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A influência do movimento Mecanicista no desenvolvimento da psicologia

Desde o século XVII ao século XIX, a Europa ocidental viveu uma onda de
mecanização que revolucionou muitas áreas da sociedade e mudou o dia á dia de
toda a população. Um grande número de máquinas foi introduzido na ciência e na
indústria, e o fascínio do público encorajou os produtores à realização de brinquedos e
entretenimentos mecanizados.

A filosofia fundamental do século XVII foi determinada por este contexto de


mecanização. Os cientistas e filósofos na Europa como Robert Boyle, Johannes
Kepler e o Racionalista René Descartes (1596-1650) imaginaram o universo como
sendo uma enorme máquina – funcionando como um relógio de alta precisão. Eles
acreditavam que todos os processos naturais poderiam ser comparados ao
funcionamento das máquinas.

Esta doutrina Mecanicista leva ao Determinismo, a crença de que todos os actos são
causados por acontecimentos passados, e portanto podem ser previsíveis. Galileo
Galilei (1564-1642) e Isaac Newton (1642-1727), que tinha uma formação em
relojoaria, propuseram que tudo no universo era dividido em átomos e que o
movimento e a interacção deles pode ser explicada com leis da física. Os cientistas
acreditavam que, sendo possível medir o ambiente físico, este poderia ser previsto
usando as leis da física, a qualquer momento no futuro. Os cientistas esforçaram-se
para descrever todos os fenómenos fazendo medições e conduzindo experiencias que
muitas vezes necessitavam de relógios precisos.

Assim como o funcionamento de um relógio pode ser entendido (desmontando e


analisando os seus componentes mais básicos), os cientistas assumiram que podiam
perceber o mundo natural reduzindo-o até átomos e moléculas, as suas partículas
mais simples. Este método de Reducionismo influenciou todas as ciências, incluindo
fisiologia e a psicologia nascente.

Os autómatos mecânicos foram construídos para entretenimento. Neste contexto,


filósofos e cientistas como Descartes, sugeriram que o ser humano, como qualquer
outra parte do mundo natural, são apenas outro tipo de máquina complexa. Portanto
eles assumiram que devia ser possível prever o funcionamento humano através de
métodos da ciência Determinista.
David Hartley (1705-1757) foi um dos vários filósofos a explicar o processo mental
usando os princípios Mecanicistas. Ele sugeriu que ideias eram pequenas vibrações
acionadas no cérebro por vibrações que chegam ao longo dos nervos. James Mill
(1773-1836) foi um Racionalista que insistiu que a mente é uma máquina posta em
movimento por forças físicas externas, operando automaticamente sob as forças
físicas internas Deterministicas sem possibilidade de livre arbítrio.

O fundador do Empirismo Britânico, John Locke (1632-1704), não acreditava que o


nosso futuro era predeterminado no nascimento, ele defendia que um bebé é como um
papel branco. Contudo, ele continuou a ser influenciado pelo Zeitgeist mecânico. Ele
imaginava que a mente é estruturada como o universo de Galileu e Newton, onde os
átomos são ideias simples que podem ser associadas para fazer ideias complexas.
Ele, tal como Galileo e Descartes antes dele, separaram precepções sensoriais em
dois grupos. As qualidades primárias (tamanho, forma e movimento) eram mecânicas
e objectivas, com valores físicos mensuráveis. As qualidades secundarárias (cor, odor,
som, sabor) eram mais subjectivas.

Charles Babbage (1791-1871) demonstrou que além de imitarem as nossas funções


físicas, as máquinas poderiam também executar funções mentais humanas,
reforçando assim a doutrina Mecanicista. Ele inventou o primeiro exemplo de
“intelegencia artificial”, uma máquina de calcular mecânica que conseguia executar
operações matemáticas mais rapidamente que os humanos e jogar jogos como o
xadres. Além disso tinha também uma memória de curto prazo.

A influência do movimento Mecanicista ainda continua nos tempos modernos. Pois no


século XX, o Comportamentalismo de B.F.Skinner (1904-1990) foi fortemente
influênciado pela tradição Mecanicista. Skinner comparou organismos vivos com
maquinas e deu mérito a Descartes.

Fundação da Psicologia Experimental como uma ciência, por Wundt.


Wilhelm Wundt foi o homem certo, no lugar certo, na altura certa, para fundar a
Psicologia experimental como uma ciência.

O Lugar Certo

A mentalidade alemã era compatível com a meticulosa e cuidadosa observação


necessária para ciências descritivas não - deductórias como a psicologia.
Paralelamente, a fisiologia experimental, progenitor científica da psicologia
experimental, estava bem mais estabelecida na Alemanha que noutros países.
A reforma académica alemã permitiu que, tanto alunos como professores, podiam
estudar qualquer disciplina do seu interesse. Consequentemente, a definição de
ciência era mais larga que noutros países. A flexibilidade e abertura tornaram mais
fácil a fundação de novas disciplinas, como o da psicologia experimental.

No século dezanove houve mais oportunidades para realizar investigações científicas


na Alemanha, do que em outros países. A economia alemã florescia, permitindo que
inúmeras universidades alemãs, fundadas antes da unificação da Alemanha,
financiassem uma variedade de departamentos científicos com laboratórios bem
apetrechados.

Universidades alemãs conseguiam atrair alunos de todas as partes do mundo para


estudar as ciências. Alunos estes, que frequentemente regressavam aos seus países
para continuar as suas carreiras académicas. Isto significou que docentes alemães e
suas ideias tiveram uma enorme influência sobre as teorias e as práticas científicas à
volta do mundo – daí permitindo que a psicologia experimental espalhasse
rapidamente. Devido a que alunos de Wundt tenham eventualmente modelado os seus
laboratório à imagem do de Leipzig, é perfeito exemplo desta internacionalização em
acção.

Na Altura Certa

Wundt viu um aumento no número de fisiologistas alemães como Ernst Weber e


Gustav Fechner, que realizavam activamente investigações científicas sobre os
processos mentais – área de estudo que tinha sido previamente confinado à filosofia.
O estabelecimento de uma nova disciplina científica representava uma evolução
natural, e a força cinética gerada tornou esta realidade inevitável.

O influente inglês John Stuart Mill, filho do famoso empírico James Mill, tinha andado a
insistir que a mente devia ser estudada cientificamente. Ele propôs a “Etologia”, um
novo campo dedicado ao estudo dos factores que moldam a personalidade humana.
Wundt, que também foi influenciado por muitas outras ideias de Mill (como a da mente
ser active na associação de ideias, que elementos mentais complexos eram mais que
uma soma de elementos simples), compreendeu que a altura estaria certa para fundar
uma nova ciência, à qual decidiu chamar “Psicologia”.

O Homem Certo

Apesar de numerosos e talentosos fisiologistas terem estudado processos mentais


antes de Wundt – Fechner inclusivamente tendo publicado uma obra importante –
nenhum deles possuía a intenção ou a rara combinação de qualidades não científicas
necessárias para a fundação de uma nova ciência.

Wundt teve a visão para compreender a oportunidade e fundar esta nova disciplina,
baseada puramente na experimentação sistemática no estudo da mente –
deliberadamente excluindo conceitos filosóficos não científicos, como o de almas
imortais. A sua ambição desencadeou a sua intenção para embarcar neste projecto, e
consequentemente motivou-o a investir um considerável esforço pessoal para levar
seu projecto a bom porto.

Wundt tinha todas as ferramentas, era político, persuasivo, organizacional,


comunicativo, e promocional; tudo o necessário para convencer aquelas pessoas que
não partilhavam da sua visão. O apoio resultante permitiu-o adquirir os fundos
necessários para a criação do primeiro laboratório dedicado em psicologia
experimental. Estas instalações e a sua reputação como docente atraiu muitos
estudantes ao seu curso, muitos dos quais, dedicaram a sua vida à psicologia.

Wundt sempre teve vontade de escrever ao invés de trabalhar num laboratório. Não é
reconhecido por nenhuma descoberta científica importante. No entanto, a sua
capacidade de escrita, seus elevados conhecimentos sobre fisiologia e filosofia
provaram ser qualidades mais importante ao promover a nova ciência. Publicou
diversos livros importantes e o jornal oficial de psicologia experimental, “Philosophical
Studies”.

O termo da influência de Wundt

Apesar de Wundt ter contribuído essencialmente a nível político e organizacional para


fundar e promover a Psicologia Experimental, não possuía necessariamente as
habilidades necessárias para continuar a liderar esta ciência.

Wundt não tinha o brilhantismo científico suficiente para convencer psicólogos as


prosseguir a sua visão. Apesar disso, eles poderia ter aceite a sua persistente
influência, mas so se ele conduz eles sobre os direcções que eles pretendiam
explorar. No entanto, a sua visão dogmática para o futuro da Psicologia era limitada ao
seu campo de interesse (elementos básicos, e como se organizavam) e métodos de
estudo (experiência imediata e introspecção). A sua ambição, que previamente teriam
sido valiosa no seu papel fundamental, motivou o seu desejo de manter um estrito
controle sobre a ciência. A sua visão rígida e unilateral sobre o que os psicólogos
podiam ou não podiam estudar (p.ex.: processos mentais superiores como
aprendizagem e memória), juntamente com a falta de respeito por opiniões dos seus
proeminente contemporâneos, colmatou com conflitos destrutivos entre eles.

Muitos dos contemporâneos alemães de Wundt discordavam abertamente com ele e


suas ideias, e produziram experiências em áreas que ele havia tentado excluir do
estudo psicológico. Hermann Ebbinghaus foi o primeiro a ter experimentado com
sucesso aprendizagem e memória – que Wundt proclamou como sendo impossível.
Franz Brentano defendia “Act Psychology” – estudando o acto da experienciar, ao
invés do conteúdo da experiência. Carl Stumpf era o principal rival de Wundt. Defendia
que estudar a experiência por todo sem a sub-dividir em elementos básicos. Oswald
Külpe, que havia sido um dos alunos de Wundt, estudou o pensamento (processo
cognitivo) usando relatórios retrospectivos (Wundt excluía qualquer envolvimento da
memória em experiências psicológicas) gerados por observadores a partir de
inquéritos detalhados e subjectivos.

Os próprios métodos experimentais aplicados por Wundt eram questionados. Mesmo


sob controlo experimental precisos, por vezes os resultados de introspecção não
podiam ser replicados. Além disso, seria cada vez mais difícil a Wundt e seus
seguidores de obter fundos por era difícil demonstrar a utilidade prática dos seus
trabalhos. Isto seria especialmente verdadeiro na cultura pragmática dos Estados
Unidos.

A defesa forte e fervorosa de Wundt da conduta alemã durante a primeira Grande


Guerra, incluindo a invasão da Bélgica, causou grande animosidade e causou que
muitos psicólogos se opusessem as suas ideias.

O colapso económico da Alemanha e suas universidades depois da Guerra significou


que Wundt e seus seguidores alemães não podiam mais competir com os fundos
disponíveis aos seus contemporâneos que trabalhavam em outras universidades
estrangeiras. Entretanto, psicólogos nos E.U.A. tinham ganho bastante confiança
deixar de seguir as ideias estrangeiras, e prosseguiram com as suas próprias.

Diversas escolas emergiram, Estas escolas incluíam o Estruturalismo (fundado por


Edward Titchner, que havia sido aluno de Wundt), o Funcionalismo e o
Comportamentalismo, nos E.U.A, Gestalt na Alemanha e a Psicanálise na Austria. O
advento destas concorrentes escolas asseguraram que as ideias de Wundt lutavam
por ganhar qualquer atenção poucos anos após a sua morte.
Explique as razões pelas quais os precursores do funcionalismo (Darwin e
Galton) tiveram mais impacto para a psicologia do que a 1ª escola de
pensamento, o estruturalismo?

O estruturalismo foi estabelecido por Titchener como a primeira escola de pensamento


na história da psicologia. Nasceu a 1867 e morreu a 1927 e foi um psicólogo
estruturalista britânico. Titchener tinha uma grande capacidade intelectual, o que lhe
permitiu a entrada na faculdade. Mais tarde estudou filosofia e trabalhou como
assistente de pesquisa em fisiologia. Interessou-se pela psicologia wundtiana, no
entanto como não recebeu o incentivo necessário pela faculdade teve que partir para
Leipzig, para estudar com o próprio Wundt. O facto de estudar com Wundt permitiu-lhe
criar uma relação estreita com Wundt e a sua família, onde frequentou a sua casa
algumas vezes. Titchener identificava-se com Wundt o seu tutor, tentando de certa
forma imita-lo. Após receber o doutorado, Titchener esperava ser o pioneiro da
psicologia experimental, mas quando regressou a Oxford onde fez faculdade notou
que muitos dos seus colegas estavam cépticos relativamente á sua abordagem
cientifica experimental da psicologia.

Titchener viu-se quase obrigado a partir para os Estados Unidos, para a faculdade de
Cornell, o que lhe permitiu leccionar psicologia e dirigir um laboratório. Para Titchener,
Wundt não foi a sua única influência, mas sim também James Mill que defendia a
teoria dos átomos da mente, e a mente como uma máquina passiva, onde a sua
associação é mecânica. Titchener acabou por distinguir-se de do seu mentor, pois
este afirmava que os processos mentais não podiam ser estudados a nível
experimental, e em contrapartida Titchener afirmava o contrario.

Ao longo do tempo, Titchener distingue-se também dos objectivos da APA, e cria um


movimento chamado ‘Os Experimentalistas’. O seu objecto de estudo é a experiencia
consciente e a forma como esta se organiza, constituindo assim o principal objectivo
da psicologia. ‘Os experimentalistas’ proibiam a entrada das mulheres, pois Titchener
não queria a presença das mulheres nas suas tertúlias. Durante estes encontros, ele e
os seus colaboradores podiam fumar e debater acerca da psicologia experimental, e
para Titchener era um ambiente pouco delicado, e seria muito desrespeitoso para a
época opor-se á opinião de uma mulher.

O método de Titchener distinguia-se pela introspecção experimental sistemática


(adoptada de kulpe) onde especificou várias teorias para melhorar a introspecção: a
recorrência á memória; o método do fraccionamento (dividir a experiencia em varias
fases, fazendo diminuir o peso da memoria; e o hábito de introspecção (treino
intensivo dos observadores para que o processo de introspecção se tornasse
autómato, evitando assim o erro do estimulo. Associado ao erro do estimulo, estão as
ilusões de óptica, onde Titchener através da sua teoria afirma que estas devem ser
contornadas por um treino intensivo.

Durante este tempo em que se encontrava na faculdade de Cornell, fez pesquisas


importantes. Utilizou a introspecção realizada pelos observadores do laboratório para
que estes descrevessem as sensações básicas e os sentimentos associados a essas
experiências. A primeira foi a sensibilidade orgânica. Nesta experiencia, Titchener fez
com que os seus observadores do laboratório engolissem um tubo até ao estômago,
permanecendo com ele um dia inteiro, e no fim do dia, fazia passar água fria e água
quente, e pedia para que registassem aquilo que estavam a sentir. Os observadores
utilizavam também blocos de anotações para descrever a vivência da libertação da
necessidade biologia (anotar os sentimentos e sensações enquanto urinavam e
defecavam). Estes blocos de anotações serviam também para anotar os sentimentos e
sensações durante o acto sexual.

Titchener estudava então os elementos estruturais da experiencia consciente através


da analise de processos mentais elementares: as sensações (são os elementos
básicos do processo mais complexo da percepção); as Imagens (são os componentes
elementares das ideias e dos afectos como os sentimentos); e os Afectos (são os
elementos das emoções que possuem duas qualidades fundamentais, são agradáveis
ou desagradáveis). Titchener criou quatro atributos do estado básico da consciência
para os processos mentais elementares. Os atributos para as sensações e as imagens
foram todos os quatro: a qualidade ou modalidade, a intensidade, a duração e a
clareza (é o atributo que dá á sensação o seu lugar na consciência, podendo ser o
equivalente da atenção). Os afectos contem os três primeiros atributos.

Ao longo do tempo, surgiram vários protestos contra o método de Titchener e os seus


estudos. Podemos destacar as suas principais limitações que levaram a ‘extinção’ do
seu método. A primeira e a mais importante foi a de não existir aplicações práticas no
seu modelo, vários outros psicólogos interrogavam-se de qual seria o interesse das
suas experiencias. Para que servia por exemplo a sua experiencia da sensibilidade
orgânica, em que os seus observadores tinham de engolir um tubo ate ao estômago.
De facto não existia mesmo aplicação prática. A segunda foi a deficiência da
introspecção como métodos replicáveis.
Também é importante referir que a teimosia e forte dogmatismo fez com que Titchener
possibilitasse a criação de novos modelos explicativos como o funcionalismo e
behaviorismo.

O funcionalismo chegou então em protesto ao movimento estruturalista. Para esta


nova escola de pensamento, contribuíram grandes nomes da história mundial, Charles
Darwin e Francis Galton. Nem Darwin nem Galton tinham interesse em responder
como funcionava a mente. Darwin nasceu a 12 de Fevereiro em 1809 e morreu a 19
de Abril em 1882, foi um naturalista britânico que convenceu comunidade científica da
existência da evolução e propôs uma teoria para a explicar através da selecção
natural. Darwin inicialmente estava indeciso acerca daquilo que iria exercer e foi numa
expedição que se começou a interessar pela história natural. Foi convidado para
participar nesta expedição, onde passou e estudou varias ilhas. O objectivo pelo qual
tinha sido convidado para esta viagem foi para poder comprovar o criacionismo (Deus
criava tudo, era o pai das espécies, o seu criador), no entanto Darwin acabou por
provar o contrário. Demorou cerca de 22 anos a publicar o seu trabalho, pois sabia
que á luz da sua época seria condenado pela sociedade e pela igreja. Ele constatou
então que os seres vivos mudavam com o tempo e que a natureza resulta de um
processo de mudança.

Francis Galton nasceu em Sparkbrook a 16 de Fevereiro de 1822 e morreu em


Haslemere, Surrey, a 17 de Janeiro de 1911. Galton tinha um QI muito elevado, era
dotado de grande inteligência e intelecto, foi um antropólogo, meteorologista,
matemático e estatístico inglês. Ele foi o primeiro a aplicar métodos estatísticos para o
estudo das diferenças e herança humanas de inteligência. Foi um pesquisador da
mente humana, fundou a psicometria (a ciência da medição faculdades mentais) e a
psicologia diferencial. Era primo de Charles Darwin e, baseado em sua obra, criou o
conceito de "Eugenia".

O surgimento da Psicologia Aplicada.

Para se compreender o surgimento da Psicologia Aplicada, de certa forma é


necessário considerar os moldes com os que os Estados Unidos da América foi
idealizado e construído, data de 1776. País jovem de pró-genese emigraria, os
Estados Unidos foi alicerçado tendo em conta o sentido prático da vida social,
avenidas e ruas perpendiculares, numeradas sequencialmente, em estrela crescente,
seguindo uma lógica intrínseca, um desenraizar de entraves à praticabilidade das
estruturas socioculturais. A corrente migratória original veio do velho continente, a
Europa, e ao pisar o novo continente, criaram-se novos paradigmas sociais, tendo em
vista, sempre, um pragmatismo existencial.

Este sentido pragmático ainda hoje perdura no colectivo social americano, evidente
principalmente numa época pós guerra e inicio da grande depressão, de extrema
necessidade de reestruturação económica, as questões mais colocadas eram “Qual a
real utilidade, qual o custo - benefício, existirão melhores maneiras de atingir os
mesmos objectivos?”

Então, rumando a finais do século XIX, após os trabalhos de Wundt e Titchner, ao


regressarem aos E.U.A, uma nova massa de Psicólogos exerceram então esta forma
de pressão colectiva subconsciente de tornar o que aprenderam em palpável, útil e
real. As ideias e teorias que haviam aprendido teriam de se tornar aplicáveis, senão
pouco sentido fariam. Daí que as ideias científico - filosóficas de Wundt tenham
desvanecido. Mas também a forte influências das teorias evolucionárias de Darwin e
Galton contribuíram para a sensação de falta de praticabilidade das ideias de Wundt.

Nas próprias palavras de G. Stanley Hall “Precisamos de uma psicologia que seja
utilizável”

As escolas americanas consideravam mais importante o estudo do funcionamento da


mente do que propriamente suas funções. Para tal, psicólogos como James, Angell e
Carr desenvolveram trabalhos em laboratório, enquanto outros procuravam na “vida
real” por respostas, e o resultado comum traduziu-se na aplicação de conceitos
psicológicos em fábricas, agencias de publicidade, nas forças militares, recrutamento
profissional e orientação académica, entre outros. Note-se, que num espaço de cerca
de 20 anos, de 1880 a 1900, foram criados um sem fim laboratórios e doutoramentos
académicos nas universidades americanas, que permitiu uma auto-sustentação na
formação de novos profissionais, e como tal já mais não era preciso ir para a
Alemanha para estudar. As correntes de pensamento americano tornam-se assim,
independentes.

Granville Stanley Hall é considerado o fundador do primeiro laboratório e publicação


sobre psicologia. Foi também o primeiro presidente da APA. Foi certamente um dos
principais impulsionadores desta corrente ao considerar a “evolução” como pivot
filosófico em psicologia.
Já como reitor da Clark University of Rochester, orientou o enfoque para o pós-
graduado em psicologia, e entre outras, criou a Journal of Applied Psychology em
1915, o que ainda mais impulsionou as fundições da Psicologia Aplicada.

James Cattel, que teria sido assistente no laboratório de Leipzig e muito respeitado por
Wundt, depois de terminar o seu doutoramento em 1886 regressa aos E.U.A
brevemente para leccionar, antes de seguir para a Inglaterra, onde teve a
oportunidade de discutir com Galton algumas das suas ideias. Galton, inclusivamente,
propôs a Cattel una adaptação das suas teorias apresentando um método de medição
de diferenças psicológicas entre as pessoas. Galton havia andado a desenvolver
princípios estatísticos para a medição de diferenças, e Cattlel foi muito influenciado por
ele. Assim, Cattlel tornou-se um dos primeiros a quantificar, classificar e graduar,
trazendo a métrica à psicologia, análise estatística aplicada a resultados
experimentais.

De relevo na Psicologia Aplicada, Cattel inclusivamente criou uma empresa dedicada


à aplicação da psicologia nas indústrias, na própria psicologia em si e ao público em
geral.

Seguiu-se então, quase em paralelo histórico, dois factos importantes. Primeiro,


Pearson, que desenvolveu estudos estatísticos sobre correlações de factores e em
1900, o qui-quadrado. Segundo, Binet, que desenvolve mais extensivamente testes
mentais, com análises para além do sensório-motor de Catllel-Galton, mas incidindo
mais em processos cognitivos como a memória, atenção, imaginação e compreensão,
como medida de inteligência. Teste esse, que foi vastamente aplicado na população
estudantil e consequentemente revisto para maior fidelidade.

Surgiam assim, em psicologia, as primeiras ferramentas práticas sem necessitavam de


um laboratório.

Em 1916, Terman desenvolve nova versão e chama-a de Stanford-Binet e ainda hoje,


revisões deste teste é amplamente aplicado. Em 1917, a necessidade da aplicação
rápida e em massa pelo complexo militar norte-americano, sem a necessidade da
intervenção de um psicólogo experiente, gerou novos testes de seriação e
classificação, com o fim da psicologia contribuir com uma maior taxa de sucesso do
exército. Como o fim da guerra e com provas dadas da psicologia no terreno, estes
testes ganharam um enorme respeito por parte da população em geral, tendo sido
amplamente utilizados em diversos contextos, desde escolas públicas a centros de
recrutamento. Diversas pessoas produziram diversos testes, para diversos fins,
parecia uma moda nacional, tanto a criação de novos standards a serem estudados e
catalogados, como o hábito da sua aplicação como método de
seriação/aceitação/eliminação de indivíduos. A Psicologia Aplicada ganha a sua
principal expressão nesta época.

O estatuto de psicólogo elevou-se tremendamente nos olhos do público, como se este


conseguisse ver o interior das pessoas de forma mágica, como a medicina séculos
antes. Havia um enorme espanto e admiração pelas técnicas e testes, ao ponto que a
psicologia em geral nuca havia sentido crescimento maior. Surge a Psicologia Clínica,
Psicologia Industrial-Organizacional, surge com grande impacto na publicidade e
entorno que utilizasse a sugestionabilidade dos indivíduos para os influenciar, no
recrutamento e selecção de pessoal, Psicoterapias e inclusivamente hipnose em
forense. Tudo que envolvesse práticas psicológicas directas era vastamente e até
ostentosamente aplicado. Vivia-se uma autentica euforia social entorno a psicologia,
enquanto regulador social.

Mas a Grande Depressão de 30 veio a ter exactamente o efeito contrário. O que a


psicologia havia “prometido” não se cumpriu. A prova estava na enorme a latifundiária
recessão económica e a falta de competitividade das indústrias e empresas e os
fracos resultados financeiros. A enorme euforia viria a revelar os erros e as falhas dos
testes mal concebidos, mal aplicados e mal classificado. Isto havia resultado em maus
profissionais em diversas posições. As grandes expectativas, tanto das ciências como
do púbico, viriam agora a jogar contra a psicologia aplicada enquanto corpo teórico, e
como esteve tão em voga, significou também grande desprestígio para a psicologia
em geral.

Seria necessário uma Segunda Grande Guerra para reverter esta posição, no
entretanto, as escolas estruturalistas haviam de se reestruturar as suas posições e as
escolas funcionalistas a reavaliação seus propósitos. A psicologia estava muito
enfraquecida a nível da sua auto-estima, e consequentemente os valores defendidos
eram recebidos em dúvida. Havia a necessidade de algo novo que de certa forma
unificasse as vontades de edificar a ciência da psicologia, pondo-a novamente em
bom rumo e abrindo o campo do debate, trazendo nova luz.

E assim o Behaviorismo dá seus primeiros passos.


A Influência da Psicologia Animal no Behaviorismo

Edward Lee THORNDIKE (1874-1949)

Thorndike é um dos mais importantes pesquisadores no desenvolvimento da


Psicologia animal. Ele elaborou uma teoria objectiva e mecanicista da aprendizagem
que se concentra no comportamento manifesto. Acreditava que a Psicologia tem de
estudar o comportamento e não os elementos mentais ou experiências conscientes de
qualquer espécie.

Thorndike criou uma abordagem experimental que designou de Conexionismo, pois


concentrou-se nas conexões entre situações e respostas, e alegando que a
aprendizagem não envolve uma reflexão consciente. As suas conclusões derivam das
pesquisas que fez utilizando uma caixa - problema, em que um animal era colocado na
caixa e tinha de aprender a operar uma alavanca para sair.

Os estudos de Thorndike com gatos envolviam a colocação de um gato privado de


alimento na caixa. Colocava-se comida fora dela como recompensa para a fuga e o
gato tinha de puxar a alavanca para sair da caixa e atingir o alimento. Inicialmente o
gato exibia um comportamento algo caótico, empurrando, farejando, dando patadas…
mas acabava por descobrir o comportamento correcto e a porta abria-se. Na primeira
tentativa, este comportamento ocorria por acaso, em tentativas subsequentes os
comportamentos aleatórios iam sendo cada vez menos exibidos, até a aprendizagem
se completar, ou seja, após colocado na caixa, o gato dirigia-se logo à alavanca,
accionando-a. Thorndike concluiu que tendências de resposta mal sucedidas (as que
não faziam com que o gato saísse da caixa) iam sendo menos frequentes, enquanto
que as respostas que levavam ao êxito eram incorporadas - Aprendizagem por
Tentativa e Erro. A incorporação ou redução de uma dada resposta foi formalizada por
Thorndike como a Lei do Efeito: "todo o acto que, numa dada situação, produz
satisfação, fica associado a essa situação, de maneira que, quando a situação se
repete, a acto tem mais probabilidade de se repetir do que antes. Inversamente, todo o
acto que, numa dada situação, produz desconforto, torna-se dissociado dessa
situação, de maneira que, quando a situação se repete, o acto tem menos
probabilidade de se repetir do que antes". Uma outra lei formulada e que vai de
encontro com esta é a Lei do Exercício ou Lei do uso e do Desuso: "toda a resposta
dada numa situação particular fica associada a essa situação. Quanto mais é usada
na situação, tanto mais fortemente a resposta se associa com ela. Inversamente, o
desuso prolongado da resposta tende a enfraquecer a associação".
 As obras de Thorndike e de Pavlov são um exemplo de descobertas simultâneas
independentes. Thorndike desenvolveu a Lei do Efeito, em 1898, e Pavlov fez uma
proposta semelhante com a Lei do Reforço, em 1902, mas só muitos anos mais tarde
se perceberam as suas semelhanças.

Ivan  Petrovitch PAVLOV (1849-1949)

Ivan Pavlov tirou o curso de ciências e ficou conhecido pelos seus estudos acerca dos
reflexos condicionados e fisiologia da segregação gástrica. E é exactamente a estudar
as secreções gástricas que descobre que, para além dos reflexos inatos (que se
manifestam logo ao nascer), se podem desenvolver no Homem e no animal, reflexos
aprendidos. No decorrer de uma experiência, apercebe-se que o cão, não só salivava
quando via o alimento - reflexo inato - mas também a outros sinais associados ao
alimento como por exemplo os passos do treinador, ou o som de uma campainha -
reflexo condicionado - , sendo o estímulo condicionado os passos do treinador, ou o
som de uma campainha, por exemplo, e o estímulo não condicionado o alimento.

Ao considerar que a aprendizagem (ou condicionamento) só acontece se o estímulo


condicionado for seguido do estímulo não condicionado (o alimento), formula a Lei do
Reforço, ou seja, as respostas reforçadas são fortalecidas, enquanto que as respostas
que o não são, ficam enfraquecidas.

Para Pavlov, o que domina o espírito é a actividade do cérebro e, por tal, dedica-se ao
estudo da actividade nervosa superior, estabelecendo um conjunto de leis fisiológicas.

Considerou que a Psicologia deveria tomar a designação de Reflexologia pois,


segundo a sua perspectiva, os reflexos, inatos e condicionados, seriam o fundamento
das respostas dos indivíduos aos estímulos provenientes do meio.

Os trabalhos de Pavlov representam um grande passo na constituição da Psicologia


experimental objectiva. E é com este também que a Psicologia se direcciona para o
estudo do comportamento animal.
Jonh B. WATSON (1878-1958)

 Jonh Watson é considerado o Pai da Psicologia Científica pois demarcou-se, de forma


radical, de toda a Psicologia tradicional que tinha por objecto o estudo da consciência
e por método a introspecção. Não nega a existência da consciência nem a
possibilidade do indivíduo se auto-observar, mas considera que os estados de espírito
bem como a procura das suas causas só podem interessar ao sujeito no âmbito da
sua vida pessoal.

Watson considera que com Wundt a Psicologia teve uma falsa partida pois este não foi
capaz de romper com as concepções tradicionais. Para se constituir como ciência, a
Psicologia terá de cortar com todo o passado e constituir-se como ramo objectivo e
experimental de ciência. Watson pretendia para a Psicologia o mesmo estatuto da
biologia, logo, para se constituir como ciência rigorosa e objectiva, o psicólogo terá de
assumir a atitude do cientista, trabalhando com dados que resultam de observações
objectivas e acessíveis a qualquer outro observador. O psicólogo terá de renunciar à
introspecção e limitar-se à observação externa, à semelhança das outras ciências.

Segundo Watson, só se pode estudar directamente o comportamento observável, isto


é, a resposta do indivíduo (R) a um dado estímulo (E) do ambiente. E, tal como em
qualquer outra ciência, cabe ao psicólogo decompor o seu objecto - o comportamento
- nos seus elementos e explicá-los de forma objectiva, recorrendo ao método
experimental.

É importante salientar que, para os behavioristas, estímulo é o conjunto de excitações


que agem sobre o organismo. O estímulo pode ser assim qualquer elemento ou
objecto do meio ou ainda qualquer modificação interna do organismo (exemplo: a
picada de uma agulha; contracções do estômago…). A resposta é uma reacção
muscular ou glandular. Para os behavioristas, a resposta é tudo o que o animal ou o
ser humano faz (exemplos: afastar a mão; saltar; chorar; escrever um livro…). O
comportamento é o conjunto de respostas objectivamente observáveis activadas por
um conjunto complexo de estímulos, provenientes do meio físico ou social em que o
organismo se insere.

Watson chegou mesmo a estabelecer uma fórmula que prevê o comportamento:


R=f(S), isto é, a resposta (R) depende da situação (S). o estabelecimento de leis do
comportamento resulta do estudo das variações das respostas em função da situação.
O psicólogo deverá ser capaz de, conhecendo o estímulo, prever a resposta e,
inversamente, conhecendo a reposta, deverá identificar o estímulo ou situação
(conjunto de estímulos) que provocou essa resposta.

Para Watson, nós somos o que fazemos, e o que nós fazemos é o que o meio nos faz
fazer. Neste sentido, os indivíduos não são pessoalmente responsáveis pelos seus
actos, dado que são produto do meio em que vivem.

Contribuições do Behaviorismo

Podemos considerar a teoria do comportamento (ou behaviorismo) um movimento


revolucionário que contribuiu de forma decisiva para a constituição da Psicologia
científica. É com Watson que se dá a ruptura com a Psicologia introspectiva. Pode até
afirmar-se que é com Watson que a Psicologia adquire, indiscutivelmente, o estatuto
de ciência. A contribuição fundamental de Watson foi exactamente a defesa de uma
ciência do comportamento totalmente objectiva.

Críticas ao Behaviorismo

A necessidade de demarcação relativamente à Psicologia da consciência conduziu os


behavioristas a uma concepção limitada e simplista do comportamento. Ao reduzir a
interpretação do comportamento à fórmula E?R, muitas condutas ficam por explicar.
Por exemplo, as reacções desencadeadas pela sede escapam ao esquema proposto
pois não bebemos quando vemos água, é uma situação interna do organismo que
desencadeia um conjunto de comportamentos que permitem atingir o objectivo de
beber. Outros comportamentos mais complexos e especificamente humanos, como a
linguagem, o pensamento, os sentimentos, as emoções, não são redutíveis à fórmula
proposta pelos behavioristas. Por outro lado, uma mesma situação pode desencadear
reacções (respostas) diferentes. Por exemplo, quando ocorre um acidente (E), as
repostas dos sujeitos  que o presenciam podem não ser as mesmas: um pode socorrer
as vitimas (R1); outro procura auxílio(R2); outro afasta-se do local (R3)… além disto, o
mesmo sujeito, perante a mesma situação, pode, em momentos diferentes, comportar-
se de forma distinta. Por outro lado,, situações diferentes podem desencadear o
mesmo tipo de reacções. Por exemplo, uma criança pode chorar (R) porque caiu (S1);
porque a mãe lhe recusou um gelado (S2); porque perdeu um brinquedo (S3)… por
tudo isto, a fórmula dos behavioristas é muito redutora do comportamento humano,
podendo servir para explicar apenas alguns comportamentos dos animais. É criticada
também a posição de Watson de que não somos pessoalmente responsáveis pelas
nossas acções pois, se isto fosse verdade, os seres humanos não teriam livre-arbítrio,
não podendo ser responsáveis pelas suas acções; não haveria esforço, empenho ou
desejo de melhoria pessoal e social.

 PSICOLOGIA DA GESTALT

No final do século XIX, a psicologia, ainda buscava alicerce no paradigma Cartesiano.


Os cientistas tentavam estabelecer relações de causa e efeito entre estímulos e
respostas, o objectivo a ser alcançado pela ciência era a mensurabilidade. A
psicologia buscava notoriedade como ciência e o caminho para isto, era se igualar às
ciências exactas.

O objetivo de ser encarada como ciência, foi aos poucos sendo alcançado pela
psicologia, Muitos pesquisadores e cientistas contribuíram para isso, entre eles
Watson, Pavlov, Skinner com o Behaviorismo e Terman, Goddard, Yerkes com os
testes psicológicos. Os estudiosos da época estavam interessados em medir
reacções, pois estes eram dados confiáveis e válidos já que o conteúdo da "
consciência " era composto por variáveis impossíveis de se controlar.

Neste mesmo período, Max Wertheimer, Wolfgang Kohler e Kurt Kofka, baseados em
estudos psicofísicos que relacionavam a forma e sua percepção, desenvolveram a
Psicologia da Gestalt.

Os fundadores da Psicologia da Gestalt estavam interessados em compreender quais


eram os processos psicológicos que estavam envolvidos na ilusão de ótica, quando o
estímulo físico era percebido por um indivíduo como uma forma diferente da que ele
tinha na realidade.

Um dos pontos centrais da teoria da Gestalt é a percepção. Os Gestaltistas


questionaram o princípio de causalidade implicíto na teoria Behaviorista e afirmaram
que entre o estímulo ambiental e a resposta do indivíduo há o processo de percepção.
É primordial saber que o modo pelo qual o indivíduo percebe e o que ele percebe são
dados importantes para compreender seu comportamento.

Neste momento entra o conceito de todo e das partes, já que o próprio nome Gestalt,
pode ser traduzido como todo ou configuração. Para os Gestaltistas as experiências
são percebidas primeiro como um todo e só depois suas partes são percebidas. É
importante notar que as partes estão ligadas de uma maneira estruturada a fim de
formar o todo e é essa estrutura que interessa aos Gestaltistas, eles procuram
descobrir como está estruturada uma fobia, por exemplo, e conseguem isto
observando e analisando o cliente como um todo integrado através da manifestação
de suas partes.

Outro conceito, intimamente ligado ao de todo e das partes é o conceito de figura e


fundo ou, formação duo (uma figura " sobre " ou " dentro " de outra). Segundo este
conceito, qualquer problema humano deve ser compreendido à partir de um todo, pois
ele é apenas uma parte, subjaz ou se sobrepõe a algo mais amplo, mais complexo.

A figura não é uma parte isolada do fundo, é este fundo que lhe atribui significado. É
importante notar como o cliente estrutura sua percepção para ver algo como figura e
não como fundo e vice-versa, procurar nos vazios ( o que não está em nosso campo
de percepção como figura ) a verdadeira solução para o problema do cliente.

Na Gestalt-Terapia o momento presente é o que interessa, é no aqui e agora que a


dificuldade do cliente deverá ser trabalhada. Apesar desse conceito ser
frequentemente atribuído à influências orientais, na verdade está intimamente ligado
ao conceito de isomorfismo, apresentado pela psicologia da gestalt.

Os Gestaltistas atribuem pouca importância aos fatos passados, pois a influência


destes no presente é pequena. Estar no aqui e agora significa que o momento
presente contém e explica minha relação com a realidade como um todo, isto é, o que
eu vejo, o que eu percebo agora pode ser explicado a partir do momento presente,
sem a necessidade de recorrer à experiências passadas de percepção. O indivíduo
convive com o aqui e agora e com o passado, através de uma relação de figura e
fundo, de todo e partes.

A psicologia da Gestalt conceitua os comportamentos voluntários como molares e os


comportamentos involuntários como moleculares.

Ambos os comportamentos ocorrem em um determinado campo, em um determinado


ambiente, em um determinado tempo, e o modo pelo qual a pessoa entra em contacto
com este campo irá influenciar directamente na produção e aparecimento desses
comportamentos.

Existem dois meios onde esses comportamentos se manifestam: O meio geográfico e


o meio comportamental. O primeiro é o meio real, o ambiente onde ocorrem os
comportamentos, no entanto, o meio comportamental é que determinará o
comportamento molecular. O meio comportamental é o local ou a situação na qual
pensamos que estamos, sendo assim, não é o meio geográfico, mas o modo como se
reage a ele é que explica o comportamento humano.

Todos estes conceitos estão profundamente ligados, este é o espírito da teoria e da


Gestalt-Terapia, uma análise do ser humano, na qual este é visto de forma completa,
interdependente e envolvido em um sistema maior, levando em consideração suas
potencialidades naturais que por algum motivo estão adormecidas, sendo função da
psicoterapia, reestruturar o campo perceptivo da pessoa que procura ajuda e ajudá-lo,
dessa forma, a encontrar um equilíbrio, que é conseguido através da capacidade de
uma auto-regulação e de um auto-apoio.

HUMANISMO E GESTALT

A Gestalt-Terapia, tal como o Humanismo, envolve uma visão de mundo na qual o


homem é o centro, possui um valor positivo e é capaz de autogerir-se e regular-se.
Segundo Heidegger " só o homem existe, as coisas são ". Sem o homem as
revoluções, guerras, avanços tecnológicos não tem sentido, este sentido se perde
quando o homem pessoa como pessoa desaparece para que as coisas ou eventos
sejam ou quando o homem deixa ou é impedido de existir. O pensamento Humanista
leva am conta os limites pessoais, os fracassos, as impossibilidades de mudança aqui
e agora e tenta fazer uma reflexão do positivo, do criativo, do que ainda é, em sua
potencialidade, transformador e levando o ser humano a se desdobrar até a plenitude
de sua essência, a plenitude no agir, no pensar, no expressar-se atravás da
linguagem.

A Gestalt-Terapia almeja bem mais do que uma reflexão humanística, ela se realiza
através de uma postura filosófica, existencial, tentando ser uma resposta a um modo
específico de estar no mundo e nele agir.

EXISTENCIALISMO E GESTALT

O Existencialismo é a expressão de uma experiência individual, singular. Trata


directamente da existência humana. A Gestalt-Terapia assim como o Existencialismo
vêem o homem como um ser particular, concreto, com vontade e liberdades pessoais,
consciente e responsável e a relação existente entre o ato humano e a intenção é
levada em conta, ou seja, todo acto psíquico é intenção e deve ser entendido,
compreendido a partir de si próprio. O homem só pode ser compreendido por ele
mesmo, através de uma experiência directa de seu ser no mundo.
A Gestalt-Terapia, por fundamentar-se numa visão específica de existência, faz um
apelo à liberdade, à individualidade pessoal e coerente. O Gestaltista é, assim como o
Existencialista, uma pessoa que se nega a submergir inconscientemente no mundo
que o cerca, é uma figura incomodada e que incomoda e, antes de tudo é um ser
responsável por si mesmo, sem ser isolado ou egoísta.

FENOMENOLOGIA E GESTALT-TERAPIA

Para os Gestaltistas não se pode separar o fenómeno do ser. É o ser do fenómeno


que interessa à Fenomenologia, o ser que se dá no fenómeno. Não se pode
compreender o fenómeno a partir da existência, mas só compreendendo a própria
existência.

A Fenomenologia tende a ir à essência mesma das coisas. O significado que se atribui


às coisas não representa a realidade, o desenvolvimento da essência dessa coisa, por
isso é importante perceber esse movimento do homem no mesmo momento em que
ele, compreender as coisas, lhes empresta um significado, que parte de sua própria
reflexão, vontade e consciência.

Para a Gestalt-Terapia a interpretação do fenómeno na sua natureza é diverso, já que


existe em todo fenómeno um sentido relacional entre a coisa em si e a sua percepção
por parte de outro.

A CONCEPÇÃO SISTÊMICA

Partindo das descobertas no campo da física nas primeiras décadas e necessidade de


um novo paradigma, outras teorias foram desenvolvidas para ajudar a compreender os
fenômenos naturais.

Depois de três séculos de pensamento reducionista, determinista e dO consequente


desequilíbrio cultural e social, surgiram os primeiros os primeiros sinais de um novo
paradigma.

No início da década de 1920 o biólogo alemão Ludwing Von Bertalanfy criou a Teoria
Geral dos Sistemas. Os estudiosos dessa teoria procuraram formular generalizações
sobre " como as partes e os todos se relacionavam, independentemente das
disciplinas nas quais eram observadas ". Outra teoria que estuda os sistemas auto-
regulados é a Cibernética, disciplina criada por Norbert Wiener, a diferença desta para
a TSG é que a Cibernética é um modelo mecanicista. Para Wiener os " princípios
básicos que governam as máquinas de auto-regulação são encontrados também no
comportamento humano ". Para Bertalanfy as pessoas são criativas, activas e
exercem controle sobre o seu ambiente ".

Na teoria geral dos sistemas a ênfase é dada à inter-relação e interdependência entre


os componentes que formam um sistema que é visto como uma totalidade integrada,
sendo impossível estudar seus elementos isoladamente. É disso que trata os
conceitos de transacção e globalidade, o primeiro se refere à interacção simultânea e
interdependente entre os componentes de um sistema e o segundo diz que um
sistema constitui um todo único, dessa forma, qualquer mudança em uma das partes
afectará todo o conjunto.

Bertalanfy descreveu os organismos vivos como sistemas abertos, que matéria,


energia ou informação com ambiente através de inputs contínuos recebidos do
ambiente e outputs enviados para este. Em seguida foram identificadas algumas
propriedades dos sistemas tais como:

Homeostase ou Equilíbrio: É o processo utilizado pelo sistema para não se


desestruturar e manter seu equilíbrio.

Equifinalidade: Este conceito diz respeito a capacidade de, em um sistema aberto,


diferentes condições iniciais produzirem resultados finais semelhantes ou diferentes
resultados terem sido causados por condições iniciais semelhantes.

Hierarquia: Significa que sistemas complexos são formados por certo número de
subsistemas e isto implica em uma ordem crescente de complexidade. Koestler criou o
termo hólon para descrever estes sistemas de dupla face, onde de um lado o
componente do sistema é subordinado e do outro é superior.

Perspectiva Teleológica: Este conceito diz que os eventos são determinados pelas
metas a serem atingidas, dessa forma os sistemas são vistos como organismos
orientados para certas áreas e para atingir estes fins eles utilizam o Feedback.

O conceito de Feedback é da Cibernética e refere-se a capacidade do sistema em


regular seu comportamento para alcançar suas metas. O feedback pode ser negativo,
quando trabalha para manter o equilíbrio do sistema quando este é ameaçado por
inputs vindos do ambiente que tendem a desestruturá-lo, e positivo, quando o sistema
responde ampliando o desvio vindo do exterior e dessa forma modificando a estrutura.

Causalidade Linear e Causalidade Circular: O conceito de linearidade vem do


paradigma cartesiano, onde um evento A causa o evento B e assim sucessivamente.
No conceito de circularidade, introduzido pela Cibernética, qualquer comportamento é
visto como uma série de movimentos e contra movimentos, em uma repetição cíclica,
então não se pode afirmar quem causa o quê.

Apesar do modelo vigente ainda ser o cartesiano, torna-se a cada dia mais claro e
necessário revermos os velhos conceitos e atentarmos para as novas necessidades
que surgiram por conta das limitações do antigo paradigma. Podemos perceber
claramente que o modelo sistêmico se adapta melhor ao modelo de mundo que
precisamos ter e é só uma questão de tempo para até ele se estabelecer, mas até que
ponto precisaremos chegar para que esta mudança ocorra?

Influências Anteriores Sobre Psicologia da Gestalt

Assim como todo o movimento, as ideias contestadoras da Gestalt tiveram origem


em conceitos anteriores. A base da posição da Gestalt, ou seja, o enfoque na
unidade da percepção, encontra-se no trabalho do filósofo alemão Immanuel Kant
(1724-1894) que, curiosamente, escrevia os seus livros confortavelmente vestido de
roupão e calçando chinelos. Kant alegava que, quando percebemos o que
chamamos de objecto, encontramos os estados mentais que parecem compostos de
partes e pedaços. Essa ideia é semelhante à proposta dos elementos sensoriais
defendida pelos empiristas ingleses e associacionistas. No entanto, para Kant, esses
elementos são organizados de forma que tenham algum sentido, e não por meio de
processo de associação. Durante o processo de percepção, a mente forma ou cria
uma experiência completa. Desse modo, a percepção não é uma impressão passiva
e uma cominação de elementos sensoriais, como afirmavam os empiristas e
associacionistas, mas uma organização activa dos elementos, de modo que forme
uma experiência coerente. Assim, a mente molda e forma os dados originais da
percepção.
Franz Brentano, da University of Vienna, opôs-se ao enfoque de Wundt acerca dos
elementos de experiência consciente e propôs à psicologia o estudo do ato da
experiência. Ele considerava artificial a introspecção utilizada por Wundt e defendia
uma observação menos rígida e mais directa da experiência na forma como ela
ocorre. A visão de Brentano estava mais próxima dos métodos mais recentes dos
psicólogos da Gestalt.

Ernst Mach (1838-1916), professor de física da University of Praga, exerceu


influência mais direta sobre o pensamento da Gestalt com a obra The analyisis of
sensations (1885). Nesse livro, Mach discutia os padrões espaciais, como as figuras
geométricas, bem como os padrões temporais, como as melodias, e os considerava
sensações. Essas sensações de forma do espaço e da forma do tempo dependem
dos elementos individuais. Por exemplo: a forma do espaço de um círculo pode ser
branca ou preta, grande ou pequena e ainda manter a qualidade elementar circular.

Mach alegava que a percepção de um objecto não muda, ainda que modifiquemos
nossa orientação em relação a ele. Uma mesa continua a ser uma mesa se a
olharmos de lado, de cima ou de algum ângulo. Do mesmo modo, o tom continua o
mesmo em nossa percepção inclusive quando a forma do tempo é modificada, ou
seja, quando é executada mais lenta ou rapidamente.
 

Christian von Ehrenfels (1859-1932) estudou as ideias de Mach e propôs qualidades


de experiência que não podem ser explicadas como combinações de elementos
sensoriais. Chamou esss qualidades de Gestalt qualitäten (qualidades de forma), que
são percepções baseadas em algo além da aglutinação de sensações individuais. A
melodia é uma qualidade de forma porque parece a mesma até quando transporta
para outra nota. A melodia independa das sensações de que é composta. Para
Ehrenfels e os seus seguidores, a forma em si era um elemento criado pela mente
em operação sobre os elementos sensoriais. Desse modo, a mente seria dotada de
capacidade para criar formas a partir de sensações elementares. Max Wertheimer,
um dos três principais fundadores da psicologia da fGestalt, percebeu que, do
trabalho de Ehrenfels , com quem ele estudara em Praga, vinha o maior incentivo
para o movimento de Gestalt.
Willian James, que se opôs à tendência do elementarismo na psicologia, também foi
percursor da escola de psicologia da Gestalt. James considerava os elementos da
consciência como abstracções artificiais. Afirmava que as pessoas vêem os objectos
como uma unidade, e não como pacotes formados de sensações. Outros principais
fundadores da psicologia da Gestalt, Kurt Koffka e Wolfgang Köhler, tomaram
contacto com o trabalho de James quando foram alunos de Stumpf.
 

Outra influência anterior foi o movimento ocorrido na filosofia e na psicologia alemãs,


conhecido como fenomenologia, doutrina baseada na descrição imparcial da
experiência imediata na forma como ela ocorre. A experiência não é analisada nem
reduzida em elementos ou abstraída de alguma forma artificial. Ela envolve uma
experiência praticamente ingénua de senso comum, e não uma experiência relatada
por um observador treinado, dotado de orientação ou tendência sistemática.

Um grupo de psicólogos fenomenologistas trabalhou na University of Göttingen de


1909 a 1915, isto é, no período em que o movimento da Gestalt estava começando
a se desenvolver. O trabalho desses psicólogos precedeu a escola formal da
Gestalt, que mais tarde acabou adoptando a visão desse estudo.

Wertheimer aprensentou os princípios de organização perceptual da escola de


psicologia da Gestalt em um artigo publicado em 1923. Ela alegava que percebemos
os objetos do mesmo modo que observamos o movimento aparente, como unidades
completas e não como agrupamentos de sensações individuais. Esses pricípios da
Gestalt seriam as regras fundamentais por meio das quais organizamos nosso
universo perceptual.

Uma premissa subjacente estabeleça que a organização perceptual ocorre


instantaneamente, sempre que percebemos diversos padrões ou formatos. As
minúsculas partes do campo perceptual unem-se para formar estruturas distintas das
originais. A organização perceptual é espontânea e inevitável, sempre que vemos ou
ouvimos. Normalmente, não precisamos aprender a formar padrões, como afirmavam
os associacionistas, embora algumas parcepções de nível superior, como nomear os
objectos, dependam da aprendizagem.
 De acordo com a teoria da Gestalt, o cérebro é um sistema dinâmico em que todos os
elementos ativos interagem em determinado momento. A área visual do cérebro não
responde separadamente aos elementos individuais do estímulo visual, conectando-os
mediante algum processo mecânico de associação. Ao contrário, os elementos
similares, ou bem próximos, tendem a se combinar, e os elementos diferentes ou
distantes, a não se combinar.

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