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VIEIRA, Alberto(ed.) (2005),

João Higino Ferraz, copiadores de


Cartas(1898-1937

COMO REFERENCIAR ESTE TEXTO:

VIEIRA, Alberto(ed.) (2005), João Higino Ferraz, copiadores de Cartas(1898-1937), Funchal, CEHA-
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jhferraz-cartas.pdf, data da visita: / /

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JOÃO HIGINO FERRAZ

Copiadores de Cartas (1898-1937)

Go v e r n o R eg io n al d a M a d eira
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JOÃO HIGINO FERRAZ

Copiadores de Cartas (1898-1937)

COORDENAÇÃO, PREFÁCIO E NOTAS


ALBERTO VIEIRA

LEITURA, TRANSCRIÇÃO E NOTAS


FILIPE DOS SANTOS

Go v e r n o R eg io n al d a M a d eira
5
TÍTULO
JOÃO HIGINO FERRAZ. COPIADORES DE CARTAS (1898-1937)

1ª Edição
Dezembro de 2005

AUTOR
©ALBERTO VIEIRA
FILIPE dos SANTOS

EDIÇÃO
CENTRO DE ESTUDOS DE HISTÓRIA DO ATLÂNTICO
RUA DOS FERREIROS, 165, 9004-520 FUNCHAL
TELEF. 291-229635/FAX: 291-223002
Email: ceha@avieira.net.
Webpage: http://www.ceha-madeira.net

TIRAGEM
2000 exemplares

CAPA

IMPRESSÃO

DEPÓSITO LEGAL

ISBN 972-8263-39-2

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INDICE GERAL

APRESENTAÇÃO

INTRODUÇÃO

O AÇÚCAR E A TECNOLOGIA NO ESPAÇO ATLÂNTICO


A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E O AÇÚCAR
A QUESTÃO HINTON
O HINTON E INDUSTRIA DO AÇÚCAR E ALCOOL
A IMPORTÂNCIA DO ACERVO DOCUMENTAL DE JOÃO HIGINO FERRAZ.
JOÃO HIGINO FERRAZ
DOCUMENTOS: NOTAS AUTO-BIOGRÁFICAS DE JOÃO HIGINO FERRAZ

CONCLUSÃO.

A DOCUMENTAÇÃO

NORMAS DE TRANSCRIÇÃO

COPIADORES DE CARTAS DE JOÃO HIGINO FERRAZ (1898-1937)

COPIADOR DE CARTAS [1898-1905


COPIADOR DE CARTAS [1905-1913
COPIADOR DE CARTAS. 1917-1919
COPIADOR DE CARTAS. 1919-1920
COPIADOR DE CARTAS. 1920-1923
COPIADOR DE CARTAS. 1924-1926
COPIADOR DE CARTAS. 1927-1929
COPIADOR DE CARTAS. 1929-1930
COPIADOR DE CARTAS. 1930-1937

CARTAS AVULSAS

ÍNDICE ANALÍTICO DE EQUIPAMENTOS

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INTRODUÇÃO

A publicação do presente volume enquadra-se na politica definida pelo CEHA de divulgar e salvaguardar o que de mais
significativo temos no nosso património histórico documental, com relevo para as investigações históricas presentes. A aposta
na temática açucareira levou-nos a descobrir um espólio privado muito precioso no entendimento da História do Açúcar no
século XX na Madeira. Graças ao trabalho meticuloso de João Higino Ferraz hoje é possível saber parte da realidade açucareira
da primeira metade do século XX. O conjunto documental assume desusado interesse por ser até ao momento o único conhecido
no panorama açucareiro mundial. Daí resultou o empenho na publicação do acervo, composto de cartas e livros de notas.
A leitura desta informação, pelo facto de assumir um carácter privado, tem o condão de nos revelar realidades que por vezes
a documentação oficial ou os jornais não nos permitem ver nem tão pouco induzir. A partir dela sabemos quais as actuações nos
bastidores da politica local e nacional no sentido de fazer vingar ou perpetuar certos interesses preferenciais. Por outro lado
podemos ainda mergulhar no dia à dia do engenho acompanhando as dificuldades da maquinaria, as análises laboratorias, em
suma a preocupação sempre presente de fazer com que do produto laborado se pudesse retirar o maior rendimento. Neste campo
a preocupação com a inovação tecnológica é uma constante.
A descoberta deste precioso espólio só se tornou possível graças ao empenho dos familiares de João Higino Ferraz,
nomeadamente Francisco Clode Ferraz, que souberam guardar as recordações de um ente querido. Por isso, à família o nosso
maior agradecimento pela disponibilidade dos originais e pelas possibilidades abertas quanto à sua divulgação e publicação em
livro. Esta será sem dúvida uma das mais justas homenagens que se poderá prestar a um madeirense, que dedicou toda a sua
vida a lutar por conseguir que a sua terra estivesse no seio das inovações tecnológicas, que permitiam um maior aproveitamento
dos parcos recursos que a ilha é capaz de fornecer. A nossa esperança é a de que, ao mesmo tempo, a publicação dos escritos
seja uma forma de reconhecimento por parte da sociedade do labor, craveira intelectual e científica de João Higino Ferraz, cujo
nome se mantem esquecido e deverá ser merecedor da homenagem e permanente lembrança por parte de todos nós.
A presente publicação enquadra-se dentro de uma das linhas de investigação prioritárias do CEHA, apoiada por outras
iniciativas como a criação da Associação Internacional de História e Civilização do Açúcar em 2002 e o projecto Atlântica: o
Açúcar e a Cultura nas ilhas Atlânticas [2003-2005], uma iniciativa no âmbito do projecto INTERREG IIIB, da União Europeia,
realizado em cooperação com diversas entidades das Canárias.

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O AÇÚCAR E A TECNOLOGIA NO ESPAÇO ATLÂNTICO

A cana-de-açúcar é de todas as plantas domesticadas pelo Homem aquela que teve mais implicações na História da
Humanidade. Até hoje são evidentes as transformações operadas na agricultura, técnica, química e siderurgia, por força da
cultura da cana sacarina, beterraba e da produção de açúcar, mel, aguardente, álcool e rum. O percurso multissecular, desde a
descoberta remota na Papua (Nova Guiné) há 12.000 anos, evidência esta realidade. A chegada ao Atlântico, no século XV,
provocou o maior fenómeno migratório, que foi a escravatura de milhões de africanos, e teve repercussões evidentes na cultura
literária, musical e lúdica. Foi também no Atlântico que a cultura atingiu a plena afirmação económica, assumindo uma posição
dominante no sistema de trocas.
O açúcar é, entre todos os produtos que acompanharam a expansão europeia, o que moldou, com maior relevo, a
mundividência quotidiana das novas sociedades e economias que, em muitos casos, se afirmaram como resultado dele. A cana
sacarina, pelas especificidades do cultivo, especialização e morosidade do processo de transformação em açúcar, implicou uma
vivência particular, assente num específico complexo sócio-cultural da vida e convivência humana.
A rota do açúcar, na transmigração do Mediterrâneo para o Atlântico, tem na Madeira a principal escala. Foi na ilha que a
planta se adaptou ao novo ecossistema e deu mostras da elevada qualidade e rendibilidade. Deste modo a quem quer que seja
que se abalance a uma descoberta dos canaviais e do açúcar, na mais vetusta origem no século XV, tem obrigatoriamente que
passar pela ilha. Foi aqui que se definiram os primeiros contornos desta realidade, que teve plena afirmação nas Antilhas e
Brasil. A cana-de-açúcar iniciou a expansão atlântica na Madeira.
A segunda metade do século XIX foi um dos momentos mais significativos da plena afirmação do açúcar no mercado
mundial. A vulgarização do produto fez multiplicar o consumo e obrigou ao aumento da produção e consequente alargamento
das áreas produtoras. Para isso foi necessário adequar o processo tecnológico às exigências do mercado, surgindo significativas
inovações. A Madeira, que nos séculos XV e XVI havia contribuído para uma revolução no processo de fabrico do açúcar, volta
a estar de novo na linha da frente das inovações industriais. Algumas inovações significativas do processo da moenda e fabrico
do açúcar ou aguardente tiveram a ilha como palco, por força do engenho e arte de alguns técnicos açucareiros, como foi o caso
de João Higino Ferraz. Por força do seu empenho a ilha e de forma especial o engenho em que trabalhava serviram de campo
de ensaio para a experimentação das novas técnicas usadas na produção de açúcar a partir da beterraba.

DAS ORIGENS À MADEIRA.

O Açúcar pode muito bem ser considerado uma conquista do mudo islâmico e budista1, tal como o pão e o vinho o são do
cristianismo. O factor religioso foi fundamental na afirmação e divulgação do produto, daqui resultará a cada vez maior
afirmação a partir dos primeiros séculos da nossa era. A cana sacarina (saccharum officinarum) terá sido domesticada há cerca
de 12.000 anos na Papua (Nova Guiné). Entre 1500 AC e 500 DC a cultura espalhou-se pela Polinésia e Melanésia, mas foi na
Índia que adquiriu maior importância, expandindo-se entre o século I e VI DC. Foi aí que os europeus tomaram contacto com

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o produto e cultura, começando o comércio e depois com o transplante da cultura para os vales dos rios Tigre e Eufrates. Aqui,
os árabes tiveram conhecimento da cultura e levaram-na consigo para o Egipto, Chipre, Sicília, Marrocos e Valência. Foi no
culminar da expansão árabe no Ocidente que a Madeira serviu de trampolim da cultura para o Atlântico, situação que foi o início
da fase mais importante da História do açúcar.
O açúcar é, entre todos os produtos que no Ocidente se atribuiu valor comercial, o que foi alvo de maiores inovações no seu
fabrico. Note-se que no caso do fabrico do vinho a tecnologia pouco ou nada mudou desde o tempo dos Romanos. Várias
condicionantes favoreceram a necessidade de permanente actualização, situação que se tornou mais clara no século XVIII com
a concorrência da beterraba. Mesmo assim ainda hoje persistem em alguns recantos do Mundo, na China, Índia ou Brasil, onde
a tecnologia da revolução industrial ainda não entrou.
O fabrico do açúcar está limitado pela situação e ciclo vegetativo da planta. A cana sacarina tem um período útil de vida em
que a percentagem de sacarose era mais elevada. A cana estava pronta para ser colhida e a partir daqui um dia que passasse era
uma perda para o produto. Acresce que a cana depois de cortada tem pouco mais de 48 horas para ser moída e cozida, pois caso
contrário começa a perder sacarose e inicia o processo de fermentação. Daqui resulta a necessidade de acelerar o processo de
fabrico do açúcar através de constantes inovações tecnológicas que cobrem o processo de corte, esmagamento e cozedura. A
isto junta-se o aumento da mão-de-obra, que se faz à custa de escravos africanos. A cana-de-açúcar não está na origem da
escravidão africana mas no processo de afirmação a partir da Madeira.
Enquanto a cultura se fazia em pequenas parcelas a maior parte das questões não se colocavam, mas quando se avançou para
uma produção em larga escala houve necessidade de encontrar soluções capazes de debelar a situação. A viragem aconteceu a
partir de meados do século XV na Madeira e deverá ter implicado mudanças radicais na tecnologia usada e na afirmação da
escravatura dos indígenas das Canárias e dos negros da Costa da Guiné. É por isso que se assinala a partir da Madeira
importantes inovações tecnológicas no sistema de moenda da cana com a generalização do sistema de cilindros.
A história tecnológica evidencia que a expansão europeia condicionou a divulgação de técnicas e permitiu a invenção de
novas que contribuíram para revolucionar a economia mundial. Os homens que circularam no espaço atlântico foram portadores
de uma cultura tecnológica que divulgaram nos quatro cantos e adaptaram às condições dos espaços de povoamento agrícola.
Aos madeirenses foi atribuída uma missão especial nos primórdios do processo.
Na Madeira, um dos aspectos mais evidentes, da revolução tecnológica iniciada no século XV prende-se com a capacidade
do europeu em adaptar as técnicas de transformação conhecidas a circunstâncias e exigências de culturas e produtos tão
exigentes como a cana e o açúcar. O tributo foi evidente. Ao vinho foi-se buscar a prensa, ao azeite e aos cereais a mó de pedra.
Por outro lado estamos perante uma permuta constante de processos tecnológicos e formas de aproveitamento das diversas
fontes de energia. A tracção animal, a força motriz do vento e da água foram usadas em simultâneo com os cereais e cana
sacarina. Por vezes a mesma estrutura assume uma dupla função. Sucedeu assim na Madeira, com o engenho da Ribeira Brava,
hoje Museu Etnográfico, onde a estrutura de aproveitamento da força motriz da água servia um engenho de cana e um moinho
de cereais2.
Até ao século XVIII torna-se difícil atribuir a paternidade das inovações que acontecem no fabrico do açúcar. Estamos
perante inventores anónimos que apenas se comprazem pelos benefícios económicos da sua capacidade inventiva. Mas, a partir
de então tudo parece ter mudado. O espírito nacionalista e independentista favoreceram a paternidade dos inventos. Os Estados
Unidos da América foram o principal promotor desta politica e valorização da capacidade inventiva. As patentes sucedem-se
em catadupa e os autores são heróis recebidos triunfalmente pela imprensa. O inventor sai do anonimato e afirma-se como um
herói na imprensa, como alimenta o ego através de memórias descritivas dos inventos3. É nos Estados Unidos da América que
encontramos o maior número de patentes, mas foi na Inglaterra e em França que surgiram as grandes fábricas de indústria
pesada, especializadas em equipamentos e na montagem dos engenhos de açúcar4. As exposições universais da segunda metade
da centúria oitocentista foram momentos privilegiados de exibição destes inventos.
As mudanças ocorridas a partir de finais do século XVIII, com a plena afirmação da máquina a vapor, conduziram a uma
transformação radical do complexo açucareiro que assume a dimensão espacial de uma fábrica, onde todas as operações se
executam em série. A revolução industrial legou-nos a fábrica, fez aparecer o laboratório, uma peça chave no fabrico do açúcar,
e obrigou a uma especialização dos técnicos envolvidos. O mestre de engenho dá lugar ao engenheiro químico. Paulatinamente
o processo de transformação da cana sacarina em açúcar retirou espaço à presença de mão-de-obra escrava, fazendo-a substituir
por emigrantes europeus, indianos e chineses. No inventário industrial da Madeira de 1907 é assinalado apenas um químico na
fábrica do Torreão, com o salário mais elevado de todos os técnicos. Mesmo superior aos engenheiros e cozedores, mantendo
as demais 43 fábricas uma estrutura funcional da época pré-industrial5.

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A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E O AÇÚCAR

Até ao advento do açúcar de beterraba em princípios do século XIX a tecnologia de moenda e fabrico do açúcar não sofreu
muitas modificações. Ao nível da moagem da cana houve necessidade de compatibilizar as estruturas com a expansão da área
e o volume de cana moída, avançando-se assim dos ancestrais sistemas para a adaptação dos cilindros. Entre os séculos XV e
XVII as inovações mais significativas ocorrem aqui. Os cilindros passam a dominar todos os sistemas, de tracção animal,
humana, vento e água, destronando o pilão, o almofariz e a mó. Do simples mecanismo de cilindros duplos horizontais, evolui-
se para os verticais, que no século XVII passam a ser três, o que permite uma maior capacidade de moenda e aproveitamento
do suco da cana. Com os dois cilindros poder-se-á aproveitar apenas 20% do suco da cana, enquanto com três até 35%. As
técnicas experimentadas na moenda vão no sentido de um maior aproveitamento do suco disponível no bagaço da cana. A
situação de Cuba na década de setenta do século XIX pode ser elucidativa da realidade6.
Uma maior capacidade na moenda implica maior disponibilidade de garapa a ser processada para se poder dispor do melado
ou do açúcar. Uma situação empurra a outra conduzindo a soluções cada vez mais avançadas. As dificuldades com a obtenção
de lenhas ou os elevados custos do transporte até ao local do engenho conduzem a soluções que paulatinamente vão sendo
adoptadas por todos. Primeiro reaproveita-se o bagaço da cana e depois através de um mecanismo de fornalha única consegue-
se alimentar as cinco caldeiras de cozimento. O sistema ficou conhecido por trem jamaicano, por, segundo alguns, ter tido aí
origem, mas na verdade temos informação do seu uso, não tão apurado na Madeira e Canárias, no século XVI. Em 1530 Giulio
Landi descreve o sistema de fabrico de açúcar com cinco caldeiras agrupadas.
Jamaica esteve na frente das inovações da tecnologia açucareira a partir da segunda metade do século XVIII. São os ingleses
que dão o passo definitivo para a mudança radical através da introdução da máquina a vapor. O primeiro engenho horizontal de
tipo moderno foi desenhado em 1754 por John Smeaton na Jamaica, recebendo a partir de 1770 o impulso da máquina a vapor.
A nova tecnologia, que se aperfeiçoou com o andar dos tempos, poderá acoplar até 18 cilindros em sistema de tambor, tornando
mais rápida e útil a moenda. Com cinco cilindros o aproveitamento do suco pode ir até 90%, enquanto que com os tambores de
18 cilindros quase se atinge a exaustão com 98%. Por outro lado nos engenhos tradicionais a média de moenda por 24 horas
não ultrapassava as 125 toneladas, enquanto que com o novo sistema a vapor começa por atingir mais de três mil toneladas de
cana.
Outro factor significativo da safra prendia-se com a velocidade a que o processo da moenda da cana deveria ocorrer, mais
uma vez no sentido de se retirar o maior rendimento da cana através da sacarose. A cana tem um momento ideal para ser moída
e depois de cortada os prazos para a moenda são curtos, caso queira evitar-se a fermentação, que é sinónimo de perda de
sacarose7. Nos avanços tecnológicos tem-se em conta esta corrida contra o tempo, criando-se mecanismos capazes de moer cana
com maior rapidez8.
Até aos inícios do século XIX o processo poderia durar de 50 a 60 dias, mas as aportações tecnológicas, conduziram a que
o mesmo se passasse a fazer em apenas um mês em 1830 e apenas em 16 horas em 1860, através do novo sistema de
centrifugação. As primeiras mudanças ocorrem ao nível do processo de clarificação. Em 1805 Guillon, refinador do açúcar em
New Orleans preconiza o uso do carvão para purga do xarope, em 1812 Edward Charles Howard constrói a primeira caldeira
de vacuum, conhecida como “howard saccharine evaporator”, que veio revolucionar o sistema de fabrico do açúcar. Três anos
depois surge em Inglaterra o sistema de filtros de Taylor. O evaporador de múltiplo efeito foi inventado em 1830 por Norbert
Rillius [1806-1894] de New Orleans, sendo usado nos primeiros engenhos desde 18349. Deste modo torna-se mais fácil a
retirada de cerca de 85% de água que existe no suco da cana e um maior aproveitamento do açúcar. As novidades na clarificação
e cristalização ocorrem num segundo momento. Assim, em 1844 o alemão Schottler aplicou pela primeira vez a força centrífuga
na separação do melaço do açúcar branco, mas foi Soyrig quem construiu em 1849 a primeira máquina de centrifugação, que
abriu o caminho para o fabrico do primeiro açúcar granulado, em 1859. Este sistema vinha sendo utilizado desde 1843 na
indústria têxtil. Os equipamentos contribuíram para acelerar o processo de purga do açúcar permitindo que se passasse do
moroso processo de quase dois meses para apenas 16 horas e hoje em apenas alguns segundos.
A segunda metade do século XIX foi o momento da aposta definitiva na engenharia açucareira, contribuindo para
importantes inovações10. O mercado ocidental foi inundado de açúcar de cana e beterraba. O desenvolvimento da indústria de
construção de equipamentos para o fabrico de açúcar, seja de cana ou de beterraba, aconteceu em países onde esta assumia uma
posição significativa na economia. Deste modo a França e a Inglaterra assumiram a posição pioneira no desenvolvimento da
tecnologia açúcareira. Os Franceses detinham importantes colónias açucareiras nas Antilhas, enquanto os Alemães apostavam
forte em Java. Os ingleses surgem por força das colonias nas Antilhas e Índia e os Estados Unidos da América com New Orleans

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e, depois o Havai. Cuba foi um dos espaços açucareiros onde mais se inovou em termos tecnológicos. As primeiras décadas do
século XIX foram de plena afirmação da ilha, que se transformou em modelo para a indústria açucareira.
Em França tudo começou com o químico Charles Derosne (1779-1846) que montou em 1812 uma fábrica de construção de
aparelhos de destilação continua. Nesta empresa passou a trabalhar em 1824 J. F. Cail na qualidade de operário de carvão, que
em 4 de Março de 1836 passa à condição de associado. A sociedade Derosne et Cail11 manteve-se até 1850, altura em que passou
a chamar-se J. F. Cail et Cie, que em 1861 passou a cooperar com a nova Cie Fives-Lille, especializada no fabrico de
equipamentos para fábricas de açúcar e caminhos-de-ferro12. Os equipamentos, saídos da empresa Cail, chegaram às colónias
holandesas, espanholas, inglesas e francesas, México, Rússia, Áustria, Holanda, Bélgica e Egipto. À indústria francesa
juntaram-se outros complexos industriais na Europa: Inglaterra (Glasgow, Birmingham, Nottingham, London, Manchester,
Derby), Holanda (Breda, Roterdão, Schiedam, Ultrecht, Delft, Hengelo, Amsterdam), Estados Unidos da América (Oil City,
Ohio, Denver, New Jersey), Alemanha (Magdeburgo, Zweibruecken, Halle, Dusseldorf, Sangerhausen, Ratingen, Halle),
Bélgica (Bruxelas, Tirlemont). A Inglaterra foi desde meados do século XVII um dos mais importantes centros de refinação de
açúcar na Europa. As refinarias proliferam nas cidades de Bristol, Essex, Greenock, Lancaster, Liverpool e Southampton13. Isto
justifica o desenvolvimento tecnológico. Aqui, merece destaque a iniciativa de Mirless Watson14.
A abertura às inovações tecnológicas, como forma de tornar concorrencial o produto, acarreta algumas consequências para
a indústria ao nível nacional. Os investimentos são vultuosos e, por isso mesmo só se tornam possíveis mediante incentivos do
Estado. A inovação e recuperação da capacidade concorrencial só se tornaram possível à custa da concentração. Tanto em Cuba
como no Brasil a década de oitenta foi marcada pelos grandes engenhos centrais15.
A concorrência do açúcar é cada vez mais evidente obrigando as autoridades nacionais a intervir no sentido da defesa das
suas culturas e indústrias. A política proteccionista iniciada pelos Estados Unidos da América alastrou a todo o mundo
açucareiro16. Se o século XIX foi o momento da aposta na tecnologia, a centúria seguinte será marcada pela política açucareira.
Ao nível internacional reúne-se uma convenção em Bruxelas, em 1902 e 1929, no sentido de limitar o apoio financeiro do
estado e medidas de defesa e proteccionistas dos diversos estados produtores de cana e açúcar. Entretanto em 1937 a Sugar
Organization procura estabilizar o mercado através do estabelecimento de cotas que acabaram em 1977. Desde a década de
setenta persiste o enfrentamento entre o comércio livre e a politica proteccionista dos estados.

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A QUESTÃO HINTON

Na segunda metade do século XIX, a crise da produção do vinho fez com que a cultura se apresentasse como a resposta
adequada à perda de importância da vinha, assumindo o papel de “cultura rica” na agricultura madeirense. A intervenção deu
lugar ao chamado “proteccionismo sacarino” que desembocou naquilo que ficou depois conhecido como a “questão Hinton”.
A conturbada situação política de finais do século XIX e princípios do século XX favoreceu o debate político em torno da
questão sacarina que o Estado Novo apaziguou. As condições do mercado mundial obrigavam à intervenção das autoridades,
pois caso contrário a produção madeirense estava condenada, com inevitável prejuízo para os agricultores. As dificuldades
económicas tornavam a iniciativa do Estado cada vez mais útil e necessária, caso se pretende-se atalhar a constante tendência
à emigração do mundo rural.
A produção mundial de açúcar, a partir da segunda metade do século XIX, passou a estar sob um controlo apertado das
autoridades e grupos económicos. O consumo, que se generalizou a todos os grupos sociais nesta época, não foi suficiente para
atender à elevada oferta do produto. A tecnologia permitiu um melhor aproveitamento da sacarose disponível na cana, ao mesmo
tempo que a área de cultivo se alargou a novos espaços, contando ainda com a concorrência feroz da beterraba europeia. Em
finais da centúria os preços do açúcar desceram a níveis nunca atingidos. Para isso terá contribuído a política de subsídios à
cultura e produção de açúcar de beterraba por alguns países europeus, como a França e Alemanha. As diversas convenções
internacionais nunca conseguiram frenar a feroz e desigual concorrência do mercado do açúcar. Atente-se que a conferência de
Bruxelas de 1901-02 ao conseguir estabelecer a supressão dos subsídios à produção foi uma medida importante para a retoma
dos preços.
Portugal não ficou alheio à política proteccionista dos governos, sendo a economia dos séculos XIX e XX alimentada por
fortes medidas de protecção e favorecimento face à concorrência estrangeira. Ficou célebre a politica de proteccionismo
cerealífero a partir de 1889. O regime, implantado em 1926, tinha bem entranhado a cultura do proteccionismo.
Os inícios do segundo momento da cultura açucareira na ilha foram acompanhados de medidas favorecedoras. Assim, em

15
1855 e 1858 oneram-se os direitos de importação de mel, melado e melaço, enquanto em 1870, 1876, 1881 e 1886 se favoreciam
a entrada do açúcar madeirense no continente e Açores através da redução ou isenção dos direitos de entrada.
Atendendo às dificuldades criadas com a crise da lavoura açucareira, provocada pelo ataque do fungo conyothurium
melasporum, pelo que o Governo interveio no sentido da preservação. A aposta era fazer da cultura da cana-de-açúcar um
elemento revitalizador da agricultura madeirense. Em 1888 avançou-se decisivamente na protecção e replantação de novas
variedades, resistentes às doenças e mais produtivas, criando-se uma estação experimental dedicada ao estudo da cultura.
Tivemos outro decreto em 1895, conhecido como “regímen saccharino da Madeira”, que regulamentou o processo de laboração
da cana e o fabrico de aguardente. Assim, as fábricas matriculadas obrigavam-se à aquisição de toda a cana produzida de acordo
com o preço estabelecido. Em compensação tinham redução de 50% nos direitos de importação do melaço para fabrico de álcool
usado na fortificação dos vinhos. Seguiram-se ao logo dos tempos outros decretos: 1903, 1904, 1909, 191117.
Em 1903, novo decreto revela as dificuldades do cultivo da cana e os custos elevados que acarreta para justificar ao aumento
dos preços mínimos. A compra de toda a cana é conseguida mediante compensações do Estado. As fábricas matriculadas
estavam obrigadas a comprar todos os saldos da aguardente manifestados até 31 de Dezembro, de forma a evitar a concorrência
com o álcool feito de melaço importado. Acontece que as fábricas de açúcar e álcool deixaram de comprar os saldos aos
fabricantes de aguardente, dando uma compensação de 100 réis ao galão, o que acabou por criar uma situação insustentável.
O decreto de 11 de Março de 1911 pretendeu estabelecer um travão no consumo excessivo de aguardente, que se havia
transformado num prejuízo para a saúde pública. Abrindo a porta para uma solução drástica, estabelecida pelo decreto de 1919.
A aposta estava na reconversão dos canaviais pela vinha de castas europeias e no controlo da produção e consumo de
aguardente. Neste caso seria determinante a medida delimitadora da produção anual para 20.000 litros ano e o encerramento
em 1930 de todas as fábricas de aguardente que não tivessem sede nos concelhos da costa Norte. Mas o decreto de 14 de Abril
de 1924 aumenta o limite da produção de aguardente para 500.000 litros. O que obrigou à emenda de 1927, com o encerramento
de todas as fábricas de aguardente do sul, ficando a Junta Geral com o encargo de venda da aguardente.
O Dr. Oliveira Salazar, no preâmbulo do decreto de 1928 define de forma clara os efeitos do anterior decreto, responsável
pelo monopólio da compra de toda a cana do Sul, do fabrico de açúcar, do álcool para vinhos ou desdobramento, da importação
de melaço e açúcar em bruto das províncias ultramarinas, concluindo que “a agricultura, toda a economia da Madeira, a
própria administração pública ficariam mais do que nunca na dependência das fábricas de açúcar e de álcool.”18. Em face
disto surgiram diversos decretos no sentido de diminuir o consumo de álcool, protecção da cultura, punição dos abusos e defesa
intransigente dos interesses públicos. O novo regime sacarino assentava nos seguintes aspectos:

1.Um regime fiscal que ia ao encontro da defesa da saúde pública e dos interesses da economia local. Assim a importação
de açúcar está sujeita ao pagamento de direitos, ao mesmo tempo que se proíbe a entrada de bebidas alcoólicas.
2. A cultura da cana ficava limitada à necessária para satisfazer as necessidades da ilha em açúcar, aguardente, álcool e mel,
mantendo-se o preço fixo e a obrigatoriedade da compra pelas fábricas.
3. As fábricas de açúcar e álcool ficam limitadas ao concelho do Funchal e todo o produto laborado deverá ser da produção
regional. O álcool com 40º cartier era vendido na totalidade à alfândega, que depois procedia à revenda.
4. O fabrico de aguardente, desde 1938 em regime de concentração, em três fábricas, seria entregue à Delegação da Junta
Nacional do Vinho da Madeira para ser comercializado.

O regime de protecção com preços tabelados de compra da cana deixou de existir a partir de 1920. A medida, não obstante
garantir ao agricultor o escoamento da totalidade da produção, criava uma situação de subordinação ao engenho do Torreão.
Antes de 1895 o lavrador tinha liberdade de mandar moer por sua conta a cana e fabricar açúcar que depois vendia, mas com
as medidas proteccionistas passou a estar obrigado à venda da produção às fábricas matriculadas.
Os resultados da política começaram no imediato a fazer-se sentir com o incremento da área de cana. A ilha, que em 1886
deixara de exportar açúcarpassando mesmo a importá-lo, entrou no novo século satisfazendo as suas necessidades de açúcar e
álcool e criando um excedente para exportação. Em 1907 saia o primeiro açúcar da ilha para o continente, usufruindo de
privilégios fiscais.
Acontece que dos engenhos existentes na ilha apenas se matricularam as fábricas de W. Hinton & Sons e de José Júlio de
Lemos. Isto iria dar azo a acesa polémica, quando em 1903 surgiu novo decreto que apenas as favoreceu. No ano imediato novo
decreto consolida a situação, estabelecendo um contrato inalterável até 1919, o que permitiu algumas inovações tecnológicas.
Entretanto em 1915 uma representação de cerca de 4000 proprietários e agricultores reclamava a favor da conservação do

16
regímen sacarino. Isto justificava-se pela situação em que se encontrava a ilha: “A viticultura não pode readquirir a sua antiga
prosperidade, pela decadencia dos preços dos vinhos, suja exportação crescia pouquíssimo antes da guerra. A generalização
das árvores de fructo ricas levaria longos annos e é praticamente impossível por falta de capitães e de outros elementos e
circumstancias que seriam essenciaes a uma transformação cultural dessa natureza.
As plantações saccharinas, que representam grandes capitalisações e teem um alto valor, devem continuar necessariamente
garantidas com as condições actuaes de existência”.19

Em 1927 outro grupo de 3.535 proprietários, agricultores e consumidores reclamavam a preservação do decreto nº.14.168,
considerado medida salutar face aos anteriores diplomas de 1911 e 1919 que estabeleciam medidas restritivas ao fabrico de
aguardente.20 Procurava-se travar o consumo exagerado de aguardente na Madeira, que por isso havia recebido o epíteto de ilha
da aguardente.

Transporte da cana ao engenho e Festa do fim da safra. Fotografia Vicentes, Museu de Photographia Vicentes

Durante a República e no Estado Novo a cultura da cana manteve-se lado a lado com a da vinha como uma preocupação
permanente. Em 1935, numa carta que o Dr. Oliveira Salazar escreveu ao Presidente da Junta Geral, o Dr. João Abel de Freitas,
é evidente a insistência na defesa da cultura. “O regime a executar deve ser o decretado em maio do ano findo. Foram feitas
muitas reclamações que examinei com cuidado; apenas duas me pareceram susceptíveis de deferimento e não ainda assim
como era pedido: 1) como a Alfândega não poude fazer as comunicações a que a lei se referia sôbre a graduação da cana em
certos locais, tenho trabalhado um decreto a publicar imediatamente em que se prorroga por mais um ano o regime transitório
estabelecido para 34-35 no citado decreto; 2) no mesmo decreto se permite a renovação ou substituição dos canaviais até 60%
dos pés substituídos e da área ocupada. Estão no relatório do decreto do ano fíndo as razões porque se não permite a

17
substituição integral. Se o consumo do açúcar não aumentar temos de baixar de 15% a 20% a produção de cana, e ainda é
preciso que esta seja tam rica como é êste ano, por causa da escassês das chuvas; 3) Os pedidos ou pretenções ou calculos dos
industriais de aguardente não podem ser tomados em consideração. É preciso convencê-los desta verdade: fabricam um artigo
que se não vende. Não é caso para qualquer indemnização por parte do Estado, nem para se consentir outra vez o
envenenamento dessa gente, como era de antes”.21
Passados cinco anos o então Governador Civil José Nosolini evindencia, mais uma vez, o carácter artificial da economia
açucareira. ”Esta produção foi-se mantendo, por um lado, mercê da exportação de assucar madeirense para o continente; por
outro lado mercê do desvio de fabrico de assucar para o de aguardente.” Deste modo a política do Governo de controlo da
produção de cana estava certa, uma vez que ”a cana sacarina a não ser em cultura muito restricta é perniciosa (…) Mas cana
de assucar, vinhos, bordados serão por muito tempo intransponíveis montanhas de dificuldades para a acção governativa.”22

Engenho do Hinton.2002

Dentro do contexto da política proteccionista merece lugar de relevo o debate em torno da “questão Hinton”, que animou o
meio político entre finais do século XIX e princípios do seguinte. Foi sem dúvida o problema que mais apaixonou a opinião
pública, nas vésperas e durante a República. Publicaram-se inúmeros folhetos, os jornais encheram-se de opiniões contra e a
favor23. O momento mais importante foi a polémica que em 1910 se ateou no Parlamento. Cesário Nunes24 documenta a situação
de forma lapidar: “Em Portugal nenhuma questão económica atingiu tão alta preponderância e trouxe então grandes
embaraços legislativos às entidades governativas como o problema sacarino da Madeira. “
Tudo começou em 23 de Março de 1879 com a inauguração da Companhia Fabril do Açúcar Madeirense. Era uma fábrica
de destilação de aguardente e de fabrico de açúcar sita à Ribeira de S. João. Demarcou-se das demais com o recurso a tecnologia
francesa, usufruindo dos inventos patenteados em 1875 pelo Visconde de Canavial. O cónego Feliciano João Teixeira25, sócio
do empreendimento no discurso de inauguração afirma ser este um “grandioso monumento, que abre uma época verdadeira-

18
mente nova e grande na História da indústria fabril madeirense”. Isto foi apenas o princípio de um conflito industrial, onde
imperou a lei do mais forte. Tal como o afirmava em 1879, no momento do encerramento, José Marciliano da Silveira26 “ a
fábrica de são João foi cimentada com o veneno da maldade; era o seu fim dar cabo de todas as que existiam...”.

H. Manoury (engenheiro químico), L. Naudet (engenheiro químico) e João Higino Ferraz (director
Técnico do Torreão) e o chefe de bateria. 1907. Foto particular

A polémica ateou-se com o plágio por parte da família Hinton, da invenção do Visconde Canavial27, que havia patenteado
em 1870 um invento que consistia em lançar água sobre o bagaço, o que propiciava um maior aproveitamento do suco da cana.
Constava da patente o uso exclusivo pela fábrica de S. João, mas o engenho do Hinton cedo se apressou a copiar o sistema.
Com isso o lesado moveu em 1884 uma acção civil contra o contrafactor. A família Hinton ficou para a História como a autora
da inovação28, que como sabemos foi comum em vários espaços açucareiros.
Em 1902 a fábrica Hinton experimentou um novo sistema para o fabrico de açúcar por intervenção de León Naudet, que
ficou conhecido como sistema Hinton-Naudet, que consistia em submeter o bagaço a uma circulação forçada num aparelho de
difusão, conseguindo-se um ganho de mais 17% e a maior pureza da guarapa, evitando as defecadoras29. Esta intervenção
pioneira é sublinhada por inúmera bibliografia da especialidade30.
O engenheiro M. Naudet esteve no Torreão nos dias 21 e 22 de Junho de 1907 combinando com João Higino Ferraz a
instalação do sistema de difusão, o triple-effet e a caldeira “freitag”(cuite). Todavia, a montagem do novo maquinismo começou

19
apenas em meados de Setembro, após a conclusão da safra. Até 1909 o técnico do Hinton manteve correspondência assídua no
sentido de esclarecer pormenores sobre a instalação dos diversos mecanismos. Na sequência disto João Higino Ferraz deslocou-
se a Paris para novo encontro com Naudet e visita a fábricas de açúcar de beterraba31.
A viragem da centúria implicou com a situação sacarina da ilha. A conjuntura económica mundial pôs em causa as condições
de privilégio conseguidas com a entrada do melaço, por força do aumento do preço e das diferenças cambiais da moeda. A “lei
que tantos benefícios trouxe à Madeira”32, aguardava por renovação. A fábrica Hinton, para poder afirmar-se vai montar uma
estratégia de aliciamento de políticos e uma campanha para limpar a imagem junto do público, através de textos e entrevistas
publicados nos principais jornais do Funchal, como o Diário de Noticias, Diário da Madeira e Diário do Comércio.
Paulatinamente estabelece-se uma teia de interesses que integra políticos locais e continentais, funcionários alfandegários e
mesmo o próprio Governador Civil. Nesta estratégia a função de João Higino Ferraz foi fundamental, com a de Harry Hinton,
em permanente rodopio entre o Funchal e Lisboa. A família Hinton conseguiu singrar na indústria açucareira a muito custo. A
conjuntura política conturbada condicionou a capacidade de persuasão. A visita de El Rei D. Carlos à ilha em 1901 poderá ter
sido um momento crucial33.
As medidas, que favoreciam a entrada de melaço, estabelecidas pela lei de 1895, associadas ao decreto de 1903,
determinavam a forma de matrícula das fábricas abriam as portas à concentração do sector. As condições eram de tal modo
lesivas que só duas - Hinton e José Júlio Lemos - o conseguiram fazer. As cerca de meia centena de fábricas que existiam na
ilha ficaram numa situação periclitante. O decreto de 1897 estabelecia normas de tal modo rígidas sobre a forma de construção
de alambiques e fábricas de destilação e rectificação do álcool que apenas alguns podiam cumprir34.
Em 1901 João Higino Ferraz lança o primeiro grito de alerta de crise para o sector em carta ao Visconde de Idanha. Aí dá-
se conta da perda dos privilégios e contrapartidas da importação do melaço da lei de 1895 e, por consequência a impossibilidade
de manter os preços da cana pagos ao agricultor. A solução estava na diminuição do imposto de importação do melaço:”…tenho
a certeza que a coadjuvação de meu bom amigo nos será muito útil, e o seu nome não será esquecidon’este bocadinho da
pátria.”35 Noutra carta de 8 de Outubro seguem novos artigos para a imprensa e importantes recomendações no sentido da
defesa intransigente do decreto ora publicado: “...exerça toda a vigilância para não apparecer cousa allguma contra as
providencias em qualquer jornal. Se for precisa qualquer despeza para isso é faze-la.(…) O decreto deve deixar bem toda a
gente, mas no caso de haver alguem que por inveja, ou qualquer outro motivo queira levantar difficuldades na imprensa ou
fora della, combine com o Romano a melhor maneira practica, directa ou indirecta de os calar até a minha chegada”36.
Passados dois anos a casa Hinton apostava numa campanha na imprensa local, servindo-se do Diário de Noticias e Jornal
do Comércio.37 Harry Hinton, em carta de 18 de Setembro anunciou a publicação do novo decreto e recomendou a J. Higino

Pessoal técnico da fábrica do Torreão em 24 junho 1908

20
Ferraz os textos e o telegrama ao Presidente do Concelho, que enviou também aos jornais38. Na carta é evidente uma certa
familiaridade com o Ministro da Fazenda e a possibilidade de ter sido necessário mover algumas influências. A parte final da
carta é compremetedora: “Falla com o Lemos e diga-lhe que é conveniente não abaixar por hora o preço do alcool, sem que
39
eu lá chegue. Tem havido despezas grandes com o decreto, e tenho certos compromissos em que elle também tem de entrar.
No intervalo publicou-se a 18 de 3 Julho de 1903 a lei sobre o fabrico dos açúcares açorianos e teme-se maiores prejuízos,
pelo que “é bom enquanto está ahi[Lisboa] ver bem essa lei não nos vá prejudicar.”40 A campanha na imprensa havia dado fruto,
mas nada estava ainda garantido e outro percalço com a vistoria das autoridades à fábrica, implicava todo o cuidado, “porque
mudando o governo a lei que regula pode-nos ser bastante prejudicial quanto ao pagamento da contribuição industrial.”41 Por
outro lado temia-se a matrícula de novas fábricas. A situação estava tensa entre os vários industriais42.
A lei de 24 de Novembro de 1904 dava a machadada final ao estabelecer a referida matrícula por 15 anos. Entretanto, caiu
a monarquia e sucedeu a República, que parecia querer fazer ouvidos moucos às regalias conquistadas no anterior regime. Mas
rapidamente tudo se recompôs. As dificuldades do comércio do vinho repercutiam-se no sector com a diminuição do consumo
de álcool, a principal contrapartida das fábricas matriculadas. Em Outubro de 1905 Batalha Reis visitou a fábrica Hinton e teceu
os melhores elogios ao álcool aí produzido, mas insistiu na necessidade de introdução dos vinhos de Portugal, o que não agradou
aos planos dos anfitriões.43
A primeira década da centúria foi fundamental para a consolidação do engenho do torreão. Entre 1898 e 1907 tivemos
investimentos avultados na modernização do engenho do Torreão que obrigaram uma investida junto do poder central no
sentido de garantir as regalias para poder-se rentabilizar o investimento44. Em Janeiro de 1907 Harry Hinton estava em Lisboa
a jogar a última cartada: “ ou João Franco attende ao seu pedido justo e que interessa bastante e a toda a Madeira agricula,
ou não attende, e nesse caso não posso prever quais as cosnequências desastrosas de sua maneira de ver.”45

A questão Hinton e a imprensa humorística.

21
A República não terá sido muito favorável aos objectivos da família Hinton. O ambiente parece que era de tensão, pois
segundo J. Higino Ferraz: “o senhor Hinton disse-me que em nada pode influir em Lisboa junto do governo sobre questões
d’assucar, porque o nome Hinton é sempre visto com maus olhos.”46. Todavia, pelos decretos de 1911 e 1913 conseguiu-se
segurar o monopólio do fabrico do açúcar e regalias na importação de açúcar das colónias. Em 1914 reclamava uma
indemnização ao Estado pelo facto de ter sido aumentando o açúcar bonificado das colónias que entravam no continente. A
resposta veio por parte dos competidores47.
Em 1917 parece que os ânimos haviam serenado etudo estava bem encaminhado, apostando-se numa nova fábrica. A
demanda de alccol prenunciava um período de prosperidade48. A prorrogação do contrato nas mesmas condições era de toda a
conveniência. Apenas os distúrbios políticos poderiam fazer perigar a situação de privilégio49. Estava-se em período de revisão
da lei e referia-se até a possibilidade de vinda ao Funchal do Ministro da Agricultura, situação considerada má para o Hinton,
pis como refere j. H. Ferraz:”Não tenho confiança alguma nestes nossos amigos de cá, e temos como sabe, fartura de
inimigos.”50. A 31 de Dezembro de 1918 acabava a situação de favorecimento estabelecida por quinze anos. Entretanto só a 9
de Abril do ano seguinte o Governo interveio, tornando livre a “faculdade de laboração da cana sacarina com destino à
produção de açúcar”. O decreto de 2 de Maio define uma nova realidade. Assim, para além da liberalização da produção de
açúcar e da isenção de direitos alfandegários de maquinaria para novos ou reforma dos engenhos existentes, estabeleceu-se uma
nova política agrícola promovendo-se a substituição dos canaviais pela vinha.
A situação não fez perigar a posição hegemónica da Casa Hinton que se mantinha confortavelmente como o único produtor
de açúcar. Com o Estado Novo as medidas resultantes dos decretos nº. 14.168, 15.429, 15.831, 16.083 e 16.084 (1928), embora
restritivas dos antigos privilégios, favoreceram o Hinton quando impediram a instalação de novas fábricas e determinam o fecho
de algumas em funcionamento. O ano de 1928 foi fulcral para a afirmação da estratégia hegemónica.
Desde 1927 que se mediam forças entre os chamados “aguardenteiros” e a casa Hinton51. Harry Hinton em Lisboa
recomenda nova campanha na imprensa, valorizando as iniciativas modernizadoras empreendidas pelo engenho52. A entrevista

Engenho do Hinton

22
de João Higino Ferraz ao Diário da Madeira de Reis
Gomes enquadra-se na estratégia. Tal como refere o
entrevistado em carta a H. Hinton53 “o meu principal fim
foi provar que somente Torreão pode moer toda a cana
mesmo no maximo em 3 mezes. (…) Falei sobre as
modificações importantes na fabrica do Torreão, mas
sem dizer que era para augmentar a capacidade, mas
somente para abreviar o trabalho e produzir melhor, se
falassemos em augmento de capacidade, os nossos
inimigos teriam um pé para dizer que o Torreão não
estava habilitado a fazer a laboração do máximo o que
só agora é que queria estar nessas condições, o que não
é verdade segundo verá pela entrevista.”
Entretanto o Governador Civil mantem-se atento à
disputa, ouvindo os interesses dos “aguardenteiros”,
procurando reunir apoios, como o de Manuel Pestana
Reis, no sentido de apresentar uma proposta de mudança
da lei54. A isto juntava-se a campanha de Henrique
Figueira da Silva55. Os adeptos da causa Hinton vão
diminuindo, mantendo-se apenas António Pinto
Correia56. Apenas o decreto 14.168 trouxe algum alívio,
pois que tudo “ficará…mais seguro”57, mas continuava
ainda a ser considerada como a “maldita nova lei
saccarina”.58
Harry Hinton, em 1929 sente-se cansando e
aborrecido com todas as contrariedades que lhe
acarretam o engenho, fruto da enfrentamento constante
com interesses adversos na ilha dos demais industriais e
as mudanças da conjuntura politica. A intenção parecia
ser a venda da fábrica, mas certamente a pressão do
Quirino de Jesus [1865-1935]
amigo João Higino Ferraz contribuiu para mudar de
opinião. A carta que escreveu a Mrs. Lefebvre, em
França, é bastante expresiva: “il est riche et peut repouser…et moi…”59
Quirino de Jesus [1865-1935], que em momentos anteriores fora um poderoso aliado na estratégia do Hinton surge em finais
da década de vinte como um traidor “que não tem outro fim senão vingar-se do Sr. Hinton”60. Algo se passara que nos escapa,
pois em principios do século havia sido um aliado destacado61. O causídico defendera os interesses da empresa, mas rapidamente
mudou de opinião, como se constata da correspondência de João Higino Ferraz e do que nos diz o Padre Fernando Augusto da
Silva: De acérrimo e entusiático defensor do regime sacarino, como advogado e publicista, do regime sacarino, tornou-se a
breve trecho, com igual ardor e convicção, um inimigo declarado do mesmo regime.62
Em 1969 A família Hinton informou o governo da intenção de encerrar a fábrica, acabando com o fabrico de álcool e açúcar
que não eram rentáveis. Perante isto o governo, através da Direcção-Geral das Alfândegas comprometeu-se a compensar as
perdas. O relatório sobre a situação em 1972 aponta o facto de a indústria se encontrar num beco sem saída, pois a “substituição
não pode justificar-se dada a ausência de uma rentabilidade previsível no fabrico do açúcar.”63 E conclui-se: “É
excepcionalmente raro, que nos anos 70 uma fábrica de açúcar com uma capacidade de produção inferior a 20.000 toneladas
anuais, tenha possibilidade de ser razoavelmente rentável e muitos poucos investidores de novos projectos de fábrica
considerarão hoje em dia o estabelecimento de fábricas com uma capacidade inferior a 50.000 toneladas.”64

23
Fio para condução da cana do Calhau ao engenho. Ribeira de Santa Luzia
Foto Vicentes, Museu de Photografia Vicentes

24
Frota de albions para transporte da cana ao engenho do Hinton

O HINTON E INDÚSTRIA DO AÇÚCAR E DO ALCOOL

O engenho do Hinton, consolidada a posição dominadora do mercado local, manteve-se como a referência da cultura da
cana-de-açúcar até que em 1985 agonizou em definitivo o império do açúcar do Hinton. Para alguns tudo foi construído com
pés de barro, sustentado por favores políticos, mantendo-se a hegemonia à custa da exploração dos lavradores de cana65.
Durante todo o século XX a fábrica Hinton foi uma referência da cidade e da vida de quase todos os agricultores madeirenses
que apostaram na cultura da cana como meio para angariar uns magros tostões. A posição de favorecimento que mereceu, desde
a Monarquia ao Estado Novo, alimentou inimizades, debates na imprensa e a reprovação de alguns sectores da sociedade.
A família Hinton estabeleceu uma estratégia de domínio da industria açucareira e do álcool, através de uma aposta
permanente na inovação tecnológica capaz de esmagar todos os concorrentes, cujos engenhos a pouco a pouco foram sendo
adquiridos e desmantelados. O século XX foi o momento da plena afirmação. Em 1898 montaram-se dois difusores, seguindo-
se o centrifugador e as turbinas erm 1901, para no ano seguinte se montarem quatro difusores. Em 1904 e 1905 apostou-se no
sistema Naudet. Para os anos de 1906 e 1907 mudou-se o aparelho de triple effet, a caldeira de vácuo e o melaxeurs. De acordo
com dados de 1907 o engenho moía cerca de 1/3 da cana da ilha, ficando a restante para os restantes 47 engenhos. Na altura
empregava 230 trabalhadores tendo ao serviço 10 geradores a vapor Babcook & Wilcox, tendo a maior potência em uso na
ilha. Apenas o de José Júlio de Lemos se podia aproximar, mas a longa distância66. A capacidade de laboração da fábrica
aumentou nos anos seguintes fruto dos favores estabelecidos. Tivemos novas montagens de equipamentos em 1910. Passados
sete anos um incêndio obrigou a novo equipamento de destilação, que em 1924 necessitava ser aumentado para corresponder à
demanda do produto.

25
Harry Hinton não satisfeito com o aumento da unidade industrial actuou no sentido da neutralização das demais através da
compra ou arrendamento. Primeiro adquiriu a antiga fábrica de Severiano Ferraz na Ponte Nova e de outras adquiriu os
mecanismos mais importantes. No caso da de José Júlio de Lemos estabeleceu um contrato de arrendamento de 25 contos
anuais, que perdurou até 1919. A necessidade de afirmação levou-o a apostar na renovação tecnológica do engenho do Torreão,
sob a superintendência de João Higino Ferraz. As reformas iniciaram-se em Dezembro de 1900 com a montagem de cilindros,
peças centrífugas e filtros mecânicos de Manoury67. Para os anos imediatos reservou-se a montagem das turbinas Weston68, dos
difusores69, da caldeira de vapor70. A sociedade que estabeleceu em 1905 com W. R. Bardsley deve ter favorecido a arrancada
definitiva para a hegemonia tecnológica.
O aperfeiçoamento tecnológico favoreceu a posição concorrencial da fábrica em relação às demais. Os percalços, como a
explosão de uma caldeira em 1928, não travaram o avanço. Em 1929, estando já em pleno funcionamento o sistema Hinton-
Naudet, a diferença era abismal. Assim, enquanto a Companhia Nova só podia laborar 100 toneladas de cana em 24 horas a
fábrica do torreão atingia as 500 toneladas, para conseguir-se em 1920 as 608 toneladas. As medidas de 1939, que conduziram
ao encerramento de 48 fábricas de aguardente em toda a ilha, favoreceram a tendência monopolística da safra da cana sacarina.
Alguns dados da laboração do engenho revelam a dominação a partir de 1907.

PRODUÇÃO E MOENDA DA CANA NA MADEIRA(em toneladas)


Ano.......Fábrica Torreão........Total
1903 ................7.570
1904 ................7.153 ...........30.000
1905 ................8.169 ...........43.418
1906 ..............13.450 ...........36.000
1907 ..............21.855 ...........36.000
1908 ..............24.168 ...........30.000
1909 ..............32.582
1910 ..............35.633 ...........75.000
1911 ..............39.970
1912 ..............48.359 ...........71.266
1913 ..............50.860 ...........68.999
1914 ..............54.520 ...........69.065
1915 ..............57.000 ...........67.464
1916 ..............51.500
1917 ..............35.300
1918 ..............26.400

Ao mesmo tempo o fabrico de açúcar foi em crescendo de qualidade, como o evidencia insistentemente João Higino Ferraz.
Os dados resultantes dos primeiros anos do século XX são comprovativos:

PRODUÇÃO EM AÇÚCAR (quilogramas.)


Tipo de açúcar 1900 1901 1902 1903
Açúcar 1º jet 4938 5631 6770 6630
2º jet 1852 1497 413 960
3º jet 326 504
Açúcar de melaço Álcool 4373 4375 2472 2640
Petit jus 1539 1539 317
Açúcar de melaço 10.028 10.546 9.972 10.230
Fonte: Arquivo Particular de João Higino Ferraz, Copiador de cartas, [1898-1905], fl.107

26
Incêndio no engenho do
Hinton.1917

Em 25 de Novembro de 1917 um curto-circuito nos fios da luz eléctrica esteve na origem da destruição do sistema de
destilação, o que obrigou ao uso de outros destiladores até que em Outubro do ano seguinte estivessem operacionais71. Mas
isto não fez perigar a tendência monopolística do engenho do Torreão, como se poderá verificar pela laboração do Sul em 1929:

Engenho Moenda de cana Produção de açúcar Produção de álcool


em toneladas em toneladas em hectolitros
Torreão 20.000 1.900 300.000
S. Filipe 7.500 578 93.000
Companhia Nova 1.000 74.000
Total 28.500 2.478 487.000

A questão Hinton é uma constante desde finais do século XIX e não passa ignorada mesmo pelos estrangeiros. Já em 1882
J. Rendell72 refere que o engenho Hinton juntamente com o da família Ferraz o engenho mais importante. Em 1894 C. Gordon
é peremptório: “…the great bulk of the sugar industry of the island is in the hands of one english firm”73. Já W. Koebel, em
1909, não hesita em afirmar que a industria açucareira está dependente do monopólio da firma Hinton74. Em 1927 o Marquês
de Jácome Correia testemunha o facto de a fábrica do Torreão ter “a fama de ser uma fábrica modelar”, pelos seus “complexos
mecanismos, a organização fabril e a importância da produção”.75 Também o Padre Fernando Augusto da Silva não se poupa

27
em elogios à acção empreendedora da família que criou “a fabrica mais aperfeiçoada do mundo”.76
A alma do complexo industrial açucareiro da família Hinton, a partir de 1898, era João Higino Ferraz, que assumiu as
funções de gerente do engenho, sendo um dos colaboradores directos de Harry Hinton. A sintonia e empenho de ambos fizeram
com que a ilha apresentasse entre finais da centúria oitocentista e inícios da seguinte uma posição destacada no sector, atraindo
as atenções a nível mundial.
João Higino Ferraz afirma-se como o perfeito conhecedor da realidade científica do engenho. Opina sobre agronomia, como
sobre mecânica e química. E mantém-se sempre actualizado sobre as inovações e experiências na Europa, nomeadamente em
França. Da lista de contactos e conhecimentos fazemparte personalidades destacadas do mundo da química e mecânica, com
estudos publicados. Assim, para além dos contactos assíduos com Naudet, refere-nos com assiduidade os estudos Maxime
Buisson, M. E. Barbet, M. Saillard, F. Dobler, M. D. Sidersky, Luiz de Castilho, M. H. Bochet, M. Effort, M. Gaulet
O Hinton acolhe especialistas de todo o mundo, na condição de visitantes, ou como contratados para a execução dos
trabalhos especializados. O engenheiro Charles Henry Marsden foi um deles e sabemos que aí trabalhou entre 1902 e 1937,
altura em que saiu doente para Londres onde faleceu no ano imediato. A presença está documentada pelo menos entre 1918,
1929 e 1931. Temos também o engenheiro químico agrícola Maxime Buisson, que em 1902 trabalhava no laboratório77. Para o
fabrico de açúcar contratava-se os afamados “cuiseurs” em França de forma a seguir-se à risca as orientações de Naudet.78 M.
Frederique, que já havia trabalhado na Martinica, “sabe bem do seu ofício é muito cuidadoso no seu trabalho é sóbrio e
delicado”79, o que contribuiu para uma safra excepcional. Noutras ocasiões o serviço foi um desastre, como sucedeu em 1930,
quando Marinho de Nóbrega era o químico oficial do engenho80.
Para os anos vinte e quarenta do século XX a voz pública de reprovação ao favorecimento, dito monopólio, teve expressão
frequente no jornal humorístico RE-NHAU-NHAU. A figura de Harry Hinton e apaniguados é o alvo do intrépido desenhista,
que pretende dar voz ao “Zé Povo”81.

A IMPORTÂNCIA DO ACERVO DOCUMENTAL DE JOÃO HIGINO FERRAZ

O arquivo do engenho do Hinton, por força das circunstâncias atrás descritas, é fundamental para o conhecimento da história
contemporânea da agricultura madeirense. Todavia a forma conturbada como sucedeu o processo de desmantelamento da
estrutura para a construção de um jardim público conduziu a que toda esta memória desaparecesse. Felizmente tivemos a
possibilidade de encontrar alguns testemunhos avulsos no arquivo particular de João Higino Ferraz (1863-1946), que aí
trabalhou como técnico desde finais do século XIX e acompanhou o processo de montagem do engenho do Torreão82.
A documentação disponível, copiadores de cartas, livros de notas e apontamentos, são um dado raro na História da Técnica
e da Indústria. Não se conhecem casos idênticos de livros de apontamentos em que o técnico documenta, quase miunuto a
minuto, o que sucede na fábrica, desde os percalço do quotidiano às questões técnicas e laboratoriais. E, se tivermos em conta
que a mesma documentação abrange um período nevrálgico da História de Indústria Açucareira, marcada poor permanentes
inovações no domínio da metalomecânica e química, teremos definida a importância deste tipo de espólio, que mais se valoriza
pelo facto de ser o único até hoje divulgado e conhecido. Tenha-se em conta que através destes documentos sabemos quase tudo
o que se fazia na fábrica em termos de mudanças de equipamento:

EQUIPAMENTOS DO ENGENHO DO HINTON

1898 Montagem de dois novos difusores e sistema de corte de cana para a safra do ano seguinte
1900 Aparelhos de difusão de que João Higino Ferraz tinha os direitos
Filtros Manoury
1901 Centrifugas e Turbinas Weston
1902 Montagem de 4 difusores
1905 Valdeira vapor Babcock
1906 Mudança do aparelho de triple-effet
Novo processo de destilação directa da cana
1907 Instalação da cadeira de vacum e melaxeurs

28
Turbinas Weston e engenho Harvey & Cº
1910 Alterações no equipamento no sentido de aumentar a capacidade de produção para 500 toneladas
1911 Aparelhos Kestner para açúcar areado e filtros seits.
1917 Montagem de novo aparelho de destilação, perdido num incêndio.
1929 Sistema Hinton-Naudet modificado
1939 Montagem de aparelho de quadruple effet por H. Marsden

O conjunto de 9 livros referentes às cartas abarca um período crucial da vida do engenho do Hinton [1898-1937], marcado
por profundas alterações na estrutura industrial, por força das inovações que iam acontecendo. A partir deste acervo de cartas é
possível saber tudo isso, mas também induzir algo mais sobre o funcionamento desta estrutura. Ao mesmo tempo ficamos a
saber que João Higino Ferraz era em Portugal uma autoridade na matéria, prestando informações a todos os que pretendessem
montar uma infra-estrutura semelhante. Assim, em 1928 acompanhou a montagem do engenho Cassequel em Lobito, onde a
família Hinton tinha interesses, e esteve em Junho de 1930 em Ponta Delgada nos Açores a ensinar a fermentar melaço na
Fábrica de Santa Clara de açúcar de beterraba.
Harry Hinton surge em quase toda a documentação como um interveniente activo no processo, conhecedor das inovações
tecnológicas e preocupado com o funcionamento diário do engenho, nomeadamente com a sua rentabilidade. E, certamente que
J. H. Ferraz não o ludibriava no sentido de que de uma forma quase diária informava de tudo o que se passava.
A proximidade do Funchal aos grandes centros de decisão e inovação tecnológica da produção de açúcar a partir de
beterraba, na Fança e Alemanha, associados aos contactos de H. Hinton e ao seu espírito empreendedor fizeram com que a
Madeira estivesse na primeira linha da utilização da nova tecnologia. Em 1911 documentam-se diversas experiências com
equipamento. Além disso funcionava como espaço de adaptação da tecnologia de fabrico de açúcar a partir da beterraba para a
cana sacarina. Daí as diversas deslocações de J. H. Ferraz a França [1904,1909] e os permanentes contactos com alguns
estudiosos e fábricas. Tenha-se em conta que o mesmo era sócio de l’Association des Chimistes em França, sendo por isso leitor
assíduo do seu Bulletin83. Por outro lado alguns inventores, Naudet (em 1904), e engenheiros de diversas unidades na América
(Brasil e Tucuman), Austrália e África do Sul estavam em contacto com a realidade madeirense ou faziam deslocações para
estudar o caso do engenho madeirense.
A erudição de J. H. Ferraz era vasta, dominando toda a informação que surgia sobre aspectos relacionadas com o processo
industrial e químico do fabrico do açúcar. Para além da leitura do Bulletin de l’Association des Chimistes, temos referências à
leitura do Journal de Fabricants de Sucre, podemos documentar na sua biblioteca a existência de diversos livros da
especialidade, muitos deles referenciados nos livros de notas ou cartas. Aliás, é insistente, nas cartas que manda a Harry Hinton
no estrangeiro, o pedido de publicações recentes. Do conjunto das publicações disponíveis ainda hoje no acervo bibliográfico
podemos salientar as seguintes:

Foto livros

BASSET, N., Guide du Planteur de Cannes. Traité Théorique et Pratique de la Culture de la Canne a Sucre, Paris, Challamel
et C, Éditeurs, 1889
.- idem, Guide Pratique du Fabricant de Sucre, Paris, Librairie Scientifique Industrielle et Agricole, 1861.
idem, Guide Théorique et Pratique du Fabricant d` Alccols et du Distillateur, Première Partie – Alcoolisation, Paris,
Librairie Scientifique, Industrielle et Agricole, 1868.
BEAUDET, L., PELLET, H., Traité de la Fabrication du Sucre de Betterave et de Canne, tomo I, Paris, J. Fritsch Éditeur, 1894.
BOULLANGER, E., Encyclopédie Agricole. Matérie de Brasserie I, Paris, Librairie J. – B. Baillière et Fils, 1921.
BUCHELER, Le D.r M., Manuel De Distillerie. Guide Pratique pour l`Alcoolisation Des Grains, Des Pommes de Terre et Des
Matières Sucrées, Paris, Librairie Polytechnique, Ch. Béranger Éditeur, 1899.
idem, LÉGIER, Émile, Traité de la Fabrication de L` Alcool, Tome I e II, Paris, Librairie Scientifique et Industrielle,
1899.
BULLETIN DE L` ASSOCIATION DES CHIMISTES DE SUCRERIE ET DE DISTILLERIE de France et des Colonies,Tome
XVIII, 1900-1901, Paris, siège Social 156, Boulevard Magenta 156
BULLETIN DE L` ASSOCIATION DES CHIMISTES DE SUCRERIE ET DE DISTILLERIE de France et des Colonies,Tome

29
XXIX, 1911-1912, Paris, Siège Social 156, Boulevard Magenta 156.
CHAPTAL, Citoyen, L`Art de Faire, Gouverner et Perfectionner Les Vins, s.d.
COLSON, Léon, Culture et Industrie de la Canne a Sucre aux Iles Hawai et a la Réunion, Paris, Augustin Challamel, Éditeur,
1905
DEJONGHE, Gaston, Traite Complet théorique et Pratique de la Fabrication de l` Alcool et des levures, Tome III, Lille,
Typographique et Lithographique le Bigot Frères, 1903.
DEJONGHE, Gaston, Traite Complet théorique et Pratique de la Fabrication de l` Alcool et des levures, Tome II, Lille,
Typographique et Lithographique le Bigot Frères, 1901.
DUBRUNFAUT, M., Traité Complet de L` Art de la Distillation, Tome second, Paris, Bachelier, Libraire, 1824.
DUJARDIN, J., Notice sur les Instruments de Prècision appliqués a l` genologie, cinquième édition, Paris, Chez les Auteurs
EVANS, W., The Sugar-Planter`s Manual Being a Treatise on the Art of Obtaining Sugar From the Sugar-Cane, London,
Longman, Brown, Green, And Longmans, 1847.
GEERLIGS, H C. Prinsen, Tratado de la Fabricación del Azúcar de Caña y su Comprobación Química, Ámsterdam, J. H. De
Bussy, 1910.
GROBERT, J. de, LABBÉ, G., MANOURY, H., VRESE, O. de, Traité de la Fabrication du Sucre de Betteraves et de Cannes,
Tome Second, Paris, Self-Édition Technique, 1913.
GUYOT, Jules, Culture de La Vigne et Vinification, Paris, 1910.
HORSIN-DÉON; Paul, Traité Théorique et Pratique de la Fabrication du Sucre de Betterave, Premier Volume, Paris, E.
Bernard et Cie, Imprimeurs-Editeurs, 1900.
HORSIN-DÉON; Paul, Traité Théorique et Pratique de la Fabrication du Sucre de Betterave, Deuxième Volume, Paris, E.
Bernard et Cie, Imprimeurs-Editeurs, 1900.
JACQUEMIN, Georges, Production Rationnelle et Conservation des Vins, Nancy, A Malzéville, 1909.
JULIEN, C. E., LORENTZ, E., Manuels - Roret. Nouveau manuel Complet du Filateur ou Description des Méthodes Anciennes
et Nouvelles Employées pour la conversion en fils des cinq matières organiques, filamenteuses et textiles, Paris, La
Librairie Encyclopédique de Roret, 1843.
Le Génie Industriel, Janvier 1869, n.º 217, T. XXXVII, Janvier 1870, n.º 229, T. XXXIX.
MAERCKER, Max Doct., Traité de la Fabrication de L` Alcool, Tome I e II, Lille, Imprimerie L. Danel, 1889.
MALVEZIN, Frantz, Bordeaux. Histoire de la Vigne et du Vin en Aquitaine, Bordeaux, Imprimerie Gabriel Delmas, 1919.
NORMAND, L. Séb. le, L`Art Du Distillateur Des Eaux-de-Vie et Des Espirits, Tomo II; Paris, Chez Chaignieau Ainé,
imprimeur-libraire, 1817.
PARMENTIER, M., L`Art de Faire les Eaux-De-Vie, d`après la Doctrine de M. Chaptal. Suivi de L`Art de faire Vinaigres
simples et composés, Paris, Libraire de la Faculté de Médicine et des Hospices, 1819.
PAYEN, A., Précis de Chimie Industrielle, Paris, Librairie de L. Hachette, 1867.
PÉCLET, E., Traité de la Chaleur Considérée dans ses applications, troisième edition, Paris, Librairie de Victor Masson,
MDCCLX.
ROBINET, Edouard, Manuel Général Des Vins Champagnes Vins Mousseux, sixième édition, Paris, Librairie Bernard Tignol,
[s.d.].
ROUX, J. Paul, La Fabrication de L` Alcool. Production du Rhum, Paris, G. Masson Éditeur, 1884.
STAMMER, Charles, Traité Complet Théorique et Pratique de la Fabrication du Sucre, Guide du Fabricant, s.d.
Tables de corrections alcoométriques ou de richesse en alcool par dixiémes de decré, Paris, s.d.
The Sugar Cane, n.º 66, 107 e 131.
Traitements des Vins Nouveaux. Opérations d`Automne et d`Hiver, Troisième partie, deuxiéme volume
URBAN, Karel, Anomalies Dans la Fabrication du Sucre, Paris, édite par «La Betterave et les Industries agricoles»,1933.
VIOLLETTE, M. Charles, Dosage du sucre. Au moyen des liqueurs titrées, Paris, Gauthier-Villars, 1868.
WEINMANN, J., Manuel du Travail des Vins Mousseux description des procédés techniques et pratiques usités en champagne,
quatrième édition, Paris, Charles Amat Libraire-Éditeur, [s.d.].

30
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS NAS CARTAS.

PÁGINA PUBLICAÇÃO
55 jornal “La Biére” 1º anno nº 10, ou “L’alcool et le sucre” 2º anno nº 5
55 tratado de M. Fernbach
273 tratado meu sobre assucar ao Feliciano
281 livre traitant la fabrication de la Biére moderne et pratique
292 livres de Boullanger (Brasserie); deux volumes de Boullanger (Brasserie)
308 le Bulletin de l’Association des Chimistes
L’Oenophile (sur les vins)
309 l’Oenophile
403 Journal des Fabricantes de Sucre <Nº 28 de 13 Julho>
413 Jornal des Fabricants de Sucre
414 artigos do Jornal des fabricantes de Sucre de Setembro, que tem uns artigos sobre Java
450 Bulletin de l’Association des Chimistes de Junho proximo passado
460 International Sugar Journal de Junho 1931 pag 294
468 Prinsen Geerligs84 no seu tratado de fabricação do assucar de cana (1910) a pag. 106
471 Prinsen Geerligs85 no seu tratado sobre assucar de cana (1910) pag. 106 e seguintes e pag. 119
475 Ver tratado de Geerlgs pag 119) (tradução Espanhola)

31
João Higino Ferraz.

32
JOÃO HIGINO FERRAZ
[1863-1946]

É filho de João Higino Ferraz e neto de Severiano Alberto Ferraz, o primeiro a construir um engenho a vapor na ilha da
Madeira, no ano de 1856. Nasceu no Funchal a 1863. Foi na fábrica do tio que travou contacto com o mundo do açúcar.
A fábrica da família da Ponte Nova terá sido estabelecida entre 1848 e 1856. À morte do promotor, por “cólera morbus”
em 1856, os descendentes—João Higino Ferraz (pai), Severiano Alberto Ferraz (filho) e Ricardo Júlio Ferraz— criaram a
sociedade Ferraz Irmãos. Foi aí que em 1881, o jovem de 18 anos, iniciou a actividade como gerente com o tio Severiano, até
1886, altura em que foram forçados a vender a fábrica em praça pública. Liquidada a fabrica esteve dois anos sem emprego até
que em 1888 arrendou em sociedade com o tio, João César de Carvalho, a fábrica de destilação da Ponte Deão, de Severiano
Cristóvão de Sousa. No ano imediato entrou para a do Torreão da firma William Hinton & Sons como técnico de fabrico de
açúcar e álcool, assumindo a gerência industrial e técnica.
Num manuscrito da mão do próprio diz que em 1900 assinou contrato com a fábrica do amigo Harry Hinton que o vinculou
até à morte em 1946. Todavia, e de acordo com o primeiro copiador de cartas, sabemos que desde 18 de Outubro de 189886
estava ao serviço da firma, como se pode confirmar da carta ao amigo e patrão Harry Hinton solicitando a presença no engenho
em construção para poder decidir sobre a forma de disposição das máquinas.
No sentido de dar continuidade ao processo de modernização da fábrica do Torreão esteve de visita aos complexos
industriais franceses que laboravam a beterraba para o fabrico de açúcar. A visita foi proveitosa, reflectindo-se nas
modernizações do sistema do engenho do Hinton. Certamente que esta experiência foi importante para a saída que fez em 1930
a Ponta Delgada (S. Miguel) para dar alguns ensinamentos sobre o processo de fabrico de açúcar, nomeadamente a fermentação
do melaço.
Em Julho de 1927 embarcou para Lobito com Charles Henry Marsden (1872-1938), um engenheiro natural de Essex
responsável pela modernização do engenho da casa Hinton, para aí montar uma estrutura mais moderna no engenho Cassequel,
propriedade da casa Hinton. Aí permaneceu 103 dias, regressando ao Funchal a 13 de Dezembro de 1928. O diário da saída,
compilado numa agenda, documenta o processo de montagem da fábrica e as dificuldades de adaptação das peças ao conjunto
da estrutura.
Em 1945 lamentava-se: sou pois técnico em fabricar assucar e álcool, desde 1884 a 1945 = 61 anos. Não tenho direito
a ter o titulo de técnico de fabricar assucar e álcool oficialmente em Portugal ? (…) Desejava pois obter o titulo oficial de
técnico de fabricar açúcar e álcool ou como técnico pratico de fabricar assucar e alcool”. Mas, acabou morrendo sem que
fosse reconhecido o gigantesco trabalho como técnico, a principal alma da permanente actualização tecnológica e química da
Fábrica do Hinton, que foi na época uma das mais avançadas tecnologicamente.
A ideia está presente também no testemunho do próprio: N’Estes longos (60) anos assisti a variados systemas de fabrico,
desde quasi do inicio de maneiras antigas no fabrico do açúcar de cana, destilação, etc, etc, acumpanhando sempre os
progressos nestas industrias até hoje, principalmente desde 1900 a 1944, na fábrica do Torreão, onde pusemos em trabalho
consecutivamente os systemas os mais aprefeissoados e mais modernos no fabrico de açúcar e álcool, devido principalmente
ao meu caro amigo Harry Hinton, como chefe inteligente e progressivo, não poupando energias e capitaes para qualquer

33
transformação a ser operada na sua fabrica, ou fossem as ideias minhas ou delle proprio. Tem elle um intuito de progresso bem
orientado, que é raro em muitos industriaes.
É isso de que me orgulho, por ter sido o coadjutor companheiro de um industrial desta natureza.”
Da correspondência com Harry Hinton transparece uma perfeita sintonia entre os dois que favoreceu o processo de
permanente actualização tecnológica e química. Ambos partilhavam a mesma paixão pela indústria e afirmação do engenho do
Torreão. João Higino Ferraz não receia em manifestar por diversas vezes a amizade que o prende ao patrão. Em 191787
confessa que “Harry Hinton é um dos meus melhores amigos”. Passados dez anos confessa que a viagem a África sucede apenas
“para ser agradável ao senhor Hinton a quem devo amizade e reconhecimento.”88
João Higino Ferraz era o superintendente, mas acima de tudo um cientista que procura aperfeiçoar os conhecimentos de
Química e Tecnologia, através do confronto da literatura estrangeira e da sua capacidade inventiva89. Mantém-se actualizado
através da leitura das publicações, fundamentalmente francesas. Nos estudos manifesta-se um cientista arguto que não detem a
atenção apenas na cana sacarina, pois estuda e opina sobre o uso de outros produtos no fabrico de açúcar e álcool, como é o
caso da batata e aguardente.
Se confrontarmos a literatura científica do momento mais significativo de finais do século XIX até à segunda Guerra
Mundial, verificamos que a informação é permanente actualizada e pauta-se por padrões de qualidade, dispondo de informações
sobre os métodos mais avançados, como dos estudos dos engenheiros químicos e industriais que marcaram o processo
tecnológico do momento. Aliás, mantem contacto com inúmeras associações científicas europeias, como era o caso de
Association des Chimistes de Sucrerie et de Distillerie. Na correspondência surgem assiduamente nomes de cientistas europeus
como Barbet, Naudet. É dele o invento de um aparelho de difusão, que em 19 de Novembro de 1898 cedeu os direitos à firma
William Hinton & Sons. Naquilo que resta da sua biblioteca fomos encontrar um conjunto valioso de tratados de química e
tecnologia relacionados com o açúcar.
Foram feitas várias experiências e adaptações dos sistemas tecnológicos importados, tudo sob a sua orientação. Em
192990, em carta ao amigo Avelino Cabral em Lobito, refere: Como tenho tido tempo estou em estudos e experiências com o
fermento Possehl’s no laboratório, e tenho obtido cousas bastante curiosas nas culturas feitas.”Ainda em carta ao mesmo refere
a utilidade das inovações e experiências: “para que a parte comercial de uma indústria dê o resultado, é necessário ver também
a parte industrial ou technica.”91
Apenas em 1922 temos informação de quanto auferia João Higino Ferraz pelos serviços prestados à fabrica Hinton. De
acordo com memorial que enviou a Harry Hinton o ordenado como gerente técnico foi o seguinte:

1909-1912: 4.500$00 ano


1914-1919: 6.440$00
1920-1921: 22.400$00

Para o novo contrato a celebrar reclamava 63 libras mensais, sendo o câmbio realizado mensalmente, ficando “com pulso
livre para fazer e dirigir as minhas pequenas industrias fora de açucar, alcool e aguardente, não prejudicando por estes meus
trabalhos a direcção technica da fabrica de açucar e alcool do Torreão…”92
João Higino Ferraz fica para a História como um dos principais obreiros da modernização do engenho do Hinton ocorrida
na primeira metade do século. Enquanto esteve à frente dos destinos da fabrica, de 1898 a 1946, foi imparável na sua adequação
aos novos processos e inventos que iam sendo divulgados, não se coibindo mesmo de fazer algumas experiências com o
equipamento e os produtos químicos.

34
Desenhos e cartas de João Higino Ferraz

NOTAS AUTOBIOGRÁFICAS DE JOÃO HIGINO FERRAZ


93
[1] Descendentes <de> Severiano Alberto de Ferraz

Tenho n’um livro antigo (1848), notas escritas por meu avô, sobre destillação de vinhos para aguardente e refinação assucar
Meu avô morreu de Cólera em 1856, isto é, 8 anos depois das notas (1848). Parece que foi no Intervalo de 8 anos, que se
formou a Firma “Ferraz Irmãos”, e a montagem da Fabrica de assucar da Ponte Nova.
Como a Firma Ferraz Irmãos, foi liquidada em 1886, teve pois a Firma Ferraz Irmãos a duração de 1848 a 1886, isto é, 38
anos de existencia (?), a 40 anos (??).
João Higino Ferraz Junior, vim de Lisboa (dos meus estudos) com 18 anos de edade, em 1881, para a Fabrica Ferraz Irmãos
Com a liquidação da Firma Ferraz Irmãos em 1886, estive 2 anos sem emprego algum, mas em 1888, devido ao meu (nosso)
amigo Joaquim de Sousa, arrendei a fabrica de destilação do pae de Joaquim de Sousa, o velho amigo de <meu> Pai Cristão de
Sousa na Ponte do Deão, até 1899 = // [2] 11 anos no Deão, no Fabrico de aguardente de cana e alcool de melaço importado
das Weste Indias, (Demerá[sic] e Trindade) pela firma Francisco Rodrigues & C.ª (Pedro)
Em 1899, liquidei com o arrendamento que tinha, de Sociadade com meu tio (materno) João Cezar de Carvalho, porque por
pedido e instado pela Firma William Hinton & Sons (Fabrica do Torreão) passei a ser gerente tecnico da Fabrica de assucar e

35
alcool, junto com o meu querido e velho amigo Harry Hinton, chefe da firma, que devia ter 44 anos e eu 37 anos.
Entrei no serviço da Fabrica do Torreão em 1899, e definitivamente, pelo contrato feito em 1900, com[sic] gerente tecnico.
Tenho pois 45 anos como tecnico da Fabrica do Torrão[sic], com 81 anos
Sou pois fabricante de assucar aguardente e alcool á 60 anos!!! //
[3] A Firma antiga da Fabrica da Ponte Nova dos Ferrazes, era constituida pelos filhos de Severiano Alberto de Freitas Ferraz
e de minha avô paterna Leonor, e são:
João Hygino Ferraz
Severiano Alberto Ferraz
Dr. Ricardo Julio Ferraz, engenheiro de Pontes e Calçadas da escola de França.
1º Guarda Livros, João Fradeço Bello (irmão de minha avô materna)
2º guarda Livros, João Cezar de Carvalho (irmão de minha mae Sofia de Carvalho Ferraz)
Meu avôu[sic] materno – Tenenente[sic] Coronel de artilharia Carvalho
Minha avô materna – Carolina Fradeço de Carvalho.
(1944)

94
[1] Notas sobre os descendentes de Meu Avóu[sic] Severiano Alberto Ferraz, desde 1848 até 1944, depois de feitos
os meus 81 anos de vida (96 anos totaes).

1º Tenho um livro antigo de notas de meu Avou Severiano Ferraz (1848), sobre a sua industria de destilação de vinhos da
Madeira, xaropes d’uva (arrobo) e refinação de açucar de cana bruto, antes da existencia da Fabrica de açucar de cana da Ponte
Nova (Funchal) da firma “Ferraz Irmãos”, já não existente.
Meu Avou morreu do Colera Morbos em 1856, deixando filhos do 2º casamento com D. Leonor.
2º Temos que, de 1856 e 1848 vão 8 anos, e assim parece que a Fabrica de açucar da Ponta Nova foi establecida n’este
entervalo dos 8 anos.
Quando? É isso que não tenho notas exactas.
No intervalo dos 8 anos (1848 e 1856), e talvez depois ou antes da morte de Meu Avou, Meu Pae e tios fizeram a Sociadade
“Ferraz Irmaos”, e principiaram a fundação da Fabrica de açucar.
Os Socios da Firma erão:
Meu Pae – João Hygino Ferraz
Tio – Severiano Alberto Ferraz
“ – Ricardo Julio Ferraz, Dr. em Pontes e Calçadas da França, onde tirou o seu corsso de Engenharia.
Meu tio Dr. Ricardo J. Ferraz perdeu o seu braço esquerdo no moinho de cana da Fabrica, no 2º ano do seu inicio de
Laboração, e saio para Lisboa e ahi se estableceu, e uns anos depois (?) foi para São Miguel, Açores, como Engenheiro da Doca
de Ponta Delgada, onde casou com D. Catarina Ivens.
Voltou novamente para Lisboa, como Engenheiro da Comp.ª das Aguas, e foi eleito Deputado pela Madeira. Foi n’esta
ocasião que a firma // [1v] Ferraz Irmãos estableceu negocio de vinho em Lisboa, sobre a direção do Socio da firma, Dr. Ricardo
J. Ferraz.
3º A firma Ferraz Irmãos, depois da morte de meu tio Severiano Ferraz, teve que liquidar sendo vendida a Fabrica da Ponte
Nova ao capitalista de Demerára Manica, que na praça de venda, foi o que ofereceu valor meior.
Nota: Na ocasião da praça, o meu antigo amigo H. Mails, propos-me fazer uma Sociedade entre eu e elle para a sua compra,
sendo elle o socio Capitalista. Não ficamos, porque Manica oferecu[sic] mais (!).
A duração da Firma Ferraz Irmãos, devia ser pouco mais ou menos de 1850? até 1886 = 36 anos de Existencia, a 40 anos
no maximo (?).
4º Principiou os meus trabalho [sic] na Fabrica de açucar e alcool da Ponte Nova em 1881, tendo eu 18 anos, quando voltei
de Lisboa por ordem de meu tio Severiano, ultimo subrevivente da Firma Ferraz Irmãos, depois ou ainda, dos meus estudos em
Lisboa.
Estive pois eu, e meu tio Severiano, desde 1882 a 1886 (4 anos) com[sic] gerentes da firma Ferraz Irmãos.
5º Com a liquidação da Fabrica da Ponte Nova, estive 2 anos sem emprego, mas em 1888, devido ao nosso saudoso amigo
Joaquim de Sousa, consegui arrendar a fabrica de destilação da Ponte do Deão, de cana de açucar para fabrico de aguardente,
pertencente ao velho amigo de meu pai e tio Severiano, Cristovão de Sousa, Pai de Joaquim de Sousa, até 1899 (11 anos). //

36
[2] 6º Principia agora em 1899, a minha nova vida em fabricas de açucar e alcool!.., depois da pratica n’este genero de
Industria de 17 anos, isto é, de 1882 a 1899.
Entrada para a Fabrica do Torreão da firma William Hinton & Sons
7º Em 1899, liquidei com o arrendamento da Fabrica da Ponte do Deão, que tinha como meu socio meu tio materno João
Cezar de Carvalho, antigo Guarda Livros da firma Ferraz Irmãos, por instancias do meu sempre amigo o Senhor Harry Hinton,
chefe gerente de William Hinton & Sons, para vir para a sua Fabrica do Torreão como tecnico do fabrico de açucar e alcool da
dita fabrica, em vista de se vêr sosinho na gerencia Industrial tecnica e comercial.
Asseitei a oferta da proposta finalmente, e por generosidade de Harry Hinton, têr-se obrigado a dár uma mezada a meu tio
João Carvalho (meu socio no Deão) emquanto vivo fosse.
Entrei pois como gerente tecnico na fabrica do Torrão, em 1899, e defenitivamente em 1900 por contrato establecido, sem
tempo determinado. Tinha eu em 1899 a edade de 36 anos, e o meu amigo e chefe Harry Hinton 43 anos.
8º Tenho pois estado sempre como Tecnico na Fabrica do Torreão, desde 1900 a 1944 = 44 anos, tendo actualmente 81 anos
de edade!!

Sou pois fabricante de açucar e alcool á 60 anos!?

25/11/944 [Ass:] João Higino Ferraz Nasci em 1863 //

[2v] Nota: N’estes longos anos (60), assisti a variados systemas de fabrico, desde quasi o inicilo[sic] de maneiras antigas no
fabrico do açuar[sic] de cana, destilação etc. etc., acompanhando sempre os progressos n’estas Industrias até hoje,
principalmente desde 1900 a 1944, na Fabrica do Torrão[sic], onde posemos em trabalho consecutivamente os systemas os mais
aprefeissoados e mais modernos no fabrico de açucar e alcool, devido principalmente ao meu caro Amigo Harry Hinton, como
chefe inteligente e progressivo, não poupando energias e capitaes para qualquer transformação a ser operada na sua Fabrica, ou
fossem as edeias minhas ou d’elle proprio: Tem elle um instinto de progresso bem orientado, que é raro em muitos Industriaes.
É isso de que me orgulho, por têr sido o cudjutor[sic] companheiro de um Industrial d’esta natureza.
[Ass:] João Higino Ferraz

Casei a 6 de Junho de 1891, tendo os seguintes filhos:


Mathilde (já falecida)
Maria Elisa (doente!)
Maria Sofia (casada com Tenente[?] Coronel Santos Pereira95)
João (casado com Dolly Claude)
Maria Amelia (solteira.

96João Higino Ferraz Júnior Nasci a 12 outubro de 1863


Filho de João Higino Ferraz, fundador da Firma <Ferraz Irmãos>
Tomei conta como tecnico Fabrica Ferraz Irmãos em 1884, com 21 ano [sic]
“ “ como tecnico Fabrica William Hinton & Sons em 1900, com 36 anos
De 1900 a 1945 = 45 anos na Fabrica Hinton – 1945, tenho 81 anos

Sou pois tecnico em Fabricas assucar e alcool, desde 1884 a 1945 = 61 anos.
Não tenho direito a têr o titulo de Tecnico de Fabrica assucar e alcool?
Oficialmente em Portugal.

Os Socios da Firma – Ferraz Irmãos, eram:


João Higino Ferraz
Severiano Aberto[sic] Ferraz (Tecnico)
Dr. Ricardo Julio Ferraz (Enginheiro civil) <de> Pontes e Calçadas
(Dr. Ricardo Julio Ferraz Estudos em França) da França) [sic]
Firma William Hinton & Sons (Fabrica assucar e alcool do Torrão[sic])

37
Desejava pois obter o titulo Ofical[sic] de Tecnico
de Fabricas açucar e alcool.
ou como Tecnico pratico de Fabricas assucar e alcool

CONCLUSÃO

A Madeira marcou um passo decisivo na História da cana-de-açúcar entre os séculos XV e XX. Todavia, ao contrário do
que sucede com o vinho, a cultura não se manteve como uma constante da História da ilha, notando-se um hiato no século
XVIII. O vinho que a partir de meados do século XVI havia retirado espaço à cana sacarina estava agora, em meados da centúria
oitocentista, a ser dominado pelo retorno dos canaviais. A cultura expandiu-se a Norte e a Sul, tornando-se num dos factores
mais importantes de animação da agricultura e da indústria.
Em qualquer dos momentos a Madeira esteve na linha da frente das inovações tecnológicas. Nos séculos XV e XVI acresce
a função de distribuição da cultura e técnica em todo o espaço atlântico. Para finais do século XIX e princípios do seguinte
ficaria reservado papel pioneiro no ensaio de algumas técnicas e sistemas de fabrico de açúcar e aguardente que revolucionaram
todo o processo industrial. Para isso foi importante a acção de João Higino Ferraz, que na qualidade de gerente técnico,
conseguiu manter contactos estreitos com os ensaios feitos em França, de que o sistema de Naudet é exemplo. Foi na ilha que
se ensaiaram de novo alguns processos tecnológicos e químicos, que depois adquiriram um papel de relevo no processo de
industrialização do fabrico de açúcar e aguardente. Daqui resulta a necessidade e importância da publicação do acervo
documental que se segue.

A DOCUMENTAÇÃO

O corpo documental que agora sai do prelo provém do arquivo privado pessoal de João Higino Ferraz – director técnico da
Fábrica do Torreão, da firma William Hinton & Sons – e pode ser seccionado em três partes fundamentais: uma primeira
constituída por nove Copiadores de Cartas; uma segunda por vários volumes a que damos o nome de Livros de Notas; e, por
fim, documentação avulsa. Esta organização do arquivo pessoal de J. Higino Ferraz é, de certa forma, artificial, dado que foi
feita por nós e não pelo autor. De facto, se quisermos, é já uma elaboração arquivística que decorre da análise do conteúdo e da
tipologia dos vários documentos que compõem tal espólio.
A primeira parte, composta por nove livros onde Higino Ferraz conservou, em cópia, muita da correspondência por si
remetida, e não só, cobre o período de 1898 até 1937, com um hiato temporal existente de finais de 1913 a inícios de 1917 e
outro, possivelmente, de Janeiro a Outubro de 1919. Julgamos que estas lacunas deveriam estar contempladas em dois volume
autónomos (temos uma leve certeza para o primeiro períoso, mas o mesmo já não podemos garantir relativamente ao segundo);
contudo, se existiram, não chegaram esses livros até nós. A designação de Copiador de Cartas foi por nós tomada, pois os dois
primeiros livros, que cobrem o período de 1898-1913, evidenciavam este título na capa – não aposto por João Higino Ferraz,
mas como denominação da finalidade dos volumes. Entendemos por bem atribuir a mesma designação a todos os livros97,
seguida da referência aos lapsos de tempo que abarcam.
Cumpre ainda acrescentar que nem toda a correspondência remetida por João Higino Ferraz está presente nestes livros e que
nem toda a documentação neles inserida é composta por epístolas. Ver-se-á que algumas cartas enviadas, sobretudo
dactilografadas, delas guardou o autor cópia sob a forma avulsa, estando as mesmas – aquelas a que tivemos acesso – transcritas
na secção da documentação avulsa. Fizemos preceder cada carta transcrita por uma informação sumária concernente à data,
destinatário e local, quando possível, para que existisse uma mais rápida percepção por parte do leitor.
Ao longo da transcrição demo-nos conta de que alguma informação exarada nos Copiadores não era, com efeito, composta
por epistolografia, mas sim por relatórios, cálculos, estimativas de produção, lucros e despesas, etc.. Antepusemos a cada um
dos informes deste teor a menção à sua data, destinatário, se conhecido fosse, e uma breve caracterização.
Uma segunda secção deste espólio documental transcrito é constituída por anotações e apontamentos vários – inscritos em
livros autónomos –, versando nomeadamente sobre produtos, processos, aparelhos e técnicas industriais de produção e
transformação de açúcar, álcool e aguardente; quase todos estes volumes têm título atribuído por João Higino Ferraz, que é

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respeitado e aceite por nós. Ainda que algo artificial, a denominação por nós dada a este conjunto, Livros de Notas, advém dos
próprios títulos atribuídos pelo autor.
A última secção, enfim, é constituída por documentação avulsa, e abarca: documentos epistolares, saídos do punho de
Higino Ferraz (particularmente cópias de cartas) ou tendo-o como destinatário (sendo seus autores, por exemplo, Harry Hinton,
Marinho de Nóbrega, Antoine Germain, etc.); documentos referentes a aparelhos, processos e técnicas de fabrico e
transformação de açúcar, álcool e aguardente (à imagem da informação exarada nos Livros de Notas); anotações manuscritas
que João Higino Ferraz lançou nos forros da capa ou folhas de guarda de alguns livros ou manuais por si usados, que versavam
sobre a cultura e produção de cana sacarina e seus derivados98; e, ainda, apontamentos auto-biográficos. Dividimos esta
documentação em duas subsecções: a primeira, composta por todos os documentos que têm por autor Higino Ferraz; a segunda,
todas as fontes que foram produzidas por outros indivíduos.
Poderá ficar o leitor com a ideia errada de que estas fontes documentam apenas a função profissional de João Higino Ferraz
enquanto industrial do açúcar, da empresa William Hinton & Sons. Com efeito, esta documentação, por esse facto, reveste-se
de especial interesse para a História da Madeira da 1ª metade do século XX, em especial relativamente à história da indústria
açúcareira, nas suas vertentes económica, social e técnica, mas também nos seus meandros e implicações políticas. Contudo,
não esqueçamos que estamos na presença de um arquivo particular – certa correspondência, por exemplo, contém, também,
informações que ilustram aspectos vários da vida pessoal e familiar de Ferraz, bem como alusões a condições de vida geral e
particular, relações de amizade, concepções políticas, sociais e económicas, entre outras realidades.
A sequência documental dada por nós em cada uma das três divisões é de cariz cronológico. No que diz respeito a certa
documentação avulsa, sempre que não pudemos saber ou estabelecer, de forma segura, a sua data, relegámo-la para o fim da
sua subsecção.

Levar a cabo a transcrição dos 9 Copiadores de Cartas encontrados no arquivo pessoal de João Higino Ferraz, em posse da
sua família, é uma tarefa que comporta algumas dificuldades. Considerando que uma porção significativa da informação
transmitida nestes livros evidencia uma linguagem específica e eminentemente técnica; atendendo que a documentação cobre
um período temporal relativamente recente, livrando-nos de certos problemas inerentes à transcrição de fontes de séculos
anteriores, mas suscitando, porém, outros de diferente teor; observando, enfim, que ao procedermos a esta transcrição, tivemos
de estabelecer de alguma forma um compromisso entre a informação registada nos vários volumes – a sua linguagem e, por
vezes, configuração – e as ferramentas facilitadas pelo programa informático usado nesta tarefa (o Microsoft Word), escolhemos
seguir as seguintes normas99:

NORMAS DE TRANSCRIÇÃO:

– Respeito integral pela grafia e pontuação do original, com as seguintes alterações:


– Desdobramento, de um modo geral, de abreviaturas e siglas, sem a indicação dos segmentos desdobrados, consoante a
forma desenvolvida da palavra encontrada na fonte (na ocorrência de variantes, optar-se-á por aquela mais vezes
presente nos originais). Devido à especificidade da documentação transcrita, temos de considerar, a este respeito, os
seguintes matizes e pormenorizações:
– procedemos ao desenvolvimento de algumas siglas, apesar de serem, possivelmente, conhecidas, e comummente usadas
na escrita de cartas100; elas são:
- p. p.: “proximo passado” ou “proximo presente”; “proche passé”
- p. f.: “proximo futuro”
- p. m. m.: “pouco mais ou menos”
- S. E. O.: “Salvo Erro ou Omissão”
– são desdobradas também todas as abreviaturas e siglas referentes a unidades de medida, entendidas aqui num sentido lato:
- B, Be: “Baumé”
- c.c.: “centimetro cubico” ou “centimètre cubique”
- C ou cent. ou centi.: “Centigrados”
- Cart., Carti: “Cartier”
- cent.: “centimetro”
- frig., frigos: “frigories”

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- gram., gr. ou grm.: “grama”
- H, HL, hect.: “hectolitro” ou “hectolitre”
- hectos: “hectolitros” ou “hectolitres”
- H. P.: “Horse Power”
- k, kilog.: “kilograma”
- l, lit.: “litro”
- m: “metro”
- m/m, mm, m/gr.: “miligrama”
- m2, m3: “metro quadrado”; “metro cubico”
- s: “sacos”, “sacas”
- ton: “tonelada” ou “tonne”
– desdobramos siglas e abreviaturas de teor técnico, que se referem, mormente, a processos, aparelhos e matérias industriais:
- agte: “aguardente”
- applho: “apparelho”
- ass: : “assucar”
- clarifi.: “clarificado”
- Coeffte: “Coefficiente”
- D.: “Densidade ou Densité”
- diff.: “diffusor” ou “diffusão”
- F. P.: “Filtro-Presse”
- F. F.: “Filtro Filippe”
- Lab.: “Laboração”
- M. C.: “Melasse Cuite” ou “Masse Cuite”
- M. S.: “Materia Secca”, “Materias Seccas”
- P. E.: “Petits eaux”
- pol., pola., polar: : “polarisação”
- retifi.: “retificação”
- sacc: : “saccharose”
- saccha: : “saccharose”
- T. E.: “Triple-Effet”
- T. G.: “Tanque Grande”
- turb., turbi.: “turbinado”
- V. C. M.: “Vinho Canteiro Madeira”
– desenvolvemos, por uma maior inteligibilidade dos textos transcritos, muitos outros sinais convencionais usados por João
Higino Ferraz:
- ad. V., ad. val.: “ad. Valorem”
- Alf.ga: “Alfandega”
- Amº: Amigo
- Attº: “Attencioso”
- c/ e c/a: “conta”
- C. de L.: “Camara de Lobos”
- C. F.: “Caminhos Ferro”
- ct., crt.: “courant”
- D.: “Diario”
- D. M.: “Diario da Madeira”
- D. N.: “Diario de Noticias”
- E.U.: “Estados Unidos”
- F: “Fabrica”
- frs: “francos” ou “francs”
- h: “hora” ou “horas”

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- indeter.das: “indeterminadas”
- M., Mr, Mr.: “Monsieur”
- M.m: “Madame”
- M.M., Messrs.: “Messieurs”
- m/: “meu”, “minha”
- n/: “nosso”, “nossa”
- n/c: “nossa conta”
- m/c: “minha conta”, “mon compte”
- Ob.do: “Obrigado”
- R.: “Rua”
- rend.to: “rendimento”
- RS, rs: “Reis” ou “reis”
- s/: “sobre”, “seu” ou “sua”
- S. A., S.de A.: “Sociedade Agricula”
- S. F.: “São Filipe”
- Snr: “Senhor”
- sub.me: “subscrevo-me”
- T, Temp., Tempa: “Temperatura”
- trata.to: “tratamento”
- Vor: “Venerador”
- Wm: “William”
– mantivemos apenas algumas abreviaturas sobejamente conhecidas e utilizadas actualmente: Ex.mo (Excelentíssimo),
Ill.mo (Ilustríssimo), V.a Ex.a, (Vossa Excelência) L.da (Limitada), C.ª ou Comp.ª (Companhia), Succ.or e Succs
(Sucessor e Sucessores) V.ª S.ª (Vossa Senhoria), Dig.mo e Dig.ma (Digníssimo e Digníssima), S.to e S.ta;
acrescente-se que uniformizámos todas estas abreviaturas, pois, por vezes, víamo-nos perante algumas variações das
mesmas.
– não desenvolvemos dois grafemas, de cariz comercial e abundantemente usados nestas fontes, que são alvo aqui de cabal
elucidação:
- cif ou c.i.f.: siglas de cost, insurance, freight, isto é, custo, seguro e frete;
- fob.: siglas de free on board, ou seja, designação de cláusula de um contrato de compra e venda que determina que as
despesas do vendedor vão, somente, até à entrega da mercadoria no navio.
– não desdobramos N. B., “Note Bem”; assim como P. S., “Post-Scriptum”, ou P. E., que julgamos ser “Post-Escriptum”
(corruptela do anterior) ou “Pós-Escrito”
– Procedemos à manutenção ou imitação, na medida do possível, das disposições gráficas do original, assim como
parágrafos, títulos, tabelas, arrolamentos, com a excepção, por motivos que se prendem com a exequibilidade da
edição das mesmas fontes, das mudanças de linha e de folha. Não considerámos pertinente nem viável assinalar a
mudança de linha; já a de fólio é indicada com a colocação de // seguida do número de fólio entre [ ] (exceptuando,
apenas, quando um fólio encontra-se em branco).
– Tendo em conta que Higino Ferraz usa, mas raramente, a cor vermelha nos Copiadores de Cartas – para lançar
comentários ou anotações nas cópias da correspondência que guardava nestes volumes –, escolhemos transcrever em
itálico todos os vocábulos escritos com tinta ou lápis desta mesma cor.
– Transcrevemos, desenvolvendo algumas siglas e abreviaturas e levando a cabo uma certa modernização, os numerais
grafados, por exemplo, assim: 1gr.40, 34k12, 12l34, 2º,5, etc., desta forma: 1,40 gramas, 34,12 “kilogramas”, 12,34
litros, 2,5º, etc..
– Adicionamos [sic] quando a verificação de erros ortográficos, de sintaxe ou morfologia, ou em caso de repetição de uma
mesma palavra. Colocado o [sic] logo a seguir a uma palavra, referir-se-á a um erro nesse mesmo vocábulo (casos,
sobretudo, de ortografia); quando após um espaço em branco, referir-se-á a erro constituído por vários vocábulos
(repetição, faltas de concordância no género ou em número, frases truncadas, omissão de palavras, etc). Refira-se
que, nomeadamente na informação referente a processos industriais, e ainda na correspondência lavrada em francês
(língua que Higino Ferraz manifestamente não domina, como o próprio reconhece), vêmo-nos perante erros de

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concordância de género e número em muitas frases, pelo que apenas assinalaremos os mais visíveis – de certa forma,
também, isentando o transcritor de possíveis suspeitas de transcrição apressada.
– Acrescentamos sinais de pontuação, inseridos entre [ ], quando considerámos que o autor os omitiu involuntariamente.
– Acresentamos [Ass:] antes de qualquer assinatura ou rubrica de João Higino Ferraz.
– Colocamos entre < > todos os vocábulos que surgem entrelinhados nos textos originais.
– Modernizamos o uso do hífen nos verbos, no caso da sua omissão.
– Adicionamos [?] a propósito de dúvidas em relação à leitura de uma palavra (colocado imediatamente a seguir à mesma)
ou de um conjunto de palavras ou expressões (após espaço em branco), e, raramente, aquando a existência de uma
palavra ou expressão cuja leitura não oferece dúvida, mas cujo sentido ou significado é por nós desconhecido.
– Acrescentamos [...] quando a leitura se revelou impossível.

– Anexamos notas de rodapé, nomeadamente nas seguintes situações:


- veiculação de informações acerca dos livros transcritos: numeração, medidas, estado de conservação, e outras informações;
- impossibilidade (ou extrema dificuldade) em reproduzir no corpo de texto algumas das informações transmitidas nas fontes
documentais: anotações colocadas sobre a mancha manuscrita de alguns fólios; sinais de visto «V», etc.
- elucidação da presença de outras caligrafias que não a de João Higino Ferraz;
- esclarecimento de espaços deliberadamente deixados pelo autor;
- menção a fólios em branco, cartas inutilizadas e truncadas;
- fornecimento, quando possível, do nome completo dos indivíduos que Higino Ferraz nomeia, a mais das vezes, através de
um só nome, o próprio ou o apelido, ou ainda por meio de siglas. Tal procedimento, pela sua constância, poderá
parecer pueril ou desnecessário, mas é decerto útil para situar e identificar certas pessoas num corpo documental que
poderá ser de mera consulta. De igual forma, acrescente-se, mas em menor dimensão, providenciamos em nota de
rodapé a designação completa de outras empresas e unidades de produção industrial101 a que se referia
abreviadamente o autor.

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COPIADORES DE CARTAS

DE

JOÃO HIGINO FERRAZ (1898-1937)

Título do livro Datas limites Nº de fólios Observações (fólios com desenhos)


Copiador de Cartas [1898-1905] 1898-1905 200 fls. 6, 86
Copiador de Cartas [1905-1913] 1905-1913 169 fls. 65, 76, 130
[Copiador de Cartas.1917-1919] 1917-1919 100 fls. 35
[Copiador de Cartas.1919-1920] 1919-1920 50 fls.
[Copiador de Cartas.1920-1923] 1920-1923 149 fls. 11
[Copiador de Cartas.1924-1926] 1924-1926 95 fls.
[Copiador de Cartas.1927-1929] 1927-1929 100 fls.
[Copiador de Cartas.1929-1930] 1929-1930 100 fls.
[Copiador de Cartas.1930-1937] 1930-1937 117 fls.

Copiador de Cartas [1898-1905]

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DESCRIÇÃO:

O período temporal abarcado pelo copiador foi por nós acrescentado à designação que já tinha de origem.
Estamos na presença de um livro, em papel, 26,8 cm x 21,5 cm, que se encontra em razoável estado de conservação. Os
fólios deste volume estão numerados com caracteres de imprensa. Nalguns fólios do volume a leitura de muitos vocábulos
revelou-se impossível, devido a um mau decalque.

[DATA: 18 de Outubro de 1898


DESTINATÁRIO: Harry C. Hinton]
[1] Amigo e Senhor H. C. Hinton
Como desejava tratar defenitivamente consigo o negocio da diffusão, e ao mesmo tempo mostrar-lhe a desposição que
tensiono dar ás machinas, pedia-lhe para me mandar dizer a que horas poderá fazer a fineza de cá vir para eu estar presente.
Pedia-lhe ao mesmo tempo para trazer comsigo a escritura que o meu amigo deseja fazer comigo.
18/10/98.Seu Amigo Obrigado.[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 20 de Outubro de 1898


DESTINATÁRIO: Manuel Cardoso & Dargent; LOCAL: Lisboa]

[2] 102Madeira 20 Outubro de 1898

Ill.mos Senhores Manuel Cardoso & Dargent,Lisboa


Ill.mos e Senhores
Desejava-mos nos enviassem pela Barca “Felizberta” a sahir até ao fim deste mez, as 4 vigas de ferro em I para a montagem
dos diffusores, cujo comprimento exacto devem ter 7,600 metros.
Junto encontrarão V. S.as a direcção do consignatario desse navio, ao qual se dirigirão dizendo, que no Funchal será pago o
frete.
Quanto ao corta-cannaz já tenho encommenda feita; por isso agradeço-lhes o encomodo que teem tido em procurar
informações d’esse genero de machina.
Pedimos a V. S.as que na primeira carta que nos escreverem nos mandem dizer em que altura está a construcção do
apparelho.
E, sem outro assumpto, somos com estima e consideração
De V. S.as Amigos Attenciosos Muito Obrigados.[Ass:] João Higino Ferraz & C.ª //

[DATA: 20 de Outubro de 1898


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[3] Madeira 20 outubro 1898
Amigo e Senhor Henrique Hinton
Envio-lhe o contracto com as modificações convenientes, marcadas a lapis encarnado com os numeros[?] 1 – 2 – 3, que são
as seguintes:
1º – n’esse caso, constará d’uma relação assignada pelas duas partes contractantes de todos os aparelhos que fazem parte
d’esse contracto.
2º – d’entro do conselho do Funchal, não exsedendo o custo de instalação alem de oito contos e quinhentos mil reis, e o que
exseda d’essa importancia será por conta dos 1os Outorgantes, determinando-se n’esse caso n’uma relação assignada pelas duas
partes, os aparelhos ou qualquer outro objecto que exseda os oito contos e quinhentos mil reis, e que ficariam pertencendo
unicamente aos 1.os Outorgantes
3º - Neste logar deve ter um “ponto” e não uma virgula, como tem. //
[4]103
[5] No caso de lhe convir mandar-m’a para eu pôr a limpo o contracto em duplicado.
Faço-lhe notar que se deve desde já establecer o sitio em que se tem de montar a fabrica, porque como diz o contracto deve
estar prompta a funccionar na proxima colheita de 1899, e o tempo vai passando sem nada se fazer definitivamente, e não é

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minha a culpa d’essas demoras.
Sem assumpto para mais
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Hygino Ferraz //

[DATA: 10 de Novembro de 1898


DESTINATÁRIO: Cardoso, Dargent & C.ª; LOCAL: Lisboa]

[6] 104Madeira, 10 de Novembro de 1898

Ill.mos Senhores Cardoso, Dargent, & C.ª Lisboa


Amigos e Senhores
Em resposta á sua ultima carta com data de 2 do corrente, temos a dizer-lhes o seguinte
Concordamos com a indemnisação de Reis 61.500 pelo prejuizos do ferro e trabalho o qual lhe será pago depois de
concluida[?] a obra.
Conforme o seu pedido mandamos-lhes as medidas que nos pedem para o vigamento de ferro em I cuja repetição em
desenho lhes enviamos depois de substituidas as lettras.
Satisfaz-nos bastante saber o estado de adiantamento em que estava o trabalho, e V.as S.as nos avisarão quando esteja
proxima a sua conclusão para tratarmos de ver se poderemos conseguir embarcar os apparelhos em navio de vella por ser mais
barato o frete.
E, sem assumpto mais a communicar
Somos em estima e consideração, a V.as S.as Attenciosos Veneradores Muito Obrigados [Ass:] João Higino Ferraz & C.ª
desenho P4280003.JPG - Falta a foto

Comprimento total das vigas (4) 9.300 metros //

desenho P4280003.JPG

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[DATA: 19 de Novembro de 1898
DESTINATÁRIO: Cardoso, Dargent & C.ª; LOCAL: Lisboa]

[7] 105Madeira, 19 de Novembro de 1898

Ill.mos Senhores Cardoso, Dargent & C.ª Lisboa


Amigos e Senhores
Participamos a V. S.as que temos cedido á firma Senhor William Hinton & Sons, desta Praça, cujo gerente é o Ex.mo Senhor
Harry C. Hinton, portador desta carta, [...] que tinhamos nos apparelhos em construcção nessa Casa e que d’ora avante V. S.as
se entenderão com o mesmo Ex.mo Senhor Harry C. Hinton em todos os negocios concernentes aos mesmos apparelhos.
Outro sim participamos tambem a V. S.as que esta casa[?] [...] com a firma João Higino Ferraz & C.ª, por[?] ser
devolvida[?], [...] os trabalhos d’aquella casa e socio della João Higino Ferraz desde o 1º de Janeiro do proximo [...] anno.
Esperando que tomem nota desta nossa resolução, Subscrevemo-nos com estima e consideração
De V. S.as Attenciosos Veneradores Amigos Muito Obrigados[Ass:] João Hygino Ferraz & C.ª //

[DATA: 14 de Junho de 1899


DESTINATÁRIO: Francisco Roiz & C.ª]

[8v] Ex.mos Senhores Francisco Roiz & C.ª


14 de Junho 9
Amigos e Senhores
Acabamos de enviar telegramma aos Senhores Booker Bros. & C.ª para carregarem o saldo do melaço (149 cascos), que a
“Felizberta” não poude trazer, no “Novo Machado 2º” em viagem para Demerára. Fica entendido que o preço do frete é o
mesmo que o da “Felizberta” 2.750 reis.
Seu Amigo Obrigado.[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 14 de Junho de 1899


DESTINATÁRIO: Manuel Gregório Pestana; LOCAL: Porto Santo]

[9v] 14 de Junho 99

Ill.mo Senhor Manuel Gregorio Pestana,Porto Santo


O senhor Henrique Hinton sahio para Londres no dia 30 do corrente, por isso lhe não pode responder á sua carta, e por isso
o Ex.mo Senhor William Hinton me encarregou de lhe responder á sua carta, com data de 11 do corrente.
Recebemos todos os apparelhos que d’aqui forão para a montagem da torre do Aermotor menos as travetas, que como V.ª
Ex.ª diz na sua carta se encarrega de as vender ahi, por isso lhe envio a conta em separado como deseja.
Quanto á conta do apparelho deve V.ª Ex.ª ao receber esta tel-a já na sua mão, visto o senhor Henrique ter já enviado. Vai
por este barco a calha de madeira para a condução da agua da bomba para o tanque, e o azeitador.
Quanto ao frete, até a hora de fechar esta carta não voltou cá o barqueiro por isso nada lhe posso dizer. No caso de se lhe
pagar aqui o frete mando-lhe dizer em bilhete separado, e no caso de nada lhe mandar dizer, é porque não foi pago.
De V.ª Ex.ª Attencioso Venerador Obrigado.[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 15 de Junho de 1899


DESTINATÁRIO: João Bernardino Gomes]
[10] Ex.mo Senhor João B. Gomes
15 Junho de 1899
Amigo e Senhor
Enviei-lhe hontem a bomba como me pedio e estamos tratando de arranjar o absorvo para a dita; e como na segunda feira
passada lhe disse, nada sei do negocio havido entre o Amigo e senhor Henrique Hinton, porque elle naturalmente esqueceu-lhe
de me dizer ou a outro empregado da Casa, contudo ficará o negocio para ultimar até elle voltar da sua viagem.

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Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 17 de Junho de 1899


DESTINATÁRIO: Harry Hinton; LOCAL: Londres]

[11v] Funchal 17 Junho 1899


Amigo e Senhor Henrique
Senti bastante não me ter despedido de si no dia da sua partida.
Nada de anormal se tem dado depois da sua sahida d’aqui.
Recebeu-se tellegramma do Booker Bros. & C.ª de Demerára participando ter embarcado pela “Felizberta” 251 cascos de
melaço, ficando um saldo de 149 cascos, e como está em viagem para Demerára o Yate “Novo Machado 2º” por conta de
Francisco Roiz & C.ª, combinei com seu pae, para eu tratar com elles sobre o embarque d’esse saldo no “Machado 2º”, como
fiz, pelo preço do frete de 2750 reis como o da “Felizberta”, e enviamos tellegramma os Senhores Booker Bros. avisando-os de
que devião embarcar no “Machado” o saldo do melaço. Fez-se o seguro do carregamento da Barca como me recommendou e
vamos segurar o saldo, logo que se receba tellegrama da sua sahida de Demerára.
Quanto ao destillador deve estar pronto, e montado em toda a semana proxima, e por isso logo que chegue o melaço da
Trindade vou principiar a fermentação para que não falte alcool á venda.
O senhor Blandy106 já levou os 2000 gallões d’alcool, e deve ter ficado satisfeito com a qualidade; este ultimo que lhe foi
estava magnifico, sem cheiro algum e marcou 47 ? minutos, (alcool neutro).
Desejava saber o negocio que fez com o João Bernardino Gomes sobre a bomba do senhor Krohn, visto elle, Gomes ter
levado a bomba e um chupa-sangue e me ter dito que a comprou ao senhor Krohn. Fez-se-lhe os consertos necessarios, e
escrevi-lhe dizendo-lhe que quanto ao negocio da bomba nada sabia // [12] e por isso quando o senhor Henrique voltasse de
Londres se ultimaria esse negocio.
Na terça-feira proxima deve-se cecar o assucar mascavo 1º da diffusão e vou fermentar esse melaço em separado como ficou
combinado, e mandar-lhe-ei dizer qual o rendimento em alcool.
O senhor Henrique vai fazer o favor de ver se pode dar com o jornal “La Biére” 1º anno nº 10, ou “L’alcool et le sucre” 2º
anno nº 5, em alguma das livrarias de Londres; estes jornaes tratam de um processo de preparação de fermentos puros pelo
systema de M. Fernbach, e que eu desejava obter ou então o tratado d’este mesmo autor, o que era muito melhor.
Sem assumpto para mais, subscrevo-me com toda a consideração
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 23 de Junho de 1899


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[13v] 23 Junho 1899
Amigo e Senhor Henrique
Recebeu-se no domingo 18 o melaço de Hamburgo, que não vinha em muita boa ordem visto ter aparecido alguns cascos
em mau estado com mostras de ter derramado; por isso, pedio-se vistorio[sic] o que se fez dando em resultado serem nomiados
[...] que forão o Pedro Roiz e o comandante de um vapor carvoeiro que estava no porto. No seu depoimento disserão elles que,
parecendo que a carga tinha sido embarcada em boa ordem, a causa dos derrames tinha sido devida ao terem collocado sobre
as barricas grande quantidade de carga e que deu causa a que o arcos [sic] sahissem dos seus logares deixando por isso sahir o
melaço; Calcularão o prejuizo em 15%.
Pezado o melaço na Alfandega deu uma quebra de seis mil e tantos kilogramas (não lhe posso dizer ao certo porque não
tenho presemte a nota, seu pae é que a tem e naturalmente manda-lh’a).
Consegui que o melaço derramado dentro dos barcos do cabrestante, que tinhão alguma agua, (porque o melaço ficou do
domingo para a segunda feira nos barcos), não pagasse direitos, o qual pezado na fabrica deu o pezo liquido de 4184 kilogramas
tendo muito pouca agua, por isso calculo em 3000 a 3200 kilos de melaço liquido, mas não posso calcular ao certo senão depois
da destillação.
Como o melaço da Trindade não tivesse ainda vindo e como havia muito pouco alcool em deposito, pedi auctorisação a seu
pae para despachar umas 50 barricas, o que elle concordou e tratei logo de por em fermentação, quando no dia 21 houve parte
que o navio da Trindade estava á vista; mas como havia de ter alguma demora na descarga // [14] e analyse do melaço para

50
então se poder despachar, não me parece que tivesse feito mal em despachar as 50 barricas [.] Não lhe posso mandar dizer n’esta
carta o resultado da minha analyse do melaço de Betterraba nem do da Trindade porque não tive ainda occasião de a fazer.
Seccou-se o assucar mascavo 1º da experiencia das diffuzores que deu 14 sacos de 75 kilogramas, e 4048 kilogramas de
melaço que já está em fermentação.
O Alambique ficou hoje montado.
Vou dar um balanço ao alcool para precisar novamente qual é a quebra da retificação.
Os senhores Cossart’s levaram ante-hontem os 2500 gallões d’alcool, e hoje o senhor Carlos Cossart107 vei[sic] procurar-me
trazendo uma mostra de vinho mostrando percipitado branco, dizendo-me que os homens quando estavão trazendo o alcool dos
cascos, um dos canecos tinha um resto de vinho, e logo que lhe deitarão o alcool em 40º torvou o vinho, veio-me perguntar a
que seria devido isso, se o alcool levava algum acido que desse esse resultado; eu respondi-lhe que o alcool nada levava e se o
vinho mostrou esse percipitado é porque o alcool em 40º coagula a albuminia e outras materias que o vinho contem e que as
percipita, e pedi-lhe que esperimentasse com outro qualquer alcool que lhe devia dar o mesmo resultado assim fez com alcool
dos Açores, e deu-lhe o mesmo percipitado. //
[15] Torno a lembrar-lhe a cevada germinada ou pale-malte; como lhe tinha dito que era necessario mandar vir uns 500
kilogramas e não veyo na correspondencia nenhuma encommenda d’esse genero, talvez o senhor Henrique se tivesse esquecido
de a fazer.
Desejava que o senhor soubesse que substancia é que lhe dão o nome de malto-peptone e que Barbet recommenda se
empregue na preparação dos fermentos puros e qual o seu preço para ver se há vantagens em empregal-a; se podesse obter uns
5 a 10 kilos e me enviasse estimava muito, para fazer uma experiencia.
A temperatura atmospherica vai subindo muito e a preparação dos fermentos é um pouco difficil não sendo feitas a 20 a 25º
o maximo de temperatura, talvez me veja na necessidade de empregar um pouco de gelo nos fermentos.
Por nada mais ter a dizer-lhe n’esta occasião
Subscrevo-me com toda a consideração
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 1 de Julho de 1899


ESTINATÁRIO: Harry Hinton]

[16] Funchal 1 Julho 1899


Amigo e Senhor Henrique
Recebi por mão do senhor seu pai a sua carta o que muito lhe agradeço. Junto vinha uma carta para o Manuel que lhe foi
entregue.
Qunto ao seguro provisorio dos 400 cascos ficou sem effeito, e o novo seguro foi feito só sobre o melaço que a Barca
carregou.
Como lhe disse na outra carta recebeu-se o melaço da Trindade, que vinha em boa ordem. O frete foi pago a 3000 reis como
tinha recommendado.
Analysei os melaços, de betarraba de 4 barricas que mostrou 50% de saccarose:
O da Trindade mostrou – saccarose: 50%
Amostra egual assucar total 69
á da Alfandega Glucose 19 %
A analyse feita na Trindade segundo o certificado mostrou saccarose 49,8%
Glucose 17%
Como vê o melaço é de boa qualidade.
O melaço de betterraba faz uma differença para mais, da primeira remessa de 3%. Destilou-se o melaço da esperiencia dos
diffusores (4048 kilogramas), que rendeu 331 gallões de alcool em 40º.
Os derrames do Melaço de betterraba deu 218 ? gallões em 40º que ao rendimento de 7,4 gallões por 100 kilogramas
representa 2950 kilogramas, de melaço liquido.
De 1 a 12 de Julho esta em reclamação a contribuição industrial; naturalmente é necessario reclamar novamente, visto não
ter vindo ainda de Lisboa o accordão do tribunal. Seu pae mandou-me ao Dr. N. Jardim108 fallar-lhe sobre isso, e elle aconsilhou
a pedir por tellegramma ao Costa Campos uma certidão do dito accordão para ser junto ao requerimento, o que se fez, e no caso

51
de não vir a tempo a certidão vou apresentar a sua reclamação, no caso das colletas não estarem regulares.
Já se despachou 100 barricas de melaço de beterraba e metteu-se hoje a despacho o melaço da Trindade para principiar o
trabalho d’elle na segunda feira 3 de Julho. //
[17] Sem assumpto para mais desejo-lhe que gose bastante na sua viagem a Noruega e pesca do salmão.
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz.

Junto á Carta com data de 1 de Julho 1899


Resultado do melaço da Trindade pelo “Oliveira Mendes”
Factura de 150 ponchins – 17335 gallões
Alfandega PB – 95474 kilogramas
Tara 10% 9547
85927 kilogramas a 5 kilogramas – 17185 gallões
Quebra 150 gallões
3/7/1999 [Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 7 de Julho de 1899


DESTINATÁRIO: Charles Hinton
CARACTERIZAÇÃO: Notas sobre produção de aguardente, alcool, aguardente de bagaço]
[18] Notas para o Ill.mo Senhor Carlos Hinton

Rendimento medio da canna em aguardente tratada pela diffusão no anno 1899.


Rendimento por 30 kilogramas de canna
5,74 quartilhos d’aguardente em 28º Cartier
Está incluido n’este rendimento os primeiros Lotes que deram em rendimento muito baixo (3,5 a 4 quartilhos).
Resultado da 1ª remeça de melaço de beterraba vindo de Hamburg: 400 barricas com o pezo liquido de 99.133 kilogramas
de melaço rendeu em alcool de 40º (retificado, quebra de 5%) 7295 gallões Percentagem em saccarose 47%
Glucose – 0
A ultima moenda de canna para assucar foi de 173.233 kilos de canna ou 5774 almudes que rendeu em aguardente de bagaço
847 gallões em 28º
Neste 1º semestre a quebra da retificação, contando tanto a aguardente em rama como alcool retificada a 100º centigrados
a 15º temperatura, foi de 2%!
Já estamos usando na apuração da aguardente em rama para a retificação, o permanganato. Os 6 depositos teem dado para
esse trabalho.
A pureza do alcool (exame feito pelo processo Barbet) era de 15 a 20 minutos, emquanto que hoje pelo novo systema dá
uma decoloração de 43 a 48 minutos considerado alcool neutro.
7/7/99 [Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 8 de Julho de 1899


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]

[19] Funchal 8 Julho 1899

Amigo e Senhor Henrique


Pouco tenho que lhe dizer depois da minha ultima com data de 1 do corrente.
O melaço de beterraba não está á data d’esta, todo destillado, falta ainda duas cubas, mas pela aguardente que já está tirada
e pelas cubas que faltão destillar vejo que o rendimento deve ser melhor que o da outra remessa.
Quanto a melaço da Trindade é de magnifica qualidade, fermenta muito regularmente e a paragem é de ?º Baumé, a
fermentação é muito pura com 2,7 gramas d’acidos por litro. Tenho tido o maximo cuidado que a fermentação se fassa pura em
vista da temperatura athmospherica ser alta. Do rendimento lhe darei conta na semana proxima, mas já lhe posso prophetisar
um bom rendimento.

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O custo d’este melaço com factura e despezas até ao armazem alfandegado é de 225 reis por galão ou 5 kilogramas.
Ficamos ao Lemos109 com 40 cascos de melaço da Trindade ao preço de 220 reis por cada 5 kilos (pezo da fabrica). Segundo
a factura e despezas que elle apresentou o melaço fica-lhe custando a 235 reis, mas seu pae recommendou-me que lhe fizesse
o preço mais baixo possivel, e em vista de elle receber a/v.[?] uma lettra S/[?] Londres a 90 d/v.[?] de 150 libras, e por se esperar
muito melaço na occasião e tambem por ser o melaço de qualidade um pouco inferior ao nosso 28% saccarose
38% glucose não lhe podia fazer melhor offerta. //
[20] Sem assumpto para mais subscrevo-me com toda a consideração.
Seu Amigo Obrigado.[Ass:] João Higino Ferraz

[DATA: 11 de Julho de 1899


DESTINATÁRIO: E. Bernard & C.ª]
11/7 1899
Messieurs E. Bernard & C.ie
Je vous pris de m’envoyer par la prochain Poste l’ouvrage en brochure in-8º de 20 pages et planche de Monsieur Georges
Jacquemin110 – Les Levures pures de vin en distillerie.
Ci-joint un mandat-poste de 1,50 francs prix, de votre Catalogue de 1895.[Ass:] João Higino Ferraz.Gérant de la
Destillerie.Funchal. Madeira //

[DATA: 13 de Julho de 1899


DESTINATÁRIO: Henrique de Meneses Borges]

[21] Ill.mo Senhor Henrique de Menezes Borges


13 Julho 1899
Amigo e Senhor Borges
Esqueceu-me de lhe dizer que o alcool é pago á vista, porque é essa a ordem que o senhor William Hinton deu; quando o
senhor Henrique vier poderá o Amigo entender-se com ele sobre qualquer ajuste que passa a prazo.
Vai a declaração de que o alcool é para tratamento de vinho, que o Amigo me remetterá assignada.
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA:15 de Julho de 1899


DESTINATÁRIO: Augusto B. C. de Sampaio]

[22] Ill.mo Augusto B. C. de Sampaio


15 Julho 1899
Amigo Sampaio
Fallei ao senhor William Hinton sobre o melaço e elle encarrega-me de te dizer que não pode ficar na occasião com esse
melaço visto <ter> encomendado grande quantidade d’elle de Demerára, Cuba e Trindade e não poder fazer n’esta occasião
offerta alguma.
Teu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 15 de Julho de 1899


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[23] 15-7-1899
Amigo e Senhor Henrique
Tenho o prazer de confirmar o que lhe disse na outra carta com relação ao melaço da Trindade: O rendimento foi superior
ao meu calculo devido á bôa fermentação desde o seu principio até ao fim; o grau de paragem foi de ?º Baumé em todas as
cubas, e a acidez regular entre 2,5 a 2,7 gramas por litro, o que no verão é rarissimo, e o rendimento em alcool de 40º Cartier
foi de 10,8 gallões por 100 kilogramas de melaço (com quebra de 5% no alcool).
Deve ser despachado hoje o resto do melaço da Trindade (30 cascos) e fica n’esse caso o armazem prompto a receber o
melaço de Cuba.

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Em vista da grande procura de alcool, não tenho tido occasião de ter em deposito mais de 500 a 1000 gallões, e ainda muita
temos para entregar.
Depois de destillar todo o melaço da Trindade vou destilar o que se comprou ao Lemos111.
Quanto ao melaço de beterraba parece-me que o senhor Hinton112 deve-lhe ter mandado a nota do rendimento, que eu lhe
dei que foi 7,8 gallões d’alcool em 40º por 100 kilogramas de melaço. Agora com relação ao resultado da vistoria é que não
estou nada satisfeito, visto o carregador querer livrar a Companhia dos vapores da responsabilidade dos derrames, dizendo que
os derrames forão nos barcos devido a estarem um dia ao sol, e por isso a temperatura elevada ter feito com que o melaço
expandice nas barricas e desse causa aos derrames; ora isto não é verdade, segundo vou expor com mais dados: O pezo bruto
do melaço segundo a factura de Hamburgo // [24] é de [...]
Tara 6.796
Liquido 49.508
O melaço pezado na Alfandega deu
Pezo bruto —————- 50.001 kilogramas
Tara ————————— 6.796 “
Liquido ——————— 43.205 “
Contou-se todo o melaço e agua salgada que havia nos barcos não havendo prejuizo algum, e cuja agua e melaço pezou
liquido 4184 kilogramas (conforme já lhe disse em outra carta) que fermentado e destillado produzio em alcool quantidade
correspondente a 2450 kilos de melaço:
Ora o pezo liquido de Hamburgo foi:
49.508 kilogramas
Pezo da Alfandega 43.205
Quebra 6.303
Melaço junto
dos barcos 2.950
Derrames a bordo
do vapor 3.353 kilogramas
Este é que é o prejuizo real causado aos Senhores e que a Companhia não pode nem deve recusar a pagar visto a razão dos
derrames ser a carga que as barricas tinhão sobre si, e que deu causa a este prejuizo.
Logo que venha o melaço de Cuba vou tratar de fermentar para ver o rendimento, para por elle os senhores verem o que
têem a fazer com as futuras encomendas.
Sem assumpto para mais subscrevo-me com toda a consideração.
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 25 de Julho de 1899


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[25] 25/7 1899
Amigo e Senhor Henrique
Depois da minha ultima carta pouco mais tenho a dizer-lhe.
A Barca Felizberta chegou com o melaço de Demerára do qual pouco lhe posso dizer porque ainda se esta procedendo á
descarga; mas o que lhe posso dizer de agradavel é que elle é de magnifica qualidade, amarello claro, com residuos de assucar;
mostrou 44% de saccarose, e na amostra da Alfandega mostrou 45,2% saccarose. O certificado dava 45% saccarose.
Quanto ao navio de Cuba não temos notícias até esta hora.
Foi attendida a reclamação da contribuição Industrial com relação ao anno de 1898, em vista do accordão do Tribunal,
devendo pagar por isso pela taxa meior que ainda não está determinada. Os Senhores devem ter o direito de receber o que
pagarão a mais nos annos de 97 e 98, e por isso o Senhor Hinton113 já me autorizou a tratar com o Dr. N. Jardim114 sobre esse
assumpto, o que vou fazer por estes dias.
Sem assumpto para mais subscrevo-me com toda a consideração
Seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 30 de Julho de 1899

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DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[26] 30 Julho 1899
Amigo e Senhor Henrique
O resultado do melaço da Trindade pelo “Oliveira Mendes” foi o seguinte: 150 cascos factorados com 17335 gallões a 5
kilogramas ——- 86695 kilogramas
Pezos liquidos: Na Alfandega = 85.926 kilogramas
Na Fabrica = 80.151 kilogramas
Resultado do Melaço de Demerára pela Felizberta:
270 cascos facturados com 27575 gallões a 6 kilogramas =165.090 kilogramas
Pezo liquido da Alfandega = 182.426 kilogramas
Dito do melaço comprado ao Francisco Roiz & C.ª
30 cascos com 2994 gallões a 6 kilogramas = 17.964 kilogramas
Pezo liquido Alfandega = 20.074 kilogramas
O rendimento dos 40 cascos comprados ao Lemos115 foi de 10,2 gallões por d’alcool em 40º por 100 kilogramas de melaço:
Como vê o rendimento foi bom. Ao Lemos segundo elle me disse o rendimento foi de 8,5 gallões em 40º: Faço-lhe notar que
eu não lhe disse o rendimento que aqui tinha dado, sô lhe pedi que me dissesse o rendimento para eu combinar com o de cá
Estou desejando de ver o rendimento do melaço de Demerára que me parece deve ser bom devido á boa qualidade do melaço
e á boa fermentação que fez. Na proxima malla talvez lhe possa dar o rendimento d’elle.
O navio de Cuba foi arribado a São Miguel com o capitão doente. O Pedro Roiz tellegraphou emmediatamente prevenindo
que o navio tivesse o menos demora possivel n’esse porto, e dessem logo tellegramma da sua sahida. //
[27] Temos trabalhado aos domingos com o retificador, isto é não tem parado um momento. Quanto ao destillador não tem
havido necessidade de trabalhar tambem ao domingo visto haver aguardente em rama suficiente que o retificador não dá
vencimento.
Vou na proxima semana desfazer o resto do melaço de Hamburgo porque qualquer dia temos ahi nova carga e não há outro
armazem para o pôr.
Sem assumpto para mais subscrevo-me com estima
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 6 de Agosto de 1899


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[28] 6 agosto 1899
Amigo e Senhor Henrique
O rendimento do melaço de Demerára foi de 10,3 gallões d’alcool em 40º por 100 kilogramas de melaço (quebra de 5 %):
Não foi tão bom como eu esperava, devido talvez a que a temperatura athmospherica influiçe n’esta qualidade de melaço cuja
fermentação era muito forte e rapida aquecendo muito, e como é grande o desprendimento do gaz acido carbonico levava
consigo algum alcool formado, ainda que a acidez era pouca, 2,2 a 2,3 gramas por litro e paragem de 3/4º e 12º, em quanto que
o da Trindade a fermentação era menos tumoltuosa[?] e mais demorada aquecendo pouco e paragem de ?º, e por isso pouca
evaporação d’alcool. Contudo o rendimento não foi muito mau mas esperava uns 11 gallões por 100 kilogramas: Se fosse feita
com a temperatura mais fresca talvez desse.
O Navio de Cuba já sahio de Ponta Delgada (São Miguel) mas o capitão ficou lá devido á sua doença; estamos á espera
d’elle a todo o momento. Já se tratou para que o navio não trazendo carta perfeitamente limpa descarregue debaixo de
quarentena.
Este navio tambem tem dado muito que fazer á Guarda Fiscal porque desconfião que traz um grande contrabando de tabaco
e sedas!!...
Sem assumto para mais desejo-lhe uma boa viagem para a Madeira. Já me esquecia dizer-lhe que o Visconde de Val Paraiso
pede-me para lhe dizer que não se esqueça das casinhas
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 6 de Agosto de 1899


DESTINATÁRIO: Charles Hinton]

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[29] 6 Agosto 1899
Ill.mo Senhor Carlos
Envio-lhe como é seu desejo a nota de comparação dos rendimentos dos diversos melaços comprados ultimamente:
1ª remessa de melaço de Beterraba com 47% de saccarose – custo por kilograma 62 reis rendeu 7,5 gallões d’alcool em 40º
por 100 kilogramas de melaço (quebra do alcool feita a 5%)
2ª remessa de melaço de Beterraba com 50% de saccarose – custo por kilograma 60 reis – Rendeu a 7,8 gallões d’alcool em
40º por 100 kilogramas de melaço (quebra de 5%).
Melaço da Trindade comprado ao Lemos116 a 220 reis por 5 kilogramas – rendeu 10,2 gallões d’alcool em 40º por 100
kilogramas de melaço
Ultimo melaço vindo da Trindade pelo “Oliveira Mendes” que sahio a 225 reis por cada 5 kilogramas rendeu a 10,5 gallões
d’alcool em 40º por 100 kilogramas
Melaço de Demerára pela “Felizberta” rendeu a 10,3 gallões d’alcool em 40º (quebra de 5%)
As percentagens de assucar achadas forão as seguintes:
Melaço da Trindade Lemos – saccarose: 28%
Glucose 38,6
Melaço da Trindade Hinton saccarose: 50%
Glucose: 19,4%
Melaço de Demerára – Hinton saccarose: 45%
Glucose: 22,6
[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 10 de Agosto de 1899


DESTINATÁRIO: António da Silva Manique]

[30] Ill.mo Senhor Antonio da Silva Manique


10 Agosto 1899
Amigo e Senhor
Os Senhores William Hinton & Sons podem ceder-lhe uma pipa de alcool em 40º a prompto pagamento ao preço de 1150
reis por gallão.
Quanto ao casco não podemos fornecer por o não termos em condições para isso.
De V.ª S.ª Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 14 de Março de 1900


DESTINATÁRIO: Cardoso, Dargent & C.ª; LOCAL: Lisboa]

[31v] 14 março 1900


Ill.mos Senhores Cardoso, Dargent & C.ª Lisboa
Vejo-me na rigorosa obrigação de lhe escrever juntando os meus protestos aus[sic] dos Ill.mos Senhores William Hinton &
Sons, com relação á construcção dos apparelhos de diffusão visto ter sido eu o que primeiro tratei com V.as Ex.as a construcção
do dito aparelho e que depois o cedi aos ditos Senhores Hinton & Sons acceitando V.as Ex.as esta cedencia. Contudo visto ser
eu o gerente da fabrica de Destilação da dita firma, cumpre-me informal-os do estado em que se achão as torneiras com femia
de ferro de quatro vias e macho de latão com abertura em anglo recto: As torneiras estão em estado lastimoso de derrame tanto
para o lado de dentro como para fora, e não havia meio de as vedar, dando em resultado que na laboração do anno passado
tivemos graves prejuizos.
Se V.as Ex.as se tivessem cingido ao que tratamos em Lisboa quando ahi estive, na forma da construcção das torneiras que
eram de ferro fundido tanto o macho como a femia e fechadas na parte inferior, com bucim na parte supperior, nada d’isto se
teria dado. Vemo-nos na obrigação de as transformar completamente para evitar mais prejuizos.
Para maior certeza do que acabo de lhe referir seria bom V.as Ex.as encarregassem o seu agente na Madeira a vir verificar
de visu, o que acabo de lhes referir.
Sou de V.as Ex.as Attencioso Venerador[Ass:] João Higino Ferraz //

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[DATA: 3 de Novembro de 1900
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[32] 3 novembro 900
Amigo e Senhor Henrique
Aviamos o lote Nº 29, melaço da Fabrica que deu o rendimento de 6 7/10 gallões d’alcool a 100º a 15º temperatura por 100
kilogramas de melaço. Este melaço foi desfeito como sabe em 9º a 10º Baumé com uma acidez inecial de 3 gramas por litro e
final com a media de 4 gramas; grau de paragem 2 ?º Baumé. O lote Nº 22 tambem melaço da fabrica deu por 100 kilogramas
de melaço 6 8/10 gallões a 100º a 15 temperatura. O rendimento medio dos melaços da Fabrica do anno de 1899 foi de 6 5/10
gallões a 100º a 15 temperatura. Quanto ao melaço da Refinação de Lisboa estamos principiando a destilal’o. Este melaço desfiz
tambem em 9º a 10º Baumé com uma acidez inecial de 1,6 gramas por litro; O grau de paragem foi de 2/4º Baumé com uma
acidez final de 2,7 gramas por litro.
Tenho esperanças que o rendimento em alcool seja de 9 gallões por 100 kilogramas em 100º a 15 temperatura como lhe tinha
dito. A experiencia feita em 1899 com este melaço deu 8 8/10 gallões a 100º a 15 temperatura. A fermentação é muito boa, e a
destillação faz-se bem dando um alcool rasoavel, não mostra o cheiro caracteristico ao melaço (petrolio). Já se desfizeram 140
barricas d’elle.
Por emquanto vai tudo bem.
Do que houver lhe darei conta na proxima carta.
Seu Amigo Obrigado.[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 9 de Novembro de 1900


DESTINATÁRIO: Dr. João Albino Roiz de Sousa]
[33] 9 Novembro 900
Amigo e Senhor Dr. João A. R. de Sousa
Como o Ex.mo Senhor Carlos Hinton não lhe pode escrever n’esta occasião, pedio-me para o fazer, sobre o assumpto da
Fabrica de Sant’Ana: Estivemos com o Senhor Governador Civil no mesmo dia em que recebemos a sua carta, demos-lhe todas
as explicações que sabiamos sobre o assumpto, fazendo-lhe ver os graves prejuizos que pode causar á agricultura e á industria
a prohibição da fabricação em aguardente do sorgo e canna do milho. Dissemos que a fabrica tinha pedido auctorisação para
laborar estas materias primas em alambiques continuos, e que lhe tinha sido passada a respectiva licença; não sei se isto se
passou assim, isto é, se o amigo tem em seu poder a auctorisação para laborar n’estas condições.
Elle prometteu-nos tratar n’esse mesmo dia d’este negocio, mandando chamar o Comissario do alcooes [sic] para saber o
que havia de verdade e que nos daria a resposta no dia seguinte.
Hoje fui eu la saber o que se poderia fazer, e o Senhor Governador Civil disse-me o seguinte: Que no caso da Fabrica estar
habilitada a destillar o sorgo e canna do milho em alambiques continuos, não havia duvida nenhuma que estavão d’entro da lei,
visto lhe ser dada a licença podendo laborar sem receio, mas no caso de não estar a licença passada n’essa conformidade,
poderia contudo laborar até que elle fizesse ver ao ministro os inconvenientes que isso traz, e conseguir que por uma portaria,
essas duas materias primas, sorgo e canna do milho, gozem do mesmo privilegio que a canna de assucar. Elle pede para lhe
mandar a licença para elle ver em que condicções foi passada, e espero que o Amigo me enviará o mais breve possivel. //
[34] Agora uns conselhos que lhe vou dar á parte; não fassa alarde politico d’esta concessão que isso nos pode prejudicar:
Não tenha aguardente de sorgo e canna do milho em deposito na Fabrica, remova-a o mais depressa possivel para logar seguro,
e a que se for destillando pondu-a[sic] com dôno.
Esperando a sua resposta o seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 10 de Novembro de 1900


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[35] 10 Novembro 900
Amigo e Senhor Henrique Hinton
Acabamos o lote Nº 30, melaço da Refinação de Lisboa. – O rendimento foi de 8,6 gallões d’alcool a 100º a 15 temperatura
por 100 kilogramas de melaço. – O grau de paragem foi na media de 5/4 Baumé, a acidez inecial 1,7 a 1,6 gramas e a final 3
gramas na media

57
Este melaço foi o que se tirou a amostra na Alfandega que tinha:
40% saccarose
59,5% assucar total
19,5% glucose
O melaço d’esta mesma proveniencia que veio em abril do anno passado deu 8,6 gallões em 40º com 5% quebra: tinha 52%
saccarose.
Como vê o rendimento não chegou ao que eu esperava mas isto devido a que o grau de paragem que eu calculava ser de ?º
Baumé foi de 5/4º, o que dá uma differença no rendimento: Ainda assim o lucro não é mau em comparação com o que se está
tirando dos outros melaços.
O melaço da Fabrica deve ficar todo desfeito na semana proxima. Segundo o que calculei com o Joãozinho do que está por
desfazer, nos filtros e tanques, vejo que vai dar muito mais melaço na porporção da canna moida, pela do anno passado; calculo
em 440 cascos em quanto que o anno passado deu 354 cascos.
Senhor Henrique no caso de hir a Paris pedia-lhe o obsequio de me comprar um candieiro “Denayrouse” de incandescencia
pelo alcool da força de 20 vellas (bougies). Desejava ter um d’estes candieiros que me dizem dar uma luz magnifica.
Sem assumpto para mais subscrevo-me com toda a consideração.
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 15 de Novembro de 1900


DESTINATÁRIO: Pedro Rodrigues]
[36] 15 Novembro 900
Amigo e Senhor Pedro Rodrigues
Fallei com O Ex.mo Senhor Carlos Hinton sobre o melaço que a firma Rodrigues & Abreu tinha comprado em Demerára
(200 cascos) a 25 cents[?] o gallão. O melaço posto no porto do Funchal fica por um preço bastante elevado, mas em vista da
escassez e preço elevado em todos os mercados, disse-me que pode ficar com o dito melaço desde o momento que seja do de
melhor qualidade, com 65% d’assucar total pelo menos, egual ao que lhe compramos em Julho do anno passado vindo pela
“Felizberta” (30 cascos).
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 8 de Dezembro de 1900


DESTINATÁRIO: Cardoso, Dargent & C.ª; LOCAL: Lisboa]

[37] 8 Dezembro 1900


Ill.mos Senhores Cardoso, Dargent & C.ª,Lisboa
Amigos e Senhores
Em resposta á sua attensiosa carta com data de 18 de novembro do corrente, tenho a dizer-lhes que senti bastante a forma
pouco delicada como foi tratado.
Como V.as Ex.as devem ver da correspondencia da firma João Higino Ferraz & C.ª com V.as Ex.as, em carta com data de
19 de novembro de 1898 cedemos aos Ill.mos Senhores William Hinton & Sons todos os direitos nos apparelhos de diffusão, o
que V.as Ex.as asseitaram, não tendo por isso eu, João Higino Ferraz & C.ª, nada que ver com questões suscitadas entre V.as
Ex.as e os Ill.mos Senhores William Hinton & Sons.
Quanto ao que V.as Ex.as esperam do meu bom caracter que empregue junto dos Ill.mos Senhores William Hinton & Sons
os meus bons officios, tenho a dizer-lhes que os socios d’esta firma têm a capacidade moral sufficiente para derigirem os seus
negocios, não necessitando dos meus conselhos nem de outro qualquer. //
[38] Como o Ex.mo Senhor Henrique Hinton não esta presentemente na Madeira, e como foi elle que tem tratado todo este
assumpto com V.as Ex.as, seu irmão o Ex.mo Senhor Carlos Hinton aguarda a sua chegada para responder-lhes defenitivamente.
E sem assumpto para mais
Seu Attencioso Venerador[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 18 de Dezembro de 1900


DESTINATÁRIO: João Albino Roiz de Sousa]

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[39] 18 Dezembro 1900
Amigo e Senhor
João Albino Rois de Sousa
Na impossibilidade do Ex.mo Senhor Carlos Hinton lhe poder responder a sua carta por isso que elle partiu hontem para
Londres, fasso-o eu, dizendo que recebemos o seu telegramma d’hontem participando que tinha tido selada a aguardente
existente na Fabrica.
Sinto bastante que isso se tivesse dado, mas o meu Amigo deve ter a minha carta com data de 9 de novembro em que lhe
dizia não tivesse em deposito na Fabrica aguardente, e se tivesse tomado o meu concelho não lhe teria sucedido isso. Nesse
mesmo dia foi ao Governador Civil participar-lhe o sucedido e elle respondeu-me com evasivas, e sô depois de eu lhe fallar um
pouco mais energico lembrando-lhe o que elle tinha prometido, é que elle se dignou dizer-me que em Lisboa havia de tratar
d’este assumpto. Não trata de nada, as eleições estão passadas e já não necessita nem dos Senhores nem de nós.
O Ex.mo Senhor Henrique Hinton deve estar aqui amanhã 19 e elle lhe escreverá. Recebemos um bilhete postal seu e que
ficamos ciente do seu contiudo.
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 29 de Dezembro de 1900


DESTINATÁRIO: Charles Hinton]
[40] 29 Dezembro 1900
Ill.mo Amigo e Senhor Carlos
Na semana passada não lhe escrevi porque pouco teria que lhe dizer.
O engenho veio no dia 22, e sô uma pequena parte dos apparelhos do Manoury (filtros mechanicos)117 é que vierão. Vai
fazer algum transtorno esta demora, visto que o resto dos apparelhos sô estarão aqui no sabado proximo, o que faz uns 15 dias
de atrazo. O Manoury queixa-se do carregador (por[?] Best) que em logar de escolher o porto de Havre escolheu o outro <porto
Dresde> cuja companhia de caminho de ferro é uma sô, que faz muitas estações, o que fêz com que parte das Machinas ficassem
pelo caminho confundidas com outras cargas: Mas se elle Manoury via que pelo Havre a condução era mais rapida e não estava
sujeita a este contratempo, por que não o aconcelhou?!...
Emfim agora não há remedio e logo que ellas chegem vamos tratar da montagem d’ellas, e tenho esperanças que em 15 dias
se ponha tudo prompto.
O Mestre João já anda a contas com o engenho, até agora tem dado tudo certo, está montando hoje os cylindros.
Acabei o lote de Melaço de Lisboa que rendeu 8,37 gallões d’alcool a 100º a 15 temperatura: deu menos 0,23 gallões por
100 kilogramas melaço que o 1º lote. Esta differença no rendimento deve ter sido devida a que o melaço que ficou para este
lote é o tal que // [41] tinha umas barricas de melaço muito delgado e que mostrou pouca saccarose (16%).
Quanto ao melaço de Beterraba deu 8 gallões a 100º, a 15 temperatura por 100 kilogramas melaço, o que é um bom
rendimento.
Os tubos de cobre sempre vieram no sabado, vamos dar principio ás buquilhas como o senhor Carlos tinha recommendado.
Juntamente com o engenho veio tambem as peças das centrifugas
O Manoury escreveu sobre a mostra de assucar do Natal que o senhor Carlos lhe enviou, e diz elle que aquella qualidade é
devido á má fabricação e que o de câ não sahirá assim.
Sem assumpto para mais subscrevo-me com toda a concideração
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Ferraz

[DATA: 15 de Janeiro de 1901


DESTINATÁRIO: Charles Hinton]
[42] 15 Janeiro 1901
Ex.mo Amigo e Senhor Carlos
Até que emfim chegarão as machinas no dia 12 do corrente, ficando tudo na Fabrica no dia 14. Temos tirado tudo dos
caixões, e parece não faltar absolutamente nada, vem tudo em boa ordem a não ser uns quadros dos filtros presses que trouxerão
uns descanços partidos mas que se vão concertar; Já se principiou a montagem dos apparelhos; felizmente as machinas não teem
feito grande falta viste se estar trabalhando nas buquilhas dos canos de cobre e ter feito a montagem dos filtros mechanicos. O
engenho de espremer já está todo montado, menos o elevador do mato para queimar que ainda não está no seu logar. A mim é

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que as cousas não tem corrido nada bem. Os fermentos não tem querido desenvolver bem de maneira que já tenho feito 3
fermentos e perdido dois, este ultimo é que esta desenvolvendo bem mas foi feito nos apparelhos antigos. Não sei se devido ao
acetato de cobre que se formou dentro dos apparelhos emquanto esteve parado nestes dias de festa, que não me parece que seja
de outra cousa em vista do gosto prenonciado a cobre que tem a bebida, que mata o fermento não o deixando desenvolver. Tive
o cuidado de lavar a vapor todos os apparelhos mas mesmo assim não foi sufficiente. Como tenho o fermento feito nos
apparelhos antigos, vou principiar a desfazer o melaço e pode ser que então desapareça todo118 //[43]119

[DATA: 5 de Fevereiro de 1901


DESTINATÁRIO: Visconde de Idanha]
[44] 5 Fevereiro 1901
Ill.mo Amigo e Senhor Visconde de Idanha
Que este novo anno lhe traga todas as prosperidades por si desejadas é o que de coração lhe deseja este seu Amigo.
É chegada a occasião de o massar com o meu pedido que quando ahi estive lhe fiz, e espero que a sua preciosa cooperação
e influencia muito poderá fazer.
Como sabe não tenho hoje Fabrica minha, mas os meus interesses estão de tal forma ligados com a industria do fabrico do
assucar e alcool, e alem d’isso como pequeno propriatario que sou e por ver que é de grande interesse para a agricultura da
Madeira, me interessa bastante esta questão.
Passamos ao assumpto:
O decreto de 30 de Dezembro de 1895 procurou conciliar os interesses de um dos dois principaes ramos da agricultura dos
Destricto [sic], a canna saccarina com a industria do fabrico do assucar e alcool e ainda com outro ramo egualmente importante,
a vinha e com a industria d’ella derivada a exportação de vinho; // [45] Este decreto foi o resultado de reuniões de commições,
tanto de fabricantes como de propriatarios, e sendo tambem approvado por unanimidade pela Grande Comissão da Madeira,
que tinha por fim zelar os interesses da agricultura, com o fim de salvar a cultura da canna saccarina d’esta Ilha, cultura que
hoje é calculada entre 400 a 500 contos de reis.
O Decreto obriga os Fabricantes d’assucar e aguardente que se matricularem á compra de toda a canna de assucar pelos
preços minimos de 400 a 450 reis por 30 kilogramas marcados cada anno pela Delegação do Mercado Central de Productos
Agriculas. O meio então pelo qual se conseguio <a> conciliação dos Industriaes e propriatarios foi o abaixamento do imposto
sobre o melaço estranjeiro, destinado, exclusivamente, ao fabrico do alcool para tempero de vinhos, e d’ahi resultaram decididas
vantagens, que por um lado, garantiram todos aquelles interesses e pelo outro asseguraram ao estado maiores rendimentos
Alfandegarios, porque sendo o anterior direito prohibitivo, ou quasi prohibitivo, pouca ou nenhuma receita arrecadava o Estado
d’essa proveniencia.
Variaram, porem, as circunstancias economicas // [46] que serviram de base á referida lei, e d’ahi a exposição e pedido dos
Fabricantes e importadores de melaço. As vantagens da importação do melaço commeçaram a diminuir em 1897 e hoje
desapareceram por completo, em vista da subida enorme que tem havido no preço dos melaços nos mercados estranjeiros e da
differença nos cambios. Os preços dos melaços no anno de 1896, confrontados com os preços actuaes são uma demonstração
clara d’essa variação: Em 1896 o custo do melaço na Trindade era de 4 a 6 cents e hoje está a 14 cents; os de Demerára em
1896 era de 8 a 10 cents, hoje custa 20 a 25 cents; O cambio que em 1895 estava a 5,500 reis, está hoje a 6500 reis; O custo do
carvão mineral que era de 7000 reis por tonelada está hoje a 11000 reis.
Não é esta differença de preços um facto occasional, como não é tambem occasional a variante dos cambios e combustivel,
de modo que d’essas duas causas resulta um desequilibrio impossivel de sustentar sem a ruina certa dos importadores,
impossibilitando-os portanto de continuarem a garantir aos agricultores os preços minimos da canna de assucar.
Nem pode dizer-se que aquelle augmento de preço da materia prima de alcool deve corresponder um // [47] augmento de
preço do producto fabricado, porque lhe obsta o preço das aguardentes de cereaes e batata dos Açores em concorrencia com a
do melaço, e ainda porque esse augmento de preço, quando possivel, se por um lado continuava a garantir a cultura da canna,
pelo outro prejudicaria a cultura da vinha e a industria d’ella derivada. Nestas circunstancias é de clara intuição que o remedio
aos males que de um tal desequilibrio resultam não pode ser outro senão uma modificação no imposto de importação do melaço
correspondente á alta dos preços e cambios, ficando o Governo auctorisado a diminuil’o segundo as condições do custo d’esta
materia prima.
O Depotado pelo circulo do Funchal, Dr. Quirino Avelino de Jesus, toma esta questão a peito visto reconhecer que é de
grande vantagem para o seu Destricto a continuação da lei com as modificações pedidas, que são de toda a justiça; os fabricantes

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d’assucar e aguardente matriculados não se podem obrigar a garantir preços tão elevados pela canna, que algumas vezes lhe
deixa prejuizos, sem que tenham onde ir boscar lucros, que a canna lh’os não deu. //
[48] Foi o Governo Regenerador que em 1895 fez esta lei que tantos beneficios trouxe á Madeira e que por isso tão
sympatico se tornou, e é de grande vantagem que seja elle que novamente venha renovar esta lei. O Amigo como bom político
deve ver isso perfeitamente.
Sem assumpto para mais, tenho a certeza que a coadjuvação do meu bom Amigo nos será muito util, e o seu nome não será
esquecido n’este bocadinho da Patria.
Subscrevo-me com toda a concideração:
Seu Amigo Certo e Obrigado[Ass:] João Hygino Ferraz //

[DATA: 19 de Março de 1901


DESTINATÁRIO: Júlio A. Ferraz]
19 Março 1901
Meu Caro Julio
Deves ter recebido a minha carta em que te dava resposta aos questionarios que me apresentaste sobre fabrico de assucar.
Sô depois de te ter escrito é que fallei sobre o assumpto ao meu Amigo Ex.mo Senhor Henrique Hinton socio Gerente da firma
William Hinton & Sons, o qual me pede para te escrever fazendo a proposta de venda dos apparelhos que presentemente estão
em laboração na nossa Fabrica, devido a que tendo de augmentar a producção ou consumo da canna diaria, em volta d’estas
novas castas de canna chegarem ao seu estado de maturação muito mais cedo que as antigas castas, e tambem por exigencia dos
lavradores vimo-nos obrigados a fazer a laboração em 3 mezes o que fazemos agora em 4 mezes. Nesta circunstancia ou temos
que augmentar e modificar os apparelhos que temos, ou mandar vir outros maiores.
Os apparelhos estão a funcionar regularmente o que garantimos, para uma produção em 24 horas de 180.000 kilogramas de
canna.
Os apparelhos consta de um engenho a vapor, um aparelho completo triple effet e sua bomba d’ar para a evaporação da
garapa no vacuo, uma caldeira de vacuo com sua bomba. Estes apparelhos são da casa constructora da Societé Anonyme de
Construction Mecaniques de Saint-Quentin (Aisne).
Alem estes aparelhos podemos tambem fornecer outros, taes como, caldeiras de vapor, defecadores e centrifugas. Todos
estes apparelhos // [50] estão em laboração de forma que, podes vir ou mandar verificar por pessoa competente, por isso que
laboramos até os fins de mais.
Vendemos estes apparelhos com 50% de abatimento do custo d’um apparelho congênere completamente novo.
Como devemos ter a nova montagem prompta para a laboração de 1902 desejamos a resposta defenitiva de compra ou não
compra até o fim da presente laboração.
Parece-me que esta offerta é de grande vantagem para a Companhia, porque sendo os apparelhos todos mais ou menos
modernos e em bom estado de conservação podem obter uma boa Fabrica por metade do custo dos apparelhos completamente
novos.
Desejava me desses o mais breve possival resposta a esta minha carta para nosso governo.
Sem assumpto para mais faz os meus respeitosos cumprimentos á prima D. Belmira e Maria Theresa.
Recebe um abraço do teu primo e Amigo.[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 12 de Agosto de 1901


DESTINATÁRIO: H. Manoury; LOCAL: Paris]
[51v] 12 Aout 1901
Moncieur H. Manoury, Paris
Monsieur
Je tiens á vous remercier [...] de votre carte d’introduction auprés de Monsieur A. Hoffman, le Directeur des los
Establecimentos Agricolas y Azucareros de Don Pedro d’Alcantara, Marbella. Cette carte m’a procuré un accueil plein
d’attentions, les plus aimables et dont je suis extremement reconnaissant. Il est de mon devoi de dire autant de Monsieur
l’Engenieur de la même usine, de tous les rensegnements [...] j’avais [...]
Je vous prie, Monsieur, d’agréer avec mes remerciements reitérés l’assurance de mes sentiments bien distinguis,
[Ass:] João Higino Ferraz //

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[DATA: 13 de Agosto de 1901
DESTINATÁRIO: João Albino Roiz de Sousa; LOCAL: Santana]

[52v] 13 agosto 1901


Ex.mo Amigo e Senhor João Albino Rois de Sousa
Sant’Anna
Recebemos a sua carta com data de 11 do corrente e juntamente uma carta do Cruz Vieira dirigida a si.
Naturalmente o Amigo ignora que o Senhor Henrique Hinton sahio hontem[?] para Londres e por isso não lhe pode
responder de proprio punho.
Fallei ao Cruz Vieira sobre o assumpto e elle mostrou-me o telegramma que tinha recebido de si em que mandavam incluir
o sorgo no Artigo 58 Nº 3 do decreto de 14 de Junho ultimo. Quanto á astea do milho nada sei.
Quanto á destillação do sorgo é minha opinião que desde o momento em que foi autorisado a incluir no Nº3 do decreto fica
considerado como canna e não como materia prima de outra classificação, mas elle entende assim, e como o Amigo elle é
teimoso na sua maneira de ver e não vejo necessidade de levantar uma questão, visto o Amigo dizer que o sorgo este anno não
val a pena laborar acho melhor não fazer nada visto a licença não fallar em sorgo.
Quanto á astea do milho é que vai ser mais dificil de resolver visto ter que pedir novamente auctorisação para isso; não fallei
ao Governador Civil sobre isso porque não lhe foi ainda apresentado, // [53v] mas o Sobral ja me prometeu que me apresentaria,
e mesmo fallaria sobre esse assumpto de forma que nada lhe posso dizer por emquanto.
Vou mandar as pipas[?] [...] receber a aguardente e já dei ordem[?] na agencia para que logo que aqui chegue a pipa que o
amigo ahi tem m’a remmeteram
Sem assumpto para mais sobscrevo-me
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: ?
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]

[54] [...] de 30 cascos com melaços de 3en [...] de 1901 que me deu o seguinte resultado:
[...] : 38,4% – assucar total 53,19% – [...] 15,48%. Comparando esta analyse com a [...] destillado do anno 1900 que foi de:
saccarose 20% assucar [...] 52,14[?]% – glucose 40,1%, vê [...] neste anno (1901) foi muito [...] que os assucares [...] menor
quantidade [...] da glucose de 1900 [...] que nas produzem [...] na fermentação [...] do melaço[?] da Fabrica e logo que obtenha
[...] pequeno [...] 16 a 18 sacas por dia [...] quanto que o anno passado sô se tirou 8 a 10 sacas no mesmo tempo.
Bombas [...] “America” estão trabalhando bem, e o despendio de vapor é pouco
Bomba “Worthington” – Já tirei as medidas: pela nota que eu vi na sua carta, vejo que sô lhe tinha mandado o deametro e
comprimento dos cylindros [...] em quanto que agora vão as medidas completas dos pistons da agua.
Triple-effet – os desenhos com todos os [...] vão neste vapor.
Principiou-se a tirar as [...] das [...] dos tubos que estão sendo [...] visto estarem detrioradas.
[...] de Sant’Anna – João Albino Rois de Sousa escreveu-me[?] queixando-se [...] poblicada [...] destillação [...]//[55]mente
não vem e que era de grande necessidade fallar ao Governador Civil sobre esse assumpto, por isso que no telegramma enviado
por elle ao Governo pedia que fossem [...] as suas materias primas. Fallei ao Sobral sobre esse assumpto e elle disse-me que
fallaria ao Ribeiro [...] e me apresentaria.
Segundo o Bulletin mesmo[?] poblicado em São Miguel por Jacintho Botelho Arruda, e que lhe vai ser enviado, deve vêr
que os assucares da Madeira são muito mal tratados por [...], clasificando-os como maus. Segundo vejo pelas analyses por [...],
a percentagem em assucar cristalisavel é muito inferior à que tenho examinado aqui, e a soma das substancias estranhas como
glucose, agua, cinzas etc. com o assucar crystalisado é superior ao pezo tomado por elle como [...] que é 100. Mesmo sem [...]
destillação[?] vou enviar ao Luiz[?] S. [...] a analyse dos assucares idos[?] para São Miguel, para provar que as analyses feitas
por esse Arruda não estão certas e são cavillosas. Depois o Senhor Henrique dirá o que se deve fazer para remediar isto, que
pode ter grande influencia futura na venda dos assucares nas Ilhas.
Bomba ou compressor d’ar Weston[?] [...] e do apparelho Barbet – O que deve[?] fazer a esta bomba. Envial’a [...] Paris ao
Barbet para conserto, ou ver se se pode [...] remedio aqui mesmo visto termos um pestão e mollas[?] novas. Como sabe a que

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está em trabalho é[?] da Fabrica de assucar e não convinha trabalhar[?] [...] com ella para a não estragar.
Fabrica da Ponte Nova: [...] Jardim[?] ainda não deu a resposta da questão[?] da agua
Sem assumpto para mais Subscrevo-me Seu Amigo Muito Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 24 de Agosto de 1901


DESTINATÁRIO: ?]

[56] [...] acidez foi [...] passado foi de [...]


Com relação ás [...] que vão á Fabrica da Ponte Nova o Dr. Nuno Jardim, diz que os [...] a essa agua, isto é, os que teem [...]
mas que tambem a Fabrica tem em posse [?], e que [...] questão que pode não ser[?] favoravel[?] á Casa. Como o [...] Pereira
quer [...] agua [...] a questão no caso de [...] colocada abaixo dos outros acceita-se[?]?
Achava melhor acabar com a seccagem do assucar [...] centrifugas [...]120 //

[DATA: 7 de Setembro de 1901


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[57] 7 Setembro 1901
Amigo e Senhor Henrique
Agradeçendo a sua carta com data de [...], vou confirmar-lhe o rendimento do melaço da Fabrica n’este segundo lote feito
com 82.400 kilogramas de melaço que rendeu a 6,88 gallões a 100º – O grau de paragem foi o mesmo do outro lote 2º Baumé,
e a acidez tambem a mesma, 3 a 3,2 gramas por litro: este melaço mostrou na media 40% de saccarose e 10% de glucose. Ora
fazendo o calculo de que 100 kilogramas de saccarose dá 60 litros d’alcool a 100º, este melaço transformou-se em alcool
unicamente 41,6% da saccarose ficando por transformar 13,9% da glucose infermenticivel. A fermentação tinha um amargo
bem pronunciado. Quanto ao rendimento do M2 estou certo que este mês não lhe poderei mandar a nota do rendimento como
me pedio, visto termos por secar[?] ainda muitos pontos que o Joãozinho calcula não terminar senão no proximo mez de
outubro.
Temos desfeito até hoje 234 ponches de melaço da Fabrica, e estou quasi certo que nos deve dar uns 400 cascos pouco mais
ou menos. Confirmo o que lhe disse[?] na ultima carta com relação á bomba de vacu da caldeira Ingleza, que temos espaço
suficiente para a montar.
Na sua carta diz que remetteu incluso a planta da Bomba – Worthington121m, mas não a recebemos. Como até o dia 4 do
corrente não tevessemos recebido ainda a planta da transformação do Triple-effet pedi ao senhor Chassereau para telegraphar á
casa constructora para as enviar o mais breve possivel: O tempo // [58] vai passando e é necessario principiar quanto antes com
o Triple-effet que vai dar muito trabalho.
Já recebemos o melaço de Demerára (8 cascos) que foi[?] despachado em ato sucessivo: O melaço vem em boa ordem e é
de boa qualidade (amarello claro). Não analysei ainda; mas estou certo pela sua aparencia ser de boa qualidade.
Acabo agora mesmo de fallar com o Sothero e Silva e ficou combinado de na segunda feira proxima (9) tratarmos da
escritura da compra do foro da fabrica. O sogro d’elle, o Eduardo, tinha apresentado dificuldades, porque dizia elle que o senhor
Henrique tinha comprado o predio de forma que tinha mais a pagar, mas como eu lhe fizesse ver que não havia isso sempre se
resolvera a venda pela avaliação.
Sem assumpto para mais subscrevo-me com toda a comsideração
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA:13 de Setembro de 1901


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[59] 13 Setembro 1901
Amigo e Senhor Henrique
Agradeço a sua carta da data de 4 do corrente.
Com respeito ás [?] centrifugas “Weston” que pede a minha opinião, o que unicamente lhe posso dizer, é que as centrifugas
em si são de muito bom systema[?], visto eu ter visto em Hespanha n’uma das fabricas que visitei uma que [?] teria de 4
centrifugas para a laboração de 100.000 kilogramas de canna em 24[?] horas, e o engenheiro da dita fabrica as ter gabado muito,
pelo trabalho que produzem e serem de muita duração[?]. O movimento era produzido por uma [...] machina de vapor.

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Quanto [...] a agua (torbinas) para produzir o movimento directo das centrifugas acho muito bem enginhado, mas tem uns
[...] que lhe vou espôr e que o Henrique bem deve comprehender. Temos que para produzir o movimento d’essas centrifugas,
dois motores; um que é uma bomba duplex, que deve trabalhar com [...] perção de vapor entre 50 a 60 litros[?] que como sabe
é defícil [...] com as auctuaes caldeiras que temos[?]. Outro motor que é a turbina que produz o movimento directo da
centrifugas [sic]. Um desarranjo que se vê na bomba duplex occasionou uma paragem completa da secagem do assucar. Um
desarranjo na turbina, fica inutilisavel uma centrifuga, e como elles propôem as centifugas (que acho [...] mas com uma sô [...]
//
[60] A minha opinião é que as centrifugas “Weston” são magnificas desde o momento que o movimento seja produzido por
uma unico [sic] motor a vapor. Quanto á economia de vapor já fazemos [...] substituindo as [...] das auctuaes centrifugas por
um unico motôr. O vapor [...] motor não é perdido por não [...] é aproveitado na evaporação da garapa.
Temos secado até hoje [...] de M2 que produziram 464 ponches[?] e temos para secar 3 ponches[?]: O melaço desfeito até
hoje dá [?] 300 ponches. Principiou-se hoje nos ponches[?] grandes.
Temos em [...] 520,[?] gallões d’alcool. [...] a aguentar isto de forma a [...] falta d’alcool; para a proxima semana vou
continuar a restillar que pode [...] uns 35[?] [...]. O que não val é que o [...] do alcool bruto.
O Enginheiro está tirando as medidas para o cano [...] do vapor como o senhor Henrique pedio ao Chassereau, mas já lhe
pedi para não lhe mandar sem me mostrar. Com franqueza lhe digo[?], não tenho por emquanto grande confiança nos trabalhos
do Engenheiro, a [...] com muito pouca pratica[?].
Acabo de receber (13 – ás [...]) o seu telegramma dizendo aceite[?] [...] conto. Nada lhe quiz escrever [...] carta, com relação
as [...] dos foros sem receber o seu telegramma, o que vou [...] fazer. Como na outra carta disse, o Sothero e Silva ficou de vir
na segunda feira para assinarmos[?] a escriptura, mas como [...] ver a antiga escriptura do terreno afurado, para [...] as
confrontações foi necessario // [61] que elle dêsse a nota em que [...] se poderia encontrar isso: assim se fez e demos com essas
escripturas cujas notas[?] lhe envio juntas. Como [...] elle ficou conhecendo o terreno que occupa o foro[?], e calculou que os
bens de raiz, isto é, as construcções existentes sobre esse terrenos, [...] 9 alqueires, tinham algum valor, e que não podia fazer
a escriptura sem consultar o avô e o sogro. Sô hontem (12) é que veio com a proposta de que fazia a escriptura dando o senhor
Henrique um conto de reis sem mais despeza alguma. De forma que nada quiz decidir sem sua auctorisação de forma [?] mais
[...] era o telegramma.
O terreno foi [...] dando-lhe um valor de 100$ reis por alqueire, o que se vê que os 9 alqueires val 900$ reis ora comprando
o Senhor Henrique por 1.000$ reis parece-me que não compra caro. O Sothero sô deu por o valor estipulado na escriptura depois
de ter feito a promessa de venda, de forma que não poude faltar com a palavra dada.
A medição total do terreno da fabrica é de 17 alqueires e 292 metros quadrados.
Quando o Senhor Henrique vier havemos[?] de conversar sobre o outro foro que por emquanto não convem fallar nisso.
Li os artigos do jornal republicano O Norte, do antigo Deputado republicano Eduardo Abreu, sobre a nova lei das Adegas
sociaes e sobre o alcool, artigos de critica muito bem escriptos mas que pouco // [62] peso teem sobre o Governo por vir de
onde vem; elle considera a Madeira e os Açores prejudicados com essa Lei. Essa lei é a de 14 de Julho ultimo que o Senhor
Henrique já conhece.
Não pode acignar hoje a escriptura por faltar um decomento da conservatoria, que na segunda feira se vai obter.
Sem assumpto para mais subscrevo-me
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 21 de Setembro 1901


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[63] 21 setembro 1901
Amigo e Senhor Henrique
Recebi a sua carta com data de 12 do corrente o que muito agradeço. Está terminado o negocio do foro do Conde da Calçada,
a escriptura foi registrada na Conservatoria. Quanto ao outro foro, pertence ao Conde de Rezende, que vive mesmo em Lisboa;
foi-lhe dado em duação de forma que elle não pode vender sem que faça passar esse dote para outro prédio qualquer que
possuia, com auctorisação do Juiz, e como o Senhor Henrique tenciona hir a Lisboa era uma boa occasião de fallar com elle a
esse respeito.
Com relação a eleições, farei o que me diz na sua carta, mas não vejo probabilidades de ver resolvida a questão do melaço
antes das eleições. Acho-lhe rasão em não se metter em nada abertamente, para não voltar contra si os do partido Progressista.

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Recebemos os planos dos apparelhos a construir, acho que não falta nada pelo contracto feito conforme as cartas e devis
apresentado pela casa constructora com data de 29 de maio do corrente.
Pela carta (copia) que o Chassereau escreve á casa constructora verá o Senhor Henrique as respostas que lhe dou.
Os poços grandes tem rendido muito menos assucar que os outros, mas não é devido a não estar toda a crystalisação
formada, por isso que fiz uma analyse do melaço tirado d’este assucar que sô mostrou 38,4% assucar emquanto que nos outros
mostrou 39 e 40%. // [64] O assucar d’estes poços é de boa qualidade: cousa curiosa, tem um crystal relativamente grosso e
solto.
O melaço é que vai dar mais do que calculava, por isso que temos desfeito até hoje 421 cascos, e com o que temos para
secar não deve dar menos de 500 a 520 cascos. O rendimento do melaço por 100 kilogramas d[sic] canna não deve talvez ser
inferior ao do anno passado.
Lembro ao Senhor Henrique que, como vai mandar a bomba de vacu para a caldeira ingleza, seria talvez bom enviar para
Londres a velha dizendo que hia a concerto, para evitar de pagar os direitos da nova.
Já demos principio ao trabalho a fazer no Triple-effet conforme a planta.
O enginheiro está tirando as medidas do tubo geral do vapor; eu disse-lhe que seria com tambem um ramo de 5 polgadas
para trazer o vapor para as centrifugas, caldeiras de vaco e bombas, alambiques, serra e tenda, mas este tubo sô deve vir até á
caldeira de vapor franceza que fica ao pê do alambique; se o Senhor Henrique acha isso conveniente, fazer então a incommenda.
Este tubo evita 3 que ao presente estão montados.
Sem assumpto para mais subscrevo-me com toda a Concideração
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 28 de Setembro de 1901


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[65] 28 setembro 1901
Amigo e Senhor Henrique
Recebi a sua carta com data de 18 do corrente o que muito agradeço. Fico ciente do que me diz com relação a eleições. O
J. Ribeiro da Cunha tornou-me a fallar sobre o assumpto, mas como eu lhe disse as suas instrucções, parece-me não ter ficado
muito satisfeito, e pedio-me a sua direcção; julgava que era para lhe escrever mas depois sube que foi para lhe telegraphar; não
sei se sempre lhe teria mandado o telegramma, o que sei é que nunca mais me fallou no assumpto.
Esta naturalmente é a ultima carta que lhe escrevo visto ter <assim[?]> que partir para Paris proximo mez.
Com relação ao assucar M2 nada lhe posso dizer com verdadeira certeza, porque não acabamos de secal’o senão na proxima
semana. Mas como o Senhor Henrique tem grande desejo de saber o rendimento comparativo do assucar do anno passado e
d’este anno, naturalmente para dizer ao Manoury122 posso mandar-lhe o rendimento aproximado do M2 e melaço. Na nota
junta verá o termo de comparação dos dois annos. Como o melaço tem dado em alguns lotes mais algum rendimento que o anno
passado pode-se calcular o melaço dar na porporção da canna moida o mesmo que o anno passado // [66] como vê pela nota
junta o rendimento em assucar real está em comparação com as analyses da garapa, o que quer dizer que a fabricação foi bôa.
Deveria dar talvez menos melaço mas com os cosimentos de 2º e 3º jet em grande quantidade, caramelisou muito assucar
crystalisavel que foi perdido para a fabricação. No anno proximo tenho esperança que com um bom mestre cusidor d’assucar
deve o rendimento do 1º jet ser muito meior.
Sem assumpto para mais espero a sua chegada á Madeira no proximo outubro
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //
[67] Rendimento comparativo da canna d’assucar 1900 e 1901
– Aproximadamente –
Em 1900 Em 1901
Assucar 1º jet – 4, 938% kilogramas 1º jet – 5, 631 kilogramas
Dito 2º jet – 1,852% 2º jet – 1.497
Dito 3º jet – 0,326% 3º jet – 0,494
Melaço – 3,374% melaço – 3,344
Total assucar 1900 – 7,116% kilogramas – assucar 1901 7,622 kilogramas
A media da percentagem em assucar crystalisavel do
melaço de 1901 é de 39% nos 3,344 kilogramas são 1,304

65
assucar total extrahido = 8,926
Pelas analyses da garapa deu uma media em assucar = 8,941 kilogramas
Nestas analyses fiz a quebra de 0,5%
O calculo feito em Reis dá uma differença a mais no anno de 1901 de Reis 13.892.000
[Ass:] Ferraz 28/9/901 //

[DATA: 17 de Outubro de 1901


DESTINATÁRIO: João Albino Roiz de Sousa]
[68] 17 outubro 1901
Amigo e Senhor João A. Rois de Sousa
Recebemos o seu bilhete postal no dia 16 do corrente.
Já tinha dado as ordens para lhe enviarem a pipa e o quarto pedido, e o Barros disse-me que já tinha enviado a dita cascadura
como do bilhete da Agencia Nº 67 mas torno a lhe enviar mais uma pipa e um quarto como do bilhete Nº 21. Na agencia dizem
que sô podem ir quando o tempo estiver bom.
Quanto ao arame farpado não recebemos por emquanto nada
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 19 de Outubro de 1901


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[69] 19 outubro 1901
Amigo e Senhor Henrique
Recebi suas cartas com data de 9 de setembro e 10 do corrente o que muito lhe agradeço.
Não lhe respondi á sua carta[?] de 29 outubro, visto não[?] ter nada de importante a [...] por julgar que voltasse em breve
[...].
Recebi junto com a carta de 29 setembro a copia da sua carta ao José Leite123[?] [...]. Fiz tudo como me mandou[?] [...]
dado; ele não [...] visto eu lhe ter dito e [...] testemunhas[?] que fazia que nas condições e [?] atribuições podem fazer em favor
da [...] governamental, mas tudo de forma a não prejudicar os interesses do Hinton. Pouco ou nada fiz, mas não[?] parece ter
ficado satisfeito com esta minha declaração.
Vejo o que me diz com relação ás centrifugas Weston, e fico bem contente por ellas darem[?] o resultado esperado. A
economia tanto em vapor como pessoal[?] é bastante grande. Quando [...] chegou, e me pedia para lhe [...] um [...] para
experimentar as centrifugas, já não havia senão uma pequena quantidade de masse-cuite, mesmo assim mandei separar 42 taxas
que deitei n’um pequeno tanque para poder lavar o poço.
Como [...] copia da [...] Sociéte [...] // [70] relação á torneira do vapor que dá introdução aos retours na 1er caisse do triple-
effet.
Mandam dizer que como achou insoficiente a entrada de vapor antiga [...] propoêem mais uma cuja torneira (value) terá 150
milimetros, por conseguinte ficamos com duas entradas de vapor (retours) na 1er caisse: Mas pergunto eu, honde vamos boscar
vapor exausto (retours) para essas duas torneiras?
Elles naturalmente calculam que temos vapor a mais, mas como o Senhor Henrique sabe temos para 1902 menos as
centrifugas, e alem d’isso os rechaufeurs da diffusão vão roubar bastante vapor ao retours, de forma que para a evaporação da
garapa no triple-effet vamos ser obrigados naturalmente a empregar vapor directo, e que para[?] isso se poderá, parece-me,
evitar de habrir novo furo na 1er caisse para lhe pôr outra torneira de 150 milimetros, quando a entrada na 1er caisse da antiga
torneira tem 170 milimetros podendo-se ahi colocar a de 150 milimetros.
Dou-lhe todas estas explicações porque como o Senhor Henrique vai a Paris outra vez, poderá fazer ver tudo isto de viva
vôz[?].
Na carta do Chassereuau vejo o que diz com respeito[?] ao cosedor em movimento e Melaxeurs ouverts. Os planos de St.
Quentin estão certos, para a montagem. Quanto á forma de colocação vamos fazer de forma a ficarem o mais seguros possivel.
Como Mestre João Florencio pode despensar do armazem da rua, (visto uma nova forma de colocação das vigas) 3 a 4 vigas,
podem ellas servir para os apparelhos. //
[71] Como pede na sua carta de 10 do corrente para lhe mandar a nota das materias chimicas necessarias para a laboração
de 1902 aqui vão:

66
Enxofare não é necessario vir por isso que temos 20 barricas e sô se gastaram 8. O que é necessario vir é o seguinte:
Baryte cristalisado – 25 barricas (8500 kilogramas)
Alkali puro a 58% – 10 barricas (2500 kilogramas)
Serviettes en jute qualité superieur para os filtros-presses – 300
2 jogos de nodellas de caoutchouc para os filtros-presses
Poches filtrantes para os filtros Philippe temos 129 novos e 132 usados sendo 50% em mau estado, acho que se deverá
mandar vir uns 50%.
Este calculo das materias chimicas está feito para uma laboração de 360.000 almudes de garapa, levando em conta o
augmento da difusão para o proximo anno que calculo em 1/3 a mais na garapa.
Junto com a sua carta de 10 do corrente encontro um Devis de Gallois Succ.or dos apparelhos de laboratorio, e o que está
marcado com uma cruz encarnada é o que temos. Seria bom vir une râpe Pellet ou outra para reduzir a polpa fina a canna ou
bagaço para analyse d’estas materias.
Junto com esta, encontra o Senhor Henrique uma nota em separado do rendimento real da canna n’este anno, e prontamente
o calculo feito em assucar contido no melaço e no bagaço reduzido a alcool calculando que 100 kilogramas d’assucar
crystalisavel produz 60 litros d’alcool puro a 15 temperatura. Os 8413 kilogramas é a glucose contida no melaço e que foi
fermenticivel. O melaço na media tinha 55% assucar total. // [72] Faço-lhe ver tambem que no devis de St. Quentin elles não
mantem[?] a torneira que fecha o vacu da Caldeira Franceza quando se trabalha com o Melaxeur fermé essa é uma torneira
importante que deve vir sem falta.
Tambem não fornecem os tubos de união entre a caldeira [...] franceza e a columna [...] e os do mesmo [?] [...] melaxeur
fermé. Estes tubos são dificeis [?] de conseguil’os [...] cobre [...] que teem [...] lhe para [...] isso nos planos.
Como temos que empregar vapor directo no triple-effet tambem seria[?] bom ter uma [...] Riltot[?] com clapet[?] (valvula)
Dulac124, para conservar a perção sempre constante e por conseguinte a temperatura na 1er caisse do triple-effet.
Como já tivesse terminado a fermentação do melaço da Fabrica fermentei o melaço de Demerára despachado em ato
sucessivo o qual terminei hoje[?] a fermentação e já despachei [...] de Demerára na rua da Dificuldade[?]
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[73] Rendimento real da canna do anno 1901


kilogramas
Assucar 1er jet por 100 kilogramas canna 5,631
Dito 2er “ “ “ 1,497
Dito 3er “ “ “ 0,504
assucar em 3,369 kilogramas melaço a 39% assucar – 1,323
Total 8,955
A extracção em assucar de 10.882.155 kilogramas de canna d’este anno foi, segundo o seguinte calculo:
assucar 1er jet – 612.944 kilogramas
“ 2er jet – 162.905 “
er
“ 3 jet – 54.854 “
assucar crystalisavel no melaço reduzido
a alcool —————————————————————-
143.978 kilogramas
Glucose do melaço transformado em alcool
e reduzido a assucar cristalizavel ——————
8.413 “
assucar extrahido do bagaço pela
lavigação e transformado em alcool —————
134.580 “
1.117.674 kilogramas
Extracção por 100 kilogramas canna 10, 27 kilogramas de assucar
11/10/901 [Ass:] Ferraz //

67
[DATA: 26 de Outubro de 1901
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[74] 26 outubro 1901
Amigo e Senhor Henrique
O Senhor Chassereau leu-me a carta em que pedia todos os esclarecimentos com relação á futura montagem das turbinas e
corta cannas.
Vamos fazer o possivel de lhe enviar com a meior clareza as medidas pedidas, e vou passar a fazer-lhe as considerações com
relação a esses trabalhos:
Centrifugas: – As centrifugas estão collocadas na posição que deseja, o que ficam é um pouco mais afastadas da bomba de
vacu para evitar os respingos d’agua que essa bomba sempre deita, e ficaram mais desafugadas.
Elevador do assucar: – A forma como deseja que fosse montado esse elevador segundo o seu croquis, tem sêus
inconvenientes; o assucar elevado não pode, um dia que queira despresar o antigo armazem, cahir d’entro do novo, alem d’isso
pela inclinação que deve ter vai cahir a muito mais de meio armazem velho.
Tem tambem o grande inconveniente de á sahida das centrifugas passar por baixo dos sulfitadores da garapa que n’um caso
de derrame vai estragar o assucar contido no conductor; temos tambem de deslocar o deposito que recebe a garapa dos filtros
mechanicos. No meu entender se se pudesse fazer o elevador como vai marcado na planta a tinta verde evitava todos esses
inconvenientes: Era um elevador com baldes até á altura maxima do armazem e d’ahi seguir em linha reta por meio de um
conductor com parafuso sem fim até sahir no andar superior, tanto do velho como do novo [...] //
[75] Corta cannas: – O Petty é que está encarregado de lhe dar todos os esclarecimentos a esse respeito, mas vou dizer-lhe
mesmo assim o que entendo, sobre esse assumpto; parece-me que a melhor collocação a dár ás poules que transmitem o
movimento ao eixo que por sua vez o transmite ao corta cannas é nas letras A machina franceza, e B machina ingleza; estas
poulés devem ser em duas meias, e as respectivas grossuras dos eixos são: A 9” e B 6 ?”. O comprimento do eixo será de 30’
3” d’esde o centro da poulé A ao centro da poulé B.
D’esta forma não se embaraçará em cousa alguma, porque sendo collocadas no pinhão como elles propoêem complica-se
com as rodas de engrenagem da machina franceza e na machina ingleza tem pouca altura. Verá isso bem pelas plantas. Pouco
mais terei que lhe dizer porque á vista das plantas que o Petty e João Florencio estão tirando vesse bem tudo o que se deseja.
Descripção das plantas:
A eixo e colocação da poulé machina franceza. Medida exacta.
B eixo e colocação da poulé machina ingleza. Medida exacta.
C porta de commonicação da machina ingleza para os engenhos e onde deveria ser colucado o eixo de transmissão.
Na planta do João Florencio o que está rescado a tinta encarnada é o elevador proposto por si e o teto e andares do novo
armazem da rua.
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 30 de Novembro de 1901


DESTINATÁRIO: H. Manoury; LOCAL: Paris]
[76] 12530 Novembre 1
Monsieur H. Manoury
34 Rue Faitbont, Paris.
Monsieur,
J’ai reçu ces jours á, une notification pour le paiement de 24 Francs, le montant de ma cotisation (1901-1902) à
L’“Association des Chimistes de Sucrerie et de Distillerie”.
Je l’ai renvoyé, du que je vous avais, prié, en date du 5 courant, de payer cette somme et debiter Messieurs William Hinton
& Sons.
Veuillez agreér, Monsieur, mes bien sinceres salutations.[Ass:] João Higino Ferraz. //

[DATA: 7 de Dezembro de 1901


DESTINATÁRIO: Fortunato Rocha d’Almeida]
[77] 7 Dezembro 1901
Meu Caro Amigo e Senhor Fortunato Rocha d’Almeida

68
Agradecendo-lhe a sua estimada carta de 1 de outubro do corrente anno, e os seus amaveis desejos da minha saude e de
todos os meus, retribuo-lhes egualmente do coração, desejando-lhe umas felizes Festas e um prospero anno futuro.
Fiquei bastante contrariado por não poder estar consigo algum tempo na sua passagem por aqui, mas n’essa occasião, epoca
da laboração da Fabrica d’assucar, estou tão preso que dificilmente posso abandonar o serviço. Era meu dever retribuir-lhe as
amabilidades que o meu caro amigo teve para commigo quando estive em Paris, mas não perdi as esperanças de tornal’o a
abraçar ahi mesmo, e talvez no anno proximo.
Recebi das mãos do senhor Alfredo A. Camacho a amostra do tecido metalico para turbinas (centrifugas), o qual acho de
magnifica qualidade.
Vamos montar umas novas Turbinas “Weston”, que ainda não recebemos, e no caso de vermos que o tecido apresentado pelo
meu caro amigo é // [78] conveniente para ellas não temos duvida em lhe fazermos uma encommenda.
Agradecendo-lhe mais uma vez, fico ás suas ordens e desponha d’este seu
Amigo Certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 20 de Junho de 1902


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[79] 20 Junho 902
Amigo e Senhor Henrique
Acabei no dia 19 de destillar o resto da garapa que rendeu o seguinte:
Canna – 10305 almudes (30 kilogramas)
Rendeu em alcool puro a 100º a 15 temperatura 5104,8 gallões
Esta alcool [sic] se fosse reduzido a 28º cartier devia produzir 7163 gallões, o que dava por cada 30 kilogramas de canna
0,695 gallões
O Francisco F. Corrêa ficou com toda a aguardente destillada no Alemão, mas como o Senhor Henrique sô me tinha dado
ordem de lhe entregar 200 gallões pouco mais ou menos, o resto ficou guardado na Fabrica em pipas d’elle depois de
competentemente medido e visto o grau, ficando as quebras e baixa de grau por conta d’elle mesmo, so tendo nós de
entregarmos as pipas com aguardente quando o Senhor Henrique ordenar.
O Lemos126 fica com 500 gallões da alcool de canna que está nos depositos á rasão de 1150 reis por gallão em 40º. Elle queria
a 1100 reis mas eu disse-lhe que de forma nenhuma lhe podia dar.
D’esta forma o producto liquido d’esta aguardente em Reis são 6.234.200
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 8 de Junho de 1902


DESTINATÁRIO: A. Hoffman]
[80] 8 Juin 902
Monsieur A. Hoffmann
Cher Monsieur
J’ai bien reçu votre honorée du 9 Fevrier, et je vous demande mille pardons de ne pas l’avoir repondu plutôt. Voici pourquoi:
La maladie dans la canne existante dans cette Isle, dont nous avions des soupcons au commencement de l’année, est
aujourd’hui un fait accompli, de sorte que nous sommes obliges de faire de nouvelles plantations, et comme les plantes de canne
Yuba, que nous possedons, sont á peine suffisantes pour nos besognes, nous regrettons beaucoup ne pouvoir vous les Envoyer.
Monsieur Manoury vous a deja parler de ceci, probablement, parce que on m’a dit qu’il proposait d’aller vous voir.
Toujour à vous, je vous prie d’agréez, chez Monsieur, l’assurance de mes sentiments les plus distinguis
Gerente de la Fabrica de Assucar de Messieurs William Hinton & Sons– Madeira – [Ass:] João Hygino Ferraz //

[DATA: 26 de Julho de 1902


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[81v] 26 Julho 1902
Amigo e Senhor Henrique
Já turbinamos dois poços que deu 114 sacas com assucar: 3er jet amarello mas muito solto e de bôa aparencia. Se todo elle
dêr n’esta propurção é para tirarmos de todos os pontos de mascavo umas 400 sacas (75 kilogramas cada). O melaço é que

69
desceu muito da percentagem em assucar o que é natural: Fiz uma analyse de 50 ponches que me deu o seguinte:
Saccarose – 33,15%
Glucose – 12,8%
Clerget – 20,6%
Emquanto que o melaço que se levou á destillação durante a laboração era na media
Buisson127 Saccarose – 38,16%
Glucose – 12,24%
Clerget – 39,25%
Como vê pelo methodo Clerget é que se vê a differença grande que faz em virtudo[sic] das materias melassiginosas que
contem os melaços dos 3er jets.
Quanto ao rendimento do melaço em alcool nada lhe posso dizer por emquanto.
Apareceu um dos taes malditos lotes d’assucar branco que no interior das sacas era escuro, de forma que houveram
reclamações do Costa e dos Linos, tivemos que lhe dar um outro lote que felizmente era bom, mas com a condição de ficar com
o primeiro a ver se o vão emporrando pouco a pouco. Não tive outro remedio senão // [82] fazer isto, em vista de haver na
Alfandega umas 84 sacas d’assucar da Trindade que veio para esperiencia [...] offerecendo 3550 [...] vendo [...] as encomendas.
Eu não tenho [...] nada bem [...] tinha-lhe dito [...] as Caldas [...] necessidade de [...] verão [...] muito [...] inutilisado[?] para
[...] não [...]
Sem assumpto para mais Subscrevo-me seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 14 de Setembro de 1902


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[83] 14 setembro 902
Amigo e Senhor Henrique
Aqui cheguei no dia 8 do corrente como lhe tinha promettido. Venho melhor flizmente[sic] dos meus padecimentos de
reomatismo.
Tomei conhecimento a bordo do vapor Loanda com o engenheiro Poças Leitão que vai substituir o Neves Ferreira, que
morreu aqui na Madeira, como director da Comp.ª do Cazengo, onde querem montar uma fabrica de assucar de canna em
substituição das de aguardente. Conversando com elle sobre assumptos de fabricação, do que elle pouco percebe, lembrei-me
de lhe fallar no melaço d’Africa; sobre o qual á duvidas se se deve pagar metade dos direitos da Pauta (30 reis) ou metade dos
direitos establecidos para as Fabricas matriculadas (15 reis).
Elle é da mesma opinião que eu, que pode ser despachado pelas fabricas matriculadas pagando metade dos direitos
establecidos para garantia dos fabricantes matriculados, isto é, 15 reis por kilograma. Offereceu-se emediatamente para
interceder n’essa questão, visto a grande vantagem que pode advir para a industria do assucar na Africa, por isso que podem
contar com este mercado para o seu melaço, e mesmo na Madeira escreveu ao Ministro da Marinha recommendando-lhe o
assumpto o que é de grande valor. Como temos na Alfandega um casco de melaço de proveniencia d’Africa combinei com o
Sobral e fiz o despacho do dito casco, que como sabe elles querem que pague os 30 reis, mas // [84] levamos recuso d’isso, e
essa questão levantada com a interferencia do Ministro da Marinha talvez seja de mais facil solucção para nôs.
Seria bom o Senhor Henrique escrever ao Costa Campos para que logo que lá chegue esse recurso lhe fazer dar o andamento
devido chamando a attenção dos ministros da Marinha e Fazenda. Já combinei com o senhor Chassereau para escrever ao Costa
Campos recommendando-lhe isso, porque tenho receio a sua carta chegue um pouco tarde, e por isso haver demora na solucção
do negocio.
Fiz o calculo do rendimento da canna d’assucar do correntre anno que dá o seguinte:
Por 100 kilogramas canna
Assucar 1º jet ————————————— 6,770 kilogramas
Dito 2º jet ——————————————— 0,413
Assucar no melaço reduzido a alcool
contando a 60 % de rendimento 2,472
Assucar no petit jus e borras de
defecação reduzido a alcool 0,317
Assucar total extrahido 9,972

70
Este calculo dá quasi certo pelo calculo do rendimento feito pelo Buisson no resumo geral da fabricação. O que acho
exageradissimo é a percentagem d’assucar contida no melaço, e que me parece que com uma boa turbinagem o rendimento do
1º jet deve ser muito meior, evitando que 100 kilogramas de canna dê 5,329 kilogramas de melaço! No anno de 1901 a
producção de melaço foi de 3,369 kilogramas, mas como este anno se extrahiu pela diffusão mais 27% em assucar o melaço
devia ser de 4,278 kilogramas, (trabalhando mal). //
[85] Fiz a analyse do melaço d’Africa que foi despachado no dia 12, que me deu o seguinte:
Analyse qualitativa:
Aparencia – claro-transparente
Gosto – Doce franco
Densidade Baumé – 40 ?º
Pureza – 54,3
Analyse quantitativa:
Densidade ———- 5,75
Temperatura —— 25º
Polarisação – 22,7º = 40,6% assucar cristalisavel
Glucose – 2,4 centimetros cubicos = 24,12%
Clerget – 7,6
= 43,36% assucar cristalisavel
tudo[?] – 25
Como vê o melaço é <de> magnifica qualidade, e pela pureza pode ser comparado ao nosso egoût pauvre de 1º jet que na
media foi de 50. Se todo o melaço d’Africa fosse como este seria muito bom, mas duvido, parece-me mais ser este melaço
producto de fabricação pelo sisthema antigo com as formas de secagem do assucar.
Diffusores: – Vamos principiar ámanhã na desmontagem d’elles, e espero ou por carta ou por telegramma se sempre se vão
montar mais 2 ou mais 4 diffusores [.] Com relação a altiar os diffusores temos duas cousas: A edeia do Mestre João Florencio
de fazer correr directamente as aguas dos esgotos dos diffusores no cano do vinhão dá em resultado termos que altiar os 2,90
metros o que dá uma altura descomonal. A minha edeia era levantal’os a ficar na altura do tabuleiro dos cylindros do engenho,
conservando as mesmas alturas dos fundos diffusores // [86] ao fundo do poço hoje existente, o que nos faz levantar os
deffusores somente 1,30 metros: Por baixo do taboleiro que recebe o bagaço colocava-se um deposito de ferro que receberia as
aguas, as quaes seriam absorvidas pela bomba centrifuga que não tem serviço e as deitaria no cano do vinhão; para melhor
clareza faço-lhe o desenho:

DESENHO P4270026.JPG

DESENHO P4270026.JPG

Em falta

71
D’estas duas edeias o Senhor Henrique dirá qual a que acha mais conveniente e para evitar demoras seria bom telegraphar
uma palavra que indicasse qual a que deseja, por ex: Florencio – queria diz[sic] que se devia fazer o que o Mestre João propõe,
e Ferraz, que seria a minha edeia.
Na proposta de João Florencio não vejo inconveniente por isso que temos que levantar o tanque da agua na mesma
proporção dos diffusores; a única cousa que tenho duvidas é a bomba centrifuga ter que sofrer um resistencia [sic] de 2,90
metros a mais, e fazer má circulação.
Naturalmente vou principiar a fermentação no dia 23 do corrente; logo que aqui cheguei começou o alcool a ter melhor
sahida devido a ser a época das vindimas. //
[87] 15 setembro 902
O rendimento do melaço de Barbados conforme o Lote Nº 18 foi de 9,5 gallões a 100º por 100 kilogramas melaço, que é
um bom rendimento.
O filtro-presse que foi para casa do Senhor Krohn fiz-lhe o preço de 150$000 reis. Aquele filtro novo andou costando perto
de 300$000 reis.
Uma cousa que lhe queria fazer notar na montagem dos diffusores e que me hia esquecendo era a passagem das cannas para
o engenho de espremer: Pela edeia do Mestre João Florencio os homens podem passar por baixo do taboleiro do bagaço dos
diffusores por isso que fica com bastante altura, emquanto que com a minha edeia temos que arranjar passagem por denttro do
armazem velho.
Sem assumpto para mais subscrevo-me
Seu Attencioso Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 15 de Setembro de 1902


DESTINATÁRIO: Maxim Buisson; LOCAL: Gonesse, França]

[88] 14 septembre 902


Monsieur M. Buisson Gonesse
Cher Monsieur
Je vous remercie de votre amable lettre du 14 aôut, que j’ai trouvé à mon retour de Lisbonne.
En ce qui concerne le devis des produits chimiques etc. necessaires pour notre laboratoire je ne puis pas vous donner aucune
decision avant le retour de Monsieur Hinton128, qui se trouve absent.
Vous parlez du froid à Gonesse, et bien, nous sommes grilles? – Il y a peu de jours que le thermometre prés des bureaux de
Blandy enregistrait 110º Fahrenheit, à l’ombre!!
Je vous remercie de lá formule d’engrais pour la canne.
Monsieur Bianchi ainsi que Monsieur Chassereau se rappellent a votre bon souvenir, et je vous prie, chez Monsieur, de
agrier mes plus sincères salutations,[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 20 de Setembro de 1902


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[89] 20 setembro 902
Amigo e Senhor Henrique
Recebi a sua carta com data de 8, o que muito lhe agradeço.
N’ella vejo as suas edeias sobre a montagem dos diffusores; é pena não a tivesse recebido mais cedo, porque já ficava
defenitivamente sabendo o que devia fazer, e teria evitado as perguntas da minha ultima carta.
Sempre vou principiar na segunda feira proxima 22 a desfazer melaço; sô temos 4500 gallões, e alcool bruto não temos
nenhum e tem havido procura.
Recebi uma carta do Buisson e juntamente um Devis para apparelhos de laboratorio e productos chimicos; respondi-lhe
dizendo que o Senhor Henrique não estava na Madeira de forma que não podia resolver.
Falla-me tambem em adubos chimicos para a canna, e sobre esse assumpto logo que o Senhor Henrique venha talvez alguma
cousa tenhamos a fazer.
Não tendo nada mais a partecipar-lhe subscrevo-me

72
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 22 de Setembro de 1902


DESTINATÁRIO: Redactor ?]
[90] 22 setembro 902
Amigo e Senhor Redactor
Como uma parte de Imprensa do Funchal se tem occupado na publicação de uns bem elaborados artigos de fundo sobre a
cultura da canna de assucar na Madeira, suggeriu-me a idéa de fazer conhecido dos Senhores Lavradores e propriatarios d’esta
especie de cultura os conselhos dados pelo Engenheiro-Chimico-Agricula Monsieur Maxim Buisson, que no corrente anno teve
a seu cargo o laboratorio da Fabrica d’assucar dos Senhores William Hinton & Sons.
Conforme as suas analyses, e pelos conselhos de Monsieur Georges Ville, a composição do adubo chimico para a canna de
assucar deve ser o seguinte:
Superphosphato de cal – 60 gramas
Nitrato de potassa – 20 gramas Para um metro quadrado
Sulfato de cal (gesso) – 40 gramas
É esta a composição que nos ditos artigos vejo tambem aconselhados por Monsieur Georges Ville.
O que lhe falta acrescentar é a forma de os empregar o que tem grande importancia como se vai ver:
A mestura d’estas tres substancias chimicas devem ser feitas no momento de empregar, e não devem ser de forma alguma
compradas já mesturadas; o superphosphato de cal decompõe o nitrato de potassa sendo a mestura feita muito tempo antes do
emprego nas terras, ficando sem effeito a sua acção sobre a planta. A occasião melhor para o // [91] empregar é sempre no dia
seguinte ao da rega e nunca antes, porque sendo estas substancias chimicas muito soluveis a grande quantidade d’agua de rega
as prefundaria demasiadamente alem das raizes da planta, e pouca acção faria n’ellas.
Um dos grandes males para a nossa cultura de canna d’assucar é o mau habito que há em esfolhar a canna quando as suas
folhas não estão desagregadas da haste, porque sendo a respiração da planta feita pelas folhas, assim como a formação do
assucar, a canna deixa de se desenvolver bem e a proporção do assucar diminui sensivelmente.
São estes os conselhos dados por Monsieur Buisson os quaes a meu ver devem ser seguidos pelos propriatarios que
desejarem conservar as suas culturas de canna e apresentar ao mercado productos com boa percentagem de assucar.
Pela publicação d’estas despretensiosas linhas muito grato lhe ficará o seu Attencioso Amigo Obrigado[Ass:] João Higino
Ferraz //

[DATA: 27 Junho 1903


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[92] 27 Junho 903
Amigo e Senhor Henrique
Assucar: Sempre vieram 850 sacos d’assucar (de 100 kilogramas) que se esperavam; vi as amostras, é assucar claro, e o seu
custo com direitos segundo o Costa é de 3750 reis por 15 kilogramas, o Camacho diz que lhe sai a 3850 reis e o Passos, que é
assucar para 3800 reis; veja que variedade de preços, emfim o Costa deseja que o preço do nosso assucar desça, o Passos que
se conserve e o Camacho não diz que sim, nem que não, cada um pucha a brasa á sua sardinha. Conforme o que se combinou
sô descerei no caso de força maior por falta de venda.
Recebemos 2 amostras d’assucar de Hamburgo cuja nalyse[sic] do typo ivens que é o mais barato e um pouco amarelado,
mas não muito, em cristaes grandes e soltos é a seguinte:
Polarisação (assucar cristalisavel) —— 99,100
Incristalisavel —————————————— 0,265
Cinsas ——————————————————- 0,145
Agua———————————————————- 0,200
Indeterminadas ————————————— 0,290
100,000
Rendimento ao queficiente de 5 e 2 com 1 ?% de quebra, é de: 95,545%
Pelo preço d’elle Reis[?] 23,15 por 100 kilogramas vejo que o de Africa faz mais conta para refinar.
Pela carta da Companhia dos Assucares de Mosambique vê-se que todo o assucar paga imposto de fabrico de 15º por

73
kilograma.
Alambique: – Já esta trabalhando o Alambique Alemão que foi consertado, com as borras do Senhor Blandy129, está
funccionando bem. Recebemos uma caixa com fermento puro abituado ao fluorhydrico que nos enviou o Barbet; diz elle na sua
carta que o novo fornecedor d’este fermento deseja fazer uma experiencia com fermento enviado em liquido fluoré, porque diz
elle // [93] que tem duvida que o fermento no liquido fluoré não estando em actividade de fermentação não seja duradora a sua
conservação anticeptica (o que não me parece) e que nos vai enviar 2 dozes n’essas condições para fazermos as esperiencia [sic]
e mandarmos lhe dizer o resultado.
Alcool: Sô tenho em deposito como alcool de 1ª 3000 gallões mas tenho Escencias e Etheres para rectificar o que deve dar
uns 2000 gallões pouco mais ou menos. Os Senhores Blandy não me mandaram por emquanto dizer quando necessitavam de
alcool de 2ª, mas no proximo mês de Julho vou fazer-lhe a pergunta: Naturalmente vai ser necessario principiar com a
fermentação em meados de Julho porque não desejava que houvesse falta d’este artigo nas proximas vindimas.
Sem assumpto para mais, desejo a continuação da sua saude
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 6 de Julho de 1903


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[94] 6 Julho 903
Amigo e Senhor Henrique
Assucar – Na ultima carta dizia-lhe ter vindo 850 sacas com assucar e os preços porque elles diziam poderiam vender; hoje
mais bem informado posso-lhe dizer que os preços porque estão vendendo esse assucar é de 3750 reis e 3800 reis por 15
kilogramas, isto é, pelo custo. Para o nosso assucar as vendas estão quasi paradas principalmente para o assucar B1; do B2 pouco
há, umas 50 sacas pouco mais ou menos.
O Costa não está satisfeito por não termos baixado os preços, porque teem feito poucas vendas. Se não baixei a mais tempo,
foi devido a uma carta da firma Emile Nolug[?] & C.ª de Hamburg, de que o Carlos130 lhe vai enviar copia, em que diz os
assucares terem tendencia para subir em vista do Governo retirar o premio de expropriação.
O Costa prevenio-me que hia mandar vir 200 sacas d’assucar sendo 100 egual á marca B1 e 100 da B2 e por tal preço que
de forma alguma poderiamos competir segundo o que elle me mostrou.
Devido a isto tudo vi-me obrigado a descer os preços dos assucares a 100º por 15 kilogramas para os typos B1 e B2 e a 50
reis por 15 kilogramas para o mascavo, para evitar novas remessas que nos podem prejudicar bastante tanto no assucar existente
como no futuro assucar que se possa refinar e que tenho esperanças se fará.
Acabo agora de vir da Alfandega e sube terem vindo mais 200 sacas. O Costa enviou-me n’esta occasião a amostra d’esse
assucar que é do typo B2. Não sei por emquanto a quem veio, mas isso é o menos, a questão é que continua a importação o que
é necessario evitar.
Acaba de chegar da Alfandega o Barros que me trouxe nova amostra do assucar e que diz vir ao Eduardo O. de Freitas, e
diz-me elle que se esperam mais 250 sacos de Hamburgo no vapor que está a chegar. //

[DATA: 20 de Julho de 1903


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[95] 20 Julho 903
Amigo e Senhor Henrique
Devia ter recebido telegramma meu no dia 11 do corrente em que lhe transmittia o telegramma do Costa Campos do mesmo
dia, mais ou menos nos mesmos termos como pode ver pela copia que lhe enviamos a semana passada, somente lhe acrescentei
questão melaço para precisar bem qual o fim para que o Campos tinha telegraphado. Como no telegramma enviado pelo
Campos confirmava a sua carta vi-me na necessidade de a habrir para saber o seu contiudo, pelo que lhe pesso desculpa, mas
não lhe poderia responder sem saber a questão de que se tratava.
Espero que o Senhor Henrique terá partido para Lisboa, porque a questão é de momento, e se n’esta occasião se não resolve
mais tarde será peôr.
Já principiei a fermentação do melaço da Fabrica. Como sabe pedimos ao Barbet que nos enviasse um fermento abituado
ao fluorure e que elle nos enviou levoure pure do seu novo fornecedor, de forma que calculei ser esta nova levura abituada ao
fluorure, porque nenhuma indicação nos mandou junta, mas qual a minha surpresa quando vou cultivar o fermento em liquido

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fluoretado e elle não desenvolveu! Vi logo que a levadura não era o que se tinha pedido; sô uma semana depois é que recebemos
uma carta do Barbet em que nos prevenia de que o fermento enviado não era fluoretado a qual chegou já tarde. // [96] Vi-me
obrigado a fazer novo fermento com levadura Alemã, a qual já está em fermentação e com bom desenvolvimento. Respondi ao
Barbet fazendo-lhe sentir a sua falta de informações: Na minha opinião esta despesa feita com a levadura enviada e que se
perdeu deve ir a debito da conta d’elle.
Com relação ás vendas d’assucar lá vão seguindo morosamente, devido a nos ter faltado o assucar B2
Ainda estive a ver se poderia encontrar algum lote que podesse servir para B2 mas nada vi que se apresentasse era tudo
muito mais claro.
Com relação a chuvas estamos muito mal, a agua é quasi nenhuma mesmo para o alambique e trabalhamos com deficuldade,
e não vejo probabilidades de se poder arranjar o ? d’agua da levada dos moinhos, porque ella é bem pouca. Naturalmente sô
para outubro ou Novembro estaremos em condições de refinar assucar.
Chegou no dia 18 a Felizberta com o carregamento de melaço, que veio em magnificas condições, enxuto e com bom peso:
a sua analyse é a seguinte:
Densidade 6,44
66 em 20
Temperatura 25,6
Polarisação 22,7 = 40,67% assucar cristalisavel
Glucose – 23,15%
Clerget – assucar real = 1,99[?]%
Materias Seccas 88,45
Pureza 47,4
Ao Lemos131 sempre lhe chegou o navio <da Trindade> com o melaço, cuja analyse é a seguinte:
Densidade [...]5
5,59 em [...]
Temperatura [...]

Polarisação = 34,04[?]% assucar cristalisavel


Glucose – [...]6%
Clerget assucar real [?] = 34,42[?] %
Materias Seccas. 75,15 Pureza 4[...]1
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 24 de Julho de 1903


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[97] 24 Julho 903
Amigo e Senhor Henrique
Recebemos o seu telegramma em que participava que partia para Paris e depois Lisboa e que lhe enviasse a papelada
referente, já se vê ao melaço. Assim fazemos, e tudo quanto vejo que lhe pode ser util para sua urientação[sic] no negocio lhe
envio, requerimentos, petições (copias) facturas etc. e se mais não lhe envio é por que não encontro. A correspondencia sobre
o assumpto melaço, a que eu pude encontrar de vantagem envio-lhe copias. O que desejo de coração é que seja muito feliz nos
seus negocios conseguindo os seus fins.
Vejo no Diario do Governo Nº 156 de 18 de Julho 1903 – 1ª pagina a lei sobre o fabrico dos assucares Açorianos. É bom
em quanto está ahi ver bem essa lei não nos vá prejudicar. Já a li e entendo que a Madeira devia salvaguardar e estar protegida
contra as entradas dos assucares Açorianos. Parece-me ser para elles um negocio de China…
Com relação a agua para o condensador vou lembrar-lhe que se poderia talvez trabalhar, visto ser os pontos do assucar
rapidos, de serem espaçados e n’esse caso talvez fosse possivel conseguir arranjar uma pequena quantidade d’agua que se
juntasse á que temos: Na occasião dos pontos poderia-se parar com o desfazimento do melaço e os alambiques trabalhassem
com a agua do poço. Estou tratando de montar canalisação, que fica barata, para aproveitar a agua da levadinha das Hortas,
elevando-a // [98] aos alambiques por meio de bomba. D’esta forma toda a agua da Ribeira poderia servir para o condensador.
A levada das Hortas nada perde porque todas as aguas depois do servisso lá lhe irá ter.

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Recebemos uma amostra de assucar de Demerára cristalisado escuro do qual não mandam o preço, mas que pelos preços
correntes de lá vejo que é de $1.81 por 100 libras com 96º d’assucar. Vou analysal’o: Pelo preço, se é effectivamente a $1.81
parece fazer conta; é um assucar que talvez com uma lavagem nas turbinas fique branco, e os egoûts serviram então para refinar.
As refinarias da America para esta qualidade de assucar assim procedem.
As fermentações vão magnificas, e temos já 1000 gallões para entregar aos Senhores Blandy amanhã 25 como do contracto.
Já está em fermentação a esperiencia dos 12 cascos de Demerára que vieram ultimamente do qual lhe mandei a analyse.
Recebemos mais 6 amostras de assucar de Londres proprias para refinaria e seu preços, que não comprehendo nem o
Carlos132; elle envia-lhe a carta.
Sem assumpto para mais desejo-lhe todas as felecidades.
Seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 24 de Julho de 1903


DESTINATÁRIO: Roberto de Campos]
[99] 24 Julho 903
Ex.mo Senhor Roberto de Campos
Amigo e Senhor
Recebi suas estimadas cartas de 17 e 19 de Julho que muito lhe agradeço e do qual fico sciente.
Enviamos a V.ª Ex.ª a correspondencia do Ex.mo Senhor Henrique Hinton que fará o favor de lhe entregar, porque não tenho
a certeza se elle tomará a Avenida Palace.
Ao receber esta já elle talvez esteja em Lisboa visto nos ter telegraphado dizendo que partia para Paris e depois Lisboa.
Sempre ás ordens de V.ª Ex.ª
Seu Attencioso Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 1 de Agosto de 1903


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[100] 1 Agosto 903
Amigo e Senhor Henrique
Recebi o seu telegramma em que me pedia novamente a papelada e as instruções sobre melaço, mas quando o recebi já tinha
enviado o primeiro telegramma em que lhe dizia a data da lei de 1895 e o numaro do Diario do Governo em que vinha
publicado, por julgar isso conveniente para lhe não dar trabalho de procurar. Quanto ás instrucções como não havia nada d’isso
publicado não lhe mandei da primeira vez, mas como m’as pedisse no seu telegramma pedi na Alfandega essas instrucções
provisorias as quaes lhe mandei copia.
Recebi a sua carta de Paris. Quanto ás cartas do Quirino133 não pude encontrar copias d’ellas, somente lhe mandei as de
Roberto que tratam do assumpto muito desenvolvidamente.
Recebi tambem a sua carta (de lei) de Lisboa; fiquei espantado!... se conseguir tudo isso posso-lhe dar os parabens. O melaço
a um reis por kilograma!? não será engano na occasião de escrever? Todo o mais é de primeira ordem, assim o possa conseguir.
Pede-me que lhe diga se acho mais alguma cousa que se possa acrescentar? Que lhe posso eu dizer mais.
Torno a lembrar-lhe a questão dos assucares dos Açores: ahi é que pode haver qualquer cousa de mau: por ex: os residos da
fabricação que elles vão reduzir a alcool, não podera, sahir por um preço tal que nos possa prejudicar? Sabe perfeitamente que
na França e na Alemanha elles produ-//[101]zem assucar de beterraba, que mesmo pagando os direitos nos fazem concorrencia!
o que fará pagando as Fabricas dos Açores somente 50% d’esses direitos.
Com relação aos artigos 4º e 5º que sô poderam trabalhar com melaço as fabricas que presentemente o teem feito, acho isso
da meior justiça.
Já tirei o resultado do melaço de Demerára, em (?) alcool, o qual deu 9,8 gallões a 100º a 15 temperatura por 100 kilogramas
sem esterelisação pelo vapor, o que me faz parecer que com essa esterelisação deve dar os 10 gallões. A acidez foi mais do que
eu desejava, devido a não o ter esterelisado a vapor mas comente pelos antisepticos. Já entreguei ao Senhor Blandy134 2000
gallões d’alcool B e estou agora tratando de preparar alcool de 1ª. Parece-me que com o melaço da Fabrica em ser e o que se
vai tirar do assucar 2º jet e com o alcool existente, teremos alcool soficiente para este tempo das vindimas não havendo
necessidade de despachar melaço estranjeiro.
Estão a chegar mais umas 1000 sacas de assucar de Hamburgo para diversos

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Sô temos em deposito umas 1010 sacas d’assucar B1
Sem assumpto para mais subscrevo-me
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 29 de Agosto de 1903


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[102] 29 Agosto 903
Amigo e Senhor Henrique
Estive doente uns 12 dias com uma angina e um amiaço de congestão plumonar, mas do que felizmente já estou bom,
somente um pouco fraco.
Quando recebemos a sua carta pedindo para que os jornaes d’aqui fallassem alguma cousa sobre a questão de canna estava
eu ainda de cama, mas dois dias depois levantei-me e foi tratar primeiro que nada d’isso. Fallei ao Barão do Jardim do Mar135
pedindo-lhe em seu nome para deixar que no Diario de Noticias se disesse alguma cousa sobre o assumpto o que elle me
prontificou emediatamente pondo-me o Cyriaco136 á minha desposição para o que fosse necessario: Fiz umas notas sobre que
deveria ser tratado o assumpto e elle fez sobre esses pontos um artigo de fundo que ficou bom. O Dr. Romano vai dizer qualquer
cousa no Popular mas só poderá aparecer no dia 1 de setembro [.] Os artigos do Diario de Nuticias foram publicados no dia 28
e 29 Agosto, não poude de forma alguma ser mais cedo.
Fallei com o filho do Dr. Manuel J. Vieira pedindo-lhe para que não fizesse questão pulitica d’isto e que dicesse qualquer
cousa a nosso favor. Tambem fallei com o Victorino dos Santos para influir de forma a que o Diario do Commercio ou não
dicesse nada ou se alguma cousa dicesse que fosse a nosso favor. Como sabe o Dr. Julio Paulo é contra // [103] isto, e como
elle é que manda segundo dizem no Diario do Commercio tive medo não viesse alguma cousa que nos prejudicasse. Como vê
está tudo prevenido até mesmo o Corrêio da Tarde.
Disse ao Carlos137 para lhe mandar os Diarios em que vem os artigos publicados.
O Melaço da Fabrica já esta aviado e tudo lavado sô falta destillar o resto da bebida [?] para então fazer o calculo real do
rendimento em melaço da laboração 1903.
O assucar de 2º jet deu 0,960[?] por 100 kilogramas canna. Por emquanto não há nada de anormal aqui.
Sem [...] //

[DATA: 5 de Setembro 1903


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[104] 5 setembro 903
Amigo e Senhor Henrique
Muito costou ao Romano escrever o artigo sobre o assumpto melaço… mas emfim sempre o fez. O Diario do Commercio
transcreveu o artigo do “Secolo”. O Diario de Noticias vai continuar com os artigos mas o Cyriaco138 disse-me que tem tanto
que fazer na Repartição que sô lhe fica uns bocados ás nuites para escrever, e que este assumpto requer muito cuidado na
maneira de o escrever.
Pelo seu teleramma[sic] vejo que não pode partir d’ahi senão a 17 o que me faz crêr que tem tido suas dificuldades na
resolução do negocio.
Os artigos publicados pelos jornaes tem sido bem recebido por todos, o que é uma grande cousa.
Está terminada a destillação do melaço da Fabrica.
O calculo do rendimento para 1903 é o seguinte:
Extracção do assucar da canna por 100 kilogramas
1º jet ———————————————————————- 6.63 kilogramas
2º jet ———————————————————————- 0.96
Assucar total no melaço pela producção em
alcool contando o rendimento a 60 litros
alcool puro por 100 kilogramas assucar 2.64
Assucar total extrahido ——- 10.23
Melaço por 100 kilogramas canna 6,040 kilogramas!!!
Em 1902

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1º jet ———————————————————————- 6.770
2º jet ———————————————————————- 0.413
Assucar total no melaço (contando
a 60% <rendimento>) —————————————- 2.472
Assucar no petit jus reduzido a alcool ———— 0.317
Assucar total extrahido ——— 9.972
Melaço por 100 kilogramas canna 5,329 kilogramas!!! //
[105] A producção exagerada em melaço no corrente anno (6,040 kilogramas) não pode ser devido a outra cosa senão á
doença na canna. Contudo o systema de diffusão adotada este anno deu em resultado um augmento de rendimento em assucar
2º jet. O rendimento do melaço em alcool foi melhor este anno devido á pureza das fermentações mesmo sendo o melaço mais
pobre em assucar cristalisavel.
Deu-se um pequeno incidente entre a Comp. do Caminho de Ferro do Monte e nôs, devido a uma local publicada no
“Direito”, em que eu tratei de desfazer a má impressão produzida no publico. Fiz com que o director da Companhia publicasse
um desmentido, o que elle fez de boa vontade. A causa foi o exame feito ás caldeiras da locomotivas em que o nosso Engenheiro
foi perito por parte da Companhia. Quando voltar lhe explicarei melhor.
Um assumpto importante:
Tivemos aqui antes de hontem uma vesturia á Fabrica, (assim como tem havido em todas as outras) composta do Trigo,
Cyrilo dos Santos (empregado da Fazenda), e um outro empregado da Fazenda, do Continente, que não conheço: Esta vesturia
teve por fim principal a medição dos apparelhos de destillação para vêr a sua capacidade de producção, que segundo me disse
o Trigo o Governo mandou fazer, porque não se conformão com a capacidade das Caldeiras nos apparelhos continuos. Este
assumpto deve ser seguido com cuidado porque modando o Governo a lei que o regula pode-nos ser bastante prejudicial quanto
ao pagamento da contribuição industrial. Fiz bem ver ao Trigo que a capacidade de destillação deve ser contada sô a parte onde
se produz a distillação do vinho e não a columna de retificação, e que o melhor calculo deve ser o diametro da columna e não
a sua capacidade total.
Sem assumpto para mais Subscrevo-me seu respeitoso Amigo[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 11 de Setembro 1903


CARACTERIZAÇÃO: Notas acerca de rendimentos e calculos de extração de açúcar, 1900-1903]
[106] 11 stembro[sic] 903

Nota da media do rendimento em alcool do melaço da Fabrica dos annos 1902 e 1903
Anno 1902 – Percentagem media em assucar cristalisavel do melaço 41%
Rendimento por 100 kilogramas melaço = 7.5 gallões a 100º

Anno 1903 – Percentagem media em assucar cristalisavel do melaço 36.7%


Rendimento por 100 kilogramas melaço = 7.1 gallões a 100º
[Ass:] Ferraz //
[107] Calculo da extracção total em assucar, da canna dos seguintes annos
Annos 1900 1901 1902 1903
Assucar 1º jet 4.938 kilogramas 5.631 kilogramas 6.770 6.630 Por 100 kilogramas canna
Assucar 2º jet 1.852 1.497 0.413 0.960 “
Assucar 3º jet 0.326 0.504 “
Assucar no melaço
pelo rendimento em alcool
1.373 1.375 2.472 2.640 “
8.489 9.007 9.655 10.230
Assucar no bagaço ou petit-jus
1.539 1.539 0.317 Pelo rendimento em alcool
Assucar total 10.029 10.546 9.972 10.230

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Melaço por 100 kilogramas canna 3.374 kilogramas 3.369 kilogramas 5.329 kilogramas 6.040 kilogramas
Nos annos de 1902 e 1903 empregou-se a diffusão do bagaço.
[Ass:] Ferraz //

[DATA: 3 de Outubro de 1903


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[108] 3 outubro 903
Amigo e Senhor Henrique Hinton
Como temos hoje um vapor para Lisboa aproveito a occasião para lhe escrever.
Fico com bastante cuidado com relação á questão melaço, por até hoje nada ter recebido que elucide essa questão. Estou
desejando que isso se resolva porque os envejosos já principiam a mormurar um pouco contra, por exemplo o Major Rego que
um dia d’estes na Associação Commercial, segundo me disse o Pedro Rodrigues, fallava com o Visconde Geraes de Lima dizia
que era uma pouca vergonha essa lei e que imfelizmente não havia ningem que reclamasse contra isso: Como vê se uns e outros
principião a mormurar podemos ser prejudicados por haver qualquer representação contra; quanto mais depressa resolver isso,
melhor.
Quando na ultima carta lhe dizia que tinha pouco alcool e que me via na necessidade de principiar a fermentação dizia-lhe
que o faria, mas devagar não fazendo senão pequenos despachos, porque bem comprehendia a necessidade de esperar a baixa
dos direitos. Quando recebi o seu telegramma em que dizia não despachasse fiquei sem saber o que deveria fazer, porque estava
compromettido com os Senhores Blandy com 200 gallões d’alcool bruto para 8 e 12 do corrente // [109] e como não tinha
nenhum é que me vi na necessidade de trabalhar no melaço muito mais cedo.
Do[?] alcool de 1ª sô tenho 630 gallões e do de canna 2500 gallões. O Senhores [sic] Krohn levaram 2000 gallões quasi a
seguir e foi isso que me fez em grande desfalque no alcool. Tenho encommendas de alcool de 1ª e 2ª a satisfazer até 20 do
corrente e muita gente se tem visto obrigada a levar alcool de canna para tratamento do vinho por não haver de 1ª qualidade.
Desejando que a resolução dos seus negocios sejam breves e favoraveis
Subscrevo-me Seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 9 de Outubro de 1903


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[110] 9 outubro 903
Amigo e Senhor Henrique
Até que em fim recebemos o telegramma seu participando a publicação do novo decreto, e 3 dias depois os Diarios de
Governo em que vinha publicado esse Decreto.
Tudo quanto me tinha recommendado na sua carta foi executado á risca, e felizmente não apareceu em nenhum jornal
nenhuma nota descordente, todos á uma, elogiaram o Decreto, e que bastante custou principalmente o Diario do Commercio e
o Correio da Tarde. Para o primeiro devo isso ao Victorino dos Santos e o segundo ao Romano: Como deve comprehender esta
unidade de edêas fez boa impressão no publico: ainda assim alguns quiseram protestar mas bem pouco. O major Rego estava
um pouco mal impressionado mas taes cousas lhe disse e fiz ver que elle por fim mudou de edêas; até já queria representar
contra.
O Francisco João de Vasconcelos era o pêor, mas como não tivesse quem o acompanhase na sua propaganda abandonou a
praça, elle deve estar em Lisboa presentemente; previnno disso para se acautelar. Da leitura do Decreto vejo que não está como
tinhamos feito, é verdade que o nosso decreto era um Decreto Regulamento, estou desejando de ver o Re-//[111]gulamento para
fazer uma edêa clara de tudo. O que não gostei nada foi de ver que não havia o praso de 15 annos. E com relação ás fabricas
matriculadas? Previno-o de que algumas fabricas que não estão presentemente matriculadas o vão fazer para proximo anno para
terem o direito de destillar melaço. O Leça já falla em montar uma nova fabrica de destillação para esse fim. Como vê é de toda
a necessidade evitar isso.
Não percebi a sua carta de 5 em que dizia, tinha medo o ministro não desse emediata execução ao Decreto; pois posso dizer-
lhe que aqui está elle em execução tanto que já despachei 168 cascos da Trindade pelo Ynadva[?] que era o mais antigo, pagando
os 6 reis de direitos…! E como não tenho alcool nenhum vejo-me obrigado a trabalhar a toda a força. Tenho as seguintes
encommendas
Blandy – 2000 gallões alcool B

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Drury – 1000 “ “ “
Deversos 600 “ “ A
O senhor Blandy139 já levou 1000 gallões pagando o preço estabelecido e espera até ao fim do mês para receber os outros
1000 com a competente baixa. O senhor Drury leva agora 500 gallões nas mesmas condições e espera pelos outros 500 até o
fim do mês.
Despachei primeiro este melaço que sô contem 34% de saccarose com 25% de Glucose e puresa 43,4, carregado em muita
cal e por isso não muito proprio // [112] para extrahir assucar. Tenho por isso melaço até a sua vinda, que segundo me diz é a
17 do corrente.
Quanto ao nosso assucar sô temos 200 sacas B1. Seria bom no caso de poder ser principiar na refinação, porque agua deve
haver d’aqui até lá; já principiou as chuvas e estamos com o inverno á porta. O assucar tem subido de preço no estrangeiro
devido como sabe aos governos Ingles e Alemão não darem premio de exportação.
Dos negocios da Casa corre tudo regularmente.
Seu Amigo e Obrigado
[Ass:] João Higino Ferraz
P.S. O Pedro Henriques disse-me que tinha encommendado 700 cascos de melaço de Demerára, para virem em dois lotes,
o primeiro em Dezembro e 2º em fevereiro proximo e pede para o Senhor Henrique lhe dizer se necessita mais algum, ou da
Trindade ou Antigua. //

[DATA: 9 de Outubro de 1903


DESTINATÁRIO: Manuel de Faria]
[113] Ill.mo Senhor Manuel de Faria
9 outubro 903
Amigo e Senhor
Como temos hoje ou amanhã um vapor para Lisboa, pedia-lhe para me mandar a sua proposta, como tinha ficado combinado
entre nôs, para eu a enviar ao Senhor Henrique Hinton para Lisboa.
Seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Hygino Ferraz //

[DATA: 15 de Outubro de 1903


DESTINATÁRIO: Harry Hinton; LOCAL: Lisboa]
[114] 15 outubro 903
Amigo e Senhor Henrique
Depois de se receber aqui o Diario do Governo em que vinha publicado o Decreto, muitas cousas se tem passado que mais
ou menos vem prejudicar a questão. No dia seguinte á recepção do Diario do Governo, veio publicado em todos os jornaes
d’aqui o decreto, sem que elles fizessem considerações nenhumas sobre o assumpto. O Decreto foi naturalmente estudado, e
dois dias depois era convocada a Camara Municipal em reonião estraordinaria com o fim de representar ao Governo sobre o
artigo 5º porque julgam elles que as Camaras ficam prejudicadas no imposto das vendas sobre aguardente. Quiz fazer ver aos
Camaristas que a maneira de pensar d’elle [sic] sobre esse artigo era erronia, mas não houve meios de os fazer chegar a um
acordo, e parece-lhes que o artigo não estava bem claro, e que no caso de se suscistar[?] duvidas a Camara perdia uns 3 a 4
contos reis por anno: Representaram por isso como já deve ter visto.
Depois d’isto principiou a chiadeira dos pequenos fabricantes de aguardente dos campos, dizendo que com o melaço a 6 reis
podiam vender alcool de melaço por um preço mais baixo a qual era[?] mesturada com aguardente de canna [...] // [115] Por
todas estas rasões não foi de forma alguma possivel e mesmo era contrapordecente a publicação dos artigos que me enviou para
serem publicados nos jornais, visto que com essas publicações que sô diziam bem do Decreto poderia acirrar os animos: O Dr.
Romano foi tambem d’essa oppinião para não se publicar nada por emquanto. Sô no Direito publiquei o artigo para elle, porque
como sendo o orgão official do Governo, os elogios são bem cabidos. Vamos dando publicidade por doses dosimetescas;
Amanhã vem o Diario do Comercio com o seu artigo de fundo, mas um pouco modificado ás circunstancias presentes. Tudo se
fará com o devido juizo de forma a não prejudicar mais a questão. O Romano e Dr. Vieira140 são d’esta mesma opinião e nada
tenho feito sem os consultar.
Felizmente todos os jornaes teem ficado silensiosos mais ou menos, e sô o Corrêo do Padres [sic] é que queria principiar a
bater o Decreto mas deitei-lhe a mão a tempo, e como são homens praticos, nada dizem por emquanto.

80
A Associação Commercial, isto é, a Sua Ex.ª Direcção que são na tutalidade progressistas e que quer representar de forma
a modificar o regulamento como do telegramma que lhe enviei hoje. Um dos que mais barulhos fazia era o Pinto Corrêa141 e
João B. Gomes.
Tive uma larga conferencia com o Pinto Corrêa sobre esse assumpto e disse-me elle que não queria de forma alguma
prejudical-o (ao Senhor Henrique) // [116] mas sim ajudal’o e proteger! n’esta questão, porque segundo elle, desde o momento
que o alcool de melaço podesse prejudicar a aguardente de canna o decreto cahiria por terra e seria um prejuiso para si. Fiz-lhe
ver os contras de tudo o que pediam que era; fixação do preço do assucar; fixação do preço do alcool e obrigasão da compra de
aguardente de canna, mas estão de tal forma persuadidos que o que pedem é justo, que não há meios de os convencer do
contrario. A representação deve hir no primeiro vapor por que assim lhe pedi e elles me prometteram, e acho que o Senhor
Henrique não deve vir de Lisboa sem que tenha essa questão resolvida.
Por aqui me vou aguentando com elles, é verdade que sou sô, mas felizmente elles attendem-me com toda a consideração.
O Dr. Manuel J. Vieira é tambem da mesma opinião, que não deve vir de lá n’esta occasião. Os propriatario [sic] do Funchal
estão todos mais ou menos satisfeitos com o decreto, mas o consumidor é que brama contra a subida dos direitos do assucar a
145 reis. Tenho querido fazer ver que essa subida sô serve para garantia do nosso assucar refinado, e que o assucar tem que
descer infalivelmente. Como na outra carta lhe disse tenho despachado 160 cascos de melaço a 6 reis, mas o Sobral mandou-
me chamar para me prevenir que tinha recebido telegramma para não dar mais despachos n’essas condicções emquanto não
receber [...] regulamento: Perguntei-lhe se teriamos de entrar novamente com os direitos que tinhamos pago // [117] a menos,
mas disse-me elle que não tinha recebido ordem n’esse sentido: O Curcon (1º verificador) é de opinião que não temos que entrar
com cousa alguma e que no caso de vir essa ordem que devemos levar recurso.
Tenha paciencia da despesa que tem tido nos telegrammas, que lhe tenho enviado, mas acho conveniente o ir enformando
do que se vai passando.
Por emquanto não foi recebido aqui pelo Governador Civil nada com relação ás fabricas matriculadas, e o Dr. Jardim
d’Oliveira142 cecretario Geral servindo de Governador Civil prometteu-me que me avisaria logo que recebesse. Elle publicou
um artigo[?] ao Ministro das Obras Publicas no Diario do Commercio com relação ao Decreto, como deve ter visto.
Nada mais lhe posso dizer sobre este assumpto, e do que houver lhe darei conta por telegramma ou por carta.
E os negocios da Casa nada de anormal se tem dado; vai tudo regularmente.
Seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 16 de Novembro de 1903


DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [118] 16 Novembro 903

Amigo e Senhor Henrique


Sempre foi enviado o telegramma aos Ministros como desejava.
O telegramma foi no theor que tinha pedido ao Dr. José Leite143 mas foi elle que telegraphou em nome da Comissão
Destrictal como delegada da Gunta[sic] Geral. Por enquanto elles não receberam resposta, mas pedi a Arthur Monteiro para me
prevenir logo que assim aconteça. Até á hora que escrevo, nada de novidade com relação ao decreto e regulamento.
Tenho feito pequenos despachos de 8 cascos de cada vez até vêr, mas não posso deixar de ir sempre despachando por que
o alcool é quasi nenhum, e como me recommendou que não queria que faltasse o alcool para os Senhores Blandy não há outro
remedio senão despachar sempre.
Temos nova reclamações [sic] com relação á contribuição industrial, e tambem com relação aos sellos dos Alambiques de
aguardente de canna que a lei não obriga a pagar sello nem nenhum dos outros fabricantes paga. Quanto á capacidade dos
alambiques tambem me pareçe que vamos ter questão. O Dr. Nuno Jardim já tomou conta da questão e tenho lhe dado todos os
esclarecimentos necessarios. //
[119] Fiz a analyse do melaço d’Africa que o João de F. Martins tinha enviado que mostrou o seguinte:
Polarisação —————————— 38,15% saccarose;
Glucose ———————————— 30,47%
Clerget ————————————- 38,31% assucar real
Pureza 46.9
Em vista de este resultado que é um pouco melhor que o do melaço de Demerára, com relação ao assucar total fiz a seguinte
offerta:

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3000 reis por 100 kilogramas, casco incluido, no porto do Funchal, pagamento a 90 dias. Este melaço deve produzir 9,2 a
9,5 gallões d’alcool por 100 kilogramas.
Na carta disse-lhe que desejava saber qual a quantidade que nos podiam fornecer, e que no caso de nos poder arranjar melaço
com menos percentagem de glucose o preço seria um pouco melhor. Fiz-lhe bem notar que esse preço sô tinha valor até 15 de
Dezembro proximo e quando o melaço continha a percentagem de assucar e glucose acima dito; ou o seu correspondente em
saccarose.
Sem mais que lhe diga, subscrevo-me Seu Amigo Obrigado
[Ass:] João Higino Ferraz
P.S.. Como ficou combinado telegraphei ao Dr. Romano dizendo o testo do telegramma do José Leite, dizendo-lhe ao mesmo
tempo que o Senhor tinha partido para Londres e que escrevia.[Ass:] Ferraz //

[DATA: 23 de Novembro 1903


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[120] 23 Novembro 903
Amigo e Senhor Henrique
Até hoje nada de regulamento nem ao menos o Quirino144 nos escreveu sobre o assumpto.
No dia 20 escrevi-lhe fazendo-lhe ver os transtornos que a demora na publicação de regulamento nos está fazendo, e
pedindo-lhe que actuue[sic] o mais possivel essa questão.
Estou verdadeiramente furioso contra o Senhor Meny Abudarham: acabo de encontral-o agora e disse-lhe que o decreto nem
regulamento ainda não tinham sido resolvidos e que em vista da falta de alcool com que estamos e que pode ser prejudicial para
elles, (negociantes de vinhos) achava bom que elles representassem pedindo para se resolver esta questão mais rapidamente. E
sabe o que elle me respondeu, muito a serio?.. Que sim… que effectivamente se devia representar contra, porque os
propriatarios já sabem que este decreto de nada lhes serve e que para elles a baixa do alcool é tão pequena que é melhor nada,
e pedir então ao governo que deixe entrar o alcool estranjeiro com baixa no direitos [sic] para tratamento dos seu [sic] vinhos.
Isto são palavras testuaes d’elle… Nem sequer lhe dei resposta, e // [121] retirei-me convencido que elle é um grandessissimo
Burro.
Estou fazendo pequenos despachos de melaço mas mesmo assim estou sem alcool. Digo-lhe que este trabalho assim é
difficil de deregir porque temos procura d’alcool e não podemos forneçer. O Leacock ainda hoje mandava boscar alcool de 1ª
mas disse-lhe que sô para o proximo mês lhe poderia arranjar, como tenho que fornecer ao Senhor Blandy145 os 1000 gallões
para o fim d’este mês não posso por emquanto pensar em fazer alcool de 1ª. Os Senhores Krhon levaram 500 gallões de forma
que fiquei sem nada.
Quando será que termina todas estas deficuldades?...
Nada mais por emquanto lhe posso dizer de importante.
Estimando as suas felicidades subscrevo-me Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 30 de Novembro de 1903


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[122] 30 Novembro 903
Amigo e Senhor Henrique
É de meu dever primeiro que tudo dár-lhe os meus respeitosos parabens pelo seu novo estado.
Até esta data nada se tem recebido com relação a regulamento, nem ao menos Dr. Quirino146 tem escrito sobre esse assumpto,
nem a nôs nem ao Dr. Romano: Estou ansioso por saber o que terá havido. Vejo contudo que esta demora na publicação do
regulamento é porque alguma cousa terá havido de deficuldades.
Tenho continuado a fazer despachos de melaço para poder satisfazer as encommendas de alcool que temos e que
continuamos a ter, e estou com receio que se estas demoras continuarem vamos-nos ver em deficuldades em ter alcool suficiente
para os mezes de janeiro e fevereiro que é quando os vinhos saiêm das estufas, porque como o Senhor Henrique quer dar ponto
a todo o melaço, sô um mês depois pelo menos é que podemos turbinal-os, o que nos vai causar demoras na preparação do
alcool.
Estou fazendo uma cousa sem sua auctorisação mas que me parece ser de alguma jantagem[sic]: Como este melaço que
estamos despachando (de Demerára) tem grande quantidade de assucar no fundo dos ponches, que é deficil de derreter, estou

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mandando desfundal-os e tirar-lhe todo o assucar precipitado que regula entre 65 a 75 kilogramas por ponche, e estou
guardando-o // [123] em tanques de ferro, para no caso de vir o regulamento já esse assucar pode servir para derreter e dar ponto.
Fiz uma analyse de esse assucar que mostrou 71,7% de saccarose, que como vê é uma boa percentagem e que é pena reduzil’o
a alcool.
Pelo calculo seguinte se pode ver qual o resultado em alcool e assucar
100 kilogramas d’esta massa com 71,7% assucar dá 43
litros d’alcool a 100º a 300 reis por litro 12.900
100 kilogramas da dita com 71,7
kilogramas assucar a 200 reis 14.340
Differença a mais no assucar 1.440 reis
Por esta mala mais nada lhe posso dizer de importante; o Carlos147 vai enviar-lhe umas cartas que recebemos para dar a
devida resposta.
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 16 de Julho 904


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[124v] 16 julho 904
Amigo e Senhor Henrique
Como ficou combinado fiz o cosimento do melaço de Barbados no melaxeur com um pé de cuite de assucar da Fabrica M
que deu os resultados seguintes:
A cristalisação fez-se bem na caldeira ingleza com o xarope do assucar M sulfitado e filtrado, mas deu-se um contratempo,
que foi a bomba de vaco ter parado, quando o cosimento estava prompto em virtude de o governo da machina ter fechado o
vapor; com esta atrapalhação João Martins esqueceu-se de fechar a agua da columna do[?] Melaxeur o que deu o resultado de
encher essa columna e passar alguma para o melaxeur sem se dar por isso, quando elle passou para o melaxeur o pé de cuite,
desfez um pouco o grão já formado, de forma que foi necessario passal-o novamente á caldeira ingleza para formar novamente
mais grão, mas não ficou tão grosso como da primeira vez. Em todo o caso isto é um contratempo que para o trabalho seguinte
não acontecerá e o resultado será melhor do que presentemente deu, que em todo o caso não é mau, visto o assucar empregado
no pé de cuite ser um assucar pouco vendavel e que com o tempo se vai deteriorando sussesivemente. Alem disso os egoûts
produzidos dão assucar de 2º jet como se vê pelas analyses seguintes:
Analyse do assucar da Fabrica M:
Saccarose – 90,9%
Glucose – 1,64%

Analyse da Melasse Cuite melaxée do pé de cuite e Melaço de Barbados:


Saccarose – 71,13%
Glucose – 12,05%
Pureza – 76,5 //
[125v] Analyse dos egoûts riche e pauvre de turbinagem
Saccarose – 50,53%
Glucose – 15,25%
Pureza – 65
Analyse do assucar produzido d’esta massa cosida turbinada conforme a amostra que lhe envio junta:
Saccarose – 97,5%
Glucose – 0,410%
As materias primas empregadas foram assucar M da Fabrica 36 sacas com 2700 kilogramas para o pé de cuite.
Melaço de Barbados – 10,547 kilogramas
Assucar produzido na turbinagem 3750 kilogramas.
Considerando que o assucar de Demerára ou Barbados importados dá um rendimento de 90% com uma percentagem em
assucar de 97,2% e 0,15 de glucose o nosso assucar M da Fabrica não deve produzir mais de 83,5% d’assucar vendavel, temos
por conseguinte:

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assucar refundido 2700 kilogramas a 83,5% = 2.254 kilogramas
O assucar produzido ——————————————- 3.750 kilogramas
Produzido pelo melaço 1.496 kilogramas
O que dá um rendimento de 77 kilogramas d’assucar por ponche, ficando os egouts para cosimento de 2º jet, e o nosso
assucar M, transformado em assucar vendavel.
São estas as considerações que lhe posso fazer, e que me parece haver vantagem em continuar o trabalho d’esta forma.
Temos ainda 600 sacas d’assucar M que dão para 16 pés de cuite representando o trabalho de 330 ponches de melaço de
Barbados. Espero que me mande dizer o que devo fazer, se continuar com os cosimentos em 2º jet(?), ou fazer como acima digo
//
[126v] Com relação ás cartas para Lisboa sobre o assumpto de matriculas está tudo feito como desejava. O Justino148
escreveu ao José Ribeiro uma boa carta com boas considerações e que acho deve produzir algum effeito, se elle mostrar ao
Ministro, a carta está bem feita e as considerações apresentadas são de grande valor. Elle tambem escreveu ao Abecassis mas
não me mostrou a carta.
Quanto ao memoreal para o J. R.149 apresentar ao Ministro foi escrito á mão, como manda a praxe, os outros á machina.
Tive um aborrecimento com a letra do Pestana Santos150 que não foi paga no Banco no dia do vencimento e foi protestada
o que nos obrigou a pagal’as como é da praxe. Elle veio aqui commigo varias vezes para reformar a letra mas não consenti e a
questão segue o seu caminho legal. É um grande intrujão o tal senhor, andava a ver a forma de me embrulhar com propostas
mas a nada dei ouvidos porque não quero responsabilidades. Se o Senhor cá estivesse poderia fazer o que muito bem entendesse.
Logo que a agua estava em estado de funcionar lhe mandarei dizer: Lembrei-me que seria melhor chamar o levadeiro da
Camara e offerecer-lhe alguma cousa para o termos á nossa mão.
Sem assumpto para mais Subscrevo-me Seu Amigo[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 25 de Julho de 1904


DESTINATARIO: Harry Hinton]
[127] 25 Julho 904
Amigo e Senhor Henrique
Envio-lhe a nota do rendimento em alcool de um lote de melaço do assucar de 2º jet do melaço de Barbados que deu 8,53%
d’alcool a 100º a 15º temperatura. Fazendo o calculo do rendimento pela analyse do melaço em saccarose e glucose e
descontando os infermenticiveis deveria dar 9 gallões a 100. A differença de rendimento não pode ser devido senão á
evaporação do alcool durante a fermentação activa. O calor agora é bastante grande as aguas são poucas e mornas; se não fosse
a falta de alcool teria parado com as fermentações n’esta época.
Recebemos o novo fermento puro da Dinamarka que já está em trabalho. É muito corisa[sic] a forma de expedição; o
fermento é secco entre duas folhas de filtro de papel, eram duas e em tão pequena quantidade que me vi obrigado a improvisar
um apparelho de cultura no laboratorio para desenvolvel’o primeiro e depois ser empregado. É habitudo[sic] ao acido
fluorydrico de forma que me foi facilimo o desenvolvimento, e o fermento é bastante puro e activo. Não lhe posso por emquanto
dizer qual o resultado, mas parece-me que deve ser bom.
Recebemos a caldeira de vapor, e naturalmente o engenheiro deve // [128] escrever-lhe a esse respeito.
O cambio tem descido bastante ainda que n’estes ultimos dias houve uma pequena subida. Isto pode influir sobre a venda
do assucar no caso de importarem algum. Não seria mau o Senhor enviar um telegramma dizendo desça no caso de eu lhe enviar
um em que lhe diga desçe.
Sô lhe mandarei este telegramma no caso de eu vêr que a descida do cambio continua.
Sem assumpto para mais subscrevo-me
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 1 de Agosto de 1904


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[129] 1 Agosto 904
Amigo e Senhor Henrique
Envio-lhe junto com esta uma nota do rendimento total do primeiro cosimento do melaxeur com melaço de Barbados e
refonte d’assucar para ver o bom resultado obtido com esta forma de trabalho. O cosimento de 2º jet foi bom de turbinar e como

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vê o seu rendimento foi magnifico.
Quanto ao cosimento de 2º jet da Melasse Cuite melaxée com melaço de Barbados e assucar da Fabrica tambem tem assucar
bastante e não deve render menos do que o outro.
Está um calor insoportavel, e as aguas são poucas e mornas de forma que me vejo na necessidade de trabalhar devagar, mas
mesmo assim a temperatura das fermentações são altas bastante prejudicando o rendimento. Nada posso fazer para evitar este
inconveniente.
O arranjo da agua da Camara deve ficar concluido esta semana segundo me diz Marsden151, e logo que eu tenha feito a
esperiencia se funciona bem mando-lhe telegramma como ficou combindo, para vir o Cosedor.
Temos em assucar do melaço de Barbados 2º jet 1000 sacos feitas e como estamos seccando o poço grande e faltão 2
pequenos para seccar cal-//[130]culo dár mais umas 400 sacos. Do assucar estrangeiro temos 100 sacas na Alfandega para
despachar; que quantidade de assucar o senhor Henrique deseja refinar? Era necessario eu saber isso para ver o que devo fazer.
Como temos pouco Baryte e vai ser necessario mandar vir mais para o anno proximo, será bom o senhor Henrique fallar ao
Naudet152, sobre o novo processo do tratamento das garapas e xaropes pelo aluminate de Baryte que em sucrerie de beterraba
tem dado muito bom resultado percipitando as matiers grasse. Já teem feito esperiencias nas fabricas de assucar de canna mas
por emquanto não estão poblicados os seus resultados.
Por emquanto nada mais tenho a dizer-lhe de importante.
Seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 8 de Agosto de 1904


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[131] 8 agosto 904
Amigo e Senhor Henrique
Recebi e agradeço-lhe a sua carta de 30 de Julho e passo a responder: Quanto á agua ficou hoje pronpta e vou experimentar.
Talvez quando receber esta carta já tenha antes d’isso o telegramma avisando-o de que pode vir o cosedor, como ficou
combinado. Já fallei ao levadeiro da Camara e elle está ao corrente de tudo.
Vou principiar amanhã ou depois nos cosimentos no melaxeur com o nosso assucar M e melaço de Barbados, e vejo que não
posso dar pontos de 2º jet dos egoûts do melaxeur porque tenho pouco melaço e os pontos do melaço de Barbados estão a acabar.
Sempre acho melhor fazer este trabalho assim por isso que se refina o assucar M e se tira algum assucar do melaço, do que
reduzir a alcool directamente o melaço sem lhe tirar assucar algum. Vou fazer a separação dos egoûts-riches para entrar
novamente em trabalho.
Quanto ao arranjo no triple effet, está conforme o que se tinha combinado, mas por emquanto nada se tem feito porque os
mestres não tem tido vagar.
Já puz á venda o assucar de Barbados e retirei o nosso M, acho bem entendi-//[132]do assim.
Envio-lhe a planta e orçamentos do arranjo na caldeira de vaco. Pedi ao engenheiro que me tirasse uma planta do fundo da
caldeira com todas as medidas, que remetto. Na planta está marcado a tinta encarnada a medidas [sic] necessarias. Não tenho
passado nada bem do meu reomatismo, e com o calor que está tem me posto n’um estado de fraqueza pouco agradavel: Quando
o Senhor Henrique voltar não tenho remedio senão ir ás aguas, a ver se me refaço. É bem aborrecido este meu estado.
Acabamos de experimentar as bombas centrifugas com a agua dos moinhos (Camara) que trabalharam perfeitamente; vou
mandar telegramma prevenindo.
O que temos em alcool é o seguinte:
alcool de 2ª – 2650 gallões
Dito de 1ª – 2300 “
Dito para restillar – 4800 “
Como vê o alcool de 2ª é pouco mas como temos bastante de 1ª temos alcool para os vinhos novos.
O Leacock desejou 3000 gallões de 2ª que já lhe foi entregue 1500.
Sem assumpto para mais subscrevo-me Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 13 de Agosto de 1904


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[133] 13 agosto 904

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Amigo e Senhor Henrique
Recebi a sua carta de Goteborg com data de 3 d’agosto, e passo a responder por partes.
Quanto ao preço do nosso assucar não tem havido necessidade de descer visto o cambio se conservar.
Sinto bastante os desgostos e aborrecimentos que tem tido com o Harvey sobre a patente: Acho corioso que um homem que
não metteu prego nem estopa n’esta questão queira sô elle figurar como inventor do processo; já deve considerar-se feliz por o
terem escolhido como único representante em Inglaterra. Quanto á nova forma de trabalho para que as garapas sejam filtradas
duas vezes, uma a frio, e a outra depois da defecação, tenho uma edeia do Naudet153 me ter fallado n’isso mas muito por alto,
de forma que seria bom elle me enviar uma nota descriptiva do processo para eu poder estudal’o melhor.
Não tenho tido occasião de fallar com o Pedro Pires sobre o baptismo da aguardente de canna; elle esteve no Norte e
qualquer d’estes dias vou mandar lhe dizer para vir fallar commigo.
Quanto aos de Camara de Lobos já lhe tenho sedido algum alcool // [134] mas segundo elles me teem dito é para os vinhos
novos, porque teem medo não haja falta para as vindimas; Está bem claro que não acredito muito n’isso, mas como o preço da
aguardente de canna se tem conservado não acho inconveniente em lhe ir sedendo algum, por isso que o Lemos154 assim o faz,
e se nós não o vendermos, elle venderá. Rheomatismo, na minha pessôa vai assim, assim, e o indereço da botica em Londres
para o remedio do Senhor J. Blandy155 é – M. Jozeau 49. Hiosmarket. O nome do remedio é Specifique Béjean.
Com relação ao J. Carlos sobre a matricula da fabrica de Machico nem o Arthur sabe, e mesmo que elle a pedisse não lhe
seria dada em vista das ordens que tem; contudo pedi-lhe para escrever para Machico ao Administrador de lá sabendo se há
alguma cousa o que elle fez, e alem d’isso lembrando-lhe que não deve acceitar matricula alguma. O que me pareçe é que elle
quer é auctorisação para uma licença de nova fabrica, mas isso mesmo o Arthur diz que não pode ser em vista da lei que prohibe
montagens de novas fabricas.
No dia em que lhe enviei o telegramma sobre a vinda do cuiseur, enviei um tambem [135] ao Naudet dizendo-lhe, envie o
cuiseur, porque lembrei-me que, como o senhor Henrique está longe, elle mais facilmente o pode enviar.
Commecei hontem com os cosimentos no melaxeur com pé de cuite com assucar M nosso. A qualidade do assucar turbinado
hoje é quasi egual á amostra que lhe enviei, isto é, claro mas fino, mas o rendimento na centrifuga é bom. Quando se principiar
com a refinação do assucar lembrei-me de tirar um pé de cuite com o assucar refundido feito pelo cuiseur, em grão mais grosso,
e passal’o ao melaxeur, e alimentar depois com melaço de Barbados; deve dar um cristal meior e muito mais claro. Este
tralho[sic] assim não prejudica, o que tem de mau é que, como sô temos 2 melaxurs abertos e empregando um n’este trabalho,
atrasa um pouco a refinação, e quanto menos tempo cá estiver o cuiseur melhor. Emfim veremos o que se pode fazer de melhor.
A agua da Camara está funcionando perfeitamente, de forma que toda a agua absorvida é enviada novamente ao seu destino,
sem haver prejuizo algum para a Camara. O Jordão tem tido os seus dáres e tomáres com o Ferreira, cambado sogro do Ignacio,
por causa da agua da fazenda, que segundo o Jordão me diz elle trata de se [136] aproveitar d’ella para seu servisso o que deu
causa a uma seria questão entre o Ferreira e um moço da Fazenda, que levantou auto contra o Ferreira por lhe ter batido.
Indaguei esta questão d’agua com o Domingos S.ta Clara de Menezes, e elle disse-me que aquillo era uma verdadeira
roubalheira que o Ferreira estava fazendo.
O Jordão veio-me participar que não continuava a tomar conta da fazenda.
Acabo de fallar com o Arthur que me diz não haver nada de novo sobre matriculas em Machico.
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 22 de Agosto de 1904


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[137] 22 agosto 904
Amigo e Senhor Henrique
Recebi e agradeço a sua carta de 9 agosto, em que me diz ter recebido o telegramma com relação ao cuiseur. Fiquei
descontente por emaginar que o Senhor quizesse fallar com o cuiseur antes da sua partida para aqui, mas como ficasse
combinado que logo que a agua ficasse prompta o cuiseur viria emediatamente por isso telegraphei ao Naudet156 pedindo-lhe
enviasse o homem; alem d’isso n’uma das suas carta dizia-me que o cuiseur estava á espera da ordem de partida. O homem
chegou aqui no dia 17, no Normen[?], mas sô posso principiar hoje (segunda feira) em vista de a bomba de ar não estar prompta
antes; e era necessaria para a sulfitação dos egoûts. A semana passada fiz alguns cosimentos no melaxeur com pé de cuite de
assucar M e os egouts são para destillar.
O cuiseur pareçe ser entendido na materia, é já um homem de seus 50 annos e tem melhor aperencia que o Micheau.

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Já combinei com elle a forma de fazer a refonte que será desfeito em 25º Baumé aquecida e passado aos filtros mechanicos.
Os egouts // [138] serão sulfitados, tendo-lhe junto solucção de baryte com uma legeira reacção alcalina, e a sulfitação será
levada até á reação ligeiramente acida.
Vou esperimentar fazer os cosimentos na Francesa sô com a refonte do assucar e as egoûts serão épuisée no melaxeur, tendo
passado para elle um pé de cuite de refonte da Francesa.
O cuiseur diz que se se empregasse o carvão animal o assucar seria muito melhor mas nem temos filtros nem carvão em
estado de servir, e para empregar o carvão em pô seria necessario passar o charope a um filtro presse, que o temos, mas não
está em condicções de trabalhar por não termos nem panos nem a bomba montada. Em fim tenho esperanças de que fazendo
um cosimento na Franceza com a refonte pura esse assucar deve dar bem branco; e os egoûts sendo sulfitados, e no melaxeur
com pê de cuite puro tambem deve dar assucar bom.
Quanto ao que me falla com relação a se tirar um ramo da agua aos moinhos para os alambiques, nem é bom pensar n’isso,
porque a agua que a bomba centrifuga absorve é a indispensavel para a columna barometrica. //
[139] Com relação ao rendimento do melaço de Barbados em assucar foi o seguinte:
Melaço empregado no cosimento
de 2º jet até 6 de agosto = 420.639 kilogramas
assucar 2º jet produzido = 120.504 kilogramas
Melaço épuisée para destillar 239.274 kilogramas
Ainda nos resta d’este carregamento 24,645 kilogramas que é o que se tem feito no melaxeur com pé de cuite M.
O assucar de 2º jet de Barbados tem-se conservado bem até agora, e não vejo signal de fermentação.
Sempre lhe quero dizer que o melaço que temos são 300 cascos e 600 em viagem e o da Antiqua, mas não me pareçe que
este melaço dê para todo o anno, e é pena reduzir este melaço de Barbados a alcool quando elle dá melhor em assucar. Para
alcool o de Demerára seria melhor, e se tivessemos melaço suficiente poder-se-hia reduzir a cosimentos de 2º jet o melaço de
Barbados, para ser turbinado no mez de Janeiro a miados de fevereiro, e o assucar servir para refonte na garapa em logar de se
importar assucar como se fez este anno.
O Antonio Justino mostrou-me uma carta de Lisbôa em que lhe dão todas as esperanças que a questão das matriculas seram
resolvidas como deseja, mas foi necessario // [140] instigar a pessôa que trata d’esta questão (que é um homem pratico) com
uma promessa de gratificação, para a qual elle veio combinar commigo se se poderia prometter isso, o que eu rosolvi bem sem
sua auctorisação para evitar delongas, mas com a condição que sô receberia no caso em que a questão nos viesse favoravel e
depois de publicada no Diario do Governo.
Já tenho o memorial prompto para entregar ao Frederico Martins que deve partir para Lisboa até o fim do mês.
Com relação ao J. Carlos nada há de novo, naturalmente foi mal entendido do Senhor João Blandy157. Tenho tido uns
pequenos aborrecimentos por causa da agua dos moinhos porque o levadeiro emagina que a agua não lhe vai lá toda, mas vou
sanar todas as deficuldades dando-lhe a gratificação adiantada, para pôr o homem de bons umores.
Para o outro correio lhe darei conta do resultado da refinação.
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 22 de Agosto de 1904


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[141] 22 Agosto 904
Senhor Henrique
Já hia fechar a minha carta quando o João me diz que, já duas pessoas se queixão que a agua dos moinhos vai morna para
as poços onde tem morto patos e peixes. Acho um pouco exagerado, mas <são> sempre reclamações que não fazem bem.
No sabado esteve aqui o Veriador do peloro da agua que é o João d’Araujo, com o levadeiro e foi-lhe mostrar como entrava
e sahia agua da Fabrica, e elle por seus proprios olhos viu que a agua sahia limpa, somente um pouco quente e com um leve
cheiro a assucar, mas essa quantidade de agua quente é mesturada na levada com mais do dobro de agua fria que corre
directamente da levada dos moinhos, de forma que o Araujo foi convençido que as reclamações do levadeiro não teem grande
rasão de ser. Sempre é mau principiar estas pequenas reclamações e estou com medo isto não vá a mais: Muito desejava que o
Senhor estivesse agora aqui para avaliar por si mesmo as // [142] deficuldades em que me vejo. Da levada das Hortas tambem
fervem as reclamações.
Nada queria senão que viesse uma boa chuva mas infelizmente o calor cada vez é meior.

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Emfim do que houver lhe darei parte.[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 29 de Agosto de 1904


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[143] 29 agosto 904
Amigo e Senhor Henrique
Principiei como na minha ultima carta lhe disse com a refinação do assucar. Pela ultima malla enviei-lhe uma amostra do
assucar retirado do 1º cosimento que foi torbinado fora de tempo por não termos egoûts para o melaxeur e o grão não estava
muito bom por ser o primeiro e o cosedor não estar bem sciente do trabalho da caldeira. Estes pontos que se tem dado depois
d’esse 1º estão magnificos tanto em grão como na qualidade como pode ver pela amostra que lhe envio por este mesmo correio.
O assucar tanto da Franceza como do melaxeur com egoûts pauvre, são perfeitamente eguaes tanto que tenho feito lotes de
todos elles mesturados. Os egoûts levam baryte na quantidade suficiente e são muito bem sulfitados de forma que o assucar sai
perfeito.
Temos feito até hoje 32.636 kilogramas d’assucar refinado todo elle egual á amostra presente, e como vê mesmo sem carvão
animal pode-se fazer bem branco.
Tenho escolhido o assucar mais ordinario para refinar e tenho deixado o BB que está bom que passará a B2 e o refinado a
BB. Vou subir o preço do assucar com 100 reis por 15 kilogramas melhorando contudo os lotes, de forma que podemos
perfeitamente competir com os assucares de Hamburgo. // [144] O Costa aprova esta minha edêa que diz, elle, é a melhor a
tomar. Amanhã vou experimentar mesturar metade do assucar da Fabrica com metade do assucar de Barbados de 2º jet para ver
se o assucar refinado é bom: Tenho esperanças que assim seja, e n’esse caso vou refinar uma parte d’elle.
Não podemos fazer mais de dois cosimentos por dia em vista de termos sô dois melaxeures, e a turbinagem nos levar 5 dias
em cada cosimento. O dois [sic] cosimentos, 1 na Franceza e outro no melaxeur duram 6 horas pouco mais ou menos.
O assucar vendido desde 1 de Fevereiro a 3 de Julho do corrente anno foi de:
BB —————— 2052 sacas
B2 —————— 2238 sacas
M —————— 330 sacas
Com vê pela nota acima temos que refinar em BB 2100 sacas ficando o assucar BB e algum do B2 da Fabrica bom, para
B2.
Analyse da massa cosida da Franceza:
assucar —————— 86,66%
Pureza —————— 95,1
Coefficiente glucosico —————— 0,15
Rendimento medio da massa cosida em assucar turbinado é de 70%.
Analyse da massa cosida do melaxeur
assucar —————— 83,24%
Pureza —————— 92,1
Coefficiente glucosico —————— 0,38
Como não temos por emquanto melaço epoisée não lhe posso mandar a analyse. Os egoûts riches entrão na refundição do
assucar. //
[145] Duas palavras sobre o cosedor: O homem sabe bem do seu officio é muito cuidadoso no seu trabalho; é sobrio e
delicado. Diz elle que já trabalhou em Fabricas d’assucar de canna em Martinica e que conhece a forma de cozer xarope de
canna. Ficou ademiradissimo que houvesse um cosedor que deixa-sse[sic] chegar o cosimento de forma a formar sobre as
cerpentinas de vapor os cascos que lhe mostrei. Diz elle que a caldeira Franceza é boa mas necessita muito cuidado, e que
naturalmente ou havia descuido ou cristalisava com vacuo muito baixo, o que em assucar de canna se não pode fazer. Perguntei-
lhe se elle poderia vir aqui nos mezes de Fevereiro a Junho fazer a laboração, disse-me que sim, e acho que, mesmo que custe
100 francos por mez val muito mais que o Michou. Em fim o Senhor Henrique decedirá o que achar de melhor.
Naturalmente se o Senhor estiver aqui no dia 21 setembro ainda o cuiseur cá estará.
Com relação ao que me diz sobre o melaço da Felizberta da maneira que o chimico ensinou ao Wilkinson de fazer descer o
assucar não me agrada muito, porque não me parece que haja outro meio senão o acido, e isso é um // [146] grande mal para a
fabrica de assucar; emfim veremos pela analyse qual a acidez d’esse melaço.

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A Esperança está a chegar de um momento para o outro, com um carregamento de 380 cascos segundo me disse o Pedro
Rois, e no caso de o melaço ser bom vou ficar com 150 cascos.
Com relação á agua dos Moinhos cá vamos trabalhando ainda que de tempos a tempos apareçem pequenas reclamações, que
tenho remediado.
Por emquanto não recebi o remedio que o Senhor Henrique fez o favor de me comprar; virá na outra malla?
Sem assumpto de meior importancia a dizer-lhe vou terminar; até á outra malla.
Seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz
P.S. Uma cousa que me esquecia de lhe dizer era que, o cuiseur disse-me que o Naudet158 lhe havia dito que o trabalho da
refinação seria de 2 ? a 3 mezes, e elle ficou muito desconsolado quando eu lhe disse ser sô necessario 1 ? mez. O que elle
deseja é então estar em França em Outubro para a fabricação da beterraba.[Ass:] Ferraz //

[DATA: 5 de Setembro de 1904


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[147] 5 septembro 904
Amigo e Senhor Henrique
Na minha ultima carta dizia-lhe que hia subir o preço do assucar em 100 reis por 15 kilogramas; já tinha combinado com o
Costa e estavam as cousas açentes quando infelizmente veio a rosolução para a Alfandega do recursso que alguns importadores
tinham levado para a Direcção Geral sobre se os assucares importados dos Paizes Baixos que [...] o tratado entre Portugal e esse
paiz, os assucares não devem pagar o imposto de producção nem addecionaes e pelo typo 20, vei[sic] favoravel aos
importadores, veio transtornar todos os nossos planos. Contudo tenho conservado os mesmos preços e os mesmos typos de
assucar não expondo ainda á venda o assucar refinado sem ver em que param as modas.
Tenho continuado a refundir o assucar de 2º jet de Barbados com o nosso assucar o que tem dado bom resultado com relação
á qualidade. O xarope d’estes dois assucares leva baryte até á reação legeiramente alcalina e depois são sulfitados até á reação
legeiramente acida não havendo perda de pureza n’esse trabalho, e o assucar é bom, já se vê não tão branco como o do assucar
da Fabrica sô de per si, mas ainda assim um assucar muito melhor que o nosso BB.
Dizia o senhor na carta ao Carlos159 que desejava que se trabalhasse de dia e de nuite; não é isso muito facil: Tenho-me visto
na necessidade de trabalhar da meia nuite para // [148] a manhã, por causa da agua dos moinhos, que algumas pessôas se
queixam que vai quente para as regas e como de nuite poucos regão, tenho feito assim.
Com relação ao assucar M da Fabrica diz o senhor Henrique que, no caso que a pureza d’elle tenha descido que se refine?
Mas não é possivel com aquella quantidade d’assucar fazer assucar branco sem um trato especial de clarificação e carvão
animal. Esse assucar tinha-o reservado para os pés de cuite para o melaço de Barbados no melaxeur
Efectivamente o assucar tem baixado a pureza por isso que em 22 de Julho mostrava:
assucar – 90,0%
glucose – 1,64%
Emquanto que hoje tem:
assucar – 89,6%
glucose – 1,92%
Não me parece que haja vantagem em mesturar este assucar com B2 da Fabrica para refinação porque nem um nem outro
dará branco. Temos feito até hoje 20 cosimentos na Franceza e no Melaxeur e sô agora é que tenho egoût pauvre para cosimento
de 2º jet; uns 400 litros, com a seguinte analyse:
assucar ——————————- 48,38%
Glucose —————————— 17,54%
Pureza ——————————— 61,7
Coefficiente Glucosico – 36,2
Este melaço está claro mas um pouco [...] de forma que deve ser reduzido a 2º jet.
A analyse do assucar refinado levando metade do de Barbados mostrou
assucar – 99,2%
glucose – 0,12% //
[149] Temos feito até hoje (em 20 cosimentos) aproximadamente 846 sacas d’assucar refinado de 100 kilogramas cada uma.
O rendimento da Melasse Cuite tem sido de 72% em assucar turbinado, o que é um bom rendimento. No tempo da laboração

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com xarope de canna o rendimento era de 58%
Quanto ao que o Senhor Henrique diz na carta do Carlos que ficou descontente por ter vindo o cosedor sem ter fallado com
elle, não tive culpa alguma, por isso que, não me tinha prevenido d’isso.
Fiz um calculo da despeza de combustivel e pessoal n’esta questão de refinação que me deu o resultado de 50 reis por 15
kilogramas d’assucar refinado. Neste calculo está incluido, já se vê, o cosedor.
Quanto á quebra da refinação não lhe posso dár o resultado, porque nada se pode ver sem fazer uma liquidação de todo o
xarope e egouts em trabalho. Se acha isso de grande necessidade pode-se fazer, mas não me parece que a quebra seja mais de
2% não incluindo o xarope em que vai imbevido os sacos dos filtros que é para aguardente.
Alcool: Temos em deposito da qualidade B 4000 gallões, e da 1ª qualidade em deposito e por restillar temos uns 7500 a
8000 gallões aproximadamente.
O senhor Cossart160 já está inteirado e diz que por estes primeiros mezes não quer mais //
[150] Com o que não estou nada satisfeito é com o rendimento do melaço. Terminei um lote que apenas me deu 8,1 gallões
d’alcool puro a 100º e as fermentações são boas em vista da differença da acidez entre a normal e a final, os apparelhos de
destillação estão trabalhando bem; não vejo a causa do pouco rendimento senão nas temperaturas elevadas da fermentação que
evaporão algum alcool.
Tenho trabalhado devagar por isso mesmo, mas o alcool felizmente tem chegado para as encomendas
Vou principiar hoje a gastar o melaço de Barbados para aguardente sem extrahir assucar por isso que o outro aviou.
Quanto ao Pedro Pires não é possivel elle mesturar por emquanto alcool na aguardente de canna porque segundo elle diz
tem ainda 7000 gallões d’aguardente e não vende quasi nada por querer aguentar o preço como o Senhor Henrique lhe
recommendou. Quanto ao resultado da Fabricação diz elle que espera apresentar alguns lucros.
Na carta ao Carlos o senhor Henrique diz para eu esperimentar sulfitar o melaço de Barbados? Mas n’esta occasião estamos
tratando da refinação do assucar e não temos em trabalho nenhum melaço de Barbados…
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 12 de Setembro de 1904


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[151] 12 setembro 904
Amigo e Senhor Henrique
Sempre subi o preço do assucar em 100 reis por 15 kilogramas, expondo á venda o assucar refinado: Temos 4 qualidade
[sic] d’assucar
BBR que é o mais branco a 3900 reis por 5 sacas
BB refinado a 3800 reis “
B2 não refinado a 3600 reis “
NB —————————————- a 3500 reis “
Segundo as cutações do assucar que o Costa tem o assucar subio, de forma que o assucar do Paizes [sic] Baixos, deve ter
subido na proporção e n’este caso poderemos competir com eles, principalmente na qualidade.
Recebi no dia 10 uma carta do Quirino161 em que me pede para lhe telegraphar se o assucar dos Paizes Baixos já se pode
despachar nas condições em que Direcção Geral das Alfandegas deu o seu parecer de ser isento do impacto de producção,
telegraphei-lhe isento como elle pedia. Alem d’isso pedia-me tambem para acrescentar ao telegramma se a fiscalisação
continuava, e se continua lhe telegraphar sempre, o que fiz. Isto naturalmente é devido a alguma carta sua ao Quirino? Vou
escrever-lhe pelo primeiro vapor retificando os telegrammas.
Junto a esta encontrará o calculo do rendimento como na sua ultima carta desejava. Tive que fazer uma liquidação completa
do trabalho por isso que os ultimos cosimentos já não corrião tambem como os outros. Como vê temos 2 cosimentos não
turbinados, que por serem deficeis de turbinar // [152] me vi na necessidade de os tirar dos melaxeurs e deital’os nos tanques
de ferro para serem torbinados mais adiante, de forma a não atrapalhar o trabalho. Principiei de novo.
O cosimento de 2º jet dos egoût da refinação não é grande cousa e deve naturalmente dar pouco assucar. O melaço é gresse
em grau elevado. Como vê a quebra foi de 2% como eu tinha previsto na minha ultima carta.
Desejava saber se no caso de se ter refinado todo o assucar necessario quer que mande o cuiseur embora ou se quer que o
deixe ficar até o Senhor Henrique vir fazendo elle os pés de cuite para o melaço de Barbados com João Martins, trabalhando
de dia e de nuite. No caso de querer que elle fique telegraphe Fique: e no caso de não querer, deve telegraphar Retire. Pedia-

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lhe resposta breve. Junto a esta encontrará tambem uma traducção de uma carta em espanhol de Porto Rico que o cuiseur
Monsieur[?] Frederique fez favor de traduzir (elle entende o espanhol)
Essa carta é interessante para o Naudet162 visto ser o Manoury que tirou patente em Porto Rico do processo de diffusão do
Bagaço. Não respondi á carta: espero por si. Esta será naturalmente a minha ultima carta. Tive que suspender novamente o
fornecimento de alcool para Camara de Loubos em vista de reclamações que tem aparecido sendo uma do Tenente Coronel //
[153] Rego que se queixa que os de Camara de Lobos vendem aguardente de canna nesta epoca a menos de 1000 reis. Neste
caso preveni-os de que lhe não poderia fornecer alcool em quantidades elevadas sem que o Senhor Henrique volte e
dezedirá[sic] o que se deve fazer.
O Antonio Justino diz que tem ainda em aguardente de canna pura uns 15.000 gallões e em São Martinho ainda há alguma
mas pouca. Eu com receio de alguma representação feita pelo Rego achei mais prodente suspender por emquanto o
fornecimento de alcool em quantidades superiores ás necessarias para o tratamento dos vinhos de Camara de Lobos. Não desejo
tomar a responsabilidade de tal cousa.
Sem assumpto de maior importancia espero a sua volta no dia 28 e subscrevo-me seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino
Ferraz
P.S. Acaba de estar aqui o Antonio Justino mostrando-me uma carta de Lisboa do Abecassis em que diz estar tratando da
Questão das matriculas com todo o empenho e pede-me para lhe dizer isto.[Ass:] Ferraz //

[DATA: 13 de Setembro de 1904


DESTINATÁRIO: Quirino Avelino de Jesus163; LOCAL: Lisboa]

[154] 13 setembro 904


Meu Caro Amigo e Senhor Quirino A. de Jesus
Recebi a sua carta com data de 6 do corrente em que me pedia esclarecimento sobre o despacho do assucar da Holanda, e
devido a isso lhe telegraphei como o seu desejo a palavra isento, por isso que tinha vindo ao Director da Alfandega a decisão
do despacho d’esse assucar isento do imposto de producção de 15 reis e tanto que um negociante que tinha aqui assucar d’essa
procedencia o despachou já n’essa conformidade.
Na ultima carta ao Senhor Henrique Hinton tinha-o previnido d’isso, e naturalmente elle devia ter-lhe escrito sobre o
assumpto como diz na sua carta esta questão é de grande importancia para elle, por isso que esse assucar caso continue a ser
despachado n’essas condições vem transtornar completamente todas as nossas esperanças, e os nossos lucros seram reduzidos
n’uma importancia avoltada; já em si a fabricação do assucar da canna bem poucas vantagens offereçe, e com esta diminuição
ficará reduzida a 0.
Com relação á fiscalisação continua da mesma forma, por isso lhe telegraphei sempre, como do seu desejo. Não posso
comprehender como depois de termos assignado um termo de responsabilidade e em que o regulamento diz se deve retirar a
fiscali-//[155]sação, ella continue da mesma forma, obrigando-nos a uma despeza avultada…
Com franqueza não vejo a vantagem d’essa fiscalisação, porque aqui entre nôs, os guardas nada fiscalisão
Sempre ás suas ordens, crêa-me seu sempre sincero Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 22 de Maio de 1905


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[156] 22 maio 905
Amigo e Senhor Henrique
Não lhe tenho escripto porque como o Bardsley o tem feito e naturalmente falla-lhe de tudo quanto se passa e eu pouco mais
teria a dizer-lhe por isso o não fiz até agora. Mas como agora lhe tenho alguma cousa interessante a dizer-lhe passo a narrar-
lhe: Terminamos com a secagem do M da Fabrica que rendeu 31,730 kilogramas assucar. Quanto ao melaço só lhe posso dar
uma conta aproximada por isso que ainda não está todo pezado.
Terminamos hoje com as [...] melaço de Demerára que deu 32 cosimentos. Já torbinei uma pequena quantidade sô para ver
a qualidade do assucar; Dá um assucar amarello muito claro contendo 93% assucar puro (da amostra que fiz). Não posso
principiar a turbinal-o ainda porque estão ainda quentes e alem d’isso tenho muito melaço em ponches do da Fabrica que me
dá até ao fim do mez. Sô no principio do mês que vem principearei a torbinal’o: A Barca deve estar por aqui a meados de Junho
de forma que tenho tempo bastante.

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As fermentações vão bem. O novo fermento puro do Instituto de Berlim Raça Nº 11 é magnifico. // [157] É talvez o melhor
que temos tido; principiei a usal’o no dia 19, sendo muito facil abitual’o ao fluorydrico, empregando logo no principio doses
elevadas d’este anticeptico, o que com os outros fermentos é impossivel. Como vê é perfeitamente o que eu esperava. Falta-me
ver os resultados praticos da fermentação, sua acidez, e rendimentos em alcool.
Com relação a agua temos trabalhado com a dos moinhos, por isso que, como tinha a sua auctorisação offereci ao levadeiro
10.000 reis mensais para que deixe vir uma pequena quantidade d’agua de forma a não fazer falta á levada, e assim continuará
quando vier o melaço de Barbados, que vamos fazel’o em 2º jet.
Melaço da Fabrica (aproximadamente)
pezo liquido ———————— 467000 kilogramas
Temos rendimento da canna por 100 kilogramas
assucar 1º jet ———————- 7,360 kilogramas
assucar 2º jet ———————- 0,411
melaço ——————————— 6,060
Este melaço pode-se contar ter 49,8% assucar total calculado em saccarose, e o assucar de 2º jet tem 92% assucar de forma
que calculando em assucar puro temos:
assucar 1º jet —————————————— 7,139 kilogramas
assucar 2º jet —————————————— 0,378
(aproximado) assucar no melaço ——- 3,017
assucar total produzido 10,534
O assucar entrado em fabricação por 100 kilogramas de canna foi 11,01 kilogramas, temos a perda indeterminada de 0,476
kilogramas, com os 0,51 kilogramas no bagaço ou petit jus faz a perda total de 0,986 kilogramas
Sem assumpto para mais subscrevo-me Seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz

[DATA: 30 de Maio de 1905


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[158] 30 maio 905
Amigo e Senhor Henrique
O telegramma que lhe enviamos hontem e rectificamos hoje, teve sô por fim prevenil’o contra qualquer surpreza, que por
parte d’esta gente d’aqui lhe podessem preparar; um homem prevenido, val por quatro. Passo-lhe a expôr as razões que nos
levaram a telegraphar-lhe:
Estando eu no Jardim Municipal no Domingo 28, o Antonio Justino chamou-me de parte e perguntou-me se o Senhor
Henrique tinha escripto, e se as suas cousas corrião bem ou se haviam algumas deficuldades? Respondi-lhe que o senhor tinha
escripto mas que estava confiado nos bons resultados dos seus desejos. Disse-me então elle que, estando n’um grupo no mesmo
Jardim, em que se achavam reunidos o Luiz Pereira, Pedro Lomelino, Carlos Carvalho, Octaviano e elle, principiou a conversa
sobre menopolios, em que veio a lume a questão de melaços e assucar e matriculas dizendo o Luiz Pereira e Carlos Carvalho
que esta questão de alcooes de melaços era uma verdadeira pouca vergonha, que não podia continuar assim, ou Leça se podia
matricular ou então a matricula devia ser livre para todos (asneira), e que o Hinton estava muito confiado na sua força mas que
de um momento para outro a perderia completamente, que em poucos dias se veria o resultado: Foi n’esta altura da conversação
que o L. Pereira fallando ao ouvido do C. Carvalho lhe disse qualquer cousa que o Justino não poude perceber, // [159] mas que
o Luiz Pereira perguntou então ao Carvalho em vôs um pouco alta… mas isso é official? É sim, lhe respondeu o Carvalho; foi
isto que fez má impressão no Justino. Depois passaram a fallar na importação do trigo e direitos alfandegarios, até que a questão
chegou á diminuição dos rendimentos da alfandega devido á grande importação de melaço que paga um pequeno direito, e quasi
nenhuma importação d’assucar, o que dava causa ao rendimento da Alfandega ser no anno passado muito menor, e este anno
ainda seria peôr; que em Julho (anno economico) hiam tirar as estatisticas, e provariam se era ou não verdade.
Foi tudo isto que deu causa ao nosso telegramma prevenindo-o para evitar surprezas e pol’o de sobreaviso.
Se elles teem qualquer esperança não sei… O que sei é que se não podem conseguir a matricula do Leça, d’alguma forma
se vingaram! E esta questão de rendimentos da alfandega é importante.
O Director da Alfandega diz que nada recebeu de official. O que será então essa cousa official? Será pelo Governo Civil?
Vou ver se posso indagar e lhe direi.
Esperando as suas felicidades Subscrevo-me Seu Amigo respeitoso[Ass:] João Higino Ferraz //

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[DATA: 1 de Junho de 1905
DESTINATÁRIO: Sousa Lara; LOCAL: Benguela, Angola]

[160] 1 Junho 905


Ill.mo Ex.mo Senhor Sousa Lára Bengella
Amigo e Senhor.
Recebi a sua estimada carta datada de 24 de abril, o que muito lhe agradeço.
Sinto bastante não estarmos de acordo com relação á minha hida ahi, mas crêa que ficarei sempre grato pelas suas amaveis
referencias.
Com relação ao homem que V.ª Ex.ª me pede tenho arranjado um em bôas condições, mas o preço não o pude fazer por
menos de 30$000 reis mensaes, passagens pagas de 3ª classe hida e volta, commedorias, alojamento e medico. É um homem
forte, sabendo bem o trabalho de cannas de assucar como aqui se usa, e parece-me bom rapaz. Pode ser que V.ª Ex.ª se dê bem
com elle e ahi ficará. O homem pede um decomento do seu contracto o qual eu lhe passarei referindo-me á sua carta, o qual V.ª
Ex.ª retificará á chegada d’elle ahi. Quanto á passagem não há meio da agencia aqui (Blandy) levar o homem e depois receber
a importancia, de forma que vou adiantar o dinheiro necessario e depois me avisará em tempo competente. No caso de não
querer assim avise em tempo competente.
Assucar: – Com respeito ao fornecimento de 200 a 250 toneladas d’assucar de que lhe fallei, gosamos aqui das mesmas
garantias dos bonos de 50% como em Lisboa. Faço notar // [160] a V.ª Ex.ª que o assucar que necessitamos é o assucar bruto
de 1ª qualidade do qual nos enviará uma amostra logo que o tenham. Seria favor derigir-se directamente á firma William Hinton
& Sons – Madeira
Melaços: – Sobre melaços pode ser que possa tambem fazer negocio, mas esse melaço deve ser de 1ª qualidade com uma
percentagem em assucar entre 50 a 53% crystalisavel. Seria favor nos enviasse amostra quando o tiverem. Esse melaço poderia
V.ª Ex.ª mandar do de 1er jet, isto é, antes de ter tirado o assucar mascavado.
Incluso envio a V.ª Ex.ª como coriosidade, os resultados obtidos na nossa fabrica com o processo de diffusão do bagaço,
Systema “Naudet”, e pelos quaes pode fazer uma comparação com os seus. Tem contudo a verificar qual a percentagem da
canna em assucar, ou da garapa (sumo) e qual a extração pelo moinhos [sic].
Por estes dados pode ver se lhe convem ou não montar uma diffusão, por isso que com este processo evita as baterias de
defecadores, eliminadores, filtros presses etc, porque toda a garapa da canna sahida dos diffusores vai directamente ao Triple
effet sem outro trabalho. Isto representa uma grande economia de combostivel, trabalho e perdas em assucar
Aguardente: – Quanto a esta parte da fabricação teria V.ª Ex.ª naturalmente muito a modificar. Posso-lhe dar os resultados
// [162] que obtenho aqui na Fabrica com canna tratada pela diffusão e com fermentações puras!
Por cada 100 kilogramas de canna com 12% em assucar obtenho 6,75 litros d’alcool a 100º a 15 temperatura = 9,32 litros
de aguardente em 27 ? cartier.
Sem diffusão, com uma extração de 67,5% de sumo da canna obtenho por cada 100 kilogramas de canna 5,75 litros d’alcool
a 100º = 7,88 litros de aguardente em 27 ? cartier.
Esperando continuar a receber a sua valiosa amisade aqui fico ás suas ordens e subscrevo-me seu amigo certo e
Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 2 Junho de 1905


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[163] 2 Junho 905
Amigo e Senhor Henrique
Como addecionamento á minha carta de 30 de maio vou contar-lhe o que se tem passado com relação a esta questão do
Decreto e matricula do Leça.
Como na outra carta lhe disse os homens continuam a mexer-se para conseguir a matricula do Leça, ou no caso de o não
poder fazer já pensão em outra cousa segundo o que o Justino164 tem podido apurar. Principiam com a fiscalisação dos vinhos
nas estufas como em tempo pensaram, e já o Diario de Noticias dá essa novidade, e querem depois conseguir do governo a
prohibição da entrada de melaço para fabrico de alcool! Reduzindo a canna a alcool para tratamento de vinho, dizem elles que
evitará a fabricação de vinhos falsificados, por não terem alcool barato, e alem d’isso o vinho tratado com alcool de canna seria

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mais vantajouso por ser um producto da terra, e como não havia alcool de melaço barato a mestura com aguardente de canna
não se faria, tendo n’esse caso melhor sahida a dita aguardente e por preço mais elevado. Esta era e é a maneira de pensar do
Tenente Coronel Telles165 e outros, mas que para o Leça de nada servia. O Telles vai no “São Miguel” para Lisboa e é muito
provavel que levante lá essa questão, como já aqui prometteu que o faria. // [164] É bom estar de prevenção contra elle.
Acabamos de saber que o Leça fez novo requerimento para matricula e que deve estar nas mãos do Governador Civil
substituto Pedro Lomelino. É esta naturalmente a questão official, isto é, enviam para Lesboa o requerimento do Leça para
conseguirem o deferimento d’elle. Isto é com certeza manobrado pelo Capitão[?] Pereira em Lesboa
Vou principiar a seccar os cosimentos do melaço de Demerára no dia 5 mas os cosimentos estão ainda quentes vou ver qual
será rendimento em assucar
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 8 de Junho de 1905


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[165] 8 junho 905
Amigo e Senhor Henrique
A amostra que lhe mando é o assucar B2 que tensiono fazer com o assucar bruto da Fabrica BT. Esta pequena experiencia
foi feita com o melaço de Demerára 2º jet que não pode ser aproveitado novamente para 2º jet por isso que já está muito epuissé
e contem grande quantidade de glucose: Logo que chegue o melaço de Barbados vou então fazer essa qualidade d’assucar pela
seguinte forma: desfaço o melaço de Barbados em 30º Baumé aquecendo-o um pouco; deito-o no melaxeur até á altura do veio
e depois vou juntando o assucar BT em pequena porporção, até fazer uma massa cristalisada propria a hir ás turbinas. Os egoûts
d’esta massa são então cosidos em 2º jet. Desta forma a quebra é quasi nula e o assucar B2 deve sahir bom como a amostra que
lhe envio.
Melaço de Demerára: – Os cosimentos de 2º jet do melaço de Demerára tem dado bom resultado e o rendimento em assucar
deve ser pouco mais ou menos de 120 a 125 kilogramas d’assucar M amarello claro por cada ponche de melaço. As analyses
medias dos melaços foram o seguinte:
Esperança – saccarose – 42,07%
glucose – 23,66%
Felizberta – saccarose – 37,94%
glucose – 24,82% //
[166] Fermento puro Alemão: – Os resultados d’este fermento continuam a ser bons, conservendo-se o fermento sempre em
bom estado, sem bacterias, e com uma força fermentativa bem desenvolvida.
A acides antes de empregar este este [sic] fermento era na media de 2,6 gramas por litro – a glucose infermentecivel media
de 1 kilograma de reductores por 100 litros de vinho – a porporção e mau gosto (alcool) para o alcool bruto era de 31,5% – o
rendimento por hectolitro era de 1,166 gallões d’alcool puro.
Com o fermento novo temos:
acidez media por litro. – 2,2 gramas
Reductores infermenteciveis 0,748 kilogramas
Proporção do mau gosto do alcool puro 24,7%
Rendimento por hectolitro – 1,215 gallões alcool a 100º
Como vê estes resultados são animadores, e ainda mesmo que o fermento é caro tem grandes vantagens. Deve terminar na
semana proxima a destillação do melaço da Fabrica e vou principiar com o melaço de Demerára 2º jet. Depois lhe darei o
rendimento total do melaço da Fabrica e n’esse caso conta geral do rendimento da Fabrica d’assucar
Desejando a suas [sic] felicidades subscrevo-me seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 10 de Junho de 1905


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[167] 10 Junho 1905
Amigo e Senhor Henrique
M. Bardsley acaba de me dar a traducção em portuguez para a requesição de patente do processo de Diffuzão “Naudet-
Hinton”, mas com franqueza não percebo bem essa descripção, por isso que ella não está em relação com a planta que enviou,

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em vista da descripção ser a do processo usado em 1903 e a planta ser do novo processo de 1905. Alem d’isso vejo que se
emprega um esquentador para a garapa sulfitada contida nos depositos de medida da dita garapa, e onde se junta a cal
necessaria, fazendo circular essa garapa alcalinisada, entre o dito esquentador e o deposito de medida, ate chegar á temperatura
de defecação, e sô depois d’isto é que é introduzida no diffusor carregado de bagaço fresco para fazer a meichagem.
Pergunto eu: Como se faz a circulação d’essa garapa entre os depositos de medida e o dito esquentador? Naturalmente com
uma bomba centrifuga? Mas a planta não mostra nem o esquentador nem a bomba centrifuga!
O que eu desejava saber era <se> quer tirar a patente pelo processo usado em 1903 egual ao que tirou em Inglaterra, ou quer
tirar a patente pelo novo processo usado em 1905? Alem d’isso desejava tambem saber se quer juntar mais essa modificação de
esquentar a garapa antes de entrar no diffusor para n’esse caso juntar a planta mais esse esquentador e respectiva bomba // [168]
de circulação. Sem estas explicações nada farei, porque se a descripção não for conforme á planta a patente pode ficar nula, e
eu desejo fazer as cousas de forma a ficar seguro.
Na minha opinião achava melhor tirar a patente pelo processo usado actualmente (1905) juntando-lhe, no caso de querer, o
novo esquentador da garapa normal e bomba de circulação para esse trabalho, o que não me parece má lembrança[?]. Em fim
o Senhor Henrique dirá o que quer.
Esperando a sua resposta subscrevo-me seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 17 de Junho 1905


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[169] 17 Junho 905
Amigo e Senhor Henrique
Acabei a distillação do melaço da Fabrica, envio-lhe a nota do rendimento geral em quadro, onde juntamente verá os
rendimentos dos annos transactos, para poder fazer um termo de comparação entre elles.
Onde a differença é bastante sensivel é nos annos 1904 e 1905 em que n’este ultimo anno se retirou mais 0,841 kilogramas
d’assucar vendavel do que em 1904, e no assucar total o excesso de rendimento foi meior em 1905 de 0,359 kilogramas por
100 kilogramas canna. Ora esta differença bastante sensivel tem ainda em seu favor ser a canna em 1904 de melhor qualidade
tanto em assucar como em glucose.
A quantidade melaço foi menor em 1905 e muito melhor épuisée, como pode ver pela analyse media do melaço. Como o
calculo do assucar no melaço é feito pelo rendimento real em alcool, contando que 100 kilogramas de saccarose dá 60 litros
d’alcool está perfeitamente certo. No caso do proximo anno termos mais dois melaxeurs em que fação o épuissement completo
dos egoûts sem ser necessario fazer 2º jet, o rendimento ainda deve ser meior e a despeza de fabricação muito menor, e o melaço
ficará em melhores condicções para fermentação.
A differença a mais no rendimento de 0,354 kilogramas % dá para a canna fabricada em assucar 27.651 kilogramas d’assucar
vendavel que ao preço de 220 reis por kilo faz 6.083$220! Ainda temos a acrescentar que, se os 0,841 kilogramas d’assucar
vendavel retirado // [170] passa-se ao melaço daria uma differença de 36 reis por 100 kilogramas de canna o que para a canna
trabalhada faz o total de 2.772$882 reis por conseguinte differença a mais em 1905 Reis 8.856$102.
Estou principiando a fermentação do melaço 2º jet de Demerára e já temos a meior parte dos cosimentos turbinados.
Fiz um lote do assucar da fabrica de 2º jet com o de Demerára para melhorar a qualidade.
Logo que chegue a Barca vou fazer B2 com o assucar B da terra.
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu amigo e Obrigado
[Ass:] João Higino Ferraz
Em 1905
Producção de melaço da Fabrica – 452.801 kilogramas
que produzio em alcool a 100º = 32926 gallões.
Rendimento por 100 kilogramas 7,27 gallões a 100º
Em 1904
Melaço ————————————- 480.392 kilogramas
rendimento em alcool a 100º = 34300 gallões
Rendimento por 100 kilogramas – 7,13 gallões a 100º
Em 1904 o assucar total no melaço calculado em saccarose era de – 48,05%
Em 1905 é de – 45,03%

95
Temos por isso em 1905 um rendimento em alcool do melaço por 100 kilogramas superior com menor quantidade de
d’assucar[sic] total.[Ass:] Ferraz //

[DATA: 17 de Junho de 1905


DESTINATÁRIO. H. Manoury; LOCAL: Paris]
[171] 17 Junho 905
Monsieur H. Manoury
Ingénieur-Conseil Paris
Meu caro senhor
Como tenho deficuldades em escrever em francez, escrevo-lhe na minha lingua que espero comprehenderá por isso que sabe
o hespanhol.
Agradeço-lhe a sua amavel carta de 7 de fevereiro, e peço-lhe desculpa de não ter respondido mais sedo, mas estive á espera
de finalisar a fabricação do assucar e destillação do melaço para lhe enviar os nossos rendimentos, que sei deve estimar. Junto
a esta encontrará um quadro muito corioso dos rendimentos de diversos annos d’esde o primeiro anno que tomei conta da
direcção da Fabrica até ao presente. Por esse quadro pode vêr os progressos que temos feito depois da sua feliz estada aqui, que
para mim foi Monsieur Manoury o ineciador d’esses melhoramentos, e lhe serei sempre grato pelas suas attenções.
Em 1905 deve reparar que tivemos um rendimento excepcional, devido em grande parte ao bom cuiseur que tivemos; por
outro lado o trabalho da sulfitação continua Quarez é de primeira ordem, dando-nos uma sulfitação regular de 1 grama por litro.
Não sulfitamos os xaropes, e todo o assucar retirado do epuissement dos egoûts fiz em assucar bruto para depois final’o.
(Refinar). Tivemos sempre rendimentos de 71% da masse cuite, onde nos outros annos sô obtinhamos 62 a 65%.
O que não estou ainda perfeitamente satisfeito é com o epuissement ao bagasso que este anno foi de 0,51, mas como vamos
montar no // [172] proximo anno um Defibrador estou esperançado que teremos um épuissement 0,35 no maximo. Pelas
esperiencias que fizemos no bagaço mal dividido vê-se que a causa é unicamente á má devisão do bagaço.
Esperando continuar a receber a sua apresiavel amisade desejo as vossa [sic] felicidades e subscrevo-me Seu Amigo
respeitoso[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 17 de Junho de 1905


DESTINATÁRIO: Bochet]
[173] 17 Juin 905
Mon cher Monsieur Bochet
Je n’ai pas encor eu le plaisir de recevoir une lettre de vous, mas j’espére bien que cela ne soit pas pour maladie.
Je vous envoie la note généralle du rendement, como je vous ai promis; cette note vous montrerá le dernier resultat de 1905
qui má donné beaucoup de satisfaction aussi bien qu’á Monsieur Hinton166.
L’année proxain j’espere bien avec le montage du defibreur, et avec deux malaxeur de plus pour l’epuissement des egouts,
le resultat será encore mieux.
Je n’ai pas encore reçu de la maison Egrôt & Grangé le plan de la columne inclinée á circulation libre “inobstruable”. Ils
nous ont ecrit disant qu’ils attendent notre visite, afin que vous leur donnez quelques explication qu’ils ont besoin.
Esperant recevoir de vos nouvelles et vous désirant un rétablessement complet veuilles agréer chez Monsieur Bochet mes
plus sinceres salutations.[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 26 de Junho de 1905


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[174] 26 Junho 905
Amigo e Senhor Henrique
Principiei logo que chegou a Barca com o melaço de Barbados nos cosimentos de 2º jet.
O melaço veio em boas condições tanto com relação ao estado do carregamento como na sua percentagem em assucar. Fiz
uma analyse antes de descarregar o melaço que mostra n’uma media de 6 ponches 54,3%
Já fiz uma analyse de uma media[?] de 65 ponches (5 cosimentos) que mostrou:
saccarose – 53,75%
glucose – 10,83%

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Pureza – 73,5
Coefficiente glucosico 20
Analyse de um cosimento de 2º jet:
saccarose – 66,12%
glucose – 13,78%
Pureza – 73
Coefficiente glucosico 20,8
Os cosimentos ficão magnificos, completamente cheios de assucar
Estou aproveitando todo espaço desponível, isto é, estou deitando primeiro nos tanques de ferro para depois deitar nos
poços: Conto em que em tudo isto possa levar uns 600 ponches.
O melaço de Demerára fica terminada a seccagem esta semana e talvez para o principio de Julho possa commeçar no de
Barbados. Estou fazendo umas analyse [sic] de 15 ponches cada um depersi[sic] para lhe mandar, para servir de norma na
questão que tem com a outra casa que lhe forneçeu o melaço de Barbados em más condicções. Recebemos uma carta do
Quirino167 em que nos faz varias considerações e conselhos sobre o que se possa dar com relação aos invijosos e os desilodidos;
estamos de prevenção // [175] contra elles, e qualquer cousa que apareça vamos fazer deligencia de destruhir.
Como sabe o A. Justino168 não tem comprado mais aguardente de canna por isso, segundo elle diz, tem os depositos cheios
e uma grande porção de pipas tambem: Mas aparece agora o Albino169 do Faial a reclamar que não pode vender a sua aguardente
de canna em vista do Justino ter promettido a todos os negociantes d’aguardente que lhe venderia por um preço mais baixo do
que o Albino pede. O homem estava um pouco exaltado e já queria representar em termos que nos poderiam prejudicar mas
consegui que nada fassa, e combinei com o Justino de elle lhe comprar alguma, assim como a outro qualquer que apareça. Desta
forma pomos os homens do nosso lado para qualquer iventualidade futura.
Achei melhor o Justino figorar sô na compra da aguardente, dizendo aos homens que tinha conseguido que <elle> comprasse
mais alguma aguardente.
O que me está dando mais cuidado é a aguardente de vinho de Lisboa, porque no caso de ella aqui poder entrar sem dereitos,
os negociantes d’aguardente têem um meio de fazer a mestura com essa qualidade de aguardente e aguardente de canna
trazendo-nos graves prejuizos tanto a nos como ás fabricas não matriculadas. No caso de isto // [176] acontecer achava melhor
fazer uma representação contra essa entrada, e é para isso que desejo ter do nosso lado todas as fabricas pequenas. O Quirino
não diz bem quando julga que a aguardente de Portugal não nos pode prejudicar, porque o mal não vem da aguardente para
tratamento dos vinhos, n’essa podemos nos competir; o que não podemos evitar é a mestura com a aguardente de canna; por
isso que pomos todas as peias para isso com o alcool de melaço, o que não acontecerá com a aguardente de vinho de Portugal.
Emfim veremos o que vai socceder de futuro para prevenirmos.
Por emquanto nada teem feito os adversarios; ou ainda teem alguma esperança ou então estão manhosos, para nos fazer a
surpresa de alguma maldade. Com a crise do vinho este anno, visto os negociantes não quererem comprar, é minha opinião e
tambem do Dr. Romano, o Senhor Henrique fazer de benemerito comprando algum do Norte para reduzir a aguardente. Isto
evita que os outros a fação ficando a casa bem vista. O prejuizo não poderá ser talvez muito grande por isso que compramos o
vinho barato, porque a não ser assim, os vinhateiros nem mesmo barato têem quem lhe compre. //

[DATA: 1 de Julho de 1905


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[177] 1 Julho 905
Amigo e Senhor Henrique
Envio-lhe junto a esta um conpte rendeur da fabricação 1905 como do seu desejo. Já no corrêo passado lhe tinha enviado o
quadro dos rendimentos que espero terá recebido.
Melaço de Demerára: O resultado final do rendimento em assucar d’este melaço foi 33,300 kilogramas em 181733
kilogramas de melaço o que dá 18,3 kilogramas de assucar por 100 kilogramas melaço
Numa das minhas ultimas cartas dizia-lhe que contava um rendimento de 20 kilogramas assucar por %, mas devido á
qualidade do melaço da Felizberta ser um pouco inferior não deu o que eu esperava. A analyse media do assucar retirado d’este
melaço polarisou 90,6% e glucose 3%.
Melaço de Barbados: Continuamos com os cosimentos d’este melaço que tem sido sempre bom. Tenho feito varias analyses
em que algumas tem mostrado mais de 55% assucar mas na Alfandega pela analyse que fizeram encontraram menos de 55% e

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a analyse que eu fiz d’esta mesma amostra tirada pela Alfandega mostrou 55,9%!! Esta amostra foi de um ponche; já disse ao
Bino[?] que não acho conveniente tirar a amostra de um sô ponche.
Vou principiar na proxima semana a fazer o B2 com o assucar BT como lhe tinha dito. Não tenciono aquecer muito o melaço
mas simplesmente o suficiente para tornar a massa fluida e lavar o crystaes [sic].
Do resultado final d’este trabalho lhe darei a nota depois de tudo feito.
Junto encontrará uma nota de 15 analyses de 15 ponches do melaço de // [178] Barbados.
Decreto: Por emquanto nada transpira a este respeito, somente o Agronomo do Destricto veio aqui commigo para colher
algumas informações sobre os resultados praticos do Decreto por isso que o Mercado Central de Productos Agriculas enviou
uma nota á Delegação aqui do mercado Central pedindo isso. Elle tem consultado varias entidades sobre o assumpto, tanto
agricultores como negociantes de vinhos, dizendo-me elle que uns estão satisfeitos e outros não principalmente os fabricantes
de vinhos e alguns propriatarios nossos inemigos. Eu fiz-lhe ver os resultados que para a cultura da canna são bons e quanto a
esta crise dos vinhos nada tem com relação ao Decreto visto ser uma questão anormal; que nos baixamos o preço do alcool a
10% e que isso é uma vantagem para os vinicultores. Dizia-me elle que alguem lhe sugerio a edeia de reduzir a aguardente de
canna dos vinhos e sô importar o melaço suficiente para suprir a falta do alcool para esse fim. Fiz-lhe ver que isso era uma
contradição ao que os negociantes de vinhos querião, se elles querem alcool barato, não é essa a forma de lhe fornecer, por isso
que a aguardente de canna pelo preço actual transformada em alcool retificado ficaria costando 1300 reis em quanto que nos
estamos // [179] fornecendo alcool de melaço a 1000 reis. Elle ficou admirado d’essa differença e tomou as suas notas. Fallei
a Dr. Romano sobre este assumpto e elle pedio-me para ver se o Agronomo fallava com elle, porque sendo elle um dos
representantes da meior casa aqui, poderia-lhe dizer com toda a franqueza o que pensava. Vou ver se consigo que o homem falle
com elle. Fiz ver ao agronomo que houvisse somente os negociantes de vinho e algumas pessôas que não estão de má vontade,
e contra nos, mas sim propriatarios importantes, e que sô desejava que elle dicesse somente a verdade dos factos.
Isto é importante, segundo o meu modo de ver, porque se o relatorio que elle fizer sô disser cousas desfavoraveis ao Decreto
não será isso muito bom. Vou fazer toda a deligencia para conseguir que seja feito a nosso favor, o que é mau é o homem ser
pouco abrodavel.
Acabo de conseguir que o Agronomo vá fallar hoje com o Dr. Romano. Segundo elle me disse o Cacongo170 não foi muito
favoravel e o Dr. Manuel J. Vieira fallou-lhe de uma forma vaga mas que é favoravel ao Decreto.
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 8 de Julho de 1905


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[180] 8 Julho 905
Amigo e Senhor Henrique
Na minha ultima carta dizia-lhe que hia principiar a fazer o B2 com o BT. Fiz effectivamente um melaxeur como lhe tinha
dito, mas não pude contenuar para não atrapalhar os cosimentos de 2º jet de Barbados, que é necessario terminar os ponches
que temos no logar das cannas, por causa do melaço de Cuba: Na proxima semana continuarei então de vez. Os resultados
obtidos foram os seguintes:
Desfiz o melaço a 35º Baumé e aquecio a 50º Centigrados, deitei no melaxeur e foi-lhe depois juntando o assucar pouco a
pouco até ficar no estado de uma massa crystalisada propria a ser turbinada. Deixei esta massa até o dia seguinte trabalhando
sempre o mechidor a ver se indurecia, mas no dia seguinte estava da mesma forma como o tinha deixado, o que se vê que se
pode turbinar no mesmo dia sem desvantagem. Vou dar-lhe as analyses que fiz d’este trabalho:
Analyse do assucar BT a tratar:
Saccarose .......................94,3%
Glucose ............................5,8%

Analyse do melaço de Barbados desfeito a 35º Baumé para o melaxeur:


Densidade a 20º ...................................5,15
assucar % ...........................................51,18
Glucose 5 ...........................................10,34
Pureza ..................................................74,5
Coefficiente Glucosico .....................19,9 //

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[172] Analyse dos egoûts de turbinagem do assucar BT em B2
................................................Egoût pauvre ..................Egoût riche
Densidade a 20º ...................................5,47 ............................4,7
assucar % ...........................................54,65 ...........................51,96
Glucose ..............................................10,15 .............................6,57
Pureza ..................................................74,2..............................81,7
Coefficiente Glucosico .........................18,5..............................12,6
Analyse do assucar BT transformado em B2
Saccarose ............................................. 98,9%
Glucose ................................................ traços
Assucar BT <a> apurar —- 52 sacas 100 kilogramas ———— 5185 kilogramas
Assucar B2 produzido —- 54 ? 75 kilogramas ———————- 4080 kilogramas
Como vê o resultado no rendimento fez uma differença de 20%, mas como pode ver pelas analyses dos egoûts e a analyse
do assucar turbinado essa quebra é facil de ver o caminho que tomou.
Quando fizer o trabalho seguido vou separar egoût riche e pauvre, cosendo o egoût riche separado, porque com a pureza que
elle tem de 81,7 deve dar assucar quasi banco[sic] mas um pouco fino, mas que é vendavel para poncha.
Melaço de Demerára – Ainda não terminei a fermentação d’este melaço e tenho ainda para a semana proxima.
Melaço de Barbados – Sô principiarei a turbinar o assucar d’este melaço quando terminar o melaço de Demerára.
Fiz outra analyse media de 75 ponches que mostrou: saccarose – 54,65%
Glucose – 11,13%
Com relação ás questões do Decreto á novidades a dar-lhe mas o Bardsley[?] disse-me que lhe explicaria tudo na sua carta.
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 10 de Julho de 1902


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[182] 10 julho 902
Amigo e Senhor Henrique
Vou fazer-lhe uma proposta que me parece é bem asseitavel; O assucar de 2º jet de Barbados está dando um assucar quasi
branco como pode ver pela amostra que lhe envio junta: A minha proposição é a seguinte:
Parar com os cosimentos de 2º jet de Barbados que são 274 cascos da Felizberta e 375 cascos que vem na escuna Esperança
e gordar este melaço para quando se fizer a refinação do assucar no fim do anno.
Este melaço poderia servir para alimentar o melaxeur com um pé de cuite feito com assucar puro, o que estou certo dará um
assucar B2 de muito boa qualidade, sendo d’esta forma o trabalho muito mais facil e economico do que fazer 2º jet, evitando
por isso de refinal’o o que dá uma quebra sensivel.
Quanto a melaço temos bastante para o fabrico do alcool até ao fim do anno e quanto a assucar este 2º jet de Barbados não
é vendavel n’esse estado.
Se achar isto conveniente pode // [183] enviar um telegramma dizendo sim ou não conforme a sua maneira de ver. A mim
acho isto de grande vantagem.
Já turbinei dois cosimentos de 2º jet de Barbados que rendeu em assucar bruto 4200 kilogramas e cada cosimento leva
aproximdamente 13 cascos cada um, o que faz 26 cascos para esta quantidade de assucar rendimento por casco 160 kilogramas
assucar.
Esta proposta que lhe fasso de esperar o melaço até o fim do anno, está contudo sujeita ás analyses que eu fassa ao melaço
de tempos a tempos porque no caso de eu ver que o melaço tem qualquer alteração reduzo-o emediatamente a 2º jet.
Esperando a sua resposta Subscrevo-me seu Amigo[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 2 de Agosto 1905


DESTINATÁRIO: Sousa Lara & C.ª; LOCAL: Lisboa]

[184] 2 Agosto 905


Ill.mos Ex.mos Senhores Sousa Lara & C.ª Lisboa

99
O portador d’esta é João Fernandes, que contractei para hir a Benguella como capataz, com auctorisação do Ex.mo Senhor
Sousa Lara, como de suas cartas datadas de 14 de Fevereiro e 24 de abril do corrente anno, e confirmado e acceite em seu
telegramma de 14 de Julho ultimo, dizendo – Acceito condições embarcando rapido agosto Lisboa – Sousa Lara, o qual tem
em seu poder o contracto provisorio passado por mim e nas condições establecidas e acceites pelo mesmo Senhor Sousa Lara.
Previno a V.ª Ex.ª que addiantei a passagem do dito homem até Lisboa no vapor “San Miguel” na importancia de 5050 reis,
a qual importancia V.ª Ex.ª me enviaram logo que desejem a João Higino Ferraz – Fabrica de William Hinton & Sons – Funchal.
Sempre às ordens de V.ª Ex.ª o seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 10 de Agosto de 1905


DESTINATÁRIO: Sousa Lara; LOCAL: Benguela, Angola]

[185] 10 agosto 905


Ill.mo Senhor Sousa Lara Benguella
Amigo e Senhor
É bastante penalisado e desgostoso que lhe escrevo esta pequena carta.
Quando recebi o seu telegramma de 14 Julho, dizendo “Acceito condições embarcando rapido agosto Lisboa” tratei de
chamar o homem e prevenil’o de que V.ª Ex.ª acceitava as condições propostas, e que estivesse prompto a seguir nos primeiros
dias de agosto no “San Miguel” para Lisboa, e que de lá naturalmente arranjariam as cousas de forma a envial’o para Benguella
em melhores condições de passagem. Qual não foi a minha surpresa quando no vapor d’Africa do dia 9 vejo entrar o nosso
homem na Fabrica, dizendo-me que não o tinham enviado para Benguella mas sim para a Madeira, e dando-me n’essa occasião
uma carta aberta deregida de sua casa em Lisbôa, cuja copia lhe envio junta, carta que bastante me magou e me exaltou. Esse
seu socio ou gerente calcula naturalmente estar tratando com qualquer engajador pandorga sem sentimentos nem dignidade? De
V.ª Ex.ª não tenho recebido senão delicadezas e amabilidades e sinto bastante que os de Lisboa não procedessem da mesma
forma. Nenhuma rasão tem o que expôs na sua carta, por isso que // [186] aqui na Madeira não é exigido passaporte aos
individos que seguem para a Africa Portugueza e se em Lisboa o é, não o sabia eu, e mesmo que assim fosse nada mais facil
do que afiançar o homem até que ahi lhe chegasse a sua certidão de edade ou baptismo ou outro qualquer decomento que fosse
necessario.
Alem d’isso pela leitura da carta verá V.ª Ex.ª que os seus empregados não primão por inteligentes, quando querem que o
homem tivesse embarcado em Julho ou seguisse directamente d’aqui para Benguella, tudo isto fora das ordens expressas de V.ª
Ex.ª.
Como sabe não lhe presto serviços mas unicamente por sympatia com V.ª Ex.ª lhe tenho feito este pequeno favor sem esperar
retribuição alguma, e não como dizem ou paressem dizer na sua carta de Lisboa, tratando-me como se eu fosse um seu
empregado ou correspondente com commissões. Alem d’isso atiram-me á cara com as despezas que o homem fez em Lisboa!
Que tenho eu com isso? O que eu tenho é com as que fiz aqui, isto é, 5050 reis de passagem até Lisboa, Reis 6000 de
indemenisação exigida pelo homem pelos dias perdidos, que espero, ainda que pouco seja, me será satisfeito pela casa de V.ª
Ex.ª.
Sempre ás ordens de V.ª Ex.ª
Seu Attencioso Venerador[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 2 de Outubro de 1905


DESTINATÁRIO: Batalha Reis]
[187] 2 outubro 905
Ill.mo Ex.mo Senhor Batalha Reis

Amigo e Senhor
Envio-lhe como lhe prometti as amostras dos nossos Alcooes, que os classifico da seguinte forma:
Alcool A – Este de 1ª qualidade é alcool de 97 ?%, tratado por modo especial e repassado ao reteficador continuo com
extracção d’etheres e olios escenciaes, dando n’esse caso, como vê, um alcool neutro, que é empregado pela casas [sic] de
vinhos, para vinhos já em estado adiantado de tratamento.

100
Alcool B – É este de 2ª qualidade com 97%, isto é, alcool extrahido por meio da destillação-retificação directa continua dos
vinhos de melaço, com extracção d’etheres e olios escenciaes, produzindo um alcool quasi neutro de boa qualidade e que é o
mais empregado nos vinhos de fabricação nova na entrada ou sahida de estufas.
Alcool bruto de 83% aproximadamente extrahido do vinho de melaço sem extracção d’etheres nem de olios escenciaes, em
apparelho de destillação continua.
Duas amostras dos Etheres e olios escenciaes extrahidos da destillação-retificação continua do vinho de melaço.
Sempre ás ordens de V.ª Ex.ª Seu Attencioso Venerador e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 28 de Setembro de 1905


DESTINATÁRIO: Sousa Lara & C.ª; LOCAL: Lisboa]
[188] 28 setembro 905
Ill.mo Senhor Sousa Lara & C.ª Lisboa
Amigos e Senhores
Accuso a recepção de um val do corrêo da importancia de Reis 11.050: importancia esta que V.ª Ex.ª me deviam, e que muito
lhe agradeço.
De V.a S.ª Attencioso Venerador e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 9 de Outubro de 1905


DESTINATÁRIO: Luís A. da Silva Carvalho]
[189] 9 outubro 905
Ill.mo Senhor Luiz A. da Silva Carvalho
Meu Caro Amigo
Recebemos de uma outra casa preços para o tanque nas condições da casa Cardoso, Dargent & C.ª, cujo preço fazem por
496$000. Previno o meu amigo d’isso para ver se é possivel elles fazerem alguma differença no seu preço de forma a que a
encommenda lhe seja feita.
A nossa casa é um bom freguez e que elles não devem perder, porque tenho quasi a certeza de que vamos mandar construir
os dois grandes tanques que o amigo sabe.
Como temos grande necessidade do tanque seria melhor elles telegrapharem dizendo o seu ultimo preço, e nôs lhe
responderemos tambem em telegramma.
Faço-lhe notar que desejamos o tanque com chapas grandes, de forma a ter o menor numero de costuras possivel.
Sem mais, sou seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 9 de Outubro de 1905


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[190] 9 outubro 905
Amigo e Senhor Henrique
Fiz o cosimento na Franceza com o melaço de Barbados como se tinha combinado, porem infelizmente não deu o resultado
desejado, por isso que o grão ficou fino e alem d’isso dificil de turbinar.
Principiei com a refinação do assucar de Barbados (100 sacas) e com o assucar de Africa dando o resultado que conforme
a amostra que lhe mando poderá ver. Os cosimentos vão bem, não havendo perda de [...]. No segundo dia de trabalho da
refinação, uma das cerpentinas de vapor da caldeira de vacuo rebentou uma junta, que felizmente se poude arranjar sem muito
trabalho, levando sô ? dia para isso. [...] agora tudo corrente.
Parece-me porem que esta junta já estava derramando alguma cousa antes de principiar a refinação, e que foi devido a isso
que o cosimento do melaço de Barbados não deu o resultado desejado.
Já temos assucar BBR sufficiente para dois mezes, e vou fazer o BB. O B2 quero ver se o faço com pé de cuite de assucar
de 2º jet de Barbados no melaxeur e Melaço de Barbados. Felizmente tem havido bastante e temos agua // [191] sufficiente para
o condençador.
No trabalho da refinação não estou empregando a sulfitação dos xaropes, simplesmente disfaço o assucar em 30º quente, e
filtro-o, dando um xarope claro.
Analyse da masse cuite:

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Assucar .........................- 87,15
Glucose ............................- 1,21
Pureza ..............................- 94,8
Coefficiente Glucosico 1,38
Analyse do assucar
Barbados: -Saccarose..............96,1
-Glucose ................0,94
Africa: -Saccarose ............96,9
-Glucose ................0,93
Estou fazendo a analyse dos egoûts pauvre e riche, mas nada lhe posso dizer por esta mala.
Batalha Reis171: – Aqui esteve vesitando a fabrica, e ficou bem impresionado com o que viu e lhe expliquei. As edeias d’elle
com relação ao alcool de melaço para o tratamento dos vinhos, não eram das melhores, mas logo que viu a qualidade do alcool
que exponhamos á venda, modou completamente, e comprehende agora que o alcool de melaço sendo neutro como é, é
magnifico para o tratamento dos vinhos. Mandei-lhe segundos[sic] os seus desejos, fazendo-me empenho n’isso, as amostras
do alcool seguintes:
Alcool neutro de 1ª qualidade:
Alcool de 2ª qualidade:
Alcool bruto de melaço:
Etheres e Escencias.
Fiz-lhe por carta a explicação das amostras e qual o alcool que vendia-//[192]mos, explicando-lhe bem que o alcool bruto,
etheres e olios escenciaes não eram vendidos en nature.
Com relação ao preço do alcool diz elle que, não vê rasão para queixas dos preparadores de vinho, por isso que o preço que
nôs lhe vendemos (250 reis por litro) é inferior ao que os do Continente pagam por alcool mau de batatas.
Elle prometteu-me fazer ainda uma visita á Fabrica. Tenho conversado muito com elle, e mostra-se meu amigo, tratando-
me já por tu.
É um homem franco e leal e estou certo que nada dirá contra nôs: Alem d’isso a missão d’elle é simplesmente vinhos e não
outra cousa.
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 16 de Outubro de 1905


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[193] 16 outubro 905
Amigo e Senhor Henrique
Como lhe disse na outra carta, temos principiado com a refinação do assucar é[sic] já temos feito até hoje 67.000 kilogramas
d’assucar BBR e BB o qual deve dar para 2 mezes, isto é, até meados de Dezembro.
Estou principiando hoje a fazer o B2 com o pé de cuite com assucar d’Africa, e não com o de Barbados 2º jet como lhe tinha
dito, em vista da qualidade do assucar não se prestar a um crystal bem desenvolvido, para depois ser alimentado com o melaço
de Barbados.
Quiz tentar fazer a refinação do assucar 2º jet de Barbados, mas tive que parar, em vista da má qualidade do xarope, e mesmo
do cosimento tanto da F como do M. Este assucar tem que ser tratado por uma forma diferente como em tempos lhe disse, isto
é, clarificação e carvão animal, 1ª filtração nos filtros presses e 2ª filtração nos filtros mechanicos; depois de assim tratado deve
dar bom.
Para bem ver estes resultados mando-lhe as analyses seguintes:
Xarope do assucar d’Africa:
Saccarose ................................55,19%
Pureza ...........................................96,4
Glucose ......................................0,52%
Coefficiente ...................................0,94
Xarope do assucar 2º jet de Barbados:
Saccarose..................................51,42%

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Pureza ...............................................92
Glucose ......................................0,98%
Coefficiente .....................................1,9
Melasse Cuite do Melaxeur do assucar 2º jet de Barbados
Saccarose....................................83,5%
Pureza ..............................................90
Glucose ......................................3,85%
Coefficiente..................................4,6 //
[194] Melasse Cuite do Melaxeur em 1º jet (assucar Africa)
Saccarose..................................83,44%
Pureza ...........................................91,6
Glucose .....................................3,21%
Coefficiente ..................................3,86
Melasse Cuite do M em 2º jet (isto é, egoût de 2ª)
Saccarose ................................83,86%
Pureza ...........................................90,3
Glucose .....................................3,30%
Coefficiente ..................................3,93
Egoût pauvre do M da primeira vez
Saccarose ................................60,38%
Pureza ..............................................81
Glucose .....................................5,51%
Coefficiente ....................................9,1
Egoût pauvre do M da segunda vez
Saccarose ................................60,92%
Pureza ...........................................78,4
Glucose .....................................5,79%
Coefficiente ....................................9,5
Egoût pauvre do M da terceira vez
Saccarose ..................................56,8%
Pureza ...........................................75,5
Glucose .....................................8,98%
Coefficiente ..................................15,8
Este foi feito em 2º jet na caldeira Ingleza.
Envio-lhe tambem o rendimento em alcool do melaço de 2º jet de Barbados Lote Nº 9:
Analyse do melaço:
Saccarose ................................38,52%
Glucose ...................................14,83%
Infermenticiveis no vinho do melaço por
100 kilogramas de melaço ................3,64 kilogramas
Rendimento provavel – .................8,07 gallões a 100
Rendimento real ...........................8,2 gallões a 100!!
Isto sô pode ser devido ao calculo do melaço pela capacidade dos poços.
Tinha-me esquecido dizer-lhe que o rendimento da Melasse Cuite da F em BB tem dado na media 82 kilogramas d’assucar
por hectolitro de Melasse Cuite
Todos os egoût riches tem entrado na refundição do assucar e são n’esse caso feltrados novamente.
Batalha Reis: – O Antonio Justino tinha-me pedido para eu fallar ao Batalha Reis a ver se elle fazia uma visita aos seus
armazens, e mesmo eu tinha interesse em que o Justino fallasse com elle // [195] sobre alcool de melaço, houvindo a opinião
d’elle a esse respeito: Elle efectivamente lá esteve d’esde as 3 da tarde ás 6 ?.
Segundo me disse o Justino elle acha o alcool de melaço de magnifica qualidade, mas… não comprehende a rasão por que

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não importamos aqui a aguardente de vinho de Portugal por ser um alcool mais assimilavel ao vinho? O Justino disse lhe que
já tinha importado em tempos esse alcool mas que não lhe deu resultado vantajouso, ficando o vinho com um gosto mau. É
sobre este ponto que eu chamo a sua attenção. É de toda a necessidade que o homem não falle no seu relatorio em aguardente
de vinho de Portugal, como bem deve comprehender.
O Batalha Reis já fez hontem (15) uma conferencia na Associação Commercial a que assisti, sobre fabricas de vinhos de
pasto e vinhos espomosos, e segundo elle me disse vai fazer outra no domingo proximo (22). Elle não sabe ao certo quando
partirá para Lisbôa, mas em todo o caso conta partir entre 25 a 27 do corrente.
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 23 de Outubro de 1905


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[196] 23 outubro 905
Amigo e Senhor Henrique
Conforme a minha carta de 16 do corrente, principiei com a fabricação d’assucar B2 com o pé de cuite d’assucar d’Africa e
assucar de Demerára, que tem dado bom resultado, completando os cosimintos[sic] tanto na Franceza como no Melaxeur com
o melaço de Barbados da “Felizberta”.
O resultado do assucar B2 tem dado uma qualidade d’assucar mais claro que estavamos vendendo, mas não é possivel tiral’o
amarello em vista da qualidade do melaço não dar assucar senão branco: Emfim melhoramos os nossos typos d’assucar que não
me paresse que seja mau. Ainda quiz ver se poderia deixal’o um pouco mais amarello mas deu em resultado que no fundo da
centrifuga ficava melaço o que prejudicava o assucar nem dando por isso assucar amarello.
Os rendimentos por cosimento tem sido o seguinte:
F – pé de cuite 28 Hectolitros, rende – 25 caros
M – pé de cuite 32 Hectolitros – rende 30 a 31 caros
Na refinação sô com assucar o rendimento medio era de na F de 31 a 32 carros com 60 Hectolitros de Melasse Cuite
Os egoûts pauvres tanto da F com[sic] do M tenho mandado para a destilleria em vista da sua analyse:
Saccarose ..................................48,2%
Pureza ...........................................60,2
Glucose .....................................17,5%
Coefficiente glucosico ..................36,4
Segundo o meu modo de ver estes // [197] Egoûts não valia a pena cosel’os novamente em 2º jet, porque pouco rendimento
dariam e a despeza para cosel’os e turbinal’os seria grande. Alem d’isso temos ainda de transformar todo o melaço de Barbados
vindo na “Esperança” em 2º jet visto a analyse da pureza d’este melaço ter descido 1º em um mez, e como o melaço da
Felizberta vem a dar para a fabricação do B2 gastando todo o assucar de Demerára, vejo que não posso fazer outra cousa.
Temos feito até hoje em B2 com o pé de cuite d’assucar e o melaço de Barbados 45.300 kilogramas, tendo gasto já 97 cascos
de melaço da Felizberta restando ainda 94 que dará para esta semana.
Ora transformando o resto do melaço de Barbados em 2º jet (375 cascos) ficamos contando com o assucar 2º jet de Barbados
já turbinado e com o que esta por turbinar, com aproximadamente 1900 sacas d’assucar para refinar em Dezembro.
Os cosimentos tem dado sempre bons resultados na turbinagem, a não ser dois que foram maus de turbinar: Ao principio
julguei que teria sido descuido de João Martins, mas viu-se depois que uma das <juntas da> cerpentinas [sic] de vapor da
Caldeira Franceza tenha rebentado (a Nº 4) e naturalmente a causa foi essa. Isulei essa serpentina. Logo que se termine a
refinação vou desmachar todas as cerpentinas da caldeira e fazel’as de novo, para o que já combinei com o Marsden para
mandar vir juntas proprias para isso. É mau se no tempo da laboração nos acontecesse este desarranjo e é necessario evitar tanto
quanto possivel. //
[198] Alcool – Como temos em deposito 8780 gallões d’alcool B e 3500 gallões do alcool A, tenho-me visto na necessidade
de trabalhar sô de dia, e parece-me que me vejo obrigado a parar com as fermentações, se não tivermos sahidas avultadas. É a
primeira vez que tal me aconteceu n’esta êpoca do anno, haver um deposito em alcool tão grande .
Estou trabalhando sô com o “Alemão” para 1ª qualidade.
Senhor Henrique, tenho um empenho a fazer-lhe, pedido de meu conhado o Capitão Julio Corrêa Acciauoli de Menezes, que
é o seguinte: Meu conhado está no Porto fazendo serviço na guarda Municipal do Porto, e como está perto de sahir Major,
desejava ser collucado em Lisboa em um qualquer regimento ou commissão, porque como o filho d’elle no anno proximo tem

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que entrar na Escola Polytechnica para seguir o seu curso melitar, e sendo elle pobre e de mais carregado de familia, vê-se em
serias dificuldades para continuar a educação do pequeno. Diz elle que o pedido é facil não tendo deficuldades, desde o
momento que Sua Magestade assim o queira. //
[199] Pode crer que alem de ser um favor que lhe faz, é uma obra de caridade, porque eu sei as deficuldades em que elle
vive, pecuniariamente.
Por este favor muito grato lhe ficaremos e subscrevo-me seu Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 27 de Outubro de 1905


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[200] 17 outubro 905
Amigo e Senhor Henrique
Acaba de estar aqui commigo o Power que me conta o seguinte, e que acho conveniente participar-lhe, ainda que pouca fé
tenha na verdade do facto:
Disse-me elle que hindo a sua casa um agricultor importante receber a importancia de vinhos lhe dissera o seguinte: Que a
Madeira Wine Comp. Lim. segundo o Gonsalves lhe disse, vai comprar no proximo anno 5000 pipas de vinho, e que esse vinho
seria Exportado, logo depois de fermentado e limpo, mas sem alcool, para Hamburgo, para ahi ser então tratado em armazens
especiaes, sobe a vegilancia de um delegado permanente do Governo Portuguez, com o alcool barato e assucar barato e que
d’esta forma fariam uma concorrencia ás outras casas que não poderiam competir com elles.
Ora, se por acaso o Gonsalves pensasse em fazer isso, estou muito certo que não o dizia a ningem, e alem d’isso o Governo
não permitiria isso em vista de prejudical’o e ás outras Casas Exportadoras.
Seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz

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Copiador de Cartas [1905-1913]

DESCRIÇÃO:

O período temporal abarcado por este copiador foi por nós acrescentado à designação que já tinha de origem. Estamos na
presença de livro, papel, as suas medidas são 28,4 cm x 22 cm, e encontra-se em razoável estado de conservação. Os fólios deste
volume estão numerados com caracteres de imprensa. Os fólios 170 até 199 (último) encontram-se em branco.

[DATA: 28 de Outubro de 1905


DESTINATÁRIO: Sousa Lara; LOCAL: Benguela, Angola]

[1] 28 outubro 905


Ex.mo Sr. Sousa Lara Benguella
Amigo e Senhor
Recebi a sua attensiosa carta de 27 de setembro, e agradeço-lhe do coração a sua delicadesa de proceder, mas crêa que nunca
me passou pela mente duvidar do seu cavalheirismo.
Estou bastante penalisado com o qui-pro-quo que se deu com relação ao telegramma, mas como lhe vou expôr verá que não
tive culpa alguma: diz V.a Ex.a n’essa sua carta, que a sua de 23 de Julho ficou sem resposta? Mas eu não recebi, infelizmente,
tal carta! Se a tivesse recebido responderia emeditamente, e talvez não se tivesse dado o lamentavel engano que se deu.
As suas cartas recebidas foram: a primeira a 14 de fevereiro e respondida a 8 de março; Carta de 24 de Abril, em que me
pedia contratasse um homem, e respondida de 1 de Junho, dando-lhe conta que tinha contratado um homem e as condições por
elle pedidas; Seu telegramma de 14 de Julho. Por conseguinte recebendo eu o telegramma de V.a Ex.a com data de 14 Julho e
tendo escripto a 1 de Junho por Lisboa não poderia pensar outra cousa senão que o telegramma se referia ao homem e não a
mim, visto o meu Amigo não ter acceite // [2] a minha proposta, como da sua carta de 24 abril, e não ter eu recebido outra que
me podesse elucidar melhor.
Contudo era-me impossivel sahir da Madeira na occasião em que desejava que eu fosse, visto o Senhor Hinton172 não estar
na Madeira e eu não poder abandonar a Fabrica. Tenho uma vida muito preza porque a Fabrica trabalha todo o anno com a
fabricação do alcool de melaço e refinação d’assucar.
Sinto bastante tudo isto, mas bem vê que não tive culpa alguma.
Agradeço a V.a Ex.a o me ter fallado na pequena importancia que me devia e que já me foi paga, mas pode crêr que nunca
lhe falaria em tal, se não fosse a casa de V.a Ex.a em Lisbôa me ter dito, lhe era devedor da importancia das despezas que o
homem fez em Lisboa e sua passagem até aqui.
Aqui fico, Senhor Sousa Lara sempre ás suas ordens, e pode crêr na estima e consideração d’este Seu Amigo Certo e
Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

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[DATA: 3 de Novembro de 1905
DESTINATÁRIO: Blandy Brothers & C.ª; LOCAL: Rua de São Francisco, Funchal]

[3] Ex.mos Senhores Blandy Brothers & C.ª


3 Novembro 905 São Francisco
Amigo e Senhores [sic]
Recebemos os 27 cascos com vinho que V.as Ex.as desejam sejam destilladas.
Conforme a sua carta vejo que V.as Ex.as dizem o vinho conter 18 a 19% d’alcool, mas procedendo eu á analyse do dito
vinho sô encontrei 17,5% d’alcool a 15º temperatura. Alem disso dizem que o vinho é muito acido e necessita ser neutralisado:
analysei a acidez e vejo que contem 3,2 gramas por litro que não acho muito para um vinho de uva. De V.as Ex.as[Ass:] João
Higino Ferraz //

[DATA: 3 de Novembro de 1905


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[4] 3 Novembro 905
Amigo e Senhor Henrique
Terminamos a refinação do assucar que deu um total de 2158 sacas a 75 kilogramas de todas as qualidades.
O melaço de Barbados empregado junto com esta refinação foi 175 cascos da “Felizberta” e 25 da “Esperança”.
Deram-se 6 cosimentos de 2º jet dos egoûts não épusée, que não podem ser turbinados senão no fim do corrente mez, por
isso não lhe posso mandar o resultado geral da refinação.
Os egoûts pauvres enviados directamente á Destillaria fez um total de 69.489 kilogramas com a percentagem em assucar
seguintes:
Saccarose ..........................................................46,58 %
Pureza .....................................................................61,6
Glucose ............................................................16,54 %
Coefficiente glucosico ............................................35,5
O assucar refinado BBR e BB polarisou 99,4% assucar puro, e B2 feito com o melaço de Barbados e pé de cuite polarisou
99,2% assucar puro, cuja differença de polarisação é bem pequena, não estando em relação com a differença de preço de venda.
Principiei esta semana com a turbinagem do 2º jet de Barbados da Felizberta que tinhamos em ser, sendo bom de seccar, e
principiei tambem com os cosimentos de 2º jet do melaço de Barbados da Esperança para serem turbinados em Dezembro. A
analyse dos 25 cascos de melaço de Barbados da Esperança entrado na refinação mostrou o seguinte:
Saccarose .........................................................48,73 %
Pureza .....................................................................64,8
Glucose ............................................................15,23 %
Coefficiente glucosico ...........................................31,4
O rendimento d’este melaço vai ser muito inferior ao da Felizberta.
Terminei um lote de melaço de Cuba para destillação que rendeu 7,5 gallões d’alcool a 100º. //
[5] Estou trabalhando dia e nuite na turbinagem do 2º jet de Barbados, para me dar espaço para os cosimentos 2º jet da
Esperança
Depois de terminado este melaço vou modar o mexidor para o logar que se tinha combinado, afim de estar em ordem para
Dezembro.
Os melaxeurs novos que devem vir em Dezembro sô poderam ser colucados no seu logar em Janeiro do proximo anno,
depois de terminada a refinação, ou então logo que se termine a seccagem de todo 2º jet que estiverem nos poços, que devem
estar concluidos em meados de Dezembro.
Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 7 de Novembro de 1905


DESTINATÁRIO: Blandy Brothers & C.ª; LOCAL: Rua de São Francisco, Funchal]

[6] Ex.mos Senhor Blandy Brothers & C.ª

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7 Novembro 905 Rua de São Francisco
Amigo e Senhor
Procedi á medição do seu vinho que deu 13.543 litros que é egual a 3564 gallões de 3,785 litros:
De V.ª Ex.ª Attencioso Venerador[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 16 de Novembro de 1905


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[17] 16 Novembro 905
Amigo e Senhor Henrique
Terminamos a secagem dos cosimentos de 2º jet do melaço de Barbados da Felizberta que produzio 111.646 kilogramas
assucar rendendo n’esse caso 156 kilogramas assucar a 92% por cada ponche de melaço.
Os cosimentos de 2º jet de Barbados da Esperança ficam terminados amanhã
A 27 do corrente vou principiar a turbinagem d’estas Melasses Cuites e calculo que em 16 ou 18 de Dezembro deve estár
tudo acabado. Achava melhor que, o Bochet173 e o Cosedor estivessem aqui entre 10 a 15 de Dezembro para se dar princípio á
refinação d’este assucar
O assucar tem sahido bem e tenho receio que falte assucar B2 que é o que se tem vendido mais.
O assucar tem descido bastante no estranjeiro e já fizeram uma encommenda de 200 sacas para a Alemanha para diversos:
Naturalmente é do tipo BBR.
Terminei a destillação do melaço épuisée da refinação que rendeu 10 gallões d’alcool 100º por 100 kilogramas melaço. Fiz
uma paragem nas fermentações não sô por ter muito alcool como tambem para limpeza nos apparelhos
Temos em deposito hoje:
6500 gallões do B
6434 “ do A
Alem d’isso tenho os tanques da apuração do alcool A todos cheios, que representa aproximadamente 2500 gallões.
O Carlos Carvalho pede-me para lhe lembrar o seu pedido.
Sem assumpto para mais subscrevo-me: Seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 17 de Novembro de 1905


DESTINATÁRIO: Secretário Geral da Associação dos Químicos?]

[8] 17 Novembre 905


Monsieur le Secrétaire Général
Je vous prie de me faire inscrire dans la nouvelle liste des Membres de l’Association, qui dont paraitre en dezembre, avec
ma vrai profession:
Hygino Ferraz – João = Directeur de la Sucrerie et Distillerie de Messieurs William Hinton & Sons á Funchal Ile Madére.
En meme temp, je vous remerci boucoup votre indication sour l’ouvrage de la Panification.
Veuillez, mon cher collegue, agéer l’expression de mes devouements les plus sinceres[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 22 de Maio de 1906


DESTINATÁRIO: Sousa Lara; LOCAL: Benguela, Angola]
[9] 22 maio 1906
Ill.mo Amigo e Senhor Sousa Lara Benguella
Recebi o seu estimado favor de 23 de Abril proximo passado, a que passo a responder. Agradeço ao Meu Amigo o lembrar-
se sempre de mim, o que me dá muita honra e prazer em receber novas suas. Nada tem de que me pedir desculpa, e crêa-me
sempre seu Amigo respeitoso. Eu avalio perfeitamente quanto o meu Amigo deve estar occopado com os seus trabalhos, e vejo
bem os desgostos por que tem passado.
Pela sua carta vejo o fracasso que teve na sua primeira experiencia de fabricação de assucar. Foi verdadeiramente uma
calamidade industrial! Que pessoal technico é esse que contractou para a sua fabrica? Foi verdadeiramente ludibriado por quem
os incolcou.
Não haverá engano nas cifras que me enviou? 80.000 litros de garapa a 8,5 Baumé produzio somente 2200 kilogramas de

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assucar de 1er jet, e 2000 kilogramas de melaço?
E que qualidade de assucar, Santo Deus! Pelos meus calculos, sendo a sua extracção nos moinhos de 50 litros de garapa por
100 kilogramas de canna, vejo que os 80000 litros representa 160.000 kilogramas de canna.
Ora como a sua canna de 8,5º Baumé na garapa deve representar 13% centimetro cubico em assucar, pelo menos, os 80000
litros contem n’esse caso 10400 kilogramas d’assucar puro. O seu rendimento contando mesmo assim uma má fabricação
deveria-lhe ter dado os 80000 litros de garapa a 8,5 Baumé:
Assucar de 1er jet .....................................................5.700 kilogramas
Dito de 2er jet ...........................................................1.600 kilogramas
Dito de 3er jet ..............................................................500 kilogramas
Melaço a 40 % assucar 3400 kilogramas =..............1.360 kilogramas
Total em assucar extrahivel ......................................9.160 kilogramas
Ora como nos 80000 litros de garapa contem 10400 kilogramas d’assucar (puro) e como apenas retirou 2200 kilogramas
d’assucar de 1er jet e 2000 kilogramas de melaço que contenham // [10] no maximo 55% d’assucar, faz um total de 3300
kilogramas d’assucar:
Pergunto eu; o que lhe fizeram aos restantes 5860 kilogramas d’assucar?!! A sua perda total foi n’esse caso: calculando a
canna conter 85 litros de garapa por % kilogramas de canna cuja garapa contenha 13% centimetro cubico em assucar será
assucar na canna % 11,05 kilogramas. Representando os 80000 litros de garapa 160000 kilogramas de canna a 11,05 kilogramas
d’assucar % = 17680 kilogramas e como apenas extrahio 3300 kilogramas d’assucar: Perda total = 14380 kilogramas!! Como
o meu Amigo vê (se não houve engano nas suas cifras) o prejuizo foi enorme. Com uma boa Direcção e empregando a diffusão
do bagaço, a sua perda seria insignificante em vista d’estes dados.
Terminamos no dia 19 do corrente a nossa fabricação, laborando 15000 toneladas de canna em 3 mezes. O nosso rendimento
pela diffusão com canna de 9,4 Baumé foi de 8,550 d’assucar de 1er jet (eguais ás amostras que lhe envio) por 100 kilogramas
de canna. Quanto ao 2em jet e melaço nada lhe posso dizer, visto não termos concluido esta parte da fabricação.
Comparando a nossa fabricação com a sua, será:
Fabrica Hinton = 8,550 kilogramas assucar % canna
Fabrica do Donde Grande 1,375 dito
Quanto á canna Yuba que me pede para lhe enviar, nada se pode fazer agora, visto ter terminado a colheita, e a meu vêr sô
em Março do anno proximo quando a canna atingir o seu estado completo de maturação é que será bom enviar, podendo-lhe
então arranjar a quantidade que quiser. Depois de bem informado do custo do empaque e frete lhe direi.
Termino esta esperando que a sua nova fabricação seja mais vantajosa e considere-me sempre seu amigo certo[Ass:] João
Higino Ferraz //

[DATA: 31 de Maio de 1906


DESTINATÁRIO: João da Câmara Pestana]
[11] 31 maio 1906
Meu Caro Primo e Amigo J. Camara Pestana
Recebi o seu estimado favor de 26 de maio corrente, ao qual passo a responder.
O seu pedido chegou um pouco tarde na parte em que se refere á garapa de canna de assucar, visto a nossa fabricação ter
terminado no dia 19 do corrente, e n’esse caso sô no proximo anno lh’a poderei enviar, no caso de querer. Contudo envio-lhe
desde já por este mesmo corrêo amostras seguintes:
1ª Amostra d’assucar Typo BB, 1er jet extrahido do xarope virgem da garapa da canna, pelo processo de diffusão do bagaço
e defecação na bateria (Processo Hinton-Naudet).
2ª Amostra d’assucar Typo B2, extrahido dos égoûts da Massa cosida de 1er jet, em cristalisação lenta, em caldeira de vacuo
com mexidor.
3ª Amostra d’assucar 2em jet extrahido dos melaços da Massa cosida do typo B2.
4ª Amostra do melaço exausto d’assucar cristalisavel, isto é, melaço improprio para nova cristalisação, e que se emprega na
destillação.
5ª Amostra do alcool puro extrahido d’esse melaço por destillação e rectificação directa dos vinhos de melaço.
6ª Amostra do bagaço da canna de assucar diffusado, empregado como combustivel.
7ª Amostra da aguardente de canna da Fabricação Madeirense do anno 1905.

110
Na nossa Fabrica não produzimos aguardente de canna.
Sempre ás suas ordens para o que lhe poder ser util e crea-me seu Amigo Certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 12 de Julho de 1906


CARACTERIZAÇÃO: Considerações acerca do aparelho de evaporação Triple- Effet.]

[12] 12 Julho 906


Apparelho de evaporação Triple-effet
No corrente anno de 1906 o apparelho de evaporação triple-effet trabalhou utilisando no seu trabalho todo o vapor exausto
desponivel, depois de tirado o necessario para a diffusão, e muitas vezes se empregou vapor directo para complemento do vapor
necessario para o trabalho regular do Triple:
Ora, se um apparelho evapora n’um dado tempo uma quantidade dada de agua, e se por um meio qualquer se poude
augmentar essa evaporação, necessariamente a quantidade de calorias absorvidas para formar essa evaporação será meior, e
n’esse caso teremos de introduzir na primeira caixa do triple tambem meior quantidade de vapor.
Se no anno proximo 1907, empregarmos menos dois engenhos de espremer, o vapor exausto diminuirá necessariamente na
proporção do trabalho.
N’este caso o apparelho Triple effet terá para seu servisso muito menos vapor exausto visto a differença dos dois engenhos,
e alem d’isso a diffusão absorverá meior quantidade de vapor para o seu trabalho mais rapido.
Depois de tudo isto parece-me ser necessario os Patent Film Evaporator em todas as caixas do triple, e sem perigo de
formação demasiada de vapor nas primeiras caixas como prevê Naudet174.
É tambem minha opinião que se deve empregar as bombas de circula-//[13]ção nas 2ª e 3ª caixa para obrigar o liquido a
evaporar a passar mais de uma vez na mesma caixa, e n’esse caso tirarmos xaropes mais densos.
Na 1ª (2) não é necessario bomba de circulação, por isso que empregamos uma bomba de alimentação, e o liquido pode
passar uma sô vez em vista da superfice de evaporação ser grande.
É esta a minha opinião conforme a pratica que tenho do apparelho[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 6 de Agosto de 1906


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[14] 6 agosto 906
Ill.mo Ex.mo Senhor Henrique Hinton
Amigo e Senhor
Conforme as suas ordens cheguei aqui no dia 3 do corrente na mesma viagem do San Miguel em que tinha hido, em vista
de um telegramma, Volte vapor San Miguel urgente.
Fiquei como pode calcular, bastante apoquentado por não saber a rasão de tal urgencia: Quando d’aqui sahi tinha deixado
tudo na devida ordem, verdade é que já tinha aparecido o tal parasita no assucar, mas como era somente em algum B2 e não
em todo, não podia prever que a propagação fosse tão grande.
Recebi do Senhor Bardsley as suas instrucções com relação á maneira de proceder com o assucar B2, isto é, deitar melaxeur
fermé melaço de Barbados em assucar suficientes até formar um pé de cuite com a consistencia de Masse Cuite, aqueci’o no
vacuo, e conforme a concentração for augmentando juntar-lhe melaço até ao complemento do cosimento.
Principiei hoje com esse trabalho mas nada posso dizer por emquanto, se este processo der o resultado desejado, a economia
será grande. O meu receio é que durante a concentração do melaço, como o cristal do assucar está bastante grande, o assucar
contido no melaço em logar de nutrir o grão, forme novo grão fino e que seja dificil de turbinar, e n’esse caso não se poderá
empregar; na minha fraca opinião, não dando este processo resultado, o melhor será refinar o B2 atacado pelo parasita, passando
pés de cuite ao melaxeur no vacuo e alimental’o com melaço de Barbados na falta de egoûts da refinação. //
[15] Pela analyses [sic] que tenho feito aos assucares, o que contem meior quantidade de parasitas é o B2 que está
fermentado (?), o BB tem muito pouco e o BT não lhe encontro nada. O que me pareçe é que o parasita foi desenvolvido no B2
e que depois se tem propagado.
Procedo á analyse do Melaço de Barbados pela Esperança que mostrou o seguinte:
1ª amostra de 25 cascos:
Polarisação directa ...............................................51,42

111
Reductores ............................................................15,23
Pureza apparente ..................................................69,52
Coefficiente Glucosico apparente .........................29,60
2ª amostra tirada do tanque grande que contem aproximadamente 200 cascos:
Polarisação directa ...............................................51,42
Saccarose Clerget .................................................52,29
Reductores ............................................................14,83
Pureza real ............................................................70,40
Coefficiente real ...................................................28,30
Quanto á minha saude é que estou bastante acabrunhado, vejo-me no mesmo estado, não podendo quasi andar com a perna
bastante inchada, e não me vejo com forças nem coragem para continuar n’este servisso em quanto não estiver completamente
corado. Crêa que sinto bastante em dizer-lhe isto, mas no estado em que estou não lhe posso prestar bons servissos como
desejava nem para mim o futuro me parece risonho.
Subscrevo-me seu Attencioso e Venerador Amigo Muito Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 13 de Agosto de 1906


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[16] 13 agosto 906
Ill.mo Senhor Henrique Hinton
Amigo e Senhor
Agradeço-lhe a sua carta de 3 do corrente.
Procedi conforme as suas ordens com relação ao assucar B2 como lhe dizia na minha ultima, mas o resultado não foi bom,
quanto á limpeza do bicho, porque ainda que morto mas lá ficou no assucar da mesma forma, de maneira que ficava novamente
pourco. Tive que parar com esta forma de trabalho.
O que estou fazendo é refinal’o, isto é, derretido, clarificado com sangue e filtrado no filtros [sic] mechanicos.
Depois de formado o grão na caldeira F passa-se o pé de cuite ao melaxeur no vacuo, mas em pouca quantidade o qual é
alimentado, 1º com parte dos egoûts pauvres da F e 2º com melaço de Barbados.
A caldeira F no fim do cosimento é alimentada com todos os egoûts riches e uma grande parte dos egoûts pauvres da F.
D’esta forma o M (melaxeur) é alimentado na sua meior parte com melaço de Barbados.
O Melaço de Barbados não fica épuissée mas como vê pela analyse, a pureza nos cosimentos de 2º jet baixou o que quer
dizer que algum assucar se tirou. Não fasso a repassagem dos egoûts do M por isso que temos melaço de Barbados bastante, e
não val a pena épousser esses egoûts, para mais adiante ter que fazer o melaço de Barbados em 2 jet. D’esta forma o rendimento
é melhor.
Junto encontrará o resultado das // [17] analyses da refinação assim como a analyse completa do melaço de Barbados tirado
do total do tanque grande.
Analysando bem verá que o trabalho vai regularmente. Nos cosimentos de 2º jet, no 1º, á[sic] huma differença de puresa,
mas esse cosimento foi o feito com os egoûts do Melaço de Barbados e assucar no melaxeur e que não deu resultado como atraz
explico, mas cujo épuissement era bom; os dois seguintes são do processo actual.
O assucar sai perfeitamente limpo, mas receio que fazendo grande quantidade e guardando no armazem, ainda que sejão
bem desinfectados, mas como não são perfeitamente isulados, lhe transmitta novamente o bicho, e n’esse caso acho melhor sô
refinar o assucar suficiente para dois mezes e armasenal’o livre de todo o prigo.
Estou tambem fazendo fermentações para poder aproveitar algumas lavagens que hajam, (que bem poucas são).
Sem assumpto para mais subscrevo-me de V.a Ex.a Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

112
[18] 13 agosto 906. Analyse referentes [sic] á refinação

Productos analysados Brin assucar Reductores Pureza Pureza Coefficiente Coefficiente Clerget Kilogramas
apparente % apparente real Glucosico Glucosico assucar
assucar real turbinado

Melaço Barbados (media) 73.85 51.60 14.83 69.87 71.52 29.71[?] 28.07 52.82 Rendimento
Xarope de refonte 54.85 54.65 0.77 99.60 1.41 d’estes
Dito dito 52.40[?] 55.28 4.13 94.65 2.04 cosimentos
Dito dito 54.10 49.90 1.34 92.23 2.70
Melasse Cuite da F (virgem) 90.15 85.74 1.75 95.10 2.04 4553 kilogramas
Dito dito com egoûts riche 92.00[?] 87.36 1.90 94.95 1.95 5070 kilogramas
Dito dito com egoûts riche
e pauvre 92.65 84.13 3.80 90.80 4.51 4995 kilogramas
Melasse Cuite da M com
melaço Barbados 92.80 75.26 10.92 81.09 14.50 4050 kilogramas
Dito Dito 92.50 75.26 10.52 81.36 13.97 4300 kilogramas
Melasse Cuite de 2º jet
(egoûts do M) 89.22[?] 53.57 21.43 60.02 40.00
Dito Dito 90.05[?] 59.13 25.16 65.30 42.55
Dito Dito 90.70[?] 60.20 13.67 66.36 31.00

[Ass:] João Higino Ferraz //

113
[DATA: 20 de Agosto de 1906
ESPECIFICIDADE: Considerações acerca da refinação de vários tipos de açúcar e análises de cozimentos.]
[19] 20 agosto 906
Trabalho da refinação do assucar B2 até hoje:
Temos refinado até sabado <18> 89.253 kilogramas d’assucar.
Melaço de Barbados entrado n’esta refinação até sabado 18 é de 81.321 kilogramas
O assucar turbinado até hoje em BB e B2 é de 70.150 kilogramas estando por turbinar, nos melaxeurs 2 cosimentos
Temos feito até hoje 3 cosimentos de 2º jet com os egoûts do Melaxeur.
Temos alem d’isso xarope em todos os tanques e os egoûts de 2 cosimentos.
Os dois ultimos cosimentos do Melaxeur foram um pouco dificeis de burbinar[sic], isto devido em parte aos egoûts, por isso
que tenho mettido algum melaço de Barbados na Franceza no fim do cosimento, mas parece-me que a principal causa é João
Martins formar grão muito grande, de forma que na passagem ao Melaxeur o grão está de tal forma grosso que a nutrição é
deficil formando n’esse caso farinha
Já lhe disse para formar mais grão e mais fino de forma que na passagem o grão esteja n’uma grossura tal que seja facil de
nutrir. Os outros cosimentos teem sido bons
Analyses dos cosimentos: de 14 a 20 agosto 2º jet
1 2 3
Saccarose ..............................................................62.71 ............58.77 ............56.26
Glucose ................................................................18.64 ............22.26 .............20.68
Pureza ...................................................................68.48 ............64.44 .............63.32
Coefficiente Glucosico..........................................29.77 ............37.87 .............36.76
Analyse de um dos cosimentos da Franceza onde foi introduzido egoût riche egoût pauvre da F e melaço de Barbados:
//
[20] Saccarose ......................................................74,36
Glucose ................................................................14,47
Pureza ...................................................................77,33
Coefficiente Glucosico ........................................19,45
Analyse dos egoût pauvre do cosimento acima:
Saccarose ..............................................................51,60
Glucose ................................................................23,15
Pureza ...................................................................58,93
Coefficiente Glucosico ........................................44,86
Empregando o Melaço de Barbados na F sou obrigado a fazer uma liquidação dos egouts pauvres da F de 3 em 3 dias em
cosimentos de 2º jet.[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 25 de Agosto de 1906


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[21] 25 agosto 906
Ill.mo Senhor Henrique Hinton
Amigo e Senhor
Recebi a sua muito amavel e estimada carta de 15 do corrente, e crêa que apercio do coração a sua boa vontade em me ser
agradavel, e desejar o meu restablecimento.
Já era minha intenção de no caso de não melhorar por meios outros que não a operação, me sujeitaria a ella fosse qual fosse
o resultado final, para me ver livre de uma molestia que tanto me pode prejudicar no meu futuro e aos meus.
Agradeço-lhe do coração a sua muito apreciada offerta de me pagar as despezas que eu fizesse, mas pesso-lhe muito
respeitosamente para não acceitar tal offerta. Já muito reconhecido lhe fico em me pagar os meus ordenados durante a minha
cura, que serviram para o sustento da minha familia; Sô lhe pesso que me adiante a importancia necessaria para as despezas que
vou fazer, e no caso de ficar de tal forma inutilisado para o serviço que não possa continuar, a importancia que tenho na casa
dará perfeitamente para saldar as minhas contas.
Aproveito o seu conselho de hir a Paris fazer a operação, mas acho conveniente partir d’aqui nos fins de stembro[sic], para

114
poder fazel’o no tempo fresco, porque no tempo do calor é pêor a cura. Alem d’isso desejava passar em Lisboa e consultar
novamente o Dr. Rosenblatt que há dois annos me aconselhou a operação e ver o que elle me diz a tal respeito, e depois seguir
de Lisboa para Paris // [22] via maritima.
O que desejava era ter em Paris pessoa com quem tratasse para a escolha do especialista e casa de saude onde ficasse: Nesse
caso pedia-lhe para me recommendar a um cavalheiro das suas relações em Paris, e que me servisse de conselheiro. Não posso
contar com Monsieur Naudet175, por isso que anda sempre em viagens.
Antes de partir desejava deixar a fermentação em marcha regular para fazermos mais uns 10 mil gallões d’alcool, que é o
que eu calculo ser necessario até fins do anno porque ainda temos uns 25 mil gallões em stock.
Quanto á refinação do B2 fica terminada esta semana e na proxima malla lhe darei aproximadamente os resultados. Vou
deixar tambem as notas dos productos necessarios para a proxima laboração de 1907 para fazerem as encomendas a tempo: Vou
calcular para o trabalho de 15000 toneladas de canna, não acha?
Como vou a Paris posso, depois de curado, fazer os estudos com Monsieur Pellet sobre a eliminação da glucose dos melaços
pela fermentação, no caso, como espero, venha a nova lei sobre a canna.
Sem assumpto para mais, subscrevo-me seu Attencioso Venerador Muito Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 1 de Setembro de 1906


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[23] 1 setembro 906
Ill.mo Senhor Henrique Hinton
Amigo e Senhor
Junto encontrará a nota da refinação, com o calculo aproximado do rendimento provavel do 2º jet, pela medição que fiz da
Melasse Cuite dos poços, e pelas analyses da mesma.
Tambem encontrará a copia da opinião do Dr. Machado176 com relação á minha doença, e pela qual verá que elle não é de
opinião, que fassa a operação: Alem d’isso consultei tambem o Dr. Sequeira177 que tambem não acha conveniente a operação, e
o Dr. Scotte178 pela mesma forma. O Dr. Machado chegou a dizer-me que se fosse sua a perna não consentiria que lhe fizessem
operação alguma. Depois de tudo isto, e dito por medicos distinctos como o são estes trez, não desejo de forma alguma sujeitar-
me a uma operação para ficar inutilisado de todo.
Tenho-me sujeitado a um tratamento indicado, e o caso é que tenho sentido alguns alivios, andando um pouco melhor. O
Machado aconselha-me de tomar os banhos de lama sulfurosos da Caldas da Rainha, e para lá vou nos meados d’este mês. //
[24] Não desejo massal’o mais com os meus males, e agradeço-lhe mais uma vez a sua boa vontade em me ver
completamente curado, mas vamos ainda esperar mais uns tempos a ver o resultado da cura.
Vou principiar a fermentação logo que chegue o fermento puro para deixar tudo corrente antes de partir. Como o fermento
se conserva puro durante um mês, é suficiente para fazermos os 10 mil gallões d’alcool necessarios.
Sem assumpto para mais Subscrevo-me Seu Amigo Attencioso Venerador Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 31 de Agosto de 1906


CARACTERIZAÇÃO: Apontamentos sobre refinação de açúcar]

[25] 31 agosto 906

Contas da refinação do assucar B2 entrando o melaço de Barbados


Assucar para refinação ............................................................140.926 kilogramas
Melaço de Barbados................................................................109.406 kilogramas
Assucar puro no assucar refundido .........................................137.887 kilogramas
Dito dito Clerget no Melaço.............................................. 57.788
Assucar puro total entrado refinação ......................................195.675

Glucose no assucar refundido ................................................... 1.334 kilogramas


Dito no Melaço Barbados..........................................................16.225
Glucose total entrada refinação.................................................17.559

115
Productos:
Assucar turbinado ..................................................................128.798 kilogramas
Melasse Cuite 2º jet 653.4 hectolitros a
150 kilogramas cada hectolitro = 98010 kilogramas
com a media 60.21% assucar Clerget =.................................. 59.011
Assucar transformado em glucose = ..........................................2.918
.................................................................................................190.727
Quebra no assucar total entrado é de 2,5%
Glucose total na Melasse Cuite 2º jet 20.631 kilogramas
Temos alem d’isto 5 ponches com espumas do melaço de Barbados para distillação, a quebras [sic] n’este caso não será
superior a 2% do assucar puro total entrado.
Considerandos sobre a refinação:
O rendimento liquido do assucar refundido ao coefficiente de 4 e 2 e 1 ?% de quebra é de 92,6% será
130.497 kilogramas
Diferença a menos em refinado........................ 1.699
Mais assucar turbinado .....................................128.798
130.497
Fizeram-se 16 cosimentos completos de 2º jet que deveriam produzir aproximadamente (na proporção do melaço de
Barbados de 1905) 30000 kilogramas d’assucar M
Ora, pela medição do melaço de Barbados dá 188 ponches de 580 kilogramas cada será 30000 = 159 kilogramas por ponche.
188
Como o melhor melaço de Barbados tem produzido na media (melaço com // [26] 53,5% assucar) 150 kilogramas de assucar
M, vê-se que os cosimentos acima estão bem na sua proporção dando o assucar calculado, mas como o melaço trabalhado sô
contem 51.6% assucar e alem d’isso meior proporção em glucose o rendimento será talvez de 140 kilogramas por ponche. O
excesso de rendimento pertence ao assucar refinado.
Alem d’isto, o melaço de Barbados de 1905 deu 53 ? cosimentos de 2º jet com 388.000 kilogramas, o melaço gasto na
refinação deve dar na mesma proporção 15 cosimentos de 2º jet.
Por tudo isto se vê que o calculo do melaço gasto na refinação está aproximadamente certo, e que se o rendimento em
assucar der pelo calculo acima, tudo foi bem determinado e os resultados concordes.
Pelas analyses dos cosimentos de 2º jet da refinação a pureza media d’estes cosimentos é de 64, e como no melaço de
Barbados de 1905 a pureza media foi de 73, o rendimento em assucar na proporção da pureza dará 131 kilogramas assucar por
ponche para o melaço de 1906 em relação a 150 kilogramas no de 1905. Pelo calculo da pureza nunca pode dar serto, mas ainda
assim é aproximado.
Media das analyses do assucar refundido:
Cristalisavel ........................................................97.720
Glucose ................................................................0.946
Agua .....................................................................0.532
Cinzas ...................................................................0.392
Indeterminados organicos -.................................. 0.410
100.000
[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 3 de Setembro de 1906


CARACTERIZAÇÃO: Considerações sobre o trabalho dos melaxeurs]

[27] 3 setembro 906


Proponho-lhe a modificação dos dois melaxeurs abertos (novos) em dois melaxeurs fechados trabalhando no vacuo e vapor
nos fundos (jaqueta) durante o épuissement e completo enchimento do melaxeur, e depois agua na mesma jaqueta para o
arrefecimento da Melasse Cuite
– Vantagens –

116
1º Evitar a montagem de mais um melaxeur no vacuo, sendo esta modificação facil e mais barata.
2º Melhor épuissement dos égoûts por isso que trabalhando no vacuo a uma temperatura douçe o exaustamento do assucar
dos égoûts durante 17 a 20 horas faz-se mais lentamente, sendo muito mais racional, e n’esse caso os egoûts pauvres melhor
épuissée.
3º No caso de se resolver a nova lei sobre a exportação do assucar teremos facilidade no trabalho dos melaços importados
para a extracção do assucar fazendo cuites d’amorçe, como da sua proposta para a refinação do assucar, isto é, deitar melaço e
assucar BT no melaxeur até á consistencia de Melasse Cuite aquecel’a e juntar-lhe melaço durante a sua concentração até o
completo enchimento.[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 5 de Setembro de 1906


DESTINATÁRIO: Relatório sobre a Fabricação ou Laboração de 1906]

[28] 5 setembro 906


Resultado Geral da Fabricação de 1906
Canna trabalhada 11888161 kilogramas
Assucar na canna 12.08 kilogramas % = ...............................................................1.436.090
Assucar entrado em fabricação
pelo jus de diffusão ...............................................................................................1.351.780
Perda na diffusão ................................................................................................... 84.310
Será por % de canna ......................................................................................................0,71
Assucar turbinado ...................................................................1er jet – 1014060 kilogramas
Dito ............................................................................................................2er jet – 23790
Será em assucar puro ————- .............................................................................1010987
Melaço produzido ...........................................................546.064 kilogramas (aproximado)
Será % canna .............................................................................................4.593 kilogramas
Assucar Clerget real no melaço ...............................................................................188.337
Perda em saccarose % canna..................................................................... 1.282 kilogramas
Transformação de saccarose em glucose % de canna 0,227 kilogramas = 0,215 kilogramas de saccarose
Será perda real em saccarose por % ........................................................ 1.067 kilogramas
Nota.
O calculo do melaço é aproximativo visto ser feito pela medida dos poços descontando as espumas que tem á superfice, e
como a quantidade de melaço em stock é de 217108 kilogramas pode-se perfeitamente haver erro de calculo, que sô depois de
destillado se verificará.
[Ass:] João Higino Ferraz
Junto encontrará um desenho de triple com o apparelho proposto de augmentar a evaporação, tal qual como a minha
proposta feita há tempos e verificado por Monsieur Naudet179.[Ass:] Ferraz //

[DATA: 30 de Dezembro de 1906


DESTINATÁRIO: Sousa Lara; LOCAL: Benguela, Angola]

[29] 30 Dezembro 906


Amigo e Senhor Sousa Lara Benguella
Recebi a sua estimada carta com data de 23 outubro do corrente por mão do Senhor Isais[sic] Vidal, e juntamente uma
amostra do seu melaço de 1er jet.
Peço-lhe mil desculpas de não lhe ter respondido a mais tempo, mas como tivemos de receber de Lisboa resposta a umas
perguntas que fizemos sobre se poderiamos importar da Africa melaços com mais de 55% em assucar cristallisavel, por isso o
não fiz mais cedo.
A resposta da Direcção Geral das Alfandegas foi que não podemos de forma alguma importar melaços, seja qual for a sua
procedencia, com mais de 55%. Ora visto o seu melaço, (que eu chamarei xarope puro) contem 66% em assucar cristallisavel

117
é-nos inteiramente impossivel fazermos negocio.
A analyse da amostra deu-me o seguinte:
Saccarose ..............................................................66 %
Glucose ................................................................8.51 “
Pureza ...................................................................78.18
Com melaços d’estes tirava eu aqui ainda bastante assucar de 1er jet, e não posso emaginar como considera este producto
melaço, quando elle é ainda tão puro que se pode comparar // [30] com a nossa Masse cuite de 1er jet com relação á pureza?
Acho muito mais conveniente ao meu amigo recosel’o novamente e retirar ainda a meior parte do assucar cristallisavel. O
melaço que nos importamos contem no maximo 52% em assucar cristallisavel e 9 a 10% de Glucose.
Quanto ás cannas Yuba podem ser embarcadas no mês de Janeiro umas 2 toneladas. O custo será naturalmente a 520 a 530
reis por cada 30 kilogramas canna escolhida. Mas como o Senhor Vidal disse que viria aqui para se tratar d’isso, aguardo a sua
chegada.
Como isto não são cousas sô suas mas sim da Companhia pedia ao meu Amigo para me mandar um credito suficiente para
a compra e despezas de empaque e embarque.
Desejando-lhe um futuro anno feliz, crêa-me sempre seu Amigo Certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 2 de Janeiro de 1907


CARACTERIZAÇÃO: Apreciação e interpretação, por Higino Ferraz, da Lei de 24 de Setembro de 1903, relativa ao fabrico
e exportação de açúcar]

[31] A minha opinião sobre a interpretação da Lei de 24 de Setembro 1903 com relação ao fabrico do assucar de melaço
importado e á exportação do assucar de canna da Madeira para o continente do reino:
No artigo 5º é permittido o fabrico do assucar de melaço importado livre de todo e qualquer imposto.
No artigo 6º permitte a exportação do assucar de canna da Madeira para o Continente do reino livre de direitos.
O § unico diz, que da quantidade do assucar de canna da Madeira e com relação á sua entrada livre de direitos no reino, será
deduzida a quantidade de assucar de melaço importado que for entregue ao consummo no Archipelago, sem dizer se essa
deducção é feita na Alfandega de destino ou se é deduzida pela fiscalisação da fabrica, determinando que sô seja exportado livre
de direitos o assucar de canna da Madeira depois d’essa deducção (o que me parece mais coherente).
Se quizermos interpretar a Lei de forma a que, do assucar de canna da Madeira quando exportado para o Continente seja
deduzido o assucar // [32] do melaço, na Alfandega destinataria, é o mesmo que dizer que o assucar de melaço pagará os direitos
como estranjeiro, quando pelo excesso de producção do assucar de canna da Madeira, nos virmos obrigados a exportal’o para
o Continente, parecendo n’esse caso que a Lei limita a producção do assucar de canna, quando o espirito do legislador é
exactamente o contrario, foi lemitar a producção do assucar do melaço para que seja consumido unicamente na Madeira ou no
archipelago e em quantidade não superior a 50% do assucar da canna, e serem essas as compensações que a Lei dá ao fabricante
matriculado para o pagamento elevado do preço da canna e da aguardente da mesma. Quanto mais comprar de canna e
aguardente, meior deve ser a compensação, o que se não dá interpretando d’outra maneira.
O artigo 7º Diz que, quando a quantidade de assucar importado para refinar e o assucar de canna da Madeira fôr em
quantidade egual ao do assucar do melaço importado que fôr entregue ao consummo no archipelago, e quando exportado,
pagará nas Alfandegas destinatarias como se fosse estrangeiro. //
[33] Este artigo 7º vem aclarar perfeitamente o § único, isto é, logo que se fabrique assucar de melaço em quantidade egual
ao extrahido da canna ou refinado, não pode haver deducção possivel, e por isso todo o assucar exportado pagará como
estrangeiro nas Alfandegas destinatarias.
Porque é que no § único se não disse tambem, será deduzido do assucar de canna, na Alfandega destinataria, o assucar de
melaço? Parece que foi para determinar que essa deducção fosse feita pela fiscalisação, avisando a Alfandega destinataria, e
quando a quantidade do assucar de canna e melaço sejam em quantidade egual, todo elle pagará como estrangeiro.
É isto o que me pareçe a melhor interpretação á Lei, visto ella ser feita para proteger a agricultura, dando compensações ás
fabricas matriculadas pela obrigação da compra de canna e aguardente, desenvolvendo a agricultura, e nunca limitando-a, e não
é quando essa agricultura chegou ao seu auge e que as fabricas são obrigadas a comprar maior quantidade de canna e
aguardente, que se lhe deve diminuir ou cortar por completo essas compensações.
Funchal 2 Janeiro 1907[Ass:] João Higino Ferraz //

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[DATA: 17 de Janeiro de 1907
DESTINATÁRIO: Júlio A. Ferraz]
[34] 17 Janeiro 907
Meu caro primo e Amigo Julio A. Ferraz
Acabo de receber o teu estimado favor de 10 do corrente o que muito estimei por saber nuticias tuas.
Effectivamente estive em Lisboa mas por poucos dias e foi procorar-te a tua casa mas infelizmente não estavas, e como tinha
pouco tempo de demora em Lesboa por isso te não foi ver a Cascais.
Venho de mostrar a tua carta ao Henrique Hinton, e elle pede-me para te participar que parte por esta mesma mala para
Lisbôa, e que se vai hospedar no Avenida Palace, e desejaria muito fallar contigo se lhe fizesses a amabilidade de o procurares
lá.
Elle parte para tratar d’esta questão do assucar, e vai jogar a ultima cartada; ou João Franco attende ao seu pedido justo e
que interessa bastante a toda a Madeira agricula, ou não attende, e n’esse caso não posso prever quaes as consequencias
desastrosas da sua maneira de ver.
O Hinton te explicará de viva vôz todo o negocio, que é d’elle e de todos nos Madeirenses.
Se elle sô attende aos invejosos e aos mal intensionados um dia virá em que se arrependa. // [35] Conheces perfeitamente
as circustancias em que a Madeira esta com relação à Agricultura por que isto já é de tempos bem remotos, quando meu tio
Ricardo180 era depotado, e presentemente ainda é peôr, de forma que toda a proteção do Governo é necessaria para conservar o
nosso regimen agricula. Em fim, meu caro Julio, o Hinton te explicará tudo muito melhor, e podes crêr se elle trata dos seus
interesses, tem tambem em mira os interesses da agrecultura; é um homem leal e reto, e quando com elle fallares o conhecerás
melhor.
Farás os meus comprimentos á prima D. Belmira e Maria Theresa e aqui fico sempre às tuas ordens, nos meus fracos
prestimos.
Teu primo e Amigo certo[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 21 de Janeiro de 1907


DESTINATÁRIO: Isaías Vidal]
[36] 21 janeiro 907
Ex.mo Senhor Isaias Vidal
Acabo de receber a sua carta com data de 18 do corrente a que passo a responder.
Escrevi ao Senhor Sousa Lara com data de 30 Dezembro proximo passado sobre a amostra do melaço que me enviou e com
relação á canna Yuba.
Effectivamente é agora a occasião de se enviar as cannas, para o que estou muito prompto a fazer, mas como disse ao Senhor
Sousa Lara, esperava a vinda de V.a Ex.a aqui (porque segundo me disse viria cá) para se tratar d’isso, e ao mesmo tempo
desejava me enviassem um credito suficiente para essas despezas de compra e embarque, visto isto não ser propriamente d’elle
mas sim da Comp.ª do Donbe Grande.
O custo da canna seria aproximadamente de 500 a 550 reis por 30 kilogramas mas fallando com um propriatario que a tem
muito boa. Disse-me elle que em vista de ser para embarque tinha de ser canna escolhida e n’esse caso o preço seria meior,
naturalmente 600 reis por 30 kilogramas.
O frete para Benguela é de 13$000 reis por metro cubico e mais 10%. Não posso bem calcular quantos metros cubicos seram
as 2 toneladas de canna visto ellas terem que hir com palha e tudo.
Seria melhor V.a Ex.a manda[sic] ordem á casa Blandy Brothers & C.ª para // [37] o frete e credito suficiente para o resto
das despesas que eu lhe enviarei depois a conta detalhada.
Sempre ás suas ordens subscrevo-me seu Attencioso Venerador[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 26 de Janeiro de 1907


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[38] 26 Janeiro 907
Amigo e senhor Henrique
Tem esta por fim dar-lhe parte que procedi a novas analyses de canna continuando a mostrar sempre a mesma diferença para

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mais em comparação a egual epoca de 1906.
Tem esta tambem por fim dar-lhe uma edêa que poderá asseitar se achar conveniente: Naturalmente João Franco continuará
a julgar esta questão como um syndicato, como elle já o disse. O Senhor pode-lhe varrer toda essa edêa com um rasgo de
generosidade (que elle naturalmente não acceitará), e dizer-lhe-há: Pois bem, visto V.a Ex.a estar com duvidas sobre a seriadade
do meu pedido, ponho á desposição de V.a Ex.a a minha Fabrica para que o Governo a fassa laborar por sua conta, e sô exigo
para mim o juro do meu capital. Isto que não terá consequencias mas, pode ser que para um homem como João Franco lhe toque
no coração.
Subscrevo-me seu Amigo certo[Ass:] João Higino Ferraz //[39]181

[DATA: 30 de Janeiro de 1907


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[40] 30 Janeiro 907
Amigo e Senhor Henrique
Acaba de estar aqui comigo o Pedro Pires, e conversando com elle sobre estes assumptos do decreto, elle disse-me que um
bom empenho para João Franco, por ser um amigo velho de João Franco, e não ser politico era o Capitão de Engenharia
Francisco Luis Pereira de Sousa, nosso patricio e que uma recomendação d’elle era de bastante peso para o J. F.182. Se achar
conveniente isso, tem uma pessoa da intimidade do Pereira de Sousa que é o Tenente Coronel Alexandre José Sarsfild que o
pode apresentar. Alem d’isso o Sarsfild é conhado do Pedro Pires, mas se por acaso não conhece o Sarsfild o Frederico Martins
pode-o apresentar.
Achava bom que o Sousa se intereçasse n’esta questão porque é um bom empenho para o João Franco.
O Capitão Sousa é meu amigo de pequeno.
Sem mais sou seu Amigo Certo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 4 de Fevereiro de 1907


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[41] 4 Fevereiro 907
Amigo e Senhor Henrique
Temos nova questão na Alfandega por causa do baryte.
O Feliciano de Brito considera que é sulfato de baryte e não carbonato como effectivamente é, isto é, baryte caustica
hydratada. Tenho feito a deligencia de o convençer que é carbonato e não sulfato hindo á Alfandega com um livro de Chimica
e mostrando-lhe as reacções mas não houve meio de convençer.
O que acho melhor é levar novamente recurso como já fizemos em 1901 e que ganhamos, mas como não tenho confiança
na persisão das analyses d’ahi que podem dizer hoje uma cousa e amanhã outra, achei melhor enviar-lhe por este corrêo uma
amostra de ? kilograma de baryte, e com elle o Senhor Henrique se derigir á Direcção Geral das Alfandegas ou ao laboratorio
da mesma, e depois da resposta dada por elles se ver o despacho que se deve dár. O despacho aqui fica demorado até vir essa
resposta, para não pagarmos uma multa superior a 200$ reis no caso de nos vir contraria.
Desejava a resposta breve e por telegramma.
Seu Amigo certo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 4 de Fevereiro de 1907


DESTINATÁRIO: Sousa Lara & C.ª; LOCAL: Lisboa]

[42] 4 Fevereiro 7
Ill.mos Senhores Sousa Lara & C.ª Lisboa
Amigos e Senhores
Acabo de receber o estimado favor de V.as Ex.as com data de 31 proximo passado a que passo a responder.
Na carta de V.as Ex.as vejo que o seu empregado disse que eu calculava em 70$000 reis o custo frete e despesas da canna
Yuba o que não é perfeitamente o que lhe mandei dizer na minha carta de 21 do proximo passado como elle pode verificar.
Hoje porem mais bem informado mando-lhe a nota das despezas aproximadas que podem fazer essa remessa:
Custo da canna 2000 kilogramas a 20 reis por kilograma ....................................................40.000

120
Impaque em caixas de 9 pés, bem acondicionadas unica forma de lá chegarem
em boas condicções seram 6 caixas 1,5 metros cubicos cada uma a 5550 reis ............................33.300
Carretes aproximados para a condução das caixas ..........................................................................3.500
Frete até ao vapor aproximadamente ...............................................................................................5.000
Frete do “Zaire” 13$000 reis por metro cubico e mais 10% sendo
o total da medição 9 metros cubicos seram .................................................................................128.700
Total...............................................................................................................................................210.500
Como vêem é o triplo da importancia que V.as Ex.as me enviam e como não posso tomar a responsabilidade de enviar isto
sem espressa ordem e credito suficiente.
Ficarei sempre ás ordens do Senhor Sousa Lara
Sou de V.as Ex.as Attencioso Venerador[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 13 de Fevereiro de 1907


DESTINATÁRIO: Sousa Lara & C.ª; LOCAL: Lisboa]

[43] 13 Fevereiro 7
Ill.mos Senhores Sousa Lara & C.ª Lisboa
Amigos e Senhores
Tenho em meu poder as suas cartas de 6 do corrente e copia da de 31 de Janeiro proximo passado e juntamente um cheque
de 70$000 reis do Banco de Portugal sobre a sua agencia aqui, e que fica em minha carteira.
Participo-lhe tambem que tenho em meu poder uma carta do Senhor Sousa Lara datada de 22 janeiro da Dombe Grande, na
qual me pede novamente com instancia a remessa de 2000 kilogramas de canna “Yuba”, e dissera que me enviará uma ordem
telegraphica da importancia de 100$000 reis para essas despezas.
Hoje recebi uma carta da Companhia Commercial de Angola remettendo-me um saque do Banco Nacional Ultramarino da
importancia de Reis 100$000 a 8 d/v. sol. Nº 12474 sobre[?] os Senhores Francisco Rodrigues & C.ª d’esta, o qual ficará em
minha carteira. Esta carta tem a data de 23 de janeiro proximo passado
Segundo a minha ultima carta de 4 do corrente viram V.as Ex.as que eu calculo aproximadamente as despesas da remessa
da canna em Reis 210$500, isto, é, embarcando em boas condições de empaque afim de chegarem ao seu destino bem
acondicionadas. Mas como V.as Ex.as desejam que as ditas cannas sejam empacadas em fardos, a despeza diminuirá, somente
não poderei garantir que cheguem ao seu destino em bom estado. // [44] Temos já feito por varias vezes exportação de canna
para outros Paizes, mas sempre tem sido em caixas de forma a proteger os olhos das cannas, porque são estes os necessarios
para a sua propagação. O Senhor Sousa Lara pede-me para lhe enviar as cannas no proximo vapor, afim de lá chegarem ate 5
de março para aproveitar a estação propria de plantar. Como sô temos vapor no dia 9 de março proximo desejava V.as Ex.as me
avisassem a tempo se sempre as devo remetter.
Fico ás suas ordens e subscrevo-me com estima e consideração
De V.as Ex.as Amigo Attencioso Obrigado[Ass:] João Hygino Ferraz //

[DATA: 28 de Fevereiro de 1907


DESTINATÁRIO: Sousa Lara & C.ª; LOCAL: Lisboa]

[45] 28 Fevereiro 1907


Ill.mos Senhores Sousa Lara & C.ª Lisboa
Amigos e Senhores
Tenho em meu poder as suas cartas de 19 do corrente e copia da de 16 do mesmo. Recebi hontem telegramma de V.as Ex.as
ao qual respondi no mesmo dia (27).
Como viram pelo meu telegramma envio os 2000 kilogramas de canna ao Senhor Sousa Lara nas condicções expressas por
V.as Ex.as na sua carta de 19 do corrente.
Se envio as canas é porque os agentes da Empresa Nacional reconsideraram no preço do frete, depois de eu lhe ter escripto
pedindo-lhe para me dizerem por escripto qual o preço do frete mandando-lhe juntamente a sua carta de 19 do corrente; o
resultado foi não me escreverem mas mandaram um empregado superior da agencia, dizendo-me que tinha sido engano do

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empregado que me tinha dado a informação e que o frete era simplesmente 9000 reis por 1000 kilogramas e mais 10%!! Ora
vejam os meus amigos a differença e isto não foi devido senão ao ter-lhes mostrado a sua carta. Desta forma a importancia será
mais que sufficiente para a compra de 2000 kilogramas de // [46] canna e suas despezas.
Junto encontraram o seu cheque sobre a agencia aqui do Banco de Portugal do valor de 70$000 reis, como do seu desejo.
Ficará em meu poder a importancia de 100$000 reis enviados pelo Senhor Sousa Lara, e no final da remessa lhe enviarei
conta detalhada.
V.as Ex.as me desculparam qualquer falta, por duas razões – 1ª porque os meus afazeres não me permittem ser muito exacto
na pontualidade em lhe escrever e a 2ª como sou technico e não commerciante, muitas vezes poderei sem querer não seguir á
risca as praxes commerciaes.
Seu com toda a estima
De V.as Ex.as Attencioso Venerador Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA:1 de Março de 1907


DESTINATÁRIO: Comp.ª Comercial de Angola; LOCAL: Angola]

[47] 1 março 907


Ill.mos Ex.mos Senhores Comp.ª Commercial de Angola
Amigos e Senhores
Recebi a carta de V.as Ex.as com data de 23 janeiro proximo passado e juntamente um saque do valor de Reis 100$000 sobre
o agente os Senhores Francisco Rodrigues & C.ª, do Banco Nacional Ultramarino, aqui no Funchal, o qual já recebi, para a
compra e despesas de 2000 kilogramas de canna Yuba por conta do Senhor Sousa Lara.
Junto encontraram o conhecimento do dito carregamento que segue no vapor “Lusitania”, para ser descarregado no Lobito.
Peço a V.as Ex.as para lhe enviarem o mais breve possivel essas cannas ao Senhor Sousa Lara, a quem escrevo por esta mesma
mala, para não dar tempo a que se estragem com uma demora muito longa.
Os fardos teram a marca C. C. A – Lobito 14 volumes
Com toda a consideração me subscrevo
De V.as Ex.as Attencioso Venerador Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA:1 de Março de 1907


DESTINATÁRIO: Sousa Lara; LOCAL: Benguela, Angola]

[48] 1 março 907


Amigo e Senhor Sousa Lara
Tenho em meu poder a sua carta de 22 janeiro proximo passado
Recebi da Comp.ª Commercial de Angola uma carta com data de 23 Janeiro proximo passado acompanhada de um saque
do Banco Nacional Ultramarino a minha factura[?] do valor de 100$000 reis para a compra e despezas da remessa de 2000
kilogramas de canna “Yuba” como do seu pedido, e que são embarcadas por este mesmo vapor “Lusitania” que passa aqui a 3
do corrente para descarga no Lobito consignada a Comp.ª Commercial de Angola, da qual receberá as ditas cannas.
A conta das despeza [sic] totais das 2 toneladas de canna aproximadamente, não lhe enviarei por esta mala por isso que não
terei tempo naturalmente de as recolher a tempo. Estou fazendo toda a deligencia de as enviar o mais bem acondicionadas
possivel, mas seram enfardadas, para lhe evitar meiores despezas.
As cannas já teriam podido seguir no outro vapor, mas a agencia aqui da Empresa Nacional exigiam-me o frete pago por
tonelada metrica e não por tonelada pezo. Mas devido a uma carta que me enviou a sua Casa de Lisboa fazendo referencia a
essa exigencia, reconside-//[49]raram (o que fizeram muito bem) e fazem-me o preço do frete a 9000 reis por 1000 kilogramas
e mais 10%, em quanto que o preço que elles me pediam antes era de 13$000 reis por metro cubico e mais 10%!!
Como bem pode ver, para zelar os seus interesses não podia enviar as cannas em comdições tão onerosas.
O meu amigo desculpará a minha falta em lhe escrever a tempo, mas com[sic] muito bem sabe é n’esta épôca que tenho
mais que fazer, e se me podesse fazer em dois não seria demais. Mesmo esta escrevo-lhe á pressa
Estou sempre às suas ordens, e considere-me Seu Amigo Certo e Obrigado
[Ass:] João Higino Ferraz //

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N.B. A carga vai com a marca C.C.A. – Lobito e são 14 volumes
O pezo liquido das cannas 1950 kilogramas
O peso bruto 1990 kilogramas[Ass:] Ferraz //

[DATA: 8 de Março de 1907


DESTINATÁRIO: Sousa Lara & C.ª; LOCAL: Lisboa]
[50] 8 março 907
Ill.mos Senhores Sousa Lara & C.ª
Amigos e Senhores
Junto encontraram a Conta das despezas e decomentos referentes á remessa da canna Yuba enviada ao Senhor Sousa Lara
de Benguella.
Por este corrêo devem receber o saldo da importancia enviada pelo Senhor Sousa Lara no valor de Reis 100$000, cujo saldo
a seu favor é de Reis 22$555
Desejava V.as Ex.as me enviassem recibo d’essa importancia.
Sempre as suas ordens subscrevo-me de V.as Ex.as Attencioso Venerador e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA:8 de Março de 1907


DESTINATÁRIO: Sousa Lara; LOCAL: Benguela, Angola]

[51] 8 março 907


Amigo e Senhor Sousa Lara
Envio-lhe junta a Conta da despeza que fez a sua canna “Yuba” que lhe enviei pelo Lusitania, copia da que envio á sua casa
em Lisboa, á qual lhe remetto o saldo que restou dos 100$000 reis que me mandou.
Todos os decomentos ficam n’esse caso em poder dos Senhores Sousa Lara & C.ª de Lisboa
Estimo que a canna chegasse em bom estado.
Seu Amigo Certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[52] 8 março 1907


Conta de despezas com a remessa da canna “Yuba” enviada ao Senhor Sousa Lara pelo “Lusitania” para Lobito
Reis
Custo da canna: 1950 kilogramas a 20 reis ..............................39 .........000
Frete ao “Luzitania”, 9000 reis por 1000 kilogramas e
mais 10%, conhecimentos e sellos............................................19 .........970
Um telegramma á firma Sousa Lara & C.ª ............................................835
Corda, barbante e verga de ferro ............................................................470
Despeza de empaque, um homem 2 dias....................................1 .........200
47 metros de linhagem................................................................9 .........400
Carrete até ao Cabrestante de 14 volumes..................................1 .........500
Frete do Cabrestante até o “Luzitania”.......................................3 .........300
Despacho da Alfandega ..............................................................1 .........480
Portes de cartas .......................................................................................125
Transferencia do saldo (val do corrêo)...................................................165
Total...........................................................................................77 .........445
Salvo Erro ou Omissão[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 22 de Julho de 1907


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[53] 22 julho 907
Amigo e Senhor Henrique
As suas felicidades é o que primeiro lhe desejo.

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Monsieur Naudet183 aqui esteve na Fabrica hontem e hoje, e verificamos com elle todos os planos da diffusão, que a meu vêr
está perfeitamente deliniado e em boa ordem, sem nos embarassar em nada com relação á sua montagem.
Combinei com elle todos detalhes de montagem da diffusão, triple, e Freitag (cuite), e elle aprovou tudo conforme tinhamos
combinado. Se alguma deficuldade se dêr na montagem ou alguma duvida que tenhamos sobre o assumpto elle pedio-me para
lhe escrever emediatamente. Mas como por emquanto, e isto durante talvez dois mezes, sô preparamos o terreno para a
montagem, na minha vinda de Lisboa, se principiará na montagem dos apparelhos que venham chegando. Logo que terminou
a laboração principiei com a desmontagem dos apparelhos que despensamos, e com o desaterramento para a montagem da
diffusão.
Moemos a canna para alcool aproveitando todos os Petit eaux e hoje principiei na destillação da dita. O grau de paragem
foi 0º Beaumé, com uma acidez inecial de 1,3 e final de 1,8 gramas por litro, o que é o melhor possivel. //
[54] Quanto ao rendimento final da fabricação é como se segue:
Calculo aproximado: (aprovado por Monsieur Naudet);
Assucar na Canna – 12.500 kilogramas
Assucar 1er jet produzido .............8.695 kilogramas %
Dito 2e jet a retirar ...............................................0.040
Assucar no melaço e Petit eaux ............................3.037
Perda no bagaço ...................................................0.200
Perdas indeterminadas .........................................0.528
assucar % canna ..................................................12.500
O assucar dos Petit eaux enviado á destillaria, fazendo o calculo pelo rendimento em alcool, foi de 0,42 kilogramas por %
canna. A quantidade de alcool retirado dos petit eaux total, foi de 13030 gallões a 100º a 15 temperatura.
O calculo final ou rendimento rial sô poderá ser feito depois de turbinado o 2º jet, no qual principiamos hoje a trabalhar.
Por emquanto mais nada tenho a lhe dizer de importante
Monsieur Naudet disse-me para lhe dar uma nota do mais que seja necessario em apparelhos para a instalação, mas eu disse-
lhe que seria melhor ver isso depois da minha volta de Lisboa, porque mesmo é necessario combinar consigo antes de tudo.
Seu Amigo certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA:16 de Setembro de 1907


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[55] 16 setembro 907
Amigo e Senhor Henrique
Aqui cheguei no dia 14 ás 3 horas da tarde pelo vapor Insulano como já sabe.
Encontrei já bastante trabalho feito; a caldeira de vacuo já estava no seu logar e os melaxeurs. Vamos principiar na
montagem do triple. O que eu desejo primeiro que tudo é ter os apparelhos nos seus competentes logares e despostos
regularmente, e depois principiaremos na ligação dos tubos pela sua ordem, e desejava ver se é possivel que, quando chegasse
o Baerlein termos o triple e caldeira de vacuo montados definitivamente para podermos ver melhor o que é necessario de
canalisação que elle tenha que fazer. Quanto á diffusão é que naturalmente não está nada feito na sua chegada, visto não termos
recebido o material.
Acabo de combinar com o Marsden para transferirmos a viagem do Baerlein por mais 15 dias de forma que, quando elle cá
chegasse já tivessemos o triple e caldeira de vacuo montados, porque de nada servia elle aqui chegar e nada poder ver do que
tem a fazer de tubos para o triple e caldeira de vacuo: Não lhe parece isto muito mais conveniente? Verdade é que para o
melaxeur fermé se perde // [56] um tempo precioso mas logo que elle chegue pode principiar pelo melaxeur e enviar para Lisboa
as suas ordens de forma a darem principio aos trabalhos do dito.
Quanto á diffusão o que o Baerlein tem a fazer será de pouca importancia, e depois lhe enviaremos as medidas para os tubos.
Com relação ao material que já chegou acho-o em rasoaveis condicções de conservação visto ser material de segunda mão
o que sinto é, ter o Naudet184 dito que qualquer peça que estivesse em mau estado seria concertada em França, e vejo que temos
uns concertos a fazer aqui, ainda que de pouca monta, mas tudo isto é tempo que se perde.
Sem assumpto para mais subscrevo-me Seu amigo Attencioso e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA:3 de Outubro de 1907

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DESTINATÁRIO: Dr. Julio Mendes]
[57] 3 outubro 907
Ill.mo Senhor Dr. Julio Mendes

Amigo e Senhor
Como ficou combinado entre nôs, vou dar-lhe parte do resultado do meu tratamento pelo receitoario de V.a Ex.a.
Principiei a usar o tratamento pela homocopathia no dia 18 setembro do corrente, tomando uma globulo [sic] de cada vidro
(3) de duas em duas horas, e calculo ter remedio ainda para 4 ou 5 dias: Verdade é que sô tenho tomado nas 12 horas diarias.
Os resultados que tenho tirado são bons, visto ter menos dores na perna quando ando. Contudo quero fazer notar a V.a Ex.a
que, tendo usado o tratamento por fricções mercuriaes em Vozella, não sei por emquanto a que atribuir as progressiveis
melhoras: Será devido ao tratamento mercurial? Será ao tratamento homocopathico? V.a Ex.a melhor poderá avaliar. O que
posso bem contastar[sic] é que, no anno passado usando o tratamento mercurial as melhoras não se assentuarão tanto como este
anno: será por ser o 2º anno de tratamento? Peço V.a Ex.a se não escandelisará com estas minhas observações, porque sô tem
por fim elucidar bem V.a Ex.a.
Passo a responder-lhe ao questeonario que V.a Ex.a me fez por escripto para lhe responder:
Volte //
[58] Volume do membro: Antes de dar principio ao tratamento o diametro da perna era 305 milimetros hoje é de 305
milimetros.
Dores: Muito menos, é somente quando ando, e posso sustentar umas marcha [sic] mais longa. As dores são localisadas
somente nas parte [sic] intumescidas do ôsso extendendo-se depois de um certo tempo de marcha sobre os musculos superiores
do pé.
Febre: – Nenhuma
Dores de cabeça – idêm
Potencia funccional: Quase normal
Inflamação dos tecidos: Muito menos ainda mesmo forçando o andamento.
Peço a V.a Ex.a para me prescrever o seguimento do tratamento e enviar-me os medicamentos necessarios acompanhados
da respectiva conta, e a forma de os usar.
Seu com toda a consideração de V.a Ex.a Attencioso Venerador Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz.Director technico da
Fabrica de assucar e destillação de William Hinton & Sons.Funchal Ilha da Madeira //

[DATA: 17 de Outubro de 1907


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[59] 17 outubro 907
Amigo e Senhor Henrique
Recebi a sua carta com data de 12 do corrente, que muito lhe agradeço.
Lendo a sua carta parece-me ver que o Senhor Henrique não comprehendeu bem o que eu disse sobre a rehentrada das aguas
na bateria: Eu comprehendo perfeitamente que a edêa do Naudet185 é boa d’esde o momento que toda a agua seja devidamente
alcalinisada, e é exactamente isso o que o Naudet diz. A minha deficuldade era simplesmente, o tempo, mas vamos vêr se
poderemos montar de forma a fazer esse trabalho. Verá pela copia da carta que envio ao Naudet, que lhe fasso a incommenda
de duas bombas centrifugas proprias a fazer a introducção directa das aguas na bateria de diffusão.
Pela a terugem das aguas dos engenhos aos tanques de alcalinisação, temos uma que nos servio este anno, e vamos mandar
vir uma um pouco meior para as aguas do moulin de repression.
Aguas amoniacaes: – Quanto á bomba de aguas amoniacaes podemos despensar: já temos auctorisação das Obras Publicas
para podermos deitar as aguas condensadas do triple na Ribeira de Santa Luzia, e n’esse caso vou montar o systema marais para
a extracção das aguas do triple, que é um trabalho muito mais regular.
Rechauffeurs: Temos os suficientes para a bateria de diffusão, mas como sabe temos que aquecer as aguas da bateria pela
2ª caixa do triple, e necessitamos n’esse caso de dois rechauffeurs para ellas: telegraphamos hoje ao Naudet a ver se elle nos
compra dois de occasion e no caso de não haver, o Baerlein // [60] vamos fazer dois de capacidade egual aos que cá temos, e
sobre os quaes elle já tirou os desenhos e medidas. Diz elle que nos pode entregar em janeiro proximo o que da tempo bastante
para montal’os.

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Filtros Fillippe: como verá pela carta do Naudet faço-lhe a encommenda de pano proprio para os filtros, que tanto faz que
venhão com os filtros ou não, porque sempre teremos que pagar os direitos. O Barros disse-me que não era possivel fazel’os
passar sem pagar direitos visto ser tão grande quantidade.
Selenifuge: Estou preparando o Echantilon da agua para enviar e todas as indicações por elles pedidos. O Engenheiro é que
me disse que isso não servia para nada.
Já principiei com as fermentações do melaço. Ainda temos alcool bastante, mas é necessario despejar o poço que fica sobre
as caldeiras para abaixar[?] a parede.
O triple já está quase montado e estou á espera dos tubos de cobre para concluir as ligações. O trabalho vai correndo regular
e rapido: a diffusão logo que chegue vamos principiar na sua montagem, porque os assentamentos das columnas estão quasi
promptos. É esta parte da montagem (Diffusor) que nos levará mais tempo, mas com a ajuda de Deus tudo se fará.
Parabéns pela conclusão final do informe do T.S.[?]
Sem mais sou com toda a consideração
Seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 16 de Maio de 1908


DESTINATÁRIO: António?]
[61] 16 maio 908
Meu Caro Antonio
Recebi a tua carta registada com data de 9 do corrente, hontem ás 4 horas da tarde, e sô hoje te respondo porque quis ler
com attenção tudo quanto dizias, e mesmo porque não haverá vapor para Lisboa senão amanhã.
Dou-te os meus parabens pelo bem feito relatorio, que apenas o li uma vez, mas fez-me muito boa imperção.
Pela leitura d’elle, vejo as boas condicções em que está a propriadade para se fazer d’ella um modelo: Mas pergunto eu;
teram elles coragem para gastar o dinheiro necessario para a pôr n’esse estado?
Quanto a mim vou principiar nos meus considerandos, em vista das respostas aos quisitos, que não sendo tão completos
como esperava, ainda assim alguma cousa se pode fazer.
O que estou é admirado com a fraqueza em assucar da canna, ainda que a sua pureza (86º) é muito boa, mas não contendo
a canna mais de 10,5% em assucar não posso comprehender como elles tiram por hectolitro 4500 a 5000 kilogramas d’assucar
de 1er jet.
Ora calculando uma produção media de 70 toneladas de canna por hectare, e contendo esta canna 10,5% em assucar será
por hectar 7350 kilogramas assucar total: Com uma extracção sô de 1er jet, e com o fabrico não aperfeiçoado, como podem
elles tirar 5000 kilogramas?! É uma extracção de quasi 70%, o que não é possivel.
Empregando a diffusão e apparelhos e processos aperfeiçoados o maximo que se poderia tirar em assucar total seria uns
80%, que daria por hectare 5880 kilogramas //
[62] Não farei um relatorio como tu porque não tenho os dados suficientes para isso, serão apenas considerandos.
Meu caro Antonio, não estou disposto a dar conselhos sem ter a certeza de que alguma cousa posso fazer com elles; trabalhar
de graça é que não estou por isso, e tu comprehendes perfeitamente.
Conto ir a Lisboa em Julho, e por conseguinte em Agosto depois, da minha vinda das aguas, lá estarei contigo e o Conde.
O teu relatorio hirá commigo e junto os meus considerandos que os farei copiar á machina; mas se por acaso necessitares
d’elle eu t’o mandarei, e mesmo se por uma infelicidade qualquer não poder hir a Lisboa tambem os mandarei.
Quanto ao que me dizes com relação ao motor a Gaz pobre para uma Fabrica de assucar nem é bom pensar n’isso, e depois
te direi porque.
Meu Caro Antonio, aqui fico sempre ao teu dispor, e recebe um abraço do teu verdadeiro Amigo e Obrigado[Ass:] João
Higino Ferraz //

[DATA: 20 de Julho de 1908


DESTINATÁRIO: Bardsley]
[63] 20 julho 908
Meu Caro Amigo e Senhor Bardsley
Devia á mais tempo lhe ter escripto, mas que lhe havia de dizer? Naturalmente o mesmo que o Senhor Henrique lhe tem
dito, e como nada havia de novidade technica por isso me tenho abstido de escrever. Mas agora como vou partir para Lisboa

126
no dia 27 do corrente, e como sei que deve estar aqui nos meados de Agosto, vou partecipar-lhe como daxei as cousas que estão
a meu cargo.
Alcool: Está tudo completamente cheio, isto é, temos aproximadamente 41000 gallões d’alcool, parte retificado e parte por
retificar. No caso do meu amigo ver que o alcool retificado que temos em stock não dê para as encommendas é simplesmente
dár as suas ordens ao João das Luzes para elle retificar ou de 1ª ou de 2ª: Elle sabe bem o que tem a fazer.
Melaço: Terminei as fermentações logo que findou a laboração, e ficou-nos aproximadamente uns 600.000 kilogramas de
melaço. Hirá para Lisboa? Por emquanto nada sei com relação a este negocio, mas parece-me que nada está rosolvido. O que
eu vejo é que em outubro tenho de principiar novamente as fermentações; mas com que melaço? Com o nosso ou com
Importado? É por isso que é de grande vantagem resolver o mais breve possivel este negocio.
Cosimentos de 2º jet: Tenho já feitos uns 12 cosimentos dos égoûts não epuissée, mas como não tenho espaço onde deite
mais tive que parar. Calculo ter outros tantos para dar, mas é necessario turbinar primeiro estes, para depois // [64] poder
continuar com o trabalho. João Martins fica encarregado de lhe participar logo que os cosimentos estajam frios, para se proceder
á turbinagem. Calculo que até ao fim de agosto elles estajam bons.
Trabalhos mechanicos: Já dei principio ás modificações que temos a fazer para a proxima Laboração, isto na parte que me
diz respeito, quanto á outra parte ficará naturalmente para quando o Engenheiro chegar. O que eu já disse ao Senhor Henrique
e torno a repetir, é que temos grande vantagem em montar um forno “Huillard” para a seccagem do bagaço visto não fazermos
a venda d’elle. O gasto de combustivel este anno foi bastante elevado, quasi 70 kilogramas por tonelada de canna, quando
deveria ser somente de 55 a 60 kilogramas, e estou certo que podemos chegar a este resultado logo que se possa queimar o
bagaço com 30 a 35% d’agua em logar de 55% como foi a media de este anno.
Rendimento da canna: O rendimento da canna este anno foi na media de 8,312 kilogramas % em 1er jet, mas a media do
assucar na garapa foi de 15,38% assucar em quanto que em 1907 foi de 16,22%. Pelos meus calculos o rendimento foi tão bom
ou talvez melhor do que o anno passado.
Aproveito a occasião para lhe agradecer o emprestimo do seu cavallinho, que muito me tem servido, visto me estár doendo
um pouco a perna. O Marouto percisa é um pouco de ensino, porque está muito mal-criado. Quanto aos seu estado phisico é
bom, está bem tratado e limpo.
Sem assumpto para mais receba um abraço do seu Amigo certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz
P. E.[sic] Os meus respeitosos cumprimentos a sua Ex.a Esposa e que faço votos pelas suas melhoras. //

[DATA: 21 de Setembro de 1908


DESTINATÁRIO: León Naudet]
[65] 21 setembro 908
Meu Caro Senhor Naudet
Conforme o que combinamos, escrevo-lhe em Portuguez, o que me desculpará.
Não estou bem certo se o Senhor Henrique Hinton já lhe teria pedido as dimenções e o do compensador fechado para a
bateria de diffusão; se o não fez pedia-lhe para m’o enviar o mais breve possivel. Quanto ás torneiras-valvulas que vamos
montar este anno para a agua pura vão ser feitas em Lisboa
para evitarmos os direitos que são muito ellevados. A
forma como vou montal’as é como o Schma abaixo:

DESENHO P4270020.JPG

Quanto ao vosso novo systema de “Reglage de la


DESENHO P4270020.JPG
baterie á Vitesse Uniforme” já está montado e espero
receber a vossa aprovação; O Schema é o seguinte:
Em falta
DESENHO P4270021.JPG

Há um assumpto bastante importante e sobre o qual eu


desejo o vosso conselho. Como sabe com a nossa // [66]
montagem actual, o épuissement dos égoûts é difficil de

127
fazer, por varias razões, que vós conheceis perfeitamente; Eu proporia ao Senhor Hinton a modificação conforme o Schema
junto.
Contudo ainda que o Senhor Hinton não possa acceitar, por razões economicas, esta completa modificação eu desejava
modifical’a em parte, isto é, todos os égoûts ricos dos malaxeurs hentrarem juntamente com o vesou na sulfitação e na bateria
de diffusão: É sobre este ponto que eu desejo ouvir o nosso conselho.
D’esta forma já o épuissement dos égoûts teria muito a ganhar.
Como o Senhor Hinton vai a Paris o meu amigo poderá conferenciar com elle a esse respeito
Estou sempre ás suas ordens
O seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 23 de Setembro de 1908


DESTINATÁRIO: León Naudet]
[67] 23 setembro 1908
Meu Caro e Senhor Naudet
Depois de vos ter escripto a minha carta com data de 21 do corrente, pensei ainda sobre o importante assumpto da sulfitação
e filtração dos égoûts pauvres de 1er, e é minha opinião que, para evitarmos uma montagem custosa e complicada, poderiamos
empregar a Hydrosulfitation dos ditos égoûts, evitando n’esse caso o apparelho de sulfitação continuo de “Quarez” e a
montagem de bomba e mais acessorios. Para o emprego do Hydrosulfito bastaria naturalmente o melaxeur que temos, onde
fazemos a refundição do assucar quando refinamos, e simplesmente teriamos de adquerir os filtros de area. Esta forma de
trabalho faria uma economia de 50% aproximadamente na montagem do processo, e talvez com melhores vantagens, não lhe
pareçe?
Espero a sua judiciosa opinião
Seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 14 de Outubro de 1908


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[68] 14 outubro 908
Ill.mo Amigo e Senhor Henrique
Como escrevi a Monsieur Naudet186 sobre o assumpto que lhe vou espôr, consultando-o, e pedindo-lhe que quando o Senhor
Henrique fosse a Paris lhe fallasse sobre isso, vou tambem dizer-lhe a minha maneira de vêr com relação ao trabalho das masses
cuites de forma a obter um melaço perfeitamente épuissé, e alem d’isso o entrar na sulfitação da garapa os egoûts riches e n’esse
caso na bateria de diffusão. Pela forma como se tem operado até hoje, os pés de cuite para os malaxeurs no vacuo eram sempre
feitos com a masse cuite virgem, e os égoûts pauvres de 1ª, isto é, os égoûts da masse cuite virgem, entravam nos malaxeurs no
vacuo para nutrir os cristaes do pé de cuite. D’esta forma é mais dificil o épuissement dos égoûts como bem se comprehende.
Alem d’isso estes égoûts são impuros, e para que o trabalho d’elles seja bom necessitão uma apuração e filtração mechanica.
Os egoûts riches ainda que mais puros não o são contudo completamente, e o meu fim é fazel’os apurar; é facilima essa
apuração, fazendo-os correr no sulfitador da garapa juntamente com essa, e como a dita garapa leva cal e baryte e é filtrada
sobre o bagaço, os égoûts invariavelmente tem que sofrer a mesma operação que a garapa e o resultado será magnifico.
Simplesmente na soutiragem do jus teremos que tirar de cada diffusor mais 1 ou 2 Hectolitros de jus correspondente aos égouts
entrados.
A modificação proposta seria (como se vê pelo Schma junto) a // [69] hydrosulfitação dos égoûts pauvres de 1ª e a filtração
em filtros de area: Os egoûts assim apurados seriam cosidos em grão na caldeira de vacuo pequena e serviria esse cosimento
para formar o pé de cuite para os malaxeurs no vacuo. O excedente dos égoûts apurados hiriam alimentar o malaxeur de 75
Hectolitros, e os égoûts pauvres d’este, alimentavam o malaxeur de 100 Hectolitros; os égoûts pauvres do malaxeur de 100
Hectolitros seria melaço perfeitamente épuissée, e estou certo que em menor quantidade por 100 de canna.
Por esta forma de proceder estou certo teríamos assucares mais brancos e puros e evitava-se as reclamações dos refinadores
de Lisboa e Porto sobre os nossos assucares, que dizem elles os xaropes feitos com alguns d’esses assucares são dificeis de
filtrar; é a única desvantagem que elles encontram.
A única despeza a fazer seria a aquisição de dois filtros a sable de construcção moderna. Ora esta despeza, estou bem certo,
seria altamente compensada com as vantagens do processo.

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Para a dissolução dos égoûts e hydrosulfitação temos o malaxeur redondo que servia para a refonte do assucar quando
refinavamos e que está montado.
A hydrosulfitação pode ser feita de duas formas:
1º Empregando o acido sulfuroso liquido e juntando-lhe o pô de estanho o qual desprenderia o hydrogenio formando o
hydrosulfito.
2º Empregando hydrosulfitos cristalisados taes como o Blankite ou outro, o que seria mais facil que o 1º.
Como vê o processo é facil e pouco despendioso e as vantagens são grandes.
Sem mais sou seu Attencioso Venerador e Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 9 de Dezembro de 1908


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[70] 9 Dezembro 908
A proposito da Carta de Naudet187 de 17 do corrente:
Primeiro terei de lhe fazer lembrar que a minha edêa da filtração dos égoûts de 1ª, isto é, os égoûts da Masse Cuite virgem,
sendo previamente tratados pela hydrosulfitação, era em filtros de area systema Reinecken.
Naudet propõe um filtro de seu systema onde emprega a mestura de area com massa de papel, isto é, Filtre á pate[sic] de
papier systeme E. Perrin modificado.
Que posso eu dizer sobre este assumpto?
Fazer-lhe lembrar simplesmente que já em 1907 fizemos uma experiencia com xarope, com o filtro do Cossart que trabalha
com amianto, que é pouco mais ou menos como pasta de papel e que não houve meio de filtrar. Empregando a arêa ou carvão
animal a filtração será melhor? Nada posso dizer sobre isso.
O que me parece, no caso do Senhor Hinton querer fazer a esperiencia d’esse systema de filtro, era empregal’o na filtração
dos xaropes do Triple, mas sempre montar a filtração sobre area pelos filtros Reinecken que quasi tenho a certeza de dar o
resultado desejado, segundo as esperiencias que fiz no laboratorio com um pequeno filtro que mandei fazer.
Acho de tal importancia o tratamento dos égoûts de 1ª, que não desejava perder um anno em esperiencias. Alem d’isso, como
sabe, os filtros mechanicos que temos, trabalhando // [71] diariamente 300 a 320 toneladas de canna apenas dão para a filtração
do jus de diffusão, ficando o xarope por filtrar, e n’uma Fabrica de assucar, as filtrações repetidas nunca são de mais.
Sendo como eu digo podem-se fazer as esperiencias que se quiserem sem prejudicar o trabalho corrente da Fabricação[Ass:]
João Higino Ferraz //

[DATA: 28 de Junho de 1909


DESTINATÁRIO: León Naudet]
[72] 28 Juin 909
Mon Cher Monsieur Naudet
Excusez moi se je n’ai pas pu répondre de suite á votre lettre (á Monsieur Hinton188) traitant de la nouvelle marche pour la
batterie, mais vous savez combien il este quelquefois difficile en fabrication de faire ce que l’on desire.
Comme vous, je crois que la façon de faire da reconstitution avec le jus de diffusion nous donnerá un meilleur épuisement,
tant en conservant une marche au moins aussi rapide.
La seule raison qui m’a empeché jusqu’alors de faire l’essai c’est l’insuffisance des réchauffeurs. J’ai decidé avec Monsieur
Hinton qu’on y consercrera[?] les derniers jours de la fabrication, en ce moment c’est impossible, il entre tous les jours 300 a
400 tonnes de cannes trés mûres qu’il faut ecraser au plus vite. De plus les mecaniciens sont trés occupés et demandent plus de
temps pour faire le changement des tuyauteries.
J’espere pouvoir vous annoncer un succes, que dans ce cas nous rendrais de tres grands services surtout á cause la nouvelle
convention à passer avec Monsieur Lemos189.
Je profite de cette même occation pour vous dire que nous en sommes des essais de filtration.
Pour les filtres cylindriques, leur construction a ete longue, enfin deux sont installés dans le bac carré pris du triple-effet. Il
y a quelques jours nous en avons essayé un. La filtration à duré environ 40 minutes mais le liquide à passé louche, le travail du
filtre ne s’est pas amelioré avec l’accroissement du temps de marche. Je suppose qu’il aura été mal mis en place ou deplacé
légerement et que du sirop nom filtre este venu gâter le resultat obtenu. Nous aller recommencer cette semaine.
Quant aux filtres, à cadre ce sont les plus en retard, l’ouvrier chargé de faire les cadres est trés souvertt derange // [73] de

129
son travail pour les reparations delicates et urgentes, neammoins plusieure sont faits et je vais essayer d’abord le remplissage
par en haut comme nous l’avons convenu ensenble si l’operation reussir bien j’essaierais de filtrer.
Comme je nous le dis plus haut je compte beaucoup sur la derniere semain pour tous ces essais, car alors nous n’aurons plus
la crainte de laisser les cannes s’alterer, comme celá se produir actuellement au moendre arrêt avec le magasin plain de cannes.
Il faut que vous nous accordiez encore une semaine ou deux de repit avant que je puisse vous donner des renseignement
detailles sur ces interessants questions.
Votre ami bien devoué[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 5 de Julho de 1909


CARACTERIZAÇÃO: Considerações acerca da coluna barométrica, má formação de vacuo, etc., cujo destinatário será,
porventura, León Naudet]

[74] 5 Juillet 909


Colonne barométrique – Vide
A mon opinion les seules difficultés existantes pour obtenir um bon vide de 28 pouces sont parfaitement determinées, si la
colonne barometrique et la pompe sèche travaillent d’une façon normale c.a.d. si la partie où se fait la condensation des vapeurs
et les chicanes sont en bon état de fonctionnemant.
Ceci posé, mon avis est que la seule cause de la mauvaise formation du vide est due aux raisons suivantes.
1º) Le volume d’eau nécessaire a la condensation des vapeurs produites par le triple-effet, les cuites, est trés grand, parce
que le réfrigérant ne refroidi plus l’eau qu’à 30º, il est alors nécessaire, d’avoir un plus grand volume d’eau que lorsqu’on
travaille avec l’eau du torrent et du vac qui peut avoir au maximum 17º. Il est nécessaire que le volume d’eau à 30º soit presque
double de celui nécessaire avec de l’eau a 17º.
2º) Le condenseur ayant une surface déterminée pour de l’eau á 17º et cette eau occupant un volume bien défini, les chicanes
divisent bien l’eau, ansi les vapeurs produits par les divers appareils et qui sont appelées au condenseur par le vide produit par
la pompe sèche, rencontrant l’eau finement devisée, se condensent facilement et maintiennent bien le vide produit.
3º) Mais quand nous avons une eau refroidie seulement a 30º, le volume d’eau pour produire la même condensation étant
plus grand, comme nous l’avons dit plus haut, l’eau cesse d’être bien divisée (condition indispensable d’un bon condenseur)
par les chicanes et passe en masse, parce que l’espace où se fait la division de l’eau est trop petit. Il en resulte que les vapeurs
non condensées immédiatement s’acoumulent dans la partir inferieure du condenseur et empèchent la formation du vide et par
cela même de la colonne barométrique. C’est pour cette raison que dans certains // [75] cas, le vide descend d’abord a 24º, se
alors l’equilibre entre l’eau et le vide vient a cesser brusquement les vapeurs traversent le courant d’eau, se condensent et le
vide monte a 26 et 27, et comme il se reforme de suite une nouvelle accumulation de vapeurs le vide baisse de nouveau a 25.
Ceci se voit bien par la température de l’eau de la colonne [.] Souvent le vide étant à 26-27 l’eau est à 55º-56º, d’autres fois le
vide est à 24º-25º et l’eau à 40º 45º le contraire devrait se produire.
Avons la mise en marche du refrigérant, quand on avait assez d’eau d’etait necessaire pour avoire une bonne condensation
de toutes les vapeurs de mettre toute l’eau possible tant du torrent que du bac et ces deux eaux représentaient certainement un
grand volume d’eau à 17º. Quel volume será necessaire avec de l’eau á 30º?
A mon avis la seule maniere d’éviter tout cela será le montage d’une nouvelle colonne ou l’agradissement de celle existante
et l’augmentation du refrigerant établé cette anné en le portant à une capacité d’au moins 50 litres par seconde. Le refrigerant
actuel est de 35 litres par seconde.[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 12 de Julho de 1909


DESTINATÁRIO: León Naudet]
[76] 12 Juillet 909
Mon Cher Monsieur Naudet
J’ai bien reçu vous lettres de 2 et 4 de juillet.
Batterie de diffusion: – L’essai de la nouvelle marche a été fait à deux reprises différantes.
Pour les maneuvres il n’y a pas en difficultes.
Mais il s’est produit une chose que rien ne pouvait faire soufconur[?]. Le compensateur pendant la réconstitution avec le jus
se vide[?] plus vite que la batterie ne le remplir de sorte qu’a la fin on manque de jus[?].

130
Le tuyau d’espiration (connu le montre se Croquis)

DESENHO P4280002.JPG

dans le compensateur est [...] environ 40


centimètres du fond, le liquide arrivant ce niveau la
pompe [...] prend plus. Si cette aspiration était au fond
ou presque au fond, le meichage serait terminé avant
que le conpensateur soit vide et comme a ce moment
tout le jus riste au compensateur, son remplissage se fait
tres rapidement. Il este malhaireusement impossible oú
changer cette tuyauterie actuellement.
Une outre chose c’est que tout le jus arrivant par le bas toute la bagasse est en suspension, le tassement du diffuseur devient
presque impossible et d’autant qu’il sorte para la porte du dessus un grand volume de vapeur qui empeche les hommes de
bourrer, tellement cette vapeur sort avec rapidite. Il faudra donc renoncer à tasser et faire plus de diffuseurs.
A part ces deux inconvenients la batterie marche bien et je crois qu’il en sera de même ave[sic] un peu plus de vesou comme
ou ferá l’annce prochaine a couts de Monsieur Lemos190, et d’autant plus que la batterie marchant en deux sous batteries
conjuguées, l’une a l’outre soutire toujours au compensateur.
Pendant le peu de temps qu’on lá essayée // [77] j’ai remarqué que la défécation paraissait mieux faite sous cependant que
la marche de la baterie soit ralentie.
Filtres cylindriques: L’essai à été recommencé en prenant bien toutes les precautions.
Le filtre a été chargé en arrosant le sable, de façon a le tasser convenablement, le liquide dand le vac a èté maintenu à 5
centigrades en dessous du niveau superieur du sable.
Toutes les precautions ont èté faites pour que le joint dans le fond du vac ne perde pas.
Au dèbut le filtre à donné á plain toujour un sirop assez beau mais nom limpide. La filtration s’est ameliorie au pur et a
mesure que le debit déminuait mais ou n’est pas arrivé aux belles filtrations brilhantes obtennes au laboratoire.
La durée du filtre a été de 33’ [.] Le sirop etait á 20º Baumé bien réchauffe mais fortement glucose comme tous ces derniers
jours 10 a 11 de coefficient glucosique.
Filtres à cadres – Aussitot la fabrique arretée je vais essayer le remplissage des cadres em bois avec lá pompe, jusqu’ici celoi
m’a été impossible.
Agréer mon cher Monsieur Naudet, mes bien sincères salutations[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 25 de Setembro de 1909


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[78] 25 Setembro 909
Ex.mo Amigo e Senhor Henrique
Primeiro desculpará o meu silencio em não lhe ter escripto a mais tempo mas como desejava em uma sô carta dár-lhe a saber
tudo quanto lhe interessa e para o não encomodar sempre com cartas, sô agora o fasso uns dias depois da minha chegada aqui,
para lhe dar a saber o que está resolvido nas modificações a fazer na Fabrica para a proxima colheita.
Conforme os seus desejos e do Naudet191 foi a Paris, e com ele tive conferencias sôbre a forma de trabalho e montagem dos
apparelhos. Concordamos entre nôs sobre a forma mais racional e technica de o fazer concordando eu com elle e elle commigo
sobre diversas divergencias e formas de ver de nôs dois, em fim a viagem a Paris não foi perdida e estou certo que valeu bem
a pena fazel’a.
Tenho para com Madame e Monsieur Naudet e Lefebvre192 uma divida de gratidão pela forma cavalheirosa como foi tratado,
não se poupando em canseiras para me serem agradaveis, mostando-me em Paris o que há de melhor, e pelo que a minha
gratidão será heterna.
Como vi pelas suas cartas que faltavão encommendar alguns apparelhos taes como; – 3 filtros “Fillippe” – 1 rechaufeur para
o Kestner193 que Naudet concordou commigo ser necessario para o trabalho regular do apparelho, e um pequeno ballão á sahida
do Kestner para a destribuição do vapor de prelevement aos diversos evaporadores. O Kestner trabalhará a 1 kilograma a 1,200
kilogramas mas para que o aquecimento seja regular fiz encommendar uma valvula reguladora de vapor directo que poder-se-

131
há regular à perção desejada para que o homem // [79] encarregado da evaporação não tenha descuidos que poderiam ser
bastante prejudiciaes; alem d’isso o Kestner terá uma valvula de segurança para o caso de mau funcionamento do regulador,
evitando d’esta forma todo o perigo de explosão por escesso de vapor. O que porem me esqueceu, visto não ter á vista o meu
sechema, foi a valvula reguladora de sahida da garapa evaporada no Kestner, mas vou escrever ao Naudet por este mesmo
corrêo e fazer-lhe ver a necessidade d’ella, porque como o apparelho trabalha em perção, a sahida do liquido evaporado deve
ser regulada automaticamente não sei mesmo se o apparelho vem com esse regulador, em todo o caso vou lembrar ao Naudet.
A 4ª caixa do triple trabalhará como eu proponha, mas com o vapor de 2ª caixa, e o xarope da 2ª caixa entrará regulado na
3ª e 4ª, e a sahida do xarope da 3ª e 4ª será feito pela mesma bomba; comprehendi bem a forma da montagem, e a necessidade
d’ella dos dois primeiros rechaufeurs onde se deve fazer circular o vesou que será aquecido com o vapor da 2ª caixa, e concordo
plenamente com elle sobre esta modificação.
Emfim, tudo ficou bem regulado e se ainda algumas duvidas tiver combinamos em lhe escrever emediatamente.
Infelizmente não foi possivel ver fabricas de assucar de beterraba a trabalhar visto a colheita este anno estar retardada devido
ás chuvas extratemporaes o que vai dar causa ao pouco rendimento em assucar em toda a Europa, porque foi geral. Isto para
nós deve ser vantajoso porque naturalmente não haverá stock de assucar para proximo anno, e isto fará subir o preço, do que
podemos tirar vantagens das nossas vendas em Lisboa e Porto; é de toda a conveniencia trabalhar o maximo possivel. //
[80] Visitei contudo uma fabrica de Monsieur Eclancher em Saint-Leu-d’Esserent cuja fabrica regula pouco mais ou menos
pela nossa (300 a 350 toneladas), e cousa curiosa, a sua montagem está de tal forma acomolada de apparelhos e em tal
desposição que a nossa é-lhe superior em boa desposição. O que me ferio a attenção foi a forma de transmissão de movimento
feito por um sô motor de 150 cavallos que é a perfeição. Do resto apenas vi de novo o systema de compreção do vapor do jus
pelo processo Puache e Ruillon que é muito corioso, mas que sô serve para fabricas que teem pouco vapor exausto. Vi tambem
uma nova montagem de um malaxeur no vacuo para os cuites de 2er jet mas que trabalhará este anno pela primeira vêz.
Monsieur Eclancher foi amavel bastante e offereceu-se para me commonicar os resultados obtidos com esse malaxeur. De
qualquer malaxeur orisontal fechado se pode adoptar o processo, com a modificação requerida.
Esta fabrica emprega o processo de deffusão Naudet e carbonatação continua; tem tres caldeiras de vacuo. A alimentação
do triple é feita por bombas centrifugas assim como a extração das aguas amoniacaes, e xaropes, mas com motor eletrico.
Quando aqui cheguei combinei com o engenheiro a montagem do motor das bombas, e parece-me conveniente montar para a
alimentação do Kestner e triple bombas centrifugas “Schabaver” como em tempos lhe fallei, porque a bomba que temos não dá
para o trabalho proposto. Vou escrever ao Naudet sobre isto. //
[81] Como o Naudet me desse os planos para o novo condensador barometrico e ballão receptor dos vapores dos cuites e
triple, daxei ao Dargent194 em Lisboa para os fazer quanto antes, deixando contudo o ballão de ser colucadas as entradas do vapor
sem primeiro combinar com o engenheiro a melhor colucação a dár-lhe para evitar muito trabalho de tubagem. Tambem ficou
combinado o acrescentamento do compensador, e já mandei descravar o tampo superior para tomar as medidas exactas e lhes
mandar para elles fazerem a vírola para ser cravada aqui.
Os malaxeurs e cuite chegaram em boa ordem, assim como as 8 valvulas para a diffusão e vou principiar na modificação da
bateria de diffusão em duas como Naudet propoz.
Tudo quanto se tem passado em Lisboa commigo e o Senhor Bardsley elle deve-lhe ter participado por isso nada lhe digo.
O que achei atrasado quando aqui cheguei foi o alargamento da casa para a montagem dos malaxeurs e nova caldeira de
Vacuo, e já disse ao Mestre João Florencio que é necessario dar o meior desenvolvimento possivel a este trabalho. O que me
está embaraçando bastante é as modificações que temos que fazer nos cuites e ao mesmo tempo a fabricação do assucar do
melaço exotico!! Mas veremos a melhor forma de o fazer.
Quanto ao rendimento total da fabricação do corrente anno não lhe posso mandar ainda porque não tenho tempo desponivel
para fazer esse calculo.
Considere-me sempre seu Amigo dedicado e obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 27 Setembro de 1909


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[82] 27 Setembro 909
Senhor Henrique
Depois de lhe ter escripto a primeira carta é que pude ver qual a quantidade de alcool que tinhamos em stock, e vejo que é
pouco e não dará até vermos o melaço exotico, alem d’isso é necessario ter algum para desdobramento com aguardente de canna

132
que somente pode ser feito com alcool de melaço da canna da Madeira; devido a isso vou principiar as fermentações, mas antes
que as fassa foi hoje fallar ao Director da Alfandega, para elle me dizer se o posso fazer mesmo que recebessemos o melaço
exotico. Elle ficou de me responder hoje mesmo.
Contudo, o alcool fabricado do melaço da Madeira será separado do alcool do melaço exotico, e como temos dois tanques
vou deitar o da Madeira no tanque mais pequeno (7500 gallões) e o exotico no grande (22000 gallões), foi isto que combinei
com o Senhor Bardsley.
Fallei com o Jose de Sousa e elle disse-me que estava alimentando uma vaca com o molasscuite[sic] e que comia
perfeitamente sem lhe notar diferença para peor tanto no seu estado geral e producção de leite.
Seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 2 de Outubro de 1909


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[83] 2 outubro 1909
Ex.mo Amigo e Senhor Henrique Hinton
Algumas dificuldades tive com o Director da Alfandega para poder armazenar o melaço importado no tanque de ferro, como
tinha ficado combinado.
Elle dizia-me que o Senhor Hinton tinha pedido para armazenar no tanque de ferro o melaço da Fabrica e não o exotico, e
eu vi perfeitamente ser equivoco d’elle, por isso que ficou combinado entre nôs que seria o melaço exotico, e os ponches que
se despejassem serviriam para encher de melaço da Fabrica. O Director considerava o tanque como armazem alfandegado fora
da Fabrica para o melaço da Terra, mas não o podia considerar nas mesmas condições para o exotico.
Em fim depois de lhe fazer vêr que mesmo para a fiscalisação, seria melhor armazenar o exotico no tanque, porque nos
ficaria os ponches vazios para retirarmos todo o melaço da Fabrica, elle concordou por fim, mas com a condição de eu não
principiar o fabrico do assucar do melaço exotico sem ser retirado todo o melaço da Terra ou para armazem alfandegado para
exportação ou destillado. É isso por conseguinte o que vou fazer.
Para o fazer porem em ordem a garantir os seus interesses envio-lhe junto a situação presente dos negocios do alcool tal qual
as encontrei, o que lhe passo a explicar: Quando foi dar o meu Balanço do alcool em stock vi-me somente com 2500 gallões
d’alcool! Apanhei um susto, como bem pode compreender. // [84] Tratei emediatamente de principiar as fermentações do
melaço da Terra. Compreendi perfeitamente a situação terrivel em que ficariamos colucados se nos faltasse o alcool para
fornecer os vinicultores, e ao Lemos195 tambem por não o ter: O resultado seria elles reclamarem ao Governo que não havendo
alcool de melaço para o tempero dos vinhos auctorisassem a importação do alcool vinico do continente, isto pela certa; Em que
condicções ficariamos?!! Nem quero pensar n’isso.
Devido a isso estou a toda a pressa a fermentar e já hoje estou principiando a destillar, devido ao Lemos me ter emprestado
fermento emquanto o meu não está em condições.
D’esta forma não me faltará alcool nem ao Lemos, e alem d’isso como tinha uns 2000 gallões d’alcool bruto que era para
mesturar com aguardente de canna (que foi minha salvação) podemos conservar um pequeno stock e alem d’isso fornecer o
Lemos quando elle necessitar, como já tenho feito.
Vamos porem á nossa situação como lhe exponho no meu memorial junto:
Como vê por elle sô podemos contar com uns 61400 gallões d’alcool de melaço exotico aproximadamente, e consideramos
que não temos alcool nenhum; ora devemos ter um stock de alcool de melaço da Terra para desdobramentos que seram gordados
no armazem Nº 2 [.] O armazem Nº 1 (tanque grande) será para o alcool de melaço exotico. Fallei com o Lemos para me dizer
que quantidade de melaço necessita (exotico), e elle calculou em 200 toneladas // [85]196 que representa aproximadamente uns
1700 gallões. Devemos fazer para vender n’este mez e fornecer o Lemos uns 10000 gallões d’alcool de melaço da terra, quer
dizer, tenho que fabricar antes de principiar o fabrico do assucar do melaço uns 18500 gallões o que nos levará uns 246600 kilos
de melaço.
Como vê o Balanço do melaço é aproximadamente de 413 toneladas. Ora retirando d’esses 413 toneladas as 247 toneladas
para alcool ficamos livres para exportar umas 166 toneladas de melaço, mas como temos de fornecer o Lemos com 200
toneladas de melaço exotico vejo que não podemos exportar mais melaço alem do que está fora da Fábrica que são
aproximadamente 107 toneladas.
Há porem uma solucção vantajosa para nos, que sera importarmos mais umas 200 toneladas de melaço de Demerara para
estarem aqui o mais tardar até principios de Janeiro de 1910, isto já se vê sô para alcool, o que nos daria um lucro rasoavel.

133
Deixo isto por conseguinte á sua consideração. O Jacintho enganou-se no calculo que lhe deu do melaço existente, elle lhe dará
a explicação do caso.
Acabo de fazer a analyse da 1ª amostra tirada pela Alfandega; deu-me exactamente 55%!! Estou tirando uma amostra regular
de todo o melaço aqui na Fábrica para depois fazer a analyse total.
Depois de transformar em alcool o melaço necessario conforme expliquei vou retirar o resto para armazem alfandegado,
esperando a sua resolução.
Seu Amigo certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 4 de Outubro de 1909


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[86] 4 outubro 909
Ex.mo Senhor Henrique Hinton
Como a primeira amostra do melaço tirado pela Alfandega fosse sô de um ponche e mostrasse 55% consegui do Director
(com alguma deficuldade) sem lhe dizer a rasão exacta, mas sim que o mais regular seria tirar de diversos ponches, elle
inutilisou essa amostra e tirou outra de cerca de 50 ponches cuja analyse me deu 55,36% de saccarose, mais do que a amostra
de um sô casco; Quiz fazer pelo melhor e como vê ainda mostrou mais, o que me está apoquentando bastante. Da analyse feita
aqui na Alfandega não me assusta, o que tenho receio é da analyse feita em Lisboa. A amostra geral tirada aqui na Fabrica deu
55% exactos. O que vejo é que os carregadores não tomaram bastante cuidado, a fim de comprarem melaço com menos de 55%,
e o resultado é este. O Derector não acceita a amostra tirada aqui na Fabrica pela fiscalisação e vai mandar analyser[sic] a que
tirou na alfandega (de 50 ponches) e é naturalmente essa que vai para Lisboa. Qual será o resultado de tudo isto? não posso
prever, e o melhor será esperar os resultados das analyes[sic]. O carregamento veio em boa ordem a não ser um ponche que
chegou aqui vasio que segundo diz o Capitão foi na occasião de carregar que rebentou. Aqui no calhau tambem rebentou um
ponche d’entro do barco, mas foi aproveitado. Não o mesturei com o outro por que tinha agua. Vou principiar a tirar as 200
toneladas de melaço da terra para armazem alfandegado, para exportação.
Seu Amigo[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 5 de Outubro de 1909


DESTINATÁRIO: Bardsley]
[87] 5 outubro 909
Amigo e Senhor Bardsley
Pela copia da carta do Senhor Hinton197 devia ter apanhado um susto, e olhe que eu o não tive menos, mas felizmente (ou
infelizmente) não ha rasão para isso; O caso foi o seguinte:
Mandei fazer por Avelino198, como o fazia sempre, a solucção de melaço como eu lhe tinha ensinado, mas o Gaulet este anno
modificou a forma, e como eu não o sabia nem Avelino me prevenio, fiz o calculo, pela forma como era abituado a fazel’o, o
que deu causa a mostrar mais assucar do que realmente tinha. Quando dei por isso já tinha a copia da carta do Senhor Henrique
para si, mas fiz a competente retificação na carta d’elle de forma que está corrente.
O melaço contem somente:
Na amostra da Alfandega 50,7% saccarose
Na amostra geral da Fabrica 49,99% “
Um assumpto que devia ser tratado ahi emquanto o meu Amigo ahi está, era fazer um requerimento do Lemos199, (parece-
me que o Luiz tem procuração do Lemos) pedindo auctorisação para destillar melaço exotico depois de extrahido aqui o assucar
e sedido por nôs a elle Lemos. O Director da alfandega disse-me que não podia auctorisar essa transferencia sem ordem das
estações competentes, mas que informaria favoravelmente [.] Era bom fazer isso já.
Outra cosa é que o mesmo Director não pode auctorisar a passagem da garapa na proxima colheita, da fabrica de Lemos200
para a nossa sem tambem receber as competentes auctorisações. Tambem se deve fazer d’esde já o requerimento n’esse sentido
antes de se fazer a montagem da bomba e canalisação. Tudo isto deve ser feito emquanto o meu Amigo está ahi: não será
melhor? //
[88] Acabei hontem o alcool, mas felizmente não há receio de falta por isso que já principiei com as fermentações, como
vio pela copia da carta ao Senhor Henrique. Espero que o meu Amigo pela sua parte considere sobre o meu memorial que já
lhe enviei sobre assumpto melaços da terra, a vêr o que devemos fazer. Vou retirar da Fabrica umas 200 toneladas de melaço

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que ficará em armazem Alfandegado até defenitiva resolução, ou para exportação ou para destillação. O resto do melaço vou
destillal’o pela forma como já disse.
Pedia-lhe tambem para procurar o Dargent201 e fazer com que elle desse o maximo expediente ás nossas encomendas.
Tenho aqui á vista o typo 20 da escalla Hollandesa, e vejo que o crystal é muito fino, e não é egual ao assucar que elles
importam como abaixo do typo 20; continuo a ter a mesma opinião, que no despacho do assucar se deve considerar tanto a côr
como o typo cristal. O ministro nada tem feito, naturalmente; para nôs isso era de grande importancia.
Com relação ás vendas de aguardente de canna, vejo que os compradores nem mesmo a 800 reis querem comprar porque
teem muita.
Por uma carta que o Jacintho me deu vejo que nos livros a nossa aguardente de canna depois da mestura com alcool está em
690 reis. A que preço minimo se deve vender? A meu vêr, mesmo a 780 reis era bom vender para liquidar e evitar mais quebras.
Pode-se ainda juntar-lhe mais algum alcool que nos dará mais lucro. Diga-me o que devo fazer.
Seu Amigo certo[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 5 de Outubro de 1909


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[89] 5 outubro 909
mo
Ex. Amigo e Senhor Henrique
Á minha ultima carta tenho umas retificações a fazer com relação á analyse do melaço de Barbados, que á ultima hora lhe
fiz.
Efectivamente a analyse não estava certa devido á transformação que o Gaulet fez na formula das solucções e que Avelino202
não me prevenio nem eu podia prever, visto ter ensinado em tempos a Avelino como queria que elle as fizesse. Em todo o caso
vejo que as analyse [sic] de Gaulet estão certas porque elle fazia o calculo não pela tabua de Buisson mas sim por uma que elle
tinha no seu livro de calculos de Pellet. Faço esta retificação para livrar a responsabilidade de Gaulet.
A analyse do melaço é n’esse caso a seguinte:
Amostra geral do tanque:
Saccarose ..........................................................49,99%
Pureza apparente ..................................................68,52
Reductores ........................................................14,12%
Coefficiente glucosico ...........................................28,2
Amostra da Alfandega:
Saccarose ..........................................................50,71%
Pureza apparente ..................................................69,44
Reductores ........................................................13,78%
Coefficiente glucosico ...........................................27,1

O rendimento geral da Fabricação de 1909 em assucar turbinado foi o seguinte:


Assucar de 1er jet % canna.............. 8,730 kilogramas
Dito de 2er jet “ ...................................... 0,102
Assucar no melaço e petits eaux ....................... 2,836
Assucar total extrahido .......................................11,668
Melaço % de canna ...........................6,040 kilogramas
Assucar na canna ................................................12,445
Assucar extrahido................................................11,668
Perda fabricação.................................................. 0,777
[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 9 de Outubro de 1909


DESTINATÁRIO: Bardsley]
[90] 9 outubro 909
Meu Caro Amigo e Senhor Bardsley

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Em meu poder a sua carta de 7 do corrente.
Comprehendo bem o seu espanto com relação ao melaço de Barbados, mas espero que tenha já recebido a minha ultima em
que lhe dava a explicação do caso.
Quanto ao alcool continuamos a vender o que se vai fabricando de forma que no fim do dia ficamos quasi sem alcool á
espera do dia seguinte! Felizmente até hoje não tenho dito a ninguem que não há alcool. Para a semana vou ter meior
quantidade, e espero que esta procura seja somente até sabado 16, e depois vou ver bem o que me resta de melaço para deixar
um stock minimo de 7500 gallões que é quanto leva o tanque pequeno, como combinamos. Contudo sempre vou tirar algum
melaço para armazem alfandegado, porque desejo principiar a fabricar o melaço de Barbados em Novembro, para não
prejudicar as nossas montagens d’apparelhos. Agora o que me apoquenta é a falta d’agua. Hoje (sabado) e amanhã não temos
agua dos Moinhos, da rebeira não vem nada e o poço apenas dá para trabalhar com destillador. Vi-me na necessidade de mandar
boscar hoje agua em ponches para amaçar a cal!! Esta falta de agua é o Diabo.
Quanto ao Lemos203, nada se pode fazer; elle tem melaço bastante até novembro, como já lhe disse. Não comprehendo os
recios[sic] do Ministro // [91] a mim parece-me que a poblicação do decreto pode no futuro era vantajosa para o Governo porque
lhe vai diminuir a quantidade de assucar a exportar para Lisboa e Porto; não lhe parece?
Calculo o seu aborrecimento com tanta demora.
Tem havido dificuldade em vender aguardente de canna, mesmo que seja barata, devido a haver nos negociantes d’ella muita
em armazens e elles dizem que sô poderam recebel’a em Janeiro. O Pedro Pires mandei-o chamar para fazer com que elle venda
mais barato (com mestura de alcool) para liquidar bastante.
Um abraço do seu Amigo certo
[Ass:] João Higino Ferraz
P.E.[sic] O Sampaio pede-me a nota dos productos chimicos para adubos, mas vejo que temos por emquanto bastante e que
de esta data em diante pouco ou nenhum se vende. Acho desnecessario empatar capital n’isso.[Ass:] Ferraz //

[DATA: 18 de Outubro de 1909


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[92] 18 outubro 909
Ex.mo Amigo e Senhor Henrique
Agradeço-lhe a sua carta de 8 do corrente.
Vejo por ella que o Senhor Henrique me diz que conta que tivesse feito a encomenda do condensador e ballão, mas já na
minha primeira carta lhe participava que essa encomenda a tinha feito quando cheguei de Paris, e o Dargent204 por carta retifica
as encomendas prontificando-se a entregal’as em dezembro proximo. Estamos tratando do plano de montagem do Ballão
Central e comonicações entre os evaporadores que deve seguir para Lisboa na proxima semana a fim do Dargent fazer tudo o
que necessario for para ser facil a montagem aqui.
Quanto ao alcool de melaço exotico é minha opinião que sô o devemos entregar com gia[sic], porque foi isso que sempre
se disse e a lei é clara n’esse sentido, mas Carlos205 já fez essa pergunta para Lisboa.
Vejo que depois das grandes vendas que fizemos d’alcool, e para garantir o stock dos 7500 gallões d’alcool de melaço da
terra para desdobramento, não posso retirar para exportação senão 140 toneladas de melaço.
Logo que tenha fermentado todo o melaço da terra e que estaja transformado em alcool vou requerer á Alfandega uma
vesturia á Fabrica para provar que não tenho melaço algum, e requerer depois para a laboração do melaço exotico em assucar
e alcool. Isto porem conto não será feito antes da primeira semana de Novembro. //
[93] Hoje apenas tenho um stock de 3000 gallões d’alcool.
Continuo a pensar na filtração do xarope entre a 2ª a 3ª caixa do triple, e por esta mesma malla envio a Monsieur Naudet206
um schema para ser sujeito á aprovação d’elle.
Envio-lhe junto um schema egual ao que mandei ao Naudet, e por elle o Senhor Henrique poderá vêr a minha edêa. Quanto
á montagem não é deficil nem despendiosa porque temos todas as bombas necessarias para isso, é simplesmente questão de
tubagem. Parece-me que d’esta forma teremos muito menos incrustação na 3ª e 4ª caixa do triple e com a grande vantagem do
xarope sahir mais puro, e poder a bomba do triple (xarope) deitar directamente no deposito do xarope dos cuites. Não há mais
gasto de vapor, porque as bombas ficam sendo as mesmas. O xarope sahido da 2ª caixa não terá mais de 20º Beaumé o que será
facil de filtrar. Vou esperar a vêr o que Monsieur Naudet diz a este respeito. Pela forma como desejo fazer a montagem, pode
ou não o xarope ser filtrado, e por conseguinte trabalhar conforme os nossos desejos. Como Carlos me consultasse sobre a

136
offerta de mais 200 cascos de melaço de Demerara é minha opinião que devemos acceitar porque o melaço encomendado não
dá para o alcool que necessitamos até março do proximo anno, como no meu relatorio provejo.
Esteve aqui no sabado 16 o Admenistrador do Conselho e o Dr. Carlos Leite, para nos prevenir que é necessario requerer
licença para a montagem dos novos apparelhos na Fabrica de assucar, que segundo elles dizem a lei nos obriga a isso visto o
Alvará antigo dár a auctorisação para a montagem de // [94] uma fabrica de capacidade determinada, e hoje termos augmentado
consideravelmente a sua capacidade. Disse-me o Admenistrador que é necessario tirar uma espece de Sechema dos apparelhos
novos para juntar á participação. Eu disse-lhe que já em 1907 tinhamos feito isso para a Repartição de Fazenda. Ficou de Carlos
hir na terça feira para elles darem a forma de fazer essa participação.
Ainda há outra cousa, que o Dr. Carlos Leite como Delegado de Saude exige, que é fazermos um cano de forma que todas
as aguas da Fabrica quentes ou frias vão ao cano do vinhão. Essa questão ficou para quando o Senhor Henrique voltar. Como
é um trabalho despendioso disse-lhes que nada podia fazer sem o Senhor cá estar. Disseram elles que isto é para evitar
reclamações a que elles têem que dar providencias. Estes nossos derigentes querem agora comprir a Lei á risca porque assim o
exige o Diario de Noticias!
Sem mais subscrevo-me seu Amigo Attencioso e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 20 de Outubro de 1909


DESTINATÁRIO: Bardsley]
[95] 20 outubro 909
Meu Caro Amigo e Senhor Bardsley
Recebi a sua carta de 13 do corrente o que lhe agradeço.
Quanto ao requerimento do Lemos207 concordo perfeitamente no que me diz. Mas com relação ao Lemos receber alcool de
melaço exotico em logar de melaço, isso ficará para quando o meu Amigo voltar ou o Senhor Henrique, porque é uma questão
melindrosa, e como já na minha carta lhe disse, o Lemos tem melaço da terra suficiente até fins de novembro.
Vamos porem aos seus e meus calculos:
Melaço da terra: – Vejo pelos seus calculos que o meu Amigo calcula com um stock de 600 toneladas de melaço, e eu na
minha nota apenas lhe mostrei 413 toneladas. Naturalmente contou com o melaço existente no armazem do Lemos, que elle ja
tomou de sua conta, e com umas 105 toneladas fora da Fabrica e que seguir para Lisboa. Eu apenas contei no meu calculo com
o melaço existente dentro do recinto da Fabrica e que são as taes 413 toneladas; sô isto já faz uma sensivel diferença.
O que eu estou tratando é de fazer o stock de alcool que não excederá naturalmente os 8500 gallões para desdobramento
que é a capacidade dos reservatorios que tenho no armazem Nº 2: Onde vai por isso o meu Amigo boscar os 20000 gallões para
desdobramento que calcula até março?
No meu calculo contava a venda de 10000 gallões por mez e o seu calculo é de 8000 gallões.
Para exportação apenas terei (que está já armazenado) 150 toneladas, o restante tenho que transformar em alcool que será
263 toneladas (segundo a minha nota), pouco mais ou menos que daram 21000 gallões. Ora como temos vendido até hoje n’este
mez 6000 gallões restaram aproximadamente 15000 gallões que tirando os 8500 para desdobramento restará para vender até
principiar o melaço exotico 65000 gallões (talvez!)
Melaço exotico: – Diz o meu amigo, e muito bem, que o alcool d’este melaço é sô para vinhos e calcula que em 5 mezes se
vendão 40000 gallões e o Lemos 17000 o que faz um total de 57000 gallões. Na minha nota dei-lhe o rendimento // [96] do
melaço em alcool importado e por importar em 61400 gallões; ora descontando os 57000 que se vendão até março e o Lemos,
resta 4400 gallões; Muito bem; mas o meu amigo não calcula quanto se deve vender para vinhos nos mezes de abril – maio –
junho e talvez agosto. Ora calculando a 8000 gallões por mez serão nestes 5 mezes outros 40000 gallões. Onde vamos boscar
este alcool? Ao melaço da terra por isso que não o temos exotico, e no tempo da laboração, pode ter a certeza, a fiscalisação
não deixará transformar melaço exotico em alcool mesmo que pobre.
Dado isto é meu parecer que pelo menos devemos importar umas 200 toneladas de melaço de Demarara e que ainda assim
não dará para as encommendas.
Espero que considerará bem sobre este ponto e concordará commigo.
N’uma carta que escrevi ao Senhor Henrique aconcelhei-lhe a compra das 200 toneladas de Demerara devido a estas
considerações e se não lhe disse meior quantidade é porque até fins de fevereiro não posso fazer mais, e devemos quando
principiarmos a laboração da canna não ter melaço exotico nenhum mesmo que pobre porque assim o vai exigir a fiscalisação.
O que é bom é que essas questões em Lisboa se resolvão quando não todos estes calculos são falsos.

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Sobre a aguardente de canna é que não sei como liquidar porque há muita, e como já lhe disse elles sô podem receber em
Janeiro proximo; a questão de preço já eu tinha pensado em lh’a dar a 780 reis como me diz na sua carta.
Sem mais que lhe posso dizer subscrevo-me Seu Amigo certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 25 de Outubro de 1909


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[97] 25 outubro 909
Ex.mo Amigo e Senhor Henrique
Depois da minha ultima carta recebi uma do Senhor Bardsley, dizendo-me que não pode ver a necessidade de importar mais
melaço exotico visto o que temos e o que vamos receber dará até a laboração da canna. Eu fiz-lhe as minhas considerações que
o Senhor Henrique verá na copia da carta que lhe envio junta. A mim parece-me que elle está enganado nos seus calculos,
porque olhando bem para o meu relatorio que em tempo lhe enviei vê-se bem o que necessitamos. Devemos pensar que durante
o tempo da laboração da canna a fiscalisação não auctorisa o fabrico de alcool com melaço exotico mesmo que ceja melaço
exausto, isto é, depois de lhe extrahir o assucar. N’este caso, se não tivermos alcool de melaço exotico suficiente em stock temos
necessidade de vender para vinhos o alcool de melaço da terra, que segundo me diz o Senhor Bardsley se não deve vender para
vinhos mas sô para desdobramento.
Hoje tenho já um stock de .....................................6000 gallões
Para restillar aproximadamente ............................3200 gallões
Em cubas a destillar ..............................................2800 “
Total .....................................................................12000 “
O melaço que me resta é no poço da serragem que poderá conter uns 34700 kilogramas de melaço que poderá dar em alcool
2770 gallões, o que fará um total de 14770 gallões; ora retirando para desdobramento 8500 gallões (que é o que pode levar os
tanques do Armazem Nº 2) restará para vender para vinhos, em quanto não temos alcool de melaço exotico, 6270 gallões.
Não posso principiar a fabricação do assucar do melaço de Barbados antes // [98] de fazer a modança dos tanques dos
egouts, que estão no provimento dos cuites, para os seus respectivos logares, e isso estará prompto no fim da 1ª semana de
Novembro. D’esta forma não prejudicará a montagem da nova caldeira de vacuo nem dos novos malaxeurs, porque ao mesmo
tempo que fazemos assucar fazemos as montagens.
Pena é que o melaço que resta a vir não tenha já sahido de Barbados porque receio que a demora nos venda embaraçar os
nossos trabalhos.
Estão já armazenados e alfandegados 150 toneladas de melaço da terra, ou para exportação ou para destillação conforme
determinar.
Tudos[sic] estes calculos porem seram falsos no caso de não ser publicada a nova Lei!
O Engenheiro diz-me que o Senhor Henrique deseja saber se a garapa vinda do Lemos208 é acida ou alcalina; segundo o
que combinamos á tempos, e de acordo com Naudet209, a garapa seria sulfitada no Lemos e alcalinisada depois tambem de
forma que a garapa virá para a Fabrica do Torreão legeiramente alcalina. Sobre este ponto tenho uma cousa a lhe dizer. Recebi
a semana passada os Comptes rendus do Congrés de Londres em que Monsieur Aulard210 faz as suas communicações sobre a
sulfitação em geral e em especial da sulficarbonatation de Weisberg. Lendo com attenção essa communicação vejo que a
sulficarbonatação pode ser empregada com vantagem na canna, segundo o autor, isto é, a garapa é alcalinisada antes de sulfitar
e depois é que vai ao sulfitador Quarez. Desta forma, diz elle, as garapas sahiram mais puras, e conservaram a pureza durante
a fabricação, tornando-se menos melaçaginosas. //
[99] Ora se na pratica em canna dêr o mesmo resultado que dá na beterraba, é isso, crêo eu, de grande vantagem para nôs.
Acabo de escrever a Monsieur Naudet sobre isso a vêr o que elle pensa a esse respeito. A montagem é facilima e nada
despendiosa, é simplesmente fazer com que a garapa dos engenhos vão a um tanque de dois compartimentos onde será
alcanilisada, e correrá depois directamente para o sulfitador.
Neste processo sô tenho um receio, é que com esta forma de proceder há mais precipitado (o que indica meior apuração), e
poderá n’esse caso impedir um pouco a circulação da bateria de deffusão. Dar-se-há isso? Monsieur Naudet nos dirá, estudando
bem a questão.
Sube hontem que já tinham vindo os planos para a montagem da fabrica do Leacock, isto disse-me o João M. Henriques que
lhe dissera pessoa que o sabe de boa fonte, mas deseja que se não divulgue. Diz que é uma fabrica Enorme! Enormes bestas são
elles em fazerem tanta asneira: desculpe este desabafo.

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Como temos no armazem aguardente de canna sem mestura d’alcool vou principiar hoje a fazer o mais que poder de
mestura. O que é deficil é vender por emquanto aguardente de canna, mas espero que em Novembro se principiará a vender
melhor, e com este desdobramento com alcool fica-nos sahindo muito mais barato.
No fim d’esta semana deve-me ficar todo o melaço fermentado. Vejo que este lote me vai dar um bom rendimento (talvez
8%) devido ao processo da resinose.
A analyse do nosso melaço em Lisboa (melaço de Barbados) mostrou 50% assucar e glucose 26% !! não me parece…
Sem mais subscrevo-me Seu Amigo certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 30 de Outubro de 1909


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[100] 30 outubro 909
Ex.mo Amigo e Senhor Henrique
Terminei hontem o melaço da Fabrica, isto é, está todo em fermentação, ficando a Fabrica limpa de melaço. O Director da
Alfandega diz que se deve requerer a vesturia quando todo o alcool estaja feito e separado, e isso conto estará feito em toda a
semana proxima.
O resultado final do melaço mando-lhe em nota separada, e por ella vê-se que há uma diferença para menos de 11541
kilogramas devido ao meu calculo ser feito sobre a medida dos tanques e ás vezes com melaço quente. Mesmo assim a diferença
não é muito grande.
Mando-lhe tambem a nota do melaço vendido ao Lemos211 e quanto lhe pode dar em alcool, isto como coriosidade. Os
malaxeurs já estão no plano onde vão ser montados, e na proxima semana ficará os tanques dos égoûts no seu respectivo logar,
podendo então dar principio ao fabrico do assucar do melaço de Barbados.
Monsieur Naudet212 já enviou o acido sulfuroso liquido (15 obus), e os filtros Reinecken de area já estão montados nos res
do chão do triple antigo, como se tinha combinado.
Hoje tenho um stock de 7500 gallões d’alcool de melaço da terra.
Quanto ao rendimento d’este Lote de fermentação sô lh’o posso mandar na proxima semana.
Ficou armazenado e alfandegado para exportação 150 toneladas de melaço da terra.
Sem mais subscrevo-me Seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 3 de Novembro de 1909


DESTINATÁRIO: Bardsley]
[101] 3 novembro 909
Ex.mo Amigo e Senhor Bardsley
Acabo de receber a sua carta de 29 proximo passado o que lhe agradeço.
Melaço indigena: temos em armazem alfandegado 150 toneladas para exportação que poderá ser entregue á C.ia União
Fabril quando o meu amigo determinar. Todo o outro melaço indigena foi transformado em alcool para desdobramento (8500
gallões) e o restante talvez uns 6000 gallões que temos vendido e nos resta algum para vender até que tenhamos alcool de
melaço exotico que calculo só podemos ter de 15 do corrente em diante. Como vê não temos melaço indegena algum até á nova
colheita. Tenho feito um grande desdobramento d’alcool com a nossa aguardente de canna em sock[sic].
Melaço exotico: Acho muito judiciosa a sua opinião de não importar senão melaço para assucar: Mas onde vamos nos
boscal’o actualmente, melaço proprio para assucar? O melaço de Demerara poder-se-ha retirar algum assucar mas com pouca
vantagem industrial. Não vejo por isso outra cousa senão importar melaço para alcool de que temos necessidade, mas
simplesmente este anno, e no proximo anno arranjar as cousas de forma a termos melaço suficiente para assucar e depois alcool.
Este anno já podemos tirar um bom resultado do melaço transformado em alcool. Vou dár principio á fabricação do melaço
exotico em assucar e alcool na proxima semana.
Dr. Quirino213: O milho rende conforme a sua percentagem em fecula, mas na media pode dar 36 litros d’alcool em 40º por
100 kilogramas de milho. //
[102]214
[103] A cevada crua pode dar uns 30 a 32 litros d’alcool, e a cevada em Malte, que é isso naturalmente que elle deseja saber,
deve dar uns 33 litros d’alcool. Mas na fabricação do milho em alcool a proporção da cevada em malte é somente de 15% no
maximo.

139
C.ia União Fabril: Quanto ao que me diz com relação ao mau acceitamento dos consumidores da turtou com melaço, são
hestorias d’esses nossos amigos: O molasscuite que fiz e que o Sousa Carreiro empregou na alimentação de uma vaca de leite
deu magnifico resultado, e a vaca comeu perfeitamente, e como sabe o molassecuite contem 75% de melaço. Uma junta de bois
aqui da casa foi tambem alimentada com o mesmo molassecuite, e os bois comeram bem e estão de perfeita saude. O que me
parece é que a União Fabril não pode continuar com esse negocio de mesturar um producto caro com outro que vendem muito
mais baratos, e por isso querem a todo o pano rescindir o contracto.
Vejo quando me diz da nossa questão ahi, e prevejo um mau resultado se o Governo se não aguenta. Elles podem intertel’o
com promessas até á ultima hora, e cahindo, são outros intrujões com quem tem de tratar, quer dizer, que ficará ahi eternamente!
Sem mais sou seu Amigo certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 8 de Novembro de 1909


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[104] 8 Novembro 909
mo
Ex. Amigo e Senhor Henrique
Acabei a fermentação do melaço e a sua destillação, e até 5ª feira conto ficar terminada a retificação de todo o alcool do
melaço indigena. O melaço empregado n’este lote (Nº 5) foi 251635 kilogramas, que rendeu 20844 gallões d’alcool a 100º, o
que fez um rendimento de 8,28 gallões d’alcool por 100 kilogramas melaço.
Para desdobramentos tenho reservado no armazem Nº2, 8500 gallões d’alcool, e vou ter aproximadamente uns 3000 gallões
para hir vendendo até ter alcool de melaço exotico que conto será na proxima semana.
Na aguardente de canna que não tinha levado alcool e em algum que vi poder levar mais, fiz o desdobramento de 1815
gallões d’alcool e equival a 2417 gallões d’aguardente em 28º Cartier.
Queria dár principio ao fabrico do assucar do melaço de Barbados, mas a canalisação dos tanques dos égoûts e outras
pequenas cousas a fezer não ficaram concluidas a semana passada, por isso sô na 5ª feira poderei dár principio a essa fabricação.
Vou principiar a fabricação de alcool de melaço exotico, com o melaço de Demerara que tinhamos já despachado à 2 annos,
para não ser obrigado a vender o alcool do melaço indigena que tenho reservado para desdobramento. Recebi uma carta de
Monsieur Naudet215 aprovando a filtração entre a 2ª e as 3ª + 4ª caixa como do meu schema que lhe enviei, mas elle deseja saber
com que filtros eu contava para essa filtração.
Escrevi-lhe no mesmo dia dizendo-lhe a superficie de filtração que temos // [105] incluindo os 3 novos filtros e pedi-lhe
para fazer os seus calculos e no caso de ser necessario mais algum filtro de o mandar junto com os que devem vir em Dezembro.
Segundo os meus calculos fazendo nôs 450 toneladas de canna em 24 horas necessitamos de 180 metros quadrados de filtros
Philippe para o jus evaporado no Kestner, e para os xaropes da 2ª caixa a 18º Baumé 60 a 65 metros quadrados visto que cada
metro quadrado filtra aproximadamente 30 hectolitros de xarope de canna em 18º Baumé e teremos naturalmente 1772
hectolitros d’esse xarope em 24 horas.
Ora como temos um total de 222 metros quadrados de filtração, e retirando os 180 metros quadrados para o jus de Kestner,
resta-nos somente 42 metros quadrados, será n’esse caso perciso vir mais dois filtros pequenos de 14 poches filtrantes, que nos
dará um total de 17 metros quadrados para o xarope da 2ª caixa. Os 65 metros quadrados a mais será para a occasião da limpeza
dos filtros.
Vou mandar-lhe (Monsieur Naudet) estes meus calculos e espero que elle se não escandelisará por isso.
Fiscalisação da Alfandega: Sobre este ponto tenho cousa importante a lhe dizer e espero a sua cuidadosa attenção: Conforme
as instrucções que o Director da Alfandega deu ao fiscal Sirne vejo que elles querem tomar nota de todo o alcool produzido
pelo melaço exotico, diz o Director que é para comprimento do Decreto em que diz que sô pode ser empregado para tempero
de vinhos, e vão montar uma escripturação no posto fiscal da Fabrica para esse fim. Dado isto, sabendo elles o assucar extrahido
do melaço e o alcool produzido pelo melaço exausto ficaram ipso-facto, sabendo os lucros havidos com esta transacção!! Diz
o Director que isto é simplesmente para a fiscalisação do alcool, mas é minha convicção que são ordens especiaes de Lisboa,
porque o Manoel dos Santos nunca ficou convencido dos rendimentos que o Senhor Henrique lhe deu em tempos, e por esta
forma fica elle // [106] ao corrente de tudo quanto deseja saber.
Ora isto como bem comprehende e[sic] muito mau, e era bom ver se havia meio de evitar a fiscalisação feita d’esta forma.
Eu aqui nada posso fazer, a não ser comprir as ordens obrigadas pela fiscalisação, para não trazer embaraços aos nossos
trabalhos de fabricação de assucar e alcool de melaço exotico.
São cousas que devem ser tratadas em Lisboa, mas talvez melhor depois da publicação do novo regulamento, para não

140
embaraçar estes trabalhos.
Temos tempo de sobra porque elles sô poderam saber as cousas ao certo depois de terminar o fabrico do melaço exotico em
assucar e alcool e isto sô será para Fevereiro proximo.
Quando estive em Paris Monsieur Naudet disse-me que era muito conveniente para os interesses da firma Hinton que todas
as encommendas dos productos necessarios para a fabricação do proximo anno fossem feitas n’este mez, porque poderia obter
preços muito mais baixos do que sendo feito de afogadilho, isto é á ultima hora. Espero pois que me aucturisará pelo proximo
corrêo a fazer essas encommendas.
O pano para os filtros Philippe já encomendei ao Naudet, vindo uma parte em sacos feitos com os filtros, e o resto em peças.
Subscrevo-me seu attencioso amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz

[DATA: 15 de Novembro de 1909


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[107] 15 novembro 909
Ex.mo Amigo e Senhor Henrique
Principiei a fabricação do assucar com o melaço de Barbados no dia 11 do corrente. O melaço é sulfitado e filtrado, deixando
contudo nos filtros pouca borra:
João Martins tem achado dificuldade na cristalisação, e isso é claro, porque nem elle é um cosedor á altura das
circunstancias, nem o melaço é muito proprio para cristalisação directa em caldeira de vacuo.
Para que a nutrição do grão se fassa melhor tenho desfeito o melaço a 30º Baumé do maximo.
Junto envio-lhe uma amostra do assucar que se principiou a turbinar hoje, que como verá está um pouco sujo devido a ser
os 1os cosimentos, mas o que acho pêor é a cristalisação fina que não é muito propria para assucar typo B2. Vou fazer uma
esperiencia de mesturar umas 6 ou 7 sacas d’este mesmo assucar nos malaxeurs refrigerantes na occasião de cahir um
cosimento, a vêr se com esta amorçage o assucar fica mais cristalisado.
Acabo de fazer a analyse dos égoûts pauvres que mostra o seguinte:
Materia Secca .......................................................83,50
Saccarose directa ..............................................48,38%
Pureza apparente ..................................................57,94
Glucose .............................................................18,09%
Coefficiente glucosico ...........................................37,3

Estes égoûts como vê estão bastante ricos e continham grande quantidade de assucar em farinha, isto é, assucar que passou no
tamis das turbinas.
Se estes égoûts fossem cosidos ainda em 2º jet davam ainda bastante assucar, e seria esta a verdadeira forma de lhe extrahir
meior quantidade de assucar, mas na occasião presente que não temos alcool para vinhos não posso pensar em fazer tal, e além
d’isso para nos dar tempo a que de todo o melaço se extrahia assucar // [108] antes de principiar a laboração da canna, sô
fazendo como fasso agora se pode chegar a esse resultado.
Bastante estimaria que o Senhor Henrique estivesse agora aqui, para de si proprio vêr as cousas como se passam.
Tenho hoje em alcool de melaço indigena para vinhos somente 3000 litros e a fermentação do melaço exotico ainda não está
em condições de destillar, e naturalmente sô na quarta feira proxima poderei principiar a destillar e quanto á retificação no fim
da semana. Como vê estou outra vêz com dificuldades com a falta de alcool, porque não desejava tocar nos 8500 gallões que
tenho reservado para os desdobramentos.
Chegou hoje o vapor com o melaço de Demerara (495 cascos) cuja analyse é a seguinte:
Materia Secca .......................................................92,15
Saccarose directa ..............................................40,13%
Pureza apparente ..................................................43,54
Glucose .............................................................28,95%
Coefficiente glucosico ...........................................72,1
Como vê é um bello typo de melaço para destillação.
Vejo-me porem na necessidade de o deitar no tanque mesturado com o melaço de Barbados, porque não temos armazens em
conducções de o guardar. Seria essa a minha vontade, porque não desejava tornar o melaço de Barbados pêor do que é, mas

141
como fazel’o?
Tudo isto são contrariadades que me aborreçem por não as poder resolver como desejava.
Bom seria que no proximo anno, continuando a importação de melaço para assucar, tudo se fizesse em ordem de tirar bons
resultados industriaes, porque isto de atamancar o trabalho é mau para si, e para mim porque me põe em grandes deficuldades.
Tenho um assumpto a dizer-lhe que me pareçe ser de interesse que o Senhor saiba. Como o Sampaio é amigo intimo de um
suisso que tem casa de bordados, // [109] e como esse Suisso é intenço amigo de um outro Suisso que está empregado no
Leacock, pedi ao Sampaio para vêr se seria possivel elle obter do seu amigo algumas informações com relação á nova fabrica
do Leacock, mas isto com toda a diplomacia: O Sampaio desenvolveu-se bem d’esta incombencia e sube n’este caso o seguinte:
O Leacock já não pensa em fabricar aguardente para manifestar no fim do anno, mas sim fazer alcool de canna em 40º para
os negociantes de vinho. Diz que a sua edêa não é tirar lucros, mas somente vender o alcool depois de tiradas as despezas de
fabrica.
Era este o meu recêo, e já lhe digo porque.
Quaes seram os systemas de extração do sumo da canna?
Quaes os processos de fermentação?
Quaes as condições de compra da canna?
Se eles pensarem como eu o faria, daria o seguinte resultado:
Extracção com imbibição no maximo, isto é 80% do sumo de canna.
Processos modernos de fermentação e destillação obtendo 60 litros d’alcool por 100 kilogramas assucar fermentado.
Compra da canna na épôca em que ella está mais rica e por preço inferior ao que nos compramos, o que seria facil, crêo eu.
Estas tres condições dá o resultado de elle poder vender o alcool retificado em 40º no maximo de 950 reis por gallão. Ora
quem importava alcool Alemão ao preço de 1400 reis sô com o fim de prejudical’o, muito mais facilmente compra a 950 reis
com o mesmo fim.
Vamos principiar esta semana na montagem da nova caldeira de vacuo.
Seu Amigo certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 22 de Novembro de 1909


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[110] 22 Novembro 909
Ex.mo Amigo e Senhor Henrique
Esta é escrita á pressa, porque como estive doente 3 dias com uma inflamação na cara nada pude fazer devido ás dores que
tinha, e hoje foi para fazer todas as analyses de 3 dias, por isso a minha carta é curta:
Assucar de melaço: A única forma de se poder tirar algum assucar do melaço é fazendo um pé de cuite com o mesmo assucar
feito em xarope e depois nutrir o grão formado com melaço, sulfitado e filtrado, isto como 1º pé de cuite para um malaxeur de
250 hectolitros depois faz-se um cosimento sô de melaço ao filet fraco e deita-se sobre o primeiro cuite, deixando mexer durante
2 dias. Esta formula dá um assucar egual á amostra que lhe envio, e os égoûts ficão bem épuissée como vê pelas analyse [sic]
que lhe envio junto.
Cosimento directo do melaço para formar assucar não há meios de fazer o épuissement dos égoûts, e ficariamos eternamente
a fazer cuites.
Pelas analyse [sic] verá bem o que se passa agora.
Melaço de Demerara: – Quanto a este maldito, não vejo forma de se poder extrahir assucar a não ser em cosimentos de 2º
jet ao filet, mas não podemos pensar em fazer isso a todo o melaço, porque ver-nos-hiamos em março proximo ainda com
melaço para coser e Melasse Cuite para turbinar, o que nos prejudicaria bastante.
Já tinha principiado a deitar melaço de Demerara no tanque grande junto com o de Barbados mas mandei suspender quando
vi os // [111] resultados do 1º cuite feito com esta mestura.
Dado isto é minha opinião que devemos recusar parte do melaço de Demerara por não ser proprio para extrahir assucar e sô
comprar o que for necessario para alcool.
Carlos216 no seu telegramma assim lhe dizia e ficamos á espera da sua resposta, porque a correspondencia trocada entre nós
e Demerara esta clara, e como o melaço não contem a percentagem em assucar [...] tudo[?] por elles podemos perfeitamente
recusar esse melaço.
Não convem de forma alguma ter melaço para alcool a mais do que as necessidades requerem naturalmente.

142
O que nos vai aconteçer naturalmente é não termos assucar para o consumo até março, mas de todos os males o menor,
fazemos importar o assucar bruto necessario para ser refinado. Junto vai tambem a analyse da amostra tirada pela Alfandega
[...] isto é, amostra official e é esta a que nos servirá para a contestação porque todas as outras particularmente nossas não fazem
fé em juizo. Contudo amanhã vou fazer a analyse do resto dos ponches que ainda não foram analysados. Recebi carta do
Naudet217 aprovando tudo quanto lhe tenho proposto.
Sem mais sou seu Amigo Attencioso e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz
P. E.[sic] As fermentações do melaço magnificas [sic]. //

[DATA: 10 de Janeiro de 1910


DESTINATÁRIO: Paul Henôt; LOCAL: Brasil]
[112] 10 janeiro 910
Meu Caro Amigo e Senhor Paul Henôt
Primeiro que tudo tenho que lhe agradecer os seus votos para que o novo anno me seja propicio, e desejo-lhe a si tambem,
como a todos os que lhe são caros, tantas felicidade quantas o meu Amigo possa desejar n’este novo anno.
Já estou crêo eu em bastante falta para consigo, mas desculpará, por que bem deve comprehender que os meus afazeres e
cuidados me prohibem muitas vezes de fazer o que eu desejo.
Temos este anno novas transformações na nossa Fabrica e bastante importantes, porque em vista do augmento de producção
de canna na Madeira, vimo-nos obrigados a augmentar a sua capacidade de trabalho por 24 horas de forma a podermos fazer o
minimo de 500 toneladas de canna em 24 horas. Veja o meu Amigo que transformação não seram essas, para que de uma Fabrica
de 330 toneladas se passe a fazer 500 toneladas!
As transformações mais importantes são as seguintes:
Um novo moinho para o bagaço exausto da diffusão:
A bateria de 12 diffusores passa a ser em duas sou-batteries de 6 diffusores cada uma trabalhando alternadamente:
Montagem de um Kestner como preevaporador que fornecerá todo o vapor a 1 kilograma de perção para os cuites e
rechaufeures da diffusão:
Juntar ao nosso triple mais uma caixa que trabalhará junta com a 3ª fazendo uma superfice de // [113] evaporação de 175
metros quadrados: (as duas)
Montagem de mais um cuite de 125 Hectolitros.
Montagem de mais 3 malaxeurs abertos.
Montagem de mais 2 centrifugas Watson.
Tenho alem d’isso mais umas modificações na forma de trabalho das garapas e xaropes, mas que nada lhe digo sem primeiro
vêr os resultados praticos d’ellas.
Como porem os nossos moinhos da canna não podem fazer senão 450 toneladas no maximo, a Fabrica Lemos218, que o amigo
conhece, vai ser transformada em Raperie (?) enviando-nos elle a garapa de 90 toneladas por 24 horas, á nossa Fabrica por meio
de bomba, sendo a garapa sulfitada e alcalinisada no Lemos.
Como vê as transformações são bastante importantes e bem pode calcular os cuidados que tudo isto nos dá.
E como vão todos esses negocios de assucar ahi pelo Brasil? Espero que bem, para sua satisfação.
Receba o meu Amigo um apertado abraço do que é seu verdadeiro Amigo certo[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 6 de Março de 1910


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[114] 6 março 910
Ex.mo Amigo e Senhor Henrique
Não sei se lhe deva desde já dár os meus sinceros parabens pelos resultados da sua justa questão; em todo o caso vejo que
pelo telegramma enviado que tem todas as esperanças que a resolução seja a seu favor, Deus o primitta.
Quanto á parte do telegramma em que diz que devemos principiar no fim d’esta semana, o Senhor Bardsley disse-me para
eu lhe dar a minha opinião a este respeito o que vou fazer:
Poderemos principiar esta primeira moenda, isto é, uns 5 dias, trabalhando pelo systema antigo, quer dizer, sem o Kestner,
porque este aparelho não pode estar definitivamente concluido antes de uns 10 dias pelo menos, e como a semana Santa é na
proxima semana temos tempo suficiente para concluir a montagem d’elle como deve ser.

143
Muito se tem feito de Janeiro até hoje e isto por um trop-de-forçe, e Deus primitta que tudo estaja em ordem.
É porem de toda a conveniencia antes de principiar com a canna trabalhar um dia a agua de forma a limpar bem todos os
apparelhos para evitar o produzir assucar dos dois primeiros cuites de má qualidade.
Para trabalhar pelo systema antigo temos quasi tudo em ordem a não ser as centrifugas, mas como sô uns 3 dias depois de
principiar é que vamos ter Melasse Cuite em estado de turbinar, não deve talvez prejudicar o seguimento do trabalho.
A Caldeira de vacuo nova tambem não está concluida e mesmo no caso acima não necessitamos d’ella. A Freitag pode
trabalhar a vapor exausto e directo como no anno passado, e o pequeno Cuite (100 Hectolitros) fará os pés de cuite como
ordinariamente. A montagem das bombas centrifugas // [115] tanto a do Kestner como a do Triple estão montadas, e a filtração
mechanica, a sua montagem está feita de forma que se pode trabalhar da forma que se quizer.
A diffusão está terminada.
A bomba dos petits eaux tambem fica concluida em dois ou trez dias: Quanto a esta parte eu disse ao Engenheiro que sô
necessitamos uma bomba porque vou reonir os petit eaux aos eau do mulin de repression.
Acho até muito conveniente o trabalhar os primeiros 5 dias pelo systema antigo porque durante esse tempo posso habitoar
o pessoal da diffusão a trabalhar em duas baterias conjugadas, trabalho perfeitamente novo para elles e que me vai tomar muito
tempo. Depois de esta parte do trabalho estár corrente posso então dedicar-me ao trabalho do Kestner, novo para mim e para
todo o pessoal, e como as modificações no triple para a filtração entre as caixas tambem me deve prender bastante a attenção,
poderei perfeitamente applicar-me a esta parte do trabalho. D’esta forma podemos arranjar assucar para consumo de duas
semanas e principiar definitivamente depois da semana Santa.
É isto a minha opinião sobre o nosso trabalho.
Vejo que os cosedores não chegaram a tempo para o principio d’esta primeira moenda, mas vamos-nos remediar com João
Martins e Francisco. Quanto ao Chimico farei o possivel de o substituir por uns dias porque tenho Avelino219 que já faz muito.
Que a sua boa Estrella o continue a guiar na sua campanha
Seu Amigo certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 21 de Abril 1910


DESTINATÁRIO: Freitas?; LOCAL: Lisboa?]
[116] 21 abril 910
Meu Caro amigo e Senhor Freitas
Pedia ao meu amigo o favor de fazer publicar o annuncio junto no jornal mais lido de Lisboa, Seculo ou Diario de Noticias,
durante trez dias e em logar visivel. Faço isto com auctorisação do Senhor Hinton220, e espero que o meu amigo fará este favor
avisando-me do importe do annuncio.
Seu Amigo certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 7 de Outubro de 1910


DESTINATÁRIO: Harry Hinton; LOCAL: Lisboa?]
[117] 7 outubro 910
mo
Ex. Amigo e Senhor Henrique
Já deve estar ao facto dos graves acontecimentos d’este desepaçado[?] Portugal, e talvez melhor do que nos aqui que por
enquanto[?] pouco sabemos de positivo.
Que resultará de toda esta calamidade?! E da nossa[?] infeliz nesta[?]? O futuro o dirá, [...] corra pelo melhor.
Vou passar-lhe a espor o resultado da esperiencia da turbina Hignette que fiz quando aqui cheguei juntamente com Marsden
e dár-lhe conta das minhas impressões [...] e o que no meu fraco intender vejo n’este assumpto.
Esperiencia feita em 5 do corrente.
Esperiencia da turbina Hignette com petits eaux guardados d’esde a ultima laboração, isto é, 3 mezes, cuja agua apresentava
pouco mais ou menos o mesmo aspecto dos petits eaux normaes, mas que naturalmente devido ao [...] guarda[?] deve ter
modado a sua composição chimica e natureza phisica, tendo um odor a putrido fraco.
A esperiencia com aguas n’este estado deve naturalmente diminuir ou modar o effeito da precipitação dando a esperiencia
n’estas condicções resultados um pouco desfavoraveis, mas que com petits eaux frescos alcalinisados e com o sulfato de
ammonio a percipitação deve ser mais rapida e o resul-//221

144
[DATA: 29de Maio de 1910
DESTINATÁRIO: León Naudet]
[118] 29 mai 1
Mon cher Monsieur Naudet
J’ai bien reçue votre honorée de 17 courant et j’ai pris connaissance de celles que vous avez adressé á Messieurs Dubail et
Sachs auxquelles je repond également
Aluminate de soude: – Je vais en faire l’experience cette semaine en me conformant á vos indications.
Condenseur-radiateur: – Ce condenseur ne donne pas les resultats attendues pour l’unique raison que la perte de charge este
considerable aissu que vous l’avez bien prevu. Le vide a 28 pouces dans la colonne barometrique et l’eau sortant a 30º de
temperature, de vide du triple effet et des cuites est à 22 pouces, la vapeur condensée par heur de 2500 a 3000 kilogrammes au
maxime. Dans ces conditions il est impossible de travailler dans le triple effet et la cuites. Monsieur Marsden a eu l’edée de
soutirer un partie de la vapeur du ballon central et de l’envyer directement á la colonne barometrique par le nouvelle valvule du
croquis. On a alors obtenu un vide de 27 pouces á la colonne barometrique et l’eau de condensation a 40º temperature et 24 a
25 pouces de vide au triple effet et a la cuite: Mais ceci n’est etablè que provisoirement pendant qu’on etudie le fonctionnement
de l’apparail. Je crois que pour tirer un meilleur partir du condusseur et obtenir le rendement maximum, nous deverons placer
un turbo-compresseur entre le ballon et le condenseur pour donner á la vapeur da rapidité de circulation nécessaire dans le
condenseur raiateur. Ci joint un croquis de mon projet que vous permettra de mieux suivre mon edée et de me dire ce que vous
en penses.
D’autre part, j’ai constate que les eaux condensés ne sortent pas librement // [119] [...]222 celá este dû au faible diametre et
de 3 pouces, et Marsden qui au début n’etait pas de mon opinion partage maintenant ma maniere de voir á ce sujet mais il n’est
pas partison de l’adjonction d’un turbo-compresseur qui selon lui ne produira aucun effet.
Cuite au filet: – Dans le but de faire l’experience au cours de cette année du passge[sic] des cuites au filet dans les filtres
presses, nous avon[sic] decidé avec Monsieur Hinton223 de faire venir une prompe à masse cuite de capacité suffisante pour
notre travail mais nous vaudrions autant que possible une prompe d’occasion. Cette pompe devant être commendée par courroi,
veuillez nous doit[?] quelle force en chevaux vapeur cette pompe nécessitera.
Cela dit voici ce que j’ai l’intention de faire:
Apres la fabrication le fera cuire au filet les égoûts restant (égoûts à recuire) et les enverrai dans les [...]224 citernes ou ils
resteront pendant 2 mois. Au bout de ce temps je les ferai passer dans une malaxeur avec de la melasse diluée puis aux filtres
presses. Les tourteaux obtenús seront envoyes à leurs tour dans une malaxeur avec des égoûts plus pures de façon á faire une
masse cuite facil a turbiner.
Les égoûts pauvres de cette burbinge seront recuits á nouveau et les égoûts riches pour diluer les tourteaux.
Monsieur Hinton et moi desiron avoir votre opinion sur ce projet.
Je vous prie d’acheter la pompe à masse cuite – d’occasion si possible – le plus tôt que vous pouvez et de nous l’envoyer
dans le plus bref délé.
Bien Cordealment á Vous[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 2 de Junho de 1911


DESTINATÁRIO: José Torquato de Freitas; LOCAL: Praia, Ilha de São Tiago, Cabo Verde]

[120] Cabo Verde, São Theago – Praia 2 Junho 1911

José Torquato de225


Meu presado Amigo e Senhor Freitas
Recebi a sua carta de 16 de maio ultimo o que muito lhe agradeco[sic].
Mostrei-a ao Senhor Hinton226 que me disse lhe hia escrever sobre o nosso assumpto, mas não sei se sempre o fará.
Quanto a mim continuo a pensar no caso e estou resolvido, se o Senhor Hinton se não decidir a nada, a fazer todo o possivel
para que a nossa empresa siga o caminho desejado aproveitando o entosiasmo que Naudet227 tem. Já tenho feito os meus calculos
que em tempo competente lhe enviarei.
O que eu quero é ver as Constituintes em bom caminho a ver se os Deputados por ahi tratam da questão, sem isso nada se
deve fazer acho eu.

145
Quanto ao que apareceu no “Seculo” nada sei mas naturalmente não foi Naudet.
Sem tempo para mais subscrevo-me Seu Amigo Attencioso e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 26 de Junho de 1911


DESTINATÁRIO: León Naudet]
[121] 26 juin 1911
Mon cher Monsieur Naudet
J’ai bien reçu en son temps votres honorées de 6 et 15 courant, j’ai un peu defféré ma reponse pour pouvoir vous entretenir
en même temps des differentes questions à l’étude.
1º Condenseur-Radiateur – On je me suis mal expliqué dans ma précédent lettre ou vous m’avez mal compris. Je n’ai jamais
songé á introduire de la vapeur dans le Condenseur mais seulement á forcere mecaniquement le passage plus rapide des vapeurs
du ballon dans le Condenseur par exemple à l’aide d’un compresseur rotatif ou d’un natilateur à haute pression genre Sautter
Harlé ou outre et commandé exerieurement par courroie ou dynamo. C’est sur la possiblité ou nom sous les resultats á attendre
d’une semblable application que je vous demande á nouveau votre avis.
Travail à l’aluminate – Aissi que vous le verez par les essais effectués au laboratoir, le travail á l’aluminate n’a pas donné
de resultats probants.
Sulfitation alcaline: – J’ai repris la sulfitation alcaline quelques jours seulement apris l’avoir suspender á titre comparatif. //
[122] Pompe à Melasse Cuite – Je vous confirme notre telegramme du 24 ou 25 (?) disant «Achetez» et je compte donc que
cette pompe nous parviendra dans la plus bref délai. Mon intention est de me conformer à vos indication et de commencer la
cuite des égoûts aussitôt la fabrication terminée.
Avec mes remercisments, vouille agrées Cher Monsieur, l’expression de mes meilleurs Sentiments[Ass:] João Higino Ferraz
//

[DATA: 26 de Junho de 1911


DESTINATÁRIO: José Torquato de Freitas; LOCAL: Praia, Ilha de São Tiago, Cabo Verde]
[123] 26 junho 1911
Ex.mo Amigo e Senhor José Torquato de Freitas
Tenho em meu poder os seus estimados favores de 6 e 14 do corrente, assim como a copia da representação feita ao Governo
e o roteiro do archipelago de Cabo Verde o que muito lhe agradeço.
Gostei da representação que esta muito bem feita e explicativa.
Junto envio-lhe as bases para o establecimento de uma Companhia Assucareira conforme o meu modo de vêr.
Estas bases poderão servir para que os Depotados por ahi possão tratar qualquer cousa nas Constituintes em beneficio d’essa
Ilha.
Sei perfeitamente que fazendo o governo qualquer cousa será posto em concurso, mas isso pouco cuidado me dá, porque o
meu Amigo sabe perfeitamente que usando todos os aperfeicoamentos[sic] como temos aqui na Fabrica posso eu ou o Senhor
Hinton228 concorrer com vantagem, e mesmo acho que para segurança das obrigações do Governo isso seria muito mais
vantajoso. O que vejo é que nada se pode fazer sem que o Governo decida essa questão, porque ninguem se abalançará a uma
tal empresa sem garantias seguras. //
[124] Acabo de fallar com o Senhor Hinton que me diz lhe vai escrever, mas a opinião d’elle é a mesma que a minha «nada
poderi[sic] fazer para a formação da Companhia sem que o Governo apresente qualquer base sobre esse assumpto» são estas as
pallavras testuaes d’elle.
Por tudo isto o meu Amigo verá qual o caminho que tem a seguir e todas as pessoas interessadas ahi.
Fico pois esperando os resultados de tudo isto e espero que qualquer resolução a tomar deve ser breve porque perde-se
<tempo> é[sic] o tempo é dinheiro.
O Senhor Hinton vio as bases feitas por mim e aprovou por completo, tanto que mandou tirar mais copias para guardal’as.
Sem mais outro assumpto Sou com estima e Consideração seu Amigo Attencioso e Obrigado[Ass:] João Hygino Ferraz //

[DATA: 26 de Agosto de 1911


CARACTERIZAÇÃO: Descrição e considerações acerca de uma experiência com o aparelho Triple-Effet, e tecidos
filtrantes aplicados]

146
[125] 26 agosto 1911
Experiencia com o filtro-presse, depois de concertada a bomba, funccionando elle bem:
Fiz a esperiencia novamente da filtração da Melasse Cuite nos filtros-presse com panos, sendo a Melasse Cuite diluida com
égoûts pauvres e filtrada á temperatura de 40º Centigrados. O melaço não passava nos panos, como da 1ª experiencia, ainda
mesmo com a maxima perção da bomba que calculo fosse (depois do filtro presse cheio) de 3 ? a 4 kilogramas de perção. As
juntas do filtro, devido á alta perção, deixavam passar Melasse Cuite, mas os panos, como já disse, não passava o melaço.
N’essa mesma occasião fiz a esperiencia do pequeno filtro com tecido (egual á amostra junta) sahindo o melaço bem, mas
o filtro, por ser pequeno, sofria toda a perção da bomba não podendo resistir a tão alta perção, sahindo a Melasse Cuite pela
porta superior, e alem d’isso como toda a Melasse Cuite mandada pela bomba (mesmo andando o mais devagar possivel) era
somente aplicada ao pequeno filtro, não dava vasante ao melaço, não formando n’esse caso tourteau.
Como porem nas esperiencias feitas com este pequeno filtro com a perção d’ar comprimido a 1 ? kilogramas e com cargas
intermitentes o tourteau se formava bem, vejo que naturalmente o único filtro apropriado a esta filtração de Melasse Cuite será
o filtro com tecido, sendo construido especialmente para esse fim.
É minha opinião que na construção do filtro, substituindo a chapa transfurada se deve empregar entre as reinhuras dos
quadros e o tecido filtrante um outro tecido muito mais aberto mas suficientemente resistente para sofrer a perção do tecido
filtrante[?] sobre as reinhuras dos quadros, conforme o sechma junto.[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 6 de Setembro de 1911


DESTINATÁRIO: José Torquato de Freitas; LOCAL: Praia, Ilha de São Tiago, Cabo Verde]
[126] 6 setembro 1911
Ex.mo Amigo e Senhor José Torquato de Freitas
Em meu poder as suas presadas cartas de 30 de Julho e 10 agosto ultimos acompanhando as representações e projecto de
lei.
Li tudo com a maxima attenção e ponderação, e é minha opinião que o Governo não acceitará a lei como está proposta (6000
toneladas por anno) em vista do que está decretado para a Africa Ocidental e Oriental que apenas dá 6000 toneladas com 50%
dos direitos para cada uma. O Senhor Hinton229 seguio para Londres no mez passado e elle continua a dizer que nada se pode
fazer sem que o Governo decida qualquer cousa. O advogado d’elle Dr. Quirino230, é de opinião que sendo por concurso a
questão é dificil tanto para Hinton como para si, visto sendo o concurso livre outro qualquer pode concorrer e o meu Amigo
fica prejudicado; disse-me elle que essa questão deveria tomar outro caminho. O Senhor Hinton disse-me que em nada pode
influir em Lisboa junto do Governo sobre questões d’assucar, porque o nome Hinton é sempre visto com maus olhos… e é a
pura verdade!
Esteve aqui no mez de agosto de passagem para Lisboa um dos agronomos da Missão agronomica que desejou ver a Fabrica,
e por elle sube que interveio nos dados que o meu Amigo me enviou em tempos. Por elle sube tambem que toda a deficuldade
é de transportes, e foi sempre esse o meu receio n’esta empreza. A opinião d’elle é que é // [127] economicamente impossivel
ligar todos os centros productores de canna a uma unica Fabrica Central. É isso uma das meiores dificuldades para a realisação
d’uma empreza em condições vantajosas, porque desde o momento que se tenha que montar mais de uma fabrica, o capital
absorvido por ellas pode tomar taes proporções que é de inevitavel ruina. Foi isto sempre o meu receio, e é por isso que eu lhe
dizia que sô estudando bem os meios de condução da canna uma empresa deve então tomar o encargo de tal conseção.
Crêa o meu Amigo que sinto bastante os encomodos que tem tido, mas é necessario ter presistencia, e operar com todo o
cuidado n’um negocio d’este quilhate porque o Capital é grande e dificil de conseguir d’esde o momento que não haja garantias
seguras. Esperemos a vêr o que o Governo faz, mas vejo estas questões do Governo republicano tão complicadas devido ao
pouco juizo politico de nós Portuguezes que não sei em que tudo isto irá parar.
Fico sempre ao seu dispor para tudo o que o meu Amigo achar que lhe posso ser util.
Seu Amigo certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //[128]231

[DATA: 15 de Setembro de 1911


CARACTERIZAÇÃO: Calculos e considerações relativas a evaporação e destilação de vinhão]
[129] 15 setembro 1911
Calculo para a evaporação do vinhão com o fim da producção de productos fertilisantes: Vinhão de uma fermentação cuja
densidade inecial foi de 6º Beaumé:

147
Analyse: Brix ..........................4º
Densidade ................1014
Beaumé ....................2,1
Temperatura .............24
Acidez litro ..............1,8 gramas em SO4 H2
Para reduzir este vinhão a um xarope de 35º Beaumé ou 65 Brix, quanto evapora d’agua?
Temos x = (65 – 4) 100 = 93,84 litros d’agua a evaporar por cada 100 litros de
65
vinhão.
O nosso destillador Paulmann destilla em 24 horas o maximo de 500 Hectolitros o que se pode calcular esta mesma
quantidade em vinhão. Qual deve ser a capacidade de evaporação em um duble effet trabalhando com perção para este trabalho?
A meu vêr, cada metro quadrado de surface de chauffe em um duble effet com perção deve evaporar em 24 horas 7
Hectolitros, teremos pois de ter 72 metros quadrados de surface de chauffe repartidos pela seguinte forma:
1ª caixa ———- 28 metros quadrados Trabalhando a 1 ? kilogramas
2ª caixa ———- 44 metros quadrados “ a 1 kilograma
Temos estas duas caixas antigas e uma outra de 53 metros quadrados
[Ass:] João Higino Ferraz //
[130] 15 Setembro 1911
Considerações particulares:
1ª Com o xarope a 35º Beaumé indo ao forno “Porion” a sua propria combustão dá as calorias necessarias á sua carbonisação
ao estado de carvão puroso.
2ª A fermentação com o grau inecial de 6º Beaumé pode ser levado ao maximo (com melaço de canna) a 8º Beaumé que
dará um vinhão um pouco mais consentrado.
3ª O trabalho do destillador pode ser feito pelo vapor da 2ª caixa do duble effet, tendo n’este caso de metter vapor directo
somente na 1ª caixa.
4ª É bom consultar Monsieur J. Kavan, ingenieur-chimiste de Prague que tem um aperfeiçoamento no forno antigo de
“Porion”.
Desposição aproximada dos evaporadores: Schema

DESENHO P4270024.JPG

DESENHO P4270024.JPG
[Ass:] João Higino Ferraz //
Em falta
[DATA: 9 de Outubro de 1911
DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre]
[131] 9 octobre 1911
Mon Cher Monsieur Lefebvre
J’ai reçu á Funchal votre aimable lettre du 6 dernier pour la raison que cet année il m’a été impossible de sortir de Madére,
du au travail du restant de la fabrication et du raffinage du sucre d’Afrique que nous deverons commencer á la fin de ce mois-
ci.
C’a m’a giné asses parce-que je desirais faire mon voyage comme j’avais projéte, et voir le mise en route de la fabrique
d’Espagne tandis que vous y étiez.
J’ai eu cet année beaucoup de chagrin avec la fabrication du au mauvais rendement en turbiné, dans la cause est du, à mon
manier de voir, à l’etat de la canne pour l’excés d’engrais azotés et de le proprieter ou agriculteur de ne pas employer la chaux
dans les terrains comme Marcus avait recommendé, donnent çá de resultat de formation de gomes que prejudiciaient la
crystalisation invertant en partie le sucre par les diastases y contenues. Je desirais bien causer avec Monsieur Naudet sur ce
subjet mais il m’a a été entierement impossible sortir de Madére.
Faites mes compliments a Madame et á son gentil fille
Pour vous un embrassement de votre Ami devue[Ass:] João Higino Ferraz //

148
[DATA: 28 de Dezembro de 1911
DESTINATÁRIO: Valentim Pires Leiró; LOCAL: Lisboa]

[132] 28 Dezembro 1911


Ill.mo Senhor Ventim Pires Leiro, Lisboa

Em meu poder a sua estimada carta de 18 do corrente assim como os Devis das tres casas constructoras.
Pelo estudo rapido que fiz dos diversos devis apresentados vejo que o trabalho em todos elles sendo simples é contudo
imperfeito para o fabrico e dando perdas em assucar bastante elevadas no bagaço enviado ás caldeiras de vapor.
Não posso vêr como elles calculão o rendimento de 8,5% em turbinado visto naturalmente não saberem qual a percentagem
de assucar na canna e mesmo o meu Amigo não poder dár essas indicações por não ter feito analyses que sirvão de comparação.
Vejo porem que com o defibreur e dupla perção seca como propõe a Casa Cail232, que a meu vêr é a mais rasuavel e melhor
deliniada, a não ser na sua proposta de perção hydraulica nos cylindros que sendo muito bom é contudo muito caro, elles não
podem obter mais de 78 a 79% d’extração. É parece-me de toda a conveniencia extrahir o mais possivel em assucar turbinado
para que o rendimento por Hectare de terreno seja elevado até onde o meu Amigo pelos seus calculos veja pode tirar vantagens,
por isso lhe dou os diferentes rendimentos que pode tirar pelos diversos systemas de moagem da canna, calculando para isso,
na canna 13% em assucar:
Com um defibreur e dupla perção seca = 78% extração ou 64% em assucar puro turbinado, isto é, 8,32 kilogramas assucar
% kilos cana //
[133] Com defibreur e dupla perção com uma imbibição de 15% = 88% extração ou 80% em assucar puro turbinado, isto
é, 10,40 kilogramas assucar % canna.
Com defibreur e triple preção com duas imbibições de 25% = 93% extração ou 84,5% em assucar turbinado, isto é, 10,98
kilogramas assucar % canna.
Quanto aos preços dos apparelhos vejo grandes diferenças, mas isso é em grande parte devido aos intermediarios, que sendo
uma desvantagem é contudo para si muito mais facil de establecer contratos por isso que o meu Amigo não conhece a fundo a
materia e necessita pessoa que lh’as indique e com quem trate de viva vôs. Como vejo que tem na sua antiga fabrica um moinho
de trez cylindros poderá applical’os a formar uma triple perção como propõe a casa “Squier” mas com imbibição, comprando
um defibreur e dois moinhos de 3 cylindros cada um, caso o seu moinho tenha a capacidade e resistencia para as 250 toneladas
de canna em 24 horas. A seguir lhe dou a minha fraca opinião como eu montaria a fabrica, mas isto sô nos pontos principaes,
porque nos pequenos detalhes de montagem devem ser estudados pela fabrica constructora tendo sempre em vista a economia
de combustivel para evitar o ter de queimar carvão ou lenha para a formação do vapor necessario ao fabrico.
Trabalho aplicado:
1º Conductor de cannas conforme os devis apresentados.
2º Um defibreur Krajewski.
3º Dupla ou tripla perção, com simples ou dupla imbibição.
4º Trez chauleurs de 20 Hectolitros cada um com movimento mexidor.
5º Sulfitação alcalina em 3 caldeiras sulfitadoras intermitentes de 35 Hectolitros cada uma, servidas por um forno de SO2
(acido sulfuroso) //
[134] Não aconcelho o Quarez continuo que é dificil de controlar e demanda um cuidado especial do chimico para evitar a
sursulfitação que produz grande quantidade de SO2 livre que no trabalho subsequente se transforma facilmente em acido
sulfurico que invertendo o assucar diminui o rendimento em turbinado tornando além d’isso o trabalho da cristalisação dificil.
6º Defecação continua em circulação rapida em 4 rechauffeurs de 30 metros quadrados de surface de chauffe de 8
circulações, sendo 3 em trabalho e um em limpeza, até á temperatura de 95-96º centigrados. Este systema de defecação é facil
de conduzir, sendo necessario para isso uma bomba centrifuga Sechabaver Nº 3 para a circulação rapida. Estes rechauffers são
aquecidos pelo vapor perdido das machinas, sustentados a uma perção minima de 0,500 kilogramas = 110º temperatura
centigrados.
7º Uma bateria de filtros-presses com levagem para a filtração total do jus defecado. Por esta forma de defecação (contra o
que diz a casa “Sequier”) e filtração total do jus defecado que dá um jus mais puro e mais claro, evita-se as baterias de
defecadores, decantadores, eleminadores e deposito de borras, dando um trabalho mais perfeito, livre do contacto do ar, com

149
duas filtrações dando um jus mais brilhante, e faz uma certa economia de combustivel. É necessario porem que a casa
constructora estude bem a forma de montagem e a superfice filtrante em filtros-presses necessarios ao trabalho requerido.
8º Ébuillanteur para o jus claro dos filtros-presses até á temperatura de 105-108º centigrados em uma serie de 2 rechauffeurs
eguaes aos da defecação mas aquecidos a vapor directo detendue a 2 kilogramas = 132º centigrados temperatura. Este
ébuillanteur substitui os eleminadores com muito melhor resultado por ser feito livre do contacto do ar e serem continuos. Estes
rechauffeurs são tambem servidos por uma Sechabaver Nº 3.//
[135] 9º Uma bateria de filtros mechanicos ou á tissu ou de area. Empregando os filtros á tissu aconselho os Filippe com
toiles proprias ao jus de canna.
Sendo de area aconselho os de Raimbert com tanque de levagem independente. Empregando os filtros mechanicos á tissu
necessita dois filtros-presses para as borras d’elles retiradas.
10º Um triple-effet com 320 ou 350 metros quadrados de superfice de evaporação para as 250 toneladas de canna em 24
horas, conforme montar a dupla ou triple perção com imbibição, trabalhando de forma a produzir um xarope a 30-32º Beaumé
Faço-lhe bem notar que o triple tenha a superfice de evaporação acima dita, porque todos os constructores têem sempre por
norma dár pouca capacidade aos evaporadores e a pratica não dá mais de 22 litros na media em agua evaporada com jus de 1058
de densidade por metro quadrado e por hora para um triple em que se quer obter xaropes a 30-32º Beaumé.
11º Dois Cuites, sendo um de 100 Hectolitros para pé-de-cuite em comonicação com outro de 150 Hectolitros; n’este cuite
faz-se a reentrada dos égoûts de 1ª até 20 a 30% dos égoûts disponiveis. N’estas condições os cuites estão quasi sempre em
trabalho, visto que, logo que seja passado o pé-de-cuite de 100 Hectolitros ao de 150 Hectolitros, principia-se novamente na
formação de outro pé-de-cuite no de 100 e assim sucessivamente.
12º Tres malaxeurs-refroidisseurs de 170 Hectolitros cada um para os cuites de 1er jet.
13º 8 malaxeurs abertos comonicantes de 100 Hectolitros cada um para a malaxagem continua do 2º jet que será feito na
pequena caldeira existente na fabrica. //
[136] 14º Um ballão central (relantisseur), que recebe os vapores do jus do triple e cuites, em comonicação com uma
columna barometrica central e bomba de vacuo seca. Este ballão é de grande vantagem porque evita as perdas por entrenement.
15º 4 turbinas (centrifugas) systema Watson com motor a agua para o 1er jet com o seu malaxeur-transportador de Melasse
Cuite que recebe directamente a Melasse Cuite dos malaxeurs-refroidesseurs de 1er jet.
16º 2 turbinas do mesmo autor independentes das de 1er jet mas trabalhando com a mesma bomba de perção hydraulica, em
comonicação edentica com os malaxeurs continuos de 2º jet. O assucar produzido por esta turbinagem não é lavado nem leva
vapor porque será refundido (derretido) no jus ou xarope para entrar novamente no cuite de 1er jet. N’estas condições tira-se
somente um typo de assucar bruto ou levado e melaço perfeitamente épuissée.
17º Um malaxeur redondo de 25 Hectolitros com serpentina de vapor para a refundição do assucar de 2º jet no jus ou xarope.
Todo o mais são detalhes a estudar pela fabrica constructora.
Sou com toda a consideração de V.a Ex.a Attencioso Venerador[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 15 de Janeiro de 1912


DESTINATÁRIO: J. Colin]
[137] 15 janvier 2
Monsieur J.Colin
J’ai l’honneur de vous confirmer ma lettre du 8 courant.
Je vien de recevoir votre estimée du 8 Decembre dernier et inclus votre Catalogue et prix que je vous remercie beaucoup.
Comme referance á má personne je vous donne Messieurs les Ingenieurs de la Société des Brevets Naudet 3, rue de
Chantilly – Paris (9º)
Je vá etudier la question des pressoirs et je crois que vous commenderaits un appareil Nº 1 sous socle dans le prochain mois
de mai, de manier à étre ici au fin de Juillet.
Veuillez agreer, Monsieur, l’expression de mes sentiments les plus distinguis[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 16 de Janeiro de 1912


DESTINATÁRIO: Valentim Pires Leiró; LOCAL: Lisboa]

[138] 16 janeiro 1912

150
Ill.mo Amigo e Senhor Valentim Pires Leiro Lisboa
Confirmo a minha ultima com data de 28 proximo passado
Em meu poder a sua estimada carta de 6 do corrente acompanhando a sua circular pela qual vejo que ao meu amigo ficou
a cargo os negocios da casa Diogo & C.ª e faço votos pela felicidade dos seus negocios. Junto tambem recebi o Devis da Casa
“La Chimia Industria” de Bruxellas, mas posso garantir que esta casa nada tem com a casa Cail de Paris.
Devis[?] – Pelo exame feito ao devis vejo que elles lhe propôem uma diffusão directa da canna, que me parece que ao meu
amigo não lhe convem, ainda que o rendimento em assucar é melhor, visto perder o bagaço como combustivel o que é
importante para si nas condições em que tem a sua industria. Se eu visse que a diffusão lhe seria vantajosa, aconselharia uma
diffusão do bagaço pelo processo Hinton-Naudet, como temos aqui montada, mas pela pratica que tenho d’esse processo, elle
sô convem a uma fabrica que fassa pelo menos 300 toneladas de canna em 24 horas em trabalho continuo, e que tenha um
pessoal de direcção habilitado e um control chimico regular. Continuo pois nas mesmas edêas da minha carta de 28 proximo
passado e a ellas mais nada posso acrescentar, e se // [139] o meu amigo tomar os meus conselhos estou certo lhe dará os
resultados vantajosos.
Quanto á parte da sua carta em que me propõe eu ser o intermediario na verificação do fabrico e emprego do material na
Fabrica constructora em que fizer a encomenda, tenho a dizer-lhe que isso me é dificil ainda que com vantagens para mim,
porque como o meu amigo muito sabe tenho a meu cargo a direção technica da Fabrica Hinton á qual estão ligados os meus
interesses e que não posso de forma alguma abandonar por muitos motivos tanto economicos como pessoaes. Contudo, como
nos fins do anno corrente, talvez em outubro, eu vá a Paris tratar de negocios da Casa Hinton e meus, poderia no caso de
concordancia entre nôs, e caso os trabalhos de construção do material estar em bom andamento ou perto de conclusão, vesitar
os Fabricantes e verificar se o material e processos estão conformes ás suas indicações. N’esse caso o meu Amigo me
arebritariaria[sic] uma commição que remunerasse os meus trabalhos de verificação de material.
Motores elletricos: – Quanto a esta parte acho uma belissima edêa a sua de aproveitar a sua queda d’agua para os fins que
deseja, mas não para o trabalho dos moinhos de canna o que é quasi impossivel e nada pratico pela força que demanda esta
parte do trabalho que lhe absorveria quasi por completo toda a força // [140] elletrica desponivel; alem d’isso o meu amigo
necessita vapor para as suas evaporações da garapa ou jus, e que não tendo vapor exausto se verá obrigado a empregar vapor
directo, não tendo por isso vantagem alguma. Vejo porem que poderá empregar a força elletrica no seguinte: Luz para a Fabrica
e dependencias, todas as bombas serão centrifugas movidas a elletricidade, as turbinas Watson com motor elletrico, malaxagem
isto é, movimento dos malaxeurs por motor elletrico, etc.
Para isso deve o meu Amigo enviar á casa constructora o volume medio da agua do seu açude assim como a altura de queda
d’elle, para elles poderem calcular qual a força hydraulica desponivel para as turbinas a applicar a um dinamo. N’um caso
d’estes é muito conveniente a montagem ser feita sobre a direção de um elletricista competente. Faço-lhe porem desde já a
prevenção de que a installação para todos os fins que deseja caso a força motris agua seja suficiente, lhe vai custar bastante
caso, ainda que lhe traga grandes vantagens futuras.
Sem mais, sou com toda a consideração, de V.a Ex.a Attencioso Venerador Obrigado[Ass:] João Hygino Ferraz //

[DATA: 17 de Fevereiro de 1912


DESTINATÁRIO: Valentim Pires Leiró; LOCAL: Lisboa]

[141] Funchal 17 Fevereiro 1912


Ill.mo Ex.mo Senhor Valentim Pires Leiro,Lisboa
Amigo e Senhor
Em resposta ao seu estimado favor com data de 28 Janeiro ultimo, cumpre-me dizer que acceitando V.a Ex.a a minha
cooperação na verificação dos apparelhos a construir em França, verificação que será feita na propria Casa Constructora no mez
de outubro proximo, acceito esse encargo arbitrando-me 1% (um por cento) de commição sobre o total da factura da
encommenda ou devis, para uma simples verificação, conforme o contracto que fizer, o qual me será enviado copia para
verificar quaes os apparelhos encommendados e suas capacidades e indicações geraes.
Se, alem d’essa simples verificação, eu tiver de dár qualquer indicação á Fabrica Constructora ou a V.a Ex.a para a
montagem de systemas de fabrico e formas de trabalho a adoptar, a minha commição será de 2% (dois por cento) sobre o valor
total da factura, e n’esse caso ficará a meu cargo indicar por carta ou schemas a V.a Ex.a ou // [142] á casa constructora todas
as indicações pedidas. Ficará porem intendido que nada tenho com os defeitos de montagem dos apparelhos na sua fabrica de

151
Novo Redondo, para o que V.a Ex.a obrigaram a casa constructora a bem fazer.
Parece-me porem, que esses 1% a mais para o segundo caso, deveria ser pago em parte pela Casa Constructora, diminuindo
V.a Ex.a do preço da factura, porque eu nada quero ter de contractos com essas casas, simplesmente com V.a Ex.a. A minha
commição ser-me-há paga depois da verificação dos apparelhos em França e á minha chegada a Lisboa.
Sempre ás suas ordens subscrevo-me Seu Attencioso Venerador e Amigo[Ass:] João Hygino Ferraz //

[DATA: 13 de Dezembro de 1912


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[143] 13 Dezembro 2
mo
Ex. Amigo e Senhor Hinton
Acabo de receber uma carta de Naudet233 com data de 6 do corrente acompanhada com os planos dos apparelhos
encomendados e o Sechema e planos para o trabalho da Melasse Cuite 2º jet nos filtros.
Vejo, pela nota enviada das encomendas feitas por si que não está incluido o pequeno malaxeur para a diluição do tourtou
com o jus o que é indispensavel porque o não temos e para o mandar construir em Lisboa não sei se elles o farão a tempo. Como
porem o Senhor Hinton está em Lisboa poderá fallar ao Dargent234 sobre isso. O malaxeur deve ser de 20 Hectolitros uteis com
seu mexidor mandado por poles fixa e volante e com uma pequena serpentina de vapor para a conservação de uma temperatura
regular: Fazendo ahi a encomenda não fallarei em nada ao Naudet.
Uma outra parte da carta é com relação ao sulfitador Lacouteur que elle diz o Senhor Hinton não lhe ter feito a encomenda
e que elle da sua parte não poderia fazer sem sua auctorisação; Como lhe disse em Londres parece-me que o Quarez que temos
não dará para a sulfitação do jus total alcalinisado conforme as indicações de P.G.[?] e foi devido a isso que eu em Paris disse
ao Naudet ser necessario um Lacouteur, e elle mesmo na sua carta diz, “il sera un peu faible c’est indiscutible, mais j’ai
l’esperance qu’il fera, à peu prês, le service que vous lui demanderez.” Diz elle tambem que não haverá tempo para mandar
construir um, e devido a isso combinei com Monsieur Marsden de se fazer uma modificação no injector de Quarez existente //
[144] e substituir a bomba que lhe pertence por uma outra meior de forma a fazer mais appele de gaz e sulfitar mais
rapidamente; n’este caso teremos somente de adquirir uma bomba de meior força para o sulfitador Quarez.
Na ultima semana escrevi ao Naudet propondo-lhe o seguinte: Tirar dos decantadores de jus defecado 1/3 parte do liquido
claro (parte superior) por torneiras e tubo separado, indo este jus perfeitamente decantado directamente ao Triple, e o resto, isto
é, 2/3 composto de claros e borras, indo a parte clara (ainda que alguma cousa turva) aos filtros mechanicos e as borras á
diffusão como combinamos. N’estas condições os filtros mechanicos terão muito menos trabalho e darão um jus brilhante, tendo
isso grandes vantagens diversas que depois lhe direi. Tenho porem receio que Naudet o não queira fazer sem sua auctorisação,
visto que as torneiras e tubo geral de ligação devem vir previstas nos apparelhos (decantadores) encomendados: Seria bom o
Senhor Hinton lhe escrever auctorisando isso.
A refinação do assucar d’Africa deve ficar concluida a 20 ou 21 do corrente.
O alcool já vai sobrando das encomendas mas ainda não temos stock quasi nenhum
O tanque do melaço deve andar meio pouco mais ou menos
Sem mais que lhe diga subscrevo-me Seu Amigo certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 16 de Dezembro de 1912


DESTINATÁRIO: León Naudet]
[145] 16 Dezembro 2
Meu Caro Monsieur Naudet
Recebi a sua estimada carta acompanhando os planos dos apparelhos encomendados o que muito agradeço.
O Senhor Hinton235 enviou-me uma carta sua derigida a elle com data de 2 do corrente em que traz a enomeração dos
apparelhos que elle fez a encomenda, e pede-me para eu verificar se tudo está em ordem: Devido a isso tenho a dizer-lhe que
não vejo na lista dos apparelhos o pequeno malaxeur para a diluição do tourteau de Melasse Cuite com jus da fabrica o que é
indispensavel. Como bem se deve lembrar eu pedi em Paris que tudo viesse completo visto que na Madeira teriamos dificuldade
em fazer construir, e o mesmo disse ao Senhor Hinton; vejo porem que elle não fez incluir esse pequeno malaxeur. Sobre este
assumpto acabo de escrever para Lisboa ao Senhor Hinton dizendo-lhe isto mesmo, de forma a que elle o fassa construir em
Lisboa a tempo de ser montado para o principio da laboração. Pedi a capacidade de 20 Hectolitros e com serpentina de vapor;
está bem assim?

152
Quanto ao que me diz na sua carta de 6 do corrente com relação ao sulfitador fico siente, mas parece-me mais conveniente
fazer uma pequena modificação no Quarez existente de forma a lhe dar mais capacidade de trabalho para nos evitar dificuldades
futuras. A modificação será augmentar um pouco a secção do injector e montar uma outra bomba de meior força a fim de fazer
mais appelle de gas sulfuroso e fazer a sulfitação mais rapida. Combinei isso com o engenheiro e elle diz-me ser facil de fazer.
Na minha ultima carta propuz a sulfitação da garapa bruta pelo Quarez, mas como elle vai ser empregado na // [146]
sulfitação do jus total poderemos fazer a esperiencia com acido sulfuroso liquido.
Quanto á parte da minha carta com relação á não filtração de 1/3 do jus de decantação, escrevi ao Senhor Hinton e estou
certo que elle aprovará, por isso que a despeza é minima e deve dár o resultado previsto. Pedia-lhe pois fizesse incluir na
encomenda dos decantadores as 7 valvulas ou robinettes à tiroir colucadas a 2/3 da altura com seu tubo de ligação entre ellas.
Sobre qualquer ponto que eu tenha duvidas lhe escreverei e agradeço-lhe a sua solecitude, mas peço-lhe que me diga com
toda a franqueza se comprehende bem as minhas carta em portuguez porque no caso contrario eu farei escrever em francez por
Carlos236; mas confesso que assim será mais facil para mim.
Sempre a vossa desposição para tudo em que lhe possa ser util, e espero com muito prazer a sua visita e de Madame Naudet
no proximo anno.
Crêa-me seu Amigo sincero
[Ass:] João Higino Ferraz
Os meus respeitosos comprimentos a Madame Naudet e faço votos que o proximo anno seja para os dois tão feliz como para
mim proprio desejo.[Ass:] Ferraz //

[DATA: 4 de Janeiro de 1913


DESTINATÁRIO: René Le Grand de Mercey; LOCAL: Chateau de Mercey, França]

[147] 4 janvier 3
Mon cher Ami et Monsieur René Le Grand de Mercey,Chateau de Mercey
Monsieur
Comme nous avons combiné je vous fais la commande d’un “Moussogène” perfectioné, sterilisant la bouteuille et la
remplissant, comme vous m’avez conseillé, de façon qui se peut avoir, dis le commencement, le meilleur resultat possible avec
cette nouvelle industrie ici à Madère.
J’espere donc que vous pouvez m’envoyer la commande avec toutes les bonnes conditions d’emballage etc. et bonne
qualitée du materiel. Je vous demande d’avoir beaucoup de soin avec l’emballage à acuse des transportes de chemin de fer,
bateau etc. et d’écrire sur les caisses le mot “Fragil”.
Ci-joint je vous envoi Copie du materiel necessaire comme le devis d’installation que vous m’avez donné dans votre bureau.
Pour le transport du materiel necessaire je ne sais pas si c’est mieux et moins dispendieux de l’envoyer par chemin de fer-
petite velocitée-voie d’Hespagne jusqu’à Lisbonne, où la Maison Hinton & Sons à un bureau et dont l’adresse este “66, Rue da
Magdalena – Lisbôa”. Je vous pris d’ecrire à cette maison leur prévenant de l’expédition du materiel et d’envoyer touts les
decoments. J’ecrivais aussi a cette maison pour qu’elle m’envoie le materiel par un bateau portugais jusq’a Madére. Si vous
trouvez que c’est mieux d’envoyer par voir maritime, d’Anvers-Madère, veuillez bien faire ca, mas je vous // [148] previens
que c’est seulement à Anvers qu’il y a des bateaux que portent des marchandises por Madère. Les bateaux partant du Havre,
Boulogne et Cherbourg ne recoivent pas de marchandizes pour cette ille.
Je vous prie de voir si c’est plus bon marche par Anvers, mas je trouve que c’est plus sûr voie de Lisbonne. J’espère aussi
que vous aurez la boutée de m’enseigner dans les moindres détails de mode de fabrication rationelle du vin mousseaux et la
preparation du liqueur de champagne fine et demi fine.
Comme je desire aussi faire l’experiense de la fabrication du Cidre mousseux je vous prie de bien vouloir m’envoyer toutes
les indication necessaires pour bien réussir dans cette fabrication. Dans le cas de bons resultats je ferai une nouvelle commande
d’un autre appareil que vous m’indiquerez aprés. Je vous envoye ci-inclus un Cheque de 5000 francs, pour payement du
montant du devis, emballage et transporte jusq’á Lisbonne, et le solde, q’il y a aucun, veuillez bien de placer au crédit de mon
compte, ou de m’envoyer facture de déboursement.
Veuillez aussi m’envoyer 600 à 700 bouchons-moitiée pour bouteuilles de litre, et moitiée pour bouteuilles de ? litre, et du
fil pour museler approprié à la machine que vous m’envoyez. Ceci servirá d’echantillon pour les futures commandes.
Je vous envoie l’analyse sommaire de mes vins faits.

153
Je profite cette occasions pour vous remercier de toutes votres amabilitées et je vous souhait une novelle année très heureux
et à toute votre famille. //
[149] Veuillez agrier, mon cher Monsieur de Mercey, mes trés sinceres salutations.[Ass:] João Higino Ferraz
Directeur technique de la fabrique de sucre et alcool de William Hinton & Sons
Note: Les fûts doivent venir demontés, les duelles marqueés pour que je puisse les monter ici. //

[DATA: 20 de Janeiro de 1913


DESTINATÁRIO: René Le Grand de Mercey; LOCAL: Chateau de Mercey, França]
[150] Monsieur René Le Grand de Mercy
20 Janvier 13
Mon cher Monsieur de Mercy
Je vien de savoir qu’il y a une Comp.ª de vapeurs Servizio Italo-Spagnnolo, donc l’agent à Marseille est M. Ph. Perella &
ie
C. da Luca, qui portent des marchandises directment pour Madére, je vous previens
Je vous pris de voir si c’est plus bon qui pour Lisbonne.
Votre ami devuée[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 22 de Janeiro de 1913


DESTINATÁRIO: René Le Grand de Mercey; LOCAL: Chateau de Mercey, França]
[151] 22 janvier 3
Monsieur le Baron René le Grand de Mercey
Mon cher Monsieur
Je vien de recevoir de Monsieur Meran Frères une lettres et inclus la notice du nouveau filtre Malliè, que je vous pris de
commender un de 16 tubes au prix de 850 francs, étamé. Au même tamps je vous accuse reception de votre lettre du 15 du
corrent que je remercier boucoup.
Comme dans le devis le filtre Mallié est de 750 francs il y a une difference de 100 francs en plus; le total du devis será donc
de 4638,50 francs. Mon credit est de 5000 francs, restera un solde de 361,50 francs. Donnerá pour le restant? Je vous pris de
m’envoyer note.
Je vous pris de recevoir, mon cher Monsieur mes bien sincères salutation[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 17 de Fevereiro de 1913


DESTINATÁRIO: Simon Frères; LOCAL: Cherbourg, França]

[152] Monsieurs Simon Frères


17 Fevrier 13 Cherbourg
Monsieurs
J’ai bien recue votre lettre du 1er du corrent aussi comme votres Catalogues et Guide Pratique que je vous remercie bien
pour votre promptitude de reponse a ma demand.
Je vá etudier bien la question et dans le prochain courrier je vá vous envoyer mon maniere de voir que je mette à votre
competent apreciation.
Veuillez agrèer, Monsieurs, mes bien sincères salutations[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 27 de Fevereiro de 1913


DESTINATÁRIO: Simon Frères; LOCAL: Cherbourg, França]

[153] Funchal 27 Fevrier 1913


Monsieurs Simon Frères Cherbourg
Comme je vous avai dit dans ma dernier lettre je desir faire la fabrication du Cidre á Madère dans le Contrée du Santo da
Serra á 800 metres d’altitude on nous avons le meilleurs pommes. Le que nous avont ici c’est la dificulté de transporte. Je
possede dans cette localité un vieux batimant que je desir utiliser pour la montage de la fabrique, donc le plan et coup je vous
remi ci joint.

154
Pour commencer je ferai seulement 2000 kilogrammes de pommes par 10 heurs, mais si je soutire de bon resultât je
augmenteré la fabrication, et pour cella il faut conter les appareils de 1er montage facilment augmentables, et je propose le
suivent que se mette á votre competent appreciation:
1º Lavage des pommes avec une soluction de formol a 4% à son arrivee á la fabrique:
2en Broyage des pommes et á suivre mettre sur le marc obtenue, dans le macerateur, le bio-sulfite en quantitée determinée.
3en Pressurage imediate de cet marc dans le pressoir á traveill ininterrompu. //
[154] 4em Remiage du marc dans le broyeur:
5en Maceration de 12 heurs avec le jus obtenue de 2en maceration:
6em Pressurage de cet marc, et le jus obtenue melanger au jus normal des pommes; cet jus melangé constitui la cidre
marchante:
7en Remiage du marc dans le broyeur:
8en Maceration de 12 á 24 heurs avec l’eau jusqu’a 20 a 25 litres pour 100 kilogramas de pommes:
9en Pressurage du marc, et le jus obtenue mettre sur le marc de 1er maceration:
10en Les 2 prémieres jus, c.a.d., jus normal et jus de 1er maceration melangé, mettre dans une cuve en bois de capacitée
sufficent pour le travaille de 10 heurs (20 Hectolitres), on se mette cet jus en condiction de bonne fermentation, joindre toutes
les matieres necessaires à la production d’une bonne cidre, et faire une premier debourbag.
11en Soutier de cette cuve et mettre en cuves en bois de 50 Hectolitres (6) on se doivre proceder à la fermentation.
12en Joindre dans les cuves les ferments pures habitué au SO2 et mettre sur le bonde le purificateur d’air Noël.
13º La cidre aprés 1er fermentation dans les cuves en bois será passée aux citernes en ciment, pour completer lá 2em
fermentation.
Le reste du travaille je suive votres indications du Guide Pratique.
Pour le desin vous voyée qu’il y a un mure C que je peu soutiraire et mettre en D (rouge). Comme cá nous avont plus
d’espace pour les appareils, et l’espace //
[155]237
[156] pour la fermentation será sufficent pour 6 cuves e 50 Hectolitres. Je croi que serait la meilleur forme de faire.
Je vous demand les plans de montage complete et les prix des appareils suivants:
Nouveau laveur de pommes travailant au moteur, Nº MI de 25 Hectolitres
prix du catalogue ......................................................................................................................525 francs
Nouveau broyeur Nº PEV 14 sur pieds fonte debitant 25 a 35 Hectolitres à l’heure .............320 francs
Pressoir à pommes a travail ininterrompu à vis, à quatre colonnes,
fonctionnant a bras, à doubles maies en bois, serie C2 – page 87 de
votre Cataloge, et jeu complet de toiles et claies en bois ......................................................2262 francs
Moteur “Autonomic” Nº C4 complete, fonctionnant á essence de petrole ...........................1210 francs
Une pompe en cuivre à transmission (Memoire) ...................................................................4317 francs
J’espere qui vous me donnerai une remise sur les prix de votre Cataloge et aussi un escompte pour paiement en un cheque
à la commande.
En attendant le plaisir de vous lire en plus breve delai: Veuillez agréer, Monsieurs, mes bien sinceres amitie[Ass:] João
Higino Ferraz Directeur Thechnique. Maison Hinton & Sons. Madère – Funchal //

[DATA: 17 de Março de 1913


DESTINATÁRIO: René Le Grand de Mercey; LOCAL: Chateau de Mercey, França]
[157] 17 mars 3
Monsieur Baron René de Grand de Mercey Chateau de Mercey
Cher Monsieur
En má possection votre lettre du 11 dernier, qui sem avis à temp, vous deverai attendre le filtre de 16 bubes[sic].
Comme je commence la campagne de la sucrerie dans le 1er avril et je n’est pas le temps desponible aprés le
commencement, je vous demande de voir ci c’est possible de m’envoyer les appareiles avant le fin du mois, de manier que je
puisse faire mes esperiences avant lá Campagne.
En attendant le plaisir de vous lire, Veuillez agréer, Monsieur, l’assurance de mes bons souvenirs[Ass:] João Higino Ferraz
//

155
[DATA: 7 de Abril de 1913
DESTINATÁRIO: Simon Frères; LOCAL: Cherbourg, França]
[158] 7 Avril 3
Monsieurs Simon Frères Cherbourg
Bien reçu votre lettre en date du 28 Mars ecoulé – je vous dirais que je n’ais pas encore les plans annoncée par votre lettre
du 28 dernier.
J’ai bien fait la lecture de vos devis; seulement je constate que le prix net de 1200 francs en plus pour l’appareil a serrage
mechanique “Air-vapor” est un peu elévée – Je prendrais bien l’appareil entier si vous consentée á baisser un peu ce prix net
de 1200 francs.
Pour le reste de l’installation je me charge moi même de faire ici le necessaire.
Maintenant pour la date de la commande comme les batiments devant recevoir ce materiel n’est pas encore achevé, je vous
prie de bien vouloir me dire si votre prix será encore le meme en juin prochene.
Veuillez agréer, Monsieurs, mes bien sincères salutations[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 14 de Abril de 1913


DESTINATÁRIO: Simon Frères; LOCAL: Cherbourg, França]

[159] Funchal 14 avril 1913


Monsieurs Simon Frères Cherbourg
Je vien de recevoir vos plans, que je vous remercie bien, et je suis trez content de voir que toute la montage se peût faire
dans le batiment existante.
Comme changement je ferai seulement un nouvelle batiment au coté gauche pour les cuves de 1er fermentation, et entre les
appareils et le mur á Gauche du vieux batiment j’ai l’espace suffisant pour monter deux cuves en ciment de 40 Hectolitres
chacun pour la Maceration.
J’espere la reponsé à ma lettres du 7 corrent que j’espere vous acepterez ma proposition de faire la commande en Juin
prochain.
Veuillez agrèer, Monsieurs, mes bien sinceres amitie[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 29 de Abril de 1913


DESTINATÁRIO: Simon Frères; LOCAL: Cherbourg, França]

[160] Funchal 29 avril 1913


Monsieurs Simon Frères Cherbourg
En ma possession votre lettre du 14 corrent.
J’accepte les conditions proposée dans vos lettres de 14 corrent et 28 mars éculé pour le forniture des appareils suivants:
1 Laveur de Pommes au moteur avec poulies fixe et folle Nº MI de 25 hectolitres à l’heure.
1 Broyeur de Pommes au moteur avec poulies fixe et folle Nº PEV 14 de 25 a 30 hectolitres à l’heure.
1 Presse à travail ininterrompu á vis á 4 colonnes, á double maie, fonctionnant á bras ou serrage mecanique.
1 Jeu de claies dubles et toiles pour cette Presse.
1 Appareil de serrage mécanique “Air-Vapor” avec son compresseur, poli fixe et folle et la tuyauterie le raliant à la Presse.
1 Moteur “L’Autonomo” complet, en ordre de marche, avec ses reservoirs à eau, á essence, á huile, muni de tous ses
perfectionnements brevetes, allumage par magneto, socle, etc...
1 Pompe à piston, aspirente et foulante á duble effet munie de poulies fixe et folle, cylindre et siege des clapets en cuivre,
glissier cylindrique, bielle en bronze, etc...
Nº ABI de 2000 letres à l’heure, avec son clapet de retenue. //
[161] Je vous pris de me donner les dimensions des poulies pour chaque appareil que je doive mettre dans l’axe generale de
transmission en admetant l’installation realisée conformiment vós dessins.
Pour le payement du pris à net net [sic] de 5500 francs de tout ce materiel descripte, livré à vós usines, proposé dans votre
lettre 14 corrant, je vous envoi ci joint un cheque sur Paris endossée à votre faveur.

156
Tout de materiel será livrée fin juin en quai du Havre, pour partir dans un des vapeurs qui fait le transporte de marchandises
entre Havre et Funchal (Madère). Seulement je vous prie de faire le necessaire pour l’embarquement au Havre du dit materiel
et vous prie egalement de me faire l’envoi contre remboursement.
En attendent le plaisir de vous lire; Veuillez agréer, Monsieurs, mes salutations empresses[Ass:] João Hygino Ferraz //

[DATA: 6 de Maio de 1913


DESTINATÁRIO: Simon Frères; LOCAL: Cherbourg, França]

[162] 6 Mai 3
Monsieurs Simon Frères Cherbourg
Je confirme ma derniere lettre du 29 eculée en que je vous fait la commande des appareils pour ma cidrerie et au même temp
un cheque de 5500 francs du montant toutal, qui j’espere vous deverais avoir recue.
Cette lettre serve à vous faire une nouvelle commende d’appareils por M. J. A. J. Pereira:
Une nouveau Fouloir-Egrappoir – à un cylindre-marchant a bras, avec lames à biseau – Serie E du votre petit Cataloge
Genèral Nº R6 – 1912-1913
Nº EI pour travail à l´heure de 1500 à 3000 kilogrammes de raisins-prix 300 francs.
Un nouveau pressoir á vin, muni de claies et toiles-vis en acier – Modele lègere-Serie TL Nº TL000 – prix 195 francs.
Cette appareils doive venir eu même temp que les mienes.
Je vous pris de me faire les mémes conditions que vous fait pour mes appareils, c.a.d. remise sur le prix de votre Catalogue
et aussi un es-compete pour le paiement en un cheque à la commande.
Ci joint un cheque S/.[?] Paris endossée à votre faveur de 500 francs.
L’agent des vapeurs Allemands qui prendre des marchandises pour Madère c’est M. Nairon, Schwenn & C.ie Havere.
Veuillez agreer, Monsieurs, mes salutations empresses[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 2 de Junho de 1913


DESTINATÁRIO: Simon Frères; LOCAL: Cherbourg, França]

[163] Monsieurs Simon Frères


2 juin 13 Cherbourg
Monsieurs
J’ai bien recu votre lettre du 17 écoulé, et je m’empresse à repondre. Je prend bien note de touts ci qui vous me dites sur
l’emballage du materiel, et je vous enverris les 500 francs, mais avant je desir savoir ci, les competences[?] des vapeurs
acceptent payé ici, où s’il faut payé d’avance les frais, pour ne pas envoyer l’argent deux fois.
En attendent votre reponse dans le plus brêve delais.
Veuillez agrèer, Monsieurs, mes bien sincères salutations[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 16 de Junho de 1913


DESTINATÁRIO: Simon Frères; LOCAL: Cherbourg, França]

[164] Madeira 16 juin 1913


Monsieurs Simon Frère Cherbourg
Monsieurs
En ma possession votres lettres du 16 de mai et du 31 dernier que je m’empresse à respondre.
Je vois que la Maison Vairon, Schwen & C.ie armateurs en Havre vous preveni que le frêt et les frais de transporte, sont
payables d’avance, et que votre prix d’emballage est de francs 450 et que reste à solder la somme aproximative de francs 1181.
Pour couvrir ce debit je vous envoi ci-joins un cheque S/.[?] Paris de la dite somme de 1181 francs comme vous me le
demandes.
Je vous pris de m’envoyer separement le prix de l’emballage, frêt et frais appartenent à mon ami Monsieur Jasmins Pereira
de son fouloir et pressoir.
J’espere que tout viendrá en bonnes conditions et que tout será embarquée á temp pour arriver ici au mois de Juillet prochain.

157
Il faut ne pas oblier la declaration de charge, pour eviter des enuncis[?] á la Duane.
Veuillez agréer, Monsieurs, mes bien sinceres salutation[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 16 de Junho de 1913


DESTINATÁRIO: René Le Grand de Mercey; LOCAL: Chateau de Mercey, França]

[165] Funchal 16 Juin 1913


Monsieur Baron René le Grand de Mercey, Château de Mercey Monthellet
Monsieur
Je viens seulement cette semaine de recevoir votre lettre du 22 avril dernier aussi que la facture générale et des
renseignements pour le montage des appareils, la preparation du vin, etc.
La raison, je crois, pourquoi je n’ais pas recue en temp votre lettre est du a ce que vous avais mis dans l’enveloppe le nom
José au lieu de João, et la poste la retenue tout ce temps. Ci-joint un cheque de francs 34,15 de la solde de mon compte.
Je profite de cette occasion pour vous remercier encore une foi vos offres de me donner tous les autres renseignements que
je puisse avoir bessoin.
Veuillez agrêer, Monsieur, l’assurance de mes bien bons souvenirs.[Ass:] João Higino Ferraz
Je vien de recevoir la notice de la Maison de Lisbonne me disant que le materiel est arrivé. //

[DATA: 28 de Julho de 1913


DESTINATÁRIO: Simon Frères; LOCAL: Cherbourg, França]

[167] 238Funchal 28 Juillet 1913


Monsieurs Simon Frères Cherbourg
En má possession vôs lettres du 25 juin et 15 juillet acompanhé des plans FM 7 et bleus GM1 – GM2 – GM3.
Je n’ai pas reçu ancore les instructions Nº 51 especial au service et á l’entretien “d’Air vapor” ni l’instructions Nº 74
relatives au moteur “Autonome”.
L’espere bien que tout le materiel será pret á partir du Havre, parce-que les batiments sont presque terminé.
En attendent votre remise du materiel:
Veuillez agrèer, Monsieurs, mes bien sinceres salutations[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 11 de Agosto de 1913


DESTINATÁRIO: Simon Frères; LOCAL: Cherbourg, França]

[167] Funchal 1 Août 1913


Monsieurs Simon Frères Cherbourg
En má possession vôs lettres du 25 Juin et 15 Juillet dernieres acompanhé des plans FM 7 et bleus GM1 – GM2 – GM3. Je
n’ai pas reçu ancore les instructions Nº 51 especial au service et á l’entretien “d’Air vapor” ni l’instructions Nº 74 relatives au
moteur “Autonome”.
Le materiel est arrivé avant hier.
Le vien de recevoir votre lettre du 22 juillet acompanhé de touts les decoments relatives á l’expedition du materiel.
En attendent votre facture special pour le Touloir et pressoir de mon ami Monsieur Pereira, pour povoir regulariser mes
comptes avec lui.
Veuillez agrèer, Monsieurs, mes bien sinceres salutations[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 30 de Junho de 1913


DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre; LOCAL: Ozoir-la-Ferrière, França]

[168] Funchal 30 juillet 1913


Monsieur Georges Lefebvre Ozoir-la-Ferrière
Mon Cher Ami

158
Je vous pris de m’acheter le suivant; pour mon compte particulier:
Á. Monsieur Paul Noël Fils – 9, rue d’Odessa Paris – 20 litres de Bonificateur Noël Nº 3 (Etiquette rouge) Prix aproximatif
50 francs.
A Monsieur G. Jacquemin – à Malzeville (Meurth-et-Moselle) France – 30 Kilogrammes de Bio-sulfite Jacquemin, et son
Traité, la Cidrerie Moderne
Prix aproximatif bio-sulfite 42 francs
Cidrerie Moderne 6,50
Á Monsieur Humblot – Bar-sur-Aube (Aube) 45 kilogrammes de Tonnal concentré duble D
Prix aproximatif ——————- 62 francs
Ces marchandises je vous pris de m’envoyer le plus vite possible en P.V. de manier à etre ici à la fin de la premiere quinzaine
de septembre prochene, emballage en caisse á chien pour exportation, et de me faire tout le necessaire.
Comme je ne peu pas savoir les prix du transporte et defenses d’emballage, je vous envoi un cheque de 200 francs, et ci ca
n’ait pas sufficent me faire parvenu à temp.
Veuillez agrèer, Mon cher ami, mes bien sinceres salutations[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 12 de Novembro de 1913


DESTINATÁRIO: Francisco Figueira Ferraz & C.ª L.da; LOCAL: Funchal]

[169] Funchal 12 novembro 1913


Ill.mos Senhores F. F. Ferraz239 & C.ª L.da, N’esta
Amigos e Senhores
Recebi a sua carta com data de 10 corrente sobre o assumpto Garrafas, que em tempos lhe tinha pedido me soubesse os
preços das do typo Champagne pequenas (0,4 litros) e das do typo d’aguas gazosas pequenas (0,35 litros), e por ella vejo que
a Comp. das Fabricas de Garrafas m’as fornecem pelos preços de:
typo champagne pequenas 5000 reis cada 100
“ aguas gasozas “ 3300 “ “ “
Há porem um pequeno equivoco ou da parte dos Meus Amigos ou da Fabrica. Quando fiz a minha proposta desejava
3000 garrafas do typo champagne de 0,4 litros e
5000 “ do typo aguas gasosas de 0,35
As primeiras para serem entregues até fins do corrente, e as segundas até fins de Março do proximo anno.
Acceito a offerta das 3000 garrafas typo champagne de 0,4 litros com a condição de serem entregues no Porto do Funchal,
ficando a meu cargo a descarga no porto e imposto municipal.
Quanto ás 2as sô poderei dar uma decisão definitiva nos fins de Dezembro proximo.
Peço-lhes pois que consigão da Comp.ª esta minha pequena exigencia, como é paixe[sic] na importação estranjeira d’este
producto, e espero que me sejão entregues no prazo establecido.
De V.as Ex.as Attencioso Venerador e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz

[Copiador de Cartas. 1917-1919]

foto P4280012.JPG

159
DESCRIÇÃO:

O título deste copiador foi atribuído por nós. Estamos na presença de livro, papel, 27 cm x 21,5 cm, em bom estado de
conservação. Os fólios deste livro estão numerados com caracteres de imprensa.

160
[DATA: 26 de Maio de 1917
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[1] Funchal 26 maio 1917
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Depois da minha ultima carta em que lhe fallei do Triple se ter incrustado um pouco, tenho estado a ver se descubro a causa,
e hoje estou perfeitamente convencido de que os homens não deitaram regularmente a solução de baryte como eu tinha
determinado, porque fazendo o calculo pelos mexidores de baryte feitos vejo que apenas se gastou na proporção de 300 gramas
por tonelada canna, quando deveria ser de 360 gramas. Devido a isso já despedi um d’elles, e se os outros não seguiram o
mesmo caminho é porque tenho falta de pessoal, e não ha remedio senão atural’os. As cousas porém estão agora remediadas de
forma a não se repetir o caso, e elles já percebem que eu facilmente sei a forma como fazem o trabalho. O apparelho depois de
limpo a soda e acido, mostrou a 1ª e 2ª perfeitamente limpas, e somente a 3ª e 4ª tinham mais incrustação do que da outra vez.
Actualmente sô com o trabalho do Torreão, o xarope sai a 36º Baumé, e o apparelho tem que trabalhar devagar // [2] para não
parar de todo. O resto do fabrico corre regularmente, mas a canna sempre fraca.
Adubo de tourteau: Tenho encontrado algumas dificuldades no fabrico, por diversas sausas[sic]:
1º a Cal do forno Pereira & Farinha (o único que trabalha actualmente) nem sempre vem bem cosida, de forma que a
desidratação não se faz bem, dando grande quantidade de caroço (borra não atacada) e assim o rendimento é menor e não posso
fazer na quantidade que desejava.
2º O pessoal trabalha de má vontade devido ao pô que levanta pela[?] cal hydratada que lhe faz mal aos olhos. Vi-me
obrigado a dar-lhes mais alguma cousa, mas mesmo assim é uma dificuldade.
3º O aparelho ainda que fazendo menos mal o trabalho, não é perfeito para fazer o máximo (9000 kilogramas em 24 horas),
mas isso, e todo o resto é remediavel para o proximo anno, no caso de lhe convir continuar.
Tenho sedido algum adubo para esperiencias, de forma a que Leacock não possa reclamar.
Segundo Carlos240 e Velosa, deveremos terminar a Laboração entre 11 a 15 de Junho proximo, e assim a quantidade de canna
trabalhada será menor do que em 1916.
Sô tenho enxofre até 2 a 3 de junho, e se não vier mais vou-me vêr na necessidade de usar o processo Naudet. // [3] Qual
será a diferença que fará? Confesso-lhe que tenho grande coriosidade de vêr se o emprego do Aluminato de baryta no jus de
diffusão faz alguma diferença n’este processo..., porque no caso de me vêr forçado a metter a garapa na bateria de diffusão, vou
empregar uma forma diferente da adoptada por Naudet, e os saes de cal formados e as albuminas de bagaço devem ser
perfeitamente percipitadas pelo aluminato de baryta, e desejo vêr qual o resultado das purezas do jus de diffusão e xarope, em
relação aos tempos antigos de diffusão. Do que houver lhe darei parte. Era corioso se as purezas se conservavam!..
Faço votos para que esses desturbios em Lisboa lhe não tragam dificuldades aos seus negocios. Quando será que essa gente
tem juizo?
Projectos da nova Fabrica (?!), não lhe digo nada porque naturalmente Carlos lhe contará o que há.
Quanto a mim, não tem importancia alguma, no caso que consiga a perrogação do contracto, nas mesmas bases em que está
este.
Sem mais subscrevo-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 11 de Junho de 1917


DESTINATÁRIO: Bardsley]
[4] Funchal 11 junho 1917
mo
Meu Ex. Amigo e Senhor Bardsley
Como temos ámanhã vapor para Lisboa (Maria), aproveito para lhe responder, em parte, á sua Carta.
Terminamos a Laboração no dia 10, fazendo (Torreão e Lemos241) 35.396 toneladas canna, sendo 60 toneladas somente em
alcool. Quanto ao rendimento medio da Laboração, não lhe posso por emquanto dizer nada ao certo, porque estamos terminando
a turbinagem do Farim, que deve dár ainda uns 8 a 10 dias, mas calculo que o rendimento seja de 9,8 kilogramas em turbinado
% canna, e isto com canna com 12,5% assucar no maximo e uma pureza de 85º. Como bem vê, com canna d’esta natureza, é o
maximo que praticamente se pode obter.
Fiquei satisfeitissimo com o trabalho de evaporação no Triple-effet devido ao aluminato de baryta; tivemos dias seguidos
(quando tinhamos cannas suficientes) a fazer uma media de 600 e algumas vezes 620 toneladas canna por 24 horas! N’unca
julguei que o apparelho podesse fazer tal quantidade, e ainda mais com xaropes a 33-34º Baumé. Com o trabalho somente do

161
Torreão fizemos dias seguidos 520 a 530 toneladas por 24 horas. É bom porém notar que a canna no corrente anno tinha muito
menos fibra (bagaço), e assim os moinhos podiam fazer muito mais, e isso vê-se bem pela carga dos diffusores que, em 1916
era de 1340 kilogramas canna, e no corrente anno deve dár uma media de 1550 kilogramas canna. //
[5] Como bem vê este producto (aluminato de baryta), é indispensavel para a colheita seguinte, e deverião desde já fazer a
encomenda a Lefebvre242, e eu calculo que para uma Laboração de 1918, que seja no maximo 40.000 toneladas canna (?), serão
necessarios umas 13 a 14 toneladas de aluminato de baryta.
Para os outros productos tambem achava conveniente d’esde já hir fazendo encomendas, porque bem vê as dificuldades nos
transportes, e mesmo na obtenção d’esses productos.
Ficou-nos uns stocks bastante grandes de alguns productos, visto termos calculado para 50.000 toneladas canna.
Os stocks e o que necessitamos para 1918 são os seguintes, calculando uma Laboração de 40.000 toneladas canna:
Kieselguhr. (Diatomite) - Stock 32 toneladas. Devem vir para 1918 = 12 toneladas
Phosphato de Cal ————- “ 27 “ “ “ = 9 toneladas
Enxofre não ficou stock, deu para a Laboração “ = 17 ? toneladas
Nóta: Esta quantidade de enxofre inclui o que já temos encomendado e pago, crêo eu, e tambem o sulfito de soda que deve
corresponder a 5.500 kilogramas enxofre. Deduzidas estas duas quantidades, o restante será para encomendar.
Cal de Inglaterra (Veio alguma pelo San Miguel?) = 48 toneladas
Formol temos para as fermentações de 1917. Para 1918 – 4.000 litros
Soda caustica temos suficiente para 1918
Pano para filtros-presses e Filippe a mesma quantidade de 1917.
Estão são pois as encomendas que eu vejo serem mais necessarias fazer desde já, para nos evitar embaraços futuros. //
[6] Farim: – Não conte com mais exportação d’este assucar, porque tem que ficar para o consumo aqui.
Agradeço-lhe os seus parabens nos meus fracos prestimos na Laboração terminada.
Cal Phosphatada: diz muito bem que é interessantissimo este assumpto se o meu amigo visse o estado da minha propriadade
no Soccorro, que em 1916 empregoi[sic] este producto, e este anno estou empregando tambem, ficaria admirado da força com
que a canna vem rebentando e a sua côr verde escura. Disse ao seu caseiro para empregar tambem na sua propriadade do Ribeiro
Secco, e elle assim o está fazendo, e para o anno verá o resultado.
Quanto á quantidade feita no corrente anno é muito pequena, umas 50 toneladas no maximo, mas isto devido ás causas que
fiz mensão na carta do Senhor Hinton243, isto é, cal pessima, e o pessoal se recosar ao trabalho; mas no proximo anno, tendo
uma instalação competente e boa cal, poder-se-ha fazer pelo menos umas 800 a 850 toneladas de adubo alcalino do tourteau, e
isto com um lucro liquido minimo de 14:000$00!!
Alcool: O stock do alcool hoje é de 14.000 litros. O que Comp.ª Nova tem em melaço, isto aproximado, é de 100.000
kilogramas melaço que dará uns 29.000 litros alcool. Em fermentação 6000 litros alcool.
Temos um stock no Torreão (no tanque grande) 520 toneladas, que dará em alcool 150.000 litros. Os malaxeurs de 2º jet
podem dár aproximado 120.000 kilogramas melaço = 35.000 litros alcool.
Total do alcool até 30 março 1918 será aproximados 234.000 litros alcool. // [7] Temos pois ainda 9 ? mezes, o que dá 24.600
litros por mez. Qual será o consumo no corrente anno? Não é facil de prevêr, devido á doença na vinha, que no sul vai tudo
quasi perdido, e tambem depende das exportações de vinho. Mas crêo que vindo os 1.500 Hectolitros que estão comprados nos
Açores dará aproximados para as necessidades. Segundo a Lei, é os vinicultores que devem pedir a importação d’alcool, no
caso de falta d’alcool na Madeira, com uma auctorisação do Mercado Central de productos Agriculas; mas essa importação
sendo feita pelo vinicultores [sic], não poderão elles obtel’o nos Acores? É bom pois estudar bem isso, porque Bensaude deve
ter alcool bastante do seu melaço para vender.
Já estou montando os grandes tanques na Comp.ª Nova, de forma que temos reservatorios suficientes para o nosso alcool e
mais os 1500 Hectolitros dos Açores, no caso de virem. Mas os 6000 Hectolitros não aconselho a comprar.
Sem mais por emquanto que lhe posso dizer de interessante Subscrevo-me Seu Amigo certo e Obrigado
[Ass:] João Higino Ferraz
P. E.[sic] Como é de toda a justiça, pedia ao Meu Amigo e ao Senhor Hinton parar darém ordem a Jacintho, para que a canna
da Comp.ª Nova entrasse na minha conta para o fim da minha compensação de 4 reis por 30 kilogramas canna, como tenho na
canna entrada no Torreão[Ass:] Ferraz //

[DATA: 23 de Junho de 1917

162
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[8] Funchal 23 Junho 1917
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Depois da minha ultima carta de 11 do corrente terminamos a turbinagem do resto do assucar e assucar farim, e assim pelos
calculos enviados por Monsieur Laalberg pode ver qual o resultado final da Laboração de 1917. Sobre este ponto porém tenho
umas observações a fazer, segundo o meu modo de ver pelos meus calculos praticos.
1º O assucar na canna parece-me estarem um pouco baixos e segundo eu calculo, vejo que deve ser 12,53%.
2º O calculo do assucar Colonial afinado deve ser calculado a 90% em turbinado (Laalberg calcula pelas purezas theoricas),
porque adoptando o systema do corrente anno, tenho quase a certeza que o rendimento não pode ser inferior a 90%.
3º O rendimento da Comp.ª Nova, em vista da quantidade de assucar deixado no bagaço ser superior ao Torreão, e tendo
além d’isso na 1ª situação o jus de imbibição para alcool, o rendimento eu calculo em 2,650 kilogramas assucar turbinado %
canna, e 3,705 kilogramas melaço.
Em vista do exposto, calculo o seguinte:
Assucar turbinado real (pezo do armazem).......................3.758.190 kilogramas
Assucar Colonial afinado 348.128 .........................313.315 kilogramas
kilogramas a 90% em turbinado .......................3.445.375 kilogramas
Assucar Comp.ª Nova em turbinado ..........................315.765 kilogramas
Restará para o Torreão .......................3.129.610 kilogramas //
[9] Vê-se assim que o rendimento no Torreão foi de 9,858 kilogramas assucar turbinado % canna.
O melaço total produzido foi de .......................1.566.158 kilogramas
Melaço da canna da Comp.ª Nova ..........................135.254 kilogramas
.......................1.430.904 kilogramas
Melaço de assucar Colonial afinado ...........................32.811 kilogramas
Restará para a canna Torreão .......................1.398.093 kilogramas
O que dá 4,404 kilogramas % canna Torreão
Nota: Devo fazer notar que Laalberg calcula o assucar no melaço somente o assucar Clerget, emquanto que eu calculo o
Clerget e mais a glucose subtrahida a glucose da canna, e assim o assucar (saccarose) total no melaço será no minimo 50%.
Establecendo pois as cousas como acima teremos:
Torreão 31.745.801 kilogramas canna, rendeu em turbinado 3.129.610 kilogramas assucar melaço 1.398.093 kilogramas
Comp.ª Nova 3.650.299 kilogramas canna, rendeu em turbinado 315.765 kilogramas assucar
Em melaço 135.254 kilogramas
Em alcool retificado do jus imbibição 16.471 litros alcool
Do assucar Colonial 348.128 kilogramas bruto, rendeu em turbinado 313.315 kilogramas assucar
Em melaço 32.811 kilogramas
Se calcularmos isto % de canna é em assucar puro, isto é, assucar a 100 polarisação dará para Torreão e Comp.ª Nova o
seguinte: //
[10] Torreão: Rendimento % canna. Em turbinado .......................9,743 kilogramas assucar puro a 100º
Melaço 4,404 kilogramas a 50% assucar.................... 0,202
no bagaço....................... 0,402
Perdas nas borras....................... 0,198
Indeterminadas ...................000 ?!
assucar % canna .............12,545 ?

Comp.ª Nova Em turbinado ....................8,560 assucar puro a 100º


no melaço 3,705 kilogramas a 50%.........1,852
Do alcool jus imbibição ....0,751
no bagaço ..........................0,795
Perdas nas borras ..........................0,210
Indeterminadas ..................0,362
Assucar na canna .............12,530 %

163
Comp.ª Nova apresenta pois perdas indeterminadas, mas os calculos das perdas são feitas segundo as analyses de João
Marinho de Nobrega, e o calculo do assucar é feito pelo jus defecado enviado ao Torreão.
O que se vê porém da Laboração é que os resultados forão os melhores possiveis em vista da qualidade da canna no corrente
anno, e vejo que o aluminato de baryta é que fez dár em grande parte este bom resultado, não somente no rendimento, mas
tambem no custo menor das despezas de fabricação em carvão e pessoal.
O gasto de combustivel foi para toda a Laboração de 2.000 toneladas carvão, e eu calculo que o bagaço da Comp.ª Nova dá
perfeitamente para o trabalho da moagem da canna, defecação e envio da garapa ao Torreão. // [11] Na minha ultima carta dava-
lhe as notas dos productos chimicos para 1918, e que eu vejo necessidade de encomendar desde já, para evitar complicações
futuras.
Quanto aos panos para filtros, somente necessitamos os panos para os filtros-presses na mesma quantidade de 1917.
Para os Filippes, não é necessario pano porque temos suficiente, mas falta uns 500 metros de corda especial para elles que
deve ser encomendada.
Cal veio pelo San Miguel 17 toneladas, devem pois vir mais 31 toneladas.
Quanto á amostra do enxofre enviado não lhe podemos dizer nada por emquanto, porque estamos fazendo a analyse d’elle.
Junto encontrará um memorial do Dr. Juvenal sobre a patente que tiramos em tempos, e que o Theago d’Aguiar, filho de
João Carlos, está usando na sua fabrica d’aguardente em Machico de sociadade com Umberto dos Passos Freitas, e que segundo
Luis Vogado de Bettencourt, e elle menino Aguiar confessa, é o processo patentiado. Luis Vogado quer por força demandal’o
porque diz elle necessita dinheiro... Pedro pouco se importa com isso, mas da sua parte não sei o que quererá fazer. Eu como
sabe, entrei como Pilhatos no Credo, e sô farei o que o Senhor Hinton determinar.
O que se deve fazer pois? Conforme a sua maneira de pensar faremos agir as cousas, pouco me importando o Luis Vogado,
porque esse aconselha bem, mas não entra com despezas... porque não tem dinheiro para isso. Esperamos pois a sua resposta.//
[12] Comp.ª Nova continua a fazer alcool, mas a respeito de stock não há meio de o têr, porque tudo quanto tem feito vai
sahindo regularmente. Até ao final da Laboração no Torreão, Comp.ª Nova tem levado umas 885 toneladas de melaço, e está
agora levando do stock do tanque grande que calculo em 660 toneladas melaço.
Os trez grandes tanques da aguardente que estava no armazem da rua do Carmo em sociadade com Antonio Justino, já estão
montados na Comp.ª Nova, mas apenas arranjei dois, ficando o 3º para depois se for necessario montal’o defenitivamente.
Estamos tratando de pôr o predio (armazem) do Pacheco em condições para entregar a Antonio Justino, porque elle ainda lá tem
um tanque que lhe pertence. Continuamos a pagar arrendado junto com Antonio Justino? Ou, visto ser elle sô que o occupa será
elle a pagar somente?
Quanto ao resto do melaço, vou levar as fermentações até aviar completamente todo o melaço, e assim teremos a quantidade
d’alcool maxima a poder vender, e será mais facil provar que o alcool não dá para os vinhos até abril de 1918.
Sem mais por emquanto que lhe possa dizer de interessante, Subscrevo-me Seu attencioso Amigo e Obrigado[Ass:] João
Higino Ferraz
P.E.[sic] Temos em juntas hydraulicas 14 nova
13 usadas
Temos 16 diffusores. Deseja encomendar mais algumas juntas
Em 1917 usaram-se 3 juntas.244 //

[DATA: 6 de Julho de 1917


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[13] Funchal 6 Julho 1917
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Recebi a sua estimada carta de 23 proximo passado o que muito lhe agradeço, e tambem os seus parabens pelo fim da
Laboração sem incidente de meior.
Calculo o seu aborrecimento por não poder vir no corrente anno pelo menos assistir ao principio da Laboração, mas espero
que no proximo anno poderá estar aqui o tempo suficiente para vêr o fabrico actual que é bastante interessante, principalmente
para si.
Na minha carta escripta ao Senhor Bardsley onde lhe fallava das encomendas de pano para filtros, dizia-lhe para encomendar
a mesma quantidade de 1916, mas vejo que chegou agora o pano que não veio a tempo, e assim não há necessidade de fazer a
encomenda pedida porque temos suficiente para 1918. O que nos vai faltar é a corda para os sacos dos filtros Filippe como já

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lhe disse (500 metros).
O enxofre cuja amostra mandou, convem perfeitamente para a sulfitação da garapa, e pode assim fechar contracto.
Sem mais por emquanto que lhe interesse, subscrevo-me seu Attencioso Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 12 de Julho de 1917


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[14] Funchal 12 Julho 1917
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Espero que esta o encontre de perfeita saude e livre de embaraços financeiros e outros.
Por cá, parece-me, corre tudo regularmente, a não ser Comp.ª Nova – N’este ponto tenho a dizer-lhe que as fermentações e
rendimentos do melaço não estão nas condições que eu desejava devido á alta temperatura atmospherica, ainda que o fermento
e fermentações conservam-se puras, mas como durante a fermentação activa ella chega a 27º centigrados, há sempre uma
evaporação d’alcool, e muito principalmente na casa de fermentação da Comp.ª Nova que não está em condições regulares para
este fim.
Como muito bem sabe, n’esta quadra do verão, parava sempre as fermentações no Torreão, e ainda assim com temperaturas
que não subiam a mais de 35º.
Actualmente porém é-me dificil fazer uma paragem em vista da falta d’alcool e não termos stock suficiente (5000 litros), e
é sobre este ponto que eu desejava consultal’o, e me dizer o que devo fazer. Vou expor-lhe a questão: Ficamos hoje com um
stock de 440.000 kilogramas melaço; [15] e que trabalhando até o fim de Julho pode ficar uns 320.000 kilogramas que dará em
alcool aproximados 29.000 litros alcool. Temos aproximadamente 10.000 litros de etheres e escencias a retificar, será um total
de 98.000 litros a 100º, para os mezes de novembro a abril de 1918. Como muito bem vê este alcool não pode dár de forma
alguma para o consume de vinhos e assim vai haver necessidade de importar o dos Açores (?) se isso for possivel.
Como porém para se poder fazer essa importação é necessario que não exista na Madeira alcool ou materia prima para elle,
é sobre este ponto que tem que decidir:
1º É possivel, nas condições actuaes, importar alcool dos Açores?
2º Sendo possivel essa importação, convem terminar o melaço existente, ainda que com uma baixa de rendimento de 1 litro
% melaço?
3º Ha facilidade de importar dos Açores os 1500 hectolitros d’alcool em 7 mezes?
4º Não sendo possivel essa importação, não lhe parece mais conveninente fazer uma paragem nas fermentações até
novembro, por isso que em qualquer dos casos o alcool não dará para as necessidades do consumo?
Com este questionario, depois de vêr bem o que lhe convem, pode o Senhor Hinton me telegraphar, “Continue
fermentações” ou “Não continue fermentações”, e assim ficarei em condições de agir, tirando de sobre mim uma
responsabilidade que não desejava tomar. //
[16] Fabrica do Salto Cavallo – P. Pires – Como o Engenheiro já lhe devia ter dito, vamos tirar de São Lazaro os engenhos
e Caldeiras la existentes, para nos vermos livres daquella maldita renda de 1.200$00 por anno. É sobre este ponto que desejava
dár-lhe a minha fraca opinião, sobre o destino a dár a esses apparelhos. Pedro Pires, tem estado a uns annos a esta parte sem
trabalhar com a sua fabrica, deixando aos outros o campo livre no fabrico de aguardente de canna, e isso com prejuizo para nós
porque nos tiram a canna, e no futuro ainda peor será; além d’isso agora uma das fabricas de São Martinho foi adequirida por
José Fernandes de Azevedo e outro e querem transferil’a para o Sitio da Ajuda, sitio da melhor canna de São Martinho. Era pois
minha opinião montar no Salto Cavallo os engenhos de São Lazaro e uma das caldeiras de vapor, por isso que os engenhos de
Pires já estão muito estragados e não trabalhão em condições; Montar a diffusão do bagaço que elle já la tem, fazendo assim
uma extração maxima, e podendo n’este caso competir nos preços da aguardente com as outras fabricas mesmo que o lucro seja
pequeno e não deixal’os fazer preços altos ás cannas seja de que sitio fôr. Para complemento d’isto, de forma a facilitar-lhe a
sua maneira de vêr, a agua necessária aos refrigerantes pode ser agua do mar tomada por meio de bomba eletrica.
Columna de destillação (unica) posso arranjar-lhe // [17] que tenho aqui no Torreão, e que a posso despensar (columna do
apparelho Barbet antigo, que fiz aqui), fazendo-lhe as modificações necessarias. Esta columna unica dár-lhe-há para o fabrico
total porque é uma columna da capacidade da que está em Almeirim.
No caso de achar que esta minha edea tem alguma cousa de aproveitavel, e que lhe pode convir isto assim establecido, era
conveniente dizer desde já, por isso que no proximo mez de agosto vamos dar principio á desmontagem dos apparelhos de São
Lazaro, e assim poderia hir directamente para o Salto Cavallo. Esperamos pois a sua resolução.

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Sem mais que lhe possa dizer, subscrevo-me seu Amigo Certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 30 de Julho de 1917


DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [18] Funchal 30 de Julho 1917
mo
Ex. Amigo e Senhor Hinton
Recebi a sua carta de 9 do corrente e que muito lhe agradeço e tudo quanto n’ella diz, mas não fiz mais que o meu dever
com relação á Laboração do corrente anno, e nada pois me tem que agradecer, eu é que lhe fico muito obrigado pelas ordens
dadas a Jacintho com relação á canna da Comp.ª Nova.
Quanto ao sulfito de soda, logo que elle chegou eu tratei de vêr o estado dos barris e mandei-os acuotelar, fazendo rebater
bem todos os cascos, e os que vinhão con derrames fiz deitar o liquido em garrafões. Eu bem sabia que os sulfitos perdem a sua
titulagem em SO2 quando exposto ao ár e assim tratei de prevenir isso a tempo, e estão em um armazem fresco, e onde é facil
verificar de tempos a tempos.
A cal que tem vindo tambem tenho tido o cuidado de a conservar em condições para 1918.
Alcool: Na minha carta de 18 fallava-lhe sobre as fermentações da Comp.ª Nova, mas vejo que a não receberá a tempo de
responder, e assim conferenciando com Carlos245 e Jacintho, combinamos continuar o fabrico até // [19] terminar todo o melaço
e isso por varias rasões, sendo a principal a falta d’alcool nos mezes de setembro e outubro, para evitar reclamações, tendo nós
a materia prima para elle. Quando porém terminar alcool e materia prima, que se governem os vinicultores como poderem.
O que me vi obrigado foi a fazer vêr a Carlos e Jacintho, que em vista do preço do carvão (40$00 por tonelada), era mais
conveniente fazer a destillação-retificação continua do vinho de melaço no Barbet da Comp.ª Nova, por isso que não tinhamos
necessidade presentemente de trabalhar muito depressa, e assim poupar 700 gramas de carvão por litro d’alcool fabricado.
Technicamente não o devia fazer, por isso que assim o rendimento é inferior a 1 ? litros d’alcool (pelo menos) em 100 kilos
melaço, mas comercialmente não é assim: Verdade é que, se estivessemos trabalhando no Torreão o gasto seria de 1,700
kilogramas carvão por litro alcool fabricado, ainda que com um rendimento superior a 1 ? a 2 litros d’alcool.
Segundo os meus calculos emquanto o carvão estiver até o preço de 25 a 26$00 por tonelada é sempre mais conveniente
fazer a destillação-retificação directa do vinho de melaço na Comp.ª Nova. No Torreão não podemos fazer isso porque a
destillação é separada da retificação, ainda que o nosso alcool é superior em qualidade ao tirado na Comp.ª Nova, mas
actualmente o negociante de vinhos não prestam attenção a isso, querem alcool! // [20] O rendimento da Comp.ª Nova em 1917,
em 11 lotes, em que se empregaram 1.090.848 kilogramas de melaço da Laboração, fazendo a destillação no nosso apparelho,
e a retificação na apparelho d’elles, foi de 313.379 litros alcool retificado a 100º a 15º temperatura, o que dá um rendimento de
28,7 litros alcool % melaço, isto é, rendimento egual ao que tiravamos no Torreão. Vamos agora vêr qual será o rendimento em
1917 com a destillação-retificação directa do vinho de melaço. Do que houver lhe mandarei notas.
Como a mala está a fechar, e nada mais por emquanto tenho a dizer-lhe, subscrevo-me seu Amigo Certo e Attencioso[Ass:]
João Higino Ferraz //

[DATA: 31 de Julho de 1917


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[21] Funchal 31 Julho 1917
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Depois de lhe ter escripto a minha ultima de 30 corrente, Marinho246 avisou-me que no alcool retificado pelas notas que me
envia directamente havia um engano de 15.887 litros que elle tinha lançado a mais nas folhas enviadas!..
Assim o rendimento que em alcool bruto a 100º a 15º temperatura tinha sido de 299.300 litros, rendeu pela retificação
298000 litros e não 313.379 litros como lhe tinha dito na minha ultima carta.
Vê-se pois que o rendimento % melaço foi 27,3 litros alcool retificado a 100º
Desculpe este engano, mas a culpa não foi sô minha.
Vejo-me obrigado a fazer verificações mais a miudo para evitar estes enganos de futuro, que me aborrecem bastante.
Eu deveria ter visto (como vi) que o rendimento em retificado era mais que em alcool bruto, mas fazendo notar isso a
Marinho elle dizia-me que lhe parecia que o contador do destillador não trabalhava sempre bem porque tambem lhe dava essas
differenças
Seu Amigo Certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

166
[DATA: 23 de Junho de 1917
DESTINATÁRIO: Irmão de João Higino Ferraz]
[22] Funchal 1 outubro 1917
Meu Caro irmão
Há muito tempo que não te escrevo, tenho sabido de ti pela tia Maria José e pelos Postaes que tens enviado a Mathilde, e
vejo que passas bem ainda que com muitos trabalhos na tua clinica.
Vou pedir-te um favor que não sei se terás tempo para isso, mas como não tenho em Lisboa outra pessoa de confiança a
quem me dou a [?] passo-o a ti para veres se é possivel conseguires o que desejo.
Passo pois a te expor a questão:
247
Como deves saber, o Governo tenciona dár, creio eu, previlegio a toda a pessoa que queira introduzir em Portugal novas
industrias não usadas no Continente da Republica e seus dominios. E em vista d’isto eu tenho tido a edeia; depois [...] no
Continente no anno passado de destillar a uva d’ahi na producção de xaropes concentrados no consumo ou exportação, industria
que, acho[?] eu, não foi ainda usada em Portugal, mas que no estranjeiro e principalmente nos Estados Unidos (California) se
fáz em grande quantidade.
Esta nova industria traz ou deve trazer a Portugal // [23] uma grande vantagem, por isso que se exportará o vinho ou mosto
concentrado o que é muito diferente do que exportar o vinho normal. Compreendes pois as vantagens d’esta industria.
Isto porém deve ser segredo, porque outro, dáda esta edeia, poderia se adiântar no pedido, mesmo sem saber a forma de
proceder, mas em Portugal como sabes, há sempre especuladores em tudo, e há muita má fé...
O que necessito saber ao certo é o seguinte:
1º Tem efectivamente o Governo tenção de dár essas concessões a novas industrias?
2º Quais as condições em que as dá?
3º Já em Portugal se usa esse processo de concentração de mostos ou vinhos de uva industrialmente e em grande escala?
4º No caso previsto no Nº 1 e 2, essa industria é livre de qualquer imposto de fabrico ou outro, e por que tempo dão essas
conceções?
5º O que se deve fazer para requerer esse privilegio, e se podes, com procuração minha, fazer esse requerimento em meu
nome?
6º Em vista do estado de guerra, em que os apparelhos a importar são dificeis de adquirir e são carissimos, em vista de serem
de cobre, essa conseção // [24] tem valor para depois da guerra e normalisação dos mercados?
Pedia-te pois para indagares tudo isto e me responderes aos meus quesitos ou mais algum que interesse o caso.
O nosso Amigo Gonsalves seria muito bom para te ajudar n’isso, e como me parece ser um homem honesto e reto, talvez
não haja inconveniente n’isso; tu decidiraes.
Temos tambem em Lisboa um primo, que é o João da Camara Pestana, director Geral da Agricultura, e esse tambem te
poderia dár qualquer informação, mas seria bom não lhe dár todos os esclarecimentos do assumpto.
Deves te admirar de eu, sendo empregado do Hinton248, e estando em boa situação, estar a tratar d’estas cousas, mas como
já á quasi um anno lhe escrevi n’este sentido e elle nunca me respondeu a isso, e ainda como está a terminar o decreto (em fins
de 1919) que regula estas cousas de fabrico de assucar na Madeira e do Hinton, não sei o que será o meu futuro, desejo estar
prevenido para o que dêr e vier...
[25] Desde já te agradeço o que poderes fazer, e pesso-te um abraço para os nossos amigos Gonsalves.
Um abraço de todos nos e de teu irmão muito Amigo[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 2 de Outubro de 1917


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[26] Funchal 2 outubro 1917
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Desejava enviar-lhe as notas do rendimento do melaço na Comp.ª Nova, mas como sô hoje terminamos a retificação de todos
os maus gostos, não tenho ainda tudo em ordem afim de lhe dár um calculo exacto.
Esta minha carta tem por fim prevenil’o de que, querendo despachar o pano para os filtros-presses, não o foi possivel fazel’o,
porque a amostra typo dos Blanquettes que existia na Alfandega, estraviou-se: Em vista d’isto era necessario fallar ao Curson
e dizer-lhe que havendo na Alfandega do Funchal uma amostra typo de Blanquettes, e essa amostra tendo-se perdido (segundo
declara o director da Alfandega), é necessario que venha oficialmente um novo typo, e junto enviamos umas amostras do pano

167
que importamos, uma egual ao typo que existia na Alfandega, pelo comandante do “Neptuno” e tambem em encomenda Postal.
Segundo o conselho do Feliciano, vamos fazer aqui na Alfandega do Funchal as competentes declarações para pagar os
direitos como Blanquettes, e assim se poder despachar: Este artigo paga 210 reis por Kilograma. //
[27] Um outro assumpto que eu desejava saber o que devo fazer: Estou na montagem dos apparelhos de destillação no
Torreão, apparelhos completamente arranjados de novo, devido ao incendio, mas todas as provettas (violetas) dos retificadores
estão estragadas algumas, e os vidros ou redomas não existem; os thermometros estragaram-se todos, de forma que para
concluir a montagem a ficar numa destillaria como nova, era necessario mandar vir do Barbet essa pequena encomenda, e assim
caso queira fazer isso deve-me prevenir para eu escrever a Lefebvre249 e elle fazer o necessario junto da casa Barbet.
Sem mais que lhe possa dizer subscrevo-me seu Attencioso Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 17 de Outubro de 1917


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[28] Funchal 17 outubro 1917
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Envio-lhe o rasultado da destillação na Comp.ª Nova em 1917.
O Inventario Nº 1 foi destillado canna, jus imbibição e borras de defecação, com um rendimento calculado de 20.883 litros
alcool a 100º a 15º
Melaço da refinação lavagem 57.756 kilogramas em melaço, com um rendimento calculado de 18.783 litros alcool a 100º
a 15º
Total do alcool bruto d’este inventario = 39.666 litros a 100º a 15º
Rendeu em alcool retificado 38.543,6 “ “ “
Quebra da retificação 1.122,4 “ “ “
ou seja 2,8 %
Melaço da Laboração de 1917, espumas e lavagens:
Em melaço total destillado 1.505.631 Kilogramas
Rendeu em alcool bruto 411.880 litros a 100º a 15º
Nota: Está incluido n’este alcool 430 litros aguardente fraca (salvado do incendio) = 142,7 litros alcool a 100º a 15º
temperatura
Temos pois alcool produzido pelo melaço = 411.737,3 litros a 100º a 15º
Este alcool produzio em retificado 410.275,7 litros a 100º a 15
Deu pois quebra de retificação 1.605,2 litros
Nota: Esta quebra de retificação é sobre 299.300 litros d’alcool bruto da destillação separada no apparelho do Torreão,
montado na Comp.ª Nova = 0,53% //
[29] Todo o restante foi destillado no apparelho da Comp.ª Nova por destillação-retificação directa do vinho de melaço.
O total do melaço enviado á Comp.ª Nova foi de 1.514.373 kilogramas, restando pois um stock para 1918 (para dár principio
aos fermentos) de 8,742 kilogramas.
Sem mais por emquanto que lhe possa dizer Subscrevo-me Seu Amigo attencioso
[Ass:] João Higino Ferraz
P. E.[sic] No raporte enviado por Laalberg dos resultados da Laboração de 1917, dava um producto em melaço total
produzido de 1.566.158 kilogramas, emquanto que pezado este melaço do tanque grande, e o enviado durante a Laboração deu
1.514.373 kilogramas, dando pois uma diferença do calculo do melaço do tanque grande de 51.785 kilogramas.
Esta diferença no calculo foi devido a ter elle calculado a densidade do melaço em 1450 e não em 1400 como eu tenho
sempre calculado.
Temos pois que o resultado pode ser:
Melaço realmente produzido = 1.514.373 kilogramas
Deduzido o do assucar refundido = 38.394 kilogramas
Restará para a canna 1.475.979 kilogramas = 4,164 kilogramas %
[Ass:] Ferraz //

[DATA: 20 de Outubro de 1917

168
DESTINATÁRIO: Francisco Meira]
[30] Funchal 20 outubro 1917
Meu Caro Amigo e Senhor Meira
Junto envio-lhe os meus considerandos sobre a proibição do fabrico d’aguardente de canna em 1918, como á dias lhe tinha
dito para escrever ao Senhor Hinton250.
Essa proibição será para as localidades onde as fabricas matriculadas podem hir boscar a canna.
Calculando pois na media o imposto para a Junta Agricula ser de 130.000$00, representa esta importancia (a 150 por litro)
270.000 litros d’aguardente, ou seja 240.000 gallões de 3,6 litros, que ao rendimento medio de 0,6 <gallões> por 30 kilogramas
canna dá 400000 almudes (de 30 kilogramas canna) ou seja 12.000 toneladas canna.
Calculando as despezas de fiscalisação da Junta Agricula em 50.000$00 (?), ficar-lhe-ha liquido 20.000$00
Estes 80.000$00 seram pagos pelas fabricas matriculadas, dando o Governo como compensação auctorisação para
augmentar o preço do alcool para tratamento de vinhos em mais 140 por litro alcool ficando pois o preço do alcool a 400 litros
e não 260 como pela lei.
A canna transformada (12.000 toneladas) em assucar e alcool dará, assucar 1100 toneladas, alcool 130.000 litros, além da
canna que as fabricas matriculadas poderiam // [31] comprar sem essa prohibição.
N’estas condições devemos têr um lucro minimo de 120.000$00, segundo os meus calculos.
Quaes as deficuldades para a obtenção d’isto?
As unicas que vejo é a opusição e os prejuizos para as fabricas d’aguardente, e dos negociantes d’aguardente.
O Governo e a Junta nada perdem; e as subsistencias teem mais 1100 toneladas assucar em Lisbôa, e os fabricantes de vinhos
de exportação mais 130.000 litros alcool. Se os exportadores tiverem que adquirir esses 130.000 litros alcool, não o poderam
obter a menos de 700 reis por litro a 100º a 15º, o que os obriga a pagar mais do preço actual 57.000$00, se poderem obtel’o.
Calculando porém que toda a canna dê 426000 litros alcool, elles pagaram mais do preço actual 62000$00; fica-lhe pois
contra elles somente 11:000$00, mas com a vantagem bastante grande de terem alcool, e poderem exportar vinho.
São estas as conciderações mais palpaveis que sobre isto vejo.
Seu Amigo Certo[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 12 de Novembro de 1917


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[32] Funchal 12 Novembro 1917
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Recebi a sua carta de 21 proximo passado que muito lhe agradeço.
Fabricas de aguardente: É minha opinião que Porto da Cruz deve entrar na exclusão, porque mesmo que a canna uma vez
ou outra não venha em muito boas condições sempre dará algum assucar e principalmente dár-nos-há melaço. O transporte pode
ser feito em barcos e apanhando a canna em condições de não ter em grande quantidade, para o caso de metter mar mau. Todas
as outras freguezias pode vir a canna para o Funchal a não ser o que verdadeiramente se chama o Norte, e essas são bem poucas
as que ha. Quanto ao preço do alcool, para tratamento de vinhos, é minha opinião e acho mesmo que sem isso esta transação
não traz resultado, deve ser augmentado em 140 reis por litro, isto é, alcool a 400 reis por litro. Em vista do preço elevado do
combustivel, salarios etc., já actualmente o fabrico do alcool dá prejuizos e graves, o que fará com o carvão a 65$00 ou mais!
Como sabe a Comição de Subsistencias não deixa elevar o preço do assucar, e o nosso lucro actualmente está no de exportação,
o que não se dava antigamente. É necessario pois tirar na Madeira lucro no fabrico d’assucar, e isso sô pode ser no alcool. //
[33] Os negociantes de vinho teem margem suficiente para pagar mais 140 reis por litro alcool, e mesmo ficaram muito
melhor, porque teram alcool para tratamento de vinho, o que não acontecerá se isto se não fizer, e ver-se-hão na contingencia
de diminuir a sua exportação, com graves prejuizos para elles e para a agricultura. Não devemos ser nos somente a pagar as
diferenças, porque estou certo que a Junta Agricula não pode despensar os seus rendimentos, porque está em más condições
financeiras, e assim não acho justo que sejamos nós que tenha de pagar ou o propriatario o rendimento do imposto da aguardente
. Fora d’isto não acho outra solução possivel.
Sei bem que isto será naturalmente dificil de obter mas não impossivel em vista das condições em que está isto tudo devido
á guerra e o fabrico d’aguardente não é um producto indispensavel, pelo contrario, é bem despensavel. O alcool tem somente
por fim garantir a exportação de um producto agricula, que sem elle não há meio de o fazer sahir.
O que lhe posso garantir é que no proximo anno se isto não se fáz, a nossa laboração não passará de 30.000 toneladas!. Não

169
devemos pensar em pagar preços de canna muito superiores aos da tabella, para fazer concorrencia ás fabricas de aguardente,
por que esse desideractum pode-nos trazer graves prejuizos, no caso de terminar a guerra, e as importações d’assucar da Africa
se possa fazer em melhores condições. //
[34] Apparelhos da destillaria. Quando lhe disse para mandár vir de França os apparelhos que o incendio estragou por
completo, não me referi ás violettas em latão, mas somente ás redomas em vidro e thermometros, e isto é indespensavel
principalmente os thermometros, que sem elles não há meio de regular os apparelhos Barbet. São tudo cousas de facil
exportação de França que Lefebvre251 pode fazer na Casa Barbet. Em vista d’isto dou-lhe a Lista do que é necessario em
separado, para no caso de querer enviar a Lefebvre.
Sem mais por emquanto que lhe possa dizer subscrevo-me seu Attencioso Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: ?
CARACTERIZAÇÃO: Considerações sobre maquinaria industrial Barbet para a destilaria]
[35] Appareils et verrerie pour la destillerie (appareils Barbet). Appareil de retification continue Nº 5
Bouteille à debit visible (complete), pour le refrigerant tubulaire de la columne de retification. A été completement detrui.
2 thermometres a cadrant pour cette columne de 0º a 110º, tige droite. Touts les globes en verre et verrerie pour les
éprouvettes de l’alcool Pasteurisé, ethers, etc, etc. (Voir les Plans de la Maison Barbet).
Tout la verrerie consumant á l’appareil décanteur-laveur des huilles amyliques[?].
Columne de Destillation – retification directe continue Nº 3
(Turné[?] en 1897 par la Maison Crepelle-Fontaine, Constructeur)
Appareils Barbet
2 thermometres a cadrant de 0º a 110º tige curte

DESENHO P4280007.JPG

Tout les Globes en verre et verrerie pour les éprouvettes de l’alcool Pasteurisé, ethers, etc. Etc (Voir les Plans de la Maison
Barbet).
Appareit[sic] á levure pure de Barbet.
1 Thermometre à cadrant à tige curte droite de 150 millimètres de 0º a 110º
2 “ “ “ “ “ “ “
3 Purification d’air Noël pour fermentation (grand modelle), pour cuves de levure pure de 20 hectolitres. (Maison Noël-
Paris) //

[DATA: 24 de Novembro de 1917


DESTINATÁRIO: Bardsley]
[36] Funchal 24 Novembro 1917
Ex.mo Amigo e Senhor Bardsley
Há muito tempo que não lhe escrevo nem tenho sabido do meu caro amigo, mas desculpará esta falta, porque quando escrevo
ao Senhor Hinton252 para si é tambem.
Esta tem por fim dizer-lhe que recebemos o aluminato de baryta, e que devido a que no conhecimento vinho denominado
Aluminato de baryta, que é um producto chimico que pagava 13% ad valorem, e que se viesse somente baryta, como na factura
paga 100 reis por tonelada. Felizmente Barros conseguio (não mostrando o conhecimento) que pagasse 110 reis por tonelada,
o que se se desse o contrario, pagariamos uns direitos elevadissimos em vista do valor declarado.
É bom pois sempre antes de fazer os conhecimentos, vêr na Pauta das Alfandegas quaes os direitos que temos a pagar e fazer
por o melhor.
Desejando a continuação da sua saude e felicidades, subscrevo-me Seu Amigo Attencioso e Obrigado[Ass:] João Higino
Ferraz //

[DATA: 17 Janeiro de 1918


DESTINATÁRIO: Francisco Meira]
[37] Funchal 17 Janeiro 1918

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Meu Caro Amigo e Senhor Meira
Depois da reonião feita hoje na Associação Commercial, e segundo os alvitres apresentados, posso tirar as conclusões
seguintes:
1ª Condição:
Esta que não foi apresentada na reonião por conveniencias partculares, é a melhor... Prohibição de fabrico d’aguardente de
canna onde as fabricas matriculadas possam hir boscar canna.
Garantia da quantidade de alcool necessario para tratamento dos vinhos, sendo feito o preço de 400 reis por litro alcool puro,
isto é, mais 140 reis por litro do preço actual da Lei.
Esta augmento de preço do alcool de 140 reis por litro será para a Junta Agricula.
2ª Condição, mediamente boa
As fabricas aguardente de canna fazem somente metade da Laboração de 1917.
O alcool de melaço faltando para o consumo, será feito directamente da canna pelas fabricas matriculadas, pagando os
vinicultores por este alcool 500 reis por litro em 40º Cartiere. O alcool do melaço ficará no preço antigo (260 reis litro a 100º),
1000 kilogramas canna deve render na media 71 litros alcool. //
[38] 3ª Condição, a peor (apresentada por Antonio Justino):
Arrendamento de 3 ou 4 fabricas pelos vinicultores para a produção de aguardente sem pagamento de imposto de fabrico,
que será retificada pelas fabricas matriculadas.
Estas fabricas não poderam porém fazer aguardente para consumo, e seram sujeitas a uma fiscalisação.
Esta ultima condição não nos traz vantagem alguma, e parece-me que mesmo aos vinicultores não traz vantagem, por isso
que o alcool retificado em 40º sahir-lhe-ha a 550 reis por litro, depois de tiradas todas as despesas de fabrico, arrendamentos de
fabricas, fiscalisações e carretos.
Cada 1000 kilogramas canna dár-lhe-ha 59 litros alcool em 40º retificado. O preço minimo de retificação deve ser de 150
reis por litro alcool em 40º.
São estas pois as considerações que posso fazer sobre o assumpto, assim lhe exponho conforme o seu pedido.
Seu Amigo Certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 26 de Janeiro de 1918


CARACTERIZAÇÃO: Conjecturas acerca da futura Laboração de 1918]

[39] Funchal 26 Janeiro 1918


Calculos para o trabalho de 1918
Como a canna em 1918, pelas analyses já feitas, mostra ser mais rica do que a de 1917, eu calculo um minimo de 13%
assucar na canna com uma pureza de 87º.
Pela diffusão com extração de 96%
Rendimento em turbinado será 10,300 kilogramas assucar % canna
Pela imbibição simples como na Comp.ª Nova cuja extração é de 93% o rendimento em turbinado será 9,834 kilogramas
assucar %
Vê-se pois que com a imbibição perdemos 0,466 kilogramas assucar turbinado % canna.
Deveremos notar que com a imbibição o gasto em vapor não deve ser inferior a <menos> 30% ou talvez mais, e assim
poderemos com uma determinada quantidade de carvão e lenha moer mais 30 ou 35% do que pela diffusão. Como o carvão e
lenha que temos poderá dár para 25.000 toneladas canna (pela diffusão), e calculando mais 35% (pela imbibição) poderemos
trabalhar com este mesmo carvão e lenha aproximado 34.000 toneladas canna...[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 9 de Março de 1918


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[40] Funchal 9 março 1918
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Duas palavras sobre Laboração de 1918 (em principio):
Fizemos a esperiencia da imbibição do bagaço como na Comp.ª Nova, e os seus resultados pode vêr no Raport junto de
Laalberg, e como vê não são nada animadores, para o fim que tinhamos em vista, economia de carvão sem perda superior á

171
Comp.ª Nova. Foi uma esperiencia de 4 dias, findos os quaes declarei a Carlos253 e Marsden que em vista da perda em assucar
no bagaço, e não sendo a economia em combustivel pelo menos de 40% (o que nem sequer se aproxima), não tomava a
responsabilidade do resultado industrial. Diz Marsden que o carvão que temos tem um valor combostivel 20% inferior ao carvão
normal; mas essa diferença tanto se dará no trabalho pela diffusão do bagaço como pela imbibição. Dará o carvão e lenha para
a Laboração de 1918? Pelos calculos vesse que deve dár, calculando um maximo de 40.000 toneladas canna, a que talvez não
se possa chegar.
Estou pois trabalhando actualmente pela diffusão do bagaço como em 1917. //
[41] Sulfito de soda: Estou empregando este producto chimico na sulfitação, e para não o empregar isuladamente, estou
fazendo meia sulfitação pelo enxofre, que tenho ainda, e meia pelo sulfito de soda: Os resultados na sulfitação parecem ser
eguaes á sulfitação pelo gaz de enxofre, mas os tourteaux dos filtros-presses recentem-se um pouco, não sendo tão duros, e a
qualidade do jus, na sua cor, levemente mais escuros, devido á soda do sulfito. O producto assucar turbinado tambem não é tão
perfeito na sua cor como o de 1917.
Nada mais, por emquanto, lhe posso dizer sobre a Laboração por isso que temos somente 5 dias d’ella. Marliere254 não veio
no “San Miguel” como esperava, de forma que estou fazendo os cuites com Francisco e Manoel, e o trabalho corre normalmente
e sem dificuldades.
Sem mais por emquanto que lhe possa dizer da minha parte, subscrevo-me Seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz
//

[DATA: 9 de Março de 1918


DESTINATÁRIO: ?]
[42] Funchal 9 março 1918
Meu Ex.mo Amigo
Cá estamos no principio da nossa Laboração, e d’ella pouca cousa lhe posso dizer por emquanto:
A canna ainda está muito fraca em assucar, e ainda mais devido a termos de receber canna de sitios que não devia ser ainda
cortada, mas os nossos amigos Lavradores, em vista dos preços que os aguardenteiros estão offerecendo, estão renitentes, e sem
rasão, em não quererem apanhar a canna: Malditos diabos dos aguardenteiros!... Se d’ahi não vem restrinção no fabrico da
aguardente, os malditos levam-nos a melhor canna.
Que fim levou Marliere255? Não veio ou não vem de França? Estou fazendo os Cuites com Francisco e Manoel, e felizmente
vão muito bem no seu trabalho.
Enxofre: Que venha o mais breve possivel, metade por veleiro e metade pelo “San Miguel”, mas é sempre bom ter em vista
que o veleiro pode ser tropediado pelos Boches, e assim teremos que reforçar a remeça pelo San Miguel, dando-se esse caso.
Tenho a destillaria completamente montada, faltando somente a minha encomenda de thermometros etc, // [43] feita ao
Senhor Hinton256 em 12 de Novembro de 1917.
Se os Senhores querem têr a sua destillaria em condições de trabalhar em 1919, têem que fazer essa encomenda quanto antes.
Sem mais subscrevo-me Seu Amigo Certo[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 22 de Março de 1918


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[44] Funchal 22 março 1918
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Depois da minha ultima carta de 9 corrente já temos mais uns 13 dias de Laboração, e por isso mais alguma cousa lhe posso
dizer sobre o assumpto, ainda que sobre rendimento sô na paragem da Semana Santa se fará uma situação com o trabalho pela
diffusão, subtraindo a situação pela imbibição que deu um baixo rendimento: A situação geral, isto é, diaria, incluindo todo o
trabalho d’esde o principio com a imbibição, deve-nos dár aproximados 9,3% de rendimento em turbinado com canna de 12,2%
assucar e purezas de 84º media.
Sulfitação pelo sulfito de soda: Á dez dias que terminou o enxofre que tinha do stock, e por isso estou a fazer este trabalho
somente pelo sulfito: Os resultados na filtração não são nada bons, e vejo-me na necessidade de meter 2 a 3 hectolitros de garapa
defecada na bateria de diffusão porque os filtros não dão para todo o trabalho, e poder formar algum tourteaux ainda que
bastante molle.
Quanto ao resultado d’este producto no rendimento em assucar, vejo que sendo a soda melassigenica deve fazer baixar um

172
pouco o rendimento em turbinado, e vejo bem isto porque a media de melaço por filtro-presse da Melasse Cuite de 2ª que em
// [45] 1917 foi de 5800 kilogramas, temos actualmente 5940 kilogramas melaço por filtro, isto é, mais 140 kilogramas do que
em 1917.
Triple-effet: O trabalho d’este apparelho de evaporação ainda é melhor do que em 1917 em vista da modificação que fiz na
parte da percipitação pelo aluminato de baryta, e além d’isso essa modificação traz o resultado da filtração mechanica ser
sempre regular e os filtros darem jus sempre ou quasi sempre brilhantes. O apparelho trabalha ainda tambem como no principio
da Laboração, dando xaropes a 33-34º Baumé, não sendo necessario lhe dár todo o vapor exausto. Isto deve dár causa a uma
economia de combustivel, por isso que os cuites teem menos que evaporar.
Petits eaux: Como já lhe disse, no corrente anno não fasso a turbinagem dos pés dos Petits Eaux para economia de
combustivel, mas simplesmente a decantação, tendo uma perda em Petits Eaux (pelo despejo ou desprezo d’estes pés) de 9%
em liquidações. Em 1917 com as liquidações perdia-se 5%. Calculo pois que a perda em assucar seja de 0,050% canna mais de
que em 1917, mas a bomba d’agua das centrifugas gasta aproximadamente 4 toneladas carvão por 24 horas. Temos pois ainda
assim uma economia.
O resto do trabalho corre regularmente, e estou bastante satisfeito com o trabalho dos cuiseurs (Francisco e Manoel) que me
tem apresentado sempre bons cuites, de turbinagem facil e bom rendimento em turbina e grão muito regular. O trabalho nos
filtros-presse da Melasse Cuite de 1ª e 2ª serie, vão bem. //
[46] Comp.ª Nova: Como já tenho melaço suficiente na Comp.ª Nova, vou dár principio ás fermentações depois da Semana
Santa, para o que já tenho fermento em boas condições. Sempre poderei contar com formol para a fermentação?
Somente tenho sulfito de soda para 10 a 12 dias depois da Semana Santa de forma que é necessario vir o enxofre a tempo
para não me vêr na necessidade de meter toda a garapa na bateria de diffusão, e têr que produzir assucar bruto e tirar talvez
menos rendimento.
Sem mais por emquanto Subscrevo-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 30 de Março de 1918


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[47] 257Funchal 30 março 1918
mo
Ex. Amigo e Senhor Hinton
Tenho em meu poder a sua carta de 24 corrente que muito lhe agradeço.
Situação de 11 a 25 corrente: Vendo esta deve achar um rendimento baixo (9,221), mas deve notar que nas perdas
indeterminadas aparece 0,728% (?!): Fiz notar isso a Laalberg, mas diz elle que calculou pelas purezas das Melasses Cuites de
2º e 3º jet e égoûts restantes, mas eu acho o calculo baixo, e mesmo as perdas indeterminadas, como elle diz na nota abaixo,
serem devidas ás borras dos filtros-presses, isso não é assim, porque perdas inderminadas[sic] são aquellas que não poderam
ser encontradas, e essas das borras está determinada em 0,256 o que é superior a 1917 a 0,058% canna. Vejo pois que em perdas
indeterminadas não se deve calcular senão um maximo de 0,328% canna, restando pois 0,400 que a 80% em turbinado dará
0,320; isto fará com que o rendimento não turbinado seja de 9,541% canna, o que concorda com as situações diarias. Perdas
durante a Laboração posso-lhe garantir não as houve, nem por derrames nem por // [48] outra cousa qualquer, a não ser
pequenas cousas que sempre se dão em fabrico de assucar.
Enxofre: Obrigado pela remessa, e como tenho ainda sulfito de soda para uns 10 a 12 dias, vou continuar a sulfitação
empregando um pouco d’este sulfito e terminando a sulfitação pelo gaz do enxofre, como fiz no principio, e assim tem melhores
tourteaux e não tem necessidade de levar garapa á bateria de diffusão.
Canna: Infelizmente temos tido quase sempre má canna devido aos propriatarios que as teem boa não querem vendel’as
esperando sempre melhor preço dos aguardenteiros, e se isso ahi se não resolve o mais breve possivel com relação á diminuição
de fabrico d’aguardente, a situação alonga-se muito com nosso prejuizo. Os malditos aguardenteiros sô compram a bôa canna
deixando a peôr; isto é o mais irracional possivel, porque para aguardente deveria ser aquellas que a sua pureza ou grau fosse
mais baixo, e para assucar a melhor, isto é o mesmo que se pratica em toda a parte onde se fabrica aguardente e assucar, e onde
os Governos attendem ás condições da industria.
Sem mais subscrevo-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz//

[DATA: 4 de Abril de 1918


DESTINATÁRIO: Bardsley]

173
[49] Funchal 4 abril 1918
Ex.mo Amigo e Senhor Bardsley
Como sei que o Senhor Hinton258 não se encontra actualmente em Lisboa escrevo-lhe a si, e pesso-lhe que lhe transmita o
que achar de interessante na minha carta.
Acuso a recepção da sua ultima carta que muito lhe agradeço (carta H. Hinton).
Situação 2ª: Por ella verá que o rendimento em turbinado foi superior á 1ª situação. Devo porém fazer-lhe notar que as perdas
indeterminadas acusadas de 0,451% canna acho muito elevadas, e fazendo vêr isso a Laalberg disse-me elle que o sucre dans
l’usine tinha sido calculado pelas purezas e por isso apresentava essa perda (?!). Não vejo porém rasão para isso porque perdas
indeterminadas são todas aquellas que não foram encontradas pelas analyses, e como elle diz na nota abaixo que essas perdas
são devidas ás borras dos filtros-presses (?), mas vejo sucre dans le boues 0,262% canna, emquanto que em 1917 foi de 0,198,
isto é, em 1918 são superiores em 0,064% canna. Ora, calculando as perdas indeterminadas como na 1ª situação de 1918 de
0,275%, ficar-nos-há 0,176 que calculando <para> este // [50] assucar um rendimento de 80% em turbinado dará 0,140, o que
elevaria o rendimento em turbinado d’esta situação a 9,592 kilogramas %. Em melaço deve dár 4 kilogramas por % canna.
Enxofre: Recebemos as 4 toneladas que muito agradeço, e me vai habilitar a continuar a produzir assucar de boa qualidade.
O que porém me aborrece bastante é que este enxofre não é egual á amostra que nos enviaram em 1917 e que pela analyse
mostrou ser de boa qualidade, emquanto que este agora é pessimo, isto é, não fáz bem a combustão e o rendimento em SO2 é
inferior ao normal. Em vista d’esta má qualidade de enxofre vejo-me na necessidade de meter alguma garapa na bateria de
diffusão, o que eu contava não fazer, e os tourteaux continuam a ser maus. Coisas Portuguezas!..., apresentam bôas amostras,
e fornecem mau producto... e o peor carissimo... Mas emfim antes este mesmo mau do que nenhum.
Envio-lhe duas amostras de enxofre; Nº 1 é a amostra de 1917; Nº 2 é o que recebemos (4 toneladas), e pela propria vista
se vê bem a diferença dos dois.
Canna: Infelizmente temos tido quasi sempre má canna devido aos propriatarios que as tem bôa não querem vender
esperando sempre melhor preço dos aguarden-//[51]teiros, e se isso ahi se não resolve o mais breve possivel com relação á
diminuição de fabrico de aguardente, a situação alonga-se muito com nosso prejuizo.
Os malditos aguardenteiros sô compram a bôa canna deixando-nos a peôr; isto é o mais irracional possivel, porque para
aguardente deveria ser aquella que a sua pureza ou grau fosse mais baixo, e para assucar a melhor; é isto o que se pratica em
toda a parte onde se fabrica assucar e aguardente, e onde os Governos attendem ás condições da industria.
Sem mais subscrevo-me Seu Amigo Certo[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 18 de Maio de 1918


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[52] Funchal 18 maio 1918
mo
Ex. Amigo e Senhor Hinton
Terminamos a 5ª situação e vejo pelos calculos de Laalberg que as perdas indeterminadas são excessivamente grandes,
muito mais que o normal. Já na situação transacta tive minhas duvidas sobre os indeterminados, mas como não eram excessivos
julguei serem devidas ás analyses. Contudo n’esse tempo verifiquei junto com elles todas as partes da Fabrica e nada
encontramos que podesse dár causa a perdas aperciaveis.
Esta porém dá-me uma tal perda que não pude deixar sem vêr bem qual a causa de semelhante prejuizo.
Pedi pois a Laalberg para fazer um raporte sobre esse ponto o qual lhe deve ser enviado.
Contudo da minha parte vou dizer-lhe o que me sugere sobre o assumpto:
Como eu fasso sempre os calculos do assucar no melaço pelo assucar total (saccarose e glucose) fermentavel, dá-me para o
melaço 50% assucar total, e assim estableço os calculos da seguinte forma:
O assucar no jus de diffusão enviado á Comp.ª Nova para alcool foi de 0,788 kilogramas % canna, e o seu rendimento em
alcool corresponde ao assucar enviado. //
[53] Calculo de rendimento % canna
Assucar turbinado real e por calculo ...........................................................9,018 %
Assucar no jus de diffusão emviado á Comp.ª Nova em turbinado.............0,639 “ ?
3,546 kilogramas melaço obtido a 50% assucar total ..................................1,773 “
0,300 melaço que o jus enviado á Comp.ª Nova deveria dár ......................0,149 “
......................................................................................................................3,846 Total

174
No bagaço a queimar......................0,536
Perdas Nas borras dos Filtros-Presses........0,195
Indeterminadas (?) ..........................0,712 1,443
Assucar na canna 13,022
Vê-se pois que as perdas indeterminadas reais foi de 0,712 % canna emquanto que as medias das situações 2ª, 3ª e 4ª (feita
nas mesmas condições) foi de 0,200% aproximados, havendo pois um excedente de perda de 0,512 assucar % canna.
D’onde provem essa perda?
Segundo Laalberg, e é tambem a minha opinião, a perda é entre canna e vesou pelo seus [sic] calculos feitos nas mesmas
condições do anno de 1917 e das situações transactas.
Vejo pois, depois de tudo bem verificado, que entre os engenhos e os sulfitadores (medidores) não houve nem pode haver
perda aperciavel de vesou por isso que o trajecto da garapa dos engenhos aos sulfitadores é feito au grand air.
A diferença está pois no pezo da canna. //
[54] Varias razões praticas há para isso segundo verifiquei eu mesmo. As balanças estão certas segundo eu vi e Marsden.
Tirando uma nota da canna do Funchal recebida no Torreão e Comp.ª Nova (Notas do escriptorio do Torreão) em um total de
15.248.053 kilogramas canna em 182.853 molhos, dá a media por molho de 83,300 kilogramas.
A canna entrada na Comp.ª Nova (Funchal e Costas) no total de 1.825.695 kilogramas em 23.170 molhos dá uma media de
78,700 kilogramas por molho.
Comp.ª Nova porém recebeu pouca canna da Costa, e assim pode-se calcular por segurança que para a canna do Funchal
deve dár na balança da Comp.ª Nova 80 kilos por molho.
Vê-se pois que no Torreão a pezagem deu mais por molho de cannas pelo menos 3 kilogramas ou seja 3,7% a mais do pezo.
Porque?
Na 4ª situação, em que o trabalho da bateria de diffusão foi egual ao da 5ª situação (trabalho em uma sô bateria) e os
resultados foram normaes, a carga por diffusor foi de 1438 kilogramas canna, dando 26,33 litros de jus diffusão % canna. Na
5ª situação com o mesmo trabalho e canna quasi edentica, a carga por diffusor foi de 1480 kilogramas dando (com a mesma
soutiragem) 23,97 litros jus % canna: Deveria dár proporcionalmente á quantidade de canna 27 litros %. //
[55] Por isto se vê aqui na 5ª situação deu mais por diffusor 42 kilogramas canna, que em 2424 diffusores feitos dá um total
de 101.808 kilogramas canna a 13% assucar = 13.235 kilogramas assucar a menos, que deve corresponder aproximadamente
ás perdas encontradas.
Por todas estas considerações feitas bem pode vêr que houve extravio de pezo de canna, da qual preveni Carlos259, e estamos
a vêr d’onde vem o gato...
São cousas que não podem nem devem acontecer mais, e que eu desejo livrar a minha responsabilidade na parte technica
do fabrico.
O maximo cuidado tenho tido em todo o fabrico de forma a evitar o mais possivel perdas indeterminadas elevadas.
Crêa-me seu Amigo Attencioso e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 24 de Maio de 1918


DESTINATÁRIO: António Perry da Câmara]
[56] Funchal 24 maio 1918
Meu caro Antonio P. da Camara
O nosso Amigo José Gomes Ribeiro procurou-me para me falar sobre cousas de Vinho, segundo a tua indicação, e o que eu
lhe disse sobre o assumpto elle deve ter-te dito: Contudo da minha parte vou dizer-te o que há sobre isso.
Em 1916 estive em Lisboa como sabes, para tratar cousa do Hinton260 com relação a vinhos e aguardentes de vinho, e n’essa
occasião tive tempo de vêr quaes os resultados que esses negocios poderiam dár se fossem bem administrados e bem derigidos
na sua parte technica, empregando processos novos de fabrico de vinhos, aguardentes etc., como se usa em França, Espanha,
Italia e mesmo na Alemanha, e assim poder-se competir com esses mercados.
Além disso vi tambem que as nossas colonias Africanas ou Inglezas são uns bellos mercados para uns typos de vinhos
especiaes licorosos que em Portugal, infelizmente, não são feitos em condições para resistir aos climas tropicaes.
Com os dados que pude obter de visou e por informações particulares estudei a questão, e propuz por carta ao Hinton, depois
da minha chegada do Funchal, para se // [57] establecer em Portugal por conta da Casa Hinton esses negocios, e eu, depois de
terminado o fabrico do assucar aqui, poderia hir para Lisboa e tomar conta da parte technica do fabrico.

175
Essa minha carta porém nunca teve resposta, o que me penalisou bastante, e falando ao Meira261 sobre isso, elle disse-me
que o Hinton estava na disposição de liquidar tudo quanto se relacionasse com Vinhos!.
Em vista d’isto nunca mais toquei no assumpto, e tratei de estudar a questão sô para mim e com um pequeno capital que
tenho, vêr se conseguia establecer em ponto pequeno a industria em questão, fazendo com Hinton uma concordata para eu lhe
prestar os meus serviços durante o tempo da Laboração da canna, e terminada ella, ficar livre por minha conta.
No mez passado porém o Ribeiro veio-me fallar sobre esse assumpto (vinhos) e eu disse-lhe isto mesmo, e dizendo-lhe
tambem que, caso o Hinton não tornasse a falar no assumpto, não teria duvida alguma a me juntar a voces para establecer esse
negocio em meior escala porque tenho nos meus Amigos Perry e Ribeiro a massima confiança na sua onestidade e boa
camaradagem.
Tudo depende porém da terminação d’esta maldita guerra, para se poder obter alguns apparelhos em França que são
indispensaveis para o caso.
Fica pois, meu caro Perry, isto establecido; se o Hinton não me falar no assumpto, eu tratarei de conseguir // [58] d’elle que
me deixe livre pelo menos durante uns 8 mezes do anno, ou para establecer com os meus Amigos os ditos negocios, ou caso
voces não quererém por qualquer rasões [sic], farei eu sosinho.
Pesso-te porém o maximo sigilio sobre isto, e conta sempre com o teu velho e verdadeiro Amigo[Ass:] João Higino Ferraz
//

[DATA: 25 de Maio de 1918


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[59] Funchal 25 maio 1918
mo
Ex. Amigo e Senhor Hinton
Em resposta ao seu telegrama de hontem vou dizer-lhe o rendimento da canna em alcool e tambem do jus de diffusão que
estou enviando á Comp.ª Nova para alcool o qual corresponde a canna:
Em tres lotes de fermentação de canna directa na Comp.ª Nova com uma Extração de 90% do assuar[sic] da canna, o
rendimento medio dos tres lotes foi de 66,8 litros alcool a 100º a 15º temperatura por tonelada canna n’uma quantidade total de
472.769 kilogramas canna.
As despezas de fabrico actuaes pode-se calcular em 150 reis por litro alcool a 100º = 10$00 por tonelada canna.
Estableci pois o preço de alcool de canna a 600 reis litro a 100º. Dá pois aproximadamente um lucro de 200 reis por litro
alcool 100º ou seja 13$30 por tonelada canna.
O rendimento em alcool do jus de diffusão enviado á Comp.ª Nova tem dado um rendimento medio de 58 litros alcool a
100º a 15º temperatura por 100 kilogramas assucar contidos no jus, o que corresponde aproximado ao rendimento acima da
canna.//
[60] Aproveito esta occasião para lhe dizer a minha opinião com relação ao fabrico do alcool em 1919 e qual o preço por
que se deve establecer o alcool futuro em vista das deficuldades de guerra e custo de combostivel etc.
O preço do alcool para 1919 não deve ser inferior a 500 reis por litro a 100º a 15º temperatura tanto o de canna como o de
melaço.
Para 1919 não devemos fazer nada menos do que 550.000 a 560.000 litros alcool que seram para tratar os vinhos da colheita
de 1918 e talvez não dê suficiente. O alcool que fazemos no corrente anno (1918) é para tratar vinhos das colheitas de 1916-
1917 e pouco poderá restar.
Establecendo isto assim, é minha opinião o seguinte:
1º Torreão fará a destillação em 1919 durante a Laboração da Canna aproveitando assim uma grande parte do vapor exausto
perdido, em vista do bom trabalho actual do Triple-effet, empregando para alcool o jus de diffusão (parte), melaço e lavagens.
2º Comp.ª Nova fará alcool de todo o jus de imbibição de 100 toneladas canna por 24 horas, de uma pequena parte do jus
de diffusão do Torreão e de melaço para complemento da densidade de fermentação.
Os resultados provaveis aproximados d’esta maneira de proceder devem ser os seguintes: //
[61] 100 toneladas canna na Comp.ª Nova dará do jus de imbibição (a 1 litro alcool% canna) 1000 litros alcool a 100º.
Comp.ª Nova produz por 24 horas 2500 litros alcool a 100º
Para o melaço e jus de diffusão 1500 litros restantes.
Torreão pode destillar 450 Hectolitros de vinho por 24 horas feitos com jus de diffusão, melaço e lavagens, produzindo
aproximados 3000 litros alcool a 100º por 24 horas.

176
O jus de diffusão total enviado a Comp.ª Nova e gasto no Torreão calculo em 50% do jus total.
O total do alcool produzido nas duas fabricas por 24 horas durante a Laboração da canna será de 5500 litros.
Para isto é indispensavel limitar o fabrico d’aguardente de canna a um maximo de 700.000 litros em 1919.
Calculando o trabalho do Torreão e Comp.ª Nova em 35000 toneladas canna dará:
Alcool de melaço 350.000 litros
“ de canna 200.000 “
Total 550.000 “
Crea-me Seu Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 4 a 6 de Junho de 1918


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[62] Funchal 4 a 6 junho 1918
mo
Ex. Amigo e Senhor Hinton
Respondo á suas [sic] ultimas cartas, á minha e á de Carlos262:
Perdas indeterminadas: com relação a isto, o que pude apurar e que vejo sêr naturalmente a causa é a perda no pezo da canna,
que por uma esperiencia que fiz em uns poucos de molhos me deu 3% de quebra em 2 dias. Como deve saber, actualmente
recebemos cannas durante dois dias, para depois se dár principio ao trabalho, para não termos de estár a fazer paragens repetidas
(a canna entrada por dia, não dá para o trabalho), que nos dá um prejuizo em combustivel. Foi pois exactamente na 5ª situação
que isto se deu com mais frequencia, o que naturalmente fêz diminuir o volume da garapa, em vista de seccar um pouco as
pontas das cannas que pouco assucar contem. Esta quebra de 3% dá aproximado para as perdas indeterminadas encontradas a
mais do normal.
Pode ficar descansado quanto aos esquentadores, porque são verificados (as aguas condensadas) duas vezes ao dia: Como
já lhe disse na minha ultima carta, a perda foi entre canna e sulfitadores, onde não há esquentador algum. Os pratos (fundos)
dos engenhos não tem furo algum. A perda pois, sô posso atribuir á diminuição do pezo na canna. O ser a canna mais bem
pezada no corrente anno, não pode influir n’isto. //
[63] Alcool de canna: Quando vimos que no corrente anno, o alcool do melaço não dava nem para tratar os vinhos de 1916
e 1917 prevenimos d’isso todos os negociantes de vinhos, e elles aflitissimos pediram para fazermos alcool de canna, custasse
elle quanto custasse, por isso que não tendo alcool perdiam por completo os vinhos por falta de tratamento e além d’isso não
poderiam exportar vinhos o que acarreteria um grave prejuizo. Foi devido a isso que eu disse que se poderia fabricar alcool de
canna ou jus (que é o mesmo que canna) mas pagando elles 700 reis por litro alcool a 100º a 15º temperatura que eu calculei
dár um lucro superior ao fabrico em assucar e os meus calculos estão certos. Quanto a todo o alcool (melaço e canna) ser
vendido a 600 reis por litros, dei a minha opinião (a Carlos e Meira263) que isto sô devia ser feito com a maxima garantia de não
se dár futuras complicações com o Governo por quebra de contracto da Lei. Estableceram pois que, todo o comprador d’alcool
que necessitasse de receber mais alcool do que lhe poderia caber no rateio do alcool de melaço, isto é, 1/5, escreveriam uma
carta pedindo para comprarmos canna por conta d’elles e fazer o alcool e establecer o preço por que sahisse o alcool, e assim,
parece-me, que se tem feito. Eu da minha parte nada tenho com vendas d’alcool, porque Carlos e Meira se quizeram encarregar
d’isso, e o que sei é o que elles me dizem. Tenho porém por varias vezes feito vêr a Carlos e Meira que devem têr o maximo
cuidado n’isso. //
[64] Para prova de que não me enganei nos calculos do alcool de canna, vou dár-lhe os rendimentos em alcool até 31 de
maio.
7 lotes de fermentação (Comp.ª Nova) deu o seguinte:
Melaço total 373.207 kilogramas rendeu 103.903 litros alcool a 100º = 27,8 litros %
Canna 472.769 kilogramas rendeu 31.790 litros alcool a 100º = 67,2 litros tonelada canna
7868 Hectolitros de jus diffusão com 62800 kilogramas assucar rendeu 36.977 litros alcool o que dá 58,7 litros % assucar
metido em fermentação (theorico 60%)
O rendimento do assucar da canna directa em alcool, que continha 13% assucar e com a extração da Comp.ª Nova de 90%,
deu 57,5 litros alcool % assucar metido em fermentação.
Como vê o jus diffusão deu mais rendimento % assucar do que a canna, mas isso é devido á glucose do jus de diffusão que
é superior ao da canna directa.
Assim vejo que os calculos estão certos.

177
Quanto aos resultados financeiros:
Em assucar e melaço: Em alcool:.....................................
Custo tonelada canna ...................17.000 Custo tonelada canna........17$000
Fabrico ......................................... 8.300 Fabrico do alcool ..............10$080
Custo total ....................................25.300 Custo total 27$080
Productos: 9,800 kilogramas assucar ..... 67,2 litros alcool a 700 reis
turbinado a 350 reis....................................= 34$300 por litro = 47$040
....................................3,500 kilogramas
melaço a 27,8 litros % a 260º....................= 253
Productos totaes .. 34$553
Como vê, mesmo a 600 reis por litro alcool, o lucro feito a canna em alcool é superior ao lucro do assucar. //
[65] Nova Lei Sacarina: Este ponto é o mais complicado e mais dificil de dár uma opinião, e isso confesso, não estou em
condições de lhas poder dár por varias razões, sendo a principal a falta de competencia da minha parte. Outros haverá que lhe
possam dár melhores. Contudo pesso-lhe para lhe dizer o que, com toda a franqueza, eu vejo n’este assumpto.
Segundo o que Carlos me leu da sua carta, vejo que o Governo está na desposição de fazer o fabrico do assucar livre, para
todas as fabricas de aguardente que queiram transformar em fabricas de assucar (?!!). Mas, pergunto eu, qual é a base para
determinar a capacidade das fabricas? É a capacidade de destillação ou a capacidade de moendas?
Se é a de destillação, uma fabrica das meiores, apenas poderá moer 25.000 kilogramas canna por 24 horas aproveitando os
bagaços ou para aguardente ou para assucar; isto já se vê, não augmentando a capacidade actual. Somente um asno fará a
transformação de uma d’estas fabricas em fabrica de assucar com aparelhos de bonecas!!
Se é pela capacidade de moenda, sô vejo duas fabricas em condições de serem transformadas (á antiga!) que são a do Conde
da Calçada, no Arco da Calheta, e a do Almeida, na Ponta do Sol. As outras pouco mais podem fazer de 30.000 kilogramas
canna por 24 horas.
Das duas uma, ou Governo consente a junção de varias fabricas em uma sô (em cada freguezia), ou então ponha essa edêa
de parte que não é pratica. //
[66] Para William Hinton & Sons, a junção de fabricas seria uma calamidade, ainda que essa calamidade seria tambem para
os outros, e teriamos tantas fabricas quantas fossem as freguesias, porque dinheiro não faltaria, o que faltaria era juizo, e isso,
como sabe, é o que ha de menos aqui.
Esse projecto, que é o mesmo que aplicaram em Africa, não tem cabimento para a Madeira, e isso sô pode germinar em uma
cabeça sem conhecimentos do que é a industria assucareira... para não dizer outra cousa.
O que eu vejo no meio de tudo isto é que, o mais pratico e o que mesmo os aguardenteiros acceitariam bem, seria o limite
de fabrico de aguardente ao minimo; que o imposto cobrado fosse para expropriação de fabricas de aguardente, dando o
Governo ás fabricas matriculadas actualmente, uma prerrugação do pazo[sic] da actual Lei (modificada, se assim o quiserem),
até á completa expropriação das fabricas. Depois... seria o que fosse... Fôra d’isto não vejo solução que agrade a todos.
O que é indispensavel, como já lhe disse na minha ultima carta, é que emquanto durar este estado de guerra, que o preço do
alcool para vinhos seja elevado ao minimo de 500 reis por litro a 100º, para podermos fabricar o suficiente para o tratamento
dos vinhos da Madeira de exportação. //
[67] Quanto ao que diz de eu vêr junto com Victorino dos Santos qual a capacidade das Fabricas, é minha opinião não dár
por emquanto a conhecer a ninguem os projectos de nova Lei. Victorino ainda que muito boa pessoa, trata primeiro dos seus
interesses, e eu sei que o filho mais velho d’elle tem namoro (naturalmente para casamento) com a filha unica do José F.
Azevedo, sociatario da selebre fabrica em a estrada Monumental em São Martinho, e que naturalmente deve querer proteger o
pae da sua futura (?) nora.
São dois que estão com ella ferrada para montar fabrica de assucar: Um é o José F. Azevedo em São Martinho, e o outro é
o Henrique Figueira da Silva264 (banqueiro) que tem actualmente a Fabrica do Conde da Calçada no Arco da Calheta: Esse já
me disse que tem na America planos para uma fabrica de 150 toneladas canna por 24 horas, e que lhe custará uns 150:000$00
escudos.!! É d’esse que eu tenho mais receio por ser homem de dinheiro. Quanto ao Azevedo: esse é homem quasi rebentado...
Se o Governo presistir na sua edeia de transformação de fabricas de aguardente em fabricas de assucar, e que, para ser
agradavel á firma Hinton, sô primita as capacidades actuaes, ou pela destillação ou pelas moendas, vai dár causa a reclamações,
e nunca se chegará a fazer cousa alguma, e mesmo as reclamações teram por base actualmente as dificuldades da guerra. //
[68] Sube pelo Sr. Capello, que o ministro da Agricultura escreveu ao presidente da Junta Agricula, dizendo-lhe que hiria

178
brevemente á Madeira estudar estas questões de assucar e aguardentes, e era conveniente que elle viesse já d’ahi meio orientado
sobre o assumpto. Não tenho confiança alguma n’estes nossos amigos de cá, e temos, como sabe, fartura de inimigos.
Pense bem n’isto e verá que o que convem melhor, tanto para os seus interesses como para o interesse dos outros, é a
prorogação da Lei actual até á expropriação completa ou parcial das fabricas de aguardente.
Quanto ao fabrico de melado nas fabricas de aguardente, o primeiro desparate foi consentir esse fabrico estando as fabricas
ainda a destillar, e como Fiscaes e chefes fiscaes estão feitos com alguns dos fabricantes d’aguardente, a destillação continuará
até ao fim em algumas d’ellas porque o melado é um pretexto...
Não posso comprehender que nos regulamentos da fiscalisação se consinta que uma materia prima que transformada de uma
forma (aguardente) paga imposto, e da outra (melado) é livre d’esse imposto, possa ser laborada ao mesmo tempo!!
Agora o mal está feito, e não val a pena remedial’o.
Sem mais subscrevo-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 9 de Junho de 1918


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[69] Funchal 9 Junho 1918
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
A 6ª situação deu-se exactamente o contrario do que a 5ª, isto é, quasi não há perdas indeterminadas, e contudo a Fabrica
marchou nas mesmas condições tanto n’uma como noutra sem se ter tocado em nada dos apparelhos, a não ser a limpeza
habitual.
Laalberg garante que os seus calculos estão certos, mas tambem não posso admitir que haja entre vesou e sucre mais assucar
do que entrou em fabricação.
Quanto ao melaço não pode haver engano porque quasi todo o melaço d’esta situação foi pezado e enviado á Comp.ª Nova:
Se temos mais melaço do que na 5ª situação é porque a meior parte da canna foi recebida já um pouco estragada porque era
canna que estava cortada para as fabricas de aguardente, e vê-se bem isso pela pureza da garapa, que se fosse fresca deveria ter
dado 88º de pureza.
Perda na fabricação durante a 5ª situação, como já lhe disse, posso garantir que não houve a não ser as perdas osuaes de
fabrico,e para prova d’isso pedi a Marsden para declarar isso, porque elle tanto como // [70] eu temos sempre o maximo cuidado
em tudo, e a Fabrica como está montada não ha tubos de garapa ou jus que não estejam bem á vista. Para segurança, e com
receio de qualquer maldade no corrente anno, fiz tapar com uma junta o tubo de descarga da soda e acido do Triple, ainda
mesmo que tem uma torneira fechada a cadeado, e sô habria quando se limpava o Triple, e isso somente se fêz duas vezes
durante a Laboração.
Temos uma cousa a notar novamente na 6ª situação que é a carga por diffusor que baixou, e o jus de diffusão de haugmentou
[sic]: O ter haugmentado o jus de diffusão, pode ser em parte devido á canna ser mais rica.
Fico pois sem compreender o que se passou na 5ª situação, e confesso que fico em duvidas sobre isto tudo, e compreendo
muito bem os seus receios sobre a honradez do pessoal das balanças. O que é um facto é que esta situação não mostra perdas,
e isto deu-se logo a seguir a eu ter mandado separar as cannas pezadas na balança da Carne Azeda, dizendo que era para analyse
da garapa, e á nuite foram novamente pezadas na balança de baixo.
Daria isto causa a que elles desconfiassem de qualquer verificação de pezo? É muito possivel. Custa-me bastante a criminar
seja quem fôr, não tenho uma certeza de crime, mas os factos que // [71] se dão, somos obrigados a nos precaver!
Da minha parte, tudo quanto pude fazer para verificar se poderia vêr de onde vinha o mal, fiz, e nada mais vejo infelizmente
porder[sic] fazer.
Alcool de canna: O ultimo lote de canna na Comp.ª Nova deu 75 litros alcool a 100º por tonelada canna, que é um bom
rendimento.
Corre por aqui que a Firma Hinton, conseguio do Governo mais 30 annos (!!!) do regimen, e augmento do imposto da
aguardente a 400 reis por litro. Se isto não é verdade, eu não vejo senão mais uma tratantada do Alexandrim dos Santos e do
Pestana Junior, porque foi d’elles que partio a novidade, e mostram uma carta do Advogado dos Aguardenteiros em Lisboa: Ora
isto sô tem por fim (se não é verdade) levantar os aguardenteiros e propriatarios contra tudo o que seja de Hinton, e creia que
conseguem o seu fim.
Sem mais, crea-me seu Amigo Certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

179
[DATA: 18 de Junho de 1918
CARACTERIZAÇÃO: Notas sobre produção de alcool, no ano de 1918]

[72] Funchal 18 Junho 1918


Rendimento total em alcool de 9 lotes de fermentações diversas:Abril a Junho 1918
Melaços 444.927 kilogramas ao rendimento de 28 litros % ...................................................= 124.532 litros alcool a 100º
Canna 625.368 “ “ de 70 litros por tonelada....................................= 43.778 “ “ “
Jus diffusão 946.965 litros contendo 76.827 kilogramas
assucar ao rendimento de 58 litros alcool % assucar fermentado ............................................= 44.540 “ “ “
Total do alcool dos 9 inventarios ............................................................................................. 212.850 “ “ “
O rendimento da canna, contendo ella 13% assucar e com a extração pela imbibição de 90%, deu um rendimento de 59 litros
alcool % assucar fermentado.
Melaço actualmente em ser:
No tanque grande do Torreão ..............................................454.560 kilogramas
Em ponches do Torreão ..........................................................15.605 “
Na Comp.ª Nova em ser e em fermentação ...........................64.043 “
Melaço provavel dos cuites de 1ª e 2ª serie ...........................30.000 “
Lavagens em melaço dos cuites e malaxeurs (?) .....................5.000 “
Total provavel em melaço ....................................................569.208 “ que ao rendimento
de 28 litros % kilogramas melaço dará 159.000 litros alcool a 100º provavel. Comp.ª Nova tem em canna e em fermentação
428.500 kilogramas, canna que ao rendimento de 70 litros por tonelada canna (?) dará 29.990 litros alcool.
Teremos talvez ainda que receber na Comp.ª Nova uns 1000 molhos de canna, que a 80 kilogramas por molho dará 80.000
kilogramas ao rendimento de // [73] 70 litros por tonelada dará 5600 litros alcool.
Resumindo teremos:
Alcool fabricado até 12 de junho .............................................212.850 litros a 100º a 15º
“ do melaço em sêr e em fermentação ...........................159.000 “ “ “
“ de canna “ “ “.................................... 29.990 “ “ “
“ “ provavel a receber.................................... 5.600 “ “ “
Alcool de 1918 ..........................................................................413.440 “ “ “
É este o alcool com que se pode contar em 1918.
Deve-se pois vender a 600 reis por litro alcool a 100º pelo menos 124.000 litros alcool, que corresponde á canna e jus de
diffusão feito em alcool, para não dár prejuizo.
[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 19 de Junho de 1918


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[74] Funchal 19 junho 1918
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Recebi no dia 9 do corrente um telegrama do Sousa Lara pedindo-me para contractar aqui um cuiseur dos nossos para hir
para Angola em Julho ou Agosto, e que voltaria em principios de Fevereiro do proximo anno.
Vou porém dizer-lhe o que fiz para que o Senhor Hinton fique prevenido, no caso de elles (Sousa Lara & C.ª) o hirem
procurar sobre este assumpto:
Telegraphei no dia seguinte dizendo “Impossivel contractar cuiseur”, quando hontem recebo uma carta registada da casa
Sousa Lara & C.ª renovando o pedido e dizendo que o que querem é um dos nossos operarios cuiseurs portuguez, o que eu ja
tinha percebido pelo telegrama. Vou pois responder o seguinte: Que não posso fazer o que elles pedem, porque isso nos pode
prejudicar no proximo anno, em vista das dificuldades da guerra, ou pode o homem não estar a tempo do nosso trabalho aqui
em março proximo futuro, ou mesmo voltar doente e fraco e não poder tomar o seu trabalho, o que nos acarretaria uma serie
de dificuldades por não termos outro que o substituia. Assim ficará a cousa arromada, e eu nada d’isto disse aos homens para
que // [75] elles não fiquem descontentes. Marliere265 sabe d’isto e poder-lhe-ha dizer tudo de viva vós.
Pode pois deixar sobre mim essa questão, porque como estou longe e respondo por carta estou mais livre de seringações.

180
Cêa-me[sic] seu Amigo certo e Obrigado
[Ass:] João Higino Ferraz
P. E.[sic] Tinha ja entregue a Carlos266 uma nota dos rendimentos em alcool dos melaços, canna e jus, e o que eu calculo
podermos contar no corrente anno, e elle deve-lhe enviar.[Ass:] Ferraz //

[DATA: 19 de Junho de 1918


DESTINATÁRIO: Sousa Lara & C.ª L.da; LOCAL: Lisboa]
[76] Funchal 19 junho 1918
Ex.mos Senhores Sousa Lara & C.ª L.da Lisboa
Ex.mos Senhores
Recebi a sua estimada carta de 13 do corrente a que passo a responder.
Honra-me bastante a prova de estima do meu Ex.mo Amigo Senhor Sousa Lara, a quem eu desejaria prestar o serviço pedido
de lhe arranjar um cuiseur dos nossos (madeirense) para a sua fabrica do Dombe Grande, como muito bem compreendi do seu
telegrama. Tenho porém, e isso me penalisa bastante, de olhar aos interesses da Casa Hinton de quem sou director technico, e
cujo Chefe da Casa, o Senhor Harry Hinton, é um dos meus melhores amigos e assim passo-lhe a expor as rasões do meu
telegrama dizendo “Impossivel contratar cuiseur”:
Poderia contratar um dos homens, que não sendo um cuiseur como deveria ser, contudo poderia alguma cousa fazer mais
ou menos bem, porque, como muito bem com-//[77]preendem, estes artifices praticos, quando não teêm direcção competente,
muitas vezes se veem em dificuldades.
Ha porém uma outra causa, e essa é a principal, que é a seguinte; um homem não habituado ao clima tropical e n’um trabalho
pezado como é o de cuiseur, pode adoeçer ou enfraqueçer, e eu teria no proximo anno menos um cuiseur (tenho somente dois
habilitados), e como com estas dificuldades de guerra já este anno o nosso chefe cuiseur Francez nos chegou com um mez de
atraso, não teria quem o substituisse e calculem as dificuldades em que me veria n’um caso d’estes. Não desejo pois tomar
semelhante responsabilidade que traria á Fabrica Hinton graves prejuizos.
Estou porém sempre ao despor do meu Ex.mo Amigo e Senhor Sousa Lara, em tudo que lhe possa ser util, mas sempre de
forma a não prejudicar a casa de quém sou empregado e que estimo como fosse minha propria.
Recebi o vale do correio, o que era despensavel, mas que muito agradeço.
Cream-me sempre Seu Attencioso Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 20 de Junho de 1918


DESTINATÁRIO: Francisco Meira]
[78] Funchal 20 junho 1918
Meu Caro Amigo e Senhor Meira
Aqui verá a minha maneira de vêr com relação á nova Lei saccarina, isto já se vê em linhas geraes:
1º Limitação de fabrico de aguardente de canna ao maximo 600.000 litros em 27º Cartiere nas Fabricas do Sul.
2º Rateio feito pelas Fabricas de aguardente do sul da Ilha, da quantidade de aguardente a produzir, pelas suas capacidades
de destillação actuaes, sendo o imposto pago á sahida das Fabricas em ato emediato por guia passada pelo fiscal e paga na
Recebedoria do Conselho.
Assim evitar-se-ha uma fiscalisação despendiosa, como é a ctual[sic] sendo necessario somente um fiscal em cada Fabrica,
e com penas pezadas no caso de extravio de aguardente sem pagamento de imposto. Os contadores existentes continuão como
reverificação de produção, que será feita pelos Chefes fiscaes de cada Conselho, ou outra entidade qualquer.
3º Augmento do Imposto de produção a 200 reis por litro aguardente em 27º Cartiere, não havendo conseção para fracos
sejam de que natureza forém.
4º O Imposto cobrado em cada anno, tiradas as despezas de fiscalisação etc., será no todo ou em parte, para expropriação
de Fabricas de aguardente do Sul da Ilha, // [79] a principiar sempre pelas mais modernamente montadas.
5º Quando expropriadas n’um anno uma ou mais Fabricas, a quantidade de aguardente que cabia no rateio, será diminuida
da produção total, isto é, a aguardente produzida por essas Fabricas expropriadas não pode ser ratiada pelas outras restantes do
Sul. Assim de anno para anno hirá diminuindo a produção de Aguardente.
6º As Fabricas existentes actualmente no Norte da Ilha podem fabricar a aguardente das cannas que á data da nova Lei os
terrenos já plantados possam produzir, pagando o Imposto de 200 reis por litro em 27º Cartiere, feita a fiscalisação como nas

181
Fabricas do Sul da Ilha.
Quando porém no 2º ou 3º anno se veja que a produção em aguardente do Norte é meior do que no 1º ou 2º anno, o Imposto
será elevado a 500 reis por litro nas Fabricas do Norte, ou então, no excedente á produção normal do 1º ou 2º anno, pagará esse
excedente 700 reis por litro aguardente.
Isto é para evitar novas replantações de canna no Norte, que se faria em grande escalla, visto a falta de aguardente no
mercado que se daria, pela diminuição das do Sul.
7º Prerrugação da Lei actual para as Fabricas de assucar matriculadas, até completa expropriação das Fabricas de aguardente
do Sul da Ilha.
8º Augmento do preço do alcool para tratamento de vinhos tanto de canna como de melaço resido da fabricação // [80] nas
fabricas matriculadas a 500 reis por litro alcool a 100º a 15º temperatura, isto pelo menos emquanto durar estas dificuldades de
guerra, ou até final da Lei, o que seria melhor.
Isto tem por fim poder-se produzir alcool suficiente para o tratamento dos vinhos da Madeira para exportação, o que somente
o melaço residuo da fabricação do assucar não é suficiente.
Sem esta providencia a vinicultura será bastante prejudicada, o que é bastante atendivel.
Poderá haver mais alguma cousa a juntar a isto, mas o meu Amigo e o Senhor Hinton poderam vêr melhor.
Seu Amigo Certo[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 28 de Junho de 1918


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[81] Funchal 28 junho 1918
mo
Ex. Amigo e Senhor Hinton
Terminamos o Lote de canna e melaço com o rendimento seguinte:
Inventario Nº 10:
Melaço 54.747 kilogramas rendeu 15.329 litros alcool a 100º = 28 litros % melaço
Canna 448.654 “ “ 32.457 “ “ “ = 72,34 litros tonelada canna
Como vê o rendimento da canna continua a ser bom...
Teremos talvez ainda uns 1000 a 1200 molhos de canna para alcool, e que creio será o resto que teremos que receber.
Respondi hoje ao seu telegrama sobre o destillador de Almeirin, dizendo, não se pode garantir o alcool neutro nem livre dos
aromas do vinho.
Como sabe esse apparelho apenas pode tirar (como o fiz quando estive ahi) alcool a 95º centigrados, mas não pode ser
considerado neutro nem livre dos aromas dos vinhos, visto este apparelho não têr extração dos etheres nem das escencias; o
alcool produzido, ainda que em grau elevado, contem quasi todos os etheres e escencias provenientes do vinho, mais ou menos
conforme a qualidade do vinho destillado. Contudo este alcool a 95º é muito mais puro do que o produzido nas caldeiras
(Alambiques) ordinarias d’ahi.
Seu Attencioso Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 4 de Julho de 1918


DESTINATÁRIO: Relação dos produtos químicos existentes e dos necessários para a Laboração de 1919]

[82] Nota dos productos chimicos para 1919. Existencias em 3 Julho 1918
Kieselgouhr ..............................................................................28.000 kilogramas aproximado
Phosphato de Cal ............................................................................20.500 “ “
Aluminato de baryta........................................................................ 8.100 “ “
Enxofre ...........................................................................................17.800 “ “
Calculando para 1919 umas 40.000 toneladas canna (?), será necessario:
Kieselgouhr = 42.000 kilogramas – temos 28.000 kilogramas ........= Falta 20.000 kilogramas
Phosphato de Cal = 40.000 – “ 20.500............................................= “ 19.500
Aluminato 14.500 – “ 8.100 ..........................................= “ 6.700
Enxofre temos o suficiente para 1919
Soda caustica temos suficiente

182
4 Julho 1918[Ass:] João Higino Ferraz //[83]267

[DATA: 17 de Julho de 1916


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[84] Funchal 17 Julho 1916[sic]268
mo
Ex. Amigo e Senhor Hinton
Recebi a sua estimada carta de 4 do corrente, e vejo por ella que o maldito Prodencio sempre quer fazer o que sempre disse,
isto é, apossar-se do apparelho de destillação, e era por isso que eu sempre lhe pedi para fechar o contracto com elle.
Tenho porém edeia de lhe ter dado ahi a lista dos apparelhos que devem estar junto com as contas das despezas feitas
enviadas pelo empregado o Sebastião.
Deve pois juntar essas contas com a dita Lista porque tudo isso junto é prova concludente da má fé do dito Prodencio.
Crea-me seu Amigo Certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 17 de Julho de 1916


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[85] Funchal 17 julho 1916[sic]
mo
Ex. Amigo e Senhor Hinton
Como vê envio-lhe uma carta separada, que no caso de ser necessario, pode-lhe servir em juizo para provar que o apparelho
é unicamente seu e montado conforme o contrato feito, e junto tambem a Lista dos apparelhos montados (em duplicado por
copia) assignada por mim.
Esse mariola sempre quer fazer o que dizia em Almeirin «que o apparelho nunca mais sahia da sua casa» e a razão era não
assignar o contrato e assim provar que tinha adquirido por qualquer forma que elle tem em vista provar.
Não vejo porém que elle possa fazer nada com relação a isso, porque testemunhas não faltaram, e é necessario que elle
apresente qualquer decomento de adquirição do apparelho.
Deve existir no Escriptorio as contas dos mestres, serralheiro de Almeirin e Caldeireiro de Santarem, contas que eu mandava
passar sempre em nome de William Hinton & Sons, e que o Sebastião Manoel mandava para o escriptorio em Lisboa.
Tudo isso junto prova que a montagem foi por nossa conta. //
[86] Aguardente de canna: Segundo a carta que o Senhor Hinton escreveu a Carlos269, vejo que o Senhor se enganou nos
calculos de rendimento em aguardente dando-lhe 4 quartilhos por almude emquanto que Carlos lhe tinha dito 7 quartilhos. Para
evitar que de futuro se dê enganos d’esses que lhe podem ser prejudiciaes, vou dizer-lhe como deve fazer os calculos. Hoje
enviamos-lhe um telegrama dizendo eu que o rendimento medio que eu calculo para a canna é de 9 litros aguardente em 27º
Cartiere por 100 kilogramas canna, o que dá 7 ? quartilhos por 30 kilogramas canna (almude).
Carlos tinha-lhe dito 7 quartilhos mas esse rendimento é baixo, e não se pode contar a media de todas as fabricas em menos
7 ? quartilhos por almude de 30 kilogramas canna, em aguardente em 27º Cartiere.
Para os calculos.
Cada gallão é igual a 10 quartilhos (medida antiga).
Cada gallão equival a 3,6 litros – Um quartilho equivale pois a 0,36 litros
O rendimento de 9 litros % canna é com bagaço e tudo.
Se por exemplo uma fabrica pagou de imposto 6:000$00 escudos como cada litro paga de imposto 150, temos que devidir
6:000$000 = 40.000 litros d’aguardente que pagou imposto.
150
Quanto representará isto em canna contando que cada 100 kilos canna dá 9 litros aguardente em 27 Cartiere?
x = 40.000 = 4444 x 100 = 444.400 kilogramas canna.
9
Crea-me seu Amigo certo[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 20 de Julho de 1918


DESTINATÁRIO: José Gomes Ribeiro, António Perry da Câmara]

[87] Funchal 20 Julho 1918

183
Meus Caros Ribeiro e Perry
Esta vai para os dois porque os interessa a ambos.
Pela carta do Ribeiro vejo que voces já teem dado alguns passos sobre o nosso negocio futuro, mas muito mais há que fazer
em vista da importancia do caso, e como voces ahi podem vêr isso tudo muito melhor do que eu, é conveniente eu expor qual
a minha edea, na generalidade, para estudarem bem a questão e calcularem as forças com que podemos contar.
Quanto ao Hinton270 vejo que não pensa mais em vinhos, o que me falta é a conseção d’elle para me deixar livre depois da
Laboração da canna, e é isso que não tenho ainda resposta do Meira271, o qual se encarregou de fallar (apalpar) o Hinton sobre
isso. Como voces comprehendem, não me convem deixar assim uma situação que é boa, por em quanto, para mim, porque não
tenho outros recursos para viver.
Tudo o que fassa porém somente pode ser feito depois de terminada esta maldita guerra, porque a minha fraca opinião, é
que antes d’isso, ninguem pode fazer calculos sobre negocios sem vêr para onde pende a balança e o que será o futuro da Europa
ou fora d’ella. Isto de calcular cousas aereas é sempre muito perigoso, e não se pode vêr no futuro o mesmo que se vê agora. //
[88] Exposto isto vou dizer da minha justiça.
O meu fim é fazer a industrialização do vinho ou por outra do mosto da uva, comprando não o vinho feito, mas sim o mosto
da uva, que facilmente se pode conservar nas adegas dos Lavradores tambem ou melhor do que o vinho, tendo elles a grande
vantagem de não se preocuparem com os cuidados que actualmente teem com os vinhos feitos, que muitas vezes se perdem por
acetificação. Pela compra do mosto teem elles a sua venda garantida em boas condições.
Para nós, comprado que seja o mosto em condições a establecer e fabricado nas adegas do Labrador conforme a nossa
indicação ou seja em tintos ou brancos e sobre nossa fiscalisação, hiremos retirando o mosto conforme as nossas necessidades
o exigirem. Por conseguinte esta forma de negociar em nada altera os costumes establecidos nos negocios de vinhos dos
Lavradores-vinhateiros, a não ser no producto vendido, que, em logar de ser vinho é mosto.
Para nós Industriaes, o que faremos? Transformar esse mosto em um producto de boa qualidade em condições
verdadeiramente sentificas, e fazer d’elle o que melhor nos convier e conforme o mercado pedir, ou seja em vinhos de pasto de
consumo directo, vinhos de exportação mais ou menos alcoolicos, xaropes d’uva concentrados para tratamento de vinhos do
Porto ou outros ou para exportação se assim convier ou // [89] outros quaesquer typos que se queira obter. Tudo isto será feito
na Fabrica industrial com o nosso mosto comprado, na occasião que se quizer e na quantidade que se quizer conforme o
mercado o pedir, e assim poderemos aproveitar as occasiões em que os outros negociantes de vinhos teem dificuldades de
apresentar productos que nós os faremos facilmente.
Esta questão de xaropes d’uva, vejo um bom negocio de exportação, porque com este producto exportado para Franca[sic]
ou outro qualquer pais, servir-lhe-há para o fabrico de vinhos licorosos de que elles teem grande falta, e o nosso Pais está em
condições muito melhores do que Hespanha para isso, devido á nossa qualidade de uva, e em Hespanha e Argelia já fazem esse
xarope em grande quantidade.
Porém, para uma industria d’esta natureza não se fazer em pequena escala, porque teremos que adquirir apparelhos
apropriados ao fim, e esses apparelhos, que o seu custo é relativamente elevado e de[sic] podem deteriorar, é necessario fazer
todos os annos uma amortisação pelo menos de 10% do capital da instalação que nos leva uma boa verba, e em ponto pequeno
os lucros podem ser absorvidos por ella. É puis minha oppinião que nada se poderá fazer com vantagem com menos de 4000
pipas de mosto por anno. Não se assustem voces porém com esta quantidade, porque de 4000 pode-se fazer 1000 de cada quali-
//[90]dade de vinhos ou xarope, mais ou menos d’um ou d’outro.
A dificuldade, a meu vêr, está na instalação da adega que requer um capital relativamente grande para as nossas forças, e
era por isso que sempre pensei em alugar um Armazem de vinhos já montado com os devidos toneis, e assim a instalação nos
sahiria mais facil.
Na Quinta que Perry tem, nada tem de instalações proprias ao fim, isto é, está nua... Quanto nos poderá custar, mesmo depois
da guerra, uma montagem completa de uma Fabrica n’estas condições? Nada posso dizer, nem voces mesmo o podem saber
ahi!
O que unicamente eu posso dizer aproximadamente é o que é indispensavel para o fabrico de 4000 pipas de mosto em 8
mezes de trabalho seguido.
3 poços em cimento armado para o mosto a receber dos Lavradores, da capacidade de 100 metros cubicos cada um.
12 cubas de fermentação de 5000 litros cada uma.
40 toneis de 20 pipas cada um (descanço do vinho feito)
12 “ de 10 “ “ “ (collagem ou clarificação).

184
25 “ de 40 “ “ “ (Depositos de vinho feito para sahida)
300 cascos de 500 litros cada (para transportes do mosto)
Os apparelhos compoe-se de um dessulfitador, um concentrador, uma caldeira de vapor de 50 cavallos, bombas etc. para
trabalho de 10.000 litros de mosto de uva por 24 horas, filtros mechanicos e filtros-prensas. Esta mesma instalação pode fazer
5000 pipas em 10 mezes. //
[91] Quanto ás garantias de lucros, o que eu posso dizer é que, o nosso fabrico comprando o mosto ao preço do vinho feito,
dando o Lavrador, como é praixe actualmente, 10% mais em mosto do que elles entregam em vinho, e depois de tiradas todas
as despezas de fabrico, nos ficará o vinho ao mesmo preço do que a qualquer negociante comprador de vinhos feitos, com a
vantagem para nós de termos um producto de muito melhor qualidade e mais egienico, e em condições oeorganoleticas
melhores, e muito melhor conservação, mesmo para exportação.
Para porém poder calcular quaes os lucros minimos provaveis seria bom eu saber o seguinte:
1º Preço medio por que foi comprado o vinho, por exemplo, em Almeirin (boa localidade de vinhos ricos em alcool) por
pipa de 445 litros (medida de Almeirin).
2º Qual o frete em Caminhos Ferro até Lisboa
3º Qual o preço <minimo> por groço do vinho de pasto nos armazens de Lisboa fora de Portas.
4º Qual o preço medio minimo por groço do vinho tratado, isto é, vinho com mais de 12% alcool até 17%
Amostras de todos estes vinhos, pelo menos um litro de cada, e as condições de venda e mais informações que voces possam
obter, e mesmo no tempo normal, isto é antes da guerra, em que condições eram feitos os negocios e preços aproximados. Tudo
quanto voces poderem obter de notas é-me conveniente, fazendo sempre referencias ás capacidades de vendas, para os meus
calculos. // [92] Para os xaropes, como isso é um producto novo em Portugal, sô depois de feito se pode fazer reclames, mas
posso desde já dizer que, para os vinhos a fazer ricos em alcool, o emprego do xarope no mosto tem muito mais vantagem do
que a alcoolisação pela aguardente de vinhos, sendo uma alcoolisação natural e não tornando os vinhos aguados, como acontece
com a aguardente. Estou mesmo certo que, uma vezes [sic] feita a esperiencia da alcoolisação pelo xarope, este producto vai
ter grande sahida para o Porto ou outras localidades onde se fabrica vinhos generosos.
Por emquanto nada mais posso dizer sobre o assumpto, mas espero que o Ribeiro na sua volta de Lisboa me traga todas
essas notas e as competentes amostras.
Até á vista pois, e um abraço para os dois do seu Amigo verdadeiro[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 27 de Julho de 1918


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[93] Funchal 27 Julho 1918
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Tinha pedido ao amigo Meira272 para lhe falar sobre o fabrico de alcool no Torreão no proximo anno (1919), somente durante
a laboração da canna, porque assim teremos varias vantagens, conforme a minha carta de 25 maio ultimo. Se assim se fizer,
desejava saber isso o mais breve possivel para se poder requerer a transferencia do nosso destillador, que está montado na
Comp.ª Nova, para o Torreão, e isso somente pode ser feito por requerimento que tem que hir a informar á repartição ahi em
Lisboa, e como tudo isto leva seu tempo, por isso lhe pesso com urgencia a sua resolução.
Por este correio vai como encomenda Postal uma amostra sendo, uma saca com que se fabricou aqui este anno os panos para
os filtros presses da Melasse Cuite, e um dos panos arranjados com essas sacas. Era necessario para o proximo anno uns 1600
a 1700 panos.
No caso de se poder obter pano egual a esse com 1,15 metros de Largura seram necessarios 4500 metros. Não havendo pano
então é bom comprar 5000 sacos eguaes á amostra.
Subscrevo-me Seu Amigo Certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 13 de Agosto de 1918


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[94] Funchal 13 Agosto 1918
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Recebi a sua estima de 27 ultimo o que muito lhe agradeço.
Vejo por ella que o Prodencio já assignou o contracto, e quanto á lista dos apparelhos já lhe enviei pela outra mala.

185
Estamos a terminar o melaço e o tanque grande deve ficar lavado amanhã. Não lhe posso porém dizer por esta qual o
resultado exacto do rendimento, mas vejo que deve ser bom, isto é egual ao de 1917.
Ja tenho a destillaria quasi completa, mas falta-me os apparelhos de vidro que se encommendou ao Lefebvre273. Sabe alguma
cousa d’isso? Elle escreveu-me a dois mezes dizendo que os hia enviar para Lisboa.
Parabens pela boa venda da Vilha Preira & Cascadura
Crea-me sempre seu Amigo Certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 28 de Agosto de 1918


DESTINATÁRIO: Governador Civil do Funchal]
[95] 28/8/918
Ill.mo Ex.mo Senhor Governador Civil do Funchal
Envio a V.ª Ex.ª as notas que me pedio para o rendimento em alcool dos vinhos segundo a sua graduação ou força alcoolica,
e com estas notas pode V.ª Ex.ª fazer os seus calculos para os preços do vinho e a como lhe ficaria a aguardente ou alcool
produzido, tendo porém de dizer que a despeza de fabrico actual sem lucro algum é de 150 reis por litro alcool em 40º Cartiere.
Calculos sobre 100 litros vinho fermentado.
Com 9% alcool, 100 litros vinho dá 11,2 litros alcool em 30º Cartiere = 9,14 litros em 40º
“ 10% “ “ 12,5 “ “ “ = 10,20 “
“ 11% “ “ 13,8 “ “ “ = 11,26 “
“ 12% “ “ 15,1 “ “ “ = 12,32 “
“ 13% “ “ 16,3 “ “ “ = 13,30 “
O apparelho de destillação-retificação da Comp.ª Nova, somente pode tirar o alcool em 40º Cartiere, e nunca menos d’este
grau.
Quanto á aguardente de canna, é vendida ao gallão de 3,6 litros com a graduação de 27 Cartiere no maximo.
Ora, 3,6 litros em 27º Cartiere = 2,67 litros em 50º Cartiere ou 2,18 litros em 40º Cartiere
De V.ª Ex.ª Attencioso Venerador[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 31 de Agosto de 1918


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[96] Funchal 31 agosto 1918
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Recebi por mão de Carlos274 duas amostras de tecido, uma branca de tecido tapado que não serve para os filtros-presses da
Melasse Cuite, a outra amostra está mais ou menos nas condições, e pena é não haja um pouco mais tapada, mas não havendo
outra esse pode servir. Envio-lhe a amostra que mandou. Tenho porém uma cousa a lhe fazer vêr.
Esse pano, creo eu, deve custar bastante caro em vista de tudo o que é tecidos terem subido de preços enormemente e assim
talvez conviesse modar o systema de trabalho das Melasses Cuites de 1ª e 2ª serie, em um grão um pouco meior afim de poder
ser turbinado nas duas turbinas do tourteaux em logar de passar a Melasse Cuite aos filtros-presses. Naturalmente o epuissement
dos melaços não seria tão perfeito como com a filtração, mas no caso de conseguir que na futura lei saccarina o preço do alcool
seja pelo menos de 50 centimos o litro e como temos sempre falta d’alcool o resultado é melhor.
Recebi uma carta de Lefebvre275 em que me diz que parte dos apparelhos para a destillaria já seguiram para Bourdeaux a 5
de Junho proximo passado, mas que estiveram 3 mezes na gare d’Aus-//[97]terlitz (Paris) sem poder seguir por falta de material
de Caminhos Ferro e que foi enderessado para Bourdeaux ao agente da firma William Hinton & Sons – Mesquita. O resto da
encomenda deve ter tambem ja seguido. A carta de Lefebvre é de 2 agosto.
Elle pede-me para o prevenir que sobre o Aluminato de baryte não se deve demorar a fazer a encomenda (6100 kilogramas)
desde já, porque elle conta que levará pelo menos 6 mezes (!!) a aqui chegar.
As notas sobre os rendimentos do melaço somente lhe posso enviar pelo “San Miguel”.
Sem mais que possa dizer subscrevo-me seu Attencioso Amigo Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 4 de Setembro de 1918


CARACTERIZAÇÃO: Informação sobre a produção de alcool no ano de 1918]

186
[98] Contas do rendimento em alcool em 1918
Canna 1.154.471 kilogramas rendeu 23126,8 litros alcool a 100º = 72 litros tonelada canna
Jus diffusão 946.965 litros com 76.827 kilos assucar rendeu 44.540 litros alcool a 100º e que dá um rendimento de 58 litros
alcool % assucar.
Melaço = 1.015.147 kilogramas rendeu 287.703,2 litros alcool a 100º
Rendimento % melaço 28,34 litros alcool a 100º
Notas: Pelo melaço calculado (Laalberg) deu 1.032.734 kilogramas, o que se vê que fez uma diferença para menos de 17.587
kilogramas
Esta diferença é do tanque grande que foi por Calculo
Ficará pois melaço % canna trabalhada = 3,866 kilogramas, em logar de 3,933 kilogramas pelo calculo de Laalberg.
Funchal 4 Setembro de 1918[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 8 de Janeiro de 1919


DESTINATÁRIO: Vouga & Carvalho]
[99] Funchal 8 Janeiro 1919
Meus presados Amigos Vouga & Carvalho Porto
Recebi a sua estimada carta de 19 Dezembro ultimo a que passo a responder, mas primeiro desejo-lhes a sua saude e de
todos os seus, e faço votos para que este novo anno lhes seja prospero tanto em saude como em macas[sic].
Depois d’isto passo pois a responder aos seus quesitos com relação á sua nova industria de refinação de açucar areado (?),
mas tenho primeiro que dizer-lhes que a minha fraca competencia n’este assumpto, porque não sendo refinador d’esse typo de
açucar (areado), somente theoricamente lhes poderei dár algumas edeias sobre isso e o que eu faria no caso de me vêr nas suas
circunstancias, e ellas ahi vão:
1ª Uma industria d’esse genero, mesmo em pequena escala, deve ser sempre feita em boas condições de trabalho e economia
e assim todo o trabalho deve ser o mais possivel mechanico, para se poder competir com os colegas refinadores.
2º Não se deve olhar a grandes economias de montagem em apparelhos aprefeiçoados, porque esses trazem sempre um
producto mais perfeito, trabalho mais // [100] facil e economico em pessoal e combustivel, e mais quando estes dois ultimos
estam actualmente bastante caros.
3º A montar um fabrica [sic] de refinação n’estas condições, devemos instalal’a de forma a que querendo augmentar a
producção se fassa sem transformar a fabrica.
Dados estes 3 principaes pontos, vou dizer-lhes o que me offereçe a theoria para a forma a seguir no trabalho:
Para uma refinaria d’açucar é sempre conveniente um trabalho continuo por isso que temos xaropes feitos que, ou teem de
ser trabalhados emediatamente para não se estragarem, que sendo um trabalho de 8 a 10 horas teremos que fazer liquidações
diarias repetidas que são muito desvantajosas e daram prejuizos graves, ou em trabalho continuo ou quasi que evitará essas
perdas varias.
Em vista d’isto acho que os meus Amigos devem calcular de forma que o trabalho seja de 18 horas no minimo, ou melhor
de 24 horas e somente parar por completo e liquidar quando o seu stock de açucar seja suficiente ás suas necessidades.
Establecendo isto assim, e fazendo no minimo de 18 horas 10 toneladas d’açucar, poderam fazer nas 24 horas 14 toneladas.
Para uma refinaria d’esta capacidade, e como com xarope a 30º Baumé a quente cada //276

187
188
[Copiador de Cartas. 1919-1920]

foto P4280019.JPG

DESCRIÇÃO:

À imagem dos anteriores copiadores de cartas, o título deste é por nós atribuído. É um livro, em papel, 27 cm x 22 cm, e
encontra-se em bom estado de conservação. Os fólios deste copiador estão numerados com caracteres tipográficos.

[DATA: 14 de Outubro de 1919


DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre]
[1] Funchal 14 outubro 1919
Meu Caro Amigo e Senhor Lefebvre
Recebi de Lisboa, por isso que já estava na Madeira, o seu telegrama dizendo; «Molhant ecrit envoyer ferments sans parler
conditions speciales, Vasseux repond que appareil actuellement Madère convient si resiste cinc kilos pression et florure employé
sur levaine, confirme aussi conditions annuelles; priere voir comptabilité pour cheque demandé», e ao mesmo tempo a sua
estimada carta de 25 setembro ultimo. Vou passar pois a responder por partes, tanto ao telegrama como á carta:
Levure Molhant: Em vista de Vasseux acceitar condições e ser o florure empregado simplesmente no mosto fermento,
confirmámos por carta de Hinton277 este affaire para podermos usar já no melaço de Cuba que vou fermentar em Novembro,
com a condição que a levure Vasseux e o florure estejam aqui no Funchal até de Novembro proximo, e no caso de isso não
poder ser, ficará este affaire para a proxima campagne // [2] de 1920, isto é, estar na Madeira a levure e o florure até fins de
Fevereiro proximo futuro.
No primeiro caso não é necessario enviar a levure Molhant por isso que temos a de Vasseux; no segundo caso é melhor
enviar a levure Molhant (2 a 3 tubos) para estar aqui até 15 Novembro, caso seja possivel, para com ella fazer a fermentação
do melaço de Cuba.
Appareil de peptonisação: O nosso appareil não posso garantir que resista a 5 kilos perção (a agua?), mas posso garantir
uma perção de vapor de 2 kilos, que era o trabalho normal d’elle. Em todo o caso farei o possivel de vêr se elle resiste a 5 kilos
perção timbre de esperiencia a agua.
Comptabilité: Pelo seu telegrama vejo que não tinha ainda recebido a nossa carta e cheque de Lisboa de 24 Novembro de
30.000 francos, sendo 12.000 conforme o seu pedido, e 18000 por conta das encomendas feitas (phosphato, refrigerante e
Denis), conforme verá da carta da firma Hinton, mas espero que já deve ter em sua mão.
Respostas á carta:
Molhant: Já dito o que deve fazer, sendo possivel estar aqui até 15 Novembro proximo, porque do contrario empregarei a
minha levure que tenho // [3] em actividade, quando não chegue tambem a levure Vasseux e florure.
Materiel d’usine: O refrigerant Guilleband deve estár aqui até fins de Fevereiro proximo futuro no maximo.
Malaxeur Denis: Deve ser um malaxeur á travail descontinue de 5 metres de longue, e estar aqui tambem até fins de
Fevereiro.
Produits chimiques: Encomendados, como da carta da firma Hinton, 5000 kilos de Phosphato bi-calcique. Não necessitamos
o bisulfito, visto ou empregarmos a Levure Vasseux ou Molhant que não são habituadas a este anticeptico, e mesmo o meu
fermento o não ser tambem.
Affaires personnelles:
Quanto á instalação da Vinharia em Lisboa, á minha sahida de lá, deixei tudo em bom andamento, e tenho todas as

189
esperanças de fazer o que desejo, ou seja em uma grande companhia em organisação, ou seja eu pessoalmente com um ou dois
socios, e assim será uma pequena Vinharia de 50 hectolitros mosto por 24 horas. Contudo nada posso dizer por emquanto, sem
estar tudo organisado em Lisboa. //
[4] Desejaria porém, se Barbet fosse bastante amavel para comigo, dois (2) devis separados, um para uma Vinharia de 100
hectolitros em 24 horas com um dessulfitador para esta quantidade e um evaporador-concentrador para xaropes d’uva de 50
hectolitros mosto 24 horas, com todos os apparelhos necessarios, menos o gerador de vapor; outro devis de uma vinharia de 50
hectolitros nas mesmas condições, com um evaporador para esta capacidade. Pedia-lhe pois para falar a Barbet da minha parte
e fazer-lhe esse pedido, mas em boas condições de preço de material. Assim ficaria habilitado a resolver de prompto qualquer
encomenda futura.
Quanto aos outros pontos da Carta, como não tem ainda todos os dados, esperarei sua nova carta para decidir.
Affaire Broderies: Este negocio já está em andamento, e esperam em poucos mezes enviar amostras (échantillons) dos
bordados da Madeira, para Madames darem andamento aos seus negocios particulares: Há grande intosiasmo n’esse assumpto
das senhoras associadas aqui para isso; ellas escreveram a seu tempo a Madame Lefebvre. //
[5] Quanto á viagem de Paris para Lisboa, foi um pouco complicada, por isso que perdi o rapido de Madride, mas emfim
sempre cá cheguei.
Os meus respeitosos comprimentos e bons souvenires a todos os seus, e para vós, meu amigo um aperto de mão do seu
amigo[Ass:] João Higino Ferraz
P. E.[sic] Se falar com o Candido Henriques dê-lhe muitos e muitos comprimentos do seu amigo Ferraz, e que cá o espero
em Novembro, se as Madmoiselles deixarem a Cambuse livre. //

[DATA: 14 de Outubro de 1919


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[6] Funchal 14 outubro 1919
Meu Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Recebi a sua carta e telegrama de Lefebvre278 de 4 corrente o que muito lhe agradeço e passo a responder.
Parti de Lisboa mais cedo como sabe, por não têr nada que fazer ahi, como já lhe disse na minha ultima carta.
Effectivamente diz muito bem que Jacintho perdeu a cabeça, e peor ainda, está com a mania da perceguição!... Quanto á
parte que me toca já disse a Jacintho o que tinha a lhe dizer, e elle mostrou-se bastante comovido (até ás lagrimas), queixando-
se que o Senhor Hinton o queria indispor comigo!..
Em fim, acho melhor arrumar essas questões que tanto podem prejudicar a si como a elle, e acho melhor, como diz na sua
carta, que elle nada diga dos negocios da casa Hinton, e para isso passar um pano sobre tudo e terminar com questões, e isto
mesmo disse eu ao Carlos. É isto // [7] que eu tenho que dizer a Jacintho, quando elle esteja mais calmo, e fazer-lhe vêr que
elle ainda pode necessitar dos favores da Casa Hinton e que não deve prejudical’a, porque além de ser prejudicial aos dois, é
uma indignidade que não é propria de homens que se prezãm. E assim espero que o meu amigo veja as cousas por o mesmo
lado que eu as vejo. Da minha parte estou satisfeito com... as lagrimas... e não quero saber o que elle poderia têr dito a meu
respeito; assim é melhor para si ou firma Hinton.
Quanto ao que me diz sobre o meu amigo Francisco João de Vasconcellos não calcula quanto fico satisfeito por vêr que elle
pode entrar no nosso negocio de vinhos e xaropes d’uva. Francisco João é um velho amigo meu por quem tenho uma verdadeira
estima porque conheço o seu caracter de homem de bem, trabalhador e inteligente. Temos porêm um que... Francisco João,
como sabe, não pode ver o Meira (não sei porque), e isso pode prejudicar um pouco a nossa questão. Era pois de grande
conveniencia conseguir a boa páz entre os dois, mas isso sô pode ser feito por si, como amigo intimo das duas partes. Quanto
ao fabrico de vinhos typo Porto ou // [8] Madeira eu me entenderei mais tarde com Francisco João, porque elle attende-me muito
bem em tudo o que eu lhe digo.
Sobre Lefebvre já telegraphamos e vamos escrever, mas vejo pela data do telegrama e da carta que elle me escreve, não
poderia têr recebido a nossa carta de Lisboa e cheque de 30.000 francos a tempo de responder. A esta data deve estar de posse
de tudo.
Quanto á fabrica Pires279 vou continuar com os maçames para as caldeiras de vapor com auctorisação do Director da
Alfandega, e foi muito conveniente o seu telegrama chamando o Pedro a Lisboa, porque assim será tudo resolvido mais
brevemente e a licença necessaria para continuarmos a montagem dos apparelhos a fim de estar prompta a trabalhar no anno
proximo futuro com o maximo da capacidade. Era isto que elle deveria têr feito, como eu lhe dizia, isto é, ter hido a Lisboa em

190
agosto.
Por nada mais por emquanto que lhe possa dizer, termino, desejando-lhe todas as felicidades de que é digno, e crea-me Seu
Amigo Certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 27 de Outubro de 1919


DESTINATÁRIO: Vasseux
CARACTERIZAÇÃO: Procedimentos a adoptar no trabalho com o aparelho industrial Barbet]

[9] Pour Monsieur Vasseux Marche à adopter suivant Schma si joint.


Comme bassin de depart, je vais employer l’appareil Barbet E, et une fois la levure encemence et la fermentation en route
on passerai la moitie de l’appareil á une des cuves mères F ou F1 et de la a les caves mères G G1 en suivant les indications du
methode de fermentation indique para Monsieur Vasseux.
De les grands cuves mères G et G1 ou retiraira les pieds de cuves par H, H5, en raison que les cuves F F1 sont tres petites
pour pied de cuve direct, à la condition de changer la cuve mère G ou G1 tous les 2 jours.
Dans cette condition lá, les ferments speciaux de Monsieur Vasseux vont ètre conservés dans l’appareil Barbet au lieu d’étre
dans les bassins proposée.
Touts les moût de levure seront esterilisee a 100º dans mon ancienne appareil A, B, C et D et en travail contenue, pour
l’alimentation des cuves mères E, F 280
G ou G1 será alimentee par moût de levure sans esterilisation. On pour faire
comme ça? J’espere bien que oui.
Commes vous voyez on emploit 30% du moût levure comme pied de cuves á 1050 densité et le moût general á fermenter á
110 densité que donnera un total de 1095 densité. Le fluorure será employé sur ces 30% du moût levure.[Ass:] João Higino
Ferraz. 27/10/1919 //

[DATA: 28 de Outubro de 1919


DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre]
[10] Funchal 28 octobre 1919
Mon cher ami Monsieur Lefebvre
Suivant votre desir je vá vous ecrire en francais, mais que francais... mon Dieux!.. Je vous demand pardon de mes erreures.
Será naturellement des petits lettres pour dire moin de sotises...
Hinton: Le depart précipité de Monsieur Hinton281 n’a rien de grave, et je vous remercie bien votres suins.
Affaire Vasseux: Je vien de recevoir la petit caisset avec la levure Vasseux. Aujourdui votre telegramme en disant que
Molhant ne peu pas envoyer levure et que Vasseux dite que son levure se peu employer sin fluorure. Ci joint je vous envoyer
une lettre e cshma de notre installation pour la production de levure pur, pour donner à Monsieur Vasseux et voir si il concorde
avec lá marche que se vá suivre, suivant toujour ses indications. Je vá commencer la fermentation avec ma levure ordinaire, et
j’employé la levure Vasseux seulement q’ende arrive le fluorure.
Refrigerant Guilleband: Nous avons envoyées un telegrame en dizent ((refrigerant san rues)) parce que desir monter fixe et
non vulant. //
[11] Malaxeur Denis, repondu longueur de 5 metres.
Barbet: Vous faite bien de dire á Monsieur Barbet que je ne peut pas faire emediatement la commende sans faire etablier
premiere foi les affaires commercieau et tout vá en bon chemin. J’espere bien que Monsieur Barbet m’envoyerai les devis
comme je vous demandé dans ma derniere lettre, c.a.d., un Devis pour une Vinerie de 100 hectolitres 24 heures avec un
evaporateur de 50 hectolitres pour xirop de raisin, et un outre Devis pour une Vinerie de 50 hectolitres avec evaporateur de
même capacité, touts complete, mais sans conter la chaudiere á vapeur.
Affaire Pharmaceutique: Je fait voir à mon ami que l’Essoreuse lui ne donnerá le resulta desirant, par-ce que l’extráe
melangé au sucre vá sortir naturallement par la force centrifuge et le produit será mal dosée.
En vu de cá il suspende la command et vá etudiaire la question.
Affaire broderie: Comme je vous dite dans ma derniere lettre, en peu de temps será envoyees les exantilons.
En vous demandant pardon de mon mauvaise francés, je vou pris de transmettre á Madames mons meilleurs respects et a
votre gendre.
Par vous mon meilleur devouement de votre Ami devoue[Ass:] João Higino Ferraz //

191
[DATA: 1 de Novembro de 1919
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[12] Funchal 1 Novembro 1919
mo
Ex. Amigo e Senhor Hinton
Recebi a sua carta de 26 proximo passado, o que muito lhe agradeço e vou responder:
Francisco João: Estimo bastante, como amigo de F. J.282, que essa má vontade entre M283 e elle se liquide em bem, o que
espero.
Vinharia: Vejo o que me diz com relação ao negocio dos vinhos, e essa aquesição da Casa Vieira Gomes é importante, não
somente pelo nome d’ella já muito conhecido, como tambem pelas instalações que já tem e que sei serem importantes; Sei mais
que essa casa trabalha em vinhos pelos systemas mais modernos, e que emprega nas suas fermentações fermentos puros do
vinho de Bourdeaux, e é isso principalmente que lhe tem dado o renome do seu vinho. A região de Collares é a melhor para os
typos de vinho de meza, mas isso não impede que se vá comprar mostos a outras localidades, e com a Vinharia montada em
boas condições, se possa obter vinho quasi edentico ao Collares, tanto brancos como tintos. O preço vejo que foi bastante alto,
mas comprehendo que para comprar uma marca e adegas actualmente é dificil adquirir a preço baixo, quando os vinhos estão
dando tanto dinheiro! Tenho porém sempre em mente a instalação no Cartaxo do José Doarte Lima, de que não se deve desfazer.
//
[13] Agradeço-lhe mais uma vez a boa vontade que tem em me ser agradavel, e pode crer que isso não é deitado a um poço,
e a minha parte no trabalho para o bom caminho que esta nova empresa vai têr, será feito por mim com todo o entosiasmo e
boa vontade, e que o grupo se não arrependerá de me incluir n’elle. Não sou, nem d’isso fasso alarme, uma capacidade, mas
tenho vontade de trabalhar principalmente n’este assumpto em que estou muito empenhado.
Fabrica do Salto Cavallo: Pedro284 foi para Lisboa e elle lhe dirá de viva vóz o que temos feito e vamos fazer.
Assucar da Beira: Tudo está em ordem para a recepção do assucar e refinação, e logo que elle chegue dár-se-há principio á
refinação, e tudo o que me diz sobre este assumpto será feito conforme o seu desejo. Quanto ao bicho já muito meu conhecido,
vou vêr se este assucar contem, mas ainda assim que nada seja, vou têr o maximo cuidado nas desinfecções. Quanto ás
cerpentinas de vapor das caldeiras de vacuo já estão todas esperimentadas e estão boas, e os restantes apparelhos tambem.
Quanto á exportação do assucar diz-me Carlos285 que não vê possibilidade de o fazer na quantidade que deseja devido ao
consumo excessivo aqui, o que é pena, porque esses preços que me diz se podem obter em França são os melhores possivel, e
não vejo que o Governo possa impedir essa exportação, a não ser que mubilise o assucar!! //
[14] Quanto ao systema da refinação, o Senhor Bardsley antes de sahir disse-me que era melhor não derreter todo o assucar
para transformal’o em xarope, mas sim laval’o somente, como em tempos já fiz, o que dá naturalmente menos quebras e
despesas, mas o assucar não ficará tão bom. Quer que proceda assim como elle diz? No caso de querer mande um telegrama
“Lave assucar”, e no caso contrario diga “Refine assucar”, assim ficarei sabendo como devo proceder.
Fermentações: Já dei principio aos fermentos, mas primeiro vou principiar com o meu fermento que tenho em actividade,
para limpar bem os apparelhos, e depois darei principio com o fermento Vasseax por isso que vou têr o fluorure entre 6 a 8
Novembro pelo vapor do Cabo, e já tenho duas caixas com ampolas de fermento Vasseaux; assim dará melhor resultado e verei
melhor o effeito do fermento novo.
Seitz: Não vejo possibilidade de trabalhar no anno proximo com os filtros “Seitz”, porque o tamis fino da parte filtrante está
em grande parte estragado e é necessario renoval’o. Além d’isso as torneiras de macho estão terriveis em derrame, e ficou
establecido que Seitz as modaria por torneiras de gaveta de latão, como do contracto.
Carta[sic] cannas: Não ha maneira de dár com o corta cannas! No Salto Cavallo não está, e mesmo sei que para lá não foi;
na Fabrica não o vejo, mas em tempos vi-o no armazem do ferro. Teriam-no quebrado para socata? Como hoje e amanhã é dia
Santo, João não está para // [15] lhe perguntar por elle, e se até segunda feira o vapor “San Miguel” não tiver vindo lhe direi o
que há. Custa-me a crer que tivessem partido para socata um apparelho que custou tão caro e que poderia servir ainda. Como
nada tive com essas cousas de socata, não lhe posso garantir se foi ou não partido. N’essa occasião estava em no Estranjeiro ou
em Lisboa.
Sem mais por emquanto que lhe possa dizer subscrevo-me seu Amigo Attencioso e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz
P. E.[sic] Esqueceu-me dizer-lhe que terminamos todo o alcool no Torreão no dia 31 outubro, dando o total do alcool até
esta data no Torreão o calculo e resultado seguinte:
De maio a outubro 1919

192
Alcool bruto produzido pelos inventarios = 315.335 litros a 100º
Alcool total vendido até 31 outubro ....................................................= 315.710 litros a 100º a 15 temperatura
Escencias e etheres restantes ................................................................................... 8.115 “ “ “
Cargas dos dois retificadores .................................................................................. 2.000 “ “ “
325.825 “ “ “
Menos alcool produzido da retificação do Mau gosto da Comp.ª Nova ................ 22.682 “ “ “
Alcool Torreão ............................................................................................................303.143 “ “ “
Quebra de retificação e venda = 4% do alcool bruto. //

[DATA: 3 de Novembro de 1919


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[16] Funchal 3/11/919
Ex. mo Senhor Hinton
Ainda sobre os filtros Seitz tenho a dizer-lhe o seguinte: Como naturalmente vai liquidar a sua conta com a casa Aleman
Seitz é conveniente eu lhe dizer o que penso a respeito d’esta instalação: Como elles nos garantiram o trabalho dos filtros, cuja
montagem foi feita em 1914, trabalhando parte d’esse anno, e de 1915 com o Theorite Nº 2 fornecido por elles, tivemos parados
em 1916 por falta do Theorite, dando novamente principio em 1917 com um preparado de Amianto Francez que não deu bom
resultado. Nos annos de 1914 e 1915 com o Theorite Nº 2, o resultado da filtração foi boa, dando um jus brilhante.
Como vê os filtros trabalharam somente 3 annos incompletos, e n’um tempo tão curto o tecido fino dos filtros estragou-se
quasi por completo. Ora, isto não estava previsto no contracto, mas uma machina d’este genero deve pelo menos garantir um
trabalho de 10 annos sem concerto de meior, para dár tempo á Amortisação, e isso não se deu assim por isso que sô trabalhou
3 annos!
Terá a firma William Hinton & Sons direito a que Seits indemenise esse prejuizo, que é importante? Parece-me bem que
sim, visto elles saberem qual o producto a filtrar.//
[17] Fabrica de H. Figueira286: Esta fabrica, segundo as indicações que tenho podido obter, está nas condições que lhe vou
espor.
Tem dois moinho [sic] de 48”, um de 4 roulos (?) systema antigo, e outro de 3 roulos (moderno), e que deve dár um trabalho
de 200 toneladas canna por 24 horas. Qual será a extração?
Depende isto se fazem ou não imbibição entre os dois engenhos: vamos supor (o que é mais provavel) que elles fazem essa
imbibição e no maximo de 20%; posso-lhe garantir que querendo trabalhar as 200 toneladas a sua extração não será superior a
85% do assucar contido na canna, teem pois pelo menos uma perda media de 3 kilogramas assucar % canna somente no bagaço,
não contando as perdas indeterminadas.
Poderiam elles reavêr parte d’esse assucar, fazendo uma extração para alcool, mas para isso não teêm moinho, sô se
montassem o da Calheta, mas isso era haugmentar a capacidade da Fabrica.
Torreão, a sua extração é de 96 a 96 ?%, e Comp.ª Nova de 92%. Maximo de trabalho nas duas 620 toneladas canna.
Triple-effet não sei a sua capacidade, mas calculo que deveria a fabrica nas Canarias, por ser antiga, não calcularem senão
a garapa normal para a evaporação, e aqui, fazendo a imbibição, o apparelho evaporador não dará para as 200 toneladas canna
em 24 horas.
Filtração: Tem dois filtros-presses para as borras da defecação ordinaria, e um grande filtro Taylor, egual ao que o Senhor
tinha antigamente quando eu entrei na Casa.//
[18] Sulfitação: Tem um Quarez para a sulfitação da garapa.
Cuites: Tem uma unica caldeira de vacuo, para os cosimentos de 1º, 2º e 3º jet (?!); a sua capacidade não sei, mas creo que
deve ser calculada para a capacidade de 200 toneladas canna sem imbibição.
Malaxeurs não tem, e a Melasse Cuite cai em pequenos carros onde é arrefecida para depois hir ás centrifugas.
Centrifugas 3 para a seccagem da 1ª, 2ª e 3ª qualidade de assucar
Como muito bem vê esta fabrica nunca poderá n’um trabalho regular fazer mais de 150 toneladas canna em 24 horas com
imbibição, e ainda mesmo isso com dificuldades e pouco resultado, devido ao nosso typo de canna Yuba, que como sabe é dificil
de defecar bem. O triple dou-lhe 3 a 4 dias de trabalho maximo, e os restantes 4 dias um trabalho minimo; limpezas do triple
todos os 7 ou 8 dias (!).
Destillaria: Tem um apparelho de destillação continua typo Paulmann em duas columnas como o nosso; podendo tirar alcool

193
no maximo de 90º Centigrados mas não retificado. Para esta parte do fabrico, tem elle o retificador que empregou este anno na
Calheta, mas que não tira alcool a mais de 38º Cartiere, como muito bem sabe. É isto que lhe posso dizer por emquanto.
Corta cannas: Foi quebrado para socata.[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 7 de Novembro de 1919


DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre]
[19] Funchal 7/11/919
Mon Cher ami Monsieur Lefebvre
Le Directeur du Lycée du Funchal m’a demandé pour vous ecrire vous demandant les appareils et produit chimiques pour
le Laboratoir de l‘ecole Centraille suivant la list-ci-joint. Um cheque de 2.500 francs pour le payement du materielle, transport
jusqu’aux Funchal e votre commission. Si les 2.550 francs ne donne pas pour tout, il fau dire avant de envoyer, par-ce que aprés
c’est deficit de avoir de l’argent... du Guvernement... Il fau envoyer le plus tôt possible avant le fin de l’année.
Monsieurs José Julio de Lemos Succeceurs desir deux thermometres a cadran pour l’appareil Barbet suivant le petit dessin
ci joint de 10º a 110º centigrados. Vous pouvai demandes ci á Barbet. Ces 2 thermometres peu venir pour Marliere287 en
Fevriere prochenne.
Vous Ami devue[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 8 de Novembro de 1919


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[20] Funchal 8/11/919
mo
Ex. Amigo e Senhor Hinton
Envio-lhe as notas do alcool produzido na Comp.ª Nova em 1919 até 31 outubro, segundo os dados de Marinho de
Nobrega288:
Inventario:
Stock do alcool em 31 Dezembro de 1918 = 12.848,42 litros a 100º
Produção do alcool em 1919 até 31 outubro —— 294.092,57 litros a 100º
Calculos:
Alcool vendido até 7 Novembro 1919 de 1ª qualidade ...................................= 269.007,84 litros a 100º
“ “ Etheres para queimar .....................................................................7.798 “
Escencias e etheres enviados ao Torreão a retificar ................................................22.682 “
Stocks Escencias ..........................................................................................1.292 “
Etheres .............................................................................................1.452 “
302.231,84 “
Menos o stock de 1918 ...........................................................................................12.848,42 “
Alcool de 1919.................................................................................................... 289.382,42 “
Quebra total = 1,6%
A caldeira de vacuo do Henrique Figeira é da capacidade de 100 Hectolitros, por isso que produz 50 sacos d’açucar de 100
kilogramas = 5000 kilogramas açucar![Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 21 de Novembro de 1919


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[20] Funchal 21 Novembro 919
Ex.mo Amigo e Senhor Hinton
Como naturalmente deve estár desejoso de saber qual o rendimento do 2º carregamento de Melaço de Cuba, vou dizer-lhe
aproximado o que conto obter, visto no Torreão não têr ainda terminado o Lote, mas já vejo qual será o rendimento aproximado.
Analyse do melaço feita por mim:
Saccharos[sic] directa ..........................................32,25 %
“ Clerget ..............................................37,29 “
Glucose ................................................................14,50
Este melaço contem em grande quantidade o Leuconostoc mesenterioides, isto é, aquelle fermento que se produz na garapa

194
em forma de cuscus, como muito bem conhece: Em vista d’isto, este melaço forma na fermentação mais acidez que o normal.
Além d’isso a quantidade de glucose infermenticivel é meior que no 1º carregamento o que calculo em 5% (em saccarose);
teremos pois:
Açucar total em saccharose 51,06 %
Infermenticiveis 5, %
Saccharose fermentavel 46,06%, que ao ren-//[22]dimento de 60 litros alcool a 100º % saccarose fermentavel deve
dár um rendimento de 27,6 litros alcool a 100º % melaço. É este o rendimento que um pequeno Lote da Comp.ª Nova deu, e
eu calculo que no Torreão dará o mesmo em alcool bruto.
Faço-lhe notar que este rendimento foi obtido com o meu fermento conservado e não com o de Vasseux, por isso que para
este ainda não veio o fluorure de soda, e tenho em actividade para um novo Lote o fermento Vasseux mas sem fluorure, e assim
poderei vêr a diferença de rendimento. O que desejava era receber quanto antes o fluorure, e já telegrafei a Lefebvre289 dizendo-
lhe que não tinha recebido a fluorure até esta data.
Quando tenha o fluorure vou fazer novo lote, e verificar por comparação os resultados obtidos.
Como sabe, o 1º carregamento tinha em saccarose tatal[sic] 48,17%
Infermenticivel 4,5%
Saccarose fermentavel 43,67% que ao rendimento de 60 litros alcool %
saccarose = 26,2 litros alcool a 100º % melaço, e foi este aproximado o rendimento que deu no Torreão e Comp.ª Nova.
O custo na Fabrica do 1º carregamento é de 85$00 por tonelada
“ “ do 2º “ “ 92$00 “
Em resposta á sua carta de 12 do corrente, pouco tenho que dizer, mas com relação ao Açucar Colonial, se elle tiver bicho,
o que não crêo, a simples lavagem não o // [23] matará, porque a lavagem é feita com égoûts quentes, mas não chega a
temperatura da Melasse Cuite a tal que o possa matar. Para isto, no caso de têr bicho, vou armazenar em armazem separado o
assucar lavado do assucar que tenho de refinar em BB.
Productos de Laboração: Tudo encomendado, menos a cal, que deve ser para 1920 umas 40 toneladas pouco mais ou menos.
Os panos para os filtros-presses é que estão cotados a um preço dos diabos, e vou mandar uma amostra a Lefebvre para elle
mandar as cotações, mas já se vê que para 1921, porque para este proximo anno não poderá vir a tempo.
Quanto aos meus projectos de Vinharia, agradeço-lhe o que me diz, mas estou bem desejoso de fazer qualquer cousa de onde
possa tirar lucros, porque esta vida está de tal forma cara que não posso continuar assim n’este estado de despezas, sem ter de
onde me venha lucros.
Sem mais, crêa-me seu attencioso Amigo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 13 de Dezembro de 1919


DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre]
[24] Funchal 13/12/919
Mon Cher Ami Monsieur Lefebvre
J’ai bien reçu vós deux lettres de 15 et 20 de Novembre derniere, que je vou remerci bien. A ce moment je vien de recevoir
votre derniere de 4 corrent. D[sic] cette forme lá je peu repondre aux trois lettres.
Je vous remerci votre participation de changement d’adresse, et je fait votes que votre nouvelle maison á Taverny vos dê
felicidades:
C’eté bien malhereux que le fluorure n’arrive pas á temps de faire les experiences que je desire, avec le melasse de Cuba,
par-ce-que avec la levure Vasseux sem fluorure le resultat est a.p.p. le même q’avec ma levure, seulement je constacte que lá
fermentation est plus rapide. Lors’que je peu faire des esses avec le fluorure, je fairait un raporte que je vous envoyerait por
montran a Monsieur Vasseux. La levure en gelatine vienne tres mal acondicionait, par-ce-que avec la chaleur la gelatine e
liquifiée et sali l’uate. Je ne sais pas se cette levure se conserve bien comme cá j’usq’a prochenne Campang (?). En tout cas,
Monsieur Vasseux doive envoyer en Fevriere <[…]> prochene un nouvelle levure pure pour la Campagne.
Affaire Lycee – Je vous remerci votres renseignement que je va transmettre a Proffeseur de Chimica.
Nous avont reçue la lettre ci joint de Georges Bosset, mais comme je sui plaine de touts les Monsieurs qui font de produit
// [25] pour decoloration des produit de sucrerie, je desir avant de faire quelque essai faire les questions suivants:
Le prix est telment elevée (775 francs % kilogrammes) q’il faut employer un tres petits quantité: Quel est la quantité maxima
par hectolitre de xiropes? On peu decoloraire les égoûts au leu do xirope? Par les échantillon que je vous envoi vous vaira que

195
notre sucre de 1ar jet est blanc, c.a.d., sucre de xirops vierge. Notre sucre avec les rentrée des égoûts dans la cuite (Nº 2) c’est
pauvre, et est du cette coleure aus égoûts a cause de la glucose.
Ce nous pouvent employer cette produit dans les égoûts il faut filtraire aprés? Quel quantité se doive a peu prés employer?
Vous pouveux voir ce Monsieur et demandes les renseignemet et vous em[?] plus competent que moi.
Affaire Barbet: Je partira por Lisbonne en Janviere prochene par le “San Miguel”, afin de finir mes affaires de Vinerie et
j’espere bien recevoir les devis de Barbet avant mon departe pour Lisbonne
Affaire Borderies: Je vous previne que ce n’est pas Monsieur Belmonte que và faire cettes Affaires mais des Demoiselles
& C.ª que vous ecrire á Madame Lefebvre sur cá et les echantillon vont etre envoyér ce méme mois (15 ou 16).
Mes respects a Madames, et pour vous mes meilleurs amitié[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 23 de Dezembro de 1919


DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[26] Funchal 23 Dezembro 1919
mo
Ill. Amigo e Senhor Hinton
Envio-lhe junto as notas do rendimento do melaço de Cuba (2º carregamento) que terminou a destillação a 22 do corrente,
tanto no Torreão como na Comp.ª Nova.
A ultima analyse feita por mim deu-me o seguinte:
Saccharose directa ................................32,25% melaço
“ Clerget ..................................37,29% “ = saccarose 51,06%
Glucose .....................................................14,50% “
Infermenticiveis % melaço 5,06 – açucar fermentavel 46%
Melaço muito carregado de Leuconostoc Mesenterioide.
Melaço recebido e medido no Tanque Grande = 1.025.024 kilogramas
Foi destillado em 45 dias
Destillado no Torreão = 630.816 kilogramas Rendimento = 178.250 litros alcool bruto a 100º
“ Comp.ª Nova = 394.208 “ “ = 110.138 “ “ “
Totaes = 1.025.024 “ “ = 228.388 “ “ “
Rendimento do Torreão = 28,26 litros alcool a 100º % melaço
“ Comp.ª Nova = 27,93 “ “ “
“ Medio das duas fabricas = 28,13 litros alcool bruto a 100º % melaço.
Nota: Uma parte d’este melaço foi fermentado pelo fermento Vasseux mas sem emprego do anticeptico fluorure por não ter
vindo a tempo. //
[27] Refinação do açucar Colonial
Açucar bruto importado = 531.581 kilogramas com 97,3 polarisação = 517.228 kilogramas puro. Produzio:
Em açucar B refinado e lavado = 448.677 kilogramas com 99,4 polarisação = 445.985 kilogramas puro
Em açucar B2 turbinado = 11.440 kilogramas com 96,5 polarisação = 11.038 kilogramas puro
Égoûts = 56.890 kilogramas a 35,3% saccarose Clerget = 20.082 kilogramas puro
Lavagens filtros presses, etc. deu alcool 3066 litros a 60 litros % saccarose = 5.110 kilogramas puro
482.215
Perda em saccharose = 35.013 kilogramas
Rendimento em turbinado 88,3% do açucar puro.
Nota: O açucar bruto não continha o acarus saccharum (bicho).
Glucoses:
Glucose no açucar B = 1095 kilogramas
“ “ B = 71 = Total encontrado ——- 13.016 kilogramas
“ nos égoûts = 11850 Glucose no açucar bruto 3.827 “
Saccarose transformada em glucose
9.189 “
correspondente 8730 kilogramas saccharose pura.
Perdas indeterminadas em saccarose = 5,08% do açucar puro bruto.

196
Os égoûts a destillar devem produzir aproximados 17.408 litros alcool a 100º
Desejando-lhe um novo anno muito feliz e a sua Ex.ma esposa, subscrevo-me seu Amigo attencioso e Obrigado[Ass:] João
Higino Ferraz //

[DATA: 29 de Dezembro de 1919


DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre]
[28] Funchal 29/12/919
Mon cher ami Monsieur Lefebvre
J’ai bien reçu votre lettre du 10 corrent aussi bien que le devis de Monsieur Barbet et le catalogue de la Maison Granger, ce
que je vous remercie bien.
Affaire Barbet: Le fabuleux devis de Monsieur Barbet ce n’est pas bien ce que j’ai demande; ce que j’ai demandé c’est un
devis d’un dessulfitador de 100 hectolitres en 24 heures et il m’a envoyé un pour un dessulfiteur de 100 hectolitres en 8 heurs
(!) de travail, c.a.d. le triple de ce que je demande. L’evaporateur est calcule de la même forme, c.a.d. il est faux, parce que je
desire un de 50 hectolitres par 24 heures. Le reste du materiel je n’en ai pas besoin, parce que je vais monter ça dans une cave,
et je ne vais pas traiter le raison directment, mais si acheter le moût de raisin, que je desire conserver dans les caves des Vigneron
sen fermenter par moyen de l’SO2 liquide (anhydride sulfureux), c.a.d. le seule produit légal, que je puis employer. Aprés Aix,
ou dix mois je vais chercher ce moût sulfite ches les Vignobles et je dessulfite dans ma Vinerie. Avec ce moût dessulfité je ferais
du sirop de raisin ou du vin a ma volonté. C’est çá mon affaire de Vinerie et ca le meme que ja vous ai dit // [28] aussi bien
qu’a Monsieur Barbet, et je ne comprend pas porquoi il m’a envoyé ce fabuleux Devis.
Ma question est de savoir si la dessulfitation enleve presque tout l’SO2 introduit dans les moûts pour sa conservation, san
donner de mauvaise goût au moûts. C’a será possible?
S’il est possible, l’appareil Barbet en céramique qui travaille dans le vide á une temperature basse de 70º (temperature de
esterilisation), ne doit pas donner le goût de brulé. Quel est l’appareil de Monsieur Grangér? Ne sera-t-il pas la même chose que
l’appareil Barbet? Si l’appareil Barbet ne donne pas de resultat, celui de Granger ne marchera pas non plus.
Quant a l’evaporation qu’est-ce que je vais faire? Evaporer un moût de raisin ordinaire, aprés dessulfitation, dans le vide à
basse temperature, dans un appareil en cuivre avec un vide maximum et une evaporation trés rapide. Pour cá je ne vois pas de
difficultés si je obtiens un petit appareil specialment construit pour cá. Qu’est-ce que va faire Monsieur Granger? Naturellement
la même chose que Barbet.
Comme vous voyez aprés ma voyage á Paris je ne suis plus avancé que quand j’etait á Madère!! et ça me mets en embaras
sans savoir ce que je dois faire. Je partirai pour Lesbonne le six Janvier prochain mais comme vous pouvez bien le comprendre
je ne puis pas me fixer sur une base pour mes affaires futures.
Mon dernier mot est de savoir si les appareils de dessulfitation et evaporation de Barbet ou Granger donne le resul-//[30]tat
que je desire et au même temps si les prix est abordable pour une premiére experience, parce que si aprés je vois que le procédé
de dessulfitation et evaporation donne de bons resultats, je peus acheter das le future des appareils plus grands. C’est cá le
conseil que Monsieur Barbet m’a donné, et non son fabuleux devis!! Ce qu’il ma envoye c’est ma ruine... et de mes amis...!!
Affaire Vasseux: Je vien de recevoir un outre petits caisse avec levure en gelatine bien acondictionné. Le resultat du procédé
je vous dirai apres les esperiences avec le fluorure.
Affaires pharmacien: c’est meux finir avec cá parc-que il dit que c’est trez cher touts les appareils.
Affaire Lycee: Je domné au Directeur votre liste de produits, et il demande si les 2500 francs ne donne pas pour tout vous
pouvai depenser encore plus 1000 francs qui sont auctorisée par le Conseille.
Je desire a mes Amis Madame et Monsieur Lefebvre assi que [?] Madame e Monsieur Bisson une nouvelle anné plaine de
felicidades.
Votre Ami devué[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 26 de Fevereiro de 1920


DESTINATÁRIO: Ramiro de Magalhães]
[31] Funchal 26 Fevereiro 1920
Ill.mo Ex.mo Senhor Ramiro de Magalhães Porto
Meu Ex.mo Amigo e Senhor
Mais uma vez obrigado pelas suas amabilidades e de sua Ex.ma Esposa para comigo, a quem pesso fassa os meus respeitosos

197
comprimentos.
Junto envio-lhe o ultimo Catalogo que recebi de Barbet sobre apparelhos de destillação, como do pedido feito pelo nosso
amigo Senhor Julio Tornel. Barbet tem modificado um pouco os seus apparelhos, mas não tenho o catalogo ultimo d’elle nem
mesmo por elle se poderá vêr qualquer cousa que elucide sobre a obtenção de qualquer apparelho, a não ser quem conheça um
pouco as theorias de Barbet sobre destillação e retificação.
Se eu conseguir, como desejo, trabalhar ahi no Continente n’este anno ou no proximo sobre fabrico de vinhos e outros que
bastante me interessa e talvez ao meu Ex.mo Amigo, poderei com a minha fraca competencia sobre destillação e retificação dár-
lhe qualquer indicação que lhe // [32] pode ser util, e mesmo construir ahi um apparelho fundado nas mesmas theorias. Temos
em Portugal bons operarios, o que lhe falta é direcção technica.
Aqui fico pois a sua desposição e esperando a sua visita á nossa Ilha e crea-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado[Ass:] João
Higino Ferraz //

[DATA: 4 de Março de 1920


DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre]
[33] Funchal 4 mars 1920
Mon cher Ami Monsieur Lefebvre
Je suis actuellement à Funchal, après avoir fait route sur le vapeur “San Miguel” du 20 derniere.
Je suis en possession de touts vos lettres et les Devis de Barbet, Vidal et Prache & Bouillon, celui-ci avec un Schma de
l’appareil evaporateur de son systeme.
Ce que regard aux deux premiere Devis j’ai déja dit dans mes dernieres lettres ce que je pense sur le sujet.
Quant à Prache & Bouillon j’ai bien fait attention sur ce qu’ils disent au sujet de l’evaporation directe du moût de raisin
aprés avoir été filtré, sitot la récolte du raisin sans antiseptine priable, mais je ne suis pas d’acorde avec cette façon de procéder
pour plusieurs raisons:
1º Le raisin est exceptionnellement d’une fermentation active sitot aprés la recolte et beaucoup plus aprés avoir été
transformé en moût, et comme çá seulement en procédant a la sterilisation du raisin sur les champs ou vignolle sitot aprés da
recolte, et encore aux presses au moment de l’extration du moût, on pouvra arriver a la montage complete.
2º La façon que nous comptions adopter dans la fabri-//[34]cation ne permets pas de traiter les moûts en vins ou xirops au
moment de la récolte, mais si pendant l’année et en occasion qui mieux nous conviendra, et on faire des vins ou sirops selons
les besoins.
Les moûts doit être conservé dans les caves viticoles des proprietaires jusqu’au moment de les traiter, etant sulfité a la dose
necessaire de SO2. Tous les viticulteurs ont ses caves pour la conservations des vins, et au lieu de conserver les vins conservent
les moûts muté ao SO2.
3º Les appareils Prache & Buillon etant parfaits pour l’evaporation, cependant ne travaillent pas sur un vide suffisant pour
ne pas carameliser le moûts (?) de raisin que est trés sensible. D’ailleurs, comme je vois, son prix est excessif en regard ceux
outres.
Je viens de recevoir des catalogues de Kestner et je vais que ses appareils, que je conait bien, doivent convenir parfaitement
pour l’evaporation du moûts de raisin de sulfite, et sont ceux les appareils que Barbet adopte selon ce qu’il même nous a dit.
Pourquoi ne pas demander a Kestner le Devis et prix d’un appareil pour evaporer en double ou simple-eddet dans le vide 50
hectolitres de moûts de raisin par 12 heures de travail?
Inclus je vous envois un petit pamflet et notice sur le Deshydrateur Kestner travaillent sous le vide [.] Ce systeme ci ou en
autre doit être l’ideal je vous prie done de bien vouloir ecrire a Kestner sur cá, touts les [...] //
[35] Cette demande de plus donc, sera la derniere, et comme ça je serais apte a repondre à mes amis de Lisbonne sur ce
point avec tout les connaissances approximatives du travail á adopter.
Affaire Lucée: Ils ont reçu les appareils et produits chimiques, mais je vois dapris la note que vous m’avez envoyé qui vous
n’avez pas chargé votre commission de 5% (?) comme vous auries du faire (!). Comme il y a un solde de 600 francs ils vous
prie de leur envoyer quelques outres appareils que leur puisse être utiles, quand même son montant aille jusqu’a 1000 francs,
en prelevant, bien entendu, votre commission, parce qu’ils paieront le solde a la maison Hinton.
Je vous en remercie de toutes les peines que vous avez eu avec toutes ces affaires, mas j’espere que une fois quelque chose
de faite sur la “Vinerie” a Lisbonne vous serez compensé de tous vos travaux parce que celle-ci etant une Compagnie il n’y a
pas raison de faire tou ça pour rien...

198
En faisant les meilleurs voeux pour la bonne sante de Madame votre fille, je vous prie de bien vouloir presenter les bons
compléments à toute votre famille et croire a l’assurance de mon amitié
Votre ami bien devue[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 25 de Julho de 1920


DESTINATÁRIO: Irmãos de João Higino Ferraz]
[33] Funchal 25 Julho 1920
Meus Caros irmãos
Recebi a carta de Leonor, e por ella vejo que todos estão de saude.
Cá por casa mais ou menos como da ultima vez que escrevi, isto é, mais ou menos bem.
Vejo o que desejam com relação á herança da tia, e junto encontraram as contas detalhadas de tudo, faltando somente umas
breves explicações que passo a dár. Todas as contas foram verificadas por José Pinto (como procurador).
Desenvolvimento da verba de 1.271$28 das contas:
Pago á criada, saldo em divida .................................................................................................5$40
Onorarios do Dr. José Joaquim de Freitas ..............................................................................12$00
Cellos e despezas de habertura testamento ............................................................................11$50
Saldo do Funeral da tia ...........................................................................................................13$50
Contribuição de registo por titulo honoroso.......................................................................1.085$13
Gratificação a Carlos Muniz (arranjos da contribuição) .........................................................30$00
Levantado á conta de Leonor para despezas de empacamanto da mobilia ....................... 113$75
1.271$28
Conta de Leonor do embarque da Mobilia:
Carretos da mobilia para a Fabrica ...........................................................................................1$30
Madeira, pregos etc. para as grades .......................................................................................28$60
Frete da mobilia (como[sic] excesso de bagagem) ................................................................65$00
Dado a Maria de Luz (dinheiro restante) ...............................................................................14$10
Carpinteiro e ajudante no empacamento ..................................................................................4$75
Dinheiro adiantado por mim Embarque da mobilia .....................................................4$45
Carretos para o calhau ............................................... 2$15
120$35
O resto da mobilia etc. não levantado por nos dois foi vendida // [37] por 450$00.
Importancias recebidas (saldo de rendas), e pagas por mim conforme livro apresentado a José Pinto:
Dinheiro recebido, de rendas de casas, canna vinha etc. .....................................................142$00
“ encontrado em casa da tia depois do falecimento ....................................................113$05
“ saldo ultimo da renda vitalicia .................................................................................. 10$00
Total ......................................................................................................................................265$05
Paguei com esta importancia acima:
Á Conta do Funeral ..............................................................................................................100$00
Diversas despezas, contribuições e gratificações .................................................................101$55
Saldo de rendas (conforme a conta) ..................................................................................... 63$50
265$05
Comforme os teus desejos (Leonor), mas não perfeitamente como dizes, vou enviar-te em dinheiro o saldo de escudos fortes
1.949$96, e vou dár a Beatriz a importancia de 14$00 = total 1.963$96. Fica-te pois depositado na Casa Hinton a importancia
justa de 3:000$00, cujo livro te envio.
Vou enviar tambem a doação de Maria da Luz de 100$00 fortes.
Importancia total a enviar = 2.049$96 fortes.
Se alguma cousa houver a pagar depois d’isto, eu adiantarei e será pago com os juros a vencer. Fica pois liquidados as nossas
contas até esta data, e se necessitares de mais dinheiro tens que enviar o livro da Casa Hinton para ser regularisado.
Saudades a todos, e um abraço para todos do teu irmão[Ass:] João Higino Ferraz //

199
[DATA: 22 de Julho de 1920
DESTINATÁRIO: Harry Hinton]
[38] Funchal 22 Julho 1920
Ill.mo Amigo e Senhor Hinton
Recebi a sua de 20 corrente acompanhada de uma amostra de Kieselguhr290 espanhol, que vejo ser de muito boa qualidade,
e limpo de areia.
Quanto á comparação do preço entre este e o ultimo importado de Londres da Casa Crispin, é o seguinte:
Kieselguhr de Inglaterra por tonelada £ 14-10-0 (saco incluido)
Fretes e despesas (commisão etc) – “– £ 12-15-0
Custo no Funchal por tonelada = £ 27-5-0 a 23$00 = 626$75
Kieselguhr Espanhol 360 pezetas tonelada a 1$00 = 360$00
Frete e despesas até o Funchal ?
E Poderá melhor calcular as despesas ahi, porque não tenho dados. É bom notar que os fretes de Caminhos Ferro d’esde a
fronteira portuguesa e fretes do vapor até o Funchal é pago em escudos.
Junto envio-lhe uma amostra, como me pede, do Kieselguhr que importamos de Inglaterra, cuja qualidade é inferior ao
Espanhol e contem muito sable (aréa), sendo a sua densidade muito meior. Um bom Kieselguhr deve pesar 200 gramas por litro.
Seu Amigo Certo e Obrigado[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 23 de Julho de 1920


DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre]
[39] Funchal 23 Juillet 1920
Mon cher ami Monsieur Lefebvre
Plusieurs lettres á vous repondre dont je me trouve enquete[?] vers nous, ce que j’attends vous m’excuserez, mais comme
vous devez bien comprendre mes affaires de la Campagne et la difficulté toujour de vous ecrire en français, comme vous le
desire, m’oblige a ne pas vous repondre séparement á toute vous lettes[sic]. Je vais, donc, vous repondre en celle-ci.
Merci, encore une fois, pour les Devis Kestner, que j’ai bien reçu, ausi que vos explications sur ce sujet.
On ce qui concerne la Campagne tout c’est passé regulierment, même avec la canne de basse pureté. Monsieur Marliere291
vous aura dit de vive voix quelque chose que vous interessant sur le sujet, surtout le decolorant Bosset aussi bien que
l’Aluminate de baryte.
Ferments Vasseux: Ce que concerne á cette affaire vous pourrez bien voir d’aprés le rapport le resultat du travail du ferment
Vasseux traité par le Fluorure de soude, et je tiens à vous résaudre ce ceci doit ou pas être presenté á Monsieur Vasseux.
Cependant, je vois que je ne peux pas mettre de cóté la reception du ferment Vasseux en ampoules, parce que ici, n’argent
pas un Laboration adapté pour les cultures // [40] pures, il me serait difficile habituer ma levure au fluorure et la conserver pure
jusq’a lá pan[sic] de l’habituation.
Ce que serait une avantage ce serait obtenir un prix du Fluorure de soude dans les meilleurs conditions, même que le montant
á payer par an pour la livraison de la levure soit la même, ou moins s’il serait possible.
Je constaite d’aprés les resultats obtenus que le procédé est bon mais que l’original est de Effront, ayant à peine Monsieur
Vasseux a sa part le ferment pure (lequel je ne connais pas l’origine) habitué au Fluorure de soude.
J’ai encore quelques Ampoules de ferment Vasseux que je dois, peut-être, m’en servir pour la fermentation de la melasse de
beterrave que nous avont intention d’importer (2000 tonnes), et comme nous sommes en cours de negociations. Cependant je
ne sais pas si[?] cette levure se developpera bien car elle a déja quelques mois de vie en empoules. On verra le resultat. J’ai
encore prés de 300 kilogrammes de fluorure de soude que sera suffisant pour cette quantité de melasse á importer, en employant
a la proportion de 10 grammes par hectolitre de moût-ferment.
Les futures livraisons de Ferments doivent être toujours en Ampoules, et pas en tubes de gelatine, que n’arrive pas en bonnes
conditions.
Affaire particuliers: Quant á mes projets de Vinharia (Vignerie) sont, pour le moment, stationnaires pour deux // [41]
principelles raisons:
1er Les prix des vins en Portugal sont inabordables (400 francs hectolitre!) et encore la situation commercial et operaire sont
de telle forme qui será impossible de faire quelque chose de bon.
2º J’ai fait un nouveau contracte de trois ans (jusque 1922) avec la Maison Hinton, ce que m’oblige a une nouvelle prison

200
pendant ce temps ci.
Cependant je tiens toujours l’espoir que, une fois passé ces trois ans, les affaires en Portugal (et dans tout le Monde.!?)
changeront pour des meilheures conditions et je verrai, alors, ce que me conviendra faire.
Je vous remercie une fois de plus tout ce que pour moi vous avez fait sur ces sujets de Vignerie et croyez serai toujours
reconnaissant pour toute votre bonne volonté de m’être utile.
Mes respectueux compliments á Madame Lefebvre et a Madame et Monsieur Bisson.
Para o meu Amigo Lefebvre, um abraço do seu verdadeiro Amigo[Ass:] João Higino Ferraz
P. S. Je viens de recevoir votre lettre du 7 Juillet dont je vous repondes ici.[Ass:] Ferraz //

[DATA: ?
CARACTERIZAÇÃO: Relatório sobre o fermento e fermentação Vasseux]

[42] Raport sur la levure et fermentation Vasseux


Composition moyenne du melasse de canne:
Brix ..................................90,99
Sucre directe ................40,04%
“ Clerget ...............41,55%
Glucose ........................16,10%
Infermenticibles .............3,53%
Ce melasse n’a pas eté bien épuissée en vu du prix elevée de l’alcool.
Rendement en alcool rectifiée (vendu) % melasse: 31,3 litres alcool a 100º á 15 temperature.
Fermentation
Active et pure Levure conservant bien pure jus’qu’a le fin (3 mois), en employer toujour 12 grammes de fluorure de soude
par hectolitre mût ferment.
Analyse moyenne du vin de melasse
Fermentation inecial – .........................10º Baumé.
Densite final..........................................2,6º “
Acidité inecial.......................................1,2 grammes par litre em SO4H2
“ final .........................................1,8 grammes “ “
Infermenticibles % vin .........................0,760
Alcool ...................................................6,96
Kilogrames de melasse par hectolitre = 21,525 kilogramas
[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 29 de Julho de 1920


CARACTERIZAÇÃO: Relação dos produtos químicos necessários para a Laboração de 1921, assim como os países de
origem]

[43] Productos chimicos para 1921 calculados sobre 25.000 toneladas canna deduzidos os stocks existentes
Kieselguhr – 19.000 kilogramas (Inglana[sic] ou Hespanha?) Nota Nº 1
Phosphato bicalcique 16.000 kilogramas ( “ ou França?) Nota Nº 2
Enxofre en cannons 9.300 kilogramas – França
Aluminato de baryte 4.200 kilogramas “
Soda caustica 2.000 “ Inglaterra
Fluorure de soda 450 “ França (Fermentações).
Nota Nº 1 – Se o Kieselguhr de Espanha, o seu custo é menor do que o de Inglaterra, convem vir, por isso que é de muito
melhor qualidade.
Nota Nº 2 – Segundo as analyses feitas por Monsieur Marliere292 o phosphato de cal Inglez contem 32% d’acido
phosphorico, emquanto que o de França (Lefebvre293) contem 40% acido phosphorico. Convem pois o phosphato bicalcique
Francez, em preço egual, por ser mais rico em acido phosphorico que é a materia activa.

201
Funchal 29 Julho 1920[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 30 de Setembro de 1920


DESTINATÁRIO: Carlos Fernandes]
[44] Funchal 30/9/920
Meu Caro Carlos
Recebi as tuas duas cartas, uma de 25 outra de 27 corrente, a que passo a responder.
Viagem boa de Lisboa para aqui, e chegamos bem, muito obrigado.
Melaço – Enviei o telegrama seguinte hoje, depois de combinar com o Senhor Bardsley «impossivel prescindir ponches
porque precisamos descarregar vapor caso venha». A rasão compreendes bem: Não sei se sempre vem o melaço de Inglaterra
(?), e no caso de vir, como fazer a descarga com menos 200 ponches? Temos poucos ponches, porque de Machico não podem
emprestar.
Esse negocio de melaço d’Africa seria bom, mesmo que o melaço contenha somente 40º de polarisação, isto é, melaço egual
ao nosso d’aqui, e o preço era vantajoso. Quanto á garantia de polarisação de 50º isso era um ouvo por um real...
O que me parece melhor era o Senhor Hinton294 dizer de Londres o que tem feito com relação a melaço, e se pode garantir
a vinda d’elle, telegrafando // [45] sabido isso, isto é, se vem ou não, podemos establecer o seguinte:
Vem melaço Inglaterra – impossivel agora despensar ponches. Temos somente 500 ponches desponiveis.
Não vem melaço Inglaterra – podemos envir[sic] os 200 ponches para a Africa. Nossos sô temos 240 ponches.
No caso porém de vir o melaço de Inglaterra em todo o mez de outubro, podemos fazer essa esperiencia dos 200 cascos
d’Africa enviando os ponches em Dezembro proximo, por isso que temos um saldo de 500 toneladas a importar, vindo de
Inglaterra somente 1500 toneladas, e isto até fim de Fevereiro do anno proximo. Ora, 200 ponches deve regular umas 110
toneladas de melaço, e assim poderiamos importar ainda 4 vezes essas quantidades.
A diferença no preço do melaço por cada grau a mais ou a menos na polarisação directa, deve ser de £ 0.6.0. por tonelada
e por grau polarisação. Sendo assim, se o melaço tiver somente 40º de polarisação (que calculo não tenha mais), o seu preço
seria de £ 10.0.0. por tonelada cif. Funchal.
Assucar: Para a importação d’assucar d’Africa, deves contar que cada tonelada assucar bruto fáz uma despesa de refinação
de 40$00 escudos, e assim ser-te-ha facil fazer os calculos, sabendo que cada 100 kilogramas assucar bruto rende 88 kilogramas
de refinado e 10 kilogramas melaço (3 litros alcool).
Um abraço do teu Amigo, que deseja te divirtas muito em Madrid. Saudades a Henrique295 e todos
Teu Amigo certo[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 1 de Outubro de 1920


DESTINATÁRIO: Joseph Marliere]
[39] Funchal 1 octobre 1920
Mon Cher Marlière
J’ai bien reçu á Lisbonne votre lettre du 26 juillet et je vous en reponds de Funchal, on je suis arrivée á 26 passée.
J’ai appris avec plaisir, selon votre lettre, que vous avez en une bonne traverssée et que vous avez trouvé votre petite famille
en bonne santé.
Par ce même courier j’ecris á Lefebvre296. Je lui ai procuré le maximum de commandes, parce que en trouve bien des
difficultées avec les choses á Londres; Monsieur Hinton297 c’est aperçu des avantages des prix Français sur les Anglais. En ce
qui concerne aux cuiseurs je suis á vous dire que vous deves nous en procurer un pour la prochaine Campagne. Francisco,
pauvre homme, est perdu, on peut bien le dire, car il est attaqué d’une tuberculeuse!, et alors nous ne pouvons rien compter sur
lui.
Manoel a fait un contract avec la maison Hinton. Quant au nouveau cuiseur a venir doit être un homme de travaille et pas
un Monsieur, parce que les choses ici avec le personnel sont // [47] bien difficiles.
Tous les amis vous font ses compliments.
Pour vous, Madame Marliere et fille, mes meilleurs sentiments.
Votre Ami devué[Ass:] João Higino Ferraz //

[DATA: 4 de Outubro de 1920

202
DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre]
[48] Funchal 4/10/920
Mon cher ami Monsieur Lefebvre
Bien reçu, a Lisbonne, vós lettres du 27 Juillet et 10 août derniers ce que je vous en remercie et reponds.
Merci bien de vos felicitations pour mon nouveaux contracte avec le Maison Hinton, mais du á la crise que nous eprouvons
avec la cherté de la vie, je suis presque dans les mêmes conditions d’auparavant, mais je vois aussi l’impossiblité de faire
actuellement quelque chose de avantageux personellement.
Kestner: D’aprés la copie de la lettre que je vous invois, écrite á Kestner, vous verrez bien la vérité pure et simple de cet
état de choses á Portugal, mais je tiens toujours l’espoir a la prochain avenir en faire qualque chose, même a l’age que j’ai, mais
avec bonne volonté de travailler pour mes fils, si la santé et le bonheur m’aideront
Campagne 1921: D’aprés les lettres dictées par moi à Lisbonne vous devez bien voir que je tiens à vous, mon cher ami, toute
ma considerations sans néammours nuire la Maison Hinton, vous procurant le maximum de commandes qui sont beaucoup plus
avantageuses que celles faites en Angleterre. //
[49] Aujourd’hui même nous vous avons telegrapheé demandant les prix de feuille de cuivre, et tubes du même mètal, pour
la construction d’un appareil de destillation, pour livraison immediate (du cuivre), parce que de Londres ces articles ne nous
pourrons pas être livrés que dans six mois et j’en ai besoins, au plus tard, jusqu’á la fin du mois d’Octobre prochenne. Sitot une
reponse favorable nous vous ferons la commande par lettre ou peut-être par telegramme.
Aluminate de baryte: L’aluminate envoyés en Deçembre 1919 (Donc pour la campagne de 1920) a été envoyé dans de bonne
conditions, mais pas l’autre comme je vous ai dejá fait savoir.
Affaire Vasseux: Si nous recevrons la melasse á importer pour la fabrication de l’Alcool, le fluorure de soude commendé ne
será pas suffisant pour cette melasse-ci aussi bien que pour la Campagne de 1921, et alors je serais obligé, a son temps, de faire
une nouvelle commande. Qu’est-ce qu’a dit Vasseux sur les resultats que je lui ai envoyé? J’attendais un peu plus de rendement
mais, du aux hautes temperatures de Madère, les temperatures de fermentations ont été exessives et la formations d’acidité était,
du a cá, plus que normals et // [50] ainsi je crois devoir employer le fluorure dans le moût général, quoique en moindre e
quantité, pour garantir la pureté des fermentations.
La livraison de la levure Vasseux doit toujours être par moyen d’ampoûles, parce que celle en gélatine n’arrive pas dans de
bonne conditions du, peut-être, á l’état peu concentré de la gélatine ou á sa qualité, qu’avec les hautes temperatures pendant le
transporte de France jusque ici c’est liquéfie, se gâtant. La culture dans de la gelatine se conserve plus long temps que dans des
ampoûles, se le moyen de culture est bien fait.
Affaire Lycée: Je vais procéder á la liquidation des comptes selon votre lettre du 10 août.
Affare personelles: Arrêt momentene jusqu’un changement de situations général, mais j’attends que si vous voyez quelque
chose de nouveaux sur le sujet vin que vous croyez m’interesser je vous serais trés obligé se vous me en ferez savoir ou enverrez
qualques notes. Je vous prie que quand vous viendres à Paris me procurer quelques traités pratiques sur la fabrication de la Biére
et me les envoyer par colis postal.
Avec nos meilleures amitiées à toute votre charmant famille, et pour vous, de votre ami devoué[Ass:] João Higino Ferraz

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