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Parte I

FOTO: ALDICIR SCARIOT

Determinantes Abióticos
Capítulo 1

FOTO: EDER MARTINS

Classes de solo
em relação aos
controles da paisagem
do bioma Cerrado Adriana Reatto
Éder de Souza Martins
Embrapa Cerrados
Planaltina, DF
Reatto & Martins

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Solos e paisagem

INTRODUÇÃO formação do solo, que são: clima,


organismos, material de origem, relevo
e tempo. O material de origem e o relevo
O conceito de paisagem pode ser são considerados fatores ambientais
definido no espaço como um território, passivos, que se modificam pela atuação
ou uma região resultante de ações dos outros fatores. Os outros fatores
estáticas e dinâmicas em uma escala de ambientais – clima e organismos – são
observação. Essas ações são reflexos das considerados ativos. O clima age sobre
interações entre diversos fatores as rochas, transformando-as em solos e
ambientais que podem ser subdivididos sedimentos (Figura 1).
em bióticos, ação dos organismos e do
homem, e abióticos, ação do clima, Este capítulo tem como objetivo
características das rochas, relevo, que se estudar as relações entre as classes de
interagem e se modificam ao longo do solos e os controles de paisagem1 nos
tempo. A definição clássica de solo é o seguintes domínios físicos: geológico,
resultado de cinco variáveis interdepen- geomorfológico, hídrico, climático e
dentes, denominadas fatores de fitofisionômico.

Figura 1
Fatores de formação
do solo e
pedogênese.
1
Controle de paisagem será abordado no texto como um domínio físico de fatores ambientais inter-relacionados
com as classes de solos: composição e estrutura dos materiais de origem, formas de relevo, comportamento
hídrico, clima e fitofisionomia.

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Reatto & Martins

PRINCIPAIS CLASSES DE SOLOS DO BIOMA CERRADO

Latossolos essencialmente de quartzo, com máximo


de 15% de argila, são muito porosos e
São solos altamente intem-
excessivamente drenados, normal-
perizados, resultantes da remoção de
mente em relevo plano ou suave-
sílica e de bases trocáveis do perfil (Buol
ondulado. No bioma Cerrado, estima-se
et al., 1981; Resende et al., 1995). Na
uma ocorrência de aproximada-
paisagem ocorre em relevo plano a
mente 15% da superfície total da região
suave-ondulado, solo muito profundo,
(Reatto et al., 1998), denominados de
poroso, de textura homogênea ao longo
Areias Quartzosas, na antiga
do perfil e de drenagens variando de
classificação (Camargo et al., 1987).
bem, forte a acentuadamente drenado.
No bioma Cerrado, estima-se uma Estes solos possuem baixa
ocorrência de aproximadamente 46% da capacidade de troca catiônica em
superfície total da região com base no conseqüência dos teores baixos em argila
Mapa de Solos do Brasil na escala e de matéria orgânica, mineralo-
1:5.000.000, (Reatto et al., 1998). Esta gicamente são dominados por quartzo,
classe é representada por: Latossolo portanto com baixa reserva de nutrientes
Vermelho (LV), correspondendo ao para as plantas. Os respectivos controles
Latossolo Roxo e ao Latossolo Vermelho- físicos da paisagem para essas classes
Escuro, na antiga classificação (Camargo de solos podem ser visualizados na
et al., 1987), com 22,1 % da área do Tabela 1.
bioma Cerrado; Latossolo Vermelho
Amarelo (LVA), denominados de Argissolos
Latossolo Vermelho Amarelo e Latossolo Formam classes de solos bastante
Amarelo, na antiga classificação heterogênea, que tem em comum
(Camargo et al., 1987), com 21,6% da aumento substancial no teor de argila
área e Latossolo Amarelo (LA) com a profundidade e (ou) evidências
denominados de Latossolo Amarelo e de movimentação de argila do horizonte
Latossolo Variação Una, na antiga superficial para o horizonte subsu-
classificação (Camargo et al., 1987), com perficial, denominado de B textural. No
2,0% da área. A composição bioma Cerrado, estima-se uma
mineralógica destes solos é dominada ocorrência de aproximadamente de 15%
por silicatos como a caulinita e (ou) sob da superfície total da região (Reatto et
a forma de óxidos e oxihidróxidos de Fe al., 1998), denominados de Argissolo
e Al como hematita, goethita, gibbsita e Vermelho (PV), com 6,9 % da área e
outros. Os respectivos controles físicos Argissolo Vermelho Amarelo (PVA), com
da paisagem para essas classes de solos 8,2% e na antiga classificação (Camargo
podem ser visualizados na Tabela 1. et al., 1987), respectivamente Podzólico
Neossolos Quartzarênicos Vermelho Escuro e Podzólico Vermelho
Amarelo. Ocupam, na paisagem, a
Geralmente são solos profundos porção inferior das encostas, em geral
(com menos 2m), apresentando textura nas encostas côncavas, onde o relevo
arenosa ou franco-arenosa, constituídos apresenta-se ondulado (8 a 20% de

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Solos e paisagem

declive) ou forte-ondulado (20 a 45% de mica na massa do solo em alguns solos,


declive). Os respectivos controles físicos outros pela sensação de sedosidade na
da paisagem para essas classes de solos textura, devido ao silte. No Cerrado
podem ser visualizados na Tabela 1. correspondem a aproximadamente 3,1%
(Reatto et al., 1998). Geralmente estão
Nitossolos Vermelhos associados a relevos mais movimentados
Classes de solos derivados de rochas (ondulados e forte-ondulados), mas não
básicas e ultrabásicas, ricas em minerais exclui os relevos planos a suave-
ferromagnesianos, ou com influência de ondulados. Os respectivos controles
carbonatos no material de origem, físicos da paisagem para essas classes
apresentam semelhança com os de solos podem ser visualizados na
Argissolos porém com gradiente textural Tabela 1.
menos expressivo. Sua cor vermelha-
Chernossolos
escura tende à arroxeada. Possui
estrutura normalmente bem desenvol- Correspondem às antigas classes
vida no horizonte B textural (Bt), Brunizém e Brunizém Avermelhado
conferida por ser prismática ou em (Camargo et al., 1987). São solos não-
blocos subangulares. A cerosidade em hidromórficos, pouco profundos,
geral é expressiva. No bioma Cerrado, eutróficos, com um horizonte A
estima-se uma ocorrência de chernozêmico 2 sob um horizonte B
aproximadamente de 1,7% da superfície textural ou B incipiente, com argila de
total da região (Reatto et al., 1998), atividade alta. São solos com boa
denominados de Terra Roxa Estruturada, disponibilidade de nutrientes. No bioma
na antiga classificação (Camargo et al., Cerrado correspondem a menos de 0,1%
1987). Ocupam as porções média e (Reatto et al., 1998). Os respectivos
inferior de encostas onduladas até forte- controles físicos da paisagem para essas
onduladas. A vegetação original, quando classes de solos podem ser visualizados
remanescente, normalmente é Mata Seca na Tabela 1.
Semidecídua. Os respectivos controles
Plintossolos
físicos da paisagem para essas classes
de solos podem ser visualizados na Estas classes correspondem às antiga
Tabela 1. Laterita Hidromórfica (Adámoli et al.,
1986) e (ou) Concrecionários Lateríticos
Cambissolos
(Resende et al., 1988). São solos
Geralmente apresentam minerais minerais, hidromórficos, com séria
primários facilmente intemperizáveis, restrição à percolação de água,
teores mais elevados de silte, indicando encontrados em situações de alagamento
baixo grau de intemperização e com um temporário e, portanto, escoamento lento
horizonte B incipiente. Podem ser desde em épocas atuais ou pretéritas as quais
rasos a profundos, com profundidade não são mais evidenciados situações de
atingindo entre 0,2 a 1m. São hidromorfismo. Ocorrem em relevo
identificados no campo pela presença de plano e suave-ondulado, em áreas

2
Horizonte A Chernozêmico - Horizonte mineral de cor escura e saturação em bases maior ou igual
a 65%, com predomínio de Ca e Mg. O carbono orgânico apresenta valores iguais a maiores que
0,6%. A estrutura apresenta agregação e grau de desenvolvimento moderado ou forte. A espessura
pode variar, sendo maior ou igual a: 10cm se o solo não tiver horizontes B e C; 18cm para solos com
espessura < 75cm; para solos com espessura maiores ou igual a 75cm.

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Reatto & Martins

deprimidas e nos terços inferiores da estratificadas sem relação pedogenética


encosta os Plintossolos Háplicos, com entre si e comumente acompanhada por
6% da área ou nas bordas das chapadas uma distribuição irregular de matéria
os Plintossolos Pétricos, correspondendo orgânica variando de estrato para estrato.
a 3% da área total do Cerrado (Reatto et Esta classe era denominada de Aluvial
al., 1998). Os respectivos controles segundo Camargo et al., 1987. Os
físicos da paisagem para essas classes respectivos controles físicos da paisagem
de solos podem ser visualizados na para essas classes de solos podem ser
Tabela 1. visualizados na Tabela 1.

Gleissolos Organossolos Mésico ou Háplico


São solos hidromórficos, que Compreendem solos pouco
ocupam geralmente as depressões da evoluídos, constituídos por material
paisagem, sujeitas a inundações. orgânico proveniente de acumulações de
Apresentam drenagem dos tipos: mal restos vegetais em grau variável de
drenado ou muito mal drenado, decomposição, acumulados em
ocorrendo, com freqüência, espessa ambiente mal drenado, de coloração
camada escura de matéria orgânica mal escura, (Embrapa, 1999). Esta classe era
decomposta sobre uma camada denominada de Orgânico, segundo
acinzentada (gleizada), resultante de Camargo et al., 1987. Os respectivos
ambiente de oxirredução. No Cerrado, a controles físicos da paisagem para essas
área estimada desses solos é de 2,3%, classes de solos podem ser visualizados
denominados de Gleissolo Melânico na Tabela 1.
(Gley Húmico) e Gleissolo Háplico (Gley
Pouco Húmico), na antiga classificação
(Camargo et al., 1987). Os respectivos CONTROLES DA PAISAGEM NO
controles físicos da paisagem para essas BIOMA CERRADO
classes de solos podem ser visualizados
na Tabela 1. Controle geológico

Neossolos Litólicos De acordo com Almeida et al., 1984,


o Brasil possui 10 províncias estruturais,
São solos rasos, associados a muitos sendo que seis destas estão situadas no
afloramentos de rocha. No Cerrado bioma Cerrado. As províncias são as
correspondem a aproximadamente 7,3% seguintes: Tocantins, Paraná, Parnaíba,
(Reatto et al., 1998), denominados de Tapajós, São Francisco e Mantiqueira.
Solos Litólicos, na antiga classificação Tocantins ocupa a região nuclear do
(Camargo et al., 1987). São pouco Cerrado, representando mais de 60%,
evoluídos, com horizonte A assentado enquanto as outras estão situadas nas
diretamente sobre a rocha (R) ou sobre transições com outros biomas.
o horizonte C pouco espesso.
Normalmente ocorrem em áreas bastante As rochas que ocorrem na Província
Tocantins têm sua composição bastante
acidentadas, relevo ondulado até
variável. No setor leste desta província
montanhoso.
dominam rochas metassedimentares de
Neossolos Flúvicos composição pelítica (compostas por
materiais onde dominam frações argila
São solos minerais, pouco evoluídos, e silte), psamítica (compostas por fração
formados por uma sucessão de camadas areia ou maior) e carbonáticas. No setor

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Solos e paisagem

central ocorrem grandes variações de esse tipo de superfície é a sua posição


tipos petrográficos. Rochas metaígneas nas porções mais elevadas da paisagem.
máfico-ultramáficas (ex. Maciço Máfico-
O subtipo (Ia) apresenta perfis de
Ultramáfico de Niquelândia, Complexo
intemperismo espessos, da ordem de
Máfico-Ultramáfico de Itauçu-Anápolis)
dezenas a centenas de metros. Ocorre
e ácidas (ex. granitos de Rubiataba)
nível de couraça laterítica em seu topo
ocorrem adjacentes às rochas metasse-
ou na base do horizonte de solum, em
dimentares pelíticas. No setor centro-
diversos graus de degradação física e
oeste dominam rochas granito-gnáissicas
química. A dissecação deste subtipo é
entrecortadas por matabasitos, de
controlada pela organização e compo-
composição básica. No setor noroeste
sição das rochas. Quando a rocha não
dominam rochas metassedimentares de
mostra variações laterais em sua
composição psamítica e pelítica. Essas
composição, as vertentes dissecadas dos
variações de composição litológica
resíduos tendem a ser côncavas e a
condicionam os tipos de perfis de
apresentar transição brusca entre as
intemperismo da região, as carac-
porções planas de topo e as porções
terísticas de fertilidade natural dos solos
íngremes de encosta. Por outro lado,
e condiciona as formas de relevo.
quando as variações laterais na
composição das rochas são importantes,
as vertentes dos resíduos tendem a
Controle geomorfológico apresentar uma borda convexa, na forma
As paisagens do domínio morfo- de uma transição suave entre as porções
climático do Cerrado, definidas por planas de topo e as porções íngremes de
superfícies residuais de aplainamento – encosta. O recuo dos resíduos de
designadas como chapadas – com aplainamento é limitado geralmente pelo
diferentes graus de dissecação, resultam nível de couraça laterítica.
de uma prolongada interação de regime
climático tropical semi-úmido com O subtipo (Ib) é o mais comum de
fatores lito-estruturais, edáficos e bióticos se desenvolver sobre rochas
(Ab’Saber, 1977). sedimentares. Rampas longas, na forma
de cuestas, condicionadas pelo caimento
Os resíduos de aplainamento são suave das camadas é o mais típico dessas
fortemente controlados pela lito- regiões. A dissecação tende a ser linear,
estrutura. Há uma tendência geral dos
acompanhando zonas de fraturas e (ou)
resíduos de aplainamento serem mais
de falhas.
extensos, quando o acamamento das
rochas é próximo da horizontal. De O tipo II ocorre sobre rochas
forma inversa, a dissecação aumenta sua metamórficas, especialmente nas
influência, quando o acamamento porções periféricas e em algumas bacias
apresenta caimento elevado (Martins,
hidrográficas na porção nuclear do
2000).
bioma Cerrado, principalmente as
Ocorrem dois principais tipos tributárias do rio Tocantins, como é o
morfológicos de resíduos de superfícies caso do vão do Paranã e na planície do
de aplainamento. O tipo I ocorre sobre Tocantinzinho. Os limites do bioma
rochas metamórficas (Ia) e sedimentares Cerrado, sobre rochas metamórficas e
(Ib), na porção nuclear do Cerrado e nas ígneas apresentam esse tipo de
bacias intracratônicas, respectivamente. superfície. Ocorre também nas porções
A característica morfológica que define mais elevadas da Chapada dos

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Reatto & Martins

Veadeiros. Geralmente, está associada a solos. As rochas, saprólitos e solos


relevos na forma de serras. argilosos de estrutura maciça tendem a
apresentar permeabilidade baixa. As
Essas extensas superfícies planas são
rochas e saprólitos arenosos, além dos
retocadas por córregos e rios, com baixo
solos com estrutura granular, tendem a
grau de aprofundamento de drenagem.
apresentar permeabilidade elevada.
A característica que define o tipo II é a
presença de relevos mais positivos que As drenagens formadas sobre rochas
a superfície plana, na forma de inselbergs metamórficas geralmente são assi-
e conjuntos de serras. Outra característica métricas devido ao caimento das
importante é o pequeno desen- camadas. As vertentes que apresentam
volvimento do perfil de intemperismo, inclinação no mesmo sentido do
com rochas frescas aflorantes ou em caimento das camadas tendem a ser mais
pequena profundidade, na ordem de suaves e a apresentar solos mais
alguns metros. A presença de couraças desenvolvidos que as vertentes que
lateríticas também é comum, mas pouco apresentam inclinação oposta ao sentido
desenvolvidas e geralmente associadas do caimento das camadas. Neste último
a horizonte de linha de pedras (ing., caso, a transição entre a vertente e o
stone line profiles). canal de drenagem tende a ser brusca,
em relevos movimentados.
As regiões dissecadas, adja-
centes aos resíduos de aplainamento Estas vertentes e as áreas com maior
descritos, são controladas também pela densidade de drenagens geralmente
lito-estrutura. apresentam menor aptidão agrícola e são
típicas de agricultura familiar ou de
As porções dissecadas, adjacentes às
subsistência, o que leva o agricultor a
superfícies do tipo I, geralmente
utilizar os recursos das Matas de Galeria
apresentam saprólitos e (ou) solos
como forma de capitalização.
espessos, aumentando a influência
destes no desenvolvimento das
drenagens. As porções dissecadas
associadas ao tipo II, geralmente
Controle climático
apresentam saprólitos e solos rasos, O bioma Cerrado apresenta
aumentando a influência da rocha no características climáticas próprias, com
desenvolvimento das drenagens. precipitações variando entre 600 a
800mm no limite com a Caatinga e de
2.000 a 2.200mm na interface com a
Controle hídrico Amazônia (Figura 2). Com esta
A maior densidade de drenagem em particularidade, existe uma grande
relevo acidentado no bioma Cerrado está variabilidade de solos, bem como,
associada à maior abundância das Matas diferentes níveis de intemperização.
de Galeria, controlada por materiais com Dois parâmetros devem ser
baixa permeabilidade. A menor considerados, uma vez que definem o
densidade de drenagens está associada clima estacional do bioma: a precipitação
a materiais com alta permeabilidade e média anual de 1.200 a 1.800mm e a
menor abundância de Matas de Galeria duração do período seco, que oscila entre
(Martins et al., 2001). Esses materiais cinco a seis meses, denominado de
podem constituir rochas, saprólitos ou veranico. Na região amazônica o déficit

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Solos e paisagem

Figura 2
Índices
pluviométricos do
bioma Cerrado.
Fonte
Laboratório de
Biofísica Ambiental,
Embrapa Cerrados.

hídrico é inferior a três meses e na Campo: sujo, limpo e rupestre (Ribeiro


Caatinga entre sete a oito meses et al., 1983 e Ribeiro & Walter, 1998).
(Adámoli et al., 1986; Assad e
Evangelista, 1994).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Controle fitofisionômico A cor do solo é uma carac-
terística intrínseca de cada classe de solo,
O bioma Cerrado apresenta a ela é atribuída uma importância muito
vegetação cujas fisionomias englobam grande na identificação e distinção dos
formações florestais, savânicas e solos. Assim, por intermédio da cor,
campestres. Em sentido fisionômico, pode-se compreender o comportamento
floresta é a área com predominância de do ambiente que nos cerca, já que o solo
espécies arbóreas, onde há formação de está associado aos controles da paisagem
dossel, contínuo ou descontínuo. As nos seus aspectos geológicos, geomor-
formações florestais são representadas fológicos, climáticos, hídricos e
por Mata Ciliar, Mata de Galeria, Mata fitofisionômicos (Resende et al., 1988;
Seca e Cerradão. Savana é a área com Prado, 1991, 1995a, 1995b). Por meio
árvores e arbustos espalhados sobre um da caderneta de Munsell (1975) a
estrato graminoso onde não há formação padronização das cores tornou-se
de dossel contínuo. As formações universal e compreendida nos diversos
savânicas são representadas por Cerrado: campos da ciência do solo,
denso, típico, ralo e rupestre; Vereda, principalmente na pedologia, onde por
Parque de Cerrado e Palmeiral. O termo intermédio do matiz, valor e croma dos
campo designa áreas com predomínio solos é possível diferenciá-los em classes.
de espécies herbáceas e algumas A Tabela 1 procura enfatizar como a cor
arbustivas, observando-se a inexistência é capaz de diagnosticar a relação das
de árvores na paisagem. As formações classes de solos com os controles da
campestres são representadas por paisagem. A Figura 3 mostra uma chave

55
Reatto & Martins

de identificação para distinguir as controle pedogenético distingue as classes


classes Neossolo quartzarênico de com B textural e B incipiente. Já a Figura 5,
Latossolos, por meio dos controles por intermédio dos controles geomor-
da paisagem, especifica-mente o fológicos e hídricos variados, identifica as
geológico. A Figura 4 indica como o classes de solos em ambiente de
controle geomorfológico associado ao hidromorfismo.

Figura 3
Fluxograma de
identificação dos
controles da paisagem
de Neossolo
Quartzarênico e
Latossolos .

Figura 4
Fluxograma de
identificação dos
controles das classes de
solos com B textural e B
incipiente.

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Solos e paisagem

Figura 5
Fluxograma de
identificação dos
controles da paisagem
das classes de solo sob
hidromorfismo.

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Reatto
Solos e& Paisagem
Martins

Tabela 1. Relações entre cor do solo associado às classes de solo e os


controles geológicos, geomorfológicos, climático, hídricos, e
fitofisionômicos da paisagem.

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Solos e paisagem

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