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VIEIRA, Alberto(ed.) (2005), João Higino Ferraz, copiadores de Cartas(1898-1937), Funchal, CEHA-
Biblioteca Digital, disponível em: http://www.madeira-edu.pt/Portals/31/CEHA/bdigital/avieira/2005-
jhferraz-cartas.pdf, data da visita: / /
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JOÃO HIGINO FERRAZ
Go v e r n o R eg io n al d a M a d eira
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JOÃO HIGINO FERRAZ
Go v e r n o R eg io n al d a M a d eira
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TÍTULO
JOÃO HIGINO FERRAZ. COPIADORES DE CARTAS (1898-1937)
1ª Edição
Dezembro de 2005
AUTOR
©ALBERTO VIEIRA
FILIPE dos SANTOS
EDIÇÃO
CENTRO DE ESTUDOS DE HISTÓRIA DO ATLÂNTICO
RUA DOS FERREIROS, 165, 9004-520 FUNCHAL
TELEF. 291-229635/FAX: 291-223002
Email: ceha@avieira.net.
Webpage: http://www.ceha-madeira.net
TIRAGEM
2000 exemplares
CAPA
IMPRESSÃO
DEPÓSITO LEGAL
ISBN 972-8263-39-2
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INDICE GERAL
APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO
CONCLUSÃO.
A DOCUMENTAÇÃO
NORMAS DE TRANSCRIÇÃO
CARTAS AVULSAS
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INTRODUÇÃO
A publicação do presente volume enquadra-se na politica definida pelo CEHA de divulgar e salvaguardar o que de mais
significativo temos no nosso património histórico documental, com relevo para as investigações históricas presentes. A aposta
na temática açucareira levou-nos a descobrir um espólio privado muito precioso no entendimento da História do Açúcar no
século XX na Madeira. Graças ao trabalho meticuloso de João Higino Ferraz hoje é possível saber parte da realidade açucareira
da primeira metade do século XX. O conjunto documental assume desusado interesse por ser até ao momento o único conhecido
no panorama açucareiro mundial. Daí resultou o empenho na publicação do acervo, composto de cartas e livros de notas.
A leitura desta informação, pelo facto de assumir um carácter privado, tem o condão de nos revelar realidades que por vezes
a documentação oficial ou os jornais não nos permitem ver nem tão pouco induzir. A partir dela sabemos quais as actuações nos
bastidores da politica local e nacional no sentido de fazer vingar ou perpetuar certos interesses preferenciais. Por outro lado
podemos ainda mergulhar no dia à dia do engenho acompanhando as dificuldades da maquinaria, as análises laboratorias, em
suma a preocupação sempre presente de fazer com que do produto laborado se pudesse retirar o maior rendimento. Neste campo
a preocupação com a inovação tecnológica é uma constante.
A descoberta deste precioso espólio só se tornou possível graças ao empenho dos familiares de João Higino Ferraz,
nomeadamente Francisco Clode Ferraz, que souberam guardar as recordações de um ente querido. Por isso, à família o nosso
maior agradecimento pela disponibilidade dos originais e pelas possibilidades abertas quanto à sua divulgação e publicação em
livro. Esta será sem dúvida uma das mais justas homenagens que se poderá prestar a um madeirense, que dedicou toda a sua
vida a lutar por conseguir que a sua terra estivesse no seio das inovações tecnológicas, que permitiam um maior aproveitamento
dos parcos recursos que a ilha é capaz de fornecer. A nossa esperança é a de que, ao mesmo tempo, a publicação dos escritos
seja uma forma de reconhecimento por parte da sociedade do labor, craveira intelectual e científica de João Higino Ferraz, cujo
nome se mantem esquecido e deverá ser merecedor da homenagem e permanente lembrança por parte de todos nós.
A presente publicação enquadra-se dentro de uma das linhas de investigação prioritárias do CEHA, apoiada por outras
iniciativas como a criação da Associação Internacional de História e Civilização do Açúcar em 2002 e o projecto Atlântica: o
Açúcar e a Cultura nas ilhas Atlânticas [2003-2005], uma iniciativa no âmbito do projecto INTERREG IIIB, da União Europeia,
realizado em cooperação com diversas entidades das Canárias.
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O AÇÚCAR E A TECNOLOGIA NO ESPAÇO ATLÂNTICO
A cana-de-açúcar é de todas as plantas domesticadas pelo Homem aquela que teve mais implicações na História da
Humanidade. Até hoje são evidentes as transformações operadas na agricultura, técnica, química e siderurgia, por força da
cultura da cana sacarina, beterraba e da produção de açúcar, mel, aguardente, álcool e rum. O percurso multissecular, desde a
descoberta remota na Papua (Nova Guiné) há 12.000 anos, evidência esta realidade. A chegada ao Atlântico, no século XV,
provocou o maior fenómeno migratório, que foi a escravatura de milhões de africanos, e teve repercussões evidentes na cultura
literária, musical e lúdica. Foi também no Atlântico que a cultura atingiu a plena afirmação económica, assumindo uma posição
dominante no sistema de trocas.
O açúcar é, entre todos os produtos que acompanharam a expansão europeia, o que moldou, com maior relevo, a
mundividência quotidiana das novas sociedades e economias que, em muitos casos, se afirmaram como resultado dele. A cana
sacarina, pelas especificidades do cultivo, especialização e morosidade do processo de transformação em açúcar, implicou uma
vivência particular, assente num específico complexo sócio-cultural da vida e convivência humana.
A rota do açúcar, na transmigração do Mediterrâneo para o Atlântico, tem na Madeira a principal escala. Foi na ilha que a
planta se adaptou ao novo ecossistema e deu mostras da elevada qualidade e rendibilidade. Deste modo a quem quer que seja
que se abalance a uma descoberta dos canaviais e do açúcar, na mais vetusta origem no século XV, tem obrigatoriamente que
passar pela ilha. Foi aqui que se definiram os primeiros contornos desta realidade, que teve plena afirmação nas Antilhas e
Brasil. A cana-de-açúcar iniciou a expansão atlântica na Madeira.
A segunda metade do século XIX foi um dos momentos mais significativos da plena afirmação do açúcar no mercado
mundial. A vulgarização do produto fez multiplicar o consumo e obrigou ao aumento da produção e consequente alargamento
das áreas produtoras. Para isso foi necessário adequar o processo tecnológico às exigências do mercado, surgindo significativas
inovações. A Madeira, que nos séculos XV e XVI havia contribuído para uma revolução no processo de fabrico do açúcar, volta
a estar de novo na linha da frente das inovações industriais. Algumas inovações significativas do processo da moenda e fabrico
do açúcar ou aguardente tiveram a ilha como palco, por força do engenho e arte de alguns técnicos açucareiros, como foi o caso
de João Higino Ferraz. Por força do seu empenho a ilha e de forma especial o engenho em que trabalhava serviram de campo
de ensaio para a experimentação das novas técnicas usadas na produção de açúcar a partir da beterraba.
O Açúcar pode muito bem ser considerado uma conquista do mudo islâmico e budista1, tal como o pão e o vinho o são do
cristianismo. O factor religioso foi fundamental na afirmação e divulgação do produto, daqui resultará a cada vez maior
afirmação a partir dos primeiros séculos da nossa era. A cana sacarina (saccharum officinarum) terá sido domesticada há cerca
de 12.000 anos na Papua (Nova Guiné). Entre 1500 AC e 500 DC a cultura espalhou-se pela Polinésia e Melanésia, mas foi na
Índia que adquiriu maior importância, expandindo-se entre o século I e VI DC. Foi aí que os europeus tomaram contacto com
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o produto e cultura, começando o comércio e depois com o transplante da cultura para os vales dos rios Tigre e Eufrates. Aqui,
os árabes tiveram conhecimento da cultura e levaram-na consigo para o Egipto, Chipre, Sicília, Marrocos e Valência. Foi no
culminar da expansão árabe no Ocidente que a Madeira serviu de trampolim da cultura para o Atlântico, situação que foi o início
da fase mais importante da História do açúcar.
O açúcar é, entre todos os produtos que no Ocidente se atribuiu valor comercial, o que foi alvo de maiores inovações no seu
fabrico. Note-se que no caso do fabrico do vinho a tecnologia pouco ou nada mudou desde o tempo dos Romanos. Várias
condicionantes favoreceram a necessidade de permanente actualização, situação que se tornou mais clara no século XVIII com
a concorrência da beterraba. Mesmo assim ainda hoje persistem em alguns recantos do Mundo, na China, Índia ou Brasil, onde
a tecnologia da revolução industrial ainda não entrou.
O fabrico do açúcar está limitado pela situação e ciclo vegetativo da planta. A cana sacarina tem um período útil de vida em
que a percentagem de sacarose era mais elevada. A cana estava pronta para ser colhida e a partir daqui um dia que passasse era
uma perda para o produto. Acresce que a cana depois de cortada tem pouco mais de 48 horas para ser moída e cozida, pois caso
contrário começa a perder sacarose e inicia o processo de fermentação. Daqui resulta a necessidade de acelerar o processo de
fabrico do açúcar através de constantes inovações tecnológicas que cobrem o processo de corte, esmagamento e cozedura. A
isto junta-se o aumento da mão-de-obra, que se faz à custa de escravos africanos. A cana-de-açúcar não está na origem da
escravidão africana mas no processo de afirmação a partir da Madeira.
Enquanto a cultura se fazia em pequenas parcelas a maior parte das questões não se colocavam, mas quando se avançou para
uma produção em larga escala houve necessidade de encontrar soluções capazes de debelar a situação. A viragem aconteceu a
partir de meados do século XV na Madeira e deverá ter implicado mudanças radicais na tecnologia usada e na afirmação da
escravatura dos indígenas das Canárias e dos negros da Costa da Guiné. É por isso que se assinala a partir da Madeira
importantes inovações tecnológicas no sistema de moenda da cana com a generalização do sistema de cilindros.
A história tecnológica evidencia que a expansão europeia condicionou a divulgação de técnicas e permitiu a invenção de
novas que contribuíram para revolucionar a economia mundial. Os homens que circularam no espaço atlântico foram portadores
de uma cultura tecnológica que divulgaram nos quatro cantos e adaptaram às condições dos espaços de povoamento agrícola.
Aos madeirenses foi atribuída uma missão especial nos primórdios do processo.
Na Madeira, um dos aspectos mais evidentes, da revolução tecnológica iniciada no século XV prende-se com a capacidade
do europeu em adaptar as técnicas de transformação conhecidas a circunstâncias e exigências de culturas e produtos tão
exigentes como a cana e o açúcar. O tributo foi evidente. Ao vinho foi-se buscar a prensa, ao azeite e aos cereais a mó de pedra.
Por outro lado estamos perante uma permuta constante de processos tecnológicos e formas de aproveitamento das diversas
fontes de energia. A tracção animal, a força motriz do vento e da água foram usadas em simultâneo com os cereais e cana
sacarina. Por vezes a mesma estrutura assume uma dupla função. Sucedeu assim na Madeira, com o engenho da Ribeira Brava,
hoje Museu Etnográfico, onde a estrutura de aproveitamento da força motriz da água servia um engenho de cana e um moinho
de cereais2.
Até ao século XVIII torna-se difícil atribuir a paternidade das inovações que acontecem no fabrico do açúcar. Estamos
perante inventores anónimos que apenas se comprazem pelos benefícios económicos da sua capacidade inventiva. Mas, a partir
de então tudo parece ter mudado. O espírito nacionalista e independentista favoreceram a paternidade dos inventos. Os Estados
Unidos da América foram o principal promotor desta politica e valorização da capacidade inventiva. As patentes sucedem-se
em catadupa e os autores são heróis recebidos triunfalmente pela imprensa. O inventor sai do anonimato e afirma-se como um
herói na imprensa, como alimenta o ego através de memórias descritivas dos inventos3. É nos Estados Unidos da América que
encontramos o maior número de patentes, mas foi na Inglaterra e em França que surgiram as grandes fábricas de indústria
pesada, especializadas em equipamentos e na montagem dos engenhos de açúcar4. As exposições universais da segunda metade
da centúria oitocentista foram momentos privilegiados de exibição destes inventos.
As mudanças ocorridas a partir de finais do século XVIII, com a plena afirmação da máquina a vapor, conduziram a uma
transformação radical do complexo açucareiro que assume a dimensão espacial de uma fábrica, onde todas as operações se
executam em série. A revolução industrial legou-nos a fábrica, fez aparecer o laboratório, uma peça chave no fabrico do açúcar,
e obrigou a uma especialização dos técnicos envolvidos. O mestre de engenho dá lugar ao engenheiro químico. Paulatinamente
o processo de transformação da cana sacarina em açúcar retirou espaço à presença de mão-de-obra escrava, fazendo-a substituir
por emigrantes europeus, indianos e chineses. No inventário industrial da Madeira de 1907 é assinalado apenas um químico na
fábrica do Torreão, com o salário mais elevado de todos os técnicos. Mesmo superior aos engenheiros e cozedores, mantendo
as demais 43 fábricas uma estrutura funcional da época pré-industrial5.
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A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E O AÇÚCAR
Até ao advento do açúcar de beterraba em princípios do século XIX a tecnologia de moenda e fabrico do açúcar não sofreu
muitas modificações. Ao nível da moagem da cana houve necessidade de compatibilizar as estruturas com a expansão da área
e o volume de cana moída, avançando-se assim dos ancestrais sistemas para a adaptação dos cilindros. Entre os séculos XV e
XVII as inovações mais significativas ocorrem aqui. Os cilindros passam a dominar todos os sistemas, de tracção animal,
humana, vento e água, destronando o pilão, o almofariz e a mó. Do simples mecanismo de cilindros duplos horizontais, evolui-
se para os verticais, que no século XVII passam a ser três, o que permite uma maior capacidade de moenda e aproveitamento
do suco da cana. Com os dois cilindros poder-se-á aproveitar apenas 20% do suco da cana, enquanto com três até 35%. As
técnicas experimentadas na moenda vão no sentido de um maior aproveitamento do suco disponível no bagaço da cana. A
situação de Cuba na década de setenta do século XIX pode ser elucidativa da realidade6.
Uma maior capacidade na moenda implica maior disponibilidade de garapa a ser processada para se poder dispor do melado
ou do açúcar. Uma situação empurra a outra conduzindo a soluções cada vez mais avançadas. As dificuldades com a obtenção
de lenhas ou os elevados custos do transporte até ao local do engenho conduzem a soluções que paulatinamente vão sendo
adoptadas por todos. Primeiro reaproveita-se o bagaço da cana e depois através de um mecanismo de fornalha única consegue-
se alimentar as cinco caldeiras de cozimento. O sistema ficou conhecido por trem jamaicano, por, segundo alguns, ter tido aí
origem, mas na verdade temos informação do seu uso, não tão apurado na Madeira e Canárias, no século XVI. Em 1530 Giulio
Landi descreve o sistema de fabrico de açúcar com cinco caldeiras agrupadas.
Jamaica esteve na frente das inovações da tecnologia açucareira a partir da segunda metade do século XVIII. São os ingleses
que dão o passo definitivo para a mudança radical através da introdução da máquina a vapor. O primeiro engenho horizontal de
tipo moderno foi desenhado em 1754 por John Smeaton na Jamaica, recebendo a partir de 1770 o impulso da máquina a vapor.
A nova tecnologia, que se aperfeiçoou com o andar dos tempos, poderá acoplar até 18 cilindros em sistema de tambor, tornando
mais rápida e útil a moenda. Com cinco cilindros o aproveitamento do suco pode ir até 90%, enquanto que com os tambores de
18 cilindros quase se atinge a exaustão com 98%. Por outro lado nos engenhos tradicionais a média de moenda por 24 horas
não ultrapassava as 125 toneladas, enquanto que com o novo sistema a vapor começa por atingir mais de três mil toneladas de
cana.
Outro factor significativo da safra prendia-se com a velocidade a que o processo da moenda da cana deveria ocorrer, mais
uma vez no sentido de se retirar o maior rendimento da cana através da sacarose. A cana tem um momento ideal para ser moída
e depois de cortada os prazos para a moenda são curtos, caso queira evitar-se a fermentação, que é sinónimo de perda de
sacarose7. Nos avanços tecnológicos tem-se em conta esta corrida contra o tempo, criando-se mecanismos capazes de moer cana
com maior rapidez8.
Até aos inícios do século XIX o processo poderia durar de 50 a 60 dias, mas as aportações tecnológicas, conduziram a que
o mesmo se passasse a fazer em apenas um mês em 1830 e apenas em 16 horas em 1860, através do novo sistema de
centrifugação. As primeiras mudanças ocorrem ao nível do processo de clarificação. Em 1805 Guillon, refinador do açúcar em
New Orleans preconiza o uso do carvão para purga do xarope, em 1812 Edward Charles Howard constrói a primeira caldeira
de vacuum, conhecida como “howard saccharine evaporator”, que veio revolucionar o sistema de fabrico do açúcar. Três anos
depois surge em Inglaterra o sistema de filtros de Taylor. O evaporador de múltiplo efeito foi inventado em 1830 por Norbert
Rillius [1806-1894] de New Orleans, sendo usado nos primeiros engenhos desde 18349. Deste modo torna-se mais fácil a
retirada de cerca de 85% de água que existe no suco da cana e um maior aproveitamento do açúcar. As novidades na clarificação
e cristalização ocorrem num segundo momento. Assim, em 1844 o alemão Schottler aplicou pela primeira vez a força centrífuga
na separação do melaço do açúcar branco, mas foi Soyrig quem construiu em 1849 a primeira máquina de centrifugação, que
abriu o caminho para o fabrico do primeiro açúcar granulado, em 1859. Este sistema vinha sendo utilizado desde 1843 na
indústria têxtil. Os equipamentos contribuíram para acelerar o processo de purga do açúcar permitindo que se passasse do
moroso processo de quase dois meses para apenas 16 horas e hoje em apenas alguns segundos.
A segunda metade do século XIX foi o momento da aposta definitiva na engenharia açucareira, contribuindo para
importantes inovações10. O mercado ocidental foi inundado de açúcar de cana e beterraba. O desenvolvimento da indústria de
construção de equipamentos para o fabrico de açúcar, seja de cana ou de beterraba, aconteceu em países onde esta assumia uma
posição significativa na economia. Deste modo a França e a Inglaterra assumiram a posição pioneira no desenvolvimento da
tecnologia açúcareira. Os Franceses detinham importantes colónias açucareiras nas Antilhas, enquanto os Alemães apostavam
forte em Java. Os ingleses surgem por força das colonias nas Antilhas e Índia e os Estados Unidos da América com New Orleans
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e, depois o Havai. Cuba foi um dos espaços açucareiros onde mais se inovou em termos tecnológicos. As primeiras décadas do
século XIX foram de plena afirmação da ilha, que se transformou em modelo para a indústria açucareira.
Em França tudo começou com o químico Charles Derosne (1779-1846) que montou em 1812 uma fábrica de construção de
aparelhos de destilação continua. Nesta empresa passou a trabalhar em 1824 J. F. Cail na qualidade de operário de carvão, que
em 4 de Março de 1836 passa à condição de associado. A sociedade Derosne et Cail11 manteve-se até 1850, altura em que passou
a chamar-se J. F. Cail et Cie, que em 1861 passou a cooperar com a nova Cie Fives-Lille, especializada no fabrico de
equipamentos para fábricas de açúcar e caminhos-de-ferro12. Os equipamentos, saídos da empresa Cail, chegaram às colónias
holandesas, espanholas, inglesas e francesas, México, Rússia, Áustria, Holanda, Bélgica e Egipto. À indústria francesa
juntaram-se outros complexos industriais na Europa: Inglaterra (Glasgow, Birmingham, Nottingham, London, Manchester,
Derby), Holanda (Breda, Roterdão, Schiedam, Ultrecht, Delft, Hengelo, Amsterdam), Estados Unidos da América (Oil City,
Ohio, Denver, New Jersey), Alemanha (Magdeburgo, Zweibruecken, Halle, Dusseldorf, Sangerhausen, Ratingen, Halle),
Bélgica (Bruxelas, Tirlemont). A Inglaterra foi desde meados do século XVII um dos mais importantes centros de refinação de
açúcar na Europa. As refinarias proliferam nas cidades de Bristol, Essex, Greenock, Lancaster, Liverpool e Southampton13. Isto
justifica o desenvolvimento tecnológico. Aqui, merece destaque a iniciativa de Mirless Watson14.
A abertura às inovações tecnológicas, como forma de tornar concorrencial o produto, acarreta algumas consequências para
a indústria ao nível nacional. Os investimentos são vultuosos e, por isso mesmo só se tornam possíveis mediante incentivos do
Estado. A inovação e recuperação da capacidade concorrencial só se tornaram possível à custa da concentração. Tanto em Cuba
como no Brasil a década de oitenta foi marcada pelos grandes engenhos centrais15.
A concorrência do açúcar é cada vez mais evidente obrigando as autoridades nacionais a intervir no sentido da defesa das
suas culturas e indústrias. A política proteccionista iniciada pelos Estados Unidos da América alastrou a todo o mundo
açucareiro16. Se o século XIX foi o momento da aposta na tecnologia, a centúria seguinte será marcada pela política açucareira.
Ao nível internacional reúne-se uma convenção em Bruxelas, em 1902 e 1929, no sentido de limitar o apoio financeiro do
estado e medidas de defesa e proteccionistas dos diversos estados produtores de cana e açúcar. Entretanto em 1937 a Sugar
Organization procura estabilizar o mercado através do estabelecimento de cotas que acabaram em 1977. Desde a década de
setenta persiste o enfrentamento entre o comércio livre e a politica proteccionista dos estados.
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A QUESTÃO HINTON
Na segunda metade do século XIX, a crise da produção do vinho fez com que a cultura se apresentasse como a resposta
adequada à perda de importância da vinha, assumindo o papel de “cultura rica” na agricultura madeirense. A intervenção deu
lugar ao chamado “proteccionismo sacarino” que desembocou naquilo que ficou depois conhecido como a “questão Hinton”.
A conturbada situação política de finais do século XIX e princípios do século XX favoreceu o debate político em torno da
questão sacarina que o Estado Novo apaziguou. As condições do mercado mundial obrigavam à intervenção das autoridades,
pois caso contrário a produção madeirense estava condenada, com inevitável prejuízo para os agricultores. As dificuldades
económicas tornavam a iniciativa do Estado cada vez mais útil e necessária, caso se pretende-se atalhar a constante tendência
à emigração do mundo rural.
A produção mundial de açúcar, a partir da segunda metade do século XIX, passou a estar sob um controlo apertado das
autoridades e grupos económicos. O consumo, que se generalizou a todos os grupos sociais nesta época, não foi suficiente para
atender à elevada oferta do produto. A tecnologia permitiu um melhor aproveitamento da sacarose disponível na cana, ao mesmo
tempo que a área de cultivo se alargou a novos espaços, contando ainda com a concorrência feroz da beterraba europeia. Em
finais da centúria os preços do açúcar desceram a níveis nunca atingidos. Para isso terá contribuído a política de subsídios à
cultura e produção de açúcar de beterraba por alguns países europeus, como a França e Alemanha. As diversas convenções
internacionais nunca conseguiram frenar a feroz e desigual concorrência do mercado do açúcar. Atente-se que a conferência de
Bruxelas de 1901-02 ao conseguir estabelecer a supressão dos subsídios à produção foi uma medida importante para a retoma
dos preços.
Portugal não ficou alheio à política proteccionista dos governos, sendo a economia dos séculos XIX e XX alimentada por
fortes medidas de protecção e favorecimento face à concorrência estrangeira. Ficou célebre a politica de proteccionismo
cerealífero a partir de 1889. O regime, implantado em 1926, tinha bem entranhado a cultura do proteccionismo.
Os inícios do segundo momento da cultura açucareira na ilha foram acompanhados de medidas favorecedoras. Assim, em
15
1855 e 1858 oneram-se os direitos de importação de mel, melado e melaço, enquanto em 1870, 1876, 1881 e 1886 se favoreciam
a entrada do açúcar madeirense no continente e Açores através da redução ou isenção dos direitos de entrada.
Atendendo às dificuldades criadas com a crise da lavoura açucareira, provocada pelo ataque do fungo conyothurium
melasporum, pelo que o Governo interveio no sentido da preservação. A aposta era fazer da cultura da cana-de-açúcar um
elemento revitalizador da agricultura madeirense. Em 1888 avançou-se decisivamente na protecção e replantação de novas
variedades, resistentes às doenças e mais produtivas, criando-se uma estação experimental dedicada ao estudo da cultura.
Tivemos outro decreto em 1895, conhecido como “regímen saccharino da Madeira”, que regulamentou o processo de laboração
da cana e o fabrico de aguardente. Assim, as fábricas matriculadas obrigavam-se à aquisição de toda a cana produzida de acordo
com o preço estabelecido. Em compensação tinham redução de 50% nos direitos de importação do melaço para fabrico de álcool
usado na fortificação dos vinhos. Seguiram-se ao logo dos tempos outros decretos: 1903, 1904, 1909, 191117.
Em 1903, novo decreto revela as dificuldades do cultivo da cana e os custos elevados que acarreta para justificar ao aumento
dos preços mínimos. A compra de toda a cana é conseguida mediante compensações do Estado. As fábricas matriculadas
estavam obrigadas a comprar todos os saldos da aguardente manifestados até 31 de Dezembro, de forma a evitar a concorrência
com o álcool feito de melaço importado. Acontece que as fábricas de açúcar e álcool deixaram de comprar os saldos aos
fabricantes de aguardente, dando uma compensação de 100 réis ao galão, o que acabou por criar uma situação insustentável.
O decreto de 11 de Março de 1911 pretendeu estabelecer um travão no consumo excessivo de aguardente, que se havia
transformado num prejuízo para a saúde pública. Abrindo a porta para uma solução drástica, estabelecida pelo decreto de 1919.
A aposta estava na reconversão dos canaviais pela vinha de castas europeias e no controlo da produção e consumo de
aguardente. Neste caso seria determinante a medida delimitadora da produção anual para 20.000 litros ano e o encerramento
em 1930 de todas as fábricas de aguardente que não tivessem sede nos concelhos da costa Norte. Mas o decreto de 14 de Abril
de 1924 aumenta o limite da produção de aguardente para 500.000 litros. O que obrigou à emenda de 1927, com o encerramento
de todas as fábricas de aguardente do sul, ficando a Junta Geral com o encargo de venda da aguardente.
O Dr. Oliveira Salazar, no preâmbulo do decreto de 1928 define de forma clara os efeitos do anterior decreto, responsável
pelo monopólio da compra de toda a cana do Sul, do fabrico de açúcar, do álcool para vinhos ou desdobramento, da importação
de melaço e açúcar em bruto das províncias ultramarinas, concluindo que “a agricultura, toda a economia da Madeira, a
própria administração pública ficariam mais do que nunca na dependência das fábricas de açúcar e de álcool.”18. Em face
disto surgiram diversos decretos no sentido de diminuir o consumo de álcool, protecção da cultura, punição dos abusos e defesa
intransigente dos interesses públicos. O novo regime sacarino assentava nos seguintes aspectos:
1.Um regime fiscal que ia ao encontro da defesa da saúde pública e dos interesses da economia local. Assim a importação
de açúcar está sujeita ao pagamento de direitos, ao mesmo tempo que se proíbe a entrada de bebidas alcoólicas.
2. A cultura da cana ficava limitada à necessária para satisfazer as necessidades da ilha em açúcar, aguardente, álcool e mel,
mantendo-se o preço fixo e a obrigatoriedade da compra pelas fábricas.
3. As fábricas de açúcar e álcool ficam limitadas ao concelho do Funchal e todo o produto laborado deverá ser da produção
regional. O álcool com 40º cartier era vendido na totalidade à alfândega, que depois procedia à revenda.
4. O fabrico de aguardente, desde 1938 em regime de concentração, em três fábricas, seria entregue à Delegação da Junta
Nacional do Vinho da Madeira para ser comercializado.
O regime de protecção com preços tabelados de compra da cana deixou de existir a partir de 1920. A medida, não obstante
garantir ao agricultor o escoamento da totalidade da produção, criava uma situação de subordinação ao engenho do Torreão.
Antes de 1895 o lavrador tinha liberdade de mandar moer por sua conta a cana e fabricar açúcar que depois vendia, mas com
as medidas proteccionistas passou a estar obrigado à venda da produção às fábricas matriculadas.
Os resultados da política começaram no imediato a fazer-se sentir com o incremento da área de cana. A ilha, que em 1886
deixara de exportar açúcarpassando mesmo a importá-lo, entrou no novo século satisfazendo as suas necessidades de açúcar e
álcool e criando um excedente para exportação. Em 1907 saia o primeiro açúcar da ilha para o continente, usufruindo de
privilégios fiscais.
Acontece que dos engenhos existentes na ilha apenas se matricularam as fábricas de W. Hinton & Sons e de José Júlio de
Lemos. Isto iria dar azo a acesa polémica, quando em 1903 surgiu novo decreto que apenas as favoreceu. No ano imediato novo
decreto consolida a situação, estabelecendo um contrato inalterável até 1919, o que permitiu algumas inovações tecnológicas.
Entretanto em 1915 uma representação de cerca de 4000 proprietários e agricultores reclamava a favor da conservação do
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regímen sacarino. Isto justificava-se pela situação em que se encontrava a ilha: “A viticultura não pode readquirir a sua antiga
prosperidade, pela decadencia dos preços dos vinhos, suja exportação crescia pouquíssimo antes da guerra. A generalização
das árvores de fructo ricas levaria longos annos e é praticamente impossível por falta de capitães e de outros elementos e
circumstancias que seriam essenciaes a uma transformação cultural dessa natureza.
As plantações saccharinas, que representam grandes capitalisações e teem um alto valor, devem continuar necessariamente
garantidas com as condições actuaes de existência”.19
Em 1927 outro grupo de 3.535 proprietários, agricultores e consumidores reclamavam a preservação do decreto nº.14.168,
considerado medida salutar face aos anteriores diplomas de 1911 e 1919 que estabeleciam medidas restritivas ao fabrico de
aguardente.20 Procurava-se travar o consumo exagerado de aguardente na Madeira, que por isso havia recebido o epíteto de ilha
da aguardente.
Transporte da cana ao engenho e Festa do fim da safra. Fotografia Vicentes, Museu de Photographia Vicentes
Durante a República e no Estado Novo a cultura da cana manteve-se lado a lado com a da vinha como uma preocupação
permanente. Em 1935, numa carta que o Dr. Oliveira Salazar escreveu ao Presidente da Junta Geral, o Dr. João Abel de Freitas,
é evidente a insistência na defesa da cultura. “O regime a executar deve ser o decretado em maio do ano findo. Foram feitas
muitas reclamações que examinei com cuidado; apenas duas me pareceram susceptíveis de deferimento e não ainda assim
como era pedido: 1) como a Alfândega não poude fazer as comunicações a que a lei se referia sôbre a graduação da cana em
certos locais, tenho trabalhado um decreto a publicar imediatamente em que se prorroga por mais um ano o regime transitório
estabelecido para 34-35 no citado decreto; 2) no mesmo decreto se permite a renovação ou substituição dos canaviais até 60%
dos pés substituídos e da área ocupada. Estão no relatório do decreto do ano fíndo as razões porque se não permite a
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substituição integral. Se o consumo do açúcar não aumentar temos de baixar de 15% a 20% a produção de cana, e ainda é
preciso que esta seja tam rica como é êste ano, por causa da escassês das chuvas; 3) Os pedidos ou pretenções ou calculos dos
industriais de aguardente não podem ser tomados em consideração. É preciso convencê-los desta verdade: fabricam um artigo
que se não vende. Não é caso para qualquer indemnização por parte do Estado, nem para se consentir outra vez o
envenenamento dessa gente, como era de antes”.21
Passados cinco anos o então Governador Civil José Nosolini evindencia, mais uma vez, o carácter artificial da economia
açucareira. ”Esta produção foi-se mantendo, por um lado, mercê da exportação de assucar madeirense para o continente; por
outro lado mercê do desvio de fabrico de assucar para o de aguardente.” Deste modo a política do Governo de controlo da
produção de cana estava certa, uma vez que ”a cana sacarina a não ser em cultura muito restricta é perniciosa (…) Mas cana
de assucar, vinhos, bordados serão por muito tempo intransponíveis montanhas de dificuldades para a acção governativa.”22
Engenho do Hinton.2002
Dentro do contexto da política proteccionista merece lugar de relevo o debate em torno da “questão Hinton”, que animou o
meio político entre finais do século XIX e princípios do seguinte. Foi sem dúvida o problema que mais apaixonou a opinião
pública, nas vésperas e durante a República. Publicaram-se inúmeros folhetos, os jornais encheram-se de opiniões contra e a
favor23. O momento mais importante foi a polémica que em 1910 se ateou no Parlamento. Cesário Nunes24 documenta a situação
de forma lapidar: “Em Portugal nenhuma questão económica atingiu tão alta preponderância e trouxe então grandes
embaraços legislativos às entidades governativas como o problema sacarino da Madeira. “
Tudo começou em 23 de Março de 1879 com a inauguração da Companhia Fabril do Açúcar Madeirense. Era uma fábrica
de destilação de aguardente e de fabrico de açúcar sita à Ribeira de S. João. Demarcou-se das demais com o recurso a tecnologia
francesa, usufruindo dos inventos patenteados em 1875 pelo Visconde de Canavial. O cónego Feliciano João Teixeira25, sócio
do empreendimento no discurso de inauguração afirma ser este um “grandioso monumento, que abre uma época verdadeira-
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mente nova e grande na História da indústria fabril madeirense”. Isto foi apenas o princípio de um conflito industrial, onde
imperou a lei do mais forte. Tal como o afirmava em 1879, no momento do encerramento, José Marciliano da Silveira26 “ a
fábrica de são João foi cimentada com o veneno da maldade; era o seu fim dar cabo de todas as que existiam...”.
H. Manoury (engenheiro químico), L. Naudet (engenheiro químico) e João Higino Ferraz (director
Técnico do Torreão) e o chefe de bateria. 1907. Foto particular
A polémica ateou-se com o plágio por parte da família Hinton, da invenção do Visconde Canavial27, que havia patenteado
em 1870 um invento que consistia em lançar água sobre o bagaço, o que propiciava um maior aproveitamento do suco da cana.
Constava da patente o uso exclusivo pela fábrica de S. João, mas o engenho do Hinton cedo se apressou a copiar o sistema.
Com isso o lesado moveu em 1884 uma acção civil contra o contrafactor. A família Hinton ficou para a História como a autora
da inovação28, que como sabemos foi comum em vários espaços açucareiros.
Em 1902 a fábrica Hinton experimentou um novo sistema para o fabrico de açúcar por intervenção de León Naudet, que
ficou conhecido como sistema Hinton-Naudet, que consistia em submeter o bagaço a uma circulação forçada num aparelho de
difusão, conseguindo-se um ganho de mais 17% e a maior pureza da guarapa, evitando as defecadoras29. Esta intervenção
pioneira é sublinhada por inúmera bibliografia da especialidade30.
O engenheiro M. Naudet esteve no Torreão nos dias 21 e 22 de Junho de 1907 combinando com João Higino Ferraz a
instalação do sistema de difusão, o triple-effet e a caldeira “freitag”(cuite). Todavia, a montagem do novo maquinismo começou
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apenas em meados de Setembro, após a conclusão da safra. Até 1909 o técnico do Hinton manteve correspondência assídua no
sentido de esclarecer pormenores sobre a instalação dos diversos mecanismos. Na sequência disto João Higino Ferraz deslocou-
se a Paris para novo encontro com Naudet e visita a fábricas de açúcar de beterraba31.
A viragem da centúria implicou com a situação sacarina da ilha. A conjuntura económica mundial pôs em causa as condições
de privilégio conseguidas com a entrada do melaço, por força do aumento do preço e das diferenças cambiais da moeda. A “lei
que tantos benefícios trouxe à Madeira”32, aguardava por renovação. A fábrica Hinton, para poder afirmar-se vai montar uma
estratégia de aliciamento de políticos e uma campanha para limpar a imagem junto do público, através de textos e entrevistas
publicados nos principais jornais do Funchal, como o Diário de Noticias, Diário da Madeira e Diário do Comércio.
Paulatinamente estabelece-se uma teia de interesses que integra políticos locais e continentais, funcionários alfandegários e
mesmo o próprio Governador Civil. Nesta estratégia a função de João Higino Ferraz foi fundamental, com a de Harry Hinton,
em permanente rodopio entre o Funchal e Lisboa. A família Hinton conseguiu singrar na indústria açucareira a muito custo. A
conjuntura política conturbada condicionou a capacidade de persuasão. A visita de El Rei D. Carlos à ilha em 1901 poderá ter
sido um momento crucial33.
As medidas, que favoreciam a entrada de melaço, estabelecidas pela lei de 1895, associadas ao decreto de 1903,
determinavam a forma de matrícula das fábricas abriam as portas à concentração do sector. As condições eram de tal modo
lesivas que só duas - Hinton e José Júlio Lemos - o conseguiram fazer. As cerca de meia centena de fábricas que existiam na
ilha ficaram numa situação periclitante. O decreto de 1897 estabelecia normas de tal modo rígidas sobre a forma de construção
de alambiques e fábricas de destilação e rectificação do álcool que apenas alguns podiam cumprir34.
Em 1901 João Higino Ferraz lança o primeiro grito de alerta de crise para o sector em carta ao Visconde de Idanha. Aí dá-
se conta da perda dos privilégios e contrapartidas da importação do melaço da lei de 1895 e, por consequência a impossibilidade
de manter os preços da cana pagos ao agricultor. A solução estava na diminuição do imposto de importação do melaço:”…tenho
a certeza que a coadjuvação de meu bom amigo nos será muito útil, e o seu nome não será esquecidon’este bocadinho da
pátria.”35 Noutra carta de 8 de Outubro seguem novos artigos para a imprensa e importantes recomendações no sentido da
defesa intransigente do decreto ora publicado: “...exerça toda a vigilância para não apparecer cousa allguma contra as
providencias em qualquer jornal. Se for precisa qualquer despeza para isso é faze-la.(…) O decreto deve deixar bem toda a
gente, mas no caso de haver alguem que por inveja, ou qualquer outro motivo queira levantar difficuldades na imprensa ou
fora della, combine com o Romano a melhor maneira practica, directa ou indirecta de os calar até a minha chegada”36.
Passados dois anos a casa Hinton apostava numa campanha na imprensa local, servindo-se do Diário de Noticias e Jornal
do Comércio.37 Harry Hinton, em carta de 18 de Setembro anunciou a publicação do novo decreto e recomendou a J. Higino
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Ferraz os textos e o telegrama ao Presidente do Concelho, que enviou também aos jornais38. Na carta é evidente uma certa
familiaridade com o Ministro da Fazenda e a possibilidade de ter sido necessário mover algumas influências. A parte final da
carta é compremetedora: “Falla com o Lemos e diga-lhe que é conveniente não abaixar por hora o preço do alcool, sem que
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eu lá chegue. Tem havido despezas grandes com o decreto, e tenho certos compromissos em que elle também tem de entrar.
No intervalo publicou-se a 18 de 3 Julho de 1903 a lei sobre o fabrico dos açúcares açorianos e teme-se maiores prejuízos,
pelo que “é bom enquanto está ahi[Lisboa] ver bem essa lei não nos vá prejudicar.”40 A campanha na imprensa havia dado fruto,
mas nada estava ainda garantido e outro percalço com a vistoria das autoridades à fábrica, implicava todo o cuidado, “porque
mudando o governo a lei que regula pode-nos ser bastante prejudicial quanto ao pagamento da contribuição industrial.”41 Por
outro lado temia-se a matrícula de novas fábricas. A situação estava tensa entre os vários industriais42.
A lei de 24 de Novembro de 1904 dava a machadada final ao estabelecer a referida matrícula por 15 anos. Entretanto, caiu
a monarquia e sucedeu a República, que parecia querer fazer ouvidos moucos às regalias conquistadas no anterior regime. Mas
rapidamente tudo se recompôs. As dificuldades do comércio do vinho repercutiam-se no sector com a diminuição do consumo
de álcool, a principal contrapartida das fábricas matriculadas. Em Outubro de 1905 Batalha Reis visitou a fábrica Hinton e teceu
os melhores elogios ao álcool aí produzido, mas insistiu na necessidade de introdução dos vinhos de Portugal, o que não agradou
aos planos dos anfitriões.43
A primeira década da centúria foi fundamental para a consolidação do engenho do torreão. Entre 1898 e 1907 tivemos
investimentos avultados na modernização do engenho do Torreão que obrigaram uma investida junto do poder central no
sentido de garantir as regalias para poder-se rentabilizar o investimento44. Em Janeiro de 1907 Harry Hinton estava em Lisboa
a jogar a última cartada: “ ou João Franco attende ao seu pedido justo e que interessa bastante e a toda a Madeira agricula,
ou não attende, e nesse caso não posso prever quais as cosnequências desastrosas de sua maneira de ver.”45
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A República não terá sido muito favorável aos objectivos da família Hinton. O ambiente parece que era de tensão, pois
segundo J. Higino Ferraz: “o senhor Hinton disse-me que em nada pode influir em Lisboa junto do governo sobre questões
d’assucar, porque o nome Hinton é sempre visto com maus olhos.”46. Todavia, pelos decretos de 1911 e 1913 conseguiu-se
segurar o monopólio do fabrico do açúcar e regalias na importação de açúcar das colónias. Em 1914 reclamava uma
indemnização ao Estado pelo facto de ter sido aumentando o açúcar bonificado das colónias que entravam no continente. A
resposta veio por parte dos competidores47.
Em 1917 parece que os ânimos haviam serenado etudo estava bem encaminhado, apostando-se numa nova fábrica. A
demanda de alccol prenunciava um período de prosperidade48. A prorrogação do contrato nas mesmas condições era de toda a
conveniência. Apenas os distúrbios políticos poderiam fazer perigar a situação de privilégio49. Estava-se em período de revisão
da lei e referia-se até a possibilidade de vinda ao Funchal do Ministro da Agricultura, situação considerada má para o Hinton,
pis como refere j. H. Ferraz:”Não tenho confiança alguma nestes nossos amigos de cá, e temos como sabe, fartura de
inimigos.”50. A 31 de Dezembro de 1918 acabava a situação de favorecimento estabelecida por quinze anos. Entretanto só a 9
de Abril do ano seguinte o Governo interveio, tornando livre a “faculdade de laboração da cana sacarina com destino à
produção de açúcar”. O decreto de 2 de Maio define uma nova realidade. Assim, para além da liberalização da produção de
açúcar e da isenção de direitos alfandegários de maquinaria para novos ou reforma dos engenhos existentes, estabeleceu-se uma
nova política agrícola promovendo-se a substituição dos canaviais pela vinha.
A situação não fez perigar a posição hegemónica da Casa Hinton que se mantinha confortavelmente como o único produtor
de açúcar. Com o Estado Novo as medidas resultantes dos decretos nº. 14.168, 15.429, 15.831, 16.083 e 16.084 (1928), embora
restritivas dos antigos privilégios, favoreceram o Hinton quando impediram a instalação de novas fábricas e determinam o fecho
de algumas em funcionamento. O ano de 1928 foi fulcral para a afirmação da estratégia hegemónica.
Desde 1927 que se mediam forças entre os chamados “aguardenteiros” e a casa Hinton51. Harry Hinton em Lisboa
recomenda nova campanha na imprensa, valorizando as iniciativas modernizadoras empreendidas pelo engenho52. A entrevista
Engenho do Hinton
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de João Higino Ferraz ao Diário da Madeira de Reis
Gomes enquadra-se na estratégia. Tal como refere o
entrevistado em carta a H. Hinton53 “o meu principal fim
foi provar que somente Torreão pode moer toda a cana
mesmo no maximo em 3 mezes. (…) Falei sobre as
modificações importantes na fabrica do Torreão, mas
sem dizer que era para augmentar a capacidade, mas
somente para abreviar o trabalho e produzir melhor, se
falassemos em augmento de capacidade, os nossos
inimigos teriam um pé para dizer que o Torreão não
estava habilitado a fazer a laboração do máximo o que
só agora é que queria estar nessas condições, o que não
é verdade segundo verá pela entrevista.”
Entretanto o Governador Civil mantem-se atento à
disputa, ouvindo os interesses dos “aguardenteiros”,
procurando reunir apoios, como o de Manuel Pestana
Reis, no sentido de apresentar uma proposta de mudança
da lei54. A isto juntava-se a campanha de Henrique
Figueira da Silva55. Os adeptos da causa Hinton vão
diminuindo, mantendo-se apenas António Pinto
Correia56. Apenas o decreto 14.168 trouxe algum alívio,
pois que tudo “ficará…mais seguro”57, mas continuava
ainda a ser considerada como a “maldita nova lei
saccarina”.58
Harry Hinton, em 1929 sente-se cansando e
aborrecido com todas as contrariedades que lhe
acarretam o engenho, fruto da enfrentamento constante
com interesses adversos na ilha dos demais industriais e
as mudanças da conjuntura politica. A intenção parecia
ser a venda da fábrica, mas certamente a pressão do
Quirino de Jesus [1865-1935]
amigo João Higino Ferraz contribuiu para mudar de
opinião. A carta que escreveu a Mrs. Lefebvre, em
França, é bastante expresiva: “il est riche et peut repouser…et moi…”59
Quirino de Jesus [1865-1935], que em momentos anteriores fora um poderoso aliado na estratégia do Hinton surge em finais
da década de vinte como um traidor “que não tem outro fim senão vingar-se do Sr. Hinton”60. Algo se passara que nos escapa,
pois em principios do século havia sido um aliado destacado61. O causídico defendera os interesses da empresa, mas rapidamente
mudou de opinião, como se constata da correspondência de João Higino Ferraz e do que nos diz o Padre Fernando Augusto da
Silva: De acérrimo e entusiático defensor do regime sacarino, como advogado e publicista, do regime sacarino, tornou-se a
breve trecho, com igual ardor e convicção, um inimigo declarado do mesmo regime.62
Em 1969 A família Hinton informou o governo da intenção de encerrar a fábrica, acabando com o fabrico de álcool e açúcar
que não eram rentáveis. Perante isto o governo, através da Direcção-Geral das Alfândegas comprometeu-se a compensar as
perdas. O relatório sobre a situação em 1972 aponta o facto de a indústria se encontrar num beco sem saída, pois a “substituição
não pode justificar-se dada a ausência de uma rentabilidade previsível no fabrico do açúcar.”63 E conclui-se: “É
excepcionalmente raro, que nos anos 70 uma fábrica de açúcar com uma capacidade de produção inferior a 20.000 toneladas
anuais, tenha possibilidade de ser razoavelmente rentável e muitos poucos investidores de novos projectos de fábrica
considerarão hoje em dia o estabelecimento de fábricas com uma capacidade inferior a 50.000 toneladas.”64
23
Fio para condução da cana do Calhau ao engenho. Ribeira de Santa Luzia
Foto Vicentes, Museu de Photografia Vicentes
24
Frota de albions para transporte da cana ao engenho do Hinton
O engenho do Hinton, consolidada a posição dominadora do mercado local, manteve-se como a referência da cultura da
cana-de-açúcar até que em 1985 agonizou em definitivo o império do açúcar do Hinton. Para alguns tudo foi construído com
pés de barro, sustentado por favores políticos, mantendo-se a hegemonia à custa da exploração dos lavradores de cana65.
Durante todo o século XX a fábrica Hinton foi uma referência da cidade e da vida de quase todos os agricultores madeirenses
que apostaram na cultura da cana como meio para angariar uns magros tostões. A posição de favorecimento que mereceu, desde
a Monarquia ao Estado Novo, alimentou inimizades, debates na imprensa e a reprovação de alguns sectores da sociedade.
A família Hinton estabeleceu uma estratégia de domínio da industria açucareira e do álcool, através de uma aposta
permanente na inovação tecnológica capaz de esmagar todos os concorrentes, cujos engenhos a pouco a pouco foram sendo
adquiridos e desmantelados. O século XX foi o momento da plena afirmação. Em 1898 montaram-se dois difusores, seguindo-
se o centrifugador e as turbinas erm 1901, para no ano seguinte se montarem quatro difusores. Em 1904 e 1905 apostou-se no
sistema Naudet. Para os anos de 1906 e 1907 mudou-se o aparelho de triple effet, a caldeira de vácuo e o melaxeurs. De acordo
com dados de 1907 o engenho moía cerca de 1/3 da cana da ilha, ficando a restante para os restantes 47 engenhos. Na altura
empregava 230 trabalhadores tendo ao serviço 10 geradores a vapor Babcook & Wilcox, tendo a maior potência em uso na
ilha. Apenas o de José Júlio de Lemos se podia aproximar, mas a longa distância66. A capacidade de laboração da fábrica
aumentou nos anos seguintes fruto dos favores estabelecidos. Tivemos novas montagens de equipamentos em 1910. Passados
sete anos um incêndio obrigou a novo equipamento de destilação, que em 1924 necessitava ser aumentado para corresponder à
demanda do produto.
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Harry Hinton não satisfeito com o aumento da unidade industrial actuou no sentido da neutralização das demais através da
compra ou arrendamento. Primeiro adquiriu a antiga fábrica de Severiano Ferraz na Ponte Nova e de outras adquiriu os
mecanismos mais importantes. No caso da de José Júlio de Lemos estabeleceu um contrato de arrendamento de 25 contos
anuais, que perdurou até 1919. A necessidade de afirmação levou-o a apostar na renovação tecnológica do engenho do Torreão,
sob a superintendência de João Higino Ferraz. As reformas iniciaram-se em Dezembro de 1900 com a montagem de cilindros,
peças centrífugas e filtros mecânicos de Manoury67. Para os anos imediatos reservou-se a montagem das turbinas Weston68, dos
difusores69, da caldeira de vapor70. A sociedade que estabeleceu em 1905 com W. R. Bardsley deve ter favorecido a arrancada
definitiva para a hegemonia tecnológica.
O aperfeiçoamento tecnológico favoreceu a posição concorrencial da fábrica em relação às demais. Os percalços, como a
explosão de uma caldeira em 1928, não travaram o avanço. Em 1929, estando já em pleno funcionamento o sistema Hinton-
Naudet, a diferença era abismal. Assim, enquanto a Companhia Nova só podia laborar 100 toneladas de cana em 24 horas a
fábrica do torreão atingia as 500 toneladas, para conseguir-se em 1920 as 608 toneladas. As medidas de 1939, que conduziram
ao encerramento de 48 fábricas de aguardente em toda a ilha, favoreceram a tendência monopolística da safra da cana sacarina.
Alguns dados da laboração do engenho revelam a dominação a partir de 1907.
Ao mesmo tempo o fabrico de açúcar foi em crescendo de qualidade, como o evidencia insistentemente João Higino Ferraz.
Os dados resultantes dos primeiros anos do século XX são comprovativos:
26
Incêndio no engenho do
Hinton.1917
Em 25 de Novembro de 1917 um curto-circuito nos fios da luz eléctrica esteve na origem da destruição do sistema de
destilação, o que obrigou ao uso de outros destiladores até que em Outubro do ano seguinte estivessem operacionais71. Mas
isto não fez perigar a tendência monopolística do engenho do Torreão, como se poderá verificar pela laboração do Sul em 1929:
A questão Hinton é uma constante desde finais do século XIX e não passa ignorada mesmo pelos estrangeiros. Já em 1882
J. Rendell72 refere que o engenho Hinton juntamente com o da família Ferraz o engenho mais importante. Em 1894 C. Gordon
é peremptório: “…the great bulk of the sugar industry of the island is in the hands of one english firm”73. Já W. Koebel, em
1909, não hesita em afirmar que a industria açucareira está dependente do monopólio da firma Hinton74. Em 1927 o Marquês
de Jácome Correia testemunha o facto de a fábrica do Torreão ter “a fama de ser uma fábrica modelar”, pelos seus “complexos
mecanismos, a organização fabril e a importância da produção”.75 Também o Padre Fernando Augusto da Silva não se poupa
27
em elogios à acção empreendedora da família que criou “a fabrica mais aperfeiçoada do mundo”.76
A alma do complexo industrial açucareiro da família Hinton, a partir de 1898, era João Higino Ferraz, que assumiu as
funções de gerente do engenho, sendo um dos colaboradores directos de Harry Hinton. A sintonia e empenho de ambos fizeram
com que a ilha apresentasse entre finais da centúria oitocentista e inícios da seguinte uma posição destacada no sector, atraindo
as atenções a nível mundial.
João Higino Ferraz afirma-se como o perfeito conhecedor da realidade científica do engenho. Opina sobre agronomia, como
sobre mecânica e química. E mantém-se sempre actualizado sobre as inovações e experiências na Europa, nomeadamente em
França. Da lista de contactos e conhecimentos fazemparte personalidades destacadas do mundo da química e mecânica, com
estudos publicados. Assim, para além dos contactos assíduos com Naudet, refere-nos com assiduidade os estudos Maxime
Buisson, M. E. Barbet, M. Saillard, F. Dobler, M. D. Sidersky, Luiz de Castilho, M. H. Bochet, M. Effort, M. Gaulet
O Hinton acolhe especialistas de todo o mundo, na condição de visitantes, ou como contratados para a execução dos
trabalhos especializados. O engenheiro Charles Henry Marsden foi um deles e sabemos que aí trabalhou entre 1902 e 1937,
altura em que saiu doente para Londres onde faleceu no ano imediato. A presença está documentada pelo menos entre 1918,
1929 e 1931. Temos também o engenheiro químico agrícola Maxime Buisson, que em 1902 trabalhava no laboratório77. Para o
fabrico de açúcar contratava-se os afamados “cuiseurs” em França de forma a seguir-se à risca as orientações de Naudet.78 M.
Frederique, que já havia trabalhado na Martinica, “sabe bem do seu ofício é muito cuidadoso no seu trabalho é sóbrio e
delicado”79, o que contribuiu para uma safra excepcional. Noutras ocasiões o serviço foi um desastre, como sucedeu em 1930,
quando Marinho de Nóbrega era o químico oficial do engenho80.
Para os anos vinte e quarenta do século XX a voz pública de reprovação ao favorecimento, dito monopólio, teve expressão
frequente no jornal humorístico RE-NHAU-NHAU. A figura de Harry Hinton e apaniguados é o alvo do intrépido desenhista,
que pretende dar voz ao “Zé Povo”81.
O arquivo do engenho do Hinton, por força das circunstâncias atrás descritas, é fundamental para o conhecimento da história
contemporânea da agricultura madeirense. Todavia a forma conturbada como sucedeu o processo de desmantelamento da
estrutura para a construção de um jardim público conduziu a que toda esta memória desaparecesse. Felizmente tivemos a
possibilidade de encontrar alguns testemunhos avulsos no arquivo particular de João Higino Ferraz (1863-1946), que aí
trabalhou como técnico desde finais do século XIX e acompanhou o processo de montagem do engenho do Torreão82.
A documentação disponível, copiadores de cartas, livros de notas e apontamentos, são um dado raro na História da Técnica
e da Indústria. Não se conhecem casos idênticos de livros de apontamentos em que o técnico documenta, quase miunuto a
minuto, o que sucede na fábrica, desde os percalço do quotidiano às questões técnicas e laboratoriais. E, se tivermos em conta
que a mesma documentação abrange um período nevrálgico da História de Indústria Açucareira, marcada poor permanentes
inovações no domínio da metalomecânica e química, teremos definida a importância deste tipo de espólio, que mais se valoriza
pelo facto de ser o único até hoje divulgado e conhecido. Tenha-se em conta que através destes documentos sabemos quase tudo
o que se fazia na fábrica em termos de mudanças de equipamento:
1898 Montagem de dois novos difusores e sistema de corte de cana para a safra do ano seguinte
1900 Aparelhos de difusão de que João Higino Ferraz tinha os direitos
Filtros Manoury
1901 Centrifugas e Turbinas Weston
1902 Montagem de 4 difusores
1905 Valdeira vapor Babcock
1906 Mudança do aparelho de triple-effet
Novo processo de destilação directa da cana
1907 Instalação da cadeira de vacum e melaxeurs
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Turbinas Weston e engenho Harvey & Cº
1910 Alterações no equipamento no sentido de aumentar a capacidade de produção para 500 toneladas
1911 Aparelhos Kestner para açúcar areado e filtros seits.
1917 Montagem de novo aparelho de destilação, perdido num incêndio.
1929 Sistema Hinton-Naudet modificado
1939 Montagem de aparelho de quadruple effet por H. Marsden
O conjunto de 9 livros referentes às cartas abarca um período crucial da vida do engenho do Hinton [1898-1937], marcado
por profundas alterações na estrutura industrial, por força das inovações que iam acontecendo. A partir deste acervo de cartas é
possível saber tudo isso, mas também induzir algo mais sobre o funcionamento desta estrutura. Ao mesmo tempo ficamos a
saber que João Higino Ferraz era em Portugal uma autoridade na matéria, prestando informações a todos os que pretendessem
montar uma infra-estrutura semelhante. Assim, em 1928 acompanhou a montagem do engenho Cassequel em Lobito, onde a
família Hinton tinha interesses, e esteve em Junho de 1930 em Ponta Delgada nos Açores a ensinar a fermentar melaço na
Fábrica de Santa Clara de açúcar de beterraba.
Harry Hinton surge em quase toda a documentação como um interveniente activo no processo, conhecedor das inovações
tecnológicas e preocupado com o funcionamento diário do engenho, nomeadamente com a sua rentabilidade. E, certamente que
J. H. Ferraz não o ludibriava no sentido de que de uma forma quase diária informava de tudo o que se passava.
A proximidade do Funchal aos grandes centros de decisão e inovação tecnológica da produção de açúcar a partir de
beterraba, na Fança e Alemanha, associados aos contactos de H. Hinton e ao seu espírito empreendedor fizeram com que a
Madeira estivesse na primeira linha da utilização da nova tecnologia. Em 1911 documentam-se diversas experiências com
equipamento. Além disso funcionava como espaço de adaptação da tecnologia de fabrico de açúcar a partir da beterraba para a
cana sacarina. Daí as diversas deslocações de J. H. Ferraz a França [1904,1909] e os permanentes contactos com alguns
estudiosos e fábricas. Tenha-se em conta que o mesmo era sócio de l’Association des Chimistes em França, sendo por isso leitor
assíduo do seu Bulletin83. Por outro lado alguns inventores, Naudet (em 1904), e engenheiros de diversas unidades na América
(Brasil e Tucuman), Austrália e África do Sul estavam em contacto com a realidade madeirense ou faziam deslocações para
estudar o caso do engenho madeirense.
A erudição de J. H. Ferraz era vasta, dominando toda a informação que surgia sobre aspectos relacionadas com o processo
industrial e químico do fabrico do açúcar. Para além da leitura do Bulletin de l’Association des Chimistes, temos referências à
leitura do Journal de Fabricants de Sucre, podemos documentar na sua biblioteca a existência de diversos livros da
especialidade, muitos deles referenciados nos livros de notas ou cartas. Aliás, é insistente, nas cartas que manda a Harry Hinton
no estrangeiro, o pedido de publicações recentes. Do conjunto das publicações disponíveis ainda hoje no acervo bibliográfico
podemos salientar as seguintes:
Foto livros
BASSET, N., Guide du Planteur de Cannes. Traité Théorique et Pratique de la Culture de la Canne a Sucre, Paris, Challamel
et C, Éditeurs, 1889
.- idem, Guide Pratique du Fabricant de Sucre, Paris, Librairie Scientifique Industrielle et Agricole, 1861.
idem, Guide Théorique et Pratique du Fabricant d` Alccols et du Distillateur, Première Partie – Alcoolisation, Paris,
Librairie Scientifique, Industrielle et Agricole, 1868.
BEAUDET, L., PELLET, H., Traité de la Fabrication du Sucre de Betterave et de Canne, tomo I, Paris, J. Fritsch Éditeur, 1894.
BOULLANGER, E., Encyclopédie Agricole. Matérie de Brasserie I, Paris, Librairie J. – B. Baillière et Fils, 1921.
BUCHELER, Le D.r M., Manuel De Distillerie. Guide Pratique pour l`Alcoolisation Des Grains, Des Pommes de Terre et Des
Matières Sucrées, Paris, Librairie Polytechnique, Ch. Béranger Éditeur, 1899.
idem, LÉGIER, Émile, Traité de la Fabrication de L` Alcool, Tome I e II, Paris, Librairie Scientifique et Industrielle,
1899.
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29
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30
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS NAS CARTAS.
PÁGINA PUBLICAÇÃO
55 jornal “La Biére” 1º anno nº 10, ou “L’alcool et le sucre” 2º anno nº 5
55 tratado de M. Fernbach
273 tratado meu sobre assucar ao Feliciano
281 livre traitant la fabrication de la Biére moderne et pratique
292 livres de Boullanger (Brasserie); deux volumes de Boullanger (Brasserie)
308 le Bulletin de l’Association des Chimistes
L’Oenophile (sur les vins)
309 l’Oenophile
403 Journal des Fabricantes de Sucre <Nº 28 de 13 Julho>
413 Jornal des Fabricants de Sucre
414 artigos do Jornal des fabricantes de Sucre de Setembro, que tem uns artigos sobre Java
450 Bulletin de l’Association des Chimistes de Junho proximo passado
460 International Sugar Journal de Junho 1931 pag 294
468 Prinsen Geerligs84 no seu tratado de fabricação do assucar de cana (1910) a pag. 106
471 Prinsen Geerligs85 no seu tratado sobre assucar de cana (1910) pag. 106 e seguintes e pag. 119
475 Ver tratado de Geerlgs pag 119) (tradução Espanhola)
31
João Higino Ferraz.
32
JOÃO HIGINO FERRAZ
[1863-1946]
É filho de João Higino Ferraz e neto de Severiano Alberto Ferraz, o primeiro a construir um engenho a vapor na ilha da
Madeira, no ano de 1856. Nasceu no Funchal a 1863. Foi na fábrica do tio que travou contacto com o mundo do açúcar.
A fábrica da família da Ponte Nova terá sido estabelecida entre 1848 e 1856. À morte do promotor, por “cólera morbus”
em 1856, os descendentes—João Higino Ferraz (pai), Severiano Alberto Ferraz (filho) e Ricardo Júlio Ferraz— criaram a
sociedade Ferraz Irmãos. Foi aí que em 1881, o jovem de 18 anos, iniciou a actividade como gerente com o tio Severiano, até
1886, altura em que foram forçados a vender a fábrica em praça pública. Liquidada a fabrica esteve dois anos sem emprego até
que em 1888 arrendou em sociedade com o tio, João César de Carvalho, a fábrica de destilação da Ponte Deão, de Severiano
Cristóvão de Sousa. No ano imediato entrou para a do Torreão da firma William Hinton & Sons como técnico de fabrico de
açúcar e álcool, assumindo a gerência industrial e técnica.
Num manuscrito da mão do próprio diz que em 1900 assinou contrato com a fábrica do amigo Harry Hinton que o vinculou
até à morte em 1946. Todavia, e de acordo com o primeiro copiador de cartas, sabemos que desde 18 de Outubro de 189886
estava ao serviço da firma, como se pode confirmar da carta ao amigo e patrão Harry Hinton solicitando a presença no engenho
em construção para poder decidir sobre a forma de disposição das máquinas.
No sentido de dar continuidade ao processo de modernização da fábrica do Torreão esteve de visita aos complexos
industriais franceses que laboravam a beterraba para o fabrico de açúcar. A visita foi proveitosa, reflectindo-se nas
modernizações do sistema do engenho do Hinton. Certamente que esta experiência foi importante para a saída que fez em 1930
a Ponta Delgada (S. Miguel) para dar alguns ensinamentos sobre o processo de fabrico de açúcar, nomeadamente a fermentação
do melaço.
Em Julho de 1927 embarcou para Lobito com Charles Henry Marsden (1872-1938), um engenheiro natural de Essex
responsável pela modernização do engenho da casa Hinton, para aí montar uma estrutura mais moderna no engenho Cassequel,
propriedade da casa Hinton. Aí permaneceu 103 dias, regressando ao Funchal a 13 de Dezembro de 1928. O diário da saída,
compilado numa agenda, documenta o processo de montagem da fábrica e as dificuldades de adaptação das peças ao conjunto
da estrutura.
Em 1945 lamentava-se: sou pois técnico em fabricar assucar e álcool, desde 1884 a 1945 = 61 anos. Não tenho direito
a ter o titulo de técnico de fabricar assucar e álcool oficialmente em Portugal ? (…) Desejava pois obter o titulo oficial de
técnico de fabricar açúcar e álcool ou como técnico pratico de fabricar assucar e alcool”. Mas, acabou morrendo sem que
fosse reconhecido o gigantesco trabalho como técnico, a principal alma da permanente actualização tecnológica e química da
Fábrica do Hinton, que foi na época uma das mais avançadas tecnologicamente.
A ideia está presente também no testemunho do próprio: N’Estes longos (60) anos assisti a variados systemas de fabrico,
desde quasi do inicio de maneiras antigas no fabrico do açúcar de cana, destilação, etc, etc, acumpanhando sempre os
progressos nestas industrias até hoje, principalmente desde 1900 a 1944, na fábrica do Torreão, onde pusemos em trabalho
consecutivamente os systemas os mais aprefeissoados e mais modernos no fabrico de açúcar e álcool, devido principalmente
ao meu caro amigo Harry Hinton, como chefe inteligente e progressivo, não poupando energias e capitaes para qualquer
33
transformação a ser operada na sua fabrica, ou fossem as ideias minhas ou delle proprio. Tem elle um intuito de progresso bem
orientado, que é raro em muitos industriaes.
É isso de que me orgulho, por ter sido o coadjutor companheiro de um industrial desta natureza.”
Da correspondência com Harry Hinton transparece uma perfeita sintonia entre os dois que favoreceu o processo de
permanente actualização tecnológica e química. Ambos partilhavam a mesma paixão pela indústria e afirmação do engenho do
Torreão. João Higino Ferraz não receia em manifestar por diversas vezes a amizade que o prende ao patrão. Em 191787
confessa que “Harry Hinton é um dos meus melhores amigos”. Passados dez anos confessa que a viagem a África sucede apenas
“para ser agradável ao senhor Hinton a quem devo amizade e reconhecimento.”88
João Higino Ferraz era o superintendente, mas acima de tudo um cientista que procura aperfeiçoar os conhecimentos de
Química e Tecnologia, através do confronto da literatura estrangeira e da sua capacidade inventiva89. Mantém-se actualizado
através da leitura das publicações, fundamentalmente francesas. Nos estudos manifesta-se um cientista arguto que não detem a
atenção apenas na cana sacarina, pois estuda e opina sobre o uso de outros produtos no fabrico de açúcar e álcool, como é o
caso da batata e aguardente.
Se confrontarmos a literatura científica do momento mais significativo de finais do século XIX até à segunda Guerra
Mundial, verificamos que a informação é permanente actualizada e pauta-se por padrões de qualidade, dispondo de informações
sobre os métodos mais avançados, como dos estudos dos engenheiros químicos e industriais que marcaram o processo
tecnológico do momento. Aliás, mantem contacto com inúmeras associações científicas europeias, como era o caso de
Association des Chimistes de Sucrerie et de Distillerie. Na correspondência surgem assiduamente nomes de cientistas europeus
como Barbet, Naudet. É dele o invento de um aparelho de difusão, que em 19 de Novembro de 1898 cedeu os direitos à firma
William Hinton & Sons. Naquilo que resta da sua biblioteca fomos encontrar um conjunto valioso de tratados de química e
tecnologia relacionados com o açúcar.
Foram feitas várias experiências e adaptações dos sistemas tecnológicos importados, tudo sob a sua orientação. Em
192990, em carta ao amigo Avelino Cabral em Lobito, refere: Como tenho tido tempo estou em estudos e experiências com o
fermento Possehl’s no laboratório, e tenho obtido cousas bastante curiosas nas culturas feitas.”Ainda em carta ao mesmo refere
a utilidade das inovações e experiências: “para que a parte comercial de uma indústria dê o resultado, é necessário ver também
a parte industrial ou technica.”91
Apenas em 1922 temos informação de quanto auferia João Higino Ferraz pelos serviços prestados à fabrica Hinton. De
acordo com memorial que enviou a Harry Hinton o ordenado como gerente técnico foi o seguinte:
Para o novo contrato a celebrar reclamava 63 libras mensais, sendo o câmbio realizado mensalmente, ficando “com pulso
livre para fazer e dirigir as minhas pequenas industrias fora de açucar, alcool e aguardente, não prejudicando por estes meus
trabalhos a direcção technica da fabrica de açucar e alcool do Torreão…”92
João Higino Ferraz fica para a História como um dos principais obreiros da modernização do engenho do Hinton ocorrida
na primeira metade do século. Enquanto esteve à frente dos destinos da fabrica, de 1898 a 1946, foi imparável na sua adequação
aos novos processos e inventos que iam sendo divulgados, não se coibindo mesmo de fazer algumas experiências com o
equipamento e os produtos químicos.
34
Desenhos e cartas de João Higino Ferraz
Tenho n’um livro antigo (1848), notas escritas por meu avô, sobre destillação de vinhos para aguardente e refinação assucar
Meu avô morreu de Cólera em 1856, isto é, 8 anos depois das notas (1848). Parece que foi no Intervalo de 8 anos, que se
formou a Firma “Ferraz Irmãos”, e a montagem da Fabrica de assucar da Ponte Nova.
Como a Firma Ferraz Irmãos, foi liquidada em 1886, teve pois a Firma Ferraz Irmãos a duração de 1848 a 1886, isto é, 38
anos de existencia (?), a 40 anos (??).
João Higino Ferraz Junior, vim de Lisboa (dos meus estudos) com 18 anos de edade, em 1881, para a Fabrica Ferraz Irmãos
Com a liquidação da Firma Ferraz Irmãos em 1886, estive 2 anos sem emprego algum, mas em 1888, devido ao meu (nosso)
amigo Joaquim de Sousa, arrendei a fabrica de destilação do pae de Joaquim de Sousa, o velho amigo de <meu> Pai Cristão de
Sousa na Ponte do Deão, até 1899 = // [2] 11 anos no Deão, no Fabrico de aguardente de cana e alcool de melaço importado
das Weste Indias, (Demerá[sic] e Trindade) pela firma Francisco Rodrigues & C.ª (Pedro)
Em 1899, liquidei com o arrendamento que tinha, de Sociadade com meu tio (materno) João Cezar de Carvalho, porque por
pedido e instado pela Firma William Hinton & Sons (Fabrica do Torreão) passei a ser gerente tecnico da Fabrica de assucar e
35
alcool, junto com o meu querido e velho amigo Harry Hinton, chefe da firma, que devia ter 44 anos e eu 37 anos.
Entrei no serviço da Fabrica do Torreão em 1899, e definitivamente, pelo contrato feito em 1900, com[sic] gerente tecnico.
Tenho pois 45 anos como tecnico da Fabrica do Torrão[sic], com 81 anos
Sou pois fabricante de assucar aguardente e alcool á 60 anos!!! //
[3] A Firma antiga da Fabrica da Ponte Nova dos Ferrazes, era constituida pelos filhos de Severiano Alberto de Freitas Ferraz
e de minha avô paterna Leonor, e são:
João Hygino Ferraz
Severiano Alberto Ferraz
Dr. Ricardo Julio Ferraz, engenheiro de Pontes e Calçadas da escola de França.
1º Guarda Livros, João Fradeço Bello (irmão de minha avô materna)
2º guarda Livros, João Cezar de Carvalho (irmão de minha mae Sofia de Carvalho Ferraz)
Meu avôu[sic] materno – Tenenente[sic] Coronel de artilharia Carvalho
Minha avô materna – Carolina Fradeço de Carvalho.
(1944)
94
[1] Notas sobre os descendentes de Meu Avóu[sic] Severiano Alberto Ferraz, desde 1848 até 1944, depois de feitos
os meus 81 anos de vida (96 anos totaes).
1º Tenho um livro antigo de notas de meu Avou Severiano Ferraz (1848), sobre a sua industria de destilação de vinhos da
Madeira, xaropes d’uva (arrobo) e refinação de açucar de cana bruto, antes da existencia da Fabrica de açucar de cana da Ponte
Nova (Funchal) da firma “Ferraz Irmãos”, já não existente.
Meu Avou morreu do Colera Morbos em 1856, deixando filhos do 2º casamento com D. Leonor.
2º Temos que, de 1856 e 1848 vão 8 anos, e assim parece que a Fabrica de açucar da Ponta Nova foi establecida n’este
entervalo dos 8 anos.
Quando? É isso que não tenho notas exactas.
No intervalo dos 8 anos (1848 e 1856), e talvez depois ou antes da morte de Meu Avou, Meu Pae e tios fizeram a Sociadade
“Ferraz Irmaos”, e principiaram a fundação da Fabrica de açucar.
Os Socios da Firma erão:
Meu Pae – João Hygino Ferraz
Tio – Severiano Alberto Ferraz
“ – Ricardo Julio Ferraz, Dr. em Pontes e Calçadas da França, onde tirou o seu corsso de Engenharia.
Meu tio Dr. Ricardo J. Ferraz perdeu o seu braço esquerdo no moinho de cana da Fabrica, no 2º ano do seu inicio de
Laboração, e saio para Lisboa e ahi se estableceu, e uns anos depois (?) foi para São Miguel, Açores, como Engenheiro da Doca
de Ponta Delgada, onde casou com D. Catarina Ivens.
Voltou novamente para Lisboa, como Engenheiro da Comp.ª das Aguas, e foi eleito Deputado pela Madeira. Foi n’esta
ocasião que a firma // [1v] Ferraz Irmãos estableceu negocio de vinho em Lisboa, sobre a direção do Socio da firma, Dr. Ricardo
J. Ferraz.
3º A firma Ferraz Irmãos, depois da morte de meu tio Severiano Ferraz, teve que liquidar sendo vendida a Fabrica da Ponte
Nova ao capitalista de Demerára Manica, que na praça de venda, foi o que ofereceu valor meior.
Nota: Na ocasião da praça, o meu antigo amigo H. Mails, propos-me fazer uma Sociedade entre eu e elle para a sua compra,
sendo elle o socio Capitalista. Não ficamos, porque Manica oferecu[sic] mais (!).
A duração da Firma Ferraz Irmãos, devia ser pouco mais ou menos de 1850? até 1886 = 36 anos de Existencia, a 40 anos
no maximo (?).
4º Principiou os meus trabalho [sic] na Fabrica de açucar e alcool da Ponte Nova em 1881, tendo eu 18 anos, quando voltei
de Lisboa por ordem de meu tio Severiano, ultimo subrevivente da Firma Ferraz Irmãos, depois ou ainda, dos meus estudos em
Lisboa.
Estive pois eu, e meu tio Severiano, desde 1882 a 1886 (4 anos) com[sic] gerentes da firma Ferraz Irmãos.
5º Com a liquidação da Fabrica da Ponte Nova, estive 2 anos sem emprego, mas em 1888, devido ao nosso saudoso amigo
Joaquim de Sousa, consegui arrendar a fabrica de destilação da Ponte do Deão, de cana de açucar para fabrico de aguardente,
pertencente ao velho amigo de meu pai e tio Severiano, Cristovão de Sousa, Pai de Joaquim de Sousa, até 1899 (11 anos). //
36
[2] 6º Principia agora em 1899, a minha nova vida em fabricas de açucar e alcool!.., depois da pratica n’este genero de
Industria de 17 anos, isto é, de 1882 a 1899.
Entrada para a Fabrica do Torreão da firma William Hinton & Sons
7º Em 1899, liquidei com o arrendamento da Fabrica da Ponte do Deão, que tinha como meu socio meu tio materno João
Cezar de Carvalho, antigo Guarda Livros da firma Ferraz Irmãos, por instancias do meu sempre amigo o Senhor Harry Hinton,
chefe gerente de William Hinton & Sons, para vir para a sua Fabrica do Torreão como tecnico do fabrico de açucar e alcool da
dita fabrica, em vista de se vêr sosinho na gerencia Industrial tecnica e comercial.
Asseitei a oferta da proposta finalmente, e por generosidade de Harry Hinton, têr-se obrigado a dár uma mezada a meu tio
João Carvalho (meu socio no Deão) emquanto vivo fosse.
Entrei pois como gerente tecnico na fabrica do Torrão, em 1899, e defenitivamente em 1900 por contrato establecido, sem
tempo determinado. Tinha eu em 1899 a edade de 36 anos, e o meu amigo e chefe Harry Hinton 43 anos.
8º Tenho pois estado sempre como Tecnico na Fabrica do Torreão, desde 1900 a 1944 = 44 anos, tendo actualmente 81 anos
de edade!!
[2v] Nota: N’estes longos anos (60), assisti a variados systemas de fabrico, desde quasi o inicilo[sic] de maneiras antigas no
fabrico do açuar[sic] de cana, destilação etc. etc., acompanhando sempre os progressos n’estas Industrias até hoje,
principalmente desde 1900 a 1944, na Fabrica do Torrão[sic], onde posemos em trabalho consecutivamente os systemas os mais
aprefeissoados e mais modernos no fabrico de açucar e alcool, devido principalmente ao meu caro Amigo Harry Hinton, como
chefe inteligente e progressivo, não poupando energias e capitaes para qualquer transformação a ser operada na sua Fabrica, ou
fossem as edeias minhas ou d’elle proprio: Tem elle um instinto de progresso bem orientado, que é raro em muitos Industriaes.
É isso de que me orgulho, por têr sido o cudjutor[sic] companheiro de um Industrial d’esta natureza.
[Ass:] João Higino Ferraz
Sou pois tecnico em Fabricas assucar e alcool, desde 1884 a 1945 = 61 anos.
Não tenho direito a têr o titulo de Tecnico de Fabrica assucar e alcool?
Oficialmente em Portugal.
37
Desejava pois obter o titulo Ofical[sic] de Tecnico
de Fabricas açucar e alcool.
ou como Tecnico pratico de Fabricas assucar e alcool
CONCLUSÃO
A Madeira marcou um passo decisivo na História da cana-de-açúcar entre os séculos XV e XX. Todavia, ao contrário do
que sucede com o vinho, a cultura não se manteve como uma constante da História da ilha, notando-se um hiato no século
XVIII. O vinho que a partir de meados do século XVI havia retirado espaço à cana sacarina estava agora, em meados da centúria
oitocentista, a ser dominado pelo retorno dos canaviais. A cultura expandiu-se a Norte e a Sul, tornando-se num dos factores
mais importantes de animação da agricultura e da indústria.
Em qualquer dos momentos a Madeira esteve na linha da frente das inovações tecnológicas. Nos séculos XV e XVI acresce
a função de distribuição da cultura e técnica em todo o espaço atlântico. Para finais do século XIX e princípios do seguinte
ficaria reservado papel pioneiro no ensaio de algumas técnicas e sistemas de fabrico de açúcar e aguardente que revolucionaram
todo o processo industrial. Para isso foi importante a acção de João Higino Ferraz, que na qualidade de gerente técnico,
conseguiu manter contactos estreitos com os ensaios feitos em França, de que o sistema de Naudet é exemplo. Foi na ilha que
se ensaiaram de novo alguns processos tecnológicos e químicos, que depois adquiriram um papel de relevo no processo de
industrialização do fabrico de açúcar e aguardente. Daqui resulta a necessidade e importância da publicação do acervo
documental que se segue.
A DOCUMENTAÇÃO
O corpo documental que agora sai do prelo provém do arquivo privado pessoal de João Higino Ferraz – director técnico da
Fábrica do Torreão, da firma William Hinton & Sons – e pode ser seccionado em três partes fundamentais: uma primeira
constituída por nove Copiadores de Cartas; uma segunda por vários volumes a que damos o nome de Livros de Notas; e, por
fim, documentação avulsa. Esta organização do arquivo pessoal de J. Higino Ferraz é, de certa forma, artificial, dado que foi
feita por nós e não pelo autor. De facto, se quisermos, é já uma elaboração arquivística que decorre da análise do conteúdo e da
tipologia dos vários documentos que compõem tal espólio.
A primeira parte, composta por nove livros onde Higino Ferraz conservou, em cópia, muita da correspondência por si
remetida, e não só, cobre o período de 1898 até 1937, com um hiato temporal existente de finais de 1913 a inícios de 1917 e
outro, possivelmente, de Janeiro a Outubro de 1919. Julgamos que estas lacunas deveriam estar contempladas em dois volume
autónomos (temos uma leve certeza para o primeiro períoso, mas o mesmo já não podemos garantir relativamente ao segundo);
contudo, se existiram, não chegaram esses livros até nós. A designação de Copiador de Cartas foi por nós tomada, pois os dois
primeiros livros, que cobrem o período de 1898-1913, evidenciavam este título na capa – não aposto por João Higino Ferraz,
mas como denominação da finalidade dos volumes. Entendemos por bem atribuir a mesma designação a todos os livros97,
seguida da referência aos lapsos de tempo que abarcam.
Cumpre ainda acrescentar que nem toda a correspondência remetida por João Higino Ferraz está presente nestes livros e que
nem toda a documentação neles inserida é composta por epístolas. Ver-se-á que algumas cartas enviadas, sobretudo
dactilografadas, delas guardou o autor cópia sob a forma avulsa, estando as mesmas – aquelas a que tivemos acesso – transcritas
na secção da documentação avulsa. Fizemos preceder cada carta transcrita por uma informação sumária concernente à data,
destinatário e local, quando possível, para que existisse uma mais rápida percepção por parte do leitor.
Ao longo da transcrição demo-nos conta de que alguma informação exarada nos Copiadores não era, com efeito, composta
por epistolografia, mas sim por relatórios, cálculos, estimativas de produção, lucros e despesas, etc.. Antepusemos a cada um
dos informes deste teor a menção à sua data, destinatário, se conhecido fosse, e uma breve caracterização.
Uma segunda secção deste espólio documental transcrito é constituída por anotações e apontamentos vários – inscritos em
livros autónomos –, versando nomeadamente sobre produtos, processos, aparelhos e técnicas industriais de produção e
transformação de açúcar, álcool e aguardente; quase todos estes volumes têm título atribuído por João Higino Ferraz, que é
38
respeitado e aceite por nós. Ainda que algo artificial, a denominação por nós dada a este conjunto, Livros de Notas, advém dos
próprios títulos atribuídos pelo autor.
A última secção, enfim, é constituída por documentação avulsa, e abarca: documentos epistolares, saídos do punho de
Higino Ferraz (particularmente cópias de cartas) ou tendo-o como destinatário (sendo seus autores, por exemplo, Harry Hinton,
Marinho de Nóbrega, Antoine Germain, etc.); documentos referentes a aparelhos, processos e técnicas de fabrico e
transformação de açúcar, álcool e aguardente (à imagem da informação exarada nos Livros de Notas); anotações manuscritas
que João Higino Ferraz lançou nos forros da capa ou folhas de guarda de alguns livros ou manuais por si usados, que versavam
sobre a cultura e produção de cana sacarina e seus derivados98; e, ainda, apontamentos auto-biográficos. Dividimos esta
documentação em duas subsecções: a primeira, composta por todos os documentos que têm por autor Higino Ferraz; a segunda,
todas as fontes que foram produzidas por outros indivíduos.
Poderá ficar o leitor com a ideia errada de que estas fontes documentam apenas a função profissional de João Higino Ferraz
enquanto industrial do açúcar, da empresa William Hinton & Sons. Com efeito, esta documentação, por esse facto, reveste-se
de especial interesse para a História da Madeira da 1ª metade do século XX, em especial relativamente à história da indústria
açúcareira, nas suas vertentes económica, social e técnica, mas também nos seus meandros e implicações políticas. Contudo,
não esqueçamos que estamos na presença de um arquivo particular – certa correspondência, por exemplo, contém, também,
informações que ilustram aspectos vários da vida pessoal e familiar de Ferraz, bem como alusões a condições de vida geral e
particular, relações de amizade, concepções políticas, sociais e económicas, entre outras realidades.
A sequência documental dada por nós em cada uma das três divisões é de cariz cronológico. No que diz respeito a certa
documentação avulsa, sempre que não pudemos saber ou estabelecer, de forma segura, a sua data, relegámo-la para o fim da
sua subsecção.
Levar a cabo a transcrição dos 9 Copiadores de Cartas encontrados no arquivo pessoal de João Higino Ferraz, em posse da
sua família, é uma tarefa que comporta algumas dificuldades. Considerando que uma porção significativa da informação
transmitida nestes livros evidencia uma linguagem específica e eminentemente técnica; atendendo que a documentação cobre
um período temporal relativamente recente, livrando-nos de certos problemas inerentes à transcrição de fontes de séculos
anteriores, mas suscitando, porém, outros de diferente teor; observando, enfim, que ao procedermos a esta transcrição, tivemos
de estabelecer de alguma forma um compromisso entre a informação registada nos vários volumes – a sua linguagem e, por
vezes, configuração – e as ferramentas facilitadas pelo programa informático usado nesta tarefa (o Microsoft Word), escolhemos
seguir as seguintes normas99:
NORMAS DE TRANSCRIÇÃO:
39
- gram., gr. ou grm.: “grama”
- H, HL, hect.: “hectolitro” ou “hectolitre”
- hectos: “hectolitros” ou “hectolitres”
- H. P.: “Horse Power”
- k, kilog.: “kilograma”
- l, lit.: “litro”
- m: “metro”
- m/m, mm, m/gr.: “miligrama”
- m2, m3: “metro quadrado”; “metro cubico”
- s: “sacos”, “sacas”
- ton: “tonelada” ou “tonne”
– desdobramos siglas e abreviaturas de teor técnico, que se referem, mormente, a processos, aparelhos e matérias industriais:
- agte: “aguardente”
- applho: “apparelho”
- ass: : “assucar”
- clarifi.: “clarificado”
- Coeffte: “Coefficiente”
- D.: “Densidade ou Densité”
- diff.: “diffusor” ou “diffusão”
- F. P.: “Filtro-Presse”
- F. F.: “Filtro Filippe”
- Lab.: “Laboração”
- M. C.: “Melasse Cuite” ou “Masse Cuite”
- M. S.: “Materia Secca”, “Materias Seccas”
- P. E.: “Petits eaux”
- pol., pola., polar: : “polarisação”
- retifi.: “retificação”
- sacc: : “saccharose”
- saccha: : “saccharose”
- T. E.: “Triple-Effet”
- T. G.: “Tanque Grande”
- turb., turbi.: “turbinado”
- V. C. M.: “Vinho Canteiro Madeira”
– desenvolvemos, por uma maior inteligibilidade dos textos transcritos, muitos outros sinais convencionais usados por João
Higino Ferraz:
- ad. V., ad. val.: “ad. Valorem”
- Alf.ga: “Alfandega”
- Amº: Amigo
- Attº: “Attencioso”
- c/ e c/a: “conta”
- C. de L.: “Camara de Lobos”
- C. F.: “Caminhos Ferro”
- ct., crt.: “courant”
- D.: “Diario”
- D. M.: “Diario da Madeira”
- D. N.: “Diario de Noticias”
- E.U.: “Estados Unidos”
- F: “Fabrica”
- frs: “francos” ou “francs”
- h: “hora” ou “horas”
40
- indeter.das: “indeterminadas”
- M., Mr, Mr.: “Monsieur”
- M.m: “Madame”
- M.M., Messrs.: “Messieurs”
- m/: “meu”, “minha”
- n/: “nosso”, “nossa”
- n/c: “nossa conta”
- m/c: “minha conta”, “mon compte”
- Ob.do: “Obrigado”
- R.: “Rua”
- rend.to: “rendimento”
- RS, rs: “Reis” ou “reis”
- s/: “sobre”, “seu” ou “sua”
- S. A., S.de A.: “Sociedade Agricula”
- S. F.: “São Filipe”
- Snr: “Senhor”
- sub.me: “subscrevo-me”
- T, Temp., Tempa: “Temperatura”
- trata.to: “tratamento”
- Vor: “Venerador”
- Wm: “William”
– mantivemos apenas algumas abreviaturas sobejamente conhecidas e utilizadas actualmente: Ex.mo (Excelentíssimo),
Ill.mo (Ilustríssimo), V.a Ex.a, (Vossa Excelência) L.da (Limitada), C.ª ou Comp.ª (Companhia), Succ.or e Succs
(Sucessor e Sucessores) V.ª S.ª (Vossa Senhoria), Dig.mo e Dig.ma (Digníssimo e Digníssima), S.to e S.ta;
acrescente-se que uniformizámos todas estas abreviaturas, pois, por vezes, víamo-nos perante algumas variações das
mesmas.
– não desenvolvemos dois grafemas, de cariz comercial e abundantemente usados nestas fontes, que são alvo aqui de cabal
elucidação:
- cif ou c.i.f.: siglas de cost, insurance, freight, isto é, custo, seguro e frete;
- fob.: siglas de free on board, ou seja, designação de cláusula de um contrato de compra e venda que determina que as
despesas do vendedor vão, somente, até à entrega da mercadoria no navio.
– não desdobramos N. B., “Note Bem”; assim como P. S., “Post-Scriptum”, ou P. E., que julgamos ser “Post-Escriptum”
(corruptela do anterior) ou “Pós-Escrito”
– Procedemos à manutenção ou imitação, na medida do possível, das disposições gráficas do original, assim como
parágrafos, títulos, tabelas, arrolamentos, com a excepção, por motivos que se prendem com a exequibilidade da
edição das mesmas fontes, das mudanças de linha e de folha. Não considerámos pertinente nem viável assinalar a
mudança de linha; já a de fólio é indicada com a colocação de // seguida do número de fólio entre [ ] (exceptuando,
apenas, quando um fólio encontra-se em branco).
– Tendo em conta que Higino Ferraz usa, mas raramente, a cor vermelha nos Copiadores de Cartas – para lançar
comentários ou anotações nas cópias da correspondência que guardava nestes volumes –, escolhemos transcrever em
itálico todos os vocábulos escritos com tinta ou lápis desta mesma cor.
– Transcrevemos, desenvolvendo algumas siglas e abreviaturas e levando a cabo uma certa modernização, os numerais
grafados, por exemplo, assim: 1gr.40, 34k12, 12l34, 2º,5, etc., desta forma: 1,40 gramas, 34,12 “kilogramas”, 12,34
litros, 2,5º, etc..
– Adicionamos [sic] quando a verificação de erros ortográficos, de sintaxe ou morfologia, ou em caso de repetição de uma
mesma palavra. Colocado o [sic] logo a seguir a uma palavra, referir-se-á a um erro nesse mesmo vocábulo (casos,
sobretudo, de ortografia); quando após um espaço em branco, referir-se-á a erro constituído por vários vocábulos
(repetição, faltas de concordância no género ou em número, frases truncadas, omissão de palavras, etc). Refira-se
que, nomeadamente na informação referente a processos industriais, e ainda na correspondência lavrada em francês
(língua que Higino Ferraz manifestamente não domina, como o próprio reconhece), vêmo-nos perante erros de
41
concordância de género e número em muitas frases, pelo que apenas assinalaremos os mais visíveis – de certa forma,
também, isentando o transcritor de possíveis suspeitas de transcrição apressada.
– Acrescentamos sinais de pontuação, inseridos entre [ ], quando considerámos que o autor os omitiu involuntariamente.
– Acresentamos [Ass:] antes de qualquer assinatura ou rubrica de João Higino Ferraz.
– Colocamos entre < > todos os vocábulos que surgem entrelinhados nos textos originais.
– Modernizamos o uso do hífen nos verbos, no caso da sua omissão.
– Adicionamos [?] a propósito de dúvidas em relação à leitura de uma palavra (colocado imediatamente a seguir à mesma)
ou de um conjunto de palavras ou expressões (após espaço em branco), e, raramente, aquando a existência de uma
palavra ou expressão cuja leitura não oferece dúvida, mas cujo sentido ou significado é por nós desconhecido.
– Acrescentamos [...] quando a leitura se revelou impossível.
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44
COPIADORES DE CARTAS
DE
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46
DESCRIÇÃO:
O período temporal abarcado pelo copiador foi por nós acrescentado à designação que já tinha de origem.
Estamos na presença de um livro, em papel, 26,8 cm x 21,5 cm, que se encontra em razoável estado de conservação. Os
fólios deste volume estão numerados com caracteres de imprensa. Nalguns fólios do volume a leitura de muitos vocábulos
revelou-se impossível, devido a um mau decalque.
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minha a culpa d’essas demoras.
Sem assumpto para mais
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Hygino Ferraz //
desenho P4280003.JPG
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[DATA: 19 de Novembro de 1898
DESTINATÁRIO: Cardoso, Dargent & C.ª; LOCAL: Lisboa]
[9v] 14 de Junho 99
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Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
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então se poder despachar, não me parece que tivesse feito mal em despachar as 50 barricas [.] Não lhe posso mandar dizer n’esta
carta o resultado da minha analyse do melaço de Betterraba nem do da Trindade porque não tive ainda occasião de a fazer.
Seccou-se o assucar mascavo 1º da experiencia das diffuzores que deu 14 sacos de 75 kilogramas, e 4048 kilogramas de
melaço que já está em fermentação.
O Alambique ficou hoje montado.
Vou dar um balanço ao alcool para precisar novamente qual é a quebra da retificação.
Os senhores Cossart’s levaram ante-hontem os 2500 gallões d’alcool, e hoje o senhor Carlos Cossart107 vei[sic] procurar-me
trazendo uma mostra de vinho mostrando percipitado branco, dizendo-me que os homens quando estavão trazendo o alcool dos
cascos, um dos canecos tinha um resto de vinho, e logo que lhe deitarão o alcool em 40º torvou o vinho, veio-me perguntar a
que seria devido isso, se o alcool levava algum acido que desse esse resultado; eu respondi-lhe que o alcool nada levava e se o
vinho mostrou esse percipitado é porque o alcool em 40º coagula a albuminia e outras materias que o vinho contem e que as
percipita, e pedi-lhe que esperimentasse com outro qualquer alcool que lhe devia dar o mesmo resultado assim fez com alcool
dos Açores, e deu-lhe o mesmo percipitado. //
[15] Torno a lembrar-lhe a cevada germinada ou pale-malte; como lhe tinha dito que era necessario mandar vir uns 500
kilogramas e não veyo na correspondencia nenhuma encommenda d’esse genero, talvez o senhor Henrique se tivesse esquecido
de a fazer.
Desejava que o senhor soubesse que substancia é que lhe dão o nome de malto-peptone e que Barbet recommenda se
empregue na preparação dos fermentos puros e qual o seu preço para ver se há vantagens em empregal-a; se podesse obter uns
5 a 10 kilos e me enviasse estimava muito, para fazer uma experiencia.
A temperatura atmospherica vai subindo muito e a preparação dos fermentos é um pouco difficil não sendo feitas a 20 a 25º
o maximo de temperatura, talvez me veja na necessidade de empregar um pouco de gelo nos fermentos.
Por nada mais ter a dizer-lhe n’esta occasião
Subscrevo-me com toda a consideração
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
51
de não vir a tempo a certidão vou apresentar a sua reclamação, no caso das colletas não estarem regulares.
Já se despachou 100 barricas de melaço de beterraba e metteu-se hoje a despacho o melaço da Trindade para principiar o
trabalho d’elle na segunda feira 3 de Julho. //
[17] Sem assumpto para mais desejo-lhe que gose bastante na sua viagem a Noruega e pesca do salmão.
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz.
52
O custo d’este melaço com factura e despezas até ao armazem alfandegado é de 225 reis por galão ou 5 kilogramas.
Ficamos ao Lemos109 com 40 cascos de melaço da Trindade ao preço de 220 reis por cada 5 kilos (pezo da fabrica). Segundo
a factura e despezas que elle apresentou o melaço fica-lhe custando a 235 reis, mas seu pae recommendou-me que lhe fizesse
o preço mais baixo possivel, e em vista de elle receber a/v.[?] uma lettra S/[?] Londres a 90 d/v.[?] de 150 libras, e por se esperar
muito melaço na occasião e tambem por ser o melaço de qualidade um pouco inferior ao nosso 28% saccarose
38% glucose não lhe podia fazer melhor offerta. //
[20] Sem assumpto para mais subscrevo-me com toda a consideração.
Seu Amigo Obrigado.[Ass:] João Higino Ferraz
53
Em vista da grande procura de alcool, não tenho tido occasião de ter em deposito mais de 500 a 1000 gallões, e ainda muita
temos para entregar.
Depois de destillar todo o melaço da Trindade vou destilar o que se comprou ao Lemos111.
Quanto ao melaço de beterraba parece-me que o senhor Hinton112 deve-lhe ter mandado a nota do rendimento, que eu lhe
dei que foi 7,8 gallões d’alcool em 40º por 100 kilogramas de melaço. Agora com relação ao resultado da vistoria é que não
estou nada satisfeito, visto o carregador querer livrar a Companhia dos vapores da responsabilidade dos derrames, dizendo que
os derrames forão nos barcos devido a estarem um dia ao sol, e por isso a temperatura elevada ter feito com que o melaço
expandice nas barricas e desse causa aos derrames; ora isto não é verdade, segundo vou expor com mais dados: O pezo bruto
do melaço segundo a factura de Hamburgo // [24] é de [...]
Tara 6.796
Liquido 49.508
O melaço pezado na Alfandega deu
Pezo bruto —————- 50.001 kilogramas
Tara ————————— 6.796 “
Liquido ——————— 43.205 “
Contou-se todo o melaço e agua salgada que havia nos barcos não havendo prejuizo algum, e cuja agua e melaço pezou
liquido 4184 kilogramas (conforme já lhe disse em outra carta) que fermentado e destillado produzio em alcool quantidade
correspondente a 2450 kilos de melaço:
Ora o pezo liquido de Hamburgo foi:
49.508 kilogramas
Pezo da Alfandega 43.205
Quebra 6.303
Melaço junto
dos barcos 2.950
Derrames a bordo
do vapor 3.353 kilogramas
Este é que é o prejuizo real causado aos Senhores e que a Companhia não pode nem deve recusar a pagar visto a razão dos
derrames ser a carga que as barricas tinhão sobre si, e que deu causa a este prejuizo.
Logo que venha o melaço de Cuba vou tratar de fermentar para ver o rendimento, para por elle os senhores verem o que
têem a fazer com as futuras encomendas.
Sem assumpto para mais subscrevo-me com toda a consideração.
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
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DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[26] 30 Julho 1899
Amigo e Senhor Henrique
O resultado do melaço da Trindade pelo “Oliveira Mendes” foi o seguinte: 150 cascos factorados com 17335 gallões a 5
kilogramas ——- 86695 kilogramas
Pezos liquidos: Na Alfandega = 85.926 kilogramas
Na Fabrica = 80.151 kilogramas
Resultado do Melaço de Demerára pela Felizberta:
270 cascos facturados com 27575 gallões a 6 kilogramas =165.090 kilogramas
Pezo liquido da Alfandega = 182.426 kilogramas
Dito do melaço comprado ao Francisco Roiz & C.ª
30 cascos com 2994 gallões a 6 kilogramas = 17.964 kilogramas
Pezo liquido Alfandega = 20.074 kilogramas
O rendimento dos 40 cascos comprados ao Lemos115 foi de 10,2 gallões por d’alcool em 40º por 100 kilogramas de melaço:
Como vê o rendimento foi bom. Ao Lemos segundo elle me disse o rendimento foi de 8,5 gallões em 40º: Faço-lhe notar que
eu não lhe disse o rendimento que aqui tinha dado, sô lhe pedi que me dissesse o rendimento para eu combinar com o de cá
Estou desejando de ver o rendimento do melaço de Demerára que me parece deve ser bom devido á boa qualidade do melaço
e á boa fermentação que fez. Na proxima malla talvez lhe possa dar o rendimento d’elle.
O navio de Cuba foi arribado a São Miguel com o capitão doente. O Pedro Roiz tellegraphou emmediatamente prevenindo
que o navio tivesse o menos demora possivel n’esse porto, e dessem logo tellegramma da sua sahida. //
[27] Temos trabalhado aos domingos com o retificador, isto é não tem parado um momento. Quanto ao destillador não tem
havido necessidade de trabalhar tambem ao domingo visto haver aguardente em rama suficiente que o retificador não dá
vencimento.
Vou na proxima semana desfazer o resto do melaço de Hamburgo porque qualquer dia temos ahi nova carga e não há outro
armazem para o pôr.
Sem assumpto para mais subscrevo-me com estima
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
55
[29] 6 Agosto 1899
Ill.mo Senhor Carlos
Envio-lhe como é seu desejo a nota de comparação dos rendimentos dos diversos melaços comprados ultimamente:
1ª remessa de melaço de Beterraba com 47% de saccarose – custo por kilograma 62 reis rendeu 7,5 gallões d’alcool em 40º
por 100 kilogramas de melaço (quebra do alcool feita a 5%)
2ª remessa de melaço de Beterraba com 50% de saccarose – custo por kilograma 60 reis – Rendeu a 7,8 gallões d’alcool em
40º por 100 kilogramas de melaço (quebra de 5%).
Melaço da Trindade comprado ao Lemos116 a 220 reis por 5 kilogramas – rendeu 10,2 gallões d’alcool em 40º por 100
kilogramas de melaço
Ultimo melaço vindo da Trindade pelo “Oliveira Mendes” que sahio a 225 reis por cada 5 kilogramas rendeu a 10,5 gallões
d’alcool em 40º por 100 kilogramas
Melaço de Demerára pela “Felizberta” rendeu a 10,3 gallões d’alcool em 40º (quebra de 5%)
As percentagens de assucar achadas forão as seguintes:
Melaço da Trindade Lemos – saccarose: 28%
Glucose 38,6
Melaço da Trindade Hinton saccarose: 50%
Glucose: 19,4%
Melaço de Demerára – Hinton saccarose: 45%
Glucose: 22,6
[Ass:] João Higino Ferraz //
56
[DATA: 3 de Novembro de 1900
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[32] 3 novembro 900
Amigo e Senhor Henrique
Aviamos o lote Nº 29, melaço da Fabrica que deu o rendimento de 6 7/10 gallões d’alcool a 100º a 15º temperatura por 100
kilogramas de melaço. Este melaço foi desfeito como sabe em 9º a 10º Baumé com uma acidez inecial de 3 gramas por litro e
final com a media de 4 gramas; grau de paragem 2 ?º Baumé. O lote Nº 22 tambem melaço da fabrica deu por 100 kilogramas
de melaço 6 8/10 gallões a 100º a 15 temperatura. O rendimento medio dos melaços da Fabrica do anno de 1899 foi de 6 5/10
gallões a 100º a 15 temperatura. Quanto ao melaço da Refinação de Lisboa estamos principiando a destilal’o. Este melaço desfiz
tambem em 9º a 10º Baumé com uma acidez inecial de 1,6 gramas por litro; O grau de paragem foi de 2/4º Baumé com uma
acidez final de 2,7 gramas por litro.
Tenho esperanças que o rendimento em alcool seja de 9 gallões por 100 kilogramas em 100º a 15 temperatura como lhe tinha
dito. A experiencia feita em 1899 com este melaço deu 8 8/10 gallões a 100º a 15 temperatura. A fermentação é muito boa, e a
destillação faz-se bem dando um alcool rasoavel, não mostra o cheiro caracteristico ao melaço (petrolio). Já se desfizeram 140
barricas d’elle.
Por emquanto vai tudo bem.
Do que houver lhe darei conta na proxima carta.
Seu Amigo Obrigado.[Ass:] João Higino Ferraz //
57
Este melaço foi o que se tirou a amostra na Alfandega que tinha:
40% saccarose
59,5% assucar total
19,5% glucose
O melaço d’esta mesma proveniencia que veio em abril do anno passado deu 8,6 gallões em 40º com 5% quebra: tinha 52%
saccarose.
Como vê o rendimento não chegou ao que eu esperava mas isto devido a que o grau de paragem que eu calculava ser de ?º
Baumé foi de 5/4º, o que dá uma differença no rendimento: Ainda assim o lucro não é mau em comparação com o que se está
tirando dos outros melaços.
O melaço da Fabrica deve ficar todo desfeito na semana proxima. Segundo o que calculei com o Joãozinho do que está por
desfazer, nos filtros e tanques, vejo que vai dar muito mais melaço na porporção da canna moida, pela do anno passado; calculo
em 440 cascos em quanto que o anno passado deu 354 cascos.
Senhor Henrique no caso de hir a Paris pedia-lhe o obsequio de me comprar um candieiro “Denayrouse” de incandescencia
pelo alcool da força de 20 vellas (bougies). Desejava ter um d’estes candieiros que me dizem dar uma luz magnifica.
Sem assumpto para mais subscrevo-me com toda a consideração.
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
58
[39] 18 Dezembro 1900
Amigo e Senhor
João Albino Rois de Sousa
Na impossibilidade do Ex.mo Senhor Carlos Hinton lhe poder responder a sua carta por isso que elle partiu hontem para
Londres, fasso-o eu, dizendo que recebemos o seu telegramma d’hontem participando que tinha tido selada a aguardente
existente na Fabrica.
Sinto bastante que isso se tivesse dado, mas o meu Amigo deve ter a minha carta com data de 9 de novembro em que lhe
dizia não tivesse em deposito na Fabrica aguardente, e se tivesse tomado o meu concelho não lhe teria sucedido isso. Nesse
mesmo dia foi ao Governador Civil participar-lhe o sucedido e elle respondeu-me com evasivas, e sô depois de eu lhe fallar um
pouco mais energico lembrando-lhe o que elle tinha prometido, é que elle se dignou dizer-me que em Lisboa havia de tratar
d’este assumpto. Não trata de nada, as eleições estão passadas e já não necessita nem dos Senhores nem de nós.
O Ex.mo Senhor Henrique Hinton deve estar aqui amanhã 19 e elle lhe escreverá. Recebemos um bilhete postal seu e que
ficamos ciente do seu contiudo.
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo[Ass:] João Higino Ferraz //
59
que as cousas não tem corrido nada bem. Os fermentos não tem querido desenvolver bem de maneira que já tenho feito 3
fermentos e perdido dois, este ultimo é que esta desenvolvendo bem mas foi feito nos apparelhos antigos. Não sei se devido ao
acetato de cobre que se formou dentro dos apparelhos emquanto esteve parado nestes dias de festa, que não me parece que seja
de outra cousa em vista do gosto prenonciado a cobre que tem a bebida, que mata o fermento não o deixando desenvolver. Tive
o cuidado de lavar a vapor todos os apparelhos mas mesmo assim não foi sufficiente. Como tenho o fermento feito nos
apparelhos antigos, vou principiar a desfazer o melaço e pode ser que então desapareça todo118 //[43]119
60
d’assucar e aguardente matriculados não se podem obrigar a garantir preços tão elevados pela canna, que algumas vezes lhe
deixa prejuizos, sem que tenham onde ir boscar lucros, que a canna lh’os não deu. //
[48] Foi o Governo Regenerador que em 1895 fez esta lei que tantos beneficios trouxe á Madeira e que por isso tão
sympatico se tornou, e é de grande vantagem que seja elle que novamente venha renovar esta lei. O Amigo como bom político
deve ver isso perfeitamente.
Sem assumpto para mais, tenho a certeza que a coadjuvação do meu bom Amigo nos será muito util, e o seu nome não será
esquecido n’este bocadinho da Patria.
Subscrevo-me com toda a concideração:
Seu Amigo Certo e Obrigado[Ass:] João Hygino Ferraz //
61
[DATA: 13 de Agosto de 1901
DESTINATÁRIO: João Albino Roiz de Sousa; LOCAL: Santana]
[DATA: ?
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[54] [...] de 30 cascos com melaços de 3en [...] de 1901 que me deu o seguinte resultado:
[...] : 38,4% – assucar total 53,19% – [...] 15,48%. Comparando esta analyse com a [...] destillado do anno 1900 que foi de:
saccarose 20% assucar [...] 52,14[?]% – glucose 40,1%, vê [...] neste anno (1901) foi muito [...] que os assucares [...] menor
quantidade [...] da glucose de 1900 [...] que nas produzem [...] na fermentação [...] do melaço[?] da Fabrica e logo que obtenha
[...] pequeno [...] 16 a 18 sacas por dia [...] quanto que o anno passado sô se tirou 8 a 10 sacas no mesmo tempo.
Bombas [...] “America” estão trabalhando bem, e o despendio de vapor é pouco
Bomba “Worthington” – Já tirei as medidas: pela nota que eu vi na sua carta, vejo que sô lhe tinha mandado o deametro e
comprimento dos cylindros [...] em quanto que agora vão as medidas completas dos pistons da agua.
Triple-effet – os desenhos com todos os [...] vão neste vapor.
Principiou-se a tirar as [...] das [...] dos tubos que estão sendo [...] visto estarem detrioradas.
[...] de Sant’Anna – João Albino Rois de Sousa escreveu-me[?] queixando-se [...] poblicada [...] destillação [...]//[55]mente
não vem e que era de grande necessidade fallar ao Governador Civil sobre esse assumpto, por isso que no telegramma enviado
por elle ao Governo pedia que fossem [...] as suas materias primas. Fallei ao Sobral sobre esse assumpto e elle disse-me que
fallaria ao Ribeiro [...] e me apresentaria.
Segundo o Bulletin mesmo[?] poblicado em São Miguel por Jacintho Botelho Arruda, e que lhe vai ser enviado, deve vêr
que os assucares da Madeira são muito mal tratados por [...], clasificando-os como maus. Segundo vejo pelas analyses por [...],
a percentagem em assucar cristalisavel é muito inferior à que tenho examinado aqui, e a soma das substancias estranhas como
glucose, agua, cinzas etc. com o assucar crystalisado é superior ao pezo tomado por elle como [...] que é 100. Mesmo sem [...]
destillação[?] vou enviar ao Luiz[?] S. [...] a analyse dos assucares idos[?] para São Miguel, para provar que as analyses feitas
por esse Arruda não estão certas e são cavillosas. Depois o Senhor Henrique dirá o que se deve fazer para remediar isto, que
pode ter grande influencia futura na venda dos assucares nas Ilhas.
Bomba ou compressor d’ar Weston[?] [...] e do apparelho Barbet – O que deve[?] fazer a esta bomba. Envial’a [...] Paris ao
Barbet para conserto, ou ver se se pode [...] remedio aqui mesmo visto termos um pestão e mollas[?] novas. Como sabe a que
62
está em trabalho é[?] da Fabrica de assucar e não convinha trabalhar[?] [...] com ella para a não estragar.
Fabrica da Ponte Nova: [...] Jardim[?] ainda não deu a resposta da questão[?] da agua
Sem assumpto para mais Subscrevo-me Seu Amigo Muito Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
63
Quanto [...] a agua (torbinas) para produzir o movimento directo das centrifugas acho muito bem enginhado, mas tem uns
[...] que lhe vou espôr e que o Henrique bem deve comprehender. Temos que para produzir o movimento d’essas centrifugas,
dois motores; um que é uma bomba duplex, que deve trabalhar com [...] perção de vapor entre 50 a 60 litros[?] que como sabe
é defícil [...] com as auctuaes caldeiras que temos[?]. Outro motor que é a turbina que produz o movimento directo da
centrifugas [sic]. Um desarranjo que se vê na bomba duplex occasionou uma paragem completa da secagem do assucar. Um
desarranjo na turbina, fica inutilisavel uma centrifuga, e como elles propôem as centifugas (que acho [...] mas com uma sô [...]
//
[60] A minha opinião é que as centrifugas “Weston” são magnificas desde o momento que o movimento seja produzido por
uma unico [sic] motor a vapor. Quanto á economia de vapor já fazemos [...] substituindo as [...] das auctuaes centrifugas por
um unico motôr. O vapor [...] motor não é perdido por não [...] é aproveitado na evaporação da garapa.
Temos secado até hoje [...] de M2 que produziram 464 ponches[?] e temos para secar 3 ponches[?]: O melaço desfeito até
hoje dá [?] 300 ponches. Principiou-se hoje nos ponches[?] grandes.
Temos em [...] 520,[?] gallões d’alcool. [...] a aguentar isto de forma a [...] falta d’alcool; para a proxima semana vou
continuar a restillar que pode [...] uns 35[?] [...]. O que não val é que o [...] do alcool bruto.
O Enginheiro está tirando as medidas para o cano [...] do vapor como o senhor Henrique pedio ao Chassereau, mas já lhe
pedi para não lhe mandar sem me mostrar. Com franqueza lhe digo[?], não tenho por emquanto grande confiança nos trabalhos
do Engenheiro, a [...] com muito pouca pratica[?].
Acabo de receber (13 – ás [...]) o seu telegramma dizendo aceite[?] [...] conto. Nada lhe quiz escrever [...] carta, com relação
as [...] dos foros sem receber o seu telegramma, o que vou [...] fazer. Como na outra carta disse, o Sothero e Silva ficou de vir
na segunda feira para assinarmos[?] a escriptura, mas como [...] ver a antiga escriptura do terreno afurado, para [...] as
confrontações foi necessario // [61] que elle dêsse a nota em que [...] se poderia encontrar isso: assim se fez e demos com essas
escripturas cujas notas[?] lhe envio juntas. Como [...] elle ficou conhecendo o terreno que occupa o foro[?], e calculou que os
bens de raiz, isto é, as construcções existentes sobre esse terrenos, [...] 9 alqueires, tinham algum valor, e que não podia fazer
a escriptura sem consultar o avô e o sogro. Sô hontem (12) é que veio com a proposta de que fazia a escriptura dando o senhor
Henrique um conto de reis sem mais despeza alguma. De forma que nada quiz decidir sem sua auctorisação de forma [?] mais
[...] era o telegramma.
O terreno foi [...] dando-lhe um valor de 100$ reis por alqueire, o que se vê que os 9 alqueires val 900$ reis ora comprando
o Senhor Henrique por 1.000$ reis parece-me que não compra caro. O Sothero sô deu por o valor estipulado na escriptura depois
de ter feito a promessa de venda, de forma que não poude faltar com a palavra dada.
A medição total do terreno da fabrica é de 17 alqueires e 292 metros quadrados.
Quando o Senhor Henrique vier havemos[?] de conversar sobre o outro foro que por emquanto não convem fallar nisso.
Li os artigos do jornal republicano O Norte, do antigo Deputado republicano Eduardo Abreu, sobre a nova lei das Adegas
sociaes e sobre o alcool, artigos de critica muito bem escriptos mas que pouco // [62] peso teem sobre o Governo por vir de
onde vem; elle considera a Madeira e os Açores prejudicados com essa Lei. Essa lei é a de 14 de Julho ultimo que o Senhor
Henrique já conhece.
Não pode acignar hoje a escriptura por faltar um decomento da conservatoria, que na segunda feira se vai obter.
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Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
64
Recebemos os planos dos apparelhos a construir, acho que não falta nada pelo contracto feito conforme as cartas e devis
apresentado pela casa constructora com data de 29 de maio do corrente.
Pela carta (copia) que o Chassereau escreve á casa constructora verá o Senhor Henrique as respostas que lhe dou.
Os poços grandes tem rendido muito menos assucar que os outros, mas não é devido a não estar toda a crystalisação
formada, por isso que fiz uma analyse do melaço tirado d’este assucar que sô mostrou 38,4% assucar emquanto que nos outros
mostrou 39 e 40%. // [64] O assucar d’estes poços é de boa qualidade: cousa curiosa, tem um crystal relativamente grosso e
solto.
O melaço é que vai dar mais do que calculava, por isso que temos desfeito até hoje 421 cascos, e com o que temos para
secar não deve dar menos de 500 a 520 cascos. O rendimento do melaço por 100 kilogramas d[sic] canna não deve talvez ser
inferior ao do anno passado.
Lembro ao Senhor Henrique que, como vai mandar a bomba de vacu para a caldeira ingleza, seria talvez bom enviar para
Londres a velha dizendo que hia a concerto, para evitar de pagar os direitos da nova.
Já demos principio ao trabalho a fazer no Triple-effet conforme a planta.
O enginheiro está tirando as medidas do tubo geral do vapor; eu disse-lhe que seria com tambem um ramo de 5 polgadas
para trazer o vapor para as centrifugas, caldeiras de vaco e bombas, alambiques, serra e tenda, mas este tubo sô deve vir até á
caldeira de vapor franceza que fica ao pê do alambique; se o Senhor Henrique acha isso conveniente, fazer então a incommenda.
Este tubo evita 3 que ao presente estão montados.
Sem assumpto para mais subscrevo-me com toda a Concideração
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
65
assucar total extrahido = 8,926
Pelas analyses da garapa deu uma media em assucar = 8,941 kilogramas
Nestas analyses fiz a quebra de 0,5%
O calculo feito em Reis dá uma differença a mais no anno de 1901 de Reis 13.892.000
[Ass:] Ferraz 28/9/901 //
66
Enxofare não é necessario vir por isso que temos 20 barricas e sô se gastaram 8. O que é necessario vir é o seguinte:
Baryte cristalisado – 25 barricas (8500 kilogramas)
Alkali puro a 58% – 10 barricas (2500 kilogramas)
Serviettes en jute qualité superieur para os filtros-presses – 300
2 jogos de nodellas de caoutchouc para os filtros-presses
Poches filtrantes para os filtros Philippe temos 129 novos e 132 usados sendo 50% em mau estado, acho que se deverá
mandar vir uns 50%.
Este calculo das materias chimicas está feito para uma laboração de 360.000 almudes de garapa, levando em conta o
augmento da difusão para o proximo anno que calculo em 1/3 a mais na garapa.
Junto com a sua carta de 10 do corrente encontro um Devis de Gallois Succ.or dos apparelhos de laboratorio, e o que está
marcado com uma cruz encarnada é o que temos. Seria bom vir une râpe Pellet ou outra para reduzir a polpa fina a canna ou
bagaço para analyse d’estas materias.
Junto com esta, encontra o Senhor Henrique uma nota em separado do rendimento real da canna n’este anno, e prontamente
o calculo feito em assucar contido no melaço e no bagaço reduzido a alcool calculando que 100 kilogramas d’assucar
crystalisavel produz 60 litros d’alcool puro a 15 temperatura. Os 8413 kilogramas é a glucose contida no melaço e que foi
fermenticivel. O melaço na media tinha 55% assucar total. // [72] Faço-lhe ver tambem que no devis de St. Quentin elles não
mantem[?] a torneira que fecha o vacu da Caldeira Franceza quando se trabalha com o Melaxeur fermé essa é uma torneira
importante que deve vir sem falta.
Tambem não fornecem os tubos de união entre a caldeira [...] franceza e a columna [...] e os do mesmo [?] [...] melaxeur
fermé. Estes tubos são dificeis [?] de conseguil’os [...] cobre [...] que teem [...] lhe para [...] isso nos planos.
Como temos que empregar vapor directo no triple-effet tambem seria[?] bom ter uma [...] Riltot[?] com clapet[?] (valvula)
Dulac124, para conservar a perção sempre constante e por conseguinte a temperatura na 1er caisse do triple-effet.
Como já tivesse terminado a fermentação do melaço da Fabrica fermentei o melaço de Demerára despachado em ato
sucessivo o qual terminei hoje[?] a fermentação e já despachei [...] de Demerára na rua da Dificuldade[?]
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67
[DATA: 26 de Outubro de 1901
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[74] 26 outubro 1901
Amigo e Senhor Henrique
O Senhor Chassereau leu-me a carta em que pedia todos os esclarecimentos com relação á futura montagem das turbinas e
corta cannas.
Vamos fazer o possivel de lhe enviar com a meior clareza as medidas pedidas, e vou passar a fazer-lhe as considerações com
relação a esses trabalhos:
Centrifugas: – As centrifugas estão collocadas na posição que deseja, o que ficam é um pouco mais afastadas da bomba de
vacu para evitar os respingos d’agua que essa bomba sempre deita, e ficaram mais desafugadas.
Elevador do assucar: – A forma como deseja que fosse montado esse elevador segundo o seu croquis, tem sêus
inconvenientes; o assucar elevado não pode, um dia que queira despresar o antigo armazem, cahir d’entro do novo, alem d’isso
pela inclinação que deve ter vai cahir a muito mais de meio armazem velho.
Tem tambem o grande inconveniente de á sahida das centrifugas passar por baixo dos sulfitadores da garapa que n’um caso
de derrame vai estragar o assucar contido no conductor; temos tambem de deslocar o deposito que recebe a garapa dos filtros
mechanicos. No meu entender se se pudesse fazer o elevador como vai marcado na planta a tinta verde evitava todos esses
inconvenientes: Era um elevador com baldes até á altura maxima do armazem e d’ahi seguir em linha reta por meio de um
conductor com parafuso sem fim até sahir no andar superior, tanto do velho como do novo [...] //
[75] Corta cannas: – O Petty é que está encarregado de lhe dar todos os esclarecimentos a esse respeito, mas vou dizer-lhe
mesmo assim o que entendo, sobre esse assumpto; parece-me que a melhor collocação a dár ás poules que transmitem o
movimento ao eixo que por sua vez o transmite ao corta cannas é nas letras A machina franceza, e B machina ingleza; estas
poulés devem ser em duas meias, e as respectivas grossuras dos eixos são: A 9” e B 6 ?”. O comprimento do eixo será de 30’
3” d’esde o centro da poulé A ao centro da poulé B.
D’esta forma não se embaraçará em cousa alguma, porque sendo collocadas no pinhão como elles propoêem complica-se
com as rodas de engrenagem da machina franceza e na machina ingleza tem pouca altura. Verá isso bem pelas plantas. Pouco
mais terei que lhe dizer porque á vista das plantas que o Petty e João Florencio estão tirando vesse bem tudo o que se deseja.
Descripção das plantas:
A eixo e colocação da poulé machina franceza. Medida exacta.
B eixo e colocação da poulé machina ingleza. Medida exacta.
C porta de commonicação da machina ingleza para os engenhos e onde deveria ser colucado o eixo de transmissão.
Na planta do João Florencio o que está rescado a tinta encarnada é o elevador proposto por si e o teto e andares do novo
armazem da rua.
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
68
Agradecendo-lhe a sua estimada carta de 1 de outubro do corrente anno, e os seus amaveis desejos da minha saude e de
todos os meus, retribuo-lhes egualmente do coração, desejando-lhe umas felizes Festas e um prospero anno futuro.
Fiquei bastante contrariado por não poder estar consigo algum tempo na sua passagem por aqui, mas n’essa occasião, epoca
da laboração da Fabrica d’assucar, estou tão preso que dificilmente posso abandonar o serviço. Era meu dever retribuir-lhe as
amabilidades que o meu caro amigo teve para commigo quando estive em Paris, mas não perdi as esperanças de tornal’o a
abraçar ahi mesmo, e talvez no anno proximo.
Recebi das mãos do senhor Alfredo A. Camacho a amostra do tecido metalico para turbinas (centrifugas), o qual acho de
magnifica qualidade.
Vamos montar umas novas Turbinas “Weston”, que ainda não recebemos, e no caso de vermos que o tecido apresentado pelo
meu caro amigo é // [78] conveniente para ellas não temos duvida em lhe fazermos uma encommenda.
Agradecendo-lhe mais uma vez, fico ás suas ordens e desponha d’este seu
Amigo Certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
69
desceu muito da percentagem em assucar o que é natural: Fiz uma analyse de 50 ponches que me deu o seguinte:
Saccarose – 33,15%
Glucose – 12,8%
Clerget – 20,6%
Emquanto que o melaço que se levou á destillação durante a laboração era na media
Buisson127 Saccarose – 38,16%
Glucose – 12,24%
Clerget – 39,25%
Como vê pelo methodo Clerget é que se vê a differença grande que faz em virtudo[sic] das materias melassiginosas que
contem os melaços dos 3er jets.
Quanto ao rendimento do melaço em alcool nada lhe posso dizer por emquanto.
Apareceu um dos taes malditos lotes d’assucar branco que no interior das sacas era escuro, de forma que houveram
reclamações do Costa e dos Linos, tivemos que lhe dar um outro lote que felizmente era bom, mas com a condição de ficar com
o primeiro a ver se o vão emporrando pouco a pouco. Não tive outro remedio senão // [82] fazer isto, em vista de haver na
Alfandega umas 84 sacas d’assucar da Trindade que veio para esperiencia [...] offerecendo 3550 [...] vendo [...] as encomendas.
Eu não tenho [...] nada bem [...] tinha-lhe dito [...] as Caldas [...] necessidade de [...] verão [...] muito [...] inutilisado[?] para
[...] não [...]
Sem assumpto para mais Subscrevo-me seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
70
Este calculo dá quasi certo pelo calculo do rendimento feito pelo Buisson no resumo geral da fabricação. O que acho
exageradissimo é a percentagem d’assucar contida no melaço, e que me parece que com uma boa turbinagem o rendimento do
1º jet deve ser muito meior, evitando que 100 kilogramas de canna dê 5,329 kilogramas de melaço! No anno de 1901 a
producção de melaço foi de 3,369 kilogramas, mas como este anno se extrahiu pela diffusão mais 27% em assucar o melaço
devia ser de 4,278 kilogramas, (trabalhando mal). //
[85] Fiz a analyse do melaço d’Africa que foi despachado no dia 12, que me deu o seguinte:
Analyse qualitativa:
Aparencia – claro-transparente
Gosto – Doce franco
Densidade Baumé – 40 ?º
Pureza – 54,3
Analyse quantitativa:
Densidade ———- 5,75
Temperatura —— 25º
Polarisação – 22,7º = 40,6% assucar cristalisavel
Glucose – 2,4 centimetros cubicos = 24,12%
Clerget – 7,6
= 43,36% assucar cristalisavel
tudo[?] – 25
Como vê o melaço é <de> magnifica qualidade, e pela pureza pode ser comparado ao nosso egoût pauvre de 1º jet que na
media foi de 50. Se todo o melaço d’Africa fosse como este seria muito bom, mas duvido, parece-me mais ser este melaço
producto de fabricação pelo sisthema antigo com as formas de secagem do assucar.
Diffusores: – Vamos principiar ámanhã na desmontagem d’elles, e espero ou por carta ou por telegramma se sempre se vão
montar mais 2 ou mais 4 diffusores [.] Com relação a altiar os diffusores temos duas cousas: A edeia do Mestre João Florencio
de fazer correr directamente as aguas dos esgotos dos diffusores no cano do vinhão dá em resultado termos que altiar os 2,90
metros o que dá uma altura descomonal. A minha edeia era levantal’os a ficar na altura do tabuleiro dos cylindros do engenho,
conservando as mesmas alturas dos fundos diffusores // [86] ao fundo do poço hoje existente, o que nos faz levantar os
deffusores somente 1,30 metros: Por baixo do taboleiro que recebe o bagaço colocava-se um deposito de ferro que receberia as
aguas, as quaes seriam absorvidas pela bomba centrifuga que não tem serviço e as deitaria no cano do vinhão; para melhor
clareza faço-lhe o desenho:
DESENHO P4270026.JPG
DESENHO P4270026.JPG
Em falta
71
D’estas duas edeias o Senhor Henrique dirá qual a que acha mais conveniente e para evitar demoras seria bom telegraphar
uma palavra que indicasse qual a que deseja, por ex: Florencio – queria diz[sic] que se devia fazer o que o Mestre João propõe,
e Ferraz, que seria a minha edeia.
Na proposta de João Florencio não vejo inconveniente por isso que temos que levantar o tanque da agua na mesma
proporção dos diffusores; a única cousa que tenho duvidas é a bomba centrifuga ter que sofrer um resistencia [sic] de 2,90
metros a mais, e fazer má circulação.
Naturalmente vou principiar a fermentação no dia 23 do corrente; logo que aqui cheguei começou o alcool a ter melhor
sahida devido a ser a época das vindimas. //
[87] 15 setembro 902
O rendimento do melaço de Barbados conforme o Lote Nº 18 foi de 9,5 gallões a 100º por 100 kilogramas melaço, que é
um bom rendimento.
O filtro-presse que foi para casa do Senhor Krohn fiz-lhe o preço de 150$000 reis. Aquele filtro novo andou costando perto
de 300$000 reis.
Uma cousa que lhe queria fazer notar na montagem dos diffusores e que me hia esquecendo era a passagem das cannas para
o engenho de espremer: Pela edeia do Mestre João Florencio os homens podem passar por baixo do taboleiro do bagaço dos
diffusores por isso que fica com bastante altura, emquanto que com a minha edeia temos que arranjar passagem por denttro do
armazem velho.
Sem assumpto para mais subscrevo-me
Seu Attencioso Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
72
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
73
kilograma.
Alambique: – Já esta trabalhando o Alambique Alemão que foi consertado, com as borras do Senhor Blandy129, está
funccionando bem. Recebemos uma caixa com fermento puro abituado ao fluorhydrico que nos enviou o Barbet; diz elle na sua
carta que o novo fornecedor d’este fermento deseja fazer uma experiencia com fermento enviado em liquido fluoré, porque diz
elle // [93] que tem duvida que o fermento no liquido fluoré não estando em actividade de fermentação não seja duradora a sua
conservação anticeptica (o que não me parece) e que nos vai enviar 2 dozes n’essas condições para fazermos as esperiencia [sic]
e mandarmos lhe dizer o resultado.
Alcool: Sô tenho em deposito como alcool de 1ª 3000 gallões mas tenho Escencias e Etheres para rectificar o que deve dar
uns 2000 gallões pouco mais ou menos. Os Senhores Blandy não me mandaram por emquanto dizer quando necessitavam de
alcool de 2ª, mas no proximo mês de Julho vou fazer-lhe a pergunta: Naturalmente vai ser necessario principiar com a
fermentação em meados de Julho porque não desejava que houvesse falta d’este artigo nas proximas vindimas.
Sem assumpto para mais, desejo a continuação da sua saude
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
74
fluoretado e elle não desenvolveu! Vi logo que a levadura não era o que se tinha pedido; sô uma semana depois é que recebemos
uma carta do Barbet em que nos prevenia de que o fermento enviado não era fluoretado a qual chegou já tarde. // [96] Vi-me
obrigado a fazer novo fermento com levadura Alemã, a qual já está em fermentação e com bom desenvolvimento. Respondi ao
Barbet fazendo-lhe sentir a sua falta de informações: Na minha opinião esta despesa feita com a levadura enviada e que se
perdeu deve ir a debito da conta d’elle.
Com relação ás vendas d’assucar lá vão seguindo morosamente, devido a nos ter faltado o assucar B2
Ainda estive a ver se poderia encontrar algum lote que podesse servir para B2 mas nada vi que se apresentasse era tudo
muito mais claro.
Com relação a chuvas estamos muito mal, a agua é quasi nenhuma mesmo para o alambique e trabalhamos com deficuldade,
e não vejo probabilidades de se poder arranjar o ? d’agua da levada dos moinhos, porque ella é bem pouca. Naturalmente sô
para outubro ou Novembro estaremos em condições de refinar assucar.
Chegou no dia 18 a Felizberta com o carregamento de melaço, que veio em magnificas condições, enxuto e com bom peso:
a sua analyse é a seguinte:
Densidade 6,44
66 em 20
Temperatura 25,6
Polarisação 22,7 = 40,67% assucar cristalisavel
Glucose – 23,15%
Clerget – assucar real = 1,99[?]%
Materias Seccas 88,45
Pureza 47,4
Ao Lemos131 sempre lhe chegou o navio <da Trindade> com o melaço, cuja analyse é a seguinte:
Densidade [...]5
5,59 em [...]
Temperatura [...]
75
Recebemos uma amostra de assucar de Demerára cristalisado escuro do qual não mandam o preço, mas que pelos preços
correntes de lá vejo que é de $1.81 por 100 libras com 96º d’assucar. Vou analysal’o: Pelo preço, se é effectivamente a $1.81
parece fazer conta; é um assucar que talvez com uma lavagem nas turbinas fique branco, e os egoûts serviram então para refinar.
As refinarias da America para esta qualidade de assucar assim procedem.
As fermentações vão magnificas, e temos já 1000 gallões para entregar aos Senhores Blandy amanhã 25 como do contracto.
Já está em fermentação a esperiencia dos 12 cascos de Demerára que vieram ultimamente do qual lhe mandei a analyse.
Recebemos mais 6 amostras de assucar de Londres proprias para refinaria e seu preços, que não comprehendo nem o
Carlos132; elle envia-lhe a carta.
Sem assumpto para mais desejo-lhe todas as felecidades.
Seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
76
Sô temos em deposito umas 1010 sacas d’assucar B1
Sem assumpto para mais subscrevo-me
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
77
1º jet ———————————————————————- 6.770
2º jet ———————————————————————- 0.413
Assucar total no melaço (contando
a 60% <rendimento>) —————————————- 2.472
Assucar no petit jus reduzido a alcool ———— 0.317
Assucar total extrahido ——— 9.972
Melaço por 100 kilogramas canna 5,329 kilogramas!!! //
[105] A producção exagerada em melaço no corrente anno (6,040 kilogramas) não pode ser devido a outra cosa senão á
doença na canna. Contudo o systema de diffusão adotada este anno deu em resultado um augmento de rendimento em assucar
2º jet. O rendimento do melaço em alcool foi melhor este anno devido á pureza das fermentações mesmo sendo o melaço mais
pobre em assucar cristalisavel.
Deu-se um pequeno incidente entre a Comp. do Caminho de Ferro do Monte e nôs, devido a uma local publicada no
“Direito”, em que eu tratei de desfazer a má impressão produzida no publico. Fiz com que o director da Companhia publicasse
um desmentido, o que elle fez de boa vontade. A causa foi o exame feito ás caldeiras da locomotivas em que o nosso Engenheiro
foi perito por parte da Companhia. Quando voltar lhe explicarei melhor.
Um assumpto importante:
Tivemos aqui antes de hontem uma vesturia á Fabrica, (assim como tem havido em todas as outras) composta do Trigo,
Cyrilo dos Santos (empregado da Fazenda), e um outro empregado da Fazenda, do Continente, que não conheço: Esta vesturia
teve por fim principal a medição dos apparelhos de destillação para vêr a sua capacidade de producção, que segundo me disse
o Trigo o Governo mandou fazer, porque não se conformão com a capacidade das Caldeiras nos apparelhos continuos. Este
assumpto deve ser seguido com cuidado porque modando o Governo a lei que o regula pode-nos ser bastante prejudicial quanto
ao pagamento da contribuição industrial. Fiz bem ver ao Trigo que a capacidade de destillação deve ser contada sô a parte onde
se produz a distillação do vinho e não a columna de retificação, e que o melhor calculo deve ser o diametro da columna e não
a sua capacidade total.
Sem assumpto para mais Subscrevo-me seu respeitoso Amigo[Ass:] João Higino Ferraz //
Nota da media do rendimento em alcool do melaço da Fabrica dos annos 1902 e 1903
Anno 1902 – Percentagem media em assucar cristalisavel do melaço 41%
Rendimento por 100 kilogramas melaço = 7.5 gallões a 100º
78
Melaço por 100 kilogramas canna 3.374 kilogramas 3.369 kilogramas 5.329 kilogramas 6.040 kilogramas
Nos annos de 1902 e 1903 empregou-se a diffusão do bagaço.
[Ass:] Ferraz //
79
Drury – 1000 “ “ “
Deversos 600 “ “ A
O senhor Blandy139 já levou 1000 gallões pagando o preço estabelecido e espera até ao fim do mês para receber os outros
1000 com a competente baixa. O senhor Drury leva agora 500 gallões nas mesmas condições e espera pelos outros 500 até o
fim do mês.
Despachei primeiro este melaço que sô contem 34% de saccarose com 25% de Glucose e puresa 43,4, carregado em muita
cal e por isso não muito proprio // [112] para extrahir assucar. Tenho por isso melaço até a sua vinda, que segundo me diz é a
17 do corrente.
Quanto ao nosso assucar sô temos 200 sacas B1. Seria bom no caso de poder ser principiar na refinação, porque agua deve
haver d’aqui até lá; já principiou as chuvas e estamos com o inverno á porta. O assucar tem subido de preço no estrangeiro
devido como sabe aos governos Ingles e Alemão não darem premio de exportação.
Dos negocios da Casa corre tudo regularmente.
Seu Amigo e Obrigado
[Ass:] João Higino Ferraz
P.S. O Pedro Henriques disse-me que tinha encommendado 700 cascos de melaço de Demerára, para virem em dois lotes,
o primeiro em Dezembro e 2º em fevereiro proximo e pede para o Senhor Henrique lhe dizer se necessita mais algum, ou da
Trindade ou Antigua. //
80
A Associação Commercial, isto é, a Sua Ex.ª Direcção que são na tutalidade progressistas e que quer representar de forma
a modificar o regulamento como do telegramma que lhe enviei hoje. Um dos que mais barulhos fazia era o Pinto Corrêa141 e
João B. Gomes.
Tive uma larga conferencia com o Pinto Corrêa sobre esse assumpto e disse-me elle que não queria de forma alguma
prejudical-o (ao Senhor Henrique) // [116] mas sim ajudal’o e proteger! n’esta questão, porque segundo elle, desde o momento
que o alcool de melaço podesse prejudicar a aguardente de canna o decreto cahiria por terra e seria um prejuiso para si. Fiz-lhe
ver os contras de tudo o que pediam que era; fixação do preço do assucar; fixação do preço do alcool e obrigasão da compra de
aguardente de canna, mas estão de tal forma persuadidos que o que pedem é justo, que não há meios de os convencer do
contrario. A representação deve hir no primeiro vapor por que assim lhe pedi e elles me prometteram, e acho que o Senhor
Henrique não deve vir de Lisboa sem que tenha essa questão resolvida.
Por aqui me vou aguentando com elles, é verdade que sou sô, mas felizmente elles attendem-me com toda a consideração.
O Dr. Manuel J. Vieira é tambem da mesma opinião, que não deve vir de lá n’esta occasião. Os propriatario [sic] do Funchal
estão todos mais ou menos satisfeitos com o decreto, mas o consumidor é que brama contra a subida dos direitos do assucar a
145 reis. Tenho querido fazer ver que essa subida sô serve para garantia do nosso assucar refinado, e que o assucar tem que
descer infalivelmente. Como na outra carta lhe disse tenho despachado 160 cascos de melaço a 6 reis, mas o Sobral mandou-
me chamar para me prevenir que tinha recebido telegramma para não dar mais despachos n’essas condicções emquanto não
receber [...] regulamento: Perguntei-lhe se teriamos de entrar novamente com os direitos que tinhamos pago // [117] a menos,
mas disse-me elle que não tinha recebido ordem n’esse sentido: O Curcon (1º verificador) é de opinião que não temos que entrar
com cousa alguma e que no caso de vir essa ordem que devemos levar recurso.
Tenha paciencia da despesa que tem tido nos telegrammas, que lhe tenho enviado, mas acho conveniente o ir enformando
do que se vai passando.
Por emquanto não foi recebido aqui pelo Governador Civil nada com relação ás fabricas matriculadas, e o Dr. Jardim
d’Oliveira142 cecretario Geral servindo de Governador Civil prometteu-me que me avisaria logo que recebesse. Elle publicou
um artigo[?] ao Ministro das Obras Publicas no Diario do Commercio com relação ao Decreto, como deve ter visto.
Nada mais lhe posso dizer sobre este assumpto, e do que houver lhe darei conta por telegramma ou por carta.
E os negocios da Casa nada de anormal se tem dado; vai tudo regularmente.
Seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
81
3000 reis por 100 kilogramas, casco incluido, no porto do Funchal, pagamento a 90 dias. Este melaço deve produzir 9,2 a
9,5 gallões d’alcool por 100 kilogramas.
Na carta disse-lhe que desejava saber qual a quantidade que nos podiam fornecer, e que no caso de nos poder arranjar melaço
com menos percentagem de glucose o preço seria um pouco melhor. Fiz-lhe bem notar que esse preço sô tinha valor até 15 de
Dezembro proximo e quando o melaço continha a percentagem de assucar e glucose acima dito; ou o seu correspondente em
saccarose.
Sem mais que lhe diga, subscrevo-me Seu Amigo Obrigado
[Ass:] João Higino Ferraz
P.S.. Como ficou combinado telegraphei ao Dr. Romano dizendo o testo do telegramma do José Leite, dizendo-lhe ao mesmo
tempo que o Senhor tinha partido para Londres e que escrevia.[Ass:] Ferraz //
82
mandando desfundal-os e tirar-lhe todo o assucar precipitado que regula entre 65 a 75 kilogramas por ponche, e estou
guardando-o // [123] em tanques de ferro, para no caso de vir o regulamento já esse assucar pode servir para derreter e dar ponto.
Fiz uma analyse de esse assucar que mostrou 71,7% de saccarose, que como vê é uma boa percentagem e que é pena reduzil’o
a alcool.
Pelo calculo seguinte se pode ver qual o resultado em alcool e assucar
100 kilogramas d’esta massa com 71,7% assucar dá 43
litros d’alcool a 100º a 300 reis por litro 12.900
100 kilogramas da dita com 71,7
kilogramas assucar a 200 reis 14.340
Differença a mais no assucar 1.440 reis
Por esta mala mais nada lhe posso dizer de importante; o Carlos147 vai enviar-lhe umas cartas que recebemos para dar a
devida resposta.
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
83
assucar refundido 2700 kilogramas a 83,5% = 2.254 kilogramas
O assucar produzido ——————————————- 3.750 kilogramas
Produzido pelo melaço 1.496 kilogramas
O que dá um rendimento de 77 kilogramas d’assucar por ponche, ficando os egouts para cosimento de 2º jet, e o nosso
assucar M, transformado em assucar vendavel.
São estas as considerações que lhe posso fazer, e que me parece haver vantagem em continuar o trabalho d’esta forma.
Temos ainda 600 sacas d’assucar M que dão para 16 pés de cuite representando o trabalho de 330 ponches de melaço de
Barbados. Espero que me mande dizer o que devo fazer, se continuar com os cosimentos em 2º jet(?), ou fazer como acima digo
//
[126v] Com relação ás cartas para Lisboa sobre o assumpto de matriculas está tudo feito como desejava. O Justino148
escreveu ao José Ribeiro uma boa carta com boas considerações e que acho deve produzir algum effeito, se elle mostrar ao
Ministro, a carta está bem feita e as considerações apresentadas são de grande valor. Elle tambem escreveu ao Abecassis mas
não me mostrou a carta.
Quanto ao memoreal para o J. R.149 apresentar ao Ministro foi escrito á mão, como manda a praxe, os outros á machina.
Tive um aborrecimento com a letra do Pestana Santos150 que não foi paga no Banco no dia do vencimento e foi protestada
o que nos obrigou a pagal’as como é da praxe. Elle veio aqui commigo varias vezes para reformar a letra mas não consenti e a
questão segue o seu caminho legal. É um grande intrujão o tal senhor, andava a ver a forma de me embrulhar com propostas
mas a nada dei ouvidos porque não quero responsabilidades. Se o Senhor cá estivesse poderia fazer o que muito bem entendesse.
Logo que a agua estava em estado de funcionar lhe mandarei dizer: Lembrei-me que seria melhor chamar o levadeiro da
Camara e offerecer-lhe alguma cousa para o termos á nossa mão.
Sem assumpto para mais Subscrevo-me Seu Amigo[Ass:] João Higino Ferraz //
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vê o seu rendimento foi magnifico.
Quanto ao cosimento de 2º jet da Melasse Cuite melaxée com melaço de Barbados e assucar da Fabrica tambem tem assucar
bastante e não deve render menos do que o outro.
Está um calor insoportavel, e as aguas são poucas e mornas de forma que me vejo na necessidade de trabalhar devagar, mas
mesmo assim a temperatura das fermentações são altas bastante prejudicando o rendimento. Nada posso fazer para evitar este
inconveniente.
O arranjo da agua da Camara deve ficar concluido esta semana segundo me diz Marsden151, e logo que eu tenha feito a
esperiencia se funciona bem mando-lhe telegramma como ficou combindo, para vir o Cosedor.
Temos em assucar do melaço de Barbados 2º jet 1000 sacos feitas e como estamos seccando o poço grande e faltão 2
pequenos para seccar cal-//[130]culo dár mais umas 400 sacos. Do assucar estrangeiro temos 100 sacas na Alfandega para
despachar; que quantidade de assucar o senhor Henrique deseja refinar? Era necessario eu saber isso para ver o que devo fazer.
Como temos pouco Baryte e vai ser necessario mandar vir mais para o anno proximo, será bom o senhor Henrique fallar ao
Naudet152, sobre o novo processo do tratamento das garapas e xaropes pelo aluminate de Baryte que em sucrerie de beterraba
tem dado muito bom resultado percipitando as matiers grasse. Já teem feito esperiencias nas fabricas de assucar de canna mas
por emquanto não estão poblicados os seus resultados.
Por emquanto nada mais tenho a dizer-lhe de importante.
Seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
85
Amigo e Senhor Henrique
Recebi a sua carta de Goteborg com data de 3 d’agosto, e passo a responder por partes.
Quanto ao preço do nosso assucar não tem havido necessidade de descer visto o cambio se conservar.
Sinto bastante os desgostos e aborrecimentos que tem tido com o Harvey sobre a patente: Acho corioso que um homem que
não metteu prego nem estopa n’esta questão queira sô elle figurar como inventor do processo; já deve considerar-se feliz por o
terem escolhido como único representante em Inglaterra. Quanto á nova forma de trabalho para que as garapas sejam filtradas
duas vezes, uma a frio, e a outra depois da defecação, tenho uma edeia do Naudet153 me ter fallado n’isso mas muito por alto,
de forma que seria bom elle me enviar uma nota descriptiva do processo para eu poder estudal’o melhor.
Não tenho tido occasião de fallar com o Pedro Pires sobre o baptismo da aguardente de canna; elle esteve no Norte e
qualquer d’estes dias vou mandar lhe dizer para vir fallar commigo.
Quanto aos de Camara de Lobos já lhe tenho sedido algum alcool // [134] mas segundo elles me teem dito é para os vinhos
novos, porque teem medo não haja falta para as vindimas; Está bem claro que não acredito muito n’isso, mas como o preço da
aguardente de canna se tem conservado não acho inconveniente em lhe ir sedendo algum, por isso que o Lemos154 assim o faz,
e se nós não o vendermos, elle venderá. Rheomatismo, na minha pessôa vai assim, assim, e o indereço da botica em Londres
para o remedio do Senhor J. Blandy155 é – M. Jozeau 49. Hiosmarket. O nome do remedio é Specifique Béjean.
Com relação ao J. Carlos sobre a matricula da fabrica de Machico nem o Arthur sabe, e mesmo que elle a pedisse não lhe
seria dada em vista das ordens que tem; contudo pedi-lhe para escrever para Machico ao Administrador de lá sabendo se há
alguma cousa o que elle fez, e alem d’isso lembrando-lhe que não deve acceitar matricula alguma. O que me pareçe é que elle
quer é auctorisação para uma licença de nova fabrica, mas isso mesmo o Arthur diz que não pode ser em vista da lei que prohibe
montagens de novas fabricas.
No dia em que lhe enviei o telegramma sobre a vinda do cuiseur, enviei um tambem [135] ao Naudet dizendo-lhe, envie o
cuiseur, porque lembrei-me que, como o senhor Henrique está longe, elle mais facilmente o pode enviar.
Commecei hontem com os cosimentos no melaxeur com pé de cuite com assucar M nosso. A qualidade do assucar turbinado
hoje é quasi egual á amostra que lhe enviei, isto é, claro mas fino, mas o rendimento na centrifuga é bom. Quando se principiar
com a refinação do assucar lembrei-me de tirar um pé de cuite com o assucar refundido feito pelo cuiseur, em grão mais grosso,
e passal’o ao melaxeur, e alimentar depois com melaço de Barbados; deve dar um cristal meior e muito mais claro. Este
tralho[sic] assim não prejudica, o que tem de mau é que, como sô temos 2 melaxurs abertos e empregando um n’este trabalho,
atrasa um pouco a refinação, e quanto menos tempo cá estiver o cuiseur melhor. Emfim veremos o que se pode fazer de melhor.
A agua da Camara está funcionando perfeitamente, de forma que toda a agua absorvida é enviada novamente ao seu destino,
sem haver prejuizo algum para a Camara. O Jordão tem tido os seus dáres e tomáres com o Ferreira, cambado sogro do Ignacio,
por causa da agua da fazenda, que segundo o Jordão me diz elle trata de se [136] aproveitar d’ella para seu servisso o que deu
causa a uma seria questão entre o Ferreira e um moço da Fazenda, que levantou auto contra o Ferreira por lhe ter batido.
Indaguei esta questão d’agua com o Domingos S.ta Clara de Menezes, e elle disse-me que aquillo era uma verdadeira
roubalheira que o Ferreira estava fazendo.
O Jordão veio-me participar que não continuava a tomar conta da fazenda.
Acabo de fallar com o Arthur que me diz não haver nada de novo sobre matriculas em Machico.
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
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Já combinei com elle a forma de fazer a refonte que será desfeito em 25º Baumé aquecida e passado aos filtros mechanicos.
Os egouts // [138] serão sulfitados, tendo-lhe junto solucção de baryte com uma legeira reacção alcalina, e a sulfitação será
levada até á reação ligeiramente acida.
Vou esperimentar fazer os cosimentos na Francesa sô com a refonte do assucar e as egoûts serão épuisée no melaxeur, tendo
passado para elle um pé de cuite de refonte da Francesa.
O cuiseur diz que se se empregasse o carvão animal o assucar seria muito melhor mas nem temos filtros nem carvão em
estado de servir, e para empregar o carvão em pô seria necessario passar o charope a um filtro presse, que o temos, mas não
está em condicções de trabalhar por não termos nem panos nem a bomba montada. Em fim tenho esperanças de que fazendo
um cosimento na Franceza com a refonte pura esse assucar deve dar bem branco; e os egoûts sendo sulfitados, e no melaxeur
com pê de cuite puro tambem deve dar assucar bom.
Quanto ao que me falla com relação a se tirar um ramo da agua aos moinhos para os alambiques, nem é bom pensar n’isso,
porque a agua que a bomba centrifuga absorve é a indispensavel para a columna barometrica. //
[139] Com relação ao rendimento do melaço de Barbados em assucar foi o seguinte:
Melaço empregado no cosimento
de 2º jet até 6 de agosto = 420.639 kilogramas
assucar 2º jet produzido = 120.504 kilogramas
Melaço épuisée para destillar 239.274 kilogramas
Ainda nos resta d’este carregamento 24,645 kilogramas que é o que se tem feito no melaxeur com pé de cuite M.
O assucar de 2º jet de Barbados tem-se conservado bem até agora, e não vejo signal de fermentação.
Sempre lhe quero dizer que o melaço que temos são 300 cascos e 600 em viagem e o da Antiqua, mas não me pareçe que
este melaço dê para todo o anno, e é pena reduzir este melaço de Barbados a alcool quando elle dá melhor em assucar. Para
alcool o de Demerára seria melhor, e se tivessemos melaço suficiente poder-se-hia reduzir a cosimentos de 2º jet o melaço de
Barbados, para ser turbinado no mez de Janeiro a miados de fevereiro, e o assucar servir para refonte na garapa em logar de se
importar assucar como se fez este anno.
O Antonio Justino mostrou-me uma carta de Lisbôa em que lhe dão todas as esperanças que a questão das matriculas seram
resolvidas como deseja, mas foi necessario // [140] instigar a pessôa que trata d’esta questão (que é um homem pratico) com
uma promessa de gratificação, para a qual elle veio combinar commigo se se poderia prometter isso, o que eu rosolvi bem sem
sua auctorisação para evitar delongas, mas com a condição que sô receberia no caso em que a questão nos viesse favoravel e
depois de publicada no Diario do Governo.
Já tenho o memorial prompto para entregar ao Frederico Martins que deve partir para Lisboa até o fim do mês.
Com relação ao J. Carlos nada há de novo, naturalmente foi mal entendido do Senhor João Blandy157. Tenho tido uns
pequenos aborrecimentos por causa da agua dos moinhos porque o levadeiro emagina que a agua não lhe vai lá toda, mas vou
sanar todas as deficuldades dando-lhe a gratificação adiantada, para pôr o homem de bons umores.
Para o outro correio lhe darei conta do resultado da refinação.
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
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Emfim do que houver lhe darei parte.[Ass:] João Higino Ferraz //
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A Esperança está a chegar de um momento para o outro, com um carregamento de 380 cascos segundo me disse o Pedro
Rois, e no caso de o melaço ser bom vou ficar com 150 cascos.
Com relação á agua dos Moinhos cá vamos trabalhando ainda que de tempos a tempos apareçem pequenas reclamações, que
tenho remediado.
Por emquanto não recebi o remedio que o Senhor Henrique fez o favor de me comprar; virá na outra malla?
Sem assumpto de meior importancia a dizer-lhe vou terminar; até á outra malla.
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz
P.S. Uma cousa que me esquecia de lhe dizer era que, o cuiseur disse-me que o Naudet158 lhe havia dito que o trabalho da
refinação seria de 2 ? a 3 mezes, e elle ficou muito desconsolado quando eu lhe disse ser sô necessario 1 ? mez. O que elle
deseja é então estar em França em Outubro para a fabricação da beterraba.[Ass:] Ferraz //
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com xarope de canna o rendimento era de 58%
Quanto ao que o Senhor Henrique diz na carta do Carlos que ficou descontente por ter vindo o cosedor sem ter fallado com
elle, não tive culpa alguma, por isso que, não me tinha prevenido d’isso.
Fiz um calculo da despeza de combustivel e pessoal n’esta questão de refinação que me deu o resultado de 50 reis por 15
kilogramas d’assucar refinado. Neste calculo está incluido, já se vê, o cosedor.
Quanto á quebra da refinação não lhe posso dár o resultado, porque nada se pode ver sem fazer uma liquidação de todo o
xarope e egouts em trabalho. Se acha isso de grande necessidade pode-se fazer, mas não me parece que a quebra seja mais de
2% não incluindo o xarope em que vai imbevido os sacos dos filtros que é para aguardente.
Alcool: Temos em deposito da qualidade B 4000 gallões, e da 1ª qualidade em deposito e por restillar temos uns 7500 a
8000 gallões aproximadamente.
O senhor Cossart160 já está inteirado e diz que por estes primeiros mezes não quer mais //
[150] Com o que não estou nada satisfeito é com o rendimento do melaço. Terminei um lote que apenas me deu 8,1 gallões
d’alcool puro a 100º e as fermentações são boas em vista da differença da acidez entre a normal e a final, os apparelhos de
destillação estão trabalhando bem; não vejo a causa do pouco rendimento senão nas temperaturas elevadas da fermentação que
evaporão algum alcool.
Tenho trabalhado devagar por isso mesmo, mas o alcool felizmente tem chegado para as encomendas
Vou principiar hoje a gastar o melaço de Barbados para aguardente sem extrahir assucar por isso que o outro aviou.
Quanto ao Pedro Pires não é possivel elle mesturar por emquanto alcool na aguardente de canna porque segundo elle diz
tem ainda 7000 gallões d’aguardente e não vende quasi nada por querer aguentar o preço como o Senhor Henrique lhe
recommendou. Quanto ao resultado da Fabricação diz elle que espera apresentar alguns lucros.
Na carta ao Carlos o senhor Henrique diz para eu esperimentar sulfitar o melaço de Barbados? Mas n’esta occasião estamos
tratando da refinação do assucar e não temos em trabalho nenhum melaço de Barbados…
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
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lhe resposta breve. Junto a esta encontrará tambem uma traducção de uma carta em espanhol de Porto Rico que o cuiseur
Monsieur[?] Frederique fez favor de traduzir (elle entende o espanhol)
Essa carta é interessante para o Naudet162 visto ser o Manoury que tirou patente em Porto Rico do processo de diffusão do
Bagaço. Não respondi á carta: espero por si. Esta será naturalmente a minha ultima carta. Tive que suspender novamente o
fornecimento de alcool para Camara de Loubos em vista de reclamações que tem aparecido sendo uma do Tenente Coronel //
[153] Rego que se queixa que os de Camara de Lobos vendem aguardente de canna nesta epoca a menos de 1000 reis. Neste
caso preveni-os de que lhe não poderia fornecer alcool em quantidades elevadas sem que o Senhor Henrique volte e
dezedirá[sic] o que se deve fazer.
O Antonio Justino diz que tem ainda em aguardente de canna pura uns 15.000 gallões e em São Martinho ainda há alguma
mas pouca. Eu com receio de alguma representação feita pelo Rego achei mais prodente suspender por emquanto o
fornecimento de alcool em quantidades superiores ás necessarias para o tratamento dos vinhos de Camara de Lobos. Não desejo
tomar a responsabilidade de tal cousa.
Sem assumpto de maior importancia espero a sua volta no dia 28 e subscrevo-me seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino
Ferraz
P.S. Acaba de estar aqui o Antonio Justino mostrando-me uma carta de Lisboa do Abecassis em que diz estar tratando da
Questão das matriculas com todo o empenho e pede-me para lhe dizer isto.[Ass:] Ferraz //
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As fermentações vão bem. O novo fermento puro do Instituto de Berlim Raça Nº 11 é magnifico. // [157] É talvez o melhor
que temos tido; principiei a usal’o no dia 19, sendo muito facil abitual’o ao fluorydrico, empregando logo no principio doses
elevadas d’este anticeptico, o que com os outros fermentos é impossivel. Como vê é perfeitamente o que eu esperava. Falta-me
ver os resultados praticos da fermentação, sua acidez, e rendimentos em alcool.
Com relação a agua temos trabalhado com a dos moinhos, por isso que, como tinha a sua auctorisação offereci ao levadeiro
10.000 reis mensais para que deixe vir uma pequena quantidade d’agua de forma a não fazer falta á levada, e assim continuará
quando vier o melaço de Barbados, que vamos fazel’o em 2º jet.
Melaço da Fabrica (aproximadamente)
pezo liquido ———————— 467000 kilogramas
Temos rendimento da canna por 100 kilogramas
assucar 1º jet ———————- 7,360 kilogramas
assucar 2º jet ———————- 0,411
melaço ——————————— 6,060
Este melaço pode-se contar ter 49,8% assucar total calculado em saccarose, e o assucar de 2º jet tem 92% assucar de forma
que calculando em assucar puro temos:
assucar 1º jet —————————————— 7,139 kilogramas
assucar 2º jet —————————————— 0,378
(aproximado) assucar no melaço ——- 3,017
assucar total produzido 10,534
O assucar entrado em fabricação por 100 kilogramas de canna foi 11,01 kilogramas, temos a perda indeterminada de 0,476
kilogramas, com os 0,51 kilogramas no bagaço ou petit jus faz a perda total de 0,986 kilogramas
Sem assumpto para mais subscrevo-me Seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz
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[DATA: 1 de Junho de 1905
DESTINATÁRIO: Sousa Lara; LOCAL: Benguela, Angola]
93
mais vantajouso por ser um producto da terra, e como não havia alcool de melaço barato a mestura com aguardente de canna
não se faria, tendo n’esse caso melhor sahida a dita aguardente e por preço mais elevado. Esta era e é a maneira de pensar do
Tenente Coronel Telles165 e outros, mas que para o Leça de nada servia. O Telles vai no “São Miguel” para Lisboa e é muito
provavel que levante lá essa questão, como já aqui prometteu que o faria. // [164] É bom estar de prevenção contra elle.
Acabamos de saber que o Leça fez novo requerimento para matricula e que deve estar nas mãos do Governador Civil
substituto Pedro Lomelino. É esta naturalmente a questão official, isto é, enviam para Lesboa o requerimento do Leça para
conseguirem o deferimento d’elle. Isto é com certeza manobrado pelo Capitão[?] Pereira em Lesboa
Vou principiar a seccar os cosimentos do melaço de Demerára no dia 5 mas os cosimentos estão ainda quentes vou ver qual
será rendimento em assucar
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
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em vista da descripção ser a do processo usado em 1903 e a planta ser do novo processo de 1905. Alem d’isso vejo que se
emprega um esquentador para a garapa sulfitada contida nos depositos de medida da dita garapa, e onde se junta a cal
necessaria, fazendo circular essa garapa alcalinisada, entre o dito esquentador e o deposito de medida, ate chegar á temperatura
de defecação, e sô depois d’isto é que é introduzida no diffusor carregado de bagaço fresco para fazer a meichagem.
Pergunto eu: Como se faz a circulação d’essa garapa entre os depositos de medida e o dito esquentador? Naturalmente com
uma bomba centrifuga? Mas a planta não mostra nem o esquentador nem a bomba centrifuga!
O que eu desejava saber era <se> quer tirar a patente pelo processo usado em 1903 egual ao que tirou em Inglaterra, ou quer
tirar a patente pelo novo processo usado em 1905? Alem d’isso desejava tambem saber se quer juntar mais essa modificação de
esquentar a garapa antes de entrar no diffusor para n’esse caso juntar a planta mais esse esquentador e respectiva bomba // [168]
de circulação. Sem estas explicações nada farei, porque se a descripção não for conforme á planta a patente pode ficar nula, e
eu desejo fazer as cousas de forma a ficar seguro.
Na minha opinião achava melhor tirar a patente pelo processo usado actualmente (1905) juntando-lhe, no caso de querer, o
novo esquentador da garapa normal e bomba de circulação para esse trabalho, o que não me parece má lembrança[?]. Em fim
o Senhor Henrique dirá o que quer.
Esperando a sua resposta subscrevo-me seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
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Temos por isso em 1905 um rendimento em alcool do melaço por 100 kilogramas superior com menor quantidade de
d’assucar[sic] total.[Ass:] Ferraz //
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Pureza – 73,5
Coefficiente glucosico 20
Analyse de um cosimento de 2º jet:
saccarose – 66,12%
glucose – 13,78%
Pureza – 73
Coefficiente glucosico 20,8
Os cosimentos ficão magnificos, completamente cheios de assucar
Estou aproveitando todo espaço desponível, isto é, estou deitando primeiro nos tanques de ferro para depois deitar nos
poços: Conto em que em tudo isto possa levar uns 600 ponches.
O melaço de Demerára fica terminada a seccagem esta semana e talvez para o principio de Julho possa commeçar no de
Barbados. Estou fazendo umas analyse [sic] de 15 ponches cada um depersi[sic] para lhe mandar, para servir de norma na
questão que tem com a outra casa que lhe forneçeu o melaço de Barbados em más condicções. Recebemos uma carta do
Quirino167 em que nos faz varias considerações e conselhos sobre o que se possa dar com relação aos invijosos e os desilodidos;
estamos de prevenção // [175] contra elles, e qualquer cousa que apareça vamos fazer deligencia de destruhir.
Como sabe o A. Justino168 não tem comprado mais aguardente de canna por isso, segundo elle diz, tem os depositos cheios
e uma grande porção de pipas tambem: Mas aparece agora o Albino169 do Faial a reclamar que não pode vender a sua aguardente
de canna em vista do Justino ter promettido a todos os negociantes d’aguardente que lhe venderia por um preço mais baixo do
que o Albino pede. O homem estava um pouco exaltado e já queria representar em termos que nos poderiam prejudicar mas
consegui que nada fassa, e combinei com o Justino de elle lhe comprar alguma, assim como a outro qualquer que apareça. Desta
forma pomos os homens do nosso lado para qualquer iventualidade futura.
Achei melhor o Justino figorar sô na compra da aguardente, dizendo aos homens que tinha conseguido que <elle> comprasse
mais alguma aguardente.
O que me está dando mais cuidado é a aguardente de vinho de Lisboa, porque no caso de ella aqui poder entrar sem dereitos,
os negociantes d’aguardente têem um meio de fazer a mestura com essa qualidade de aguardente e aguardente de canna
trazendo-nos graves prejuizos tanto a nos como ás fabricas não matriculadas. No caso de isto // [176] acontecer achava melhor
fazer uma representação contra essa entrada, e é para isso que desejo ter do nosso lado todas as fabricas pequenas. O Quirino
não diz bem quando julga que a aguardente de Portugal não nos pode prejudicar, porque o mal não vem da aguardente para
tratamento dos vinhos, n’essa podemos nos competir; o que não podemos evitar é a mestura com a aguardente de canna; por
isso que pomos todas as peias para isso com o alcool de melaço, o que não acontecerá com a aguardente de vinho de Portugal.
Emfim veremos o que vai socceder de futuro para prevenirmos.
Por emquanto nada teem feito os adversarios; ou ainda teem alguma esperança ou então estão manhosos, para nos fazer a
surpresa de alguma maldade. Com a crise do vinho este anno, visto os negociantes não quererem comprar, é minha opinião e
tambem do Dr. Romano, o Senhor Henrique fazer de benemerito comprando algum do Norte para reduzir a aguardente. Isto
evita que os outros a fação ficando a casa bem vista. O prejuizo não poderá ser talvez muito grande por isso que compramos o
vinho barato, porque a não ser assim, os vinhateiros nem mesmo barato têem quem lhe compre. //
97
a analyse que eu fiz d’esta mesma amostra tirada pela Alfandega mostrou 55,9%!! Esta amostra foi de um ponche; já disse ao
Bino[?] que não acho conveniente tirar a amostra de um sô ponche.
Vou principiar na proxima semana a fazer o B2 com o assucar BT como lhe tinha dito. Não tenciono aquecer muito o melaço
mas simplesmente o suficiente para tornar a massa fluida e lavar o crystaes [sic].
Do resultado final d’este trabalho lhe darei a nota depois de tudo feito.
Junto encontrará uma nota de 15 analyses de 15 ponches do melaço de // [178] Barbados.
Decreto: Por emquanto nada transpira a este respeito, somente o Agronomo do Destricto veio aqui commigo para colher
algumas informações sobre os resultados praticos do Decreto por isso que o Mercado Central de Productos Agriculas enviou
uma nota á Delegação aqui do mercado Central pedindo isso. Elle tem consultado varias entidades sobre o assumpto, tanto
agricultores como negociantes de vinhos, dizendo-me elle que uns estão satisfeitos e outros não principalmente os fabricantes
de vinhos e alguns propriatarios nossos inemigos. Eu fiz-lhe ver os resultados que para a cultura da canna são bons e quanto a
esta crise dos vinhos nada tem com relação ao Decreto visto ser uma questão anormal; que nos baixamos o preço do alcool a
10% e que isso é uma vantagem para os vinicultores. Dizia-me elle que alguem lhe sugerio a edeia de reduzir a aguardente de
canna dos vinhos e sô importar o melaço suficiente para suprir a falta do alcool para esse fim. Fiz-lhe ver que isso era uma
contradição ao que os negociantes de vinhos querião, se elles querem alcool barato, não é essa a forma de lhe fornecer, por isso
que a aguardente de canna pelo preço actual transformada em alcool retificado ficaria costando 1300 reis em quanto que nos
estamos // [179] fornecendo alcool de melaço a 1000 reis. Elle ficou admirado d’essa differença e tomou as suas notas. Fallei
a Dr. Romano sobre este assumpto e elle pedio-me para ver se o Agronomo fallava com elle, porque sendo elle um dos
representantes da meior casa aqui, poderia-lhe dizer com toda a franqueza o que pensava. Vou ver se consigo que o homem falle
com elle. Fiz ver ao agronomo que houvisse somente os negociantes de vinho e algumas pessôas que não estão de má vontade,
e contra nos, mas sim propriatarios importantes, e que sô desejava que elle dicesse somente a verdade dos factos.
Isto é importante, segundo o meu modo de ver, porque se o relatorio que elle fizer sô disser cousas desfavoraveis ao Decreto
não será isso muito bom. Vou fazer toda a deligencia para conseguir que seja feito a nosso favor, o que é mau é o homem ser
pouco abrodavel.
Acabo de conseguir que o Agronomo vá fallar hoje com o Dr. Romano. Segundo elle me disse o Cacongo170 não foi muito
favoravel e o Dr. Manuel J. Vieira fallou-lhe de uma forma vaga mas que é favoravel ao Decreto.
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
98
[172] Analyse dos egoûts de turbinagem do assucar BT em B2
................................................Egoût pauvre ..................Egoût riche
Densidade a 20º ...................................5,47 ............................4,7
assucar % ...........................................54,65 ...........................51,96
Glucose ..............................................10,15 .............................6,57
Pureza ..................................................74,2..............................81,7
Coefficiente Glucosico .........................18,5..............................12,6
Analyse do assucar BT transformado em B2
Saccarose ............................................. 98,9%
Glucose ................................................ traços
Assucar BT <a> apurar —- 52 sacas 100 kilogramas ———— 5185 kilogramas
Assucar B2 produzido —- 54 ? 75 kilogramas ———————- 4080 kilogramas
Como vê o resultado no rendimento fez uma differença de 20%, mas como pode ver pelas analyses dos egoûts e a analyse
do assucar turbinado essa quebra é facil de ver o caminho que tomou.
Quando fizer o trabalho seguido vou separar egoût riche e pauvre, cosendo o egoût riche separado, porque com a pureza que
elle tem de 81,7 deve dar assucar quasi banco[sic] mas um pouco fino, mas que é vendavel para poncha.
Melaço de Demerára – Ainda não terminei a fermentação d’este melaço e tenho ainda para a semana proxima.
Melaço de Barbados – Sô principiarei a turbinar o assucar d’este melaço quando terminar o melaço de Demerára.
Fiz outra analyse media de 75 ponches que mostrou: saccarose – 54,65%
Glucose – 11,13%
Com relação ás questões do Decreto á novidades a dar-lhe mas o Bardsley[?] disse-me que lhe explicaria tudo na sua carta.
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
99
O portador d’esta é João Fernandes, que contractei para hir a Benguella como capataz, com auctorisação do Ex.mo Senhor
Sousa Lara, como de suas cartas datadas de 14 de Fevereiro e 24 de abril do corrente anno, e confirmado e acceite em seu
telegramma de 14 de Julho ultimo, dizendo – Acceito condições embarcando rapido agosto Lisboa – Sousa Lara, o qual tem
em seu poder o contracto provisorio passado por mim e nas condições establecidas e acceites pelo mesmo Senhor Sousa Lara.
Previno a V.ª Ex.ª que addiantei a passagem do dito homem até Lisboa no vapor “San Miguel” na importancia de 5050 reis,
a qual importancia V.ª Ex.ª me enviaram logo que desejem a João Higino Ferraz – Fabrica de William Hinton & Sons – Funchal.
Sempre às ordens de V.ª Ex.ª o seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
Amigo e Senhor
Envio-lhe como lhe prometti as amostras dos nossos Alcooes, que os classifico da seguinte forma:
Alcool A – Este de 1ª qualidade é alcool de 97 ?%, tratado por modo especial e repassado ao reteficador continuo com
extracção d’etheres e olios escenciaes, dando n’esse caso, como vê, um alcool neutro, que é empregado pela casas [sic] de
vinhos, para vinhos já em estado adiantado de tratamento.
100
Alcool B – É este de 2ª qualidade com 97%, isto é, alcool extrahido por meio da destillação-retificação directa continua dos
vinhos de melaço, com extracção d’etheres e olios escenciaes, produzindo um alcool quasi neutro de boa qualidade e que é o
mais empregado nos vinhos de fabricação nova na entrada ou sahida de estufas.
Alcool bruto de 83% aproximadamente extrahido do vinho de melaço sem extracção d’etheres nem de olios escenciaes, em
apparelho de destillação continua.
Duas amostras dos Etheres e olios escenciaes extrahidos da destillação-retificação continua do vinho de melaço.
Sempre ás ordens de V.ª Ex.ª Seu Attencioso Venerador e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
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Assucar .........................- 87,15
Glucose ............................- 1,21
Pureza ..............................- 94,8
Coefficiente Glucosico 1,38
Analyse do assucar
Barbados: -Saccarose..............96,1
-Glucose ................0,94
Africa: -Saccarose ............96,9
-Glucose ................0,93
Estou fazendo a analyse dos egoûts pauvre e riche, mas nada lhe posso dizer por esta mala.
Batalha Reis171: – Aqui esteve vesitando a fabrica, e ficou bem impresionado com o que viu e lhe expliquei. As edeias d’elle
com relação ao alcool de melaço para o tratamento dos vinhos, não eram das melhores, mas logo que viu a qualidade do alcool
que exponhamos á venda, modou completamente, e comprehende agora que o alcool de melaço sendo neutro como é, é
magnifico para o tratamento dos vinhos. Mandei-lhe segundos[sic] os seus desejos, fazendo-me empenho n’isso, as amostras
do alcool seguintes:
Alcool neutro de 1ª qualidade:
Alcool de 2ª qualidade:
Alcool bruto de melaço:
Etheres e Escencias.
Fiz-lhe por carta a explicação das amostras e qual o alcool que vendia-//[192]mos, explicando-lhe bem que o alcool bruto,
etheres e olios escenciaes não eram vendidos en nature.
Com relação ao preço do alcool diz elle que, não vê rasão para queixas dos preparadores de vinho, por isso que o preço que
nôs lhe vendemos (250 reis por litro) é inferior ao que os do Continente pagam por alcool mau de batatas.
Elle prometteu-me fazer ainda uma visita á Fabrica. Tenho conversado muito com elle, e mostra-se meu amigo, tratando-
me já por tu.
É um homem franco e leal e estou certo que nada dirá contra nôs: Alem d’isso a missão d’elle é simplesmente vinhos e não
outra cousa.
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
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Pureza ...............................................92
Glucose ......................................0,98%
Coefficiente .....................................1,9
Melasse Cuite do Melaxeur do assucar 2º jet de Barbados
Saccarose....................................83,5%
Pureza ..............................................90
Glucose ......................................3,85%
Coefficiente..................................4,6 //
[194] Melasse Cuite do Melaxeur em 1º jet (assucar Africa)
Saccarose..................................83,44%
Pureza ...........................................91,6
Glucose .....................................3,21%
Coefficiente ..................................3,86
Melasse Cuite do M em 2º jet (isto é, egoût de 2ª)
Saccarose ................................83,86%
Pureza ...........................................90,3
Glucose .....................................3,30%
Coefficiente ..................................3,93
Egoût pauvre do M da primeira vez
Saccarose ................................60,38%
Pureza ..............................................81
Glucose .....................................5,51%
Coefficiente ....................................9,1
Egoût pauvre do M da segunda vez
Saccarose ................................60,92%
Pureza ...........................................78,4
Glucose .....................................5,79%
Coefficiente ....................................9,5
Egoût pauvre do M da terceira vez
Saccarose ..................................56,8%
Pureza ...........................................75,5
Glucose .....................................8,98%
Coefficiente ..................................15,8
Este foi feito em 2º jet na caldeira Ingleza.
Envio-lhe tambem o rendimento em alcool do melaço de 2º jet de Barbados Lote Nº 9:
Analyse do melaço:
Saccarose ................................38,52%
Glucose ...................................14,83%
Infermenticiveis no vinho do melaço por
100 kilogramas de melaço ................3,64 kilogramas
Rendimento provavel – .................8,07 gallões a 100
Rendimento real ...........................8,2 gallões a 100!!
Isto sô pode ser devido ao calculo do melaço pela capacidade dos poços.
Tinha-me esquecido dizer-lhe que o rendimento da Melasse Cuite da F em BB tem dado na media 82 kilogramas d’assucar
por hectolitro de Melasse Cuite
Todos os egoût riches tem entrado na refundição do assucar e são n’esse caso feltrados novamente.
Batalha Reis: – O Antonio Justino tinha-me pedido para eu fallar ao Batalha Reis a ver se elle fazia uma visita aos seus
armazens, e mesmo eu tinha interesse em que o Justino fallasse com elle // [195] sobre alcool de melaço, houvindo a opinião
d’elle a esse respeito: Elle efectivamente lá esteve d’esde as 3 da tarde ás 6 ?.
Segundo me disse o Justino elle acha o alcool de melaço de magnifica qualidade, mas… não comprehende a rasão por que
103
não importamos aqui a aguardente de vinho de Portugal por ser um alcool mais assimilavel ao vinho? O Justino disse lhe que
já tinha importado em tempos esse alcool mas que não lhe deu resultado vantajouso, ficando o vinho com um gosto mau. É
sobre este ponto que eu chamo a sua attenção. É de toda a necessidade que o homem não falle no seu relatorio em aguardente
de vinho de Portugal, como bem deve comprehender.
O Batalha Reis já fez hontem (15) uma conferencia na Associação Commercial a que assisti, sobre fabricas de vinhos de
pasto e vinhos espomosos, e segundo elle me disse vai fazer outra no domingo proximo (22). Elle não sabe ao certo quando
partirá para Lisbôa, mas em todo o caso conta partir entre 25 a 27 do corrente.
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
104
que entrar na Escola Polytechnica para seguir o seu curso melitar, e sendo elle pobre e de mais carregado de familia, vê-se em
serias dificuldades para continuar a educação do pequeno. Diz elle que o pedido é facil não tendo deficuldades, desde o
momento que Sua Magestade assim o queira. //
[199] Pode crer que alem de ser um favor que lhe faz, é uma obra de caridade, porque eu sei as deficuldades em que elle
vive, pecuniariamente.
Por este favor muito grato lhe ficaremos e subscrevo-me seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
105
106
Copiador de Cartas [1905-1913]
DESCRIÇÃO:
O período temporal abarcado por este copiador foi por nós acrescentado à designação que já tinha de origem. Estamos na
presença de livro, papel, as suas medidas são 28,4 cm x 22 cm, e encontra-se em razoável estado de conservação. Os fólios deste
volume estão numerados com caracteres de imprensa. Os fólios 170 até 199 (último) encontram-se em branco.
107
[DATA: 3 de Novembro de 1905
DESTINATÁRIO: Blandy Brothers & C.ª; LOCAL: Rua de São Francisco, Funchal]
108
7 Novembro 905 Rua de São Francisco
Amigo e Senhor
Procedi á medição do seu vinho que deu 13.543 litros que é egual a 3564 gallões de 3,785 litros:
De V.ª Ex.ª Attencioso Venerador[Ass:] João Higino Ferraz //
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assucar de 1er jet, e 2000 kilogramas de melaço?
E que qualidade de assucar, Santo Deus! Pelos meus calculos, sendo a sua extracção nos moinhos de 50 litros de garapa por
100 kilogramas de canna, vejo que os 80000 litros representa 160.000 kilogramas de canna.
Ora como a sua canna de 8,5º Baumé na garapa deve representar 13% centimetro cubico em assucar, pelo menos, os 80000
litros contem n’esse caso 10400 kilogramas d’assucar puro. O seu rendimento contando mesmo assim uma má fabricação
deveria-lhe ter dado os 80000 litros de garapa a 8,5 Baumé:
Assucar de 1er jet .....................................................5.700 kilogramas
Dito de 2er jet ...........................................................1.600 kilogramas
Dito de 3er jet ..............................................................500 kilogramas
Melaço a 40 % assucar 3400 kilogramas =..............1.360 kilogramas
Total em assucar extrahivel ......................................9.160 kilogramas
Ora como nos 80000 litros de garapa contem 10400 kilogramas d’assucar (puro) e como apenas retirou 2200 kilogramas
d’assucar de 1er jet e 2000 kilogramas de melaço que contenham // [10] no maximo 55% d’assucar, faz um total de 3300
kilogramas d’assucar:
Pergunto eu; o que lhe fizeram aos restantes 5860 kilogramas d’assucar?!! A sua perda total foi n’esse caso: calculando a
canna conter 85 litros de garapa por % kilogramas de canna cuja garapa contenha 13% centimetro cubico em assucar será
assucar na canna % 11,05 kilogramas. Representando os 80000 litros de garapa 160000 kilogramas de canna a 11,05 kilogramas
d’assucar % = 17680 kilogramas e como apenas extrahio 3300 kilogramas d’assucar: Perda total = 14380 kilogramas!! Como
o meu Amigo vê (se não houve engano nas suas cifras) o prejuizo foi enorme. Com uma boa Direcção e empregando a diffusão
do bagaço, a sua perda seria insignificante em vista d’estes dados.
Terminamos no dia 19 do corrente a nossa fabricação, laborando 15000 toneladas de canna em 3 mezes. O nosso rendimento
pela diffusão com canna de 9,4 Baumé foi de 8,550 d’assucar de 1er jet (eguais ás amostras que lhe envio) por 100 kilogramas
de canna. Quanto ao 2em jet e melaço nada lhe posso dizer, visto não termos concluido esta parte da fabricação.
Comparando a nossa fabricação com a sua, será:
Fabrica Hinton = 8,550 kilogramas assucar % canna
Fabrica do Donde Grande 1,375 dito
Quanto á canna Yuba que me pede para lhe enviar, nada se pode fazer agora, visto ter terminado a colheita, e a meu vêr sô
em Março do anno proximo quando a canna atingir o seu estado completo de maturação é que será bom enviar, podendo-lhe
então arranjar a quantidade que quiser. Depois de bem informado do custo do empaque e frete lhe direi.
Termino esta esperando que a sua nova fabricação seja mais vantajosa e considere-me sempre seu amigo certo[Ass:] João
Higino Ferraz //
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Na nossa Fabrica não produzimos aguardente de canna.
Sempre ás suas ordens para o que lhe poder ser util e crea-me seu Amigo Certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
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Reductores ............................................................15,23
Pureza apparente ..................................................69,52
Coefficiente Glucosico apparente .........................29,60
2ª amostra tirada do tanque grande que contem aproximadamente 200 cascos:
Polarisação directa ...............................................51,42
Saccarose Clerget .................................................52,29
Reductores ............................................................14,83
Pureza real ............................................................70,40
Coefficiente real ...................................................28,30
Quanto á minha saude é que estou bastante acabrunhado, vejo-me no mesmo estado, não podendo quasi andar com a perna
bastante inchada, e não me vejo com forças nem coragem para continuar n’este servisso em quanto não estiver completamente
corado. Crêa que sinto bastante em dizer-lhe isto, mas no estado em que estou não lhe posso prestar bons servissos como
desejava nem para mim o futuro me parece risonho.
Subscrevo-me seu Attencioso e Venerador Amigo Muito Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
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[18] 13 agosto 906. Analyse referentes [sic] á refinação
Productos analysados Brin assucar Reductores Pureza Pureza Coefficiente Coefficiente Clerget Kilogramas
apparente % apparente real Glucosico Glucosico assucar
assucar real turbinado
Melaço Barbados (media) 73.85 51.60 14.83 69.87 71.52 29.71[?] 28.07 52.82 Rendimento
Xarope de refonte 54.85 54.65 0.77 99.60 1.41 d’estes
Dito dito 52.40[?] 55.28 4.13 94.65 2.04 cosimentos
Dito dito 54.10 49.90 1.34 92.23 2.70
Melasse Cuite da F (virgem) 90.15 85.74 1.75 95.10 2.04 4553 kilogramas
Dito dito com egoûts riche 92.00[?] 87.36 1.90 94.95 1.95 5070 kilogramas
Dito dito com egoûts riche
e pauvre 92.65 84.13 3.80 90.80 4.51 4995 kilogramas
Melasse Cuite da M com
melaço Barbados 92.80 75.26 10.92 81.09 14.50 4050 kilogramas
Dito Dito 92.50 75.26 10.52 81.36 13.97 4300 kilogramas
Melasse Cuite de 2º jet
(egoûts do M) 89.22[?] 53.57 21.43 60.02 40.00
Dito Dito 90.05[?] 59.13 25.16 65.30 42.55
Dito Dito 90.70[?] 60.20 13.67 66.36 31.00
113
[DATA: 20 de Agosto de 1906
ESPECIFICIDADE: Considerações acerca da refinação de vários tipos de açúcar e análises de cozimentos.]
[19] 20 agosto 906
Trabalho da refinação do assucar B2 até hoje:
Temos refinado até sabado <18> 89.253 kilogramas d’assucar.
Melaço de Barbados entrado n’esta refinação até sabado 18 é de 81.321 kilogramas
O assucar turbinado até hoje em BB e B2 é de 70.150 kilogramas estando por turbinar, nos melaxeurs 2 cosimentos
Temos feito até hoje 3 cosimentos de 2º jet com os egoûts do Melaxeur.
Temos alem d’isso xarope em todos os tanques e os egoûts de 2 cosimentos.
Os dois ultimos cosimentos do Melaxeur foram um pouco dificeis de burbinar[sic], isto devido em parte aos egoûts, por isso
que tenho mettido algum melaço de Barbados na Franceza no fim do cosimento, mas parece-me que a principal causa é João
Martins formar grão muito grande, de forma que na passagem ao Melaxeur o grão está de tal forma grosso que a nutrição é
deficil formando n’esse caso farinha
Já lhe disse para formar mais grão e mais fino de forma que na passagem o grão esteja n’uma grossura tal que seja facil de
nutrir. Os outros cosimentos teem sido bons
Analyses dos cosimentos: de 14 a 20 agosto 2º jet
1 2 3
Saccarose ..............................................................62.71 ............58.77 ............56.26
Glucose ................................................................18.64 ............22.26 .............20.68
Pureza ...................................................................68.48 ............64.44 .............63.32
Coefficiente Glucosico..........................................29.77 ............37.87 .............36.76
Analyse de um dos cosimentos da Franceza onde foi introduzido egoût riche egoût pauvre da F e melaço de Barbados:
//
[20] Saccarose ......................................................74,36
Glucose ................................................................14,47
Pureza ...................................................................77,33
Coefficiente Glucosico ........................................19,45
Analyse dos egoût pauvre do cosimento acima:
Saccarose ..............................................................51,60
Glucose ................................................................23,15
Pureza ...................................................................58,93
Coefficiente Glucosico ........................................44,86
Empregando o Melaço de Barbados na F sou obrigado a fazer uma liquidação dos egouts pauvres da F de 3 em 3 dias em
cosimentos de 2º jet.[Ass:] João Higino Ferraz //
114
poder fazel’o no tempo fresco, porque no tempo do calor é pêor a cura. Alem d’isso desejava passar em Lisboa e consultar
novamente o Dr. Rosenblatt que há dois annos me aconselhou a operação e ver o que elle me diz a tal respeito, e depois seguir
de Lisboa para Paris // [22] via maritima.
O que desejava era ter em Paris pessoa com quem tratasse para a escolha do especialista e casa de saude onde ficasse: Nesse
caso pedia-lhe para me recommendar a um cavalheiro das suas relações em Paris, e que me servisse de conselheiro. Não posso
contar com Monsieur Naudet175, por isso que anda sempre em viagens.
Antes de partir desejava deixar a fermentação em marcha regular para fazermos mais uns 10 mil gallões d’alcool, que é o
que eu calculo ser necessario até fins do anno porque ainda temos uns 25 mil gallões em stock.
Quanto á refinação do B2 fica terminada esta semana e na proxima malla lhe darei aproximadamente os resultados. Vou
deixar tambem as notas dos productos necessarios para a proxima laboração de 1907 para fazerem as encomendas a tempo: Vou
calcular para o trabalho de 15000 toneladas de canna, não acha?
Como vou a Paris posso, depois de curado, fazer os estudos com Monsieur Pellet sobre a eliminação da glucose dos melaços
pela fermentação, no caso, como espero, venha a nova lei sobre a canna.
Sem assumpto para mais, subscrevo-me seu Attencioso Venerador Muito Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
115
Productos:
Assucar turbinado ..................................................................128.798 kilogramas
Melasse Cuite 2º jet 653.4 hectolitros a
150 kilogramas cada hectolitro = 98010 kilogramas
com a media 60.21% assucar Clerget =.................................. 59.011
Assucar transformado em glucose = ..........................................2.918
.................................................................................................190.727
Quebra no assucar total entrado é de 2,5%
Glucose total na Melasse Cuite 2º jet 20.631 kilogramas
Temos alem d’isto 5 ponches com espumas do melaço de Barbados para distillação, a quebras [sic] n’este caso não será
superior a 2% do assucar puro total entrado.
Considerandos sobre a refinação:
O rendimento liquido do assucar refundido ao coefficiente de 4 e 2 e 1 ?% de quebra é de 92,6% será
130.497 kilogramas
Diferença a menos em refinado........................ 1.699
Mais assucar turbinado .....................................128.798
130.497
Fizeram-se 16 cosimentos completos de 2º jet que deveriam produzir aproximadamente (na proporção do melaço de
Barbados de 1905) 30000 kilogramas d’assucar M
Ora, pela medição do melaço de Barbados dá 188 ponches de 580 kilogramas cada será 30000 = 159 kilogramas por ponche.
188
Como o melhor melaço de Barbados tem produzido na media (melaço com // [26] 53,5% assucar) 150 kilogramas de assucar
M, vê-se que os cosimentos acima estão bem na sua proporção dando o assucar calculado, mas como o melaço trabalhado sô
contem 51.6% assucar e alem d’isso meior proporção em glucose o rendimento será talvez de 140 kilogramas por ponche. O
excesso de rendimento pertence ao assucar refinado.
Alem d’isto, o melaço de Barbados de 1905 deu 53 ? cosimentos de 2º jet com 388.000 kilogramas, o melaço gasto na
refinação deve dar na mesma proporção 15 cosimentos de 2º jet.
Por tudo isto se vê que o calculo do melaço gasto na refinação está aproximadamente certo, e que se o rendimento em
assucar der pelo calculo acima, tudo foi bem determinado e os resultados concordes.
Pelas analyses dos cosimentos de 2º jet da refinação a pureza media d’estes cosimentos é de 64, e como no melaço de
Barbados de 1905 a pureza media foi de 73, o rendimento em assucar na proporção da pureza dará 131 kilogramas assucar por
ponche para o melaço de 1906 em relação a 150 kilogramas no de 1905. Pelo calculo da pureza nunca pode dar serto, mas ainda
assim é aproximado.
Media das analyses do assucar refundido:
Cristalisavel ........................................................97.720
Glucose ................................................................0.946
Agua .....................................................................0.532
Cinzas ...................................................................0.392
Indeterminados organicos -.................................. 0.410
100.000
[Ass:] João Higino Ferraz //
116
1º Evitar a montagem de mais um melaxeur no vacuo, sendo esta modificação facil e mais barata.
2º Melhor épuissement dos égoûts por isso que trabalhando no vacuo a uma temperatura douçe o exaustamento do assucar
dos égoûts durante 17 a 20 horas faz-se mais lentamente, sendo muito mais racional, e n’esse caso os egoûts pauvres melhor
épuissée.
3º No caso de se resolver a nova lei sobre a exportação do assucar teremos facilidade no trabalho dos melaços importados
para a extracção do assucar fazendo cuites d’amorçe, como da sua proposta para a refinação do assucar, isto é, deitar melaço e
assucar BT no melaxeur até á consistencia de Melasse Cuite aquecel’a e juntar-lhe melaço durante a sua concentração até o
completo enchimento.[Ass:] João Higino Ferraz //
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é-nos inteiramente impossivel fazermos negocio.
A analyse da amostra deu-me o seguinte:
Saccarose ..............................................................66 %
Glucose ................................................................8.51 “
Pureza ...................................................................78.18
Com melaços d’estes tirava eu aqui ainda bastante assucar de 1er jet, e não posso emaginar como considera este producto
melaço, quando elle é ainda tão puro que se pode comparar // [30] com a nossa Masse cuite de 1er jet com relação á pureza?
Acho muito mais conveniente ao meu amigo recosel’o novamente e retirar ainda a meior parte do assucar cristallisavel. O
melaço que nos importamos contem no maximo 52% em assucar cristallisavel e 9 a 10% de Glucose.
Quanto ás cannas Yuba podem ser embarcadas no mês de Janeiro umas 2 toneladas. O custo será naturalmente a 520 a 530
reis por cada 30 kilogramas canna escolhida. Mas como o Senhor Vidal disse que viria aqui para se tratar d’isso, aguardo a sua
chegada.
Como isto não são cousas sô suas mas sim da Companhia pedia ao meu Amigo para me mandar um credito suficiente para
a compra e despezas de empaque e embarque.
Desejando-lhe um futuro anno feliz, crêa-me sempre seu Amigo Certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
[31] A minha opinião sobre a interpretação da Lei de 24 de Setembro 1903 com relação ao fabrico do assucar de melaço
importado e á exportação do assucar de canna da Madeira para o continente do reino:
No artigo 5º é permittido o fabrico do assucar de melaço importado livre de todo e qualquer imposto.
No artigo 6º permitte a exportação do assucar de canna da Madeira para o Continente do reino livre de direitos.
O § unico diz, que da quantidade do assucar de canna da Madeira e com relação á sua entrada livre de direitos no reino, será
deduzida a quantidade de assucar de melaço importado que for entregue ao consummo no Archipelago, sem dizer se essa
deducção é feita na Alfandega de destino ou se é deduzida pela fiscalisação da fabrica, determinando que sô seja exportado livre
de direitos o assucar de canna da Madeira depois d’essa deducção (o que me parece mais coherente).
Se quizermos interpretar a Lei de forma a que, do assucar de canna da Madeira quando exportado para o Continente seja
deduzido o assucar // [32] do melaço, na Alfandega destinataria, é o mesmo que dizer que o assucar de melaço pagará os direitos
como estranjeiro, quando pelo excesso de producção do assucar de canna da Madeira, nos virmos obrigados a exportal’o para
o Continente, parecendo n’esse caso que a Lei limita a producção do assucar de canna, quando o espirito do legislador é
exactamente o contrario, foi lemitar a producção do assucar do melaço para que seja consumido unicamente na Madeira ou no
archipelago e em quantidade não superior a 50% do assucar da canna, e serem essas as compensações que a Lei dá ao fabricante
matriculado para o pagamento elevado do preço da canna e da aguardente da mesma. Quanto mais comprar de canna e
aguardente, meior deve ser a compensação, o que se não dá interpretando d’outra maneira.
O artigo 7º Diz que, quando a quantidade de assucar importado para refinar e o assucar de canna da Madeira fôr em
quantidade egual ao do assucar do melaço importado que fôr entregue ao consummo no archipelago, e quando exportado,
pagará nas Alfandegas destinatarias como se fosse estrangeiro. //
[33] Este artigo 7º vem aclarar perfeitamente o § único, isto é, logo que se fabrique assucar de melaço em quantidade egual
ao extrahido da canna ou refinado, não pode haver deducção possivel, e por isso todo o assucar exportado pagará como
estrangeiro nas Alfandegas destinatarias.
Porque é que no § único se não disse tambem, será deduzido do assucar de canna, na Alfandega destinataria, o assucar de
melaço? Parece que foi para determinar que essa deducção fosse feita pela fiscalisação, avisando a Alfandega destinataria, e
quando a quantidade do assucar de canna e melaço sejam em quantidade egual, todo elle pagará como estrangeiro.
É isto o que me pareçe a melhor interpretação á Lei, visto ella ser feita para proteger a agricultura, dando compensações ás
fabricas matriculadas pela obrigação da compra de canna e aguardente, desenvolvendo a agricultura, e nunca limitando-a, e não
é quando essa agricultura chegou ao seu auge e que as fabricas são obrigadas a comprar maior quantidade de canna e
aguardente, que se lhe deve diminuir ou cortar por completo essas compensações.
Funchal 2 Janeiro 1907[Ass:] João Higino Ferraz //
118
[DATA: 17 de Janeiro de 1907
DESTINATÁRIO: Júlio A. Ferraz]
[34] 17 Janeiro 907
Meu caro primo e Amigo Julio A. Ferraz
Acabo de receber o teu estimado favor de 10 do corrente o que muito estimei por saber nuticias tuas.
Effectivamente estive em Lisboa mas por poucos dias e foi procorar-te a tua casa mas infelizmente não estavas, e como tinha
pouco tempo de demora em Lesboa por isso te não foi ver a Cascais.
Venho de mostrar a tua carta ao Henrique Hinton, e elle pede-me para te participar que parte por esta mesma mala para
Lisbôa, e que se vai hospedar no Avenida Palace, e desejaria muito fallar contigo se lhe fizesses a amabilidade de o procurares
lá.
Elle parte para tratar d’esta questão do assucar, e vai jogar a ultima cartada; ou João Franco attende ao seu pedido justo e
que interessa bastante a toda a Madeira agricula, ou não attende, e n’esse caso não posso prever quaes as consequencias
desastrosas da sua maneira de ver.
O Hinton te explicará de viva vôz todo o negocio, que é d’elle e de todos nos Madeirenses.
Se elle sô attende aos invejosos e aos mal intensionados um dia virá em que se arrependa. // [35] Conheces perfeitamente
as circustancias em que a Madeira esta com relação à Agricultura por que isto já é de tempos bem remotos, quando meu tio
Ricardo180 era depotado, e presentemente ainda é peôr, de forma que toda a proteção do Governo é necessaria para conservar o
nosso regimen agricula. Em fim, meu caro Julio, o Hinton te explicará tudo muito melhor, e podes crêr se elle trata dos seus
interesses, tem tambem em mira os interesses da agrecultura; é um homem leal e reto, e quando com elle fallares o conhecerás
melhor.
Farás os meus comprimentos á prima D. Belmira e Maria Theresa e aqui fico sempre às tuas ordens, nos meus fracos
prestimos.
Teu primo e Amigo certo[Ass:] João Higino Ferraz //
119
mais em comparação a egual epoca de 1906.
Tem esta tambem por fim dar-lhe uma edêa que poderá asseitar se achar conveniente: Naturalmente João Franco continuará
a julgar esta questão como um syndicato, como elle já o disse. O Senhor pode-lhe varrer toda essa edêa com um rasgo de
generosidade (que elle naturalmente não acceitará), e dizer-lhe-há: Pois bem, visto V.a Ex.a estar com duvidas sobre a seriadade
do meu pedido, ponho á desposição de V.a Ex.a a minha Fabrica para que o Governo a fassa laborar por sua conta, e sô exigo
para mim o juro do meu capital. Isto que não terá consequencias mas, pode ser que para um homem como João Franco lhe toque
no coração.
Subscrevo-me seu Amigo certo[Ass:] João Higino Ferraz //[39]181
[42] 4 Fevereiro 7
Ill.mos Senhores Sousa Lara & C.ª Lisboa
Amigos e Senhores
Acabo de receber o estimado favor de V.as Ex.as com data de 31 proximo passado a que passo a responder.
Na carta de V.as Ex.as vejo que o seu empregado disse que eu calculava em 70$000 reis o custo frete e despesas da canna
Yuba o que não é perfeitamente o que lhe mandei dizer na minha carta de 21 do proximo passado como elle pode verificar.
Hoje porem mais bem informado mando-lhe a nota das despezas aproximadas que podem fazer essa remessa:
Custo da canna 2000 kilogramas a 20 reis por kilograma ....................................................40.000
120
Impaque em caixas de 9 pés, bem acondicionadas unica forma de lá chegarem
em boas condicções seram 6 caixas 1,5 metros cubicos cada uma a 5550 reis ............................33.300
Carretes aproximados para a condução das caixas ..........................................................................3.500
Frete até ao vapor aproximadamente ...............................................................................................5.000
Frete do “Zaire” 13$000 reis por metro cubico e mais 10% sendo
o total da medição 9 metros cubicos seram .................................................................................128.700
Total...............................................................................................................................................210.500
Como vêem é o triplo da importancia que V.as Ex.as me enviam e como não posso tomar a responsabilidade de enviar isto
sem espressa ordem e credito suficiente.
Ficarei sempre ás ordens do Senhor Sousa Lara
Sou de V.as Ex.as Attencioso Venerador[Ass:] João Higino Ferraz //
[43] 13 Fevereiro 7
Ill.mos Senhores Sousa Lara & C.ª Lisboa
Amigos e Senhores
Tenho em meu poder as suas cartas de 6 do corrente e copia da de 31 de Janeiro proximo passado e juntamente um cheque
de 70$000 reis do Banco de Portugal sobre a sua agencia aqui, e que fica em minha carteira.
Participo-lhe tambem que tenho em meu poder uma carta do Senhor Sousa Lara datada de 22 janeiro da Dombe Grande, na
qual me pede novamente com instancia a remessa de 2000 kilogramas de canna “Yuba”, e dissera que me enviará uma ordem
telegraphica da importancia de 100$000 reis para essas despezas.
Hoje recebi uma carta da Companhia Commercial de Angola remettendo-me um saque do Banco Nacional Ultramarino da
importancia de Reis 100$000 a 8 d/v. sol. Nº 12474 sobre[?] os Senhores Francisco Rodrigues & C.ª d’esta, o qual ficará em
minha carteira. Esta carta tem a data de 23 de janeiro proximo passado
Segundo a minha ultima carta de 4 do corrente viram V.as Ex.as que eu calculo aproximadamente as despesas da remessa
da canna em Reis 210$500, isto, é, embarcando em boas condições de empaque afim de chegarem ao seu destino bem
acondicionadas. Mas como V.as Ex.as desejam que as ditas cannas sejam empacadas em fardos, a despeza diminuirá, somente
não poderei garantir que cheguem ao seu destino em bom estado. // [44] Temos já feito por varias vezes exportação de canna
para outros Paizes, mas sempre tem sido em caixas de forma a proteger os olhos das cannas, porque são estes os necessarios
para a sua propagação. O Senhor Sousa Lara pede-me para lhe enviar as cannas no proximo vapor, afim de lá chegarem ate 5
de março para aproveitar a estação propria de plantar. Como sô temos vapor no dia 9 de março proximo desejava V.as Ex.as me
avisassem a tempo se sempre as devo remetter.
Fico ás suas ordens e subscrevo-me com estima e consideração
De V.as Ex.as Amigo Attencioso Obrigado[Ass:] João Hygino Ferraz //
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empregado que me tinha dado a informação e que o frete era simplesmente 9000 reis por 1000 kilogramas e mais 10%!! Ora
vejam os meus amigos a differença e isto não foi devido senão ao ter-lhes mostrado a sua carta. Desta forma a importancia será
mais que sufficiente para a compra de 2000 kilogramas de // [46] canna e suas despezas.
Junto encontraram o seu cheque sobre a agencia aqui do Banco de Portugal do valor de 70$000 reis, como do seu desejo.
Ficará em meu poder a importancia de 100$000 reis enviados pelo Senhor Sousa Lara, e no final da remessa lhe enviarei
conta detalhada.
V.as Ex.as me desculparam qualquer falta, por duas razões – 1ª porque os meus afazeres não me permittem ser muito exacto
na pontualidade em lhe escrever e a 2ª como sou technico e não commerciante, muitas vezes poderei sem querer não seguir á
risca as praxes commerciaes.
Seu com toda a estima
De V.as Ex.as Attencioso Venerador Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
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N.B. A carga vai com a marca C.C.A. – Lobito e são 14 volumes
O pezo liquido das cannas 1950 kilogramas
O peso bruto 1990 kilogramas[Ass:] Ferraz //
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Monsieur Naudet183 aqui esteve na Fabrica hontem e hoje, e verificamos com elle todos os planos da diffusão, que a meu vêr
está perfeitamente deliniado e em boa ordem, sem nos embarassar em nada com relação á sua montagem.
Combinei com elle todos detalhes de montagem da diffusão, triple, e Freitag (cuite), e elle aprovou tudo conforme tinhamos
combinado. Se alguma deficuldade se dêr na montagem ou alguma duvida que tenhamos sobre o assumpto elle pedio-me para
lhe escrever emediatamente. Mas como por emquanto, e isto durante talvez dois mezes, sô preparamos o terreno para a
montagem, na minha vinda de Lisboa, se principiará na montagem dos apparelhos que venham chegando. Logo que terminou
a laboração principiei com a desmontagem dos apparelhos que despensamos, e com o desaterramento para a montagem da
diffusão.
Moemos a canna para alcool aproveitando todos os Petit eaux e hoje principiei na destillação da dita. O grau de paragem
foi 0º Beaumé, com uma acidez inecial de 1,3 e final de 1,8 gramas por litro, o que é o melhor possivel. //
[54] Quanto ao rendimento final da fabricação é como se segue:
Calculo aproximado: (aprovado por Monsieur Naudet);
Assucar na Canna – 12.500 kilogramas
Assucar 1er jet produzido .............8.695 kilogramas %
Dito 2e jet a retirar ...............................................0.040
Assucar no melaço e Petit eaux ............................3.037
Perda no bagaço ...................................................0.200
Perdas indeterminadas .........................................0.528
assucar % canna ..................................................12.500
O assucar dos Petit eaux enviado á destillaria, fazendo o calculo pelo rendimento em alcool, foi de 0,42 kilogramas por %
canna. A quantidade de alcool retirado dos petit eaux total, foi de 13030 gallões a 100º a 15 temperatura.
O calculo final ou rendimento rial sô poderá ser feito depois de turbinado o 2º jet, no qual principiamos hoje a trabalhar.
Por emquanto mais nada tenho a lhe dizer de importante
Monsieur Naudet disse-me para lhe dar uma nota do mais que seja necessario em apparelhos para a instalação, mas eu disse-
lhe que seria melhor ver isso depois da minha volta de Lisboa, porque mesmo é necessario combinar consigo antes de tudo.
Seu Amigo certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
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DESTINATÁRIO: Dr. Julio Mendes]
[57] 3 outubro 907
Ill.mo Senhor Dr. Julio Mendes
Amigo e Senhor
Como ficou combinado entre nôs, vou dar-lhe parte do resultado do meu tratamento pelo receitoario de V.a Ex.a.
Principiei a usar o tratamento pela homocopathia no dia 18 setembro do corrente, tomando uma globulo [sic] de cada vidro
(3) de duas em duas horas, e calculo ter remedio ainda para 4 ou 5 dias: Verdade é que sô tenho tomado nas 12 horas diarias.
Os resultados que tenho tirado são bons, visto ter menos dores na perna quando ando. Contudo quero fazer notar a V.a Ex.a
que, tendo usado o tratamento por fricções mercuriaes em Vozella, não sei por emquanto a que atribuir as progressiveis
melhoras: Será devido ao tratamento mercurial? Será ao tratamento homocopathico? V.a Ex.a melhor poderá avaliar. O que
posso bem contastar[sic] é que, no anno passado usando o tratamento mercurial as melhoras não se assentuarão tanto como este
anno: será por ser o 2º anno de tratamento? Peço V.a Ex.a se não escandelisará com estas minhas observações, porque sô tem
por fim elucidar bem V.a Ex.a.
Passo a responder-lhe ao questeonario que V.a Ex.a me fez por escripto para lhe responder:
Volte //
[58] Volume do membro: Antes de dar principio ao tratamento o diametro da perna era 305 milimetros hoje é de 305
milimetros.
Dores: Muito menos, é somente quando ando, e posso sustentar umas marcha [sic] mais longa. As dores são localisadas
somente nas parte [sic] intumescidas do ôsso extendendo-se depois de um certo tempo de marcha sobre os musculos superiores
do pé.
Febre: – Nenhuma
Dores de cabeça – idêm
Potencia funccional: Quase normal
Inflamação dos tecidos: Muito menos ainda mesmo forçando o andamento.
Peço a V.a Ex.a para me prescrever o seguimento do tratamento e enviar-me os medicamentos necessarios acompanhados
da respectiva conta, e a forma de os usar.
Seu com toda a consideração de V.a Ex.a Attencioso Venerador Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz.Director technico da
Fabrica de assucar e destillação de William Hinton & Sons.Funchal Ilha da Madeira //
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Filtros Fillippe: como verá pela carta do Naudet faço-lhe a encommenda de pano proprio para os filtros, que tanto faz que
venhão com os filtros ou não, porque sempre teremos que pagar os direitos. O Barros disse-me que não era possivel fazel’os
passar sem pagar direitos visto ser tão grande quantidade.
Selenifuge: Estou preparando o Echantilon da agua para enviar e todas as indicações por elles pedidos. O Engenheiro é que
me disse que isso não servia para nada.
Já principiei com as fermentações do melaço. Ainda temos alcool bastante, mas é necessario despejar o poço que fica sobre
as caldeiras para abaixar[?] a parede.
O triple já está quase montado e estou á espera dos tubos de cobre para concluir as ligações. O trabalho vai correndo regular
e rapido: a diffusão logo que chegue vamos principiar na sua montagem, porque os assentamentos das columnas estão quasi
promptos. É esta parte da montagem (Diffusor) que nos levará mais tempo, mas com a ajuda de Deus tudo se fará.
Parabéns pela conclusão final do informe do T.S.[?]
Sem mais sou com toda a consideração
Seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
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no dia 27 do corrente, e como sei que deve estar aqui nos meados de Agosto, vou partecipar-lhe como daxei as cousas que estão
a meu cargo.
Alcool: Está tudo completamente cheio, isto é, temos aproximadamente 41000 gallões d’alcool, parte retificado e parte por
retificar. No caso do meu amigo ver que o alcool retificado que temos em stock não dê para as encommendas é simplesmente
dár as suas ordens ao João das Luzes para elle retificar ou de 1ª ou de 2ª: Elle sabe bem o que tem a fazer.
Melaço: Terminei as fermentações logo que findou a laboração, e ficou-nos aproximadamente uns 600.000 kilogramas de
melaço. Hirá para Lisboa? Por emquanto nada sei com relação a este negocio, mas parece-me que nada está rosolvido. O que
eu vejo é que em outubro tenho de principiar novamente as fermentações; mas com que melaço? Com o nosso ou com
Importado? É por isso que é de grande vantagem resolver o mais breve possivel este negocio.
Cosimentos de 2º jet: Tenho já feitos uns 12 cosimentos dos égoûts não epuissée, mas como não tenho espaço onde deite
mais tive que parar. Calculo ter outros tantos para dar, mas é necessario turbinar primeiro estes, para depois // [64] poder
continuar com o trabalho. João Martins fica encarregado de lhe participar logo que os cosimentos estajam frios, para se proceder
á turbinagem. Calculo que até ao fim de agosto elles estajam bons.
Trabalhos mechanicos: Já dei principio ás modificações que temos a fazer para a proxima Laboração, isto na parte que me
diz respeito, quanto á outra parte ficará naturalmente para quando o Engenheiro chegar. O que eu já disse ao Senhor Henrique
e torno a repetir, é que temos grande vantagem em montar um forno “Huillard” para a seccagem do bagaço visto não fazermos
a venda d’elle. O gasto de combustivel este anno foi bastante elevado, quasi 70 kilogramas por tonelada de canna, quando
deveria ser somente de 55 a 60 kilogramas, e estou certo que podemos chegar a este resultado logo que se possa queimar o
bagaço com 30 a 35% d’agua em logar de 55% como foi a media de este anno.
Rendimento da canna: O rendimento da canna este anno foi na media de 8,312 kilogramas % em 1er jet, mas a media do
assucar na garapa foi de 15,38% assucar em quanto que em 1907 foi de 16,22%. Pelos meus calculos o rendimento foi tão bom
ou talvez melhor do que o anno passado.
Aproveito a occasião para lhe agradecer o emprestimo do seu cavallinho, que muito me tem servido, visto me estár doendo
um pouco a perna. O Marouto percisa é um pouco de ensino, porque está muito mal-criado. Quanto aos seu estado phisico é
bom, está bem tratado e limpo.
Sem assumpto para mais receba um abraço do seu Amigo certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz
P. E.[sic] Os meus respeitosos cumprimentos a sua Ex.a Esposa e que faço votos pelas suas melhoras. //
DESENHO P4270020.JPG
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fazer, por varias razões, que vós conheceis perfeitamente; Eu proporia ao Senhor Hinton a modificação conforme o Schema
junto.
Contudo ainda que o Senhor Hinton não possa acceitar, por razões economicas, esta completa modificação eu desejava
modifical’a em parte, isto é, todos os égoûts ricos dos malaxeurs hentrarem juntamente com o vesou na sulfitação e na bateria
de diffusão: É sobre este ponto que eu desejo ouvir o nosso conselho.
D’esta forma já o épuissement dos égoûts teria muito a ganhar.
Como o Senhor Hinton vai a Paris o meu amigo poderá conferenciar com elle a esse respeito
Estou sempre ás suas ordens
O seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
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Para a dissolução dos égoûts e hydrosulfitação temos o malaxeur redondo que servia para a refonte do assucar quando
refinavamos e que está montado.
A hydrosulfitação pode ser feita de duas formas:
1º Empregando o acido sulfuroso liquido e juntando-lhe o pô de estanho o qual desprenderia o hydrogenio formando o
hydrosulfito.
2º Empregando hydrosulfitos cristalisados taes como o Blankite ou outro, o que seria mais facil que o 1º.
Como vê o processo é facil e pouco despendioso e as vantagens são grandes.
Sem mais sou seu Attencioso Venerador e Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
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son travail pour les reparations delicates et urgentes, neammoins plusieure sont faits et je vais essayer d’abord le remplissage
par en haut comme nous l’avons convenu ensenble si l’operation reussir bien j’essaierais de filtrer.
Comme je nous le dis plus haut je compte beaucoup sur la derniere semain pour tous ces essais, car alors nous n’aurons plus
la crainte de laisser les cannes s’alterer, comme celá se produir actuellement au moendre arrêt avec le magasin plain de cannes.
Il faut que vous nous accordiez encore une semaine ou deux de repit avant que je puisse vous donner des renseignement
detailles sur ces interessants questions.
Votre ami bien devoué[Ass:] João Higino Ferraz //
130
Le tuyau d’espiration (connu le montre se Croquis)
DESENHO P4280002.JPG
131
há regular à perção desejada para que o homem // [79] encarregado da evaporação não tenha descuidos que poderiam ser
bastante prejudiciaes; alem d’isso o Kestner terá uma valvula de segurança para o caso de mau funcionamento do regulador,
evitando d’esta forma todo o perigo de explosão por escesso de vapor. O que porem me esqueceu, visto não ter á vista o meu
sechema, foi a valvula reguladora de sahida da garapa evaporada no Kestner, mas vou escrever ao Naudet por este mesmo
corrêo e fazer-lhe ver a necessidade d’ella, porque como o apparelho trabalha em perção, a sahida do liquido evaporado deve
ser regulada automaticamente não sei mesmo se o apparelho vem com esse regulador, em todo o caso vou lembrar ao Naudet.
A 4ª caixa do triple trabalhará como eu proponha, mas com o vapor de 2ª caixa, e o xarope da 2ª caixa entrará regulado na
3ª e 4ª, e a sahida do xarope da 3ª e 4ª será feito pela mesma bomba; comprehendi bem a forma da montagem, e a necessidade
d’ella dos dois primeiros rechaufeurs onde se deve fazer circular o vesou que será aquecido com o vapor da 2ª caixa, e concordo
plenamente com elle sobre esta modificação.
Emfim, tudo ficou bem regulado e se ainda algumas duvidas tiver combinamos em lhe escrever emediatamente.
Infelizmente não foi possivel ver fabricas de assucar de beterraba a trabalhar visto a colheita este anno estar retardada devido
ás chuvas extratemporaes o que vai dar causa ao pouco rendimento em assucar em toda a Europa, porque foi geral. Isto para
nós deve ser vantajoso porque naturalmente não haverá stock de assucar para proximo anno, e isto fará subir o preço, do que
podemos tirar vantagens das nossas vendas em Lisboa e Porto; é de toda a conveniencia trabalhar o maximo possivel. //
[80] Visitei contudo uma fabrica de Monsieur Eclancher em Saint-Leu-d’Esserent cuja fabrica regula pouco mais ou menos
pela nossa (300 a 350 toneladas), e cousa curiosa, a sua montagem está de tal forma acomolada de apparelhos e em tal
desposição que a nossa é-lhe superior em boa desposição. O que me ferio a attenção foi a forma de transmissão de movimento
feito por um sô motor de 150 cavallos que é a perfeição. Do resto apenas vi de novo o systema de compreção do vapor do jus
pelo processo Puache e Ruillon que é muito corioso, mas que sô serve para fabricas que teem pouco vapor exausto. Vi tambem
uma nova montagem de um malaxeur no vacuo para os cuites de 2er jet mas que trabalhará este anno pela primeira vêz.
Monsieur Eclancher foi amavel bastante e offereceu-se para me commonicar os resultados obtidos com esse malaxeur. De
qualquer malaxeur orisontal fechado se pode adoptar o processo, com a modificação requerida.
Esta fabrica emprega o processo de deffusão Naudet e carbonatação continua; tem tres caldeiras de vacuo. A alimentação
do triple é feita por bombas centrifugas assim como a extração das aguas amoniacaes, e xaropes, mas com motor eletrico.
Quando aqui cheguei combinei com o engenheiro a montagem do motor das bombas, e parece-me conveniente montar para a
alimentação do Kestner e triple bombas centrifugas “Schabaver” como em tempos lhe fallei, porque a bomba que temos não dá
para o trabalho proposto. Vou escrever ao Naudet sobre isto. //
[81] Como o Naudet me desse os planos para o novo condensador barometrico e ballão receptor dos vapores dos cuites e
triple, daxei ao Dargent194 em Lisboa para os fazer quanto antes, deixando contudo o ballão de ser colucadas as entradas do vapor
sem primeiro combinar com o engenheiro a melhor colucação a dár-lhe para evitar muito trabalho de tubagem. Tambem ficou
combinado o acrescentamento do compensador, e já mandei descravar o tampo superior para tomar as medidas exactas e lhes
mandar para elles fazerem a vírola para ser cravada aqui.
Os malaxeurs e cuite chegaram em boa ordem, assim como as 8 valvulas para a diffusão e vou principiar na modificação da
bateria de diffusão em duas como Naudet propoz.
Tudo quanto se tem passado em Lisboa commigo e o Senhor Bardsley elle deve-lhe ter participado por isso nada lhe digo.
O que achei atrasado quando aqui cheguei foi o alargamento da casa para a montagem dos malaxeurs e nova caldeira de
Vacuo, e já disse ao Mestre João Florencio que é necessario dar o meior desenvolvimento possivel a este trabalho. O que me
está embaraçando bastante é as modificações que temos que fazer nos cuites e ao mesmo tempo a fabricação do assucar do
melaço exotico!! Mas veremos a melhor forma de o fazer.
Quanto ao rendimento total da fabricação do corrente anno não lhe posso mandar ainda porque não tenho tempo desponivel
para fazer esse calculo.
Considere-me sempre seu Amigo dedicado e obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
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que somente pode ser feito com alcool de melaço da canna da Madeira; devido a isso vou principiar as fermentações, mas antes
que as fassa foi hoje fallar ao Director da Alfandega, para elle me dizer se o posso fazer mesmo que recebessemos o melaço
exotico. Elle ficou de me responder hoje mesmo.
Contudo, o alcool fabricado do melaço da Madeira será separado do alcool do melaço exotico, e como temos dois tanques
vou deitar o da Madeira no tanque mais pequeno (7500 gallões) e o exotico no grande (22000 gallões), foi isto que combinei
com o Senhor Bardsley.
Fallei com o Jose de Sousa e elle disse-me que estava alimentando uma vaca com o molasscuite[sic] e que comia
perfeitamente sem lhe notar diferença para peor tanto no seu estado geral e producção de leite.
Seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
133
Deixo isto por conseguinte á sua consideração. O Jacintho enganou-se no calculo que lhe deu do melaço existente, elle lhe dará
a explicação do caso.
Acabo de fazer a analyse da 1ª amostra tirada pela Alfandega; deu-me exactamente 55%!! Estou tirando uma amostra regular
de todo o melaço aqui na Fábrica para depois fazer a analyse total.
Depois de transformar em alcool o melaço necessario conforme expliquei vou retirar o resto para armazem alfandegado,
esperando a sua resolução.
Seu Amigo certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
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que ficará em armazem Alfandegado até defenitiva resolução, ou para exportação ou para destillação. O resto do melaço vou
destillal’o pela forma como já disse.
Pedia-lhe tambem para procurar o Dargent201 e fazer com que elle desse o maximo expediente ás nossas encomendas.
Tenho aqui á vista o typo 20 da escalla Hollandesa, e vejo que o crystal é muito fino, e não é egual ao assucar que elles
importam como abaixo do typo 20; continuo a ter a mesma opinião, que no despacho do assucar se deve considerar tanto a côr
como o typo cristal. O ministro nada tem feito, naturalmente; para nôs isso era de grande importancia.
Com relação ás vendas de aguardente de canna, vejo que os compradores nem mesmo a 800 reis querem comprar porque
teem muita.
Por uma carta que o Jacintho me deu vejo que nos livros a nossa aguardente de canna depois da mestura com alcool está em
690 reis. A que preço minimo se deve vender? A meu vêr, mesmo a 780 reis era bom vender para liquidar e evitar mais quebras.
Pode-se ainda juntar-lhe mais algum alcool que nos dará mais lucro. Diga-me o que devo fazer.
Seu Amigo certo[Ass:] João Higino Ferraz //
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Em meu poder a sua carta de 7 do corrente.
Comprehendo bem o seu espanto com relação ao melaço de Barbados, mas espero que tenha já recebido a minha ultima em
que lhe dava a explicação do caso.
Quanto ao alcool continuamos a vender o que se vai fabricando de forma que no fim do dia ficamos quasi sem alcool á
espera do dia seguinte! Felizmente até hoje não tenho dito a ninguem que não há alcool. Para a semana vou ter meior
quantidade, e espero que esta procura seja somente até sabado 16, e depois vou ver bem o que me resta de melaço para deixar
um stock minimo de 7500 gallões que é quanto leva o tanque pequeno, como combinamos. Contudo sempre vou tirar algum
melaço para armazem alfandegado, porque desejo principiar a fabricar o melaço de Barbados em Novembro, para não
prejudicar as nossas montagens d’apparelhos. Agora o que me apoquenta é a falta d’agua. Hoje (sabado) e amanhã não temos
agua dos Moinhos, da rebeira não vem nada e o poço apenas dá para trabalhar com destillador. Vi-me na necessidade de mandar
boscar hoje agua em ponches para amaçar a cal!! Esta falta de agua é o Diabo.
Quanto ao Lemos203, nada se pode fazer; elle tem melaço bastante até novembro, como já lhe disse. Não comprehendo os
recios[sic] do Ministro // [91] a mim parece-me que a poblicação do decreto pode no futuro era vantajosa para o Governo porque
lhe vai diminuir a quantidade de assucar a exportar para Lisboa e Porto; não lhe parece?
Calculo o seu aborrecimento com tanta demora.
Tem havido dificuldade em vender aguardente de canna, mesmo que seja barata, devido a haver nos negociantes d’ella muita
em armazens e elles dizem que sô poderam recebel’a em Janeiro. O Pedro Pires mandei-o chamar para fazer com que elle venda
mais barato (com mestura de alcool) para liquidar bastante.
Um abraço do seu Amigo certo
[Ass:] João Higino Ferraz
P.E.[sic] O Sampaio pede-me a nota dos productos chimicos para adubos, mas vejo que temos por emquanto bastante e que
de esta data em diante pouco ou nenhum se vende. Acho desnecessario empatar capital n’isso.[Ass:] Ferraz //
136
offerta de mais 200 cascos de melaço de Demerara é minha opinião que devemos acceitar porque o melaço encomendado não
dá para o alcool que necessitamos até março do proximo anno, como no meu relatorio provejo.
Esteve aqui no sabado 16 o Admenistrador do Conselho e o Dr. Carlos Leite, para nos prevenir que é necessario requerer
licença para a montagem dos novos apparelhos na Fabrica de assucar, que segundo elles dizem a lei nos obriga a isso visto o
Alvará antigo dár a auctorisação para a montagem de // [94] uma fabrica de capacidade determinada, e hoje termos augmentado
consideravelmente a sua capacidade. Disse-me o Admenistrador que é necessario tirar uma espece de Sechema dos apparelhos
novos para juntar á participação. Eu disse-lhe que já em 1907 tinhamos feito isso para a Repartição de Fazenda. Ficou de Carlos
hir na terça feira para elles darem a forma de fazer essa participação.
Ainda há outra cousa, que o Dr. Carlos Leite como Delegado de Saude exige, que é fazermos um cano de forma que todas
as aguas da Fabrica quentes ou frias vão ao cano do vinhão. Essa questão ficou para quando o Senhor Henrique voltar. Como
é um trabalho despendioso disse-lhes que nada podia fazer sem o Senhor cá estar. Disseram elles que isto é para evitar
reclamações a que elles têem que dar providencias. Estes nossos derigentes querem agora comprir a Lei á risca porque assim o
exige o Diario de Noticias!
Sem mais subscrevo-me seu Amigo Attencioso e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
137
Sobre a aguardente de canna é que não sei como liquidar porque há muita, e como já lhe disse elles sô podem receber em
Janeiro proximo; a questão de preço já eu tinha pensado em lh’a dar a 780 reis como me diz na sua carta.
Sem mais que lhe posso dizer subscrevo-me Seu Amigo certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
138
Como temos no armazem aguardente de canna sem mestura d’alcool vou principiar hoje a fazer o mais que poder de
mestura. O que é deficil é vender por emquanto aguardente de canna, mas espero que em Novembro se principiará a vender
melhor, e com este desdobramento com alcool fica-nos sahindo muito mais barato.
No fim d’esta semana deve-me ficar todo o melaço fermentado. Vejo que este lote me vai dar um bom rendimento (talvez
8%) devido ao processo da resinose.
A analyse do nosso melaço em Lisboa (melaço de Barbados) mostrou 50% assucar e glucose 26% !! não me parece…
Sem mais subscrevo-me Seu Amigo certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
139
C.ia União Fabril: Quanto ao que me diz com relação ao mau acceitamento dos consumidores da turtou com melaço, são
hestorias d’esses nossos amigos: O molasscuite que fiz e que o Sousa Carreiro empregou na alimentação de uma vaca de leite
deu magnifico resultado, e a vaca comeu perfeitamente, e como sabe o molassecuite contem 75% de melaço. Uma junta de bois
aqui da casa foi tambem alimentada com o mesmo molassecuite, e os bois comeram bem e estão de perfeita saude. O que me
parece é que a União Fabril não pode continuar com esse negocio de mesturar um producto caro com outro que vendem muito
mais baratos, e por isso querem a todo o pano rescindir o contracto.
Vejo quando me diz da nossa questão ahi, e prevejo um mau resultado se o Governo se não aguenta. Elles podem intertel’o
com promessas até á ultima hora, e cahindo, são outros intrujões com quem tem de tratar, quer dizer, que ficará ahi eternamente!
Sem mais sou seu Amigo certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
140
embaraçar estes trabalhos.
Temos tempo de sobra porque elles sô poderam saber as cousas ao certo depois de terminar o fabrico do melaço exotico em
assucar e alcool e isto sô será para Fevereiro proximo.
Quando estive em Paris Monsieur Naudet disse-me que era muito conveniente para os interesses da firma Hinton que todas
as encommendas dos productos necessarios para a fabricação do proximo anno fossem feitas n’este mez, porque poderia obter
preços muito mais baixos do que sendo feito de afogadilho, isto é á ultima hora. Espero pois que me aucturisará pelo proximo
corrêo a fazer essas encommendas.
O pano para os filtros Philippe já encomendei ao Naudet, vindo uma parte em sacos feitos com os filtros, e o resto em peças.
Subscrevo-me seu attencioso amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz
Estes égoûts como vê estão bastante ricos e continham grande quantidade de assucar em farinha, isto é, assucar que passou no
tamis das turbinas.
Se estes égoûts fossem cosidos ainda em 2º jet davam ainda bastante assucar, e seria esta a verdadeira forma de lhe extrahir
meior quantidade de assucar, mas na occasião presente que não temos alcool para vinhos não posso pensar em fazer tal, e além
d’isso para nos dar tempo a que de todo o melaço se extrahia assucar // [108] antes de principiar a laboração da canna, sô
fazendo como fasso agora se pode chegar a esse resultado.
Bastante estimaria que o Senhor Henrique estivesse agora aqui, para de si proprio vêr as cousas como se passam.
Tenho hoje em alcool de melaço indigena para vinhos somente 3000 litros e a fermentação do melaço exotico ainda não está
em condições de destillar, e naturalmente sô na quarta feira proxima poderei principiar a destillar e quanto á retificação no fim
da semana. Como vê estou outra vêz com dificuldades com a falta de alcool, porque não desejava tocar nos 8500 gallões que
tenho reservado para os desdobramentos.
Chegou hoje o vapor com o melaço de Demerara (495 cascos) cuja analyse é a seguinte:
Materia Secca .......................................................92,15
Saccarose directa ..............................................40,13%
Pureza apparente ..................................................43,54
Glucose .............................................................28,95%
Coefficiente glucosico ...........................................72,1
Como vê é um bello typo de melaço para destillação.
Vejo-me porem na necessidade de o deitar no tanque mesturado com o melaço de Barbados, porque não temos armazens em
conducções de o guardar. Seria essa a minha vontade, porque não desejava tornar o melaço de Barbados pêor do que é, mas
141
como fazel’o?
Tudo isto são contrariadades que me aborreçem por não as poder resolver como desejava.
Bom seria que no proximo anno, continuando a importação de melaço para assucar, tudo se fizesse em ordem de tirar bons
resultados industriaes, porque isto de atamancar o trabalho é mau para si, e para mim porque me põe em grandes deficuldades.
Tenho um assumpto a dizer-lhe que me pareçe ser de interesse que o Senhor saiba. Como o Sampaio é amigo intimo de um
suisso que tem casa de bordados, // [109] e como esse Suisso é intenço amigo de um outro Suisso que está empregado no
Leacock, pedi ao Sampaio para vêr se seria possivel elle obter do seu amigo algumas informações com relação á nova fabrica
do Leacock, mas isto com toda a diplomacia: O Sampaio desenvolveu-se bem d’esta incombencia e sube n’este caso o seguinte:
O Leacock já não pensa em fabricar aguardente para manifestar no fim do anno, mas sim fazer alcool de canna em 40º para
os negociantes de vinho. Diz que a sua edêa não é tirar lucros, mas somente vender o alcool depois de tiradas as despezas de
fabrica.
Era este o meu recêo, e já lhe digo porque.
Quaes seram os systemas de extração do sumo da canna?
Quaes os processos de fermentação?
Quaes as condições de compra da canna?
Se eles pensarem como eu o faria, daria o seguinte resultado:
Extracção com imbibição no maximo, isto é 80% do sumo de canna.
Processos modernos de fermentação e destillação obtendo 60 litros d’alcool por 100 kilogramas assucar fermentado.
Compra da canna na épôca em que ella está mais rica e por preço inferior ao que nos compramos, o que seria facil, crêo eu.
Estas tres condições dá o resultado de elle poder vender o alcool retificado em 40º no maximo de 950 reis por gallão. Ora
quem importava alcool Alemão ao preço de 1400 reis sô com o fim de prejudical’o, muito mais facilmente compra a 950 reis
com o mesmo fim.
Vamos principiar esta semana na montagem da nova caldeira de vacuo.
Seu Amigo certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
142
O que nos vai aconteçer naturalmente é não termos assucar para o consumo até março, mas de todos os males o menor,
fazemos importar o assucar bruto necessario para ser refinado. Junto vai tambem a analyse da amostra tirada pela Alfandega
[...] isto é, amostra official e é esta a que nos servirá para a contestação porque todas as outras particularmente nossas não fazem
fé em juizo. Contudo amanhã vou fazer a analyse do resto dos ponches que ainda não foram analysados. Recebi carta do
Naudet217 aprovando tudo quanto lhe tenho proposto.
Sem mais sou seu Amigo Attencioso e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz
P. E.[sic] As fermentações do melaço magnificas [sic]. //
143
Muito se tem feito de Janeiro até hoje e isto por um trop-de-forçe, e Deus primitta que tudo estaja em ordem.
É porem de toda a conveniencia antes de principiar com a canna trabalhar um dia a agua de forma a limpar bem todos os
apparelhos para evitar o produzir assucar dos dois primeiros cuites de má qualidade.
Para trabalhar pelo systema antigo temos quasi tudo em ordem a não ser as centrifugas, mas como sô uns 3 dias depois de
principiar é que vamos ter Melasse Cuite em estado de turbinar, não deve talvez prejudicar o seguimento do trabalho.
A Caldeira de vacuo nova tambem não está concluida e mesmo no caso acima não necessitamos d’ella. A Freitag pode
trabalhar a vapor exausto e directo como no anno passado, e o pequeno Cuite (100 Hectolitros) fará os pés de cuite como
ordinariamente. A montagem das bombas centrifugas // [115] tanto a do Kestner como a do Triple estão montadas, e a filtração
mechanica, a sua montagem está feita de forma que se pode trabalhar da forma que se quizer.
A diffusão está terminada.
A bomba dos petits eaux tambem fica concluida em dois ou trez dias: Quanto a esta parte eu disse ao Engenheiro que sô
necessitamos uma bomba porque vou reonir os petit eaux aos eau do mulin de repression.
Acho até muito conveniente o trabalhar os primeiros 5 dias pelo systema antigo porque durante esse tempo posso habitoar
o pessoal da diffusão a trabalhar em duas baterias conjugadas, trabalho perfeitamente novo para elles e que me vai tomar muito
tempo. Depois de esta parte do trabalho estár corrente posso então dedicar-me ao trabalho do Kestner, novo para mim e para
todo o pessoal, e como as modificações no triple para a filtração entre as caixas tambem me deve prender bastante a attenção,
poderei perfeitamente applicar-me a esta parte do trabalho. D’esta forma podemos arranjar assucar para consumo de duas
semanas e principiar definitivamente depois da semana Santa.
É isto a minha opinião sobre o nosso trabalho.
Vejo que os cosedores não chegaram a tempo para o principio d’esta primeira moenda, mas vamos-nos remediar com João
Martins e Francisco. Quanto ao Chimico farei o possivel de o substituir por uns dias porque tenho Avelino219 que já faz muito.
Que a sua boa Estrella o continue a guiar na sua campanha
Seu Amigo certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
144
[DATA: 29de Maio de 1910
DESTINATÁRIO: León Naudet]
[118] 29 mai 1
Mon cher Monsieur Naudet
J’ai bien reçue votre honorée de 17 courant et j’ai pris connaissance de celles que vous avez adressé á Messieurs Dubail et
Sachs auxquelles je repond également
Aluminate de soude: – Je vais en faire l’experience cette semaine en me conformant á vos indications.
Condenseur-radiateur: – Ce condenseur ne donne pas les resultats attendues pour l’unique raison que la perte de charge este
considerable aissu que vous l’avez bien prevu. Le vide a 28 pouces dans la colonne barometrique et l’eau sortant a 30º de
temperature, de vide du triple effet et des cuites est à 22 pouces, la vapeur condensée par heur de 2500 a 3000 kilogrammes au
maxime. Dans ces conditions il est impossible de travailler dans le triple effet et la cuites. Monsieur Marsden a eu l’edée de
soutirer un partie de la vapeur du ballon central et de l’envyer directement á la colonne barometrique par le nouvelle valvule du
croquis. On a alors obtenu un vide de 27 pouces á la colonne barometrique et l’eau de condensation a 40º temperature et 24 a
25 pouces de vide au triple effet et a la cuite: Mais ceci n’est etablè que provisoirement pendant qu’on etudie le fonctionnement
de l’apparail. Je crois que pour tirer un meilleur partir du condusseur et obtenir le rendement maximum, nous deverons placer
un turbo-compresseur entre le ballon et le condenseur pour donner á la vapeur da rapidité de circulation nécessaire dans le
condenseur raiateur. Ci joint un croquis de mon projet que vous permettra de mieux suivre mon edée et de me dire ce que vous
en penses.
D’autre part, j’ai constate que les eaux condensés ne sortent pas librement // [119] [...]222 celá este dû au faible diametre et
de 3 pouces, et Marsden qui au début n’etait pas de mon opinion partage maintenant ma maniere de voir á ce sujet mais il n’est
pas partison de l’adjonction d’un turbo-compresseur qui selon lui ne produira aucun effet.
Cuite au filet: – Dans le but de faire l’experience au cours de cette année du passge[sic] des cuites au filet dans les filtres
presses, nous avon[sic] decidé avec Monsieur Hinton223 de faire venir une prompe à masse cuite de capacité suffisante pour
notre travail mais nous vaudrions autant que possible une prompe d’occasion. Cette pompe devant être commendée par courroi,
veuillez nous doit[?] quelle force en chevaux vapeur cette pompe nécessitera.
Cela dit voici ce que j’ai l’intention de faire:
Apres la fabrication le fera cuire au filet les égoûts restant (égoûts à recuire) et les enverrai dans les [...]224 citernes ou ils
resteront pendant 2 mois. Au bout de ce temps je les ferai passer dans une malaxeur avec de la melasse diluée puis aux filtres
presses. Les tourteaux obtenús seront envoyes à leurs tour dans une malaxeur avec des égoûts plus pures de façon á faire une
masse cuite facil a turbiner.
Les égoûts pauvres de cette burbinge seront recuits á nouveau et les égoûts riches pour diluer les tourteaux.
Monsieur Hinton et moi desiron avoir votre opinion sur ce projet.
Je vous prie d’acheter la pompe à masse cuite – d’occasion si possible – le plus tôt que vous pouvez et de nous l’envoyer
dans le plus bref délé.
Bien Cordealment á Vous[Ass:] João Higino Ferraz //
145
Quanto ao que apareceu no “Seculo” nada sei mas naturalmente não foi Naudet.
Sem tempo para mais subscrevo-me Seu Amigo Attencioso e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
146
[125] 26 agosto 1911
Experiencia com o filtro-presse, depois de concertada a bomba, funccionando elle bem:
Fiz a esperiencia novamente da filtração da Melasse Cuite nos filtros-presse com panos, sendo a Melasse Cuite diluida com
égoûts pauvres e filtrada á temperatura de 40º Centigrados. O melaço não passava nos panos, como da 1ª experiencia, ainda
mesmo com a maxima perção da bomba que calculo fosse (depois do filtro presse cheio) de 3 ? a 4 kilogramas de perção. As
juntas do filtro, devido á alta perção, deixavam passar Melasse Cuite, mas os panos, como já disse, não passava o melaço.
N’essa mesma occasião fiz a esperiencia do pequeno filtro com tecido (egual á amostra junta) sahindo o melaço bem, mas
o filtro, por ser pequeno, sofria toda a perção da bomba não podendo resistir a tão alta perção, sahindo a Melasse Cuite pela
porta superior, e alem d’isso como toda a Melasse Cuite mandada pela bomba (mesmo andando o mais devagar possivel) era
somente aplicada ao pequeno filtro, não dava vasante ao melaço, não formando n’esse caso tourteau.
Como porem nas esperiencias feitas com este pequeno filtro com a perção d’ar comprimido a 1 ? kilogramas e com cargas
intermitentes o tourteau se formava bem, vejo que naturalmente o único filtro apropriado a esta filtração de Melasse Cuite será
o filtro com tecido, sendo construido especialmente para esse fim.
É minha opinião que na construção do filtro, substituindo a chapa transfurada se deve empregar entre as reinhuras dos
quadros e o tecido filtrante um outro tecido muito mais aberto mas suficientemente resistente para sofrer a perção do tecido
filtrante[?] sobre as reinhuras dos quadros, conforme o sechma junto.[Ass:] João Higino Ferraz //
147
Analyse: Brix ..........................4º
Densidade ................1014
Beaumé ....................2,1
Temperatura .............24
Acidez litro ..............1,8 gramas em SO4 H2
Para reduzir este vinhão a um xarope de 35º Beaumé ou 65 Brix, quanto evapora d’agua?
Temos x = (65 – 4) 100 = 93,84 litros d’agua a evaporar por cada 100 litros de
65
vinhão.
O nosso destillador Paulmann destilla em 24 horas o maximo de 500 Hectolitros o que se pode calcular esta mesma
quantidade em vinhão. Qual deve ser a capacidade de evaporação em um duble effet trabalhando com perção para este trabalho?
A meu vêr, cada metro quadrado de surface de chauffe em um duble effet com perção deve evaporar em 24 horas 7
Hectolitros, teremos pois de ter 72 metros quadrados de surface de chauffe repartidos pela seguinte forma:
1ª caixa ———- 28 metros quadrados Trabalhando a 1 ? kilogramas
2ª caixa ———- 44 metros quadrados “ a 1 kilograma
Temos estas duas caixas antigas e uma outra de 53 metros quadrados
[Ass:] João Higino Ferraz //
[130] 15 Setembro 1911
Considerações particulares:
1ª Com o xarope a 35º Beaumé indo ao forno “Porion” a sua propria combustão dá as calorias necessarias á sua carbonisação
ao estado de carvão puroso.
2ª A fermentação com o grau inecial de 6º Beaumé pode ser levado ao maximo (com melaço de canna) a 8º Beaumé que
dará um vinhão um pouco mais consentrado.
3ª O trabalho do destillador pode ser feito pelo vapor da 2ª caixa do duble effet, tendo n’este caso de metter vapor directo
somente na 1ª caixa.
4ª É bom consultar Monsieur J. Kavan, ingenieur-chimiste de Prague que tem um aperfeiçoamento no forno antigo de
“Porion”.
Desposição aproximada dos evaporadores: Schema
DESENHO P4270024.JPG
DESENHO P4270024.JPG
[Ass:] João Higino Ferraz //
Em falta
[DATA: 9 de Outubro de 1911
DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre]
[131] 9 octobre 1911
Mon Cher Monsieur Lefebvre
J’ai reçu á Funchal votre aimable lettre du 6 dernier pour la raison que cet année il m’a été impossible de sortir de Madére,
du au travail du restant de la fabrication et du raffinage du sucre d’Afrique que nous deverons commencer á la fin de ce mois-
ci.
C’a m’a giné asses parce-que je desirais faire mon voyage comme j’avais projéte, et voir le mise en route de la fabrique
d’Espagne tandis que vous y étiez.
J’ai eu cet année beaucoup de chagrin avec la fabrication du au mauvais rendement en turbiné, dans la cause est du, à mon
manier de voir, à l’etat de la canne pour l’excés d’engrais azotés et de le proprieter ou agriculteur de ne pas employer la chaux
dans les terrains comme Marcus avait recommendé, donnent çá de resultat de formation de gomes que prejudiciaient la
crystalisation invertant en partie le sucre par les diastases y contenues. Je desirais bien causer avec Monsieur Naudet sur ce
subjet mais il m’a a été entierement impossible sortir de Madére.
Faites mes compliments a Madame et á son gentil fille
Pour vous un embrassement de votre Ami devue[Ass:] João Higino Ferraz //
148
[DATA: 28 de Dezembro de 1911
DESTINATÁRIO: Valentim Pires Leiró; LOCAL: Lisboa]
Em meu poder a sua estimada carta de 18 do corrente assim como os Devis das tres casas constructoras.
Pelo estudo rapido que fiz dos diversos devis apresentados vejo que o trabalho em todos elles sendo simples é contudo
imperfeito para o fabrico e dando perdas em assucar bastante elevadas no bagaço enviado ás caldeiras de vapor.
Não posso vêr como elles calculão o rendimento de 8,5% em turbinado visto naturalmente não saberem qual a percentagem
de assucar na canna e mesmo o meu Amigo não poder dár essas indicações por não ter feito analyses que sirvão de comparação.
Vejo porem que com o defibreur e dupla perção seca como propõe a Casa Cail232, que a meu vêr é a mais rasuavel e melhor
deliniada, a não ser na sua proposta de perção hydraulica nos cylindros que sendo muito bom é contudo muito caro, elles não
podem obter mais de 78 a 79% d’extração. É parece-me de toda a conveniencia extrahir o mais possivel em assucar turbinado
para que o rendimento por Hectare de terreno seja elevado até onde o meu Amigo pelos seus calculos veja pode tirar vantagens,
por isso lhe dou os diferentes rendimentos que pode tirar pelos diversos systemas de moagem da canna, calculando para isso,
na canna 13% em assucar:
Com um defibreur e dupla perção seca = 78% extração ou 64% em assucar puro turbinado, isto é, 8,32 kilogramas assucar
% kilos cana //
[133] Com defibreur e dupla perção com uma imbibição de 15% = 88% extração ou 80% em assucar puro turbinado, isto
é, 10,40 kilogramas assucar % canna.
Com defibreur e triple preção com duas imbibições de 25% = 93% extração ou 84,5% em assucar turbinado, isto é, 10,98
kilogramas assucar % canna.
Quanto aos preços dos apparelhos vejo grandes diferenças, mas isso é em grande parte devido aos intermediarios, que sendo
uma desvantagem é contudo para si muito mais facil de establecer contratos por isso que o meu Amigo não conhece a fundo a
materia e necessita pessoa que lh’as indique e com quem trate de viva vôs. Como vejo que tem na sua antiga fabrica um moinho
de trez cylindros poderá applical’os a formar uma triple perção como propõe a casa “Squier” mas com imbibição, comprando
um defibreur e dois moinhos de 3 cylindros cada um, caso o seu moinho tenha a capacidade e resistencia para as 250 toneladas
de canna em 24 horas. A seguir lhe dou a minha fraca opinião como eu montaria a fabrica, mas isto sô nos pontos principaes,
porque nos pequenos detalhes de montagem devem ser estudados pela fabrica constructora tendo sempre em vista a economia
de combustivel para evitar o ter de queimar carvão ou lenha para a formação do vapor necessario ao fabrico.
Trabalho aplicado:
1º Conductor de cannas conforme os devis apresentados.
2º Um defibreur Krajewski.
3º Dupla ou tripla perção, com simples ou dupla imbibição.
4º Trez chauleurs de 20 Hectolitros cada um com movimento mexidor.
5º Sulfitação alcalina em 3 caldeiras sulfitadoras intermitentes de 35 Hectolitros cada uma, servidas por um forno de SO2
(acido sulfuroso) //
[134] Não aconcelho o Quarez continuo que é dificil de controlar e demanda um cuidado especial do chimico para evitar a
sursulfitação que produz grande quantidade de SO2 livre que no trabalho subsequente se transforma facilmente em acido
sulfurico que invertendo o assucar diminui o rendimento em turbinado tornando além d’isso o trabalho da cristalisação dificil.
6º Defecação continua em circulação rapida em 4 rechauffeurs de 30 metros quadrados de surface de chauffe de 8
circulações, sendo 3 em trabalho e um em limpeza, até á temperatura de 95-96º centigrados. Este systema de defecação é facil
de conduzir, sendo necessario para isso uma bomba centrifuga Sechabaver Nº 3 para a circulação rapida. Estes rechauffers são
aquecidos pelo vapor perdido das machinas, sustentados a uma perção minima de 0,500 kilogramas = 110º temperatura
centigrados.
7º Uma bateria de filtros-presses com levagem para a filtração total do jus defecado. Por esta forma de defecação (contra o
que diz a casa “Sequier”) e filtração total do jus defecado que dá um jus mais puro e mais claro, evita-se as baterias de
defecadores, decantadores, eleminadores e deposito de borras, dando um trabalho mais perfeito, livre do contacto do ar, com
149
duas filtrações dando um jus mais brilhante, e faz uma certa economia de combustivel. É necessario porem que a casa
constructora estude bem a forma de montagem e a superfice filtrante em filtros-presses necessarios ao trabalho requerido.
8º Ébuillanteur para o jus claro dos filtros-presses até á temperatura de 105-108º centigrados em uma serie de 2 rechauffeurs
eguaes aos da defecação mas aquecidos a vapor directo detendue a 2 kilogramas = 132º centigrados temperatura. Este
ébuillanteur substitui os eleminadores com muito melhor resultado por ser feito livre do contacto do ar e serem continuos. Estes
rechauffeurs são tambem servidos por uma Sechabaver Nº 3.//
[135] 9º Uma bateria de filtros mechanicos ou á tissu ou de area. Empregando os filtros á tissu aconselho os Filippe com
toiles proprias ao jus de canna.
Sendo de area aconselho os de Raimbert com tanque de levagem independente. Empregando os filtros mechanicos á tissu
necessita dois filtros-presses para as borras d’elles retiradas.
10º Um triple-effet com 320 ou 350 metros quadrados de superfice de evaporação para as 250 toneladas de canna em 24
horas, conforme montar a dupla ou triple perção com imbibição, trabalhando de forma a produzir um xarope a 30-32º Beaumé
Faço-lhe bem notar que o triple tenha a superfice de evaporação acima dita, porque todos os constructores têem sempre por
norma dár pouca capacidade aos evaporadores e a pratica não dá mais de 22 litros na media em agua evaporada com jus de 1058
de densidade por metro quadrado e por hora para um triple em que se quer obter xaropes a 30-32º Beaumé.
11º Dois Cuites, sendo um de 100 Hectolitros para pé-de-cuite em comonicação com outro de 150 Hectolitros; n’este cuite
faz-se a reentrada dos égoûts de 1ª até 20 a 30% dos égoûts disponiveis. N’estas condições os cuites estão quasi sempre em
trabalho, visto que, logo que seja passado o pé-de-cuite de 100 Hectolitros ao de 150 Hectolitros, principia-se novamente na
formação de outro pé-de-cuite no de 100 e assim sucessivamente.
12º Tres malaxeurs-refroidisseurs de 170 Hectolitros cada um para os cuites de 1er jet.
13º 8 malaxeurs abertos comonicantes de 100 Hectolitros cada um para a malaxagem continua do 2º jet que será feito na
pequena caldeira existente na fabrica. //
[136] 14º Um ballão central (relantisseur), que recebe os vapores do jus do triple e cuites, em comonicação com uma
columna barometrica central e bomba de vacuo seca. Este ballão é de grande vantagem porque evita as perdas por entrenement.
15º 4 turbinas (centrifugas) systema Watson com motor a agua para o 1er jet com o seu malaxeur-transportador de Melasse
Cuite que recebe directamente a Melasse Cuite dos malaxeurs-refroidesseurs de 1er jet.
16º 2 turbinas do mesmo autor independentes das de 1er jet mas trabalhando com a mesma bomba de perção hydraulica, em
comonicação edentica com os malaxeurs continuos de 2º jet. O assucar produzido por esta turbinagem não é lavado nem leva
vapor porque será refundido (derretido) no jus ou xarope para entrar novamente no cuite de 1er jet. N’estas condições tira-se
somente um typo de assucar bruto ou levado e melaço perfeitamente épuissée.
17º Um malaxeur redondo de 25 Hectolitros com serpentina de vapor para a refundição do assucar de 2º jet no jus ou xarope.
Todo o mais são detalhes a estudar pela fabrica constructora.
Sou com toda a consideração de V.a Ex.a Attencioso Venerador[Ass:] João Higino Ferraz //
150
Ill.mo Amigo e Senhor Valentim Pires Leiro Lisboa
Confirmo a minha ultima com data de 28 proximo passado
Em meu poder a sua estimada carta de 6 do corrente acompanhando a sua circular pela qual vejo que ao meu amigo ficou
a cargo os negocios da casa Diogo & C.ª e faço votos pela felicidade dos seus negocios. Junto tambem recebi o Devis da Casa
“La Chimia Industria” de Bruxellas, mas posso garantir que esta casa nada tem com a casa Cail de Paris.
Devis[?] – Pelo exame feito ao devis vejo que elles lhe propôem uma diffusão directa da canna, que me parece que ao meu
amigo não lhe convem, ainda que o rendimento em assucar é melhor, visto perder o bagaço como combustivel o que é
importante para si nas condições em que tem a sua industria. Se eu visse que a diffusão lhe seria vantajosa, aconselharia uma
diffusão do bagaço pelo processo Hinton-Naudet, como temos aqui montada, mas pela pratica que tenho d’esse processo, elle
sô convem a uma fabrica que fassa pelo menos 300 toneladas de canna em 24 horas em trabalho continuo, e que tenha um
pessoal de direcção habilitado e um control chimico regular. Continuo pois nas mesmas edêas da minha carta de 28 proximo
passado e a ellas mais nada posso acrescentar, e se // [139] o meu amigo tomar os meus conselhos estou certo lhe dará os
resultados vantajosos.
Quanto á parte da sua carta em que me propõe eu ser o intermediario na verificação do fabrico e emprego do material na
Fabrica constructora em que fizer a encomenda, tenho a dizer-lhe que isso me é dificil ainda que com vantagens para mim,
porque como o meu amigo muito sabe tenho a meu cargo a direção technica da Fabrica Hinton á qual estão ligados os meus
interesses e que não posso de forma alguma abandonar por muitos motivos tanto economicos como pessoaes. Contudo, como
nos fins do anno corrente, talvez em outubro, eu vá a Paris tratar de negocios da Casa Hinton e meus, poderia no caso de
concordancia entre nôs, e caso os trabalhos de construção do material estar em bom andamento ou perto de conclusão, vesitar
os Fabricantes e verificar se o material e processos estão conformes ás suas indicações. N’esse caso o meu Amigo me
arebritariaria[sic] uma commição que remunerasse os meus trabalhos de verificação de material.
Motores elletricos: – Quanto a esta parte acho uma belissima edêa a sua de aproveitar a sua queda d’agua para os fins que
deseja, mas não para o trabalho dos moinhos de canna o que é quasi impossivel e nada pratico pela força que demanda esta
parte do trabalho que lhe absorveria quasi por completo toda a força // [140] elletrica desponivel; alem d’isso o meu amigo
necessita vapor para as suas evaporações da garapa ou jus, e que não tendo vapor exausto se verá obrigado a empregar vapor
directo, não tendo por isso vantagem alguma. Vejo porem que poderá empregar a força elletrica no seguinte: Luz para a Fabrica
e dependencias, todas as bombas serão centrifugas movidas a elletricidade, as turbinas Watson com motor elletrico, malaxagem
isto é, movimento dos malaxeurs por motor elletrico, etc.
Para isso deve o meu Amigo enviar á casa constructora o volume medio da agua do seu açude assim como a altura de queda
d’elle, para elles poderem calcular qual a força hydraulica desponivel para as turbinas a applicar a um dinamo. N’um caso
d’estes é muito conveniente a montagem ser feita sobre a direção de um elletricista competente. Faço-lhe porem desde já a
prevenção de que a installação para todos os fins que deseja caso a força motris agua seja suficiente, lhe vai custar bastante
caso, ainda que lhe traga grandes vantagens futuras.
Sem mais, sou com toda a consideração, de V.a Ex.a Attencioso Venerador Obrigado[Ass:] João Hygino Ferraz //
151
Novo Redondo, para o que V.a Ex.a obrigaram a casa constructora a bem fazer.
Parece-me porem, que esses 1% a mais para o segundo caso, deveria ser pago em parte pela Casa Constructora, diminuindo
V.a Ex.a do preço da factura, porque eu nada quero ter de contractos com essas casas, simplesmente com V.a Ex.a. A minha
commição ser-me-há paga depois da verificação dos apparelhos em França e á minha chegada a Lisboa.
Sempre ás suas ordens subscrevo-me Seu Attencioso Venerador e Amigo[Ass:] João Hygino Ferraz //
152
Quanto ao que me diz na sua carta de 6 do corrente com relação ao sulfitador fico siente, mas parece-me mais conveniente
fazer uma pequena modificação no Quarez existente de forma a lhe dar mais capacidade de trabalho para nos evitar dificuldades
futuras. A modificação será augmentar um pouco a secção do injector e montar uma outra bomba de meior força a fim de fazer
mais appelle de gas sulfuroso e fazer a sulfitação mais rapida. Combinei isso com o engenheiro e elle diz-me ser facil de fazer.
Na minha ultima carta propuz a sulfitação da garapa bruta pelo Quarez, mas como elle vai ser empregado na // [146]
sulfitação do jus total poderemos fazer a esperiencia com acido sulfuroso liquido.
Quanto á parte da minha carta com relação á não filtração de 1/3 do jus de decantação, escrevi ao Senhor Hinton e estou
certo que elle aprovará, por isso que a despeza é minima e deve dár o resultado previsto. Pedia-lhe pois fizesse incluir na
encomenda dos decantadores as 7 valvulas ou robinettes à tiroir colucadas a 2/3 da altura com seu tubo de ligação entre ellas.
Sobre qualquer ponto que eu tenha duvidas lhe escreverei e agradeço-lhe a sua solecitude, mas peço-lhe que me diga com
toda a franqueza se comprehende bem as minhas carta em portuguez porque no caso contrario eu farei escrever em francez por
Carlos236; mas confesso que assim será mais facil para mim.
Sempre a vossa desposição para tudo em que lhe possa ser util, e espero com muito prazer a sua visita e de Madame Naudet
no proximo anno.
Crêa-me seu Amigo sincero
[Ass:] João Higino Ferraz
Os meus respeitosos comprimentos a Madame Naudet e faço votos que o proximo anno seja para os dois tão feliz como para
mim proprio desejo.[Ass:] Ferraz //
[147] 4 janvier 3
Mon cher Ami et Monsieur René Le Grand de Mercey,Chateau de Mercey
Monsieur
Comme nous avons combiné je vous fais la commande d’un “Moussogène” perfectioné, sterilisant la bouteuille et la
remplissant, comme vous m’avez conseillé, de façon qui se peut avoir, dis le commencement, le meilleur resultat possible avec
cette nouvelle industrie ici à Madère.
J’espere donc que vous pouvez m’envoyer la commande avec toutes les bonnes conditions d’emballage etc. et bonne
qualitée du materiel. Je vous demande d’avoir beaucoup de soin avec l’emballage à acuse des transportes de chemin de fer,
bateau etc. et d’écrire sur les caisses le mot “Fragil”.
Ci-joint je vous envoi Copie du materiel necessaire comme le devis d’installation que vous m’avez donné dans votre bureau.
Pour le transport du materiel necessaire je ne sais pas si c’est mieux et moins dispendieux de l’envoyer par chemin de fer-
petite velocitée-voie d’Hespagne jusqu’à Lisbonne, où la Maison Hinton & Sons à un bureau et dont l’adresse este “66, Rue da
Magdalena – Lisbôa”. Je vous pris d’ecrire à cette maison leur prévenant de l’expédition du materiel et d’envoyer touts les
decoments. J’ecrivais aussi a cette maison pour qu’elle m’envoie le materiel par un bateau portugais jusq’a Madére. Si vous
trouvez que c’est mieux d’envoyer par voir maritime, d’Anvers-Madère, veuillez bien faire ca, mas je vous // [148] previens
que c’est seulement à Anvers qu’il y a des bateaux que portent des marchandises por Madère. Les bateaux partant du Havre,
Boulogne et Cherbourg ne recoivent pas de marchandizes pour cette ille.
Je vous prie de voir si c’est plus bon marche par Anvers, mas je trouve que c’est plus sûr voie de Lisbonne. J’espère aussi
que vous aurez la boutée de m’enseigner dans les moindres détails de mode de fabrication rationelle du vin mousseaux et la
preparation du liqueur de champagne fine et demi fine.
Comme je desire aussi faire l’experiense de la fabrication du Cidre mousseux je vous prie de bien vouloir m’envoyer toutes
les indication necessaires pour bien réussir dans cette fabrication. Dans le cas de bons resultats je ferai une nouvelle commande
d’un autre appareil que vous m’indiquerez aprés. Je vous envoye ci-inclus un Cheque de 5000 francs, pour payement du
montant du devis, emballage et transporte jusq’á Lisbonne, et le solde, q’il y a aucun, veuillez bien de placer au crédit de mon
compte, ou de m’envoyer facture de déboursement.
Veuillez aussi m’envoyer 600 à 700 bouchons-moitiée pour bouteuilles de litre, et moitiée pour bouteuilles de ? litre, et du
fil pour museler approprié à la machine que vous m’envoyez. Ceci servirá d’echantillon pour les futures commandes.
Je vous envoie l’analyse sommaire de mes vins faits.
153
Je profite cette occasions pour vous remercier de toutes votres amabilitées et je vous souhait une novelle année très heureux
et à toute votre famille. //
[149] Veuillez agrier, mon cher Monsieur de Mercey, mes trés sinceres salutations.[Ass:] João Higino Ferraz
Directeur technique de la fabrique de sucre et alcool de William Hinton & Sons
Note: Les fûts doivent venir demontés, les duelles marqueés pour que je puisse les monter ici. //
154
Pour commencer je ferai seulement 2000 kilogrammes de pommes par 10 heurs, mais si je soutire de bon resultât je
augmenteré la fabrication, et pour cella il faut conter les appareils de 1er montage facilment augmentables, et je propose le
suivent que se mette á votre competent appreciation:
1º Lavage des pommes avec une soluction de formol a 4% à son arrivee á la fabrique:
2en Broyage des pommes et á suivre mettre sur le marc obtenue, dans le macerateur, le bio-sulfite en quantitée determinée.
3en Pressurage imediate de cet marc dans le pressoir á traveill ininterrompu. //
[154] 4em Remiage du marc dans le broyeur:
5en Maceration de 12 heurs avec le jus obtenue de 2en maceration:
6em Pressurage de cet marc, et le jus obtenue melanger au jus normal des pommes; cet jus melangé constitui la cidre
marchante:
7en Remiage du marc dans le broyeur:
8en Maceration de 12 á 24 heurs avec l’eau jusqu’a 20 a 25 litres pour 100 kilogramas de pommes:
9en Pressurage du marc, et le jus obtenue mettre sur le marc de 1er maceration:
10en Les 2 prémieres jus, c.a.d., jus normal et jus de 1er maceration melangé, mettre dans une cuve en bois de capacitée
sufficent pour le travaille de 10 heurs (20 Hectolitres), on se mette cet jus en condiction de bonne fermentation, joindre toutes
les matieres necessaires à la production d’une bonne cidre, et faire une premier debourbag.
11en Soutier de cette cuve et mettre en cuves en bois de 50 Hectolitres (6) on se doivre proceder à la fermentation.
12en Joindre dans les cuves les ferments pures habitué au SO2 et mettre sur le bonde le purificateur d’air Noël.
13º La cidre aprés 1er fermentation dans les cuves en bois será passée aux citernes en ciment, pour completer lá 2em
fermentation.
Le reste du travaille je suive votres indications du Guide Pratique.
Pour le desin vous voyée qu’il y a un mure C que je peu soutiraire et mettre en D (rouge). Comme cá nous avont plus
d’espace pour les appareils, et l’espace //
[155]237
[156] pour la fermentation será sufficent pour 6 cuves e 50 Hectolitres. Je croi que serait la meilleur forme de faire.
Je vous demand les plans de montage complete et les prix des appareils suivants:
Nouveau laveur de pommes travailant au moteur, Nº MI de 25 Hectolitres
prix du catalogue ......................................................................................................................525 francs
Nouveau broyeur Nº PEV 14 sur pieds fonte debitant 25 a 35 Hectolitres à l’heure .............320 francs
Pressoir à pommes a travail ininterrompu à vis, à quatre colonnes,
fonctionnant a bras, à doubles maies en bois, serie C2 – page 87 de
votre Cataloge, et jeu complet de toiles et claies en bois ......................................................2262 francs
Moteur “Autonomic” Nº C4 complete, fonctionnant á essence de petrole ...........................1210 francs
Une pompe en cuivre à transmission (Memoire) ...................................................................4317 francs
J’espere qui vous me donnerai une remise sur les prix de votre Cataloge et aussi un escompte pour paiement en un cheque
à la commande.
En attendant le plaisir de vous lire en plus breve delai: Veuillez agréer, Monsieurs, mes bien sinceres amitie[Ass:] João
Higino Ferraz Directeur Thechnique. Maison Hinton & Sons. Madère – Funchal //
155
[DATA: 7 de Abril de 1913
DESTINATÁRIO: Simon Frères; LOCAL: Cherbourg, França]
[158] 7 Avril 3
Monsieurs Simon Frères Cherbourg
Bien reçu votre lettre en date du 28 Mars ecoulé – je vous dirais que je n’ais pas encore les plans annoncée par votre lettre
du 28 dernier.
J’ai bien fait la lecture de vos devis; seulement je constate que le prix net de 1200 francs en plus pour l’appareil a serrage
mechanique “Air-vapor” est un peu elévée – Je prendrais bien l’appareil entier si vous consentée á baisser un peu ce prix net
de 1200 francs.
Pour le reste de l’installation je me charge moi même de faire ici le necessaire.
Maintenant pour la date de la commande comme les batiments devant recevoir ce materiel n’est pas encore achevé, je vous
prie de bien vouloir me dire si votre prix será encore le meme en juin prochene.
Veuillez agréer, Monsieurs, mes bien sincères salutations[Ass:] João Higino Ferraz //
156
Tout de materiel será livrée fin juin en quai du Havre, pour partir dans un des vapeurs qui fait le transporte de marchandises
entre Havre et Funchal (Madère). Seulement je vous prie de faire le necessaire pour l’embarquement au Havre du dit materiel
et vous prie egalement de me faire l’envoi contre remboursement.
En attendent le plaisir de vous lire; Veuillez agréer, Monsieurs, mes salutations empresses[Ass:] João Hygino Ferraz //
[162] 6 Mai 3
Monsieurs Simon Frères Cherbourg
Je confirme ma derniere lettre du 29 eculée en que je vous fait la commande des appareils pour ma cidrerie et au même temp
un cheque de 5500 francs du montant toutal, qui j’espere vous deverais avoir recue.
Cette lettre serve à vous faire une nouvelle commende d’appareils por M. J. A. J. Pereira:
Une nouveau Fouloir-Egrappoir – à un cylindre-marchant a bras, avec lames à biseau – Serie E du votre petit Cataloge
Genèral Nº R6 – 1912-1913
Nº EI pour travail à l´heure de 1500 à 3000 kilogrammes de raisins-prix 300 francs.
Un nouveau pressoir á vin, muni de claies et toiles-vis en acier – Modele lègere-Serie TL Nº TL000 – prix 195 francs.
Cette appareils doive venir eu même temp que les mienes.
Je vous pris de me faire les mémes conditions que vous fait pour mes appareils, c.a.d. remise sur le prix de votre Catalogue
et aussi un es-compete pour le paiement en un cheque à la commande.
Ci joint un cheque S/.[?] Paris endossée à votre faveur de 500 francs.
L’agent des vapeurs Allemands qui prendre des marchandises pour Madère c’est M. Nairon, Schwenn & C.ie Havere.
Veuillez agreer, Monsieurs, mes salutations empresses[Ass:] João Higino Ferraz //
157
Il faut ne pas oblier la declaration de charge, pour eviter des enuncis[?] á la Duane.
Veuillez agréer, Monsieurs, mes bien sinceres salutation[Ass:] João Higino Ferraz //
158
Je vous pris de m’acheter le suivant; pour mon compte particulier:
Á. Monsieur Paul Noël Fils – 9, rue d’Odessa Paris – 20 litres de Bonificateur Noël Nº 3 (Etiquette rouge) Prix aproximatif
50 francs.
A Monsieur G. Jacquemin – à Malzeville (Meurth-et-Moselle) France – 30 Kilogrammes de Bio-sulfite Jacquemin, et son
Traité, la Cidrerie Moderne
Prix aproximatif bio-sulfite 42 francs
Cidrerie Moderne 6,50
Á Monsieur Humblot – Bar-sur-Aube (Aube) 45 kilogrammes de Tonnal concentré duble D
Prix aproximatif ——————- 62 francs
Ces marchandises je vous pris de m’envoyer le plus vite possible en P.V. de manier à etre ici à la fin de la premiere quinzaine
de septembre prochene, emballage en caisse á chien pour exportation, et de me faire tout le necessaire.
Comme je ne peu pas savoir les prix du transporte et defenses d’emballage, je vous envoi un cheque de 200 francs, et ci ca
n’ait pas sufficent me faire parvenu à temp.
Veuillez agrèer, Mon cher ami, mes bien sinceres salutations[Ass:] João Higino Ferraz //
foto P4280012.JPG
159
DESCRIÇÃO:
O título deste copiador foi atribuído por nós. Estamos na presença de livro, papel, 27 cm x 21,5 cm, em bom estado de
conservação. Os fólios deste livro estão numerados com caracteres de imprensa.
160
[DATA: 26 de Maio de 1917
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[1] Funchal 26 maio 1917
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Depois da minha ultima carta em que lhe fallei do Triple se ter incrustado um pouco, tenho estado a ver se descubro a causa,
e hoje estou perfeitamente convencido de que os homens não deitaram regularmente a solução de baryte como eu tinha
determinado, porque fazendo o calculo pelos mexidores de baryte feitos vejo que apenas se gastou na proporção de 300 gramas
por tonelada canna, quando deveria ser de 360 gramas. Devido a isso já despedi um d’elles, e se os outros não seguiram o
mesmo caminho é porque tenho falta de pessoal, e não ha remedio senão atural’os. As cousas porém estão agora remediadas de
forma a não se repetir o caso, e elles já percebem que eu facilmente sei a forma como fazem o trabalho. O apparelho depois de
limpo a soda e acido, mostrou a 1ª e 2ª perfeitamente limpas, e somente a 3ª e 4ª tinham mais incrustação do que da outra vez.
Actualmente sô com o trabalho do Torreão, o xarope sai a 36º Baumé, e o apparelho tem que trabalhar devagar // [2] para não
parar de todo. O resto do fabrico corre regularmente, mas a canna sempre fraca.
Adubo de tourteau: Tenho encontrado algumas dificuldades no fabrico, por diversas sausas[sic]:
1º a Cal do forno Pereira & Farinha (o único que trabalha actualmente) nem sempre vem bem cosida, de forma que a
desidratação não se faz bem, dando grande quantidade de caroço (borra não atacada) e assim o rendimento é menor e não posso
fazer na quantidade que desejava.
2º O pessoal trabalha de má vontade devido ao pô que levanta pela[?] cal hydratada que lhe faz mal aos olhos. Vi-me
obrigado a dar-lhes mais alguma cousa, mas mesmo assim é uma dificuldade.
3º O aparelho ainda que fazendo menos mal o trabalho, não é perfeito para fazer o máximo (9000 kilogramas em 24 horas),
mas isso, e todo o resto é remediavel para o proximo anno, no caso de lhe convir continuar.
Tenho sedido algum adubo para esperiencias, de forma a que Leacock não possa reclamar.
Segundo Carlos240 e Velosa, deveremos terminar a Laboração entre 11 a 15 de Junho proximo, e assim a quantidade de canna
trabalhada será menor do que em 1916.
Sô tenho enxofre até 2 a 3 de junho, e se não vier mais vou-me vêr na necessidade de usar o processo Naudet. // [3] Qual
será a diferença que fará? Confesso-lhe que tenho grande coriosidade de vêr se o emprego do Aluminato de baryta no jus de
diffusão faz alguma diferença n’este processo..., porque no caso de me vêr forçado a metter a garapa na bateria de diffusão, vou
empregar uma forma diferente da adoptada por Naudet, e os saes de cal formados e as albuminas de bagaço devem ser
perfeitamente percipitadas pelo aluminato de baryta, e desejo vêr qual o resultado das purezas do jus de diffusão e xarope, em
relação aos tempos antigos de diffusão. Do que houver lhe darei parte. Era corioso se as purezas se conservavam!..
Faço votos para que esses desturbios em Lisboa lhe não tragam dificuldades aos seus negocios. Quando será que essa gente
tem juizo?
Projectos da nova Fabrica (?!), não lhe digo nada porque naturalmente Carlos lhe contará o que há.
Quanto a mim, não tem importancia alguma, no caso que consiga a perrogação do contracto, nas mesmas bases em que está
este.
Sem mais subscrevo-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
161
Torreão fizemos dias seguidos 520 a 530 toneladas por 24 horas. É bom porém notar que a canna no corrente anno tinha muito
menos fibra (bagaço), e assim os moinhos podiam fazer muito mais, e isso vê-se bem pela carga dos diffusores que, em 1916
era de 1340 kilogramas canna, e no corrente anno deve dár uma media de 1550 kilogramas canna. //
[5] Como bem vê este producto (aluminato de baryta), é indispensavel para a colheita seguinte, e deverião desde já fazer a
encomenda a Lefebvre242, e eu calculo que para uma Laboração de 1918, que seja no maximo 40.000 toneladas canna (?), serão
necessarios umas 13 a 14 toneladas de aluminato de baryta.
Para os outros productos tambem achava conveniente d’esde já hir fazendo encomendas, porque bem vê as dificuldades nos
transportes, e mesmo na obtenção d’esses productos.
Ficou-nos uns stocks bastante grandes de alguns productos, visto termos calculado para 50.000 toneladas canna.
Os stocks e o que necessitamos para 1918 são os seguintes, calculando uma Laboração de 40.000 toneladas canna:
Kieselguhr. (Diatomite) - Stock 32 toneladas. Devem vir para 1918 = 12 toneladas
Phosphato de Cal ————- “ 27 “ “ “ = 9 toneladas
Enxofre não ficou stock, deu para a Laboração “ = 17 ? toneladas
Nóta: Esta quantidade de enxofre inclui o que já temos encomendado e pago, crêo eu, e tambem o sulfito de soda que deve
corresponder a 5.500 kilogramas enxofre. Deduzidas estas duas quantidades, o restante será para encomendar.
Cal de Inglaterra (Veio alguma pelo San Miguel?) = 48 toneladas
Formol temos para as fermentações de 1917. Para 1918 – 4.000 litros
Soda caustica temos suficiente para 1918
Pano para filtros-presses e Filippe a mesma quantidade de 1917.
Estão são pois as encomendas que eu vejo serem mais necessarias fazer desde já, para nos evitar embaraços futuros. //
[6] Farim: – Não conte com mais exportação d’este assucar, porque tem que ficar para o consumo aqui.
Agradeço-lhe os seus parabens nos meus fracos prestimos na Laboração terminada.
Cal Phosphatada: diz muito bem que é interessantissimo este assumpto se o meu amigo visse o estado da minha propriadade
no Soccorro, que em 1916 empregoi[sic] este producto, e este anno estou empregando tambem, ficaria admirado da força com
que a canna vem rebentando e a sua côr verde escura. Disse ao seu caseiro para empregar tambem na sua propriadade do Ribeiro
Secco, e elle assim o está fazendo, e para o anno verá o resultado.
Quanto á quantidade feita no corrente anno é muito pequena, umas 50 toneladas no maximo, mas isto devido ás causas que
fiz mensão na carta do Senhor Hinton243, isto é, cal pessima, e o pessoal se recosar ao trabalho; mas no proximo anno, tendo
uma instalação competente e boa cal, poder-se-ha fazer pelo menos umas 800 a 850 toneladas de adubo alcalino do tourteau, e
isto com um lucro liquido minimo de 14:000$00!!
Alcool: O stock do alcool hoje é de 14.000 litros. O que Comp.ª Nova tem em melaço, isto aproximado, é de 100.000
kilogramas melaço que dará uns 29.000 litros alcool. Em fermentação 6000 litros alcool.
Temos um stock no Torreão (no tanque grande) 520 toneladas, que dará em alcool 150.000 litros. Os malaxeurs de 2º jet
podem dár aproximado 120.000 kilogramas melaço = 35.000 litros alcool.
Total do alcool até 30 março 1918 será aproximados 234.000 litros alcool. // [7] Temos pois ainda 9 ? mezes, o que dá 24.600
litros por mez. Qual será o consumo no corrente anno? Não é facil de prevêr, devido á doença na vinha, que no sul vai tudo
quasi perdido, e tambem depende das exportações de vinho. Mas crêo que vindo os 1.500 Hectolitros que estão comprados nos
Açores dará aproximados para as necessidades. Segundo a Lei, é os vinicultores que devem pedir a importação d’alcool, no
caso de falta d’alcool na Madeira, com uma auctorisação do Mercado Central de productos Agriculas; mas essa importação
sendo feita pelo vinicultores [sic], não poderão elles obtel’o nos Acores? É bom pois estudar bem isso, porque Bensaude deve
ter alcool bastante do seu melaço para vender.
Já estou montando os grandes tanques na Comp.ª Nova, de forma que temos reservatorios suficientes para o nosso alcool e
mais os 1500 Hectolitros dos Açores, no caso de virem. Mas os 6000 Hectolitros não aconselho a comprar.
Sem mais por emquanto que lhe posso dizer de interessante Subscrevo-me Seu Amigo certo e Obrigado
[Ass:] João Higino Ferraz
P. E.[sic] Como é de toda a justiça, pedia ao Meu Amigo e ao Senhor Hinton parar darém ordem a Jacintho, para que a canna
da Comp.ª Nova entrasse na minha conta para o fim da minha compensação de 4 reis por 30 kilogramas canna, como tenho na
canna entrada no Torreão[Ass:] Ferraz //
162
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[8] Funchal 23 Junho 1917
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Depois da minha ultima carta de 11 do corrente terminamos a turbinagem do resto do assucar e assucar farim, e assim pelos
calculos enviados por Monsieur Laalberg pode ver qual o resultado final da Laboração de 1917. Sobre este ponto porém tenho
umas observações a fazer, segundo o meu modo de ver pelos meus calculos praticos.
1º O assucar na canna parece-me estarem um pouco baixos e segundo eu calculo, vejo que deve ser 12,53%.
2º O calculo do assucar Colonial afinado deve ser calculado a 90% em turbinado (Laalberg calcula pelas purezas theoricas),
porque adoptando o systema do corrente anno, tenho quase a certeza que o rendimento não pode ser inferior a 90%.
3º O rendimento da Comp.ª Nova, em vista da quantidade de assucar deixado no bagaço ser superior ao Torreão, e tendo
além d’isso na 1ª situação o jus de imbibição para alcool, o rendimento eu calculo em 2,650 kilogramas assucar turbinado %
canna, e 3,705 kilogramas melaço.
Em vista do exposto, calculo o seguinte:
Assucar turbinado real (pezo do armazem).......................3.758.190 kilogramas
Assucar Colonial afinado 348.128 .........................313.315 kilogramas
kilogramas a 90% em turbinado .......................3.445.375 kilogramas
Assucar Comp.ª Nova em turbinado ..........................315.765 kilogramas
Restará para o Torreão .......................3.129.610 kilogramas //
[9] Vê-se assim que o rendimento no Torreão foi de 9,858 kilogramas assucar turbinado % canna.
O melaço total produzido foi de .......................1.566.158 kilogramas
Melaço da canna da Comp.ª Nova ..........................135.254 kilogramas
.......................1.430.904 kilogramas
Melaço de assucar Colonial afinado ...........................32.811 kilogramas
Restará para a canna Torreão .......................1.398.093 kilogramas
O que dá 4,404 kilogramas % canna Torreão
Nota: Devo fazer notar que Laalberg calcula o assucar no melaço somente o assucar Clerget, emquanto que eu calculo o
Clerget e mais a glucose subtrahida a glucose da canna, e assim o assucar (saccarose) total no melaço será no minimo 50%.
Establecendo pois as cousas como acima teremos:
Torreão 31.745.801 kilogramas canna, rendeu em turbinado 3.129.610 kilogramas assucar melaço 1.398.093 kilogramas
Comp.ª Nova 3.650.299 kilogramas canna, rendeu em turbinado 315.765 kilogramas assucar
Em melaço 135.254 kilogramas
Em alcool retificado do jus imbibição 16.471 litros alcool
Do assucar Colonial 348.128 kilogramas bruto, rendeu em turbinado 313.315 kilogramas assucar
Em melaço 32.811 kilogramas
Se calcularmos isto % de canna é em assucar puro, isto é, assucar a 100 polarisação dará para Torreão e Comp.ª Nova o
seguinte: //
[10] Torreão: Rendimento % canna. Em turbinado .......................9,743 kilogramas assucar puro a 100º
Melaço 4,404 kilogramas a 50% assucar.................... 0,202
no bagaço....................... 0,402
Perdas nas borras....................... 0,198
Indeterminadas ...................000 ?!
assucar % canna .............12,545 ?
163
Comp.ª Nova apresenta pois perdas indeterminadas, mas os calculos das perdas são feitas segundo as analyses de João
Marinho de Nobrega, e o calculo do assucar é feito pelo jus defecado enviado ao Torreão.
O que se vê porém da Laboração é que os resultados forão os melhores possiveis em vista da qualidade da canna no corrente
anno, e vejo que o aluminato de baryta é que fez dár em grande parte este bom resultado, não somente no rendimento, mas
tambem no custo menor das despezas de fabricação em carvão e pessoal.
O gasto de combustivel foi para toda a Laboração de 2.000 toneladas carvão, e eu calculo que o bagaço da Comp.ª Nova dá
perfeitamente para o trabalho da moagem da canna, defecação e envio da garapa ao Torreão. // [11] Na minha ultima carta dava-
lhe as notas dos productos chimicos para 1918, e que eu vejo necessidade de encomendar desde já, para evitar complicações
futuras.
Quanto aos panos para filtros, somente necessitamos os panos para os filtros-presses na mesma quantidade de 1917.
Para os Filippes, não é necessario pano porque temos suficiente, mas falta uns 500 metros de corda especial para elles que
deve ser encomendada.
Cal veio pelo San Miguel 17 toneladas, devem pois vir mais 31 toneladas.
Quanto á amostra do enxofre enviado não lhe podemos dizer nada por emquanto, porque estamos fazendo a analyse d’elle.
Junto encontrará um memorial do Dr. Juvenal sobre a patente que tiramos em tempos, e que o Theago d’Aguiar, filho de
João Carlos, está usando na sua fabrica d’aguardente em Machico de sociadade com Umberto dos Passos Freitas, e que segundo
Luis Vogado de Bettencourt, e elle menino Aguiar confessa, é o processo patentiado. Luis Vogado quer por força demandal’o
porque diz elle necessita dinheiro... Pedro pouco se importa com isso, mas da sua parte não sei o que quererá fazer. Eu como
sabe, entrei como Pilhatos no Credo, e sô farei o que o Senhor Hinton determinar.
O que se deve fazer pois? Conforme a sua maneira de pensar faremos agir as cousas, pouco me importando o Luis Vogado,
porque esse aconselha bem, mas não entra com despezas... porque não tem dinheiro para isso. Esperamos pois a sua resposta.//
[12] Comp.ª Nova continua a fazer alcool, mas a respeito de stock não há meio de o têr, porque tudo quanto tem feito vai
sahindo regularmente. Até ao final da Laboração no Torreão, Comp.ª Nova tem levado umas 885 toneladas de melaço, e está
agora levando do stock do tanque grande que calculo em 660 toneladas melaço.
Os trez grandes tanques da aguardente que estava no armazem da rua do Carmo em sociadade com Antonio Justino, já estão
montados na Comp.ª Nova, mas apenas arranjei dois, ficando o 3º para depois se for necessario montal’o defenitivamente.
Estamos tratando de pôr o predio (armazem) do Pacheco em condições para entregar a Antonio Justino, porque elle ainda lá tem
um tanque que lhe pertence. Continuamos a pagar arrendado junto com Antonio Justino? Ou, visto ser elle sô que o occupa será
elle a pagar somente?
Quanto ao resto do melaço, vou levar as fermentações até aviar completamente todo o melaço, e assim teremos a quantidade
d’alcool maxima a poder vender, e será mais facil provar que o alcool não dá para os vinhos até abril de 1918.
Sem mais por emquanto que lhe possa dizer de interessante, Subscrevo-me Seu attencioso Amigo e Obrigado[Ass:] João
Higino Ferraz
P.E.[sic] Temos em juntas hydraulicas 14 nova
13 usadas
Temos 16 diffusores. Deseja encomendar mais algumas juntas
Em 1917 usaram-se 3 juntas.244 //
164
lhe disse (500 metros).
O enxofre cuja amostra mandou, convem perfeitamente para a sulfitação da garapa, e pode assim fechar contracto.
Sem mais por emquanto que lhe interesse, subscrevo-me seu Attencioso Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
165
Sem mais que lhe possa dizer, subscrevo-me seu Amigo Certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
166
[DATA: 23 de Junho de 1917
DESTINATÁRIO: Irmão de João Higino Ferraz]
[22] Funchal 1 outubro 1917
Meu Caro irmão
Há muito tempo que não te escrevo, tenho sabido de ti pela tia Maria José e pelos Postaes que tens enviado a Mathilde, e
vejo que passas bem ainda que com muitos trabalhos na tua clinica.
Vou pedir-te um favor que não sei se terás tempo para isso, mas como não tenho em Lisboa outra pessoa de confiança a
quem me dou a [?] passo-o a ti para veres se é possivel conseguires o que desejo.
Passo pois a te expor a questão:
247
Como deves saber, o Governo tenciona dár, creio eu, previlegio a toda a pessoa que queira introduzir em Portugal novas
industrias não usadas no Continente da Republica e seus dominios. E em vista d’isto eu tenho tido a edeia; depois [...] no
Continente no anno passado de destillar a uva d’ahi na producção de xaropes concentrados no consumo ou exportação, industria
que, acho[?] eu, não foi ainda usada em Portugal, mas que no estranjeiro e principalmente nos Estados Unidos (California) se
fáz em grande quantidade.
Esta nova industria traz ou deve trazer a Portugal // [23] uma grande vantagem, por isso que se exportará o vinho ou mosto
concentrado o que é muito diferente do que exportar o vinho normal. Compreendes pois as vantagens d’esta industria.
Isto porém deve ser segredo, porque outro, dáda esta edeia, poderia se adiântar no pedido, mesmo sem saber a forma de
proceder, mas em Portugal como sabes, há sempre especuladores em tudo, e há muita má fé...
O que necessito saber ao certo é o seguinte:
1º Tem efectivamente o Governo tenção de dár essas concessões a novas industrias?
2º Quais as condições em que as dá?
3º Já em Portugal se usa esse processo de concentração de mostos ou vinhos de uva industrialmente e em grande escala?
4º No caso previsto no Nº 1 e 2, essa industria é livre de qualquer imposto de fabrico ou outro, e por que tempo dão essas
conceções?
5º O que se deve fazer para requerer esse privilegio, e se podes, com procuração minha, fazer esse requerimento em meu
nome?
6º Em vista do estado de guerra, em que os apparelhos a importar são dificeis de adquirir e são carissimos, em vista de serem
de cobre, essa conseção // [24] tem valor para depois da guerra e normalisação dos mercados?
Pedia-te pois para indagares tudo isto e me responderes aos meus quesitos ou mais algum que interesse o caso.
O nosso Amigo Gonsalves seria muito bom para te ajudar n’isso, e como me parece ser um homem honesto e reto, talvez
não haja inconveniente n’isso; tu decidiraes.
Temos tambem em Lisboa um primo, que é o João da Camara Pestana, director Geral da Agricultura, e esse tambem te
poderia dár qualquer informação, mas seria bom não lhe dár todos os esclarecimentos do assumpto.
Deves te admirar de eu, sendo empregado do Hinton248, e estando em boa situação, estar a tratar d’estas cousas, mas como
já á quasi um anno lhe escrevi n’este sentido e elle nunca me respondeu a isso, e ainda como está a terminar o decreto (em fins
de 1919) que regula estas cousas de fabrico de assucar na Madeira e do Hinton, não sei o que será o meu futuro, desejo estar
prevenido para o que dêr e vier...
[25] Desde já te agradeço o que poderes fazer, e pesso-te um abraço para os nossos amigos Gonsalves.
Um abraço de todos nos e de teu irmão muito Amigo[Ass:] João Higino Ferraz //
167
que importamos, uma egual ao typo que existia na Alfandega, pelo comandante do “Neptuno” e tambem em encomenda Postal.
Segundo o conselho do Feliciano, vamos fazer aqui na Alfandega do Funchal as competentes declarações para pagar os
direitos como Blanquettes, e assim se poder despachar: Este artigo paga 210 reis por Kilograma. //
[27] Um outro assumpto que eu desejava saber o que devo fazer: Estou na montagem dos apparelhos de destillação no
Torreão, apparelhos completamente arranjados de novo, devido ao incendio, mas todas as provettas (violetas) dos retificadores
estão estragadas algumas, e os vidros ou redomas não existem; os thermometros estragaram-se todos, de forma que para
concluir a montagem a ficar numa destillaria como nova, era necessario mandar vir do Barbet essa pequena encomenda, e assim
caso queira fazer isso deve-me prevenir para eu escrever a Lefebvre249 e elle fazer o necessario junto da casa Barbet.
Sem mais que lhe possa dizer subscrevo-me seu Attencioso Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
168
DESTINATÁRIO: Francisco Meira]
[30] Funchal 20 outubro 1917
Meu Caro Amigo e Senhor Meira
Junto envio-lhe os meus considerandos sobre a proibição do fabrico d’aguardente de canna em 1918, como á dias lhe tinha
dito para escrever ao Senhor Hinton250.
Essa proibição será para as localidades onde as fabricas matriculadas podem hir boscar a canna.
Calculando pois na media o imposto para a Junta Agricula ser de 130.000$00, representa esta importancia (a 150 por litro)
270.000 litros d’aguardente, ou seja 240.000 gallões de 3,6 litros, que ao rendimento medio de 0,6 <gallões> por 30 kilogramas
canna dá 400000 almudes (de 30 kilogramas canna) ou seja 12.000 toneladas canna.
Calculando as despezas de fiscalisação da Junta Agricula em 50.000$00 (?), ficar-lhe-ha liquido 20.000$00
Estes 80.000$00 seram pagos pelas fabricas matriculadas, dando o Governo como compensação auctorisação para
augmentar o preço do alcool para tratamento de vinhos em mais 140 por litro alcool ficando pois o preço do alcool a 400 litros
e não 260 como pela lei.
A canna transformada (12.000 toneladas) em assucar e alcool dará, assucar 1100 toneladas, alcool 130.000 litros, além da
canna que as fabricas matriculadas poderiam // [31] comprar sem essa prohibição.
N’estas condições devemos têr um lucro minimo de 120.000$00, segundo os meus calculos.
Quaes as deficuldades para a obtenção d’isto?
As unicas que vejo é a opusição e os prejuizos para as fabricas d’aguardente, e dos negociantes d’aguardente.
O Governo e a Junta nada perdem; e as subsistencias teem mais 1100 toneladas assucar em Lisbôa, e os fabricantes de vinhos
de exportação mais 130.000 litros alcool. Se os exportadores tiverem que adquirir esses 130.000 litros alcool, não o poderam
obter a menos de 700 reis por litro a 100º a 15º, o que os obriga a pagar mais do preço actual 57.000$00, se poderem obtel’o.
Calculando porém que toda a canna dê 426000 litros alcool, elles pagaram mais do preço actual 62000$00; fica-lhe pois
contra elles somente 11:000$00, mas com a vantagem bastante grande de terem alcool, e poderem exportar vinho.
São estas as conciderações mais palpaveis que sobre isto vejo.
Seu Amigo Certo[Ass:] João Higino Ferraz //
169
devemos pensar em pagar preços de canna muito superiores aos da tabella, para fazer concorrencia ás fabricas de aguardente,
por que esse desideractum pode-nos trazer graves prejuizos, no caso de terminar a guerra, e as importações d’assucar da Africa
se possa fazer em melhores condições. //
[34] Apparelhos da destillaria. Quando lhe disse para mandár vir de França os apparelhos que o incendio estragou por
completo, não me referi ás violettas em latão, mas somente ás redomas em vidro e thermometros, e isto é indespensavel
principalmente os thermometros, que sem elles não há meio de regular os apparelhos Barbet. São tudo cousas de facil
exportação de França que Lefebvre251 pode fazer na Casa Barbet. Em vista d’isto dou-lhe a Lista do que é necessario em
separado, para no caso de querer enviar a Lefebvre.
Sem mais por emquanto que lhe possa dizer subscrevo-me seu Attencioso Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
[DATA: ?
CARACTERIZAÇÃO: Considerações sobre maquinaria industrial Barbet para a destilaria]
[35] Appareils et verrerie pour la destillerie (appareils Barbet). Appareil de retification continue Nº 5
Bouteille à debit visible (complete), pour le refrigerant tubulaire de la columne de retification. A été completement detrui.
2 thermometres a cadrant pour cette columne de 0º a 110º, tige droite. Touts les globes en verre et verrerie pour les
éprouvettes de l’alcool Pasteurisé, ethers, etc, etc. (Voir les Plans de la Maison Barbet).
Tout la verrerie consumant á l’appareil décanteur-laveur des huilles amyliques[?].
Columne de Destillation – retification directe continue Nº 3
(Turné[?] en 1897 par la Maison Crepelle-Fontaine, Constructeur)
Appareils Barbet
2 thermometres a cadrant de 0º a 110º tige curte
DESENHO P4280007.JPG
Tout les Globes en verre et verrerie pour les éprouvettes de l’alcool Pasteurisé, ethers, etc. Etc (Voir les Plans de la Maison
Barbet).
Appareit[sic] á levure pure de Barbet.
1 Thermometre à cadrant à tige curte droite de 150 millimètres de 0º a 110º
2 “ “ “ “ “ “ “
3 Purification d’air Noël pour fermentation (grand modelle), pour cuves de levure pure de 20 hectolitres. (Maison Noël-
Paris) //
170
Meu Caro Amigo e Senhor Meira
Depois da reonião feita hoje na Associação Commercial, e segundo os alvitres apresentados, posso tirar as conclusões
seguintes:
1ª Condição:
Esta que não foi apresentada na reonião por conveniencias partculares, é a melhor... Prohibição de fabrico d’aguardente de
canna onde as fabricas matriculadas possam hir boscar canna.
Garantia da quantidade de alcool necessario para tratamento dos vinhos, sendo feito o preço de 400 reis por litro alcool puro,
isto é, mais 140 reis por litro do preço actual da Lei.
Esta augmento de preço do alcool de 140 reis por litro será para a Junta Agricula.
2ª Condição, mediamente boa
As fabricas aguardente de canna fazem somente metade da Laboração de 1917.
O alcool de melaço faltando para o consumo, será feito directamente da canna pelas fabricas matriculadas, pagando os
vinicultores por este alcool 500 reis por litro em 40º Cartiere. O alcool do melaço ficará no preço antigo (260 reis litro a 100º),
1000 kilogramas canna deve render na media 71 litros alcool. //
[38] 3ª Condição, a peor (apresentada por Antonio Justino):
Arrendamento de 3 ou 4 fabricas pelos vinicultores para a produção de aguardente sem pagamento de imposto de fabrico,
que será retificada pelas fabricas matriculadas.
Estas fabricas não poderam porém fazer aguardente para consumo, e seram sujeitas a uma fiscalisação.
Esta ultima condição não nos traz vantagem alguma, e parece-me que mesmo aos vinicultores não traz vantagem, por isso
que o alcool retificado em 40º sahir-lhe-ha a 550 reis por litro, depois de tiradas todas as despesas de fabrico, arrendamentos de
fabricas, fiscalisações e carretos.
Cada 1000 kilogramas canna dár-lhe-ha 59 litros alcool em 40º retificado. O preço minimo de retificação deve ser de 150
reis por litro alcool em 40º.
São estas pois as considerações que posso fazer sobre o assumpto, assim lhe exponho conforme o seu pedido.
Seu Amigo Certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
171
Comp.ª Nova. Foi uma esperiencia de 4 dias, findos os quaes declarei a Carlos253 e Marsden que em vista da perda em assucar
no bagaço, e não sendo a economia em combustivel pelo menos de 40% (o que nem sequer se aproxima), não tomava a
responsabilidade do resultado industrial. Diz Marsden que o carvão que temos tem um valor combostivel 20% inferior ao carvão
normal; mas essa diferença tanto se dará no trabalho pela diffusão do bagaço como pela imbibição. Dará o carvão e lenha para
a Laboração de 1918? Pelos calculos vesse que deve dár, calculando um maximo de 40.000 toneladas canna, a que talvez não
se possa chegar.
Estou pois trabalhando actualmente pela diffusão do bagaço como em 1917. //
[41] Sulfito de soda: Estou empregando este producto chimico na sulfitação, e para não o empregar isuladamente, estou
fazendo meia sulfitação pelo enxofre, que tenho ainda, e meia pelo sulfito de soda: Os resultados na sulfitação parecem ser
eguaes á sulfitação pelo gaz de enxofre, mas os tourteaux dos filtros-presses recentem-se um pouco, não sendo tão duros, e a
qualidade do jus, na sua cor, levemente mais escuros, devido á soda do sulfito. O producto assucar turbinado tambem não é tão
perfeito na sua cor como o de 1917.
Nada mais, por emquanto, lhe posso dizer sobre a Laboração por isso que temos somente 5 dias d’ella. Marliere254 não veio
no “San Miguel” como esperava, de forma que estou fazendo os cuites com Francisco e Manoel, e o trabalho corre normalmente
e sem dificuldades.
Sem mais por emquanto que lhe possa dizer da minha parte, subscrevo-me Seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz
//
172
pouco o rendimento em turbinado, e vejo bem isto porque a media de melaço por filtro-presse da Melasse Cuite de 2ª que em
// [45] 1917 foi de 5800 kilogramas, temos actualmente 5940 kilogramas melaço por filtro, isto é, mais 140 kilogramas do que
em 1917.
Triple-effet: O trabalho d’este apparelho de evaporação ainda é melhor do que em 1917 em vista da modificação que fiz na
parte da percipitação pelo aluminato de baryta, e além d’isso essa modificação traz o resultado da filtração mechanica ser
sempre regular e os filtros darem jus sempre ou quasi sempre brilhantes. O apparelho trabalha ainda tambem como no principio
da Laboração, dando xaropes a 33-34º Baumé, não sendo necessario lhe dár todo o vapor exausto. Isto deve dár causa a uma
economia de combustivel, por isso que os cuites teem menos que evaporar.
Petits eaux: Como já lhe disse, no corrente anno não fasso a turbinagem dos pés dos Petits Eaux para economia de
combustivel, mas simplesmente a decantação, tendo uma perda em Petits Eaux (pelo despejo ou desprezo d’estes pés) de 9%
em liquidações. Em 1917 com as liquidações perdia-se 5%. Calculo pois que a perda em assucar seja de 0,050% canna mais de
que em 1917, mas a bomba d’agua das centrifugas gasta aproximadamente 4 toneladas carvão por 24 horas. Temos pois ainda
assim uma economia.
O resto do trabalho corre regularmente, e estou bastante satisfeito com o trabalho dos cuiseurs (Francisco e Manoel) que me
tem apresentado sempre bons cuites, de turbinagem facil e bom rendimento em turbina e grão muito regular. O trabalho nos
filtros-presse da Melasse Cuite de 1ª e 2ª serie, vão bem. //
[46] Comp.ª Nova: Como já tenho melaço suficiente na Comp.ª Nova, vou dár principio ás fermentações depois da Semana
Santa, para o que já tenho fermento em boas condições. Sempre poderei contar com formol para a fermentação?
Somente tenho sulfito de soda para 10 a 12 dias depois da Semana Santa de forma que é necessario vir o enxofre a tempo
para não me vêr na necessidade de meter toda a garapa na bateria de diffusão, e têr que produzir assucar bruto e tirar talvez
menos rendimento.
Sem mais por emquanto Subscrevo-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
173
[49] Funchal 4 abril 1918
Ex.mo Amigo e Senhor Bardsley
Como sei que o Senhor Hinton258 não se encontra actualmente em Lisboa escrevo-lhe a si, e pesso-lhe que lhe transmita o
que achar de interessante na minha carta.
Acuso a recepção da sua ultima carta que muito lhe agradeço (carta H. Hinton).
Situação 2ª: Por ella verá que o rendimento em turbinado foi superior á 1ª situação. Devo porém fazer-lhe notar que as perdas
indeterminadas acusadas de 0,451% canna acho muito elevadas, e fazendo vêr isso a Laalberg disse-me elle que o sucre dans
l’usine tinha sido calculado pelas purezas e por isso apresentava essa perda (?!). Não vejo porém rasão para isso porque perdas
indeterminadas são todas aquellas que não foram encontradas pelas analyses, e como elle diz na nota abaixo que essas perdas
são devidas ás borras dos filtros-presses (?), mas vejo sucre dans le boues 0,262% canna, emquanto que em 1917 foi de 0,198,
isto é, em 1918 são superiores em 0,064% canna. Ora, calculando as perdas indeterminadas como na 1ª situação de 1918 de
0,275%, ficar-nos-há 0,176 que calculando <para> este // [50] assucar um rendimento de 80% em turbinado dará 0,140, o que
elevaria o rendimento em turbinado d’esta situação a 9,592 kilogramas %. Em melaço deve dár 4 kilogramas por % canna.
Enxofre: Recebemos as 4 toneladas que muito agradeço, e me vai habilitar a continuar a produzir assucar de boa qualidade.
O que porém me aborrece bastante é que este enxofre não é egual á amostra que nos enviaram em 1917 e que pela analyse
mostrou ser de boa qualidade, emquanto que este agora é pessimo, isto é, não fáz bem a combustão e o rendimento em SO2 é
inferior ao normal. Em vista d’esta má qualidade de enxofre vejo-me na necessidade de meter alguma garapa na bateria de
diffusão, o que eu contava não fazer, e os tourteaux continuam a ser maus. Coisas Portuguezas!..., apresentam bôas amostras,
e fornecem mau producto... e o peor carissimo... Mas emfim antes este mesmo mau do que nenhum.
Envio-lhe duas amostras de enxofre; Nº 1 é a amostra de 1917; Nº 2 é o que recebemos (4 toneladas), e pela propria vista
se vê bem a diferença dos dois.
Canna: Infelizmente temos tido quasi sempre má canna devido aos propriatarios que as tem bôa não querem vender
esperando sempre melhor preço dos aguarden-//[51]teiros, e se isso ahi se não resolve o mais breve possivel com relação á
diminuição de fabrico de aguardente, a situação alonga-se muito com nosso prejuizo.
Os malditos aguardenteiros sô compram a bôa canna deixando-nos a peôr; isto é o mais irracional possivel, porque para
aguardente deveria ser aquella que a sua pureza ou grau fosse mais baixo, e para assucar a melhor; é isto o que se pratica em
toda a parte onde se fabrica assucar e aguardente, e onde os Governos attendem ás condições da industria.
Sem mais subscrevo-me Seu Amigo Certo[Ass:] João Higino Ferraz //
174
No bagaço a queimar......................0,536
Perdas Nas borras dos Filtros-Presses........0,195
Indeterminadas (?) ..........................0,712 1,443
Assucar na canna 13,022
Vê-se pois que as perdas indeterminadas reais foi de 0,712 % canna emquanto que as medias das situações 2ª, 3ª e 4ª (feita
nas mesmas condições) foi de 0,200% aproximados, havendo pois um excedente de perda de 0,512 assucar % canna.
D’onde provem essa perda?
Segundo Laalberg, e é tambem a minha opinião, a perda é entre canna e vesou pelo seus [sic] calculos feitos nas mesmas
condições do anno de 1917 e das situações transactas.
Vejo pois, depois de tudo bem verificado, que entre os engenhos e os sulfitadores (medidores) não houve nem pode haver
perda aperciavel de vesou por isso que o trajecto da garapa dos engenhos aos sulfitadores é feito au grand air.
A diferença está pois no pezo da canna. //
[54] Varias razões praticas há para isso segundo verifiquei eu mesmo. As balanças estão certas segundo eu vi e Marsden.
Tirando uma nota da canna do Funchal recebida no Torreão e Comp.ª Nova (Notas do escriptorio do Torreão) em um total de
15.248.053 kilogramas canna em 182.853 molhos, dá a media por molho de 83,300 kilogramas.
A canna entrada na Comp.ª Nova (Funchal e Costas) no total de 1.825.695 kilogramas em 23.170 molhos dá uma media de
78,700 kilogramas por molho.
Comp.ª Nova porém recebeu pouca canna da Costa, e assim pode-se calcular por segurança que para a canna do Funchal
deve dár na balança da Comp.ª Nova 80 kilos por molho.
Vê-se pois que no Torreão a pezagem deu mais por molho de cannas pelo menos 3 kilogramas ou seja 3,7% a mais do pezo.
Porque?
Na 4ª situação, em que o trabalho da bateria de diffusão foi egual ao da 5ª situação (trabalho em uma sô bateria) e os
resultados foram normaes, a carga por diffusor foi de 1438 kilogramas canna, dando 26,33 litros de jus diffusão % canna. Na
5ª situação com o mesmo trabalho e canna quasi edentica, a carga por diffusor foi de 1480 kilogramas dando (com a mesma
soutiragem) 23,97 litros jus % canna: Deveria dár proporcionalmente á quantidade de canna 27 litros %. //
[55] Por isto se vê aqui na 5ª situação deu mais por diffusor 42 kilogramas canna, que em 2424 diffusores feitos dá um total
de 101.808 kilogramas canna a 13% assucar = 13.235 kilogramas assucar a menos, que deve corresponder aproximadamente
ás perdas encontradas.
Por todas estas considerações feitas bem pode vêr que houve extravio de pezo de canna, da qual preveni Carlos259, e estamos
a vêr d’onde vem o gato...
São cousas que não podem nem devem acontecer mais, e que eu desejo livrar a minha responsabilidade na parte technica
do fabrico.
O maximo cuidado tenho tido em todo o fabrico de forma a evitar o mais possivel perdas indeterminadas elevadas.
Crêa-me seu Amigo Attencioso e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
175
Essa minha carta porém nunca teve resposta, o que me penalisou bastante, e falando ao Meira261 sobre isso, elle disse-me
que o Hinton estava na disposição de liquidar tudo quanto se relacionasse com Vinhos!.
Em vista d’isto nunca mais toquei no assumpto, e tratei de estudar a questão sô para mim e com um pequeno capital que
tenho, vêr se conseguia establecer em ponto pequeno a industria em questão, fazendo com Hinton uma concordata para eu lhe
prestar os meus serviços durante o tempo da Laboração da canna, e terminada ella, ficar livre por minha conta.
No mez passado porém o Ribeiro veio-me fallar sobre esse assumpto (vinhos) e eu disse-lhe isto mesmo, e dizendo-lhe
tambem que, caso o Hinton não tornasse a falar no assumpto, não teria duvida alguma a me juntar a voces para establecer esse
negocio em meior escala porque tenho nos meus Amigos Perry e Ribeiro a massima confiança na sua onestidade e boa
camaradagem.
Tudo depende porém da terminação d’esta maldita guerra, para se poder obter alguns apparelhos em França que são
indispensaveis para o caso.
Fica pois, meu caro Perry, isto establecido; se o Hinton não me falar no assumpto, eu tratarei de conseguir // [58] d’elle que
me deixe livre pelo menos durante uns 8 mezes do anno, ou para establecer com os meus Amigos os ditos negocios, ou caso
voces não quererém por qualquer rasões [sic], farei eu sosinho.
Pesso-te porém o maximo sigilio sobre isto, e conta sempre com o teu velho e verdadeiro Amigo[Ass:] João Higino Ferraz
//
176
O jus de diffusão total enviado a Comp.ª Nova e gasto no Torreão calculo em 50% do jus total.
O total do alcool produzido nas duas fabricas por 24 horas durante a Laboração da canna será de 5500 litros.
Para isto é indispensavel limitar o fabrico d’aguardente de canna a um maximo de 700.000 litros em 1919.
Calculando o trabalho do Torreão e Comp.ª Nova em 35000 toneladas canna dará:
Alcool de melaço 350.000 litros
“ de canna 200.000 “
Total 550.000 “
Crea-me Seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
177
Quanto aos resultados financeiros:
Em assucar e melaço: Em alcool:.....................................
Custo tonelada canna ...................17.000 Custo tonelada canna........17$000
Fabrico ......................................... 8.300 Fabrico do alcool ..............10$080
Custo total ....................................25.300 Custo total 27$080
Productos: 9,800 kilogramas assucar ..... 67,2 litros alcool a 700 reis
turbinado a 350 reis....................................= 34$300 por litro = 47$040
....................................3,500 kilogramas
melaço a 27,8 litros % a 260º....................= 253
Productos totaes .. 34$553
Como vê, mesmo a 600 reis por litro alcool, o lucro feito a canna em alcool é superior ao lucro do assucar. //
[65] Nova Lei Sacarina: Este ponto é o mais complicado e mais dificil de dár uma opinião, e isso confesso, não estou em
condições de lhas poder dár por varias razões, sendo a principal a falta de competencia da minha parte. Outros haverá que lhe
possam dár melhores. Contudo pesso-lhe para lhe dizer o que, com toda a franqueza, eu vejo n’este assumpto.
Segundo o que Carlos me leu da sua carta, vejo que o Governo está na desposição de fazer o fabrico do assucar livre, para
todas as fabricas de aguardente que queiram transformar em fabricas de assucar (?!!). Mas, pergunto eu, qual é a base para
determinar a capacidade das fabricas? É a capacidade de destillação ou a capacidade de moendas?
Se é a de destillação, uma fabrica das meiores, apenas poderá moer 25.000 kilogramas canna por 24 horas aproveitando os
bagaços ou para aguardente ou para assucar; isto já se vê, não augmentando a capacidade actual. Somente um asno fará a
transformação de uma d’estas fabricas em fabrica de assucar com aparelhos de bonecas!!
Se é pela capacidade de moenda, sô vejo duas fabricas em condições de serem transformadas (á antiga!) que são a do Conde
da Calçada, no Arco da Calheta, e a do Almeida, na Ponta do Sol. As outras pouco mais podem fazer de 30.000 kilogramas
canna por 24 horas.
Das duas uma, ou Governo consente a junção de varias fabricas em uma sô (em cada freguezia), ou então ponha essa edêa
de parte que não é pratica. //
[66] Para William Hinton & Sons, a junção de fabricas seria uma calamidade, ainda que essa calamidade seria tambem para
os outros, e teriamos tantas fabricas quantas fossem as freguesias, porque dinheiro não faltaria, o que faltaria era juizo, e isso,
como sabe, é o que ha de menos aqui.
Esse projecto, que é o mesmo que aplicaram em Africa, não tem cabimento para a Madeira, e isso sô pode germinar em uma
cabeça sem conhecimentos do que é a industria assucareira... para não dizer outra cousa.
O que eu vejo no meio de tudo isto é que, o mais pratico e o que mesmo os aguardenteiros acceitariam bem, seria o limite
de fabrico de aguardente ao minimo; que o imposto cobrado fosse para expropriação de fabricas de aguardente, dando o
Governo ás fabricas matriculadas actualmente, uma prerrugação do pazo[sic] da actual Lei (modificada, se assim o quiserem),
até á completa expropriação das fabricas. Depois... seria o que fosse... Fôra d’isto não vejo solução que agrade a todos.
O que é indispensavel, como já lhe disse na minha ultima carta, é que emquanto durar este estado de guerra, que o preço do
alcool para vinhos seja elevado ao minimo de 500 reis por litro a 100º, para podermos fabricar o suficiente para o tratamento
dos vinhos da Madeira de exportação. //
[67] Quanto ao que diz de eu vêr junto com Victorino dos Santos qual a capacidade das Fabricas, é minha opinião não dár
por emquanto a conhecer a ninguem os projectos de nova Lei. Victorino ainda que muito boa pessoa, trata primeiro dos seus
interesses, e eu sei que o filho mais velho d’elle tem namoro (naturalmente para casamento) com a filha unica do José F.
Azevedo, sociatario da selebre fabrica em a estrada Monumental em São Martinho, e que naturalmente deve querer proteger o
pae da sua futura (?) nora.
São dois que estão com ella ferrada para montar fabrica de assucar: Um é o José F. Azevedo em São Martinho, e o outro é
o Henrique Figueira da Silva264 (banqueiro) que tem actualmente a Fabrica do Conde da Calçada no Arco da Calheta: Esse já
me disse que tem na America planos para uma fabrica de 150 toneladas canna por 24 horas, e que lhe custará uns 150:000$00
escudos.!! É d’esse que eu tenho mais receio por ser homem de dinheiro. Quanto ao Azevedo: esse é homem quasi rebentado...
Se o Governo presistir na sua edeia de transformação de fabricas de aguardente em fabricas de assucar, e que, para ser
agradavel á firma Hinton, sô primita as capacidades actuaes, ou pela destillação ou pelas moendas, vai dár causa a reclamações,
e nunca se chegará a fazer cousa alguma, e mesmo as reclamações teram por base actualmente as dificuldades da guerra. //
[68] Sube pelo Sr. Capello, que o ministro da Agricultura escreveu ao presidente da Junta Agricula, dizendo-lhe que hiria
178
brevemente á Madeira estudar estas questões de assucar e aguardentes, e era conveniente que elle viesse já d’ahi meio orientado
sobre o assumpto. Não tenho confiança alguma n’estes nossos amigos de cá, e temos, como sabe, fartura de inimigos.
Pense bem n’isto e verá que o que convem melhor, tanto para os seus interesses como para o interesse dos outros, é a
prorogação da Lei actual até á expropriação completa ou parcial das fabricas de aguardente.
Quanto ao fabrico de melado nas fabricas de aguardente, o primeiro desparate foi consentir esse fabrico estando as fabricas
ainda a destillar, e como Fiscaes e chefes fiscaes estão feitos com alguns dos fabricantes d’aguardente, a destillação continuará
até ao fim em algumas d’ellas porque o melado é um pretexto...
Não posso comprehender que nos regulamentos da fiscalisação se consinta que uma materia prima que transformada de uma
forma (aguardente) paga imposto, e da outra (melado) é livre d’esse imposto, possa ser laborada ao mesmo tempo!!
Agora o mal está feito, e não val a pena remedial’o.
Sem mais subscrevo-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
179
[DATA: 18 de Junho de 1918
CARACTERIZAÇÃO: Notas sobre produção de alcool, no ano de 1918]
180
Cêa-me[sic] seu Amigo certo e Obrigado
[Ass:] João Higino Ferraz
P. E.[sic] Tinha ja entregue a Carlos266 uma nota dos rendimentos em alcool dos melaços, canna e jus, e o que eu calculo
podermos contar no corrente anno, e elle deve-lhe enviar.[Ass:] Ferraz //
181
Fabricas do Sul da Ilha.
Quando porém no 2º ou 3º anno se veja que a produção em aguardente do Norte é meior do que no 1º ou 2º anno, o Imposto
será elevado a 500 reis por litro nas Fabricas do Norte, ou então, no excedente á produção normal do 1º ou 2º anno, pagará esse
excedente 700 reis por litro aguardente.
Isto é para evitar novas replantações de canna no Norte, que se faria em grande escalla, visto a falta de aguardente no
mercado que se daria, pela diminuição das do Sul.
7º Prerrugação da Lei actual para as Fabricas de assucar matriculadas, até completa expropriação das Fabricas de aguardente
do Sul da Ilha.
8º Augmento do preço do alcool para tratamento de vinhos tanto de canna como de melaço resido da fabricação // [80] nas
fabricas matriculadas a 500 reis por litro alcool a 100º a 15º temperatura, isto pelo menos emquanto durar estas dificuldades de
guerra, ou até final da Lei, o que seria melhor.
Isto tem por fim poder-se produzir alcool suficiente para o tratamento dos vinhos da Madeira para exportação, o que somente
o melaço residuo da fabricação do assucar não é suficiente.
Sem esta providencia a vinicultura será bastante prejudicada, o que é bastante atendivel.
Poderá haver mais alguma cousa a juntar a isto, mas o meu Amigo e o Senhor Hinton poderam vêr melhor.
Seu Amigo Certo[Ass:] João Higino Ferraz //
[82] Nota dos productos chimicos para 1919. Existencias em 3 Julho 1918
Kieselgouhr ..............................................................................28.000 kilogramas aproximado
Phosphato de Cal ............................................................................20.500 “ “
Aluminato de baryta........................................................................ 8.100 “ “
Enxofre ...........................................................................................17.800 “ “
Calculando para 1919 umas 40.000 toneladas canna (?), será necessario:
Kieselgouhr = 42.000 kilogramas – temos 28.000 kilogramas ........= Falta 20.000 kilogramas
Phosphato de Cal = 40.000 – “ 20.500............................................= “ 19.500
Aluminato 14.500 – “ 8.100 ..........................................= “ 6.700
Enxofre temos o suficiente para 1919
Soda caustica temos suficiente
182
4 Julho 1918[Ass:] João Higino Ferraz //[83]267
183
Meus Caros Ribeiro e Perry
Esta vai para os dois porque os interessa a ambos.
Pela carta do Ribeiro vejo que voces já teem dado alguns passos sobre o nosso negocio futuro, mas muito mais há que fazer
em vista da importancia do caso, e como voces ahi podem vêr isso tudo muito melhor do que eu, é conveniente eu expor qual
a minha edea, na generalidade, para estudarem bem a questão e calcularem as forças com que podemos contar.
Quanto ao Hinton270 vejo que não pensa mais em vinhos, o que me falta é a conseção d’elle para me deixar livre depois da
Laboração da canna, e é isso que não tenho ainda resposta do Meira271, o qual se encarregou de fallar (apalpar) o Hinton sobre
isso. Como voces comprehendem, não me convem deixar assim uma situação que é boa, por em quanto, para mim, porque não
tenho outros recursos para viver.
Tudo o que fassa porém somente pode ser feito depois de terminada esta maldita guerra, porque a minha fraca opinião, é
que antes d’isso, ninguem pode fazer calculos sobre negocios sem vêr para onde pende a balança e o que será o futuro da Europa
ou fora d’ella. Isto de calcular cousas aereas é sempre muito perigoso, e não se pode vêr no futuro o mesmo que se vê agora. //
[88] Exposto isto vou dizer da minha justiça.
O meu fim é fazer a industrialização do vinho ou por outra do mosto da uva, comprando não o vinho feito, mas sim o mosto
da uva, que facilmente se pode conservar nas adegas dos Lavradores tambem ou melhor do que o vinho, tendo elles a grande
vantagem de não se preocuparem com os cuidados que actualmente teem com os vinhos feitos, que muitas vezes se perdem por
acetificação. Pela compra do mosto teem elles a sua venda garantida em boas condições.
Para nós, comprado que seja o mosto em condições a establecer e fabricado nas adegas do Labrador conforme a nossa
indicação ou seja em tintos ou brancos e sobre nossa fiscalisação, hiremos retirando o mosto conforme as nossas necessidades
o exigirem. Por conseguinte esta forma de negociar em nada altera os costumes establecidos nos negocios de vinhos dos
Lavradores-vinhateiros, a não ser no producto vendido, que, em logar de ser vinho é mosto.
Para nós Industriaes, o que faremos? Transformar esse mosto em um producto de boa qualidade em condições
verdadeiramente sentificas, e fazer d’elle o que melhor nos convier e conforme o mercado pedir, ou seja em vinhos de pasto de
consumo directo, vinhos de exportação mais ou menos alcoolicos, xaropes d’uva concentrados para tratamento de vinhos do
Porto ou outros ou para exportação se assim convier ou // [89] outros quaesquer typos que se queira obter. Tudo isto será feito
na Fabrica industrial com o nosso mosto comprado, na occasião que se quizer e na quantidade que se quizer conforme o
mercado o pedir, e assim poderemos aproveitar as occasiões em que os outros negociantes de vinhos teem dificuldades de
apresentar productos que nós os faremos facilmente.
Esta questão de xaropes d’uva, vejo um bom negocio de exportação, porque com este producto exportado para Franca[sic]
ou outro qualquer pais, servir-lhe-há para o fabrico de vinhos licorosos de que elles teem grande falta, e o nosso Pais está em
condições muito melhores do que Hespanha para isso, devido á nossa qualidade de uva, e em Hespanha e Argelia já fazem esse
xarope em grande quantidade.
Porém, para uma industria d’esta natureza não se fazer em pequena escala, porque teremos que adquirir apparelhos
apropriados ao fim, e esses apparelhos, que o seu custo é relativamente elevado e de[sic] podem deteriorar, é necessario fazer
todos os annos uma amortisação pelo menos de 10% do capital da instalação que nos leva uma boa verba, e em ponto pequeno
os lucros podem ser absorvidos por ella. É puis minha oppinião que nada se poderá fazer com vantagem com menos de 4000
pipas de mosto por anno. Não se assustem voces porém com esta quantidade, porque de 4000 pode-se fazer 1000 de cada quali-
//[90]dade de vinhos ou xarope, mais ou menos d’um ou d’outro.
A dificuldade, a meu vêr, está na instalação da adega que requer um capital relativamente grande para as nossas forças, e
era por isso que sempre pensei em alugar um Armazem de vinhos já montado com os devidos toneis, e assim a instalação nos
sahiria mais facil.
Na Quinta que Perry tem, nada tem de instalações proprias ao fim, isto é, está nua... Quanto nos poderá custar, mesmo depois
da guerra, uma montagem completa de uma Fabrica n’estas condições? Nada posso dizer, nem voces mesmo o podem saber
ahi!
O que unicamente eu posso dizer aproximadamente é o que é indispensavel para o fabrico de 4000 pipas de mosto em 8
mezes de trabalho seguido.
3 poços em cimento armado para o mosto a receber dos Lavradores, da capacidade de 100 metros cubicos cada um.
12 cubas de fermentação de 5000 litros cada uma.
40 toneis de 20 pipas cada um (descanço do vinho feito)
12 “ de 10 “ “ “ (collagem ou clarificação).
184
25 “ de 40 “ “ “ (Depositos de vinho feito para sahida)
300 cascos de 500 litros cada (para transportes do mosto)
Os apparelhos compoe-se de um dessulfitador, um concentrador, uma caldeira de vapor de 50 cavallos, bombas etc. para
trabalho de 10.000 litros de mosto de uva por 24 horas, filtros mechanicos e filtros-prensas. Esta mesma instalação pode fazer
5000 pipas em 10 mezes. //
[91] Quanto ás garantias de lucros, o que eu posso dizer é que, o nosso fabrico comprando o mosto ao preço do vinho feito,
dando o Lavrador, como é praixe actualmente, 10% mais em mosto do que elles entregam em vinho, e depois de tiradas todas
as despezas de fabrico, nos ficará o vinho ao mesmo preço do que a qualquer negociante comprador de vinhos feitos, com a
vantagem para nós de termos um producto de muito melhor qualidade e mais egienico, e em condições oeorganoleticas
melhores, e muito melhor conservação, mesmo para exportação.
Para porém poder calcular quaes os lucros minimos provaveis seria bom eu saber o seguinte:
1º Preço medio por que foi comprado o vinho, por exemplo, em Almeirin (boa localidade de vinhos ricos em alcool) por
pipa de 445 litros (medida de Almeirin).
2º Qual o frete em Caminhos Ferro até Lisboa
3º Qual o preço <minimo> por groço do vinho de pasto nos armazens de Lisboa fora de Portas.
4º Qual o preço medio minimo por groço do vinho tratado, isto é, vinho com mais de 12% alcool até 17%
Amostras de todos estes vinhos, pelo menos um litro de cada, e as condições de venda e mais informações que voces possam
obter, e mesmo no tempo normal, isto é antes da guerra, em que condições eram feitos os negocios e preços aproximados. Tudo
quanto voces poderem obter de notas é-me conveniente, fazendo sempre referencias ás capacidades de vendas, para os meus
calculos. // [92] Para os xaropes, como isso é um producto novo em Portugal, sô depois de feito se pode fazer reclames, mas
posso desde já dizer que, para os vinhos a fazer ricos em alcool, o emprego do xarope no mosto tem muito mais vantagem do
que a alcoolisação pela aguardente de vinhos, sendo uma alcoolisação natural e não tornando os vinhos aguados, como acontece
com a aguardente. Estou mesmo certo que, uma vezes [sic] feita a esperiencia da alcoolisação pelo xarope, este producto vai
ter grande sahida para o Porto ou outras localidades onde se fabrica vinhos generosos.
Por emquanto nada mais posso dizer sobre o assumpto, mas espero que o Ribeiro na sua volta de Lisboa me traga todas
essas notas e as competentes amostras.
Até á vista pois, e um abraço para os dois do seu Amigo verdadeiro[Ass:] João Higino Ferraz //
185
Estamos a terminar o melaço e o tanque grande deve ficar lavado amanhã. Não lhe posso porém dizer por esta qual o
resultado exacto do rendimento, mas vejo que deve ser bom, isto é egual ao de 1917.
Ja tenho a destillaria quasi completa, mas falta-me os apparelhos de vidro que se encommendou ao Lefebvre273. Sabe alguma
cousa d’isso? Elle escreveu-me a dois mezes dizendo que os hia enviar para Lisboa.
Parabens pela boa venda da Vilha Preira & Cascadura
Crea-me sempre seu Amigo Certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
186
[98] Contas do rendimento em alcool em 1918
Canna 1.154.471 kilogramas rendeu 23126,8 litros alcool a 100º = 72 litros tonelada canna
Jus diffusão 946.965 litros com 76.827 kilos assucar rendeu 44.540 litros alcool a 100º e que dá um rendimento de 58 litros
alcool % assucar.
Melaço = 1.015.147 kilogramas rendeu 287.703,2 litros alcool a 100º
Rendimento % melaço 28,34 litros alcool a 100º
Notas: Pelo melaço calculado (Laalberg) deu 1.032.734 kilogramas, o que se vê que fez uma diferença para menos de 17.587
kilogramas
Esta diferença é do tanque grande que foi por Calculo
Ficará pois melaço % canna trabalhada = 3,866 kilogramas, em logar de 3,933 kilogramas pelo calculo de Laalberg.
Funchal 4 Setembro de 1918[Ass:] João Higino Ferraz //
187
188
[Copiador de Cartas. 1919-1920]
foto P4280019.JPG
DESCRIÇÃO:
À imagem dos anteriores copiadores de cartas, o título deste é por nós atribuído. É um livro, em papel, 27 cm x 22 cm, e
encontra-se em bom estado de conservação. Os fólios deste copiador estão numerados com caracteres tipográficos.
189
esperanças de fazer o que desejo, ou seja em uma grande companhia em organisação, ou seja eu pessoalmente com um ou dois
socios, e assim será uma pequena Vinharia de 50 hectolitros mosto por 24 horas. Contudo nada posso dizer por emquanto, sem
estar tudo organisado em Lisboa. //
[4] Desejaria porém, se Barbet fosse bastante amavel para comigo, dois (2) devis separados, um para uma Vinharia de 100
hectolitros em 24 horas com um dessulfitador para esta quantidade e um evaporador-concentrador para xaropes d’uva de 50
hectolitros mosto 24 horas, com todos os apparelhos necessarios, menos o gerador de vapor; outro devis de uma vinharia de 50
hectolitros nas mesmas condições, com um evaporador para esta capacidade. Pedia-lhe pois para falar a Barbet da minha parte
e fazer-lhe esse pedido, mas em boas condições de preço de material. Assim ficaria habilitado a resolver de prompto qualquer
encomenda futura.
Quanto aos outros pontos da Carta, como não tem ainda todos os dados, esperarei sua nova carta para decidir.
Affaire Broderies: Este negocio já está em andamento, e esperam em poucos mezes enviar amostras (échantillons) dos
bordados da Madeira, para Madames darem andamento aos seus negocios particulares: Há grande intosiasmo n’esse assumpto
das senhoras associadas aqui para isso; ellas escreveram a seu tempo a Madame Lefebvre. //
[5] Quanto á viagem de Paris para Lisboa, foi um pouco complicada, por isso que perdi o rapido de Madride, mas emfim
sempre cá cheguei.
Os meus respeitosos comprimentos e bons souvenires a todos os seus, e para vós, meu amigo um aperto de mão do seu
amigo[Ass:] João Higino Ferraz
P. E.[sic] Se falar com o Candido Henriques dê-lhe muitos e muitos comprimentos do seu amigo Ferraz, e que cá o espero
em Novembro, se as Madmoiselles deixarem a Cambuse livre. //
190
agosto.
Por nada mais por emquanto que lhe possa dizer, termino, desejando-lhe todas as felicidades de que é digno, e crea-me Seu
Amigo Certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
191
[DATA: 1 de Novembro de 1919
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[12] Funchal 1 Novembro 1919
mo
Ex. Amigo e Senhor Hinton
Recebi a sua carta de 26 proximo passado, o que muito lhe agradeço e vou responder:
Francisco João: Estimo bastante, como amigo de F. J.282, que essa má vontade entre M283 e elle se liquide em bem, o que
espero.
Vinharia: Vejo o que me diz com relação ao negocio dos vinhos, e essa aquesição da Casa Vieira Gomes é importante, não
somente pelo nome d’ella já muito conhecido, como tambem pelas instalações que já tem e que sei serem importantes; Sei mais
que essa casa trabalha em vinhos pelos systemas mais modernos, e que emprega nas suas fermentações fermentos puros do
vinho de Bourdeaux, e é isso principalmente que lhe tem dado o renome do seu vinho. A região de Collares é a melhor para os
typos de vinho de meza, mas isso não impede que se vá comprar mostos a outras localidades, e com a Vinharia montada em
boas condições, se possa obter vinho quasi edentico ao Collares, tanto brancos como tintos. O preço vejo que foi bastante alto,
mas comprehendo que para comprar uma marca e adegas actualmente é dificil adquirir a preço baixo, quando os vinhos estão
dando tanto dinheiro! Tenho porém sempre em mente a instalação no Cartaxo do José Doarte Lima, de que não se deve desfazer.
//
[13] Agradeço-lhe mais uma vez a boa vontade que tem em me ser agradavel, e pode crer que isso não é deitado a um poço,
e a minha parte no trabalho para o bom caminho que esta nova empresa vai têr, será feito por mim com todo o entosiasmo e
boa vontade, e que o grupo se não arrependerá de me incluir n’elle. Não sou, nem d’isso fasso alarme, uma capacidade, mas
tenho vontade de trabalhar principalmente n’este assumpto em que estou muito empenhado.
Fabrica do Salto Cavallo: Pedro284 foi para Lisboa e elle lhe dirá de viva vóz o que temos feito e vamos fazer.
Assucar da Beira: Tudo está em ordem para a recepção do assucar e refinação, e logo que elle chegue dár-se-há principio á
refinação, e tudo o que me diz sobre este assumpto será feito conforme o seu desejo. Quanto ao bicho já muito meu conhecido,
vou vêr se este assucar contem, mas ainda assim que nada seja, vou têr o maximo cuidado nas desinfecções. Quanto ás
cerpentinas de vapor das caldeiras de vacuo já estão todas esperimentadas e estão boas, e os restantes apparelhos tambem.
Quanto á exportação do assucar diz-me Carlos285 que não vê possibilidade de o fazer na quantidade que deseja devido ao
consumo excessivo aqui, o que é pena, porque esses preços que me diz se podem obter em França são os melhores possivel, e
não vejo que o Governo possa impedir essa exportação, a não ser que mubilise o assucar!! //
[14] Quanto ao systema da refinação, o Senhor Bardsley antes de sahir disse-me que era melhor não derreter todo o assucar
para transformal’o em xarope, mas sim laval’o somente, como em tempos já fiz, o que dá naturalmente menos quebras e
despesas, mas o assucar não ficará tão bom. Quer que proceda assim como elle diz? No caso de querer mande um telegrama
“Lave assucar”, e no caso contrario diga “Refine assucar”, assim ficarei sabendo como devo proceder.
Fermentações: Já dei principio aos fermentos, mas primeiro vou principiar com o meu fermento que tenho em actividade,
para limpar bem os apparelhos, e depois darei principio com o fermento Vasseax por isso que vou têr o fluorure entre 6 a 8
Novembro pelo vapor do Cabo, e já tenho duas caixas com ampolas de fermento Vasseaux; assim dará melhor resultado e verei
melhor o effeito do fermento novo.
Seitz: Não vejo possibilidade de trabalhar no anno proximo com os filtros “Seitz”, porque o tamis fino da parte filtrante está
em grande parte estragado e é necessario renoval’o. Além d’isso as torneiras de macho estão terriveis em derrame, e ficou
establecido que Seitz as modaria por torneiras de gaveta de latão, como do contracto.
Carta[sic] cannas: Não ha maneira de dár com o corta cannas! No Salto Cavallo não está, e mesmo sei que para lá não foi;
na Fabrica não o vejo, mas em tempos vi-o no armazem do ferro. Teriam-no quebrado para socata? Como hoje e amanhã é dia
Santo, João não está para // [15] lhe perguntar por elle, e se até segunda feira o vapor “San Miguel” não tiver vindo lhe direi o
que há. Custa-me a crer que tivessem partido para socata um apparelho que custou tão caro e que poderia servir ainda. Como
nada tive com essas cousas de socata, não lhe posso garantir se foi ou não partido. N’essa occasião estava em no Estranjeiro ou
em Lisboa.
Sem mais por emquanto que lhe possa dizer subscrevo-me seu Amigo Attencioso e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz
P. E.[sic] Esqueceu-me dizer-lhe que terminamos todo o alcool no Torreão no dia 31 outubro, dando o total do alcool até
esta data no Torreão o calculo e resultado seguinte:
De maio a outubro 1919
192
Alcool bruto produzido pelos inventarios = 315.335 litros a 100º
Alcool total vendido até 31 outubro ....................................................= 315.710 litros a 100º a 15 temperatura
Escencias e etheres restantes ................................................................................... 8.115 “ “ “
Cargas dos dois retificadores .................................................................................. 2.000 “ “ “
325.825 “ “ “
Menos alcool produzido da retificação do Mau gosto da Comp.ª Nova ................ 22.682 “ “ “
Alcool Torreão ............................................................................................................303.143 “ “ “
Quebra de retificação e venda = 4% do alcool bruto. //
193
no maximo de 90º Centigrados mas não retificado. Para esta parte do fabrico, tem elle o retificador que empregou este anno na
Calheta, mas que não tira alcool a mais de 38º Cartiere, como muito bem sabe. É isto que lhe posso dizer por emquanto.
Corta cannas: Foi quebrado para socata.[Ass:] João Higino Ferraz //
194
em forma de cuscus, como muito bem conhece: Em vista d’isto, este melaço forma na fermentação mais acidez que o normal.
Além d’isso a quantidade de glucose infermenticivel é meior que no 1º carregamento o que calculo em 5% (em saccarose);
teremos pois:
Açucar total em saccharose 51,06 %
Infermenticiveis 5, %
Saccharose fermentavel 46,06%, que ao ren-//[22]dimento de 60 litros alcool a 100º % saccarose fermentavel deve
dár um rendimento de 27,6 litros alcool a 100º % melaço. É este o rendimento que um pequeno Lote da Comp.ª Nova deu, e
eu calculo que no Torreão dará o mesmo em alcool bruto.
Faço-lhe notar que este rendimento foi obtido com o meu fermento conservado e não com o de Vasseux, por isso que para
este ainda não veio o fluorure de soda, e tenho em actividade para um novo Lote o fermento Vasseux mas sem fluorure, e assim
poderei vêr a diferença de rendimento. O que desejava era receber quanto antes o fluorure, e já telegrafei a Lefebvre289 dizendo-
lhe que não tinha recebido a fluorure até esta data.
Quando tenha o fluorure vou fazer novo lote, e verificar por comparação os resultados obtidos.
Como sabe, o 1º carregamento tinha em saccarose tatal[sic] 48,17%
Infermenticivel 4,5%
Saccarose fermentavel 43,67% que ao rendimento de 60 litros alcool %
saccarose = 26,2 litros alcool a 100º % melaço, e foi este aproximado o rendimento que deu no Torreão e Comp.ª Nova.
O custo na Fabrica do 1º carregamento é de 85$00 por tonelada
“ “ do 2º “ “ 92$00 “
Em resposta á sua carta de 12 do corrente, pouco tenho que dizer, mas com relação ao Açucar Colonial, se elle tiver bicho,
o que não crêo, a simples lavagem não o // [23] matará, porque a lavagem é feita com égoûts quentes, mas não chega a
temperatura da Melasse Cuite a tal que o possa matar. Para isto, no caso de têr bicho, vou armazenar em armazem separado o
assucar lavado do assucar que tenho de refinar em BB.
Productos de Laboração: Tudo encomendado, menos a cal, que deve ser para 1920 umas 40 toneladas pouco mais ou menos.
Os panos para os filtros-presses é que estão cotados a um preço dos diabos, e vou mandar uma amostra a Lefebvre para elle
mandar as cotações, mas já se vê que para 1921, porque para este proximo anno não poderá vir a tempo.
Quanto aos meus projectos de Vinharia, agradeço-lhe o que me diz, mas estou bem desejoso de fazer qualquer cousa de onde
possa tirar lucros, porque esta vida está de tal forma cara que não posso continuar assim n’este estado de despezas, sem ter de
onde me venha lucros.
Sem mais, crêa-me seu attencioso Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
195
notre sucre de 1ar jet est blanc, c.a.d., sucre de xirops vierge. Notre sucre avec les rentrée des égoûts dans la cuite (Nº 2) c’est
pauvre, et est du cette coleure aus égoûts a cause de la glucose.
Ce nous pouvent employer cette produit dans les égoûts il faut filtraire aprés? Quel quantité se doive a peu prés employer?
Vous pouveux voir ce Monsieur et demandes les renseignemet et vous em[?] plus competent que moi.
Affaire Barbet: Je partira por Lisbonne en Janviere prochene par le “San Miguel”, afin de finir mes affaires de Vinerie et
j’espere bien recevoir les devis de Barbet avant mon departe pour Lisbonne
Affaire Borderies: Je vous previne que ce n’est pas Monsieur Belmonte que và faire cettes Affaires mais des Demoiselles
& C.ª que vous ecrire á Madame Lefebvre sur cá et les echantillon vont etre envoyér ce méme mois (15 ou 16).
Mes respects a Madames, et pour vous mes meilleurs amitié[Ass:] João Higino Ferraz //
196
Os égoûts a destillar devem produzir aproximados 17.408 litros alcool a 100º
Desejando-lhe um novo anno muito feliz e a sua Ex.ma esposa, subscrevo-me seu Amigo attencioso e Obrigado[Ass:] João
Higino Ferraz //
197
comprimentos.
Junto envio-lhe o ultimo Catalogo que recebi de Barbet sobre apparelhos de destillação, como do pedido feito pelo nosso
amigo Senhor Julio Tornel. Barbet tem modificado um pouco os seus apparelhos, mas não tenho o catalogo ultimo d’elle nem
mesmo por elle se poderá vêr qualquer cousa que elucide sobre a obtenção de qualquer apparelho, a não ser quem conheça um
pouco as theorias de Barbet sobre destillação e retificação.
Se eu conseguir, como desejo, trabalhar ahi no Continente n’este anno ou no proximo sobre fabrico de vinhos e outros que
bastante me interessa e talvez ao meu Ex.mo Amigo, poderei com a minha fraca competencia sobre destillação e retificação dár-
lhe qualquer indicação que lhe // [32] pode ser util, e mesmo construir ahi um apparelho fundado nas mesmas theorias. Temos
em Portugal bons operarios, o que lhe falta é direcção technica.
Aqui fico pois a sua desposição e esperando a sua visita á nossa Ilha e crea-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado[Ass:] João
Higino Ferraz //
198
En faisant les meilleurs voeux pour la bonne sante de Madame votre fille, je vous prie de bien vouloir presenter les bons
compléments à toute votre famille et croire a l’assurance de mon amitié
Votre ami bien devue[Ass:] João Higino Ferraz //
199
[DATA: 22 de Julho de 1920
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[38] Funchal 22 Julho 1920
Ill.mo Amigo e Senhor Hinton
Recebi a sua de 20 corrente acompanhada de uma amostra de Kieselguhr290 espanhol, que vejo ser de muito boa qualidade,
e limpo de areia.
Quanto á comparação do preço entre este e o ultimo importado de Londres da Casa Crispin, é o seguinte:
Kieselguhr de Inglaterra por tonelada £ 14-10-0 (saco incluido)
Fretes e despesas (commisão etc) – “– £ 12-15-0
Custo no Funchal por tonelada = £ 27-5-0 a 23$00 = 626$75
Kieselguhr Espanhol 360 pezetas tonelada a 1$00 = 360$00
Frete e despesas até o Funchal ?
E Poderá melhor calcular as despesas ahi, porque não tenho dados. É bom notar que os fretes de Caminhos Ferro d’esde a
fronteira portuguesa e fretes do vapor até o Funchal é pago em escudos.
Junto envio-lhe uma amostra, como me pede, do Kieselguhr que importamos de Inglaterra, cuja qualidade é inferior ao
Espanhol e contem muito sable (aréa), sendo a sua densidade muito meior. Um bom Kieselguhr deve pesar 200 gramas por litro.
Seu Amigo Certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
200
pendant ce temps ci.
Cependant je tiens toujours l’espoir que, une fois passé ces trois ans, les affaires en Portugal (et dans tout le Monde.!?)
changeront pour des meilheures conditions et je verrai, alors, ce que me conviendra faire.
Je vous remercie une fois de plus tout ce que pour moi vous avez fait sur ces sujets de Vignerie et croyez serai toujours
reconnaissant pour toute votre bonne volonté de m’être utile.
Mes respectueux compliments á Madame Lefebvre et a Madame et Monsieur Bisson.
Para o meu Amigo Lefebvre, um abraço do seu verdadeiro Amigo[Ass:] João Higino Ferraz
P. S. Je viens de recevoir votre lettre du 7 Juillet dont je vous repondes ici.[Ass:] Ferraz //
[DATA: ?
CARACTERIZAÇÃO: Relatório sobre o fermento e fermentação Vasseux]
[43] Productos chimicos para 1921 calculados sobre 25.000 toneladas canna deduzidos os stocks existentes
Kieselguhr – 19.000 kilogramas (Inglana[sic] ou Hespanha?) Nota Nº 1
Phosphato bicalcique 16.000 kilogramas ( “ ou França?) Nota Nº 2
Enxofre en cannons 9.300 kilogramas – França
Aluminato de baryte 4.200 kilogramas “
Soda caustica 2.000 “ Inglaterra
Fluorure de soda 450 “ França (Fermentações).
Nota Nº 1 – Se o Kieselguhr de Espanha, o seu custo é menor do que o de Inglaterra, convem vir, por isso que é de muito
melhor qualidade.
Nota Nº 2 – Segundo as analyses feitas por Monsieur Marliere292 o phosphato de cal Inglez contem 32% d’acido
phosphorico, emquanto que o de França (Lefebvre293) contem 40% acido phosphorico. Convem pois o phosphato bicalcique
Francez, em preço egual, por ser mais rico em acido phosphorico que é a materia activa.
201
Funchal 29 Julho 1920[Ass:] João Higino Ferraz //
202
DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre]
[48] Funchal 4/10/920
Mon cher ami Monsieur Lefebvre
Bien reçu, a Lisbonne, vós lettres du 27 Juillet et 10 août derniers ce que je vous en remercie et reponds.
Merci bien de vos felicitations pour mon nouveaux contracte avec le Maison Hinton, mais du á la crise que nous eprouvons
avec la cherté de la vie, je suis presque dans les mêmes conditions d’auparavant, mais je vois aussi l’impossiblité de faire
actuellement quelque chose de avantageux personellement.
Kestner: D’aprés la copie de la lettre que je vous invois, écrite á Kestner, vous verrez bien la vérité pure et simple de cet
état de choses á Portugal, mais je tiens toujours l’espoir a la prochain avenir en faire qualque chose, même a l’age que j’ai, mais
avec bonne volonté de travailler pour mes fils, si la santé et le bonheur m’aideront
Campagne 1921: D’aprés les lettres dictées par moi à Lisbonne vous devez bien voir que je tiens à vous, mon cher ami, toute
ma considerations sans néammours nuire la Maison Hinton, vous procurant le maximum de commandes qui sont beaucoup plus
avantageuses que celles faites en Angleterre. //
[49] Aujourd’hui même nous vous avons telegrapheé demandant les prix de feuille de cuivre, et tubes du même mètal, pour
la construction d’un appareil de destillation, pour livraison immediate (du cuivre), parce que de Londres ces articles ne nous
pourrons pas être livrés que dans six mois et j’en ai besoins, au plus tard, jusqu’á la fin du mois d’Octobre prochenne. Sitot une
reponse favorable nous vous ferons la commande par lettre ou peut-être par telegramme.
Aluminate de baryte: L’aluminate envoyés en Deçembre 1919 (Donc pour la campagne de 1920) a été envoyé dans de bonne
conditions, mais pas l’autre comme je vous ai dejá fait savoir.
Affaire Vasseux: Si nous recevrons la melasse á importer pour la fabrication de l’Alcool, le fluorure de soude commendé ne
será pas suffisant pour cette melasse-ci aussi bien que pour la Campagne de 1921, et alors je serais obligé, a son temps, de faire
une nouvelle commande. Qu’est-ce qu’a dit Vasseux sur les resultats que je lui ai envoyé? J’attendais un peu plus de rendement
mais, du aux hautes temperatures de Madère, les temperatures de fermentations ont été exessives et la formations d’acidité était,
du a cá, plus que normals et // [50] ainsi je crois devoir employer le fluorure dans le moût général, quoique en moindre e
quantité, pour garantir la pureté des fermentations.
La livraison de la levure Vasseux doit toujours être par moyen d’ampoûles, parce que celle en gélatine n’arrive pas dans de
bonne conditions du, peut-être, á l’état peu concentré de la gélatine ou á sa qualité, qu’avec les hautes temperatures pendant le
transporte de France jusque ici c’est liquéfie, se gâtant. La culture dans de la gelatine se conserve plus long temps que dans des
ampoûles, se le moyen de culture est bien fait.
Affaire Lycée: Je vais procéder á la liquidation des comptes selon votre lettre du 10 août.
Affare personelles: Arrêt momentene jusqu’un changement de situations général, mais j’attends que si vous voyez quelque
chose de nouveaux sur le sujet vin que vous croyez m’interesser je vous serais trés obligé se vous me en ferez savoir ou enverrez
qualques notes. Je vous prie que quand vous viendres à Paris me procurer quelques traités pratiques sur la fabrication de la Biére
et me les envoyer par colis postal.
Avec nos meilleures amitiées à toute votre charmant famille, et pour vous, de votre ami devoué[Ass:] João Higino Ferraz
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