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As drogas e o seu enfrentamento pró-ativo

Há alguns anos quando se falava sobre o problema das drogas pensávamos


em algo distante e que nunca nos atingiria. As drogas faziam parte do cotidiano
apenas de certos bairros das grandes cidades.
Infelizmente as coisas mudaram, as drogas passaram a nos preocupar de uma
forma cada vez mais intensa e esse problema tem atingido direta ou
indiretamente todos os indivíduos, seja o dependente, sejam seus familiares,
amigos e vizinhos em todo o Brasil.
Estima-se que existam no Brasil 1,26 milhões de dependentes em crack,
incluindo crianças, adolescentes, adultos e idosos.
Para enfrentar esse problema é muito importante uma atuação conjunta de
órgãos governamentais e comunidade visando à prevenção e combate
eficiente as drogas, bem como um tratamento que realmente consiga manter o
dependente longe de recaídas e que seja reinserido na sociedade.
A prevenção deve ser permanente e principalmente direcionada a expor para
as crianças e adolescentes os malefícios proporcionados pelas drogas. Os
jovens devem ter a dimensão de que todas as drogas, sejam lícitas ou ilícitas,
proporcionam uma falsa sensação de prazer. Esse prazer com o tempo vai se
transformando em dor, na mesma medida que o usuário que até então gozava
da liberdade para consumir drogas vai se tornando um escravo do vício. Os
adultos também devem ter noção das consequências negativas que as drogas
proporcionarão para suas vidas.
É necessário também que os órgãos incumbidos de preservar a segurança
pública e por consequência de enfrentar o tráfico de drogas sejam
adequadamente valorizados. Essa valorização possui diversos aspectos,
dentre eles a expectativa de progressão na carreira, respeito dos superiores e
também são necessários salários condizentes com a dignidade e
responsabilidade do policial. Também é necessário que a Polícia Civil, a Polícia
Militar e os outros órgãos atuem estritamente desenvolvendo suas atribuições
constitucionais. No caso da Polícia Civil no desenvolvimento das suas
atividades investigativas e de polícia judiciária e a Polícia Militar nas ações
ostensivas e repressivas. Quando se fala sobre a necessária valorização das
referidas forças de segurança é primordial destacar também a importância da
polícia ter recursos humanos adequados. Percebemos como a falta de um
efetivo adequado de policiais prejudica a eficiência do trabalho da polícia, bem
como se torna muitas vezes um fator determinante da impunidade. A falta de
policiais muitas vezes é proporcional ao número de crimes.
Outro aspecto relevante diz respeito ao tratamento dos dependentes de
drogas. Temos notado o esforço de muitas pessoas e de suas famílias para
sair dessa prisão que representa o vício, contudo a mera força de vontade em
boa parte das vezes não é suficiente para que a pessoa consiga voltar a ter
uma vida longe das drogas.
O tratamento básico deve ser acompanhado por uma equipe interdisciplinar
composta por psicólogo, psiquiatra, enfermeiro, terapeuta ocupacional,
assistente social e outros profissionais, principalmente da área da saúde.
Lembrando sempre em ações intersetoriais, pois somente com o envolvimento
e o fortalecimento de todos os seguimentos da sociedade que poderemos
estruturar as políticas publicas para o tratamento e prevenção de álcool e
drogas.
Vários programas já são desenvolvidos em algumas regiões do Estado, com
isso, o que buscamos é o envolvimento político para que tais ações também
possam ser ampliadas para município de pequeno porte, como o trabalho do
CAPS – AD que é desenvolvido em grandes centros, deixando municípios de
pequeno porte sem um atendimento de qualidade para o dependente químico e
também o trabalho com a prevenção que vem ganhando força, suscitando
profissionais capacitados para lidar com a prevenção das drogas, com isso,
prevenir que o individuo adoeça evitaria o crescimento exacerbado de usuários
de drogas, violência que levaria ao enfraquecimento do trafico.
O CAPS-AD (Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas), tem por
oferecer um atendimento na área da saúde mental mais especializado para
dependentes químicos, também deve ser disseminado para outras cidades,
não apenas para municípios com mais de 70 mil habitantes. O mesmo ocorre
com os CREAS (Centros de Referência Especializada em Assistência Social)
que deve também ser expandido para municípios com menores populações.
O CRATOD (Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas), que
dá capacitação para profissionais da área da saúde para a prevenção e
tratamento da dependência química, deve também ter suas atividades
expandidas por todo o Estado de São Paulo.
E o programa PAI-PAD (Programa de Ações Integradas para a Prevenção e
Atenção ao Uso de Álcool e Drogas na Comunidade), iniciado no ano de 1999,
na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo,
com a finalidade de desenvolver estratégias e ações voltadas para a prevenção
e atenção aos problemas causados pelo uso de álcool e drogas. Dentre as
principais atividades realizadas nesse programa consta a distribuição de
material didático e treinamento de profissionais da saúde e desenvolvimento de
projetos de pesquisa na área. O PAI-PAD foi escolhido pela OMS (Organização
Mundial de Saúde) para conduzir a implantação das EDIBs (Estratégias de
Diagnóstico e Intervenção Breve para problemas relacionados ao álcool). Seria
muito importante que todas as Unidades Básicas de Saúde do Estado de São
Paulo tenham em seu corpo de funcionários profissionais treinados pelo PAI-
PAD.
O projeto Polícia Civil Comunitária (http://policiacivilcomunitaria.blogspot.com)
implantado pela Polícia Civil em diversas localidades do Estado de São Paulo
tem realizado diversas atividades com a finalidade de aproximar a polícia e a
comunidade, bem como tornar a investigação criminal mais eficaz. Um dos
principais enfoques desse importante projeto é o enfrentamento preventivo,
repressivo e pró-ativo do consumo e tráfico de drogas.
O projeto Santa Fé Livre do Vício implantando pelo Conselho Municipal
Antidrogas da Estância Turística de Santa Fé do Sul (blog:
http://comadsantafe.blogspot.com) é uma referência, pois conta com a sinergia
de órgãos públicos e de toda a comunidade no desenvolvimento de ações
visando incrementar a prevenção, principalmente com as palestras realizadas
em toda a região, a repressão, por intermédio da parceria com o projeto Polícia
Civil Comunitária e a colaboração com o tratamento e a reinserção social de
dependentes químicos, que tem sido feito pela Chácara Jerusalém e o Lar
Madre Paulina, além de outras clínicas espalhadas por outras localidades.
Outro projeto que tem tido efeitos muito positivos em favor da proteção dos
jovens contra as drogas é o denominado “Toque de Acolher”, implantado
inicialmente em Fernandópolis pelo juiz de direito Evandro Pelarim
(http://evandropelarin.blogspot.com) e depois em Ilha Solteira pelo juiz de
direito Fernando Antonio de Lima e outras cidades do Brasil.
O referido projeto tem sido muito importante, pois consiste em diversas ações
pró-ativas visando evitar que o jovem seja exposto a situações de risco,
inclusive estabelecendo horários para que as crianças e adolescentes
permaneçam nas ruas, desacompanhados dos responsáveis. Na maioria dos
lugares em que foi implantado, esse projeto é conduzido pelo Poder Judiciário
e conta com a participação do Ministério Público, Polícia Civil, Conselho
Tutelar, Polícia Militar, Guarda Municipal, dentre outros órgãos. Ao pesquisar
as estatísticas criminais dos locais cujo projeto encontra-se em andamento
percebe-se a diminuição da prática de crimes e a melhoria da qualidade de
vida dos jovens.
Pelo exposto podemos concluir que é necessário um trabalho sinérgico que
envolva órgãos públicos e comunidade, principalmente participando ativamente
de ações preventivas, colaborando com o trabalho da polícia e com as
entidades que promovem a recuperação dos dependentes químicos e a
consequente reinserção social dos mesmos, como forma de evitar que tantas
vidas humanas continuem a ser ceifadas em razão das drogas lícitas e ilícitas,
como temos visto diariamente.

HIGOR VINICIUS NOGUEIRA JORGE é Delegado de Polícia, professor de


análise de inteligência da Academia da Polícia Civil, professor universitário,
presidente do Conselho Municipal Antidrogas de Santa Fé do Sul e especialista
em polícia comunitária. Site: www.higorjorge.com.br

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