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Go v e r n o R eg io n al d a M a d eira
JOÃO HIGINO FERRAZ
IMPRESSÃO
DEPÓSITO LEGAL
ISBN 972-8263-39-2
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ÍNDICE GERAL
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................9
O AÇÚCAR E A TECNOLOGIA NO ESPAÇO ATLÂNTICO.................................................................11
DAS ORIGENS À MADEIRA ...................................................................................................................11
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E O AÇÚCAR.......................................................................................13
A QUESTÃO HINTON ..............................................................................................................................17
O HINTON E A INDÚSTRIA DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL ................................................................28
A IMPORTÂNCIA DO ACERVO DOCUMENTAL DE JOÃO HIGINO FERRAZ ................................33
JOÃO HIGINO FERRAZ [1863-1946] ......................................................................................................39
NOTAS AUTO-BIOGRÁFICAS DE JOÃO HIGINO FERRAZ...............................................................41
CONCLUSÃO.............................................................................................................................................44
A DOCUMENTAÇÃO ..............................................................................................................................45
NORMAS DE TRANSCRIÇÃO ................................................................................................................46
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Fólio 1 - [Copiador de Cartas. 1919-1920]
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INTRODUÇÃO
A publicação do presente volume enquadra-se na política definida pelo CEHA de divulgar e salvaguardar o que de mais
significativo temos no nosso património histórico documental, com relevo para as investigações históricas presentes. A aposta
na temática açucareira levou-nos a descobrir um espólio privado muito precioso no entendimento da História do Açúcar no
século XX na Madeira. Graças ao trabalho meticuloso de João Higino Ferraz hoje é possível saber parte da realidade açucareira
da primeira metade do século XX. O conjunto documental assume desusado interesse por ser até ao momento o único conhecido
no panorama açucareiro mundial. Daí resultou o empenho na publicação do acervo, composto de cartas e livros de notas.
A leitura desta informação, pelo facto de assumir um carácter privado, tem o condão de nos revelar realidades que por vezes
a documentação oficial ou os jornais não nos permitem ver nem tão pouco induzir. A partir dela sabemos quais as actuações nos
bastidores da política local e nacional no sentido de fazer vingar ou perpetuar certos interesses preferenciais. Por outro lado
podemos ainda mergulhar no dia à dia do engenho acompanhando as dificuldades da maquinaria, as análises laboratoriais, em
suma a preocupação sempre presente de fazer com que do produto laborado se pudesse retirar o maior rendimento. Neste campo
a preocupação com a inovação tecnológica é uma constante.
A descoberta deste precioso espólio só se tornou possível graças ao empenho dos familiares de João Higino Ferraz,
nomeadamente Francisco Clode Ferraz, que souberam guardar as recordações de um ente querido. Por isso, à família o nosso
maior agradecimento pela disponibilidade dos originais e pelas possibilidades abertas quanto à sua divulgação e publicação em
livro. Esta será sem dúvida uma das mais justas homenagens que se poderá prestar a um madeirense, que dedicou toda a sua
vida a lutar por conseguir que a sua terra estivesse no seio das inovações tecnológicas, que permitiam um maior aproveitamento
dos parcos recursos que a ilha é capaz de fornecer. A nossa esperança é a de que, ao mesmo tempo, a publicação dos escritos
seja uma forma de reconhecimento por parte da sociedade do labor, craveira intelectual e científica de João Higino Ferraz, cujo
nome se mantem esquecido e deverá ser merecedor da homenagem e permanente lembrança por parte de todos nós.
A presente publicação enquadra-se dentro de uma das linhas de investigação prioritárias do CEHA, apoiada por outras
iniciativas como a criação da Associação Internacional de História e Civilização do Açúcar em 2002 e o projecto Atlântica: o
Açúcar e a Cultura nas ilhas Atlânticas [2003-2005], uma iniciativa no âmbito do projecto INTERREG IIIB, da União Europeia,
realizado em cooperação com diversas entidades das Canárias.
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Página de rosto de Précis de Chimie Industrielle, de A. Payen (Paris, Librairie de L. Hachette,
1867), onde se vê a assinatura de J. H. Ferraz
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O AÇÚCAR E A TECNOLOGIA NO ESPAÇO ATLÂNTICO
A cana-de-açúcar é de todas as plantas domesticadas pelo Homem aquela que teve mais implicações na História da
Humanidade. Até hoje são evidentes as transformações operadas na agricultura, técnica, química e siderurgia, por força da
cultura da cana sacarina, beterraba e da produção de açúcar, mel, aguardente, álcool e rum. O percurso multissecular, desde a
descoberta remota na Papua (Nova Guiné) há 12.000 anos, evidência esta realidade. A chegada ao Atlântico, no século XV,
provocou o maior fenómeno migratório, que foi a escravatura de milhões de africanos, e teve repercussões evidentes na cultura
literária, musical e lúdica. Foi também no Atlântico que a cultura atingiu a plena afirmação económica, assumindo uma posição
dominante no sistema de trocas.
O açúcar é, entre todos os produtos que acompanharam a expansão europeia, o que moldou, com maior relevo, a
mundividência quotidiana das novas sociedades e economias que, em muitos casos, se afirmaram como resultado dele. A cana
sacarina, pelas especificidades do cultivo, especialização e morosidade do processo de transformação em açúcar, implicou uma
vivência particular, assente num específico complexo sócio-cultural da vida e convivência humana.
A rota do açúcar, na transmigração do Mediterrâneo para o Atlântico, tem na Madeira a principal escala. Foi na ilha que a
planta se adaptou ao novo ecossistema e deu mostras da elevada qualidade e rendibilidade. Deste modo a quem quer que seja
que se abalance a uma descoberta dos canaviais e do açúcar, na mais vetusta origem no século XV, tem obrigatoriamente que
passar pela ilha. Foi aqui que se definiram os primeiros contornos desta realidade, que teve plena afirmação nas Antilhas e
Brasil. A cana-de-açúcar iniciou a expansão atlântica na Madeira.
A segunda metade do século XIX foi um dos momentos mais significativos da plena afirmação do açúcar no mercado
mundial. A vulgarização do produto fez multiplicar o consumo e obrigou ao aumento da produção e consequente alargamento
das áreas produtoras. Para isso foi necessário adequar o processo tecnológico às exigências do mercado, surgindo significativas
inovações. A Madeira, que nos séculos XV e XVI havia contribuído para uma revolução no processo de fabrico do açúcar, volta
a estar de novo na linha da frente das inovações industriais. Algumas inovações significativas do processo da moenda e fabrico
do açúcar ou aguardente tiveram a ilha como palco, por força do engenho e arte de alguns técnicos açucareiros, como foi o caso
de João Higino Ferraz. Por força do seu empenho a ilha e de forma especial o engenho em que trabalhava serviram de campo
de ensaio para a experimentação das novas técnicas usadas na produção de açúcar a partir da beterraba.
O Açúcar pode muito bem ser considerado uma conquista do mundo islâmico e budista1, tal como o pão e o vinho o são do
cristianismo. O factor religioso foi fundamental na afirmação e divulgação do produto, daqui resultará a cada vez maior
afirmação a partir dos primeiros séculos da nossa era. A cana sacarina (saccharum officinarum) terá sido domesticada há cerca
de 12.000 anos na Papua (Nova Guiné). Entre 1500 AC e 500 DC a cultura espalhou-se pela Polinésia e Melanésia, mas foi na
Índia que adquiriu maior importância, expandindo-se entre o século I e VI DC. Foi aí que os europeus tomaram contacto com
1 Sucheta Mazumbar, Sugar and Society in China, Londres, 1998, pp.21-27; Christian Daniels, “Agro-Industries: Sugarcane Technology”, in Joseph
Needham, Science & Civilisation in China, vol. VI, part. III, Nova Iorque, 1996, pp. 61-62, 278, 192.
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o produto e cultura, começando o comércio e depois com o transplante da cultura para os vales dos rios Tigre e Eufrates. Aqui,
os árabes tiveram conhecimento da cultura e levaram-na consigo para o Egipto, Chipre, Sicília, Marrocos e Valência. Foi no
culminar da expansão árabe no Ocidente que a Madeira serviu de trampolim da cultura para o Atlântico, situação que foi o início
da fase mais importante da História do açúcar.
O açúcar é, entre todos os produtos a que no Ocidente se atribuiu valor comercial, o que foi alvo de maiores inovações no
seu fabrico. Note-se que no caso do fabrico do vinho a tecnologia pouco ou nada mudou desde o tempo dos Romanos. Várias
condicionantes favoreceram a necessidade de permanente actualização, situação que se tornou mais clara no século XVIII com
a concorrência da beterraba. Mesmo assim ainda hoje persistem em alguns recantos do Mundo, na China, Índia ou Brasil, onde
a tecnologia da revolução industrial ainda não entrou.
O fabrico do açúcar está limitado pela situação e ciclo vegetativo da planta. A cana sacarina tem um período útil de vida em
que a percentagem de sacarose era mais elevada. A cana estava pronta para ser colhida e a partir daqui um dia que passasse era
uma perda para o produto. Acresce que a cana depois de cortada tem pouco mais de 48 horas para ser moída e cozida, pois caso
contrário começa a perder sacarose e inicia o processo de fermentação. Daqui resulta a necessidade de acelerar o processo de
fabrico do açúcar através de constantes inovações tecnológicas que cobrem o processo de corte, esmagamento e cozedura. A
isto junta-se o aumento da mão-de-obra, que se faz à custa de escravos africanos. A cana-de-açúcar não está na origem da
escravidão africana mas no processo de afirmação a partir da Madeira.
Enquanto a cultura se fazia em pequenas parcelas a maior parte das questões não se colocavam, mas quando se avançou para
uma produção em larga escala houve necessidade de encontrar soluções capazes de debelar a situação. A viragem aconteceu a
partir de meados do século XV na Madeira e deverá ter implicado mudanças radicais na tecnologia usada e na afirmação da
escravatura dos indígenas das Canárias e dos negros da Costa da Guiné. É por isso que se assinala a partir da Madeira
importantes inovações tecnológicas no sistema de moenda da cana com a generalização do sistema de cilindros.
A história tecnológica evidencia que a expansão europeia condicionou a divulgação de técnicas e permitiu a invenção de
novas que contribuíram para revolucionar a economia mundial. Os homens que circularam no espaço atlântico foram portadores
de uma cultura tecnológica que divulgaram nos quatro cantos e adaptaram às condições dos espaços de povoamento agrícola.
Aos madeirenses foi atribuída uma missão especial nos primórdios do processo.
Na Madeira, um dos aspectos mais evidentes da revolução tecnológica iniciada no século XV prende-se com a capacidade
do europeu em adaptar as técnicas de transformação conhecidas a circunstâncias e exigências de culturas e produtos tão
exigentes como a cana e o açúcar. O tributo foi evidente. Ao vinho foi-se buscar a prensa, ao azeite e aos cereais a mó de pedra.
Por outro lado estamos perante uma permuta constante de processos tecnológicos e formas de aproveitamento das diversas
fontes de energia. A tracção animal, a força motriz do vento e da água foram usadas em simultâneo com os cereais e cana
sacarina. Por vezes a mesma estrutura assume uma dupla função. Sucedeu assim na Madeira, com o engenho da Ribeira Brava,
hoje Museu Etnográfico, onde a estrutura de aproveitamento da força motriz da água servia um engenho de cana e um moinho
de cereais2.
Até ao século XVIII torna-se difícil atribuir a paternidade das inovações que acontecem no fabrico do açúcar. Estamos
perante inventores anónimos que apenas se comprazem pelos benefícios económicos da sua capacidade inventiva. Mas, a partir
de então tudo parece ter mudado. O espírito nacionalista e independentista favoreceram a paternidade dos inventos. Os Estados
Unidos da América foram o principal promotor desta política e valorização da capacidade inventiva. As patentes sucedem-se
em catadupa e os autores são heróis recebidos triunfalmente pela imprensa. O inventor sai do anonimato e afirma-se como um
herói na imprensa, como alimenta também o ego através de memórias descritivas dos inventos3. É nos Estados Unidos da
América que encontramos o maior número de patentes, mas foi na Inglaterra e em França que surgiram as grandes fábricas de
2 Jorge Valdemar Guerra, “O Hospício Franciscano e a Capela de S. José da Ribeira Brava”, in Islenha, nº.19, 1996, 61-94.
3 STEWART, J., A Description of a Machine or Invention to Grind Sugar-canes by the power of a fire Engine, Kingston, 1768; Basset, Nicholas, 1824- Guide
pratique du fabricant de sucre: contenant l’étude théorique et technique des sucres de toute provenance, la saccharimétrie chimique et optique, la description
et l’étude culturale des plantes saccharifères, les procédés usuels et manufacturiers de l’industrie sucrière et les moyens d’améliorer les diverses parties de
la fabrication, avec de nombreuses figures intercalées dans le texte, Paris: E. Lacroix, 1861. Bessemer, Henry, Sir, 1813-1898. Sir Henry Bessemer, F.R.S. An
autobiography. With a concluding chapter. London, Offices of “Engineering,” 1905. Bessemer, Henry, Sir, 1813-1898. On a new system of manufacturing
sugar from the cane: and its advantages as compared with the method generally used in the West Indies: also, some remarks on the best mode of insuring its
general and simultaneous introduction into the British colonies, London: Printed by W. Tyler, [1852?] BURGH. Nicholas Procter, A Treatise on Sugar
Machinery: including the process of producing sugar from the cane, refining moist and loaf sugar, etc., E. & F. N. Spon: London, 1863. Bühler, Friedrich
Adolf, 1869- Filters and filter presses for the separation of liquids and solids, from the German of F. A. Bühler, with additional matter relating to the theory
of filtration and filtration in sugar factories and refineries, by John Joseph Eastick. London, N. Rodger, 1914. Tromp, Lucas Andreas, 1892- Machinery and
equipment of the sugar cane factory; a textbook on machinery for the cane sugar industry, London, Eng., N. Rodger, 1936.
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indústria pesada, especializadas em equipamentos e na montagem dos engenhos de açúcar4. As exposições universais da
segunda metade da centúria oitocentista foram momentos privilegiados de exibição destes inventos.
As mudanças ocorridas a partir de finais do século XVIII, com a plena afirmação da máquina a vapor, conduziram a uma
transformação radical do complexo açucareiro que assume a dimensão espacial de uma fábrica, onde todas as operações se
executam em série. A revolução industrial legou-nos a fábrica, fez aparecer o laboratório, uma peça chave no fabrico do açúcar,
e obrigou a uma especialização dos técnicos envolvidos. O mestre de engenho dá lugar ao engenheiro químico. Paulatinamente
o processo de transformação da cana sacarina em açúcar retirou espaço à presença de mão-de-obra escrava, fazendo-a substituir
por emigrantes europeus, indianos e chineses. No inventário industrial da Madeira de 1907 é assinalado apenas um químico na
fábrica do Torreão, com o salário mais elevado de todos os técnicos. Mesmo superior aos engenheiros e cozedores, mantendo
as demais 43 fábricas uma estrutura funcional da época pré-industrial5.
Até ao advento do açúcar de beterraba em princípios do século XIX a tecnologia de moenda e fabrico do açúcar não sofreu
muitas modificações. Ao nível da moagem da cana houve necessidade de compatibilizar as estruturas com a expansão da área
e o volume de cana moída, avançando-se assim dos ancestrais sistemas para a adaptação dos cilindros. Entre os séculos XV e
XVII as inovações mais significativas ocorrem aqui. Os cilindros passam a dominar todos os sistemas, de tracção animal,
humana, vento e água, destronando o pilão, o almofariz e a mó. Do simples mecanismo de cilindros duplos horizontais, evolui-
se para os verticais, que no século XVII passam a ser três, o que permite uma maior capacidade de moenda e aproveitamento
do suco da cana. Com os dois cilindros poder-se-á aproveitar apenas 20% do suco da cana, enquanto com três até 35%. As
técnicas experimentadas na moenda vão no sentido de um maior aproveitamento do suco disponível no bagaço da cana. A
situação de Cuba na década de setenta do século XIX pode ser elucidativa da realidade6.
Uma maior capacidade na moenda implica maior disponibilidade de garapa a ser processada para se poder dispor do melado
ou do açúcar. Uma situação empurra a outra conduzindo a soluções cada vez mais avançadas. As dificuldades com a obtenção
de lenhas ou os elevados custos do transporte até ao local do engenho conduzem a soluções que paulatinamente vão sendo
adoptadas por todos. Primeiro reaproveita-se o bagaço da cana e depois através de um mecanismo de fornalha única consegue-
se alimentar as cinco caldeiras de cozimento. O sistema ficou conhecido por trem jamaicano, por, segundo alguns, ter tido aí
origem, mas na verdade temos informação do seu uso, não tão apurado na Madeira e Canárias, no século XVI. Em 1530 Giulio
Landi descreve o sistema de fabrico de açúcar com cinco caldeiras agrupadas.
Jamaica esteve na frente das inovações da tecnologia açucareira a partir da segunda metade do século XVIII. São os ingleses
que dão o passo definitivo para a mudança radical através da introdução da máquina a vapor. O primeiro engenho horizontal de
tipo moderno foi desenhado em 1754 por John Smeaton na Jamaica, recebendo a partir de 1770 o impulso da máquina a vapor.
A nova tecnologia, que se aperfeiçoou com o andar dos tempos, poderá acoplar até 18 cilindros em sistema de tambor, tornando
mais rápida e útil a moenda. Com cinco cilindros o aproveitamento do suco pode ir até 90%, enquanto que com os tambores de
18 cilindros quase se atinge a exaustão com 98%. Por outro lado nos engenhos tradicionais a média de moenda por 24 horas não
ultrapassava as 125 toneladas, enquanto que com o novo sistema a vapor começa por atingir mais de três mil toneladas de cana.
Outro factor significativo da safra prendia-se com a velocidade a que o processo da moenda da cana deveria ocorrer, mais
uma vez no sentido de se retirar o maior rendimento da cana através da sacarose. A cana tem um momento ideal para ser moída
e depois de cortada os prazos para a moenda são curtos, caso queira evitar-se a fermentação, que é sinónimo de perda de
sacarose7. Nos avanços tecnológicos tem-se em conta esta corrida contra o tempo, criando-se mecanismos capazes de moer cana
com maior rapidez8.
Até aos inícios do século XIX o processo poderia durar de 50 a 60 dias, mas as aportações tecnológicas, conduziram a que
4 Compagnie de Fives-Lille pour constructions Mécaniques et enterprises. Matériel de Sucrerie, Paris, 1878; John A. Heitmann, The Modernization of the
Louisiana Sugar Industry. 1830-1910, Baton Rouge, 1987, p.143.
5 Victorino José dos Santos, “Relatório dos Serviços da Secção Technicos de Industria no Funchal no anno de 1907”, in Boletim do Trabalho Industrial,
nº.24, 1909, p.19.
6 João José Carneiro da Silva, Estudos Agrícolas, Rio de Janeiro, 1872, p.94.
7 Cf. J. de Laguarrique de Survilliers, Manuel de Sucrerie de Cannes, Paris, 1932, p. 29.
8 Cf. Nilo Cairo, O Livro da Canna de Assucar, Curitiba, 1924, pp. 85-86, 109; A. Bernard, “A Evolução das Moendas de Canas”, in Brasil Açucareiro,
XXXVIII, 2, 1951, pp. 73, 76.
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o mesmo se passasse a fazer em apenas um mês em 1830 e apenas em 16 horas em 1860, através do novo sistema de
centrifugação. As primeiras mudanças ocorrem ao nível do processo de clarificação. Em 1805 Guillon, refinador do açúcar em
New Orleans preconiza o uso do carvão para purga do xarope, em 1812 Edward Charles Howard constrói a primeira caldeira
de vacuum, conhecida como “howard saccharine evaporator”, que veio revolucionar o sistema de fabrico do açúcar. Três anos
depois surge em Inglaterra o sistema de filtros de Taylor. O evaporador de múltiplo efeito foi inventado em 1830 por Norbert
Rillius [1806-1894] de New Orleans, sendo usado nos primeiros engenhos desde 18349. Deste modo torna-se mais fácil a
retirada de cerca de 85% de água que existe no suco da cana e um maior aproveitamento do açúcar. As novidades na clarificação
e cristalização ocorrem num segundo momento. Assim, em 1844 o alemão Schottler aplicou pela primeira vez a força centrífuga
na separação do melaço do açúcar branco, mas foi Soyrig quem construiu em 1849 a primeira máquina de centrifugação, que
abriu o caminho para o fabrico do primeiro açúcar granulado, em 1859. Este sistema vinha sendo utilizado desde 1843 na
indústria têxtil. Os equipamentos contribuíram para acelerar o processo de purga do açúcar permitindo que se passasse do
moroso processo de quase dois meses para apenas 16 horas e hoje em apenas alguns segundos.
A segunda metade do século XIX foi o momento da aposta definitiva na engenharia açucareira, contribuindo para
importantes inovações10. O mercado ocidental foi inundado de açúcar de cana e beterraba. O desenvolvimento da indústria de
construção de equipamentos para o fabrico de açúcar, seja de cana ou de beterraba, aconteceu em países onde esta assumia uma
posição significativa na economia. Deste modo a França e a Inglaterra assumiram a posição pioneira no desenvolvimento da
tecnologia açúcareira. Os franceses detinham importantes colónias açucareiras nas Antilhas, enquanto os alemães apostavam
forte em Java. Os ingleses surgem por força das colonias nas Antilhas e Índia e os Estados Unidos da América com New Orleans
e, depois o Havai. Cuba foi um dos espaços açucareiros onde mais se inovou em termos tecnológicos. As primeiras décadas do
século XIX foram de plena afirmação da ilha, que se transformou em modelo para a indústria açucareira.
Em França tudo começou com o químico Charles Derosne (1779-1846) que montou em 1812 uma fábrica de construção de
aparelhos de destilação continua. Nesta empresa passou a trabalhar em 1824 J. F. Cail na qualidade de operário de carvão, que
9 Otto Kratz, The Robert Diffusion Process aplied to sugar-cane in Louisiana in the Years 1873 and 1874. A Report to the President and Directors of the
Julius Robert Diffusion Process Co, Nova Orleans, 1975; The Louisiana Planter and Sugar Manufacture, XIII, Nov. 24, 1894; George Mead, “Negro
Scientist of slavery Days”, in Negro History Bulletin, Abril 1957, pp.159-163.
10 C. Stammer, Traité complet théorique et Practique de la Fabrication du Sucre, guide du fabricant, Paris, 1876; James Stewart, Steam engineering on
sugar plantations, steamships, and Locomotive engines, Nova York, 1867; IDEM, A Description of a Machine or Invention to Work Mills, by the Power
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... Imprint New Orleans: Brandao & Gill, 1890.
14
em 4 de Março de 1836 passa à condição de associado. A sociedade Derosne et Cail11 manteve-se até 1850, altura em que passou
a chamar-se J. F. Cail et Cie, que em 1861 passou a cooperar com a nova Cie Fives-Lille, especializada no fabrico de
equipamentos para fábricas de açúcar e caminhos-de-ferro12. Os equipamentos, saídos da empresa Cail, chegaram às colónias
holandesas, espanholas, inglesas e francesas, México, Rússia, Áustria, Holanda, Bélgica e Egipto. À indústria francesa
juntaram-se outros complexos industriais na Europa: Inglaterra (Glasgow, Birmingham, Nottingham, London, Manchester,
Derby), Holanda (Breda, Roterdão, Schiedam, Ultrecht, Delft, Hengelo, Amsterdam), Estados Unidos da América (Oil City,
Ohio, Denver, New Jersey), Alemanha (Magdeburgo, Zweibruecken, Halle, Dusseldorf, Sangerhausen, Ratingen, Halle),
11 Avis de M. Richemond ingénieur - arbitre - rapporteur sur les divers chefs de contestation existant entre MM. Grieninger et Bachoux et MM. Cail et Cie
extrait textuellement du rapport de M. l’arbitre, 31 octobre 1867, Paris, impr. de Renou et Maulde: 1869; Cail et Cie: Mesures proposées au
Gouvernement pour changer la situation de nos colonies des Antilles, Paris 1860; Cail, F. et C.Derosne: Examen des divers procédés de fabrication de
sucre et motifs déterminant de la préférence à accorder aux appareils dans le vide à double effet pour l’application aux colonies. 1843; Cail, F. et C.
Derosne: Note sur les avantages à retirer de l’introduction des sucres bruts à un droit modéré, uniforme quelle que soit leur nuance, 1842; Cail, J. F., une
réussite exceptionnelle Poitiers, Le Picton: 1984; Cail, J.F. et C. Derosne: De la fabrication des sucres aux colonies et des nouveaux appareils propres à
méliorer cette fabrication.1843; Cail, J.F. et C.Derosne: Mémoire sur les usines centrales à la Guadeloupe,1843; Cail, Jean-François, Description de
l’appareil d’évaporation à triple effet propre à toutes les grandes évaporations de liquides salins et autres, spécialement utilisable dans les fabriques et
raffineries de sucre... (Par J.-F. Cail et Cie.) Paris, impr. de Guiraudet et Jouaust: 1852; -Exploitation agricole des plants appartenant à M. J.-F. Cail.
Mémoire pour concourir à la prime d’honneur du département de la Charente en 1868, Paris, librairie agricole de la Maison rustique: (1867); —
(Circulaire adressée aux fabricants de sucre par A. Périer, L. Possoz et J.-F. Cail et Cie au sujet de leurs procédés d’épuration du jus de betterave.) Paris,
impr. de J. Bonaventure: 1868; -A S. E. M. le ministre de l’Agriculture et du Commerce, Paris. (Lettre de J.-F. Cail et Cie, au sujet du décret du 10 janvier
1870, relativement à l’importation jusque dans les usines des matières destinées aux travaux pour l’étranger.) (Paris,), impr. de Haristéguy: (1870) -
Tribunal civil de la Seine... Pour la société anonyme des anciens établissements Cail contre les liquidateurs de la Société Cail et Cie. (29 Février 1884.),
Paris, imp. de Chaix: 1884; -Notice sur les machines et appareils des établissements Derosne et Cail... figurant à l’exposition universelle de 1865, Paris,
imp. de Guiraudet et Jouaust: 1855; Chaussenot, B., Notice sur le calorifère à air chaud, inventé par B. Chaussenot... construit exclusivement par Ch.
Derosne et Cail,... (Paris,), impr. de L. Bouchard-Huzard: (1841); Cheilus, L., Discours prononcé par M. L. Cheilus au banquet offert par lui, le 6 janvier
1856, aux gérants et chefs des différents services des établissements Derosne et Cail, Paris, Impr. de Rival: (s. d.,); Conclusions pour la Société anonyme
des anciens établissements Cail contre la société de la sucrerie de Pithiviers-le-vieil, Paris, imp. de Chaix: 1893; Debonne, Michel: Jean-François Cail
à Grenelle (1844 – 1871) et Histoire de la société Cail. Bulletin de la Société historique et archéologique du XVe arrondissement de Paris, n° 13 et 14,
1999; Derosne, Charles, Tableaux divers sur la densité des jus et des sirops, la quantité de sucre pur contenue dans les solutions sucrées... Extrait de la
publication sur la Fabrication du sucre, par MM. Ch. Derosne et Cail,... Paris, impr. de Ve Bouchard-Huzard: (s. d.); -Tableau comparatif de divers brevets
fondés sur la condensation par évaporation, montrant les emprunts faits par le brevet Reybaud, du 2 novembre 1833, à ceux antérieurement délivrés.
[Signé: Ch. Derosne et Cail. 12 avril 1847.] (Paris,), impr. de Ducessois: (1847.); - Notice sur la machine à vapeur à rotule inventée par M. Ch. Faivre...
construite... par MM. Ch. Derosne et Cail... impr. de L. Bouchard-Huzard, Paris, 1839, -De la Fabrication du sucre aux colonies, et des nouveaux
appareils propres à améliorer cette fabrication, par MM. Ch. Derosne et Cail,... 2e partie, 2e section. 2e édition... avec un appendice sur la fabrication
des sucres de sirops, sur la comparaison des divers systèmes d’appareils qui peuvent être proposés aux colonies, Paris, impr. de Vve Bouchard-Huzard:
1844; Dolabaratz: Rapport à M. Cail et Cie sur sa mission à l’île de la Réunion, octobre 1873; Du Rieux, P. Notice historique sur les filtres-presses, réponse
à MM. A. Périer, L. Possoz, J.-F. Cail et Cie adressée à MM. les fabricants de sucre par P. Du Rieux et Cie... Lille, impr. de Mme Bayard: 1866; Dureau,
Jean-Baptiste, Jean-François, Cail, sa vie et ses travaux, Paris, Gauthier-Villars: 1872; Dureau: J.F.,Cail, sa vie et ses travaux, Paris, Gauthier Villars,
1872; Etablissements Derosne et Cail... Notice sur les objets admis à l’exposition universelle de 1878, Paris, imp. de A. Chaix: 1878; Fabrication du sucre.
Epuration et décoloration des jus sucrés par carbonation multiple. Précédés Périer, Possoz, Cail et Cie. Instance en contre-façon contre MM. Maumené
et Théry, Paris, impr. J. Bonaventure: 1867; Griéninger, Note pour MM. Bachoux et Griéninger [fabricants de sucre à Francières (Oise)] contre MM. Cail
et Compagnie [constructeurs-mécaniciens à Paris]... Paris, impr. Dubuisson, [1867]. La Mécanique pratique. Guide du mécanicien. Procédés de travail.
Explication méthodique de tout ce qui se voit et se fait en mécanique, par Eugène Dejonc, ancien chef d’atelier de l’Ecole des arts et des mines,
contremaître des Maisons Cail, Bréguet, etc. Revue et corrigée par M. C. Codron, ingénieur, professeur à l’Institut industriel du Nord, lauréat de
l’Académie des sciences. 6e édition augmentée, par René Champly, ingénieur-mécanicien. Orléans, impr. H. Tessier, Paris, libr. Desforges, 29, quai des
Grands-Augustins: 1924; La Vérité biographique. J.-F. Cail, . (Signé: Louis Clot.) Paris, Impr. de Moquet: (1857); Lantrac, E., Notice sur la vie et les
travaux de M. Félix Moreaux, ancien ingénieur en chef de la Société en participation J.-F. Cail et Cie et compagnie de Fives-Lille... : par M. E. Lantrac,...
Impr. de Chaix, Paris, 1890; Mémoire pour M. Degrand, contre MM. Ch. Derosne et Cail [qui n’avaient pas respecté dans leurs ventes à l’étranger les
clauses du contrat conclu après un procès en contrefaçon de 1834, pour leur laisser fabriquer un condensateur destiné aux sucreries, dont il était
l’inventeur, Paris, E. P. E. : [1983]; Note pour MM. Bachoux et Griéninger [fabricants de sucre à Francières (Oise)] contre MM. Cail et Compagnie
[constructeurs-mécaniciens à Paris]. Demande en payement de 83, 446 fr. 20 c. à titre de dommages-intérêts pour retard dans la livraison et le montage
d’appareils destinés à la fabrication du sucre. [Suivi de:] Conclusions pour MM. Bachoux et Griéninger contre MM. Cail et Compagnie, Paris, impr.
Dubuisson : [1867]; Note pour MM. J.-F. Cail et Cie contre M. Allier [, relative à l’enlèvement du matériel de l’ancienne distillerie de betteraves de Petit-
Bourg, aux frais de constructions de la nouvelle et aux appointements et notes de frais du directeur, jugés excessifs], S. l., S. n.: 1855; Notice sur la Briche,
propriété de M.J.F.Cail à l’occasion de l’exposition universelle de 1867; Librairie agricole de la Maison Rustique, 1867; Payen, Anselme, Société
d’encouragement pour l’industrie nationale.... Rapport fait par M. Payen... sur l’appareil de MM. Rolhfs et Seyrig pour l’égouttage et le clairçage des
sucres... construit dans l’établissement de MM. Derosne et Cail. Paris, impr. de Vve Bouchard-Huzard: (1851); Possoz, Louis, Participation Périer, Possoz
et J.-F. Cail et Cie. Procédés brevetés pour l’épuration des jus de betterave, Paris, impr. de Jouaust et fils: 1863; Proust, Raymond: Le célèbre constructeur
mécanicien J.F.Cail, Imprimerie Romain, Chef-Boutonne.1990; Proust, Raymond, [Un]constructeur mécanicien, Jean-François Cail (1804-1871) Chef-
Boutonne, Chassebray-Moncontié: 1955
12 . Compagnie de Fives-Lille pour constructions Mécaniques et Entreprises. Matériel du sucrerie, Paris, 1878, Reedição Granada, 1999; Vincens, E.
Compagnie générale d’électro-chimie.... Rapport du commissaire vérificateur des apports, sur les apports faits à la Société par la Compagnie de Fives-
Lille pour constructions mécaniques et entreprises. [Signé: E. Vincens.]; —Rapport du commissaire vérificateur des apports, sur les apports faits à la
Société par la Compagnie de Fives-Lille pour constructions mécaniques et entreprises. [Signé: E. Vincens.] (Paris,), impr. de Chaix: 1898; Godefroy, H.-
C. Notice explicative sur les tableaux photographiques représentant les usines de Fives-Lille, Paris, impr. de Vves Renou, Maulde et Cock: 1876.
15
Bélgica (Bruxelas, Tirlemont). A Inglaterra foi desde meados do século XVII um dos mais importantes centros de refinação de
açúcar na Europa. As refinarias proliferam nas cidades de Bristol, Essex, Greenock, Lancaster, Liverpool e Southampton13. Isto
justifica o desenvolvimento tecnológico. Aqui, merece destaque a iniciativa de Mirless Watson14.
A abertura às inovações tecnológicas, como forma de tornar concorrencial o produto, acarreta algumas consequências para
a indústria ao nível nacional. Os investimentos são vultuosos e, por isso mesmo só se tornam possíveis mediante incentivos do
Estado. A inovação e recuperação da capacidade concorrencial só se tornaram possível à custa da concentração. Tanto em Cuba
como no Brasil a década de oitenta foi marcada pelos grandes engenhos centrais15.
A concorrência do açúcar é cada vez mais evidente obrigando as autoridades nacionais a intervir no sentido da defesa das
suas culturas e indústrias. A política proteccionista iniciada pelos Estados Unidos da América alastrou a todo o mundo
açucareiro16. Se o século XIX foi o momento da aposta na tecnologia, a centúria seguinte será marcada pela política açucareira.
Ao nível internacional reúne-se uma convenção em Bruxelas, em 1902 e 1929, no sentido de limitar o apoio financeiro do
estado e medidas de defesa e proteccionistas dos diversos estados produtores de cana e açúcar. Entretanto em 1937 a Sugar
Organization procura estabilizar o mercado através do estabelecimento de cotas que acabaram em 1977. Desde a década de
setenta persiste o enfrentamento entre o comércio livre e a política proteccionista dos estados.
13 John M. Hutcheson, Notes on the Sugar Industry of the United Kingdon, Greenock, 1901; Frank Lewis, Essex and sugar, 1976.
14 STEWART, J., A Description of a Machine or Invention to Grind Sugar-canes by the power of a fire Engine, Kingston, 1768. IDEM, Steam engineering
on sugar plantations, steamships, and locomotive engines, New York, Russell’s American Steam Printing House, 1867. Watson, Laidlaw & Co.,
Engineers, millwrights and machine makers. specialities machinery for the treatment of sugar after boiling ... etc., etc.Watson, Laidlaw & Co.[1892].
15 José Curbelo, Proyecto para fomenter y Poner en Estado de Producción seis Ingenios Centrales com alambiques, Havana, 1882; Andrade, Bonifacio.Do
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Perruci. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978, 1977. SOUZA, Jonas Soares de, O Engenho Central de Porto Feliz. Uma empresa pioneira em São Paulo Leis,
etc.][organizado por] Jonas Soares de Souza São Paulo: Museu Paulista, [1978?].
16 Atwood H., Donald W., Raising Cane. The Political Economy of Sugar in Western Indie, Boulder, 1992; Bernhardt, Joshua, Government Control of the
Sugar Industry in the United States, N. Y. 1820; Brunner, Henrich, Cuban Sugar Polity from 1963 to 1970, Pittsburgh, 1977; Buzzanell, Peter J., Sugar
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a thirty year record, 1917-1947. Washington, Sugar Statistics Service, 1948 [i.e. 1949].
16
Harry Hinton,
Photographia Museu
Vicentes
A QUESTÃO HINTON
Na segunda metade do século XIX, a crise da produção do vinho fez com que a cultura da cana sacarina se apresentasse
como a resposta adequada à perda de importância da vinha, assumindo o papel de “cultura rica” na agricultura madeirense. A
intervenção deu lugar ao chamado “proteccionismo sacarino” que desembocou naquilo que ficou depois conhecido como a
“questão Hinton”. A conturbada situação política de finais do século XIX e princípios do século XX favoreceu o debate político
em torno da questão sacarina que o Estado Novo apaziguou. As condições do mercado mundial obrigavam à intervenção das
autoridades, pois caso contrário a produção madeirense estava condenada, com inevitável prejuízo para os agricultores. As
dificuldades económicas tornavam a iniciativa do Estado cada vez mais útil e necessária, caso se pretende-se atalhar a constante
tendência à emigração do mundo rural.
A produção mundial de açúcar, a partir da segunda metade do século XIX, passou a estar sob um controlo apertado das
autoridades e grupos económicos. O consumo, que se generalizou a todos os grupos sociais nesta época, não foi suficiente para
atender à elevada oferta do produto. A tecnologia permitiu um melhor aproveitamento da sacarose disponível na cana, ao mesmo
tempo que a área de cultivo se alargou a novos espaços, contando ainda com a concorrência feroz da beterraba europeia. Em
finais da centúria os preços do açúcar desceram a níveis nunca atingidos. Para isso terá contribuído a política de subsídios à
cultura e produção de açúcar de beterraba por alguns países europeus, como a França e Alemanha. As diversas convenções
internacionais nunca conseguiram frenar a feroz e desigual concorrência do mercado do açúcar. Atente-se que a conferência de
Bruxelas de 1901-02 ao conseguir estabelecer a supressão dos subsídios à produção foi uma medida importante para a retoma
dos preços.
Portugal não ficou alheio à política proteccionista dos governos, sendo a economia dos séculos XIX e XX alimentada por
fortes medidas de protecção e favorecimento face à concorrência estrangeira. Ficou célebre a política de proteccionismo
cerealífero a partir de 1889. O regime, implantado em 1926, tinha bem entranhado a cultura do proteccionismo.
Os inícios do segundo momento da cultura açucareira na ilha foram acompanhados de medidas favorecedoras. Assim, em
17
1855 e 1858 oneram-se os direitos de importação de mel, melado e melaço, enquanto em 1870, 1876, 1881 e 1886 se favorecia
a entrada do açúcar madeirense no continente e Açores através da redução ou isenção dos direitos de entrada.
Atendendo às dificuldades criadas com a crise da lavoura açucareira, provocada pelo ataque do fungo conyothurium
melasporum, o Governo interveio no sentido da preservação. A aposta era fazer da cultura da cana-de-açúcar um elemento
revitalizador da agricultura madeirense. Em 1888 avançou-se decisivamente na protecção e replantação de novas variedades,
resistentes às doenças e mais produtivas, criando-se uma estação experimental dedicada ao estudo da cultura. Tivemos outro
decreto em 1895, conhecido como “regímen saccharino da Madeira”, que regulamentou o processo de laboração da cana e o
fabrico de aguardente. Assim, as fábricas matriculadas obrigavam-se à aquisição de toda a cana produzida de acordo com o
preço estabelecido. Em compensação tinham redução de 50% nos direitos de importação do melaço para fabrico de álcool usado
na fortificação dos vinhos. Seguiram-se ao longo dos tempos outros decretos: 1903, 1904, 1909, 191117.
Em 1903, novo decreto revela as dificuldades do cultivo da cana e os custos elevados que acarreta para justificar o aumento
dos preços mínimos. A compra de toda a cana é conseguida mediante compensações do Estado. As fábricas matriculadas
estavam obrigadas a comprar todos os saldos da aguardente manifestados até 31 de Dezembro, de forma a evitar a concorrência
com o álcool feito de melaço importado. Acontece que as fábricas de açúcar e álcool deixaram de comprar os saldos aos
fabricantes de aguardente, dando uma compensação de 100 réis ao galão, o que acabou por criar uma situação insustentável.
O decreto de 11 de Março de 1911 pretendeu estabelecer um travão no consumo excessivo de aguardente, que se havia
transformado num prejuízo para a saúde pública,abrindo a porta para uma solução drástica, estabelecida pelo decreto de 1919.
A aposta estava na reconversão dos canaviais pela vinha de castas europeias e no controlo da produção e consumo de
aguardente. Neste caso seria determinante a medida delimitadora da produção anual para 20.000 litros ano e o encerramento
em 1930 de todas as fábricas de aguardente que não tivessem sede nos concelhos da costa Norte. Mas o decreto de 14 de Abril
de 1924 aumenta o limite da produção de aguardente para 500.000 litros. O que obrigou à emenda de 1927, com o encerramento
de todas as fábricas de aguardente do sul, ficando a Junta Geral com o encargo de venda da aguardente.
O Dr. Oliveira Salazar, no preâmbulo do decreto de 1928 define de forma clara os efeitos do anterior decreto, responsável
pelo monopólio da compra de toda a cana do Sul, do fabrico de açúcar, do álcool para vinhos ou desdobramento, da importação
de melaço e açúcar em bruto das províncias ultramarinas, concluindo que “a agricultura, toda a economia da Madeira, a
própria administração pública ficariam mais do que nunca na dependência das fábricas de açúcar e de álcool.”18. Em face
disto surgiram diversos decretos no sentido de diminuir o consumo de álcool, proteger a cultura, punir os abusos e defender
intransigentemente os interesses públicos. O novo regime sacarino assentava nos seguintes aspectos:
1.Um regime fiscal que ia ao encontro da defesa da saúde pública e dos interesses da economia local. Assim a importação
de açúcar está sujeita ao pagamento de direitos, ao mesmo tempo que se proíbe a entrada de bebidas alcoólicas.
2. A cultura da cana ficava limitada à satisfação das necessidades da ilha em açúcar, aguardente, álcool e mel, mantendo-se
o preço fixo e a obrigatoriedade da compra pelas fábricas.
3. As fábricas de açúcar e álcool ficam limitadas ao concelho do Funchal e todo o produto laborado deverá ser da produção
regional. O álcool com 40º cartier era vendido na totalidade à alfândega, que depois procedia à revenda.
4. O fabrico de aguardente, desde 1938, em regime de concentração, em três fábricas, seria entregue à Delegação da Junta
Nacional do Vinho da Madeira para ser comercializado.
O regime de protecção com preços tabelados de compra da cana deixou de existir a partir de 1920. A medida, não obstante
garantir ao agricultor o escoamento da totalidade da produção, criava uma situação de subordinação ao engenho do Torreão.
Antes de 1895 o lavrador tinha liberdade de mandar moer por sua conta a cana e fabricar açúcar que depois vendia, mas com
as medidas proteccionistas passou a estar obrigado à venda da produção às fábricas matriculadas.
Os resultados da política começaram no imediato a fazer-se sentir com o incremento da área de cana. A ilha, que em 1886
deixara de exportar açúcar passando mesmo a importá-lo, entrou no novo século satisfazendo as suas necessidades de açúcar e
álcool e criando um excedente para exportação. Em 1907 saia o primeiro açúcar da ilha para o continente, usufruindo de
privilégios fiscais.
Acontece que dos engenhos existentes na ilha apenas se matricularam as fábricas de W. Hinton & Sons e de José Júlio de
17 Diplomas Principaes que interessam ao Regímen Saccharino da Madeira, S.l., sd.; A questão Saccharina da Madeira, Lisboa, 1910; Ramos Taborda,
“Regime Sacarino da Madeira”, in Diário de Notícias, 4 de Outubro de 1962.
18 Ramos Taborda, “Regime Sacarino da Madeira”, in Diário de Notícias, 4 de Outubro de 1962.
18
Lemos. Isto iria dar azo a acesa polémica, quando em 1903 surgiu novo decreto que apenas as favoreceu. No ano imediato novo
decreto consolida a situação, estabelecendo um contrato inalterável até 1919, o que permitiu algumas inovações tecnológicas.
Entretanto em 1915 uma representação de cerca de 4000 proprietários e agricultores reclamava a favor da conservação do
regímen sacarino. Isto justificava-se pela situação em que se encontrava a ilha: “A viticultura não pode readquirir a sua antiga
prosperidade, pela decadencia dos preços dos vinhos, cuja exportação crescia pouquíssimo antes da guerra. A generalização
das árvores de fructo ricas levaria longos annos e é praticamente impossível por falta de capitaes e de outros elementos e
circumstancias que seriam essenciaes a uma transformação cultural dessa natureza.
As plantações saccharinas, que representam grandes capitalisações e teem um alto valor, devem continuar necessariamente
garantidas com as condições actuaes de existência”.19
Em 1927 outro grupo de 3.535 proprietários, agricultores e consumidores reclamavam a preservação do decreto nº.14.168,
considerado medida salutar face aos anteriores diplomas de 1911 e 1919 que estabeleciam medidas restritivas ao fabrico de
aguardente.20 Procurava-se travar o consumo exagerado de aguardente na Madeira, que por isso havia recebido o epíteto de ilha
da aguardente.
Durante a República e no Estado Novo a cultura da cana manteve-se lado a lado com a da vinha como uma preocupação
permanente. Em 1935, numa carta que o Dr. Oliveira Salazar escreveu ao Presidente da Junta Geral, o Dr. João Abel de Freitas,
é evidente a insistência na defesa da cultura. “O regime a executar deve ser o decretado em maio do ano findo. Foram feitas
19 Diplomas Principaes que interessam ao Regímen Saccharino da Madeira, S.l., sd, p. 316.
20 Regime Sacarino da Madeira, Lisboa, 1928.
19
muitas reclamações que examinei com cuidado; apenas duas me pareceram susceptíveis de deferimento e não ainda assim
como era pedido: 1) como a Alfândega não poude fazer as comunicações a que a lei se referia sôbre a graduação da cana em
certos locais, tenho trabalhado num decreto a publicar imediatamente em que se prorroga por mais um ano o regime transitório
estabelecido para 34-35 no citado decreto; 2) no mesmo decreto se permite a renovação ou substituição dos canaviais até 60%
dos pés substituídos e da área ocupada. Estão no relatório do decreto do ano findo as razões porque se não permite a
substituição integral. Se o consumo do açúcar não aumentar temos de baixar de 15% a 20% a produção de cana, e ainda é
preciso que esta seja tam rica como é êste ano, por causa da escassês das chuvas; 3) Os pedidos ou pretenções ou calculos dos
industriais de aguardente não podem ser tomados em consideração. É preciso convencê-los desta verdade: fabricam um artigo
que se não vende. Não é caso para qualquer indemnização por parte do Estado, nem para se consentir outra vez o
envenenamento dessa gente, como era de antes”.21
Passados cinco anos o então Governador Civil José Nosolini evidencia, mais uma vez, o carácter artificial da economia
açucareira. ”Esta produção foi-se mantendo, por um lado, mercê da exportação de assucar madeirense para o continente; por
outro lado mercê do desvio de fabrico de assucar para o de aguardente.” Deste modo a política do Governo de controlo da
produção de cana estava certa, uma vez que ”a cana sacarina a não ser em cultura muito restricta é perniciosa (…) Mas cana
de assucar, vinhos, bordados serão por muito tempo intransponíveis montanhas de dificuldades para a acção governativa.”22
21 1935. Maio. 23: resposta do Dr. Oliveira Salazar. in VIEIRA, Alberto (coordenação), A AUTONOMIA: História e documentos, Funchal, CEHA, 2001
(DVD).
22 1939. Novembro. 21: Carta do Governador Civil do distrito Autónomo do Funchal, José Nosolini Pinto Osório S. Leão, ao Ministro do Interior, in
VIEIRA, Alberto (coordenação), A AUTONOMIA: História e documentos, Funchal, CEHA, 2001 (DVD).
20
Henry Manoury (engenheiro químico), León Naudet (engenheiro químico) e João Higino Ferraz
(director técnico do Torreão) e o chefe de bateria. 1907. Arquivo particular de J. H. Ferraz
Dentro do contexto da política proteccionista merece lugar de relevo o debate em torno da “questão Hinton”, que animou o
meio político entre finais do século XIX e princípios do seguinte. Foi sem dúvida o problema que mais apaixonou a opinião
pública, nas vésperas e durante a República. Publicaram-se inúmeros folhetos, os jornais encheram-se de opiniões contra e a
favor23. O momento mais importante foi a polémica que em 1910 se ateou no Parlamento. Cesário Nunes24 documenta a situação
de forma lapidar: “Em Portugal nenhuma questão económica atingiu tão alta preponderância e trouxe então grandes
embaraços legislativos às entidades governativas como o problema sacarino da Madeira. “
Tudo começou em 23 de Março de 1879 com a inauguração da Companhia Fabril do Açúcar Madeirense. Era uma fábrica
de destilação de aguardente e de fabrico de açúcar sita à Ribeira de S. João. Demarcou-se das demais com o recurso a tecnologia
francesa, usufruindo dos inventos patenteados em 1875 pelo Visconde de Canavial. O cónego Feliciano João Teixeira25, sócio
do empreendimento no discurso de inauguração afirma ser este um “grandioso monumento, que abre uma época verdadeira-
mente nova e grande na História da indústria fabril madeirense”. Isto foi apenas o princípio de um conflito industrial, onde
imperou a lei do mais forte. Tal como o afirmava em 1879, no momento do encerramento, José Marciliano da Silveira26 “ a
23 A leitura dos jornais da época assim o evidencia. Veja-se por exemplo Francisco Canais Rocha, “Perfeito de Carvalho contra o monopólio Hinton”, in
História, nº.144, 1991, pp.49-61; Emanuel Janes, in História do açúcar. Rotas e Mercados, Funchal, 2002, pp. 565-598.
24 Politica sacarina, Funchal, 1940.
25 Discurso pronunciado pelo conego Feliciano João Teixeira Presidente da Assembleia Geral da Cª Fabril de Assucar Madeirense no dia da inauguração
do estabelecimento, 23 de Março de 1873, Funchal, 1873.
26 A companhia fabril de assucar madeirense os seus credores o Athleta e o sr. Dr. João da Câmara Leme, Funchal, 1879.
21
fábrica de são João foi cimentada com o veneno da maldade; era o seu fim dar cabo de todas as que existiam...”.
A polémica ateou-se com o plágio por parte da família Hinton, da invenção do Visconde Canavial27, que havia patenteado
em 1870 um invento que consistia em lançar água sobre o bagaço, o que propiciava um maior aproveitamento do suco da cana.
Constava da patente o uso exclusivo pela fábrica de S. João, mas o engenho do Hinton cedo se apressou a copiar o sistema.
Com isso o lesado moveu em 1884 uma acção civil contra o contrafactor. A família Hinton ficou para a História como a autora
da inovação28, que como sabemos foi comum em vários espaços açucareiros.
Em 1902 a fábrica Hinton experimentou um novo sistema para o fabrico de açúcar por intervenção de León Naudet, que
ficou conhecido como sistema Hinton-Naudet, que consistia em submeter o bagaço a uma circulação forçada num aparelho de
difusão, conseguindo-se um ganho de mais 17% e a maior pureza da guarapa, evitando as defecadoras29. Esta intervenção
pioneira é sublinhada por inúmera bibliografia da especialidade30.
O engenheiro León Naudet esteve no Torreão nos dias 21 e 22 de Junho de 1907 combinando com João Higino Ferraz a
instalação do sistema de difusão, o triple-effet e a caldeira “freitag”. Todavia, a montagem do novo maquinismo começou
apenas em meados de Setembro, após a conclusão da safra. Até 1909 o técnico do Hinton manteve correspondência assídua no
sentido de esclarecer pormenores sobre a instalação dos diversos mecanismos. Na sequência disto João Higino Ferraz deslocou-
se a Paris para novo encontro com Naudet e visita a fábricas de açúcar de beterraba31.
A viragem da centúria implicou com a situação sacarina da ilha. A conjuntura económica mundial pôs em causa as condições
de privilégio conseguidas com a entrada do melaço, por força do aumento do preço e das diferenças cambiais da moeda. A “lei
que tantos benefícios trouxe á Madeira”32, aguardava por renovação. A fábrica Hinton, para poder afirmar-se vai montar uma
estratégia de aliciamento de políticos e uma campanha para limpar a imagem junto do público, através de textos e entrevistas
publicados nos principais jornais do Funchal, como o Diário de Noticias, Diário da Madeira e Diário do Comércio.
Paulatinamente estabelece-se uma teia de interesses que integra políticos locais e continentais, funcionários alfandegários e
mesmo o próprio Governador Civil. Nesta estratégia a função de João Higino Ferraz foi fundamental, como a de Harry Hinton,
em permanente rodopio entre o Funchal e Lisboa. A família Hinton conseguiu singrar na indústria açucareira a muito custo. A
conjuntura política conturbada condicionou a capacidade de persuasão. A visita de El Rei D. Carlos à ilha em 1901 poderá ter
sido um momento crucial33.
As medidas, que favoreciam a entrada de melaço, estabelecidas pela lei de 1895, associadas ao decreto de 1903,
determinavam a forma de matrícula das fábricas e as portas à concentração do sector. As condições eram de tal modo lesivas
que só duas - Hinton e José Júlio Lemos - o conseguiram fazer. As cerca de meia centena de fábricas que existiam na ilha
ficaram numa situação periclitante. O decreto de 1897 estabelecia normas de tal modo rígidas sobre a forma de construção de
alambiques e fábricas de destilação e rectificação do álcool que apenas alguns podiam cumprir34.
Em 1901 João Higino Ferraz lança o primeiro grito de alerta de crise para o sector em carta ao Visconde de Idanha. Aí dá-
se conta da perda dos privilégios e contrapartidas da importação do melaço da lei de 1895 e, por consequência a impossibilidade
de manter os preços da cana pagos ao agricultor. A solução estava na diminuição do imposto de importação do melaço:”…tenho
a certeza que a coadjuvação do meu bom amigo nos será muito util, e o seu nome não será esquecido n’este bocadinho da
Patria.”35 Noutra carta de 8 de Outubro seguem novos artigos para a imprensa e importantes recomendações no sentido da
defesa intransigente do decreto ora publicado: “...exerça toda a vigilancia para não apparecer cousa alguma contra as
providencias em qualquer jornal, se for precisa qualquer despeza para isso é faze-la.(…) O decreto deve deixar bem toda a
gente, mas no caso de haver alguem que por inveja ou qualquer outro motivo queira levantar difficuldades na imprensa ou fora
della, combine com o Romano a melhor maneira practica, directa ou indirecta, de os calar até a minha chegada”36.
27 Uma acção civil contra o sr. W. Hinton fabricante de assucar e aguardente na cidade do Funchal (ilha da Madeira)..., Funchal, 1884.
28 W. Koebel, Madeira. Old and New, Londres, 1909, p.129; Eduardo Pereira, Ilhas de Zargo, vol. I (Funchal, 1989), pp.541-542.
29 Eduardo Pereira, Ilhas de Zargo, vol. I (Funchal, 1989), pp. 541-542.
30 Cf. International Sugar Journal, 1905; H. C. Prinsen Guerligs, Cane Sugar and its Manufacture, Londres, 1909, pp. 115, 117.
31 João Higino Ferraz, Copiador de Cartas [1905-1913], fls. 53, 65-78.
32 João Higino Ferraz, Copiador de Cartas [1898-1905], fls.44, 5 de Fevereiro de 1901.
33 A chamada “questão Hinton” foi motivo de acesa polémica na sua época, de que resultou a publicação de inúmeros folhetos. Veja-se António Aragão de
FREITAS, Madeira-investigação bibliográfica, Funchal, 1984, pp. 229-233; F. A. SILVA, “Hinton, questão”, in Elucidario Madeirense, vol. II, pp. 117-
118. Aqui apenas damos conta dos textos mais recentes: Miguel RODRIGUES, “A questão Hinton”, in História e Crítica, nº6, 1980, pp.15-27; Francisco
Canais ROCHA, “Perfeito de Carvalho contra o monopólio Hinton”, in História, nº144, 1991, pp.49-61.
34 Boletim Official da Administração Geral das Alfândegas e Contribuições Indirectas do ano de 1897, nº.15, Lisboa 1897, pp. 396-399.
35 João Higino Ferraz, Copiador de cartas [1898-1905], fls. 44-48, 5 de Fevereiro.
36 Arquivo Particular de João Higino Ferraz, carta avulsa, 8 de Outubro de 1903, de Harry Hinton.
22
Pessoal técnico da fábrica do Torreão em 24 Junho 1908. Arquivo particular de J.H. Ferraz
Passados dois anos a casa Hinton apostava numa campanha na imprensa local, servindo-se do Diário de Noticias e Jornal
do Comércio.37 Harry Hinton, em carta de 18 de Setembro, anunciou a publicação do novo decreto e recomendou a J. Higino
Ferraz os textos e o telegrama ao Presidente do Concelho, que enviou também aos jornais38. Na carta é evidente uma certa
familiaridade com o Ministro da Fazenda e a possibilidade de ter sido necessário mover algumas influências. A parte final da
carta é compremetedora: “Falla com o Lemos e diga-lhe que é conveniente não abaixar por hora o preço do alcool, sem que
39
eu lá chegue. Tem havido despezas grandes com o decreto, e tenho certos compromissos em que elle tambem tem de entrar.
No intervalo publicou-se a 18 de 3 Julho de 1903 a lei sobre o fabrico dos açúcares açorianos e teme-se maiores prejuízos,
pelo que “é bom enquanto está ahi [Lisboa] ver bem essa lei não nos vá prejudicar.”40 A campanha na imprensa havia dado
fruto, mas nada estava ainda garantido e outro percalço com a vistoria das autoridades à fábrica, implicava todo o cuidado,
“porque mudando o governo a lei que regula pode-nos ser bastante prejudicial quanto ao pagamento da contribuição
industrial.”41 Por outro lado temia-se a matrícula de novas fábricas. A situação estava tensa entre os vários industriais42.
A lei de 24 de Novembro de 1904 dava a machadada final ao estabelecer a referida matrícula por 15 anos. Entretanto, caiu
a monarquia e sucedeu a República, que parecia querer fazer ouvidos moucos às regalias conquistadas no anterior regime. Mas
rapidamente tudo se recompôs. As dificuldades do comércio do vinho repercutiam-se no sector com a diminuição do consumo
de álcool, a principal contrapartida das fábricas matriculadas. Em Outubro de 1905 Batalha Reis visitou a fábrica Hinton e teceu
os melhores elogios ao álcool aí produzido, mas insistiu na necessidade de introdução dos vinhos de Portugal, o que não agradou
aos planos dos anfitriões.43
37 João Higino Ferraz, Copiador de cartas [1898-1905], fls. 203-204, 29 de Agosto e 5 de Outubro.
38 O texto intitulado “Providências Governativas” para ser publicado no Diário de Notícias, o “Novo regimen economico” para o Diário do Comércio e
“Noticia importante” para o Diário Popular. Aí dava indicações sobre a forma de publicação: “O telegrama deve ser publicado em grosso e vivo
normando no logar marcado a tinta vermelha em cada artigo”. Juntam-se ainda mais artigos para O Popular, O Commercio.
39 João Higino Ferraz, documento avulso, de 18 de Setembro de 1903.
40 João Higino Ferraz, Copiador de cartas [1898-1905], fls. 97, 24 de Julho de 1903.
41 João Higino Ferraz, Copiador de cartas [1898-1905], fls. 104, 5 Setembro de 1903.
42 João Higino Ferraz, Copiador de cartas [1898-1905], fls.110, 118, 9 de Outubro e 16 de Novembro de 1903.
43 João Higino Ferraz, Copiador de cartas [1898-1905], fls. 190-193, 9 e 16 de Outubro de 1905.
23
A primeira década da centúria foi fundamental para a consolidação do engenho do Torreão. Entre 1898 e 1907 tivemos
investimentos avultados na modernização do engenho do Torreão que obrigaram uma investida junto do poder central no
sentido de garantir as regalias para poder-se rentabilizar o investimento44. Em Janeiro de 1907 Harry Hinton estava em Lisboa
a jogar a última cartada: “ ou João Franco attende ao seu pedido justo e que interessa bastante e a toda a Madeira agricula,
ou não attende, e nesse caso não posso prever quais as consequências desastrosas de sua maneira de ver.”45
A República não terá sido muito favorável aos objectivos da família Hinton. O ambiente parece que era de tensão, pois
segundo J. Higino Ferraz: “o senhor Hinton disse-me que em nada pode influir em Lisboa junto do governo sobre questões
d’assucar, porque o nome Hinton é sempre visto com maus olhos.”46. Todavia, pelos decretos de 1911 e 1913 conseguiu-se
segurar o monopólio do fabrico do açúcar e regalias na importação de açúcar das colónias. Em 1914 reclamava uma
indemnização ao Estado pelo facto de ter sido aumentado o açúcar bonificado das colónias que entravam no continente. A
resposta veio por parte dos competidores47.
Em 1917 parece que os ânimos haviam serenado e tudo estava bem encaminhado, apostando-se numa nova fábrica. A
demanda de álcool prenunciava um período de prosperidade48. A prorrogação do contrato nas mesmas condições era de toda a
44 Não sabemos o valor do investimento, mas pela estimativa de Naudet para a Fabrica de Lemos em 1909 podemos ficar com uma ideia. A renovação desta
unidade industrial custaria 101.850 francos, o equivalente a 20.370$000 reis. [Idem, Livro de notas sobre fabricação de’assucar e alcool, e tabellas de
calculos de João Higino Ferraz, p. 182].
45 Idem, Copiador de cartas [1905-1913], fl.34.
46 Idem, Ibidem, fl.126, 6 de Setembro de 1911.
47 A Nova Questão Hinton. Resposta das Empresas Açucareiras da África Portugueza ao folheto da firma W. Hinton & Sons, Lisboa, 1915.
48 João Higino Ferraz, [Copiador de cartas. 1917-1919], 4 e 6 de Julho de 1918.
24
conveniência. Apenas os distúrbios políticos poderiam fazer perigar a situação de privilégio49. Estava-se em período de revisão
da lei e referia-se até a possibilidade de vinda ao Funchal do Ministro da Agricultura, situação considerada má para o Hinton,
pois como refere J. H. Ferraz: ”Não tenho confiança alguma nestes nossos amigos de cá, e temos como sabe, fartura de
inimigos.”50. A 31 de Dezembro de 1918 acabava a situação de favorecimento estabelecida por quinze anos. Entretanto só a 9
de Abril do ano seguinte o Governo interveio, tornando livre a “faculdade de laboração da cana sacarina com destino à
produção de açúcar”. O decreto de 2 de Maio define uma nova realidade. Assim, para além da liberalização da produção de
açúcar e da isenção de direitos alfandegários de maquinaria para novos ou reforma dos engenhos existentes, estabeleceu-se uma
nova política agrícola promovendo-se a substituição dos canaviais pela vinha.
A situação não fez perigar a posição hegemónica da Casa Hinton que se mantinha confortavelmente como o único produtor
de açúcar. Com o Estado Novo as medidas resultantes dos decretos nº. 14.168, 15.429, 15.831, 16.083 e 16.084 (1928), embora
restritivas dos antigos privilégios, favoreceram o Hinton quando impediram a instalação de novas fábricas e determinam o fecho
de algumas em funcionamento. O ano de 1928 foi fulcral para a afirmação da estratégia hegemónica.
Desde 1927 que se mediam forças entre os chamados “aguardenteiros” e a casa Hinton51. Harry Hinton em Lisboa
recomenda nova campanha na imprensa, valorizando as iniciativas modernizadoras empreendidas pelo engenho52. A entrevista
de João Higino Ferraz ao Diário da Madeira de Reis Gomes enquadra-se na estratégia. Tal como refere o entrevistado em carta
a H. Hinton53 “o meu principal fim foi provar que somente Torreão pode moer toda a cana mesmo no maximo em 3 mezes. (…)
Falei sobre as modificações importantes na fabrica do Torreão, mas sem dizer que era para augmentar a capacidade, mas
somente para abreviar o trabalho e produzir melhor. Se falassemos em augmento de capacidade, os nossos inimigos teriam um
pé para dizer que o Torreão não estava habilitado a fazer a Laboração do maximo o que so agora é que queria estar n’essas
condições, o que não é verdade segundo, verá pela entrevista.”
25
Engenho do Hinton. Photographia Museu Vicentes
Entretanto o Governador Civil mantem-se atento à disputa, ouvindo os interesses dos “aguardenteiros”, procurando reunir
apoios, como o de Manuel Pestana Reis, no sentido de apresentar uma proposta de mudança da lei54. A isto juntava-se a
campanha de Henrique Figueira da Silva55. Os adeptos da causa Hinton vão diminuindo, mantendo-se apenas António Pinto
Correia56. Apenas o decreto 14.168 trouxe algum alívio, pois que tudo “ficará…mais seguro”57, mas continuava ainda a ser
considerada como a “maldita nova lei saccarina”.58
Harry Hinton, em 1929 sente-se cansando e aborrecido com todas as contrariedades que lhe acarretam o engenho, fruto do
enfrentamento constante com interesses adversos na ilha dos demais industriais e as mudanças da conjuntura politica. A
intenção parecia ser a venda da fábrica, mas certamente a pressão do amigo João Higino Ferraz contribuiu para mudar de
opinião. A carta que escreveu a Georges Lefebvre, em
França, é bastante expresiva: “il est riche et peut
repouser…Et moi…”59
Quirino de Jesus [1865-1935], que em momentos
anteriores fora um poderoso aliado na estratégia do Hinton
surge em finais da década de vinte como um traidor “que
não tem outro fim senão vingar-se do Senhor Hinton”60.
Algo se passara que nos escapa, pois em principios do
século havia sido um aliado destacado61. O causídico
defendera os interesses da empresa, mas rapidamente
mudou de opinião, como se constata da correspondência
de João Higino Ferraz e do que nos diz o Padre Fernando
Augusto da Silva: “De acérrimo e entusiático defensor do
regime sacarino, como advogado e publicista, do regime
sacarino, tornou-se a breve trecho, com igual ardor e
convicção, um inimigo declarado do mesmo regime.”62
Em 1969, a família Hinton informou o governo da
intenção de encerrar a fábrica, acabando com o fabrico de
álcool e açúcar que não eram rentáveis. Perante isto o
governo, através da Direcção-Geral das Alfândegas
comprometeu-se a compensar as perdas. O relatório sobre
a situação em 1972 aponta o facto de a indústria se
encontrar num beco sem saída, pois a “substituição não
pode justificar-se dada a ausência de uma rentabilidade
previsível no fabrico do açúcar.”63 E conclui-se: “É
excepcionalmente raro, que nos anos 70 uma fábrica de
açúcar com uma capacidade de produção inferior a
20.000 toneladas anuais, tenha possibilidade de ser
razoavelmente rentável e muitos poucos investidores de
novos projectos de fábrica considerarão hoje em dia o
estabelecimento de fábricas com uma capacidade inferior Quirino de Jesus [1865-1935]
a 50.000 toneladas.”64
Photographia Museu Vicentes
26
Fábrica de S. Filipe. Photographia Museu Vicentes
27
Frota de albions para transporte da cana ao engenho do Hinton. Photographia Museu Vicentes
O engenho do Hinton, consolidada a posição dominadora do mercado local, manteve-se como a referência da cultura da
cana-de-açúcar até que em 1985 agonizou em definitivo o império do açúcar do Hinton. Para alguns tudo foi construído com
pés de barro, sustentado por favores políticos, mantendo-se a hegemonia à custa da exploração dos lavradores de cana65.
Durante todo o século XX a fábrica Hinton foi uma referência da cidade e da vida de quase todos os agricultores madeirenses
que apostaram na cultura da cana como meio para angariar uns magros tostões. A posição de favorecimento que mereceu, desde
a Monarquia ao Estado Novo, alimentou inimizades, debates na imprensa e a reprovação de alguns sectores da sociedade.
A família Hinton estabeleceu uma estratégia de domínio da indústria açucareira e do álcool, através de uma aposta
permanente na inovação tecnológica capaz de esmagar todos os concorrentes, cujos engenhos a pouco a pouco foram sendo
adquiridos e desmantelados. O século XX foi o momento da plena afirmação. Em 1898 montaram-se dois difusores, seguindo-
se o centrifugador e as turbinas em 1901, para no ano seguinte se montarem quatro difusores. Em 1904 e 1905 apostou-se no
65 A questão não é consensual ao nível historiográfico. Veja-se Miguel Rodrigues, “A Questão Hinton”, in História e Crítica, 6 (1980), pp.15-27; Benedita
Câmara, “A concentração Industrial do Sector do Açúcar Madeirense. 1900-1918”, in História e Tecnologia do açúcar, Funchal, 2000, pp. 419-422.
28
sistema Naudet. Para os anos de 1906 e 1907 mudou-se o aparelho de triple effet, a caldeira de vácuo e o melaxeur. De acordo
com dados de 1907 o engenho moía cerca de 1/3 da cana da ilha, ficando a restante para os restantes 47 engenhos. Na altura
empregava 230 trabalhadores tendo ao serviço 10 geradores a vapor Babcook & Wilcox, tendo a maior potência em uso na
ilha. Apenas o de José Júlio de Lemos se podia aproximar, mas a longa distância66. A capacidade de laboração da fábrica
aumentou nos anos seguintes fruto dos favores estabelecidos. Tivemos novas montagens de equipamentos em 1910. Passados
sete anos um incêndio obrigou a novo equipamento de destilação, que em 1924 necessitava ser aumentado para corresponder à
demanda do produto.
Harry Hinton, não satisfeito com o aumento da unidade industrial, actuou no sentido da neutralização das demais através da
compra ou arrendamento. Primeiro adquiriu a antiga fábrica de Severiano Ferraz na Ponte Nova e de outras adquiriu os
mecanismos mais importantes. No caso da de José Júlio de Lemos estabeleceu um contrato de arrendamento de 25 contos
anuais, que perdurou até 1919. A necessidade de afirmação levou-o a apostar na renovação tecnológica do engenho do Torreão,
sob a superintendência de João Higino Ferraz. As reformas iniciaram-se em Dezembro de 1900 com a montagem de cilindros,
peças centrífugas e filtros mecânicos de Manoury67. Para os anos imediatos reservou-se a montagem das turbinas Weston68, dos
difusores69, da caldeira de vapor70. A sociedade que estabeleceu em 1905 com W. R. Bardsley deve ter favorecido a arrancada
definitiva para a hegemonia tecnológica.
O aperfeiçoamento tecnológico favoreceu a posição concorrencial da fábrica em relação às demais. Os percalços, como a
explosão de uma caldeira em 1928, não travaram o avanço. Em 1929, estando já em pleno funcionamento o sistema Hinton-
Naudet, a diferença era abismal. Assim, enquanto a Companhia Nova só podia laborar 100 toneladas de cana em 24 horas a
fábrica do torreão atingia as 500 toneladas, para conseguir-se em 1920 as 608 toneladas. As medidas de 1939, que conduziram
ao encerramento de 48 fábricas de aguardente em toda a ilha, favoreceram a tendência monopolística da safra da cana sacarina.
Alguns dados da laboração do engenho revelam a dominação a partir de 1907.
Ano.......Fábrica Torreão........Total
1903 ................7.570
1904 ................7.153 ...........30.000
1905 ................8.169 ...........43.418
1906 ..............13.450 ...........36.000
1907 ..............21.855 ...........36.000
1908 ..............24.168 ...........30.000
1909 ..............32.582
1910 ..............35.633 ...........75.000
1911 ..............39.970
1912 ..............48.359 ...........71.266
1913 ..............50.860 ...........68.999
1914 ..............54.520 ...........69.065
1915 ..............57.000 ...........67.464
1916 ..............51.500
1917 ..............35.300
1918 ..............26.400
66 Victorino José dos Santos, “Relatorio dos Serviços da Secção Technicos de Industria no Funchal no anno de 1907”, in Boletim do Trabalho Industrial,
nº. 24, 1909.
67 João Higino Ferraz, Copiador de Cartas [1898-1905], fl.40, 29 de Dezembro.
68 Ibidem, fl.77, 7 de Dezembro de 1901.
69 Ibidem, fl.85, 14 de Setembro de 1902.
70 Ibidem, fl.127, 25 Julho de 1904.
29
Ao mesmo tempo o fabrico de açúcar foi em crescendo de qualidade, como o evidencia insistentemente João Higino Ferraz.
Os dados resultantes dos primeiros anos do século XX são comprovativos:
Incêndio no engenho do
Hinton.1917
30
Em 25 de Novembro de 1917 um curto-circuito nos fios da luz eléctrica esteve na origem da destruição do sistema de
destilação, o que obrigou ao uso de outros destiladores até que em Outubro do ano seguinte estivesse operacional71. Mas isto
não fez perigar a tendência monopolística do engenho do Torreão, como se poderá verificar pela laboração do Sul em 1929:
A questão Hinton é uma constante desde finais do século XIX e não passa ignorada mesmo pelos estrangeiros. Já em 1882
J. Rendell72 refere que o engenho era o mais importante. Em 1894 C. Gordon é peremptório: “…the great bulk of the sugar
industry of the island is in the hands of one english firm”73. Já W. Koebel, em 1909, não hesita em afirmar que a industria
açucareira está dependente do monopólio da firma Hinton74. Em 1927 o Marquês de Jácome Correia testemunha o facto de a
fábrica do Torreão ter “a fama de ser uma fábrica modelar”, pelos seus “complexos mecanismos, a organização fabril e a
importância da produção”.75 Também o Padre Fernando Augusto da Silva não se poupa em elogios à acção empreendedora da
família que criou “a fabrica mais aperfeiçoada do mundo”.76
A alma do complexo industrial açucareiro da família Hinton, a partir de 1898, era João Higino Ferraz, que assumiu as
funções de gerente do engenho, sendo um dos colaboradores directos de Harry Hinton. A sintonia e empenho de ambos fizeram
com que a ilha apresentasse entre finais da centúria oitocentista e inícios da seguinte uma posição destacada no sector, atraindo
as atenções a nível mundial.
João Higino Ferraz afirma-se como o perfeito conhecedor da realidade científica do engenho. Opina sobre agronomia, como
sobre mecânica e química. E mantém-se sempre actualizado sobre as inovações e experiências na Europa, nomeadamente em
França. Da lista de contactos e conhecimentos fazem parte personalidades destacadas do mundo da química e mecânica, com
estudos publicados. Assim, para além dos contactos assíduos com Naudet, refere-nos com assiduidade os estudos de Maxime
Buisson, M. E. Barbet, M. Saillard, F. Dobler, M. D. Sidersky, Luiz de Castilho, M. H. Bochet, M. Effort, M. Gaulet
O Hinton acolhe especialistas de todo o mundo, na condição de visitantes, ou como contratados para a execução dos
trabalhos especializados. O engenheiro Charles Henry Marsden foi um deles e sabemos que aí trabalhou entre 1902 e 1937,
altura em que saiu doente para Londres onde faleceu no ano imediato. A presença está documentada pelo menos entre 1918,
1929 e 1931. Temos também o engenheiro químico agrícola Maxime Buisson, que em 1902 trabalhava no laboratório77. Para o
fabrico de açúcar contratava-se os afamados “cuiseurs” em França de forma a seguir-se à risca as orientações de Naudet.78 M.
Frederique, que já havia trabalhado na Martinica, “sabe bem do seu officio é muito cuidadoso no seu trabalho; é sóbrio e
delicado”79, o que contribuiu para uma safra excepcional. Noutras ocasiões o serviço foi um desastre, como sucedeu em 1930,
quando Marinho de Nóbrega era o químico oficial do engenho80.
Para os anos vinte e quarenta do século XX a voz pública de reprovação ao favorecimento, dito monopólio, teve expressão
frequente no jornal humorístico RE-NHAU-NHAU. A figura de Harry Hinton e apaniguados é o alvo do intrépido desenhista,
que pretende dar voz ao “Zé Povo”81.
71 Vasco F. Campos e Alberto Malho, O Bombeiro Madeirense e a sua História, Funchal, 1963, pp. 65-66; Cf. João Higino Ferraz, [Copiador de Cartas
1917-1919], fl. 26, 2 de Outubro de 1917.
72 Concise Handbook of the Island of Madeira, Londres, 1882, p. 33.
73 The flower of the Ocean, Londres, 1894, p. 92
74 Madeira. Old and New, Londres, 1909, p. 128
75 A Ilha da Madeira, Coimbra, 1927, p. 98
76 Elucidário Madeirense, vol. II, Funchal, 1965, p.117
77 João Higino Ferraz, Copiador de Ccartas [1898-1905], fls.89-90, 22 de Setembro de 1902.
78 João Higino Ferraz, Copiador de Cartas [1898-1905], fl.137, 22 de Agosto de 1904.
79 João Higino Ferraz, Copiador de Cartas [1898-1905], fl.145, 29 de Agosto de 1904.
80 João Higino Ferraz, [Copiador de Cartas. 1929-1930], 10 de Junho de 1930.
81 Emanuel Janes, “A Casa Hinton, o Açúcar e o RE-NHAU-NHAU (1929-1977)”, in História do Açúcar. Rotas e Mercados, Funchal, 2002, pp. 565-598
31
Livros de Notas. Arquivo Particular de J. H. Ferraz
32
A IMPORTÂNCIA DO ACERVO DOCUMENTAL DE JOÃO HIGINO FERRAZ
O arquivo do engenho do Hinton, por força das circunstâncias atrás descritas, é fundamental para o conhecimento da história
contemporânea da agricultura madeirense. Todavia a forma conturbada como sucedeu o processo de desmantelamento da
estrutura para a construção de um jardim público conduziu a que toda esta memória desaparecesse. Felizmente tivemos a
possibilidade de encontrar alguns testemunhos avulsos no arquivo particular de João Higino Ferraz (1863-1946), que aí
trabalhou como técnico desde finais do século XIX e acompanhou o processo de montagem do engenho do Torreão82.
A documentação disponível, copiadores de cartas, livros de notas e apontamentos, são um dado raro na História da Técnica
e da Indústria. Não se conhecem casos idênticos de livros de apontamentos em que o técnico documenta, quase minuto a minuto,
o que sucede na fábrica, desde os percalços do quotidiano às questões técnicas e laboratoriais. E, se tivermos em conta que a
mesma documentação abrange um período nevrálgico da História de Indústria Açucareira, marcada por permanentes inovações
no domínio da metalomecânica e química, teremos definida a importância deste tipo de espólio, que mais se valoriza pelo facto
de ser o único até hoje divulgado e conhecido. Tenha-se em conta que através destes documentos sabemos quase tudo o que se
fazia na fábrica em termos de mudanças de equipamento:
1898 Montagem de dois novos difusores e sistema de corte de cana para a safra do ano seguinte
1900 Aparelhos de difusão de que João Higino Ferraz tinha os direitos
Filtros Manoury
1901 Centrifugas e Turbinas Weston
1902 Montagem de 4 difusores
1905 Valdeira vapor Babcock
1906 Mudança do aparelho de triple-effet
Novo processo de destilação directa da cana
1907 Instalação da cadeira de vácuo e melaxeurs
Turbinas Weston e engenho Harvey & Cº
1910 Alterações no equipamento no sentido de aumentar a capacidade de produção para 500 toneladas
1911 Aparelhos Kestner para açúcar areado e filtros seits.
1917 Montagem de novo aparelho de destilação, perdido num incêndio.
1929 Sistema Hinton-Naudet modificado
1939 Montagem de aparelho de quadruple effet por H. Marsden
82 Graças à disponibilidade da família tivemos acesso ao seu arquivo pessoal, onde fomos encontrar vários copiadores de cartas (são nove livros) sobre a
actividade no engenho, que compreende os anos de 1898 a 1937. Todavia trabalhou no engenho entre 1898 e 1946.
33
O conjunto de 9 livros referentes às cartas abarca um período crucial da vida do engenho do Hinton [1898-1937], marcado
por profundas alterações na estrutura industrial, por força das inovações que iam acontecendo. A partir deste acervo de cartas é
possível saber tudo isso, mas também induzir algo mais sobre o funcionamento desta estrutura. Ao mesmo tempo ficamos a
saber que João Higino Ferraz era em Portugal uma autoridade na matéria, prestando informações a todos os que pretendessem
montar uma infra-estrutura semelhante. Assim, em 1928 acompanhou a montagem do engenho Cassequel em Lobito, onde a
família Hinton tinha interesses, e esteve em Junho de 1930 em Ponta Delgada nos Açores a ensinar a fermentar melaço na
Fábrica de Santa Clara de açúcar de beterraba.
Harry Hinton surge em quase toda a documentação como um interveniente activo no processo, conhecedor das inovações
tecnológicas e preocupado com o funcionamento diário do engenho, nomeadamente com a sua rentabilidade. E, certamente que
J. H. Ferraz não o ludibriava no sentido de que de uma forma quase diária informava de tudo o que se passava.
A proximidade do Funchal aos grandes centros de decisão e de inovação tecnológica da produção de açúcar a partir de
beterraba, na França e Alemanha, associados aos contactos de H. Hinton e ao seu espírito empreendedor fizeram com que a
Madeira estivesse na primeira linha da utilização da nova tecnologia. Em 1911 documentam-se diversas experiências com
equipamento. Além disso funcionava como espaço de adaptação da tecnologia de fabrico de açúcar a partir da beterraba para a
cana sacarina. Daí as diversas deslocações de J. H. Ferraz a França [1904, 1909] e os permanentes contactos com alguns
estudiosos e fábricas. Tenha-se em conta que o mesmo era sócio de l’Association des Chimistes em França, sendo por isso leitor
assíduo do seu Bulletin83. Por outro lado alguns inventores, Naudet (em 1904), e engenheiros de diversas unidades na América
(Brasil e Tucuman), Austrália e África do Sul estavam em contacto com a realidade madeirense ou faziam deslocações para
estudar o caso do engenho madeirense.
A erudição de J. H. Ferraz era vasta, dominando toda a informação que surgia sobre aspectos relacionados com o processo
industrial e químico do fabrico do açúcar. Para além da leitura do Bulletin de l’Association des Chimistes, temos referências à
leitura do Journal des Fabricants de Sucre, podemos documentar na sua biblioteca a existência de diversos livros da
especialidade, muitos deles referenciados nos livros de notas ou cartas. Aliás, é insistente, nas cartas que manda a Harry Hinton
no estrangeiro, o pedido de publicações recentes. Do conjunto das publicações disponíveis ainda hoje no acervo bibliográfico
podemos salientar as seguintes:
1. BASSET, N., Guide du Planteur de Cannes. Traité Théorique et Pratique de la Culture de la Canne a Sucre, Paris,
Challamel et C, Éditeurs, 1889.
2. IDEM, Guide Pratique du Fabricant de Sucre, Paris, Librairie Scientifique Industrielle et Agricole, 1861.
3. IDEM, Guide Théorique et Pratique du Fabricant d` Alccols et du Distillateur, Première Partie – Alcoolisation, Paris,
Librairie Scientifique, Industrielle et Agricole, 1868.
4. BEAUDET, L., PELLET, H., Traité de la Fabrication du Sucre de Betterave et de Canne, tomo I, Paris, J. Fritsch Éditeur,
1894.
5. BOULLANGER, E., Encyclopédie Agricole. Matérie de Brasserie I, Paris, Librairie J. – B. Baillière et Fils, 1921.
6. BUCHELER, Le D.r M., Manuel De Distillerie. Guide Pratique pour l`Alcoolisation Des Grains, Des Pommes de Terre
et Des Matières Sucrées, Paris, Librairie Polytechnique, Ch. Béranger Éditeur, 1899.
7. IDEM, LÉGIER, Émile, Traité de la Fabrication de L` Alcool, Tome I e II, Paris, Librairie Scientifique et Industrielle,
1899.
8. Bulletin de l’Association des Chimistes de Sucrerie et de Disttillerie de France et des Colonies, Tome XVIII, 1900-1901,
Paris, siège Social 156, Boulevard Magenta 156
9. Bulletin de l’Association des Chimistes de Sucrerie et de Disttillerie de France et des Colonies,Tome XXIX, 1911-1912,
Paris, Siège Social 156, Boulevard Magenta 156.
10. CHAPTAL, Citoyen, L`Art de Faire, Gouverner et Perfectionner Les Vins, s.d.
11. COLSON, Léon, Culture et Industrie de la Canne a Sucre aux Iles Hawai et a la Réunion, Paris, Augustin Challamel,
Éditeur, 1905.
12. DEJONGHE, Gaston, Traite Complet théorique et Pratique de la Fabrication de l` Alcool et des levures, Tome III, Lille,
Typographique et Lithographique le Bigot Frères, 1903.
83 Nas cartas e livros de notas são referenciados os volumes de 1903, 1906-7, 1915-16, 1917-18, 1923-24, 1932, de que encontramos ainda hoje alguns
volumes no espólio da sua biblioteca.
34
Literatura técnica e científica. Espólio de João Higinio Ferraz
13. DEJONGHE, Gaston, Traite Complet théorique et Pratique de la Fabrication de l` Alcool et des levures, Tome II, Lille,
Typographique et Lithographique le Bigot Frères, 1901.
14. DUBRUNFAUT, M., Traité Complet de L` Art de la Distillation, Tome second, Paris, Bachelier, Libraire, 1824.
15. DUJARDIN, J., Notice sur les Instruments de Prècision appliqués a l` genologie, cinquième édition, Paris, Chez les
Auteurs.
16. EVANS, W., The Sugar-Planter`s Manual Being a Treatise on the Art of Obtaining Sugar From the Sugar-Cane, London,
Longman, Brown, Green, And Longmans, 1847.
17. GEERLIGS, H C. Prinsen, Tratado de la Fabricación del Azúcar de Caña y su Comprobación Química, Amsterdam, J. H.
De Bussy, 1910.
18. GROBERT, J. de, LABBÉ, G., MANOURY, H., VRESE, O. de, Traité de la Fabrication du Sucre de Betteraves et de
Cannes, Tome Second, Paris, Self-Édition Technique, 1913.
19. GUYOT, Jules, Culture de La Vigne et Vinification, Paris, 1910.
20. HORSIN-DÉON, Paul, Traité Théorique et Pratique de la Fabrication du Sucre de Betterave, Premier Volume, Paris, E.
Bernard et Cie, Imprimeurs-Editeurs, 1900.
21. HORSIN-DÉON, Paul, Traité Théorique et Pratique de la Fabrication du Sucre de Betterave, Deuxième Volume, Paris,
E. Bernard et Cie, Imprimeurs-Editeurs, 1900.
22. JACQUEMIN, Georges, Production Rationnelle et Conservation des Vins, Nancy, A Malzéville, 1909.
23. JULIEN, C. E., LORENTZ, E., Manuels - Roret. Nouveau manuel Complet du Filateur ou Description des Méthodes
Anciennes et Nouvelles Employées pour la conversion en fils des cinq matières organiques, filamenteuses et textiles, Paris,
La Librairie Encyclopédique de Roret, 1843.
24. Le Génie Industriel, Janvier 1869, n.º 217, T. XXXVII, Janvier 1870, n.º 229, T. XXXIX.
25. MAERCKER, Max Doct., Traité de la Fabrication de L` Alcool, Tome I e II, Lille, Imprimerie L. Danel, 1889.
26. MALVEZIN, Frantz, Bordeaux. Histoire de la Vigne et du Vin en Aquitaine, Bordeaux, Imprimerie Gabriel Delmas, 1919.
27. NORMAND, L. Séb. le, L`Art Du Distillateur Des Eaux-de-Vie et Des Espirits, Tomo II; Paris, Chez Chaignieau Ainé,
imprimeur-libraire, 1817.
35
28. PARMENTIER, M., L`Art de Faire les Eaux-De-Vie, d`après la Doctrine de M. Chaptal. Suivi de L`Art de faire Vinaigres
simples et composés, Paris, Libraire de la Faculté de Médicine et des Hospices, 1819.
29. PAYEN, A., Précis de Chimie Industrielle, Paris, Librairie de L. Hachette, 1867.
30. PÉCLET, E., Traité de la Chaleur Considérée dans ses applications, troisième edition, Paris, Librairie de Victor Masson,
MDCCLX.
31. ROBINET, Edouard, Manuel Général Des Vins Champagnes Vins Mousseux, sixième édition, Paris, Librairie Bernard
Tignol, [s.d.].
32. ROUX, J. Paul, La Fabrication de L` Alcool. Production du Rhum, Paris, G. Masson Éditeur, 1884.
33. STAMMER, Charles, Traité Complet Théorique et Pratique de la Fabrication du Sucre, Guide du Fabricant, s.d.
34. Tables de corrections alcoométriques ou de richesse en alcool par dixiémes de decré, Paris, s.d.
35. The Sugar Cane, n.º 66, 107 e 131.
36. Traitements des Vins Nouveaux. Opérations d`Automne et d`Hiver, Troisième partie, deuxiéme volume
37. URBAN, Karel, Anomalies Dans la Fabrication du Sucre, Paris, édite par «La Betterave et les Industries agricoles»,1933.
38. VIOLLETTE, M. Charles, Dosage du sucre. Au moyen des liqueurs titrées, Paris, Gauthier-Villars, 1868.
39. WEINMANN, J., Manuel du Travail des Vins Mousseux description des procédés techniques et pratiques usités en
champagne, quatrième édition, Paris, Charles Amat Libraire-Éditeur, [s.d.].
PÁGINA PUBLICAÇÃO
56 jornal “La Biére” 1º anno nº 10, ou “L’alcool et le sucre” 2º anno nº 5
56 tratado de M. Fernbach
236 livre traitant la fabrication de la Biére moderne et pratique
244 livres de Boullanger (Brasserie); deux volumes de Boullanger (Brasserie)
256 le Bulletin de l’Association des Chimistes
256 L’Oenophile (sur les vins)
256 l’Oenophile
331 Journal des Fabricantes de Sucre Nº 28 de 13 Julho
341 Jornal des Fabricants de Sucre
341 artigos do Jornal des fabricantes de Sucre de Setembro, que tem uns artigos sobre Java
370 Bulletin de l’Association des Chimistes de Junho proximo passado
378 International Sugar Journal de Junho 1931 pag 294
383 Prinsen Geerligs84 no seu tratado de fabricação do assucar de cana (1910) a pag. 106
386 Prinsen Geerligs85 no seu tratado sobre assucar de cana (1910) pag. 106 e seguintes e pag. 119
388 Ver tratado de Geerligs pag 119) (tradução Espanhola)
84. GEERLIGS, H C. Prinsen, Tratado de la Fabricación del Azúcar de Caña y su Comprobación Química, Amsterdam, J. H. De Bussy, 1910.
85 Ibidem.
36
João Higino Ferraz. Arquivo particular da Família de J. H. Ferraz
37
38
JOÃO HIGINO FERRAZ [1863-1946]
É filho de João Higino Ferraz e neto de Severiano Alberto Ferraz, o primeiro a construir um engenho a vapor na ilha da
Madeira, no ano de 1856. Nasceu no Funchal a 1863. Foi na fábrica do tio que travou contacto com o mundo do açúcar.
A fábrica da família da Ponte Nova terá sido estabelecida entre 1848 e 1856. À morte do promotor, por “cólera morbus” em
1856, os descendentes—João Higino Ferraz (pai), Severiano Alberto Ferraz e Ricardo Júlio Ferraz— criaram a sociedade
Ferraz Irmãos. Foi aí que em 1881, o jovem de 18 anos, iniciou a actividade como gerente com o tio Severiano, até 1886, altura
em que foram forçados a vender a fábrica em praça pública. Liquidada a fábrica esteve dois anos sem emprego até que em 1888
arrendou em sociedade com o tio, João César de Carvalho, a fábrica de destilação da Ponte Deão, de Severiano Cristóvão de
Sousa. No ano imediato entrou para a do Torreão da firma William Hinton & Sons como técnico de fabrico de açúcar e álcool,
assumindo a gerência industrial e técnica.
Num manuscrito da mão do próprio diz que em 1900 assinou contrato com a fábrica do amigo Harry Hinton que o vinculou
até à morte em 1946. Todavia, e de acordo com o primeiro copiador de cartas, sabemos que desde 18 de Outubro de 189886
estava ao serviço da firma, como se pode confirmar da carta ao amigo e patrão Harry Hinton solicitando a presença no engenho
em construção para poder decidir sobre a forma de disposição das máquinas.
No sentido de dar continuidade ao processo de modernização da fábrica do Torreão esteve de visita aos complexos
industriais franceses que laboravam a beterraba para o fabrico de açúcar. A visita foi proveitosa, reflectindo-se nas
modernizações do sistema do engenho do Hinton. Certamente que esta experiência foi importante para a saída que fez em 1930
a Ponta Delgada (S. Miguel) para dar alguns ensinamentos sobre o processo de fabrico de açúcar, nomeadamente a fermentação
do melaço.
Em Julho de 1927 embarcou para Lobito com Charles Henry Marsden (1872-1938), um engenheiro natural de Essex
responsável pela modernização do engenho da casa Hinton, para aí montar uma estrutura mais moderna no engenho Cassequel,
propriedade da casa Hinton. Aí permaneceu 103 dias, regressando ao Funchal a 13 de Dezembro de 1928. O diário da saída,
compilado numa agenda, documenta o processo de montagem da fábrica e as dificuldades de adaptação das peças ao conjunto
da estrutura.
Em 1945 lamentava-se: “sou pois técnico em Fabricas assucar e alcool, desde 1884 a 1945 = 61 anos. Não tenho direito a
ter o titulo de Tecnico de Fabrica assucar e álcool? Oficialmente em Portugal. (…) Desejava pois obter o titulo Oficial [sic]
de tecnico de Fabricas açucar e alcool ou como Tecnico pratico de Fabricas assucar e alcool”. Mas, acabou morrendo sem
que fosse reconhecido o gigantesco trabalho como técnico, a principal alma da permanente actualização tecnológica e química
da Fábrica do Hinton, que foi na época uma das mais avançadas tecnologicamente.
A ideia está presente também no testemunho do próprio: N’estes longos anos (60), assisti a variados systemas de fabrico,
desde quasi o inicilo[sic] de maneiras antigas no fabrico do açúcar de cana, destilação, etc. etc, acumpanhando sempre os
progressos n’estas industrias até hoje, principalmente desde 1900 a 1944, na fábrica do Torrão[sic], onde posemos em trabalho
86 João Higino Ferraz, Copiador de Cartas [1898-1905], fol.1.
39
consecutivamente os systemas os mais aprefeissoados e mais modernos no fabrico de açucar e álcool, devido principalmente
ao meu caro Amigo Harry Hinton, como chefe inteligente e progressivo, não poupando energias e capitaes para qualquer
transformação a ser operada na sua Fabrica, ou fossem as ideias minhas ou delle proprio: Tem elle um intuito de progresso
bem orientado, que é raro em muitos industriaes.
É isso de que me orgulho, por têr sido o coadjutor companheiro de um Industrial d’esta natureza.”
Da correspondência com Harry Hinton transparece uma perfeita sintonia entre os dois que favoreceu o processo de
permanente actualização tecnológica e química. Ambos partilhavam a mesma paixão pela indústria e afirmação do engenho do
Torreão. João Higino Ferraz não receia em manifestar por diversas vezes a amizade que o prende ao patrão. Em 191787 confessa
que “Harry Hinton é um dos meus melhores amigos”. Passados dez anos confessa que a viagem a África sucede apenas “para
ser agradável ao senhor Hinton a quem devo amizade e reconhecimento.”88
João Higino Ferraz era o superintendente, mas acima de tudo um cientista que procura aperfeiçoar os conhecimentos de
Química e Tecnologia, através do confronto da literatura estrangeira e da sua capacidade inventiva89. Mantém-se actualizado
através da leitura das publicações, fundamentalmente francesas. Nos estudos manifesta-se um cientista arguto que não detem a
atenção apenas na cana sacarina, pois estuda e opina sobre o uso de outros produtos no fabrico de açúcar e álcool, como é o
caso da batata e aguardente.
Se confrontarmos a literatura científica do momento mais significativo de finais do século XIX até à segunda Guerra
Mundial, verificamos que a informação é permanentemente actualizada e pauta-se por padrões de qualidade, dispondo de
informações sobre os métodos mais avançados, como dos estudos dos engenheiros químicos e industriais que marcaram o
processo tecnológico do momento. Aliás, mantem contacto com inúmeras associações científicas europeias, como era o caso de
Association des Chimistes de Sucrerie et de Distillerie. Na correspondência surgem assiduamente nomes de cientistas europeus
como Barbet, Naudet. É dele o invento de um aparelho de difusão, que em 19 de Novembro de 1898 cedeu os direitos à firma
William Hinton & Sons. Naquilo que resta da sua biblioteca fomos encontrar um conjunto valioso de tratados de química e
tecnologia relacionados com o açúcar.
Foram feitas várias experiências e adaptações dos sistemas tecnológicos importados, tudo sob a sua orientação. Em
1929 , em carta ao amigo Avelino Cabral em Lobito, refere: Como tenho tido tempo estou em estudos e experiências com o
90
fermento Possehl’s no laboratório, e tenho obtido cousas bastante curiosas nas culturas feitas.”Ainda em carta ao mesmo refere
a utilidade das inovações e experiências: “para que a parte comercial de uma indústria dê o resultado, é necessário ver também
a parte industrial ou technica.”91
Apenas em 1922 temos informação de quanto auferia João Higino Ferraz pelos serviços prestados à fabrica Hinton. De
acordo com memorial que enviou a Harry Hinton o ordenado como gerente técnico foi o seguinte:
Para o novo contrato a celebrar reclamava 63 libras mensais, sendo o câmbio realizado mensalmente, ficando “com pulso
livre para fazer e derigir as minhas pequenas industrias fora de açucar, alcool e aguardente, não prejudicando por estes meus
trabalhos a direcção technica da Fabrica de açucar e alcool do Torreão…”92
João Higino Ferraz fica para a História como um dos principais obreiros da modernização do engenho do Hinton ocorrida
na primeira metade do século. Enquanto esteve à frente dos destinos da fábrica, de 1898 a 1946, foi imparável na sua adequação
aos novos processos e inventos que iam sendo divulgados, não se coibindo mesmo de fazer algumas experiências com o
equipamento e os produtos químicos.
40
João Higino Ferraz.
Arquivo da família de J. H. Ferraz
93 1 folha, papel, 27,2 cm x 21,4 cm, em razoável estado de conservação, dobrada em jeito de caderno, tendo assim 4 páginas. 3 destas páginas têm nelas
inscritas informes autobiográficos. No que diz respeito à última página, estamos perante cálculos matemáticos vários e algumas palavras
descontextualizadas, tudo disposto de forma desordenada, pelo que a transcrição de tal informação é desnecessária. A numeração é nossa.
41
João Higino Ferraz Junior, vim de Lisboa (dos meus estudos) com 18 anos de edade, em 1881, para a Fabrica Ferraz Irmãos
Com a liquidação da Firma Ferraz Irmãos em 1886, estive 2 anos sem emprego algum, mas em 1888, devido ao meu (nosso)
amigo Joaquim de Sousa, arrendei a fabrica de destilação do pae de Joaquim de Sousa, o velho amigo de <meu> Pai Cristão de
Sousa na Ponte do Deão, até 1899 = // [2] 11 anos no Deão, no Fabrico de aguardente de cana e alcool de melaço importado
das Weste Indias, (Demerá[sic] e Trindade) pela firma Francisco Rodrigues & C.ª (Pedro)
Em 1899, liquidei com o arrendamento que tinha, de Sociadade com meu tio (materno) João Cezar de Carvalho, porque por
pedido e instado pela Firma William Hinton & Sons (Fabrica do Torreão) passei a ser gerente tecnico da Fabrica de assucar e
alcool, junto com o meu querido e velho amigo Harry Hinton, chefe da firma, que devia ter 44 anos e eu 37 anos.
Entrei no serviço da Fabrica do Torreão em 1899, e definitivamente, pelo contrato feito em 1900, com[sic] gerente tecnico.
Tenho pois 45 anos como tecnico da Fabrica do Torrão[sic], com 81 anos
Sou pois fabricante de assucar aguardente e alcool á 60 anos!!! //
[3] A Firma antiga da Fabrica da Ponte Nova dos Ferrazes, era constituida pelos filhos de Severiano Alberto de Freitas Ferraz
e de minha avô paterna Leonor, e são:
João Hygino Ferraz
Severiano Alberto Ferraz
Dr. Ricardo Julio Ferraz, engenheiro de Pontes e Calçadas da escola de França.
1º Guarda Livros, João Fradeço Bello (irmão de minha avô materna)
2º guarda Livros, João Cezar de Carvalho (irmão de minha mae Sofia de Carvalho Ferraz)
Meu avôu [sic] materno – Tenenente [sic] Coronel de artilharia Carvalho
Minha avô materna – Carolina Fradeço de Carvalho.
(1944)
94
[1] Notas sobre os descendentes de Meu Avóu[sic] Severiano Alberto Ferraz, desde 1848 até 1944, depois de feitos
os meus 81 anos de vida (96 anos totaes).
1º Tenho um livro antigo de notas de meu Avou Severiano Ferraz (1848), sobre a sua industria de destilação de vinhos da
Madeira, xaropes d’uva (arrobo) e refinação de açucar de cana bruto, antes da existencia da Fabrica de açucar de cana da Ponte
Nova (Funchal) da firma “Ferraz Irmãos”, já não existente.
Meu Avou morreu do Colera Morbos em 1856, deixando filhos do 2º casamento com D. Leonor.
2º Temos que, de 1856 e 1848 vão 8 anos, e assim parece que a Fabrica de açucar da Ponta Nova foi establecida n’este
entervalo dos 8 anos.
Quando? É isso que não tenho notas exactas.
No intervalo dos 8 anos (1848 e 1856), e talvez depois ou antes da morte de Meu Avou, Meu Pae e tios fizeram a Sociadade
“Ferraz Irmaos”, e principiaram a fundação da Fabrica de açucar.
Os Socios da Firma erão:
Meu Pae – João Hygino Ferraz
Tio – Severiano Alberto Ferraz
“ – Ricardo Julio Ferraz, Dr. em Pontes e Calçadas da França, onde tirou o seu corsso de Engenharia.
Meu tio Dr. Ricardo J. Ferraz perdeu o seu braço esquerdo no moinho de cana da Fabrica, no 2º ano do seu inicio de
Laboração, e saio para Lisboa e ahi se estableceu, e uns anos depois (?) foi para São Miguel, Açores, como Engenheiro da Doca
de Ponta Delgada, onde casou com D. Catarina Ivens.
Voltou novamente para Lisboa, como Engenheiro da Comp.ª das Aguas, e foi eleito Deputado pela Madeira. Foi n’esta
ocasião que a firma // [1v] Ferraz Irmãos estableceu negocio de vinho em Lisboa, sobre a direção do Socio da firma, Dr. Ricardo
J. Ferraz.
3º A firma Ferraz Irmãos, depois da morte de meu tio Severiano Ferraz, teve que liquidar sendo vendida a Fabrica da Ponte
Nova ao capitalista de Demerára Manica, que na praça de venda, foi o que ofereceu valor meior.
94 2 folhas, papel, 32 cm x 22 cm, em bom estado de conservação. Os retros das folhas estão numerados. Este manuscrito, mais extenso e lógico, congrega
e desenvolve as informações veiculadas no documento anterior.
42
Nota: Na ocasião da praça, o meu antigo amigo H. Mails, propos-me fazer uma Sociedade entre eu e elle para a sua compra,
sendo elle o socio Capitalista. Não ficamos, porque Manica oferecu[sic] mais (!).
A duração da Firma Ferraz Irmãos, devia ser pouco mais ou menos de 1850? até 1886 = 36 anos de Existencia, a 40 anos
no maximo (?).
4º Principiou os meus trabalho [sic] na Fabrica de açucar e alcool da Ponte Nova em 1881, tendo eu 18 anos, quando voltei
de Lisboa por ordem de meu tio Severiano, ultimo subrevivente da Firma Ferraz Irmãos, depois ou ainda, dos meus estudos em
Lisboa.
Estive pois eu, e meu tio Severiano, desde 1882 a 1886 (4 anos) com[sic] gerentes da firma Ferraz Irmãos.
5º Com a liquidação da Fabrica da Ponte Nova, estive 2 anos sem emprego, mas em 1888, devido ao nosso saudoso amigo
Joaquim de Sousa, consegui arrendar a fabrica de destilação da Ponte do Deão, de cana de açucar para fabrico de aguardente,
pertencente ao velho amigo de meu pai e tio Severiano, Cristovão de Sousa, Pai de Joaquim de Sousa, até 1899 (11 anos). //
[2] 6º Principia agora em 1899, a minha nova vida em fabricas de açucar e alcool!.., depois da pratica n’este genero de
Industria de 17 anos, isto é, de 1882 a 1899.
Entrada para a Fabrica do Torreão da firma William Hinton & Sons
7º Em 1899, liquidei com o arrendamento da Fabrica da Ponte do Deão, que tinha como meu socio meu tio materno João
Cezar de Carvalho, antigo Guarda Livros da firma Ferraz Irmãos, por instancias do meu sempre amigo o Senhor Harry Hinton,
chefe gerente de William Hinton & Sons, para vir para a sua Fabrica do Torreão como tecnico do fabrico de açucar e alcool da
dita fabrica, em vista de se vêr sosinho na gerencia Industrial tecnica e comercial.
Asseitei a oferta da proposta finalmente, e por generosidade de Harry Hinton, têr-se obrigado a dár uma mezada a meu tio
João Carvalho (meu socio no Deão) emquanto vivo fosse.
Entrei pois como gerente tecnico na fabrica do Torrão, em 1899, e defenitivamente em 1900 por contrato establecido, sem
tempo determinado. Tinha eu em 1899 a edade de 36 anos, e o meu amigo e chefe Harry Hinton 43 anos.
8º Tenho pois estado sempre como Tecnico na Fabrica do Torreão, desde 1900 a 1944 = 44 anos, tendo actualmente 81 anos
de edade!!
Sou pois fabricante de açucar e alcool á 60 anos!?
25/11/944 [Ass:] João Higino Ferraz Nasci em 1863 //
[2v] Nota: N’estes longos anos (60), assisti a variados systemas de fabrico, desde quasi o inicilo[sic] de maneiras antigas no
fabrico do açuar[sic] de cana, destilação etc. etc., acompanhando sempre os progressos n’estas Industrias até hoje,
principalmente desde 1900 a 1944, na Fabrica do Torrão[sic], onde posemos em trabalho consecutivamente os systemas os mais
aprefeissoados e mais modernos no fabrico de açucar e alcool, devido principalmente ao meu caro Amigo Harry Hinton, como
chefe inteligente e progressivo, não poupando energias e capitaes para qualquer transformação a ser operada na sua Fabrica, ou
fossem as edeias minhas ou d’elle proprio: Tem elle um instinto de progresso bem orientado, que é raro em muitos Industriaes.
É isso de que me orgulho, por têr sido o cudjutor[sic] companheiro de um Industrial d’esta natureza.
[Ass:] João Higino Ferraz
Casei a 6 de Junho de 1891, tendo os seguintes filhos:
Mathilde (já falecida)
Maria Elisa (doente!)
Maria Sofia (casada com Tenente[?] Coronel Santos Pereira95)
João (casado com Dolly Claude)
Maria Amelia (solteira).
96
João Higino Ferraz Júnior Nasci a 12 outubro de 1863
Filho de João Higino Ferraz, fundador da Firma <Ferraz Irmãos>
Tomei conta como tecnico Fabrica Ferraz Irmãos em 1884, com 21 ano [sic]
“ “ como tecnico Fabrica William Hinton & Sons em 1900, com 36 anos
De 1900 a 1945 = 45 anos na Fabrica Hinton – 1945, tenho 81 anos
43
Sou pois tecnico em Fabricas assucar e alcool, desde 1884 a 1945 = 61 anos.
Não tenho direito a têr o titulo de Tecnico de Fabrica assucar e alcool?
Oficialmente em Portugal.
Os Socios da Firma – Ferraz Irmãos, eram:
João Higino Ferraz
Severiano Aberto[sic] Ferraz (Tecnico)
Dr. Ricardo Julio Ferraz (Enginheiro civil) <de> Pontes e Calçadas
(Dr. Ricardo Julio Ferraz Estudos em França) da França) [sic]
Firma William Hinton & Sons (Fabrica assucar e alcool do Torrão[sic])
Desejava pois obter o titulo Ofical[sic] de Tecnico
de Fabricas açucar e alcool.
ou como Tecnico pratico de Fabricas assucar e alcool
CONCLUSÃO
A Madeira marcou um passo decisivo na História da cana-de-açúcar entre os séculos XV e XX. Todavia, ao contrário do
que sucede com o vinho, a cultura não se manteve como uma constante da História da ilha, notando-se um hiato no século
XVIII. O vinho que a partir de meados do século XVI havia retirado espaço à cana sacarina estava agora, em meados da centúria
oitocentista, a ser dominado pelo retorno dos canaviais. A cultura expandiu-se a Norte e a Sul, tornando-se num dos factores
mais importantes de animação da agricultura e da indústria.
Em qualquer dos momentos a Madeira esteve na linha da frente das inovações tecnológicas. Nos séculos XV e XVI acresce
a função de distribuição da cultura e técnica em todo o espaço atlântico. Para finais do século XIX e princípios do seguinte
ficaria reservado papel pioneiro no ensaio de algumas técnicas e sistemas de fabrico de açúcar e aguardente que revolucionaram
todo o processo industrial. Para isso foi importante a acção de João Higino Ferraz, que na qualidade de gerente técnico do
engenho do Torreão, conseguiu manter contactos estreitos com os ensaios feitos em França, de que o sistema de Naudet é
exemplo. Foi na ilha que se ensaiaram de novo alguns processos tecnológicos e químicos, que depois adquiriram um papel de
relevo no processo de industrialização do fabrico de açúcar e aguardente. Daqui resulta a necessidade e importância da
publicação do acervo documental que se segue.
44
A DOCUMENTAÇÃO
O corpo documental que agora sai do prelo provém do arquivo privado pessoal de João Higino Ferraz – director técnico da
Fábrica do Torreão, da firma William Hinton & Sons – e pode ser seccionado em três partes fundamentais: uma primeira
constituída por nove Copiadores de Cartas; uma segunda por vários volumes a que damos o nome de Livros de Notas; e, por
fim, documentação avulsa. Esta organização do arquivo pessoal de J. Higino Ferraz é, de certa forma, artificial, dado que foi
feita por nós e não pelo autor. De facto, se quisermos, é já uma elaboração arquivística que decorre da análise do conteúdo e da
tipologia dos vários documentos que compõem tal espólio.
A primeira parte, composta por nove livros onde Higino Ferraz conservou, em cópia, muita da correspondência por si
remetida, e não só, cobre o período de 1898 até 1937, com um hiato temporal existente de finais de 1913 a inícios de 1917, e
outro, possivelmente, de Janeiro a Outubro de 1919. Julgamos que estas lacunas deveriam estar contempladas em dois volumes
autónomos (temos uma leve certeza para o primeiro período, mas o mesmo já não podemos garantir relativamente ao segundo);
contudo, se existiram, não chegaram esses livros até nós. A designação de Copiador de Cartas foi por nós tomada, pois os dois
primeiros livros, que cobrem o período de 1898-1913, evidenciavam este título na capa – não aposto por João Higino Ferraz,
mas como denominação da finalidade dos volumes. Entendemos por bem atribuir a mesma designação a todos os livros97,
seguida da referência aos lapsos de tempo que abarcam.
Cumpre ainda acrescentar que nem toda a correspondência remetida por João Higino Ferraz está presente nestes livros e que
nem toda a documentação neles inserida é composta por epístolas. Ver-se-á que algumas cartas enviadas, sobretudo
dactilografadas, delas guardou o autor cópia sob a forma avulsa, estando as mesmas – aquelas a que tivemos acesso – transcritas
no final do presente volume. Fizemos preceder cada carta transcrita por uma informação sumária concernente à data,
destinatário e local, quando possível, para que existisse uma mais rápida percepção por parte do leitor.
Ao longo da transcrição demo-nos conta de que alguma informação exarada nos Copiadores não era, com efeito, composta
por epistolografia, mas sim por relatórios, cálculos, estimativas de produção, lucros e despesas, etc.. Antepusemos a cada um
dos informes deste teor a menção à sua data, destinatário, se conhecido fosse, e uma breve caracterização.
Uma segunda secção deste espólio documental transcrito é constituída por anotações e apontamentos vários – inscritos em
livros autónomos –, versando nomeadamente sobre produtos, processos, aparelhos e técnicas industriais de produção e
transformação de açúcar, álcool e aguardente; quase todos estes volumes têm título atribuído por João Higino Ferraz, que é
respeitado e aceite por nós. Ainda que algo artificial, a denominação por nós dada a este conjunto, Livros de Notas, advém dos
próprios títulos atribuídos pelo autor.
97 Um copiador é, entre outras coisas, um «Livro em que se copiam cartas ou outros documentos» (FARIA, Maria Isabel, PERICÃO, Maria da Graça –
Dicionário de Livro, s.l., Guimarães Editores, s.d.), designação que vai perfeitamente de encontro às características dos livros transcritos. Considerando
assim que os Copiadores de Cartas envergam títulos que, em parte apenas ou na sua totalidade, foram por nós atribuídos, os mesmos são por isso inscritos
entre parêntesis rectos: [ ]. Algo idêntico acontece, diga-se desde já, com dois Livros de Notas.
O modo pelo qual Higino Ferraz procedia à cópia da informação era simples e banal: entre a folha epistolar a remeter e o fólio do Copiador era inserida
uma folha de papel químico que permitia o decalque das palavras grafadas. Por vezes esse decalque era feito, por razões várias, de forma deficiente, e daí
que muitas palavras tenham sido de difícil – se não impossível – leitura. Aparte os dois primeiros livros, os restantes copiadores incluíam já a folha
epistolar, que era depois destacada pelo autor.
45
A última secção, enfim, é constituída por documentação avulsa, e abarca: documentos epistolares, saídos do punho de
Higino Ferraz (particularmente cópias de cartas) ou tendo-o como destinatário (sendo seus autores, por exemplo, Harry Hinton,
Marinho de Nóbrega, Antoine Germain, etc.); documentos referentes a aparelhos, processos e técnicas de fabrico e
transformação de açúcar, álcool e aguardente (à imagem da informação exarada nos Livros de Notas); anotações manuscritas
que João Higino Ferraz lançou nos forros da capa ou folhas de guarda de alguns livros ou manuais por si usados, que versavam
sobre a cultura e produção de cana sacarina e seus derivados98; e, ainda, apontamentos auto-biográficos. Dividimos esta
documentação em duas subsecções: a primeira, composta pelos mencionados apontamentos auto-biográficos (já transcritos
acima) e pelos documentos epistolares avulsos (que achamos bem, como já foi referido, transcrever no final deste volume); a
segunda, constituída pelas restantes fontes, que veiculam notas e experiências respeitantes à produção de derivados de cana
sacarina e que serão editadas em livro separado.
Poderá ficar o leitor com a ideia errada de que estas fontes, no seu conjunto, documentam apenas a função profissional de
João Higino Ferraz enquanto industrial do açúcar, da empresa William Hinton & Sons. Com efeito, esta documentação, por esse
facto, reveste-se de especial interesse para a História da Madeira da 1ª metade do século XX, em especial relativamente à
história da indústria açúcareira, nas suas vertentes económica, social e técnica, mas também nos seus meandros e implicações
políticas. Contudo, não esqueçamos que estamos na presença de um arquivo particular – certa correspondência, por exemplo,
contém, também, informações que ilustram aspectos vários da vida pessoal e familiar de Ferraz, bem como alusões a condições
de vida geral e particular, relações de amizade, concepções políticas, sociais e económicas, entre outras realidades.
A sequência documental dada por nós às fontes transcritas é de cariz cronológico. No que diz respeito a certa documentação
avulsa, sempre que não pudemos saber ou estabelecer, de forma segura, a sua data, relegámo-la para o fim da sua subsecção.
Refira-se que no espólio de Ferraz existem outros Livros de Notas e documentação avulsa que respeitam especialmente a
vinhos, pelo que a sua transcrição e edição fica remetida para um volume separado. A existência dessas fontes deve-se ao facto
de Higino Feraz, a título particular, se ter dedicado a empreendimentos relacionados com produção, transformação e
comercialização de vinhos. Acresce que alguns informes relativos a vinho (experiências, cálculos e demais anotações), estão
também presentes nos Copiadores de Cartas. Ocupam, no entanto, essas informações um espaço residual no conjunto da
documentação agora transcrita.
Levar a cabo a transcrição dos 9 Copiadores de Cartas encontrados no arquivo pessoal de João Higino Ferraz, em posse da
sua família, é uma tarefa que comporta algumas dificuldades. Considerando que uma porção significativa da informação
transmitida nestes livros evidencia uma linguagem específica e eminentemente técnica; atendendo que a documentação cobre
um período temporal relativamente recente, livrando-nos de certos problemas inerentes à transcrição de fontes de séculos
anteriores, mas suscitando, porém, outros de diferente teor; observando, enfim, que ao procedermos a esta transcrição, tivemos
de estabelecer de alguma forma um compromisso entre a informação registada nos vários volumes – a sua linguagem e, por
vezes, configuração – e as ferramentas facilitadas pelo programa informático usado nesta tarefa (o Microsoft Word), escolhemos
seguir as seguintes normas99:
NORMAS DE TRANSCRIÇÃO:
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- p. p.: “proximo passado” ou “proximo presente”; “proche passé”
- p. f.: “proximo futuro”
- p. m. m.: “pouco mais ou menos”
- S. E. O.: “Salvo Erro ou Omissão”
– são desdobradas também todas as abreviaturas e siglas referentes a unidades de medida, entendidas aqui num
sentido lato:
- B, Be: “Baumé”
- c.c.: “centimetro cubico” ou “centimètre cubique”
- C ou cent. ou centi.: “Centigrados”
- Cart., Carti: “Cartier”
- cent.: “centimetro”
- frig., frigos: “frigories”
- gram., gr. ou grm.: “grama”
- H, HL, hect.: “hectolitro” ou “hectolitre”
- hectos: “hectolitros” ou “hectolitres”
- H. P.: “Horse Power”
- k, kilog.: “kilograma”
- l, lit.: “litro”
- m: “metro”
- m/m, mm, m/gr.: “miligrama”
- m2, m3: “metro quadrado”; “metro cubico”
- s: “sacos”, “sacas”
- ton: “tonelada” ou “tonne”
– desdobramos siglas e abreviaturas de teor técnico, que se referem, mormente, a processos, aparelhos e matérias
industriais:
- agte: “aguardente”
- applho: “apparelho”
- ass: : “assucar”
- clarifi.: “clarificado”
- Coeffte: “Coefficiente”
- D.: “Densidade ou Densité”
- diff.: “diffusor” ou “diffusão”
- F. P.: “Filtro-Presse”
- F. F.: “Filtro Filippe”
- Lab.: “Laboração”
- M. C.: “Melasse Cuite” ou “Masse Cuite”
- M. S.: “Materia Secca”, “Materias Seccas”
- P. E.: “Petits eaux”
- pol., pola., polar: : “polarisação”
- retifi.: “retificação”
- sacc: : “saccharose”
- saccha: : “saccharose”
- T. E.: “Triple-Effet”
- T. G.: “Tanque Grande”
- turb., turbi.: “turbinado”
- V. C. M.: “Vinho Canteiro Madeira”
– desenvolvemos, por uma maior inteligibilidade dos textos transcritos, muitos outros sinais convencionais usados
por João Higino Ferraz:
- ad. V., ad. val.: “ad. Valorem”
- Alf.ga: “Alfandega”
47
- Amº: Amigo
- Attº: “Attencioso”
- c/ e c/a: “conta”
- C. de L.: “Camara de Lobos”
- C. F.: “Caminhos Ferro”
- ct., crt.: “courant”
- D.: “Diario”
- D. M.: “Diario da Madeira”
- D. N.: “Diario de Noticias”
- E.U.: “Estados Unidos”
- F: “Fabrica”
- frs: “francos” ou “francs”
- h: “hora” ou “horas”
- indeter.das: “indeterminadas”
- M., Mr, Mr.: “Monsieur”
- M.m: “Madame”
- M.M., Messrs.: “Messieurs”
- m/: “meu”, “minha”
- n/: “nosso”, “nossa”
- n/c: “nossa conta”
- m/c: “minha conta”, “mon compte”
- Ob.do: “Obrigado”
- R.: “Rua”
- rend.to: “rendimento”
- RS, rs: “Reis” ou “reis”
- s/: “sobre”, “seu” ou “sua”
- S. A., S.de A.: “Sociedade Agricula”
- S. F.: “São Filipe”
- Snr: “Senhor”
- sub.me: “subscrevo-me”
- T, Temp., Tempa: “Temperatura”
- trata.to: “tratamento”
- Vor: “Venerador”
- Wm: “William”
– mantivemos apenas algumas abreviaturas sobejamente conhecidas e utilizadas actualmente: Ex.mo
(Excelentíssimo), Ill.mo (Ilustríssimo), V.a Ex.a, (Vossa Excelência) L.da (Limitada), C.ª ou Comp.ª (Companhia),
Succ.or e Succs (Sucessor e Sucessores) V.ª S.ª (Vossa Senhoria), Dig.mo e Dig.ma (Digníssimo e Digníssima), S.to e
S.ta; acrescente-se que uniformizámos todas estas abreviaturas, pois, por vezes, víamo-nos perante algumas
variações das mesmas.
– não desenvolvemos dois grafemas, de cariz comercial e abundantemente usados nestas fontes, que são alvo aqui
de cabal elucidação:
- cif ou c.i.f.: siglas de cost, insurance, freight, isto é, custo, seguro e frete;
- fob.: siglas de free on board, ou seja, designação de cláusula de um contrato de compra e venda que
determina que as despesas do vendedor vão, somente, até à entrega da mercadoria no navio.
– não desdobramos N. B., “Note Bem”; assim como P. S., “Post-Scriptum”, ou P. E., que julgamos ser “Post-
Escriptum” (corruptela do anterior) ou “Pós-Escrito”
– Procedemos à manutenção, na medida do possível, de algumas disposições gráficas do original, assim como parágrafos,
tabelas, arrolamentos, com a excepção, por motivos que se prendem com a exequibilidade da edição das mesmas fontes,
das mudanças de linha e de folha. Não considerámos pertinente nem viável assinalar a mudança de linha; já a de fólio é
indicada com a colocação de // seguida do número de fólio entre [ ] (exceptuando, apenas, quando um fólio encontra-se
48
em branco).
– Tendo em conta que Higino Ferraz usa, mas raramente, a cor vermelha nos Copiadores de Cartas – para lançar
comentários ou anotações nas cópias da correspondência que guardava nestes volumes –, escolhemos transcrever em
itálico todos os vocábulos escritos com tinta ou lápis desta mesma cor.
– Transcrevemos, desenvolvendo algumas siglas e abreviaturas e levando a cabo uma certa modernização, os numerais
grafados, por exemplo, assim: 1gr.40, 34k12, 12l34, 2º,5, etc., desta forma: 1,40 gramas, 34,12 “kilogramas”, 12,34 litros,
2,5º, etc..
– Adicionamos [sic] quando a verificação de erros ortográficos, de sintaxe ou morfologia, ou em caso de repetição de uma
mesma palavra. Colocado o [sic] logo a seguir a uma palavra, referir-se-á a um erro nesse mesmo vocábulo (casos,
sobretudo, de ortografia); quando após um espaço em branco, referir-se-á a erro constituído por vários vocábulos
(repetição, faltas de concordância no género ou em número, frases truncadas, omissão de palavras, etc). Refira-se que,
nomeadamente na informação referente a processos industriais, e ainda na correspondência lavrada em francês (língua
que Higino Ferraz manifestamente não domina, como o próprio reconhece), vêmo-nos perante erros de concordância de
género e número em muitas frases, pelo que apenas assinalaremos os mais visíveis – de certa forma, também, isentando
o transcritor de possíveis suspeitas de transcrição apressada.
– Acrescentamos sinais de pontuação, inseridos entre [ ], quando considerámos que o autor os omitiu involuntariamente.
– Acresentamos [Ass:] antes de qualquer assinatura ou rubrica de João Higino Ferraz.
– Colocamos entre < > todos os vocábulos que surgem entrelinhados nos textos originais.
– Modernizamos o uso do hífen nos verbos, no caso da sua omissão.
– Adicionamos [?] a propósito de dúvidas em relação à leitura de uma palavra (colocado imediatamente a seguir à mesma)
ou de um conjunto de palavras ou expressões (após espaço em branco), e, raramente, aquando a existência de uma
palavra ou expressão cuja leitura não oferece dúvida, mas cujo sentido ou significado é por nós desconhecido.
– Acrescentamos [...] quando a leitura se revelou impossível
.– Anexamos notas de rodapé, nomeadamente nas seguintes situações:
- veiculação de informações acerca dos livros transcritos e documentação avulsa: numeração, medidas,
estado de conservação, e outras informações;
- impossibilidade (ou extrema dificuldade) em reproduzir no corpo de texto algumas das informações
transmitidas nas fontes documentais: anotações colocadas sobre a mancha manuscrita de alguns fólios;
sinais de visto «V», etc.
- elucidação da presença de outras caligrafias que não a de João Higino Ferraz;
- esclarecimento de espaços deliberadamente deixados pelo autor;
- menção a fólios em branco, cartas inutilizadas e truncadas;
- fornecimento, quando possível, do nome completo dos indivíduos que Higino Ferraz nomeia, a mais das
vezes, através de um só nome, o próprio ou o apelido, ou ainda por meio de siglas. Tal procedimento, pela
sua constância, poderá parecer pueril ou desnecessário, mas é decerto útil para situar e identificar certas
pessoas num corpo documental que poderá ser de mera consulta. De igual forma, acrescente-se, são
providenciadas ocasionalmente informações biográficas sobre alguns desses indivíduos. Note-se ainda que
damos conta, em nota de rodapé, da designação completa de outras empresas e unidades de produção
industrial101 a que se referia abreviadamente o autor, bem como de anotações concernentes a aparelhos,
produtos e processos industriais, e publicações científicas e técnicas.
101 João Higino Ferraz dá-nos informações de valor acerca de outras fábricas que existiam na Madeira (a Companhia Nova, de José Júlio de Lemos,
Sucessores; a fábrica de São Filipe de Henrique Figueira da Silva, entre outras) e, ainda, sobre unidades de produção do continente português, da África
colonial (merecendo especial destaque uma nova fábrica implantada pela Sociedade Agrícola do Cassequel, Angola, onde Higino Ferraz tem acção
directa), e de outros espaços geográficos.
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Fólio 20. Copiador de Cartas [1898-1905]
50
Copiadores de Cartas e Livros de Notas. Arquivo Particular de J. H. Ferraz
COPIADORES DE CARTAS
DE
51
52
Copiador de Cartas [1898-1905]
DESCRIÇÃO:
O período temporal abarcado pelo copiador foi por nós acrescentado à designação que já tinha de origem.
Estamos na presença de um livro, em papel, 26,8 cm x 21,5 cm, que se encontra em razoável estado de conservação. Os
fólios deste volume estão numerados com caracteres de imprensa. Nalguns fólios do volume a leitura de muitos vocábulos
revelou-se impossível, devido a um mau decalque.
53
54
[DATA: 18 de Outubro de 1898
DESTINATÁRIO: Harry C. Hinton]
[1] Amigo e Senhor H. C. Hinton
Como desejava tratar defenitivamente consigo o negocio da diffusão, e ao mesmo tempo mostrar-lhe a desposição que
tensiono dar ás machinas, pedia-lhe para me mandar dizer a que horas poderá fazer a fineza de cá vir para eu estar presente.
Pedia-lhe ao mesmo tempo para trazer comsigo a escritura que o meu amigo deseja fazer comigo.
18/10/98. Seu Amigo Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz //
Ill.mos e Senhores
Desejava-mos nos enviassem pela Barca “Felizberta” a sahir até ao fim deste mez, as 4 vigas de ferro em I para a montagem
dos diffusores, cujo comprimento exacto devem ter 7,600 metros.
Junto encontrarão V. S.as a direcção do consignatario desse navio, ao qual se dirigirão dizendo, que no Funchal será pago o frete.
Quanto ao corta-cannaz já tenho encommenda feita; por isso agradeço-lhes o encomodo que teem tido em procurar
informações d’esse genero de machina.
Pedimos a V. S.as que na primeira carta que nos escreverem nos mandem dizer em que altura está a construcção do apparelho.
E, sem outro assumpto, somos com estima e consideração
De V. S.as Amigos Attenciosos Muito Obrigados. [Ass:] João Higino Ferraz & C.ª //
102 “Madeira” e “de 189” estão grafados a lápis. A caligrafia desta carta, à excepção da assinatura, não é de João Higino Ferraz.
103 O fólio 4 não contém qualquer informação, foi inutilizado com vários traços na diagonal e horizontal e dobrado.
55
d’esse contracto.
2º – d’entro do conselho do Funchal, não exsedendo o custo de instalação alem de oito contos e quinhentos mil reis, e o que
exseda d’essa importancia será por conta dos 1os Outorgantes, determinando-se n’esse caso n’uma relação assignada pelas duas
partes, os aparelhos ou qualquer outro objecto que exseda os oito contos e quinhentos mil reis, e que ficariam pertencendo
unicamente aos 1.os Outorgantes
3º - Neste logar deve ter um “ponto” e não uma virgula, como tem. //
[4]103
[5] No caso de lhe convir mandar-m’a para eu pôr a limpo o contracto em duplicado.
Faço-lhe notar que se deve desde já establecer o sitio em que se tem de montar a fabrica, porque como diz o contracto deve
estar prompta a funccionar na proxima colheita de 1899, e o tempo vai passando sem nada se fazer definitivamente, e não é
minha a culpa d’essas demoras.
Sem assumpto para mais
Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Hygino Ferraz //
Amigos e Senhores
Em resposta á sua ultima carta com data de 2 do corrente, temos a dizer-lhes o seguinte
Concordamos com a indemnisação de Reis 61.500 pelo prejuizos do ferro e trabalho o qual lhe será pago depois de
concluida[?] a obra.
Conforme o seu pedido mandamos-lhes as medidas que nos pedem para o vigamento de ferro em I cuja repetição em
desenho lhes enviamos depois de substituidas as lettras.
Satisfaz-nos bastante saber o estado de adiantamento em que estava o trabalho, e V.as S.as nos avisarão quando esteja proxima
a sua conclusão para tratarmos de ver se poderemos conseguir embarcar os apparelhos em navio de vella por ser mais barato o
frete.
E, sem assumpto mais a communicar
Somos em estima e consideração, a V.as S.as Attenciosos Veneradores Muito Obrigados [Ass:] João Higino Ferraz & C.ª
104 Esta carta não foi escrita por Higino Ferraz, à excepção da assinatura, de «Comprimento total das vigas (4) 9.300 metros» e do desenho nela incluso.
56
[DATA: 19 de Novembro de 1898
DESTINATÁRIO: Cardoso, Dargent & C.ª; LOCAL: Lisboa]
[7] 105Madeira, 19 de Novembro de 1898
Ill.mos Senhores Cardoso, Dargent & C.ª Lisboa
Amigos e Senhores
Participamos a V. S.as que temos cedido á firma Senhor William Hinton & Sons, desta Praça, cujo gerente é o Ex.mo Senhor
Harry C. Hinton, portador desta carta, [...] que tinhamos nos apparelhos em construcção nessa Casa e que d’ora avante V. S.as
se entenderão com o mesmo Ex.mo Senhor Harry C. Hinton em todos os negocios concernentes aos mesmos apparelhos.
Outro sim participamos tambem a V. S.as que esta casa[?] [...] com a firma João Higino Ferraz & C.ª, por[?] ser devolvida[?],
[...] os trabalhos d’aquella casa e socio della João Higino Ferraz desde o 1º de Janeiro do proximo [...] anno.
Esperando que tomem nota desta nossa resolução, Subscrevemo-nos com estima e consideração
De V. S.as Attenciosos Veneradores Amigos Muito Obrigados [Ass:] João Hygino Ferraz & C.ª //
105 Esta carta não foi escrita por Higino Ferraz, à excepção da assinatura, de «Comprimento total das vigas (4) 9.300 metros» e do desenho nela incluso.
57
[DATA: 17 de Junho de 1899
DESTINATÁRIO: Harry Hinton; LOCAL: Londres]
[11v] Funchal 17 Junho 1899
Amigo e Senhor Henrique
Senti bastante não me ter despedido de si no dia da sua partida.
Nada de anormal se tem dado depois da sua sahida d’aqui.
Recebeu-se tellegramma do Booker Bros. & C.ª de Demerára participando ter embarcado pela “Felizberta” 251 cascos de
melaço, ficando um saldo de 149 cascos, e como está em viagem para Demerára o Yate “Novo Machado 2º” por conta de
Francisco Roiz & C.ª, combinei com seu pae, para eu tratar com elles sobre o embarque d’esse saldo no “Machado 2º”, como
fiz, pelo preço do frete de 2750 reis como o da “Felizberta”, e enviamos tellegramma os Senhores Booker Bros. avisando-os de
que devião embarcar no “Machado” o saldo do melaço. Fez-se o seguro do carregamento da Barca como me recommendou e
vamos segurar o saldo, logo que se receba tellegrama da sua sahida de Demerára.
Quanto ao destillador deve estar pronto, e montado em toda a semana proxima, e por isso logo que chegue o melaço da
Trindade vou principiar a fermentação para que não falte alcool á venda.
O senhor Blandy106 já levou os 2000 gallões d’alcool, e deve ter ficado satisfeito com a qualidade; este ultimo que lhe foi
estava magnifico, sem cheiro algum e marcou 47 1/2 minutos, (alcool neutro).
Desejava saber o negocio que fez com o João Bernardino Gomes sobre a bomba do senhor Krohn, visto elle, Gomes ter
levado a bomba e um chupa-sangue e me ter dito que a comprou ao senhor Krohn. Fez-se-lhe os consertos necessarios, e
escrevi-lhe dizendo-lhe que quanto ao negocio da bomba nada sabia // [12] e por isso quando o senhor Henrique voltasse de
Londres se ultimaria esse negocio.
Na terça-feira proxima deve-se cecar o assucar mascavo 1º da diffusão e vou fermentar esse melaço em separado como ficou
combinado, e mandar-lhe-ei dizer qual o rendimento em alcool.
O senhor Henrique vai fazer o favor de ver se pode dar com o jornal “La Biére” 1º anno nº 10, ou “L’alcool et le sucre” 2º
anno nº 5, em alguma das livrarias de Londres; estes jornaes tratam de um processo de preparação de fermentos puros pelo
systema de M. Fernbach, e que eu desejava obter ou então o tratado d’este mesmo autor, o que era muito melhor.
Sem assumpto para mais, subscrevo-me com toda a consideração
Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
58
carta o resultado da minha analyse do melaço de Betterraba nem do da Trindade porque não tive ainda occasião de a fazer.
Seccou-se o assucar mascavo 1º da experiencia das diffuzores que deu 14 sacas de 75 kilogramas, e 4048 kilogramas de
melaço que já está em fermentação.
O Alambique ficou hoje montado.
Vou dar um balanço ao alcool para precisar novamente qual é a quebra da retificação.
Os senhores Cossart’s levaram ante-hontem os 2500 gallões d’alcool, e hoje o senhor Carlos Cossart107 vei[sic] procurar-me
trazendo uma mostra de vinho mostrando percipitado branco, dizendo-me que os homens quando estavão trazendo o alcool dos
cascos, um dos canecos tinha um resto de vinho, e logo que lhe deitarão o alcool em 40º torvou o vinho, veio-me perguntar a
que seria devido isso, se o alcool levava algum acido que desse esse resultado; eu respondi-lhe que o alcool nada levava e se o
vinho mostrou esse percipitado é porque o alcool em 40º coagula a albuminia e outras materias que o vinho contem e que as
percipita, e pedi-lhe que esperimentasse com outro qualquer alcool que lhe devia dar o mesmo resultado assim fez com alcool
dos Açores, e deu-lhe o mesmo percipitado. //
[15] Torno a lembrar-lhe a cevada germinada ou pale-malte; como lhe tinha dito que era necessario mandar vir uns 500
kilogramas e não veyo na correspondencia nenhuma encommenda d’esse genero, talvez o senhor Henrique se tivesse esquecido
de a fazer.
Desejava que o senhor soubesse que substancia é que lhe dão o nome de malto-peptone e que Barbet recommenda se
empregue na preparação dos fermentos puros e qual o seu preço para ver se há vantagens em empregal-a; se podesse obter uns
5 a 10 kilos e me enviasse estimava muito, para fazer uma experiencia.
A temperatura atmospherica vai subindo muito e a preparação dos fermentos é um pouco difficil não sendo feitas a 20 a 25º
o maximo de temperatura, talvez me veja na necessidade de empregar um pouco de gelo nos fermentos.
Por nada mais ter a dizer-lhe n’esta occasião
Subscrevo-me com toda a consideração
Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
59
a pedir por tellegramma ao Costa Campos uma certidão do dito accordão para ser junto ao requerimento, o que se fez, e no caso
de não vir a tempo a certidão vou apresentar a sua reclamação, no caso das colletas não estarem regulares.
Já se despachou 100 barricas de melaço de beterraba e metteu-se hoje a despacho o melaço da Trindade para principiar o
trabalho d’elle na segunda feira 3 de Julho. //
[17] Sem assumpto para mais desejo-lhe que gose bastante na sua viagem a Noruega e pesca do salmão.
Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz.
Junto á Carta com data de 1 de Julho 1899
Resultado do melaço da Trindade pelo “Oliveira Mendes”
Factura de 150 ponchins – 17335 gallões
Alfandega PB – 95474 kilogramas
Tara 10% 9547
85927 kilogramas a 5 kilogramas – 17185 gallões
Quebra 150 gallões
3/7/99 [Ass:] João Higino Ferraz //
60
a factura e despezas que elle apresentou o melaço fica-lhe custando a 235 reis, mas seu pae recommendou-me que lhe fizesse
o preço mais baixo possivel, e em vista de elle receber a/v.[?] uma lettra S/[?] Londres a 90 d/v.[?] de 150 libras, e por se esperar
muito melaço na occasião e tambem por ser o melaço de qualidade um pouco inferior ao nosso 28% saccarose
38% glucose não lhe
podia fazer melhor offerta. //
[20] Sem assumpto para mais subscrevo-me com toda a consideração.
Seu Amigo Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz
110 Foi colaborador de L. Pasteur e director do Instituto Científico La Claire. Tem diversos estudos sobre as leveduras e o fabrico da cidra: Emploi rationnel
des levures pures sélectionnées pour l’amélioration des boissons alcooliques (vin, cidre etc.), 1894 (Nancy, Imprimerie Nancéienne), Étude des
perfectionnements apportés dans la culture et l’emploi des levures. 1893; (Nancy, Imprimerie Nancéienne), La préparation moderne de l’hydromel et des
vins de fruits par Georges Jacquemin (ancien collaborateur de L. Pasteur) et Henri Alliot + 4 collaborateurs. Ch. Amat éditeur à Paris. 1906.
61
melaço de Cuba.
Em vista da grande procura de alcool, não tenho tido occasião de ter em deposito mais de 500 a 1000 gallões, e ainda muita
temos para entregar.
Depois de destillar todo o melaço da Trindade vou destilar o que se comprou ao Lemos111.
Quanto ao melaço de beterraba parece-me que o senhor Hinton112 deve-lhe ter mandado a nota do rendimento, que eu lhe
dei que foi 7,8 gallões d’alcool em 40º por 100 kilogramas de melaço. Agora com relação ao resultado da vistoria é que não
estou nada satisfeito, visto o carregador querer livrar a Companhia dos vapores da responsabilidade dos derrames, dizendo que
os derrames forão nos barcos devido a estarem um dia ao sol, e por isso a temperatura elevada ter feito com que o melaço
expandice nas barricas e desse causa aos derrames; ora isto não é verdade, segundo vou expor com mais dados: O pezo bruto
do melaço segundo a factura de Hamburgo // [24] é de [...]
Tara.......................... 6.796
Liquido ....................49.508
O melaço pezado na Alfandega deu
Pezo bruto................50.001 kilogramas
Tara.......................... 6.796 “
Liquido ....................43.205 “
Contou-se todo o melaço e agua salgada que havia nos barcos não havendo prejuizo algum, e cuja agua e melaço pezou
liquido 4184 kilogramas (conforme já lhe disse em outra carta) que fermentado e destillado produzio em alcool quantidade
correspondente a 2450 kilos de melaço:
Ora o pezo liquido de Hamburgo foi:
49.508 kilogramas
Pezo da Alfandega .................43.205
Quebra .....................................6.303
Melaço junto
dos barcos.............................. 2.950
Derrames a bordo
do vapor ...................................3.353 kilogramas
Este é que é o prejuizo real causado aos Senhores e que a Companhia não pode nem deve recusar a pagar visto a razão dos
derrames ser a carga que as barricas tinhão sobre si, e que deu causa a este prejuizo.
Logo que venha o melaço de Cuba vou tratar de fermentar para ver o rendimento, para por elle os senhores verem o que
têem a fazer com as futuras encomendas.
Sem assumpto para mais subscrevo-me com toda a consideração.
Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
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assumpto, o que vou fazer por estes dias.
Sem assumpto para mais subscrevo-me com toda a consideração
Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
63
e sedas!!...
Sem assumto para mais desejo-lhe uma boa viagem para a Madeira. Já me esquecia dizer-lhe que o Visconde de Val Paraiso
pede-me para lhe dizer que não se esqueça das casinhas
Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
Envio-lhe como é seu desejo a nota de comparação dos rendimentos dos diversos melaços comprados ultimamente:
1ª remessa de melaço de Beterraba com 47% de saccarose – custo por kilograma 62 reis rendeu 7,5 gallões d’alcool em 40º
por 100 kilogramas de melaço (quebra do alcool feita a 5%)
2ª remessa de melaço de Beterraba com 50% de saccarose – custo por kilograma 60 reis – Rendeu a 7,8 gallões d’alcool em
40º por 100 kilogramas de melaço (quebra de 5%).
Melaço da Trindade comprado ao Lemos116 a 220 reis por 5 kilogramas – rendeu 10,2 gallões d’alcool em 40º por 100
kilogramas de melaço
Ultimo melaço vindo da Trindade pelo “Oliveira Mendes” que sahio a 225 reis por cada 5 kilogramas rendeu a 10,5 gallões
d’alcool em 40º por 100 kilogramas
Melaço de Demerára pela “Felizberta” rendeu a 10,3 gallões d’alcool em 40º (quebra de 5%)
As percentagens de assucar achadas forão as seguintes:
Melaço da Trindade Lemos – saccarose: 28%
Glucose 38,6
Melaço da Trindade Hinton saccarose: 50%
Glucose: 19,4%
Melaço de Demerára – Hinton saccarose: 45%
Glucose: 22,6
[Ass:] João Higino Ferraz //
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tivemos graves prejuizos.
Se V.as Ex.as se tivessem cingido ao que tratamos em Lisboa quando ahi estive, na forma da construcção das torneiras que
eram de ferro fundido tanto o macho como a femia e fechadas na parte inferior, com bucim na parte supperior, nada d’isto se
teria dado. Vemo-nos na obrigação de as transformar completamente para evitar mais prejuizos.
Para maior certeza do que acabo de lhe referir seria bom V.as Ex.as encarregassem o seu agente na Madeira a vir verificar de
visu, o que acabo de lhes referir.
Sou de V.as Ex.as Attencioso Venerador [Ass:] João Higino Ferraz //
65
[DATA: 10 de Novembro de 1900
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[35] 10 Novembro 900
Amigo e Senhor Henrique Hinton
Acabamos o lote Nº 30, melaço da Refinação de Lisboa. – O rendimento foi de 8,6 gallões d’alcool a 100º a 15 temperatura
por 100 kilogramas de melaço. – O grau de paragem foi na media de 5/4 Baumé, a acidez inecial 1,7 a 1,6 gramas e a final 3
gramas na media
Este melaço foi o que se tirou a amostra na Alfandega que tinha:
40% saccarose
59,5% assucar total
19,5% glucose
O melaço d’esta mesma proveniencia que veio em abril do anno passado deu 8,6 gallões em 40º com 5% quebra: tinha 52%
saccarose.
Como vê o rendimento não chegou ao que eu esperava mas isto devido a que o grau de paragem que eu calculava ser de 1/2
Baumé foi de 5/4º, o que dá uma differença no rendimento: Ainda assim o lucro não é mau em comparação com o que se está
tirando dos outros melaços.
O melaço da Fabrica deve ficar todo desfeito na semana proxima. Segundo o que calculei com o Joãozinho do que está por
desfazer, nos filtros e tanques, vejo que vai dar muito mais melaço na porporção da canna moida, pela do anno passado; calculo
em 440 cascos em quanto que o anno passado deu 354 cascos.
Senhor Henrique no caso de hir a Paris pedia-lhe o obsequio de me comprar um candieiro “Denayrouse” de incandescencia
pelo alcool da força de 20 vellas (bougies). Desejava ter um d’estes candieiros que me dizem dar uma luz magnifica.
Sem assumpto para mais subscrevo-me com toda a consideração.
Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
66
assumpto com V.as Ex.as, seu irmão o Ex.mo Senhor Carlos Hinton aguarda a sua chegada para responder-lhes defenitivamente.
E sem assumpto para mais
Seu Attencioso Venerador [Ass:] João Higino Ferraz //
Na semana passada não lhe escrevi porque pouco teria que lhe dizer.
O engenho veio no dia 22, e sô uma pequena parte dos apparelhos do Manoury (filtros mechanicos)117 é que vierão. Vai fazer
algum transtorno esta demora, visto que o resto dos apparelhos sô estarão aqui no sabado proximo, o que faz uns 15 dias de
atrazo. O Manoury queixa-se do carregador (por[?] Best) que em logar de escolher o porto de Havre escolheu o outro <porto
Dresde> cuja companhia de caminho de ferro é uma sô, que faz muitas estações, o que fêz com que parte das Machinas ficassem
pelo caminho confundidas com outras cargas: Mas se elle Manoury via que pelo Havre a condução era mais rapida e não estava
sujeita a este contratempo, por que não o aconcelhou?!...
Emfim agora não há remedio e logo que ellas chegem vamos tratar da montagem d’ellas, e tenho esperanças que em 15 dias
se ponha tudo prompto.
O Mestre João já anda a contas com o engenho, até agora tem dado tudo certo, está montando hoje os cylindros.
Acabei o lote de Melaço de Lisboa que rendeu 8,37 gallões d’alcool a 100º a 15 temperatura: deu menos 0,23 gallões por
100 kilogramas melaço que o 1º lote. Esta differença no rendimento deve ter sido devida a que o melaço que ficou para este
lote é o tal que // [41] tinha umas barricas de melaço muito delgado e que mostrou pouca saccarose (16%).
Quanto ao melaço de Beterraba deu 8 gallões a 100º, a 15 temperatura por 100 kilogramas melaço, o que é um bom
rendimento.
Os tubos de cobre sempre vieram no sabado, vamos dar principio ás buquilhas como o senhor Carlos tinha recommendado.
Juntamente com o engenho veio tambem as peças das centrifugas
O Manoury escreveu sobre a mostra de assucar do Natal que o senhor Carlos lhe enviou, e diz elle que aquella qualidade é
devido á má fabricação e que o de câ não sahirá assim.
Sem assumpto para mais subscrevo-me com toda a concideração
Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Ferraz
117 Cf. GROBERT, J. de, LABBÉ, G., MANOURY, H., VRESE, O. de, Traité de la Fabrication du Sucre de Betteraves et de Cannes, Tome Second, Paris,
Self-Édition Technique, 1913.
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[DATA: 15 de Janeiro de 1901
DESTINATÁRIO: Charles Hinton]
[42] 15 Janeiro 1901
Ex.mo Amigo e Senhor Carlos
Até que emfim chegarão as machinas no dia 12 do corrente, ficando tudo na Fabrica no dia 14. Temos tirado tudo dos
caixões, e parece não faltar absolutamente nada, vem tudo em boa ordem a não ser uns quadros dos filtros presses que trouxerão
uns descanços partidos mas que se vão concertar; Já se principiou a montagem dos apparelhos; felizmente as machinas não teem
feito grande falta viste se estar trabalhando nas buquilhas dos canos de cobre e ter feito a montagem dos filtros mechanicos. O
engenho de espremer já está todo montado, menos o elevador do mato para queimar que ainda não está no seu logar. A mim é
que as cousas não tem corrido nada bem. Os fermentos não tem querido desenvolver bem de maneira que já tenho feito 3
fermentos e perdido dois, este ultimo é que esta desenvolvendo bem mas foi feito nos apparelhos antigos. Não sei se devido ao
acetato de cobre que se formou dentro dos apparelhos emquanto esteve parado nestes dias de festa, que não me parece que seja
de outra cousa em vista do gosto prenonciado a cobre que tem a bebida, que mata o fermento não o deixando desenvolver. Tive
o cuidado de lavar a vapor todos os apparelhos mas mesmo assim não foi sufficiente. Como tenho o fermento feito nos
apparelhos antigos, vou principiar a desfazer o melaço e pode ser que então desapareça todo118 //
[43]119
Que este novo anno lhe traga todas as prosperidades por si desejadas é o que de coração lhe deseja este seu Amigo.
É chegada a occasião de o massar com o meu pedido que quando ahi estive lhe fiz, e espero que a sua preciosa cooperação
e influencia muito poderá fazer.
Como sabe não tenho hoje Fabrica minha, mas os meus interesses estão de tal forma ligados com a industria do fabrico do
assucar e alcool, e alem d’isso como pequeno propriatario que sou e por ver que é de grande interesse para a agricultura da
Madeira, me interessa bastante esta questão.
Passamos ao assumpto:
O decreto de 30 de Dezembro de 1895 procurou conciliar os interesses de um dos dois principaes ramos da agricultura dos
Destricto [sic], a canna saccarina com a industria do fabrico do assucar e alcool e ainda com outro ramo egualmente importante,
a vinha e com a industria d’ella derivada a exportação de vinho; // [45] Este decreto foi o resultado de reuniões de commições,
tanto de fabricantes como de propriatarios, e sendo tambem approvado por unanimidade pela Grande Comissão da Madeira,
que tinha por fim zelar os interesses da agricultura, com o fim de salvar a cultura da canna saccarina d’esta Ilha, cultura que
hoje é calculada entre 400 a 500 contos de reis.
O Decreto obriga os Fabricantes d’assucar e aguardente que se matricularem á compra de toda a canna de assucar pelos
preços minimos de 400 a 450 reis por 30 kilogramas marcados cada anno pela Delegação do Mercado Central de Productos
Agriculas. O meio então pelo qual se conseguio <a> conciliação dos Industriaes e propriatarios foi o abaixamento do imposto
sobre o melaço estranjeiro, destinado, exclusivamente, ao fabrico do alcool para tempero de vinhos, e d’ahi resultaram decididas
vantagens, que por um lado, garantiram todos aquelles interesses e pelo outro asseguraram ao estado maiores rendimentos
Alfandegarios, porque sendo o anterior direito prohibitivo, ou quasi prohibitivo, pouca ou nenhuma receita arrecadava o Estado
d’essa proveniencia.
Variaram, porem, as circunstancias economicas // [46] que serviram de base á referida lei, e d’ahi a exposição e pedido dos
Fabricantes e importadores de melaço. As vantagens da importação do melaço commeçaram a diminuir em 1897 e hoje
desapareceram por completo, em vista da subida enorme que tem havido no preço dos melaços nos mercados estranjeiros e da
differença nos cambios. Os preços dos melaços no anno de 1896, confrontados com os preços actuaes são uma demonstração
clara d’essa variação: Em 1896 o custo do melaço na Trindade era de 4 a 6 cents e hoje está a 14 cents; os de Demerára em
1896 era de 8 a 10 cents, hoje custa 20 a 25 cents; O cambio que em 1895 estava a 5,500 reis, está hoje a 6500 reis; O custo do
carvão mineral que era de 7000 reis por tonelada está hoje a 11000 reis.
68
Não é esta differença de preços um facto occasional, como não é tambem occasional a variante dos cambios e combustivel,
de modo que d’essas duas causas resulta um desequilibrio impossivel de sustentar sem a ruina certa dos importadores,
impossibilitando-os portanto de continuarem a garantir aos agricultores os preços minimos da canna de assucar.
Nem pode dizer-se que aquelle augmento de preço da materia prima de alcool deve corresponder um // [47] augmento de preço
do producto fabricado, porque lhe obsta o preço das aguardentes de cereaes e batata dos Açores em concorrencia com a do melaço,
e ainda porque esse augmento de preço, quando possivel, se por um lado continuava a garantir a cultura da canna, pelo outro
prejudicaria a cultura da vinha e a industria d’ella derivada. Nestas circunstancias é de clara intuição que o remedio aos males que
de um tal desequilibrio resultam não pode ser outro senão uma modificação no imposto de importação do melaço correspondente
á alta dos preços e cambios, ficando o Governo auctorisado a diminuil’o segundo as condições do custo d’esta materia prima.
O Depotado pelo circulo do Funchal, Dr. Quirino Avelino de Jesus, toma esta questão a peito visto reconhecer que é de
grande vantagem para o seu Destricto a continuação da lei com as modificações pedidas, que são de toda a justiça; os fabricantes
d’assucar e aguardente matriculados não se podem obrigar a garantir preços tão elevados pela canna, que algumas vezes lhe
deixa prejuizos, sem que tenham onde ir boscar lucros, que a canna lh’os não deu. //
[48] Foi o Governo Regenerador que em 1895 fez esta lei que tantos beneficios trouxe á Madeira e que por isso tão
sympatico se tornou, e é de grande vantagem que seja elle que novamente venha renovar esta lei. O Amigo como bom político
deve ver isso perfeitamente.
Sem assumpto para mais, tenho a certeza que a coadjuvação do meu bom Amigo nos será muito util, e o seu nome não será
esquecido n’este bocadinho da Patria.
Subscrevo-me com toda a concideração:
Seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Hygino Ferraz //
69
[DATA: 12 de Agosto de 1901
DESTINATÁRIO: H. Manoury; LOCAL: Paris]
[51v] 12 Aout 1901
Moncieur H. Manoury, Paris
Monsieur
Je tiens á vous remercier [...] de votre carte d’introduction auprés de Monsieur A. Hoffman, le Directeur des los
Establecimentos Agricolas y Azucareros de Don Pedro d’Alcantara, Marbella. Cette carte m’a procuré un accueil plein
d’attentions, les plus aimables et dont je suis extremement reconnaissant. Il est de mon devoi de dire autant de Monsieur
l’Engenieur de la même usine, de tous les rensegnements [...] j’avais [...]
Je vous prie, Monsieur, d’agréer avec mes remerciements reitérés l’assurance de mes sentiments bien distinguis,
[Ass:] João Higino Ferraz //
[DATA: ?
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[54] [...] de 30 cascos com melaços de 3en [...] de 1901 que me deu o seguinte resultado:
[...] : 38,4% – assucar total 53,19% – [...] 15,48%. Comparando esta analyse com a [...] destillado do anno 1900 que foi de:
saccarose 20% assucar [...] 52,14[?]% – glucose 40,1%, vê [...] neste anno (1901) foi muito [...] que os assucares [...] menor
quantidade [...] da glucose de 1900 [...] que nas produzem [...] na fermentação [...] do melaço[?] da Fabrica e logo que obtenha
[...] pequeno [...] 16 a 18 sacas por dia [...] quanto que o anno passado sô se tirou 8 a 10 sacas no mesmo tempo.
Bombas [...] “America” estão trabalhando bem, e o despendio de vapor é pouco
Bomba “Worthington” – Já tirei as medidas: pela nota que eu vi na sua carta, vejo que sô lhe tinha mandado o deametro e
comprimento dos cylindros [...] em quanto que agora vão as medidas completas dos pistons da agua.
Triple-effet – os desenhos com todos os [...] vão neste vapor.
Principiou-se a tirar as [...] das [...] dos tubos que estão sendo [...] visto estarem detrioradas.
[...] de Sant’Anna – João Albino Rois de Sousa escreveu-me[?] queixando-se [...] poblicada [...] destillação [...]//[55]mente
não vem e que era de grande necessidade fallar ao Governador Civil sobre esse assumpto, por isso que no telegramma enviado
por elle ao Governo pedia que fossem [...] as suas materias primas. Fallei ao Sobral sobre esse assumpto e elle disse-me que
fallaria ao Ribeiro [...] e me apresentaria.
70
Segundo o Bulletin mesmo[?] poblicado em São Miguel por Jacintho Botelho Arruda, e que lhe vai ser enviado, deve vêr
que os assucares da Madeira são muito mal tratados por [...], clasificando-os como maus. Segundo vejo pelas analyses por [...],
a percentagem em assucar cristalisavel é muito inferior à que tenho examinado aqui, e a soma das substancias estranhas como
glucose, agua, cinzas etc. com o assucar crystalisado é superior ao pezo tomado por elle como [...] que é 100. Mesmo sem [...]
destillação[?] vou enviar ao Luiz[?] S. [...] a analyse dos assucares idos[?] para São Miguel, para provar que as analyses feitas
por esse Arruda não estão certas e são cavillosas. Depois o Senhor Henrique dirá o que se deve fazer para remediar isto, que
pode ter grande influencia futura na venda dos assucares nas Ilhas.
Bomba ou compressor d’ar Weston[?] [...] e do apparelho Barbet – O que deve[?] fazer a esta bomba. Envial’a [...] Paris ao
Barbet para conserto, ou ver se se pode [...] remedio aqui mesmo visto termos um pestão e mollas[?] novas. Como sabe a que
está em trabalho é[?] da Fabrica de assucar e não convinha trabalhar[?] [...] com ella para a não estragar.
Fabrica da Ponte Nova: [...] Jardim[?] ainda não deu a resposta da questão[?] da agua
Sem assumpto para mais Subscrevo-me Seu Amigo Muito Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
71
resolvera a venda pela avaliação.
Sem assumpto para mais subscrevo-me com toda a comsideração
Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
72
[DATA: 21 de Setembro 1901
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[63] 21 setembro 1901
Amigo e Senhor Henrique
Recebi a sua carta com data de 12 do corrente o que muito agradeço. Está terminado o negocio do foro do Conde da Calçada,
a escriptura foi registrada na Conservatoria. Quanto ao outro foro, pertence ao Conde de Rezende, que vive mesmo em Lisboa;
foi-lhe dado em duação de forma que elle não pode vender sem que faça passar esse dote para outro prédio qualquer que
possuia, com auctorisação do Juiz, e como o Senhor Henrique tenciona hir a Lisboa era uma boa occasião de fallar com elle a
esse respeito.
Com relação a eleições, farei o que me diz na sua carta, mas não vejo probabilidades de ver resolvida a questão do melaço
antes das eleições. Acho-lhe rasão em não se metter em nada abertamente, para não voltar contra si os do partido Progressista.
Recebemos os planos dos apparelhos a construir, acho que não falta nada pelo contracto feito conforme as cartas e devis
apresentado pela casa constructora com data de 29 de maio do corrente.
Pela carta (copia) que o Chassereau escreve á casa constructora verá o Senhor Henrique as respostas que lhe dou.
Os poços grandes tem rendido muito menos assucar que os outros, mas não é devido a não estar toda a crystalisação
formada, por isso que fiz uma analyse do melaço tirado d’este assucar que sô mostrou 38,4% assucar emquanto que nos outros
mostrou 39 e 40%. // [64] O assucar d’estes poços é de boa qualidade: cousa curiosa, tem um crystal relativamente grosso e
solto.
O melaço é que vai dar mais do que calculava, por isso que temos desfeito até hoje 421 cascos, e com o que temos para
secar não deve dar menos de 500 a 520 cascos. O rendimento do melaço por 100 kilogramas d[sic] canna não deve talvez ser
inferior ao do anno passado.
Lembro ao Senhor Henrique que, como vai mandar a bomba de vacu para a caldeira ingleza, seria talvez bom enviar para
Londres a velha dizendo que hia a concerto, para evitar de pagar os direitos da nova.
Já demos principio ao trabalho a fazer no Triple-effet conforme a planta.
O enginheiro está tirando as medidas do tubo geral do vapor; eu disse-lhe que seria com tambem um ramo de 5 polgadas
para trazer o vapor para as centrifugas, caldeiras de vaco e bombas, alambiques, serra e tenda, mas este tubo sô deve vir até á
caldeira de vapor franceza que fica ao pê do alambique; se o Senhor Henrique acha isso conveniente, fazer então a incommenda.
Este tubo evita 3 que ao presente estão montados.
Sem assumpto para mais subscrevo-me com toda a Concideração
Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
123 H. Manoury é engenheiro de açúcar, tendo sido Presidente de l’Association des Chimistes de Sucrerie et de Distillerie. Cf. FRITSCH, J. (Jean), b. 1858,
ed. Traité de la fabrication du sucre de betteraves et de cannes, par J. de Grobert ... G. Labbé ... H. Manoury ... [et] O. de Vreese ... Ouvrage publie par
les soins de J. Fritsch ... Paris, J. Fritsch, 1913.
73
crystalisavel que foi perdido para a fabricação. No anno proximo tenho esperança que com um bom mestre cusidor d’assucar
deve o rendimento do 1º jet ser muito meior.
Sem assumpto para mais espero a sua chegada á Madeira no proximo outubro
Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
[67] Rendimento comparativo da canna d’assucar 1900 e 1901
– Aproximadamente –
Em 1900 Em 1901
Assucar 1º jet – 4, 938% kilogramas 1º jet – 5, 631 kilogramas
Dito 2º jet – 1,852% 2º jet – 1.497
Dito 3º jet – 0,326% 3º jet – 0,494
Melaço – 3,374% melaço – 3,344
Total assucar 1900 – 7,116% kilogramas – assucar 1901 7,622 kilogramas
A media da percentagem em assucar crystalisavel do
melaço de 1901 é de 39% nos 3,344 kilogramas são 1,304
assucar total extrahido = 8,926
Pelas analyses da garapa deu uma media em assucar = 8,941 kilogramas
Nestas analyses fiz a quebra de 0,5%
O calculo feito em Reis dá uma differença a mais no anno de 1901 de Reis 13.892.000
[Ass:] Ferraz 28/9/901 //
74
milimetros, por conseguinte ficamos com duas entradas de vapor (retours) na 1er caisse: Mas pergunto eu, honde vamos boscar
vapor exausto (retours) para essas duas torneiras?
Elles naturalmente calculam que temos vapor a mais, mas como o Senhor Henrique sabe temos para 1902 menos as
centrifugas, e alem d’isso os rechaufeurs da diffusão vão roubar bastante vapor ao retours, de forma que para a evaporação da
garapa no triple-effet vamos ser obrigados naturalmente a empregar vapor directo, e que para[?] isso se poderá, parece-me,
evitar de habrir novo furo na 1er caisse para lhe pôr outra torneira de 150 milimetros, quando a entrada na 1er caisse da antiga
torneira tem 170 milimetros podendo-se ahi colocar a de 150 milimetros.
Dou-lhe todas estas explicações porque como o Senhor Henrique vai a Paris outra vez, poderá fazer ver tudo isto de viva
vôz[?].
Na carta do Chassereuau vejo o que diz com respeito[?] ao cosedor em movimento e Melaxeurs ouverts. Os planos de St.
Quentin estão certos, para a montagem. Quanto á forma de colocação vamos fazer de forma a ficarem o mais seguros possivel.
Como Mestre João Florencio pode despensar do armazem da rua, (visto uma nova forma de colocação das vigas) 3 a 4 vigas,
podem ellas servir para os apparelhos. //
[71] Como pede na sua carta de 10 do corrente para lhe mandar a nota das materias chimicas necessarias para a laboração
de 1902 aqui vão:
Enxofare não é necessario vir por isso que temos 20 barricas e sô se gastaram 8. O que é necessario vir é o seguinte:
Baryte cristalisado – 25 barricas (8500 kilogramas)
Alkali puro a 58% – 10 barricas (2500 kilogramas)
Serviettes en jute qualité superieur para os filtros-presses – 300
2 jogos de nodellas de caoutchouc para os filtros-presses
Poches filtrantes para os filtros Philippe temos 129 novos e 132 usados sendo 50% em mau estado, acho que se deverá
mandar vir uns 50%.
Este calculo das materias chimicas está feito para uma laboração de 360.000 almudes de garapa, levando em conta o
augmento da difusão para o proximo anno que calculo em 1/3 a mais na garapa.
Junto com a sua carta de 10 do corrente encontro um Devis de Gallois Succ.or dos apparelhos de laboratorio, e o que está
marcado com uma cruz encarnada é o que temos. Seria bom vir une râpe Pellet ou outra para reduzir a polpa fina a canna ou
bagaço para analyse d’estas materias.
Junto com esta, encontra o Senhor Henrique uma nota em separado do rendimento real da canna n’este anno, e prontamente
o calculo feito em assucar contido no melaço e no bagaço reduzido a alcool calculando que 100 kilogramas d’assucar
crystalisavel produz 60 litros d’alcool puro a 15 temperatura. Os 8413 kilogramas é a glucose contida no melaço e que foi
fermenticivel. O melaço na media tinha 55% assucar total. // [72] Faço-lhe ver tambem que no devis de St. Quentin elles não
mantem[?] a torneira que fecha o vacu da Caldeira Franceza quando se trabalha com o Melaxeur fermé essa é uma torneira
importante que deve vir sem falta.
Tambem não fornecem os tubos de união entre a caldeira [...] franceza e a columna [...] e os do mesmo [?] [...] melaxeur
fermé. Estes tubos são dificeis [?] de conseguil’os [...] cobre [...] que teem [...] lhe para [...] isso nos planos.
Como temos que empregar vapor directo no triple-effet tambem seria[?] bom ter uma [...] Riltot[?] com clapet[?] (valvula)
Dulac125, para conservar a perção sempre constante e por conseguinte a temperatura na 1er caisse do triple-effet.
Como já tivesse terminado a fermentação do melaço da Fabrica fermentei o melaço de Demerára despachado em ato
sucessivo o qual terminei hoje[?] a fermentação e já despachei [...] de Demerára na rua da Dificuldade[?]
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
125 Válvula inventada por Germaine Dulac, escritora e militante feminista, e o americano Lee de Forest.
75
A extracção em assucar de 10.882.155 kilogramas de canna d’este anno foi, segundo o seguinte calculo:
assucar 1er jet – ..................612.944 kilogramas
“ 2er jet – .................162.905 “
“ 3er jet –.....................54.854 “
assucar crystalisavel no melaço reduzido a alcool .........143.978 kilogramas
Glucose do melaço transformado em alcool
e reduzido a assucar cristalizavel .......................................8.413 “
assucar extrahido do bagaço pela
lavigação e transformado em alcool............................ 134.580 “
1.117.674 kilogramas
Extracção por 100 kilogramas canna 10, 27 kilogramas de assucar
11/10/901 [Ass:] Ferraz //
76
[DATA: 30 de Novembro de 1901
DESTINATÁRIO: H. Manoury; LOCAL: Paris]
[76] 12630 Novembre 1
Monsieur H. Manoury
34 Rue Faitbont, Paris.
Monsieur,
J’ai reçu ces jours á, une notification pour le paiement de 24 Francs, le montant de ma cotisation (1901-1902) à
L’“Association des Chimistes de Sucrerie et de Distillerie”.
Je l’ai renvoyé, du que je vous avais, prié, en date du 5 courant, de payer cette somme et debiter Messieurs William Hinton
& Sons.
Veuillez agreér, Monsieur, mes bien sinceres salutations. [Ass:] João Higino Ferraz. //
126 Esta carta, à excepção da assinatura, não saiu do punho de Higino Ferraz.
127 José Júlio de Lemos.
77
[DATA: 8 de Junho de 1902
DESTINATÁRIO: A. Hoffman]
[80] 8 Juin 902
Monsieur A. Hoffmann
Cher Monsieur
J’ai bien reçu votre honorée du 9 Fevrier, et je vous demande mille pardons de ne pas l’avoir repondu plutôt. Voici pourquoi:
La maladie dans la canne existante dans cette Isle, dont nous avions des soupcons au commencement de l’année, est
aujourd’hui un fait accompli, de sorte que nous sommes obliges de faire de nouvelles plantations, et comme les plantes de canne
Yuba, que nous possedons, sont á peine suffisantes pour nos besognes, nous regrettons beaucoup ne pouvoir vous les Envoyer.
Monsieur Manoury vous a deja parler de ceci, probablement, parce que on m’a dit qu’il proposait d’aller vous voir.
Toujour à vous, je vous prie d’agréez, chez Monsieur, l’assurance de mes sentiments les plus distinguis
Gerente de la Fabrica de Assucar de Messieurs William Hinton & Sons – Madeira – [Ass:] João Hygino Ferraz //
78
Elle é da mesma opinião que eu, que pode ser despachado pelas fabricas matriculadas pagando metade dos direitos
establecidos para garantia dos fabricantes matriculados, isto é, 15 reis por kilograma. Offereceu-se emediatamente para
interceder n’essa questão, visto a grande vantagem que pode advir para a industria do assucar na Africa, por isso que podem
contar com este mercado para o seu melaço, e mesmo na Madeira escreveu ao Ministro da Marinha recommendando-lhe o
assumpto o que é de grande valor. Como temos na Alfandega um casco de melaço de proveniencia d’Africa combinei com o
Sobral e fiz o despacho do dito casco, que como sabe elles querem que pague os 30 reis, mas // [84] levamos recuso d’isso, e
essa questão levantada com a interferencia do Ministro da Marinha talvez seja de mais facil solucção para nôs.
Seria bom o Senhor Henrique escrever ao Costa Campos para que logo que lá chegue esse recurso lhe fazer dar o andamento
devido chamando a attenção dos ministros da Marinha e Fazenda. Já combinei com o senhor Chassereau para escrever ao Costa
Campos recommendando-lhe isso, porque tenho receio a sua carta chegue um pouco tarde, e por isso haver demora na solucção
do negocio.
Fiz o calculo do rendimento da canna d’assucar do correntre anno que dá o seguinte:
Por 100 kilogramas canna
Assucar 1º jet ..........................................6,770 kilogramas
Dito 2º jet................................................0,413
Assucar no melaço reduzido a alcool
contando a 60 % de rendimento .............2,472
Assucar no petit jus e borras de
defecação reduzido a alcool .................. 0,317
Assucar total extrahido .......................... 9,972
Este calculo dá quasi certo pelo calculo do rendimento feito pelo Buisson no resumo geral da fabricação. O que acho
exageradissimo é a percentagem d’assucar contida no melaço, e que me parece que com uma boa turbinagem o rendimento do
1º jet deve ser muito meior, evitando que 100 kilogramas de canna dê 5,329 kilogramas de melaço! No anno de 1901 a
producção de melaço foi de 3,369 kilogramas, mas como este anno se extrahiu pela diffusão mais 27% em assucar o melaço
devia ser de 4,278 kilogramas, (trabalhando mal). //
[85] Fiz a analyse do melaço d’Africa que foi despachado no dia 12, que me deu o seguinte:
Analyse qualitativa:
Aparencia – claro-transparente
Gosto – Doce franco
Densidade Baumé – 40 1/2 º
Pureza – 54,3
Analyse quantitativa:
Densidade ———- 5,75
Temperatura ——- 25º
Polarisação – 22,7º = 40,6% assucar cristalisavel
Glucose – 2,4 centimetros cubicos = 24,12%
Clerget – 7,6
tudo[?] – 25
} = 43,36% assucar cristalisavel
Como vê o melaço é <de> magnifica qualidade, e pela pureza pode ser comparado ao nosso egoût pauvre de 1º jet que na
media foi de 50. Se todo o melaço d’Africa fosse como este seria muito bom, mas duvido, parece-me mais ser este melaço
producto de fabricação pelo sisthema antigo com as formas de secagem do assucar.
Diffusores: – Vamos principiar ámanhã na desmontagem d’elles, e espero ou por carta ou por telegramma se sempre se vão
montar mais 2 ou mais 4 diffusores [.] Com relação a altiar os diffusores temos duas cousas: A edeia do Mestre João Florencio
de fazer correr directamente as aguas dos esgotos dos diffusores no cano do vinhão dá em resultado termos que altiar os 2,90
metros o que dá uma altura descomonal. A minha edeia era levantal’os a ficar na altura do tabuleiro dos cylindros do engenho,
conservando as mesmas alturas dos fundos diffusores // [86] ao fundo do poço hoje existente, o que nos faz levantar os
deffusores somente 1,30 metros: Por baixo do taboleiro que recebe o bagaço colocava-se um deposito de ferro que receberia as
aguas, as quaes seriam absorvidas pela bomba centrifuga que não tem serviço e as deitaria no cano do vinhão; para melhor
clareza faço-lhe o desenho:
79
D’estas duas edeias o Senhor Henrique dirá qual a que acha mais conveniente e para evitar demoras seria bom telegraphar
uma palavra que indicasse qual a que deseja, por ex: Florencio – queria diz[sic] que se devia fazer o que o Mestre João propõe,
e Ferraz, que seria a minha edeia.
Na proposta de João Florencio não vejo inconveniente por isso que temos que levantar o tanque da agua na mesma
proporção dos diffusores; a única cousa que tenho duvidas é a bomba centrifuga ter que sofrer um resistencia [sic] de 2,90
metros a mais, e fazer má circulação.
Naturalmente vou principiar a fermentação no dia 23 do corrente; logo que aqui cheguei começou o alcool a ter melhor
sahida devido a ser a época das vindimas. //
[87] 15 setembro 902
O rendimento do melaço de Barbados conforme o Lote Nº 18 foi de 9,5 gallões a 100º por 100 kilogramas melaço, que é
um bom rendimento.
O filtro-presse que foi para casa do Senhor Krohn fiz-lhe o preço de 150$000 reis. Aquele filtro novo andou costando perto
de 300$000 reis.
Uma cousa que lhe queria fazer notar na montagem dos diffusores e que me hia esquecendo era a passagem das cannas para
o engenho de espremer: Pela edeia do Mestre João Florencio os homens podem passar por baixo do taboleiro do bagaço dos
diffusores por isso que fica com bastante altura, emquanto que com a minha edeia temos que arranjar passagem por denttro do
armazem velho.
Sem assumpto para mais subscrevo-me
Seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
80
[DATA: 15 de Setembro de 1902
DESTINATÁRIO: Maxim Buisson; LOCAL: Gonesse, França]
[88] 15 septembre 902
Monsieur M. Buisson Gonesse
Cher Monsieur
Je vous remercie de votre amable lettre du 14 aôut, que j’ai trouvé à mon retour de Lisbonne.
En ce qui concerne le devis des produits chimiques etc. necessaires pour notre laboratoire je ne puis pas vous donner aucune
decision avant le retour de Monsieur Hinton129, qui se trouve absent.
Vous parlez du froid à Gonesse, et bien, nous sommes grilles? – Il y a peu de jours que le thermometre prés des bureaux de
Blandy enregistrait 110º Fahrenheit, à l’ombre!!
Je vous remercie de lá formule d’engrais pour la canne.
Monsieur Bianchi ainsi que Monsieur Chassereau se rappellent a votre bon souvenir, et je vous prie, chez Monsieur, de
agrier mes plus sincères salutations, [Ass:] João Higino Ferraz //
É esta a composição que nos ditos artigos vejo tambem aconselhados por Monsieur Georges Ville.
O que lhe falta acrescentar é a forma de os empregar o que tem grande importancia como se vai ver:
A mestura d’estas tres substancias chimicas devem ser feitas no momento de empregar, e não devem ser de forma alguma
compradas já mesturadas; o superphosphato de cal decompõe o nitrato de potassa sendo a mestura feita muito tempo antes do
emprego nas terras, ficando sem effeito a sua acção sobre a planta. A occasião melhor para o // [91] empregar é sempre no dia
seguinte ao da rega e nunca antes, porque sendo estas substancias chimicas muito soluveis a grande quantidade d’agua de rega
129 Harry Hinton.
81
as prefundaria demasiadamente alem das raizes da planta, e pouca acção faria n’ellas.
Um dos grandes males para a nossa cultura de canna d’assucar é o mau habito que há em esfolhar a canna quando as suas
folhas não estão desagregadas da haste, porque sendo a respiração da planta feita pelas folhas, assim como a formação do
assucar, a canna deixa de se desenvolver bem e a proporção do assucar diminui sensivelmente.
São estes os conselhos dados por Monsieur Buisson os quaes a meu ver devem ser seguidos pelos propriatarios que
desejarem conservar as suas culturas de canna e apresentar ao mercado productos com boa percentagem de assucar.
Pela publicação d’estas despretensiosas linhas muito grato lhe ficará o seu Attencioso Amigo Obrigado [Ass:] João Higino
Ferraz //
82
kilogramas, isto é, pelo custo. Para o nosso assucar as vendas estão quasi paradas principalmente para o assucar B1; do B2 pouco
há, umas 50 sacas pouco mais ou menos.
O Costa não está satisfeito por não termos baixado os preços, porque teem feito poucas vendas. Se não baixei a mais tempo,
foi devido a uma carta da firma Emile Nolug[?] & C.ª de Hamburg, de que o Carlos131 lhe vai enviar copia, em que diz os
assucares terem tendencia para subir em vista do Governo retirar o premio de expropriação.
O Costa prevenio-me que hia mandar vir 200 sacas d’assucar sendo 100 egual á marca B1 e 100 da B2 e por tal preço que
de forma alguma poderiamos competir segundo o que elle me mostrou.
Devido a isto tudo vi-me obrigado a descer os preços dos assucares a 100º por 15 kilogramas para os typos B1 e B2 e a 50
reis por 15 kilogramas para o mascavo, para evitar novas remessas que nos podem prejudicar bastante tanto no assucar existente
como no futuro assucar que se possa refinar e que tenho esperanças se fará.
Acabo agora de vir da Alfandega e sube terem vindo mais 200 sacas. O Costa enviou-me n’esta occasião a amostra d’esse
assucar que é do typo B2. Não sei por emquanto a quem veio, mas isso é o menos, a questão é que continua a importação o que
é necessario evitar.
Acaba de chegar da Alfandega o Barros que me trouxe nova amostra do assucar e que diz vir ao Eduardo O. de Freitas, e
diz-me elle que se esperam mais 250 sacas de Hamburgo no vapor que está a chegar. //
Temperatura 25,6
} 66 em 20
83
Clerget – assucar real = 1,99[?]%
Materias Seccas 88,45
Pureza 47,4
Ao Lemos132 sempre lhe chegou o navio <da Trindade> com o melaço, cuja analyse é a seguinte:
Densidade [...]5
Temperatura [...]
} 5,59 em [...]
84
[DATA: 24 de Julho de 1903
DESTINATÁRIO: Roberto de Campos]
[99] 24 Julho 903
Ex.mo Senhor Roberto de Campos
Amigo e Senhor
Recebi suas estimadas cartas de 17 e 19 de Julho que muito lhe agradeço e do qual fico sciente.
Enviamos a V.ª Ex.ª a correspondencia do Ex.mo Senhor Henrique Hinton que fará o favor de lhe entregar, porque não tenho
a certeza se elle tomará a Avenida Palace.
Ao receber esta já elle talvez esteja em Lisboa visto nos ter telegraphado dizendo que partia para Paris e depois Lisboa.
Sempre ás ordens de V.ª Ex.ª
Seu Attencioso Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
85
[DATA: 29 de Agosto de 1903
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[102] 29 Agosto 903
Amigo e Senhor Henrique
Estive doente uns 12 dias com uma angina e um amiaço de congestão plumonar, mas do que felizmente já estou bom,
somente um pouco fraco.
Quando recebemos a sua carta pedindo para que os jornaes d’aqui fallassem alguma cousa sobre a questão de canna estava
eu ainda de cama, mas dois dias depois levantei-me e foi tratar primeiro que nada d’isso. Fallei ao Barão do Jardim do Mar136
pedindo-lhe em seu nome para deixar que no Diario de Noticias se disesse alguma cousa sobre o assumpto o que elle me
prontificou emediatamente pondo-me o Cyriaco137 á minha desposição para o que fosse necessario: Fiz umas notas sobre que
deveria ser tratado o assumpto e elle fez sobre esses pontos um artigo de fundo que ficou bom. O Dr. Romano vai dizer qualquer
cousa no Popular mas só poderá aparecer no dia 1 de setembro [.] Os artigos do Diario de Nuticias foram publicados no dia 28
e 29 Agosto, não poude de forma alguma ser mais cedo.
Fallei com o filho do Dr. Manuel J. Vieira pedindo-lhe para que não fizesse questão pulitica d’isto e que dicesse qualquer
cousa a nosso favor. Tambem fallei com o Victorino dos Santos para influir de forma a que o Diario do Commercio ou não
dicesse nada ou se alguma cousa dicesse que fosse a nosso favor. Como sabe o Dr. Julio Paulo é contra // [103] isto, e como
elle é que manda segundo dizem no Diario do Commercio tive medo não viesse alguma cousa que nos prejudicasse. Como vê
está tudo prevenido até mesmo o Corrêio da Tarde.
Disse ao Carlos138 para lhe mandar os Diarios em que vem os artigos publicados.
O Melaço da Fabrica já esta aviado e tudo lavado sô falta destillar o resto da bebida [?] para então fazer o calculo real do
rendimento em melaço da laboração 1903.
O assucar de 2º jet deu 0,960[?] por 100 kilogramas canna. Por emquanto não há nada de anormal aqui.
Sem [...] //
86
1º jet .................................................6.770
2º jet ..................................................0.413
Assucar total no melaço (contando
a 60% <rendimento>) ...................................................2.472
Assucar no petit jus reduzido a alcool..........................0.317
Assucar total extrahido .....................9.972
Melaço por 100 kilogramas canna ..............................5,329 kilogramas!!! //
[105] A producção exagerada em melaço no corrente anno (6,040 kilogramas) não pode ser devido a outra cosa senão á
doença na canna. Contudo o systema de diffusão adotada este anno deu em resultado um augmento de rendimento em assucar
2º jet. O rendimento do melaço em alcool foi melhor este anno devido á pureza das fermentações mesmo sendo o melaço mais
pobre em assucar cristalisavel.
Deu-se um pequeno incidente entre a Comp. do Caminho de Ferro do Monte e nôs, devido a uma local publicada no
“Direito”, em que eu tratei de desfazer a má impressão produzida no publico. Fiz com que o director da Companhia publicasse
um desmentido, o que elle fez de boa vontade. A causa foi o exame feito ás caldeiras da locomotivas em que o nosso Engenheiro
foi perito por parte da Companhia. Quando voltar lhe explicarei melhor.
Um assumpto importante:
Tivemos aqui antes de hontem uma vesturia á Fabrica, (assim como tem havido em todas as outras) composta do Trigo,
Cyrilo dos Santos (empregado da Fazenda), e um outro empregado da Fazenda, do Continente, que não conheço: Esta vesturia
teve por fim principal a medição dos apparelhos de destillação para vêr a sua capacidade de producção, que segundo me disse
o Trigo o Governo mandou fazer, porque não se conformão com a capacidade das Caldeiras nos apparelhos continuos. Este
assumpto deve ser seguido com cuidado porque modando o Governo a lei que o regula pode-nos ser bastante prejudicial quanto
ao pagamento da contribuição industrial. Fiz bem ver ao Trigo que a capacidade de destillação deve ser contada sô a parte onde
se produz a distillação do vinho e não a columna de retificação, e que o melhor calculo deve ser o diametro da columna e não
a sua capacidade total.
Sem assumpto para mais Subscrevo-me seu respeitoso Amigo [Ass:] João Higino Ferraz //
87
[DATA: 3 de Outubro de 1903
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[108] 3 outubro 903
Amigo e Senhor Henrique Hinton
Como temos hoje um vapor para Lisboa aproveito a occasião para lhe escrever.
Fico com bastante cuidado com relação á questão melaço, por até hoje nada ter recebido que elucide essa questão. Estou
desejando que isso se resolva porque os envejosos já principiam a mormurar um pouco contra, por exemplo o Major Rego que
um dia d’estes na Associação Commercial, segundo me disse o Pedro Rodrigues, fallava com o Visconde Geraes de Lima dizia
que era uma pouca vergonha essa lei e que imfelizmente não havia ningem que reclamasse contra isso: Como vê se uns e outros
principião a mormurar podemos ser prejudicados por haver qualquer representação contra; quanto mais depressa resolver isso,
melhor.
Quando na ultima carta lhe dizia que tinha pouco alcool e que me via na necessidade de principiar a fermentação dizia-lhe
que o faria, mas devagar não fazendo senão pequenos despachos, porque bem comprehendia a necessidade de esperar a baixa
dos direitos. Quando recebi o seu telegramma em que dizia não despachasse fiquei sem saber o que deveria fazer, porque estava
compromettido com os Senhores Blandy com 200 gallões d’alcool bruto para 8 e 12 do corrente // [109] e como não tinha
nenhum é que me vi na necessidade de trabalhar no melaço muito mais cedo.
Do[?] alcool de 1ª sô tenho 630 gallões e do de canna 2500 gallões. O Senhores [sic] Krohn levaram 2000 gallões quasi a
seguir e foi isso que me fez em grande desfalque no alcool. Tenho encommendas de alcool de 1ª e 2ª a satisfazer até 20 do
corrente e muita gente se tem visto obrigada a levar alcool de canna para tratamento do vinho por não haver de 1ª qualidade.
Desejando que a resolução dos seus negocios sejam breves e favoraveis
Subscrevo-me Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
88
1000 com a competente baixa. O senhor Drury leva agora 500 gallões nas mesmas condições e espera pelos outros 500 até o
fim do mês.
Despachei primeiro este melaço que sô contem 34% de saccarose com 25% de Glucose e puresa 43,4, carregado em muita
cal e por isso não muito proprio // [112] para extrahir assucar. Tenho por isso melaço até a sua vinda, que segundo me diz é a
17 do corrente.
Quanto ao nosso assucar sô temos 200 sacas B1. Seria bom no caso de poder ser principiar na refinação, porque agua deve
haver d’aqui até lá; já principiou as chuvas e estamos com o inverno á porta. O assucar tem subido de preço no estrangeiro
devido como sabe aos governos Ingles e Alemão não darem premio de exportação.
Dos negocios da Casa corre tudo regularmente.
Seu Amigo e Obrigado
[Ass:] João Higino Ferraz
P.S. O Pedro Henriques disse-me que tinha encommendado 700 cascos de melaço de Demerára, para virem em dois lotes,
o primeiro em Dezembro e 2º em fevereiro proximo e pede para o Senhor Henrique lhe dizer se necessita mais algum, ou da
Trindade ou Antigua. //
89
a modificar o regulamento como do telegramma que lhe enviei hoje. Um dos que mais barulhos fazia era o Pinto Corrêa142 e
João B. Gomes.
Tive uma larga conferencia com o Pinto Corrêa sobre esse assumpto e disse-me elle que não queria de forma alguma
prejudical-o (ao Senhor Henrique) // [116] mas sim ajudal’o e proteger! n’esta questão, porque segundo elle, desde o momento
que o alcool de melaço podesse prejudicar a aguardente de canna o decreto cahiria por terra e seria um prejuiso para si. Fiz-lhe
ver os contras de tudo o que pediam que era; fixação do preço do assucar; fixação do preço do alcool e obrigasão da compra de
aguardente de canna, mas estão de tal forma persuadidos que o que pedem é justo, que não há meios de os convencer do
contrario. A representação deve hir no primeiro vapor por que assim lhe pedi e elles me prometteram, e acho que o Senhor
Henrique não deve vir de Lisboa sem que tenha essa questão resolvida.
Por aqui me vou aguentando com elles, é verdade que sou sô, mas felizmente elles attendem-me com toda a consideração.
O Dr. Manuel J. Vieira é tambem da mesma opinião, que não deve vir de lá n’esta occasião. Os propriatario [sic] do Funchal
estão todos mais ou menos satisfeitos com o decreto, mas o consumidor é que brama contra a subida dos direitos do assucar a
145 reis. Tenho querido fazer ver que essa subida sô serve para garantia do nosso assucar refinado, e que o assucar tem que
descer infalivelmente. Como na outra carta lhe disse tenho despachado 160 cascos de melaço a 6 reis, mas o Sobral mandou-
me chamar para me prevenir que tinha recebido telegramma para não dar mais despachos n’essas condicções emquanto não
receber [...] regulamento: Perguntei-lhe se teriamos de entrar novamente com os direitos que tinhamos pago // [117] a menos,
mas disse-me elle que não tinha recebido ordem n’esse sentido: O Curcon (1º verificador) é de opinião que não temos que entrar
com cousa alguma e que no caso de vir essa ordem que devemos levar recurso.
Tenha paciencia da despesa que tem tido nos telegrammas, que lhe tenho enviado, mas acho conveniente o ir enformando
do que se vai passando.
Por emquanto não foi recebido aqui pelo Governador Civil nada com relação ás fabricas matriculadas, e o Dr. Jardim
d’Oliveira143 cecretario Geral servindo de Governador Civil prometteu-me que me avisaria logo que recebesse. Elle publicou
um artigo[?] ao Ministro das Obras Publicas no Diario do Commercio com relação ao Decreto, como deve ter visto.
Nada mais lhe posso dizer sobre este assumpto, e do que houver lhe darei conta por telegramma ou por carta.
E os negocios da Casa nada de anormal se tem dado; vai tudo regularmente.
Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
90
3000 reis por 100 kilogramas, casco incluido, no porto do Funchal, pagamento a 90 dias. Este melaço deve produzir 9,2 a
9,5 gallões d’alcool por 100 kilogramas.
Na carta disse-lhe que desejava saber qual a quantidade que nos podiam fornecer, e que no caso de nos poder arranjar melaço
com menos percentagem de glucose o preço seria um pouco melhor. Fiz-lhe bem notar que esse preço sô tinha valor até 15 de
Dezembro proximo e quando o melaço continha a percentagem de assucar e glucose acima dito; ou o seu correspondente em
saccarose.
Sem mais que lhe diga, subscrevo-me Seu Amigo Obrigado
[Ass:] João Higino Ferraz
P.S.. Como ficou combinado telegraphei ao Dr. Romano dizendo o testo do telegramma do José Leite, dizendo-lhe ao mesmo
tempo que o Senhor tinha partido para Londres e que escrevia. [Ass:] Ferraz //
91
alcool.
Estou fazendo uma cousa sem sua auctorisação mas que me parece ser de alguma jantagem[sic]: Como este melaço que
estamos despachando (de Demerára) tem grande quantidade de assucar no fundo dos ponches, que é deficil de derreter, estou
mandando desfundal-os e tirar-lhe todo o assucar precipitado que regula entre 65 a 75 kilogramas por ponche, e estou
guardando-o // [123] em tanques de ferro, para no caso de vir o regulamento já esse assucar pode servir para derreter e dar ponto.
Fiz uma analyse de esse assucar que mostrou 71,7% de saccarose, que como vê é uma boa percentagem e que é pena reduzil’o
a alcool.
Pelo calculo seguinte se pode ver qual o resultado em alcool e assucar
100 kilogramas d’esta massa com 71,7% assucar dá 43
litros d’alcool a 100º a 300 reis por litro 12.900
100 kilogramas da dita com 71,7
kilogramas assucar a 200 reis 14.340
Differença a mais no assucar 1.440 reis
Por esta mala mais nada lhe posso dizer de importante; o Carlos148 vai enviar-lhe umas cartas que recebemos para dar a
devida resposta.
Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
92
Considerando que o assucar de Demerára ou Barbados importados dá um rendimento de 90% com uma percentagem em
assucar de 97,2% e 0,15 de glucose o nosso assucar M da Fabrica não deve produzir mais de 83,5% d’assucar vendavel, temos
por conseguinte:
assucar refundido 2700 kilogramas a 83,5% = 2.254 kilogramas
O assucar produzido 3.750 kilogramas
Produzido pelo melaço 1.496 kilogramas
O que dá um rendimento de 77 kilogramas d’assucar por ponche, ficando os egouts para cosimento de 2º jet, e o nosso
assucar M, transformado em assucar vendavel.
São estas as considerações que lhe posso fazer, e que me parece haver vantagem em continuar o trabalho d’esta forma. Temos
ainda 600 sacas d’assucar M que dão para 16 pés de cuite representando o trabalho de 330 ponches de melaço de Barbados.
Espero que me mande dizer o que devo fazer, se continuar com os cosimentos em 2º jet(?), ou fazer como acima digo //
[126v] Com relação ás cartas para Lisboa sobre o assumpto de matriculas está tudo feito como desejava. O Justino149
escreveu ao José Ribeiro uma boa carta com boas considerações e que acho deve produzir algum effeito, se elle mostrar ao
Ministro, a carta está bem feita e as considerações apresentadas são de grande valor. Elle tambem escreveu ao Abecassis mas
não me mostrou a carta.
Quanto ao memoreal para o J. R.150 apresentar ao Ministro foi escrito á mão, como manda a praxe, os outros á machina.
Tive um aborrecimento com a letra do Pestana Santos151 que não foi paga no Banco no dia do vencimento e foi protestada
o que nos obrigou a pagal’as como é da praxe. Elle veio aqui commigo varias vezes para reformar a letra mas não consenti e a
questão segue o seu caminho legal. É um grande intrujão o tal senhor, andava a ver a forma de me embrulhar com propostas
mas a nada dei ouvidos porque não quero responsabilidades. Se o Senhor cá estivesse poderia fazer o que muito bem entendesse.
Logo que a agua estava em estado de funcionar lhe mandarei dizer: Lembrei-me que seria melhor chamar o levadeiro da
Camara e offerecer-lhe alguma cousa para o termos á nossa mão.
Sem assumpto para mais Subscrevo-me Seu Amigo [Ass:] João Higino Ferraz //
93
[DATA: 1 de Agosto de 1904
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[129] 1 Agosto 904
Amigo e Senhor Henrique
Envio-lhe junto com esta uma nota do rendimento total do primeiro cosimento do melaxeur com melaço de Barbados e
refonte d’assucar para ver o bom resultado obtido com esta forma de trabalho. O cosimento de 2º jet foi bom de turbinar e como
vê o seu rendimento foi magnifico.
Quanto ao cosimento de 2º jet da Melasse Cuite melaxée com melaço de Barbados e assucar da Fabrica tambem tem assucar
bastante e não deve render menos do que o outro.
Está um calor insoportavel, e as aguas são poucas e mornas de forma que me vejo na necessidade de trabalhar devagar, mas
mesmo assim a temperatura das fermentações são altas bastante prejudicando o rendimento. Nada posso fazer para evitar este
inconveniente.
O arranjo da agua da Camara deve ficar concluido esta semana segundo me diz Marsden152, e logo que eu tenha feito a
esperiencia se funciona bem mando-lhe telegramma como ficou combindo, para vir o Cosedor.
Temos em assucar do melaço de Barbados 2º jet 1000 sacas feitas e como estamos seccando o poço grande e faltão 2
pequenos para seccar cal-//[130]culo dár mais umas 400 sacas. Do assucar estrangeiro temos 100 sacas na Alfandega para
despachar; que quantidade de assucar o senhor Henrique deseja refinar? Era necessario eu saber isso para ver o que devo fazer.
Como temos pouco Baryte e vai ser necessario mandar vir mais para o anno proximo, será bom o senhor Henrique fallar ao
Naudet153, sobre o novo processo do tratamento das garapas e xaropes pelo aluminate de Baryte que em sucrerie de beterraba
tem dado muito bom resultado percipitando as matiers grasse. Já teem feito esperiencias nas fabricas de assucar de canna mas
por emquanto não estão poblicados os seus resultados.
Por emquanto nada mais tenho a dizer-lhe de importante.
Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
152 Charles Henri Marsden (1872-1938), engenheiro natural de Essex que veio para a Madeira em 1902 e esteve ao serviço de Hinton até 1937, como
engenheiro chefe do engenho. Foi o responsável por todo o processo de modernização da maquinaria do engenho. Em 24 de Agosto de 1921 registou a
patente de um sistema para maior aproveitamento do esmagamento da cana.
153 León Naudet.
94
alcool de 2ª — 2650 gallões
Dito de 1ª — 2300 “
Dito para restillar — 4800 “
Como vê o alcool de 2ª é pouco mas como temos bastante de 1ª temos alcool para os vinhos novos.
O Leacock desejou 3000 gallões de 2ª que já lhe foi entregue 1500.
Sem assumpto para mais subscrevo-me Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
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[DATA: 22 de Agosto de 1904
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[137] 22 agosto 904
Amigo e Senhor Henrique
Recebi e agradeço a sua carta de 9 agosto, em que me diz ter recebido o telegramma com relação ao cuiseur. Fiquei
descontente por emaginar que o Senhor quizesse fallar com o cuiseur antes da sua partida para aqui, mas como ficasse
combinado que logo que a agua ficasse prompta o cuiseur viria emediatamente por isso telegraphei ao Naudet157 pedindo-lhe
enviasse o homem; alem d’isso n’uma das suas carta dizia-me que o cuiseur estava á espera da ordem de partida. O homem
chegou aqui no dia 17, no Normen[?], mas sô posso principiar hoje (segunda feira) em vista de a bomba de ar não estar prompta
antes; e era necessaria para a sulfitação dos egoûts. A semana passada fiz alguns cosimentos no melaxeur com pé de cuite de
assucar M e os egouts são para destillar.
O cuiseur pareçe ser entendido na materia, é já um homem de seus 50 annos e tem melhor aperencia que o Micheau.
Já combinei com elle a forma de fazer a refonte que será desfeito em 25º Baumé aquecida e passado aos filtros mechanicos.
Os egouts // [138] serão sulfitados, tendo-lhe junto solucção de baryte com uma legeira reacção alcalina, e a sulfitação será
levada até á reação ligeiramente acida.
Vou esperimentar fazer os cosimentos na Francesa sô com a refonte do assucar e as egoûts serão épuisée no melaxeur, tendo
passado para elle um pé de cuite de refonte da Francesa.
O cuiseur diz que se se empregasse o carvão animal o assucar seria muito melhor mas nem temos filtros nem carvão em
estado de servir, e para empregar o carvão em pô seria necessario passar o charope a um filtro presse, que o temos, mas não
está em condicções de trabalhar por não termos nem panos nem a bomba montada. Em fim tenho esperanças de que fazendo
um cosimento na Franceza com a refonte pura esse assucar deve dar bem branco; e os egoûts sendo sulfitados, e no melaxeur
com pê de cuite puro tambem deve dar assucar bom.
Quanto ao que me falla com relação a se tirar um ramo da agua aos moinhos para os alambiques, nem é bom pensar n’isso,
porque a agua que a bomba centrifuga absorve é a indispensavel para a columna barometrica. //
[139] Com relação ao rendimento do melaço de Barbados em assucar foi o seguinte:
Melaço empregado no cosimento
de 2º jet até 6 de agosto = 420.639 kilogramas
assucar 2º jet produzido = 120.504 kilogramas
Melaço épuisée para destillar 239.274 kilogramas
Ainda nos resta d’este carregamento 24,645 kilogramas que é o que se tem feito no melaxeur com pé de cuite M.
O assucar de 2º jet de Barbados tem-se conservado bem até agora, e não vejo signal de fermentação.
Sempre lhe quero dizer que o melaço que temos são 300 cascos e 600 em viagem e o da Antiqua, mas não me pareçe que
este melaço dê para todo o anno, e é pena reduzir este melaço de Barbados a alcool quando elle dá melhor em assucar. Para
alcool o de Demerára seria melhor, e se tivessemos melaço suficiente poder-se-hia reduzir a cosimentos de 2º jet o melaço de
Barbados, para ser turbinado no mez de Janeiro a miados de fevereiro, e o assucar servir para refonte na garapa em logar de se
importar assucar como se fez este anno.
O Antonio Justino mostrou-me uma carta de Lisbôa em que lhe dão todas as esperanças que a questão das matriculas seram
resolvidas como deseja, mas foi necessario // [140] instigar a pessôa que trata d’esta questão (que é um homem pratico) com
uma promessa de gratificação, para a qual elle veio combinar commigo se se poderia prometter isso, o que eu rosolvi bem sem
sua auctorisação para evitar delongas, mas com a condição que sô receberia no caso em que a questão nos viesse favoravel e
depois de publicada no Diario do Governo.
Já tenho o memorial prompto para entregar ao Frederico Martins que deve partir para Lisboa até o fim do mês.
Com relação ao J. Carlos nada há de novo, naturalmente foi mal entendido do Senhor João Blandy158. Tenho tido uns
pequenos aborrecimentos por causa da agua dos moinhos porque o levadeiro emagina que a agua não lhe vai lá toda, mas vou
sanar todas as deficuldades dando-lhe a gratificação adiantada, para pôr o homem de bons umores.
Para o outro correio lhe darei conta do resultado da refinação.
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
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[DATA: 22 de Agosto de 1904
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[141] 22 Agosto 904
Senhor Henrique
Já hia fechar a minha carta quando o João me diz que, já duas pessoas se queixão que a agua dos moinhos vai morna para
as poços onde tem morto patos e peixes. Acho um pouco exagerado, mas <são> sempre reclamações que não fazem bem.
No sabado esteve aqui o Veriador do peloro da agua que é o João d’Araujo, com o levadeiro e foi-lhe mostrar como entrava
e sahia agua da Fabrica, e elle por seus proprios olhos viu que a agua sahia limpa, somente um pouco quente e com um leve
cheiro a assucar, mas essa quantidade de agua quente é mesturada na levada com mais do dobro de agua fria que corre
directamente da levada dos moinhos, de forma que o Araujo foi convençido que as reclamações do levadeiro não teem grande
rasão de ser. Sempre é mau principiar estas pequenas reclamações e estou com medo isto não vá a mais: Muito desejava que o
Senhor estivesse agora aqui para avaliar por si mesmo as // [142] deficuldades em que me vejo. Da levada das Hortas tambem
fervem as reclamações.
Nada queria senão que viesse uma boa chuva mas infelizmente o calor cada vez é meior.
Emfim do que houver lhe darei parte. [Ass:] João Higino Ferraz //
97
Como não temos por emquanto melaço epoisée não lhe posso mandar a analyse. Os egoûts riches entrão na refundição do
assucar. //
[145] Duas palavras sobre o cosedor: O homem sabe bem do seu officio é muito cuidadoso no seu trabalho; é sobrio e
delicado. Diz elle que já trabalhou em Fabricas d’assucar de canna em Martinica e que conhece a forma de cozer xarope de
canna. Ficou ademiradissimo que houvesse um cosedor que deixa-sse[sic] chegar o cosimento de forma a formar sobre as
cerpentinas de vapor os cascos que lhe mostrei. Diz elle que a caldeira Franceza é boa mas necessita muito cuidado, e que
naturalmente ou havia descuido ou cristalisava com vacuo muito baixo, o que em assucar de canna se não pode fazer. Perguntei-
lhe se elle poderia vir aqui nos mezes de Fevereiro a Junho fazer a laboração, disse-me que sim, e acho que, mesmo que custe
100 francos por mez val muito mais que o Michou. Em fim o Senhor Henrique decedirá o que achar de melhor.
Naturalmente se o Senhor estiver aqui no dia 21 setembro ainda o cuiseur cá estará.
Com relação ao que me diz sobre o melaço da Felizberta da maneira que o chimico ensinou ao Wilkinson de fazer descer o
assucar não me agrada muito, porque não me parece que haja outro meio senão o acido, e isso é um // [146] grande mal para a
fabrica de assucar; emfim veremos pela analyse qual a acidez d’esse melaço.
A Esperança está a chegar de um momento para o outro, com um carregamento de 380 cascos segundo me disse o Pedro
Rois, e no caso de o melaço ser bom vou ficar com 150 cascos.
Com relação á agua dos Moinhos cá vamos trabalhando ainda que de tempos a tempos apareçem pequenas reclamações, que
tenho remediado.
Por emquanto não recebi o remedio que o Senhor Henrique fez o favor de me comprar; virá na outra malla?
Sem assumpto de meior importancia a dizer-lhe vou terminar; até á outra malla.
Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz
P.S. Uma cousa que me esquecia de lhe dizer era que, o cuiseur disse-me que o Naudet159 lhe havia dito que o trabalho da
refinação seria de 2 1/2 a 3 mezes, e elle ficou muito desconsolado quando eu lhe disse ser sô necessario 1 1/2 mez. O que elle
deseja é então estar em França em Outubro para a fabricação da beterraba. [Ass:] Ferraz //
98
assucar – 89,6%
glucose – 1,92%
Não me parece que haja vantagem em mesturar este assucar com B2 da Fabrica para refinação porque nem um nem outro
dará branco. Temos feito até hoje 20 cosimentos na Franceza e no Melaxeur e sô agora é que tenho egoût pauvre para cosimento
de 2º jet; uns 400 litros, com a seguinte analyse:
assucar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48,38%
Glucose. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17,54%
Pureza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61,7
Coefficiente Glucosico. . . . . . . 36,2
Este melaço está claro mas um pouco [...] de forma que deve ser reduzido a 2º jet.
A analyse do assucar refinado levando metade do de Barbados mostrou
assucar – 99,2%
glucose – 0,12% //
[149] Temos feito até hoje (em 20 cosimentos) aproximadamente 846 sacas d’assucar refinado de 100 kilogramas cada uma.
O rendimento da Melasse Cuite tem sido de 72% em assucar turbinado, o que é um bom rendimento. No tempo da laboração
com xarope de canna o rendimento era de 58%
Quanto ao que o Senhor Henrique diz na carta do Carlos que ficou descontente por ter vindo o cosedor sem ter fallado com
elle, não tive culpa alguma, por isso que, não me tinha prevenido d’isso.
Fiz um calculo da despeza de combustivel e pessoal n’esta questão de refinação que me deu o resultado de 50 reis por 15
kilogramas d’assucar refinado. Neste calculo está incluido, já se vê, o cosedor.
Quanto á quebra da refinação não lhe posso dár o resultado, porque nada se pode ver sem fazer uma liquidação de todo o
xarope e egouts em trabalho. Se acha isso de grande necessidade pode-se fazer, mas não me parece que a quebra seja mais de
2% não incluindo o xarope em que vai imbevido os sacos dos filtros que é para aguardente.
Alcool: Temos em deposito da qualidade B 4000 gallões, e da 1ª qualidade em deposito e por restillar temos uns 7500 a
8000 gallões aproximadamente.
O senhor Cossart161 já está inteirado e diz que por estes primeiros mezes não quer mais //
[150] Com o que não estou nada satisfeito é com o rendimento do melaço. Terminei um lote que apenas me deu 8,1 gallões
d’alcool puro a 100º e as fermentações são boas em vista da differença da acidez entre a normal e a final, os apparelhos de
destillação estão trabalhando bem; não vejo a causa do pouco rendimento senão nas temperaturas elevadas da fermentação que
evaporão algum alcool.
Tenho trabalhado devagar por isso mesmo, mas o alcool felizmente tem chegado para as encomendas
Vou principiar hoje a gastar o melaço de Barbados para aguardente sem extrahir assucar por isso que o outro aviou.
Quanto ao Pedro Pires não é possivel elle mesturar por emquanto alcool na aguardente de canna porque segundo elle diz
tem ainda 7000 gallões d’aguardente e não vende quasi nada por querer aguentar o preço como o Senhor Henrique lhe
recommendou. Quanto ao resultado da Fabricação diz elle que espera apresentar alguns lucros.
Na carta ao Carlos o senhor Henrique diz para eu esperimentar sulfitar o melaço de Barbados? Mas n’esta occasião estamos
tratando da refinação do assucar e não temos em trabalho nenhum melaço de Barbados…
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
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Segundo as cutações do assucar que o Costa tem o assucar subio, de forma que o assucar do Paizes [sic] Baixos, deve ter
subido na proporção e n’este caso poderemos competir com eles, principalmente na qualidade.
Recebi no dia 10 uma carta do Quirino162 em que me pede para lhe telegraphar se o assucar dos Paizes Baixos já se pode
despachar nas condições em que Direcção Geral das Alfandegas deu o seu parecer de ser isento do impacto de producção,
telegraphei-lhe isento como elle pedia. Alem d’isso pedia-me tambem para acrescentar ao telegramma se a fiscalisação
continuava, e se continua lhe telegraphar sempre, o que fiz. Isto naturalmente é devido a alguma carta sua ao Quirino? Vou
escrever-lhe pelo primeiro vapor retificando os telegrammas.
Junto a esta encontrará o calculo do rendimento como na sua ultima carta desejava. Tive que fazer uma liquidação completa
do trabalho por isso que os ultimos cosimentos já não corrião tambem como os outros. Como vê temos 2 cosimentos não
turbinados, que por serem deficeis de turbinar // [152] me vi na necessidade de os tirar dos melaxeurs e deital’os nos tanques
de ferro para serem torbinados mais adiante, de forma a não atrapalhar o trabalho. Principiei de novo.
O cosimento de 2º jet dos egoût da refinação não é grande cousa e deve naturalmente dar pouco assucar. O melaço é gresse
em grau elevado. Como vê a quebra foi de 2% como eu tinha previsto na minha ultima carta.
Desejava saber se no caso de se ter refinado todo o assucar necessario quer que mande o cuiseur embora ou se quer que o
deixe ficar até o Senhor Henrique vir fazendo elle os pés de cuite para o melaço de Barbados com João Martins, trabalhando
de dia e de nuite. No caso de querer que elle fique telegraphe Fique: e no caso de não querer, deve telegraphar Retire. Pedia-
lhe resposta breve. Junto a esta encontrará tambem uma traducção de uma carta em espanhol de Porto Rico que o cuiseur
Monsieur[?] Frederique fez favor de traduzir (elle entende o espanhol)
Essa carta é interessante para o Naudet163 visto ser o Manoury que tirou patente em Porto Rico do processo de diffusão do
Bagaço. Não respondi á carta: espero por si. Esta será naturalmente a minha ultima carta. Tive que suspender novamente o
fornecimento de alcool para Camara de Loubos em vista de reclamações que tem aparecido sendo uma do Tenente Coronel //
[153] Rego que se queixa que os de Camara de Lobos vendem aguardente de canna nesta epoca a menos de 1000 reis. Neste
caso preveni-os de que lhe não poderia fornecer alcool em quantidades elevadas sem que o Senhor Henrique volte e
dezedirá[sic] o que se deve fazer.
O Antonio Justino diz que tem ainda em aguardente de canna pura uns 15.000 gallões e em São Martinho ainda há alguma
mas pouca. Eu com receio de alguma representação feita pelo Rego achei mais prodente suspender por emquanto o
fornecimento de alcool em quantidades superiores ás necessarias para o tratamento dos vinhos de Camara de Lobos. Não desejo
tomar a responsabilidade de tal cousa.
Sem assumpto de maior importancia espero a sua volta no dia 28 e subscrevo-me seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino
Ferraz
P.S. Acaba de estar aqui o Antonio Justino mostrando-me uma carta de Lisboa do Abecassis em que diz estar tratando da
Questão das matriculas com todo o empenho e pede-me para lhe dizer isto. [Ass:] Ferraz //
100
Com relação á fiscalisação continua da mesma forma, por isso lhe telegraphei sempre, como do seu desejo. Não posso
comprehender como depois de termos assignado um termo de responsabilidade e em que o regulamento diz se deve retirar a
fiscali-//[155]sação, ella continue da mesma forma, obrigando-nos a uma despeza avultada…
Com franqueza não vejo a vantagem d’essa fiscalisação, porque aqui entre nôs, os guardas nada fiscalisão
Sempre ás suas ordens, crêa-me seu sempre sincero Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
101
escripto mas que estava confiado nos bons resultados dos seus desejos. Disse-me então elle que, estando n’um grupo no mesmo
Jardim, em que se achavam reunidos o Luiz Pereira, Pedro Lomelino, Carlos Carvalho, Octaviano e elle, principiou a conversa
sobre menopolios, em que veio a lume a questão de melaços e assucar e matriculas dizendo o Luiz Pereira e Carlos Carvalho
que esta questão de alcooes de melaços era uma verdadeira pouca vergonha, que não podia continuar assim, ou Leça se podia
matricular ou então a matricula devia ser livre para todos (asneira), e que o Hinton estava muito confiado na sua força mas que
de um momento para outro a perderia completamente, que em poucos dias se veria o resultado: Foi n’esta altura da conversação
que o L. Pereira fallando ao ouvido do C. Carvalho lhe disse qualquer cousa que o Justino não poude perceber, // [159] mas que
o Luiz Pereira perguntou então ao Carvalho em vôs um pouco alta… mas isso é official? É sim, lhe respondeu o Carvalho; foi
isto que fez má impressão no Justino. Depois passaram a fallar na importação do trigo e direitos alfandegarios, até que a questão
chegou á diminuição dos rendimentos da alfandega devido á grande importação de melaço que paga um pequeno direito, e quasi
nenhuma importação d’assucar, o que dava causa ao rendimento da Alfandega ser no anno passado muito menor, e este anno
ainda seria peôr; que em Julho (anno economico) hiam tirar as estatisticas, e provariam se era ou não verdade.
Foi tudo isto que deu causa ao nosso telegramma prevenindo-o para evitar surprezas e pol’o de sobreaviso.
Se elles teem qualquer esperança não sei… O que sei é que se não podem conseguir a matricula do Leça, d’alguma forma
se vingaram! E esta questão de rendimentos da alfandega é importante.
O Director da Alfandega diz que nada recebeu de official. O que será então essa cousa official? Será pelo Governo Civil?
Vou ver se posso indagar e lhe direi.
Esperando as suas felicidades Subscrevo-me Seu Amigo respeitoso [Ass:] João Higino Ferraz //
102
a 100º = 7,88 litros de aguardente em 27 1/2 cartier.
Esperando continuar a receber a sua valiosa amisade aqui fico ás suas ordens e subscrevo-me seu amigo certo e Obrigado
[Ass:] João Higino Ferraz //
103
acidez media por litro. – 2,2 gramas
Reductores infermenteciveis 0,748 kilogramas
Proporção do mau gosto do alcool puro 24,7%
Rendimento por hectolitro – 1,215 gallões alcool a 100º
Como vê estes resultados são animadores, e ainda mesmo que o fermento é caro tem grandes vantagens. Deve terminar na
semana proxima a destillação do melaço da Fabrica e vou principiar com o melaço de Demerára 2º jet. Depois lhe darei o
rendimento total do melaço da Fabrica e n’esse caso conta geral do rendimento da Fabrica d’assucar
Desejando a suas [sic] felicidades subscrevo-me seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
104
Estou principiando a fermentação do melaço 2º jet de Demerára e já temos a meior parte dos cosimentos turbinados.
Fiz um lote do assucar da fabrica de 2º jet com o de Demerára para melhorar a qualidade.
Logo que chegue a Barca vou fazer B2 com o assucar B da terra.
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu amigo e Obrigado
[Ass:] João Higino Ferraz
Em 1905
Producção de melaço da Fabrica – 452.801 kilogramas
que produzio em alcool a 100º = 32926 gallões.
Rendimento por 100 kilogramas 7,27 gallões a 100º
Em 1904
Melaço —————————- 480.392 kilogramas
rendimento em alcool a 100º = 34300 gallões
Rendimento por 100 kilogramas – 7,13 gallões a 100º
Em 1904 o assucar total no melaço calculado em saccarose era de – 48,05%
Em 1905 é de – 45,03%
Temos por isso em 1905 um rendimento em alcool do melaço por 100 kilogramas superior com menor quantidade de
d’assucar[sic] total. [Ass:] Ferraz //
105
le resultat será encore mieux.
Je n’ai pas encore reçu de la maison Egrôt & Grangé le plan de la columne inclinée á circulation libre “inobstruable”. Ils
nous ont ecrit disant qu’ils attendent notre visite, afin que vous leur donnez quelques explication qu’ils ont besoin.
Esperant recevoir de vos nouvelles et vous désirant un rétablessement complet veuilles agréer chez Monsieur Bochet mes
plus sinceres salutations. [Ass:] João Higino Ferraz //
106
Por emquanto nada teem feito os adversarios; ou ainda teem alguma esperança ou então estão manhosos, para nos fazer a
surpresa de alguma maldade. Com a crise do vinho este anno, visto os negociantes não quererem comprar, é minha opinião e
tambem do Dr. Romano, o Senhor Henrique fazer de benemerito comprando algum do Norte para reduzir a aguardente. Isto
evita que os outros a fação ficando a casa bem vista. O prejuizo não poderá ser talvez muito grande por isso que compramos o
vinho barato, porque a não ser assim, os vinhateiros nem mesmo barato têem quem lhe compre. //
107
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[180] 8 Julho 905
Amigo e Senhor Henrique
Na minha ultima carta dizia-lhe que hia principiar a fazer o B2 com o BT. Fiz effectivamente um melaxeur como lhe tinha
dito, mas não pude contenuar para não atrapalhar os cosimentos de 2º jet de Barbados, que é necessario terminar os ponches
que temos no logar das cannas, por causa do melaço de Cuba: Na proxima semana continuarei então de vez. Os resultados
obtidos foram os seguintes:
Desfiz o melaço a 35º Baumé e aquecio a 50º Centigrados, deitei no melaxeur e foi-lhe depois juntando o assucar pouco a
pouco até ficar no estado de uma massa crystalisada propria a ser turbinada. Deixei esta massa até o dia seguinte trabalhando
sempre o mechidor a ver se indurecia, mas no dia seguinte estava da mesma forma como o tinha deixado, o que se vê que se
pode turbinar no mesmo dia sem desvantagem. Vou dar-lhe as analyses que fiz d’este trabalho:
Analyse do assucar BT a tratar:
Saccarose .......................94,3%
Glucose ............................5,8%
Como vê o resultado no rendimento fez uma differença de 20%, mas como pode ver pelas analyses dos egoûts e a analyse
do assucar turbinado essa quebra é facil de ver o caminho que tomou.
Quando fizer o trabalho seguido vou separar egoût riche e pauvre, cosendo o egoût riche separado, porque com a pureza que
elle tem de 81,7 deve dar assucar quasi banco[sic] mas um pouco fino, mas que é vendavel para poncha.
Melaço de Demerára – Ainda não terminei a fermentação d’este melaço e tenho ainda para a semana proxima.
Melaço de Barbados – Sô principiarei a turbinar o assucar d’este melaço quando terminar o melaço de Demerára.
Fiz outra analyse media de 75 ponches que mostrou: saccarose – 54,65%
Glucose – 11,13%
Com relação ás questões do Decreto á novidades a dar-lhe mas o Bardsley[?] disse-me que lhe explicaria tudo na sua carta.
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
108
Parar com os cosimentos de 2º jet de Barbados que são 274 cascos da Felizberta e 375 cascos que vem na escuna Esperança
e gordar este melaço para quando se fizer a refinação do assucar no fim do anno.
Este melaço poderia servir para alimentar o melaxeur com um pé de cuite feito com assucar puro, o que estou certo dará um
assucar B2 de muito boa qualidade, sendo d’esta forma o trabalho muito mais facil e economico do que fazer 2º jet, evitando
por isso de refinal’o o que dá uma quebra sensivel.
Quanto a melaço temos bastante para o fabrico do alcool até ao fim do anno e quanto a assucar este 2º jet de Barbados não
é vendavel n’esse estado.
Se achar isto conveniente pode // [183] enviar um telegramma dizendo sim ou não conforme a sua maneira de ver. A mim
acho isto de grande vantagem.
Já turbinei dois cosimentos de 2º jet de Barbados que rendeu em assucar bruto 4200 kilogramas e cada cosimento leva
aproximdamente 13 cascos cada um, o que faz 26 cascos para esta quantidade de assucar rendimento por casco 160 kilogramas
assucar.
Esta proposta que lhe fasso de esperar o melaço até o fim do anno, está contudo sujeita ás analyses que eu fassa ao melaço
de tempos a tempos porque no caso de eu ver que o melaço tem qualquer alteração reduzo-o emediatamente a 2º jet.
Esperando a sua resposta Subscrevo-me seu Amigo [Ass:] João Higino Ferraz //
109
Como sabe não lhe presto serviços mas unicamente por sympatia com V.ª Ex.ª lhe tenho feito este pequeno favor sem esperar
retribuição alguma, e não como dizem ou paressem dizer na sua carta de Lisboa, tratando-me como se eu fosse um seu empregado
ou correspondente com commissões. Alem d’isso atiram-me á cara com as despezas que o homem fez em Lisboa! Que tenho eu
com isso? O que eu tenho é com as que fiz aqui, isto é, 5050 reis de passagem até Lisboa, Reis 6000 de indemenisação exigida
pelo homem pelos dias perdidos, que espero, ainda que pouco seja, me será satisfeito pela casa de V.ª Ex.ª.
Sempre ás ordens de V.ª Ex.ª
Seu Attencioso Venerador [Ass:] João Higino Ferraz //
110
[DATA: 9 de Outubro de 1905
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[190] 9 outubro 905
Amigo e Senhor Henrique
Fiz o cosimento na Franceza com o melaço de Barbados como se tinha combinado, porem infelizmente não deu o resultado
desejado, por isso que o grão ficou fino e alem d’isso dificil de turbinar.
Principiei com a refinação do assucar de Barbados (100 sacas) e com o assucar de Africa dando o resultado que conforme
a amostra que lhe mando poderá ver. Os cosimentos vão bem, não havendo perda de [...]. No segundo dia de trabalho da
refinação, uma das cerpentinas de vapor da caldeira de vacuo rebentou uma junta, que felizmente se poude arranjar sem muito
trabalho, levando sô 1/2 dia para isso. [...] agora tudo corrente.
Parece-me porem que esta junta já estava derramando alguma cousa antes de principiar a refinação, e que foi devido a isso
que o cosimento do melaço de Barbados não deu o resultado desejado.
Já temos assucar BBR sufficiente para dois mezes, e vou fazer o BB. O B2 quero ver se o faço com pé de cuite de assucar de
2º jet de Barbados no melaxeur e Melaço de Barbados. Felizmente tem havido bastante e temos agua // [191] sufficiente para
o condençador.
No trabalho da refinação não estou empregando a sulfitação dos xaropes, simplesmente disfaço o assucar em 30º quente, e
filtro-o, dando um xarope claro.
Analyse da masse cuite:
Assucar .........................- 87,15
Glucose ............................- 1,21
Pureza ..............................- 94,8
Coefficiente Glucosico 1,38
Analyse do assucar
Barbados: -Saccarose..............96,1
-Glucose ................0,94
Africa: -Saccarose ............96,9
-Glucose ................0,93
Estou fazendo a analyse dos egoûts pauvre e riche, mas nada lhe posso dizer por esta mala.
Batalha Reis172: – Aqui esteve vesitando a fabrica, e ficou bem impresionado com o que viu e lhe expliquei. As edeias d’elle
com relação ao alcool de melaço para o tratamento dos vinhos, não eram das melhores, mas logo que viu a qualidade do alcool
que exponhamos á venda, modou completamente, e comprehende agora que o alcool de melaço sendo neutro como é, é
magnifico para o tratamento dos vinhos. Mandei-lhe segundos[sic] os seus desejos, fazendo-me empenho n’isso, as amostras
do alcool seguintes:
Alcool neutro de 1ª qualidade:
Alcool de 2ª qualidade:
Alcool bruto de melaço:
Etheres e Escencias.
Fiz-lhe por carta a explicação das amostras e qual o alcool que vendia-// [192] mos, explicando-lhe bem que o alcool bruto,
etheres e olios escenciaes não eram vendidos en nature.
Com relação ao preço do alcool diz elle que, não vê rasão para queixas dos preparadores de vinho, por isso que o preço que
nôs lhe vendemos (250 reis por litro) é inferior ao que os do Continente pagam por alcool mau de batatas.
Elle prometteu-me fazer ainda uma visita á Fabrica. Tenho conversado muito com elle, e mostra-se meu amigo, tratando-
me já por tu.
É um homem franco e leal e estou certo que nada dirá contra nôs: Alem d’isso a missão d’elle é simplesmente vinhos e não
outra cousa.
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
172 Jaime Batalha Reis (1848-1935) diplomata, engenheiro, professor e pensador com estudos publicados sobre o vinho e álcool.
111
[DATA: 16 de Outubro de 1905
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[193] 16 outubro 905
Amigo e Senhor Henrique
Como lhe disse na outra carta, temos principiado com a refinação do assucar é[sic] já temos feito até hoje 67.000 kilogramas
d’assucar BBR e BB o qual deve dar para 2 mezes, isto é, até meados de Dezembro.
Estou principiando hoje a fazer o B2 com o pé de cuite com assucar d’Africa, e não com o de Barbados 2º jet como lhe tinha
dito, em vista da qualidade do assucar não se prestar a um crystal bem desenvolvido, para depois ser alimentado com o melaço
de Barbados.
Quiz tentar fazer a refinação do assucar 2º jet de Barbados, mas tive que parar, em vista da má qualidade do xarope, e mesmo
do cosimento tanto da F como do M. Este assucar tem que ser tratado por uma forma diferente como em tempos lhe disse, isto
é, clarificação e carvão animal, 1ª filtração nos filtros presses e 2ª filtração nos filtros mechanicos; depois de assim tratado deve
dar bom.
Para bem ver estes resultados mando-lhe as analyses seguintes:
Xarope do assucar d’Africa:
Saccarose ................................55,19%
Pureza ...........................................96,4
Glucose ......................................0,52%
Coefficiente ...................................0,94
Xarope do assucar 2º jet de Barbados:
Saccarose..................................51,42%
Pureza ...............................................92
Glucose ......................................0,98%
Coefficiente .....................................1,9
Melasse Cuite do Melaxeur do assucar 2º jet de Barbados
Saccarose....................................83,5%
Pureza ..............................................90
Glucose ......................................3,85%
Coefficiente..................................4,6 //
[194] Melasse Cuite do Melaxeur em 1º jet (assucar Africa)
Saccarose..................................83,44%
Pureza ...........................................91,6
Glucose .....................................3,21%
Coefficiente ..................................3,86
Melasse Cuite do M em 2º jet (isto é, egoût de 2ª)
Saccarose ................................83,86%
Pureza ...........................................90,3
Glucose .....................................3,30%
Coefficiente ..................................3,93
Egoût pauvre do M da primeira vez
Saccarose ................................60,38%
Pureza ..............................................81
Glucose .....................................5,51%
Coefficiente ....................................9,1
Egoût pauvre do M da segunda vez
Saccarose ................................60,92%
Pureza ...........................................78,4
Glucose .....................................5,79%
Coefficiente ....................................9,5
112
Egoût pauvre do M da terceira vez
Saccarose ..................................56,8%
Pureza ...........................................75,5
Glucose .....................................8,98%
Coefficiente ..................................15,8
Este foi feito em 2º jet na caldeira Ingleza.
Envio-lhe tambem o rendimento em alcool do melaço de 2º jet de Barbados Lote Nº 9:
Analyse do melaço:
Saccarose ................................38,52%
Glucose ...................................14,83%
Infermenticiveis no vinho do melaço por
100 kilogramas de melaço ................3,64 kilogramas
Rendimento provavel – .................8,07 gallões a 100
Rendimento real ...........................8,2 gallões a 100!!
Isto sô pode ser devido ao calculo do melaço pela capacidade dos poços.
Tinha-me esquecido dizer-lhe que o rendimento da Melasse Cuite da F em BB tem dado na media 82 kilogramas d’assucar
por hectolitro de Melasse Cuite
Todos os egoût riches tem entrado na refundição do assucar e são n’esse caso feltrados novamente.
Batalha Reis: – O Antonio Justino tinha-me pedido para eu fallar ao Batalha Reis a ver se elle fazia uma visita aos seus
armazens, e mesmo eu tinha interesse em que o Justino fallasse com elle // [195] sobre alcool de melaço, houvindo a opinião
d’elle a esse respeito: Elle efectivamente lá esteve d’esde as 3 da tarde ás 6 1/2.
Segundo me disse o Justino elle acha o alcool de melaço de magnifica qualidade, mas… não comprehende a rasão por que
não importamos aqui a aguardente de vinho de Portugal por ser um alcool mais assimilavel ao vinho? O Justino disse lhe que
já tinha importado em tempos esse alcool mas que não lhe deu resultado vantajouso, ficando o vinho com um gosto mau. É
sobre este ponto que eu chamo a sua attenção. É de toda a necessidade que o homem não falle no seu relatorio em aguardente
de vinho de Portugal, como bem deve comprehender.
O Batalha Reis já fez hontem (15) uma conferencia na Associação Commercial a que assisti, sobre fabricas de vinhos de
pasto e vinhos espomosos, e segundo elle me disse vai fazer outra no domingo proximo (22). Elle não sabe ao certo quando
partirá para Lisbôa, mas em todo o caso conta partir entre 25 a 27 do corrente.
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
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Coefficiente glucosico ..................36,4
Segundo o meu modo de ver estes // [197] Egoûts não valia a pena cosel’os novamente em 2º jet, porque pouco rendimento
dariam e a despeza para cosel’os e turbinal’os seria grande. Alem d’isso temos ainda de transformar todo o melaço de Barbados
vindo na “Esperança” em 2º jet visto a analyse da pureza d’este melaço ter descido 1º em um mez, e como o melaço da
Felizberta vem a dar para a fabricação do B2 gastando todo o assucar de Demerára, vejo que não posso fazer outra cousa.
Temos feito até hoje em B2 com o pé de cuite d’assucar e o melaço de Barbados 45.300 kilogramas, tendo gasto já 97 cascos
de melaço da Felizberta restando ainda 94 que dará para esta semana.
Ora transformando o resto do melaço de Barbados em 2º jet (375 cascos) ficamos contando com o assucar 2º jet de Barbados
já turbinado e com o que esta por turbinar, com aproximadamente 1900 sacas d’assucar para refinar em Dezembro.
Os cosimentos tem dado sempre bons resultados na turbinagem, a não ser dois que foram maus de turbinar: Ao principio
julguei que teria sido descuido de João Martins, mas viu-se depois que uma das <juntas da> cerpentinas [sic] de vapor da
Caldeira Franceza tenha rebentado (a Nº 4) e naturalmente a causa foi essa. Isulei essa serpentina. Logo que se termine a
refinação vou desmachar todas as cerpentinas da caldeira e fazel’as de novo, para o que já combinei com o Marsden para
mandar vir juntas proprias para isso. É mau se no tempo da laboração nos acontecesse este desarranjo e é necessario evitar tanto
quanto possivel. //
[198] Alcool – Como temos em deposito 8780 gallões d’alcool B e 3500 gallões do alcool A, tenho-me visto na necessidade
de trabalhar sô de dia, e parece-me que me vejo obrigado a parar com as fermentações, se não tivermos sahidas avultadas. É a
primeira vez que tal me aconteceu n’esta êpoca do anno, haver um deposito em alcool tão grande .
Estou trabalhando sô com o “Alemão” para 1ª qualidade.
Senhor Henrique, tenho um empenho a fazer-lhe, pedido de meu conhado o Capitão Julio Corrêa Acciauoli de Menezes, que
é o seguinte: Meu conhado está no Porto fazendo serviço na guarda Municipal do Porto, e como está perto de sahir Major,
desejava ser collucado em Lisboa em um qualquer regimento ou commissão, porque como o filho d’elle no anno proximo tem
que entrar na Escola Polytechnica para seguir o seu curso melitar, e sendo elle pobre e de mais carregado de familia, vê-se em
serias dificuldades para continuar a educação do pequeno. Diz elle que o pedido é facil não tendo deficuldades, desde o
momento que Sua Magestade assim o queira. //
[199] Pode crer que alem de ser um favor que lhe faz, é uma obra de caridade, porque eu sei as deficuldades em que elle
vive, pecuniariamente.
Por este favor muito grato lhe ficaremos e subscrevo-me seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
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Copiador de Cartas [1905-1913]
DESCRIÇÃO:
O período temporal abarcado por este copiador foi por nós acrescentado à designação que já tinha de origem. Estamos na
presença de livro, papel, as suas medidas são 28,4 cm x 22 cm, e encontra-se em razoável estado de conservação. Os fólios deste
volume estão numerados com caracteres de imprensa. Os fólios 170 até 199 (último) encontram-se em branco.
115
116
[DATA: 28 de Outubro de 1905
DESTINATÁRIO: Sousa Lara; LOCAL: Benguela, Angola]
[1] 28 outubro 905
Ex.mo Sr. Sousa Lara Benguella
Amigo e Senhor
Recebi a sua attensiosa carta de 27 de setembro, e agradeço-lhe do coração a sua delicadesa de proceder, mas crêa que nunca
me passou pela mente duvidar do seu cavalheirismo.
Estou bastante penalisado com o qui-pro-quo que se deu com relação ao telegramma, mas como lhe vou expôr verá que não
tive culpa alguma: diz V.a Ex.a n’essa sua carta, que a sua de 23 de Julho ficou sem resposta? Mas eu não recebi, infelizmente,
tal carta! Se a tivesse recebido responderia emeditamente, e talvez não se tivesse dado o lamentavel engano que se deu.
As suas cartas recebidas foram: a primeira a 14 de fevereiro e respondida a 8 de março; Carta de 24 de Abril, em que me
pedia contratasse um homem, e respondida de 1 de Junho, dando-lhe conta que tinha contratado um homem e as condições por
elle pedidas; Seu telegramma de 14 de Julho. Por conseguinte recebendo eu o telegramma de V.a Ex.a com data de 14 Julho e
tendo escripto a 1 de Junho por Lisboa não poderia pensar outra cousa senão que o telegramma se referia ao homem e não a
mim, visto o meu Amigo não ter acceite // [2] a minha proposta, como da sua carta de 24 abril, e não ter eu recebido outra que
me podesse elucidar melhor.
Contudo era-me impossivel sahir da Madeira na occasião em que desejava que eu fosse, visto o Senhor Hinton173 não estar
na Madeira e eu não poder abandonar a Fabrica. Tenho uma vida muito preza porque a Fabrica trabalha todo o anno com a
fabricação do alcool de melaço e refinação d’assucar.
Sinto bastante tudo isto, mas bem vê que não tive culpa alguma.
Agradeço a V.a Ex.a o me ter fallado na pequena importancia que me devia e que já me foi paga, mas pode crêr que nunca
lhe falaria em tal, se não fosse a casa de V.a Ex.a em Lisbôa me ter dito, lhe era devedor da importancia das despezas que o
homem fez em Lisboa e sua passagem até aqui.
Aqui fico, Senhor Sousa Lara sempre ás suas ordens, e pode crêr na estima e consideração d’este Seu Amigo Certo e
Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
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[DATA: 3 de Novembro de 1905
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[4] 3 Novembro 905
Amigo e Senhor Henrique
Terminamos a refinação do assucar que deu um total de 2158 sacas a 75 kilogramas de todas as qualidades.
O melaço de Barbados empregado junto com esta refinação foi 175 cascos da “Felizberta” e 25 da “Esperança”.
Deram-se 6 cosimentos de 2º jet dos egoûts não épusée, que não podem ser turbinados senão no fim do corrente mez, por
isso não lhe posso mandar o resultado geral da refinação.
Os egoûts pauvres enviados directamente á Destillaria fez um total de 69.489 kilogramas com a percentagem em assucar
seguintes:
Saccarose ..........................................................46,58 %
Pureza .....................................................................61,6
Glucose ............................................................16,54 %
Coefficiente glucosico ............................................35,5
O assucar refinado BBR e BB polarisou 99,4% assucar puro, e B2 feito com o melaço de Barbados e pé de cuite polarisou
99,2% assucar puro, cuja differença de polarisação é bem pequena, não estando em relação com a differença de preço de venda.
Principiei esta semana com a turbinagem do 2º jet de Barbados da Felizberta que tinhamos em ser, sendo bom de seccar, e
principiei tambem com os cosimentos de 2º jet do melaço de Barbados da Esperança para serem turbinados em Dezembro. A
analyse dos 25 cascos de melaço de Barbados da Esperança entrado na refinação mostrou o seguinte:
Saccarose .........................................................48,73 %
Pureza .....................................................................64,8
Glucose ............................................................15,23 %
Coefficiente glucosico ...........................................31,4
O rendimento d’este melaço vai ser muito inferior ao da Felizberta.
Terminei um lote de melaço de Cuba para destillação que rendeu 7,5 gallões d’alcool a 100º. //
[5] Estou trabalhando dia e nuite na turbinagem do 2º jet de Barbados, para me dar espaço para os cosimentos 2º jet da
Esperança
Depois de terminado este melaço vou modar o mexidor para o logar que se tinha combinado, afim de estar em ordem para
Dezembro.
Os melaxeurs novos que devem vir em Dezembro sô poderam ser colucados no seu logar em Janeiro do proximo anno,
depois de terminada a refinação, ou então logo que se termine a seccagem de todo 2º jet que estiverem nos poços, que devem
estar concluidos em meados de Dezembro.
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
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tudo acabado. Achava melhor que, o Bochet174 e o Cosedor estivessem aqui entre 10 a 15 de Dezembro para se dar princípio á
refinação d’este assucar
O assucar tem sahido bem e tenho receio que falte assucar B2 que é o que se tem vendido mais.
O assucar tem descido bastante no estranjeiro e já fizeram uma encommenda de 200 sacas para a Alemanha para diversos:
Naturalmente é do tipo BBR.
Terminei a destillação do melaço épuisée da refinação que rendeu 10 gallões d’alcool 100º por 100 kilogramas melaço. Fiz
uma paragem nas fermentações não sô por ter muito alcool como tambem para limpeza nos apparelhos
Temos em deposito hoje:
6500 gallões do B
6434 “ do A
Alem d’isso tenho os tanques da apuração do alcool A todos cheios, que representa aproximadamente 2500 gallões.
O Carlos Carvalho pede-me para lhe lembrar o seu pedido.
Sem assumpto para mais subscrevo-me: Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
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kilogramas d’assucar:
Pergunto eu; o que lhe fizeram aos restantes 5860 kilogramas d’assucar?!! A sua perda total foi n’esse caso: calculando a
canna conter 85 litros de garapa por % kilogramas de canna cuja garapa contenha 13% centimetro cubico em assucar será
assucar na canna % 11,05 kilogramas. Representando os 80000 litros de garapa 160000 kilogramas de canna a 11,05 kilogramas
d’assucar % = 17680 kilogramas e como apenas extrahio 3300 kilogramas d’assucar: Perda total = 14380 kilogramas!! Como
o meu Amigo vê (se não houve engano nas suas cifras) o prejuizo foi enorme. Com uma boa Direcção e empregando a diffusão
do bagaço, a sua perda seria insignificante em vista d’estes dados.
Terminamos no dia 19 do corrente a nossa fabricação, laborando 15000 toneladas de canna em 3 mezes. O nosso rendimento
pela diffusão com canna de 9,4 Baumé foi de 8,550 d’assucar de 1er jet (eguais ás amostras que lhe envio) por 100 kilogramas
de canna. Quanto ao 2em jet e melaço nada lhe posso dizer, visto não termos concluido esta parte da fabricação.
Comparando a nossa fabricação com a sua, será:
Fabrica Hinton = 8,550 kilogramas assucar % canna
Fabrica do Donde Grande 1,375 dito
Quanto á canna Yuba que me pede para lhe enviar, nada se pode fazer agora, visto ter terminado a colheita, e a meu vêr sô
em Março do anno proximo quando a canna atingir o seu estado completo de maturação é que será bom enviar, podendo-lhe
então arranjar a quantidade que quiser. Depois de bem informado do custo do empaque e frete lhe direi.
Termino esta esperando que a sua nova fabricação seja mais vantajosa e considere-me sempre seu amigo certo [Ass:] João
Higino Ferraz //
120
Se no anno proximo 1907, empregarmos menos dois engenhos de espremer, o vapor exausto diminuirá necessariamente na
proporção do trabalho.
N’este caso o apparelho Triple effet terá para seu servisso muito menos vapor exausto visto a differença dos dois engenhos,
e alem d’isso a diffusão absorverá meior quantidade de vapor para o seu trabalho mais rapido.
Depois de tudo isto parece-me ser necessario os Patent Film Evaporator em todas as caixas do triple, e sem perigo de
formação demasiada de vapor nas primeiras caixas como prevê Naudet175.
É tambem minha opinião que se deve empregar as bombas de circula-//[13]ção nas 2ª e 3ª caixa para obrigar o liquido a
evaporar a passar mais de uma vez na mesma caixa, e n’esse caso tirarmos xaropes mais densos.
Na 1ª (2) não é necessario bomba de circulação, por isso que empregamos uma bomba de alimentação, e o liquido pode
passar uma sô vez em vista da superfice de evaporação ser grande.
É esta a minha opinião conforme a pratica que tenho do apparelho [Ass:] João Higino Ferraz //
Amigo e Senhor
Conforme as suas ordens cheguei aqui no dia 3 do corrente na mesma viagem do San Miguel em que tinha hido, em vista
de um telegramma, Volte vapor San Miguel urgente.
Fiquei como pode calcular, bastante apoquentado por não saber a rasão de tal urgencia: Quando d’aqui sahi tinha deixado
tudo na devida ordem, verdade é que já tinha aparecido o tal parasita no assucar, mas como era somente em algum B2 e não em
todo, não podia prever que a propagação fosse tão grande.
Recebi do Senhor Bardsley as suas instrucções com relação á maneira de proceder com o assucar B2, isto é, deitar melaxeur
fermé melaço de Barbados em assucar suficientes até formar um pé de cuite com a consistencia de Masse Cuite, aqueci’o no
vacuo, e conforme a concentração for augmentando juntar-lhe melaço até ao complemento do cosimento.
Principiei hoje com esse trabalho mas nada posso dizer por emquanto, se este processo der o resultado desejado, a economia
será grande. O meu receio é que durante a concentração do melaço, como o cristal do assucar está bastante grande, o assucar
contido no melaço em logar de nutrir o grão, forme novo grão fino e que seja dificil de turbinar, e n’esse caso não se poderá
empregar; na minha fraca opinião, não dando este processo resultado, o melhor será refinar o B2 atacado pelo parasita, passando
pés de cuite ao melaxeur no vacuo e alimental’o com melaço de Barbados na falta de egoûts da refinação. //
[15] Pela analyses [sic] que tenho feito aos assucares, o que contem meior quantidade de parasitas é o B2 que está fermentado
(?), o BB tem muito pouco e o BT não lhe encontro nada. O que me pareçe é que o parasita foi desenvolvido no B2 e que depois
se tem propagado.
Procedo á analyse do Melaço de Barbados pela Esperança que mostrou o seguinte:
1ª amostra de 25 cascos:
Polarisação directa ...............................................51,42
Reductores ............................................................15,23
Pureza apparente ..................................................69,52
Coefficiente Glucosico apparente .........................29,60
2ª amostra tirada do tanque grande que contem aproximadamente 200 cascos:
Polarisação directa ...............................................51,42
Saccarose Clerget .................................................52,29
Reductores ............................................................14,83
Pureza real ............................................................70,40
Coefficiente real ...................................................28,30
Quanto á minha saude é que estou bastante acabrunhado, vejo-me no mesmo estado, não podendo quasi andar com a perna
bastante inchada, e não me vejo com forças nem coragem para continuar n’este servisso em quanto não estiver completamente
corado. Crêa que sinto bastante em dizer-lhe isto, mas no estado em que estou não lhe posso prestar bons servissos como
desejava nem para mim o futuro me parece risonho.
Subscrevo-me seu Attencioso e Venerador Amigo Muito Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
175 León Naudet.
121
[DATA: 13 de Agosto de 1906
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[16] 13 agosto 906
Ill.mo Senhor Henrique Hinton
Amigo e Senhor
Agradeço-lhe a sua carta de 3 do corrente.
Procedi conforme as suas ordens com relação ao assucar B2 como lhe dizia na minha ultima, mas o resultado não foi bom,
quanto á limpeza do bicho, porque ainda que morto mas lá ficou no assucar da mesma forma, de maneira que ficava novamente
pourco. Tive que parar com esta forma de trabalho.
O que estou fazendo é refinal’o, isto é, derretido, clarificado com sangue e filtrado no filtros [sic] mechanicos.
Depois de formado o grão na caldeira F passa-se o pé de cuite ao melaxeur no vacuo, mas em pouca quantidade o qual é
alimentado, 1º com parte dos egoûts pauvres da F e 2º com melaço de Barbados.
A caldeira F no fim do cosimento é alimentada com todos os egoûts riches e uma grande parte dos egoûts pauvres da F.
D’esta forma o M (melaxeur) é alimentado na sua meior parte com melaço de Barbados.
O Melaço de Barbados não fica épuissée mas como vê pela analyse, a pureza nos cosimentos de 2º jet baixou o que quer
dizer que algum assucar se tirou. Não fasso a repassagem dos egoûts do M por isso que temos melaço de Barbados bastante, e
não val a pena épousser esses egoûts, para mais adiante ter que fazer o melaço de Barbados em 2 jet. D’esta forma o rendimento
é melhor.
Junto encontrará o resultado das // [17] analyses da refinação assim como a analyse completa do melaço de Barbados tirado
do total do tanque grande.
Analysando bem verá que o trabalho vai regularmente. Nos cosimentos de 2º jet, no 1º, á[sic] huma differença de puresa,
mas esse cosimento foi o feito com os egoûts do Melaço de Barbados e assucar no melaxeur e que não deu resultado como atraz
explico, mas cujo épuissement era bom; os dois seguintes são do processo actual.
O assucar sai perfeitamente limpo, mas receio que fazendo grande quantidade e guardando no armazem, ainda que sejão
bem desinfectados, mas como não são perfeitamente isulados, lhe transmitta novamente o bicho, e n’esse caso acho melhor sô
refinar o assucar suficiente para dois mezes e armasenal’o livre de todo o prigo.
Estou tambem fazendo fermentações para poder aproveitar algumas lavagens que hajam, (que bem poucas são).
Sem assumpto para mais subscrevo-me de V.a Ex.a Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
122
[18] 13 agosto 906. Analyse referentes [sic] á refinação
Productos analysados Brin assucar Reductores Pureza Pureza Coefficiente Coefficiente Clerget Kilogramas
apparente % apparente real Glucosico Glucosico assucar
assucar real turbinado
Melaço Barbados (media) 73.85 51.60 14.83 69.87 71.52 29.71[?] 28.07 52.82 Rendimento
Xarope de refonte 54.85 54.65 0.77 99.60 1.41 d’estes
Dito dito 52.40[?] 55.28 4.13 94.65 2.04 cosimentos
Dito dito 54.10 49.90 1.34 92.23 2.70
Melasse Cuite da F (virgem) 90.15 85.74 1.75 95.10 2.04 4553 kilogramas
Dito dito com egoûts riche 92.00[?] 87.36 1.90 94.95 1.95 5070 kilogramas
Dito dito com egoûts riche
e pauvre 92.65 84.13 3.80 90.80 4.51 4995 kilogramas
Melasse Cuite da M com
melaço Barbados 92.80 75.26 10.92 81.09 14.50 4050 kilogramas
Dito Dito 92.50 75.26 10.52 81.36 13.97 4300 kilogramas
Melasse Cuite de 2º jet
(egoûts do M) 89.22[?] 53.57 21.43 60.02 40.00
Dito Dito 90.05[?] 59.13 25.16 65.30 42.55
Dito Dito 90.70[?] 60.20 13.67 66.36 31.00
123
[DATA: 20 de Agosto de 1906
CARACTERIZAÇÃO: Considerações acerca da refinação de vários tipos de açúcar e análises de cozimentos.]
[19] 20 agosto 906
Trabalho da refinação do assucar B2 até hoje:
Temos refinado até sabado <18> 89.253 kilogramas d’assucar.
Melaço de Barbados entrado n’esta refinação até sabado 18 é de 81.321 kilogramas
O assucar turbinado até hoje em BB e B2 é de 70.150 kilogramas estando por turbinar, nos melaxeurs 2 cosimentos
Temos feito até hoje 3 cosimentos de 2º jet com os egoûts do Melaxeur.
Temos alem d’isso xarope em todos os tanques e os egoûts de 2 cosimentos.
Os dois ultimos cosimentos do Melaxeur foram um pouco dificeis de burbinar[sic], isto devido em parte aos egoûts, por isso
que tenho mettido algum melaço de Barbados na Franceza no fim do cosimento, mas parece-me que a principal causa é João
Martins formar grão muito grande, de forma que na passagem ao Melaxeur o grão está de tal forma grosso que a nutrição é
deficil formando n’esse caso farinha
Já lhe disse para formar mais grão e mais fino de forma que na passagem o grão esteja n’uma grossura tal que seja facil de
nutrir. Os outros cosimentos teem sido bons
Analyses dos cosimentos: de 14 a 20 agosto 2º jet
1 2 3
Saccarose ..............................................................62.71 ............58.77 ............56.26
Glucose ................................................................18.64 ............22.26 .............20.68
Pureza ...................................................................68.48 ............64.44 .............63.32
Coefficiente Glucosico..........................................29.77 ............37.87 .............36.76
Analyse de um dos cosimentos da Franceza onde foi introduzido egoût riche egoût pauvre da F e melaço de Barbados: //
[20] Saccarose ......................................................74,36
Glucose ................................................................14,47
Pureza ...................................................................77,33
Coefficiente Glucosico ........................................19,45
Analyse dos egoût pauvre do cosimento acima:
Saccarose ..............................................................51,60
Glucose ................................................................23,15
Pureza ...................................................................58,93
Coefficiente Glucosico ........................................44,86
Empregando o Melaço de Barbados na F sou obrigado a fazer uma liquidação dos egouts pauvres da F de 3 em 3 dias em
cosimentos de 2º jet. [Ass:] João Higino Ferraz //
124
novamente o Dr. Rosenblatt que há dois annos me aconselhou a operação e ver o que elle me diz a tal respeito, e depois seguir
de Lisboa para Paris // [22] via maritima.
O que desejava era ter em Paris pessoa com quem tratasse para a escolha do especialista e casa de saude onde ficasse: Nesse
caso pedia-lhe para me recommendar a um cavalheiro das suas relações em Paris, e que me servisse de conselheiro. Não posso
contar com Monsieur Naudet176, por isso que anda sempre em viagens.
Antes de partir desejava deixar a fermentação em marcha regular para fazermos mais uns 10 mil gallões d’alcool, que é o
que eu calculo ser necessario até fins do anno porque ainda temos uns 25 mil gallões em stock.
Quanto á refinação do B2 fica terminada esta semana e na proxima malla lhe darei aproximadamente os resultados. Vou
deixar tambem as notas dos productos necessarios para a proxima laboração de 1907 para fazerem as encomendas a tempo: Vou
calcular para o trabalho de 15000 toneladas de canna, não acha?
Como vou a Paris posso, depois de curado, fazer os estudos com Monsieur Pellet sobre a eliminação da glucose dos melaços
pela fermentação, no caso, como espero, venha a nova lei sobre a canna.
Sem assumpto para mais, subscrevo-me seu Attencioso Venerador Muito Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
125
Assucar turbinado ..................................................................128.798 kilogramas
Melasse Cuite 2º jet 653.4 hectolitros a
150 kilogramas cada hectolitro = 98010 kilogramas
com a media 60.21% assucar Clerget =.................................. 59.011
Assucar transformado em glucose = ....................................... 2.918
190.727
Quebra no assucar total entrado é de 2,5%
Glucose total na Melasse Cuite 2º jet 20.631 kilogramas
Temos alem d’isto 5 ponches com espumas do melaço de Barbados para distillação, a quebras [sic] n’este caso não será
superior a 2% do assucar puro total entrado.
Considerandos sobre a refinação:
O rendimento liquido do assucar refundido ao coefficiente de 4 e 2 e 1 1/2% de quebra é de 92,6% será
130.497 kilogramas
Diferença a menos em refinado........................ 1.699
Mais assucar turbinado .....................................128.798
130.497
Fizeram-se 16 cosimentos completos de 2º jet que deveriam produzir aproximadamente (na proporção do melaço de
Barbados de 1905) 30000 kilogramas d’assucar M
Ora, pela medição do melaço de Barbados dá 188 ponches de 580 kilogramas cada será 30000 = 159 kilogramas por ponche.
188
Como o melhor melaço de Barbados tem produzido na media (melaço com // [26] 53,5% assucar) 150 kilogramas de assucar
M, vê-se que os cosimentos acima estão bem na sua proporção dando o assucar calculado, mas como o melaço trabalhado sô
contem 51.6% assucar e alem d’isso meior proporção em glucose o rendimento será talvez de 140 kilogramas por ponche. O
excesso de rendimento pertence ao assucar refinado.
Alem d’isto, o melaço de Barbados de 1905 deu 53 1/2 cosimentos de 2º jet com 388.000 kilogramas, o melaço gasto na
refinação deve dar na mesma proporção 15 cosimentos de 2º jet.
Por tudo isto se vê que o calculo do melaço gasto na refinação está aproximadamente certo, e que se o rendimento em
assucar der pelo calculo acima, tudo foi bem determinado e os resultados concordes.
Pelas analyses dos cosimentos de 2º jet da refinação a pureza media d’estes cosimentos é de 64, e como no melaço de
Barbados de 1905 a pureza media foi de 73, o rendimento em assucar na proporção da pureza dará 131 kilogramas assucar por
ponche para o melaço de 1906 em relação a 150 kilogramas no de 1905. Pelo calculo da pureza nunca pode dar serto, mas ainda
assim é aproximado.
Media das analyses do assucar refundido:
Cristalisavel ........................................................97.720
Glucose ................................................................0.946
Agua .....................................................................0.532
Cinzas ...................................................................0.392
Indeterminados organicos - .............................. 0.410
100.000
[Ass:] João Higino Ferraz //
Análise media do assucar refinado:
Saccarose.............................................................99.700
Glucose .................................................................0.240
[Ass:] João Higino Ferraz //
126
arrefecimento da Melasse Cuite
– Vantagens –
1º Evitar a montagem de mais um melaxeur no vacuo, sendo esta modificação facil e mais barata.
2º Melhor épuissement dos égoûts por isso que trabalhando no vacuo a uma temperatura douçe o exaustamento do assucar
dos égoûts durante 17 a 20 horas faz-se mais lentamente, sendo muito mais racional, e n’esse caso os egoûts pauvres melhor
épuissée.
3º No caso de se resolver a nova lei sobre a exportação do assucar teremos facilidade no trabalho dos melaços importados
para a extracção do assucar fazendo cuites d’amorçe, como da sua proposta para a refinação do assucar, isto é, deitar melaço e
assucar BT no melaxeur até á consistencia de Melasse Cuite aquecel’a e juntar-lhe melaço durante a sua concentração até o
completo enchimento. [Ass:] João Higino Ferraz //
127
é-nos inteiramente impossivel fazermos negocio.
A analyse da amostra deu-me o seguinte:
Saccarose ..............................................................66 %
Glucose ................................................................8.51 “
Pureza ...................................................................78.18
Com melaços d’estes tirava eu aqui ainda bastante assucar de 1er jet, e não posso emaginar como considera este producto
melaço, quando elle é ainda tão puro que se pode comparar // [30] com a nossa Masse cuite de 1er jet com relação á pureza?
Acho muito mais conveniente ao meu amigo recosel’o novamente e retirar ainda a meior parte do assucar cristallisavel. O
melaço que nos importamos contem no maximo 52% em assucar cristallisavel e 9 a 10% de Glucose.
Quanto ás cannas Yuba podem ser embarcadas no mês de Janeiro umas 2 toneladas. O custo será naturalmente a 520 a 530
reis por cada 30 kilogramas canna escolhida. Mas como o Senhor Vidal disse que viria aqui para se tratar d’isso, aguardo a sua
chegada.
Como isto não são cousas sô suas mas sim da Companhia pedia ao meu Amigo para me mandar um credito suficiente para
a compra e despezas de empaque e embarque.
Desejando-lhe um futuro anno feliz, crêa-me sempre seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
128
[DATA: 17 de Janeiro de 1907
DESTINATÁRIO: Júlio A. Ferraz]
[34] 17 Janeiro 907
Meu caro primo e Amigo Julio A. Ferraz
Acabo de receber o teu estimado favor de 10 do corrente o que muito estimei por saber nuticias tuas.
Effectivamente estive em Lisboa mas por poucos dias e foi procorar-te a tua casa mas infelizmente não estavas, e como tinha
pouco tempo de demora em Lesboa por isso te não foi ver a Cascais.
Venho de mostrar a tua carta ao Henrique Hinton, e elle pede-me para te participar que parte por esta mesma mala para Lisbôa,
e que se vai hospedar no Avenida Palace, e desejaria muito fallar contigo se lhe fizesses a amabilidade de o procurares lá.
Elle parte para tratar d’esta questão do assucar, e vai jogar a ultima cartada; ou João Franco attende ao seu pedido justo e
que interessa bastante a toda a Madeira agricula, ou não attende, e n’esse caso não posso prever quaes as consequencias
desastrosas da sua maneira de ver.
O Hinton te explicará de viva vôz todo o negocio, que é d’elle e de todos nos Madeirenses.
Se elle sô attende aos invejosos e aos mal intensionados um dia virá em que se arrependa. // [35] Conheces perfeitamente
as circustancias em que a Madeira esta com relação à Agricultura por que isto já é de tempos bem remotos, quando meu tio
Ricardo181 era depotado, e presentemente ainda é peôr, de forma que toda a proteção do Governo é necessaria para conservar o
nosso regimen agricula. Em fim, meu caro Julio, o Hinton te explicará tudo muito melhor, e podes crêr se elle trata dos seus
interesses, tem tambem em mira os interesses da agrecultura; é um homem leal e reto, e quando com elle fallares o conhecerás
melhor.
Farás os meus comprimentos á prima D. Belmira e Maria Theresa e aqui fico sempre às tuas ordens, nos meus fracos
prestimos.
Teu primo e Amigo certo [Ass:] João Higino Ferraz //
129
Tem esta tambem por fim dar-lhe uma edêa que poderá asseitar se achar conveniente: Naturalmente João Franco continuará
a julgar esta questão como um syndicato, como elle já o disse. O Senhor pode-lhe varrer toda essa edêa com um rasgo de
generosidade (que elle naturalmente não acceitará), e dizer-lhe-há: Pois bem, visto V.a Ex.a estar com duvidas sobre a seriadade
do meu pedido, ponho á desposição de V.a Ex.a a minha Fabrica para que o Governo a fassa laborar por sua conta, e sô exigo
para mim o juro do meu capital. Isto que não terá consequencias mas, pode ser que para um homem como João Franco lhe toque
no coração.
Subscrevo-me seu Amigo certo [Ass:] João Higino Ferraz //
[39]182
130
em boas condicções seram 6 caixas 1,5 metros cubicos cada uma a 5550 reis ............................33.300
Carretes aproximados para a condução das caixas ..........................................................................3.500
Frete até ao vapor aproximadamente ...............................................................................................5.000
Frete do “Zaire” 13$000 reis por metro cubico e mais 10% sendo
o total da medição 9 metros cubicos seram .................................................................................128.700
Total ...................................210.500
Como vêem é o triplo da importancia que V.as Ex.as me enviam e como não posso tomar a responsabilidade de enviar isto
sem espressa ordem e credito suficiente.
Ficarei sempre ás ordens do Senhor Sousa Lara
Sou de V.as Ex.as Attencioso Venerador [Ass:] João Higino Ferraz //
131
Junto encontraram o seu cheque sobre a agencia aqui do Banco de Portugal do valor de 70$000 reis, como do seu desejo.
Ficará em meu poder a importancia de 100$000 reis enviados pelo Senhor Sousa Lara, e no final da remessa lhe enviarei
conta detalhada.
V.as Ex.as me desculparam qualquer falta, por duas razões – 1ª porque os meus afazeres não me permittem ser muito exacto
na pontualidade em lhe escrever e a 2ª como sou technico e não commerciante, muitas vezes poderei sem querer não seguir á
risca as praxes commerciaes.
Seu com toda a estima
De V.as Ex.as Attencioso Venerador Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
Amigos e Senhores
Recebi a carta de V.as Ex.as com data de 23 janeiro proximo passado e juntamente um saque do valor de Reis 100$000 sobre
o agente os Senhores Francisco Rodrigues & C.ª, do Banco Nacional Ultramarino, aqui no Funchal, o qual já recebi, para a
compra e despesas de 2000 kilogramas de canna Yuba por conta do Senhor Sousa Lara.
Junto encontraram o conhecimento do dito carregamento que segue no vapor “Lusitania”, para ser descarregado no Lobito.
Peço a V.as Ex.as para lhe enviarem o mais breve possivel essas cannas ao Senhor Sousa Lara, a quem escrevo por esta mesma
mala, para não dar tempo a que se estragem com uma demora muito longa.
Os fardos teram a marca C. C. A – Lobito 14 volumes
Com toda a consideração me subscrevo
De V.as Ex.as Attencioso Venerador Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
132
[DATA: 8 de Março de 1907
DESTINATÁRIO: Sousa Lara & C.ª; LOCAL: Lisboa]
[50] 8 março 907
Ill.mos Senhores Sousa Lara & C.ª
Amigos e Senhores
Junto encontraram a Conta das despezas e decomentos referentes á remessa da canna Yuba enviada ao Senhor Sousa Lara
de Benguella.
Por este corrêo devem receber o saldo da importancia enviada pelo Senhor Sousa Lara no valor de Reis 100$000, cujo saldo
a seu favor é de Reis 22$555
Desejava V.as Ex.as me enviassem recibo d’essa importancia.
Sempre as suas ordens subscrevo-me de V.as Ex.as Attencioso Venerador e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
133
lhe escrever emediatamente. Mas como por emquanto, e isto durante talvez dois mezes, sô preparamos o terreno para a
montagem, na minha vinda de Lisboa, se principiará na montagem dos apparelhos que venham chegando. Logo que terminou
a laboração principiei com a desmontagem dos apparelhos que despensamos, e com o desaterramento para a montagem da
diffusão.
Moemos a canna para alcool aproveitando todos os Petit eaux e hoje principiei na destillação da dita. O grau de paragem
foi 0º Beaumé, com uma acidez inecial de 1,3 e final de 1,8 gramas por litro, o que é o melhor possivel. //
[54] Quanto ao rendimento final da fabricação é como se segue:
Calculo aproximado: (aprovado por Monsieur Naudet);
Assucar na Canna – 12.500 kilogramas
Assucar 1er jet produzido ....................................8.695 kilogramas %
Dito 2e jet a retirar ...............................................0.040
Assucar no melaço e Petit eaux ............................3.037
Perda no bagaço ...................................................0.200
Perdas indeterminadas ....................................... 0.528
assucar % canna ..................................................12.500
O assucar dos Petit eaux enviado á destillaria, fazendo o calculo pelo rendimento em alcool, foi de 0,42 kilogramas por %
canna. A quantidade de alcool retirado dos petit eaux total, foi de 13030 gallões a 100º a 15 temperatura.
O calculo final ou rendimento rial sô poderá ser feito depois de turbinado o 2º jet, no qual principiamos hoje a trabalhar.
Por emquanto mais nada tenho a lhe dizer de importante
Monsieur Naudet disse-me para lhe dar uma nota do mais que seja necessario em apparelhos para a instalação, mas eu disse-
lhe que seria melhor ver isso depois da minha volta de Lisboa, porque mesmo é necessario combinar consigo antes de tudo.
Seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
134
[DATA:3 de Outubro de 1907
DESTINATÁRIO: Dr. Julio Mendes]
[57] 3 outubro 907
Ill.mo Senhor Dr. Julio Mendes
Amigo e Senhor
Como ficou combinado entre nôs, vou dar-lhe parte do resultado do meu tratamento pelo receitoario de V.a Ex.a.
Principiei a usar o tratamento pela homocopathia no dia 18 setembro do corrente, tomando uma globulo [sic] de cada vidro
(3) de duas em duas horas, e calculo ter remedio ainda para 4 ou 5 dias: Verdade é que sô tenho tomado nas 12 horas diarias.
Os resultados que tenho tirado são bons, visto ter menos dores na perna quando ando. Contudo quero fazer notar a V.a Ex.a
que, tendo usado o tratamento por fricções mercuriaes em Vozella, não sei por emquanto a que atribuir as progressiveis
melhoras: Será devido ao tratamento mercurial? Será ao tratamento homocopathico? V.a Ex.a melhor poderá avaliar. O que posso
bem contastar[sic] é que, no anno passado usando o tratamento mercurial as melhoras não se assentuarão tanto como este anno:
será por ser o 2º anno de tratamento? Peço V.a Ex.a se não escandelisará com estas minhas observações, porque sô tem por fim
elucidar bem V.a Ex.a.
Passo a responder-lhe ao questeonario que V.a Ex.a me fez por escripto para lhe responder:
Volte //
[58] Volume do membro: Antes de dar principio ao tratamento o diametro da perna era 305 milimetros hoje é de 305
milimetros.
Dores: Muito menos, é somente quando ando, e posso sustentar umas marcha [sic] mais longa. As dores são localisadas
somente nas parte [sic] intumescidas do ôsso extendendo-se depois de um certo tempo de marcha sobre os musculos superiores
do pé.
Febre: – Nenhuma
Dores de cabeça – idêm
Potencia funccional: Quase normal
Inflamação dos tecidos: Muito menos ainda mesmo forçando o andamento.
Peço a V.a Ex.a para me prescrever o seguimento do tratamento e enviar-me os medicamentos necessarios acompanhados da
respectiva conta, e a forma de os usar.
Seu com toda a consideração de V.a Ex.a Attencioso Venerador Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz. Director technico da
Fabrica de assucar e destillação de William Hinton & Sons. Funchal Ilha da Madeira //
135
para montal’os.
Filtros Fillippe: como verá pela carta do Naudet faço-lhe a encommenda de pano proprio para os filtros, que tanto faz que
venhão com os filtros ou não, porque sempre teremos que pagar os direitos. O Barros disse-me que não era possivel fazel’os
passar sem pagar direitos visto ser tão grande quantidade.
Selenifuge: Estou preparando o Echantilon da agua para enviar e todas as indicações por elles pedidos. O Engenheiro é que
me disse que isso não servia para nada.
Já principiei com as fermentações do melaço. Ainda temos alcool bastante, mas é necessario despejar o poço que fica sobre
as caldeiras para abaixar[?] a parede.
O triple já está quase montado e estou á espera dos tubos de cobre para concluir as ligações. O trabalho vai correndo regular
e rapido: a diffusão logo que chegue vamos principiar na sua montagem, porque os assentamentos das columnas estão quasi
promptos. É esta parte da montagem (Diffusor) que nos levará mais tempo, mas com a ajuda de Deus tudo se fará.
Parabéns pela conclusão final do informe do T.S.[?]
Sem mais sou com toda a consideração
Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
136
dito, e como nada havia de novidade technica por isso me tenho abstido de escrever. Mas agora como vou partir para Lisboa
no dia 27 do corrente, e como sei que deve estar aqui nos meados de Agosto, vou partecipar-lhe como daxei as cousas que estão
a meu cargo.
Alcool: Está tudo completamente cheio, isto é, temos aproximadamente 41000 gallões d’alcool, parte retificado e parte por
retificar. No caso do meu amigo ver que o alcool retificado que temos em stock não dê para as encommendas é simplesmente
dár as suas ordens ao João das Luzes para elle retificar ou de 1ª ou de 2ª: Elle sabe bem o que tem a fazer.
Melaço: Terminei as fermentações logo que findou a laboração, e ficou-nos aproximadamente uns 600.000 kilogramas de
melaço. Hirá para Lisboa? Por emquanto nada sei com relação a este negocio, mas parece-me que nada está rosolvido. O que
eu vejo é que em outubro tenho de principiar novamente as fermentações; mas com que melaço? Com o nosso ou com
Importado? É por isso que é de grande vantagem resolver o mais breve possivel este negocio.
Cosimentos de 2º jet: Tenho já feitos uns 12 cosimentos dos égoûts não epuissée, mas como não tenho espaço onde deite
mais tive que parar. Calculo ter outros tantos para dar, mas é necessario turbinar primeiro estes, para depois // [64] poder
continuar com o trabalho. João Martins fica encarregado de lhe participar logo que os cosimentos estajam frios, para se proceder
á turbinagem. Calculo que até ao fim de agosto elles estajam bons.
Trabalhos mechanicos: Já dei principio ás modificações que temos a fazer para a proxima Laboração, isto na parte que me
diz respeito, quanto á outra parte ficará naturalmente para quando o Engenheiro chegar. O que eu já disse ao Senhor Henrique
e torno a repetir, é que temos grande vantagem em montar um forno “Huillard” para a seccagem do bagaço visto não fazermos
a venda d’elle. O gasto de combustivel este anno foi bastante elevado, quasi 70 kilogramas por tonelada de canna, quando
deveria ser somente de 55 a 60 kilogramas, e estou certo que podemos chegar a este resultado logo que se possa queimar o
bagaço com 30 a 35% d’agua em logar de 55% como foi a media de este anno.
Rendimento da canna: O rendimento da canna este anno foi na media de 8,312 kilogramas % em 1er jet, mas a media do
assucar na garapa foi de 15,38% assucar em quanto que em 1907 foi de 16,22%. Pelos meus calculos o rendimento foi tão bom
ou talvez melhor do que o anno passado.
Aproveito a occasião para lhe agradecer o emprestimo do seu cavallinho, que muito me tem servido, visto me estár doendo
um pouco a perna. O Marouto percisa é um pouco de ensino, porque está muito mal-criado. Quanto aos seu estado phisico é
bom, está bem tratado e limpo.
Sem assumpto para mais receba um abraço do seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz
P. E.[sic] Os meus respeitosos cumprimentos a sua Ex.a Esposa e que faço votos pelas suas melhoras. //
137
Quanto ao vosso novo systema de “Reglage de la baterie á Vitesse Uniforme” já está montado e espero receber a vossa
aprovação; O Schema é o seguinte:
Há um assumpto bastante importante e sobre o qual eu desejo o vosso conselho: Como sabe com a nossa // [66] montagem
actual, o épuissement dos égoûts é difficil de fazer, por varias razões, que vós conheceis perfeitamente; Eu proporia ao Senhor
Hinton a modificação conforme o Schema junto.
Contudo ainda que o Senhor Hinton não possa acceitar, por razões economicas, esta completa modificação eu desejava
modifical’a em parte, isto é, todos os égoûts ricos dos malaxeurs hentrarem juntamente com o vesou na sulfitação e na bateria
de diffusão: É sobre este ponto que eu desejo ouvir o nosso conselho.
D’esta forma já o épuissement dos égoûts teria muito a ganhar.
Como o Senhor Hinton vai a Paris o meu amigo poderá conferenciar com elle a esse respeito
Estou sempre ás suas ordens
O seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
Como escrevi a Monsieur Naudet187 sobre o assumpto que lhe vou espôr, consultando-o, e pedindo-lhe que quando o Senhor
Henrique fosse a Paris lhe fallasse sobre isso, vou tambem dizer-lhe a minha maneira de vêr com relação ao trabalho das masses
187 León Naudet.
138
cuites de forma a obter um melaço perfeitamente épuissé, e alem d’isso o entrar na sulfitação da garapa os egoûts riches e n’esse
caso na bateria de diffusão. Pela forma como se tem operado até hoje, os pés de cuite para os malaxeurs no vacuo eram sempre
feitos com a masse cuite virgem, e os égoûts pauvres de 1ª, isto é, os égoûts da masse cuite virgem, entravam nos malaxeurs no
vacuo para nutrir os cristaes do pé de cuite. D’esta forma é mais dificil o épuissement dos égoûts como bem se comprehende.
Alem d’isso estes égoûts são impuros, e para que o trabalho d’elles seja bom necessitão uma apuração e filtração mechanica.
Os egoûts riches ainda que mais puros não o são contudo completamente, e o meu fim é fazel’os apurar; é facilima essa
apuração, fazendo-os correr no sulfitador da garapa juntamente com essa, e como a dita garapa leva cal e baryte e é filtrada
sobre o bagaço, os égoûts invariavelmente tem que sofrer a mesma operação que a garapa e o resultado será magnifico.
Simplesmente na soutiragem do jus teremos que tirar de cada diffusor mais 1 ou 2 Hectolitros de jus correspondente aos égouts
entrados.
A modificação proposta seria (como se vê pelo Schma junto) a // [69] hydrosulfitação dos égoûts pauvres de 1ª e a filtração
em filtros de area: Os egoûts assim apurados seriam cosidos em grão na caldeira de vacuo pequena e serviria esse cosimento
para formar o pé de cuite para os malaxeurs no vacuo. O excedente dos égoûts apurados hiriam alimentar o malaxeur de 75
Hectolitros, e os égoûts pauvres d’este, alimentavam o malaxeur de 100 Hectolitros; os égoûts pauvres do malaxeur de 100
Hectolitros seria melaço perfeitamente épuissée, e estou certo que em menor quantidade por 100 de canna.
Por esta forma de proceder estou certo teríamos assucares mais brancos e puros e evitava-se as reclamações dos refinadores
de Lisboa e Porto sobre os nossos assucares, que dizem elles os xaropes feitos com alguns d’esses assucares são dificeis de
filtrar; é a única desvantagem que elles encontram.
A única despeza a fazer seria a aquisição de dois filtros a sable de construcção moderna. Ora esta despeza, estou bem certo,
seria altamente compensada com as vantagens do processo.
Para a dissolução dos égoûts e hydrosulfitação temos o malaxeur redondo que servia para a refonte do assucar quando
refinavamos e que está montado.
A hydrosulfitação pode ser feita de duas formas:
1º Empregando o acido sulfuroso liquido e juntando-lhe o pô de estanho o qual desprenderia o hydrogenio formando o
hydrosulfito.
2º Empregando hydrosulfitos cristalisados taes como o Blankite ou outro, o que seria mais facil que o 1º.
Como vê o processo é facil e pouco despendioso e as vantagens são grandes.
Sem mais sou seu Attencioso Venerador e Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
Primeiro terei de lhe fazer lembrar que a minha edêa da filtração dos égoûts de 1ª, isto é, os égoûts da Masse Cuite virgem,
sendo previamente tratados pela hydrosulfitação, era em filtros de area systema Reinecken.
Naudet propõe um filtro de seu systema onde emprega a mestura de area com massa de papel, isto é, Filtre á pate[sic] de
papier systeme E. Perrin modificado.
Que posso eu dizer sobre este assumpto?
Fazer-lhe lembrar simplesmente que já em 1907 fizemos uma experiencia com xarope, com o filtro do Cossart que trabalha
com amianto, que é pouco mais ou menos como pasta de papel e que não houve meio de filtrar. Empregando a arêa ou carvão
animal a filtração será melhor? Nada posso dizer sobre isso.
O que me parece, no caso do Senhor Hinton querer fazer a esperiencia d’esse systema de filtro, era empregal’o na filtração
dos xaropes do Triple, mas sempre montar a filtração sobre area pelos filtros Reinecken que quasi tenho a certeza de dar o
resultado desejado, segundo as esperiencias que fiz no laboratorio com um pequeno filtro que mandei fazer.
Acho de tal importancia o tratamento dos égoûts de 1ª, que não desejava perder um anno em esperiencias. Alem d’isso, como
sabe, os filtros mechanicos que temos, trabalhando // [71] diariamente 300 a 320 toneladas de canna apenas dão para a filtração
do jus de diffusão, ficando o xarope por filtrar, e n’uma Fabrica de assucar, as filtrações repetidas nunca são de mais.
Sendo como eu digo podem-se fazer as esperiencias que se quiserem sem prejudicar o trabalho corrente da Fabricação [Ass:]
João Higino Ferraz //
188 León Naudet.
139
[DATA: 28 de Junho de 1909
DESTINATÁRIO: León Naudet]
[72] 28 Juin 909
Mon Cher Monsieur Naudet
Excusez moi se je n’ai pas pu répondre de suite á votre lettre (á Monsieur Hinton189) traitant de la nouvelle marche pour la
batterie, mais vous savez combien il este quelquefois difficile en fabrication de faire ce que l’on desire.
Comme vous, je crois que la façon de faire da reconstitution avec le jus de diffusion nous donnerá un meilleur épuisement,
tant en conservant une marche au moins aussi rapide.
La seule raison qui m’a empeché jusqu’alors de faire l’essai c’est l’insuffisance des réchauffeurs. J’ai decidé avec Monsieur
Hinton qu’on y consercrera[?] les derniers jours de la fabrication, en ce moment c’est impossible, il entre tous les jours 300 a
400 tonnes de cannes trés mûres qu’il faut ecraser au plus vite. De plus les mecaniciens sont trés occupés et demandent plus de
temps pour faire le changement des tuyauteries.
J’espere pouvoir vous annoncer un succes, que dans ce cas nous rendrais de tres grands services surtout á cause la nouvelle
convention à passer avec Monsieur Lemos190.
Je profite de cette même occation pour vous dire que nous en sommes des essais de filtration.
Pour les filtres cylindriques, leur construction a ete longue, enfin deux sont installés dans le bac carré pris du triple-effet. Il
y a quelques jours nous en avons essayé un. La filtration à duré environ 40 minutes mais le liquide à passé louche, le travail du
filtre ne s’est pas amelioré avec l’accroissement du temps de marche. Je suppose qu’il aura été mal mis en place ou deplacé
légerement et que du sirop nom filtre este venu gâter le resultat obtenu. Nous aller recommencer cette semaine.
Quant aux filtres, à cadre ce sont les plus en retard, l’ouvrier chargé de faire les cadres est trés souvertt derange // [73] de
son travail pour les reparations delicates et urgentes, neammoins plusieure sont faits et je vais essayer d’abord le remplissage
par en haut comme nous l’avons convenu ensenble si l’operation reussir bien j’essaierais de filtrer.
Comme je nous le dis plus haut je compte beaucoup sur la derniere semain pour tous ces essais, car alors nous n’aurons plus
la crainte de laisser les cannes s’alterer, comme celá se produir actuellement au moendre arrêt avec le magasin plain de cannes.
Il faut que vous nous accordiez encore une semaine ou deux de repit avant que je puisse vous donner des renseignement
detailles sur ces interessants questions.
Votre ami bien devoué [Ass:] João Higino Ferraz //
140
cela même de la colonne barométrique. C’est pour cette raison que dans certains // [75] cas, le vide descend d’abord a 24º, se
alors l’equilibre entre l’eau et le vide vient a cesser brusquement les vapeurs traversent le courant d’eau, se condensent et le
vide monte a 26 et 27, et comme il se reforme de suite une nouvelle accumulation de vapeurs le vide baisse de nouveau a 25.
Ceci se voit bien par la température de l’eau de la colonne [.] Souvent le vide étant à 26-27 l’eau est à 55º-56º, d’autres fois le
vide est à 24º-25º et l’eau à 40º 45º le contraire devrait se produire.
Avons la mise en marche du refrigérant, quand on avait assez d’eau d’etait necessaire pour avoire une bonne condensation
de toutes les vapeurs de mettre toute l’eau possible tant du torrent que du bac et ces deux eaux représentaient certainement un
grand volume d’eau à 17º. Quel volume será necessaire avec de l’eau á 30º?
A mon avis la seule maniere d’éviter tout cela será le montage d’une nouvelle colonne ou l’agradissement de celle existante
et l’augmentation du refrigerant établé cette anné en le portant à une capacité d’au moins 50 litres par seconde. Le refrigerant
actuel est de 35 litres par seconde.[Ass:] João Higino Ferraz //
dans le compensateur est [...] environ 40 centimètres du fond, le liquide arrivant ce niveau la pompe [...] prend plus. Si cette
aspiration était au fond ou presque au fond, le meichage serait terminé avant que le conpensateur soit vide et comme a ce
moment tout le jus riste au compensateur, son remplissage se fait tres rapidement. Il este malhaireusement impossible oú
changer cette tuyauterie actuellement.
Une outre chose c’est que tout le jus arrivant par le bas toute la bagasse est en suspension, le tassement du diffuseur devient
presque impossible et d’autant qu’il sorte para la porte du dessus un grand volume de vapeur qui empeche les hommes de
bourrer, tellement cette vapeur sort avec rapidite. Il faudra donc renoncer à tasser et faire plus de diffuseurs.
A part ces deux inconvenients la batterie marche bien et je crois qu’il en sera de même ave[sic] un peu plus de vesou comme
ou ferá l’annce prochaine a couts de Monsieur Lemos191, et d’autant plus que la batterie marchant en deux sous batteries
conjuguées, l’une a l’outre soutire toujours au compensateur.
191 José Júlio de Lemos.
141
Pendant le peu de temps qu’on lá essayée // [77] j’ai remarqué que la défécation paraissait mieux faite sous cependant que
la marche de la baterie soit ralentie.
Filtres cylindriques: L’essai à été recommencé en prenant bien toutes les precautions.
Le filtre a été chargé en arrosant le sable, de façon a le tasser convenablement, le liquide dand le vac a èté maintenu à 5
centigrades en dessous du niveau superieur du sable.
Toutes les precautions ont èté faites pour que le joint dans le fond du vac ne perde pas.
Au dèbut le filtre à donné á plain toujour un sirop assez beau mais nom limpide. La filtration s’est ameliorie au pur et a
mesure que le debit déminuait mais ou n’est pas arrivé aux belles filtrations brilhantes obtennes au laboratoire.
La durée du filtre a été de 33’ [.] Le sirop etait á 20º Baumé bien réchauffe mais fortement glucose comme tous ces derniers
jours 10 a 11 de coefficient glucosique.
Filtres à cadres – Aussitot la fabrique arretée je vais essayer le remplissage des cadres em bois avec lá pompe, jusqu’ici celoi
m’a été impossible.
Agréer mon cher Monsieur Naudet, mes bien sincères salutations [Ass:] João Higino Ferraz //
142
[80] Visitei contudo uma fabrica de Monsieur Eclancher em Saint-Leu-d’Esserent cuja fabrica regula pouco mais ou menos
pela nossa (300 a 350 toneladas), e cousa curiosa, a sua montagem está de tal forma acomolada de apparelhos e em tal
desposição que a nossa é-lhe superior em boa desposição. O que me ferio a attenção foi a forma de transmissão de movimento
feito por um sô motor de 150 cavallos que é a perfeição. Do resto apenas vi de novo o systema de compreção do vapor do jus
pelo processo Puache e Ruillon que é muito corioso, mas que sô serve para fabricas que teem pouco vapor exausto. Vi tambem
uma nova montagem de um malaxeur no vacuo para os cuites de 2er jet mas que trabalhará este anno pela primeira vêz. Monsieur
Eclancher foi amavel bastante e offereceu-se para me commonicar os resultados obtidos com esse malaxeur. De qualquer
malaxeur orisontal fechado se pode adoptar o processo, com a modificação requerida.
Esta fabrica emprega o processo de deffusão Naudet e carbonatação continua; tem tres caldeiras de vacuo. A alimentação
do triple é feita por bombas centrifugas assim como a extração das aguas amoniacaes, e xaropes, mas com motor eletrico.
Quando aqui cheguei combinei com o engenheiro a montagem do motor das bombas, e parece-me conveniente montar para a
alimentação do Kestner e triple bombas centrifugas “Schabaver” como em tempos lhe fallei, porque a bomba que temos não dá
para o trabalho proposto. Vou escrever ao Naudet sobre isto. //
[81] Como o Naudet me desse os planos para o novo condensador barometrico e ballão receptor dos vapores dos cuites e
triple, daxei ao Dargent195 em Lisboa para os fazer quanto antes, deixando contudo o ballão de ser colucadas as entradas do vapor
sem primeiro combinar com o engenheiro a melhor colucação a dár-lhe para evitar muito trabalho de tubagem. Tambem ficou
combinado o acrescentamento do compensador, e já mandei descravar o tampo superior para tomar as medidas exactas e lhes
mandar para elles fazerem a vírola para ser cravada aqui.
Os malaxeurs e cuite chegaram em boa ordem, assim como as 8 valvulas para a diffusão e vou principiar na modificação da
bateria de diffusão em duas como Naudet propoz.
Tudo quanto se tem passado em Lisboa commigo e o Senhor Bardsley elle deve-lhe ter participado por isso nada lhe digo.
O que achei atrasado quando aqui cheguei foi o alargamento da casa para a montagem dos malaxeurs e nova caldeira de
Vacuo, e já disse ao Mestre João Florencio que é necessario dar o meior desenvolvimento possivel a este trabalho. O que me
está embaraçando bastante é as modificações que temos que fazer nos cuites e ao mesmo tempo a fabricação do assucar do
melaço exotico!! Mas veremos a melhor forma de o fazer.
Quanto ao rendimento total da fabricação do corrente anno não lhe posso mandar ainda porque não tenho tempo desponivel
para fazer esse calculo.
Considere-me sempre seu Amigo dedicado e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
143
[DATA: 2 de Outubro de 1909
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[83] 2 outubro 1909
Ex.mo Amigo e Senhor Henrique Hinton
Algumas dificuldades tive com o Director da Alfandega para poder armazenar o melaço importado no tanque de ferro, como
tinha ficado combinado.
Elle dizia-me que o Senhor Hinton tinha pedido para armazenar no tanque de ferro o melaço da Fabrica e não o exotico, e
eu vi perfeitamente ser equivoco d’elle, por isso que ficou combinado entre nôs que seria o melaço exotico, e os ponches que
se despejassem serviriam para encher de melaço da Fabrica. O Director considerava o tanque como armazem alfandegado fora
da Fabrica para o melaço da Terra, mas não o podia considerar nas mesmas condições para o exotico.
Em fim depois de lhe fazer vêr que mesmo para a fiscalisação, seria melhor armazenar o exotico no tanque, porque nos
ficaria os ponches vazios para retirarmos todo o melaço da Fabrica, elle concordou por fim, mas com a condição de eu não
principiar o fabrico do assucar do melaço exotico sem ser retirado todo o melaço da Terra ou para armazem alfandegado para
exportação ou destillado. É isso por conseguinte o que vou fazer.
Para o fazer porem em ordem a garantir os seus interesses envio-lhe junto a situação presente dos negocios do alcool tal qual
as encontrei, o que lhe passo a explicar: Quando foi dar o meu Balanço do alcool em stock vi-me somente com 2500 gallões
d’alcool! Apanhei um susto, como bem pode compreender. // [84] Tratei emediatamente de principiar as fermentações do
melaço da Terra. Compreendi perfeitamente a situação terrivel em que ficariamos colucados se nos faltasse o alcool para
fornecer os vinicultores, e ao Lemos196 tambem por não o ter: O resultado seria elles reclamarem ao Governo que não havendo
alcool de melaço para o tempero dos vinhos auctorisassem a importação do alcool vinico do continente, isto pela certa; Em que
condicções ficariamos?!! Nem quero pensar n’isso.
Devido a isso estou a toda a pressa a fermentar e já hoje estou principiando a destillar, devido ao Lemos me ter emprestado
fermento emquanto o meu não está em condições.
D’esta forma não me faltará alcool nem ao Lemos, e alem d’isso como tinha uns 2000 gallões d’alcool bruto que era para
mesturar com aguardente de canna (que foi minha salvação) podemos conservar um pequeno stock e alem d’isso fornecer o
Lemos quando elle necessitar, como já tenho feito.
Vamos porem á nossa situação como lhe exponho no meu memorial junto:
Como vê por elle sô podemos contar com uns 61400 gallões d’alcool de melaço exotico aproximadamente, e consideramos
que não temos alcool nenhum; ora devemos ter um stock de alcool de melaço da Terra para desdobramentos que seram gordados
no armazem Nº 2 [.] O armazem Nº 1 (tanque grande) será para o alcool de melaço exotico. Fallei com o Lemos para me dizer
que quantidade de melaço necessita (exotico), e elle calculou em 200 toneladas // [85]197 que representa aproximadamente uns
1700 gallões. Devemos fazer para vender n’este mez e fornecer o Lemos uns 10000 gallões d’alcool de melaço da terra, quer
dizer, tenho que fabricar antes de principiar o fabrico do assucar do melaço uns 18500 gallões o que nos levará uns 246600 kilos
de melaço.
Como vê o Balanço do melaço é aproximadamente de 413 toneladas. Ora retirando d’esses 413 toneladas as 247 toneladas
para alcool ficamos livres para exportar umas 166 toneladas de melaço, mas como temos de fornecer o Lemos com 200
toneladas de melaço exotico vejo que não podemos exportar mais melaço alem do que está fora da Fábrica que são
aproximadamente 107 toneladas.
Há porem uma solucção vantajosa para nos, que sera importarmos mais umas 200 toneladas de melaço de Demerara para
estarem aqui o mais tardar até principios de Janeiro de 1910, isto já se vê sô para alcool, o que nos daria um lucro rasoavel.
Deixo isto por conseguinte á sua consideração. O Jacintho enganou-se no calculo que lhe deu do melaço existente, elle lhe dará
a explicação do caso.
Acabo de fazer a analyse da 1ª amostra tirada pela Alfandega; deu-me exactamente 55%!! Estou tirando uma amostra regular
de todo o melaço aqui na Fábrica para depois fazer a analyse total.
Depois de transformar em alcool o melaço necessario conforme expliquei vou retirar o resto para armazem alfandegado,
esperando a sua resolução.
Seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
144
[DATA: 4 de Outubro de 1909
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[86] 4 outubro 909
Ex.mo Senhor Henrique Hinton
Como a primeira amostra do melaço tirado pela Alfandega fosse sô de um ponche e mostrasse 55% consegui do Director
(com alguma deficuldade) sem lhe dizer a rasão exacta, mas sim que o mais regular seria tirar de diversos ponches, elle
inutilisou essa amostra e tirou outra de cerca de 50 ponches cuja analyse me deu 55,36% de saccarose, mais do que a amostra
de um sô casco; Quiz fazer pelo melhor e como vê ainda mostrou mais, o que me está apoquentando bastante. Da analyse feita
aqui na Alfandega não me assusta, o que tenho receio é da analyse feita em Lisboa. A amostra geral tirada aqui na Fabrica deu
55% exactos. O que vejo é que os carregadores não tomaram bastante cuidado, a fim de comprarem melaço com menos de 55%,
e o resultado é este. O Derector não acceita a amostra tirada aqui na Fabrica pela fiscalisação e vai mandar analyser[sic] a que
tirou na alfandega (de 50 ponches) e é naturalmente essa que vai para Lisboa. Qual será o resultado de tudo isto? não posso
prever, e o melhor será esperar os resultados das analyes[sic]. O carregamento veio em boa ordem a não ser um ponche que
chegou aqui vasio que segundo diz o Capitão foi na occasião de carregar que rebentou. Aqui no calhau tambem rebentou um
ponche d’entro do barco, mas foi aproveitado. Não o mesturei com o outro por que tinha agua. Vou principiar a tirar as 200
toneladas de melaço da terra para armazem alfandegado, para exportação.
Seu Amigo [Ass:] João Higino Ferraz //
145
importam como abaixo do typo 20; continuo a ter a mesma opinião, que no despacho do assucar se deve considerar tanto a côr
como o typo cristal. O ministro nada tem feito, naturalmente; para nôs isso era de grande importancia.
Com relação ás vendas de aguardente de canna, vejo que os compradores nem mesmo a 800 reis querem comprar porque
teem muita.
Por uma carta que o Jacintho me deu vejo que nos livros a nossa aguardente de canna depois da mestura com alcool está em
690 reis. A que preço minimo se deve vender? A meu vêr, mesmo a 780 reis era bom vender para liquidar e evitar mais quebras.
Pode-se ainda juntar-lhe mais algum alcool que nos dará mais lucro. Diga-me o que devo fazer.
Seu Amigo certo [Ass:] João Higino Ferraz //
Á minha ultima carta tenho umas retificações a fazer com relação á analyse do melaço de Barbados, que á ultima hora lhe fiz.
Efectivamente a analyse não estava certa devido á transformação que o Gaulet fez na formula das solucções e que Avelino203
não me prevenio nem eu podia prever, visto ter ensinado em tempos a Avelino como queria que elle as fizesse. Em todo o caso
vejo que as analyse [sic] de Gaulet estão certas porque elle fazia o calculo não pela tabua de Buisson mas sim por uma que elle
tinha no seu livro de calculos de Pellet. Faço esta retificação para livrar a responsabilidade de Gaulet.
A analyse do melaço é n’esse caso a seguinte:
Amostra geral do tanque:
Saccarose ..........................................................49,99%
Pureza apparente ..................................................68,52
Reductores ........................................................14,12%
Coefficiente glucosico ...........................................28,2
Amostra da Alfandega:
Saccarose ..........................................................50,71%
Pureza apparente ..................................................69,44
Reductores ........................................................13,78%
Coefficiente glucosico ...........................................27,1
O rendimento geral da Fabricação de 1909 em assucar turbinado foi o seguinte:
Assucar de 1er jet % canna .................................. 8,730 kilogramas
Dito de 2er jet “........................................ 0,102
Assucar no melaço e petits eaux ....................... 2,836
Assucar total extrahido .......................................11,668
Melaço % de canna ..............................................6,040 kilogramas
Assucar na canna ................................................12,445
Assucar extrahido................................................11,668
Perda fabricação.................................................. 0,777
[Ass:] João Higino Ferraz //
146
quantidade, e espero que esta procura seja somente até sabado 16, e depois vou ver bem o que me resta de melaço para deixar
um stock minimo de 7500 gallões que é quanto leva o tanque pequeno, como combinamos. Contudo sempre vou tirar algum
melaço para armazem alfandegado, porque desejo principiar a fabricar o melaço de Barbados em Novembro, para não
prejudicar as nossas montagens d’apparelhos. Agora o que me apoquenta é a falta d’agua. Hoje (sabado) e amanhã não temos
agua dos Moinhos, da rebeira não vem nada e o poço apenas dá para trabalhar com destillador. Vi-me na necessidade de mandar
boscar hoje agua em ponches para amaçar a cal!! Esta falta de agua é o Diabo.
Quanto ao Lemos204, nada se pode fazer; elle tem melaço bastante até novembro, como já lhe disse. Não comprehendo os
recios[sic] do Ministro // [91] a mim parece-me que a poblicação do decreto pode no futuro era vantajosa para o Governo porque
lhe vai diminuir a quantidade de assucar a exportar para Lisboa e Porto; não lhe parece?
Calculo o seu aborrecimento com tanta demora.
Tem havido dificuldade em vender aguardente de canna, mesmo que seja barata, devido a haver nos negociantes d’ella muita
em armazens e elles dizem que sô poderam recebel’a em Janeiro. O Pedro Pires mandei-o chamar para fazer com que elle venda
mais barato (com mestura de alcool) para liquidar bastante.
Um abraço do seu Amigo certo
[Ass:] João Higino Ferraz
P.E.[sic] O Sampaio pede-me a nota dos productos chimicos para adubos, mas vejo que temos por emquanto bastante e que
de esta data em diante pouco ou nenhum se vende. Acho desnecessario empatar capital n’isso. [Ass:] Ferraz //
147
Esteve aqui no sabado 16 o Admenistrador do Conselho e o Dr. Carlos Leite, para nos prevenir que é necessario requerer
licença para a montagem dos novos apparelhos na Fabrica de assucar, que segundo elles dizem a lei nos obriga a isso visto o
Alvará antigo dár a auctorisação para a montagem de // [94] uma fabrica de capacidade determinada, e hoje termos augmentado
consideravelmente a sua capacidade. Disse-me o Admenistrador que é necessario tirar uma espece de Sechema dos apparelhos
novos para juntar á participação. Eu disse-lhe que já em 1907 tinhamos feito isso para a Repartição de Fazenda. Ficou de Carlos
hir na terça feira para elles darem a forma de fazer essa participação.
Ainda há outra cousa, que o Dr. Carlos Leite como Delegado de Saude exige, que é fazermos um cano de forma que todas
as aguas da Fabrica quentes ou frias vão ao cano do vinhão. Essa questão ficou para quando o Senhor Henrique voltar. Como
é um trabalho despendioso disse-lhes que nada podia fazer sem o Senhor cá estar. Disseram elles que isto é para evitar
reclamações a que elles têem que dar providencias. Estes nossos derigentes querem agora comprir a Lei á risca porque assim o
exige o Diario de Noticias!
Sem mais subscrevo-me seu Amigo Attencioso e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
148
Janeiro proximo; a questão de preço já eu tinha pensado em lh’a dar a 780 reis como me diz na sua carta.
Sem mais que lhe posso dizer subscrevo-me Seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
149
lhe dissera pessoa que o sabe de boa fonte, mas deseja que se não divulgue. Diz que é uma fabrica Enorme! Enormes bestas são
elles em fazerem tanta asneira: desculpe este desabafo.
Como temos no armazem aguardente de canna sem mestura d’alcool vou principiar hoje a fazer o mais que poder de
mestura. O que é deficil é vender por emquanto aguardente de canna, mas espero que em Novembro se principiará a vender
melhor, e com este desdobramento com alcool fica-nos sahindo muito mais barato.
No fim d’esta semana deve-me ficar todo o melaço fermentado. Vejo que este lote me vai dar um bom rendimento (talvez
8%) devido ao processo da resinose.
A analyse do nosso melaço em Lisboa (melaço de Barbados) mostrou 50% assucar e glucose 26% !! não me parece…
Sem mais subscrevo-me Seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
150
100 kilogramas de milho. //
[102]215
[103] A cevada crua pode dar uns 30 a 32 litros d’alcool, e a cevada em Malte, que é isso naturalmente que elle deseja saber,
deve dar uns 33 litros d’alcool. Mas na fabricação do milho em alcool a proporção da cevada em malte é somente de 15% no
maximo.
C.ia União Fabril: Quanto ao que me diz com relação ao mau acceitamento dos consumidores da turtou com melaço, são
hestorias d’esses nossos amigos: O molasscuite que fiz e que o Sousa Carreiro empregou na alimentação de uma vaca de leite
deu magnifico resultado, e a vaca comeu perfeitamente, e como sabe o molassecuite contem 75% de melaço. Uma junta de bois
aqui da casa foi tambem alimentada com o mesmo molassecuite, e os bois comeram bem e estão de perfeita saude. O que me
parece é que a União Fabril não pode continuar com esse negocio de mesturar um producto caro com outro que vendem muito
mais baratos, e por isso querem a todo o pano rescindir o contracto.
Vejo quando me diz da nossa questão ahi, e prevejo um mau resultado se o Governo se não aguenta. Elles podem intertel’o
com promessas até á ultima hora, e cahindo, são outros intrujões com quem tem de tratar, quer dizer, que ficará ahi eternamente!
Sem mais sou seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
151
o Director que isto é simplesmente para a fiscalisação do alcool, mas é minha convicção que são ordens especiaes de Lisboa,
porque o Manoel dos Santos nunca ficou convencido dos rendimentos que o Senhor Henrique lhe deu em tempos, e por esta
forma fica elle // [106] ao corrente de tudo quanto deseja saber.
Ora isto como bem comprehende e[sic] muito mau, e era bom ver se havia meio de evitar a fiscalisação feita d’esta forma.
Eu aqui nada posso fazer, a não ser comprir as ordens obrigadas pela fiscalisação, para não trazer embaraços aos nossos
trabalhos de fabricação de assucar e alcool de melaço exotico.
São cousas que devem ser tratadas em Lisboa, mas talvez melhor depois da publicação do novo regulamento, para não
embaraçar estes trabalhos.
Temos tempo de sobra porque elles sô poderam saber as cousas ao certo depois de terminar o fabrico do melaço exotico em
assucar e alcool e isto sô será para Fevereiro proximo.
Quando estive em Paris Monsieur Naudet disse-me que era muito conveniente para os interesses da firma Hinton que todas
as encommendas dos productos necessarios para a fabricação do proximo anno fossem feitas n’este mez, porque poderia obter
preços muito mais baixos do que sendo feito de afogadilho, isto é á ultima hora. Espero pois que me aucturisará pelo proximo
corrêo a fazer essas encommendas.
O pano para os filtros Philippe já encomendei ao Naudet, vindo uma parte em sacos feitos com os filtros, e o resto em peças.
Subscrevo-me seu attencioso amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz
Principiei a fabricação do assucar com o melaço de Barbados no dia 11 do corrente. O melaço é sulfitado e filtrado, deixando
contudo nos filtros pouca borra:
João Martins tem achado dificuldade na cristalisação, e isso é claro, porque nem elle é um cosedor á altura das
circunstancias, nem o melaço é muito proprio para cristalisação directa em caldeira de vacuo.
Para que a nutrição do grão se fassa melhor tenho desfeito o melaço a 30º Baumé do maximo.
Junto envio-lhe uma amostra do assucar que se principiou a turbinar hoje, que como verá está um pouco sujo devido a ser
os 1os cosimentos, mas o que acho pêor é a cristalisação fina que não é muito propria para assucar typo B2. Vou fazer uma
esperiencia de mesturar umas 6 ou 7 sacas d’este mesmo assucar nos malaxeurs refrigerantes na occasião de cahir um
cosimento, a vêr se com esta amorçage o assucar fica mais cristalisado.
Acabo de fazer a analyse dos égoûts pauvres que mostra o seguinte:
Materia Secca .......................................................83,50
Saccarose directa ..............................................48,38%
Pureza apparente ..................................................57,94
Glucose .............................................................18,09%
Coefficiente glucosico ...........................................37,3
Estes égoûts como vê estão bastante ricos e continham grande quantidade de assucar em farinha, isto é, assucar que passou
no tamis das turbinas.
Se estes égoûts fossem cosidos ainda em 2º jet davam ainda bastante assucar, e seria esta a verdadeira forma de lhe extrahir
meior quantidade de assucar, mas na occasião presente que não temos alcool para vinhos não posso pensar em fazer tal, e além
d’isso para nos dar tempo a que de todo o melaço se extrahia assucar // [108] antes de principiar a laboração da canna, sô
fazendo como fasso agora se pode chegar a esse resultado.
Bastante estimaria que o Senhor Henrique estivesse agora aqui, para de si proprio vêr as cousas como se passam.
Tenho hoje em alcool de melaço indigena para vinhos somente 3000 litros e a fermentação do melaço exotico ainda não está
em condições de destillar, e naturalmente sô na quarta feira proxima poderei principiar a destillar e quanto á retificação no fim
da semana. Como vê estou outra vêz com dificuldades com a falta de alcool, porque não desejava tocar nos 8500 gallões que
tenho reservado para os desdobramentos.
Chegou hoje o vapor com o melaço de Demerara (495 cascos) cuja analyse é a seguinte:
Materia Secca .......................................................92,15
Saccarose directa ..............................................40,13%
152
Pureza apparente ..................................................43,54
Glucose .............................................................28,95%
Coefficiente glucosico ...........................................72,1
Como vê é um bello typo de melaço para destillação.
Vejo-me porem na necessidade de o deitar no tanque mesturado com o melaço de Barbados, porque não temos armazens em
conducções de o guardar. Seria essa a minha vontade, porque não desejava tornar o melaço de Barbados pêor do que é, mas
como fazel’o?
Tudo isto são contrariadades que me aborreçem por não as poder resolver como desejava.
Bom seria que no proximo anno, continuando a importação de melaço para assucar, tudo se fizesse em ordem de tirar bons
resultados industriaes, porque isto de atamancar o trabalho é mau para si, e para mim porque me põe em grandes deficuldades.
Tenho um assumpto a dizer-lhe que me pareçe ser de interesse que o Senhor saiba. Como o Sampaio é amigo intimo de um
suisso que tem casa de bordados, // [109] e como esse Suisso é intenço amigo de um outro Suisso que está empregado no
Leacock, pedi ao Sampaio para vêr se seria possivel elle obter do seu amigo algumas informações com relação á nova fabrica
do Leacock, mas isto com toda a diplomacia: O Sampaio desenvolveu-se bem d’esta incombencia e sube n’este caso o seguinte:
O Leacock já não pensa em fabricar aguardente para manifestar no fim do anno, mas sim fazer alcool de canna em 40º para
os negociantes de vinho. Diz que a sua edêa não é tirar lucros, mas somente vender o alcool depois de tiradas as despezas de
fabrica.
Era este o meu recêo, e já lhe digo porque.
Quaes seram os systemas de extração do sumo da canna?
Quaes os processos de fermentação?
Quaes as condições de compra da canna?
Se eles pensarem como eu o faria, daria o seguinte resultado:
Extracção com imbibição no maximo, isto é 80% do sumo de canna.
Processos modernos de fermentação e destillação obtendo 60 litros d’alcool por 100 kilogramas assucar fermentado.
Compra da canna na épôca em que ella está mais rica e por preço inferior ao que nos compramos, o que seria facil, crêo eu.
Estas tres condições dá o resultado de elle poder vender o alcool retificado em 40º no maximo de 950 reis por gallão. Ora
quem importava alcool Alemão ao preço de 1400 reis sô com o fim de prejudical’o, muito mais facilmente compra a 950 reis
com o mesmo fim.
Vamos principiar esta semana na montagem da nova caldeira de vacuo.
Seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
153
Dado isto é minha opinião que devemos recusar parte do melaço de Demerara por não ser proprio para extrahir assucar e sô
comprar o que for necessario para alcool.
Carlos217 no seu telegramma assim lhe dizia e ficamos á espera da sua resposta, porque a correspondencia trocada entre nós
e Demerara esta clara, e como o melaço não contem a percentagem em assucar [...] tudo[?] por elles podemos perfeitamente
recusar esse melaço.
Não convem de forma alguma ter melaço para alcool a mais do que as necessidades requerem naturalmente.
O que nos vai aconteçer naturalmente é não termos assucar para o consumo até março, mas de todos os males o menor,
fazemos importar o assucar bruto necessario para ser refinado. Junto vai tambem a analyse da amostra tirada pela Alfandega
[...] isto é, amostra official e é esta a que nos servirá para a contestação porque todas as outras particularmente nossas não fazem
fé em juizo. Contudo amanhã vou fazer a analyse do resto dos ponches que ainda não foram analysados. Recebi carta do
Naudet218 aprovando tudo quanto lhe tenho proposto.
Sem mais sou seu Amigo Attencioso e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz
P. E.[sic] As fermentações do melaço magnificas [sic]. //
154
[DATA: 6 de Março de 1910
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[114] 6 março 910
Ex.mo Amigo e Senhor Henrique
Não sei se lhe deva desde já dár os meus sinceros parabens pelos resultados da sua justa questão; em todo o caso vejo que
pelo telegramma enviado que tem todas as esperanças que a resolução seja a seu favor, Deus o primitta.
Quanto á parte do telegramma em que diz que devemos principiar no fim d’esta semana, o Senhor Bardsley disse-me para
eu lhe dar a minha opinião a este respeito o que vou fazer:
Poderemos principiar esta primeira moenda, isto é, uns 5 dias, trabalhando pelo systema antigo, quer dizer, sem o Kestner,
porque este aparelho não pode estar definitivamente concluido antes de uns 10 dias pelo menos, e como a semana Santa é na
proxima semana temos tempo suficiente para concluir a montagem d’elle como deve ser.
Muito se tem feito de Janeiro até hoje e isto por um trop-de-forçe, e Deus primitta que tudo estaja em ordem.
É porem de toda a conveniencia antes de principiar com a canna trabalhar um dia a agua de forma a limpar bem todos os
apparelhos para evitar o produzir assucar dos dois primeiros cuites de má qualidade.
Para trabalhar pelo systema antigo temos quasi tudo em ordem a não ser as centrifugas, mas como sô uns 3 dias depois de
principiar é que vamos ter Melasse Cuite em estado de turbinar, não deve talvez prejudicar o seguimento do trabalho.
A Caldeira de vacuo nova tambem não está concluida e mesmo no caso acima não necessitamos d’ella. A Freitag pode
trabalhar a vapor exausto e directo como no anno passado, e o pequeno Cuite (100 Hectolitros) fará os pés de cuite como
ordinariamente. A montagem das bombas centrifugas // [115] tanto a do Kestner como a do Triple estão montadas, e a filtração
mechanica, a sua montagem está feita de forma que se pode trabalhar da forma que se quizer.
A diffusão está terminada.
A bomba dos petits eaux tambem fica concluida em dois ou trez dias: Quanto a esta parte eu disse ao Engenheiro que sô
necessitamos uma bomba porque vou reonir os petit eaux aos eau do mulin de repression.
Acho até muito conveniente o trabalhar os primeiros 5 dias pelo systema antigo porque durante esse tempo posso habitoar
o pessoal da diffusão a trabalhar em duas baterias conjugadas, trabalho perfeitamente novo para elles e que me vai tomar muito
tempo. Depois de esta parte do trabalho estár corrente posso então dedicar-me ao trabalho do Kestner, novo para mim e para
todo o pessoal, e como as modificações no triple para a filtração entre as caixas tambem me deve prender bastante a attenção,
poderei perfeitamente applicar-me a esta parte do trabalho. D’esta forma podemos arranjar assucar para consumo de duas
semanas e principiar definitivamente depois da semana Santa.
É isto a minha opinião sobre o nosso trabalho.
Vejo que os cosedores não chegaram a tempo para o principio d’esta primeira moenda, mas vamos-nos remediar com João
Martins e Francisco. Quanto ao Chimico farei o possivel de o substituir por uns dias porque tenho Avelino220 que já faz muito.
Que a sua boa Estrella o continue a guiar na sua campanha
Seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
155
[DATA: 7 de Outubro de 1910
DESTINATÁRIO: Harry Hinton; LOCAL: Lisboa?]
[117] 7 outubro 910
Ex.mo Amigo e Senhor Henrique
Já deve estar ao facto dos graves acontecimentos d’este desepaçado[?] Portugal, e talvez melhor do que nos aqui que por
enquanto[?] pouco sabemos de positivo.
Que resultará de toda esta calamidade?! E da nossa[?] infeliz nesta[?]? O futuro o dirá, [...] corra pelo melhor.
Vou passar-lhe a espor o resultado da esperiencia da turbina Hignette que fiz quando aqui cheguei juntamente com Marsden
e dár-lhe conta das minhas impressões [...] e o que no meu fraco intender vejo n’este assumpto.
Esperiencia feita em 5 do corrente.
Esperiencia da turbina Hignette com petits eaux guardados d’esde a ultima laboração, isto é, 3 mezes, cuja agua apresentava
pouco mais ou menos o mesmo aspecto dos petits eaux normaes, mas que naturalmente devido ao [...] guarda[?] deve ter
modado a sua composição chimica e natureza phisica, tendo um odor a putrido fraco.
A esperiencia com aguas n’este estado deve naturalmente diminuir ou modar o effeito da precipitação dando a esperiencia
n’estas condicções resultados um pouco desfavoraveis, mas que com petits eaux frescos alcalinisados e com o sulfato de
ammonio a percipitação deve ser mais rapida e o resul-//222
156
masse cuite facil a turbiner.
Les égoûts pauvres de cette burbinge seront recuits á nouveau et les égoûts riches pour diluer les tourteaux.
Monsieur Hinton et moi desiron avoir votre opinion sur ce projet.
Je vous prie d’acheter la pompe à masse cuite – d’occasion si possible – le plus tôt que vous pouvez et de nous l’envoyer
dans le plus bref délé.
Bien Cordealment á Vous [Ass:] João Higino Ferraz //
226 As palavras «Cabo Verde», «São Theago – Praia» e «José Torquato de» foram grafadas com letras maiores que o habitual e, pela sua disposição, foram
com toda a probabilidade acrescentadas após a escrita da carta.
227 Harry Hinton.
228 León Naudet.
157
Gostei da representação que esta muito bem feita e explicativa.
Junto envio-lhe as bases para o establecimento de uma Companhia Assucareira conforme o meu modo de vêr.
Estas bases poderão servir para que os Depotados por ahi possão tratar qualquer cousa nas Constituintes em beneficio d’essa
Ilha.
Sei perfeitamente que fazendo o governo qualquer cousa será posto em concurso, mas isso pouco cuidado me dá, porque o
meu Amigo sabe perfeitamente que usando todos os aperfeicoamentos[sic] como temos aqui na Fabrica posso eu ou o Senhor
Hinton229 concorrer com vantagem, e mesmo acho que para segurança das obrigações do Governo isso seria muito mais
vantajoso. O que vejo é que nada se pode fazer sem que o Governo decida essa questão, porque ninguem se abalançará a uma
tal empresa sem garantias seguras. //
[124] Acabo de fallar com o Senhor Hinton que me diz lhe vai escrever, mas a opinião d’elle é a mesma que a minha «nada
poderi[sic] fazer para a formação da Companhia sem que o Governo apresente qualquer base sobre esse assumpto» são estas as
pallavras testuaes d’elle.
Por tudo isto o meu Amigo verá qual o caminho que tem a seguir e todas as pessoas interessadas ahi.
Fico pois esperando os resultados de tudo isto e espero que qualquer resolução a tomar deve ser breve porque perde-se
<tempo> é[sic] o tempo é dinheiro.
O Senhor Hinton vio as bases feitas por mim e aprovou por completo, tanto que mandou tirar mais copias para guardal’as.
Sem mais outro assumpto Sou com estima e Consideração seu Amigo Attencioso e Obrigado [Ass:] João Hygino Ferraz //
158
questão é dificil tanto para Hinton como para si, visto sendo o concurso livre outro qualquer pode concorrer e o meu Amigo
fica prejudicado; disse-me elle que essa questão deveria tomar outro caminho. O Senhor Hinton disse-me que em nada pode
influir em Lisboa junto do Governo sobre questões d’assucar, porque o nome Hinton é sempre visto com maus olhos… e é a
pura verdade!
Esteve aqui no mez de agosto de passagem para Lisboa um dos agronomos da Missão agronomica que desejou ver a Fabrica,
e por elle sube que interveio nos dados que o meu Amigo me enviou em tempos. Por elle sube tambem que toda a deficuldade
é de transportes, e foi sempre esse o meu receio n’esta empreza. A opinião d’elle é que é // [127] economicamente impossivel
ligar todos os centros productores de canna a uma unica Fabrica Central. É isso uma das meiores dificuldades para a realisação
d’uma empreza em condições vantajosas, porque desde o momento que se tenha que montar mais de uma fabrica, o capital
absorvido por ellas pode tomar taes proporções que é de inevitavel ruina. Foi isto sempre o meu receio, e é por isso que eu lhe
dizia que sô estudando bem os meios de condução da canna uma empresa deve então tomar o encargo de tal conseção.
Crêa o meu Amigo que sinto bastante os encomodos que tem tido, mas é necessario ter presistencia, e operar com todo o
cuidado n’um negocio d’este quilhate porque o Capital é grande e dificil de conseguir d’esde o momento que não haja garantias
seguras. Esperemos a vêr o que o Governo faz, mas vejo estas questões do Governo republicano tão complicadas devido ao
pouco juizo politico de nós Portuguezes que não sei em que tudo isto irá parar.
Fico sempre ao seu dispor para tudo o que o meu Amigo achar que lhe posso ser util.
Seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
[128]232
159
4ª É bom consultar Monsieur J. Kavan, ingenieur-chimiste de Prague que tem um aperfeiçoamento no forno antigo de
“Porion”.
Desposição aproximada dos evaporadores: Schema:
160
[DATA: 28 de Dezembro de 1911
DESTINATÁRIO: Valentim Pires Leiró; LOCAL: Lisboa]
[132] 28 Dezembro 1911
Ill.mo Senhor Ventim Pires Leiro, Lisboa
Em meu poder a sua estimada carta de 18 do corrente assim como os Devis das tres casas constructoras.
Pelo estudo rapido que fiz dos diversos devis apresentados vejo que o trabalho em todos elles sendo simples é contudo
imperfeito para o fabrico e dando perdas em assucar bastante elevadas no bagaço enviado ás caldeiras de vapor.
Não posso vêr como elles calculão o rendimento de 8,5% em turbinado visto naturalmente não saberem qual a percentagem
de assucar na canna e mesmo o meu Amigo não poder dár essas indicações por não ter feito analyses que sirvão de comparação.
Vejo porem que com o defibreur e dupla perção seca como propõe a Casa Cail233, que a meu vêr é a mais rasuavel e melhor
deliniada, a não ser na sua proposta de perção hydraulica nos cylindros que sendo muito bom é contudo muito caro, elles não
podem obter mais de 78 a 79% d’extração. É parece-me de toda a conveniencia extrahir o mais possivel em assucar turbinado
para que o rendimento por Hectare de terreno seja elevado até onde o meu Amigo pelos seus calculos veja pode tirar vantagens,
por isso lhe dou os diferentes rendimentos que pode tirar pelos diversos systemas de moagem da canna, calculando para isso,
na canna 13% em assucar:
Com um defibreur e dupla perção seca = 78% extração ou 64% em assucar puro turbinado, isto é, 8,32 kilogramas assucar
% kilos cana //
[133] Com defibreur e dupla perção com uma imbibição de 15% = 88% extração ou 80% em assucar puro turbinado, isto
é, 10,40 kilogramas assucar % canna.
Com defibreur e triple preção com duas imbibições de 25% = 93% extração ou 84,5% em assucar turbinado, isto é, 10,98
kilogramas assucar % canna.
Quanto aos preços dos apparelhos vejo grandes diferenças, mas isso é em grande parte devido aos intermediarios, que sendo
uma desvantagem é contudo para si muito mais facil de establecer contratos por isso que o meu Amigo não conhece a fundo a
materia e necessita pessoa que lh’as indique e com quem trate de viva vôs. Como vejo que tem na sua antiga fabrica um moinho
de trez cylindros poderá applical’os a formar uma triple perção como propõe a casa “Squier” mas com imbibição, comprando
um defibreur e dois moinhos de 3 cylindros cada um, caso o seu moinho tenha a capacidade e resistencia para as 250 toneladas
de canna em 24 horas. A seguir lhe dou a minha fraca opinião como eu montaria a fabrica, mas isto sô nos pontos principaes,
porque nos pequenos detalhes de montagem devem ser estudados pela fabrica constructora tendo sempre em vista a economia
de combustivel para evitar o ter de queimar carvão ou lenha para a formação do vapor necessario ao fabrico.
Trabalho aplicado:
1º Conductor de cannas conforme os devis apresentados.
2º Um defibreur Krajewski.
3º Dupla ou tripla perção, com simples ou dupla imbibição.
4º Trez chauleurs de 20 Hectolitros cada um com movimento mexidor.
5º Sulfitação alcalina em 3 caldeiras sulfitadoras intermitentes de 35 Hectolitros cada uma, servidas por um forno de SO2
(acido sulfuroso) //
[134] Não aconcelho o Quarez continuo que é dificil de controlar e demanda um cuidado especial do chimico para evitar a
sursulfitação que produz grande quantidade de SO2 livre que no trabalho subsequente se transforma facilmente em acido
sulfurico que invertendo o assucar diminui o rendimento em turbinado tornando além d’isso o trabalho da cristalisação dificil.
6º Defecação continua em circulação rapida em 4 rechauffeurs de 30 metros quadrados de surface de chauffe de 8
circulações, sendo 3 em trabalho e um em limpeza, até á temperatura de 95-96º centigrados. Este systema de defecação é facil
de conduzir, sendo necessario para isso uma bomba centrifuga Sechabaver Nº 3 para a circulação rapida. Estes rechauffers são
aquecidos pelo vapor perdido das machinas, sustentados a uma perção minima de 0,500 kilogramas = 110º temperatura
centigrados.
7º Uma bateria de filtros-presses com levagem para a filtração total do jus defecado. Por esta forma de defecação (contra o
que diz a casa “Sequier”) e filtração total do jus defecado que dá um jus mais puro e mais claro, evita-se as baterias de
defecadores, decantadores, eleminadores e deposito de borras, dando um trabalho mais perfeito, livre do contacto do ar, com
duas filtrações dando um jus mais brilhante, e faz uma certa economia de combustivel. É necessario porem que a casa
constructora estude bem a forma de montagem e a superfice filtrante em filtros-presses necessarios ao trabalho requerido.
233 Empresa do Norte de França especializada no fabrico de tecnologia açucareira.
161
8º Ébuillanteur para o jus claro dos filtros-presses até á temperatura de 105-108º centigrados em uma serie de 2 rechauffeurs
eguaes aos da defecação mas aquecidos a vapor directo detendue a 2 kilogramas = 132º centigrados temperatura. Este
ébuillanteur substitui os eleminadores com muito melhor resultado por ser feito livre do contacto do ar e serem continuos. Estes
rechauffeurs são tambem servidos por uma Sechabaver Nº 3. //
[135] 9º Uma bateria de filtros mechanicos ou á tissu ou de area. Empregando os filtros á tissu aconselho os Filippe com
toiles proprias ao jus de canna.
Sendo de area aconselho os de Raimbert com tanque de levagem independente. Empregando os filtros mechanicos á tissu
necessita dois filtros-presses para as borras d’elles retiradas.
10º Um triple-effet com 320 ou 350 metros quadrados de superfice de evaporação para as 250 toneladas de canna em 24
horas, conforme montar a dupla ou triple perção com imbibição, trabalhando de forma a produzir um xarope a 30-32º Beaumé
Faço-lhe bem notar que o triple tenha a superfice de evaporação acima dita, porque todos os constructores têem sempre por
norma dár pouca capacidade aos evaporadores e a pratica não dá mais de 22 litros na media em agua evaporada com jus de 1058
de densidade por metro quadrado e por hora para um triple em que se quer obter xaropes a 30-32º Beaumé.
11º Dois Cuites, sendo um de 100 Hectolitros para pé-de-cuite em comonicação com outro de 150 Hectolitros; n’este cuite
faz-se a reentrada dos égoûts de 1ª até 20 a 30% dos égoûts disponiveis. N’estas condições os cuites estão quasi sempre em
trabalho, visto que, logo que seja passado o pé-de-cuite de 100 Hectolitros ao de 150 Hectolitros, principia-se novamente na
formação de outro pé-de-cuite no de 100 e assim sucessivamente.
12º Tres malaxeurs-refroidisseurs de 170 Hectolitros cada um para os cuites de 1er jet.
13º 8 malaxeurs abertos comonicantes de 100 Hectolitros cada um para a malaxagem continua do 2º jet que será feito na
pequena caldeira existente na fabrica. //
[136] 14º Um ballão central (relantisseur), que recebe os vapores do jus do triple e cuites, em comonicação com uma
columna barometrica central e bomba de vacuo seca. Este ballão é de grande vantagem porque evita as perdas por entrenement.
15º 4 turbinas (centrifugas) systema Watson com motor a agua para o 1er jet com o seu malaxeur-transportador de Melasse
Cuite que recebe directamente a Melasse Cuite dos malaxeurs-refroidesseurs de 1er jet.
16º 2 turbinas do mesmo autor independentes das de 1er jet mas trabalhando com a mesma bomba de perção hydraulica, em
comonicação edentica com os malaxeurs continuos de 2º jet. O assucar produzido por esta turbinagem não é lavado nem leva
vapor porque será refundido (derretido) no jus ou xarope para entrar novamente no cuite de 1er jet. N’estas condições tira-se
somente um typo de assucar bruto ou levado e melaço perfeitamente épuissée.
17º Um malaxeur redondo de 25 Hectolitros com serpentina de vapor para a refundição do assucar de 2º jet no jus ou xarope.
Todo o mais são detalhes a estudar pela fabrica constructora.
Sou com toda a consideração de V.a Ex.a Attencioso Venerador [Ass:] João Higino Ferraz //
162
a cargo os negocios da casa Diogo & C.ª e faço votos pela felicidade dos seus negocios. Junto tambem recebi o Devis da Casa
“La Chimia Industria” de Bruxellas, mas posso garantir que esta casa nada tem com a casa Cail de Paris.
Devis[?] – Pelo exame feito ao devis vejo que elles lhe propôem uma diffusão directa da canna, que me parece que ao meu
amigo não lhe convem, ainda que o rendimento em assucar é melhor, visto perder o bagaço como combustivel o que é importante
para si nas condições em que tem a sua industria. Se eu visse que a diffusão lhe seria vantajosa, aconselharia uma diffusão do
bagaço pelo processo Hinton-Naudet, como temos aqui montada, mas pela pratica que tenho d’esse processo, elle sô convem a
uma fabrica que fassa pelo menos 300 toneladas de canna em 24 horas em trabalho continuo, e que tenha um pessoal de direcção
habilitado e um control chimico regular. Continuo pois nas mesmas edêas da minha carta de 28 proximo passado e a ellas mais
nada posso acrescentar, e se // [139] o meu amigo tomar os meus conselhos estou certo lhe dará os resultados vantajosos.
Quanto á parte da sua carta em que me propõe eu ser o intermediario na verificação do fabrico e emprego do material na
Fabrica constructora em que fizer a encomenda, tenho a dizer-lhe que isso me é dificil ainda que com vantagens para mim,
porque como o meu amigo muito sabe tenho a meu cargo a direção technica da Fabrica Hinton á qual estão ligados os meus
interesses e que não posso de forma alguma abandonar por muitos motivos tanto economicos como pessoaes. Contudo, como
nos fins do anno corrente, talvez em outubro, eu vá a Paris tratar de negocios da Casa Hinton e meus, poderia no caso de
concordancia entre nôs, e caso os trabalhos de construção do material estar em bom andamento ou perto de conclusão, vesitar
os Fabricantes e verificar se o material e processos estão conformes ás suas indicações. N’esse caso o meu Amigo me
arebritariaria[sic] uma commição que remunerasse os meus trabalhos de verificação de material.
Motores elletricos: – Quanto a esta parte acho uma belissima edêa a sua de aproveitar a sua queda d’agua para os fins que
deseja, mas não para o trabalho dos moinhos de canna o que é quasi impossivel e nada pratico pela força que demanda esta
parte do trabalho que lhe absorveria quasi por completo toda a força // [140] elletrica desponivel; alem d’isso o meu amigo
necessita vapor para as suas evaporações da garapa ou jus, e que não tendo vapor exausto se verá obrigado a empregar vapor
directo, não tendo por isso vantagem alguma. Vejo porem que poderá empregar a força elletrica no seguinte: Luz para a Fabrica
e dependencias, todas as bombas serão centrifugas movidas a elletricidade, as turbinas Watson com motor elletrico, malaxagem
isto é, movimento dos malaxeurs por motor elletrico, etc.
Para isso deve o meu Amigo enviar á casa constructora o volume medio da agua do seu açude assim como a altura de queda
d’elle, para elles poderem calcular qual a força hydraulica desponivel para as turbinas a applicar a um dinamo. N’um caso
d’estes é muito conveniente a montagem ser feita sobre a direção de um elletricista competente. Faço-lhe porem desde já a
prevenção de que a installação para todos os fins que deseja caso a força motris agua seja suficiente, lhe vai custar bastante
caso, ainda que lhe traga grandes vantagens futuras.
Sem mais, sou com toda a consideração, de V.a Ex.a Attencioso Venerador Obrigado [Ass:] João Hygino Ferraz //
163
[DATA: 13 de Dezembro de 1912
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[143] 13 Dezembro 2
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Acabo de receber uma carta de Naudet234 com data de 6 do corrente acompanhada com os planos dos apparelhos
encomendados e o Sechema e planos para o trabalho da Melasse Cuite 2º jet nos filtros.
Vejo, pela nota enviada das encomendas feitas por si que não está incluido o pequeno malaxeur para a diluição do tourtou
com o jus o que é indispensavel porque o não temos e para o mandar construir em Lisboa não sei se elles o farão a tempo. Como
porem o Senhor Hinton está em Lisboa poderá fallar ao Dargent235sobre isso. O malaxeur deve ser de 20 Hectolitros uteis com
seu mexidor mandado por poles fixa e volante e com uma pequena serpentina de vapor para a conservação de uma temperatura
regular: Fazendo ahi a encomenda não fallarei em nada ao Naudet.
Uma outra parte da carta é com relação ao sulfitador Lacouteur que elle diz o Senhor Hinton não lhe ter feito a encomenda
e que elle da sua parte não poderia fazer sem sua auctorisação; Como lhe disse em Londres parece-me que o Quarez que temos
não dará para a sulfitação do jus total alcalinisado conforme as indicações de P.G.[?] e foi devido a isso que eu em Paris disse
ao Naudet ser necessario um Lacouteur, e elle mesmo na sua carta diz, “il sera un peu faible c’est indiscutible, mais j’ai
l’esperance qu’il fera, à peu prês, le service que vous lui demanderez.” Diz elle tambem que não haverá tempo para mandar
construir um, e devido a isso combinei com Monsieur Marsden de se fazer uma modificação no injector de Quarez existente //
[144] e substituir a bomba que lhe pertence por uma outra meior de forma a fazer mais appele de gaz e sulfitar mais
rapidamente; n’este caso teremos somente de adquirir uma bomba de meior força para o sulfitador Quarez.
Na ultima semana escrevi ao Naudet propondo-lhe o seguinte: Tirar dos decantadores de jus defecado 1/3 parte do liquido
claro (parte superior) por torneiras e tubo separado, indo este jus perfeitamente decantado directamente ao Triple, e o resto, isto
é, 2/3 composto de claros e borras, indo a parte clara (ainda que alguma cousa turva) aos filtros mechanicos e as borras á diffusão
como combinamos. N’estas condições os filtros mechanicos terão muito menos trabalho e darão um jus brilhante, tendo isso
grandes vantagens diversas que depois lhe direi. Tenho porem receio que Naudet o não queira fazer sem sua auctorisação, visto
que as torneiras e tubo geral de ligação devem vir previstas nos apparelhos (decantadores) encomendados: Seria bom o Senhor
Hinton lhe escrever auctorisando isso.
A refinação do assucar d’Africa deve ficar concluida a 20 ou 21 do corrente.
O alcool já vai sobrando das encomendas mas ainda não temos stock quasi nenhum
O tanque do melaço deve andar meio pouco mais ou menos
Sem mais que lhe diga subscrevo-me Seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
164
mais appelle de gas sulfuroso e fazer a sulfitação mais rapida. Combinei isso com o engenheiro e elle diz-me ser facil de fazer.
Na minha ultima carta propuz a sulfitação da garapa bruta pelo Quarez, mas como elle vai ser empregado na // [146]
sulfitação do jus total poderemos fazer a esperiencia com acido sulfuroso liquido.
Quanto á parte da minha carta com relação á não filtração de 1/3 do jus de decantação, escrevi ao Senhor Hinton e estou
certo que elle aprovará, por isso que a despeza é minima e deve dár o resultado previsto. Pedia-lhe pois fizesse incluir na
encomenda dos decantadores as 7 valvulas ou robinettes à tiroir colucadas a 2/3 da altura com seu tubo de ligação entre ellas.
Sobre qualquer ponto que eu tenha duvidas lhe escreverei e agradeço-lhe a sua solecitude, mas peço-lhe que me diga com
toda a franqueza se comprehende bem as minhas carta em portuguez porque no caso contrario eu farei escrever em francez por
Carlos237; mas confesso que assim será mais facil para mim.
Sempre a vossa desposição para tudo em que lhe possa ser util, e espero com muito prazer a sua visita e de Madame Naudet
no proximo anno.
Crêa-me seu Amigo sincero
[Ass:] João Higino Ferraz
Os meus respeitosos comprimentos a Madame Naudet e faço votos que o proximo anno seja para os dois tão feliz como para
mim proprio desejo. [Ass:] Ferraz //
165
Directeur technique de la fabrique de sucre et alcool de William Hinton & Sons
Note: Les fûts doivent venir demontés, les duelles marqueés pour que je puisse les monter ici. //
166
3en Pressurage imediate de cet marc dans le pressoir á traveill ininterrompu. //
[154] 4em Remiage du marc dans le broyeur:
5en Maceration de 12 heurs avec le jus obtenue de 2en maceration:
6em Pressurage de cet marc, et le jus obtenue melanger au jus normal des pommes; cet jus melangé constitui la cidre
marchante:
7en Remiage du marc dans le broyeur:
8en Maceration de 12 á 24 heurs avec l’eau jusqu’a 20 a 25 litres pour 100 kilogramas de pommes:
9en Pressurage du marc, et le jus obtenue mettre sur le marc de 1er maceration:
10en Les 2 prémieres jus, c.a.d., jus normal et jus de 1er maceration melangé, mettre dans une cuve en bois de capacitée
sufficent pour le travaille de 10 heurs (20 Hectolitres), on se mette cet jus en condiction de bonne fermentation, joindre toutes
les matieres necessaires à la production d’une bonne cidre, et faire une premier debourbag.
11en Soutier de cette cuve et mettre en cuves en bois de 50 Hectolitres (6) on se doivre proceder à la fermentation.
12en Joindre dans les cuves les ferments pures habitué au SO2 et mettre sur le bonde le purificateur d’air Noël.
13º La cidre aprés 1er fermentation dans les cuves en bois será passée aux citernes en ciment, pour completer lá 2em
fermentation.
Le reste du travaille je suive votres indications du Guide Pratique.
Pour le desin vous voyée qu’il y a un mure C que je peu soutiraire et mettre en D (rouge). Comme cá nous avont plus
d’espace pour les appareils, et l’espace //
[155]238
[156] pour la fermentation será sufficent pour 6 cuves e 50 Hectolitres. Je croi que serait la meilleur forme de faire.
Je vous demand les plans de montage complete et les prix des appareils suivants:
Nouveau laveur de pommes travailant au moteur, Nº MI de 25 Hectolitres
prix du catalogue ......................................................................................................................525 francs
Nouveau broyeur Nº PEV 14 sur pieds fonte debitant 25 a 35 Hectolitres à l’heure .............320 francs
Pressoir à pommes a travail ininterrompu à vis, à quatre colonnes,
fonctionnant a bras, à doubles maies en bois, serie C2 – page 87 de
votre Cataloge, et jeu complet de toiles et claies en bois ......................................................2262 francs
Moteur “Autonomic” Nº C4 complete, fonctionnant á essence de petrole ...........................1210 francs
Une pompe en cuivre à transmission (Memoire) ......................................................................................
4317 francs
J’espere qui vous me donnerai une remise sur les prix de votre Cataloge et aussi un escompte pour paiement en un cheque
à la commande.
En attendant le plaisir de vous lire en plus breve delai: Veuillez agréer, Monsieurs, mes bien sinceres amitie [Ass:] João
Higino Ferraz Directeur Thechnique. Maison Hinton & Sons. Madère – Funchal //
238 O fólio 155 foi retirado do copiador de cartas, provavelmente por não conter qualquer escrito, ou por apresentar, como já tivemos exemplo atrás, o mesmo
texto decalcado que o fólio 154.
167
[DATA: 7 de Abril de 1913
DESTINATÁRIO: Simon Frères; LOCAL: Cherbourg, França]
[158] 7 Avril 3
Monsieurs Simon Frères Cherbourg
Bien reçu votre lettre en date du 28 Mars ecoulé – je vous dirais que je n’ais pas encore les plans annoncée par votre lettre
du 28 dernier.
J’ai bien fait la lecture de vos devis; seulement je constate que le prix net de 1200 francs en plus pour l’appareil a serrage
mechanique “Air-vapor” est un peu elévée – Je prendrais bien l’appareil entier si vous consentée á baisser un peu ce prix net
de 1200 francs.
Pour le reste de l’installation je me charge moi même de faire ici le necessaire.
Maintenant pour la date de la commande comme les batiments devant recevoir ce materiel n’est pas encore achevé, je vous
prie de bien vouloir me dire si votre prix será encore le meme en juin prochene.
Veuillez agréer, Monsieurs, mes bien sincères salutations [Ass:] João Higino Ferraz //
168
En attendent le plaisir de vous lire; Veuillez agréer, Monsieurs, mes salutations empresses [Ass:] João Hygino Ferraz //
169
[DATA: 16 de Junho de 1913
DESTINATÁRIO: René Le Grand de Mercey; LOCAL: Chateau de Mercey, França]
[165] Funchal 16 Juin 1913
Monsieur Baron René le Grand de Mercey, Château de Mercey Monthellet
Monsieur
Je viens seulement cette semaine de recevoir votre lettre du 22 avril dernier aussi que la facture générale et des
renseignements pour le montage des appareils, la preparation du vin, etc.
La raison, je crois, pourquoi je n’ais pas recue en temp votre lettre est du a ce que vous avais mis dans l’enveloppe le nom
José au lieu de João, et la poste la retenue tout ce temps. Ci-joint un cheque de francs 34,15 de la solde de mon compte.
Je profite de cette occasion pour vous remercier encore une foi vos offres de me donner tous les autres renseignements que
je puisse avoir bessoin.
Veuillez agrêer, Monsieur, l’assurance de mes bien bons souvenirs. [Ass:] João Higino Ferraz
Je vien de recevoir la notice de la Maison de Lisbonne me disant que le materiel est arrivé. //
239 Esta carta foi declarada sem efeito pela expressão «sem effeito», grafada com letras maiores que o usual e na diagonal, sobre o texto da mesma. Ao ler-se
a carta seguinte, do fólio 167, constata-se que esta encerra informação semelhante à anterior do fólio 166, mas mais actualizada, actualização esta
concernente à recepção de material ou aparelhos industriais. Daí a ocorrência de ter sido declarada obsoleta a carta de 28 de Julho de 1913.
170
Traité, la Cidrerie Moderne
Prix aproximatif bio-sulfite 42 francs
Cidrerie Moderne 6,50
Á Monsieur Humblot – Bar-sur-Aube (Aube) 45 kilogrammes de Tonnal concentré duble D
Prix aproximatif ——————- 62 francs
Ces marchandises je vous pris de m’envoyer le plus vite possible en P.V. de manier à etre ici à la fin de la premiere quinzaine
de septembre prochene, emballage en caisse á chien pour exportation, et de me faire tout le necessaire.
Comme je ne peu pas savoir les prix du transporte et defenses d’emballage, je vous envoi un cheque de 200 francs, et ci ca
n’ait pas sufficent me faire parvenu à temp.
Veuillez agrèer, Mon cher ami, mes bien sinceres salutations [Ass:] João Higino Ferraz //
171
172
[Copiador de Cartas. 1917-1919]
DESCRIÇÃO:
O título deste copiador foi atribuído por nós. Estamos na presença de livro, papel, 27 cm x 21,5 cm, em bom estado de
conservação. Os fólios deste livro estão numerados com caracteres de imprensa.
173
174
[DATA: 26 de Maio de 1917
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[1] Funchal 26 maio 1917
Ex. Amigo e Senhor Hinton
mo
Depois da minha ultima carta em que lhe fallei do Triple se ter incrustado um pouco, tenho estado a ver se descubro a causa,
e hoje estou perfeitamente convencido de que os homens não deitaram regularmente a solução de baryte como eu tinha
determinado, porque fazendo o calculo pelos mexidores de baryte feitos vejo que apenas se gastou na proporção de 300 gramas
por tonelada canna, quando deveria ser de 360 gramas. Devido a isso já despedi um d’elles, e se os outros não seguiram o
mesmo caminho é porque tenho falta de pessoal, e não ha remedio senão atural’os. As cousas porém estão agora remediadas de
forma a não se repetir o caso, e elles já percebem que eu facilmente sei a forma como fazem o trabalho. O apparelho depois de
limpo a soda e acido, mostrou a 1ª e 2ª perfeitamente limpas, e somente a 3ª e 4ª tinham mais incrustação do que da outra vez.
Actualmente sô com o trabalho do Torreão, o xarope sai a 36º Baumé, e o apparelho tem que trabalhar devagar // [2] para não
parar de todo. O resto do fabrico corre regularmente, mas a canna sempre fraca.
Adubo de tourteau: Tenho encontrado algumas dificuldades no fabrico, por diversas sausas[sic]:
1º a Cal do forno Pereira & Farinha (o único que trabalha actualmente) nem sempre vem bem cosida, de forma que a
desidratação não se faz bem, dando grande quantidade de caroço (borra não atacada) e assim o rendimento é menor e não posso
fazer na quantidade que desejava.
2º O pessoal trabalha de má vontade devido ao pô que levanta pela[?] cal hydratada que lhe faz mal aos olhos. Vi-me
obrigado a dar-lhes mais alguma cousa, mas mesmo assim é uma dificuldade.
3º O aparelho ainda que fazendo menos mal o trabalho, não é perfeito para fazer o máximo (9000 kilogramas em 24 horas),
mas isso, e todo o resto é remediavel para o proximo anno, no caso de lhe convir continuar.
Tenho sedido algum adubo para esperiencias, de forma a que Leacock não possa reclamar.
Segundo Carlos241 e Velosa, deveremos terminar a Laboração entre 11 a 15 de Junho proximo, e assim a quantidade de canna
trabalhada será menor do que em 1916.
Sô tenho enxofre até 2 a 3 de junho, e se não vier mais vou-me vêr na necessidade de usar o processo Naudet. // [3] Qual
será a diferença que fará? Confesso-lhe que tenho grande coriosidade de vêr se o emprego do Aluminato de baryta no jus de
diffusão faz alguma diferença n’este processo..., porque no caso de me vêr forçado a metter a garapa na bateria de diffusão, vou
empregar uma forma diferente da adoptada por Naudet, e os saes de cal formados e as albuminas de bagaço devem ser
perfeitamente percipitadas pelo aluminato de baryta, e desejo vêr qual o resultado das purezas do jus de diffusão e xarope, em
relação aos tempos antigos de diffusão. Do que houver lhe darei parte. Era corioso se as purezas se conservavam!..
Faço votos para que esses desturbios em Lisboa lhe não tragam dificuldades aos seus negocios. Quando será que essa gente
tem juizo?
Projectos da nova Fabrica (?!), não lhe digo nada porque naturalmente Carlos lhe contará o que há.
Quanto a mim, não tem importancia alguma, no caso que consiga a perrogação do contracto, nas mesmas bases em que está
este.
Sem mais subscrevo-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
241 Carlos Fernandes.
175
[DATA: 11 de Junho de 1917
DESTINATÁRIO: Bardsley]
[4] Funchal 11 junho 1917
Meu Ex.mo Amigo e Senhor Bardsley
Como temos ámanhã vapor para Lisboa (Maria), aproveito para lhe responder, em parte, á sua Carta.
Terminamos a Laboração no dia 10, fazendo (Torreão e Lemos242) 35.396 toneladas canna, sendo 60 toneladas somente em
alcool. Quanto ao rendimento medio da Laboração, não lhe posso por emquanto dizer nada ao certo, porque estamos terminando
a turbinagem do Farim, que deve dár ainda uns 8 a 10 dias, mas calculo que o rendimento seja de 9,8 kilogramas em turbinado
% canna, e isto com canna com 12,5% assucar no maximo e uma pureza de 85º. Como bem vê, com canna d’esta natureza, é o
maximo que praticamente se pode obter.
Fiquei satisfeitissimo com o trabalho de evaporação no Triple-effet devido ao aluminato de baryta; tivemos dias seguidos
(quando tinhamos cannas suficientes) a fazer uma media de 600 e algumas vezes 620 toneladas canna por 24 horas! N’unca
julguei que o apparelho podesse fazer tal quantidade, e ainda mais com xaropes a 33-34º Baumé. Com o trabalho somente do
Torreão fizemos dias seguidos 520 a 530 toneladas por 24 horas. É bom porém notar que a canna no corrente anno tinha muito
menos fibra (bagaço), e assim os moinhos podiam fazer muito mais, e isso vê-se bem pela carga dos diffusores que, em 1916
era de 1340 kilogramas canna, e no corrente anno deve dár uma media de 1550 kilogramas canna. //
[5] Como bem vê este producto (aluminato de baryta), é indispensavel para a colheita seguinte, e deverião desde já fazer a
encomenda a Lefebvre243, e eu calculo que para uma Laboração de 1918, que seja no maximo 40.000 toneladas canna (?), serão
necessarios umas 13 a 14 toneladas de aluminato de baryta.
Para os outros productos tambem achava conveniente d’esde já hir fazendo encomendas, porque bem vê as dificuldades nos
transportes, e mesmo na obtenção d’esses productos.
Ficou-nos uns stocks bastante grandes de alguns productos, visto termos calculado para 50.000 toneladas canna.
Os stocks e o que necessitamos para 1918 são os seguintes, calculando uma Laboração de 40.000 toneladas canna:
Kieselguhr. (Diatomite) - Stock 32 toneladas. Devem vir para 1918 = 12 toneladas
Phosphato de Cal ————- “ 27 “ “ “ = 9 toneladas
Enxofre não ficou stock, deu para a Laboração “ = 17 1/2 toneladas
Nóta: Esta quantidade de enxofre inclui o que já temos encomendado e pago, crêo eu, e tambem o sulfito de soda que deve
corresponder a 5.500 kilogramas enxofre. Deduzidas estas duas quantidades, o restante será para encomendar.
Cal de Inglaterra (Veio alguma pelo San Miguel?) = 48 toneladas
Formol temos para as fermentações de 1917. Para 1918 – 4.000 litros
Soda caustica temos suficiente para 1918
Pano para filtros-presses e Filippe a mesma quantidade de 1917.
Estão são pois as encomendas que eu vejo serem mais necessarias fazer desde já, para nos evitar embaraços futuros. //
[6] Farim: – Não conte com mais exportação d’este assucar, porque tem que ficar para o consumo aqui.
Agradeço-lhe os seus parabens nos meus fracos prestimos na Laboração terminada.
Cal Phosphatada: diz muito bem que é interessantissimo este assumpto se o meu amigo visse o estado da minha propriadade
no Soccorro, que em 1916 empregoi[sic] este producto, e este anno estou empregando tambem, ficaria admirado da força com
que a canna vem rebentando e a sua côr verde escura. Disse ao seu caseiro para empregar tambem na sua propriadade do Ribeiro
Secco, e elle assim o está fazendo, e para o anno verá o resultado.
Quanto á quantidade feita no corrente anno é muito pequena, umas 50 toneladas no maximo, mas isto devido ás causas que
fiz mensão na carta do Senhor Hinton244, isto é, cal pessima, e o pessoal se recosar ao trabalho; mas no proximo anno, tendo
uma instalação competente e boa cal, poder-se-ha fazer pelo menos umas 800 a 850 toneladas de adubo alcalino do tourteau, e
isto com um lucro liquido minimo de 14:000$00!!
Alcool: O stock do alcool hoje é de 14.000 litros. O que Comp.ª Nova tem em melaço, isto aproximado, é de 100.000
kilogramas melaço que dará uns 29.000 litros alcool. Em fermentação 6000 litros alcool.
Temos um stock no Torreão (no tanque grande) 520 toneladas, que dará em alcool 150.000 litros. Os malaxeurs de 2º jet
podem dár aproximado 120.000 kilogramas melaço = 35.000 litros alcool.
242 Fabrica de destilação de álcool, denominada Companhia Nova, da firma José Júlio de Lemos, Sucessores.
243 Georges Lefebvre.
244 Harry Hinton.
176
Total do alcool até 30 março 1918 será aproximados 234.000 litros alcool. // [7] Temos pois ainda 9 1/2 mezes, o que dá
24.600 litros por mez. Qual será o consumo no corrente anno? Não é facil de prevêr, devido á doença na vinha, que no sul vai
tudo quasi perdido, e tambem depende das exportações de vinho. Mas crêo que vindo os 1.500 Hectolitros que estão comprados
nos Açores dará aproximados para as necessidades. Segundo a Lei, é os vinicultores que devem pedir a importação d’alcool, no
caso de falta d’alcool na Madeira, com uma auctorisação do Mercado Central de productos Agriculas; mas essa importação
sendo feita pelo vinicultores [sic], não poderão elles obtel’o nos Acores? É bom pois estudar bem isso, porque Bensaude deve
ter alcool bastante do seu melaço para vender.
Já estou montando os grandes tanques na Comp.ª Nova, de forma que temos reservatorios suficientes para o nosso alcool e
mais os 1500 Hectolitros dos Açores, no caso de virem. Mas os 6000 Hectolitros não aconselho a comprar.
Sem mais por emquanto que lhe posso dizer de interessante Subscrevo-me Seu Amigo certo e Obrigado
[Ass:] João Higino Ferraz
P. E.[sic] Como é de toda a justiça, pedia ao Meu Amigo e ao Senhor Hinton parar darém ordem a Jacintho, para que a canna
da Comp.ª Nova entrasse na minha conta para o fim da minha compensação de 4 reis por 30 kilogramas canna, como tenho na
canna entrada no Torreão [Ass:] Ferraz //
177
Em melaço 32.811 kilogramas
Se calcularmos isto % de canna é em assucar puro, isto é, assucar a 100 polarisação dará para Torreão e Comp.ª Nova o
seguinte: //
[10] Torreão: Rendimento % canna. Em turbinado9,743 kilogramas assucar puro a 100º
Melaço 4,404 kilogramas a 50% assucar................... 0,202
no bagaço....................................... 0,402
Perdas
{ nas borras....................................... 0,198
Indeterminadas ............................... 000 ?!
assucar % canna.............................12,545 ?
178
P.E.[sic] Temos em juntas hydraulicas 14 nova
13 usadas
Temos 16 diffusores. Deseja encomendar mais algumas juntas
Em 1917 usaram-se 3 juntas.245 //
Recebi a sua estimada carta de 23 proximo passado o que muito lhe agradeço, e tambem os seus parabens pelo fim da
Laboração sem incidente de meior.
Calculo o seu aborrecimento por não poder vir no corrente anno pelo menos assistir ao principio da Laboração, mas espero
que no proximo anno poderá estar aqui o tempo suficiente para vêr o fabrico actual que é bastante interessante, principalmente
para si.
Na minha carta escripta ao Senhor Bardsley onde lhe fallava das encomendas de pano para filtros, dizia-lhe para encomendar
a mesma quantidade de 1916, mas vejo que chegou agora o pano que não veio a tempo, e assim não há necessidade de fazer a
encomenda pedida porque temos suficiente para 1918. O que nos vai faltar é a corda para os sacos dos filtros Filippe como já
lhe disse (500 metros).
O enxofre cuja amostra mandou, convem perfeitamente para a sulfitação da garapa, e pode assim fechar contracto.
Sem mais por emquanto que lhe interesse, subscrevo-me seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
Espero que esta o encontre de perfeita saude e livre de embaraços financeiros e outros.
Por cá, parece-me, corre tudo regularmente, a não ser Comp.ª Nova – N’este ponto tenho a dizer-lhe que as fermentações e
rendimentos do melaço não estão nas condições que eu desejava devido á alta temperatura atmospherica, ainda que o fermento
e fermentações conservam-se puras, mas como durante a fermentação activa ella chega a 27º centigrados, há sempre uma
evaporação d’alcool, e muito principalmente na casa de fermentação da Comp.ª Nova que não está em condições regulares para
este fim.
Como muito bem sabe, n’esta quadra do verão, parava sempre as fermentações no Torreão, e ainda assim com temperaturas
que não subiam a mais de 35º.
Actualmente porém é-me dificil fazer uma paragem em vista da falta d’alcool e não termos stock suficiente (5000 litros), e
é sobre este ponto que eu desejava consultal’o, e me dizer o que devo fazer. Vou expor-lhe a questão: Ficamos hoje com um
stock de 440.000 kilogramas melaço; // [15] e que trabalhando até o fim de Julho pode ficar uns 320.000 kilogramas que dará
em alcool aproximados 29.000 litros alcool. Temos aproximadamente 10.000 litros de etheres e escencias a retificar, será um
total de 98.000 litros a 100º, para os mezes de novembro a abril de 1918. Como muito bem vê este alcool não pode dár de forma
alguma para o consume de vinhos e assim vai haver necessidade de importar o dos Açores (?) se isso for possivel.
Como porém para se poder fazer essa importação é necessario que não exista na Madeira alcool ou materia prima para elle,
é sobre este ponto que tem que decidir:
1º É possivel, nas condições actuaes, importar alcool dos Açores?
2º Sendo possivel essa importação, convem terminar o melaço existente, ainda que com uma baixa de rendimento de 1 litro
% melaço?
3º Ha facilidade de importar dos Açores os 1500 hectolitros d’alcool em 7 mezes?
4º Não sendo possivel essa importação, não lhe parece mais conveninente fazer uma paragem nas fermentações até
novembro, por isso que em qualquer dos casos o alcool não dará para as necessidades do consumo?
Com este questionario, depois de vêr bem o que lhe convem, pode o Senhor Hinton me telegraphar, “Continue
fermentações” ou “Não continue fermentações”, e assim ficarei em condições de agir, tirando de sobre mim uma
245 Todo o P.E.[sic] é escrito a lápis.
179
responsabilidade que não desejava tomar. //
[16] Fabrica do Salto Cavallo – P. Pires – Como o Engenheiro já lhe devia ter dito, vamos tirar de São Lazaro os engenhos
e Caldeiras la existentes, para nos vermos livres daquella maldita renda de 1.200$00 por anno. É sobre este ponto que desejava
dár-lhe a minha fraca opinião, sobre o destino a dár a esses apparelhos. Pedro Pires, tem estado a uns annos a esta parte sem
trabalhar com a sua fabrica, deixando aos outros o campo livre no fabrico de aguardente de canna, e isso com prejuizo para nós
porque nos tiram a canna, e no futuro ainda peor será; além d’isso agora uma das fabricas de São Martinho foi adequirida por
José Fernandes de Azevedo e outro e querem transferil’a para o Sitio da Ajuda, sitio da melhor canna de São Martinho. Era pois
minha opinião montar no Salto Cavallo os engenhos de São Lazaro e uma das caldeiras de vapor, por isso que os engenhos de
Pires já estão muito estragados e não trabalhão em condições; Montar a diffusão do bagaço que elle já la tem, fazendo assim
uma extração maxima, e podendo n’este caso competir nos preços da aguardente com as outras fabricas mesmo que o lucro seja
pequeno e não deixal’os fazer preços altos ás cannas seja de que sitio fôr. Para complemento d’isto, de forma a facilitar-lhe a
sua maneira de vêr, a agua necessária aos refrigerantes pode ser agua do mar tomada por meio de bomba eletrica.
Columna de destillação (unica) posso arranjar-lhe // [17] que tenho aqui no Torreão, e que a posso despensar (columna do
apparelho Barbet antigo, que fiz aqui), fazendo-lhe as modificações necessarias. Esta columna unica dár-lhe-há para o fabrico
total porque é uma columna da capacidade da que está em Almeirim.
No caso de achar que esta minha edea tem alguma cousa de aproveitavel, e que lhe pode convir isto assim establecido, era
conveniente dizer desde já, por isso que no proximo mez de agosto vamos dar principio á desmontagem dos apparelhos de São
Lazaro, e assim poderia hir directamente para o Salto Cavallo. Esperamos pois a sua resolução.
Sem mais que lhe possa dizer, subscrevo-me seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
180
1917 com a destillação-retificação directa do vinho de melaço. Do que houver lhe mandarei notas.
Como a mala está a fechar, e nada mais por emquanto tenho a dizer-lhe, subscrevo-me seu Amigo Certo e Attencioso [Ass:]
João Higino Ferraz //
181
de cobre, essa conseção // [24] tem valor para depois da guerra e normalisação dos mercados?
Pedia-te pois para indagares tudo isto e me responderes aos meus quesitos ou mais algum que interesse o caso.
O nosso Amigo Gonsalves seria muito bom para te ajudar n’isso, e como me parece ser um homem honesto e reto, talvez
não haja inconveniente n’isso; tu decidiraes.
Temos tambem em Lisboa um primo, que é o João da Camara Pestana, director Geral da Agricultura, e esse tambem te
poderia dár qualquer informação, mas seria bom não lhe dár todos os esclarecimentos do assumpto.
Deves te admirar de eu, sendo empregado do Hinton249, e estando em boa situação, estar a tratar d’estas cousas, mas como
já á quasi um anno lhe escrevi n’este sentido e elle nunca me respondeu a isso, e ainda como está a terminar o decreto (em fins
de 1919) que regula estas cousas de fabrico de assucar na Madeira e do Hinton, não sei o que será o meu futuro, desejo estar
prevenido para o que dêr e vier...
[25] Desde já te agradeço o que poderes fazer, e pesso-te um abraço para os nossos amigos Gonsalves.
Um abraço de todos nos e de teu irmão muito Amigo [Ass:] João Higino Ferraz //
Desejava enviar-lhe as notas do rendimento do melaço na Comp.ª Nova, mas como sô hoje terminamos a retificação de todos
os maus gostos, não tenho ainda tudo em ordem afim de lhe dár um calculo exacto.
Esta minha carta tem por fim prevenil’o de que, querendo despachar o pano para os filtros-presses, não o foi possivel fazel’o,
porque a amostra typo dos Blanquettes que existia na Alfandega, estraviou-se: Em vista d’isto era necessario fallar ao Curson
e dizer-lhe que havendo na Alfandega do Funchal uma amostra typo de Blanquettes, e essa amostra tendo-se perdido (segundo
declara o director da Alfandega), é necessario que venha oficialmente um novo typo, e junto enviamos umas amostras do pano
que importamos, uma egual ao typo que existia na Alfandega, pelo comandante do “Neptuno” e tambem em encomenda Postal.
Segundo o conselho do Feliciano, vamos fazer aqui na Alfandega do Funchal as competentes declarações para pagar os
direitos como Blanquettes, e assim se poder despachar: Este artigo paga 210 reis por Kilograma. //
[27] Um outro assumpto que eu desejava saber o que devo fazer: Estou na montagem dos apparelhos de destillação no
Torreão, apparelhos completamente arranjados de novo, devido ao incendio, mas todas as provettas (violetas) dos retificadores
estão estragadas algumas, e os vidros ou redomas não existem; os thermometros estragaram-se todos, de forma que para
concluir a montagem a ficar numa destillaria como nova, era necessario mandar vir do Barbet essa pequena encomenda, e assim
caso queira fazer isso deve-me prevenir para eu escrever a Lefebvre250 e elle fazer o necessario junto da casa Barbet.
Sem mais que lhe possa dizer subscrevo-me seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
182
Rendeu em alcool bruto 411.880 litros a 100º a 15º
Nota: Está incluido n’este alcool 430 litros aguardente fraca (salvado do incendio) = 142,7 litros alcool a 100º a 15º
temperatura
Temos pois alcool produzido pelo melaço = 411.737,3 litros a 100º a 15º
Este alcool produzio em retificado 410.275,7 litros a 100º a 15
Deu pois quebra de retificação 1.605,2 litros
Nota: Esta quebra de retificação é sobre 299.300 litros d’alcool bruto da destillação separada no apparelho do Torreão,
montado na Comp.ª Nova = 0,53% //
[29] Todo o restante foi destillado no apparelho da Comp.ª Nova por destillação-retificação directa do vinho de melaço.
O total do melaço enviado á Comp.ª Nova foi de 1.514.373 kilogramas, restando pois um stock para 1918 (para dár principio
aos fermentos) de 8,742 kilogramas.
Sem mais por emquanto que lhe possa dizer Subscrevo-me Seu Amigo attencioso
[Ass:] João Higino Ferraz
P. E.[sic] No raporte enviado por Laalberg dos resultados da Laboração de 1917, dava um producto em melaço total
produzido de 1.566.158 kilogramas, emquanto que pezado este melaço do tanque grande, e o enviado durante a Laboração deu
1.514.373 kilogramas, dando pois uma diferença do calculo do melaço do tanque grande de 51.785 kilogramas.
Esta diferença no calculo foi devido a ter elle calculado a densidade do melaço em 1450 e não em 1400 como eu tenho
sempre calculado.
Temos pois que o resultado pode ser:
Melaço realmente produzido = 1.514.373 kilogramas
Deduzido o do assucar refundido = 38.394 kilogramas
Restará para a canna 1.475.979 kilogramas = 4,164 kilogramas %
[Ass:] Ferraz //
[DATA: 20 de Outubro de 1917
DESTINATÁRIO: Francisco Meira]
[30] Funchal 20 outubro 1917
Meu Caro Amigo e Senhor Meira
Junto envio-lhe os meus considerandos sobre a proibição do fabrico d’aguardente de canna em 1918, como á dias lhe tinha
dito para escrever ao Senhor Hinton251.
Essa proibição será para as localidades onde as fabricas matriculadas podem hir boscar a canna.
Calculando pois na media o imposto para a Junta Agricula ser de 130.000$00, representa esta importancia (a 150 por litro)
270.000 litros d’aguardente, ou seja 240.000 gallões de 3,6 litros, que ao rendimento medio de 0,6 <gallões> por 30 kilogramas
canna dá 400000 almudes (de 30 kilogramas canna) ou seja 12.000 toneladas canna.
Calculando as despezas de fiscalisação da Junta Agricula em 50.000$00 (?), ficar-lhe-ha liquido 20.000$00
Estes 80.000$00 seram pagos pelas fabricas matriculadas, dando o Governo como compensação auctorisação para
augmentar o preço do alcool para tratamento de vinhos em mais 140 por litro alcool ficando pois o preço do alcool a 400 litros
e não 260 como pela lei.
A canna transformada (12.000 toneladas) em assucar e alcool dará, assucar 1100 toneladas, alcool 130.000 litros, além da
canna que as fabricas matriculadas poderiam // [31] comprar sem essa prohibição.
N’estas condições devemos têr um lucro minimo de 120.000$00, segundo os meus calculos.
Quaes as deficuldades para a obtenção d’isto?
As unicas que vejo é a opusição e os prejuizos para as fabricas d’aguardente, e dos negociantes d’aguardente.
O Governo e a Junta nada perdem; e as subsistencias teem mais 1100 toneladas assucar em Lisbôa, e os fabricantes de vinhos
de exportação mais 130.000 litros alcool. Se os exportadores tiverem que adquirir esses 130.000 litros alcool, não o poderam
obter a menos de 700 reis por litro a 100º a 15º, o que os obriga a pagar mais do preço actual 57.000$00, se poderem obtel’o.
Calculando porém que toda a canna dê 426000 litros alcool, elles pagaram mais do preço actual 62000$00; fica-lhe pois
contra elles somente 11:000$00, mas com a vantagem bastante grande de terem alcool, e poderem exportar vinho.
São estas as conciderações mais palpaveis que sobre isto vejo.
Seu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz //
251 Harry Hinton.
183
[DATA: 12 de Novembro de 1917
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[32] Funchal 12 Novembro 1917
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Recebi a sua carta de 21 proximo passado que muito lhe agradeço.
Fabricas de aguardente: É minha opinião que Porto da Cruz deve entrar na exclusão, porque mesmo que a canna uma vez
ou outra não venha em muito boas condições sempre dará algum assucar e principalmente dár-nos-há melaço. O transporte pode
ser feito em barcos e apanhando a canna em condições de não ter em grande quantidade, para o caso de metter mar mau. Todas
as outras freguezias pode vir a canna para o Funchal a não ser o que verdadeiramente se chama o Norte, e essas são bem poucas
as que ha. Quanto ao preço do alcool, para tratamento de vinhos, é minha opinião e acho mesmo que sem isso esta transação
não traz resultado, deve ser augmentado em 140 reis por litro, isto é, alcool a 400 reis por litro. Em vista do preço elevado do
combustivel, salarios etc., já actualmente o fabrico do alcool dá prejuizos e graves, o que fará com o carvão a 65$00 ou mais!
Como sabe a Comição de Subsistencias não deixa elevar o preço do assucar, e o nosso lucro actualmente está no de exportação,
o que não se dava antigamente. É necessario pois tirar na Madeira lucro no fabrico d’assucar, e isso sô pode ser no alcool. //
[33] Os negociantes de vinho teem margem suficiente para pagar mais 140 reis por litro alcool, e mesmo ficaram muito
melhor, porque teram alcool para tratamento de vinho, o que não acontecerá se isto se não fizer, e ver-se-hão na contingencia
de diminuir a sua exportação, com graves prejuizos para elles e para a agricultura. Não devemos ser nos somente a pagar as
diferenças, porque estou certo que a Junta Agricula não pode despensar os seus rendimentos, porque está em más condições
financeiras, e assim não acho justo que sejamos nós que tenha de pagar ou o propriatario o rendimento do imposto da
aguardente. Fora d’isto não acho outra solução possivel.
Sei bem que isto será naturalmente dificil de obter mas não impossivel em vista das condições em que está isto tudo devido
á guerra e o fabrico d’aguardente não é um producto indispensavel, pelo contrario, é bem despensavel. O alcool tem somente
por fim garantir a exportação de um producto agricula, que sem elle não há meio de o fazer sahir.
O que lhe posso garantir é que no proximo anno se isto não se fáz, a nossa laboração não passará de 30.000 toneladas!. Não
devemos pensar em pagar preços de canna muito superiores aos da tabella, para fazer concorrencia ás fabricas de aguardente,
por que esse desideractum pode-nos trazer graves prejuizos, no caso de terminar a guerra, e as importações d’assucar da Africa
se possa fazer em melhores condições. //
[34] Apparelhos da destillaria. Quando lhe disse para mandár vir de França os apparelhos que o incendio estragou por
completo, não me referi ás violettas em latão, mas somente ás redomas em vidro e thermometros, e isto é indespensavel
principalmente os thermometros, que sem elles não há meio de regular os apparelhos Barbet. São tudo cousas de facil
exportação de França que Lefebvre252 pode fazer na Casa Barbet. Em vista d’isto dou-lhe a Lista do que é necessario em
separado, para no caso de querer enviar a Lefebvre.
Sem mais por emquanto que lhe possa dizer subscrevo-me seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
[DATA: ?
CARACTERIZAÇÃO: Considerações sobre maquinaria industrial Barbet para a destilaria]
[35] Appareils et verrerie pour la destillerie (appareils Barbet). Appareil de retification continue Nº 5
Bouteille à debit visible (complete), pour le refrigerant tubulaire de la columne de retification. A été completement detrui.
2 thermometres a cadrant pour cette columne de 0º a 110º, tige droite. Touts les globes en verre et verrerie pour les
éprouvettes de l’alcool Pasteurisé, ethers, etc, etc. (Voir les Plans de la Maison Barbet).
Tout la verrerie consumant á l’appareil décanteur-laveur des huilles amyliques[?].
Columne de Destillation – retification directe continue Nº 3
(Turné[?] en 1897 par la Maison Crepelle-Fontaine, Constructeur)
Appareils Barbet
2 thermometres a cadrant de 0º a 110º tige curte
184
Tout les Globes en verre et verrerie pour les éprouvettes de l’alcool Pasteurisé, ethers, etc. Etc (Voir les Plans de la Maison
Barbet).
Appareit[sic] á levure pure de Barbet.
1 Thermometre à cadrant à tige curte droite de 150 millimètres de 0º a 110º
2 “ “ “ “ “ “ “
3 Purification d’air Noël pour fermentation (grand modelle), pour cuves de levure pure de 20 hectolitres. (Maison Noël-
Paris) //
185
Desejando a continuação da sua saude e felicidades, subscrevo-me Seu Amigo Attencioso e Obrigado [Ass:] João Higino
Ferraz//
186
[DATA: 9 de Março de 1918
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[40] Funchal 9 março 1918
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Duas palavras sobre Laboração de 1918 (em principio):
Fizemos a esperiencia da imbibição do bagaço como na Comp.ª Nova, e os seus resultados pode vêr no Raport junto de
Laalberg, e como vê não são nada animadores, para o fim que tinhamos em vista, economia de carvão sem perda superior á
Comp.ª Nova. Foi uma esperiencia de 4 dias, findos os quaes declarei a Carlos254 e Marsden que em vista da perda em assucar
no bagaço, e não sendo a economia em combustivel pelo menos de 40% (o que nem sequer se aproxima), não tomava a
responsabilidade do resultado industrial. Diz Marsden que o carvão que temos tem um valor combostivel 20% inferior ao carvão
normal; mas essa diferença tanto se dará no trabalho pela diffusão do bagaço como pela imbibição. Dará o carvão e lenha para
a Laboração de 1918? Pelos calculos vesse que deve dár, calculando um maximo de 40.000 toneladas canna, a que talvez não
se possa chegar.
Estou pois trabalhando actualmente pela diffusão do bagaço como em 1917. //
[41] Sulfito de soda: Estou empregando este producto chimico na sulfitação, e para não o empregar isuladamente, estou
fazendo meia sulfitação pelo enxofre, que tenho ainda, e meia pelo sulfito de soda: Os resultados na sulfitação parecem ser
eguaes á sulfitação pelo gaz de enxofre, mas os tourteaux dos filtros-presses recentem-se um pouco, não sendo tão duros, e a
qualidade do jus, na sua cor, levemente mais escuros, devido á soda do sulfito. O producto assucar turbinado tambem não é tão
perfeito na sua cor como o de 1917.
Nada mais, por emquanto, lhe posso dizer sobre a Laboração por isso que temos somente 5 dias d’ella. Marliere255 não veio
no “San Miguel” como esperava, de forma que estou fazendo os cuites com Francisco e Manoel, e o trabalho corre normalmente
e sem dificuldades.
Sem mais por emquanto que lhe possa dizer da minha parte, subscrevo-me Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz
//
Cá estamos no principio da nossa Laboração, e d’ella pouca cousa lhe posso dizer por emquanto:
A canna ainda está muito fraca em assucar, e ainda mais devido a termos de receber canna de sitios que não devia ser ainda
cortada, mas os nossos amigos Lavradores, em vista dos preços que os aguardenteiros estão offerecendo, estão renitentes, e sem
rasão, em não quererem apanhar a canna: Malditos diabos dos aguardenteiros!... Se d’ahi não vem restrinção no fabrico da
aguardente, os malditos levam-nos a melhor canna.
Que fim levou Marliere256? Não veio ou não vem de França? Estou fazendo os Cuites com Francisco e Manoel, e felizmente
vão muito bem no seu trabalho.
Enxofre: Que venha o mais breve possivel, metade por veleiro e metade pelo “San Miguel”, mas é sempre bom ter em vista
que o veleiro pode ser tropediado pelos Boches, e assim teremos que reforçar a remeça pelo San Miguel, dando-se esse caso.
Tenho a destillaria completamente montada, faltando somente a minha encomenda de thermometros etc, // [43] feita ao
Senhor Hinton257 em 12 de Novembro de 1917.
Se os Senhores querem têr a sua destillaria em condições de trabalhar em 1919, têem que fazer essa encomenda quanto antes.
Sem mais subscrevo-me Seu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz //
187
[DATA: 22 de Março de 1918
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[44] Funchal 22 março 1918
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Depois da minha ultima carta de 9 corrente já temos mais uns 13 dias de Laboração, e por isso mais alguma cousa lhe posso
dizer sobre o assumpto, ainda que sobre rendimento sô na paragem da Semana Santa se fará uma situação com o trabalho pela
diffusão, subtraindo a situação pela imbibição que deu um baixo rendimento: A situação geral, isto é, diaria, incluindo todo o
trabalho d’esde o principio com a imbibição, deve-nos dár aproximados 9,3% de rendimento em turbinado com canna de 12,2%
assucar e purezas de 84º media.
Sulfitação pelo sulfito de soda: Á dez dias que terminou o enxofre que tinha do stock, e por isso estou a fazer este trabalho
somente pelo sulfito: Os resultados na filtração não são nada bons, e vejo-me na necessidade de meter 2 a 3 hectolitros de garapa
defecada na bateria de diffusão porque os filtros não dão para todo o trabalho, e poder formar algum tourteaux ainda que
bastante molle.
Quanto ao resultado d’este producto no rendimento em assucar, vejo que sendo a soda melassigenica deve fazer baixar um
pouco o rendimento em turbinado, e vejo bem isto porque a media de melaço por filtro-presse da Melasse Cuite de 2ª que em
// [45] 1917 foi de 5800 kilogramas, temos actualmente 5940 kilogramas melaço por filtro, isto é, mais 140 kilogramas do que
em 1917.
Triple-effet: O trabalho d’este apparelho de evaporação ainda é melhor do que em 1917 em vista da modificação que fiz na
parte da percipitação pelo aluminato de baryta, e além d’isso essa modificação traz o resultado da filtração mechanica ser
sempre regular e os filtros darem jus sempre ou quasi sempre brilhantes. O apparelho trabalha ainda tambem como no principio
da Laboração, dando xaropes a 33-34º Baumé, não sendo necessario lhe dár todo o vapor exausto. Isto deve dár causa a uma
economia de combustivel, por isso que os cuites teem menos que evaporar.
Petits eaux: Como já lhe disse, no corrente anno não fasso a turbinagem dos pés dos Petits Eaux para economia de
combustivel, mas simplesmente a decantação, tendo uma perda em Petits Eaux (pelo despejo ou desprezo d’estes pés) de 9%
em liquidações. Em 1917 com as liquidações perdia-se 5%. Calculo pois que a perda em assucar seja de 0,050% canna mais de
que em 1917, mas a bomba d’agua das centrifugas gasta aproximadamente 4 toneladas carvão por 24 horas. Temos pois ainda
assim uma economia.
O resto do trabalho corre regularmente, e estou bastante satisfeito com o trabalho dos cuiseurs (Francisco e Manoel) que me
tem apresentado sempre bons cuites, de turbinagem facil e bom rendimento em turbina e grão muito regular. O trabalho nos
filtros-presse da Melasse Cuite de 1ª e 2ª serie, vão bem. //
[46] Comp.ª Nova: Como já tenho melaço suficiente na Comp.ª Nova, vou dár principio ás fermentações depois da Semana
Santa, para o que já tenho fermento em boas condições. Sempre poderei contar com formol para a fermentação?
Somente tenho sulfito de soda para 10 a 12 dias depois da Semana Santa de forma que é necessario vir o enxofre a tempo
para não me vêr na necessidade de meter toda a garapa na bateria de diffusão, e têr que produzir assucar bruto e tirar talvez
menos rendimento.
Sem mais por emquanto Subscrevo-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
Tenho em meu poder a sua carta de 24 corrente que muito lhe agradeço.
Situação de 11 a 25 corrente: Vendo esta deve achar um rendimento baixo (9,221), mas deve notar que nas perdas
indeterminadas aparece 0,728% (?!): Fiz notar isso a Laalberg, mas diz elle que calculou pelas purezas das Melasses Cuites de
2º e 3º jet e égoûts restantes, mas eu acho o calculo baixo, e mesmo as perdas indeterminadas, como elle diz na nota abaixo,
serem devidas ás borras dos filtros-presses, isso não é assim, porque perdas inderminadas[sic] são aquellas que não poderam
ser encontradas, e essas das borras está determinada em 0,256 o que é superior a 1917 a 0,058% canna. Vejo pois que em perdas
indeterminadas não se deve calcular senão um maximo de 0,328% canna, restando pois 0,400 que a 80% em turbinado dará
258 A carta que ocupa este e o fólio seguinte foi declarada, pelo autor, como sendo «Sem effeito»; esta expressão foi grafada a vermelho, por duas vezes, com
letras proeminentes e na diagonal, sobre o texto dos dois fólios.
188
0,320; isto fará com que o rendimento não turbinado seja de 9,541% canna, o que concorda com as situações diarias. Perdas
durante a Laboração posso-lhe garantir não as houve, nem por derrames nem por // [48] outra cousa qualquer, a não ser
pequenas cousas que sempre se dão em fabrico de assucar.
Enxofre: Obrigado pela remessa, e como tenho ainda sulfito de soda para uns 10 a 12 dias, vou continuar a sulfitação
empregando um pouco d’este sulfito e terminando a sulfitação pelo gaz do enxofre, como fiz no principio, e assim tem melhores
tourteaux e não tem necessidade de levar garapa á bateria de diffusão.
Canna: Infelizmente temos tido quase sempre má canna devido aos propriatarios que as teem boa não querem vendel’as
esperando sempre melhor preço dos aguardenteiros, e se isso ahi se não resolve o mais breve possivel com relação á diminuição
de fabrico d’aguardente, a situação alonga-se muito com nosso prejuizo. Os malditos aguardenteiros sô compram a bôa canna
deixando a peôr; isto é o mais irracional possivel, porque para aguardente deveria ser aquellas que a sua pureza ou grau fosse
mais baixo, e para assucar a melhor, isto é o mesmo que se pratica em toda a parte onde se fabrica aguardente e assucar, e onde
os Governos attendem ás condições da industria.
Sem mais subscrevo-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz//
189
[DATA: 18 de Maio de 1918
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[52] Funchal 18 maio 1918
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Terminamos a 5ª situação e vejo pelos calculos de Laalberg que as perdas indeterminadas são excessivamente grandes,
muito mais que o normal. Já na situação transacta tive minhas duvidas sobre os indeterminados, mas como não eram excessivos
julguei serem devidas ás analyses. Contudo n’esse tempo verifiquei junto com elles todas as partes da Fabrica e nada
encontramos que podesse dár causa a perdas aperciaveis.
Esta porém dá-me uma tal perda que não pude deixar sem vêr bem qual a causa de semelhante prejuizo.
Pedi pois a Laalberg para fazer um raporte sobre esse ponto o qual lhe deve ser enviado.
Contudo da minha parte vou dizer-lhe o que me sugere sobre o assumpto:
Como eu fasso sempre os calculos do assucar no melaço pelo assucar total (saccarose e glucose) fermentavel, dá-me para o
melaço 50% assucar total, e assim estableço os calculos da seguinte forma:
O assucar no jus de diffusão enviado á Comp.ª Nova para alcool foi de 0,788 kilogramas % canna, e o seu rendimento em
alcool corresponde ao assucar enviado. //
[53] Calculo de rendimento % canna
Assucar turbinado real e por calculo .........................................................9,018 %
Assucar no jus de diffusão emviado á Comp.ª Nova em turbinado...........0,639 “ ?
3,546 kilogramas melaço obtido a 50% assucar total ...............................1,773 “
0,300 melaço que o jus enviado á Comp.ª Nova deveria dár....................0,149 “
3,846 Total
No bagaço a queimar..............................0,536
Perdas
{ Nas borras dos Filtros-Presses ...............0,195
Indeterminadas (?)..................................0,712 1,443
Assucar na canna 13,022
Vê-se pois que as perdas indeterminadas reais foi de 0,712 % canna emquanto que as medias das situações 2ª, 3ª e 4ª (feita
nas mesmas condições) foi de 0,200% aproximados, havendo pois um excedente de perda de 0,512 assucar % canna.
D’onde provem essa perda?
Segundo Laalberg, e é tambem a minha opinião, a perda é entre canna e vesou pelo seus [sic] calculos feitos nas mesmas
condições do anno de 1917 e das situações transactas.
Vejo pois, depois de tudo bem verificado, que entre os engenhos e os sulfitadores (medidores) não houve nem pode haver
perda aperciavel de vesou por isso que o trajecto da garapa dos engenhos aos sulfitadores é feito au grand air.
A diferença está pois no pezo da canna. //
[54] Varias razões praticas há para isso segundo verifiquei eu mesmo. As balanças estão certas segundo eu vi e Marsden.
Tirando uma nota da canna do Funchal recebida no Torreão e Comp.ª Nova (Notas do escriptorio do Torreão) em um total de
15.248.053 kilogramas canna em 182.853 molhos, dá a media por molho de 83,300 kilogramas.
A canna entrada na Comp.ª Nova (Funchal e Costas) no total de 1.825.695 kilogramas em 23.170 molhos dá uma media de
78,700 kilogramas por molho.
Comp.ª Nova porém recebeu pouca canna da Costa, e assim pode-se calcular por segurança que para a canna do Funchal
deve dár na balança da Comp.ª Nova 80 kilos por molho.
Vê-se pois que no Torreão a pezagem deu mais por molho de cannas pelo menos 3 kilogramas ou seja 3,7% a mais do pezo.
Porque?
Na 4ª situação, em que o trabalho da bateria de diffusão foi egual ao da 5ª situação (trabalho em uma sô bateria) e os
resultados foram normaes, a carga por diffusor foi de 1438 kilogramas canna, dando 26,33 litros de jus diffusão % canna. Na
5ª situação com o mesmo trabalho e canna quasi edentica, a carga por diffusor foi de 1480 kilogramas dando (com a mesma
soutiragem) 23,97 litros jus % canna: Deveria dár proporcionalmente á quantidade de canna 27 litros %. //
[55] Por isto se vê aqui na 5ª situação deu mais por diffusor 42 kilogramas canna, que em 2424 diffusores feitos dá um total
de 101.808 kilogramas canna a 13% assucar = 13.235 kilogramas assucar a menos, que deve corresponder aproximadamente
ás perdas encontradas.
190
Por todas estas considerações feitas bem pode vêr que houve extravio de pezo de canna, da qual preveni Carlos260, e estamos
a vêr d’onde vem o gato...
São cousas que não podem nem devem acontecer mais, e que eu desejo livrar a minha responsabilidade na parte technica
do fabrico.
O maximo cuidado tenho tido em todo o fabrico de forma a evitar o mais possivel perdas indeterminadas elevadas.
Crêa-me seu Amigo Attencioso e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
191
As despezas de fabrico actuaes pode-se calcular em 150 reis por litro alcool a 100º = 10$00 por tonelada canna.
Estableci pois o preço de alcool de canna a 600 reis litro a 100º. Dá pois aproximadamente um lucro de 200 reis por litro
alcool 100º ou seja 13$30 por tonelada canna.
O rendimento em alcool do jus de diffusão enviado á Comp.ª Nova tem dado um rendimento medio de 58 litros alcool a
100º a 15º temperatura por 100 kilogramas assucar contidos no jus, o que corresponde aproximado ao rendimento acima da
canna. //
[60] Aproveito esta occasião para lhe dizer a minha opinião com relação ao fabrico do alcool em 1919 e qual o preço por
que se deve establecer o alcool futuro em vista das deficuldades de guerra e custo de combostivel etc.
O preço do alcool para 1919 não deve ser inferior a 500 reis por litro a 100º a 15º temperatura tanto o de canna como o de
melaço.
Para 1919 não devemos fazer nada menos do que 550.000 a 560.000 litros alcool que seram para tratar os vinhos da colheita
de 1918 e talvez não dê suficiente. O alcool que fazemos no corrente anno (1918) é para tratar vinhos das colheitas de 1916-
1917 e pouco poderá restar.
Establecendo isto assim, é minha opinião o seguinte:
1º Torreão fará a destillação em 1919 durante a Laboração da Canna aproveitando assim uma grande parte do vapor exausto
perdido, em vista do bom trabalho actual do Triple-effet, empregando para alcool o jus de diffusão (parte), melaço e lavagens.
2º Comp.ª Nova fará alcool de todo o jus de imbibição de 100 toneladas canna por 24 horas, de uma pequena parte do jus
de diffusão do Torreão e de melaço para complemento da densidade de fermentação.
Os resultados provaveis aproximados d’esta maneira de proceder devem ser os seguintes: //
[61] 100 toneladas canna na Comp.ª Nova dará do jus de imbibição (a 1 litro alcool% canna) 1000 litros alcool a 100º.
Comp.ª Nova produz por 24 horas 2500 litros alcool a 100º
Para o melaço e jus de diffusão 1500 litros restantes.
Torreão pode destillar 450 Hectolitros de vinho por 24 horas feitos com jus de diffusão, melaço e lavagens, produzindo
aproximados 3000 litros alcool a 100º por 24 horas.
O jus de diffusão total enviado a Comp.ª Nova e gasto no Torreão calculo em 50% do jus total.
O total do alcool produzido nas duas fabricas por 24 horas durante a Laboração da canna será de 5500 litros.
Para isto é indispensavel limitar o fabrico d’aguardente de canna a um maximo de 700.000 litros em 1919.
Calculando o trabalho do Torreão e Comp.ª Nova em 35000 toneladas canna dará:
Alcool de melaço 350.000 litros
“ de canna 200.000 “
Total 550.000 “
Crea-me Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
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[63] Alcool de canna: Quando vimos que no corrente anno, o alcool do melaço não dava nem para tratar os vinhos de 1916
e 1917 prevenimos d’isso todos os negociantes de vinhos, e elles aflitissimos pediram para fazermos alcool de canna, custasse
elle quanto custasse, por isso que não tendo alcool perdiam por completo os vinhos por falta de tratamento e além d’isso não
poderiam exportar vinhos o que acarreteria um grave prejuizo. Foi devido a isso que eu disse que se poderia fabricar alcool de
canna ou jus (que é o mesmo que canna) mas pagando elles 700 reis por litro alcool a 100º a 15º temperatura que eu calculei
dár um lucro superior ao fabrico em assucar e os meus calculos estão certos. Quanto a todo o alcool (melaço e canna) ser
vendido a 600 reis por litros, dei a minha opinião (a Carlos e Meira264) que isto sô devia ser feito com a maxima garantia de não
se dár futuras complicações com o Governo por quebra de contracto da Lei. Estableceram pois que, todo o comprador d’alcool
que necessitasse de receber mais alcool do que lhe poderia caber no rateio do alcool de melaço, isto é, 1/5, escreveriam uma
carta pedindo para comprarmos canna por conta d’elles e fazer o alcool e establecer o preço por que sahisse o alcool, e assim,
parece-me, que se tem feito. Eu da minha parte nada tenho com vendas d’alcool, porque Carlos e Meira se quizeram encarregar
d’isso, e o que sei é o que elles me dizem. Tenho porém por varias vezes feito vêr a Carlos e Meira que devem têr o maximo
cuidado n’isso. //
[64] Para prova de que não me enganei nos calculos do alcool de canna, vou dár-lhe os rendimentos em alcool até 31 de
maio.
7 lotes de fermentação (Comp.ª Nova) deu o seguinte:
Melaço total 373.207 kilogramas rendeu 103.903 litros alcool a 100º = 27,8 litros %
Canna 472.769 kilogramas rendeu 31.790 litros alcool a 100º = 67,2 litros tonelada canna
7868 Hectolitros de jus diffusão com 62800 kilogramas assucar rendeu 36.977 litros alcool o que dá 58,7 litros % assucar
metido em fermentação (theorico 60%)
O rendimento do assucar da canna directa em alcool, que continha 13% assucar e com a extração da Comp.ª Nova de 90%,
deu 57,5 litros alcool % assucar metido em fermentação.
Como vê o jus diffusão deu mais rendimento % assucar do que a canna, mas isso é devido á glucose do jus de diffusão que
é superior ao da canna directa.
Assim vejo que os calculos estão certos.
Quanto aos resultados financeiros:
Em assucar e melaço: Em alcool:
Custo tonelada canna ...................17.000 Custo tonelada canna........17$000
Fabrico ......................................... 8.300 Fabrico do alcool ..............10$080
Custo total ....................................25.300 Custo total 27$080
Productos: 9,800 kilogramas assucar 67,2 litros alcool a 700 reis
turbinado a 350 reis....................................= 34$300 por litro = 47$040
3,500 kilogramas
melaço a 27,8 litros % a 260º....................= 253
Productos totaes .. 34$553
Como vê, mesmo a 600 reis por litro alcool, o lucro feito a canna em alcool é superior ao lucro do assucar. //
[65] Nova Lei Sacarina: Este ponto é o mais complicado e mais dificil de dár uma opinião, e isso confesso, não estou em
condições de lhas poder dár por varias razões, sendo a principal a falta de competencia da minha parte. Outros haverá que lhe
possam dár melhores. Contudo pesso-lhe para lhe dizer o que, com toda a franqueza, eu vejo n’este assumpto.
Segundo o que Carlos me leu da sua carta, vejo que o Governo está na desposição de fazer o fabrico do assucar livre, para
todas as fabricas de aguardente que queiram transformar em fabricas de assucar (?!!). Mas, pergunto eu, qual é a base para
determinar a capacidade das fabricas? É a capacidade de destillação ou a capacidade de moendas?
Se é a de destillação, uma fabrica das meiores, apenas poderá moer 25.000 kilogramas canna por 24 horas aproveitando os
bagaços ou para aguardente ou para assucar; isto já se vê, não augmentando a capacidade actual. Somente um asno fará a
transformação de uma d’estas fabricas em fabrica de assucar com aparelhos de bonecas!!
Se é pela capacidade de moenda, sô vejo duas fabricas em condições de serem transformadas (á antiga!) que são a do Conde
da Calçada, no Arco da Calheta, e a do Almeida, na Ponta do Sol. As outras pouco mais podem fazer de 30.000 kilogramas
canna por 24 horas.
Das duas uma, ou Governo consente a junção de varias fabricas em uma sô (em cada freguezia), ou então ponha essa edêa
264 Francisco Meira.
193
de parte que não é pratica. //
[66] Para William Hinton & Sons, a junção de fabricas seria uma calamidade, ainda que essa calamidade seria tambem para
os outros, e teriamos tantas fabricas quantas fossem as freguesias, porque dinheiro não faltaria, o que faltaria era juizo, e isso,
como sabe, é o que ha de menos aqui.
Esse projecto, que é o mesmo que aplicaram em Africa, não tem cabimento para a Madeira, e isso sô pode germinar em uma
cabeça sem conhecimentos do que é a industria assucareira... para não dizer outra cousa.
O que eu vejo no meio de tudo isto é que, o mais pratico e o que mesmo os aguardenteiros acceitariam bem, seria o limite
de fabrico de aguardente ao minimo; que o imposto cobrado fosse para expropriação de fabricas de aguardente, dando o
Governo ás fabricas matriculadas actualmente, uma prerrugação do pazo[sic] da actual Lei (modificada, se assim o quiserem),
até á completa expropriação das fabricas. Depois... seria o que fosse... Fôra d’isto não vejo solução que agrade a todos.
O que é indispensavel, como já lhe disse na minha ultima carta, é que emquanto durar este estado de guerra, que o preço do
alcool para vinhos seja elevado ao minimo de 500 reis por litro a 100º, para podermos fabricar o suficiente para o tratamento
dos vinhos da Madeira de exportação. //
[67] Quanto ao que diz de eu vêr junto com Victorino dos Santos qual a capacidade das Fabricas, é minha opinião não dár
por emquanto a conhecer a ninguem os projectos de nova Lei. Victorino ainda que muito boa pessoa, trata primeiro dos seus
interesses, e eu sei que o filho mais velho d’elle tem namoro (naturalmente para casamento) com a filha unica do José F.
Azevedo, sociatario da selebre fabrica em a estrada Monumental em São Martinho, e que naturalmente deve querer proteger o
pae da sua futura (?) nora.
São dois que estão com ella ferrada para montar fabrica de assucar: Um é o José F. Azevedo em São Martinho, e o outro é
o Henrique Figueira da Silva265 (banqueiro) que tem actualmente a Fabrica do Conde da Calçada no Arco da Calheta: Esse já
me disse que tem na America planos para uma fabrica de 150 toneladas canna por 24 horas, e que lhe custará uns 150:000$00
escudos.!! É d’esse que eu tenho mais receio por ser homem de dinheiro. Quanto ao Azevedo: esse é homem quasi rebentado...
Se o Governo presistir na sua edeia de transformação de fabricas de aguardente em fabricas de assucar, e que, para ser
agradavel á firma Hinton, sô primita as capacidades actuaes, ou pela destillação ou pelas moendas, vai dár causa a reclamações,
e nunca se chegará a fazer cousa alguma, e mesmo as reclamações teram por base actualmente as dificuldades da guerra. //
[68] Sube pelo Sr. Capello, que o ministro da Agricultura escreveu ao presidente da Junta Agricula, dizendo-lhe que hiria
brevemente á Madeira estudar estas questões de assucar e aguardentes, e era conveniente que elle viesse já d’ahi meio orientado
sobre o assumpto. Não tenho confiança alguma n’estes nossos amigos de cá, e temos, como sabe, fartura de inimigos.
Pense bem n’isto e verá que o que convem melhor, tanto para os seus interesses como para o interesse dos outros, é a
prorogação da Lei actual até á expropriação completa ou parcial das fabricas de aguardente.
Quanto ao fabrico de melado nas fabricas de aguardente, o primeiro desparate foi consentir esse fabrico estando as fabricas
ainda a destillar, e como Fiscaes e chefes fiscaes estão feitos com alguns dos fabricantes d’aguardente, a destillação continuará
até ao fim em algumas d’ellas porque o melado é um pretexto...
Não posso comprehender que nos regulamentos da fiscalisação se consinta que uma materia prima que transformada de uma
forma (aguardente) paga imposto, e da outra (melado) é livre d’esse imposto, possa ser laborada ao mesmo tempo!!
Agora o mal está feito, e não val a pena remedial’o.
Sem mais subscrevo-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
194
Se temos mais melaço do que na 5ª situação é porque a meior parte da canna foi recebida já um pouco estragada porque era
canna que estava cortada para as fabricas de aguardente, e vê-se bem isso pela pureza da garapa, que se fosse fresca deveria ter
dado 88º de pureza.
Perda na fabricação durante a 5ª situação, como já lhe disse, posso garantir que não houve a não ser as perdas osuaes de
fabrico,e para prova d’isso pedi a Marsden para declarar isso, porque elle tanto como // [70] eu temos sempre o maximo cuidado
em tudo, e a Fabrica como está montada não ha tubos de garapa ou jus que não estejam bem á vista. Para segurança, e com
receio de qualquer maldade no corrente anno, fiz tapar com uma junta o tubo de descarga da soda e acido do Triple, ainda
mesmo que tem uma torneira fechada a cadeado, e sô habria quando se limpava o Triple, e isso somente se fêz duas vezes
durante a Laboração.
Temos uma cousa a notar novamente na 6ª situação que é a carga por diffusor que baixou, e o jus de diffusão de haugmentou
[sic]: O ter haugmentado o jus de diffusão, pode ser em parte devido á canna ser mais rica.
Fico pois sem compreender o que se passou na 5ª situação, e confesso que fico em duvidas sobre isto tudo, e compreendo
muito bem os seus receios sobre a honradez do pessoal das balanças. O que é um facto é que esta situação não mostra perdas,
e isto deu-se logo a seguir a eu ter mandado separar as cannas pezadas na balança da Carne Azeda, dizendo que era para analyse
da garapa, e á nuite foram novamente pezadas na balança de baixo.
Daria isto causa a que elles desconfiassem de qualquer verificação de pezo? É muito possivel. Custa-me bastante a criminar
seja quem fôr, não tenho uma certeza de crime, mas os factos que // [71] se dão, somos obrigados a nos precaver!
Da minha parte, tudo quanto pude fazer para verificar se poderia vêr de onde vinha o mal, fiz, e nada mais vejo infelizmente
porder[sic] fazer.
Alcool de canna: O ultimo lote de canna na Comp.ª Nova deu 75 litros alcool a 100º por tonelada canna, que é um bom
rendimento.
Corre por aqui que a Firma Hinton, conseguio do Governo mais 30 annos (!!!) do regimen, e augmento do imposto da
aguardente a 400 reis por litro. Se isto não é verdade, eu não vejo senão mais uma tratantada do Alexandrim dos Santos e do
Pestana Junior, porque foi d’elles que partio a novidade, e mostram uma carta do Advogado dos Aguardenteiros em Lisboa: Ora
isto sô tem por fim (se não é verdade) levantar os aguardenteiros e propriatarios contra tudo o que seja de Hinton, e creia que
conseguem o seu fim.
Sem mais, crea-me seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
195
Resumindo teremos:
Alcool fabricado até 12 de junho ........................................212.850 litros a 100º a 15º
“ do melaço em sêr e em fermentação ......................159.000 “ “ “
“ de canna “ “ “.................................. 29.990 “ “ “
“ “ provavel a receber................................. 5.600 “ “ “
Alcool de 1918.....................................................................413.440 “ “ “
É este o alcool com que se pode contar em 1918.
Deve-se pois vender a 600 reis por litro alcool a 100º pelo menos 124.000 litros alcool, que corresponde á canna e jus de
diffusão feito em alcool, para não dár prejuizo.
[Ass:] João Higino Ferraz //
196
habilitados), e como com estas dificuldades de guerra já este anno o nosso chefe cuiseur Francez nos chegou com um mez de
atraso, não teria quem o substituisse e calculem as dificuldades em que me veria n’um caso d’estes. Não desejo pois tomar
semelhante responsabilidade que traria á Fabrica Hinton graves prejuizos.
Estou porém sempre ao despor do meu Ex.mo Amigo e Senhor Sousa Lara, em tudo que lhe possa ser util, mas sempre de
forma a não prejudicar a casa de quém sou empregado e que estimo como fosse minha propria.
Recebi o vale do correio, o que era despensavel, mas que muito agradeço.
Cream-me sempre Seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
197
[DATA: 28 de Junho de 1918
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[81] Funchal 28 junho 1918
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Terminamos o Lote de canna e melaço com o rendimento seguinte:
Inventario Nº 10:
Melaço 54.747 kilogramas rendeu 15.329 litros alcool a 100º = 28 litros % melaço
Canna 448.654 “ “ 32.457 “ “ “ = 72,34 litros tonelada canna
Como vê o rendimento da canna continua a ser bom...
Teremos talvez ainda uns 1000 a 1200 molhos de canna para alcool, e que creio será o resto que teremos que receber.
Respondi hoje ao seu telegrama sobre o destillador de Almeirin, dizendo, não se pode garantir o alcool neutro nem livre dos
aromas do vinho.
Como sabe esse apparelho apenas pode tirar (como o fiz quando estive ahi) alcool a 95º centigrados, mas não pode ser
considerado neutro nem livre dos aromas dos vinhos, visto este apparelho não têr extração dos etheres nem das escencias; o
alcool produzido, ainda que em grau elevado, contem quasi todos os etheres e escencias provenientes do vinho, mais ou menos
conforme a qualidade do vinho destillado. Contudo este alcool a 95º é muito mais puro do que o produzido nas caldeiras
(Alambiques) ordinarias d’ahi.
Seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
[82] Nota dos productos chimicos para 1919. Existencias em 3 Julho 1918
Kieselgouhr ...............................................28.000 kilogramas aproximado
Phosphato de Cal ......................................20.500 “ “
Aluminato de baryta .................................. 8.100 “ “
Enxofre ......................................................17.800 “ “
Calculando para 1919 umas 40.000 toneladas canna (?), será necessario:
Kieselgouhr = 42.000 kilogramas – temos 28.000 kilogramas .......= Falta 20.000 kilogramas
Phosphato de Cal = 40.000 – “ 20.500 ..........................= “ 19.500
Aluminato 14.500 – “ 8.100 ..........................= “ 6.700
Enxofre temos o suficiente para 1919
Soda caustica temos suficiente
4 Julho 1918 [Ass:] João Higino Ferraz //
[83]268
198
[DATA: 17 de Julho de 1916
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[85] Funchal 17 julho 1916[sic]
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Como vê envio-lhe uma carta separada, que no caso de ser necessario, pode-lhe servir em juizo para provar que o apparelho
é unicamente seu e montado conforme o contrato feito, e junto tambem a Lista dos apparelhos montados (em duplicado por
copia) assignada por mim.
Esse mariola sempre quer fazer o que dizia em Almeirin «que o apparelho nunca mais sahia da sua casa» e a razão era não
assignar o contrato e assim provar que tinha adquirido por qualquer forma que elle tem em vista provar.
Não vejo porém que elle possa fazer nada com relação a isso, porque testemunhas não faltaram, e é necessario que elle
apresente qualquer decomento de adquirição do apparelho.
Deve existir no Escriptorio as contas dos mestres, serralheiro de Almeirin e Caldeireiro de Santarem, contas que eu mandava
passar sempre em nome de William Hinton & Sons, e que o Sebastião Manoel mandava para o escriptorio em Lisboa.
Tudo isso junto prova que a montagem foi por nossa conta. //
[86] Aguardente de canna: Segundo a carta que o Senhor Hinton escreveu a Carlos270, vejo que o Senhor se enganou nos
calculos de rendimento em aguardente dando-lhe 4 quartilhos por almude emquanto que Carlos lhe tinha dito 7 quartilhos. Para
evitar que de futuro se dê enganos d’esses que lhe podem ser prejudiciaes, vou dizer-lhe como deve fazer os calculos. Hoje
enviamos-lhe um telegrama dizendo eu que o rendimento medio que eu calculo para a canna é de 9 litros aguardente em 27º
Cartiere por 100 kilogramas canna, o que dá 7 1/2 quartilhos por 30 kilogramas canna (almude).
Carlos tinha-lhe dito 7 quartilhos mas esse rendimento é baixo, e não se pode contar a media de todas as fabricas em menos
7 /2 quartilhos por almude de 30 kilogramas canna, em aguardente em 27º Cartiere.
1
Para os calculos.
Cada gallão é igual a 10 quartilhos (medida antiga).
Cada gallão equival a 3,6 litros – Um quartilho equivale pois a 0,36 litros
O rendimento de 9 litros % canna é com bagaço e tudo.
Se por exemplo uma fabrica pagou de imposto 6:000$00 escudos como cada litro paga de imposto 150, temos que devidir
6:000$000 = 40.000 litros d’aguardente que pagou imposto.
150
Quanto representará isto em canna contando que cada 100 kilos canna dá 9 litros aguardente em 27 Cartiere?
x = 40.000 = 4444 x 100 = 444.400 kilogramas canna.
9
Crea-me seu Amigo certo [Ass:] João Higino Ferraz //
199
ou fora d’ella. Isto de calcular cousas aereas é sempre muito perigoso, e não se pode vêr no futuro o mesmo que se vê agora. //
[88] Exposto isto vou dizer da minha justiça.
O meu fim é fazer a industrialização do vinho ou por outra do mosto da uva, comprando não o vinho feito, mas sim o mosto
da uva, que facilmente se pode conservar nas adegas dos Lavradores tambem ou melhor do que o vinho, tendo elles a grande
vantagem de não se preocuparem com os cuidados que actualmente teem com os vinhos feitos, que muitas vezes se perdem por
acetificação. Pela compra do mosto teem elles a sua venda garantida em boas condições.
Para nós, comprado que seja o mosto em condições a establecer e fabricado nas adegas do Labrador conforme a nossa
indicação ou seja em tintos ou brancos e sobre nossa fiscalisação, hiremos retirando o mosto conforme as nossas necessidades
o exigirem. Por conseguinte esta forma de negociar em nada altera os costumes establecidos nos negocios de vinhos dos
Lavradores-vinhateiros, a não ser no producto vendido, que, em logar de ser vinho é mosto.
Para nós Industriaes, o que faremos? Transformar esse mosto em um producto de boa qualidade em condições
verdadeiramente sentificas, e fazer d’elle o que melhor nos convier e conforme o mercado pedir, ou seja em vinhos de pasto de
consumo directo, vinhos de exportação mais ou menos alcoolicos, xaropes d’uva concentrados para tratamento de vinhos do
Porto ou outros ou para exportação se assim convier ou // [89] outros quaesquer typos que se queira obter. Tudo isto será feito
na Fabrica industrial com o nosso mosto comprado, na occasião que se quizer e na quantidade que se quizer conforme o
mercado o pedir, e assim poderemos aproveitar as occasiões em que os outros negociantes de vinhos teem dificuldades de
apresentar productos que nós os faremos facilmente.
Esta questão de xaropes d’uva, vejo um bom negocio de exportação, porque com este producto exportado para Franca[sic]
ou outro qualquer pais, servir-lhe-há para o fabrico de vinhos licorosos de que elles teem grande falta, e o nosso Pais está em
condições muito melhores do que Hespanha para isso, devido á nossa qualidade de uva, e em Hespanha e Argelia já fazem esse
xarope em grande quantidade.
Porém, para uma industria d’esta natureza não se fazer em pequena escala, porque teremos que adquirir apparelhos
apropriados ao fim, e esses apparelhos, que o seu custo é relativamente elevado e de[sic] podem deteriorar, é necessario fazer
todos os annos uma amortisação pelo menos de 10% do capital da instalação que nos leva uma boa verba, e em ponto pequeno
os lucros podem ser absorvidos por ella. É puis minha oppinião que nada se poderá fazer com vantagem com menos de 4000
pipas de mosto por anno. Não se assustem voces porém com esta quantidade, porque de 4000 pode-se fazer 1000 de cada quali-
//[90]dade de vinhos ou xarope, mais ou menos d’um ou d’outro.
A dificuldade, a meu vêr, está na instalação da adega que requer um capital relativamente grande para as nossas forças, e
era por isso que sempre pensei em alugar um Armazem de vinhos já montado com os devidos toneis, e assim a instalação nos
sahiria mais facil.
Na Quinta que Perry tem, nada tem de instalações proprias ao fim, isto é, está nua... Quanto nos poderá custar, mesmo depois
da guerra, uma montagem completa de uma Fabrica n’estas condições? Nada posso dizer, nem voces mesmo o podem saber
ahi!
O que unicamente eu posso dizer aproximadamente é o que é indispensavel para o fabrico de 4000 pipas de mosto em 8
mezes de trabalho seguido.
3 poços em cimento armado para o mosto a receber dos Lavradores, da capacidade de 100 metros cubicos cada um.
12 cubas de fermentação de 5000 litros cada uma.
40 toneis de 20 pipas cada um (descanço do vinho feito)
12 “ de 10 “ “ “ (collagem ou clarificação).
25 “ de 40 “ “ “ (Depositos de vinho feito para sahida)
300 cascos de 500 litros cada (para transportes do mosto)
Os apparelhos compoe-se de um dessulfitador, um concentrador, uma caldeira de vapor de 50 cavallos, bombas etc. para
trabalho de 10.000 litros de mosto de uva por 24 horas, filtros mechanicos e filtros-prensas. Esta mesma instalação pode fazer
5000 pipas em 10 mezes. //
[91] Quanto ás garantias de lucros, o que eu posso dizer é que, o nosso fabrico comprando o mosto ao preço do vinho feito,
dando o Lavrador, como é praixe actualmente, 10% mais em mosto do que elles entregam em vinho, e depois de tiradas todas
as despezas de fabrico, nos ficará o vinho ao mesmo preço do que a qualquer negociante comprador de vinhos feitos, com a
vantagem para nós de termos um producto de muito melhor qualidade e mais egienico, e em condições oeorganoleticas
melhores, e muito melhor conservação, mesmo para exportação.
Para porém poder calcular quaes os lucros minimos provaveis seria bom eu saber o seguinte:
200
1º Preço medio por que foi comprado o vinho, por exemplo, em Almeirin (boa localidade de vinhos ricos em alcool) por
pipa de 445 litros (medida de Almeirin).
2º Qual o frete em Caminhos Ferro até Lisboa
3º Qual o preço <minimo> por groço do vinho de pasto nos armazens de Lisboa fora de Portas.
4º Qual o preço medio minimo por groço do vinho tratado, isto é, vinho com mais de 12% alcool até 17%
Amostras de todos estes vinhos, pelo menos um litro de cada, e as condições de venda e mais informações que voces possam
obter, e mesmo no tempo normal, isto é antes da guerra, em que condições eram feitos os negocios e preços aproximados. Tudo
quanto voces poderem obter de notas é-me conveniente, fazendo sempre referencias ás capacidades de vendas, para os meus
calculos. // [92] Para os xaropes, como isso é um producto novo em Portugal, sô depois de feito se pode fazer reclames, mas
posso desde já dizer que, para os vinhos a fazer ricos em alcool, o emprego do xarope no mosto tem muito mais vantagem do
que a alcoolisação pela aguardente de vinhos, sendo uma alcoolisação natural e não tornando os vinhos aguados, como acontece
com a aguardente. Estou mesmo certo que, uma vezes [sic] feita a esperiencia da alcoolisação pelo xarope, este producto vai
ter grande sahida para o Porto ou outras localidades onde se fabrica vinhos generosos.
Por emquanto nada mais posso dizer sobre o assumpto, mas espero que o Ribeiro na sua volta de Lisboa me traga todas
essas notas e as competentes amostras.
Até á vista pois, e um abraço para os dois do seu Amigo verdadeiro [Ass:] João Higino Ferraz //
Tinha pedido ao amigo Meira273 para lhe falar sobre o fabrico de alcool no Torreão no proximo anno (1919), somente durante
a laboração da canna, porque assim teremos varias vantagens, conforme a minha carta de 25 maio ultimo. Se assim se fizer,
desejava saber isso o mais breve possivel para se poder requerer a transferencia do nosso destillador, que está montado na
Comp.ª Nova, para o Torreão, e isso somente pode ser feito por requerimento que tem que hir a informar á repartição ahi em
Lisboa, e como tudo isto leva seu tempo, por isso lhe pesso com urgencia a sua resolução.
Por este correio vai como encomenda Postal uma amostra sendo, uma saca com que se fabricou aqui este anno os panos para
os filtros presses da Melasse Cuite, e um dos panos arranjados com essas sacas. Era necessario para o proximo anno uns 1600
a 1700 panos.
No caso de se poder obter pano egual a esse com 1,15 metros de Largura seram necessarios 4500 metros. Não havendo pano
então é bom comprar 5000 sacos eguaes á amostra.
Subscrevo-me Seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
201
[DATA: 28 de Agosto de 1918
DESTINATÁRIO: Governador Civil do Funchal]
[95] 28/8/918
Ill.mo Ex.mo Senhor Governador Civil do Funchal
Envio a V.ª Ex.ª as notas que me pedio para o rendimento em alcool dos vinhos segundo a sua graduação ou força alcoolica,
e com estas notas pode V.ª Ex.ª fazer os seus calculos para os preços do vinho e a como lhe ficaria a aguardente ou alcool
produzido, tendo porém de dizer que a despeza de fabrico actual sem lucro algum é de 150 reis por litro alcool em 40º Cartiere.
Calculos sobre 100 litros vinho fermentado.
Com 9% alcool, 100 litros vinho dá 11,2 litros alcool em 30º Cartiere = 9,14 litros em 40º
“ 10% “ “ 12,5 “ “ “ = 10,20 “
“ 11% “ “ 13,8 “ “ “ = 11,26 “
“ 12% “ “ 15,1 “ “ “ = 12,32 “
“ 13% “ “ 16,3 “ “ “ = 13,30 “
O apparelho de destillação-retificação da Comp.ª Nova, somente pode tirar o alcool em 40º Cartiere, e nunca menos d’este
grau.
Quanto á aguardente de canna, é vendida ao gallão de 3,6 litros com a graduação de 27 Cartiere no maximo.
Ora, 3,6 litros em 27º Cartiere = 2,67 litros em 50º Cartiere ou 2,18 litros em 40º Cartiere
De V.ª Ex.ª Attencioso Venerador [Ass:] João Higino Ferraz //
202
Notas: Pelo melaço calculado (Laalberg) deu 1.032.734 kilogramas, o que se vê que fez uma diferença para menos de 17.587
kilogramas
Esta diferença é do tanque grande que foi por Calculo
Ficará pois melaço % canna trabalhada = 3,866 kilogramas, em logar de 3,933 kilogramas pelo calculo de Laalberg.
Funchal 4 Setembro de 1918 [Ass:] João Higino Ferraz //
277 Esta carta encontra-se truncada. A sua continuação poderá estar noutro copiador que contem a epistolografia remetida por Higino Ferraz de Janeiro a
Outubro de 1919, a que não tivemos acesso; ou então, o restante da informação desta carta de 8-1-1919 foi considerado desprezível para merecer a sua
inscrição, e, além disso, Higino Ferraz não terá expedido quaisquer cartas dignas de memória (da sua, claro), nos primeiros 10 meses do ano de 1919 –
hipótese esta que achamos menos plausível.
203
204
[Copiador de Cartas. 1919-1920]
DESCRIÇÃO:
À imagem dos anteriores copiadores de cartas, o título deste é por nós atribuído. É um livro, em papel, 27 cm x 22 cm, e
encontra-se em bom estado de conservação. Os fólios deste copiador estão numerados com caracteres tipográficos.
205
206
[DATA: 14 de Outubro de 1919
DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre]
[1] Funchal 14 outubro 1919
Meu Caro Amigo e Senhor Lefebvre
Recebi de Lisboa, por isso que já estava na Madeira, o seu telegrama dizendo; «Molhant ecrit envoyer ferments sans parler
conditions speciales, Vasseux repond que appareil actuellement Madère convient si resiste cinc kilos pression et florure employé
sur levaine, confirme aussi conditions annuelles; priere voir comptabilité pour cheque demandé», e ao mesmo tempo a sua
estimada carta de 25 setembro ultimo. Vou passar pois a responder por partes, tanto ao telegrama como á carta:
Levure Molhant: Em vista de Vasseux acceitar condições e ser o florure empregado simplesmente no mosto fermento,
confirmámos por carta de Hinton278 este affaire para podermos usar já no melaço de Cuba que vou fermentar em Novembro,
com a condição que a levure Vasseux e o florure estejam aqui no Funchal até de Novembro proximo, e no caso de isso não
poder ser, ficará este affaire para a proxima campagne // [2] de 1920, isto é, estar na Madeira a levure e o florure até fins de
Fevereiro proximo futuro.
No primeiro caso não é necessario enviar a levure Molhant por isso que temos a de Vasseux; no segundo caso é melhor
enviar a levure Molhant (2 a 3 tubos) para estar aqui até 15 Novembro, caso seja possivel, para com ella fazer a fermentação
do melaço de Cuba.
Appareil de peptonisação: O nosso appareil não posso garantir que resista a 5 kilos perção (a agua?), mas posso garantir
uma perção de vapor de 2 kilos, que era o trabalho normal d’elle. Em todo o caso farei o possivel de vêr se elle resiste a 5 kilos
perção timbre de esperiencia a agua.
Comptabilité: Pelo seu telegrama vejo que não tinha ainda recebido a nossa carta e cheque de Lisboa de 24 Novembro de
30.000 francos, sendo 12.000 conforme o seu pedido, e 18000 por conta das encomendas feitas (phosphato, refrigerante e
Denis), conforme verá da carta da firma Hinton, mas espero que já deve ter em sua mão.
Respostas á carta:
Molhant: Já dito o que deve fazer, sendo possivel estar aqui até 15 Novembro proximo, porque do contrario empregarei a
minha levure que tenho // [3] em actividade, quando não chegue tambem a levure Vasseux e florure.
Materiel d’usine: O refrigerant Guillebaud deve estár aqui até fins de Fevereiro proximo futuro no maximo.
Malaxeur Denis: Deve ser um malaxeur á travail descontinue de 5 metres de longue, e estar aqui tambem até fins de
Fevereiro.
Produits chimiques: Encomendados, como da carta da firma Hinton, 5000 kilos de Phosphato bi-calcique. Não necessitamos
o bisulfito, visto ou empregarmos a Levure Vasseux ou Molhant que não são habituadas a este anticeptico, e mesmo o meu
fermento o não ser tambem.
Affaires personnelles:
Quanto á instalação da Vinharia em Lisboa, á minha sahida de lá, deixei tudo em bom andamento, e tenho todas as
esperanças de fazer o que desejo, ou seja em uma grande companhia em organisação, ou seja eu pessoalmente com um ou dois
socios, e assim será uma pequena Vinharia de 50 hectolitros mosto por 24 horas. Contudo nada posso dizer por emquanto, sem
estar tudo organisado em Lisboa. //
[4] Desejaria porém, se Barbet fosse bastante amavel para comigo, dois (2) devis separados, um para uma Vinharia de 100
hectolitros em 24 horas com um dessulfitador para esta quantidade e um evaporador-concentrador para xaropes d’uva de 50
hectolitros mosto 24 horas, com todos os apparelhos necessarios, menos o gerador de vapor; outro devis de uma vinharia de 50
hectolitros nas mesmas condições, com um evaporador para esta capacidade. Pedia-lhe pois para falar a Barbet da minha parte
207
e fazer-lhe esse pedido, mas em boas condições de preço de material. Assim ficaria habilitado a resolver de prompto qualquer
encomenda futura.
Quanto aos outros pontos da Carta, como não tem ainda todos os dados, esperarei sua nova carta para decidir.
Affaire Broderies: Este negocio já está em andamento, e esperam em poucos mezes enviar amostras (échantillons) dos
bordados da Madeira, para Madames darem andamento aos seus negocios particulares: Há grande intosiasmo n’esse assumpto
das senhoras associadas aqui para isso; ellas escreveram a seu tempo a Madame Lefebvre. //
[5] Quanto á viagem de Paris para Lisboa, foi um pouco complicada, por isso que perdi o rapido de Madride, mas emfim
sempre cá cheguei.
Os meus respeitosos comprimentos e bons souvenires a todos os seus, e para vós, meu amigo um aperto de mão do seu
amigo [Ass:] João Higino Ferraz
P. E.[sic] Se falar com o Candido Henriques dê-lhe muitos e muitos comprimentos do seu amigo Ferraz, e que cá o espero
em Novembro, se as Madmoiselles deixarem a Cambuse livre. //
Recebi a sua carta e telegrama de Lefebvre279 de 4 corrente o que muito lhe agradeço e passo a responder.
Parti de Lisboa mais cedo como sabe, por não têr nada que fazer ahi, como já lhe disse na minha ultima carta.
Effectivamente diz muito bem que Jacintho perdeu a cabeça, e peor ainda, está com a mania da perceguição!... Quanto á
parte que me toca já disse a Jacintho o que tinha a lhe dizer, e elle mostrou-se bastante comovido (até ás lagrimas), queixando-
se que o Senhor Hinton o queria indispor comigo!..
Em fim, acho melhor arrumar essas questões que tanto podem prejudicar a si como a elle, e acho melhor, como diz na sua
carta, que elle nada diga dos negocios da casa Hinton, e para isso passar um pano sobre tudo e terminar com questões, e isto
mesmo disse eu ao Carlos. É isto // [7] que eu tenho que dizer a Jacintho, quando elle esteja mais calmo, e fazer-lhe vêr que
elle ainda pode necessitar dos favores da Casa Hinton e que não deve prejudical’a, porque além de ser prejudicial aos dois, é
uma indignidade que não é propria de homens que se prezãm. E assim espero que o meu amigo veja as cousas por o mesmo
lado que eu as vejo. Da minha parte estou satisfeito com... as lagrimas... e não quero saber o que elle poderia têr dito a meu
respeito; assim é melhor para si ou firma Hinton.
Quanto ao que me diz sobre o meu amigo Francisco João de Vasconcellos não calcula quanto fico satisfeito por vêr que elle
pode entrar no nosso negocio de vinhos e xaropes d’uva. Francisco João é um velho amigo meu por quem tenho uma verdadeira
estima porque conheço o seu caracter de homem de bem, trabalhador e inteligente. Temos porêm um que... Francisco João,
como sabe, não pode ver o Meira (não sei porque), e isso pode prejudicar um pouco a nossa questão. Era pois de grande
conveniencia conseguir a boa páz entre os dois, mas isso sô pode ser feito por si, como amigo intimo das duas partes. Quanto
ao fabrico de vinhos typo Porto ou // [8] Madeira eu me entenderei mais tarde com Francisco João, porque elle attende-me muito
bem em tudo o que eu lhe digo.
Sobre Lefebvre já telegraphamos e vamos escrever, mas vejo pela data do telegrama e da carta que elle me escreve, não
poderia têr recebido a nossa carta de Lisboa e cheque de 30.000 francos a tempo de responder. A esta data deve estar de posse
de tudo.
Quanto á fabrica Pires280 vou continuar com os maçames para as caldeiras de vapor com auctorisação do Director da
Alfandega, e foi muito conveniente o seu telegrama chamando o Pedro a Lisboa, porque assim será tudo resolvido mais
brevemente e a licença necessaria para continuarmos a montagem dos apparelhos a fim de estar prompta a trabalhar no anno
proximo futuro com o maximo da capacidade. Era isto que elle deveria têr feito, como eu lhe dizia, isto é, ter hido a Lisboa em
agosto.
Por nada mais por emquanto que lhe possa dizer, termino, desejando-lhe todas as felicidades de que é digno, e crea-me Seu
Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
208
[DATA: 27 de Outubro de 1919
DESTINATÁRIO: Vasseux
CARACTERIZAÇÃO: Procedimentos a adoptar no trabalho com o aparelho industrial Barbet]
[9] Pour Monsieur Vasseux Marche à adopter suivant Schma si joint.
Comme bassin de depart, je vais employer l’appareil Barbet E, et une fois la levure encemence et la fermentation en route
on passerai la moitie de l’appareil á une des cuves mères F ou F1 et de la a les cuves mères G G1 en suivant les indications du
methode de fermentation indique para Monsieur Vasseux.
De les grands cuves mères G et G1 ou retiraira les pieds de cuves par H, H5, en raison que les cuves F F1 sont tres petites
pour pied de cuve direct, à la condition de changer la cuve mère G ou G1 tous les 2 jours.
Dans cette condition lá, les ferments speciaux de Monsieur Vasseux vont ètre conservés dans l’appareil Barbet au lieu d’étre
dans les bassins proposée.
Touts les moût de levure seront esterilisee a 100º dans mon ancienne appareil A, B, C et D et en travail contenue, pour
l’alimentation des cuves mères E, F 281
G ou G1 será alimentee par moût de levure sans esterilisation. On pour faire
comme ça? J’espere bien que oui.
Commes vous voyez on emploit 30% du moût levure comme pied de cuves á 1050 densité et le moût general á fermenter á
110 densité que donnera un total de 1095 densité. Le fluorure será employé sur ces 30% du moût levure. [Ass:] João Higino
Ferraz. 27/10/1919 //
209
[DATA: 1 de Novembro de 1919
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[12] Funchal 1 Novembro 1919
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Recebi a sua carta de 26 proximo passado, o que muito lhe agradeço e vou responder:
Francisco João: Estimo bastante, como amigo de F. J.283, que essa má vontade entre M284 e elle se liquide em bem, o que
espero.
Vinharia: Vejo o que me diz com relação ao negocio dos vinhos, e essa aquesição da Casa Vieira Gomes é importante, não
somente pelo nome d’ella já muito conhecido, como tambem pelas instalações que já tem e que sei serem importantes; Sei mais
que essa casa trabalha em vinhos pelos systemas mais modernos, e que emprega nas suas fermentações fermentos puros do
vinho de Bourdeaux, e é isso principalmente que lhe tem dado o renome do seu vinho. A região de Collares é a melhor para os
typos de vinho de meza, mas isso não impede que se vá comprar mostos a outras localidades, e com a Vinharia montada em
boas condições, se possa obter vinho quasi edentico ao Collares, tanto brancos como tintos. O preço vejo que foi bastante alto,
mas comprehendo que para comprar uma marca e adegas actualmente é dificil adquirir a preço baixo, quando os vinhos estão
dando tanto dinheiro! Tenho porém sempre em mente a instalação no Cartaxo do José Doarte Lima, de que não se deve desfazer.
//
[13] Agradeço-lhe mais uma vez a boa vontade que tem em me ser agradavel, e pode crer que isso não é deitado a um poço,
e a minha parte no trabalho para o bom caminho que esta nova empresa vai têr, será feito por mim com todo o entosiasmo e
boa vontade, e que o grupo se não arrependerá de me incluir n’elle. Não sou, nem d’isso fasso alarme, uma capacidade, mas
tenho vontade de trabalhar principalmente n’este assumpto em que estou muito empenhado.
Fabrica do Salto Cavallo: Pedro285 foi para Lisboa e elle lhe dirá de viva vóz o que temos feito e vamos fazer.
Assucar da Beira: Tudo está em ordem para a recepção do assucar e refinação, e logo que elle chegue dár-se-há principio á
refinação, e tudo o que me diz sobre este assumpto será feito conforme o seu desejo. Quanto ao bicho já muito meu conhecido,
vou vêr se este assucar contem, mas ainda assim que nada seja, vou têr o maximo cuidado nas desinfecções. Quanto ás
cerpentinas de vapor das caldeiras de vacuo já estão todas esperimentadas e estão boas, e os restantes apparelhos tambem.
Quanto á exportação do assucar diz-me Carlos286 que não vê possibilidade de o fazer na quantidade que deseja devido ao
consumo excessivo aqui, o que é pena, porque esses preços que me diz se podem obter em França são os melhores possivel, e
não vejo que o Governo possa impedir essa exportação, a não ser que mubilise o assucar!! //
[14] Quanto ao systema da refinação, o Senhor Bardsley antes de sahir disse-me que era melhor não derreter todo o assucar
para transformal’o em xarope, mas sim laval’o somente, como em tempos já fiz, o que dá naturalmente menos quebras e
despesas, mas o assucar não ficará tão bom. Quer que proceda assim como elle diz? No caso de querer mande um telegrama
“Lave assucar”, e no caso contrario diga “Refine assucar”, assim ficarei sabendo como devo proceder.
Fermentações: Já dei principio aos fermentos, mas primeiro vou principiar com o meu fermento que tenho em actividade,
para limpar bem os apparelhos, e depois darei principio com o fermento Vasseax por isso que vou têr o fluorure entre 6 a 8
Novembro pelo vapor do Cabo, e já tenho duas caixas com ampolas de fermento Vasseaux; assim dará melhor resultado e verei
melhor o effeito do fermento novo.
Seitz: Não vejo possibilidade de trabalhar no anno proximo com os filtros “Seitz”, porque o tamis fino da parte filtrante está
em grande parte estragado e é necessario renoval’o. Além d’isso as torneiras de macho estão terriveis em derrame, e ficou
establecido que Seitz as modaria por torneiras de gaveta de latão, como do contracto.
Carta[sic] cannas: Não ha maneira de dár com o corta cannas! No Salto Cavallo não está, e mesmo sei que para lá não foi;
na Fabrica não o vejo, mas em tempos vi-o no armazem do ferro. Teriam-no quebrado para socata? Como hoje e amanhã é dia
Santo, João não está para // [15] lhe perguntar por elle, e se até segunda feira o vapor “San Miguel” não tiver vindo lhe direi o
que há. Custa-me a crer que tivessem partido para socata um apparelho que custou tão caro e que poderia servir ainda. Como
nada tive com essas cousas de socata, não lhe posso garantir se foi ou não partido. N’essa occasião estava em no Estranjeiro ou
em Lisboa.
Sem mais por emquanto que lhe possa dizer subscrevo-me seu Amigo Attencioso e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz
210
P. E.[sic] Esqueceu-me dizer-lhe que terminamos todo o alcool no Torreão no dia 31 outubro, dando o total do alcool até
esta data no Torreão o calculo e resultado seguinte:
De maio a outubro 1919
Alcool bruto produzido pelos inventarios = 315.335 litros a 100º
Alcool total vendido até 31 outubro ..................................................................= 315.710 litros a 100º a 15 temperatura
Escencias e etheres restantes............................................................................... 8.115 “ “ “
Cargas dos dois retificadores .............................................................................. 2.000 “ “ “
325.825 “ “ “
Menos alcool produzido da retificação do Mau gosto da Comp.ª Nova............ 22.682 “ “ “
Alcool Torreão..................................................................................................... 303.143 “ “ “
Quebra de retificação e venda = 4% do alcool bruto. //
211
todos os 7 ou 8 dias (!).
Destillaria: Tem um apparelho de destillação continua typo Paulmann em duas columnas como o nosso; podendo tirar alcool
no maximo de 90º Centigrados mas não retificado. Para esta parte do fabrico, tem elle o retificador que empregou este anno na
Calheta, mas que não tira alcool a mais de 38º Cartiere, como muito bem sabe. É isto que lhe posso dizer por emquanto.
Corta cannas: Foi quebrado para socata. [Ass:] João Higino Ferraz //
212
aproximado o que conto obter, visto no Torreão não têr ainda terminado o Lote, mas já vejo qual será o rendimento aproximado.
Analyse do melaço feita por mim:
Saccharos[sic] directa ..........................................32,25 %
“ Clerget ..............................................37,29 “
Glucose ................................................................14,50
Este melaço contem em grande quantidade o Leuconostoc mesenterioides, isto é, aquelle fermento que se produz na garapa
em forma de cuscus, como muito bem conhece: Em vista d’isto, este melaço forma na fermentação mais acidez que o normal.
Além d’isso a quantidade de glucose infermenticivel é meior que no 1º carregamento o que calculo em 5% (em saccarose);
teremos pois:
Açucar total em saccharose 51,06 %
Infermenticiveis 5, %
Saccharose fermentavel 46,06%, que ao ren-//[22]dimento de 60 litros alcool a 100º % saccarose fermentavel deve
dár um rendimento de 27,6 litros alcool a 100º % melaço. É este o rendimento que um pequeno Lote da Comp.ª Nova deu, e
eu calculo que no Torreão dará o mesmo em alcool bruto.
Faço-lhe notar que este rendimento foi obtido com o meu fermento conservado e não com o de Vasseux, por isso que para
este ainda não veio o fluorure de soda, e tenho em actividade para um novo Lote o fermento Vasseux mas sem fluorure, e assim
poderei vêr a diferença de rendimento. O que desejava era receber quanto antes o fluorure, e já telegrafei a Lefebvre290 dizendo-
lhe que não tinha recebido a fluorure até esta data.
Quando tenha o fluorure vou fazer novo lote, e verificar por comparação os resultados obtidos.
Como sabe, o 1º carregamento tinha em saccarose tatal[sic] 48,17%
Infermenticivel 4,5%
Saccarose fermentavel 43,67% que ao rendimento de 60 litros alcool %
saccarose = 26,2 litros alcool a 100º % melaço, e foi este aproximado o rendimento que deu no Torreão e Comp.ª Nova.
O custo na Fabrica do 1º carregamento é de 85$00 por tonelada
“ “ do 2º “ “ 92$00 “
Em resposta á sua carta de 12 do corrente, pouco tenho que dizer, mas com relação ao Açucar Colonial, se elle tiver bicho,
o que não crêo, a simples lavagem não o // [23] matará, porque a lavagem é feita com égoûts quentes, mas não chega a
temperatura da Melasse Cuite a tal que o possa matar. Para isto, no caso de têr bicho, vou armazenar em armazem separado o
assucar lavado do assucar que tenho de refinar em BB.
Productos de Laboração: Tudo encomendado, menos a cal, que deve ser para 1920 umas 40 toneladas pouco mais ou menos.
Os panos para os filtros-presses é que estão cotados a um preço dos diabos, e vou mandar uma amostra a Lefebvre para elle
mandar as cotações, mas já se vê que para 1921, porque para este proximo anno não poderá vir a tempo.
Quanto aos meus projectos de Vinharia, agradeço-lhe o que me diz, mas estou bem desejoso de fazer qualquer cousa de onde
possa tirar lucros, porque esta vida está de tal forma cara que não posso continuar assim n’este estado de despezas, sem ter de
onde me venha lucros.
Sem mais, crêa-me seu attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
213
liquifiée et sali l’uate. Je ne sais pas se cette levure se conserve bien comme cá j’usq’a prochenne Campang (?). En tout cas,
Monsieur Vasseux doive envoyer en Fevriere <[…]> prochene un nouvelle levure pure pour la Campagne.
Affaire Lycee – Je vous remerci votres renseignement que je va transmettre a Proffeseur de Chimica.
Nous avont reçue la lettre ci joint de Georges Bosset, mais comme je sui plaine de touts les Monsieurs qui font de produit
// [25] pour decoloration des produit de sucrerie, je desir avant de faire quelque essai faire les questions suivants:
Le prix est telment elevée (775 francs % kilogrammes) q’il faut employer un tres petits quantité: Quel est la quantité maxima
par hectolitre de xiropes? On peu decoloraire les égoûts au leu do xirope? Par les échantillon que je vous envoi vous vaira que
notre sucre de 1ar jet est blanc, c.a.d., sucre de xirops vierge. Notre sucre avec les rentrée des égoûts dans la cuite (Nº 2) c’est
pauvre, et est du cette coleure aus égoûts a cause de la glucose.
Ce nous pouvent employer cette produit dans les égoûts il faut filtraire aprés? Quel quantité se doive a peu prés employer?
Vous pouveux voir ce Monsieur et demandes les renseignemet et vous em[?] plus competent que moi.
Affaire Barbet: Je partira por Lisbonne en Janviere prochene par le “San Miguel”, afin de finir mes affaires de Vinerie et
j’espere bien recevoir les devis de Barbet avant mon departe pour Lisbonne
Affaire Borderies: Je vous previne que ce n’est pas Monsieur Belmonte que và faire cettes Affaires mais des Demoiselles
& C.ª que vous ecrire á Madame Lefebvre sur cá et les echantillon vont etre envoyér ce méme mois (15 ou 16).
Mes respects a Madames, et pour vous mes meilleurs amitié [Ass:] João Higino Ferraz //
Envio-lhe junto as notas do rendimento do melaço de Cuba (2º carregamento) que terminou a destillação a 22 do corrente,
tanto no Torreão como na Comp.ª Nova.
A ultima analyse feita por mim deu-me o seguinte:
Saccharose directa ...........................32,25% melaço
“ Clerget .........................37,29%
}
Glucose ............................................14,50% “
“ = saccarose 51,06%
214
Glucoses:
Glucose no açucar B = 1095 kilogramas
“
“
“ B
nos égoûts
= 71
= 11850
} = Total encontrado ——- .......................13.016 kilogramas
Glucose no açucar bruto ........................ 3.827 “
Saccarose transformada em glucose ...... 9.189 “
correspondente 8730 kilogramas saccharose pura.
Perdas indeterminadas em saccarose = 5,08% do açucar puro bruto.
Os égoûts a destillar devem produzir aproximados 17.408 litros alcool a 100º
Desejando-lhe um novo anno muito feliz e a sua Ex.ma esposa, subscrevo-me seu Amigo attencioso e Obrigado [Ass:] João
Higino Ferraz //
[DATA: 29 de Dezembro de 1919
DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre]
[28] Funchal 29/12/919
Mon cher ami Monsieur Lefebvre
J’ai bien reçu votre lettre du 10 corrent aussi bien que le devis de Monsieur Barbet et le catalogue de la Maison Granger, ce
que je vous remercie bien.
Affaire Barbet: Le fabuleux devis de Monsieur Barbet ce n’est pas bien ce que j’ai demande; ce que j’ai demandé c’est un
devis d’un dessulfitador de 100 hectolitres en 24 heures et il m’a envoyé un pour un dessulfiteur de 100 hectolitres en 8 heurs
(!) de travail, c.a.d. le triple de ce que je demande. L’evaporateur est calcule de la même forme, c.a.d. il est faux, parce que je
desire un de 50 hectolitres par 24 heures. Le reste du materiel je n’en ai pas besoin, parce que je vais monter ça dans une cave,
et je ne vais pas traiter le raison directment, mais si acheter le moût de raisin, que je desire conserver dans les caves des Vigneron
sen fermenter par moyen de l’SO2 liquide (anhydride sulfureux), c.a.d. le seule produit légal, que je puis employer. Aprés Aix,
ou dix mois je vais chercher ce moût sulfite ches les Vignobles et je dessulfite dans ma Vinerie. Avec ce moût dessulfité je ferais
du sirop de raisin ou du vin a ma volonté. C’est çá mon affaire de Vinerie et ca le meme que ja vous ai dit // [29] aussi bien
qu’a Monsieur Barbet, et je ne comprend pas porquoi il m’a envoyé ce fabuleux Devis.
Ma question est de savoir si la dessulfitation enleve presque tout l’SO2 introduit dans les moûts pour sa conservation, san
donner de mauvaise goût au moûts. C’a será possible?
S’il est possible, l’appareil Barbet en céramique qui travaille dans le vide á une temperature basse de 70º (temperature de
esterilisation), ne doit pas donner le goût de brulé. Quel est l’appareil de Monsieur Grangér? Ne sera-t-il pas la même chose que
l’appareil Barbet? Si l’appareil Barbet ne donne pas de resultat, celui de Granger ne marchera pas non plus.
Quant a l’evaporation qu’est-ce que je vais faire? Evaporer un moût de raisin ordinaire, aprés dessulfitation, dans le vide à
basse temperature, dans un appareil en cuivre avec un vide maximum et une evaporation trés rapide. Pour cá je ne vois pas de
difficultés si je obtiens un petit appareil specialment construit pour cá. Qu’est-ce que va faire Monsieur Granger? Naturellement
la même chose que Barbet.
Comme vous voyez aprés ma voyage á Paris je ne suis plus avancé que quand j’etait á Madère!! et ça me mets en embaras
sans savoir ce que je dois faire. Je partirai pour Lesbonne le six Janvier prochain mais comme vous pouvez bien le comprendre
je ne puis pas me fixer sur une base pour mes affaires futures.
Mon dernier mot est de savoir si les appareils de dessulfitation et evaporation de Barbet ou Granger donne le resul-//[30]tat
que je desire et au même temps si les prix est abordable pour une premiére experience, parce que si aprés je vois que le procédé
de dessulfitation et evaporation donne de bons resultats, je peus acheter das le future des appareils plus grands. C’est cá le
conseil que Monsieur Barbet m’a donné, et non son fabuleux devis!! Ce qu’il ma envoye c’est ma ruine... et de mes amis...!!
Affaire Vasseux: Je vien de recevoir un outre petits caisse avec levure en gelatine bien acondictionné. Le resultat du procédé
je vous dirai apres les esperiences avec le fluorure.
Affaires pharmacien: c’est meux finir avec cá parc-que il dit que c’est trez cher touts les appareils.
Affaire Lycee: Je domné au Directeur votre liste de produits, et il demande si les 2500 francs ne donne pas pour tout vous
pouvai depenser encore plus 1000 francs qui sont auctorisée par le Conseille.
Je desire a mes Amis Madame et Monsieur Lefebvre assi que [?] Madame e Monsieur Bisson une nouvelle anné plaine de
felicidades.
Votre Ami devué [Ass:] João Higino Ferraz //
215
[DATA: 26 de Fevereiro de 1920
DESTINATÁRIO: Ramiro de Magalhães]
[31] Funchal 26 Fevereiro 1920
Ill.mo Ex.mo Senhor Ramiro de Magalhães Porto
Meu Ex.mo Amigo e Senhor
Mais uma vez obrigado pelas suas amabilidades e de sua Ex.ma Esposa para comigo, a quem pesso fassa os meus respeitosos
comprimentos.
Junto envio-lhe o ultimo Catalogo que recebi de Barbet sobre apparelhos de destillação, como do pedido feito pelo nosso
amigo Senhor Julio Tornel. Barbet tem modificado um pouco os seus apparelhos, mas não tenho o catalogo ultimo d’elle nem
mesmo por elle se poderá vêr qualquer cousa que elucide sobre a obtenção de qualquer apparelho, a não ser quem conheça um
pouco as theorias de Barbet sobre destillação e retificação.
Se eu conseguir, como desejo, trabalhar ahi no Continente n’este anno ou no proximo sobre fabrico de vinhos e outros que
bastante me interessa e talvez ao meu Ex.mo Amigo, poderei com a minha fraca competencia sobre destillação e retificação dár-
lhe qualquer indicação que lhe // [32] pode ser util, e mesmo construir ahi um apparelho fundado nas mesmas theorias. Temos
em Portugal bons operarios, o que lhe falta é direcção technica.
Aqui fico pois a sua desposição e esperando a sua visita á nossa Ilha e crea-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:]
João Higino Ferraz //
216
n’avez pas chargé votre commission de 5% (?) comme vous auries du faire (!). Comme il y a un solde de 600 francs ils vous
prie de leur envoyer quelques outres appareils que leur puisse être utiles, quand même son montant aille jusqu’a 1000 francs,
en prelevant, bien entendu, votre commission, parce qu’ils paieront le solde a la maison Hinton.
Je vous en remercie de toutes les peines que vous avez eu avec toutes ces affaires, mas j’espere que une fois quelque chose
de faite sur la “Vinerie” a Lisbonne vous serez compensé de tous vos travaux parce que celle-ci etant une Compagnie il n’y a
pas raison de faire tou ça pour rien...
En faisant les meilleurs voeux pour la bonne sante de Madame votre fille, je vous prie de bien vouloir presenter les bons
compléments à toute votre famille et croire a l’assurance de mon amitié
Votre ami bien devue [Ass:] João Higino Ferraz //
217
Vou enviar tambem a doação de Maria da Luz de 100$00 fortes.
Importancia total a enviar = 2.049$96 fortes.
Se alguma cousa houver a pagar depois d’isto, eu adiantarei e será pago com os juros a vencer. Fica pois liquidados as nossas
contas até esta data, e se necessitares de mais dinheiro tens que enviar o livro da Casa Hinton para ser regularisado.
Saudades a todos, e um abraço para todos do teu irmão [Ass:] João Higino Ferraz //
291 Kieselguhr, isto é, diatomito [Sin.: kieselguhr; terra de diatomáceas; vasa de diatomáceas], uma rocha sedimentar silicosa, muito fina, constituída por
restos microscópicos de carapaças de diatomáceas [algas unicelulares, microscópicas]. É usado na química industrial como filtro para clarificar o açúcar.
292 Joseph Marliere.
218
encore prés de 300 kilogrammes de fluorure de soude que sera suffisant pour cette quantité de melasse á importer, en employant
a la proportion de 10 grammes par hectolitre de moût-ferment.
Les futures livraisons de Ferments doivent être toujours en Ampoules, et pas en tubes de gelatine, que n’arrive pas en bonnes
conditions.
Affaire particuliers: Quant á mes projets de Vinharia (Vignerie) sont, pour le moment, stationnaires pour deux // [41]
principelles raisons:
1er Les prix des vins en Portugal sont inabordables (400 francs hectolitre!) et encore la situation commercial et operaire sont
de telle forme qui será impossible de faire quelque chose de bon.
2º J’ai fait un nouveau contracte de trois ans (jusque 1922) avec la Maison Hinton, ce que m’oblige a une nouvelle prison
pendant ce temps ci.
Cependant je tiens toujours l’espoir que, une fois passé ces trois ans, les affaires en Portugal (et dans tout le Monde.!?)
changeront pour des meilheures conditions et je verrai, alors, ce que me conviendra faire.
Je vous remercie une fois de plus tout ce que pour moi vous avez fait sur ces sujets de Vignerie et croyez serai toujours
reconnaissant pour toute votre bonne volonté de m’être utile.
Mes respectueux compliments á Madame Lefebvre et a Madame et Monsieur Bisson.
Para o meu Amigo Lefebvre, um abraço do seu verdadeiro Amigo [Ass:] João Higino Ferraz
P. S. Je viens de recevoir votre lettre du 7 Juillet dont je vous repondes ici. [Ass:] Ferraz //
[DATA: ?
CARACTERIZAÇÃO: Relatório sobre o fermento e fermentação Vasseux]
[42] Raport sur la levure et fermentation Vasseux
Composition moyenne du melasse de canne:
Brix ..................................90,99
Sucre directe ................40,04%
“ Clerget ...............41,55%
Glucose ........................16,10%
Infermenticibles .............3,53%
Ce melasse n’a pas eté bien épuissée en vu du prix elevée de l’alcool.
Rendement en alcool rectifiée (vendu) % melasse: 31,3 litres alcool a 100º á 15 temperature.
Fermentation.
Active et pure Levure conservant bien pure jus’qu’a le fin (3 mois), en employer toujour 12 grammes de fluorure de soude
par hectolitre mût ferment.
Analyse moyenne du vin de melasse
Fermentation inecial – .........................10º Baumé.
Densite final..........................................2,6º “
Acidité inecial.......................................1,2 grammes par litre em SO4H2
“ final .........................................1,8 grammes “ “
Infermenticibles % vin .........................0,760
Alcool ...................................................6,96
Kilogrames de melasse par hectolitre = 21,525 kilogramas
[Ass:] João Higino Ferraz //
219
Soda caustica 2.000 “ Inglaterra
Fluorure de soda 450 “ França (Fermentações).
Nota Nº 1 – Se o Kieselguhr de Espanha, o seu custo é menor do que o de Inglaterra, convem vir, por isso que é de muito
melhor qualidade.
Nota Nº 2 – Segundo as analyses feitas por Monsieur Marliere293 o phosphato de cal Inglez contem 32% d’acido
phosphorico, emquanto que o de França (Lefebvre294) contem 40% acido phosphorico. Convem pois o phosphato bicalcique
Francez, em preço egual, por ser mais rico em acido phosphorico que é a materia activa.
Funchal 29 Julho 1920 [Ass:] João Higino Ferraz //
220
difficultées avec les choses á Londres; Monsieur Hinton298 c’est aperçu des avantages des prix Français sur les Anglais. En ce
qui concerne aux cuiseurs je suis á vous dire que vous deves nous en procurer un pour la prochaine Campagne. Francisco,
pauvre homme, est perdu, on peut bien le dire, car il est attaqué d’une tuberculeuse!, et alors nous ne pouvons rien compter sur
lui.
Manoel a fait un contract avec la maison Hinton. Quant au nouveau cuiseur a venir doit être un homme de travaille et pas
un Monsieur, parce que les choses ici avec le personnel sont // [47] bien difficiles.
Tous les amis vous font ses compliments.
Pour vous, Madame Marliere et fille, mes meilleurs sentiments.
Votre Ami devué [Ass:] João Higino Ferraz //
221
222
[Copiador de Cartas. 1920-1923]
DESCRIÇÃO: O título deste copiador foi atribuído por nós. Estamos na presença de livro, papel, as suas medidas são 26
cm x 20,5 cm, e encontra-se em bom estado de conservação. A numeração dos fólios foi por nós acrescentada a lápis.
223
224
[DATA: 5 de Outubro de 1920
DESTINATÁRIO: Harry Hinton; LOCAL: Inglaterra]
[1] Funchal 5/10/920
Ill.mo Amigo e Senhor Hinton
Á minha chegada á Madeira encontrei a sua carta de 23 ultimo, em que dizia para escrever a Marliere299 sobre o cuiseur, o
que fiz já, dezendo-lhe para arranjar um cuiseur, homem de trabalho e não um Monsieur, para não nos trazer dificuldades com
Manoel e os outros.
Melaço: Recebemos o seu telegrama de 4 corrente dizendo têr offerta de 1000 toneladas de melaço de refinação d’assucar
de canna com garantia minima de 50% assucar total (saccharose e glucose) entregue em outubro (corrente) em barricas, ao preço
de £ 19 (tendo £ 2 mais, isto é, £ 17), garantia de seguro contra derrames, cif. Funchal.
Acceitamos a offerta dizendo entendermos as barricas incluidas no preço. Sugerimos para o caso de têr menos de 50%
assucar total, uma deferença de £ 0.7.0. por tonelada e por cada 1% a menos dos 50, este simplesmente para nos garantir o
minimo do assucar e podermos calcular o seu rendimento em alcool. Contudo isto era para sua resolução, e nunca // [2] para
crear dificuldade á transação, que deve ser feita, custe o que custar, afim de termos o melaço no prazo concedido pelo governo.
Carlos Fernandes telegrafou-me um d’estes dias offerecendo melaço d’Africa do Orey, como esperiencia, uns 200 ponches
ao preço de £ 13 tonelada cif. Funchal no vapor d’elles (enviando nós os ponches e um tanoeiro), garantia de 50º polarisação
directa. Por cada grau mais ou menos, indiquei (segundo o pedido de C. F.300) £ 0.6.0 por tonelada e grau, tanto para mais como
para menos. Como porém não sabiamos se sempre viria o melaço de Inglaterra em vapor ou barcaça, não podiamos despensar
os 200 ponches, por isso que somente tinhamos 500 cascos despuniveis, e assim ficariamos somente com 300 que seriam
insuficientes para uma descarga rapita[sic].
Como porém, com essa sua nova offerta, o melaço virá em barricas, logo que receba o seu telegrama de confirmação de
compra, vou telegrafar a C. F. dizendo-lhe que pode contar com os ponches (200), porque este melaço d’Africa tem um preço
bastante vantajoso, e como calculo o melaço não conter mais de 42º polarisação, ficaria a £ 10.12.0 por tonelada cif. Funchal,
e o alcool ficaria de 1$200 reis por litro. //
[3] Lembro-lhe tambem que na Factura do Melaço ao preço de £ 19.0.0 por tonelada deve incluir o custo da barrica a £
0.12.0 cada uma, ou mais se assim intender, para que o preço do alcool seja mais elevado e podermos obter melhor conseção
no preço do alcool feito pelas entidades officiaes.
Vendo esse melaço em barricas, ficar-nos-ha uma grande quantidade d’ellas que podem servir no futuro para enviar á Africa
para a vinda de novo melaço, e assim até aos fins de Fevereiro talvez podessemos importar as 2000 toneladas totaes auctorisadas
pelo Governo, o que seria de grande vantagem para nós.
Espero pois que fechará o contracto com o melaço que será uma grande cousa e um bom negocio tanto presente como futuro.
Malte: Espero que não se esqueça da vinda do malte-pale, porque tenho muito interesse em fazer esperiencias, e mesmo para
que o melaço a fermentar dê melhor rendimento, devido a essas materias nutritivas (milho e malte). Vão ser importadas grandes
quantidades de milho, e assim podemos obter facilmente milho, mesmo que o seu preço seja de 400 reis por kilo. //
[4] Lembro-lhe tambem a compra de um pequeno moinho para moêr a cal, egual ao que existe no saniamento, mas para um
trabalho maximo de 5000 kilogramas em 12 horas. Não podemos contar no anno proximo com o emprestimo do da Camara
Municipal, e se temos que fazer adubos com os tourteaux, esse moinho é indespensavel.
Carvão: O que me está dando mais cuidado é o Carvão para a Laboração, visto as greves ahi em Inglaterra. Marsden escreve-
lhe n’esse sentido.
Logo que receba o seu telegramma da confirmação de compra do melaço em barricas, vou telegrafar a C. F. não sô
garantindo os 200 ponches para o melaço d’Africa, como tambem uma garantia de podermos enviar pelo menos <de> umas
3000 barricas (?) para o mesmo fim no prazo a indicar, porque as barricas ficaram despejadas logo á sua chegada.
Sem mais que lhe possa dizer (da minha parte) desejo-lhe as suas felicidades Seu Amigo Attencioso e Obrigado [Ass:] João
Higino Ferraz //
299 Joseph Marliere.
300 Carlos Fernandes.
225
[DATA: 5 de Outubro de 1920
DESTINATÁRIO: Carlos Fernandes]
[5] Funchal 5/10/920
Meu Caro Carlos
Depois da minha ultima carta de 30 proximo passado recebemos um telegramma do Senhor Hinton301 fazendo offerta de
1000 toneladas melaço de refinação em barricas cif. Funchal, garantia de 50% assucar total, entregue no corrente mez, ao preço
de £ 19.0.0. (já se vê tem £ 2.0.0. a mais) por tonelada. Acceitamos a offerta, contando que as barricas estão incluidas no preço.
Temos pois que, se esse melaço vier, como espero, podemos despor dos 200 ponches para o melaço d’Africa, e ainda mais
umas 3000 barricas, que não sei qual a capacidade, mas calculo que seja de 200 kilogramas melaço cada uma, e assim as 1000
toneladas seria 5000 barricas. Como porém algumas podem vir em más condições podes contar somente com 3000 barricas
(vindo o melaço). Logo que receba telegrama de confirmação de compra vou telegrafar-te, dizendo poderes contar com os 2000
ponches e mais 300 barricas.
Ora, 200 ponche serão ...........................................110 toneladas
3000 barricas a 200 kilogramas ....................600 “
Total ................................................................710 “ melaço
Teu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz //
226
Para nós, o resultado real será assim: //
[8] Por tonelada melaço
£ 17.16.0 ao cambio actual 23$00 ......................................= 409$40
Direitos ...............................................................................= 9$00
Descarga e carretos etc. ......................................................= 6$00
Fabrico actual de 350 por litro alcool
sobre 256 litros (como abaixo explico)...............................= 89$00
Custo de 256 litros................................................................. 513$40
Custo por litro 2$00 pouco mais ou menos
Para o calculo provavel do rendimento estableço o seguinte e no minimo: Melaço de refinação com 50% assucar total, e
calculando este melaço conter rafinose infermenticivel deve ficar aproximado 3% de infermenticiveis, restando pois 47%
assucar fermentavel, que ao redimento minimo de 58 litros alcool % saccarose fermentavel dará pouco mais ou menos 27 litros
alcool %.
Calculando porem uma quebra minima de 5% do melaço não garantido pelo seguro, a tonelada melaço dará 950 kilogramas,
que ao rendimento acima será os 256 litros alcool no minimo por tonelada. O fabrico está calculado a 350 por litro devido ao
custo actual dos salarios, carvão e acido. Deve pois o alcool ser fixado em um minimo de 2$80 por litro para o geral e 2$60
especial ficando-nos uma media de 2$700 que nos dará um lucro nas 1000 toneladas de = 179:200$00
Parece-me porém que se poderá render para o geral a 3$00 por litro, e assim dár-nos-há um lucro medio de 203:400$00 nas
1000 toneladas. // [9] Quanto á pezagem do melaço, estou combinando com Barros e Pinheiro, a vêr a melhor forma de o fazer,
ou ser o melaço medido e calculado como faziamos com o que vinha em vapor tanque, porque assim pode-se mais facilmente
dár uma quebra meior, e a despesa de pesagem ficará eleminada, porque actualmente deve custar cara e são 4000 barricas a
pesar, ou então pesar somente umas tantas barricas (das mais vasias) e calcular assim o total. O que deve porém é aparecer
sempre a tara das barricas por causa do seguro. Vamos fazer pois pelo melhor dos seus interesses.
Quanto ao fermento estou á espera de uma dose que mandei vir de Vasseux, e que Lefebvre303 me diz já ter embarcado.
Contudo não vindo o novo fermento a tempo, tenho aqui ainda umas ampolas que as farei desenvolver quando receba o seu
telegrama, 15 dias depois, porque antes de 30 dias o navio não pode estar aqui (depois do telegrama de sahida). Sô tenho 3
cascos de melaço aqui, e não me convem adiantar demasiadamente o principiar o fermento
O primeiro lote que fizer, mandar-lhe-hei o rendimento como deseja. //
[10] Apparelho de Moer Cal: Depois de lhe ter escripto a minha ultima carta de 5 corrente, fiz com Marsden uma esperiencia
no Desintegrador que cá temos, isto é, o apparelho que em tempos se mandou vir para reduzir o assucar a po, que com a cal
cosida deu perfeitamente o resultado de reduzir a cal ao estado desejado, e assim não é necessario vir o moinho como lhe tinha
falado.
A Lefebvre já fiz a encomenda do malaxeur (de occasião) preparador de Melasse Cuite para reduzir o tourteaux a pequenos
pedaços e ser assim mais facil o ataque da cal ao tourteaux.
Forno Kher para coser cal sem fornalha: Vi o orçamento do forno que acho custo muito elevado, e mesmo montado com
tantos aperfeiçoamentos que para a pequena quantidade de cal a coser não vejo grande necessidade, taes como o elevador
hydraulico etc.
O que nos necessitamos é um Kher de 10 metros cubicos de capacidade <util>, e que poderá coser 800 a 900 kilogramas de
pedra por 24 horas e por metro cubico, o que dará aproximados 4000 kilogramas de cal cosida por 24 horas, que é mais que
suficiente para as nossas necessidades, de defecação e desidratação do tourteaux. //
[11] O forno deve têr, calculo eu, as seguintes dimenções <medidas exteriores > para uma capacidade total de 13 metros
cubicos (10 metros cubicos uteis):
Com 4 columnas fundidas de suporte A de 2,30 metros para suster o forno. Deve vir tambem uns 10 vidros de nuca para os
regardes de 100 milimetros de diametro. Os tejolos refratarios de boa qualidade, devem já vir com a forma a se poder montar
sem os cortar, e isso sera facil, calculando pelo diametro, qual a forma d’elles e a sua quantidade (calculo tejolos de 150
milimetros de comprido).
O diametro interior, contando com os tejolos, deve ter aproximadamente 1,70 metros na base mais larga <B>, e 1,20 metros
na parte superior <C>, com 0,50 metros de entrada <D> da pedra e coke, e 0,50 metros na sahida da cal cosida E.
O forno como a casa Petit, Wicart, Cousin – France proponha, não nos custaria menos, montado aqui, de 50.000$00!! o que
303 Georges Lefebvre.
227
me parece exagerado para o nosso caso. Alem d’isso pedem 6 mezes para a construcção, e assim não poderiamos têr o forno
montado para 1921. Mesmo que a construção se fassa como diz na sua carta, é bom calcular o tempo que temos para a
montagem, e vêr se convem vir a pedra // [12] de cal e coke para 1921, isto é, 450 toneladas de pedra de cal e 45 toneladas de
coke, calculo para 25.000 toneladas canna.
Ainda o Melaço: Vejo pela carta do Senhor Bardsley que está tratando da compra de mais 1000 toneladas de melaço, mas
faço-lhe notar que esse melaço deve estar aqui o mais tardar até 25 a 27 – Fevereiro do anno proximo, segundo a auctorisação
da importação consedida pelo Governo.
Se vier ou conseguir mais essas 1000 toneladas, fica prejudicado o que C. Fernandes304 está tratando com o Orey, e seria
bom telegrafar-lhe sustendo essas negociatas d’Africa por este anno
Envio-lhe uma pequena carta de Carlos recebida agora. Para o proximo anno teremos barricas suficientes para mandar para
a Africa, cujo transporte para elles seria muito mais comodo que ponches.
A questão do augmento do preço do assucar tem dado sarilho, e naturalmente o Senhor Bardsley escreve-lhe sobre o
assumpto.
O tempo está explendido para a canna, tem chuvido regularmente bem e sem vento, e a canna apresenta uma bela aparencia.
Antes assim.
Sem mais por emquanto subscrevo-me Seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
228
[DATA: 23 de Outubro de 1920
DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre]
[14] Funchal 23/10/920
Mon Cher Ami Monsieur Lefebvre
J’ai bien reçu votre lettre de 6 courant ce que je vous en remerci et reponds.
Aluminate de baryte: Nous vous envoyons deux échantillons, le Nº 1 de 1918 celle dont nous avons réclamé contre sa
mauvaise qualité. Nº 2 de 1919 de qualité normal. Anterieurement á celli-ci nous n’avons aucune.
Quant au nouveau aluminate de baryte a livrer, je procederai en rapport á votre lettre, c’est a dire, je le laisserai en
dissolution á chaud pendant un delai plus long. J’ai une installation suffisante pour çá.
Quant á Vasseux parfaitement d’accord, et vous pouvez nous envoyer 500 kilogrammes de Fluorure.
Broyeur de Masse Cuite; pour les ecumes (tourteaux dures) des filtres presses: Je vois tou ce que vous me dites sur la
difficultée d’en obtenir en occasion, mais ca se peut que vous pouvez encore en trouver un dans ces conditions.
Comme nous n’en avons besoin qu’au mois // [15] d’avril il arriverait bien a temps vers le fin de mars du procheine année.
Je vous rappele que l’appareil ne soit ni trop petit ni trop grand, une grandeur moyenne, pour traiter 10.000 kilogrammes de
tourteaux par 24 heures.
Nos meilleurs respects pour non[sic] Ami Lefebvre et toute sa famille.
Je vous prie, mon cher Ami, de croire á l’assurance de ma meilleur amitie. [Ass:] João Higino Ferraz //
229
[DATA: 27 de Outubro de 1920
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[19] Funchal 27/10/920
Ill.mo Amigo e Senhor Hinton
Recebi a sua carta de 19 do corrente, o que muito lhe agradeço.
Estimo bastante que tenha tido sempre boa saude e que se divirta na Escocia.
Vejo o que me diz sobre o melaço, e logo que tenha noticias da sahida do navio dos Estados Unidos, vou calcular o tempo
de viagem de 25 dias para dar principio ao fermento de forma a que á chegada do melaço tenha tudo prompto a principiar as
fermentações no Torreão e Comp.ª Nova.
Já recebi de Lefebvre308 duas doses de fermento Vasseux fresco, de forma que os fermentos vão assim mais rapidos.
Vou porem fazer-lhe um raporte aproximado do trabalho a effectuar em 1920 a 1921 para seu governo futuro.
Principiando pelo melaço a vir, que deve estar aqui até 27 Novembro: 1000 toneladas.
Principiando regularmente as fermentações em 1 Dezembro, tenho 23 dias de trabalho n’esse mez (24 a 27 feriados) de
1920.
Trabalho nas duas fabricas em 23 dias = 520 toneladas Melaço. //
[20] Producto aproximado em alcool até 31 Dezembro 133.000 litros [.]
Restará pois 480 toneladas melaço para 1921, que a 23 toneladas por dia nas duas fabricas, são 21 dias do mês de Janeiro
1921.
Producto em alcool de 1 a 21 Janeiro 123.000 litros. Ficará pois as primeiras 1000 toneladas melaço destillado até 21
Janeiro.
As novas 1000 toneladas a vir (2º carregamento?) devem estar aqui no Funchal a 19 Janeiro proximo, para não parar com
as fermentações.
Essas 1000 toneladas serão fermentadas e destilladas em 50 dias nas duas fabricas.
Temos pois, 10 dias do mez de Janeiro
28 “ “ Fevereiro
17 “ “ Março
Teremos talvez todo este alcool (520 a 530 mil litros) vendido ate 15 abril.
Em Abril principia a Laboração, que calculo produzir como em 1920, uns 300.000 litros alcool
Devemos calcular para 1921 uns 600.000 litros alcool,
e como temos da Laboração 300.000 litros
do melaço importado em 1921 270.000 “
Total para 1921 570.000 “
Vejo pois que em 1921 so poderemos importar melaço (obtendo nova liçença) nos fins do anno de 1921.
Seu Amigo Attencioso Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
230
dificuldade no consumo sô para vinhos.
Forno de Cal: Vejo o que me diz sobre isso, e espero que virá a tempo de montar-mos para a futura laboração, no caso de
vir as chapas da camisa já cravadas.
Quanto ao local que deseja ser montado (no armazem das cannas), fica bem na esquina Norte do armazem sem prejudicar
a arrumação de cannas nem o trabalho das gruettes eletricas da canna. A altura d’esde o chão até á parte superior (chão) tem 8
metros e até ao teto tem 11 metros, de forma que fica espaço bastante em altura para o forno.
Quanto aos pilhares de pedra e cal não tenho confiança <ou [...]> n’elles, mas vendo com Marsden a forma mais facil de
fazer, encontramos os eixos antigos do engenhos [sic] que de nada servem, e que, dão umas columnas de primeira ordem e com
altura mais que suficiente. Fica pois esta parte arrumada.
Barros levou um tratado meu sobre assucar ao Feliciano para lhes mostrar um forne de cal e elle disse que pagava como
machina industrial. //
[23] Laboração de 1921: Qual será o preço do açucar em 1921? Isto dá-me que pensar, porque vejo os preços mundiaes
descerem e não sei onde isso irá parar. Para nós o que nos val é o cambio alto. Mas continuará assim em todo o proximo anno?
O que fará o Governo com relação ao imprestimo que querem fazer em £?
O que eu vejo é que, senão damos em 1921 os 2$00 por 30 kilogramas canna, o lavrador pode arrancar as cannas, devido
ás dificuldades cada vêz meiores no cultivo, e melhor renumerado em outras culturas.
Calculemos porém que em 1921 compramos a canna a 2$00 por 30 kilogramas = 66$666 por tonelada, que vendemos o
açucar no minimo por groço a 1$26 por kilograma, mas que teremos, n’esse caso, de vender o alcool de melaço e jus diffusão
a 2$60 por litro em 40º, e calculando o rendimento de 1920, e o preço do fabrico (devido ao carvão e pessoal) em 24$73 por
tonelada canna qual será o resultado?
Por tonelada canna
Custo da tonelada canna ...................................66$666
Fabrico (em 1921) .............................................24$730
Lucro como em 1920 (?) ................................ 60$000
Custo total .......................................................151$396
Nota: Este lucro bruto de 60$00 por tonelada canna é calculo meio[?] em 1920, mas não tirando senão despezas de
fabricação. //
[24] Venda dos productos:
89,400 kilogramas assucar turbinado a 1$26 por kilograma ............112$644
15,5 litros alcool melaço e jus a 2$60 por litros .............................. 40$300
Venda productos.................................................................................152$944
Como vê, se o assucar não descer a preço que sejamos obrigados a acompanhar, teremos um lucro egual a 1920, mas será
indespensavel conservar o preço do alcool no minimo de 2$60 por litro, que é mais facil. Assim podemos competir com as
fabricas de aguardente no preço da canna, e dar a H. Figueira309 uma pequena lição, que lhe servirá para o futuro.
Sem mais por emquanto, subscrevo-me seu Attencioso Amigo [Ass:] João Higino Ferraz //
231
Lapierre?) mostra ter: Saccharose – 33,25
Glucose 9,40
o que dá em saccarose total de 61,18%, cujo rendimento em alcool seria de 33 litros % melaço!! o que é um bom rendimento.
O que eu não percebo é a polarisação directa de 16,8!! o que quer isso dizer? A polarisação é sempre a percentagem em
saccharose, e assim a polarisação deveria ser pelo menos 30 a 31, se a saccarose analysada é Clerget.
Como o contracto, segundo dizias em uma tua carta, era o melaço ter pelo menos 50 de polarisação directa, esse melaço
comprado n’essas condições sahiria aqui quase de graça!!
Desejava ter aqui esse melaço para uma analyse, e eu vêr pessoalmente o que elle é. Da analyse feita ahi, não percebo nada.
Um abraço do teu Amigo certo [Ass:] João Higino Ferraz
P. E.[sic] Saudades a Henrique310 e aos amigos d’ahi. [Ass:] Ferraz //
232
Já tenho hoje o fermento em bom andamento e amanhã (24) vai para a pipa do fermento puro, e assim a 26 ou 27 tenho o
fermento prompto. // [30] Quanto á percentagem em assucar total 64%, segundo a analyse feita, naturalmente pela Fabrica
vendedora, fico á espera do melaço para verificar se essa analyse é verdadeira, porque confesso, acho um pouco elevada a
percentagem para um melaço de refinação, a não ser que a refinaria trabalhe muito mal…
O melaço das nossas refinações aqui na Fabrica, nunca mostraram mais de 55% assucar total em saccharose e glucose.
Se porém esse melaço importado tiver os 64% dito por elles, o seu rendimento minimo será de 36 litros alcool a 100º por
100 kilogramas melaço. Com 50% assucar total rendimento será 28 litros no maximo. Isso seria um magnifico negocio, mas
continuo a duvidar de semelhante percentagem de 64%.
Quanto aos obus do acido sulfuroso (SO2) que ahi estão, acho melhor ou entregal’os ou vendel’os, porque devem dár muito
dinheiro actualmente. Esse acido sulfuroso não se emprega agora nas fermentações por isso que empregamos o fluorure de soda
do processo Vasseux.
Quanto á turbina de Gee, não posso comprehender como elle para a lavagem das borras e seccl’as[sic], isso são segredos da
engenharia, que quando se // [31] fizer as esperiencias se verá o resultado. Parece-me porém que elle gosta muito de vesitar a
Madeira.
Quanto ao forno da cal é bom o Senhor Hinton vêr bem se podemos ter o forno montado para a proxima Laboração, porque
no caso contrario teremos que importar umas 50 toneladas de cal cosida como fazemos todos os annos. Não trabalhando o forno
na proxima laboração acho melhor não vir a pedra de cal nem o Coke.
O forno porém pode se dár desde já principio á montagem, para servir em 1922, e assim ter bastante tempo para a montagem
e deixar seccar bem as juntas dos tejolos.
Como segundo me dizem, deve partir para Lesboa a 12 ou 13 de Dezembro este será a ultima para Londres.
Sem mais subscrevo-me seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
233
A analyse feita na America dá em saccarose tottal .........................= 62,85%
Vê pois que a minha analyse deu mais 1,74% assucar, e vejo que está certa, por isso que todas as percentagens estão propor-
//[34]cionaes com relação á analyse da America.
Não posso porém percisar bem qual o rendimento d’este melaço sem vêr qual a percentagem de infermenticiveis que contem
o melaço, e isso só posso vêr depois da fermentação terminada. Como sabe, este melaço é de refinação e contem pois rafinose
que em parte é infermenticivel. Calculando porém nas peores condições, isto é, que contenha 4,59% de infermenticiveis, restará
em assucar fermenticivel 60% que calculando um minimo de 58 litros alcool % saccarose, dará 34,8 litros alcool por 100
kilogramas melaço.
Pode porem dár 35 a 36 litros, mas é melhor calcular pelo minimo, do que têr uma decepção. Como vê o rendimento é bom
e dár-nos-há este primeiro carregamento aproximados 300.000 litros alcool. Se o segundo carregamento nos dêr 280.000 litros,
ficaremos com um total de 520.000 litros a vender.
Preço do alcool: É minha opinião que o preço do alcool não deve ser superior a 3$30 por litro, e isto por varias rasões, sendo
a principal o desdobramento que é necessario que se dê largas a que se possa fazer, porque no caso contrario não podemos
vender todo este alcool e mais o da Laboração de 1921, que não deve ser inferior a 270.000 a 300.000 litros e teremos assim
em alcool total a vender 880.000 litros!!
Uma outra rasão tambem atendivel, é que // [35] o preço do alcool do melaço da canna de 1921 não deve ser inferior ao
preço establecido para o melaço importado, isto é, 3$30 por litro, por isso que vamos têr muito alcool do melaço importado
quando se fassa o nosso da canna.
Teremos ainda que nos garantir contra a possivel baixa do assucar, e assim tendo o alcool por um preço mais elevado,
podemos pagar a canna melhor sem têr que subir muito o preço do assucar, como já na minha ultima carta lhe fazia estas
considerações.
Isto mesmo tenho exposto ao Senhor Bardesly e Belmonte, e aqui deixo exposto, para que no futuro não tenha
responsabilidades pessoaes.
Dei hoje principio ás fermentações, mas vejo-me na necessidade de empregar o milho como materia nutritiva para os
fermentos, como já lhe disse, por isso que este melaço sendo muito puro não tem materias azotadas suficientes para a
alimentação d’elles. Não fiz porém nada sem primeiro fallar ao Pinheiro sobre o emprego do milho, e elle auctorisa por vêr que
é indispensavel. Por este lado pois não há duvidas.
Fabrica de H. Figueira314: Chegou-lhe mais uma fabrica que comprou nas Canarias… isto é, mais ferro velho. Vou porém
dizer-lhe o que pude apurar // [36] com relação á montagem e suas edeias, ou por outro, do technico espanhol, e os meus
calculos.
Para 1921, ficará a fabrica com 3 moinhos sguidos[sic] para a imbibição entre os moinhos, que poderá fazer uma extração
aproximada de 90%. Comp.ª Nova tem uma extração de 92% nas mesmas condições de estalação[sic]. Nos temos 96%. O novo
triple que lhe veio (de 45 metros quadrados superfice de evaporação cada caixa), apenas monta uma das caixas junto ao antigo
triple formando um quadruplo effeito que ficará com 180 metros quadrados de superfice de evaporação, (Nos temos no nosso
triple 510 metros quadrados).
Tem mais uma caldeira de vacuo de 100 Hectolitros ficando pois com duas de 100 Hectolitros cada. Novos clarificadores,
filtros-prensas etc. Nas melhores condições esta Fabrica poderá fazer por 24 horas 150 toneladas canna. Calculando a canna
com 12,5% assucar e com a extração de 90%, tira da canna 11,250 kilogramas assucar que com um rendimento em turbinado
de 75% (nós tiramos 78%) em turbinado = 8,400 kilogramas assucar vendavel e 3,500 kilogramas de melaço. Pode assim pois
vêr as condições do seu competidor.
Sem mais por emquanto que lhe possa dizer subscrevo-me Seu Attencioso Amigo [Ass:] João Higino Ferraz //
234
até ao fim. Esta descarga foi rapida trabalhando somente das 7 <manhã> as 5 da tarde, e o transporte por automoveis camions
é um serviço esplendido.
Comp.ª Nova principia hoje as fermentações. Quanto á fermentação aqui no Torreão vai correndo regularmente, e a
fermentação é bastante activa d’esde que principiei a empregar o milho saccharificado. Tenho que fazer dois cosimentos por dia
para os fermentos, que corresponde a 400 kilogramas milho por 24 horas.
Por uma analyse que fiz do milho (branco) vejo que contem 67% amidon, que ao rendimento de 57% amidon, dará em alcool
38 litros % milho. O custo total por tonelada milho, incluindo o fabrico, é de 833$00. Dá pois um lucro razoavel este processo.
Seu Attencioso Amigo [Ass:] João Higino Ferraz //
Na minha ultima carta dizia-lhe que a fermentação era bastante activa, o que effectivamente assim parece ao principio, mas
este maldito tem uma fermentação complementar longa; e vi-me na necessidade de baixar a densidade da fermentação, que a estava
fazendo a 10º Baumé para 9º Baumé e empregar acido no mosto geral porque o melaço é ligeiramente alcalino. Se não empregasse
a saccharificação do milho, como meio nutritivo, isso seria do diabo, porque teria deficuldades em fermentar este melaço. Vejo
que elle contem 5% de infermenticiveis que naturalmente é a rafinose ou malabiose. Contudo o rendimento deve ser bom, isto é,
não baixará de 34,8 a 35%. Quanto ao rendimento do milho, como meio nutritivo, é de 33 litros alcool % milho. Emprego na
proporção de 25 kilogramas milho por tonelada melaço, e é o minimo que se deve empregar para um melaço n’estas condições.
Comp.ª Nova é que ainda não principiou // [39] a fermentação regular, porque os fermentos que lhe tenho enviado, teem-se
perdido, devido aos sulfatos de cobre: hoje porém já o fermento principia a dar alguma cousa e com hoje já são 20 ponches de
fermento que lhe envio!!
Não calcula quanto estou aborrecido com isto, não pelo rendimento que vejo ser bom, mas pelo tempo que levará a fermentar
e destillar estes dois carregamentos. Calculo que teremos melaço a fermentar até 30 de Março proximo, e assim, quando dêrmos
principio á Laboração, ainda vamos ter alcool d’elle para vender.
O segundo carregamento que vamos receber, vejo pelas analyses enviadas que é um pouco mais pobre em assucar, e
calculando da mesma forma que o primeiro, vejo que dará um rendimento de 30%, e assim o rendimento medio dos dois
carregamentos não se deve calcular mais de 32%, e é sobre essa base que se deve establecer o preço do alcool.
Na minha carta de 4 corrente, dizia-lhe que deveriamos ter d’esde Dezembro 1920 á 31 Dezembro 1921, aproximados
880.000 litros alcool (incluindo o da Laboração), mas vejo que empregando o milho devemos ter pelo menos 900.000 litros
alcool, por isso que o 2º carregamento é um pouco meior que o 1º. //
[40] Barricas: Sobre este assumpto, devo prevenil’o que não deve vendel’as em Lisboa, porque estou a vêr que H. Figueira315
quêr vêr se obtem barricas d’essas para enviar para Africa (ao Orey) para lhe vir melaço, e isso de modo algum convem. O
Pinheiro desejava obter essas barricas para negociar e ganhar assim alguma cosa, e conviria muito ajudal’o, mas de forma
alguma para serem vendidas em Lisboa. Para os Açores poderá ser, e eu vou falar-lhe com toda a franqueza, e dizer-lhe que não
desejamos vender pau para apanhar com elle! Eu mesmo sou de opinião agora, depois cousas que sube, que seria melhor metter
n’um envelope uns 200$00 ou 300$00 escudos e enviar ao Pinheiro, e não vender barrica alguma.
Por uma experiencia que fiz cada barrica tem:
Peso de madeira 23,500 kilogramas
“ do arco de ferro 5 kilogramas
Teremos pois:
Valor da madeira como combustivel equival
a 6 kilogramas carvão a 250 por kilograma ................= 1$50
5 kilogramas arco de ferro a 1$50 por kilograma .......= 7$50
Valor da barrica.............................................................. 9$00
Por conseguinte, fornalha com a madeira, com arco vendido, reservando uns 2000 barricas para futura importação melaço
Africa.
Seu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz //
315 Henrique Figueira da Silva.
235
[DATA: 27 de Junho de 1921
DESTINATÁRIO: Antoine Germain; LOCAL: Málaga, Espanha]
[41] Madère 27/6/921
Monsieur Antoine Germain, Ingénieur Civil, Malága, Espagne
Monsieur et Cher Collegue
Jai bien reçu vos lettres en bon temps, seulement le temp ma beaucoup manqué pour pouvoir y repondre plus tot. Suivant
les demande que vous me faites, je peu vous dire que nous employons ici le procedé Fribourg pour la filtration total des jus et
que nous employons le Kieselguhre et le phosphate bi calcique 50% de chaque aprés sulfitation et neutralisation de ces jus par
la chaux.
Le Kieselguhre et le phosphate se met à la dose suivant la pureté des jus, plus il sont pur; moin il en-faut, ceci-est un point
ou chaque usine doit chercher. Ces jus sont ensuite chauffé a 95º et passée aux filtres-presses.
Pour donner a la Sociedad Asucarera Larios tous les renseignements sur place, et indiquer les changements necessaires dans
leurs usines, pour qu’ils puisse travailler sans difficultées, je leurs demand mes voyages aller et retenu[?] de Lesbonne a Malága
hotels et un montant de 5000 pezetas (cinq mille). //
[42] Je peux y aller au mois d’Aout prochain en restant la dix à quinze jours.
Se la maison Larios accepte mes conditions quelle veuille bien me le confirmer par lettre à Lisbonne, 6, Largo do Corpo
Santo conta[?] William Hinton & Sons
Croyez, cher Monsieur et Collegue, a l’assurence de ma consideration trés distingue [Ass:] João Higino Ferraz //
236
[DATA: 1 de Setembro de 1921
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[46] Braga 1/9/921
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Recebi a sua carta de 24 ultimo acompanhando a carta (copia) de Ricard e a sua resposta, que acho bem. Contudo, quando
chegar a Lisboa, que deve ser entre 12 a 13 do corrente, vai-me permitir que eu pessoalmente (como director tecnhico) diga a
Ricard qual o nosso fim no emprego do Ginal, que não é para facilitar a filtração porque essa a fasso perfeitamente pelo processo
que usamos, mas sim para conseguir um jus bem alcalino (0,40 gramas CaO por litro), e que feltre bem com esta alcalinidade,
e poder-se depois da filtração em Filtros-Presses fazer uma sulfitação profunda do jus afim de obter um xarope puro e claro
(amarello), como das nossas esperiencias de laboratorio.
Vou tambem responder officialmente (já o fiz pessoalmente) a Lefebvre317 e Marliere318 á minha chegada a Lisboa.
Vejo o que me diz com relação ao França Doria, e já Tristão319 me tinha escripto sobre isso. Esse typo é um verdadeiro
vigairista, e parece impossivel que um melitar da sua graduação fizesse semelhante papel! Por isto se vê como vai em Portugal!..
tudo perdido Senhor Hinton! // [47] Ném já no exercito e patentes elevadas á dignidade!
Mas vamos a tratar o homem como elle o merece. O que eu desde já vejo é que elle nada fará, e o seu único fim é obter uns
contitos de reis, e venham elles seja de que forma fôr… As razões por que eu acho que elle nada fará são as seguinte:
1º Na Lei de 1901 auctorisa a destillação de vinho feita pelos viticultores, e essa lei está em vigor? Se assim é, somente é
auctorisado a cada viticultor pessoalmente, e n’esse caso não pode um viticulcor[sic] qualquer comprar vinhos para destillar e
negociar. Se o destillar como seu, arrisca-se a pagar no anno seguinte a contribuição perdial correspondente aos productos que
confessa seus, o que na Repartição de Fasenda não está coletado. Quanto aos outros viticultores destillarem em seu proprio
nome, isso é um pouco mais dificil, porque estou certo somente o faram recebendo pelo vinho um preço renomerador[sic]
2º Esse apparelho de destillação portatil, que eu sei ser de Egrôt, apenas tirar[sic] aguardente a 25 a 27º Cartiere bruto; é um
apparelho de facil transporte para as estradas do continente; mas para a Madeira como? Além d’isso a Lei deve dizer que essa
aguardente é simplesmente applicada ao tempero do mesmo vinho do propriatario e nunca para venda com a bebida em taberna
porque assim deve pagar o imposto. //
[48] 3º Mas calculando mesmo que elle possa destillar, e vender a aguardente a seu bello prazer: A como lhe ficará a
aguardente, ou por outra o alcool em 40º Cartiere, para concorrencia com o nosso alcool de melaço? Tenho a empreção que no
corrente anno o preço do vinho não será inferior a 12$00 por barril e isso por varias razões.
Calculando pois uma media no vinho de 10% alcool, o rendimento de 10 barris de vinho (450 litros) deve ser de 45,6 litros
alcool em 40º Cartiere. Tirando as despesas de fabrico, deve-lhe ficar o alcool em 40º a 3$00 por litro.
Se o vinho fôr comprado a 10$00 por barril ficar-lhe-há o alcool em 40º a 2$50. Como vê a concorrencia não mete medo!...
4º Para produzir os 200.000 litros alcool da sua ameaça, elle necessita destillar 4390 pipas de vinho, isto é, lá vai o vinho
todo da Madeira!!...
Como elle diz que comprando o vinho a 8$00 ganhava cem contos, vendendo alcool a 3$00 (?), isso deve ser contos de fada,
porque a aguardente ou alcool em 40º lhe deve ficar a 2$11 por litro; E em 100.000 litros que elle venda em concorrencia que
não será superior a 2$50, apenas poderia ganhar 39:000$00. Quanto tempo lhe levaria a destillação de 2.200 pipas vinho? //
[49] Naturalmente mais de 6 mezes, tempo mais que suficiente para termos o alcool de 1922 por um preço inferior a 2$00 por
litro.
Por tudo isto, Senhor Hinton, não vejo razões para recear o nosso vigairista coronel.
Ainda não recebi carta de Carlos320 participando a sua chegada a Lisboa, e não sei pois se sempre veio ou não.
Conto seguir para ahi no dia 20 pelo “San Miguel”, se não houver qualquer cousa que não o possa fazer.
Sem mais por emquanto, crêa-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
237
[DATA: 10 de Setembro de 1921
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[50] Lisboa 10/9/921
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Como me diz Henrique321 o Senhor Hinton deve partir da Madeira para Lisboa a 19 do corrente, e eu devo partir no “San
Miguel” de 20, não nos encontraremos, e assim deixo-lhe esta carta, acompanhando a copia da carta que escrevi a Ricard sobre
o emprego do “Ginal” conforme combinei comsigo na minha ultima de 1 do corrente.
Tem porém esta tambem por fim dizer-lhe o que a mim me parece melhor fazer em 1922 com relação á nossa futura
exportação de açucar para aqui (Lisboa):
Como vejo sempre as mesmas dificuldades na colocação do nosso açucar cristallisado, mesmo que bastante branco, em
Lisboa ou provincias devido em grande parte ao habito dos consumidores sô gostarem do assucar refinado-areado com aquelle
gosto especial carateristico, seria talvez mais vantajoso exportal’o d’ahi já refinado-areado, obtendo-se assim não somente uma
facilidade de venda directa ás casas de atacados sem passar pelas refinarias e assim tambem um // [51] preço mais elevado, que
não seria menos de 100 a 150 reis por kilograma, com a grande vantagem que este typo d’assucar nos daria 10% mais no pezo
depois de refinado, devido á humidade que elle contem, que é o que se dá aqui nas refinarias.
Este assucar refinado poderiamos produzil’o durante a Laboração da canna em uma pequena instalação feita a proposito,
empregando talvez um apparelho Kestner á descendage, e um mexidor-areador especial que Kestner, creio eu, já tem montado
no Brasil para este mesmo typo d’assucar areado.
Para o fabrico d’este typo de assucar poderiamos empregar o nosso B2 da Fraitag Grande, e assim em logar de o refundir no
xarope, como fizemos no corrente anno, seria esse assucar feito em xarope, clarificado, filtrado sobre carvão animal e refinado
em areado, dando assim um bom assucar branco para exportação e talvez mesmo algum se possa vender ahi por um preço
superior.
Para a instalação d’essa pequena refinaria, se no Torreão não tivermos espaço para ella poderia ser montada na Comp.ª Nova
porque lá tem espaço mais que suficiente e não é necessario o emprego de bombas de vacuo.
Temos além disso que, se com o emprego do “Ginal” obtivermos xaropes como das nossas experiencias de Laboratorio, isto
é, um xarope // [52] amarello-claro livre das gomas coloidaes, pode-se obter assim perfeitamente um açucar integral, como da
amostra que fizemos no Laboratorio em areado amarello-claro, e que pode ser vendido aqui como de 2ª qualidade ou mesmo
na Madeira.
Como sabe este typo de assucar integral, a canna ou jus de canna não dará melaço, sendo todo o jus ou xarope transformado
em assucar o que é uma grande vantagem.
Se por exemplo a refinaria fosse montada na Comp.ª Nova, poderiamos enviar-lhe o xarope a 32º a 33º Baumé do nosso
triple, e ali ser então areado na mesma pequena instalação de refinaria. A produção do assucar areado branco ou amarello seria
alternado conforme as conveniencias.
Teremos muito meior vantagem em montar isto na Comp.ª Nova, não somente devido ao espaço, mas principalmente porque
durante a Laboração ou fora d’ella, o gasto de combustivel é menor ali.
Para a produção do assucar integral, o rendimento da canna medio deve sêr, pelos meus calculos de 13,5 a 14% em assucar
integral com 85 a 86% saccharose.
Uma outra vantagem, e que não é pequena, é que assim ficariamos em condições melhores do que São Filippe (H. F.322), na
concorrencia. // [53] Já vejo porém que o Senhor Hinton vai têr a sua repognancia em fazer isto, por causa do Hornung323 que
assim ficaria em concorrencia com elle no fabrico do assucar areado..; mas que é umas 1000 toneladas assucar que se possa
exportar por anno, para um consumo de Portugal 40.000 toneladas?!!
Não vejo pois razões para que Hornung seja prejudicado, e além d’isso o Senhor Hinton tem primeiro de olhar aos seus
proprios interesses e deixar os outros um pouco de parte, que é afinal o que elles fazem…
Pena tenho não poder têr consigo uma conversa larga sobre este assumpto e de viva vóz, porque este assumpto é importante
e talvez de grande vantagem, e assim poderiamos descutil’o melhor, e estudal’o a fundo.
Sem mais que lhe possa dizer de interessante, crea-me seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
238
[DATA: 13 de Setembro de 1921
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[54] Lisboa 13/9/921
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Como dei na minha mala de viagem com uma das amostras (a mais amarella) do assucar intergal[sic] que fizemos no
Laboratorio, com o jus tratado pelo Ginal aqui a deixo para que possa bem vêr o resultado provavel do fabrico d’este typo
d’assucar, no caso de qualquer cousa se fazer sobre isso, e que se possa obter apparelhos apropriados ao fim.
Esta amostra truxia[sic] eu com este mesmo fim, isto é, comparar com o assucar areado de ca e consultar pessoas intendidas
no assumpto, o que todas dizem ser muito melhor do que elles fabricam actualmente de 2ª qualidade.
Este typo de assucar foi feito com o jus da Laboração quando se estava fazendo as esperiencias ao Ginal, que como sabe
não foram feitas nas melhores condições, emquanto que a que tenho ahi no Funchal é mais branco mas foi feito com o jus
tratado no Laboratorio pelo Ginal.
Em todo o caso pode-se contar que, se o Ginal dêr o resultado, obtem-se um assucar mais claro do que essa amostra.
Seu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz //
239
fermentos, mas evita a evaporação do alcool em grande quantidade. Está bem quando diz que o rendimento é superior em 5%
em cubas fechadas.
Processo “Ginal”: Como vio pela copia da carta que escrevi a Ricard, friso bem qual o nosso fim empregando o seu novo
producto purificante (Ginal), mas desejo tambem fazer vêr ao Senhor Hinton qual o custo comparativo dos dois processos, o
nosso actual e pelo Ginal. Estes calculos que lhe vou fazer é pelos preços dos productos chimicos no Funchal (Torreão) em
1921.
Pelo processo actual usado: Por 25.000 toneladas canna n’uma Laboração (?):
Enxofre 750 gramas tonelada canna = 19.000 kilos a 1$305 = 24:749$000
Kieselgouhr 1,400 kilogramas tonelada canna = 35.000 kilos a 418 = 14:630$000
Phosphato Cal 1,300 kilogramas tonelada canna = 32.500 kilos a 855 = 27:787$500
Cal ingleza 1,250 kilogramas tonelada canna = 33.000 kilos a 410 = 13:530$000
Aluminato baryta 400 gramas tonelada canna = 10.000 kilos a 2$605 = 26:050$000
Custo total em 25.000 toneladas canna 106:792$500
Custo productos chimicos tonelada canna = 4$272 reis
Pelo processo ao “Ginal” para a mesma quantidade de canna (25.000 toneladas), empregando as doses de 1921 nas
esperiencias e conforme Ri-//[59]card aconselha para esperiencia futura, mas não fazendo a sulfitação do jus bruto a frio, mas
somente a sulfitação do jus defecado e filtrado:
“Ginal”
Enxofre 700 gramas tonelada canna = 17.500 Kilos a 1$305 reis = 22:837$500 reis
Kieselgouhr 150 gramas tonelada canna = 4.000 kilos a 418 = 1:672$000 reis
Cal ingleza 1,665 kilogramas tonelada canna = 42.000 kilos a 410 = 17:220$000 reis
Ginal 200 gramas Hectolitro jus (?) = 50.000 kilos a 2$020 = 101:000$000 reis
Custo total em 25.000 toneladas canna 142:729$500 reis
Custo productos chimicos tonelada canna = 5$710 reis
Pode vêr pois (por estes meus calculos aproximados) que o custo pelo Ginal é superior em 1$438 reis por tonelada canna
(Salvo Erro ou Omissão), ou seja aproximados 14 reis por Kilograma assucar produzido.
Assim temos que, para que o processo ao “Ginal” tenha vantagens para nós, é indispensavel que o rendimento seja superior
ao nosso actual: que o assucar turbinado seja mais branco que o actual na media: que o tourteau obtido dos filtres-presses sirva
para alimentação de gado: Que se possa obter o assucar intergal para venda directa ao consumo.
Sem mais que lhe possa dizer por emquanto subscrevo-me seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
240
em conferencia essa questão, para que não venhão apparelhos que não sejam necessarios ou faltem outros que possão ser uteis.
Emfim elles podem mandar para aqui um orçamento e um pequeno schma da instalação para eu estudar e lhe dizer o que acho
sobre ella.
Filtros Seitz: Effectivamente o representante da casa Seitz falou comigo, mas eu disse-lhe que somente o Senhor Hinton
poderia decidir essa questão. Varias vezes me convidou para hir almoçar com elle ao Avenida Palace e com o Sampaio (!!), veja
lá que bisca… mas eu fugi sempre a isso, porque estava a vêr o que elle queriam [sic].
Effectivamente elle falou nos filtros de xarope, porque eu lhe disse que, se alguma cousa // [62] fizessem com os filtros
desejava empregal’os na filtração do xarope em logar do jus, porque como sabe o xarope ainda que muito bem filtrado o jus,
apresenta sempre grande quantidade de percipitados que torna os cuites grasses e sujão o assucar. Foi então que elle me propôz
a installação de filtros para isso, mas não val a pena fazer mais despezas por emquanto na fabrica.
Quanto ao pagamento do saldo em marcos em ouro, conviria, se fizesse o cambio da epoca da 1ª encomenda quando vieram
os filtros, que devia ser um cambio baixo mas isso depois do concerto completo dos filtros por conta d’elles e modança total
das torneiras.
Hornung: Na minha primeira carta digo-lhe o que sobre o assumpto me sugerio.
Quanto á minha hida a Moçambique não vejo que seja necessario hir lá no tempo da Laboração da canna, por isso que a
destillação ou montagem da destillaria não deve conincidir[sic] com a Laboração, acho eu. Emfim eu acho que essa edeia não
vai avante, isto é, a minha hida lá, e pena tenho porque bastante ganharia com isso monetariamente.
Seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
241
ao que veio em 1921, mas sim o de 1920, que é de melhor qualidade. Os panos de 1921 estragavam-se muito mais rapidamente.
Destillaria: Não posso por emquanto dár principio ás fermentações, por não ter espaço suficiente para alcool, mas desejava
vêr se ainda este // [65] anno destillava algum, ainda pouco que fosse. Para poder destillar todo o melaço antes da Laboração
de 1922, teremos de vender uns 200.000 litros até fins de Fevereiro no Torreão, ficando porém os tanques do Torreão novamente
cheios d’alcool, isto é, com 116.000 litros alcool, stock restante em fins Fevereiro.
Comp.ª Nova tem um stock (em 29-9) de 136.400 litros.
Calculando pois que todo o melaço extistente[sic] seja destillado, terem[sic] que, do anno saccharino de 1921-1922, vender
452.000 litros alcool. Que se fassa em 1922 uma Laboração de 25.000 toneladas canna, dará em alcool aproximados 300.000
litros alcool (Torreão e Comp.ª Nova).
Faço-lhe todos este calculos para que o Senhor Hinton possa vêr qual a sua situação presente e futura até Fevereiro de 1923.
Sem mais que lhe possa dizer crea-me seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
242
décédé, Monsieur Leon Pellet
Je vous suis trés reconnaissant pour la maniere dout vous vous proposez me fournir touts les renseignement sur
concentration du vin (moûts), industrie que j’ai en effet idée d’etablir em Portugal, industrie que je n’ai pas encore pur etablir
dû aux mauvaises condition de notre Chang[?] que sitot amelioré je m’y lancerai sans hesitar.
Comme renseignement pour mes projects je vous prie l’envoi d’un devis d’installation pour un // [69] désulfiteur special en
ceramique por 50 hectolitres de moût de raisin, sulfité a 2 grammes SO2 par litre ou 10 heures de travail, travaillant dans le vide,
et avec tous ses accéssoires.
Un évaporateur pour le moût désulfité travaillant dans le vide, pouvant évaporer les 50 hectolitres de moût de 1070 Densité,
par 10 heures de travail, pour produire des xiropes de raisin a 37º Beaumé, et avec tous ses accessoires
Une pompe á vide (sèche[?]) pour le service du désulfiteur et evaporateur par colonne barometrique centrale.
En attendant vos bonnes nouvelles sur les questions de petite apparail d’esperiance que je viens de vous presenter, veuillez
agréer, Monsieur, mes salutations les plus distinguées. [Ass:] João Higino Ferraz
243
heures de 800 a 1000 litres de biére faite.
Je désirais donc un Devis complet comprenant la machine frigorifique pour le refroidissement des canes de garde, dont la
capacité doite être de 400 mètres cubiques à +5º temperature. //
[73] Cette Brasserie doit être presque complétement mechanique, à cause du prix actuel de main d’oeuvre, et etudièe de
façon a produire une bonne bière a 5% alcool faite avec du malte ou d’une melange de malte et de l’orge cru, comprenant aussi
touts les appareils nécessaires á cette industrie, sauf le generateur à vapeur. Une petite pompe à air comprimee et ses accessories
pour la filtration de l’air, pour les divers travaux de la Brasserie a remplacer le CO2 le guide doit y être compris.
En vous remerciant d’avance et au plaisir de vous lire, veuillez agrèer, Monsieur le Directeur Général, mes salutations les
plus empressées
Directeur technique de la sucrerie Hinton Madère [Ass:] João Higino Ferraz //
244
et je vois bien, que c’est un bon traité sur brasserie malgré que je ne l’ai pas encore tous lu.
Mistelles: J’ai bien noté tou-ce que vous me dite sur ce sujet, et en ce que concerne la // [77] mistelle Algerienne, au titre
de 5% alcool et 180 à 200 grammes, de sucre reducteur par litre (sucre de raisin), cá ne peut pas être autre chose que du moût
brut de raisin alcoolisé à 5%, tandis que lá mistelle pour moi proposée provient du sirop de raisin á 35º Baumé alcoolisé á 15%
alcool, et comme le sirop iniciel doit avoir au moins 750 grammes de sucre de raisin par litre c’est trés facile à comprendre que
la mistelle a 15% alcool doit contenir par calcule 600 grammes de sucre de raisin. Cependant comme garantie j’ai dit 580
grammes par litre.
Pour vous envoyer une échantillon fraiche de ce produit futur il serait nécessaire que j’eusse actuelment do moût de raisin,
mais la récolte du raisin est terminée et je ne peux pas vous faire cette échantillon fraiche: Heureusement j’ai un peu de sirop
de raisin concentré, parfaitment conservé depuis 1920, et sur le quel je vais faire environ deux litres de mistelles, une à 15%
alcool et une autre à 17%.
Examinant la loi qui rége l’exportation du vin, le vin Madère, n’importe que soit sa qualité ou type, ne peut pas étre exporté
a moins de 17% alcool, et pour en exporter á 15% il me faudrent obtenir un permis special, ce que c’est toujours difficile.
Vous pouvez donc dire aux négociants que la mistelle d’exportation doit contenir 17% alcool // [78] et 580 grammes sucre
de raisin par litre.
En ce qui concerne le prix minimun sur quoi on pourrait actuellement vendre cette mistelle, prenant en compte le prix élévé
du vin de Madère, prix du fûte, fretes etc., je calcule que cela ne pourra pas être moins de 900 francs par Hectolitre (fût compris)
livré dans un part quelconque Francés, mais ce prix-ci pourra subir des hausses ou baisses selons les circonstances du marché
du vin, coût du fût, frais de voyage etc. Ce que, mon cher ami, vous pouvez garantir c’est que dans le cas d’une fabrication de
ce produit il sera fait loyalement, et le sucre y contenu celui du raison lui-même et la mistelle contiendra toutes les propriétées
du vin Madère original sans aucune addition d’antiseptiques ni d’autres produits, c’est-à-dire, un sirop que une fois dilué et
alcoolisé pourra parfaitement presenter les caracteristiques du type Madère.
Croyez, mon cher ami á toute ma bien sincere estime [Ass:] João Higino Ferraz //
245
goût neutre ou le goût du vin Madère, selon la façon de sa fabrication.
J’ai fait l’analyse de la mistelle comme vous de verrez bien aux étiquettes.
Je vous present aussi, a titre de éclarricissement qualques considerations sur ce qu’on pourra faire // [81] avec ce type de
produit:
1er Je peu exporter le sirop pur en nature sans être alcoolisé, se notre Douane du Funchal le permets. Ce sirop pourra servir
aux fabricants d’aperitives ou pourront eux-mêmes employer la mistelle d’une autre façon.
2em Une forme plus interessante pour l’utilité de la mistelle en France sera y fabriquer le vin Madère, car la mistelle peut être
considerée un vin concentré. Peut-être je pourrai fabriquer la mistelle de façon a lui en donner le joût originelle et le bouquet
du vin Madère, que une fois traitée en France, doit revenir à un prix bien mieux marché que le vin exporte d’ici dèja prepare:
a) Pour 100 litres de mistelle á 17% alcool et a 600 grammes de sucre de raisin par litre additionner 200 litres d’eau. Ca
donnera un moût a 1,077 Densité a 5,6% alcool et 190 grammes de sucre de raisin par litre.
b) Ce moût fermenté avec une levure pure choisie alcoolisatrice ou radioactive jusque sa presque complete transformation
du sucre en alcool, donnera un vin à 16% alcool.
c) Ce vin ainsi obtenu traité soigneusement aux collages, etc., será en suite alcoolisé a 17%, et il y faudra addictioner de la
mistelle à 17% alcool dans la proportion de 8% du vin. Après filtrage donnera un vin (vrai // [82] Madère) à 18% alcool et 5%
sucre de raisin c’est-à-dire, le type du vin de Madère exporté d’ici.
Aux condition ci-dessus à cheque 450 litres de mistelle (pipe) à 17% alcool et 600 grammes sucre raisin par litre ou pourra
additioner 900 litres d’eau 17,3 litres alcool à 95º et 108 litres de mistelle à 17% alcool, ce qui donnera en vin preparé 1400
litres.
Par ces calcules ils peuvent bien s’apercevoir de la grande avantage qui auront en faisant l’acquisition de ce produit en
concurrence au vin de Madère qui est exporté d’ici.
Je desir á mon Ami et sa famille un nouvelle anne trés prospere
Toujour votre Ami devue [Ass:] João Higino Ferraz //
246
954 toneladas que deve corresponder a .......277.000 litros alcool.
Alcool que falta para 1922
de Novembro e Dezembro ............................75.000 litros alcool
Restará para 1923 .........................................202.000 litros alcool
Calculando sempre as mesmas vendas mensais de 37.500 litros, os 202.000 litros dará para 5 meses aproximados, isto é, até
mais de 1923.
Não vejo pois necessidade de que pessão os 500.000 litros para 1922, mas vejo que no maximo devia ser 350.000 litros.
Sem mais, sou seu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz //
Em resposta á sua carta de 11 do corrente, e com relação ao assucar areado, não vejo grande vantagem em fazer a refinação
247
manoal e principalmente com gente do Continente; conviria a industria montada mechanicamente; mas como bem diz, estas
cousas em Portugal (etc…) não estão em bôas condições, e além d’isso, qual será o nosso futuro em fabricas de assucar?
Confesso-lhe que vejo isto muito mau, e bom seria que o Senhor Hinton viesse para a Madeira já em Janeiro e vêr bem a
situação.
Eu sei, por esperiencia propria, que quando andamos em viagem, vemos as cousas por melhor aspecto do que estando aqui,
mas como eu aqui estou, vejo e estudo melhor a situação.
Quanto á resposta á Carta de Carlos333 com relação á Natalite, eu tinha-lhe enviado uma carta com as notas, e segundo elle
me diz agora, a envio tal qual ao Senhor Hinton.
Quanto ao orçamento do Barbet para a producção do ether sulfurico, deve ser de pouca importancia, o principal é o custo
da materia-prima.
Crea-me seu amigo certo [Ass:] João Higino Ferraz //
248
Produit pour les Cuvres: – Je vais faire les essais de ce produit (Silexore), selon les instructions, et du resultât obtenue je
vous dirai de ma justice, mais l’essai sera long // [91] car pour bien constater le resultat, c. à. d., si le produit est attaquable par
les acides des fermentations des melasses.
Comptablité: – J’ai rappelé a Don Carlos de l’envoie de l’argent et il m’a dit que ça sait fait.
Affaires Personelles: – Merci bien l’interêt que vous avez pris pour mes futurs projects et j’attends l’arrivée de Monsieur
Hinton pour les resoudre définitivement.
Veuillez bien remarquer, encore un fois, que les échantillons de mistelles que je vous est livré, ce n’est pas, quant au goût
et odeur, ce que dans le futur en será le produit car comme ja vous ai dèjá dit, le moût d’on provient cette mistelle a été traité
à la mûtage par le bisulfite de soude, quand dans le futur il en será par le SO2 pur.
Mes meilleurs compliments pour votre petite famille, et pour vous, mon particulier ami, l’assurance de ma meilleure amitiée.
[Ass:] João Higino Ferraz //
249
[DATA: 28 de Janeiro de 1922
DESTINATÁRIO: Henrique Augusto Vieira de Castro]
[96] Funchal 28/1/922
Ex.mo Senhor Henrique A. Vieira de Castro
Meu caro Amigo
Ficou combinado na nossa ultima entrevista que eu te escrevesse apresentando as minhas propostas sobre o provavel
contacto futuro entre mim e a Comp.ª Vinicula da Madeira, de que és dignissimo sociatario.
Vejo-me porém em dificuldades sobre que base se poderá establecer qualquer acordo entre nós, visto não conhecer qual o
valor do negocio actual feito por essa companhia.
Quanto a futuros desenvolvimentos de negocios de vinhos ou outros productos viniculas que eu tenho em vista, parece-me
que devem ser de futuro largo, mas como em todos os productos novos temos primeiro que tudo acredital’os, o seu
desenvolvimento cresce pouco a pouco.
Qual deve ser pois a percentagem de lucros que me deve caber, ficando eu com a gerencia // [97] technica da industria?
É sobre este ponto que eu espero da tua velha e boa amisade me aconselhes, tendo sempre em vista que farei os meus
meiores esforços para que os negocios se desenvolvem o mais possivel, com a coadjuvação de todos os meus amigos da Comp.ª
Vinicula da Madeira.
Segundo me disseste, actualmente a divisão de lucros é a seguinte:
Vieira de Castro ......................................................60%
F. F. Ferraz335 & C.ª .................................................40%
Ficará bem para mim e para os meus amigos a seguinte percentagem?
Comp.ª Vinicula actual .......................................... 80%
João Higino Ferraz ................................................ 20%
Espero me diraes da tua justiça e conselho de amigo, e cre-me teu verdadeiro Amigo certo [Ass:] João Higino Ferraz //
250
ao Ex.mo Senhor Governador Civil, establecendo esses preços conformes aos preços do açucar vendido nas nossas fabricas, sem
tomarmos qualquer compromisso além do acima dito, a virem dar os seus nomes e quantidade de cana que nos queiram vender,
afim de podermos dár defenitivamente inicio á Laboração do corrente ano, para interesse dos agricultores e fabricantes.
Declaramos mais que pagamos á vista os // [100] preços da Lei, conforme determina a mesma Lei, ficando para ulterior
resolução o preço defenitivo da cana.
Funchal 2 de maio 1922
William Hinton & Sons, Henrique F. da Silva, José Julio de Lemos Socc.res.
Dado ao Senhor Belmonte em 30/4/922 [Ass:] João Higino Ferraz //
[DATA: ?
CARACTERIZAÇÃO: Descrição de um frigorífico próprio para uma cave com determinada capacidade de armazenamento
de vinho, tendo em contas as temperaturas normais, e as condições necessárias para a construção da cave]
[101] Conditions d’un frigorifique pour une cave de 600 mètres cubiques de capacite brute.
Capacité de la Cave 20 mètres x 10 mètres x 3 mètres = 600 mètres cubiques
Conditions de refroidissement:
Pour conserver une temperature de +10º Centigrades dans la cave, jour et nuit.
Madère
Temperature moyenne atmospherique en été = 23º Centigrades
“ “ “ en hiver = 17º “
“ “ de l’eau en été = 20º “
“ “ ” en hiver = 16º “
Les conditions de construction de la Cave pour vins a traiter, calculant la Cave pleine pouvant contenir 1000 Hectolitres de
vins a 12% alcool, logée en fûtailles en bois, construite en maçonnerie chaux et ciment, sour sol, avec la voûte du toit cimentée.
Je désire donc savoir:
1º Coût de la machine complete et ses details.
2º Coût de la tuyauterie à monter dans la cave pour la circulation du liquide incongelable.
3º Quantité d’eau necéssaire pour le condenseur calculant un eau a 23º temperature.
4º Force en H. P. (horse power) necèssaire, avec un moteur à gas-pauvre, vapeur ou electricité. [Ass:] João Higino Ferraz //
251
Votre Ami devouée [Ass:] João Higino Ferraz
P. S. Marliere me charge de vous remettre et a tôus ses bons souvenirs [Ass:] Ferraz //
Amigos e Senhores
Desejando establecer na Madeira uma Cave frigorifica para tratamento de vinhos de 12% alcool, desejava me enviasse o
seu orçamento completo e aproximado para uma machina frigorifica nas seguintes condições:
1º Cave de 3 metros x 20 metros x 10 metros = 600 metros cubicos capacidade bruta;
2º Refrigeração da cave a 10º Centigrados maximo até um minimo de 8º por circulação em tubos de liquido incongelavel.
3º Envasilhamento do vinho em toneis de madeira de 25 a 30 Hectolitros, com uma capacidade total de vinho a tratar de
1000 Hectolitros.
4º Temperatura media atmosferica na Madeira:
No Verão ..............23 a 25º Centigrados
No Inverno ..........18 a 20º “
Temperatura da agua (para o condensador)
No Verão ..............22º a 24º Centigrados
No Inverno ..........16 a 17º “ //
[107] Como porém tenho falta d’agua, serei obrigado a refrigerar a agua em torre especial; e n’esse caso convem calcular a
agua a uma temperatura media de 26º centigrados.
5º Deve calcular o motor para a machina frigorifica, um a olio crú, por ser mais economico com despendio.
Desejava os detalhes da machina, e qual o producto de uso para a congelação assim como o gasto em agua de condensação.
Todos estes detalhes no seu orçamento servir-me-há por emquanto para calcular o custo provavel d’esta instalação.
Esperando a sua resposta a estes meus quesitos pessoaes, seu seu [sic] Attencioso Venerador e Obrigado [Ass:] João Higino
Ferraz. Director technico da Fabrica de açucar e alcool de William Hinton & Sons.Funchal Ilha da Madeira //
252
[DATA: 20 de Setembro de 1922
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[108] Funchal 20/9/922
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Recebemos a notas [sic] do contracto do assucar bruto de 80º polarisação e vejo que o seu custo é um pouco menos que os
calculos que ahi tem feitos por mim: Como o preço do assucar tende a subir (se a situação cambial não melhorar), o lucro na
refinação, com o preço actual de venda a 1$80 por kilograma, deve dár aproximado 127$00 por tonelada, calculando o Cambio
da £ a 95$00. Pena é que elle assucar sô possa estar aqui em fins de outubro.
Encomendei a Lefebvre338 500 kilogramas de Charbon decolorant, de forma a estar aqui a 22 outubro. Quanto a enxofre
temos 5.400 kilogramas que é mais que suficiente.
Columne barometrique: Vi os planos do condensador e agrada-me a sua construcção, por ser em ferro fundido, que é muito
mais duravel.
Quanto á instalação para a refinação do assucar bruto a vir, deve ficar tudo concluido até ao fim d’este mez.
Malaxeurs de Melasse Cuite: Lefebvre envia os planos para dois malaxeurs, conforme o seu desejo, mas custa cada um
1$000 francos cada = 20.000 francos, que ao cambio actual deve andar por 31.000$00 e com fretes despezas despacho etc., não
deve andar muito longe de 36 a 37.000$00. Como vê é um capital importante que nas condições da Laboração da proxima
colheita, que deve ser pequena, não sei se val a pena fazer este despeza. Disse a Carlos339 para lhe enviar essas notas para decidir.
//
[109] Alcool: Vejo que temos actualmente em stock o seguinte:
Torreão ......................76.177 litros
Comp.ª Nova .............145.716 “ (incluindo 70.000 litros nossos)
Com as vendas medias no Torreão, de Janeiro até hoje, dá 27.000 litros por mês, e calculando a mesma media, teremos
alcool somente até Novembro proximo. Vou pois dár principio ás fermentações do melaço a 15 ou 20 de outubro proximo, afim
de termos sempre alcool em stock para as exigencias do mercado.
Temos um stock de melaço de 550 toneladas, mas naturalmente não podemos destillar tudo no corrente ano.
Sendo o stock do Torreão e Comp.ª Nova de 221.893 litros alcool,
e dando as 500 toneladas melaço existente 165.000 “
Total do alcool até a proxima Laboração 386.893 “
Deve pois este alcool dár perfeitamente para as necessidades do consumo, e não se poderá mesmo vender tudo.
Devemos tambem contar que a refinação nos vai dár melaço para alcool.
Aconselhei Carlos para vender somente o B2 que temos, a vêr se podemos têr o BB para quando tenhamos o assucar B2 da
refinação, e assim poder elevar os preços dos assucares ao maximo possivel.
Nada mais tendo a dizer-lhe, por isso que Carlos lhe deve dizer tudo quanto mais lhe enteressa, estemarei que continue de
perfeita saude, e crea-me seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
253
Croyez je vous prie de la bonne amitié, pour vous e votre famille
Bien cordialment [Ass:] João Higino Ferraz //
254
meu contracto de 1900 a 1909, foi de aproximados 3.724$240 reis. O cambio medio da £ n’estes 9 anos era de 4$900 reis. Dá
pois uma media de £ 760 por ano.
2º No passado e presente: O augmento progressivo do custo da vida, deu-me em resultado os levantamentos abaixo ditos,
que se não fosse a sua generosidade de me contrabalançar os debitos com as gratificações dadas, e pelo qual lhe estou
gratissimo, qual seria a minha situação?
De 1909 a 1913 levantei a media de 4:500$00
1914 a 1919 “ “ de 6:440$00
1920 a 1921 “ “ de 22:400$00
Quanto será em 1922?
E nos anos seguintes, quanto será?
Em vista d’estas incertezas tanto para a Firma como para mim, vou exopor[sic] o que aos dois melhor deve // [115] convir,
com justiça e lealdade.
Não vendo outra forma mais justa (para a Casa Hinton) que equiparar os meus honorarios singindo-me aos primeiros 9 anos
do meu primeiro contracto, e somente me refiro aos 1os anos do contracto, porque se fizesse a media dos anos seguintes até 1921,
daria isso em resultado muito meior importancia, em vista do augmento de produção de cana e alcool, e augmento de ordenado
e percentagens pelos novos contractos.
Em vista do exposto, para garantia da minha vida futura e da sua Casa, apenas pesso um ordenado fixo de £ 63 por mez,
pago em escudos, feito o calculo á £ ao cambio medio do mez, ou £ 800 por ano ao cambio medio do ano, sem direito a
percentagens nem juros, mas com pulso livre para fazer as minhas pequenas industrias fora de açucar, alcool e aguardente de
cana, não prejudicando por estes meus trabalhos a direcção technica da Fabrica de açucar e alcool do Torreão.
Este contracto, sendo feito, não poderá hir além de um ano, podendo ser renovado ou modificado de comum acordo.
Funchal 30 Dezembro 1922 [Ass:] João Higino Ferraz //
343 Esta expressão, «Entregue ao Senhor Hinton», foi muito provavelmente acrescentada posteriormente, está grafada a vermelho e com letras maiores que
as do restante escrito.
255
com justiça e lealdade.
Não vendo outra forma mais justa (para a Casa Hinton) que equiparar os meus honorarios singindo-me aos primeiros 9 anos
do meu primeiro contracto, e somente me refiro aos 1os anos do contracto, porque se fizesse a media dos anos seguintes até 1921,
daria isso em resultado meior importancia, em vista do augmento de produção de cana e alcool, e augmento de ordenado e
percentagens pelos novos contractos.
Em vista do exposto, para garantia da minha vida futura, e isso não somente se reflete em mim como na sua Casa, apenas
pesso um ordenado fixo de £ 63 (sessenta e tres) por mez, pago em escudos, feito o calculo á £ ao cambio medio d’esse mez,
ou £ 800 por ano ao cambio medio do ano, sem direito a percentagens nem juros, mas com pulso livre para fazer e derigir as
minhas pequenas industrias fora de açucar, alcool e aguardente, não prejudicando por estes meus trabalhos a direcção technica
da Fabrica de açucar e alcool do Torreão pertencente a V.as Ex.as. //
[118] Este contracto, sendo feito, não hirá além de um ano, podendo ser renovado ou modificado de comum acordo.
Funchal 30 Dezembro 1922 [Ass:] João Higino Ferraz //
Amigos e Senhores
Em resposta á sua proposta de construção das paredes em blocos de cimento do seu fabrico, com data de 4 do corrente,
acceito as condições n’ella expostas, em todos os seus pontos, o que confirmo pela presente.
Com a maior concideração e estima subscrevo-me Attencioso Venerador e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
344 Joseph Marliere.
256
[DATA: 28 de Julho de 1923
DESTINATÁRIO: Harry Hinton; LOCAL: Lisboa]
[122] Funchal 28/7/923
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Como tenho vapor amanhã, e como naturalmente ainda esta o vai encontrar em Lisboa, ecrevo-lhe[sic] á preça umas linhas
que lhe deve interessar.
Dei principio á lavagem do assucar bruto no dia 24/7, mas não foi possivel fazer passar a Melasse Cuite no filtro-presse
devido á bomba não pegar na massa, em grande parte devido ás imporezas que contem, pedaços de pau, maçarocas de milho
etc. etc., de forma que me vi na necessidade de passar as centrifugas.
O assucar lavado turbinado polarisou 89,5, que fica bom para a refinação. Vou principiar a refinação de parte do assucar
(metade aproximado) na quinta feira proxima, de forma a termos assucar B2 mais cedo, e alcool tambem mais cedo. O resto será
lavado depois d’esta primeira refinação, isto é, será refinado em duas étapes. A despeza de lavagem é que é grande, mas não há
outro remedio.
A bomba de vacuo é que infelizmente não deu o vacuo necessario, nunca passou de 21 polegadas, e é necessario pelo menos
23 a 24 polegadas. Não ha outro remedio senão trabalhar com a grande. Sei que vão importar umas 300 toneladas assucar do
Brazil para diversos, e o Costa confirmou que era // [123] verdade, mas não sabia a quantidade.
O que eu vejo é que, no caso de não obter a conseção de importação de melaço, e não havendo no mercado de Londres
assucar de 85-86º polarisação, convinha importar assucar bruto de 96º polarisação que esse vejo que há, e digo-lhe isto pelas
rasões seguintes conforme os calculos que seguem.
Assucar de 81,2º polarisação a £ 19.5.0. tonelada Cif Funchal.
Calculo com o cambio de 116$00 £
Custo tonelada assucar Cif Funchal ...........................................2:233$00
Descarga e carretos ..........................................................................15$00
Dereitos, impostos etc. ...................................................................189$00
Despesas refinação assucar (actualmente)......................................138$00
Despesas fabrico alcool .............................................................. 145$00
2:720$00
Receita:≤
430 kilogramas assucar B2 a 4$20.......................=1:806$00
207 litros alcool a 5$25........................................=1:086$75......2:892$75
172$75
Commição de venda assucar 3%...............................=54$18
Imposto 2% transação ...............................................=58$00 .........112$18
Lucro liquido...........60$57
Importação assucar bruto de 96º polarisação ao preço em Liverpool de £ 24.15.0 (com commição Crispim), mais frete e
deposito £ 2 tonelada até o Funchal. (Este typo d’assucar deve haver no mercado). Calculando o mesmo cambio do acima com
um rendimento em turbinado BB e B2 de 840 kilogramas refinado, e 55 litros alcool por tonelada bruto. //
[124] Custo tonelada assucar Cif Funchal ..................................3:103$00
Descarga e carretos ..........................................................................15$00
Dereitos, impostos etc. ...................................................................189$00
Despesas de refinação assucar directa ...........................................100$00
Despesas fabrico alcool ............................................................... 40$00
3:447$00
Receita:
840 kilogramas assucar BB e B2 a 4$20 ...........= 3:528$00
55 litros alcool a 5$25 ..........................................= 288$75......3:816$75
369$75
Commição de venda assucar 3% ...........................= 105$84
Imposto transação 2% .............................................= 80$00.........185$84
Lucro liquido.........183$91
257
Como vê este typo d’assucar sendo o preço acima dito, como das cartas de Crispim, fáz mais conta refinar do que o de 80-
81º polarisação, em vista da despeza de refinação. O que dá é pouco alcool, mas assim podemos ter assucar para o consumo,
evitando que os outros o importem, e isto somente emquanto não há no mercado assucar de 85-86º polarisação que é o que nos
convem. Mesmo que se possa obter a importação de melaço, que não se sabe quando poderá estar aqui, convinha importar desde
já umas 300 a 400 toneladas assucar de 96º polarisação para garantir o mercado de assucar e alcool.
Seu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz //
[DATA: ?
DESTINATÁRIO: Resposta a um telegrama, incluindo considerações sobre rendimento em açúcar e alcool, despesas de
refinação, destilação, direitos, impostos, despesas na Alfândega]
[127] Resposta ao telegrama de 4/8/923. Assucar de 82 polarisação
Rendimento em turbinado B2 = 525 Kilogramas de 99,5º polarisação
“ em alcool em 40 Cartiere = 162 litros
Despezas de refinação (com lavagem do assucar bruto), pelas notas tiradas do escriptorio (Belmonte) – 180$00 tonelada
bruto.
Despesa de destillação a 750 reis litro (Belmonte) = 121$50
Despeza total por tonelada assucar bruto = 301$50
Assucar de 96º polarisação
Rendimento em turbinado BB e B2 = 840 Kilogramas de 99,6º polarisação
“ em alcool em 40º Cartiere = 55 litros
Despezas de refinação directa = 120$00 por tonelada bruto
“ de destillação a 750 = 41$25
Despeza total por tonelada assucar de 96º polarisação 161$25
Os direitos, impostos, despezas alfandega, etc, é de 189 reis por Kilograma, e descarga e carretos 15 reis Kilo, o que dá um
total, que se deve calcular em 210 reis por Kilograma assucar bruto despachado, tanto do 82º como do de 96º polarisação. [Ass:]
Ferraz //
258
[DATA: 8 de Agosto de 1923
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[128] Funchal 8/8/923
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Recebi a sua carta de 4 corrente que muito lhe agradeço. Esperava receber hontem ou hoje o seu telegrama dizendo que tudo
estava arranjado e nada… Teremos nova encrenca? Eu estou principiando na destillação do melaço da refinação mas estou deixando
o alcool separado, e d’isso avisei o Saregento Goes. Pode haver qualquer duvida, e assim fica certo o alcool produzido da refinação.
Eu calculo as dificuldades que deve têr tido com isso tudo ahi, mas não comprehendo as dificuldades que elle poeém á
destillação dos melaços da refinação, por isso que esses melaços pagaram um direito de 120 reis por Kilo, emquanto que o
melaço da pauta paga 60 reis, isto é, pagamos o dobro dos direitos!!..
Quanto ás amostras do assucar está bem, e a minha opinião conforme o telegrama que lhe enviamos hontem é que seja
importado o de 96º polarisação emquanto não temos de 85-86º polarisação. Este assucar (de 96º) com preço actual e fazendo o
cambio de 120$00, deixa um lucro liquido de 550$00 por tonelada, vendendo o refinado a 4$20 por kilograma.
Vejo pelas suas cartas e telegramas, que não recebeu ainda uma carta minha de 28 proximo passado em que lhe dava o
rendimento do assucar de 96º, e já n’essa carta lhe aconselhave[sic] a importar esse typo d’assucar. //
[129] Todo o assucar das amostra que me envian[sic], vejo que são abaixo do typo 19, mas o Nº 1 esse acho que não convirá
importar porque deve ser caro. Uma amostra enviada por Crispin, recebida aqui a 2 do corrente é de 96º, e o seu preço é de 22/6
cif Funchal. É este que convem e que deveria mandar vir emediatamente umas 400 toneladas como aconselhava em telegrama,
antes de receber a carta a que respondo.
Se importarmos já as 400 toneladas e vendendo o assucar a 4$20 teremos assim um lucro de 200 contos de uma acentada.
Já fiz assucar refinado da 1ª parte (metade aproximado), não contando os egoûts que restaram para a 2ª parte, 61.400 Kilogramas
assucar B2 bem vendavel.
Estou principiando na 2ª parte, como lhe expliquei na minha ultima carta, e espero que tudo fique refinado até meados do
corrente pouco mais ou menos
Se n’este mez viesse as 400 toneladas de 96º é que convinha muito, porque não há assucar no mercado. O tal barato que
dizem vir, parece-me que dá asneira, pode ser que aconteça o mesmo que áquele sujeito dos Açores. Em logar de dizer
mascavinho disse mascavo…
Esta é escripta á preça porque a mala está a fechar. Desculpe o mal escripto
Rendimento assucar 96º polarisação
assucar turbinado 840 kilogramas
alcool 55 litros
Seu Amigo Certo [Ass:] Ferraz //
Vou escrever-lhe com alguma dificuldade, devido a uma inflamação nos olhos que me tem aborrecido bastante, e por isso
serei um pouco laconico para não forçar a vesta.
Rendimento do assucar de 93,6º polarisação. A refinação d’este assucar deu em turbinado de 99,6 polarisação, 713
kilogramas por tonelada bruto, e em alcool, ainda que não terminada a destillação, calculo aproximado 104,5 litros alcool em
40º por tonelada bruto.
Com estes rendimentos e feito o Cambio a 112$00 por £, deve deixar um lucro de 70$00 por tonelada, ou seja 21:400$00
para o carregamento de 306 toneladas bruto.
Offerta assucar bruto de 79º polarisação (telegrama). Este assucar bruto de 79º a £ 19 tonelada cif é carissimo, e somente
faria conta no caso do preço <de venda> do assucar poder ser feito a 4$00, como me parece deve ser o assucar importado
actualmente (branco) devido á alta dos mercados, e além d’isso vender o alcool a 7$00 por litro em logar de 5$25, e assim o
lucro seria de 125$00 por tonelada bruto. Este assucar deve dár um rendimento maximo de:
Em turbinado – 300 kilogramas
Em alcool – 250 litros em 40º
259
Para a venda do alcool a 7$00 por litro, era somente necessario importar as 1000 toneladas assucar, e termos[sic] alcool //
[131] mais que suficiente para a conclusão do rateio e vender para desdobramento a meior parte d’elle a 7$50 ou 8$00 por litro.
Se tivermos de vender algum ao preço local de 5$25 seria pouco, e o preço maximo daria para compensar essa perda. Isto é
caso para pensar e resolver, porque vejo que teremos deficuldade de obter assucar bruto a preço baixo, para poder vender o
alcool a 5$25 por litro!?
Como as 1000 toneladas assucar bruto de 79º polarisação daria 250.000 litros alcool, isto é, mais 100.000 litros do que para
o rateio, esses 100.000 litros faz-se de forma a não aparecer na conta da Alfandega.
O Freitas offereceu-me assucar Java de 84º polarisação a £ 23 tonelada cif., mas este preço espera uma offerta nossa. Este
assucar porém, como o seu rendimento é de 550 kilogramas refinado e 145 litros alcool, e vendendo o assucar a 4$00 por
kilograma e o alcool ao preço legal não podemos offerecer mais de £ 20 por tonelada cif Funchal, o que creio elles não acceitem.
Depois de tudo isto que lhe exponho acho que o melhor seria comprar as 1000 toneladas de 79º polarisação, no caso de se
vender o refinado a 4$00, e o alcool nas condições que lhe exponho acima.
Vinhos: Compramos 50 pipas mosto, e fizemos um total de 109 pipas de vinho que deve dar a media de 12% alcool,
emquanto que o vinho d’uvas ordinariamente dá 10% alcool. Este vinho deve ficar bom e nenguem dirá que tem mestura de
assucar; O seu // [132] custo maximo deve ser de 1$50 por litro a 12º emquanto que o vinho d’uvas puro sai a 2$50 por litro a
10º.
É minha opinião pois vender este vinho logo depois de claro, isto é, sem tratamento algum, e teremos assim um lucro
calculado de 47:000$00.
Este lucro vendendo a 2$50 por litro, é fazendo o preço dos 6165 kilogramas assucar empregado a 4$00 por kilo. As 109
pipas = 53222 litros de mosto total, deve dár 47.000 litros de vinho claro a 12º.
Ás 6 horas da tarde
Acabamos de receber telegrama de Crispin, em vista d’um telegrama enviado hontem por nós, em que diz que o preço do
Java branco actualmente é de 29/10 cif., e para dezembro proximo a 27/10 cif..
Como assucar a 29/10 actual, sai despachado a 3$80, Belmonte sobe o nosso que temos ainda a este preço (3$80), isto é,
mais 300 reis por kilo. Elle deve-lhe escrever sobre isso.
Na conta que lhe fiz atraz do assucar de 79º, vendendo a 4$00 o refinado, daria um lucro de 125$00 com o alcool a 7$00,
vejo que com o preço de 3$80 (assucar) o lucro será somente de 65$00 por tonelada mas ainda assim convem fazer a transação
da 1000 [sic] toneladas de 79º polarisação a £ 19 cif. e o mais breve possivel, para nos livrarmos da baixa de Dezembro.
Crea-me Seu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz //
260
cif. Funchal. Segundo vejo o homem vê-se em deficuldades em se vêr livre d’esse assucar; e o que eu previa, isto é, que em
Lisboa as refinarias nada podiam fazer com elle, e assim aconselhei uma offerta de £ 17.10.0 como em tempos lhe fizemos, ou
no maximo £ 18. por tonelada Cif Funchal, garantia de 84º polarisação.
Foi telegrama para Lisboa a Tristão345, mas por emquanto não temos resposta, mas não me admira nada que o homem acceite
para se vêr livre da espiga do assucar [.] Este ao preço de £ 18. deve dár algum lucro.
Entreguei a carta do Belmonte sobre o assucar, do Pitta da Ponta de Sol. Elle deu o expediente necessario.
Sem mais por emquanto que lhe possa dizer, espero que consiga alguma cousa sobre assucar que nos dê lucro, são esses os
meus votos. //
[135] Alcool de São Filippe: Pela ultima nota que me enviou o Pinheiro, até o dia 10 do corrente, H. F.346 tem feito 40.000
litros, isto é, d’esde 20 setembro a 10 de outubro fêz 20.350 litros alcool, ou seja 1000 litros por dia.
Como combinamos, quando chegar aos 45.000 litros vou vêr o Pinheiro e fazer os calculos, para provar que não está certo
o rendimento pelo melaço que foi cubicado, mas seria conveniente o Senhor Hinton escrever novamente ao Pinheiro sobre esse
assumpto. Segundo me disse o manhoso do Nunes Vieira347 elle deve produzir 100.000 litros?!! Não sei o milhagre como vai
ser feito!
Crea-me Seu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz
P. E.[sic] Vi o Jornal de Lisboa em que trás a descripção da Fabrica do Torreão e o seu retrato. Confesso-lhe que não me
agradou nada esse exagero. Aquillo não é a descripção de uma fabrica de assucar… é mais O Inferno de Dante. Nunca leu? pois
é aquillo mesmo.
Na parte em que falla do alcoolismo na Madeira, esta certo, foi notas que eu dei. [Ass:] Ferraz //
261
fabricado 6200 litros (?), faltava-lhe para concluir o rateio de 1923 – 23.800 litros alcool aproximados. Besta-lhe[sic] pois
alcool dos 3 ultimos annos apenas 31.200 litros = 10.400 litros por anno. H. F.350 seguio logo para Lisboa para que? É isso que
me dá que pensar // [138] e lhe vou dizer as minhas impressões:
1º Não tenho confiança alguma no Pinheiro!!
2º H. F. teria sido avisado dos nossos projectos? e por quem. Nem eu, nem Belmonte, dissemos absolutamente nada d’isto
a ningem, somente Belmonte disse ao Senhor Jorge (que é de segredo). Isto já se vê, são supusições minhas, porque pode ser
que H. F. fosse a Lisboa por outra qualquer razão, mas é bom estar sempre de alcatreia com esse amigo…
Quando se falla a Pinheiro sobre qualquer assumpto que nos interessa, parec[sic] que o homem está de boa fé, mas para
mim, não sei se devido á esperiencia da vida, considero Penheiro como um Victorino S.351 Nº 2… isto é, joga com pau de dois
bicos; Deus é bom… mas o diabo não é mau de todo!...
Por conseguinte, Senhor Hinton, cautela e caldo de galinha, nunca fêz mal a doente…
Dito isto, para meu desafogo, passamos á questão do melaço: Segundo telegrama de Henrique, Bensaude já não quer vender
o melaço, espera que o Governo lhe auctorise o despacho d’elle, pagando 60 reis por kilo. Consegue ou não, não sei, mas na
duvida pomos esse melaço de parte.
Consultei novamente Pinheiro a saber se podiamos importar de Inglaterra, e elle disse-me que podiamos. Em vista d’isto fiz
os meus calculos a vêr qual o preço a que nos sahia o alcool no maximo, importando de Inglaterra, Belgica ou Hollanda. //
[139] Consideremos um melaço de Beterraba nas seguintes condições:
Melaço com 48% saccarose rende 26 litros alcool %
“ “ 50% “ “ 27 “ “
Consideremos porém um melaço de 48% polarisação ao preço maximo de £ 8. por tonelada cif. Funchal: Cambio calculado
a 115$00:
Por tonelada Melaço cif. Funchal:
Custo tonelada a £ 8 ao cambio 115$00 .................................920$00
Despezas de descarga ................................................................10$00
Carretos etc. ...............................................................................10$00
Direitos, impostos etc. (80 reis kilo) .........................................80$00
Despeza de fabrico alcool 800 reis litro .............................. 208$00
Custo de 260 litros alcool....1:228$00
Custo por litro = 4$72
Vendendo o alcool a 5$25, dá lucro tonelada melaço..............137$80
Se o melaço fôr de 50º polarisação (rendimento 27%) dá .......193$30
Por estes dados pode o Senhor Hinton fazer os seus calculos, tendo em consideração que o preço de £ 8. por tonelada Cif.
é o maximo.
Podemos importar 500 toneladas melaço de beterraba (sendo possivel, com certificado de urigem como de cana). Talvez
possa obter na Belgica ou Hollanda, encascado em barris de olio crú, que não é prejudicial, e assim as 500 toneladas seria 2500
barris de 200 kilogramas a importar de uma sô vez, ou por partes, isto é, em duas vezes.
Quanto ao assucar comprado (130 toneladas) não faz diferença, porque arranjamos as cousas para // [140] aparecer somente
o alcool de rateiro, ainda mesmo que fosse mais. O preço do assucar bruto actualmente é que não está em condições para lucros.
Entreguei a carta de Henrique a Belmonte, para a guardar.
Rendimento do assucar bruto de 93,6º polarisação terminado: 360 toneladas
Em assucar B claro .....................................................................30.900 kilogramas
“ “ B2 “ ...................................................................171.900 kilogramas
“ “ em bruto para refinar ...............................................12.450 kilogramas
Acrescimos dos lotes ................................................................. 3.075 kilogramas
Total em assucar .....218.325 kilogramas
Alcool retificado em 40º Cartiere – 30.692 litros (Rendimento 37 litros % melaço)
Quebra de refinação 5,5%
Actualmente faltanos para concluir o rateio de 1923:
262
Torreão ............................................. 68.000 litros
Comp.ª Nova .................................... 54.900 “
Total ..................................................122.900 “
Sem mais que lhe possa dizer por emquanto, creia-me seu Attencioso Amigo e Obrigado
[Ass:] João Higino Ferraz //
263
Esses 48.000 litros que se tira para os grandes tanques de armazem junto á Comp.ª Nova, sendo para desdobramento deve
dár um lucro minimo de 200 contos (contracto com Francisco João).
Isto despende porém um grande capital, mas como o lucro assim não será inferior a 470 contos (melaço, assucar e
desdobramento), val a pena fazer um sacrificio, e como o Senhor Hinton diz na sua carta, que as montanhas lhe tem feito um
bem immenso e sente-se prompto para tudo…, espero que prove essa energia… Desculpe estas minhas… asneiras… //
[144] Fabrica de São Filippe: Estes amigos teém feito até 25/10 62.528 litros alcool!?, e até hoje não tem mais notas na
Alfandega. Ora, calculando que nas melhores das hyptses[sic], o melaço que elles pediram o varejo seja tudo melaço ao
rendimento maximo de 29%, as 184 toneladas melaço e lavagens daria 53.360 litros. Como elles porém tinham já feitos 6200
litros alcool, teêm a mais pouco mais ou menos 3000 litros, e isto ainda não fica por aqui, porque vejo que ainda tem melaço
para destillar, segundo me disse o francez (Monteur). Como porem não posso fazer para aquelle contador… Deixar o homem
(H. F.) hir para diante, porque depois… do coiro lhe sahirá as correias… caso o Senhor Hinton assim queira… Como Pinheiro[?]
não está, nada lhe posso dizer, mas em conversa particular com o Director da Alfandega, foi-lhe dizendo tudo, e assim não pode
ingnorar o que fazem os seus guardas fiscais.
Faço-lhe notar, que este desparate do H. F. ou do seu conselheiro N. V.353, é uma arma que fica na sua mão que lhe pode ser
muito util.
Por mim nada posso fazer, e mesmo acho melhor deixar o homem se espetar cada vêz mais.
Junto envio-lhe as analyses do assucar bruto importado. Principiei logo com a refinação, e no fim d’esta semana vou dár
principio á fermentação do melaço, porque já tenho os fermentos em condições.
Sem mais, por hoje, creia-me seu amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
264
500 litros de vinho da Madeira a 2$00 1:000$00
55 litros alcool de melaço a 5$25 288$75
Custo do vinho 1:288$75 //
[147] Como vê os fabricantes de vinho Madeira feito com vinho do Continente, convem-lhe muito mais este negocio do que
comprar vinho Madeira da media de 10º alcool a 2$00 por litro (80$00 barril) claro, ganhando assim por pipa de vinho feito
288$00!!
Como bem vê, estas duas questões, importação de vinhos alcoolisados e assucarados e destillação do vinho, é
importantissimo para nós e também para a Viticultura da Madeira.
Quando eu digo que a segunda é politica, deve compreender, que sendo a fabrica de São Paulo amigos do V. M.[?] que
actualmente é que dá cartas em vista de estár no poder gente sua, essa parte vai-lhe ser dificil de resolver sem pisar os amigos…
Mas isso intende com a Viticultura e que elles tem que attender, não lhe parece?
Vindo ordem da Direcção Geral das Alfandegas para a Alfandega do Funchal, deve dizer que de todos os cascos importados
deve ser tirada uma amostra para analyse da força alcoolica, para evitar que o despachante somente tire das que lhe convem ou
ao importador.
Melaço: Tenho pena que não conseguisse melaço para vir antes de Janeiro, mas comprehendo as deficuldades que deveria
têr n’isso, principalmente no transporte d’elle. Quanto ao despacho do melaço não há duvida, toda a questão está na sua
destillação, porque somente podemos destillar d’entro do rateio parece-me que para concluirmos // [148] o nosso rateio e da
Comp.ª Nova, pode ser feito d’entro do anno saccarino, isto é, até 31 março 1924; Não é assim?
Assucar importado: Já terminei a refinação do assucar que feito por forma diferente do que tinha feito ao outro assucar, deu
um rendimento em turbinado meior, dando 448 kilogramas por tonelada, emquanto que o outro de 80,5º polarisação deu
somente 339 kilogramas por tonelada.
O rendimento em alcool deve porém ser um pouco menos, mas isso não lhe posso dizer por emquanto ao justo. Vejo porém
pelo peso do melaço dár, pelo rendimento theorico, 205 litros alcool por tonelada. A quebra de refinação foi de 5%.
Por os meus calculos devemos têr d’este melaço, incluindo o alcool do milho empregado, 28.000 litros alcool em 40º.
Fabrica de São Filippe: Não tenho tido mais notas d’alcool, e diz-me o Barros que a Alfandega diz que não tem trabalhado.
Não sei pois se já acabou o melaço, ou se é nova esperteza ou medo. Tem pois até 25/10 – 62.528 litros.
Sem mais que lhe possa dizer, subscrevo-me Seu Amigo attencioso e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
265
266
[Copiador de Cartas. 1924-1926]
DESCRIÇÃO: O título deste copiador foi atribuído por nós, e a numeração dos vários fólios acrescentada a lápis. Estamos
na presença de livro, papel, 26,8 cm x 21 cm, em bom estado de conservação.
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[DATA: 6 de Fevereiro de 1924
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[1] Funchal 6 Fevereiro 1924
Ex. Amigo e Senhor Hinton
mo
Acabo agora mesmo de vêr a sua carta a Belmente, e tenho esperanças que a justiça lhe seja feita n’esta occasião. Quanto á
paragem da destillação por ordem da Direção da fiscalisação da Alfandega, vou estoriar-lhe o que se passou:
No dia 29 Janeiro do corrente veio á Fabrica do Torreão e C.ª Nova o Pinheiro com o telegrama da Direção Geral mandando
parár a destillação do melaço de Cuba que tinhamos auctorisação para destillar até á conclusão do nosso rateio (Torreão e C.ª
Nova), isto é, vender somente o saldo do rateio. Como o Pinheiro não quiz tomar a responsabilidade da não destillação do
melaço em fermentação, que se perderia não sendo destillado, e isso representaria (como fiz vêr ao Pinheiro) um prejuizo não
inferior a 200 contos, elle consentio a destillação d’elle, mas a paragem por completo das fermentações, o que assim se fêz
acatando as ordens da Alfandega.
A 4 Fevereiro corrente veio novamente ordem para continuar a destillação, e assim tratei de preparar novos fermentos, e
somente hoje estou principiando nas fermentações no Torreão e C.ª Nova. Esta paragem porem fêz um atrazo de 15 dias até que
se tenha novamente alcool retificado para venda, e isto, como bem compreende, apresenta um prejuizo, não somente para nós
como para os vinicultores que teem os seus vinhos a tratar e que se // [2] perdem não sendo alcoolisados á sahida das estufas.
Estes 15 dias de paragem nas suas fabricas apresenta um atraso nas entregas d’alcool de 100.000 litros, que é aproximado a
conclusão do rateio, ou seja uma imobilisação de 600 contos que poderíamos liquidar até ao fim do corrente mez.
Com esta paragem ficou-nos por destillar, do carregamento do melaço de Cuba, aproximadamente umas 700 toneladas de
melaço, que para poder concluir antes de terminar o anno saccharino, terei que destillar as duas fabricas, Torreão e C.ª Nova, o
que já participei ao Marinho de Nobrega, que terá que receber ainda umas 200 toneladas, e como lhe restava na occasião da
paragem 127 toneladas, terá assim para destillar 327 toneladas de melaço.
Torreão fará as 500 toneladas restantes.
Vi tambem a nota que vai apresentar das quantidades de cana comprada, tanto da nossa fabrica, como da C.ª Nova e São
Filipe, assim como a capacidade de moenda das trez fabricas.
Sebre[sic] este ponto da capacidade de moenda, acho que não está bem assim explicito, mas deve ser a capacidade de
trabalho. Como muito bem sabe, a capacidade de moenda da fabrica de São Filipe, é muito superior á capacidade de trabalho
da fabrica de açucar e destillaria, por isso que os moinhos não têem uma relação exacta á capacidade real dos apparelhos para
o fabrico do açucar, e assim dár-se-hia uma injustiça grave para Torreão e C.ª Nova n’um rateio feito pelas capa-//[3]cidade [sic]
de moenda, no caso de H. F.357 reclamar essa verificação. A capacidade de uma fabrica de açucar é sempre verificada no
conjunto, isto é, o que ella pode produzir ralmente[sic] em açucar.
Torreão que tem uma capacidade de produção em açucar de 52 toneladas açucar em 24 horas, que representa
aproximadamente 600 toneladas cana, tem porém somente uma capacidade de moenda de 500 toneladas cana, sendo esse
escedente de 100 toneladas fornecido pela C.ª Nova por contracto entre as duas fabricas.
É isto um ponto importante que ponho á sua consideração, antes de apresentar a nota junta, no caso de o fazer.
A procura d’alcool continua a ser enorme, e Belmonte vê-se em dificuldades para servir a todos n’um rateio justo. Vejo pois
a maxima conveniencia conseguir o rateio suplementar de 200.000 litros, pelo menos, para que os negocios de vinhos e
exportações não sejam prejudicados com graves prejuizos para a Madeira.
Deus primita que não haja mais dificuldades no fabrico do alcool, e que tudo seja resolvido com justiça para todos.
Creia-me seu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz //
357 Henrique Figueira da Silva.
269
[DATA: 14 de Março de 1924
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[4] Funchal 14/3/924
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Terminei na C.ª Nova a destillação do melaço que lhe coube, sendo 236 toneladas que recebeu directamente do vapor e 163,9
toneladas que lhe enviei pelo tubo, dando um total de 399,9 toneladas melaço destillado.
O rendimento total foi de 94.598 litros alcool a 100º = 98.666 litros em 40º Cartiere. Pelos meus calculos dá o seguinte para
os rateios:
Conclusão do rateio de 1923 55.000 litros em 40º
Rateio suplementar de 1923 (130.000 litros) 29.954 “ “
84.954
Resta-lhe pois para mais 70.000 litros novo rateio 13.712
98.666
Como no rateio novo de 70.000 litros lhe cabe 16.000 litros, falta-lhe pois 2388 litros.
Torreão
Terminei hoje todo o melaço existente que nos restou, aproximadamente destillado umas 700 toneladas no total. Quanto ao
rendimento real não lhe posso dizer por emquanto nada certo, visto a destillação e retificação somente terminar
aproximadamente a 25 do corrente. Calculando porém pelo rendimento do 1º Lote, deveria dar 182.900 litros em 40º Cartiere
Por estes calculos dá o seguinte para os rateios:
Conclusão do rateio de 1923 41.650 litros em 40º
Rateio suplementar de 1923 (130.000 litros) 92.095 “ “
133.745 “ “
Resta-nos pois para mais 70.000 litros novo rateio 49.155 “ “
182.900 “ “
No rateio dos 70.000 litros cabe-nos 49.600 litros, faltando pois somente 445 litros. //
[5] Como muito bem vê, são sempre os 200.000 litros que pedimos.
Calculos provaveis:
O rendimento total em alcool do melaço de Cuba = 281.566 litros em 40º
A deduzir alcool do mosto nutritivo (milho) = 7.950 “ “
Proveniente de 1.104.450 kilogramas melaço de Cuba = 273.616 “ “
Rendimento % melaço (provavel) = 24,7 litros alcool em 40º
Nota: O rendimento da C.ª Nova foi inferior ao nosso em 1,2 litros alcool em 40º % melaço.
Sem mais sobre este assumpto que lhe possa dizer subscrevo-me Seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
270
a tudo isto tive uma infecção nas fermentações que me prejudicou umas 5 cubas, dando // [7] um rendimento mais baixo que o
normal. Vi-me obrigado a fazer novo fermento que está em boas condições e já o estou empregando, e como tinha fluorure
suficiente agora, espero que tudo corra bem. Quanto ás temperaturas elevadas é que nada posso fazer.
C.ª Nova termina hoje de receber o melaço pelo tubo, e deve receber um total aproximado de 260 toneladas
Vou dár principio ao fabrico do xarope invertido, mas antes quero vêr qual a quantidade que os fabricantes de vinho desejam,
para não fazer de mais. Já fallei ao Vieira de Castro359 e elle deve-me dár as resposta [sic] amanhã, assim como o F. F. Ferraz360.
O Blandy361 tambem quêr? Não sei se o Senhor Hinton falou n’isso.
Vou preparar tambem para os nossos vinhos, porque pelas esperiencias que tenho feito no Laboratorio, o vinho deve ficar
explendido, e sendo mesturado o fermentado com mosto de uvas ainda melhor ficará.
Quanto ao V. de Castro, quando lhe foi falar no xarope, elle habrio-se commigo dizendo-me que, “em vista de todos
comerem, eu tambem tenho direito a ter o alcool um pouco mais barato, não achas justo?” Como vê o homem é que falou no
assumpto que eu e Senhor Hinton tinhamos combinado propor-lhe, mas que eu não o fiz, mas agora é elle que pode... Se o
Senhor Hinton acha que se lhe deve fazer a differença que combinamos (10$50 por litros) é bom prevenir o Belmonte d’isso.
Sem mais que lhe diga, subscrevo-me
Seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
271
Segundo vejo o vinho no corrente anno não vai chegar a 150$00 por barril, e mesmo é bom que seja menos, por causa da
cana no futuro anno 1925. Se o lavrador tinha compradores, como elles calculavam para o vinho a 200$00, o que não exigiam
pela cana no proximo anno?!
Os unicos que teem levado xarope d’assucar é a C.ª Vinicula e F. F. Ferraz364, de forma que vou parar com o fabrico. O preço do
vinho tambem influi n’isto, mas para nôs tem vantagem, e ja fiz o suficiente para 100 pipas de vinho como fizemos o anno passado.
Sem assumpto para mais,
Subscrevo-me Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
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[DATA: 27 de Agosto de 1924
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[14] Funchal 27 agosto 1924
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Recebi a sua de 20 do corrente, e vejo que está desanimado com o rendimento do melaço, mas não vejo grande rasão para
isso pelas seguintes rasões: Effectivamente o rendimento é baixo e o lucro n’este carregamento não será o que tinhamos
calculado, mas ainda assim o lucro é razoavel, devido ao preço do alcool. N’esta estação do verão os rendimentos são sempre
mais baixos devido ás temperaturas elevadas e <por> não termos uma instalação de refrigeração das cubas. Vejo o que me diz
sobre este ponto de refrigeração, mas as cerpentinas que temos são as bixas antigas dos clarificadores (2) de 4”, pezadissimas
e deficeis de montar, e mesmo que agora se quizesse fazer essa montagem (que seria deficil), quando estivesse prompta, já não
teriamos melaço algum.
A sahida do alcool tem sido grande e o stock que temos é pouco (8.000 litros pouco mais ou menos hoje 27) no Torreão, e
as encomendas d’alcool, segundo me disse Belmonte, leva-nos todo o alcool até fins de Setembro. N’estas condições seria de
grande vantagem e mesmo necessario, que além do melaço d’Africa que devemos receber até fins de Setembro ou meados de
Outubro, importar umas 200 toneladas de melaço em barricas, pelo menos, sendo possivel obter, e cujo melaço podesse estar
aqui até fins de Setembro proximo.
Pela medição do Tanque Grande vejo que temos ainda para fermentar 138 toneladas de melaço, isto é, para 9 a 10 dias de
fermentação, que dará aproximado uns // [15] 36.000 litros alcool. Quando principiamos o melaço, da West Indias, faltava-nos
para concluir o rateio de 1924 – 242.655 litros alcool:
Temos feito até 27/8 do melaço etc ..........145.816 litros
Do melaço restante .....................................36.000 “
Nas cubas para destillação........................ 11.300 “
Total do alcool provavel ...........................193.116 “
Para concluir o rateio ................................242.655 “
Faltará para rateio Torreão..........................49.539 “
Borras de Vinho de 1924? ......................... 2.850 “
Total que devemos fazer .............................52.389 “
Ora, para fazer este alcool (53.000 litros) necessitamos de 230 toneladas de melaço d’Africa, e isto somente para o Torreão.
C.ª Nova deve-lhe faltar para concluir o rateio de 1924 aproximadamente 33.000 litros alcool, que deve corresponder a
melaço d’Africa a 145 toneladas. Teremos assim para Torreão e C.ª Nova 375 a 380 toneladas melaço para conclusão do rateio
de 1924. Como todo este melaço deve produzir 86.000 litros alcool será para o consumo de outubro e novembro se as sahidas
forem como até agora.
Teremos ainda 3 mezes antes da Laboração de 1925 ou seja aproximados 130.000 litros alcool, ou seja um rateio
suplementar de 200.000 litros para as trez fabricas, ou 600 toneladas melaço pouco mais ou menos
Como vê, se podesse obter agora, pelo menos, 200 toneladas de melaço em barricas, não seria demasiado, mesmo que se
importe o melaço d’Africa. //
[16] Xarope d’assucar: O preço calculado na media de 5$00 por kilo assucar B2 deu o seguinte resultado:
assucar B2 empregado 18750 kilogramas a 5$00 ......=93:750$00
2 1/2 toneladas carvão a 350$00 .......................................=875$00
Pessoal etc. no maximo ............................................... =1:875$00
38 kilogramas acido citrico a 35$00 ........................... 1:330$00
Custo total ......................................................................97:830$00
Produzio em xarope a 38º Baumé vendavel 25.017 kilogramas a 4$50 por kilograma – 112:576$50
Deu lavagens dos filtros, tanques etc., o correspondente a
132 litros alcool em 40º a 10$00 =.................1:320$00
Resumindo teremos: Venda xarope.............112:576$50
Total productos ............113:896$50
Custo acima ...................97:830$00
Lucro bruto....................16:066$50
Fermentações: As temperaturas teem baixado um pouco, porque o tempo está mais fresco, e Deus primita que continue
273
assim até terminarmos todo o melaço. Tenho agora temperaturas maximas de fermentação e 36 1/2º, quando d’antes chegavam
a 39º, e isto tambem em parte a estar fermentando a 9º Baumé em logar de 10,5º Baumé.
Quanto a H. F.367, em outubro o Senhor Hinton deve vêr se arranja com elle uma concordata definitiva.
Paiva Loreno na Agricultura?! Isso era um tal desparate, que eu não creio que se fassa...
Creia-me seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
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devido ás cubas de fermentação que estavam n’um estado lastimoso. Estão sendo todas concertadas com cimento novo, e
calcule que no tirar o cimento velho encontra-se entre as chapas de ferro e o cimento vinho de melaço ou garapa poudre!! Com
cubas n’este estado cheias de microbios, como queria que desse bom rendimento? Alem d’isso as altas temperaturas no corrente
verão influiram tambem. Antigamente fermentava-se, como sabe, sem fluorure, e o rendimento entre Torreão e C.ª Nova fazia
apenas uma deferença de 0,5% a menos, e n’este melaço foi de 2,6%!!
Passo a dar-lhe o rendimento aproximado do melaço // [20] que calculo deve estar tudo terminado esta semana:
Melaço das West Indias:
Alcool fabricado até hoje (10/9) ....................................198.701 litros em 40º
n’uma cuba em destillação .................................................1.300 “ “
Etheres e escencias a retificar provavel ......................... 4.000 “ “
Total em alcool ...............................................................204.001 “ “
A deduzir:
Melaço restante da Laboração
Melasse Cuite etc. ...........................................7374 litros
Rendimento do milho empregado ...................4672
Borras de vinho .............................................1500 13.546 “ “
Proveniente do melaço West Indias 190.455 litros em 40º
Melaço destillado no Torreão = 713.824 kilogramas
Rendimento % melaço 26,6 litros alcool em 40º
Deixei em melaço, para futuros fermentos, 6660 kilogramas
Verificação pelo melaço importado:
Destillado no Torreão ......................................713.824 kilogramas
Melaço restante “ .........................................6.660 “
Destillado na C.ª Nova ....................................273.578 “
Para São Filipe .................................................219.366 “
Total justo pelo importado.............................1.213.428 “
O rendimento do Torreão e C.ª Nova deve ser aproximadamente de 25,8 litros alcool
Como vê, para o rendimento que eu calculei para Torreão de 27 litros %, deu apenas uma diferença a menos de 0,4%.
Para as duas fabricas, o rendimento foi de menos 1,2 litros % do meu calculo. //
[21] Refinação do assucar de Hornung
Assucar bruto a refinar – 129.900 kilogramas de 96º polarisação
Productos:
66.750 kilogramas assucar BB turbinado (pezo das turbinas)
22.800 “ assucar B2 ordinaria para refinar novamente
89.550 “ assucar total retirado
Restou em égoûts ricos de 59% assucar total = 37869 kilogramas calculado pela medida
Vou destillar estes égoûts, não sô devido á falta d’alcool, como tambem ter receio de os poder conservar em bom estado
até vir novo assucar, cujos égoûts devem produzir aproximadamente 12.495 litros alcool em 40º
Pelos meus calculos, este assucar, incluindo o alcool dos égoûts, e tirando as quebras da refinação e despezas da refinação
dos 22.800 kilogramas assucar B2, deve dár um lucro bruto de 30:000$00, fazendo o preço do assucar a 4$20 por kilo, e o alcool
a 11$00 por litro.
Fêz bem ao comprar as 100 toneladas de melaço do Natal, por isso que da Africa apenas vem 100 toneladas, e o preço é
vantajoso devido a ser incluido as barricas de ferro, que nos ficará para o melaço d’Africa. Se elle tiver 50% assucar total, é
sempre melhor que o d’Africa que somente contem 47,5%, dando assim mais 1,4% alcool.
Não sei se H. F.372 quer mais melaço d’este (do Natal), se elle não quiser, tanto melhor. //
[22] Quanto ao xarope d’assucar, por emquanto, poucas vendas temos tido a mais, mas não admira, por isso que elles teem
receio de não dár em vinhos o que eu calculo, mas quando tenhão feito as esperiencias e verem o resultado, devemos vender
bastante para fabrico de vinhos e para sucragem (calda) dos vinhos da Madeira.
O preço actual (4$50 por Kilo xarope) é um pouco alto, devido ao preço do assucar que baixou, mas por emquanto acho
372 Henrique Figueira da Silva.
275
melhor conservar este preço.
Quanto a H. F. vou vêr se elle me diz em que tempo estará em Lisboa, e vêr se consigo que elle lá esteja na 1ª quinzena de
Novembro.
Na proxima Mala lhe direi o que há.
Creia-me seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
276
Nas licenças dos Alambiques feitas todos os annos, // [26] vejo que na columna em que se tem de declarar a quantidade de
alcool que nos propomos Laborar tem somente 3300 litros alcool, mas as duas columnas de destillação podem fazer 6400 litros,
isto é, quasi o dobro do que sempre, desde á muitos annos, temos declarado, mas isso não quer dizer que actualmente nos
propomos a fazer muito mais. Vou escrever a Henrique sobre este ponto, que eu acho importante, porque elles, nossos amigos,
podem pegar n’isso e fazer cavallo de batalha, dizendo que é a nossa declaração. Não lhe parece isso assim?
Nas licenças que vamos pedir, diz o Victorino Acciuoly, é que não podemos fazer novas modanças porque não viriam
aprovadas; É um caso bicudo!
Já recebi mais 50 kilogramas de acido citrico para o fabrico do xarope d’assucar invertido, e essa quantidade vou gastar
agora quasi toda, porque tenho encomendas de xarope. Achava conveniente vir mais 50 kilogramas ou mesmo 100 kilogramas,
porque estou a vêr que a cousa pega, e podem fazer encomendas e eu não as poder satisfazer. Se concorda, pedia-lhe para enviar
mais 50 ou 100 kilogramas acido citrico.
Sem mais que lhe tenha a dizer, subscrevo-me
Seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
277
então diz o diabo!... É por tudo isto que eu lhe aconselho a estár aqui na occasião do pedido do novo rateio suplementar.
Disseram-me hontem, não sei se como balão de ensaio se com verdade, que querem pedir ao Governo a entrada do alcool
do Continente, por haver falta d’alcool na Madeira, (naturalmente para desdorar[sic]?!).
Creia-me seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
Recebi a sua carta de 23 do ultimo que muito lhe agradeço. Vejo que o Senhor Hinton tem desejo que eu estaja em Lisboa
na occasião do lá estar, isto é, em Novembro proximo, e como do seu desejo telegrafei hoje para o Crispin “Yes”.
Eu pouco poderei fazer, mas junto consigo podemos combinar qualquer cousa ou mesmo dár indicações que lhe podem ser
vantajosas, e assim tambem me parece que a edeia não é de toda má. Como H. F.379 se dá bem comigo, ainda que me chama
manhoso, contudo posso deitar agua na fervura...
Partirei d’aqui no fim d’este mez afim de poder estar em Lisboa em fins do corrente ou principio de Novembro, se não
mandar o contrario.
Quanto ao trabalho aqui das fermentações, como vou deixar tudo em ordem; Avelino380 seguirá as minhas indicações. Vou
sahir sem dizer nada a ninguem.
Terminei a destillação dos égoûts da refinação, e vejo que a quantidade d’alcool em 40º foi de 15.485 litros, e não 12.495
litros como tinha calculado e dito na minha carta de 10 do ultimo; assim o lucro bruto não será de 30 contos mas sim
aproximados 50 contos.
Esta diferença é devido ao calculo da quantidade dos égoûts, que vejo não correspondeu ao real. O rendimento // [31] %
égoûts foi de 35,54 litros alcool em 40º, e assim está certo.
Os égoûts em logar do meu proximo calculo de 37.869 kilogramas deve ser 43.565 kilogramas
Melaço do Natal: Este melaço não veio, o que nos vai fazer algum transtorno, por isso que sô podemos contar têr hoje um
stock de 8.500 litros alcool. Já tinha o fermento em condições de principiar com as fermentações, amanhã mesmo, e assim tenho
que o conservar até á Quinta-feira proxima. Deus queira que elle venha.
Como temos ainda tempo bastante até ao fim d’este mez, no caso de se lembrar de alguma cousa que eu possa levar d’aqui,
taes como notas etc., era bom me dizer, contudo vou levar o que me possa habilitar a responder a qualquer pergunta em Lisboa
feita por esses typos d’ahi.
O Cambio é que está a descer brutalmente, e tenho receios do preço do alcool no novo rateio suplementar.
Calculo que nos falte (Torreão) aproximados uns 20.000 litros para concluir o rateio de 1924, e C.ª Nova 33.000 litros, será
um total de 53.000 litros. Vindo as 100 toneladas do Natal, e H. F.381 se não levar algum, devemos ter para Torreão 26 a 27000
litros, isto é, com o melaço do Natal, Torreão completa o rateio de 1924.
Creia-me seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
278
Hinton tem o arrendamento da Fabrica pelo tempo que a Justiça quezer (?), mas como o Senhor Hinton quer um acordo com H. F.
em todos os pontos, e ningem pode prever o futuro, é conveniente para os dois, que as cousas se fassam com regularidade desde já.
Deveremos esperar pois para o principio de Novem-//[33]bro, quando os 3 ahi estiverem. Isto que eu te digo com relação a
H. F. fica entre nós até que o Senhor Hinton concorde n’este ponto.
As liçenças podem ser apresentadas até fins de Novembro, de forma que temos tempo para resolver isso tudo ahi. Contudo
farás o que intenderes, porque isto são edeias minhas, e como tens ahi o Advogado da Casa elle melhor te poderá aconselhar.
Felizmente o Loreno está prezo (?) e Deus o conserve n’essa situação pelo menos até Dezembro...
H. F. deve seguir para Lisboa a 21 ou 22 do corrente, e eu a 31 pelo “Sierra Cordoba”, se Deus assim quizer: Mandarei telegrama.
Um abraço de teu primo e amigo, e até á vista.
Teu [Ass:] João Higino Ferraz //
279
dito fim, e isso já se vê sem compromiço, vou-lhe indicar o typo de machina que desejo.
1º Um compressor a ammoniaco da capacidade de 6000 e 7000 frigories-hora.
2º Caixa geradora de gelo ou congelação de salmoura com 12 latas de congelação para produção de gelo. Esta caixa deve
ser provida de uma pequena bomba centrifuga para a circulação da salmoura incongelavel não somente na caixa como para
outros arrefecimentos.
3º Considerar a agua de condensação a 25º Centigrados temperatura
Força em Horse Power? (indicar)
De V.as Ex.as – Muito Attencioso e Venerador [Ass:] João Higino Ferraz //
Amigos e Senhores
Desejava saber preços de frigorificos da Alemanha, isto já se vê sem compromisso, nas seguintes condições:
Uma machina frigorifica completa para 6000 frigories hora
“ “ “ “ 7000 “ “
Compressor a Ammoniaco.
Caixa geradora de gelo ou refrigeração do saumeur ou brine. Esta caixa deve ser provida de uma pequena bomba centrifuga
para circulação do saumeure incongelavel não somente na caixa como para outros arrefecimentos.
Qual a força necessaria em Horse Power para cada um dos compressores indicados acima, e outros dados elucidativos
Esperando a sua resposta
Subscrevo-me seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
280
O que eu pretendo é um “Renania” de 10.000 frigories hora ou um edentico da “Linde”. O meu principal fim é ter a salmoura
incongelavel para a fezer circular em cubas. O fabrico do gelo é secundario. A instalação porém da refrigeração das cubas desejo
eu fazel’as // [40] aqui mesmo na nossa fabrica, e sobre a minha direção, nos nossos atelieres de construção, e assim apenas
necessito o que no Catalogo da Maschinenfabrik Surth esta indicado a paginas 15 (Renania de 10.000 frigories), isto é, um
compressor, condensador, bomba centrifuga de circulação da salmoura e caixa de produção de gelo.
Como tenho um motor a petrolio bruto de 8-10 Horse Power e como com agua na media de 25º Centigrados temperatura,
vejo que este motor deve dár para o compressor de 10000 frigories.
O Devis que me enviaram para um frigorifero de 10000 frigories hora com vaporisador “Zet” cujo preço aproximado é de
£ 140.0.0 Cif Tejo, deve naturalmente ser o mesmo que cif. Funchal?
Pedindo pois a V.as Ex.as uma demora da minha final resolução para Junho proximo, subscrevo-me com a maior consideração
De V.as Ex.as
Muito Attencioso e Venerador [Ass:] João Higino Ferraz //
Com relação á sua estimada carta com data de hoje, estou perfeitamente de acordo em todos os seus pontos, por isso que
concorda com a minha petição feita em carta em 30 de Dezembro de 1922.
Quanto á importancia de duzentos mil escudos (200:000$00) que me faz o grande favor de me emprestar, pelo que lhe fico
muito grato, tambem estou de acordo na forma de liquidação como propõe na sua mesma carta, e dar-lhe-hei a garantia que deseja.
Agradecendo-lhe mais uma vez de todo o coração a sua boa vontade de me ser agradavel, creia-me sempre seu Amigo
verdadeiro [Ass:] João Higino Ferraz //
281
e diz varias cousas interessantes, mas por agora somente lhe apresentarei, com dados á vista, o resultado que poderemos obter
de futuro.
O vapor com o assucar e o melaço deve chegar amanhã, de forma que nada lhe posso dizer, o que vejo pela carta do Avelino
é que o assucar (mal cristalisado e turbinado) apenas // [44] deve conter 95,5 polarisação (10 analyses de Avelino), e o melaço
tem em media 46,3% saccharose directa mais glucose. Elle não poude fazer o Clerget por falta de material de laboratorio. O
melaço, segundo Avelino, é todo da presente colheita.
Segundo as suas ordens telegraficas, Belmonte disse-me que tinhamos de receber o melaço, o que é pena, visto termos ainda
um stock elevado d’alcool, e pelos meus calculos somente necessitavamos melaço em Novembro proximo. Como não há
necessidade de o fermentar já, vou conserval’o no tanque grande até Novembro, que é quando principia a fermentação para
aproveitar as temperaturas baixas.
Quanto ao assucar bruto, como temos ainda assucar da Laboração, somente refinarei quando venha o novo Carregamento,
para assim ficar mais economico na despeza.
Os poços de cimento armado para a fermentação estão em andamento e talvez na proxima semana se principie a encher os
moldes. Contudo não os vou empregar sem que o cimento estaja bem seco, e vêr se lhe dá a camada de parafina.
O cozedor e saccharificador (do Milho) já estamos montando. //
[45] O apparelho de retificação deve ficar concluido em breve, e o trabalho de raparação vão bem feitos.
Pouco mais tenho que lhe dizer, e se mais alguma cousa houver lhe direi em outra carta.
Creia-me Seu Amigo Muito Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //
[DATA: ?
CARACTERIZAÇÃO: Notícia dos resultados da fabrica de açúcar da Sociedade Agrícola do Cassequel, a partir de
informações fornecidas por Avelino Cabral, e estimativas feitas por Higino Ferraz da produção de açúcar numa nova fábrica a
ser implantada pela mesma Sociedade]
[46] Resultados do Cassequel, segundo os dados enviados por Avelino386.
Extração media 85,5% do assucar da cana.
Cana com 13,8 % assucar.
Imbibição de 7,5%
Pureza media da garapa normal 86º
Analyses de cana Yuba – 13,8% assucar
Fibra 14,57%
Bourbon – 14% assucar
Fibra 11,27%
Cana colhida: (mesma soqueira)
Não queimada fresca. Analyse garapa: Queimada:
Brix —————— 17,94 17,24
assucar % centimetros cubicos 17,25 16,28
Pureza 89,35 88,05
Coefficiente glucosico 1,15 1,45
Vê-se que tem a cana queimada uma perda de 1,3 de pureza, com perda em assucar de 0,97%, o que deve dár % cana 0,77
assucar transformado (?!!) queimado.
Em 1000 toneladas cana será 7700 kilogramas assucar!!
Quanto á cana limpa na fabrica, calculou Avelino uma perda (palha e sabugos) de 7,48% no pezo. //
[47] Cassequel, segundo notas de Avelino:
Colheita actual – 3 semanas:
Extração media 85,5% – Imbibição 7,5%
Rendimentos:
Em turbinado de 95,5 polarisação (?) 9,3 % =.............8,881 assucar puro
3 kilogramas melaço a 50% assucar Clerget (?) ........ 1,500 “ “
282
Por Perda no bagaço ás caldeiras .................2,001 “ “
meu
calculo
{ “ nas borras .....................................0,357
“ Indeterminadas ......................... 1,061
“
“
“
“
13,800
Meu calculo para a nova fabrica
Cana Yuba com a mesma percentagem acima:
Defibreur, 4 engenhos e imbibição minima 20%
Extração calculada de 95%
Assucar extraido = 13,8 x 95 = 13,11 %, que turbinado em bruto = % de 96º polarisação,
100
deve dar um rendimento de 85% em turbinado = 11,14 assucar% de 96º de polarisação.
Calculo % cana:
Em turbinado de 96º polarisação 11,14 = 10,695 % assucar puro
Perda no bagaço = 0,960 % “
“ nas borras = 0,200 % “
Perdas Indeterminadas maximo 0,400 % “
3,630 kilogramas de melaço a 50% assucar Clerget 1,815 % “
13,800
Salvo Erro ou Omissão. [Ass:] João Higino Ferraz //
Recebi a sua carta de 21 do próximo passado o que muito lhe agradeço e a que passo a responder.
Dou-lhe os parabens por se vêr livre de Vichy, mas estou certo que será sempre melhor do que o Funchal?
Tem razão em dizer que nunca vio orçamentos de fabricas de assucar com tantas diferenças de preços, mas isto hoje é tudo
assim.
O que eu vejo é que o orçamento da Casa Mirrlees389 é a mais vantajosa e é uma boa casa, e é por ella que vou fazer os
calculos conforme a minha fraca inteligencia me dita.
Pelas notas dadas por Costa390 ha umas deficiencias que lhe farei notar no meus [sic] calculos, e uma d’ellas é as vias ferrias
para transporte de canna que para uma fabrica de 1000 toneladas cana em 24 horas não pode ser feito por pequenos Decovelles
283
e wagonettes. Outra é elle calcular que no 1º anno se pode cultivar 1000 hectares de terreno o que acho um pouco forte, não lhe
parece?
Quanto á capacidade dos apparelhos da nova fabrica, vendo bem os meus calculos, devem corresponder aos de Mirrlees, a
não ser o Tuadruple-effet[sic] que é de menor capacidade de evaporação, mas isso é devido a que elle // [50] construi o
apparelho com tubos de 25 millimetros que faz grampage e por conseguinte mais evaporação, emquanto que eu calculei tubos
de 50 millimetros como os de Harvey.
Mas como isto são cousas de mechanica technica ficará para depois.
Quanto á transformação do orçamento tal qual elle está para fazer a nova forma de tratamento das garapas, calculo que os
preços devem ser aproximados os mesmos, visto termos que tirar uns para substituir por outros, que não fará grandes diferenças
de preços. Depois veremos isso.
Xarope d’assucar: O xarope tem sido analysado e está perfeitamente invertido, por isso que, em logar de fazer a ebulição
de 2 horas, fasso de 2 1/2 horas: É o mais que posso fazer. O peor é que calculei vender bastante xarope para vinhos (novos) mas
com a baixa de preço do mosto (25$00 a 30$00) não fáz a conta; é pena... Nunca vi tanto disparate... está tudo louco,
principalmente os exportadores.
Sem mais que lhe possa dizer, visto Belmonte lhe escrever tambem mais detalhadamente, subscrevo-me seu Amigo certo.
[Ass:] João Higino Ferraz //
[DATA: ?
DESTINATÁRIO: Harry Hinton
CARACTERIZAÇÃO: Estimativa dos custos da implantação de uma nova fabrica de produção de açúcar, a expensas da
Sociedade Agrícola do Cassequel, em Angola, assim como cálculos hipotéticos acerca de produção de cana de açúcar, custos
de mão-de-obra, outras despesas, lucros nos primeiros anos de laboração, etc.]
[51] Calculos sobre a nova fabrica de assucar no Loge
Valor da propriadade do Costa391 no Loge calculada
em 4000 hectares ............................................£ 10.000
Predios e machinas existentes ........................£ 5.000
Total valor entrado Costa.................................£ 15.000
Novas instalações:
Pelo orçamento de Mirrlees:
50% do valor de £ 22907 para reiles, locomotivas wagões [sic]
de capacidade para 1000 toneladas em 24 horas ..... £ 12.000
Apparelhos de lavoura completos ..............................“ 6.000
2 lanchões de rio de 100 toneladas ............................“ 3.000
1 rebocador “pequeno........................................... “ 500
Construção do assude no rio ..................................... “ 1.700
Fabrica de assucar para 1000 toneladas cana
em 24 horas completa [sic] .......................................“ 93.210
Predio em ferro completo para Fabricas ................... “ 9.823
Transporte material, montagens etc.? .........................“ 20.000
Predio habitação pessoal branco e
hospital etc.? ..............................................................“ 5.000
Total provavel .....................£ 151.233
Valores entrados por Costa........£ 15.000
Total montado .....................£ 166.233
Em 3 annos devemos ter cultivado de cana aproximado uns 2000 hectares, que ao rendimento calculado por Costa em 70
toneladas por hectare dará 140.000 toneladas cana, que divididas pelos 3 annos dá aproximado 47.000 toneladas cana no 1º
anno, // [52] 94000 toneladas no 2º anno e 140.000 toneladas no 3º anno.
No 1º anno cultivamos 700 hectares, e nos annos seguintes pouco mais ou menos o mesmo até prefazer os 2000 hectares
Calculos para o 1º anno de fabrico
391 António Costa.
284
700 trabalhadores pretos em 13 mezes (?) £ 11.000
12 empregados brancos a £ 300 £ 3.600
Empregados technicos, medico etc £ 2.500
Productos chimicos etc. Laboração £ 1.000
Despezas totaes (?) £ 18.100
Productos:
47000 toneladas cana a 11% rendimento em assucar de 96º polarisação =
5170 toneladas assucar a £ 10 (?) por tonelada £ 51700
3,600 kilogramas melaço % = 1692 toneladas a £ 2 £ 3384
Total productos £ 55084
Resultados do 1º anno de Laboração:
Despezas calculadas acima £ 18.100
Juro do capital calculado para
uma industria assucareira a 10% £ 16.624
Amortisação capital total a 10% £ 16.624
Total £ 51.348
Productos totaes 1º anno £ 55.084
Diferença ou lucro £ 3.736 //
[53] No 3º anno, o lucro calculado deduzindo as amortisações de 10% dos primeiros 3 annos, ficará um capital para o 4º
anno de £ 116.361, o seguinte:
2000 trabalhadores pretos em 13 mezes £ 31.200
Empregados brancos £ 3.600
“ technicos etc. £ 2.500
Productos chimicos etc £ 3.000
£ 40.300
Productos:
140.000 toneladas cana a 11% rendimento em <assucar> de 96º polarisação
= 5170 toneladas assucar a £ 10 ......................................................... 154.700
3,600 kilogramas melaço % = 5040 toneladas a £ 2 .........................£ 10.080
Total productos ...................................................................................£ 164.080
Despezas calculadas em..................£ 40.300
Juro capital inecial de £ 166.233
a 10% .............................................£ 16.624
Amortisação capital reduzido .........£ 11.636
£ 68.560
Total productos.....£ 164.080
Diferença ou lucro no 3º anno ....£ 95.520
Teremos assim que no fim do 3º anno de laboração pode a C.ª assucareira dár um devidendo de 57 a 60% do capital inecial,
devido aos lucros do 1º e 2º anno.
Não está incluido n’estes calculos o que a // [54] propriadade do Loge pode produzir além da cana de assucar, taes como, a
principal, a creação de gado para exportação em carnes congeladas para Portugal ou outros Payses, o que é importante.
Isto que aqui lhe digo pode não estar certo, mas emfim poderá servir para sua orientação.
Acabo agora mesmo de receber uma outra carta sua (vinda de Lisboa) com data de 24 ultimo.
Como diz na sua ultima carta que deseja que eu vá ahi a Londres para me avistar consigo, pedia-lhe para me telegraphar
com uns dias de antecedencia da minha partida para eu poder preparar as minhas cousas a tempo, porque confesso, nem fato
tenho em condições para sahir d’aqui.
Achava bem o Marsden tambem hir. Não deveria tambem sahir sem que Avelino392 venha, para elle poder tomar conta da
fabrica no caso de ser necessario refinar assucar ou fazer alcool.
Esperando as suas ordens Crea-me seu amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
392 Avelino Cabral.
285
[DATA: 28 de Outubro de 1925
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[55] Funchal 28/10/925
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Recebi a sua carta de 15 do corrente que muito lhe agradeço. Vejo que pensa em montar por emquanto uma fabrica para 600
toneladas canna em 24 horas e acho bem assim porque a de 1000 toneladas será muito mais caro, além de outras dificuldades
nos primeiros annos, e mesmo talvez lhe fosse dificil conseguir o dinheiro para tão larga industria em vista das condições dos
mercados d’assucar.
Devem-lhe ter enviado o primeiro rascunho que fiz para uma fabrica de 700 toneladas maximo. Esses desenhos somente
mostra aproximadamente a montagem principal, isto é, os pontos fundamentais dos processos de fabrico e o resto será com a
fabrica construtora.
Refinação do assucar d’Africa: Já terminei a refinação, ficando-me os egouts ricos para reentrar na nova refinação das 400 toneladas
a chegar em Novembro proximo. O assucar mostrou-me 95,6 polarisação. Refinei junto com este assucar o assucar bruto que restou
da Laboração e que não foi transformado em xarope invertido, na quantidade de 53551 kilogramas assucar com 96,2º polarisação.
Já temos espaço para poder destillar o melaço // [56] d’Africa, o que farei em Novembro proximo. As cubas de cimento
estão quasi concluidas, mas não farei por emquanto uso d’ellas sem estarem bem seccas, e depois de levar a parafina.
O apparelho de cozer o milho e o saccharificador de cobre tambem estão montados e promptos a trabalhar. Falta concluir a
canalisação e a montagem do refrigerante novo de Guillebeaud, que até ao fim do corrente devem estar todos montados.
O stock d’alcool no Torreão é de 38.658 litros alcool. Tenho pois espaço para poder fabricar 82.000 litros. O melaço d’Africa
e égoûts refinação podem dár 64500 litros
Fiz mais um pouco de xarope para vinhos e assim fico com os 5 poços de cimento cheios. Deve dár para uns tempos.
Espero que seja feliz na constituição da Companhia, porque vejo pela carta que escreveu ao Belmonte ja tem realisados £
80.000 que é importante. O que deve é têr o maximo cuidado na aquesição da fabrica afim de poder tirar o maximo de resultado
industrial. Seria bom a fabrica ser montada de forma que possa ser augmentada a capacidade sem grandes transformações.
Crea-me seu Amigo Certo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz //
286
[DATA: 5 de Novembro de 1925
CARACTERIZAÇÃO: Notícia da produção de açúcar e alcool em África (Sociedade Agrícola do Cassequel?) e da
Laboração de 1925, esta, muito provavelmente, da firma William Hinton & Sons]
[58] Resultado da refinação do assucar Africa e Laboração
Assucar Africa 144.903 kilogramas de 95,6º polarisação = 138.527 kilogramas assucar a 100º
Laboração 1925 53.551 “ de 96,2 polarisação = 51.516 kilogramas assucar a 100º
198.454 “ 190.043 kilogramas assucar a 100º
Productos:
Em turbinado BBR refinado – 125.685
kilogramas a 99,7 polarisação = 125.308 kilogramas a 100
Egouts a reentrar na nova refinação com 28.728 “
“ Lavagem assucar á Destilação com 30.204 “
184.240 “
Quebra refinado 3,05% ----------------------- 5.803 “
190.043
Rendimento calculado:
Para o assucar da Laboração 1925:
Em turbinado BBR = 44.720 kilogramas a 99,6º polarisação
Em alcool 2.945 litros
Para o assucar d’Africa:
Em turbinado BBR = 99.357 kilogramas a 99,6 polarisação
Em alcool = 20.105 litros
Salvo Erro ou Omissão. 5/11/925. [Ass:] Ferraz //
287
Melaço d’Africa 1ª remessa de 18/9/925 .....................13.000 “
Dos égoûts do assucar d’Africa (51
toneladas) de 18/9/925 .............................................. 11.740 “
Fez até Novembro ......................................................124.740 “
Da 2ª remessa assucar (400
toneladas) cabe-lhe 100 toneladas ...............................24.000 “
Recebeu melaço do Sousa Lara 2000 kilogramas..... 540 “
Feito provavel e a fazer até 31/12/925 ......................149.280 “
Falta-lhe assim para concluir o rateio de 1925 aproximadamente 57150 litros alcool.
Que em Janeiro 1926 venha mais 400 toneladas assucar d’Africa,
cabe-lhe 100 toneladas que lhe dará aproximado = 24.000 litros
Faltar-lhe-ha ainda aproximado = 33.150 “
que deve corresponder a 123 toneladas melaço, ou a 140 toneladas assucar d’Africa.
Para as duas fabricas:
Para concluzão dos rateios de 1925 teremos:
Torreão necessita = 800 toneladas melaço ou 1560 toneladas assucar
S. Filipe “ = 123 toneladas melaço, ou 140 toneladas assucar
923 “ “ ou 1700 “ “
Por estes calculos vê-se que Torreão necessita mais que S. Filipe de 300 toneladas de melaço, ou 1010 toneladas assucar,
recebendo S. Filipe na proporção de 25% das importações. Em assucar bruto é excessiva a importação de mais 1560 toneladas
(1090 a 1100 toneladas em refinado). Devemos-nos cingir // [61] á importação de melaço, ainda que se possa importar algum
assucar além do meu calculo de Janeiro 1926.
H. F. recebeu do Sousa Lara umas barricas de ferro com melaço de Angola do qual elle me mandou uma amostra para eu
analysar e que fiz e que me deu o seguinte:
Saccharose directa – 32,61%
“ Clerget – 35,80 “
Glucose – 20,68 “
Saccarose total – 55,44 “
Pureza 40,71 “
Rendimento provavel em alcool em 40º Cartiere = 28,5 litros %
Vejo pois que este melaço é superior ao melaço da Sociedade Agricula da Ganda, mas Sousa Lara não mandou ainda o preço
do melaço como H. F. lhe pedio.
Vou principiar esta semana na fermentação do melaço d’Africa e dos égoûts da refinação, para o qual já tenho fermento em
actividade, a vêr se termino tudo até 15 Dezembro proximo.
Eleições: Uma derrota completa!! Belmonte lhe contará.
Sem mais que lhe possa dizer subscrevo-me seu Attencioso Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
Avelino395 cá chegou muito bem desposto e deu-me o seu relatorio sobre o que vio, observou e analysou. É um trabalho
conscensiosamente feito e com bastantes dados explicativos do que é a industria de assucar na Africa portuguesa, e assim foi-
me facil avaliar todas as cousas consernentes ao fim que se deseja.
Em vista d’isto vou dizer-lhe o que me offerece sobre o assumpto e os pontos de meior importancia.
Primeiro devo-lhe fazer notar que as facilidades que o Costa396 apresenta em todas as cousas é um processo exagerado, e é
bom assim estar sempre de sobreaviso.
Segundo o relatorio de Avelino e o que elle me diz de viva voz, o ponto principal é a parte agricula, por isso que a
288
propriadade do Loge não tem nada feito n’este sentido. Os arrotiamentos dos terrenos demandão um trabalho insano.
Alujamento para o pessoal de campo é indespensavel, tanto para os empregados europeus como para os pretos.
Segundo o gerente do Lobito é quasi impossivel no 1º anno fazer a plantação de 1000 hectares de cana, e diz elle que se
poder conseguir 600 a 700 hectares é ja um esforço bastante grande, não somente para o arroteamento e aplanação dos terrenos
como para se poder obter cana em condições de replantar. //
[63] Eu mais ou menos já previa isso, e foi n’estas condições que calculei no 1º anno poder trabalhar com 700 hectares
somente. Isso de 1000 hectares no 1º anno é um exagero do Costa!...
Aos calculos que lhe fiz e enviei em 1 outubro do corrente quanto ao rendimento provavel da nova fabrica, pouca diferença
fáz, depois de analysado o relatorio de Avelino.
Pelas medias das analyses de Avelino vejo o seguinte resultado:
Saccharose na cana – 13,5 % medias
Ligneux (bagaço) – 15 % “
Pureza media na garapa 89º
Coefficiente sumo na cana pode-se calcular 79 litros % cana.
Por estes dados medios posso establecer o seguinte calculo de rendimento minimo para uma fabrica racionalmente montada
em boas condições de trabalho industrial e technico, tendo engenhos com defibreur e 4 moendas, imbibição de 20%, podendo
fazer uma extração minima de 95% do assucar da cana.
Com assucar bruto de 96º polarisação o rendimento em turbinado não deve ser inferior a 87% do assucar extrahido, e assim
cana com 13,5% assucar com extração de 95%, dará 12,825 assucar extrahido, a 87% em turbinado bruto de 96º polarisação =
11,157 assucar de 96º polarisação = 10,710 a 100º
Establecido isto assim vamos vêr qual o resultado geral % cana. //
[64] Calculo geral % cana
Rendimento em turbinado de 96º polarisação 11,157 assucar = 10,710 assucar a 100º
Perdas no bagaço = 0,675 “ “
Perdas nas borras Filtros-Presses = 0,200 “ “
Perdas indeterminadas = 0,365 “ “
3,160 kilogramas melaço a 49% assucar total = 1,550 “ “
13,500
Segundo as notas de Avelino, o rendimento de uma semana no Cassequel, foi o seguinte:
Calculo % cana
Em turbinado branco e escuro 9,500 á
media 96,5º polarisação = 9,167 assucar 100º
Perdas no bagaço = 1,850 “
Perdas nas borras Filtros-Presses 0,150 “
2,440 kilogramas melaço a 52% assucar total = 1,270 “
Perdas indeterminadas = 1,063 “
13,500
A extração foi pois de 86,3 % do assucar da cana.
O rendimento em turbinado foi de 81,5 % do assucar extrahido
Dei principio á refinação do assucar vindo ultimamente (400 toneladas) e á destillação do melaço d’Africa e égoûts
refinação.
Sem mais que lhe possa dizer, sou seu Attencioso Amigo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz //
289
condições, o que me agrada bastante por vêr que aprovaram os meus calculos e desposição de fabrico. Somente tem a diferença
de ter 4 condensadores barometricos em logar de um central com ballão tambem central.
Vêjo o que me diz sobre as casas constructoreas Mirrlees e Flectcher, e isso de ellas entrarem com algum capital e darem
prasos seria uma bella cousa. Em França algumas casas constructores de aparelhos fazem isso mas é somente para fabricas que
sejam montadas no proprio pays. Se conseguir que essas em Inglaterra fassam o mesmo para uma fabrica montada na Africa
portuguesa, pode ter a certeza que meteu uma lança em Africa... Pode ser, por isso que o capital é quasi todo inglez.
Calculo o frio que o meu amigo tem tido ahi, porque pelos radiogramas que se recebe aqui, a neve em Londres é de quasi
1
/2 metro!!... Será assim? Para quem está habituado ao clima da Madeira isso deve ser o diabo. //
[66] A refinação do assucar (ultimo) d’Africa foi feita por refinação directa do assucar bruto, isto é, sem lavagem previa do
assucar visto o Belmonte me dizer que o assucar não daria para o consumo tirando pouco assucar refinado e mais alcool.
O assucar porem não ficou tão branco como com a lavagem previa, isto é, ficou muito ligeiramente amarellado; é um typo
como o BB antigo.
O resultado foi o seguinte, calculando por tonelada bruto:
Polarisação do assucar bruto 96º
Rendimento
Em turbinado BB, por tonelada bruto = 805 kilogramas
Em alcool (calculo provavel) “ = 68 litros
Feito o calculo em escudos dá
Custo da tonelada assucar bruto na Fabrica 1:460$00
Despezas de refinação e alcool 248$00
1:708$00
805 kilogramas assucar BB a 2$30 = 1:851$50
68 litros alcool a 9$00 = 612$00 2:463$50
Lucro bruto 755$50 por tonelada
O assucar da refinação anterior com 95,6º polarisação deu:
Em turbinado BBR por tonelada bruto = 685,700 kilogramas
Em alcool = 138,5 kilogramas
Feito o calculo em escudos nas mesmas condições:
Custo da tonelada assucar na Fabrica – 1:460$00
Despezas de refinação e alcool 340$00
1:800$00 (com lavagem previa do assucar bruto)
segue //
[67] 68,700 kilogramas assucar BBR a 2$3 ..........1:577$11
138,5 litros alcool a 9$00 ......................................1:246$50
2:823$61
Custo total ..............................................................1:800$00
Lucro bruto..............................................................1:023$61
Como vê o assucar com lavagem previa dá mais lucro do que o outro, em vista da quantidade de alcool produzido, que é o
doubro, e do seu preço (9$00).
Em todo o caso, mesmo refinando directamente, o resultado é bom, mas a qualidade do assucar é que não é tão bom como
o feito com o assucar lavado previamente. Vejo-me pois na necessidade da nova remessa a vir, fazer em todo elle a lavagem do
assucar antes de o refinar, para se poder bem competir com os assucares brancos importados, e como não temos uma grande
quantidade d’alcool em Stock, convem fazer mais alcool dos égoûts da refinação.
Terminei todo o melaço e égoûts existentes no dia 23/12 e estamos destillando, o que deve ficar tudo terminado a 10 Janeiro
1926 pouco mais ou menos
28/12 O stock d’alcool no Torreão é de............44.502 litros
Provavel a produzir aproximado............36.000 “
80.502 “
Da refinação do assucar d’Africa a vir em Janeiro?............41.500 “
Alcool provavel que podemos contar..........122.002 “
290
Isto até á Laboração de 1926? //
[68] Como vê teremos alcool no Torreão e C.ª Nova (?), continuando as vendas normais até á Laboração 1926:
1925-1926 –Torreão alcool ................................122.000 litros
C.ª Nova alcool .....................................................77.000 “
Para venda, De Janeiro a maio 1926 ..................199.000 “
Em 5 mezes de venda dá pouco mais ou menos 40.000 litros por mez?! Não me parece que com o preço do alcool a 9$00
se possa vender 40.000 litros por mez, não lhe parece?
H. F.397 é que está sempre a falar-me em melaço antes da Laboração, mas vejo que elle proporcionalmente ao alcool que lhe
cabe no rateio, tem vendido mais do que nôs, e tenha paciencia, porque tambem nos cabe vender na mesma proporção do rateio.
Não lhe posso mandar o resultado do melaço d’Africa sem concluir a destillação e retificação de todo o alcool, e isso
somente em Janeiro estará concluido.
Sem mais que lhe possa dizer, espero que os seus negocios lhe corrão o melhor possivel e que a sua volta seja breve.
Seu Amigo certo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz //
291
importantissima para o bom resultado da filtração.
Evaporação:
Proponha um Qudrople-effet de 1000 metros quadrados surface de chauffe pelas razões seguintes:
Calculemos um maximo de 700 toneladas cana em 24 horas; Com a imbibição de 20% cada 100 kilogramas cana dará
apriximado[sic] 90 litros de jus total (garapa e imbibição), dando pois em 700 toneladas cana 6300 hectolitros de jus total bruto,
ou 6200 hectolitros de jus defecado e filtrado.
Estes 6200 hectolitros de jus, sendo a media de 8 1/2 º Baumé = 1.060 densidade, para produzir theoricamente xarope a 30º
Baumé = 1,258 densidade, dará 1440 hectolitros de xarope a 30º Baumé. Teremos pois agua evaporada theoricamente 4760
hectolitros = 20000 litros agua evaporada por hora, fazendo pois o Quadruple-effet uma evaporação de 20 litros agua por metro
quadrado hora. Para um Quadruple parece-me que é o maximo que se pode obter.
O Triple-effet do Torreão dá 25 litros por metro quadrado hora. // [72] É indespensavel o rechauffeur do jus antes da 1ª caixa
do Quadruple, porque o jus terá baixado a sua temperatura durante a feltração, e como a 1ª caixa trabalhará com pequena perção
afim de dár vapor aos rechauffeurs-defecadores etc. é indespensavel que a alimentação do jus feito n’ella estaja a uma
temperatura muito proxima da temperatura de ebulição da 1ª caixa. Esta 1ª caixa trabalhará como um preevaporador.
Cuites:
A modificação proposta por Mirrlees da diminuição da capacidade dos cuites, é minha opinião que são excessivamente
baixas pelas rasões seguintes:
1440 hectolitros theoricos de xarope a 30º Baumé deve dár aproximadamente 676 hectolitros de Melasse Cuite 1er jet.
Calculamos um cuite de 230 Hectolitros em 12 horas, para a cristalisação-evaporação, serragem, despejo e limpeza. Teremos
pois que os dois cuites de 250 hectolitros capacidade total, faram em 24 horas 920 hectolitros theorico de Melasse Cuite.
Teremos porém de levar em linha de conta que estes cuites de 1º jet se deve fazer aproximado um reentrada [sic] dos égoûts de
1ª e alguns egoûts ricos, na proporção de 20% dos égoûts, com o fim de principiar um épuissement antes dos cuites de 2em e
3em jet. Não vejo pois que estes cuites de 250 hectolitros (2) sejão demaziado grandes, e pode ficar algum augmen-[sic] de
capacidade se no futuro se quizer augmentar o trabalho dos moinhos, sem modificar os cuites.
Malaxeurs:
A modificação para pequenos malaxeus[sic], não vejo // [73] grandes vantagens, por isso que uma Melasse Cuite bem
serrada, como convem para o rendimento em turbinado, deve ser descarregada de um sô jacto e por portas de despejo bastante
grandes e n’um sô malaxeur-refroidisseur, e nunca dividil’a em pequenos malaxeurs que obrigará a fechar a caldeira e têr o
perigo da Melasse Cuite indorecer a tal ponto que pode ficar d’entro da caldeira.
Pelo sechma proposto, os pés de cuite para os cuites de 2en jet são tirados dos cuites de 1er jet, e os pés de cuite para os cuites
de 3en jet são tirados do cuite de 2en jet. Assim o épuissement será gradual, e os egouts de 3en jet será melaço épuissée. As
capacidades indicadas não me parecem excessivas.
Não vejo no Devis de Mirrlées o mexidor-de-refonte do assucar 3en jet de 50 hectolitros, que no Sechma está marcado
Melting tank 3rd sugars, que é indespensavel.
Esta refonte do assucar de 3en jet será feita com jus filtrado e entra no cuite de 1er jet com o xarope. O assucar turbinado de
3en jet será nas centrifugas ligeiramente lavado a agua e vapor, afim de dár um assucar de melhor qualidade para a refonte. Os
egoûts ricos d’esta lavagem podem reentrar ou no cuite de 1er jet ou no de 2en jet.
É isto o que a primeira vista me parece deve ser feito, com a pratica que tenho do nosso Torreão e para o fim de produzir
assucar de competencia em Lisboa
Sem mais subscrevo-me seu attencioso amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
Primeiro desejo ao meu Amigo e Ex.ma esposa e filhos que este novo anno 1926 lhes seja prospero em todas as fazes da vida.
Recebi a sua estimada carta de 18 Dezembro ultimo, o que muito lhe agradeço reconhecido por vêr que o meu Amigo se
interessa pela minha nova industria de vinhos.
Vou necessitar efectivamente garrafas tanto do tipo champagne como das ordinarias para vinhos de mesa branco e tinto, e
seria para mim de muito meior vantagem adquiril’as em Portugal (garrafas do tipo champagne) do que importal’as do
292
estranjeiro.
Visto o meu Amigo querer ser amavel com a minha pessoa apresentando-me ou pondo-me em contacto com a sua C.ª
Vidreira, terei n’isso o maximo prazer e vantagem, e pedia-lhe ao mesmo tempo para que me enviasse duas amostras, uma das
garrafas grandes tipo champagne e uma de 1/2 garrafa do mesmo tipo. Quanto ás garrafas para o vinho de meza pretas e brancas
(para o vinho tinto e vinho branco) não necessito amostra, mas desejava que fossem do tipo usado no vinho Borjacas[?] do
Continente, parece-me que 6 a 6 1/2 decilitros.
Outra cousa importante: Como sabe o capital imobilisado em garrafas é bastante grande n’este genero de industria, e assim
seria para mim de grande // [75] vantagem um prazo de pagamento nas remessas, para me habilitar a desenvolver o negocio.
Principio agora, e mesmo que tenha a boa vontade e proteção do meu Amigo e patrão o Senhor Hinton398, não quero de forma
alguma abosar da sua bondade e tudo o que possa fazer para o não incomodar com pedidos de credito, é esse o meu fim.
Outra cousa que espero da sua amabilidade; Sei que no Porto ha tipografias que fazem rolutos[sic] para garrafas de
champagne e de meza com bonitas apresentações, e isso é importante, e tambem o que se chama na industria Champagne o
colarinho da garrafa; desejaria pois da sua bondade, visto não ter no Porto outro conhecimento, indagar qual a tipografia que
produz esses rotulos, e pedir para me enviarem amostras de varios tipos para eu escolher, e os seus preços, que depois eu diria
quais os dizeres a pôr nos rolutos[sic].
Esperando receber a sua resposta, ou das casas a quem me recomendar, subscrevo-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado.
[Ass:] João Higino Ferraz
Conta[?] William Hinton & Sons. Funchal //
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[78] Na representação elles calculão o rateio como em 1925 de 850.000 litros, e como eu lhe disse que dos residuos da cana
(melaço), as fabricas matriculadas poderiam na media retirar 150.000 litros alcool (não contando o alcool directo da cana),
chegamos á conclusão que faltaria 700.000 litros alcool, que destillado de vinho seria necessario queimar 76.087 hectolitros de
vinho!! Ou seja 15218 pipas de 500 litros, isto é, a colheita total da Ilha!!
Representão pois contra a prohibição da entrada do melaço das colonias, visto ser indespensavel ao fabrico do alcool para
o tratamento dos vinhos Madeira, representando isso uma entrada de ouro pela exportação em vinhos. Isto são pontos principaes
que mais nos interessa e o resto acho tudo bem claro e bem feito. O artigo do Diario da Madeira é que lhe habrio os olhos...
valha-nos Deus!
A diferença entre os calculos do artigo do Diario da Madeira está no vinho calculado com 9º por elle, e 8º por mim.
Elle pede ao França para enviarem essa representação emquanto o Senhor Hinton está em Lisboa e elle prometeu-me enviar-
ma segunda feira 8, mas Belmonte vai falar ao Portugal dos Santos para vêr se podem enviar amanhã. É bom estar de acordo
com estes amigos e tel’os do nosso lado, porque podemos obter mais facilmente o que desejamos. //
[79] Xarope assucar para Blandy e Madeira L.da: O gerente dos vinhos falou com o Belmente dizendo que hia necessitar 100
sacos de assucar para calda e como Belmonte não tem assucar suficiente para consumo, disse-lhe porque não levava xarope
assucar? Elle disse que não estava habitudo[sic] (?) a gastar esse xarope nem sabia como deveria empregar (parbleaux!!);
mandei-lhe uma amostra e escrevi-lhe dando todas as indicações para o emprego do xarope, e devido a isso fizeram uma
encomenda de 15.000 kilogramas... graças a Deus!... Como tenho aproximado 35.000 kilogramas estou habilitado a fornecer.
Estou continuando a destillação e retificação dos égoûts da refinação, que deve ficar concluido a miado da semana proxima,
isto é, antes de principiar a Laboração de 1926.
O stock hoje de alcool é 26.000 litros.
Aparece agora novo papelucho ao publico sobre preços cana etc. (politiquice já se vê), chamando propriatarios a se
reonirem, para hirem ao nosso amigo Governador. Belmente lhe enviará essa bella obra politica.
Sem mais, subscrevo-me Seu Amigo Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz //
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Je voi par votre derniere du 23 aout, que les produits pour mes vins est partie par le vapeur “Formose” que doive arriver au
Funchal á 3 du corrant.
Thermometres: les pieces ont encore arrivai cassée une fois de plus!!... Il veau mieux ne pas pauser à envoyer de nouvelles
thermometres. Suivant je vai l’emballage á eté bien fait et comme cá ne doive par se casser, mais... peut etre que les ouvrieres
ou dejá mis cassée dans la boite?... En tout cá c’est fini cette affaire.
Avelino400 est encore en Afrique, et comme vous voyez, le france... C’est de moi!!... Je vous demande pardon de mou
mauvaise frances. //
[83] En esperant la guerison complete de Madame Bisson, je lui envoi et á son Mari, mes compliment, et aussi á Madame
Lefebvre.
Pour vous, mon cher ami, a l’assurance de mon meilleur deveument et amitie sincere. [Ass:] João Higino Ferraz //
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Como o xarope está sendo sulfitado e filtrado, deve dár um assucar magnifico para caldas. Do restante assucar (de refinação)
vou fazer xarope invertido claro, porque não temos nenhum á muito tempo.
Seu Amigo Certo. [Ass:] Ferraz //
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sendo o xarope de mais facil filtração, e dando um assucar refinado mais branco e mais brilhante. A refinação deve ficar
terminada esta semana.
Quanto ao assucar do Brazil que deve chegar, não se vai refinar por emquanto, porque como diz na sua carta, não deseja
refinar emquanto o carvão estiver caro; estou a vêr que somente em Janeiro ou Fevereiro o carvão possa descer um pouco.
O melaço do Tanque Grande deve ficar terminado a 30 do corrente, mas vou ter necessidade de destillar um pouco dos
égoûts da refinação. Depois lhe direi.
Tudo corre bem e sem novidade.
Chegou hoje (23) o assucar do Brazil (500 toneladas); o typo é bom e um pouco mais claro que o de Africa, mas fazendo
agora mesmo uma analyse provisoria, encontro somente 94,3 polarisação, isto é, mais fraco que o de Africa. A analyse
defenitiva posso fazel’a, mas é necessario um lote // [90] regular de pelo menos 10 sacos. Se acha necessario fazer pode
telegrafar logo que receba esta. Como não sei as condições de compra, por isso lhe fasso esta observação.
Levanta-se novamente a questão de importação de vinhos do Continente, porque o Governo promolgou uma lei autorisando
essa exportação em barril de 100 litros (!!), dizem elles para evitar o alcoolismo pelo consumo da aguardente de cana, e obrigar
o consumidor a beber vinhos fracos (?) do Continente. Augmentão o imposto da aguardente para 2$00 por litro. Mas de que
serve isso? Isto é, a aguardente pagará 9$00 por gallão, que augmentando ao custo da aguardente, que seja 15$00, ficará em 24
a 25$00 gallão. Como sabe a aguardente ja esteve a 50$00 por gallão e o consumo não diminuio.
Toda a questão é a importação de vinhos do Continente para o fabrico do Madeira, e como sabe cada pipa de 600 litros
vinhos a 12º alcool contem assim 72 litros alcool que deixamos de vender. Eu sei bem que na Madeira se faz vinho de assucar,
agua e alcool, mas pelo menos esse assucar e alcool é nosso, emquanto que importando do Continente umas 5000 pipas,
deixaremos de vender 360.000 litros alcool! Isto é importante.
Nota: Acabei de saber pela correspondencia de Crispin que o assucar do Brazil tem contrato especial e que é necessario tirar
amostras officiaes. Fica pois sem effeito o que lhe digo acima. Da amostra que se fizer farei a analyse defenitiva.
Seu Attencioso Amigo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz //
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Cassequel não lhe traga novos desgostos e cuidados, são estes os votos de um amigo sincero e leal.
Não mandei ao Avelino402 as capacidades das cubas por isso que o Senhor Hinton me não disse, mas por uma carta que
recbi[sic] de Avelino, vejo que o Senhor Hinton lhe enviou as notas que eu lhe tinha mandado. O que elle me disse é que estavão
augmentando a capacidade das antigas (?) e fazendo novas cubas. Recomendei-lhe que não fizessem desparates na montagem
para de futuro não ser mais dificil remediar. A destillaria deve trabalhar durante a Laboração da cana, para não ter que trabalhar
no tempo do calor mais forte em Africa. Quer que mande ao Avelino a nota das Cubas?
Melaço d’Africa: Não comprendo esses analystas da Alfandega de Lisboa! Então o melaço não tem glucose? Elle tem, pela
analyse aqui, e que mandei para Lisboa, 15,23% com uma pureza Clerget 45º. Se fosse xarope deveria ter pelo menos 60º
pureza. Isso é questão de apanhar multas!
Seu Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
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porque uma bomba centrifuga fáz emuleção das borras da defecação e a feltração e tourteux não se fáz bem.
Quanto á bomba para levar a garapa fria aos rechauffeurs essa pode ser centrifuga. No meu croquis mostra isso bem
explicado.
Quanto ao rendimento real do melaço de Java e Laboração não lhe posso mandar ainda porque estou retificando o resto do
alcool, e somente para 22 ou 23 do corrente estará tudo retificado. Depois lhe enviarei.
O alcool sempre bom, depois do tratamento do permanganato.
Crea-me Seu Amigo sempre sincero. [Ass:] João Higino Ferraz
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[Copiador de Cartas. 1927-1929]
DESCRIÇÃO: O título deste copiador foi atribuído por nós, assim como a sua numeração, a lápis. Estamos na presença de
livro, papel, cujas medidas são 27 cm x 21,5 cm, e encontra-se em bom estado de conservação.
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[DATA: 18 de Fevereiro de 1927
DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola]
[1] Funchal 18/2/927
Meu caro Avelino
Disse-te na minha ultima carta, que não te escrevia mais e esperava a tua volta, mas o Senhor Hinton403 deseja que
esceva[sic] para te dár algumas explicações sobre novas montagens.
Primeiro estimo que continuis a passar bem de saude.
Como d’esde Janeiro do corrente anno a propriadade do Cassequel passa á nova Companhia, e desejando o Senhor Hinton
que a laboração futura tenha um rendimento superior ao obtido da ultima colheita, sugeri ao Senhor Hinton a montagem do
novo tenden de 4 engenhos para moer a canna fazendo uma imbibição regular, porque como actualmente no Cassequel o ponto
fraco de fabrico é os engenhos e Filtros-Presses, podes assim trabalhar em boas condições de extração, trabalhando, já se vê,
os novos engenhos a meia força, o que não é dificil. Toda a questão está em dár força á montagem dos engenhos afim de
poderem trabalhar na nova colheita.
Deves comprender que todas as canalisações de // [2] vapor directo e exausto são provisorias, porque a força mutris será
tirada das caldeiras existentes. O Senhor Hinton desejava tambem, sendo possivel, montar os sulfitadores novos e os fornos para
o SO2 assim como a bomba d’ar comprimido. Feito isto n’estas condições, a garapa sulfitada e alcalinisada ou não segue para
a antiga fabrica para ser tratada como actualmente, isto é, defecada e decantada
Vão agora 3 Filtros-Presses Dhen que tinhamos aqui para a filtração da Melasse Cuite de 2º jet, que são uns filtros
magnificos para a filtração das borras de decantação, e estes 3 filtros dão mais que suficiente para o trabalho de 350 toneladas
cana. Ficará assim a fabrica em condições de tirar um rendimento em assucar muito superior ao actual. Estes filtro-presses
devem ser montados no logar dos antigos, pondo essa beleza de parte, e em condições da descarga das borras se fassa
facilmente. Vai em pouco tempo um bomba [sic] nova. Quanto á montagem apenas necessitamos a canalisação da bomba nova
aos filtros presses, e uma canalisação d’agua e vapor. O Engenheiro deve saber isso como se monta, pela planta. Mandei tirar
dos pratos as chapas furadas que não são necessarias, e mesmo // [3] traria deficuldades porque taparia os furos facilmente.
Ficará pois a montagem como temos aqui, mas somente para alta perção dada directamente pela bomba dupla.
É bom notar que na montagem do tenden de 4 engenhos se deve fazer a montagem da imbibição etc., como dos planos que
dei ao Senhor Hinton, para assim se fazer o maximo de extração. O Quadruple-effet que ahi tens não sei se dará para a
evaporação dos jus de 350 toneladas, mas mesmo que apenas se fassa 300 toneladas, já é bom, e o rendimento será superior.
Tens pois, resumindo, as seguintes montagens:
1º Filtros-Presses novos, inutilisando os antigos, e nova bomba
2º O tenden completo dos engenhos, com a imbibição racional, e canalisação de vapor directo, exausto etc, assim como
canalisação do jus bruto á antiga fabrica, ou aos novos sulfitadores.
3º Sulfitadores (sendo possivel), fornos de SO2 bomba d’ár etc. e com canalisação, n’estas condições, do jus sulfitado aos
defecadores actuais.
Tudo o mais segue como actualmente.
O Senhor Hinton deseja que eu vá com elle em Junho proximo para combinarmos as montagens da nova fabrica.
Teu sempre amigo certo, e até a volta. [Ass:] João Higino Ferraz //
403 Harry Hinton.
303
[DATA: 2 de Março de 1927
DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre]
[4] Funchal 2 mars 1927
Mon cher ami Monsieur Lefebvre
Je responde à vos deus lettres de 22 et 23 derniere.
Dans la lettre de 22 je vous remercie bien vos votes pour la guerison de ma fille, et elle à començait à prendre la Lomine.
Bien nerci[sic] pour tout.
Afferes Hinton: Nous avont recu le reporte sur l’alcool symteptico. Bien merci.
Lettre de 23/2: Le coupe bagasse Hollandez, les plans que vous envoyez c’est exactement de même que nous avons dans le
Laboratoir et qui a ette envoyez en Afrique. Cellui de Lemos c’este le même type, seulement la Nº ette plus petite, mais s’il na
pas comme le notre acheté le Nº 1597. Il faut envoyer à tout prix.
Je và prevenir le boureaucis[?] pour vous envoyer 5000 francs et faire la commende. C’est la C.ª d’Afrique qui doive payer!.
Je termine la lettre pour vous remerciere bien tous que vous avez faite. Compléments á tous
Votre Ami devue. [Ass:] João Higino Ferraz //
304
Antonio Casas – Setubal
Rua Baluarte de Santo Amaro
5000 rolhas, qualidade 1037 – calibre 20 x 12 1/2
As de 1926 custaram a mesma quantidade.....1:250$00
Frete e seguro ................................................. 34$00
Funchal Total ..................................................1:284$00
Saudade a todos e um abraço do teu velho amigo e primo. [Ass:] João Higino Ferraz //
305
Recebi agora mesmo a tua longa carta a que vou responder.
Em primeiro logar a sua saude e dos teus. Obrigado pelos teus bons votos das melhoras da pobre Mathilde.
Vamos agora ao caso dos filtros que toma a meior parte da tua carta. Quanto te escrevi aquelle pequeno bilhete foi com
franqueza de amigo velho, mas nunca com intenções de te offender no teu logar de derector da C.ª do Cassequel. Quanto aos
outros cavalheiros não tenho a honra de conhecer, a não ser o nosso Costa407 que o conheço bem de gingeira... O que eu vi n’isso
dos filtros foi a carta que o Senhor Hinton408 me mostrou; copia da carta de Lefebvre409 era um verdadeiro desparate, e não podia
advinhar que esse Senhor Empregado tinha multiplicado por 5...!! e isso que o Senhor Hinton me mostrou era a copia (segundo
elle) do orçamento de Lefebvre. Era n’isto que eu via a grande patifaria?!, ou patifaria sem nome?! Como quiseres... O que o
meu caro Henrique pode ter a certeza, é que com esta maneira de dizer é e foi dito somente a ti, sem intenções offensivas // [12]
para ti. O que eu te pesso, meu caro Henrique, é que não te fassas um Belmonte Nº 2... Já me deves conhecer á muito tempo
para fazeres uma edeia dos meus sentimentos.
Estes desabafos quanto a essas negociatas d’Africa, é o resultado do que se tem passado com o Loge, e Deus primita não
continue no Cassequel. Crê, meu caro amigo, que depois do Loge fico sempre de pé atraz... O que queres, são rabugisses de
velho...
Termina por aqui este acidente, que farei todo o possivel não se repita outra vez; Eu nada tenho com esses negocios d’Africa,
e se lá vou é para ser agradavel ao Senhor Hinton a quem devo amizade e reconhecimento, quanto aos outros que se lixem...
Crê-me sempre um amigo verdadeiro, incapáz de offender um homem de bem como tu, e leal.
Teu primo e Amigo velho
[Ass:] João Higino Ferraz //
306
[DATA: 11 de Outubro de 1927
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[15] Funchal 11/10/927
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Cheguei de Lisboa no dia 6 do corrente pelo vapor “Nyassa”.
Henrique410 deve-lhe têr escripto o que se tem passado em Lisboa depois da sua sahida, assim como Belmente o que por cá
se tem passando, e assim eu tudo quanto tenho a dizer-lhe sobre a questão na nova Lei pouco adiantará.
Tenho porém a imperção de que as reclamaçãoes dos aguardenteiros, se por um lado nos pode prejudicar, caso venhão a
modificar a Lei!?, para elles será porém muito peor, porque estou certo que o Governo a modificar terá sempre em vista a
diminuição do fabrico da aguardente pela eliminação das fabricas do sul, e assim esses ediotas que deverião somente tratar dos
seus interesses, veem baralhar tudo, por conselho do seu mentor o patife do Dr. Quirino411, que não tem outro fim senão vingar-
se do Senhor Hinton. O futuro mostrará aos ediotas dos aguardenteiros se isso será como eu digo ou não...
Quando cheguei tive uma conferencia com o Senhor // [16] Marsden sobre a modificação do nosso Triple-effet como lhe
tinha falado, e ficou acente que este anno se fizesse como eu proponha; empregando o Kestner, porque assim a despeza a fazer
será muitissimo menor do que a montagem de uma nova caixa. Mesmo que a nova Lei fique tal qual está, nunca poderemos
(Torreão) moer mais de 22.000 toneladas cana para assucar, que dará 60 dias uteis de Laboração.
Estou dando principio aos fermentos, e conto que a 14 do corrente esteja já fermentado.
A situação em alcool provavel será aproximado a seguinte: (Torreão):
A 11/10 stock do alcool no Torreão ...............................19.620 litros
Melaço restante da Laboração .......................................28.000 “
Melaço d’Africa despacho em Lisboa ...........................12.610 “
“ “ por despachar (C.ª Nova) ..................30.630 “
Egoûts da refinação das 300 toneladas assucar bruto
de 96º polarisação a chegar – .................................... 25.500 “
Total em alcool provavel..............................................116.360 “ que será alcool até fim do anno
1927, mais stock da C.ª Nova.
Quanto ao assucar de 92º polarisação que deve vir em Dezembro proximo, o alcool dos égoûts será para 1928.
Como o engenheiro me disse que o Senhor Hinton queria fazer a montagem novamente dos Filtros-Presses para a Melasse
Cuite de 3º jet, para fazer um épuissement mais completo dos // [17] melaços da Laboração, se assim o fizer, bastará dois Filtros-
Presses Dhen de 100 metros quadrados, que dá suficientemente para Torreão, visto C.ª Nova não nos enviar garapa para assucar
Em todo o caso sempre lhe vou dár um calculo aproximado dos resultados que se pode obter:
Com um bom épuissement dos melaços, com a montagem que temos actualmente e fazendo tudo em assucar branco de 99,7º
polarisação devemos no maximo têr 5 kilogramas melaço % cana, com rendimento em alcool de 30 litros % melaço = 1,5 litros
alcool % cana.
Com a montagem dos Filtros-Presses para a Melasse Cuite de 3en jet deve-se obter no maximo 4,5 kilogramas melaço %
cana a 29 litros alcool % = 1,305 litro alcool % cana.
Calculando um maximo para assucar em 24.000 toneladas cana, e 1000 toneladas cana estragada para a C.ª Nova, dará em
alcool:
Com a montagem actual dará 434.000 litros alcool
“ “ dos Filtros-Presses dará 387.200 “
Como actual – Diferença a mais 56.800 “
Calculando que Torreão possa importar para refinar 1500 toneladas assucar bruto de 96º polarisação, os égoûts dará em
alcool 127.500 litros alcool
Total em alcool será:
No 1º caso (montagem actual) = 561.500 litros alcool
No 2º “ (com os Filtros-Presses) = 514.700 “ “
Diferença 46.800 “ “ //
[18] Passando a nova Lei tal qual está, e calculando para 1928 um rateio de alcool para vinhos de 400.000 litros (?) e 295.000
410 Henrique Tristão Bettencourt Câmara.
411 Quirino Avelino de Jesus.
307
litros para desdobramento pela Junta Geral [?], terá Torreão e Comp.ª Nova 75% = 522.000 litros alcool.
Vê-se que com a montagem dos Filtros-Presses temos um device de 7.300 litros alcool que será prenchido com o rendimento
do milho como mosto nutritivo.
Não passando a Lei tal qual está (?), teremos as fabricas d’aguardente a trabalhar?, e assim teremos menos cana a moer:
Qual será o contitativo? É isso que não posso calcular.
Até hoje não temos noticias do vapor que deve trazer as 1as 400 toneladas assucar de 96º polarisação, mas deve estar amanhã
ou depois. Vou tirar amostras pela alfandega e fazer a analyse d’elle, porque não tendo os 96º polarisação deve sufrer diferença
no preço; não é assim?
Quando sahi de Lisboa, Henrique ficou muito aborrecido por ficar sô e não têr ningem com quem possa combinar qualquer cousa
que se dê sobre o novo regimen saccarino, mas eu deixei-lhe todas as notas para lhe ser mais facil decidir qualquer eventualidade.
Crea-me seu attencioso amigo obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz //
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A perdas [sic] indeterminadas do Torreão em 1927 foi 0,408% cana. //
[21] Fazendo as medias de 15 agosto a 11 setembro, temos o seguinte:
Garapa normal (1º engenho) assucar % centimetros cubicos .................17,83
Pureza .......................................................85,86
Pelo coefficiente 78, o assucar % cana = 13,907
Perdas no bagaço 5,02% (32 kilogramas) = 1,606% cana.
Assucar extrahido 12,301 ou 88,45% do assucar da cana.
Calculando 73% em turbinado puro % assucar extrahido, dá rendimento 8,979 em assucar puro % cana. Isto corresponde
em turbinado real (B e C) 9,28 assucar %!!
Vê, meu caro Avelino, como trabalhando cana no seu estado de maturação os resultados que se podem obter!
Vi bem o resultado da analyse do ensaio de plantação de cana Yuba nas “Palmeirinhas” e fiquei espantado... Fazendo o
calculo do assucar % cana, deu-me 15,256%!!
Cana d’esta, na nova fabrica, é para dár um rendimento em turbinado (B e C) de 11,59%!!!
Se toda ella fosse assim?!
Vejo tambem que o quadruple-effet está trabalhando muito melhor do que em 1926, por isso que está tirando xarope na
media de 25,3º Baumé [.] A pureza do melaço é que acho um pouco elevada (45,866 media), mas isso deve ser devido a estares
tirando 40% em branco, não é assim? //
[22] Vejo tambem que as instalações da nova fabrica vão antando[sic] bem. Contas que em Julho de 1928 já esteja tudo montado?
Uma cousa que eu desejava saber, e te pedia para me mandares nota, é a capacidade dos decantadores da garapa decantada,
isto é, os que ficão junto do Quadruple-effet, e dizeres tambem se n’um trabalho normal de 340 toneladas como devem estar
fazendo (?), todos os decantadores estão em servico. (Manda a capacidade cada um). Pesso-te isto simplesmente para um caso
de futuro não convir empregar o systema de filtração total do jus, por ser caro, qual deve ser a capacidade em decantadores
necessarios para um trabalho maximo de 800 toneladas cana em 24 horas.
Recomenda-me a todos os meus amigos ahi, e fáz os meus respeitosos comprimentos á esposa do nosso amigo Prezado.
Como especial um abraço ao Prezado, Alves, Munro, Guerra e Lemos.
Ao teu preparador do Laboratorio muitas recomendações, e que espero quando voltar ahi o encontrar ainda contigo.
Um abraço do teu Amigo velho. [Ass:] João Higino Ferraz //
309
de nova refinaria para o nosso açucar Colonial. Envio-lhe tambem junto umas notas sobre tratamento de carvão animal que
prometi enviar ao Chimico de Santa Iria, e que o Senhor Costa fará o favor de lhe mandar.
Mandei tambem ao Senhor Hinton413 a copia da carta a Kestner, e disse-lhe que, como o Senhor Costa deve hir a Londres
(segundo ouvi d’uma conversa com elle), seria de grande conveniencia os dois hirem a Lille vesitar a Casa Kestner e daí mais
algumas explicações sobre o assumpto, no caso de sempre quererem a modificação da refinaria de Sta. Iria, ou montagem de
uma nova refinaria para o açucar do Cassequel
Desejando as suas felicidades, Subscrevo-me Seu Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
310
[28] Quanto ao assucar do Buzi, ja lavei metade e que estou refinando, e logo que termine a refinação d’este, vou lavar o
resto e refinar.
Principiamos a vender o assucar refinado amanhã 27
O rendimento do melaço em alcool tem sido bom, mas não lhe posso mandar ainda o resultado sem terminar o lote.
Sem mais que lhe possa dizer, termino desejando boa saude e felicidades, presentes e futuras.
Seu Attencioso Amigo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz //
311
que não é demais. O pano deve têr 1,15 metros de largura, e deve ser egual á amostra. Termio[sic] hoje a lavagem do restante
assucar de Buzi, e vou dár continuação á refinação que deve ficar terminada na data acima dita.
O melaço d’Africa deve ficar terminado a 10 Novembro. Como amanhã é feriado tem esta carta de ser enviada hoje para o
Escriptorio, e por isso termino.
Seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz //
312
Quanto ás fermentações está quasi terminado os melaços da Laboração (resto) e da Africa, estando já a fermentar os égoûts
da refinação.
A quantidade d’alcool retificado feito até hoje é de 56.000 litros.
Quanto o que me diz dos Artigos do Diario da Madeira são effectivamente bons, mas os artigos publicados em Lisboa feitos
pelo M. de Carvalho e assignados por Henrique421, o primeiro magistral, o segundo muito longo e cheio de elogios ao maldito
Quirino422, mas estou a vêr que esses elogios podem ser considerados como toça[sic] por uns, mas tambem como elogiativos
por outros!... Eu sei bem que Quirino não assigna nada que os outros publicão (Pestana Reis), e o M.C.[?] não tem um pé para
o ferir directamente o Quirino. Além d’isso elle é um seu colega... mas não na patifaria. Eu calculo as deficuldades que Henrique
tem tido mesmo assim, para elle escrever alguma cous[sic]. Como não é o M.C. que assigna mas sim Henrique em nome de
William Hinton, podia chegar-lhe um pouco.
Seu Amigo certo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz //
313
Alcool provavel do assucar Buzi de 92º polarisação ........... 57.700 “
Total alcool provavel ............................................................190.610 “
Dará pois, vendendo pelo maximo, 38.000 litros por mez (?), para 5 mezes, isto é, até 15 abril 1928. //
[38] Quanto aos panos para os Filtros-Presses vou dizer-lhe como calculei para os 10.000 metros, e sobre umas 30.000
toneladas cana no maximo, isto é, uns 80 dias de Laboração. É necessario notar que não temos panos nenhuns. Cada pano
dobrado (duble pano egual á amostra que é o que dá melhor resultado) leva 5 metros de pano. Temos 7 Filtros-Presses em
trabalho que leva 52 panos; carga completa para os 7 filtros = 364 panos.
Calculei 4 ordens panos para cada filtro, visto que no fim da Laboração 50% dos panos estão inotilisados. Sendo assim seria
um total de 1456 panos ou seja 7280 metros de pano.
Restaria pois para os 10.000 metros 2720 metros = 544 panos. Como a meia Laboração teremos de parte estragados 25%,
restaria 1500 panos que é 4 cargas para cada filtro até ao fim da Laboração.
Querendo porém têr somente 3 cargas de panos para cada filtro, será necessario uns 6000 metros de pano (1200 panos).
Os panos usados servem para mangas e para os filtros Fillippe da garapa, e assim não são completamente perdidos.
Para os filtros mechanicos do xarope é pano felpudo e que deve vir uns 500 metros e 440 metros de corda especial para elles. //
[39] Como o Senhor Hinton já encomendou 2000 metros pano para os Filtros-Presses, e querendo 3 ordens panos para cada
filtro, terá que comprar mais 4000 metros.
Faço-lhe porém notar que com 4 ordens de pano para cada filtro, ficamos mais garantidos, e os panos bons servem para o
anno seguinte, e os usados estragados para os filtros Fillippe da garapa.
Resumindo teremos: Para 4 cargas por filtros 10000 metros
Para 3 “ “ 6000 metros dedusindo, já se vê, os 2000 metros já encomendados, será
pois a comprar no 1º caso – 8000 metros
2º caso – 4000 metros
Destillação dos melaços e égoûts refinação:
A destillação e retificação dos melaços e égoûts da refinação Buzi de 96º polarisação deve ficar terminada para a semana
proxima, e quando terminar lhe darei o resultado do rendimento, mas vejo d’esde já que o rendimento é bom.
Deixei de reserva 11.100 kilogramas melaço d’Africa para os fermentos, quando venha o assucar do Buzi de 92º polarisação.
Não vou agora retificar as escencias e etheres, para trabalhar com ellas durante a destillação dos égoûts do Buzi a vir em
Dezembro, e assim refinando e destillando, fazer a esperiencia das novas grelhas (fornalhas) das caldeiras de vapor //
[40] Refinação do assucar Buzi (de 90º)
Terminamos a refinação e vou dár-lhe os rendimentos aproximados do assucar bruto, mas pelo pezo da balança das
centrifugas, porque o ultimo lote esta-se ainda pezando, e somente depois d’isso lhe posso dár o real.
assucar bruto refinado de 95,7º polarisação 298.922 kilogramas
Rendimento aproximado:
Assucar refinado branco para consumo 216.956 kilogramas
Assucar do ultimo cuite para xarope assucar
invertido está incluido acima.
Assucar restante nos égoûts para nova
refinação do Buzi de 92º polarisação.
calculados em assucar turbinado branco 7.590 kilogramas
Total em turbinado provavel 224.546 kilogramas
Dá pois um rendimento provavel de 751 kilogramas assucar por tonelada bruto
Em alcool dos égoûts dará 93 litros alcool “ “
A quebra de refinação foi de 3,2% do assucar a 100 polarisação
Tenho para xarope assucar invertido 18.750 kilogramas do ultimo cuite e que está quasi branco, e dará um xarope assucar
invertido 25.200 kilogramas xarope.
Como alguns compradores de xarope assucar me teem falado dizendo se nôs podessemos preparar um xarope já avinhado,
isto é, um xarope-vinico, elles poderião empregar directamente no vinho dando um // [41] melhor resultado no tratamento do
vinho, e assim pensei o seguinte: Fiz esperiencia de laboratorio em 1/2 litro de xarope assucar invertido juntando-lhe a quente
40% do meu vinho dando assim um xarope-vinico com bom gosto a vinho e ficando a 29º Baumé.
A quebra no volume foi de 4,2%, mas eu calculei 4,5% de quebra.
314
Como se vende actualmente o xarope a 3$00 por kilograma, calculando o preço do xarope vinico a um valor de 5$00 por
litro, fica o assucar empregado no xarope a 3$40 por kilograma.
O preço do vinho calculei a 5$20 por litro.
Desejava pois fazer um poço n’estas condições, mas para vender quando esteja completamente resolvido estas questões do
novo decreto, para não dár causa a ditos dos nossos amigos.
Como sabe tenho em vinho meu aproximado 67.000 litros vinho tratado a 19º alcool, que está bom, mas não ha meio de
vender por emquanto, e assim com o vinho meu empregado no xarope, hia amortizando a minha conta na sua casa.
Em todo o caso sempre vou fazer um poço n’estas condições para vêr melhor o resultado pratico, e é xarope de venda facil.
O xarope feito por elles (exportadores) deve sahir mais ou menos ao preço de 5$00 por litro em 29º Baumé, e naturalmente
não invertido. //
[42] Tem-me esquecido dizer-lhe que o Vinagre do alambique tive que o despedir, sem sua auctorisação, porque foi
malcriado comigo por fazer refleções sobre o épuissement da columna de destillação. Este pateta emaginava que sahindo a
destillaria não trabalhava!!
Já quando eu estava em Africa elle foi malcriado para com o Marinho425, e como sabe tambem com o Belmonte, e assim fica
suspenso até o Senhor Hinton vir para a Madeira. Para o Alambique não o quero mais. Tem vindo comigo para me pedir
desculpa, mas eu tenho-lhe dito que quando o Senhor Hinton vier que resolverá. Como é um homem antigo na casa, pode servir
para a balança das canas.
Sem mais que possa dizer subscrevo-me seu Attencioso Amigo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz //
315
Nota: Restou n’um tanque 11.000 kilogramas melaço Africa (que estava na C.ª Nova) para fermentação futura.
Retifiquei todo o alcool restando somente para retificar de futuro:
Escencias no tanque grande 9.840 litros em 40º
Etheres no armazem 8.830 “ “
Total por retificar 18.670 “ “
Stock total do alcool a 22/11/927 = 79.708 litros em 40º
Tem pois todas as notas tanto da refinação como do alcool produzido e a produzir.
Envio-lhe separado um calculo do resultado comercial da refinação do assucar Buzi de 95,7º [.] Calculei o assucar a 2$80
por isso que vejo baixa no assucar estranjeiro, e teremos alvez[sic] de baixar o nosso (?)
Crea-me Seu Amigo certo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz //
316
Melasse Cuite deveria tel’os estragado um pouco, mas tambem o preço foi bem baixo. O peor é que o Senhor Hinton429 vendeu
esses e tem agora que comprar outros 2 novos para o trabalho da Melasse Cuite de 2º jet, porque com as novas leis teremos que
fazer um épuissement o mais completo do melaço, porque o alcool deve diminuir as vendas devido á nova Lei sobre vinhos, e
não convem haver excesso d’alcool.
Esses filtros presses devem ficar na Fabrica velha, porque é minha opinião têr sempre essa fabrica em estado de trabalho para um
caso eventual. É bom pois o Engenheiro deixar na nova fabrica o logar para 3 Filtros-Presses novos, no caso de ser necessario montar.
Quanto á Fabrica Nova, achas que ficará promta a funcionar em agosto? //
[48] Naturalmente logo que termine aqui a Laboração, que este anno deve levar uns 3 meses, devido as fabricas de
aguardente do sul não trabalharem, devo hir á Africa com o Senhor Hinton e o Marsden, para dár o inicio a Laboração na nova
Fabrica, como ficou combinado.
Pesso-te meu caro Avelino, para entregares ao nosso Amigo Pegado os bilhetes de visita que te envio junto.
Os meus agradecimentos pela tua sentida carta pelo falecimento da minha querida Mathilde, e por ella vejo a estima que
mostras por mim e que nunca se apagará da minha memoria.
Um abraço para todos os amigos d’ahi, e para ti uma grande [sic] abraço do teu verdadeiro amigo dedicado. [Ass:] João
Higino Ferraz //
317
[DATA: 12 de Dezembro de 1927
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[51] Funchal 12/12/927
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Recebi a sua carta do dia 10 do corrente a que respondo.
Na minha carta de 22 proximo passado dizia-lhe que tinha terminado o melaço, mas na minha de 16 proximo passado dava-
lhe o calculo provavel do alcool até á Laboração, como pode vêr por ella.
Em todo o caso envio-lhe agora novamente um calculo, para melhor elucidação:
378 toneladas assucar Buzia de 91º, dará alcool .................60.480 litros
Restante dos égoûts do Buzi de 96º, dá...............................10.770 “
Alcool dos ettres e escencias restantes ............................... 18.000 “
Total a produzir....................................................................89.250 “
Stock alcool Torreão e C.ª Nova ....................................... 80.000 “
Total do alcool provavel ...................................................169.250 “
Calculando até a Laboração de 1928 em que se possa têr melaço, são 4 1/2 mezes, o que dá pouco mais ou menos 37000 litros
alcool por mes. Será pouco? é dificil de calcular as sahidas, mas calculando um maximo de 50.000 litros de vendas por mez
(?!), faltará 56.000 litros alcool, que corresponde a 220 toneladas de melaço d’Africa para Torreão, ou seja um total de 300
toneladas para Torreão e São Filipe. //
[52] Não são os 56.000 litros alcool que podem influir, por isso que devemos têr <sempre> stocks d’alcool. Qual será o
rateio do alcool em 1928? É este o ponto principal.
Em todo o caso para não termos duvidas sobre a falta d’alcool, que seria mau que faltasse, era bom vir as 300 toneladas de
melaço de Angola e para completar o carregamento, ou 100 toneladas de milho ou então assucar bruto do Cassequel por preço
conveniente.
Quanto ao H. F.431 vejo que fáz exigencias estupidas, segundo me têem dito, isto é, quer mais rateio porque, diz elle, lhe
cresce melaços!?... Elle para o assucar que fabrica o seu rateio está certo, e o que elle terá de fazer, é fabricar menos melaços e
mais assucar, a não ser que a sua fabrica seja de melaço e não de assucar!! O que eu vejo é que além de manha tem estupidez
e má comprenção das cousas.
Esperando a sua volta para a Madeira subscrevo-me seu Attencioso Amigo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz //
318
calculo ser necessario uns 10 filtros Filippe de 30 quadros.
Quanto custará toda esta machinaria?
Todo o material actual da Nova Fabrica, serve, sem ser necessario grandes modificações.
A questão é têr local junto dos sulfitadores-alcalinisadores para esta nova montagem, caso de futuro quiserem fazer.
No proximo anno porém, a fabrica vai trabalhar pelo nosso systema (filtração total), depois veremos o que convem.
Fabrica d’Alcool: Em carta separada pedes umas notas sobre o seguinte:
Medição do destillador: Esta medição para ser certa, fáz-se encher as columnas com agua que é medida o volume d’ella
empregado, até encher completamente as columna [sic] (destillação e retificador). Os esquentador [sic] e condensadores não é
necessario medir, é somente as columnas. // [55] Para as cubas que são quadrangulares, já sabes como se fáz a medição (altura
x largura x comprimentos). Para tanques redondos ou cylindros retos, o calculo é o seguinte: 3,1416 x pelo raio da
circonferencia elevado ao quadrado x pela altura = metros cubicos.
Quanto ás analyes[sic] do alcool, confesso-te que não as sei fazer e muito menos do desnaturado, e essas analyses compete,
segundo a lei, ao analysta official. A analyse que sei fazer e[sic] pelo processo Barbet pelo permanganato de potassa, mas essa
analyse é mais para determinar a pureza do alcool, e não analyse dos seus componentes. Parece-me porém que essa parte pouco
te pode interessar.
Envio-te junto um prospecto da casa Lavalle, que acho interessante, sobre os Carborantes a base de alcool, e isso pode ser-
te util para descutir sobre a forma de desnaturação do alcool pela gasolina (Essence), ou pelo petrolio.
Sem mais que te possa dizer, desejo que tenhas sempre perfeita saude e felicidades, e é isto que te deseja o teu velho amigo.
[Ass:] João Higino Ferraz //
319
La fermentation est faite par pied de cuve avec levure mère active, employant 30% de pied de cuve. // [58] Temperature de
fermentation 32º: La fermentation termine a 28º!!! c.a.d. ne se chauffe pá?!
Je vous pris donc de voir s’il y a un tour-demain pour eviter la fermentation longue avec lé égoûts de refination du sucre.
Je vous pris donc de repondre en lettre officiel à la Maison Hinton
Bien cordialement a vous et votre famille. Votre ami devoué. [Ass:] João Higino Ferraz //
320
O que o Senhor Hinton pode têr a firme certeza, é que temos feito todo o possivel para não lhe dár desgostos nem prejuizos.
Nada mais lhe posso dizer sobre este assumpto, a não ser que vou conservar até o dia 25/1 o fermento da pipa, mas depois
se não houver nuticias d’ahi sobre a venda de assucar bruto de 90º polarisação ou melaço d’Africa de Lisboa, vejo obrigado a
desprezar o fermento.
Quanto aos egouts restantes ficão reservados para não dár mais prejuizos; bem basta o que está nas cubas Nº 1, 6 e 7 que
mal fermentão!
Crea-me sempre seu dedicado Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz //
321
[DATA: 30 de Março de 1928
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[66] Funchal 30/3/928
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Hoje de manhã (6 horas) tivemos uma acidente [sic] na Fabrica que poderia ser grave, mas depois de mais cerenado e
verificada a situação, vejo que se pode perfeitamente trabalhar normalmente.
O caso foi que a caldeira de vacuo Freitag grande estando ainda vazia, isto é, antes da passagem do pé de cuite para os [sic]
melaço feito na caldeira pequena F, e tendo já 18” de vacuo, a parte superior da caldeira aplatessou (isto é xuxou) ficando a
caldeira inotilisavel para este anno.
Verificando a nossa situação com o desastre n’estas condições, vou-lhe expor qual a forma de remediar, talvez sem com isso
têr que diminuir o nosso trabalho, e ja hoje dei principio a esse trabalho.
Como sabe, o cuite Freitag grande apenas serve actualmente para os cosimentos de 2º jet para refundir, e esta caldeira, com
o maximo de moenda (450 toneladas) apenas fáz um cosimento por dia de 24 horas da capacidade de 230 hectolitros de Melasse
Cuite
Como não podemos contar por este anno com essa caldeira, como se deve remediar esta falta? É isso que lhe vou expor. //
[67] Cada 100 kilogramas cana deve dár na media 16 litros de Melasse Cuite de 1º e 2º jet, e podendo moêr no maximo 450
toneladas cana por 24 horas, dará 720 hectolitros de Melasse Cuite
Em cuites de 1er jet feitos na C e na Freitag pequena, pode-se perfeitamente fazer 2 cuites por 24 horas em cada uma:
2 cuites C de 1er jet a 110 hectolitros = 220 hectolitros
2 “ Filtros-Presses 1º jet com rentradas = 240 “
Total Melasse Cuite 1 jet
er
= 460 “
Para os cosimentos dos égoûts em 2º jet temos o cuite F de 100 hectolitros e dois malaxeurs no vacuo um de 100 hectolitros
e outro de 80 hectolitros. N’estes cuites pode-se tambem fazer dois cosimentos em 24 horas, que dará o seguinte resultado.
Pé de cuite feito na F de 80 hectolitros, e passando aos malaxeurs no vacuo dará 43 hectolitros de Melasse Cuite para o
malaxeur de 100 hectolitros, e 37 hectolitros de Melasse Cuite para o de 80 hectolitros.
Completos os cosimentos nos malaxeurs no vacuo dará um total de 150 hectolitros de Melasse Cuite de 2º jet, que sendo
dois em 24 horas, dará um total de 300 hectolitros Melasse Cuite 2º jet a turbinar em assucar para refundir. //
[68] Desenvolvendo estes calculos, que melhor lhe explicarei aqui, quando voltar, dá-me o seguinte resultado:
Melasse Cuite de 1º e 2º jet % cana 16 litros:
1º jet 60% = 9,6 litros Melasse Cuite com rendimento turbinado 80% = 7,6 kilogramas assucar
2º jet 40% = 6,4 litros Melasse Cuite com rendimento turbinado 50% = 3,2 “
Totais 16 litros litros Melasse Cuite com rendimento turbinado = 10,8 “ %
Como 450 toneladas cana dá 720 hectolitros de Melasse Cuite, e como podemos fazer:
1er jet – 460 hectolitros
2º jet – 300 “
Total 760 “ Melasse Cuite
Temos pois uma garantia de 40 hectolitros, que será para a Melasse Cuite de refonte o assucar de 2º jet.
Pode ser que estes meus calculos não estejão muito certos, mas tambem é verdade que, nem se pode regularmente fazer 450
toneladas de cana por 24 horas, e nem o rendimento da cana em turbinado branco será de 10,8 kilogramas %.
Em todo o caso vamos preparar os malaxeurs no vacuo (2) para este fim e em boas condições de trabalho, como antigamente
se fazia, e cujo epuissement era bom
Crea-me seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz //
322
interessa tanto como ao Senhor Hinton438, ou talvez mais... Depois da perda de minha pobre filha estou de tal forma nervoso que
tudo me isalta e me aborrece.
Calcula que o malandro do Henrique Figueira, que tem tanto interesse na nova lei como nós, tem feito uma campanha
nogenta contra o decreto!! Quando ahi fôr te contarei tudo o que se tem passado. Fui eu em grande parte que concorri para a
união d’elle com o Senhor Hinton, mas hoje estou o mais arrependido d’isso como cabellos que ainda tenho na cabeça... Mas
pode ser que um dia elle venha a me pagar os amargos de boca que tenho tido!! Grande estupor!....
As cousas porém vão correndo com o decreto 14168, e assim ficará o Senhor Hinton mais seguro.
Passemos ao Cassequel: Fiz um resumo de todas as analyse [sic] e vejo que a cana entre Agosto e Dezembro estão nas
melhores condições. // [70] Pena é que as terras não sejão adubadas com adubos chimicos competentes e cal (?), porque assim
teriamos uma tonelagem por hectar muito maior e cana mais rica. No futuro talvez seja assim, pelas conversas que tenho tido
com o Senhor Hinton.
O resultado do fabrico este anno foi bom pelo que te dou os meus parabens, e não podias fazer melhor com uma fabrica nas
condições d’essa. Com a nova fabrica deve-se fazer cousa de geito.
Como vêz mando-te junto dois Sechmas, um da imbibição racional entre os moinhos que é importante seja como eu digo,
e o outro, do schma da defecação e filtração total do jus. O Senhor Hinton deu-me a planta das montagens da canalisações [sic]
de vapor exausto e jus, mas tem pontos como esses da imbibição e filtração do jus que não vejo bem claro, e assim com esses
schmas podes junto com o Senhor Munro vêr se a montagem vai correta. Como deves comprender, estes dois pontos são
importantes para o nosso Systema de filtração. Os desenhos não estão cousa fina mas serve, e como são para ti, que ja estais
habituado aos meus desenhos, tudo vai bem //
[71] Destillaria: Recebi a amostra do alcool o qual acho magnifico e com uma alta percentagem (96,3 a 15º temperatura!!!),
e fico admirado como logo na primeira destillação conseguiste tirar um alcool tão puro; vejo com prazer que estais um
verdadeiro destillador!!.. Segundo vejo as columnas estavão cheias de porcaria?! Mas isso d’entro das columnas sô feito de
perposito... Quanto aos tanques de cimento para o alcool não presta, mas se tivessem sido cheios d’agua durante uns 15 dias,
afim de unificar o cimento, talvez não vertessem, ou então dár-lhe uma camada de cera.
Quando o senhor B. Correia chegou deu-me a nuticia da tua queda desastrosa na destillaria, e o menino nada disse.... Eu
comprendo que não desejavas que tua mãe soubesse. Felizmente, segundo vejo, não foi cousa meior, visto estares sempre de
perfeita saude... Contudo dou-te os parabens por teres tido a sorte de não ser cousa mais grave.
O melaço que nos veio pelo “Benguella” foi o diabo no principio para o fermentar, e fez-me quebrar a cabeça a rasão d’isso.
Depois vi que a causa era o melaço estar muito carregado de nitratos, mas logo que o fermento se habituou ao meio, a
fermentação fez-se bem, e aqui entre nos, o rendimento foi de 28 litros alcool em 40º % melaço. // [72] Foi o melhor rendimento
que tenho tirado com os melaços do Cassequel. A causa dos nitratos é com certeza devido a esse maldito poço do melaço, e era
bem bom que acabassem com elle. Para a nova fabrica vamos ter tanques de ferro para o melaço.
Productos chimicos para a Laboração do corrente anno já dei a nota ao Senhor Hinton, descontando, já se vê, os stocks
existentes ahi. Elle ja escreveu para Lisboa sobre isso. Pano para os filtros presses e filtros Filippe tambem ja se fez a
encomenda. Estou a ver a cara do Costa439 quando receber a carta do Senhor Hinton sobre isso!! Tenha porém paciencia, porque
assim é necessario.
Acabo de lêr a carta que envias-te ao Senhor Hinton (9 1/2 da nuite no Torreão) e que elle me deixou e tambem recebi a tua
amavel carta, que muito te agradeço.
Vejo pela carta do Senhor Hinton que estão concertando os tanques de cimento para o alcool.
Esse conselho que deu o engenheiro da composição em cimento para revester os tanques deve ser bom. Quanto ás chapas
de vidro, isso é um trabalho deficil e que sô fica bom com operarios habilitados á sua colocação, porque de contrario, caiem
todos. //
[73] Torno a aconselhar o revestimento com cera, mas para aplicar a cera, deve o cimento estar bem seco. O alcool não ataca
a cera. Era bom esperimentar um dos tanques assim revestidos.
Dei novamente principio á Laboração depois da semana Santa hoje ás 4 1/2 da tarde, e vou dár-te a noticia que na limpeza
do triple-effet empreguei primeiro o acido chlorydrico e depois a soda caustica, e o resultado foi muito melhor, do que
empregando primeiro a sode e depois o acido.
O nosso rendimento antes da semana Santa foi o seguinte, e pelo qual fiquei satisfeito:
323
Trabalho de 2400 toneladas cana:
Assucar % cana 12,79 com uma pureza 86,24
Rendimento medio: Assucar turbinado branco 9,167 %
(melaço rico) – 4,544 kilogramas melaço com 2,545 assucar
Perda no bagaço 0,340 “
“ nas borras 0,183 “
“ indeterminada 0,555 “
12,790 “
Extração = 97,34
Rendimento em turbinado branco 73,63% do assucar extrahido. Como primeira moenda de Março foi bom. O melaço é que
não estava épuissee, mas convem assim, porque o alcool dá mais resultado. //
[74] Se em logar de assucar branco se fizesse bruto de 96º polarisação o rendimento seria no minimo de 10,845 assucar
turbinado %.
Se a fabrica nova está prompta a funcionar em fins de agosto (?), esta bem a tua maneira de pensar sobre a fabrica velha em
trabalhar 20.000 toneladas e o restante da colheita na nova fabrica. Assim temos a colheita feita até Dezembro. Um filtro-presse
grande dará para o trabalho na fabrica antiga? Não me parece, e assim achava melhor arranjar dois filtros presses dos antigos
para ella.
Quanto aos 9 Filtros-Presses montados na Nova fabrica deve dár para um trabalho maximo de 700 toneladas cana, porque
os 10 Filtros-Presses é para um trabalho maximo de 750 toneladas.
Pesso-te, meu Caro Avelino, que faças os meus comprimentos aos amigos ahi no Cassequel e os meus respeitos a Madame
Pegado, e beijos para as pequenitas.
Um abraço do teu velho Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz //
324
Dizes no fim da carta que «entre nós todos deve haver a meior harmonia e o melhor entendimento para ajudarmos o Senhor
Hinton440 na defeza dos seus interesses, que nossos são tambem» [.] Está certo e é verdade, mas isso mesmo deves dizer ao
Belmonte e não a mim... Eu da minha parte tinha por elle (Belmonte) bastante consideração e amisade e nunca o ofendi em
nada nem o tratei de desprestegiar junto do Senhor Hinton, antes pelo contrario.
Elle para comigo é que não me trata algumas vezes com a consideração que eu mereço e tenho jus, não sô pela minha edade,
mas pela posição que ocupo na Casa Hinton.
Crê-me teu amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
325
Cuites: Os cuites trabalhão magnificamente e somente com vapor exausto, fazendo-se um cuite nas caldeiras Grandes em 4
a 5 horas, com o xarope a 25º Baumé. Como porém o grão de assucar era muito fino, disse aos cosedores que fizessem o pé
n’um dos cuites pequenos desponivel [sic], e que passassem completamente ao cuite grande e assim deu um bom grão.Os cuites
de 1er jet alguns levarão rentrada d’égoûts, mas o assucar era sempre branco, como verá pelas amostras que o Senhor Costa441
levou para Lisboa e eu tenho aqui.
Emquanto eu lá estive, e no ultimo dia (28), turbinou-se um cuite de 2º jet que deu branco!! O 3º jet não sei o que dará, mas
estou a vêr que não dará assucar amarello como na fabrica velha. Prova isto tudo que o processo de filtra-//[82]ção total da
garapa (com o sulfitação [sic] intensiva), pode-se obter na nova fabrica do Cassequel 80% em assucar branco de consumo e
para refinaria, tendo-se somente 20% de assucar baixo. Faço-lhe notar que o xarope não foi sulfitado nem filtrado, devido a não
poder trabalhar com a sulfitação do xarope.
Turbinagem: A turbinagem do assucar fêz-se um pouco atabalhoadamente devido ás centrifugas, e aqui lhe direi melhor tudo
o que se deu, mas enfim sempre se turbinou mais ou menos mal. Como a cacimba da agua não estava concluida, a lavagem do
assucar teve que ser feita com a agua da vala (!!), cuja agua era bastante suja, mas veja que mesmo assim o assucar é branco;
calcule se tivessemos agua limpa!...
Seccador do assucar: Tive que modificar em parte este apparelho, como aqui lhe explicarei, e tivemos que montar uma caixa
de madeira á sahida do ár do seccador, com 5 circolações, para reter o assucar fino que se perdia á sahida da ventuinha. Assim
ficou trabalhando bem e o assucar sahia bem secco. Tivemos que dár o minimo de vapor no esquentador do seccador. //
[83] Bomba de vacuo: Esta parte deu-me bastantes aborrecimentos, porque, sem eu saber ao principio quaes as causas, vinha
agua á bomba (?!!), e pode crêr que isso me asustou bastante, porque tinha receios que lhe levasse o tampo do cylindro fora...
Depois de verificar por muitas vezes as causas, descobri quaes ellas erão, e pude remediar em parte, mas depois da minha sahida
do Cassequel o Senhor Costa recebeu um radio dezendo que tinha hido agua novamente á bomba de vacuo, mas estou a vêr que
foi naturalmente por descuido do pessoal, porque eu deixei todas as instruções para evitar isso. Combinei com o Lemos montar
um balão entre o tubo geral do vacuo e a bomba, e elle disse-me que hia fazer isso quanto antes. Deixei-lhe o desenho para a
montagem d’esse ballão, que é facil de fazer. Elle disse-me que tinha na fabrica velha um ballão da capacidade de 500 litros e
bastante resistente para sufrer a perção atmosferica (2 kilo [sic]). Assim é facil a modificação.
Como vê, sendo modificadas as chumaceiras dos engenhos, e fazendo as alterações // [84] por mim indicadas (que aqui lhe
direi melhor quaes são), pode a fabrica trabalhar no anno de 1929 nas melhores condições possiveis, porque os engenhos da
cana são bem construidos, a não ser estas chumaceiras que as reprovo completamente, e a casa Mirrlees deve modificar á sua
custa. (?).
Costa[sic] Canas: Este appalhos[sic], segundo vejo, corta bem as canas mas devem as facas serem modadas todas as
semanas, isto é, nos domingos na ocasião da paragem.
Bagaço ás caldeiras: Com o bagaço em boas condições como tivemos, o bagaço dá perfeitamente para o vapor a produzir,
crescendo ainda uma boa porção d’elle que tem sido reservado.
Caldeiras de vapor: As raxas do fornos [sic] estão na mesma, isto é, não habrio mais, e o mestre pedio-me para dizer ao
Senhor Hinton que fique descançado sobre este ponto. A tiragem da chaminé é explendida. Tivemos um pequeno acidente com
as bombas de alimentação das caldeiras, que nos obrigou a parar umas 5 horas, devido a têr obstruido o tubo da agua as bombas
por ter um ralo furado no fundo do tanque. Mandei tirar porque era um desparate crasso. //
[85] É isto em linhas graes[sic] que por emquanto lhe posso dizer sobre o Cassequel, e na sua volta á Madeira, com o dossier
que tenho, posso lhe dizer tudo muito melhor.
Quando eu aqui cheguei já o Marinho442 tinha principiado com as fermentações do melaço, e como o Senhor Hinton por
telegrama de 17/11 desejava têr em Janeiro algum melaço para a esperiencia do novo fermento alemão, assim vou guardar umas
200 toneladas de melaço para isso. Como este lote que estamos fermentando é somente melaço, é bom para quando se fassa
essa esperiencia verificar qual o augmento de rendimento com o novo fermento e forma de trabalho.
Depois dos aborrecimentos que tive em Africa venho para a Madeira têr novos aborrecimentos e muito meiores, com esta
maldita nova lei saccarina: Seja tudo pelo Amor de Deus... como diz o Senhor Hinton!!
Crea-me seu Attencioso Amigo Certo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz //
326
[DATA: 24 de Dezembro de 1928
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[86] Funchal 24/12/928
Ex.mo Senhor Hinton
Desejo-lhe primeiro que tudo que o novo anno de 1929 lhe seja mais propicio do que o de 1928, assim como a sua Ex.ma Esposa.
Depois da minha ultima carta de 17 do corrente, em que lhe falava quasi somente no Cassequel, tem esta por fim falar-lhe
no Torreão.
Tendo terminado hoje a fermentação do melaço da Laboração de 1928, restou no tanque Grande 250 toneladas de melaço
para a esperiencia em Janeiro ou Fevereiro de 1929 do novo fermento alemão (?). Ficamos pois com melaço suficiente para a
esperiencia, e como tenho o rendimento nosso até hoje d’este melaço, que calculo em 31 litros alcool em 40º Cartiere a 15º
temperatura por 100 kilogramas melaço, poderemos vêr bem qual o augmento de rendimento que dará a nova forma de trabalho.
Laboração de 1929: No caso de trabalhar em 1929 (?), vou dizer-lhe quaes os productos chimicos etc. que necessitamos,
depois de deduzidos os stocks existentes:
Pano para os Filtros presses = 500 metros de 1,15 metros largo
Phosphato de Cal ——————— 15.500 kilogramas
Kieselgouhr ou Deatomite
Enxofre en cannons
Cal virgem em pedra
9.000
10.000
20.000
“
“
“
} Calculo sobre
20.000 toneladas cana
?
Seu Attencioso Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
327
Rendimento em turbinado = 6,76% cana
Fabrica Velha trabalhou: 32.500 toneladas em 100 dias
“ Nova “ 42.500 “ em 100 dias
Fabrica Velha até 14 Novembro produzio 2557 toneladas açucar
“ Nova até 4 março (4 mezes) “ 2513 “ “
5070 “ “
Rendimento em turbinado da Fabrica Nova = 5,913% cana
Considerações sobre Fabrica Nova
O trabalho na Fabrica Nova foi feito nos mezes de Dezembro (15), Janeiro e Fevereiro, e durante este tempo a colheita foi
feita com muitas chuvas, que fêz não somente perder a cana um grande parte do seu açucar devido á vegetação da cana, como
tambem a cana do corrente anno com a grande floração prematura em agosto deu casa[sic] a uma perda em açucar e pureza da
cana, que se acentuou mais no fim da colheita. [Ass:] João Higino Ferraz //
[DATA: ?
CARACTERIZAÇÃO: Cálculos de custos e lucros existentes numa hipotética produção de alcool (usando fermento
Possehl’s), para exportação, pela Sociedade Agrícola do Cassequel]
[90] Para exportação alcool (?)
Calculos para o Cassequel, fazendo a fermentação pelo fermento Possehl’s, mas com um rendimento minimo de 60 litros
alcool % saccarose no melaço, e com melaço futuro de 50% assucar total em saccarose
Calculo % kilos melaço
Valor do melaço calculado a 150 por kilo = 15$00
Despesas fabrico (processo Possehl’s) a 885 por litro = 26$50
Custo de 30 litros alcool a 96º 41$50
Custo por litro = 1$385
Lucro no alcool por litro $115
Custo ou valor do alcool 1$50
Cada gallão de 4,5 litros = 6$75, que ao Cambio de 100$00 por £ = £ 0.1.4 2/10 por gallão de 4,5 litros
Calculo sobre 1.000.000 litros alcool a 96º correspondente a 3334 toneladas melaço a 50% assucar total:
Despezas além do fabrico:
Imposto de licença e fiscalisação (??) .......................................150:000$00
1.000.000 litros alcool = 1666 barricas de
ferro de 620 litros, a 20$00 carretos
do Cassequel ao Lobito (??) ...............................................33:320$00
Despezas de pôr a bordo (??) ...............................................2:680$00
Frete até Liverpool a £ 1 por barrica (???) .......................166:600$00
Custo cif Liverpool ...............................352:600$00 //
[91] Preço do alcool calculado a 100º (alcool absoluto) em Inglaterra cif, dito pelo Chimico de Possehl’s, é de 2 sellings 5
? penny por gallão de 4,5 litros, que corresponde a alcool a 96º a 2 sellings 4 4/10 por gallão
1.000.000 litros alcool a 96º = 222.220 gallões de 4,5 litros, ao preço cif Liverpool de 2 sellings 4 4/10 por gallão, dará um
total de £ 26.296 a 100$00 = ....................................................................................2.629:600$00
Custo de 1.000.000 litros alcool a 1$50 = ...............1.500:000$00
Despezas até cif Liverpool = .......................................352:600$00
Amortisação valor barricas ? = ..................................166:600$00. . . . . . 2.019:200$00
Restará ainda ................... . . . . . . . 610:400$00
Sendo estes calculos assim feitos, e sendo os verdadeiros (??), ficará o valor das 3334 toneladas de melaço a 1.116:500$00,
ou seja 334$00 por tonelada = £ 3.6.4. por tonelada melaço?
Salvo Erro ou Omissão. [Ass:] João Higino Ferraz //
328
[DATA: 26 de Março de 1929
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[92] Funchal 26/3/929
Ex.mo Senhor Hinton
Terminamos no dia 25/3 a destillação do vinho do processo Possehl’s ás 7 horas da tarde, e mando-lhe em separado os
resultados dos calculos feitos assim como uma comparação entre o mesmo melaço feito pelo fermento Torreão (melaço mais
rico) e pello processo Possehl’s. Assim pode comparar bem os resultados, porque os calculos são feitos da mesma forma.
Junto envio-lhe tambem o resultado que Cassequel pode obter pelo fermento Possehl’s.
Vai a copia do contracto final feito com o Chimico de Possehl’s, e por elle verá tudo quanto se fêz.
Foi um bom resultado em rendimento a mais, e o Chimico vai ensinar agora a forma de cultura do fermento para a sua
conservação.
Terminei tambem hontem (25) todo o melaço do Tanque Grande que deu um acrescimo, acho que devido ao assucar
depositado no fundo do tamque. Deve ficar algumas cubas para destillar e retificar depois de 31 de março.
Crea-me seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz //
329
[DATA: 2 de Julho de 1929
DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola]
[96] Funchal 2/7/929
Meu caro Avelino Cabral
Em meu poder as tuas duas cartas de 7 e 16 proximo passado que muito te agradeço, e faço votos para que a tua saude seja
sempre como até agora, e livre de desgostos, porque isso é o principal.
Eu bem e os meus felizmente; e a minha filha mais nova, diz o Dr. Durão, o que ella tem é uma apendicite e que deve ser
operada, já está pondo gelo afim de reduzir o apendice. Deus primita que ella fique boasinha, para desgosto já basta os que
tenho.
Vejo o que me dizez do Cassequel, e deu-se exactamente o que eu previa,... esperiencias e mais esperiencias por gente que
pouco entende do assumpto, e vejo bem que os prejuizos foram grandes por diversas causas.
Quanto ás novas montagens estou a vêr que este anno não podem montar o novo malaxeur que recebe a Melasse Cuite dos
grandes e isso deve te trazer ainda este anno algumas dificuldades na turbinagem, e tambem a falta das turbinas novas. Quanto
ao resto do material algum se pode montar mesmo trabalhando, porque deve ajudar o fabrico. //
[97] Depois da minha carta que escrevi a Henrique448 sobre o pano dos filtros-presses, os directores canselaram a encomenda
dos panos e fezeram a encomenda a Crispin do pano proprio.
O Senhor Hinton mostrou-me as analyses de deversos talhões pelas quaes vi que a cana está ainda verde e impropria para
o fabrico de assucar, e disse-me o Senhor Hinton que quasi toda a cana está em flôr?!... Isso é que é o diabo, porque com cana
n’esse estado o seu crescimento e maturação [sic]. O que eu me parece, meu caro Avelino, é que essa floração da cana antes de
principiar a maturação é devido a fraqueza do terreno em materias fertilisantes, e se isso continua assim, em poucos annos a
cana do Cassequel pouco vale...
Torreão: estou refinando o assucar bruto da Laboração (730 toneladas), ficando-me o alcool dos egouts d’essa refinação para
destillar... Tem sido o diabo, porque o Senhor Hinton quer terminar tudo para apresentar as contas. O rendimento, ainda que
com uma extração de 93% do assucar, foi de 9,208 assucar branco e bruto % cana, e o alcool depois de destillado os égoûts da
refinação deve dár aproximado 1,6 litros %.
Felicidades e um abraço do teu amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
330
[DATA: 2 de Agosto de 1929
DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola]
[100] Funchal 2/8/929
Meu Caro Avelino
A tua saude é o principal, que eu desejo. Eu bem de saude, e em casa a minha filha vai fazer a operação de apendicite na
proxima semana, e logo que ella esteja em condições quero vêr se vou com ella a Lisboa dár um passeio, porque assim lhe
prometi. Será em fins agosto.
Li com attenção a carta que escreveste ao Senhor Hinton450 e dou-te os parabens pelo resultado obtido, ainda que a cana está
pessima!! Vejo que obteste 78% em turbinado do assucar extrahido o que é muito bom. Aqui no Torreão tiramos, como sabes,
73% do assucar extrahido, em turbinado em branco.
O que vejo com prazer é que estais desposto e com a gana toda... seu pandego... Levas os amigos de Peniche á gloria!!. Não
calculas quanto fico satisfeito com isso, porque como sabes tenho parte na gloria.
Tenho feito vêr ao Senhor Hinton que a parte agricultura tem que têr um cuidado especial, quando não a cana desaparece,
e não é depois da despesa feita com essa fabrica deixar perder as colheitas. Deves ver o Journal des Fabricantes de Sucre <Nº
28 de 13 Julho> que trata um pouco do assumpto.
Espero as tuas cartas, e recebe um abraço de teu Amigo velho. [Ass:] João Higino Ferraz
331
332
[Copiador de Cartas. 1929-1930]
DESCRIÇÃO: O título deste copiador é por nós atribuído. A numeração foi, também, por nós acrescentada, a lápis, visto
que o livro não a possuía. Estamos na presença de um livro em papel, as suas medidas são 27 cm x 21,5 cm, e encontra-se em
bom estado de conservação.
333
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[DATA: 20 de Agosto de 1929
DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola]
[1] Funchal 20 de agosto 1929
Meu caro Avelino
Recebi a tua carta de 9 do ultimo, que fiquei muito satisfeito, por vêr que ao presente estaes bem de saude de corpo e
espirito... Antes assim, e pela tua carta (não oficial?), vejo bem tudo o que tens tido e sufrido, mas isso é passageiro e deves
agora somente pensar na vida real.
Quanto a mim lá vou indo de boa saude mas sempre ralado por diversas causas, como já sabes, e além d’isso (e é o principal)
tenho a minha filha mais nova na casa de saude do Dr. Americo Durão para fazer uma operação de apendicite de que sofre a mais de
um anno, mas por emquanto não a fêz porque tem um pouco de febre e não convem fazer emquanto ella existir. Como vês, depois de
velho, não me falta cuidados nem desgostos, quando deveria descancar[sic] o corpo e o espirito, é que me vem tudo isto de uma vêz.
O Senhor Hinton451 siguio a semana passada para Lisboa e depois para Londres, onde está ao presente. Foi a Lisboa para
assistir á reonião da direção do Cassequel, e varias notas lhe dei // [2] (porque elle assim me pedio) para em coselho[sic] decidir
várias cousas de interesse para o Cassequel, sendo a principal a modança de cana para replantar que elle quer enviar da Madeira.
A cana actual do Cassequel, com essa floração excessiva, não me parece que estaja em condições para replantação. Além
d’isso quer vêr se consegue um agronomo Competente e conhecedor da plantação de cana para hir ao Cassequel indicar o que
convem fazer para que não somente obter mais rendimento por hectare, como tambem fazer uma adubação racional dos terrenos
para obter cana mais rica. Aqui é que está a dificuldade, porque um bom agronomo conhecedor do assumpto custa caro, e estou
a vêr que os Directores, não vendo bem os bons resultados futuros, não estejão desposto [sic] a fazer essa despeza, mas isso é
lá com elles. O que já te disse e continuo a dizer, é que, senão tomam uma decisão inergica com relação á cultura da cana, em
pouco tempo o Cassequel pouca cana terá em boas condições de fabrica e o rendimento por hectare hirá diminuindo
gradualmente. É melhor têr menos hectares plantados, mas com melhor cana e mais rica. //
[3] Vejo pela tua carta que estaes satisfeito com a parte industrial e que a Fabrica principia a entrar na boa ordem de fabrico,
e com isso fico satisfeito, não somente por vêr que tudo quanto eu disse sobre isso está dando resultado, como tambem por ti,
que é uma honra para a tua technica. Dizes bem que tudo quanto se fáz no Torreão pode-se tambem fazer no Cassequel com o
mesmo resultado, pena é que a cana não te ajude, porque as purezas por emquanto estão muito baixas.
No Torreão no corrente anno, com cana de 13,32 % assucar, tirei, com uma extração de 93,84 (por conveniencia...) um
rendimento de 9,208 % cana, sendo 66,6% em branco de sonsumo[sic], e 33,4% em bruto para refinar (tambem por
conveniencia...). A pureza da garapa normal foi da media de 86,95. A conveniencia... deves comprender por que foi?
N’um trabalho de 23.590 toneladas cana, fiz pelo Systema Hinton-Naudet (modificado) 6775 toneladas cana, mas o assucar
ficou sempre bom e bem branco, o que o Senhor Hinton se admirou, e o jus de deffusão (Hinton-Naudet) com uma pureza de
84,72!! Pelo exposto podes calcular qual seria o rendimento com a extração de 97%. //
[4] Falas nos ralos dos tanques da garapa... então os ralos que foram com os engenhos já se estragarão?!
Essa parte é importante porque a imbibição não sendo feita como estableci no projecto, a extração não se fáz bem e as
garapas do 1º e 2º moinho não são o que deveriam sêr. As bombas centrifugas devem sempre trabalhar bem.
Quanto ao Triple Effet (Quadruple) vejo que esta trabalhando bem, por isso que obtens xarope a 29,5º Baumé, o que fáz
uma grande diferença quando principiou, a 18º e 15º Baumé!!
As imbibições com os Meinecks com os jus é cousa que sempre disse não dava resultado.
O meineck entre o 3º e 4º engenho para agua, talvez dê alguma cousa, mas o bagaço que passa n’elles sai tão apertado que
tenho duvidas na boa imbibição.
335
Quanto aos rechauffeurs da garapa (defecadores) para os Filtros-Presses fizes-te bem em lhe tirar uma parte a circulação, porque
o systema d’elles não é para o fim que temos em vista, isto é, defecação nos rechauffeurs mas com passagem facil para a filtração (1ª)
a baixa preção. Assim a bomba de circulação deve trabalhar melhor. Como sabes, a nossa no Torreão é centrifuga e trabalha bem. //
[5] Cuites: Então os cuiseurs não faziam o pé de cuite nas caldeiras pequenas como eu recomendei? Que grandes patetas!...
Por isso o assucar era fino e inrregular, dando o farine!... e assim a turbinagem era dificil.
Quanto ao melaxeur que foi incomendado para clocar debaixo do grandes [sic] malaxeurs, estou certo deve fazer uma grande
diferença na alimentação das turbinas, e deves montar um tubo com torneira para clerce afim de pôr a Melasse Cuite em boas
condições de turbinagem. Deves notar que com a cana que tens actualmente pobre em assucar e com uma moenda de 530
toneladas cana, não deve ser o mesmo do que com cana mais rica e moendo 700 toneladas?!
Para os cuites de 1ª que não queiras fazer branco de consumo directo, as rentradas devem ser grandes, e assim terás
nemos[sic] égoûts a coser em 2º e 3º jet e menos turbinagem d’esses assucares
Faço-te notar que no Torreão no corrente anno tiramos 66,6% em branco de 99,8º polarisação, emquanto que ahi tiraste
somente 62% verdade é que as purezas no Cassequel são baixas. É bom veres as rentradas ma-//[6]ximas que podes fazer.
Repára no raporte que deixei ahi no Cassequel, sobre o trabalho dos cuites, que deve ser mais ou menos o trabalho a sguir[sic].
Se eu aqui no Torreão fazendo assucar branco de consumo (sem filtração do xarope) obtendo 66,6%, com o teu trabalho ahi
no Cassequel, que apenas tiras um branco para consumo em pequena quantidade, deve te dár (quando as garapas tenhão uma
pureza mais elevada) 70% e branco de consumo e refinação, e 30% somente em bruto de 2º e 3º jet. Tudo depende da
organisação dos cuites. Faço-te tambem nortar[sic] que no Torreão no corrente anno as refundições do assucar de 2ª turbinado
foi quasi nada, porque convinha deixar o assucar de 2ª e 3ª para refinar depois da Laboração. Os assucares de 2ª e 3º tirado em
bruto, quando ligeiramente lavado, dava um assucar branco de 99º polarisação, e a media (não lavado) deu 98,5º polarisação
do 2º e 3º jet; foi um trabalho explendido. Para o proximo anno de 1930 (se a fabrica trabalhar?) vou modar um pouco o trabalho
dos cuites, porque tenho de fazer o épuissement // [7] completo do melaço e vou trabalhar com os Filtros-Presses da Melasse
Cuite de 3º jet. Depois te direi qual a forma adoptada.
Quanto á alimentação em cana da Fabrica Nova, que o P.[?] dizia podia alimentar até com 800 toneladas!! Isso é questão de
pessoal e linhas ferrias, carros e locomotivas e nada mais.
Quanto ao Manol[sic] (cuiseur), não contes com elle porque não quis hir, por não se achar em condições de saude, e tem
rasão, porque elle é fraco, e tendo acabado a Laboração aqui não era conveniente para elle (e tambem para o Senhor Hinton)
seguir para a Africa e continuar como cuiseur durante mesmo 3 ou 4 meses. Os cuiseurs d’ahi tem obrigação, com pratica que
teem, fazer um bom trabalho com a tua direção. É questão de boa vontade. Bem dizes na tua carta, que desaprenderam!!
Que tudo te courra bem até ao fim é o meu meior desejo, e quando necessites dos meus fracos prestimos é dizer. O melacinho
é feito com 70% de melaço, mas o bagacinho deve estar bem seco.
Saudades de João (filho) e para ti, do teu velho amigo um abraço de amisade. [Ass:] João Higino Ferraz
O Marsden foi para Londres no mez passado retemperar a saude, e deve voltar em breve. //
336
d’agua que eu aconselhava um grande ballão de vacuo e o tubo que vem dos condensadores. Eu deixei um Sechma ao Lemos e
elle deve tel’o. Isto porém somente pode evitar, quando a agua seja em pequena quantidade, como se deu o anno passado, mas o
principal é têr pessoa encarregada de verificar sempre se a cacimba tem agua, e ter o tanque com o maximo d’agua sempre a sahir
por o trop-plein. Não havendo esse cuidado, um dia vai o tampo do cylindro do vacuo e pode matar alguem. É bom fazer
economias, mas n’este caso, mais um ou dois homens, pode evitar um grave desastre.
Quanto ao que diz o engenheiro ser devido á condensação de vapores no tubo de vacuo, pode-se dár, mas essa quantidade
d’ague[sic] é pequena e não dará causa a isso, e se tivesse o ballão como // [10] recomendei, o condensador automatico daria
sahida a toda essa agua e não hiria á bomba. Foi isso que expliquei ao Senhor Hinton e que elle deve têr dito ao engenheiro.
Pede-lhe pois o Crockis que o Senhor Hinton lhe devia ter mandado e combina com elle o que se deve fazer para evitar de
futuro têr de parar a fabrica completamente. Felizmente o que partio foi o pestão; mas se fosse o tampo?
Vejo que a cana melhora, dando já um rendimento de 8,675%; o que seria se a cana estivesse toda em bom estado, mas com
essa floração excessiva é o diabo!
Bravo... xarope a 31º Baumé é explendido, e vejo que o Quadruple está trabalhando bem.
Quanto ao assucar que dizes ter enviado por Lisboa, nada recebi. Estes amigos, de Peniche, não se importão nada comigo,
e com elles está incluido o Caro Tristão453!! Quando se veém á broxa é que se lembram de mim. Nem ao menos se lembraram
que foi á Africa e que alguma cousa fiz.
Um abraço do teu Amigo velho. [Ass:] João Higino Ferraz //
337
dizer. Eu estou a vêr qual a // [13] rasão de elle querer saber a precentagem em assucar de um melaço normal á destillaria, e
vejo que deve sêr por causa d’aquelle requerimento do H. F.455 sobre o melaço que elle tem em deposito e das rasões estupidas
que elle apresentou, e que elle tem que informar para Lisboa.
Dei-lhe pois a analyse media provavel de:
Saccharose Clerget 38% kilograma
Glucose .........................................15% “
Assucar total em saccarose 52,25% “
Densidade do melaço = 1430
Considerandos meus: Conta Alfandega do nosso melaço de 1929 (incluindo a refinação) é aproximado 878.454 litros melaço
á destellaria = 1.256.189 kilogramas á densidade acima. Teremos pois que, sendo o rendimento total do melaço 340.040 litros
alcool em 40º (notas da Alfandega), fazendo elle o calculo (Director), dará um rendimento de 38,7 litros alcool em 40º % litros
melaço ou 27,07 litros alcool % kilos melaço.
O rendimento % assucar fermentado, dará 51,8 litros alcool.
Está pois bem assim.
Se elle (Director) comparar o nosso rendimento pelo de H. F., deve vêr que H. F. teve um rendimento de 33,5 litros alcool
em 40º % litros melaço.
Crea-me seu Amigo certo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz //
338
Hinton, toda elle [sic] está em flor!
Se mandassemos cana boa da Madeira para as novas replantações, isso seria o edial, mas a cana somente estaria em boas
condições em maio do anno proximo.
Quanto ao que se passa por cá, nada sei por emquanto, porque as contas de despezas de fabricação a apresentar ao Governo,
somente para Outubro é que seram apresentadas, mas, meu Caro Avelino, não vejo isto bem parado... O futuro é que dirá o que
tudo isto vai ser.
Como tenho tido tempo, estou em estudos e esperiencias com o fermento Possehl’s no Laboratorio, e tenho obtido cousas
bastante coriosas nas culturas feitas.
Por nada mais têr que te dizer, termino desejando sempre a tua saude e felicidades
Um Abraço do teu Amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
339
O que eu vejo que é indespensavel fazer, é o seguinte
1º Novas plantações com cana boa da Madeira ou melhor de Java P.O.J. 2878.
2º Emprego de adubos chimicos apropriados aos typos de terra, visto no Cassequel não se poder empregar os estrumes, por
não os haver em quantidade suficiente ás necessiadades.
3º Tempo das plantações 3 annos no maximo. //
[21] 4º Em lugar de fazerem a queimagem da folha que fica no terreno, depois de colhida a cana, enterar essa folha na terra,
porque a folha contem elementos proprios á vegetação, que sendo queimada perdem uma parte do seu valor. Na Madeira assim
se fáz, e como sabe, não se emprega quasi nada de adubos chimicos, e a nossa cana (por emquanto) está boa e mais ou menos
rica. Na Madeira, quando a folha não é enterrada, vai para adubo de corral, mas nunca é queimada.
Estou á espera de nova carta de Avelino, e vêr quaes são os rendimentos presentes, mas estou a vêr que no fim devem
trabalhar cana com 8 e 9 mezes de terra, o que deve dár pouco rendimento. Este anno é para normalisar a colheita.
Belmonte escreve-lhe sobre assumptos interessantes e por isso não lhe repito aqui, como combinei com elle.
Sem mais que lhe possa dizer de seu interesse, subscrevo-me seu Attencioso Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
340
como vê, as exactas. As primeiras que lhe fiz á tempos não era a espreção da verdade porque as enformações que lhe deram
sobre a fabrica de H. F. não eram certas (?!!).
Esses calculos como pode verificar são notas da Alfandega.
Junto remeto tambem um Jornal des Fabricants de Sucre que tem um artigo de fundo sobre Java que é bastante interessante
para o Senhor Hinton mostrar no conselho da Sociedade Agricula do Cassequel. Vai marcado a lapis encarnado.
Eu não sei se o Senhor Hinton vai primeiro a Lisboa ou á Madeira, em todo o caso isto que lhe mando serve-lhe melhor ahi.
Crea-me Seu Attencioso Amigo
Enviada para Lisboa460. [Ass:] João Higino Ferraz //
460 Esta informação foi grafada a lápis, na diagonal, no canto inferior esquerdo do fólio.
461 Harry Hinton.
341
sômente serve para gastar vapor e prelongar o cuite.
Quanto á clerce para os malaxeurs é diluida a 35º Baumé e aquecida á temperatura da Melasse Cuite (50º a 60º). Seria bem
juntar á clerce o formol (um litro em cada 30 hectolitros), para conservar a pureza da clerce. Faço isto no Torreão com muitos
bons resultados. Juntando muita agua á clerce fáz derreter o assucar da Melasse Cuite e o fim do clerce é conservar a Melasse
Cuite em condições de boa malaxagem, mas não tornal’as (a Melasse Cuite) muito liquida.
2º Eu comprendo muito bem que para elles o calculo de rendimento deve ser pelo assucar real produzido e não pelo assucar
a 100º, porque isso é somente para nós, comprendes? Quanto á saccharose na cana elles deviam saber para // [28] comparar os
rendimentos. A cana não é sempre egual todos os annos, como muito bem sabes, e assim elles podem vêr que a sua cultura tão
pouco racional está muito longe do que deve sêr. É melhor têr menos terrenos cultivados de cana, mas os que teem serem
cultivados convenientemente, e não fazer culturas cuja soca tenha (pelo maximo) 3 a 4 annos de colheita.
3º O que vão fazer ao melaço no caso do alcool não têr sahida? Isso é um ponto importante para o futuro. Eu parecia-me
que se se fizesse o negocio de gado vacum, sendo tratado em establos, e alimentados com folha da cana e o maldito sabugo que
tanto prejudica o babrico[sic] do assucar, e durante o anno com o melacinho e capin, não sô tiravam d’isso algum resultado,
como tambem poderiam têr adubo de corral para a cana, empregando a folha de cana para a cama do gado. Com o adubo do
Corral e adubos chimicos elles veriam o resultado da colheita...
Para produzir 100.000 toneladas cana, bastariam têr 1000 hectares cultivados de cana. Em Java com a cultura racional tirão
na media 12 toneladas assucar calculado em bruto por hectare. //
[29] 4º Quanto ao engenheiro, o que elle quer é mostrar Sciencia... e como é inglez, talvez consiga o seu fim junto do Senhor
Hinton... sabes bem isso. Mas na technica estou a vêr que não diz senão desparates e sem fundamento.
5º A rasão da má combustão do enxofre é quasi sempre devido a um excesso de tiragem, isto é, não completa combustão do
enxofre, dando em resultado destillar, passando aos tubos onde se sublima. É melhor quando esteja montada a nova bomba d’ar
(porque actualmente não dá) trabalhar com os fornos alemães e os antigos, sendo necessario, mas fazer a combustão completa
do enxofre.
Quanto aos tanques de sulfitação, devem para o proximo anno ser tanques de ferro fundido como temos no Torreão. O edial
seria uma sulfitação continua, como em tempos pensei para o Torreão, com um apparelho de ferro fundido, e assim os actuaes
sulfitadores seriam simplesmente alcalinisadores.
Isso do esquentador foi porta apertada inregularmente, e a dilatação é que a partio.
5º Não deves achar extraordinario que o manometro da baixa pressão esteja a 0º, por isso que com uma boa filtração todo
o jus // [30] mandado pela bomba passa primeiro nos filtros a baixa pressão a meior quantidade, e o excedente vai á bomba a
alta pressão, e assim a pressão baixa, somente pode subir quando se fecha um filtro, ou a bomba de alta pressão não absorve o
excedente. Com 7 filtros em marcha, filtrando bem em baixa pressão, nunca o manometro pode subir. No Torreão dá-se o
mesmo.
6º A lavagem dos filtros (tourteaux) com agua seria o edial, se o tourteaux fosse de facil lavagem racional, porque os filtros
Dhen estão montados para isso, mas falta-lhe a pressão d’agua que deve ser por bomba. A pressão da agua deve ser um pouco
superior á pressão da bomba de alta pressão, para poder atravessar o tourteaus[sic] e laval’o com o minimo d’agua; assim
concordo. Tenho porém duvidas de que tourteaux seja lavavel... No Torreão, como sabes, não há meio de lavar.
Quanto ao que o engenheiro diz de deluir o jus!! isso é um grande desparate.
O trabalho deve ser feito como está sendo, e a perda nas borras entre 7,8 a 4 % assucar nas borras, o que corresponde a 0,100
assucar a mais nas borras % cana, e que sendo diluida // [31] a garapa, somente poderá ser ou com agua da vala (?) ou com agua
de condensação do Quadruple, que como sabes é acida, e assim o que fará é melaço, devido á inverção da saccarose. Nem
mesmo o Quadruple pode dár para evaporar tanta agua. É melhor perder 100 do que perder 200... não te parece?
7º Isso de fazer um sô typo de assucar seria o edial, mas como o engenheiro diz, esse typo seria tão inferior que não seria
acceite pela Sociadade do Cassequel... A lavagem do assucar fáz-se, mas tem que ser turbinado e lavado nas centrifugas. Fora
d’isto não dá nada. O assucar lavado refundido, alcalinisado, sulfitado e filtrado, daria assim o tal typo unico e branco.
É o que eu já disse... quer mostrar Siencia! Quanto ao augmento da calha da Melasse Cuite tambem não vejo grande
necessidade: Isso não é um malaxeur, é simplesmente uma reserva de Melasse Cuite para as turbinas
8º Amostras do assucar – O Branco de consumo em Africa, bom. – O branco de exportação (sendo para refinaria) muito
bom. – O lote de 2º e 3º jet para refinaria em amarello, tambem bom.
O seccador do assucar não trabalha?? //
[32] O que vão fazer a tanto bagaço restante? Estou espantado de sô trabalhar 3 caldeiras de vapor... e vejo que as machinas
342
são bem economicas. Como vai o Max (?), com a sua eletricidade (bombas etc.)?
Manda-me dizer como vai o seccador do assucar, trabalha bem? Pergunto isto, porque ja disse ao Marsden para vêr se
montavamos o nosso do Torreão como esse do Cassequel.
16/10/929
Acabo de receber do Senhor Hinton a carta que lhe escreves-te de 4 do ultimo e que elle me enviou via Lisboa, mas d’elle
nada recebi. Isto naturalmente é para eu vêr o que lhe dizes, e como é mais ou menos o mesmo que me dizes na tua ultima carta,
nada tenho a acrescentar do que te digo n’esta. Vou-lhe responder para Lisboa. Como não tenho vapor senão para 24, não
termino a carta ainda.
18/10
Recebi do Senhor Hinton a carta que lhe escreveu o Engenheiro Shannon, para eu lhe dár a minha opinião sobre o que elle
propõe para voces fazerem ahi, e disse-lhe mais ou menos a mesma cousa que te digo n’esta carta, e elle que fassa como
entender melhor. O engenheiro // [33] apresenta uns calculos, que me parece não estão certos, sobre a palha da cana que passa
nos engenhos junto com a cana e que absorvem a garapa, e pelos calculos d’elle dá um prejuizo de 7700 kilogramas assucar
por semana (?!!).
Elle tem rasão em dizer que a folha da cana não sô prejudica a moenda como tambem dá perda em assucar, mas o calculo
a meu vêr deve ser o seguinte:
Calculando uma moenda diaria de 700 toneladas cana, e levando essa cana 5% de palha ou folha, será 35 toneladas de folha,
e somente 665 toneladas de cana limpa. Elle calculou a perda na palha como se fosse bagaço ou fibra da cana, mas não é assim,
porque a analyse é feita sobre o bagaço ou fibra. A folha absorve um pouco de jus mas não como o bagaço, e mesmo calculando
como fibra, e como a tua ultima media dá 2,2% assucar no bagaço, as 35 toneladas palha dá uma perda de 770 kilogramas
assucar por dia ou 5000 kilos por semana, e não 7700 kilogramas como elle diz.
Mas isto não é assim, pelas rasões acima apontadas. Faço-te notar tambem que a perda em assucar no tourteaux dos Filtros-
Presses não se pode calcular em turbinado senão 50% do assucar, devido ás imporezas.
Teu Amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
Recebi a sua ultima de 9 do corrente, a que respondo, sobre os assumptos que o Senhor Hinton deseja que eu dê a minha
fraca opinião sobre a carta do engenheiro Shannon, isto é, sobre o assucar de 2º jet e filtros-presses.
Aª Tipo unico assucar – Segundo comprendi da tradução da carta feita pelo Senhor Marsden, eu vejo que elle propõe fazer
os cuites de 2º jet com os égoûts de 1ª, e feita que seja a Melasse Cuite cahir n’um malaxeur, onde se prepara a Melasse Cuite
em condições de poder ser absorvida por meio do vacuo (?) pela caldeira de vacuo, e essa Melasse Cuite será assim considerada
o pé de cuite d’essa caldeira, continuando o cuite com xarope e égoûts ricos. Qual será o resultado?
1º O pé de cuite feito com os égoûts de 2ª n’unca poderá dár no cuite geral assucar branco, como elle diz, por isso que o
grão é formado com um producto um pouco impuro, e assim a nutrição do grão será feito sobre um cristal já de si um pouco
amarelado, mesmo que a continuação do cuite seja feita com xarope // [35] normal sulfitado ou não. Isto não se pode considerar
cuites methodicos, porque o Senhor Hinton comprende bem, a turbinagem da Melasse Cuite feita n’essas condições, e
continuando a fazer cuites n’essas condições, vai augmentando progressivamente as imporezas nos égoûts, a não ser que se
fassa a liquidação em assucar de 2ª para 3ª, e isso regularmente: Ou eu não comprendo bem qual a edeia d’elle, por isso que
não está muito clara.
Para fazer cuites methodicos, e foi isso que expliquei a Avelino462 o anno passado, e deixei mesmo um raporte no Cassequel,
o trabalho deve ser o seguinte.
a) Primeiro cuite virgem, isto é, feito somente com xarope normal de fabricação e no fim os égoûts ricos (lavagem das
turbinas do branco). Dará assim assucar branco de consumo directo.
b) Segundo cuite feito o pé de cuite com xarope e continuando com os égoûts pobres do primeiro cuite (a). Fiz vêr no meu
raporte, que este pé de cuite deveria ser feito n’um dos cuites pequenos desponivel, e passal’o então ao cuite grande, para
contenuar o cuite nos taxos de 200 hectolitros com xarope e no fim meter todos os égoûts do primeiro cuite (a). // [36] O assucar
462 Avelino Cabral.
343
produzido por este cuite, deve dár (como deu) assucar branco de exportação para refinaria.
Este cuite <pode ou> deve levar no fim os égoûts ricos da lavagem anterior d’este mesmo cuite (b).
c) Terceiro cuite (caldeiras pequenas) feito o pé de cuite com xarope e talvez um pouco dos egouts ricos do cuite (b),
rentrando todos os égoûts pobres do cuite (b) anterior. A turbinagem deve dár um bom assucar de 2º jet para refinaria, podendo
ser ligeiramente lavado, sendo necessario.
d) Quarto cuite feito o pé de cuite com Melasse Cuite de (c/) passado para elle (caldeira pequena) ou com xarope e egoûts
ricos, afim de formar um pé de bom cristal, rentrando todos os égoûts pobres de cuite (c/) de 2º jet. Dará um assucar bruto de
baixa pureza (3º jet), que como estava combinado na instalação, seria refundido com jus de cana, para ser rentrado no cuite (b)
da caldeira grande. Os égoûts seria melaço épuissée. Pode esta refonte entrar parte no cuite (c). N’estas condições teremos,
resumindo;
1º Cuite virgem <caldeira grande> que produz branco de consumo.
2º “ caldeira grande que produz branco de exportação para refinaria.
3º Cuite caldeira pequena, que produz assucar de 2ª para refinaria, que sulfitando xarope, deve dár quasi // [37] um assucar
branco um pouco amarelado, sendo legeiramente lavado nas turbinas.
4º Cuite caldeira pequena, que produz pela turbinagem assucar bruto para refundir com jus de cana, que pode rentrar no
cuite Nº 3 ou no Nº 2, conforme o assucar do typo que se queira obter. Teremos assim trez typos de assucar:
Um branco de consumo derecto
“ “ de exportação para refinaria
“ Amarelado “ “ “
O engenheiro Shannon chama lavar o assucar ou <a Melasse Cuite> de 2ª no malaxeur antes de entrar no cuite como pé?
Mas isto não é uma lavagem, mesmo que se lhe junte os egouts de 1ª, porque para uma verdadeira lavagem essa Melasse Cuite
deveria ser turbinada e lavado o assucar nas turbinas, como se pratica aqui no Torreão quando se refina assucar bruto, da
seguinte forma: Faz-se uma Melasse Cuite com o assucar bruto e égoûts, é depois turbinado e lavado nas centrifugas para poder
ser depois refundido e produzir branco.
Além d’isso, o Senhor Hinton sabe que em Lisboa querem typos conforme o Mercado exige, e um typo unico não é bem
acceite por elles, e esse typo unico nunca pode ser branco. //
[38] É isto, parece-me, o que se chama cuites methodicos, e que se pratica em fabricas de assucar de cana bem organisadas.
Em Java onde elles estão produzindo 70% em branco e ás vezes mais, o assucar de 2º jet é refundido com jus, sulfitado e
filtrado, rentrando nos cuites de 1er jet.
O assucar de 3ª é vendido tal qual como bruto.
Nas condições como devia estar establecido os cuites methodicos, os malaxeurs estão bem organisados, mas no que elle
(Engenheiro) tem rasão é nos malaxeurs de 3º jet que não são suficientes para uma malaxagem mais longa como requer este
typo de Melasse Cuite. Isso porém é facil de organisar com os malaxeurs da fabrica Velha.
B: Lavagem do tourteaux dos Filtros-Presses: Esta parte acho que o Engenheiro não está vendo bem o trabalho proposto por
elle. Será o edial lavar o tourteaux para se têr menos perda em assucar no tourteaux, que segundo as notas de Avelino regula
entre 7,8% assucar no tourteaux, e que lavando (se fôr possivel) poderiamos têr somente 4% assucar no tourteaux, ou seja uma
recooperação de 3,8%, que calculando para o Cassequel // [39] um maximo de 3 kilos tourteaux % cana, seria uma recooperação
de 0,114 assucar % cana. Não podemos porém contar que esse assucar recooperado seja em assucar turbinado, por isso que essa
lavagem traz imporezas, e assim não podemos contar com mais de 50% em turbinado, o que deria uma recuperação de 0,057
assucar turbinado % cana.
Diz o Engenheiro que em Demerára fazem isso de diluir as borras de decantação antes de passar aos Filtros-Presses, mas
elle deve tambem vêr que com a decantação apenas tem 30% da quantidade total da garapa em borras, e assim são somente
sobre esses 30% que são diluidos, e que para o Cassequel com a filtração total da garapa em Filtros-Presses a diluição seria
sobre 70% da garapa ou jus, o que é enorme a quantidade de agua para chegar a obter 4% assucar no tourteaux. Não lhe parece
isto?
Eu comprendo bem qual a edeia delle, segundo o sechma que enviou, mas é bom vêr que tendo em trabalho 7 Filtros-
Presses, como me diz Avelino, tem em trabalho de baixa pressão somente um Filtro-Presse, e 6 Filtros-Presses em alta pressão,
e assim a diluição sera feita na quasi tota-//[40]lidade do jus!! O Senhor Hinton sabe bem que os filtros Dehne estão montados
para fazer a lavagem do tourteaux, e com uma lavagem racional, mas que não estão montados ainda para isso, porque a casa
constructora não enviou uma bomba especial para isso, cuja bomba deve dár uma pressão um pouco superior á bomba grande
344
Dehne para que a agua quente a 95º a 100º possa atravessar o tourteaux e laval’o racionalmente e com pouca agua. Com essa
montagem concordo em absoluto porque seria o edial. Deve porém o Engenheiro têr em vista que não deve empregar as aguas
condensadas do quadruple effet, porque são acidas, e isso daria o resultado de uma inverção do jus, produzindo melaço e não
havendo pois lucro algum na recooperação do assucar das borras. Isto é um ponto importante não somente para a lavagem
methodica racional do tourteaux nos Filtros-Presses, como para a diluição do jus como elle propõe, e muito mais para o caso
d’elle, visto a grande quantidade de agua a juntar. A agua deve sir[sic] pura // [41] e bem quente (agua do vapor ou da Cacimba).
A instalação para uma bomba pequena para a lavagem no Filtro-Presse é facil de montar e aproveitar uma das bombas duplas
da fabrica velha. A canalisação está feita. Tem pois somente de montar a bomba e um tanque para agua com aquecimento com
uma cerpentina. Uma bomba de 3” dá bem.
Será o tourteaux lavavel? Só a esperiencia poderá provar. No Torreão não consigo lavar todos os filtros, mas a garapa da
Madeira é talvez mais gomosa do que a do Cassequel (?).
Na parte da carta em que elle fala da palha da cana, tem toda a razão, e isso fiz eu vêr ao Senhor Costa463, mas como sabe
e[sic] de grande despendio a esfolhagem da cana Yuba no campo, a não ser que essa folha podesse ser empregada na alimentação
do gado vacum, e isso seria o edial, porque não sô seria uma nova industria para o Cassequel, como tiravamos do fabrico tambem
o maldito sabugo que prejudica tanto o fabrico do assucar, como com os melaços não fabricados em alcool // [42] se poderia
produzir o melacinho para alimentação do gado, fôra da colheita da cana e tendo o gado estabulado teriamos adubos de corral
para a cana. Mesmo que o gado não desse lucro muito visivel, somente o bom trabalho na fabrica compensava bem.
Quanto aos calculos do engenheiro da perda na palha de cana que passa nos cylindros dos engenhos, é que me parece não
estão bem certos, porque sendo calculado em 5% de palha que entra com a cana, teremos n’uma moenda de 700 toneladas cana,
35 toneladas de palha. Esta palha porém não é bagaço e assim não pode obsorver tanto jus que dê a perda egual ao bagaço ou
fibra da cana, mas mesmo calculando como o bagaço, e como nas notas de Avelino a perda no bagaço é da media de 2,2%
assucar no bagaço (real), daria nas 700 toneladas ou 35 toneladas palha uma perda de 770 kilogramas assucar que por semana
será 5000 kilogramas assucar, que poderiamos recooperar não moendo a palha. Quanto ao resto elle tem muita rasão.
Quanto á bomba do xarope o Senhor Marsden vai responder.
Há porém um ponto importante para o Senhor Hinton // [43] que é do meu dever fazer-lhe notar e que lhe peço desculpa de
lhe dizer. Eu vejo pelas cartas de Avelino que elle está um pouco descontente com a introdução do engenheiro Shannon na parte
technica do fabrico, e isso é mau para o bom andamento de tudo aquillo. Seria de grande conveniencia se os dois se intendensem
bem, e que qualquer cousa a modificar no Systema de fabrico, fosse sempre feito em combinação com os dois. Isto que lhe digo
é simplesmente o que pude vêr pela carta de Avelino e não que elle me dissesse nada de positivo. Nada direi pois a Avelino
sobre este ponto.
Quanto aos fornos do enxofre já escrevi a Avelino sobre as causas de taparem os tubos.
Tenho recebido regolarmente as analyses que Avelino me manda, assim como tudo quanto se vai passado.
Se mais que lhe possas dizer, subscrevo-me seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz //
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satisfeito, vamos vêr o que sahirá de tudo isto.
Cassequel: Deves têr recebido uma carta minha escripta á ultima hora em Lisboa, em que te falava da hida do P.[?] á Africa,
e n’ella fiz as considerações sobre o caso, e espero que tudo tenha corrido bem e sem mais aborrecimentos para ti, e podes crêr,
meu Avelino, o que disse foi ditado pela amisade que te tenho e não pelo P.[?], como muito bem deves comprender.
Tenho recebido sempre as tuas notas das analyses e productos em assucar o que muito te agradeço, mas como eu (e
naturalmente o Senhor Hinton) desejamos responder ao Senhor Costa465 que está sempre dizendo que a fabrica Nova não trouxe
vantagens para o Cassequel quanto ao excesso de rendimento em assucar (??) e ainda por cima com mais despezas de fabrico,
eu desejava fazer uma espece de relatorio para enviar para Lisboa e // [46] assim provar que tivemos com o trabalho da Nova
Fabrica em comparação com o trabalho da sua querida Fabrica Velha, um rendimento superior em assucar, e que melhor seria
se em logar de fazer 80% em branco fizessemos 30 ou 35% (?) como se fazia na fabrica Velha. Para isso pedia-te, sendo
possivel, que me enviasses o mais breve possivel as medias da fabrica Velha d’esde que para ahi foste tomar a direção technica,
excluindo o anno de 1928 em que se trabalhou parte na Velha e parte na Nova. O que eu desejava era o seguinte:
1º assucar % cana (entrada na fabricação).
2º pureza media da garapa normal de fabricação (1º moinho).
3º Extração do assucar da cana pelos moinhos
4º Purezas do jus defecado, incluidos os jus dos filtros presses das borras de decantação.
5º Purezas dos xaropes obtidos no quadruple e sua densidade Baumé.
6º Rendimento em assucar turbinado, branco e bruto separadamente (calculado % cana), e a sua polarisação
7º Rendimento em melaço á destillaria, sua percentagem em assucar total (em saccarose) e pureza, calculados % cana.
Além d’isto mais algumas notas que vejas // [47] ser-me util, taes como, perda em assucar nas borras dos Filtros-Presses
etc. etc. Assim talvez possa responder ao C.466 e aos outros, e varrer a nossa testada.
Uma cousa que me fez impressão n’uns relatorios que enviaram para Lisboa, foi uma parte no final em que mostrava umas
analyses de canas de riqueza e pureza elevada (de 1929) das duas margens do rio Catumbela, e que ainda por cima diziam que
no corrente anno (1929) foi a cana mais rica que Cassequel tem tido (??!!); foi isto o cavalo de batalha do Senhor Costa, e como
eu não sabia nem o Senhor Hinton como isso era possivel visto as analyses da fabrica darem muito menos riqueza e pureza, eu
disse que naturalmente essas analyses eram de canas dos talhões e nunca a media da cana entrada na Fabrica; será isto assim?
O que eu achava de grande conveniencia não sô para ti como para boa elucidação dos directores, era nos relatorios a enviar para
Lisboa haver o maximo cuidado no que dizem sobre cana e fabricas, e tudo isso antes de enviar deveria ser revisto por ti para
verificar gafes como estas, que n’estes amigos d’aqui lhe fáz grande impressão, // [48] e que lhe acho em parte rasão, não é
verdade?
Junto com as Notas dos resultados da Fabrica velha, devem vir a notas [sic] medias nas mesmas condições atras da fabrica
nova, relativas somente ao corrente anno de 1929, porque não se pode incluir o anno de 1928 que foi de mise en route em
pessimas condições.
Novo trabalho das Melasses Cuites proposta pelo Engenheiro: O Senhor Hinton mostrou-me o relatorio do Engenheiro
(relatorio á Quirino de Jesus!!), e ficou encantando com a siencia d’elle em fabrico de assucar de cana (?). Quanto ao trabalho
que elle propõe nas Melasses Cuites, não sendo de sua invenção como elle confessa, está mais ou menos certo, mas esse trabalho
é para produzir somente assucar mais ou menos bruto de 97º a 98º polarisação em typo unico, e não branco como em Lisboa
elles tem exigido, e que eu fiz vêr ao Senhor Costa não via vantagens de fazer uma percentagem em branco tão elevada, quando
todo o assucar de exportação era para refinaria, e bastava simplesmente têr um assucar turbinado de 97º a 98º polarisação para
se poder obter nas refinarias um assucar branco bom e secco. Para isto os cuites tem // [49] que ser feitos com grão meior do
que o feito em 1929, e ligeiramente lavado nas turbinas.
Quanto ao trabalho das Melasses Cuites, segundo percebi pelas explicações dadas, não é outra cousa senão um cuite feito
por amorçage já muito conhecido. Para que dê bom resultado é indespensavel que o cuite de 2º jet feito com os égoûts de 1ª o
seu grão seja regular, afim de que na continuação do cuite de 1ª feito com essa Melasse Cuite artificial não contenha farine que
vai prejudicar todo o cuite de 1er jet, com grão de deversos tamanhos, dando um assucar irregular.
Segundo percebi o trabalho é o seguinte:
1º Feito o cuite de 1º jet e turbinado, os égoûts são cosidos em 2º jet (feito o pé de cuite com xarope?), sendo depois
turbinado mais ou menos lavado (?).
346
2º O assucar obtido em bruto de 2º jet mais ou menos lavado, é feito em uma espece de Melasse Cuite artificial feita com
xarope de fabricação (?) em um malaxeur especial (como temos no Torreão para a lavagem do assucar bruto, quando
importavamos d’Afica[sic]).
3º Essa Melasse Cuite é depois absorvida n’um dos cuites grandes de 1er jet e formará assim o pé de cuite continuando-se
depois o cuite com // [50] xarope de fabricação até complemento do cuite, não havendo pois rentradas d’égoûts, nem refonte
de assucar de 2º jet. Será isto assim?
Mas o que segue depois d’este trabalho?
Naturalmente para poder fazer o épuissement do melaço tem os egoûts do 2º jet serem cosidos novamente em 3º jet, que
turbinado deve dár um assucar de 85º a 90º polarisação. O que fazer a esse assucar que não sendo exportado tal qual (para o
qual não vejo sahida nas refinarias), tem que ser refundido? Não vejo pois outra sahida senão a refundição d’esse assucar de
3en jet com jus dos Filtros-Presses afim de formar um xarope que deve ser entrado no cuite de 1er jet depois de entrada da
Amorçe (Melasse Cuite arteficial) e antes de terminar o cuite. Será assim?
Qual será o épuissement do melaço final?
Com este trabalho, como digo é segundo comprendo, dará um typo unico de assucar bruto para refinaria de 97º a 98º
polarisação de grão grande (?) que é o que mais convem, mas que seja um typo abaixo da escalla 20 holandeza para poder pagar
os direitos minimos.
Branco para consumo local, pode ser feito somente com xarope de fabricação sendo sulfitado e filtrado separadamente,
como // [51] eu dizia no meu relatorio que ahi deixei.
A economia será porém somente feita na não formação do pé de cuite das caldeiras grandes com xarope normal, e tendo a
vantagem do cuite se fazer mais rapidamente. Quanto ao resto não temos economia de vapor, visto que os cuites de 2º e 3º jet
teem que ser turbinados (?).
O que vais ter é uma quantidade de Melasse Cuite de 1er jet muito meior, mas como dizes que as turbinas trabalhão bem,
devem as de 1º jet dár para isso (?). Somente a esperiencia e pratica do trabalho n’esta forma de cuites, se poderá vêr bem os
resultados; mas é indespensavel que os cosedores fassão bom trabalho de grenage e alimentação dos cuites, principalmente no
cuite de 2º jet, que é o inecial.
Sulfitadores: Esta parte é um bico-d’obra!!, e eu parece-me e ao Marsden, que somente com sulfitadores de ferro fundido
podem ser mais doradores, mas isso é lá com o engenheiro.
Repetindo-te que os meus desejos são que este novo anno te seja mais prospero do que está a findar, espero a tua carta em
que me dês nuticias tuas.
Teu Amigo certo e de sempre. [Ass:] João Higino Ferraz //
347
(no caso de ser necessario). O que tem que sêr encomendado é somente umas 10 toneladas de Kieselgouhr para esse fim, porque
não temos nenhum.
Quanto a pano para os filtros-presses tambem não é necessario vir.
O resto da nota que lhe dei deve vir tudo por ser necessario.
Deixo isto pois para o Senhor Hinton resolver, no caso de não ter ainda feita a encomenda dos productos chimicos etc.
Quando chegar aqui lhe explicarei tudo melhor. //
[54] Um outro assunto é o seguinte:
Á talvez uns 20 dias encontrei-me com o Jovenal Muniz representante da casa Possehl’s no Funchal, que estava muito
atrapalhado porque a fabrica d’alcool dos Açores (Bensaude) não podia ainda este anno empregar o processo novo dos
fermentos especiaes de Possehl’s, visto o chimico Stole estar ainda em viagem na Australia, e o chimico que está em Hespanha
não poder sahir de lá por ter a destillaria em marcha em Hespanha, e como elles teem que principiar (nos Açores) o fabrico do
melaço (1800 toneladas) quanto antes, vão empregar o systema antigo. Eu sem intenções e por graça, disse-lhe que eu iria lá
pôr a funcionar a destillaria dando-me elles £ 50 e passagens e despezas pagas. Pois sabe o Senhor Hinton o que aconteceu?
Esses amigos escreveram logo a Possehl’s dizendo isso, e elles (Possehl’[sic]) acceitaram emediatamente a minha proposta. Ora
veja lá como as cousas se arranjam?! Quando me vieram participar isso cai das nuvens, e disse-lhe que quando tinha dito isso
que foi sem intenções de lá hir mas sim por graça, e que mesmo não podia hir sem sua auctorisação ainda que por um mez, e
que além d’isso não podia perder aqui os meus ordenados. // [55] Elles já queriam que eu seguisse no dia 10 de Fevereiro, mas
eu disse-lhe que sem receber uma carta do Senhor Hinton auctorisando-me a isso não podia sahir. Pediram-me para lhe
telegrafar, mas não o fiz, e disse-lhe que o Senhor Hinton me tinha respondido dizendo – Espere minha chegada Lisboa – e
assim ficou a cousa arrumada.
Acabamos de entregar hoje o alcool existente no Torreão, e principiou a sahir hoje tambem o alcool do armazem da C.ª
Nova. Como vê o alcool tem sahido bem agora, e se continua assim, teremos alcool até á nova colheita? No Armazem da C.ª
Nova temos 150.600 litros alcool, e se calcularmos como o sahido este mez até agora (60.000 litros aproximado), sô temos
alcool para 2 1/2 mezes, isto é, até 15 abril. Antes assim.
Recebi uma carta de Avelino467 que está muito satisfeito com o resultado do fabrico do Cassequel, e acho-lhe rasão, porque
com cana de 11,5% assucar e pureza de 80º nas medias; fazendo 76% em branco, e com uma extração de 93,33% do assucar
da cana; é um magnifico trabalho.
Crea-me seu Amigo Certo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz //
348
notar que na fabrica Nova tiramos 76% em branco, emquanto que na fabrica velha a media dos ultimos annos não deve ser
superior de 35% em branco (?) por tonelada cana.
Ora, uns 10 kilos assucar a mais na Fabrica Nova,
com um preço minimo de 1$70 por kilo = 17$00
Despezas a mais na filtração = 5$40
diferença = 11$60 por tonelada cana.
Se em 1930 tiverem 100.000 toneladas cana (?) devem têr (comercialmente falando) um lucro superior de 1.160 contos ou
£11600. Não é assim para o Senhor C. Comerciante??
Dará o mesmo resultado pela decantação da garapa? Isso é lá com elles, e a esperiencia é que deve mostrar... //
[58] Meu Caro Avelino, o que te dou os parabens é de teres obtido um tão bom resultado em 1929, e que em 1930 estou
certo deve ser ainda melhor, se o increncas não determinarem o contrario.
Tambem te felicito pelo que o Senhor Hinton conseguio para ti, os 25:000$00 de gratificação, que não é muito para o
trabalho que tens, mas já ficas em melhores condições.
A mim derão-me 20 contos pelos meus trabalhos... Quem pode bem apreciar o valor dos meus trabalhos és tu meu caro
amigo!! Vejo o que me dizes sobre o P.[?] e fico bastante satisfeito por isso, podez crêr.
Eu cá vou indo menos mal de saude de corpo, mas mal na algibeira...
A minha filha vai melhorzinha mas ainda na casa de saude do Dr. Durão. Custa-me isso 50$00 por dia!! Mas vão-se os aneis
e ficam os dedos...
Recomendação de João (meu filho).
Um abraço do teu velho Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz //
349
trabalho maximo de 900 toneladas cana em 24 horas com uma extração de 95%.
Todos os outros apparelhos servem, e é somente uma questão de canalisação. Estou certo que elle (Hinton) vai enviar para
ahi o meu Sechma para tu e o engenheiro dizerem da sua justiça.
Segundo me disse o Senhor Hinton vão vir os dois cuiseurs mais antigos para praticarem aqui no Torreão, mas quanto ao
subrinho do C.471 não comprendo o que elle vem aqui fazer, porque pratica em Laboratorio deve elle ter ahi no Cassequel
contigo, para fabrico de assucar; isto aqui é muito diferente // [62] da forma de trabalho d’ahi, não é assim?
Tenho 40 annos de pratica em assucar e alcoos[sic] e estou sempre aprendendo..., e tu tens pelo menos 20 annos?... São
calculos para o futuro do nosso C.!! é um grande pandego...
O H. F.472 em vista da nova forma de determinar as capacidades das fabricas, mandou vir mais um duble-effe[sic], uma
caldeira de vacuo e duas centrifugas. Ficará assim um pouco melhor, e deixará de ser uma Fabrica somente de melaço. Quanto
ao resultado que dará, isso é lá com elle, mas estou a vêr que sai desparate.
Vejo que cultivas (á falta de melhor) pretinhas de 15 annos, mas o peor é o cheirete... Seu maroto... Que tenhas sempre T.[?]
para isso!!
Um abraço do teu velho Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz //
350
Quanto ao pano felpudo para os filtros mechanicos diz elle que não conseguimos nada, visto esse typo de pano poder ser
aplicado a outros fins.
É pois tudo quanto lhe posso dizer. //
[66] Alcool do Torreão
Analyse do alcool do Armazem grande da C.ª Nova (o que está sahindo actualmente) deu pelo processo Barbet uma
decoloração em 24 minutos e 50 regundos[sic], isto é, alcool puro industrial.
Não fiz analyse do tal alcool que o Marinho473 lhe mostrou por não o têr.
O Docamps Chimico da Estação Agraria pedio-me uma amostra do nosso alcool para elle analysar pelo mesmo processo
Barbet, e eu dei-lha do nosso alcool do Torreão da mesma amostra que eu fiz a analyse. Estou á espera da resposta.
Ás 3 horas da tarde acaba de estar aqui comigo o Docamps para me dizer que a analyse que fêz lhe dá 1 1/2 minutos de
decoloração (!!), e elle mesmo acaba de fazer a analyse do mesmo alcool aqui no nosso Laboratorio com o permanganato puro
e agua Destillada da nossa e deu-lhe aproximado o mesmo resultado que me deu a mim. Ficou muito admirado e aborrecido
porque diz elle que deve ser devido ao permanganato que emprega não ser puro e a agua destillada (das farmacias) conter
qualquer materias organicas que percipita o permanganato, e assim acceita // [67] a minha analyse como certa, mas pedio-me
um pouco do permanganato puro e 2 litros de agua destillada da nossa, para repetir no seu laboratorio a mesma analyse.
Eu fiz-lhe vêr que essas analyses da pureza do alcool é muito importante, porque não desejamos correr o risco de ser
considerado alcool improprio para consumo. Elle concordou e vai de futuro tomar o maximo cuidado n’essas analyses,
empregando productos puros. Como temos suficiente permanganato puro no Laboratorio, ofereci-lhe ceder mais algum sendo
necessario.
Crea-me seu Attencioso Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz
P. E.[sic] Já recebi fermento puro fresco de Possehl’s. //
351
Estes diabos são uns burros chapados, porque quem tem uma refinaria para o seu assucar do Cassequel, devem ter um
analysta para poder regular o fabrico.
Estou a vêr, meu caro Avelino, o que não vai ser por Lisboa entre o Senhor Hinton e C. & C.ª?!... quando receberem os
resultados das analyses dos assucares. Eu fiz o que pude para livrar a tua responsabilidade, como podes vêr pela copia da carta
ao Senhor Hinton, mas como ficas prevenido, farais melhor a tua defeza. Torno-te a repetir que é confidencial o que te mando,
porque não sei se o Senhor Hinton gosta que te mande, e não seja elle o primeiro a te dizer.
Vejo que é o Soares que vem para aqui para praticar como cuiseur: Não te parece que elle é um pouco burro para isso? //
[71] Já estou farto do Cassequel, porque a minha vida é fazer tudo, para o Senhor Hinton apresentar como seu!...
(confidencial), mas em parte tambem livra-me de responsabilidades. Se eu recebesse as £ 1000 por anno... assim estava certo,
mas apenas me deram 20 contos (por muito favor) depois de eu lá estar 3 1/2 mezes e a estar sempre a trabalhar para a Sociadade
Agricula do Cassequel....
O sobrinho do C. vem para cá, mas virá de carrinho, já estou velho para ensinar meninos... Elle devia aprender era ahi
contigo.
Pelas notas que me enviaste vejo o seguinte:........................% cana
Media dos 3 annos da ........................Fabrica Velha ....................Fabrica Nova 1929
assucar % cana ..................................................................= 12,02 % ...............................11,528 %
Extração .............................................................................= 88,15% ................................93,33 %
Pureza garapa ....................................................................= 83,1 .....................................80,97
Turbinado a 100º polarisação ..............................................= 8,267 % ...............................9,562 %
assucar no melaço ...............................................................= 1,576 ...................................1,736
Cre-me sempre teu amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
352
[DATA: 25 de Março de 1930
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[74] Funchal 25 março 1930
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Recebi a sua carta e as amostras (2) do assucar areado de S.ta Iria (?) para analyse.
Envio-lhe pois junto essas analyses, e ao mesmo tempo a repetição da analyse do “C” que enviei a 13 do corrente, por cujo
resultado verá uma diferença a mais na analyse feita agora repetida. As razão [sic] d’essas diferença é a seguinte: Marinho478
que deveria têr lotado antes as amostras, não o fêz, e tirou o assucar da parte superior do vidro, mas fêz isto em todos os
assucares. Esta repetição da analyse feita agora lotei eu bem o assucar antes de tirar para pezo.
Este engano de Marinho veio-me porém provar que o assucar areado de S.ta Iria, em contacto com o ár se estraga um pouco
devido naturalmente á sua acidez elevada, e de não sêr os xaropes da refinaria corrigidos convenientemente.
Esta amostra do areado enviada agora deve // [75] ser de fabricação recente (?), por isso que difere muito da enviada a 7 do
corrente.
Um outro engano de Marinho feito nas analyses enviadas a 13 do corrente com relação á humidade, que por descuido no
calculo da humidade que deveria ter multiplicado por 10, multiplicou por 5, por confusão do pezo normal do novo
saccharometro que é de 20 gramas, e nas analyses dos refinados elle fêz o pezo de 10 gramas em vista do volume do assucar
refinado não comportar na tassa.
Tem pois que multiplicar por 2 a humidade enviada em todos os assucares areados, envidos[sic] a 13 do corrente.
Quanto ao que me diz com relação ao inicio da Laboração ser feita a 25 abril, seria de grande conveniencia que o ministro
desse despacho favoravel, porque assim teriamos uma Laboração quasi seguida, o que era muito conveniente.
Crea-me seu Attencioso Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
353
Deus o leve em boa viagem, com as [...] //
[78] Passo agora responder ás Cartas:
A primeira cousa e lel’as novamente, que é um bico d’obra...
Carta de 11 março: Quanto ao que me dizer[sic] do engenheiro sobre lotes de assucar, que elle aconselha mesturar as
Melasses Cuites é piramidal!!
O technico agronomo, como ja sabes, foi-se á maneta... pobre homem.
Quanto ao typo do assucar a fazer este anno, os grandes homens de Lesboa querem novamente o maximo de branco...
Segundo me disse o Senhor Hinton. Ficas pois livre das deficuldades de typo <20> abaixo, da escalla Hollandesa.
Quanto a decantação para 1931 nada sei o que vão fazer, e isso é lá com elles. No meu plano está tudo muito claro e facil
de montar. Depois falaremos n’isso caso se monte para 1931.
O meu menino se raparar bem na minha carta deve ver que quando eu disse 160 hectolitros totaes não era na totalidade dos
5 ou 6 decantadores mas sim o total de cada um, e assim daria um total de decantação de 800 a 960 hectolitros; está intendido?.
Quanto ao alcool, Novo projecto, tambem meu, do fabrico do alcool absoluto (99,5 a 99,7) que é a // [79] ultima palavra
para o fabrico de alcool motor, e assim evitar o fabrico d’ethere sulfurico para o fabrico da Natalite que está posto de parte.
O Senhor Hinton te dirá quando ahi fôr, e eu ainda tive tempo de lhe deitar a mão para não fazerem o desparate de montar
um novo apparelho para ether sulfurico, que em Africa é dificil de conseguir um bom trabalho.
Quanto a determinação da capacidade das fabricas no corrente anno, participo-te que podemos moer em 24 horas 616
toneladas cana e fazer tudo em assucar e produzir um melaço com 53,5% assucar total em Clerget.
Quanto a H. F.483 ainda não fez a esperiencia porque acho que tem tido dificuldades em fazer o mesmo que nós mesmo com
os seus novos aparelhos e um technico francez!! Tenha paciencia, são os oços do oficio.
Quanto ao tal technico do Mirrles, manda-o ao diabo. Se elle nunca vio a filtração total da garapa, é porque este processo é
de á 50 annos!... e nos empregamos aqui á 15.
Carta de 14 março: Em parte respondido acima, e quanto á decantação, se se fizer, te direi depois de terminada a laboração
aqui, e com mais tempo e paciencia. //
[80] Carta de 17 abril: Quanto ás exigencias do engenheiro nada sei nem me interessa. O que eu vejo, segundo me dizem,
é que leva como companheira da esposa uma prima, que segundo a opinião de quem a vio é um peçega... Cuidado Avelino!...
Segundo me disse o Senhor Hinton sô quer principiar a Laboração ahi no principio de Julho.
Filtração do xarope: Vejo que já tens montado o meu systema, mas lembro-te que antes da descarga deves fazer passar agua
quente no filtro até á densidade de 15º Baumé e sô depois descarregas o filtro para a descarga passar no Filtro-Presse [.] Achava
tambem conveniente montares um forno pequeno separado e junto dos tanques da sulfitação do xarope. É facil e fica
independente da sulfitação da garapa. O tubo para o ár comprimido para elle pode vir do Ballão do ar comprimido (montagem
como no Torreão).
Montagem do Ballão para a agua antes da bomba de vacuo, correta como o meu plano.
Quanto ao Cosedor (cuiseur) já respondi.
Carda[sic] de 19 abril: Quanto a S.ta Iria, aquillo é um desastre... e ja isso disse ao Senhor Hinton mas não estou desposto a
dár conselhos... //
[81] Quanto ás analyses dos açucares refinados de S.ta Iria, mandaram novas amostras e estas estão melhores que as
primeiras, isto é, mais bem trabalhadas.
A principal causa da baixa de pureza nos assucares brancos do Cassequel foi devido á má cristalisação dos cuites, e foi isso
mesmo que fiz ver ao Soares e elle concordou plenamente. Um cristal fino e irregular é mais sujeito a se estragar pelo humidade
[sic] que absorve. Deve-se pois obter um cristal grande e regular, ainda que menos branco.
Tens pois razão no que dizes e agradeço-te as analyses.
Estou a vêr que o Senhor Hinton, se fôr á Africa, somente hirá em Junho proximo, e para o futuro veraes qual a razão d’isso.
Parece-me que tenho tudo respondido, e o resto ficará para depois da Laboração do Torreão.
Um abraço do teu velho Amigo e com desejos de continuação da saude e socego de espirito, e que Deus te ajude na nova
Campanha
Teu Amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
354
[DATA: 7 de Junho de 1930
DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola]
[82] Funchal 7 Junho 1930
Meu Caro Avelino
Duas palavras para te agradecer a tua carta de 2 de maio ultimo, e dar-te noticias minha etc. etc.
Vejo que a tua saude sempre na apromada... o que te felicito e faço votos que assim continue. Eu bem de saude, a não ser
ao te escrever esta que estou rouquissimo d’uma constipação que apanhei da deffusão Hinton-Naudet...
Felizmente que de 2ª feira em diante até ao fim da Laboração será o trabalho feito pela filtração total (parte Ferraz...). Cebo
para o processo Hinton-Naudet!..
Segundo a tua carta e o que me disse o Senhor Hinton484, este anno no Cassequel é tudo em branco, e isso sô se pode obter
pelo processo de filtração total como está actualmente. Quanto ao Marcelle485 (cuiseur) foi para casa porque não servia de nada,
e além de ser um mau cuiseur era maluco!! Pobre homem e tenho pena d’elle, mas não dá nada para chefe cuiseur, nem mesmo
para cuiseur rasoavel porque o experimentei aqui e nada fez de geito. Além d’isso ganhava mais do que valia, e trouxe
complicações. // [83] O Soares é que está actualmente um bom cuiseur (descipolo do Manoel, estais a ver), e se os colegas d’elle
quiserem aprender com elle, estou certo que teraes menos dificuldades com relação a cuites e trabalho dos Filtros-Presses da
garapa etc etc...
Elle te contará tudo assim como o Costa486.
Quanto ao Costa (particularmente) deves ter o maximo cuidado nas analyses ao saccarimetro feitas por elle, porque se
engana muitas vezes, segundo me diz Marinho487.
Quanto ás modificações para o acido e soda para o Triple-Effet está bem, e é assim que deve ser. Calcula que este anno com
o emprego do supercel Hyflo no jus de filtração (antes de filtrar), passo no Triple-Effet o acido e a soda e não é necessario raspar
os tubos; ficão perfeitamente limpos, e é uma grande cousa.
Para o Cassequel porém não tem cabimento.
Quanto ao Engenheiro Shannam, apenas falei com elle uma ou duas vezes, e fiquei com a empressão que o homem não
sympatisou nada comigo, e a rasão eu sei bem porque: Pode ser que o Senhor Hinton te diga alguma cousa sobre isso, e tu me
transmitiraes, sim?[?] O Senhor Hinton tambem está um pouco dificil... // [84] e eu confesso-te que já estou velho e rabogento...
Tambem são já 67 annos, meu amigo, e com 30 anno [sic] no Torreão!... Deveria ja estar rico e descançar... mas que queres?
Este anno a Laboração deve ser de 27 a 28.000 toneladas cana, mas com cana pessima em percentagem assucar e pureza. O
que está rica é em gomas...
Para o proximo anno tanto eu como o Senhor Hinton não queremos mais diffusão Hinton-Naudet, ainda que mais barata!!
Depois de terminar a Campanha, vou aos Açores (São Miguel) ensinar a forma de fermentação dos melaços pelo fermento
Possehl’s por conta de Possehl’s, porque o Chimico Stol não pode lá hir. Vou a 10 de Julho proximo no San Miguel para a
Destillaria de Santa Clara de Bensaude. Levo comigo minha molher e a pequena, e vão para casa de minha irmã (Leça). Deve-
lhe fazer bem a modança e a viagem.
Um abraço do teu Amigo velho. [Ass:] João Higino Ferraz //
355
Na parte de analyses isso ficou a cargo do nosso Chimico Senhor Marinho de Nobrega, que fêz o possivel de o instruir em
tudo e estou certo muito deveria ter ganho com isso.
Quanto ao cuiseur Soares, esse levou umas boas lições de trabalho dos cuites, tanto da // [86] parte do nosso cuiseur chefe,
que se prestou da melhor vontade em lhe dár as indicações necessarias para uma boa cristalisação e trabalho dos cuites, como
eu da minha parte tambem lhe fiz vêr varias cousas que lhe deve ser util no Cassequel. Elle Soares fêz uns dois ou tres
cosimentos completos, e verifiquei que está nas condições de dár aos outros cuiseurs do Cassequel os conselhos necessarios
para que o trabalho corra melhor que no anno findo, caso elles queiram tomar os seus coselhos[sic]...
Quanto ao Marcelle Soubet, isso foi um desastre; nem o homem era um cuiseur em condições, mas muito menos para chefe
cuiseur. É um doente de quem se deve têr pena, por ser uma vitima da grande guerra!.
Em fim, esse foi-se e bem a tempo de não trazer complicações meiores á C.ª do Cassequel. Da minha parte fiz o possivel
de o resolver a desfazer o seu contracto.
Para o Senhor Hinton foi isso muito bom, porque lhe traria em Africa desgostos graves.
Agradecendo os seus bons votos de boa saude minha e dos meus, retribuio, assim como envio os meus respeitosos
comprimentos a Sua Ex.ma Esposa
Seu amigo certo
[Ass:] João Higino Ferraz //
Estimo primeiro que tudo que tivesse uma boa viagem e encontrasse o Cassequel em boas condições para o inicio da
Laboração.
Terminamos, como vê da Situação, no dia 24 de Junho ultimo sem novivade[sic] de importancia.
Depois de liquidado os cuites, dei principio á refinação no dia 27 Junho, tendo em assucar bruto para refinar um total de
315.111 kilogramas assucar
Até hoje tenho refundido para refinar 238.446 kilogramas assucar bruto, tendo cuites e égoûts para fazer o épuissement.
Temos refinado (turbinado) até hoje de manhã 127.050 kilogramas assucar BB.
Para terminar completamente a refinação e épuissement dos égoûts espero terminar a 7 Julho.
Como não convem deixar os melaços da refinação, porque são mais ricos que os melaços da Laboração, vou destillar todo
este melaço para que fique somente o melaço da Laboração no T. G. (tanque grande). O stock de melaço no tanque grande em
30 Junho era de 712.630 kilogramas melaço.
Total do alcool feito até 30 junho, retificado = 194.340 litros
Stock alcool a 30/6 = 98.224 litros //
[88] Situação provavel do alcool a 30/6
Cuba Nº 10 em etheres e escencias em alcool a 100º...................= 28.500 litros
Nos tanques da aguardente apurada para retificação ....................= 3.000 “
Em fermentação pouco mais ou menos ........................................= 18.000 “
Melaço no tanque destillaria, em alcool .......................................= 3.000 “
Em aguardente bruta para retificação calculo a 100º.................... 7.000 “
Total em alcool – .......................................................................... 59.500
Salvo Erro ou Omissão Se calcularmos todos estes dados, dará aproximado:
Alcool feito até 30/6 ......................................................................194.300 litros
Do Melaço em stock ......................................................................235.000 “
Situação provavel do alcool 30/6 – ............................................... 59.500 “
Alcool provavel da refinação.......................................................... 22.000 “
Total provavel .................................................................................510.800 “ ??
Não deve porém contar com mens[sic] do que lhe digo na folha de situação geral, ou seja 512.910 litros.
356
Rateio do alcool:
Esta é a parte tetrica... não para nôs, tenho a firme certeza, mas para o canalha do H. F.488 [.] O Senhor Hinton tem tanta sorte,
que isto que se deu em S. Filipe, não veio senão ajudal’o nas suas pertenções. Hontem pedi ao Director da Alfandega para têr
uma intervista com elle, o que elle acceitou logo, e levei-lhe as notas que lhe envio juntas. Não pode calcular como o homem
ficou satesfeito, porque todos // [89] os calculos feitos por mim concordão perfeitamente com as notas enviadas por S. Filipe e
pelas notas da alfandega. Como vê no meu calculo eu dei-lhe uma extração de 85% do assucar da cana, e pelas notas enviadas
de S. Filipe e assignadas por elles dizem que a sua extração é de 84,7%!!... magnifico. Não calcula como fiquei satesfeito. Dei-
lhe todas as explicações para elle poder fazer os calculos quando termine a turbinagem dos Melasses Cuites de 3º ou 4º jet, e
vêr assim realmente qual a quantidade de melaço obtido.
Fiz-lhe vêr tambem que S. Filipe fazendo assucar de 3ª e 4ª, deve ter esses assucares uma baixa polarisação, e devem ser
analysados e calculados a 100º polarisação.
Não pode o Senhor Hinton calcular como o director da Alfandega está, porque vio que foi embaçado, e isto para elle é o
peor que lhe podem fazer.
Quando entrei a primeira cousa que lhe disse foi o seguinte: “Eu pedi-lhe esta intervista por duas razões: a 1ª é que via o
descalabro para a Casa Hinton se o rateio fosse feito n’estas condições; a 2ª foi por sympatia para com o meu Amigo porque
vejo a falta de seriadade e nenhuma consideração para com o meu Amigo procedendo como vilhões e canalhas... // [90] Elle
somente me respondeu «Deixe o Ferraz estar que não deitaram em saco roto...»
Está o Senhor Hinton vendo o estado de espirito d’elle... Disse-lhe tambem que achava que no calculo para o rateio deveria
entrar o assucar produzido no anno anterior, e elle director concordou com isso e parece-me que vai propor isso ao Ministro.
Elle vai a Lisboa no dia 18 do corrente, segundo elle mesmo me disse, e o rateio definitivo somente será feito depois da
vinda d’elle de Lisboa, e de S. Filipe têr terminado tudo. Está o Senhor Hinton a vêr para onde hirá o rateio, e eu disse ao
Derector que pelos meus calculos o rateio do Torreão deveria ser de 470.000 litros (!!) Elle achou um pouco exagerado... mas
tambem não disse mais nada.
Vou escrever para Lisboa ao Tristão489 e dár-lhe estes mesmos calculos e dár-lhe todas as explicações necessarias, mas acho
mais conveniente Tristão não apresentar reclamação senão depois de vêr o que o Director fará em Lisboa. Como tenho vapor
para Lisboa amanhã (3) vou escrever hoje.
Como Belmonte deve-lhe escrever dizer o resto que me falta dizer, pesso-lhe para terminar por aqui, e crea-me seu
Attencioso Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
357
mesmo calculo da Nota Nº 2 o seguinte:
7,062 assucar branco (calculado
o bruto) a 99,6 polarisação = 7,034 <assucar> a 100º
Dará em melaço de 54% assucar =
5,307 kilogramas ou 3,685 litros = 2,866 assucar 100º
Total assucar vizivel ——————— 9,900 assucar 100º
Perdas totaes será ——————- 2,500 “ “
assucar % cana 12.400
Quando apresentei estes dados ao Director da Alfandega elle ficou espantado pelo resultado obtido nas 60 horas da
esperiencia, e elle vio bem que os meus calculos estão mais ou menos aproximados do verdadeiro, porque elle vio que // [93]
a extração declarada por São Filipe e assignada pelo gerente dava 84,7% extração, e eu calculei 85, o que é bem aproximado.
Tudo depende porém do resultado final da turbinagem do assucar branco e bruto, e como São Filipe tem grande quantidade
de cosimentos de 3ª e 4ª qualidade para turbinar, somente d’aqui a 20 ou 30 dias é que se pode fazer os calculos exactos e vêr
qual o melaço real obtido, se concorda com os calculos feitos por mim. Elle director está furioso contra elles porque o
embacarão[sic] indecentemente, emquanto que nós andamos com toda a lealdade e correção.
Foi isto que elle me deu a entender, e disse-me que não tinhão deitando em saco roto... Estaes a vêr o que vai soceder a esses
canalhas dos H. F. etc.
Eu da minha parte declarei ao Director que contava para Torreão um rateio de 470.000 litros pouco mais ou menos, segundo
os meus calculos e se elles fossem corretos em tudo.
Veremos o que sai de tudo isto, mas estou a vêr que nos vai ser bem favoravel, se n’este pais ainda há gente seria.
Um abraço do teu primo e amigo. [Ass:] João Higino Ferraz //
358
grandes como as tuas... Está intendido. Recebi tambem uma carta do sobrinho do Costa493, mas diz-lhe que lhe responderei
depois da minha volta e mando-lhe lembranças minhas.
Quando estive em Ponta Delgada vesitei um Cavelheiro que tem estufas de ananazes, e como das explicações sobre o cultivo
elle me disse que os ananazes para dár bom fruto (grande) tinhão que florir, tive occasião de lhe perguntar se a floração de uma
planta é signal de fraqueza (elle é um bom agronomo) e elle disse-me que sim, e falando-lhe na floração da cana do Cassequel,
é opinião d’elle que essa floração é devido a fraqueza na soca da cana por excesso de produção. Foi isso sempre o que eu disse,
mas que o Costa diz que não é... Outra cosa // [97] que eu sube tambem: Nos Açores teem por habito cemiar o tremoço, e depois
de lhe tirarem a cemente é que enterrão o restante para servir de adubo azotado, porque diz o Agronomo que o azote está nas
raizes da planta e não na folha verde, e quando eu estive ahi no 2º anno vi que no Cassequel plantavão o tremoço e quando a
planta estava ainda verde e antes de dár semente, enterravão na terra, disse-me o Costa para aproveitar o azote da planta... Eu
tenho edeia de têr dito ao Costa que achava isso pouco economico, visto ser necessario empregar nova cemente para cemiar.
Vejo agora que tinha rasão no que dizia, e não vejo necessidade de perder semente que pode servir para nova cemiadura. Diz o
Agronomo que o azote está nas raizes do pé do tremoço em umas pequenas burbulhas que fição[sic] nas raizes depois da
colheita do tremoço, e o enterramento completo da planta verde de nada serve.
Um abraço do teu velho Amigo certo, que te deseja felecidades e saúde. [Ass:] João Higino Ferraz //
359
360
[Copiador de Cartas. 1930-1937]
DESCRIÇÃO: À imagem de anteriores copiadores de cartas, o título deste é dado por nós. Os seus fólios não são
numerados, pelo que a numeração é por nós acrescentada, a lápis. É um livro, em papel, a última quarta parte do volume
encontra-se em branco, as suas medidas são 27,1 cm x 21,5 cm, e está em bom estado de conservação. Muitas das palavras da
última carta deste copiador não puderam ser lidas, em virtude de um deficiente decalque das mesmas, tornando-as ininteligíveis.
361
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[DATA: 31 de Outubro de 1930
DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola]
363
vacuo da 4ª caixa é que está dando causa aos entrenements de xarope e de agua do condensador á bomba de vacuo.
Quanto ao Senhor Engenheiro deu raia?, e fezeste bem em o deixar trabalhar para elle vêr os defeitos do apparelho.
Então o Soares não dá nada de si? São todos assim e bem comprendo o que me dizes na tua carta, porque tive inflizmente
esperiencia d’isso ahi na fabrica.
Fico satisfeito por saber que o trabalho da sulfitação vai bem, e isso para ti é um grande descanço.
Fico esperando os resultados finaes da tua forma de limpeza do Quadruple. //
[5] Falas em abandonar isso ahi? Tem paciencia e conserva-te o mais que poderes por ahi, porque isto por cá não vai nada
bom, e sabes bem o desgosto que davas ao Senhor Hinton, porque é contigo que estou certo que elle pode contar. Eu vejo bem
que o Senhor Hinton actualmente o que lhe está dando mais cuidado é o Cassequel, não somente pelo capital que lá tem, mas
principalmente pelo seus [sic] amigos inglezes que elle meteu n’essa empreza, e tem rasão!..
Nada mais tendo a dizer-te, desejo que a tua saude continue como até aqui (segundo as tuas cartas), e que o moral e trabalhos
vão melhorando são os votos do teu Amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
Visto estar ainda em Londres e desejando talvez saber qual as [sic] quantidades de productos Chimicos etc. necessarios para
a Laboração de 1931, envio-lhe a nota abaixo, calculado sobre 26000 toneladas cana e deduzidos os Stocks existentes.
Productos necessarios para 1931:
Phosphato de Cal (Londres)........................................33.100 kilogramas 500
Kieselgouhr Americano (“) .........................................29.800 “
Cal virgem (Lisboa)..............................................33.300 “
Enxofre en cannons (“) ..............................................15.600 “
Blankit (Lisboa ?) ........................................................... 150 “
Azul ultramarino (Lesboa ?) ..............................................15 “
Lystonol – (França) ........................................................1400 “ 501
364
litros alcool bruto a 100º, emquanto que o melaço de beterraba com boa fermentação até ao fim feito o calculo pela 1081 [sic]
toneladas de melaço (?) // [8] apenas deu 53,64 litros alcool bruto a 100º % saccarose total no melaço!!
É isso que não posso comprender e o que me fáz pensar que os meus calculos da esperiencia que fiz com o melaço de
beterraba estão certos e que deve haver engano na quantidade de melaço entrado na Fabrica da Lagoa. Como se fez esse engano
no calculo é que não posso vêr.
Para prova que os calculos feitos por mim ahi sobre os mostos feitos e sua densidade estão certos e ainda com vantagem
para elles envio-lhe o resultado do lote feito que terminou hontem (4 Novembro), cujas medições tanto de melaço gasto como
dos hectolitros de mosto feito e sua densidade forão rigorosamente feitos e verificado no Laboratorio a sua densidade e val [?]
a 20º temperatura.
Densidade do melaço – 1,432
Melaço medido em dois tamques e calculado a pezo pela densidade = 194.515 kilogramas
As diluições feitas forão as seguintes:
Mosto-fermento = 2730 hectolitros á media de 9,4º Baumé
Mosto geral = 4530 “ “ de 12,22º “ //
[9] Fazendo o calculo pelo mosto feito empregando as densidades vistas pelo mesmo livro de Fabrico[?] como o fez ahi na
Lagoa, deu-me o seguinte resultado que o meu Amigo pode verificar:
Mosto-fermento = 2730 hectolitros a 9,4º Baumé
(1,068 Densidade) = 112.972 litros melaço
“ geral = 4530 hectolitros 12,22º
(1,091 Densidade) = 95.423 litros “
7260 hectolitros a 11,15º Baumé = 138.395 litros “ que
calculado em pezo = 198.182 kilogramas melaço.
Melaço nos fermentos
restantes para Lote segundo 1.000 kilogramas
melaço real calculado 197.182 kilogramas
Melaço pela medição 194.515 “
A mais pelo calculo 2.667 kilogramas melaço, ou seja pouco mais ou menos 1,37 % a mais melaço
por hectolitro mosto do que pela medida do melaço calculado em kilogramas.
Assim dará por hectolitro mosto feito o seguinte:
Pelo melaço real medido e calculado = 26,792 kilogramas
“ “ calculado pelo mosto feito = 27,160 kilogramas
Diferença a mais pelo mosto feito = 0,368 kilogramas
Isto vai sem comentarios porque o meu amigo é competentissimo para avaliar isto tudo e vêr que tanto eu como o meu
Amigo não nos enganámos nos calculos feitos ahi nas duas esperiencias. //
[10] Para prova da lealdade dou-lhe mais os seguintes calculos feitos em 3 lotes de fermentação nas épocas abaixo e que
não forão feitos com tanto rigor como o ultimo terminado agora:
Julho de 1929: Pelo melaço medido = 410.405 kilogramas melaço
Pelo calculo mosto feito = 409.766 kilogramas “
A mais pelo medido = 639 kilogramas “
365
Fabrica da Lagoa.
Os meus respeitosos cumprimentos a sua Ex.ma Esposa e um abraço do seu Amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
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estava descarregado) 1.000 “ “
Total obtido = 401.863 litros alcool
Calculando a cana moida para alcool pelo assucar contido na garapa e jus de 61.021 kilogramas assucar = 500 toneladas
cana
Rendimento por tonelada cana = 72,8 litros em 40º Cartiere
Alcool das 500 toneladas cana = 36.400 litros
Melaço destillado até 11/11/930 = 1.104.614 kilogramas
Alcool obtido total = 401.863 litros
Da cana directa = 36.400 litros
alcool do melaço —— 365.463 litros
Rendimento % melaço = 33 litros alcool ou 40º retificado
Calculando que o restante melaço no Tanque Grande de 360
toneladas dê o mesmo rendimento de 33% = 118.800 litos[sic]
Alcool total feito até 21/11 = 401.863 “
Total do alcool Laboração de 1930 = 520.663 “
Salvo Erro ou Omissão. 25/11/930. [Ass:] Ferraz //
Terminamos a reteficação do alcool no dia 22 do corrente, restando somente em Etheres e escencias 1890 litros a 54º a 15º
temperatura que corresponde a 1023 litros alcool a 100º.
O stock do alcool a 22 do corrente é pois de 117.217 litros, mas como naturalmente deve dár alguma quebra devido á
diferença de temperatura etc. não se pode calcular senão com 115.000 litros no maximo real.
Junto remeto-lhe o resultado em alcool de 1930, fazendo o calculo do melaço restante no Tanque Grande dár o mesmo
rendimento que o destillado até agora.
Calculando pois n’estas condições fica-nos em alcool para fornecer á Alfandega 233.800 litros até 1931. Dará este alcool
até 15 abril 1931?
Já deve estar ao facto do desastre do Banco H. F.507, que pena foi que se desse tão abruptamente, mas que mais cerdo[sic]
ou mais tarde se deverias[sic] dár!!
Não desejo o mal dos outros, mas Deus quando castiga é cá n’este mundo...
Crea-me seu Attencioso Amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
367
algum eu teria aceite tal encargo nem o Senhor Hinton aconselhado a casa Bensaude a empregar esse fermento.
Para mim e o Senhor Hinton os Possehl’ e Stolles são entidades secundarias...
Se a União um dia quiser renovar as esperiencias do fermento, deve obrigar o inventor Stolle a ficar ahi até final, porque,
afinal de contas Stolle é o verdadeiro responsavel.
Quanto á minha humilde pessoa estou certo que o Senhor Hinton não me falará mais em hir aos Açores para esse fim, mas se
o caso se desse, eu pedia emediatamente a demição do meu logar na Fabrica do Torreão. Desculpe o meu Amigo esta minha
maneira de escrever, mas não pode calcular o meu estado de espirito e estado nervoso em que estou depois de têr lido a sua carta.
Todas a [sic] minhas sympatias são para si porque vejo que o meu Amigo é a vitima...
Creia-me contudo sempre seu verdadeiro amigo e admirador do seu curação. [Ass:] João Higino Ferraz //
368
9 horas da nuite.
Será para deixar a fabrica em condições antes de se safar? Não me admira nada! D’aquele typo tudo se espera...
Graças a Deus que o director da Alfandega já auctorisou a destillar todo o melaço, e assim espero terminar as fermentações
no princepio da proxima semana, e lavar o Tanque Grande para receber o melaço de 1931.
Quanto ao que me diz sobre a limpeza dos apparelhos vou fazer o melhor possivel, mas sabe bem que o primeiro cosimento
nunca é muito branco, mas é fácil de o refundir novamente.
Quanto á liquidação foi melhor que não se désse!
Crea-me seu attencioso amigo. [Ass:] João Higino Ferraz //
Recebi a sua ultima de 16/2 e junto a carta e plano do seccador de assucar a que vamos responder na proxima semana como
é do seu desejo.
Alcool do Melaço: O 1º Lote de 203 toneladas de melaço deve dár um rendimento em alcool retificado aproximado de
65.700 litros em 40º Cartiere, o que corresponde a 32,3 litros alcool % melaço.
O 2º lote em fermentação e destillação não lhe posso mandar ainda o rendimento sem têr terminado todo o melaço do Tanque
Grande e lavado o tanque, mas pelo melaço já tirado até hoje de 131.850 kilogramas e o restante ainda por tirar que calculo em
40 toneladas, dará um total de aproximado 170 toneladas melaço para este 2º lote. Na sua carta dizia que se tinha 203 toneladas
(?), mas na minha carta de 13 do corrente eu dizia-lhe 160 toneladas. Este 2º lote o melaço é mais fraco (restos do tanque) e
assim calculo 32%, e dará pouco mais ou menos (170 toneladas) 54.400 litros alcool em 40º.
Total em alcool dos dois lotes = 120.100 litros alcool
Seu attencioso amigo. [Ass:] João Higino Ferraz //
Terminamos o melaço do tanque grande no dia 24 do corrente, ficando a fermentação terminada. O resto da destillação deve
terminar na semana proxima, e por isso não lhe posso mandar agora o rendimento em alcool.
A quantidade de melaço, stock de 1930, foi de 373.000 kilogramas, emquanto que nos calculos feitos em 31 Dezembro de
1930 mostrava pela medida do Tanque Grande 360.156 kilogramas, dando pois mais em melaço 12.844 kilogramas.
Temos assim que o calculo do alcool provavel da minha carta de 20/2 (120.000 litros) deve andar aproximado.
Quando terminar a reteficação total, que calculo a 5 a 6 março, mandar-lhe-hei os rendimentos reaes dos melaços.
Crea-me Seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz //
Terminamos hoje de manhã a retificação de todo o alcool do stock do melaço de 1930, e cujos resultados lhe envio em folha
separada.
O nosso stock d’alcool n’esta data é de 52970 litros
O Director da Alfandega tem feito o rateio do alcool a entregar, o que tem dado, segundo me consta, um sarilho dos diabos.
Carlos Fernandes, fallando com Marinho511, estava furioso contra o Director da Alfandega!! visto os Soocos[sic] terem
pedido 40.000 litros!!! e elle não lhes dár... Para que diabo queriam elles 40.000 litros d’uma vêz?!! Não haverá aqui um desejo
de importar alcool pelos negociantes de vinho (grandes) para cousas futuras?
Crea-me seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz //
511 Marinho de Nóbrega.
369
[DATA: 6 de Março de 1931
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[24] Funchal 6/3/931
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Escrevo-lhe á preça para lhe dezer que o Director da Alfandega pedio-me para hir com elle para eu lhe dár a explicação
seguinte. Com a modificação no calculo das 60 horas elle quer meter o assucar produzido, e perguntou-me se o assucar deve
ser calculado a 100º polarisação. Eu disse-lhe que sim para evitar de futuro espertezas de São Filipe (com H. F.512, ou outros).
Previno-o pois d’isto para seu governo.
Diz Marinho513 que o Ministro indeferio a petição da Comp.ª Nova para principiar a 9/6.
Seu attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz //
370
economia em productos chimicos. Este systema que é novissimo são esperiencias de Laboratorio, mas que o autor prevê bom
resultado industrialmente empregado.
Como sabe a nossa despeza somente em Phosphato de Cal e Kieselgouhr é de 6$60 por tonelada cana (7 francos), emquanto
que com o novo processo elle calcula um maximo de 3,50 francos por tonelada beterraba.
Escrevi-lhe pois a 4 do corrente, dando-lhe todas as explicações do nosso processo desde 1915 para que elle o possa
apreciar e dizer se em cana elle garante os mesmos resultados do que em beterraba. Disse-lhe porém que a nossa despeza
somente em Phosphato de cal e Kieselgouhr era de 5 a 6 francos por tonelada cana. Vamos vêr o que o homem responde. [Ass:]
Ferraz //
371
Recebi uma carta de Avelino515 datada de 14 Julho, mas não me fala por emquanto nos rendimentos, mas somente do
technico Agronomo em que elle me diz que é um homem bastante com-//[31]petente e que as modificações que tem feito nas
plantações da cana ja se estão vendo os bons resultados.
Quanto aos rendimentos que o Senhor Hinton me diz na sua carta de 6,7% e 6,5% não é para admirar, visto que são canas
ainda fracas e mal tratadas na cultura, mas estou certo que nos futuros annos, adoptando os conselhos do technico, Cassequel
deve têr um bom futuro industrial.
Recebi uma carta de J. Zamaron, em resposta á minha, em que diz, que estando em viligiatura, deve voltar no fim do corrente
mez e depois me dará todas as indicações sobre o seu novo processo de apuração do jus de cana.
Veremos o que elle diz sobre o assumpto. Como agora nada há que fazer na destillaria, desejava hir uns dias ao Santo da
Serra descançar, porque bem necessitado estou d’isso. Marinho516 está no Monte, mas pedi-lhe para vir por aqui todos os dias,
no caso de ser necessario qualquer cousa. Pesso-lhe // [32] pois, ao Senhor Hinton, auctorisação para isso. Queria dezer isso ao
Senhor Jorge, mas sube que não estava no Funchal.
A Construção do novo destillador, que produz o minimo de 4000 litros alcool a 100º do vinho de melaço, custou aproximado
tudo montado = 47:500$00.
Um destillador como o nosso novo da casa Savalle (Urbain & C.ª) tambem para 4000 litros alcool a 100º por 24 horas,
custava (catalogo de 1930) 95:000$00 aproximado, no Funchal. Custou pois o nosso a metade, e com a vantagem de ser de
cobre mais groço.
Sem mais que possa dizer, faço votos para a sua boa saude continue, e creia-me sempre seu Attencioso Amigo Certo. [Ass:]
João Higino Ferraz //
372
admira pela baixa da percentagem em assucar e baixa pureza, mas a ultima nota que o Senhor Hinton me mostrou, parece que
o rendimento tende a augmentar.
Como dizes na tua carta e com rasão, não se devem queixar da Fabrica mas sim da cultura, e estou certo que de futuro com
uma cultura racionalmente feita os rendimentos do Cassequel devem augmentar bastante mas isso leva tempo e muito dinheiro.
Pena é que não tivessem principiado á mais annos. Esta-se dando o que eu sempre previ d’esde quando vi o Cassequel.
O Senhor Hinton mostrou-me o raporte do Pegado, que está bem feito mas que na meior parte é trabalho teu... pois não é
verdade?
Estive examinando tudo, e vejo pelos // [36] teus calculos que a extração media em 1930-1931 foi de 92,66%, e o assucar
no bagaço 2,24% bagaço, e temos assim bagaço % cana = 33,8 kilogramas % cana: não é assim?
É isto que me fez muita má impressão, e estou certo que é devido á grande quantidade de palha de cana que entra nos
engenhos que não te deixa fazer maior extração, que deveria ser de pelo menos 95%
O teu rendimento em turbinado % do assucar extraido foi de 76,45%, o que é muito bom, devido a ser produzido a meior
parte em branco. O nosso rendimento no Torreão tudo em assucar branco e refinado foi em 1931 de 74,9% de assucar extraido.
No fim vou dár-te os nossos resultados de 1931, onde veraes cousas muito coriosas.
Continuo a dizer que deve haver grande vantagem em esfolhar melhor a cana, antes de hir para a fabrica, e a folha retirada
e // [37] queimada sobre a terra já é um adubo que deve ser vantajoso na cultura. Na fabrica a unica vantagem é haver mais
bagaço as[sic] caldeiras para a formação do vapor, mas para a extração é pessimo.
Vejo o que me dizes sobre o trabalho da Fabrica na generalidade, e com isso fico por satisfeito por vêr que não me enganei
no calculos [sic] quando da sua encomenda. Quanto aos defeitos não é minha a culpa. O Quadruple foi calculado para 100
toneladas cana, mas tambem te digo que se a cana fosse rica como eu calculava (uns 13% assucar) as caldeiras de vacuo etc.
apenas foi calculado para 800 toneladas cana.
Dou-te os parabens pelo bom trabalho dos fornos do SO2 e isso para ti é um grande alivio. O que é pena é não terem
encomendado os sulfitadores de ferro fundido. Os nossos com quasi 3 annos de trabalho, estão perfeitos, apenas se estragando
os mexidores. //
[38] É uma boa medida a montagem da Destellaria junto da fabrica de assucar e principalmente para ti. O que convinha
porém, ja que fazem essa despeza era montar as cubas de fermentação para um maximo de 15 a 20 toneladas de melaço por 24
horas.
De futuro parece-me que se deve produzir no Cassequel o alcool absoluto como alcool carborante, como estão fazendo em
toda a parte, com o melhor resultado.
Vou-te dár agora o resultado da nossa Campanha de 1931.
Primeiro tenho a dezer-te que n’este anno empreguei o Lystonol em toda a Laboração com os melhores resultados, e mesmo
melhores do que eu esperava. É um anticeptico e antifermento de primeira ordem. Calcula que na diffusão evitei por completo
a inverção da saccarose no bagaço, tendo o bagaço com cana edentica á de 1930, mostrou 2,122 assucar % bagaço, e em 1930
mostrou 1,38 assucar %. // [39] Isto prova que a saccarose se conservou intacta e sem fermentação alguma. Isto deu causa a
deversas anomalias, como vais vêr e apreciar.
Rendimento de 1931 depois da refinação:
Assucar % cana (coefficiente 78) = 13,041 % sulfitação total da garapa e jus de deffusão assim como defecação.
Pureza garapa normal = 85,97
Coefficiente glucosico – 2,61
Extração = 95,65 (principia aqui as anomalias)
Temos pois assucar extraido = 12,474
Rendimento % cana:
Em turbinado de 99,5 polarisação = 9,345 = 9,298 a 100º
Melaço 5,705 com 55,66 assucar total = 3,175 “
Saccarose total obtida = 12,473 “ ?!!
Perda no bagaço calculada = 0,567 “
“ nas borras Filtros-Presses = 0,200 “
Saccarose total pelo calculo = 13,240 “
Temos pois Plus-sucre!! = 0,199 “
13,041 “
373
Como vês, não aparece perdas indeterminadas, mas pelo contrario aparece o Plus-sucre!! Não achas isto muito corioso?
Dou-te um doce se me explicares!! //
[40] Para dizer que este resultado é do analysta, parece-me que não, porque Marinho519 é muito meticuloso nas analyses, e
as de 1930 foi elle que as fêz.
Nem eu nem o Senhor Hinton não podemos bem vêr as rasões d’isto, e a unica que vejo é a não inverção ou fermentação
(que é assucar completamente perdido) da saccarose obtida da cana pelo emprego do Lystonol.
Quanto a não perdas indeterminadas ainda acceito, por isso que estou perfeitamente convencido que a principal rezão é a
fermentação nas garapas e jus, que é saccarose perfeitamente perdida, emquanto que as inverções da saccarose aparecem mais
tarde no melaço.
Mas o Plus-sucre? Isso sô pode sêr em parte devido ao calculo do assucar na cana pelo coefficiente 78, e outras razões nas
analyses e calculos deversos.
O que é inquestionavel é que o Lystonol tem um grande poder antifermento.
Sem mais que te possa dizer, abraço-te do coração, desejando a continuação da saude e boa desposição.
Teu amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
374
os preços.
Para 5000 litros prix – 247.000 francos. //
[44] Logo que tenha o orçamento para o apperelho de 6000 litros, dir-lhe-hei o que penso sobre o assumpto.
Alcool das fabricas Matriculadas: Segundo umas notas que pude obter do chefe fiscal de São Filipe, que sahio no fim do
mez passado de São Filipe,
a quantidade de alcool em stock a 30/9 = 30.000 litros
melaço em stock 120 toneladas pouco
mais ou menos que a 30 litros % (?) dará = 36.000 litros
Total alcool São Filipe 66.000 litros
Torreão Stock alcool a 30/9 144.000 litros
Alcool provavel stock melaço 220.000 “
Total alcool Torreão 364.000 “
Teremos assim nas duas fabricas a 30/9 = 430.000 litros, que a 70.000 litros por mez (?) dará para 6 mezes, isto é, até março
de 1932.
Sem mais que lhe possa dizer subscrevo-me Seu Attencioso Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
375
Veja o Senhor Hinton o que se está passando em Espanha! Pena é elles serem nossos visinhos, e é isso que me preocupa.
Cassequel: Fêz o Senhor Hinton muito bem em prevenir para Lisboa sobre a temperatura media da agua a empregar no
apparelho de destillação Barbet.
Quanto á moenda das 100 toneladas cana por 24 horas é um trabalho magnifico, mas que não devem exceder por causa da extração.
Torreão: Pede-me a minha opinião sobre o novo Quadruple; parece ser um bom apparelho, e agrada-me muito o systema de
circulação nas caixas, que é muito // [48] melhor do que com tubo central, como o nosso antigo. Este novo Quadruple deve
trabalhar muito bem com as caixas meias, para que a circulação se fassa bem, e foi por isso que disse ao Senhor Marsden para
pedir os vidros de nivel até ao fundo das caixas.
Quanto a Melasse Cuite de 4º jet (Filtros-Presses Melasse Cuite), já tinha combinado com o Engenheiro, para a Melasse
Cuite preparada no malaxeur actual, que vai ser montado por baixo dos Filtros-Presses de Melasse Cuite, correr em um tubo
largo de 7 a 8 polegadas, e com uma boa inclinação, ao malaxeur das duas centrifugas, e assim fica bem.
Melaço: Até 31 outubro tenho gasto 180 toneladas de melaço, e assim todo o melaço do stock ficará terminado entre 15 a
16 Dezembro, ficando pois tudo destillado antes da Festa.
O nosso stock alcool é de 157.000 litros pouco mais ou menos
Já cá temos o Quadruple e centrifugas.
Sem mais que lhe possa dizer subscrevo-me seu attencioso amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
376
Terminei um lote de 200 toneladas melaço que me deu um rendimento de 32 litros alcool retificado % melaço, com melaço
de 53,8% saccarose total. É um bom rendimento, e o fermento conserva-se sempre puro e activo.
Como o novo apparelho de destillação está tirando o alcool bruto entre 30º a 35º Cartiere e bem puro, fiz a esperiencia de
não empregar o Permanganato na desodirificação[?] // [51] da aguardente a retificar, para evitar essa despeza, que me deu o
seguinte resultado:
Processo Barbet
1º Alcool retificado com tratamento pelo Permanganato 13 minutos
2º “ “ sem “ “ “ 15 “
Nota: A 1ª foi feita a analyse 3 dias depois.
Quanto ao cheiro do alcool e seu paladar em qualquer dos dois estava bem limpo.
Não temos pois vantagem, actualmente, em empregar o Permanganato (por ser um producto caro), a não ser no alcool
rapassado[sic] dos etheres e escencias. Faz-se assim uma economia importante em Permanganato.
Estamos destillando com o novo apparelho entre 480 a 500 hectolitros de vinho de melaço com 8% alcool e o epuissement
da columna sempre a 0º: Grau maximo do alcool bruto 35º a 36º cartiere.
Temos retificado até hoje 65.700 litros alcool do stock do melaço.
Stock d’alcool (Torreão e armazem C.ª Nova) = 162.600 litros pouco mais ou menos
Depois da repassagem dos Etheres e escencias da aguardente de cana, deu esta aguardente um total = 16.204 litros alcool
em 40,2º Cartiere. Quebra de 4,35%
Sem mais que lhe possa dizer, subscrevo-me seu attencioso amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
377
Cassequel o original. Vou escrever a Henrique522 dizendo que mandei para Avelino523.
Ainda não vi o novo Decreto sobre o assucar dos Açores, porque me disserão no escriptorio que não tinha vindo.
Quanto ao lucro de São Filipe deve ser mais ou menos os 700 contos mas naturalmente não está deduzido as despezas
annuaes, reparações etc. etc, e como sabe isso é importante n’uma fabrica de assucar
As fermentações continuão sempre bem, e o fermento purissimo. O destillador está fazendo na media 500 hectolitros vinho
com 8,2% alcool tirando pois 4100 litros alcool a 100º jus 24 horas (graduação dos flegmas 84º (33 cartiere) a 15º temperatura)
o que está dando para um trabalho continuo do retificador com tiragem de 4100 litros // [55] d’alcool retificado em 40,2º
Cartiere, e sempre bastante puro e sem empregar o permanganato.
Cassequel: Recebi uma longa carta de Avelino pela qual vejo elle esta muito satisfeito com o trabalho da fabrica. Diz que a
cana chega agora á Fabrica com muito menos palha o que é importante. Fala-me tambem na extração, que diz elle ser dificil
chegar a 95% em razão da percentagem de fibra na cana (18%) mas que tem na ultima semana 93,4%, estando a media a 92,16.
O que eu vejo, e isso é importante, é que as perdas indeterminadas são de 0,293% cana que é bastante baixo. Media de moenda
927 toneladas, tirando alguns dias mais de 1000 toneladas.
Tambem me diz que vão montar um aparelho para a produção de um desinfectante para substituir o Furmol, que é feito por
meio de reação eletrica sobre o sal comum e agua, aconselhado pelo engenheiro Shannon, que vio a descrição no International
Sugar Journal de Junho 1931 pag 294, mas vejo pela descrição que esse producto é mais ou menos o Milton
Seu attencioso amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
Como já deve ter visto, por não lhe ter enviado o telegrama, o Quadruple foi necessario raspar e assim somente pude
principiar a moenda na segunda feira (18) de manhã, tendo um stock em cana de aproximado 400 toneladas. Já hoje tenho a
522 Henrique Tristão Bettencourt Câmara.
523 Avelino Cabral.
524 Harry Hinton.
525 Marinho de Nóbrega.
378
cana normal em stock, por isso que estamos moendo no maximo (520 toneladas).
Para a proxima limpeza (Domingo 24), vou proceder como em 1931, isto é, limpar sempre com o vacuo porque é muito
mais rapido, e assim em 20 horas fasso todo o trabalho de limpeza do Quadruple.
Situação 1ª – Envio-lhe justa, mas isto é um calculo aproximado por ser muito dificil fazer melhor. Em todo o caso, se dêr
no real menos assucar turbinado dará mais em melaço. O que eu vejo é que o processo adoptado da alcalinisação do jus de
diffusão está dando um magnifico resultado em todo o fabrico. A extração em 1932 é de mais 0,5% do que em 1931. //
[59] Principiei hontem a turbinagem do assucar de tourteaux dos Filtros-Presses de Melasse Cuite, dando um bom resultado
tanto na facilidade de turbinagem como no rendimento em assucar de 3ª bastante vendavel. Cada Filtro-Presse de Melasse Cuite
deu 710 kilogramas assucar turbinado de 3ª, o que é mais do que tinha calculado em 1931, em 550 kilogramas.
Sem mais que lhe possa dizer de importante, espero a sua vinda proxima.
Seu Attencioso Amigo Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz //
379
o que lhe vai acontecer //
[63] Limpeza do Quadruple: A ultima limpeza feita com o vacuo deu muito melhor resultado, e fêz-se a limpeza total em
17 horas incluindo a raspagem que foi rapida, levando somente 3 1/2 horas, emquanto que a anterior tinha levada a raspagem 9
a 10 horas!! A 4ª caixa, depois da limpeza a acido e soda, estava quasi limpa, por isso levou somente 3 1/2 horas.
Não temos moido mais de 503 toneladas cana por dia e nos ultimos 2 dias 480 toneladas.
Como no dia 1 de maio não tinhamos cana suficiente para principiar o trabalho ás 2 horas da manhã, somente principiei ás
6 1/2 horas da manhã, e assim tive tempo de liquidar completamente toda a fabrica e fazer uma situação que lhe vai ser enviada.
Essa situação, como vai vêr, apresenta um Plus-sucre maior do que em 1931, mas fazendo o calculo como deve ser será
somente de 0,269 e não 0,326. Em 1931 tivemos Plus-sucre = 0,200, mas como sabe o nosso novo systema de fabrico no
corrente anno (alcalinisação do jus diffusão) tem dado muito bom resultado e não admira que o Plus-sucre em 1932 seja de
0,269.
O que é muito sintomatico é que com cana de 12,477 assucar % se tira um rendimento // [64] de 9,435 assucar turbinado,
quando em 1931 com cana de 13% assucar se tirou somente 9,3% pouco mais ou menos.
Isto tem varias rasões mas a principal a meu ver é o tratamento do jus diffusão pelo processo Tiatini, que em cana vejo dá
tambem bom resultado. O rendimento em turbinado % do assucar extraido é de 78,4%, emquanto que em 1931 foi de 75%, e
é isto por onde se vê o resultado. O melaço é que vai ser menos em 1932, mas isso até convem no corrente anno.
O trabalho do 3º jet tirado do tourteaux assucar dos Filtros-Presses de Melasse Cuite sempre bom, dando actualmente um
assucar de melhor typo com 97 polarisação.
Varias cousas interessantes tenho a lhe mostrar, mas ficará para quando voltar, porque tenho todas essas notas no meu
livrinho.
Temos uma cousa importante, que é o seguinte: O gasto em enxofre em 1932 é de 560 gramas por tonelada cana, emquanto
que em 1931 foi de 800 gramas. O gasto em cal em 1932 é de 1,410 kilogramas cal virgem, e em 1931 foi de 2 kilos.!! Veja
pois por isto o resultado do fabrico, e temos este anno um assucar muito melhor do que em 1931.
Como sô hontem é que veio o sulfito de soda, dei logo principio á esperiencia como tinha combinado consigo, mas os
resultados reais // [65] somente posso bem vêr no fim da semana, e assim no caso de eu vêr que este tratamento pela soda Solvay
e o sulfito de soda dão bom resultado, verei pelo tempo que leva a chegar os productos ao Funchal se val a pena fazer nova
incomenda. Não lhe parece isto melhor?
Os meus receios, como lhe disse á tempos, do tratamento dos jus dos Filtros-Presses pela soda Solvay que tinha receio
empedisse a filtração nos filtros mechanicos, deu-se exactamente isso, de forma que estou empregando os dois productos
simultaniamente no jus que vai ao Quadruple. Temos uma cousa importante n’este tratamento que é termos os xaropes alcalinos
(pela soda), e as aguas condensadas do Quadruple estão ligeiramente alcalinas, e assim não atagará[sic] tanto os tubos e bombas
da agua do condensador barometrico.
Uma outra cousa importante: Suspendi a sulfitação do xarope, e assim tenho diferenças de pureza somente de 1,53º,
emquanto que com a sulfitação do xarope n’uma media de 5 dias deu uma baixa de 5,37º de pureza. Assim ganhamos 3,84º de
pureza no xarope sem fazer grande differença // [66] na qualidade do assucar turbinado, e vê-se isso pelas dificuldades de poder
arranjar um B2 para venda, porque todo o assucar é branco mais ou menos.
N’unca mais tive cuites dificeis de turbinar, e isso é o resultado em parte da não inversão do xarope.
Destillaria: Dei principio ás fermentações no dia 25 abril, e á destillação a 29 abril, principiando a retificação do alcool a 1
do corrente. Como temos ainda um stock no armazem da Rua Direita de 35.000 litros, não nos vai faltar alcool para a Alfandega.
As fermentações vão muito bom.
O resto que terei de lhe dizer ficará para a sua volta de Lisboa.
Crea-me seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz //
380
Calculando o alcool retificado a 100º deu uma quebra de 4,8%, isto é, a mesma quebra que a aguardente de cana de 1931.
Estamos recebendo a restante aguardente que nos deve caber, e se fôr quanta a que ja recebemos, deve-nos dár pouco mais
ou menos 50.000 litros alcool retificado de aguardente cana.
Não posso porém retificar agora esta ultima porque tive que desmontar o retificador Barbet para concerto e limpeza que á
uns 5 annos não era reparado, e fiz bem n’isso porque um dos pratos da columna estava dessoldado e um capacete fora do seu
logar. Como temos actualmente em stock 220.000 litros, deve este alcool dár até Dezembro proximo. //
[68] N’estas condições pode-se principiar as fermentações do stock do melaço no dia 1 de outubro, e deve ficar tudo
terminado a meados de Dezembro.
Ficamos assim com alcool até á proxima Laboração.
Recebi uma carta de Avelino526 em que me diz que as plantações no Cassequel pelo novo systema estão magnificas, e que
fez umas analyses dos talhões que lhe deu uma media de 16,06 assucar % gramas e pureza de 85,43. Isto já é alguma cousa de
bom, mas segundo elle a cana tem que ser adubada com adubos chimicos para dár um bom resultado.
A despeza deve ser grande, mas a diferença de rendimento em assucar deve compensar bem essa despeza, e além d’isso
conserva as cana [sic] em boas condições de rendimento por hectare. Ao contrario, com as culturas como estavão sendo feitas,
em pouco tempo Cassequel não dava nada!!
Sem nada mais que lhe possa dizer de importante, subscrevo-me seu Attencioso Amigo e Obrigado. [Ass:] João Higino
Ferraz //
381
que deves estar abarrotado?!! Particularmente sei que o grupo inglez esta feito com o C.[?], e assim vê-se que tambem com A.
C.528 e B. C.[?]!.. O senhor Hinton529 é que está furioso e muito mal clocado n’esta conjectura!.. Vê lá em que deu todas estas
cousas de que elle podia estar livre e tu na tua terra e no Torreão!! O que será o futuro de tudo isso ahi?
Para teu socego (industrialmente falando) vejo que a fabrica vai bem, e isso é bem para ti.
O rendimento de duas semanas de 10,4 e 10,65% é explendido, e isso somente se pode obter com cana de 13,5 a 14%
assucar, não é assim.
Carta de 24: É bom deitar contas á tua // [72] vida, como dizes na tua carta, mas isso tem que hir para diante, não há duvida,
e elles todos necessitão de ti e sô de ti, porque do resto não falta por em toda a parte e mais ou menos bom...
Com o rendimento medio á data de 24/10 de 9,23% já é bom trabalho e boa cana. O diabo a baixa no rendimento em cana
no campo!
Fermento Possehl’s: Se não principiar por emquanto com as fermentações do melaço aconselhava-te a fazeres a recultura
do fermento em gelatina, porque o fermento nas condições que recebeste, pode estragar-se. Assim recultivando em boa
condições [sic] acepticas e em gelatina conservas o fermento em estado puro mais tempo. Em resposta ás tuas perguntas em
separado, aqui vão; Fermentação para a Africa:
Mosto-fermento a 9,5º Baumé
Mosto geral a 11 Baumé
Empregando 35% de mosto-fermento com uma acidez em acido sulfurico de 2,7 gramas a 3 gramas por litro, conservas o
fermento puro. O Phosphato de amoniaco ou o Diamonphos I G. na proporção de 35 gramas por 100 litros mosto fermento.
65% de mosto geral sem levar nada. //
[73] Empregando as percentagem [sic] ditas, tiraes uma fermentação total a 10,5º Baumé, tendo o vinho pouco mais ou
menos 8% alcool.
Dou-te o conselho de o mosto-fermento (35%) ser metade em fermento activo, e metade em mosto-fermento na cuba para
pé de cuba, juntando-lhe depois sobre esse pé o fermento activo. Principias depois a alimentação da cuba com o mosto geral
quando o pé de cuba esteja em fermentação bem activa. O peor ahi é as temperatura [sic] da fermentação, que não devem hir
além de 35º.
Não deixes pois de ter a acidez indicada no mosto-fermento, empregando n’esse mosto-fermento 35 gramas % litros do
Phosphato de amoniaco. É tudo quanto te posso dizer.
O Senhor Hinton este anno não vai a Londres mas sim fazer uma linda viagem até ao Egipto etc. É o que elle fáz de melhor...
Fica assim livre de chatices dos seus amigos inglezes (do Cassequel...).
Um abraço do teu velho Amigo de sempre. [Ass:] João Higino Ferraz //
382
interior uma cerpentina de cobre onde passará o SO2 liquido sahido do doseur, aplicando-lhe vapor pelo exterior da cerpentina,
e assim todo o SO2 será transformado em gáz sulfuroso e não formará gelo nos tubos devido as expansão [sic]. Parece-me que
assim será melhor o efeito no jus, como com os gazes SO2 dos fornos.
4º Toda a instalação será a mesma actual tapando somente em D (separação dos fornos), porque em qualquer occasião
podemos trabalhar com o enxofre nos fornos ligando a D, sem paragem sensivel. Não lhe parece?
O que temos pois de adquirir é um sulfiteur-doseur somente, para se poder aplicar o SO2 liquido em obus de 100 kilogramas
como já combinamos.
Crea-me seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz //
Por uma carta sua ao Senhor G. Welsh530 vejo que o Senhor Hinton não concorda com a filtração do xarope sobre o carvão
animal para a dcoloração[sic] do dito xarope mas sim o emprego do Norite, e que deseja saber qual a quantidade de xarope do
Quadruple e algumas refontes de assucar que se pode obter por dia, e assim vou-lhe dizer aproximadamente:
Com um trabalho de 500 toneladas cana por 24 horas, e contando algumas refontes de assucar bruto, devemos calcular uns
1300 hectolitros de xarope por 24 horas, o que dá por hora 5400 a 5500 litros xarope.
Como meu dever, vou porém dizer-lhe o que no meu fraco entender o possa ilucidar sobre este assumpto.
Quando poucos dias antes da sua sahida eu lhe falei do emprego do carvão animal como decolorante do xarope, para evitar
a sulfitação intensiva do dito xarope, que até agora tem sido a forma facil de se poder obter assucar // [77] branco de consumo
directo, tinha unicamente em vista evitar a inversão da saccharose em glucose, o que é inevitavel com a sulfitação acida, desde
o momento que a sulfitação pelo SO2 gazoso ou liquido passa além da neutralidade, e para se poder obter um assucar vendavel
em competencia com os refinados brancos, teremos de ultrapassar muito a neutralidade e sulfitar um pouco acido em SO2, e
n’este caso temos baixas grandes na pureza do xarope de 2 1/2 a 3º de pureza, dando em resultado a diminuição do rendimento
em turbinado em aproximado 400 gramas assucar % cana e augmento na produção de melaço de 700 gramas % cana.
Anteriormente a 1932, quando as sahidas de alcool erão grandes, não nos preocupava esse excesso de melaço, actualmente
como se dá exactamente o contrário, teremos que estudar a forma de obter o minimo de melaço e o maximo de assucar
turbinado.
Segundo Prinsen Geerligs531 no seu tratado de fabricação do assucar de cana (1910) a pag. 106 diz: «No caso em que se
deseje fabricar assucar branco em competencia com os assucares refinados, que devem ser de uma brancora extra, é necessario
filtrar os xaropes de cana atraves do negro animal (car-//[78]vão animal), depois das purificações d’elle.».
Como anteriormente a 1910, o processo mais conhecido era o carvão animal e talvez já o Norite (que é de fabricação
Holandeza), elle Geerligs não aconselha, com toda a razão, a sulfitação intensiva dos xaropes, e isso naturalmente devido ás
causas que aponto da inverção do xarope de cana já de si muito pouco alcalino ou mesmo neutro.
Qual porém dos dois processos (carvão animal ou Norite) é o mais economico e menos complicado?
É sobre este ponto que o assumpto tem que ser muito bem estodado antes de adoptar por um d’elles.
Pelo carvão animal, calcula Geerligs, que para 100 kilos assucar obtido são necessarios 5 kilos de carvão animal.
Calculando um trabalho diario de 500 toneladas cana de 13% assucar e com a extração de 97%, obtemos por dia 63.000
kilogramas assucar total.
Necessitamos pois de 3150 kilogramas carvão animal por dia para a filtração do xarope.
Este carvão depois de tratado e revivificado recopera o seu estado activo, perdendo porém 1/4 parte do seu valor decolorante,
além das // [79] perdas na revivificação, tamisagem etc.
Fazendo os calculos temos necessidade, para um trabalho anual de 33 a 35.000 toneladas cana, de aproximado 16.000
kilogramas carvão animal, os quaes no fim de 4 anos perdem o seu valor como decolorante, ou seja uma perda de 4000
kilogramas carvão por ano.
A montagem necessaria para o emprego do carvão animal são, filtros de ferro (3) especiaes, cubas de cimento para a sua
fermentação, lavador mechanico, forno de revivificação e peneiro para a tamisagem do carvão para lhe retirar o pô, cujo pô é
530 George Welsh [1895-1981], comerciante e industrial de origem britânica fixado na Madeira, foi sócio-gerente da firma William Hinton & Sons.
531. GEERLIGS, H C. Prinsen, Tratado de la Fabricación del Azúcar de Caña y su Comprobación Química, Amsterdam, J. H. De Bussy, 1910.
383
um adubo rico em phosphatos. Os productos chimicos empregados na purificação do carvão, antes da revivificação, são o
carbonato de soda (solvay soda) e o acido chlorydrico.
Para o emprego do Norite teremos que montar diversos apparelhos de mestura, filtros-presses para a filtração do xarope com
o Norite, filtros-presses etc. para a recooperação do Norite etc. O Norite, depois de empregado 6 a 7 vezes (?) perde o seu valor
como decolorante, segundo tenho uma fraca edeia.
A parte mais complicada e dificil do empre-//[80]go do Norite é o seu tratamento ou recooperação e temos que empregar a
soda caustica e o acido chlorydrico.
A quantidade de Norite necessario é que não tenho dados que lhe possa dar, mas como o Senhor Hinton vai tratar ahi esse
assumpto, devem dár-lhe todas as indicações necessarias
As sahidas do alcool continuão na mesma desgraça, mas como em principio de Novembro já deve haver espaço para alcool,
vou principiar as fermentações do melaço que existe nos tanques da fabrica e malaxeurs para os deixar livres para as
modificações a fazer.
Recebi uma carta de Avelino532 em que me diz que o fabrico corre bem, e que no corrente ano calcula em 140.000 toneladas
cana, mas que a cana é um pouco fraca devido ás inundações. Esta trabalhando 800 toneladas cana por dia, mas que na proxima
semana (11 agosto) deve fazer 950 toneladas ou mais.
Sem mais que lhe possa dizer de importante, subscrevo-me Seu Attencioso Amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
Depois de lhe ter escrito a minha ultima carta de 27 ultimo, foi para o Santo da Serra repousar um pouco, e recebi lá a 4 do
corrente a sua carta de 27 ultimo, a qual não pude responder a seguir porque não me deu tempo para isso, mas faço-o agora
dando-lhe a minha opinião sobre o assumpto do tratamento do xarope.
O Senhor Gorge Welsh pedio-me notas sobre um questionario que o Senhor Hinton (ou Crispin) desejava saber, o que lhe
dei, calculando a base, como pedia, de 550 toneladas cana por 24 horas.
Na minha ultima de 27 Novembro já lhe dizia alguma cousa sobre o assumpto, mas isso não era uma opinião.
Por esta porém vou dizer-lhe o que me parece sobre o assumpto, ainda que esta carta seja um pouco longa, mas para o fim
em vista em que devemos empatar um capital importante, não é de mais as explicações e calculos para o elucidar bem sobre
tudo o que posso vêr. //
[82] Primeiro que tudo envio-lhe separado os rendimentos dos ultimos 4 anos (1930 a 1933) para assim o Senhor Hinton
poder apreciar os resultados futuros.
Este calculo provavel, como vê, tanto se pode dár com o emprego do carvão animal como com o Norite (Suchar) na
decoloração do xarope do Quadruple ou refonte de assucar bruto.
Qual dos dois processos o que melhor convém? Isso depende, como sabe, do custo da instalação e custo do carvão animal
ou Norite.
Quanto á Carbonatação da garapa e jus de diffusão, que sendo um bom processo, tem contudo grandes desvantagens para
nós, porque a quantidade de cal necessaria para a Carbonatação será 10 vezes mais que actualmente e teriamos que montar um
forno de coser cal e importar a pedra de cal do continente, e assim hia ser perdido todas as vantagens da Carbonatação e
perderiamos 30 a 40% da glucose contida nos jus que para nós é um prejuizo, e estou certo que para produzir assucar branco
teriamos de decolorar os xaropes ou pelo carvão animal ou pelo Suchar. O que porém eu lhe dou de // [83] conselho é não modar
o nosso Systema de tratamento das garapas e jus de diffusão como temos usado d’esde 1915, isto é, filtração total do jus,
empregando a sulfitação das garapas e jus a frio e empregando o Kieselgouhr e phosphato bicalcico, com alcalinisação ligeira.
Todo o tratamento para a decoloração deve ser feito no xarope do Quadruple, não somente porque assim teremos xaropes em
condições, e a quantidade a tratar será minima.
Quanto ao que o Senhor Hinton me diz na sua carta de 27 ultimo que tem medo de cousas novas depois do fiasco do SO2,
não é bem assim, porque como sabe o SO2 (e não CO2 como diz) foi uma esperiencia cujo resultado em beterraba dizem ser
bom, mas que para nôs que temos de fazer a filtração total não deu resultado por dificuldade de filtração nos Filtros-Presses,
pode porém dár bom resultado em fabricas de assucar de cana que empregão a decantação; não lhe parece isto?
532 Avelino Cabral.
384
O que não posso vêr aqui é qual o custo das instalações tanto para o carvão animal como para o Norite, mas tenho quasi a
// [84] certeza que as instalações para o Norite devem ser meiores: Somente o Senhor Hinton pode bem vêr isso ahi.
Para o carvão animal já na minha carta de 27 ultimo lhe dizia alguma cousa, e alem d’isso posso-lhe dizer que os filtros para
o carvão devem ser feitos em Lisboa e em boas condições, porque estes aparelhos é tudo o que há de mais simples, sendo
somente necessario o forno de revivificação e o tamis, ou outros pequenos aparelhos.
Para o Norite tudo tem que ser importado de Inglaterra.
O peor de tudo isto é que não vejo possibilidades de termos os apparelhos montados a tempo de se empregar nos principios
da Laboração de 1934, mas fazendo os meus calculos, poderiamos trabalhar em assucar bruto não sulfitando os xaropes, e
depois da Laboração refinar esse assucar bruto empregando ou o carvão animal ou o Norite. Quanto ao assucar para consumo
ou exportação emquanto não tivessemos a instalação completa, faziamos do assucar dos cuites de 1º jet empregando o Blankite,
dando 20 toneladas assucar por dia. //
[85] O que o Senhor Hinton deve vêr bem é que actualmente com as poucas vendas de alcool, teremos em 1934 de deitar
fora 400 toneladas de melaço (?!), o que representa pelo menos 124.000 litros alcool, que calculando pelo valor do alcool
(depois de tiradas as despezas de fabrico) em 7$00 por litro representa uma perda de 798:000$00 (!!).
Como muito bem vê esta peda[sic] dá perfeitamente para as novas montagens e além d’isso para mais um tanque de melaço
para 500 toneladas. De futuro tudo seria regularisado em dois anos, e somente teriamos alcool para as necessidades do consumo.
Acaba de estár aqui comigo o Antonio Justino, que pedindo-lhe a sua opinião sobre a exportação de vinhos de futuro, está
muito esperançado que isto vai melhorar um pouco, e tem esperanças nas exportações para os Estado [sic] Unidos.
Contudo isso não é nada de positivo, e disse-me que quando o Senhor Hinton vier de Londres já alguma cousa lhe pode
dizer. Isto já é bom para nôs para as vendas de alcool em 1934. Vou principiar as fermentações do melaço a 1 de Novembro, e
pelo espaço que calculo têr para alcool, posso destilar umas 300 toneladas de melaço
Seu Attencioso Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
385
para lhe retirar os xaropes e aguas doces, mas calculo uma altura de 7 metros total, e 4 a 4 1/2 metros de largura no espaço para
3 filtros (?). O local onde actualmente está montado o Kestner deve ser suficiente. Esta parte porém não o deve preocupar muito,
porque sempre se arranjará logar para a montagem dos filtros. Quanto ao forno etc. etc. podem ficar em um logar mais afastado
que não tem inconveniente. O que é necessario é os planos da montagem dos filtros para então se poder vêr bem onde podem
ser clocados com mais vantagem; Ou no local do condensador ou no logar do Kestner temos espaço suficiente para os filtros.
Agradeço-lhe o seu interesse quanto ao systema de polarimetro de meu filho.
Seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz //
386
por filtro 12500 kilogramas?!!
Tem 4 filtros e calculando dois em trabalho de filtração combinada será uma carga de 25.000 kilogramas por 24 horas??
Sendo assim dará 50 kilogramas de carvão animal para cada 100 kilogramas assucar obtidos isto é, 10 vezes mais do que diz P.
Geerligs?!!
Este calculo é basiado sobre a base de cada litro de carvão animal pezar 700 gramas (0,7 kilogramas).
Segundo Blake são necessarios 70 toneladas de carvão animal para a Laboração.
Nada posso dizer sobre o custo da instalação senão que é razoavel, mas quanto á capacidade dos aparelhos e quantidade de
carvão animal, sendo como elles dizem, é enorme.
O que me parece melhor, Senhor Hinton, é escrever a Prinsen Geerligs fazendo-lhe as seguintes perguntas:
1º Quantidade de carvão animal em grão necessario para a filtração de 130.000 litros de xarope de cana a 30-31 Baumé por
24 horas, para a decoloração do dito xarope afim de produzir assucar branco extra. //
[92] 2º Quantos filtros para o carvão animal são necessarios e sua capacidade, para este trabalho, sendo a instalação moderna
com filtros fechados em serie.
3º Um Schma aproximado da montagem dos filtros, e todas a indicações [sic] necessarias para o trabalho da filtração,
tratamento do carvão animal e sua revivificação.
Naturalmente Prinsen Geerligs535 não lhe fará isto gratis, mas mesmo que custe algumas £, sempre é melhor do que se fiar
no que dizem os constructores dos apperelhos que o que querem é vender material, e para elles é mais garantido calcularem
maximos do que minimos.
A instalação como propoeém não lhe vejo no Torreão espaço suficiente, e além d’isso deve ser montado de forma que
possamos Laborar emquanto se monta os apparelhos.
Digo-lhe com franqueza que acho a instalação proposta grande de mais para o nosso trabalho, e torno a aconselhar uma
consulta a Geerligs, que é um Engenheiro-technico muitissimo competente e com longa pratica em fabricas de assucar de cana
em todo o Mundo.
Crea-me seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz //
Não recebi carta sua sobre o assumpto de filtração sobre o carvão animal, e como este assumpto é de grande importancia
sempre lhe quero dizer mais alguma cousa sobre elle.
Como sabe o carvão animal deve sahir dos filtros bastante sujo com as imporezas do xarope e principalmente com muito
Sulfato de cal, e assim esse carvão deve ser bem lavado, sendo depois por fim lavado 1º com carbonato de soda (soda Solvey)
para transformar os sulfatos de cal em carbonato de cal, 2º com acido chlorydrico fraco afim de transformar o carbonato de cal
em chloreto de cal insoluvel536.
Somente depois de todas estas lavagens é que deve hir ao forno de revivificação e tamisagem. Não procedendo assim, no
fim de um certo tempo o carvão animal ficará é[sic] estado que não poderá fazer a sua ação decolorante, e ficará sem valor para
este fim.
No projeto apresentado por Blak o carvão depois // [94] de retirado dos filtros, vai directamente ao forno de revivificação,
sem ser previamente lavado, como digo: Ora isto parece-me que não está certo?! Lembre-se o Senhor Hinton da quantidade
enorme de precipitado que se retirá da decantação do xarope que depois é passada ao pequeno filtro-presse junto das caldeiras
de vauo[sic]?
535 H.C. Prinsen Geerligs historiador holandês, foi director de uma estação experimental em Java, fez diversas investigações sobre a temática açucareira,
tendo publicado vários trabalhos: GEERLIGS, H. C. Prinsen, The World’s Cane Sugar Industry – Past and Present, Manchester, 1912; Sugar. Memoranda
prepared for the Economic Committee, Geneva, Series of League of Nations Publications, 1929; Cane sugar and its manufacture London: N. Rodger,
1909,1924; The World’s Cane Sugar Industry – Past and Present, Manchester, Altrincham, Eng.: N. Rodger, 1912; Cane sugar production, 1912-1937:
a supplement to the world’s Cane Sugar Industry, past and present (1912), London: Norman Rodger, 1938; Chemical control in cane sugar factories,
Rev. and enl. ed. - London: N. Rodger, 1917; Methods of chemical control in cane sugar factories, Altrincham, Manchester: Norman Rodger, 1905;
Practical white sugar manufacture, or, the manufacture of plantation white sugar directly from the sugar cane London: N. Rodger, 1915; Cf. Knight,
Roger(1999) “Sugar, Technology, and Colonial Encounters: Refashioning the Industry in the Netherlands Indies”, 1800-1942. In The Journal of Historical
Sociology 12 (3), 218-250.
536 O prefixo «in» desta palavra foi rasurado a lápis. Relativamente a este pormenor, veja-se o início da carta seguinte.
387
Eu sei que antes de se mandar o xarope aos filtros de carvão animal, esse xarope será decantado como temos sempre feito,
mas deve ser que no fundo dos tanques do xarope dos cuites fica sempre uma grande quantidade de precipitado, e esse com
certeza vai aos filtros de carvão, sujando muito esse carvão.
É por isso que eu desejava fazer a filtração do xarope em dois filtros conjugados, sendo sempre o primeiro que contem o
carvão mais sujo e que é descarregado para lavagem. Desculpe fazer-lhe estas observações importantes, mas é indispensavel
para o bom resultado do processo.
Quanto á lavagem do carvão animal, temos na fabrica o lavador e dois filtros Raimbert de areia, que se pode perfeitamente
adoptar a esse trabalho de lavagem do carvão, como já tenho o meu projecto feito. //
[95] Um outro assumpto importante é montagem de um novo tanque para melaço, de pelo menos para 500 toneladas de
melaço, isto é, metade do tanque que montamos (1000 toneladas). A razão principal d’isto é a seguinte:
Temos actualmente um stock aproximado de 1260 toneladas melaço, isto é, tudo cheio, e além disso mais 78.000 litros
alcool a 100º dos etheres e escencias por retificar.
Stock do alcool a 31/10/1933 = 191.380 litros
Tirando o alcool da Rua Direita = 150.923 litros
Temos no Torreão á data acima 40.457 litros
Que as sahidas em Novembro e Dezembro
sejão (vai sahir o alcool da C.ª Nova) – 39.000 litros
Torreão a 20/12/1933 ficara 1.457 litros
Fica espaço no Torreão para 117.000 litros alcool, ou seja a destilação de 350 toneladas melaço até 20 Dezembro 1933.
1934
A 1/1/934 teremos em melaço 910 toneladas no Tanque Grande. Destilando até 31 março 1934 mais 300 toneladas melaço,
quando principiarmos a Laboração de 1934 teremos um stock de 610 toneladas melaço de 1933, e assim somente teremos
espaço para o melaço de 1934 para 500 toneladas.
Creia-me seu attencioso amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
Depois de lhe ter enviado a minha ultima de 1/11, é que reparei ter feito uma gafe, na parte em que lhe digo com relação á
lavagem do carvão animal pelo acido chlorydrico em que o emprego d’elle “transforma o carbonato de cal em chloreto de cal
insoluvel”, e deve ser soluvel, ou seja sal marinho. Desculpe este meu engano.
Um outro assumpto: Tenho estado a vêr as razões porque Blak calculou uns filtros de carvão tão grandes e a quantidade de
carvão animal necessario de 70 toneladas. Vejo porém que a razão d’isso é porque estão calculando a filtração sobre o carvão
animal tanto do jus total como do xarope, e para isso naturalmente seria necessario 25 kilos carvão por 100 kilos assucar obtido,
o que dá nas 50 toneladas assucar 12.500 kilogramas carvão por 24 horas. Mas o que nós queremos é somente a filtração do
xarope do quadruple que calculando, como P. Geerligs, 5 kilogramas carvão animal por 100 kilogramas assucar, dá 2500
kilogramas carvão por 24 horas. (Ver tratado de Geerligs pag 119) (tradução Espanhola) //
[97] Fazendo a regra de proporção com relação entre 25 e 5%, vê-se o seguinte em carvão animal:
x = 70x5 = 14 toneladas carvão animal necessario para a filtração somente do xarope.
25
70 = 70 toneladas de carvão (Blak) para 25% sobre o assucar
5 = 14 “ “ (Geerligs) “ 5% “ “
Eu calculei porém em 16 toneladas carvão animal para a filtração somente do xarope, mas querendo calcular algumas
refontes de assucar do Cuite C. (3º jet), devemos calcular 22 toneladas carvão animal para a filtração diaria de 1300 hectolitros
de xarope a 31º Baumé, o que dará por dia 3150 kilogramas carvão, o que dá pouco mais ou menos 40 litros de xarope a ser
decolorado por cada kilograma carvão animal e por 24 horas.
Será isto assim como digo?
Sendo como digo, apenas necessitamos dos filtros da capacidade que ja indiquei??
Para a revivificação d’este carvão animal (3150 kilogramas) por dia talvez não seja necessario senão um forno em trabalho
388
continuo para 5000 kilogramas carvão animal por 24 horas. Não vejo necessidade de montar uma instalação tão completa como
diz Blak, porque a manutenção do // [98] carvão animal pode ser feito por homens, e assim o capital em material será menor.
Se esta pequena instalação não ficar prompta para os principios da Laboração de 1934, podemos, como já lhe disse,
principiar fazendo assucar branco do cuite H de 1º jet, e assucar bruto do restante, que será refinado pelo carvão animal depois
da Laboração.
O rendimento em refinado (pelo carvão animal) deve talvez ser de 90% do assucar bruto de 98º polarisação, e assim por
cada tonelada assucar bruto dará pouco mais ou menos:
1000 kilogramas assucar de 98º = 980 kilogramas assucar a 100º
Quebra maxima refinado 2% = 19,6 kilogramas “ “
960,4 “ “
Rendimento em refinado 90% =
900 kilogramas a 99,7º polarisação = 897,3 “ “
Assucar total no melaço 63,1 “ “ que calculando melaço com
57% assucar total = 110,7 kilogramas melaço por tonelada assucar bruto a refinar? Rendimento em alcool retificado em 40º =
32,5 litros % melaço.
Dei principio á fermentação do Stock do melaço no dia 1 Novembro, e já tenho os tanques e malaxeurs da Fabrica de assucar
despejados, e estou principiando á desmontagem do cuite melaxeur fechado, para clocar no logar d’elle o cuite de 100
hectolitros, como lhe tinha dito.
Crea-me seu attencioso amigo. [Ass:] João Higino Ferraz //
389
10,400 kilogramas assucar branco bruto de 98º media = 10,192 a 100º
Perdas: No bagaço e aguas diffusão = 0,470 “
Nas borras dos Filtros-Presses = 0,200 “
Indeterminadas (??) = 0,250 “
Assucar total no melaço = 1,888 “
Assucar % cana = 13,000
Calculando o melaço com 50% assucar total, os 1,888 kilogramas no melaço = 3,780 kilogramas melaço por 100 kilogramas
cana durande[sic] a Laboração e não calculando o Plus-sucre.
Em 34.000 toneladas cana em 1934 (?) obtemos na Laboração o seguinte (provavel):
Em assucar turbinado branco e bruto = 3536 toneladas
Em melaço (provavel) = 1285 toneladas melaço.
Retirando as 1400 toneladas assucar branco feito na Laboração, resta em bruto para refinar pouco mais ou menos 2136
toneladas assucar bruto de 98º depois da Laboração. Calculando uma quebra de armazenagem de 3% (?) = 64 toneladas. Restará
para refinar 2072 toneladas assucar, que ao rendimento de 90% dará em refinado de 99,6º = 1866,8 toneladas. // [102] Em
melaço da refinação deve dár pouco mais ou menos x = 2072 x 110,7 = 229 toneladas melaço.
Teremos assim por estes calculos provaveis das 34000 toneladas cana, o seguinte:
Assucar branco na Laboração – 1400 toneladas
Assucar refinado do bruto de 98º = 1866,8 “
Total assucar vendavel – – 3266,8 “
Em melaço na Laboração = 1285 toneladas de 50% assucar
“ “ da Refinação = 229 “ de 57% “
Total em melaço = 1514 “ com 51,1% “
Estes melaços devem dár na media 29,5 litros alcool % melaço, dando pois 446.600 litros alcool.
Teremos pois por tonelada cana:
Em assucar vendavel – 96 kilogramas assucar
Em alcool em 40º – 13,1 litros
A despeza de refinação a $20 por kilo assucar refinado, será de pouco mais ou menos = 373:360$00 [.] Esta refinação pode
ser feita em dois periodos, isto é, de Junho a Agosto a 1ª, e de Novembro a Dezembro a 2ª, calculando a refinação diaria de 26
toneladas assucar bruto.
Crea-me seu attencioso amigo. [Ass:] João Higino Ferraz //
390
[DATA: 8 de Janeiro de 1934
DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola]
[104] Funchal 8/1/934
Meu Caro Avelino
Já bastantes cartas tenho recebidas tuas a que não tenho respondido, o que fasso hoje (desculpa), mas primeiro vou desejar-
te que este novo ano de 1934 seja o mais prospero possivel e a todos os teus.
Quando não escrevo não é por falta de Amisade, porque para ti sou sempre o mesmo, mas como somente me interessa a tua
saude e bem estar, e como vejo pelas tuas cartas que tudo isto corre bem, o resto (Cassequel) pouco me interessa...
Pelas ultimas analyses que mandar-te[sic] ao Senhor Hinton540 das novas Castas de canas e que aqui estamos cultivando, vejo
que a cana é riquissima e pura, e Deus primita que aqui na Madeira se desse tambem como ahi. Como sabes, meu caro, o nosso
Lavrador, na meior parte, pouco se interessa pela boa qualidade, mas muito pela quantidade de cana, e cana rica // [105] como
essa, necessita um tratamento especial nos terrenos, quando não será sempre cana ou fraca ou então não resiste e vai-se!!
Meu Caro Avelino, é minha opinião que emquanto a Cana Yuba resestir é sempre a qualidade que pode resistir e[sic] este
pessimo tratamento que o Agricultor aplica aqui.
Cana com mais de 14% assucar não ha meio de cultivar na Madeira, visto as terras estarem exgotadas de elementos
fertilisantes, e o Lavrador não as corrigir convenientemente.
Vejo o que me dizes dos rendimentos do Cassequel de 8,1% em assucar turbinado, o que é bem baixo, mas como ahi o que
mais val é a quantidade de cana obtida; a colheita de 1933-1934 de 140.000 toneladas é uma boa colheita para o Cassequel, e
assim esses amigos podem hir pouco a pouco arranjando a vidinha... O peor é quando não tenhão ahi um Avelino Cabral, e ahi
é que está o buzil!..
Se o teu substituto for como o Competentissimo engenheiro que ahi está, vai tudo pelo Catumbela abaixo!?
Cá te espero este ano na Laboração de 1934
Um abraço do teu velho Amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
391
(calculando São Filipe em 13.000 toneladas cana).
Como vê pelas notas juntas teremos um excesso de melaço no fim da Laboração de 1935.
Para não têr que desprezar o melaço // [108] a mais (o que seria por emquanto um desparate) acho bem a sua edeia de
construir tanques para alcool a montar na Rua Direita.
Para isso a minha edeia é a seguinte: Do mez de outubro em diante vamos dár sahida somente ao alcool da Rua Direita
(150.000 litros) e assim nos fins de Janeiro devemos ter o armazem sem alcool.
Fazer a encomenda desde já de um tanque grande da capacidade para 125.000 litros alcool a montar no proprio armazem
em Fevereiro e março de 1935. Será um tanque de 6 metros de diametro por 4,50 metros de altura a montar no espaço onde se
tirou o antigo tanque que temos no Torreão (tanque das escencias). Ficará assim espaço do lado sul do armazem para montar,
no caso de necessidade, mais 6 tanques de 50.000 litros, tendo cada tanque 3,60 metros de diametro e 5 metros de altura, que
podem entrar na porta do armazem que tem de largura 3,70 metros. Estes tanques serão construidos fora do armazem e metidos
d’entro d’elle quando completamente concluidos. //
[109] Nas condições expostas o Armazem da Rua Direita poderá levar em alcool o seguinte:
2 tanques existentes levão – 150.000 litros
1 tanque novo levará ------ 125.000 “
6 tanques pequenos de 50.000 litros 300.000 “
Total alcool Rua Direita 575.000 litros
Que seja 570.000 litros uteis.!!
No Torreão temos espaço para armazenar em alcool retificado 115.000 litros. Teremos assim um total no Torreão e Rua
Direita para 685.000 litros.?!
Vamos pedir d’esde já ao Dargent543 o orçamento para o tanque grande (125.000 litros) e tambem para os 6 tanques (?) de
50.000 litros cada.
O primeiro tanque grande deve ser d’esde já resolvido, afim de que elles deem principio á sua construção, e mais ou menos
nos fins de Janeiro poder vir o pessoal para a sua montagem quando não exista alcool no armazem. Os outros tanques pequenos
pode ser resolvido quando o Senhor Hinton vier de Londres.
Seu Attencioso Amigo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz //
392
melaço por tonelada cana, corresponde a 13.000 toneladas cana.
Devemos notar que em 1936 perdemos a capacidade do tanque por baixo do elevador do bagaço.
É este, segundo vejo, a nossa situação a 31 de março 1936.
As 970 toneladas de melaço do stock a 31 março, deve corresponder a 313.220 litros alcool.
Crea-me seu sempre attencioso e amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz //
393
[DATA: 25 de Junho de 1936
DESTINATÁRIO: Martins Faria?]
[115] Funchal 25 Junho 1936
Meu caro Faria
Isto dos vinhos vai por partes, como vez, em vista dos meus trabalhos da Fabrica Hinton...
A forma de pagamento acho melhor, como dizes na tua carta, ser o meu caro Faria a receber directamente do cliente,
enviando-lhe a nota de encomenda que eu renviarei devidamente selada e com recibo. Assim podes tirar a tua comição, que me
parece já disse, ser de 5%. O valor em escudos das facturas é dinheiro forte não é assim? Foi com esta base que fiz os meus
calculos.
Quanto ao devolvimento das garrafas vasias e caixas posso recebel’as pelo seu custo com[sic] mensionei na nota que te
enviei á tempo, quando foi o vinho, mas as despezas de fretes etc. devem ser por conta do comprador. Pesso-te uma explicação
sobre estes assumptos
Teu amigo certo. [Ass:] Ferraz //
394
CARTAS AVULSAS
395
396
[DATA: 5 de Junho de 1897
REMETENTE: Crevelles?]
546
[1] La Madeleine-Lez-Lille, le 5 Juin 1897
Monsieur João Hygino Ferraz à Funchal Madeira
Je viens de recevoir la traduction vous[?] honorée du 10 écoulé je m’empressé de vous informer que je puis vous fournir un
appareil de rectification continu pour produire 7 hectolitres d’alcool compté à 100º par 24 heures et qui prounont ètre [...]
l’appareil à 96º ce qui indique une grande pureté, et composé de:
1 épurateur et 1 rectificateur continu proprement dit composés de tronçons en cuivre rouge à plateaux, condenseur et
réfrigérant à enveloppe en cuivre rouge avec planques tubulaires en bronze et tubes en cuivre rouge sans soudure pour la somme
de francs 9.905, puis en mes usines, emballage 3% de ma facture.
Ce puix s’applique à mon nouveaux dernier type d’appareil, c-à-d. le plus perfectionné. Cet appareil est construit
entièreurent en cuivre, sauf les cercles et boulons qui réunissent à l’extérieur les diverses parties.
Son poids est d’environ 1900 kilos dans lequel il y a environ 350 kilos defer. //
[1v] Cet appareil prèsente comme vous le savez. Sans doute, de très grands avantages sur les appareils intermittents y
compris celui de Savalle = Suppression des moyens goûts de tête et de queue, rendement de 91 à 93% d’alcool extra-fin en
premier jet, grande économie de combustible, freinte d’environ 1%, fonctionnement régulier et automatique.
Dans l’attente du plaisir de vous lire et tout à votre disposition pour tous les renseignements complèmentaires que vous
fourniez désirer, je vous remets ci-joint un prospectus de cet appareil.
Recevez, Monsieur, mes meilleurs Salutations
[Ass:] Crevelles[?]
1 prospectus
Retificador continuo para produzir 7 hectolitros em 24 horas a 100º
Alcool retificado em 24 horas (alcoometro Cartier)
700 litros em 44º (alcool puro) é egual a:
Força alcoolica que produz – 725,5 em 40 1/2 º ou 894 litros em 30º
Produção em galois de 3,6 litros em 30º são 248.
546 1 folha de papel, 27,1 cm x 21,8 cm, em razoável estado de conservação A folha tem na margem esquerda do seu retro, em caracteres de imprensa, a
designação, endereço e o lato espectro de actividades da firma L.is Fontaine, além de outras informações. Aparte estes elementos, que optamos por não
transcrever, os grafemas «La Madeleine-lez-Lille, le» e «189», na cabeça da página, estão inscritos em letras de tipografia que imitam a escrita manuscrita.
Estamos na presença de uma folha oficial, timbrada, da firma acima nomeada. O redactor da carta é um certo Crevelles[?], segundo a rubrica no fim. Os
últimos informes presentes no verso desta carta, escritos em português, foram redigidos por João Higino Ferraz.
547 Estamos na presença de 2 folhas (papel, em bom estado de conservação) dobradas em jeito de caderno. Cada folha tem assim 4 páginas (as suas medidas
são 26,9 cm x 20,8 cm), mas apenas a primeira e a quarta páginas contêm informação. A segunda e a terceira páginas com informação estão numeradas.
A restante numeração é por nós acrescentada. Esta carta saiu do punho de Harry Hinton.
548 Na cabeça da página temos, em jeito de acrescentamento à informação veiculada na carta, as seguintes palavras: «Vae egualmente um telegramma para
ser expedido pelo J. Ribeiro [José Ribeiro] officialmente ao Presidente do conselho no dia em que forem publicados ahi os artigos. Vae ter com elle para
esse fim.
Mande entregar todas as cartas inclusas logo que recebe esta».
397
A publicação de tudo isto deve ser feita na terça feira, caso sejam publicadas as providencias no Diario de Governo de 2ª
feira. //
[2] Para isso deve esperar na 2ª feira um telegramma meu com a seguinte palavra “Proceda” querendo isto dizer que deve
promover immediatamente as publicações acima indicadas.
Se se der a hypothese de haver necessidade de alguma alteração, eu indicarei para ser ahi feita, mas estou quasi certo que
não havera alteração.
Se eu não ordenar alteração, fica entendido que deve tudo ser publicado como acima fica dito.
Se não receber o meu referido telegramma na 2ª feira é que as providencias ainda não appareceram n’isso dia [sic]. N’esse
caso, espere pelo dia em que ellas sejam aqui publicadas, dia em que eu procederei como fica establecido para a hypothese de
virem na 2ª feira, devendo ahi promover logo as publicaçoes, para aparecerem nos jornaes do dia seguinte, ficando tudo
combinado como acima. Em tal caso ponha no telegramma que se figura ido de Lisbõa a dacta respectiva em vez da de 21 que
la está. É evidente que emquanto não forem aqui publicadas as providencias nada ahi deve transpirar. Até lá todos esses papeis
que agora mando, são segredos exceptuo para o Romano.
No dia em que houver de promover as publicações deve ir á redação dos 3 jornaes para tratar d’isso. //
[3] Recommende o maximo cuidado na revisão dos artigos e do telegramma, para não apparecer nenhum erro. Eu escrevo
agora ao M. J. V.ª549 e ao Jardim do Mar550 e o Querino551 ao Romano, pedindo que façam publicar, cada um no respectivo jornal,
Popular, Noticias e Commercio, o artigo e telegramma que o meu amigo apresentará na redacção n’um dos dias da proxima
semana, e que n’esse sentido deixem já ordem na respectiva redacção. Combine com o Romano, (a quem deve ler já toda esta
carta) a melhor maneira practica de proceder em tudo isto, e o modo de se ter uma bôa revisão em todos os artigos. Sendo
necessario paga-se as publicações, mas estas devem ser feitas em artigos de fundo e como se fossem da redacção.
O Romano que exerça toda a vigilancia para não apparecer cousa alguma contra as providencias em qualquer jornal, se for
precisa qualquer despeza para isso, é fazel-a.
Desejo que não se publique mais nada sobre o assumpto das providencias antes de eu chegar. Em chegando o Diario do
Governo, com o qual irei eu, e então se publicarão novos artigos.
Envio tambem inclusa uma // [4] minuta de telegramma, escripta em tinta encarnada, que é para ser expedido, no proprio
dia da publicação dos 3 mencionados artigos nos jornaes do Funchal, para as tres seguintes redaçoes:
Redacção do “Seculo” Lisboa
Redacção do “Diario”
“ “ Diario de Noticias – Lisboa
Se, porem poder saber, quem é ahi o agente da agencia Havas, melhor é fazer que esse agente mande tal telegramma pela
referida agencia para tudos os jornaes de Lisboa, embora o paguemos nos. N’esse caso não é preciso mandal-o, para os 3 jornaes
indicados. Faça chegar immediatamente ás mãos do Romano a carta inclusa para elle.
O decreto deve deixar bem toda a gente, mas no caso de haver alguem que por inveja ou qualquer outro motivo queira
levantar difficuldades na imprensa ou fora d’ella, combine com o Romano a melhor maneira practica, directa ou indirecta, de
os calar até a minha chegada.
Peço que leia isto com muita attenção deixando esta carta nas mãos do Romano o tempo que fôr necessario para elle tambem
se apoderá[sic] bem do assumpto. Teem de proceder ahi como eu mesmo houvesse de proceder, estando lá, em assumpto de
tanta grandeza.
Até o dia 29 no “Cyril”. Amigo obrigado. [Ass:] Harry C. Hinton
549 Manuel José Vieira [1836-1912], advogado e político, tendo sido presidente da câmara do Funchal e deputado.
550 Tristão Vaz Teixeira de Bettencourt e Câmara, Barão do Jardim do Mar (-1903), proprietário do Diário de Notícias.
551 Quirino Avelino de Jesus.
552 Estamos na presença de 2 folhas (papel, em bom estado de conservação) dobradas em jeito de caderno. Cada folha tem assim 4 páginas (as suas medidas
são 26,8 cm x 20,8 cm), mas apenas a primeira e a quarta páginas de cada folha contêm informação. O segundo caderno está numerado («2»). As páginas
com informação foram numeradas por nós. Esta carta foi escrita por Harry Hinton.
398
bagagens, mas depois de fallar com o J. Rº553 soube que o Francisco João554 deve chegar aqui amanhã e que é elle que pensa que
o decreto vae prejudicar a sua fabrica, e por isso vou demorar-me para fallar com elle. Soube tambem que o major Rego está
da mesma opinião. É um absurdo monumental, porque as fabricas ruraes estão muito mais garantidas com o decreto, que
estavam com o decreto de 1895. Estou tratando do regulamento, o qual torna impossivel a venda de alcool, seja de melaço, seja
importado, para misturar com aguardente de canna.
Queira fallar com o Major Rego, e diga-lhe isto mesmo, e que nem o Governo nem eu queremos outra cousa. Esclarecidos
os espiritos, hão de ver que todos os interesses da agricultura e das fabricas ruraes ficam perfeitamente garantidos. As
compensaçoes para nos são d’outra natureza como se vê no decreto. Ainda mais, as fabricas <ruraes> estão em muito melhor
posição porque o que as lesava era o alcool dos Açores. Com o // [2] de 1895, tinhamos forçosamente de fechar a nossa fabrica,
laborando unicamente aguardente, o que seria então a ruina de todas as fabricas ruraes. O fabrico d’aguardente de cannita e
hastes de milho, é contra nos, mas a direcção geral d’agricultura insistiu n’este ponto, a vista das reclamações agriculas.
O decreto de 1895 ja tinha caducado. Só por permissão annual ainda se conseguia manter para todos o mesmo regimen. Era
uma situação falsa que de um momento para o outro podia desaparecer. Eu consegui de novo um regimen solido que hade
forçosamente deixar bem a todos por muito tempo. O regulamento considera como descaminho de direitos a venda d’alcool de
melaço ou importado, que não seja para tempero de vinhos, emquanto se não demonstar[sic] adiante da delegação do Mercado
Central, que não existe em fabrica nenhuma ou nos negociantes aguardente de canna.
Em todo o caso n’uma semana la estarei, e prompto para demonstar[sic] por todos os meios, que o Rego não soffre perjuizo.
Agora a respeito dos artigos a publicar, que juncto envio, peço que cumpre as seguintes instrucçoes. //
[3] 1º Vão 4 artigos para serem publicados no “Noticias” um em cada dia, pela ordem da numeração que consta dos
respectivos subscriptos. Tira uma de cada vez, para não alterar a ordem da publicação, o que seria muito inconveniente. Consta
que o Barão555 está muito doente, mas entenda-se com o Romano e o Cyriaco556 e faça todo o que seja percisso para a publicação
immediata em artigos de fundo, como se fosse da redacção. Talvez o Francisco João deixou algumas instrucções nas Noticias
<contra estas publicações> mas vençam isso como fôr possivel.
2º Vae um artigo para o Commercio, outro para o Correio dos Padres, outro para o Direito. Não os confunda tambem. É para
serem publicados immediatamente. Combine tambem todo isto com o Romano.
3º Caso haja difficuldades invinciveis da publicação no “Noticias” por causa do Francisco João, os 4 artigos respectivos
poderão ser publicados no Direito.
Mas espero muito que isto não acontece.
4º É conveniente tambem publicar em todos os referidos jornaes o decreto e o seu relatorio.
5º Vae tambem um artigo para o Popular e uma carta minha para o M. J. V.ª557. Faça favor de os entregar immediatamente e
pessoalmente. //
[4] 6º O ministro da fasenda deu-me a sua palavra de honra, que mandava n’este vapor um officio ao Sobral e outro ao
Governandor civil como da copia inclusa na letra de Roberto de Campos. Falla com o Sobral immediatamente depois de aberta
a mala, e pergunta si[sic] sempre foi o officio. No caso contrario telegrapha-me disendo-me isso, para eu providenciar.
Procura tambem immediatamente (pessoalmente, ou se não tem relaçoes com elle, combina com o Romano) o Governador
civil para saber se o <outro> officio sempre chegou. Communica-me tambem telegraphicamente se não chegou.
7º Guarda 12 exemplares de cada numero de cada jornal aonde venha qualquer artigo sobre o assumpto do decreto. D’estas
12 remetta 1 ao Querino558. Caixa Geral dos Depositos – Lisboa – pelo 1º vapor
8º Falla com o Lemos559 e diga-lhe que é conveniente não abaixar por hora o preço do alcool, sem que eu lá chegue. Tem
havido despezas grandes com o decreto, e tenho certos compromissos em que elle tambem tem de entrar. É facil dizer que o
stock d’alcool ainda pagou os direitos antigos. Até já
Amigo sempre[?]. [Ass:] Harry C. Hinton
399
[DATA: 29 de Abril de 1907
REMETENTE: E. Milan?
DESTINATÁRIO: León Naudet; LOCAL: Avenida Magenta, 146, Paris]
560
[1] le 29 Avril 1907.
Monsieur L. Naudet Ingénieur des Arts et Manufactures 146, Boulevard Magenta – PARIS Xe.
Monsieur Naudet,
Je suis en possession de votre lettre du 21 Avril que j’ai communiqué à Monsieur Hinton561 et à Monsieur Ferraz562, et c’est
en collaboration avec ce dernier que je vous repond, pour vous donner tous les renseignements sur la façon dont nous rentrons
les petites eaux à la batterie.
Tout d’abord il n’y a pas de mélange des petites eaux avec l’eau pure. Supposons la batterie en marche normale, c’est-à-dire
avec eau pure. Les petits eaux des 2 moulins de repression et les eaux coulant de la batterie sont prises et envoyées dans 3 bacs
de 45 Heures chacun. Lorsque nous avons un bac pleine, nous mettons de la chaux pour rester bien alcalin, et nous augmentons
ou diminuons la dose de chaux selon que les petits jus diminuent et augmentent d’alcalinité; pendant que le 2e bac d’emplit, le
1er bac reste en contact avec la chaux environ 1/4 à 1/2 heure. Lorsque le 3e bac commence à s’emplier, on fait avec le 2e bac ce
qu’on a fait avec le premier pour la chaux, puis on ferme COMPLÉTEMENT à la batterie l’arrivée d’eau et on envoie dans le
bac à eau en charge sur la diffusion le premier bac de petits jus et successivement le 2e le 3e le 1er etc. Mais il arrive un moment
ou il ne nous reste plus assez de petits jus pour pouvoir suivre la diffusion. À ce moment nous arrêtons complétement la
réintégration et nous remettons de // [2] l’eau pure dans le bac de la diffusion jusqu’à ce que nous ayons à nouveau les 1ers et 2e
bacs à réintégration pleins. Toutes les 2 1/2 à 3 heures nous remettons donc de l’eau pure pendant 1/2 heure à 1 heure ce que nous
donne les avanatges[sic] suivants: –
1.er De nettoyer le bac à eau et éviter les fermentations
2.e de pousser en tête les petits jus.
Toutes les 8 heures alors que nos petits jus montent à une teneur en sucre de 1,50 nous faisons une liquidation a la distillerie
de 2 bacs et pendant ce temps nous poussons à l’eau à la batterie jusqu’à ce que nous nous retrouvions avec nos deux premiers
bacs à réintégration pleins ce que nous fait une liquidation de 6 bacs par 24 Heures. Depuis deux jours seulement nous faisons
des liquidations de 2 bacs toutes les 8 heures. Nous avons déjà changé plusieurs fois la façon de faire ces liquidations: d’abord
1 bac toutes les 7 à 8 heures, puis 2 toutes les dix heures et celle à laquelle nous nous étions arretés etait 3 bacs toutes les douze
heures, car c’est au moment ou les eaux sont riches que nous gagnons le plus, mais nous perdons aussi d’avantage dans la
bagasse. Voila du reste les analyses de Vesou et de Jus de diffusion en faisant des liquidations de 3 bacs toutes les 12 heures.
VESOU JUS DE DIFFUSION VESOU JUS DE DIFFUSION
Pureté Coefficient Pureté Coefficient Pureté Coefficient Pureté Coefficient
Glucosique Glucosique Glucosique Glucosique
80,7 3.4 82.0 3.5 82.1 3.2 83.9 3.0
81.6 3.1 82.3 2.8 82.4 2.8 83.5 2.9
82.9 3.0 84.2 2.7 //
[3] Voila maintenant celles en faisant des liquidations de 2 bacs toutes les 8 heures.
Pureté 81.5 80.4 80,4
VESOU
Coefficient Glucosique 3.2 2.8 3,8
560 6 folhas, papel, 28 cm x 21,8 cm, razoavel estado de conservação. As vários folhas, à excepção da primeira, estão numeradas.
Estamos na presença da cópia de uma carta dactilografada, assinada por alguém cuja assinatura torna impossível identificar de forma plena. Será, de
qualquer forma, um dos vários químicos ou “cuiseurs” de nacionalidade estrangeira que tiveram a oportunidade de cooperar com Higino Ferraz no
Torreão. Olhando para a configuração algo confusa da assinatura presente nesta carta e cruzando com informações provenientes do «Livro de notas sobre
fabricação d’assucar e alcool, e tabellas de calculo de João Higino Ferraz», conjecturamos que seja o químico Milan, que trabalhou no Torreão no ano de
1907.
561 Harry Hinton.
562 Trata-se, obviamente, de João Higino Ferraz.
400
Voila également comme nous comptions notre perte dans la bagasse avant l’appareil Zammaron.
La bagasse du 2e moulin d’apres les analyses a 54 à 56% d’eau. et [sic] par l’extraction représente 25 à 26 Kilos % de
cannes. Si dans les eaux du moulin nous avons en sucre 1,92 notre perte devenais
: 1,92 x 56 x 26 = 0,279
100 100
Si dans les eaux du moulin nous avons en sucre 2,25 notre perte devenais
: 2.25 x 56 x 26 = 0,327
100 100
Si dans les eaux du moulin nous avons en sucre 1.85 notre perte devenais
: 1.85 x 56 x 26 = 0,269
100 100
Seule perte pour Monsieur Hinton puisque les petits jus font du Alcool et du tres bon alcool.
Mais l’appareil Zammaron accuse davantage: //
[4] 1er essai: Petits eaux du moulin: 2.25 soit donc % de cannes 0,327
Zammaron: Sucre % de bagasse 1.953 soit % de cannes à 74 Kilos d’extraction = 0,507
2e essai: Humidité de la bagasse 52 Kilos Extraction du moulin 76 Kilos
petits eaux du moulin 1,856 soit % de cannes 1.856 x 52 x 24 = 0,231
100 100
Zammaaron[sic]: 1,887 soit % de cannes 0,452
3e essai: Petites eaux du moulin 2,114 soit % de cannes
2,114 x 52 x 24 = 0,268
100 x 100
Zammaron: 2,083 soit % de cannes 0,499
Avec la nouvelle marche c’est-à-dire, en liquidant deux bacs de 8 heures en 8 heures voici l’analyse de bagasse:
Petits eaux du moulin: 1,347 soit 1,347 x 59 x 27 = 0,124
100 x 100
Zammaron: Sucre % de bagasse 1,627 soit 0,447
Humidité de la bagasse 59 Kilos. Extraction 72,5.
Monsieur Ferraz me fait remarquer une chose qui me parait tres exacte, c’est que l’appareil Zammaron diffuse tout le sucre
contenu dans l’écorce et qu’il est difficile à la batterie d’em faire autant, mais j’ai la conviction néanmoins que lorsque la
défibreuse marchera, la batterie fera sur l’écorce ce que fait le Zammaron.
Pour votre idée d’installer 2 bacs: un pour l’eau et l’autre pour les petits jus, Monsieur Hinton et Monsieur Ferraz trouvent
votre idée tres bonne, mais se qu’ils craignent c’est de laisser couler par le trop plein des petits eaux trop faibles pour la
distillerie, et de // [5] laisser couler à la rivière les petits eaux d’interposition; aussi ils vous diront que les petites eaux donnant
du tres bon alcool qu’ils ne veulent pas en perdre une goutte. Quand à l’installation des deux pompes pour l’an prochain,
supprimant les deux bacs, Monsieur Hinton fait votre idée sienne.
Voila ou nous en sommes pour la réintégration et nous esperons en continuant les essais arriver à une bonne solution, du
reste l’appareil Zammaron va nous rendre de tres grands services dans cette voie, et je vous dirai por tous les essais que nous
avons déjà fait, une chose que vous m’avez dit aussi, c’est qu’il faut payer son apprentissage.
Pour la quantité de mélasse: 8 Kilos ne vous effrayez pas autant car ils se decomposent ainsi:
mélasse venant de fabrication 6,18 Kilos. Ecumes des bacs à sirops et à égouts, lavage des toiles des filtres et petites eaux
calculés en melasse 1,82 Kilo soit donc au total 8 Kilos. Nous obtenons moins de mélasse de fabrication actuellement car nos
cannes sont un peu plus riches.
Entre parenthèses je vous signale un échantillon de cannes appartenant à Monsieur Hinton et ayant donné à l’analyse les
resultats suivants:
Densité 8,95
Sucre dans le vesou 21,565
Pureté 90,3
Coefficient Glucosique 0,81
Si nous avions de la canne comme cela nous aurions au minimum 16 de rendement.
401
Voici également les analyses des 2 Sucres
Polarisation Glucose Cendres Eau Indeterminés
Sucre BB 99.60 0.058 0.072 0.011 0.259
Sucre B2 99.20 0.092 0.126 0.010 0.572 //
[6] Vous me demandez de vous envoyer l’analyse de la bagasse avant la diffusion: voila la seule que j’ai déjà faite avec
l’appareil Zammaron, car nous portons surtout notre attention sur le bagasse du 2e moulin de répression:
Sucre % de bagasse 8,007 Kilos soit % de cannes à 73 Kilos d’extraction 2,16 Kilos.
Nous avons fait un essai de vitesse à la batterie avec des cannes ordinaires sans cannes “Yuba”, nous sommes arrivés avec
l’installation actuelle a presque 9 diffuseurs en 1 heure avec une extraction au moulin de: ne vous effrayez pas: 79,07 Kilos.
Monsieur Ferraz se rappelle au bon souvenir de Madame Naudet et vous envoie ses amitiés.
Recevez l’assurance de mes sentiments dévouées. [Ass:] E. Milan [?]
563 Uma folha de papel, 26,9 cm x 20,6 cm, em bom estado de conservação, que tem na parte superior esquerda do retro, em letras de imprensa, a morada,
telefone e principal actividade da firma José Julio de Lemos, Sucessores, detentora da Companhia Nova. (A informação é: «José Julio de Lemos,
Sucessores, “Companhia Nova” Fabrica de Distilação d’Alcool Travessa da Malta 13 Telefone n.º 200 Funchal»). Além destes elementos, os grafemas
«Madeira,» «de» e de «19» estão inscritos em caracteres de tipografia que imitam a escrita manuscrita.
564 1 folha, papel, 28 cm x 22,1 cm, em mau estado de conservação. Estamos na presença de uma cópia de carta, dactilografada (com excepção de «Monsieur
Lefebvre», expressão grafada à mão por João Higino Ferraz), remetida a Georges Lefebvre. A menção ao ano não é clara, mas achamos ser 1915, por
referências à 1ª Guerra Mundial (e suas funestas consequências, inclusivé em Portugal, no que diz respeito à carestia de vida); além disso, os contactos
entre Lefebvre e Ferraz são constantes – como se vê nos Copiadores de Cartas – durante a segunda década do século XX.
402
[DATA: 27 de Dezembro de 1920
DESTINATÁRIO: Antoine Germain; LOCAL: Málaga, Espanha]
565
[1] Funchal 27 Decembre 1920
Monsieur Antoine Germain Sociedade Asucarera Larios Malaga Espana
Monsieur et Cher Collégue
En má possession votre lettre du 30 Novembre courant en ce que vous me demandé des renseignement sur le travail de la
canne Yuba qui nous avons à Madère et qui vous avez transplantée à Malága, et qui je vois vous donne un très bon rendement
cultural, mais qui dans la fabrication du sucre vous avez rencontré des difficultées de travail et filtration.
Á Madère nous avons en les mêmes difficultées au comencement, quand nous travaillions seulement la canne Yuba, mais
aprés mes recherches continuelles, nous <sommes arrivé>, depuis 1914, á faire un travail magnifique seulement avec <de> la
canne Yuba, en faisant la filtration total du jus et en // [2] obtenant des tourteaux aux filtres-presses très durs. Se sucre obtenue
est trés blanc, sec et de consumation direct, et actuellement nous marchons par le procedée sucre et melasse, en obtenant une
pureté dans la Melasse de 40 a 43 (Clerget).
Par mon neuveau procédé de marche, je termine avec la defecation et filtration sur le bagasse dans la batterie de diffusion
du procédé Naudet, et même les defécateurs et décanteurs ordinaires sont suprimés; mon jus (vesou et jus diffusion du bagasse),
après sulfitation et chaulage est passé, après defecation continue, directment aux filtres-presses, en obtenaut un filtrat brillant.
Pour eviter <en grand partie> les incrustation du Triple, je fait un traitement special aux jus des filtres-presses, et ils sont
nouvellement filtrée en filtres Mechaniques, et vá directment au Triple effet. <Je marche 15 a 20 jours sans netoyage.> Je sulfite
á // [3] fond les sirops du Triple. Je fais des rentrées dans les cuites des égoûts pauvres, pour faire du roux à refondre.
Notre vesou de canne a une pureté de 84 a 85, et <dans> le melange du vesou avec le jus de diffusion <(jus total á defequer)>
nous avons 82 a 83 de pureté.
Même avec la canne a 80 de pureté, je obtiens toujours une bonne filtration du jus defequée.
Notre Usine fait 600 tonnelades de canne par 24 heures, avec la raperie J. J. Lemos566, qui nous envoitle vesou. Cette petite
Usine est une distillerie que nous avons lué. Il a <aussi> une autre petite Usine qui fait sa premiere Campagne cette année, mais
je ne sais pas comment elle travaille.
Je vous ferait savoir qui c’est moi le directeur technique, accumulant tous les services de la Sucrerie et distillerie sur ma
direction et le // [4] control du Laboratoir de l’Usine.
Je serait à la desposition de la Sociedad Asucarera Larios après le mois de Juillet, si vous croyez que je pourrai être utile.
Comme vous fait la référance de Monsieur Sousa Lara, il me connait très bien, et il vous pourra dire quelque chose sur notre
Usine et má direction. Monsieur le Cônsul d’Espanha, Campanella, me connaît aussi, et est un <de mes> amis.
Croyez, Cher Monsieur et Collegue, á l’assurance de má consideration très distingué. [Ass:] João Higino Ferraz
P.E.[sic] Je vous envois, ci joint, une petite echantillon de notre sucre blanc cristalisée, de consumation directe.
565 Estamos na presença de 1 folha (papel, em bom estado de conservação) dobrada em jeito de caderno. Tem assim 4 páginas, numeradas por nós, e as suas
medidas são 32 cm x 21,7 cm. Esta carta foi escrita inteiramente a lápis e teve certamente, como se constata também pelos pequenos e múltiplos
acrescentos e rasuras, a função de rascunho.
566 Firma José Júlio de Lemos, Sucessores.
567 1 folha, papel, 25,8 cm x 20,6 cm, bom estado de conservação. Esta carta foi escrita, na sua maioria, a lápis e será, muito provavelmente, o borrão de outra
a remeter.
568 Na margem esquerda temos um sinal de «+», a tinta. Não encontramos correspondência para este sinal nesta carta. Poderá, porventura, querer remeter
para a única informação grafada a tinta nesta carta, após a assinatura, e que, para maior clareza, repetimos aqui: «En má possession vos lettres du 7 et 8
Janvier et pour ecrit ce le seul que je peu vous dire.»
403
Croyéz, Cher Monsieur et Collegue, á l’assurance de má consideration très distingue. [Ass:] João Higino Ferraz
En má possession vos lettres du 7 et 8 Janvier et pour ecrit ce le seul que je peu vous dire. et [sic] voilá tou ce que je peux
vous dire par lettre.
569 Duas folhas de papel, 26,9 cm x 20,8 cm, em bom estado de conservação. A segunda folha está numerada. A assinatura não identifica, numa primeira
análise, de uma forma plena, o remetente, mas cruzando informações aqui presentes com outras provenientes das cartas de Higino Ferraz, exaradas nos
seus Copiadores, achamos ser Antoine Germain, engenheiro em Málaga, da “Sociedad Asucarera Larios”.
404
[DATA: 22 de Abril de 1921
REMETENTE: Antoine Germain; LOCAL; Málaga, Espanha]
570
[1] Malaga 22 Avril 1921
Monsieur João Hygino Ferraz Directeur Technique de la Sucrerie de William Hinton & Sons Madeira
Monsieur et Cher Collégue
Je vous ai ecrit le 22 fevrier, répondant à votre lettre du 15 Janvier, et vous remercient de son contenu.
Je n’ai pas eu de réponse, et je ne sais si ma lettre du 22 fevrier vous est parvenne
Si la lettre est entre son maison, veuillez donc avoir l’obligeance de me dire n’ous[?] voulez et pouvez m’indiquer les
produits chimiques que vous employez. Dans le cas négatif, quelles seraient vos conditions pour nous mettre au courant, en
nous enviant tous les renseignements
J’attends donc deux mots de vous dans un sens ou dans l’autre
Je vous prie, cher Monsieur et Collegue, de agréer l’expression sincére de mes meilleurs sentiments. [Ass:] Antoine Germain
570 Uma folha de papel, 26,9 cm x 20,8 cm, em razoável estado de conservação. A assinatura não identifica, à primeira vista, de uma forma plena, o remetente,
mas cruzando com informação proveniente das cartas de Higino Ferraz, exaradas nos seus Copiadores, achamos ser Antoine Germain, engenheiro da
“Sociedad Asucarera Larios”, em Málaga.
571 Estamos na presença de 1 folha de papel, em bom estado de conservação, dobrada em modo de pequeno caderno, constituindo assim 4 páginas (as suas
medidas são, pouco mais ou menos, 21,4 cm x 13,7 cm). A numeração das páginas foi por nós aposta. A folha, disposta na horizontal, tem no canto superior
esquerdo do retro, em letras de imprensa, o telefone, designação e actividades, endereços de telégrafo, etc., da firma William Hinton & Sons («William
Hinton & Sons, Madeira & Lisboa. Sugar Manufacturers, Distillers, Timber Importers, Sawyers, &c [;] Telegraphic Addresses, “Hinton, Funchal”.
“Hintonius, Lisbon”. [;] Codes used, A.B.C. 4th & 5th Editions, A.I. Lieber’s & Ribeiro’s [;] Harry C. Hinton, W. R. Bardsley.»). Acrescente-se que os
grafemas «Madeira,» e «191» estão inscritos em caracteres tipográficos que imitam a escrita manuscrita.
Este manuscrito parece ser a cópia de uma carta remetida ao Diario de Noticias da Madeira.
405
[DATA: 9 de Agosto de 1921
REMETENTE: Antoine Germain; LOCAL; Málaga, Espanha]
572
[1] Malaga 9 août 1921
Monsieur João Hygino Ferraz C/a[?] William Hinton & Sons Largo do Corpo Santo 6 Lisboa
Cher Monsieur et Collégue:
Vous voudrez bien m’excuser de n’avoir pas encore répondre á votre honorée du 27 Juin dernier.
J’ai été trés occupé tous ce temps, et je n’ai pas en un moment de loisir
Nous avons fait divers essais avec la canne Yuba, et pris des renseignements, je dirai partout: on Mozambique, Natal, la
Reúnion (etc) et tous nous confirment que c’est une canne qui ne convient pas à notre climat, qui n’est pas avez chaud, et cette
canne ne necesit presque par, de lá le difficulté de travail. Nous en avons lainé, presque fin moi, dans les endroits de trés bonne
exposition, et à cette époque le travail était déja bien plus facile; mais que faire avec ces cannes en fevrier et mars?
Nous y renonçons donc completement, surtout // [1v] aprés avoir découvert deux varietés bien meilleurs que la Yuba, d’un
bon rendement cultural, et enfermant 14% de sucre, c’est à dire premettant de retirer 11,50% de sucre en fabrique. Nous
récolterons en mars prochain plus de 600 tonnes de ces deux especes, et nous les planterons toutes.
En ma reportant aux données de fabrication que vous avez en bobligeance[sic] de m’adresser, vous avez retirée 9,88% de
sucre d’une canne que ne contient que 12,61% de sucre; c’est un excellent rendement, mais c’est une canne pauvre <12,61%>
de sucre, avec du Jus ayant 8,0º de densité et une pureté de 85. Cela tient à ceque la canne contient peu de Jus; du certe votre
extraction le doit:
60,61 litres eaux moulin % de canne
21,83 la diffusion “ “ “
Il n’y a donc pour lieu de continue l’étude d’une canne qui disparait. Sour notre climat on cannes n’auvent par à plus de 10
à 11% de sucre, il est donc impossible de les soutenir.
Madeira varietes sont trés résistentes à la gelée, cequi est un avantage ici, on les nuits laissent la temperature arriver: 0º, et
même un peu plus bas.
De toutes façons je vous remercie bien pour tous les renseignements que vous m’avez fournir, et je vous tiendrai au corrant,
plus tard, quando nous travaillons ces deux nouvelles agreer, des resultats que vous obtiendron.
Agriez, cher Monsieur et Collegue, l’expression sincére de mes meilleurs sentiments. [Ass:] Antoine Germain
572 Uma folha de papel, 26,7 cm x 20,7 cm, em bom estado de conservação. A assinatura não identifica, numa primeira análise, de uma forma plena, o
remetente, mas cruzando informações desta correspondência avulsa e outras provenientes cartas de Higino Ferraz exaradas nos Copiadores, achamos ser
Antoine Germain, engenheiro da “Sociedad Asucarera Larios”, em Málaga, Espanha.
573 2 folhas, papel, 26,6 cm x 21,7 cm, em bom estado de conservação. Não existe a primeira página desta cópia de carta que foi enviada a, com toda a
probidade, Harry Hinton. João Higino Ferraz grafou a lápis, na cabeça das folhas, a numeração das mesmas e a data a que se referem. Devido à falta da
primeira folha, optamos por numerar as 2ª e 3ª folhas como as nº 1 e nº 2, respectivamente. Poderíamos ter sido levados em erro e considerar estas folhas
como fragmentos de duas e não de uma só carta, devido à data grafada na margem da cabeça da 2ª folha (segundo numeração de Ferraz) – 20 de Novembro
de 1925. Não obstante, tendo em conta a matéria tratada nas duas folhas, constatamos ser erro grosseiro de Higino Ferraz, e será óbvio que se trata de
uma só epístola, de 20 de Novembro de 1923.
574 Henrique Figueira da Silva.
575 António Luís Nunes Vieira?
406
Envio-lhe separado as notas que recebi da Alfandega, para poder vêr melhor como o alcool é produzido em S. Filippe.
Mesmo que chegue aos 100.000 litros (?), e como elle diz que é melaço de 3 annos, tirando o rateio de 30.000 litros, fica-lhe
70.000 litros que dividido pelos 3 annos dá 23.000 litros a mais por anno, ficando assim o rateio em 53.000 litros maximo que
elle poderá realmente fazer. //
[2] 3 20/11/925[sic]
Notas do alcool produzido por São Filippe:
1ª nota – 20 setembro 1923 ————— 19.650 litros
2ª “ – 3 outubro “ ————— 28.681 “ Em 3 dias 9.031 litros
3ª “ – 10 “ “ ————— 40.000 “ Em 7 dias 11.319 “
4ª “ – 18 “ “ ————— 45.000 “ Em 8 dias 5.000 “
5ª “ – 15 “ “ ————— 62.528 “ Em 7 dias 17.528 “
Parou de destillar, não dando notas.
6ª “ – 17 Novembro 1923 ———— 64.658 litros Em 23 dias (?) 12.130 litros
Temos porém que os vinicultores pedem-lhe alcool e elle diz que não tem. O que fez elle a esses 64000 litros alcool
Vamos a vêr realmente quanto poderia produzir o melaço que foi cubicado pela Alfandega
120.000 kilogramas melaço rico a 30% maximo rendimento 36.000 litros alcool
75.000 “ de melaço e agua (lavagens) ao
maximo de rendimento 25% (?) ———————————— 18.750 “
Total provavel 54.750 “
Tinha já feito antes do varejo ——— 6.200 “
Total maximo que deveria obter 60.950 “
Como o correio pode fechar para esta mala termino esta, e é tudo quanto lhe possa dizer
Crea-me seu Amigo Attencioso Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz
576 1 folha, papel, 25,8 cm x 20,6 cm, em razoavel estado de conservação. Esta carta saiu do punho de Harry Hinton e foi escrita a lápis.
577 João dos Reis Gomes.
578 Este sinal remete para outro igual existente após o fim da carta, no pé da página, que acrescenta nova informação: «* visto o novo decreto». Os dois sinais
foram ligados por intermédio de uma seta que percorre a margem esquerda do retro da folha.
579 Fabrica de destilação de alcool, denominada Companhia Nova, da firma José Julio de Lemos, Sucessores.
580 João dos Reis Gomes.
407
[DATA: 12 de Outubro de 1927
REMETENTE: Harry Hinton]
581
[1] Olympic Palace Hotel.
Carlsbad – 12 Outubro 1927
Meu caro Ferraz,
Espero que o assucar chegou bem e que a estas horas já esteja refinado. Parece que aqui estou no fim do mundo pois já é
Quarta feira a noite e ainda não recebi a minha mala de lá, pois leva 3 dias de Londres até aqui.
É de suppor que o decreto não seja revogado e por isso temos de pensar muito na colheita proxima.
Está claro que a Fabrica Lemos582 vae moer para assucar e seria bom verificar se aquelle cano está em bom estado. E espero
que você já combinou com o Marsden o que tem a fazer com o triple effet. A minha opinião é mais uma caixa como você propuz
primeiramente. Francamente tenho medo do Kestner. Não podemos parar todas as semanas senão a colheita ira até Agosto que
levantará um guerra [sic] infernal contra o decreto.
Tambem acho que devemos epuissé o melaço nos malaxeurs como faziamos antes e sendo assim temos de montar uns filtros
presses no logar d’aquelles que mandamos para o Cassequel. Talvez 2 serão sufficientes.
Teremos tambem de concertar a torre d’agua e hoje mesmo vou escrever ao Marsden sobre // [2] este assumpto.
Não podemos pensar em despezas e Deus me livre se os nossos inimigos possam dizer mais adeante que elles tinham razão.
Peço que leia a carta inclusa e 583 fallar com o Reis Gomes.
Estou desejando muito receber a minha mala d’ahi, mas com certeza só a terei depois d’amanhã.
Seu amigo.[Ass:] Harry Hinton
É bastante aborrecido que lhe escrevo esta carta para lhe dizer que tivemos que parar com a Fabrica Nova duas vezes; uma
no dia 8 e agora no dia 15. Da primeira vez apenas podemos moêr 3 ? dias, da segunda vêz nem sequer um dia! Todas estas
paragens forão devidas aos engenhos, porque o resto da Fabrica trabalhava muito bem se tivessemos sempre garapa.
Calcule que nos 3 ? dias apenas podemos moer 560 toneladas cana!! Quando ahi chegar lhe explicarei tudo melhor. D’esta
ultima vêz o caso foi pêor, porque a rasão da paragem foi devido ás Chumaceiras do cylindro inferior de sahia[sic] <do 4º
moinho> terem sahido do seu logar (?!). É uma Patente que elles podem mandár ao diabo de presente. Para poder arranjar estas
chumaceiras, isto é, 16 <(nos 4 engenhos)>, leva pelo menos 6 dias, e assim sô podemos recomeçar a 24.
O Senhor Costa585 está bastante aborrecido, e com razão, porque os prejuizos devem ser grandes. A fabrica Velha durante
estas paragens foi posta em marcha já duas vezes, e felizmente que tinha bastante bagaço. // [1v] O pessoal já está habituado a
todo o processo da sulfitação, alcalinisação etc, filtração nos Filtros-Presses etc. etc., de forma que sô falta que os engenhos
fassão o trabalho regular. Da primeira vêz ainda se poude fazer 3 cosimentos de 1er jet, mas d’esta segunda vêz tivemos que
enviar todo o jus filtrado nos Filtros-Presses á fabrica Velha, assim como a garapa defecada que restava nos rechauffeurs.
Não pode calcular os aborrecimentos que tenho tido com tudo isto, e mais por vêr que se não fosse os engenhos da cana,
tudo estava a correr bem. Temos ainda a turbinas [sic] da Melasse Cuite (centrifugas) que não estavão bem montadas ou então
não é obra muito fina. Mas para esta parte o Lemos (serralheiro) diz que vai afinal’as e que devem ficar boas; Deus queira!
Quando ahi chegar, como tenho todas as notas tomadas e são muitas e complicadas, lhe farei a explicação de tudo.
Crea-me seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz
581 2 folhas, papel, 25,8 cm x 20,6, cm razoavel estado de conservação. Esta carta saiu do punho de Harry Hinton e foi escrita a lápis.
582 Fabrica de destilação de alcool, denominada Companhia Nova, da firma José Julio de Lemos, Sucessores.
583 Depois dos vocábulos «carta inclusa e» temos, rasuradas, as seguintes palavras: «depois de a ler queira rasgal-a.».
584 1 folha avulsa, papel, 27 cm x 20,5 cm, em razoavel estado de conservação. Esta é, como constata o leitor, a cópia de uma carta enviada a Harry Hinton.
585 António Costa.
408
[DATA: 19 de Julho de 1912?, 1922?
DESTINATÁRIO: ?; LOCAL: Cais de Javel, Paris, França]
586
[1]le 19 Juillet 2
Monsieur le Directeur des Usines Citroën, Quai de Javel.Paris
Monsieur,
Dans le journal le “Exportateur Français” du 26 dernier j’ai pu voir une photo représentant une automobile á chenille de
votre marque, la photo représentait la descente par la dite auto á chenille l’escalier du monument des Cirondins á Bordeaux.
Comme l’île de Madére est trés accidentée et les moyens de transport faisant defaut, dans beaucoup d’entroits, pour cette
cause je viens par la presente vous demander de bien vouloir m’accorder, si possible, la répresentation de votre marque ici á
Madére, surtout pour l’auto á chenille. Vous serez bien aimable de bien vouloir m’envoyer les catalogues de vos voitures et vos
conditions de représentation de votre marque pour Madére
Si vous jugez m’accorder votre confiance je peux vous dire que je suis directeur technique de la sucrerie et distillerie de
Messieurs William Hinton et Sons á Funchal, Ile de Madére //
[2] En attendant le plaisir de vous lire, recevez, je vous prie, mes plus sincéres salutations empressées.
P.S. Priére de vous adresser á, João Higino Ferraz Chez Messieurs William Hinton et Sons Funchal, Ile de Madére.
586 2 folhas avulsas, papel, 26,5 cm x 21,7 cm, segunda folha numerada, bom estado de conservação. Esta carta (ou melhor: cópia de carta) é dactilografada,
salvo alguns sinais manuscritos (aspas, 1 vírgula, etc.). Desconhecemos o nome do destinatário e, visto que o ano está representado apenas pelo algarismo
2, não estamos certos da data completa.
587 1 folha, papel, 26,5 cm x 21,6 cm, bom estado de conservação. Esta cópia de carta é dactilografada. O ano, na data, pela forma como foi inscrito, apresenta-
se incerto; achamos, de qualquer forma, que não se reporta a 1902, pois a correspondência exarada nos Copiadores de Cartas mostra que só mais tarde
Higino Ferraz travou conhecimento com Georges Lefebvre. Podemos apontar para 1922, a título de fraca suposição, já que é por volta estes anos que a
epistolografia remetida por João Higino Ferraz a Lefebvre, e exarada nos Copiadores de Cartas, é mais abundante.
588 2 folhas avulsas dactilografadas, papel, 26,6 cm x 21,7 cm, bom estado de conservação. As folhas estão numeradas na margem superior. Esta é cópia de
uma carta remetida por Higino Ferraz; desconhecemos o ano de que é esta carta e o seu destinatário. Conjecturamos que seja de 1922, e que teria como
destinatário Georges Lefebvre. Tal conjectura baseia-se na informação aqui presente e na ocorrência de contactos epistolares constantes entre João Higino
Ferraz e Lefebvre durante o início da 3ª década do século XX.
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pair 45.000 francs!). Sur ce le fabricant en question n’a pas décidé l’acquisition de l’appareil, et cést resolu a attendre une
meilleure chance dans la situation de change.
Charbon Décolorant: – J’ai reçu les échantillons et celle qui nous convient c’est límpalpable No. 6, et Marliére589 aurait dû
vous avoir renseigné sur ce sujet, como je lui ai bien prévenu. Les autres sorts servent á peine pour des filtres spéciaux.
Malaxeurs: – Nous avons envoyé votre lettre á Monsieur Hinton590 qui vous repondra d’Angleterre ou il se trouve en ce
moment.
Kieselghur: – En ce qui concerne cette affaire je suis a vous dire que c’était Monsieur Hinton qui vous a fait la demandé
d’échantillon // [2] car je me suis plaint de la mauvaise qualité di derniérement commandé d’Espagne, mais comme á la
prochaine campagne nous allons employer un nouveau procédé de fabrication mettant de côté le Kieselghur aussi bien que le
Phosphate bi-calcique, ce produit-lá ne sera donc pas employé dans nôtre campagne de 1923.
Frigorifique: – Je vous remercie bien toutes les indications que vous m’avez fourni sur ces appareils, lesquells sont déjá bien
suffisantes pour me renseigner. La situation actuelle au Portugal, la grande hausse du change et l’incertitude dans l’avenir me
font bien troubler.
Bien des compliments a votre petite famille et croyez, je vous prie, mon cher ami, a toute ma meilleure amitié.
[DATA: 30 de Julho de ?
DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre; LOCAL: Rua do Midi, 32, Taverny, França]
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[1] le 30 juillet […]
Monsieur Georges Lefebvre 32, rue du Midi Taverny (S. et O.), FRANCE
Mon cher ami G. Lefebvre,
J’ai bien reçu votre poste carte et vous en remercie j’espére bien que les bons airs de <la> mer vous fortifient votre santé
aussi bien que celle de votre famille.
Désirant encore cette année fabriquer un peu de vin de la prochaine récolte, je désirais bien obtenir les suivants produits.
Bio-sulfite “Gimel” – de l’institut Jacquemin de Malzéville, adresser á Messieurs Burmann et Cie., institut La Claire, á
Morteau (Doubs), 20 litres. Dans les cas ou vous ne pourrez obtenir le Bio-sulfite en envoyez s. v. p. 10 kilogrammes de
Métabisulfite de Potasse en crystaux.
Acide Tartrique (produit oenologique) 6 kilogrammes
Phosphate de ammoniaque 2 kilogrammes
Tannin Oenologique 2 1/2 kilogrammes
Vers le prochain mois d’Octobre j’aurai besoin d’un // [2] kilo de levure pur, de l’institut La Claire type Champagne-
Verzenay, mais j’écrirai d’abord á G. Jacquemin (Institut) afin qui’il puisse m’indiquer le moyen le plus facile d’expédition,
pour que la levure puisse arriver ici en bon état de conservation, et je ferai le réveillement au Laboratoire.
Veuillez considerer comme affaire entendu entre nous que sur toutes les commandes que je vous adresserai vous chargerez
votre comission, sous les mêmes conditions de la maison Hinton. Sauf autres instructions toutes les commandes á faire seront
en mon nom personnel, facture adressée á la maison Hinton, qui vous confirmera ma commande par prochain courrier.
N’oubliez pas l’origine Belge, car les droits de douane sur les merchandises françaises sont trés hauts.
Je vous prie livraison de suite.
Bien des compliments á toute votre famille et veuillez agréer mes plus distinguées salutations et une forte poignée de mains.
[DATA: ?
DESTINATÁRIO: ?]
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[...] capacidade muito menor [?] que Torreão e Companhia Nova.
A Companhia Nova então é por demais.
Tanto Torreão como São Filippe, tem cada uma um retificador, que nas declarações dizem que é unicamente para a
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reteficação do alcool produzido nas columnas de destillação, e esses, n’esse caso, não entram para o rateio.
Acho isto de grande importancia, no caso de elles, ou mesmo sómente a Companhia Nova, conseguirem o rateio pelas
capacidades de distillação, sejam elas feitas da forma que forém.
Fica pois bem intendido. No cado[sic] de H.F.593 requerer a montagem de uma nova columna, nós faremos o mesmo, e assim
desejava ser prevenido a tempo para me por em condições da nova montagem.
Mesmo que elle H.F. não tenha feito ainda o requerimento, pode fazel’o mais tarde, e é bom estar de prevenção.
Se houver alguma cousa, deves telegrafar.
Pelas capacidades sómente das columnas de destillação, calculo feito segundo a sua maneira de vêr errada, como podes
verificar pelas licenças, daria o rateio o seguinte resultado actualmente:
Torreão Comp. Nova São Filippe
Capacidade destillação = 3199 litros – 2484 litros – 1175 litros
46,64% – 36,22% – 17,14[?]%
Sendo assim, e continuando a Companhia Nova em nosso poder, ficaria H.F. […], e é isso que eu creio elle não deixará, e
d’ahi vem o meu receio[?] da montagem de uma nova columna de distillação, porque o seu[?] retificador é para 2500 litros
alcool em 24 horas.
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ÍNDICE ANALÍTICO DE EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS
Alambiques, 59, 73, 83, 84, 90, 96, 198, 274, 276, 315; Alemão, 82; continuos, 65
Alcalinisadores, 342
Alcoometros, 397; Alcoometres Gay-Lussac, 305
Apparelhos, 55, 56, 57, 68, 69, 73, 75, 119, 134, 136, 142, 143, 147, 148, 155, 161, 163, 164, 180, 181, 191, 193, 194, 198,
199, 200, 201, 203, 208, 210, 239, 280, 284, 290, 298, 320, 321, 350, 354, 363, 369, 385, 387; antigos, 68; Barbet, 71,
180, 184, 376, 377, 378; Barbet para a produção do alcool desidratado pelo processo “Des Destilleries de Deux Sevres
(P. D. S.), 378; completo triple effet, 69; para a produção de um desinfectante para substituir o Furmol, 378; de extração
de faulhas do bagaço, 392; de cozer o milho, 286; de cultura no laboratorio, 93; de destillação, 87, 99, 182, 183, 198,
215, 270, 274, 276, 279, 359; de destillação Barbet, 376; de destillação continua, 110; de destillação continua typo
Paulmann em duas columnas, 211; de destillação e produção de alcool absoluto pelo processo “Des Deux Sevres”, 375;
de destillação portatil, de Egrôt, 237, 377; de destillação-retificação da Comp.ª Nova, 202; de diffusão, 64, 66; de
evaporação, 211, 407; de evaporação triple-effet, 120, 121, 127, 188; de ferro fundido, 342; de laboratorio, 75, 81; de
lavoura, 284; de Moer Cal, 227; de retificação, 282; de sulfitação continuo de “Quarez”, 138; Kestner á descendage, 238;
para produzir um desinfectante novo para substituir o Formol, 378; para ether sulfurico, 354; continuos, 87; da destillaria,
184; de laboratorio, 75, 81; do Manoury (filtros mechanicos), 67; de material de laboratorio, 282; de mestura, 384; de
São Lazaro, 180; de vidro, 201; necessarios para a produção do assucar areado, 240-241; de saccharificação do milho,
232; para o fabrico do açucar, 216; Egrot, 377, de produção de alcool obsoluto, 377
Appareils, 140, 162, 165, 166, 167, 168, 169, 211, 216, 229, 244, 256; á levure pure de Barbet, 185; a serrage mechanique “Air-
vapor”, 168; Barbet, 184, 208, 209, 212, 215; de destillation, 221; de Monsieur Grangér, 215; de peptonisação, 207; de
rectification continu, 397; de retification continue Nº 5, 184; de serrage mécanique “Air-Vapor”, 168; ebuliometre
Lalleron, 305; en cuivre avec un vide maximum et une evaporation trés rapide, 215; evaporateur, 216; Zammaron, 401,
402; de dessulfitation et evaporation de Barbet ou Granger, 215; et verrerie pour la destillerie – appareils Barbet, 184;
intermittents y compris celui de Savalle, 397; Prache & Buillon, 216; decanteur-laveur, 184
Baerlein, 134, 135
Balanças, 190, 195, 199, 314; das canas, 315
Ballão, 147, 326, 337, 354; entre o tubo geral do vacuo e a bomba, 326; Central, 147, 290; central (relantisseur), 162; de vacuo,
336; do ar comprimido, 354; pequeno á sahida do Kestner, 142; receptor dos vapores dos cuites e triple, 143
Ballon, 156, 157; central, 156
Barbet da Comp.ª Nova, 180
Baterias, 120, 135, 155; conjugadas diffusão, 155; de 12 diffusores, 154; de deffusão, 135, 137, 138, 139, 143, 149, 175, 188,
189, 190; de filtros mechanicos ou á tissu ou de area, 162; de filtros-presses com levagem para a filtração total do jus
defecado, 161; de defecadores, decantadores, eliminadores, 161; de defecadores, eliminadores, filtros presses etc., 102
Batteries, 140, 142, 400, 401; de diffusion, 141; de diffusion du procédé Naudet, 403
Bombas; “Worthington”, 70; centrifugas, 79, 80, 96, 104, 280, 281, 286, 291, 299; centrifuga por bombas conjugadas para alta
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perção, 291; centrifuga Sechabaver Nº 3, 161; d’agua das centrifugas, 188; d’ár, 69, 342; d’ar comprimido, 303; de aguas
amoniacaes, 135; de alimentação, 121, 326; de alta pressão, 342; de circulação, 104, 121, 335; duplas, 345; de meior
força para o sulfitador Quarez, 164; de perção hydraulica, 162; de vaco, 92; de vacuo, 76; de vacu da caldeira Ingleza,
71; de vacu para a caldeira ingleza, 73; de vacuo seca, 162; do senhor Krohn, 58; do triple, 147; dos petits eaux, 155;
dupla, 286, 291, 298, 303; duplex, 72; eletrica, 180; grande Dehne, 344-345; ou compressor d’ar Weston, 71; para os
filtros presses, 298; centrifugas, 94, 135, 143, 155, 335, 389; centrifugas “Schabaver”, 143; centrifugas movidas a
elletricidade, 163; de alimentação das caldeiras, 326
Brasserie, 243, 244, 245
Broyeur, 167, 409; de Masse Cuite, 229; de Pommes, 168; de sucre mechanique, 254; Nº PEV 14, 167
Cacimba, 326, 336, 345
Cadres, 140, 142
Caisse, 165, 171, 209, 215, 248, 317
Caixas, 130, 131, 210, 321, 393, 394; de ferro (que pode ser feita no Torreão) contendo no interior uma cerpentina de cobre,
382; do triple, 120, 121, 135, 142, 147, 317; geradora de gelo ou congelação de salmoura com pequena bomba centrifuga,
280; geradora de gelo ou refrigeração do saumeur ou brine com pequena bomba centrifuga, 280; tubular para a
modificação do Triple, 313; do duble effet, 159; do Quadruple, 292, 325, 363, 376, 380; do triple, 120, 121, 135, 142,
147, 151, 154, 155, 234, 307, 311, 313, 317, 408
Caldeiras, 72, 87, 97, 136, 180, 198, 283, 292, 303, 308, 325, 326, 373; de vacuo, 69, 73, 94, 111, 134, 143, 149, 152, 153,
155, 210, 211, 212, 343, 350, 373, 387, 389; de vacuo com mexidor, 120; de vacuo Freitag grande, 322; de vacuo
pequena, 139; de vacuo de 100 Hectolitros, 234; de vapor, 69, 93, 161, 180, 208, 314, 325, 326, 342, 359, 407; de vapor
de 50 cavallos, 200; de vapor franceza, 73; franceza, 75, 98, 114, 122, 322; grandes, 326, 344, 347; ingleza, 71, 73, 92,
113; pequenas, 162, 322; das locomotivas, 87; sulfitadoras intermitentes de 35 Hectolitros, 161
Canalisações de vapor exausto e jus, 303
Candieiro “Denayrouse”, 66
Cano de forma que todas as aguas da Fabrica quentes ou frias vão ao cano do vinhão, 148
Centrifugas, 67, 69, 71, 72, 73, 75, 76, 77, 113, 155, 163, 188, 211, 257, 292, 296, 297, 299, 314, 326, 335, 342, 344, 350, 376;
Watson, 154, 162; Weston, 72, 74
Cerpentinas / Serpentinas, 257, 292, 296, 299, 314, 326, 335; de vapor da Caldeira Franceza, 114; da caldeira, 114; de vapor,
98; de vapor das caldeiras de vacuo, 111, 210; que temos são as bixas antigas dos clarificadores (2) de 4”, 273
Chauleurs de 20 Hectolitros cada um com movimento mexidor, 161
Chumaceiras dos engenhos, 325, 326, 408
Chupa-sangue, 58
Cylindros, 67, 70, 79, 161, 319, 326, 336, 345, 408
Clarificadores, 234, 273, 291
Colonnes, 141, 167, 168; barometrique, 140, 141, 156; barometrique centrale, 243
Columnas, 75, 87, 136, 180, 211, 227, 231, 276, 278, 279, 319, 323, 377, 381, 411; de destillação; 180, 276, 315, 411; de
destillação – columna do apparelho Barbet antigo, 180; de retificação, 87, 92; do Melaxeur, 92; separada, 270;
barometrica, 96, 162
Columnes, 184; inclinée á circulation libre “inobstruable”, 106; barometrique, 253; de retification, 184, de destillation-
retification directe continue Nº 3, 184
Compensador, 143; compensateur, 141; fechado, 137
Compresseur, 168; rotatif, 157
Compressor, 281; a ammoniaco, 279, 280
Concentrador, 200
Condensador, 84, 147, 252, 253, 271, 281, 319, 336, 363, 375, 386; condenseur, 140, 156, 251, 397; automatico, 336, 337;
barometrico, 143, 290, 380; central com ballão tambem central, 290; Condenseur-radiateur, 156, 157
Conductor, 76; de cannas, 161
Corta cannas, 55, 76, 210, 211
Courroie ou dynamo, 157
Cozedor e saccharificador (do Milho), 282
Cubas, 60, 61, 149, 200, 239, 240, 270, 271, 273, 275, 277, 281, 298, 319, 320, 321, 329, 356, 382; de cimento, 286, 383; de
fermentação, 200, 239, 274, 298, 373; pequenas de ferro dos apparelhos dos fermentos, 320
Cuites, 140, 143, 147, 149, 154, 155, 156, 162, 195, 211, 292, 322, 326, 335, 341, 344, 347, 389; Freitag, 133; Freitag grande,
322; grandes, 347; melaxeur fechado, 389; pequeno (100 Hectolitros), 155
414
Cuves, 167, 185; de fermentation, 168, 243; en ciment, 168; mères, 208, 209
Cuvres, 249
Cylindros, 67, 70, 326, 408; do engenho, 79, 161, 345; retos, 319; do vacuo, 336
Defecadores, 69, 102, 161, 303, 335; defécateurs, 403, 404
Decantadores, 161, 164, 165, 309, 318, 349, 354; décanteurs, 403
Diffusão Hinton-Naudet, 120, 163, 335, 355; Naudet e carbonatação continua, 143
Defibrador, 105; defibreur, 105, 161; Krajewski, 161
Défibreuse, 401
Deposito do xarope dos cuites, 147; de medida da garapa, 104
Desintegrador, 227
Dessulfitador, 200, 207, 215; désulfiteur, 243
Destillaria, 118, 134, 182, 184, 201, 211, 338, 373; Hornung, 239
Destillador, 58, 63, 147, 159, 181, 201, 276, 278, 293, 298, 319, 372, 378; de Almeirin, 198; Paulmann, 159
Diffusão, 55, 58, 60, 64, 66, 75, 79, 87, 102, 120, 121, 127, 133, 134, 135, 136, 137, 138, 139, 143, 154, 155, 164, 175, 186,
188, 189, 190, 373; do bagaço, 87, 100, 102, 120, 163, 180, 187, 355; do bagaço – processo Hinton-Naudet, 120, 163,
347, 355; directa da cana, 163
Diffusores, 55, 59, 79, 80, 81, 102, 104, 136, 139, 154, 176, 179, 190, 195, 321, 327, 379; diffuseurs, 141, 402
Dinamo, 163
Distillerie, 61, 119, 400, 401, 403, 409
Duble effet; 159, 168, 216, 350
Ébuillanteur, 162
Ebulidores de jus, 318
Eixos antigos dos engenhos, 231
Eliminadores, 102, 161, 162, 318
Elevadores; do assucar, 76; hydraulico, 227; do bagaço, 392, 393; do mato, 68
Engenhos, 67, 76, 79, 135, 149, 180, 190, 192, 211, 231, 283, 289, 303, 308, 325, 326, 335, 338, 343, 345, 373, 408; a vapor,
69; de espremer, 68, 80, 121; com defibreur e 4 moendas, 289; da cana, 326, 408; para moer a canna; 303
Entradas de vapor, 74, 75
Entretien “d’Air vapor”, 170
Épurateur, 397
Esquentadores, 104, 192, 319, 326, 342
Evaporadores; 142, 147, 160, 162, 207, 211; evaporateurs, 209, 215, 216, 243; Quadruple-effet, 371; -concentrador, 207
Fabricas; de destillação, 88, 193, 197; do Bensaude [Açores, São Miguel], 357; Nova [Cassequel], 317, 324, 328, 336, 346,
348, 349, 352, 408; para 600 toneladas canna, 286; de refinação; Velha [Cassequel], 317, 324, 325, 326, 328, 339, 341,
344, 345, 346, 348, 349, 352, 408
Filtros [filtres]; Laboratoire, 248; Malliè, 166; Rambert, 162, 243; à cadres, 142; cylindriques, 140, 142; Mechaniques, 403;
“Gasquet”, 280; do Cossart, 139; Taylor, 211; Filippe, 136, 142, 162, 176, 178, 179, 314, 319, 323, 350; “Seitz”, 210; a
sable, 139; de area, 138, 139, 162; de area systema Reinecken, 139, 150; de carvão, 388; de carvão animal, 338; de ferro
especiaes, 383; Dehne, 344; fechados em série, 387; mechanicos, 67, 68, 76, 96, 112, 122, 139, 162, 164, 200, 314, 318,
349, 351, 380; mechanicos do xarope, 314; mecânicos (Manoury), 67; pequeno com tecido, 158; -presse pequeno de
Laboratorio, 242; pequenos de 14 poches filtrantes, 151; -presses, 68, 75, 80, 96, 102, 112, 156, 158, 161, 162, 176, 180,
182, 187, 188, 189, 190, 201, 202, 207, 211, 213, 229, 236, 237, 240, 247, 286, 289, 291, 298, 303, 307, 311, 312, 313,
314, 316, 317, 322, 323, 324, 325, 327, 330, 335, 338, 343, 344, 345, 346, 347, 348, 349, 350, 354, 355, 364, 370, 373,
374, 376, 379, 380, 381, 384, 387, 390, 391, 403, 407, 408; Reinecken de area, 150; Reinecken, 139; Suchar, 391; -presse
pequeno de Laboratorio, 242; -prensas, 200, 234; -presses da garapa, 241, 355, 391; -presses de Melasse Cuite, 241, 307,
310, 312, 336, 376, 379, 380; -Presses Dhen, 303, 307
Fornos, 325, 326, 345, 383, 386, 388; “Huillard”, 137; “Porion”, 159, 160; da cal, 231, 233, 384; de revivificação, 383, 385,
386, 387; de SO2, 161, 303, 373; Kher, 227, 228; pequeno, 354; alemães, 342; antigos, 342
Fouloir-Egrappoir, 169
Freitag, 22, 133, 155, 322; Grande, 238, 240, 322; pequena, 322
Gerador de vapor, 207; generateur à vapeur, 244
Ginal, 237, 238, 239, 240, 249
Gruettes eletricas da canna, 231
Injector, 164
415
Jeu de claies dubles et toiles pour Presse, 168
Joint dans le fond du vac, 142
Juntas hydraulicas, 179, 327; para os diffusores, 327
Kestner, 142, 143, 151, 154, 155, 216, 221, 238, 307, 386, 408; como preevaporador, 154
Lavador, 388; mechanico, 383
Laveur de Pommes, 167, 168
Machinas, 55, 67, 68, 161, 280, 284, 342; de vapor, 72; frigorifica, 252, 279, 280
Manometro, 342
Meineker, 338
Malaxeurs, 92, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 103, 104, 105, 109, 111, 112, 113, 118, 124, 126, 134, 138, 139, 143, 149, 150, 153,
156, 163, 195, 211, 253, 254, 256, 292, 296, 315, 330, 335, 342, 343, 344, 376, 384, 389, 392, 408, 410; das duas
centrifugas, 376; transportador, 162; refrigerantes, 152; -refroidisseurs, 111, 162, 292; redondo, 139, 162; de 100
Hectolitros, 139, 322; Denis, 207, 209; especial, 347; orisontal fechado, 143; pequenos, 292, pequeno para a diluição do
tourtou com o jus, 164; no vacuo, 121, 122, 127, 139, 143, 322; pequeno para a diluição do tourteau de Melasse Cuite
com jus da fabrica, 164; de Melasse Cuite, 162, 227, 253, 376, 389; continuos de 2º jet, 162; de 2º jet, 176; fechados,
126; abertos, 95, 126, 154, 162; ouverts, 75
Mexidores, 118, 120, 164, 291, 373; mechanico, 291; -areador, 238; -de-refonte, 292, 294; de baryte, 175
Moinhos, 83, 94, 96, 97, 98, 101, 102, 119, 147, 161, 176, 211, 227, 269, 292, 323, 335, 346, 408; de 3 roulos (moderno), 211;
de 4 roulos (?) systema antigo, 211; de trez cylindros, 161; para moêr a cal, 225; para o bagaço exausto da diffusão, 154;
de 3 cylindros cada um, 161; de 48”, 211; de canna, 42, 154, 163; seguidos para a imbibição entre os moinhos, 234; a
vapor, 405
Moteurs, 167, 168; “Autonome”, 170; “Autonomic” Nº C4 complete, 167; “L’Autonomo”, 168; moteur à gas-pauvre, 251
Motores, 72, 162, 252, 281; a Gaz pobre, 136; das bombas, 143; de 150 cavallos, 143; elletricos, 143, 163; a vapor, 72; a agua,
162
Moulins, 401, 402, 404, 406; de repression, 135, 400, 155
Moussogène, 165
Natilateur à haute pression genre Sautter Harlé, 157
Pano de Filtros-Presses de S.ta Iria, 374
Panos para os filtros presses, 152, 176, 179, 182, 241, 311, 314, 323, 327, 348, 364, 391
Pasteurisateur, 280
Peneiro, 383
Pistons da agua, 70
Poches filtrantes, 75, 151
Poços, 73, 74, 78, 79, 84, 94, 97, 106, 113, 118, 125, 127, 136, 147, 210, 263, 271, 314, 315, 323, 389; da serragem, 149; em
cimento armado, 200, 282, 286, 389
Pompes, 141, 142, 156, 157, 401; à masse cuite, 157; à Melasse Cuite, 157; à piston, 168; á vide, 243; en cuivre, 167;
Guillebeaud type G n.º 0, 402; petite à air comprimee, 244; sèche, 140
Poulés, 76; machina franceza, 76; machina ingleza, 76
Pratos (fundos) dos engenhos, 192
Presse à travail, 168
Pressoirs, 162, 167, 169, 170; à pommes, 167; á vin, 169
Provettas (violetas) dos retificadores, 182
Quarez, 164, 165, 211; continuo, 161
Quadruple-effet, 234, 284, 292, 303, 310, 325, 335, 336, 337, 342, 345, 346, 358, 363, 371, 373, 376, 377, 378, 379, 380, 383,
384, 386, 388
Ralos dos tanques da garapa, 335
Râpe Pellet, 75
Rechauffeurs, 135, 140, 142, 161, 162, 286, 291, 292, 299, 317, 335, 404, 408; da diffusão, 75, 154; para o Kestner, 142; da
garapa (defecadores), 335; de 30 metros quadrados de surface de chauffe de 8 circulações, 161; tubulaires, 404; -
defecadores, 291, 292, 325
Rectificateur, 397
Redomas em vidro, 182, 184
Refinarias, 84, 233, 238, 261, 309, 326, 339, 341, 342, 344, 346, 347, 349, 353; Mechanicas, 295; d’açucar, 203, 309, 352; de
Santa Iria, 309, 349, 351, 352, 375
416
Refrigerantes, 180, 207, 253; réfrigérants, 140, 141, 209, 253, 397, 409; Guillebeaud, 207, 209, 402; tubulaire de la columne
de retification, 184; novo de Guillebeaud, 286
Regulador, 142
Repassador, 371
Reservatorios, 148, 177
Retificadores, 63, 182, 210, 211, 270, 312, 319, 366, 378, 410, 411; Barbet, 381; continuo, 397
Saccarimetro, 388
Saccharificador de cobre, 286
Saccharimetro Galloi, 353
Saccharometre, 330
Sacos dos filtros, 99, 152, 179, 241, 374
Seccador de assucar, 326, 342, 343, 368, 369
Selenifuge, 136
Separador, 336
Serra, 73
Sou-batteries de 6 diffusores, 154
Soutiragem do jus, 139
Strainer, 291
Sulfitadores, 149, 164, 190, 192, 291, 303, 342, 347, 381; da garapa, 76, 139; Lacouteur, 164; Quarez, 149, 164; (medidores),
190; de ferro fundido, 347, 373; -alcalinisadores, 319
Sulfiteur, 404; -doseur, 382, 383
Systema; de diffusão, 87; da refinação, 210; de “Reglage de la baterie á Vitesse Uniforme”, 138; compreção do vapor do jus
pelo processo Puache e Ruillon, 143; de filtração total do jus, 309; de polarimetro, 386; de tratamento das garapas e jus
de diffusão, 384; Hinton-Naudet (modificado), 335, 347; marais para a extração das aguas do triple, 135; de M. Fernbach,
58;
Tamis, 385; das turbinas, 152; fino da parte filtrante, 210
Tampo do cylindro do vacuo, 326, 336
Tanques, 57, 66, 74, 110, 124, 143, 146, 147, 149, 150, 153, 242, 263, 273, 291, 315, 326, 335, 370, 377, 384, 389, 392, 393;
de agua, 80, 345; de dois compartimentos onde será alcanilisada, 149; de reserva, 336; grandes, 110, 121, 122, 144, 153,
176, 177, 178, 183, 195, 201, 203, 214, 232, 245, 264, 273, 279, 282, 283, 291, 295, 296, 297, 313, 316, 327, 329, 356,
366, 367, 368, 388, 392; para agua com aquecimento com uma cerpentina, 345; pequeno por baixo do elevador do
bagaço, 392; da aguardente, 232, 356; da destillaria, 279, 356; da sulfitação do xarope, 354; de alcalinisação, 135; de
alcool, 119, 143, 366, 391, 392; de cimento, 323; de ferro, 92, 100, 106, 144, 323, 342, 389; de sulfitação, 291, 342, 382;
do xarope, 388; dos egouts, 149, 150, 151; para melaço, 164, 371, 385, 388, 391; quadrados, 306; redondos, 319
Tecido filtrante, 158, 202, 211, 350
Tenda, 73, 389
Tenden completo dos engenhos, 303; de 4 engenhos, 303
Thermometros, 182, 184, 187; thermometres, 81, 184, 185, 212, 295, 305
Torneiras, 64, 74, 164, 195, 210, 241, 291, 325, 335; que fecha o vacu da Caldeira Franceza, 75; de comonicação entre cubas,
298; de ferro fundido, 65; de gaveta de latão, 210; -valvulas, 137; de vapor, 74
Torre; d’agua, 408; do Aermotor, 57
Touloir et pressoir, 170
Triple-effet, 69, 70, 71, 73, 74, 75, 94, 102, 121, 127, 133, 134, 135, 139, 140, 142, 143, 147, 154, 155, 156, 162, 164, 175,
176, 188, 192, 195, 211, 234, 238, 292, 307, 311, 313, 317, 319, 323, 335, 355, 371, 403, 408; antigo, 150; transformado
em Quadruple, 310; com 320 ou 350 metros quadrados de superfice de evaporação, 162
Trop-plein, 336
Tubos, 70, 75, 134, 164, 165, 207, 252, 269, 270, 271, 284, 326, 335, 336, 342, 345, 355, 376, 380, 383; central, 376de descarga
da soda e acido do Triple, 195; geral do vapor, 73; para o ár comprimido, 354; de cobre, 67, 136; de garapa ou jus, 195;
que conduzia a garapa da C.ª Nova para o Torreão, 310; geral do vacuo, 326; de vacuo, 336
Turbinas, 72, 76, 84, 103, 152, 163, 188, 202, 275, 330, 335, 342, 343, 344, 346, 347; de Gee, 233; Hignette, 256; (centrifugas),
77; (centrifugas) systema “Watson”, 162; da Melasse Cuite (centrifugas), 408; Watson com motor elletrico, 163;
“Weston”, 77
Turbo-compresseur, 156
Tuyau d’espiration, 141
417
Tuyauteries, 140, 141, 168, 251
Valvulas, 165; de segurança, 142; du croquis, 156; Dulac, 75; reguladora de sahida da garapa evaporada no Kestner, 142;
reguladora de vapor directo, 142; ou robinettes à tiroir, 165; para a diffusão, 143
Violettas em latão, 184
418