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Módulo 06 – Professora Isa Guará1

Vídeo Aulas 1 a 32
Alguns conceitos gerais podem orientar a ação dos professores na tradução
do direito da criança e do adolescente para as atividades desenvolvidas na sala
de aula, na escola ou na comunidade.
Em primeiro lugar, é importante afirmar que uma escola que respeita os
direitos da criança e do adolescente deve ser uma comunidade educativa em que
a relação entre professores, alunos e pais traduzam estes direitos no cotidiano
escolar. Pais sendo respeitados, alunos ouvindo e sendo ouvidos, professores
podendo falar e ser ouvidos. A existência real de uma comunidade educativa de
respeitos aos direitos é muito importante para começar um projeto educativo. O
clima escolar, a forma como a escola atua, como recebe os pais e os seus alunos,
a forma como ensina e os relacionamentos existentes dentro da escola traduzem,
na prática, o que é respeitar os direitos da criança e do adolescente de fato.
Em segundo lugar, é importante pensar que existe um direito fundamental
pelo qual a escola é responsável, que é o direito à educação. Para isso é
essencial que a escola garanta aprendizagem e frequência escolar, ou seja,
garanta o direito da criança efetivamente. Para que a escola possa traduzir este
direito na prática, ela deve desenvolver atividades efetivas que levem ao retorno à
escola quando a criança não a estiver frequentando, ou quando faltar com certa
regularidade, além de garantir que a criança aprenda quando está em situação
difícil, que os pais possam ser comunicados e participar deste projeto, não como

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Isa Guará é graduada em Pedagogia, pós-graduada em Psicopedagogia, mestre e doutora em
Serviço Social. Atua como professora da Universidade dos Bandeirantes, pesquisadora associada
ao Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária – CENPEC e
colaboradora do NECA – Associação de Pesquisadores e Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a
Criança e o Adolescente.
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Foram feitas apenas as adaptações necessárias à transposição do texto falado para o texto
escrito. 1
culpados pela situação da criança, mas como parceiros na condução e no
desenvolvimento integral desta criança.
É importante lembrar que o desenvolvimento integral, como direito básico da
criança e do adolescente, dentro da doutrina da proteção integral, não é
responsabilidade apenas da escola, ela, portanto, terá que fazer uma parceria
com a rede de serviços e com todos os projetos e programas que podem
complementar a sua ação no atendimento aos direitos da criança e do
adolescente. Isso é muito importante para que a criança realmente tenha seu
desenvolvimento pleno.
Outra questão importante é que para desenvolver um projeto, ou um
programa na escola, é fundamental que haja apoio da instância superior, do órgão
responsável pela educação, como a secretaria de educação, por exemplo, o que
não quer dizer que, eventualmente, se este apoio não acontecer, o professor não
possa ter iniciativas pioneiras no desenvolvimento de atividades importantes de
respeito aos direitos da criança. Porém, ele sempre deverá se empenhar para que
a escola se envolva, assim como a direção e a comunidade, de modo que o
sucesso chegue mais rápido.
A escola também deve atuar de forma preventiva e adotar um enfoque global
e pró-ativo. Quando algum direito da criança e do adolescente é violado, ele dá
sinais anteriores, há sempre uma situação que provoca um descumprimento do
direito da criança, e a escola precisa estar atenta a isso e atuar preventivamente e
pró ativamente em relação às situações que possam representar riscos de
violações de direito. É fundamental que a escola esteja sempre muito atenta em
relação a isso.
Para se valorizar realmente o direito da criança e do adolescente, a
comunidade precisa valorizar a criança e o adolescente como ser humano.
Respeitá-lo e respeitar o seu direito como um direito humano fundamental. Isso é
essencial para que as novas gerações também passem a respeitá-los, e é
importante que o ser humano seja respeitado enquanto ele é criança ou
adolescente também, na sua especificidade, reconhecendo-se a sua condição
peculiar, como seres em formação, que precisam de uma intervenção especial,
mas que são desde sempre, seres humanos completos. O professor e a escola
têm o dever de oferecer isso. É claro que reconhecemos que há situações críticas
e de muito risco e tensão nesta questão do respeito ao direito da criança,
principalmente quando há situações de violência.
A escola não é apenas uma comunidade de aprendizagem, mas é,
sobretudo, uma comunidade de convivência, e, portanto, todos os direitos podem
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ser discutidos de inúmeras maneiras. Fundamentalmente de forma transversal, no
currículo escolar, ou seja, todas as disciplinas que são oferecidas na escola têm
condições de discutir o direito da criança e do adolescente. História pode discutir,
por exemplo, o trabalho infantil na Revolução Industrial, as ciências podem
discutir o desenvolvimento humano. O respeito à natureza e às pessoas pode ser
discutido nas aulas de geografia, assim como a forma como os povos se
organizaram, como as crianças são respeitadas no mundo inteiro, ou onde no
mundo estes direitos são violados. Que direitos são mais violados, porque que há
genocídio, porque que as crianças em alguns lugares são desnutridas, enfim, uma
série de temas sempre trazendo a questão dos direitos humanos. Estas são
questões que envolvem o currículo escolar. O que estamos defendendo aqui é
que não haja especificamente uma aula sobre direitos, mas que em cada
momento do currículo escolar se discuta o direito da criança a partir dos
conteúdos que são oferecidos pelas disciplinas, isso é fundamental.
Eventualmente, se houver necessidade de uma discussão específica, sobre
um direito específico, ele deve também ser objeto de um projeto. Obviamente que
há problemas que acontecem na escola e que exigem uma discussão específica
sobre algum direito violado. Mormente nos casos, por exemplo, de violência
contra a pessoa, em que as crianças estejam sofrendo situações de grande
violação de direitos, e que a escola saiba destas situações, é importante que ela
faça uma intervenção específica e discuta especificamente estes direitos violados.
Outro fato muito comum nas escolas é a ocorrência de problemas de
relacionamento entre as próprias crianças, em horários variados, inclusive nos
recreios, em que é preciso pensar algumas alternativas e atividades importantes
para que o clima escolar seja mantido e o respeito ao direito da criança ao lazer
também seja respeitado. Obviamente não estamos falando aqui de uma
interferência total do adulto nos horários que a criança tem livre para brincar e se
desenvolver sem uma vigilância muito próxima. Mas que se houver alguma
situação de violência ocorrendo nestes momentos e nestes espaços, é importante
que a escola também faça um planejamento geral neste sentido.
Em relação ao planejamento escolar, pode-se atuar de forma mais pontual
ou de forma mais ampliada. Uma ação pró-ativa significa também que a escola
deve buscar parceiros na comunidade, conhecendo um pouco mais a sua
realidade, para poder atuar sobre ela. Este conhecimento é fundamental para que
a escola possa estruturar algum projeto de atendimento. Da mesma forma o
professor, antes de fazer o seu projeto na sala de aula, deve procurar entender
qual é o problema. O que de fato está acontecendo, o que deste problema é de
sua responsabilidade ou da escola, ou seja, o que está no âmbito de atuação do
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professor, e o que está no âmbito de atuação da escola. Podendo-se assim,
definir as situações sobre as quais se quer atuar, possibilitando sempre que haja
a participação de todos.
Por fim, uma coisa fundamental, é que a criança é protagonista de todo o
processo. É importante que ela seja ouvida. Muitas situações de violação de
direitos acontecem e a gente não sabe, porque não ouve a criança, considerando
que ela não tem condição de expressar a sua vontade, o seu desejo, o seu
sofrimento. É importantíssimo que os consideremos capazes de dar informações
que podem ser muito úteis para a conformação de um projeto adequado de
atendimento na escola, na comunidade e na sala de aula.
Devemos pensar nos objetivos do ensino fundamental, expressos na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que pontuam que, além das
habilidades ligadas ao conhecimento e ao desenvolvimento das habilidades
cognitivas, o ensino fundamental também deve oferecer aos seus alunos formas
de conhecer e valorizar a pluralidade sociocultural do Brasil e de outros povos,
evitando qualquer tipo de discriminação, de modo a fazer com que a criança se
perceba integrante, dependente, agente transformador do seu ambiente, sabendo
questionar a realidade formulando e resolvendo problemas. A própria LDB prevê
uma atuação do professor na linha de instrumentalizar seus alunos para que
possam discutir profundamente a questão dos direitos e das violações dos
direitos.
É importante que tenhamos condições de mapear os problemas e as
oportunidades na escola, na família e na comunidade, para que haja uma atuação
efetiva na defesa dos direitos da criança e do adolescente. É preciso que
pensemos sobre como nós podemos verificar quais são as oportunidades que
existem na nossa comunidade. Na verdade, problemas e oportunidades
dependem um pouco da direção do nosso olhar. Eu prefiro enfatizar que devemos
focar mais nas oportunidades do que nos problemas, olhando pela potência, mais
do que pela falta. Na verdade, desconhecemos, muitas vezes, as coisas boas que
as comunidades têm para oferecer, e que podem ajudar a escola no
desenvolvimento do seu papel e também na defesa dos direitos da criança
quando houver um problema nesse sentido.
Uma coisa importante é mapear todas as situações que existem na
comunidade que favorecem e aquelas que desfavorecem o desenvolvimento
pleno, pois é este o nosso objetivo quando buscamos a proteção integral da
criança. Na escola e em outras políticas sociais, devemos pensar também: se há
possibilidade de desenvolvimento, porque que as crianças não estão se
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desenvolvendo? Porque há violação destes direitos, ou seja, eles não estão
sendo atendidos por vários motivos.
Primeiramente por desconhecimento. Se eu descubro que a comunidade
desconhece os direitos da criança, eu tenho que fazer um programa de
informação. Também ela pode estar descumprindo os direitos por deslegitimação,
isto é, ela conhece os direitos, mas não acha que estes são legítimos. Como
exemplo, podemos citar o trabalho infantil. Uma pessoa pode achar que é muito
importante a criança trabalhar desde cedo, pois ela própria trabalhou, seu pai
trabalhou, todo mundo trabalhou, por isso, segundo esta pessoa, é importante que
a criança também trabalhe. Nestes casos temos uma deslegitimação daquilo que
é o direito da criança. Assim, além da informação, a escola tem que fazer a
conscientização sobre o porquê deste direito estar garantido para a criança.
Também pode haver violação por contraposição. Uma pessoa é contra um
determinado direito e, portanto, age propositadamente contra ele. Nestes casos, a
escola tem que debater as idéias com estas pessoas que estão fazendo uma
contraposição ao direito, e, se for necessário, também utilizar os recursos legais
que o próprio Estatuto oferece quando há uma violação de direitos neste nível, ou
seja, nos casos de violência propriamente dita, há que se usar os recursos legais
e os encaminhamentos indicados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
Ainda para ampliar a potência de nossa atuação com a comunidade,
podemos indicar alguns passos:
Num primeiro momento, fazendo uma sensibilização da comunidade, por
exemplo, através do jornal escolar, ou mesmo fazendo desfiles sobre algum tema
importante, ou mobilizando redes na comunidade que já estejam participando,
verificando se já existe na comunidade algum movimento neste sentido e
participando disto, dando entrevistas também ou fazendo programa de
entrevistas.
Outra forma de atuar seria na prevenção. É sabido que existem alguns
fatores, algumas situações, que apresentam riscos de desrespeito aos os direitos
da criança e do adolescente. Para minimizá-los, devemos trabalhar fortalecendo
alguns programas sociais que garantem estes direitos, oferecendo apoio para que
possam atender um número cada vez maior de crianças.
Outro nível seria verificar quais são as situações de violações de direitos,
que problemas estão acontecendo naquela comunidade. Há crianças trabalhando
indevidamente? Há crianças sendo violentadas, há crianças sendo abandonadas,
sendo negligenciadas, há adolescentes que não conseguem acesso à formação
profissional? Há crianças que estão fora da escola? Há crianças que
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abandonaram a escola? Quais sãos as situações de violação de direito?
Dependendo da situação de violação de direito a escola pode fazer uma ação
integrada com a comunidade.
Por fim, eu diria que a maior intervenção que a escola pode fazer é garantir o
pleno direito à educação das crianças e dos adolescentes e, nas questões de
violações de direitos, comunicar aos responsáveis, atuando em parceria com
outras organizações.
É preciso, também, que reconheçamos que parte dos alunos vive situações
muito sérias de exclusão social e de violações de seus direitos como seres
humanos. Nestes casos, a escola deve atuar, e as secretarias municipais
também, procurando alternativas para a garantia destes direitos, por meio de
serviços especializados que possam ajudar a escola. Eventualmente, se há
problemas relacionados à permanência da criança na escola, ou às atividades
educacionais inadequadas, ou porque a família trabalha e a criança esta
negligenciada em casa, é importante pensar na possibilidade da educação
integral. Seja por meio da ampliação do tempo de escola, que é uma das
alternativas que o Plano Nacional de Educação já veiculou, ou pela possibilidade
de articulação da escola com outros espaços de aprendizagem existentes na
comunidade. Obviamente, não é apenas a escola que educa hoje em dia, ela é
apenas um dos muitos lugares nos quais a educação acontece hoje. A criança
aprende vendo TV, pela internet, com seus pares, frequentando outros lugares
etc. Assim, é importante que a escola viabilize uma parceria especialmente para
estas crianças que tem uma situação maior de vulnerabilidade. É claro que, em
geral, as próprias instâncias locais de Assistência Social estão atentas a estes
casos e os encaminham para estes programas, em parceria com a escola, mas se
isto não acontecer, procurá-los deve ser uma atividade da escola.
Pensando, com base no que foi dito, na função fundamental da escola, é
preciso considerar que, se a escola é responsável pela aprendizagem e pela
frequência da criança, ela deve pensar em desenvolver atividades que promovam
o retorno da criança à escola. Várias são as possibilidades. Pode-se desenvolver
atividades através da própria criança, ou de mobilização da comunidade para
apoiar este retorno da criança à escola. A escola, também para garantir este
retorno, que é fundamental, tem que pensar em que modificações curriculares ela
precisa fazer para atender esta criança que não está aprendendo e que, portanto,
está tendo o seu direito à educação violado.
Outra coisa fundamental é que em qualquer caso de atuação é importante
que a escola tenha uma orientação formal sobre como os professores devem
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atuar, como as crianças devem atuar, portanto a construção de pactos de
convivência, de normas de convivência, é aspecto fundamental de respeito aos
direitos da criança. Isso deve ser feito com o máximo de participação da criança,
da família e dos professores.
Considerando a importância de trazer o estudante de volta para a escola, é
importante que a família participe deste processo e que o professor e a escola
façam todo o esforço para trazer esta criança para a escola, ou para não deixar
que esta criança tenha uma frequência tão irregular. Temos o exemplo de um
projeto em Taboão da Serra em que os professores são visitadores. Eles próprios
visitam as famílias das crianças para compreender a situação das famílias e trazer
as crianças de volta a uma frequência escolar regular. Podemos fazer isso de
outras formas, tentando fazer programas de sensibilização das famílias na escola,
programas em que outros agentes comunitários possam estar atuando junto às
famílias, mas de qualquer forma é importante que “nenhum a menos”, ou seja,
que nenhuma criança fique fora da escola ou deixe de aprender. Este é o direito
fundamental que a escola deve garantir.
Tratando, ainda, da relação entre a escola e a família e a situação dos
conflitos intra-escolares, devemos frisar que a garantia do direito da criança deve
estar sendo pensada numa parceria muito estreita entre a escola e a família.
Obviamente, esta questão da participação da família na escola tem sido objeto de
muitas reflexões e tem sido um desafio muito grande para muitas escolas.
O importante é ressaltar que a participação das famílias na escola deve ser
também a participação nas decisões da escola, inclusive sobre o currículo
escolar, sempre que possível, para que realmente escola e família encontrem um
caminho muito profícuo para a aprendizagem das crianças. Portanto, é preciso
pensar que temos que olhar as condições reais das famílias, a fim de não
culpabilizá-las pelos problemas que os estudantes trazem de casa, porque muitas
famílias tem situações muito difíceis de vida e se encontram bastante vulneráveis.
Penso que a escola, em parceria com os órgãos locais de assistência social, pode
atuar apoiando estas famílias na sua atuação como pais de alunos que precisam
estudar e que têm direito a um desenvolvimento adequado.
É importante pensar que nem sempre os espaços formais de participação
são suficientes. Evidentemente, a Associação de Pais e Mestres ou o Conselho
de Escola, são lugares importantes de protagonismo e participação da família,
mas não podemos pensar somente nisso, ou nas reuniões escolares, nas quais
os pais geralmente vão saber se os seus filhos tiveram um bom desempenho
escolar ou não. Em geral, os pais que comparecem são aqueles que os filhos
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tiveram resultados positivos. Os demais não comparecem, pois se sentem
envergonhados, uma vez que sabem que seus filhos não estão indo bem na
escola e não querem ir lá para ouvir isso novamente dos professores. Para estes
casos, os professores têm que ter uma estratégia muito especial. Trazer estes
pais para a escola é muito importante para garantir o direito da criança à
educação.
Por outro lado, os pais também podem se tornar aprendizes, participar de
grupos de estudo, discutir na escola os direitos da criança e do adolescente,
também ser monitores de discussão desses direitos em alguns grupos na escola.
É preciso que pensemos nas possibilidades e nas potencialidades dos pais,
considerando que muitos deles têm saberes que a escola não valoriza, às vezes,
são saberes trazidos da sua vida, da sua experiência histórica e cultural, que
precisam ser revalorizados para que a escola realmente consiga um sucesso
maior com a sua presença e a sua participação.
É preciso também perceber se a educação recebida pela realmente sendo
importante para ela, garantindo o seu crescimento como ser humano. Todo pai
quer e toda mãe quer que seu filho se desenvolva e que aprenda na escola. É
preciso a escola trabalhar com uma parceria importante com a família, para que
estes direitos sejam respeitados.
Por outro lado, também devemos pensar que existem de fato situações de
conflito intra-escolar. A maior parte das escolas tem vivido hoje situações de
violência, de insegurança, e isso tem preocupado muito todos os professores. Em
que a escola pode atuar nestas situações? Penso que ela pode atuar em três
âmbitos.
1 - Área curricular e organizativa: De fato a escola tem que pensar se o
currículo, as atividades e a metodologia que está oferecendo, estão adequados ao
tipo de criança que atende ou às demandas que estas crianças têm de
aprendizagem. É muito importante que a escola pense esta perspectiva curricular
e, para isso, ela pode também pensar em estabelecer colaboração com a
comunidade e com pessoas da comunidade que podem ajudar a pensar um
pouco outras atividades, facilitando um certo incremento de atividades curriculares
mais adequadas ao público atendido.
2 – Participação: Ampliar as possibilidades de participação democrática da
família, dos alunos e da comunidade, na definição das normas de convivência
escolar, e na definição do projeto político pedagógico da escola. Quando isso é
feito de forma mais democrática, os alunos, pais e professores, tendem a ser
contemplados em suas demandas e as situações de conflito tendem a diminuir.
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3 - Apoio externo: Por outro lado, se de fato há situações graves de conflito
intra-escolar, é preciso que a escola tenha a sua disposição, profissionais
formados em mediação de conflitos, que possam trabalhar este sistema de apoio
aos grupos que estão entrando em conflito na escola, tanto entre crianças, como
na relação professor-aluno. E, nesse sentido, a escola deve pedir ajuda. Se ela
não tem condições de resolver estes problemas por conta própria, deve buscar
recursos da comunidade, solicitando apoio ao poder público, para que ela tenha
condições de trabalhar estas questões que afetam a dinâmica escolar e que,
portanto, violam também os direitos da criança ao aprendizado adequado.
Por fim eu queria lembrar a importância de trabalharmos com quatro níveis
de intervenção no momento em que pensamos nas ações a serem planejadas.
1 - Comunidade local: Sensibilizar a comunidade local para a questão do
direito da criança, trabalhando no sentido de cooperação com a comunidade para
fortalecer programas que respeitam e garantam direitos. Trabalhar no sentido de
mobilizar o poder público para oferecer serviços e recursos que garantam os
direitos da proteção integral que ainda não existem. Pode ser, por exemplo, que
aquela comunidade ainda não tenha o atendimento de saúde adequado, ou o
atendimento à drogadição, se existem vários adolescentes envolvidos com
drogas, por exemplo. Falamos aqui de uma atuação mais política.
2 – Escola: Em relação à própria escola é preciso trabalhar um pouco o
projeto político pedagógico, as propostas curriculares e a participação maior, tanto
de pais, como de professores, nesta dinâmica escolar, também na construção das
normas de convivência dentro da escola.
3 – Sala de aula: O que o professor pode fazer na sala de aula. A discussão
dos direitos das crianças e dos adolescentes em cada disciplina curricular
desenvolvida, ou em uma atividade ou projeto específico em que se discuta algum
tema de violação de direitos que deva ser aprofundado. Pode também integrar a
questão da discussão das normas de convivência e dos relacionamentos e,
também, do respeito aos valores fundamentais, também no currículo escolar.
Outra questão se relaciona na adoção de metodologias de ensino que favoreçam
intercâmbios positivos entre os alunos, por exemplo, a participação dos alunos em
ações da comunidade, que os alunos possam, não apenas ter seus direitos
respeitados, mas aprender a respeitar os direitos dos idosos, das pessoas com
deficiências, de outras pessoas que precisam de ajuda. Respeitar o direito do
outro também é uma forma de estudar e de favorecer o respeito ao seu direito.
4 – Individual: Refere-se àqueles casos em que de fato há uma violação
clara do direito da criança, uma situação de negligência, de abandono, de
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trabalho forçado ou de violência de qualquer natureza. Nestes casos, é
fundamental acolher esta criança, ouvir, respeitar e comunicar estes casos à
direção da escola, além de buscar outros apoios para que a criança possa ter seu
direito garantido, voltando também a aprender.
Outro papel importante que o professor pode fazer na sala de aula, é
promover a competência sócio-afetiva e interpessoal. Quando os alunos criam um
clima de cooperação, de ajuda, de colaboração entre eles, os direitos serão
respeitados e as dificuldades eventuais de cada criança serão minimizadas e as
suas condições de desenvolvimento serão estimuladas.
Finalizando, gostaria de lembrar que os professores, na sala de aula, devem
buscar reconhecer a especificidade de cada fase do desenvolvimento da criança,
respeitando, por exemplo, o seu nível de aprendizagem possível, as dificuldades
específicas que ela tem por estar numa situação diferenciada, ou por estar numa
fase específica do desenvolvimento. Eu sei que disso tudo o professor conhece
bem e vai atender bem os direitos da criança e do adolescente.

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