250 BL4-20 BL4-70 BL4-150
N
MAr
Min.
Max
MP
TRANS
FLUXO

Vol Perc mm 50.18 64.83 44.95 76,12 19,60 35,84


kg.ha-1.ano-1 kg.ha-1.ano-1
H+ 1.62E-02 9.15E-03 8.19E-03 2.07E-02 1.01E-02 8.92E-03
Na+ 4.81E-01 5.06E-01 4.58E-01 7.28E-01 1.68E-01 3.09E-01
K+ 5.18E-01 6.66E-01 3.78E-01 2.64E+00 5.37E-01 9.22E+00
Mg2+ 3.41E-01 7.06E-01 4.23E-01 2.68E+00 6.28E-01 1.46E+00
Ca2+ 2.41E-01 5.29E-01 3.22E-01 1.07E+00 2.51E-01 3.13E-01
NH4+ 1.05E-01 2.59E-01 1.35E-01 1.28E+00 2.63E-01 3.01E-01
Cl- 1.61E+00 1.93E+00 1.13E+00 3.30E+00 6.29E-01 1.29E+00
NO3- 5.09E+00 4.09E+00 4.45E+00 1.26E+01 2.09E+00 1.59E+01
SO42- 6.55E-02 4.60E-01 1.07E-01 6.73E+00 3.54E+00 3.22E+00
Al3+ 4.46E-01 1.40E-01 1.82E-01 7.33E-01 3.07E-01 9.87E-02
Fe3+ 2.37E-03 3.40E-03 3.30E-03 4.28E-01 2.19E-03 1.05E-02
Zn2+ 1.22E-02 1.78E-02 8.82E-03 5.55E-02 1.63E-02 2.24E-02
Mn2+ 1.00E-02 2.14E-02 1.38E-02 2.06E-01 2.91E-02 3.81E-02

As quantidades transferidas no PEFI são sistematicamente mais


elevadas do que em CUNHA, entretanto, são inferiores às da transprecipitação.

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Na Tabela 7.4 são apresentados os valores dos fluxos na saía de cada
bacia. Observa-se que esses valores são relativamente baixos quando
comparados aos que circulam entre a transprecipitação e o horizonte superior
do solo. Esse padrão é característico da reciclagem interna que ocorre
normalmente em florestas tropicais.

-1 -1
Tabela 7.4 - Fluxo líquido anual de saída em kg.ha .ano através das águas dos riachos e
-1 -1
fluxo líquido semestral para os períodos seco e chuvoso em kg.ha .semestre , para as bacias
do PEFI e de CUNHA.

CUNHA - FLUXOS PEFI - FLUXO


PER. TOTAL CHUVOSO SECO TOTAL CHUVOSO SECO
DEF mm 1332.5 646.3 672.9 327,95 204,73 123,22
kg.ha-1.ano-1 kg.ha-1.ano
+
H 2.16E-03 1.94E-03 5.87E-04 2.10E-02 1.82E-02 5.27E-03
Na+ 1.51E+01 9.26E+00 6.04E+00 2.26E+00 1.63E+00 7.92E-01
K+ 5.77E+00 3.41E+00 2.57E+00 9.24E-01 6.03E-01 3.67E-01
Mg2+ 3.25E+00 2.25E+00 1.26E+00 6.97E-01 5.02E-01 2.43E-01
Ca2+ 3.75E+00 2.95E+00 1.26E+00 7.42E-01 6.33E-01 1.90E-01
NH4+ 1.85E+00 1.68E+00 4.92E-01 1.92E-01 1.44E-01 6.34E-02
Cl- 1.09E+01 6.91E+00 4.56E+00 3.73E+00 2.85E+00 1.19E+00
NO3- 6.53E+00 3.46E+00 3.07E+00 2.83E+00 2.29E+00 8.15E-01
SO42- 3.96E+00 2.05E+00 1.92E+00 2.50E+00 2.08E+00 6.79E-01
Al3+ 2.73E-01 3.72E-01 8.03E-02 6.17E-02 5.62E-02 1.10E-02
Fe3+ 3.06E-01 2.30E-01 1.19E-01 4.99E-02 3.88E-02 1.51E-02
Zn2+ 8.00E-03 5.92E-02 3.12E-02 2.53E-02 3.03E-02 8.04E-03
Mn2+ 5.16E-03 8.87E-03 2.02E-05 5.28E-02 4.69E-02 1.14E-02

Para melhor visualizar as transferências, apresenta-se os fluxos através


de gráficos indicando as quantidades, em kg.ha-1, transferidas nas duas bacias,
considerando a água do solo da meia encosta da vertente.

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Na Figura 7.2 apresenta-se a variação vertical das quantidades de íons
livres H+.

VARIAÇÃO DO H+ (pH)
CH

TR

C4-90 CUNHA
C4-150

C4-250

RIO

CH

TR

BL4-20
PEFI
BL4-70

BL4-150

RIO kg/ha/ano

0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7

CH: CHUVA BL4 -20; C4 -90: SOL UÇÃO DO SOLO EM 20 E 90 cm


T R: TRANSPRECIPITAÇÃO BL4-7 0; C4- 150:SOLUÇÃO DO SOLO EM 7 0 E 150 cm
RIO:RIO
BL4 -150 ;C4-25 0: SOLUÇÃO DO SOL O EM 15 0 E 250 cm

Figura 7.2 – Variação vertical das transferências de H+ nas interfaces


das duas bacias.

Em Cunha a solução tem pH normal c.a. 5,6 que é neutralizado quando


atravessa o dossel pela transferência de cátions para a solução. No solo,
devido também à troca de cátions e perda de CO2 o pH aumenta chegando ao
rio com valores neutros.

No PEFI, observa-se que a precipitação está acidificada com valores


médios de pH = 4,31. A acidificação decorre da presença, principalmente, de
SO42- e NO3- de origem antropogênica. Essas espécies são, em geral, oriundas
dos óxidos de S e N. Essa acidez é parcialmente neutralizada quando a
solução atravessa a vegetação e percola através do solo. Entretanto, as águas
do rio já apresentam sinais de acidificação.

Os elementos ativos nos ciclos biogeoquímicos são principalmente o K


(Figura 7.3), Mg, Ca e N (Figura 7.4). Sua remoção da vegetação reflete
processos de lixiviação ou consumo pelas superfícies do dossel, contribuindo
para o processo de reciclagem interna observado normalmente nas regiões
tropicais.

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Destes, o K é o que tem o componente da transprecipitação mais
enriquecido.

VARIAÇÃO DO K

CH

TR

C4-90
CUNHA
C4-150

C4-250
RIO

CH
TR

BL4-20

BL4-70 PEFI
BL4-150
RIO kg/ha/ano

0 20 40 60 80 100 120

T R: TRA NS P RECIP ITA ÇÃ O B L4- 70; C4- 150:S OLUÇÃ O DO S OLO E M 7 0 E 150 cm
RIO:RIO
BL 4-15 0;C4-2 50: S OLUÇÃ O DO S OLO E M 15 0 E 250 cm

Figura 7.3 - Variação vertical das transferências de K+ nas interfaces das


duas bacias.

Assim, observa-se que o K é intensamente lixiviado da vegetação. Os


fluxos de K+ em CUNHA são o dobro daqueles no PEFI. O K+ é facilmente
lixiviável da vegetação e, essa diferença, pode ser atribuída a uma deficiência
desse nutriente na vegetação do PEFI a qual, pode estar relacionada tanto à
falta de K no solo, o que limita sua absorção pela vegetação, como
eventualmente a uma massa vegetal, com menor disponibilidade desse
nutriente. Nas duas bacias os solos têm baixa fertilidade com baixa quantidade
de bases e, portanto, teores de K baixos. Em Cunha observa-se uma ligeira
perda de K para as águas de drenagem enquanto no PEFI está ocorrendo
retenção. O que reforça a tese de deficiência desse elemento na vegetação:
ela está absorvendo todo o K disponível.

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VARIAÇÃO DAS ESPÉCIES ATIVAS

CN-CH

CN-TR

CN-C4-90

CN-C4-150
CUNHA

CN-C4-250

CN-RIO

SP-CH

SP-TR

SP-BL4-20
PEFI
SP-BL4-70

SP-BL4-150

SP-RIO kg/ha/ano

0 10 20 30 40 50 60

Mg Ca NH4 NO3

Figura 7.4 – Variação vertical das transferências de Mg2+, Ca2+, NH4+ e


NO3- nas interfaces das duas bacias.

O Mg2+ é um nutriente importante sendo normalmente lixiviado da


vegetação juntamente com o K+. Neste caso, os fluxos de Mg2+ são
equivalentes nas duas áreas indicando que, se existe Mg de origem antrópica
no PEFI, então a vegetação pode estar deficiente também nesse nutriente.
Essa deficiência pode ser conseqüência dos altos fluxos de ânions que levam
consigo os cátions presentes na solução do solo.

O Ca2+ está presente principalmente nas partes estruturais da vegetação


estando mais vulnerável à lixiviação durante os períodos de senescência, não
identificados pelos resultados aqui apresentados uma vez que são integrados
ao longo do tempo. No PEFI certamente uma fração do Ca2+ tem origem
antropogênica: construções e resíduos de ressuspensão pelo tráfego de
veículos. Observa-se uma pequena perda em Cunha e sua retenção no PEFI,
em relação à água de chuva. Se forem considerados os fluxos da
transprecipitação ambos estão sendo retidos através dos processos de
reciclagem interna.

Examinando-se as transferências de NH4+ e NO3-, observa-se que


ambos são absorvidos pela vegetação, nas duas bacias. A absorção do NH4+ é

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menor no PEFI enquanto que em Cunha o NO3- é absorvido em menor
quantidade.

No PEFI o NH4+ é transformado ao longo do percurso em direção à


saída da bacia sendo quase todo consumido. Em CUNHA, uma pequena parte
desse cátion é transferida para as águas de drenagem.

Trabalhos recentes indicam que, se as taxas de deposição de NH4+ são


baixas (< 5 kg. ha-1.ano-1) o NH4+ é absorvido pela vegetação enquanto que o
NO3- atravessa o dossel sendo transferido para o sistema solo: situação em
CUNHA. Se as taxas de deposição são altas (> 20 kg.ha-1.ano-1) pode ocorrer
uma transferência substancial de ambos para a transprecipitação: situação no
PEFI. O NH4+ é retido no solo pela troca catiônica além de absorvido pelas
raízes.

Considerando as relações entrada pela chuva saída pelo rio para o


NO3-,em CUNHA, observa-se uma saída relativamente alta, enquanto que no
PEFI as saídas são relativamente baixas.

Essas diferenças de absorção e deposição desses íons podem indicar a


existência uma massa maior de espécies vegetais fixadoras de N no PEFI do
que em CUNHA. Essa diferença pode ser natural ou conseqüência de uma
possível substituição de espécies vegetais em face à adversidade das
deposições atmosféricas.

Para o NO3- a simples relação tipo entrada-saída não pode explicar as


quantidades presentes na solução do solo e nas águas dos rios. No PEFI como
a deposição atmosférica é muito alta, o sistema pode estar perto de atingir um
nível de saturação. Se esse for o caso, a lixiviação do N vai continuar a
crescer, aumentando a acidificação dos solos devido às transformações do N,
que irá se somar à adição de prótons oriundos da precipitação. A lixiviação de
nitrato é acompanhada pela lixiviação de cátions, e, nesses solos que já são
ácidos, acompanhados pela mobilização do Al como um contra-íon. Essa perda
de cátions irá baixar ainda mais a fertilidade dos solos, contribuindo para
acentuar a deficiência nutricional para a vegetação.

Em Cunha observa-se uma liberação de NO3-. Como esta é uma região


natural e, que não apresenta sinais de antropização, fica difícil atribuir essa
perda a desequilíbrios induzidos pela ação do homem.

O balanço de N é razoavelmente complexo, pois existe a possibilidade


de fixação biológica e perdas gasosas por denitrificação. A ciclagem interna no
sistema solo e sua reserva são fatores variáveis, os processos no solo e na
zona ripária não são bem conhecidos principalmente em regiões tropicais. Por
essa razão é importante combinar estudos na escala de microbacia com
estudos em parcelas.

Para os elementos menos ativos como o Na, Cl e o S, para os quais a


lixiviação e consumo são desprezíveis, a contribuição para a transprecipitação
é originada da deposição direta sobre a vegetação. Eles têm como fonte
natural os aerossóis marinhos e os núcleos de condensação de nuvens. Desta

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forma, são depositados sobre a vegetação e posteriormente lavados pela água
de chuva que atravessa o dossel. O SO42- tem uma fonte marinha importante
em CUNHA, porém no PEFI a contribuição antrópica é mais importante se
sobrepondo às naturais.

VARIAÇÃO DAS ESPÉCIES MENOS ATIVAS

CH

TR

C4- 90 CUNHA
C4-150

C4-250

RIO

CH

TR

BL4- 20

BL4- 70 PEFI
BL4-150
RIO kg/ha/ano

0 10 20 30 40 50 60 70
Na Cl SO4
TR: TRANSPRECIPITAÇÃO BL4-7 0; C4-1 50:SOLUÇÃO DO SOLO EM 70 E 150 cm
RIO:RIO
BL4 -150 ;C4-25 0: SOLUÇÃO DO SOL O EM 150 E 250 cm

Figura 7.5 – Variação vertical das transferências de Na+, Cl- e SO42- nas
interfaces das duas bacias.

Os solos têm papel importante para regular os fluxos de SO42-. Há


indicações na literatura que solos altamente intemperizados, como os
encontrados nas áreas de estudo, têm alta capacidade de adsorção desse íon.
Isso é evidenciado pelos baixos fluxos na solução do solo.

Em Cunha observa-se um equilíbrio razoável entre as entradas pela


chuva e a saída no rio. No PEFI as entradas são muito elevadas notando-se a
presença de transferências significativas na solução do solo, entretanto, esses
íons ainda estão sendo retidos pelo sistema.

O efeito da transferência de SO42- em quantidades significativas dentro


do sistema solo é perda de cátions básicos (Ca, Mg, e K) e ácidos (H+ e Al3+)
levando a uma má nutrição vegetal. Entretanto, essa perda não é observada.
Para os cátions básicos pode-se levantar duas hipóteses a primeira é que as
perdas já podem ter ocorrido e a segunda, é que eles são obsorvidos na
porção superficial do solo.

Considerando os metias, para o Mn2+ no PEFI, o fluxo é maior refletindo


uma maior disponibilidade desse cátion nessa vegetação. A lixiviação de
MCFORTI-FAPESP 99/05204-4 107
grandes quantidades de Mn da vegetação é relatada na literatura associando-
as a baixas concentrações na solução do solo e nas águas de drenagem
fazendo com que ele seja rapidamente reciclado pela vegetação (Nihlgärd et al,
1994), o que é observado na solução do solo, para ambos os locais. O Mn2+
está sendo removido da vegetação, porém as taxas de remoção no PEFI são
mais elevadas representando 90% do fluxo. Em CUNHA 70% do fluxo do Mn2+
é oriundo da vegetação.

VARIAÇÃO DOS ÍONS METÁLICOS

CH
TR
CUNHA
C4-90

C4- 150

C4-250
RIO

CH

TR
PEFI
BL4-20

BL4-70

BL4- 150

RIO kg/ha/ano

0 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40


Al Fe Zn Mn
TR: TRANSPRECIPITAÇÃO B L4 -70; C4-150 :S OLUÇÃO DO S OLO EM 70 E 15 0 cm
RIO:RIO
B L4-1 50;C4- 250: SOL UÇÃ O DO S OLO E M 1 50 E 25 0 cm

Figura 7.6 – Variação vertical das transferências de Al2+, Fe3+, Zn2+ e


2+
Mn nas interfaces das duas bacias.

Pode-se considerar que os fluxos dos metais traço são baixos e o são
no PEFI, certamente por estarem subestimados. Os fluxos mais significativos
são o do Zn2+ e o do Mn2+ ambos metais essenciais (micronutrientes) para a
vegetação. No caso do Zn2+ os resultados indicam que ocorre uma retenção
desse metal pela vegetação indicando que ele pode estar sendo fixado

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8. CONCLUSÕES PRINCIPAIS

Neste trabalho mostrou-se que os fluxos de espécies maiores e de


metais traço em áreas contrastantes apresentam características da deposição
distintas. Na área ocupada por uma floresta inserida em ambiente urbano e
com alto grau de poluentes na atmosfera os fluxos através das águas de
chuva, como esperado, foram altos em oposição aos valores baixos
encontrados na região afastada de centros urbanos. A análise dos fluxos
líquidos derivados da água que interage com o dossel, denominada
transprecipitação, evidencia diferenças significativas no estado nutricional da
vegetação. Essas diferenças podem ser conseqüência da ação dos poluentes
sobre a massa vegetal.
Na bacia de CUNHA observa-se que os ciclos naturais estão
preservados e, portanto, essa é uma hipótese aceitável, permitindo que essa
área seja utilizada como referência para esses estudos.
Os fluxos das diferentes espécies químicas são significativamente mais
elevados no PEFI principalmente devido à grande quantidade de poluentes
presentes na atmosfera do PEFI especialmente o NO3- e o SO42-.
Os padrões de transferências observados para a transprecipitação
evidenciam que a vegetação do PEFI apresenta estado nutricional alterado
tanto devido ao solo como às transferências da atmosfera.
Nas duas bacias as transferências entre os diferentes horizontes do solo
são baixas quando comparas às da transprecipitação o que é conseqüência
principalmente da ciclagem interna estreita. O Nitrato é exceção, entretanto,
seu ciclo é complexo e ainda não bem conhecido em regiões tropicais.
As águas do riacho do PEFI apresentam sinais de acidificação,
provavelmente os solos já estão próximos, ou já atingiram sua capacidade de
adsorção de sulfato.
As transferências das espécies para as águas dos rios são baixas, para
as duas bacias o que é esperado em florestas tropicais, devido à reciclagem
interna das diferentes espécies, principalmente nutrientes.
Os processos pelo qual os poluentes podem afetar a vegetação são
variados e o sinal de decadência de uma floresta é a redução do crescimento
das árvores indicado por um dossel apresentando árvores dominantes com
copas de tamanho reduzido, árvores com galhos sem folhas, amarelamento
das folhas, entre outros. Um forte sinal de que a poluição atmosférica vem
causando danos à vegetação na área do PEFI é a progressão da decadência
sendo que, a partir de um certo limite, a floresta torna-se há suscetível às
doenças, à seca, ao ataque de insetos e à queda de árvores devido aos
ventos. Segundo Grant (1996), em geral, a decadência é atribuída a esses
fatores considerando-os como causas primárias quando, entretanto, a poluição
atmosférica está na origem de todo o processo de decadência.

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9. PERSPECTIVAS

Ao finalizar este trabalho, podemos considerar que estamos iniciando


uma nova etapa de investigação ampliando um pouco nosso conhecimento
sobre o funcionamento de, pelo menos, de uma pequena porção da Mata
Atlântica.
Cabe, contudo ressaltar que, as perspectivas para a continuidade
desses estudos devem considerar os seguintes pontos:
Criar condições para melhorar o conhecimento sobre o ciclo do
Nitrogênio.
Intensificar e multiplicar estudos que contemplem estudos integrados,
melhorando a qualidade dos dados e aumentando o número de estudos
comparativos.
Desenvolver e implementar modelos conceituais e matemáticos como
ferramenta adicional para a compreensão do funcionamento desses biomas.
Estimular a implementação de experimentos que permitam aperfeiçoar a
compreensão dos efeitos oriundos de perturbações diversas.
Intensificar as pesquisa que envolvam espécies menores como os metia
traço, estudos sobre especiação de diferentes elementos e compostos
orgânicos.
Dar maior importância à observação de eventos e sue efeitos e
variações de longo tempo.
Buscar o desenvolvimento de metodologias que permitam ligar os
estudos de pequena escala aos de escalas maiores visando a compreensão
regional.
Expandir esses estudos principalmente nos trópicos buscando a
inserção numa rede global, cobrindo regiões representativas de diferentes
biomas e áreas sob pressão antrópica.

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10 – BIBLIOGRAFIA CITADA

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MCFORTI-FAPESP 99/05204-4 112


EQUIPE PARTICIPANTE DO PROJETO

Maria Cristina Forti - Coordenadora - INPE: Hidroquímica e ciclos biogeoquímicos

Adolpho J. Melfi - ESALQ/USP: Geoquímica

Valdir de Cicco - IF/SMA: Hidrologia florestal

Francisco Arcova - IF/SMA: Hidrologia florestal

Nadia Nascimento - UNESP Rio Claro: Pedologia

Celia Montes - ESALQ/USP: Mineralogia

Anne-Helene Fostier - IQ/UNICAMP: Metais pesados

Denise Bicudo - Ibot/SMA: Limnologia

Carlos Bicudo/SMA - Ibot/SMA: Limnologia

Trabalhos de campos:

Veralucia C. de Lima IAG/USP – PEFI

João B. ª dos Santos IF/SEMA - CUNHA

MCFORTI-FAPESP 99/05204-4 113

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