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In: SILVA, Marinalva Freire da (Orgs.).

A interculturalidade em ação: aportações literário-


culturais e linguístico-metodológicas. João Pessoa: Ideia, 2010. (440 p.)

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A metáfora COMO FERRAMENTA PARA O ENSINO

Ana Sabrina Dias Pessoa CORREIA


PROLING-UFPB

Juliana Barboza D´ALBUQUERQUE


PROLING-UFPB /Profa. da UEPB

______________________________________________________________________

Resumo
O presente trabalho tem como objetivo analisar a metáfora na perspectiva cognitiva que tem
como teóricos os linguistas Lakoff e Johnson (1980). Ao analisar os conceitos que envolvem a
teoria da metáfora conceptual observaremos que esta se encontra presente em algumas áreas do
ensino. No caso desse artigo, nos deteremos nessa análise metafórica nas áreas da Biologia e da
Matemática.

Palavras-chave: Metáfora; cognição; ensino.

Considerações Iniciais
Desde os estudos clássicos sobre a retórica, alguns elementos linguísticos são
observados com algum aprofundamento. Esse aprofundamento é, muitas vezes,
resultante de um embate de idéias que nem sempre são convergentes; apesar da
divergência aparente, principia uma reorganização das idéias sobre o polêmico objeto de
estudo, de enfoque.
Caso curioso desse fenômeno é, por exemplo, a metáfora. Em se fazendo um
breve apanhado de sua conceituação e até mesmo aplicabilidade no discurso, percebe-se
que sua observância e as considerações sobre ela são ora divergentes, ora convergentes,
mas seu fim tem sido o da progressão do uso, conhecimento e aplicação desse recurso
cognitivo.
Depois de um breve percurso histórico sobre o tema da metáfora, neste artigo,
pretendemos observar sua concepção e aplicação, conforme os conceitos defendidos
pela Teoria da metáfora conceptual postulados por Lakoff e Johnson (1980), a fim de
checarmos sua aplicabilidade em discursos vários, sobretudo na sua utilização cotidiana,
conforme propõem os autores acima mencionados.

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1-Breve abordagem sobre a metáfora


Para a tradição retórica a metáfora não passava de um ornamento linguístico,
imaginativo, portanto, um elemento discursivo indispensável aos oradores, discursantes,
sofistas, políticos, já que a democracia grega utilizava parlatórios e praças públicas para
o exercício da oratória, da retórica, o que contribuiu para o esgotamento das figuras
ornamentais, como a metáfora, uma vez que, segundo os críticos, os elementos retóricos
haviam se esvaziado de função, restando-lhes apenas as belezas figurativas, decorativas,
imaginativas. Ou seja, muito bem se dizia, muito pouco se fazia.
Por conseguinte, ganha força a concepção objetivista, lógica, pela qual se
deveria evitar o uso de palavras decorativas, incluindo-se aí a metáfora, quando se
pretendesse a objetividade na comunicação, e se pensarmos bem veremos que a
recomendação científica é que a linguagem, a comunicação seja sempre objetiva, sob
pena de não se conseguir fazer-se inteligível, gerando ambiguidade, vagueza,
imprecisão, ruídos de comunicação.
Entra em voga com isso a visão objetivista, em que se amparam o Racionalismo
Cartesiano, o Empirismo, a Filosofia Kantiana, o Positivismo Lógico, que apregoavam
o fazer ciência com a razão e o literal. A poesia com a imaginação e a metáfora. Ou
seja, até mesmo correntes filosóficas assumem ser possível o acesso a verdades
absolutas, abdicando do caráter humanista de suas ciências. A metáfora foi caçada como
se caçava uma bruxa, restando-lhe ‘enfeitiçar’ o discurso poético, subjetivista,
impreciso, ilusório, quase inútil.
No entanto, Giambattista Vico, já no século XVIII, passa a defender a idéia de
que tanto as metáforas quanto os mitos representam maneiras de dar forma à
experiência – a metáfora passa a ter uma função cognitiva (Haskell, 1987). Essa visão é
corroborada e fortalecida no século XX quando Richards (1936); Beardsley (1958);
Black (1962) e Ricoeur (1975) – e seu estudo sobre a hermenêutica da metáfora –
começam a questionar o dogma da metáfora como figura de retórica. Heidegger e
Derrida tratam sobre a questão ontológica e metafísica relativa ao significado da
metáfora.
O resultado desse embate resultou no acesso ao conhecimento verdadeiro das
coisas como elas realmente são (seja pela razão – Aristóteles, Descartes e Kant; seja
pela percepção sensorial – Locke e Hobbes) começa a ser substituída por um novo
paradigma: o da cognição. Nela conhecimento da realidade emerge da interação da

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informação com o contexto no qual se apresenta e com o conhecimento preexistente do


sujeito conhecedor. Ortony (1993) denomina esse novo paradigma de construtivista. A
metáfora, no novo paradigma, passa do status de simples figura de retórica para o de
uma operação cognitiva fundamental.
A partir de 1970, a metáfora se torna objeto de interesse central das ciências
humanas, como se vê na:
• Teoria dos atos de fala (Searle 1979);
• Teoria da ausência dos sentidos (Davidson 1979);
• Teoria dos campos semânticos (Kittay 1987);
• Teoria da criação de similaridade (Indurkhaya 1992);
• Teoria da relevância (Sperber & Wilson 1985, 1986).
Na Psicologia Cognitiva:
• Teoria do desequilíbrio de saliência (Ortony 1979, Ortony et al., 1985);
• Teoria da interação de domínios (Tourangeau & Sternberg 1981, 1982);
• Teoria do mapeamento de estrutura (Gentner 1989, Gentner e Clements 1988);
• Teoria da inclusão de classe (Glucksberg e Keysar 1990);
• Teoria da metáfora conceptual (Lakoff 1987, Lakoff e Johnson 1980).
Como já dissemos na introdução deste artigo, optamos pela teoria proposta por
Lakoff e Johnson (1980), na qual se vê a metáfora como um elemento cognitivo
resultante das experiências vividas pelo sujeito produtor do discurso e seu contexto. As
teorias cognitivas da metáfora criticam, nas teorias clássicas, o encarar desse recurso
como sendo exclusivamente atrelado à linguagem e não ao pensamento. Lakoff e
Johnson (1980) salientam que a metáfora é, em primeiro lugar, uma questão de
pensamento e, posteriormente, uma questão de linguagem.

1.1 - A metáfora na vida cotidiana como recurso cognitivo


Com a emergência do cognitivismo, o conhecimento da realidade passou a ser
visto como uma construção mental. Apenas a informação dita objetiva não é suficiente
para o processo de cognição. O conhecimento passa a ser visto como o resultado de uma
ação individual que dependerá da interação com o contexto sociocultural e com o
conhecimento preexistente do sujeito. A palavra “metáfora” passa a ser entendida, no

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sistema conceptual, como uma projeção entre um domínio fonte, e um domínio alvo,
que é explorado e expresso com os elementos fornecidos pelo domínio fonte. Lakoff e
Johnson (1980) expõem três categorias de metáforas conceptuais: as estruturais, as
orientacionais e as ontológicas.
A metáfora estrutural ocorre quando um domínio conceptual alvo é estruturado
com
base no domínio conceptual fonte.
• Você deve administrar bem o seu tempo.
• Estou desperdiçando meu tempo contigo
As metáforas orientacionais implicam a organização de conceitos pela
relação que estabelecem entre si e partem da experiência corporal, física sobre o
espaço. Alguns exemplos dessas relações de orientações espaciais são: em cima, em
baixo, dentro, fora etc.
• Estou me sentindo para cima hoje.
• Meu astral subiu.
As metáforas ontológicas baseiam-se em nossa experiência com objetos ou
substâncias físicas, através das quais lidamos com noções abstratas, ou seja, as
experiências são concebidas em termos de objetos, substâncias e recipiente de um
modo geral sem especificar exatamente que tipo de objeto, substância ou recipiente
está sendo significado (Kövecses, 2002). Um bom exemplo é a metáfora:
INFLAÇÃO É UMA ENTIDADE.
• A inflação destruiu o nosso poder de compra.
• Domamos a inflação.

1.2 - Metáforas da vida cotidiana


O termo “expressão metafórica” refere-se à expressão linguística (palavra,
sintagma, frase) que evidencia, na superfície textual, a projeção entre domínios. Se
partimos da expressão, por exemplo: Tem sido um longo e tortuoso caminho. Qual
seria a metáfora? O AMOR É UMA VIAGEM, observamos como domínio fonte:
viagem e o domínio alvo: amor.

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Os filósofos tendem a compreender as metáforas como expressões imaginativas,


o foco de suas discussões tem sido se essas expressões podem ser ou não verdadeiras.
Para eles, a verdade é objetiva, absoluta.
Cremos que a verdade é sempre relativa a um sistema conceptual definido em
grande parte pela metáfora. Em uma cultura em que o mito do objetivismo está muito
vivo e a verdade é sempre verdade absoluta, as pessoas que conseguem impor suas
metáforas à cultura conseguem definir também o que consideraremos como verdade
absoluta e objetivamente verdadeiro. Não podemos negar, por conseguinte, que a
verdade funcione como uma função do nosso sistema conceptual. Observamos a
importância da verdade em nossas vidas diárias; O papel da projeção na verdade; O
papel da categorização da verdade; O que é necessário para que se compreenda a frase
como verdadeira.
Para deixarmos mais claro como seria a alternativa experencialista, faz-se
necessário examinarmos em detalhes os mitos do subjetivismo e objetivismo. Como as
metáforas, os mitos são necessários para fazer sentido sobre o que se passa ao nosso
redor. Todas as culturas têm mitos e as pessoas não podem viver sem eles assim como
não podem viver sem as metáforas.

2 – Em torno do mito

2.1 O mito do objetivismo


O mito do objetivismo é particularmente insidioso. Ele induz a que:
1. O mundo é constituído por objetos;
2. Adquirimos nossos conhecimento do mundo experenciando os objetos e
chegando a saber que propriedades os objetos têm e como eles se relacionam entre
si;
3. Compreendemos os objetos do nosso mundo em termos de categorias e de
conceitos;
4. Há uma realidade objetiva e podemos dizer coisas que são objetivamente,
absolutamente e incondicionalmente verdadeiras e falsas sobre elas;
5. As palavras têm significados fixos, nossa linguagem expressa os conceitos e as
categorias em termos dos quais pensamos;

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6. As pessoas podem ser objetivas e podem falar objetivamente, mas só conseguem


se utilizar uma linguagem clara, definida e sem ambiguidade;
7. A metáfora e outros tipos de linguagem poética, imaginativa, retórica devem ser
evitados;
8. Ser objetivo é geralmente uma coisa boa e é um saber
9. ser objetivo é ser racional;
10. A subjetividade pode ser perigosa provocando perda de contato com a realidade.

2.2 -O mito do subjetivismo


O mito do subjetivismo diz que:
1. Na maioria de nossas atividades práticas diárias, dependemos de nossos sentidos
e desenvolvemos intuições nas quais confiamos;
2. As coisas mais importantes em nossa vida são nossos sentimentos;
3. A arte e a poesia transcendem a racionalidade e a objetividade;
4. A linguagem da imaginação, especialmente a metáfora, é necessária para
expressar os aspectos de nossa experiência que são únicos e mais significativos para
nós. Os significados ordinários das palavras baseados no senso comum não são
suficientes;
5. a objetividade pode ser perigosa, porque lhe escapa o que é mais significativo e
importante para os indivíduos. A ciência não tem qualquer utilidade quando se trata
das coisas mais importantes em nossas vidas.
• Aliados do objetivismo:
• A verdade cientifica, a racionalidade, a precisão, a justiça e a imparcialidade.
• Aliados do subjetivismo
• As emoções, o conhecimento intuitivo, a imaginação, os sentimentos humanos e
a arte.
Lakoff e Johnson (1980) concluem que o objetivismo e o subjetivismo precisam
um do outro para existir. Cada um deles é mestre em seu próprio domínio. Com isso
fundamentam o surgimento de uma nova concepção: o experiencialismo.

3- O Experiencialismo

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Lakoff e Johnson (1980) oferecem-nos, com esse mito, a explicação


experencialista da compreensão e da verdade, uma alternativa que nega que o
objetivismo e o subjetivismo sejam nossas únicas escolhas. Uma abordagem
experencialista permite-nos estabelecer uma ponte entre os mitos objetivistas e
subjetivistas no que se refere à imparcialidade e à possibilidade de ser justo e objetivo.
No experiencialismo, a metáfora é pois uma racionalidade imaginativa.
Para o experiencialismo a verdade é sempre relativa à compreensão que se
baseia num sistema conceptual não-universal. O experiencialismo diverge do
subjetivismo na rejeição da idéia romântica de que a compreensão imaginativa não sofre
nenhuma restrição. O mito do experiencialismo aparece como capaz de satisfazer as
preocupações reais e razoáveis que têm motivado tanto o mito do subjetivismo como o
do objetivismo, mas sem a obsessão objetivista com a verdade absoluta, nem com a
insistência subjetivista de que a imaginação é livre de qualquer restrição.

3.1 Uma análise prática


A seguir, apresentamos uma análise obtida a partir de um artigo científico de
autoria de Marta Bellini e Priscila C. Frasson. O artigo versará sobre o tema: A metáfora
guerra na comunicação das idéias de HIV / Aids em livros didáticos.
O artigo apresenta o exame das figuras de retórica, destacando as metáforas
presentes em nove livros didáticos e numa apostila de ciências de ensino médio. A
seleção dos livros e do tema – HIV/Aids – foi feita a partir de uma entrevista com 30
alunos do ensino médio de uma escola pública de Bandeirantes, Paraná. Esses alunos
indicaram o tema HIV/Aids como um dos assuntos que queriam conhecer mais.
Para análise das figuras de retórica dos textos didáticos, a pesquisa
fundamentou-se nos estudos de Lakoff e Johnson (2002), Breton (2003) e Reboul
(2004). Entre as figuras examinadas destacou-se a metáfora guerra como condutora do
modelo conceitual sobre HIV/Aids. Esta metáfora, segundo as autoras, é imprópria para
uma educação preventiva, pois subjuga os leitores/ alunos e professores ao medo e à
coerção.
A metáfora guerra é um conceito presente no cotidiano de nossa cultura (sempre
falamos em debate, defender nossa idéia, ataque-defesa, batalha verbal), a idéia guerra
para apresentar nos livros didáticos o modo de infecção por HIV/Aids gera uma
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estratégia de comunicação limitada, pois, nestes livros, trata-se de uma luta em que o
vírus quase sempre é o vencedor.
Os livros didáticos analisados pelas autoras optam pelas dimensões bélicas para
estruturar o modelo e o funcionamento do HIV/Aids, deixam de lado a idéia de
interação dos textos científicos com o leitor, o que se coaduna com o postulado de que
“a essência da metáfora é compreender e experienciar uma coisa em termos de outra”
(Lakoff & Johnson, 2002). Logo, as metáforas permitem atribuir sentido às nossas
experiências e as expressões metafóricas são mudadas para adequar o modelo elaborado
pelos cientistas ao modelo pedagógico e dele obter adesão dos alunos e do professor na
situação de ensino (Contenças,
1999).

3.2- A metáfora em ação


Com base no artigo em questão, extraímos as seguintes metáforas:
• Os vírus são “encapsulados ou envelopados” (metáfora à cápsula / envelope)
• Os vírus injetam seu material genético na “célula hospedeira”.
• Os vírus “atacam as células injetando-lhes o seu ácido nucléico” (metáfora
guerra).
• Este vírus “ataca preferencialmente os linfócitos T4, inserindo seu código
genético composto de RNA”.
• O HIV “invade e destrói os linfócitos T ”.
• “Assim a destruição dos linfócitos T provoca a [...]”.
• “[...] que era capaz de infectar bactérias e, por isso, ficou conhecido como vírus
bacteriófago, que significa “vírus comedor de bactérias”.
• (metáfora estrutural guerra, idéia de guerra: quando um conceito é estruturado
metaforicamente em termos de outro)
• “sua capacidade reprodutiva é assombrosa” (nos livros didáticos predomina a
metáfora guerra).
• Desse modo, estes seres tão “simples” vencem a guerra contra as células nas
quais se hospedam.

Considerações sobre este artigo


Apesar de haver uma falta de interação entre os livros didáticos e os alunos
(HIV- medo e coerção) e uma forte oposição dos cientistas que não vêem o vírus como
seres extremamente simples no que tange ao conceito HIV/Aids, pode-se aferir que a
metáfora cognitiva do tipo estrutural permeia os livros didáticos de Biologia a fim de
facilitar o aprendizado dos alunos.

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Outro exemplo analisado foi o das Metáforas corpóreas na base do


conhecimento matemático. O caso do ângulo. Artigo de autoria de José Manuel Matos /
FCT, UNL, que começa seu texto com a seguinte citação: “A mente é inerentemente
corpórea. O pensamento é sobretudo inconsciente. Os conceitos abstratos são, em
grande medida, metafóricos” (Lakoff & Johnson, 1999, p. 3).
Para Matos, os seres humanos compreendem o seu mundo através de modelos
cognitivos idealizados para os tipos de entidades, eventos e situações que encontram na
experiência diária. Estudos empíricos recentes em semântica do léxico mostraram que
as palavras não correspondem diretamente a estados de coisas no mundo, mas são antes
definidas pelo seu papel em modelos idealizados de situações, que são estruturas
holísticas denominadas “enquadramentos”.
Nesse sentido, as palavras adquirem significado através do papel que
desempenham em enquadramentos. Um campo semântico de palavras é um grupo de
palavras definido em relação a diferentes papéis num único enquadramento (por
exemplo, “comprar”, “vender”, “bens”, “preço” são definidas em relação a um
acontecimento comercial geral, para o qual temos um enquadramento “troca
comercial”). Uma única situação no mundo pode ser enquadrada de modos diferentes, e
muitas vezes mutuamente inconsistentes. Quando os enquadramentos têm uma estrutura
que se desenrola no tempo, são chamados “cenários” ou “guiões”. E quando eles
caracterizam a nossa compreensão comum de como algo funciona no mundo, são
chamadas “teorias comuns”.
Os enquadramentos são imaginativos, não apenas porque são modelos
idealizados que não existem objetivamente “no mundo”, mas também porque são
definidos parcialmente por esquemas imagéticos e metáforas experienciais (Johnson,
1997, p. 155, ênfases no original).
Exemplos de modelo cognitivo:
• “Ângulos são pontas”
• “Ângulos são cantos interiores”
• “Ângulos são fontes”
• “Ângulos abrem”
• “Ângulos dão voltas”
• “Ângulos são contornos”
• “Ângulos são duas linhas que se encontram”

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Considerações sobre esse artigo


A ligação destes modelos cognitivos aos diferentes tipos de ângulo em uso na
matemática escolar deixa antever a viabilidade de estabelecer uma ligação entre os
conceitos matemáticos mais abstratos e experiências corpóreas humanas mais básicas.
Matos inicia seu texto citando a observação de um aluno: “ângulos são espinhos
de uma roseira”, declaração quase poética de James, aluno do 4º ano. É o paradigma
desenvolvido por Lakoff e por Johnson que nos permite clarificar a estrutura da
categoria “ângulos”, fazendo-nos compreender as origens e a justeza de afirmações
como aquela. James estava a efetuar uma projeção metafórica entre o subesquema do
objeto pontiagudo e o modelo ângulos são pontas.
Essa projeção permitia-lhe entender uma nova entidade, o ângulo, integrando-a
na sua experiência conceptual e social anterior, neste caso, com objetos pontiagudos.
Deste trabalho ressalta essencialmente a estrutura da categoria “ângulo”, mostrando
como ela possui um nível básico com ricas imagens mentais, como ela está baseada em
modelos imagético-esquemáticos produzidos pela nossa interação com diversos tipos de
ambiente, e como ela é composta por (pelo menos) sete modelos cognitivos diferentes,
todos eles projeções metafóricas de modelos imagético-esquemáticos.

Considerações finais
Como dissemos no início desse artigo, o tema metáfora vem sendo enfocado já
muito, evidentemente nem sempre de forma contígua, mas mesmo os reveses, ou por
causa deles, esse elemento vem se robustecendo de aspectos que lhe configuram como
sendo um fenômeno amplíssimo de aplicação e finalidade.
Quer nos estudos clássicos sobre a retórica, no objetivismo, subjetivismo ou
experiencialismo, a metáfora vem se fazendo observar e aplicar recursivamente devido à
naturalidade com que ela é aplicada nos discurso mais variado, demonstrando-se como
elemento cognitivo compreensível e aplicável no cotidiano de qualquer enunciador,
conforme observamos neste artigo.

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Referências
BLACK, M., 1962. Models and Metaphors: Studies in Language and Philosophy. Ithaca, New York:
Cornell University Press.
HASKELL, R. E. Gianbatista and the discovery of metaphoric cognition. In: HASKELL, R. E. (Ed.).
Cognition and symbolic structures: the psychology of metaphoric transformation. Ablex: Norwood, 1987.
KOVECSES, Z. Metaphor: A Practical Introduction, Oxford University Press, 2002.
LAKOFF, G.; JONHNSON, M. Metaphors we live by. Chicago: University of Chicago
Press, 1980.
RICOEUR, P. (1975). A metáfora viva. Porto, Portugal: Rês Editora

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