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Vídeo Aula 43
A Função da Escola na Aplicação de Medidas de Proteção
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Aída Monteiro é pedagoga e doutora em Educação, e secretária-executiva de
Desenvolvimento da Educação de Pernambuco com experiência na Secretaria Especial de
Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH – PR).
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Renê Dutra é conselheiro tutelar de Rio das Ostras/RJ, representante da Associação de
Conselheiros Tutelares do Rio de Janeiro e membro do Fórum Colegiado Nacional de
Conselheiros Tutelares (FCNCT).
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Foram feitas apenas as adaptações necessárias à transposição do texto falado para o texto
escrito.
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sistematicamente às aulas, chegando ao problema da evasão, ou nos casos de
repetência por um, dois, três anos...
Como o professor pode colaborar buscando apoio e proteção para estas
crianças? É preciso que a escola tenha no seu interior, formas de se organizar.
Uma espécie de protocolo de encaminhamentos e de denúncias, especificando
os passos e as responsabilidades de cada um nas comunicações ao Conselho
Tutelar. Somente sendo comunicado, e enquanto um parceiro da escola, o
conselho poderá apoiar o trabalho escolar, realmente contribuindo e evitando
que o professor fique isolado nas suas ações. Não é uma ação individual, mas,
coletiva.
Quero perguntar ao representante do Conselho Tutelar, Renê Dutra: O
artigo 56 do ECA nos diz que é papel do dirigente da escola fazer o
comunicado ao Conselho Tutelar de casos de maus tratos, evasão e
repetência. Como este conselho poderia ajudar a professora e o professor, o
diretor da escola ou o coordenador pedagógico, enfim, este grupo de
educadores a tratarem destas questões que envolvem direitos violados?
Prof. Renê Dutra: O que nós percebemos hoje na nossa prática é que
muitos educadores, muitos dirigentes de estabelecimento de ensino não
notificam como deveriam. As pessoas têm muito medo de comunicar as
violações que percebem no interior das salas de aula. Eu sempre falo, nos
meus contatos com professores da minha cidade, que quando a escola notifica,
não significa que ela ou o próprio conselho tenham algo contra a família
daquela criança, pelo contrário. O que deve ser garantido é que a criança não
sofra este tipo de violação. A família será auxiliada pelo Conselho Tutelar. O
conselho não é uma polícia, o seu papel não é policialesco, muito pelo
contrário. O objetivo é ajudar a fortalecer a família, que deve estar
desequilibrada. Entendemos que exista algo errado, que faz com que esta
criança esteja passando por esta violação, e isso não pode acontecer.
Como a senhora bem disse, o conselho é um parceiro da escola, e
assim ele deve ser visto. Como um ator dos mais importantes na ação de
acabar com as violações. Quantas vezes a criança não chega marcada na sala
de aula, mas chega maltratada, suja, e isso se repete muitas vezes,
caracterizando, entre outras coisas, uma situação de constrangimento frente
aos colegas. A escola deve buscar auxiliar os pais, ainda que uma orientação
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mínima e, percebendo que não obteve êxito, deve comunicar ao
Conselho Tutelar, que ira até a casa, verificará a situação e tentará ações que
possam cessar esta violação. Muitas vezes, encaminhando para projetos de
fortalecimento familiar. A função da escola e do conselho é de ajudar a
fortalecer os vínculos familiares.
Prof. Renê Dutra: Penso que a escola tem se utilizado muito pouco, ou
quase nada, do Conselho Tutelar. É um órgão que a escola tem que explorar
mais. O conselho não deve ser chamado para tratar de indisciplina, e isso tem
ocorrido muito, como se o conselho tivesse esta função. A função disciplinar é
da escola, da comunidade escolar que tem que dar conta da disciplina interna,
não é para o conselho. O conselho tem que fazer muito mais do que isso,
ajudando a criar, dentro da escola, um ambiente de conhecimento dos direitos
da criança e do adolescente, de qual é a função da própria escola, do corpo de
professores, da direção. O conselho e a escola devem pensar sobre o que
podem fazer juntos para criar um ambiente educativo saudável. Isto é o
fundamental, e o Conselho Tutelar tem que ser bem mais explorado dentro da
realidade da escola, auxiliando neste processo de melhoria do ensino e das
relações sociais.