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Júlio Appleton
Professor Catedrático de Betão Armado e Pré-Esforçado do IST
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Vista Geral Pormenor das Alvenarias
Há registos de que os Romanos fizeram tentativas para armarem o betão com cabos de
bronze, experiências não bem sucedidas devido aos diferentes coeficientes de dilatação
térmica do bronze e do betão.
Posteriormente e até ao século XVIII o betão tem uma utilização reduzida, quase
exclusivamente limitada às fundações e ao interior de paredes de alvenaria.
2
As primeiras referências ao betão armado datam de 1830, no entanto o barco em
ferrocimento realizado pelo francês Jean-Louis Lambot em 1848 é reconhecido como a
obra mais antiga de betão armado ainda exixtente. Este barco foi apresentado na célebre
Exposição Universal de Paris de 1855 e felizmente está ainda preservado até aos nossos
dias (4), Figura 3.
Joseph Monier é um dos principais pioneiros do betão armado com as suas patentes de
1849 para caixas (floreiras), casas e tubagens em 1867 e pontes em arco em 1873
(Figura 4).
3
Em 1852 Francois Coignet e em 1854 William Wilkinsen iniciaram a realização de
pavimentos de betão armado (lajes e vigas) os quais se tornaram na maior aplicação
deste material até à época actual.
No final do século XIX são já vários os estudos publicados sobre o betão armado
(Coignet, Considère, Mesnager) teorizando o comportamento à flexão, tendo em 1897
sido criada a primeira disciplina de Betão Armado na ENPC – École National de Ponts et
Chaussées (Paris) de que foi primeiro professor Rabut. As patentes tornam-se também
numerosas (Cottancin, Monnoyer, Hyatt, Coignet).
Neste período e nos anos seguintes as designações mais correntes para o que
actualmente se designa Betão Armado eram o Formigão Armado (semelhante ao
Hormigon, em espanhol) e Cimento Armado (semelhante ao Cemento Armato ainda hoje
usual em Itália). Outras designações como o Beton Armado, o Siderocimento, o Beton de
Cimento Armado encontram-se em publicações da primeira metade do século XX. A este
propósito refira-se que a origem da palavra concreto é “concretus” que significa composto
e a origem da palavra betão é “bitumen”.
De entre essas patentes distingue-se o Sistema Hennebique datado de 1892 e que vem a
ser aplicado em numerosos países (em 1910 a empresa Hennebique, com sede em
Paris, tem já 40 000 obras realizadas de edifícios, pontes, reservatórios e navios em
betão armado, espalhadas pelo mundo). O seu sistema estrutural é caracterizado pela
introdução de estribos nas vigas, ligando os varões traccionados à zona de betão
comprimido (Figura 5). Os estribos eram constituídos por chapas de aço de secção
rectangular dobradas em forma de U.
4
Secção vertical
A
B
Estribo Secção AB
Estribo
5
em formigão de cimento armado {7} Figura 6 (ver notícia da execução da ponte no Anexo
1).
Importa também destacar neste período o contributo dado por Freyssinet ao desenvolver
o sistema de vibração mecânica para compactação do betão (1917) e os estudos
realizados sobre os efeitos diferidos do betão e aplicação do pré-esforço (1928) (9).
Como curiosidade refere-se que durante a primeira grande guerra realizaram-se grandes
navios em ferrocimento, alguns com mais de 100m de comprimento.
Nas décadas seguintes há a referir grandes realizações do Suíço Maillart (2) como a
famosa Ponte de Salginatobel (1930) e os seus estudos e obras sobre lajes fungiformes;
do Francês Eugène Freyssinet como a Ponte Villeneuve-Sur-Lot com 96m de vão (Figura
7) (1919), os Hangares de Orly com um vão de 90m (1921) e a Ponte de Plougastel com
3 arcos de 186m de vão (1930), do Espanhol Eduardo Torroja como a Cobertura do
Hipódromo de Zarzuela em Madrid (1935) com uma consola de 12.6m, e do Italiano Pier
6
Nervi como o Estádio Comunal de Firenze (1932) com uma consola de 17.0m e mais
tarde com um conjunto extraordinário de obras, nomeadamente de coberturas de
restaurantes e estádios.
Figura 7 a) – Pont de Prairéal sur La Besbre (arco de 26m). Uma das primeiras Pontes de
Betão Armado de Freyssinet, 1907 {10}
7
Na primeira metade deste século muitas são as realizações em betão armado em
Portugal. Destacam-se o Canal do Tejo (executado de 1932 a 1940 e que envolveu a
realização de túneis, pontes canal e tubagens de 2.5m de diâmetro, tendo sido utilizada a
vibração mecânica pela primeira vez no nosso país), numerosas pontes de que se
salienta o Viaduto Duarte Pacheco em Lisboa (concluído em 1944 com um
desenvolvimento total de 505m tendo o arco central um vão de 91.97m) e edifícios de
que se salienta o conjunto dos edifícios do IST (1936). Deve no entanto referir-se que
neste período era ainda usual realizar a estrutura dos edifícios com paredes de alvenaria
e o betão armado era aplicado na estrutura dos pisos em alternativa a soluções de
estrutura de madeira.
No Brasil {12} destaca-se a contribuição de Emílio Boumgart quer como professor quer
como construtor (Ponte Paranaíba, 1938; Edifício dos Ministérios da Educação e Saúde
no Rio de Janeiro em 1937).
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No domínio das pontes refere-se a execução de grandes pontes em arco de que se
destacam a Ponte Sando na Suécia com 264m de corda (1943) e a Ponte da Arrábida
projectada pelo Prof. Edgar Cardoso com 270m de corda (1963) Figura 9.
Outras estruturas que justificam referência são as coberturas onduladas das Pedras
Rubras (Correia de Araújo, 1950), o Monumento das Descobertas em Lisboa com 50m de
altura (Edgar Cardoso, 1958), o Monumento e Estátua do Cristo Rei com 76m de altura a
que acresce a estátua com 28m de altura e 16m de envergadura (Brazão Farinha, 1959).
A nível internacional e no que se refere ao uso da capacidade do betão para criar novas
formas referem-se os nomes de Nervi, Le Corbusier, Óscar Niemeyer e Joaquim Cardoso
(Palácio Presidencial de Brasília com 135m de altura e 360m de desenvolvimento no
coroamento, 1958) e a Catedral de Brasília com 70m de diâmetro e 16 escoras de Betão
Armado com 39.6m de altura, em forma de boomerang (1961).
9
Os progressos técnicos e a cooperação internacional na Europa deram origem à criação
em 1951 da FIP – Féderation Internationale de la Précontrainte que realizou o primeiro
Congresso em 1953 e em 1953, do CEB – Comissão Europeia do Betão, associação que
produziu as primeiras recomendações em 1963. Estas Associações fundiram-se em 1998
na actual fib – féderation internationale du béton, fib.
Em 1967 é publicado novo regulamento no domínio do betão armado, REBA (13) o qual
integra já a moderna filosofia de verificação da segurança em relação aos estados limites.
Figura 10 – Pont de Luzancy sobre o Sena. Tabuleiro pré-fabricado com 3 vigas caixão
com 55m de vão e 1.22m de altura no vão, 1945
10
A primeira construção portuguesa de betão pré-esforçado {14} é a cobertura de vários
armazéns para algodão na Avenida Meneses em Matosinhos com um vão de 32.4m e
vigas simplesmente apoiadas de altura variável e de betão armado postensionado (1951).
Referências
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ANEXO 1 – Extrato da Revista de Obras Públicas e Minas
Publicação Mensal da Associação dos Engenheiros Civis Portuguezes
Tomo XXXIX – 1908, pg 25
Ponte Luiz Bandeira, em Sejães, Concelho de Oliveira de Frades, districto de Viseu, sobre o
Vouga.
44 metros; largura 4m,50, dos quaes 0m,75 para cada passeio; abertura do arco 32 metros,
levando, por consequencia, a sua construcção apenas tres mezes e quatro dias.
formigão; pezo total do taboleiro cêrca de 167 toneladas e sobrecarga para que foi calculado 78
toneladas.
A resistência era definida pelo valor médio dos resultados de ensaio à compressão
simples, aos 28 dias, de cubos de 20cm de aresta o qual deveria ser superior a
120 Kg/cm2 (regulamento de 1918) e 180 Kg/cm2 (regulamento de 1935).
12
No regulamento de 1967 introduz-se o conceito da classe de resistência para o betão
definida pela resistência característica em Kg/cm2 obtida em ensaios de cubos aos 28
dias, à compressão simples (B180/B225/B300/B350/B400).
13
No regulamento de 1983 são adoptadas três classes de resistência A230/A400/A500
referidas ao valor característico da tensão de cedência ou f0.2k expressa em MPa. São
ainda introduzidas as armaduras de alta resistência (pré-esforço).
No regulamento de 1967 este assunto não teve evolução positiva. Com efeito
especificam-se valores semelhantes aos de 1918 (Cmin ≥ φ; 1.0cm em geral; e 2.0cm
em estruturas não protegidas) e apenas se sugere que tais valores devem ser
aumentados se se pretender melhorar a protecção contra a corrosão ou o fogo.
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Na verificação da segurança o cálculo de esforços é baseado num modelo elástico
linear à rotura, a resistência à tracção do betão era desprezada, e no cálculo de
tensões a relação tensão/deformação do betão à compressão é elática e linear.
Ao corte: τ = 4 Kg/cm2
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Verifica-se com a entrada em vigor deste Regulamento uma redução significativa da
capacidade resistente ao esforço transverso em lajes sem armaduras transversais
visto tal resistencia estar fortemente dependente da reistência à tracção do betão (e
da amarração das armaduras longitudinais). Por outro lado verifica-se um aumento da
resistência máxima ao esforço transverso em peças com armaduras transversais.
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5. Outros comentários
Importa também referir que no final dos anos 60 e primeira metade dos anos 70 dá-se
a revolução associada ao desenvolvimento dos computadores e consequentemente
dos métodos de cálculo automático, permitindo resolver os problemas existentes com
modelos mais fiáveis (e também mais complexos). Anteriormente eram adoptados
modelos experimentais e no que se refere a modelos analíticos recorria-se
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frequentemente a métodos gráficos e a métodos simplificados. Os modelos analíticos
eram apenas resoluveis para estruturas poucas vezes hiperstáticas, e envolviam um
trabalho significativo.
É também relevante referir que com o decreto 73 de 1973 deixa de ser obrigatória a
verificação e aprovação dos projectos pelas entidades públicas o que veio a revelar-
se uma medida inadequada.
Peso
Dia 2 Dia
Áreas das secções de 1 a 15 varões em cm por
metro metro
metro
Pole
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Poleg m/m Kg
gadas
1/16 0.02 0.04 0.06 0.08 0.10 0.12 0.14 0.16 0.18 0.20 0.22 0.24 0.26 0.28 0.30 1/16 1.59 0.016
1/8 0.08 0.16 0.24 0.37 0.40 0.47 0.55 0.63 0.71 0.79 0.87 0.95 1.03 1.10 1.18 1/8 3.17 0.062
3/16 0.18 0.36 0.53 0.71 0.89 1.07 1.25 1.42 1.60 1.78 1.96 2.13 2.31 2.49 2.67 3/16 4.76 0.139
1/4 0.32 0.63 0.95 1.27 1.58 1.90 2.22 2.53 2.85 3.17 3.48 3.80 4.11 4.43 4.75 1/4 6.35 0.247
5/16 0.50 0.99 1.48 1.98 2.47 2.96 3.46 3.95 4.44 4.94 5.43 5.93 6.42 6.91 7.41 5/16 7.94 0.385
3/8 0.71 1.42 2.14 2.85 3.56 4.27 4.98 5.69 6.41 7.12 7.83 8.54 9.25 9.97 10.7 3/8 9.52 0.555
7/16 0.97 1.93 2.90 3.87 4.84 5.81 6.77 7.74 8.71 9.68 10.6 11.6 12.6 13.5 14.5 7/16 11.11 0.755
1/2 1.27 2.53 3.80 5.07 6.33 7.60 8.87 10.1 11.4 12.7 13.9 15.2 16.5 17.7 19.0 1/2 12.70 0.988
9/16 1.61 3.21 4.82 6.42 8.03 9.64 11.2 12.8 14.5 16.1 17.7 19.3 20.9 22.5 24.1 9/16 14.29 1.253
5/8 1.99 3.97 5.96 7.94 9.93 11.9 13.9 15.9 17.9 19.9 21.8 23.8 25.8 27.8 29.8 5/8 15.87 1.549
11/16 2.41 4.81 7.22 9.62 12.0 14.4 16.8 19.2 21.6 24.1 26.5 28.9 31.3 33.7 36.1 11/16 17.46 1.876
3/4 2.87 5.73 8.59 11.5 14.3 17.2 20.1 22.9 25.8 28.7 31.5 34.4 37.2 40.1 43.0 3/4 19.05 2.235
13/16 3.33 6.67 10.0 13.3 16.7 20.0 23.3 26.7 30.0 33.3 36.7 40.0 43.3 46.7 50.0 13/16 20.64 2.600
7/8 3.87 7.74 11.6 15.5 19.4 23.2 27.1 31.0 34.8 38.7 42.6 46.4 50.3 54.2 58.1 7/8 22.22 3.019
15/16 4.45 8.90 13.3 17.8 22.2 26.7 31.1 35.6 40.0 44.5 48.9 53.4 57.8 62.3 66.7 15/16 23.81 3.470
1 5.07 10.1 15.2 20.3 25.3 30.4 35.5 40.5 45.7 50.7 55.7 60.8 65.9 70.9 76.0 1 25.40 3.952
11/8 6.42 12.8 19.3 25.7 32.1 38.5 45.0 51.4 57.8 64.2 70.7 77.1 83.5 89.9 96.4 11/8 28.57 5.011
11/4 7.94 15.9 23.8 31.8 39.7 47.7 55.6 63.6 71.5 79.4 87.4 95.3 103.2 111.2 119.1 11/4 31.75 6.195
13/8 9.57 19.1 28.7 38.3 47.8 57.4 67.0 76.5 86.1 95.7 105.2 114.8 124.4 133.9 143.5 13/8 34.92 7.461
11/2 11.4 22.8 34.2 45.6 57.0 68.4 79.8 91.2 102.6 114.0 125.4 136.8 148.2 159.6 171.0 11/2 38.10 8.892
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