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Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

Universidade de Coimbra

Ética na Investigação
Aniana Santos & Catarina Ferrão

14 de Maio de 2009
MIC
1.Introdução
Qualquer investigação efectuada junto de seres humanos levanta

questões morais e éticas. Deste modo, estas questões “colocam-se em

todas as fases de uma investigação, desde a escolha do tema e a

definição das questões de pesquisa, passando pela selecção dos

participantes, até ao modo de acesso ao terreno, à forma de recolha de

dados, aos procedimentos e análise adoptados, à redacção do texto e à

própria publicação dos resultados” (Lima, 2006, p. 139) .


2. Ética
 A ética é a ciência da moral e a arte de dirigir a conduta, ou seja, é o
conjunto de permissões e de interdições que têm um enorme valor na
vida dos indivíduos.

(Fortin & Coutu-Wakulczyk, 1999)

 “O termo ética é originário de “ethos”, que designa a palavra grega


“carácter”, sendo a ética o estudo sistemático dos conceitos de valor
(“bom”/”mau”, “certo”/”errado”) e dos princípios gerais que justificam
a sua aplicação”.

(Sieber, 1992, p.3 citado por Lima, 2006, p. 130)


Assim, “por problemas éticos devem entender-se os que surgem

quando temos que decidir entre um ou outro tipo de actuação, não em

termos de eficiência mas em referência ao que é considerado moralmente

certo ou errado”.

(Barnes, 1979, p. 16 citado por Moreira, 2007, p. 145)

E por dilema ético “um problema para o qual nenhum curso de acção

parece ser satisfatório; ele existe porque existem razões éticas “boas”, mas

contraditórias, para enveredar por caminhos conflituantes e incompatíveis”.

(Laine, 2000, p. 3 citado por Lima, 2006. p. 128)


3. Ética: Questões que levanta!
Os críticos que debatem a ética e investigação, dentro e fora
da comunidade científica, têm dado respostas muito variadas,
como por exemplo, às seguintes questões:

 “Devem os investigadores ser totalmente francos com


todas as partes envolvidas na sua pesquisa?

Há temas de investigação, áreas de comportamento


privado ou métodos de inquérito que devem ser evitados
pelos investigadores sociais?
Os investigadores devem atender ao interesse público
ou a busca de resultados científicos deve prevalecer
sobre tais considerações?

 Devem evitar contratempos aos inquiridos, sejam de


que natureza forem?

 Deve o investigador social ter sempre presente que


outros, porventura, se lhe seguirão e que, por
conseguinte , a sua actividade e a representação criada
podem, eventualmente, prejudicar futuras pesquisas?”

(Moreira, 2007, p. 146)


4. Princípios Éticos
Princípios éticos que o investigador deve ter em conta, durante todo
o processo de investigação, de modo a não violar os direitos humanos:

1. Consentimento Esclarecido (ou informado)


Os participantes devem ser devidamente informados sobre os objectivos,
características e condições de realização da investigação.

2. Anonimato
O investigador deve assegurar que não haja nenhuma associação entre os
dados recolhidos e o respectivo participante.
3. Confidencialidade
Está relacionada com o facto do investigador não partilhar com terceiros os
dados recolhidos, sem autorização dos participantes.

4. Privacidade
O investigador deve salvaguardar a privacidade dos sujeitos, apenas colocando
questões estritamente necessárias para o âmbito da investigação.

5. Autodeterminação
Os participantes têm o direito de decidir livremente sobre a sua participação ,
ou não, na investigação.
6. Intimidade
Refere-se ao facto do investigado ser livre de decidir sobre a extensão da
informação a dar e a determinar em que medida aceita partilhar informações
íntimas e privadas.

7. Protecção contra o desconforto e o prejuízo


Corresponde às normas de protecção dos participantes.

8. Tratamento justo e equitativo


Os sujeitos devem ter um tratamento justo e leal antes, durante e após a
sua participação no estudo.

(Fortin & Coutu-Wakulczyk, 1999; Tuckman, 2005; CLima, 2006; Moreira, 2007)
De acordo com Carmo e Ferreira (1998, p. 266) existem outros

princípios, para além dos mencionados, aos quais o investigador

deve respeitar, tais como: “a obrigação de fazer uma rigorosa

explicitação das fontes utilizadas quer estas sejam documentais ou

não; de ser autêntico quando redige o relatório da investigação,

nomeadamente no que diz respeito aos resultados que apresenta e

às conclusões a que chega, mesmo que por razões ideológicas ou de

outra natureza os mesmos não lhe agradem”.


5. Exemplos
 Exemplo 1

Cyril Burt, psicólogo educacional britânico, desenvolveu uma teoria

da hereditariedade da inteligência, estudando gémeos homozigóticos que

tinham sido separados à nascença e educados em diferentes ambientes.

Como eram escassos os casos com as características pretendidas, este

investigador em conjunto com os seus dois assistentes, inventou mais 33

casos. Cinco anos após sua morte, em 1976, foi acusado de fraude.

(Lima, 2006)
 Exemplo 2

Entre 1960 a 1964, Stanley Milgram, psicólogo social, interessou-se pelo

estudo da obediência. Assim desenvolveu uma pesquisa que implicava fazer com

que os participantes acreditassem que estavam a administrar um choque eléctrico

a uma pessoa, sempre que cometia um erro (estava numa divisão à parte). A

intensidade dos choques aumentava à medida que a pessoa ia cometendo mais

erros, até chegar a níveis que os investigadores consideravam “perigosos”. Na

realidade, o receptor de choques era uma pessoa conhecida do investigador, que

não levava qualquer tipo de choque, mas gritava fingindo dor.

Assim, alguns participantes foram sujeitos a experiências emocionais fortes,

chegando mesmo a tremer e a gritar sempre que aplicavam os supostos choques.

(Lima, 2006)
6. Investigação Eticamente Responsável

É fundamental desenvolver nos investigadores aptidões que


dêem origem a condutas eticamente responsáveis. Neste sentido,
a Comissão para a Avaliação da Integridade dos Ambientes de
Pesquisa (EUA) destaca as seguintes:

 Sensibilidade ética

 Raciocínio ético

 Motivação e empenhamento moral e formação da identidade

 Competências de sobrevivência (survival skills)

(Lima, 2006)
7. Conclusão
Portanto, podemos concluir que os investigadores sociais devem

seguir considerações morais e éticas não só com os participantes, mas

também com “os que lêem, reinterpretam e tomam a sério” (Doucet &

Mauthner, 2002, p. 125 citado por Lima, 2006, p. 155) as conclusões a

que os investigadores chegam e descrevem no relatório da investigação

em causa.
“ A maioria das pessoas diz que é o intelecto

que faz um grande cientista. Elas estão

erradas: é o carácter”.

Einstein
8. Bibliografia
Carmo, H. e Ferreira, M. M. (1998). Metodologia da Investigação – Guia para auto-
aprendizagem. Lisboa: Universidade Aberta.

Fortin, M. e Coutu-Wakulczyk, B. G. (1999). Noções de ética em investigação in


M. Fortin. O Processo de Investigação – Da concepção à realização (pp. 113-
127). Loures: Lusociência.

Lima, J. A.(2006). Ética na Investigação in J. A.. Lima & J. A. Pacheco (Orgs.), Fazer
Investigação – Contributos para a elaboração de dissertações e teses (pp. 127-
159). Porto: Porto Editora.

Moreira, C. D. (2007). Teorias e Práticas de Investigação. Lisboa: Instituto Superior


de Ciências Sociais e Políticas.

Tuckman, B. W. (2005). Manual de Investigação em Educação. (3ª Edição). Lisboa:


Fundação Calouste Gulbenkian.
 Trabalho realizado por:
◦ Aniana Santos, N.º 20051536
uc20051536@student.fpce.uc.pt

◦ Catarina Ferrão, N.º 20051569

uc20051569@student.fpc.uc.pt

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