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DATA: 06/08/2008
0458040-9
Processo:
I - RELATÓRIO:
CLÍNICA DENTÁRIA PINHAIS S/C ajuizou ação declaratória de inexistência de
relação condominial cumulada com ação de repetição de indébito e obrigação de não
fazer com pedido de tutela antecipada, narrando a autora, na inicial, que é locatária
desde 01/09/00 de uma sala comercial onde presta serviços de clínica dentária, e
vem pagando a taxa de condomínio desde a data de início da locação, aduzindo, no
entanto, que referida cobrança é indevida.
Isto porque, disse que referida sala, localizada sobre o subsolo, possui entrada
independente, através de uma porta de vidro frontal, de sorte que não utiliza as áreas
comuns do condomínio, nem faz uso dos serviços dos empregados, nem dos
materiais de limpeza utilizados pelo réu para a manutenção do condomínio,
possuindo despesas individualizadas.
Requereu a antecipação de tutela para que fosse determinada ao condomínio a
suspensão da exigibilidade das taxas condominiais, ou, alternativamente, a
consignação dos valores em juízo. Requereu, ainda, a declaração de inexistência de
relação condominial, suspensão das cobranças além da restituição dos valores pagos
indevidamente no importe de R$ 28.608,22 (vinte e oito mil seiscentos e oito reais e
vinte e dois centavos).
Às fls.44 a tutela antecipada foi indeferida.
Contestação às fls. 74/80 onde o réu alega preliminar de ilegitimidade ativa, tendo
em vista que a autora é locatária, e não proprietária do imóvel em questão, e também
por que o contrato de locação acostado aos autos não pode ser considerado válido
perante terceiros, já que conforme certidões anexadas, o legítimo proprietário seria a
empresa Irmãos Thá. No mérito, disse que o espaço ocupado pela autora possui
acesso pela entrada principal do edifício, e que a mesma faz uso do serviço de
portaria do prédio, inclusive o letreiro da autora está afixado na marquise da
edificação, cujo sistema de iluminação provém do condomínio. Alegou que ao locar
o imóvel a autora estava ciente de sua obrigação de arcar com as taxas condominiais
e impugnou o pedido de restituição do indébito, pois não foram apresentados os
comprovantes de pagamento, e os valores constantes da planilha estão equivocados.
Ressaltou que sempre se pautou de acordo com a boa-fé, tanto que, considerando a
fração ideal ocupada pela autora, a unidade condominial deveria contribuir com
cota parte de 6,8 taxas condominiais, conforme determina a convenção, todavia,
restou acordado que a autora pagaria apenas três vezes o valor da taxa condominial.
Por fim, citou posicionamento do STJ no sentido da soberania da convenção
condominial, especialmente quanto ao modo de rateio das despesas.
Às fls. 99/102 a autora impugnou a contestação.
Sentença às fls. 110/111 onde o Juiz julgou improcedente o pedido, condenando a
autora ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios fixados em
R$ 1.000,00 (mil reais).
Apelação às fls. 112/121 pela empresa autora onde sustenta que o fato de haver
previsão na convenção condominial, não é suficiente para permitir a cobrança das
taxas condominiais da empresa, uma vez que esta não faz uso das áreas comuns do
prédio, e considerando que quando se estabelece uma obrigação há necessidade de
haver uma contraprestação, o que não ocorre no presente caso. Alega, ainda, a
necessidade de produção de prova pericial, para demonstrar a independência, em
relação ao condomínio, das instalações da autora, insurgindo-se contra o julgamento
antecipado da lide, e pugna pela redução da verba honorária.
Contra-razões fls. 130/136.
Pelo despacho de fl. 137 o recurso adesivo não foi recebido por encontrar-se deserto.
É O RELATÓRIO.
II - VOTO:
As matérias devolvidas a esta Corte foram as seguintes:
1) necessidade de dilação probatória;
2) descabimento da imposição da taxa condominial;
3) pleito de redução da verba honorária.
Passemos a analisar as matérias devolvidas, na seguinte ordem:
1) necessidade de dilação probatória
Não assiste razão a apelante.
É que não se mostra necessária a produção de prova pericial para demonstrar que as
instalações da empresa são independentes das áreas comuns do condomínio, mesmo
por que, o relevante, efetivamente, é o que consta na convenção condominial, que
rege as relações entre as partes.
A Convenção Condominial estabelece as diretrizes básicas que regerão o
condomínio, bem como a sua administração. É a lei interna que todos os
condôminos devem seguir.
Assim, tratando-se de matéria meramente de direito e estando a demanda instruída
com os documentos indispensáveis para a apreciação da matéria, mormente a
convenção condominial, não há óbice no julgamento antecipado da lide, conforme
decidiu o juiz.
Por isso, o recurso deve ser desprovido neste aspecto.
2) descabimento da imposição da taxa condominial
Sustenta autora apelante que não faz uso das áreas comuns do prédio e, portanto, não
havendo contraprestação por parte do condomínio, não pode ser obrigada ao
pagamento das taxas.
Ocorre que, consta expressamente na Convenção Condominial, que a loja ocupada
pela empresa autora (Loja G, Sobre-loja G e terraço da loja G) "deve
obrigatoriamente contribuir mensalmente com sua cota parte no rateio das despesas,
incluindo aqui as despesas relativas à conservação e manutenção do terraço da
edificação, que é de uso exclusivo da loja G e sobreloja G" (fl. 84).
Ainda consta da referida convenção que o valor a ser rateado pela autora seria de 6,8
taxas condominiais, mas que "deverá ser efetuado o lançamento de 3 (três) vezes o
valor da taxa condominial para a unidade tipo, por tratar-se de loja" (fl. 84).
Isto é, além de estar previsto expressamente na convenção que a autora deverá
participar do rateio das despesas, ainda foi feita, pelo condomínio, uma concessão à
mesma, consignada também na convenção, possibilitando que pague apenas 3 e não
6,8 taxas condominiais, sendo que estas últimas que corresponderiam à sua cota
parte, em razão da fração ideal ocupada.
Considerando que, como visto no tópico acima, é a convenção a lei interna das
relações condominiais, e havendo disposição expressa quanto a participação da
autora no rateio das despesas, aquela deverá ser devidamente observada.
Nesse sentido é a orientação do Superior Tribunal de Justiça:
Por essas razões não há como a autora se esquivar de participar do rateio das
despesas, devendo o recurso ser desprovido, também neste aspecto.
3) pleito de redução da verba honorária
Também não assiste razão a apelante.
É que, apesar da simplicidade da matéria, a demanda tramita desde abril de 2006,
isto é, há cerca de um ano e meio, de sorte que os honorários arbitrados em R$
1.000,00 (mil reais), atendem ao disposto nas alíneas "a", "b" e "c", do § 3º do CPC,
ao qual faz remissão o § 4º do mesmo artigo.
Observe-se, por fim, que o recurso adesivo interposto pelo réu não foi recebido por
encontrar-se deserto (fl. 137), razão pela qual não será apreciado.
Diante disso, meu voto é pelo desprovimento da apelação.
ACORDAM os Desembargadores integrantes da Décima Câmara Cível do Tribunal
de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em NEGAR
PROVIMENTO a apelação, nos termos do voto.
Participaram do julgamento os Desembargadores Ronald Schulman, Presidente, com
voto e Luiz Lopes.